14
Ano XI, n.01 Janeiro/2015 -NAMID/UFPBhttp://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 170 Ex Machina e o zeitgeist pós-11 de Setembro nos EUA Victor Souza PINHEIRO 1 Resumo Este artigo examina como a série norte-americana de história em quadrinhos Ex Machina, criada por Brian K. Vaughan e Tony Harris, representa o zeitgeist social e político gerado após o ataque terrorista que derrubou as torres gêmeas do World Trade Center em 11 de setembro de 2001, inclusive a crise de liderança que atingiu os Estados Unidos ao longo da pós-traumática cadeia de eventos. Focando-se na leitura crítica dos dez volumes que reúnem toda a obra publicada pelo selo Wildstorm, da DC Comics, e com contribuições teóricas de Pustz, Habermas e Eco, entre outros, o estudo analisa como os autores de Ex Machina se valem de elementos arquetípicos recorrentes da mitologia do super-herói americano para conceber uma reflexão contundente sobre o ethos dos EUA pós-11/9, com um protagonista que admite o fracasso do super-heroísmo face à inevitabilidade do desastre e, tornando-se um político, incorpora a descrença em se trazer mudança real para um sistema intricado e vicioso. Palavras-chave: Quadrinhos. Super-heróis. 11 de Setembro. Ex Machina. Abstract This paper examines how the American comic book series Ex Machina, created by Brian K. Vaughan and Tony Harris, represents the social and political zeitgeist generated after the terrorist attack that brought down the World Trade Center twin towers on September 11, 2001, including the crisis of leadership that hit the United States along the post-traumatic chain of events. Focusing on the critical reading of the ten volumes that collect the entire series published by the DC Comics imprint Wildstorm, and with theorical contributions of Pustz, Habermas and Eco, among others, the study analyzes how the authors of Ex Machina betake recurring archetypical elements of the American superhero mythology to conceive a scathing reflection on the post-9/11 USA ethos, with a protagonist who admits the failure of superheroism faced with the inevitability of disaster and, having become a politician, incorporates the disbelief in bringing real change to an intricate, vicious system. Keywords: Comics. Superheroes. September 11. Ex Machina. 1 Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal da Paraíba (PPGC/UFPB). E-mail: [email protected]

Ex Machina e 11 Setembro

Embed Size (px)

DESCRIPTION

artigo

Citation preview

  • Ano XI, n.01 Janeiro/2015 -NAMID/UFPBhttp://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica

    170

    Ex Machina e o zeitgeist ps-11 de Setembro nos EUA

    Victor Souza PINHEIRO1

    Resumo

    Este artigo examina como a srie norte-americana de histria em quadrinhos Ex

    Machina, criada por Brian K. Vaughan e Tony Harris, representa o zeitgeist social e

    poltico gerado aps o ataque terrorista que derrubou as torres gmeas do World Trade

    Center em 11 de setembro de 2001, inclusive a crise de liderana que atingiu os Estados

    Unidos ao longo da ps-traumtica cadeia de eventos. Focando-se na leitura crtica dos

    dez volumes que renem toda a obra publicada pelo selo Wildstorm, da DC Comics, e

    com contribuies tericas de Pustz, Habermas e Eco, entre outros, o estudo analisa

    como os autores de Ex Machina se valem de elementos arquetpicos recorrentes da

    mitologia do super-heri americano para conceber uma reflexo contundente sobre o

    ethos dos EUA ps-11/9, com um protagonista que admite o fracasso do super-herosmo

    face inevitabilidade do desastre e, tornando-se um poltico, incorpora a descrena em

    se trazer mudana real para um sistema intricado e vicioso.

    Palavras-chave: Quadrinhos. Super-heris. 11 de Setembro. Ex Machina.

    Abstract

    This paper examines how the American comic book series Ex Machina, created by

    Brian K. Vaughan and Tony Harris, represents the social and political zeitgeist

    generated after the terrorist attack that brought down the World Trade Center twin

    towers on September 11, 2001, including the crisis of leadership that hit the United

    States along the post-traumatic chain of events. Focusing on the critical reading of the

    ten volumes that collect the entire series published by the DC Comics imprint

    Wildstorm, and with theorical contributions of Pustz, Habermas and Eco, among

    others, the study analyzes how the authors of Ex Machina betake recurring archetypical

    elements of the American superhero mythology to conceive a scathing reflection on the

    post-9/11 USA ethos, with a protagonist who admits the failure of superheroism faced

    with the inevitability of disaster and, having become a politician, incorporates the

    disbelief in bringing real change to an intricate, vicious system.

    Keywords: Comics. Superheroes. September 11. Ex Machina.

