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São Paulo R. Pe. João Manuel 755 19º andar Jd Paulista | 01411-001 Tel.: 55 11 3060-3310 Fax: 55 11 3061-2323 Rio de Janeiro R. Primeiro de Março 23 Conj. 1606 Centro| 20010-904 Tel.: 55 21 3852-8280 Brasília SAS Quadra 1 Bloco M Lote 1 Ed. Libertas Conj. 1009 Asa Sul | 70070-935 Tel./Fax: 55 61 3326-9905 www.teixeiramartins.com.br EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 13ª VARA FEDERAL CRIMINAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE CURITIBA/PR. Incidente de Falsidade nº 5043015-38.2017.4.04.7000/PR LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, já qualificado nos autos do procedimento incidental em epígrafe, cujos trâmites se dão por esse Juízo, vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por seus advogados abaixo assinados, em atendimento à determinação constante do evento 65, apresentar suas ALEGAÇÕES FINAIS com supedâneo no artigo 145, inciso II do Código de Processo Penal e demais artigos de regência, nos termos que passa a expor a seguir.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 13ª VARA · nos recibos de 2015, em seu leito hospitalar; (iii) a planilha, em tese encontrada na casa de Luiz Inácio Lula da Silva,

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 13ª VARA

FEDERAL CRIMINAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE CURITIBA/PR.

Incidente de Falsidade nº 5043015-38.2017.4.04.7000/PR

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, já qualificado nos autos do

procedimento incidental em epígrafe, cujos trâmites se dão por esse Juízo, vem,

respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por seus advogados abaixo assinados,

em atendimento à determinação constante do evento 65, apresentar suas

ALEGAÇÕES FINAIS

com supedâneo no artigo 145, inciso II do Código de Processo Penal e demais artigos

de regência, nos termos que passa a expor a seguir.

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I – SÍNTESE FÁTICA

Em 14.12.2016 o Ministério Público Federal ofereceu denúncia

em desfavor do Arguído imputando-lhe os delitos de corrupção passiva e lavagem de

dinheiro. A denúncia foi recebida em 19.12.2016.

Segundo a narrativa ministerial, supostos valores arrecadados

através de esquema de corrupção no âmbito da Petrobrás teriam sido empregados na

compra de um imóvel no valor de R$ 12.422.000,00, localizado na Rua Haberbeck

Brandão nº 178, São Paulo/SP, e outro, no valor de R$ 504.000,00, localizado na

Avenida Francisco Prestes Maia, nº 1.501, São Bernardo do Campo/SP.

No que aqui interessa, o apartamento situado em São Bernardo do

Campo/SP, foi ele adquirido por Glaucos da Costamarques com recursos próprios, em

2010, o qual, posteriormente, celebrou contrato de locação com a falecida esposa do

Arguído, D. Marisa Letícia Lula da Silva, pacto ex locato este que foi artificialmente

apontado pelo Ministério Público Federal – em verdadeiro devaneio acusatório – como

ideologicamente falso.

Ao longo de toda a instrução processual, sustentou o MPF a ficta

falsidade do aludido contrato de locação, sendo certo que, durante o interrogatório do

Arguído, realizado em 13.09.2017, este Juízo e o Ministério Público Federal

promoveram inúmeros e insistentes questionamentos acerca da localização dos recibos

relativos aos pagamentos mensais da referida locação, recomendando a sua imediata

juntada aos autos.

Em atenção a tal recomendação, o Arguído determinou que

fossem buscados e encontrados tais recibos – visto que sua falecida esposa era a pessoa

que cuidava das finanças do casal – logrando, enfim, localizá-los. Assim, é que em

25.09.2017, apresentou, na fase de diligências complementares disciplinada no artigo

402 do Código de Processo Penal, o instrumento de contrato de locação

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acompanhado de recibos de alugueis referentes ao período de 2011 a 20151, todos

firmados por Glaucos da Costamarques, comprovando inequivocamente a legítima

relação contratual estabelecida entre ele e D. Marisa Letícia.

Inconformado em ver sua tese acusatória desmoronar, em

05.10.2017, o Ministério Público Federal ofereceu o presente Incidente de Falsidade2,

alegando que as partes teriam falsificado o instrumento contratual, prestando

informações falsas à Receita Federal que seriam corroboradas por recibos igualmente

falsos de quitação dos alugueis.

Como supostos indicativos da falsidade dos recibos, foram

apontados os seguintes argumentos:

(i) não haveria fluxo financeiro que indicasse o pagamento de aluguel

entre os anos de 2011 a 2015 e os pagamentos ocorridos a partir deste

ano teriam o fito de fornecer lastro de realidade à locação;

(ii) Glaucos da Costamarques teria afirmado em seu interrogatório, nos

autos da ação penal de origem, que apenas começou a receber os alugueis

do apartamento a partir de dezembro/2015 e que as declarações por ele

prestadas à Receita Federal eram falsas. Com relação aos recibos,

afirmou o corréu que João Muniz Leite, contador, colheu sua assinatura

nos recibos de 2015, em seu leito hospitalar;

(iii) a planilha, em tese encontrada na casa de Luiz Inácio Lula da Silva,

que retrataria os gastos familiares, não previa o aluguel do apartamento e

os recibos de quitação não foram encontrados nesta oportunidade.

1 Evento 1080 da Ação Penal nº 5063130-17.2016.4.04.7000 – Doc. 01 2 Evento 01.

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Em despacho proferido em 09.10.20173, esse Juízo determinou a

intimação desta Defesa para que informasse se dispunha dos originais dos recibos e,

caso positivo, os apresentasse em Juízo.

Assim, em manifestação datada de 11.10.20174, comunicou-se a

existência das vias originais dos recibos, bem como se demonstrou a sua veracidade,

lastreada nos seguintes fatos e documentos:

(i) Glaucos afirmou por diversas vezes ser proprietário do apartamento

em questão, declarando à Polícia Federal e à Receita Federal que recebia

os valores referentes aos alugueis em espécie, não tendo em momento

algum questionado a autenticidade das assinaturas lavradas nos recibos;

(ii) Juntou-se aos autos uma carta enviada por Glaucos à Marisa Letícia,

em janeiro de 2015, requerendo – ressalte-se – a modificação na forma de

pagamento, sem que nela constasse qualquer registro de débitos

anteriores em aberto;

(iii) Declaração do contador João Muniz Leite que atesta a veracidade

dos recibos;

(iv) A quebra de sigilo bancário do proprietário-locador evidencia

movimentação financeira compatível com o recebimento de aluguéis;

(v) A ausência de referência aos alugueis na planilha apontada pelo MPF

não tem o condão de corroborar a tese acusatória, vez que não possui

caráter exaustivo, referindo-se apenas a “pagamentos em agência

bancária” e “pagamentos com débito em conta”, sequer apontando

3 Evento 03. 4 Evento 06.

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gastos primordiais para a sobrevivência de uma família, como, por

exemplo, alimentação.

(vi) Os recibos da locação em tela não eram alvo da busca e apreensão

realizada na residência do Arguído, motivo pelo qual podem ter passado

despercebidos pelos agentes policiais;

(vii) a força probatória dos recibos com declaração de quitação decorre

de lei, conforme expressamente disposto no artigo 319 do Código Civil.

Na mesma oportunidade, a Defesa se comprometeu a apresentar

as vias originais dos recibos de pagamento, requerendo a designação de audiência para a

entrega dos documentos na presença de um perito que pudesse certificar as condições

em que o material seria entregue, o que foi indeferido5, procedendo-se, assim, em

24.10.2017, à entrega das vias originais em Secretaria6.

