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1 UNIVERSIDADE DO MINHO ESCOLA DE DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL EXECUTIVO 2.ª CHAMADA – 8 DE JANEIRO DE 2007 Leia atentamente todo o exame e, só depois, responda às questões que lhe são formuladas, justificando sempre, legal ou doutrinalmente, a sua resposta. António, casado com Berta no regime de comunhão de adquiridos, reside em Barcelos e é médico no hospital de S. Marcos, em Braga. Em Março de 2006, como pretendia construir uma garagem ao lado da sua vivenda para parqueamento dos dois automóveis do casal, celebrou verbalmente um contrato de empreitada com a sociedade Construções do Lima, Lda., com sede em Viana do Castelo, a qual se comprometeu a concluir a obra em três meses, mediante o pagamento de € 45.000,00. Concluída a empreitada no final de Maio, António convencionou verbalmente com Carlos, sócio-gerente da sociedade e seu amigo de longa data, que pagaria a quantia acordada até 30 de Junho. Sucede, porém, que António não procedeu ao pagamento de qualquer quantia, pelo que a sociedade intentou contra este uma acção declarativa de condenação no Tribunal Judicial de Barcelos com vista ao pagamento da quantia em dívida (Proc. n.º 125/06.0TBBCL). Na audiência preliminar realizada em Novembro, as partes chegaram a um acordo por iniciativa do juiz, o qual homologou por sentença a seguinte transacção judicial: “1.º O réu compromete-se a pagar à Autora na sua sede a quantia de € 45.000,00. 2.º Todavia, o pagamento dessa quantia só poderá ser exigido depois da Autora eliminar os defeitos da obra denunciados pelo réu na sua contestação – fissuras nas paredes e vestígios de humidade no tecto. 3.º As custas da acção serão suportadas em partes iguais pela Autora e pelo réu.” a) Tendo a sociedade Construções do Lima, Lda. realizado as obras necessárias à eliminação dos defeitos da empreitada, António, ainda assim, não procedeu ao pagamento da quantia constante da sentença homologatória da transacção judicial. Como poderia a sociedade reagir perante esse facto? - Art. 4.º, n.º 1 (Tipos de Acções) - Art. 4.º, n.º 3 – Acção executiva (noção)

Exame de Procº Executivo

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UNIVERSIDADE DO MINHOESCOLA DE DIREITODIREITO PROCESSUAL CIVIL EXECUTIVO2. CHAMADA 8 DE JANEIRO DE 2007Leia atentamente todo o exame e, s depois, responda s questes que lhe so formuladas, justificando sempre, legal ou doutrinalmente, a sua resposta.

Antnio, casado com Berta no regime de comunho de adquiridos, reside em Barcelose mdico no hospital de S. Marcos, em Braga.Em Maro de 2006, como pretendia construir uma garagem ao lado da sua vivenda para parqueamento dos dois automveis do casal, celebrou verbalmente um contrato de empreitada com a sociedade Construes do Lima, Lda., com sede em Viana do Castelo, a qual se comprometeu a concluir a obra em trs meses, mediante o pagamento de 45.000,00.Concluda a empreitada no final de Maio, Antnio convencionou verbalmente com Carlos, scio-gerente da sociedade e seu amigo de longa data, que pagaria a quantia acordada at 30 de Junho.Sucede, porm, que Antnio no procedeu ao pagamento de qualquer quantia, pelo que a sociedade intentou contra este uma aco declarativa de condenao no Tribunal Judicial de Barcelos com vista ao pagamento da quantia em dvida (Proc. n. 125/06.0TBBCL).Na audincia preliminar realizada em Novembro, as partes chegaram a um acordo por iniciativa do juiz, o qual homologou por sentena a seguinte transaco judicial:1. O ru compromete-se a pagar Autora na sua sede a quantia de 45.000,00.2. Todavia, o pagamento dessa quantia s poder ser exigido depois da Autora eliminar os defeitos da obra denunciados pelo ru na sua contestao fissuras nas paredes e vestgios de humidade no tecto.3. As custas da aco sero suportadas em partes iguais pela Autora e pelo