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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE RONDÔNIA e 2ª PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE PIMENTA BUENO EXCELENTÍSSIMA SENHORA JUÍZA DE DIREITO DA 2ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE PIMENTA BUENO/RO ParquetWeb n. 2021001010002201 Ação Civil Púbica n. 04/2021 Distribuição por dependência aos autos principais: 7000729-56.2021.8.22.0009 O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE RONDÔNIA, por intermédio de seus Promotores de Justiça signatários, no uso de suas atribuições legais e com fundamento nos artigos 129, III, da Constituição Federal; 5º da Lei 7.347/85 e 25, IV, “a”, da Lei 8.625/93, vem respeitosamente perante Vossa Excelência, com fulcro nas inclusas peças de informação, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO INDENIZATÓRIO POR DANO MORAL COLETIVO em face de: JBS S/A – FILIAL PIMENTA BUENO , pessoa jurídica de direito privado, a ser citada na pessoa de seu representante legal (art. 75, VIII, do CPC), regularmente inscrita no CNPJ sob o n. 02.916.265/0082-25, com endereço na Rodovia BR 364, KM 207, Zona Rural, no Município de Pimenta Bueno, com endereço eletrônico: [email protected], com base nos fatos e fundamentos a seguir expostos: com base nos fatos e fundamentos a seguir expostos: Fone: (69) 3451-2663 | www.mpro.mp.br Av. Castelo Branco, nº 914 – Bairro Pioneiros – Pimenta Bueno/RO – CEP:76.970-000

EXCELENTÍSSIMA SENHORA JUÍZA DE DIREITO DA 2ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE PIMENTA ... · 2021. 6. 8. · Pimenta Bueno, conforme faz prova as Notas Fiscais emitidas no dia 19/02/2021

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE RONDÔNIA

1ª e 2ª PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE PIMENTA BUENO

EXCELENTÍSSIMA SENHORA JUÍZA DE DIREITO DA 2ª VARA CÍVEL DA COMARCA

DE PIMENTA BUENO/RO

ParquetWeb n. 2021001010002201

Ação Civil Púbica n. 04/2021

Distribuição por dependência aos autos principais:7000729-56.2021.8.22.0009

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE RONDÔNIA, por intermédio

de seus Promotores de Justiça signatários, no uso de suas atribuições legais e com

fundamento nos artigos 129, III, da Constituição Federal; 5º da Lei 7.347/85 e 25, IV, “a”,

da Lei 8.625/93, vem respeitosamente perante Vossa Excelência, com fulcro nas inclusas

peças de informação, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO

INDENIZATÓRIO POR DANO MORAL COLETIVO em face de:

JBS S/A – FILIAL PIMENTA BUENO , pessoa jurídica de direito

privado, a ser citada na pessoa de seu representante legal (art. 75,

VIII, do CPC), regularmente inscrita no CNPJ sob o n.

02.916.265/0082-25, com endereço na Rodovia BR 364, KM 207, Zona

Rural, no Município de Pimenta Bueno, com endereço eletrônico:

[email protected], com base nos fatos e fundamentos a

seguir expostos:

com base nos fatos e fundamentos a seguir expostos:

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1ª e 2ª PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE PIMENTA BUENO

I – DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Inicialmente, vale rememorar que a Constituição Federal de 1988 apresenta

cláusula consagradora ao determinar que “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do

consumidor” (art. 5o, inciso XXIII), estabelecendo tal preceito como um dos princípios gerais

da ordem econômica (art. 170, I).

A partir dessa perspectiva, o Ministério Público é legitimado a adotar as

providências cabíveis, inclusive judiciais, para promovê-la, conforme prevê o art. 82, I, da Lei

n. 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor) e art. 1º, II, da Lei n. 7.347/85 (Lei de Ação

Civil Pública).

A legitimidade ativa do Ministério Público tem origem constitucional, estando

prevista no artigo 129 da CF/883.

Nessa esteira, prevê a Lei da Ação Civil Pública, em seu artigo 1º, que as

ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados, dentre outros, ao

consumidor (II) poderão ser manejadas pelo Ministério Público (artigo 5º, I).

Por fim, estabelece o artigo 81 do CDC que a defesa dos interesses e direitos

dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo, individualmente ou a título

coletivo, notadamente quando se tratar de interesses ou direitos coletivos, assim

entendidos como os transindividuais, de natureza indivisível, de quem seja titular grupo,

categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária, por uma relação

jurídica base (inciso II).

É o caso dos autos, haja vista que os interesses defendidos na presente ação

civil pública se referem à proteção e defesa do consumidor lesado em seu direito à

informação e transparência, bem como à proteção de sua saúde e segurança alimentar.

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II – DOS FATOS E FUNDAMENTOS DO PEDIDO

II.1 – Dos Fatos

No dia 15.02.2021, no período da manhã, nas dependências da Unidade

Frigorífica da JBS S/A – FILIAL PIMENTA BUENO, nesta cidade e comarca, a canalização

de uma das câmaras de refrigeração da empresa requerida se rompeu, face a queda da

estrutura metálica, acarretando no vazamento de gás tóxico (amônia), atingindo as carcaças

de carne que estavam acondicionadas na câmara fria nº 02 e provocando danos à saúde das

pessoas que trabalhavam no local, sendo que dezenas foram socorridas na unidade de saúde

deste município.

Ao tomar conhecimento dos fatos, naquela data, ante a gravidade e por

dever de ofício, o Ministério Público instaurou procedimento para apuração, acionando os

demais órgãos públicos com atribuição de fiscalização (Bombeiros, SEDAM, MPT, Polícia Civil,

etc), requisitando, inclusive, a instauração de Inquérito Policial.

As investigações apontaram que a estrutura metálica da Câmara 2,

sequer dispunha de ART (anotação de responsabilidade técnica por obras e

serviço de engenharia)- documento técnico que garante a qualidade da estrutura,

e que a ruptura da estrutura da referida câmara se deu por excesso de peso,

conforme registrado no Laudo do Instituo de Criminalística e do Engenheiro Civil

do Ministério Público, os quais acompanham esta inicial.

Na Unidade do Frigorífico JBS em Pimenta Bueno, laboram dois Fiscais do

SIF: Gilberto Tobias Maestrelo e Camilo Almeida Torres, os quais exercem as

atribuições conferidas pelo Decreto Federal nº 9.013/2017.

O Serviço de Inspeção Federal – SIF, órgão ligado diretamente ao

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, responsável pela

fiscalização dos animais abatidos em Unidade Frigorífica, bem como fiscalização da produção,

caracterizando a inspeção ante mortem e post mortem (art. 11, § 1º do Decreto Federal nº

9.013/2017), já mencionado em manifestação anterior (ID 55577558 ).

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1ª e 2ª PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE PIMENTA BUENO

No dia do incidente (15/02/2021), apenas o Fiscal Gilberto Tobias Maestrelo

estava em efetivo serviço na Unidade e, incontinente, na primeira oportunidade, dirigiu-se ao

local para constatar o ocorrido, iniciando o trabalho de fiscalização. Neste contexto, o fiscal

registrou em fotografias as condições nas quais foram submetidas a carne que estava

acondicionada na câmara 02.

Eis as ilustrativas imagens:

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Nas palavras do Auditor do SIF (mídia digital ID55581181 e s.s),

após o incidente, a carne foi arrastada e submetida a contato com água, logo após

a exposição com a amônia, o que não foi suficiente para retirar o cheiro do

produto da carne.

A empresa verbalmente, por meio de seu Gerente de Produção Vinícius

relatou ao auditor do SIF que o Plano de Ação para a carne que teve contato com o piso e

com a amônia consistiria em:

1. Segregação da carne na câmara 05;

2. Realização de exames laboratoriais de análise organoléptica;

3. Apresentação dos resultados ao auditor do SIF para análise;

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A apresentação do plano de forma verbal induziu o agente do SIF a deixar de

proceder a apreensão cautelar da carne, em confiança à palavra empenhada pelo gerente de

produção.

O Fiscal Gilberto Tobias Maestrelo, nos dois dias subsequentes ao fato,

diligenciou-se às Câmaras Frias onde as carnes foram acondicionadas, constatando que a

carne ainda exalava cheiro de AMÔNIA.

Colaciona-se trechos da oitiva do Auditor:

“GTM: E, como foi aparecendo muito serviço, eu tinha que cuidar da parte do

ante mortem e post mortem, as vezes têm que, aparecem coisas para emitir do

departamento de inspeção final, fazer as verificações oficiais do Mafra, tem que

fazer o relatório, as certificações, para poder transitar, seja nacional ou

internacionalmente. E, eu achando que essas carcaças estavam lá ainda,

porque aí, no dia dezesseis eu falei, deixa eu ir lá para ver como está

a situação. Fui lá, cheirei as carcaças e ainda apresentavam odor forte

ainda de amônia, na terça. No dia dezessete, eu subi lá, verifiquei

novamente e apresentavam odor forte ainda. É (inaudível 08:32), para

mim, não passa cheiro. Eu falei, é só nessa câmara mesmo, que caiu, a

número dois, onde ela que ficou fechada.

GTM: É, aí no sábado, quando eles apresentou o documento pra mim, com

todas as análises, é, ficou (inaudível 09:04) também, falei, ah, deixa eu

subir lá também para ver como que tá também, no sábado. A hora

que eu chego lá, cadê as carcaças? Mas, por que? Era para manter

segregadas. Não sei, está errado isso aqui. E agora, o que que eu

faço, não tinha conhecimento nenhum ainda, não aprendi essas

coisas. Fiquei desesperado lá naquela hora, falei, mais como assim,

não tinha. É, aí depois, passou a semana.

PJ: Antes que o senhor prossiga, depois que o senhor percebeu que eles

tinham tirado as carcaças de lá, o Vinícius procurou vocês? Alguém procurou

vocês? Para falar sobre o destino?

GTM: Antes, naquela semana, do dia quinze até ao dia vinte, eu sofri

muita pressão psicológica lá. O Vinícius, principalmente, ia lá e ficava

falando um monte de coisas.

PJ: O que que ele falava para o senhor?

GTM: Falou primeiro que a amônia, que não sei o que, que parece que não faz

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nada, que ouvi não sei o que, que lá, lá, lá, um monte de coisa. Porque, sabe

como que ele, fala, fala, nossa, você vai ficando impaciente.

PJ: Eu não o conheço.

GTM: Mas teve um dia que ele falou, começou falar sobre os

problemas, que não ia querer destroçar essa carne aqui não,

funcionários daqui, não vai (inaudível 10:47), vou mandar tudo para

charque. Quero me livrar disso. Mas só que eu não lembro, até comentei

com aquele outro, se ele tinha pedido para mim, pra que podia mandar essas

carnes para serem charqueadas em São Paulo.”

Todavia, o Frigorífico JBS encaminhou a carne para Santana de

Parnaíba, no dia 19/02/2021, em horário fora do expediente dos auditores de

inspeção federal, sem o resultado do exame laboratorial, consoante se extrai da

lavratura das notas fiscais, que indicam o horário de 20h13min do dia 18/02 e 00h do dia

19/02.

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Os resultados dos exames laboratoriais foram concluídos somente

no dia (22/02/2021, ID 55006007 s.s) e apresentados ao Auditor de Inspeção

Federal no dia 25/02/2021, quando a carne já havia sido retirada da Unidade de

Pimenta Bueno, conforme faz prova as Notas Fiscais emitidas no dia 19/02/2021

(ID 55006006), o que denota a ausência de transparência e boa-fé da empresa. Ou seja, a

carne foi transportada para São Paulo, sem a apresentação dos exames laboratoriais aos

agentes do SIF local e à revelia deles.

Ainda mais grave foi a declaração do Gerente de Produção da requerida à

Engenheira Sanitarista do Ministério Público, VINÍCIUS, quando de sua inspeção realizada no

dia 23/02/2021.

Naquela oportunidade, o Sr. Vinícius afirmou que toda a produção

havia sido incinerada, quando na verdade os lotes de carnes já tinham sido

destinados ao consumo e encaminhados para Santana de Parnaíba em

19/02/2021 (Notas Fiscais ID).

Tão somente após o Delegado de Polícia ouvir o sr. Vinícius em sede

de Inquérito Policial, tomou-se conhecimento que a carne fora destinada ao

consumo humano, momento em que de imediato esta Promotoria de Justiça

moveu a ação cautelar apensa nestes autos (processo cautelar n. 7000-729-

56.2021.8.22.0009).

Detectando que a Requerida praticava atos violadores aos direitos dos

consumidores, este Órgão Ministerial ajuizou pedido de tutela cautelar de urgência para

apreensão dos lotes de carnes, visando a impedir que os produtos chegassem à mesa das

famílias, materializado nos autos judiciais citado. Deferida a tutela cautelar, determinou-se a

apreensão da carne, a fim de verificar a sua aptidão ou não para o consumo.

Repita-se, no caso, descobriu-se que o produto já havia sido

clandestinamente removido do local do dano para outra unidade do JBS, situada de

Santana de Parnaíba/SP, decorrente de atos dos Gerentes da JBS em Pimenta Bueno,Fone: (69) 3451-2663 | www.mpro.mp.br

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consistente em encaminhar o produto para consumo humano. Atualmente o produto está

processado na forma de charque.

No processo cautelar n. 7000-729-56.2021.8.22.0009, determinou-se ao

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA que procedesse à adequada

fiscalização dos produtos apreendidos, haja vista a impossibilidade de cumprimento de suas

disposições legais e regulamentares na Unidade da requerida, em Pimenta Bueno/RO, face a

burla no sistema de inspeção consoante ofício supra referido (ID 55693436).

A apuração dos fatos avançou na via administrativa, descortinando-

se elementos de violação e fraude à fiscalização federal no que toca ao controle e

fiscalização sanitária da carne para o consumo humano, o que implicou na

instauração do processo administrativo n. 21052.003786/2021-14, junto ao

MAPA.

Até o momento do ajuizamento desta demanda, têm-se conhecimento que o

próprio MAPA lavrou um auto de infração de n. 002/10131/2021, por tentativa de

burla ao Sistema de Inspeção Federal - SIF e por trânsito ilegal da carne, entre

outros, conforme ofício n. 366/2021/1SIPOA/DIPOA/SDA/MAPA, que se faz

juntada com esta inicial.

O MAPA também lavrou termo de apreensão cautelar n. 001/C.I.F. 2918/21

de 41.524KG da carne objeto destes autos. No auto de infração, que se faz juntada com esta

inicial, assim registra o SIF: Matéria prima com suspeita de contaminação por amônia

proveniente do estabelecimento JBS S.A, sob SIF 2880, localizado em Pimenta

Bueno/RO, que foi enviada a revelia do SIF 2880 ao JBS S.A, sob o SIF 1686 para

tratamento condicional pela salga (Jerked Beef), sendo descarregada em

02/03/2021, sem a Declaração de Destinação Industrial (Ofício Circular n.

35/2020), conforme consta no processo n. 21052.003786/2021-14.

Ressalte-se que somente após a determinação judicial, deferida na Ação

Cautelar, ocorreu o acompanhamento da diligência pelos agentes do SIF de Santana de

Parnaíba-SP, local em que se encontra a carne, já permitiu identificar, numa análise

preliminar, que 15 carcaças estavam condenadas e não poderiam ser processadasFone: (69) 3451-2663 | www.mpro.mp.br

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nem mesmo para charque, sem conhecer a fundo a cadeia de produção

especificamente daquele produto, com as intercorrências advindas do pós contato

com a amônia do produto referido: carne amontoada, arrastada, lavada,

acondicionada em outras câmaras frias, com um período sem refrigeração, etc.

Coleciona-o nesta peça, não obstante esteja acompanhado com a inicial, a

fim de enfatizar a gravidade dos atos procedidos pela empresa após o contato da carne com

o gás tóxico amônia.

Numa apuração preliminar pela Auditoria de Inspeção Federal do MAPA,

têm-se os seguintes eventos cronológicos e atos que desrespeitam a cadeia de

produção e segurança sanitária alimentar para a destinação dos produtos ao

consumo humano.

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Enfatiza-se o item h que já indica a lavratura de auto de infração

por tentativa de burla ao Sistema de Inspeção Federal e trânsito ilegal.

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II.2 – Dos fundamentos do pedido

Nos diferentes procedimentos instaurados para apuração dos fatos (Inquérito

Civil, Inquérito Policial e Processo Administrativo/MAPA), descortinaram-se diversas

irregularidades por parte da requerida, as quais levam à conclusão de que não apenas a

contaminação por gás tóxico, mas todos os atos que se seguiram, desrespeitaram

veementemente a segurança da cadeia de produção, tornando por isso, os produtos

impróprios para o consumo humano, consoante se demonstrará minunciosamente a seguir,

o que legitima o manejo da presente ação na tutela dos direitos dos consumidores.

O Vazamento de amônia ocorreu no dia 15/02/2021, na câmara fria nº 02,

onde estavam acondicionadas 150 meias carcaças bovinas, conforme informações prestadas

em Sede Policial pelo Gerente Industrial da Requerida, Sr. Vinícius Domingos Paro.

Os documentos apresentados pela Requerida, sob ordem judicial,

demonstram que as carnes expostas ao agente tóxico (AMÔNIA) foram removidas para as

Câmara de Refrigeração nº 03 e 05.

O Auditor Fiscal do MAPA Gilberto aduziu que a empresa não

cumpriu com o Plano de Ação, destinando à sua revelia, toda a produção

contaminada com amônia, para Santana de Parnaíba/SP.

E a destinação da carne de forma escamoteada aos olhos dos Fiscais do SIF

somente foi possível diante das inúmeras manobras praticadas pelos funcionários da

Requerida JBS, em especial o Gerente de Produção Vinícius, a saber:

1. Apresentação de PLANO DE AÇÃO e Garantia de Acautelamento da Carne

na Unidade de Pimenta Bueno ao Fiscal do SIF;

2. Remoção da carne para outra Unidade, e, 19.02, descumprindo o Plano

de Ação e sem autorização do SIF;

3. Promoveram a remoção em horário fora do expediente dos auditores de

inspeção federal, sem o resultado do exame laboratorial, conforme NotasFone: (69) 3451-2663 | www.mpro.mp.br

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Fiscais emitidas no dia 19/02/2021 (ID 55006006);

4. Protocolo de documento no SIF de Pimenta Bueno, afirmando que foram

realizados exames laboratoriais em 19.02, contudo tais exames apenas

foram concluídos em 22/02/2021, (ID 55006007 s.s) e apresentados ao

Auditor de Inspeção Federal no dia 25/02/2021, quando a carne já havia

sido retirada da Unidade de Pimenta Bueno.

5. Informação falsa prestada a servidora do Ministério Público em 22.03,

afirmando que a carne exposta ao agente contaminante fora incinerada.

Os atos praticados pela Requerida apontam que a real intenção sempre

foi a destinação do produto imediatamente ao consumo humano, que só não chegou

à mesa do consumidor face ao processo cautelar e apreensão judicial. Tanto que as

condições atuais do produto é o seu processamento para charque.

A ausência de boa-fé e transparência da empresa salta aos olhos,

demonstrando o interesse único e exclusivo de obter lucros à revelia dos parâmetros de

qualidade exigidos para destinar o produto ao consumo.

Não obstante tudo o que foi até aqui apresentado, a Requerida argumentou

em sede contestação que “a empresa agiu de boa-fé” e que “os lotes de carne não fora

destinado ao consumo, mas sim destinados à outra Unidade Frigorífica onde seriam

submetidas à análise laboratorial para posterior destinação”.

Não é crível tal argumento quando o próprio SISTEMA DE

INSPEÇÃO FEDERAL, VINCULADO AO MAPA, LAVRA UM AUTO DE INFRAÇÃO n.

002/10131/2021, indicando a tentativa de burla ao sistema de inspeção federal e

trânsito ilegal, conforme supra mencionado e que acompanha esta inicial.

Muito menos que se desloque dois caminhões carregados de carne até

Santana de Parnaíba, para tão somente após se avaliar a viabilidade ou não da carne para o

consumo, ante os custos decorrentes, face uma empresa que visa a lucros e não prejuízos.

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1ª e 2ª PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE PIMENTA BUENO

Em nenhum momento as alegações da requerida foram corroboradas com as

provas coligidas ou com as declarações de seus próprios colaboradores, que afirmaram,

inclusive em depoimento prestado perante Autoridade Pública, que realmente a carne fora

destinada para o consumo.

As Notas Fiscais Juntadas aos autos não mencionam em nenhum

dos campos preenchidos que aqueles lotes estavam sendo transportados para

industrialização, sendo que a ausência de tal informação na nota fiscal ou nos

romaneios de transporte, poderia levar os colaboradores de Santana de Parnaíba

a dar a destinação considerada adequada, porquanto, não foram comunicados da

contaminação do produto pela amônia, intercorrência essa inclusive mencionada

no relatório preliminar do SIF, supra acostado.

Diante disso, sobressai cristalino a real intenção da empresa de destinar tais

lotes de carne para o consumo, sem assegurar a qualidade e segurança do produto,

porquanto, somente após o Ministério Público ingressar com ação cautelar para que a carne

fosse devidamente periciada, os agentes do SIF de Santana de Parnaíba-SP, tomaram

conhecimento do ilícito, acompanhando a diligência, vez que este Juízo viera

acioná-los para o cumprimento da medida cautelar deferida nos autos n.

7000729-56.2021.8.22.0009.

Numa análise preliminar do órgão sanitário, em atendimento a decisão

judicial deferida na Cautelar ajuizada pelo Ministério Público, 15 carcaças estavam

condenadas e não poderiam ser processadas nem mesmo para charque, repita-se,

sem conhecer a fundo a cadeia de produção especificamente daquele produto,

com as intercorrências advindas do pós contato com a amônia do produto

referido: carne amontoada, arrastada, lavada, acondicionada em outras câmaras

frias, com um período sem refrigeração, etc.

E só não foram em razão dos desdobramentos da ação cautelar, conforme o

que foi juntado aos autos.

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Ademais, o Gerente de Produção Vinícius Domingos Paro perante a

Autoridade Policial e acompanhado de advogado constituído pela empresa na

manhã do dia 25/02/2021, afirmou que o Plano de Ação para carne foi elaborado

três dias após o ilícito, e que seria destinada ao consumo humano, conforme

plano apresentado ao auditor do SIF e sua anuência em liberar a industrialização

naqueles termos, o que contraria o depoimento do referido agente de inspeção

federal, que nega ter autorizado o transporte da carne, conforme depoimento

colhido no Inquérito Policial e Inquérito Civil.

Pelo que se verifica, as afirmações da requerida e de seu Gerente de

Produção não encontram respaldo nas provas produzidas até o presente momento, em

especial:

1. Laudo de resultados microbiológicos apresentados ao SIF somente em

25/02/2021, às 13h45min, após o depoimento prestado à Autoridade Policial;

2. O relato do Auditor Federal apontando que não recebeu e não

autorizou o plano de ação elaborado para a carne;

3. As Notas Fiscais foram emitidas entre 20h13min do dia 18/02 e 00h

do dia 19/02, indicando que a remoção do produto para outra Unidade ocorreu após esse

período, fora do horário de expediente dos auditores do SIF.

Por todo o exposto verifica-se que todos os eventos afetos à segurança

da cadeia de produção: 1. dano estrutural; 2. não apresentação dos Programas e

Planos de Ação; 3. arrastamento da carne pelo chão; 4. ausência de registros da

câmara 02; 5. possibilidade de ter havido contato das carcaças da câmara 02 com

outras carcaças eventualmente já acondicionadas nas câmaras 03 e 05, denotam o

total desrespeito às normas sanitárias de produção.

Inadmissível que um produto com todas estas intercorrências fosse

destinado ao consumo humano, seja a carne acautelada judicialmente, caso já estaria na

mesa do consumidor, seja as que possivelmente já estavam acondicionadas nas Câmaras 03Fone: (69) 3451-2663 | www.mpro.mp.br

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e 05, quando a que teve contato com a amônia, foi colocada no mesmo local, conforme o

relatório de incidente elaborado pela empresa requerida no dia 15/02/21 (ID 55329880) e o

documento SIF (supramencionado).

II.3) Das Constatações Administrativas realizadas Serviço de Inspeção Federal

(SIF), vinculado ao MAPA, até o presente momento

Importante ressaltar que diante dos indícios fundados de burla ao

Sistema de Inspeção Federal, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA,

instaurou procedimento de âmbito administrativo, visando a apurar os fatos (Procedimento

nº 21046.000381/2021-11).

Consta no aludido Procedimento Administrativo, que o SIF de Pimenta

Bueno aplicou Autos de Infração à empresa Requerida por descumprimento à legislação

regulamentar do processo de inspeção federal (Autos de Infração nº 02/10131/2021 e

03/10129/2021), nos seguintes termos:

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Observa-se da lavratura do auto de infração que “pelo que foi

constatado e relatado, a equipe do SIF 2880 identificou falhas graves no trânsito das

matérias primas/produtos, desrespeitando tanto a legislação vigente como os Programas de

Autocontrole da empresa, além de tentativa clara de burla aos Serviço de Inspeção Federal”.

Colaciona-se a seguir o Fluxograma contido no Programa de

Autocontrole da empresa, estabelecido para observância em caso de avaliação e destinação

de produto fora da especificação.Fone: (69) 3451-2663 | www.mpro.mp.br

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A empresa desrespeitou o próprio Programa de Autocontrole estabelecido para

situações como esta, ao não apresentar a declaração de destinação do produto aos Auditores

do SIF para posterior liberação.

Conforme se verifica, após ser intimada a apresentar a respectiva declaração

que respalda o transporte de produtos para destinação industrial, a empresa apresentou o

comprovante de envio, datado de 08/03/2021, ou seja, após o recebimento da carne em

Santana de Parnaíba/SP.

Fica claro, portanto, a intenção de retirar os produtos da planta frigorífica de

Pimenta Bueno sem a liberação do SIF e sem a menção aos fatos ocorridos (vazamento e

amônia, arrastamento da carne pelo chão, lavagem com água clorada etc), com o fim de não

constar tal impedimento para posterior comercialização da carne. Tanto é assim que a

empresa fora autuada por desrespeito à observância dos procedimentos legais e

trânsito dos produtos sem a referida declaração de destinação industrial.

Ademais disso, a falta de zelo e diligência pela empresa requerida

sobressai cristalino diante do Auto de Infração nº 003/10129/2021, porquanto,

recebeu autuação por ultrapassar a capacidade de armazenamento da câmara fria

nº 05, logo após o incidente, quando as carnes que tiveram contato com a amônia

(câmara nº 02), foram transferidas.

Ora, não bastasse a ausência de ART da câmara fria nº 02 (consoante alhures

demonstrado), a empresa ainda colocou em risco outra vez aqueles mesmos lotes de carne

ao desrespeitar a capacidade de armazenamento da câmara nº 05 (Registro de incidente).

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Tudo isso demonstra que por diversas vezes a empresa não seguiu seu

protocolo bem como a legislação pertinente e ainda burlou o Sistema de Inspeção Federal,

destinando irresponsavelmente as carnes para o consumo.

III) Do dano moral coletivo

Contemporaneamente, a jurisprudência em consonância com a doutrina, tem

admitido, diante da ocorrência de ato ilícito, a possibilidade de condenação ao pagamento de

indenização por dano moral coletivo.

A reparação do dano moral coletivo tem sido contemplado a partir da

perspectiva social, para desestimular práticas abusivas em detrimento do consumidor. NesseFone: (69) 3451-2663 | www.mpro.mp.br

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sentido é o entendimento doutrinário:

“A possibilidade de reparação do dano moral coletivo contribuiu para

desestimular as práticas abusivas contra os direitos do consumidor, o que está

em perfeita consonância com o mandamento constitucional de efetiva defesa

dos interesses desse agente econômico vulnerável (art. 5º, XXXII e 170, V, da

CF) e com a atual jurisprudência do STJ, que tem admitido a função punitiva

do dano moral.1”

Complementa os autores:

“Para a Corte Superior, o reconhecimento do dano moral coletivo cumpre

funções específicas, quais sejam a punição do responsável pela lesão e inibição

da prática ofensiva e, apenas como consequência, a redistribuição do lucro

obtido de forma ilegítima pelo ofensor à sociedade.”

Afigura-se claramente viável a condenação da requerida ao pagamento de

danos morais coletivos, porquanto, o desrespeito às normas sanitárias do processo de

produção e a burla ao sistema de inspeção federal, traduzem a falta de

comprometimento da empresa com seus consumidores, porquanto, viola os

princípios consagradores do Direito do Consumidor, especialmente os princípios

da confiança, do combate ao abuso e da transparência.

De acordo com entendimento doutrinário:

“O princípio da confiança ou da proteção da confiança, embora não previsto

expressamente no CDC, é um dos desdobramentos do princípio da boa-fé

objetiva. Traduz-se no dever de respeito às legítimas expectativas que

o consumidor deposita numa determinada relação de consumo, seja

no tocante ao conteúdo do contrato, seja no que se refere à esperada

segurança e qualidade dos produtos e serviços que constituem o

objeto desta relação.2”

1 Andrade, Adriano; Masson, Cleber, Andrade, Landolfo. Interesses Difusos e Coletivos, 10ª Ediça�o, Editora Me�todo, 2020. Pg.519 e 521.

2 Andrade, Adriano; Masson, Cleber, Andrade, Landolfo. Interesses Difusos e Coletivos, 10ª Edição, EditoraMétodo, 2020. Pg. 498.

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O princípio da confiança impõe ao fornecedor o dever de observância aos

padrões de qualidade de segurança, para que não ultrapassem os riscos que razoavelmente

se espera.

Não é razoável que as instâncias do Estado sejam acionadas e façam

diligências para aferir a segurança alimentar dos produtos. Esse dever de boa fé é do

fornecedor, que no mínimo deve respeitar e atender os ditames do SISTEMA DE INSPEÇÃO

FEDERAL, que destaca auditores permanentes nesta unidade frigorífica de Pimenta Bueno.

Se não tivesse chegado ao conhecimento desta Promotoria de Justiça, por

intermédio de inquérito policial que a carne estava sendo destinada ao consumo e ao

deferimento imediato da cautelar pelo Poder Judiciário, já na mesa do consumidor estaria

este produto.

Onde fica a responsabilidade social de fornecer produtos de qualidade

à população como o marketing da JBS prega? E divulga? Se ela mesma tenta

burlar o próprio sistema de inspeção federal, conforme auto de infração do MAPA

n. 002/10131/2021 e relatório preliminar do ofício n. 366/2021/1SIPOA/DIPOA/

SDA/MAPA, para não perder um produto, que por culpa exclusiva da empresa

teve contato com amônia, foi arrastado, e transportado em descompasso ao

procedimento que se espera?

No caso dos autos, conforme se verifica no sítio eletrônico da requerida, a

empresa exporta carne para diversos países do mundo, além de atuar no mercado brasileiro:

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Conforme se observa, são mais de 275 mil clientes espalhados em 190

nações ao redor do mundo, incluindo os consumidores brasileiros, que esperam e

confiam que o produto por ela produzido é de inteira qualidade, o que por si só cria uma

legítima expectativa dos consumidores em geral, pela tamanha publicidade envolvida.3

Não há como negar que a atuação ministerial em conjunto com os demais

órgãos de proteção ao consumidor e o Poder Judiciário, mostram-se salutar na defesa de

diversas pessoas espalhadas pelo país, que individualmente considerados não dispõem de

tais informações para defesa de seus interesses em Juízo.

3 Informaço� es e gra� fico disponí�veis em: https://ri.jbs.com.br/a-jbs/localizacao-e-areas-de-atuacao/. Acesso em: 22/03/2021.

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O princípio da precaução, por sua vez, conforme sugere a doutrina: “traduz

a ideia de que não basta a proteção contra o perigo concreto, sendo necessário igualmente

acautelar-se em relação ao perigo hipotético, no intuito de minimizá-lo”4.

