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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Procuradoria da República no Estado de Roraima Rua General Penha Brasil, nº 1255 - Bairro São Francisco - CEP 69.305-130 Boa Vista – RR, Fone: (95) 3198-2000, Fax: (95) 3198-2025, Site: www.prrr.mpf.gov.br EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA ____ª VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE RORAIMA URGENTE (pedido de medida cautelar) IPL Nº 349/2010 – SR/DPF/RR O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da República infra assinado, comparece à presença de Vossa Excelência para, na qualidade de titular da opinio delicti, e com espeque no incluso Inquérito Policial, oferecer DENÚNCIA , com pedido de medida cautelar de suspensão do exercício de função pública (art. 319, inciso VI, do CPP) em desfavor de: 1) MÁRIO SOUZA DA ROCHA, brasileiro, servidor público federal, união estável, filho de José Maria Pereira da Rocha e Maria do Rosário Souza da Rocha, nascido em 02/04/1959, natural de Boa Vista/RR, instrução terceiro grau completo, portador da carteira de identidade nº 22626 – SSP/RR, CPF nº 070.001.382-00, residente na Rua Ville Roy, nº 5343, bairro São Pedro, Boa Vista/RR, telefone nº

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALProcuradoria da República no Estado de Roraima

Rua General Penha Brasil, nº 1255 - Bairro São Francisco - CEP 69.305-130Boa Vista – RR, Fone: (95) 3198-2000, Fax: (95) 3198-2025, Site: www.prrr.mpf.gov.br

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA ____ª VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE RORAIMA

URGENTE (pedido de medida cautelar)

IPL Nº 349/2010 – SR/DPF/RR

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da República

infra assinado, comparece à presença de Vossa Excelência para, na qualidade de titular da

opinio delicti, e com espeque no incluso Inquérito Policial, oferecer DENÚNCIA , com

pedido de medida cautelar de suspensão do exercício de função pública (art. 319, inciso

VI, do CPP) em desfavor de:

1) MÁRIO SOUZA DA ROCHA, brasileiro, servidor público federal, união estável, filho de José Maria Pereira da Rocha e Maria do Rosário Souza da Rocha, nascido em 02/04/1959, natural de Boa Vista/RR, instrução terceiro grau completo, portador da carteira de identidade nº 22626 – SSP/RR, CPF nº 070.001.382-00, residente na Rua Ville Roy, nº 5343, bairro São Pedro, Boa Vista/RR, telefone nº

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(95) 3623 – 1284 e (95) 9972 – 5201 (fls. 96 e 116);

2) BETÔNIO DA SILVA MONTEIRO, brasileiro, solteiro, sócio-gerente da TERCOM SERVIÇOS COMÉRCIO E REPRESENTAÇÃO LTDA, nascido aos 20/09/1976, natural de Grajaú/MA, “comerciante”, RG n.º 152.978 SSP/RR, CPF n.º 593.445.472-20, residente e domiciliado à Rua Silvio Leite, 19, Caimbé, Boa Vista/RR, CEP 69.312-195 (cf. documentações societárias da TERCOM, que acompanham esta inicial);

3) ANTÔNIO CARVALHO MONTEIRO FILHO, brasileiro, divorciado, procurador do sócio-gerente da TERCOM SERVIÇOS COMÉRCIO E REPRESENTAÇÃO LTDA, filho de Antônio Carvalho Monteiro e Francisca Barros Monteiro, nascido aos 11/04/1967, natural de Grajau/MA, segundo grau completo, “comerciante”, RG n.º 186.112 SSP/RR, CPF n.º 221.225.833-04, residente à Rua José Aleixo, 1093, bairro Buritis, Boa Vista/RR, tel. Celular n.º (95) 9137-5990 (fl. 04 e documentações societárias da TERCOM, que acompanham esta inicial).

Por terem os Acusados praticado os fatos delituosos adiante descritos.

I - FATOS CRIMINOSOS

1. Ab initio, cumpre dizer que a presente inicial se funda em Inquérito Civil

Público e Inquérito Policial instaurado com base nas declarações do Sr. ANTÔNIO

CARVALHO MONTEIRO FILHO (fls. 02 e 04), na qual se asseverou, em síntese, que a

sociedade empresária da qual é um dos responsáveis (TERCOM SERVIÇOS COMÉRCIO E

REPRESENTAÇÃO LTDA1) teria celebrado contrato com a Superintendência Regional do

Ministério do Trabalho e Emprego em Roraima, com o escopo de prestar serviço de

manutenção predial na sede da aludida Superintendência.

