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ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL DA UNIÃO
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO PÚBLICO
EXCELENTÍSSIMA SENHORA MINISTRA PRESIDENTE DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA LAURITA VAZ
Requerentes: UNIÃO
Requerido: Desembargador Federal Vice-Presidente do TRF - 2ª Região
Processo de origem: Suspensão de Liminar n. 0000114-14.2018.4.02.0000
Ação Popular nº 0001786-77.2018.4.02.5102/RJ
A UNIÃO, representada pela Advocacia-Geral da União, nos termos da Lei
Complementar nº 73/93, vem à presença de Vossa Excelência, com fundamento no § 4º do art.
4º da Lei nº 8.437/1992, apresentar
PEDIDO DE SUSPENSÃO DE LIMINAR
em face de decisão proferida pelo Desembargador Federal Vice-Presidente do Tribunal
Regional Federal da 2ª Região, nos autos da Suspensão de Liminar n. 0000114-
14.2018.4.02.0000, a qual indeferiu pedido de suspensão formulado contra decisão que
concedeu medida liminar nos autos da Ação Popular nº 0001786-77.2018.4.02.5102/RJ.
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I – SÍNTESE DA LIDE
Trata-se, na origem, de ação popular proposta pelo cidadão JOÃO GILBERTO
ARAÚJO PONTES E OUTROS, em desfavor do Exmo. Sr. Presidente da República e da
União, com o objetivo de impedir a nomeação da Sra. CRISTIANE BRASIL FRANCISCO no
cargo de Ministra de Estado do Trabalho, impedindo, inclusive, a sua posse, então agendada
para o dia 09/01/2018.
A liminar foi deferida pelo MM. Juízo a quo, por decisão proferida sem oitiva da parte
ré, vazada nos seguintes termos:
“
No caso concreto, conceder a liminar sem ouvir os réus encontra-se
justificado diante da gravidade dos fatos sob análise. Em exame ainda que
perfunctório, este magistrado vislumbra fragrante desrespeito à Constituição Federal
no que se refere à moralidade administrativa, em seu artigo 37, caput, quando se
pretende nomear para um cargo de tamanha magnitude, Ministro do Trabalho, pessoa
que já teria sido condenada em reclamações trabalhistas, condenações estas com
trânsito em julgado, segundo os veículos de mídia nacionais e conforme documentação
que consta da inicial – processos 0010538-31.2015.5.01.0044, encerrado com decisão
judicial transitada em julgado, (fls. 29/246 - note-se especialmente que operou-se o
trânsito em julgado da decisão condenatória cf. fls. 169); e 0101817-
52.2016.5.01.0048, encerrado com acordo judicial (fls. 323/324).
É bem sabido que não compete ao Poder Judiciário o exame do mérito
administrativo em respeito ao Princípio da separação dos Poderes. Este mandamento,
no entanto, não é absoluto em seu conteúdo e deverá o juiz agir sempre que a conduta
praticada for ilegal, mais grave ainda, inconstitucional, em se tratando de lesão a
preceito constitucional autoaplicável.
Vale ressaltar que a medida ora almejada é meramente cautelar, precária e
reversível, e, caso seja revista somente haverá um adiamento de posse. Trata-se de
sacrifício de bem jurídico proporcional ao resguardo da moralidade administrativa,
valor tão caro à coletividade e que não deve ficar sem o pronto amparo da tutela
jurisdicional.
O periculum in mora resta cabalmente demonstrado, porquanto a posse da
nomeada ao cago está prevista para o dia 09/01/2018, amanhã.
Assim, verificada a presença dos requisitos do artigo 300 do CPC, DEFIRO
em caráter cautelar e liminar inaudita altera parte, provimento para SUSPENDER a
eficácia do decreto que nomeou a Exma. Deputada Federal Cristiane Brasil Francisco
ao cargo de Ministra de Estado do Trabalho, bem como sua posse.
Fica cominada, para fins de descumprimento, multa pecuniária no valor de
R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) para cada agente que descumprir a presente
decisão.
Intimem-se e citem-se a União, o Excelentíssimo Senhor Presidente da
República e a Excelentíssima Senhora empossanda para imediato cumprimento”.
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Em face da aludida decisão a União interpôs Agravo de Instrumento, com pedido de
efeito suspensivo e, paralelamente, formulou junto ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região
Pedido de Suspensão de Liminar, com fundamento no art. 4º da Lei n. 8.437/92.
Decidindo quanto ao pedido de efeito suspensivo formulado pela União nos autos do
Agravo de Instrumento (n. 0000132-35.2018.4.02.0000), o Juiz Federal Convocado Vladimir
Santos Vitovsky entendeu por indeferi-lo, ao argumento de que inexistiria comprovação de
risco de grave dano, de difícil ou impossível reparação, derivado do cumprimento da decisão
liminar de primeiro grau.
Por sua vez, no que toca ao Pedido de Suspensão de Liminar, o Desembargador Vice-
Presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região concluiu pela inexistência de grave lesão
à ordem, à saúde, à segurança e à economia pública, bem como que não haveria subversão da
ordem jurídica e administrativa apta a autorizar a suspensão, de modo a indeferir o petitório.
A decisão restou lavrada, em síntese, da seguinte forma:
A lei exige (i) o manifesto interesse público e (ii) a necessidade de evitar grave
lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia pública provocados pela decisão
atacada. A suspensão da execução de liminar tem pressupostos próprios e
excepcionais, e não pode ser banalizada e ampliada em utilização substitutiva do
recurso legalmente previsto para a hipótese.
Assim: "Não cabe na suspensão de liminar prevista na Lei n.º 8.437/92, art.
4º, o exame de matérias relacionadas ao mérito da causa em que proferida, nem a
reapreciação dos requisitos necessários à concessão da liminar. Via restrita a
verificação da ocorrência dos pressupostos relacionados ao risco de grave lesão à
ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas" (STJ - Corte Especial, SL 69-
AgRg, Min. Edson Vidigal, j. 19.5.04, DJU 4.10.04).
No caso, a decisão atacada não tem o condão de acarretar grave lesão à
ordem, à saúde, à segurança e à economia pública. E a suspensão não é apta a
adiantar, substituir ou suprimir exame a ser realizado na via judicial própria. Basta
dizer que nem cópia da decisão foi trazida no pedido de suspensão e os argumentos
elencados, quanto à competência para escolher e indicar seus ministros, é matéria
eminentemente de mérito.
