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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CRIXÁS EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE CRIXÁS – ESTADO DE GOIÁS. Inquérito Civil Público n.º 04/2.001 O MINISTÉRIO PÚBLICO, por meio de seus representantes legais, vem, com o devido respeito perante Vossa Excelência para, com fundamento nos artigos 23, inciso VI, 129, inciso III e 225 da Constituição Federal; nas Leis Federais n. 6.938 de 31 de agosto de 1985, 7.805/89, 9.605/98, n. 7.347/85, 8.213/91 e 8.080/91, e Estadual n. 8.544/78 e ainda nas Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA n s . 01/86 e 05/93; propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA, com pedido de concessão de MEDIDA LIMINAR inaudita altera par, cumulado com OBRIGAÇÃO DE FAZER E NÃO FAZER, em desfavor da Cooperativa dos garimpeiros 1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO … · 2010-12-13 · desordenada de ouro ao longo dos anos. Constatou-se ainda a inobservância do uso de quaisquer dos equipamentos

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁSPROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CRIXÁS

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE CRIXÁS – ESTADO DE GOIÁS.

Inquérito Civil Público n.º 04/2.001

O MINISTÉRIO PÚBLICO, por meio de seus representantes legais, vem, com o devido respeito perante Vossa Excelência para, com fundamento nos artigos 23, inciso VI, 129, inciso III e 225 da Constituição Federal; nas Leis Federais n. 6.938 de 31 de agosto de 1985, 7.805/89, 9.605/98, n. 7.347/85, 8.213/91 e 8.080/91, e Estadual n. 8.544/78 e ainda nas Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA ns. 01/86 e 05/93; propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA, com pedido de concessão de MEDIDA LIMINAR inaudita altera par, cumulado com OBRIGAÇÃO DE FAZER E NÃO FAZER, em desfavor da Cooperativa dos garimpeiros

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de Crixás – COOGACRI, pessoa jurídica de direito privado, CGC n.º 24800716/0001-31, representada pelo seu presidente Ricardo Tosta de Lacerda, localizada no povoado de Lavras, município de Crixás-GO, e de Francisco Pereira Lemes, brasileiro, casado, advogado e sua esposa Gildete César Lemes, residentes e domiciliados na rua Elias Ferreira, n°, centro, Crixás-GO, proprietários da Fazenda Lavras, localizada neste município, tendo em vista os fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos:

I - DOS FATOS

Ao longo dos últimos anos a questão ambiental tem sido amplamente divulgada nos municípios goianos, o que gerou constante atuação por parte do Ministério Público, vez que se trata de assunto indissociavelmente ligado à crescente degradação do meio ambiente e da saúde pública, bens jurídicos que caracterizam direitos genuinamente difusos, cuja defesa incumbe precipuamente ao Parquet Estadual, nos termos do artigo 129, inciso III, da Constituição Federal.

Consta que, no mês de setembro do ano de 2.001, o Ministério Público Estadual instaurou Inquérito Civil Público n.º 04/2.001 para apurar as profundas agressões ao meio ambiente causadas pelos inúmeros garimpos clandestinos localizados no município de Crixás-GO, bem como o efetivo cumprimento as

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normas de proteção e segurança no trabalho (ICP fls. 01/02).

Depreende-se dos autos de Inquérito Civil Público nº 04/2.001 fundada vistoria realizada pelos Promotores de Justiça que presidiram a instrução do mesmo, onde se constatou profunda degradação ambiental no garimpo clandestino explorado pela COOGACRI, denominado de “Lavra”, manifesto de mina 323/36, DNPM 2.286/35, de titularidade da Mineração Serra Velha LTDA, com área de 327,93 ha, localizado na fazenda Lavras, neste município, distante 04 (quatro) km da cidade de Crixás – saída sul, provocada, inclusive, pelo uso indiscriminado de mercúrio e pela extração desordenada de ouro ao longo dos anos. Constatou-se ainda a inobservância do uso de quaisquer dos equipamentos obrigatórios de proteção e segurança do trabalho para o desenvolvimento da atividade mineraria. Assim, confirmar-se o completo desprezo pela vida humana e pela saúde e segurança dos verdadeiros garimpeiros. (ICP fls. 04/07).

Denota-se ainda que, o requerido Francisco Pereira Lemes, foi e é conivente com os graves danos ambientais perpetrados em sua propriedade, fazenda Lavras, localizada neste município; fato que, em sede de responsabilidade por danos causados a interesses difusos, como o meio ambiente, aplicam-se as regras da solidariedade, ou seja, a reparação é exigível de todos e de

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qualquer um dos responsáveis, inclusive podendo ser oposta àquele que se afigure o mais solvável, o qual depois se voltará contra os demais, em via de regresso. Ademais, a lei n° 6.938/81 adotou a teoria do risco da atividade, criando o regime da responsabilidade objetiva pelos danos causados ao meio ambiente (art. 14, § 1º), de sorte que é irrelevante e impertinente a discussão da conduta do agente (dolo ou culpa) para atribuição do dever de indenizar, de reparar o meio ambiente.

Compulsando o contrato celebrado entre a

Mineração Serra Velha LTDA e a COOGACRI, item nº 04, datado de 10/12/1.991, percebe-se que esta, dentre inúmeras outras obrigações assumidas, se responsabilizou expressamente pelo controle ambiental da referida área liberada, incluindo-se a recuperação do passivo ambiental já existente, em conseqüência das atividades garimpeiras exercidas no passado (ICP fls. 131/132 e 145/149).

