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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás 1 EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ______ VARA DA FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DA COMARCA DE GOIÂNIA-GO. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por intermédio da Promotora de Justiça que a esta subscreve, titular da 90ª Promotoria de Justiça de Goiânia, no uso de suas atribuições constitucionais, e com fulcro nos artigos 129, inciso III, da Constituição Federal, artigo 5º, inciso I e artigo 3º, ambos da Lei Federal 7.347/85, artigo 25, inciso IV, alínea “a” da Lei Federal 8.625/93, no artigo 46, inciso VI, alínea “a”, da Lei Complementar Estadual n. 25/98 e Lei 8.429/92, vem perante Vossa Excelência propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA observado o rito ordinário e disposições especiais previstas na Lei 8.429/92, em desfavor EDUARDO RECHE DE SOUZA, brasileiro, solteiro, engenheiro e INSTITUTO DE GESTÃO EM SAÚDE INSTITUTO GERIR -, associação sem fins lucrativos, inscrito no CNPJ sob o nº 14.963.977/0001-19, qualificada como Organização Social pelo Estado de Goiás por meio do decreto nº 7.611/2012, com sede na Rua 89, Qd. F29, Lt. 58, s/n, Setor Sul, em Goiânia/GO; pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos.

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE ......2018/09/04  · FAMA – fez publicar informe publicitário para rebater a notícia veiculada no Programa Fantástico de 23/08/2015

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás

1

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ______

VARA DA FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DA COMARCA DE GOIÂNIA-GO.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por

intermédio da Promotora de Justiça que a esta subscreve, titular da 90ª Promotoria de Justiça

de Goiânia, no uso de suas atribuições constitucionais, e com fulcro nos artigos 129, inciso III,

da Constituição Federal, artigo 5º, inciso I e artigo 3º, ambos da Lei Federal 7.347/85, artigo

25, inciso IV, alínea “a” da Lei Federal 8.625/93, no artigo 46, inciso VI, alínea “a”, da Lei

Complementar Estadual n. 25/98 e Lei 8.429/92, vem perante Vossa Excelência propor

AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

observado o rito ordinário e disposições especiais previstas na Lei 8.429/92, em desfavor

EDUARDO RECHE DE SOUZA, brasileiro, solteiro,

engenheiro e

INSTITUTO DE GESTÃO EM SAÚDE – INSTITUTO

GERIR -, associação sem fins lucrativos, inscrito no CNPJ sob o nº 14.963.977/0001-19,

qualificada como Organização Social pelo Estado de Goiás por meio do decreto nº 7.611/2012,

com sede na Rua 89, Qd. F29, Lt. 58, s/n, Setor Sul, em Goiânia/GO;

pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos.

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás

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1. DO OBJETO DA PRESENTE AÇÃO

Objetiva o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE

GOIÁS, com o exercício do poder de ação, a aplicação de sanções previstas na Lei 8.429/92

aos réus EDUARDO RECHE DE SOUZA e INSTITUTO DE GESTÃO EM SAÚDE –

INSTITUTO GERIR - pela prática de atos de improbidade administrativa previstos no

artigo 9º, inciso XI, artigo 10, caput, inciso I e XII e artigo 11, caput, e inciso I, todos

da Lei 8.429/92, os quais causaram dano material ao erário no valor de R$ 128.073,70

(cento e vinte e oito mil e setenta e três reais), valor esse atualizado

monetariamente e acrescido dos juros legais até 20 de junho de 2018.

2- DOS FATOS

No ano de 2014, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE

GOIÁS, por intermédio da Promotora de Justiça titular da 90ª Promotoria de Justiça, instaurou

Inquérito Civil Público, registrado no sistema Atena com o n.º 201600012757 (anexo I),

objetivando investigar irregularidades na aplicação de recursos públicos oriundos do Contrato

de Gestão 064/2012, celebrado entre o INSTITUTO DE GESTÃO EM SAÚDE – IGES

(GERIR) e o ESTADO DE GOIÁS, para a gerência do HUGO – Hospital de Urgências de

Goiânia (anexo II).

Segundo noticiado, o INSTITUTO DE GESTÃO EM SAÚDE

– IGES (GERIR), por meio de seu Diretor-Geral Ciro Ricardo Pires de Castro, celebrou

protocolo de intenções/convênio com a Faculdade Mineirense – FAMA – para a realização de

estágio no HUGO.

A notícia do protocolo de intenções/convênio celebrado entre o

INSTITUTO GERIR e a Faculdade Mineirense – FAMA - foi veiculada no Jornal O Popular

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de 27/08/2015, e Diário da Manhã, também de 27/08/2015, quando a Faculdade Mineirense –

FAMA – fez publicar informe publicitário para rebater a notícia veiculada no Programa

Fantástico de 23/08/2015 e no Jornal Anhanguera 2ª Edição, de 24/08/2015, sobre a suposta

falta de estrutura da Faculdade Mineirense – FAMA – e precárias condições de funcionamento

(anexo III).

Em razão da notícia veiculada ´pela Faculdade Mineirense-

FAMA - e diante da invalidade do protocolo de intenções/convênio celebrado pelo

INSTITUTO DE GESTÃO EM SAÚDE – INSTITUTO GERIR -, por extrapolar os limites

do Contrato de Gestão 064/2012 e por faltar ao INSTITUTO GERIR “competência jurídica”

para o ato, a Secretaria de Estado da Saúde – SES – além de posicionar-se pela ilegalidade do

ato, determinou ao INSTITUTO DE GESTÃO EM SAÚDE – INSTITUTO GERIR - que

efetivasse publicação em jornal de grande circulação sobre a invalidade do convênio noticiado,

conforme ofício 3770/2015-GAB/SES, de 27/08/2015 (anexo IV).

O INSTITUTO DE GESTÃO EM SAÚDE – INSTITUTO

GERIR - acatou a recomendação da SES e efetivou a publicação recomendada pela SES em

dois jornais de grande circulação do Estado de Goiás: O Popular e Diário da Manhã (anexo IV).

A publicação da nota nos referidos jornais deu-se no dia

28/08/2015 (anexo IV) e foi subscrita pelo réu EDUARDO RECHE DE SOUZA. Pelas

publicações, o INSTITUTO DE GESTÃO EM SAÚDE – INSTITUTO GERIR - pagou a

quantia total de R$ 87.876,60 (oitenta e sete mil, oitocentos e setenta e seis reais e sessenta

centavos) (anexo iV).

Todos os pagamentos foram efetivados com recursos do Contrato

de Gestão 064/2012, sem que referida despesa tivesse previsão contratual, uma vez que,

conforme informação da SES, a despesa foi lançada na prestação de contas da organização

social, relativamente à execução do Contrato de Gestão 064/2012, conforme informação

contida no Ofício 5064/2016-GAB/SES-GO (anexo II e V).

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Em razão das irregularidades verificadas, esta Promotora de

Justiça, expediu a Recomendação 011/2016-90 PJ, por meio da qual recomendou à SES que

efetivasse a glosa, nas parcelas seguintes do Contrato de Gestão 064/2012, do valor de R$

87.876,60 (oitenta e sete mil, oitocentos e setenta e seis reais e sessenta centavos), devidamente

corrigida (anexo VII).

No curso da investigação foi, ainda, determinada a ouvida de

EDUARDO RECHE DE SOUZA, Presidente da organização social, entretanto, devidamente

notificado, não atendeu ao chamado desta Promotora de Justiça para prestar esclarecimentos

(anexo X).

A SES acatou a recomendação e, após oportunizar ao

INSTITUTO DE GESTÃO EM SAÚDE – INSTITUTO GERIR - o contraditório e a ampla

defesa e amparado nos pareceres exarados pelos órgãos de consultoria do ESTADO DE

GOIÁS, determinou, corretamente, o ressarcimento, pela organização social, dos valores

aplicados indevidamente, à conta do Contrato de Gestão 064/2012, em razão de sua função

compensatória e que objetivava reparar os prejuízos causados ao erário em decorrência

do gasto efetuado pelo Instituto GERIR, sem previsão no contrato de gestão, instrumento

de ajuste que rege as ações dos contratantes, em consecução ao princípio da legalidade

(anexo vVIII).

A glosa, conforme bem pontuado pela Advocacia Setorial, além

de não ser suficiente para a recomposição do erário, por não se cuidar de inadimplência

contratual, mas de aplicação irregular de recursos públicos, subtrairia dos serviços de saúde

parcela necessária à sua realização. É dizer: a própria Administração estaria a arcar com o

prejuízo causado em razão da má gestão INSTITUTO DE GESTÃO EM SAÚDE –

INSTITUTO GERIR. (anexo VIII).

Devidamente notificado da decisão administrativa, o

INSTITUTO DE GESTÃO EM SAÚDE – INSTITUTO GERIR -, por meio de seu

Presidente EDUARDO RECHE DE SOUZA, recusou-se ao ressarcimento (anexo VIII).

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Conforme resultou apurado nos autos, a celebração do

“convênio” ou “protocolo de intenções” pelo INSTITUTO GERIR com a Faculdade

Mineirense – FAMA – decorreu de erro de conduta do Diretor Ciro Ricardo Pires de

Castro (anexo IX), tendo em vista que o INSTITUTO GERIR não detinha competência

para a celebração do ajuste, porquanto essa atribuição não foi transferida à

organização social pelo Contrato de Gestão 064/2012.

Não obstante o erro de conduta do Diretor-Geral da

organização social INSTITUTO GERIR , seu Presidente EDUARDO RECHE DE

SOUZA determinou que as publicações impostas pela SES para a correção do erro

de administração da organização social GERIR, por meio de seu Diretor-Geral,

fossem realizadas com os recursos do contrato de Gestão 064/2012, apesar de tal

despesa não ter previsão contratual e ter decorrido do erro da própria organização

social.