ru.a) Tendo a sociedade Construes do Lima, Lda. realizado as obras necessrias eliminao dos defeitos da empreitada, Antnio, ainda assim, no procedeu ao pagamento da quantia constante da sentena homologatria da transaco judicial. Como poderia a sociedade reagir perante esse facto? - Art. 4., n. 1 (Tipos de Aces)- Art. 4., n. 3 Aco executiva (noo)(Exequibilidade extrnseca)- Art. 45., n. 1 Toda a execuo pressupe um ttulo executivo, pelo qual sem determinam os fins e os limites da execuo;- Art. 46. - Enumerao taxativa dos ttulos executivos:- Distino entre ttulos executivos judiciais, extrajudiciais e de formao judicial;- No caso em anlise, o ttulo executivo uma sentena homologatria de um acordo judicial, (art. 300., n. 3) a qual pertence categoria das sentenas condenatrias [art. 46., n. 1, a)];- A sentena homologatria caracteriza-se pelo facto de o juiz se limitar a sancionar a composio dos interesses em litgio pelas prprias partes, limitando-se a verificar a sua validade enquanto negcio jurdico (1).- Anselmo de Castro enquadra as sentenas homologatrias na categoria dos ttulos executivos parajudiciais, uma vez que estes ttulos, embora se formem em processos judiciais, no procedem, todavia, de uma deciso judicial. Em contrapartida, Lebre de Freitas considera que estas sentenas constituem verdadeiras sentenas de condenao, embora possam estar sujeitas a um regime jurdico particular decorrenteda negociao entre as partes (2).(Exequibilidade intrnseca)- Art. 802. - A execuo principia pelas diligncias destinadas a tornar a obrigao certa, lquida e exigvel;- Art. 803. - A obrigao deve ser certa, ou seja, deve estar determinada quanto suaqualidade:- No caso em concreto, a obrigao certa, uma vez que est em causa a obrigao de pagamento de uma quantia monetria estipulada no ttulo e expressa numa moeda concreta (euro);

(1) Freitas, Lebre de, A aco executiva depois da reforma, Coimbra Editora, 2004, p. 50.(2) Freitas, Lebre de, A aco executivas depois da reforma, ob. cit., pp. 50-51.- Art. 804. - A obrigao deve ser exigvel:- A obrigao diz-se exigvel quando se encontra vencida, ou seja, quando o credor se encontra em condies de poder exigir o seu cumprimento ao devedor;- No caso sub iudice, a transaco judicial estipula que a sociedadeConstrues do Lima, Lda. s pode exigir a Antnio o cumprimento da sua obrigao depois daquela eliminar todos os defeitos da empreitada.Assim, verifica-se que a exigibilidade da obrigao depende da satisfao de uma prestao pelo credor, podendo Antnio invocar a excepo de no cumprimento do contrato exceptio non adimpleti contractus enquanto a sociedade no reparar os defeitos da obra (art. 428. do Cc).- Desta forma, nos termos do n. 1 do art. 804., o credor s pode exigir o cumprimento coercivo da obrigao depois de provar a satisfao da sua obrigao, sob pena de no poder intentar a execuo. Verifica-se, desta forma, a necessidade de desencadear uma fase liminar probatria relativamente exigibilidade da obrigao, a qual feita, quando possvel, atravs de prova documental perante o agente de execuo (art. 804., n. 1). No podendo a prova ser feita atravs de documentos, o credor deve apresentar a prova extradocumental no prprio requerimento executivo, havendo lugar a despacho liminar [art. 812.-A, n. 2, b)]. Neste caso possvel a verificao de uma de duas situaes:a) o juiz entende que no necessrio ouvir o devedor, sendo que, nesse caso o credor apresenta a prova de forma sumria ordenando o juiz o prosseguimento da execuo caso entenda que a obrigao exigvel;b) o juiz entende que necessrio ouvir o executado antes da execuo prosseguir, pelo que este citado com a advertncia de que, no contestando, se considera verificada a condio ou efectuada ou oferecida a prestao. Caso o devedor entenda que a obrigao no exigvel, essa defesa s pode ter lugar em sede de oposio execuo [art. 805., n. 3 e 814., e)].