Em 19.10.2017 o MPF juntou aos autos, o Relatório de

Informação nº 163/2017, oportunidade em que informou ao juízo que, em atenção à

determinação exarada nos autos da ação penal, o Hospital Sírio Libanês prestou os

seguintes esclarecimentos: (i) Glaucos esteve internado naquele estabelecimento de

23.11.2015 a 29.12.2015; (ii) João Muniz foi visita-lo em três oportunidades: uma no

dia 03.12.2015 e duas no dia 04.12.2015; e (iii) não foram encontrados registros da

suposta visita de Roberto Teixeira a Glaucos7.

Em 25.10.2017, apesar de novamente reconhecer a controvérsia

acerca das perícias pretendidas pelo Parquet, o juízo determinou a sua intimação e desta

defesa para precisar a perícia pretendida, bem como para formular quesitos e nomear

5 Evento 09. 6 Evento 14. 7 Evento 11.

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assistente técnico, se necessário8. Em razão das evidentes omissões existentes na

decisão, o Arguído opôs Embargos de Declaração9 que restaram em parte acolhidos10.

Ato contínuo, o MPF requereu a realização de prova oral

consistente na oitiva de Glaucos da Costamarques e do contador João Muniz Leite para,

em seguida, manifestar-se acerca da perícia11, pedido este que foi acolhido12,

designando-se audiência para a oitiva da testemunha e reinterrogatório do corréu.

Ressalta-se que a Defesa insurgiu-se contra o pedido formulado13

à medida que fora adotado rito procedimental diverso daquele expressamente previsto

na legislação processual penal – em evidente afronta ao princípio da ampla defesa –,

com o claro intento de reabrir a instrução criminal da ação principal, já encerrada,

em desesperada tentativa de amparar sua equivocada tese acerca da suposta falsidade

dos recibos.

Em 12.12.2017, o Arguído juntou aos autos Relatório Pericial

Preliminar14 realizado nos recibos em questão, comprovando, mais uma vez, a sua

autenticidade. Em síntese, concluiu o ilustre perito:

(i) “as assinaturas constantes dos recibos são autênticas”, ou seja, foram

lançadas pelo Sr. Glaucos da Costamarques;

(ii) “é possível afastar, categoricamente, a hipótese de que os recibos

tenham sido impressos e assinados em uma única oportunidade, ou

seja, podemos atestar que as peças em fulcro foram produzidas e

firmadas em diferentes períodos”;

8 Evento 17. 9 Evento 20. 10 Evento 22. 11 Evento 31. 12 Evento 38. 13 Evento 36. 14 Evento 58.

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(iii) “seus textos foram impressos através de, pelo menos, 05 (cinco)

diferentes periféricos”, especificando, ainda, que “foram utilizadas, ao

menos, duas diferentes impressoras a laser e três diferentes impressoras

jato de tinta”;

(iv) “os textos resultaram de 7 (sete) diferentes arquivos”;

(v) “foram utilizados, na lavra das assinaturas, 14 (catorze) diferentes

instrumentos gráficos (sendo uma hidrográfica e 13 esferográficas

diversas)”;

(vi) as assinaturas foram lançadas “em diferentes estados de saúde do

signatário”.

Após a colheita da prova oral, o Parquet desistiu da perícia

técnica antes requerida, alegando serem suficientes os elementos probatórios já

produzidos para a confirmação da falsidade dos recibos15.

Glaucos da Costamarques, por sua vez, em atenção à

determinação proferida em audiência, juntou aos autos, em 18.12.2017, recibos de

aluguel que estavam em seu arquivo pessoal e requereu nova expedição de ofício ao

Hospital Sírio Libanês para esclarecimentos acerca dos registros da portaria, bem como

a disponibilização de cópia não editada de todos os vídeos das instalações durante seu

período de internação16.

15 Evento 62. 16 Evento 63.

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Inicialmente, os pedidos foram indeferidos17 sob o fundamento de

que (i) estariam preclusos, pois, se pertinentes, deveriam ter sido requeridas

inicialmente e, (ii) ainda que assim não fosse, seriam provas de difícil produção. Contra

tal decisão foram opostos Embargos de Declaração18, os quais foram rejeitados, vez que

não se identificou qualquer contradição ou omissão a ser sanada.

Registre-se, entretanto, que no mesmo dia da oposição dos

embargos declaratórios acima apontados, ou seja, em 08.01.2018, a Defesa de Glaucos

da Costamarques apresentou petição nos autos da ação penal principal19 – a qual,

ressalte-se, já teve encerrada a instrução processual e, inclusive, a fase de diligências

complementares prevista no art. 402 do CPP – pleiteando, novamente, “a expedição de

ofício ao hospital Sírio Libanês para que (i) esclareça os erros e inconsistências

presentes no registro de portaria entregue a esse r. juízo, no tocante à impossibilidade

de diversas pessoas ali registradas terem, ao mesmo tempo, pernoitado no quarto de

Glaucos da Costamarques; e (ii) disponibilize cópia não editada de todo o acervo de

vídeos das instalações do hospital, relativos ao período de 23.11.2015 a 29.12.2015,

quando esteve o acusado Glaucos da Costamarques lá internado”. Tais pedidos foram

deferidos pelo Juízo naqueles autos.

Em 11.01.2018, o MPF apresentou alegações finais20 nas quais,

após breve relato do feito, pugnou pela procedência do Incidente e o consequente

reconhecimento da falsidade ideológica dos documentos, sob o argumento de que o

acervo probatório juntado aos autos da ação penal e do próprio Incidente,

comprovariam, inequivocamente, a falsidade arguida.

A tese firmada pelo Ministério Público, contudo, não encontra

qualquer amparo nas provas produzidas nos autos, motivo pelo qual deverá o presente

Incidente de Falsidade ser julgado improcedente, declarando-se a autenticidade dos

17 Evento 65. 18 Evento 68. 19 Evento 1455 da ação penal nº 5063130-17.2016.4.04.7000 – Doc. 02 20 Evento 70.

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recibos de alugueis apresentados pelo Arguído e sua força probatória, pelos motivos de

fato e direito a seguir expostos.

II – PRELIMINAR

II.1. Da inadequação do incidente para arguição de falsidade ideológica e a

pretendida antecipação de julgamento pelo MPF

Inicialmente, indispensável se faz destacar que o presente

incidente não se presta à arguição de falsidade ideológica dos documentos impugnados,

consoante pretende o Ministério Público Federal. Isso porque, o referido procedimento

“presta-se a provar a falsidade de documentação juntada aos autos por uma das partes,

e que se tem por autêntica”21, apenas e tão somente em seu aspecto material.

Assim leciona a doutrina de EUGÊNIO PACELLI:

“A nosso aviso, a única hipótese cabível para a provocação do incidente seria a falsidade material. A outra, de natureza ideológica, pode muito bem ser demonstrada na regular instrução do feito.”22.

No mesmo sentido a jurisprudência do E. Tribunal Regional da 4ª

Região:

“A falsidade ideológica de documento particular pode ser apurada pelo Juiz no curso de processo, sendo dispensável a instauração do incidente de falsidade”23 (destacamos).

A comprovação da suposta falsidade ideológica dos recibos

somente poderia ser realizada no próprio curso da ação penal, ocasião em que, para

tanto, o MPF poderia se utilizar de qualquer meio de prova. Conclui-se, portanto, que

21 TRF 3, 3ª Região, DJU 17-9-2002, p.155, rel. André Nabarrete. 22 PACELLI. Eugênio. FISCHER. Douglas. Comentários ao Código de Processo Penal e sua jurisprudência. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2017. p. 316. 23 TRF, 4ª região, DJU. 17.03.1999, p. 544. Rel. Jardim de Camargo.

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o que se pretende com a instauração do presente Incidente é a reabertura da instrução

criminal, já encerrada, e a antecipação do julgamento de mérito da ação penal.

