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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA SEGUNDA VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE. Referente ao Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN EMENTA: Medida cautelar penal. Investigação sobre possível prática dos crimes de exploração de prestígio qualificada, corrupção ativa qualificada, corrupção passiva qualificada e lavagem de dinheiro, previstos nos artigos 357, parágrafo único, 333, parágrafo único, e 317, § 1º, todos do Código Penal, bem como no artigo 1º da Lei n. 9.613/1998. Diligências investigatórias realizadas. Reunião de elementos consistentes de materialidade e autoria delitiva. Necessidade de decretação da prisão preventiva de um dos envolvidos Presença das condições e dos requisitos, previstos nos arts. 312 e 313 do Código de Processo Penal. Insuficiência da adoção de medidas cautelares alternativas. Pedido formulado nesse sentido. O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por intermédio dos Procuradores da República subscritores, no regular desempenho de suas atribuições institucionais, no curso do procedimento indicado em epígrafe, independentemente de intimação, vem expor e requerer o seguinte. 1. Esclarecimento preliminar No último dia 10/08/2017, o órgão ministerial apresentou manifestação favorável a representação formulada pela Polícia Federal no sentido da obtenção de autorização judicial para realização de busca e apreensão e condução coercitiva de potenciais envolvidos nos fatos apurados no Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN. Posteriormente, contudo, o Ministério Público Federal recebeu da 14 a Vara Federal do Rio Grande do Norte decisão de compartilhamento de provas relacionadas ao Inquérito Policial n. 529/2016- SR/PF/RN, as quais evidenciam a necessidade de decretação de prisão preventiva ou, pelo menos, de adoção de medidas cautelares alternativas, em relação a um ______________________________________________________________________________________________ Avenida Deodoro da Fonseca, nº 743, Tirol, CEP 59.020-600, Natal, Rio Grande do Norte. Telefone: (84) 3232-3900. Endereço eletrônico: www.prrn.mpf.gov.br.

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA SEGUNDA VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE.

Referente ao Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN

EMENTA: Medida cautelar penal. Investigação sobre possível prática dos crimes de exploração de prestígio qualificada, corrupção ativa qualificada, corrupção passiva qualificada e lavagem de dinheiro, previstos nos artigos 357, parágrafo único, 333, parágrafo único, e 317, § 1º, todos do Código Penal, bem como no artigo 1º da Lei n. 9.613/1998. Diligências investigatórias realizadas. Reunião de elementos consistentes de materialidade e autoria delitiva. Necessidade de decretação da prisão preventiva de um dos envolvidos Presença das condições e dos requisitos, previstos nos arts. 312 e 313 do Código de Processo Penal. Insuficiência da adoção de medidas cautelares alternativas. Pedido formulado nesse sentido.

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por intermédio dos Procuradores da República subscritores, no regular desempenho de suas atribuições institucionais, no curso do procedimento indicado em epígrafe, independentemente de intimação, vem expor e requerer o seguinte.

1. Esclarecimento preliminar

No último dia 10/08/2017, o órgão ministerial apresentou manifestação favorável a representação formulada pela Polícia Federal no sentido da obtenção de autorização judicial para realização de busca e apreensão e condução coercitiva de potenciais envolvidos nos fatos apurados no Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN. Posteriormente, contudo, o Ministério Público Federal recebeu da 14a Vara Federal do Rio Grande do Norte decisão de compartilhamento de provas relacionadas ao Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN, as quais evidenciam a necessidade de decretação de prisão preventiva ou, pelo menos, de adoção de medidas cautelares alternativas, em relação a um

______________________________________________________________________________________________ Avenida Deodoro da Fonseca, nº 743, Tirol, CEP 59.020-600, Natal, Rio Grande do Norte.

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dos investigados no presente caso, especificamente o ex-Desembargador Federal Francisco Barros Dias (Processo n. 0000322-68.2017.4.05.8400). Por isso, agora, formula-se o presente requerimento em separado.

2. Fatos e provas

No segundo semestre do ano de 2011, o Ministério Público Estadual, perante a Justiça do Estado do Rio Grande do Norte, deflagrou a chamada “Operação Pecado Capital”. Tratava-se de um conjunto de medidas investigatórias voltadas à apuração de desvio de recursos públicos do Instituto de Pesos e Medidas do Rio Grande do Norte – IPEM/RN, entre 2007 e 2010, durante a gestão do ex-diretor Rychardson de Macedo Bernardo.

Logo depois de ajuizadas as primeiras ações penais, em novembro de

2011, a Justiça Estadual declinou da competência para processamento e julgamento do caso em favor da Justiça Federal, uma vez que se constatou que os recursos públicos do IPEM/RN eram, na verdade, verba federal transferida, com base em convênio, pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia – INMETRO, uma autarquia federal. A “Operação Pecado Capital” passou, então, a tramitar perante a 2ª Vara Federal da Seção Judiciária do Rio Grande do Norte, em Natal.

A Justiça Federal manteve a prisão preventiva de Rychardson de Macedo Bernardo e o sequestro de bens, assim como a intervenção judicial nas empresas usadas para lavagem de dinheiro, medidas anteriormente decretadas na Justiça Estadual. No entanto, em 24 de janeiro de 2012, no Habeas Corpus n. 4599/RN (Processo n. 0000076-28.2012.4.05.0000), a Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região concedeu ordem de soltura do ex-diretor do IPEM/RN. A decisão foi tomada por maioria de votos. O relator, Desembargador Federal Francisco Wildo Dantas, proferiu voto no sentido da denegação da ordem, com a consequente manutenção da prisão. Todavia, os Desembargadores Federais Francisco Barros Dias e Paulo de Tasso Benevides Gadelha, votaram pela concessão da ordem, prevalecendo, assim, a revogação da prisão (fls. 39/51 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN).

Por outro lado, em 12 de junho de 2012, no Mandado de Segurança Coletivo n. 102889/RN (Processo n. 0001309-60.2012.4.05.0000), a Segunda

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Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região conheceu o pedido como “petição dirigida à corte” e restituiu os bens sequestrados ao acusado, bem como revogou a intervenção judicial em suas empresas, mediante assunção do encargo de fiel depositário e a prestação de uma caução de pouco de R$ 101.000,00 (cento e um mil reais). A decisão foi tomada por unanimidade. No entanto, desperta a atenção o fato de o relator, Desembargador Federal Francisco Wildo Dantas, ter proferido voto no sentido do não conhecimento do mandado de segurança, em face da iliquidez do direito. Em razão de intervenção do Desembargador Federal Francisco Barros Dias, resolveu-se adotar uma solução inusitada, com a criação de figura inexistente no direito processual brasileiro, a “petição à corte”, para conhecer o pedido e atender à pretensão do interessado. O Desembargador Federal Paulo de Tasso Benevides Gadelha votou inclusive, de forma mais ampla, pela liberação dos bens e empresas sem qualquer ônus (fls. 39/51 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN).

Na esfera federal, as investigações da “Operação Pecado Capital” tiveram continuidade. Até hoje, o Ministério Público Federal já ajuizou mais de cem ações penais e de improbidade administrativa em face dos envolvidos, tendo constatado um prejuízo total aos cofres públicos de mais de R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais), conforme nota da Procuradoria da República no Rio Grande do Norte (fls. 83/86 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN). Rychardson de Macedo Bernardo e outros implicados acabaram celebrando acordos de colaboração premiada, para obter atenuação de suas penas em troca do auxílio à elucidação dos fatos.

Mais recentemente, neste ano de 2015, Rychardson de Macedo Bernardo, em depoimento de colaboração premiada, revelou que efetuou repasses de valores a advogados com o objetivo de comprar os votos dos Desembargadores Federais da Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região que lhe concederam liberdade e lhe restituíram seus bens e suas empresas. Afirmou que, para obter os votos do Desembargador Federal Francisco Barros Dias, manteve contato direto com o advogado Francisco Welithon da Silva, a quem repassou no total R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais) em valores em espécie, os quais se destinariam, pelo menos em parte, ao magistrado. Disse que, para obter os votos do Desembargador Paulo de Tasso Benevides Gadelha, manteve contato direto e indireto com os advogados Ademar Rigueira Neto e Flávio Claudevan de Gouveia Amâncio, a quem repassou no

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total R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais), tanto em valores em espécie como mediante transferências bancárias.

Para melhor compreensão dos fatos, vale transcrever as declarações prestadas por Rychardson de Macedo Bernardo:

“QUE o declarante foi preso na “Operação Pecado Capital” em 11 de setembro de 2011; QUE a “Operação Pecado Capital” teve início na Justiça Estadual do Rio Grande do Norte, mas depois houve declínio de competência para a Justiça Federal do Rio Grande do Norte; QUE o declarante foi custodiado no Quartel da Polícia Militar em Natal/RN; QUE na época também ficou preso no local o ex-prefeito do Município de Serra do Mel/RN, JOSIVAN BIBIANO DE AZEVEDO; QUE o declarante conversava com JOSIVAN BIBIANO DE AZEVEDO sobre os respectivos processos nos quais tiveram suas prisões decretadas; QUE o declarante disse a JOSIVAN BIBIANO DE AZEVEDO que os advogados do declarante haviam impetrado um habeas corpus no Tribunal Regional Federal da 5ª Região – TRF5, tendo havido indeferimento da liminar, restando pendente o julgamento do mérito (Habeas Corpus n. 4599/RN – Processo n. 0000076-28.2012.4.05.0000); QUE JOSIVAN BIBIANO DE AZEVEDO perguntou ao declarante quem eram os desembargadores federais responsáveis pelo julgamento; QUE o declarante informou que o caso estava na 2ª Turma do TRF5, composta pelos desembargadores federais FRANCISCO WILDO, PAULO GADELHA e FRANCISCO BARROS DIAS; QUE JOSIVAN BIBIANO DE AZEVEDO disse que um advogado que trabalhava com ele no Município de Serra do Mel tinha acesso ao desembargador federal FRANCISCO BARROS DIAS; QUE JOSIVAN BIBIANO DE AZEVEDO disse que esse advogado era FRANCISCO WELITHON DA SILVA; QUE JOSIVAN BIBIANO DE AZEVEDO disse que, quando o advogado em questão fosse visitá-lo, chamaria o declarante para conversar com ele; QUE em dezembro de 2011 ou janeiro de 2012 FRANCISCO WELITHON DA SILVA foi visitar JOSIVAN BIBIANO DE AZEVEDO, ocasião em que o declarante foi apresentado àquele por este; QUE o declarante conversou com FRANCISCO WELITHON DA SILVA em uma sala de visitas do Quartel da Polícia Militar em Natal/RN; QUE o declarante disse que soube que FRANCISCO WELITHON DA SILVA tinha acesso à 2ª Turma do TRF5 e ressaltou que queria resolver o problema de sua liberdade, esclarecendo que o mérito do seu habeas corpus estava pendente de julgamento; QUE o declarante aproveitou a oportunidade e disse que queria, ainda, resolver o problema de seus bens e de suas empresas, os quais

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estavam sequestrados também em razão da “Operação Pecado Capital”; QUE o declarante perguntou quanto FRANCISCO WELITHON DA SILVA queria para resolver o problema; QUE FRANCISCO WELITHON DA SILVA perguntou ao declarante se o declarante “já tinha algum voto” na 2ª Turma do TRF5; QUE o declarante explicou que o advogado do declarante em Recife/PE, ADEMAR RIGUEIRA NETO, tinha acesso ao desembargador federal PAULO GADELHA; QUE ADEMAR RIGUEIRA NETO já havia dito ao declarante que conhecia um ex-assessor do desembargador federal PAULO GADELHA e por meio dele conseguiria o voto de PAULO GADELHA; QUE ADEMAR RIGUEIRA NETO disse que esse voto seria obtido por meio de um acerto de “honorários” com esse ex-assessor; QUE FRANCISCO WELITHON DA SILVA então disse que iria consultar uma “pessoa ali” e responderia; QUE FRANCISCO WELITHON DA SILVA solicitou que o declarante enviasse para ele a documentação referente ao caso; QUE FRANCISCO WELITHON DA SILVA telefonou para essa “pessoa” e marcou um encontro; QUE no mesmo dia ou dias depois FRANCISCO WELITHON DA SILVA retornou ao quartel e falou com o declarante; QUE FRANCISCO WELITHON DA SILVA disse que o habeas corpus seria votado em pouco tempo e que poderia resolver o problema do declarante por R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais); QUE, para resolver o problema dos bens e das empresas alvo de sequestro, FRANCISCO WELITHON DA SILVA cobrou mais R$ 200.000,00 (duzentos mil reais); QUE, em relação ao habeas corpus, FRANCISCO WELITHON DA SILVA disse que o declarante assegurasse o voto do desembargador federal PAULO GADELHA que ele, FRANCISCO WELITHON DA SILVA, garantiria o voto do desembargador federal FRANCISCO BARROS DIAS; QUE ficou acertado que, se o voto do relator, desembargador federal FRANCISCO WILDO, fosse pelo indeferimento do habeas corpus, o desembargador federal FRANCISCO BARROS DIAS abriria divergência, votando pela concessão da ordem, e o desembargador federal PAULO GADELHA acompanharia a divergência; QUE foi exatamente isso o que aconteceu, conforme sessão da 2ª Turma do TRF5 de 24 de janeiro de 2012, em julgamento do HC n. 4599/RN; QUE o pagamento dos R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais) cobrados por FRANCISCO WELITHON DA SILVA pela concessão do habeas corpus ocorreu antes da sessão de julgamento, uma vez que ele exigiu o pagamento adiantado; QUE o dinheiro foi obtido pelo declarante perante seu amigo DIEGO RAMALHO DE MEDEIROS, o qual pode fornecer detalhes sobre a forma pela qual o valor foi levantado; QUE o pagamento ocorreu mediante repasse de valores em espécie por parte do irmão do declarante,

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RHANDSON ROSÁRIO DE MACEDO BERNARDO, e por parte do próprio DIEGO RAMALHO DE MEDEIROS, os quais entregaram o dinheiro a FRANCISCO WELITHON DA SILVA em Recife/PE, no estacionamento do TRF5, no dia 24 de janeiro de 2012, um pouco antes da sessão de julgamento; QUE, com relação ao voto do desembargador federal PAULO GADELHA no habeas corpus, ADEMAR RIGUEIRA NETO disse ao irmão do declarante, RHANDSON ROSÁRIO DE MACEDO BERNARDO, que os “honorários” do ex-assessor, necessários para a obtenção do voto, seriam R$ 100.000,00 (cem mil reais); QUE ADEMAR RIGUEIRA NETO disse que os valores poderiam ser pagos depois do julgamento; QUE, posteriormente à sua liberdade, na semana seguinte à sua soltura, o declarante foi a Recife/PE, juntamente com RHANDSON DE ROSÁRIO DE MACEDO BERNARDO, e entregou o dinheiro a ADEMAR RIGUEIRA NETO; QUE foram repassados valores em espécie; QUE o dinheiro foi levantado pelo próprio declarante, por meio da venda de alguns veículos que não foram sequestrados ou apreendidos pela “Operação Pecado Capital”; QUE a entrega de dinheiro ocorreu no escritório de ADEMAR RIGUEIRA NETO, situado em uma casa; QUE o declarante e seu irmão foram só deixar o dinheiro e voltaram, viajando de carro, não se hospedando em Recife, nem permanecendo lá; QUE, com relação ao sequestro dos bens e das empresas do declarante, FRANCISCO WELITHON DA SILVA formulou um pedido de restituição, mediante caucionamento, perante a 2ª Vara Federal do Rio Grande do Norte (Processo n. 0000560-63.2012.4.05.8400); QUE foi de FRANCISCO WELITHON DA SILVA a ideia de pedir a liberação dos bens e das empresas mediante a prestação de uma garantia de R$ 101.000,00 (cento e um mil reais), valor do único dano ao erário estimado nas ações penais ajuizadas até aquele momento; QUE esse pedido foi apresentado à Justiça Federal de primeira instância ainda em janeiro de 2012, antes de o declarante ser solto; QUE o declarante, depois de solto, continuou a procurar FRANCISCO WELITHON DA SILVA, para viabilizar a liberação dos bens e das empresas que haviam sido sequestrados na “Operação Pecado Capital”; QUE o declarante telefonava de telefones públicos para o celular de FRANCISCO WELITHON DA SILVA e marcava encontros em locais públicos; QUE a maior parte das ligações era feita do telefone público localizado no Carrefour em Natal/RN e do telefone público do Colégio Hipócrates/Faculdade FAL, no Bairro de Candelária, perto do Natal Shopping, em Natal/RN; QUE o pedido de restituição formulado por FRANCISCO WELITHON DA SILVA demorou a ser apreciado, em razão de problema de saúde do juiz titular e suspeição do juiz substituto da 2ª Vara Federal do Rio Grande do Norte; QUE, diante da situação, FRANCISCO

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WELITHON DA SILVA achou melhor impetrar um mandado de segurança diretamente perante a 2ª Turma do TRF5; QUE o advogado do declarante em Recife, ADEMAR RIGUEIRA NETO, entendia que o mandado de segurança não era cabível, por falta de direito líquido e certo; QUE ADEMAR RIGUEIRA NETO entendia que juridicamente seria cabível apenas uma apelação, depois de eventual indeferimento do pedido de restituição pela primeira instância; QUE o declarante acabou convencendo ADEMAR RIGUEIRA NETO a impetrar o mandado de segurança; QUE, como a estratégia para obtenção do habeas corpus, mediante garantia dos votos dos desembargadores federais FRANCISCO BARROS DIAS e PAULO GADELHA, havia dado certo, o declarante argumentou que poderia ser feito o mesmo em relação ao mandado de segurança; QUE o mandado de segurança foi impetrado (Mandado de Segurança Coletivo n. 102889/RN – Processo n. 0001309-60.2012.4.05.0000); QUE, durante a tramitação do mandado de segurança, FRANCISCO WELITHON DA SILVA disse que “sondou” um assessor do relator, desembargador federal FRANCISCO WILDO, e soube que o voto dele seria contrário à concessão da ordem; QUE FRANCISCO WELITHON DA SILVA disse que o desembargador FRANCISCO BARROS DIAS proferiria voto divergente e o desembargador PAULO GADELHA seguiria a divergência; QUE, tal como ocorrido no habeas corpus, FRANCISCO WELITHON DA SILVA exigiu o pagamento adiantado dos R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) cobrados; QUE o declarante somente conseguiu levantar R$ 100.000,00 (cem mil reais); QUE o dinheiro foi obtido mediante venda de veículos não sequestrados ou apreendidos na “Operação Pecado Capital”; QUE essa venda foi feita por RHANDSON ROSÁRIO DE MACEDO BERNARDO e DIEGO RAMALHO DE MEDEIROS; QUE os carros não apreendidos ou sequestrados pela “Operação Pecado Capital” eram vendidos na loja de veículos PRIME VEÍCULOS, em Mossoró/RN, de propriedade de DIEGO RAMALHO DE MEDEIROS; QUE a entrega dos R$ 100.000,00 (cem mil reais) ocorreu em valores em espécie, no estacionamento do Supermercado Hiper Queiroz, no Bairro Leste Oeste, em Mossoró/RN, um dia antes do julgamento do mandado de segurança pela 2ª Turma do TRF5, em 11 de junho de 2012; QUE o declarante, seu irmão RHANDSON ROSÁRIO DE MACEDO BERNARDO e DIEGO RAMALHO DE MEDEIROS encontraram FRANCISCO WELITHON DA SILVA no local e lhe repassaram o dinheiro, em um envelope pardo; QUE o declarante explicou que não tinha conseguido levantar todo o valor acertado, mas assegurou que o restante seria pago depois da liberação dos bens e das empresas; QUE, como garantia do pagamento, o declarante deixou com FRANCISCO

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WELITHON DA SILVA documentos de transferência de outros veículos que não haviam sido apreendidos ou sequestrados na “Operação Pecado Capital” e que o declarante, RHANDSON ROSÁRIO DE MACEDO BERNARDO e DIEGO RAMALHO DE MEDEIROS não haviam conseguido vender a tempo de repassar os valores integrais a FRANCISCO WELITHON DA SILVA; QUE inclusive o declarante sugeriu deixar com FRANCISCO WELITHON DA SILVA, além dos documentos de transferência, os próprios veículos; QUE, no entanto, FRANCISCO WELITHON DA SILVA disse que bastaria ficar com os documentos de transferência; QUE o declarante pediu um prazo de 72 (setenta e duas horas) para vender os veículos e levantar o restante do dinheiro; QUE FRANCISCO WELITHON DA SILVA disse que era necessário o pagamento adiantado porque o desembargador federal FRANCISCO BARROS DIAS só cumpriria o acerto mediante o recebimento antecipado dos valores; QUE, no entanto, FRANCISCO WELITHON DA SILVA acabou concordando com o pedido de prazo adicional feito pelo declarante; QUE, repassados os valores, o declarante, RHANDSON ROSÁRIO DE MACEDO BERNARDO e DIEGO RAMALHO DE MEDEIROS foram de carro para Recife/PE, para acompanhar o julgamento do mandado de segurança no dia seguinte; QUE no caminho, inclusive, cruzaram com o veículo de FRANCISCO WELITHON DA SILVA, o que indica que esse último também foi um dia antes para Recife/PE; QUE o declarante, RHANDSON ROSÁRIO DE MACEDO BERNARDO e DIEGO RAMALHO DE MEDEIROS ficaram hospedados no Recife Praia Hotel, em Boa Viagem, do dia 11 de junho ao dia 12 de junho de 2012; QUE, para garantir o voto do desembargador federal PAULO GADELHA, algumas semanas antes do julgamento do mandado de segurança, o declarante conversou com ADEMAR RIGUEIRA NETO no escritório dele em Recife; QUE ADEMAR RIGUEIRA NETO cobrou R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), a serem pagos depois do julgamento; QUE o declarante disse que já tinha o voto do desembargador federal FRANCISCO BARROS DIAS; QUE ADEMAR RIGUEIRA NETO assegurou que conseguiria o voto do desembargador federal PAULO GADELHA; QUE o acerto, tanto com FRANCISCO WELITHON DA SILVA como com ADEMAR RIGUEIRA NETO, tinha sido feito no sentido de conseguir a liberação dos bens e das empresas do declarante sem qualquer ônus ou restrição; QUE, no dia do julgamento do mandado de segurança, no TRF5, o declarante encontrou ADEMAR RIGUEIRA NETO, que o apresentou ao ex-assessor do desembargador federal PAULO GADELHA, que o declarante soube ser FLÁVIO CLAUDEVAN DE GOUVEIA AMÂNCIO; QUE, na ocasião, o

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declarante perguntou a FLÁVIO CLAUDEVAN DE GOUVEIA AMÂNCIO: “Tudo certo”?; QUE FLÁVIO CLAUDEVAN DE GOUVEIA AMÂNCIO respondeu: “Tudo certo”; QUE o relator, desembargador federal FRANCISCO WILDO, iniciou o voto pelo não conhecimento do mandado de segurança por falta de direito líquido e certo, pois seria necessária a produção de prova; QUE inclusive o relator sugeriu ao advogado do declarante, ADEMAR RIGUEIRA NETO, que fizera sustentação oral, ler artigos do próprio relator sobre o tema; QUE, diante da situação, o desembargador federal FRANCISCO BARROS DIAS apresentou voto divergente, pelo conhecimento do mandado de segurança como “petição dirigida à corte” e pela liberação dos bens e empresas, mas condicionado isso à prestação de caução de R$ 101.000,00 (cento e um mil reais), valor do dano ao erário certo e determinado na época; QUE, dessa forma, o desembargador federal FRANCISCO BARROS DIAS não cumpriu completamente com o combinado; QUE o desembargador federal PAULO GADELHA cumpriu o acerto e votou pela liberação dos bens e das empresas sem ônus ou restrições, não falando em caução; QUE o relator FRANCISCO WILDO concordou com o conhecimento do mandado de segurança como “petição ou pedido à corte”; QUE acabou prevalecendo o voto médio do desembargador FRANCISCO BARROS DIAS; QUE o declarante, assim, obteve a liberação dos bens e das empresas, mas teve que prestar a caução; QUE, na própria sessão de julgamento, o declarante já comunicou a FRANCISCO WELITHON DA SILVA que não iria pagar o restante dos R$ 100.000,00 (cem mil reais) que estavam pendentes, porque o acordo não havia sido integralmente cumprido; QUE FRANCISCO WELITHON DA SILVA depois devolveu ao declarante os documentos de transferência de veículos que haviam sido dados em garantia; QUE, alguns dias depois, o declarante pagou os R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) solicitados por ADEMAR RIGUEIRA NETO; QUE esse pagamento ocorreu mediante transferências bancárias e depósitos em dinheiro para contas indicadas por ADEMAR RIGUEIRA NETO; QUE as transferências bancárias foram feitas por compradores de veículos negociados na PRIME VEÍCULOS; QUE esses carros foram negociados por BRUNO ROCHA DE SOUZA, que pode fornecer maiores informações sobre os fatos; QUE o restante dos valores foi pago por meio de depósitos em dinheiro feitos pelo declarante; QUE, nas negociações sobre a concessão do habeas corpus e do mandado de segurança, FRANCISCO WELITHON DA SILVA deixou claro que os valores cobrados se destinavam a desembargador federal FRANCISCO BARROS DIAS, que votaria a favor do declarante; QUE, com relação a ADEMAR RIGUEIRA NETO, o declarante ficou com a

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impressão de que os valores cobrados se destinavam ao próprio ADEMAR RIGUEIRA NETO e a FLÁVIO CLAUDEVAN DE GOUVEIA AMÂNCIO, não tendo ficado claro se se destinavam também ao desembargador federal PAULO GADELHA; QUE muitos dos contatos com FRANCISCO WELITHON DA SILVA e ADEMAR RIGUEIRA NETO, referentes às negociações ora relatadas, aconteceram por mensagens eletrônicas; QUE o declarante apresenta nesta oportunidade cópia das mensagens e dos arquivos a elas anexados; QUE esses contatos eram feitos pela esposa do declarante, EMANUELA DE OLIVEIRA ALVES, a qual forneceu o material ao declarante” (fls. 09/16 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN).

