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EXCELENTÍSSIMO SENHOR SECRETÁRIO DA SECRETARIA ESTADUAL DE CULTURA:
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por
intermédio do Procurador-Geral de Justiça, do Coordenador do Centro de
Apoio Operacional do Meio Ambiente, Urbanismo e Patrimônio Cultural, e da
Promotora de Justiça que ora subscreve, vem, respeitosamente, com fulcro
nos arts. 129 e 216 da Constituição Federal, arts. 163 e 164 da Constituição
do Estado de Goiás, Decreto-lei n° 25/37 e demais dispositivos aplicáveis à
espécie, apresentar o presente pedido de
TOMBAMENTO DEFINITIVO
da Igreja Matriz de Itaberaí, localizada no município de
Itaberaí, pelos fatos e fundamentos a seguir articulados:
Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, sala T-01, Jardim Goiás.CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás . Telefone (62) 3243-8026. Fax (62) 3243-8502.
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1) DOS FATOS
A Igreja Matriz de Itaberaí representa um marco histórico e cultural
não só para o povo Itaberino, mas também para todo o povo goiano, na
medida em que contribuiu sobremaneira para a criação do município de
Itaberaí (antiga Curralinho), constituindo, ao mesmo tempo, um elo de
devoção à Nossa Senhora da Abadia, conclamada em todo o Estado.
Inicialmente, retratando um pouco a história de Itaberaí, podemos
ressaltar que em 1819, Curralinho, atual Itaberaí, já era um povoado próspero.
As tradicionais folias do Divino e a festa de Pentecostes, já nessa época,
atraiam várias pessoas das redondezas que se aliavam ao povoado. Ainda
não bastasse, um importante marco do vilarejo, a praça da Matriz, data de
1824. Além dela, duas pequeninas ruas: a Municipal e a Sete de Setembro
também já marcavam presença, com um número aproximado de 50
(cinquenta) casas. A passagem presente na obra intitulada Curralinho seus
costumes e sua gente1, assim nos demostra:
1. ABREU, Edmundo Pinheiro de. Curralinho, seus costumes e sua gente. Editora Oriente, 1978. p. 31.Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, sala T-01, Jardim Goiás.
CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás . Telefone (62) 3243-8026. Fax (62) 3243-8502.2
… segundo o eminente Saint-Helaire, naquele ano de 1819, Curralinho já
era um povoado próspero, onde se festejavam anualmente o Pentecostes
e as tradicionais folias do Divino, como também, em 1842, conforme o
ilustre General Raimundo José da Cunha Matos, já existiam uma Praça, a
da Matriz e duas ruas as atuais Municipal e Sete de Setembro, com um
número total de cincoenta e duas (52) casas.
O Capitão-Mór Salvador Pedroso de Campos é tido como um dos
colaboradores da fundação da cidade, auxiliado pela devoção de alguns
moradores típicos da região. Ele, atraindo pessoas que laboravam nas
lavouras, fez nascer a ideia da realização de ladainhas aos domingos em uma
das casas, que se tornou logo conhecida por Casa das Orações, nascendo,
nesse momento, a devoção à Nossa Senhora D'Abadia. Dessa época data a
real existência de Itaberaí, que, devido ao pequeno curral feito pelo Capitão-
Mór, foi logo denominada de Curralzinho, e posteriormente, Curralinho, por
mais de meio século. Outra trecho também presente na obra Curralinho seus
costumes e sua gente2, assim nos conduz:
Argumenta, a final, que o Capitão Salvador Pedroso de Campos,
proprietário da Fazenda Palmital, homem de muitos haveres, construira
no povoado o primeiro prédio de telhas e mandou erigir uma Capela sob
a invocação de Nossa Senhora Abadia, tudo isso lhe dá a primazia de
ser, efetivamente, o fundador do povoado. Para nós, em mesmo o
testamento de sua bisneta Dona Ana Francisca do Espírito Santo, citada
à pág. 11, nos leva a reconhecê-lo como autêntico fundador do povoado,
senão grande colaborador na sua formação. E isso o próprio autor da
obra ora em referência que diz à pág. 10... que o Capitão-Mor Salvador
Pedroso foi um dos fundadores (o grifo é nosso) desta cidade, temos a
dizer que, a ele não cabe essa glória.
