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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GUARATINGUETÁ/SP EXCELENTÍSSIMO JUIZ FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE GUARATINGUETÁ/SP Autos nº 1.34.029.000041/2010-24 Inquérito civil O Ministério Público Federal, pelo procurador da República signatário, vem, perante Vossa Excelência, com fundamento no artigo 129, inciso III e no artigo 37, §4º, ambos da Constituição Federal, e na Lei Federal n.º 8.429/92, e com base nos autos do inquérito civil público em epígrafe, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA Avenida Presidente Getúlio Vargas, n.° 381 – Vila Paraíba – Guaratinguetá/SP – CEP 12.515-320 (12) 3123-1500 fls. 1/59

EXCELENTÍSSIMO JUIZ FEDERAL DA SUBSEÇÃO ... CEP 14802-500; Bruno César de Santi, filho de Leonilda Rodrigues de Santi, inscrito no CPF sob n.º 322.372.578-41, residente na Rua

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EXCELENTÍSSIMO JUIZ FEDERAL DA SUBSEÇÃO

JUDICIÁRIA DE GUARATINGUETÁ/SP

Autos nº 1.34.029.000041/2010-24

Inquérito civil

O Ministério Público Federal, pelo procurador

da República signatário, vem, perante Vossa Excelência, com

fundamento no artigo 129, inciso III e no artigo 37, §4º, ambos

da Constituição Federal, e na Lei Federal n.º 8.429/92, e com

base nos autos do inquérito civil público em epígrafe, propor a

presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA

Avenida Presidente Getúlio Vargas, n.° 381 – Vila Paraíba – Guaratinguetá/SP – CEP 12.515-320 (12) 3123-1500 fls. 1/59

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contra Paulo César Neme, filho de Olga Zatini

Neme, portador da cédula de identidade n.º

3.579.673 SSP/SP, inscrito no CPF sob o nº

451.001.108-30, residente na Rua Professor

Frederico da Silva Ramos, n.º 279, bairro

Centro, em Lorena/SP, e com endereço

profissional na Avenida Capitão Messias

Ribeiro, n.º 625, bairro Olaria, em Lorena/SP,

CEP 12.600-260;

Germano Constantino Batista, filho de Rosa

Maria Rabachini, inscrito no CPF sob o n.º

930.646.408-87, residente na Rua Napoleão

Selmi Dei, n.º 699, bairro Vila Harmonia, em

Araraquara/SP, CEP 14802-500;

Bruno César de Santi, filho de Leonilda

Rodrigues de Santi, inscrito no CPF sob n.º

322.372.578-41, residente na Rua Napoleão

Selmi Dei, n.º 1575, bairro Vila Harmonia, em

Araraquara/SP, CEP 14802-500;

inquérito civil n.º 1.34.029.000041/2010-21 (ação civil pública por ato de improbidade administrativa) fls. 2/59

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“Globo do Brasil Ltda.”, sociedade empresarial

inscrita no CNPJ sob o n.º 05.426.215/0001-92,

com sede na Rua José Barbieri Neto, n.º 2592,

bairro Jardim Botânico, em Araraquara/SP,

CEP 14.805-00;

Gustavo Coura Guimarães, filho de Vânia

Aparecida Coura Guimarães, inscrito no CPF

sob o n.º 280.018.108-79, residente na Rua

Major Carlos Ribeiro n.º 257, bairro Centro,

em Piquete/SP, CEP 12.620-000; e

“Gustavo Coura Guimarães – ME”, empresa

individual inscrita no CNPJ sob o n.º

05.906.713/0001-32, com sede na Rua Major

Carlos Ribeiro n.º 257, bairro Centro, em

Piquete/SP, CEP 12.620-000.

Pelas razões adiante expostas.

DOS FATOS

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1. Trata-se de inquérito civil público instaurado

na Procuradoria da República do Município de

Guaratinguetá/SP com o objetivo de investigar irregularidades

na contratação e no emprego de recursos repassados ao

Município de Lorena/SP pelo Ministério do Turismo no ano de

2009 mediante o convênio n.º 01124/2009 (SIAF n.º 705817).

DO EXECUÇÃO DO CONVÊNIO N.º 01124/2009

2. Segundo consta, em 2 de outubro de 2009,

Paulo César Neme, na condição de Prefeito Municipal de

Lorena/SP para o mandato de 2008 a 2012, celebrou o convênio

n.° 01124/2009 com Ministério do Turismo, convênio este com

vigência até 31 de dezembro de 2009 e que tinha por objeto a

realização, pela Prefeitura Municipal de Lorena/SP, do evento

denominado “Feira Regional de Turismo”, no valor de R$

162.000,00 (cento e sessenta e dois mil reais), sendo que o

montante de R$140.000,00 (cento e quarenta e mil reais) seria

desembolsado pelo Ministério do Turismo e o restante (R$

22.000,00) seria de responsabilidade do Município de Lorena/SP

(fls. 89/107, autos principais).

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3. O referido convênio, nos termos de sua

cláusula primeira e de acordo com o plano de trabalho

apresentado pelo Município de Lorena/SP e que foi aprovado

pelo Ministério do Turismo em 2 de outubro de 2009, tinha

como objeto a realização da “Feira Regional de Turismo”, que

deveria ocorrer entre 2 e 4 de outubro de 2009 e previa as

seguintes ações (fls. 69/72 e fls. 76/85, autos principais): a) inserção do

evento em rádio; b) apresentações artísticas; c) locação de palco,

banheiros químicos e telão; d) barracas de lona; e) seguranças; f)

locação de estandes; g) faixas de divulgação; h) carro de som; e i)

contratação de som e iluminação.

4. Após a publicação do convênio em 23 de

outubro de 2009 (fls. 108, autos principais), os recursos financeiros de

responsabilidade do Ministério do Turismo foram

disponibilizados ao Município de Lorena/SP em 3 de novembro

de 2009 mediante a emissão da ordem bancária 090B801744 12

(fls. 112, autos principais), por meio da qual foi efetivado depósito, em 5

de novembro de 2009, do valor de R$140.000,00 (cento e

quarenta e mil reais) na conta bancária aberta especificamente

para a execução financeira do convênio n.º 01124/2009: conta

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corrente n.º 345024, agência n.º 857-5, Banco do Brasil (fls. 173,

autos principais).

5. Com a prorrogação do prazo de vigência do

convênio n.º 01124/2009 para 2 de fevereiro de 2010 (fls. 113, autos

principais), a Coordenação-Geral de Convênios do Ministério do

Turismo, em 17 de dezembro de 2009, cientificou o Prefeito

Municipal de Lorena/SP da prorrogação do convênio,

informando, na oportunidade, que os recursos federais para a

execução financeira do convênio já haviam sido disponibilizados

e que deveriam ser aplicados nos termos das cláusulas do

convênio e da legislação pertinente (fls. 115/116, autos principais).

6. Passado o prazo final de vigência do convênio

n.º 01124/2009, prazo esse que já havia sido objeto de

prorrogação conforme apontado no parágrafo anterior, o

Ministério do Turismo solicitou, em 24 de março de 2010, ao

Prefeito Municipal de Lorena/SP, Paulo César Neme, a

apresentação da prestação de contas no prazo de 15 (quinze)

dias, sob pena de inclusão do Município no cadastro de

inadimplentes efetivos (fls. 119, autos principais).

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7. Em 30 de março de 2010, a Assessoria

Especial de Controle Interno do Ministério do Turismo recebeu

da Delegacia de Policia Federal em Cruzeiro/SP pedido de

informações a fim de instruir o inquérito policial n.º 26-

0028/2010-04 DPF/CZP/SP1, informações estas que se

reportavam acerca da natureza, da finalidade, dos valores e do

instrumento contratual que originou o repasse da quantia de R$

85.500,00 (oitenta e cinco mil e quinhentos reais) indicados na

ordem de pagamento n.º 11613/1 emitida em 10 de novembro

de 2010 pelo Município de Lorena/SP em benefício da entidade

empresarial “Globo do Brasil Ltda.” (fls. 125/126, autos principais).

8. Em resposta ao pedido mencionado no

parágrafo anterior, o Ministério do Turismo confirmou a

existência de convênio firmado com o Município de Lorena/SP

em 2 de outubro de 2009 tendo como objetivo o repasse de

recursos federais no montante de R$140.000,00 (cento e

quarenta mil reais) destinados à execução do projeto intitulado

“Feira Regional de Turismo” (fls. 127, autos principais).

9. O Ministério do Turismo esclareceu ainda

1 Instaurado no âmbito da Polícia Federal em Cruzeiro para apurar possível prática de crime de responsabilidade de Prefeito (Decreto – Lei n.º 201/67), conforme extrato juntado aos autos.

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que, de acordo com o plano de trabalho aprovado no âmbito do

convênio n.º 01124/2009, o valor de R$ 85.500,00 (oitenta e

cinco mil e quinhentos reais) teria sido destinado ao pagamento

de cachê de três grupos musicais, assim discriminados: a) grupo

“André & Adriano”, no valor de R$ 39.000,00 (trinta e nove mil

reais); b) grupo “Renan & Silvier”, no valor de R$ 24.000,00

(vinte e quatro mil reais); e c) grupo “Atitude 4”, no valor de

22.500,00 (vinte e dois mil, quinhentos reais). Por fim, o

Ministério do Turismo informou à Polícia Federal que, devido à

ausência da apresentação da prestação de contas, cujo prazo

havia expirado em 3 de março de 2010, o Município de

Lorena/SP havia sido incluído no cadastro de inadimplentes.