Diego Ramalho de Medeiros, que auxiliou Rychardson de Macedo Bernardo na obtenção do dinheiro repassado ao advogado Francisco Welithon Silva, o qual seria destinado ao Desembargador Federal Francisco Barros Dias, confirmou ter participado dos fatos, inclusive estando presente nas ocasiões de entrega dos valores. Ao prestar depoimento, ele afirmou:

“QUE o declarante conhece RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO e RHANDSON ROSÁRIO DE MACEDO BERNARDO desde mais ou menos 2002, época em que o declarante morava em Natal/RN; QUE por volta de 2007 o declarante foi morar em Mossoró/RN; QUE mesmo morando em Mossoró/RN continuava mantendo contato com RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO e RHANDSON ROSÁRIO DE MACEDO BERNARDO; QUE, depois de deflagrada a “Operação Pecado Capital”, em 2011, o declarante chegou a visitar RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO e RHANDSON ROSÁRIO DE MACEDO BERNARDO no Quartel da Polícia Militar em Natal/RN, onde eles se encontravam presos; QUE, apesar de decretada a busca e apreensão dos bens e empresas de RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO na “Operação Pecado Capital”, alguns veículos de RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO não foram apreendidos ou sequestrados; QUE posteriormente mesmo os veículos apreendidos ou sequestrados foram liberados; QUE RHANDSON ROSÁRIO DE MACEDO BERNARDO foi solto poucos meses depois da “Operação Pecado Capital”; QUE RHANDSON ROSÁRIO DE MACEDO BERNARDO se mudou para Mossoró; QUE RHANDSON ROSÁRIO DE MACEDO BERNARDO vendeu alguns dos veículos não apreendidos, não sequestrados ou posteriormente liberados na loja do declarante, a PRIME VEÍCULOS, em Mossoró/RN; QUE em janeiro de 2012, RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO disse para o declarante

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que seriam depositados uns cheques na conta do declarante e que o declarante deveria sacar os valores correspondentes e entregar a RHANDSON ROSÁRIO DE MACEDO BERNARDO; QUE, de acordo com RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO, esse dinheiro deveria ser entregue ao advogado FRANCISCO WELITHON DA SILVA; QUE RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO disse ao declarante que o pagamento se destinava a viabilizar a soltura de RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO; QUE não sabia os detalhes da situação; QUE o declarante sacou o dinheiro e foi com RHANDSON ROSÁRIO DE MACEDO BERNARDO entregar os valores a FRANCISCO WELITHON DA SILVA em Recife/PE; QUE entregou o dinheiro a FRANCISCO WELITHON DA SILVA no estacionamento do Tribunal Regional Federal da 5ª Região; QUE na ocasião RHANDSON ROSÁRIO DE MACEDO BERNARDO telefonou para FRANCISCO WELITHON DA SILVA; QUE o declarante nunca tratou do assunto com FRANCISCO WELITHON DA SILVA; QUE o dinheiro foi entregue juntamente com uma mochila, na qual estava acondicionado; QUE FRANCISCO WELITHON DA SILVA pegou a mochila com o dinheiro e se afastou; QUE o declarante e RHANDSON ROSÁRIO DE MACEDO BERNARDO entraram no Tribunal Regional Federal da 5ª Região; QUE na sala de sessões de julgamento, o declarante viu FRANCISCO WELLINGTON DA SILVA, o qual estava sem a mochila do dinheiro; QUE o declarante e RHANDSON ROSÁRIO DE MACEDO BERNARDO assistiram à sessão de julgamento em que o Tribunal Regional Federal da 5ª Região concedeu liberdade a RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO; QUE meses depois, posteriormente à soltura de RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO, o declarante acompanhou RHANDSON ROSÁRIO DE MACEDO BERNARDO e RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO em uma outra entrega de dinheiro a FRANCISCO WELITHON DA SILVA; QUE isso ocorreu no estacionamento do Supermercado Hiper Queiroz, na Avenida Leste Oeste, em Mossoró/RN; QUE na ocasião foram repassados a FRANCISCO WELITHON DA SILVA R$ 100.000,00 (cem mil reais) também em valores em espécie; QUE uma parte do dinheiro em questão foi obtido a partir da venda de alguns veículos; QUE o depoente chegou a fazer um empréstimo no Banco Itaú ou na Unicred de Mossoró/RN para completar o valor em questão; QUE esse empréstimo, pelo que o declarante se recorda, foi de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) ou R$ 30.000,00 (trinta mil reais); QUE RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO e RHANDSON ROSÁRIO DE MACEDO BERNARDO disseram para o declarante que esse pagamento era para liberar os bens e as empresas sequestrados na “Operação

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Pecado Capital”; QUE, no entanto, o declarante não sabe detalhes da negociação; QUE depois da entrega, no mesmo dia, o declarante, RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO e RHANDSON ROSÁRIO DE MACEDO BERNARDO foram para Recife/PE, acompanhar o julgamento do Tribunal Regional Federal da 5ª Região sobre a liberação das empresas; QUE todos se hospedaram no Recife Praia Hotel, em Boa Viagem, Recife/PE; QUE o julgamento ocorreu no dia seguinte, tendo havido a liberação das empresas; QUE FRANCISCO WELITHON DA SILVA também estava presente na sessão de julgamento do Tribunal Regional Federal da 5ª Região; QUE voltaram em seguida para Mossoró/RN; QUE a viagem foi feita de carro” (fls. 21/23 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN).

Por outro lado, Rhandson Rosário de Macedo Bernardo, que é irmão de Rychardson de Macedo Bernardo e que também celebrou acordo de colaboração premiada, atuou tanto na entrega de valores ao advogado Francisco Welithon da Silva como nos repasses de dinheiro aos advogados Ademar Rigueira Neto e Flávio Claudevan de Gouveia Amâncio, vantagem pecuniária que se destinava ao Desembargador Federal Paulo de Tasso Benevides Gadelha. Ao prestar depoimento, ele afirmou:

“QUE o declarante e seu irmão, RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO, foram presos na “Operação Pecado Capital” em 12 de setembro de 2011; QUE a “Operação Pecado Capital” teve início na Justiça Estadual do Rio Grande do Norte, mas depois houve declínio de competência para a Justiça Federal do Rio Grande do Norte; QUE, no primeiro despacho do juiz substituto da 2ª Vara Federal do Rio Grande do Norte, o declarante foi solto, no dia 11 de novembro de 2011; Que o irmão do declarante, RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO, permaneceu preso; QUE na prisão RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO fez uma negociação com o advogado FRANCISCO WELITHON DA SILVA para obter a liberdade e liberar bens e empresas sequestrados na “Operação Pecado Capital”; QUE essa negociação envolvia o pagamento de valores; QUE, como RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO estava preso, coube ao declarante fazer o levantamento dos valores e efetuar a entrega; QUE os primeiros valores, referentes à obtenção da liberdade, foram sacados da conta de DIEGO RAMALHO DE MEDEIROS, na qual tinham sido depositados cheques emitidos pela sogra de RYCHARDSON DE MACEDO BERNADO; QUE foram depositados três cheques de R$

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50.000,00 (cinquenta mil reais); QUE DIEGO RAMALHO DE MEDEIROS sacou R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais); QUE esses valores deveriam ser entregues a FRANCISCO WELITHON DA SILVA, para assegurar a concessão de habeas corpus no Tribunal Regional Federal da 5ª Região; QUE o declarante pegou o dinheiro, juntamente com DIEGO RAMALHO DE MEDEIROS, e se dirigiu a Recife/PE; QUE o dinheiro foi entregue a FRANCISCO WELITHON DA SILVA no dia do julgamento do habeas corpus, minutos antes da sessão; QUE na ocasião o declarante telefonou para o celular de FRANCISCO WELITHON DA SILVA; QUE o declarante usava um celular pré-pago, de prefixo 84 (RN), da operadora VIVO, cadastrado em nome de pessoa da qual o declarante não se recorda; QUE FRANCISCO WELITHON DA SILVA usava os celulares (84) 9979-5152 e (84) 8708-1145; QUE alguns dias antes o declarante provavelmente telefonou para FRANCISCO WELITHON DA SILVA para acertar detalhes da ida a Recife/PE; QUE FRANCISCO WELITHON DA SILVA também chegou a efetuar algumas ligações para o declarante; QUE os valores foram entregues pelo declarante e DIEGO RAMALHO DE MEDEIROS a FRANCISCO WELITHON DA SILVA em uma mochila, no estacionamento do TRF5, QUE o declarante e DIEGO RAMALHO DA SILVA entraram no TRF5 para assistir à sessão de julgamento; QUE FRANCISCO WELITHON DA SILVA também estava na sessão de julgamento, já sem a mochila que continha o dinheiro; QUE, pelo que RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO havia falado para o declarante, FRANCISCO WELITHON DA SILVA garantiria um voto na turma de julgamento do TRF5; QUE o declarante ficou sabendo que esse voto seria do desembargador federal FRANCISCO BARROS DIAS; QUE, por isso, o declarante e a esposa de RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO, EMANUELA DE OLIVEIRA ALVES, em momento anterior, já tinham ido atrás de conseguir o segundo voto; QUE foram falar com o advogado de RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO em Recife/PE, ADEMAR RIGUEIRA NETO; QUE o declarante informou que tinha um voto assegurado e perguntou se ADEMAR RIGUEIRA NETO tinha como conseguir o segundo voto; QUE ADEMAR RIGUEIRA NETO disse que sim e que iria informar o valor; QUE ADEMAR RIGUEIRA NETO disse que tinha acesso ao desembargador federal PAULO GADELHA; QUE ADEMAR RIGUEIRA NETO disse que o declarante poderia pagar o valor depois de obtido o resultado; QUE ADEMAR RIGUEIRA NETO garantiu o voto do desembargador federal PAULO GADELHA, o que fez o declarante entender que o valor cobrado se destinava a esse último; QUE ADEMAR RIGUEIRA NETO cobrou R$ 100.000,00 (cem mil reais); QUE o

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declarante fez umas vendas de veículos e, na semana posterior à soltura de RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO, o declarante foi juntamente com ele a Recife entregar o dinheiro em espécie a ADEMAR RIGUEIRA NETO, no escritório dele, para cumprir o compromisso; QUE, com relação à liberação dos bens e das empresas por meio de mandado de segurança, como RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO já estava solto, o declarante apenas acompanhou o repasse dos valores; QUE o declarante esteve presente em uma entrega de R$ 100.000,00 (cem mil reais) a FRANCISCO WELITHON DA SILVA no estacionamento do Supermercado Hiper Queiroz, em Mossoró/RN; QUE esses R$ 100.000,00 (cem mil reais) foram levantados mediante venda de veículos; QUE esses veículos eram vendidos na loja PRIME VEÍCULOS, em Mossoró/RN, de propriedade de DIEGO RAMALHO DE MEDEIROS; QUE, para completar o pagamento desses R$ 100.000,00 (cem mil reais) a FRANCISCO WELITHON DA SILVA, DIEGO RAMALHO DE MEDEIROS chegou a fazer um empréstimo bancário; QUE DIEGO RAMALHO DE MEDEIROS pode fornecer maiores detalhes sobre isso; QUE o declarante esteve presente na sessão de julgamento do mandado de segurança no TRF5, em Recife; QUE, para obter o mandado de segurança, RICHARDSON DE MACEDO BERNARDO teve que pagar também R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) a ADEMAR RIGUEIRA NETO; QUE o declarante auxiliou no pagamento desses R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), por meio de depósitos em dinheiro e transferências bancárias para contas indicadas por ADEMAR RIGUEIRA NETO” (fls. 17/20 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN).

Especificamente em relação aos últimos repasses de valores aos advogados Ademar Rigueira Neto e Flávio Claudevan de Gouveia Amâncio, houve atuação relevante de Bruno Rocha de Souza, que também celebrou acordo de colaboração premiada. Ele apresentou os comprovantes das transferências bancárias realizadas a esse título, prestando o seguinte depoimento:

“QUE o declarante era gerente da PLATINUM VEÍCULOS (R&A Comércio de Veículos Ltda.), empresa pertencente a RHANDSON ROSÁRIO DE MACEDO BERNARDO, irmão de RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO; QUE, no final de 2011, foi deflagrada a “Operação Pecado Capital”, tendo sido decretada a intervenção nas empresas de RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO e RHANDSON DE ROSÁRIO MACEDO BERNARDO; QUE por isso o declarante deixou de trabalhar na PLATINUM VEÍCULOS; QUE, depois da suspensão da

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intervenção nas empresas, o declarante passou a trabalhar no Restaurante PIAZZALE do Shopping Midway, em Natal/RN, pertencente na época a RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO; QUE, em seguida, o declarante foi trabalhar na CASA DO PÃO DE QUEIJO do Carrefour, em Natal/RN, também pertencente a RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO; QUE no meio do ano de 2012, RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO disse ao declarante que havia alguns veículos a serem vendidos pelo declarante; QUE o declarante, por meio de corretor de nome JOÃO MARIA NASARIO SILVA, conhecido como NASA, ofereceu e vendeu os veículos para lojistas de revenda de veículos usados; QUE RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO passou para o declarante os dados de contas bancárias nas quais os preços dos veículos deveriam ser depositados; QUE RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO disse ao declarante que os depósitos deveriam ser feitos nessas contas como forma de pagamento pela suspensão da intervenção em suas empresas, anteriormente decretada na “Operação Pecado Capital”; QUE RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO disse que o pagamento “era para liberar as empresas em Recife”; QUE o declarante orientou NASA a pedir para os compradores dos veículos fazerem os depósitos conforme as orientações de RYCHARDSON DE MACEDO BERNARDO; QUE os compradores efetuaram os depósitos e NASA repassou os comprovantes para o declarante, por meio de mensagens eletrônicas; QUE o declarante apresenta nesta oportunidade as mensagens eletrônicas de NASA e os comprovantes a elas anexados” (fls. 27/37 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN).

As declarações transcritas foram corroboradas por diversos elementos da investigação. Com relação aos fatos pertinentes ao ex-Desembargador Federal Francisco Barros Dias, há inúmeros dados de confirmação.

Ao ser ouvido, o ex-Prefeito do Município de Serra do Mel, Josivan Bibiano de Azevedo, confirmou ter intermediado o contato inicial entre Rychardson de Macedo Bernardo e o advogado Francisco Welithon da Silva (fls. 448/451). No Inquérito Policial n. 363/2012-DPF/MOS/RN, a Polícia Federal produziu a Informação n. 435/2012, segundo a qual Rychardson de Macedo Bernardo e Rhandson Rosário de Macedo Bernardo seriam proprietários, em conjunto com Diego Ramalho de Medeiros, da empresa Prime Automóveis, revendedora de veículos, situada em Mossoró/RN, a qual foi utilizada para comercializar automóveis não apreendidos ou sequestrados na “Operação Pecado Capital”, com o objetivo de levantar parte dos valores destinados à compra das

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decisões judiciais (fls. 24/26 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN). Informação semelhante acerca de Diego Ramalho de Medeiros e de sua relação com Rychardson de Macedo Bernardo e Rhandson Rosário de Macedo Bernardo foi produzida no Inquérito Policial n. 361/2012-SR/DPF/RN (fls. 1187/1189 do do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN).

Verificou-se que, na época dos fatos, Rychardson de Macedo Bernardo e Rhandson Rosário de Macedo usavam terminais telefônicos cadastrados em nome de terceiros, como do próprio amigo e sócio Diego Ramalho de Medeiros, de Miécio Cabral de Vasconcelos e de Damiana Oliveira do Nascimento (fls. 861/870 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN). Os dados telefônicos obtidos na medida cautelar penal objeto do Processo n. 0000218-13.2016.4.05.8400 evidenciaram contatos entre tais terminais e Francisco Welithon da Silva, bem como entre esse último e Francisco Barros Dias, exatamente nos dias em que os fatos principais ocorreram: as interlocuções iniciais, em Natal/RN, em janeiro de 2012, quando Rychardson de Macedo Bernardo ainda estava preso; as interações, em Recife/PE, em 24 de janeiro de 2012, para repasse dos valores ilícitos referentes à compra e venda do voto de Francisco Barros Dias no habeas corpus que resultou na soltura de Rychardson de Macedo Bernardo; e as conversas, em Mossoró/RN e logo em seguida em Recife/PE, em 11 e 12 de junho de 2012, para repasse das vantagens indevidas relativas à compra e venda do voto de Francisco Barros Dias no mandado de segurança que culminou na liberação de bens e empresas de Rychardson de Macedo Bernardo. A análise desses elementos encontra-se didaticamente retratada nas Informações Policiais n. 0035/2017 e n. 0036/2017 (fls. 1268/1330 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN).

Quanto aos dados telemáticos, o Universo Online enviou a caixa de correio eletrônico de [email protected] (fls. 396/397 do Processo n. 0000218-13.2016.4.05.8400). Diversas mensagens, tanto recebidas (inbox) como enviadas (outbox), relacionam-se aos fatos investigados.

Considerando apenas o período alvo de apuração, destacam-se várias mensagens. Entre as mensagens recebidas, as identificadas como 20027, 20028, 20029, 20030, 20031, 20032 e 20406 corroboram as declarações prestadas por Rychardson de Macedo Bernardo sobre o modo pelo qual conheceu o advogado Francisco Welithon da Silva, uma vez que confirmam que esse último era

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advogado ou consultor jurídico do Município de Serra do Mel e acompanhava a situação do ex-prefeito Josivan Bibiano de Azevedo, também preso na época. Acerca do mesmo assunto tratam as mensagens enviadas identificadas como 701, 710, 711, 730, 731, 759, 760, 768, 769, 771, 772, 773, 774, 775, 776, 777, 778, 820, 825 e 828.

Várias mensagens tratam da promoção, por parte do advogado Francisco Welithon da Silva, de um dos cursos ministrados pelo então Desembargador Federal Francisco Barros Dias, o que mostra a existência de relação próxima entre ambos. Cuidam do tema as mensagens recebidas identificadas como 19817, 19831, 19857 e 20815, 20816, assim como as mensagens enviadas identificadas como 736, 737, 738, 739, 740, 741, 742, 743, 744, 747, 752, 753, 754, 755, 789, 790. Outras mensagens que indicam proximidade entre Francisco Welithon da Silva e Francisco Barros Dias são a mensagem enviada identificada como 26218, em que o primeiro divulga um evento de lançamento de livro prefaciado pelo segundo, e a mensagem enviada identificada como 746, que evidencia que ambos mantêm contato entre si.

Inúmeras mensagens confirmam os contatos entre a esposa de Rychardson de Macedo Bernardo, Emanuela de Oliveira Alves, e o advogado Francisco Welithon da Silva sobre a obtenção das decisões judiciais investigadas. Trata-se das mensagens recebidas identificadas como 18813, 18839, 18854, 18857, 18867, 18883, 18889, 18950, 18965, 18966, 18967, 18976, 18993, 19010, 19011, 19014, 19203, 19225, 19382, 19980, 19995, 21296 21387 e 21483, bem como das mensagens enviadas identificadas como 708, 709, 712, 713, 715, 716, 726, 727, 751 e 813. Entre essas mensagens, vale destacar a enviada identificada como 709, por meio da qual Francisco Welithon da Silva encaminha um arquivo de petição inicial de habeas corpus em favor de Rychardson de Macedo Bernardo e solicita que Emanuela de Oliveira Alves faça ajustes, ressaltando: “preciso disso para fazer o trabalho. preciso disso para ir a recife”. No mesmo sentido se tem a mensagem enviada identificada como 712, por meio da qual Francisco Welithon da Silva pede que um dos advogados de Rychardson de Macedo Bernardo lhe encaminhe o arquivo da petição inicial de habeas corpus, depois de finalizado, destacando: “preciso conhecê-lo antes de concluir a minha parte no trabalho”. As mensagens indicam que o “trabalho” de Francisco Welithon da Silva seria realizado nos bastidores do Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Porém, mais significativa é a mensagem enviada

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identificada como 726, na qual Francisco Welithon da Silva trata com Emanuela de Oliveira Alves sobre o mandado de segurança que seria impetrado para levantar o sequestro de bens e empresas de Rychardson de Macedo Bernardo, afirmando: “Gentileza dizer a Rychardson. Ainda não tenho certeza. Mas, se quiser trabalharei. Acho que dá certo. Nos termos do mandado de segurança que segue. Problema. O homem está viajando. Motivo de doença na família. Tive contato. Não pessoal. Fico no aguardo”. A mensagem e as circunstâncias indicam que o “homem” era Francisco Barros Dias, por quem passaria a resolução da questão do levantamento do sequestro.