O fato do citado Capitão-Mor Salvador Pedroso de Campos ser o
proprietário da Fazenda Palmital, ter construído no povoado a primeira de
2. ABREU, Edmundo Pinheiro de. Curralinho, seus costumes e sua gente. Editora Oriente, 1978. p. 31.Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, sala T-01, Jardim Goiás.
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telha e erigido uma Capela, não prova sua condição de fundador do
povoado de Curralinho, mas apenas colaborador de sua formação.
Continuando, e ao mesmo tempo voltando ainda mais no arcabouço
histórico, Antônio César Caldas Pinheiro3 acrescenta:
Difícil é fazer a separação entre a construção da primeira capela do
Curralinho e o próprio surgimento do arraial. Os dois momentos se
entrelaçam e são indissociáveis.
Possivelmente em 1779 já estava levantada a primeira casa de oração,
pois nesse ano Curralinho já aparece no mapa da Capitania de Goiás,
assinalado à margem direita do Rio das Pedras. É, pelo que se sabe, a
primeira capela ereta, no Brasil Central, sob a invocação de Nossa
Senhora da Abadia. A capela do Muquém tinha como orago São Tomé,
ocupando a imagem da Senhora da Abadia um altar lateral dentro do
recinto. Somente no século XX esta capela passou a ter por orago Nossa
Senhora da Abadia. Também é certo que a capela de Nossa Senhora da
Abadia da Cidade de Goiás data de 1790, quando a capela de Curralinho
já existia há mais de uma década.
O seu construtor, nenhum documento até agora nos acudiu para que
soubéssemos o seu nome. Cremos, conforme o relato do Pe. Luís
Antônio da Silva e Souza em 1812, ter sido ela levantada pelos
agricultores da região, não cabendo a nenhum propriamente dito, a honra
de edificá-la. Foi o espírito gregário e religioso de nosso povo o
responsável por seu levantamento, pois distante de Goiás, cerca de nove
léguas (àquela época a estrada dava muitas voltas), os fazendeiros das
adjacências precisavam de um lugar onde pudessem se reunir para rezar
em conjunto e onde um padre pudesse fazer as desobrigas anuais.
Foi construída em local ermo, e naquela época, era praticamente a única
construção que dominava o local onde é hoje a Praça da Matriz. Se não,
nada justificaria a ordem do Vigário Visitador José Correia Leitão que
3. Em “Histórico da Igreja Matriz de Itaberaí”. Antônio César Caldas Pinheiro é Presidente da Academia Itaberina de Letras e Artes, Diretor do Instituto de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central/PUC Goiás e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás.
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assim se expressa no termo de visita que fez em 1784 aos arraiais do sul
da Capitania:
“(...) também ordeno que quanto antes faça demolir uma casa chamada
de oração, que se acha no Distrito de Ouro Fino desta freguesia, no lugar
chamado Curralinho. A casa serve mais de escândalo e profanação, que
de oração e louvor de Deus, pelas indecências que nela se fazem,
servindo muitas vezes de aposento a um e outro sexo que na dita casa
se recolhem, talvez conduzidas a esse lugar por motivos e fins torpes e
lascivos. (...)”
Se não fosse uma ermida, se em sua volta já houvesse várias casas
habitadas, certo é que ali as pessoas não iriam buscar abrigo seguro para
cometer as ações que deram motivo à ordem para a sua destruição no
longínquo ano de 1784.
Mas em 1792, talvez com a chegada de mais moradores, uma nova
capela já se encontrava erigida. A festa era então celebrada no mês de
junho e atraía muitas pessoas das redondezas e ainda um maior número
vindas da antiga Capital, estando entre estas vários homens grados na
administração da Capitania.
Pela Provisão de 15 de janeiro de 1841, foi nomeado vigário colado da
Paróquia de Nossa Senhora de Abadia do Curralinho, o Pe. Francisco
Luiz Brandão, que no arraial já servira de coadjutor desde o ano de 1835.