    1 Mestrando pelo Programa de Ps-Graduao em Comunicao da Universidade Federal da Paraba

    (PPGC/UFPB). E-mail: [email protected]

  • Ano XI, n.01 Janeiro/2015 -NAMID/UFPBhttp://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica

    171

    Introduo

    Estudos acadmicos produzidos ao longo das ltimas dcadas j evidenciaram o

    equvoco reducionista explcito na noo, cristalizada no senso comum, de que histrias

    em quadrinhos (ou HQs, como tambm sero referidas neste presente artigo) constituem

    uma subliteratura infantil (ou para massas infantilizadas) sem qualquer valor artstico

    que transcenda a aparente superficialidade com a qual se desenrolam suas diegeses.

    Obviamente essa perspectiva generalizante ignora a concepo contempornea das HQs

    como meio de comunicao que ganhou fora com as contribuies tericas de Eisner

    (1989) e McCloud (1995) , evocando metonimicamente os quadrinhos para referir-se a

    um de seus gneros, (quase sempre) o de super-heris, tornado estandarte desta mdia

    graas popularidade que lhe angariou com a criao do Superman e a profuso de

    publicaes posteriores ao sucesso deste personagem em meados do sculo XX, tendo

    os Estados Unidos como epicentro.

    Concebido por Joe Shuster e Jerry Siegel, o heri tambm chamado Homem de

    Ao estreou na revista Action Comics n. 1, da atual DC Comics, em junho de 1938 para

    sacramentar uma frmula que uniria a fixidez emblemtica (ECO, 2006, p. 251) do

    arqutipo heroico a um desenvolvimento narrativo tipicamente romanesco,

    consolidando a estrutura prototpica bsica dessas aventuras fantsticas cuja produo

    em srie buscaria primordialmente saciar a fome de redundncia (Ibid., p. 269) de um

    leitor preguioso (Ibid., p. 252), interessado apenas no gozo de um escapismo

    alienante proporcionado por um esquema de narrao previsvel em sua iteratividade,

    mero suporte para a reafirmao cotidiana (peridica) de mitos modernos para consumo

    imediato.

    Entretanto, apesar da ausncia de pretenses artsticas para alm de sua funo

    mercadolgica como entretenimento de massa, mesmo essas primeiras peripcias

    constituem artefatos de alguma relevncia cultural e histrica, especialmente se

    evidenciarmos como o faremos mais adiante os vnculos de suas origens com o

    perodo da Grande Depresso econmica de 1929, nos EUA, e a ascenso nazifascista

    na Europa. Deve-se tambm reconhecer o carter basilar das histrias produzidas

    durante a chamada Era de Ouro dos Quadrinhos norte-americanos (como se

  • Ano XI, n.01 Janeiro/2015 -NAMID/UFPBhttp://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica

    172

    convencionou aludir ao perodo entre 1938, com a gnese do Superman, e o incio da

    dcada de 1950) para a consolidao do gnero dos super-heris e sua rica mitologia

    cuja marca no inconsciente coletivo norte-americano ao longo das dcadas seguintes

    consagraria esses superseres como instituies simblicas do American way of life,

    personificaes exuberantes de seu patriotismo.

    Adotando-se ento um olhar mais atento para uma anlise contextualizada

    mesmo de obras no transcendentes no imediatismo de sua lgica de produo e

    consumo, possvel assumir o potencial das revistas de HQs, em sua condio de

    produtos culturais de massa, como encapsuladores de zeitgeist ou esprito do tempo

    , simulacros da realidade qual se oferecem primariamente como fuga.

    Partindo dessa noo, este artigo analisa como a srie de quadrinhos Ex

    Machina, de Brian K. Vaughan e Tony Harris, explora no apenas esse carter

    documental inerente natureza das HQs enquanto registros, ainda que pelo prisma da

    mdia massiva, de cultura e historicidade de um povo e uma poca , como tambm o

    prprio gnero de super-heris para refletir criticamente o zeitgeist social e poltico que

    caracterizou o perodo ps-traumtico seguinte ao ataque terrorista s torres gmeas do

    World Trade Center, em Nova York, no dia 11 de setembro de 2001. Intenciona-se,

    inclusive, evidenciar aqui que tal obra centrada no retrato da degradao moral de um

    super-heri eleito prefeito da cosmpole norte-americana aps evitar a segunda coliso

    no WTC exemplar da maior liberdade autoral concedida pelas grandes editoras de

    quadrinhos nos EUA a partir dos anos 1980, permitindo um tipo de abordagem crtica e

    autorreflexiva (transcendente, enfim) do gnero super-heroico, voltada a um pblico

    mais maduro e relativizando o estigma, recado sobre as HQs comerciais produzidas no

    pas, de entretenimento manipulador a servio de um imperialismo cultural.