A afirmação encontra lastro na própria argumentação

desenvolvida pelo Órgão Acusatório, bem como nas provas por ele requeridas.

O Parquet inicialmente pugnou pela realização de perícias

grafoscópica e documentoscópica por acreditar – sem qualquer amparo nas provas até

então produzidas – que os recibos contavam com assinaturas que não teriam sido

lançadas por Glaucos da Costamarques. A suposição contrariava até mesmo as

declarações prestadas pelo próprio corréu, que em momento algum negou a produção e

assinatura de tais recibos.

Ao perceber que as diligências requeridas apenas comprovariam a

tese firmada pela defesa, o MPF alterou seu discurso requerendo a produção de prova

testemunhal, sob o pretexto de que, após a sua colheita, seria possível avaliar a real

necessidade da produção das perícias. Ao fazê-lo, este juízo oportunizou que o órgão

acusador produzisse extemporaneamente e mediante procedimento incidental que

não se presta a essa finalidade, as provas que não produziu nos autos da ação penal de

origem.

Tem-se, portanto, que o Incidente demonstra tão somente o

descontentamento do Parquet ao ver a sua mirabolante tese acusatória – qual seja, a

simulação do contrato de locação do apartamento 121, do Residencial Hill House,

viabilizada pela suposta compra feita por interposta pessoa, a fim de ocultar o real

proprietário do apartamento – desconstruída pela simples apresentação dos recibos de

quitação do aluguel entregues por Glaucos da Costamarques à Dona Marisa Letícia Lula

da Silva.

Manobra semelhante foi utilizada nos autos do Incidente de

Falsidade nº 5037409-29.2017.4.04.7000. Naqueles autos, a acusação postulou a quebra

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de sigilo fiscal de Mateus Cláudio Gravina Baldassari, de suas empresas e das empresas

Jaumont Services Limited e Beluga Holdings, pedido este que foi parcialmente

deferido. Diante da ilegalidade, o Arguído ajuizou Correição Parcial24 com o fito de

evitar a produção de tal prova e, caso a sua produção já tivesse se concretizado,

promover sua imediata inutilização.

Na ocasião, o D. Desembargador JOÃO PEDRO GEBRAN NETO –

Relator por prevenção dos casos da Operação Lava Jato no TRF4 –, ao proferir voto

dando provimento ao pedido da Defesa, manifestou-se pela inadmissibilidade da

utilização do Incidente de Falsidade para eventual apuração de falsidade

ideológica, o que significaria evidente reabertura da instrução criminal.

Destaca-se o seguinte trecho do julgado:

“Não se pode admitir que o incidente de falsidade documental, cujo objeto destina-se unicamente a apurar a veracidade de documentos juntados na ação penal, seja utilizado para a reabertura da fase instrutória. Compulsando os autos da ação penal (5063130-17.2016.4.04.7000) verifica-se que a instrução já se encontra encerrada e que, findo o prazo do artigo 402 do CPP para pedido de diligências complementares, o órgão ministerial não postulou a produção naquela ação principal a quebra de sigilo nos termos em que postulada no incidente de falsidade. Os limites do incidente não podem ser extrapolados para a produção de provas estranhas ao seu fim precípuo. Nem o Parquet e nem o juízo esclarecem como o resultado da quebra de sigilo fiscal poderia auxiliar na avaliação de autenticidade dos documentos. A teor do artigo 148 do CPP, "qualquer que seja a decisão, não fará coisa julgada em prejuízo de ulterior processo penal ou civil". Como bem mencionado por Eugênio Pacelli e Douglas Fischer, "presta-se a firmar, no incidente, uma verdade (processual) acerca de determinado meio de prova, sem maiores repercussões fora do processo" (in Comentários ao Código De Processo Penal. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2013, pág. 305). Ou seja, deste incidente de falsidade só poderá ser extraída a autenticidade ou não dos documentos questionados. Não é possível imaginar que outra prova seja produzida que não para este fim. A prova pretendida para apurar quem seriam os verdadeiros beneficiários dos valores depositados nas empresas mencionadas não guarda qualquer relação com o objeto do incidente. Se o cerne deste recai sobre a autenticidade dos documentos juntados pela Defesa de Marcelo Odebrecht, o seu objetivo é a conclusão sobre a sua veracidade ou

24 Processo nº 5067325-59.2017.4.04.0000/PR

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não, não comportando maiores digressões sobre o seu conteúdo, como pretende o Ministério Público Federal. O incidente de falsidade admite apenas a verificação da falsidade material dos documentos, não cabendo analisar eventual falsidade ideológica em procedimento apartado da ação principal. Assim, a aptidão, ou não, do conteúdo dos documentos é matéria que deveria ter sido dirimida no âmbito da ação penal. Citando novamente Eugênio Pacelli e Douglas Fischer, "a única hipótese cabível para a provocação do incidente seria a falsidade material. A outra, de natureza ideológica, pode muito bem ser demonstrada na regular instrução do feito" (in op. Cit., pág. 305).

O mesmo entendimento deve prevalecer no presente caso. Isso

porque é evidente que o Parquet não visa à apuração da suposta falsidade dos recibos de

alugueis, mas sim a colheita das provas que possam eventualmente corroborar a tese por

ele firmada. É uma tentativa desesperada de obtenção de provimento jurisdicional que

embase eventual condenação do Arguído nos autos da ação penal, após o encerramento

da instrução processual.

Neste momento, imprescindível se faz destacar, mais uma vez, a

recente decisão proferida por esse magistrado em 16.01.2018, nos autos da ação penal25

principal, por meio da qual, em patente contradição com decisões anteriormente

proferidas tanto no incidente quanto na ação penal, deferiu, a Glaucos da Costamarques,

acesso às gravações das câmeras de segurança do Hospital Sírio Libanês.

Oportuno trazer breve linha do tempo que poderá demonstrar com

maior facilidade o quanto alegado a seguir:

28.09.2017 Ação penal principal (evento 1118) A defesa de Glaucos da Costamarques requereu a expedição de ofício ao

Hospital Sírio Libanês para que a referida instituição informe os dados relativos ao registro de visitas, referentes ao período de 22/11/2015 a 29/12/2015, com ênfase nos visitantes Roberto Teixeira e João M. Leite.

25 Evento 1464 da ação penal nº 5063130-17.2016.4.04.7000 – Doc. 03

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11.10.2017 Ação penal principal (evento 1163) Deferida a expedição do ofício pelo Juízo (evento 1124), o Hospital Sírio

Libanês apresentou resposta informando haver localizado três registros de visita de João Muniz Leite, mas nenhuma de Roberto Teixeira, no período de internação de Glaucos.

13.10.2017 Ação penal principal (evento 1168) Proferido despacho pelo Juízo determinando nova expedição de ofício

solicitando informação sobre eventuais registros de ingresso de Roberto Teixeira no Hospital Sírio Libanês no segundo semestre de 2015, a qualquer título, para internação ou tratamento.

20.10.2017 Ação penal principal (evento 1218) Em nova resposta, o Hospital Sírio Libanês esclareceu não haver

encontrado registros de ingresso de Roberto Teixeira ocorridos durante o segundo semestre de 2015.

18.12.2017 Incidente de falsidade (evento 63)

Desta vez no Incidente, a defesa de Glaucos da Costamarques requereu a expedição de novo ofício ao hospital Sírio Libanês para que (i) fossem esclarecidos os alegados erros e inconsistências presentes no registro de portaria entregue ao juízo; (ii) bem como fosse disponibilizada cópia não editada de todo o acervo de vídeos das instalações do hospital, relativos ao período de 23.11.2015 a 29.12.2015, quando esteve o acusado Glaucos lá internado.