Como esta Provisão se referia ao artigo 6º da Resolução nº 5, que criara
a Paróquia em data de 5 de dezembro de 1840, artigo em que se exigia
ter a igreja paroquial as devidas proporções, o Pe. Francisco Luiz
Brandão deu início a sua construção. O ano em que se iniciaram as obras
não pudemos descobrir, mas certamente data de antes de agosto de
1853, quando faleceu o referido vigário. Contrariando Derval de Castro
que diz ter sido a construção terminada em 1857, cremos que a Matriz
ficou pronta bem antes, talvez em 1847. Ora, era exigência desde o ano
de 1841 que a sede paroquial tivesse uma igreja com as proporções
devidas a sua categoria. Não se pode, portanto, acreditar que tenha
demorado 16 anos, ou seja, de 1841 a 1857 para se edificar este templo. Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, sala T-01, Jardim Goiás.
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Aliás, é sabido que o seu construtor foi o Pe. Francisco Brandão.
Falecendo este, como ficou dito acima, em 1853, logicamente que sua
construção concluiu-se antes.
O certo é que no ano de 1856 a Matriz já estava pronta desde há alguns
anos, tanto que já necessitava de alguns reparos. No relatório
apresentado à Assembléia Legislativa Provincial, o Presidente da
Província Dr. Antônio Augusto Pereira da Cunha, declara que a igreja do
Curralinho foi socorrida com a quantia de duzentos mil réis.
Sem dúvida, portanto, a Matriz de nossa terra foi construída antes de
1853, passando posteriormente por muitas reformas tendo a que se
realizou em 1941 e as sucessivas, a descaracterizado totalmente.
No ano de 1905, estando à frente da paróquia o virtuoso Pe. Pedro
Rodrigues Fraga, este promoveu uma grande reforma na Matriz.
Neste quase cento e cinqüenta anos de existência, a velha Matriz tem
sofrido as mais descaracterizado rãs modificações. Na década de 1950,
as naves laterais e a sacristia receberam platibandas que na verdade lhe
deram uma certa elegância, tirando-lhe, porém, toda a originalidade,
principalmente quando lhe acrescentaram nos fundos, uma torre sineira,
sob a qual construíram um banheiro.
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Isto posto, diante do valor cultural elucidado nesses trechos que
retratam toda a história lastreada em torno da Igreja Matriz de Itaberaí, a
importância do tombamento e da preservação desse patrimônio histórico
estadual se mostra necessária.
2) DO DIREITO
2.1) Da Legislação Protetiva do Patrimônio Histórico e Cultural
O meio ambiente resulta das relações do ser humano com o mundo
natural no decorrer do tempo, razão pela qual as modernas políticas
ambientais ocupam-se e dispõem acerca do patrimônio cultural, expresso em
realizações significativas que caracterizam, de maneira particular, os
assentamentos humanos e as paisagens do seu entorno.
A institucionalização da tutela jurídica do patrimônio cultural recebeu
tratamento inovador da Constituição Federal de 1.988, que em seu art. 216
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sob a denominação de "Patrimônio Cultural" abarcou modernos conceitos
científicos sobre a matéria, in verbis:
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza
material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores
de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos
formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
(...)
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico;
§1° - O Poder Público, com a colaboração da comunidade,
promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de
inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de
outras formas de acautelamento e preservação. (grifos nossos)
(…)
A colossal importância atribuída pela Constituição ao meio ambiente
cultural evidencia-se pela múltipla competência dos diversos entes estatais
para atuar no campo da preservação do patrimônio cultural, conforme
estabelece o art. 23 da Carta Magna:
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios:
(...)
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico,
artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os
sítios arqueológicos;
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de
arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural;
(…)
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A imprescindibilidade da preservação do patrimônio cultural não é
só revelada pela competência das múltiplas esferas estatais para atuar nesta
área, más também pelas formas de promoção dos bens culturais, já que estes
podem ser tombados via ordem administrativa, Iegislativa ou judicial.
Ao seu turno, a Constituição do Estado de Goiás, nos moldes
adotados pela constituição Federal, também elevou a preservação do
patrimônio cultural a status constitucional, conforme depreende-se do seu art.
164, in verbis:
Art. 164 - É dever do Estado e da sociedade promover, garantir e proteger toda manifestação cultural, assegurar plena liberdade de expressão e criação, incentivar e valorizar a produção e a difusão cultural por meio de:
(...)
II - criação e manutenção de espaços públicos equipados e acessíveis à população para as diversas manifestações culturais;
(...)