Não é o que se verifica no caso em apreço, ao revés disso, a empresa,

a todo momento tentou minimizar seu próprio prejuízo em detrimento da saúde e

segurança dos consumidores, destinando, irresponsavelmente e à revelia do

sistema de inspeção federal, todo o produto que teve contato com amônia e que

ainda desrespeitou a cadeia de produção de segurança alimentar.

Ressalte-se mais uma vez que os lotes de carne só não chegaram à mesa do

consumidor, diante da atuação rápida e diligente do Poder Judiciário que, apreciando pedido

cautelar interposto pelo Ministério Público impediu os demais atos de destinação do produto.

Outrossim, o abuso do dever informação conferido pelo CDC (art. 6º,

incisos II e III) restou suficientemente demonstrado nos autos, quando o Gerente de

Produção Vinícius, reiteradamente dissimula e omite informações de suma importância.

Frise-se que o citado Gerente, deliberadamente mentiu ao dizer para

a Engenheira Sanitarista do Ministério Público, no momento de sua vistoria em

23/02/2021, que a carne contaminada com a amônia havia sido incinerada

(Relatório ID 54985051).

Mais tarde, em Sede Policial, o Gerente Industrial afirmou que três dias após o

incidente, a empresa tomou a decisão de charquear aquela carne (Termo de depoimento ID

55578890).

A dissimulação e violação ao dever de informação é claro, porquanto, se

houvesse comprometimento com a saúde e segurança do consumidor e não apenas com seu

próprio lucro, a empresa teria sido transparente com as informações prestadas nos autos

judiciais no momento em que foi chamada em juízo, ao revés, limitou-se a dizer que não

4 Andrade, Adriano; Masson, Cleber, Andrade, Landolfo. Interesses Difusos e Coletivos, 10ª Edição, Editora Método, 2020. Pg. 501.

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houve destinação da carne para o consumo.

Ora, não é essa a constatação que se faz a partir do relatório da SEDAM

juntado aos autos do ICP nº 2021001010002201 (apresentado aos autos nesta

oportunidade), em que o referido órgão ambiental constou a informação prestada pelo

mesmo Gerente Industrial Vinícius, ao afirmar que: “Posteriormente, após o laudo de

conformidade a mesma (carne) foi COMERCIALIZADA”.

A própria empresa afirma que a carne foi destinada a consumo,

mesmo sem autorização do Sistema de Inspeção Federal e desrespeitando a

cadeia de produção.

Os registros fotográficos juntados aos autos revelam situação extremamente

revoltante e atentatória aos consumidores, que apenas não foram atingidos em sua

segurança alimentar devido à rápida intervenção do Poder Judiciário.

Por todo o exposto, revela-se imperiosa a condenação da requerida ao

pagamento de danos morais coletivos, porquanto, o desrespeito à cadeia de produção e a

burla ao sistema de inspeção federal revela a violação de diversos princípios e direitos do

consumidor, em especial ao princípio da confiança.

A esse respeito, o Superior Tribunal de Justiça tem entendido que o dano

moral coletivo, ao contrário do dano moral individual não reclama que seja configurado a

provação de dor e sofrimento, porquanto, decorre do próprio do fato (in re ipsa):

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IRREGULARIDADES SANITÁRIAS.MULTAS APLICADAS EM PROCESSO ADMINISTRATIVO. AUSÊNCIA DEREINCIDÊNCIA NO COMETIMENTO DAS CONDUTAS IMPUTADAS AOESTABELECIMENTO COMERCIAL. DANO MORAL E MATERIAL COLETIVO.AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE LESÃO AOS CONSUMIDORES. SENTENÇAMANTIDA. RECURSO NÃO PROVIDO. […] Vale transcrever o seguinte trecho dojulgado: “Finalmente, em situações graves desse jaez, que põem em risco asaúde e a segurança da população, o dano moral coletivo independe deprova (damnum in re ipsa), conforme iterativa jurisprudência do STJ.Precedentes: AgInt no AREsp 1.251.059/DF, Rel. Ministro Francisco Falcão, SegundaTurma, DJe 9/9/2019; AgInt noREsp 1.342.846/RS, Rel. Ministra Assusete Magalhães,Segunda Turma, DJe 26/3/2019. É também a posição dos colegiados de DireitoPrivado: "Os danos morais coletivos configuram-se na própria prática ilícita,

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dispensam a prova de efetivo dano ou sofrimento da sociedade e se baseiamna responsabilidade de natureza objetiva, a qual dispensa a comprovação deculpa ou de dolo do agente lesivo, o que é justificado pelo fenômeno dasocialização e coletivização dos direitos, típicos das lides de massa” (STJ,REsp 1.799.346/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, Terceira Turma, DJE13/12/2019.)5

É exatamente esse o caso dos autos, uma vez que as provas coligidas

demonstram claramente a configuração do dano decorrente do próprio fato: vazamento de

amônia e demais atos de desrespeito à cadeia de produção que se sucederam: os quais

apenas não produziram danos vultuosamente mais graves, por conta da intervenção rápida e

eficaz.

Ressalte-se, por fim, que Superior Tribunal de Justiça tem entendido que a

violação aos princípios previstos no CDC, impõe a condenação em danos morais

coletivos. Colaciona-se a seguir um dos julgados em que o Tribunal, utiliza-se de alguns dos

princípios norteadores do CDC para impor a condenação a título de dano mora coletivo:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PROPAGANDA

ENGANOSA. VEÍCULO AUTOMOTOR. INTRODUÇÃO NO MERCADO NACIONAL.

DIFUSÃO DE INFORMAÇÕES EQUIVOCADAS. ITENS DE SÉRIE. MODELO BÁSICO.

LANÇAMENTO FUTURO. DANO MORAL DIFUSO. CONFIGURAÇÃO. REEXAME DA

MATÉRIA. REVOLVIMENTO DE PROVAS E FATOS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA Nº

7/STJ. 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código

de Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). […] 5. O sistema

de tutela da publicidade trazido pelo Código de Defesa do Consumidor encontra-se

assentado em uma série de princípios norteadores que se propõem a direcionar e

limitar o uso das técnicas de publicidade, evitando, assim, a exposição do público

consumidor a eventos potencialmente lesivos aos direitos tutelados pelo referido

diploma legal. Dentre estes princípios, merecem destaque, os da identificação

obrigatória, da publicidade veraz, da vinculação contratual e da correção do

desvio publicitário. [...] 8. O dano moral difuso, compreendido como o resultado de

uma lesão a bens e valores jurídicos extrapatrimoniais inerentes a toda a coletividade,

de forma indivisível, se dá quando a conduta lesiva agride, de modo injusto e

intolerável, o ordenamento jurídico e os valores éticos fundamentais da sociedade em

si considerada, a provocar repulsa e indignação na própria consciência

coletiva . A obrigação de promover a reparação desse tipo de dano encontra respaldo

5 Fonte: https://www.conjur.com.br/2021-mar-08/mp-debate-direito-consumidor-dano-moral-difuso. Acesso em 22/03/2021.

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nos arts. 1º da Lei nº 7.347/1985 e 6º, VI, do CDC, bem como no art. 944 do CC. 9. A

hipótese em apreço revela nível de reprovabilidade que justifica a imposição da

condenação tal e qual já determinada pelas instâncias de origem. Além disso, a revisão

das conclusões do acórdão ora hostilizado encontra, também nesse ponto específico,

intransponível óbice na inteligência da Súmula nº 7/STJ. 10. Recurso especial não

provido. (REsp 1546170/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA

TURMA, julgado em 18/02/2020, DJe 05/03/2020).

Vale reprisar, por sua importância, o entendimento acima esposado pelo

Ministro relator de que “o dano moral difuso, se dá quando a conduta lesiva agride,

de modo injusto e intolerável, o ordenamento jurídico e os valores éticos

fundamentais da sociedade em si considerada, a provocar repulsa e indignação na

própria consciência coletiva”.

III.1) Dos parâmetros para estipulação do dano moral coletivo

Para a fixação do dano moral coletivo, faz-se necessário percorrer por alguns

critérios e parâmetros, a fim de se chegar ao final à correta identificação do quantum

indenizável, levando-se em conta, entre outros critérios, a quantidade potencial de

consumidores e a capacidade econômica da requerida.

No que se refere à capacidade econômica, é fato notório que a requerida é a

maior empresa de processamento de proteína animal do mundo.6 Além disso, nos últimos

trimestres do ano de 2020, superou a Petrobrás e se tornou a maior empresa do

Brasil em receita no segundo trimestre7.

Apenas no 2º trimestre de 2020, a empresa registrou um lucro líquido de R$

3,379 bilhões, alta de 54,8%8.6 https://jbs.com.br/sobre/negocios/bovinos/#:~:text=A%20unidade%20de%20neg%C3%B3cios%20JBS,de

%20processamento%20de%20prote%C3%ADna%20animal. Acesso em 22/03/2021

7 Fonte: Economia - iG @ https://economia.ig.com.br/2020-08-24/jbs-supera-petrobras-e-se-torna-maior-empresa-do-brasil-em-receita.html. Acesso em 22/03/2021.

8 Fonte: https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2020/08/13/jbs-registra-lucro-liquido-de-r-3379-bilhoes-no-2-trimestre-alta-de-548.htm#:~:text=A%20JBS%2C%20uma%20das%20maiores,nesta%20quinta%2Dfeira%2C%2013. Acesso em 22/03/2021

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Levando-se em conta que em Unidades Frigoríficas, aproveita-se cada parte do

animal abatido, é possível aferir-se que não há perdas significativas para a empresa.

Colaciona-se, por oportuno, trechos de uma matéria produzida pela coluna “Tribuna” do site

UOL, em entrevista dada pelo diretor de operações do Grupo Friboi à época:

“Conseguimos aproveitar 100% do boi. Não desperdiçamos nada, afirmou o diretor de

operações do Grupo Friboi, José Luiz Medeiros. Com 22 unidades no País e duas

fazendas, o Friboi se destaca como o quarto maior frigorífico do mundo e o primeiro da

América Latina em abate e processamento de carne bovina – são 12 mil cabeças

abatidas por dia. Um frigorífico só consegue ter aproveitamento total se tiver estrutura

de acordo com a inspeção federal. Engrossando a lista dos subprodutos do boi,

Medeiros cita ainda a utilização do casco e chifre na fabricação de adubo – há quem

utilize ainda o chifre na fabricação artesanal de pentes e pulseiras, a crina na

fabricação de pincéis, a bílis e a traquéia na indústria farmacêutica. Até o sangue fetal

pode ser aproveitado na fabricação de soro para vacinas”.9

É certo que a busca incessante pelo lucro, pode ocasionar situação como a

exposta, em que mesmo com contaminação por gás tóxico, provocada por desabamento de

estrutura metálica não impediu a destinação de produto impróprio ao consumo.

Nesse ponto, passa-se a exemplificar como a conduta antijurídica da

requerida colocou em risco a saúde e a segurança da população, quando se pretendeu, a

partir da carne envolvida no evento com amônia da Unidade do JBS em Pimenta Bueno/RO10,

o processamento em carne seca, para o fim de comercialização, de produto impróprio ao

consumo, em flagrante ofensa aos valores e interesses coletivos fundamentais.

A título de estimativa, há que se considerar que a carne seca é ingrediente

base para um dos pratos mais populares do Brasil, servido em lares de todas as classes: a

feijoada.

9 Fonte: https://tribunapr.uol.com.br/noticias/economia/do-boi-nada-se-perde-tudo-se-transforma/. Acessoem 23/02/2021

10 Nota Fiscal do JBS…...Fone: (69) 3451-2663 | www.mpro.mp.br

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Em rápida pesquisa a rede mundial de computadores, depreende-se que uma

receita comum de feijoada utiliza em média 250g de carne seca para um preparo com

rendimento de 16 porções.11

Nesse diapasão e, segundo informações do 1ª SIPOA do Departamento de

Inspeção de Produtos de Origem Animal, a empresa JBS procedeu a desossa de 49.214 kg

de carne – daquela exposta ao sinistro com amônia – gerando 41.524 kg de carne

desossada, que foram submetidas a salga úmida no dia 02/03/2021 (Lote:

02.03/2021/01).

Assim, em um cenário em que toda essa carne seca processada fosse utilizada

para o preparo de feijoadas, o resultado, em simples “regra de três”, é que ao menos

2.657.536 (dois milhões, seiscentas e cinquenta e sete mil, quinhentos e trinta e

seis) pessoas seriam as destinatárias do produto impróprio ao consumo.

Se cada uma dessas pessoas, potenciais consumidoras do alimento

impróprio, recebesse R$ 100,00 (cem reais) a título de indenização – valor ínfimo

diante da intolerável conduta que pretendeu a violação ao direito coletivo – o montante

indenizatório alcançaria o valor de R$ 265.753.600,00 (duzentos e sessenta e

cinco milhões, setecentos e cinquenta e três mil e seiscentos reais).

Frise-se, novamente, que o cálculo aqui apresentado é

exemplificativo e tem a finalidade de demonstrar o potencial risco à saúde e

segurança da população.

Além disso, avaliando o declarado total aproveitamento do boi abatido, a

apuração do quantum indenizatório deve considerar a possível destinação dada

aos ossos das carcaças processadas pelo grupo requerido, o que, considerando os dados do

1º SIPOA, equivaleria a 7.690kg de rejeitos.

11 https://www.receitasnestle.com.br/receitas/feijoada ; https://www.saboresajinomoto.com.br/receita/feijoada-completa-1.

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Como se sabe, ossos são compostos orgânicos ricos em cálcio e proteína e,

como estas substâncias têm grande valor nutricional, são amplamente utilizadas na

fabricação de rações para animais de corte ou domésticos.12

A se ponderar o tratamento e processos químicos que transformam a matéria-

prima – ossos – em ração animal, não se pode aqui mensurar o quantitativo animal que seria

atingido pelo produto impróprio, em provável ciclo de adoecimento de um rebanho ou

criação ou de uma parcela de população que os consumisse; mas fato é que a busca pelo

lucro ensejou a conduta que, em diferentes níveis se mostra reprovável e digna

responsabilização; em alusão ao cálculo acima delineado, se para cada quilo de osso fosse

considerada a reparação em R$ 200,00 (duzentos reais)13, estabelecer-se-ia o montante de

R$ 1.538.000,00 (um milhão, quinhentos e trinta e oito mil reais).

Nesse ínterim fala-se, em risco à saúde e segurança da população,

considerando o estado crítico da Saúde do Brasil, agravada pelas circunstâncias da atual

Pandemia; se é verdade que inexistem leitos e tratamento suficientes dispensáveis a

população vítima da COVID-19, é também verdade que os demais atendimentos clínicos e

emergenciais sofrem prejuízo – em uma rede de atendimento já tão deficitária.

Submeter uma considerável parcela da população ao consumo de alimento

impróprio, sujeitando a família comum aos dissabores de ingerir uma carne que teve contato

indiscriminado com um produto químico, esteve ao chão, foi arrastada, lavada e depois

processada, provoca repulsa e indignação, ainda mais considerando que eventual mal estar

causado por essa ingestão iria de encontro com o cenário deprimente da Saúde em tempos

de Pandemia.

É certo que para fixação do quantum indenizável, necessário se faz levar em

consideração o caráter pedagógico-punitivo da reprimenda, punindo-se a conduta lesiva

a atentatória às normas de proteção ao consumidor de modo tal, a prevenir futuras

transgressões aos princípios tão caros à sociedade. Nesse sentido, é o entendimento do STJ:

12 https://educacao.uol.com.br/disciplinas/quimica/quimica-e-reciclagem-farinha-de-ossos-bovinos-e-gordura-

animal.htm?cmpid=copiaecola

13 Avaliado o impacto em saúde humana e animal.Fone: (69) 3451-2663 | www.mpro.mp.br

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ADMINISTRATIVO. DANO AMBIENTAL. EXTRAÇÃO ILEGAL DE RECURSO NATURAL.

SAIBRO. BEM DA UNIÃO. RESSARCIMENTO AO ERÁRIO. INDENIZAÇÃO. VALOR

FIXADO. REDUÇÃO PELO TRIBUNAL A QUO. NECESSIDADE DE REPARAÇÃO

INTEGRAL. VIOLAÇÃO DOS ARTS. 884, 927 e 952, DO CÓDIGO CIVIL

CARACTERIZADA. RESTABELECIMENTO DO ENTENDIMENTO SINGULAR. I - Na origem

trata-se de ação civil pública ajuizada pela União objetivando condenação de sociedade

empresária na obrigação de pagamento de dano moral coletivo, restauração de área

degradada e ao pagamento de valor decorrente de extração ilegal de saibro.

[…] A indenização deve abranger a totalidade dos danos causados ao ente

federal, sob pena de frustrar o caráter pedagógico-punitivo da sanção e

incentivar a impunidade de empresa infratora, que praticou conduta grave

com a extração mineral irregular, fato incontroverso nos autos. Precedente:

AREsp n. 1.520.373/SC, Rel. Min. Francisco Falcão, Segunda Turma, DJe 13/12/2019.

IV - Agravo conhecido para dar provimento ao recurso especial, no sentido de

restabelecer o valor indenizatório fixado pelo juízo monocrático. (AREsp 1676242/SC,

Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA TURMA, julgado em 24/11/2020, DJe

01/12/2020).

Pacificou-se na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça o entendimento

de que para apuração da indenização a título de dano moral, deve-se observar o método

bifásico de fixação, levando-se em conta o interesse jurídico lesado com base em grupo

de precedentes judiciais e após deve se considerar as circunstâncias do caso concreto.14

No caso dos autos, o interesse jurídico lesado pertence à massa de

consumidores brasileiros, atingidos em sua moral, em decorrência quebra da confiança que

legitimamente se espera da empresa requerida, que investe amplamente na

publicidade de seus produtos, assegurando sua qualidade e por vias escusas,

desrespeita as normas sanitárias de produção.

Em relação aos precedentes judiciais, colaciona-se a título de exemplo,

importante entendimento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em julgamento de

caso semelhante, em que se reconheceu o desrespeito à cadeia de produção e aos princípios

previstos no CDC:

14 Fonte: https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias-antigas/2018/2018-10-21_06-56_O-metodo-bifasico-para-fixacao-de-indenizacoes-por-dano-moral.aspx. Acesso em: 24/03/2021.

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Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO COLETIVA.

PRODUTOS DESTINADOS À ALIMENTAÇÃO E SUPLEMENTAÇÃO MINERAL DE GADO

BOVINO. INOBSERVÂNCIA DOS PADRÕES REGULAMENTARES E DAS CONDIÇÕES

HIGIÊNICO-SANITÁRIAS. COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS IMPRÓPRIOS AO

CONSUMO. DANOS AOS CONSUMIDORES E DANO MORAL COLETIVO CONFIGURADOS.

1. DANOS AOS CONSUMIDORES INDIVIDUALMENTE CONSIDERADOS. Como é sabido,

há uma generalidade própria do provimento jurisdicional proferido em ação coletiva, a

teor do art. 95 do Código de Defesa do Consumidor, em relação aos danos suportados

pelos consumidores individualmente considerados, postergando-se a aferição concreta

e delimitada de ditos danos em liquidações de sentença individuais posteriormente

ajuizadas, nas quais se perquirirá a respeito da efetiva ocorrência de danos materiais e

morais nos casos concretos, assegurando-se o contraditório e a ampla defesa à

empresa-ré. No caso em liça, os produtos comercializados pela ré dizem com a

alimentação e suplementação mineral de gado bovino, de forma que, não

sendo observados os padrões regulamentares exigidos em sua produção e

sendo os produtos comercializados, os produtores rurais e agropecuários

adquirentes dos produtos, sem conhecimento das irregularidades em sua

fabricação, alimentaram e suplementaram seu gado bovino com produtos

impróprios ao consumo. Danos aos consumidores comprovados. 2. DANO

MORAL COLETIVO. A espécie indenizatória dos danos morais coletivos possui natureza

diversa do dano moral individual, esse último tradicionalmente relacionado pela

doutrina e pela jurisprudência como uma espécie de dor, sofrimento ou abalo psíquico

ao indivíduo. Em contrapartida, o dano moral coletivo se afeiçoa ao prejuízo

imaterial causado a uma coletividade – no caso concreto de consumidores –,

gerando reflexos negativos ao sistema como um todo. Na hipótese versada,

considerando a comercialização de produtos de alimentação e suplementação mineral

impróprios ao consumo de gado bovino, assim como o absoluto desprezo da

demandada para com o mercado consumidor de seus produtos, resta evidente a

configuração de dano moral coletivo. Precedente desta Corte. 3. QUANTUM

INDENIZATÓRIO. Levando em conta as circunstâncias do caso concreto,

especialmente a proteção diferenciada que merece o setor dos gêneros

alimentícios – que tem direta implicação com a seara da saúde – e a

recalcitrância da ré em produzir produtos alimentícios em desconformidade

com os padrões regulamentadores exigidos, mostra-se razoável a fixação de

R$ 100.000,00 (cem mil reais) a título de indenização por dano moral

coletivo a ser paga pela demandada e revertida em favor do Fundo de

Reconstituição de Bens Lesados. APELO PROVIDO. UNÂNIME.(Apelação Cível, Nº

70078868775, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ana

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Lúcia Carvalho Pinto Vieira Rebout, Julgado em: 18-07-2019).

De tal modo e diante do que se aqui exemplificou, firme no entendimento

que o dano moral coletivo é aferível in re ipsa , dispensável a demonstração de

prejuízos concretos ou de efetivo abalo moral, estima-se razoável o valor de 28.113.300,00

(vinte e oito milhões, cento e treze mil e trezentos reais), que constitui fração de

10% (dez por cento) 15 do valor estimado e de pessoas atingidas, a título de dano pela

pretensão de disponibilização ao consumo da carne seca imprópria e pelo montante do valor

estimado a título de dano pela propiciação de aproveitamento impróprio de ossos em

desfavor da saúde humana e animal.

IV – DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Já se sabe que o Código de Defesa do Consumidor é um microssistema para

defesa de pessoas vulneráveis. Nesta esteira, além de regras de direito material, ele também

possui em seu bojo regras de direito processual, dentre elas a possibilidade de inversão do

ônus da prova em favor dos consumidores, instrumento que visa, claramente, facilitar a

defesa dos direitos dos consumidores em Juízo.

Segundo dispõe o artigo 6º, VIII, do referido Código, é um direito básico do

consumidor a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive, com a inversão do ônus da

prova, a seu favor, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele

hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência.

A princípio, não resta dúvida da verossimilhança das alegações ora

deduzidas, sendo que os documentos juntados aos autos demonstram o evento danoso, os

prejuízos resultantes dele, além do imprescindível nexo causal, o que autoriza a

responsabilização da empresa ré.

15 10% de 265.753.600 (duzentos e sessenta e cinco milhões, setecentos e cinquenta e três mil e

seiscentos reais).Fone: (69) 3451-2663 | www.mpro.mp.br

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No mais, já foi sedimentado na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça

que é possível a inversão do ônus da prova em ação civil pública, eis que deve ser levado em

conta quem é a parte material da demanda, não a processual. E, sendo a primeira os

consumidores, fica clara a necessidade de aplicação da regra processual em comento. Neste

sentido, veja-se o teor da decisão da 1º Turma do Superior Tribunal de Justiça:

“ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DO CONSUMIDOR. OFENSA AOSARTS. 165, 458, 535, II, DO CPC/73 NÃO DEMONSTRADA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. PRERROGATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO NOÂMBITO CONSUMERISTA. INATACADO FUNDAMENTO BASILAR DO ACÓRDÃORECORRIDO. SÚMULA 283/STF. OBRIGAÇÃO DE IMPLANTAR SETOR DERELACIONAMENTO, A FIM DE DISPONIBILIZAR AO CONSUMIDOR FÁCIL ACESSO ACANAL DESTINADO AO CANCELAMENTO DA LINHA TELEFÔNICA. REEXAME DEMATÉRIA FÁTICA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. DISSÍDIOJURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADO. 1. Afasta-se a alegação de ofensa aos arts.165, 458, 535, II, do CPC/73, na medida em que o Tribunal de origem dirimiu,fundamentadamente, as questões que lhe foram submetidas, apreciandointegralmente a controvérsia posta nos autos, não se podendo, ademais, confundirjulgamento desfavorável ao interesse da parte com negativa ou ausência de prestaçãojurisdicional. 2. De acordo com a jurisprudência desta Corte, "o Ministério Público, noâmbito de ação consumerista, faz jus à inversão do ônus da prova, a considerar que omecanismo previsto no art. 6º, inc. VIII, do CDC busca concretizar a melhor tutelaprocessual possível dos direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos e deseus titulares - na espécie, os consumidores -, independentemente daqueles quefigurem como autores ou réus na ação" (REsp 1.253.672/RS, Rel. Ministro MauroCampbell Marques, Segunda Turma, DJe 9/8/2011). 3. O recurso especial nãoimpugnou fundamento basilar que ampara o acórdão recorrido, de forma que airresignação esbarra no obstáculo da Súmula 283/STF, que assim dispõe: "Éinadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais deum fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles.". 4. A Corte de origemratificou a sentença de piso que, a partir do exame do acervo probatório dos autos,concluiu pela inexistência de setores de relacionamento para o cancelamento delinhas telefônicas, razão pela qual condenou a parte recorrente a implantar referidoserviço, bem como ao pagamento de danos materiais, a serem apurados emliquidação de sentença, caso o consumidor comprove o fato gerador do direitoreclamado. Rever tal conclusão, demandaria, necessariamente, novo exame do acervofático-probatório constante dos autos, providência vedada em recurso especial,conforme o óbice previsto na Súmula 7/STJ. 5. A inexistência de similitude fático-jurídica entre os acórdãos recorrido e paradigma impede a análise da alegadadivergência jurisprudencial. 6. Agravo interno a que se nega provimento. AgInt noREsp 2012/0094924-1. Relator(a): Ministro SÉRGIO KUKINA. Órgão Julgador:PRIMEIRA TURMA. Data do Julgamento: 22/08/2017. Data da Publicação/Fonte: DJe31/08/2017.

Neste caso, conclui-se que o ônus da prova deve ser invertido em favor da

massa de interesses consumeristas defendidos pelo Ministério Público.

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IV – DOS PEDIDOS

Com base nos fundamentos apresentados e, diante do dever de equidade

que há de nortear a prestação jurisdicional, o Ministério Público requer a Vossa

Excelência:

1) O recebimento da presente Ação Civil Pública e a posterior citação da

Requerida para tomar ciência do teor da demanda e intimação para comparecer à audiência

de conciliação a ser designada;

2) A inversão do ônus da prova em favor dos consumidores, conforme

preconiza o Código de Defesa do Consumidor;

3) A CONDENAÇÃO da Requerida ao pagamento de indenização a título de

dano moral coletivo no importe de R$ 28.113.300,00 (vinte e oito milhões, cento e

treze mil e trezentos reais), a ser revertida em favor do Fundo de Reconstituição de Bens

Lesados, instituído pela Lei Complementar Estadual de Rondônia n. 944 de 25 abril de 2017.

4) A condenação da Requerida ao pagamento das custas e despesas

processuais;

5) a dispensa do pagamento de custas, emolumentos, honorários periciais e

advocatícios, e outras despesas por parte do Ministério Público (art. 18 da Lei 7.347/85).

6) Por fim, considerando a distribuição por dependência aos autos judiciais

nº 7000729-56.2021.8.22.0009, nos quais constam as peças do Inquérito Civil nº 01/2021

que instruem o pedido cautelar a presente Ação Civil Pública,

7) Pugna pela apresentação dos documentos a serem ainda produzidos na

cautelar e no referido ICP que apura outras responsabilidades.

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Protesta provar o alegado pelos documentos anexos, testemunhas, perícia e

demais meios de provas em direito admitidos.

Dá-se à causa o valor de R$ 28.113.300,00 (vinte e oito milhões, cento

e treze mil e trezentos reais).

Pimenta Bueno/RO, data certificada.

MARCOS GIOVANE ÁRTICOPromotor de Justiça

ANDRÉ LUIZ ROCHA DE ALMEIDAPromotor de Justiça

Fone: (69) 3451-2663 | www.mpro.mp.brAv. Castelo Branco, nº 914 – Bairro Pioneiros – Pimenta Bueno/RO – CEP:76.970-000

ANDRE LUIZ ROCHA DE ALMEIDA:20453112870

Assinado de forma digital por ANDRE LUIZ ROCHA DE ALMEIDA:20453112870 Dados: 2021.03.25 17:40:40 -04'00'

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EXCELENTÍSSIMA SENHORA JUÍZA DE DIREITO DA 2ª VARA CÍVEL DA COMARCA

DE PIMENTA BUENO/RO

ParquetWeb n. 2021001010002201

Ação Civil Púbica n. 04/2021

Distribuição por dependência aos autos principais:7000729-56.2021.8.22.0009

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE RONDÔNIA, por intermédio

de seus Promotores de Justiça signatários, no uso de suas atribuições legais e com

fundamento nos artigos 129, III, da Constituição Federal; 5º da Lei 7.347/85 e 25, IV, “a”,

da Lei 8.625/93, vem respeitosamente perante Vossa Excelência, com fulcro nas inclusas

peças de informação, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO

INDENIZATÓRIO POR DANO MORAL COLETIVO em face de:

JBS S/A – FILIAL PIMENTA BUENO , pessoa jurídica de direito

privado, a ser citada na pessoa de seu representante legal (art. 75,

VIII, do CPC), regularmente inscrita no CNPJ sob o n.

02.916.265/0082-25, com endereço na Rodovia BR 364, KM 207, Zona

Rural, no Município de Pimenta Bueno, com endereço eletrônico:

[email protected], com base nos fatos e fundamentos a

seguir expostos:

com base nos fatos e fundamentos a seguir expostos:

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I – DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Inicialmente, vale rememorar que a Constituição Federal de 1988 apresenta

cláusula consagradora ao determinar que “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do

consumidor” (art. 5o, inciso XXIII), estabelecendo tal preceito como um dos princípios gerais

da ordem econômica (art. 170, I).

A partir dessa perspectiva, o Ministério Público é legitimado a adotar as

providências cabíveis, inclusive judiciais, para promovê-la, conforme prevê o art. 82, I, da Lei

n. 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor) e art. 1º, II, da Lei n. 7.347/85 (Lei de Ação

Civil Pública).

A legitimidade ativa do Ministério Público tem origem constitucional, estando

prevista no artigo 129 da CF/883.

Nessa esteira, prevê a Lei da Ação Civil Pública, em seu artigo 1º, que as

ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados, dentre outros, ao

consumidor (II) poderão ser manejadas pelo Ministério Público (artigo 5º, I).

Por fim, estabelece o artigo 81 do CDC que a defesa dos interesses e direitos

dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo, individualmente ou a título

coletivo, notadamente quando se tratar de interesses ou direitos coletivos, assim

entendidos como os transindividuais, de natureza indivisível, de quem seja titular grupo,

categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária, por uma relação

jurídica base (inciso II).

É o caso dos autos, haja vista que os interesses defendidos na presente ação

civil pública se referem à proteção e defesa do consumidor lesado em seu direito à

informação e transparência, bem como à proteção de sua saúde e segurança alimentar.

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II – DOS FATOS E FUNDAMENTOS DO PEDIDO

II.1 – Dos Fatos

No dia 15.02.2021, no período da manhã, nas dependências da Unidade

Frigorífica da JBS S/A – FILIAL PIMENTA BUENO, nesta cidade e comarca, a canalização

de uma das câmaras de refrigeração da empresa requerida se rompeu, face a queda da

estrutura metálica, acarretando no vazamento de gás tóxico (amônia), atingindo as carcaças

de carne que estavam acondicionadas na câmara fria nº 02 e provocando danos à saúde das

pessoas que trabalhavam no local, sendo que dezenas foram socorridas na unidade de saúde

deste município.