    HQs, super-heris e historicidade norte-americana

    Apesar de poder-se estabelecer conexes histricas com manuscritos pr-

    colombianos, pinturas egpcias e tapearias francesas, sem esquecer as contribuies de

    pioneiros como o suo Rodolphe Tpffer e sua literatura de estampas (MOYA, 1993,

    p. 7), est nos jornais, mais especificamente nas tiras seriadas, a origem dos quadrinhos

    como meio de comunicao moderno de linguagem singular caracterizado pela

    justaposio de imagens pictricas para a criao de uma narrativa grfica que pode ou

  • Ano XI, n.01 Janeiro/2015 -NAMID/UFPBhttp://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica

    173

    no se utilizar tambm da palavra escrita, conforme definio proposta por McCloud

    (1995: 9) e produto cultural de massa submetido lgica da produo industrial para

    satisfazer necessidades de consumo.

    Criada por Richard Outcault para o suplemento dominical do jornal New York

    World, em 1895, a srie Hogans Alley, protagonizada pelo clebre Yellow Kid, foi um

    marco na gnese dos quadrinhos como veculos de narrativas seriadas que gravitam em

    torno de personagens fixos, mas sua importncia histrica tambm reside na

    evidenciao do gene jornalstico que compe as HQs, principalmente as tirinhas

    humorsticas tradicional gnero que herda da obra de Outcault a stira poltica e social

    do cotidiano, conforme fazia o autor atravs das frases irreverentes que estampavam o

    camisolo amarelo de sua famosa criatura, permeadas por grias urbanas e crticas aos

    costumes da poca.

    Assim, desde seu nascimento no seio da indstria cultural, ainda que

    condicionadas a discursos pessoais ou corporativos de seus polos de produo, as HQs

    tm se reafirmado como registros histricos de seu tempo e espao, contendo inclusive,

    como apontado por Pustz (2012), grande potencial para o ensino de Histria e o

    desenvolvimento da habilidade do pensamento histrico nos leitores ideia que ainda

    hoje assustaria pais e professores de jovens mundo afora. Gerador de uma conscincia a

    partir do conhecimento de experincias constitutivas de uma determinada cultura

    histrica, o pensamento histrico

    involves a real, meaningful comprehension that life was different in the past,

    that people were different in the past, that those differences are determined

    by certain historical factors that are shaped by complex causes and effects

    that are driven by actual human beings actively working (but not always

    consciously working) to change society. (PUSTZ, 2012, p. 4)2

    Mesmo as revistas de quadrinhos dos super-heris norte-americanos, cuja

    referncia realidade fora do papel no est sempre exposta de forma clara e direta

    como costuma ser nas tiras (esquematizadas para provocar efeito imediato, do alvio

    cmico reflexo crtica, por meio de aluses geralmente frontais ao mundo real),

    revelam fragmentos da historicidade humana como filhos de tempos difceis, conforme

    2 Traduo livre: envolve uma compreenso real e significativa de que a vida era diferente no passado,

    que as pessoas eram diferentes no passado e que essas diferenas so determinadas por certos fatores

    histricos modelados por causas e efeitos complexos guiados por seres humanos reais trabalhando

    ativamente (mas nem sempre trabalhando conscientemente) para mudar a sociedade.

  • Ano XI, n.01 Janeiro/2015 -NAMID/UFPBhttp://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica

    174

    lembra Silva (2012) afinal, o gnero super-heroico nasceu e deu seus primeiros passos

    entre o processo de recuperao da Crise de 1929 e o ingresso dos EUA na Segunda

    Guerra Mundial. A propsito, ambos os eventos, marcantes na Histria norte-americana

    e mundial, foram respectivamente pano de fundo para o surgimento de dois dos maiores

    cones das HQs e da cultura popular daquele pas: o Superman, concebido no embalo

    das polticas do New Deal para personificar, segundo anlise de Lund (2012), o

    regozijante modelo do cidado norte-americano trabalhador, obediente lei e engajado

    no reerguimento social e econmico da ptria; e o Capito Amrica, fruto de uma

    anteviso editorial, como pontua Bandeira (2007), que o tornou smbolo, em 1940, da

    ento iminente campanha militar dos EUA contra a escalada do nazifascismo na

    Europa, contagiando a nao com chauvinismo e histeria blica.

    Nesse sentido, alm das revistas de super-heris tambm poderem instigar o

    pensamento histrico reconhece-se que the presence of the superhero and readers

    identification with him enhances the narrative impact of the historical information

    (PUSTZ, 2012, p. 2)3 , sua condio como unidade fundamental de um profuso e

    competitivo mercado (capitaneado, nos EUA, pelas editoras DC e Marvel Comics) lhes

    permite mais que isso: integrando um sistema de retroalimentao peridica de

    consumo, os quadrinhos super-heroicos no so apenas produtos, mas desempenham o

    papel de produtores culturais, criadores de mitos reiterados cotidianamente por meio

    da periodicidade fixa de publicao e do esquema iterativo de suas narraes para

    gerar lucros refletindo e fomentando anseios coletivos ideologicamente direcionados.

