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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS/SP EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DA ___ª VARA FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS – SP O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por intermédio do procurador da República que esta subscreve, no exercício de suas atribuições constitucionais e legais, vem, com base nos artigos 127, caput e 129, III, da Constituição Federal, nos artigos 5º, III, “d” e 6º, VII, “b” e XIV, “g”, da Lei Complementar nº 75/93 e, ainda, nos artigos 1º, I e 5º, I, da Lei nº 7.347/85, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA com pedido de antecipação dos efeitos da tutela em face da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, doravante a ser referida como CEF, instituição financeira sob a forma de empresa pública, podendo ser citada na pessoa de seu Superintendente Regional, da Superintendência Regional Vale do Paraíba/SP, localizada na Avenida Cassiano Ricardo, 521 – Torre B- 1º andar- Jardim Aquarius, em São José dos Campos, pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos. I:\_PROCESSUAL 2014\Civel\ACP\Peticoes iniciais\RAO-2011.0267 - CEF.venda casada.ODT Av. Nove de Julho, 765 – 5º andar – SJ Campos/SP – CEP: 12243-000 Tel (012) 3924-2400

EXCELENTÍSSIMO A) SENHOR A) JUIZ A DA ª VARA FEDERAL DA ... · Na grande maioria das vezes, a CEF prevalece-se da fraqueza ou ignorância do consumidor para impingir-lhe seus produtos

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS/SP

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DA ___ª VARA FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS – SP

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por intermédio do

procurador da República que esta subscreve, no exercício de suas atribuições

constitucionais e legais, vem, com base nos artigos 127, caput e 129, III, da

Constituição Federal, nos artigos 5º, III, “d” e 6º, VII, “b” e XIV, “g”, da Lei

Complementar nº 75/93 e, ainda, nos artigos 1º, I e 5º, I, da Lei nº 7.347/85,

propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA com pedido de antecipação dos efeitos da tutela

em face da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, doravante a

ser referida como CEF, instituição financeira sob a forma de empresa pública,

podendo ser citada na pessoa de seu Superintendente Regional, da

Superintendência Regional Vale do Paraíba/SP, localizada na Avenida Cassiano

Ricardo, 521 – Torre B- 1º andar- Jardim Aquarius, em São José dos Campos, pelos

fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos.

I:\_PROCESSUAL 2014\Civel\ACP\Peticoes iniciais\RAO-2011.0267 - CEF.venda casada.ODT

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1 – SÍNTESE DA DEMANDA

Trata-se de Ação Civil Pública com intuito de impedir a

continuidade de abusos e ilegalidades que vêm sendo praticados pelas diversas

agências da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL em sua relação com consumidores que

solicitam e contratam financiamento imobiliário, conforme apurado no Inquérito

Civil nº 1.34.014.000267/2011-75, doravante a ser referido simplesmente

como IC 267/2011.

Segundo os termos de denúncia apresentada nesta Procuradoria

da República por um consumidor mutuário da CEF, “a Caixa Econômica Federal vem

transgredindo a lei ao exigir, quando da assinatura de contrato de financiamento

habitacional, que os mutuários adquiram seguros, entre outros produtos que o

banco comercializa, ou seja, vem praticando a VENDA CASADA.” (fls. 01/03 do IC

267/2011).

No decorrer das apurações do referido IC, chegaram ao

conhecimento do Parquet diversas outras irregularidades/ilegalidades cometidas

pela CEF, por meio de declarações de consumidores ouvidos nesta Procuradoria da

República e de diversas reclamações feitas ao PROCON de São José dos Campos,

sendo constatado que a empresa pública, em suma, condiciona (as vezes de

forma dissimulada) a liberação de financiamento imobiliário à aquisição

de outros serviços e produtos da instituição financeira, caracterizando-se,

em tese, a odiosa prática de “venda casada” (art. 39, inciso I, do Código de

Defesa do Consumidor), ou induz o consumidor , de forma direta ou sutil,

a acreditar que haverá dificuldades na aprovação do crédito se não houver

a contratação dos produtos que lhe são impostos.

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Na grande maioria das vezes, a CEF prevalece-se da fraqueza

ou ignorância do consumidor para impingir-lhe seus produtos e serviços (art.

39, inciso IV, do CDC), e falta com a obrigação legal de prestar todas as

informações sobre a natureza, características e finalidade dos produtos cuja

contratação é imposta ou induzida.

É certo que para muitas pessoas, o momento da aquisição do

imóvel próprio, ainda que financiado, é marcado por grande expectativa e

ansiedade. As apurações feitas no IC, em especial por meio do relato dos

prejudicados, deixaram bem claro que os funcionários da CEF aproveitam esse

momento de vulnerabilidade psicológica e emocional para impingir ao solicitante de

financiamento toda a gama de produtos financeiros, tais como abertura de conta

corrente, seguros de vida, seguros residenciais, títulos de capitalização, planos de

previdência privada, entre outros.

Na grande maioria dos casos, a natureza e finalidade próprias de

cada produto financeiro não são informadas, como é o caso das contribuições a

plano de previdência privada, que obviamente tem por finalidade gerar renda futura

ao participante; o funcionário da CEF, entretanto, induz à aquisição do produto sob

o argumento de que depois de um ano poderá ser resgatada a quantia aplicada. O

consumidor acaba por adquirir um produto de que não precisa ou não pode mantê-

lo. O valor de resgate antecipado nunca é integral , pois são descontadas as taxas

de administração, e o consumidor sofre prejuízo financeiro.

Conforme apurado, a abertura de conta corrente, uma das

imposições mais corriqueiras e porta de entrada para a colocação de outros

produtos bancários, tem trazido muitos aborrecimentos e prejuízos aos mutuários,

que se veem cobrados pela CEF e sujeitos a serem inscritos no SPC e SERASA

devido a saldos devedores gerados pelo débito das tarifas de manutenção de conta,

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cujos valores são aumentados sem prévio aviso. A grande maioria dos mutuários

são trabalhadores de baixa remuneração e utilizam a conta corrente na CEF apenas

para o depósito das parcelas a serem debitadas.

Tem-se ainda o relato de condutas de má-fé praticadas por

funcionários da CEF, por meio da inserção de propostas de aquisição de produtos

bancários entre a documentação relativa ao financiamento a ser assinada, de modo

que o signatário não atente para o conteúdo dos documentos que lhe são

oferecidos para assinatura. Tempos após, o consumidor descobre que em sua conta

corrente estão sendo debitados valores referentes a produtos que ele não solicitou

ou não tem conhecimento de que contratou.

Há ainda diversos casos em que o pretendente ao financiamento

é surpreendido, no momento de assinar o contrato, por exigências feitas pelos

funcionários a título de tarifas ou outros encargos que até então, desde que se

iniciaram as tratativas negociais, não tinham sido informadas. Fazendo parecer que

estão oferecendo uma vantagem ao consumidor, induzem o mesmo a adquirir

algum produto bancário, normalmente titulo de capitalização ou previdência

privada, sob o argumento de que estes produtos poderão ser resgatados no curto

prazo, ao passo que a tarifa não pode ser devolvida, ou seja, seu valor não

retornará para quem a pagou. Sabe-se que o resgate antecipado de produtos

bancários causam prejuízos ao consumidor, pois o valor reavido quase sempre é

inferior ao que foi aplicado.

Por meio de um dos relatos colhidos, foi possível verificar que a

manobra abusiva, por vezes, tem início já no momento em que o consumidor

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procura empresas de assessoria imobiliária ou “facilitadores de financiamento

imobiliário” , indicadas pela CEF, para dar início no processo. Os funcionários de tais

empresas são orientados pela CEF a induzir o interessado a abrir conta e adquirir

produtos, sob a promessa de que assim fazendo será mais fácil e rápida a

aprovação do crédito.

Os diversos casos geram reclamações à CEF e/ou à sua

Ouvidoria e, na maior parte dos casos, devido à falta de solução ou ao descaso da

instituição financeira, a alternativa do consumidor é registrar reclamação junto ao

Procon e/ou procurar o Judiciário.

Como é sabido, muitas vezes os funcionários e gerentes da CEF,

como política institucional, possuem metas relacionadas à quantidade de produtos

vendidos por mês, de modo que acabam fazendo de tudo para cumprir as metas,

sendo certo que tal política induz à prática da venda casada.

Cumpre deixar bem claro que a venda casada aqui tratada se

desdobra em duas principais condutas adotadas pelos funcionários da CEF : o

condicionamento direto, sem qualquer rodeios, e o condicionamento indireto,

conduzido com sutileza e de modo insidioso, a fim de induzir o consumidor a

acreditar que não terá o financiamento aprovado se não contratar os produtos

secundários da instituição.

Por meio da ação ora proposta, o MPF pretende a obtenção de

provimento que determine à CEF a cessação imediata das práticas ilegais e

abusivas, e a condenação da instituição financeira a indenizar os consumidores

prejudicados, conforme será exposto.