Não por acaso, antes da decisão que acabou por liberar os bens e empresas de Rychardson de Macedo Bernardo, o advogado Francisco Welithon da Silva encaminhou mensagem eletrônica diretamente a Francisco Barros Dias (caixa de e-mail [email protected]), remetendo arquivo consistente na denúncia referente ao caso. Isso é o que mostra a mensagem enviada identificada como 806. Contato direto desse tipo entre um advogado e um magistrado que viria a julgar um caso de interesse do primeiro configura atitude heterodoxa, não usual, em um ambiente de honestidade e imparcialidade no exercício da função jurisdicional.

Alguns dados colhidos em pesquisas em fontes abertas também confirmam as declarações citadas. O blog de José Gilberto Dias publicou nota, em 25 de janeiro de 2012, um dia após a soltura de Rychardson de Macedo Bernardo pela Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, segundo a qual o advogado Francisco Welithon da Silva teria obtido a liberdade do ex-diretor do IPEM/RN (fls. 85/87 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN). Curioso notar que, nos autos do Habeas Corpus n. 4599/RN (Processo n. 0000076-28.2012.4.05.0000), não existe nenhum ato praticado por Francisco Welithon Silva. Não há procuração ou substabelecimento. Seu nome ou sua assinatura não constam de qualquer página. Pelo que transparece, Francisco Welithon da Silva efetivamente teve uma atuação “informal” no caso, intermediando a compra e venda do voto de Francisco Barros Dias. Entre as mensagens constantes da caixa de e-mail de Francisco Welithon da Silva, também se identificaram contatos dele com o José Gilberto Dias, os quais, embora tratem de outros assuntos, deixam clara a existência de uma relação entre o advogado e o blogueiro, conforme mensagem enviada identificada como 19573 e mensagens recebidas identificadas como 733, 736, 783 e 798. Ao ser ouvido,

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José Gilberto Dias afirmou ter ouvido de Francisco Welithon da Silva, de quem é amigo, que ele havia sido contratado pela família de Rychardson de Macedo Bernardo no caso (fls. 451/454 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN).

Os dados bancários igualmente confirmam a narrativa dos colaboradores e testemunhas quanto aos eventos relacionados a Francisco Barros Dias. Constam do Caso Simba n. 001-MPF-001912-07 (fls. 1621/1624 do Processo n. 0000218-13.2016.4.05.8400).

Diego Ramalho de Medeiros foi o responsável por gerar valores em espécie para repasse de propina no caso, especificamente no que se refere às quantias destinadas ao Desembargador Federal Francisco Barros Dias. Para o pagamento referente ao habeas corpus, ele recebeu três cheques de José Ramos Alves, pai de Emanuela Alves, noiva de Rychardson de Macedo Bernardo, em 19/01/2012, no valor total de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais):

Recebimentos de valores por Diego Ramalho de Medeiros relacionados ao paga-

mento do HC

Favorecido Valor Data Tipo de operação Conta Observação

Diego Ramalho de Medeiros – Prime

Veículos

R$ 50.000,00 19/01/2012 Cheque de José Ramos Alves

Conta 23500, agência 1468, Itaú Unibanco.

José Ramos Alves é sogro de

Rychardson de Macedo Bernardo

Diego Ramalho de Medeiros – Prime

Veículos

R$ 50.000,00 19/01/2012 Cheque de José Ramos Alves

Conta 23500, agência 1468, Itaú Unibanco.

José Ramos Alves é sogro de

Rychardson de Macedo Bernardo

Diego Ramalho de Medeiros – Prime

Veículos

R$ 50.000,00 19/01/2012 Cheque de José Ramos Alves

Conta 23500, agência 1468, Itaú Unibanco.

José Ramos Alves é sogro de

Rychardson de Macedo Bernardo

Total: R$ 150.000,00

Em 23/01/2012, na véspera do julgamento do habeas corpus, Diego Ramalho de Medeiros sacou os R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais) em valores em espécie, por meio de duas operações:

Retiradas de valores por Diego Ramalho de Medeiros relacionadas ao pagamen-

to do HC

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Debitado Valor Data Tipo de operação Conta Observação

Diego Ramalho de Medeiros ME – Prime Veículos

R$ 75.000,00 23/01/2012 Cheque do próprio Diego Ramalho de

Medeiros ME

Conta 23500, agência 1468, Itaú Unibanco.

Véspera do julgamento do

habeas corpus pelo TRF5

Diego Ramalho de Medeiros – Prime

Veículo

R$ 75.000,00 23/01/2012 Saque Conta 23500, agência 1468, Itaú Unibanco.

Véspera do julgamento do

habeas corpus pelo TRF5

Total: R$ 150.000,00

De posse dos valores, Diego Ramalho de Medeiros e Rhandson Rosário de Macedo Bernardo, irmão de Rychardson de Macedo Bernardo, viajaram para Recife/PE e entregam o dinheiro para Francisco Welithon da Silva no estacionamento do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, na data do julgamento, em 24/01/2012. Rhandson Rosário de Macedo Bernardo estabeleceu contatos telefônicos com Francisco Welithon da Silva, que por sua vez manteve vários contatos telefônicos com Francisco Barros Dias, nesse dia, como evidenciam as já citadas Informações Policiais n. 0035/2017 e n. 0036/2017. Essa quantia destinou-se ao Desembargador Francisco Barros Dias, tanto isso é certo que, de posse do dinheiro, Francisco Welithon da Silva ingressou no Tribunal Regional Federal da 5ª Região, dirigindo-se exatamente ao gabinete de Francisco Barros Dias, ao passo que Diego Ramalho de Medeiros e Rhandson Rosário de Macedo Bernardo entraram e foram assistir ao julgamento na Segunda Turma, conforme registros de entrada na corte (fls. 328, 329 e 330 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN).

Para o pagamento destinado a Francisco Barros Dias, referente ao mandado de segurança para liberação de bens e empresas, Diego Ramalho de Medeiros, juntamente com Rychardson de Macedo Bernardo e Rhandson Rosário de Macedo Bernardo, levantou dinheiro mediante venda de veículos e contração de empréstimo. Entre março e junho de 2012, verificam-se depósitos de valores em espécie, cheques e obtenção de crédito na conta da empresa individual Diego Ramalho de Medeiros ME (Prime Veículos):

Recebimentos de valores por Diego Ramalho de Medeiros relacionados ao paga-

mento do MS

Favorecido Valor Data Tipo de Conta Observação

______________________________________________________________________________________________ Avenida Deodoro da Fonseca, nº 743, Tirol, CEP 59.020-600, Natal, Rio Grande do Norte.

Telefone: (84) 3232-3900. Endereço eletrônico: www.prrn.mpf.gov.br.

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operação

Diego Ramalho de Medeiros – Prime

Veículos

R$ 2.000,00 02/03/2012 Depósito em dinheiro

Conta 23500, agência 1468, Itaú Unibanco.

Vendas de veículos

Diego Ramalho de Medeiros – Prime

Veículos

R$ 9.000,00 02/03/2012 Depósito em dinheiro

Conta 23500, agência 1468, Itaú Unibanco.

Vendas de veículos

Diego Ramalho de Medeiros – Prime

Veículos

R$ 7.500,00 03/04/2012 Depósito em dinheiro

Conta 23500, agência 1468, Itaú Unibanco.

Vendas de veículos

Diego Ramalho de Medeiros – Prime

Veículos

R$ 2.000,00 03/04/2012 Depósito em dinheiro

Conta 23500, agência 1468, Itaú Unibanco.

Vendas de veículos

Diego Ramalho de Medeiros – Prime

Veículos

R$ 2.000,00 03/04/2012 Depósito em dinheiro

Conta 23500, agência 1468, Itaú Unibanco.

Vendas de veículos

Diego Ramalho de Medeiros – Prime

Veículos

R$ 2.000,00 03/04/2012 Depósito em dinheiro

Conta 23500, agência 1468, Itaú Unibanco.

Vendas de veículos

Diego Ramalho de Medeiros – Prime

Veículos

R$ 2.000,00 03/04/2012 Depósito em dinheiro

Conta 23500, agência 1468, Itaú Unibanco.

Vendas de veículos

Diego Ramalho de Medeiros – Prime

Veículos

R$ 1.400,00 03/04/2012 Depósito em dinheiro

Conta 23500, agência 1468, Itaú Unibanco.

Vendas de veículos

Diego Ramalho de Medeiros – Prime

Veículos

R$ 4.000,00 04/04/2012 Cheque Conta 23500, agência 1468, Itaú Unibanco.

Cheque do próprio Diego Ramalho de

Medeiros

Diego Ramalho de Medeiros – Prime

Veículos

R$ 4.000,00 04/04/2012 Cheque Conta 23500, agência 1468, Itaú Unibanco.

Cheque do próprio Diego Ramalho de

Medeiros

Diego Ramalho de Medeiros – Prime

Veículos

R$ 4.000,00 04/04/2012 Cheque Conta 23500, agência 1468, Itaú Unibanco.

Cheque do próprio Diego Ramalho de

Medeiros

Diego Ramalho de Medeiros – Prime

Veículos

R$ 4.000,00 04/04/2012 Cheque Conta 23500, agência 1468, Itaú Unibanco.

Cheque do próprio Diego Ramalho de

Medeiros

Diego Ramalho de Medeiros – Prime

Veículos

R$ 10.000,00 04/05/2012 Depósito em dinheiro

Conta 23500, agência 1468, Itaú Unibanco.

Vendas de veículos

Diego Ramalho de Medeiros – Prime

Veículos

R$ 3.000,00 10/05/2012 Depósito em dinheiro

Conta 23500, agência 1468, Itaú Unibanco.

Vendas de veículos

Diego Ramalho de Medeiros – Prime

Veículos

R$ 2.000,00 04/06/2012 Transferência Conta 23500, agência 1468, Itaú Unibanco.

Transferência do próprio Diego

Ramalho de Medeiros

Diego Ramalho de Medeiros – Prime

Veículos

R$ 35.800,00 05/06/2012 Crédito Capital de Giro Parcelado

Conta 23500, agência 1468, Itaú Unibanco.

Operação de crédito mencionada no

depoimento de Diego Ramalho de Medeiros

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Total: R$ 94.700,00

Na véspera do julgamento do mandado de segurança, em 11/06/2012, Diego Ramalho de Medeiros sacou R$ 82.000,00 (oitenta e dois mil reais) da conta da empresa, obtendo os valores em espécie que foram repassados por Rychardson de Macedo Bernardo e Rhandson Rosário de Macedo Bernardo a Francisco Welithon da Silva no estacionamento de um supermercado em Mossoró/RN:

Retiradas de valores por Diego Ramalho de Medeiros relacionadas ao pagamen-

to do MS

Debitado Valor Data Tipo de operação

Conta Observação

Diego Ramalho de Medeiros ME – Prime Veículos

R$ 82.000,00 11/06/2012 Saque Conta 23500, agência 1468, Itaú Unibanco.

Véspera do julgamento do mandado de segurança

Total: R$ 82.000,00

Consoante as já citadas Informações Policiais n. 0035/2017 e n. 0036/2017, foram mantidos contatos telefônicos entre Rychardson de Macedo Bernardo e Francisco Welithon da Silva, no dia, no horário e nas proximidades do local da entrega dos valores. Em seguida, todos – Rychardson de Macedo Bernardo, Rhandson Rosário de Macedo Bernardo, Diego de Ramalho Medeiros e Francisco Welithon da Silva viajaram para Recife/PE. Foram obtidos os registros de hospedagem dos três primeiros no Recife Praia Hotel (fls. 372/387 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN). Em 12/06/2012, Francisco Welithon da Silva repassou os valores a Francisco Barros Dias, mantendo ambos contato telefônico para isso, de acordo com as Informações Policiais n. 0035/2017 e n. 0036/2017. Quanto a essa data, identificaram-se registros de entrada no Tribunal Regional Federal da 5ª Região tanto de Rychardson de Macedo Bernardo como do próprio Francisco Welithon da Silva (fls. 336 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN).

As informações bancárias demonstram movimentação de valores em espécie, sem identificação de origem e sem correspondência a fonte de renda lícita, em contas bancárias de pessoas relacionadas a Francisco Barros Dias,

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como da sua empresa de cursos jurídicos Latosensu Escola Jurídica Eireli (constituída formalmente em nome de sua esposa Noara Renea Vieira de Alencar) e da sua própria esposa Noara Renea Vieira de Alencar, nas datas dos recebimentos de valores ilícitos ou em dias próximos, bem como ao longo do ano de 2012:

Depósitos de valores em espécie em contas bancárias de Noara Renea

Favorecido Valor Data Tipo de operação Conta Observação

Noara Renea Vieira de Alencar

R$ 500,00 24/01/2012 Depósito em dinheiro Conta 51710, agência 6530, Itaú Unibanco.

Mesma data do julgamento do habeas

corpus.

Total: R$ 500,00

Depósitos de valores em espécie em contas bancárias de Latosensu Escola Jurí-

dica Ltda.

Favorecido Valor Data Tipo de operação Conta Observação

Latosensu Escola

Jurídica Ltda.

R$ 2.100,00 24/01/2012 Depósito online Conta 337587, agência 1246,

Banco do Brasil.

Mesma data do julgamento do habeas corpus.

Latosensu Escola Jurídica Ltda.

R$ 1.370,00 13/03/2012 Depósito online Conta 337587, agência 1246, Banco do Brasil.

Latosensu Escola Jurídica Ltda.

R$ 10.000,00 02/04/2012 Depósito online Conta 337587, agência 1246, Banco do Brasil.

Latosensu Escola Jurídica Ltda.

R$ 2.000,00 09/04/2012 Depósito online Conta 337587, agência 1246, Banco do Brasil.

Latosensu Escola Jurídica Ltda.

R$ 2.000,00 09/04/2012 Depósito online Conta 337587, agência 1246, Banco do Brasil.

Latosensu Escola

Jurídica Ltda.

R$ 12.500,00 18/06/2012 Depósito online Conta 337587, agência 1246,

Banco do Brasil.

Seis dias depois do julgamento do mandado de

segurança.

Latosensu Escola Jurídica Ltda.

R$ 1.000,00 09/07/2012 Depósito online Conta 337587, agência 1246, Banco do Brasil.

Latosensu Escola Jurídica Ltda.

R$ 1.000,00 31/10/2012 Depósito online Conta 337587, agência 1246, Banco do Brasil.

Latosensu Escola Jurídica Ltda.

R$ 23.000,00 30/11/2012 Depósito online Conta 337587, agência 1246, Banco do Brasil.

Latosensu Escola Jurídica Ltda.

R$ 10.000,00 30/11/2012 Depósito online Conta 337587, agência 1246, Banco do Brasil.

Latosensu Escola Jurídica Ltda.

R$ 7.000,00 03/12/2012 Depósito online Conta 337587, agência 1246, Banco do Brasil.

______________________________________________________________________________________________ Avenida Deodoro da Fonseca, nº 743, Tirol, CEP 59.020-600, Natal, Rio Grande do Norte.

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Total: R$ 71.970,00

Além disso, no decorrer das investigações, detectou-se que a empresa Latosensu Escola Jurídica Ltda. adquiriu o veículo Fiat Strada Working, de placas NOG-0554, em julho de 2012, pouco depois dos fatos investigados. O preço do automóvel foi pago por meio da quitação de boletos bancários (fls. 1195/1291 do Processo n. 0000218-13.2016.4.05.8400). Verificou-se, ainda, que, nos dados bancários do caso, não havia registros do pagamento desses boletos, mediante cheque ou transferência, seja por parte da própria Latosensu Escola Jurídica Ltda., seja por parte de sua proprietária formal Noara Renea Vieira de Alencar, seja por parte de seu proprietário de fato Francisco Barros Dias.

Postulou-se, então, a ampliação do afastamento de sigilo bancário, com a expedição de ofício à instituição financeira responsável por receber tais pagamentos, requisitando informações mais detalhadas sobre a forma de pagamento dos boletos. O Banco Santander respondeu, por meio do Oficio n. 000200107832016, que um boleto no valor de R$ 18.300,00 (dezoito mil e trezentos reais) foi pago na agência 3084, da Avenida Paulista, em São Paulo/SP, mediante débito em conta, ao passo que um boleto no valor de R$ 18.000,00 (dezoito mil reais) foi liquidado em caixa do Banco Bradesco (Banco 237), tendo sido os restantes dos valores, de R$ 880,60 (oitocentos e oitenta reais e sessenta centavos) e R$ 2.000,00 (dois mil reais), liquidados também no Banco Bradesco (Banco 237), por meio da internet (fls. 1614 do Processo n. 0000218-13.2016.4.05.8400). O pagamento do boleto de R$ 18.000,00 (dezoito mil reais), diretamente em caixa do Banco Bradesco, certamente ocorreu mediante uso de valores em espécie de origem não identificada e sem correspondência em fonte de renda lícita.

As circunstâncias indicam que os valores em espécie utilizados no caso, principalmente os relacionados à empresa Latosensu Escola Jurídica Eireli, são provenientes dos repasses de vantagens indevidas referentes à venda dos votos de Francisco Barros Dias no habeas corpus e no mandado de segurança em questão. Realmente, nesse sentido, a Informação de Pesquisa e Investigação – IPEI n. NT20160001 da Receita Federal do Brasil apontou, tanto em relação a Francisco Barros Dias como a Noara Renea Vieira de Alencar, movimentação financeira e evolução patrimonial incompatíveis com as respectivas rendas declaradas, ressaltando ainda que, em relação à Latosensu Escola Jurídica Ltda.,

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não houve nem sequer declaração de rendimentos, quanto ao ano de ocorrência dos fatos: 2012 (fls. 444/464 do Processo n. 0000218-13.2016.4.05.8400).

Em relação aos fatos pertinentes ao ex-Desembargador Federal Paulo de Tasso Benevides Gadelha, também existem vários elementos de corroboração. Bruno César Freitas Rocha, que foi motorista do ex-Deputado Estadual Francisco Gilson de Moura, confirmou que transportou o ex-parlamentar a Recife/PE, juntamente com o advogado Fernando Antônio Leal Caldas Filho, até o escritório do advogado Ademar Rigueira Neto, logo depois da prisão de Rychardson de Macedo Bernardo (fls. 1231/1235 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN). As circunstâncias indicam que Francisco Gilson de Moura e Fernando Antônio Leal Caldas Filho, implicados nos fatos da “Operação Pecado Capital”, foram contratar os serviços de advocacia de Ademar Rigueira Neto, perante o Tribunal Regional Federal da 5ª Região, em favor de Rychardson de Macedo Bernardo, conferindo-lhe apoio e proteção, de modo a evitar uma colaboração premiada que os prejudicasse.

A contratação de advogados por Francisco Gilson de Moura para realizar a defesa de Rychardson de Macedo Bernardo foi assunto tratado nos diálogos objeto de interceptação telefônica na “Operação Pecado Capital”. Quando o tema ainda não estava definido, em 07/05/2011, Rychardson de Macedo Bernardo conversou a esse respeito com Iberg de Paiva Moura:

“RICHARDSON comenta com IBERG que tem muita gente sendo intimado. Cita nomes de ALDAIR e GILNEI que foram intimados. Falou para ALDAIR para ter cuidado para não ser processado. RICHARDSON diz está chateado com GILSON por ele não dar atenção a RICHARDSON em relação ao processo criminal que está respondendo. RICHARDSON fala que vai chamar KELPS LIMA para advogar para ele, já que KELPS é o suplente de GILSON MOURA, só para ver qual seria a reação de GILSON. RICHARDSON comenta que GILSON MOURA teve sorte, pois EXPEDITO não quebrou o sigilo bancário de GILSON, porque se quebrasse estaria comprometido. RICHARDSON explica que GILSON deixava o salário da assembléia em uma poupança e RICHARDSON faz a seguinte pergunta: “e o resto das contas dele, pagava com o que?”. Continua falando que se o Ministério Público pegasse, matava ele. IBERG comenta que GILSON deveria no mínimo ajudar com as despesas do advogado de RICHARDSON. Os dois continuam a falar sobre GILSON, de como ele

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não tem apoiado RICHARDSON e os demais que foram intimados a depor.” (áudio de índice 5942414, Auto Circunstanciado nº 32/2011-GAECO/MPRN, fls. 403/407 e 1264/1264 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN)

Em 09/05/2011, Rychardson se mostrou cético quanto à possibilidade de Francisco Gilson de Moura custear as despesas com seus advogados, bem como os honorários advocatícios de outros implicados nos fatos. Em diálogo com seu irmão Rhandson Rosário de Macedo Bernardo, ficou dito o seguinte:

“RICHARDSON liga para RHANDSON falando sobre os valores que o advogado pediu para acompanhar o processo de RICHARDSON. RHANDSON pergunta se o “amigo” não vai arcar com os advogados dos outros envolvidos e RICHARDSON diz que acha difícil. RICHARDSON fala ainda que vai pagar advogado para AÉCIO e ADRIANO.” (áudio de índice 5950767, Auto Circunstanciado nº 32/2011-GAECO/MPRN, fls. 403/407 e 1264/1264 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN)

Em 15/05/2011, Daniel Vale Bezerra, coordenador jurídico do IPEM/RN na gestão de Rychardson de Macedo Bernardo, falou para ele que o então deputado estadual não estaria se recusando a contratar advogados:

“DANIEL conta que GILSON ligou perguntando por RICHARDSON. DANIEL disse a GILSON que RICHARDSON contratou um advogado para acompanhar o processo. GILSON falou para DANIEL que não estava se escondendo para pagar advogado de RICHARDSON. RICHARDSON diz achar que GILSON ta querendo sondar o que RICHARDSON quer fazer contra ele.” (áudio de índice 5979547, Auto Circunstanciado nº 34/2011, fls. 403/407 e 1264/1264 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN)

Posteriormente, o assunto restou resolvido, e Francisco Gilson de Moura contratou inclusive o advogado Arsênio Celestino Pimentel Neto para patrocinar a defesa processual de Rychardson de Macedo Bernardo perante a Justiça Federal do Rio Grande do Norte, em Natal/RN, como evidenciam diálogos telefônicos interceptados na “Operação Assepsia”, compartilhados no caso (Processo n. 0000868-60.2016.4.05.8400, apenso ao Processo n. 0000218-13.2016.4.05.8400). Tais diálogos, identificados pelos índices 6464537, 6464675, 6466349 (todos de 04/10/2011), 6468810, 6468906 (ambos de 05/10/2011), constantes do Auto Circunstanciado n. 089/2011-GAECO/MPRN,

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bem como 6486212, 6487189, 6489110 e mensagem originada (todos de 11/10/2011), constantes do Auto Circunstanciado n. 094/2011, além de 6524953 (de 25/10/2011) e 6542989 (de 03/11/2011), constantes do Auto Circunstanciado n. 106/2011-GAECO/MPRN, todos da “Operação Assepsia”, indicam que os advogados de Rychardson de Macedo Bernardo eram contratados e custeados por terceiros, exatamente aqueles interessados em conferir-lhe amparo como forma de autopreservação.

Não havia, portanto, razão aparentemente lícita para Rychardson de Macedo Bernardo efetuar repasses de valores ao advogado Ademar Rigueira Neto e muito menos ao advogado Flávio Claudevan de Gouveira Amâncio. A informação de que esse último foi assessor do Desembargador Federal Paulo de Tasso Benevides Gadelha, situação que ilustraria a proximidade dele com o magistrado, restou confirmada em consulta à imprensa. O Diário Oficial da União de 13 de maio de 2005, em sua Seção 2, publicou o ato de exoneração do advogado do gabinete do Desembargador, indicando que, pelo menos até essa data, ambos trabalharam formalmente juntos (fls. 90/91 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN). Posteriormente, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região enviou os dados funcionais de Flávio Claudevan de Gouveia Amâncio, evidenciando que ele foi assessor de Paulo de Tasso Benevides Gadelha entre 2001 e 2005 (fls. 1248/1258 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN).