Ao tomar conhecimento dos fatos, naquela data, ante a gravidade e por

dever de ofício, o Ministério Público instaurou procedimento para apuração, acionando os

demais órgãos públicos com atribuição de fiscalização (Bombeiros, SEDAM, MPT, Polícia Civil,

etc), requisitando, inclusive, a instauração de Inquérito Policial.

As investigações apontaram que a estrutura metálica da Câmara 2,

sequer dispunha de ART (anotação de responsabilidade técnica por obras e

serviço de engenharia)- documento técnico que garante a qualidade da estrutura,

e que a ruptura da estrutura da referida câmara se deu por excesso de peso,

conforme registrado no Laudo do Instituo de Criminalística e do Engenheiro Civil

do Ministério Público, os quais acompanham esta inicial.

Na Unidade do Frigorífico JBS em Pimenta Bueno, laboram dois Fiscais do

SIF: Gilberto Tobias Maestrelo e Camilo Almeida Torres, os quais exercem as

atribuições conferidas pelo Decreto Federal nº 9.013/2017.

O Serviço de Inspeção Federal – SIF, órgão ligado diretamente ao

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, responsável pela

fiscalização dos animais abatidos em Unidade Frigorífica, bem como fiscalização da produção,

caracterizando a inspeção ante mortem e post mortem (art. 11, § 1º do Decreto Federal nº

9.013/2017), já mencionado em manifestação anterior (ID 55577558 ).

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No dia do incidente (15/02/2021), apenas o Fiscal Gilberto Tobias Maestrelo

estava em efetivo serviço na Unidade e, incontinente, na primeira oportunidade, dirigiu-se ao

local para constatar o ocorrido, iniciando o trabalho de fiscalização. Neste contexto, o fiscal

registrou em fotografias as condições nas quais foram submetidas a carne que estava

acondicionada na câmara 02.

Eis as ilustrativas imagens:

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Nas palavras do Auditor do SIF (mídia digital ID55581181 e s.s),

após o incidente, a carne foi arrastada e submetida a contato com água, logo após

a exposição com a amônia, o que não foi suficiente para retirar o cheiro do

produto da carne.

A empresa verbalmente, por meio de seu Gerente de Produção Vinícius

relatou ao auditor do SIF que o Plano de Ação para a carne que teve contato com o piso e

com a amônia consistiria em:

1. Segregação da carne na câmara 05;

2. Realização de exames laboratoriais de análise organoléptica;

3. Apresentação dos resultados ao auditor do SIF para análise;

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A apresentação do plano de forma verbal induziu o agente do SIF a deixar de

proceder a apreensão cautelar da carne, em confiança à palavra empenhada pelo gerente de

produção.

O Fiscal Gilberto Tobias Maestrelo, nos dois dias subsequentes ao fato,

diligenciou-se às Câmaras Frias onde as carnes foram acondicionadas, constatando que a

carne ainda exalava cheiro de AMÔNIA.

Colaciona-se trechos da oitiva do Auditor:

“GTM: E, como foi aparecendo muito serviço, eu tinha que cuidar da parte do

ante mortem e post mortem, as vezes têm que, aparecem coisas para emitir do

departamento de inspeção final, fazer as verificações oficiais do Mafra, tem que

fazer o relatório, as certificações, para poder transitar, seja nacional ou

internacionalmente. E, eu achando que essas carcaças estavam lá ainda,

porque aí, no dia dezesseis eu falei, deixa eu ir lá para ver como está

a situação. Fui lá, cheirei as carcaças e ainda apresentavam odor forte

ainda de amônia, na terça. No dia dezessete, eu subi lá, verifiquei

novamente e apresentavam odor forte ainda. É (inaudível 08:32), para

mim, não passa cheiro. Eu falei, é só nessa câmara mesmo, que caiu, a

número dois, onde ela que ficou fechada.

GTM: É, aí no sábado, quando eles apresentou o documento pra mim, com

todas as análises, é, ficou (inaudível 09:04) também, falei, ah, deixa eu

subir lá também para ver como que tá também, no sábado. A hora

que eu chego lá, cadê as carcaças? Mas, por que? Era para manter

segregadas. Não sei, está errado isso aqui. E agora, o que que eu

faço, não tinha conhecimento nenhum ainda, não aprendi essas

coisas. Fiquei desesperado lá naquela hora, falei, mais como assim,

não tinha. É, aí depois, passou a semana.

PJ: Antes que o senhor prossiga, depois que o senhor percebeu que eles

tinham tirado as carcaças de lá, o Vinícius procurou vocês? Alguém procurou

vocês? Para falar sobre o destino?

GTM: Antes, naquela semana, do dia quinze até ao dia vinte, eu sofri

muita pressão psicológica lá. O Vinícius, principalmente, ia lá e ficava

falando um monte de coisas.

PJ: O que que ele falava para o senhor?

GTM: Falou primeiro que a amônia, que não sei o que, que parece que não faz

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nada, que ouvi não sei o que, que lá, lá, lá, um monte de coisa. Porque, sabe

como que ele, fala, fala, nossa, você vai ficando impaciente.

PJ: Eu não o conheço.

GTM: Mas teve um dia que ele falou, começou falar sobre os

problemas, que não ia querer destroçar essa carne aqui não,

funcionários daqui, não vai (inaudível 10:47), vou mandar tudo para

charque. Quero me livrar disso. Mas só que eu não lembro, até comentei

com aquele outro, se ele tinha pedido para mim, pra que podia mandar essas

carnes para serem charqueadas em São Paulo.”

Todavia, o Frigorífico JBS encaminhou a carne para Santana de

Parnaíba, no dia 19/02/2021, em horário fora do expediente dos auditores de

inspeção federal, sem o resultado do exame laboratorial, consoante se extrai da

lavratura das notas fiscais, que indicam o horário de 20h13min do dia 18/02 e 00h do dia

19/02.

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Os resultados dos exames laboratoriais foram concluídos somente

no dia (22/02/2021, ID 55006007 s.s) e apresentados ao Auditor de Inspeção

Federal no dia 25/02/2021, quando a carne já havia sido retirada da Unidade de

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(ID 55006006), o que denota a ausência de transparência e boa-fé da empresa. Ou seja, a

carne foi transportada para São Paulo, sem a apresentação dos exames laboratoriais aos

agentes do SIF local e à revelia deles.

Ainda mais grave foi a declaração do Gerente de Produção da requerida à

Engenheira Sanitarista do Ministério Público, VINÍCIUS, quando de sua inspeção realizada no

dia 23/02/2021.

Naquela oportunidade, o Sr. Vinícius afirmou que toda a produção

havia sido incinerada, quando na verdade os lotes de carnes já tinham sido

destinados ao consumo e encaminhados para Santana de Parnaíba em

19/02/2021 (Notas Fiscais ID).

Tão somente após o Delegado de Polícia ouvir o sr. Vinícius em sede

de Inquérito Policial, tomou-se conhecimento que a carne fora destinada ao

consumo humano, momento em que de imediato esta Promotoria de Justiça

moveu a ação cautelar apensa nestes autos (processo cautelar n. 7000-729-

56.2021.8.22.0009).

Detectando que a Requerida praticava atos violadores aos direitos dos

consumidores, este Órgão Ministerial ajuizou pedido de tutela cautelar de urgência para

apreensão dos lotes de carnes, visando a impedir que os produtos chegassem à mesa das

famílias, materializado nos autos judiciais citado. Deferida a tutela cautelar, determinou-se a

apreensão da carne, a fim de verificar a sua aptidão ou não para o consumo.

Repita-se, no caso, descobriu-se que o produto já havia sido

clandestinamente removido do local do dano para outra unidade do JBS, situada de

Santana de Parnaíba/SP, decorrente de atos dos Gerentes da JBS em Pimenta Bueno,Fone: (69) 3451-2663 | www.mpro.mp.br

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consistente em encaminhar o produto para consumo humano. Atualmente o produto está

processado na forma de charque.

No processo cautelar n. 7000-729-56.2021.8.22.0009, determinou-se ao

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA que procedesse à adequada

fiscalização dos produtos apreendidos, haja vista a impossibilidade de cumprimento de suas

disposições legais e regulamentares na Unidade da requerida, em Pimenta Bueno/RO, face a

burla no sistema de inspeção consoante ofício supra referido (ID 55693436).

A apuração dos fatos avançou na via administrativa, descortinando-

se elementos de violação e fraude à fiscalização federal no que toca ao controle e

fiscalização sanitária da carne para o consumo humano, o que implicou na

instauração do processo administrativo n. 21052.003786/2021-14, junto ao

MAPA.

Até o momento do ajuizamento desta demanda, têm-se conhecimento que o

próprio MAPA lavrou um auto de infração de n. 002/10131/2021, por tentativa de

burla ao Sistema de Inspeção Federal - SIF e por trânsito ilegal da carne, entre

outros, conforme ofício n. 366/2021/1SIPOA/DIPOA/SDA/MAPA, que se faz

juntada com esta inicial.

O MAPA também lavrou termo de apreensão cautelar n. 001/C.I.F. 2918/21

de 41.524KG da carne objeto destes autos. No auto de infração, que se faz juntada com esta

inicial, assim registra o SIF: Matéria prima com suspeita de contaminação por amônia

proveniente do estabelecimento JBS S.A, sob SIF 2880, localizado em Pimenta

Bueno/RO, que foi enviada a revelia do SIF 2880 ao JBS S.A, sob o SIF 1686 para

tratamento condicional pela salga (Jerked Beef), sendo descarregada em

02/03/2021, sem a Declaração de Destinação Industrial (Ofício Circular n.

35/2020), conforme consta no processo n. 21052.003786/2021-14.

Ressalte-se que somente após a determinação judicial, deferida na Ação

Cautelar, ocorreu o acompanhamento da diligência pelos agentes do SIF de Santana de

Parnaíba-SP, local em que se encontra a carne, já permitiu identificar, numa análise

preliminar, que 15 carcaças estavam condenadas e não poderiam ser processadasFone: (69) 3451-2663 | www.mpro.mp.br

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nem mesmo para charque, sem conhecer a fundo a cadeia de produção

especificamente daquele produto, com as intercorrências advindas do pós contato

com a amônia do produto referido: carne amontoada, arrastada, lavada,

acondicionada em outras câmaras frias, com um período sem refrigeração, etc.

Coleciona-o nesta peça, não obstante esteja acompanhado com a inicial, a

fim de enfatizar a gravidade dos atos procedidos pela empresa após o contato da carne com

o gás tóxico amônia.

Numa apuração preliminar pela Auditoria de Inspeção Federal do MAPA,

têm-se os seguintes eventos cronológicos e atos que desrespeitam a cadeia de

produção e segurança sanitária alimentar para a destinação dos produtos ao

consumo humano.

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Enfatiza-se o item h que já indica a lavratura de auto de infração

por tentativa de burla ao Sistema de Inspeção Federal e trânsito ilegal.

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II.2 – Dos fundamentos do pedido

Nos diferentes procedimentos instaurados para apuração dos fatos (Inquérito

Civil, Inquérito Policial e Processo Administrativo/MAPA), descortinaram-se diversas

irregularidades por parte da requerida, as quais levam à conclusão de que não apenas a

contaminação por gás tóxico, mas todos os atos que se seguiram, desrespeitaram

veementemente a segurança da cadeia de produção, tornando por isso, os produtos

impróprios para o consumo humano, consoante se demonstrará minunciosamente a seguir,

o que legitima o manejo da presente ação na tutela dos direitos dos consumidores.

O Vazamento de amônia ocorreu no dia 15/02/2021, na câmara fria nº 02,

onde estavam acondicionadas 150 meias carcaças bovinas, conforme informações prestadas

em Sede Policial pelo Gerente Industrial da Requerida, Sr. Vinícius Domingos Paro.

Os documentos apresentados pela Requerida, sob ordem judicial,

demonstram que as carnes expostas ao agente tóxico (AMÔNIA) foram removidas para as

Câmara de Refrigeração nº 03 e 05.

O Auditor Fiscal do MAPA Gilberto aduziu que a empresa não

cumpriu com o Plano de Ação, destinando à sua revelia, toda a produção

contaminada com amônia, para Santana de Parnaíba/SP.

E a destinação da carne de forma escamoteada aos olhos dos Fiscais do SIF

somente foi possível diante das inúmeras manobras praticadas pelos funcionários da

Requerida JBS, em especial o Gerente de Produção Vinícius, a saber:

1. Apresentação de PLANO DE AÇÃO e Garantia de Acautelamento da Carne

na Unidade de Pimenta Bueno ao Fiscal do SIF;

2. Remoção da carne para outra Unidade, e, 19.02, descumprindo o Plano

de Ação e sem autorização do SIF;

3. Promoveram a remoção em horário fora do expediente dos auditores de

inspeção federal, sem o resultado do exame laboratorial, conforme NotasFone: (69) 3451-2663 | www.mpro.mp.br

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Fiscais emitidas no dia 19/02/2021 (ID 55006006);

4. Protocolo de documento no SIF de Pimenta Bueno, afirmando que foram

realizados exames laboratoriais em 19.02, contudo tais exames apenas

foram concluídos em 22/02/2021, (ID 55006007 s.s) e apresentados ao

Auditor de Inspeção Federal no dia 25/02/2021, quando a carne já havia

sido retirada da Unidade de Pimenta Bueno.

5. Informação falsa prestada a servidora do Ministério Público em 22.03,

afirmando que a carne exposta ao agente contaminante fora incinerada.

Os atos praticados pela Requerida apontam que a real intenção sempre

foi a destinação do produto imediatamente ao consumo humano, que só não chegou

à mesa do consumidor face ao processo cautelar e apreensão judicial. Tanto que as

condições atuais do produto é o seu processamento para charque.

A ausência de boa-fé e transparência da empresa salta aos olhos,

demonstrando o interesse único e exclusivo de obter lucros à revelia dos parâmetros de

qualidade exigidos para destinar o produto ao consumo.

Não obstante tudo o que foi até aqui apresentado, a Requerida argumentou

em sede contestação que “a empresa agiu de boa-fé” e que “os lotes de carne não fora

destinado ao consumo, mas sim destinados à outra Unidade Frigorífica onde seriam

submetidas à análise laboratorial para posterior destinação”.

Não é crível tal argumento quando o próprio SISTEMA DE

INSPEÇÃO FEDERAL, VINCULADO AO MAPA, LAVRA UM AUTO DE INFRAÇÃO n.

002/10131/2021, indicando a tentativa de burla ao sistema de inspeção federal e

trânsito ilegal, conforme supra mencionado e que acompanha esta inicial.

Muito menos que se desloque dois caminhões carregados de carne até

Santana de Parnaíba, para tão somente após se avaliar a viabilidade ou não da carne para o

consumo, ante os custos decorrentes, face uma empresa que visa a lucros e não prejuízos.

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Em nenhum momento as alegações da requerida foram corroboradas com as

provas coligidas ou com as declarações de seus próprios colaboradores, que afirmaram,

inclusive em depoimento prestado perante Autoridade Pública, que realmente a carne fora

destinada para o consumo.

As Notas Fiscais Juntadas aos autos não mencionam em nenhum

dos campos preenchidos que aqueles lotes estavam sendo transportados para

industrialização, sendo que a ausência de tal informação na nota fiscal ou nos

romaneios de transporte, poderia levar os colaboradores de Santana de Parnaíba

a dar a destinação considerada adequada, porquanto, não foram comunicados da

contaminação do produto pela amônia, intercorrência essa inclusive mencionada

no relatório preliminar do SIF, supra acostado.

Diante disso, sobressai cristalino a real intenção da empresa de destinar tais

lotes de carne para o consumo, sem assegurar a qualidade e segurança do produto,

porquanto, somente após o Ministério Público ingressar com ação cautelar para que a carne

fosse devidamente periciada, os agentes do SIF de Santana de Parnaíba-SP, tomaram

conhecimento do ilícito, acompanhando a diligência, vez que este Juízo viera

acioná-los para o cumprimento da medida cautelar deferida nos autos n.

7000729-56.2021.8.22.0009.

Numa análise preliminar do órgão sanitário, em atendimento a decisão

judicial deferida na Cautelar ajuizada pelo Ministério Público, 15 carcaças estavam

condenadas e não poderiam ser processadas nem mesmo para charque, repita-se,

sem conhecer a fundo a cadeia de produção especificamente daquele produto,

com as intercorrências advindas do pós contato com a amônia do produto

referido: carne amontoada, arrastada, lavada, acondicionada em outras câmaras

frias, com um período sem refrigeração, etc.

E só não foram em razão dos desdobramentos da ação cautelar, conforme o

que foi juntado aos autos.

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Ademais, o Gerente de Produção Vinícius Domingos Paro perante a

Autoridade Policial e acompanhado de advogado constituído pela empresa na

manhã do dia 25/02/2021, afirmou que o Plano de Ação para carne foi elaborado

três dias após o ilícito, e que seria destinada ao consumo humano, conforme

plano apresentado ao auditor do SIF e sua anuência em liberar a industrialização

naqueles termos, o que contraria o depoimento do referido agente de inspeção

federal, que nega ter autorizado o transporte da carne, conforme depoimento

colhido no Inquérito Policial e Inquérito Civil.

Pelo que se verifica, as afirmações da requerida e de seu Gerente de

Produção não encontram respaldo nas provas produzidas até o presente momento, em

especial:

1. Laudo de resultados microbiológicos apresentados ao SIF somente em

25/02/2021, às 13h45min, após o depoimento prestado à Autoridade Policial;

2. O relato do Auditor Federal apontando que não recebeu e não

autorizou o plano de ação elaborado para a carne;

3. As Notas Fiscais foram emitidas entre 20h13min do dia 18/02 e 00h

do dia 19/02, indicando que a remoção do produto para outra Unidade ocorreu após esse

período, fora do horário de expediente dos auditores do SIF.

Por todo o exposto verifica-se que todos os eventos afetos à segurança

da cadeia de produção: 1. dano estrutural; 2. não apresentação dos Programas e

Planos de Ação; 3. arrastamento da carne pelo chão; 4. ausência de registros da

câmara 02; 5. possibilidade de ter havido contato das carcaças da câmara 02 com

outras carcaças eventualmente já acondicionadas nas câmaras 03 e 05, denotam o

total desrespeito às normas sanitárias de produção.

Inadmissível que um produto com todas estas intercorrências fosse

destinado ao consumo humano, seja a carne acautelada judicialmente, caso já estaria na

mesa do consumidor, seja as que possivelmente já estavam acondicionadas nas Câmaras 03Fone: (69) 3451-2663 | www.mpro.mp.br

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e 05, quando a que teve contato com a amônia, foi colocada no mesmo local, conforme o

relatório de incidente elaborado pela empresa requerida no dia 15/02/21 (ID 55329880) e o

documento SIF (supramencionado).

II.3) Das Constatações Administrativas realizadas Serviço de Inspeção Federal

(SIF), vinculado ao MAPA, até o presente momento

Importante ressaltar que diante dos indícios fundados de burla ao

Sistema de Inspeção Federal, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA,

instaurou procedimento de âmbito administrativo, visando a apurar os fatos (Procedimento

nº 21046.000381/2021-11).

Consta no aludido Procedimento Administrativo, que o SIF de Pimenta

Bueno aplicou Autos de Infração à empresa Requerida por descumprimento à legislação

regulamentar do processo de inspeção federal (Autos de Infração nº 02/10131/2021 e

03/10129/2021), nos seguintes termos:

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Observa-se da lavratura do auto de infração que “pelo que foi

constatado e relatado, a equipe do SIF 2880 identificou falhas graves no trânsito das

matérias primas/produtos, desrespeitando tanto a legislação vigente como os Programas de

Autocontrole da empresa, além de tentativa clara de burla aos Serviço de Inspeção Federal”.

Colaciona-se a seguir o Fluxograma contido no Programa de

Autocontrole da empresa, estabelecido para observância em caso de avaliação e destinação

de produto fora da especificação.Fone: (69) 3451-2663 | www.mpro.mp.br

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A empresa desrespeitou o próprio Programa de Autocontrole estabelecido para

situações como esta, ao não apresentar a declaração de destinação do produto aos Auditores

do SIF para posterior liberação.

Conforme se verifica, após ser intimada a apresentar a respectiva declaração

que respalda o transporte de produtos para destinação industrial, a empresa apresentou o

comprovante de envio, datado de 08/03/2021, ou seja, após o recebimento da carne em

Santana de Parnaíba/SP.

Fica claro, portanto, a intenção de retirar os produtos da planta frigorífica de

Pimenta Bueno sem a liberação do SIF e sem a menção aos fatos ocorridos (vazamento e

amônia, arrastamento da carne pelo chão, lavagem com água clorada etc), com o fim de não

constar tal impedimento para posterior comercialização da carne. Tanto é assim que a

empresa fora autuada por desrespeito à observância dos procedimentos legais e

trânsito dos produtos sem a referida declaração de destinação industrial.

Ademais disso, a falta de zelo e diligência pela empresa requerida

sobressai cristalino diante do Auto de Infração nº 003/10129/2021, porquanto,

recebeu autuação por ultrapassar a capacidade de armazenamento da câmara fria

nº 05, logo após o incidente, quando as carnes que tiveram contato com a amônia

(câmara nº 02), foram transferidas.

Ora, não bastasse a ausência de ART da câmara fria nº 02 (consoante alhures

demonstrado), a empresa ainda colocou em risco outra vez aqueles mesmos lotes de carne

ao desrespeitar a capacidade de armazenamento da câmara nº 05 (Registro de incidente).

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Tudo isso demonstra que por diversas vezes a empresa não seguiu seu

protocolo bem como a legislação pertinente e ainda burlou o Sistema de Inspeção Federal,

destinando irresponsavelmente as carnes para o consumo.

III) Do dano moral coletivo

Contemporaneamente, a jurisprudência em consonância com a doutrina, tem

admitido, diante da ocorrência de ato ilícito, a possibilidade de condenação ao pagamento de

indenização por dano moral coletivo.

A reparação do dano moral coletivo tem sido contemplado a partir da

perspectiva social, para desestimular práticas abusivas em detrimento do consumidor. NesseFone: (69) 3451-2663 | www.mpro.mp.br

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sentido é o entendimento doutrinário:

“A possibilidade de reparação do dano moral coletivo contribuiu para

desestimular as práticas abusivas contra os direitos do consumidor, o que está

em perfeita consonância com o mandamento constitucional de efetiva defesa

dos interesses desse agente econômico vulnerável (art. 5º, XXXII e 170, V, da

CF) e com a atual jurisprudência do STJ, que tem admitido a função punitiva

do dano moral.1”

Complementa os autores:

“Para a Corte Superior, o reconhecimento do dano moral coletivo cumpre

funções específicas, quais sejam a punição do responsável pela lesão e inibição

da prática ofensiva e, apenas como consequência, a redistribuição do lucro

obtido de forma ilegítima pelo ofensor à sociedade.”

Afigura-se claramente viável a condenação da requerida ao pagamento de

danos morais coletivos, porquanto, o desrespeito às normas sanitárias do processo de

produção e a burla ao sistema de inspeção federal, traduzem a falta de

comprometimento da empresa com seus consumidores, porquanto, viola os

princípios consagradores do Direito do Consumidor, especialmente os princípios

da confiança, do combate ao abuso e da transparência.

De acordo com entendimento doutrinário:

“O princípio da confiança ou da proteção da confiança, embora não previsto

expressamente no CDC, é um dos desdobramentos do princípio da boa-fé

objetiva. Traduz-se no dever de respeito às legítimas expectativas que

o consumidor deposita numa determinada relação de consumo, seja

no tocante ao conteúdo do contrato, seja no que se refere à esperada

segurança e qualidade dos produtos e serviços que constituem o

objeto desta relação.2”

1 Andrade, Adriano; Masson, Cleber, Andrade, Landolfo. Interesses Difusos e Coletivos, 10ª Ediça�o, Editora Me�todo, 2020. Pg.519 e 521.

2 Andrade, Adriano; Masson, Cleber, Andrade, Landolfo. Interesses Difusos e Coletivos, 10ª Edição, EditoraMétodo, 2020. Pg. 498.

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O princípio da confiança impõe ao fornecedor o dever de observância aos

padrões de qualidade de segurança, para que não ultrapassem os riscos que razoavelmente

se espera.

Não é razoável que as instâncias do Estado sejam acionadas e façam

diligências para aferir a segurança alimentar dos produtos. Esse dever de boa fé é do

fornecedor, que no mínimo deve respeitar e atender os ditames do SISTEMA DE INSPEÇÃO

FEDERAL, que destaca auditores permanentes nesta unidade frigorífica de Pimenta Bueno.

Se não tivesse chegado ao conhecimento desta Promotoria de Justiça, por

intermédio de inquérito policial que a carne estava sendo destinada ao consumo e ao

deferimento imediato da cautelar pelo Poder Judiciário, já na mesa do consumidor estaria

este produto.

Onde fica a responsabilidade social de fornecer produtos de qualidade

à população como o marketing da JBS prega? E divulga? Se ela mesma tenta

burlar o próprio sistema de inspeção federal, conforme auto de infração do MAPA

n. 002/10131/2021 e relatório preliminar do ofício n. 366/2021/1SIPOA/DIPOA/

SDA/MAPA, para não perder um produto, que por culpa exclusiva da empresa

teve contato com amônia, foi arrastado, e transportado em descompasso ao

procedimento que se espera?

No caso dos autos, conforme se verifica no sítio eletrônico da requerida, a

empresa exporta carne para diversos países do mundo, além de atuar no mercado brasileiro:

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Conforme se observa, são mais de 275 mil clientes espalhados em 190

nações ao redor do mundo, incluindo os consumidores brasileiros, que esperam e

confiam que o produto por ela produzido é de inteira qualidade, o que por si só cria uma

legítima expectativa dos consumidores em geral, pela tamanha publicidade envolvida.3

Não há como negar que a atuação ministerial em conjunto com os demais

órgãos de proteção ao consumidor e o Poder Judiciário, mostram-se salutar na defesa de

diversas pessoas espalhadas pelo país, que individualmente considerados não dispõem de

tais informações para defesa de seus interesses em Juízo.

3 Informaço� es e gra� fico disponí�veis em: https://ri.jbs.com.br/a-jbs/localizacao-e-areas-de-atuacao/. Acesso em: 22/03/2021.

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O princípio da precaução, por sua vez, conforme sugere a doutrina: “traduz

a ideia de que não basta a proteção contra o perigo concreto, sendo necessário igualmente

acautelar-se em relação ao perigo hipotético, no intuito de minimizá-lo”4.

Não é o que se verifica no caso em apreço, ao revés disso, a empresa,

a todo momento tentou minimizar seu próprio prejuízo em detrimento da saúde e

segurança dos consumidores, destinando, irresponsavelmente e à revelia do

sistema de inspeção federal, todo o produto que teve contato com amônia e que

ainda desrespeitou a cadeia de produção de segurança alimentar.

Ressalte-se mais uma vez que os lotes de carne só não chegaram à mesa do

consumidor, diante da atuação rápida e diligente do Poder Judiciário que, apreciando pedido

cautelar interposto pelo Ministério Público impediu os demais atos de destinação do produto.

Outrossim, o abuso do dever informação conferido pelo CDC (art. 6º,

incisos II e III) restou suficientemente demonstrado nos autos, quando o Gerente de

Produção Vinícius, reiteradamente dissimula e omite informações de suma importância.

Frise-se que o citado Gerente, deliberadamente mentiu ao dizer para

a Engenheira Sanitarista do Ministério Público, no momento de sua vistoria em

23/02/2021, que a carne contaminada com a amônia havia sido incinerada

(Relatório ID 54985051).

Mais tarde, em Sede Policial, o Gerente Industrial afirmou que três dias após o

incidente, a empresa tomou a decisão de charquear aquela carne (Termo de depoimento ID

55578890).

A dissimulação e violação ao dever de informação é claro, porquanto, se

houvesse comprometimento com a saúde e segurança do consumidor e não apenas com seu

próprio lucro, a empresa teria sido transparente com as informações prestadas nos autos

judiciais no momento em que foi chamada em juízo, ao revés, limitou-se a dizer que não

4 Andrade, Adriano; Masson, Cleber, Andrade, Landolfo. Interesses Difusos e Coletivos, 10ª Edição, Editora Método, 2020. Pg. 501.

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houve destinação da carne para o consumo.

Ora, não é essa a constatação que se faz a partir do relatório da SEDAM

juntado aos autos do ICP nº 2021001010002201 (apresentado aos autos nesta

oportunidade), em que o referido órgão ambiental constou a informação prestada pelo

mesmo Gerente Industrial Vinícius, ao afirmar que: “Posteriormente, após o laudo de

conformidade a mesma (carne) foi COMERCIALIZADA”.

A própria empresa afirma que a carne foi destinada a consumo,

mesmo sem autorização do Sistema de Inspeção Federal e desrespeitando a

cadeia de produção.

Os registros fotográficos juntados aos autos revelam situação extremamente

revoltante e atentatória aos consumidores, que apenas não foram atingidos em sua

segurança alimentar devido à rápida intervenção do Poder Judiciário.

Por todo o exposto, revela-se imperiosa a condenação da requerida ao

pagamento de danos morais coletivos, porquanto, o desrespeito à cadeia de produção e a

burla ao sistema de inspeção federal revela a violação de diversos princípios e direitos do

consumidor, em especial ao princípio da confiança.

A esse respeito, o Superior Tribunal de Justiça tem entendido que o dano

moral coletivo, ao contrário do dano moral individual não reclama que seja configurado a

provação de dor e sofrimento, porquanto, decorre do próprio do fato (in re ipsa):

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IRREGULARIDADES SANITÁRIAS.MULTAS APLICADAS EM PROCESSO ADMINISTRATIVO. AUSÊNCIA DEREINCIDÊNCIA NO COMETIMENTO DAS CONDUTAS IMPUTADAS AOESTABELECIMENTO COMERCIAL. DANO MORAL E MATERIAL COLETIVO.AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE LESÃO AOS CONSUMIDORES. SENTENÇAMANTIDA. RECURSO NÃO PROVIDO. […] Vale transcrever o seguinte trecho dojulgado: “Finalmente, em situações graves desse jaez, que põem em risco asaúde e a segurança da população, o dano moral coletivo independe deprova (damnum in re ipsa), conforme iterativa jurisprudência do STJ.Precedentes: AgInt no AREsp 1.251.059/DF, Rel. Ministro Francisco Falcão, SegundaTurma, DJe 9/9/2019; AgInt noREsp 1.342.846/RS, Rel. Ministra Assusete Magalhães,Segunda Turma, DJe 26/3/2019. É também a posição dos colegiados de DireitoPrivado: "Os danos morais coletivos configuram-se na própria prática ilícita,

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dispensam a prova de efetivo dano ou sofrimento da sociedade e se baseiamna responsabilidade de natureza objetiva, a qual dispensa a comprovação deculpa ou de dolo do agente lesivo, o que é justificado pelo fenômeno dasocialização e coletivização dos direitos, típicos das lides de massa” (STJ,REsp 1.799.346/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, Terceira Turma, DJE13/12/2019.)5

É exatamente esse o caso dos autos, uma vez que as provas coligidas

demonstram claramente a configuração do dano decorrente do próprio fato: vazamento de

amônia e demais atos de desrespeito à cadeia de produção que se sucederam: os quais

apenas não produziram danos vultuosamente mais graves, por conta da intervenção rápida e

eficaz.

Ressalte-se, por fim, que Superior Tribunal de Justiça tem entendido que a

violação aos princípios previstos no CDC, impõe a condenação em danos morais

coletivos. Colaciona-se a seguir um dos julgados em que o Tribunal, utiliza-se de alguns dos

princípios norteadores do CDC para impor a condenação a título de dano mora coletivo:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PROPAGANDA

ENGANOSA. VEÍCULO AUTOMOTOR. INTRODUÇÃO NO MERCADO NACIONAL.

DIFUSÃO DE INFORMAÇÕES EQUIVOCADAS. ITENS DE SÉRIE. MODELO BÁSICO.