19.12.2017 Incidente de falsidade (evento 65)

Proferida decisão pelo Juízo indeferindo o quanto pleiteado pela defesa de Glaucos no evento 63, sob os seguintes fundamentos:

Em que pesem os requerimentos por apresentados pelo diligente defensor, este julgador postergou, pelo despacho de 10/11/2017 e para depois da audiência, tão somente a apreciação do requerimento de perícia formulado pelo MPF. Assim, os requerimentos de informações ou acesso a vídeos do Hospital Sírio Libanês, se pertinentes, deveriam ter sido formulados no início do incidente de falsidade ou mesmo na ação penal 5063130-17.2016.4.04.7000. O fato do novo defensor ter assumido recentemente a Defesa não elimina a preclusão. Por outro lado, já foram colhidas, em duas oportunidades, informações junto ao Hospital Sírio Libanês. Os registros apresentados podem ser

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examinados diretamente pelas partes e eventuais falhas podem ser apontadas independentemente de nova provocação ao referido estabelecimento.

Quanto aos vídeos, nada garante que o hospital mantenha até hoje os registros de vídeo de ingresso no estabelecimento de 2015, nada garante que todas as entradas eram filmadas, nada garante que as gravações sejam de boa qualidade e, mesmo se obtidos os vídeos, ainda seria necessário examinar todas as gravações na expectativa de identificar Roberto Teixeira ingressando no local. Não esclarece a Defesa quem iria realizar esse exame. Então indefiro essas provas pois, se pertinentes, deveriam ter sido requeridas inicialmente e, ainda que assim não fosse, são provas de difícil produção.

19.12.2017 Ação penal principal (evento 1435).

Minutos após proferir a decisão acima mencionada no incidente de falsidade, esse mesmo Juízo, ao indeferir pedido de Glaucos da Costamarques de quebra de sigilo telefônico de números de sua titularidade, afirmou:

Em que pese o requerido, a instrução está encerrada e não cabe realizar novas diligências, reabrindo a instrução, salvo se absolutamente relevantes e de fácil produção. O fato do acusado ter trocado de advogado não reabre fases processuais já superadas.

16.01.2018 Ação penal principal (evento 1464).

Após nova a defesa de Glaucos reiterar o pedido de expedição de novo ofício ao Hospital Sírio Libanês a fim de obter acesso às filmagens da instituição, esse Magistrado, contrariando frontalmente entendimento esposado anteriormente, deferiu o quanto requerido, afirmando:

Em vista da insistência da Defesa de Glaucos da Costamarques na produção da prova, considerando adicionalmente a informação nova de que a própria Defesa examinará o material e a fim de evitar alegações de cerceamento de defesa, resolvo rever o decidido. Agregue-se que, quanto a essa prova, é possível afirmar que o interesse dela só surgiu em decorrência da informação prestada já após a fase do art. 402 do CPP pelo Hospital Sírio Libanês da inexistência de registros das visitas de Roberto Teixeira ao Hospital no período em questão. Assim e muito embora pareça-me improvável que a Defesa logre realizar a identificação pretendida, defiro o acesso pela Defesa de Glaucos da

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Costamarques dos vídeos eventualmente mantidos quanto à gravações de acesso ao Hospital Sírio Libanês ou ao apartamento ali ocupado por Glaucos da Costamarques entre 23/11/2015 a 29/12/2015.

Da leitura dos trechos acima transcritos, a primeira constatação –

óbvia e irrefutável – é a de que a matéria tratada no presente Incidente se confunde

integralmente com o mérito da ação penal principal, restando evidenciada, mais uma

vez, que a intenção precípua do Ministério Público Federal com a arguição foi a de

antecipar o julgamento de mérito da ação penal, após notar o desmoronar da tese

acusatória.

Ademais, não obstante o acesso às gravações do hospital tenha

sido deferido nos autos da ação penal, faz-se necessário destacar a contradição

verificada a partir das decisões proferidas por esse Juízo em ambos os procedimentos.

Das transcrições acima explicitadas, é possível concluir:

(i) A prova pretendida pela Defesa de Glaucos da Costamarques – inicialmente

requerida nos autos do Incidente de Falsidade e posteriormente transferida

aos autos da Ação Penal – é de difícil produção (evento 65 do Incidente de

Falsidade), sendo improvável que se logre a realização da identificação

pretendida (evento 1464 da Ação Penal);

(ii) A instrução nos autos da Ação Penal se encontra encerrada desde o ano

passado – conforme registrado pelo próprio magistrado em decisão proferida

no evento 1435 (Doc. 04) – não cabendo realizar novas diligências salvo se

absolutamente relevantes e de fácil produção;

Assim, inegável é fato de que o recente deferimento – nos autos

da ação penal – absolutamente contraditório e arbitrário, inverte a ordem processual

e tumultua os autos, além de violar normas processuais penais e garantias

constitucionais.

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Ademais, de tão imbricados os procedimentos, revela-se, no

mínimo, surpreendente e ilógica a abertura de prazo para apresentação de alegações

finais enquanto não concluída a prova deferida na ação penal – indevidamente, repise-se

–, a qual foi inicialmente requerida nos presentes autos.

Aliás, a partir do deferimento da mencionada diligência, ainda

que este tenha se dado no âmbito da ação principal, revela-se a impossibilidade de que

este procedimento seja julgado de forma definitiva antes da conclusão da diligência em

questão, visto que seu resultado poderá influir nos presentes autos, diante da confusão

realizada entre o seu objeto (a determinação de eventual falsidade material dos

documentos) e o mérito da ação penal.

Dessa forma, verifica-se, sem qualquer sombra de dúvida, que o

presente incidente de falsidade deve, necessariamente, ser rejeitado diante da

inadequação da medida para discutir a aventada falsidade ideológica dos recibos em

referência, entendimento este, amplamente majoritário entre doutrina e jurisprudência.

Caso assim não entenda, deverá esse Magistrado julgar

improcedente o procedimento da falsidade arguida, uma vez que comprovada de

maneira cabal a veracidade dos documentos apresentados pelo Arguído, conforme se

demonstrará a seguir.

III – MÉRITO

O Ministério Público Federal, em suas exaltadas alegações finais,

numa clara tentativa de ludibriar o Juízo acerca dos fatos em apreciação no presente

incidente, traz diversas afirmações que não condizem com a realidade nem tampouco

com as provas carreadas nos autos – tanto do incidente quanto da ação penal –

distorcendo fatos e criando a narrativa que mais lhe convém.

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Assim, faz-se necessário rebater, de maneira minuciosa, os

fictícios argumentos ali expostos, sendo certo que ao final restará evidenciada a

teratologia do presente feito e a necessidade de que seja julgado improcedente.

III.1 - Da alegada ausência de fluxo financeiro

Logo no início de suas alegações finais, o órgão ministerial,

repetindo as indiscriminadas acusações lançadas na peça que iniciou o presente feito,

assevera:

Efetivamente, como já enfatizado na denúncia, dados advindos da quebra de sigilo bancário indicaram, desde logo, a ausência de relação locatícia real, na medida em que evidenciaram a absoluta ausência de fluxo financeiro que indicasse o pagamento do aluguel do apartamento 121 até novembro de 2015, observando-se depósitos em espécie em montantes compatíveis com os valores indicados nos simulados recibos apenas a partir de dezembro de 2015.

Adiante, alega o MPF que esse “recebimento de aluguéis somente

a partir de 2015” estaria associado à prisão de José Carlos Bumlai e o início das

investigações envolvendo um apartamento localizado na cidade do Guarujá/SP e um

sítio situado em Atibaia/SP, imóveis descabidamente atribuídos ao Arguído.