Os dados telefônicos obtidos na medida cautelar penal objeto do Processo n. 0000218-13.2016.4.05.8400 evidenciaram que Rhandson Rosário de Macedo Bernardo efetivamente esteve em Recife/PE, em 09/01/2012, para falar com Adhemar Rigueira Neto. No mesmo dia, Ademar Rigueira Neto manteve contato telefônico com Flávio Claudevan de Gouveia Amâncio. Na véspera do julgamento do habeas corpus, dia 23/01/2014, e no próprio dia da sessão, 24/02/2014, ambos estabeleceram mais contatos telefônicos. Uma vez solto, uma semana depois, após manter contato telefônico com o escritório de advocacia de Ademar Rigueira Neto, Rychardson de Macedo Bernardo foi com Rhandson de Macedo Bernardo a Recife/PE, mais precisamente no dia 02/02/2012, lá repassando R$ 100.000,00 (cem mil reais) em espécie ao advogado. Flávio Claudevan de Gouveia Amâncio, por sua vez, desde o dia 23/01/2012, dia anterior ao julgamento do habeas corpus, até 03/02/2012, dia posterior ao pagamento dos valores, manteve diversos contatos telefônicos com Eugênio Pacelli Remígio de Araújo, assessor, na época, do Desembargador Federal Paulo

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de Tasso Benevides Gadelha (fls. 1259/1261 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN). A análise das informações telefônicas, com essas constatações, encontra-se didaticamente retratada nas Informações Policiais n. 0035/2017 e n. 0036/2017 (fls. 1268/1330 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN).

Não se mostrou viável a obtenção de dados telemáticos mediante afastamento de sigilo em relação a Ademar Rigueira Neto. No entanto, Rychardson de Macedo Bernardo e sua esposa apresentaram diversas mensagens eletrônicas trocadas com pessoas do escritório de Ademar Rigueira Neto, a partir da conta [email protected] (fls. 95/250 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN). As pessoas do escritório de Ademar Rigueira Neto usavam as contas [email protected], [email protected] e [email protected]. Os contatos mostram muitas trocas de arquivos e conversas sobre o habeas corpus e o mandado de segurança na época pendentes de julgamento pela Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região.

O repasse de valores relacionado ao Desembargador Federal Paulo de Tasso Benevides Gadelha, no montante de cerca de R$ 100.000,00 (cem mil reais), no que se refere ao mandado de segurança para liberação de bens e empresas de Rychardson de Macedo Bernardo, teve a participação relevante da pessoa de Bruno Rocha de Souza. A proximidade entre Rychardson de Macedo Bernardo e Bruno Rocha de Souza foi evidenciada pelas constantes visitas feitas pelo segundo enquanto o primeiro permaneceu preso (fls. 341/371 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN).

O pagamento em questão realizou-se, pelo menos em parte, mediante operações bancárias envolvendo pessoas diversas. Os comprovantes de transferência apresentados por Bruno Rocha de Souza evidenciam um depósito de R$ 15.675,00 (quinze mil, seiscentos e setenta e cinco reais), em 10 de julho de 2012, em favor de Patrícia Paraíso Rigueira Alencar, que é irmã de Ademar Rigueira Neto (ambos são filhos da mesma mãe, Marly Paraíso Rigueira). Do mesmo modo, ele apresentou comprovantes de três transferências, uma de R$ 12.285,50 (doze mil, duzentos e oitenta e cinco reais e cinquenta centavos) e duas de R$ 1.000,00 (mil reais), todas de 13 de julho de 2012, em favor de Flávio Gouveia Advogados, escritório de advocacia de Flávio Claudevan de Gouveia Amâncio. As operações ocorreram pouco tempo depois da liberação dos bens e das empresas de Rychardson de Macedo Bernardo pela Segunda Turma do

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Tribunal Regional Federal da 5ª Região, em 12 de junho de 2012. Os documentos estão anexados ao depoimento de Bruno Rocha de Souza (fls. 30/37 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN). Ouvidos, os terceiros de onde provieram os valores em questão informaram que as operações foram feitas conforme instruções de Bruno Rocha de Souza em negócios de compra e venda de veículos pertencentes à empresa Platinum Automóveis (fls. 399/402 e 412/419 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN). A empresa em questão, de razão social R&A Comércio de Veículos Ltda., foi exatamente uma das pessoas jurídicas usadas por Rychardson de Macedo Bernardo para lavagem de dinheiro, conforme perícia contábil-financeira da Polícia Federal (Laudo Pericial n. 081/2013-SETEC/SR/DPF/RN, anexado ao final do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN), e de acordo com sentença proferida na ação penal principal da “Operação Pecado Capital” (Processo n. 0007296-34.2011.4.05.8400, andamento processual e decisões às fls. 909/1122 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN).

Apesar de o fato não ter sido mencionado nos depoimentos de colaboradores e testemunhas, os dados bancários revelaram que Diego Ramalho de Medeiros também auxiliou no pagamento da parte da vantagem indevida direcionada ao Desembargador Federal Paulo de Tasso Benevides Gadelha. Houve duas transferências referentes ao pagamento do mandado de segurança, uma para Flávio Gouveia Advogados e outra para Patrícia Paraíso Rigueira de Alencar:

Transferências de Diego Ramalho de Medeiros relacionadas ao pagamento do

MS

Debitado Valor Data Tipo de operação

Conta Observação

Diego Ramalho de Medeiros ME – Prime Veículos

R$ 1.400,00 13/07/2012 Pagamento de fornecedores

Conta 23500, agência 1468, Itaú Unibanco.

Pagamento a Flávio Gouveia Advogados

Diego Ramalho de Medeiros ME – Prime Veículos

R$ 6.500,00 23/07/2012 TED Conta 23500, agência 1468, Itaú Unibanco.

Pagamento a Patrícia Paraíso

Rigueira de Alencar

Total: R$ 7.900,00

Patrícia Paraíso Rigueira de Alencar também recebeu valores relacionados ao caso, aparentemente, mediante depósitos de valores em espécie,

______________________________________________________________________________________________ Avenida Deodoro da Fonseca, nº 743, Tirol, CEP 59.020-600, Natal, Rio Grande do Norte.

Telefone: (84) 3232-3900. Endereço eletrônico: www.prrn.mpf.gov.br.

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de origem não identificada e sem correspondência a fonte de renda lícita, em sua conta bancária. Em suma, as quantias em questão foram repassados a Patrícia Paraíso Rigueira de Alencar e a Flávio Claudevan de Gouveia Amâncio da seguinte forma:

Recebimentos de valores por parte de Patrícia Rigueira relacionados ao paga-

mento do MS

Favorecido Valor Data Tipo de operação Conta Observação

Patrícia Paraíso Rigueira de

Alencar

R$ 15.675,00 10/07/2012 TED Conta 1000073998, agência 1294, Caixa Econômica Federal.

Valor oriundo de Celso Luiz M Lisboa

(comprovante apresentado por Bruno Rocha de

Souza)

Patrícia Paraíso Rigueira de

Alencar

R$ 2.550,00 13/07/2012 Depósito em dinheiro Conta 1000073998, agência 1294, Caixa Econômica Federal.

Patrícia Paraíso Rigueira de

Alencar

R$ 4.990,00 13/07/2012 Depósito em dinheiro Conta 1000073998, agência 1294, Caixa Econômica Federal.

Patrícia Paraíso Rigueira de

Alencar

R$ 4.990,00 13/07/2012 Depósito em dinheiro Conta 1000073998, agência 1294, Caixa Econômica Federal.

Patrícia Paraíso Rigueira de

Alencar

R$ 4.990,00 13/07/2012 Depósito em dinheiro Conta 1000073998, agência 1294, Caixa Econômica Federal.

Patrícia Paraíso Rigueira de

Alencar

R$ 10.000,00 13/07/2012 Depósito em dinheiro Conta 1000073998, agência 1294, Caixa Econômica Federal.

Patrícia Paraíso Rigueira de

Alencar

R$ 12.200,00 19/07/2012 Depósito em dinheiro Conta 1000073998, agência 1294, Caixa Econômica Federal.

Patrícia Paraíso Rigueira de

Alencar

R$ 6.500,00 23/07/2012 TED Conta 1000073998, agência 1294, Caixa Econômica Federal.

Valor oriundo de Diego Ramalho de Medeiros ME – Prime Veículos (fato não

mencionado pelos colaboradores)

Total: R$ 61.895,00

Recebimentos de valores por parte de Flávio Gouveia relacionados ao paga-

mento do MS

Favorecido Valor Data Tipo de operação Conta Observação

Flávio Gouveia Advogados

R$ 4.400,00 12/07/2012 Transferência da poupança

Conta 479829, agência 2802,

Valor oriundo de Renata Soares Duarte da Silva

______________________________________________________________________________________________ Avenida Deodoro da Fonseca, nº 743, Tirol, CEP 59.020-600, Natal, Rio Grande do Norte.

Telefone: (84) 3232-3900. Endereço eletrônico: www.prrn.mpf.gov.br.

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Banco do Brasil. (comprovante apresentado por Bruno Rocha de

Souza)

Flávio Gouveia Advogados

R$ 1.000,00 13/07/2012 Cheque Conta 479829, agência 2802,

Banco do Brasil.

Valor oriundo de Maria Socorro Carlos Silva

(domiciliada em Tangará/RN – cheque cujo comprovante foi

apresentado por Bruno Rocha de Souza)

Flávio Gouveia Advogados

R$ 1.000,00 13/07/2012 Transferência online Conta 479829, agência 2802,

Banco do Brasil.

Valor oriundo de João Maria Nasário

(comprovante apresentado por Bruno Rocha de

Souza)

Flávio Gouveia Advogados

R$ 1.400,00 13/07/2012 Depósito Conta 479829, agência 2802,

Banco do Brasil.

Valor oriundo de Diego Ramalho de Medeiros ME

– Prime Veículos (não mencionado pelos

colaboradores)

Flávio Gouveia Advogados

R$ 12.285,50 13/07/2012 TED Conta 479829, agência 2802,

Banco do Brasil.

Valor oriundo de Radibat – Baterias, Peças e

Serviços Ltda. (comprovante apresentado

por Bruno Rocha de Souza)

Total: R$ 20.085,50

Os dados bancários do caso indicam, ainda, que parte dos valores repassados na situação acabou sendo realmente recebida, seja pelo assessor Eugênio Pacelli Remígio de Araújo, seja pelo próprio Desembargador Federal Paulo de Tasso Benevides Gadelha, em datas próximas aos fatos, mediante depósitos de quantias fracionadas em dinheiro, de origem não identificada, sem correspondência a fontes de renda lícita, em suas contas bancárias:

Depósitos de valores em espécie em contas bancárias de Eugênio Pacelli Remí-

gio de Araújo

Favorecido Valor Data Tipo de operação Conta Observação

Eugênio Pacelli Remígio de

Araújo

R$ 3.000,00 24/01/2012 Depósito em dinheiro Conta 1000013480, agência 1421, Caixa Econômica Federal.

Mesmo dia do julgamento do habeas corpus.

Eugênio Pacelli Remígio de

Araújo

R$ 1.000,00 26/01/2012 Depósito em dinheiro em lotérica

Conta 1000013480, agência 1421, Caixa Econômica Federal.

Dois dias depois do julgamento do habeas

corpus.

Eugênio Pacelli Remígio de

Araújo

R$ 2.000,00 26/01/2012 Depósito em dinheiro Conta 241960, agência 7029, Itaú

Unibanco.

Dois dias depois do repasse de valores por parte de Rychardson

______________________________________________________________________________________________ Avenida Deodoro da Fonseca, nº 743, Tirol, CEP 59.020-600, Natal, Rio Grande do Norte.

Telefone: (84) 3232-3900. Endereço eletrônico: www.prrn.mpf.gov.br.

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Eugênio Pacelli Remígio de

Araújo

R$ 2.000,00 26/01/2012 Depósito em dinheiro Conta 241960, agência 7029, Itaú

Unibanco.

Dois dias depois do repasse de valores por parte de Rychardson

Eugênio Pacelli Remígio de

Araújo

R$ 2.000,00 26/01/2012 Depósito em dinheiro Conta 241960, agência 7029, Itaú

Unibanco.

Dois dias depois do repasse de valores por parte de Rychardson

Eugênio Pacelli Remígio de

Araújo

R$ 2.000,00 26/01/2012 Depósito em dinheiro Conta 241960, agência 7029, Itaú

Unibanco.

Dois dias depois do repasse de valores por parte de Rychardson

Eugênio Pacelli Remígio de

Araújo

R$ 2.000,00 26/01/2012 Depósito em dinheiro Conta 241960, agência 7029, Itaú

Unibanco.

Dois dias depois do repasse de valores por parte de Rychardson

Eugênio Pacelli Remígio de

Araújo

R$ 500,00 26/01/2012 Depósito em dinheiro Conta 241960, agência 7029, Itaú

Unibanco.

Dois dias depois do repasse de valores por parte de Rychardson

Eugênio Pacelli Remígio de

Araújo

R$ 1.500,00 27/01/2012 Depósito em dinheiro Conta 1000013480, agência 1421, Caixa Econômica Federal.

Três dias depois do julgamento do habeas

corpus.

Eugênio Pacelli Remígio de

Araújo

R$ 500,00 27/01/2012 Depósito em dinheiro Conta 1000013480, agência 1421, Caixa Econômica Federal.

Três dias depois do julgamento do habeas

corpus.

Eugênio Pacelli Remígio de

Araújo

R$ 1.500,00 27/01/2012 Depósito em dinheiro Conta 1000013480, agência 1421, Caixa Econômica Federal.

Três dias depois do julgamento do habeas

corpus.

Eugênio Pacelli Remígio de

Araújo

R$ 1.500,00 27/01/2012 Depósito em dinheiro Conta 1000013480, agência 1421, Caixa Econômica Federal.

Três dias depois do julgamento do habeas

corpus.

Eugênio Pacelli Remígio de

Araújo

R$ 1.500,00 27/01/2012 Depósito em dinheiro Conta 1000013480, agência 1421, Caixa Econômica Federal.

Três dias depois do julgamento do habeas

corpus.

Eugênio Pacelli Remígio de

Araújo

R$ 400,00 31/01/2012 Depósito online Conta 106119, agência 3237,

Banco do Brasil.

Sete dias depois do julgamento do habeas

corpus.

Eugênio Pacelli Remígio de

Araújo

R$ 2.000,00 31/01/2012 Depósito online Conta 241960, agência 7029, Itaú

Unibanco.

Sete dias depois do julgamento do habeas

corpus.

Eugênio Pacelli Remígio de

Araújo

R$ 1.360,00 08/02/2012 Depósito online Conta 106119, agência 3237,

Banco do Brasil.

Seis dias depois do repasse de valores por parte de Rychardson

Eugênio Pacelli Remígio de

Araújo

R$ 1.500,00 09/02/2012 Depósito online Conta 241960, agência 7029, Itaú

Unibanco.

Seis dias depois do repasse de valores por parte de Rychardson

Eugênio Pacelli Remígio de

Araújo

R$ 500,00 09/02/2012 Depósito em dinheiro Conta 1000013480, agência 1421, Caixa Econômica Federal.

Sete dias depois do repasse de valores por parte de Rychardson

Eugênio Pacelli Remígio de

Araújo

R$ 1.300,00 10/02/2012 Depósito em dinheiro Conta 241960, agência 7029, Itaú

Unibanco.

Oito dias depois do repasse de valores por parte de Rychardson

Eugênio Pacelli Remígio de

R$ 700,00 19/06/2012 Depósito online Conta 106119, agência 3237,

Sete dias depois do julgamento do mandado

______________________________________________________________________________________________ Avenida Deodoro da Fonseca, nº 743, Tirol, CEP 59.020-600, Natal, Rio Grande do Norte.

Telefone: (84) 3232-3900. Endereço eletrônico: www.prrn.mpf.gov.br.

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Araújo Banco do Brasil. de segurança.

Eugênio Pacelli Remígio de

Araújo

R$ 500,00 17/07/2012 Depósito online Conta 241960, agência 7029, Itaú

Unibanco.

Quatro dias depois das transferências para Flavio

Gouveia Advogados

Total: R$ 29.260,00

Depósitos de valores em espécie em contas bancárias de Paulo de Tasso Benevi-

des Gadelha

Favorecido Valor Data Tipo de operação Conta Observação

Paulo de Tasso Benevides Gadelha

R$ 9.800,00 31/01/2012 Depósito em dinheiro Conta 1000462106, agência 36, Caixa

Econômica Federal.

Sete dias depois do julgamento do habeas

corpus.

Paulo de Tasso Benevides Gadelha

R$ 9.800,00 31/01/2012 Depósito em dinheiro Conta 1000462106, agência 36, Caixa

Econômica Federal.

Sete dias depois do julgamento do habeas

corpus.

Paulo de Tasso Benevides Gadelha

R$ 1.600,00 06/02/2012 Depósito online Conta 195855, agência 3277,

Banco do Brasil.

Quatro dias depois do repasse de valores por parte de Rychardson

Paulo de Tasso

Benevides Gadelha

R$ 9.500,00 09/02/2012 Depósito em dinheiro

Conta 1000462106, agência 36,

Caixa Econômica

Federal.

Sete dias depois do repasse de valores

por parte de Rychardson

Paulo de Tasso

Benevides Gadelha

R$ 500,00 09/02/2012 Depósito em dinheiro

Conta 1000462106, agência 36,

Caixa Econômica

Federal.

Sete dias depois do repasse de valores

por parte de Rychardson

Paulo de Tasso

Benevides Gadelha

R$ 1.500,00 09/02/2012 Depósito em dinheiro

Conta 1000462106, agência 36,

Caixa Econômica

Federal.

Sete dias depois do repasse de valores

por parte de Rychardson

Paulo de Tasso

Benevides Gadelha

R$ 2.000,00 09/02/2012 Depósito em dinheiro

Conta 1000462106, agência 36,

Caixa Econômica

Federal.

Sete dias depois do repasse de valores

por parte de Rychardson

Paulo de Tasso

Benevides Gadelha

R$ 1.500,00 09/02/2012 Depósito em dinheiro

Conta 1000462106, agência 36,

Caixa Econômica

Federal.

Sete dias depois do repasse de valores

por parte de Rychardson

______________________________________________________________________________________________ Avenida Deodoro da Fonseca, nº 743, Tirol, CEP 59.020-600, Natal, Rio Grande do Norte.

Telefone: (84) 3232-3900. Endereço eletrônico: www.prrn.mpf.gov.br.

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Paulo de Tasso

Benevides Gadelha

R$ 1.500,00 09/02/2012 Depósito em dinheiro

Conta 1000462106, agência 36,

Caixa Econômica

Federal.

Sete dias depois do repasse de valores

por parte de Rychardson

Paulo de Tasso

Benevides Gadelha

R$ 1.500,00 09/02/2012 Depósito em dinheiro

Conta 1000462106, agência 36,

Caixa Econômica

Federal.

Sete dias depois do repasse de valores

por parte de Rychardson

Paulo de Tasso

Benevides Gadelha

R$ 1.500,00 09/02/2012 Depósito em dinheiro

Conta 1000462106, agência 36,

Caixa Econômica

Federal.

Sete dias depois do repasse de valores

por parte de Rychardson

Paulo de Tasso Benevides Gadelha

R$ 3.000,00 26/06/2012 Depósito em dinheiro Conta 1000462106, agência 36, Caixa

Econômica Federal.

Quatorze dias depois do julgamento do mandado

de segurança.

Paulo de Tasso Benevides Gadelha

R$ 3.000,00 26/06/2012 Depósito em dinheiro Conta 1000462106, agência 36, Caixa

Econômica Federal.

Quatorze dias depois do julgamento do mandado

de segurança.

Paulo de Tasso Benevides Gadelha

R$ 1.000,00 26/06/2012 Depósito em dinheiro Conta 1000462106, agência 36, Caixa

Econômica Federal.

Quatorze dias depois do julgamento do mandado

de segurança.

Paulo de Tasso Benevides Gadelha

R$ 1.000,00 26/06/2012 Depósito em dinheiro Conta 1000462106, agência 36, Caixa

Econômica Federal.

Quatorze dias depois do julgamento do mandado

de segurança.

Paulo de Tasso Benevides Gadelha

R$ 1.000,00 26/06/2012 Depósito em dinheiro Conta 1000462106, agência 36, Caixa

Econômica Federal.

Quatorze dias depois do julgamento do mandado

de segurança.

Paulo de Tasso

Benevides Gadelha

R$ 9.900,00 20/07/2012 Depósito em dinheiro

Conta 1000462106, agência 36,

Caixa Econômica

Federal.

Sete dias depois das transferências para

Flávio Gouveia Advogados.

Paulo de Tasso

Benevides Gadelha

R$ 4.100,00 20/07/2012 Depósito em dinheiro

Conta 1000462106, agência 36,

Caixa Econômica

Federal.

Uma semana depois das transferências

para Flávio Gouveia

Advogados.

Paulo de Tasso

Benevides Gadelha

R$ 9.900,00 20/07/2012 Depósito em dinheiro

Conta 1000462106, agência 36,

Caixa Econômica

Federal.

Uma semana depois das transferências

para Flávio Gouveia

Advogados.

Total: R$ 73.600,00

______________________________________________________________________________________________ Avenida Deodoro da Fonseca, nº 743, Tirol, CEP 59.020-600, Natal, Rio Grande do Norte.

Telefone: (84) 3232-3900. Endereço eletrônico: www.prrn.mpf.gov.br.

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Por fim, destaca-se que os votos proferidos pelos magistrados foram exatamente no sentido indicado pelas negociações ilícitas travadas entre o grupo de Rychardson de Macedo Bernardo e os advogados intermediários, inclusive tendo havido discrepância com o entendimento do relator em ambos os processos. No caso do habeas corpus, não se pode deixar de ressaltar que, ao longo da “Operação Pecado Capital”, Rychardson havia adotado diversas medidas que trouxeram prejuízo às investigações, como a ingerência política para a mudança do delegado de Polícia Civil que conduzia as investigações na esfera estadual e a intimidação de testemunhas, tanto na fase pré-processual como no curso da ação penal (diálogos interceptados de índices 5790223 e 6051304 dos Autos Circunstanciados n. 020/2011-GAECO/MPRN e n. 040/2011-GAECO/MPRN, respectivamente – fls. 403/407 e 1264/1264 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN – e atas de audiência, despachos e depoimentos de fls. 1190/1204 do mesmo procedimento investigatório), o que exigia a manutenção de sua prisão preventiva. Quanto à liberação de bens e empresas, foi visível a insistência do Desembargador Federal Francisco Barros Dias em atender ao pedido do interessado, conhecendo um mandado de segurança incabível sob a forma da figura inusitada da “petição dirigida à corte”.

Vale destacar, ainda, que Francisco Barros Dias encontra-se aposentado desde 2015, ao passo que Paulo de Tasso Benevides Gadelha faleceu em 2013, sendo ambos os fatos notórios (fls. 92/94 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN). Trata-se, portanto, de dois ex-magistrados federais, sem foro por prerrogativa de função.

