Upload
others
View
1
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
Excelentíssimo(a) Senhor(a) Doutor(a) Juiz(a) de Direito do
Juizado da Infância e Juventude de Goiânia – GO.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por seu
órgão de execução com assento e sede nesta comarca vem, com o costumeiro respeito
a presença de Vossa Excelência, nos termos do artigo 129, III da Constituição Federal
de 1988, art. 201, V do Estatuto da Criança e do Adolescente e artigo 25, inciso IV da
Lei 8.625/93 (Lei Orgânica do Ministério Público), propor a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PRECEITO COMINATÓRIO DE
OBRIGAÇÃO DE FAZER
em face:
MUNICÍPIO DE GOIÂNIA, representado pelo Senhor
Prefeito Municipal PAULO DE SIQUEIRA GARCIA, encontradiço no PAÇO
MUNICIPAL, situado na Avenida do Cerrado, 999, Parque Lozandes, 5º andar,
Goiânia – GO., CEP – 74.884-092;
SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE GOIÂNIA,
representada pelo Senhor Secretario ELIAS RASSI NETO, encontradiço na
Secretaria Municipal de Saúde situada no PAÇO MUNICIPAL, situado na Avenida do
Cerrado, 999, Parque Lozandes, Goiânia – GO., CEP – 74.884-092;
PROCURADORIA GERAL DO MUNICÍPIO DE GOIÃNIA,
1
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
representada pelo Senhor Procurador ERNESTO ROLLER, encontradiço no PAÇO
MUNICIPAL, situado na Avenida do Cerrado, n.º 999, Parque Lozandes, 1º andar,
Goiânia – GO., CEP – 74.884-092;
Pelos fatos e motivos a seguir:
I – DOS FATOS
Não é de hoje que se fala em DROGAS em Goiânia. A todo dia
crianças, adolescentes e adultos se envolvem com o uso de drogas, sendo que este
fato tem gerado consequências desastrosas para a SOCIEDADE e FAMÍLIAS. São
inúmeros os casos de crianças e adolescentes que se viciam, e para sustentar este
vício, passam a cometer atos infracionais, quer contra a família, quer contra a
sociedade. São inúmeros os relatos de adolescentes que morrem cometendo delitos,
que morrem em virtude de dívida com traficante, que morrem em virtude do
consumo excessivo de droga.
Sabedor disto o Ministério Público instaurou INQUÉRITO CIVIL
PÚBLICO visando apurar quais providências a PREFEITURA MUNICIPAL DE
GOIÂNIA toma visando dar sua parcela de contribuição na luta contra este
“demônio” chamado DROGA.
No ano de 2005, surgiu em GOIÂNIA a notícia de que seria
implantado em TRINDADE um CENTRO DE EXCELÊNCIA DE
RECUPERAÇÃO de DEPENDENTES QUÍMICOS – CER, tal atividade seria
desenvolvida pelos MUNICÍPIOS em atuação conjunta com a AGÊNCIA
PRISIONAL. Segundo o documento de fls. 07, tal local seria espaço físico destinada
ao atendimento hospitalar.
Visando instruir o procedimento, foi requisitado a PREFEITURA
DE GOIÂNIA, informações sobre o atendimento a crianças e adolescentes
2
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
dependentes químicos no município de GOIÂNIA, fls. 14, sendo a resposta dada
indicando que o atendimento se dá em uma ÚNICA Unidade de Saúde Mental
denominada CAPSiad Girassol – CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL, situado
na rua R-5, Qd. 07, Lt. 03, Setor Oeste, Goiânia – GO, CEP – 74125-070.
Ainda em resposta, assim diz o então SECRETARIO
MUNICIPAL DE SAÚDE DE GOIÂNIA:
“No Centro de Atenção Psicossocial – CAPSiad Girassol – são
atendidas crianças e adolescentes residentes em Goiânia, cujo
acolhimento ocorre através da demanda referenciada, oriunda de
diversas instituições (Saúde, Educação, FUMDEC, entre outras) e,
ainda, por meio de demanda espontânea. Na Unidade são
assistidos ainda adolescente, em Medida de Segurança/Conflito
com a Lei, que são acompanhados até o local (CAPSiad Girassol)
pela equipe do Centro de Internação do Adolescente –
CIA/Cidadão 2000.
“Até o momento, em dois anos de funcionamento, no CAPSiad
Girassol não foi constatado nenhum caso de crianças e
adolescente em tratamento, que tenha sido encaminhado pela
Unidade ou pela família para internação (psiquiátrica).” pág. 17.
Ainda em resposta ao ofício endereçado pelo Ministério Público,
assim diz o Senhor Secretario:
“A capacidade de atendimento do CAPSiad Girassol é de
aproximadamente 400 (quatrocentos) usuários por mês, incluindo
suporte familiar.
“O atendimento é prestado por uma equipe multiprofissional
composta por 22 (vinte e dois) profissionais de nível superior
(psiquiatra, psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional,
3
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
enfermeira, musicoterapeuta, arteterapeuta, arte cênica e
educador físico).” pág. 17/18.
Visando instruir o procedimento, novo ofício foi endereçado a
Secretaria Municipal de Saúde, requisitando informações completas sobre o
atendimento junto ao CAPSiad Girassol, que foram respondidas, pág. 47 a 49.
“Quando é observada a necessidade de internação, encaminhamos
a criança/adolescente para o Pronto Socorro Wassily Chuc, onde
receberá a Autorização para Internação Hospitalar (AIH) em
clínica especializada, geralmente, Casa de Eurípedes ou ASMIGO.
Quando há necessidade de internação e a família ou o próprio
usuário manifesta o desejo de ser encaminhado para outras
instituições não hospitalares, informamos os seguintes: Casa
Abrigo das Flores, Águas de Meribá, Condomínio Sol Nascente,
Abrigo Jovens Livres, Tratamento Terra Fértil, Recuperação Mãe
Zeferina.” pág. 49.
Apenas para frisar, a unidades de encaminhamento indicadas
pela Secretaria Municipal de Saúde não são casas lares destinadas ao atendimento de
usuários de droga, mas sim, INSTITUIÇÕES DE ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL
(arts. 92 e 101, VII do Estatuto da Criança e do Adolescente) de crianças e
adolescentes em situação de risco, ou seja, não atendem tão somente usuários de
drogas, mas abandonados, vítimas de maus tratos, etc, portanto o encaminhamento
É INADEQUADO, a Instituição a que são encaminhados as crianças e adolescentes,
não tem o perfil para o atendimento, sendo assim, este encaminhamento deveria ter
sido feito a outro local. Isto está sendo analisado em outro procedimento em
andamento no MINISTÉRIO PÚBLICO.
A Unidade de Atendimento CAPSiad Girassol passou, e passa por
sérias dificuldades, senão vejamos: “Que ultimamente estão sem o vale
4
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
transporte para os pacientes, razão pela qual os atendimentos
diminuíram, podendo ser esta a razão da discrepância entre os números
passados pela declarante, nesta oportunidade e aqueles apresentados
pelo Secretario em resposta ao ofício desta Promotoria. Que estão há 6
meses sem receber o vale transporte. Que por informação tomou
conhecimento que a razão do atraso era que a aquisição dos referidos
destinados aos pacientes estava se dando junto com os dos funcionários,
o que não é por lei permitido. Que um funcionário de Reginaldo –
Diretor Administrativo da Secretaria Municipal de Saúde – disse à
declarante que o problema só seria solucionado dentro de 60 (sessenta)
dias. Que a maioria das crianças atendidas são pobre e que em virtude da
falta do recurso mencionado, estão deixando de ir ao tratamento.” pág.