É dizer: em vez de arcar com as despesas decorrentes das

publicações que se fizeram necessárias para corrigir os equívocos em que incorreu o

seu empregado, o Diretor-Geral Ciro Ricardo Pires de Castro, violadores das normas

contratuais e danosos a imagem do ESTADO DE GOIÁS, o INSTITUTO GERIR, por

intermédio de seu Presidente EDUARDO RECHE DE SOUZA, com consciência e

vontade, valendo-se do fato de estar na posse dos recursos públicos oriundos do

Contrato de Gestão 064/2012, deles se apropriou para cobrir despesa própria,

decorrente de seu erro de conduta, razão por que causou dano ao erário no valor de

R$ 128.073,70 (cento e vinte e oito mil e setenta e três reais), valor esse

atualizado monetariamente e acrescido dos juros legais até 20 de junho de 2018.

Assim agindo, os réus INSTITUTO GERIR e seu

Presidente EDUARDO RECHE DE SOUZA praticaram atos de improbidade

administrativa previstos no 9º, inciso XI, artigo 10, caput, inciso I e XII e artigo 11,

caput, inciso I, todos da Lei 8.429/92.

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3. DO DIREITO

3.1. DA LEGITIMAÇÃO ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO

A legitimação do Ministério Público para promover a defesa do

patrimônio público por meio da Ação Civil Pública advém tanto da Constituição Federal quanto

da legislação infraconstitucional.

Ao tratar das funções institucionais do Ministério Público, assim

estabeleceu a Constituição Federal:

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:

[…]

III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a

proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e

de outros interesses difusos e coletivos;

[…].

A Constituição do Estado de Goiás, de seu turno, determina:

Art. 117. São funções institucionais do Ministério Público:

[…]

III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para

proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e

de outros interesses difusos e coletivos;

[…].

A Lei nº 7.347/1985, que disciplina a ação civil pública de

responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de

valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e ao patrimônio público, em seu artigo

5º, inciso, I, com redação dada pela Lei nº 11.448/2007 e Lei nº 13.004/2014 estabelece:

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Art. 1º. Regem-se pelas disposições desta Lei sem prejuízo da

ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e

patrimoniais causados:

[...];

VIII – ao patrimônio público e social.

Art. 5º. Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação

cautelar:

I - o Ministério Público;

[…].

Já a Lei n.º 8.429 de 02 de junho de 1992, que dispõe sobre as

sanções aplicáveis aos agentes públicos pela prática de ato de improbidade administrativa

dispõe:

Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta

pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada,

dentro de trinta dias da efetivação da medida cautelar.

[...]

§ 4º O Ministério Público, se não intervier no processo como

parte, atuará obrigatoriamente, como fiscal da lei, sob pena de

nulidade.

[...]

A Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei nº

8.625/1993) estabelece:

Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal e

Estadual, na Lei Orgânica e em outras leis, incumbe, ainda, ao

Ministério Público: (...);

IV - promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma

da lei:

a) para a proteção, prevenção e reparação de danos causados ao

meio ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor

artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e a outros

interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e

homogêneos;

b) para a anulação ou declaração de nulidade de atos lesivos ao

patrimônio público ou à moralidade administrativa do Estado ou

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do Município, de suas administrações indiretas ou fundacionais

ou de entidades privadas de que participem;

[...].

Por fim, prevê a Lei Complementar n. 25/1998 (Lei Orgânica do

Ministério Público do Estado de Goiás):

Art. 46. Além das funções previstas na constituição Federal, na

Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, na Constituição

Estadual e em outras leis, incumbe, ainda, ao Ministério Público: [...];

VI – promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma

da lei, para:

a) proteção, prevenção e reparação de danos causados ao meio

ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico,

estético, histórico, turístico e paisagístico, e a outros interesses

difusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos;

b) anulação ou declaração de nulidade de atos lesivos ao

patrimônio público ou à moralidade administrativa do Estado ou

do Município, de suas administrações direta, indireta ou

fundacional ou de entidades privadas de que participem;

[…].

As normas ora mencionadas, especialmente a Constituição

Federal, evidenciam a atribuição do Ministério Público para o exercício da ação civil pública e

para a defesa do patrimônio público e social e assentam a adequação dessa via para a defesa

do patrimônio público e, em especial, para o combate à improbidade administrativa.

3.2. DA LEGITIMAÇÃO PASSIVA DOS RÉUS

A Lei Federal 9.637/98 e a Lei Estadual 15.503/05,

seguindo uma tendência contemporânea de “empresarialização” das formas

organizativas da Administração Pública, a partir da cooperação e conjugação

ordenada de atores públicos e privados no desenvolvimento das tradicionais

finalidades do Estado Social e do serviço público, disciplinaram uma forma de parceria

entre o Poder Público e entidades sem fins lucrativos, qualificadas como organização

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social, para a realização de tarefas públicas e funções administrativas, por meio de

contratos de gestão.

Com base nesse modelo de parceria, o Estado de Goiás

transferiu a gestão de diversos hospitais públicos estaduais para organizações

sociais, dentre eles a gestão do HUGO – HOSPITAL DE URGÊNCIAS DE GOIÂNIA,

para a organização social INSTITUTO DE GESTÃO EM SAÚDE – INSTITUTO GERIR

-, que tem como Presidente EDUARDO RECHE DE SOUZA.

A parceria instituída pela Lei 9.637/98 e, no âmbito do

Estado de Goiás, pela Lei 15.503/05, especialmente no que concerne aos serviços de

saúde, constitui uma forma de transferência de tarefas públicas apropriadas pela

Administração Pública, por força do que estabelece o artigo 196 da CF, de funções

administrativas (assim entendidas o modo de execução de tarefas públicas) e de

poderes públicos, a entidades privadas, para que estas executem, diretamente, em

substituição a Administração e no interesse desta, as tarefas que originariamente lhe

foram atribuídas pelo constituinte.

Nesse modelo de parceria, o particular não executa uma

atividade privada, que lhe é própria, no interesse da Administração. Nesse modelo de

parceria, a entidade privada é investida de uma função pública. Na lição de Gonçalves,

[…] a entidade privada constitui-se, agora, como depositária da responsabilidade da execução de uma tarefa que a lei confiou à Administração: assume a gestão ou a direcção global da tarefa, actuando na posição de Administração nas relações externas que estabelece no cumprimento da missão que lhe foi confiada. (GONÇALVES, Pedro. Entidades privadas com poderes públicos. O exercício de poderes públicos de autoridade por entidades privadas com funções administrativas. Coimbra: Almedina, 2005).

Assim, o exercício privado de função administrativa, que

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torna o ente privado membro integrante da Administração em sentido funcional1,

postula que a entidade privada assuma a responsabilidade de execução em seu nome

e como sujeito de imputação final das operações materiais que realiza e dos atos

jurídicos que pratica no desempenho da função administrativa.

Nessa perspectiva, as entidades particulares, no exercício

privado de funções administrativas em razão do contrato de gestão, tornam-se

protagonistas da função administrativa, razão por que assumem a posição de

membros da Administração, integrando a Administração Pública em sentido funcional

e sujeitando-se a orientação, controle e fiscalização dos órgãos da entidade pública

que as domina (GONÇALVES, Pedro. Entidades privadas com poderes públicos. O

exercício de poderes públicos de autoridade por entidades privadas com funções

administrativas. Coimbra: Almedina, 2005).

A investidura do ente privado em funções públicas, pela

assunção da execução de tarefas constitucionalmente atribuídas a Administração,

além de integrá-lo à Administração Pública em sentido funcional implica,

necessariamente, na vinculação da entidade privada ao direito administrativo. Isso

porque, conforme bem pontua Bertoncini “[…] a realização de atividade de natureza estatal

ou a gestão de recursos públicos evidenciam a necessidade de respeito ao regime jurídico

administrativo2.

Essa necessária submissão, além de decorrer da natureza da

atividade desenvolvida, decorre do próprio texto da Lei nº 9.637/98, que em seu artigo 7º

preceitua3:

1 O conceito de Administração funcional abrange todas das entidades responsáveis pela execução de tarefas

pública: a Administração Pública em sentido estrito e as entidades particulares com funções públicas

(GONÇALVES, Pedro. Entidades privadas com poderes públicos. O exercício de poderes públicos de autoridade

por entidades privadas com funções administrativas. Coimbra: Almedina, 2005). 2BERTONCINI, Mateus Eduardo Siqueira Nunes. Incidência da lei de improbidade administrativa ao Terceiro

setor: instrumento de controle para Garantia de direitos fundamentais – 2ª parte. In: Revista UniCuritiba. Disponível em: <http://revista.unicuritiba.edu.br/index.php/RevJur/article/viewFile/1055/742>. 3A mesma disposição consta do artigo 8º da Lei 15/503/2005.

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Art. 7o Na elaboração do contrato de gestão, devem ser

observados os princípios da legalidade, impessoalidade,

moralidade, publicidade, economicidade e, também, os

seguintes preceitos: […].

A mesma disposição consta do artigo 8º da Lei Estadual

15.503/95:

Art. 8º Na elaboração do Contrato de Gestão, devem ser

observados os princípios da legalidade, impessoalidade,

moralidade, publicidade, eficiência, economicidade e,

também, os seguintes preceitos:

[…].

Ainda, o exercício privado de função administrativa impõe a

responsabilização do ente privado e de seus dirigentes pelos atos praticados.

O ente privado que executa, em nome próprio, tarefas

próprias da Administração, no interesse desta e sem assunção do risco da

atividade, como ocorre nas parcerias decorrentes de contrato de gestão, atua

em substituição à Administração, que não abdica, pelo contrato de gestão, da

titularidade das tarefas delegadas e que lhe são próprias por determinação

constitucional. Nessa condição, repise-se, o ente privado exerce função pública

administrativa e é responsável para todos os efeitos, especialmente aqueles

previstos na Lei 8.429/92, em relação à Administração e terceiros, pela execução (ou

má execução) das tarefas que lhe foram confiadas, enquanto sujeito de imputação

final.

Além disso decorrer do próprio exercício de função

administrativa e da condição do ente privado de membro da Administração Pública

em sentido funcional, o artigo 9º e o artigo 10 da Lei 9.637/98, estabelecem:

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12

Art. 9o Os responsáveis pela fiscalização da execução do contrato de gestão,

ao tomarem conhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade na

utilização de recursos ou bens de origem pública por organização social, dela

darão ciência ao Tribunal de Contas da União, sob pena de

responsabilidade solidária.