As questões a serem respondidas positivamente, para autorizar o manejo da
suspensão, são muito simples: (i) há grave lesão à ordem econômica ou à saúde? (ii)
há tumultuária inversão da ordem jurídica e administrativa, apta a autorizar
suspensão, independentemente do debate na via própria? Apenas a concessão da
liminar que, por ora, impede posse de Deputada Federal indicada não é apta, por si, a
responder positivamente a tais pressupostos.
Do exposto, com amparo no art. 4º,caput, da Lei nº 8.437/92, c/c o art. 23 e
225, os últimos do Regimento Interno desta Corte, INDEFIRO o pedido de suspensão.
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Ocorre que, como restará demonstrado, a liminar deferida pelo juízo de primeiro grau
e não suspensa pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região não merece perdurar, devendo ser
imediatamente suspensa por esse E. Superior Tribunal de Justiça.
É a síntese.
II – DA COMPETÊNCIA DO STJ. DA VIOLAÇÃO MERAMENTE REFLEXA AO
ART. 37, caput, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. VIOLAÇÃO AO ART. 4º, I
DA LEI N. 4.717/65
Como visto, trata-se, na origem, de decisão liminar, proferida em primeiro grau, que
suspendeu a eficácia do decreto que nomeou a Exma. Deputada Federal Cristiane Brasil
Francisco ao cargo de Ministra do Estado do Trabalho, bem como sua posse.
A decisão restou vergastada em sede de Agravo de Instrumento e Pedido de Suspensão
de Liminar, ambos perante o Tribunal Regional Federal da 2ª Região, não tendo a União obtido
o provimento pretendido.
Nos termos do art. 4º da Lei n. 8.437/92, cabe ao Presidente do Tribunal ao qual couber
o respectivo recurso a análise de pedido de suspensão, como se vê:
Art. 4° Compete ao presidente do tribunal, ao qual couber o conhecimento do
respectivo recurso, suspender, em despacho fundamentado, a execução da liminar nas
ações movidas contra o Poder Público ou seus agentes, a requerimento do Ministério
Público ou da pessoa jurídica de direito público interessada, em caso de manifesto
interesse público ou de flagrante ilegitimidade, e para evitar grave lesão à ordem, à
saúde, à segurança e à economia públicas.
Por oportuno, destaque-se que não há falar em competência da Corte de origem para
apreciar pedido de suspensão por decisão monocrática de membro do Tribunal, sob pena de
usurpação da competência do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal,
conforme já manifestado pela Corte Especial desse Egrégio STJ:
AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. LIMINAR CONCEDIDA EM
MANDADO DE SEGURANÇA ORIGINÁRIO DE TRIBUNAL DE JUSTIÇA. PEDIDO
DE SUSPENSÃO AJUIZADO PERANTE O PRÓPRIO TRIBUNAL A QUO.
USURPAÇÃO DE COMPETÊNCIA DO STJ. LIMINAR NA RECLAMAÇÃO
DEFERIDA.
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I - A reclamação tem cabimento para preservar a competência deste Superior Tribunal
de Justiça ou garantir a autoridade das suas decisões (art. 105, inciso I, alínea f, da
Constituição Federal de 1988 e art. 187 do RISTJ).
II - Conforme o disposto nos artigos 25 da Lei 8.038/90 e 271 do RISTJ, compete ao
Presidente do STJ, para evitar grave lesão à ordem, saúde, segurança ou economia
públicas, suspender, em despacho fundamentado, a execução de liminar ou de decisão
concessiva de mandado de segurança contra o Poder Público, proferida, em única ou
última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados e
do Distrito Federal.
III - In casu, deferida liminar contra o Poder Público por desembargador do eg.
TJRJ, em mandado de segurança originário daquela Corte, tal decisão desafia
incidente de suspensão a ser ajuizado perante esta Corte, ou o eg. Supremo Tribunal
Federal, se a matéria tiver índole constitucional.
IV - Assim, ajuizado pedido de suspensão no próprio col. TJRJ, e deferido o pedido,
resta aparentemente usurpada a competência desta Corte, razão pela qual, presentes
os requisitos, deferiu-se liminar para suspender a r. decisão proferida pela presidente
do eg. Tribunal a quo, até o julgamento da presente reclamação. Agravo regimental
desprovido.
(AgRg na Rcl 12.363/RJ, Rel. Ministro FELIX FISCHER, CORTE ESPECIAL,
julgado em 19/06/2013, DJe 01/07/2013)
A contrario sensu, da decisão monocrática que indefere medida liminar pleiteada pela
União, de igual monta cabe pedido de suspensão ao tribunal competente para apreciar eventual
Recurso Especial ou Extraordinário, a depender da matéria.
De plano, destaque-se que a doutrina é categórica ao afirmar que a definição do
Tribunal competente para apreciar passa não apenas pelos fundamentos da decisão vergastada,
mas principalmente pela identificação da causa de pedir da demanda e da matéria
prequestionada. Nesse sentido leciona Leonardo Carneiro da Cunha:
Para efeito de definir a competência do STF ou do STJ, deve-se aferir se a
matéria é constitucional ou infraconstitucional. Qual elemento identifica de que
matéria se trata? É o fundamento da decisão proferida pelo tribunal? São os motivos
invocados na petição do pedido de suspensão? São os argumentos que integram a
causa de pedir da demanda proposta?
Na verdade, o pedido de suspensão deve ser ajuizado perante o tribunal
competente para julgar o recurso a ser interposto. É preciso, então, verificar qual a
causa de pedir da demanda ou qual matéria restou prequestionada na decisão de que
se irá recorrer. Se o prequestionamento foi de matéria constitucional, então o pedido
de suspensão deverá ser dirigido ao Presidente do STF. Se, diversamente, a matéria
prequestionada for de índole infraconstitucional, deverá o pedido de suspensão ser
ajuizado perante o Presidente do STJ.
(A Fazenda Pública em juízo / Leonardo Carneiro da Cunha. - 14. ed. rev., atual e ampl.
- Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 616/617)
A interpretação se coaduna com o disposto no art. 25 da Lei n. 8.038/90, que instrui as
normas procedimentais de processos perante o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo
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Tribunal Federal, o qual destaca que o fundamento da causa é que deverá definir a competência
para a análise do pedido de suspensão, a saber:
Art. 25 - Salvo quando a causa tiver por fundamento matéria constitucional, compete
ao Presidente do Superior Tribunal de Justiça, a requerimento do Procurador-Geral
da República ou da pessoa jurídica de direito público interessada, e para evitar grave
lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia pública, suspender, em despacho
fundamentado, a execução de liminar ou de decisão concessiva de mandado de
segurança, proferida, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais
Federais ou pelos Tribunais dos Estados e do Distrito Federal.
Para além, é farta a jurisprudência do STJ nesse exato sentido:
AGRAVO INTERNO. SUSPENSÃO DE SEGURANÇA. PARTICIPAÇÃO DE
MILITARES ESTADUAIS EM CURSO DE FORMAÇÃO. NECESSIDADE DE
APRECIAÇÃO DE CRITÉRIOS DE EDITAL FORMALIZADO POR ÓRGÃO DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTADUAL. IMPOSSIBILIDADE DE JULGAR
PRETENSÃO SUSPENSIVA À LUZ DE DIREITO LOCAL. AGRAVO INTERNO
DESPROVIDO.
1. A competência da Presidência do STJ para julgar pedido de contracautela está
vinculada à fundamentação de natureza infraconstitucional, com conteúdo
materialmente federal, da causa de pedir indicada no feito principal. Inteligência
do art. 25 da Lei n.º 8.038/90.
2. O julgamento de pretensão suspensiva à luz de direito local é estranho às atribuições
jurisdicionais das Presidências do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de
Justiça (precedentes do STF e desta Corte). Dessa forma, não há como aferir a
possibilidade ou não da participação de servidor público em curso de formação com
parâmetro em critérios de edital formalizado por órgão da Administração Pública
estadual.
3. Agravo interno desprovido.
(AgInt na SS 2.897/BA, Rel. Ministra LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL, julgado
em 20/11/2017, DJe 29/11/2017)
--------------------------------------------------------------------------------------------------------
AGRAVO INTERNO. PEDIDO DE SUSPENSÃO. AÇÃO ORDINÁRIA. REPASSE
INTEGRAL DA COTA DE PARTICIPAÇÃO NA ARRECADAÇÃO DO ICMS.
TUTELA PROVISÓRIA. PENHORA ON-LINE EM CONTAS PÚBLICAS. CAUSA
DE PEDIR COM FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL. AGRAVO INTERNO
DESPROVIDO.
1. A competência do Superior Tribunal de Justiça para deliberar acerca de
pedidos de suspensão de liminar está vinculada à fundamentação de natureza
infraconstitucional, com conteúdo materialmente federal, da causa de pedir.
2. Hipótese em que a causa (possibilidade de bloqueio de verbas públicas) tem, também,
status constitucional (art. 100 da Constituição da República). Âmbito de discussão
estranho à competência desta Corte para examinar o pleito suspensivo, nos termos do
art. 25, caput, da Lei n.º 8.038/1990.
3. Agravo interno desprovido.
(AgInt na SLS 2.249/GO, Rel. Ministra LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL, julgado
em 29/03/2017, DJe 25/04/2017)
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Pois bem.
Fixada referida premissa, é certo que a definição da competência para análise do
presente pedido de suspensão de liminar deve ter em vista o quanto exposto enquanto causa de
pedir na petição inicial.
Nessa esteira, analisando detidamente a exordial, verifica-se que a questão posta tem
índole infraconstitucional, versando sobre a escorreita aplicação do art. 4º, I da Lei n.
4.717/65, dispositivo que integra a causa de pedir da ação, conforme anotado na página 6 da
petição inicial (em anexo), no seguinte trecho:
É por todo o exposto que, s.m.j., parece estar claro que o ato administrativo que nomeia
a deputada federal CRISTIANE BRASIL FRANCISCO, ao Ministério do Trabalho e
Emprego, é nulo por violar o art. 37, caput da CRFB/88, o art. 2º, c, d, e e, parágrafo
único c, d e e, c/c art. 4º, I, da Lei 4.717/65, vejamos:
Ainda que na decisão ora impugnada tenha sido mencionado o art. 37, caput, da CF/88,
por entender o autor popular que a nomeação da Exma. Deputada Cristiane Brasil ao cargo de
Ministro do Trabalho violaria o princípio da moralidade administrativa, não se verifica, na
realidade, nenhuma ofensa direta a ele.
Com efeito, em que pese ter sido invocado o aludido dispositivo, mesmo in status
assertionis, qualquer análise sobre a moralidade administrativa, no caso, requer primeiro a
verificação dos dispositivos da Lei n. 4.717/65 (Lei da Ação Popular), notadamente seu art. 4º,
I, de modo que haveria violação meramente reflexa ao texto constitucional.
Explica-se.
Conforme narrado linhas atrás, o autor popular entende que o Decreto que nomeou a
Deputada Cristiane Brasil para o cargo de Ministra do Trabalho estaria eivado de nulidade, por
conta da existência, em seu desfavor, de condenações sofridas na justiça do trabalho, fato que
a desabonaria e desabilitaria para ocupar o cargo.
Desse modo, sustenta a violação do art. 37, caput, da CRFB/88, que expressamente
preceitua o princípio da moralidade administrativa, bem como do art. 4º, I da Lei n. 4.717/65,
que trada dos requisitos para atos de admissão no serviço público, in verbis:
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Art. 4º São também nulos os seguintes atos ou contratos, praticados ou celebrados por
quaisquer das pessoas ou entidades referidas no art. 1º.
I - A admissão ao serviço público remunerado, com desobediência, quanto às condições
de habilitação, das normas legais, regulamentares ou constantes de instruções gerais.
Em paralelo, não se pode perder de vista que a demanda originária se instaura em sede
de ação popular, a qual, em regra, exige a comprovação do dano ao patrimônio público,
salvo nos casos em que há presunção legal de lesividade da conduta, o que a tornaria
lesividade in re ipsa, situação em que o autor popular está dispensado de demonstrar
concretamente o prejuízo.
O presente caso se ajusta à situação descrita, em que o autor popular não descreve e
nem demonstra qualquer dano concreto ao patrimônio público, mas se arvora na presunção legal
erigida pelo art. 4º, I da Lei n. 4.717/65 para presumir a lesividade da nomeação da Exma.