53/54.
As palavras da então diretora da Unidade de Atendimento, SRA.
STEFÃNIA CARLA PEREIRA GOMES, deixam evidentes as dificuldades
enfrentadas tanto pelos servidores, como pelos pacientes em razão da localização da
Unidade, que por ser apenas uma, e centralizada, necessita do uso de recursos como
passe de ônibus para que crianças e adolescentes procurem o atendimento, o que não
seria necessário, ou seria ao menos, contornável, houvesse a criação de diversas
unidades de atendimento espalhadas pelo município, próximo a residência dos
doentes (crianças e adolescentes).
A bem da verdade o poder público nunca tratou o problema da
droga como questão de saúde pública, mas sim como problema de polícia, razão pela
qual a pequena ou quase nenhuma política de atendimento ou destinação de recursos
para a área. Faltam servidores, faltam espaços físicos para o atendimento, falta
divulgação do atendimento, falta divulgação do espaço onde deve ser procurado para
o atendimento, etc. Enfim, criou-se o CAPSiad Girassol, proveu o mesmo de uma
estrutura humana razoável e pronto.
5
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
Para se ter ideia de como a questão “DROGA” é tratada pela
Secretária Municipal de Saúde, citamos acima, depoimento colhido nesta promotoria
de justiça quanto a falta de passes para as crianças e adolescentes atendidos no CAPS
GIRASSOL. Quando da oitiva havia 6 MESES que crianças e adolescentes não
recebiam passe de ônibus – lembrando que o depoimento havia sido colhido em
10/05/2007 (pág. 53), contando o tempo que já estavam sem o produto (passe livre),
a falta já vinha desde novembro de 2006. A solução para questão desta magnitude,
ou seja, aquisição de passes livre a crianças e adolescentes, somente se deu em 4 de
março de 2009, ou seja 2 anos e 4 meses depois. Isto É DESRESPEITO do senhor
Secretario Municipal de Saúde, e portanto da PREFEITURA MUNICIPAL DE
GOIÂNIA para com a população, para com o problema, para com
crianças/adolescente em tratamento e seus familiares.
Em novo depoimento, a senhora STEFÂNIA CARLA PEREIRA
GOMES LONDE, disse: “Que a declarante é diretora Geral do Centro de
Atenção Psicossocial Girassol (CAPS Girassol). Que atende
aproximadamente 50 (cinquenta) adolescentes. Acredita que sendo a
unidade regionalizada, distribuída em várias unidades dentro de
Goiânia, o número de atendidos, seria maior. Que o atendimento feito na
unidade CAPS Girassol, é feito ao grupo familiar.......Que o adolescente
comparece 4 vezes por semana no CAPS, 16 vezes ao mês. Que o CAPS
localiza-se no Setor Oeste e sua maior demanda é da região noroeste.
Que a declarante não tem conhecimento da criança de novas unidades
referentes a atendimento de adolescentes dependentes químicos..... Que
o investimento em divulgação do trabalho do CAPS é insuficiente.... Que
o índice de abandono dos atendimentos no CAPS é grande. Que a
principal causa pelo abandono é a falta de atrativos na unidade como
jogos, espaços para esportes, podendo citar outros exemplos como os
computadores que já estão na unidade, mas não forma instalados. Que
não é fornecido o vale transporte aos pacientes e seus familiares par ao
atendimento. Que existe um processo em trâmite na Segov há mais de 70
6
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
dias, processo este soube está paralisado, porque o valor ficou muito
alto. Que em razão deste fato muitos adolescentes abandonam o
tratamento. Que a renda média familiar dos atendidos é em torno de um
salário. Que também são necessários veículos para realização de visitas
domiciliares. Que recebe carro apenas uma vez na semana, o que não
suficiente para a realização de visitas.” pág. 246/247.
Ciente da necessidade de que novas Unidades CAPS III AD sejam
implantados nesta capital, solicitamos a diversos órgãos relação dos atendimentos de
crianças e adolescentes usuários de drogas e álcool.
A DEPAAI encaminha uma lista com 149 nomes. As Unidades de
Saúde do Município, em ofício encaminhado pelo Senhor Secretario Municipal de
Saúde informa que somente o CAPSiad GIRASSOL é responsável pelos atendimentos
de crianças e adolescentes usuários de álcool e drogas, e encaminhando ofício ficou
constatado que as Unidades de Atendimento ligadas a Saúde não atenderam a
nenhuma criança ou adolescente com esta problemática, pág. 533 a 539. O Conselho
Tutelar da Região Leste também encaminhou lista com a relação de dezenas de
nomes de crianças e adolescentes, fls. 540 a 547. Várias Unidades Municipais de
Saúde nos informaram que não atenderam a nenhum caso de crianças ou
adolescente usuário de álcool e droga, pág. 548 a 551, 556/557, 559 a 565, 567/568,
576 a 578,
O CIAMS – URIAS MAGALHÃES, informou que não faz o
atendimento, mas tão somente o encaminhamento, razão pela qual não há registros
dos casos de atendimento a crianças e adolescentes usuários de álcool e drogas, fls.
552 a 555. O Conselho Tutelar da Região Norte, também encaminhou lista com
diversos nomes de crianças e adolescentes atendidos com problemas de
envolvimento no consumo de álcool e drogas, pág. 571 a 575. o CAIS CÂNDIDA DE
MORAES encaminhou relação de nomes, pág. 606 a 609. o CAPSiad GIRASSOL
apresentou informação de atendimento a 463 crianças e adolescentes, pág. 626. O
7
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
Conselho Tutelar Noroeste apresentou relação de 13 atendimentos, pág. 631/632. O
Conselho Tutelar Campinas apresentou relação contendo diversos nomes, pág. 633 a
638.
Em nova resposta a ofício do Ministério Público, fls. 650/651, o
Coordenador Técnico do CAPS GIRASSOL informou a quantidade de atendimentos
por distrito sanitário, o que deixa claro a difusão dos casos na cidade de Goiânia.
O Ministério Público encaminhou a PREFEITURA MUNICIPAL
DE GOIÂNIA – Procuradoria Geral do Município e Secretaria Municipal de Saúde
PROPOSTA DE TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA, visando a implantação
de novos CAPSiad em Goiânia (6), em todos os distritos sanitários desta capital,
visando dar cumprimento a portaria do Ministério da Saúde que regulamenta a
questão, considerando que a população da cidade de Goiânia, segundo o último
censo é de 1.301.882 (hum milhão, trezentos e um mil, oitocentos e oitenta e dois)
habitantes, pág. 697 a 707.
Em resposta assim disse a PREFEITURA MUNICIPAL por seu
secretario municipal de saúde (pág. 715):
“ Em resposta ao Ofício n.º 177/11-4ª PJ, encaminhado pela
Procuradoria Geral do Município, temos a informar o seguinte:
“ A política de atenção a criança e ao adolescente usuários de
álcool e droga no município de Goiânia vem sendo trabalhada
pelo Departamento de Atenção a Saúde de maneira a atender a
demanda desta Capital razão pela qual não entendemos ser
procedente o Inquérito Civil Público n.º 013/2007.
