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NÚCLEO ESPECIALIZADO DE SITUAÇÃO CACERÁRIA DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO Av. Liberdade, nº 32 – 7º andar – Centro – São Paulo – SP CEP: 01502-000 Tel.: 3242.5274/3105.5799 r.282. 1 EXCELENTÍSSIMO(A) JUIZ(A) DA ____ VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA CAPITAL DO ESTADO DE SÃO PAULO Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem”. (Manuel Bandeira, O Bicho, 25/2/1947) A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, através do Núcleo Especializado de Situação Carcerária e o INSTITUTO PRO BONO, associação sem fins lucrativos qualificada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, inscrita no CNPJ/MF sob o nº. 04.613.118/0001-46, com sede na Avenida Paulista, 575, 19º andar, São Paulo - SP, no presente ato representada por seu diretor executivo e representante nos termos de seu Estatuto Social, Dr. Marcos Fuchs (OAB/SP 101.662), por meio de seus procuradores, vêm a presença de V. Exa., com fundamento no art. 1º, inc. VI c/c 5º da Lei 7.347/85, c/c art. 5º, inc. VI, alínea ‘g’ da Lei Complementar Estadual 988/06 e art. 134 da Constituição da República c/c a Lei Estadual 15.552/14, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA em face do ESTADO DE SÃO PAULO, pessoa jurídica de direito público interno, com sede no Palácio dos Bandeirantes, situado na Avenida Morumbi, n. 4500, Morumbi, São Paulo/SP, pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos. Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1029279-25.2018.8.26.0053 e código 47177C1. Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por LEONARDO BIAGIONI DE LIMA, protocolado em 14/06/2018 às 18:13 , sob o número 10292792520188260053. fls. 1

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NÚCLEO ESPECIALIZADO DE SITUAÇÃO CACERÁRIA DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Av. Liberdade, nº 32 – 7º andar – Centro – São Paulo – SP CEP: 01502-000 Tel.: 3242.5274/3105.5799 r.282.

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EXCELENTÍSSIMO(A) JUIZ(A) DA ____ VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA CAPITAL DO

ESTADO DE SÃO PAULO

“Vi ontem um bicho

Na imundície do pátio

Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,

Não examinava nem cheirava:

Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,

Não era um gato,

Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem”.

(Manuel Bandeira, O Bicho, 25/2/1947)

A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, através do

Núcleo Especializado de Situação Carcerária e o INSTITUTO PRO BONO, associação sem

fins lucrativos qualificada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público,

inscrita no CNPJ/MF sob o nº. 04.613.118/0001-46, com sede na Avenida Paulista, 575,

19º andar, São Paulo - SP, no presente ato representada por seu diretor executivo e

representante nos termos de seu Estatuto Social, Dr. Marcos Fuchs (OAB/SP 101.662),

por meio de seus procuradores, vêm a presença de V. Exa., com fundamento no art. 1º,

inc. VI c/c 5º da Lei 7.347/85, c/c art. 5º, inc. VI, alínea ‘g’ da Lei Complementar Estadual

988/06 e art. 134 da Constituição da República c/c a Lei Estadual 15.552/14, propor a

presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

em face do ESTADO DE SÃO PAULO, pessoa jurídica de direito público interno, com

sede no Palácio dos Bandeirantes, situado na Avenida Morumbi, n. 4500, Morumbi, São

Paulo/SP, pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos.

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Av. Liberdade, nº 32 – 7º andar – Centro – São Paulo – SP CEP: 01502-000 Tel.: 3242.5274/3105.5799 r.282.

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1. DA FALTA DE ALIMENTAÇÃO

Vivemos a era do hiperencarceramento! No país, diariamente, centenas de

pessoas são jogadas nas masmorras do sistema carcerário, em prisões superlotadas, sem

estrutura física adequada, invariavelmente com severo racionamento de água e expostos

a todo tipo de enfermidades (muitas delas tratáveis em ambiente comum, mas que

levam a morte aqueles que estão encarcerados). E o estado de São Paulo não é exceção à

regra nacional, pelo contrário, temos o maior contingente de população carcerária do

país.

Segundo dados da Secretaria de Administração Penitenciária, em 09 de

março de 2018, eram 230.224, o que corresponde a quase 1/3 das pessoas presas no

país, apesar de termos cerca de 1/5 da população nacional, ou seja, na 3ª maior

população carcerária do mundo, o nosso estado é, desproporcionalmente, o maior

encarcerador.

Num passado não tão longínquo, tais números eram bem diferentes,

conforme documento em anexo. Em 1994, havia 55.021 pessoas presas neste Estado. Em

2004, tal número já havia saltado para 131.764 pessoas presas. Neste diapasão,

constata-se um aumento de 418,42% em 24 anos.

Um local que, por si só, provoca dor e sofrimento, com as condições atuais,

as quais se agravam com a crescente e contínua superlotação, torna-se sobremaneira

impossível imaginarmos como espaço que possa abrigar qualquer ser vivo, menos ainda

um ser humano. A estocagem de pessoas nesse sistema viola, portanto, a vedação de

penas cruéis e degradantes.

Um sistema que somente em seus objetivos formais mantém o ideal

ressocializador – que, a priori, já é uma falácia, como denuncia a criminologia crítica –

fica totalmente incapacitado de evitar a reincidência na forma como está. Vale lembrar

que, apesar da população prisional aumentar exponencialmente, o mesmo não se vê com

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a estrutura física e de pessoal do sistema carcerário, assim, um estabelecimento que

estava minimamente aparelhado para receber certo número de presos, precisa lidar,

invariavelmente, com uma população três, quatro ou cinco vezes maior.

Essa calamidade foi apontada na ADPF n. 347, STF, proposta pelo Partido

Socialismo e Liberdade, que defendeu tratar-se de situação que se amolda a um estado

de coisas inconstitucional.

Conforme exposto na inicial da referida ação, se tem o estado de coisa

inconstitucional quando há “(i) vulneração massiva e generalizada de direitos

fundamentais de um número significativo de pessoas; (ii) prolongada omissão das

autoridades no cumprimento de suas obrigações para garantia e promoção dos direitos;

(iii) a superação das violações de direitos pressupõe a adoção de medidas complexas por

uma pluralidade de órgãos, envolvendo mudanças estruturais, que podem depender da

alocação de recursos públicos, correção das políticas públicas existentes ou formulação de

novas políticas, dentre outras medidas; e (iv) potencialidade de congestionamento da

justiça, se todos os que tiverem os seus direitos violados acorrerem individualmente ao

Poder Judiciário”.

Nessa toada, o STF reconheceu todas os requisitos apontados e se

posicionou pela necessidade de enfrentamento da questão.

Uma das facetas das violações de direitos que acometem as pessoas

privadas de liberdade e deve ser enfrentada diz respeito à absoluta insegurança

alimentar, o que, além de violar diversos aspectos da própria personalidade, põe em

grave risco a saúde e a vida dessas pessoas, tendo em vista que não há fornecimento de

quantidade suficiente e de qualidade adequada.

Sobre a quantidade, vale destacar levantamento feito por este núcleo

especializado com base nos relatórios de inspeções de 59 unidades prisionais do estado

(na época da sistematização todas que haviam sido inspecionadas por esse núcleo), que

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indica o fornecimento de apenas 03 refeições diárias na esmagadora maioria dos

estabelecimentos.

Além disso, o mesmo levantamento mostra a ocorrência de intervalos

inadmissíveis entre as refeições, em especial entre a janta e o café da manhã. Das 59

unidades prisionais inspecionadas, em 19 delas (ou 32,2%) o tempo de jejum vai de 14 à

15 horas, enquanto varia de 13 a 14 horas em 14 unidades (23,7%) e de 15 a 16 horas

em outros estabelecimentos (23,7%). Dessa forma, constata-se que em 79,6% dos

casos o jejum varia de 13 a 16 horas. Em 6 unidades (10,2%) não foi possível aferir o

dado almejado.

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No que toca à qualidade, em diversas inspeções realizadas pelos

estabelecimentos prisionais do estado, foi possível constatar a precariedade da

alimentação, que não conta com variedade de nutrientes suficientes para fazer frente à

necessidade diária de um ser humano.

Como se não bastasse, além dos problemas enfrentados por aqueles que

estão privados de liberdade dentro dos muros das masmorras, a situação daqueles que

precisam ser transportados para as audiências nos fóruns do estado, seja durante a

prisão preventiva, seja para apresentação à audiência de custódia, é ainda pior, pois

passam essas horas de “trânsito” sem acesso à alimentação, nem mesmo a inadequada

prestada nos estabelecimentos prisionais.

É nítido, portanto, que a segurança alimentar das pessoas privadas de

liberdade não é respeitada pelo estado que, ao custodiar alguém, fica responsável por

garantir seus direitos que não são suspensos ou retirados pelo aprisionamento. É esse o

entendimento da Comissão Interamericana de Direitos Humanos no Relatório sobre Uso

da Prisão Preventiva nas Américas: Introdução e Recomendações de 2013, segundo a

qual:

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“o Estado, ao privar de liberdade uma pessoa, assume uma posição de

garantidor de seus direitos fundamentais, em particular de seus direitos à

vida e à integridade pessoal. O que implica que o exercício do poder de custódia

traz consigo a responsabilidade especial de assegurar que a privação da liberdade

cumpra seu propósito e que não conduza à violação de outros direitos básicos.

Neste sentido, é fundamental a satisfação das necessidades básicas da

população reclusa, relacionadas, por exemplo, aos serviços médicos,

alimentação, fornecimento de água potável e, sobretudo, de condições

básicas de segurança interna nas penitenciárias1”

Entretanto, apesar da situação referente à alimentação como um todo ser

passível de questionamento judicial, tendo em vista a dificuldade momentânea de

levantamento e compilação de informações mais precisas sobre a prestação de

alimentos dentro dos estabelecimentos, a presente demanda se centrará somente

nas violações ocasionadas no período de “trânsito” para apresentação em

audiências, que envolve tanto o período do suposto flagrante até a apresentação

para audiência de custódia e eventual inclusão em unidade da Secretaria da

Administração Penitenciária, quanto o tempo entre a saída do estabelecimento

prisional e seu retorno, após audiência de instrução, debates e julgamento.

A situação não é novidade, existem notícias de falta de prestação de

alimentos nessas situações desde os idos de 2009, tanto que a Defensoria Pública, por

seu órgão de execução atuante na regional que abrange a cidade de Suzano, ajuizou ação

civil pública para garantir o fornecimento de alimentação aos presos daquela comarca,

que foi julgada procedente em primeira instância e confirmada a procedência em

segunda instância (autos n. 0016637-08.2010.8.26.0606), conforme decisões anexas.

Mais de 08 anos depois, nos demais fóruns do estado - exceto no fórum

criminal da Barra Funda (como se explicará a seguir) -, a situação permanece a mesma,

de modo que as pessoas não têm qualquer acesso à alimentação, muitas vezes passando

1 http://www.oas.org/pt/cidh/ppl/pdfs/Relatorio-PP-2013-pt.pdf.

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mais de 24 horas sem qualquer alimento, como evidenciam declarações que seguem

anexadas à presente.

Retratando essa situação, no ano de 2017, a Defensoria Pública da União

oficiou esse núcleo especializado informando que, nas audiências realizadas pelos

defensores públicos federais no fórum criminal Ministro Jarbas Nobre, os réus

apresentados e que estavam em estabelecimentos prisionais estaduais relataram que

estavam há mais de 16 horas sem alimentação.

Diante desses fatos, foi oficiada a Secretaria de Administração

Penitenciária requerendo informações sobre a questão. Por sua vez, a secretaria

respondeu confirmando a inexistência de prestação de alimentos aos presos em

“trânsito”, salvo àqueles apresentados para audiência no fórum criminal Ministro

Mário Guimarães, que recebem lanches quando estão na carceragem no referido

prédio.

Diante disso, a Defensoria Pública do Estado de São Paulo oficiou, mais

uma vez, a referida pasta, recomendando que a alimentação fosse prestada para todos os

presos apresentados nas audiências e requerendo a apresentação de cronograma para a

implementação desse direito. Contudo, a SAP permaneceu inerte e sequer respondeu o

ofício enviado.

Considerando a afirmação da SAP sobre a ausência de alimentação para as

pessoas presas que estão em “trânsito”, seguiu-se na intenção de fazer um levantamento

por amostragem da situação encontrada em alguns fóruns pelo estado.

