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EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO RELATOR RICARDO
LEWANDOWSKI DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Reclamação nº. 32.080/SP
HORÁCIO BATISTA DOS SANTOS JUNIOR,
qualificado nos autos do processo em epígrafe, por meio da DEFENSORIA
PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, dispensada da apresentação de
instrumento de mandato, por força do disposto no artigo 128, XI, da Lei
Complementar 80/94, vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com
fundamento nos artigos 489, § 1º, incisos III, IV e V e 1.022, incisos I e II, e
parágrafo único, inciso II do Código de Processo Civil, apresentar os presentes
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ante o teor da decisão monocrática (documento
eletrônico nº. 83) que negou seguimento à Reclamação, por uma suposta e
inexistente “manifesta inadmissibilidade” do pedido, conforme restará demonstrado
a seguir.
O cidadão Horácio Batista dos Santos Junior aviou
Reclamação Constitucional perante este Supremo Tribunal Federal, aduzindo, em
reduzida síntese, que as inúmeras teratologias processuais praticadas pelos
órgãos jurisdicionais do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo desde o
ajuizamento da ação (em 20/06/2017) e, especialmente, a habitação do próprio
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo como “amigo de si mesmo”,
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para deduzir pedido em favor de uma das partes, exigem o deslocamento da
competência para o processamento e julgamento da causa a este Supremo
Tribunal Federal, com supedâneo no artigo 102, I, “n” da Constituição Federal.
De início, oportuno ressaltar que o presente caso concreto
traduz hipótese simplesmente teratológica e sem precedentes no direito
brasileiro, de tal forma que o pronunciamento judicial embargado, que se
mostrou, data venia, superficial, lacônico e contraditório, tolhendo a
possibilidade de análise pelo órgão colegiado competente, sem fundamentação
idônea para tanto, merece ser revisto.
A propósito do grave atentado ao Estado Democrático de
Direito, a partir da habilitação de um Tribunal de Justiça como terceiro
parcial em processo que tramita sob sua jurisdição, confiram-se os seguintes
trechos dos pareceres carreados aos autos (simplesmente desconsiderados pela
decisão embargada):
O Tribunal não pode ser amigo de si mesmo, sob pena de
perda da característica essencial da imparcialidade do órgão
jurisdicional, consequência de um egocentrismo incompatível com
a figura do amicus curiae, mas também do próprio exercício da
jurisdição no Estado Democrático de Direito.
(...)
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No caso em tela, parece-me que, a priori não se trataria de
hipótese de competência do STF em razão do art. 102, I, “n”, pois
ao entender que o magistrado não pode ser acionado diretamente
em ação indenizatória decorrente de erro judicial, bastaria decisão
excluindo-o do litisconsórcio passivo; contudo, a sequência de atos
acima listada indica a tomada de posição do próprio tribunal local
em tornar-se amicus curiae claramente de uma das partes,
automaticamente fez com que os membros desse tribunal
estivessem indiretamente interessados no resultado da questão
discutida. Trata-se, portanto, de uma perda de imparcialidade
superveniente, que in abstrato talvez não se configurasse, mas que
in concreto restou configurada de forma cristalina. Em suma, a
mera admissão do TJSP como amicus curiae é suficiente para
torná-lo parcial e atrair a competência do STF para o caso.
Registro que as causas de perda de imparcialidade do
tribunal e a necessidade de deslocamento de competência para o
STF foram todas, sem exceção, provocadas pelo próprio TJSP,
seja pelo juiz de piso ao proferir decisões absurdas e
incongruentes, reveladoras de seu animus, seja pelo órgão
jurisdicional de 2ª Instância, ao conhecer de recurso
manifestamente incabível da APAMAGIS, mas especialmente
pela intervenção do tribunal como amicus curiae. Professor
Camilo Zufelato (documento eletrônico nº. 81, páginas 26/27 e
31/32, grifo nosso).
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1. Subverte a estrutura da Constituição Federal e as bases
do Estado Democrático de Direito, violando o princípio axial de
respeito à dignidade da pessoa humana, bem como aquele que lhe
é correlato, o princípio constitucional da proporcionalidade, o
impedimento oposto ao exercício do direito fundamental de ação,
mediante a análise da pretensão deduzida pelo cidadão por um juiz
ou Tribunal imparcial, assegurada a garantia ao duplo grau de
jurisdição e ao devido processo legal, com a garantia de respeito
ao contraditório que lhe é inerente;
2. O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo está
absolutamente impedido para o processamento e julgamento da
causa em análise, ante o seu pedido de habilitação como amicus
curiae e a sua manifestação parcial em prol de um dos réus,
postura que, de mais a mais, ratifica a subversão mencionada no
item anterior e levada a efeito pelos órgãos jurisdicionais de 1ª e
de 2ª Instâncias que decidiram no feito, com violação agora do
princípio constitucional da razoabilidade;
3. Há interesse, direto ou indireto, de todos os membros do
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, e da magistratura em
geral, em se definir a possibilidade, à luz da Constituição Federal,
de responsabilização pessoal e direta do juiz de direito por atos
praticados no exercício da função jurisdicional, com a delimitação
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de todas as questões jurídicas que circundam o tema, ainda
pendente de análise definitiva pela Suprema Corte do País.