Inicialmente, a Delegacia Regional do Trabalho (DRT), cumprindo requisição do Parquet Estadual, efetuou fiscalização no garimpo clandestino da lavra, localizado neste município, para apurar a ocorrência de acidente de trabalho fatal envolvendo Deuzin Neves Barbosa, isso em 06/07/2.001. Porém, ficou constatado a inobservância completa da normas de segurança e proteção do trabalho estabelecidas na NR 22, que dispõe sobre os preceitos a serem observados na organização e no ambiente de trabalho, de forma a tornar

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compatível o planejamento e o desenvolvimento da atividade mineira com a busca permanente da segurança e saúde dos trabalhadores. (ICP n.º 15/16).

Ato contínuo, foram expedidos ofícios ao

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Minerais (IBAMA), Agência Ambiental e Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Houve fiscalização constante e rigorosa por parte dos referidos órgãos competentes nos inúmeros garimpos, onde se constatou a ilegalidade total dos mesmos face a inexistência de licenciamento ambiental para funcionamento, bem como profunda agressão ao meio ambiente causada pela exploração desordenada de ouro ao longo de mais de duas décadas.

O IBAMA, cumprindo requisição do PARQUET ESTADUAL, apresentou detalhado relatório de inspeção e fiscalização nos inúmeros garimpos clandestinos localizados neste município, entre eles o da LAVRA, onde constatou-se a ausência de licenciamento ambiental para regular funcionamento. Ao final do referido relatório, “recomenda-se aos proprietários e responsáveis pelos garimpos que se licenciem junto aos órgãos ambientais e cumpram o que é pedido no plano de controle ambiental”, devendo ainda providenciarem com urgência os Projetos de Recuperação de áreas degradadas (PRAD). Ilustra o relatório várias fotografias dos locais inspecionados, onde pode-se constatar claramente a

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grave e crescente degradação ambiental, provocada pela completa inobservância das normas vigentes de proteção ao meio ambiente (ICP fls. 54/77).

Consta dos autos que, todas as atividades desenvolvidas pela COOGACRI na fazenda Lavras, localizada neste município, estão embargadas administrativamente pelo IBAMA desde 20/03/2.002, em face da ausência de licenciamento ambiental e de apresentação de EIA/RIMA e PRAD, para regular funcionamento do referido garimpo(ICP fls.89/90).

Por sua vez, a Promotoria de Justiça de Crixás requereu a este juízo em 15/05/2.002, a autuação e processamento, pelo rito preconizado no artigo 76 e seguintes da Lei n.º 9.099/95, do devido auto de embargo e interdição lavrado pelo IBAMA em desfavor da COOGACRI, face a configuração do crime ambiental previsto no artigo 55, da Lei n.º 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais) (ICP fls. 303).

Constata-se ainda pelos documentos anexos, o uso indiscriminado de mercúrio ao longo do tempo visando o processo de apuração do minério extraído de forma primária, proibido pela legislação em vigor. Pelo relatório anexo, emitido pela SANEAGO em 12/09/2.001, percebe-se claramente que o parâmetro da substância mercúrio encontrada na água analisada não

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atende os níveis recomendados (ICP fls. 278/283), o que representa a existência de grave poluição hídrica.

Já o DNPM constatou que “todos os

garimpos citados estão localizados em áreas oneradas, portanto impedidos legalmente de trabalhar.... Nesse sentido todos estão trabalhando clandestinamente”. Segundo o técnico do DNMP Arnaldo de Sousa Braga, que vistoriou os garimpos, o fato mais grave é que, em todos, o material onde ocorre o ouro é primário, não sendo permitida a extração através da legislação em vigor. No que tange especifica mente ao garimpo clandestino da lavra, explorado pela COOGACRI, o mesmo narrou que “(...) não consta a licença ambiental expedida pelo órgão competente (...)”. (ICP fls. 110/115)(Grifo nosso).

Seja por ignorância, seja por inconsciência ou por cupidez, os homens estão destruindo as bases de seus próprios meios de existência, com violação dos sistemas naturais. Poderíamos incluir também a ganância dos homens pelo lucro fácil a custa de tudo e de todos, ou, como escreveu Cecília Meireles:

"Que a sede de ouro é sem cura, e, por ela subjugados, os homens matam-se e morrem, ficam mortos, mas não fartos".

Ademais é pacífico que, pelo princípio constitucional da prevenção, todos têm direito ao meio

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ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Daí se vê a preocupação do legislador com o tema, dispensando o meio ambiente o tratamento de bem de uso comum do povo. E o legislador foi mais além, exigindo na própria Constituição, o Estudo e o Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) , para os empreendimentos e atividades potencialmente causadores de degradação ambiental (artigo 225, § 1°, inciso IV). O artigo 10 da Lei n° 6.938/81, também, mostra-se bastante rigoroso e restritivo ao estabelecer que a construção, a instalação, a ampliação e o funcionamento de estabelecimentos e atividades "capazes, sob qualquer forma de causar degradação ambiental", dependerão de prévio licenciamento ambiental.

Conclui-se portanto que, a defesa e preservação do meio ambiente, o combate às mais diversas formas de poluição, bem como a recuperação dos terrenos erosivos e degradados, com riscos de danos irreversíveis deve ser uma das principais preocupações das autoridades competentes em fiscalizar a devida aplicação da legislação acerca da matéria em vigor.