“ De outro lado, a construção de CAPS AD III, na forma proposta
pelo presente TAC, está além das capacidades operativas desta
Secretaria (previsão orçamentária, prazo para licitação, etc).
Ademais não comungamos da ideia de que a construção de tantas
8
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
Unidades desta natureza no Município de Goiânia, neste
momento, irá consolidar a melhora da eficiência e qualidade
deste atendimento.
“ Neste contexto, atendo a política de saúde desta Capital,
acreditamos prudente não firmamos nesse momento o Termo de
Ajustamento de Conduta.”
Foram juntados aos autos recortes de matérias jornalisticas
dando noção do que a imprensa escrita tem comentado sobre o tema.
Ficou claro, durante o procedimento algumas necessidades:
1 – Considerando que existem crianças e adolescentes usuários de drogas em todas as
regiões de Goiânia, e somente um CAPS AD III situado no SETOR OESTE
(DISTRITO SANITÁRIO SUL), nesta capital, é necessário que sejam pulverizados na
capital estas unidades de atendimento, de maneira a facilitar o acesso por crianças e
adolescentes, além de seus familiares.
2 – Considerando a demanda por atendimento, o número de usuários crianças e
adolescentes nesta capital, é imprescindível a construção de novas Unidades CAPS
AD III, visando atender de maneira qualificada estes usuários.
3 – Considerando que o problema de uso de drogas não se dá apenas no período
diurno, é necessário, nos termos de portaria do Ministério da Saúde, que as Unidades
implantada e a serem implantadas, funcionem em período integral.
4 – Considerando as necessidades de atendimento integral e qualificado, que o CAPS
AD III seja provido de pessoal, equipamentos e estrutura física adequados ao
atendimento, não podendo haver racionamento em qualquer destas necessidades.
II – A GUERRA CONTRA AS DROGAS
A guerra contra o uso de drogas, especialmente intimidando os
usuários por meio de prisão, teve início, conforme relatos ocorridos no seminário
9
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
sobre drogas com mestres e doutores pela Faculdade de Direito da USP, em 1937.
“Em maio de 2004 realizou-se seminário sobre drogas com
mestres e doutores pela Faculdade de Direito da USP, cujo
resultado foi a coletânea Drogas – Aspectos Penais e
Criminológicos (Forense 2005). Vários trabalhos mencionam ter a
guerra para erradicar o mal das drogas, mormente pela
intimidação do usuário, se iniciado nos Estados Unidos em 1914
com o Harrison Narcotics Act, seguido do Murihuana Tax Act, de
1937. a guerra foi amplamente declarada por Nixon em 1973,
reiterada por Reagan em 1982 e, depois, ampliada por Bush pai. As
drogas foram consideradas o inimigo público número um,
devendo-se guerrear contra traficantes e usuários.
“As Nações Unidas promoveram convenções no mesmo sentido,
por influência dos Estados Unidos: Convenção Única sobre
Estupefacientes, de 1961; Convênio sobre Substâncias
Psicotrópicas, de 1971; e Convenção de Viena, de 1988, na qual se
consagrou a War on Drugs 1 , com exigência de punições mais graves
contra os usuários, visando à dissuasão e intimidação da
coletividade para a extirpação das drogas” pág. 723.
Esta forma de enfrentar a problemática das drogas se
perdeu e, perdeu a guerra. A maneira torta de ver e enfrentar as drogas punindo o
usuário, vendo nele um bandido, um mal que precisa ser extirpado levou e tem
levado a absurdos de colocar em celas jovens dependentes químicos, punindo-os
duplamente, já que o vício por si só é uma punição. Procuraram vencer a doença do
vício com a violência da prisão, não deu certo.
Ainda no mesmo seminário, ROGÉRIO TAFFARELLLO2, disse:
1 - War on Drugs – tradução para o português – Guerra contra as drogas.2 - Rogério Taffarello – Doutor em Direito Penal e Criminologia pela Universidade de São Paulo, com dissertação com título - Drogas: falência do proibicionismo e alternativas de política criminal
10
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
“....Rogério Taffarello mostra como na Europa, já a partir de
meados dos anos 90, se começou a modificar a linha adotada em
Viena. Na Alemanha, promoveu-se desde 1994 a substituição da
pena por tratamento, se pequena a quantia de droga. Em 2003
adotou-se plano de redução das consequências negativas do uso de
drogas, com usuários e familiares. Na Espanha, desde 1992 e
depois, com o Código Penal de 1995, passou a ser proibido apenas
o uso de drogas em local público. Na Itália, a posse e compra de
droga para uso próprio são ilícitos administrativos, cujas sanções
poder ir desde audiência com o chefe de polícia até medidas de
tratamento, a depender da natureza da substância e de ser ou não
o usuário reincidente. Em Portugal, a partir da Lei n.º 30 de 2000,
a posse e o consumo de drogas passaram a ser apenas ilícitos
administrativos, devendo o usuários ser encaminhado a Comissão
Multidisciplinar de Dissuasão da Toxicodependência, que pode
recomendar medida terapêutica.” pág. 723.
Percebe-se a mudança de paradigma no enfrentamento da
questão por parte das normas penais, o que aconteceu seguindo o contexto mundial.
A evolução, devido ao preconceito arraigado nos operadores do
Direito demorou a chegar, e assim como a “vida imita a arte”, o mundo jurídico
imitou o avanço científico, e assim, quem antes era visto como criminoso perigoso
para a sociedade passou a ser visto como um doente que necessita de auxílio e
tratamento. Assim como os manicômios foram usados por muito tempo para o
tratamento de usuários de drogas, as cadeias foram vistas como a solução para este
problema social que se apresentava e, aterrorizava (até hoje aterroriza) a sociedade.
Jogar o “lixo” para debaixo do tapete, esconder o usuário dentro de manicômios ou
cadeias, foi por muito tempo apresentada como a solução para o problema.
11
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
Relatos históricos dão conta de que os considerados loucos eram
vistos hora como seres divinos (antiguidade), hora como possuídos (queimados na
época das cruzadas). Estes relatos devem ser feitos para que se tenha notícia de que,
o tratamento do usuário de drogas, assimilado ao tratamento dos “loucos”
(portadores de transtorno mental), por muito tempo foi feito com o uso de “camisas
de força”, “quartos fortes”, “prisões acolchoadas” etc. Na verdade, usuários de
drogas, vistos como rejeitados pela sociedade, foram (e em alguns lugares ainda são)
enviados para os manicômios, local onde eram tratados com choques, a custa de
privações, por tortura e outros mecanismos cruéis. O uso da droga e a dependência
química tem sido tratada por muitos dos “Senhores do Estado” como um problema
de “falta de vergonha”, quando não é assim.
No Brasil, a notícia do primeiro manicômio data de 1841,
situava-se na Cidade do Rio de Janeiro, e era um abrigo temporário. Posteriormente
foram se abrindo Unidades de Atendimento nos moldes asilares, com a função de
isolar estes transtornados” do meio social. Goiânia não fugiu a regra, seguiu o
modelo então vigente, local muito conhecido e repudiado, a casa denominada
ADALTO BOTELHO, nome do Psiquiatra Diretor do Serviço Nacional de Doenças
Mentais, criado por Getúlio Vargas, moderno quando foi criado, foi palco de
inúmeras atrocidades contra pessoa humana.