2. Assim sendo, o Sr. MÁRIO SOUZA DA ROCHA, Superintendente do

1 Da qual é procurador do sócio-gerente, com amplos poderes, de acordo com as informações societárias que acompanham esta inicial.

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Ministério do Trabalho e Emprego em Roraima, teria também solicitado verbalmente ao

empresário o fornecimento de materiais mobiliários, o que se daria por meio de dispensa

de licitação. Todavia, aquele não conseguira efetuar totalmente o referido pagamento, por

patente e matemática extrapolação do limite previsto na Lei nº 8.666/1993 para a dispensa de

licitação. Então, exigira à sociedade empresária em tela que assinasse termo de doação dos

móveis em questão, o que foi, por óbvio, rejeitado por esta última. Em represália, o

Denunciado estaria coagindo o particular a efetuar a transferência gratuita dos bens, sob pena

de utilizar os poderes do seu cargo de Superintendente do Trabalho e não repassar o

pagamento atinente ao primeiro contrato, com objeto absolutamente distinto deste último

(serviço de manutenção predial versus fornecimento de mobiliário).

3. Compulsando os autos, constata-se que efetivamente fora firmado tal

contrato de prestação de serviço de manutenção predial no valor total de R$ 102.677,69,

realizada na modalidade pregão, a qual está inserida no âmbito do processo administrativo nº

46225.001907/2009-07 (fls. 05/19 e 50). Dentre o rol de itens contratados (fls. 13/16), pela

própria natureza intrínseca aos serviços de manutenção predial, verifica-se que não consta de

maneira alguma a confecção e fornecimento de novo mobiliário.

4. Contudo, também se verifica que foram celebrados “2 (dois)” contratos –

que na verdade deveria ter sido apenas 1 (um) – entre a citada sociedade empresária e a SRTE

(cf. Termos de Homologação e Adjudicação, de fls. 78 e 79 do Anexo I), sem a realização

de licitação, a qual fora dispensada a pretexto de a situação concatenar-se ao disposto no art.

24, II, da Lei n.º 8.666/93. O “primeiro” deles versa sobre prestação de serviços de confecção

de móvel de Estação de Atendimento ao Público no Setor – SEPTER, no valor global de R$

7.998,90 (processo nº 46225.000380/2010-29). Já o “segundo” contrato trata igualmente de

prestação de serviços de confecção de móvel de Estação de Atendimento ao Público,

agora para o Setor SERET, no valor total de R$ 6.499,82 (processo nº 46848.000044/2010-

59).

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5. Neste diapasão, perscrutando os autos do Apenso I do Caderno

Apuratório, no qual consta cópia dos processos administrativos supracitados

(46225.000380/2010-29 e 46848.000044/2010-59), observa-se que houve o pagamento do

objeto deste último (fls. 83/85 do Anexo I).

6. Ademais, com base no exposto acima, percebe-se que a natureza dos

serviços objeto de contratação é idêntica. Além disso, ambos os contratos foram firmados

com a mesma sociedade empresária, beneficiária da ilicitude praticada em detrimento da

competitividade da licitação que propicia a melhor escolha à Administração e ao interesse

público. Consequentemente, os valores dos contratos somados excedem ao limite de

dispensa de licitação (R$ 14.498,72), caracterizando fracionamento de despesa com o

desiderato de se burlar a exigência constitucional de licitação (art. 37, inciso XXI).

7. Destarte, impende afirmar que, em sede administrativa, tal fato foi

expressa e inequivocamente observado pela Sra. Elanildes Braga, responsável pelo Setor

financeiro da aludida Superintendência. Esta entendeu que o pagamento atinente ao processo

nº 46225.000380/2010-29 seria indevido e submeteu a questão à apreciação superior (fl. 18

do Apenso I).

8. Entretanto, o Acusado, na condição de Superintendente e Ordenador de

Despesas, talvez buscando escamotear e ocultar seu acordo escuso com a sociedade

empresária e honrar o compromisso pessoal e ilegal com a Empresa por ele escolhida para a

realização do serviço, consignou o seguinte no seu Despacho de fls. 20/21 do Apenso I:

3. Considerando que após a análise dos equipamentos (móveis) adquiridos no processo nº 46848.000044/2010-59, apesar de ter sido da mesma empresa, destinou-se ao SERET, tendo outras especificações e metragens.

4. Considerando que os equipamentos adquiridos para o SEPTER qual sejam, a Estação de Atendimento ao Público, tem outras especificações e metragens.

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5. Considerando que a empresa vencedora apresentou o menor preço2.

6. Considerando que foi efetivada a compra dos materiais.

7. Considerando que os materiais foram entregues;

8. Considerando que só resta pagar, sob pena de incorremos em enriquecimento ilícito preconizado nos art. 884 e 886 do Código Civil de 2002.