Muito embora o MPF tenha se esforçado para tentar – de forma

artificial – vincular a data de referidos depósitos ao início de investigações relativas ao

Arguído, assim como às datas relatadas por Glaucos da Costamarques em seus

interrogatórios (contraditórios ente si e se comparados com suas declarações anteriores),

omitiu o órgão acusador e/ou deixou de analisar diversos depósitos em dinheiro

efetuados nas contas de Glaucos da Costamarques, desde 2011, cujo montante

aproxima-se da quantia de R$ 2.000.000,00 – tudo detalhado no relatório da quebra de

sigilo bancário.

Ressalta-se, ainda, que nas contas utilizadas por D. Marisa, seja

em seu nome, em nome do Peticionário ou conta conjunta, também existem variados

débitos equivalentes com históricos denominados “Saques em Terminal de

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Autoatendimento”, desde muito antes de Dezembro de 2015. No entanto, tal fato foi

igualmente ignorado nas análises do Ministério Público.

Além disso, conforme já esclarecido, existem muitos outros

saques efetuados em cheques de referidas contas, cujo destino final certamente envolveu

o pagamento dos aluguéis em dinheiro diretamente ao Sr. Glaucos da Costamarques ou

a pessoa por ele designada.

A comprovar tal afirmação, bem como o pagamento dos aluguéis,

estão os valores em espécie depositados em conta pelo próprio Sr. Glaucos e pessoas

não identificadas, que ultrapassam a quantia devida a título de aluguéis no período,

somados, ainda, às entradas de ATM, também não analisados pelo Ministério Público.

Necessário, neste ponto, registrar que esta Defesa jamais buscou

enganar esse Juízo ou induzi-lo a erro, mas sim, apenas destacou o fato de que as

investigações do órgão acusador acerca das contas do Sr. Glaucos são precárias, não

sendo explicados os valores ali depositados em espécie — os quais, inclusive, não

correspondem com as declarações de imposto de renda do corréu, apontando para a

necessidade de análise mais aprofundada. Mas isso nunca foi de interesse do Parquet.

Além disso, importante ressaltar que:

a) sequer foram analisadas as contas das empresas do Sr. Glaucos, de sua

esposa e filhos – estes últimos, sabidamente, parceiros comerciais do

pai –, a exemplo do que foi levado a cabo em relação ao Arguído;

b) as contas do Sr. Glaucos continuaram com movimentação durante o

período em que o mesmo esteve hospitalizado, o que indica que, além

dele, outras pessoas têm acesso a elas e as movimentam.

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Curioso, ainda, destacar que ao seguir-se a lógica ministerial, a

única forma de se efetuar o pagamento de um aluguel – ou qualquer outro gasto familiar

– é mediante transferência bancária, sendo impossível que tal quitação se dê, por

exemplo, através de pagamentos feitos em moeda corrente.

Ao invés de buscar demonstrar de forma efetiva as suas

acusações, limita-se o Parquet a pregar, de forma desconexa, a inexistência de

pagamento pela suposta ausência de fluxo bancário, o que, conforme já demonstrado,

não encontra respaldo nas provas carreadas aos autos.

A verdade é que o MPF busca nestes autos algo que não deixa de

ser inusitado: que seja desprezada a parte do depoimento do Sr. Glaucos em que ele

reafirma ser o proprietário do apartamento e que adquiriu o bem com recursos próprios

e lícitos, e seja considerada apenas a parte em que ele afirma que não recebera os

aluguéis entre 2010 e 2015. O detalhe é que a parte que se busca desprezar é justamente

a parte que interessa para os procedimentos em questão!

III.2 – Da suposta planilha de contas mensais

Adiante em sua sanha acusatória, alega o MPF:

Converge, a corroborar a falsidade da simulada relação locatícia e dos recibos engendrados para lhe dar suporte, a planilha arrecadada na residência de LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA e Marisa Letícia Lula da Silva, intitulada “CONTAS MENSAIS 2º Sem. 2011” (autos n.º 5006597-38.2016.4.04.7000, evento 6, AP-INQPOL5, PDF 7), que elenca gastos domésticos da família do ex-presidente, não trazendo nenhuma referência a pagamento de aluguel referente ao apartamento n. 121, muito embora estejam registrados gastos condominiais, de energia elétrica e de IPTU relativos a esse mesmo imóvel.

Novamente o MPF distorce as informações trazidas aos autos,

além de efetuar análises incompletas que prejudicam as conclusões. Nesse caso, referida

planilha, cuja autoria é desconhecida, registre-se, lista “PAGAMENTOS EM

AGÊNCIA BANCÁRIA” e “PAGAMENTOS COM DÉBITOS EM CONTA”, e

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não gastos domésticos da família do Arguido, como quer preconizar o Ministério

Público Federal.

Já restou evidenciada, anteriormente, a existência de diversos

saques em dinheiro das contas do casal que, por óbvio, também são destinados a

pagamentos de gastos domésticos da família, os quais não constam da referida

planilha, pois a mesma, como indicado no próprio documento, refere-se unicamente a

“Pagamentos em Agencia Bancária” e “Pagamentos com Débitos em Conta”, que não é

o caso do aluguel do apartamento 121.

Além disso, sequer o MPF se preocupou, durante suas análises,

em efetuar o cruzamento dos valores lançados na mencionada planilha com aqueles

constantes dos relatórios da quebra do sigilo bancário, a fim de atestar, minimamente, a

fidedignidade das informações ali lançadas.

A partir desse cruzamento, é possível concluir que a planilha é

imprestável, pois seus valores sequer conferem com aqueles efetivamente constantes

dos extratos bancários.

Para que não restem dúvidas, veja-se tabela comparativa, na qual

as linhas de cor cinza são os valores discriminados na planilha, e as demais, indicam

aqueles localizados ou não, nos extratos bancários.

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Assim, verifica-se que a referida planilha, tida pelo Parquet como

comprovação máxima de ausência de movimentação financeira, não reflete, sequer, a

realidade dos “PAGAMENTOS EM AGÊNCIA BANCÁRIA” e “PAGAMENTOS

COM DÉBITOS EM CONTA” que, supostamente, pretende retratar, sendo

impossível tê-la como prova para decretar a descabida falsidade dos recibos

apresentados.

III.3 – Da assinatura dos recibos

Adiante, o Ministério Público Federal passou a dedicar seus

ataques às assinaturas constantes dos recibos, numa desesperada tentativa de tornar

críveis suas descabidas alegações de falsidade.

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Em argumentação dramática, assevera o órgão acusador que a

partir da prisão de José Carlos Bumlai, teria advindo “uma corrida de João Muniz

Leite” ao hospital “para colher assinaturas de recibos da forjada locação”.

Merecedor de destaque, neste ponto, o seguinte trecho das

alegações ministeriais26:

De notar ainda a inverossímil explicação apresentada por João Muniz Leite em depoimento judicial, de que teria ido ao hospital para colher as assinaturas nos citados recibos apenas com a finalidade de atender ao seu “rito” pessoal de organização de documentos de seus clientes. É, no mínimo, inusitada a cena de o contador ter diligenciado para obter assinatura de locador, durante período de internação hospitalar - e do estado de saúde grave a ponto de determinar o cuidado especial –, mormente considerada a utilidade relativa da documentação e a flagrante ausência de urgência. [...] De acordo com as regras de experiência comum, recibos de aluguel são assinados de maneira gradual, conforme os respectivos pagamentos são feitos. A assinatura em bloco, numa mesma ocasião – e, ademais, em um leito hospitalar – de recibos referentes a um período longo de locação (todos os recibos de 2015, além de diversos de 2014) – expediente relatado por GLAUCOS DA COSTAMARQUES e confirmado pelo contador João Muniz Leite –, escapa a essa situação de normalidade. A anormalidade manifesta dessa desabalada corrida do contador João Muniz Leite ao hospital – que fora antecedida de duas ligações telefônicas de ROBERTO TEIXEIRA para GLAUCOS – para a colheita das assinaturas de GLAUCOS que se encontrava internado, bem patenteia que havia uma especial preocupação no uso que seria feito desses documentos: os envolvidos na ocultação da propriedade do apartamento n. 121 buscavam com urgência a confecção e assinatura dos recibos a dar lastro à inexistente relação locatícia, notadamente diante do contexto em que José Carlos Bumlai acabara de ser preso no âmbito da Operação Lava Jato e, coincidentemente, também se iniciavam as investigações com relação a indícios de ocultação de patrimônio por LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, atinentes ao imóvel localizado no Guarujá, ora objeto da Ação Penal n.º 5046512-94.2016.4.04.7000, e ao Sítio de Atibaia, ora objeto da Ação Penal n.º 5021365-32.2017.404.7000.