3. Do direito

Os elementos constantes dos autos indicam que os fatos se relacionam a esquema de compra e venda de decisões judiciais no Tribunal Regional Federal da 5ª Região, mediante repasse oculto e dissimulado de vantagens indevidas. No caso, vislumbra-se a prática de crimes de exploração de prestígio qualificada, corrupção ativa qualificada, corrupção passiva qualificada e lavagem de dinheiro, previstos nos artigos 357, parágrafo único, 333, parágrafo único, e 317, § 1º, todos do Código Penal, bem como no artigo 1º da Lei n. 9.613/1998.

______________________________________________________________________________________________ Avenida Deodoro da Fonseca, nº 743, Tirol, CEP 59.020-600, Natal, Rio Grande do Norte.

Telefone: (84) 3232-3900. Endereço eletrônico: www.prrn.mpf.gov.br.

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Conforme exposto na análise dos aspectos fáticos e probatórios do caso, há provas da existência de crimes e indícios suficientes de autoria delitiva. Ademais, todos as infrações penais relacionadas à situação são dolosas punidas com pena privativa de liberdade máxima superior a 04 (quatro) anos de reclusão. Encontram-se presentes, portanto, as condições para decretação da prisão preventiva previstas nos arts. 312, parte final, e 313, inciso I, do Código de Processo Penal.

Especificamente em relação ao investigado Francisco Barros Dias, também se verifica a presença dos requisitos concernentes ao risco à ordem pública, à conveniência da instrução criminal e à garantia da aplicação da lei penal, dispostos na parte inicial do art. 312 do Código de Processo Penal. Cumpre, pois, decretar-lhe a custódia cautelar, para assegurar a eficácia da tutela jurisdicional, conforme explicitado adiante.

a) Risco à ordem pública

Em 2016, a Procuradoria da República no Rio Grande do Norte e a Polícia Federal instauraram investigação para apurar esquema de exploração de prestígio, por parte do ex-Desembargador Federal Francisco Barros Dias, perante o Tribunal Regional Federal da 5ª Região, crime previsto no artigo 357 do Código Penal. O caso teve início a partir de elementos colhidos em acordo de colaboração premiada celebrado entre o Ministério Público Federal e Acácio Allan Fernandes Forte, homologado pela 14ª Vara Federal do Rio Grande do Norte no Processo n. 0001295-57.2016.4.05.8400.

O colaborador forneceu áudios de conversas mantidas entre ele e possíveis agentes do esquema. Os diálogos foram gravados pelo próprio colaborador, conforme admite a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal: “É lícita a prova consistente em gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem conhecimento do outro” (STF, Pleno, RE n. 583.937-QO-RG/RJ, Rel. Min. Cezar Peluso, j. 19.11.2009, m.v., RTJ 220/589).

Com base em tais elementos, instaurou-se o Inquérito Policial n. 529/2016-SR/DPF/RN. A autoridade policial representou pelo afastamento do sigilo de dados telemáticos (Processo n. 0001303-34.2016.4.05.8400), bem como pela interceptação telefônica (Processo n. 0001304-19.2016.4.05.8400) dos

______________________________________________________________________________________________ Avenida Deodoro da Fonseca, nº 743, Tirol, CEP 59.020-600, Natal, Rio Grande do Norte.

Telefone: (84) 3232-3900. Endereço eletrônico: www.prrn.mpf.gov.br.

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suspeitos. O órgão ministerial formulou pedido de afastamento de sigilos fiscal, bancário e telefônico dos potenciais envolvidos (Processo n. 0001379-58.2016.4.05.8400), assim como requerimento de compartilhamento de provas relacionadas ao Inquérito Policial n. 278/2016-SR/DPF/RN.

Paralelamente, foi deflagrado o Procedimento Investigatório Criminal n. 1.28.000.001709/2016-61 para fins de organização da colheita de provas diretamente pelo Ministério Público Federal. Tal feito restou posteriormente anexado, como Apenso I, ao Inquérito Policial n. 529/2016-SR/DPF/RN. Cópia digitalizada de todos esses autos segue em anexo, conforme autorização constante do Processo n. 0000322-68.2017.4.05.8400. Cópia das mensagens de e-mail de Francisco Barros Dias, cujo sigilo telemático restou afastado no Processo n. 0001304-19.2016.4.05.8400, já havia sido compartilhada e juntada ao presente caso (fls. 1710/1718 do Processo n. 000218-13.2016.4.05.8400).

A análise conjunta dos dados do caso indica o cometimento permanente e reiterado do delito de exploração de prestígio em vários processos em trâmite no Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por parte de Francisco Barros Dias, a partir de seu ingresso na inatividade. Além disso, vislumbra-se probabilidade concreta do cometimento, também, de outros crimes, como associação criminosa, falsidade ideológica de documentos particulares, uso de documentos particulares ideologicamente falsos e lavagem de dinheiro, descritos nos artigos 288, 299 e 304 do Código Penal, assim como no artigo 1º da Lei n. 9.613/1998.

O ex-Desembargador Federal Francisco Barros Dias se aposentou no início do ano de 2015; sua passagem para a inatividade ocorreu mais precisamente em 20 de abril de 2015 (aprovação da aposentadoria pelo plenário do Tribunal Regional Federal da 5ª Região às fls. 895 do Apenso I do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/DPF/RN e Decreto de 26 de maio de 2015 da Presidência da República às fls. 896 do Apenso I do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/DPF/RN). A partir de então ele passou a exercer a advocacia, inclusive perante a corte na qual trabalhava, em contrariedade à quarentena de três anos prevista no artigo 95, parágrafo único, inciso V, da Constituição de 1988.

Francisco Barros Dias, como contrapartida pelos seus serviços, solicita

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e recebe valores elevados, com base no prestígio que tem perante os órgãos jurisdicionais federais, decorrente em grande parte da proximidade com juízes e desembargadores federais, seus ex-colegas de trabalho. Para isso, conta com o auxílio de advogados ou bacharéis em direito, como seu filho Ivis Giorgio Tavares Barros Dias, José Luiz Carlos de Lima, Anderson Gurgel Dantas, Marcos Lacerda de Almeida Filho e Gleydson Firmino da Silva. Muitos dos valores são recebidos de forma oculta e disfarçada, por meio de sua empresa de cursos jurídicos, a Latosensu Escola Jurídica Eireli, e por meio de sua esposa, Noara Renea Vieira de Alencar, em nome de quem inclusive tal empresa se encontra constituída, bem como mediante o recebimento de valores em espécie, sem identificação da origem.

A análise conjugada de dados bancários, fiscais, telefônicos e telemáticos conduziu à identificação de elementos que apontam no sentido da prática de exploração de prestígio por Francisco Barros Dias, perante o Tribunal Regional Federal da 5ª Região, em, pelo menos, seis conjuntos de fatos. Nesta oportunidade, destacam-se os aspectos mais relevantes de cada um desses complexos fáticos: a “Operação Pecado Capital”, apelações criminais, a “Operação Salt”, ações rescisórias, uma revisão criminal e uma ação penal originária.

A “Operação Pecado Capital” trata de esquema de desvio de recursos públicos federais repassados pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia – INMETRO ao Instituto de Pesos e Medidas do Rio Grande do Norte – IPEM/RN entre 2007 e 2010. Tramitou e tramita perante a 2ª Vara Federal do Rio Grande do Norte, havendo uma ação por crime contra a ordem tributária em curso na 14ª Vara Federal do Rio Grande do Norte (Processo n. 0000442-48.2016.4.05.8400). Um dos envolvidos, Acácio Allan Fernandes Forte, condenado em dois processos, os quais se encontram em grau de apelação no Tribunal Regional Federal da 5ª Região, e ainda processado na ação penal da 14ª Vara Federal do Rio Grande do Norte, procurou contratar os serviços de Francisco Barros Dias para “resolver” sua situação processual.

Ele acabou gravando as conversas e celebrando acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal, revelando os fatos e expondo a forma de atuação de Francisco Barros Dias. Inicialmente, Acácio Allan Fernandes Forte apresentou a gravação de uma conversa mantida, no final de

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junho ou início de julho de 2016, com Francisco Gilson de Moura, principal envolvido na “Operação Pecado Capital”, que vem obtendo inúmeros trancamentos de ações penais relacionadas ao caso, perante o Tribunal Regional Federal da 5ª Região (fls. 99/220 do Apenso I do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/DPF/RN). O diálogo já mostrava uma estranha articulação de Francisco Gilson de Moura perante o Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Na situação, Acácio Allan Fernandes Forte procurou Francisco Gilson de Moura solicitando ajuda em relação à sua situação processual na “Operação Pecado Capital”. Acácio Allan Fernandes Forte chegou a sugerir o repasse de valores no caso: “O que é que ocorreu? Meu pai conseguiu levantar uns 'troçovéi' aí. Certo? Queria lhe mostrar aqui.... A esposa dele faleceu e ele conseguiu levantar uns trocados” (06min:28seg/06min:47seg da gravação – Informação Policial nº 658/2016-NIP/SR/PF/RN, às fls. 76/84 do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN). Francisco Gilson de Moura, bastante cauteloso e temeroso de estar sendo monitorado, em princípio, rechaçou essa sugestão, mas pediu a identificação do magistrado responsável pelos processos de Acácio Allan Fernandes Forte: “Lá não funciona assim... Eu quero saber o seguinte: quem é o desembargador que está cuidando do seu processo?...Você vai me passar o nome do desembargador que está com seu processo. Você confia em mim?... Você vai me dar o nome do desembargador, tá bom?... Deixa eu sentir como é que está o processo” (08min:13seg/08min:57seg da gravação – Informação Policial nº 658/2016-NIP/SR/PF/RN, às fls. 76/84 do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN). Embora não captado pela gravação, Francisco Gilson de Moura perguntou se o desembargador em questão seria “Vladimir”, em referência ao relator de seus processos, Desembargador Federal Vladimir Souza Carvalho, conforme Acácio Allan Fernandes Forte esclareceu em depoimento posterior (fls. 623/625 do Apenso I do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN). Em seguida, Francisco Gilson de Moura disse que iria atuar para a resolução dos problemas de Acácio Allan Fernandes Forte: “Preste atenção, eu vou lhe ajudar. Guarde o seu dinheiro agora” (09min:10seg/09min:20seg da gravação Informação Policial nº 658/2016-NIP/SR/PF/RN, às fls. 76/84 do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN). Francisco Gilson de Moura disponibilizou-se, ainda, a ir para Recife verificar o caso, passando uma posição posteriormente para Acácio Allan Fernandes Forte: “Eu to precisando de um extrato, e eu vou lá” (11min:10seg/11min:15seg da gravação – Informação Policial nº 658/2016-NIP/SR/PF/RN, às fls. 76/84 do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN); “Meu amigo, deixa eu ver o processo... Tenha paciência... Me dê o processo pra

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eu ver, aí depois que eu vir eu dou o parecer pra você, tu entendeste?” (13min:58seg/14min:30seg da gravação – Informação Policial nº 658/2016-NIP/SR/PF/RN, às fls. 76/84 do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN); “Eu só quero uma coisa, o número do processo... Entrega a Bruno... Toda a nossa comunicação vai ser por meio de Bruno” (22min:40seg/22min:50seg da gravação – Informação Policial nº 658/2016-NIP/SR/PF/RN, às fls. 76/84 do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN); “A gente tem que fazer... com a cabeça, num pode ser no tranco não. Tem que pegar o número do processo pra saber” (32min:22seg/32min:42seg da gravação - Informação Policial nº 658/2016-NIP/SR/PF/RN, às fls. 76/84 do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN); “Baixinho, eu vou trabalhar!” (43min:30seg/43min:35seg da gravação - Informação Policial nº 658/2016-NIP/SR/PF/RN, às fls. 76/84 do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN). Ambos combinaram que Francisco Gilson de Moura iria a Recife com Bruno César Rocha (ex-motorista de Francisco Gilson de Moura e amigo de Acácio Allan Fernandes Forte) para tratar da questão: Acácio para Gilson: “Qual o dia que ele vem, pra ir mandar buscar ele?” Gilson para Acácio: “Eu dou o toque no Whatsapp.... Aí você vai fazer o seguinte ó: a gente sai daqui cinco e meia da manhã”. Acácio para Bruno: Você tem vir à noite, então, pra você num perder o seu trabalho lá” (32min:46seg/33min:02seg da gravação – Informação Policial nº 658/2016-NIP/SR/PF/RN, às fls. 76/84 do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN).

A viagem de Francisco Gilson de Moura para Recife acabou não acontecendo. No final do mês de julho de 2016, Acácio Allan Fernandes Forte manteve nova conversa com Francisco Gilson de Moura, na qual este indicou à quele o advogado José Luiz Carlos de Lima, que atuaria em conjunto com o ex-Desembargador Federal Francisco Barros Dias, para tratar dos processos daquele no Tribunal Regional federal da 5ª Região. Essa conversa não foi gravada, tendo sido relatada em termo de declarações do colaborador constante do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/DPF/RN. A situação já era bastante estranha, uma vez que José Luiz Carlos de Lima nunca fora advogado de Francisco Gilson de Moura em processo algum. Além disso, Francisco Barros Dias aposentou-se do Tribunal Regional Federal da 5ª Região no início do ano de 2015, não podendo advogar legalmente perante a corte pelo prazo de três anos, prazo de quarentena previsto no artigo 95, parágrafo único, inciso V, da Constituição de 1988.

No dia 27 de julho de 2016, Acácio Allan Fernandes Forte

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manteve contato telefônico com o advogado José Luiz Carlos de Lima. Na conversa, o causídico confirmou que trabalhava em conjunto com Francisco Barros Dias em processos no Tribunal Regional Federal da 5ª Região, podendo ambos atuar nos feitos de interesse de Acácio Allan Fernandes Forte. A conversa foi gravada por esse último. Por telefone, José Luiz Carlos de Lima foi cauteloso, mas chegou a afirmar o seguinte: “Agora eu tenho como eu e ele, essa pessoa que você sabe, que é um cabra que se aposentou há pouco tempo, que era de lá… é um dos melhores do Brasil. Eu trabalho com ele, eu faço as petições, eu assino, e ele acompanha tudo. Se você confiar, a gente não pode garantir o resultado; agora, que nós vamos trabalhar pra resolver, vamos… Então se você quiser, como Gilson lhe disse, e confiar, a gente vai, você adiantaria a metade, a gente pega o seu processo e começa a trabalhar desde já e vamos lhe dando satisfação do que for sendo feito… Aí você me paga a metade, a mim e ao 'homem', não é só a mim não, os dois, é eu e ele, o mesmo que você sabe aí que Gilson lhe disse, que trabalha comigo. Aí nós vamos trabalhar lá. Ele conhece tudim. Ele aposentou-se num faz cinco meses. Ele era desembargador lá” (04min:40seg/10min:30seg da segunda parte da gravação – Informação Policial nº 658/2016-NIP/SR/PF/RN, às fls. 76/84 do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN).

Em seguida, no mesmo dia 27 de julho de 2016, Acácio Allan Fernandes Forte procurou novamente Francisco Gilson de Moura para agradecer pela intermediação dele para o contato estabelecido com José Luiz Carlos de Lima. A conversa foi gravada pelo primeiro. Na ocasião, Francisco Gilson de Moura, com receio de estar sendo monitorado, ligou um som em volume alto, mas se pode perceber que foi dito o seguinte, sobre o contato com o advogado José Luiz Carlos de Lima: Acácio: “Falei com ele… Disse: Gilson Moura pediu pra entrar em contato com você… Ele disse: pronto, como você quer fazer? Vamos trabalhar juntos em Natal. Eu tenho uma pessoa em Natal... Mas eu acho melhor a gente falar pessoalmente...”; Gilson: “Isso. Não fale por telefone”; Acácio: “Eu disse: eu acho melhor pessoalmente.. Eu vou amanhã pra Mossoró e encontro com o senhor aí… Ele disse: meu contato é bom, meu contato é Barros, eu trabalho em parceria com ele”; Gilson: “Baixim, você mora no meu coração. Eu fiz e farei… Preste atenção, leve os processos.. Ele sabe o curso bem direitinho… Esse cara sabe tudo… Eu já falei, conversei com ele três horas, conversei pra caramba. E tô conversando com ele. Falou que você só tinha setenta mil”; Acácio: “Ele falou só assim: Eu trabalho, Gilson sabe que eu

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trabalho em parceria com Barros” (03min:15seg/13min:20seg da gravação – Informação Policial nº 658/2016-NIP/SR/PF/RN, às fls. 76/84 do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN).

Os dados telefônicos obtidos em razão de afastamento de sigilo decretado no Processo n. 0001379-58.2016.4.05.8400 registram contatos mantidos entre Francisco Gilson de Moura (telefone 84-99640.4745, cadastrado em nome próprio) e José Luiz Carlos de Lima (telefone 84-99682.5951, cadastrado em nome de Ruterlan Vieira da Costa, mas por ele utilizado). Tais contatos foram feitos exatamente na época dos fatos, em 11 de julho de 2016, de acordo com o Relatório de Análise n. 057/2017-SPEA/PGR (fls. 152/158 do Processo n. 0001379-58.2016.4.05.8400).

No dia 28 de julho de 2016, Acácio Allan Fernandes Forte encontrou pessoalmente com José Luiz Carlos de Lima. Na conversa pessoal, também gravada, travada no escritório do advogado, ele foi mais claro e incisivo, afirmando, em relação a Francisco Barros Dias e ao caso em geral: “Enfim, é um cara que vivia com esses mesmos desembargadores que vão lhe julgar, ele vivia como nós aqui, de amizade, eles julgavam juntos, ele… faz uns quatro meses que ele se aposentou… Entendeu?... Então ele é um cara forte...” (20min:40seg/20min:56seg da gravação); “Ambos a gente vai recorrer, vai trabalhar no TRF pra baixar essa pena, essa e essa, baixadas essas duas penas, nós vamos recorrer para o STJ, Superior Tribunal de Justiça em Brasília. Aí depende. Depois do STJ vai ocorrer prescrição… Nós vamos pra lá, fazer sustentação oral. Ele vai conversar com os pares dele, entendeu? Dizer: isso é um rapaz de bem, estuda… tem curso superior... Mostrar a sentença que lhe absolveu por formação de quadrilha… Eu vou fazer a sustentação oral e ele vai fazer embargos auriculares em cada um dos colegas, amigos dele, que são desembargadores, como ele é um desembargador, aposentado mas é desembargador, então é chamado pra lá sempre, pra receber medalha, pra receber revista, no tribunal e tal, enfim. No STJ, existem dois desembargadores do Rio Grande do Norte. Um é chamado, talvez você conheça, Marcelo Navarro Ribeiro Dantas e tem outro chamado Luiz Alberto Gurgel de Faria, que foram juízes juntos com Barros. Isso em Brasília, depois do TRF. Lá ele vai trabalhar também...” (24min:57seg/26min:50seg da gravação – Informação Policial nº 658/2016-NIP/SR/PF/RN, às fls. 76/84 do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN); “Por exemplo, pra subir o recurso de Acácio, da decisão do TRF

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que diminuiu essa pena pra quatro anos, essa outra de sete baixou pra três, aí nós vamos recorrer. Aí esse recurso ele passa pelo vice-presidente do Tribunal... Então é um trabalho que ele vai chegar lá e vai conversar direto com o vice-presidente… Dizer: tá aqui, o nosso recurso como é que é feito, eu sou desembargador...” (29min:01seg/29min:33seg da gravação – Informação Policial nº 658/2016-NIP/SR/PF/RN, às fls. 76/84 do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN); “Rapaz, o financeiro é aquilo que a gente conversou ontem, Acácio. Porque veja bem, ele é um advogado muito bom, aliás é jurista, num é nem advogado, é um homem que tem um peso enorme e modéstia à parte nós aqui fazemos o trabalho, se não ele num tava comigo, trabalhando comigo… Então você falou que tinha aquele valor… Você daria a metade agora e a metade no resultado final” (29min:51seg/30min:35seg da gravação – Informação Policial nº 658/2016-NIP/SR/PF/RN, às fls. 76/84 do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN).

A partir de então, Acácio Allan Fernandes Forte passou a manter contato com o advogado José Luiz Carlos de Lima por aplicativo de mensagens de telefone móvel. O colaborador apresentou cópias de telas dessas conversas, nas quais se pode verificar que o causídico afirma o seguinte: “Eu falei com Desembargador Barros ontem sobre seu caso. Já estamos vendo uns pontos de pesquisa. Ele concordou que temos, sim, como resolver seu problema”; “É bom pegar as procurações o mais rápido possível que der e ir pro TRF-5 pois tem que fazer um trabalho comum certo tempo junto a cada desembargador que vai julgar”; “Meu compromisso é com o ex-Desembargador BARROS DIAS em Natal. Nós estamos trabalhando num caso. Já falei com ele sobre seu caso e ele disse que pega a causa comigo”; “Desembargador Barros também acha que devemos pegar esses processos no TRF o mais rápido possível e trabalhar neles. O mais rápido possível Acácio. Nós nos preocupamos e sabemos que se tem que agir a tempo” (fls. 44/73 do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN).

Os dados telefônicos obtidos em razão de afastamento de sigilo decretado no Processo n. 0001379-58.2016.4.05.8400 registram vários contatos mantidos, nos anos de 2015 e 2016, entre Francisco Barros Dias (telefone 84-99963.1445, cadastrado em nome próprio) e José Luiz Carlos de Lima (telefone 84-99682.5951, cadastrado em nome de Ruterlan Vieira da Costa, mas por ele utilizado). No período em questão, houve 139 (cento e trinta e nove) contatos telefônicos entre ambos, de acordo com o Relatório de Análise n. 046/2017-

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SPEA/PGR (fls. 115/149 do Processo n. 0001379-58.2016.4.05.8400).

O colaborador Acácio Allan Fernandes Forte chegou a ter reunião com o próprio Francisco Barros Dias, o qual lhe cobrou R$ 350.000,00 (trezentos e cinquenta mil reais) pela prestação dos serviços, garantindo o êxito da atuação, conforme depoimento prestado ao Ministério Público Federal (fls. 40 do Inquérito Policial n. 0529/2016-SR/DPF/RN). O fato é confirmado por diálogo telefônico interceptado entre José Luiz Carlos de Lima e Francisco Barros Dias, no qual ambos conversam sobre a demora de Acácio em dar uma resposta e cogitam na possibilidade de terem cobrado valores muito altos (diálogo de índice 12128610 do Auto Circunstanciado n. 02, constante das fls. 117/126 do Processo n. 0001304-19.2016.4.05.8400).

Os processos que envolvem Acácio Allan Fernandes Forte na “Operação Pecado Capital” são as apelações criminais ACR n. 11596/RN e ACR n. 13605/RN, ambas em trâmite no Tribunal Regional Federal da 5ª Região, e o Processo n. 00004424-82.2016.4.05.8400, em curso na 14ª Vara Federal do Rio Grande do Norte, na qual já foi impetrado o habeas corpus HC n. 6232/RN, perante a mesma corte (fls. 340/621 do Apenso I do Inquérito Policial n. 0529/2016-SR/DPF/RN).

Nas conversas gravadas por Acácio Allan Fernandes Forte, José Luiz Carlos de Lima também fez referência à sua atuação, em conjunto com Francisco Barros Dias, em uma apelação criminal perante o Tribunal Regional Federal da 5ª Região em que houve considerável redução da pena imposta a um ex-prefeito do Município de Baraúna/RN. Trata-se de Francisco Gilson de Oliveira, condenado em, pelo menos, duas ações penais pela 8ª Vara Federal do Rio Grande do Norte (Mossoró/RN).