É patente que a irregular e inconseqüente ação dos réus causaram e continua causando deploráveis danos à ecologia. O meio ambiente é um patrimônio a ser

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necessariamente assegurado e protegido. Além disso, toda a sociedade é prejudicada pela supressão dos recursos ambientais.

II – DA FUNDAMENTAÇÃO

DO DIREITO APLICÁVEL AO CASO CONCRETO EM ANÁLISE

Diz o artigo 23, da Constituição Federal de 1988, in verbis:

“Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:........................................................................... VI - proteger o Meio Ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;”

O artigo 225, § 1º, inciso IV, da Constituição Federal, estabelece para as obras que causem danos ao ambiente a exigência prévia de elaboração do estudo de impacto ambiental.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:I – (...);II – (...);

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III – (...);IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;VI – (...);VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade.§ 2º. Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.§ 3º. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

Por seu turno, a Lei Federal n. 6.938, de 31 de agosto de 1981 (Política Nacional do Meio Ambiente), dispõe que:

Art. 2º. A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios;

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I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;III - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;

V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais;VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;VIII - recuperação de áreas degradadas;IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;X - educação ambiental a todos os níveis do ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.

“Art. 3º - Para fins previstos nesta Lei, entende-se por:I - Meio Ambiente: o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas:II - Degradação da qualidade ambiental: a alteração adversa das características do meio ambiente;III - Poluição: a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem estar da população;b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;c) afetem desfavoravelmente a biota;d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;

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e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões estabelecidos.......................................................................................”.

Já o artigo 10 da mesma Lei de Política Nacional do Meio Ambiente diz, in verbis:

“Art. 10. A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva e potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento de órgão estadual competente, integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, em caráter supletivo, sem prejuízo de outras licenças exigíveis. (Redação dada ao caput pela Lei n.º 7.804, de 18.07.1989).”

Por seu turno, a Lei Estadual n. 8.544, de 17 de outubro de 1978, que dispõe sobre o controle de poluição do meio ambiente, estabelece:“Art. 2º . Considera-se poluição do meio ambiente a presença, o lançamento ou liberação, nas águas, no ar, no solo, de toda e qualquer forma de matéria ou energia, com intensidade, em quantidade de concentração ou com características em desacordo com as que forem estabelecidas em lei, ou que tornem ou possam tornar as águas, o ar ou o solo: I - impróprios, nocivos ou ofensivos à saúde;II - inconvenientes ao bem-estar público;III - danosos aos materiais, à fauna e à flora;IV - prejudiciais à segurança, ou uso e gozo da propriedade e às atividades normais da comunidade;........................................................................................

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Art. 5º . A instalação, a construção ou ampliação, bem como operação ou funcionamento das fontes de poluição que forem enumeradas no regulamento desta lei, ficam sujeitos à prévia autorização do órgão estadual de controle de poluição do meio ambiente, mediante licenças de instalação e funcionamento.”

Atento às diretrizes da Política Nacional de Proteção ao Meio Ambiente, o CONAMA editou a Resolução n. 01, de 23 de janeiro de 1986, a qual expressamente determina em seu artigo 1º, inciso IV:

“Art. 1º - Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:........................................................................................IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente."

A lei n° 9.605/98 que dispõe acerca da prática de crimes ambientais nos ensina:

Art. 2º. Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la.

Art. 3º. As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei,

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nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.

Art. 4º. Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.(...)

Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida:Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem deixa de recuperar a área pesquisada ou explorada, nos termos da autorização, permissão, licença, concessão ou determinação do órgão competente.

Outrora, a Lei n° 7.805/89 dispõe com maestria que:(...)Artigo 3°. A outorga da permissão de lavra garimpeira depende de prévio licenciamento ambiental concedido pelo órgão ambiental competente.(...)

Artigo 18. Os trabalhos de pesquisa ou lavra que causarem danos ao meio ambiente são passíveis de suspensão temporária ou definitiva, de acordo com parecer do órgão ambiental competente.(...)

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Artigo 19. O titular de autorização de pesquisa, de permissão de lavra garimpeira, de concessão de lavra, de licenciamento ou de manifesto de mina responde pelos danos causados ao meio ambiente.(...)

Vejamos o teor do artigo 14, § 1º, da Lei 6.938/81:

Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal por danos causados ao meio ambiente.

Quanto a tutela ambiental a responsabilidade civil é objetiva, conforme consignado pela Lei 6,938/81, art. 14, § 1º ,c/c o art. 4º, inciso VII.

Sérgio Ferraz, Édis Milaré, Camargo Ferraz e Nery Júnior entendem que a responsabilidade é objetiva, independendo da culpa, bastando somente o nexo causal entre o dano e o ato praticado pelo poluidor.

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Cabe destacar ainda que, em sede de responsabilidade por danos causados a interesses difusos, aplicam-se as regras da solidariedade: a reparação é exigível de todos e de qualquer um dos responsáveis, inclusive podendo ser oposta àquele que se afigure o mais solvável, o qual depois se voltará contra os demais, em via de regresso.

A lei n° 6.938/81 adotou a teoria do risco da atividade criando o regime da responsabilidade objetiva pelos danos causados ao meio ambiente (art. 14, § 1º), de sorte que é irrelevante e impertinente a discussão da conduta do agente (dolo ou culpa) para atribuição do dever de indenizar, de reparar o meio ambiente.