10. Em 19 de abril de 2010, a Chefia de

Gabinete do Ministério do Turismo recebeu o ofício n.º

0294/2009 encaminhado pelo Prefeito Municipal de Lorena/SP,

ofício este datado de 15 de dezembro de 2009 (ou seja, teria sido

recebido no órgão destinatário quatro meses após sua expedição,

o que se afigura um indício de que a data nele mencionada é

muito anterior à sua confecção), no qual o Prefeito Municipal de

Lorena/SP Paulo César Neme informou ao Ministério do

Turismo que a “Feira Regional de Turismo”, marcada para 2 a 4

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de outubro de 2009, teria sido cancelada, razão pela qual

solicitou o redirecionamento do recurso do convênio n.º

01124/2009 para outra finalidade (sinalização do roteiro

turístico do Município de Lorena/SP), oportunidade em que o

Prefeito Municipal Paulo César Neme consignou ainda que os

recursos relacionados ao convênio em comento estavam

depositados em uma conta bancária da Prefeitura de Lorena/SP

(fls. 130, autos principais), solicitação que não foi acatada pelo

Ministério do Turismo nos termos do parecer técnico n.º

406/2010 (fls. 132/133, autos principais).

11. Em 29 de abril de 2010, a Coordenação

Geral de Monitoramento, Fiscalização e Avaliação de

Convênios do Ministério do Turismo recomendou a anulação

da nota de empenho relacionada aos recursos repassados ao

Município de Lorena/SP por meio do convênio n.º 01124/2009,

o que implicou a exigência, por parte do Ministério do Turismo,

da restituição dos recursos federais desembolsados, com a devida

atualização monetária, conforme indicado em demonstrativo de

débito e na GRU emitida para a restituição do valor apurado (fls.

135/138, autos principais).

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12. O Município de Lorena/SP demonstrou, em

resposta à solicitação do Ministério Público Federal, que

cumpriu, em 28 de maio de 2010, a determinação de restituir

integralmente os recursos federais relacionados ao convênio n.º

01124/2009 (fls. 167, autos principais), oportunidade em que apresentou

cópia do ofício n.º 1220/2010/DGI/SE/Ministério do Turismo

e da Nota Técnica n.º 636/2010, documentos nos quais consta

que a prestação de contas do referido convênio foi aprovada em

14 de junho de 2010 em virtude da devolução dos recursos

federais repassados (fls. 187/189, autos principais).

13. Assim, em relação à execução do convênio

n.° 01124/2009 (SIAF n.º 705817), pode-se estabelecer a seguinte

síntese:

a) a Prefeitura Municipal de Lorena/SP e o Ministério do Turismo celebraram, em 2 de outubro de 2009, o convênio n.° 01124/2009 (SIAF n.º 705817), com vigência até 31 de dezembro de 2009, com o objetivo de realizar o evento “Feira Regional de Turismo” no período de 2 a 4 de outubro de 2009;

b) os recursos federais relacionados ao convênio n.° 01124/2009, no montante de R$ 140.000,00 (cento e quarenta mil reais), foram depositados em 5 de novembro de 2009 na conta vinculada ao referido convênio (Banco do Brasil, agência n.° 857-5, conta corrente n.° 345024);

c) a Prefeitura Municipal de Lorena/SP emitiu, em 10 de inquérito civil n.º 1.34.029.000041/2010-21 (ação civil pública por ato de improbidade administrativa) fls. 10/59

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novembro de 2010, ordem de pagamento no valor de R$ 85.500,00 (oitenta e cinco mil reais) em benefício da empresa “Globo do Brasil Ltda.” contra a conta vinculada ao convênio n.° 01124/2009, valor destinado à contratação de grupos musicais para a realização do evento “Feira Regional do Turismo”, objeto do convênio em comento;

d) o Ministério do Turismo prorrogou o prazo de vigência do convênio n.° 01124/2009 para 2 de fevereiro de 2010 e, ao comunicar a prorrogação em 17 de dezembro de 2009, informou à Prefeitura Municipal de Lorena/SP que os recursos federais já haviam sido disponibilizados e que deveriam ser utilizados de acordo com as previsões do convênio e com às disposições legais;

e) com o fim da vigência do convênio n.° 01124/2009, o Ministério do Turismo, em 24 de março de 2010, cobrou da Prefeitura Municipal de Lorena/SP a apresentação da prestação de contas do referido convênio;

f) em ofício datado de 15 de dezembro de 2009, mas que foi recebido apenas em 19 de abril de 2010, a Prefeitura Municipal de Lorena/SP informou o cancelamento da “Feira Regional de Turismo”, evento que era o objeto do convênio n.° 01124/2009, oportunidade em que informou que os recursos do convênio em comento estavam depositados em conta bancária da Prefeitura e solicitou o emprego destes recursos para outra finalidade, pedido este que foi negado pelo Ministério do Turismo; e

g) ante a não realização da “Feira Regional de Turismo”, objeto do convênio convênio n.° 01124/2009, o Ministério do Turismo solicitou à Prefeitura Municipal de Lorena/SP a restituição da verba federal relacionada, devidamente corrigida, o que foi atendido em 28 de maio de 2010 e que implicou na aprovação da prestação de contas em 14 de junho de 2010.

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DO PLANEJAMENTO E DA EXECUÇÃO FINANCEIRA DA “FEIRA

REGIONAL DE TURISMO”

14. Das informações constantes do inquérito

civil e do anexo (cópia da ação civil pública n.º 01.02.2010/000831, da 2ª Vara da

Comarca de Lorena/SP), é possível revelar a verdadeira sequência de

fatos que envolveu o planejamento e a execução financeira da

“Feira Regional de Turismo”.

15. Em 11 de agosto de 2009, a Secretária de

Governo Jurema Vianna solicitou ao Prefeito Municipal de

Lorena/SP autorização para a contratação de empresa para a

realização da “Feira Regional de Turismo”, prevista para o

período de 2 a 4 de outubro de 2009, mediante convênio

celebrado com o Ministério do Turismo (fls. 102, anexo I), conforme

termo de referência apresentado na oportunidade (fls. 103/108, anexo

I).

16. Em 13 agosto de 2009, Paulo César Neme,

Prefeito Municipal de Lorena/SP, autorizou a abertura de

processo licitatório para a contratação de empresa para a

realização da “Feira Regional de Turismo”, então prevista para 2

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a 4 de outubro de 2009 (fls. 114, anexo I), conforme solicitado.

17. Na mesma data, a Secretária de Governo

Jurema Vianna firmou um termo de declaração no qual

consignou que as despesas para a realização da “Feira Regional

de Turismo” seriam cobertas por meio de recursos provenientes

de convênio firmado com a União, no importe total de R$

162.000,00 (cento e sessenta e dois mil reais), incluído a

contrapartida do Município de Lorena/SP no valor de R$

22.000,00 (vinte e dois mil reais) (fls. 115, anexo I).

18. Ainda em 13 de agosto de 2009, os autos de

pedido de contratação de empresa para a realização da “Feira

Regional de Turismo” foram encaminhados para o Secretário de

Negócios Jurídicos da Prefeitura Municipal de Lorena/SP a fim

de que fossem aprovadas as minutas do edital e do contrato

elaborados pela comissão permanente de licitação (fls. 118/179, anexo

I).

19. Em 26 de agosto de 2009, após a

apresentação de proposta por três empresas (fls. 180/203, anexo I),

todas consideradas devidamente habilitadas pela comissão de

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licitação, sagrou-se vencedora da carta convite n.º 48/2009 a

empresa individual “Gustavo Coura Guimarães - ME”, cujo

titular é Gustavo Coura Guimarães, com uma proposta no

valor de R$ 76.500,00 (setenta e seis mil e quinhentos reais) (fls.

204/205, anexo I).

20. Porém, em 25 de setembro de 2009, a

Secretária de Governo da Prefeitura Municipal de Lorena/SP

Jurema Viana emitiu um comunicado ao Prefeito de Lorena/SP

Paulo César Neme (documento sem numeração de ordem ou

controle), mediante o qual noticiou que os recursos federais

destinados para o evento “Feira Regional de Turismo” não

haviam sido recebidos pela Prefeitura Municipal de Lorena/SP,

razão pela qual a carta convite n.º 48/2009 deveria ser revogada

(fls. 206, anexo I).

21. Diante do conteúdo do documento

mencionado no parágrafo anterior, em 28 de setembro de 2009,

o Prefeito Municipal de Lorena/SP Paulo César Neme revogou

a carta convite n.° 48/2009 sob o fundamento de que a verba

federal destinada ao evento “Feira Regional de Turismo” não

havia sido repassada e também porque a Prefeitura não dispunha

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de recursos próprios para a realização do evento (fls. 207, anexo I).

Segue abaixo o texto da decisão em comento (fls. 207, anexo I):

“Considerando a solicitação da Secretária de Governo, aduzindo que até a presente data a verba do convênio com o Ministério do Turismo não adentrou aos cofres municipais e diante da ausência de recursos próprios para a concretização do evento, REVOGO a presente licitação, com fundamento no artigo 49 da Lei 8666/1993.”

22. Contudo, no mesmo dia em que revogou a

carta convite n.° 48/2009 que tinha como objeto a realização da

“Feira Regional de Turismo” (28 de setembro de 2009), a

Prefeitura Municipal de Lorena/SP, a despeito de ter consignado

que não dispunha de recursos próprios para a realização do

evento (fls. 207, anexo I), celebrou contrato com a sociedade

empresarial “Globo do Brasil Ltda.” para a apresentação de

grupos musicais na referida “Feira Regional de Turismo”,

contratação esta que foi publicada no DOE de 9 de dezembro de

2009 nos seguintes termos (fls. 10, autos principais):

“Contratante: Prefeitura Municipal de Lorena/SPContratada: Globo do Brasil S/A.Objeto: o presente instrumento tem por objeto a contratação, por meio de empresário exclusivo para a região, de show com as duplas sertanejas 'Renan e Silver', 'André e Adriano' e o 'Grupo Atitude 4', a ser realizado na Feira Regional de Turismo, nos dias 01 a 04 de outubro de 2009, com início previsto às 22h00m,

inquérito civil n.º 1.34.029.000041/2010-21 (ação civil pública por ato de improbidade administrativa) fls. 15/59

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e previsão de duração de 01h15m.Valor: pela execução dos serviços objeto desta avença a Prefeitura pagará à CONTRATADA o preço global de R$ 85.500,00 (oitenta e cinco mil e quinhentos reais) pagos em uma única parcela.”