- Art. 805. - A obrigao deve ser lquida, ou seja, deve estar determinada relativamente sua quantidade.- No caso em anlise, a obrigao exequenda no ainda lquida, mas liquidvel atravs de uma operao de simples clculo aritmtico, a ser realizada pelo exequente no prprio requerimento executivo, o qual dever calcular os juros de mora taxa comercial desde o vencimento da obrigao at efectivo e integral pagamento.- Tendo o credor um ttulo executivo, e sendo a obrigao certa, exigvel e lquida, deveser intentada uma aco executiva. Face natureza da obrigao (pagamento de uma quantia pecuniria), deve ser intentada uma aco executiva para pagamento de quantia certa (art. 45., n. 2).b) Qual o tribunal competente para essa aco? (2 valores)- Anlise da competncia interna em matria executiva (relao jurdica interna) Matria (arts. 66. e 67.)- Competncia residual dos tribunais judiciais (art. 66.);- Incompetncia dos tribunais de competncia especializada (art. 67.); Valor e forma do processo (arts. 68. e 69.)- Valor e forma (art. 68. do CPC) Tribunais singulares e tribunais colectivos- Excedendo o valor da execuo a alada da Relao (arts. 305. e 306. do CPC e 24. da LOFTJ), competente para apreciar os eventuais incidentes executivos que sigam os termos do processo de declarao o tribunal colectivo, sem prejuzo dos casos em que a lei do processo exclui a sua interveno (art. 646. do CPC). No excedendo, competente o tribunal singular.- No caso em anlise, uma vez que o valor da execuo 45.000 + juros j vencidos (arts. 305. e 306.) excede o valor da alada da Relao (art. 24. da LOFTJ), competente o tribunal colectivo (sem prejuzo da aplicao do regime previsto no art. 646.);- Forma (art. 69.)- Em regra, so competentes os juzos de execuo (art. 102.-A da LOFTJ);- No existindo juzos de execuo, necessrio ter em considerao a natureza do ttulo executivo:- sendo o ttulo executivo judicial, competente o prprio tribunal de competncia especfica onde a aco declarativa respectiva correu termos;- sendo o ttulo executivo extrajudicial, necessrio ter em conta o valor da execuo:- quando este excede a alada da Relao, competente a vara cvel;- quando no excede a alada da Relao, competente o juzo cvel.- No caso em anlise competente, existindo, o juzo de execuo (art. 102.-A da LOFTJ);- No existindo juzos de execuo e sendo o ttulo executivo judicial, competente o tribunal de competncia especfica onde decorreu a aco principal. Hierarquia (arts. 70. a 72. e 91.)- Em matria executiva, competente para a execuo apenas o tribunal de 1. instncia. Territrio (art. 90.)- Estando em causa um ttulo executivo judicial, a competncia territorial definida pelo art. 90.;- Com efeito, estando em causa uma deciso proferida por tribunais portugueses, competente o tribunal do lugar em que a causa foi julgada (art. 90., n. 1);- A execuo corre, em regra, por apenso, salvo quando a sentena tenha sido proferida por tribunal com competncia especfica cvel ou com competncia genrica (desde que o processo tenha entretanto subido em recurso) e nessa comarca exista um juzo de execuo, caso em que o processo corre no traslado (art. 90., n. 3);- Tendo a aco declarativa decorrido em Barcelos e no existindo nesta comarca um juzo de execuo, competente para a causa o Tribunal Judicial de Barcelos, correndo a aco executiva por apenso ao processo declarativo (Proc. n. 125/06.0-ATBBCL).c) Aps a entrada do requerimento executivo em juzo, qual ser a tramitao da execuo tendo em conta os elementos constantes da transaco judicial? - Anlise da tramitao da execuo:- Apresentado o requerimento executivo em juzo, em regra h lugar a despacho liminar (art. 812.);- No entanto, o legislador consagrou diversos regimes especiais, sendo que a regra se tornou excepo. Com efeito, podem verificar-se as seguintes situaes:i) Dispensa de despacho liminar e de citao prvia do executado (art.812.-A, n. 1 e 812.