Conseqüências da responsabilidade ambiental : a) prescindibilidade de culpa e do dolo para que haja o

dever de indenizar;b) irrelevância da licitude da conduta do causador do dano

para que haja o dever de indenizar;

c) inaplicação, em seu sistema, das causas de exclusão da responsabilidade civil (cláusula de não indenizar, caso fortuito e força maior).

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Pressupostos : evento danoso e nexo de causalidade.

Por sua vez, entende-se por dano ecológico “qualquer lesão ao meio ambiente causada por condutas ou atividades de pessoa física ou jurídica de direito público ou privado” José Afonso da Silva – Direito Ambiental Constitucional

A proteção ambiental é uma operação feita no plano da comunidade com o fito de atribuir a cada função e a cada indivíduo seu justo lugar. O homem deve ser visto concretamente como membro de uma comunidade local e o território na sua realidade de Ambiente Ecológico, redescobrindo-se nele seus valores específicos, promovendo-se nele seus valores específicos, protegendo-o, além de utilizá-lo de forma consciente.

Já se decidiu a respeito da matéria em questão:

13004090 – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – Ambiental – Restauração da vegetação nativa de área que foi destruída – Condenação mantida – prova inarredável que atesta

ter havido responsabilidade do réu pela degradação do meio ambiente – Responsabilidade objetiva – A defesa de propriedade do apelante, ou ainda, tão-só, de sua

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posse, tem que ser efetivada pela via processual adequada – Negam provimento ao recurso. (TJSP – AC 53.878-5 – Miracatu – 4ª CDPúb. – Rel. Viana Santos – J. 23.09.1999 – v.u.)

AÇÃO CIVIL PÚBLICA – Dano ao meio ambiente – Ocorrência – Empresa exploradora de areia – Condenação a executar plano para recuperação da área lesada – Proibição de retorno às atividades até a aprovação do plano – Mudança, entretanto, no prazo de execução devido ao atraso em sua apreciação pela Administração – Recurso parcialmente provido. (Relator: Benini Cabral – apelação Cível n° 203.510-1- Tatuí – 27.04.94).

Ademais, constata-se no garimpo da lavra, bem como nos demais garimpos clandestinos e ilegais localizados neste município, a total inobservância quanto as normas regulamentadoras vigentes sobre segurança e saúde no trabalho, conforme documentação probatória em anexo.

A NR 22 dispõe com maestria que:

22.1.1- Esta Norma Regulamentadora tem por objetivo disciplinar os preceitos a serem observados na organização e no ambiente de trabalho, de forma a tornar compatível o planejamento e o desenvolvimento da atividade mineira com a busca permanente da segurança e saúde dos trabalhadores.(...)

22.3.1- Cabe à empresa, ao Permissionário de Lavra Garimpeira e ao responsável pela mina a obrigação de zelar pelo estrito

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cumprimento da presente Norma, prestando as informações que se fizerem necessárias aos órgãos fiscalizadores.(...)

22.3.7- Cabe à empresa ou Permissionário de Lavra Garimpeira elaborar e implementar o Programa de Gerenciamento de Riscos – PGR, contemplando os aspectos desta Norma, incluindo, no mínimo, os relacionados a:a) riscos físicos, químicos e biológicos;b) atmosferas explosivas;c) deficiências de oxigênio;d) ventilação;e) proteção respiratória, de acordo com a Instrução Normativa nº. 1, de 11/04/94, da Secretaria de Segurança e Saúde no trabalho;f) investigação e análise de acidentes do trabalho;g) ergonomia e organização do trabalho;h) riscos decorrentes do trabalho em altura, em profundidade e em espaços confinados;i) riscos decorrentes da utilização de energia elétrica, máquinas, equipamentos, veículos e trabalhos manuais;j) equipamentos de proteção individual de uso obrigatório, ob-servando-se no mínimo o constante na Norma Regulamentadora nº. 6; l) estabilidade do maciço;m) plano de emergência e n) outros resultantes de modificações e introduções de novas tecnologias.(...)

Do Princípio do Desenvolvimento Sustentável

Na contramão da história, sustentando as mesmas velhas bandeiras das décadas de euforia industrial (o desenvolvimento e crescimento do país, a

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geração de empregos e de riqueza, além do aumento na arrecadação de tributos), indústrias e cooperativas de todo o tipo têm praticado repetidos crimes contra o meio ambiente, como se estivessem imunes e a par de todo o esforço mundial para reverter o quadro atual de destruição dos recursos naturais. É a aplicação da teoria de que os "fins justificam os meios”, na tentativa de tornar justa a afirmativa de que, em tempos de crise, se uma empresa estiver cumprindo parte de sua função social, através da geração de empregos, tributos e riquezas, não poderá ser incomodada ou ver interrompidas suas atividades (reinvocam o laissez faire), simplesmente sob o fundamento de que no meio do processo de produção ou de descarte a natureza termina sendo sacrificada de alguma forma.

Apregoam essas empresas que a comunidade local deve ficar eternamente agradecida pelo desenvolvimento trazido com a instalação da indústria na região, a tal ponto de aceitar a prática de toda a sorte de atentados contra a natureza. E, neste contexto, a crise econômica, a recessão conseqüente, o desemprego em massa e a miséria da população, que fazem parte do cotidiano de um país de terceiro mundo, passaram a ser utilizados como justificativa para a invocação do que se tem denominado ironicamente de "direito de poluir".