LANÇAMENTO FUTURO. DANO MORAL DIFUSO. CONFIGURAÇÃO. REEXAME DA

MATÉRIA. REVOLVIMENTO DE PROVAS E FATOS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA Nº

7/STJ. 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código

de Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). […] 5. O sistema

de tutela da publicidade trazido pelo Código de Defesa do Consumidor encontra-se

assentado em uma série de princípios norteadores que se propõem a direcionar e

limitar o uso das técnicas de publicidade, evitando, assim, a exposição do público

consumidor a eventos potencialmente lesivos aos direitos tutelados pelo referido

diploma legal. Dentre estes princípios, merecem destaque, os da identificação

obrigatória, da publicidade veraz, da vinculação contratual e da correção do

desvio publicitário. [...] 8. O dano moral difuso, compreendido como o resultado de

uma lesão a bens e valores jurídicos extrapatrimoniais inerentes a toda a coletividade,

de forma indivisível, se dá quando a conduta lesiva agride, de modo injusto e

intolerável, o ordenamento jurídico e os valores éticos fundamentais da sociedade em

si considerada, a provocar repulsa e indignação na própria consciência

coletiva . A obrigação de promover a reparação desse tipo de dano encontra respaldo

5 Fonte: https://www.conjur.com.br/2021-mar-08/mp-debate-direito-consumidor-dano-moral-difuso. Acesso em 22/03/2021.

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nos arts. 1º da Lei nº 7.347/1985 e 6º, VI, do CDC, bem como no art. 944 do CC. 9. A

hipótese em apreço revela nível de reprovabilidade que justifica a imposição da

condenação tal e qual já determinada pelas instâncias de origem. Além disso, a revisão

das conclusões do acórdão ora hostilizado encontra, também nesse ponto específico,

intransponível óbice na inteligência da Súmula nº 7/STJ. 10. Recurso especial não

provido. (REsp 1546170/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA

TURMA, julgado em 18/02/2020, DJe 05/03/2020).

Vale reprisar, por sua importância, o entendimento acima esposado pelo

Ministro relator de que “o dano moral difuso, se dá quando a conduta lesiva agride,

de modo injusto e intolerável, o ordenamento jurídico e os valores éticos

fundamentais da sociedade em si considerada, a provocar repulsa e indignação na

própria consciência coletiva”.

III.1) Dos parâmetros para estipulação do dano moral coletivo

Para a fixação do dano moral coletivo, faz-se necessário percorrer por alguns

critérios e parâmetros, a fim de se chegar ao final à correta identificação do quantum

indenizável, levando-se em conta, entre outros critérios, a quantidade potencial de

consumidores e a capacidade econômica da requerida.

No que se refere à capacidade econômica, é fato notório que a requerida é a

maior empresa de processamento de proteína animal do mundo.6 Além disso, nos últimos

trimestres do ano de 2020, superou a Petrobrás e se tornou a maior empresa do

Brasil em receita no segundo trimestre7.

Apenas no 2º trimestre de 2020, a empresa registrou um lucro líquido de R$

3,379 bilhões, alta de 54,8%8.6 https://jbs.com.br/sobre/negocios/bovinos/#:~:text=A%20unidade%20de%20neg%C3%B3cios%20JBS,de

%20processamento%20de%20prote%C3%ADna%20animal. Acesso em 22/03/2021

7 Fonte: Economia - iG @ https://economia.ig.com.br/2020-08-24/jbs-supera-petrobras-e-se-torna-maior-empresa-do-brasil-em-receita.html. Acesso em 22/03/2021.

8 Fonte: https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2020/08/13/jbs-registra-lucro-liquido-de-r-3379-bilhoes-no-2-trimestre-alta-de-548.htm#:~:text=A%20JBS%2C%20uma%20das%20maiores,nesta%20quinta%2Dfeira%2C%2013. Acesso em 22/03/2021

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Levando-se em conta que em Unidades Frigoríficas, aproveita-se cada parte do

animal abatido, é possível aferir-se que não há perdas significativas para a empresa.

Colaciona-se, por oportuno, trechos de uma matéria produzida pela coluna “Tribuna” do site

UOL, em entrevista dada pelo diretor de operações do Grupo Friboi à época:

“Conseguimos aproveitar 100% do boi. Não desperdiçamos nada, afirmou o diretor de

operações do Grupo Friboi, José Luiz Medeiros. Com 22 unidades no País e duas

fazendas, o Friboi se destaca como o quarto maior frigorífico do mundo e o primeiro da

América Latina em abate e processamento de carne bovina – são 12 mil cabeças

abatidas por dia. Um frigorífico só consegue ter aproveitamento total se tiver estrutura

de acordo com a inspeção federal. Engrossando a lista dos subprodutos do boi,

Medeiros cita ainda a utilização do casco e chifre na fabricação de adubo – há quem

utilize ainda o chifre na fabricação artesanal de pentes e pulseiras, a crina na

fabricação de pincéis, a bílis e a traquéia na indústria farmacêutica. Até o sangue fetal

pode ser aproveitado na fabricação de soro para vacinas”.9

É certo que a busca incessante pelo lucro, pode ocasionar situação como a

exposta, em que mesmo com contaminação por gás tóxico, provocada por desabamento de

estrutura metálica não impediu a destinação de produto impróprio ao consumo.

Nesse ponto, passa-se a exemplificar como a conduta antijurídica da

requerida colocou em risco a saúde e a segurança da população, quando se pretendeu, a

partir da carne envolvida no evento com amônia da Unidade do JBS em Pimenta Bueno/RO10,

o processamento em carne seca, para o fim de comercialização, de produto impróprio ao

consumo, em flagrante ofensa aos valores e interesses coletivos fundamentais.

A título de estimativa, há que se considerar que a carne seca é ingrediente

base para um dos pratos mais populares do Brasil, servido em lares de todas as classes: a

feijoada.

9 Fonte: https://tribunapr.uol.com.br/noticias/economia/do-boi-nada-se-perde-tudo-se-transforma/. Acessoem 23/02/2021

10 Nota Fiscal do JBS…...Fone: (69) 3451-2663 | www.mpro.mp.br

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Em rápida pesquisa a rede mundial de computadores, depreende-se que uma

receita comum de feijoada utiliza em média 250g de carne seca para um preparo com

rendimento de 16 porções.11

Nesse diapasão e, segundo informações do 1ª SIPOA do Departamento de

Inspeção de Produtos de Origem Animal, a empresa JBS procedeu a desossa de 49.214 kg

de carne – daquela exposta ao sinistro com amônia – gerando 41.524 kg de carne

desossada, que foram submetidas a salga úmida no dia 02/03/2021 (Lote:

02.03/2021/01).

Assim, em um cenário em que toda essa carne seca processada fosse utilizada

para o preparo de feijoadas, o resultado, em simples “regra de três”, é que ao menos

2.657.536 (dois milhões, seiscentas e cinquenta e sete mil, quinhentos e trinta e

seis) pessoas seriam as destinatárias do produto impróprio ao consumo.

Se cada uma dessas pessoas, potenciais consumidoras do alimento

impróprio, recebesse R$ 100,00 (cem reais) a título de indenização – valor ínfimo

diante da intolerável conduta que pretendeu a violação ao direito coletivo – o montante

indenizatório alcançaria o valor de R$ 265.753.600,00 (duzentos e sessenta e

cinco milhões, setecentos e cinquenta e três mil e seiscentos reais).

Frise-se, novamente, que o cálculo aqui apresentado é

exemplificativo e tem a finalidade de demonstrar o potencial risco à saúde e

segurança da população.

Além disso, avaliando o declarado total aproveitamento do boi abatido, a

apuração do quantum indenizatório deve considerar a possível destinação dada

aos ossos das carcaças processadas pelo grupo requerido, o que, considerando os dados do

1º SIPOA, equivaleria a 7.690kg de rejeitos.

11 https://www.receitasnestle.com.br/receitas/feijoada ; https://www.saboresajinomoto.com.br/receita/feijoada-completa-1.

Fone: (69) 3451-2663 | www.mpro.mp.brAv. Castelo Branco, nº 914 – Bairro Pioneiros – Pimenta Bueno/RO – CEP:76.970-000

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Como se sabe, ossos são compostos orgânicos ricos em cálcio e proteína e,

como estas substâncias têm grande valor nutricional, são amplamente utilizadas na

fabricação de rações para animais de corte ou domésticos.12

A se ponderar o tratamento e processos químicos que transformam a matéria-

prima – ossos – em ração animal, não se pode aqui mensurar o quantitativo animal que seria

atingido pelo produto impróprio, em provável ciclo de adoecimento de um rebanho ou

criação ou de uma parcela de população que os consumisse; mas fato é que a busca pelo

lucro ensejou a conduta que, em diferentes níveis se mostra reprovável e digna

responsabilização; em alusão ao cálculo acima delineado, se para cada quilo de osso fosse

considerada a reparação em R$ 200,00 (duzentos reais)13, estabelecer-se-ia o montante de

R$ 1.538.000,00 (um milhão, quinhentos e trinta e oito mil reais).

Nesse ínterim fala-se, em risco à saúde e segurança da população,

considerando o estado crítico da Saúde do Brasil, agravada pelas circunstâncias da atual

Pandemia; se é verdade que inexistem leitos e tratamento suficientes dispensáveis a

população vítima da COVID-19, é também verdade que os demais atendimentos clínicos e

emergenciais sofrem prejuízo – em uma rede de atendimento já tão deficitária.

Submeter uma considerável parcela da população ao consumo de alimento

impróprio, sujeitando a família comum aos dissabores de ingerir uma carne que teve contato

indiscriminado com um produto químico, esteve ao chão, foi arrastada, lavada e depois

processada, provoca repulsa e indignação, ainda mais considerando que eventual mal estar

causado por essa ingestão iria de encontro com o cenário deprimente da Saúde em tempos

de Pandemia.

É certo que para fixação do quantum indenizável, necessário se faz levar em

consideração o caráter pedagógico-punitivo da reprimenda, punindo-se a conduta lesiva

a atentatória às normas de proteção ao consumidor de modo tal, a prevenir futuras

transgressões aos princípios tão caros à sociedade. Nesse sentido, é o entendimento do STJ:

12 https://educacao.uol.com.br/disciplinas/quimica/quimica-e-reciclagem-farinha-de-ossos-bovinos-e-gordura-

animal.htm?cmpid=copiaecola

13 Avaliado o impacto em saúde humana e animal.Fone: (69) 3451-2663 | www.mpro.mp.br

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ADMINISTRATIVO. DANO AMBIENTAL. EXTRAÇÃO ILEGAL DE RECURSO NATURAL.

SAIBRO. BEM DA UNIÃO. RESSARCIMENTO AO ERÁRIO. INDENIZAÇÃO. VALOR

FIXADO. REDUÇÃO PELO TRIBUNAL A QUO. NECESSIDADE DE REPARAÇÃO

INTEGRAL. VIOLAÇÃO DOS ARTS. 884, 927 e 952, DO CÓDIGO CIVIL

CARACTERIZADA. RESTABELECIMENTO DO ENTENDIMENTO SINGULAR. I - Na origem

trata-se de ação civil pública ajuizada pela União objetivando condenação de sociedade

empresária na obrigação de pagamento de dano moral coletivo, restauração de área

degradada e ao pagamento de valor decorrente de extração ilegal de saibro.

[…] A indenização deve abranger a totalidade dos danos causados ao ente

federal, sob pena de frustrar o caráter pedagógico-punitivo da sanção e

incentivar a impunidade de empresa infratora, que praticou conduta grave

com a extração mineral irregular, fato incontroverso nos autos. Precedente:

AREsp n. 1.520.373/SC, Rel. Min. Francisco Falcão, Segunda Turma, DJe 13/12/2019.

IV - Agravo conhecido para dar provimento ao recurso especial, no sentido de

restabelecer o valor indenizatório fixado pelo juízo monocrático. (AREsp 1676242/SC,

Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA TURMA, julgado em 24/11/2020, DJe

01/12/2020).

Pacificou-se na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça o entendimento

de que para apuração da indenização a título de dano moral, deve-se observar o método

bifásico de fixação, levando-se em conta o interesse jurídico lesado com base em grupo

de precedentes judiciais e após deve se considerar as circunstâncias do caso concreto.14

No caso dos autos, o interesse jurídico lesado pertence à massa de

consumidores brasileiros, atingidos em sua moral, em decorrência quebra da confiança que

legitimamente se espera da empresa requerida, que investe amplamente na

publicidade de seus produtos, assegurando sua qualidade e por vias escusas,

desrespeita as normas sanitárias de produção.

Em relação aos precedentes judiciais, colaciona-se a título de exemplo,

importante entendimento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em julgamento de

caso semelhante, em que se reconheceu o desrespeito à cadeia de produção e aos princípios

previstos no CDC:

14 Fonte: https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias-antigas/2018/2018-10-21_06-56_O-metodo-bifasico-para-fixacao-de-indenizacoes-por-dano-moral.aspx. Acesso em: 24/03/2021.

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Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO COLETIVA.

PRODUTOS DESTINADOS À ALIMENTAÇÃO E SUPLEMENTAÇÃO MINERAL DE GADO

BOVINO. INOBSERVÂNCIA DOS PADRÕES REGULAMENTARES E DAS CONDIÇÕES

HIGIÊNICO-SANITÁRIAS. COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS IMPRÓPRIOS AO

CONSUMO. DANOS AOS CONSUMIDORES E DANO MORAL COLETIVO CONFIGURADOS.

1. DANOS AOS CONSUMIDORES INDIVIDUALMENTE CONSIDERADOS. Como é sabido,

há uma generalidade própria do provimento jurisdicional proferido em ação coletiva, a

teor do art. 95 do Código de Defesa do Consumidor, em relação aos danos suportados

pelos consumidores individualmente considerados, postergando-se a aferição concreta

e delimitada de ditos danos em liquidações de sentença individuais posteriormente

ajuizadas, nas quais se perquirirá a respeito da efetiva ocorrência de danos materiais e

morais nos casos concretos, assegurando-se o contraditório e a ampla defesa à

empresa-ré. No caso em liça, os produtos comercializados pela ré dizem com a

alimentação e suplementação mineral de gado bovino, de forma que, não

sendo observados os padrões regulamentares exigidos em sua produção e

sendo os produtos comercializados, os produtores rurais e agropecuários

adquirentes dos produtos, sem conhecimento das irregularidades em sua

fabricação, alimentaram e suplementaram seu gado bovino com produtos

impróprios ao consumo. Danos aos consumidores comprovados. 2. DANO

MORAL COLETIVO. A espécie indenizatória dos danos morais coletivos possui natureza

diversa do dano moral individual, esse último tradicionalmente relacionado pela

doutrina e pela jurisprudência como uma espécie de dor, sofrimento ou abalo psíquico

ao indivíduo. Em contrapartida, o dano moral coletivo se afeiçoa ao prejuízo

imaterial causado a uma coletividade – no caso concreto de consumidores –,

gerando reflexos negativos ao sistema como um todo. Na hipótese versada,

considerando a comercialização de produtos de alimentação e suplementação mineral

impróprios ao consumo de gado bovino, assim como o absoluto desprezo da

demandada para com o mercado consumidor de seus produtos, resta evidente a

configuração de dano moral coletivo. Precedente desta Corte. 3. QUANTUM

INDENIZATÓRIO. Levando em conta as circunstâncias do caso concreto,

especialmente a proteção diferenciada que merece o setor dos gêneros

alimentícios – que tem direta implicação com a seara da saúde – e a

recalcitrância da ré em produzir produtos alimentícios em desconformidade

com os padrões regulamentadores exigidos, mostra-se razoável a fixação de

R$ 100.000,00 (cem mil reais) a título de indenização por dano moral

coletivo a ser paga pela demandada e revertida em favor do Fundo de

Reconstituição de Bens Lesados. APELO PROVIDO. UNÂNIME.(Apelação Cível, Nº

70078868775, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ana

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Lúcia Carvalho Pinto Vieira Rebout, Julgado em: 18-07-2019).

De tal modo e diante do que se aqui exemplificou, firme no entendimento

que o dano moral coletivo é aferível in re ipsa , dispensável a demonstração de

prejuízos concretos ou de efetivo abalo moral, estima-se razoável o valor de 28.113.300,00

(vinte e oito milhões, cento e treze mil e trezentos reais), que constitui fração de

10% (dez por cento) 15 do valor estimado e de pessoas atingidas, a título de dano pela

pretensão de disponibilização ao consumo da carne seca imprópria e pelo montante do valor

estimado a título de dano pela propiciação de aproveitamento impróprio de ossos em

desfavor da saúde humana e animal.

IV – DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Já se sabe que o Código de Defesa do Consumidor é um microssistema para

defesa de pessoas vulneráveis. Nesta esteira, além de regras de direito material, ele também

possui em seu bojo regras de direito processual, dentre elas a possibilidade de inversão do

ônus da prova em favor dos consumidores, instrumento que visa, claramente, facilitar a

defesa dos direitos dos consumidores em Juízo.

Segundo dispõe o artigo 6º, VIII, do referido Código, é um direito básico do

consumidor a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive, com a inversão do ônus da

prova, a seu favor, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele

hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência.

A princípio, não resta dúvida da verossimilhança das alegações ora

deduzidas, sendo que os documentos juntados aos autos demonstram o evento danoso, os

prejuízos resultantes dele, além do imprescindível nexo causal, o que autoriza a

responsabilização da empresa ré.

15 10% de 265.753.600 (duzentos e sessenta e cinco milhões, setecentos e cinquenta e três mil e

seiscentos reais).Fone: (69) 3451-2663 | www.mpro.mp.br

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No mais, já foi sedimentado na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça

que é possível a inversão do ônus da prova em ação civil pública, eis que deve ser levado em

conta quem é a parte material da demanda, não a processual. E, sendo a primeira os

consumidores, fica clara a necessidade de aplicação da regra processual em comento. Neste

sentido, veja-se o teor da decisão da 1º Turma do Superior Tribunal de Justiça:

“ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DO CONSUMIDOR. OFENSA AOSARTS. 165, 458, 535, II, DO CPC/73 NÃO DEMONSTRADA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. PRERROGATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO NOÂMBITO CONSUMERISTA. INATACADO FUNDAMENTO BASILAR DO ACÓRDÃORECORRIDO. SÚMULA 283/STF. OBRIGAÇÃO DE IMPLANTAR SETOR DERELACIONAMENTO, A FIM DE DISPONIBILIZAR AO CONSUMIDOR FÁCIL ACESSO ACANAL DESTINADO AO CANCELAMENTO DA LINHA TELEFÔNICA. REEXAME DEMATÉRIA FÁTICA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. DISSÍDIOJURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADO. 1. Afasta-se a alegação de ofensa aos arts.165, 458, 535, II, do CPC/73, na medida em que o Tribunal de origem dirimiu,fundamentadamente, as questões que lhe foram submetidas, apreciandointegralmente a controvérsia posta nos autos, não se podendo, ademais, confundirjulgamento desfavorável ao interesse da parte com negativa ou ausência de prestaçãojurisdicional. 2. De acordo com a jurisprudência desta Corte, "o Ministério Público, noâmbito de ação consumerista, faz jus à inversão do ônus da prova, a considerar que omecanismo previsto no art. 6º, inc. VIII, do CDC busca concretizar a melhor tutelaprocessual possível dos direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos e deseus titulares - na espécie, os consumidores -, independentemente daqueles quefigurem como autores ou réus na ação" (REsp 1.253.672/RS, Rel. Ministro MauroCampbell Marques, Segunda Turma, DJe 9/8/2011). 3. O recurso especial nãoimpugnou fundamento basilar que ampara o acórdão recorrido, de forma que airresignação esbarra no obstáculo da Súmula 283/STF, que assim dispõe: "Éinadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais deum fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles.". 4. A Corte de origemratificou a sentença de piso que, a partir do exame do acervo probatório dos autos,concluiu pela inexistência de setores de relacionamento para o cancelamento delinhas telefônicas, razão pela qual condenou a parte recorrente a implantar referidoserviço, bem como ao pagamento de danos materiais, a serem apurados emliquidação de sentença, caso o consumidor comprove o fato gerador do direitoreclamado. Rever tal conclusão, demandaria, necessariamente, novo exame do acervofático-probatório constante dos autos, providência vedada em recurso especial,conforme o óbice previsto na Súmula 7/STJ. 5. A inexistência de similitude fático-jurídica entre os acórdãos recorrido e paradigma impede a análise da alegadadivergência jurisprudencial. 6. Agravo interno a que se nega provimento. AgInt noREsp 2012/0094924-1. Relator(a): Ministro SÉRGIO KUKINA. Órgão Julgador:PRIMEIRA TURMA. Data do Julgamento: 22/08/2017. Data da Publicação/Fonte: DJe31/08/2017.

Neste caso, conclui-se que o ônus da prova deve ser invertido em favor da

massa de interesses consumeristas defendidos pelo Ministério Público.

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IV – DOS PEDIDOS

Com base nos fundamentos apresentados e, diante do dever de equidade

que há de nortear a prestação jurisdicional, o Ministério Público requer a Vossa

Excelência:

1) O recebimento da presente Ação Civil Pública e a posterior citação da

Requerida para tomar ciência do teor da demanda e intimação para comparecer à audiência

de conciliação a ser designada;

2) A inversão do ônus da prova em favor dos consumidores, conforme

preconiza o Código de Defesa do Consumidor;

3) A CONDENAÇÃO da Requerida ao pagamento de indenização a título de

dano moral coletivo no importe de R$ 28.113.300,00 (vinte e oito milhões, cento e

treze mil e trezentos reais), a ser revertida em favor do Fundo de Reconstituição de Bens

Lesados, instituído pela Lei Complementar Estadual de Rondônia n. 944 de 25 abril de 2017.

4) A condenação da Requerida ao pagamento das custas e despesas

processuais;

5) a dispensa do pagamento de custas, emolumentos, honorários periciais e

advocatícios, e outras despesas por parte do Ministério Público (art. 18 da Lei 7.347/85).

6) Por fim, considerando a distribuição por dependência aos autos judiciais

nº 7000729-56.2021.8.22.0009, nos quais constam as peças do Inquérito Civil nº 01/2021

que instruem o pedido cautelar a presente Ação Civil Pública,

7) Pugna pela apresentação dos documentos a serem ainda produzidos na

cautelar e no referido ICP que apura outras responsabilidades.

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Protesta provar o alegado pelos documentos anexos, testemunhas, perícia e

demais meios de provas em direito admitidos.

Dá-se à causa o valor de R$ 28.113.300,00 (vinte e oito milhões, cento

e treze mil e trezentos reais).

Pimenta Bueno/RO, data certificada.

MARCOS GIOVANE ÁRTICOPromotor de Justiça

ANDRÉ LUIZ ROCHA DE ALMEIDAPromotor de Justiça

Fone: (69) 3451-2663 | www.mpro.mp.brAv. Castelo Branco, nº 914 – Bairro Pioneiros – Pimenta Bueno/RO – CEP:76.970-000

ANDRE LUIZ ROCHA DE ALMEIDA:20453112870

Assinado de forma digital por ANDRE LUIZ ROCHA DE ALMEIDA:20453112870 Dados: 2021.03.25 17:40:40 -04'00'

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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA __ VARA CÍVEL DA

COMARCA DE PIMENTA BUENO/RO,

ParquetWeb n. 2021001010002201

Ação Civil Púbica n. 02/2021

URGENTE: TUTELA CAUTELAR

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE RONDÔNIA, por meio de

seus Promotores de Justiça signatários, no uso de suas atribuições legais e com fundamento

nos artigos 129, III, da Constituição Federal; 5º da Lei 7.347/85 e 25, IV, “a”, da Lei

8.625/93, vem respeitosamente perante Vossa Excelência, com fulcro no artigo 303 e

seguintes do Código de Processo Civil propor

PEDIDO DE TUTELA CAUTELAR DE URGÊNCIA EM CARÁTER

ANTECEDENTE.

Em Face de

JBS S/A – FILIAL PIMENTA BUENO, pessoa jurídica de direito

privado, a ser citada na pessoa de seu representante legal (art. 75,

VIII, do CPC), regularmente inscrita no CNPJ sob o n.

02.916.265/0082-25, com endereço na Rodovia BR 364, KM 207, Zona

Rural, no Município de Pimenta Bueno, com endereço eletrônico:

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[email protected], com base nos fatos e fundamentos a

seguir expostos:

I – DOS FATOS

Chegou ao conhecimento desta Promotoria de Justiça a notícia de que no dia

15/02/2021, por volta das 10h00min, nas dependências do Frigorífico JBS S/A, desta cidade,

a canalização de uma das câmaras de refrigeração se rompeu, face a queda da estrutura,

acarretando no vazamento de amônia, que atingiu diversos trabalhadores, que estavam no

local, os quais precisaram ser sorridos pelo Corpo de Bombeiros ao Hospital Municipal de

Pimenta Bueno, consoante relatório fornecido pelo nosocômio.

Diante da notícia, este Órgão Ministerial instaurou o Inquérito Civil nº

002/2021/1ª e 2ª PJPB, com a finalidade de apurar possível dano ambiental decorrente de

evento potencialmente poluidor, lesivo à saúde dos munícipes de Pimenta Bueno e seu

impacto no Sistema Único de Saúde, decorrentes do vazamento de gás tóxico (amônia) no

Frigorífico JBS S/A.

Nesse ínterim, adotou-se diversas providências para melhor elucidação dos

fatos, visando à aplicação de eventuais medidas cabíveis após a conclusão das investigações.

Ocorre que durante as investigações, chegou ao conhecimento desta

Promotoria de Justiça, a notícia de que o Frigorífico JBS S/A, charqueou e vendeu as carnes

que estavam acondicionadas na câmara fria no momento em que houve o vazamento de

amônia, não obstante, a alta probabilidade de contaminação da carne por gás altamente

tóxico, o que afeta diretamente os direitos do consumidor e saúde pública.

II – DA LEGITIMIDADE

Inicialmente, vale rememorar que a Constituição Federal de 1988 apresenta

cláusula consagradora ao determinar que “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do

consumidor” (art. 5o, inciso XXIII), estabelecendo tal preceito como um dos princípios gerais

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da ordem econômica (art. 170, I).

A partir dessa perspectiva, o Ministério Público é legitimado a adotar as

providências cabíveis, inclusive judiciais, para promovê-la, conforme prevê o art. 82, I, da Lei

n. 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor) e art. 1º, II, da Lei n. 7.347/85 (Lei de Ação

Civil Pública).

Ademais disso, no que tange ao direito à saúde, por se tratar de direito

fundamental e indisponível, o Ministério Público é legitimado ativo para sua defesa, na

esteira do que dispõe o artigo 127, caput, da Constituição Federal.

III – DOS FUNDAMENTOS

A presente demanda tem por objeto a concessão de tutela provisória de

urgência cautelar requerida em caráter antecedente (artigo 303 do CPC), consistente

no recolhimento de produto alimentício (carne) de circulação, para submeter à perícia, face

à provável contaminação.

A tutela judicial que se pretende, encontra-se prevista no artigo 303 do Código

de Processo Civil que assim dispõe, in verbis:

Art. 303. Nos casos em que a urgência for contemporânea à propositura da

ação, a petição inicial pode limitar-se ao requerimento da tutela antecipada e à

indicação do pedido de tutela final, com a exposição da lide, do direito que se

busca realizar e do perigo de dano ou do risco ao resultado útil do processo.

Nesse sentido, estabelece o Código de Processo Civil, em seu art. 294 que a

tutela provisória pode fundamentar-se em urgência ou evidência. A tutela provisória de

urgência, por sua vez, é dividida em cautelar – garantidora do resultado útil e eficaz do

processo – e a tutela antecipada – satisfativa do direito da parte no plano fático.

A tutela provisória de urgência, seja cautelar ou antecipada, pode ser

concedida em caráter antecedente – antes do início do processo - ou incidental – dentro do

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processo principal. Como se vê, a tutela provisória de urgência antecipada é uma providência

que tem natureza mandamental, com o escopo de entregar ao autor da demanda, de forma

total ou parcial, a própria pretensão deduzida em juízo ou os seus efeitos.

Em relação à prova inequívoca, ressalte-se que a norma prevê apenas uma

cognição sumária, de modo que o juízo de probabilidade deve ser exigido em grau

compatível com os direitos que estão jogo.

No presente caso, em juízo de cognição sumária é possível depreender dos

documentos juntados autos (ICP), que de fato houve vazamento a amônia em um das

câmaras frias do Frigorífico JBS, atestado, inclusive pelo Corpo de Bombeiros

Militar e diversos outros órgãos que estiveram no local. Colaciona-se aos autos

matérias jornalísticas que retrataram o ocorrido:

https://g1.globo.com/ro/rondonia/noticia/2021/02/18/mp-apura-vazamento-de-amonia-em-

frigorifico-de-pimenta-bueno-ro.ghtml

https://www.cbm.ro.gov.br/index.php/transparencia/noticias/971-pimenta-bueno-socorre-

vitimas-e-faz-vistoria-tecnica-em-industria-que-teve-vazamento-de-amonia

No caso dos autos, este Órgão Ministerial pleiteia a tutela cautelar que

ora se apresenta, tendo em vista o depoimento prestado pelo Sr. Vinícius Domingos

Paro, Gerente Industrial da Requerida, ouvido pelo Delegado de Polícia, que

demonstra com a convicção que se faz necessária, que o Frigorífico JBS

charqueou e vendeu os lotes de carnes que se encontravam acondicionados na

mesma câmara fria em que houve o vazamento de amônia (fls. X).

Sabe-se que é usual que carnes impróprias para o consumo direto,

sejam utilizadas para a confecção de charques, no entanto, tal utilização deve ser de forma

controlada, atentando-se às normas sanitárias.

Não obstante, a empresa Requerida omitiu informações ao

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esclarecer para a Engenheira Sanitarista do Ministério Público no momento da

realização de sua vistoria (parecer em anexo), que a carne havida sido incinerada.

No entanto, ao revés disso, o Gerente Industrial da Requerida afirmou que os lotes de carnes

foram utilizados na confecção de charques e posteriormente vendidos.

Em que pese a alegação de que a carne foi vistoriada antes da liberação

para a confecção de charque e posterior distribuição, tal afirmação merece ser rechaçada,

uma vez que eventual laudo pericial realizado perde a credibilidade ante a alegação

inicial de incineração, o que demonstra a reutilização dos lotes de carne sem o prévio

controle sanitário.

Ademais disso, restam dúvidas acerca da realização de perícia em todos

os lotes e peças de carnes charqueadas, ante a tentativa da Requerida em esconder a sua

pretensão inicial. Ora, qual a razão de omitir a informação de que a carne

contaminada teria sido incinerada e posteriormente utilizá-la na confecção de

charque?

Desse modo, pairam dúvidas a respeito da boa qualidade da carne

vendida para ser colada à disposição dos consumidores, o que poderá causar inestimável

prejuízo para aqueles que consumirem tais lotes potencialmente contaminados.

Para fins de esclarecimentos “a amônia, com símbolo químico NH3, é

constituída de um átomo de nitrogênio e três de hidrogênio, apresentando-se como gás à

temperatura e pressão ambientes. Liquefaz-se sob pressão atmosférica a -33,35 ºC. É

altamente higroscópica e a reação com a água forma NH4OH, hidróxido de amônia, líquido

na temperatura ambiente, que possui as mesmas propriedades químicas da soda

cáustica ” 1

“ O gás é um irritante poderoso das vias respiratórias, olhos e

pele. Dependendo do tempo e do nível de exposição podem ocorrer efeitos que vão de

irritações leves a severas lesões corporais. A inalação pode causar dificuldades respiratórias,

broncoespasmo, queimadura da mucosa nasal, faringe e laringe, dor no peito e edema1 http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/manuais/quimico/Refrigeracao%20Industrial%20por

%20Amonia.pdf

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pulmonar. A ingestão causa náusea, vômitos e inchação nos lábios, boca e laringe. A amônia

produz, em contato com a pele, dor, eritema e vesiculação. Em altas concentrações, pode

haver necrose dos tecidos e queimaduras profundas. O contato com os olhos em baixas

concentrações (10 ppm) resulta em irritação ocular e lacrimejamento. Em concentrações

mais altas, pode haver conjuntivite, erosão na córnea e cegueira temporária ou permanente.