9. Concluímos que tem razão o chefe do SEAD e do NUSG, assim sendo determino a imediata emissão de empenho e seu respectivo pagamento (grifou-se).

9. Ainda no que se refere aos fatos ímprobos, chama a atenção o teor do

Despacho de fls. 24/29 do Apenso I, proveniente da Chefia da SEAD. Em síntese, rechaçou-se

a tese do Réu de que não haveria a caracterização de fracionamento de licitação, tendo em

vista que os processos nº 46225.000380/2010-29 e 46848.000044/2010-59 possuíam

destinações diversas (SERET e SEPTER), bem como metragens, materiais e especificações

diferentes:

Em 25 de março, esta Superintendência Regional emitiu uma Nota da Empenho 2010NE900058 para a empresa TERCOM no valor de R$ 6.499, 82 referente a instalação de móveis para o SERET, restando apenas R$ 1.500,18 para ser empenhado na modalidade Dispensa de Licitação.

Com relação ao objeto (…), não importa se eles possuem metragens diferentes, materiais diferentes, ou destinação diferentes. A natureza do serviço sempre será a mesma: instalação de móveis (fl. 28 do Apenso I, grifou-se).

10. A chefia da SEAD também afirmou categoricamente que a competência

para a apreciação do Despacho de fl. 18 (do Apenso I) do NEORF seria do próprio Requerido.

11. Ora, para fins de demonstração do dolo de MÁRIO ROCHA, constata-se

que este admite ter ocorrido a realização de despesa atinente ao processo nº

2 Não se sabe vencedora de que, nem qual seria a outra proposta menos vantajosa, já que houve dispensa de licitação.

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46225.000380/2010-29 sem prévio empenho (fls. 20/29 do Apenso I, equivalente ao

montante de R$ 7.998,90), o que viola flagrantemente o art. 60 da Lei n.º 4.320/64. Em suma,

as duas estações de trabalho foram instaladas, sendo que ocorreu a prestação do serviço sem

sequer a emissão da nota de empenho.

12. Em complementação ao exposto acima, observa-se também que o Sr.

MÁRIO ROCHA agiu sem qualquer respaldo legal, tendo em vista que, consoante os autos,

não houve autorização por parte de nenhum Setor da Superintendência em tela dando respaldo

à conduta ilícita praticada (fls. 22/23 do Apenso I). Ademais, tal fato foi apontado pela chefia

da SEAD (fls. 28/29 do Apenso I):

Com relação ao parágrafo 6 do mesmo despacho onde 'Considerando que foi efetivada a compra dos materiais', encaminhei os autos ao NSUG perguntando se havia partido daquele setor ordem para a execução dos serviços de confecção de móveis, o qual, respondeu em despacho, folha 17, que não possui competência para autorizar e não fez o pedido para a empresa confeccionar o móvel (…).

No parágrafo 9, onde 'Concluímos que tem razão o chefe do SEAD e do NUSG, assim sendo determino a imediata emissão do empenho e seu respectivo pagamento', informamos que não partiu deste Serviço de Administração a ordem para a empresa TERCOM instalar o móvel em questão. Compulsando os presentes autos não há em nenhum momento determinação ou mera sugestão deste setor para que Vossa Senhoria prosseguisse ou cometesse erro em praticar a divisão de contratos a fim de fugir da modalidade de licitação oportuna (grifou-se).

13. Percebe-se que não houve autorização para que o ora Requerido MÁRIO

ROCHA celebrasse os 2 (dois) contratos na modalidade de dispensa de licitação, contrariando

claramente o que aquele afirmou em seu Despacho de fls. 20/21 do Apenso I, quando diz que

haveria manifestação favorável da SEAD e NUSG para tal fim. Excelência, sequer teve o

Acusado a coerência e a honestidade de assumir a responsabilidade pela prática do ato

por ele comandado. Não. Preferiu ele tentar transferir tal decisão a outrem (que não possui

qualquer poder decisório para tal), e, o que é pior, criando uma inexistente anuência de

Chefes de Setores a ele subordinados administrativamente que nunca fora dada.

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14. Vale ainda mencionar trecho do Parecer nº 565/2010/NAJ/AGU/RR,

oriundo do Núcleo de Assessoramento Jurídico da Advocacia-Geral da União, no qual se

afirma a ocorrência dos atos de improbidade praticados nos processos nº 46225.000380/2010-

39 e 46848.000044/2010-59, bem como se sugeriu pela apuração da responsabilidade

funcional do Requerido (fls. 52/54 do Apenso I):

2. Conforme se infere compulsando os autos, referidos processos não foram encaminhados para análise e parecer do NAJ/AGU/RR, contrariando o disposto na legislação que rege as licitações e contratos, Lei nº 8.666/93, art. 38, parágrafo único (…).(…) 4. O Ordenador de Despesas justifica dizendo que apesar de a compra do material permanente ter sido feito na mesma empresa destinou-se um para SERET e outro para SEPTER daquela Superintendência. Seria o caso de FRACIONAMENTO da despesa, irregularidade passível de apuração através de sindicância e possível Processo Administrativo Disciplinar (grifou-se).