-B, n. 1);ii) Casos em que h sempre despacho liminar (812.-A, n. 2);iii) Dispensa de despacho liminar, mas a citao feita antes da penhora (art. 812., n. 7)- No caso em anlise, o ttulo executivo uma sentena homologatria de uma transaco judicial [art. 46., n. 1, a)];- Tendo a execuo por base uma deciso judicial, no h lugar a despacho liminar [art. 812.-A, n. 1, a)];- Todavia, no caso em anlise, a exigibilidade da obrigao depende de prova do credor quanto realizao da sua prestao reparao dos defeitos da empreitada , a qual, no podendo ser feita por documento, tem de ter lugar perante o juiz (art. 804., n. 2);- Nesse sentido, nos termos do art. 812.-A, n. 2, b), h sempre despacho liminar (prvio) nos casos previstos no art. 804., n. 2.- Entendendo o juiz, nos termos do art. 804., n. 2, que no necessrio ouvir o devedor e que a execuo se encontra em condies de prosseguir (tendo em conta a prova sumariamente apresentada pelo credor), o processo segue os seus termos (com ou sem citao prvia do executado, conforme o caso (3)). Ora, tendo em conta que o ttulo executivo uma deciso judicial, no h citao prvia do executado, pelo que a penhora feita de imediato [arts. 812.-A, n. 1, a) e 812.-B, n. 1];- Entendendo o juiz, nos termos do art. 804., n. 2, que necessrio ouvir o devedor no decurso das diligncias para tornar a obrigao exigvel, este imediatamente citado (citao antecipada), sendo que, neste caso, a citao feita antes da penhora.(3) Freitas, Lebre de, A aco executivas depois da reforma, ob. cit., p. 94.d) Sabendo que o juiz entendeu que era necessrio ouvir o executado antes da execuo prosseguir, como poder Antnio defender-se nesta aco, em que prazo, com que fundamentos e quais os efeitos dessa defesa no processo? - Uma vez que o juiz entendeu que era necessrio ouvir o devedor no decurso das diligncias para tornar a obrigao exigvel, este foi citado antes da penhora (art. 812.-B, n. 1, a contrario);- Assim, o executado citado para pagar ou deduzir oposio execuo (art. 813.);- Estando em causa um ttulo executivo judicial, o executado pode opor-se execuocom os fundamentos previstos no art. 814., com destaque para a alnea h);- No que concerne ao prazo da defesa, este de 20 dias (art. 813., n. 1);- Tendo o executado sido citado previamente penhora, a oposio execuo no suspende o processo de execuo (art. 818., n. 1), salvo se o executado prestar cauo.e) Suponha que a sociedade veio alegar que a dvida era comum do casal, uma vez que a empreitada beneficiara ambos os cnjuges. Alm disso, o solicitador de execuo penhorou um veculo da marca BMW que Berta adquirira a pronto pagamento h 2 meses.Como poder Berta reagir perante estes factos e at que dia, sem multa, sabendo queesta foi citada atravs de contacto pessoal do solicitador de execuo no acto da penhora no dia 21 de Dezembro de 2006? - Nos termos do n. 2 do art. 825.o, o exequente pode alegar fundamentadamente quea dvida comum apenas quando esteja em causa um ttulo diverso de sentena;- Ora, no caso em anlise, estando em causa uma sentena homologatria de uma transaco, fica vedada ao exequente a possibilidade de alegar a comunicabilidade da dvida, sendo que a aco declarativa devia ter sido proposta contra ambos os cnjuges ou apenas contra um deles (mas com o chamamento do outro aco atravs de um incidente de interveno de terceiros).- Sendo a dvida da responsabilidade de um dos cnjuges e estando este casado no regime de comunho de adquiridos, pelas suas dvidas respondem os seus bens prprios e, subsidiariamente, a sua meao nos bens comuns (art. 1696., n. 1, do Cc);- No caso em anlise, o solicitador penhorou num automvel BMW que Berta adquiriah 2 meses;- Este automvel, em princpio, um bem comum do casal uma vez que foi adquirido depois do casamento [art. 1724., b) do Cc] (a no ser quando se verifique algum dos casos previstos nos arts. 1722. e 1723. do Cc);- Sendo a execuo movida contra apenas um dos cnjuges e tendo sido penhorado um bem comum do casal, por no se conhecerem outros bens prprios do executado, o solicitador de execuo deve citar o cnjuge do executado [art. 825., n. 1 e 864.