    Tem-se, dessa forma, as HQs de super-heris como artefatos culturais

    embebidos da mentalidade histrica de sua poca, representaes simblicas de mundo

    social e temporalmente influenciadas que emprestam recursos narrativos dos romances

    de folhetim, arqutipos da mitologia grega e perspectivas visuais da linguagem

    cinematogrfica para produzir um delrio extravagante de apelo universal, em cujo

    fundo moral subjaz a ideologia dos produtores de contedo como ocorre com qualquer

    outra representao artstica.

    Consolidado em tempos de mobilizao blica contra as Potncias do Eixo, o

    arquetpico Super-heri Americano se cristalizou no imaginrio coletivo como um

    3 Traduo livre: a presena do super-heri e a identificao dos leitores com ele aprimoram o impacto

    narrativo da informao histrica.

  • Ano XI, n.01 Janeiro/2015 -NAMID/UFPBhttp://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica

    175

    carismtico porta-voz do discurso oficial, com o poder de seduo do mito e a carga

    ideolgica de uma propaganda governamental, defendendo e difundindo os valores de

    uma idealizada democracia capitalista enquanto personificava sonhos de poder e

    transcendncia do homem urbano massacrado pela rotina. As editoras do gnero,

    alinhadas agenda geopoltica da administrao nacional, ergueram seu panteo de

    semideuses modernos a partir dessa combinao de patriotismo e mitologia,

    convenientemente acolhida pelo prprio governo o Capito Amrica, por exemplo, foi

    explorado como garoto-propaganda oficial durante a Segunda Guerra Mundial,

    chegando a ter sua revista distribuda entre as tropas que desembarcavam na Europa

    como forma de apoio moral (BANDEIRA, 2007, p. 30).

    A herana ideolgica permaneceu patente nas HQs norte-americanas de super-

    heris ao longo das dcadas, manifestando-se com maior veemncia em momentos de

    tenso poltica e militar internacional envolvendo os EUA, como a Guerra Fria

    cenrio em que nasceu o Homem de Ferro, magnata industrial e gnio da cincia que

    desenvolve uma armadura hipertecnolgica para apoiar seu pas durante a campanha no

    Vietn; e onde o Capito Amrica encarnou uma polmica fase macartista, como

    registra Bandeira (2007), perseguindo os traidores que levavam a ameaa vermelha

    do comunismo nao-lder do bloco capitalista.

    Os super-heris no ps-11 de Setembro

    Como cones nacionalistas de to evidente valor afetivo no imaginrio popular

    dos EUA, os super-heris no deixariam de partilhar do luto que tomou o pas aps o

    ataque terrorista a Nova York em 11 de setembro de 2001, atribudo organizao

    fundamentalista islmica Al-Qaeda. Personagens como o Homem-Aranha, Superman e

    Hulk foram destacados por suas editoras para, em plena comoo dos primeiros meses

    aps o atentado, cumprirem seu dever cvico de oferecer consolo populao e

    devolver-lhe esperana e orgulho patritico, muitas vezes transparecendo um discurso

    revanchista, como registra Lewis (2012), consonante com o plano poltico-militar que

    culminaria na invaso do Afeganisto e do Iraque sob o nome de Guerra ao Terror. Tais

    histrias, melhor representadas pela edio Homem-Aranha Especial4 que retrata o

    4 The Amazing Spider-Man n. 36 nos EUA.

  • Ano XI, n.01 Janeiro/2015 -NAMID/UFPBhttp://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica

    176

    personagem-ttulo em um monlogo por entre os escombros das torres gmeas do WTC

    , se caracterizaram como mensagens mobilizadoras e convocatrias, um clamor

    grandiloquente e ufanista de exaltao dos cidados norte-americanos como uma

    espcie de povo prometido, heris natos da liberdade. Nos dizeres do Homem-

    Aranha,

    em dias como este nascem inmeros heris como ns. Os verdadeiros heris

    do sculo 21. Cada um de vocs, seres humanos singulares. Vocs, que so

    mais nobres do que pensam e mais fortes do que imaginam. Vocs. Os heris

    deste momento particular da Histria. (STRACZYNSKI; ROMITA Jr., 2002,

    p. 26)

    Com o tempo, porm, alm da tradicional defesa do discurso ideolgico oficial,

    a abordagem das repercusses do ataque terrorista pelos quadrinhos super-heroicos

    abriu espao para questionamentos e mesmo crticas diretas administrao de George

    W. Bush, um contraponto poltico incomum ao gnero, demonstrando que aquele

    governo no gozava de unanimidade entre editores e roteiristas do segmento. Assim,

    entre as HQs de super-heris que exploraram o ambiente de tenso poltica e paranoia

    de vigilncia instalado nos EUA ps-11/9, como os eventos crossover5 da Marvel

    Guerra Secreta (2004-2005), Guerra Civil (2006-2007) e Invaso Secreta (2008), h

    aluses claras ao ento presidente do pas, refletindo a divergncia de opinies entre os

    prprios norte-americanos em relao Doutrina Bush. Conforme constata Bandeira

    (2007), mesmo o Capito Amrica ressurgiu, em 2002, amargurado com seus lderes em

    uma nova srie, recusando chamados oficiais para participar da Guerra ao Terror e,

    frente a antagonistas como um terrorista rabe e um ndio americano, admitindo o

    histrico de intervencionismo genocida dos EUA, para reafirmar em seguida seu dever

    de proteger a populao norte-americana alheia ao jogo poltico predatrio de seus

    governantes.