15. Após descoberta a fraude em curso, com a prática de crime licitatório e

ato de improbidade administrativa, mais uma vez utilizou o Sr. MÁRIO ROCHA de seus

poderes de Chefe Maior do Ministério do Trabalho e Emprego em Roraima e procurou os

representantes da Empresa em questão, visando “repactuar” o contrato já executado e

finalizado. Como “resultado” (fl. 04 do Apenso I), informou o Requerido que “se alcançara”

tal repactuação, reduzindo o valor do contrato já finalizado em cerca de 81,25%!!!

Pergunta-se: qual comerciante que, se não fosse movido por propósitos escusos ou amparado

em orçamento com escabroso sobrepreço, aceitaria conceder um desconto de quase o valor

total da mercadoria?3 Ademais, em contraposição ao que fora afirmado pelo Requerido, no

documento de fl. 26 o sócio-gerente da Empresa solicita expressamente “a imediata quitação

3 Seria preciso muita ingenuidade para se acreditar na veracidade de tal alegação em um sistema capitalista que os agentes econômicos agem movidos pela maximização de seus lucros, que certamente não teria sequer iniciado se não fosse descoberta a fraude na dispensa ilegal de licitação. E, ainda que superada tal questão, não se pode esquecer que a ilicitude ocorreu no momento da contratação irregular (ou na concomitante dispensa indevida de licitação), e não no eventual exaurimento com o pagamento e recebimento da vantagem ilícita.

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ou devolução da Estação de Atendimento ao Público – SEPTER”.

16. No que é pertinente ao depoimento do Requerido MÁRIO ROCHA no

curso das investigações, vislumbra-se nitidamente ser descabida sua justificativa quando

afirma que não saberia resolver as “pendências” surgidas nos contratos em apreço, não

indicando qualquer razão minimamente plausível para o fracionamento ilícito de despesa ou

até mesmo aceitar os alertas dos Setores da Superintendência por ele então “comandada”

quanto às ilicitudes praticadas:

QUE o declarante confirma que houve um contrato de prestação de serviços com a empresa TERCOM SERV. E REP. LTDA (…) Em relação aos móveis que foram instalados pela Empresa, de fato existe uma pendência, visto que não fora contemplada no processo licitatório (…) QUE como não sabia resolver a questão, de fato solicitou a empresa que esta doasse o mobiliário, como tem costume fazer a outros órgãos em razão de não ter orçamento para as necessidades daquela Superintendência.(fl. 44)

17. Corroborando o exposto acima, o Réu MÁRIO ROCHA também tenta se

justificar quando afirma desconhecer a exigibilidade de licitação para a contratação direta em

questão (fl. 116), o que é manifestamente absurdo, haja vista que a ninguém é dado alegar o

desconhecimento da lei, quanto mais um agente público que ocupa a posição de destaque

na estrutura hierárquica da Administração Pública de Superintendente do Trabalho e

Emprego no Estado de Roraima.

18. Deste modo, observa-se cristalinamente que as alegações do Requerido

não tiveram o condão de afastar a ilicitude de sua conduta. Todavia, por outro lado, este Órgão

Ministerial demonstrou cabalmente a conduta reprovável daquele, que, tendo agido

dolosamente, dispensou indevidamente a realização de procedimento licitatório, mediante o

fracionamento da despesa.

19. Deve-se asseverar, ademais, que o Acusado MÁRIO perpetrou

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segunda conduta delituosa, pois, conforme relata o segundo Denunciado, Sr. ANTÔNIO

CARVALHO, exigiu vantagem indevida para a Administração Pública quando, vislumbrando

a impossibilidade de pagar pelo mobiliário diante de toda a conjuntura acima narrada,

compeliu que a sociedade empresária representada pelo Sr. ANTÔNIO assinasse um termo de

doação dos referidos móveis à SRTE, sob pena de utilizar a posição de superioridade da

Administração e reter pagamentos por outros serviços prestados. Tal ato consubstanciou

verdadeira exigência, porquanto MÁRIO utilizou-se de meio coercitivo ao afirmar que sem

essa assinatura não haveria pagamento pelos serviços de manutenção executados referentes ao

Pregão SRP n.º 013/2009. Tal é o que se extrai da leitura do Termo de Declarações do Sr.