VI - desapropriação, pelo Estado, de edificações de valor histórico e arquitetônico, além do uso de outras formas de acautelamento e preservação do patrimônio cultural goiano. (grifos nosso)
(...)
Por outro lado, a legislação federal acerca do tombamento e
proteção do patrimônio histórico foi editada no longínquo ano de 1.957, pelo
Decreto-lei nº 25, que continua em plena vigência.
Referido diploma legal, aplicado analogicamente no plano estadual, estabeleceu regras claras acerca do patrimônio histórico nacional. Este diploma estabelece:
Art. 1º – Constitui o Patrimônio Histórico e Artístico Nacional o conjunto
dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de
interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da História
do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico,
bibliográfico ou artístico.
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§ 1º Os bens a que se refere o presente artigo só serão considerados
parte integrante do patrimônio histórico e artístico nacional, depois de
inscritos separada ou agrupadamente num dos quatro Livros do Tombo,
de que trata o art. 4º desta lei.
(...)
Art. 2º A presente lei se aplica às coisas pertencentes às pessoas
naturais, bem como às pessoas jurídicas de direito privado e de direito
público interno.
Destarte, somente o tombamento impedirá que proprietários
insensíveis coloquem abaixo monumentos históricos de grande vulto ou os
descaracterizem.
Certo é que melhor seria o trabalho de conscientização das
crianças, jovens e adultos, sobre a necessidade de preservação dos bens e
valores históricos para compreensão de nossas origens - labor que demanda
o concurso generoso do tempo, justamente o que não dispomos. Da mesma
forma, o tombamento não tem o condão de, por si só, garantir à posteridade
os monumentos, mas certamente propicia maior chance de sobrevivência.
Demais disso, o tombamento dota a sociedade civil e o Ministério
Público de instrumentos jurídicos mais ágeis para salvaguardar o acervo.
Até que a humanidade atinja satisfatório grau de evolução, o
tombamento é indispensável, principalmente em tempos que se procura, na
esteira do neoliberalismo, dar supremacia absoluta ao direito privado, em
detrimento do interesse da coletividade em ter preservado o meio ambiente
cultural.
Isto posto, dentre as formas de proteção dos bens listadas pela
Magna Carta – “inventários, registros, vigilância, tombamento e
desapropriação, e de outras formas de acautelamento” – , a forma mais Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, sala T-01, Jardim Goiás.
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conhecida é o tombamento, um regime jurídico que, implementando a função
social da propriedade, protege e conserva o patrimônio cultural privado ou
público brasileiro, tendo em vista, entre outros, seus aspectos históricos,
artísticos, arqueológicos, naturais e paisagísticos, para a fruição das
presentes e futuras gerações.
2.2) Do Tombamento Provisório
Desamparar a cultura é estar omisso e faltoso para com uma das
faces de sua missão, sendo imprescindível enquanto se discute a
necessidade ou não do tombamento definitivo, que seja dado o início do
procedimento de tombamento para que os bens fiquem intocáveis até decisão
definitiva.
Caso contrário, as forças destrutivas que, em regra, são rápidas, se
põem em ação e apresentam o fato consumado da inexistência dos bens ou o
começo de um projeto envolvendo os bens a ser tombados.
Importante frisar que inicia-se o processo de tombamento com a
realização da notificação ao(s) proprietário(s) do bem. A seguir, a coisa passará a receber especial proteção, equivalente ao tombamento finalizado, conforme previsto no artigo 10º e seu parágrafo único, do
Decreto-lei nº 25/37, in verbis:
Art. 10. O tombamento dos bens, a que se refere o art. 6º desta lei, será
considerado provisório ou definitivo, conforme esteja o respectivo
processo iniciado pela notificação ou concluído pela inscrição dos
referidos bens no competente Livro do Tombo.
Parágrafo único. Para todos os efeitos, salvo a disposição do art. 13 desta
lei, o tombamento provisório se equiparará ao definitivo. (grifos
nosso)
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A jurisprudência do TJGO é uníssona neste sentido:
APELACAO. ACAO CIVIL PUBLICA. TOMBAMENTO. PATRIMONIO
HISTORICO CULTURAL. PREVISAO EM LEI MUNICIPAL.