-A, n. 3, a)] para que, no prazo que dispe para a oposio, requeira a separao de bens (art. 1406.) ou junte ao processo certido comprovativa de que essa separao j foi requerida.- Sendo requerida a separao de bens ou junta a certido comprovativa de que essa separao j foi requerida, a execuo fica suspensa at partilha dos bens (art. 825., n. 7);- No deduzindo o cnjuge do executado qualquer oposio a essa penhora ou no requerendo a separao de bens, a execuo prossegue nos bens penhorados. (Contagem do prazo)- Nos termos do art. 864.-A, o cnjuge do executado deve deduzir esta oposio no prazo de 10 dias [dado que o executado foi citado antes da penhora, uma vez que, se tal no se tivesse verificado, o prazo seria de 20 dias art. 863.-B, n. 1, a)];- A citao foi feita por contacto pessoal do solicitador de execuo [arts. 233., n. 1 en. 2, b) + 239., n. 7];- A citao por contacto pessoal do solicitador de execuo tem lugar, nomeadamente,quando o exequente assim o tenha requerido no requerimento executivo;- O cnjuge do executado considera-se citado no prprio dia do contacto pelo solicitador de execuo 21 de Dezembro de 2006.- Ao prazo peremptrio podem acrescer prazos dilatrios (art. 252.-A)- No caso em concreto no h dilaes uma vez que a aco est a correr no tribunal da comarca onde a citada tem a sua residncia e, por outro lado, a citao foi feita pessoalmente pelo solicitador de execuo (art. 252.-A, a contrario);- Prazo para a oposio: 10 dias (art. 864.-A);- O prazo comea a correr no dia 4 de Janeiro [art. 279., b) Cc], uma vez que o primeiro dia seguinte ao da citao (22 de Dezembro) marca o incio das frias judiciais, as quais se prolongam at ao dia 3 de Janeiro, no se contando os prazos neste perodo de tempo (salvo quando estejam em causa processos urgentes ou prazos superiores a 6 meses) art. 22. da LOFTJ e art. 144., n. 1;- O prazo conta-se de forma contnua (art. 144., n. 1);- O prazo termina, sem multa, no dia 13 de Janeiro (Sbado);- Terminando o prazo em dia em que os tribunais se encontrem encerrados, o seu termo transfere-se para o primeiro dia til subsequente (art. 144., n. 2);- Desta forma, o prazo para Berta reagir a esta penhora termina, sem multa, no dia 15 de Janeiro (2. feira).f) Em hiptese autnoma da anterior, suponha que o solicitador de execuo penhorouos seguintes bens:- uma biblioteca composta por livros tcnicos de medicina, bem como alguns diplomas por mrito profissional que se encontravam no escritrio de Antnio;- um porttil pertencente administrao do hospital de S. Marcos e que Antnio utiliza no exerccio das suas funes;- o salrio que Antnio aufere enquanto mdico no hospital de S. Marcos, no montante de 2.700,00, e uma conta ordem, de que este o nico titular, com um saldo de 7.500,00;- 300 m2 de um terreno com 500m2, o qual confronta a sul com a vivenda de Antnio, e de que so comproprietrios este e o seu irmo Daniel;- o automvel da marca Mercedes adquirido por Antnio depois do casamento, o qual se encontrava na oficina de Filipe (este recusa-se a entregar o automvel at que lhe seja paga a reparao no valor de 2.750,00).Pronuncie-se sobre a admissibilidade da penhora dos bens supra referidos e diga, paracada um dos casos, o que poder fazer cada uma das entidades referidas face a este acto processual (35 linhas). - Pelo cumprimento da obrigao respondem todos os bens do devedor susceptveis depenhora (art. 601. do Cc);- No sendo a obrigao voluntariamente cumprida, o credor tem o direito de exigir judicialmente o seu cumprimento e de executar o patrimnio do devedor (art. 817. do Cc);- Esto sujeitos execuo todos os bens do devedor susceptveis de penhora que, nos termos da lei