No filme o “Bicho de Sete Cabeças” está claramente retratado o
tratamento dado aos usuários de drogas nos manicômios brasileiros.
“O filme Bicho de Sete Cabeças apresentou-se muito interessante,
porém duro, chocante e cruel, poderíamos até classificá-lo como
um documentário sobre um assunto ainda muito pouco discutido
em nosso país, pois discute a vida de um jovem internado em um
hospital psiquiátrico para tratamento de dependência de drogas. É
um filme duro porque apresenta a realidade dos hospícios
manicomiais; chocante porque quem o assiste sofre com o
12
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
impacto da medicina manicomial, e cruel porque mostra, em
nome de um tratamento psiquiátrico, cenas de violência
desumana sem alegorias ou metáforas como o homem pode ser o
lobo do homem.”3
Todos, indignados com a forma como eram tratados os
possuidores de transtorno mental4, uniram-se, em uma nova “guerra”, denominada
“Movimento Antimanicomial”, que teve no Brasil seu triunfo com a Lei 10.216/2001,
conhecida como lei de Reforma Psiquiátrica, dando origem a uma mudança no
modelo de Atenção à Saúde Mental, transferindo o foco do atendimento do então
arcaico e condenado modelo manicomial (tratamento “hospitalar”), para uma Rede
de Atenção Psicossocial estruturada em serviços de atenção comunitários
(ambulatoriais preferencialmente) e abertos.
Com a reforma psiquiátrica surgiram os CAPS, Unidades de
Atendimento psiquiátrico, comunitários e abertos (ambulatoriais), que tem suas
ações voltadas para atenção a problemas mentais. Sendo assim, e visando
especializar o atendimento aos portadores de transtorno mental, foram surgindo
sub-espécies de CAPS, ou seja, Unidades destinadas aos portadores de transtorno
mental, Usuários de drogas adultos, usuários de drogas crianças e adolescentes etc.
Dando continuidade a determinação legal (Lei 10.216/01), os
CAPS passaram também a ser aperfeiçoados, sendo que inicialmente o atendimento
era feito apenas no período diurno, e passou a ser feito em período integral, inclusive
no plantão. Inicialmente o atendimento tinha como referência apenas o sujeito
usuário de drogas, e passou a referenciação ser de todo núcleo social em que está
inserido o usuário de drogas. Desta forma, chegamos a PORTARIA 2841/20105
(anexa), que regulamentou especificamente o CAPS AD III (destinado ao
atendimento e tratamento de crianças e adolescentes usuários de álcool e drogas).
3 - Antônio Alípio de Souza Assumpção, Sinopse do Filme “Bicho de Sete Cabeças” - 27/06/2009, fonte internet – consulta “Manicômio como tratamento para drogas.”4 - Este termo é utilizado pela Lei 10.216/01, como gênero da expressão enfermidade mental.5 - Portaria n.º 2841, de 20 de setembro de 2010, do Gabinete do Ministério da Saúde.
13
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
Esta portaria, é uma verdadeira evolução no tratamento aos
usuários e dependentes de álcool e drogas, posto inicialmente que o tratamento ao
usuário deve ser proporcionado 24 horas por dia, todos os dias da semana. Limita a
capacidade de atendimento dos CAPS, e delimita o coeficiente populacional para
cada qual deva concorrer um CAPS.
Apesar da reforma psiquiátrica priorizar o atendimento em
Unidades de porta aberta, não ficou excluído o atendimento em Unidades
Hospitalares, entretanto, não em regime asilar, mas aderida e agregada, a
comunidade, que deverá ter participação ativa na atenção e tratamento aos usuários.
Sendo assim, não está excluído o atendimento hospitalar, apenas deixou de ser a
única referência existente e permitida, como acontecia antes da LEI
ANTIMANICOMIAL – REFORMA PSIQUIÁTRICA.
Temos assistido a não poucos casos de pais que amarram os
filhos como a última alternativa para o tratamento de seus filhos usuários ou
dependentes de drogas. Estes casos devem ser vistos muito como desesperos, mas
também devem servir de alerta a sociedade e ESTADO para que este passo, “a camisa
de força das amarras” seja apenas o ponto de partida para o atendimento e
tratamento do drogado. Que amarrar os filhos não seja o tratamento, mas um passo e
alerta em direção dele, o tratamento e cura de CRIANÇAS e ADOLESCENTES
usuários ou dependentes de drogas.
Goiânia aderiu ao atendimento psicossocial (CAPS), quer para o
tratamento do portador de transtorno mental, quer para o usuário e dependente de
álcool e drogas, entretanto nesta capital existem apenas dois (02) CAPS para o
atendimento aos usuários e dependentes de drogas, quais sejam, o CAPS CASA –
para atendimento ao público adulto e CAPS GIRASSOL – para atendimento a
crianças e adolescentes.
14
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
III – O USUÁRIO e DEPENDENTE DE ÁLCOOL E DROGAS
Muito se tem dito sobre drogas, que são o “demônio” da
adolescência, que tem sido a causa da onda de violência que a sociedade vive. Fala-se
muito do CRACK, da MACONHA, da COCAÍNA, do OXI, do ÁLCOOL, como se estes
fossem o grande problema a ser enfrentado pelas autoridades públicas.
A bem da verdade, a luta contra as “drogas” está sendo perdida
em razão de que, “onde existe demanda, certamente haverá o fornecedor do
produto”, ou seja, “onde há usuário, certamente haverá a droga”. Isto tem levado as
pessoas que enfrentam o problema do uso de drogas a “coisificar” o usuário. O
usuário não é visto como ser humano, mas sim como uma coisa, como droga, como
crack, cocaína, maconha, oxi, álcool e outros, quando isto não deveria ocorrer.
Em recente palestra no MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO
DE GOIÁS, onde o palestrante foi o Pós-Doutor ANTÔNIO NERY ALVES FILHO,
cujo tema foi “A DEMONIZAÇÃO DO CRACK”, um servidor que atende junto ao
WASSILY CHUC, informou publicamente, e isso não foi contestado em qualquer
momento pelas autoridades municipais presentes, que o número de “dependentes”
em GOIÂNIA, ali cadastrados é de 600 (seiscentas) pessoas. A pergunta que se faz é:
SÃO SOMENTE 600 OS USUÁRIOS E DEPENDENTES QUÍMICOS (ÁLCOOL E
DROGAS) NESTA CAPITAL?
Certamente aqueles que mantem contato próximo com as
pessoas que estão envolvidas com drogas, quer atendendo em UNIDADES DE
SAÚDE, UNIDADES DE EDUCAÇÃO, UNIDADES SOCIAIS, POLÍCIA,
MINISTÉRIO PÚBLICO, etc., tem conhecimento de que o número de dependentes
químicos nesta capital é bem maior, isto a olhos vistos. Infelizmente não existe
qualquer pesquisa em GOIÂNIA – GO., sobre o número de dependentes químicos e
onde estão prioritariamente localizados. Não existe este estudo por parte do PODER
PÚBLICO ou por qualquer ENTIDADE PRIVADA, seja ela de finalidade lucrativa ou
15
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
filantrópica.