4. Deve a ação ser processada e julgada pelo Supremo
Tribunal Federal, na forma do artigo 102, I, “n” da Constituição
Federal, sob pena de afronta ao ordenamento jurídico pátrio e
internacional, com a nulidade absoluta dos pronunciamentos
judiciais emanados de órgãos incompetentes. Professor Willis
Santiago Guerra Filho (documento eletrônico nº. 64, páginas
19/20, grifo nosso).
No que diz respeito à indagação feita pela Consulente,
insta ressaltar que, em que pese a previsão da intervenção no art.
138 do Código de Processo Civil e a constatação da maior
utilização desta modalidade interventiva nos últimos anos, a
participação do TJSP como amicus curiae em ação de competência
do próprio Tribunal, que inclusive já foi objeto de recursos à
segunda instância, configura uma situação de desassossego e
grande perplexidade, sem precedentes no direito brasileiro, com
manifesto risco de comprometimento da imparcialidade do órgão
julgador.
(...)
Nesses termos, o pedido de habilitação do Tribunal
Estadual como amicus curiae configura hipótese de impedimento
para o julgamento da causa pelo mesmo Tribunal, seja pela
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situação prevista no art. 144, I, por ter atuado não como
testemunha ou, perito, mas pela semelhança que caracterizam
essas figuras com os objetivos que orientam a manifestação na
qualidade de amicus curiae ponto claramente em xeque a
imparcialidade objetiva do tribunal.
(...)
Tal preocupação se mostra ainda mais premente quando se
verifica que, nos mesmo autos em que se admitiu a intervenção do
Tribunal de Justiça como amicus curiae, o direito de participação
das organizações da sociedade civil foi negado, pelo
indeferimento da intervenção solicitada pelas seguintes
instituições: Conectas Direitos Humanos, o Instituto Brasileiro de
Ciências Criminais – IBCCRIM, o Instituto Pro Bono, o Instituto
Terra, Trabalho e Cidadania – ITTC e a Pastoral Carcerária
Nacional.
Se deferimento do órgão julgador como amicus curiae
insere dúvidas substanciais no que tange à imparcialidade e à
independência do juízo e do Tribunal de Justiça local, tal
preocupação é radicalizada quando se constata que o caráter
supostamente plural e democrático que justificou a admissão do
Tribunal como interveniente não é o mesmo conferido às
organizações da sociedade civil que atendem, de forma muito mais
visível e coerente, os requisitos do art. 138 do Código de Processo
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Civil. Professores Dierle Nunes e Rafael Menezes (documento
eletrônico nº. 5, páginas 21, 25 e 26, destacamos).
Ao postular uma posição como amicus curiae em caso que
será por ele próprio julgado, o Tribunal de Justiça Estadual em
questão declara interesse particular no processo. Como a
instituição não existe sem o trabalho concreto dos seus membros –
desembargadores, juízes e demais servidores –, todos eles passam
a ser direta ou indiretamente interessados, o que caracteriza
plenamente a segunda parte do art. 102, I, n, da Constituição da
República, devendo o caso ser integralmente remetido ao Supremo
Tribunal Federal para processar e julgar o caso.
(...)
Todos têm direito a prestação jurisdicional imparcial,
realizada pelo juiz natural da causa, nos limites das regras
pertinentes ao processo legal devido, proibidos Tribunais de
exceção, isto é, que não se subordinam às regras constitucionais.2
O Tribunal de Justiça Estadual referido na segunda
questão, ao admitir que tem interesse na causa – e o faz de
maneira inequívoca por meio de requerimento escrito para
admissão como amicus curiae, nos termos do art. 138 do Código
de Processo Civil3 – atesta com isso sua inequívoca parcialidade
e, em consequência necessária, manifesta completa incapacidade
para julgar a lide com isenção, distância e equidade, tornando
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absolutamente nulo qualquer ato praticado no processo por seus
magistrados a partir do registro de protocolo do pedido de
habilitação como terceiro interessado – independentemente da
natureza do interesse (prática ou teórica).
Em conclusão, é causa de impedimento suficiente a mera
existência escrita do requerimento de admissão como amicus curie
por parte do mesmo Tribunal sob o qual está pendente o
julgamento de um processo específico. Todos os atos praticados
por juízes e desembargadores de tal Tribunal são nulos a partir do
momento de interposição do pedido da referida solicitação.