Deputada ao cargo de Ministra do Trabalho. Caso assim não o fizesse, a ação popular seria
prontamente incabível, pela ausência de demonstração da lesividade.
Corroborando tal entendimento, veja-se o Recurso Especial n. 1.559.292/ES, cujo
mote também versa sobre cabimento da ação popular em casos de violação ao princípio da
moralidade:
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. TRANSPORTE URBANO
COLETIVO DE PASSAGEIROS. AUSÊNCIA DE LICITAÇÃO. CABIMENTO DA
AÇÃO POPULAR. PREJUÍZO AO ERÁRIO IN RE IPSA. ADMITIDA A
DECLARAÇÃO INCIDENTAL DE INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI
MUNICIPAL. VIOLAÇÃO DA CLÁSULA DE RESERVA DO PLENÁRIO.
OFENSA AOS ARTIGOS 480 E 481 DO CPC. SÚMULA VINCULANTE 10/STF.
1. A insurgência das recorrentes cinge-se à possibilidade de o Tribunal a quo declarar,
em Ação Popular, de forma incidental, por órgão fracionário, a inconstitucionalidade
da Lei Municipal 5.432/2001, que concedeu serviços municipais de transporte público
e de passageiro sem prévia licitação.
2. Sobre a necessidade de comprovação de dano em Ação Popular, é possível aferir
que a lesividade ao patrimônio público é in re ipsa. Sendo cabível para a proteção
da moralidade administrativa, ainda que inexistente o dano material ao
patrimônio público, a Lei 4.717/65 estabelece casos de presunção de lesividade,
bastando a prova da prática do ato nas hipóteses descritas para considerá-lo nulo
de pleno direito.
3. Ademais, é possível a declaração incidental de inconstitucionalidade em Ação
Popular, "desde que a controvérsia constitucional não figure como pedido, mas sim
como causa de pedir, fundamento ou simples questão prejudicial, indispensável à
resolução do litígio principal, em torno da tutela do interesse público". (REsp
437.277/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJ 13/12/2004).
4. A jurisprudência do STJ é de que, "nos termos do art. 481, parágrafo único, do CPC,
'os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao plenário, ou ao órgão especial,
a argüição de inconstitucionalidade, quando já houver pronunciamento destes ou do
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plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão'. Conforme se verifica, a regra
exceptiva exige o prévio pronunciamento sobre a questão pelo plenário (ou órgão
especial) do respectivo tribunal ou pelo plenário do Supremo Tribunal Federal, de modo
que a existência de precedentes em casos similares que levaram em consideração a
legislação de outros entes federativos , por si só, não é suficiente para afastar a cláusula
de reserva de plenário" (REsp 1.076.299/BA, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques,
Segunda Turma, julgado em 19/10/2010, DJe 27/10/2010.) 5. In casu, não podia o órgão
fracionário declarar a inconstitucionalidade da Lei Municipal 5.432/2001 sem observar
as regras contidas nos arts. 480 a 482 do CPC, ou seja, sem suscitar o incidente de
declaração de inconstitucionalidade.
6. Recursos Especiais parcialmente providos para anular o acórdão recorrido e
determinar que seja observado o procedimento previsto nos artigos 480 e seguintes do
CPC.
(REsp 1559292/ES, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,
julgado em 02/02/2016, DJe 23/05/2016)
Apenas se caracteriza violação ao princípio da moralidade nos casos de ação
popular com comprovação material da lesividade ao patrimônio público (lesividade in re
ipsa), nas hipóteses que se enquadrem no art. 4º da Lei n. 4.717/65.
Noutros termos, a invocação ao art. 37, caput, da CRFB/88 apenas se afigura
possível ante a violação anterior do art. 4º da Lei n. 4.717/65, o que caracteriza violação
meramente reflexa ao texto constitucional.
Eis a razão pela qual a União é categórica em afirmar que a competência para análise
do presente Pedido de Suspensão é do Superior Tribunal de Justiça.
Por fim, sanando qualquer dúvida a esse respeito, acentue-se que o Supremo Tribunal
Federal já afirmou que as violações aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência (art. 37, caput, da CF/88), se dependentes de reexame prévio de normas
infraconstitucionais, configuram no máximo ofensa reflexa ao texto da Constituição, como se
vê:
Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM
AGRAVO. ADMINISTRATIVO. MILITAR. PROCESSO DISCIPLINAR.
OBSERVÂNCIA DO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. VIOLAÇÃO AO
ART. 5º, LIV E LV, DA CONSTITUIÇÃO. REEXAME DO ACERVO FÁTICO-
PROBATÓRIO DOS AUTOS. SÚMULA 279. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART.
37, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO. OFENSA REFLEXA. PRECEDENTES.
AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.
I – A jurisprudência deste Tribunal firmou-se no sentido de que, nos procedimentos
administrativos, é necessária a observância dos princípios do contraditório e da ampla
defesa, conforme assegurado pelo art. 5º, LV, da Constituição. Precedentes.
II – Para dissentir da conclusão adotada pelo acórdão recorrido, quanto à suposta
violação à ampla defesa e ao contraditório no processo administrativo ao qual foi
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submetido o ora agravante, necessário seria o reexame do conjunto fático-probatório
constante dos autos, o que atrai a incidência da Súmula 279 do STF. Precedentes.
III – As alegações de desrespeito aos postulados da legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência, se dependentes de reexame prévio de normas
infraconstitucionais, podem configurar, quando muito, situações de ofensa
meramente reflexa ao texto da Constituição.
III – Agravo regimental improvido.
(ARE 728143 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma,
julgado em 11/06/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-121 DIVULG 24-06-2013
PUBLIC 25-06-2013)
--------------------------------------------------------------------------------------------------------
Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM
AGRAVO. ADMINISTRATIVO. ALEGADA VIOLAÇÃO AO ART. 37, CAPUT,
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. REAPRECIAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE
NORMA INFRACONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO
IMPROVIDO.
I – Esta Corte firmou orientação no sentido de que, em regra, a alegação de ofensa
aos princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência, quando dependente de exame prévio de normas
infraconstitucionais, configura situação de ofensa reflexa ao texto constitucional,
o que impede o cabimento do recurso extraordinário.