Nesse sentido, o Instituto Pro Bono, que atua, mediante convênio com a

Defensoria Pública, nas audiências de custódia da comarca de Itapecerica da Serra

(documento anexo), fez levantamento com 114 pessoas atendidas entre 19.11.2017 e

12.03.2018, das quais NENHUMA recebeu alimentação no Fórum (documento anexo).

71 pessoas (62,3%) não receberam alimentação sequer na Delegacia de Polícia, e das 43

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pessoas que informaram ter recebido alimentação na Delegacia, apenas 27 delas

relataram que a alimentação foi fornecida diretamente pela Delegacia.

Destaca-se, no referido levantamento, que era comum os próprios presos

relatarem a falta de alimentação. Nesse sentido, relatavam estarem passando mal,

fraqueza, fome e tontura, também impondo obstáculos ao direito à ampla defesa das

pessoas presas em flagrante durante a audiência de custódia.

Chegando-se à situação de uma mulher, grávida, que estava há três dias

se alimentando apenas de pão e água na Delegacia e não recebeu nenhuma alimentação

no fórum.

A maioria das pessoas relataram que passou mais de 24 horas sem receber

nenhuma alimentação, havendo casos de 33 e 35 horas sem nenhuma alimentação.

Em razão dessa cruel e patente violação de direitos, o Instituto Pro Bono

questionou em audiência de custódia a ausência de oferta de alimentação. Não obstante,

não foram dados encaminhamentos a essa situação pelos juízes da comarca que se

limitaram a registrar em ata a ausência de alimentação a pedido dos advogados/as

(Processos n. 0000368-41.2018.8.26.0628; 0000367-56.2018.8.26.0628;

0000342-43.2018.8.26.0628, em anexo) ou a enviar as mídias de audiências a 4ª Vara

Criminal de Itapecerica da Serra responsável pela realização das audiências da comarca

de Itapecerica da Serra (Processo n. 0000414-30.2018.8.26.0628, em anexo).

Do mesmo modo, apesar do Ministério Público ter instaurado Inquérito

Civil (IC 75/2018), após questionamento do Instituto para avaliar a situação da

alimentação de pessoas encaminhadas as audiências de custódia, a situação permaneceu

a mesma na comarca.

Em um dos casos, inclusive, foi respondido a uma advogada constituída,

conforme declaração anexa, que juízes fariam “vaquinha” para compra de café e pão,

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dependendo-se, pois, de mero assistencialismo. Situação essa que já gerou absurdos

procedimentos administrativos em face de juízes em outras comarcas2, o que, além de

trazer insegurança no fornecimento, por óbvio, demonstra como é violado o direito à

alimentação de pessoas presas nos fóruns do estado de São Paulo.

Essa situação levou o Instituto Pro Bono a apresentar ao Tribunal de

Justiça do Estado de São Paulo pedido de Lei de Acesso à Informação, o qual confirmou

que “não há previsão orçamentária na verba para atender despesas com

alimentação em Audiência de Custódia, nem mesmo aos presos e presas que

aguardam a audiência”3.

No fórum de Praia Grande, levantou-se que das três pessoas questionadas,

uma delas declarou que a previsão era ficar sem alimento por 14 horas, outra por 07

horas e outra por 08 horas. Todas haviam sido apresentadas para audiência de

instrução, debates e julgamento, conforme declarações anexas.

No mesmo diapasão, nos termos dos documentos anexos, foram

levantadas outras 27 situações na comarca de Taubaté de pessoas apresentadas para a

audiência de custódia, com média de jejum de 14 horas.

A situação se repete nas comarcas de Araçatuba – havendo aqui situação

de AUSÊNCIA DE ALIMENTAÇÃO POR 29H30MIN. -, de Itapetininga – revelada no

termo de audiência de custódia - e de Sorocaba – onde, EM MÉDIA, AS PESSOAS

PRESAS FICAM 21 HORAS SEM RECEBER ALIMENTAÇÃO -, conforme declarações em

anexo, as quais, como as demais descritas acima, servem apenas para ilustrar o absurdo

que já foi confirmado pela própria Secretaria de Administração Penitenciária do

Estado de São Paulo.

2 https://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/tribunal-de-justica-afasta-juiza-que-ofereceu-lanche-a-suspeitos.ghtml 3 Processo/Protocolo: 2018/00009508, 17.01.2018.

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Na região de Taubaté, conforme documentos acostados à presente,

também identificada a ausência de alimentação pela Defensoria e Judiciário local,

chegando-se ao extremo de defensores públicos terem que requerer a possibilidade de

prestação de alimentos por eles próprios para zelar pela saúde e integridade física e

mental das pessoas presas.

Ademais, no tocante aos presos apresentados na audiência de custódia e

que estavam sob responsabilidade da Secretaria de Segurança Pública, a situação é a

mesma. Seguem, em anexo, várias declarações de pessoas presas afirmando que não

recebem alimentação durante o período em que permanecem nos fóruns e não é regra

receberem alimentação adequada nas delegacias de polícia, apesar da afirmação de que

haveria prestação de alimentação pela Secretaria de Segurança Pública no âmbito das

delegacias de polícia, embora confessem que não há entrega durante o trânsito para as

audiências judiciais.

Fica nítido, portanto, que as pessoas presas (sim, são pessoas como nós)

sob custódia do estado de São Paulo, quando em “trânsito” para apresentação judicial,

não recebem alimentação, havendo clara afronta aos seus direitos, o que deve ser objeto

de intervenção do Poder Judiciário para garantir a todas as pessoas nessa situação o

fornecimento de alimentos em quantidade e qualidade suficiente para saciar a fome e

garantir a integridade física delas.

2. DA LEGITIMIDADE DOS POSTULANTES

2.1. Defensoria Pública

A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional,

incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na

forma do artigo 5º, LXXIV da Constituição Federal. Ela representa o instrumento pelo

qual o Estado Democrático de Direito promove a ação afirmativa, ou discriminação

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positiva, visando à inclusão jurídica daqueles econômica e juridicamente

hipossuficientes.

Portanto, não se pode olvidar que a Defensoria Pública, como instrumento

de ação afirmativa, visa à concretização do princípio da isonomia ou igualdade, na

medida em que o Estado, por meio dela, trata desigualmente os desiguais (necessitados),

almejando à igualdade de condições. Nas palavras da professora e atual Ministra

Presidente do Supremo Tribunal Federal CARMEN LÚCIA ANTUNES ROCHA4,

A definição jurídica objetiva e racional de desigualdade dos desiguais, histórica e

culturalmente discriminados, é concebida como forma de promover a igualdade

daqueles que foram e são marginalizados por preconceitos encravados na cultura

dominante da sociedade. Por esta desigualação positiva promove a igualação

jurídica efetiva; por ela afirma-se uma fórmula jurídica para se provocar uma

efetiva igualação social, política e econômica no e segundo o Direito, tal como

assegurado formal e materialmente no sistema constitucional democrático. A ação

afirmativa é, então, uma forma jurídica para se superar o isolamento ou a

diminuição social a que se acham sujeitas as minorias.

Em outras palavras, a Defensoria Pública é o instrumento pelo qual se

garante o acesso à Justiça aos necessitados, desprovidos de recursos financeiros para

custear os encargos do processo.

Entretanto, a Defensoria Pública não é apenas um órgão patrocinador de

causas judiciais. É muito mais! É a Instituição Democrática que promove a inclusão

social, cultural e jurídica das classes historicamente marginalizadas, visando à

concretização e a efetivação dos direitos humanos, no âmbito nacional e internacional, à

prevenção dos conflitos, em busca de uma sociedade livre, justa e solidária, sem

preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade, com a erradicação da pobreza e da

4 ROCHA, Carmem Lúcia Antunes. Ação afirmativa – O conteúdo democrático do princípio da igualdade jurídica. Revista de Direito Público, n º 15/85.

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marginalização, em atendimento aos objetivos fundamentais da República Federativa do

Brasil, previstos no artigo 3º da Constituição.

Nas palavras de MARCIO THOMAZ BASTOS5,

As instituições sólidas são os instrumentos que as democracias têm para se realizar

enquanto tais. E as democracias, para abandonarem o rótulo de democracias

formais, se tornando verdadeiras democracias de massas, devem construir

instituições que consigam garantir a todos, sem discriminações, os direitos previstos

nas constituições democraticamente escritas. (...) Não mais podemos nos preocupar

só com o Estado Julgador e com o Estado Acusador, em detrimento do Estado

Defensor.

Outrossim, a atuação da Defensoria Pública se torna ainda mais relevante

em um Estado como o Brasil, que possui uma Carta Magna de caráter social, mas que

carece de efetividade e concretude.

Em suma, a Defensoria Pública apresenta-se como a instituição

garantidora do acesso à Justiça, não apenas no âmbito jurídico, mas também no social e

cultural.

Entretanto, para que a instituição cumpra satisfatoriamente seu papel, é

preciso conquistar certos meios ou condições de atuação, dentre eles a legitimidade

ativa para a propositura de ações coletivas.

Assim, a Lei Complementar nº 988/06 do Estado de São Paulo dispõe que

“a Defensoria Pública do Estado é instituição permanente, essencial à função jurisdicional

do Estado, e tem por finalidade a tutela jurídica integral e gratuita, individual e coletiva,

judicial e extrajudicial, dos necessitados, assim considerados na forma da lei” (artigo 2º).

5 II Diagnóstico da Defensoria Pública no Brasil promovido pelo Ministério da Justiça e pelo Programa das Nações Unidas pelo Desenvolvimento, 2006.

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13

Prevê ainda a aludida lei, em seu artigo 4º, como atribuições institucionais

da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, “representar em juízo os necessitados, na

tutela de seus interesses individuais ou coletivos, no âmbito civil ou criminal, perante os

órgãos jurisdicionais do Estado e em todas as instâncias, inclusive os Tribunais Superiores

(III); promover a tutela individual e coletiva dos interesses e direitos da criança e do

adolescente, do idoso, das pessoas com necessidades especiais e das minorias submetidas a

tratamento discriminatório (VI), c); promover a tutela individual e coletiva dos interesses

e direitos do consumidor necessitado (VI); d) promover a tutela do meio ambiente, no

âmbito de suas finalidades institucionais (VI); e) promover ação civil pública para tutela

de interesse difuso, coletivo e individual homogêneo(VI, g)” – destaque nosso.

Nesse processo de positivação legal, a Lei Federal nº 11.448/07 alterou a

Lei da Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85) e, em seu artigo 5º, inciso II, passou a prever

expressamente a legitimidade ativa da Defensoria Pública.

No tocante à pertinência temática do caso em análise, o nexo entre os

fins institucionais da Defensoria Pública e a tutela jurisdicional pretendida é inegável e

notório, uma vez que a grande maioria da população carcerária do Estado de São

Paulo é formada por pessoas economicamente hipossuficientes.

Outrossim, hodiernamente, o juízo de verificação da pertinência temática

há de ser o mais flexível e amplo possível, em contemplação ao princípio constitucional

do acesso à Justiça, mormente se considerarmos a máxima efetividade dos direitos

fundamentais. Aliás, MAURO CAPPELLETI e BRYANT CARTH6 detectam três ondas

renovatórias da Era Instrumentalista do Direito Processual, no sentido de assegurar o

acesso à Justiça.

A segunda onda, especificamente, representa a consagração das formas

coletivas de se promover a tutela jurisdicional. “O acesso à Justiça pode, portanto, ser

6 CAPPELLETI, Mauro e CARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Tradução e revisão: Ellen Gracie Northfleet. Sérgio Antônio Fabris, 1998.

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encarado como o requisito fundamental – o mais básico dos direitos humanos – de um

sistema jurídico e igualitário que pretenda garantir, e não apenas proclamar os direitos de

todos”.

É, portanto, incontestável a legitimidade ativa da Defensoria Pública para

pleitear a tutela jurisdicional coletiva ora apresentada.

2.2. Instituto Pro Bono

A Lei nº 7.347/85 prescreve em seu artigo 5º, inciso V, que as associações

possuem legitimidade para propor a ação civil pública, desde que estejam constituídas

há pelo menos um ano e que incluam, entre suas finalidades institucionais, a proteção de

interesses tuteláveis por meio deste instrumento processual.

Do mesmo modo, prevê inciso IV do artigo 82, do Código de Defesa do

Consumidor:

Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:

IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que

incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos

protegidos por este código, dispensada a autorização assemblear.

Deste modo, resta claro que a proteção de direitos difusos e coletivos não

está limitada ao Ministério Público e se amplia para outros importantes atores como a

Defensoria Pública e as Associações e Organizações não governamentais.