Art. 10. Sem prejuízo da medida a que se refere o artigo anterior,

quando assim exigir a gravidade dos fatos ou o interesse público,

havendo indícios fundados de malversação de bens ou

recursos de origem pública, os responsáveis pela fiscalização

representarão ao Ministério Público, à Advocacia-Geral da

União ou à Procuradoria da entidade para que requeira ao

juízo competente a decretação da indisponibilidade dos bens

da entidade e o sequestro dos bens dos seus dirigentes, bem

como de agente público ou terceiro, que possam ter

enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patrimônio

público.

Da mesma forma, a Lei Estadual 15.503/2005, em seu artigo 11 e

12, estabelece:

Art. 11 Os responsáveis pela fiscalização da execução do

Contrato de Gestão, ao tomarem conhecimento de qualquer

irregularidade ou ilegalidade na utilização de recursos públicos

por organização social, dela darão ciência ao Tribunal de

Contas do Estado e à Assembleia Legislativa, sob pena de

responsabilidade solidária.

Art. 12. Sem prejuízo da medida a que se refere o art. 11,

havendo indícios fundados de malversação de bens ou recursos

de origem pública, os responsáveis pela fiscalização, quando

assim exigir a gravidade dos fatos ou o interesse público,

representarão ao Ministério Público, à Controladoria e à

Procuradoria-Geral do Estado, para adoção das medidas

cabíveis.

Irrecusável, é pois, a submissão do ente privado e de seus

dirigentes, no exercício de funções públicas administrativas decorrentes do contrato de gestão,

às sanções previstas na Lei 8.429/92, que assim estabelece:

Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo

aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem

remuneração, por eleição, nomeação, designação,

contratação ou qualquer outra forma de investidura ou

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás

13

vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades

mencionadas no artigo anterior.

Por ocasião do julgamento da ADI 1923/DF, o Supremo Tribunal

Federal assentou explicitamente que as organizações sociais e seus dirigentes submetem-se aos

controles administrativos e à responsabilização prevista na Lei 8.429/92.

Eis o excerto do acórdão:

[…] Ao contrário do que aduzem os autores, também não há

afastamento do controle do Tribunal de Contas pela Lei

impugnada acerca da aplicação de recursos públicos. O termo

“privativo”, ao tratar, no art. 4º da Lei, das competências do

Conselho de Administração, diz respeito apenas à estrutura

interna da organização social, sem afastar, como sequer

poderia, o âmbito de competência delimitado

constitucionalmente para a atuação do Tribunal de Contas

(CF, arts. 70, 71 e 74). Além disso, as Organizações Sociais

estão inequivocamente submetidas ao sancionamento por

improbidade administrativa, caso façam mau uso dos

recursos públicos. A própria Lei nº 9.637/98 faz menção a

diversas formas de controle e de fiscalização, conforme se infere

da redação dos art. 2º, I, f, art. 4º, IX e X, art. 8º, §§ 1º, 2º e 3º,

art. 9º e art. 10. De outro lado, não há igualmente restrição à

atuação do Ministério Público, já que o art. 10 só menciona

um dever de representação pelos responsáveis pela

fiscalização, o que não impede, evidentemente, a atuação de

ofício do parquet no controle da moralidade administrativa à

luz dos arts. 127 e seguintes da Constituição Federal.(Inteiro

teor do Acórdão proferido na ADI 1923/DF, p. 82)

Evidente, portanto, a legitimação passiva da organização social

INSTITUTO DE GESTÃO EM SAÚDE – INSTITUTO GERIR – bem como de seu

Presidente EDUARDO RECHE DE SOUZA para figurar no polo passivo da presente ação.

3.3 DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Todos os fatos relatados na presente inicial, acompanhados dos

documentos anexados, demonstram, com clareza, que os réus EDUARDO RECHE DE

SOUZA e INSTITUTO DE GESTÃO EM SAÚDE – INSTITUTO GERIR -, com

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14

consciência e vontade, praticaram atos de improbidade administrativa que levaram ao

enriquecimento ilícito do INSTITUTO GERIR, causaram dano ao erário e violaram princípios

regentes da administração pública, previstos no artigo 9°, inciso XI, artigo 10, caput, inciso I e

XII e artigo 11, caput , e inciso I, da Lei 8.429/92.

Segundo preceitua a doutrina e a jurisprudência, a Lei de

Improbidade Administrativa visa à tutela do patrimônio público – que é o conjunto de bens e

interesses da Administração Pública, não só de natureza patrimonial, mas também moral -,

impondo aos agentes públicos e aos particulares um padrão de comportamento probo, honesto,

íntegro4.

Segundo a disciplina constitucional, probidade não mais se

encontra relacionada exclusivamente à moralidade administrativa, mas à juridicidade, assim

entendida o conjunto de princípios e regras regentes da atividade estatal.

Nesse sentido, ensina Wallace Paiva Martins Junior:

[...] improbidade administrativa revela-se quando o agente

público rompe com o compromisso de obediência aos deveres

inerentes à sua função, e essa qualidade é fornecida pelo próprio

sistema jurídico através de seus princípios e de suas normas das

mais variadas disciplinas [...] significa servir-se da função

pública para angariar ou distribuir, em proveito pessoal ou para

outrem, vantagem ilegal ou imoral, de qualquer natureza, e por

qualquer modo, com violação aos princípios e regras presidentes

das atividades na Administração Pública, menosprezando os

deveres do cargo e a relevância dos bens, direitos, interesses e

valores confiados à sua guarda, inclusive por omissão, com ou

sem prejuízo patrimonial. (MARTINS JUNIOR, Wallace Paiva, Probidade Administrativa.

São Paulo: Saraiva, 2001. P.1135)

O conceito fornecido pelo doutrinador Wallace Paiva Martins

Junior encaixa-se perfeitamente ao caso em tela, haja vista que os réus EDUARDO RECHE

4REsp 1075882/MG, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 04/11/2010, DJe

12/11/2010. 5 http://jus.com.br/artigos/20531/improbidade-administrativa-um-estudo-de-seus-aspectos-teoricos-gerais-com-

exemplos-praticos/2#ixzz2dGmcPQ5x

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DE SOUZA e INSTITUTO DE GESTÃO EM SAÚDE – INSTITUTO GERIR - , no

exercício de funções administrativas decorrentes d Contrato de Gestão 064/2012, apartando-se

do dever de bem administrar, assumido com o contrato de Gestão, deram destinação diversa a

recursos públicos oriundos do Contrato de Gestão, ao se apropriarem dos referidos recursos

para efetuar despesas que não estavam previstas no Contrato de Gestão, em benefício do

INSTITUTO GERIR, haja vista que as despesas decorrentes das publicações determinadas pela

SES não decorriam da execução do contrato, mas exatamente do seu descumprimento, razão

pela qual deveriam ter sido custeadas pela própria organização social, com recursos próprios, e

não com os recursos do Contrato de Gestão 064/2012.

A moral administrativa, segundo Garcia, é extraída do próprio

ambiente institucional e condiciona a utilização dos meios previstos em lei para o cumprimento

das funções estatais e a realização do bem comum. A moral administrativa pauta a conduta dos

agentes públicos, no âmbito institucional, a partir da ideia de boa administração, conforme os

princípios regentes da atividade estatal.

Indiscutivelmente, vulnera a moralidade administrativa a

conduta do réu EDUARDO RECHE DE SOUZA, como Presidente da organização social

GERIR, de autorizar o pagamento das publicações efetivadas no Jornal O Popular e no Jornal

Diário da Manhã, determinadas pela SES, para corrigir o erro de gestão da organização social,

com os recursos do Contrato de Gestão 064/2012, ciente de que, no referido contrato, não havia

previsão para a despesa referida e mais, especialmente porque a despesa foi realizada em razão

do descumprimento, por ele EDUARDO RECHE DE SOUZA e pelo INSTITUTO GERIR,

do Contrato de Gestão 064/2012.

Ao assim agir, o réu EDUARDO RECHE DE SOUZA e o

INSTITUTO GERIR deram destinação diversa da prevista contratualmente aos recursos

públicos oriundos do Contrato de Gestão 064/2012 e possibilitou sua apropriação pelo

INSTITUTO GERIR, que com os referidos recursos pagou despesa que era de sua

responsabilidade, em razão de seu erro de gestão, em descumprimento do Contrato de Gestão

064/2012.

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16

Além de macular a moralidade administrativa, a conduta dos réus

transgrediu o princípio da legalidade e da impessoalidade.

O princípio da legalidade resultou vulnerado porquanto os réus

ao dar aplicação diversa do que foi pactuado no Contrato de Gestão 064/2012, violaram os

deveres legais impostos pela Lei 15.503/2005, os quais, em última análise, são concretização

dos princípios regentes da Administração Pública. Ao se apropriarem dos recursos públicos,

para atender despesas que por lei e pelo contrato, eram de sua responsabilidade e não podiam

ser efetivadas com recursos do contrato de gestão, dos quais tinham apenas a posse e não a

propriedade, os réus EDUARDO RECHE DE SOUZA e INSTITUTO DE GESTÃO EM

SAÚDE – INSTITUTO GERIR - vulneraram o princípio da impessoalidade.

Ainda, os réus desrespeitaram, gravemente, o princípio da

lealdade às instituições, porquanto, além de violar o princípio de bem administrar, valendo-se

da sua condição de gestores, apropriaram-se, em benefício próprio, de recursos públicos, em

detrimento dos serviços públicos de saúde e do erário estadual.

Por fim, foram também transgredidos os princípios da eficiência

e da supremacia do interesse público sobre o privado, uma vez que os réus deixaram de

cumprir deveres legais e contratuais de extrema relevância social, para atender a interesses

particulares.

Enfim, os réus afrontaram e deixaram de observar os mais

basilares e relevantes princípios que dão sustentáculo ao Estado Democrático de Direito.

Para Melo,

Violar um princípio é muito mais grave que transgredir

uma norma qualquer. A desatenção ao princípio implica

ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório,

mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de

ilegalidade ou de inconstitucionalidade, conforme o escalão

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do princípio atingido, porque representa insurgência contra todo

o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia

irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura

mestra. Isso porque, com ofendê-lo, abatem-se as vigas que o

sustêm e alui-se toda a estrutura nelas esforçada. (MELO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito

Administrativo. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 1994, p. 451.)