substantiva, respondam pela dvida exequenda (art. 821.);- A penhora deve observar os princpios da proporcionalidade e da adequao (art. 821., n. 3);- Os arts. 822. a 824. estabelecem restries penhora (impenhorabilidade absoluta,relativa e parcial); (penhora da biblioteca composta por livros tcnicos de medicina)- Sendo o executado mdico, os livros de medicina contribuem para a sua formao e actividade profissional, motivo pelo qual devem ser entendidos como uma instrumento de trabalho indispensvel ao exerccio da sua actividade (vide, no mesmo sentido, o caso impenhorabilidade da biblioteca jurdica de um advogado (4));- Sendo um instrumento de trabalho, a biblioteca de livros de medicina constitui um bem relativamente impenhorvel, e, como tal, insusceptvel de penhora, salvo se, no caso em concreto, o executado a indicar para penhora ou se a execuo se destinar ao pagamento do preo da sai aquisio ou do custo da sua reparao (art. 823., n. 2);- A esta penhora pode opor-se o executado atravs do incidente da oposio penhora, nos termos do art. 863.-A, n. 1, a); (penhora dos diplomas por mrito profissional)- Os diplomas por mrito profissional so bens absolutamente impenhorveis porque,alm de serem bens pessoais do executado, carecem de qualquer justificao econmica, pelo seu diminuto valor venal [art. 822., c) 2. parte] (com efeito, no faz sentido penhorar diplomas para depois os vender uma vez que os mesmos no tm qualquer valor econmico, facto que impede a concretizao dos objectivos da penhora e da execuo);- A penhora de bens destina-se a permitir a sua venda. Compreende-se, por isso, que sejam impenhorveis os bens cuja apreenso carea de justificao econmica, dado o seu diminuto valor venal (5);A penhora visa proporcionar a satisfao de direitos patrimoniais, pelo que no faria sentido admiti-la relativamente a bens sem valor patrimonial ou com valor patrimonial diminuto (4)- A esta penhora pode opor-se o executado atravs do incidente da oposio penhora, nos termos do art. 863.-A, n. 1, a);

(4) Vide, nesse sentido, FREITAS, Lebre, A aco executiva depois da reforma, ob. cit., p. 220, nota (24); FERREIRA, Amncio, Curso de processo de execuo, Almedina, p. 173.(5) TEIXEIRA DE SOUSA, Miguel, Aco executiva singular, Lex, 1998, p. 209(penhora do porttil pertencente administrao do hospital de S. Marcos e que Antnio utiliza no exerccio das suas funes)- Nos termos do n. 2 do art. 848., na penhora de bens mveis no sujeitos a registo presumem-se pertencerem ao executado todos os bens que se encontrem na sua posse, podendo essa presuno ser ilidida perante o juiz mediante prova documental inequvoca do direito de terceiro, sem prejuzo dos embargos de terceiro;- Com efeito, embora o executado utilize o porttil no exerccio da sua actividade, estebem pertence administrao do hospital de S. Marcos e no ao prprio executado, o qual actua como mero detentor do bem;- Na verdade, s os bens do executado (seja ele o devedor principal ou um terceiro) so susceptveis de penhora (art. 821., n. 1), pelo que o computador, no pertencendo ao executado, no pode ser atingido por esta diligncia;- Desta forma, sem prejuzo do executado poder tentar ilidir perante a presuno de que aquele bem que foi encontrado na sua posse lhe pertence, a administrao do hospital de S. Marcos pode deduzir um incidente de oposio mediante embargos de terceiro (art. 351.) uma vez que titular de um direito real incompatvel com a penhora dado que no se extingue com a venda executiva.