Reações tardias podem acontecer, como fibrose pulmonar, catarata e atrofia da retina”2

Depreende-se dos depoimentos prestados perante a autoridade Policial que

no dia dos fatos, houve o vazamento de 80 a 100 Kg de gás tóxico (amônia) na câmara fria

onde havia 150 animais abatidos.

O art. 10, inc I, do Decreto nº 9.013/2017, que dispõe sobre a inspeção

industrial e sanitária de produtos de origem animal, define a análise de autocontrole, como

sendo “análise efetuada pelo estabelecimento para controle de processo e monitoramento da

conformidade das matérias-primas, dos ingredientes, dos insumos e dos produtos”.

O art. 5º, por sua vez, rege que “ficam sujeitos à inspeção e à fiscalização

previstas neste Decreto os animais destinados ao abate, a carne e seus derivados, o pescado

e seus derivados, os ovos e seus derivados, o leite e seus derivados e os produtos de

abelhas e seus derivados, comestíveis e não comestíveis, com adição ou não de produtos

vegetais”

Note-se, que a Requerida é obrigada exercer o auto controle da

cadeia de produção, ou seja, deve registrar a quantidade de gado abatido; o local

acondicionamento da carne; o tempo de acondicionamento, entre tantas outras

atividades que desempenha, até a venda do produto.

Os laudos de análise produzidos de forma UNILATERAL pela empresa,

que dispõe de interesse econômico no aproveitamento e venda da carne, para fins

de atestar que o produto está apto para consumo, NÃO são suficientes para tanto, uma vez:

a) a empresa mentiu sobre a destinação do produto a Engenheira Sanitária em2 http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/manuais/quimico/Refrigeracao%20Industrial%20por

%20Amonia.pdf

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diligência determinada em Inquérito Civil Público, conforme documento em anexo;

b) a empresa NÃO comunicou a SEDAM e ao Ministério Público, mesmo ciente

da instauração de procedimento para apurar os fatos, que destinaria o produto ao consumo

humano;

c) a exposição do produto ao AGENTE TOXICO não ocorreu de forma

controlada, eis que decorre de ilícito (rompimento de estrutura e dutos onde

existiam o hidróxido de amônia). Não se tem parâmetros da quantidade de

amônia que teve contato com a carne, vez que o vazamento não se deu de forma

supervisionada, mas sim, decorrente de rompimento de toda uma estrutura,

consoante fotos em anexo;

d) a exposição de seres humanos ao produto, conforme relatório do próprio

hospital local, demonstra alto teor tóxico que a AMÔNIA provoca no organismo humano;

e) humanos tiveram a saúde afetada pela AMÔNIA, inclusive gerando

internação em UTI, indicativo de que a carne do gado, também exposta ao tóxico nas

mesmas circunstâncias, precisa de exame minucioso e isento, antes de ser destinado

ao consumo humano.

Destarte, verifica-se a ausência de cautela pela Requerida na destinação de

produto alimentício à cadeia de consumo, ante a omissão da destinação da carne e

elaboração de exame isento acerca de sua qualidade.

III.1 – DA PROBABILIDADE DO DIREITO E DO PERIGO DA DEMORA – RISCO DE

DANO IRREPARÁVEL

Em relação aos requisitos para a concessão da tutela provisória de urgência, o

art. 300 do Código de Processo Civil determina que:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que

evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil

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do processo. […] § 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após

justificação prévia.

Portanto, de acordo com o referido artigo, exige-se a existência de elementos

que evidenciem a probabilidade do direito, além da comprovação de que não sendo

protegido imediatamente, de nada adiantará uma proteção futura, diante do perecimento do

direito.

No caso em apreço, caso o pedido não seja imediatamente apreciado,

o prejuízo causado à saúde dos consumidores que adquirirem a carne que esteve

em contato com amônia, poderá ser devastador, dado as consequências graves

em caso de ingestão produtos tóxicos, no caso de eventual contaminação a ser

constatada por perícia isenta e imparcial.

Ainda que se avente a possibilidade de contato da amônia com a carne,

como permissiva, neste caso descrito, não se teve controle do contato e

quantidade da amônia disposta, nem o tempo em que isso aconteceu, com os

produtos que neste momento estão sendo encaminhados ao consumo humano.

Essa situação exige a adoção de medidas imediatas pelo Poder Judiciário,

visando a evitar danos sérios e graves à incontáveis consumidores que vierem a adquirir o

produto posto em circulação.

A narrativa dos fatos até aqui apresentada demonstra a presença indubitável

dos requisitos do periculum in mora e do fumus boni juris, necessários para a concessão da

tutela de urgência.

Assim, tal situação fática está a exigir a adoção de tutela cautelar por parte

deste Juízo, o que deve ser determinado imediatamente, em consideração ao receio de grave

lesão à incontáveis consumidores.

Por fim, esclarece-se que o art. 297 do Código de Processo Civil estabelece que

“o juiz poderá determinar as medidas que considerar adequadas para efetivação da tutela

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provisória. Parágrafo único. A efetivação da tutela provisória observará as normas referentes

ao cumprimento provisório da sentença, no que couber”.

Segundo a previsão do art. 297, o juiz poderá determinar as medidas que

considerar adequadas para a efetivação da tutela provisória, isso porque, tratando-se de

tutela provisória de urgência, é inegável a necessidade de imediata satisfação.

No caso em apreço, o deferimento do pedido cautelar atenderá aos princípios

da PRECAUÇÃO e PREVENÇÃO, tão caros às SAÚDE PÚBLICA e ao Meio Ambiente.

E também não trará prejuízos a Requerida, uma vez que se pretende seja ela

fiel depositária da carne, para as destinações devidas a posteriori.

IV – DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Já se sabe que o Código de Defesa do Consumidor é um microssistema para

defesa de pessoas vulneráveis. Nesta esteira, além de regras de direito material, ele também

possui em seu bojo regras de direito processual, dentre elas a possibilidade de inversão do

ônus da prova em favor dos consumidores, instrumento que visa, claramente, facilitar a

defesa dos direitos dos consumidores em Juízo.

Segundo dispõe o artigo 6º, VIII, do referido Código, é um direito básico do

consumidor a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive, com a inversão do ônus da

prova, a seu favor, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele

hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência.

Neste caso, conclui-se que o ônus da prova deve ser invertido em favor da

massa de interesses consumeristas defendidos pelo Ministério Público, os quais, poderão

sofrer graves danos à sua saúde.

No mais, já foi sedimentado na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça

que é possível a inversão do ônus da prova em ação civil pública, eis que deve ser

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levado em conta quem é a parte material da demanda, não a processual. E, sendo a primeira

os consumidores, fica clara a necessidade de aplicação da regra processual em comento.

Neste sentido, veja-se o teor da decisão da 1º Turma do Superior Tribunal de Justiça, tendo

como relator o Ministro Sérgio Kukina:

“ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DO CONSUMIDOR.OFENSA AOS ARTS. 165, 458, 535, II, DO CPC/73 NÃO DEMONSTRADA.AÇÃO CIVIL PÚBLICA. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. PRERROGATIVA DOMINISTÉRIO PÚBLICO NO ÂMBITO CONSUMERISTA. INATACADOFUNDAMENTO BASILAR DO ACÓRDÃO RECORRIDO. SÚMULA 283/STF.OBRIGAÇÃO DE IMPLANTAR SETOR DE RELACIONAMENTO, A FIM DEDISPONIBILIZAR AO CONSUMIDOR FÁCIL ACESSO A CANAL DESTINADO AOCANCELAMENTO DA LINHA TELEFÔNICA. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA.IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃOCOMPROVADO. 1. Afasta-se a alegação de ofensa aos arts. 165, 458, 535, II,do CPC/73, na medida em que o Tribunal de origem dirimiu,fundamentadamente, as questões que lhe foram submetidas, apreciandointegralmente a controvérsia posta nos autos, não se podendo, ademais,confundir julgamento desfavorável ao interesse da parte com negativa ouausência de prestação jurisdicional. 2. De acordo com a jurisprudência destaCorte, "o Ministério Público, no âmbito de ação consumerista, faz jus àinversão do ônus da prova, a considerar que o mecanismo previsto no art. 6º,inc. VIII, do CDC busca concretizar a melhor tutela processual possível dosdireitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos e de seus titulares - naespécie, os consumidores -, independentemente daqueles que figurem comoautores ou réus na ação" (REsp 1.253.672/RS, Rel. Ministro Mauro CampbellMarques, Segunda Turma, DJe 9/8/2011). 3. O recurso especial nãoimpugnou fundamento basilar que ampara o acórdão recorrido, de forma quea irresignação esbarra no obstáculo da Súmula 283/STF, que assim dispõe:"É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assentaem mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles.".4. A Corte de origem ratificou a sentença de piso que, a partir do exame doacervo probatório dos autos, concluiu pela inexistência de setores derelacionamento para o cancelamento de linhas telefônicas, razão pela qualcondenou a parte recorrente a implantar referido serviço, bem como aopagamento de danos materiais, a serem apurados em liquidação de sentença,caso o consumidor comprove o fato gerador do direito reclamado. Rever talconclusão, demandaria, necessariamente, novo exame do acervo fático-probatório constante dos autos, providência vedada em recurso especial,conforme o óbice previsto na Súmula 7/STJ. 5. A inexistência de similitudefático-jurídica entre os acórdãos recorrido e paradigma impede a análise daalegada divergência jurisprudencial. 6. Agravo interno a que se negaprovimento. AgInt no REsp 2012/0094924-1. Relator(a): Ministro SÉRGIOKUKINA. Órgão Julgador: PRIMEIRA TURMA. Data do Julgamento:22/08/2017. Data da Publicação/Fonte: DJe 31/08/2017.

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Desta forma, deve ser invertido o ônus da prova em favor dos consumidores,

a fim de que a Empresa Frigorífico JBS S/A, adote as providências necessárias para custear a

realização de nova perícia isenta e imparcial, a ser determinada por este Juízo.

V – DOS PEDIDOS

Com base nos fundamentos apresentados o Ministério Público requer a

Vossa Excelência:

1) a CONCESSÃO de tutela de urgência para caso o produto (carne,

charque) NÃO esteja na Unidade do JBS local, que seja promovido o imediato recolhimento

para a planta frigorífica de Pimenta Bueno. Neste caso, deverá apresentar ao Juízo os

documentos que comprovem a venda e transporte do produto e o seu retorno a

unidade (Notas Fiscais, Romaneios de Transporte, etc).

2) Que os produtos permaneçam depositados em poder da REQUERIDA,

nomeada como fiel depositária para todos os fins e responsabilidades decorrentes.

3) A citação da Requerida para tomar ciência do teor da presente demanda;

4) Seja comunicada a ANVISA, para fins do exercício do poder de polícia em

sua esfera administrativa, solicitando que indique um LABORATÓRIO isento para realização

de exame pericial no PRODUTO ANIMAL EXPOSTO A AGENTE TÓXICO SEM CONTROLE E EM

DESACORDO COM REGRAS DE SEGURANÇA QUE GARANTAM a inexistência de riscos à saúde

do consumidor;

5) Por se tratar de matéria atinente ao consumidor e ao MEIO AMBIENTE,

pelos fundamentos SUPRA, a INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA, inclusive para fins

periciais, determinando que a empresa arque com os custos do exame a serem realizados

com isenção por LABORATÓRIO nomeado pelo juízo, e recomendado por órgão credenciado

do Estado, de controle de qualidade e aptidão de consumo, consoante descrito no item 4.

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6) a CONDENAÇÃO da Requerida ao pagamento de multa no valor de R$

500.000,00 (quinhentos mil reais), a ser revertida em favor do fundo de reconstituição de

bens lesados, em caso de descumprimento da determinação judicial para custear a perícia

isenta e imparcial;

7) a apresentação do relatório de produção dos últimos 30 (trinta) dias,

incluindo o corte do gado, local de armazenamento de lotes dos animais e tempo de

armazenamento, relativos aos últimos 60 (sessenta) dias;

8) a dispensa do pagamento de custas, emolumentos, honorários periciais e

advocatícios, e outras despesas por parte do Ministério Público (art. 18 da Lei 7.347/85).

9) Que se determine no prazo de 06h os atos de recolhimento dos

lotes de charque/ou carne que teve contato com a amônia, ante o risco iminente

à saúde pública. Reafirma-se que consoante depoimentos em anexo, caiu com a

estrutura em torno de 150 bovinos, que estão sendo destinados ao consumo.

10) Que comprove o cumprimento da medida judicial no prazo de 24horas.

11) Requer, por fim, a fixação de multa no importe de R$ 500.000,00 pelo

descumprimento imediato da medida, mais R$ 100.000,00 por dia de descumprimento, ante

a evidente e notória capacidade econômica da empresa requerida.

Protesta provar o alegado pelos documentos anexos, testemunhas, perícia e

demais meios de provas em direito admitidos.

Dá-se à causa o valor de R$ 500.00,00 (quinhentos mil reais).

Pimenta Bueno/RO, data certificada.

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MARCOS GIOVANE ÁRTICO

Promotor de Justiça

ANDRÉ LUIZ ROCHA DE ALMEIDAPromotor de Justiça

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MARCOS GIOVANE ARTICO:33719141861

Assinado de forma digital por MARCOS GIOVANE ARTICO:33719141861 Dados: 2021.02.26 14:34:43 -04'00'

ANDRE LUIZ ROCHA DE ALMEIDA:20453112870

Assinado de forma digital por ANDRE LUIZ ROCHA DE ALMEIDA:20453112870 Dados: 2021.02.26 14:49:23 -04'00'

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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA __ VARA CÍVEL DA

COMARCA DE PIMENTA BUENO/RO,

ParquetWeb n. 2021001010002201

Ação Civil Púbica n. 02/2021

URGENTE: TUTELA CAUTELAR

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE RONDÔNIA, por meio de

seus Promotores de Justiça signatários, no uso de suas atribuições legais e com fundamento

nos artigos 129, III, da Constituição Federal; 5º da Lei 7.347/85 e 25, IV, “a”, da Lei

8.625/93, vem respeitosamente perante Vossa Excelência, com fulcro no artigo 303 e

seguintes do Código de Processo Civil propor

PEDIDO DE TUTELA CAUTELAR DE URGÊNCIA EM CARÁTER

ANTECEDENTE.

Em Face de

JBS S/A – FILIAL PIMENTA BUENO, pessoa jurídica de direito

privado, a ser citada na pessoa de seu representante legal (art. 75,

VIII, do CPC), regularmente inscrita no CNPJ sob o n.

02.916.265/0082-25, com endereço na Rodovia BR 364, KM 207, Zona

Rural, no Município de Pimenta Bueno, com endereço eletrônico:

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[email protected], com base nos fatos e fundamentos a

seguir expostos:

I – DOS FATOS

Chegou ao conhecimento desta Promotoria de Justiça a notícia de que no dia

15/02/2021, por volta das 10h00min, nas dependências do Frigorífico JBS S/A, desta cidade,

a canalização de uma das câmaras de refrigeração se rompeu, face a queda da estrutura,

acarretando no vazamento de amônia, que atingiu diversos trabalhadores, que estavam no

local, os quais precisaram ser sorridos pelo Corpo de Bombeiros ao Hospital Municipal de

Pimenta Bueno, consoante relatório fornecido pelo nosocômio.

Diante da notícia, este Órgão Ministerial instaurou o Inquérito Civil nº

002/2021/1ª e 2ª PJPB, com a finalidade de apurar possível dano ambiental decorrente de

evento potencialmente poluidor, lesivo à saúde dos munícipes de Pimenta Bueno e seu

impacto no Sistema Único de Saúde, decorrentes do vazamento de gás tóxico (amônia) no

Frigorífico JBS S/A.

Nesse ínterim, adotou-se diversas providências para melhor elucidação dos

fatos, visando à aplicação de eventuais medidas cabíveis após a conclusão das investigações.

Ocorre que durante as investigações, chegou ao conhecimento desta

Promotoria de Justiça, a notícia de que o Frigorífico JBS S/A, charqueou e vendeu as carnes

que estavam acondicionadas na câmara fria no momento em que houve o vazamento de

amônia, não obstante, a alta probabilidade de contaminação da carne por gás altamente

tóxico, o que afeta diretamente os direitos do consumidor e saúde pública.

II – DA LEGITIMIDADE

Inicialmente, vale rememorar que a Constituição Federal de 1988 apresenta

cláusula consagradora ao determinar que “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do

consumidor” (art. 5o, inciso XXIII), estabelecendo tal preceito como um dos princípios gerais

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da ordem econômica (art. 170, I).

A partir dessa perspectiva, o Ministério Público é legitimado a adotar as

providências cabíveis, inclusive judiciais, para promovê-la, conforme prevê o art. 82, I, da Lei

n. 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor) e art. 1º, II, da Lei n. 7.347/85 (Lei de Ação

Civil Pública).

Ademais disso, no que tange ao direito à saúde, por se tratar de direito

fundamental e indisponível, o Ministério Público é legitimado ativo para sua defesa, na

esteira do que dispõe o artigo 127, caput, da Constituição Federal.

III – DOS FUNDAMENTOS

A presente demanda tem por objeto a concessão de tutela provisória de

urgência cautelar requerida em caráter antecedente (artigo 303 do CPC), consistente

no recolhimento de produto alimentício (carne) de circulação, para submeter à perícia, face

à provável contaminação.

A tutela judicial que se pretende, encontra-se prevista no artigo 303 do Código

de Processo Civil que assim dispõe, in verbis:

Art. 303. Nos casos em que a urgência for contemporânea à propositura da

ação, a petição inicial pode limitar-se ao requerimento da tutela antecipada e à

indicação do pedido de tutela final, com a exposição da lide, do direito que se

busca realizar e do perigo de dano ou do risco ao resultado útil do processo.

Nesse sentido, estabelece o Código de Processo Civil, em seu art. 294 que a

tutela provisória pode fundamentar-se em urgência ou evidência. A tutela provisória de

urgência, por sua vez, é dividida em cautelar – garantidora do resultado útil e eficaz do

processo – e a tutela antecipada – satisfativa do direito da parte no plano fático.

A tutela provisória de urgência, seja cautelar ou antecipada, pode ser

concedida em caráter antecedente – antes do início do processo - ou incidental – dentro do

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processo principal. Como se vê, a tutela provisória de urgência antecipada é uma providência

que tem natureza mandamental, com o escopo de entregar ao autor da demanda, de forma

total ou parcial, a própria pretensão deduzida em juízo ou os seus efeitos.

Em relação à prova inequívoca, ressalte-se que a norma prevê apenas uma

cognição sumária, de modo que o juízo de probabilidade deve ser exigido em grau

compatível com os direitos que estão jogo.

No presente caso, em juízo de cognição sumária é possível depreender dos

documentos juntados autos (ICP), que de fato houve vazamento a amônia em um das

câmaras frias do Frigorífico JBS, atestado, inclusive pelo Corpo de Bombeiros

Militar e diversos outros órgãos que estiveram no local. Colaciona-se aos autos

matérias jornalísticas que retrataram o ocorrido:

https://g1.globo.com/ro/rondonia/noticia/2021/02/18/mp-apura-vazamento-de-amonia-em-

frigorifico-de-pimenta-bueno-ro.ghtml

https://www.cbm.ro.gov.br/index.php/transparencia/noticias/971-pimenta-bueno-socorre-

vitimas-e-faz-vistoria-tecnica-em-industria-que-teve-vazamento-de-amonia

No caso dos autos, este Órgão Ministerial pleiteia a tutela cautelar que

ora se apresenta, tendo em vista o depoimento prestado pelo Sr. Vinícius Domingos

Paro, Gerente Industrial da Requerida, ouvido pelo Delegado de Polícia, que

demonstra com a convicção que se faz necessária, que o Frigorífico JBS

charqueou e vendeu os lotes de carnes que se encontravam acondicionados na

mesma câmara fria em que houve o vazamento de amônia (fls. X).

Sabe-se que é usual que carnes impróprias para o consumo direto,

sejam utilizadas para a confecção de charques, no entanto, tal utilização deve ser de forma

controlada, atentando-se às normas sanitárias.

Não obstante, a empresa Requerida omitiu informações ao

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esclarecer para a Engenheira Sanitarista do Ministério Público no momento da

realização de sua vistoria (parecer em anexo), que a carne havida sido incinerada.

No entanto, ao revés disso, o Gerente Industrial da Requerida afirmou que os lotes de carnes

foram utilizados na confecção de charques e posteriormente vendidos.

Em que pese a alegação de que a carne foi vistoriada antes da liberação

para a confecção de charque e posterior distribuição, tal afirmação merece ser rechaçada,

uma vez que eventual laudo pericial realizado perde a credibilidade ante a alegação

inicial de incineração, o que demonstra a reutilização dos lotes de carne sem o prévio

controle sanitário.

Ademais disso, restam dúvidas acerca da realização de perícia em todos

os lotes e peças de carnes charqueadas, ante a tentativa da Requerida em esconder a sua

pretensão inicial. Ora, qual a razão de omitir a informação de que a carne

contaminada teria sido incinerada e posteriormente utilizá-la na confecção de

charque?

Desse modo, pairam dúvidas a respeito da boa qualidade da carne

vendida para ser colada à disposição dos consumidores, o que poderá causar inestimável

prejuízo para aqueles que consumirem tais lotes potencialmente contaminados.

Para fins de esclarecimentos “a amônia, com símbolo químico NH3, é

constituída de um átomo de nitrogênio e três de hidrogênio, apresentando-se como gás à

temperatura e pressão ambientes. Liquefaz-se sob pressão atmosférica a -33,35 ºC. É

altamente higroscópica e a reação com a água forma NH4OH, hidróxido de amônia, líquido

na temperatura ambiente, que possui as mesmas propriedades químicas da soda

cáustica ” 1

“ O gás é um irritante poderoso das vias respiratórias, olhos e

pele. Dependendo do tempo e do nível de exposição podem ocorrer efeitos que vão de

irritações leves a severas lesões corporais. A inalação pode causar dificuldades respiratórias,

broncoespasmo, queimadura da mucosa nasal, faringe e laringe, dor no peito e edema1 http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/manuais/quimico/Refrigeracao%20Industrial%20por

%20Amonia.pdf

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pulmonar. A ingestão causa náusea, vômitos e inchação nos lábios, boca e laringe. A amônia

produz, em contato com a pele, dor, eritema e vesiculação. Em altas concentrações, pode

haver necrose dos tecidos e queimaduras profundas. O contato com os olhos em baixas

concentrações (10 ppm) resulta em irritação ocular e lacrimejamento. Em concentrações

mais altas, pode haver conjuntivite, erosão na córnea e cegueira temporária ou permanente.

Reações tardias podem acontecer, como fibrose pulmonar, catarata e atrofia da retina”2

Depreende-se dos depoimentos prestados perante a autoridade Policial que

no dia dos fatos, houve o vazamento de 80 a 100 Kg de gás tóxico (amônia) na câmara fria

onde havia 150 animais abatidos.

O art. 10, inc I, do Decreto nº 9.013/2017, que dispõe sobre a inspeção

industrial e sanitária de produtos de origem animal, define a análise de autocontrole, como

sendo “análise efetuada pelo estabelecimento para controle de processo e monitoramento da

conformidade das matérias-primas, dos ingredientes, dos insumos e dos produtos”.

O art. 5º, por sua vez, rege que “ficam sujeitos à inspeção e à fiscalização

previstas neste Decreto os animais destinados ao abate, a carne e seus derivados, o pescado

e seus derivados, os ovos e seus derivados, o leite e seus derivados e os produtos de

abelhas e seus derivados, comestíveis e não comestíveis, com adição ou não de produtos

vegetais”

Note-se, que a Requerida é obrigada exercer o auto controle da

cadeia de produção, ou seja, deve registrar a quantidade de gado abatido; o local

acondicionamento da carne; o tempo de acondicionamento, entre tantas outras

atividades que desempenha, até a venda do produto.

Os laudos de análise produzidos de forma UNILATERAL pela empresa,

que dispõe de interesse econômico no aproveitamento e venda da carne, para fins

de atestar que o produto está apto para consumo, NÃO são suficientes para tanto, uma vez:

a) a empresa mentiu sobre a destinação do produto a Engenheira Sanitária em2 http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/manuais/quimico/Refrigeracao%20Industrial%20por

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diligência determinada em Inquérito Civil Público, conforme documento em anexo;

b) a empresa NÃO comunicou a SEDAM e ao Ministério Público, mesmo ciente

da instauração de procedimento para apurar os fatos, que destinaria o produto ao consumo

humano;

c) a exposição do produto ao AGENTE TOXICO não ocorreu de forma

controlada, eis que decorre de ilícito (rompimento de estrutura e dutos onde

existiam o hidróxido de amônia). Não se tem parâmetros da quantidade de

amônia que teve contato com a carne, vez que o vazamento não se deu de forma

supervisionada, mas sim, decorrente de rompimento de toda uma estrutura,

consoante fotos em anexo;

d) a exposição de seres humanos ao produto, conforme relatório do próprio

hospital local, demonstra alto teor tóxico que a AMÔNIA provoca no organismo humano;

e) humanos tiveram a saúde afetada pela AMÔNIA, inclusive gerando

internação em UTI, indicativo de que a carne do gado, também exposta ao tóxico nas

mesmas circunstâncias, precisa de exame minucioso e isento, antes de ser destinado

ao consumo humano.

Destarte, verifica-se a ausência de cautela pela Requerida na destinação de

produto alimentício à cadeia de consumo, ante a omissão da destinação da carne e

elaboração de exame isento acerca de sua qualidade.

III.1 – DA PROBABILIDADE DO DIREITO E DO PERIGO DA DEMORA – RISCO DE

DANO IRREPARÁVEL

Em relação aos requisitos para a concessão da tutela provisória de urgência, o

art. 300 do Código de Processo Civil determina que:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que

evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil

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do processo. […] § 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após

justificação prévia.

Portanto, de acordo com o referido artigo, exige-se a existência de elementos

que evidenciem a probabilidade do direito, além da comprovação de que não sendo

protegido imediatamente, de nada adiantará uma proteção futura, diante do perecimento do

direito.

No caso em apreço, caso o pedido não seja imediatamente apreciado,

o prejuízo causado à saúde dos consumidores que adquirirem a carne que esteve

em contato com amônia, poderá ser devastador, dado as consequências graves

em caso de ingestão produtos tóxicos, no caso de eventual contaminação a ser

constatada por perícia isenta e imparcial.

Ainda que se avente a possibilidade de contato da amônia com a carne,

como permissiva, neste caso descrito, não se teve controle do contato e

quantidade da amônia disposta, nem o tempo em que isso aconteceu, com os

produtos que neste momento estão sendo encaminhados ao consumo humano.

Essa situação exige a adoção de medidas imediatas pelo Poder Judiciário,

visando a evitar danos sérios e graves à incontáveis consumidores que vierem a adquirir o

produto posto em circulação.

A narrativa dos fatos até aqui apresentada demonstra a presença indubitável

dos requisitos do periculum in mora e do fumus boni juris, necessários para a concessão da

tutela de urgência.

Assim, tal situação fática está a exigir a adoção de tutela cautelar por parte

deste Juízo, o que deve ser determinado imediatamente, em consideração ao receio de grave

lesão à incontáveis consumidores.

Por fim, esclarece-se que o art. 297 do Código de Processo Civil estabelece que

“o juiz poderá determinar as medidas que considerar adequadas para efetivação da tutela

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provisória. Parágrafo único. A efetivação da tutela provisória observará as normas referentes

ao cumprimento provisório da sentença, no que couber”.

Segundo a previsão do art. 297, o juiz poderá determinar as medidas que

considerar adequadas para a efetivação da tutela provisória, isso porque, tratando-se de

tutela provisória de urgência, é inegável a necessidade de imediata satisfação.

No caso em apreço, o deferimento do pedido cautelar atenderá aos princípios

da PRECAUÇÃO e PREVENÇÃO, tão caros às SAÚDE PÚBLICA e ao Meio Ambiente.

E também não trará prejuízos a Requerida, uma vez que se pretende seja ela

fiel depositária da carne, para as destinações devidas a posteriori.

IV – DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Já se sabe que o Código de Defesa do Consumidor é um microssistema para

defesa de pessoas vulneráveis. Nesta esteira, além de regras de direito material, ele também

possui em seu bojo regras de direito processual, dentre elas a possibilidade de inversão do

ônus da prova em favor dos consumidores, instrumento que visa, claramente, facilitar a

defesa dos direitos dos consumidores em Juízo.

Segundo dispõe o artigo 6º, VIII, do referido Código, é um direito básico do

consumidor a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive, com a inversão do ônus da

prova, a seu favor, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele

hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência.

Neste caso, conclui-se que o ônus da prova deve ser invertido em favor da

massa de interesses consumeristas defendidos pelo Ministério Público, os quais, poderão

sofrer graves danos à sua saúde.

No mais, já foi sedimentado na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça

que é possível a inversão do ônus da prova em ação civil pública, eis que deve ser

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levado em conta quem é a parte material da demanda, não a processual. E, sendo a primeira

os consumidores, fica clara a necessidade de aplicação da regra processual em comento.

Neste sentido, veja-se o teor da decisão da 1º Turma do Superior Tribunal de Justiça, tendo

como relator o Ministro Sérgio Kukina:

“ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DO CONSUMIDOR.OFENSA AOS ARTS. 165, 458, 535, II, DO CPC/73 NÃO DEMONSTRADA.AÇÃO CIVIL PÚBLICA. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. PRERROGATIVA DOMINISTÉRIO PÚBLICO NO ÂMBITO CONSUMERISTA. INATACADOFUNDAMENTO BASILAR DO ACÓRDÃO RECORRIDO. SÚMULA 283/STF.OBRIGAÇÃO DE IMPLANTAR SETOR DE RELACIONAMENTO, A FIM DEDISPONIBILIZAR AO CONSUMIDOR FÁCIL ACESSO A CANAL DESTINADO AOCANCELAMENTO DA LINHA TELEFÔNICA. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA.IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃOCOMPROVADO. 1. Afasta-se a alegação de ofensa aos arts. 165, 458, 535, II,do CPC/73, na medida em que o Tribunal de origem dirimiu,fundamentadamente, as questões que lhe foram submetidas, apreciandointegralmente a controvérsia posta nos autos, não se podendo, ademais,confundir julgamento desfavorável ao interesse da parte com negativa ouausência de prestação jurisdicional. 2. De acordo com a jurisprudência destaCorte, "o Ministério Público, no âmbito de ação consumerista, faz jus àinversão do ônus da prova, a considerar que o mecanismo previsto no art. 6º,inc. VIII, do CDC busca concretizar a melhor tutela processual possível dosdireitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos e de seus titulares - naespécie, os consumidores -, independentemente daqueles que figurem comoautores ou réus na ação" (REsp 1.253.672/RS, Rel. Ministro Mauro CampbellMarques, Segunda Turma, DJe 9/8/2011). 3. O recurso especial nãoimpugnou fundamento basilar que ampara o acórdão recorrido, de forma quea irresignação esbarra no obstáculo da Súmula 283/STF, que assim dispõe:"É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assentaem mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles.".4. A Corte de origem ratificou a sentença de piso que, a partir do exame doacervo probatório dos autos, concluiu pela inexistência de setores derelacionamento para o cancelamento de linhas telefônicas, razão pela qualcondenou a parte recorrente a implantar referido serviço, bem como aopagamento de danos materiais, a serem apurados em liquidação de sentença,caso o consumidor comprove o fato gerador do direito reclamado. Rever talconclusão, demandaria, necessariamente, novo exame do acervo fático-probatório constante dos autos, providência vedada em recurso especial,conforme o óbice previsto na Súmula 7/STJ. 5. A inexistência de similitudefático-jurídica entre os acórdãos recorrido e paradigma impede a análise daalegada divergência jurisprudencial. 6. Agravo interno a que se negaprovimento. AgInt no REsp 2012/0094924-1. Relator(a): Ministro SÉRGIOKUKINA. Órgão Julgador: PRIMEIRA TURMA. Data do Julgamento:22/08/2017. Data da Publicação/Fonte: DJe 31/08/2017.