23. Anote-se que a contratação apontada no

parágrafo anterior não foi precedida de qualquer procedimento

licitatório ou qualquer procedimento de dispensa ou

inexigibilidade de licitação.

24. Em 2 de outubro de 2009, após a revogação

do processo licitatório n.º 48/2009 em 28 de setembro de 2009 e

a contratação da sociedade empresarial “Globo do Brasil Ltda.”

realizada no mesmo dia, a Prefeitura Municipal de Lorena/SP,

por meio do Prefeito Paulo César Neme, assinou o convênio

n.º 01124/2009 com o Ministério do Turismo no valor de

R$162.000,00 (cento e sessenta e dois mil reais) para suprir as

despesas da “Feira Regional de Turismo”, prevista para ocorrer

entre 2 e 4 de outubro de 2009 (fls. 89/107, autos principais).

25. Como já mencionado, a contrapartida de

responsabilidade do Município de Lorena/SP, correspondente a

R$ 22.000,00 (vinte e dois mil reais), foi creditada em 13 de

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outubro de 2009 na conta vinculada ao convênio (Banco do

Brasil, agência 0857, conta corrente 34502-4) (fls. 109, autos principais),

sendo que o valor de R$140.000,00 (cento e quarenta mil reais),

correspondentes aos recursos financeiros do Ministério do

Turismo, foram depositados na referida conta vinculada em 5 de

novembro de 2009.

26. Assim, em relação ao planejamento e à

execução financeira da “Feira regional de Turismo”, pode-se

estabelecer a seguinte síntese:

a) em 13 de agosto de 2009, o Prefeito Municipal de Lorena/SP, Paulo César Neme, autorizou a instauração de procedimento licitatório, na modalidade convite, para a contratação de empresa especializada para a realização da “Feira Regional de Turismo”, de 2 a 4 de outubro de 2009;

b) na mesma data, ou seja, em 13 de agosto de 2009, a Secretária de Governo Jurema Vianna assinou termo de declaração de que as despesas relativas à “Feira Regional de Turismo” seriam atendidas, em grande parte (R$ 140.000,00 de um total de R$ 162.000,00) por verba oriunda de convênio celebrado coma União;

c) em 26 de agosto de 2009, a empresa individual “Gustavo Coura Guimarães - ME” foi declarada vencedora da carta convite n.º 48/2009 que tinha por objeto a realização da “Feira Regional de Turismo”;

d) em 25 de setembro de 2009, a Secretária de Governo da Prefeitura Municipal de Lorena/SP Jurema Viana emitiu um comunicado ao Prefeito Paulo César Neme no qual estava consignado que as verbas federais destinadas à realização da “Feira Regional

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de Turismo” ainda não haviam sido disponibilizadas, razão pela qual o referido evento deveria ser cancelado;

e) em 28 de setembro de 2009, o Prefeito Paulo César Neme, com base da informação acima mencionada, revogou da carta convite n.º 48/2009 que tinha por objeto a realização da “Feira Regional de Turismo”;

f) na mesma data em que revogou o processo licitatório sob o fundamento de que a verba federal prevista para a realização da “Feira Regional de Turismo” não havia sido disponibilizada, a Prefeitura Municipal de Lorena/SP contratou a sociedade empresária “Globo do Brasil Ltda.”, sem qualquer processo licitatório ou de dispensa ou inexigibilidade de licitação, para a realização de shows para a “Feira Regional de Turismo”;

g) em 2 de outubro de 2009, a Prefeitura Municipal de Lorena/SP e o Ministério do Turismo celebraram o convênio n.° 01124/2009 com o objetivo de realizar o evento “Feira Regional de Turismo” no período de 2 a 4 de outubro de 2009; e

h) em 5 de novembro de 2009, os recursos federais relacionados ao convênio n.° 01124/2009, no montante de R$ 140.000,00 (cento e quarenta mil reais), foram depositados na conta vinculada ao referido convênio (Banco do Brasil, agência n.° 857-5, conta corrente n.° 345024).

DA TRAMITAÇÃO DO PEDIDO DO CONVÊNIO N.º 01124/2009

27. É de fundamental importância analisar o

andamento do processo administrativo que culminou com a

celebração do convênio n.º 01124/2009 (SIAF n.º 705817), pois

a comparação entre o planejamento da “Feira Regional de

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Turismo” e a execução do referido convênio revela o engodo

maquinado pelos réus e a malversação de verba pública federal.

Salta aos olhos a espantosa velocidade com que o pedido de

convênio tramitou no Ministério do Turismo.

28. O pedido de convênio foi realizado em 1º de

outubro de 2009 (fls. 62/68 dos autos principais) e, no dia imediatamente

seguinte, ou seja, em 2 de outubro de 2009, foi elaborado o

parecer técnico n.º 1137/90 (fls. 69/71 dos autos principais), documento

no qual foi apontada a viabilidade técnica da realização da “Feira

Regional de Turismo” no período de 2 a 4 de outubro de 2009, o

atendimento dos fins institucionais do Ministério do Turismo e

uma proposta de aprovação do pedido de celebração do

convênio nos moldes propostos pela Prefeitura Municipal de

Lorena/SP.

29. Ainda em 2 de outubro de 2009, o parecer

técnico indicado no parágrafo anterior foi aprovado pelo

Coordenador-Geral de Análise de Projetos e encaminhado à

Chefia de Gabinete da Secretaria Nacional de Políticas de

Turismo (fls. 72 dos autos principais), que consignou estar de acordo

com os atos anteriores e aprovou o pedido de convênio e que a

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verba federal a ser disponibilizada teria como origem emenda

parlamentar do então Depurado Federal Marcelo Ortiz (fls. 72 dos

autos principais).

30. Na mesma data (2 de outubro de 2009), a

Chefia de Gabinete da Secretaria Nacional de Políticas de

Turismo, por meio de seu Chefe substituto, autorizou a

descentralização orçamentária para o atendimento da proposta

do convênio (fls. 72 dos autos principais). Ainda em 2 de outubro de

2009, a proposta de convênio foi analisada pela Consultoria

Jurídica do Ministério do Turismo, cujo parecer foi no sentido

da regularidade jurídica do pedido de convênio (fls. 76/85 dos autos

principais), parecer que foi aprovado no mesmo dia (fls. 85 dos autos

principais), após o que o processo foi remetido à Secretaria Nacional

de Políticas de Turismo do Ministério do Turismo.

31. Em mais uma demonstração de que a

burocracia da máquina estatal brasileira não se identifica mais

com as velhas ideias de lentidão e atraso, no mesmo dia (2 de

outubro de 2009), após o expedito trâmite administrativo

descrito nos parágrafos anteriores, foi celebrado o convênio n.º

01124/2009 entre o Ministério do Turismo e a Prefeitura

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Municipal de Lorena/SP para a realização da “Feira Regional de

Turismo” (fls. 89/107 dos autos principais), ato que foi publicado no

Diário Oficial da União em 23 de outubro de 2009 (fls. 108 dos autos

principais).

32. Em 3 de novembro de 2009 foi solicitado e

autorizado (fls. 111/112 dos autos principais) o pagamento do valor de R$

140.000,00 (cento e quarenta mil reais) referente ao n.º

01124/2009 (SIAF n.º 705817), quantia que foi depositada em 5

de novembro de 2009 na conta vinculada ao convênio em

comento (fls. 173 dos autos principais).

33. Assim, em relação à tramitação do convênio

n.º 01124/2009 (SIAF n.º 705817), pode-se estabelecer a seguinte

síntese:

a) o proposta de convênio com o Ministério do Turismo para a realização da “Feira Regional do Turismo” foi protocolizado pela Prefeitura Municipal de Lorena/SP em 1° de outubro de 2009;

b) no dia imediatamente seguinte ao protocolo da proposta de convênio, ou seja, em 2 de outubro de 2009, foram realizados os seguintes atos administrativos:

i. elaboração e aprovação de parecer técnico que atestou a viabilidade técnica da realização da “Feira Regional de Turismo” no período de 2 a 4 de outubro de 2009 como proposto no pedido de

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convênio formulado pela Prefeitura Municipal de Lorena/SP;

ii. indicação da origem orçamentária da verba federal que seria empregada no convênio proposto;

iii. autorização da descentralização orçamentária para o atendimento da proposta do convênio;

iv. elaboração e aprovação de parecer jurídico que consignou que o pedido de convênio estava, sob o ponto de vista jurídico-formal, regular; e

v. celebração do convênio n.º 01124/2009 (SIAF n.º 705817) entre o Ministério do Turismo e a Prefeitura Municipal de Lorena/SP para a realização da “Feira Regional de Turismo” (fls. 89/107 dos autos), ato que foi publicado no Diário Oficial da União em 23 de outubro de 2009.

c) um mês após a celebração do convênio n.º 01124/2009, ou seja, em 3 de novembro de 2009, foi solicitado e autorizado o pagamento da quantia de R$ 140.000,00 (centro e quarenta mil reais) referente ao convênio em comento; e

d) em 5 de novembro de 2009 o valor acima mencionado foi depositado na conta vinculada ao convênio n.º 01124/2009 e, assim, disponibilizado para a utilização por parte da Prefeitura Municipal de Lorena/SP para a realização da “Feira Regional de Turismo”.

DAS TRANSAÇÕES DA PREFEITURA MUNICIPAL DE LORENA/SP COM A

SOCIEDADE EMPRESARIAL “GLOBO DO BRASIL LTDA.”

34. Em cumprimento ao contrato mencionado

no item n.º 22, a Prefeitura Municipal de Lorena/SP emitiu, em

10 de novembro de 2009, a ordem de pagamento n.º 11613/1 na

importância de R$ 85.000,00 (oitenta e cinco mil reais) (fls. 08,

autos principais), tendo como interessada a empresa “Globo do Brasil inquérito civil n.º 1.34.029.000041/2010-21 (ação civil pública por ato de improbidade administrativa) fls. 22/59

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Ltda.”, destacando-se as seguintes obervações:

a) no campo código de aplicação: 100.09, Ministério do Turismo;

b) em Itens da Nota (especificação): contratação da empresa para realização da Feira Regional de Turismo. Processo n.º 1811/2009;

c) no campo despesa paga a indicação: Banco do Brasil, conta corrente n.º 345024 e cheque n.º 850.002.