Mais uma vez, as crenças assumiram o lugar dos fatos!

26 Página 17 das alegações finais ministeriais.

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O próprio Glaucos reconheceu em seu depoimento que emitia

recibos desde 2011 — sem qualquer relação dos documentos com a prisão cautelar de

José Carlos Bumlai:

Juiz Federal:- Como é que o senhor explica esses recibos que foram apresentados pela defesa do senhor Luiz Inácio Lula da Silva, o senhor assinava recibos relativamente a essa locação? Glaucos da Costamarques:- Assinava, sim senhor. Juiz Federal:- O senhor pode me descrever como era esse procedimento? Glaucos da Costamarques:- Eu vou contar o desenrolar: eu fiz um contrato de aluguel com a dona Marisa e como o apartamento vinha sendo alugado há muitos anos, primeiro pelo PT, depois pela Presidência da República, eu tinha a expectativa de receber esse aluguel, embora o apartamento tivesse sido comprado para o Zé Carlos, mas era uma maneira de corrigir o dinheiro que eu emprestei, na minha cabeça era isso. Aí o aluguel de fevereiro que vence dia 05 de março, eles não me pagaram, aí esperei o aluguel de março que vence dia 05 de abril, eles não me pagaram, eu fui falar com o Zé Carlos, “Olha, eles não me pagaram o aluguel, o que pode estar acontecendo?”, ele falou “Glaucos, esquece o aluguel” eu falei “Mas eu declarei o imposto no carnê-leão. O aluguel de fevereiro que eles pagam dia 05 de março, o carnê-leão vence 30 de abril, o aluguel de março que eles pagam 05 de abril, vence 31 de maio, e aí além de eu não receber o aluguel ainda vou pagar o imposto?” ai ele falou “Não, eu vou ressarcir esse imposto para você, porque eles vão declarar que pagaram o aluguel e você vai ter que declarar que recebeu o aluguel, então eu vou te ressarcir esse imposto” e aí o desenrolar da coisa foi o seguinte, aí eu na véspera de declaração do imposto de renda, eles tinham que pegar o recibo que faz parte do imposto de renda, eu fiz, eu tenho a cópia, eu fiz os recibos todos de 2011, fevereiro, março, até dezembro e eu assinei e entreguei para o contador deles que era o João, e todo ano era isso, o senhor entendeu? Eu fazia os recibos, agora...

Verifica-se, ainda, que, de maneira exagerada, insiste o MPF nas

assinaturas dos recibos em “leito hospitalar”, afirmando que se encontrava Glaucos da

Costamarques “em estado de saúde grave”, numa óbvia tentativa de dar ao ato um ar de

urgência e, consequentemente, de ilicitude. Da leitura das palavras proferidas pelo MPF,

alguém desavisado seria levado a crer que o Sr. Glaucos estava, praticamente, em leito

de morte, o que, sabidamente, não é verdade.

Ressalte-se, aliás, que o Sr. Glaucos em seu primeiro

interrogatório, ocorrido em 06.09.2017, nos autos da ação penal nº 5063130-

17.2016.4.04.7000, declarou ter, inicialmente, dado entrada no hospital para fazer um

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“check up”, ou seja, não se encontrava debilitado ou em quase leito de morte, como

querem fazer parecer os Procuradores da República.

Além disso, induz o Parquet à ideia de que o contador João

Muniz Leite teria ido ao Hospital unicamente com o intuito de colher a assinatura do Sr.

Glaucos, o que tampouco condiz com a realidade, conforme se depreende tanto do

depoimento de contador quanto do Sr. Glaucos.

Da simples análise do depoimento prestado pelo contador,

verificam-se, de plano, as distorções feitas pelo MPF.

Ministério Público Federal:- E qual era a urgência dessa colheita de assinaturas em leito hospitalar? João Muniz Leite:- A urgência era porque o senhor Glaucos não morava mais em São Paulo, ao sair do hospital ele já retornaria direto para a residência dele no Mato Grosso, então era uma oportunidade que eu tinha de ter a assinatura dele nos recibos para ficar a documentação completa. [...] João Muniz Leite:- Entregou numa única vez todos os recibos, os de 2014 e 2015, alguns prontos não assinados e outros por fazer, os por fazer então ele pediu para que eu fizesse e que assinaria então no hospital sem problema nenhum, ele pediu que fizesse isso porque após a saída do hospital ele já retornaria para o Mato Grosso, então por isso que eu me apressei e fui ao hospital.

O mesmo foi, inclusive, confirmado por Glaucos da

Costamarques ao esclarecer que em razão da operação à qual se submeteria, passou a

resolver diversas pendências, “para deixar as coisas em ordem”, dentre elas, os recibos

não assinados:

Juiz Federal:- Ele apareceu de surpresa no hospital? Glaucos da Costamarques:- Não, não. Juiz Federal:- Ou ele tinha avisado antes? Glaucos da Costamarques:- Não, não, ele avisou que vinha tal dia, tal hora, porque... E eu não lembro se eu falei com ele, porque eu não tinha o recibo, porque eu estava pondo minha vida em ordem. Juiz Federal:- Sei. Glaucos da Costamarques:- Eu ia fazer uma operação grande, eu chamei meus filhos e tudo para resolver com eles.

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Dignas de registro, ainda, as peculiares contradições no discurso

acusatório:

Efetivamente, como já acima pontuado, com assento em prova documental, GLAUCOS foi internado em 23/11/2015, sendo o seu primo José Carlos Bumlai preso em 24/11/2015, havendo o registro de que, no dia imediatamente seguinte, 25/11/2015, GLAUCOS recebeu duas ligações telefônicas originadas do escritório de ROBERTO TEIXEIRA, conforme dados obtidos em quebra de sigilo telefônico, vindo em seguida as visitas do contador João Muniz a GLAUCOS no estabelecimento hospitalar, ocorridas nos dias 03/12/2015 e 04/12/2015, com duração total de quase três horas.

Ora, entre as ligações apontadas pelo MPF em 25/11/2015 e a ida

do senhor João Muniz Leite ao Hospital nos dias 3 e 4 de dezembro, mais de uma

semana se passou, lapso temporal que dificilmente pode ser classificado como “uma

desabalada corrida” ao hospital, ou então uma “disparada na busca de assinaturas”.

Outrossim, referências as ligações do “escritório de Roberto

Teixeira” não podem levar a qualquer suposição dos diálogos eventualmente havidos, e,

ainda, sobre os interlocutores.

Ademais, o próprio Parquet reconhece a assinatura de outros

recibos em anos anteriores, tornando ainda mais inverossímil a narrativa construída pela

acusação de que a assinatura dos recibos faltantes em 2015 teria ocorrido de maneira

emergencial em razão da prisão de José Carlos Bumlai.

Assim, evidente é a constatação de que as suspeitas ministeriais

acerca da assinatura dos recibos não passam de irresignação em ver a tese acusatória ser

cabalmente desconstruída com a apresentação dos recibos de aluguel que comprovam a

veracidade do contrato de locação firmado entre Glaucos da Costamarques e Dona

Marisa Letícia Lula da Silva.