Nesse sentido, a doutrina tem destacado a especial importância do

protagonismo das associações e organizações da sociedade civil na defesa dos interesses

difusos e coletivos, diante dos obstáculos ao acesso à justiça de determinados grupos ou

mesmo das dificuldades de efetivar a proteção do meio ambiente:

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¨Especificamente a ação civil pública está disciplinada na Lei 7.347, de 24.07.1985,

e, nesse campo, o envolvimento das organizações não governamentais ganha

especial importância, uma vez que se tornou impraticável ao Estado assumir, de

forma solitária, esse pesado e relevantíssmo encargo, na dura missão de assegurar,

eficaz e tempestivamente, o controle judicial das atividades de risco e, quando

necessária, a integral reparação de danos causados ao meio e a seus componentes

naturais, culturais ou artificiais¨. (MILARÉ, Edis; LOURES, Flavia Tavares Rocha. O

papel do terceiro Setor na Proteção Jurídica do Ambiente. Disponível em . Acesso

em 3 0 de outubro de 2006).

O Instituto Pro Bono foi constituído em 2001 com o objetivo de promover

a advocacia voluntária no Brasil. Tem como objetivos fortalecer a cultura da advocacia

pro bono e de interesse público no Brasil, e com isso melhorar o acesso à justiça. Após

diversas ações de incidência política do Instituto Pro Bono, a advocacia pro bono foi

regulamentada e permitida em âmbito nacional pela OAB (Provimento no. 166/2015 da

Ordem dos Advogados do Brasil e art. 30 do Código de Ética e Disciplina da Ordem dos

Advogados do Brasil).

Desde dezembro de 2016, em parceria com a Defensoria Pública do Estado

de São Paulo (documento anexo), o Instituto Pro Bono tem realizado as audiências de

custódia em Itapecerica por meio de advogadas voluntárias e advogados voluntários7.

Desde o início do projeto até maio de 2018, por meio da atuação de

advogados e advogadas o Instituto Pro Bono realizou a defesa de 919 pessoas em

audiência de custódia.

Segundo o Convênio com a Defensoria Pública, o Instituto Pro Bono deve

realizar ¨patrocínio da defesa dos indiciados ou réus, durante e a partir da audiência de

custódia, adotando todas as medidas cabíveis e necessárias à garantia da ampla defesa¨ , o

7 Ressalta-se que esta comarca recebe autos de prisão em flagrante das seguintes cidades: Embu-Guaçu, Embu das Artes, Cotia, Itapecerica da Serra, Itapevi, Taboão da Serra e Vargem Grande Paulista.

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que inclui a realização de pedidos para garantir o direito à alimentação das pessoas

encaminhadas as audiências de custódia da comarca.

As atividades descritas do Projeto Audiência de Custódia foram realizadas

em conformidade com o Estatuto Social do Instituto Pro Bono, o qual prevê

expressamente que cumprimento de suas finalidades o Instituto se dedicará (artigo 2º,

inciso IV):

IV. Defesa de direitos fundamentais e do interessa público

• Estimular a realização de parcerias entre organismos públicos,

organizações não governamentais e escritórios de advogacacia, para a defesa de

direitos e do interesse público;

• Fomentar a defesa de direitos da pessoa humana e do interesse público,

podendo inclusive ser autora em processo judicial, com objetivo de alterar práticas

e reformular a atuação de instituições de forma a ampliar a garantia dos direitos e

a consolidação do Estado Democrático de Direito;

(...)

Portando, resta evidente o preenchimento dos requisitos legais

autorizadores da interposição da presente ação civil pública por associação da sociedade

civil, tendo em vista a existência do Instituto Pro Bono a mais de 16 anos, bem como

seus fins institucionais e a pertinência de sua atuação com o objeto desta demanda.

Não há tampouco dúvida sobre a pertinência temática, visto que o

Instituto Pro Bono descreve em seu Estatuto Social a possibilidade de proposição de

ações judiciais na defesa de direitos fundamentais, de interessa público e de promoção

do acesso à justiça. A interposição de Ação Civil Pública voltada a garantia do direito à

alimentação de pessoas privadas de liberdade em trânsito para audiências de instrução

ou custódia se amolda a essa finalidade.

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17

No mais, a atuação direta em audiência de custódia por meio de advogados

e advogadas voluntários/as, inclusive colhendo relatos sobre a ausência de oferta de

alimentação no Fórum Criminal de Itapecerica da Serra e nas Delegacias da região

reforça a legitimidade temática.

Nesse contexto, vale ressaltar que o Superior Tribunal de Justiça já

pacificou o entendimento de que associações tem legitimidade para propor ação civil

pública, tendo inclusive flexibilizado o juízo de verificação temática, em razão da

proteção do direito constitucional ao acesso à justiça:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL

PÚBLICA. DIREITOS DO CONSUMIDOR. PLANO DE SAÚDE. ÍNDOLE ABUSIVA DE

CLÁUSULA QUE EXCLUI COBERTURA DE HOME CARE. INTERESSE COLETIVO.

COMPROVAÇÃO. LEGITIMIDADE DA ASSOCIAÇÃO PARA TUTELAR DIREITOS

INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. SÚMULA 83/STJ.

1. Não ocorre violação ao art. 535 do CPC/1973 quando o acórdão recorrido

decide a causa com base em fundamentação sólida, sem nenhuma omissão ou

contradição. Ademais, o órgão julgador não está obrigado a responder

questionamentos das partes, mas apenas a declinar as razões de seu

convencimento motivado.

2. O caráter coletivo de interesse a ser tutelado em ação civil pública se

reconhece a partir da possibilidade de lesão a uma universalidade de

consumidores, caracterizando a homogeneidade do direito. Incidência da Súmula

83/STJ.

3. As entidades sindicais e as associações têm legitimidade ativa ad causam

na defesa, em juízo, dos direitos coletivos ou individuais homogêneos de

toda a categoria que representam ou de apenas parte dela. Precedentes.

4. Agravo interno a que se nega provimento8.

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PRODUTOS ALIMENTÍCIOS.

OBRIGAÇÃO DE INFORMAR A PRESENÇA OU NÃO DE GLÚTEN. LEGITIMIDADE

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18

ATIVA DE ASSOCIAÇÃO. REQUISITO TEMPORAL. CONSTITUIÇÃO HÁ, PELO

MENOS, UM ANO. FLEXIBILIZAÇÃO. INTERESSE SOCIAL E RELEVÂNCIA DO BEM

JURÍDICO TUTELADO. DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA.

PERTINÊNCIA TEMÁTICA DEMONSTRADA. DEFESA DOS CONSUMIDORES.

PROMOÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL.

1. As associações civis, para ajuizar ações civis públicas ou coletivas,

precisam deter representatividade adequada do grupo que pretendam

defender em juízo, aferida à vista do preenchimento de dois requisitos: a)

pré-constituição há pelo menos um ano nos termos da lei civil -

dispensável, quando evidente interesse social; e b) pertinência temática -

indispensável e correspondente à finalidade institucional compatível com a

defesa judicial do interesse.

2. Quanto ao requisito temporal, a jurisprudência do Superior Tribunal

de Justiça é firme quanto à possibilidade de dispensa do requisito de um

ano de pré-constituição da associação, nos casos de interesse social

evidenciado pela dimensão do dano e pela relevância do bem jurídico a ser

protegido.

(....)

5. A pertinência temática exigida pela legislação, para a configuração da

legitimidade em ações coletivas, consiste no nexo material entre os fins

institucionais do demandante e a tutela pretendida naquela ação. É o vínculo de

afinidade temática entre o legitimado e o objeto litigioso, a harmonização entre

as finalidades institucionais dos legitimados e o objeto a ser tutelado na ação

civil pública.

6. Entretanto, não é preciso que uma associação civil seja constituída para

defender em juízo especificamente aquele exato interesse controvertido na

hipótese concreta. 7. O juízo de verificação da pertinência temática há

de ser responsavelmente flexível e amplo, em contemplação ao princípio

constitucional do acesso à justiça, mormente a considerar-se a máxima

efetividade dos direitos fundamentais.

8. No caso concreto, a Abracon possui entre os fins institucionais a promoção da

segurança alimentar e nutricional, assim como a melhoria da qualidade de vida,

8 STJ. AgInt no AREsp 508778 / PE, Rel. Ministro Ministro LÁZARO GUIMARÃES, Quarta Turma, julgado

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19

especialmente no que diz respeito a qualidade de produtos e serviços, estando,

dessa forma, configurada a pertinência temática. 9. Recurso especial provido9.

Diante do exposto, é incontestável a legitimidade ativa do Instituto Pro

Bono para pleitear a tutela jurisdicional coletiva ora apresentada.

3. DO DIREITO À ALIMENTAÇÃO

Conclui-se dos fatos narrados que as pessoas presas que permanecem

constritas nos fóruns do Estado de São Paulo aguardando a realização de audiências,

sem receber a alimentação adequada, estão sendo submetidos a tratamento cruel e que

viola os direitos fundamentais previstos na legislação brasileira e nos diversos tratados

internacionais dos quais o Brasil é signatário.

A Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/1984) determina que a assistência

ao preso e ao internado é dever do Estado e inclui a assistência à saúde. Ainda, segundo

o art. 12 do mesmo diploma legal, “a assistência material ao preso e ao internado

consistirá no fornecimento de alimentação, vestuário e instalações higiênicas”.

A Constituição de 1988, por sua vez, logo em seu primeiro artigo, no inciso

terceiro, define a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos da

República, constituída como um Estado Democrático de Direito. É inegável que a

interpretação de qualquer norma e sua eventual subsunção a um fato deve ser

interpretada de acordo com o mandamento constitucional.

Conforme assevera Ingo Wolfgang Sarlet10, “a dignidade da pessoa humana,

na condição de valor fundamental atrai o conteúdo de todos os direitos fundamentais,

em 22/05/2018, DJe 25/05/2018 9 STJ. REsp 1357618 / DF, Relatoria Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Quarta Turma, julgado em 26.09.2017, DJe 24/11/2017

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20

exige e pressupõe o reconhecimento e proteção dos direitos fundamentais de todas as

dimensões”. Dessa forma, ao se reconhecer a prerrogativa do Estado de proteger esse

princípio, legitima-se também a proteção e promoção de todos os direitos fundamentais

que se encontram dispostos, explicita ou implicitamente, na Carta Maior, como é o caso

do direito à alimentação.

No caso presente, o princípio maior é o da proteção aos direitos

fundamentais à alimentação e integridade física e mental, que se associam

naturalmente ao direito à saúde.

Nesse ponto, a Constituição Federal de 1988, em seu art. 6º, garante a

todos os cidadãos o direito fundamental à alimentação e à saúde. Da mesma forma, o

artigo 196 dispõe que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante

políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco da doença e de outros agravos

e de acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para sua promoção, proteção e

recuperação”.

Os direitos fundamentais contam com eficácia plena e imediata, consoante

a redação do artigo 5º, parágrafo 1º, da Constituição Federal. Uma vez que a saúde se

tipifica como um bem jurídico indissociável do direito à vida, é certo que o Estado tem o

dever de tutelá-la. Consoante André da Silva Ordacgy11:

“A Saúde encontra-se entre os bens intangíveis mais preciosos do ser humano, digna

de receber a tutela protetiva estatal, porque se consubstancia em característica

indissociável do direito à vida. Dessa forma, a atenção à Saúde constitui um direito

de todo cidadão e um dever do Estado, devendo estar plenamente integrada às

políticas públicas governamentais”.

10 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988.

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Nessa linha, não é possível conceber que pessoas presas não tenham

garantido o mínimo necessário a uma existência digna. Não parece crível que pessoas

presas não recebam alimentação. Tratamento similar não se dispensa a animais de

parques e zoológicos. A omissão do poder público não se deve à falta de amparo legal,

mas à ausência de “vontade política” dos administradores.

Ao que parece, no Estado de São Paulo foi instituída a “pena de fome”.

Esta situação desumana de aprisionamento, de responsabilidade estatal,

solapa princípios e postulados normativos de magnitude constitucional e

supraconstitucional. Ofende o regime democrático, ou melhor, a própria sociedade, que

é a destinatária final desses pobres e miseráveis criminalizados.