Professor Maurício Stegemann Dieter (documento eletrônico
nº. 3, páginas 4/6, grifamos)
Realizada esta breve, mas necessária, introdução, eis que os
elementos acima não foram apreciados no pronunciamento judicial recorrido,
passemos à análise das omissões e contradições existentes no julgado.
Abaixo, destacamos os fundamentos invocados como razão
de decidir e o correspondente vício:
Bem examinados os autos, verifico, inicialmente, que o
Juízo de primeiro grau determinou o sobrestamento da ação
indenizatória ajuizada pelo reclamante justamente em razão do
que foi decidido no RE 1.027.633/SP, em que se reconheceu a
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repercussão geral do tema relativo à violação ou não do art. 37, §
6º, da Constituição Federal, “no que admitida a possibilidade de
particular, prejudicado pela atuação da Administração Pública,
formalizar ação judicial contra o agente público responsável pelo
ato lesivo”.
Transcrevo, por oportuno, o inteiro teor da decisão que consta do
documento eletrônico 31:
“Vistos. Fls. 667/672: cumpra-se a decisão de fls. 551. Aguarde-se
o julgamento do Recurso Extraordinário nº 1027633 no Supremo
Tribunal Federal. Int. Araraquara, 29 de agosto de 2017” (pág. 7)
Assim, reputo preservada e garantida a autoridade da decisão
proferida por esta Corte Suprema nos autos do Recurso
Extraordinário em apreço.
Eis a primeira contradição.
Com o máximo respeito, os autos não foram “bem
examinados” para se chegar à conclusão supra.
Conforme destacado na petição inicial (documento
eletrônico nº. 1, páginas 55/56), “o juiz monocrático determinou que o autor se
manifeste em réplica à contestação de mérito ofertada pela Fazenda Pública do
Estado, em que pese o processo ter sido extinto e, depois, suspenso (!) pelo
próprio magistrado, o qual, não bastasse, rejeitou os embargos de declaração
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apresentados pelo Reclamante contra aquela decisão, mais uma vez sem
qualquer fundamento jurídico inteligível.”.
A decisão referida, os embargos de declaração
apresentados pelo Reclamante e o pronunciamento que rejeitou os embargos se
encontram nos documentos eletrônicos nº. 45 (página 4) e nº. 51 (páginas 34/41).
Oportuno transcrever o inteiro teor das referidas decisões
de 1ª Instância:
“Vistos. À réplica. Intime-se. Araraquara, 13 de agosto de
2018”
“Vistos, Rejeito os embargos de declaração por não
verificar na decisão impugnada o vício apontado. A FESP
contestou, sendo o autor intimado para ofertar réplica. Aguarde-se
o prazo da réplica. Int. Araraquara, 05 de setembro de 2018.”
Veja-se que as decisões acima mencionadas, que
conferiram andamento a um processo extinto e, depois, suspenso, foram
proferidas em 13 de agosto de 2018 e 05 de setembro de 2018, ou seja, mais de 1
(um) ano depois da decisão mencionada no pronunciamento jurisdicional
embargado.
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Enfim, impossível se reputar “preservada e garantida a
autoridade da decisão proferida por esta Corte Suprema nos autos do Recurso
Extraordinário em apreço”, quando o juízo de 1º grau e o órgão de 2ª Instância
seguem movimentando o feito, de ofício, motivo pelo qual aguarda o
embargante que Vossa Excelência se manifeste expressamente acerca da
contradição acima apontada, eliminando-a.
Já no que se refere ao alegado impedimento de todos os
magistrados que integram o TJSP para o julgamento da referida
ação, cumpre salientar que o deslocamento de competência
baseado no art. 102, I, n, da Constituição Federal exige
manifestação expressa de impedimento dos juízes, em
procedimentos específicos, sob pena de violação do princípio do
juiz natural.
Neste ponto, Vossa Excelência indicou as ementas dos
seguintes precedentes do Plenário desta Suprema Corte: a) AO 967- AgR/PE,
Rel. Min. Eros Grau, Plenário; b) MS 25.509-AgR/SP, Rel. Min. Sepúlveda
Pertence, Plenário; c) AO 1.153-AgR/ES, Rel. Min. Carlos Velloso, Plenário; d)
MS 23.682- AgR/MG, Rel. Min. Celso de Mello, Plenário; e) AO 1.045-
QO/GO, Relator o Ministro Ayres Britto.