Além de violar princípios basilares da Administração Pública, a

conduta dos réus levou ao enriquecimento ilícito da organização social INSTITUTO DE

GESTÃO EM SAÚDE – INSTITUTO GERIR -.

Sobre o enriquecimento ilícito, Garcia pontua:

Como derivação lógica e consequência inevitável dos atos de

corrupção, tem-se o enriquecimento ilícito, sendo aquela o

principal meio de implementação deste. Em geral, o

enriquecimento ilícito é o resultado de qualquer ação ou

omissão que possibilite ao agente público auferir uma

vantagem não prevista em lei. (GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade

Administrativa. 6º ed. rev. amp. e atual. p. 282. Rio de Janeiro:

Lumen Juris, 2011)

Ao desviar recursos do Contrato de Gestão 064/2012, vinculados

a finalidades públicas, para custear despesas decorrentes do erro de administração do réu

EDUARDO RECHE DE SOUZA e da organização social INSTITUTO GERIR, lesivo ao

ente público, despesas essas que, em razão mesmo de seu erro de conduta lesivo ao ente público,

deveriam ser por ela custeadas, a organização social INSTITUTO DE GESTÃO EM SAÚDE

– INSTITUTO GERIR – e seu Presidente EDUARDO RECHE DE SOUZA proporcionaram

ao INSTITUTO GERIR um benefício indevido e, consequentemente, dano ao erário estadual,

que, além de ter a imagem maculada em razão da má gestão dos réus, teve de arcar com a

despesa realizada em razão do erro perpetrado pela organização social. Ao assim agir, o

INSTITUTO DE GESTÃO EM SAÚDE – INSTITUTO GERIR – e seu Presidente

EDUARDO RECHE DE SOUZA praticaram atos de improbidade administrativa descritos no

artigo 9º, inciso XI, in verbis:

Art. 9º. Constitui ato de improbidade administrativa importando

enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem

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patrimonial indevida em razão do exercício do cargo, mandato,

função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art.

1º desta Lei, e notadamente:

[…];

XI – incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens,

rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das

entidades mencionadas no artigo 1º desta Lei;

[…].

Os elementos constantes dos autos são mais que suficientes a

demonstrar que, de fato, o réu EDUARDO RECHE DE SOUZA, com consciência e vontade,

desviou recursos públicos em benefício da organização social INSTITUTO DE GESTÃO E

SAÚDE – INSTITUTO GERIR – que deles se apropriou.

O dolo da conduta do réu EDUARDO RECHE DE SOUZA é

evidente, diante da consciência que tinha de que referida despesa não era autorizada pelo

contrato de gestão, diante da ausência expressa de previsão contratual, e da vontade de praticar

o ato ilícito. A posterior recusa de ressarcir os recursos à conta do contrato de gestão, conforme

determinado pela Secretaria de Estado da Saúde, uma vez apurada a falta pelo órgão supervisor,

mais torna evidente do dolo dos agentes.

Importante considerar que a gravidade da conduta e a intensidade

do dolo dos réus ressoa mais evidente diante do fato de que se aproveitaram do fato de ter a

posse dos recursos públicos para deles se apropriar, em detrimento do seu proprietário, o

ESTADO DE GOIÁS.

Aliás, a cada dia avolumam-se ações de responsabilidade

contra os réus em razão da má gestão no exercício das funções administrativas delegadas

em razão do contrato de gestão 064/2012, a exemplo da Ação Civil Público por Ato de

Improbidade Administrativa de registro PROJUDI Nº 5435971.18.2017.8.09.0051, em

tramitação na 2ª Vara da Fazenda Pública Estadual – Juiz 1.

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Em razão da conduta do réu EDUARDO RECHE DE SOUZA

e do INSTITUTO GERIR de desviar recursos do Contrato de Gestão 064/2012, em benefício

da organização social INSTITUTO GERIR, que deles se apropriou, para cobrir despesa que a

ela pertencia, em razão de seu erro de administração, além do prejuízo aos serviços de saúde,

de extrema relevância social, foi causado um dano ao erário estadual no montante de R$

128.073,70 (cento e vinte e oito mil e setenta e três reais), valor esse atualizado

monetariamente e acrescido dos juros legais até 20 de junho de 2018, razão por que sua

conduta também encontra adequação no artigo 10, caput e inciso I e XI, da Lei 8.429/92, in

verbis:

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa

lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que

enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento

ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no

artigo 1º desta Lei e notadamente:

I – facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação

ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens

rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das

entidades mencionadas no artigo 1º desta Lei;

[…];

XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se

enriqueça ilicitamente;

[…].

A conduta de todos os réus, ainda, amolda-se ao tipo descrito no

artigo 11, caput e inciso I, da Lei 8.429/92, uma vez que violou os princípios constitucionais

regentes da atividade administrativa:

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta

contra os princípios da administração pública qualquer ação ou

omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade,

legalidade e lealdade às instituições, e notadamente:

I – praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou

diverso daquele previsto na regra de competência;

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[…].

O tratamento a ser dispensado aos atos de improbidade

administrativa está previsto na Constituição Federal, que o delineou nos seguintes termos:

Art. 37. [...]

[...]

§ 4º. Os atos de improbidade administrativa importarão a

suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a

indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma

e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

Dessa forma, pelos atos de improbidade administrativa acima

narrados, devem ser aplicadas às rés as sanções previstas no artigo 12, incisos I, II e III da Lei

nº 8.429/92, que estabelece:

Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e

administrativas, previstas na legislação específica, está o

responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes

cominações:

I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos

ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano,

quando houver, perda da função pública, suspensão dos direitos

políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três

vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar

com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais

ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio

de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de

dez anos;

II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda

dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se

concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão

dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa

civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar

com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais

ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio

de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de

cinco anos;

III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se

houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos

de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes

o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de

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contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou

incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda

que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio

majoritário, pelo prazo de três anos.

3.3. DO DANO MATERIAL AO ERÁRIO

A conduta dos réus EDUARDO RECHE DE SOUZA e

INSTITUTO DE GESTÃO EM SAÚDE – INSTITUTO GERIR – causou irrecusável dano

ao erário, uma vez que o primeiro, como Presidente do INSTITUTO GERIR desviou e o

segundo apropriou-se, indevidamente, dos recursos públicos do Contrato de Gestão para o

pagamento de despesas outras não previstas no contrato, originadas do erro de administração

da organização social INSTITUTO GERIR.

Além do dano causado à imagem do ente público com a

celebração indevida do protocolo de intenções mencionado nesta inicial, o INSTITUTO

GERIR e seu Presidente EDUARDO RECHE DE SOUZA, valendo-se do fato de ter a posse

dos recursos públicos, apropriaram-se de recursos pertencentes ao ente público, afetados à

execução dos serviços de saúde, para corrigir os efeitos de seu erro de administração. É dizer:

além de macular a imagem do ente público, em razão de sua conduta desviada da legalidade e

das normas contratuais, o INSTITUTO GERIR e seu Presidente EDUARDO RECHE DE

SOUZA, valendo-se do poder de gestão dos recursos públicos que estavam em sua posse,

apropriaram-se de tais recursos para tentar recompor a imagem do ente público lesada e assim

corrigir, ao menos em parte, seu erro de conduta.

Flagrante absurdo!!!!

Assim agindo, o réu EDUARDO RECHE DE SOUZA e o

INSTITUTO GERIR causaram um dano ao erário estadual no valor de R$ 128.073,70 (cento

e vinte e oito mil e setenta e três reais), valor esse atualizado monetariamente e acrescido

dos juros legais até 20 de junho de 2018.

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4. DA INDISPONIBILIDADE DE BENS

Do relato dos fatos, constata-se que os réus EDUARDO RECHE

DE SOUZA e INSTITUTO DE GESTÃO EM SAÚDE – INSTITUTO GERIR –

praticaram atos de improbidade administrativa previsto no artigo 9º, inciso XI, artigo 10, caput

e inciso I e XII e artigo 11, caput, inciso I, todos da Lei 8.429/92, os quais causaram um dano

ao erário no valor de R$ 128.073,70 (cento e vinte e oito mil e setenta e três reais), valor esse

atualizado monetariamente e acrescido dos juros legais até 20 de junho de 2018.

Uma das sanções previstas pelo artigo 12, inciso I, II e III da Lei

8.429/92 é a reparação do dano causado. No entanto, caso o valor apurado, conforme item

3.3 da presente inicial não seja imediatamente retirado da posse dos réus, há grave e concreto

risco de que, ao final do processo, não disponham eles de tal montante, impossibilitando, assim,

a efetiva reparação do dano causado.

Ademais, dentre as sanções a serem aplicadas aos réus está a

multa civil que, nos termos do artigo 12, inciso I, da Lei 8.429/92, corresponderá a até três

vezes o valor do acréscimo patrimonial indevido.

Analisando as circunstâncias do fato, especialmente o intenso

dolo dos réus, entende este órgão ministerial que a multa civil deverá alcançar o valor máximo

previsto em lei, qual seja três vezes o acréscimo patrimonial indevido percebido pelo réu

INSTITUTO GERIR, o qual perfez, até 20/06/2018, R$ 128.073,70 (cento e vinte e oito mil

e setenta e três reais).

Como medida cautelar, para a concessão da indisponibilidade dos

bens necessária a presença do fumus boni juris e do periculum in mora. Ambos requisitos estão

fartamente consubstanciados nos autos da presente demanda.

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23

O fumus boni juris está presente em razão da verossimilhança dos

fatos imputados aos réus. Não se faz necessário, por óbvio, que o ato ímprobo esteja cabalmente

provado, o que só ocorrerá por ocasião da sentença. Como é pacífico, este mesmo parâmetro

também é utilizado para fim de recebimento da exordial. Vejamos o escólio de Bedaque:

[…] No caso específico dos processos versando improbidade

administrativa, tendo em vista a natureza da relação jurídica

material e o bem da vida tutelado, o legislador previu tutela

provisória da evidência, mediante providência cautelar

conservativa consistente na indisponibilidade de bens do réu.