II - Agravo regimental improvido.
(ARE 646526 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma,
julgado em 22/11/2011, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-231 DIVULG 05-12-2011
PUBLIC 06-12-2011)
Nesse esteio, inconteste que o órgão competente para apreciar este pedido de
suspensão é o STJ, pois a competência desse tribunal “para deliberar acerca de pedidos de
suspensão de decisão está vinculada à fundamentação de natureza infraconstitucional da
causa”1.
III - DA URGÊNCIA NA CONCESSÃO DA MEDIDA
Inicialmente, deve-se deixar claro qual a urgência na concessão de decisão que
suspenda a eficácia da liminar proferida no processo originário, levando-se em consideração o
impacto na ordem pública e administrativa que vem causando a suspensão de Decreto
Presidencial que nomeou a Deputada Federal Cristiane Brasil no cargo de Ministra de Estado
do Trabalho, impedindo, portanto, sua posse.
1 Rcl 32700, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe 3.10.2016.
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Isso porque a decisão em combate vem interferindo drasticamente no Poder Executivo
Federal, provocando danos à gestão governamental, na medida em que coloca em risco o
Ministério do Trabalho ao deixar a pasta sem comando, impedindo, via de consequência, a
normal tramitação de importantes ações governamentais e sociais.
A esse título, é preciso considerar que o Ministério do Trabalho tem as seguintes
atribuições, conforme o art. 55 da Lei n. 13.502/2017:
Art. 55. Constitui área de competência do Ministério do Trabalho:
I - política e diretrizes para a geração de emprego e renda e de apoio ao trabalhador;
II - política e diretrizes para a modernização das relações de trabalho;
III - fiscalização do trabalho, inclusive do trabalho portuário, e aplicação das sanções
previstas em normas legais ou coletivas;
IV - política salarial;
V - formação e desenvolvimento profissional;
VI - segurança e saúde no trabalho;
VII - política de imigração laboral; e
VIII - cooperativismo e associativismo urbano.
É nítida a alta relevância das atribuições do Ministério, as quais vêm sendo diretamente
afetadas pela impossibilidade de investidura da Sra. Cristiane Brasil Francisco no cargo de
Ministra do Trabalho. Como visto, a pasta atua diretamente em áreas de extrema relevância,
como a condução da política e diretrizes para a geração de emprego e renda e de apoio ao
trabalhador, a modernização das relações de trabalho, inclusive no combate ao trabalho escravo,
bem como aplicação das sanções previstas em normas legais ou coletivas, dentre outras.
Em poucas linhas, criar óbices ao provimento de cargo em Ministério de tamanha
relevância para o país, por si só, demonstra de forma mais que suficiente a urgência subjacente
ao presente Pedido de Suspensão.
A par desse aspecto, também há que se considerar a urgência diante da violação à
ordem administrativa no ponto em que, mediante uma decisão judicial, afasta-se ato de
Presidente da República, criando-se requisito para o provimento de cargo de Ministro de Estado
não previsto em lei.
Dito isto, passam-se às considerações centrais.
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IV – DA GRAVE LESÃO À ORDEM PÚBLICA E ADMINISTRATIVA
No caso presente, é inegável a presença dos pressupostos autorizadores da suspensão
de liminar, a teor do que dispõem os artigos 4º da Lei n.º 4.348/1964 e 4º da Lei n.º 8.437/1992,
porque presentes a grave lesão à ordem pública e administrativa, capaz de provocar danos
irreparáveis ao país.
Desponta de forma nítida a grave lesão à ordem pública administrativa quando
se pretende vedar a posse de alguém em cargo público em razão de simples condenação
decorrente de prática de ato inerente à vida privada civil.
É o que ocorre in casu.
Os autores populares trazem a juízo questionamentos quanto à habilitação Exma.
Deputada Cristiane Brasil ao cargo de Ministra do Trabalho, haja vista que duas condenações
proferidas pela Justiça do Trabalho, as quais seriam fatos desabonadores suficientes para tornar
nulo o ato de sua nomeação (Decreto sem número datado de 03 de janeiro de 2015; D.O.U. de
04/01/2018).
Para tanto, arvoram-se no art. 4º, I da Lei n. 4.717/65 (Lei da Ação Popular). Pela
importância, reproduz-se a literalidade do dispositivo:
Art. 4º São também nulos os seguintes atos ou contratos, praticados ou celebrados por
quaisquer das pessoas ou entidades referidas no art. 1º.
I - A admissão ao serviço público remunerado, com desobediência, quanto às
condições de habilitação, das normas legais, regulamentares ou constantes de
instruções gerais.
Reflexamente, aduzem ainda os autores populares que a situação descrita violaria o
art. 37, caput, da CF/88, por macular o princípio da moralidade administrativa.
A linha esposada pelos autores populares restou acolhida pelo juízo de primeiro grau,
não tendo sido infirmada pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região em sede de Agravo de
Instrumento e Pedido de Suspensão de Segurança, de modo que a liminar continua vigente para
obstar a posse da Ministra, anteriormente marcada para o dia 09/01/2018.
Ocorre que o dispositivo da lei de ação popular supracitado é nitidamente manejado
pelos autores de forma deliberadamente equivocada, de modo a conduzir o intérprete que a
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inexistência de condenações trabalhistas seria condição de habilitação para que determinado
cidadão pudesse ser investido no cargo de Ministro do Trabalho e, consequentemente, violado
o dispositivo da lei de ação popular, restaria configurada a violação do princípio da moralidade.
Vejamos.
Em primeiro lugar é preciso observar que, ao prever a necessária observância das
condições de habilitação para que haja admissão ao serviço público, o dispositivo remete
expressamente às normas legais, regulamentares ou constantes de instruções gerais existente no
ordenamento jurídico.
Excelência, é certo que não há qualquer ato normativo, seja de primeiro ou de
segundo grau, que preveja enquanto condição para a assunção do cargo de Ministro de
Trabalho que o indicado não possua condenações trabalhistas pretéritas.
A duas, note-se que tais condenações, decorrentes de atos civis típicos das relações
privadas, ainda que praticados pela empossanda e reconhecidos definitivamente pela Justiça do
Trabalho, não repercutem, naturalmente em seara criminal, tampouco denotam qualquer prática
contra a Administração Pública.