    Consistindo em curiosos registros histricos e tpicos retratos de poca que nos

    revelam como uma influente indstria de entretenimento assimilou um trauma sem

    precedentes na Histria de seu pas, tentando manter-se relevante para um pblico

    enlutado e moralmente abatido, as HQs de super-heris ps-11/9 encontram seu mais

    emblemtico expoente numa srie original criada especificamente para refletir, sem o

    5 Narrativas que se desenvolvem simultaneamente em vrias sries diferentes, reunindo os protagonistas

    destas em um nico enredo.

  • Ano XI, n.01 Janeiro/2015 -NAMID/UFPBhttp://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica

    177

    verniz patritico tradicionalmente vinculado ao gnero, a turbulenta realidade social,

    poltica e cultural dos EUA nos anos imediatamente posteriores ao colapso do WTC.

    Trata-se de Ex Machina, obra discutida a seguir.

    Ex Machina: espelho alegrico dos EUA ps-11/9

    Publicada em 54 edies lanadas entre 2004 e 2010 em seu pas de origem (e

    posteriormente compilada em dez volumes encadernados), Ex Machina herdeira de

    uma eminente linhagem de quadrinhos que remonta ao incio dos anos 1980, quando

    ttulos como V de Vingana (1982) e American Flagg! (1983) se propuseram a explorar

    questes entre herosmo, poltica e crtica social sem o maniquesmo caricato das

    aventuras evasivas originais. A obra de Brian K. Vaughan e Tony Harris tambm

    descende da chamada Era Sombria dos Quadrinhos6, informalmente nomeada por

    estudiosos e crticos da indstria como o perodo iniciado por Watchmen (1986) e

    Batman O Cavaleiro das Trevas (1986), estreando uma abordagem mais cerebral e

    desconstrutivista do gnero super-heroico e exigindo, assim, maior engajamento

    intelectual dos leitores maduros aos quais se dirigiam. A partir de ento, as editoras

    perceberam, com a concesso de maior liberdade autoral aos roteiristas, o potencial

    comercial e artstico de se explorar narrativamente, atravs de sries distintamente

    voltadas ao pblico adulto, o que pode acontecer se all this dumb, wonderful, four-

    color stuff has real emotional weight and depth, and it means more than it literally

    means (GAIMAN apud GRAVETT, 2005, p. 77)7.

    Ex Machina nasce, ento, dessa abertura do mercado para obras um tanto mais

    experimentais e perspectivas de potencial inovador, explorando e evidenciando uma

    qualidade dos quadrinhos definida por Pustz:

    the immediacy of comics is what also helps it to be able to record events and

    emotions directly and personally. Comics as a medium is inherently

    expressionistic. As art, it is created, sometimes as a representation of reality

    and sometimes as an expression of emotion. (PUSTZ, 2012, p. 6)8

    6 No h unanimidade quanto ao desfecho deste perodo; para alguns, ele se estende at hoje, enquanto

    outros o consideram terminado em meados dos anos 1990, com o surgimento da editora Image Comics,

    fundada por autores dissidentes da Marvel. 7 Traduo livre: toda essa coisa boba, maravilhosa e de quatro cores [referncia s cores de impresso

    primrias] tem profundidade e peso emocional real, e significa mais do que literalmente significa. 8 Traduo livre: o imediatismo dos quadrinhos tambm o que os ajuda a serem capazes de registrar

    eventos e emoes direta e pessoalmente. Quadrinhos como um meio so inerentemente expressionistas.

  • Ano XI, n.01 Janeiro/2015 -NAMID/UFPBhttp://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica

    178

    Dessa forma, a srie publicada pelo selo Wildstorm, da DC, extrai da fora

    expressiva das HQs e seu imediatismo reverberante as ferramentas para constituir-se

    como uma contundente representao da realidade norte-americana ps-11 de Setembro,

    desvelando uma viso pessoal a respeito dos efeitos colaterais daquele trauma histrico,

    tanto sobre o ethos dos EUA quanto sobre uma das maiores instituies da cultura

    popular do pas: o super-heri de quadrinhos.