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2 - DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL E DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL

O Ministério Público, elevado à categoria de instituição

permanente e indispensável à função jurisdicional do Estado, nos termos do artigo

127 da Constituição Federal, tem como funções precípuas a defesa da ordem

jurídica, do regime democrático, dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

De modo mais específico, o artigo 129, III, da Constituição

Federal, arrola entre as funções institucionais do Ministério Público:

III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção

do patrimônio público e social, no meio ambiente e de outros

interesses difusos e coletivos.

A Lei Complementar nº 75/93, no art. 6º, VII, “a” e “b” e a Lei

nº 7.347/85, no art. 1º, IV, legitimam e garantem a atuação do Ministério Público

na proteção dos direitos coletivos.

Entendemos que os direitos aqui discutidos são tipicamente

coletivos, na medida em que buscamos tutelar os clientes que procuram a CAIXA

ECONÔMICA FEDERAL para obtenção de financiamento imobiliário bem como

proteger todos os clientes de qualquer forma de venda casada. Segundo o art. 81,

inciso II, do CDC:

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das

vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título

coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

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(...)

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos

deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja

titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a

parte contrária por uma relação jurídica base;

Cumpre destacar que a defesa coletiva do consumidor, enquanto

interesse social, é atribuição do Ministério Público e obrigação do Estado, erigida em

garantia fundamental, conforme se constata da redação do inciso XXXII, do art. 5°

do texto constitucional.

Assim, no caso versado nos autos, a defesa do consumidor está

sendo efetuada pelo Ministério Público Federal, tanto por dever constitucional, como

por dever legal, em face das disposições do art. 129, inciso III, da Constituição

Federal, dos arts. 5º, 6º e 39 da Lei Complementar nº 75/93, do art. 1º da Lei nº

7.347/85 e dos art. 6º e 82, inciso I, da Lei nº 8.078/90.

Em relação ao foro competente, verifica-se que o processo deve

tramitar na Justiça Federal em razão do interesse federal, não apenas pela

presença do Ministério Público Federal no polo ativo da demanda, mas também pela

presença da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL no polo passivo da relação processual

(inciso I, do art. 109, CF).

Além do mais, o art. 2° da Lei n° 7.347/85, ao determinar a

competência funcional do Juízo pelo local do dano (no caso, a Subseção Judiciária

de São José dos Campos), procurou permitir ao destinatário das provas a efetivação

da tutela jurisdicional, possibilitando a apreensão o mais abrangente possível dos

fatos e de suas consequências.

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3 - DOS FATOS

Conforme mencionado acima, os fatos foram apurados por meio

do Inquérito Civil (IC) 267/2011, instaurado com base em denúncia feita pelo

mutuário Alex André França de Lima, por meio do canal Digi-Denúncia, segundo

a qual “a Caixa Econômica Federal vem transgredindo a lei ao exigir, quando da

assinatura de contrato de financiamento habitacional, que os mutuários adquiram

seguros, entre outros produtos que o banco comercializa, ou seja, vem praticando

a VENDA CASADA.” (fls. 01/03 do IC 267/2011).

O autor da denúncia relata ainda que em fevereiro de 2007

assinou um contrato de financiamento habitacional com a CEF (Agência Monte

Castelo-São José dos Campos). Foi à agência em horário de serviço e,

aproveitando-se de sua pressa, o funcionário que o atendeu, agindo de má-fé,

“encartou ao contrato seguros de vida e seguro residencial”, os quais acabaram por

serem assinados, “devido às inúmeras taxas e páginas do contrato”. Após uma série

de solicitações de estorno dos valores pagos a título de seguros, não atendidas pela

agência da CEF, o mutuário acabou por ajuizar ação em junho de 2010. Segundo

relatado, o caso trouxe muitos transtornos e dissabores ao consumidor.

No decorrer das apurações do IC, Alex André França de Lima

esteve pessoalmente na Procuradoria da República em São José dos Campos e

foram tomadas suas declarações, conforme fls. 105/106, ocasião em que ratificou o

teor de sua denúncia e acrescentou detalhes do ocorrido, conforme transcrito a

seguir , com os grifos ora acrescidos:

“Pelo declarante foi dito que reitera em todos os seus termos a

denúncia apresentada por meio do Digi-Denúncia em 09/08/2011, em

especial quanto ao seguro de vida e do seguro residencial assinado na

mesma data do contrato de financiamento (01.02.2007) habitacional,

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em cujas contratações houve uma conduta inadequada por parte do

funcionário da Caixa Econômica Federal (Ag. Monte Castelo), no

sentido de induzir à contratação dos seguros no momento da

assinatura do contrato de financiamento habitacional. Com receio de

que o financiamento não fosse liberado e com isso houvesse perda dos

valores pagos a título de comissão do vendedor do imóvel e do

facilitador imobiliário, o declarante não questionou a assinatura da

proposta de seguro residencial cuja contratação, segundo o funcionário

da Caixa, era necessário para cobrir uma carência dos doze primeiros

meses do seguro habitacional obrigatório. Quanto à proposta de

seguro de vida, o declarante foi ludibriado pela Caixa, pois seu

funcionário inseriu os papéis referentes à proposta entre os

documentos relativos ao contrato de financiamento, de forma que o

declarante nem percebeu que estava assinando, devido ao grande

volume de documentos que foi necessário assinar no momento da

assinatura do contrato habitacional. Como na ocasião foram assinados

diversos cheques pelo declarante a fim de serem pagas as diversas

despesas e tributos (ITBI, emolumentos do cartório de imóveis,

diferença de prestação, taxa de análise, etc) o declarante não percebeu

que um dos cheques destinava-se ao pagamento do seguro de vida,

ressaltando que as parcelas referentes às renovações anuais foram

debitadas automaticamente na conta corrente do declarante. Em

virtude das dificuldades em cancelar o seguro e obter a devolução dos

valores indevidamente pagos, o declarante se viu obrigado a encerrar a

conta corrente, de modo a evitar novos débitos quando das renovações

anuais. O declarante informa também que notificou a Caixa em

26.02.2009, solicitando o estorno e ressarcimento dos valores

descontados por conta dos seguros e a Caixa respondeu em

17.03.2009 que seu pedido foi indeferido. Não tendo a Caixa atendido

às suas diversas solicitações, o declarante resolveu encerrar a conta

corrente para que as prestações passassem a serem pagas por meio de

boleto bancário, o que efetivamente passou a ser feito, porém a Caixa

reajustou o valor das parcelas, alterando a taxa de juros de 8,6488%

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a.a. para 9,5690% a.a., ou seja, o mutuário perdeu o benefício da taxa

reduzida devido ao encerramento da conta corrente.”

A fim de obter informações sobre outros eventuais prejudicados

pelas condutas noticiadas, a Procuradoria da República requisitou à

Superintendência Regional da CEF no Vale do Paraíba (fls. 48), a título de

amostragem, a relação de mutuários que contrataram financiamento habitacional

no período de 01.05.2012 a 30.07.2012 na agência 2143-1 (Monte Castelo-SJC),

a mesma agência do autor da denúncia, bem como a relação de produtos e serviços

bancários adquiridos por tais mutuários na mesma data de assinatura do contrato

habitacional.

A resposta da CEF encontra-se a fls. 52/53 do IC, por meio da

qual se verifica que três pessoas, firmaram contrato de financiamento em

25.05.2012 na agência 2143-1, e, coincidentemente, na mesma data adquiriram

outros produtos bancários, conforme exposto no quadro a seguir :

Mutuário Edmar Andrade

dos Santos

Marcelo Marcio Vitor Sergio Fernandes

Rosado

Data de assinatura do

contrato habitacional

25.05.2012 25.05.2012 11.07.2012

Produto 1 contratatado Seguro residencial Seguro de Vida Seguro Residencial

Data da contratação do

produto 1

25.05.2012 25.05.2012 11.07.2012

Produto 2 contratado Título de

Capitalização

Título de Capitalização Não contratou

Data da contratação do

produto 2

25.05.2012 25.05.2012 Não contratou

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As informações que o quadro oferece são bastante reveladoras e

confirmam ser corriqueiro a contratação de produtos bancários diversos na mesma

data em que são assinados os contratos de financiamento habitacional, o que

levanta dúvidas se os consumidores realmente desejaram contratá-los ou se o

fizeram com consciência e livre vontade.

Não se diga que a amostragem é pequena (apenas três

mutuários) e portanto insuficiente para demonstrar a prática da “venda casada” ou

a prática de outro meio ardiloso para induzir o cliente a contratar produtos.

Conforme será exposto oportunamente, tal prática tem início desde o primeiro

momento em que o interessado procura uma agência, o qual é induzido a acreditar

que se não adquirir os produtos impostos pela CEF, não terá seu financiamento

aprovado ou a aprovação será mais dificultosa e demorada. Assim, na maior parte

dos casos, os produtos são adquiridos tempos antes da data de assinatura do

contrato. Cabe observar que referida data constitui a última chance para “empurrar”

aos mutuários os produtos da CEF.