Em suma: o fundamento exposto na inicial e levou o juízo à concessão da medida
liminar ora vergastada consiste em prática de ato da vida civil que, ainda que reconhecido por
ramo do Poder Judiciário, não tem o condão de tornar nulo o ato de nomeação da Exma.
Deputada, mormente quando se está a tratar de livre nomeação para o cargo de Ministro de
Estado.
Noutro giro, ainda que não seja o cerne da ação popular, não se pode perder de vista
que, nos termos do art. 84, I da CF/88, compete privativamente ao Presidente da República o
juízo sobre quem deve ou não ser nomeado Ministro de Estado, especialmente porque, como
anotado, não há qualquer impedimento legal no que tange à nomeação da Deputada Federal
Cristiane Brasil.
Nesse eixo, observando a petição inicial, verifica-se que o autor popular também aduz
violação ao art. 2º, alíneas ‘c’, ‘d’ e ‘e’ da Lei n. 4.717/65, para afirmar a existência de vício de
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forma, ilegalidade do objeto e desvio de finalidade na nomeação da Exma. Deputada. Vejamos
o dispositivo:
Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo
anterior, nos casos de:
a) incompetência;
b) vício de forma;
c) ilegalidade do objeto;
d) inexistência dos motivos;
e) desvio de finalidade.
De se anotar que, apesar da menção ao suposto vício de forma, ilegalidade do objeto e
desvio de finalidade (fl. 6 da petição inicial), sequer há descrição de como referidas nulidades
estariam caracterizadas. Nesse aspecto, o petitório é praticamente inócuo e desarrazoado,
beirando a inépcia.
Por outro lado, que não observa o autor popular é que, antes de tudo, a pretensão da
própria demanda é que acarreta violação ao art. 2º, alínea ‘a’, da Lei n. 4.717/65, pois infringirá
competência privativa do Presidente da República para a prática do ato.
Não custa lembrar que os atos administrativos gozam de presunção de legitimidade,
veracidade e legalidade, sendo que para a desconstituição da presunção que o referido ato
encerra é necessária prova cabal em sentido contrário, o que não ocorre in casu.
Insta repisar que pretender emprestar às condenações trabalhistas citadas o condão de
tornar nulo o ato de nomeação em questão é impor ao Poder Executivo limite não previsto no
ordenamento, ingerindo num cargo da alta esfera do Governo por conta de litígio de índole
puramente privada e sem repercussão no âmbito administrativo.
Hipoteticamente, qualquer do povo está sujeito a ser citado em uma ação dessa
natureza. A Exma. Deputada Federal, como qualquer outra pessoa, respondeu a um processo
trabalhista e isso de qualquer maneira não autoriza o Poder Judiciário a estabelecer sanções para
além daquelas já estabelecida naquela relação processual.
Veja-se que, no que tange à grave lesão à ordem pública, considerada em termos
de ordem jurídico-administrativa, é patente a interferência indevida no Poder Executivo
Federal, além de colocar em risco, sem gestão, um Ministério de extrema relevância,
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rememorando as atribuições do Ministério descritas linhas atrás, nos termos do art. 54 da
Lei n. 13.502/17.
Assim, resta demonstrada a grave lesão à ordem jurídico-administrativa decorrente da
manutenção da decisão ora impugnada, na medida em que a suspensão da posse da Deputada
Cristiane Brasil ao cargo de Ministra do Trabalho, além de representar aplicação incorreta do
art. 4º, I da Lei n. 4.717/65, representa interferência de forma direta e substancial na gestão da
pasta, prejudicando a formulação e execução de políticas públicas sensíveis e relevantes a ela
atribuídas.
V – DO JUÍZO MÍNIMO DE DELIBAÇÃO. DA VIOLAÇÃO AO ART. 5º, §3º DA LEI
N. 4.717/65
Cumpre alertar, neste ponto, que a finalidade do presente Pedido de Suspensão não é
reanalisar os aspectos processuais e o mérito da decisão que se pretende obstar o cumprimento,
haja vista a inadequação da via para tal mister.
Contudo, não se pode deixar de mencionar que a decisão vergastada padece de vício
processual insanável, haja vista ter sido proferida por juízo incompetente, de modo a reforçar a
grande lesão à ordem pública vista sob a ótica jurídico-administrativa.
Isso porque o Tribunal a quo não observou adequadamente a regra de prevenção
prevista no art. 5º, §3º da Lei n. 4.717/65, segundo o qual a mera propositura da ação popular
prevenirá o juízo para todas as ações posteriormente intentadas contra as mesmas partes e
sob os mesmos fundamentos, in verbis:
Art. 5º Conforme a origem do ato impugnado, é competente para conhecer da ação,
processá-la e julgá-la o juiz que, de acordo com a organização judiciária de cada
Estado, o for para as causas que interessem à União, ao Distrito Federal, ao Estado
ou ao Município.
[...]
§ 3º A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações, que
forem posteriormente intentadas contra as mesmas partes e sob os mesmos
fundamentos.
Pois bem.
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Em levantamento realizado pela União, restaram identificadas as seguintes demandas
já ajuizadas com o mesmo objeto da Ação Popular que fundamenta o presente Pedido de
Suspensão:
Data do Protocolo
Data da Autuação
Processo nº Vara Autor(es) Réus Objeto Andamento
07/01/2018 16:36
08/01/2018 12:10
0001775-09.2018.4.02.5115
01ª VF/Teresópolis
ANNA BORBA TABOAS E OUTRO
União, Michel Miguel Elias Temer Lulia; Cristiane Brasil Francisco
Suspensão da eficácia do decreto que nomeou a Dep. Cristiane Brasil no cargo de Ministra de Estado do Trabalho.
DECISÃO (09/01/2018): Indeferida a liminar.
07/01/2018 17:25
08/01/2018 12:58
0502878-70.2017.4.02.5101
01ª VF/Magé THIAGO DA SILVA ULLMAN
União, Michel Miguel Elias Temer Lulia; Cristiane Brasil Francisco
Suspensão da eficácia do decreto que nomeou a Dep. Cristiane Brasil no cargo de Ministra de Estado do Trabalho.
Decisão (08/01/2018): Liminar indeferida.