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E, em seguida, concluiu: “In casu, não consta que tenha
havido manifestação formal de impedimento ou suspeição por parte de mais da
metade dos membros do Tribunal de origem. Tampouco há comprovação nos
autos de que tenha sido ajuizada a correspondente exceção, o que, por si só, já
seria suficiente para afastar a incidência da hipótese prevista no art. 102, I, n,
da Constituição Federal.”.
Vislumbra-se, neste ponto, a existência de omissão e
contradição.
Os precedentes citados por Vossa Excelência foram
julgados entre os anos 2000 e 2006.
Apenas um deles reflete, de forma clara, o posicionamento
desta Suprema Corte de Justiça a respeito do assunto, qual seja, o AO 1.045-
QO/GO, Relator o E. Ministro Ayres Britto, cuja ementa ora se transcreve:
MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO
JURISDICIONAL QUE INDEFERIU PETIÇÃO INICIAL DE
EMBARGOS DE TERCEIRO. AUTOS REMETIDOS AO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PELO PRESIDENTE DE
TURMA JULGADORA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL.
COMPETÊNCIA. C.F., ART. 102, I, "N", DA MAGNA CARTA.
Para configurar-se a competência originária do Supremo Tribunal,
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pela citada alínea "n", é preciso que haja a manifestação formal,
de impedimento ou suspeição, por parte dos membros da Corte de
origem, espontaneamente ou por efeito de ajuizamento da
correspondente exceção. Precedentes. No caso, tratando-se de
causas distintas -- embora com objetos correlatos -- não se pode
presumir que os julgadores que oficiaram nos embargos de terceiro
estão, necessariamente, impedidos de atuar no subseqüente
mandado de segurança. Questão de ordem resolvida no sentido de
se reconhecer a incompetência originária do Supremo Tribunal
Federal, com a devolução dos autos ao Juízo de origem.
(AO 1045 QO, Relator(a): Min. CARLOS BRITTO, Tribunal
Pleno, julgado em 24/06/2004, DJ 10-09-2004 PP-00044 EMENT
VOL-02163-01 PP-00017 LEXSTF v. 27, n. 314, 2005, p. 38-43)
(Negritamos e sublinhamos)
Mais recentemente, as Turmas do STF e, também, o
Plenário, ratificaram tal posicionamento, com destaques nossos:
AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE
SEGURANÇA. INTERPOSIÇÃO SOB A ÉGIDE DO CPC/2015.
ATO PRATICADO PELO PRESIDENTE E PELO CORREGEDOR-
GERAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO. CORTE DE PONTO DE SERVIDORES EM GREVE.
ALEGAÇÃO DE COMPROMETIMENTO DA IMPARCIALIDADE
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DO ÓRGÃO ESPECIAL PARA EXAME DA PRETENSÃO.
SUPOSTA HIPÓTESE DE APLICAÇÃO DO ART. 102, I, ‘N’, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INOCORRÊNCIA. EXCEÇÕES DE
SUSPEIÇÃO OU IMPEDIMENTO NÃO ARGUIDAS NA ORIGEM.
PRETENSÃO FUNDADA EM ILAÇÕES. AUSÊNCIA DE
COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
REMESSA DOS AUTOS AO TRIBUNAL DE JUSTIÇA LOCAL. 1.
O impedimento suscetível de caracterizar a hipótese de
competência originária prevista no art. 102, I, “n”, da Carta da
República pressupõe manifestação expressa, espontânea ou
provocada, de mais da metade dos membros do Tribunal de
origem, circunstância não demonstrada no caso. 2. Nos termos do
art. 21, IV, da LC nº 35/79, “Compete aos Tribunais,
privativamente: (...) julgar, originariamente, os mandados de
segurança contra seus atos, os dos respectivos Presidentes e os de
suas Câmaras, Turmas ou Seções”. O art. 21, § 1º, do RISTF, por
sua vez, autoriza a remessa dos autos ao Tribunal de Justiça local,
para o que de direito. Precedentes. O CPC/2015 contém preceito
de mesma teleologia, art. 64, § 3º. 3. Agravo regimental conhecido
e parcialmente provido, apenas para determinar a remessa dos
autos ao Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.
(MS 34571 AgR, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira
Turma, julgado em 09/06/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-
168 DIVULG 31-07-2017 PUBLIC 01-08-2017)
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Agravo regimental em reclamação. 2. Reclamação julgada
improcedente. 3. Art. 102, I, “n”, da Constituição Federal. 4.