(penhora do salrio que Antnio aufere enquanto mdico no hospital de S. Marcos, nomontante de 2.700,00)- A penhora do salrio feita atreves de notificao administrao do hospital de S. Marcos para que esta, no pagamento do respectivo vencimento, faa o desconto relativo ao crdito penhorado (art. 861., n. 1);- O salrio, tendo em conta o princpio da proteco da dignidade da pessoa humana, um bem parcialmente penhorvel, nos termos do n. 1 do art. 824.;- Com efeito, na penhora de salrios, impenhorvel o montante correspondente a dois teros, embora esse montante tenha como limite mximo o valor correspondente a trs salrios mnimos nacionais e como limite mnimo o valor equivalente ao de um salrio mnimo nacional);- No caso em anlise, tendo em conta que o vencimento de Antnio de 2.700,00, so impenhorvel o montante correspondente a 1.800,00, sendo susceptvel de penhora apenas 900,00.- No entanto, tendo em conta que o valor do salrio mnimo nacional em 2006 foi de 386,00, a parte do salrio insusceptvel de penhora no pode exceder 1.158,00 (3 SMN). Assim, para alm da parte do salrio j penhorada (1/3) - 900 ainda susceptvel de penhora a parte dos 2/3 que exceda o valor correspondente a 3 SMN, ou seja, 642 ( 1.800,00 - 1.158,00).- Assim, impenhorvel a quantia de 1158,00 e penhorvel o montante de 1142,00.- De destacar ainda que, no obstante o legislador ter estabelecido este limite, tendo em conta que o executado mdico e ponderado o seu estilo de vida, o exequente pode requerer ao juiz a penhora de um montante mais elevado que o imposto pelo n. 2 do art. 824. (art. 824., n. 5). penhora do salrio pode reagir o executado, deduzindo oposio penhora com fundamento no disposto no art. 863.-A, n. 1, a). (penhora da conta ordem, de que Antnio o nico titular, com um saldo de 7.500,00)- A penhora de depsitos bancrios est prevista no art. 861.-A;- Esta penhora deve ser feita mediante comunicao electrnica com a entidade bancria e com base num despacho judicial que a autorize;- No caso em concreto, pelos elementos que nos so dados, o solicitador de execuo realizou a penhora oficiosamente, sem qualquer despacho judicial nessesentido, pelo que esse facto constitui uma irregularidade processual (art. 201., n. 1) dado que a lei no sanciona expressamente com a nulidade a omisso dessa formalidade processual;- Ainda que tivesse havido despacho judicial, no podia ser penhorada a totalidade do saldo da conta bancria, dado que se trata de um bem parcialmente impenhorvel (art. 824., n. 3) penhora da conta bancria pode reagir o executado, deduzindo oposio penhoracom fundamento no disposto no art. 863.-A, n. 1, a). (penhora de 300 m2 de um terreno com 500m2, o qual confronta a sul com a vivenda de Antnio, e de que so comproprietrios este e o seu irmo Daniel)- No caso em anlise, foi penhorado um terreno de que o executado comproprietriojuntamente com o seu irmo Daniel;- Estando em causa a penhora em caso de compropriedade, determina o art. 826. quena execuo movida contra algum dos contitulares de bem indiviso (6) no pode ser penhorada uma parte especificada desse bem indiviso, ou seja, quando um dos comproprietrios tem direito a uma quota ideal desse bem (na falta de outros elementos, cada um deles ter direito a 50% do bem).- Assim, como o executado apenas tem direito a uma quota ideal e no a uma parte especificada do bem indiviso, o solicitador de execuo no podia ter penhorado 300m2 especificados do bem.- A esta penhora pode reagir o executado atravs do incidente de oposio penhora [art. 863.-A, n. 1, a)], bem como o comproprietrio Daniel atravs do incidente de embargos de terceiro (arts. 351. e ss) uma vez que titular de um direito incompatvel com a penhora (vide Ac. TRC, de 07.03.1989, publicado no Boletim do Ministrio da Justia, n. 385, p. 621). (penhora do automvel da marca Mercedes adquirido por Antnio depois do casamento, o qual se encontrava na oficina de Filipe (este recusa-se a entregar o automvel at que lhe seja paga a reparao no valor de 2.750,00).