Sendo assim, o número através do qual devemos partir é esta
informação, extra-oficial partida de um funcionário do WASSILY CHUC - “porta de
entrada” para o atendimento em regime de internação nesta capital. Entretanto a
pergunta que se faz., novamente é: Porque este número é tão reduzido? E a resposta
é muito simples. Ao PODER PÚBLICO não importa identificar todos os dependentes
químicos, até porque este necessitam de atendimento. Identificados, torna-se
obrigação do PODER PÚBLICO tratá-los. E mais, a demanda apresentada, 600
pessoas, certamente é uma demanda voluntária, ou seja, aqueles que procuraram a
UNIDADE DE ATENDIMENTO para que se submeterem ao tratamento, o que torna
ainda mais defasado este número.
O uso de drogas ainda é estigmatizado, o usuário é visto como
pessoa que trafega pelo sub mundo do crime, pessoa de quem se deve manter
distância, perigosa. Normalmente aquele usuário de drogas, e muito mais o
dependente químico, é visto como criminoso e delinquente. Sendo assim, ninguém se
apresenta dizendo “sou dependente químico” ou “usuário de drogas”. Normalmente
mantém, em razão do supra mencionado, isto escondido a sete chaves, muitas vezes
quando indagado, negam o envolvimento.
Outro problema é que, o envolvimento com drogas, quer como
usuário,quer como dependente acarreta euforia, desejo de continuar usando, o que
afasta esta pessoa do tratamento. Normalmente o ser humano sente-se super
homem, nada o atinge, e sendo assim, as drogas também não. Diversos são os
adolescentes atendidos em oitiva informal, que confessam serem usuários de drogas,
mas dispensam o atendimento e tratamento médico alegando que conseguem deixar
as drogas por conta própria, retornando ao mundo do uso de drogas, chafurdando-se
ainda mais neste mundo e agravando a dependência e suas consequências.
É essencial prestar informações à população, informação clara ao
16
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
jovem, seus familiares, escolares para que possam enfrentar o problema. É essencial
que seja dada informação e atendimento ao usuário e seus familiares, possibilitando
o tratamento de todos.
Outra questão importante e interessante é o PODER PÚBLICO
identificar apenas o DEPENDENTE como carecedor de tratamento. O usuário,
enquanto está nesta fase, prefacial a dependência, não merece o amparo(tratamento)
e portanto caminha para a dependência, tornando o atendimento e tratamento mais
difícil. Partindo disto, o que? de quem tanto o dependente, quanto o usuário merece
e deve ter a atenção e tratamento, chegamos a um número elevadíssimo, que não é
visto como sujeito a merecer um olhar médico do ESTADO.
Visando aproximar o atendimento e o tratamento dos usuários e
dependentes químicos, essencial que os CAPS sejam territorializados, sejam levados
para o mais próximo possível do meio social da pessoa, o mais próximo possível do
familiar, do amigo, do ambiente do usuário ou dependente. A proximidade permitirá
com certeza um maior conhecimento do problema, do usuário, de seus familiares e
meio social, possibilitando um atendimento adequado e eficiente.
“A droga existe por causa do toxicômano, não o toxicômano por
causa da droga.” Sendo assim, atento a lei da oferta e da procura, enquanto houver
usuários de drogas, haverá traficante de drogas. Sendo assim, necessário acabar com
este círculo vicioso, em que prende-se 10(dez) traficantes e, aparecem 20(vinte) no
lugar destes presos. Necessário acabar, ou pelo menos, dificultar o mercado para o
traficante, tratando os usuários e dependentes, dando informações ao não usuários e
sociedade, para que o enfrentamento se dê, de forma consciente, para que o uso seja
evitado pelo conhecimento das consequências.
III – LEGITIMIDADE
17
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
Com a Constituição Federal de 1988, o Ministério Público mudou
seu perfil institucional. De mero acusador no processo penal, passou a ter
legitimidade para defender interesses os mais diversos, tornando-se verdadeiro
defensor da sociedade. Na visão de Hugo Nigro Mazzilli, passou a ser orgão de
ESTADO, e não de GOVERNO.
“O Ministério Público é um órgão do Estado (não do governo),
dotado de especiais garantias, ao qual a Constituição e as lei
comentem algumas funções ativas ou interventivas, em juízo ou
fora dele, para a defesa de interesses da coletividade,
principalmente os indisponíveis e os de larga abrangência social.”6
Esta foi a determinação da Constituição Federal de 1988, em seu
artigo 127, quando determinou:
“Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial
à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e
individuais indisponíveis.”
Definindo atribuições, assim disse no artigo 129 da Constituição
Federal.
“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: III -
promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção
do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros
interesses difusos e coletivos;”
A legislação ordinária, visando regulamentar a Constituição
Federal estabeleceu, e ainda estabelece, quais interesses coletivos ou difusos podem
6 - Regime Jurídico do Ministério Público, Hugo Nigro Mazzilli, Editora Saraíva, pág. 2.
18
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
ser defendidos pelo Ministério Público. Assim, a Lei Orgânica Nacional do Ministério
Público acresceu, melhor, descreveu alguns destes interesses e direitos.
“Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal e
Estadual, na Lei Orgânica e em outras leis, incumbe, ainda, ao
Ministério Público: IV - promover o inquérito civil e a ação civil
pública, na forma da lei: a) para a proteção, prevenção e
reparação dos danos causados ao meio ambiente, ao consumidor,
aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico, e a outros interesses difusos, coletivos e individuais
indisponíveis e homogêneos; b) para a anulação ou declaração de
nulidade de atos lesivos ao patrimônio público ou à moralidade
administrativa do Estado ou de Município, de suas administrações
indiretas ou fundacionais ou de entidades privadas de que
participem;”
A par destas especificação constante da Lei Orgânica, a legislação
esparsa passou a definir também o Ministério Público como defensor de
determinados interesses. Foi assim como o Estatuto do Idoso, Estatuto da Criança e
do Adolescente, Lei Maria da Penha, Pessoas Portadoras de Deficiência7, dentre
outras.
Nos apegaremos neste momento ao ESTATUTO DA CRIANÇA E
DO ADOLESCENTE.
Em seu artigo 201, assim diz:
“Art. 201. Compete ao Ministério Público: V - promover o
inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos interesses
individuais, difusos ou coletivos relativos à infância e à
7 - Lei 10.741/03 (Estatuto do Idoso); Lei 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente); Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha); 7.853/89 (Lei dos Portadores de Deficiência).
19
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
adolescência, inclusive os definidos no art. 220, § 3º inciso II, da
Constituição Federal; VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos
e garantias legais assegurados às crianças e adolescentes,
promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;
Diz ainda:
”Art. 210. Para as ações cíveis fundadas em interesses coletivos ou
difusos, consideram-se legitimados concorrentemente: I - o
Ministério Público;”
Não resta dúvida que para a defesa dos interesses e direitos de
crianças e adolescente, o Ministério Público tem legitimidade ativa, ou seja,
capacidade processual para propor, acompanhar e executar as sentenças prolatadas
em interesse desta parcela da sociedade.
Vale ressaltar que, para o exercício de mencionada defesa, o
Ministério Público poderá fazer uso de qualquer tipo de ação, previsão aliás contante
do artigo 212 do mesmo diploma.
“Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegidos por esta
Lei, são admissíveis todas as espécies de ações pertinentes.”
Aliás, previsão legislativa óbvia, até porque não adianta eleger o
Ministério Público defensor dos direitos de crianças e adolescentes, se não dotar este
de mecanismos para o exercício desta defesa, quer judicial ou extrajudicialmente.
Vale lembrar que os interesses e direitos aqui pleiteados, quais seja, criação,
instalação, funcionamento e manutenção de CAPS AD III, voltado para o
atendimento a CRIANÇAS E ADOLESCENTES em todos os distritos sanitários desta
capital, é difuso, até porque, hoje o próprio PODER PÚBLICO, PREFEITURA DE
GOIÂNIA, não consegue mensurar quantos e onde estão estes usuários.
20
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
Assim diz o artigo 208, VII do Estatuto da Criança e do
Adolescente:
“Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de
responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à criança e
ao adolescente, referentes ao não oferecimento ou oferta
irregular: VII - de acesso às ações e serviços de saúde;”
Assim diz o Supremo Tribunal Federal:
“RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS. CONSTITUCIONAL E
PROCESSO CIVIL. 1) MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE
PARA O AJUIZAMENTO DE AÇÃO QUE VISE À TUTELA DE
DIREITO INDIVIDUAL INDISPONÍVEL. PRECEDENTES.
RECURSO ESPECIAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL
PROVIDO. PERDA SUPERVENIENTE DE OBJETO. 2) AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. SAÚDE. DEFESA DE DIREITOS SOCIAIS E
INDIVIDUAIS INDISPONÍVEIS. PRECEDENTES. RECURSO DO
ESTADO AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO.” STF, Recurso
Extraordinário 648410/Distrito Federal, Relatora Ministra CARMEM
LÚCIA, EM 15/08/2011.
Sendo assim, não paira qualquer dúvida sobre a legitimidade do
Ministério Público.
IV - COMPETÊNCIA
Mesmo sendo sujeito passivo da ação a PREFEITURA
MUNICIPAL DE GOIÂNIA, esta ação não se processa na fazenda pública municipal,
mas sim, no JUIZADO DA INFÂNCIA E JUVENTUDE, por determinação legal, e
21
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
mais, por definição de competência em razão da matéria.
Assim diz o artigo 148 do Estatuto da Criança e do Adolescente:
“Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente para:
IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais,
difusos ou coletivos afetos à criança e ao adolescente, observado o
disposto no art. 209;”
A competência como dito é absoluta, em razão da matéria, e
somente cede a competência da Justiça Federal. No mais, o foro competência é o do
local onde deva ocorrer a ação ou omissão, ou seja, a JUSTIÇA DA INFÂNCIA E
JUVENTUDE da COMARCA DE GOIÂNIA.
“Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no
foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação ou omissão,
cujo juízo terá competência absoluta para processar a causa,
ressalvadas a competência da Justiça Federal e a competência
originária dos tribunais superiores.”
Nestes termos, não existe dúvida sobre a competência da
JUSTIÇA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE para conhecer, processar e julgar o
presente pedido.
III – LEGISLAÇÃO – GARANTIA DOS DIREITOS
A Constituição Federal de 1988 estabelece como sendo um dos
fundamentos do ESTADO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO a DIGNIDADE DA
PESSOA HUMANA.
“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se
22
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a
dignidade da pessoa humana;”
Este fundamento garante que, nas ações do ESTADO, essencial
que sejam garantidos aos brasileiro dignidade, essencial que seja garantido meios
para o exercício dos direitos fundamentais e sociais. Ao ESTADO cumpre garantir a
pessoa condições para que exerça na plenitude direitos a vida, saúde, liberdade,
educação, etc. Este conceito é absoluto, não pode portanto sofrer qualquer
interpretação que lhe macule, lhe diminua o alcance.
Ao erigir a DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA como
fundamento do ESTADO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO, quis o legislador
constituinte dizer que, o ESTADO BRASILEIRO existe em função das pessoas, não o
contrário. Este fundamento deve ser o norte de toda interpretação das normas legais,
sejam normas constitucionais, sejam portarias, decretos e resoluções. Toda lei tem
como principal norte de interpretação a pessoa humana, e seu viver com dignidade.
“A dignidade é um valor espiritual e moral inerente à pessoa
humana, que se manifesta singularmente, a autodeterminação
consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a
pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-
se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve
assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam ser
feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas
sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas
as pessoas enquanto seres humanos.”8
Posto isto, concluí-se que ao usuário e dependente de álcool e
droga é obrigatório a observância ao princípio da dignidade da pessoa humana. Este
tratamento digno, se dá obrigatoriamente nos CAPS AD III, como determina a
8 - Moraes, Alexandre de. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas, 2005, p. 48.
23
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
legislação, conforme será visto adiante.
A Constituição Federal elegeu a categoria de direitos
fundamentais a vida, saúde, liberdade, educação, segurança, etc. Estão estes direitos
previstos tanto no artigo 5º, como no 6º9. Assim a previsão legal é:
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:”
“Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o
trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição."
Visando dar concretude e ditar ao ESTADO quais suas
obrigações, a Constituição Federal determina ser a SAÚDE direito de todos e dever
do ESTADO.
“Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do
risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação.”
Por políticas sociais, entende-se como aqueles destinadas a
impedir o adoecimento das pessoas, quer através de informações, quer através de
investimentos em ações que por si só acarretarão diminuição destes agravos da
saúde. Assim, prestar a informação as pessoas dos malefícios físicos, psíquicos,
9 - Este vistos e denominados como direitos fundamentais de 2ª geração. São denominados pela Constituição Federal de direitos fundamentais sociais. Estes, consistem tanto em direito do cidadão, como em dever de prestação do Estado.
24
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
morais e sociais em razão do uso de drogas é uma política social, assim como, a
implantação de programas de redução de danos como fornecimento de seringas
descartáveis aos usuários, pode ser visto como uma política social que vise evitar que,
através do compartilhamento deste produto haja contaminação de doenças como
AIDS e HEPATITE.
A par desta obrigação de política social, é também obrigação do
poder público investimento em ações de promoção, proteção e RECUPERAÇÃO da
saúde. Estas ações devem ser universais e o acesso deverá ser igualitário. Sendo
assim, todos devem ter direito ao CAPS AD III como forma de tratamento contra o
uso de drogas, bem como que este acesso deverá ser igual para todos, não é
permitido seja este ou aquele privilegiado quanto ao atendimento e tratamento.
Os direitos fundamentais devem ser exercidos por todos, sendo
assim, quando se reclama a prestação positiva do ESTADO a direito fundamental
social, na verdade não se está defendendo o direito a IGUALDADE, ou seja,
tratamento igual a todos, mas sim garantindo o direito a diversidade, com propósito
compensatório. É que, aquele que faz jus ao tratamento contra drogadição (DIREITO
À VIDA e À SAÚDE), está em busca de uma compensação em razão da posição de
desigualdade em que se encontra frente àqueles que não necessitam exercitar este
direito.