Filosoficamente, podemos chamar essas pessoas presas e, então, também

condenadas à “pena de fome” de homo sacer, ou seja, homem sacro, que, na Roma

Antiga, era aquele “matável”. Nas palavras de AGAMBEN:

“Homem sacro é, portanto, aquele que o povo julgou por um delito; e não é lícito

sacrificá-lo, mas quem o mata não será condenado por homicídio; na verdade, na

primeira lei tribunícia se adverte que ‘se alguém matar aquele que por plebiscitos é

sacro, não será considerado homicida’. Disso advém que um homem malvado ou

impuro costuma ser chamado sacro”12.

Preceitua o artigo 5º da Constituição da República que “todos são iguais

perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade e à

igualdade (...); que “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano e

11 ORDACGY, André da Silva. A tutela de direito de saúde como um direito fundamental do cidadão. Disponível em http://www.dpu.gov.br/pdf/artigos/artigo_saude_andre.pdf Acesso em 27 de outubro de 2017. 12 AGAMBEN, Giorgio. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I. 2. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010, p. 74.

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degradante” (inciso III); que “não haverá penas cruéis” (inciso XLVII, e); e que “é

assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral” (inciso XLIX).

É inimaginável num Estado Democrático Social e Humano de Direito que

pessoas presas, sem o fornecimento de refeições ao longo de um dia inteiro, sejam

submetidos a interrogatório judicial. Esta prática muito se assemelha aos julgamentos

medievais, em que os hereges, após horas de torturas, eram submetidos ao inquisidor

para serem interrogados e julgados. Jurisprudências, doutrinas e legislações construídas

em centenas de anos são levadas a fio.

Segundo SANTIAGO MIR PUIG:

“Enquanto sejam inevitáveis, as prisões devem garantir condições mínimas de

humanidade, conforme as exigências da ONU. No entanto, a realidade das prisões

ainda não se adaptou a estas exigências. (...) É a dignidade do indivíduo, como

primeiro limite material a ser respeitado por um Estado democrático, que fixa

limites máximos à rigidez das penas e aguça a sensibilidade de todos com relação

aos danos por elas causados.” (PUIG, Santiago Mir. Direito Penal – fundamentos e

Teoria do Delito. Tradução Cláudia Viana Garcia, José Carlos Nobre Porciúncula

Neto. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. pág, 99).

De forma objetiva e precisa observa a ilustre jurista CARMEM SILVIA DE

MORAES BARROS que:

“O princípio da humanidade da pena determina que toda pessoa condenada será

tratada humanamente e com o respeito devido à dignidade à todos inerente. Que o

homem nunca deverá ser tratado como meio, mas somente como fim, como

pessoa, o que quer significar que, independentemente da argumentação utilitarista

que se siga, o valor da pessoa humana impõe uma limitação à qualidade e

quantidade da pena. Implica, pois, em proibição de adoção da pena de morte, de

tratos desumanos, cruéis ou degradantes (aí incluído o rigor desnecessário e as

privações indevidas impostas aos condenados). (...) A humanização da

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23

execução é postulado fundado em um conceito de justiça corretamente

entendido. Lutar pelos direitos e pela dignidade de todos os cidadãos é lutar

pela democracia” (sem grifo no original) (BARROS, Carmem Silvia de Moraes. A

individualização da pena na execução penal. Editora Revista dos Tribunais, pág.

245).

Portanto, o direito à saúde, in casu consubstanciado no direito à

alimentação, assim como os demais direitos fundamentais, deve ter aplicação imediata

e, por isso, não pode ser reduzido a uma carta de intenções ou a normas de caráter

programático, não podendo ser suprimido pela lei e, muito menos, violado por agentes

do Estado.

A fim de demonstrar ainda de forma mais clara a ilegalidade do não

fornecimento de alimentos às pessoas presas que aguardam audiência nos fóruns do

Estado de São Paulo, cumpre-nos tecer alguns comentários sobre a normativa

internacional de direitos humanos.

Isso porque, além do dever de cumprimento de sua Constituição, o Estado

brasileiro assumiu compromissos perante organizações internacionais, dentre eles está

o dever de respeitar os Direitos Humanos reconhecidos pela comunidade internacional.

O Estado brasileiro é signatário da Convenção Americana de Direitos

Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), além de se submeter, por ato de soberania, à

Comissão Interamericana de Direitos Humanos e à Corte Interamericana de Direitos

Humanos.

No âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil é signatário

de documentos internacionais que garantem direitos individuais e protegem as pessoas

de violações de direitos humanos. Dentre elas estão a Declaração Universal de Direitos

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24

Humanos13, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos14, Convenção contra a

Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanas ou Degradantes15 e o

Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas

Cruéis, Desumanas ou Degradantes16.

Todos os documentos supracitados podem ser conceituados, segundo

Flávia Piovesan17, como “acordos obrigatórios celebrados entre sujeitos de Direito

Internacional, que são regulados pelo Direito Internacional”. Por serem resultantes da

convergência das vontades de seus signatários, o tratado tem a finalidade de produzir

efeitos jurídicos num plano internacional, obrigando aos Estados que o ratificaram ou a

ele aderiram.

Saliente-se o próprio direito interno brasileiro reconhece a hierarquia

supralegal dos tratados e convenções de direitos humanos ratificados pelo Brasil, como

demonstra o próprio posicionamento do Supremo Tribunal Federal sobre a hierarquia

da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (RE 466.343, Rel. Min Cezar Peluso,

voto do Min. Gilmar Mendes, julgamento em 3/12/2008, Plenário, DJE de 5/6/2009,

com repercussão geral).

No que diz respeito ao conteúdo desses diplomas internacionais, percebe-

se que diversos dispositivos são constantemente violados pelo não fornecimento

de alimentos às pessoas presas.

Em primeiro lugar, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada

pela Organização das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, define que:

13 Adotada e proclamada pela Resolução n. 217ª, da III Assembleia Geral das Nações Unidas de 10 de dezembro de 1948 e assinada pelo Brasil na mesma data. 14 O Brasil aderiu ao Pacto em 24 de janeiro de 1992. 15 Ratificado pelo Brasil em 28 de setembro de 1989. 16 Ratificado pelo Brasil em 12 de janeiro de 2007. 17 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 8ª edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2007. p.50.

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25

Artigo 25°

1.Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e

à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao

vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais

necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na

viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por

circunstâncias independentes da sua vontade.

Dispõe a Convenção Americana sobre Direitos Humanos de 1969 que

“toda pessoa tem direito a que se respeite sua integridade física, psíquica e moral” (art. 5º,

n° 1). Em outras palavras, o respeito à integridade física, psíquica e moral não é nada

mais que manifestação da dignidade da pessoa humana. A mesma Convenção dispõe que

“toda pessoa privada de liberdade deve ser tratada com o respeito devido à dignidade

inerente ao ser humano” (art. 5°, n° 2, segunda parte).

Além disso, é preciso ressaltar que até mesmo a 3ª Convenção de

Genebra Relativa ao Tratamento dos Prisioneiros de Guerra (1949), também

ratificada pelo Brasil, a qual determina que todos os prisioneiros de guerra têm direito a

um tratamento humano, bem como ao respeito da sua pessoa e da sua honra, dispõe a

respeito da alimentação a ser dada aos prisioneiros capturados. Segundo os artigos 26

e 30 da Convenção:

Artigo 26

A ração alimentar diária básica será suficiente, em quantidade, qualidade e

variedade, para manter os prisioneiros de boa saúde e impedir uma perda de

peso ou o desenvolvimento de doenças por carência de alimentação. Ter-se-á

igualmente em conta o regime a que estão habituados os prisioneiros.

A Potência detentora fornecerá aos prisioneiros de guerra que trabalham os

suplementos de alimentação necessários para o desempenho dos trabalhos em que

estão empregados.

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26

Artigo 30

Cada campo possuirá uma enfermaria adequada, onde os prisioneiros de guerra

receberão os cuidados de que possam necessitar, assim como um regime

alimentar apropriado. Em caso de necessidade haverá locais de isolamento

destinados aos doentes atacados de doenças contagiosas ou mentais.

Percebe-se, portanto, que até mesmo aos prisioneiros de guerra, ou seja,

indivíduos capturados em meio a um conflito armado, sejam eles civis ou militares, é

assegurado um tratamento humano e livre de torturas físicas ou psicológicas, além de

terem sido instituídas obrigações sanitárias para com os prisioneiros, garantindo-lhes

condições dignas de higiene e alimentação. Dessa forma, não há como argumentar que se

negue que seja necessário fornecer, no mínimo, o mesmo tratamento aos cidadãos

brasileiros em situação carcerária.

Por fim, as Regras Mínimas das Nações Unidas para Tratamento dos

Reclusos recém aprovada em maio de 2015, dispõe em sua Regra 22, que:

Regra 22

1. Todo preso deve receber da administração prisional, em horários regulares,

alimento com valor nutricional adequado à sua saúde e resistência, de

qualidade, bem preparada e bem servida.

2. Todo preso deve ter acesso a água potável sempre que necessitar.

Ressalte-se, por oportuno, que as “Regras de Mandela”, possuem status

constitucional no Estado de São Paulo, eis que a Constituição Estadual dispõe, no art.

143, que “A legislação penitenciária estadual assegurará o respeito às regras mínimas da

Organização das Nações Unidas para o tratamento de reclusos”.

Não há como negar que o transporte e permanência das pessoas presas

nos fóruns sem acesso ao mais basilar direito garantido pelo ordenamento (direito à

alimentação) agrava intensamente o sofrimento experimentado por tais pessoas. Para

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além de ter efeitos diretos no exercício do direito à defesa efetiva, visto que a falta de

alimentação implica em tontura, mal-estar, perda de memória e desconcentração.

Como se percebe da resolução internacional, a própria separação do

cidadão do mundo exterior já lhe causa sofrimentos tão-só pelo fato de ter sido retirado

o direito à autodeterminação, privando-o da sua liberdade, e além da liberdade, lhe

retirar a humanidade do aprisionamento, configura uma atrocidade sem limite, numa

perfeita autofagia estatal.

A obrigação do demandado de fornecer alimentos às pessoas sob sua

custódia é inquestionável e decorre das regras e princípios acima apontados. Trata-se,

porquanto, de um dever legal de agir. Como se sabe, quando o Estado deixa de agir

quando a lei lhe impõe um dever de ação, gera para os administrados o direito subjetivo

à reparação civil. Por conseguinte, a indenização acaba sendo suportada por toda a

sociedade. Logo, imprescindível imediata solução do problema.

Descabe, em se tratando de direito fundamental à vida e à dignidade – que

se inserem no mínimo existencial – a costumeira alegação da reserva do possível. Vale à

pena leitura do escólio de LEO VAN HOLTHE:

Considerando que os direitos sociais exigem prestações positivas por parte do

Estado (saúde, educação, moradia e etc.) e, portanto, dependentes de gastos

orçamentários, indaga-se: a escassez de recursos materiais seria um limite à

eficácia dos direitos sociais? Em outras palavras, a exigência dos direitos positivos

estaria a depender da existência de orçamento disponível e da mediação do

legislador, a quem incumbe primordialmente a decisão sobre a aplicação dos

recursos públicos?

Ocorre que, segundo a melhor doutrina, a limitação da eficácia dos direitos sociais

pela teoria da reserva do possível possui, por sua vez, um limite claro: a dignidade

da pessoa humana e o direito à vida.

Para Ingo Wolfgang Sarlet, a dignidade da pessoa humana e o direito à vida são os

parâmetros para o reconhecimento de um mínimo existencial que se deve garantir

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aos indivíduos, quando, então, os direitos sociais se transformam em “direitos

subjetivos a prestações positivas, afastando-se, nesses casos, a teoria da reserva do

possível”. (Holthe, Leo Van. Direito Constitucional. Ed. Jus Podium. 3ª Ed. 2007, pág.

352 e 353)

Nesse contexto, transcreve-se trechos da RECOMENDAÇÃO GERAL N° 20

(1992), DO COMITÊ DE DIREITOS HUMANOS DA ONU, referente à proibição de tortura e

outro tratamento ou pena cruel, desumano ou degradante:

(...)

2. A finalidade das disposições do artigo 7º do Pacto Internacional em

Direitos Civis e Políticos é proteger a dignidade e a integridade física e

mental do indivíduo. É dever do Estado-parte ter recursos para proteção de todos

com medidas legislativas e outras necessárias contra os atos proibidos pelo teor do

artigo 7º, se punida por pessoas em atividade oficial, fora de sua atuação pública ou

em atividade privada. A proibição no artigo 7º é complementada pelas exigências

positivas do artigo 10, parágrafo 1, do Pacto, que estipula que “todas as pessoas

privadas de sua liberdade serão tratadas com humanidade e respeito da

dignidade inerente da pessoa humana”.