07/01/2018 17:32
08/01/2018 12:43
0001778-91.2018.4.02.5105
01ª VF/Nova Friburgo
CHRISTIANO PIMENTEL CITRANGULO
União, Michel Miguel Elias Temer Lulia; Cristiane Brasil Francisco
Suspensão da eficácia do decreto que nomeou a Dep. Cristiane Brasil no cargo de Ministra de Estado do Trabalho.
DECISÃO (08/01/2018): Indeferida a liminar requerida. Determinada a citação dos réus.
07/01/2018 20:11
08/01/2018 12:07
*0001786-77.2018.4.02.5102
01ª VF/Niterói
JOÃO GILBERTO ARAÚJO PONTES E OUTROS
União, Michel Miguel Elias Temer Lulia; Cristiane Brasil Francisco
Suspensão da eficácia do decreto que nomeou a Dep. Cristiane Brasil no cargo de Ministra de Estado do Trabalho.
DECISÃO (08/01/2018): Deferida a liminar para suspender a eficácia do decreto que nomeou a Exma. Deputada Federal Cristiane Brasil Francisco ao cargo de Ministra de Estado do Trabalho, bem como sua posse. Fica cominada, para fins de descumprimento, multa pecuniária no valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) para cada agente que descumprir a decisão.
08/01/2018 10:47
08/01/2018 12:24
0001900-19.2018.4.02.5101
14ª VF/RJ
RICARDO CARNEIRO RIBEIRO PINTO E OUTROS
União, Michel Miguel Elias Temer Lulia; Cristiane Brasil Francisco
Suspensão da eficácia do decreto que nomeou a Dep. Cristiane Brasil no cargo de Ministra de Estado do Trabalho.
Decisão (08/01/2018): Liminar indeferida.
08/01/2018 15:28
08/01/2018 16:06
0002219-78.2018.4.02.5103
01ª VF/Campos
PAULO EDUARDO BARROS DE SOUSA E OUTROS
União, Michel Miguel Elias Temer Lulia; Cristiane Brasil Francisco
Suspensão da eficácia do decreto que nomeou a Dep. Cristiane Brasil no cargo de Ministra de Estado do Trabalho.
DECISÃO (08/01/2018): Declinada a competência em favor da 1ª Vara Federal de Niterói.
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Denota-se da tabela acima que a Ação Popular nº 0001775-09.2018.4.02.5115, em
trâmite na 1ª Vara Federal de Teresópolis, foi proposta no dia 07/01/2018, às 16:36, ao passo
que todas as demais demandas foram ajuizadas posteriormente, ao longo dos dias 07 e 08 de
janeiro de 2018.
Especificamente, a Ação Popular originária desta Suspensão foi ajuizada no dia
07/01/2018, às 20h11min.
Como visto, a Lei da Ação Popular (Lei n. 4.717/65) prevê expressamente em seu art.
5º, §3º que a mera propositura da ação consiste no marco para a prevenção do juízo para as
subsequentes ações intentadas contra as mesmas partes e sob a égide dos mesmos fundamentos.
Oportuno destacar que os termos da petição inicial da Ação Popular nº 0001775-
09.2018.4.02.5115, em trâmite na 1ª Vara Federal de Teresópolis/RJ, no bojo da qual a liminar
restou indeferida, é idêntico ao quanto escrito na petição inicial da Ação Popular nº 0001786-
77.2018.4.02.5102, na qual fora proferida a decisão que ora se pretende suspender.
Para que não haja dúvida, veja-se o cotejo dos pedidos formulados em cada ação (cópia
das petições iniciais segue em anexo):
Ação Popular n. 0001775-09.2018.4.02.5115, em trâmite na 1ª Vara Federal de
Teresópolis/RJ (juízo prevento):
I. LIMINARMENTE, com fulcro no art. 5º, §4º, Lei 4.717/65, a suspensão da eficácia
do decreto que nomeou CRISTIANE BRASIL FRANCISCO ao cargo de Ministra de
Estado do Trabalho, impedindo, inclusive, a posse, agendada para o próximo dia
09/01/2018, até segunda determinação do juízo.
II. A citação dos demandados;
III. A intimação do Ministério Público Federal;
IV. A procedência do pedido para declarar a nulidade do decreto que nomeou
CRISTIANE BRASIL FRANCISCO ao cargo de Ministra de Estado do Trabalho.
Ação Popular n. 0001786-77.2018.4.02.5102, em trâmite na 1ª Vara Federal de
Niterói/RJ (juízo prolator da decisão a ser suspensa):
I. LIMINARMENTE, com fulcro no art. 5º, §4º, Lei 4.717/65, a suspensão da eficácia
do decreto que nomeou CRISTIANE BRASIL FRANCISCO ao cargo de Ministra de
Estado do Trabalho, impedindo, inclusive, a posse, agendada para o próximo dia
09/01/2018, até segunda determinação do juízo.
II. A citação dos demandados;
III. A intimação do Ministério Público Federal;
IV. A procedência do pedido para declarar a nulidade do decreto que nomeou
CRISTIANE BRASIL FRANCISCO ao cargo de Ministra de Estado do Trabalho.
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Do cotejo resta claro que as demandas possuem o mesmo objeto, devendo ser
reconhecida a prevenção da 1ª Vara Federal da Teresópolis/RJ e a incompetência do juízo da
1ª Vara Federal de Niterói/RJ para a análise do presente caso.
Acentue-se que a violação ao dispositivo foi veiculada nos autos pela União no Agravo
de Instrumento interposto em face da decisão liminar ora vergastada (AI n. 0000132-
35.2018.4.02.0000/RJ – TRF2), não tendo sido acolhida pelo Desembargado Relator na decisão
quanto ao efeito suspensivo do recurso nos seguintes termos:
“Quanto à tese de prevenção com a ação popular nº 0502878-70.2017.4.02.5101, em
trâmite na 1ª Vara Federal de Magé, é importante observar que em consulta ao sistema
processual APOLO constata-se a existência de outras demandas, todas protocoladas
na mesma data, porém em horários diferentes, com decisões em apenas alguns dos
casos, e em nenhum deles algum Juízo de pronunciou acerca de eventual prevenção.
Ou seja, não está claro nos autos se, havendo prevenção, qual seria o Juízo prevento,
motivo pela qual não cabe tal análise neste momento processual”.