Para obtê-la basta a demonstração da verossimilhança do direito

[…] (BEDAQUE, José Roberto dos Santos et al., Improbidade

Administrativa, questões polêmicas e atuais. Ed. Malheiros, p.

260, 263/264)

A narração dos fatos contida na exordial, amparada pelo conjunto

probatório que a instruem, são mais do que suficientes para demonstrar a verossimilhança das

alegações apresentadas.

Quanto ao periculum in mora, a mais abalizada doutrina

especializada sobre o tema entende que é requisito implícito, isto é, está subentendido no artigo

37, § 4º, da Constituição da República, que estabelece:

§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a

suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a

indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma

e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

Nesse sentido:

Com efeito, a lei presume esses requisitos ao autorizar a

indisponibilidade, porquanto a medida acautelatória tende à

garantia da execução da sentença, tendo como requisitos

específicos evidências de enriquecimento ilícito ou lesão ao

erário, sendo indiferente que haja fundado receio de fraude ou

insolvência, porque o perigo é ínsito aos próprios efeitos do ato

hostilizado. Exsurge, assim, a indisponibilidade como medida de

segurança obrigatória nessas hipóteses. Precioso acórdão

estampa que a indisponibilidade de bens exige os pressupostos

gerais das medidas de cautela (fumus boni juris e periculum in

mora), considerando que o periculum in mora é presumido por

que o “§ 4º do artigo 37 da Constituição Federal, ao determinar

de modo expresso que 'os atos de improbidade administrativa

importarão ... a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás

24

erário...' (sublinhou-se), e sendo a primeira figura nitidamente

acautelatória – diversamente da segunda -, evidentemente

manda presumir, em relação a ela, o requisito do 'periculum in

mora'. O dispositivo constitucional demonstra claramente a

imprescindibilidade da providência quando o ato de

improbidade administrativa causar lesão ao patrimônio público.

Daí a razão do artigo 7º da Lei 8.429/92 não esclarecer quais os

requisitos exigíveis para a sua concessão, diferentemente de

outras medidas acautelatórias.” (MARTINS JÚNIOR, Wallace

Paiva. Probidade administrativa. 4ª ed., São Paulo: Saraiva,

2009, p. 454-455)

Quanto ao periculum in mora, parte da doutrina se inclina no

sentido de sua implicitude, de sua presunção pelo art. 7º da Lei

de Improbidade, o que dispensaria o autor de demonstrar a

intenção de o agente dilapidar ou desviar o seu patrimônio com

vistas a afastar a reparação do dano. [...] De fato, exigir a prova,

mesmo que indiciária, da intenção do agente de furtar-se à

efetividade da condenação representaria, do ponto de vista

prático, o irremediável esvaziamento da indisponibilidade

perseguida em nível constitucional e legal. Como muito bem

percebido por José Roberto dos Santos Bedaque, a

indisponibilidade prevista na Lei de Improbidade é uma

daquelas hipóteses nas quais o próprio legislador dispensa a

demonstração do perigo de dano. Deste modo, em vista da

redação imperativa adotada pela Constituição Federal (art. 37, §

4º) e pela própria Lei de Improbidade (art. 7º), cremos acertada

tal orientação, que se vê confirmada pela melhor jurisprudência.

(GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade

administrativa. 3ª ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 764)

[…] não se mostra crível aguardar que o agente público comece

a dilapidar seu patrimônio para, só então, promover o

ajuizamento de medida cautelar autônoma de sequestro dos bens.

Tal exigência traduziria concreta perspectiva de impunidade e de

esvaziamento do sentido rigoroso da legislação. O periculum in

mora emerge, via de regra, dos próprios termos da inicial, da

gravidade dos fatos, do montante, em tese, dos prejuízos

causados ao erário. A indisponibilidade patrimonial é medida

obrigatória, pois traduz consequência jurídica do processamento

da ação, forte no art. 37, parágrafo 4º, da Constituição Federal.

Esperar a dilapidação patrimonial, quando se trata de

improbidade administrativa, com todo respeito às posições

contrárias, é equivalente a autorizar tal ato, na medida em que o

ajuizamento de ação de sequestro assumiria dimensão de 'justiça

tardia', o que poderia se equiparar a denegação de justiça. [...]

Prepondera, aqui, a análise do requisito da fumaça do bom

direito. Se a pretensão do autor da actio se mostra plausível,

calcada em elementos sólidos, com perspectiva concreta de

procedência e imposição das sanções do art. 37, parágrafo 4º, da

Carta Constitucional, a consequência jurídica adequada, desde

logo, é a indisponibilidade patrimonial e posterior sequestro dos

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bens. (OSÓRIO, Fábio Medina. Improbidade administrativa, 2a.

ed., Porto Alegre: Síntese, 1998, p. 239 e ss.)

O entendimento doutrinário é corroborado pela jurisprudência:

Ação Civil Pública – Cautelar – Indisponibilidade de bens do

servidor a quem se imputa prática de ato de improbidade –

Perigo – Tratando-se de ação civil pública cautelar cujo escopo

é garantir a indenização por danos oriundos de imputado ato de

improbidade a administrador público, não é necessária a

existência ou demonstração de perigo na demora a ensejar a

concessão da medida judicial de indisponibilidade dos bens –

Constatada a plausibilidade da imputação da prática de ato de

improbidade, os bens do agente público, que respondem pelos

atos por ele praticados não mais podem ser alienados,

desnecessária a demonstração de existência de perigo ou

intenção de alienação – Recurso provido para decretar-se a

indisponibilidade dos bens dos agravados, que permanecerão

com a administração dos mesmos até final julgamento da ação –

Recurso provido para tal fim. (Agravo de instrumento n.º

052.503-5 – São Paulo – 2ª Câmara de Direito Público. - Relator:

Lineu Peinado – 12.05.98)

No Agravo de Instrumento n.º 24069014520, o Desembargador

Maurílio Almeida de Abreu, da 4ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, em

decisão publicada aos 15 de agosto de 2007, afirmou:

[…] Quanto ao “periculum in mora”, boa parte da doutrina se

inclina no sentido de sua implicitude, de sua presunção pelo

artigo 7º da Lei nº 8.429⁄92, o que dispensaria o autor de

demonstrar a intenção do agente dilapidar ou desviar o seu

patrimônio com vistas a afastar a reparação do dano. Nesse

sentido, argumenta Fábio Osório Medina que “o periculum in

mora emerge, via de regra, dos próprios termos da inicial, da

gravidade dos fatos, do montante, em tese, dos prejuízos

causados ao erário”, sustentado, outrossim, que “a

indisponibilidade patrimonial é medida obrigatória, pois traduz

consequência jurídica do processamento da ação, forte no art. 37,

§4º, da Constituição Federal”. Nas palavras de Wallace Paiva

Martins Júnior, “a providência não exige prova cabal, mas

razoáveis elementos configuradores da lesão, como acentua

Marcelo Figueiredo, sob o argumento de que “exige, s.m.j.,

não uma prova definitiva da lesão (já que estamos no terreno

preparatório), mas, ao contrário, razoáveis provas para que

o pedido de indisponibilidade tenha trânsito e seja deferido”.

Razoável o argumento que exonera a presença do fumus boni

juris e periculum in mora para a concessão da

indisponibilidade de bens, apesar de opiniões contrárias.

Com efeito, a lei presume esses requisitos ao autorizar a

indisponibilidade, porquanto a medida acautelatória tende à

garantia da execução da sentença, tendo como requisitos

específicos evidências de enriquecimento ilícito ou lesão ao

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erário, sendo indiferente que haja fundado receio de fraude

ou insolvência, porque o perigo é insito aos próprios efeitos

do ato hostilizado. (MARTINS JÚNIOR, Wallace Paiva.

Probidade Administrativa. 2002. p.395⁄396). Ao meu sentir,

evocando as palavras de Rogério Pacheco Alves, “de fato,

exigir a prova, mesmo que indiciária, da intenção do agente

furtar-se à efetividade da condenação representaria, do

ponto de vista prático, o irremediável esvaziamento da

indisponibilidade perseguida em nível constitucional e legal”.

(PACHECO ALVES, Rogério. Improbidade

Administrativa. 2006. p 764). Como muito bem percebido pelo

Eminente Desembargador José Roberto dos Santos Bedaque, a

indisponibilidade prevista na Lei de Improbidade

Administrativa é uma daquelas hipóteses nas quais o próprio

legislador dispensa a demonstração do perigo de dano. (Tutela Jurisdicional Cautelar e Atos de Improbidade

Administrativa¿. p. 266⁄270). Assim sendo, em vista da dicção

imperativa adotada pela Constituição da República de 1988 (art.

37, §4º) e pela própria Lei de Improbidade Administrativa (art.

7º), cremos acertada tal orientação, que se vê confirmada pela

melhor jurisprudência. Nesse sentido o Tribunal de Justiça do

Estado do Mato Grosso decidiu que, “exsurgindo dos autos da

ação civil pública provas convincentes da improbidade

administrativa, pode o juiz determinar, a requerimento do

autor, a indisponibilidade dos bens dos envolvidos, à vista do

periculum in mora ínsito no artigo 7º da Lei 8.529⁄92...”. (1ª

Cam. AgI 8.234, Paratinga, Rel. Des. Orlando de Almeida Perri,

20.04.1998). Sobre o tema, confira-se precedente emanado do

Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, in verbis:

“Ação Civil Pública - Cautelar - Indisponibilidade de bens

do servidor a quem se imputa prática de ato de improbidade

- Perigo - Tratando-se de ação civil pública cautelar cujo

escopo é garantir a indenização por danos oriundos de

imputado ato de improbidade a administrador público, não

é necessária a existência ou demonstração do perigo na

demora a ensejar a concessão da medida judicial de

indisponibilidade de bens. (...) (Agravo de Instrumento nº

052.503-5 - São Paulo - 2ª Câmara de Direito Público -

Relator Des. Lineu Peinado - 12.05.1998)”.