- Uma vez que o automvel foi adquirido por Antnio depois do casamento, estamos perante um bem comum do casal [art. 1724., b) do Cc], o qual s deve ser penhorado quando no sejam conhecidos bens prprios do executado (subsidiariedade real art. 828., n. 7), sendo que o solicitador de execuo deve citar o cnjuge do executado para vir requerer a separao de bens (art. 825., n. 1);- Os bens do executado so apreendidos ainda que, por qualquer ttulo, se encontremem poder de terceiro, sem prejuzo dos direitos que a este seja lcito opor ao exequente (art. 831., n. 1);- Estando o automvel na oficina em virtude de uma reparao, o proprietrio da oficinagoza do direito de reteno sobre o automvel at que lhe seja paga a respectiva reparao (art. 755. do Cc);- No entanto, ainda que o terceiro invoque o direito de reteno, esse facto no obsta penhora efectiva do bem, devendo o solicitador de execuo indagar o terceiro se tem os bens em seu poder por via de reteno e, em caso afirmativo, deve anotar o respectivo domiclio para efeito de posterior citao para reclamao de crditos [arts. 831., n. 2 e 864., n. 3, b)];(6) A indiviso a situao jurdica em virtude da qual existe um direito exercido sobre um mesmo bem em comum por pessoas diversas, sem que tenha havido diviso das respectivas partes PRARA, Ana, Dicionrio Jurdico, 4. Edio, Almedina, p. 636 (Indiviso).- Na nossa opinio, o retentor no pode embargar de terceiros (embora a jurisprudncia se divida), mas sim reclamar o seu crdito quando for citado para o efeito, atento, alis, o disposto no n. 2 do art. 831..g) No caso em anlise, que entidades devem ser citadas pelo solicitador de execuo aps a penhora e com que finalidade? (2 valores)No acto da penhora ou no prazo de cinco dias a contar da realizao da ltima penhora, o solicitador de execuo deve:- notificar Antnio (tendo em conta que foi citado previamente) para deduzir oposio penhora (art. 864., n.os 2 e 7);- citar Berta, uma vez que a penhora recaiu sobre bens comuns do casal, podendo estaexercer os direitos consagrados no art. 864.-A, nomeadamente requerer a separao de bens [art. 864., n. 3, a)];- citar Filipe, uma vez que este titular de um direito real de garantia conhecido sobre obem penhorado, para que este possa vir reclamar o seu crdito sobre o automvel penhorado [art. 864., n. 3, b)];- citar as entidades referidas nas leis fiscais para que estas possam reclamar eventuaisprivilgios creditrios ou outros direitos reais de garantia por crditos da Fazenda Nacional [art. 864., n. 3, c)];- citar o Instituto de Gesto Financeira da Segurana Social, com vista defesa dos possveis direitos da segurana social [art. 864., n. 3, d)].h) Suponha que, antes de terem sido vendidos os bens do executado, o Banco CrditoMais, por s agora ter tido conhecimento dessa execuo, veio invocar uma hipoteca sobre o automvel da marca Mercedes que pertencia a Antnio, a qual havia sido constituda para garantia do pagamento de um mtuo no valor de 30.000,00.Quid iuris? - O Banco Crdito Mais titular de uma hipoteca sobre um bem penhorado na execuo;- A hipoteca constitui um direito real de garantia, o qual confere ao credor o direito de ser pago pelo valor de certas coisas imveis ou equiparadas, pertencentes ao devedor ou a terceiro, com preferncia sobre os demais credores que no gozem de privilgio especial ou de prioridade de registo (art. 686. do Cc);- Devendo a hipoteca ser registada, o solicitador de execuo tinha a obrigao de conhecer este credor (pela consulta da certido do registo automvel e consulta dos respectivos nus e encargos), motivo pelo qual o banco devia ser citado nos termos do art. 864., n. 3, b);- No tendo o banco sido citado para reclamar o seu crdito, esse facto implica a nulidade de tudo o que for processado aps a penhora (art. 194. ex vi 864., n. 10), mas no implica a anulao das vendas, adjudicaes, remies ou pagamentos j efectuados, dos quais o exequente no haja sido o exclusivo beneficirio;- Por outro lado, uma vez que essa nulidade por falta de citao se verificou antes da venda dos bens, o banco pode ainda reclamar espontaneamente o seu crdito at transmisso dos bens penhorados (art. 865., n. 3).