3. O texto do artigo 7º não permite nenhuma limitação. O Comitê ressalta

também que, mesmo em situações de emergência pública tais como aquelas

previstas no artigo 4º do Pacto, nenhuma derrogação no disposto no artigo

7º será permitida e suas disposições devem permanecer em vigor. O Comitê

observa que do mesmo modo que nenhuma justificativa ou abrandamento

podem ser invocados para desculpar uma violação do artigo 7º por qualquer

razão, inclusive aquelas baseadas em ordem de oficial superior ou de uma

autoridade pública.

(...)

5. A proibição no artigo 7º refere-se não somente aos atos que causam dor

física, mas também aos atos que causam o sofrimento mental à vítima. Na

opinião do Comitê, além disso, a proibição deve se estender à punição corporal,

inclusive o espancamento excessivo determinado como punição para um crime ou

como uma medida pedagógica disciplinar. É apropriado enfatizar nesta

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consideração que o artigo 7º protege, particularmente, crianças, alunos e pacientes

em instituições escolares e médicas.

(...)

A RECOMENDAÇÃO GERAL Nº 21 (1992), DO COMITÊ DE DIREITOS

HUMANOS DA ONU, a respeito do tratamento humano das pessoas privadas da

liberdade, obtempera que:

4. Tratar todas as pessoas privadas de sua liberdade com a humanidade e com

respeito a sua dignidade é um fundamento e uma regra universalmente aplicável.

Conseqüentemente, a aplicação desta regra, como um mínimo, não pode

depender de recursos materiais disponíveis no Estado-parte. Esta regra deve

ser aplicada sem distinção de qualquer forma, tal como raça, cor, sexo, opinião

política ou outra da língua, religião, origem nacional ou social, propriedade,

nascimento ou outro status.

Na mesma linha, o Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais do

Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU, em 1999, expediu o Comentário-Geral

nº 12, traçando considerações acerca do direito humano à alimentação:

(...) 4. O Comitê afirma que o direito à alimentação adequada é indivisivelmente

ligado à dignidade inerente à pessoa humana e é indispensável para a

realização de outros direitos humanos consagrados na Carta de Direitos

Humanos. Ele é também inseparável da justiça social, requerendo a adoção de

políticas econômicas, ambientais e sociais, tanto no âmbito nacional como

internacional, orientadas para a erradicação da pobreza e a realização de todos os

direitos humanos para todos.

(...)

6. O direito à alimentação adequada realiza-se quando cada homem, mulher e

criança, sozinho ou em companhia de outros, tem acesso físico e econômico,

ininterruptamente, à alimentação adequada ou aos meios para sua obtenção. O

direito à alimentação adequada não deverá, portanto, ser interpretado em um

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sentido estrito ou restritivo, que o equaciona em termos de um pacote mínimo de

calorias, proteínas e outros nutrientes específicos.

(...)

8. O Comitê considera que o conteúdo essencial do direito à alimentação adequada

consiste do seguinte:

• A disponibilidade do alimento, em quantidade e qualidade suficiente para

satisfazer as necessidades dietéticas das pessoas, livre de substâncias adversas e

aceitável para uma dada cultura.

• A acessibilidade ao alimento de forma sustentável e que não interfira com a

fruição de outros direitos humanos.

(...)

14. (...) Cada Estado fica obrigado a assegurar que todos que estão sob sua

jurisdição tenham acesso à quantidade mínima, essencial, de alimento, que seja

suficiente, nutricionalmente adequada e segura, para garantir que estejam livres

da fome.

(...)

15. O direito à alimentação adequada, como qualquer outro direito humano,

impõe três tipos ou níveis de obrigações aos Estados parte. As obrigações de

respeitar, proteger e satisfazer o direito. Por seu turno, a obrigação de

satisfazer incorpora tanto uma obrigação de facilitar como uma obrigação de

prover. Originalmente, estes três níveis de obrigações foram propostos da seguinte

forma: respeitar, proteger e assistir/realizar.(vide “ Right to adequate food as a

human right, Study Series No.1, 1989 (United Nations publication, Sales No.E.89.XIV

2).) O nível intermediário, “facilitar”, foi proposto como uma categoria do Comitê,

mas este decidiu manter os três níveis de obrigações. A obrigação de respeitar o

acesso existente à alimentação adequada requer que os Estados Parte não

tomem quaisquer medidas que resultem no bloqueio deste acesso. A obrigação

de proteger requer que medidas sejam tomadas pelo Estado para assegurar que

empresas ou indivíduos não privem outros indivíduos de seu acesso à alimentação

adequada. A obrigação de satisfazer (facilitar) significa que o Estado deve

envolver-se proativamente em atividades destinadas a fortalecer o acesso de

pessoas a recursos e meios, e a utilização dos mesmos, de forma a garantir o seu

modo de vida, inclusive a sua segurança alimentar, e a utilização destes recursos e

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meios por estas pessoas. Finalmente, sempre que um indivíduo ou grupo está

impossibilitado, por razoes além do seu controle, de usufruir o direito à

alimentação adequada com os recursos a sua disposição, os Estados tem a

obrigação de satisfazer (prover) o direito diretamente. Esta obrigação também

deve existir no caso de vítimas de desastres naturais ou provocados por causas

diversas.

(...)

Ademais, é expresso quando ao dever do Judiciário em garantir a

prestação da alimentação adequada:

34. Juízes e outros membros da profissão jurídica são convidados a prestar

muita atenção às violações do direito à alimentação quando no exercício de

suas funções.

Prevê, ainda, que a ausência de alimentação tem sido evidenciada no “uso

do alimento como arma de guerra”, levando-se a crer a presença de uma guerra

civil/estado de exceção em permanência na política adotada pelo estado de São Paulo no

não fornecimento de alimentação às pessoas presas, quando fora das unidades

prisionais.

Assim, verifica-se que, de acordo com as convenções internacionais

ratificadas pelo Brasil, deixar de alimentar as pessoas presas por um período

significativo de tempo resulta em uma clara violação ao direito à saúde e à alimentação

garantido pelos mais diversos diplomas internacionais.

No mesmo sentido dos regramentos internacionais acerca do tema, a Lei

nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre as condições para a promoção,

proteção e recuperação da saúde, determina o que segue:

“Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado

prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.

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§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de

políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros

agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e

igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação”.

“Art. 3º. Os níveis de saúde expressam a organização social e econômica do País,

tendo a saúde como determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação,

a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação,

a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais”.

Conforme prescrito pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar e

Nutricional (Consea), órgão de assessoramento imediato à Presidência da República, o

Direito Humano à Alimentação Adequada possui duas dimensões: o direito de estar livre

da fome e o direito à alimentação saudável. A realização destas duas dimensões é de

crucial importância para a fruição de todos os direitos humanos. Os principais conceitos

empregados na definição do Direito Humano à Alimentação Adequada são

disponibilidade de alimentos, adequação, acessibilidade e estabilidade do acesso a

alimentos produzidos e consumidos de forma soberana, sustentável, digna e

emancipatória.

Para que o direito à alimentação seja concretizado é necessária, ainda

segundo o Consea, a adoção de ações afirmativas e políticas pelo Poder Público, dado

que a garantia do Direito Humano à Alimentação Adequada é uma obrigação do Estado,

que deve assegurar que seus órgãos ou representantes não violem ou impeçam o gozo

efetivo do Direito Humano à Alimentação Adequada. Ou seja, o Estado não pode adotar

quaisquer medidas que possam resultar na privação da capacidade de indivíduos ou

grupos de prover sua própria alimentação, tendo a obrigação de fornecer alimentos

diretamente aos indivíduos ou grupos incapazes de obtê-los por conta própria.

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O Ministério da Saúde, por meio da Política Nacional de Alimentação e

Nutrição (PNAN), prega que a alimentação se constitui em requisito básico para a

promoção e a proteção da saúde, possibilitando a afirmação plena do potencial de

desenvolvimento humano, com qualidade de vida e cidadania.

Percebe-se, portanto, que a não oferta de alimentos para as pessoas presas

que aguardam audiências configura-se como grave violação ao Direito Humano à

Alimentação, além de contrariar as orientações do Conselho Nacional de Segurança

Alimentar e Nutricional e caracterizar uma grave omissão estatal no que diz respeito à

obrigação de providenciar alimentos àqueles que dependem do próprio Poder Público

para sua alimentação.

Baseando-se nas orientações do Consea, o Conselho Nacional de Política

Criminal e Penitenciária editou a Resolução nº 3, de 5 de outubro de 2017, que regula a

prestação de serviços de alimentação e nutrição às pessoas privadas de liberdade e aos

trabalhadores no sistema prisional. De acordo com o artigo 3º da Resolução:

Art. 3º - As refeições oferecidas deverão ser planejadas para cobrir, 100% das

necessidades nutricionais diárias dos indivíduos e grupos atendidos.

§ 1º Considerando o Guia Alimentar para a população brasileira, as refeições

deverão ser feitas em horários regulares, preferencialmente em companhia. Às

pessoas privadas de liberdade, deverão ser ofertadas, minimamente, cinco

refeições diárias: o desjejum, o almoço, o lanche, o jantar e a ceia. Os cardápios

devem ser calculados com base nas recomendações (e alterações posteriores) da

Organização Mundial da Saúde – OMS [...].

Conclui-se, portanto, que, para que seja cumprida a Resolução supracitada,

é necessário que as pessoas presas, seja dentro das penitenciárias ou em eventuais idas

aos fóruns, tenham acesso a pelo menos cinco refeições em um período de 24 horas,

consumindo os nutrientes e calorias vitais para sua saúde, de acordo com a seguinte

tabela nutricional:

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Dessa forma, não restam dúvidas de que a falta de alimentos para as

pessoas presas ao longo do dia, que aguardam realização de audiência, configura uma

violação flagrante ao ordenamento jurídico brasileiro, de modo que o Poder Judiciário

deve reconhecer a obrigação estatal de garantir o direito à saúde e a integridade física e

mental das pessoas presas por meio da alimentação.

Nesse sentido, em 9 de setembro de 2010, a Defensoria Pública do Estado

de São Paulo interpôs Ação Civil Pública, com pedido de liminar, em face da Fazenda do

Estado para obrigar o Poder Público a fornecer alimentação adequada aos presos que

aguardavam a realização de audiência no Fórum de Suzano, dado que os mesmos

permaneciam o dia todo sem se alimentar.

O juízo da 3ª Vara Cível da comarca de Suzano/SP, ao julgar a ação

0016637-08.2010.8.26.0606, julgou procedente a ação para condenar o estado de São

Paulo na obrigação de fazer, consistente na implementação de rotina adequada e

eficiente para o fornecimento de alimentação às pessoas presas que aguardam audiência

no Fórum de Suzano/SP, argumentando-se, como não poderia deixar de ser, que

“havendo obrigação legal e constitucional do Estado, de fornecer alimentação aos presos,

garantindo ao indivíduo seus direitos imanentes, somente se exonera desta obrigação com

o seu devido cumprimento em face da sociedade” (decisão anexa).

Após apelo da Fazenda do Estado perante o Tribunal de Justiça do Estado

de São Paulo, a 5ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça negou provimento ao

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pleito da apelante, mantendo-se a decisão proferida pelo juízo de primeira instância,

endossando-se que “no Estado Democrático de Direito, o Poder Judiciário deve estar

alinhado com os próprios objetivos do Estado, de forma que, a princípio, as políticas ou

omissões que possam comprometer o ideal de construção de uma sociedade livre, justa e

solidária, preconizado pela Constituição, são passíveis de correção judicial” (acórdão

anexo).

No mesmo sentido, a Defensoria Pública do estado do Espírito Santo, em

30 de abril de 2014, ajuizou Ação Civil Pública requerendo fosse determinado ao estado

do Espírito Santo a obrigação de fornecer alimentação a todos os reclusos no Complexo

Penitenciário de Viana, que são transportados para qualquer ato judicial.

Na esteira do quanto ocorreu na comarca de Suzano/SP, o Juízo Cível da

comarca de Viana/ES julgou procedente o pedido, fundamentando que “o Estado possui o

dever jurídico de fornecer ‘alimentação suficiente’ a todos os presos independentemente do

fato de se encontrarem dentro ou fora do estabelecimento prisional em que se encontrem

reclusos. Por óbvio, ao se deslocarem para fora deste local, deverão receber alguma

alimentação que seja suficiente para seu suprimento pelo tempo suficiente ou estimado

para a prática dos atos para os quais forem convocados por determinação judicial. Porém,

este dever não estava sendo cumprido” (decisão anexa).