“...os direitos sociais não configuram um direito de igualdade,
baseado em regras de julgamento que implicam um tratamento
uniforme: são, isto sim, um direito das preferências e das
desigualdades, ou seja, um direito discriminatório com propósitos
compensatórios.”10
A criança e o adolescente são vistos pela Constituição Federal
como prioridade absoluta, competindo a família, sociedade e ESTADO garantir
aos mesmos, proteção a seus interesses e direitos.
10 - José E. Fária, Direitos Humanos, Direitos Sociais e Justiça, p. 105.
25
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
“Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à
criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade
e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo
de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão."
Tal comando constitucional não encontra precedente na
Constituição, sendo certo que, tal garantia de tratamento prioritário, determinado,
não fica como norma programática, mas sim como norma de eficácia imediata,
cumprindo a todos aqueles comandados, quais seja, FAMÍLIA, SOCIEDADE e
ESTADO, envidar todos os esforços para garantir o direito a vida, à saúde, à
dignidade, ao respeito e a liberdade, devendo o MUNICÍPIO DE GOIÂNIA orientar
todos os esforços para salva-lo de toda forma de negligência, violência, crueldade e
opressão.
É claro que, algumas das ações merecem tempo para serem
levadas a efeito, entretanto, como ficou garantido a CRIANÇA e ao ADOLESCENTE
prioridade absoluta, certo é que, a ação do ESTADO (UNIÃO, ESTADOS e
MUNICÍPIOS) devem dirigir-se inicialmente a assegurar o exercício pleno dos
direitos fundamentais garantidos, sendo assim, já se vai 23(vinte e três) anos da
promulgação da CONSTITUIÇÃO CIDADÃ, sem que fossem garantido o exercício da
PRIORIDADE ABSOLUTA determinada. Já se vai tempo demais para o
cumprimento pelos governantes do comando constitucional, não competindo mais
aguardar o tempo para a concretização do comando da carta magna.
Dentro do comando constituicional de observãncia como prioridade
absoluta os direitos fundamentais de crianças e adolescentes, a própria Constituição elege a
proteção especial a prevenção e o tratamento contra drogadição de crianças e adolescentes:
26
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
"art. 227, § 3º - O direito a proteção especial abrangerá os
seguintes aspectos: VII - programas de prevenção e atendimento
especializado à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de
entorpecentes e drogas afins."
Visando regulamentar todos os dispositivos supra mencionados,
garantindo a PRIORIDADE ABSOLUTA determinada pela CONSTITUIÇÃO
FEDERAL, em 1990, o ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE foi
promulgado. Lei inovadora, coerente com o comando constitucional, adotou no
BRASIL a doutrina da PROTEÇÃO INTEGRAL.
"O Estatuto tem por objetivo a proteção integral da criança e do
adolescente, de tal forma que cada brasileiro que nasce possa ter
assegurado seu pleno desenvolvimento, desde as exigências
frísicas até o aprimoramento moral e religioso. Este Estatuto será
semente de transformação do País. Sua aplicação significa o
compromisso de que, quanto antes, não deverá haver mais no
Brasil vidas ceifadas no seio materno, crianças sem afeto,
abandonadas, desnutridas, perdidas pelas ruas, gravemente
lesadas em sua saúde e educação." 11
Com a doutrina da proteção integral, todos, família, sociedade e Estado
tem o dever de garantir interesses e direitos de crianças e adolescentes, com prioridade
absoluta, sobre os demais segmentos da sociedade. Regulamentando isto, o Estatuto da
Criança e do Adolescente determinou no artigo 3º.
"Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da
proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por
lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a
11 - Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado – Comentários Jurídicos e Sociais, Coordenador Munir Cury, por ANTÔNIO FERNANDO DO AMARAL E SILVA e MUNIR CURY, pág. 19.
27
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade."
"Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder
público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária."
Percebe-se pela leitura dos dispositivos que a proteção integral,
tem íntima relação com a PRIORIDADE ABSOLUTA (comando constitucional). Que
os direitos fundamentais previstos no artigo 5º e 6º da Constituição, repetidos no
artigo 227 da mesma, são novamente elencados nos artigos 3º e 4º do Estatuto da
Criança e do Adolescente. Sendo assim, a proteção integral
"A segunda regra reforça a primeira, no sentido de que o
legislador afirma a plena compatibilidade entre a titularidade dos
direitos fundamentais e a proteção integral. Deve-se entender a
proteção integral como o conjunto de direitos que são próprios
apenas dos cidadãos imaturos; estes direitos, diferentemente
daqueles fundamentais reconhecidos a todos os cidadãos,
concretizam-se em pretenções nem tanto em relação a um
comportamento negativo (abster-se da violação daqueles direitos)
quantoa um compormento positivo por parte da autoridade
pública e dos outros cidadãos, de regra dos adultos encarregados
de assegurar esta proteção especial. Em força da proteção inegral,
crianças e adolestentes têm o direito de que os adultos façam
coisas em favor deles." 12
O legislador previu mais, ou seja, visando garantir a efetiva prioridade
absoluta (PROTEÇÃO INTEGRAL), criou mecanismos que efetivamente condicionem, 12 - Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado – Comentários Jurídicos e Sociais, Coordenador Munir Cury, por ROBERTO BARBOSA ALVES, pág. 36.
28
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
conduzam ao exercício desta prioridade, especialmente pelo PODER PÚBLICO. Assim, o
artigo 4º, em seu parágrafo único, determinou como isto se dará. Portanto, na primazia de
receber proteção e socorro, na precedência de atendimento nos serviços públicos ou de
relevância pública, preferência na formulação e execução de políticas públicas e sociais e
destinação privilegiada dos recursos públicos.
Nos ateremos aos dois últimos, preferência na formulação e
execução de políticas públicas e destinação privilágiada dos recursos públicos.
III.1 – PREFERÊNCIA NA FORMULAÇÃO E EXECUÇÃO DE POLÍTICAS
PÚBLICAS
Política pública é uma ação de GOVERNO destinada a amparar a
toda sociedade, ou, parte substancial desta sociedade visando garantir acesso a
direitos e diminuir as desigualdades. Na verdade, está é a visão utópica do conceito
(execução) de política pública, onde as ações de GOVERNO (ESTADO) estão voltadas
a consecução do bem comum, garantindo acesso a direitos fundamentais.
O que se tem observado infelizmente hoje em dia é o contrário, a
POLÍTICA PÚBLICA está voltada para a manutenção no poder, como objeto de
propaganda visando a perpetuação no cargo ou na lembrança da população. Em um
país onde a corrupção assola de cima a baixo (do executivo federal ao municipal),
falar em ações voltadas para a sociedade, o bem comum (em sentido puro) é raro,
não acontece.