Causa estranheza que os mutuários, adquirentes de imóveis em

bairros populares do município, ainda possam dispor de alguma folga financeira

para contratar seguros e títulos de capitalização, entre outros, após todos os

dispêndios que normalmente permeiam a aquisição imobiliária (taxa de corretagem,

ITBI, taxas e emolumentos cartorários, etc.), mormente se considerado o valor das

prestações mensais da dívida a ser assumida.

Não é crível que a aquisição de tais produtos tenha sido

livremente desejada pelos mutuários, máxime quando se considera que a maior

parte dos financiamentos da CEF é voltada ao atendimento da população de baixa e

média renda. Para esse segmento, o pagamento das parcelas do financiamento é

um item que pesa bastante no orçamento familiar, sendo impensável que o

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mutuário assuma, de livre e espontânea vontade, obrigações financeiras

complementares, resultantes dos demais produtos financeiros oferecidos pelo banco

financiador a fim de liberar o crédito.

As diligências do IC prosseguiram, a fim de ampliar a

amostragem de mutuários prejudicados e comprovar as práticas ilegais da CEF. Isto

porque sempre que oficiada, a CEF nega a prática da “venda casada”, por razões

óbvias.

Foi expedido ofício ao Procon – São José dos Campos, com

requisição de relação de reclamações feitas contra a CEF referentes à “venda

casada”, abrangendo o período de janeiro de 2011 a abril de 2013 (fls. 56).

Uma segunda requisição foi feita, conforme ofício de fls. 148,

para que o órgão apresentasse cópia de reclamações feitas de janeiro de 2013 em

diante, relativas a “venda casada” e, também, de reclamações que envolvam

fornecimento de produtos bancários, com o correspondente débito em conta, sem o

conhecimento ou consentimento do consumidor.

Em resposta às requisições feitas ao Procon, vieram aos autos

os documentos encartados a fls. 59/82 e 152/346, cujo conteúdo comprova os

fatos alegados na inicial, e serviram como base para localização de vários

consumidores lesados pela prática abusiva da “venda casada”.

3.1. RECLAMAÇÕES AO PROCON E DECLARAÇÕES PRESTADAS AO MPF

Diversos são os mutuários que procuraram o Procon para

reclamar das condutas da CEF e alguns deles prestaram declarações na

Procuradoria da República em São José dos Campos, a saber :

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SARITA SALVADOR DE ASSIS DOS SANTOS

A fls. 66, a reclamação feita pela consumidora Sarita Salvador

de Assis dos Santos.

Segundo relatado, a consumidora possui conta corrente na CEF

exclusivamente para débito das parcelas do financiamento imobiliário e não

concorda em pagar a respectiva tarifa de manutenção. Prefere fazer o pagamento

das parcelas por meio de boletos. Tendo procurado a agência para encerrar a conta,

foi informada que não poderia fazê-lo. A consumidora entende que o débito em

conta das prestações é apenas uma das opções disponíveis, segundo cláusula

prevista em contrato. O mutuário teria o direito de encerrar a conta e optar pelo

pagamento via boleto bancário.

Depreende-se, do caso exposto, que a CEF obstou ou dificultou à

consumidora o exercício do direito de encerrar a conta e alterar a forma de

pagamento para boleto bancário, uma das alternativas previstas em contrato.

A consumidora esteve na Procuradoria da República em São José

dos Campos em 06.02.2014 e prestou declarações mais detalhadas sobre os fatos,

conforme termo de declarações a fls. 137 do IC 267/2011, a seguir transcrito, com

os grifos ora acrescidos :

“Que no ano de 2005, juntamente com seu marido Messias Aparecido

dos Santos, técnico em química, intermediada por um facilitador

imobiliário, obteve financiamento de uma casa junto à agência Jd.

Satélite da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. Na reunião marcada para a

assinatura do contrato, realizada na agência bancária e que estavam

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presentes a declarante, seu marido, o corretor de imóveis, o

funcionário da CAIXA e o vendedor, foi apresentado à declarante um

pilha de documentos para assinatura. Percebeu que entre os

documentos havia uma proposta de abertura de conta e uma proposta

de aquisição de um título de capitalização “Pé Quente” no valor de R$

250,00 aproximadamente. Que até então ninguém havia mencionado

que seria necessário abrir conta e adquirir título de capitalização. A

declarante questionou sobre a conta e foi o corretor quem lhe disse que

era somente uma conta de depósito para o débito das prestações; pelo

funcionário da CAIXA nada foi dito sobre eventuais custos de

manutenção dessa conta. Sobre o título de capitalização, o funcionário

da CAIXA disse que era uma forma de a declarante melhorar seu

relacionamento com o banco e assim obter desconto nas taxas de juros

e que após um ano poderia resgatar o valor investido. Naquele

momento a declarante e seu marido sentiram que não tinham outra

escolha a não ser aceitar o que lhes estavam sendo imposto, pois

tinham necessidade de resolver logo a questão, pois já estavam na

posse do imóvel adquirido e a finalização do financiamento demorou

uns meses, devido a problemas de “habite-se”. Tempos depois a

declarante veio a descobrir que a conta era uma conta corrente normal,

com limite de cheque especial e cobrança de tarifas de manutenção. O

saldo da conta corrente já estava devedor, devido ao débito das tarifas

por longo tempo. Por três vezes a declarante procurou o gerente de

habitação para o encerramento da conta. Na única vez que conseguiu

falar com o gerente, ele lhe disse que se encerrasse a conta e passasse

a pagar por meio de boletos, a taxa de juros do financiamento teria

que ser aumentada e teriam que elaborar um novo contrato. Não

satisfeita, a declarante procurou o PROCON em julho de 2011,

conforme relatado a fls. 66. Na audiência de conciliação, a

representante da CAIXA compareceu e já trouxe pronto o documento

de encerramento da conta e tudo se resolveu rapidamente. Não houve

alteração do contrato nem aumento da taxa de juros do financiamento.

A declarante passou a pagar as prestações por meio de boleto

bancário. A declarante informa ainda que cobriu o saldo devedor

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gerado na conta devido à cobrança das tarifas de manutenção. Por fim,

a declarante deseja acrescentar que o funcionário da CAIXA agiu de

má-fé, aproveitando-se da ansiedade gerada no momento da

realização do sonho de adquirir a casa própria, para impor a venda de

produtos do banco. Sobre a conta de depósito mencionada na Cláusula

Sexta, parágrafos primeiro e segundo do contrato de financiamento , a

declarante entendia tratar-se de uma mera conta de poupança, sem

custos de manutenção.

ADELSON LUIS DA SILVA

A fls. 69, a reclamação feita pelo consumidor Adelson Luis da

Silva ao Procon.

Segundo relata, possui um contrato de financiamento de imóvel

com a CEF e diz que não estava ciente de um seguro de vida incluso no ato de

assinatura do contrato de financiamento, nem que possuía um limite de cheque

especial. Por conta disso, foram debitados os valores do seguro de vida em sua

conta, gerando assim um saldo devedor. Solicita esclarecimentos da CEF, o

cancelamento do seguro, estorno dos valores cobrados, negociação do saldo

devedor e cancelamento do limite de cheque especial.

MARIA NUNES DO ESPIRITO SANTO

A fls. 70, os termos da reclamação feita pela consumidora Maria

Nunes do Espírito Santo ao Procon.

Relata que possui contrato de financiamento de imóvel com a

CEF. No momento em que foi solicitar o financiamento na agência, o gerente

informou que ela só poderia fazê-lo desde que abrisse uma conta corrente e que

deveria depositar uma quantia na conta (não se lembra o valor). Essa conta seria

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utilizada para depósito do valor das prestações. Foi implantado um limite de cheque

especial no valor de R$ 6.000,00. Tempos depois, a consumidora recebeu carta de

cobrança da SERASA, acerca de um saldo devedor de R$ 6.569,21. Solicitou

esclarecimentos à CEF, haja vista que todas as prestações teriam sido pagas

pontualmente em forma de depósito na conta. Veio a saber que o pagamento de

duas parcelas não foi efetivado devido ao saldo devedor e teve que fazer

novamente o pagamento das tais por meio de boleto.

MIRIAN CARLA DA SILVA MARTINS

A fls. 71, o teor da reclamação feita pela consumidora Mirian

Carla da Silva Martins.

Relata que possui conta corrente na CEF exclusivamente para

depósito das prestações de seu financiamento habitacional. Em dado momento

verificou que estavam sendo cobradas algumas taxas por ela desconhecidas. Ao

consultar um extrato da conta, observou que vem sendo cobrado taxas de serviços

e seguro que a mesma não solicitou . Reclamou para um gerente da sua agência

mas não obteve nenhuma resposta. Requer explicações sobre o ocorrido, o

cancelamento do seguro e das taxas de serviço, bem como a devolução da quantia

já paga.