No entanto, os diversos valores sócio-econômicos mencionados não são mais vistos pela sociedade brasileira num plano de importância superior ao da defesa do meio ambiente. Abandonou-se a idéia alardeada no passado, no sentido de que "um país em desenvolvimento ainda tem muito para poluir", para se acolher o princípio do desenvolvimento sustentável. Assim, "no confronto entre esses diversos valores e interesses que deles resultam, não se pode mais relegar a proteção ao meio ambiente à questão de importância secundária. Isto é, nem mesmo sob aquele argumento tradicionalmente utilizado de que se pretende buscar a

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satisfação de necessidades de igual relevo, porém mais imediatas, se pode admitir o abandono, ainda que temporário, da proteção do meio ambiente. A opção fundamental da sociedade foi pela preservação do meio ambiente desde logo, tendo em vista também as necessidades das gerações futuras. "1

Essa opção de preservação do meio ambiente "em pé de igualdade" com o desenvolvimento econômico, foi assumida pelo constituinte de 1988, visto que a Constituição Federal, afinada com a tendência mundial de defesa do meio ambiente em busca do desenvolvimento sustentável, dedicou um capítulo inteiro destacado para tratar da sua proteção, com o objetivo claro e expresso de assegurar desde logo a preservação do meio ambiente para as presentes e futuras gerações.

Lembra bem José Afonso da Silva que "são dois valores aparentemente em conflito que a Constituição de 1988 alberga e quer que se realizem no interesse do bem estar e da boa qualidade de vida dos brasileiros”. Um todavia, não pode terminar por excluir o outro.

Fez-se consignar expressamente na Carta Política brasileira, através do art. 225, que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito fundamental entre os direitos sociais reconhecidos, e que cumpre ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as gerações presentes e futuras. Isso significa dizer que nem o legislador infraconstitucional, nem o aplicador do direito, poderão sob qualquer fundamento, negar ou excluir o direito assegurado constitucionalmente, já que não há na Constituição, lembra com precisão o brilhante

1 Álvaro Luiz Valery Mirra - Princípios Fundamentais do Direito Ambiental - Revista de Direito Ambiental - n. 02 - pág. 58 - Editora Revista dos Tribunais.

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constitucionalista português, J.J. Gomes Canotilho2

“simples declarações (selam oportunas ou inoportunas, felizes ou desafortunadas, precisas ou indeterminadas) a que não se deve dar valor normativo, e só o seu conteúdo concreto poderá determinar em cada caso alcance específico do dito valor”.

Por outro lado, com o propósito de afastar qualquer dúvida de que o desenvolvimento econômico não tem supremacia sobre a garantia de preservação do meio ambiente, a Constituição ainda previu expressamente no capítulo que trata dos "Princípios Gerais da Atividade Econômica" (art. 1 70, inciso VI), que a ordem econômica deverá observar entre outros princípios o da DEFESA DO MEIO AMBIENTE. Com isso, conclui-se que a defesa do meio ambiente não se trata apenas de um direito fundamental, mas tornou-se também um princípio fundamental, um principio regulador da ordem econômica brasileira, e de conseqüência, pressuposto lógico e jurídico para o desenvolvimento legítimo dos processos de urbanização e industrialização em nosso país.

Desta forma, não há como relativizar o alcance do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, para permitir a convivência pacifica com atividades poluidoras lesivas, ainda que representem elas alguma forma de desenvolvimento econômico ou social. O sistema jurídico não tolera incompatibilidades, no máximo são criados estados de tensão, e a poluição prejudicial ao equilíbrio ecológico é incompatível com a preservação do meio ambiente. Inexiste pois espaço para ponderações, porque a aceitação da poluição em níveis acima dos toleráveis, sob qualquer pretexto, implica necessariamente na rejeição do direito constitucional ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

2 JJ. Gomes Canotilho - Direito Constitucional – Ed. Livraria Almeidina - Coimbra - 1993 6ª edição

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Diante disso, a convivência só é aceitável, na medida em que o desenvolvimento econômico-social não entre em choque com o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, e a esse tipo de conciliação ou pacto de convivência não prejudicial é que se dá o nome de desenvolvimento sustentável.

E, para a garantir a realização efetiva do desenvolvimento sustentável nos termos referidos, a Constituição Federal não se limitou apenas a prever expressamente o direito fundamental e o princípio regulador, foi muito além, incumbiu ao Poder Público, entre outros deveres, o de "controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente" (art. 225, § 1", inciso V), bem como, estabeleceu que "as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados". (art. 225, § 3º)

Deve-se entender por Poder Público a "expressão genérica que se refere a todas as entidades territoriais públicas, pois uma das características do Estado Federal, como o nosso, consiste precisamente em distribuir o Poder Público por todas as entidades autônomas que o compõem, para que cada qual o exerça nos limites das competências que lhe São outorgadas pela Constituição”3. Aliás, quando a Carta Magna utilizou-se no § 3º do art. 225, da terminologia Poder Público", acabou por impor a todos os "poderes" do Estado, inclusive o Judiciário, cada qual dentro de seu âmbito de competência, em todas as esferas federativas, o dever de controle das atividades que representem degradação à vida, à qualidade de vida e ao meio ambiente. Isto porque, tecnicamente o "Poder Público" é um só, porquanto trata-3 José Afonso da Silva - Direito Ambiental Constitucional – 2ª edição - Malheiros Editores - 1997 – pág. 49

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se de atributo do Estado4, e o modelo de separação idealizado pelo Barão de Montesquieu e adotado nos Estados modernos refere-se na verdade às funções e não poderes do Estado (afirma-se inclusive, entre os estudiosos do direito público, que apesar do emprego comum, a utilização da expressão "tripartição de poderes" seria completamente equivocada, já que o poder do Estado é uno).

DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA A PROPOSITURA DA AÇÃO

O artigo 129, inciso III, da Constituição Federal de 1988 é claro ao estabelecer a legitimidade do Ministério Público para propor ação civil pública na defesa do Meio Ambiente e de outros interesses difusos ou coletivos, especialmente, no presente caso, a proteção do meio ambiente do trabalho, garantida constitucionalmente como direito à saúde (art. 200, incisos II e VIII, CF). Idêntica previsão encontra-se no artigo 5º, da Lei Federal n. 7.347/85; no artigo 14, § 1º, da Lei Federal n. 6.938/81; nos artigos 19, § 1º c/c 129, II, da Lei n. 8.213/91 (relativos à prevenção de acidentes); bem como no artigo 6º, § 3º da Lei n. 8.080/90 (sobre proteção à saúde dos “trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho”).

Assim sendo, compete ao Ministério Público, como guardião da defesa da ordem jurídica e dos

4 Michel Temer - Elementos de Direito Constitucional – 10ª edição - Malheiros Editores – 1993 pág. 112

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interesses indisponíveis da sociedade, zelar pela fiel observância da Constituição e das leis, defendendo os interesses meta-individuais, sendo detentor de legitimidade para propor as medidas judiciais necessárias à defesa de tais interesses.

Por sua vez, “o Ministério Público Estadual tem legitimidade para promover ação civil pública destinada a evitar acidentes no trabalho” (STJ – Resp – 315944 – SP – 4ª turma – Relator Ruy Rosado de Aguiar – DJU 29/10/2.001 – P.00212)

RECURSO ESPECIAL Nº 316.470 - SP (2001/0039654-2), RELATOR : MINISTRO SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, RECORRIDO : INDUSCORTE INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA. PROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA ACIDENTÁRIA. MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. LEGITIMIDADE. JUSTIÇA ESTADUAL.

COMPETÊNCIA. ORIENTAÇÃO DA, SEGUNDA SEÇÃO. RECURSO PROVIDO."Processual civil. Ação Civil Pública visando afastar danos físicos a empregados da demandada. Cabimento. Legitimidade do Ministério Público Estadual para ajuizá-la. I – É cabível ação civil pública com o objetivo de afastar danos físicos a empregados de empresa em que muitos deles já ostentam lesões decorrentes de esforços repetitivos (LER). Em tal caso, o interesse a ser defendido não é de natureza individual, mas de todos os trabalhadores da ré, presentes e futuros, evitando-se a continuidade do processo da sua degeneração física. II – O Ministério Público Estadual tem legitimidade para propor a ação porquanto se refere à defesa de interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos, em que se configura interesse social relevante, relacionados com o meio ambiente do trabalho. III – Ofensa não configurada aos textos legais colacionados. Dissídio pretoriano superado. IV – Recurso especial não conhecido"( REsp n. 207.336-SP, DJ 11/6/2001,

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relator o Ministro Pádua Ribeiro).P.I. Brasília, 27 de setembro de 2001. (STJ, 4ª Turma, REsp. nº 316.470-SP, Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ de 11/10/2001).

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL

Mister ressaltar que, os graves danos decorrentes da prática contínua de atividades lesivas ao meio ambiente, bem como a inobservância quanto a efetiva aplicação das normas de proteção e segurança do trabalho, provocados pelos réus, ao longo dos anos, sem sombra de dúvidas, ensejam urgente repressão por parte das autoridades estaduais, dado que as ofensas primordialmente afetaram as condições de saúde e vida da população crixaense.

Por fim, cumpre destacar que não há conflito de jurisdição (Justiça Federal X Justiça Estadual). Mas a regra do artigo 2° da LACP limita a jurisdição federal ao estabelecer como o foro competente, de forma absoluta, o juízo do local do dano.

Ademais, o artigo 2º da Lei Federal n° 7,347/85 dispõe que “as ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer dano, cujo Juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa”.

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A meu sentir, compete a justiça estadual em primeiro grau processar e julgar ação civil pública, visando à proteção ao patrimônio público e ao meio ambiente, mesmo no caso de comprovado interesse da União no seu deslinde. Compatibilidade, no caso, do artigo 2° da Lei n° 7.347/85, com o artigo 109, §§ 2° e 3°, da CF. Nesse sentido: STJ – Conflito de Competência n° 2.230 – RO (910014255-7), TJSP – Conflito de Competência n° 8694-9/AC, Relator Ministro Américo Luz.

Por sua vez, já se decidiu:

13023211 – COMPETÊNCIA – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – Tutela do meio ambiente – Degradação ambiental que alcança bens de domínio da União – Irrelevância – Propositura no foro do local onde ocorreu o dano – Aplicação

da Lei 7.347/85 – Competência da Justiça Estadual – Remessa a Justiça Federal indeferida -Recurso não provido. Irrelevante que a degradação ambiental alcance bens de domínio da União, mais precisamente, um rio interestadual, os terrenos marginais e suas praias. O interesse, que se visa tutelar é o meio ambiente, patrimônio comum a toda população, e não especificamente, da União Federal. (TJSP – AI 182.852-1 – Taubaté – Rel. Des. Marcus Andrade – J. 28.12.1992)

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DA NECESSIDADE DE CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR.