O mesmo entendimento foi exarado em agosto de 2009 pelo

Superior Tribunal de Justiça que, ao julgar o REspl 1.098.824/SC, por sua Segunda Turma, à

unanimidade, consagrou que “o requisito cautelar do periculum in mora está implícito no

próprio comando legal, que prevê a medida de bloqueio de bens, uma vez que visa a

assegurar o integral ressarcimento do dano”. Confira-se o teor da ementa:

ADMINISTRATIVO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA –

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA –

INDISPONIBILIDADE DE BENS – ART. 7º, PARÁGRAFO

ÚNICO, DA LEI 8.429/1992 – REQUISITOS PARA

CONCESSÃO – LIMITES – SÚMULA 7/STJ. 1. O

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27

provimento cautelar para indisponibilidade de bens, de que trata

o art. 7º, parágrafo único da Lei 8.429/1992, exige fortes indícios

de responsabilidade do agente na consecução do ato ímprobo,

em especial nas condutas que causem dano material ao Erário. 2.

O requisito cautelar do periculum in mora está implícito no

próprio comando legal, que prevê a medida de bloqueio de bens,

uma vez que visa a 'assegurar o integral ressarcimento do dano'.

3. A demonstração, em tese, do dano ao Erário e/ou do

enriquecimento ilícito do agente, caracteriza o fumus boni iuris.

4. Hipótese em que a instância ordinária concluiu ser possível

quantificar as vantagens econômicas percebidas pelo réu, ora

recorrente, para fins de limitação da indisponibilidade dos seus

bens. Rever esse entendimento demandaria a análise das provas.

Incidência da Súmula 7/STJ. 4. Recurso especial parcialmente

conhecido e não provido. (REsp 1098824/SC, Rel. Ministra

ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em

23/06/2009, DJe 04/08/2009)

Nessa esteira, seguiu o Superior Tribunal de Justiça ao reiterar,

recentemente, o posicionamento esposado no REsp 1.098.824/SC acerca do bloqueio de bens

em ações de improbidade administrativa, quando asseverou que “tal medida não está

condicionada à comprovação de que os réus estejam dilapidando seu patrimônio, ou na

iminência de fazê-lo, tendo em vista que o periculum in mora está implícito no comando

legal”. Confiram-se os seguintes arestos:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO

CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.

INDISPONIBILIDADE DOS BENS. DECRETAÇÃO.

REQUISITOS. ART. 7º DA LEI 8.429/1992. 1. Cuidam os

autos de Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público

Federal no Estado do Maranhão contra a ora recorrida e outros,

em virtude de suposta improbidade administrativa em operações

envolvendo recursos do Fundef e do Pnae. 2. A

indisponibilidade dos bens é medida de cautela que visa a

assegurar a indenização aos cofres públicos, sendo necessária,

para respaldá-la, a existência de fortes indícios de

responsabilidade na prática de ato de improbidade que cause

dano ao Erário (fumus boni iuris). 3. Tal medida não está

condicionada à comprovação de que os réus estejam dilapidando

seu patrimônio, ou na iminência de fazê-lo, tendo em vista que

o periculum in mora está implícito no comando legal.

Precedente do STJ. 4. Recurso Especial provido. (STJ, REsp

1115452/MA, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, 2ª Turma,

julgado em 06/04/2010, DJe 20/04/2010).

RECURSO ESPECIAL. IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DOS BENS.

DECRETAÇÃO. REQUISITOS. ART. 7º DA LEI

8.429/1992. REVISÃO. FATOS. NÃO-CABIMENTO.

SÚMULA 07/STJ. 1. A jurisprudência do Superior Tribunal de

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28

Justiça tem-se alinhado no sentido da desnecessidade de prova

de periculum in mora concreto,ou seja, de que o réu estaria

dilapidando seu patrimônio, ou na iminência de fazê-lo,

exigindo-se apenas a demonstração de fumus boni iuris,

consistente em fundados indícios da prática de atos de

improbidade. Precedentes: REsp 1.203.133/MT, Rel. Ministro

Castro Meira, REsp 967.841/PA, Rel. Ministro Mauro Campbell

Marques, Dje 08.10.2010, REsp 1.135.548/PR, Rel. Ministra

Eliana Calmon, DJE 22.06.2010; REsp 1.115.452/MA, Rel.

Ministro Herman Benjamin, Dje 20.04.2010. [...] (STJ, 2ª

Turma, Recurso Especial nº 2010/0075404-6, Ministro Castro

Meira, DJe 10/02/2011)

Recentemente, o Superior Tribunal de Justiça, conforme

noticiado no Informativo STJ n.º 547, de 8 de outubro de 2014, por meio de sua PRIMEIRA

SEÇÃO, que congrega as duas Turmas de Direito Público da Corte, em processo submetido ao

rito dos recursos repetitivos (CPC, art. 543-C), pacificou o tema em aresto paradigmático, in

verbis:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO

ESPECIAL REPETITIVO. APLICAÇÃO DO

PROCEDIMENTO PREVISTO NO ART. 543-C DO CPC.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA. CAUTELAR DE

INDISPONIBILIDADE DOS BENS DO PROMOVIDO.

DECRETAÇÃO. REQUISITOS. EXEGESE DO ART. 7º

DA LEI N. 8.429/1992, QUANTO AO PERICULUM IN

MORA PRESUMIDO. MATÉRIA PACIFICADA PELA

COLENDA PRIMEIRA SEÇÃO. 1. Tratam os autos de ação civil pública promovida pelo

Ministério Público Federal contra o ora recorrido, em virtude de

imputação de atos de improbidade administrativa (Lei n.

8.429/1992).

2. Em questão está a exegese do art. 7º da Lei n. 8.429/1992 e a

possibilidade de o juízo decretar, cautelarmente, a

indisponibilidade de bens do demandado quando presentes

fortes indícios de responsabilidade pela prática de ato ímprobo

que cause dano ao Erário.

3. A respeito do tema, a Colenda Primeira Seção deste Superior

Tribunal de Justiça, ao julgar o Recurso Especial 1.319.515/ES,

de relatoria do em. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho,

Relator para acórdão Ministro Mauro Campbell Marques (DJe

21/9/2012), reafirmou o entendimento consagrado em diversos

precedentes (Recurso Especial 1.256.232/MG, Rel. Ministra

Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 19/9/2013, DJe

26/9/2013; Recurso Especial 1.343.371/AM, Rel. Ministro

Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 18/4/2013, DJe

10/5/2013; Agravo Regimental no Agravo no Recurso Especial

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29

197.901/DF, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira

Turma, julgado em 28/8/2012, DJe 6/9/2012; Agravo

Regimental no Agravo no Recurso Especial 20.853/SP, Rel.

Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em

21/6/2012, DJe 29/6/2012; e Recurso Especial 1.190.846/PI, Rel.

Ministro Castro Meira, Segunda Turma, julgado em 16/12/2010,

DJe 10/2/2011) de que, "(...) no comando do art. 7º da Lei

8.429/1992, verifica-se que a indisponibilidade dos bens é

cabível quando o julgador entender presentes fortes indícios de

responsabilidade na prática de ato de improbidade que cause

dano ao Erário, estando o periculum in mora implícito no

referido dispositivo, atendendo determinação contida no art. 37,

§ 4º, da Constituição, segundo a qual 'os atos de improbidade

administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a

perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o

ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei,

sem prejuízo da ação penal cabível'. O periculum in mora, em

verdade, milita em favor da sociedade, representada pelo

requerente da medida de bloqueio de bens, porquanto esta Corte

Superior já apontou pelo entendimento segundo o qual, em casos

de indisponibilidade patrimonial por imputação de conduta

ímproba lesiva ao erário, esse requisito é implícito ao comando

normativo do art. 7º da Lei n. 8.429/92. Assim, a Lei de

Improbidade Administrativa, diante dos velozes tráfegos,

ocultamento ou dilapidação patrimoniais, possibilitados por

instrumentos tecnológicos de comunicação de dados que

tornaria irreversível o ressarcimento ao erário e devolução do

produto do enriquecimento ilícito por prática de ato ímprobo,

buscou dar efetividade à norma afastando o requisito da

demonstração do periculum in mora (art. 823 do CPC), este,

intrínseco a toda medida cautelar sumária (art. 789 do CPC),

admitindo que tal requisito seja presumido à preambular garantia

de recuperação do patrimônio do público, da coletividade, bem

assim do acréscimo patrimonial ilegalmente auferido". 4. Note-se que a compreensão acima foi confirmada pela

referida Seção, por ocasião do julgamento do Agravo

Regimental nos Embargos de Divergência no Recurso Especial

1.315.092/RJ, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, DJe

7/6/2013.

5. Portanto, a medida cautelar em exame, própria das ações

regidas pela Lei de Improbidade Administrativa, não está

condicionada à comprovação de que o réu esteja dilapidando

seu patrimônio, ou na iminência de fazê-lo, tendo em vista

que o periculum in mora encontra-se implícito no comando

legal que rege, de forma peculiar, o sistema de cautelaridade

na ação de improbidade administrativa, sendo possível ao

juízo que preside a referida ação, fundamentadamente,

decretar a indisponibilidade de bens do demandado, quando

presentes fortes indícios da prática de atos de improbidade

administrativa. 6. Recursos especiais providos, a que restabelecida a decisão de

primeiro grau, que determinou a indisponibilidade dos bens dos

promovidos.

7. Acórdão sujeito ao regime do art. 543-C do CPC e do art. 8º

da Resolução n. 8/2008/STJ.

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30

(REsp 1366721/BA, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA

FILHO, Rel. p/ Acórdão Ministro OG FERNANDES,

PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 26/02/2014, DJe 19/09/2014)

O Tribunal de Justiça do Estado de Goiás foi provocado por

diversas vezes quanto ao tema e, bem por isso, já consolidou seu entendimento por meio

de todas as Câmaras Cíveis. Confiram-se: AI 130178-60.2013.8.09.0000, Rel. Des. Luiz

Eduardo Sousa, 1ª CÂMARA CÍVEL, julgado em 17.09.2013 e publicado em 26.09.2013;

AI 139597-36.2015.8.09.0000, Rel. Des. Carlos Alberto França, 2ª CÂMARA CÍVEL,

julgado em 26/05/2015, DJe 1796 de 03/06/2015; AI 386988-76.2010.8.09.0000, Rel. Des.