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Desta forma, deve ser invertido o ônus da prova em favor dos consumidores,

a fim de que a Empresa Frigorífico JBS S/A, adote as providências necessárias para custear a

realização de nova perícia isenta e imparcial, a ser determinada por este Juízo.

V – DOS PEDIDOS

Com base nos fundamentos apresentados o Ministério Público requer a

Vossa Excelência:

1) a CONCESSÃO de tutela de urgência para caso o produto (carne,

charque) NÃO esteja na Unidade do JBS local, que seja promovido o imediato recolhimento

para a planta frigorífica de Pimenta Bueno. Neste caso, deverá apresentar ao Juízo os

documentos que comprovem a venda e transporte do produto e o seu retorno a

unidade (Notas Fiscais, Romaneios de Transporte, etc).

2) Que os produtos permaneçam depositados em poder da REQUERIDA,

nomeada como fiel depositária para todos os fins e responsabilidades decorrentes.

3) A citação da Requerida para tomar ciência do teor da presente demanda;

4) Seja comunicada a ANVISA, para fins do exercício do poder de polícia em

sua esfera administrativa, solicitando que indique um LABORATÓRIO isento para realização

de exame pericial no PRODUTO ANIMAL EXPOSTO A AGENTE TÓXICO SEM CONTROLE E EM

DESACORDO COM REGRAS DE SEGURANÇA QUE GARANTAM a inexistência de riscos à saúde

do consumidor;

5) Por se tratar de matéria atinente ao consumidor e ao MEIO AMBIENTE,

pelos fundamentos SUPRA, a INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA, inclusive para fins

periciais, determinando que a empresa arque com os custos do exame a serem realizados

com isenção por LABORATÓRIO nomeado pelo juízo, e recomendado por órgão credenciado

do Estado, de controle de qualidade e aptidão de consumo, consoante descrito no item 4.

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6) a CONDENAÇÃO da Requerida ao pagamento de multa no valor de R$

500.000,00 (quinhentos mil reais), a ser revertida em favor do fundo de reconstituição de

bens lesados, em caso de descumprimento da determinação judicial para custear a perícia

isenta e imparcial;

7) a apresentação do relatório de produção dos últimos 30 (trinta) dias,

incluindo o corte do gado, local de armazenamento de lotes dos animais e tempo de

armazenamento, relativos aos últimos 60 (sessenta) dias;

8) a dispensa do pagamento de custas, emolumentos, honorários periciais e

advocatícios, e outras despesas por parte do Ministério Público (art. 18 da Lei 7.347/85).

9) Que se determine no prazo de 06h os atos de recolhimento dos

lotes de charque/ou carne que teve contato com a amônia, ante o risco iminente

à saúde pública. Reafirma-se que consoante depoimentos em anexo, caiu com a

estrutura em torno de 150 bovinos, que estão sendo destinados ao consumo.

10) Que comprove o cumprimento da medida judicial no prazo de 24horas.

11) Requer, por fim, a fixação de multa no importe de R$ 500.000,00 pelo

descumprimento imediato da medida, mais R$ 100.000,00 por dia de descumprimento, ante

a evidente e notória capacidade econômica da empresa requerida.

Protesta provar o alegado pelos documentos anexos, testemunhas, perícia e

demais meios de provas em direito admitidos.

Dá-se à causa o valor de R$ 500.00,00 (quinhentos mil reais).

Pimenta Bueno/RO, data certificada.

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1ª e 2ª PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE PIMENTA BUENO

MARCOS GIOVANE ÁRTICO

Promotor de Justiça

ANDRÉ LUIZ ROCHA DE ALMEIDAPromotor de Justiça

Fone: (69) 3451-2663 | www.mpro.mp.brAv. Castelo Branco, nº 914 – Bairro Pioneiros – Pimenta Bueno/RO – CEP:76.970-000 JMPL

MARCOS GIOVANE ARTICO:33719141861

Assinado de forma digital por MARCOS GIOVANE ARTICO:33719141861 Dados: 2021.02.26 14:34:43 -04'00'

ANDRE LUIZ ROCHA DE ALMEIDA:20453112870

Assinado de forma digital por ANDRE LUIZ ROCHA DE ALMEIDA:20453112870 Dados: 2021.02.26 14:49:23 -04'00'

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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE RONDÔNIA

Tribunal de Justiça de Rondônia

Pimenta Bueno - 2ª Vara Cível

Rua Casimiro de Abreu, nº 237, Bairro Centro, CEP 76800-000, Pimenta Bueno

Processo: 7000729-56.2021.8.22.0009

Classe: Tutela Cautelar Antecedente

Assunto: Produto Impróprio

REQUERENTE: MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE RONDONIA

ADVOGADO DO REQUERENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE RONDÔNIA

REQUERIDO: JBS S/A

REQUERIDO SEM ADVOGADO(S)

DECISÃO

Trata-se de pedido de tutela cautelar de urgência em caráter antecedente,requerida pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE RONDÔNIA emface de JBS S/A – FILIAL PIMENTA BUENO, ambos qualificados nosautos.

Narra o Ministério Público que no dia 15/02/2021, por volta das 10h00min,nas dependências do Frigorífico JBS S/A, a canalização de uma dascâmaras de refrigeração se rompeu, face a queda da estrutura,acarretando no vazamento de amônia, que atingiu diversos trabalhadores,que estavam no local, os quais precisaram ser sorridos pelo Corpo deBombeiros ao Hospital Municipal, consoante relatório fornecido pelonosocômio.

Relata que instaurou o Inquérito Civil nº 002/2021/1ª e 2ª PJPB, com afinalidade de apurar possível dano ambiental decorrente de eventopotencialmente poluidor, lesivo à saúde dos munícipes de Pimenta Buenoe seu impacto no Sistema Único de Saúde, decorrentes do vazamento degás tóxico (amônia) no Frigorífico JBS S/A.

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Aduz que durante as investigações, chegou ao conhecimento a notícia deque o Frigorífico JBS S/A, charqueou e vendeu as carnes que estavamacondicionadas na câmara fria no momento em que houve o vazamentode amônia, não obstante, a alta probabilidade de contaminação da carnepor gás altamente tóxico, o que afeta diretamente os direitos doconsumidor e saúde pública.

Desta forma, requer a concessão da tutela de urgência para caso oproduto (carne, charque) não esteja na Unidade do JBS local, que sejapromovido o imediato recolhimento para a planta frigorífica de PimentaBueno, que deverá apresentar ao Juízo os documentos que comprovem avenda e transporte do produto e o seu retorno a unidade (Notas Fiscais,Romaneios de Transporte, etc) e que os produtos permaneçamdepositados em poder da REQUERIDA, nomeada como fiel depositáriapara todos os fins e responsabilidades decorrentes.

Juntou documentos.

Em síntese é o breve relato. DECIDO.

Nos termos do artigo 300 do CPC, para que seja concedida a tutela deurgência pleiteada pela parte, que possui natureza de tutela cautelarantecedente, devem ser comprovadas a existência de dois requisitos,quais sejam, a probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco aoresultado útil do processo – periculum in mora.

Do cotejo dos autos verifico que os requisitos autorizadores da concessãoda tutela cautelar se encontram demonstrados.

A probabilidade do direito sobre o qual se baseia o pedido de urgência,decorre do risco de prejuízo à saúde dos consumidores que adquirirem acarne que esteve em contato com a amônia.

A probabilidade do direito se comprova pelos documentos juntados, bemcomo pelo depoimento prestado por Vinícius Domingos Paro, GerenteIndustrial da requerida, ouvido pelo Delegado de Polícia, qual declarouque o Frigorífico JBS charqueou e vendeu os lotes de carnes que seencontravam acondicionados na câmara fria em que houve o vazamentode amônia e havia 150 animais abatidos (id. 54984899).

Outrossim, o pedido cautelar atenderá aos princípios da precaução eprevenção à saúde pública e ao meio ambiente, bem como, não seafigura irreversível, na medida em que a requerida será fiel depositária da

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carne que, se comprovada estar apta ao consumo, poderá posteriormenteser vendida.

Posto isso, DEFIRO o pedido de tutela provisória de urgência, para queseja promovido pela requerida o imediato recolhimento dos lotes decharque ou carne que teve contato com a amônia, que não estejam naUnidade do JBS local, no prazo de 6h (seis) horas, devendo apresentardocumentos que comprovem a venda e transporte do produto e o seuretorno a unidade (Notas Fiscais, Romaneios de Transporte, etc), bemcomo para que permaneça com os produtos depositados em poder darequerida.

Nomeio como fiel depositária do produto (carne/charque) a requerida JBSS/A, para todos os fins e responsabilidades decorrentes.

Fixo multa diária de R$ 100.000,00 (cem mil reais) até o limite de R$500.000,00 (quinhentos mil reais), para o caso de descumprimento,ressaltando, ainda, que outras medidas coercitivas poderão ser adotadaspara cumprimento da presente decisão.

Intime-se o requerido ao cumprimento.

Tratando-se de defesa dos direitos do consumidor, DEFIRO a inversãodo ônus da prova, para determinar que a requerida comprove que oslotes de carnes que se encontravam acondicionados na câmara fria emque houve o vazamento de amônia, se encontram em condiçõesadequadas para consumo, o que deverá ser feito por meio de períciarealizada por profissional nomeado por este juízo. Assim, ficam as partesintimadas a, no prazo de 05 dias, indicarem profissionais capacitadospara o mister.

CITE-SE e INTIME-SE o requerido para apresentar contestação e indicaras provas que pretende produzir, no prazo de 05 dias, conformedetermina o artigo 306 do CPC, advertindo-a de que não sendocontestado o pedido, os fatos alegados pelos autores presumir-se-ãoaceitos por ela como ocorridos (artigo 307, CPC).

Com a contestação, caso sejam arguidas matérias preliminares oujuntados documentos, intimem-se os autores para réplica, no prazo de 15(quinze) dias.

Não sendo contestado o pedido de urgência, os fatos alegados pelo autorpresumir-se-ão aceitos pelo réu como ocorridos, caso em que o juiz

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decidirá dentro de 5 (cinco) dias, ratificando ou revogando a presentedecisão.

Nos termos do artigo 308 do CPC, efetivada a tutela cautelar, intime-se oautor para que apresente a petição completa com o pedido principal noprazo de 30 (trinta) dias úteis, caso em que será apresentado nospróprios autos, não dependendo do adiantamento de novas custasprocessuais.

Apresentado o pedido principal, venham os autos conclusos paradesignação de audiência preliminar e prosseguimento do processo peloprocedimento comum.

CUMPRA-SE COM URGÊNCIA, INCLUSIVE NO PLANTÃO.

CÓPIA DA PRESENTE SERVIRÁ DE MANDADO DEOFÍCIO/CITAÇÃO/INTIMAÇÃO.

Intime-se.

Pratique-se o necessário.

Pimenta Bueno/RO, 26 de fevereiro de 2021

Ane Bruinjé

Juíza de Direito

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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE RONDÔNIA

Tribunal de Justiça de Rondônia

Pimenta Bueno - 2ª Vara Cível

Rua Casimiro de Abreu, nº 237, Bairro Centro, CEP 76800-000, Pimenta Bueno

Processo: 7000729-56.2021.8.22.0009

Classe: Tutela Cautelar Antecedente

Assunto: Produto Impróprio

REQUERENTE: MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE RONDONIA

ADVOGADO DO REQUERENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE RONDÔNIA

REQUERIDO: JBS S/A

REQUERIDO SEM ADVOGADO(S)

DECISÃO

Trata-se de pedido de tutela cautelar de urgência em caráter antecedente,requerida pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE RONDÔNIA emface de JBS S/A – FILIAL PIMENTA BUENO, ambos qualificados nosautos.

Narra o Ministério Público que no dia 15/02/2021, por volta das 10h00min,nas dependências do Frigorífico JBS S/A, a canalização de uma dascâmaras de refrigeração se rompeu, face a queda da estrutura,acarretando no vazamento de amônia, que atingiu diversos trabalhadores,que estavam no local, os quais precisaram ser sorridos pelo Corpo deBombeiros ao Hospital Municipal, consoante relatório fornecido pelonosocômio.

Relata que instaurou o Inquérito Civil nº 002/2021/1ª e 2ª PJPB, com afinalidade de apurar possível dano ambiental decorrente de eventopotencialmente poluidor, lesivo à saúde dos munícipes de Pimenta Buenoe seu impacto no Sistema Único de Saúde, decorrentes do vazamento degás tóxico (amônia) no Frigorífico JBS S/A.

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Aduz que durante as investigações, chegou ao conhecimento a notícia deque o Frigorífico JBS S/A, charqueou e vendeu as carnes que estavamacondicionadas na câmara fria no momento em que houve o vazamentode amônia, não obstante, a alta probabilidade de contaminação da carnepor gás altamente tóxico, o que afeta diretamente os direitos doconsumidor e saúde pública.

Desta forma, requer a concessão da tutela de urgência para caso oproduto (carne, charque) não esteja na Unidade do JBS local, que sejapromovido o imediato recolhimento para a planta frigorífica de PimentaBueno, que deverá apresentar ao Juízo os documentos que comprovem avenda e transporte do produto e o seu retorno a unidade (Notas Fiscais,Romaneios de Transporte, etc) e que os produtos permaneçamdepositados em poder da REQUERIDA, nomeada como fiel depositáriapara todos os fins e responsabilidades decorrentes.

Juntou documentos.

Em síntese é o breve relato. DECIDO.

Nos termos do artigo 300 do CPC, para que seja concedida a tutela deurgência pleiteada pela parte, que possui natureza de tutela cautelarantecedente, devem ser comprovadas a existência de dois requisitos,quais sejam, a probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco aoresultado útil do processo – periculum in mora.

Do cotejo dos autos verifico que os requisitos autorizadores da concessãoda tutela cautelar se encontram demonstrados.

A probabilidade do direito sobre o qual se baseia o pedido de urgência,decorre do risco de prejuízo à saúde dos consumidores que adquirirem acarne que esteve em contato com a amônia.

A probabilidade do direito se comprova pelos documentos juntados, bemcomo pelo depoimento prestado por Vinícius Domingos Paro, GerenteIndustrial da requerida, ouvido pelo Delegado de Polícia, qual declarouque o Frigorífico JBS charqueou e vendeu os lotes de carnes que seencontravam acondicionados na câmara fria em que houve o vazamentode amônia e havia 150 animais abatidos (id. 54984899).

Outrossim, o pedido cautelar atenderá aos princípios da precaução eprevenção à saúde pública e ao meio ambiente, bem como, não seafigura irreversível, na medida em que a requerida será fiel depositária da

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carne que, se comprovada estar apta ao consumo, poderá posteriormenteser vendida.

Posto isso, DEFIRO o pedido de tutela provisória de urgência, para queseja promovido pela requerida o imediato recolhimento dos lotes decharque ou carne que teve contato com a amônia, que não estejam naUnidade do JBS local, no prazo de 6h (seis) horas, devendo apresentardocumentos que comprovem a venda e transporte do produto e o seuretorno a unidade (Notas Fiscais, Romaneios de Transporte, etc), bemcomo para que permaneça com os produtos depositados em poder darequerida.

Nomeio como fiel depositária do produto (carne/charque) a requerida JBSS/A, para todos os fins e responsabilidades decorrentes.

Fixo multa diária de R$ 100.000,00 (cem mil reais) até o limite de R$500.000,00 (quinhentos mil reais), para o caso de descumprimento,ressaltando, ainda, que outras medidas coercitivas poderão ser adotadaspara cumprimento da presente decisão.

Intime-se o requerido ao cumprimento.

Tratando-se de defesa dos direitos do consumidor, DEFIRO a inversãodo ônus da prova, para determinar que a requerida comprove que oslotes de carnes que se encontravam acondicionados na câmara fria emque houve o vazamento de amônia, se encontram em condiçõesadequadas para consumo, o que deverá ser feito por meio de períciarealizada por profissional nomeado por este juízo. Assim, ficam as partesintimadas a, no prazo de 05 dias, indicarem profissionais capacitadospara o mister.

CITE-SE e INTIME-SE o requerido para apresentar contestação e indicaras provas que pretende produzir, no prazo de 05 dias, conformedetermina o artigo 306 do CPC, advertindo-a de que não sendocontestado o pedido, os fatos alegados pelos autores presumir-se-ãoaceitos por ela como ocorridos (artigo 307, CPC).

Com a contestação, caso sejam arguidas matérias preliminares oujuntados documentos, intimem-se os autores para réplica, no prazo de 15(quinze) dias.

Não sendo contestado o pedido de urgência, os fatos alegados pelo autorpresumir-se-ão aceitos pelo réu como ocorridos, caso em que o juiz

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decidirá dentro de 5 (cinco) dias, ratificando ou revogando a presentedecisão.

Nos termos do artigo 308 do CPC, efetivada a tutela cautelar, intime-se oautor para que apresente a petição completa com o pedido principal noprazo de 30 (trinta) dias úteis, caso em que será apresentado nospróprios autos, não dependendo do adiantamento de novas custasprocessuais.

Apresentado o pedido principal, venham os autos conclusos paradesignação de audiência preliminar e prosseguimento do processo peloprocedimento comum.

CUMPRA-SE COM URGÊNCIA, INCLUSIVE NO PLANTÃO.

CÓPIA DA PRESENTE SERVIRÁ DE MANDADO DEOFÍCIO/CITAÇÃO/INTIMAÇÃO.

Intime-se.

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Pimenta Bueno/RO, 26 de fevereiro de 2021

Ane Bruinjé

Juíza de Direito

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GOVERNO DO ESTADO DE RONDÔNIA SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA, DEFESA E CIDADANIA

SUPERINTENDÊNCIA DE POLÍCIA TÉCNICO-CIENTÍFICA

COORDENADORIA REGIONAL DE CRIMINALÍSTICA DE SÃO MIGUEL DO GUAPORÉ/RO

Av. Presidente Vargas nº 586 – Centro – São Miguel do Guaporé/RO CEP: 76932-000

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LAUDO PERICIAL Nº 156/2021/POLITEC-SMG/RO

LAUDO DE EXAME EM LOCAL DE ACIDENTE DE TRABALHO

Referente: “Procedimento 2021001010002201”.

Aos vinte e cinco dias do mês de fevereiro de dois mil e vinte e um (25/02/2021),

na Coordenadoria Regional de Criminalística de São Miguel do Guaporé/RO, da

Superintendência de Polícia Técnico-Científica, foi designado o Perito Criminal Engº

Mecânico Engel Medeiros Costa para elaboração do presente Laudo Pericial Criminal, a

fim de atender à solicitação da 1ª Promotoria de Justiça de Pimenta Bueno/RO, feita através

do Ofício n° 0104/2021, descrevendo com verdade e com todas as circunstâncias tudo

quanto possa interessar à Justiça.

1 HISTÓRICO

Atendendo à designação da Direção Geral de Polícia Técnico Científica do Estado de

Rondônia para atender a solicitação da Delegacia de Polícia Civil de Pimenta Bueno/RO, às

onze horas (11h00) do dia 21/02/2021, este Perito Criminal compareceu ao local abaixo

descrito, onde passou a realizar os exames necessários.

2 OBJETIVO

Os exames realizados tiveram por objetivo caracterizar o local onde ocorreu um

acidente de trabalho, descrever os vestígios encontrados, bem como determinar, se

possível, as circunstâncias em que o evento ocorreu, os danos ambientais provocados e a

causa do vazamento de amônia. Não foram formulados quesitos pela parte requisitante.

3 DOS EXAMES

3.1 Do Local

Os exames foram realizados no Frigorífico JBS S/A, localizado na Rodovia BR 364,

km 209, na Zona Rural do Município de Pimenta Bueno.

Acompanharam os exames os colaboradores do frigorífico:

Juliano Buratti – Engenheiro de Segurança Regional;

Jean Robson Sartori – Coordenador de Manutenção;

Vinícius Domingos Paro – Gerente Industrial;

Fábio Ferreira Fernandes – Engenheiro de Segurança do Trabalho.

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O vazamento de amônia ocorreu na Câmara de Maturação 02, conforme descrito no

decorrer do presente laudo pericial.

Fotografia 01: Mostra a entrada da Câmara de Maturação 02,

quando dos exames.

3.2 Do Cumprimento das Normas de Segurança Relacionadas à Utilização de

Amônia

Examinando o local, verificou-se que:

As câmaras frias possuíam dispositivo que possibilitava a abertura da porta pelo

seu interior e alarme que poderia ser acionado pelo interior, em caso de emergência;

Havia mecanismos para detecção precoce de vazamentos nos pontos críticos,

acoplados ao sistema de alarme;

Havia a instalação de painel de controle do sistema de refrigeração;

Havia instalação de chuveiros de segurança e lava-olhos;

Havia instalação de sprinklers acima dos grandes vasos de amônia;

O painel de controle do sistema de refrigeração acionava automaticamente o

alarme em caso de vazamento de amônia;

O painel de controle do sistema de refrigeração possuía acionamento do sistema de

controle e eliminação da amônia;

Após o acidente que implicou o vazamento de amônia, foram efetuadas as

medições da concentração do produto no ambiente e a devida estanqueidade das

tubulações de amônia. Foram realizados ensaios não destrutivos por ultrassom nas linhas,

pelo Engenheiro Mecânico Dimas de Souza Emerick, que concluiu que não havia vazamento

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de amônia e que as tubulações de amônia do sistema de refrigeração se encontravam

preservadas e íntegras.

Fotografia 02: Mostra o painel de controle do sistema de

refrigeração.

3.3 Do Local do Vazamento e a Causa

O vazamento ocorreu na Câmara de Maturação 02. Referida câmara possuía uma

estrutura metálica de trilhos que sustentava as carcaças de animais ali armazenados e era

composta por:

• Pilares em perfil tubular com diâmetro de 6” (seis polegadas), com altura de

aproximadamente 4,20m (quatro metros e vinte centímetros);

• Vigas transversais em perfil “W” de 10” (dez polegadas);

• Vigas longitudinais em perfil “W” de 6” (seis polegadas);

• Fundação tipo bloco estaqueado.

As ligações entre as estruturas metálicas eram feitas por parafusos,

presilhas/ganchos.

Na entrada da Câmara de Maturação 02 havia uma placa na qual apresentava a

capacidade máxima de armazenamento de 156 animais, conforme ilustra a fotografia 03 a

seguir. Segundo informado pelos colaboradores que acompanharam os trabalhos periciais,

no dia do acidente havia 150 cabeças de animais armazenadas.

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Fotografia 03: Mostra a entrada da Câmara de Maturação 02.

A estrutura metálica desabou e atingiu a estrutura dos evaporadores que eram

sustentados pela estrutura metálica, provocando o rompimento da tubulação dos

evaporadores e causando o vazamento de amônia. Com o acidente, parte do forro também

cedeu. Quando dos exames, a estrutura se encontrava apoiada por barras cilíndricas

metálicas.

Fotografia 04: Mostra a estrutura danificada. Fotografia 05: Mostra o evaporador da Câmara

02.

Foi solicitado ao Frigorífico a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) da

estrutura para que fosse possível analisar o memorial de cálculos do projeto, todavia, os

colaboradores informaram que “a planta JBS de Pimenta Bueno – RO, não foi construída

pela JBS, foi uma aquisição realizada pela empresa no ano de 2009, onde já estava

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construída a instalação do local onde tivemos o evento”, e que “Não conseguimos localizar a

ART de sua construção”.

Assim sendo, não foi possível analisar com maiores detalhes o projeto estrutural e

de montagem da estrutura metálica.

Entretanto, pode-se afirmar que o que causou o acidente foi o cisalhamento dos

parafusos de sustentação da linha de transporte de bovinos, provocado pelo excesso de

peso na estrutura.

5 CONCLUSÃO

Assim, em face aos exames realizados e considerando os vestígios materiais

assinalados, conclui o perito oficial criminal que:

5.1 O frigorífico cumpria as Normas de Segurança relacionadas à utilização de

amônia e tomou as medidas adequadas de emergência para situações de vazamento do

produto. Não foram constatados danos ao ambiente;

5.2 O vazamento ocorreu em decorrência do cisalhamento dos parafusos de

sustentação da linha de transporte de bovinos da Câmara de Maturação 02, provocado pelo

excesso de peso na estrutura, que resultou em seu desabamento. Com a queda, rompeu-se

a tubulação do evaporador, provocando o vazamento de amônia. Vale ressaltar que o

frigorífico não apresentou a ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) de Engenheiro

Mecânico ou outro profissional habilitado relacionada ao correto dimensionamento da

estrutura metálica.

Tendo por bem esclarecido o assunto e nada mais havendo a lavrar, encerra-se o

presente laudo que, elaborado e redigido pelo Perito Oficial Criminal, segue devidamente

assinado e ilustrado com 05 (cinco) fotografias digitalizadas.

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GOVERNO DO ESTADO DE RONDÔNIA SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA, DEFESA E CIDADANIA

SUPERINTENDÊNCIA DE POLÍCIA TÉCNICO-CIENTÍFICA

COORDENADORIA REGIONAL DE CRIMINALÍSTICA DE SÃO MIGUEL DO GUAPORÉ/RO

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LAUDO PERICIAL Nº 156/2021/POLITEC-SMG/RO

LAUDO DE EXAME EM LOCAL DE ACIDENTE DE TRABALHO

Referente: “Procedimento 2021001010002201”.

Aos vinte e cinco dias do mês de fevereiro de dois mil e vinte e um (25/02/2021),

na Coordenadoria Regional de Criminalística de São Miguel do Guaporé/RO, da

Superintendência de Polícia Técnico-Científica, foi designado o Perito Criminal Engº

Mecânico Engel Medeiros Costa para elaboração do presente Laudo Pericial Criminal, a

fim de atender à solicitação da 1ª Promotoria de Justiça de Pimenta Bueno/RO, feita através

do Ofício n° 0104/2021, descrevendo com verdade e com todas as circunstâncias tudo

quanto possa interessar à Justiça.

1 HISTÓRICO

Atendendo à designação da Direção Geral de Polícia Técnico Científica do Estado de

Rondônia para atender a solicitação da Delegacia de Polícia Civil de Pimenta Bueno/RO, às

onze horas (11h00) do dia 21/02/2021, este Perito Criminal compareceu ao local abaixo

descrito, onde passou a realizar os exames necessários.

2 OBJETIVO

Os exames realizados tiveram por objetivo caracterizar o local onde ocorreu um

acidente de trabalho, descrever os vestígios encontrados, bem como determinar, se

possível, as circunstâncias em que o evento ocorreu, os danos ambientais provocados e a

causa do vazamento de amônia. Não foram formulados quesitos pela parte requisitante.

3 DOS EXAMES

3.1 Do Local

Os exames foram realizados no Frigorífico JBS S/A, localizado na Rodovia BR 364,

km 209, na Zona Rural do Município de Pimenta Bueno.

Acompanharam os exames os colaboradores do frigorífico:

Juliano Buratti – Engenheiro de Segurança Regional;

Jean Robson Sartori – Coordenador de Manutenção;

Vinícius Domingos Paro – Gerente Industrial;

Fábio Ferreira Fernandes – Engenheiro de Segurança do Trabalho.

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O vazamento de amônia ocorreu na Câmara de Maturação 02, conforme descrito no

decorrer do presente laudo pericial.

Fotografia 01: Mostra a entrada da Câmara de Maturação 02,

quando dos exames.

3.2 Do Cumprimento das Normas de Segurança Relacionadas à Utilização de

Amônia

Examinando o local, verificou-se que:

As câmaras frias possuíam dispositivo que possibilitava a abertura da porta pelo

seu interior e alarme que poderia ser acionado pelo interior, em caso de emergência;

Havia mecanismos para detecção precoce de vazamentos nos pontos críticos,

acoplados ao sistema de alarme;

Havia a instalação de painel de controle do sistema de refrigeração;

Havia instalação de chuveiros de segurança e lava-olhos;

Havia instalação de sprinklers acima dos grandes vasos de amônia;

O painel de controle do sistema de refrigeração acionava automaticamente o

alarme em caso de vazamento de amônia;

O painel de controle do sistema de refrigeração possuía acionamento do sistema de

controle e eliminação da amônia;

Após o acidente que implicou o vazamento de amônia, foram efetuadas as

medições da concentração do produto no ambiente e a devida estanqueidade das

tubulações de amônia. Foram realizados ensaios não destrutivos por ultrassom nas linhas,

pelo Engenheiro Mecânico Dimas de Souza Emerick, que concluiu que não havia vazamento

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de amônia e que as tubulações de amônia do sistema de refrigeração se encontravam

preservadas e íntegras.

Fotografia 02: Mostra o painel de controle do sistema de

refrigeração.

3.3 Do Local do Vazamento e a Causa

O vazamento ocorreu na Câmara de Maturação 02. Referida câmara possuía uma

estrutura metálica de trilhos que sustentava as carcaças de animais ali armazenados e era

composta por:

• Pilares em perfil tubular com diâmetro de 6” (seis polegadas), com altura de

aproximadamente 4,20m (quatro metros e vinte centímetros);

• Vigas transversais em perfil “W” de 10” (dez polegadas);

• Vigas longitudinais em perfil “W” de 6” (seis polegadas);

• Fundação tipo bloco estaqueado.

As ligações entre as estruturas metálicas eram feitas por parafusos,

presilhas/ganchos.

Na entrada da Câmara de Maturação 02 havia uma placa na qual apresentava a

capacidade máxima de armazenamento de 156 animais, conforme ilustra a fotografia 03 a

seguir. Segundo informado pelos colaboradores que acompanharam os trabalhos periciais,

no dia do acidente havia 150 cabeças de animais armazenadas.

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Fotografia 03: Mostra a entrada da Câmara de Maturação 02.

A estrutura metálica desabou e atingiu a estrutura dos evaporadores que eram

sustentados pela estrutura metálica, provocando o rompimento da tubulação dos

evaporadores e causando o vazamento de amônia. Com o acidente, parte do forro também

cedeu. Quando dos exames, a estrutura se encontrava apoiada por barras cilíndricas

metálicas.

Fotografia 04: Mostra a estrutura danificada. Fotografia 05: Mostra o evaporador da Câmara

02.

Foi solicitado ao Frigorífico a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) da

estrutura para que fosse possível analisar o memorial de cálculos do projeto, todavia, os

colaboradores informaram que “a planta JBS de Pimenta Bueno – RO, não foi construída

pela JBS, foi uma aquisição realizada pela empresa no ano de 2009, onde já estava

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construída a instalação do local onde tivemos o evento”, e que “Não conseguimos localizar a

ART de sua construção”.

Assim sendo, não foi possível analisar com maiores detalhes o projeto estrutural e

de montagem da estrutura metálica.

Entretanto, pode-se afirmar que o que causou o acidente foi o cisalhamento dos

parafusos de sustentação da linha de transporte de bovinos, provocado pelo excesso de

peso na estrutura.

5 CONCLUSÃO

Assim, em face aos exames realizados e considerando os vestígios materiais

assinalados, conclui o perito oficial criminal que:

5.1 O frigorífico cumpria as Normas de Segurança relacionadas à utilização de

amônia e tomou as medidas adequadas de emergência para situações de vazamento do

produto. Não foram constatados danos ao ambiente;

5.2 O vazamento ocorreu em decorrência do cisalhamento dos parafusos de

sustentação da linha de transporte de bovinos da Câmara de Maturação 02, provocado pelo

excesso de peso na estrutura, que resultou em seu desabamento. Com a queda, rompeu-se

a tubulação do evaporador, provocando o vazamento de amônia. Vale ressaltar que o

frigorífico não apresentou a ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) de Engenheiro

Mecânico ou outro profissional habilitado relacionada ao correto dimensionamento da

estrutura metálica.