MAGNA RODRIGUES DE AZEVEDO PALÁCIO

A fls. 73, o teor da reclamação feita por Magna Rodrigues de

Azevedo Palácio. A consumidora relata possuir conta corrente na CEF, em

decorrência do financiamento de sua casa, e não está contente com as tarifas

cobradas, nem com o aumento do limite de sua conta. Pretende a substituição da

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conta corrente por conta de serviços essenciais e, na impossibilidade, o

encerramento da conta e o envio de boletos mensais sem cobranças adicionais.

TIAGO SILVA DOS SANTOS

A fls. 75, o teor da reclamação feita por Tiago Silva dos

Santos. O consumidor alega que possui conta corrente para o débito das

prestações de financiamento de imóvel. A tarifa de manutenção da conta passou de

R$ 9,80 para R$ 24,00 no decorrer do financiamento, sem que tenha sido

informado pela CEF. Não fazia qualquer movimentação na conta, a não ser o

pagamento das prestações.

VALDIR BENEDITO MACEDO

A fls. 76, reclamação feita por Valdir Benedito Macedo. O

consumidor alega que possui financiamento de imóvel cujas parcelas são debitadas

em conta. Requer explicações sobre como foi gerado o saldo devedor de sua conta

(R$ 1.625,00), e por que recebeu carta de comunicados do SPC/Serasa referente à

parcela vencida em 16.06.2012, embora já tenha feito o pagamento.

ANTÔNIO LUIS RIBEIRO

A fls. 79, reclamação feita por Antônio Luis Ribeiro. Declara

que possui contrato de financiamento com a CEF. Ocorre que foi cobrado seguro de

vida não solicitado pelo consumidor. Requer o cancelamento imediato do seguro.

ISAIAS BARROS DANTAS

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A fls. 81, reclamação de Isaias Barros Dantas. Depreende-se

que possui contrato de financiamento e que a CEF, para aceitar financiar o imóvel,

informou ser necessário a aquisição de um seguro de vida, no valor de R$ 1.000,00,

mais valores mensais de R$120,00 a serem debitadas em conta. Requer explicações

sobre o ocorrido, o cancelamento do seguro e a devolução dos valores debitados

em conta.

O consumidor esteve na Procuradoria da República em São José

dos Campos em 30.01.2014 e prestou declarações mais detalhadas sobre os fatos,

conforme termo de declarações a fls. 136/136vº do IC 267/2011, a seguir

transcrito :

“Por volta de janeiro ou fevereiro de 2012, procurou a agência 2935 da CAIXA

localizada na rua Bacabal, Em São José dos Campos, para solicitar um

financiamento de cerca de R$ 88.000,00 para aquisição de uma casa. Cerca de

dois meses após a entrega dos documentos necessários para a operação,

intermediada por um facilitador imobiliário, o declarante e sua noiva foram

chamados para a assinatura do contrato. No exato momento da assinatura do

contrato de financiamento, a gerente da CAIXA disse que teria que abrir uma

conta corrente para o débito das parcelas do financiamento. Mas para abrir a

conta teria que depositar R$ 1.000,00 (um mil reais) e que esse valor deveria ser

usado para adquirir um seguro vida e previdência. Essa exigência foi uma

surpresa para o contratante, pois até então nunca ninguém da CAIXA havia

mencionado sobre essa necessidade. O declarante disse então à gerente da

CAIXA que não tinha esse dinheiro disponível. A gerente disse-lhe então que sem

o depósito desse valor não poderia abrir a conta e assim, o declarante não

conseguiria a liberação do financiamento. O declarante então, com receio de

perder o negócio e todos os valores que tinha gasto até então para aquisição da

casa, arrumou dinheiro emprestado de terceiro e fez o depósito. O seguro vida

previdência acabou sendo feito em nome de Dayhane Thacher da Silva, noiva do

declarante e coobrigada no contrato de financiamento imobiliário. A gerente da

CAIXA não explicou como funcionaria esse seguro vida e previdência e não falou

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quanto que teria que pagar pelo produto. O declarante acreditava que o valor de

R$ 1.000,00 depositado na conta ficaria a sua disposição para a hora que

precisasse. No entanto, se surpreendeu quando descobriu meses depois que o

valor havia sido debitado pela CAIXA. Só então o declarante tomou consciência

de que foi enganado pela gerente da CAIXA. Por meio de pesquisas na internet,

o declarante veio a saber que a liberação do financiamento condicionada à

compra de outro produto bancário era ilegal e que isso era chamado de “venda

casada”. O declarante informa que a CAIXA não forneceu nenhuma cópia do

contrato de seguro vida e previdência; depois de várias reclamações por parte do

declarante, a CAIXA forneceu uma cópia do documento sem qualquer

assinatura do contratante. Também após várias reclamações, inclusive no

Procon, a CAIXA devolveu o valor de cerca R$ 880,00 ao declarante. Por fim, o

declarante acrescenta que se sentiu enganado pela CAIXA; o declarante acha

que o proceder da gerente da CAIXA não foi nem um pouco profissional e não

condiz com o que se espera de um funcionário de um banco público como a

CAIXA”

MARCELO EDUARDO DE MORAIS COSTA NUNES

A fls. 153, reclamação de Marcelo Eduardo de Morais Costa

Nunes. O consumidor relata que obteve financiamento um imóvel junto a CEF e

para aprovação do crédito foi obrigado a adquirir um seguro de vida e um seguro

residencial. Procurou sua agência para cancelamento dos seguros e ressarcimento

dos valores pagos, porém não obteve êxito.

DALILA MAGALHÃES RAMOS

A fls. 153, reclamação de Dalila Magalhães Ramos. A

consumidora declara que foi até a agência 4091 (Vila Industrial) para realizar o

financiamento de um imóvel. Ocorre que a mesma só poderia realizar o

financiamento se adquirisse serviço (produto) da CEF, no caso o Caixa

Capitalização. Teve que fazer um depósito de R$ 800,00 para o débito do produto e

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para o débito da taxa de manutenção da conta corrente. Adquiriu o serviço

somente para poder realizar o financiamento.

A consumidora ouvida na Procuradoria da República em São José

dos Campos em , conforme termo a fls. 355/356 do IC 267/2011, oportunidade em

que trouxe mais detalhes sobre o ocorrido. Transcrevem-se suas declarações, com

os grifos ora acrescidos :

“Pela declarante foi dito que devido ao interesse em adquirir um

apartamento da MRV Engenharia, procurou a FINIFÁCIL, escritório que

presta assessoria à CEF em financiamentos imobiliários, localizado na

Avenida das Rosas, 687, sala 05, Jardim Motorama, S. J. Campos. Na

FINIFÁCIL foi atendida pela sra. Marisa, a qual lhe forneceu a relação

de documentos necessários ao financiamento. O imóvel foi comprado

na planta, tendo a declarante dado sinal à MRV no valor de R$

2.652,00 a título de taxa de corretagem, mais R$ 600,00 de

despachante. A declarante foi comunicada por Marisa que seria

necessário a abertura de conta e que seria necessário depositar um

valor na conta em torno de 800 a 900 reais. A conta foi aberta no dia

27.06.2012 na agência 4091 (Vista Verde) e a declarante depositou o

valor de R$ 850,00 (cópia a fls. 199). A declarante indagou ao

funcionário que abriu a conta (não se lembra do nome deste) sobre

qual a finalidade do valor depositado e ele respondeu que seria

referente a tarifas de manutenção de conta, mas que a declarante

poderia adquirir um título de capitalização de R$ 800,00 (fls. 195) ,

que daria o direito à declarante de participar de sorteios mensais em

dinheiro, e que o valor aplicado poderia ser totalmente resgatado 36

meses após a aquisição. A declarante acabou por adquirir o título de

capitalização, com receio de que a recusa pudesse atrapalhar a

aprovação do financiamento. Apesar de ter adquirido o título de

capitalização, a declarante ficou com dúvidas se o procedimento da

CEF foi correto, e passou a buscar informações com outras pessoas e

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também na internet a respeito. Em conversa com dois parentes que

também tinham solicitado financiamento na CEF, estes disseram que

também tiveram que fazer depósitos em suas contas, abertas em

agências de Jacareí, em torno de R$ 600,00, mas que não sabiam qual

foi a destinação de tais valores. Pela internet a declarante ficou

sabendo que havia várias reclamações de consumidores da CEF na

mesma situação por ela vivida. Resolveu então procurar diretamente o

Procon de São José dos Campos em 06 de maio de 2013, com o fim de

cancelar o título de capitalização e obter a devolução do valor. O valor

restituído cerca de um ano após foi de R$ 800,01 (ver fls. 210), ou

seja, sem qualquer atualização monetária. A declarante informa que

aceitou as condições impostas pela CEF por medo de que, caso

recusasse, poderia ter problemas na aprovação de seu financiamento

pois, segundo pesquisas que a declarante fez na internet, várias

pessoas reclamaram que tiveram atraso ou problemas na aprovação do

financiamento junto à CEF. O financiamento da declarante não chegou

a ser efetivado, pois esta desistiu da compra do apartamento da MRV,

pois esta empresa não estava cumprindo o cronograma de entrega. O

pedido de rescisão do contrato com a MRV foi feito no dia 18.03.2013 e

não foi dado prosseguimento ao pedido de financiamento. Tempos

depois, a declarante adquiriu um outro imóvel, desta vez da Sérgio

Porto Engenharia, sendo que novamente iria precisar do financiamento

da CEF. Desta vez, a funcionária da assessoria imobiliária da CEF (o

escritório HABITACRED, localizado na Rua Bacabal) perguntou à

declarante se ela já tinha pago a “taxa de abertura de conta” , tendo

respondido que sim, quando o fez na agência 4091 da Vila Industrial.