Não obstante, diferentemente do sustentado pelo MM. Desembargador, a informação
quanto ao momento do ajuizamento da Ação Popular nº 0001775-09.2018.4.02.5115, em
trâmite na 1ª Vara Federal de Teresópolis, extraída do próprio site da Seção Judiciária do Rio
de Janeiro2, é a seguinte:
“Protocolada por DOMINIQUE SANDER LEAL GUERRA em 07/01/2018 16:36.
(Processo: 0001775-09.2018.4.02.5115 - Petição: 0001775-09.2018.4.02.5115).
Assinado eletronicamente. Certificação digital pertencente a EDUARDO LAUDE.
Documento No: 78875313-1-0-1-11-920878 - consulta à autenticidade do documento
através do site http://www.jfrj.jus.br/autenticidade.” (grifou-se)
Por sua vez, a inicial da Ação Popular que origina o presente Pedido de Suspensão foi
protocolada às 20h11min do dia 07/01/2018, conforme verifica-se na nota de rodapé de petição
inicial (em anexo), em tarja de protocolamento do Sistema Judiciário: “Cadastrado por
DOMINIQUE SANDER LEAL GUERRA em 07/01/2018 20:11”.
Nesses termos, a simples incidência do comando contido no artigo 5º, § 3º da Lei n.º
4.717/65, em cotejo com os documentos ora anexados, conduz à inafastável conclusão de que
o d. Juízo da 1ª Vara Federal de Teresópolis é o prevento, sendo patente a violação da decisão
2 Disponível em: < http://procweb.jfrj.jus.br/portal/consulta/resconsproc.asp> Acesso em 18 jan. 2018.
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que se pretende suspender ao aludido dispositivo, o que apenas reforça a lesão à ordem pública
vista sob a ótica jurídico-administrativa.
VI – DO EFEITO SUSPENSIVO LIMINAR
Nos termos do art. 4º, §7º da Lei n. 8.437/92, o Presidente do Tribunal poderá conferir
ao pedido efeito suspensivo liminar, ao constatar, em juízo prévio, a plausibilidade do direito
invocado e a urgência na concessão da medida.
In casu, a plausibilidade do direito resta suficientemente demonstrada na medida em
que a decisão vergastada viola a ordem pública e administrativa, pois erige requisito não
previsto legalmente para a assunção do cargo de Ministra do Trabalho pela Exma. Deputada,
em hipótese que a nomeação é nitidamente ad nutum.
Ora, a nomeação ad nutum é frequentemente apontada pela doutrina e pela
jurisprudência como exemplo mais autêntico de ato administrativo que prescinde de motivação
declarada. Como se sabe, é atributo de todo ato administrativo a presunção de veracidade e
legitimidade, ou seja, os atos administrativos são presumidos legítimos até prova em contrário.
Como dito alhures, o ato de nomeação impugnado decorre do pleno exercício da
prerrogativa própria do Chefe do Poder Executivo de nomeação de Ministros de Estado
(appointment powers), nos moldes autorizados pelo art. 84, I, da CF/88 visando à formação e à
recomposição de sua equipe de governo.
O ato de nomeação de um Ministro de Estado não é simplesmente um ato
administrativo, mas sobretudo um ato político, que se insere na direção maior e geral do Estado.
Nessa linha, José Afonso da Silva ensina que “os ministros, que são simplesmente auxiliares
do presidente da República, são por ele livremente nomeados e exonerados. Quer dizer, os
ministros de Estado não dependem da confiança do Parlamento, mas são órgãos de estrita
confiança do chefe do Poder Executivo, que, por isso mesmo, detém o poder incontrastável de
nomeá-los e exonera-los sem atender a ninguém, do ponto de vista jurídico-constitucional”3.
3 Comentário contextual à Constituição. 6ª ed. São Paulo: Malheiros. 2009, p. 483.
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Não se pretende afirmar, com isso, que ato administrativo em exame estaria revestido
de insindicabilidade pelo Poder Judiciário, sob todos os aspectos. Trata-se, ao contrário, de
demonstrar que o mérito da nomeação observa todos os preceitos constitucionais e legais
aplicáveis, prestigiando-se, ao final, as competências privativas da Presidência da República.
Para além, a urgência na concessão da medida se delineia considerando a premente
necessidade de ocupação do mais alto cargo do Ministério, sob pena de prejudicar a gestão da
pasta na consecução das atribuições e finalidade a ela designadas pelo art. 54 da Lei n.
13.502/17, reproduzido supra.
Noutros termos, a decisão deixa sem comando um Ministério que tem como
responsabilidade direta ações governamentais de extrema importância, notadamente nas
políticas públicas sociais de trabalho e emprego.
Em resumo, caracterizada a grave lesão à ordem pública, considerada em termos de
ordem jurídico-constitucional, e sendo patente a interferência indevida no executivo federal, de
modo a haver fumus boni iuris, bem como ser patente o grande risco de prejuízo ao Ministério
do Trabalho no desempenho de suas atribuições, caracterizando o periculum in mora, patente a
necessidade de concessão do efeito suspensivo pretendido.
Assim, requer-se desde já que seja atribuído ao pedido efeito suspensivo liminar, nos
termos do art. 4º, § 7º da Lei n. 8.437/92.
VII – PEDIDO
Ante o exposto, a União requer:
a) a suspensão da liminar concedida Juízo da 4ª Vara Federal de Niterói, com
fundamento no artigo 4º da Lei n.º 8.437/92, conferindo-lhe efeito suspensivo
liminar, com fulcro no artigo 4º, §7º, do mesmo Diploma Legal acima
mencionado, em virtude da demonstrada plausibilidade das razões invocadas
e da extrema urgência na concessão da medida, já que os efeitos nefastos
decorrentes da manutenção da decisão impugnada se agravam com o decurso
do tempo;
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b) a declaração de que a suspensão vigorará até o trânsito em julgado da decisão
de mérito na Ação Popular n.º 0001786-77.2018.4.02.5102/RJ, haja vista o
disposto no art. 4º, §9º, da Lei n.º 8.437/92.
Pede deferimento.
Brasília/DF, 18 de janeiro de 2018.
IZABEL VINCHON N. DE ANDRADE
Advogada da União
Procuradora-Geral da União
CARLOS HENRIQUE COSTA LEITE
Advogado da União
Diretor do Departamento de Serviço
Público
SAULO LOPES MARINHO
Advogado da União