Tendo por bem esclarecido o assunto e nada mais havendo a lavrar, encerra-se o

presente laudo que, elaborado e redigido pelo Perito Oficial Criminal, segue devidamente

assinado e ilustrado com 05 (cinco) fotografias digitalizadas.

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Em26/02/2021 10:53

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PARECER Nº 107/2021/NAT/PGJ/MP-RO

PROCESSO: 2021001010002201

REQUERENTES : Dr. Marcos Giovane Ártico e Dr. André Luiz Rocha de Almeida

Promotorias de Justiça de Pimenta Bueno

REQUERIDO: Frigorífico JBS S/A.

ÁREA DO CONHECIMENTO: Engenharia Sanitária

ASSUNTO: Solicitação de vistoria e parecer

Pedido – Laudus nº 107/2021

Apresentação de parecer preliminar, referente à solicitação nº 107/2021, no que

tange à destinação de carne que foi exposta ao produto amônia em decorrência de vazamento

através da tubulação de refrigeração.

1. ANÁLISE

O documento base é o Inquérito Civil nº 2021001010002201, instaurado tendo

como objeto: Apurar possível dano ambiental e à saúde dos trabalhadores, provocados pela

empresa Frigorífico JBS S/A, estabelecida no Município de Pimenta Bueno, tendo em vista o

vazamento de amônia ocorrido nas dependências da empresa, em 15/02/2021, decorrente da

atividade do empreendimento.

Em 23/02/2021, foi procedida visita técnica nas dependências da empresa em tela a

fim de averiguar as condições em que ocorreu o sinistro, bem com, as medidas adotadas para

regularizar as condições de desenvolvimento das atividades.

O contato foi feito com a Gerente Administrativa Márcia, que encaminhou a equipe

para o atendimento pelo Gerente Operacional Vinicius, e o coordenador de manutenção Jean

Robson, que acompanharam a vistoria e prestaram as informações.

Descreveram que no dia 15/02/2021 por volta das 09h e 30m detectou-se a

ocorrência de vazamento de amônia (utilizada no sistema de refrigeração) quando foram

adotadas, pelos responsáveis (cipeiros e brigadistas), as medidas para evacuação da fábrica

atendendo as normas de segurança pertinentes. Foi identificado que houve queda da estrutura

no interior da câmara fria nº 02, onde os evaporadores vieram abaixo, “puxando” e rompendo a

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Ministério Público do Estado de Rondônia - Núcleo de Análises Técnicas | NAT Pág. 01/04Parecer assinado eletronicamente em 26/02/2021 às 12:48 porLucia Helena Quadros Vieira de Mattos - cadastro 44654, analista em Eng. Sanitária.A autenticidade do documento pode ser conferida em https://laudus.mpro.mp.br/nat/publico/validador.xhtml informando o código verificador 4465402707.

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tubulação que conduz a amônia no sistema de refrigeração, o que causou o vazamento do

produto, que se espalhou pela fábrica. Alguns servidores que sentiram os efeitos do gás

amônia foram encaminhados para atendimento hospitalar tendo sido atendidos e liberados

sem concessão de atestado médico para repouso, portanto, considerando-os aptos para

retorno ao trabalho no dia seguinte.

Informaram que depois de feitos os atendimentos aos servidores, foi determinada a

suspensão total da produção do dia, sendo que todas as peças em processo de produção

(animais já abatidos no dia) foram encaminhadas para incineração no setor de graxaria

(processamento de subprodutos e/ou resíduos dos abatedouros ou frigoríficos e de casas de

comercialização de carnes, como sangue, ossos, cascos, chifres, gorduras, aparas de carne,

animais ou suas partes condenadas pela inspeção sanitária e vísceras não-comestíveis) e foram

realizadas as ações para neutralização do ambiente a fim de eliminar os resquícios do produto.

Ocorre que no Termo de Depoimento à Delegacia de Polícia de Cacoal, o Sr.

Vinícius, relatou que: “acionou o Veterinário do SIF Dr. Gilberto levando-o até o local do incidente,

sendo que após apresentar a ele todas as providencias tomadas, informou que a carne seria retirada

para outra câmara onde ficaria até a tomada de decisão, ocasião em que o citado auditor concordou

com o procedimento. Que foram retiradas amostra dessa carne, e foram encaminhadas para laboratório

afim de verificação da qualidade do produto; que depois de cerca de 03 dias, a empresa tomou a

decisão de charquear aquela carne, já que a mesma esta própria para consumo humano. Que tal

procedimento foi apresentado ao SIF, sendo que o auditor concordou em liberar a industrialização

naqueles termos. Que a carne ja foi toda retirada do frigorífico e destinada à comercialização.”

Assim, temos uma contradição acerca das informações prestadas pelo Sr. Vinícius,

onde por ocasião da visita desta analista, em 23/02/2021, informou que a carne tinha sido

destinada à graxaria, já em 25/02/2021, no termo de depoimento, relatou que a carne foi

aproveitada, sendo charqueada e destinada à comercialização.

No que tange ao aproveitamento da carne, que esteve exposta diretamente ao

produto amônia, é necessário conceituar o que segue:

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Ministério Público do Estado de Rondônia - Núcleo de Análises Técnicas | NAT Pág. 02/04Parecer assinado eletronicamente em 26/02/2021 às 12:48 porLucia Helena Quadros Vieira de Mattos - cadastro 44654, analista em Eng. Sanitária.A autenticidade do documento pode ser conferida em https://laudus.mpro.mp.br/nat/publico/validador.xhtml informando o código verificador 4465402707.

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• De acordo com a FISPQ -Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos -

Nome do produto: Amônia industrial; Código do produto: 1013328; Uso recomendado:

Utilizado nas indústrias de fertilizantes, farmacêutica, têxtil e refrigeração industrial.

• Conforme o Sistema Internacional de Numeração de Aditivos Alimentares – INS, na

Tabela 3A - Aditivos de uso quantitativo livre desde que atendam as boas práticas de

fabricação (Resolução nº 386, de 05 de agosto de 1999), o Hidróxido de Amônio (527)

figura como REGULADOR DE ACIDEZ;

• Já na Resolução nº 386, de 05 de agosto de 1999:

Art. 1° Aprovar o "REGULAMENTO TÉCNICO SOBRE ADITIVOS UTILIZADOS

SEGUNDO AS BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO E SUAS FUNÇÕES",

contendo os Procedimentos para Consulta da Tabela e a Tabela de

Aditivos Utilizados Segundo as Boas Práticas de Fabricação, constante do

Anexo desta Resolução.

Parágrafo Único. Os aditivos constantes da tabela anexa só poderão ser

utilizados nas categorias de alimentos previstas na legislação vigente.

Art. 2° O descumprimento desta Resolução constitui infração sanitária

sujeitando os infratores às penalidades da Lei nº 6.437, de 20 de agosto

de 1977 e demais disposições aplicáveis.

• Passamos então à INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 92, DE 18 DE SETEMBRO DE 2020, que

Dispõe Sobre a Identidade e os Requisitos de Qualidade do Charque, da Carne Salgada

Curada Dessecada, do Miúdo Salgado Dessecado e do Miúdo Salgado Curado

Dessecado:

Art. 5° São ingredientes opcionais na elaboração do charque os aditivos

intencionais.

Parágrafo único. Em atenção ao disposto no inciso II, do art. 270, do

Decreto n° 9.013, de 2017, e observada a legislação específica do órgão

regulador da saúde, fica autorizado o uso de aditivos intencionais com as

seguintes funções: estabilizante, acidulante, regulador de acidez e

antioxidante.

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Ministério Público do Estado de Rondônia - Núcleo de Análises Técnicas | NAT Pág. 03/04Parecer assinado eletronicamente em 26/02/2021 às 12:48 porLucia Helena Quadros Vieira de Mattos - cadastro 44654, analista em Eng. Sanitária.A autenticidade do documento pode ser conferida em https://laudus.mpro.mp.br/nat/publico/validador.xhtml informando o código verificador 4465402707.

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No caso em questão, vemos que o produto em tela, qual seja a amônia, é passível

de utilização na preparação de charque, utilizado como Regulador de Acidez, em tese,

admitindo o aproveitamento das 150 cabeças de bovino, presentes na câmara fria no momento

de ocorrência do sinistro, portanto expostas diretamente ao contato com o produto.

Contudo, consideramos que existe uma grande diferença em utilizar um aditivo, na

preparação de um produto, controlando-se a quantidade e tempo de ação, e a exposição

indiscriminada da matéria prima, a um produto proveniente de vazamento.

2. CONCLUSÃO

Face ao exposto acima, consideramos prudente, solicitar da empresa os resultados

de análise laboratorial que levaram a conclusão de que a carne poderia ser aproveitada, além

de informação sobre os lotes e destinação das peças comercializadas, bem como, do setor do

Serviço de Inspeção Federal – SIF, o relatório que embasou a liberação da carne presente na

câmara que sofreu o sinistro, a fim de melhor avaliar a situação, visando garantir que a

comercialização do produto em questão, não ocasionará danos à saúde do consumidor.

3. ENCERRAMENTO

Dá-se por encerrado o presente Parecer Técnico, composto de 04 (quatro) laudas e

assinado eletronicamente por:

Lucia Helena Quadros Vieira de Mattos

Analista em Engenharia Sanitária

Cad. 4465-4 MP/RO

Jaru - RO, 26 de Fevereiro de 2021.

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Ministério Público do Estado de Rondônia - Núcleo de Análises Técnicas | NAT Pág. 04/04Parecer assinado eletronicamente em 26/02/2021 às 12:48 porLucia Helena Quadros Vieira de Mattos - cadastro 44654, analista em Eng. Sanitária.A autenticidade do documento pode ser conferida em https://laudus.mpro.mp.br/nat/publico/validador.xhtml informando o código verificador 4465402707.

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PARECER Nº 107/2021/NAT/PGJ/MP-RO

PROCESSO: 2021001010002201

REQUERENTES : Dr. Marcos Giovane Ártico e Dr. André Luiz Rocha de Almeida

Promotorias de Justiça de Pimenta Bueno

REQUERIDO: Frigorífico JBS S/A.

ÁREA DO CONHECIMENTO: Engenharia Sanitária

ASSUNTO: Solicitação de vistoria e parecer

Pedido – Laudus nº 107/2021

Apresentação de parecer preliminar, referente à solicitação nº 107/2021, no que

tange à destinação de carne que foi exposta ao produto amônia em decorrência de vazamento

através da tubulação de refrigeração.

1. ANÁLISE

O documento base é o Inquérito Civil nº 2021001010002201, instaurado tendo

como objeto: Apurar possível dano ambiental e à saúde dos trabalhadores, provocados pela

empresa Frigorífico JBS S/A, estabelecida no Município de Pimenta Bueno, tendo em vista o

vazamento de amônia ocorrido nas dependências da empresa, em 15/02/2021, decorrente da

atividade do empreendimento.

Em 23/02/2021, foi procedida visita técnica nas dependências da empresa em tela a

fim de averiguar as condições em que ocorreu o sinistro, bem com, as medidas adotadas para

regularizar as condições de desenvolvimento das atividades.

O contato foi feito com a Gerente Administrativa Márcia, que encaminhou a equipe

para o atendimento pelo Gerente Operacional Vinicius, e o coordenador de manutenção Jean

Robson, que acompanharam a vistoria e prestaram as informações.

Descreveram que no dia 15/02/2021 por volta das 09h e 30m detectou-se a

ocorrência de vazamento de amônia (utilizada no sistema de refrigeração) quando foram

adotadas, pelos responsáveis (cipeiros e brigadistas), as medidas para evacuação da fábrica

atendendo as normas de segurança pertinentes. Foi identificado que houve queda da estrutura

no interior da câmara fria nº 02, onde os evaporadores vieram abaixo, “puxando” e rompendo a

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tubulação que conduz a amônia no sistema de refrigeração, o que causou o vazamento do

produto, que se espalhou pela fábrica. Alguns servidores que sentiram os efeitos do gás

amônia foram encaminhados para atendimento hospitalar tendo sido atendidos e liberados

sem concessão de atestado médico para repouso, portanto, considerando-os aptos para

retorno ao trabalho no dia seguinte.

Informaram que depois de feitos os atendimentos aos servidores, foi determinada a

suspensão total da produção do dia, sendo que todas as peças em processo de produção

(animais já abatidos no dia) foram encaminhadas para incineração no setor de graxaria

(processamento de subprodutos e/ou resíduos dos abatedouros ou frigoríficos e de casas de

comercialização de carnes, como sangue, ossos, cascos, chifres, gorduras, aparas de carne,

animais ou suas partes condenadas pela inspeção sanitária e vísceras não-comestíveis) e foram

realizadas as ações para neutralização do ambiente a fim de eliminar os resquícios do produto.

Ocorre que no Termo de Depoimento à Delegacia de Polícia de Cacoal, o Sr.

Vinícius, relatou que: “acionou o Veterinário do SIF Dr. Gilberto levando-o até o local do incidente,

sendo que após apresentar a ele todas as providencias tomadas, informou que a carne seria retirada

para outra câmara onde ficaria até a tomada de decisão, ocasião em que o citado auditor concordou

com o procedimento. Que foram retiradas amostra dessa carne, e foram encaminhadas para laboratório

afim de verificação da qualidade do produto; que depois de cerca de 03 dias, a empresa tomou a

decisão de charquear aquela carne, já que a mesma esta própria para consumo humano. Que tal

procedimento foi apresentado ao SIF, sendo que o auditor concordou em liberar a industrialização

naqueles termos. Que a carne ja foi toda retirada do frigorífico e destinada à comercialização.”

Assim, temos uma contradição acerca das informações prestadas pelo Sr. Vinícius,

onde por ocasião da visita desta analista, em 23/02/2021, informou que a carne tinha sido

destinada à graxaria, já em 25/02/2021, no termo de depoimento, relatou que a carne foi

aproveitada, sendo charqueada e destinada à comercialização.

No que tange ao aproveitamento da carne, que esteve exposta diretamente ao

produto amônia, é necessário conceituar o que segue:

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• De acordo com a FISPQ -Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos -

Nome do produto: Amônia industrial; Código do produto: 1013328; Uso recomendado:

Utilizado nas indústrias de fertilizantes, farmacêutica, têxtil e refrigeração industrial.

• Conforme o Sistema Internacional de Numeração de Aditivos Alimentares – INS, na

Tabela 3A - Aditivos de uso quantitativo livre desde que atendam as boas práticas de

fabricação (Resolução nº 386, de 05 de agosto de 1999), o Hidróxido de Amônio (527)

figura como REGULADOR DE ACIDEZ;

• Já na Resolução nº 386, de 05 de agosto de 1999:

Art. 1° Aprovar o "REGULAMENTO TÉCNICO SOBRE ADITIVOS UTILIZADOS

SEGUNDO AS BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO E SUAS FUNÇÕES",

contendo os Procedimentos para Consulta da Tabela e a Tabela de

Aditivos Utilizados Segundo as Boas Práticas de Fabricação, constante do

Anexo desta Resolução.

Parágrafo Único. Os aditivos constantes da tabela anexa só poderão ser

utilizados nas categorias de alimentos previstas na legislação vigente.

Art. 2° O descumprimento desta Resolução constitui infração sanitária

sujeitando os infratores às penalidades da Lei nº 6.437, de 20 de agosto

de 1977 e demais disposições aplicáveis.

• Passamos então à INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 92, DE 18 DE SETEMBRO DE 2020, que

Dispõe Sobre a Identidade e os Requisitos de Qualidade do Charque, da Carne Salgada

Curada Dessecada, do Miúdo Salgado Dessecado e do Miúdo Salgado Curado

Dessecado:

Art. 5° São ingredientes opcionais na elaboração do charque os aditivos

intencionais.

Parágrafo único. Em atenção ao disposto no inciso II, do art. 270, do

Decreto n° 9.013, de 2017, e observada a legislação específica do órgão

regulador da saúde, fica autorizado o uso de aditivos intencionais com as

seguintes funções: estabilizante, acidulante, regulador de acidez e

antioxidante.

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Ministério Público do Estado de Rondônia - Núcleo de Análises Técnicas | NAT Pág. 03/04Parecer assinado eletronicamente em 26/02/2021 às 12:48 porLucia Helena Quadros Vieira de Mattos - cadastro 44654, analista em Eng. Sanitária.A autenticidade do documento pode ser conferida em https://laudus.mpro.mp.br/nat/publico/validador.xhtml informando o código verificador 4465402707.

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No caso em questão, vemos que o produto em tela, qual seja a amônia, é passível

de utilização na preparação de charque, utilizado como Regulador de Acidez, em tese,

admitindo o aproveitamento das 150 cabeças de bovino, presentes na câmara fria no momento

de ocorrência do sinistro, portanto expostas diretamente ao contato com o produto.

Contudo, consideramos que existe uma grande diferença em utilizar um aditivo, na

preparação de um produto, controlando-se a quantidade e tempo de ação, e a exposição

indiscriminada da matéria prima, a um produto proveniente de vazamento.

2. CONCLUSÃO

Face ao exposto acima, consideramos prudente, solicitar da empresa os resultados

de análise laboratorial que levaram a conclusão de que a carne poderia ser aproveitada, além

de informação sobre os lotes e destinação das peças comercializadas, bem como, do setor do

Serviço de Inspeção Federal – SIF, o relatório que embasou a liberação da carne presente na

câmara que sofreu o sinistro, a fim de melhor avaliar a situação, visando garantir que a

comercialização do produto em questão, não ocasionará danos à saúde do consumidor.

3. ENCERRAMENTO

Dá-se por encerrado o presente Parecer Técnico, composto de 04 (quatro) laudas e

assinado eletronicamente por:

Lucia Helena Quadros Vieira de Mattos

Analista em Engenharia Sanitária

Cad. 4465-4 MP/RO

Jaru - RO, 26 de Fevereiro de 2021.

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Ministério Público do Estado de Rondônia - Núcleo de Análises Técnicas | NAT Pág. 04/04Parecer assinado eletronicamente em 26/02/2021 às 12:48 porLucia Helena Quadros Vieira de Mattos - cadastro 44654, analista em Eng. Sanitária.A autenticidade do documento pode ser conferida em https://laudus.mpro.mp.br/nat/publico/validador.xhtml informando o código verificador 4465402707.

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PARECER Nº 123/2021/NAT/PGJ/MP-RO PROCESSO: 2021001010002201 REQUERENTE: Dr. Marcos Giovane Ártico e Dr. André Luiz da Rocha de Almeida - 2ª Promotoria de Justiça de Pimenta Bueno-RO REQUERIDO: Frigorífico JBS S/A ÁREA DO CONHECIMENTO: Engenharia Civil ASSUNTO: Análise Técnica e Parecer

Parecer Técnico

1. INTRODUÇÃO

Em atenção à solicitação dos Promotores de Justiça Dr. Marcos Giovane Ártico e

Dr. André Luiz da Rocha de Almeida, da Promotoria de Justiça de Pimenta Bueno-

RO, demandada através do Serviço nº135/2021-Extrajudicial, ao qual solicita-se

nova vistoria por Engenheiro Civil a ser realizada no Frigorífico JBS S/A para

análise da estrutura que sustenta as tubulações de amônia existente na citada

empresa. Considerando a urgência que o caso requer e a possibilidade de

alterações no local dos fatos, impossibilitando a análise completa do local,

requisite-se a realização da vistoria até o dia 26/02/2021, como o

encaminhamento de parecer técnico no prazo de 5(cinco) dias.

2.0 CONSIDERAÇÕES INICIAIS:

2.1. Identificação do Objeto:

Objeto: Frigorífico JBS S/A

Endereço: Rodovia BR-364, KM-207, S/N – Zona Rural –Pimenta Bueno/RO

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Ministério Público do Estado de Rondônia - Núcleo de Análises Técnicas | NAT Pág. 01/19Parecer assinado eletronicamente em 05/03/2021 às 10:09 porJosé André de Andrade Silva - cadastro 44121, analista em Eng. Civil.A autenticidade do documento pode ser conferida em https://laudus.mpro.mp.br/nat/publico/validador.xhtml informando o código verificador 4412102727.

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Figura 1-Vista aérea do local da inspeção

3.0 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Em atenção a ordem de missão através do Serviço nº135/2021-Extrajudicial, nos

deslocamos ao municipio de Pimenta Bueno do dia 26/02/2021 no período da

manhã e por volta das 11:00 horas chegamos ao local da perícia. Durante a

inspeção no Frigorífico JBS S/A, fomos acompanhados dos seguintes

colaboradores da empresa: Jean Robson Sartori-Coordenador de Manutenção e

Vinícius Domingos Paro-Gerente Industrial, que nos deram o apoio necessário a

realização da vistoria no local onde aconteceu o vazamento de amônia.

Na ocasião da vistoria a câmara 2, se encontrada interditada e fechada para

acesso de pessoas, segundo informações dos colaboradores ainda estava

preservado os elementos do evento ocorrido no dia 15/02/2021, alguns apoio

metálicos foram colocados e soldados na estrutura por questões de segurança

que foram instalados qunado na retirada das carcaças que estavam

armazenadas no local.

O acidente ocorreu na câmara de maturação nº2 no dia 15/02/2021 por volta do

horario das 10:30, na ocasião do evento todas as atividades na linha de produção

da industria foram encerradas, concomitantemente houve os procedimentos de

evacuação, no inicio da linha de industrialização alguns animais já ainda estavam

na linha de abate e os que estavam eviscerados foram todos enviados para

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Ministério Público do Estado de Rondônia - Núcleo de Análises Técnicas | NAT Pág. 02/19Parecer assinado eletronicamente em 05/03/2021 às 10:09 porJosé André de Andrade Silva - cadastro 44121, analista em Eng. Civil.A autenticidade do documento pode ser conferida em https://laudus.mpro.mp.br/nat/publico/validador.xhtml informando o código verificador 4412102727.

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descarte, algo em torno de 40(quarenta) animais. As carcaças que estavam no

interior da câmara 2, onde houve o acidente, foi realizada análise para a garantia

da qualidade, e apresentada a documentação para o Serviço de Inspeção

Federal(SIF) local.

As carcaças que estavam na câmara 2, foram destinadas para armazenamento

para uma câmara específica(câmara 5) e após análise em laboratório, foram

destinadas ao aproveitamento condicional(industrializado-charque), foram

enviados para processo industrial em outra unidade da empresa.

Medodologia de Análise

Foi realizada a inspeção visual através de vistoria in loco, incluindo aferição de

medidas com equipamento de medição e análise da situação, incluido avaliação

das peças da estrutura metálica(escombros), incluido registro fotográfico.

Figura 2-equipamentos utilizados na vistoria: trena a laser, iluminação autônoma instalada em capacete, trena fita metálica e paquímetro tradicional em aço.

Os equipamentos utilizados nessa etapa de avalização foram o paquimetro

analógico para medição de espessuras, trena a laser e trena fita metálica para

medir as dimensões do ambiente investigado(figura 2), durante a inspeção

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Ministério Público do Estado de Rondônia - Núcleo de Análises Técnicas | NAT Pág. 03/19Parecer assinado eletronicamente em 05/03/2021 às 10:09 porJosé André de Andrade Silva - cadastro 44121, analista em Eng. Civil.A autenticidade do documento pode ser conferida em https://laudus.mpro.mp.br/nat/publico/validador.xhtml informando o código verificador 4412102727.

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realizada no interior da câmara o local estava sem iluminação não havia

iluminação artificial disponível, considerando que a rede eletrica local foi

desativada após o incidente, utilizamos iluminação led instalada no capacete

com bateria autônoma conforme indicado na imagem.

4.0 ANÁLISE E CONCLUSÕES

O local da perícia trata-se da Câmara de Maturação 2, possui dimensões

aproximadamente 20.00x6.00m(seis metros de largura por vinte metros de

profundidade) e área construída de aproximadamente 120.00m²(cento e vinte

metros quadrados), o piso interno é cimentado e as paredes em isopainel e forro

em isopainel altura de 6.15m(seis metros e quinze centímetros).

Figura 3-Planta baixa conforme medidas aferidas durante a vistoria

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Ministério Público do Estado de Rondônia - Núcleo de Análises Técnicas | NAT Pág. 04/19Parecer assinado eletronicamente em 05/03/2021 às 10:09 porJosé André de Andrade Silva - cadastro 44121, analista em Eng. Civil.A autenticidade do documento pode ser conferida em https://laudus.mpro.mp.br/nat/publico/validador.xhtml informando o código verificador 4412102727.

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Figura 4-Corte Transversal AA demonstra a altura das estruturas

Figura 5-Corte Longitudinal BB

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Ministério Público do Estado de Rondônia - Núcleo de Análises Técnicas | NAT Pág. 05/19Parecer assinado eletronicamente em 05/03/2021 às 10:09 porJosé André de Andrade Silva - cadastro 44121, analista em Eng. Civil.A autenticidade do documento pode ser conferida em https://laudus.mpro.mp.br/nat/publico/validador.xhtml informando o código verificador 4412102727.

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4.1 Dados Obtidos Durante a Vistoria

No interior da Câmara de Maturação 2, existe uma estrtutura metálica de

sustenção da carcaças dos bois que ficam penduradas por meio de ganchos de

sutentação com roldanas que são movimentadas através de sistema de trilhos

acoplados nas vigas metálicas da estrutura.

A estrutura de sustentação é composta por pilares e vigas metálicas que

compõem uma “mesa” com um total de 10(dez) pilares de sustentação com tubo

metálico com diâmetro de 6”(seis polegadas) e altura aproximada de

4,20m(quatro metros e vinte centímetros), sendo 5(cinco) pilares para cada lado

da câmara com a distância transversal(sentido direção da largura) de

aproximadamente 5,65m(cinco metros e sessenta e cinco centímetros) e na

direção longitudinal(sentido da profundidade), a distância entre pilares é de

aproximadamente 3,90m(três metros e noventa centímetros).

Toda a estrutura de sustentação superior é compostas vigas em perfil metálico

W, conforme figura abaixo.

Figura 6-seção transversal do perfil W

Sobre os pilares na direção tranversal com aproximadamente 6.00m(seis metros

de comprimento apoiado nos pilares fixados em base de chapa metálica e

parafusos a viga metálica interiça sem emendas em perfil W250, as medidads

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Ministério Público do Estado de Rondônia - Núcleo de Análises Técnicas | NAT Pág. 06/19Parecer assinado eletronicamente em 05/03/2021 às 10:09 porJosé André de Andrade Silva - cadastro 44121, analista em Eng. Civil.A autenticidade do documento pode ser conferida em https://laudus.mpro.mp.br/nat/publico/validador.xhtml informando o código verificador 4412102727.

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retiradas no local com altura aproximada de 270mm(duzentos e setenta

milímetros), largura da aba aprox. 103mm(cento e três milímetros), espessura

da aba aprox.10mm(dez milímetros) e espessura da alma aprox. 7mm(sete

milímetrso). No sentido sentido longidutinal é composto por seis vigas com

aproximadamente 154mm(cento e cinquenta e quatro milímetros) em perfil

W150, largura da aba aprox.105mm(cento e cinco milímetros), espessura da aba

aprox.8mm e espessura da alma aprox.8mm. A fixação das vigas longitudinais

W150 é feita por grampos com ferro espessura 16mm, aparafusados com chapa

metálica na parte superior da viga transversal W250, toda estrutura é montada

com parafusos inclusive as vigas longitudinal não são peças inteiriças, possuem

emendas com parafusos nos trechos intermediários.

Fomos informados pelo senhor Jean Robson Sartori-coordenador de manutenção

da fábrica de que a capacidade da câmara de maturação 2 é de 156(cento e

cinquenta e seis) animais que coresponde a 312(trezentos e doze) meia

caracaças e que na ocasião do incidente haviam 150(cento e cinquenta) carcaças

que correspondem a 300(trezentas) meia carcaças armazenadas. Fomos

informados de que o peso médio dos animais(2 meia carcaças) dos últimos

6(seis) meses é de 16@(dezesseis arrobas) e 14(catorze) quilogramas, ou seja,

cada meia carcaça teve peso médio de 127kg(cento e vinte e sete quilogramas).

Considerando o total de meia carcaças de 300(trezentos) o total de carga dos

animais sobre a estrutura é de 38.100kg(trinta e oito mil quilos e cem gramas)

ou 3.81 ton (três toneladas e oitocentos e dez quilogramas). A estrutura possui

6(seis) vigas longitudinais e considerando a carga total distribuída em cada viga

é submentida a 6.350kg(seis mil treszentos e cinquenta quilos) ou 6.35 ton( seis

toneladas e trezentos e cinquenta quilos), considerando que a estrutura possui

um total de 4(quatro) vãos entre pilares, então cada trecho de viga longitudinal

possui uma carga estimada em 1.587,15kg(mil quinhentos e oitenta a sete

quilogramas e quinze centésimos) ou aproximadamente 1.58 ton(uma tonelada

e quinhentos e oitenta quilos).

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Foto 1-acesso a câmara 2 com sinalização de interditado

Foto 2-Câmara de Maturação 2 com idicação da capacidade de 156 animais

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Foto 3-foto tirada de uma cãmara idêntica para mostrar a forma de armazenamento das cargaças, cada câmara de maturação possui 6(seis) vigas longitudinais desse tipo no caso da câmara investigada, havia 300(trezentas) meia carcaças, estima-se que cada viga tiham 50(ciquenta carcaças penduradas, peso estimado em cada viga 6350.00kg, considerando o peso de cada meia carcaça de 127kg.

Foto 4-pilares metálicos de sustentação com altura aproximada de 4.20m(quatro metros e vinte centímetros) de altura e diâmetros ø6”(seis polegadas) total de 10(dez) pilares 5(cinco) em cada lado da câmara, são 5(cinco) vigas transversais W250 apoiadas em 2(dois) pilares na direção transversal.

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Foto 5-a fixação entre a viga tranversal e longitudinal nos pontos de apoio são realizada com grampos em ferro galvalizado ø16mm, assim como toda a estrutura é montada com parafusos.

Foto 6-a câmara é refrigerada com evaporadores de ar da marca SHIGUEN, MODELO URT 280/10, ANO DE FABRICAÇÃO 2007 que estão apoiados sobre a estrutura metalica um total de 4(quatro) equipamentos.

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A câmara possui 4 aparelhos de ar forçado para amônia da marca SHIGUEN,

MODELO URT 280/10, ANO DE FABRICAÇÃO 2007(informação do Coordenador de

Manutenção da empresa), que está apoiado na parte superior da empresa que

também exerce peso sobre a estrutura, consultamos o catálogo de produtos

relacionados no site https://www.shiguen.com.br/produto/evaporadores não

conseguimos obter informação sobre o peso do equipamento e considerando o

ano de fabricação já deve ter sido substituído por outro equipamento mais

moderno, solicitamos informações por parte da empresa SHIGUEN via SAC e até

o fechamento do presente relatório não tivemos resposta da empresa.

O frigorífico iniciou suas atividades por volta do ano de 2007 e a segundo

informações prestadas pelos colaboradores, o Frigorífico JBS S/A é o terceiro dono

que assume a estrutura, iniciando suas atividades no local no final do ano de

2009. Segundo informações prestadas Jean Robson Sartori-Coordenador de

Manutenção quando a JBS assumiu as instalações já existia a estrutura da câmara

de maturação, além da câmara de maturação investigada existem 3(três)

câmara semelhantes em funcionamento no frigorífico. Conforme já havia sido

constatado em Laudo da Politec, o frigorífico não dispõe de Anotação de

Responsabilidade Técnica(ART), bem como detalhamentos construtivos/projetos

ou memória de cálculo referente a estrutura metálica que está sendo avaliada,

não há como realizar análise minuciosa da estrutura, considerando que a

empresa iniciou em 2007, a idade estimada da estrutura é de 14(catorze)anos.