Ausência de manifestação formal, espontânea ou provocada, de
impedimento ou suspeição de mais da metade dos membros do
Tribunal estadual. 5. Incidência de Imposto de Renda sobre verbas
de natureza indenizatória. 6. Não configuração de tema de
interesse privativo da magistratura. Inexistência de usurpação de
competência do STF. 7. Agravo regimental a que se nega
provimento. (Rcl 12808 AgR, Relator(a): Min. GILMAR
MENDES, Segunda Turma, julgado em 10/06/2014, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-125 DIVULG 27-06-2014 PUBLIC 01-07-
2014)
AGRAVO REGIMENTAL. RECLAMAÇÃO JULGADA
IMPROCEDENTE. ART. 102, I, "N", SEGUNDA PARTE, DA
CONSTITUIÇÃO. NECESSIDADE DE MANIFESTAÇÃO
FORMAL, ESPONTÂNEA OU PROVOCADA, DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEIÇÃO DE MAIS DA METADE DOS
MEMBROS DO TRIBUNAL RECLAMADO. RECURSO NÃO
PROVIDO. O mandado de segurança que motivou a reclamação
tem como alvo a Lei estadual pernambucana 11.630/1999, que
majorou a contribuição previdenciária de todos os agentes
públicos de Pernambuco, e não apenas dos magistrados. Tal fato
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impede a subsunção do caso à primeira parte da alínea "n" do
inciso I do art. 102 da Constituição, que, segundo precedentes, "só
se aplica quando a matéria versada na demanda diz respeito a
privativo interesse da magistratura enquanto tal e não também
quando interessa a outros servidores" (AgR na Rcl 1.952, rel. min.
Ellen Gracie, DJ de 12.3.2004, p. 37). Além disso, de acordo com a
primeira parte de tal dispositivo constitucional, é necessário, para
a fixação da competência desta Corte, "que todos os membros da
magistratura sejam direta ou indiretamente interessados", o que
não ocorre, já que o mandado de segurança de origem não engloba
sequer o interesse de todos os magistrados de Pernambuco. Como
o próprio recorrente frisou na inicial da reclamação, o pleito se
funda no prescrito na segunda parte do art. 102, I, "n", da
Constituição. Daí por que se impõe a manutenção da decisão
agravada, uma vez que não houve manifestação formal
(espontânea ou provocada) de impedimento ou suspeição por parte
de mais da metade dos membros do tribunal reclamado.
Precedentes (AO-AgR 1.401, rel. min. Eros Grau, DJ de
07.12.2006, p. 35; AO-QO 1.045, rel. min. Carlos Britto, DJ de
10.09.2004, p. 44; e AO-AgR 973, rel. min. Ellen Gracie, DJ de
16.05.2003, p. 91). Agravo regimental não provido.
(Rcl 1097 AgR-segundo, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA,
Tribunal Pleno, julgado em 04/02/2010, DJe-035 DIVULG 25-02-
2010 PUBLIC 26-02-2010 EMENT VOL-02391-04 PP-00854)
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A propósito, colhe-se da jurisprudência deste Supremo
Tribunal Federal, dentre outros, a AO 2046, julgada em 23/11/2016, em que
Vossa Excelência, na condição de Relator, consignou que:
A propósito da matéria, este Supremo Tribunal assentou o
seguinte: “(...) para configurar-se a competência originária do
Supremo Tribunal, pela citada alínea n, é preciso que haja a
manifestação formal, de impedimento ou suspeição, por parte dos
membros do Tribunal de origem, espontaneamente ou por efeito
de ajuizamento da correspondente exceção” (AO n. 1.045-
QO/GO, Relator o Ministro Ayres Britto, Plenário, DJ 10.9.2004).
No entanto, conforme ressaltado acima pelo Parquet, não é este o
caso dos autos, em que os Desembargadores se debruçaram sobre
a matéria e não se afirmaram suspeitos ou impedidos, o que, de
fato, não se pode mesmo deduzir a partir de mera manifestação
associativa. Isso posto, nos termos do art. 21, § 1º, do RISTF, não
conheço desta ação originária. Publique-se. Brasília, 23 de
novembro de 2016. Ministro Ricardo Lewandowski Relator (AO
2046, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, julgado em
23/11/2016, publicado em DJe-252 DIVULG 25/11/2016 PUBLIC
28/11/2016)
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Patente, pois, que se afigura desnecessário o ajuizamento
da correspondente exceção para que seja reconhecido o impedimento de um
Tribunal estadual e preservada a competência originária do Supremo Tribunal
Federal, o que retira a validade da assertiva constante da decisão embargada no
sentido de que “Tampouco há comprovação nos autos de que tenha sido
ajuizada a correspondente exceção, o que, por si só, já seria suficiente para
afastar a incidência da hipótese prevista no art. 102, I, n, da Constituição
Federal.”.
Resta, pois, avaliar se a premissa segundo a qual “não
consta que tenha havido manifestação formal de impedimento ou suspeição por
parte de mais da metade dos membros do Tribunal de origem” se afigura correta.
E, neste aspecto, o pronunciamento judicial recorrido se
afigura flagrantemente omisso.