Na conversa mantida pessoalmente entre Acácio Allan Fernandes Forte e José Luiz Carlos de Lima, esse último afirmou: “Nesse caso, por exemplo… Nós dissemos a Gilson, o prefeito: nós vamos trabalhar aqui no TRF, diminuir sua pena e vamos subir pro STJ, porque vem a prescrição, vem o tempo, e depois pro Supremo. E aí essa pena terá se esvaído no ar. Só que quando chegou no TRF, no caso do prefeito também, que era 28 anos, ele ficou morto de satisfeito. Rapaz, qual a chance que eu tenho? Rapaz você tem… Ele, Barros quem disse: você tem sessenta e cinco por cento de chance. Quando

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chegamos lá nós resolvemos no TRF. O Ministério Público Federal nem recorreu. Matou, morreu lá. Como a pena foi abaixo de dois anos e oito meses, substituíram a pena por privativa, por restritiva de direito pra ele assinar lá, se acaso for se ausentar do estado e pronto. Tchau, acabou-se a pena do cara. Ele não dormia. Ele não tinha mais paz...” (26min:55seg/28min:30seg da gravação – Informação Policial nº 658/2016-NIP/SR/PF/RN, às fls. 76/84 do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN).

Foi identificada a apelação mencionada. Trata-se da ACR 10559-RN (Processo n. 0042690-29.2004.4.05.0000, fls. 312/331 e 951/954 do Apenso I do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN), na qual o recurso de Francisco Gilson de Moura, ex-prefeito de Baraúna condenado a mais de 29 (vinte e nove) anos de prisão por desvio de recursos (art. 1º, inciso I, do Decreto-lei n. 201/1967), foi parcialmente provido para fins de redução da pena a pouco mais de 02 (dois) anos de privação de liberdade, com substituição por sanções restritivas de direito. Não há registro formal da atuação de José Luiz Carlos de Lima e Francisco Barros Disas no caso, o que indica que ambos agiram informalmente, nos bastidores, com base no prestígio desse último.

Em razão do sucesso, José Luiz Carlos de Lima e Francisco Barros Dias continuaram a prestar serviços a Francisco Gilson de Oliveira, desta feita na ACR 13883/RN (Processo n. 0000804-18.2014.4.05.8401, fls. 802/806 e 951/954 do Apenso I do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN). Mais uma vez o recurso de apelação foi parcialmente provido para redução das penas aplicadas ao ex-prefeito pela prática do crime de desvio de recursos públicos (art. 1º, inciso I, do Decreto-lei n. 201/1967). Nesse caso, o extrato do processo indica que José Luiz Carlos de Lima fez sustentação oral na sessão de julgamento.

Um dos diálogos interceptados, durante as investigações, refere-se ao “caso de Gilson” (diálogo de índice 12137480, Auto Circunstanciado n. 02, constante das fls. 117/126 do Processo n. 0001304-19.2016.4.05.8400). De início, houve suposição de se tratar de situação relativa a Francisco Gilson de Moura, que fez a intermediação do contato entre Acácio Allan Fernandes Forte e José Luiz Carlos de Lima. No entanto, a conversa na realidade se refere a essa segunda apelação de Francisco Gilson de Oliveira. Nela, José Luiz Carlos de Lima fala com homem não identificado sobre a entrega de memoriais a desembargadores federais em Recife, por orientação de Francisco Barros Dias.

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Na caixa de e-mail de Francisco Barros Dias (compartilhada com o presente caso, conforme fls. 1710/1718 do Processo n. 000218-13.2016.4.05.8400), na pasta “Inbox”, ele recebeu duas mensagens sobre o caso. Uma é a 4373, em que o bacharel Gleydson Firmino da Silva lhe encaminha cópia integral do processo em primeira instância. A outra é a 4377, em que o advogado José Luiz Carlos de Lima lhe enviou minuta de memorial a ser entregue ao relator, Desembargador Federal Cid Marconi. Na pasta “Itens Enviados”, Francisco Barros Dias encaminhou uma mensagem a José Luiz Carlos de Lima com orientações para adaptação e aperfeiçoamento de embargos de declaração opostos no caso perante o Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Trata-se da mensagem 547, bastante ilustrativa: “MEU CARO ZÉ LUIZ, Vamos fazer alguns breves ajustes. Primeiro, o regime da pena fixado na ementa é o semiaberto e não o fechado. Segundo, vamos procurar enfocar o caso em duas omissões. Uma, quanto a falta de análise da proporcionalidade da pena, tendo em vista que não se pode fazer os cálculos da pena de forma somente aritmética, pois a se aplicar um ano de reclusão para cada circunstância do art. 59, levaria, se todas fossem desfavoráveis a 10 anos de reclusão. Nessa hipótese como ficaria o caso de existir uma pena máxima para o crime de 12 anos, caso existisse agravantes ou qualificadoras do tipo. Um ano por cada uma das circunstâncias é desproporcional e exagerado, não podendo subsistir tal cálculo na forma como realizado. O delito não se apresenta com gravidade tal que possa receber uma reprimenda em quantidade de pena restritiva da liberdade tão exorbitante. Um segundo ponto que se deve explorar como tendo havido omissão é a falta de análise da pena fixada com a jurisprudência do stj sobre o tema. Vamos inserir esse aspecto como uma omissão, senão os embargos não vão ser sequer conhecidos. Esses dois temas já estão bem explorados. O que falta é vc fazer um ajuste apenas para que eles fiquem caracterizados como omissão do acórdão. Por isso, é que ao final no pedido, deve dizer que uma ve reconhecida as omissões, espera e requer a modificação da fixação da pena em no máximo quatro anos, mas vamos trabalhar com três anos fazendo inserir a ideia de que seis (06) meses por cada uma das circunstâncias do art. 59 já é por demais satisfatória. Ir além disso é fugir ao regramento legal e constitucional. Dizer ao final também que o julgado como restou violou ainda o princípio da igualdade, pois em casos mais graves como o da jurisprudência, fixou-se em quatro anos. Enquanto isso o caso dos autos, bem menos grave recebeu uma reprimenda de um ano e seis meses por cada circunstância. Isso viola a igualdade, a

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proporcionalidade e razoabilidade. É só encaixar essas situações de forma que reste o raciocínio desenvolvido com essa ideia. Isso ajudará muito em recurso especial e/ou extraordinário. Ok. Abração. Barros”.

Nos dados telefônicos do Processo n. 0001379-58.2016.4.05.8400 há registros de ligações entre Francisco Barros Dias, de um lado, e terminal pessoal de Cid Marconi, além de terminal cadastrado em nome do Tribunal Regional Federal da 5ª Região que, de acordo com informação da corte, é usado pelo Desembargador Federal Cid Marconi, relator do processo de interesse de Francisco Gilson de Oliveira, consoante Relatório de Análise n. 046/2017-SPEA/PGR (fls. 115/149 do Processo n. 0001379-58.2016.4.04.8400) e ofício de fls. 944/946 do Apenso I do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN.

Gleydson Firmino da Silva, ao que parece, bacharel em Direito, mas não advogado, presta serviços a José Luiz Carlos de Lima. Dados telefônicos registram ligações entre ambos no período investigado, ao passo que dados bancários mostram que o primeiro recebe constantemente valores do segundo (Relatório de Análise n. 046/2017-SPEA/PGR e Caso Simba 001-MPF-002284-88, fls. 115/149 e 72/75 do Processo n. 0001379-58.2016.4.05.8400). Gleydson Firmino da Silva atua nos casos relacionados ao ex-prefeito Francisco Gilson de Oliveira.

Não se identificaram pagamentos diretos de Francisco Gilson de Oliveira para Francisco Barros Dias. No entanto, há um depósito em dinheiro de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) em favor do escritório Barros Advogados Associados, em 17/09/2015, em que o depositante foi identificado como Gleydson Firmino da Silva, a indicar que se trata de pagamento pelos serviços em questão. Francisco Barros Dias recebe outros valores mediante depósitos em dinheiro na conta de seu escritório e na sua conta pessoal, muitos realizados em Mossoró/RN, local de domicílio de Francisco Gilson de Oliveira (Relatório de Pesquisa n. 46/2017-ASSPA/PRRN, fls. 888/889 do Apenso I do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN), a apontar no sentido de que se cuida de pagamentos referentes ao caso (Caso Simba 001-MPF-001912-07, fls. 1621/1624 do Processo n. 000218-13.2016.4.05.8400, e Caso Simba 001-MPF-002284-88, fls. 72/75 do Processo n. 0001379-58.2016.4.05.8400)

No decorrer das investigações, verificou-se a atuação de Francisco

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Barros Dias, também, no âmbito da “Operação Salt”, que trata de esquema de sonegação fiscal mediante a constituição fraudulenta de empresas que compõem o chamado “Grupo Líder”, de propriedade do empresário Edvaldo Fagundes de Albuquerque, em Mossoró/RN. Tramitou e tramita perante a 8ª Vara Federal do Rio Grande do Norte, havendo várias ações penais já ajuizadas, uma delas já julgada procedente (fls. 221/310 e 666/801 do Apenso I do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN). Durante as investigações, Francisco Barros Dias, como corregedor do tribunal, estranhamente determinou a concessão de vista, ao advogado do investigado, dos autos de interceptação telefônica em andamento (Processo n. 0000812-29.2013.4.05.8401), conforme fls. 222 e 816/873 do Apenso I do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN.

Com efeito, em procedimento atípico e inusitado, no dia 20.08.2013, os advogados do principal investigado, Edvaldo Fagundes de Albuquerque, peticionaram nos autos do Processo nº 000812-29.2013.4.05.8401 (que até então corria em segredo de justiça, dada a natureza das medidas investigatórias), requerendo vistas e extração de cópias do processo, bem como de seus apensos. Diante do evidente vazamento das medidas de afastamento de sigilo telefônico, que ainda estavam em andamento, a magistrada da 8ª Vara Federal, em despacho do dia 21.08.2013, abriu vistas ao Ministério Público Federal acerca do pedido de vistas. Porém, antes mesmo do parecer do Ministério Público Federal, bem como de qualquer decisão da magistrada responsável, o Corregedor-Regional Francisco Barros Dias proferiu a seguinte decisão, datada do mesmo dia 21.08.2013:

Trata-se de Pedido de Providência formalizado pelo advogado EDUARDO ANTÔNIO DANTAS NOBRE, por meio do qual requereu autorização para ter acesso aos autos dos processos nºs 000812-29.2013.4.05.8401 e 0001203-81.2013.4.05.8401, que tramitam na 8ª Vara Federal do Rio Grande do Norte, para exame e extração de cópias necessárias para instruir a defesa do seu constituído Edvaldo Fagundes de Albuquerque.Por se tratar de processo que correm em segredo de justiça, a Magistrada da referida vara Federal deve proferir decisão autorizando o causídico requerente a ter acesso aos autos dos referidos processos em cartório.Caso os autos estejam em diligência e não se encontrem na Secretaria da Vara, deve ser autorizado o acesso aos referidos processos, onde quer que se encontrem, sem a retirada dos autos, permitindo a respectiva vista do requerente ou a advogado Jefferson Freire de Lima - OAB/RN nº 3985, também habilitado nos autos, conforme requerimento formalizado a esta

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Corregedoria Regional.Pelo exposto, defiro o pedido para determinar que a Juíza da 8ª Vara Federal do Rio Grande do Norte autorize o acesso do requerente ou do terceiro por ele indicado (Jefferson Freire de Lima) aos autos dos mencionados processos nºs 000812-29.2013.4.05.8401 e 0001203-81.2013.4.05.8401.Dê-se ciência dessa decisão com urgência ao juiz.Recife, 21 de agosto de 2013.

Em 15 de abril de 2015, foi decretada a prisão preventiva dos envolvidos, principalmente de Edvaldo Fagundes de Albuquerque e seus familiares (fls. 666/680 do Apenso I do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN). A caixa de e-mails de Francisco Barros Dias mostra que ele, pouco antes de se aposentar, recebeu arquivos sobre o caso (compartilhada com o presente caso, conforme fls. 1710/1718 do Processo n. 000218-13.2016.4.05.8400). Na pasta “Petições”, a mensagem 22 evidencia que, em 17/04/2015, Francisco Barros Dias recebeu cópia da decisão de decretação das prisões. As mensagens 4 a 21 da mesma pasta revelam que, em 19/04/2015, ele recebeu cópia do habeas corpus impetrado perante o Tribunal Regional Federal da 5ª Região. As circunstâncias indicam que os arquivos foram repassados para que ele, com base em suas relações pessoais e seu prestígio na corte, intercedesse em favor dos pacientes.

Não por acaso, poucos dias depois, foi concedida liminar no habeas corpus. A decisão evitou que Edvaldo Fagundes de Albuquerque fosse preso, pois permaneceu foragido e só se apresentou à Polícia Federal no dia da concessão emergencial da ordem (fls. 224/227 e 897/901 do Apenso I do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN).

A partir desse auxílio, Francisco Barros Dias, já aposentado, foi contratado para prestar serviços ao mesmo Edvaldo Fagundes de Albuquerque. Dados bancários mostram transferências de valores significativos, em curto período, no montante total de R$ 515.735,43 (quinhentos e quinze mil reais, setecentos e trinta e cinco reais e quarenta e três centavos), de empresas do “Grupo Líder” (Henrique Lage Salineira S/A, EBS – Empresa Brasileira de Sal Ltda. e Diamante Cristal Indústria e Comércio de Salt Ltda.) e do próprio Edvaldo Fagundes de Albuquerque para a empresa de cursos jurídicos Latosensu Escola Jurídica Eireli e principalmente para sua esposa Noara Renea Vieira de

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Alencar, conforme dados bancários relacionados à investigação (Caso Simba 001-MPF-001912-07, fls. 1621/1624 do Processo n. 000218-13.2016.4.05.8400, e Caso Simba 001-MPF-002284-88, fls. 72/75 do Processo n. 0001379-58.2016.4.05.8400).

Quanto às transferências para a Latosensu Escola Jurídica Eireli, o Ministério Público Federal requisitou informações sobre os serviços que teriam sido prestados e que fundamentariam os repasses de valores. A Henrique Lage Salineira do Nordeste S/A, por meio de Edvaldo Fagundes de Albuquerque, apresentou nota fiscal falsa, indicando que os serviços consistiriam em “treinamento” do corpo jurídico da empresa. Os pagamentos são de 2015; no entanto, a nota fiscal só foi emitida em 2016, após a requisição ministerial, o que indica que se trata de nota fiscal fictícia, emitida apenas para ocultar os verdadeiros motivos dos repasses de valores (fls. 35/48 do Apenso I do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN).

Os outros pagamentos ocorreram por meio de transferências para Noara Renea Vieira de Alencar, a qual os repassou, em sua maior parte, de imediato, no mesmo dia ou em dias subsequentes, a Francisco Barros Dias. Observa-se preocupação em ocultar o destinatário real dos valores, a indicar que se referem a situação ilícita. Os dados constam do Caso Simba 001-MPF-001912-07 (fls. 1621/1624 do Processo n. 000218-13.2016.4.05.8400).

Inúmeras mensagens da sua caixa de e-mails mostram que Francisco Barros Dias na verdade presta serviços advocatícios para o grupo de Edvaldo Fagundes de Albuquerque, fazendo-o por meio de advogados interpostos, inclusive José Luiz Carlos de Lima, que assinam as petições (compartilhada com o presente caso, conforme fls. 1710/1718 do Processo n. 000218-13.2016.4.05.8400). Não se trata de mero “treinamento”. O acompanhamento direto por ele das várias ações penais, em primeiro e segundo graus, é demonstrado por mensagens da pasta “Edvaldo” (mensagens 1 a 6, 9 a 13, 17 a 19 e 24), da pasta “Edvaldopasta” (mensagens 3, 4, 10, 13 a 15, 20 e 21, 24, 26), da pasta “Inbox” (mensagens 1405 a 1410, 2505, 3784, 3786, 3953, 3954) e da pasta “Outbox” (mensagens 300, 301, 687).

Na pasta “Outbox”, fica evidente a interferência direta de Francisco Barros Dias na elaboração de peças processuais, inclusive dirigidas ao Tribunal

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Regional Federal da 5ª Região. As mensagens 580, 604 e 660 são bastante ilustrativas a esse respeito (“Preciso me reunir com o redator para definir os pontos e a estrutura da contestação”; “Vamos trabalhar o hc o quanto antes pedindo liminar de suspensão da audiência”; “Precisamos dar uma melhorada na peça”). Na mensagem 350, ele, ao tratar de apelação criminal contra sequestro de bens determinada pela 8ª Vara Federal do Rio Grande do Norte, afirma que o “esse novo caminho” do recurso “tem de ser trabalhado logo”. O Tribunal Regional Federal da 5ª Região acabou concedendo várias ordens para trancamento de ações penais da Operação Salt relativas à prática de crimes de lavagem de dinheiro. Francisco Barros Dias chegou a assegurar que também ocorreria o trancamento da ação penal referente ao delito de organização criminosa, conforme a mensagem 731 da pasta “Outbox”: “Qual a audiência de hoje. Essa denúncia de organização criminosa não devemos perder muita energia nela tendo em vista que vai ser trancada. Depois falo sobre a outra. Ok”.

Assim, verifica-se que Francisco Barros Dias atuou na “Operação Salt” em diferentes momentos: a) primeiramente, como Corregedor-Regional do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, ao conceder vista de interceptação telefônica em andamento, em decisão atípica e inusitada; b) depois, como Desembargador Federal, ao receber e armazenar petições de habeas corpus para, possivelmente, de acordo com as circunstâncias do caso, interceder perante seus colegas em favor dos pacientes; c) por fim, como advogado oculto, prestando serviços advocatícios ilicitamente perante a corte, durante seu período de quarentena, recebendo valore vultosos para tanto.

Francisco Barros Dias foi contratado, ainda, para juizar ações rescisórias, perante o Tribunal Regional Federal da 5ª Região, pela ex-prefeita do Município de Viçosa/RN, Maria José de Oliveira, e pelo ex-prefeito do Município de São Vicente/RN, Josifran Lins de Medeiros. Ele fez isso por meio de advogados interpostos, especialmente Anderson Gurgel Dantas, que é registrado no Cadastro Nacional de Advogados no mesmo endereço do escritório Barros Advogados Associados (fls. 814 do Apenso I do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN), e de seu filho Ivis Giorgio Tavares Barros Dias.

A ação rescisória ajuizada em nome de Maria José de Oliveira procura desconstituir condenação por ato de improbidade administrativa constante de sentença transitada em julgado da 8ª Vara Federal do Rio Grande do Norte

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(Mossoró/RN). Trata-se do Processo n. 0805101-47.2016.4.05.0000, tendo como relator o Desembargador Federal Lázaro Guimarães (fls. 807/808, 892/893 e 951/954 do Apenso I do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN). A petição inicial contém o timbre do escritório de Ivis Giorgio Tavares Barros Dias, mas consta como advogado cadastrado nos autos apenas Anderson Gurgel Dantas.

A ação rescisória ajuizada em nome de Josifran Lins de Medeiros procura desconstituir condenação por ato de improbidade administrativa constante de sentença transitada em julgado pela 9ª Vara Federal do Rio Grande do Norte (Caicó/RN). Trata-se do Processo n. 0805728-51.2016.4.05.0000, tendo como relator o Desembargador Federal Roberto Machado, em razão de declaração de suspeição do Desembargador Federal Paulo Cordeiro (fls. 809/810, 892/893 e 951/954 do Apenso I do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN).

A caixa de e-mails de Francisco Barros Dias mostra que na verdade ele atua em ambos os casos, por intermédio de Anderson Gurgel Dantas e Ivis Giorgio Tavares Barros Dias (compartilhada com o presente caso, conforme fls. 1710/1718 do Processo n. 000218-13.2016.4.05.8400). A ação rescisória de Maria José de Oliveira é tratada nas mensagens 4395, 4408, 4425, 4555, 4637, 4755, 4917, 4919 e 5453 da pasta “Inbox”. A ação rescisória de Josifran Lins de Medeiros é objeto das mensagens 4637, 4862, 4869, 5069, 5114, 5143 da pasta “Inbox”. As ações constam das listas de processos do escritório de Francisco Barros Dias anexadas às mensagens 5187, 5356 e 5415 da pasta “Inbox”.

A ação rescisória de Josifran Lins de Medeiros é objeto de diálogos interceptados, durante as investigações, entre Francisco Barros Dias e Ivis Giorgio Tavares Barros Dias, em que eles mencionam a declaração de suspeição do Desembargador Federal Paulo Cordeiro e deixam evidente a forma de atuação do primeiro, mediante a exploração de seu prestígio perante magistrados, cogitando-se no estabelecimento de contato direto com o Desembargador Federal Roberto Machado (diálogos de índice 12023820 e 12025102, Auto Circunstanciado 01, constante das fls. 50/63 do Processo n. 0001304-19.2016.4.05.8400). Nos dados telefônicos do Processo n. 0001379-58.2016.4.05.8400 há registros de ligações entre Francisco Barros Dias e terminal cadastrado em nome do Tribunal Regional Federal da 5ª Região que, de acordo com informação da corte, é usado pelo Desembargador Federal Roberto Machado, relator do processo, consoante Relatório de Análise n. 046/2017-

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SPEA/PGR (fls. 115/149 do Processo n. 0001379-58.2016.4.04.8400) e ofício de fls. 944/946 do Apenso I do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN.

Por esses serviços, em pleno período de quarentena, Francisco Barros Dias recebeu valores consideráveis. Há várias transferências de Maria José de Oliveira em seu favor, no montante total de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais). Existem também vários depósitos de valores em espécie em seu favor, efetuados em Currais Novos/RN, na mesma agência bancária (Rua João Pessoa, n. 137, Centro, Currais Novos/RN), sendo Josifran Lins de Medeiros identificado como depositante em uma dessas operações. Josifran Lins de Medeiros também efetuou uma transferência bancária para Francisco Barros Dias, totalizando os repasses também R$ 60.000,00 (sessenta mil reais). Os dados constam do Caso Simba 001-MPF-002284-88 (fls. 72/75 do Processo n. 0001379-58.2016.4.05.8400).

Francisco Barros Dias foi igualmente contratado para ajuizar revisão criminal, perante o Tribunal Regional Federal da 5ª Região, pelo ex-prefeito do Município de Upanema/RN, Jorge Luiz Costa de Oliveira. Ele fez isso por meio de advogado interposto, de nome Marcos Lacerda de Almeida Filho, além do advogado Anderson Gurgel Dantas. Nos dados telefônicos do Processo n. 0001379-58.2016.4.05.8400 há registros de 96 (noventa e seis) ligações entre Francisco Barros Dias e terminal cadastrado em nome de Marcos Lacerda de Almedia Filho, no período dos fatos investigados, consoante Relatório de Análise n. 046/2017-SPEA/PGR (fls. 115/149 do Processo n. 0001379-58.2016.4.04.8400).

A revisão criminal ajuizada em favor de Jorge Luiz Costa de Oliveira procura desconstituir condenação pelo crime de não fornecimento de informações ao Ministério Público Federal (art. 10 da Lei n. 7.347/1985), constante de sentença transitada em julgado da 8ª Vara Federal do Rio Grande do Norte (Mossoró/RN). Trata-se do Processo n. 0802711-07.2016.4.05.000, tendo como relator o Desembargador Federal Edilson Nobre. Estão cadastrados no feito os advogados Marcos Lacerda de Almeida Filho e Anderson Gurgel Dantas (fls. 811/812, 892/893 e 951/954 do Apenso I do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN).