ANTÔNIO CARVALHO MONTEIRO FILHO:

(…) QUE diante da impossibilidade de pagar pelo mobiliário mediante dispensa de licitação, o Sr. MÁRIO ROCHA oficiou a empresa para que esta recebesse R$ 8.000,00 pelos móveis, mas, diante da impossibilidade, solicitou a aceitação de apenas R$ 1.500,00; QUE diante da impossibilidade de pagar pelo mobiliário mediante dispensa de licitação, o Sr. MÁRIO ROCHA solicitou que a empresa assinasse um termo de doação dos referidos móveis à SRTE; QUE a empresa não concordou; QUE diante disso, o Sr. MÁRIO ROCHA está segurando o pagamento de R$ 21.808,04 referentes às últimas notas fiscais do serviço de manutenção executado conforme o pregão; QUE o Sr. MÁRIO ROCHA disse 'toma lá dá cá', ou seja, se a empresa assinar a carta de doação o pagamento das notas ele libera o pagamento das notas restantes. (…) (fl. 04, grifou-se).

20. É cristalina, dessarte, a verificação da ocorrência do fato delituoso de se

exigir vantagem indevida (“doação” de imóveis originariamente comprados e fornecidos pela

Empresa, ainda que sem licitação), cuja conduta fora perpetrada pelo Acusado MÁRIO

ROCHA.

21. Ressalte-se, por fim, que o Sr. BETÔNIO DA SILVA MONTEIRO,

sócio-gerente da TERCOM, por meio de documentos escritos (respostas a ofícios),

comunicou-se com o Sr. MÁRIO ROCHA com o fito de obter o pagamento pelo serviço de

confecção e instalação das estações de trabalho, representando a sociedade empresária de que

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é sócio-gerente, o que demonstra seu pleno conhecimento da ilicitude perpetrada, concorrendo

para a realização do procedimento criminoso adotado pelo Superintendente no caso em

comento (fls. 26/27 e 81). Demais disso, foi o responsável pela subscrição das propostas de

preços apresentadas pela TERCOM nos Processos n.º 46225.000380/2010-29 (fl. 10 do

Apenso I) e 46848.000044/2010-59 (fl. 65 do Apenso I), ou seja, sabia do fracionamento de

despesa com o intuito de evitar a licitação (e a consequente participação de outros agentes

econômicos concorrentes que redundariam na melhor escolha à Administração), celebrando os

contratos respectivos, beneficiando-se da fraude cometida.

II - DA IMPUTAÇÃO PENAL

Com espeque nos suportes fático e probatório expostos, o Sr. MÁRIO

SOUZA DA ROCHA não observou as formalidades atinentes à dispensa de licitação, tendo

em vista que não consultou previamente a assessoria jurídica sobre tal possibilidade, bem

como, posteriormente, firmou 2 (dois) contratos com a mesma sociedade empresária,

mediante dispensa de licitação, os quais continham objeto idêntico, cujos valores somados

ultrapassaram o limite legal para tal dispensa (R$ 14.498,72), caracterizando o seu

fracionamento.

Assim sendo, percebe-se que a conduta do Acusado se coaduna ao disposto

no art. 89 da Lei de Licitações (Lei nº 8.666/93):

Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade:

Pena – detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.

(grifou-se).

No que tange aos outros Denunciados, Srs. ANTÔNIO CARVALHO

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MONTEIRO FILHO e BETÔNIO DA SILVA MONTEIRO, a eles estende-se a pena indicada

acima, tendo em conta a regra de extensão prevista no art. 89, parágrafo único, da Lei n.º

8.666/1993:

Art. 89. Omissis.

Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que, tendo comprovadamente concorrido para a consumação da ilegalidade, beneficiou-se da dispensa ou inexigibilidade ilegal, para celebrar contrato com o Poder Público. (grifou-se).

Estes Denunciados comprovadamente concorreram para a consumação da

ilegalidade quando anuíram com o fornecimento das estações de trabalho (dolo direto) mesmo

sabendo que não ocorrera licitação para tanto e que o fornecimento de tais materiais não

estava abrangido pelo pregão de que participara perante a SRTE (Pregão SRP n.º 013/2009,

fls. 05/19). Demais disso, beneficiaram-se da dispensa ilegal, porquanto receberam o

pagamento de parte do avençado sem prévia licitação (R$ 6.500,00, cf. fls. 83/85).