Conforme dispõe o artigo 489, parágrafo 1º, incisos III, IV
e V c.c artigo 1.022, parágrafo único, inciso II do CPC, não se considera
fundamentada e, portanto, é omissa, a decisão judicial que “invocar motivos que
se prestariam a justificar qualquer outra decisão”, “não enfrentar todos os
argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão
adotada pelo julgador” e “se limitar a invocar precedente ou enunciado de
súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o
caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos”.
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O caso ora julgado se diferencia de todos os outros
precedentes invocados por Vossa Excelência como razão de decidir, ou mesmo
dos precedentes acima colacionados pelo Reclamante.
Afinal, não se tem notícia de que, em nenhum deles, um
Tribunal Estadual tenha se habilitado como amicus curiae em processo sob
sua jurisdição (o Tribunal “amigo de si mesmo”) para defender interesses
particulares de uma das partes.
Esta “perda da característica essencial da imparcialidade
do órgão jurisdicional, consequência de um egocentrismo incompatível com a
figura do amicus curiae, mas também do próprio exercício da jurisdição no
Estado Democrático de Direito”, nas palavras do Professor Camilo Zufelato,
ou o absoluto impedimento do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo “para
o processamento e julgamento da causa em análise, ante o seu pedido de
habilitação como amicus curiae e a sua manifestação parcial em prol de um dos
réus”, nas palavras do Professor Willis Santiago Guerra Filho, ou, ainda, esta
“situação de desassossego e grande perplexidade, sem precedentes no direito
brasileiro, com manifesto risco de comprometimento da imparcialidade do órgão
julgador”, nas palavras Professores Dierle Nunes e Rafael Menezes, ou, por
fim, “a inequívoca parcialidade” do Tribunal estadual e, em consequência
necessária, sua “completa incapacidade para julgar a lide com isenção,
distância e equidade, tornando absolutamente nulo qualquer ato praticado no
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processo por seus magistrados a partir do registro de protocolo do pedido de
habilitação como terceiro interessado”, nas palavras do Professor Maurício
Stegemann Dieter, simplesmente foram desconsideradas por Vossa Excelência
na decisão embargada.
Claramente, afigura-se prescindível e desnecessário o
manejo de exceção de impedimento ou suspeição de mais da metade dos
membros do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, quando o próprio
Tribunal de Justiça, de forma espontânea, manifestou-se expressamente nos
autos de uma ação individual, para promover a absurda defesa dos
interesses de uma das partes do processo que deveria julgar com isenção e
imparcialidade, o que, certamente, conduz ao seu impedimento para o
julgamento da causa.
Frisa-se: não só metade dos membros do Tribunal está
impedida, mas o Tribunal como um todo, diante da distopia criada pelo
Poder Judiciário paulista, que decidiu se habilitar como “amigo de si mesmo”
para promover a defesa de interesses individuais de um de seus membros, em
notório desvio de finalidade.
Resta evidente, pois, que a questão em comento não se
reveste da simplicidade que se buscou transparecer na decisão embargada, que
negou seguimento à Reclamação, por uma suposta e inexistente “manifesta
inadmissibilidade”.
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Inclusive, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
segue, firmemente, a demonstrar a ausência de imparcialidade objetiva (e o seu
impedimento) para o julgamento do processo em questão.
Mais uma vez, valendo-se de seu sítio eletrônico, publicou
notícia acerca da decisão proferida por Vossa Excelência, mencionando, ainda, o
arquivamento, pelo Conselho Nacional de Justiça, do Pedido de Providências nº
0005509-09-2018.2.00.0000, formulado contra o pedido de habilitação do TJSP
como amicus curiae nos autos da ação indenizatória proposta pelo Reclamante,
embora, estranhamente, o Tribunal não tenha publicado qualquer notícia quando
da distribuição da Reclamação ao STF ou quando da formulação do Pedido de
Providências por parte de um Advogado, o que, em tese, deveria fazer, caso
estivesse preocupado em transmitir uma mínima impressão de imparcialidade.
A propósito, quanto ao festejado arquivamento do Pedido
de Providências, cumpre destacar o quanto asseverado pelo Exmo. Corregedor
Nacional de Justiça, Ministro João Otávio de Noronha:
Assim, ainda que se argumente que a irresignação tem por
objeto ato administrativo do Tribunal de Justiça, o fato é que a
possibilidade desse tipo de atuação (ingressar como amicus curiae)
já foi judicializada, vez que é objeto de decisão judicial e de
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recurso, além de Reclamação ainda pendente de julgamento no
STF.