Em razão da completa inexistência de licenciamento ambiental exigido para regular funcionamento do referido garimpo clandestino e ilegal existente no município de Crixás, bem como da ausência dos equipamentos indispensáveis para a proteção e segurança do trabalho desenvolvido pelos garimpeiros, fatos que, por si só, levam a conclusão terem os requeridos desrespeitado vários dispositivos legais, além de estar causando grande degradação ambiental de caráter praticamente irreversível. A concessão de MEDIDA LIMINAR é imprescindível para que cessem os danos e não ocorram maiores prejuízos a saúde dos trabalhadores e ao meio ambiente local.

Destarte, o artigo 12 da Lei n. 7.347/85,

que contempla um procedimento especial, estabelece de forma clara que é permitido ao Juiz o poder de conceder, com ou sem justificação prévia, MEDIDA LIMINAR. Trata-se de verdadeira medida antecipatória do provimento do mérito, tal qual nas liminares de procedimento especial (ação possessória), e não mera providência cautelar, perfeitamente possível, compatível e autorizada por lei,

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podendo ser concedida nos próprios autos da ação civil pública (RTJ - JESP 113/312).

Como sempre, para a concessão da medida liminar bastam a presença do fumus boni iuris e do periculum in mora, além da caracterização de possíveis danos irreparáveis ou de difícil reparação ao Meio Ambiente ou às pessoas ou que mereçam a imediata ação do Poder Judiciário.

Visualiza-se, pois, pelo exposto, a urgência de solução da problemática causada pelos réus, estando presentes os requisitos necessários para a concessão da medida pleiteada, quais sejam: fumus boni iuris, consistente nos dispositivos legais retro mencionados e o periculum in mora, presentes no agravamento da situação e a ocorrência contínua de graves danos ambientais e da inobservância total de segurança e proteção à saúde e a vida dos inúmeros trabalhadores daí decorrentes, eis que os réus não tomaram as medidas legais cabíveis para o regular funcionamento do garimpo.

Na verdade, o que deve prevalecer na análise e apreciação da MEDIDA LIMINAR é o fato de estarmos diante de interesses de ordem metaindividual, atinentes ao Meio Ambiente e a Segurança e Saúde do trabalhador, bens jurídicos fundamentais para a continuidade da vida em nossa comunidade.

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Daí a presença indelével dos requisitos que autorizam a concessão da MEDIDA LIMINAR, realçando que o primeiro deles materializa-se na demonstração inequívoca do direito alegado e o segundo na patente inocuidade da prestação jurisdicional a posteriori, vez que a situação está a exigir medidas rápidas que possam salvaguardar os bens jurídicos expostos a violação.

Vejamos o seguinte arresto

AÇÃO CIVIL PÚBLICA - LIMINAR CONCEDIDA - ABSTENÇÃO DA ATIVIDADE DE EXTRAÇÃO DE AREIA - DECISÃO MANTIDA - AGRAVANTE QUE NÃO DISPÕE DE LICENÇA DE INSTALAÇÃO E FUNCIONAMENTO DE ACORDO COM A LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA PERTINENTE, EMANADA DOS ÓRGÃOS INCUMBIDOS DE PRESERVAR O MEIO AMBIENTE - RECURSO NÃO PROVIDO.(PASTA- LIMINAR)TJSP - Primeira Câmara Civil - Agravo de Instrumento nº 127.740-1, Relator: Des. Luiz de Azevedo - 06/03/90, Comarca : Santos, Agravante: SOTESE COMÉRCIO E EXPORTAÇÃO DE AREIA LTDA, Agravado; Ministério Público Estadual; Ação Civil Pública - Liminar - Antecipação da Tutela - Meio Ambiente – Subsistente, ex vi do art. 461 do CPC, o despacho de antecipação da tutela jurisdiconal, consubstanciada na concessão de liminar em ação civil pública, com o fim de fazer cessar ato de garimpagem clandestina, preservando-se, assim, o meio ambiente em resguardo ao interesse público.

VOTO“Cuida-se de agravo de instrumento interposto por Paulo César dos

Santos Faria, objetivando a desconstituição do despacho pelo qual, nos autos da ação civil pública proposta pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais, concedeu liminar para que cessem os atos de garimpagem que vinham sendo executados pelo ora agravente. Aduz-se, em síntese, que o

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garimpo explorado pelo agravante se mostra inteiramente legalizado, em razão do alvará de autorização que lhe fora concedido pela Prefeitura Municipal de Porto Firme, daí considerar-se arbitrário o despacho agravado. Conheço do agravo, porque satisfeitos os requisitos de sua admissibilidade. Verifica-se, com efeito, que o despacho agravado foi dado, embora não dito expressamente, com base na alteração à redação do art. 461 do CPC, de antecipação da tutela jurisdicional, consistente na concessão de liminar, para que cessem os atos de garimpagem que vinham sendo executados pelo agravante. Por isso, a incensurabilidade do despacho agravado. Sem que se adentre no exame do mérito da causa, pela inoportunidade do momento processual, tem-se que os atos de garimpagem, executados pelo agravante, se mostram como clandestinos, porque não autorizados pelo DNPM, e que se faziam em prejuízo ao meio ambiente, com comprometimento às condições de abastecimento das populações ribeirinhas do Rio Piranga. Acrescente-se que, ao contrário do que alega o agravante, o ato judicial atacado se mostra revestido dos requisitos da legalidade, não se podendo falar em arbitrariedade. Por essas razões, nego provimento ao agravo. Custas, pelo agravante”. (ADCOAS 8149627/96).

III - DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto o MINISTÉRIO PÚBLICO requer:

a) A concessão de MEDIDA LIMINAR inaudita altera pars, determinando-se incontinente, sob pena de multa no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) por dia de atraso, e configuração contínua dos crimes de desobediência e ambiental, o seguinte:

a.1) que a Cooperativa de garimpeiros de Crixás - COOGACRI paralise, e consequentemente não exerça mais,

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qualquer tipo de atividade que provoque danos ao meio ambiente e que coloque em risco a vida, a saúde e a segurança dos trabalhadores (Programa de gerenciamento de riscos – PGR), no garimpo denominado de “Lavra”, com área de 327,93 ha, localizado na fazenda Lavras, de propriedade do requerido Francisco Pereira Lemes, neste município, até efetiva regularização junto aos órgãos competentes;

a.2) que os requeridos providenciem, no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, a apresentação de fundados projetos de recuperação ambiental(PRAD), e consequente implantação nas referidas áreas degradadas, elaborados por técnicos habilitados e qualificados junto aos órgãos competentes;

a.3) que adotem providências fiscalizatórias (colocação de guardas) visando coibir a entrada e permanência de pessoas não autorizadas, bem como de animais nas áreas do referido garimpo;

a.4) que se determine a realização, via judicial, de perícia técnica por parte da Agência Ambiental, no prazo máximo de 30 (trinta) dias, visando o levantamento do montante do prejuízo a ser imputado aos réus como efeito de recuperação das áreas degradadas;

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a .5) a imediata apreensão das máquinas, motores, e demais instrumentos usados na prática do crime ambiental previsto no artigo 55 da Lei n° 9.605/98, com fundamento no artigo 25 e §§, da mencionada lei; b) Apreciada a questão da concessão da MEDIDA LIMINAR, seja determinada a citação dos réus para, caso queiram, oferecerem contestação no prazo legal;

c) possa provar o alegado valendo-se de todos os meios de prova em direito admitidos, inclusive prova pericial e inspeção judicial na área do garimpo clandestino denominado de “Lavra”, localizado neste município, desde já requerida;

d) seja requisitado, junto a Agência Ambiental a realização de perícia in locu na área do garimpo, localizado na fazenda Lavras, neste município, com a expedição de laudo técnico circunstanciado sobre a magnitude dos danos ambientais causados ao longo dos anos e as medidas necessárias à recuperação de tais áreas, solicitando a apresentação oportuna dos quesitos e a nomeação de assistente técnico. Requer ainda o depoimento pessoal do representante legal da COOGACRI e do réu Francisco Pereira Lemes, sob pena de confissão sobre a matéria de fato;

e) seja a presente ação civil pública, ao final, julgada totalmente procedente, confirmando-se, em caráter

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definitivo, a medida liminar eventualmente concedida e ainda condenando-se os réus a indenizarem os danos ambientais causados, bem como a implementarem as seguintes obrigações, sob pena de multa diária a ser estabelecida na sentença, nos termos do artigo 11 da Lei n. 7.347/85:

e.1) obrigação de fazer consubstanciada na plena recuperação ambiental das áreas degradadas, mediante a apresentação de projetos técnicos (Plano de recuperação das áreas degradadas - PRAD), de forma a atender todas as imposições legais, às necessidades da comunidade local e principalmente, a não ofender o Meio Ambiente e a saúde da população;

e.2) obrigação de não fazer consistente em que a Cooperativa de garimpeiros de Crixás - COOGACRI não exerça mais qualquer tipo de atividade que provoque danos ao meio ambiente e que coloque em risco a vida, a saúde e a segurança dos trabalhadores (Programa de gerenciamento de riscos – PGR), no garimpo clandestino denominado de “Lavra”, com área de 327,93 ha, localizado na fazenda Lavras, de propriedade do requerido Francisco Pereira Lemes, neste município, até efetiva regularização junto aos órgãos competentes;

e.3) obrigação de fazer consubstanciada na restauração das condições primitivas das áreas degradadas, especialmente no tocante às condições do solo, dos corpos

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d'água, tanto superficiais como subterrâneos, se eventualmente afetados, e da vegetação, tudo na conformidade de recomendações técnicas, supervisionadas pelo órgão ambiental competente;

e.4) fixação de indenização pelos danos ambientais provocados ao longo dos anos, decorrentes de atividade de lavra garimpeira clandestina, a qual deverá ser arbitrada por perícia técnica já requerida anteriormente, devendo os valores apurados serem destinados ao Fundo Estadual do Meio Ambiente, com fundamento no artigo 13, da Lei 7.347/85.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000, 00 (um mil reais).

Crixás-GO, 17 de maio de 2.002.

DELSON LEONE JÚNIOR PROMOTOR DE JUSTIÇA

ROL DE DOCUMENTOS:

1) Inquérito Civil Público n° 04/2.001, desmembrado , contendo 303 (trezentos e três) folhas.

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