Floriano Gomes, 3ª CÂMARA CÍVEL, julgado em 15.05.2012 e publicado em 29.05.2012;

AI 381408-31.2011.8.09.0000, Rel. Des. Kisleu Dias Maciel Filho, 4ª CÂMARA CÍVEL,

julgado em 09.02.2012 e publicado em 07.03.2012; AI 35215-94.2012.8.09.0000, Rel. Des.

Alan S. de Sena Conceição, 5ª CÂMARA CÍVEL, julgado em 25.10.2012 e publicado em

28.11.2012; AI 352511-90.2011.8.09.0000, Rel. Des. Camargo Neto, 6ª CÂMARA CÍVEL,

julgado em 08.05.2012 e publicado em 25.05.2012.

Sobre a possibilidade de a indisponibilidade de bens recair sobre

bens suficientes a garantir o pagamento da multa civil, a doutrina ensina:

Considerando que a multa civil é modalidade de sancionamento

cabível nas hipóteses de dano ao patrimônio público (art. 12, II,

da Lei n. 8.429/92), nada impede o manejo de cautelar de

indisponibilidade como forma de garantir a sua futura execução.

No entanto, deve-se atentar que a medida, aqui, será decretada

com fundamento no poder geral de cautela do magistrado,

exigindo, por tal motivo, a demonstração do fumus boni iuris e

do periculum in mora. (GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério

Pacheco. Improbidade Administrativa, 8ª ed., São Paulo: Saraiva,

2014, p. 1065)

O Superior Tribunal de Justiça possui entendimento

consolidado nas duas Turmas de Direito Público de que, dado o caráter assecuratório da medida

de indisponibilidade de bens prevista no art. 7º da Lei Federal 8.429/1992, o bloqueio de bens

deve levar em consideração tanto os valores a título de enriquecimento ilícito e dano ao erário

quanto o valor de possível multa civil como sanção autônoma:

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31

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO

REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ARGUMENTOS

INSUFICIENTES PARA DESCONSTITUIR A DECISÃO

ATACADA. EXEGESE DO ART. 7º DA LEI N. 8.429/92.

DECRETAÇÃO DE INDISPONIBILIDADE OU BLOQUEIO

DE BENS PELO JUÍZO. POSSIBILIDADE. PRESENÇA DE

FORTES INDÍCIOS DE RESPONSABILIDADE PELA

PRÁTICA DE ATO ÍMPROBO QUE CAUSE LESÃO AO

PATRIMÔNIO PÚBLICO OU IMPORTE EM

ENRIQUECIMENTO ILÍCITO. NECESSIDADE.

COMPROVAÇÃO DE DILAPIDAÇÃO DE PATRIMÔNIO

OU SUA IMINÊNCIA. NÃO OBRIGATORIEDADE.

CARÁTER ASSECURATÓRIO. INDISPONIBILIDADE DE

BENS QUE RECAI SOBRE O PATRIMÔNIO DOS AGENTES,

AINDA QUE ADQUIRIDOS ANTERIORMENTE À

PRÁTICA DO SUPOSTO ATO. ACÓRDÃO EM

CONFRONTO COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE.

RECURSO ESPECIAL PROVIDO. I - O acórdão recorrido está em confronto com o entendimento

desta Corte, no sentido de que o juízo pode decretar,

fundamentadamente, a indisponibilidade ou bloqueio de bens do

indiciado ou demandado, quando presentes fortes indícios de

responsabilidade pela prática de ato ímprobo que cause lesão ao

patrimônio público ou importe enriquecimento ilícito,

prescindindo da comprovação de dilapidação de patrimônio, ou

sua iminência. II - Ademais, dado seu caráter assecuratório, a

indisponibilidade de bens deve recair sobre o patrimônio dos

agentes, ainda que adquiridos anteriormente à prática do

suposto ato de improbidade, de modo suficiente a garantir o

integral ressarcimento de eventual prejuízo ao Erário,

levando-se em consideração, ainda, o valor de possível multa

civil aplicada como sanção autônoma. III - Os Agravantes não apresentam, no regimental, argumentos

suficientes para desconstituir a decisão agravada. IV - Agravo Regimental improvido. (AgRg no REsp 1383196/AM, Rel. Ministra REGINA

HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, julgado em

27/10/2015, DJe 10/11/2015)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ART. 7º DA LEI Nº

8.429/92. INDISPONIBILIDADE DE BENS QUE ABRANGE

INCLUSIVE AQUELES ADQUIRIDOS ANTES DA

PRÁTICA DO SUPOSTO ATO DE IMPROBIDADE, ASSIM

COMO O POTENCIAL VALOR DA MULTA CIVIL

APLICÁVEL À ESPÉCIE. DESNECESSIDADE DE

COMPROVAÇÃO DE DILAPIDAÇÃO IMINENTE OU

EFETIVA DO PATRIMÔNIO DO DEMANDADO.

PERICULUM IN MORA IMPLÍCITO NO COMANDO

LEGAL. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA PELOS SEUS

PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. 1 - O Superior Tribunal de Justiça, ao interpretar o art. 7º

da Lei nº 8.429/92, tem decidido que, por ser medida de

caráter assecuratório, a decretação de indisponibilidade de

bens, ainda que adquiridos anteriormente à prática do

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás

32

suposto ato de improbidade, deve incidir sobre quantos bens

se façam necessários ao integral ressarcimento do dano,

levando-se em conta, ainda, o potencial valor de multa civil.

Precedentes. 2 - A Primeira Seção desta Corte de Justiça, no julgamento do

REsp 1.366.721/BA, sob a sistemática dos recursos repetitivos

(art. 543 -C do CPC), consolidou o entendimento de que o

decreto de indisponibilidade de bens em ação civil pública por

ato de improbidade administrativa constitui tutela de evidência

e, ante a presença de fortes indícios da prática do ato reputado

ímprobo, dispensa a comprovação de dilapidação iminente ou

efetiva do patrimônio do réu, estando o periculum in mora

implícito no comando do art. 7º da LIA. 3 - Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no REsp 1260737/RJ, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA,

PRIMEIRA TURMA, julgado em 20/11/2014, DJe 25/11/2014)

O Tribunal de Justiça do Estado de Goiás perfilha o mesmo

entendimento do STJ, verbis:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE

INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR SUPOSTOS

ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.

RECURSO SECUNDUM EVENTUM LITIS.

INDISPONIBILIDADE DE BENS. LIMINAR INDEFERIDA

NO JUÍZO A QUO. CONTRATO DE TRANSPORTE.

PRORROGAÇÃO DA AVENÇA POR MEIO DE ADITIVO.

MAJORAÇÃO DO VALOR PREVIAMENTE CONTRATADO.

PRESENÇA DOS REQUISITOS LEGAIS. CONCESSÃO

INAUDITA ALTERA PARTE. ARTIGO 12 DA LEI Nº

7.347/85. INDÍCIOS DA PRÁTICA DE ATO ÍMPROBO.

DECISÃO REFORMADA. RECURSO AO QUAL SE DEU

PROVIMENTO, NOS TERMOS DO ARTIGO 557, § 1º-A, DO

CÓDEX PROCESSUAL. COMANDO JUDICIAL EM

OBEDIÊNCIA À LEGISLAÇÃO APLICÁVEL NA ESPÉCIE.

AUSÊNCIA DE ARGUMENTOS PLAUSÍVEIS CAPAZES

DE ALTERAR O JULGAMENTO. I - A confirmação do

decisum invectivado é medida que se impõe, mormente porque

a recorrente deixou de carrear argumentos plausíveis capazes de

alterar o julgamento já proferido no caderno processual.

Premissas equivocadas por parte da agravante. II - O Superior

Tribunal de Justiça, ao interpretar o artigo 7º, parágrafo

único, da Lei nº 8.429/92, tem entendido que a decretação de

indisponibilidade de bens deve incidir sobre quantos bens se

façam necessários ao integral ressarcimento do dano,

levando-se em conta, ainda, o potencial valor de multa civil. AGRAVO REGIMENTAL CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJGO, AGRAVO DE INSTRUMENTO 366880-

21.2013.8.09.0000, Rel. DES. FAUSTO MOREIRA DINIZ, 6ª

CÂMARA CÍVEL, julgado em 19/01/2016, DJe 1958 de

28/01/2016)

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33

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA

POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.

RECURSO SECUNDUM EVENTUM LITIS. LIMINAR.

INDISPONIBILIDADE DE BENS. POSSIBILIDADE.

RESSARCIMENTO AO ERÁRIO. MULTA CIVIL. PERICULUM IN MORA. IMPLÍCITO. SENTENÇA

MANTIDA. 1. O Agravo de Instrumento é recurso secundum

eventum litis e deve ater-se ao acerto, ou desacerto da decisão

hostilizada, de modo que as questões referentes ao mérito da

demanda deverão ser apreciadas no juízo de origem, sob pena de

supressão de instância. 2. Para a concessão de medida liminar

em Ação Civil Pública, que tem seu fundamento no artigo 12, da

Lei nº 8.429/1992, que poderá ocorrer com, ou sem justificação

prévia, é necessária a presença concomitante do fumus boni iuris

e periculum in mora, o que ocorre no caso em análise. 3. A

medida liminar de indisponibilidade de bens por ato de

improbidade administrativa, prevista no artigo 37, parágrafo 4º

da CF, bem como no artigo 7º da Lei nº 8.429/92, tem por

objetivo garantir a efetividade do futuro provimento

jurisdicional de ressarcimento do dano, em face da supremacia

do interesse público envolvido e, para a sua concessão, é

dispensável a demonstração de dilapidação do patrimônio dos

agentes para a configuração do periculum in mora, por

encontrar-se implícito no artigo 7º da Lei nº 8.429/92, bastando

a demonstração do fumus boni iuris, que consiste em indícios de

atos ímprobos, o que restou evidenciado nos autos. 4. A medida

constritiva em questão deve recair sobre o patrimônio do

Agravante, de modo suficiente a garantir o integral

ressarcimento de eventual prejuízo ao erário, levando-se em

consideração, ainda, o valor de possível multa civil como

sanção autônoma (artigo 12, I, da Lei 8.429/92). 5. A

modificação do julgado que concede medida liminar somente é

admissível, quando evidenciado que este se encontra eivado de

ilegalidade, ou teratologia, o que não se revela no caso vertente.