Como sabido, a intervenção do TJSP como amicus curiae
se deu por decisão irrecorrível (artigo 138 do CPC); inexiste, pois, qualquer
recurso em que se discuta a mencionada intervenção; eventual decisão em
sentido contrário do TJSP, neste momento, representaria uma (ou mais uma, mas
agora tardia) demonstração da condução antidemocrática do processo, atentatória
ao devido processo legal, violadora do princípio da boa-fé objetiva (nemo venire
contra factum proprium) e norteada por interesses estranhos à função pública
delegada pelo povo ao Poder Judiciário.
Assim sendo, a atuação do TJSP como amicus curiae, de
todo já consolidada, é objeto, apenas, da presente Reclamação, de tal sorte que
alijar a possibilidade de uma discussão mais ampla e detida do caso, por parte do
órgão colegiado competente, afigura-se atitude, data venia, prematura e
precipitada.
Dada a relevância da matéria em comento, atinente à
manutenção das bases do próprio Estado Democrático de Direito, aguarda-se que
Vossa Excelência, suprindo a omissão apontada, reforme a decisão embargada e
remeta o julgamento da presente Reclamação ao Plenário desta Suprema Corte,
assegurando ao Reclamante todos os recursos internos cabíveis para que possa
ele alcançar um julgamento imparcial ao seu pedido em território pátrio.
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Ademais, verifico que o polo passivo da demanda em
primeiro grau de jurisdição envolve apenas um magistrado e não
todos os integrantes do Tribunal de Justiça local, de maneira que
não seria possível concluir que o deslinde do feito possa produzir
efeitos sobre todos eles, ainda mais em ação da natureza
eminentemente subjetiva da demanda, adstrita a atos pessoais
praticados pelo referido magistrado.
Quanto ao fundamento supra, constate-se, data maxima
venia, a seguinte contradição.
O artigo 102, I, “n”, da Constituição Federal não exige,
para o reconhecimento da competência do Supremo Tribunal Federal, que o
deslinde do feito possa produzir efeitos sobre todos os magistrados de um
Tribunal Estadual.
Exige, sim, e tão somente, que mais da metade dos
membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam, direta ou
indiretamente, interessados.
Na espécie, conforme visto alhures, o impedimento não
recai sobre mais da metade dos membros, mas, sim, sobre todo o Tribunal, que,
frisa-se, declarou o seu impedimento, espontânea e expressamente, ao se
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posicionar em favor de uma das partes em processo que deveria julgar com
imparcialidade.
Não bastasse, há interesse indireto dos membros do
Judiciário paulista, e, a rigor, de todos os membros da magistratura (parte inicial
do dispositivo normativo em comento e não analisado na decisão embargada) em
se decidir, definitivamente, se os magistrados podem responder diretamente por
danos causados no exercício da atividade jurisdicional e, em caso positivo, em
que hipóteses e de acordo com qual legislação, definição esta que até o momento
não existe por parte desta Suprema Corte.
Aliás, é bom que se destaque que, embora o pedido
deduzido na inicial seja de natureza subjetiva, a questão de fundo
(responsabilidade direta por danos causados no exercício da jurisdição)
interessa, ainda que indiretamente, a todos os magistrados, como tão bem
defendido pelo TJSP em seu pedido de habilitação como amicus curiae.
Noutros termos, o próprio Tribunal impedido, de forma
explícita, reconhece aquilo que a decisão embargada busca negar, sem
fundamentação concreta idônea. Basta ver, nesse sentido, parte da
fundamentação do pedido de habilitação do Tribunal como amicus curiae
(documento eletrônico nº. 56, página 28):
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Conforme se verifica, o Autor aponta como causa de pedir
os atos praticados por Juiz no exercício de sua função
jurisdicional. Trata-se, pois, de ação em que se discute a
responsabilidade civil do Estado por atos jurisdicionais e eventual
direito de regresso contra Magistrados.
Exsurge daí cristalino o interesse institucional do Tribunal
de Justiça do Estado de São Paulo a contribuir com a prestação
jurisdicional objeto destes autos. Afinal, não raramente Juízes
paulistas procuram a Comissão de Segurança Pessoal e de Defesa
das Prerrogativas dos Magistrados por estarem sendo processados
civilmente em ações similares à presente.
Hoje se acumulam no Poder Judiciário paulista ações de
reparação civil ajuizadas indevida e diretamente contra
Magistrados, que – longe de expressarem o princípio republicano
ou o legítimo controle dos atos jurisdicionais – revelam tentativa
de intimação do Poder Judiciário do Estado de São Paulo, da
Magistratura e verdadeiro abuso de direito.
Convém destacar, por oportuno, que o Reclamante, desde o
ajuizamento da ação, alertou os órgãos jurisdicionais atuantes no feito de que a
demanda era dirigida apenas em desfavor de um juiz de direito, e não contra toda
a Magistratura ou suas prerrogativas.