35. Cumpre ressaltar que a conta corrente

indicada no item n.° 34.c é a conta corrente vinculada ao

convênio n.º 01124/2009 (SIAF n.º 705817), o que significa que

o pagamento indicado no parágrafo anterior foi feito com

recursos do convênio em comento.

36. Em correspondência à ordem de pagamento

acima indicada, a empresa “Globo do Brasil Ltda.” emitiu a

nota fiscal n.º 000062, com data de 10 de novembro de 2009, no

valor total de R$ 85.500,00 (oitenta e cinco mil e quinhentos

reais) (fls. 07, autos principais), tendo como destinatário dos serviços a

Prefeitura Municipal de Lorena/SP, na qual discriminou no

campo descrição do evento:

a) Show com o grupo “André & Adriano”, no valor de R$

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39.000,00 (trinta e nove mil reais);

b) Show com o grupo “Renan & Silvier”, no valor de R$ 24.000,00 (vinte e quatro mil reais); e

c) Show com o grupo “Atitude 4”, no valor de 22.500,00 (vinte e dois mil, quinhentos reais).

37. Note-se que a nota fiscal mencionada no

parágrafo anterior não faz qualquer referência à “Feira Regional

de Turismo”.

38. Em 7 de dezembro de 2009, a Prefeitura

Municipal de Lorena/SP efetuou transferência bancária no

importe de R$ 81.225,00 (oitenta e um mil, duzentos e vinte e

cinco reais), tendo como beneficiária a entidade empresarial

“Globo do Brasil Ltda.” junto à conta n.º 00130051316, agência

n.º 0044, banco n.º 33 (fls. 09, autos principais).

39. Análise feita pela Câmara Municipal de

Lorena/SP no Boletins de Caixa e Bancos da Prefeitura

Municipal de Lorena/SP referente ao dia 7 de dezembro de 2009

propiciou as seguintes conclusões (fls. 224/227, anexo I):

a) no item BANCOS, as seguintes informações acerca da conta corrente n.º 34502-4 B.B. Minist. do Turismo-Feira Reg. Tu:

inquérito civil n.º 1.34.029.000041/2010-21 (ação civil pública por ato de improbidade administrativa) fls. 24/59

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i. saldo de R$ 89.366,03 (oitenta e nove mil, trezentos e sessenta reais e três centavos); e

ii. posterior retirada da importância de R$ 81.225,00 (oitenta e um mil, duzentos e vinte e cinco reais);

b) no item DESPESAS:i. contabilização de despesa orçamentária sob o

empenho n.º 11613/1, tendo como credor a empresa “Globo do Brasil Ltda.” na importância de R$85.500,00 (oitenta e cinco mil e quinhentos reais).

40. Das declarações prestadas por Germano

Constantino Batista, sócio-administrador da entidade

empresarial “Globo do Brasil Ltda.”, em 10 de março de 2010,

perante a Comissão Especial de Inquérito instaurada no âmbito

da Câmara Municipal de Lorena/SP para apuração dos fatos (fls.

57/59, anexo I), destacam-se as seguintes assertivas:

a) que sua empresa foi contratada para a realização da festa “Lorenvale” e não para a “Feira de Turismo”;

b) que, em 7 de dezembro de 2009, recebeu a importância de R$ 81.225,00 (oitenta e um mil, duzentos e vinte e cinco reais) referente aos serviços prestados à Prefeitura de Lorena/SP para a “Lorenvale”, tendo emitido uma nota fiscal no valor bruto de R$ 85.500,00 (oitenta e cinco mil e quinhentos reais);

c) que na época assinou todas as vias do contrato e as entregou na Prefeitura de Lorena/SP para que pudessem ser assinadas pelo Prefeito, contudo não lhe devolveram sua via;

d) que, por várias vezes, recebeu telefonemas de pessoas da Prefeitura Lorena/SP para que

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assinasse o contrato referente à “Feira Regional de Turismo”, porém se negou a assinar;

e) que não tinha conhecimento da existência do empenho emitido para empresa “Globo do Brasil Ltda.” para pagamento da Feira Regional de Turismo;

f) que a empresa “Gustavo Coura - ME” não participou da “Lorenvale” na cidade de Lorena/SP; e

g) que o valor do contrato para a realização da “Lorenvale” foi de R$162.000,00 (cento e sessenta e dois mil reais).

41. Assim, em relação ao pagamento realizado

pela Prefeitura Municipal de Lorena/SP em benefício da

sociedade empresarial “Globo do Brasil Ltda.”, pode-se

estabelecer a seguinte síntese:

a) em 7 de dezembro de 2009, a Prefeitura Municipal de Lorena/SP, utilizando-se dos recursos financeiros depositados na conta vinculada ao convênio n.º 01124/2009 (conta corrente n.º 345024, agência n.º 857-5, Banco do Brasil), efetuou o pagamento da quantia de R$ 81.225,00 (oitenta e um mil, duzentos e vinte e cinco reais) em benefício da sociedade empresarial “Globo do Brasil Ltda.”;

b) que referido valor foi recebido pela sociedade empresarial “Globo do Brasil Ltda.” como pagamento por serviços prestados para a realização do evento “Lorenvale”, que aconteceu entre 10 e 14 de junho de 2009; e

c) que a sociedade empresarial “Globo do Brasil Ltda.” não participou da realização da “Feira Regional do Turismo”.

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DAS TRANSAÇÕES DA PREFEITURA MUNICIPAL DE LORENA/SP COM A

EMPRESA INDIVIDUAL “GUSTAVO COURA GUIMARÃES - ME”

42. No que diz respeito à empresa individual

“Gustavo Coura Guimarães - ME”, cumpre repisar que a

mesma foi a vencedora da carta convite n.º 48/2009 da

Prefeitura Municipal de Lorena/SP para a prestação de serviços

no importe de R$ 76.500,00 (setenta e seis mil e quinhentos

reais) na “Feira Regional de Turismo” que ocorreria entre 2 e 4

de outubro de 2009, processo licitatório que revogado,

conforme já ressaltado nos itens n.º 19 e n.º 20).

43. No entretanto, a certidão expedida pela

Câmara Municipal de Lorena/SP (fls. 214, anexo I) evidencia que,

mesmo diante da não ocorrência da “Feira Regional de

Turismo”, parte dos recursos repassados pelo Ministério do

Turismo por meio do convênio n.º 01124/2009 foram utilizados

para pagamento realizado à empresa individual “Gustavo Coura

Guimarães – ME” no valor de R$ 72.675,00 (setenta e dois mil,

seiscentos e setenta e cinco reais).

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44. Assim, após análise feita pela Câmara

Municipal de Lorena/SP no Boletins de Caixa e Bancos da

Prefeitura Municipal de Lorena/SP referente ao dia 2 de

dezembro de 2009 (fls. 216/223, anexo I) foram feitas as seguintes

constatações:

a) no item BANCOS, as seguintes informações acerca da conta corrente n.º 34502-4 B.B. Minist. do Turismo-Feira Reg. Tu:

i. saldo de R$ 162.041,03 (cento e sessenta e dois mil, quarenta e um reais e três centavos); e

ii. posterior retirada da importância de R$ 72.675,00 (setenta e dois mil, seiscentos e setenta e cinco reais);

b) no item DESPESAS:i. contabilização de despesa orçamentária sob o

empenho n.º 11287/1, tendo como credor a empresa “Gustavo Coura Guimarães - ME” na importância de R$ 76.500,00 (setenta e seis mil e quinhentos reais).

45. Cumpre ressaltar que a conta corrente

indicada no item n.° 44.a é a conta corrente vinculada ao

convênio n.º 01124/2009, o que significa que o pagamento

indicado no parágrafo anterior foi feito com recursos do

convênio em comento.

46. Das declarações prestadas por Gustavo

Coura Guimarães, titular da empresa “Gustavo Coura

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Guimarães – ME”, em 12 de abril de 2010, perante a Comissão

Especial de Inquérito instaurada no âmbito da Câmara

Municipal de Lorena/SP para apuração dos fatos (fls. 501/505, anexo

I), assim como dos documentos por ele apresentados (fls. 506/512,

anexo I), destacam-se as seguintes assertivas:

a) a empresa individual “Gustavo Coura Guimarães – ME” foi responsável pela colocação de material na festa “Lorenvale”, tendo sido subcontratada pela empresa Vale Rodeios, vencedora da carta convite n.º 24/2009 da Prefeitura Municipal de Lorena/SP (contrato a fls. 507/508, anexo I);

b) a lista de materiais e serviços que teriam sido prestados pela empresa individual “Gustavo Coura Guimarães – ME” na qualidade de subcontratada da empresa Vale Rodeios (fls. 509/512, anexo I) são os mesmos constantes do Anexo I da carta convite n.º 48/2009 destinada à “Feira de Regional de Turismo” (fls. 130/133, autos principais);

c) o valor da contratação, nos termos do instrumento apresentado, foi de R$ 76.500,00 (setenta e seis mil e quinhentos reais), o mesmo valor correspondente à proposta vitoriosa da empresa individual “Gustavo Coura Guimarães – ME” na carta convite n.º 48/2009 destinada à “Feira Regional de Turismo”; e

d) a empresa “Gustavo Coura Guimarães – ME” recebeu o valor apontado no item anterior em 2 de dezembro de 2009 diretamente da Prefeitura Municipal de Lorena/SP.