    Com a contribuio decisiva da arte fotorreferencial de Tony Harris, que

    estabelece uma caracterizao sbria e ambientao realista, adequadas reviso crtica

    do gnero super-heroico proposta por Vaughan, Ex Machina narra a saga do engenheiro

    civil Mitchell Hundred, eleito prefeito de Nova York graas a uma providencial

    interveno num fielmente reimaginado 11 de setembro de 2001, quando,

    paramentado como seu alter ego, o vigilante alado A Grande Mquina, recorre ao dom

    de manipular mquinas verbalmente que adquiriu aps ser exposto exploso de um

    desconhecido artefato tecnolgico para desviar o segundo voo sequestrado pela Al-

    Qaeda, evitando a queda da Torre Sul do WTC.

    Assim, j em suas primeiras edies a HQ contempla, como um espelho

    alegrico, algumas problemticas evidentes dos EUA ps-11/9: a destruio de um

    cone da imagem familiar da nao norte-americana[...] com sua marca insubstituvel

    na silhueta de Manhattan e sua poderosa corporificao de fora econmica e projeo

    para o futuro (HABERMAS apud BORRADORI, 2004, p. 40), tendo o impacto

    simblico de provocar o chamado collapse of a planned life (KENNY apud GEERS,

    2012, p. 251)9, e portanto desestabilizando uma viso de mundo culturalmente

    predominante pela intruso do desastre numa realidade fragilmente preservada, faz

    com que a populao vitimada pelo trauma subsequente recorra em desespero a

    personificaes de mitos que ela mesma aprendeu a cultivar. Dessa forma, em um

    momento de impotncia coletiva e pnico generalizado, o salvamento de uma das torres

    gmeas por um super-heri o suficiente para garantir-lhe a prefeitura de Nova York,

    assim como as encarnaes heroicas de Arnold Schwarzenegger no cinema o

    credenciariam, em 2003, ao governo da Califrnia cargo que o ator de Hollywood

    Como arte, so criados algumas vezes como uma representao da realidade e outras como uma

    expresso de emoo. 9 Traduo livre: colapso de uma vida planejada.

  • Ano XI, n.01 Janeiro/2015 -NAMID/UFPBhttp://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica

    179

    ocupou at 2011.

    Vaughan, nesse sentido, concebe a apario to milagrosa quanto absurda de um

    salvador no fatdico 11/9 (da a aluso ao recurso narrativo deus ex machina10 no nome

    da srie) para criticar o messianismo potencializado no imaginrio cotidiano por uma

    indstria cultural que espetaculariza o real como fico a que se submete a massa

    amedrontada, especialmente em tempos de crise. Como argumenta Chomsky, a

    Doutrina Bush oportunamente se alimentou deste cenrio de suscetibilidade popular no

    ps-11 de Setembro para instituir medidas impopulares sob o disfarce de combate ao

    terror, explorando sempre a atmosfera de medo e o apelo ao patriotismo

    (CHOMSKY, 2011, p. 159).

    Por outro lado, o fato de Hundred ter salvado apenas metade do WTC

    sintomtico de uma das mais proeminentes mensagens de Ex Machina: a falibilidade do

    Super-heri Americano ante as tragdias do mundo real, sugerindo que mesmo em um

    contexto onde tais seres fantsticos fossem realidade, no poderiam ser infalveis a

    ponto de prever e evitar estratagemas obscuros subjacentes s dinmicas globais de um

    panorama cuja volatilidade move-se por conflitos polticos e interesses econmicos.

    Nesse sentido, com a deciso de ingressar na vida poltica, acreditando que

    poderia contribuir bem mais estando dentro do sistema do que acima da [lei]11,

    Hundred simboliza a rendio do idealismo super-heroico ao pragmatismo poltico,

    evidenciando a inadequao do herosmo solitrio quando se busca uma real

    transformao social (antes da interveno no 11/9, A Grande Mquina mostra-se um

    desastrado patrulheiro autnomo, inbil com seus prprios poderes, chegando a ser

    perseguido como criminoso pela polcia nova-iorquina).

    No ltimo tero da srie, Vaughan se aprofunda ainda mais na desconstruo

    desse popular gnero de HQs: ao retratar a crise moral que metamorfoseia seu

    protagonista num governante maquiavlico e corrupto capaz de cometer males

    necessrios como fraudes eleitorais e assassinato de amigos ntimos em nome de um

    bem maior , Ex Machina desmascara a base ideolgica sobre a qual foi concebido o

    Super-heri Americano, levando ao palco da poltica sua defesa apaixonada da

    10

    Literalmente, deus na mquina. Uma pessoa ou fora que vem providenciar uma soluo improvvel para uma situao impossvel, batizada assim devido aos dispositivos mecnicos usados pelos

    dramaturgos gregos a fim de fazer descer no palco atores que interpretavam divindades. (VAUGHAN; HARRIS, 2005, p. 5) (Em Ex Machina: Estado de Emergncia). 11

    VAUGHAN; HARRIS, 2012, p. 55 (em Ex Machina: Truque Sujos).