Ao Sr. MÁRIO ROCHA, em concurso material com o delito licitatório do

art. 89 da Lei n.º 8.666/1993, também praticou o delito de concussão; isto porque exigiu

vantagem indevida (“doação” de imóveis que, em verdade, foram objeto de compra e venda),

devendo suportar, portanto, a pena cominada no art. 316 do Código Penal, in verbis:

Art. 316. Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:

Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. (grifou-se).

Por derradeiro, quanto ao Sr. MÁRIO ROCHA aplica-se, in casu, a causa de

aumento de pena específica prevista pelo art. 327, § 2º, do Código Penal, visto que o ora

Denunciado cometeu os delitos enquanto investido na função de Superintendente Regional do

Trabalho e Emprego em Roraima. In verbis:

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Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. (...)§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. (Incluído pela Lei nº 6.799, de 1980)

III - DOS PEDIDOS

Diante do exposto, pugna o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL pelo

seguinte:

1. Após o recebimento e autuação desta, sejam os Denunciados acima qualificados notificados para responderem por escrito, no prazo de 15 (quinze) dias, nos termos do art. 514 do Código Processual Penal, recebendo-se a denúncia ora ofertada e seguindo-se o procedimento criminal em seus ulteriores termos, com a oitiva das testemunhas abaixo arroladas, até sentença final condenatória.

2. Protesta-se também pelo aditamento da presente, caso surjam novas provas da participação de outro(s) indivíduo(s) no delito em questão, bem como de outro(s) crime(s) envolvendo o Denunciado e outrem;

3. Requer sejam providenciadas as certidões do distribuidor criminal dos Acusados referentes às Justiças Federal e Estadual.

Boa Vista – RR, 30 de setembro de 2011.

______________________________Leonardo de Faria Galiano

PROCURADOR DA REPÚBLICA

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ROL DE TESTEMUNHAS

1) ELANILDES DA C. DOS S. BRAGA, chefe do NEORF/SRTE – RR, matrícula SIAPE nº 0707175, podendo ser encontrada na Av. Major Williams, nº 1549, bairro Centro, CEP nº 69.301 – 110, Boa Vista – RR, telefone nº (95) 3623 – 1284 e Fax nº (95) 3623 - 9451 (fls. 12 e 39 do Apenso I);

2) ARTHUR AZEVEDO, chefe do Serviço de Administração da SRTE – RR, podendo ser encontrado na Av. Major Williams, nº 1549, bairro Centro, CEP nº 69.301 – 110, Boa Vista – RR, telefone nº (95) 3623 – 1284 e Fax nº (95) 3623 - 9451 (fls. 22 e 39 do Apenso I);

3) MARIA HELENA MAGALHÃES, Advogada da União do NAJ/AGU/RR, podendo ser encontrada na Rua Souza Júnior, nº 927, bairro São Francisco, CEP nº 69.305 – 040, Boa Vista – RR, telefone nº (95) 4009 – 5100 ou 4009 – 5139, Fax nº (95) 3224 – 2475 (fls. 40 e 48 do Apenso I).

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IPL nº 0349/2010 – SR/DPF/RR

COTA DENUNCIAL

MM. JUIZ,

1. O Ministério Público Federal oferece, nesta data, em 13 (treze)

laudas, denúncia em face de MÁRIO SOUZA DA ROCHA, BETÔNIO DA SILVA

MONTEIRO e ANTÔNIO CARVALHO MONTEIRO FILHO, como incursos nas

reprimendas do tipo penal previsto no art. 89 da Lei nº 8.666/1993, e, apenas o

primeiro Denunciado, em concurso material com o crime tipificado no art. 316 do

Código Penal.

2. No que tange ao crime de concussão, impende salientar que

entendeu-se caracterizado o crime nos seguintes casos, dentre outros4:

a) na coação psicológica praticada por “servidora do INSS que, ante a recusa de pensionista em ceder à exigência de pagamento para dar tramitação a processo administrativo, ameaçou-a de criar entraves à percepção do benefício, visando incutir medo na vítima a fim de alcançar a pretendida vantagem indevida”, traduzindo-se em ameaça séria (TRF4, AC 9704376960/SC, Eloy Justo (conv.), 1ª T., u., 27.6.00);

4 BALTAZAR JÚNIOR, José Paulo. Crimes Federais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010, p. 146.

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b) “quando o servidor público exige vantagem indevida, ameaçando prejudicar a vítima com represálias no uso de suas atribuições funcionais” (TRF4, AC 20040401005190-3-PR, Élcio Pinheiro de Castro, 8ª T., u., 25.8.04).

3. Já no que atine ao resguardo da instrução processual penal, parcela

da jurisprudência entendia no passado que não haveria amparo legal para a decretação

de outras medidas cautelares diversas da drástica e excepcional prisão preventiva.