47. Assim, em relação ao pagamento realizado

inquérito civil n.º 1.34.029.000041/2010-21 (ação civil pública por ato de improbidade administrativa) fls. 29/59

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pela Prefeitura Municipal de Lorena/SP em benefício da

empresa individual “Gustavo Coura Guimarães - ME”, pode-se

estabelecer a seguinte síntese:

a) em 2 de dezembro de 2009, a Prefeitura Municipal de Lorena/SP, utilizando-se dos recursos financeiros depositados na conta vinculada ao convênio n.º 01124/2009 (conta corrente n.º 345024, agência n.º 857-5, Banco do Brasil), efetuou o pagamento da quantia de R$ 76.500,00 (setenta e seis mil e quinhentos reais) em benefício da empresa individual “Gustavo Coura Guimarães - ME”;

b) que referido valor foi recebido pela empresa individual “Gustavo Coura Guimarães - ME” como pagamento por serviços prestados para a realização do evento “Lorenvale”, que aconteceu entre 10 e 14 de junho de 2009, na condição de subcontratada da empresa “Vale Rodeios”; e

c) que a empresa individual “Gustavo Coura Guimarães - ME” não participou da realização da “Feira Regional do Turismo”.

DA LORENVALE

48. De acordo com notícias extraídas da internet

(fls. 197/198, autos principais), o evento “Lorenvale” foi realizado entre

os dias 10 e 14 de junho de 2009 na cidade de Lorena/SP.

49. Como já apontado nos itens n.º 40 e n.º 46,

inquérito civil n.º 1.34.029.000041/2010-21 (ação civil pública por ato de improbidade administrativa) fls. 30/59

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os responsáveis pelas empresas “Globo do Brasil Ltda.” e

“Gustavo Coura Guimarães - ME” afirmaram que receberam

pagamentos por serviços prestados pela realização do evento

“Lorenvale”, pagamentos estes feitos com recursos oriundos da

conta vinculada ao convênio convênio n.º 01124/2009,

destinado à realização da “Feira Regional de Turismo”.

50. Foi apresentado por Gustavo Coura

Guimarães o instrumento de subcontratação celebrado em 5 de

junho de 2009 entre a empresa individual “Gustavo Coura

Guimarães – ME” e a sociedade empresarial “Vale Rodeio

Eventos Ltda.” (fls. 507/508, anexo I), documento por meio do qual a

primeira empresa passou a ser responsável pela realização dos

serviços de infraestrutura do evento “Lorenvale”, serviço esse

contratado pela segunda empresa junto à Prefeitura Municipal

de Lorena/SP por meio do processo licitatório n.° 24/2009l, no

valor de R$ 76.500,00 (setenta e seis mil e quinhentos reais).

51. O instrumento de subcontratação

mencionado no parágrafo anterior está vinculado a um anexo no

qual há a indicação dos produtos e serviços a cargo da

subcontratada para a realização do evento “Lorenvale” (fls. 509/512,

inquérito civil n.º 1.34.029.000041/2010-21 (ação civil pública por ato de improbidade administrativa) fls. 31/59

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anexo I).

52. A sociedade empresarial “Vale Rodeio

Eventos Ltda.” encaminhou ofício endereçado à Prefeitura

Municipal de Lorena/SP em 28 de outubro de 2009 autorizando

o pagamento pelos serviços por ela prestados para a realização

do evento “Lorenvale 2009” à empresa individual “Gustavo

Coura Guimarães – ME” (fls. 506, anexo I).

53. Os fatos são claros, bastando destacar os

seguintes pontos de interesse em relação ao liame entre o evento

“Lorenvale” e o pagamento realizado em benefício da empresa

individual “Gustavo Coura Guimarães – ME” com verba

oriunda do convênio n.º 01124/2009, destinado à realização da

“Feira Regional de Turismo”:

a) foi a empresa individual “Gustavo Coura Guimarães – ME” quem prestou serviços para a realização do evento “Lorenvale 2009”, e a Prefeitura Municipal de Lorena/SP havia sido comunicada pela sociedade empresarial “Vale Rodeio Eventos Ltda.” que o pagamento por esses serviços deveria ser feito diretamente à empresa “Gustavo Coura Guimarães – ME”;

b) o valor devido pela prestação de serviços para a realização do evento “Lorenvale 2009” pela empresa “Gustavo Coura Guimarães – ME” (fls. 507, anexo I)

inquérito civil n.º 1.34.029.000041/2010-21 (ação civil pública por ato de improbidade administrativa) fls. 32/59

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é exatamente igual ao valor pago pela Prefeitura Municipal de Lorena/SP à empresa em comento com recursos do convênio n.º 01124/2009, destinado à realização da “Feira Regional de Turismo” (fls. 216/223, anexo I); e

c) o anexo do instrumento de subcontratação da empresa individual “Gustavo Coura Guimarães – ME” que descreve os produtos e serviços necessários para a realização do evento “Lorenvale 2009” (fls. 509/512, anexo I) tem o mesmo conteúdo do termo de referência da carta convite n.° 48/2009 (fls. 161/165, anexo I), que tinha por objeto a realização da “Feira Regional de Turismo”.

54. Comparando a informação juntada aos autos

que diz respeito ao evento “Lorenvale” em 2009 (fls. 197/198, autos

principais), no qual há a relação completa das atrações, com a nota

fiscal n.º 000062 emitida pela sociedade empresarial “Globo do

Brasil Ltda.” em 10 de novembro de 2009, no valor total de R$

85.500,00 (oitenta e cinco mil e quinhentos reais) (fls. 07, autos

principais), conclui-se que:

a) todos os grupos musicais discriminados na nota fiscal emitida em atenção à nota de empenho que foi paga com verba oriunda do convênio n.º 01124/2009, destinado à realização da “Feira Regional de Turismo” (grupo “André & Adriano”, grupo “Renan & Silvier” e grupo “Atitude 4”), apresentaram-se na “Lorenvale”.

55. Assim, as conclusões destacadas nos itens n.°

53 e n.° 54 revelam que:

inquérito civil n.º 1.34.029.000041/2010-21 (ação civil pública por ato de improbidade administrativa) fls. 33/59

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a) o convênio n.º 01124/2009, destinado à realização da “Feira Regional de Turismo”, foi celebrado para cobrir as despesas do evento “Lorenvale” que ainda não haviam sido pagas.

QUADRO GERAL QUANTO AO EMPREGO DAS VERBAS ORIUNDAS DO

CONVÊNIO N.º 01124/2009

56. Pode-se estabelecer a seguinte síntese global

em relação aos fatos sob investigação:

a) entre os dias 10 e 14 de junho de 2009, a Prefeitura Municipal de Lorena/SP realizou o evento denominado “Lorenvale”, evento esse no qual houve a apresentação de grupos musicais e foi implementada um estrutura completa para atender os participantes do evento em comento;

b) para a realização do evento “Lorenvale”, a Prefeitura Municipal contratou as sociedades empresariais “ Globo do Brasil Ltda. ” e “Vale Rodeio Eventos Ltda.”, sendo que esta última subcontratou a empresa individual “ Gustavo Coura Guimarães – ME ” ;

c) em 13 de agosto de 2009, o Prefeito Municipal de Lorena/SP, Paulo César Neme , autorizou a instauração de procedimento licitatório, na modalidade convite, para a contratação de empresa especializada para a realização da “Feira Regional de Turismo”, de 2 a 4 de outubro de 2009;

d) na mesma data, ou seja, em 13 de agosto de 2009, a Secretária de Governo Jurema Vianna assinou termo de declaração de que as despesas relativas à “Feira Regional de Turismo”, que seria realizada de 2 a 4 de outubro de 2009, seriam atendidas, em grande parte

inquérito civil n.º 1.34.029.000041/2010-21 (ação civil pública por ato de improbidade administrativa) fls. 34/59

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(R$ 140.000,00 de um total de R$ 162.000,00) por verba oriunda de convênio celebrado coma União;

e) em 26 de agosto de 2009, a empresa individual “Gustavo Coura Guimarães - ME” foi declarada vencedora da carta convite n.º 48/2009 que tinha por objeto a realização da “Feira Regional de Turismo”, de 2 a 4 de outubro de 2009;

f) em 25 de setembro de 2009, a Secretária de Governo da Prefeitura Municipal de Lorena/SP Jurema Viana emitiu um comunicado ao Prefeito Paulo César Neme no qual estava consignado que as verbas federais destinadas à realização da “Feira Regional de Turismo” ainda não haviam sido disponibilizadas, razão pela qual o referido evento deveria ser cancelado;

g) em 28 de setembro de 2009, o Prefeito Paulo César Neme, com base da informação acima mencionada, revogou da carta convite n.º 48/2009 que tinha por objeto a realização da “Feira Regional de Turismo”;

h) na mesma data em que revogou o processo licitatório sob o fundamento de que a verba federal prevista para a realização da “Feira Regional de Turismo” não havia sido disponibilizada, a Prefeitura Municipal de Lorena/SP contratou a empresa “ Globo do Brasil Ltda. ” , sem qualquer processo licitatório ou de dispensa ou inexigibilidade de licitação, para a realização de shows para a “Feira Regional de Turismo”;

i) em 1° de outubro de 2009, a Prefeitura Municipal de Lorena/SP protocolizou proposta de convênio com o Ministério do Turismo para a realização da “Feira Regional do Turismo”;

j) em 2 de outubro de 2009, após uma sucessão vertiginosa de atos administrativos, a Prefeitura Municipal de Lorena/SP e o Ministério do Turismo celebraram o convênio n.° 01124/2009 (SIAF n.º 705817) com o objetivo de realizar o evento “Feira Regional de Turismo” no período de 2 a 4 de outubro de 2009; e

inquérito civil n.º 1.34.029.000041/2010-21 (ação civil pública por ato de improbidade administrativa) fls. 35/59

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k) não foi realizado o evento “Feira Regional de Turismo”, que era o objeto do convênio n.° 01124/2009 e que estava previsto para ocorrer entre 2 e 4 de outubro de 2009, fato que só foi comunicado ao órgão convenente (Ministério do Turismo) em 19 de abril de 2010;

l) em 5 de novembro de 2009 os recursos federais relacionados ao convênio n.° 01124/2009 (SIAF n.º 705817), no montante de R$ 140.000,00 (cento e quarenta mil reais), foram depositados na conta vinculada ao referido convênio (Banco do Brasil, agência n.° 857-5, conta corrente n.° 345024).