  • Ano XI, n.01 Janeiro/2015 -NAMID/UFPBhttp://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica

    180

    democracia capitalista e, assim, revelando a ambiguidade de um altrusmo e senso de

    justia evocados para exaltar o American way of life e endossar a superioridade militar e

    econmica dos EUA.

    Ao mesmo tempo, a trgica degenerao tica de Hundred pode ser vista como

    uma enftica crtica administrao de Bush, estendendo-se implicitamente agenda

    poltica, militar e econmica que historicamente consolidou a hegemonia dos EUA no

    panorama geopoltico internacional. Mantendo a postura de timoneiro da nao, o

    inescrupuloso anti-heri incorpora o unilateralismo mal disfarado de uma

    superpotncia insensvel (HABERMAS apud BORRADORI, 2004, p. 39) atribudo ao

    lder republicano no ps-11 de Setembro. Seu autoritarismo e poder manipulador

    espelham a truculncia blica e a coao intimidante praticados pelos EUA para levar a

    cabo a Guerra ao Terror, ignorando a no aprovao do Conselho de Segurana da

    Organizao das Naes Unidas, e envolver seus aliados na campanha.

    Essa perspectiva negativa com que Vaughan expe a transformao de seu

    protagonista reflete ainda outro trao marcante do zeitgeist daquele contexto: a crise de

    liderana que atingiu os EUA na cadeia de eventos seguintes ao desastre, incluindo,

    alm das controversas invases ao Afeganisto e ao Iraque (com o alegado objetivo de

    desbaratar a Al-Qaeda e apreender supostas armas de destruio em massa), a

    instituio do Patriot Act, impopular decreto federal que permite ao governo a prtica

    de espionagem domstica contra nativos e estrangeiros, como a quebra de sigilo de

    informaes pessoais de indivduos considerados suspeitos de terrorismo. Tais

    polmicas medidas, justificadas atravs de um j decadente discurso nacionalista, so

    ironizadas pelo ceticismo implcito na caracterizao do prefeito Hundred, que

    corrobora a desiluso generalizada no senso comum sobre a corruptibilidade e a retrica

    falaciosa da classe poltica, sentimento palpvel nos EUA ps-11/9 com a queda de

    prestgio do governo Bush e do apoio popular Guerra ao Terror.

    Esta histria[...] pode parecer um gibi12, mas na verdade uma tragdia13,

    adverte Hundred logo na primeira cena da srie. Sozinho, em um local que somente nas

    ltimas pginas da obra seria identificado como a residncia oficial do vice-presidente

    norte-americano (cargo que conquista nas eleies de 2008, na chapa do conservador

    12

    Termo muito utilizado no Brasil para referir-se a revistas de quadrinhos, popularizado devido

    publicao nacional homnima lanada pela editora Globo no final dos anos 1930. 13

    VAUGHAN; HARRIS, 2005, p. 6 (Em Ex Machina: Estado de Emergncia).

  • Ano XI, n.01 Janeiro/2015 -NAMID/UFPBhttp://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica

    181

    John McCain), o personagem dirige-se ao leitor para relatar sua trajetria com um claro

    tom de amargura e resignao, como se reconhecesse os desvios de carter que

    marcaram sua ambiciosa carreira at ali. L-se, nas entrelinhas do monlogo que abre e

    encerra a obra, uma espcie de confisso do mitolgico Super-heri Americano, que

    admite a culpabilidade dos EUA sobre retaliaes extremas de adversrios polticos e

    ideolgicos, assumindo a hipocrisia de uma Guerra ao Terror capitaneada por um

    Estado lder do terrorismo (CHOMSKY, 2011, p. 17), cujo intervencionismo

    predatrio alimenta uma reserva de ressentimento e raiva (Ibid., p. 13) por parte, por

    exemplo, de populaes que vivem sob regimes opressores apoiados pelo governo

    norte-americano.

    Consideraes finais

    Tal como as grandes obras da literatura de fico cientfica, de George Orwell a

    Philip K. Dick, Ex Machina recorre potncia alegrica da fantasia para oferecer um

    novo olhar crtico sobre a idiossincrtica sociedade contempornea. Trata-se de um

    representativo produto cultural ps-11 de Setembro, absorvendo, sombra dos ataques

    terroristas, o desencanto com o mito do super-heri como soluo dos males do mundo;

    primeiro com A Grande Mquina, que simboliza o fracasso do super-herosmo face

    inevitabilidade do desastre, e posteriormente com o prefeito Mitchell Hundred,

    manifestao da descrena em se trazer mudana real para um sistema intricado e

    vicioso.