A obrigação do Estado em fornecer alimentação regularmente e de

qualidade não se limita as unidades prisionais, mas também inclui as delegacias de

polícia, conforme entendimento o Tribunal de Justiça da Bahia na Apelação Civil no.

0000232-43.2011.8.05.0056. O Acórdão julgado pela 2ª Câmara Cível manteve decisão

de primeiro grau em ação civil pública movida pelo Ministério Público, por entender que

“Todos aqueles que se encontram privados de sua liberdade, em cumprimento a

decisões judiciais, fazem jus ao mínimo necessário à preservação da dignidade da

pessoa humana, conceito no qual se inclui a alimentação regular e de qualidade, sob

pena de frustração da finalidade precípua da pena, qual seja, readaptar o indivíduo ao

convívio em sociedade” (decisão anexa).

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Percebe-se, assim, a consolidação de uma jurisprudência interna nacional

nos moldes do quanto pleiteado na presente ação, dando-se, ainda, mais amparo ao

julgamento procedente da ação.

No sistema internacional de proteção dos direitos humanos, devido ao

princípio da posição de garante do Estado, a obrigatoriedade de fornecimento de

alimentação para pessoas custodiadas pelo Estado deve ser ampla, abarcando, claro,

pessoas em trânsito para audiências.

O descumprimento de parâmetros normativos de tratamento das pessoas

privadas de liberdade levou a Corte Interamericana De Direitos Humanos a

responsabilizar reiteradamente o Estado brasileiro por violações do direito à

integridade física, a exemplo do “Supercaso” que reuniu quatro medidas provisórias

(Complexo Penitenciário de Pedrinhas, Complexo Penitenciário de Curado, Instituto

Penal Plácido de Sá Carvalho e Unidade de Internação Socioeducativa) por conta do

diagnóstico “de um problema estrutural de âmbito nacional do sistema penitenciário”.

Nas medidas provisórias a respeito do Brasil, o não fornecimento de

alimentação de boa qualidade e valor nutritivo suficiente - associado a um cenário de

ausência de condições dignas no ambiente carcerário - foi considerado uma violação do

direito à integridade pessoal e fundamento para concessão de medida provisória e

recomendações de ações positivas do Estado, conforme trechos extraídos a seguir:

Este Tribunal já se manifestou antes a respeito da necessidade de adoção das

medidas necessárias para que as condições carcerárias se adéquem às

normas internacionais de direitos humanos. Entre outros aspectos, esta Corte

afirmou que situações de superlotação e superpopulação, falta de assistência

médica, condições sanitárias e de higiene deficientes, e falta de alimentação

podem chegar a representar violação à integridade pessoal (CtIDH, Assunto do

Complexo Penitenciário de Pedrinhas, 14 março de 2018, §26)

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“As pessoas privadas de liberdade são alimentadas com a comida que é lançada de

fora por cima dos muros da Penitenciária duas vezes ao dia (...) 2.Requerer ao

Estado que, ao recuperar o controle, conforme o ponto resolutivo anterior, adote de

forma imediata as seguintes medidas: a) permitir o acesso ao pessoal médico para

que brinde a atenção necessária e se reacomode, quando seja procedente, as

pessoas que padecem de doenças infecto-contagiosas para oferecer-lhes o

atendimento médico adequado e, se for o caso, evitar o contágio entre os reclusos, e

b) brindar aos internos em quantidade e qualidade suficientes, alimentos,

vestimentas e produtos de higiene¨ (CtIDH. Caso das pessoas Privadas de

Liberdade na Penitenciária Dr. Sebastião Martins Silveira em Araraquara, 28

de julho de 2006, § 2 e Ponto Resolutivo 2).

“A modo de informação, a Comissão destacou a falta de alimentação adequada,

(...)Como a Corte já afirmou em outras ocasiões, o Estado tem o dever de adotar as

medidas necessárias para proteger e garantir o direito à vida e à integridade

pessoal das pessoas privadas de liberdade e de se abster, sob qualquer

circunstância, de atuar de maneira que violem estes direitos. Neste sentido, as

obrigações que o Estado deve inevitavelmente assumir em sua posição de garante

incluem a adoção das medidas que possam favorecer (...) as condições de detenção

mínimas compatíveis com sua dignidade”. (CtIDH. Assunto do Instituto Penal

Plácido de Sá Carvalho, 13 de fevereiro de 2017, §5 e 14).

Nos casos contenciosos, desde Vélez Loor vs Panamá de 2001, a Corte

Interamericana enfatiza em sua jurisprudência acerca das condições de encarceramento,

a responsabilidade estatal de garantir os direitos fundamentais das pessoas que estejam

sob sua custódia, em especial o direito à alimentação adequada:

Al hacer referencia a la cuestión de las condiciones de detención, la Corte

Interamericana también ha evaluado otros instrumentos internacionales, así como

la jurisprudencia de otras instituciones de protección de derechos humanos.

Recientemente la Corte ha declarado que frente a las personas privadas de

libertad, el Estado se encuentra en una posición especial de garante, toda vez

que las autoridades penitenciarias ejercen un control o dominio total sobre

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las personas que se encuentran sujetas a su custodia. En este particular

contexto de subordinación del detenido frente al Estado, este último tiene una

responsabilidad especial de asegurar a aquellas personas bajo su control las

condiciones que les permitan retener un grado de dignidad consistente con sus

derechos humanos inherentes e inderogables. (nota al pie n. 39: Cfr. Caso Lori

Berenson Mejía, supra nota 10, párr.. 102; Caso Tibi, supra nota 16, párr.. 150; y

Caso ‘Instituto de Reeducación del Menor’, supra nota 37, párr.. 153). (CtIDH.Caso

Caesar vs. Trinidad y Tobago. Série C, no. 123, Mérito, Reparações e Custas, de

11 de Maço de 2005, §97).

“Este Tribunal ha incorporado en su jurisprudencia los principales estándares sobre

condiciones carcelarias y deber de prevención que el Estado debe garantizar en

favor de las personas privadas de libertad. En particular, como ha sido establecido

por esta Corte: (…)d) la alimentación que se brinde, en los centros penitenciarios,

debe ser de buena calidad y debe aportar un valor nutritivo suficiente¨ (CtIDH. Caso

Pacheco Terufel e outros vs. Honduras, Série C, no. 241, Mérito, Reparações e Custas,

27 de abril de 2012, §67).

Alinhavando-se ao que fora amplamente trazido no presente tópico, o

Laboratório de Gestão de Políticas Penais – LabGEPEN, do Departamento de Gestão de

Políticas Públicas da Universidade de Brasília, elaborou Nota Técnica, em 16 de abril de

2018, sobre a prestação de serviço de nutrição e alimentação para as pessoas presas que

se encontram em trânsito no Estado de São Paulo.

Em tal nota, que segue anexa, entre algumas providências que se

aconselha ao estado de São Paulo, consta a necessidade de que

“o estado de São Paulo assegure o acesso à alimentação e água em condições

adequadas para as pessoas presas que se encontram em trânsito, respeitando

as necessidades nutricionais nos diferentes ciclos de vida, os aspectos religiosos e

culturais, as restrições alimentares por questões de saúde ou eventual ingestão de

medicação, e também as peculiaridades da criança quando acompanhado de sua

genitora”.

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Nestes termos, observa-se que há farta legislação, em diversas esferas,

que dá substrato ao quanto aqui pleiteado, além de decisões, sempre favoráveis, quando tal

tema fora levado ao Judiciário, diante da omissão do Executivo, como novamente se

percebe no presente caso.

Deste modo, é necessária a correção pela via judicial das violações de direito

que vêm ocorrendo no estado de São Paulo, diante da manifesta ausência de fornecimento

de alimentação às pessoas presas em trânsito nos momentos em que aguardam a

realização de audiências judiciais.

4. DO DANO MORAL COLETIVO E INDIVIDUAL

O dano moral coletivo está há tempos previsto expressamente em nosso

ordenamento jurídico. A Lei nº 8.078 – Código de Defesa do Consumidor – prevê desde

1990:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,

coletivos e difusos;

VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou

reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos,

assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;

Em 1994, a Lei nº 8.884 alterou o caput do artigo 1º da Lei de Ação Civil Pública –

Lei nº 7.347/85 – para prever expressamente a possibilidade de ação coletiva por danos morais:

Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações

de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:

Ensinam Hugo Nigro Mazzilli e Xisto Tiago de Medeiros Neto,

respectivamente:

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40

“Originariamente, o objeto da LACP consistia na disciplina da ação civil pública de

responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor e a bens e

direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. Mas, como já

anotamos a legislação subseqüente ampliou gradativamente o objeto da ação civil

pública.

Diante, porém, das inevitáveis discussões doutrinárias e jurisprudenciais sobre a

ação civil pública da Lei n. 7.347/85 também alcançaria ou não os danos morais, o

legislador resolveu explicitar a mens legis. A Lei n. 8.884/94 introduziu uma

alteração na LACP, segundo a qual passou a ficar expresso que a ação civil pública

objetiva a responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados a quaisquer

dos valores transindividuais de que cuida a lei"18

“A ampliação dos danos passíveis de ressarcimento reflete-se destacadamente na

abrangência da obrigação de reparar quaisquer lesões de índole extrapatrimonial,

em especial as de natureza coletiva, aspecto que corresponde ao anseio justo,

legítimo e necessário apresentado pela sociedade de nossos dias. Atualmente,

tornaram-se necessárias e significativas para a ordem e a harmonia social a reação

e a resposta do Direito em face de situações em que determinadas condutas vêm a

configurar lesão a interesses juridicamente protegidos, de caráter extrapatrimonial,

titularizados por uma determinada coletividade. Ou seja, adquiriu expressivo relevo

jurídico, no âmbito da responsabilidade civil, a reparação do dano moral coletivo (em

sentido lato)”19.

Ora, a partir de uma perspectiva progressista e socializante dos danos

morais, com o alargamento de seu conceito para amoldá-lo às situações massificadas em

que a sociedade se insere nos dias atuais, cabível, no presente caso, diante do extenso rol

de violações aos direitos das pessoas presas, a condenação da Fazenda Pública do Estado

de São Paulo à obrigação de reparar o dano moral causado à coletividade.

No presente caso, é possível verificar que privar as pessoas presas de se

alimentarem pode resultar em um estresse desnecessário ao corpo.

18 MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos Interesses Difusos em Juízo. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 131/132.

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41

Segundo Lilian Sant’Anna, coordenadora de nutrição clínica do HCor –

Hospital do Coração, ao permanecer em jejum as reservas de glicose do organismo vão se

esgotando e outras fontes de energia, como proteínas e gordura, passam a ser utilizadas

para que o organismo se mantenha vivo. Quanto mais longo for o jejum, mais gordura e

proteínas vão sendo consumidas. " A ausência de nutrientes, a longo prazo, pode acarretar

alterações importantes ao organismo, como queda ou enfraquecimento do cabelo,

constipação intestinal, osteoporose, anemia, desidratação, atividade mental comprometida,

dificuldade de concentração, ansiedade e irritação"20.

O risco de dano à saúde a que são submetidos os presos demonstra o

descaso do Estado quanto ao bem estar de toda a população carcerária e possibilita o

pedido de danos morais.

De fato, prevalece na doutrina que, quanto ao dano moral, há uma

prevalência das funções pedagógica, preventiva e punitiva, sobre a função compensatória.

Da mesma forma, prevalece, na jurisprudência, o caráter sancionador e educativo do dano

moral:

“O objetivo da lei, ao permitir expressamente a imposição de sanção pecuniária pelo

Judiciário, a ser revertida a fundos nacional e estadual, foi basicamente o de reprimir

a conduta daquele que ofende direitos coletivos e difusos. Como resultado necessário

dessa atividade repressiva jurisdicional, surgem os efeitos – a função do instituto –

almejados pela lei: prevenir a ofensa a direitos transindividuais, considerando seu

caráter extrapatrimonial e inerente relevância social.

Assim, em tese, qualquer ofensa a direitos coletivos ou difusos, além da reparação

por dano material, enseja a condenação, com exclusivo propósito punitivo, por dano

moral coletivo (rectius: dano extrapatrimonial)”21.