AGRAVO DE INSTRUMENTO CONHECIDO E

DESPROVIDO. (TJGO, AGRAVO DE INSTRUMENTO 167080-

41.2015.8.09.0000, Rel. DES. FRANCISCO VILDON JOSÉ

VALENTE, 5ª CÂMARA CÍVEL, julgado em 05/11/2015, DJe

1914 de 20/11/2015)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA. RECURSO SECUNDUM EVENTUM

LITIS. PRESENÇA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES

PARA A CONCESSÃO DO PLEITO LIMINAR.

INDISPONIBILIDADE PARCIAL DE BENS. GARANTIA

DO RESSARCIMENTO AO ERÁRIO. VALOR LIMITADO

AO VALOR DA CAUSA. INCABÍVEL. 1. O Agravo de

Instrumento é um recurso secundum eventum litis e deve se ater

ao acerto ou desacerto da decisão questionada, sendo vedada a

apreciação de questões não analisadas no decisum recorrido; 2.

As medidas liminares proferidas inaudita altera pars

encontram-se amparadas pelos artigos 7º e 16 da Lei nº 8.429/92

e visam assegurar a eficácia e o ressarcimento ao erário; 3. A

indisponibilidade de bens é cabível quando o julgador entender

presentes os indícios de responsabilidade na prática de ato de

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improbidade que cause dano ao erário, que em si já configura o

periculum in mora, não sendo necessária a comprovação de que

o réu estaria dilapidando o patrimônio, visto que o risco do dano

é presumível. Precedentes STJ; 4. Quando a determinação de

indisponibilidade de bens, consubstanciada na necessidade de

garantir o ressarcimento dos danos causados ao erário com a

conduta ímproba, for ultimada dentro dos limites legais

estabelecidos para o caso em apreço, estando presentes os

requisitos autorizadores da medida liminar, devidamente

motivado o comando judicial recorrido, não há falar em reforma

do decisum se não for satisfatoriamente evidenciada a existência

de vício capaz de desconstituir o pretendido desbloqueio de bens;

5. O valor adotado para fins de indisponibilidade de bens,

não deve ser apenas aquele indicado como o da causa na ação

de improbidade administrativa, porque também deve

garantir o pagamento de multa civil, conforme previsto no

art. 12, inc. I, da Lei nº 8.429/1992; 6. Não há falar em

limitação da indisponibilidade de bens se esta foi declarada de

forma parcial, não englobando aqueles necessários à

sobrevivência do Recorrente; Agravo de Instrumento conhecido

e desprovido. (TJGO, AGRAVO DE INSTRUMENTO 387791-

20.2014.8.09.0000, Rel. DES. ITAMAR DE LIMA, 3ª

CÂMARA CÍVEL, julgado em 17/03/2015, DJe 1755 de

26/03/2015)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA

POR IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. DECISÃO

DETERMINANDO A RETIRADA DE MATERIAL DE

PROMOÇÃO PESSOAL. INDISPONIBILIDADE DE BENS.

POSSIBILIDADE. DANO AO ERÁRIO. MULTA CIVIL. I

- A ação de improbidade administrativa é aquela que visa o

reconhecimento de condutas ímprobas, praticadas por agentes

públicos e terceiros, bem como a imposição da sanção legal, para

resguardar o erário e garantir a observância dos princípios da

legalidade, moralidade e impessoalidade no trato da coisa

pública. II - Não há que reformar a decisão que decretou a

indisponibilidade de bens, pois constitui ato de livre

convencimento e prudente arbítrio do julgador, inerente ao seu

poder geral de cautela. Portanto, e por se tratar de decisão

provisória, sua revogação somente se justifica em caso de

comprovada ilegalidade. III - A medida constritiva em

questão deve recair sobre o patrimônio dos réus em ação de

improbidade administrativa, de modo suficiente a garantir o

integral ressarcimento de eventual prejuízo ao erário,

levando-se em consideração, ainda, o valor de possível multa

civil como sanção autônoma. IV - É entendimento

doutrinário que a medida de indisponibilidade de bens, além

de ser aplicável aos casos de dano ao erário, é perfeitamente

cabível, na hipótese de garantia apenas da multa civil, em

decorrência de conduta ímproba. V - É razoável o valor

estabelecido pelo julgador como parâmetro para fins de

aplicação da sanção, tendo em vista que dentro dos limites

estabelecidos pela Lei (Art. 12, III, da Lei nº 8.429/92). VI -

Sobejando ausente a demonstração de qualquer irregularidade

formal, flagrante ofensa à constituição ou às normas

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infraconstitucionais cogentes, deve ser mantida a decisão que

determinou a indisponibilidade de bens. AGRAVO DE

INSTRUMENTO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJGO, AGRAVO DE INSTRUMENTO 249516-

91.2014.8.09.0000, Rel. DES. AMÉLIA MARTINS DE

ARAÚJO, 1ª CÂMARA CÍVEL, julgado em 03/02/2015, DJe

1731 de 20/02/2015)

Ademais, a cada dia avolumam-se as ações de responsabilidade

contra a organização social INSTITUTO GERIR, a impor a indisponibilidade imediata dos

bens, como forma de garantir o ressarcimento de dano ao erário. Apenas a título de exemplo,

recentemente, foram indisponibilizados recursos da organização social INSTITUTO GERIR

no montante de R$ 338.380,13 (trezentos e trinta e oito mil, trezentos e oitenta reais e treze

centavos), em razão da má gestão do INSTITUTO GERIR, conforme narrado nos autos

da Ação Civil Pública por Ato de Improbidade Administrativa de registro PROJUDI Nº

5435971.18.2017.8.09.0051 (anexo XII).

Por fim, imperioso frisar que a indisponibilidade de bens não se

apresenta como antecipação de aplicação de sanção ao réu, mas tão-somente meio de assegurar

o resultado útil do processo, instaurado em defesa do patrimônio público.

Bem por isso, afigura-se imprescindível a concessão de medida

liminar inaudita altera pars, com a decretação do bloqueio de bens dos réus para o integral

ressarcimento ao erário, pelo dano material causado, bem como para a garantia do pagamento

da multa civil a ser aplicada.

A indisponibilidade, frise-se, deverá recair sobre bens suficientes

para garantir o ressarcimento do dano material apurado em R$ 128.073,70 (cento e vinte e oito

mil e setenta e três reais), mais o pagamento da multa civil, a ser aplicada no montante de três

vezes o valor do acréscimo patrimonial percebido pelo INSTITUTO GERIR – quantia essa

que deverá ser efetivada em contas bancárias e/ou aplicações financeiras das rés, constrição a

ser realizada por meio do sistema BacenJud 2.0., em valores totais (dano material + multa civil),

o que perfaz o montante de R$ 512.294,80 (quinhentos e doze mil, duzentos e noventa e

quatro reais e oitenta centavos) para cada réu.

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Requer, desde já, seja, conjunta e imediatamente, deferido o

bloqueio de veículos e bens imóveis dos réus, por meio do sistema disponibilizado pelo CNJ,

bem como com expedição imediata de ofícios aos cartórios de registro de imóveis de

Goiânia/GO, para averbação na matrícula dos imóveis cuja propriedade lhe pertença,

bem como o bloqueio de veículos registrados em nome dos réus por meio do sistema

RENAJUD.

A indisponibilidade de valores totais para cada réu decorre da

responsabilidade solidária estabelecida pelo artigo 942 do Código Civil.

5. DOS REQUERIMENTOS FINAIS E DO PEDIDO

Por tudo o que foi exposto, requer o Ministério Público do Estado

de Goiás:

1) a concessão de liminar inaudita altera pars para determinar a

indisponibilidade de bens dos réus EDUARDO RECHE DE SOUZA e INSTITUTO DE

GESTÃO EM SAÚDE – INSTITUTO GERIR na forma e montante especificado no item

anterior devendo recair a indisponibilidade em bens suficientes ao ressarcimento do dano

material causado ao erário estadual, na forma requerida no item 3.3 desta petição inicial, e para

garantia do pagamento da multa civil, no montante total, para cada réu, de R$ 512.294,80

(quinhentos e doze mil, duzentos e noventa e quatro reais e oitenta centavos).

2) a notificação dos réus para oferecer, caso queiram,

manifestação preliminar, no prazo de 15 (quinze) dias, conforme estabelece o artigo 17, § 7º,

da Lei n.º 8.429/92;

3) apresentada ou não a defesa, o recebimento da petição inicial;

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4) a citação dos réus para contestar o pedido, sob pena de

confissão e revelia;

5) a produção de toda a prova em direito admitida e, em especial,

depoimento pessoal, prova documental, pericial e testemunhal, cujo rol será ofertado

oportunamente;

6) a comunicação processual do ESTADO DE GOIÁS,

representado pelo seu Procurador-Geral, domiciliado na Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira, nº

132, Centro, Goiânia/GO, na forma e para os fins preconizados no artigo 17, § 3º, da Lei

8.429/92.

Postula, ao fim, a PROCEDÊNCIA DO PEDIDO, a fim de que

os réus EDUARDO RECHE DE SOUZA e INSTITUTO DE GESTÃO EM SAÚDE –

INSTITUTO GERIR sejam condenados nas sanções previstas no artigo 12, incisos I, II e III,

pela prática de atos de improbidade administrativa previstos no artigo 9º, inciso XI, artigo 10,

caput inciso I e XII e artigo 11, caput, inciso I, todos da Lei 8.429/92, inclusive o ressarcimento

do dano material causado ao erário, no valor total de R$ 128.073,70 (cento e vinte e oito mil e

setenta e três reais), devidamente acrescido de correção monetária e juros legais até a data

do efetivo pagamento.

Dá à causa o valor de R$ 128.073,70 (cento e vinte e oito mil,

setenta e três reais e setenta centavos).

Instruem a inicial documentos extraídos dos autos do ICP

registrado com o nº 201600012757, que tramitou nesta Promotoria de Justiça, em 12 (doze)

anexos.

Goiânia, 24 de agosto de 2018.

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FABIANA LEMES ZAMALLOA DO PRADO

Promotora de Justiça