Com essa informação, a funcionária deu normal andamento ao

procedimento e ao fim a declarante obteve o financiamento desejado,

desta vez sem qualquer exigência da CEF. A declarante diz que ficou

com a nítida impressão de que existe uma combinação entre as

empresas de assessoria imobiliária da CEF, com o fim de induzir os

consumidores a adquirir produtos do banco quando pretendem obter

financiamento.”

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EVERALDO JOSÉ SALVINOS

A fls. 212, reclamação de Everaldo José Salvinos. O

consumidor relata que no ato de assinatura do contrato de financiamento foi

informado que seria necessário abrir conta corrente para que fosse feito o débito

das parcelas. Em abril de 2013 foi informado que estava inadimplente no valor de

R$ 661,18.

GILDÉLIA APARECIDA VIEIRA MOROMISATO

A fls. 243, reclamação de Gildélia Aparecida Vieira

Moromisato. A consumidora alega que foi obrigada a abrir conta corrente para

pagamento das prestações do financiamento imobiliário, porém sempre pagou por

meio de boletos enviados a sua residência. Nunca movimentou a conta, mas foi

surpreendida com uma cobrança de um saldo devedor valor de R$ 360,66, cuja

existência desconhecia.

BRENDA DO PRADO RIBEIRO

A fls. 291, reclamação de Brenda do Prado Ribeiro. A

consumidora relata, entre outros, que foi informada, no momento da assinatura do

contrato de financiamento, que teria que arcar com uma taxa, chamada aporte

inicial com mais uma taxa referida a um prêmio, no total de R$ 1.500,00 . Porém, o

gerente da CEF disse que ela poderia futuramente resgatar tal valor, após o

financiamento efetivo.

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Pela cópia do documento a fls. 322, verifica-se que o produto

financeiro “empurrado” para a consumidora foi um plano de previdência privada ,

ao qual a CEF denomina Viver VGBL. Vê-se claramente que a consumidora foi

induzida a contratar o plano, não recebeu as informações necessárias sobre a

finalidade do produto financeiro oferecido, cuja finalidade não é ser resgatado

antecipadamente mas garantir uma renda futura ao participante e, principalmente,

foi pega de surpresa, pois o funcionário da CEF lhe informou que “teria que arcar a

taxa” somente no momento da assinatura do contrato de financiamento. O

elemento surpresa certamente tolheu a consumidora de oferecer qualquer

resistência à aceitação do produto.

4 - DOS ABUSOS E ILEGALIDADES PRATICADAS PELA CEF

Conforme ofício a fls. 57 dos autos do IC, foi requisitado à CEF

que fornecesse relação com os dados de todos os mutuários que tinham contratado

financiamento habitacional de abril de 2012 a abril de 2013 na Agência 0351 (a que

detém o maior volume de operações da espécie em São José dos Campos),

contendo ainda informação dos produtos financeiros contratados na mesma data

de assinatura do contrato de financiamento.

A resposta da CEF encontra-se a fls. 92/100. Na relação de

contratos habitacionais encontram-se cerca de 99 mutuários que adquiriram um ou

dois produtos financeiros da CEF, entre seguro residencial, seguro de vida (o

produto mais adquirido), seguro Caixa Fácil e título de capitalização.

Essas informações, como já dito acima, abarcam apenas o

período de abril de 2012 a abril de 2013 na agência 0351 e, principalmente,

envolvem apenas os mutuários que adquiriram produtos na mesma data de

assinatura do contrato de financiamento. Essa amostragem é bastante reveladora

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no sentido de que a CEF condiciona, explicita ou implicitamente, a contratação de

financiamento imobiliário à aquisição de seus produtos financeiros, ou induz o

consumidor a acreditar que se não os adquirir, não terá seu crédito liberado, ou se

vale de outros expedientes de duvidosa lisura para impor seus produtos.

É oportuno observar que a comprovação da “venda

casada”, no presente caso, não exige que a contratação do produto

financeiro tenha ocorrido necessariamente na mesma data da contratação

do financiamento.

A assinatura dos contratos na mesma data é apenas um

indicativo, e um dos mais fortes, da ocorrência da prática ilegal, mas não é o único.

Por meio de relatos de consumidores nos autos, ficou constatado

que, já nos primeiros momentos em que o interessado procura uma agência ou um

facilitador para dar início ao processo de financiamento, são “empurrados” abertura

de conta e produtos financeiros ao futuro mutuário, sob o argumento de que, em

sendo aceitos, será mais fácil e rápida a aprovação do financiamento. Nesses casos,

a aquisição dos produtos bancários ocorre dias ou meses antes da data de

assinatura do contrato de financiamento.

Nesse ponto, é necessário deixar claro que a aprovação do

financiamento deve levar em conta a análise de aspectos técnicos relacionados às

condições financeiras do pretendente, renda, despesas, composição familiar,

capacidade de pagamento, inexistência de registros de inadimplência nos órgãos

de proteção ao crédito, entre outros.

Assim, a aprovação e liberação do crédito de modo algum pode

estar atrelada à abertura de contas e aquisição de produtos na instituição

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financiadora. A CEF, conforme demonstrado, vem se aproveitando da fraqueza ou

ignorância do consumidor de crédito imobiliário para impingir-lhe seus produtos e

serviços, de modo a ampliar sua participação no mercado financeiro. A prática ilegal

e abusiva deve ser cessada e os danos serem reparados.

Por oportuno, é de se deixar consignado que o único produto

financeiro que o mutuário de financiamento imobiliário é obrigado a contratar é o

Seguro Habitacional, legalmente previsto.

Segundo as informações prestadas pela CEF a fls. 352, esse

seguro cobre danos de natureza pessoal (morte ou invalidez permanente) e de

natureza material (incêndio, raio, explosão, etc.) que venham a atingir o imóvel. O

Seguro Habitacional tem por objetivo a quitação da dívida do segurado em caso de

sinistro de natureza pessoal e a reposição do bem no caso de sinistro de natureza

material.

O Seguro Habitacional possui todas as coberturas básicas

necessárias à operacionalização do financiamento imobiliário. A contratação de

coberturas adicionais (como seguro de vida, de acidentes pessoais e de residência)

é facultativa e de livre escolha do mutuário. Por fim, o Seguro Habitacional não tem

carência, de modo que o mutuário não tem que contratar outros seguros.

A título de ilustração de como a CEF vem explorando a

vulnerabilidade de seus consumidores, recorde-se o que foi dito pelo consumidor

Alex André França de Lima em suas declarações a fls. 105/106, segundo o qual

foi induzido a contratar um seguro residencial, pois o funcionário da CEF lhe

informou que a contratação deste era necessária para cobrir uma carência dos

doze primeiros meses, não cobertos pelo Seguro Habitacional. Ora, tal carência não

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existe, mas foi o argumento utilizado pelo funcionário para vender o seguro

residiencial.

No geral, a situação é de todo absurda: o consumidor possui

uma renda familiar relativamente baixa, procura a CEF na expectativa de financiar

a compra de seu imóvel próprio e se vê obrigado a deixar para a instituição

financeira parte de sua renda mensal em tarifas e produtos não necessários, em

prol única e exclusivamente da própria instituição, a qual se vê a cada ano

aumentando seus lucros e sua participação no mercado financeiro.

Durante a instrução do IC que deu origem à presente ação, a

CAIXA negou em todas as oportunidades que pratica a venda casada. Contudo, a

conduta da ré é contraditória, havendo verdadeiro choque entre seus setores

internos. Se por um lado o setor jurídico orienta sobre a proibição de venda casada

e nega a sua prática quando provocado, o setor comercial trabalha com metas

agressivas de vendas de produtos e serviços, de modo que os funcionários nas

agências são na realidade estimulados a ludibriar o consumidor praticando a venda

casada.

Por tudo quanto exposto, verifica-se amplamente caracterizada a

prática abusiva na relação de consumo pela CEF, nos termos do Código de Defesa

do Consumidor, em especial as disposições do artigo 39, incisos I e IV. A questão

merece pronta resposta do Ministério Público Federal e do Poder Judiciário.

5 – FUNDAMENTOS JURÍDICOS

Cumpre ressaltar, a princípio, que o artigo 1º do Código de

Defesa do Consumidor prevê que as normas de proteção e defesa do consumidor

por ele estabelecidas são de ordem pública e de interesse social. Significa dizer que

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suas disposições são inderrogáveis por vontade das partes, tendo como

característica sua aplicação imediata.