Segundo informações do coordenador de manutenção, são realizadas inspeções

de rotina a cada 90(dias) para manutenção dos trilhos de carreamento das

carcaças, considerando que a estrutura é toda constituída por peças

galvanizadas não há ocorrência aparentes de ferrugem na estrutura.

4.2 Avaliação da estrutura na câmara investigada

Realizamos a inspeção visual em todos os pilares de sustentação da estrutura e

constatamos que não houve recalques de fundação, que é a deformação que

ocorre no solo(afundamentos), quando submetido a cargas, ou seja, não há

indícios da ocorrência de deslocamento vertical da base da fundação.

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Os pilares permaneceram estáveis não há sinais da ocorrência de Flambagem

lateral, ou seja, não houve deflexão ou encurvamento quando submentidos a

esforço de compressão do peso da estrutura apoiado sobre a base onde está

apoiado as vigas transversais.

Foto 7-após o desmoronamento da estrutura os pilares permanecerão na posição vertical

Foto 8-não há sinais de recalques de fundação os pilares permaneceram na posição vertical e também não há sinais aparentes da ocorrência de flambagem lateral

A estrutura é composta por vigas transversais que são bi-apoiadas, nos pilares na menor

dimensão da câmara a distância aproximadamente 5.65m(cinco metros e sesenta e

cinco centímetros), analisamos as vigas transversais existentes que possuem altura de

aproximadamente 270mm(duzentos e setenta milímetros), largura das aba de

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100mm(cem milímetros) espessuras das abas e alma do perfil é de 8mm(oito ilímetros),

avaliando os escombros constatamos que não houve ruptura as peças apresentam

torsões devidos ao esforços a que foram submetidas.

Foto 9- viga transversal apresenta torsão significativa

Foto 10- outra viga viga transversal que manteve em parte a estrutura preservada

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Foto 11-viga transversal totalmente retorsida

Foto 12-vigas transversal manteve estrutura preservada

Com relação aos 6(seis) perfis longitudinais que são afixados na viga transversal por

meio de grampos de 16mm(dezesseis milimetros) de espessura e que possuem

altura aproximadamente 150mm(cento e cinquenta milímetros), largura das abas

aproximadamente 100mm(cem milimetros) e espessura da chapa 8mm(oito

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milímetros), as peças possem extensão de aproximadamente 17m(dezessete

metros), não são inteiriças, possuem emendas com parafusos.

Foto 13-vigas longitudinais onde estão dispostos os trilho para manuseio das carcaças dentro da cãmara

Foto 14-vigas transversais com sinais de rompimento de parafusos nas emendas

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Foto 15-emendas com sinais de ruptura de parafusos

Foto 16-outro ponto de ruptura de parafuso na emenda de viga longitudinal

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Foto 17-vigas logitudinais apoiadas na viga transvsersal com granpos e parafusos não houve rompimento dos grampos.

Foto 18-evaporadores do sistema de refrigeração apoiados na estrutura metálica que desabou

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Foto 19-parafuso apresenta sinais de corrosão

4.3 Considerações finais e conclusões

O presente Parecer Técnico visa instruir os autos nº2021001010002201, que

tramita na Promotoria de Justiça de Pimenta Bueno e visa análise da estrutura

que sustenta as tubulações de amônia, esclarecendo as possíveis causas do

desabamento da estrutura metálica no interior da câmara fria de maturação 2,

não foram apresentados quesitos por parte do solicitante.

Constatamos a inexistência de patologias relacionadas a corrosão, todas as pelas

da estrutura são constituídas por perfis e elementos em aço galvanizado.

Os pilares de sustentação da estrutura tubular com diâmetros de 6”(seis

polegadas) permaneceram íntegros, não apresentaram ocorrências de recalques

na fundação ou deslocamentos laterais(flamblagem).

Constatamos que não houve rompimento das vigas transversais que estão

apoiadas nos pilares de sustentatação, todas as ligações entre vigas e pilares e

emendas de vigas são feitas por parafusos exceto a ligação entre as vigas

transversais na junção com as vigas longitudinais que afixadas com grampo em

ferro galvanizado ø16mm com parafusamento com chapa metálica na parte

superior da viga transversal. As vigas transversais apresentavam retorcidas

provavelmente após deslocamento ocorridos nas vigas longitudinais, agravando

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os seus efeitos após o desmoronamento da estrutura, não houve rompimento

dos grampos que sustentam a estrutura entre vigas transversais e longitudinais.

Todas as vigas longitudinais possuem emendas com parafusos, algumas

emendas da estrutura não se apresentavam íntegras o que evidenciando a

ocrrência de rupturas de parafusos por cisalhamento, motivado por eventuais

oxidação de parafusos e excesso de carga por trecho de viga. Com as rupturas

ocorridas nos trechos da vigas, a estrutura perdeu a estabilidade em suas

ligações proporcionando deslocamentos e flambagem lateral(empenamento) nos

perfis transversais, potencializando os efeitos com a sobregarga do peso das

carcaças e assim entrou em colapso estrutural.

O vazamento na tubulação de amônia ocorreu com o desmoronamento da

estrutura metálica de sustentação os condensadores de ar forçado de amônia

instalados em cima da estrutura das vigas longitudinais, vieram abaixo

juntamente com a estrutura de sustentanção, as tubulações que estavam

localizadas acima do forro câmara, “alimentavam” os equipamentos com gás

amônia se romperam, havendo vazamento para as áreas internas do setor de

produção da fábrica.

Considerando a inexistência de projetos, memórias de cálculos, e registros de

Anatações de Responsabilidades Técnicas por profissionais legalmente

habilitados, considerando que a fábrica possui ainda outras câmaras frias com as

mesmas estruturas e características da câmara de maturação 2, onde ocorreu o

incidente, Recomendamos que a empresa providencie a elaboração de laudo de

estabilidade estruturale segurança por profissional legalmente habilitado com

emissão e registro de Anotação de Responsabilidade Técnica(ART) das demais

câmaras que possuem a mesma estrutura, visando a segurança e garantia da

integridade física dos trabalhadores. Fomos informados que a administração

reduziu a capacidade de armazenamento das demais câmara em 20%(vinte

porcento), no entanto não é garantia de que incidentes dessa magnitude não

venham a ocorrer, o laudo técnico a ser apresentado pela empresa resguardará

a empresa de que o ambiente é seguro e que se houver necessidades de

intervenções poderão ser realizadas em tempo hábil com a orientação técnica.

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Ministério Público do Estado de Rondônia - Núcleo de Análises Técnicas | NAT Pág. 19/19Parecer assinado eletronicamente em 05/03/2021 às 10:09 porJosé André de Andrade Silva - cadastro 44121, analista em Eng. Civil.A autenticidade do documento pode ser conferida em https://laudus.mpro.mp.br/nat/publico/validador.xhtml informando o código verificador 4412102727.

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MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO

SECRETARIA DE DEFESA AGROPECUÁRIADEPARTAMENTO DE INSPEÇÃO DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL

COORDENACAO GERAL DE INSPECAOCOORDENACAO DE SUPORTE A INSPECAO

INFORMAÇÃO Nº 1/CSI/CGI/DIPOA/SDA/MAPAPROCESSO Nº 21052.003786/2021-14

INTERESSADO(A): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE RONDÔNIA - PROMOTORIA DEJUSTIÇA DE PIMENTA BUENO

Assunto: Apuração administra va de incidente rela vo a vazamento de amônia. Configuração deinfrações. Prá ca de atos de burla à fiscalização. Possível caracterização de crime de falsidade ede ato lesivo à Administração Pública. No ficação ao Ministério Público Estadual e àCorregedoria-Geral do MAPA. Destinação de produtos.

1. Trata-se de processo administra vo de apuração de fatos relacionados a incidente devazamento de amônia ocorrido aos 15/02/2021 no estabelecimento de abate registrado sob nº de SIF2880, localizado em Pimenta Bueno - RO, sob responsabilidade da empresa JBS S.A., CNPJ02.916.265/0002-25, e ações decorrentes. No que diz respeito aos fatos a nentes ao SIF/DIPOA noâmbito da inspeção e fiscalização de produtos de origem animal (Lei nº 1.283, de 18 de dezembro de1950, regulamentada pelo Decreto nº 9.013, de 29 de março de 2017), houve a queda da estrutura desustentação de uma câmara câmara fria e danos na estrutura de geração de frio, ocasionando aqueda ao piso de 150 (cento e cinquenta) carcaças que estavam alojadas na câmara e,consequentemente, sua exposição a produto químico (amônia) que extravasou do sistema derefrigeração.

2. O processo teve início após recebimento, no âmbito do 6º SIPOA, do Despacho nº 160,de 05/03/2021, do Ministério Público do Estado de Rondônia (14199606), que comunica ao Ministérioda Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, unidades de Cuiabá/MT (1º SIPOA) e Santa deParanaíba/SF (SIF 1686) os fatos já constatados em razão de apuração preliminar realizada por aqueleórgão e requer informações sobre as providências administrativas adotadas pelo MAPA ante os fatos.

3. Conforme relato constante no documento 14202403 e Nota Técnica Nº01/2021/SIF1686-6ºSIPOA (14314127), a equipe oficial de fiscalização junto ao SIF 1686, em Santanade Parnaíba - SP, acompanhou, no dia 02/03/2021, o rompimento do lacre e a abertura das carretasexpedidas pela unidade da empresa em Pimenta Bueno/RO, avaliando a documentação sanitária everificação da carga. Na ocasião foi constatado que parte dos produtos já se encontravam comvalidade expirada, a qual foi inu lizada, e o restante da carga foi des nado à produção de jerkedbeef pela empresa, mantendo-se sua segregação em todas etapas do processamento. Foram tambémcoletadas amostras dos produtos (carcaças resfriadas) atendendo a determinação judicial. Na mesmaoportunidade, a equipe local de fiscalização emi u o O cio nº 01/SIF1686/2021, de 04/03/2021(14202738), solicitando relatório detalhado da produção, esclarecendo que todo o processo deprodução do lote seria acompanhado pelo SIF, que toda a produção deveria ser segregada dos demais

Informação 1 (14763682) SEI 21052.003786/2021-14 / pg. 1

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produtos e, ainda, que o produto acabado oriundo daquele lote ficaria sequestrado até decisão judicialfinal sobre o caso. Houve manifestação preliminar sobre as ações adotadas no referidoestabelecimento, como resposta parcial a ques onamentos apresentados pelo Ministério Público noDespacho nº 160.

4. Em atendimento ao Despacho 524 (14214476), esta Coordenação de Suporte à Inspeção- CSI/CGI e a Divisão de Inspeção - DINSP/CSI/CGI passaram a acompanhar os desdobramentos dainves gação no âmbito administra vo. Foram realizadas reuniões com as equipes dos SIF 2880, 1ºSIPOA, 6º SIPOA, SIF 1686 e da Coordenação-Geral de Laboratórios Agropecuários - CGAL/DTEC/SDA,para melhor compreensão e dos fatos ocorridos desde a data do incidente (15/02/2021) e definiçãoquanto às medidas administra vas a serem aplicáveis, inclusive no que se refere à per nência ou nãode se realizarem análises laboratoriais nos produtos amostrados. Em relação às análises laboratoriais,foi esclarecido pela equipe técnica especializada em análises laboratoriais atuantes no LaboratórioFederal de Defesa Agropecuária - LFDA-PA, juntamente com a equipe técnica da CGAL/DTEC/SDA, queas análises que haviam sido solicitadas pela empresa no processo judicial - Prova de Héber e Teste deNessler - são an gas e u lizadas como testes indica vos de início de processo putrefa vo, e não sãoeficientes para detecção de amônia em produtos em casos de contaminação por este gás durante oprocesso fabril, caracterizando a impertinência destas análises para descartar a contaminação.

5. Como encaminhamentos da reunião, decidiu-se por manter o presente processo emaberto junto ao 1º e 6º SIPOA, SIF 2880 e SIF 1686, para que cada unidade acrescentasse asinformações per nentes ao seu âmbito de atuação em um processo único. Paralelamente, novasinformações ou pedidos de esclarecimentos apresentados pelo Ministério Público em Rondôniatambém foram inseridos no processo, para ciência e acompanhamento por todos.

6. Em seguimento à apuração administra va do caso, solicitou-se à equipe de fiscalizaçãojunto ao SIF 2880 que apresentasse esclarecimentos sobre os fatos ocorridos e constatados na unidadedesde a data do incidente, conforme Despacho 1426 (14227091), do 1º SIPOA. A equipe do SIF 2880 semanifestou, inicialmente, pelos relatos constantes nos documentos 14391974 e 14391996, quesubsidiaram o envio de respostas ao Ministério Público em Rondônia - OFÍCIO Nº 366/2021/1SIPOA,de 18/03/2021, em resposta ao Despacho nº 160. O 1º SIPOA expediu, ainda, o OFÍCIO Nº367/2021/1SIPOA, de 16/03/2021 (14392219), respondendo aos ques onamentos apresentadosno Ofício nº 00135/2021-1ª Promotoria (14223594).

7. Após Decisão da 2ª Vara Cível de Pimenta Bueno (14359419), que determinou ao MAPAque procedesse à adequada fiscalização dos produtos apreendidos que se encontravam junto ao SIF1686, deliberando sobre sua des nação, a equipe de fiscalização junto a este estabelecimentoprocedeu à apreensão cautelar dos produtos (14383586), a qual seria man da até o término doprocesso de inves gação e deliberação final sobre a des nação a ser dada aos mesmos. Finalizado oprocessamento do jerked beef pela empresa, emi u-se novo termo de apreensão (14567913),referente aos produtos acabados. Toda a produção foi segregada desde o recebimentos das matérias-primas, conforme indicado pelo SIF 1686 no Despacho 6806 (14567982).

8. Resumo dos fatos apurados junto ao estabelecimento sob SIF 2880 no dia15/02/2021, data da ocorrência do incidente de queda da estrutura de sustentação da câmara fria,fatos subsequentes e ações oficiais adotadas junto ao estabelecimento constam na Informação nº190/INSP-RO/1SIPOA (14719328). O relato evidencia, no que concerne às a vidades de inspeção deprodutos de origem animal, que houve inabilidade, por parte do estabelecimento, na condução dasações pós-acidente, especialmente no que se refere ao tratamento e des nação dos produtos que seencontravam na câmara fria que desabou, com uma sucessão de erros operacionais que levaram àsua maior contaminação, além da adoção de ações para encobrir atos irregulares pra cados,especialmente no que se refere ao trânsito dos produtos e tenta va de uso dos mesmos para finscomestíveis. Dos fatos apurados, destacamos os seguintes pontos mais relevantes:

Informação 1 (14763682) SEI 21052.003786/2021-14 / pg. 2

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a) Conforme verificado pelo SIF local (14391974, fl. 1 de 2, parágrafo 3) a empresanão dispunha em seus programas de autocontrole, na data do incidente,de quaisquer procedimentos descritos ou previstos para serem adotados em eventualcasos de contaminação química de seus produtos por vazamento do gás u lizado nosistema de refrigeração. A empresa procedeu à lavagem das carcaças que veramcontato com o piso e foram contaminadas no vazamento de amônia após o acidente,sem prévio refile, o que leva à disseminação de contaminantes para partes que não

veram contato com o chão. Ainda, uma vez que a água de uso industrial deve serman da sob cloração para assegurar sua potabilidade em todos os pontos dedistribuição interna, a lavagem das carcaças contaminadas por amônia propicia riscosanitário adicional de contaminação química das carcaças, devido à formação decloraminas na reação do cloro presente na água com a amônia presente no produto;

b) Nos dias 16/02 e 17/02/2021 serviço oficial procedeu à verificação das carcaçasque haviam sido contaminadas no vazamento e estavam alojadas em outras câmarafria e constatou que ainda apresentavam odor amoniacal. Posteriormente, no dia20/02/2021, a equipe do SIF 2880 constatou que a empresa havia expedido osprodutos, sem prévia comunicação, para outro estabelecimento localizado emSantana de Parnaíba/SP, também registrado junto ao SIF/DIPOA sob o nº 1686. Aapuração sobre o trânsito dos produtos constatou que a empresa encaminhou ascarcaças para outra unidade acompanhada, unicamente, pela documentação fiscal(nota fiscal) e romaneios das cargas, desacompanhadas da documentação dedes nação industrial, configurando infração ao Decreto nº 9.013, de 29 de marçode 2017 (inciso I do art. 81, art. 493 e inciso XXVI do art. 496). No caso em questão, otrânsito irregular dos produtos é fato caracterizador de tenta va de burla àfiscalização, pois, ao comercializar os produtos "sem qualquer restrição" ouiden ficação da necessidade de tratamento específico, a empresa simulou tratar-sede trânsito regular de produtos "próprios para o consumos humano" - o que não erao caso, já o mesmos haviam sido contaminados no acidente. Tal ação impediriaque serviço oficial de inspeção no estabelecimento de des no realizasse a adequadafiscalização dos procedimentos de des nação industrial ou aproveitamentocondicional junto ao des no, bem como a regularidade do tratamento proposto,conforme fato motivador, quando cabível;

c) Outro fato grave evidenciado, relacionado e decorrente do trânsito irregular deprodutos descritos na letra b) acima, é caracterização de que a empresa emi u eenviou, apenas no dia 08/03/2021 - data posterior ao efe vo trânsito dos produtos - e somente após requerimento específico apresentado pelo SIF 2880 no processo nº21046.000389/2021-70, duas Declarações de Des nação Industrial de números DI00008/2880/21, datada de 18/02/2021, e DI 00009/2880/21, datada de19/02/2021, referentes às 300 meias carcaças contaminadas no acidente do dia15/02/2021, apresentando tais documentos ao serviço oficial para simular aregularidade do trânsito irregular ocorrido. Soma-se às evidências dessa da emissão"tardia" e fraudulenta destes documentos, emi dos com data retroa va, o fato deque, no controle sequencial obrigatório das declarações de des nação industrial, foiconstatada a emissão do documento sequencial de número DI 00006/2880/21 no dia24/02/2021, ou seja, em data posterior ao trânsito dos produtos contaminados.Conforme previsto no inciso XXXIX no art. 496 do Decreto nº 9.013, de 2017, aapresentação de informações, declarações ou documentos falsos ao Ministério daAgricultura, Pecuária e Abastecimento cons tui infração sanitária, que ficoudevidamente caracterizada.

Informação 1 (14763682) SEI 21052.003786/2021-14 / pg. 3

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9. Além das questões pontuadas acima, observamos um outro fato que ainda não haviasido iden ficado pela equipe local de fiscalização, rela vo ao descumprimento, por parte da empresa,das disposições con das nos XXIX do art. 10, inciso XVI do art. 73 e inciso I do §1º do art. 505 doDecreto nº 9.013, de 2017, pelas razões que seguem:

a) O conjunto das ocorrências relacionadas aos produtos, contemplando a suacontaminação pelo gás refrigerante, e o tratamento inadequado (lavagem com águaclorada, formação de compostos químicos na reação) leva à sua caracterizaçãocomo "alterados", nos termos definidos no §1º do art. 504 do Decreto nº 9.013, de2017:

Art. 504. Para efeito das infrações previstas neste Decreto, as matérias-primas e os produtospodem ser considerados alterados ou adulterados. (Redação dada pelo Decreto nº 10.468, de2020)

§ 1º São considerados alterados as matérias-primas ou os produtos que não apresentemcondições higiênico-sanitárias adequadas ao fim a que se des nam e incorrem em risco à saúdepública. (Incluído pelo Decreto nº 10.468, de 2020)

b) Conforme previsto no inciso I do art. 497 do Decreto nº 9.013, de 2017, osprodutos "alterados" são considerados impróprios para o consumo na forma em quese apresentam:

Art. 497. Consideram-se impróprios para o consumo humano, na forma em que se apresentam, notodo ou em parte, as matérias-primas ou os produtos de origem animal que:

I - apresentem-se alterados;

c) De acordo com o disposto no caput do art. 505 do Decreto nº 9.013, de 2017, oMinistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento estabelecerá normas dedes nação dos produtos que se caracterizem como impróprios para o consumo naforma em que se apresentam, sendo que tais des nações podem contemplar ainu lização, o aproveitamento condicional ou a des nação industrial, quandotecnicamente viável. Contudo, tal regulamentação não foi editada, sendo, portanto,aplicável ao caso a disposição contida no §1º do art. 505, que prevê:

i) a possibilidade de ser autorizada pelo Departamento de Inspeção deProdutos de Origem Animal a realização de tratamentos específicos deaproveitamento condicional ou de des nação industrial que assegurem aeliminação do desvio, de produtos julgados impróprios para o consumo naforma em que se apresentam, requerendo, para tanto, a apresentaçãode solicitação tecnicamente fundamentada pelo interessado; ou

ii) a determinação de condenação dos produtos.

"Art. 505. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento estabelecerá, em normascomplementares, os critérios de des nação de matérias-primas e de produtos julgadosimpróprios para o consumo humano, na forma em que se apresentem, incluídos suainu lização, o seu aproveitamento condicional ou sua des nação industrial, quando sejatecnicamente viável. (Redação dada pelo Decreto nº 10.468, de 2020)

§ 1º Enquanto as normas de que trata o caput não forem editadas, o Departamento deInspeção de Produtos de Origem Animal da Secretaria de Defesa Agropecuária doMinistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento poderá: (Incluído pelo Decreto nº10.468, de 2020)

I - autorizar que produtos julgados impróprios para o consumo, na forma que seapresentam, sejam subme dos a tratamentos específicos de aproveitamento condicionalou de des nação industrial que assegurem a eliminação das causas que os mo varam,mediante solicitação tecnicamente fundamentada; ou (Incluído pelo Decreto nº 10.468,de 2020)

II - determinar a condenação dos produtos a que se refere o inciso I. (Incluído peloDecreto nº 10.468, de 2020)

Informação 1 (14763682) SEI 21052.003786/2021-14 / pg. 4

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..."

10. No caso sob análise, em decorrência do disposto no art. 505 do Decreto nº 9.013, de2017, a eventual des nação dos produtos contaminados no vazamento de amônia para qualquer pode tratamento de des nação industrial - inclusive a salga (que foi a operação realizada pela empresa)- deveria ser precedida de prévio requerimento tecnicamente fundamentado e autorização concedidapelo DIPOA/SDA. Tais procedimentos não foram seguidos pela empresa, que, de livre inicia va,encaminhou os produtos para outro estabelecimento para realizar o tratamento almejado,configurando a infração aos dispositivos citados no parágrafo 9.

11. Outro fato que se faz necessário destacar está relacionado ao período de trânsito dosprodutos. Embora o trânsito rodoviário de produtos de origem animal entre os Estados de Rondônia eSão Paulo perdure, em média, 4 (quatro) dias, no caso sob apuração, observamos que o trânsito dosprodutos durou entre 10 (dez) e 11 (onze dias): os produtos foram embarcados na origem (PimentaBueno - RO) nos dias 18 e 19/02/2021, mas os veículos de transporte apenas deram entrada naunidade em Santana de Parnaíba - SP no dia 01/03/2021, às 17:19 h, conforme indicado no carimboaposto pela portaria da unidade de des no na Nota Fiscal nº 149061 (fl. 3 de 18 do SEI nº 14202888).Uma vez que a amônia é um contaminante químico altamente volá l e que se apresenta na forma degás em temperatura e pressão normais, há tendência natural deste composto se vola lizar durante operíodo de exposição ao ar refrigerado no transporte - ainda mais porque os quartos de carcaças nãose encontravam embalados individualmente durante seu transporte (evidências constam nosrelatórios fotográficos sob SEI nº 14202435 e 14202462) - ao ponto de, dependendo da duração dotempo de exposição ao ar decorrente do período prolongado de transporte, vir a tornar inviávela detecção de odor amoniacal na avaliação organolép ca (olfa va) da carcaça por ocasião dareinspeção dos produtos no des no. Embora o período demasiado longo de transporte dos produtosnão configure, isoladamente, uma infração sanitária específica, no caso sob apuração, tal fato,associado aos demais fatos iden ficados, especialmente no que se refere à expedição de produtossem conhecimento do SIF 2880, desacompanhados da documentação de des nação industrial emtenta va de simular a regularidade sanitária dos produtos, cons tui-se em outro fato caracterizadorde ação intencional realizada pela empresa no intuito de tentar burlar as a vidades de fiscalizaçãoindustrial e sanitária dos produtos de origem animal.

12. As ações administra vas adotadas pelo SIF 2880 junto ao estabelecimento, incluindo asreferências a autos de infração lavrados e solicitações de documentos realizadas, encontram-sediscriminadas na Informação nº 190/INSP-RO/1SIPOA (14719328). Em relação às infraçõesconstatadas na presente apuração, observamos que já foram lavrados pelo SIF local autos de infraçãoque abrangem as irregularidades referentes ao(à):

i) trânsito irregular dos produtos, desacompanhados da documentação sanitáriaadequada - Auto de Infração nº 002/10131/2021 (14223478), sob apuração noprocesso nº 21046.000410/2021-37, julgado em primeira instância e consideradoprocedente;

ii) ultrapassar a capacidade de armazenamento de carcaças de determinada câmarafria - Auto de Infração nº 003/10129/2021 (14192333), sob apuração noprocesso 21046.000381/2021-11, julgado em primeira instância e consideradoprocedente; e

iii) expedição supostamente irregular produtos respaldados por diferentesdocumentos de trânsito (CSN e DI), exceder o prazo de confirmação de recebimentode carga e não numerar sequencialmente as declarações de des nação industrial -Auto de Infração nº 005/10129/2021 (14556041), sob apuração noprocesso 21046.000585/2021-44, julgado em primeira instância e consideradoimprocedente.

Informação 1 (14763682) SEI 21052.003786/2021-14 / pg. 5

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13. Além dos fatos caracterizadores de infração já indicados no parágrafo anterior, há anecessidade de proceder à lavratura de auto de infração para apuração das irregularidades descritasna letra c) do parágrafo 8 e no parágrafo 10 da presente Informação, de forma a encerrar, no âmbitoadministra vo, as ações fiscais cabíveis para apuração dos atos irregulares pra cados pela empresaprevistos na legislação referente aos produtos de origem animal.

14. Em relação aos produtos que foram contaminados no acidente e transferidos de formairregular da unidade sob SIF 2880 para a unidade sob SIF 1686, informamos ser procedente aproposição apontada pelo SIF 2880 na conclusão da Informação nº 190/INSP-RO/1SIPOA (14719328),que sugere a condenação dos produtos contaminados por poderem causar danos à saúde pública. Adecisão pela condenação dos produtos encontra-se respaldada pelas disposições con das nos no incisoI do art. 497, no §1º do art. 504 e no inciso II do §1º do art. 505, conforme já mencionado noparágrafo 9 desta Informação. A referida des nação deve ser aplicada aos produtos mediante suainutilização (destruição), conforme previsto no inciso XXX do art. 10 do Decreto nº 9.013, de 2017:

Art. 10. Para os fins deste Decreto, são adotados os seguintes conceitos:

...

XXX - inu lização - des nação para a destruição, dada pela empresa ou pelo serviço oficial àsmatérias-primas e aos produtos que se apresentam em desacordo com a legislação; (Incluído peloDecreto nº 10.468, de 2020)" (n.g.)

15. Outro encaminhado a ser dado, no âmbito administra vo, é a no ficação ao MinistérioPúblico no Estado de Rondônia dos atos pra cados pela empresa referentes à emissão fraudulenta dedocumentação de trânsito descrita na letra c) do parágrafo 8 da presente Informação, após a devidalavratura do auto de infração correspondente já indicada no parágrafo 12, para ciência e eventualapuração do fato no âmbito criminal, haja vista que o mesmo é passível de caracterização dos crimesde falsificação de documento par cular ou de falsidade ideológica, previstos, respec vamente, nosart. 298 e 299 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), abaixo transcritos.Tal encaminhamento decorre da disposição con da no caput do art. 2º da Lei nº 7.889, de 23 denovembro de 1989, que estabelece as penalidades aplicáveis administra vamente às infrações àlegislação referente aos produtos de origem anima, sem prejuízo da responsabilidade penal cabível.

Código Penal:

"Falsificação de documento particular (Redação dada pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência

Art. 298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento par cular ou alterar documento par cularverdadeiro:

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa."

"Falsidade ideológica

Art. 299 - Omi r, em documento público ou par cular, declaração que dele devia constar, ou neleinserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicardireito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a trêsanos, e multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de réis, se o documento é par cular. (VideLei nº 7.209, de 1984)

Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo,ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sextaparte."

Lei nº 7.889, de 1989:

"Art. 2º Sem prejuízo da responsabilidade penal cabível, a infração à legislação referente aosprodutos de origem animal acarretará, isolada ou cumulativamente, as seguintes sanções:

..."

16. Por fim, é oportuna comunicação dos fatos apurados no presente processo àCorregedoria-Geral deste Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para avaliação quantoao possível come mento de ato lesivo à administração pública e adoção de medidas de

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responsabilização, caso cabível, em razoes das ações adotadas pela empresa para dificultar e burlaras a vidades fiscalizatórias, caracterizadas pela expedição dos produtos do SIF 2880 sem oconhecimento da equipe local de fiscalização, o trânsito irregular dos produtos - desacompanhado dedocumentação adequada e por período demasiadamente longo - e a emissão fraudulenta dedocumento de trânsito para tentar simular a legalidade do trânsito irregular de produtos, em face dodisposto no inciso V do art. 5º da Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013:

Art. 5º Cons tuem atos lesivos à administração pública, nacional ou estrangeira, para os fins destaLei, todos aqueles pra cados pelas pessoas jurídicas mencionadas no parágrafo único do art. 1º ,que atentem contra o patrimônio público nacional ou estrangeiro, contra princípios daadministração pública ou contra os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, assimdefinidos:

...

V - dificultar a vidade de inves gação ou fiscalização de órgãos, en dades ou agentes públicos, ouintervir em sua atuação, inclusive no âmbito das agências reguladoras e dos órgãos de fiscalizaçãodo sistema financeiro nacional.

17. Por tudo exposto exposto, encaminhamos o presente ao(à):

I- CGI/DIPOA, com vistas à Corregedoria-Geral do MAPA, para ciência e eventuaisprovidências frente ao exposto no parágrafo 16 da presente Informação;

II- 6º SIPOA, com vistas à equipe de fiscalização do SIF 1686, para:

a ) ciência e no ficação à empresa da determinação de destruição dosprodutos, conforme indicado no parágrafo 14 da presente Informação;

b) designar servidor para acompanhar a destruição dos produtos e juntar aosautos a documentação comprobatória; e

c) res tuir o processo ao 1º SIPOA e a esta CSI para ciência, após cumpridasações acima; e

III- 1º SIPOA, para:

a ) ciência e adoção das providências indicadas nos parágrafos 13 e 15 dapresente Informação; e

b ) após a conclusão de todas ações administra vas indicadas acima paraexecução pelos 1º e 6º SIPOA, comunicar a 1ª e 2ª Promotoria de Jus ça doMinistério Público do Estado de Rondônia - que tem acompanhado o presentecaso, sobre a conclusão/encerramento do processo de apuração realizado peloMAPA e seus encaminhamentos, disponibilizando cópia integral dos autos eprocessos relacionados, inclusive aqueles referentes à apuração administra vade infrações.

Atenciosamente,

Documento assinado eletronicamente por MANOEL AUGUSTO SOARES JUNIOR, Coordenador (a)de Suporte à Inspeção, em 11/05/2021, às 14:36, conforme horário oficial de Brasília, comfundamento no art. 6º,§ 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.

A autenticidade deste documento pode ser conferida no sitehttp://sistemas.agricultura.gov.br/sei/controlador_externo.php?acao=documento_conferir&id_orgao_acesso_externo=0, informando o código verificador14763682 e o código CRC BEC4A73D.

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Referência: Processo nº 21052.003786/2021-14 SEI nº 14763682

Informação 1 (14763682) SEI 21052.003786/2021-14 / pg. 8

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