19 MEDEIROS NETO, Xisto Tiago de. Dano Moral Coletivo. São Paulo: LTr, 2004, p. 134. 20 http://www.hcor.com.br/imprensa/noticias/nutricionista-do-hcor-explica-riscos-da-dieta-do-jejum-intermitente/ 21 BESSA, Leonardo Roscoe. Dano Moral Coletivo. Revista da Direito e Liberdade. Mossoró, v7, nº 3, jul/dez 2007, p. 271. Disponível em

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42

No que diz respeito à função da condenação, sustenta ser necessária a utilização “da

técnica do valor de desestímulo, a fim de que se evitem novas violações aos valores

coletivos, a exemplo do que se dá em tema de dano moral individual; em outras

palavras, o montante da condenação deve ter dupla função: compensatória para a

coletividade e punitiva para o ofensor; para tanto, há que se obedecer, na fixação do

quantum debeatur, a determinados critérios de razoabilidade elencados pela doutrina

(para o dano moral individual, mas perfeitamente aplicáveis ao coletivo), como, v.g.,

a gravidade da lesão, a situação econômica do agente e as circunstâncias do fato”22.

Assim, o dano moral coletivo é uma lesão direcionada a bens indivisíveis,

atingindo, portanto, os direitos coletivos, em sentido estrito, e os direitos difusos, esses

últimos cuja defesa se busca pela presente ação.

A jurisprudência amplamente majoritária também é no sentido de que é

possível a indenização do dano moral coletivo. É neste sentido que tende a se pacificar,

conforme julgados transcritos abaixo:

AMBIENTAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.

PROTEÇÃO E PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE. COMPLEXO PARQUE DO SABIÁ.

OFENSA AO ART. 535, II, DO CPC NÃO CONFIGURADA. CUMULAÇÃO DE

OBRIGAÇÕES DE FAZER COM INDENIZAÇÃO PECUNIÁRIA. ART. 3º DA LEI

7.347/1985. POSSIBILIDADE. DANOS MORAIS COLETIVOS. CABIMENTO.

1. Não ocorre ofensa ao art. 535 do CPC, se o Tribunal de origem decide,

fundamentadamente, as questões essenciais ao julgamento da lide.

2. Segundo a jurisprudência do STJ, a logicidade hermenêutica do art. 3º da Lei

7.347/1985 permite a cumulação das condenações em obrigações de fazer ou não

fazer e indenização pecuniária em sede de ação civil pública, a fim de possibilitar a

concreta e cabal reparação do dano ambiental pretérito, já consumado.

Microssistema de tutela coletiva.

<http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&ved=0CCoQFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww.esmarn.tjrn.jus.br%2Frevistas%2Findex.php%2Frevista_direito_e_liberdade%2Farticle%2Fdownload%2F86%2F77&ei=

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43

3. O dano ao meio ambiente, por ser bem público, gera repercussão geral, impondo

conscientização coletiva à sua reparação, a fim de resguardar o direito das futuras

gerações a um meio ambiente ecologicamente equilibrado.

4. O dano moral coletivo ambiental atinge direitos de personalidade do grupo

massificado, sendo desnecessária a demonstração de que a coletividade sinta a dor, a

repulsa, a indignação, tal qual fosse um indivíduo isolado.

5. Recurso especial provido, para reconhecer, em tese, a possibilidade de cumulação

de indenização pecuniária com as obrigações de fazer, bem como a condenação em

danos morais coletivos, com a devolução dos autos ao Tribunal de origem para que

verifique se, no caso, há dano indenizável e fixação do eventual quantum debeatur23.

ADMINISTRATIVO. PROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. REBELIÃO EM CENTRO

DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO. EXISTÊNCIA DE INTERESSES DIFUSOS OU

COLETIVOS RELATIVOS A ADOLESCENTES. MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE.

INTELIGÊNCIA DO ART. 201 DO ECA. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO.

EXISTÊNCIA DE DANOS MORAIS DIFUSOS. REVISÃO DO QUANTUM

INDENIZATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

OPOSTOS NA ORIGEM COM CARÁTER PROTELATÓRIO. MULTA DO ART. 538,

PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC. CABIMENTO. DECISÃO MANTIDA.

1. O Tribunal de origem, a partir dos elementos de convicção dos autos, condenou a

recorrente ao pagamento de indenização por danos morais difusos ao Fundo

Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, por tratamento desumano e

vexatório aos internos durante rebeliões havidas na unidade. Insuscetível de revisão

o referido entendimento, por demandar reexame do conjunto fático-probatório dos

autos, providência vedada pela Súmula 7/STJ.

2. O Ministério Público é parte legítima para "promover o inquérito civil e a ação

civil pública para a proteção dos interesses individuais, difusos ou coletivos relativos

à infância e à adolescência" , nos termos do art. 201 do Estatuto da Criança e do

Adolescente.

3. A revisão do quantum indenizatório fixado a título de danos morais encontra óbice

na Súmula 7/STJ, somente sendo admitida ante o arbitramento de valor irrisório ou

abusivo, circunstância que não se configura na hipótese dos autos.

22 Op. cit. p. 59

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44

4. Confirmado o intuito protelatório dos embargos de declaração opostos para

rediscutir matéria devidamente analisada pelas instâncias ordinárias, deve ser

mantida a aplicação da multa prevista no art. 538, parágrafo único, do Código de

Processo Civil. Agravo regimental improvido24.

Há dezenas de outros acórdãos da Corte Cidadã neste sentido25,

demonstrando que a existência do dano moral coletivo vem se pacificando.

Também, não há dúvidas de que a responsabilidade civil objetiva do

Estado, prevista na Carta da República, aplica-se também no caso de dano moral

coletivo, até porque não há qualquer regra em nosso ordenamento jurídico trazendo tal

limitação26. A responsabilidade do réu, portanto, independe da comprovação de sua

culpa ou dolo.

Sendo assim, a condenação é de rigor, eis que todos os requisitos

necessários para que restasse caracterizada a responsabilidade objetiva do Estado estão

presentes. A responsabilidade estatal por danos individuais tem como requisitos i)

consumação do dano; ii) ação praticada – ou omissão ocasionada – por agente estatal;

iii) vínculo causal entre o evento danoso e o comportamento estatal e iv) ausência de

qualquer causa excludente de que pudesse eventualmente decorrer a exoneração da

responsabilidade do Estado.

Quando falamos de danos coletivos, mantêm-se os requisitos, com

algumas adaptações:

“Em suma, pode-se elencar como pressupostos necessários à configuração do dano

moral coletivo, de maneira a ensejar a sua respectiva reparação, (1) a conduta

23 RESP 1.269.494/MG. 2ª Turma. Rel. Min. Eliana Calmon. Julg. 24/09/2013. 24 AgRg no RESP 1.368.769/SP. 2ª Turma. Rel. Min. Humberto Martins. Julg. 06/08/2013. 25 Por exemplo: RESP 1.291.213/SC. 3ª Turma. Rel. Min. Sidnei Beneti. Julg. 30/08/2012; RESP 1.198.727/MG. 2ª Turma. Rel. Min. Herman Benjamin. Julg. 14/08/2012; RESP 1.221.756/RJ. 3ª Turma. Rel. Min. Massami Uyeda. Julg. 02/02/2012. 26 Nesse sentido: MEDEIROS NETO, Xisto Tiago de. Dano Moral Coletivo. São Paulo: LTr, 2004, p. 134.

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45

antijurídica (ação ou omissão) do agente, pessoa física ou jurídica; (2) a ofensa a

interesses jurídicos fundamentais, de natureza extrapatrimonial, titularizados por

uma determinada coletividade (comunidade, grupo, categoria ou classe de

pessoas); (3) a intolerabilidade da ilicitude, diante da realidade apreendida e da

sua repercussão social; (4) o nexo causal observado entre a conduta e o dano

correspondente à violação do interesse coletivo (lato sensu)”27.

Veja-se que não é qualquer violação a interesses coletivos que enseja a

responsabilização por dano moral coletivo. Por óbvio que não. Necessário que o fato

transgressor seja de razoável significância e desborde os “limites da tolerabilidade. Ele

deve ser grave o suficiente para produzir verdadeiros sofrimentos, intranquilidade social e

alterações relevantes na ordem extrapatrimonial coletiva”28.

Todos os requisitos, portanto, estão presentes, pois sabe-se que flagrante,

no caso, a natureza coletiva.

Note-se que estamos falando de todas as pessoas que foram presas no

estado de São Paulo, unidade federativa que possui 1/3 da população carcerária do país,

alcançando um total de 240.061, conforme dados do INFOPEN de 201729. Esse número

contando-se apenas a atual população carcerária, não se contabilizando todas aquelas

que ficaram presas e não mais estão inseridas no sistema penitenciário.

Quanto à conduta ilícita, é certo que estará ela caracterizada em todas as

oportunidades em que os agentes estatais não tenham oferecido alimentação às pessoas

presas nas ocasiões de trânsito para audiências, como amplamente trazido nos anexos,

sabendo-se, ademais, da farta legislação que ampara esse dever estatal, que restou

violado.

27 Idem, ibidem, p. 136. 28 STJ. RESP 1.221.756. 3ª Turma. Rel. Min. Massami Uyeda. Julg. 02/02/2012 Assim como: STJ. RESP 1.291.213. 3ª Turma. Rel. Min. Sidnei Beneti. Julg. 30/08/2012 e muitos outros. 29 https://www.conjur.com.br/dl/infopen-levantamento.pdf

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46

Com suas condutas, acima descritas, o Estado provocou em milhares de

cidadãos danos irreversíveis. Além de terem suportado fome, situação essa de extrema

violência física e psíquica, que consubstancia-se aí já um grave dano, temos que toda

esta violência acaba ocasionando a frustração de direitos constitucionais dos cidadãos –

por exemplo, da ampla defesa e do contraditório, como, inclusive, restou provado em

algumas ocasiões, nas quais as pessoas presas não conseguiam se manifestar nas

audiências em virtude da falta de alimentação.

O nexo causal dispensa maiores comentário, haja vista que os danos

causados à saúde da população carcerária, que restou sem alimentação, passando fome,

nos percursos de saída e retorno ao sistema penitenciário e delegacias, além do período

em que aguardavam a realização de audiências, foram praticados pela omissão estatal

ao não fornecer alimentação adequada a essa população, interferindo na saúde,

integridade física e mental.

Uma vez que os requisitos para a concessão de danos morais individuais

estão abarcados naqueles concernentes aos danos morais coletivos, não há dúvida da

necessidade de concessão daquela modalidade às pessoas que restaram privadas do

direito à alimentação por negligência estatal no fornecimento durante o trânsito e

enquanto aguardavam atos judiciais.

Nesses termos, imperiosa a condenação do Estado de São Paulo, por danos

morais, por todas as violações já expostas.

5. DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

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Av. Liberdade, nº 32 – 7º andar – Centro – São Paulo – SP CEP: 01502-000 Tel.: 3242.5274/3105.5799 r.282.

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Os fatos aqui narrados são incontroversos e notórios, o que, nos termos da

legislação processual civil, dispensaria o ônus de prová-los30. Ora, o próprio estado de

São Paulo, ao ser oficiado, confirmou a ausência de prestação alimentar para pessoas em

“trânsito” para audiências judiciais. Por outro lado, existem procedimentos

administrativos em face de juízes noticiados pela mídia, como acima demonstrado, o

que, por óbvio, demonstra como é violado o direito à alimentação de pessoas presas nos

fóruns do estado de São Paulo.

De outra sorte, parece-nos, então, ainda mais coerente destacar a

necessidade de inversão do ônus probatório no presente caso.

A hipossuficiência, como já consolidado, não envolve apenas o aspecto

econômico, podendo apresentar-se em diversas vertentes: técnica, jurídica, econômica,

financeira etc., todas a autorizar a adoção pelo Judiciário de mecanismos que permitam

o restabelecimento de uma relação processual equilibrada, com vistas à realização da

promessa constitucional de acesso a uma ordem jurídica justa, tida e havida como

Direito Humano Fundamental.

Isso porque, presente uma situação de efetiva desigualdade, que

determine a impossibilidade ou grave dificuldade de produção de probatória, é de se

reconhecer a vulnerabilidade de uma das partes, oportunizando a efetiva inversão do

ônus da prova, mesmo que não se trate de causas de consumo stricto sensu.

O tema ganha outros contornos, com a importante contribuição do

professor Didier31, para quem “(...) A inversão do ônus da prova é técnica que prestigia o

princípio da igualdade, e não pode ter sua utilização restrita às causas de consumo”.