Disso se depreende a imperatividade da aplicação das normas de

ordem pública a todas as relações da sociedade, estando obviamente vinculado ao

seu cumprimento, com muito mais razão, o Poder Público.

Assim, é fundamental que a conduta da CAIXA ECONÔMICA

FEDERAL, empresa pública federal, seja pautada por premissas de ordem pública e

interesse social, sob pena, de faltar com a sua finalidade principal. No presente

caso, portanto, é premente a aplicação do Código de Defesa do Consumidor às

relações jurídicas concernentes ao serviço prestados pela instituição financeira.

De mais a mais, há que se ter em mente que CEF, na qualidade

de órgão parceiro do Governo Federal, deve servir de agente intermediário na

consecução dos objetivos basilares do financiamento habitacional, quais sejam, a

redução do deficit habitacional e a inclusão social.

Todos os motivos ensejadores do aporte financeiro feito pelo

Poder Público no financiamento habitacional, no entanto, são esvaziados de sentido

quando a instituição financeira responsável pela aplicação dos recursos age em

benefício próprio, buscando fomentar suas atividades negociais, valendo-se de sua

singular posição no mercado bancário e da fraqueza, ignorância e desinformação do

consumidor.

Verifica-se, assim, a inarredável lesão aos direitos dos

consumidores mutuários, porque, além de serem obrigados a dispor de montante

financeiro maior do que o necessário para a efetivação do financiamento, veem

tolhido seu direito de informação, iludidos pelas informações inverídicas prestadas

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pela instituição financeira, a qual apresenta condicionantes inexistentes (compra de

produtos e serviços paralelos) para a liberação do financiamento.

A instituição financeira não deve coagir, por qualquer meio ou

artifício, explícito ou implícito, o consumidor a contratar seus serviços, senão

aqueles realmente pretendidos e necessários. Ao condicionar, portanto, a liberação

do financiamento à compra de produtos paralelos, a CAIXA viola expressamente

dispositivos do Código de Defesa do Consumidor, em especial o contido no art. 39, I

e IV :

É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas

abusivas:

I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao

fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa,

a limites quantitativos;

(…)

IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em

vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para

impingir-lhe seus produtos ou serviços.

Como se não bastasse, a instituição financeira, ao praticar a

conduta de venda casada, infringe direito básico do consumidor, caracterizado pela

ofensa ao acesso à informação, fazendo-o acreditar que a liberação do

financiamento está realmente atrelada à compra de produtos diversos.

Art. 6º - São direitos básicos do consumidor:

(...)

II – a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos

produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a

igualdade de condições;

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III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e

serviços, com especificação correta de quantidade, características,

composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os

riscos que apresentem;

IV – a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva,

métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas

e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e

serviços;

VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,

individuais coletivos e difusos;

A CEF ludibria e retira do consumidor seu direito de livre

escolha, bem como deixa de lhe oferecer a informação necessária para que decida,

por si mesmo, se é do seu interesse adquirir, ou não, os produtos e serviços

oferecidos ou impostos.

Vale lembrar que a habitação figura no rol das necessidades

mais básicas do ser humano. Trata-se de questão relacionada à própria

sobrevivência, consistente em pressuposto para a dignidade da pessoa humana, um

dos fundamentos da República Federativa do Brasil (art. 1º, III, da CF).

O financiamento imobiliário existe para proporcionar às famílias,

sobretudo às de baixa renda, a oportunidade de adquirirem a casa própria sem

terem de arcar, desde o início, com o pagamento da integralidade de seu preço.

Assim, a prática da CAIXA de onerar a aquisição da casa própria

por meio da indução à contratação de produtos não desejados pode ser considerada

ato atentatório à dignidade da pessoa humana.

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6 – DO DANO MORAL COLETIVO

O dano causado obriga a CEF à reparação, nos termos dos arts.

186 e seguintes e arts. 927 e seguintes, todos do Código Civil.

Veja-se os arts. 186 e 187, verbis:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,

negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a

outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato

ilícito. (g.n.)

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito

que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites

impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou

pelos bons costumes. (g.n.)

As condutas abusivas, maliciosas, insidiosas, constrangedoras e

até mesmo coercitivas perpetradas pelos funcionários da CEF no trato com os

solicitantes de crédito imobiliário violam, em especial, os direitos de livre

contratação e de informação sobre o objeto contratado. O dano moral decorrente

tem dimensão ampla e transcende a esfera de direitos individuais.

Os danos atingem dois alvos distintos. O primeiro é a própria

imagem e credibilidade das instituições públicas, entre as quais se insere a CAIXA

ECONÔMICA FEDERAL, banco de desenvolvimento social e principal agente

financeiro na implementação das políticas de financiamento imobiliário. A

população, em geral, espera que o proceder da empresa pública e de seus

empregados seja pautado pela lisura, transparência e comedimento. Essa

expectativa é fortemente abalada pelas condutas em questão, colocando em risco a

confiança depositada na instituição financeira como banco público.

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A título de exemplo, recorde-se o que foi dito pelo consumidor

Isaías Barros Dantas :

“...o declarante acha que o proceder da gerente da CAIXA não foi nem um pouco

profissional e não condiz com o que se espera de um funcionário de um banco

público como a CAIXA”

O segundo e principal alvo é a coletividade de mutuários, que se

vê humilhada e obrigada a assumir obrigações financeiras decorrentes de produtos

não necessários, o que certamente onera o orçamento mensal das famílias e lhes

tira a oportunidade de usar o dinheiro correspondente em despesas essenciais à

subsistência ou que poderia ser mais bem empregado, tal como em despesas com

educação e saúde.

Conforme os relatos colhidos no IC 267/2011, as condutas da

CEF durante o processo de análise e liberação do crédito geram insatisfações e

aborrecimentos aos consumidores, os quais se veem às voltas com notificações de

órgãos de proteção ao crédito (SPC e SERASA), cobrança de saldo devedor gerado

por débitos dos quais não foram devidamente informados, descaso da instituição

frente às reclamações, notificações extrajudiciais, reclamações à Ouvidoria e ao

Procon.

Restam configurados os elementos necessários à reparação

civil : os danos morais causados pela CEF a seus mutuários, o dolo/culpa de violar

direito e causar dano, e o nexo de causalidade entre conduta e dano.

Sobre o tema, traz-se à colação entendimento do Tribunal

Regional Federal da 2ª Região, que trata, entre outros, de condenação por danos

morais em caso de venda casada :

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CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. CEF. EMPRÉSTIMO HABITACIONAL VINCULADO À ABERTURA DE CONTA-CORRENTE. CDC. "VENDA CASADA" CONFIGURADA. DANO MORAL. REDUÇÃO DO QUANTUM. APELAÇÃO DA PARTE AUTORA DESPROVIDA. RECURSO DA CEF PARCIALMENTE PROVIDO.1. O deferimento da inversão do ônus da prova em favor do consumidor ficará sempre a critério do juiz e estará atrelado à presença da verossimilhança das alegações da parte e de sua hipossuficiência, devendo os requisitos serem analisados cumulativamente. Precedente do Superior Tribunal de Justiça. 2. Na lição de Ada Pellegrini Grinover e com fulcro nos arts. 6º e 39, I, do Código de Defesa do Consumidor, a "venda casada" ocorre quando o fornecedor nega-se a fornecer o produto ou serviço, a não ser que o consumidor concorde em adquirir também um outro produto ou serviço. 3. Como já discorrido na respeitável sentença guerreada, a "venda casada" restou caracterizada, pois a parte autora foi informada por preposto da CEF de que apenas conseguiria obter o empréstimo habitacional se abrisse uma conta-corrente na referida Instituição Financeira, razão pela qual a prática desta conduta acarreta, por si só, a indenização a título de dano moral. 4. No que toca ao valor da indenização, deve a sentença ser reformada, eis que o fixado no decisum atacado (R$ 5.000,00 - cinco mil reais), ostenta-se deveras elevado diante dos fatos narrados na petição inicial, bem como da importância total do empréstimo. O próprio Autor, Vanderlei da Silva, ao depor, asseverou que o preposto da Ré não teria sido agressivo, caindo por terra toda a tese da parte autora em seu Apelo, o qual foi interposto com o único intuito de majorar a verba indenizatória. Ademais, como bem pontuado pela CEF em seu recurso, o valor arbitrado na sentença é praticamente o empréstimo a ser liquidado (R$ 6.241,31 - seis mil, duzentos e quarenta e um reais e trinta e um centavos) em dezembro de 2005. Conseguintemente, a cifra de R$ 1.000,00 (um mil reais) é mais adequada aos fatos em apreço, seguindo os Princípios da Proporcionalidade e Razoabilidade. Precedentes. 5. Acerca da restituição das tarifas bancárias decorrentes da conta-corrente aberta, irretocável a conclusão alcançada pelo Juízo a quo, eis que inexistiu qualquer contraprestação da Ré, deve a quantia de R$ 391,46 (trezentos e noventa e um reais e quarenta e seis centavos) ser devolvida aos Autores, a fim de afastar o enriquecimento sem causa por parte da CEF. 6. Apelação autoral desprovida. Apelo da CEF parcialmente provido.AC 200651040022810AC - APELAÇÃO CIVEL - 414562Relator(a) Desembargador Federal GUILHERME DIEFENTHAELERTRF2 Órgão julgador : QUINTA TURMA ESPECIALIZADAFonte : E-DJF2R - Data::08/10/2013

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Dos elementos acima exsurge a necessária

reparação civil coletiva, ante os atos ilícitos causadores de dano moral

coletivo, pois que vulnerados interesses difusos, consoante dicção do art. 81,

inciso I, do Código de Defesa do Consumidor, “são aqueles transindividuais, de

natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por

circunstâncias de fato”.