Vejamos:

PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA E CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. PRISÃO PREVENTIVA REVOGADA COM DETERMINAÇÃO DE AFASTAMENTO DO CARGO. ART. 20, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 8.429/92. APLICAÇÃO NO PROCESSO PENAL. INVIABILIDADE. PODER GERAL DE CAUTELA NO PROCESSO PENAL PARA FINS RESTRITIVOS.INEXISTÊNCIA.1. É inviável, no seio do processo penal, determinar-se, quando da revogação da prisão preventiva, o afastamento do cargo disciplinando no art. 20, parágrafo único, da Lei 8.429/92, previsto para casos de improbidade administrativa.2. Não há falar, para fins restritivos, de poder geral de cautela no processo penal. Tal concepção esbarra nos princípios da legalidade e da presunção de inocência.3. Ordem concedida para revogar a providência do art. 20, parágrafo único, da Lei n. 8.429/92, determinada pelo Tribunal a quo, no seio da ação penal n. 2007.70.09.001531-6, da 1.ª Vara Federal de de Ponta Grossa/PR.

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(HC 128.599/PR, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 07/12/2010, DJe 17/12/2010)

4. Ocorre que este entendimento restou superado pelo advento da

recente Lei nº 12.403, de 12 de maio de 2011, que assim passou a dispor sobre a

matéria no Código de Processo Penal:

Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a: I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais; II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado. § 1o As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente. § 2o As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de ofício ou a requerimento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério Público. § 3o Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar, determinará a intimação da parte contrária, acompanhada de cópia do requerimento e das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo. § 4o No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz, de ofício ou mediante requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preventiva (art. 312, parágrafo único). § 5o O juiz poderá revogar a medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta de motivo para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se

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sobrevierem razões que a justifiquem. § 6o A prisão preventiva será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar (art. 319). (NR)

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades; II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações; III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução; V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos; VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais; VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração; VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial; IX - monitoração eletrônica. § 1o (Revogado). § 2o (Revogado).

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§ 3o (Revogado). § 4o A fiança será aplicada de acordo com as disposições do Capítulo VI deste Título, podendo ser cumulada com outras medidas cautelares.” (NR)

5. Como se sabe, o princípio da presunção de não-culpabilidade impõe

certa prudência na averiguação da real necessidade da excepcional medida cautelar de

suspensão do exercício da função pública – o que fora observado até mesmo pelo

legislador, que garantiu ao réu da ação de improbidade administrativa a continuidade

na percepção de sua remuneração, com a perda efetiva do cargo somente após o

esgotamento de todos os recursos e instâncias judiciais previstas na legislação

processual civil.

6. Por outro lado, dentre os postulados que norteiam a busca da

efetividade do processo destaca-se a inafastabilidade de se “assegurar condições

propícias à exata e completa reconstituição dos fatos relevantes, permitindo que o

convencimento do julgador corresponda, tanto quanto possível, à realidade fática”5. E

a experiência forense tem demonstrado que a reconstituição da verdade real, em

determinados casos, somente pode ser alcançada se houver um clima de franco e

irrestrito acesso (material, e não apenas formal) ao material probatório, afastando

possíveis interferências, empecilhos e óbices que a continuidade do agente no

exercício do cargo, emprego, função ou mandato eletivo poderia acarretar6.

7. Como registra a doutrina, não se exige a prova cabal e exaustiva da

circunstância narrada no parágrafo anterior (até porque esta seria inerente a um juízo

de cognição exauriente, o que não ocorre com as cautelares). Ademais, o dano ainda

não ocorreu, representando uma ameaça de prejuízo futuro à instrução processual ou a

5 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Notas sobre o problema da “efetividade” do processo, in Temas de Direito Processual – 3ª série. São Paulo: Saraiva, 1984, pp. 27 e ss.

6 GARCIA, Emerson – ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade Administrativa. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 733.

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iminência de novas infrações penais que ainda não ocorreram. Assim, basta a

probabilidade séria e razoável de risco para a instrução do processo ou para a prática

de novos crimes, tomando-se por parâmetro as regras de experiência comum, ou seja,

“a observação do que ordinariamente acontece”, consoante expressamente admitido

pelo art. 335 do CPC7.

8. Após a atenta e cautelosa análise do que restou apurado na

investigação policiais, e imputado nos fatos narrados na Denúncia, não resta ao

Ministério Público Federal outra opção a não ser formular o pedido de suspensão

cautelar do Denunciado MÁRIO SOUZA DA ROCHA do cargo de Superintendente do

Trabalho e Emprego em Roraima, como medida indispensável ao resguardo da

instrução processual que irá se iniciar, da moralidade e dignidade da Administração

Pública, do trato – com zelo e o mínimo de preparo – da coisa pública, bem como

evitando-se que sejam utilizados os poderes e facilidades do cargo ocupado para a

prática de novos crimes contra a Administração Pública.