30 Art. 374, do Código de Processo Civil - Não dependem de prova os fatos: I - notórios; II - afirmados por uma parte e confessados pela parte contrária; III - admitidos no processo como incontroversos; IV - em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade.

31 Fredie Didier Jr. et Al. Curso de Direito Processual Civil. 2.ed. Salvador: Podivm, 2007. p. 62.

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Com efeito, a melhor doutrina vem repelindo a concepção estática da

distribuição do ônus da prova, sustentando, com grande coerência e razão, que o ônus

da prova, seja sob o prisma de regra de instrução, seja na ótica de regra de julgamento,

deve recair sempre no sujeito processual que reúna as melhores condições de produzi-

la.

Trata-se da teoria da distribuição dinâmica das provas, segundo a qual a

prova incumbe a quem tem melhores condições de produzi-la, à luz das circunstâncias do

caso concreto.

Neste sentido, inclusive, o legislador, através da reforma do Código de

Processo Civil, permitiu ao julgador a distribuição do ônus da prova (Art. 373, § 1o Nos

casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à

impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput

ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o

ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em

que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído),

considerando-se as peculiaridades do caso concreto, tendo como por objetivo o

equilíbrio das partes (artigo 7º, CPC).

Note-se que, à luz do caso concreto, muito mais coerente o estado de São

Paulo provar que fornece alimentação para pessoas presas quando em trânsito para

audiências que qualquer um dos autores provar o inverso em relação a todas as

audiências que ocorrem diariamente neste Estado, ainda que se tenha conseguido

provas da ausência de alimentação por parte do estado.

Nestes termos, DIDIER:

Também é possível a redistribuição judicial do ônus da prova quando, à luz do caso

concreto, revelar-se que a obtenção da prova do fato contrário pode ser mais

facilmente obtida por uma parte em relação a outra. Neste caso, a redistribuição do

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ônus da prova feita pelo juiz visa à concretização da ideia de que o ônus deve recair

sobre aquele que, no caso concreto, possa mais facilmente dele se desincumbir32.

Neste sentido a jurisprudência paulista:

PROVA. PRODUÇÃO. TEORIA DAS CARGAS PROBATÓRIAS DINÂMICAS. INVERSÃO

DO ÔNUS DA PROVA. POSSIBILIDADE. Aplica-se a teoria das cargas probatórias

dinâmicas, quando no caso concreto, o réu reúne melhores condições de se

desincumbir o encargo probatório. Além do mais, afigura-se possível a inversão

do ônus da prova, com base na legislação consumerista. Recurso não provido.

(TJ-SP 21281480520178260000 SP 2128148-05.2017.8.26.0000, Relator: Melo

Colombi, Data de Julgamento: 11/08/2017, 14ª Câmara de Direito Privado, Data de

Publicação: 11/08/2017).

Dessa forma, requer-se seja distribuído o ônus da prova à requerida, tendo

em vista as melhores condições que possui para esclarecer a demanda, notadamente o

fornecimento de alimentação adequada às pessoas presas, quando em trânsito para

audiências judiciais.

6. DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

A Constituição Federal de 1988 é terreno fértil à tutela de urgência, na

medida em que garante o acesso à justiça, a tutela jurisdicional adequada (art. 5º, inciso

XXXV), bem como a duração razoável do processo (art. 5º, inciso LXXVIII); tudo a

possibilitar a plena eficácia do direito no plano processual.

Acrescentamos com Nery e Nery33 que “não é suficiente o direito à tutela

jurisdicional. É preciso que essa tutela seja adequada, sem o que estaria vazio o princípio.

32 DIDIER JR. Fredie. Curso de direito processual civil: teoria da prova, direito probatório, ações probatórias, decisão, precedente, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. 12. ed.: Salvador: JusPodivm, 2016, p. 144-145.

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Quando a tutela adequada para o jurisdicionado for medida urgente, o juiz, preenchidos os

requisitos legais, tem de concedê-la, independentemente de haver lei autorizando, ou,

ainda, que haja lei proibindo a tutela urgente”.

Na mesma linha de raciocínio, concluem os referidos doutrinadores que

“isto ocorre casuisticamente no direito brasileiro, com a edição de medidas provisórias ou

mesmo de leis que restringem ou proíbem a concessão de liminares, o mais das vezes

contra o poder público. Essas normas têm de ser interpretadas conforme a Constituição. Se

forem instrumentos impedientes de o jurisdicionado obter a tutela jurisdicional adequada,

estarão em desconformidade com a Constituição e o juiz deverá ignorá-las, concedendo a

liminar independentemente de a norma legal proibir essa concessão”.

A respeito das hipóteses da tutela de urgência no rito da ação civil pública,

ensina Rodolfo Camargo Mancuso34, “conjugando-se os arts. 4º e 12 da Lei 7.347/85, tem-

se que a tutela de urgência há de ser obtida através de liminar que, tanto pode ser

pleiteada na ação cautelar (antecedente ou incidente, isto é interposta antes ou no curso

da ação civil pública) ou no bojo da própria ação civil pública”.

Os requisitos para a concessão do mandado liminar são insofismáveis no

presente caso, sob pena de, diuturnamente, a cada nova prisão e “trânsito” para

audiências judiciais, a democracia ver-se esvaziada e cidadãos serem lesionados em sua

saúde e integridade de maneira grave, já que tratados de forma cruel, ainda mais cruel

que em guerras.

A plausibilidade do direito invocado, o fumus boni iuris, evidencia-se a

partir da constatação de que todos os pedidos a serem formulados estão

consubstanciados na normativa interna e ordem vigente, seja normativa constitucional,

lei federal, normas infralegais, além de retratarem, a rigor, orientações do Direito

33 Nery Jr., Nelson e Rosa Maria de Andrade Nery. Código de Processo Civil Comentado. 10ª ed. Ed. RT. pág.1.115. 34 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Op. Cit., pág. 201.

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Internacional dos Direitos Humanos, vale dizer, standards, padrões mínimos de

civilidade já aceitos, sedimentados em Convenções, e aplicados por Cortes

Internacionais de Direitos Humanos e Organismos Internacionais.

Ao longo de toda a exposição ficou claro que as alegações apresentadas

estão fincadas em precedentes jurisprudenciais nacionais e da Corte Interamericana de

Direitos Humanos, além de relatórios conclusivos da Organização das Nações Unidas.

Ademais, trata-se de fato incontroverso, uma vez que o próprio estado de

São Paulo, ao ser oficiado não negou a ausência de prestação alimentar para pessoas em

trânsito para audiências judiciais.

No que diz respeito ao periculum in mora, Luiz Guilherme Marinoni35

leciona: “basta que se demonstre a probabilidade da manutenção da situação

ilícita para que esteja preenchido o pressuposto do periculum in mora. Se o direito

é provável, ou melhor, se o ilícito é provável, e há também probabilidade de o

ilícito prosseguir, não há por que obrigar o autor a esperar o tempo necessário à

prolação da sentença para que o ilícito seja removido”.

Tamanha a evidência da ilegalidade que já está presente a possibilidade

da tutela antecipada.

Ademais, note-se que milhares de audiências de custódia e de instrução,

debates e julgamento ocorrem diariamente no estado de São Paulo e, em caso de não

concessão da antecipação de tutela, por consequência, milhares de pessoas ver-se-ão

privadas de alimentação adequada nestes momentos.

35 MARINONI. Luiz Guilherme. Tutela específica: (arts. 461 CPC e 84 CDC). São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000.

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52

Em razão disso, não é razoável impor aos cidadãos e à própria Democracia

o perigo da demora. Como as lesões são evidentes e se repetem a cada dia, é preciso que

a tutela seja adequada e efetiva.

7. DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer a Vossa Excelência:

a) a intimação do Ministério Público, especificamente a Promotoria de

Direitos Humanos e Inclusão Social, tendo em vista a temática tratada na presente para

os termos da demanda, conforme determinação do art. 5, § 1º, da Lei nº 7.347/85;

b) seja concedida, LIMINARMENTE, A ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA

TUTELA determinando ao estado de São Paulo a obrigação de fornecer alimentação

adequada a todas as pessoas privadas de liberdade, durante o “trânsito” e enquanto

aguardarem qualquer ato judicial;

c) a citação da requerida na pessoa do Procurador Geral do Estado, para,

querendo, apresentar resposta, sob pena de incorrer nos efeitos da revelia;

d) a condenação definitiva, julgando-se procedente a ação, concernente à

obrigação de fazer postulada em sede de cognição sumária (item b);

e) no tocante à tutela indenizatória dos direitos difusos, condenar a ré a

reparação do dano moral coletivo, mediante o pagamento de quantia certa consistente

em R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), em caso procedência total, a serem revertidos

ao Fundo Estadual de Defesa dos Interesses Difusos, criado nos termos da Lei Estadual

nº 6.536, de 13 de novembro de 1989, com a finalidade de financiar projetos de

organizações não governamentais que auxiliem no desenvolvimento de políticas

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voltadas para redução do encarceramento e garantia de direitos das pessoas privadas de

liberdade.

f) no que concerne à tutela indenizatória dos direitos individuais

homogêneos, nos termos do artigo 95 do Código de Defesa do Consumidor, condenar a

ré à reparação do dano moral individual sofrido por cada pessoa presa que não recebeu

alimentação adequada quando em trânsito e aguardando realização de ato judicial, tudo

a ser apurado em liquidação de sentença e execução em autos próprios. Para

dimensionamento do dano sofrido, deverá se observar aspectos peculiares de cada

vítima como idade, sexo, saúde, efeitos psicológicos da violação;

g) diante da teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova, pleiteamos

a inversão do ônus da prova, com fundamento no artigo 6º, inciso VIII do Código de

Defesa do Consumidor e art. 373, § 1º do Código de Processo Civil;

h) com fundamento no art. 128, I da Lei Complementar nº 80/94, seja o

Núcleo Especializado de Situação Carcerária da Defensoria Pública do estado de São

Paulo intimado pessoalmente, com carga dos autos, de todos os atos e decisões

praticados no feito, devendo ser contados em dobro todos os prazos;

i) a sujeição da ré aos ônus da sucumbência, com reversão dos honorários

advocatícios para o Fundo Especial de Despesas da Escola da Defensoria Pública do

Estado, nos termos do art. 3º, inciso II da Lei estadual nº 12793/08, uma vez que a

Súmula 421 do STJ não se sustenta juridicamente frente à autonomia financeira deste

órgão (artigo 134, § 2º da Constituição Federal);

j) determinar que a Corregedoria do Tribunal de Justiça do Estado de São

Paulo oficie as varas criminais e de plantão recomendando que autoridades judiciais

perguntem às pessoas privadas de liberdade (em audiência de instrução ou de custódia)

sobre a oferta de alimentação, conforme já determinado no artigo 8º, inciso VI, da

Resolução 213 do CNJ, no que tange as condições de tratamento.

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54

k) a dispensa quanto ao pagamento de custas, emolumentos e outros

encargos, à vista do disposto no art. 18 da Lei n. 7347/85.

Pretende-se provar o alegado por todos os meios de provas em direito

admitidos, notadamente com os documentos acostados e demais necessários ao deslinde

da questão, como a oitiva das pessoas presas neste Estado.

Atribui-se à causa o valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais).

São Paulo, 14 de junho de 2018.

THIAGO DE LUNA CURY

Defensor Público do Estado de São Paulo

Coordenação do Núcleo Especializado de Situação Carcerária

LEONARDO BIAGIONI DE LIMA

Defensor Público do Estado de São Paulo

Coordenação do Núcleo Especializado de Situação Carcerária

MATEUS OLIVEIRA MORO

Defensor Público do Estado de São Paulo

Coordenação do Núcleo Especializado de Situação Carcerária

MARCOS FUCHS

Diretor do Instituto Pro Bono

OAB/SP 101.663

SURRAILLY FERNANDES YOUSSEF

Coordenadora do Projeto Audiência de Custódia

OAB/SP 382.902

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NÚCLEO ESPECIALIZADO DE SITUAÇÃO CACERÁRIA DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Av. Liberdade, nº 32 – 7º andar – Centro – São Paulo – SP CEP: 01502-000 Tel.: 3242.5274/3105.5799 r.282.

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REBECCA GROTERHORST

Coordenadora de Projetos

OAB/SP 288.049

MARIA EDUARDA DACOMO COELHO BORGES

Estagiária de direito da Defensoria Pública do estado de São Paulo

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