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No entanto, tal advertência foi ignorada pelo TJSP, que
preferiu se tornar impedido a exercer a sua missão constitucional de aplicar a lei
ao caso concreto com imparcialidade.
A toda evidência, pois, como decorrência exclusiva da
atuação atabalhoada e precipitada do TJSP, a ação, de natureza eminentemente
subjetiva, ganhou contornos extra partes, evidenciando o completo impedimento
do Tribunal de origem para o processamento e julgamento da causa, sob pena de
nulidade absoluta de todos pronunciamentos jurisdicionais advindos de seus
órgãos.
Nesse mesmo sentido, ressalta-se o parecer do Professor
Camilo Zufelato, de acordo com o qual “as causas de perda de imparcialidade
do tribunal e a necessidade de deslocamento de competência para o STF foram
todas, sem exceção, provocadas pelo próprio TJSP, seja pelo juiz de piso ao
proferir decisões absurdas e incongruentes, reveladoras de seu animus, seja pelo
órgão jurisdicional de 2ª Instância, ao conhecer de recurso manifestamente
incabível da APAMAGIS, mas especialmente pela intervenção do tribunal como
amicus curiae.” (documento eletrônico nº. 81).
Para que não reste dúvidas quanto à contradição ora
apontada, recorda-se o teor da Súmula 731 deste STF: “Para fim da competência
originária do Supremo Tribunal Federal, é de interesse geral da magistratura a
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questão de saber se, em face da LOMAN, os juízes têm direito à licença-
prêmio.”.
Um dos precedentes que conduziu à edição da Súmula
(Reclamação 961) dizia respeito a mandado de segurança impetrado por um
único juiz de direito para lhe assegurar o pagamento equivalente em pecúnia da
licença-prêmio não usufruída durante um determinado quinquênio.
Embora se trate de pedido de natureza eminentemente
subjetiva, o STF julgou procedente o pedido formulado na Reclamação, cassando
o ato praticado pelo Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina e avocando
o respectivo processo para tramitação nesta Corte, referenciando-se o precedente
AORAQO-153/RS, Relator Ministro Sepúlveda Pertence, DJ 07/08/92, em que
se assentou que “embora o impetrante, Juiz de Direito, postule licença-prêmio
com base na legislação local e o ato coator lhe resista a pretensão, por se tratar
de magistrado em disponibilidade, a solução da lide passa pela questão
prejudicial de saber, em face da LOMAN, se os juizes, em tese, tem direito a
licença especial, matéria esta, que o STF já entendeu de interesse geral da
magistratura, de modo a induzir a sua competência originaria excepcional”.
Da mesma forma, embora o caso sob exame se refira à
apuração da responsabilidade pessoal de um único magistrado, por danos
causados no exercício da jurisdição, a solução da lide passa pela questão
prejudicial de saber, em face da LOMAN, do Código de Processo Civil, da Lei
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de Introdução às Normas do Direito Brasileiro e, principalmente, da Constituição
Federal, se os juízes, em tese, podem responder diretamente por danos causados
aos jurisdicionados, matéria esta que, claramente, é de interesse geral da
Magistratura, embora não haja fundamentação concreta na decisão embargada a
esse respeito.
Exsurge de clareza hialina, portanto, a conclusão de que o
caso sub judice se enquadra na hipótese do artigo 102, I, “n” da Constituição
Federal, e que, diferentemente do quanto asseverado por Vossa Excelência na
decisão embargada, há elemento concreto (e gravemente violador de preceitos
constitucionais) para que o TJSP deixe de exercer a sua jurisdição, qual seja, o
completo impedimento do Tribunal, que se habilitou como amicus curiae em
ação individual para postular em favor de uma das partes, não servindo esta
Reclamação como sucedâneo recursal, mas, sim, como meio de preservar a
competência da Suprema Corte e assegurar ao cidadão o direito fundamental a
um julgamento imparcial, em consonância, inclusive, à jurisprudência da Corte
Interamericana de Direitos Humanos e da Corte Europeia de Direitos Humanos.
Aguarda-se, assim, o conhecimento e o provimento dos
presentes Embargos de Declaração para que Vossa Excelência, eliminando as
contradições e suprindo as omissões acima apontadas, processe a presente
Reclamação, a qual, inequivocamente, não se mostra manifestamente incabível.
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Requer-se, ainda, que, uma vez admitido o processamento
da Reclamação, seja a matéria nela versada submetida à apreciação do Plenário
da Corte, dada a sua relevância e excepcionalidade, conforme autoriza o artigo
22, parágrafo único, “b” do Regimento Interno do STF.
Termos em que pede e espera deferimento.
Araraquara, 17 de outubro de 2018.
Matheus Bortoletto Raddi Luís Marcelo Mendonça Bernardes
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