    Vaughan e Harris concebem, dessa forma, uma autocrtica metalingustica dos

    quadrinhos super-heroicos enquanto convidam seus leitores ao vislumbre de

    problemticas reais, nos EUA dos anos 2000, metaforizadas em um simulacro to

    divertido quanto provocativo. Mais do que retratar a crise do Super-heri Americano no

    ps-11 de Setembro, Ex Machina traz uma mensagem poltica que transcende aquela

    conjuntura sociotemporal, assimilando, atravs da representatividade simblica de seu

    super-heri-poltico, a impossibilidade de absolvio moral para o Estado norte-

    americano aps um longo histrico de arbitrrias prticas poltico-militares que

    levantam a bandeira da expanso internacional da democracia para dissimular objetivos

    de ampliao de sua influncia econmica pelo globo.

    Tendo herdado da srie Watchmen a crtica utilidade e eficincia do super-

  • Ano XI, n.01 Janeiro/2015 -NAMID/UFPBhttp://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica

    182

    heri como agente de segurana e bem-estar social, a obra ainda sintetiza e aprofunda

    questes levantadas por outros quadrinhos do gnero no ps-11/9, marcados em certo

    momento, como nota Lewis (2012), por conflitos entre o idealismo de protagonistas

    relutantes em participar de esforos de guerra, como o Capito Amrica e o Superman, e

    o pragmatismo insensvel de avatares do discurso poltico, como o general Nick Fury

    em Guerra Secreta e Lex Luthor, presidente dos EUA em Our Worlds At War (2002)14.

    A metamorfose de Mitchell Hundred, nesse contexto, representa, mais do que a

    rendio da aparente pureza moral do Super-heroi Americano ante a coao da

    beligerncia estatal, a decadncia de um herosmo patritico subserviente aos interesses

    polticos da nao.

    Referncias

    BANDEIRA, D. O escudo manchado: um heri em tempo de guerra. Joo Pessoa:

    Marca de Fantasia, 2007.

    BORRADORI, G. Filosofia em tempo de terror: dilogos com Habermas e Derrida.

    Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.

    CHOMSKY, N. 11 de Setembro. 10. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.

    ECO, U. Apocalpticos e integrados. 6. ed. So Paulo: Perspectiva, 2006.

    EISNER, W. Quadrinhos e arte sequencial. So Paulo: Martins Fontes, 1989.

    GEERS, J. The Great Machine doesnt wear a cape! American cultural anxiety and the post-9/11 superhero. In: PUSTZ, M. (Org.). Comic books and American cultural

    history: an anthology. Nova York: Continuum, 2012.

    GRAVETT, P. Graphic novels: everything you need to know. Nova York: Collins

    Design, 2005.

    LEWIS, A. D. The militarism of American superheroes after 9/11. In: PUSTZ, M.

    (Org.). Comic books and American cultural history: an anthology. Nova York:

    Continuum, 2012.

    LUND, M. American golem Reading America through super-new dealers and the melting pot. In: PUSTZ, M. (Org.). Comic books and American cultural history: an anthology. Nova York: Continuum, 2012.

    14

    Mundos em Guerra no Brasil.

  • Ano XI, n.01 Janeiro/2015 -NAMID/UFPBhttp://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica

    183

    MCCLOUD. S. Desvendando os quadrinhos. So Paulo: Makron Books, 1995.

    MOYA, A. de. Histria das histrias em quadrinhos. 2. ed. So Paulo: Brasiliense,

    1993.

    PUSTZ, M. Comic books as history teachers. In: PUSTZ, M. (Org.). Comic books and

    American cultural history: an anthology. Nova York: Continuum, 2012.

    SILVA, K. C. El cmic y sus relaciones con la Historia: un estudio de las

    representaciones del 11 de septiembre de 2001 y sus consecuencias. In: Libro de Actas

    del Segundo Congreso Internacional Vietas Serias Narrativas grficas: lenguajes entre el arte y el mercado, 2012, Buenos Aires. Disponvel em:

    .

    Acesso em: 11/03/2014.

    Quadrinhos consultados

    STRACZYNSKI, J. M.; ROMITA Jr., J. Homem-Aranha especial. Barueri: Panini

    Brasil, 2002.

    VAUGHAN, B. K.; HARRIS, T. Ex machina: blecaute (n. 6). Barueri: Panini Brasil,

    2011.

    ______. Ex machina: estado de emergncia (n. 1). Barueri: Panini Brasil, 2005.

    ______. Ex machina: ex cathedra (n. 7). Barueri: Panini Brasil, 2012.

    ______. Ex machina: fato e fico (n. 3). Barueri: Panini Brasil, 2009.

    ______. Ex machina: fumaa e fogo (n. 5). Barueri: Panini Brasil, 2010.

    ______. Ex machina: limite de mandato (n. 10). Barueri: Panini Brasil, 2012.

    ______. Ex machina: marcha guerra (n. 4). Barueri: Panini Brasil, 2010.

    ______. Ex machina: os sinos da despedida (n. 9). Barueri: Panini Brasil, 2012.

    ______. Ex machina: smbolo (n. 2). Barueri: Panini Brasil, 2011.

    ______. Ex machina: truques sujos (n. 8). Barueri: Panini Brasil, 2012.