A caixa de e-mails de Francisco Barros Dias mostra que na verdade ele atua no caso (compartilhada com o presente caso, conforme fls. 1710/1718 do

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Processo n. 000218-13.2016.4.05.8400). A revisão criminal é objeto das mensagens 4224 da pasta “Inbox”, 2 e 4 da pasta “Marcoslacerda” e 690 da pasta “Outbox”. Nessa última, inclusive, ele responde a um dos advogados por meio de quem atua: “vamos aperfeiçoando”. A ação consta das listas de processos do escritório de Francisco Barros Dias anexadas às mensagens 5187, 5356 e 5415 da pasta “Inbox”.

Nos dados telefônicos do Processo n. 0001379-58.2016.4.05.8400 há registros de ligações entre Francisco Barros Dias e terminal cadastrado em nome do Tribunal Regional Federal da 5ª Região que, de acordo com informação da corte, é usado pelo Desembargador Federal Edilson Nobre, relator do processo, consoante Relatório de Análise n. 046/2017-SPEA/PGR (fls. 115/149 do Processo n. 0001379-58.2016.4.04.8400) e ofício de fls. 944/946 do Apenso I do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN.

Por esses serviços, em pleno período de quarentena, Francisco Barros Dias recebeu valores significativos. Há várias transferências da empresa de Jorge Luiz Costa de Oliveira, a CLC – Construtora Luiz Costa Ltda., inicialmente para conta bancária da Latosensu Escola Jurídica Eireli e posteriormente para conta do escritório jurídico Barros Advogados Associados. O Ministério Público Federal requisitou informações sobre as transferências da CLC Construtora Luiz Costa Ltda. para a Latosensu. A empresa construtora, por meio de Jorge Luiz Costa de Oliveira, apresentou um contrato de prestação de serviços falso, cujo objeto seria “treinamento e capacitação de pessoal”, no valor de R$ 180.000,00 (cento e oitenta mil reais), para justificar as operações (fls. 76/90 do Apenso I do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN). A generalidade do objeto e a própria realização de pagamentos, posteriormente, em favor do escritório, em valores que totalizam R$ 281.000,00 (duzentos e oitenta e um mil reais), indicam que na verdade os serviços prestados foram outros, de advocacia ilícita, baseada na exploração de prestígio (Caso Simba 001-MPF-001912-07, fls. 1621/1624 do Processo n. 000218-13.2016.4.05.8400, e Caso Simba 001-MPF-002284-88, fls. 72/75 do Processo n. 0001379-58.2016.4.05.8400).

Já no ano de 2017, houve extensão do período do afastamento do sigilo telemático do e-mail de Francisco Barros Dias ([email protected]) decretado no Processo n. 0001303-34.2016.4.05.8404 (compartilhada com o presente caso, conforme fls. 1710/1718 do Processo n. 000218-

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13.2016.4.05.8400). A análise dos dados em questão evidenciou que Francisco Barros Dias continua advogando ilicitamente, mediante exploração de prestígio, perante o Tribunal Regional Federal da 5a Região. Alguns casos já conhecidos na investigação foram tratados em mensagens trocadas no final de 2016 e início de 2017: a) revisão criminal do ex-prefeito do Município de Upanema/RN Jorge Luiz Costa de Oliveira (pasta “Inbox”, mensagens 6056, 6175, 6253, 6433, 8240, pasta “Ivis”, mensagem 28); b) ação rescisória do ex-prefeito de São Vicente/RN Josifran Lins de Medeiros (pasta “Inbox”, mensagens 5714, 9182); c) apelação do ex-prefeito de Baraúna/RN Francisco Gilson de Oliveira (pasta “Inbox”, mensagens 7498 e 7508).

Por outro lado, foi identificado um novo caso relacionado aos fatos investigados. Verificou-se que, a partir do final de 2016, Francisco Barros Dias passou a atuar clandestinamente no Tribunal Regional Federal da 5ª Região em uma ação penal originária ajuizada contra o atual prefeito do Município de Viçosa/RN, Antônio Gomes de Amorim (“Toinho do Miragem”), cliente que o contratou. Trata-se de ação penal originária proposta pela Procuradoria Regional da República da 5ª Região no Inquérito n. 3229-RN, por desvio de recursos públicos federais (art. 1º, inciso I, do Decreto-lei n. 201/1967). Em novembro de 2016, Francisco Barros Dias recebeu para revisão defesa prévia assinada por dois dos advogados que o auxiliam, Anderson Gurgel Dantas e Marcos Lacerda de Almeida Filho (pasta “Inbox”, mensagem 5984). Em seguida, ele repassou as orientações para redação final da peça jurídica: “Vamos fazer apenas algumas correções do texto como: no final do capítulo 3.1 esclarecer quem é o depoente com falta de experiência administrativa e deixar mais clara a conclusão do capítulo que está imprecisa. Depois, em mais de uma oportunidade existe a formativa de que o acusado era prefeito, quando a afirmativa deve ser de que o acusado não era mais prefeito. Por último a parte do requerimento. Deve ser compatível com o que foi argumentado. Não esqueça que o pedido deve ser feito com suas especificações. Vale tanto para o processo civil como especialmente para o penal. Então, primeiro se pede o não recebimento da denúncia por não ser o acusado legitimado passivo, não ter tido participação nos fatos e contra ele não existir o mínimo de indício de autoria ou co-autoria. Depois, em atendimento ao princípio da eventualidade, seja desclassificado o crime do art. X para o y, procedendo-se a emendatio libelu. Em seguida, procedida a emendatio reconheça-se a prescrição do crime pela pena em abstrato, declarando-se a extinção da punibilidade. Por último, vindo a ser ultrapassadas

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todas essas etapas deixe de receber a denúncia por não se vislumbrar os elementos objetivos e subjetivos do tipo penal de formar s justificar o seguimento da ação penal. Para colocar os pedidos nessa ordem precisa mudar o item 3.1 para servo último tendo em vista que ele trata de análise do mérito quanto ao tipo legal. Ok Barros” (pasta “Outbox”, mensagem 877, fls. 1710/1718 do Processo n. 000218-13.2016.4.05.8400).

Francisco Barros Dias cobrou pelo serviço, que certamente inclui exploração de prestígio perante a corte. Houve inclusive emissão de nota fiscal, em janeiro de 2017, no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), com falsa descrição da atividade desempenhada, a indicar a ilicitude da situação. Segundo o documento em referência, tratar-se-ia de prestação de serviços à empresa individual Antônio Gomes de Amorim Microempresa em razão de uma suposta questão contratual (“TERCEIRA PARCELA DE HONORARIOS ADVOCATICIOS PARA DEFESA, ACOMPANHAMENTO, RECURSOS E ACESSORAMENTO EM ACAO AJUIZADA CONTRA ATO DE EMPRESA EM QUE SE IMPUTA IRREGULARIDADE CONTRATUAL”), confirmando a suspeita, já surgida anteriormente, de que Francisco Barros Dias celebra contratos e emite notas fiscais fictícias para dissimular o recebimento de valores ilícitos (pasta “Outbox”, mensagens 909 e 910, fls. 1710/1718 do Processo n. 000218-13.2016.4.05.8400).

Os dados bancários atualmente disponíveis evidenciam pagamentos

de Antônio Gomes Amorim ao escritório Barros Advogados Associados. As informações constam do Caso Simba 001-MPF-002284-88, Relatório Tipo 4 (fls. 72/75 do Processo n. 0001379-58.2016.4.05.8400).

Por fim, confirmou-se que de fato Francisco Barros Dias vem prestando serviços advocatícios ilícitos, com base em exploração de prestígio, perante o Tribunal Regional Federal da 5a Região, em desrespeito à quarentena constitucional, de forma reiterada e ininterrupta. Em junho de 2017, foi deflagrada a “Operação Manus”, desdobramento da “Operação Lava Jato” no Rio Grande do Norte, a qual investiga esquema de pagamento e recebimento de propina, de forma oculta e disfarçada, por meio de doações eleitorais oficiais e não oficiais nos pleitos de 2012 e 2014. Francisco Barros Dias, ao que parece, foi contratado por um dos principais envolvidos, o ex-Deputado Federal Henrique Eduardo Lyra Alves, para atuar em seu favor no Tribunal Regional Federal da 5 a

Região. Isso é o que aponta o diálogo interceptado de índice 12864749, abaixo

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transcrito, no qual o advogado do ex-parlamentar em Brasília/DF estabelece contato com o ex-Desembargador Federal (Auto Circunstanciado n. 01, fls. 281/288 do Processo n. 0001304-19.2016.4.05.8400):

Índice : 12864749Operação: ALCMEON 2Nome do Alvo : ALVO2Fone do Alvo : 84999631445Data : 08/06/2017Horário: 12:15:07Observações : FRANCISCO X MARCELO LEAL - SOBRE HENRIQUE

Transcrição:SECRETARIA - Doutor FranciscoFRANCISCO - SimMARCELO LEAL - Boa tarde é Michela Vânia, eu sou secretaria do Doutor Benedito.. Oh perdão, Marcelo Leal aqui de BrasíliaFRANCISCO - Pois não. SECRETARIA - Ele gostaria de falar com o Senhor, pode atendé-loFRANCISCO - Pois não, To aqui aguardando.MARCELO LEAL - AloFRANCISCO - AloMARCELO LEAL - Doutor Francisco.FRANCISCO - Diga ai Doutor, tudo bem.MARCELO LEAL - Opa, tudo bom, como vaiFRANCISCO - Tudo bem Doutor Marcelo, como estamos, tudo em paz?MARCELO LEAL - Então ta bom, prazer falar com o SenhorFRANCISCO - Igualmente.MARCELO LEAL - Doutor Francisco, Eu tô ligando porque a família de Henrique entrou em contato e sugerindo a contratação do Senhor ai no Rio Grande do Norte.FRANCISCO - Hrumm.MARCELO LEAL - Quer dizer que pra mim é uma honra podemos trabalhamos juntosFRANCISCO - Ah pois não.MARCELO LEAL - É... Não coloquei qualquer impedimento nesse sentido, muito pelo contrario, É... E... Achei ate que a questão já tivesse sido esclarecida no meu telefonema de ontem mas eu vejo agora que hoje pela manhã, eu tô concentrado, preparando o habeas de Henrique aqui no...FRANCISCO - É, o de Brasília.

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MARCELO LEAL - aqui em Brasília, e tirou o meu telefona da minha sala porque acaba... muitos jornalistas, então eu deixei minha secretaria pra ela atender, e ela me trouxe agora, e vi que tem mensagem de whatsaap da família perguntando se eu ja tinha conversado com o SENHOR, etc, que ele tem...muito agoniado, eu imaginei que a conversa que eu tive com eles ontem ja fosse esclarecedora.FRANCISCO - Certo.MARCELO LEAL - ...Mas...É...É...Já que...FRANCISCO -... Olha, essa ligação... Alo... Doutor MarceloMARCELO LEAL - Alo...FRANCISCO - Alo, a ligação ta cortando muito, eu poderia ligar aqui noutro telefone que esse aqui ta cortando...MARCELO LEAL - Claro, ClaroFRANCISCO - Ta bomMARCELO LEAL - Telefone fixo.FRANCISCO - É, melhor, ta bom, brigadão.MARCELO LEAL - Ta obrigadoFRANCISCO - aguarda ai um pouquinho...

Desse modo, verifica-se que Francisco Barros Dias aposentou-se do cargo de Desembargador Federal do Tribunal Regional Federal da 5a Região, no qual praticou atos de corrupção, para passar a advogar ilicitamente perante a corte, com base em exploração de prestígio. Cometeu o crime previsto no art. 317, § 1o, do Código Penal, na atividade, e continuou a praticar outro tipo de delito, o descrito no art. 357 do mesmo diploma normativo, na inatividade, até os dias de hoje.

Todo esse contexto demonstra a existência de risco concreto de reiteração delitiva por parte de Francisco Barros Dias. A situação representa ameaça à ordem pública, suficiente a ensejar a prisão preventiva, conforme proclama o Supremo Tribunal Federal:

Prisão preventiva. Afora a gravidade concreta da infração penal, a reitera-ção na prática criminosa constitui motivo hábil a justificar a manutenção da prisão cautelar para resguardar a ordem pública, conforme o art. 312 do Có-digo de Processo Penal. (STF, 1a Turma, HC-AgR n. 116.744, rel. Min. Rosa Weber, DJ de 13/8/2013)

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A privação cautelar da liberdade individual – cuja decretação resulta possí-vel em virtude de expressa cláusula inscrita no próprio texto da Constitui-ção da República (CF, art. 5o, LXI), não conflitando, por isso mesmo, com a presunção constitucional de inocência (CF, art. 5o , LVII) – reveste-se de ca-ráter excepcional, somente devendo ser ordenada, por tal razão, em situa-ções de absoluta e real necessidade. (STF, 2a Turma, HC n. 94.194/CE, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 20.11.2012)

A decretação da prisão preventiva baseada na garantia da ordem pública está devidamente fundamentada em fatos concretos a justificar a segregação cautelar, em especial diante da possibilidade de reiteração criminosa, a qual revela a necessidade da constrição. (STF, 2a Turma, HC n. 96.997, rel Min. Ricardo Levandowski, DJ de 9/6/2009)

A Magistrada, no momento da prolação da sentença, fundamentou suficien-temente a necessidade de decretação da prisão do paciente, não só diante da gravidade dos crimes praticados e da repercussão destes, mas, igualmente, para evitar a repetição da ação criminosa. 4. Tais fundamentos encontram amparo no art. 312 do Código de Processo Penal, que autoriza a prisão cau-telar para garantia da ordem pública. 5. Há justa causa no decreto de prisão preventiva para garantia da ordem pública, quando o agente se revela pro-penso a prática delituosa, demonstrando menosprezo pelas normas penais. Nesse caso, a não decretação da prisão pode representar indesejável sensa-ção de impunidade, que incentiva o cometimento de crimes e abala a credi-bilidade do Poder Judiciário. (STF, 1a Turma, HC n. 83.868, rel. Min. Marco Aurélio, DJ de 5/3/2009).

A decisão proferida pelo juiz de direito - que decretou a prisão preventiva - observou estritamente o disposto no art. 1°, da Lei n° 9.034/95 e no art. 312, do CPP, eis que há elementos indicativos no sentido de que as ativida-des criminosas eram realizadas de modo reiterado, organizado e com alta poder ofensivo à ordem pública. 5. A garantia da ordem pública é represen-tada pelo imperativo de se impedir a reiteração das práticas criminosas. (STF, 2a Turma, HC n. 94.739, rel. Min. Ellen Gracie, DJ de 7/10/2008)

b) Conveniência da instrução criminal

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No decorrer das investigações dos fatos apurados no Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN, o Ministério Público Federal, diante das suspeitas da prática de corrupção passiva por parte de Francisco Barros Dias, expediu ofício à empresa MORABEM PIRANGI EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA. para obter informações sobre a aquisição de uma casa de praia de luxo por parte do ex-magistrado. A destinatária da requisição comunicou o fato a Francisco Barros Dias, que teve conhecimento do ofício ministerial e acompanhou todo o processo de preparação e fornecimento das informações (documentos anexos).

Isso foi constatado mediante afastamento do sigilo telemático de Francisco Barros Dias (caixa [email protected]) no Processo n. 0001303-34.2016.4.05.8400 (dados compartilhados com o presente caso, conforme fls. 1710/1718 do Processo n. 000218-13.2016.4.05.8400). A mensagem 5239 constante da pasta “Inbox” da evidencia o fato:

Caro Professor Barros.

Encaminho, como anexo, a planilha de pagamentos efetuado e boletos emitidos em decorrência do contrato de promessa de compra e venda firmado entre o Senhor e a Morabem Pirangi. Quanto ao desconto de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), informo que, como pode ver da planilha, ele foi abatido do valor final de venda do imóvel (que passou de R$1.250.000,00 para R$1.200.000,00) não constando como pagamento de qualquer natureza.

Aguardo sua concordância com as informações para que possamos responder a requisição feita.

Atenciosamente,

Pedro Henrique Cordeiro Lima

cid:[email protected]

CORDEIRO LIMA ADVOGADOS

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Rua Francisco Maiorana, 9 | Lagoa Nova | Natal - RN | CEP 59075-060. Tel.: +55 84 2010.3641 | Cel.: +55 84 886.74764Twitter: @pedrocorlima | E-mail: [email protected]

De: Anna Carolina Stafuzza [[email protected]] Enviada em: segunda-feira, 15 de agosto de 2016 17:05Para: [email protected]: MBP - Francisco Barros - Boletos e Extrato de Pagamentos

Pedro,

Segue em anexo o extrato e os boletos de todos os pagamentos efetuados pelo Dr. Barros até o momento.

Veja se esta documentação está de acordo para apresentarmos ao MPF, por gentileza.

Você encaminha para a análise do Dr. Barros ou quer que eu envie com cópia para você?

Att.

Anna Carolina Stafuzza

Jurídico

Rua Barão de Curumataú, 2700

Lagoa Nova - Natal/RN

Tel.: + 55 84 2010-0082

Skype: annacarolinastafuzza

As informações existentes nesta mensagem e nos arquivos anexados são para uso restrito, sendo seu sigilo protegido por lei. Caso não seja destinatário, saiba que a leitura, divulgação ou cópia são proibidas. Favor, apagar as informações e notificar o remetente. O uso impróprio será tratado conforme a Legislação em vigor.

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De: Thayse [mailto:[email protected]] Enviada em: segunda-feira, 15 de agosto de 2016 13:14Para: [email protected]: [email protected]; [email protected]: BOLETOS - FCO BARROS

Boa tarde!

Segue boletos do Francisco Barros.

Thayse DuarteSavim BrasilAuxiliar Financeiro - Savim [email protected]

Por outro lado, no curso da apuração, o órgão ministerial tomou o

depoimento do blogueiro José Gilberto Dias, no dia 11 de julho de 2016 (fls. 451/454 do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN). Ele é pessoa próxima dos investigados Francisco Barros Dias e Francisco Welithon da Silva, tendo divulgado a concessão de habeas corpus em favor de Rychardson de Macedo Bernardo na “Operação Pecado Capital”, ressaltando a participação de Francisco Welithon da Silva no fato. A proximidade entre Francisco Barros Dias e José Gilberto Dias é evidenciada pela mensagem de e-mail 5812 da pasta “Inbox” da caixa [email protected], em que o primeiro recebeu uma petição inicial de mandado de segurança em nome do segundo para revisão (fls. 1710/1718 do Processo n. 000218-13.2016.4.05.8400).

Certamente José Gilberto Dias relatou a Francisco Welithon da Silva

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ter prestado depoimento sobre os fatos ao órgão ministerial. No dia seguinte, Francisco Welithon da Silva telefonou para Francisco Barros Dias para tratar do assunto, fazendo isso por um meio não convencional, mandando recado por interposta pessoa (Homem Não Identificado – HNI), como indica o diálogo interceptado de índice 11900736 (Auto Circunstanciado n.01, fls. 79/89 do Processo n. 0000867-75.2016.4.05.8400, referente às interceptações telefônicas do Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN):

Índice: 11900736Operação: QUEBRA DE CONFIANÇAMome do Alvo: BARROS – TIMFone do Alvo: 84999631445Localização do Alvo:Fone de Contato: 84999177041 TIMLocalização do Contato: Data: 12/07/2016Horário: 13:32:37

Barros: (inaudível)HNI: Welithon quer falar com o senhor, você pode ligar agora pra ele… (inaudível).Barros: Falar comigo?HNI: É Welithon.Barros: Aonde no telefone?HNI: Ele tá em outro número, aí ele que… que ligue pro senhor… (inaudível) ...atender.Barros: Agora? ...(inaudível)

Ambas as situações, nas quais Francisco Barros Dias foi informado sobre diligências probatórias realizadas no curso da investigação, uma de caráter documental, outra de cunho testemunhal, demonstram a possibilidade concreta de o ex-Desembargador Federal interferir na colheita de provas. Note-se que, no caso da requisição de dados à empresa imobiliária, ele acompanhou previamente a própria prestação de informações.

Por outro lado, é de conhecimento deste juízo que houve violação do sigilo das investigações relacionadas ao Inquérito Policial n. 278/2016-SR/PF/RN, logo no início da apuração. A ilicitude do vazamento encontra-se indicada pelo diálogo interceptado de índice 11898449 (Auto Circunstanciado

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n.01, fls. 79/89 do Processo n. 0000867-75.2016.4.05.8400 ). Na oportunidade, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção do Rio Grande do Norte, Paulo de Souza Coutinho Filho, formulou pedido de vista dos autos sigilosos, em nome do investigado Ademar Rigueira Neto (fls. 26/27 do Processo n. 0000867-75.2016.4.05.8400). Tal providência, por si só, trouxe prejuízo à apuração, tanto que levou à inutilidade de medidas de busca e apreensão e condução coercitiva das principais pessoas relacionadas ao ex-Desembargador Federal Paulo de Tasso Benevides Gadelha.

A interferência da OAB/RN também tem beneficiado Francisco Barros Dias. No decorrer das investigações do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN, referentes ao esquema de exploração de prestígio do ex-magistrado, o órgão ministerial requisitou à Ordem dos Advogados do Brasil – Seção do Rio Grande do Norte cópia dos atos constitutivos do escritório Barros Advogados Associados, para verificar a regularidade de sua constituição (fls. 91, 94, 655/656, 665 e 910 do Apenso I do Inquérito n. 529/2016-SR/PF/RN).

Desde a Lei n. 13.247/2016, que alterou o art. 15 da Lei n. 8.906/1994 (Estatuto da Advocacia), as sociedades de advogados adquirem personalidade jurídica com o registro de seus atos constitutivos no correspondente Conselho Seccional da OAB, que passou a exercer a função antes desempenhada pelos cartórios de registros civis. Tais atos constitutivos, portanto, revestem-se da mais ampla publicidade, como quaisquer outros atos constitutivos de sociedades e outros tipos de pessoas jurídicas registradas em juntas comerciais ou em cartórios de registro civil.

Estranhamente, contudo, depois de significativa demora no envio de uma resposta, tendo sido necessário reiterar a requisição e estabelecer contato telefônico para cobrar uma satisfação (fls. 91, 94, 655/656, 665 e 910 do Apenso I do Inquérito n. 529/2016-SR/PF/RN), o presidente da OAB/RN, Paulo de Souza Coutinho Filho, negou ao Ministério Público Federal o fornecimento das informações requisitadas (documento anexo). A situação evidencia o grau de influência que Francisco Barros Dias é capaz de exercer, ainda que veladamente, não só perante a Justiça Federal e o Tribunal Regional da 5a Região, mas também junto à Ordem dos Advogados do Brasil, no sentido de atrapalhar a colheita de provas.

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Assim, em face da possibilidade concreta de interferência de Francisco Barros Dias na produção probatória, resta caracterizada a necessidade da prisão preventiva por conveniência da instrução criminal. Diante de casos análogos, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça afirma:

HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA (CPP, ART. 312). CONDIÇÕES SUBJETIVAS. IRRELEVÂNCIA NO CASO. 1. Os fundamentos utilizados revelam-se idôneos para manter a segregação cautelar do paciente, na linha de precedentes desta Corte. É que a decisão aponta de maneira concreta a necessidade de (a) garantir a ordem pública, considerada a possibilidade de reiteração criminosa; (b) assegurar a aplicação da lei penal, dado o fundado receio de fuga; e (c) por conveniência da instrução criminal, ante a existência de indícios de que, em liberdade, o acusado interfira na colheita de provas. 2. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que a primariedade, a residência fixa e a ocupação lícita não possuem o condão de impedir a prisão cautelar, quando presentes os requisitos do art. 312 do Código de Processo Penal, como ocorre no caso. 3. Habeas corpus denegado. (STF, Segunda turma, HC 124535/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 09.12.2014, v.u., DJE de 18.12.2014).