m) em 2 de dezembro de 2009, a Prefeitura Municipal de Lorena/SP, utilizando-se dos recursos financeiros depositados na conta vinculada ao convênio n.º 01124/2009 (conta corrente n.º 345024, agência n.º 857-5, Banco do Brasil), efetuou o pagamento da quantia de R$ 76.500,00 (setenta e seis mil e quinhentos reais) em benefício da empresa individual “ Gustavo Coura Guimarães - ME ” ;

n) a empresa individual “ Gustavo Coura Guimarães - ME ” recebeu o pagamento acima indicado por serviços prestados para a realização do evento “Lorenvale”, que aconteceu entre 10 e 14 de junho de 2009, na condição de subcontratada da empresa “Vale Rodeios”;

o) em 7 de dezembro de 2009, a Prefeitura Municipal de Lorena/SP, utilizando-se dos recursos financeiros depositados na conta vinculada ao convênio n.º 01124/2009 (conta corrente n.º 345024, agência n.º 857-5, Banco do Brasil), efetuou o pagamento da quantia de R$ 81.225,00 (oitenta e um mil, duzentos e vinte e cinco reais) em benefício da sociedade empresarial “ Globo do Brasil Ltda. ” ;

p) a sociedade empresarial “ Globo do Brasil Ltda. ” recebeu o pagamento acima indicado por serviços prestados para a realização do evento “Lorenvale”, que aconteceu entre 10 e 14 de junho de 2009;

inquérito civil n.º 1.34.029.000041/2010-21 (ação civil pública por ato de improbidade administrativa) fls. 36/59

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q) com o fim da vigência do convênio n.° 01124/2009, o Ministério do Turismo, em 24 de março de 2010, cobrou da Prefeitura de Lorena/SP a apresentação da prestação de contas do referido convênio;

r) em ofício datado de 15 de dezembro de 2009, mas que foi recebido apenas em 19 de abril de 2010, a Prefeitura Municipal de Lorena/SP informou o cancelamento da “Feira Regional de Turismo”, evento que era o objeto do convênio n.° 01124/2009 (SIAF n.º 705817), oportunidade em que informou que os recursos do convênio em comento estavam depositados em conta bancária da Prefeitura e solicitou o emprego destes recursos para outra finalidade, pedido este que foi negado pelo Ministério do Turismo; e

s) ante a não realização da “Feira Regional de Turismo”, objeto do convênio n.° 01124/2009 (SIAF n.º 705817), o Ministério do Turismo solicitou à Prefeitura Municipal de Lorena/SP a restituição da verba federal relacionada, devidamente corrigida, o que foi atendido em 28 de maio de 2010 e que implicou na aprovação da prestação de contas em 14 de junho de 2010.

57. Em conclusão final, tem-se que:

a) a Prefeitura Municipal de Lorena/SP celebrou o convênio n.° 01124/2009 com o Ministério do Turismo com o objetivo formal de realizar o evento “Feira Regional de Turismo”, de 2 a 4 de outubro de 2009, mas com a intenção oculta de empregar as verbas do referido convênio para destino diverso do acertado, qual seja, para efetuar o pagamento de empresas que haviam realizado o evento “Lorenvale”;

b) o evento “Feira Regional do Turismo”, objeto do convênio n.° 01124/2009, não foi realizado, fato que só foi comunicado ao Ministério do Turismo em 19 de abril de 2010, ou seja, mais de seis meses após a

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data em que o evento em comento deveria ter sido realizado e após o final do prazo de vigência do referido convênio;

c) com a disponibilização das verbas federais do convênio n.° 01124/2009, destinadas à realização da “Feira Regional de Turismo”, a Prefeitura Municipal de Lorena/SP, sem a realização de qualquer procedimento licitatório e sem a formalização de procedimentos de dispensa ou inexigibilidade de licitação, efetuou o pagamento das quantias de R$ 76.500,00 (setenta e seis mil e quinhentos reais) e de R$ 81.225,00 (oitenta e um mil, duzentos e vinte e cinco reais), em benefício, respectivamente, da empresa individual “Gustavo Coura Guimarães – ME” e da sociedade empresarial “Globo do Brasil Ltda.”, pagamentos estes feitos, em verdade, em contrapartida pela realização do evento “Lorenvale”; e

d) assim, a Prefeitura Municipal de Lorena/SP, em uma fraude planejada desde a celebração do convênio n.° 01124/2009, desviou verba pública federal por meio de seu emprego em finalidade diversa daquela prevista no instrumento do convênio e sem a observância de procedimento licitatório.

FUNDAMENTOS JURÍDICOS

58. A Constituição Federal, no capítulo

pertinente à Administração Pública, estabeleceu que os atos de

improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos

políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos

bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas

em lei, sem prejuízo da ação penal cabível (artigo 37, §4º, da

Constituição Federal).inquérito civil n.º 1.34.029.000041/2010-21 (ação civil pública por ato de improbidade administrativa) fls. 38/59

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59. A fim de dar concreção ao preceptivo

constitucional em comento, veio a lume a Lei n.º 8.429/92, que

dispôs sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos, ou a

quem com eles compactue ou se beneficie, nos casos de

improbidade no exercício de mandato, cargo, emprego ou

função na administração pública direta, indireta ou fundacional.

60. Com afeito, mencionada lei contemplou,

basicamente, três categorias de atos de improbidade

administrativa: a) atos de improbidade administrativa que

importam enriquecimento ilícito; b) atos de improbidade

administrativa que causam prejuízo ao erário; e c) atos de

improbidade administrativa que atentam contra os princípios da

administração pública (respectivamente, artigo 9º, artigo 10 e

artigo 11, todos da Lei n.º 8.429/92).

DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA PRATICADOS PELOS RÉUS

QUE CAUSARAM LESÃO AO ERÁRIO

61. De acordo com o relatado nos itens n.º 2 a

n.º 57, seguindo o conteúdo dos autos principais deste inquérito

inquérito civil n.º 1.34.029.000041/2010-21 (ação civil pública por ato de improbidade administrativa) fls. 39/59

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civil e do anexo I, Paulo César Neme, na qualidade de Prefeito

do Município de Lorena/SP, praticou as seguintes

irregularidades:

a) com o objetivo oculto de cobrir despesas do evento “Lorenvale”, ocorrido entre os dias 10 e 14 de junho de 2009, firmou o convênio n.º 01124/2009 (SIAF n.º 705817) com o Ministério do Turismo para a realização da “Feira Regional de Turismo” no Município de Lorena/SP mesmo após o cancelamento deste evento, motivando o repasse de recursos federais pelo Ministério do Turismo ao Município no importe de R$ 140.000,00 (cento e quarenta mil reais);e

b) ordenou a realização de despesas para pagamento de empresas mediante o desvio de recursos provenientes do convênio n.º 01124/2009 (SIAF n.º 705817) assim discriminadas:

i. pagamento feito à entidade empresarial “Globo do Brasil Ltda.” no valor de R$ 81.225,00 (oitenta e um mil, duzentos e vinte e cinco reais), supostamente em contrapartida a falsas despesas referentes à realização do evento “Feira Regional de Turismo”, evento que já havia sido cancelado por iniciativa da própria Prefeitura Municipal de Lorena/SP, mas que tinha por finalidade o pagamento de despesas referentes à realização do evento “Lorenvale”;e

ii. pagamento feito à entidade empresarial “Gustavo Coura Guimarães – ME” no valor de R$ 72.675,00 (setenta e dois mil, seiscentos e setenta e cinco reais), supostamente em contrapartida a falsas despesas referentes à realização do evento “Feira Regional de Turismo”, evento que já havia sido cancelado por iniciativa da própria Prefeitura Municipal de Lorena/SP, mas que tinha por finalidade o pagamento de despesas referentes à realização do evento “Lorenvale”.

62. Germano Constantino Batista e Bruno inquérito civil n.º 1.34.029.000041/2010-21 (ação civil pública por ato de improbidade administrativa) fls. 40/59

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César de Santi, na qualidade de administradores da entidade

empresarial “Globo do Brasil Ltda.” praticaram a seguinte

irregularidade:

a) receberam indevidamente, em nome da empresa “Globo do Brasil Ltda.”, o valor de R$ 81.225,00 (oitenta e um mil, duzentos e vinte e cinco reais) oriundo do convênio n.º 01124/2009, supostamente em contrapartida a falsas despesas referentes à realização do evento “Feira Regional de Turismo”, evento que já havia sido cancelado por iniciativa da própria Prefeitura Municipal de Lorena/SP, mas que tinha por finalidade o pagamento de despesas referentes à realização do evento “Lorenvale”.

63. Gustavo Coura Guimarães, na qualidade

de titular da entidade empresarial “Gustavo Coura Guimarães–

ME”, praticou seguinte irregularidade:

a) recebeu indevidamente, em nome da empresa individual “Gustavo Coura Guimarães – ME ” o valor de R$ 72.675,00 (setenta e dois mil, seiscentos e setenta e cinco reais) oriundo do convênio n.º 01124/2009, supostamente em contrapartida a falsas despesas referentes à realização do evento “Feira Regional de Turismo”, evento que já havia sido cancelado por iniciativa da própria Prefeitura Municipal de Lorena/SP, mas que tinha por finalidade o pagamento de despesas referentes à realização do evento “Lorenvale”.

64. A conduta descrita na letra “a”, do item n.º

61 caracteriza o ato de improbidade administrativa previsto no

inquérito civil n.º 1.34.029.000041/2010-21 (ação civil pública por ato de improbidade administrativa) fls. 41/59

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caput do artigo 10 da Lei n.º 8.429/92, ao passo que as condutas

descritas na letra “b” do item n.º 61, “a” do item n.º 62 e “a” do

item n.º 63 caracterizam o ato de improbidade administrativa

previsto no artigo 10, inciso XII, da Lei n.º 8.429/92, porquanto

Paulo César Neme, na condição de Prefeito Municipal de

Lorena/SP, concorreu para que Germano Constantino Batista

e Bruno César de Santi, na qualidade de proprietários da

entidade empresarial “Globo do Brasil Ltda.”, assim como

Gustavo Coura Guimarães, na qualidade de titular da entidade

empresarial “Gustavo Coura Guimarães–ME”, enriquecessem

ilicitamente.