Nesse sentido, o STJ:

ADMINISTRATIVO - TRANSPORTE - PASSE LIVRE - IDOSOS -

DANO MORAL COLETIVO - DESNECESSIDADE DE

COMPROVAÇÃO DA DOR E DE SOFRIMENTO - APLICAÇÃO

EXCLUSIVA AO DANO MORAL INDIVIDUAL - CADASTRAMENTO

DE IDOSOS PARA USUFRUTO DE DIREITO - ILEGALIDADE DA

EXIGÊNCIA PELA EMPRESA DE TRANSPORTE - ART. 39, § 1º DO

ESTATUTO DO IDOSO - LEI 10741/2003 VIAÇÃO NÃO

PREQUESTIONADO. 1. O dano moral coletivo, assim

entendido o que é transindividual e atinge uma classe

específica ou não de pessoas, é passível de comprovação

pela presença de prejuízo à imagem e à moral coletiva

dos indivíduos enquanto síntese das individualidades

percebidas como segmento, derivado de uma mesma

relação jurídica-base. 2. O dano extrapatrimonial coletivo

prescinde da comprovação de dor, de sofrimento e de

abalo psicológico, suscetíveis de apreciação na esfera do

indivíduo, mas inaplicável aos interesses difusos e

coletivos. 3. Na espécie, o dano coletivo apontado foi a

submissão dos idosos a procedimento de cadastramento para o

gozo do benefício do passe livre, cujo deslocamento foi custeado

pelos interessados, quando o Estatuto do Idoso, art. 39, § 1º

exige apenas a apresentação de documento de identidade. 4.

Conduta da empresa de viação injurídica se considerado o

sistema normativo. 5. Afastada a sanção pecuniária pelo

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Tribunal que considerou as circunstancias fáticas e probatória e

restando sem prequestionamento o Estatuto do Idoso, mantém-

se a decisão. 5. Recurso especial parcialmente provido.

(REsp 1.057.274-RS, 2ª Turma, Rel. Min. Eliana Calmon,

julgado 1.12.2009, DJE 26.02.2010)

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL COLETIVA.

INTERRUPÇÃO DE FORNECIMENTO DE ENERGIA

ELÉTRICA. OFENSA AO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA.

LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO. NEXO

DE CAUSALIDADE. SÚMULA 7/STJ. DANO MORAL

COLETIVO. DEVER DE INDENIZAR. 1. Cuida-se de Recursos

Especiais que debatem, no essencial, a legitimação para agir do

Ministério Público na hipótese de interesse individual

homogêneo e a caracterização de danos patrimoniais e morais

coletivos, decorrentes de frequentes interrupções no

fornecimento de energia no Município de Senador Firmino,

culminando com a falta de eletricidade nos dias 31 de maio, 1º

e 2 de junho de 2002. Esse evento causou, entre outros

prejuízos materiais e morais, perecimento de gêneros

alimentícios nos estabelecimentos comerciais e nas residências;

danificação de equipamentos elétricos; suspensão do

atendimento no hospital municipal; cancelamento de festa

junina; risco de fuga dos presos da cadeia local; e sentimento

de impotência diante de fornecedor que presta com

exclusividade serviço considerado essencial. 2. A solução

integral da controvérsia, com fundamento suficiente, não

caracteriza ofensa ao art. 535 do CPC. 3. O Ministério Público

tem legitimidade ativa para atuar em defesa dos direitos

difusos, coletivos e individuais homogêneos dos

consumidores. Precedentes do STJ. 4. A apuração da

responsabilidade da empresa foi definida com base na prova dos

autos. Incide, in casu, o óbice da Súmula 7/STJ. 5. O dano

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moral coletivo atinge interesse não patrimonial de classe

específica ou não de pessoas, uma afronta ao sentimento

geral dos titulares da relação jurídica-base. 6. O acórdão

estabeleceu, à luz da prova dos autos, que a interrupção

no fornecimento de energia elétrica, em virtude da

precária qualidade da prestação do serviço, tem o condão

de afetar o patrimônio moral da comunidade. Fixado o

cabimento do dano moral coletivo, a revisão da prova da sua

efetivação no caso concreto e da quantificação esbarra na

Súmula 7/STJ. 7. O cotejo do conteúdo do acórdão com as

disposições do CDC remete à sistemática padrão de condenação

genérica e liquidação dos danos de todos os munícipes que se

habilitarem para tanto, sem limitação àqueles que

apresentaram elementos de prova nesta demanda (Boletim de

Ocorrência). Não há, pois, omissão a sanar. 8. Recursos

Especiais não providos. (REsp 1197654, 2ª Turma, Rel. Min.

Herman Benjamin, julgado 1.03.2011, DJE 08.03.2012)

No caso em tela, conforme exposto, os procedimentos

ilegais desencadeados pela ré – prática de venda casada e eventual negativação do

nome dos mutuários em virtude da cobrança de taxas e tarifas bancárias não

informadas - atingem um volume indeterminado de pessoas, que mantêm ou

mantiveram relação jurídica com a ré.

O dano moral difuso se assenta, exatamente, na

agressão a bens e valores jurídicos que são inerentes a toda a coletividade

de consumidores, até mesmo os que deixaram de contratar financiamento,

que podem ter sido submetidos a práticas abusivas durante os

procedimentos de negociação e aprovação.

No que tange ao valor da indenização, é de se consignar

que embora a lei não estabeleça critério objetivo para sua aferição, a doutrina e a

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jurisprudência vêm prestando grande contribuição para o desenvolvimento do tema

no direito pátrio.

A tendência que é resultante do trabalho da doutrina e dos

Tribunais aponta no sentido de que, para o arbitramento do valor da indenização,

mister se levar em conta, in casu, o desvalor da conduta questionada, o potencial

de dano da conduta e o potencial econômico do ofensor. Isso, para que ao mesmo

tempo se ofereça justa compensação econômica ao ofendido e se desestimule o

ofensor a praticar outras violações.

Diante de tais parâmetros, devemos levar em conta que a

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL é o principal agente financeiro do SFH, sendo ainda

uma empresa pública federal, tendo a obrigação de cumprir o Código de Defesa do

Consumidor.

Segundo notícia extraída da intermet1, a CAIXA

ECONÔMICA FEDERAL teve um lucro líquido de R$ 6,7 bilhões em 2013, sendo que

fechou o mesmo ano com patrimônio líquido de R$ 27,4 bilhões.

Assim sendo, para cálculo da indenização, temos que levar

em conta esses números, bem como o fato de que potencialmente milhares de

consumidores podem ter sido lesados pela ré nos últimos cinco anos somente nos

municípios pertencentes a essa subseção judiciária. Por isso, a indenização tem

que ter valor elevado, sob pena de tornar-se irrisória face o patrimônio da ré, como

única maneira de prevenir a violação da lei no futuro.

Não há como mensurar o prejuízo dos consumidores

induzidos a comprar produtos ilegalmente, mas certamente a CEF lucrou milhões

com a prática abusiva da venda casada em todo o Brasil.

1 http://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/2014/03/caixa-tem-lucro-liquido-de-r-67-bilhoes-em-2013.html , acesso em 31/07/2014

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Por fim, há que se repisar que as condutas dos

funcionários ou contratados da CEF se desdobra em duas principais : o

condicionamento direto, sem qualquer rodeios, e o condicionamento indireto,

conduzido com sutileza e de modo insidioso, a fim de induzir o consumidor a

acreditar que não terá o financiamento aprovado se não contratar os produtos

secundários da instituição. Nos autos há suficientes elementos de prova de tais

condutas.

7 - DA ANTECIPAÇÃO DA TUTELA JURISDICIONAL

A tutela antecipada, em razão de sua natureza instrumental e

provisória, é proferida com base em juízo de cognição sumária, não exauriente, e

tem por pressupostos a verossimilhança do direito alegado, bem como o perigo de

dano irreparável ou de difícil reparação.

Afirma-se, portanto, com base na doutrina dominante, que o

magistrado, ao analisar o pedido de antecipação dos efeitos da tutela, deve verificar

se há verossimilhança nas alegações deduzidas, ou seja, prova suficiente da

probabilidade das alegações apresentadas pelo autor, e se a demora do processo

gerará algum risco de dano irreparável ou de difícil reparação.