Se o decreto prisional demonstrou de forma efetiva a materialidade do delito, indícios suficientes de autoria, o risco à ordem pública e à instrução criminal em virtude da possibilidade concreta da prática de novos delitos e de os réus interferirem nas investigações, não há que se falar em ilegalidade da custódia cautelar. Precedentes. (STJ, Quinta Turma, RHC n. 16948/RS, Rel. Min. Felix Fischer, j. 03.02.2005, v.u., DJU de 28.02.2005, p. 340)

c) Garantia da aplicação da lei penal

O poder de influência de Francisco Barros Dias perante os órgãos jurisdicionais federais pode ser evidenciado por diversas circunstâncias. Conforme dados telemáticos obtidos no Processo n. 0001303-34.2016.4.05.8400 (compartilhados com o presente caso, conforme fls. 1710/1718 do Processo n. 000218-13.2016.4.05.8400), sua caixa pessoal de e-mails ([email protected]) tem uma pasta “Latosensu”, cujas mensagens 14 a 17 demonstram que ele conseguiu a cessão do auditório da Justiça Federal do Rio Grande do Norte para ministrar um de seus cursos por meio da empresa Latosensu Escola Jurídica

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Eireli, concedendo em contrapartida vagas gratuitas a juízes federais e assessores, bem como descontos a outros servidores da Justiça Federal. Ele foi, ainda, convidado e participou do jantar de posse do ex-Desembargador Federal do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, Marcelo Navarro Ribeiro Dantas, como Ministro do Superior Tribunal de Justiça (pasta “Inbox”, mensagem 2309).

Além disso, os dados telefônicos (Processo n. 0001379-58.2016.4.05.8400) registram, nos anos de 2015 e 2016, quando já estava aposentado, dezenas de ligações de Francisco Barros Dias para telefones cadastrados em nome da Justiça Federal do Rio Grande do Norte, da Justiça Federal de Pernambuco, da Justiça Federal da Paraíba, da Justiça Federal do Ceará e, especialmente, do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, apontando no sentido de que ele continua a manter contato estreito com magistrados federais da 5ª Região, mesmo depois de ter ingressado na inatividade e ter passado a advogar (Relatório de Análise n. 046/2017-SPEA/PGR e ofícios de fls. 116/149 e 86/90 do Processo n. 0001379-58.2016.4.05.8400, bem como ofício de fls. 944/946 do Apenso I do Inquérito Policial n. 529/2016-SR/PF/RN).

Os contatos em questão não evidenciam a prática de qualquer ilicitude por parte de magistrados. No entanto, demonstram acesso amplo de Francisco Barros Dias a julgadores, o que o diferencia, perante sua clientela, dos demais advogados, que não gozam desse prestígio.

Algumas mensagens de e-mail de Francisco Barros Dias demonstram a forma de sua atuação como advogado, indicando que ele faz contato direto com magistrados para convencê-los sobre a suposta procedência das pretensões de seus clientes (fls. 1710/1718 do Processo n. 000218-13.2016.4.05.8400). Na pasta “Outbox”, a mensagem 440 trata do acompanhamento de uma ação rescisória no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, tendo Francisco Barros Dias, ao referir-se à necessidade de interlocução com desembargadores, sugerido ao advogado com quem atua no caso: “Falar logo com o pessoal a partir de segunda feira?”. Na mensagem 597 da mesma pasta, ao discutir com seu filho e advogado Ivis Girgio Tavares Barros Dias sobre um recurso especial interposto ao Superior Tribunal de Justiça, ele afirma claramente: “Tá bom. Agora precisa botar na cachola de quem vai julgar. Ou seja precisa de falar com o ministro e seus assessores”. Na pasta “Inbox”, na mensagem 4339, em que Francisco Barros Dias cuida de uma ação em trâmite na 1ª Vara Federal do Rio Grande do

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Norte, ele afirma: “já estive falando com o juiz”.

Na pasta “Inbox”, as mensagens 3830 e 4585 se referem a um recurso especial de um cliente de Francisco Barros Dias interposto perante o Superior Tribunal de Justiça. O relator do caso foi o Ministro Benedito Gonçalves. Dados telefônicos apontam ligações de Francisco Barros Dias para terminal cadastrado em nome do Superior Tribunal de Justiça, o qual informou que o telefone, no período, foi destinado exatamente ao gabinete do Ministro Benedito Gonçalves (Relatório de Análise n. 046/2017-SPEA/PGR de fls. 116/149 do Processo n. 0001379-58.2016.4.05.8400 e ofício de fls. 661 do Apenso I do Inquérito Policial n. 0529/2016-SR/DPF/RN). Trata-se de mais um indício de que o investigado, valendo-se de sua condição de ex-desembargador, tem acesso privilegiado a julgadores.

Isso ficou evidente nas interceptações telefônicas relacionadas à investigação dos fatos tratados no Inquérito n. 529/2016-SR/PF/RN. Nos diálogos de índice 12023820 e 12025102 (Auto Circunstanciado 01, constante do Processo n. 0001304-19.2016.4.05.8400, Francisco Barros Dias conversa com seu filho Ivis Giorgio Tavares Barros Dias (apontado no auto circunstanciado como Homem Não Identificado – HNI) sobre a declaração de suspeição de um Desembargador Federal do Tribunal Regional Federal da 5a Região em um processo de interesse de ambos, o que estaria de alguma forma relacionado a uma decisão proferida por outro membro da corte. Francisco Barros Dias deixa claro que fez um pedido informal ao Desembargador Federal para quem o caso foi redistribuído, perante quem ele teria influência, e ressaltou que iria pessoalmente ao próprio Tribunal Regional Federal da 5a Região levar um parecer seu referente a outro caso em que atua irregularmente:

Índice : 12023820Operação : ALCMEONNome do Alvo : BARROS DIASFone do Alvo : 84999631445Localização do Alvo : Fone de Contato : Localização do Contato : Data : 31/8/2016Horário : 11:57:12Observações : @@@BARROS X HNI - ADVOGANDO NO TRF5?

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RECIFE?

Transcrição: Barros liga pra HNI, que é advogado, e diz que o "relator" assinou suspeição no processo e que mandou redistribuir.

HNI: Alô!BARROS: Oi.HNI: Opa!BARROS: Aiii. E aí, rapaz. O que que você disse na (incompreensível) afirmou suspeição no processo.HNI: Cordeiro?BARROS: Hum?HNI: Paulo Cordeiro?BARROS: Pois é.HNI: Por quê?BARROS: Porque...quem sabe meu filho(Risos) (Incompreensível). Pois é. Passar esse tempo todinho com o processo pra afirmar suspeição.(Incompreensível)HNI: Puta que pariu.BARROS: Num é! É de lascar.HNI: Que é que ele tem a ver com...BARROS: Sei não que diabo esse caso...nuuuum sei se ele se sentiu...é...eu acho que ele tinha assim na intenção de deferir a liminar e viu que a decisão era de Paulo Roberto(incompreensível) Da gente, do escritório, num pode ser. (incompreensível) ele afirmar suspeição.HNI: Num tem porque fazer isso não. É.BARROS: Ele não afirma suspeição nos outros casos(incompreensível) Estranha. Afirmar suspeição nesse caso. O negócio no interior do Rio Grande do Norte (Risos).HNI: Exatamente.BARROS: Eu não sei que é que tem essa é, ummmm, uma, um negócio desse que é o cabra afirmar lá de Recife(incompreensível), sei lá. Ou ele pode, sei lá, alguém que tenham tido um caso idêntico, uma coisa assim. Sei não. HNI: Pode ser. Sei não.BARROS: É. Alguma coisa, sei lá. Eu penso que é voto de Paulo Roberto (Risos)HNI: É, realmente.BARROS: (incompreensível)

A partir de 1'56" até 4'01" o diálogo não tem relevância. Se trata do relato

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desse advogado contando a Barros uma vitória em um trabalho que ele realizou. Barros volta a falar da suspeição a partir desse ponto.

BARROS: Pois tá certo. Pois é. O homem afirmou suspeição no processo. Não sei como é isso.HNI: Que estranho demais.BARROS: Essa foi muito estranha, viu? O que é que tem o processo com a suspeição. Num vi nada (incompreensível).HNI: Também não vi não. Agora, falar com ele é um negócio completamente tenso.BARROS: É.HNI: Ele não dá bom dia. Eu entrei na sala dele. Ele não deu bom dia.BARROS: hum.HNI: Aí eu: bom dia desembargador. Aí ele: hum. Balançou assim a cabeça. Nem pra di...responder. Aí eu disse: não. Aí falei, falei, falei, falei. Ele era virado pro lado e olhando pra o teto.BARROS: Meu Deus do céu.HNI: Aí eu. Pronto desembargador. São essa as razões que a gente tem que (incompreensível) Tá. Muito obrigado. Apertou minha mão e xau.BARROS: Certo.HNI: Num disse nem um oi. Eu disse: Tá bixiga. Que negócio estranho.

A partir de 4'50" até 6'45" o diálogo não é relevante. Barros conversa com esse advogado sobre um happy hour que ele fará no escritório dele na sexta feira. Depois disso, Barros faz um último comentário sobre a suspeição e desligam.

BARROS: Pois é. O homem afirmou suspeição. Piorou tudo (incompreensível).HNI: (incompreensível).

E encerram a ligação.

Neste diálogo, o Desembargador Federal aposentado, Barros Dias, liga pra HNI, que pela conversa, parece se tratar de um companheiro de trabalho, e diz que o Desembargador Paulo Cordeiro tinha afirmado suspeição no processo que eles estavam atuando. Os dois demonstraram-se surpresos com a suspeição.

Logo em seguida, FRANCISCO BARROS liga novamente para o HNI e

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informa que o processo foi redistribuído para o Desembargador FRANCISCO ROBERTO MACHADO. Afirma que enviou mensagem ao referido Desembargador solicitando que desse uma olhada no pedido de liminar:

Índice : 12025102Operação : ALCMEONNome do Alvo : BARROS DIASFone do Alvo : 84999631445Localização do Alvo : Fone de Contato : Localização do Contato : Data : 31/8/2016Horário : 15:49:36Observações : @@@BARROS X HNI - ADVOGANDO TRF5?RECIFE?

Transcrição: Barros liga pra HNI, que é advogado, e diz que o processo foi redistribuído pra o Desembargador Roberto Machado do TRF 5 e que ele iria mandar uma mensagem pra o desembargador pedindo pra ele dar uma olhada na liminar.

BARROS: Alô!HNI: Oi, me ligou?BARROS: Liguei. O processo foi redistribuído pra Roberto Machado.HNI: Ro...bom.BARROS: Aí eu mandei um, uma, um, uma mensagem pra ele de, a gente sempre se comunica por mensagem e ele também quando era juiz, sempre pedia pra eu olhar processo, sei o quê lá. Pedi. Aqui é. Eu disse: a pedido, a seu pedido eu tava tendo a liberdade de solicitar que ele desse uma olhada lá numa, numa, numa liminar da ação tal, tal, tal, assim, assim. E qualquer coisa, você confirma, tá?HNI: (Risos). Qualquer coisa eu vou lá. Na próxima semana talvez eu vá.BARROS: Pois é. Se ele não despachar daqui pra lá, aí(incompreensível) pelo menos ele olha (incompreensível), viu? HNI: Tá certo. Pois tá. Bom.BARROS: Tá certo?HNI: Tá certo. BARROS: Aí, com ele eu tenho liberdade. Aí...Toda vida ele mandou. Teve nadinha. Toda vida ligou pra mim. Mudou, é outra estória, não tô sabendo ainda (Risos). É bom que eu saiba se mudou porque (Risos)...

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HNI: Tá certo.BARROS: (Incompreensível)conhecer as pessoas (Risos).HNI: (Risos). Não, mas num mudou não (Risos).BARROS: Nãooo. É a mesma coisa.HNI: É.BARROS: Uma figura.HNI: Pois tá.BARROS: Viu?HNI: Tá certo.BARROS: Então pronto. Então vamo, é, vamos aguardar aí. Se for o caso, não sei, se não for, é, despachado daqui pra terça feira (Incompreensível).HNI: Terça feira eu vou. É. Tá certo.BARROS: Eu também devo ter que ir lá porque eu vou ter que deixar aquele parecer que eu tenho que terminar daqui pra próxima semana.HNI: Hum, sei.BARROS: Terminando. Na hora que eu terminar, vou deixar. Assim que eu terminar. No dia que eu terminar, vou deixar.HNI: Tá certo.BARROS: Viu?HNI: Pois tá.BARROS: Tá certo?HNI: Tá.BARROS: Tá bom.HNI: Tá.

E eles encerram a ligação.

Neste diálogo, HNI liga pra Barros e Barros informa pra ele que o processo foi redistribuído para o Desembargador Roberto Machado. Provavelmente estão falando do processo citado no áudio anterior, no qual o Desembargador Paulo Cordeiro havia afirmado suspeição. Ainda neste diálogo, Barros afirma pra HNI que sempre se comunica com o Desembargador Roberto Machado por mensagem e que mandou uma mensagem para ele dar uma olhada numa liminar da ação, já que Barros tinha liberdade para isso com o Desembargador.

Tais elementos deixam claro o alto potencial de interferência de Francisco Barros Dias em um futuro processo penal a ele relativo, até mesmo perante instâncias superiores da estrutura jurisdicional brasileira. Cumpre, portanto, assegurar a aplicação da lei penal no caso. A persecução penal de

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investigados ou réus como o ex-Desembargador Federal Francisco Barros Dias só tem alguma chance de eficácia, ainda que mínima, se houver prisão preventiva, sendo ele mantido sob custódia cautelar durante todo o feito.

Por outro lado, especificamente em relação aos fatos referentes ao caso sob exame, não se pode deixar de ressaltar, ainda, que os dados telemáticos de Francisco Barros Dias (fls. 1710/1718 do Processo n. 000218-13.2016.4.05.8400) evidenciam que ele mantinha e continua a manter interação estreita com o outro investigado a ele relacionado, Francisco Welithon da Silva. Pontam nesse sentido a mensagem 2359 da pasta “Inbox” e a mensagem 140 da pasta “Outbox”, trocadas com Francisco Welithon da Silva, suspeito neste caso de ser o advogado intermediário do repasse de propina a Francisco Barros Dias. Tais elementos mostram, inclusive promiscuidade de interesses entre ambos, antes e depois da aposentadoria do ex-Desembargador Federal.

Na mensagem 2359 da pasta “Inbox”, Francisco Welithon da Silva, em 05/10/2015, quando Francisco Barros Dias já estava aposentado, pede que ele interceda perante o Desembargador Federal Cid Marconi do Tribunal Regional Federal da 5a Região para que tal magistrado receba um prefeito do interior do Rio Grande do Norte acusado em ação penal originária: “Dr.! seria possível intermediar para que o Desembargador Relator recebesse ABEL amanhã? Ele que falar sobre o processo porque acha que tem algo que precisa ser visto, mas não tem mais tempo para peticionamento. o julgamento está marcado para 07/10/2015. obs.: Já mandei a nota para o cliente”.

Na mensagem 140 da pasta “Outbox”, Francisco Welithon da Silva e Francisco Barros Dias, em 19/12/2012, quando o último ainda era Desembargador Federal da ativa, discutem sobre uma ação eleitoral de interesse do primeiro. Francisco Barros Dias inclusive auxilia diretamente na redação de petição relacionada ao caso:

olá meu caro Welithon,

se isso acontecer melhor porque mostra o tamanho dos picaretas. Mas acompanhe o fato. Logo que tiver esses dados dessa transferência peticione a todos os Juizes onde tiver processo mostrando a trambiquagem e dizendo que fato novo ocorreu e que mais uma fraude foi perpetrada e deve ser levada em consideração quando do julgamento das causas. ok.

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Em 16/12/2012 19:51, [email protected] escreveu:

OLÁ AMIGO.

VEJA:

A AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO SERÁ AFORADA AMANHÃ. DIA 17

VEJA CÓPIA DO INQUÉRITO DA APREENSÃO DO CARRO DE BRENO, PRISÃO DO FUNCIONÁRIO PÚBLICO (MOTORISTA) E DE ELEITORES.

OBS: DA ELEIÇÃO PRÁ HOJE, O CARRO FOI TRANSFERIDO PARA UMA EMPRESA. O INTUITO É ENGANAR A JUSTIÇA DIZENDO QUE O CARRO NÃO PERTENCIA AO CANDIDATO.

OCORRE QUE A EMPRESA PRESTA SERVIÇOS À PREFEITURA DE OLHO D`ÁGUA.

O QUE ACHA DISSO?

W&D - ADVOCACIADr. FRANCISCO WELITHON DA SILVAAdvogado - OAB/RN 3068Especialista em Processo CivilDoutor em Direito PenalEnd.: Rua João da Escócia, 336, Nova Betânia, Mossoro - RNTelefone: (084) 9979-5152 (084) 8708-1145www.facebook.com/welithonsilvaadv

Em 09/12/2012 14:10, diasfb < [email protected] > escreveu:

Meu caro Welithon,

estou encaminhando um modelo retocado daquela petição que vc enviou. Para tanto faço as seguintes observações:

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Primeiro, acho que deve ser ajuizada a ação de investigação judicial até a data da diplomação. É que essa ação tem uma maior abrangência do objeto e já está historicamente mais consolidada quanto aos efeitos da cassação do mandato e da perda dos direitos políticos.

Segundo, esta ação tem uma celeridade processual maior do que a de impugnação de mandato.

Terceiro, cortei muita coisa e fiz algumas adaptações pensando numa ação de investigação judicial eleitoral.

Quarto, as coisas não sairam melhor pelo tempo que resta para vc acelerar o ajuizamento desta ação.

Quinto, há ainda que fazer as adaptações para ação de investigação judicial, porque tudo está com o nome de açao de impugnação de mandato eletivo. E se vc resolver ajuizar a ação de investigação, sabes melhor do que eu o que deve cortar mais e adaptar. Os fatos já são mais do que suficientes para configuração dos ilícitos eleitorais.

Sexto, não se preocupe se o Ministério Público tiver ajuizado uma outra. É só pedir para apensar a primeira. É possível que a sua esteja muito mais bem instruída e serão trabalhadas em conjunto. Acho mais proveitoso e o MP com toda a desgraça ainda tem mais credibilidade que os partidos políticos e os candidatos. Isso implica em que a Justiça veja com melhores olhos uma ação em que o MP SEJA PARTE TAMBÉM.

Sétimo, como ação de impugnação está muito cheia de justificativa, muito longa e talvez não tramite tão rápida.

Oitavo, cortei muita coisa porque quanto menos se falar fora do contexto fático melhor. Acho até que poderia ser cortada ainda muita coisa. Não se engane. Juiz só se impressiona com os fatos. Juiz não se impreciona com direito, citações, poesias, fílósofos, etc.

Nono, se vc não acolher essas minhas sugestões, então aproveito algumas considerações que fiz no arremate dos fatos como forma de fechar os mesmos.

Dez, era o que poderia contribuir amigo, esperando ter realmente

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alcançado algum percentual desse desejo (contribuir).

Um abração.

Barros

Solto, Francisco Barros Dias usará todo seu prestígio e sua influência perante tribunais, com base em uma noção equivocada sobre separação entre esfera pública e esfera privada na atuação jurisdicional, para se esquivar da atuação estatal. Acerca da ameaça à aplicação da lei penal como requisito para decretação da prisão preventiva, nos termos do art. 312 do Código de Processo Penal, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça afirma:

A intenção de se furtar à aplicação da lei penal é razão suficiente para a manutenção do decreto de prisão preventiva. Fundamento idôneo apresentado para a constrição da liberdade. Precedentes. (STF, Segunda Turma, RHC n. 116085/RS, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 13.08.2013, v.u., DJE de 05.09.2013)

Não é ilegal a manutenção do encarceramento provisório que se funda em dados concretos a indicar a necessidade da medida cautelar, especialmente em elementos extraídos da conduta perpetrada pelo acusado, demonstrando a necessidade da prisão para garantia da aplicação da lei penal. (STJ, Sexta Turma, RHC n. 76906/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 10.11.2016, v.u., DJE de 24.11.2016)

d) Insuficiência de medidas cautelares alternativas. Contraditório diferido.

Finalmente, não se vislumbra suficiência em nenhuma das medidas cautelares alternativas à prisão preventiva, previstas no art. 319 do Código de Processo Penal, para debelar os riscos à ordem pública, à instrução criminal e à aplicação da lei penal verificados no caso. Na situação, mostra-se necessário e imprescindível eliminar a possibilidade de contato do investigado com o meio jurisdicional no qual sua a atividade delitiva se iniciou e teve continuidade até os dias atuais, seja para evitar a reiteração de práticas criminosas, seja para resguardar a instrução criminal, seja para garantir a aplicação de sanções penais.

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Isso somente pode ser obtido com a custódia cautelar.

Comparecimento periódico a juízo, proibições de frequência a determinados lugares ou de contatos com determinadas pessoas, proibição de ausentar-se da comarca, recolhimento domiciliar, suspensão do exercício da advocacia, fiança ou mesmo monitoração eletrônica mostram-se inócuas, diante da atuação oculta, por meio de interpostas pessoas, de Francisco Barros Dias. Revela-se necessário, pois, decretar a prisão preventiva na espécie.

Por fim, ressalta-se que a medida cautelar pessoal ora pleiteada deve ser decretada sem oitiva da parte contrária, em face do risco de ineficácia da providência, caso previamente conhecida do investigado ora requerido, que se encontra solto e pode adotar conduta que venha a frustrar os objetivos aqui pretendidos. O contraditório fica diferido para momento posterior, conforme ressalva do art. 282, § 3º, do Código de Processo Penal.

4. Dos pedidos

Assim, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL requer a decretação da prisão preventiva de Francisco Barros Dias, com base nos arts. 312 e 313, inciso I, do Código de Processo Penal, com a expedição do correspondente mandado, a ser cumprido pela Polícia Federal.

Finalmente, o órgão ministerial requer, desde já, o levantamento do sigilo do presente caso e de todos os seus elementos de prova, logo que cumpridas as diligências de busca e apreensão e de condução coercitiva. De fato, depois de tais medidas, não há mais necessidade de segredo, devendo prevalecer o princípio da publicidade processual previsto no art. 5o, inciso LX, da Constituição de 1988, até mesmo para controle social da atividade do Ministério Público e da Justiça Federal.

Natal, Rio Grande do Norte, 17 de agosto de 2017.

RODRIGO TELLES DE SOUZA RONALDO SÉRGIO CHAVES

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Procurador da RepúblicaProcurador da República FERNANDESProcurador da RepúblicaProcurador da República

CIBELE BENEVIDES GUEDES DA FONSECA

Procuradora da RepúblicaProcuradora da República

FERNANDO ROCHA DE ANDRADEProcurador da RepúblicaProcurador da República

RENAN PAES FELIXProcurador da RepúblicaProcurador da República

MARINA ROMERO DE VASCONCELOSProcuradorProcuradoraa da República da República

VICTOR MANOEL MARIZProcuradorProcuradoraa da República da República

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