RESPONSABILIDADE SOLIDARIA. ASTREINTES. I - A SIMPLES
INSTAURACAO DO PROCESSO DE TOMBAMENTO JA RESGUARDA
A PROTECAO E PRESERVACAO DO BEM, INDEPENDENTE DA
COMPLETA FORMALIZACAO DO PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO QUE CULMINA NA ESCRITURACAO DO IMOVEL
NO LIVRO TOMBO. MERO VICIO DE FORMALIDADE NA CONCLUSAO
DO PROCEDIMENTO NAO TEM O CONDAO DE DESCONSTITUIR O
CARATER HISTORICO E CULTURAL DO IMOVEL. II - E SOLIDARIA A
RESPONSABILIDADE DO MUNICIPIO E DO PROPRIETARIO PELA
CONSERVACAO E RESTAURACAO DO BEM INTEGRANTE DO
PATRIMONIO HISTORICO E CULTURAL LOCAL. DO PROPRIETARIO
POR NAO DEMONSTRAR A INSUFICIENCIA DE RECURSOS E
MUNICIPALIDADE POR OMITIR-SE NO DEVER DE FISCALIZACAO
DA INTEGRIDADE DO BEM HISTORICO E CULTURAL TUTELADO. III
- CORRETA A COMINACAO DE MULTA DIARIA NA OBRIGACAO
VERTENTE, MAXIME DIANTE DA URGENCIA DA RESTAURACAO DO
IMOVEL. IV - APELOS CONHECIDOS E IMPROVIDOS. (TJ-GO,
APELACAO CIVEL 145721-7/188, Rel. DES. BEATRIZ FIGUEIREDO
FRANCO, 4A CAMARA CIVEL, julgado em 29/10/2009, DJe 497 de
13/01/2010)(grifos nosso)
E, havido o tombamento provisório, será exigida a prévia oitiva da
AGEPEL para qualquer intervenção no bem, conforme disposto no artigo 18,
do Decreto-lei nº 25/37:
Art. 18 – Sem prévia autorização do Serviço do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, não se poderá, na vizinhança da coisa tombada, fazer
construção que lhe impeça ou reduza a visibilidade, nem nela colocar
anúncios ou cartazes, sob pena de ser mandada destruir a obra ou retirar
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o objeto, impondo-se neste caso multa de cinquenta por cento do valor do
mesmo objeto.
3) DO PEDIDO
Diante do exposto, o Ministério Público do Estado de Goiás, pelos
motivos já aduzidos, requer:
a) seja elaborado parecer do órgão técnico sobre o valor cultural do
bem (Igreja Matriz de Itaberaí);
b) seja notificada a instituição proprietária do bem em apreço para
anuir (tombamento voluntário) ou impugnar o presente processo (tombamento
compulsório), bem como devidamente intimada pelo Diário Oficial do início do
processo de tombamento;
c) seja a partir da abertura do processo de tombamento reconhecido
o tombamento provisório do bem mencionado, que, para todos os efeitos
legais, se equipara ao definitivo (art. 10, parágrafo único, do Dec-Lei nº
25/37), sendo a instituição proprietária do bem advertida de que não pode
destruir, demolir ou mutilar a coisa tombada, nem, sem prévia autorização do
órgão competente para a proteção do patrimônio cultural, repará-la, pintá-la
ou restaurá-la;
d) deliberação coletiva do Conselho Consultivo da Secretaria
Estadual de Cultura, entidade incumbida do tombamento;
e) seja, finalmente, declarado e reconhecido o valor cultural da
Igreja Matriz de Itaberaí, que por suas características especiais passam a ser
preservados no interesse de toda a coletividade, devendo o mesmo ser
inscrito no competente Livro do Tombo, procedendo-se, assim, o tombamento
definitivo, e
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13
f) transcrição do tombamento definitivo no registro público (Cartório
de Registro de Imóveis), e averbação ao lado da transcrição do domínio do
bem para que o tombamento produza efeitos em relação a terceiros.
Goiânia, 15 de fevereiro de 2012
BENEDITO TORRES NETOProcurador-Geral de Justiça
JALES GUEDES COELHO MENDONÇAPromotor de Justiça
Coordenador do CAO do Meio Ambiente
LUCIENE MARIA SILVA OLIVEIRA OTONIPromotora de Justiça
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