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III.4 – Do recolhimento de imposto por meio do “carnê-leão”

Outro argumento ao qual se apega a Acusação é o de que o

imposto devido em razão do recebimento de aluguéis, recolhido por meio do

denominado “carnê-leão”, não teria saído das contas de Glaucos da Costamarques.

Ainda que se desconsiderem as declarações prestadas por João

Muniz Leite – que afirmou, por mais de uma vez, que efetivamente calculava e emitia

os DARFs – não se pode ignorar o quanto dito pelo próprio Glaucos da Costamarques

durante o seu reinterrogatório:

Juiz Federal:- Sim. A questão do imposto de renda que o senhor recolhia esse carnê-leão era o senhor que pagava mesmo? Glaucos da Costamarques:- Olha, eu vou contar o carnê-leão, o Zé Carlos falou que ia me repor e ele me repunha o dinheiro e eu pagava o carnê-leão, o senhor entendeu, às vezes eu pulava um mês, teve um ano como este ano, este ano eu ainda não paguei o carnê-leão nenhum mês, vou pagar antes do final do ano, eu tenho que declarar, o senhor entendeu? Juiz Federal:- Mas era o senhor mesmo que pagava então? Glaucos da Costamarques:- Eu pagava, por exemplo, qual é o procedimento, eu tenho conta no Banco do Brasil, tinha no Santander, não tenho mais, chega no Banco do Brasil para pagar, eu tenho várias contas, pagar telefone, luz, carnê-leão, chego para pagar, qual é o procedimento, ele pega, soma tudo, faz um saque do valor total e quita tudo, o senhor entendeu, esse é o procedimento, mas eu que pagava o carnê-leão.

Muito embora o Parquet tenha tentado induzir o Sr. Glaucos em

seu depoimento, reafirmou ele que efetuava o recolhimento do imposto, sendo possível

inclusive, que tal pagamento tenha se dado por meio de contas de seus filhos, os quais,

sabidamente, possuem ampla relação comercial com o pai.

Ademais, cabe destacar outra incongruência nas alegações finais

ministeriais que, mais uma vez, confirma a precariedade na análise das contas bancárias

de titularidade do Sr. Glaucos.

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Afirmou o MPF27:

A seu turno, no que pertine à confecção dos recibos, GLAUCOS afirmou no reinterrogatório que, em 2012, às vésperas da declaração de imposto de renda do ano-calendário de 2011, fez todos os recibos referentes a 2011, pois LUIZ INÁCIO e Marisa Letícia iam declarar que pagavam aluguel, embora não pagassem, e ele então precisava declarar que recebia aluguel, embora não recebesse.

Ocorre que, os valores relativos ao imposto incidente sobre os

aluguéis foram recolhidos por Glaucos (via “carnê leão”) muito antes da data declarada

por ele como aquela em que supostamente teria tomado conhecimento de que os

aluguéis passariam a ser declarados (próximo à entrega da declaração, que foi abril de

2012).

A fim de comprovar o quanto afirmado, seguem, abaixo, tabelas

em que estão destacados os valores apontados na declaração de imposto de renda (tabela

1) e os pagamentos efetuados, com as respectivas datas (tabela 2), observando-se apenas

uma diferença de um centavo.

Tabela 01 – Informações da declaração de imposto de renda de Glaucos e Esposa

Mês de Rendimento Valor

Março R$ 349,29

Abril R$ 318,54

Maio R$ 316,05

Junho R$ 288,22

Julho R$ 259,12

Agosto R$ 286,51

Setembro R$ 259,13

Outubro R$ 259,13

27 Página 16 das alegações finais.

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Tabela 2 – Informações conforme constantes da conta bancária – obtidas a partir da

quebra de sigilo

Data do pagamento Valor pago Banco Conta Agência

29.08.2011 R$ 349,29 Banco do Brasil 35009 1881

29.08.2011 R$ 318,54 Banco do Brasil 35009 1881

29.08.2011 R$ 316,05 Banco do Brasil 35009 1881

29.08.2011 R$ 288,22 Banco do Brasil 35009 1881

29.08.2011 R$ 259,13 Banco do Brasil 35009 1881

29.08.2011 R$ 259,13 Banco do Brasil 35009 1881

17.10.2011 R$ 286,51 Banco do Brasil 35009 1881

29.12.2011 R$ 259,13 Banco do Brasil 35009 1881

Assim, revela-se, mais uma vez, superficial a análise elaborada

pelo órgão acusador acerca das informações obtidas por meio da quebra de sigilo do Sr.

Glaucos, a qual levou a conclusões precipitadas e equivocadas.

III.5 – Das inúmeras versões de Glaucos da Costamarques

Necessário, ainda, relembrar a reiterada alteração de versões

apresentadas pelo Sr. Glaucos da Costamarques. Ao longo de sua manifestação, o

ministério Público Federal aponta o fato de que Glaucos, em seu primeiro interrogatório

(realizado em 06.09.2017 nos autos da ação penal nº 5063130-17.2016.4.04.7000),

afirmou que somente passou a receber o pagamento de valores a título de aluguel a

partir de novembro de 2015, reconhecendo que “eram falsos os lançamentos em suas

declarações de imposto de renda”.

Como já é de conhecimento desse Juízo, o Sr. Glaucos da

Costamarques apresentou diversas versões acerca do aluguel do apartamento em

questão, restando difícil saber qual delas é a verdadeira versão, se as apresentadas em

Juízo, perante a Polícia Federal ou então aquela enviada à Receita Federal.

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Curiosamente, ignora o órgão ministerial esse fato. Aliás, durante

esse primeiro interrogatório, tido como verdade absoluta pelo MPF, Glaucos sequer

mencionou os episódios em que assinou diversos recibos de aluguel ou tratou dos

recibos que ele próprio apresentou posteriormente nos presentes autos.

Ora, se possuía ele uma memória tão vívida da suposta visita de

Roberto Teixeira ao Hospital, dando notícia de que a partir daquele momento o aluguel

passaria a ser pago, como não se recordava de ter, naquela ocasião e em tantas outras,

assinado recibos de quitação de aluguel?

Ou, ainda, como não se lembrou do e-mail enviado ao contador

João Muniz Leite por meio do qual especificou os valores recebidos a título de aluguel?

Após a apresentação da comprovação de quitação dos aluguéis

em Juízo, viu-se, mais uma vez, obrigado a alterar sua versão dos fatos e incluir a

assinatura dos mencionados recibos a fim de, mais uma vez, adaptar sua narrativa

àquela elaborada pelo Ministério Público Federal.

Imprescindível, neste momento, destacar as preocupantes notícias

que vieram ao conhecimento do Arguído que apontam uma possível relação entre as

várias mudanças de discurso de Glaucos da Costamarques e seu filho, Gustavo da Costa

Marques28 o qual, além de possuir profunda relação comercial com o pai, foi Diretor de

Relações Institucionais da Camargo Correia por 16 anos e celebrou acordo de

colaboração premiada com a Operação Lava Jato, que correu o risco de ser anulado29.

Segundo notícias veiculadas, a Força Tarefa da Operação Lava

Jato promoveu um recall de acordos de colaboração firmados por ex-executivos da

28 Doc. 05 – disponível em: https://jornalggn.com.br/noticia/a-lava-jato-propoe-a-delator-trocar-o-pescoco-do-filho-pelo-de-lula-por-luis-nassif-e-cintia-alves (consulta em janeiro/2018) 29 Docs. 06 – disponível em: http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,camargo-tentou-proteger-lobao-afirma-executivo,10000088447 (consulta em janeiro/2018)

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Camargo Correa, dentre eles, Gustavo da Costa Marques que, inclusive, teve pedido de

anulação formulado contra seu acordo de delação. Além disso, noticiou-se, ainda, que o

mencionado recall envolveria acusações conta o Arguído30, prática, esta, já usual da

Força Tarefa, entretanto, não menos indignante.