No caso específico da legislação consumerista, prevê-se que:

Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de

fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou

determinará providências que assegurem o resultado prático

equivalente ao do adimplemento.

(…)

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§ 3° Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado

receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a

tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu.

A determinação do obrigação de não fazer à CEF, ou seja, de não

constranger os mutuários a adquirirem outros produtos e serviços da instituição

financeira para terem o financiamento habitacional aprovado é medida necessária e

urgente, eis que os danos que a empresa vem causando são de grande amplitude,

causando lesões a inúmeros clientes há tempos.

Da mesma forma, é de suma importância dar efetividade ao

direito de informação do consumidor para que o mesmo deixe de ser enganado e

denuncie práticas abusivas, o que pedimos na obrigação de fazer abaixo deduzida.

Assim, o periculum in mora encontra-se presente pela existência

da “venda casada” e de outras práticas abusivas descritas e provadas, as quais, se

mantidas, continuarão a causar prejuízos aos consumidores que vêm adquirindo e

pagando por produtos e serviços da instituição financeira desnecessariamente e

contra a vontade.

No que tange à prova inequívoca, tem-se que esta decorre

dos fatos narrados e comprovados pelos documentos reunidos nos autos do

Inquérito Civil 267/2011.

A verossimilhança da alegação, por sua vez, se demonstra pelos

argumentos desenvolvidos nesta petição frente às normas pertinentes, que

comprovam a ilegalidade do atos praticados pela CEF.

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Assim, presentes os requisitos legais, requer o MINISTÉRIO

PÚBLICO FEDERAL a concessão da antecipação dos efeitos da tutela, determinando-

se :

a) como obrigação de não-fazer, que a CEF, por meio de suas

agências situadas na área de jurisdição da Subseção Judiciária de São José dos

Campos, se abstenha de exigir, induzir ou impor ao pretendente de crédito

imobiliário, por qualquer meio, a aquisição de produtos e serviços da instituição

financeira, desde o primeiro contato do cliente para início do processo de

financiamento até a data da efetiva liberação do crédito;

b) como obrigação de fazer, com o fim de respeitar a

vontade do consumidor e o direito de contratação, caso haja a venda de produtos e

serviços durante o processo de negociação e aprovação do financiamento

imobiliário, seja o consumidor informado, por escrito, das características,

finalidades e preço de cada produto, e que a aquisição não será considerada como

condição para a aprovação do crédito imobiliário pretendido, ainda que de forma

mais facilitada ou rápida;

c) como obrigação de fazer, que a CEF, desde o primeiro

contato (diretamente ou através de facilitadores imobiliários) com o cliente para

início do processo de financiamento imobiliário, alerte o mesmo sobre a proibição da

venda casada e dê ciência formal sobre seus direitos, mediante formulário modelo

apresentado no anexo I desta inicial, a ser assinado pelo cliente necessariamente

em data anterior à assinatura do contrato, que passará a fazer parte integrante da

documentação obrigatória do processo de financiamento e poderá ser exigido a

qualquer tempo2 , com a fixação de multa no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais)

a cada caso no qual se verifique a infringência a esta obrigação;

2 Observamos que a assinatura prévia de formulário padronizado é a única forma de garantir a efetividade do

direito de informação, haja vista que por ocasião da assinatura do contrato de financiamento o consumidor já pode

ter sido ludibriado.

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d) como obrigação de fazer, seja determinado à CEF que

divulgue o teor da liminar e promova o direito de informação do consumidor quanto

à proibição à venda casada por campanha publicitária a ser realizada por meio de

cartazes a serem fixados permanentemente em todas as suas agências e empresas

ou profissionais facilitadores de crédito imobiliário que lhe prestam serviços,

localizados nos municípios desta subseção.

8 – DOS PEDIDOS

Diante do quanto exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

requer:

1. O recebimento da presente ação;

2. A citação da ré, para que, querendo, conteste a presente

ação, sob pena de revelia;

3. A confirmação e a procedência dos pedidos efetuados em

sede de antecipação de tutela;

4. A condenação da CEF à devolução dos valores e tarifas pagos

indevidamente pelos consumidores lesados, a título de contratação de produtos ou

serviços indesejados, no período dos últimos 5 (cinco) anos anteriores à data da

presente ação até a data do trânsito em julgado, devidamente corrigidos e com

juros legais e que tais contratações tenham ocorrido por ocasião da análise e

liberação de financiamento imobiliário.

4.1. A fim de delimitar o universo de favorecidos com a medida,

os eventuais interessados, para que se enquadrem na condição de consumidor

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lesado, deverão comprovar documentalmente: a) que tenham assinado com a CEF

contrato de financiamento e tenham registrado reclamações contra a CEF no

período dos últimos 5 (cinco) anos anteriores à data da presente ação até a data do

trânsito em julgado, envolvendo as práticas abusivas mencionadas na presente

petição, seja por meio de reclamação diretamente na agência bancária e/ou na

ouvidoria da instituição e/ou no Procon e/ou no Judiciário ou qualquer outro meio

institucional; b) que não tenham obtido, por meio dessas reclamações, o

ressarcimento dos valores indevidamente pagos à CEF por conta de produtos e

serviços indesejados; c) as reclamações tenham ocorrido no prazo de até 1 ano da

data da assinatura do contrato de financiamento;

4.2 Requer ainda a condenação da CEF a notificar, através de

anúncio publicado por 3 (três) vezes em jornais de grande circulação nos municípios

desta subseção e na imprensa oficial, todos os mutuários que contrataram

financiamento imobiliário nos no período dos últimos 5 (cinco) anos anteriores à

data da presente ação até a data do trânsito em julgado, a fim de que procurem

sua agência, caso se enquadrem nos fatos em questão e nos requisitos “a”, “b” e

“c” acima, para pleitear a devolução dos valores pagos, caso ainda não tenha

ocorrido, a qual deverá ocorrer no prazo máximo de 60 dias, sob pena da multa de

R$ 100,00 por dia de atraso e por cliente;

5. A condenação da CEF à indenização por danos morais

coletivos, em valor não inferior a R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais), como

única forma de coibir práticas abusivas no futuro, valor esse a ser revertido ao

Fundo de Defesa dos Interesses Difusos e Coletivos;

Por fim, protesta a parte autora pela produção de todos os

meios de prova legalmente admitidos, a serem oportunamente especificados.

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Dá-se à presente causa o valor de R$ R$ 5.000.000,00 (cinco

milhões de reais).

São José dos Campos, 01 de agosto de 2014.

RICARDO BALDANI OQUENDO Procurador da República

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ANEXO I - MODELO

DIREITOS DO CONSUMIDOR

ESCLARECIMENTOS AO CLIENTE DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF:

I – a contratação de financiamento habitacional não pode ser de modo algum

condicionada à abertura de conta-corrente da CEF, nem à contratação de seguros

adicionais (como seguro de vida e residencial), previdência complementar, títulos de

capitalização, ou qualquer outro produto;

II – a contratação de seguro habitacional é obrigatória nos termos da legislação

para concessão de crédito imobiliário, devendo o cliente perguntar e a CEF informar

sobre os riscos cobertos, mas não é obrigatória a contratação de coberturas

adicionais;

III – a concessão e o tempo de aprovação do financiamento não possuem

relação alguma com a contratação de seguros, títulos de capitalização, previdência

complementar ou qualquer outro produto;

IV – o mutuário tem a opção de pagar as prestações por meio de boleto

bancário, sendo que a abertura adesão a pacote de serviços (abertura de conta,

cartão de crédito, crédito de salário e débito em conta das prestações) será

considerada apenas para redução da taxa de juros, contratualmente prevista, mas

de forma alguma poderá ser considerada como condição para a aprovação

do crédito, ainda que de forma mais facilitada ou rápida;

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V – caso o mutuário faça opção pela abertura de conta corrente e adesão a pacote

de serviços oferecidos pela CEF, deve estar ciente de que serão cobradas taxas

e tarifas mensalmente, sendo obrigação da CEF informar corretamente o valor

das mesmas;

VI - nos termos do Código de Defesa do Consumidor, ninguém está obrigado a

contratar produto o serviço que não seja de seu interesse, bem como a venda

casada é considerada prática ilegal e abusiva;

VII – se eventualmente for imposto algum produto ou serviço pela CEF como

condição para assinatura de contrato de financiamento, ou for praticada qualquer

outra forma de venda casada, tal fato deve ser comunicado aos órgãos de defesa

do consumidor, como o PROCON, e ao Ministério Público Federal, para adoção das

medidas cabíveis;

VIII – Este formulário deve ser entregue e assinado pelo pretendente ao

financiamento no seu primeiro contato com a CEF ou facilitador imobiliário para

obtenção de financiamento habitacional, devendo o mesmo ser parte integrante do

processo de financiamento, sendo vedada sua assinatura na mesma data ou

em data posterior à da assinatura do contrato de financiamento.

NOME DO CLIENTE:

RG:

CPF:

LOCAL E DATA:

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