65. Cumpre destacar, preliminarmente, que o

exercício da função pública exige a aplicação restrita das regras

da administração pública com o objetivo único de satisfazer o

interesse público. Partindo dessa premissa, o trato com o

dinheiro público pressupõe, por óbvio, restrita observância dos

dispositivos legais e regulamentares para que os recursos

públicos sejam empregados adequadamente ao cumprimento da

finalidade proposta que, no caso, era a realização da “Feira

Regional de Turismo”.

inquérito civil n.º 1.34.029.000041/2010-21 (ação civil pública por ato de improbidade administrativa) fls. 42/59

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66. Nesse quadro, a violação de normas relativas

ao trato do erário tem como consequência imediata e inafastável

a frustração do interesse público e o prejuízo patrimonial. Isso

porque, na administração pública, a ilegalidade no uso do

dinheiro público repercute negativamente no patrimônio

público, o que se traduz em prejuízo ao erário.

67. Wallace Paiva Martins Júnior leciona que2:

“(...) Para a lei, lesão ao erário é qualquer das condutas explicitas no art. 10, caput: perda, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação, por ação ou omissão, dolosa ou culposa. A tônica central do art. 10 é fornecida pela compreensão da noção de perda patrimonial, que é o efeito do ato comissivo ou omissivo do agente, e expressa-se na redução ilícita de valores patrimoniais. A ilicitude (aqui compreendida a imoralidade) é traço essencial à lesividade. Esta é corolário daquela por força de presunção legal absoluta, que nada interfere na mensuração do dano. (...)”

68. Deve-se atentar que todas as condutas lesivas

ao patrimônio descritas no item n.º 53 foram praticadas pelo

Prefeito Municipal de Lorena/SP Paulo César Neme. As

irregularidades constantes na letra “b” do item n.º 53 foi

praticada pelo Prefeito Municipal de Lorena/SP Paulo César

Neme em concurso com Germano Constantino Batista e 2 Probidade Administrativa, 2ª Edição - 2002, Editora Saraiva, página 238inquérito civil n.º 1.34.029.000041/2010-21 (ação civil pública por ato de improbidade administrativa) fls. 43/59

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Bruno César de Santi, administradores da sociedade

empresarial “Globo do Brasil Ltda.”, assim como com Gustavo

Coura Guimarães, titular da empresa individual “Gustavo

Coura Guimarães– ME”, conforme descrito nos itens n.º 54 e

n.º 55, respectivamente.

69. O desvirtuamento do destino legal da verba

pública federal disponibilizada para a Prefeitura Municipal de

Lorena/SP por meio do convênio convênio n.º 01124/2009

(SIAF n.º 705817) culminou com um efetivo prejuízo ao erário

no montante de R$ 152.837,93 (cento e cinquenta e dois mil,

oitocentos e trinta e sete reais e noventa e três centavos),

prejuízo esse que, em um primeiro momento afetou a União

porque envolveu o malbaratamento de verba pública federal e,

em momento posterior, afetou as finanças do Município de

Lorena/SP, o que ocorreu com a devolução integral e corrigida

da verba federal repassada por meio do convênio em comento.

70. O que se pode observar, por fim, é que as

condutas dolosas (comissivas e omissivas) caracterizadas pelo

desvio de dinheiro público deram causa a efetivo prejuízo ao

erário nos termos do disposto no artigo 10, caput, e inciso XII,

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da Lei n.° 8.429/92, combinado com o artigo 3º do mesmo

dispositivo legal.

DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA PRATICADOS PELO RÉU QUE VIOLARAM PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

71. No mais, há que se notar que a gestão

fraudulenta dos recursos transferidos em 2009 pelo Ministério

do Turismo ao Município de Lorena/SP que eram destinados à

execução do convênio n.° 01124/2009 (SIAF n.º 705817) violou

os princípios da legalidade, da moralidade, da honestidade e da

lealdade.

72. De acordo com o princípio de legalidade,

deve o administrador público limitar-se à estrita obediências dos

mandamentos legais e regulamentares. Os deveres de lealdade e

de honestidade do agente público no exercício de suas funções é

reflexo da moralidade, sendo esta o suporte lógico da atividade

ética da administração pública. Nesse sentido, estando o

indivíduo investido em cargo ou em função pública, seus atos,

como representante do ente administrativo, deverão ter como

fim precípuo o interesse público.

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73. Assim, o agente público desleal ou desonesto

na execução de atos administrativos torna-os, quando não

inválidos, viciados pela ausência do fim público para o qual são

destinados. Eis o espírito do princípio da moralidade na

administração pública.

74. Demonstrando a importância dos princípios

e a necessidade de respeitá-los, ensina Celso Antônio Bandeira

de Mello que3:

“Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra”.

75. Assim, no que se refere à violação aos

princípios da administração pública, dispõe o artigo 11 da Lei

n.º 8.429/92, in verbis:

Art. 11- Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de

3 Bandeira de Mello, C. A., Elementos de Direito Administrativo. São Paulo: RT, 1980. p. 230inquérito civil n.º 1.34.029.000041/2010-21 (ação civil pública por ato de improbidade administrativa) fls. 46/59

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honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições, e notadamente:

76. Dessa forma, somando-se às condutas

descritas nas letras “a” e “b” do item n.º 61, tendo como

suporte, da mesma forma, o conteúdo dos autos principais deste

inquérito civil e do anexo I, Paulo César Neme, na qualidade de

Prefeito do Município de Lorena/SP, e responsável pela gestão e

administração dos recursos federais transferidos pelo Ministério

do Turismo no ano de 2009 por força do convênio n.º

01124/2009 (SIAF n.º 705817), praticou as seguintes

irregularidades:

a) firmou o convênio n.º 01124/2009 (SIAF n.º 705817) com o Ministério do Turismo para a realização da “Feira Regional de Turismo” no Município de Lorena/SP mesmo após o cancelamento do evento, motivando, de forma fraudulenta, o repasse de recursos federais pelo Ministério do Turismo ao Município no importe de R$ 140.000,00 (cento e quarenta mil reais);e

b) ordenou a realização de despesas para pagamento de empresas mediante o desvio de recursos provenientes do convênio n.º 01124/2009 (SIAF n.º 705817);

c) após a utilização irregular dos recursos do convênio para despesas de serviços não realizados, solicitou ao Ministério do Turismo seu redirecionamento informando, de forma inverídica, que os valores permaneciam depositados em conta da Prefeitura.

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77. O Prefeito de Lorena/SP Paulo César

Neme violou o princípio de legalidade ao praticar as condutas

descritas nas letras “a” e “b” do item n.º 61, agindo de forma

absolutamente divorciada das determinações impostas no artigo

116, § 1º, incisos I a VII, da Lei 8.666/93, assim disposto:

Art. 116. Aplicam-se as disposições desta Lei, no que couber, aos convênios, acordos, ajustes e outros instrumentos congêneres celebrados por órgãos e entidades da Administração. §1º A celebração de convênio, acordo ou ajuste pelos órgãos ou entidades da Administração Pública depende de prévia aprovação de competente plano de trabalho proposto pela organização interessada, o qual deverá conter, no mínimo, as seguintes informações: I - identificação do objeto a ser executado; II - metas a serem atingidas; III - etapas ou fases de execução; IV - plano de aplicação dos recursos financeiros; V - cronograma de desembolso; VI - previsão de início e fim da execução do objeto, bem assim da conclusão das etapas ou fases programadas;VII - se o ajuste compreender obra ou serviço de engenharia, comprovação de que os recursos próprios para complementar a execução do objeto estão devidamente assegurados, salvo se o custo total do empreendimento recair sobre a entidade ou órgão descentralizador.

78. Nesse sentido, a violação ao princípio da

legalidade acima expresso não decorreu de sua omissão em seguir

os requisitos expressos na norma acima porquanto todo o inquérito civil n.º 1.34.029.000041/2010-21 (ação civil pública por ato de improbidade administrativa) fls. 48/59

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procedimento submetido ao órgão concedente estava

formalmente em ordem, mas da sua conduta comissiva

consistente na assinatura do convênio com o Ministério do

Turismo em 2 de outubro de 2009 tendo plena ciência de que o

objeto do plano de trabalho anteriormente apresentado e

aprovado pelo órgão concedente não seria executado .

79. Consequentemente, Paulo César Neme, ao

ordenar a utilização dos valores repassados pelo Ministério do

Turismo para pagamentos de serviços que não foram prestados

pelas entidades empresariais o fez com desvio de finalidade já

que não atingiu, de forma recíproca, o interesse pretendido e

esperado pelo Ministério do Turismo ao firmar o respectivo

convênio.

80. Nesse sentido também violou o disposto na

Portaria Interministerial MPOG/MF/CGU n.º 127/08, artigo

1º, inciso VI, que dispõe:

VI – convênio – acordo ou ajuste que discipline a transferência de recursos financeiros de dotações consignadas nos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União e tenha como partícipe, de um lado, órgão ou entidade da administração pública federal, direta ou indireta, e, de outro lado, órgão ou entidade da

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administração pública estadual, distrital ou Municipal, direta ou indireta, ou ainda, entidades privadas sem fins lucrativos, visando à execução de programa de governo, envolvendo a realização de projeto, atividade, serviço, aquisição de bens ou evento de interesse recíproco, em regime de mútua cooperação”.

81. Notadamente, a formalização do convênio

n.º 01124/2009 (SIAF n.º 705817) e seu necessário desfecho

burocrático no âmbito do órgão concedente (análise da proposta

do plano de trabalho, emissão de pareceres, elaboração do termo

do convênio, assinatura, empenho do valor, emissão de ordem

bancária etc) afetou, além do disposto nas normas acima

expressas, a própria Lei de Diretrizes Orçamentárias da União

editada para o exercício de 2009 (Lei n.º 11.768/2008), na

medida em que acarretou à União a descentralização de recursos

federais ao Município de Lorena/SP que poderiam ser

dispensados para a execução outro evento, programa de

governo, projeto, atividade, serviço ou mesmo aquisição de bens

a fim de atender ao real interesse público da localidade ou de

outro entre interessado.