Dessa forma, diante das constantes alterações de discurso e as

diferentes versões apresentadas por Glaucos da Costamarques que, na condição de

corréu na ação penal nº 5063130-17.2016.4.04.7000, – e agindo como se delator fosse –

tem todo o interesse de corroborar a versão apresentada pelo Parquet, somada ao fato de

que mesmo suas mais recentes declarações trazem contradições internas, resta

irrefutável a constatação de que sua palavra não deve ser tida como prova.

III. 6 – Do encontro dos recibos

Por fim, em um último ato de verdadeiro desespero, alega o

Ministério Público Federal:

Diante das tão clamorosas evidências da falsidade ideológica dos documentos impugnados neste incidente, ora destacadas, compreende-se porque a defesa do arguido, como é visível, tenha ido construir a fantasiosa e inverossímil versão sobre o “encontro” dos recibos em sua residência, que não convence ninguém, consoante pormenorizadamente abordado na manifestação ministerial do evento 31, à qual ora aqui se reporta, sendo, assim, pois, irretorquível que o arguido fez uso de recibos ideologicamente falsos na ação penal de que se trata, documentos que foram ardilosamente produzidos para dar falso amparo à simulada locação, que é um dos expedientes de dissimulação da real propriedade do apartamento n. 121 de LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA.

Consoante previamente explanado nestes autos, as pessoas

incumbidas da realização de diligências lograram localizar tanto o contrato de locação

assinado por D. Marisa e pelo corréu Glaucos, como os recibos de locação assinados

30 Doc. 07 – disponível em: https://veja.abril.com.br/blog/radar/recall-da-delacao-da-camargo-correa-trara-revelacoes-sobre-lula/ (consulta em janeiro/2018)

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por este último para dar quitação dos valores à D. Marisa, os quais foram devidamente

entregues a esse Juízo.

Os devidos relatos de como se deu a localização dos referidos

documentos vieram das próprias pessoas que desempenharam a tarefa, e não da Defesa

do Arguído, conforme declarações prestadas perante notário e juntadas aos presentes

autos no evento 6.

O fato de, repita-se, os recibos e demais documentos ora tratados

não terem sido apreendidos (ou selecionados) durante a busca e apreensão policial

realizada na residência do Arguído e de D. Marisa em 04/03/2016 tampouco pode ser

utilizado para confrontar a força probatória da quitação, tal como estabelecido em lei.

O mandado de busca e apreensão expedido por este Juízo não

continha qualquer determinação para a apreensão de elementos destinados à elucidação

da propriedade do apartamento em questão. Aliás, conforme já apontado, havia

determinação específica tão somente havia em relação ao famigerado tríplex do

Guarujá:

“b) documentos que elucidem a propriedade, a aquisição, reforma e instalação de cozinha do art (sic) 164-A do Condomínio Solaris (ex-Mar Cantábrico), incluindo a origem dos recursos nela utilizados”.

O inquérito policial para apurar a propriedade do apartamento 121

do Edifício Hill House, em São Bernardo do Campo/SP, foi instaurado somente em

15/03/2016 – ou seja, 11 dias após a busca e apreensão antes referida – a partir de

impressões coletadas durante a busca e apreensão, como se verifica na portaria

correspondente. Assim, sequer existia investigação em curso relativa àquele imóvel que

pudesse justificar a apreensão do contrato de locação e dos recibos. Mesmo que assim

não fosse – o que somente se admite a título de argumentação –, agentes policiais não

estão imunes a falhas.

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A postura do Parquet de tentar desacreditar o quanto alegado

pelas pessoas que, após empreender esforços, puderam localizar as provas de quitação

dos aluguéis, as quais foram matéria de indagações reiteradas durante o interrogatório

do Arguído em 13.09.2017, tanto por esse Juízo, quanto pelo MPF, demonstra apenas a

dificuldade em aceitar que sua narrativa acusatória não se sustenta.

III.7 – Da força probatória dos Recibos

Por fim, necessário se faz, ainda, explanar, mais uma vez, o

óbvio: os recibos apresentados dão quitação à D. Marisa, falecida esposa do Arguído,

na forma do artigo 319 do Código Civil.

A quitação é a prova mais plena e acabada de adimplemento

segundo a lei brasileira e, segundo a jurisprudência31, “O recibo de pagamento é a única

prova de que pode se valer o devedor para demonstrar que adimpliu a obrigação. É o

que soa do art. 319 do vigente Código Civil”, e o Direito Civil não pode ser

desconsiderado na solução da controvérsia.

O eminente jurista argentino Julio Maier, um dos grandes nomes

do Direito Penal e do Processo Penal do mundo, emitiu parecer crítico sobre a sentença

exarada por este Juízo no caso do chamado “tríplex do Guarujá”. Uma das observações

feitas pelo ilustre Professor naquela oportunidade foi justamente o fato de ter-se

considerado a existência de uma “propriedade de fato” que não tem amparo na

legislação civil brasileira. Relembre-se:

“O fato de excluir o Direito Civil brasileiro para resolver o caso, como pretende a sentença de condenação, é ilegítimo e, a meu juízo, constitui o maior erro dela com referência ao Direito material”.

Se o Sr. Glaucos, como proprietário e locador, emitiu recibos

dando quitação à D. Marisa pelos aluguéis pagos de 2011 a 2015, isso deve ser lido,

31 TJSP, Ap. 1.116.175.900, Rel. Des. Mendes Gomes, j. 13.08.2007.

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segundo a lei brasileira, como prova do pagamento desses aluguéis. O que se poderia

buscar, nessa situação, é a confirmação de que as assinaturas são do Sr. Glaucos – o que

foi efetivamente confirmado por ele.

Ainda que Glaucos se recusasse a admitir a assinatura dos

diversos recibos, a conclusão do renomado perito Celso M. R. Del Picchia em seu

Relatório Pericial Preliminar não deixa dúvidas ao asseverar que as assinaturas

constantes dos recibos são autênticas, lançadas pelo Sr. Glaucos, em diferentes estados

de saúde.

Assim, evidenciada está a necessária improcedência da presente

medida incidental e o consequente reconhecimento de que os recibos de quitação de

aluguel são documentos idôneos, capazes de comprovar os pagamentos efetuados por D.

Marisa Letícia Lula da Silva a Glaucos da Costamarques.

IV – PEDIDOS

Diante de todo o exposto, requer-se:

(i) A rejeição do presente Incidente de Falsidade diante da evidente

inadequação da medida para discutir a aventada falsidade ideológica dos

recibos em questão, entendimento este amplamente majoritário na

doutrina e jurisprudência, inclusive, no E. Tribunal Regional Federal da

4ª Região;

(ii) Na remota hipótese de que esse Juízo entenda ser possível a

discussão acima referida em sede da presente medida incidental, deverá

ela, indubitavelmente, aguardar o desfecho da diligência deferida nos

autos da ação penal nº 5063130-17.2016.4.04.7000 e, posteriormente, ser

julgada improcedente, ante os fatos aqui expostos, reconhecendo-se,

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consequentemente, a autenticidade dos recibos de pagamento de aluguel

apresentados.

Termos em que,

pede deferimento.

De São Paulo (SP) para Curitiba (PR), em 26 de janeiro de 2018.

CRISTIANO ZANIN MARTINS

OAB/SP 172.730

VALESKA TEIXEIRA Z. MARTINS

OAB/SP 153.720

KAÍQUE RODRIGUES DE ALMEIDA

OAB/SP 396.470

SOFIA LARRIERA SANTURIO

OAB/SP 283.240

ALFREDO E. DE ARAUJO ANDRADE

OAB/SP 390.453