9. Afinal, já demonstrou o Acusado no curso do trâmite

administrativo o seu inequívoco desígnio de buscar alterar substancialmente a

verdade dos fatos (dispensa ilegal de licitação descoberta por outros agentes), seja

criando uma pseudo e inexistente autorização do Ministério do Trabalho e Emprego na

aquisição direta do mobiliário, ou alegando uma suposta repactuação do contrato que

reduziu o valor do mesmo em mais de 80% (desmentida até mesmo pelo documento de

fl. 26 do IPL), ou constrangendo o particular a assinar um gracioso “termo de doação”

dos móveis em questão, sob a ameaça de utilizar os poderes inerentes ao cargo público

ocupado e, em represália, reter pagamentos por serviços prestados em contrato com

objeto absolutamente distinto (manutenção predial). Assim, deve-se evitar que a

permanência do Requerido no cargo possa interferir no conteúdo da prova testemunhal

que será colhida no processo (dada a evidente relação de superioridade hierárquica

7 GARCIA, Emerson – ALVES, Rogério Pacheco. Op. cit., pp. 734/735.

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com as testemunhas, subordinadas ao Superintendente e chefes de setores da

Superintendência que podem ser livremente exonerados ou trocados pela chefia), bem

como afastar os mesmos motivos e facilidades que levaram o Requerido a desfalcar

a moralidade pública, evitando a repetição da conduta reprovável.

10. A doutrina de vanguarda que analisa as recentes mudanças ao

Código de Processo Penal sustenta o pleito cautelar ora formulado, podendo ser

fundamentada até mesmo em substituição à prisão preventiva por conveniência da

instrução processual-penal:

“VI- A sexta cautelar se refere à suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira. Nos termos da Lei, a finalidade seria o impedimento da utilização de tais circunstâncias (serviço público e atividade econômico--financeira) para a reiteração de infrações penais.Já tivemos oportunidade de demonstrar, contudo, que nada impedirá a sua imposição também, e excepcionalmente, por conveniência da instrução (ou da investigação) nos casos em que for fundado o receio de destruição de provas cujo acesso dependa do exercício da função pública ou da aludida atividade econômico-financeira. E voltamos a alertar: a insistência desmedida na submissão da matéria ao princípio da legalidade, no sentido de somente aplicar a cautelar para os fins específicos determinados em lei, poderá acarretar o incremento da prisão preventiva, quando se tratar das situações previstas no art. 313, CPP.Por óbvio, e como facilmente se deduz da natureza restritiva de direitos dessa cautelar, é preciso, de fato, que a regra seja o cumprimento da finalidade legal ali especificada, destinada, portanto, ao risco de prática de novas infrações penais. Excepcionalmente,porém, deve-se também poder manejá-la sob outra fundamentação cautelar (art. 282, I e II, CPP), a fim de se impedir a decretação compulsória da prisão

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preventiva, se, com isso, também se puder alcançar a proteção da prova da investigação ou da instrução.Já quanto ao conteúdo das atividades, a interpretação há que ser restritiva, evitando-se a expansão dos horizontes da aludida medida cautelar, extremamente gravosa aos direitos fundamentais.Por função pública há que se entender toda atividade exercida junto à Administração Pública, seja em cargo público, seja em mandatos eletivos (de natureza política), seja, finalmente, por autorização ou delegação do Poder Público, seja no âmbito das empresas públicas. A delimitação de seus contornos conceituais há que ser encontrada no Direito Administrativo. Compreende-se por função pública, então, toda a sorte de atividade desenvolvida na prestação de serviços pelo servidor público, o que incluiria também o emprego público sob o regime trabalhista”.(OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p. 20)

11. Diante de tais razões, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

requer a suspensão cautelar do Denunciado MÁRIO CÉSAR ROCHA do exercício do

cargo de Superintendente do Trabalho e Emprego em Roraima, sem prejuízo da

remuneração e do eventual juízo administrativo de livre exoneração dos cargos em

comissão, pelo prazo necessário à finalização da instrução processual – limitado ao

prazo de 360 (trezentos e sessenta dias) ou outro fixado ao prudente arbítrio de Vossa

Excelência – comunicando-se a decisão de afastamento do cargo, com cópia desta

Petição Inicial, ao Exmo. Ministro do Trabalho e Emprego.

Boa Vista – RR, 30 de setembro de 2011.

______________________________Leonardo de Faria Galiano

PROCURADOR DA REPÚBLICA

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