82. Ademais, as irregularidades dispostas no

item 61, assim como as todas as condutas descritas no item n.º

76, caracterizam evidente violação aos princípios da moralidade,

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lealdade e da honestidade, já que contraria os padrões éticos

esperados de um gestor público e revela sua completa ma-fé

administrativa.

83. De feito, Paulo César Neme, de forma

fraudulenta, deu causa à descentralização de recursos da União

mediante conduta desonesta e desleal na medida em que

movimentou administração pública federal, conforme já

ressaltado anteriormente, de modo a obter os valores

correspondentes a parcela do Ministério do Turismo, repita-se,

mesmo ciente de que o objeto do convênio firmado não seria

executado.

84. Não bastasse referida conduta ímproba, o

desvio dos recursos da União para pagamento de serviços não

correspondentes ao objeto do convênio em comento revigora a

imoralidade administrativa do gestor e, enfim, consolida-se pela

prestação de informação inverídica ao Ministério do Turismo no

instante em que requereu o redirecionamento dos recursos

federais mesmo já os tendo utilizado indevidamente, afirmando

falsamente que os valores encontravam-se em conta do

Município de Lorena/SP.

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85. Assim, em conclusão, as condutas descritas

no item n.º 61 e no item n.º 68, praticadas por Paulo César

Neme malferiram os deveres de legalidade, de lealdade e de

honestidade, com infração ao disposto no artigo 11 da Lei n.º

8.429/92.

DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL PARA O PROCESSO E

JULGAMENTO DA PRESENTE AÇÃO CIVIL PÚBLICA

86. Apesar do Ministério Público Estadual ter

promovido ação civil pública por ato de improbidade

administrativa que violou os princípios da administração pública

que foi distribuída para a 2a Vara da Comarca de Lorena/SP e

autuada sob o n.° 01.02.2010/000831, é patente que, pelo fato

dos recursos que foram objeto de desvio e malbaratamento

terem sido repassados ao Município de Lorena/SP mediante

convênio celebrado com a União, a competência é da Justiça

Federal, e não da Justiça Estadual, que detém competência

residual.

87. A Constituição Federal, em seu artigo 109,

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inciso I, define que compete à Justiça Federal as causas em que a

União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem

interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou

oponentes, exceto as de falência, as de acidente de trabalho e as

sujeitas à Justiça Eleitoral, bem como a disputa sobre direitos

indígenas.

88. Neste quadro, nota-se que a competência

cível da Justiça Federal é essencialmente ratione personae (inciso

I do artigo 109), isto é, ocorre com a presença da União, de

entidade autárquica federal ou de empresa pública federal na

qualidade de autoras, rés, assistentes ou oponentes, desde que

tenham interesse na causa.

89. Quanto à questão dos entes que tem

capacidade para ingressar em uma lide na condição de autores,

réus, intervenientes ou oponentes, é interessante apontar o

Ministério Público como órgão estatal dotado de capacidade

processual na defesa de determinadas categorias de direitos.

90. Portanto, são dois os fatores que,

conjugados, induzem a competência da Justiça Federal nos

processos cíveis: de um lado, um interesse - patrimonial ou não -

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de natureza federal, posto em uma demanda e, de outro lado, o

ingresso, na qualidade de autor, réu, assistente ou oponente, e na

defesa deste interesse, de um ente que goze de capacidade

processual e que represente, legitimamente, a administração

pública direta federal ou entidades autárquicas ou empresas

públicas federais.

91. No caso dos autos, os recursos que foram

objeto de malversação são federais cuja fiscalização coube ao

órgão convenente (Ministério do Turismo), ou seja, a

fiscalização da regular aplicação dos recursos federais e da

execução do convênio coube à União, o que torna claro seu

interesse na presente ação e, por consequência, a competência da

Justiça Federal para o processo e julgamento de ação civil

pública relativa a tais recursos.

92. Anote-se ainda que os recursos que foram

malversados não foram incorporados ao patrimônio do

Município de Lorena/SP , porquanto os atos caracterizadores de

improbidade administrativa ocorreram, no desfecho da atividade

ímproba, com a movimentação de dinheiro depositado na conta

corrente vinculada ao convênio, o que significa que seu emprego

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não está ao alvedrio dos interesses do Município, mas em estrita

obediência ao objeto do convênio, que atende interesse federal, e

sua fiscalização compete ao órgão convenente e, caso seja

necessário, ao Tribunal de Contas da União. Tal tem sido o

entendimento dos Tribunais, conforme ilustrado nos julgados

abaixo:

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. O interesse jurídico da União Federal no feito caracteriza-se pelo repasse de verbas federais ao município para a execução do Programa Nacional de Alimentação Escolar e pela sua competência, materializada na atuação do FNDE e TCU, para a fiscalização da utilização dos respectivos recursos. (TRF4, AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 2008.04.00.025458-6/RS; RELATORA : Des. Federal MARGA INGE BARTH TESSLER; D.E.14/10/2008)

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. COMPETÊNCIA. VERBAS FEDERAIS DESTINADAS AO PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA. REPASSE AO MUNICÍPIO. SELEÇÃO E CONTRATAÇÃO DE FARMACÊUTICO. IRREGULARIDADES. ENVOLVIMENTO DE PREFEITO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. As verbas destinadas ao Programa Saúde da Família, transferidas pela União, não se incorporam ao caixa do município, pois o repasse ocorre fundo a fundo, ou seja, saem do Fundo Nacional da Saúde e ingressam no Fundo Municipal da Saúde, impedindo a sua utilização para fim diverso do da prestação de saúde à população, sendo contabilizada e administrada em conta apartada do caixa das receitas comuns, razão pela qual é competente a Justiça Federal para o processamento e julgamento de ação de improbidade administrativa

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contra o respectivo prefeito, nos termos da Súmula 208 do Superior Tribunal de Justiça. (TRF4, AG 2006.04.00.023817-1, Terceira Turma, Relator Luiz Carlos de Castro Lugon, DJ 29/11/2006) (grifou-se)

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. O interesse jurídico da União Federal no feito caracteriza-se pelo repasse de verbas federais ao município para a execução do Programa Nacional de Alimentação Escolar e pela sua competência, materializada na atuação do FNDE e TCU, para a fiscalização da utilização dos respectivos recursos. (TRF4, AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 2008.04.00.025458-6/RS; RELATORA : Des. Federal MARGA INGE BARTH TESSLER; D.E.14/10/2008)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. ADMINSTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. EX-PREFEITO. DESVIO DE VERBAS FEDERAIS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. Compete à Justiça Federal o processamento e julgamento de feitos em que se aprecia a malversação de recursos sujeitos à fiscalização do Tribunal de Contas da União, repassados a Municípios por força de convênio, hipótese dos autos. (TRF4, AG 2007.04.00.002483-7, Quarta Turma, Relator Valdemar Capeletti, D.E. 14/05/2007).

93. Assim, pelo fato da verba que foi objeto dos

atos de improbidade descritos ser federal, não ter sido

incorporada ao patrimônio do Município de Lorena/SP e estar

sua aplicação sujeita à fiscalização por órgão federal, a Justiça

Federal é a competente para julgar e processar a presente ação

civil pública.

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DOS PEDIDOS

94. Ante o exposto, o Ministério Público

Federal, pelo procurador da República signatário, requer:

a) seja a presente petição inicial autuada e registrada, ordenando-se a notificação de Paulo César Neme, de Germano Constantino Batista, de Bruno César de Santi, da sociedade empresarial “Globo do Brasil Ltda.”, de Gustavo Coura Guimarães e da empresa individual “Gustavo Coura Guimarães - ME” para responderem por escrito, no prazo de 15 (quinze) dias;

b) após, seja a presente petição inicial recebida, determinando-se a citação dos réus Paulo César Neme, Germano Constantino Batista, Bruno César de Santi, sociedade empresarial “Globo do Brasil Ltda.”, Gustavo Coura Guimarães e empresa individual “Gustavo Coura Guimarães - ME” para se defenderem sob pena de revelia, determinado-se, ainda, a citação da União, na pessoa de seus representantes legais, a fim de que, querendo, integrem o polo ativo da relação jurídica processual, nos termos do §3º, do artigo 17, da Lei 8.429/92; e

c) sejam os réus Paulo César Neme, Germano Constantino Batista, Bruno César de Santi, sociedade empresarial “Globo do Brasil Ltda.”, Gustavo Coura Guimarães e empresa individual “Gustavo Coura Guimarães - ME” condenados cumulativamente nas sanções fixadas no artigo 12, incisos II e III, da Lei n.º 8.429/92, a saber:

i. ressarcimento integral do dano;ii. perda da função pública que porventura os réus

Paulo César Neme, Germano Constantino Batista, Bruno César de Santi, e Gustavo Coura

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Guimarães estejam exercendo à época da sentença;

iii. suspensão dos direitos políticos dos réus Paulo César Neme, Germano Constantino Batista, Bruno César de Santi, e Gustavo Coura Guimarães pelo período de 5 (cinco) a 8 (oito) anos;

iv. pagamento de multa civil no valor atualizado correspondente a 2 (duas) vezes a remuneração percebida, quantia essa a ser posteriormente apurada e liquidada na fase instrutória; e

v. proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, por um período de 5 (cinco) anos.

95. Protesta-se, ainda, pela produção de provas

por todos os meios em direito admitidos, especialmente pelos

documentos contidos nos autos do presente inquérito civil.

96. Dá-se à causa o valor de R$152.837,93 (cento

e cinquenta e dois mil, oitocentos e trinta e sete reais e noventa e

três centavos)

97. Nestes termos, pede e espera deferimento.

Guaratinguetá, 24 de maio de 2011.

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Adjame Alexandre Gonçalves de Oliveira

Procurador da República

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