“Política pública, assim, pode ser considerada como resultado de
uma atividade de autoridade regularmente investida de poder
público e de legitimidade governamental, ou como um conjunto de
práticas e normas que emanam de um ou de vários atores
públicos. Ao mesmo tempo, pode ser uma decisão política, um
programa de ação, os métodos e meios apropriados ou uma
29
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
mobilização de atores e de instituição para a consecução de
objetivos mais ou menos definidos. Do ponto de vista da sociologia
e da ciência política, pode-se afirmar que política pública,
enquanto atividade do poder público, apresenta algumas
características principais: conteúdo, programa, orientação
normativa, fator de coerção e competência social. O conteúdo
resulta de um processo de ação e trabalho para a produção de
resultados ou produtos (outcomes); o programa pode ser definido
como um marco geral, em torno do qual realizam-se os atos ou
atividades para a efetivação dos objetivos; por orientação
normativa pode-se compreender a expressão das finalidades e
preferências que serão assumidas por quem decide; de forma
voluntária ou impelido por determinadas circunstâncias; como
fator de coerção, pode-se entender que o agente governamental
que determina a política pública tem legitimidade de autoridade
legal e exerce uma coerção apoiada no monopólio da força, para
impor a atividade sobre a vontade dos particulares; a competência
social implica um âmbito de aplicação das atividades públicas,
representadas, entre outras, pelos atos ou disposições envolvidos,
os interesses e os comportamentos das coletividades às quais se
destinam.”13
Definição perfeita é a feita por MARIA PAULA DALLARI BUCCI,
em seu livro Direito Administrativo e Políticas Públicas, Editora Saraíva, pág. 252,
258/259, ano 2002.
“.... conjunto de processo que culmina com a escolha racional e
coletiva de prioridades para a definição dos interesses públicos
reconhecidos pelo Direitos.”
13 - Discricionariedade em Políticas Públicas, Maria Goretti Dal Bosco, Juruá, Pág. 245/246.
30
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
Quando o legislador do Estatuto da Criança e do Adolescente
mencionou “prioridade na formulação de políticas públicas”, quis determinar ao
PODER PÚBLICO que, quando da elaboração dos objetivos do ESTADO, das metas
de cada GOVERNO, deverá ter por início de suas avaliações as ações voltadas para
CRIANÇAS e ADOLESCENTES. Assim, na sociedade moderna, o ser humano dispõe
de muitas necessidades visando um pleno exercício da vida, nestes termos, impõe-se
ao homem moderno a educação, a saúde, a vida, a segurança, a habitação, a
profissionalização, etc.
Nesta esteira, ao administrador, atento ao determinado na
Constituição Federal e Estatuto da Criança e do Adolescente, quando elabora plano
de governo, plano de ação, metas de atuação, levará em conta que, inicialmente
devem ser atendidas as necessidades desta parcela da sociedade com PRIORIDADE
ABSOLUTA. Um bom administrador ao iniciar suas ações fara ver quais as principais
necessidades e investirá nelas visando a solução, ou pelo menos, nesta linha de
direção.
A criança e o adolescente usuários ou dependentes de álcool e
drogas certamente estão impedidos de exercício de seus direitos fundamentais, quer
com relação a saúde, a vida, quer com relação a convivência familiar e comunitária.
Compete portanto ao PODER PÚBLICO criar mecanismos para que haja o
tratamento destas de tal forma que possam exercer os direitos fundamentais na
plenitude.
“Penso, outrossim, que aqui reside o centro da idéia de proteção
integral aos direitos fundamentais de crianças e adolescentes.
Esse núcleo é a noção de que sem a efetivação dos chamados
“direitos sociais” de crianças e adolescentes – especialmente
educação, saúde, profissionalização, direito não-trabalho no seu
particular imbricamento com direito à alimentação – não se
logrará material proteção a seus direitos fundamentais. Daí deriva
31
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
que sem a implementação de políticas públicas que assegurem a
efetivação desses direitos, não se alcançará a proteção integral da
criança e da juventude.”14
Nestes termos, necessário que a PREFEITURA DE GOIÂNIA,
estabeleça política pública de atendimento a crianças e adolescentes usuários ou
dependentes de álcool e drogas. Como já aderiu a POLÍTICA NACIONAL
determinada pelo MINISTÉRIO DA SAÚDE, com a implantação de CAPS AD,
necessário que aumente estas unidades de atendimento, visando abrangência maior
de PACIENTES, aumentar o número de alternativas de tratamento e assim,
garantindo a possibilidade de exercício de direitos fundamentais básicos e essenciais.
III.2 – DESTINAÇÃO PRIVILEGIADA DE RECURSOS PÚBLICOS x
RESERVA DO POSSÍVEL
Para a execução de qualquer política pública, é necessário que
hajam recursos. Pensando nisto o legislador determinou no artigo 4º, parágrafo
único do Estatuto da Criança e do Adolescente:
“Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral
e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a
efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade
compreende: d) destinação privilegiada de recursos públicos nas
áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.”
Sendo assim deverá o gestor público, priorizar a CRIANÇA e o
ADOLESCENTE na formulação de políticas públicas sociais. E mais, deverá, visando
a implementação desta política pública destinar recursos prioritariamente
14 - A Proteção Constitucional de Crianças e Adolescentes e os Direitos Humanos, Martha de Toledo Machado, Manole, pág. 136/137.
32
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
(PRIVILEGIADAMENTE).
Não podemos tolerar sejam investidos dinheiro em propaganda
institucional, construção de parques de diversões (embora voltado para crianças e
adolescentes, não se trata de obra prioritária), enquanto para CRIANÇAS e
ADOLESCENTES, usuários ou dependentes químicos não haja recurso público.
“Essa exigência legal é bem ampla e se impõe a todos os órgãos
públicos competentes para legislar sobre a matéria, estabelecer
regulamentos, exercer controle ou prestar serviços de qualquer
espécie para promoção dos interesses e direitos de crianças e
adolescentes. A partir da elaboração e votação dos projetos de lei
orçamentária já estará presente essa exigência. Assim, também, a
tradicional desculpa de “falta de verba” para a criação e
manutenção de serviços não poderá mais ser invocada com muita
facilidade quando se tratar de atividade ligada, de alguma forma, a
crianças e adolescentes. Os responsáveis pelo órgão público
questionado deverão comprovar que, na destinação dos recursos
disponíveis, ainda que sejam poucos, foi observada a prioridade
exigida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.”15
O PODER PÚBLICO tem com frequência utilizado o argumento
da RESERVA DO POSSÍVEL16, que entre outras palavras quer dizer, o dinheiro é
pouco e não é possível fazer isto ou aquilo, sem comprometer a administração
pública financeiramente. Assim, apesar da plausibilidade dos pedidos apresentados
em ações civis públicas, mandados de segurança contra a administração pública, seja
ela MUNICIPAL, ESTADUAL ou FEDERAL, está tem sempre dito que os recursos
15 - Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado, Comentários Jurídicos e Sociais, Coordenador Munir Curi, por JOÃO GILBERTO LUCAS COELHO, pág. 47.16 - Inicialmente adotado pela JUSTIÇA ALEMÃ, quanto a alunos que preiteavam vagas em Universidades Públicas e viram-se tolidos em seu direito, em razão de lei editada em 1960, que limitava o número de vagas. O Tribunal Alemão decidiu que cumpria ao estudantes aguardar, razoavelmente, a ação do Poder Público, visando a universalização do acesso. Sendo assim, a reserva do possível prendeu-se não só a recursos financeiros, mas também a razoabilidade do pedido e sua execução. Trazida para o Brasil, o tema foi mitigado, e assim pautou-se na RESERVA FINANCEIRA DO POSSÍVEL, que é a tratada neste tema, até porque, provado no item anterior que a POLITICA PÚBLICA SOCIAL REQUERIDA é necessária e não tolera mitigação administrativa.
33
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
públicos são FINITOS, estão comprometidos e não existe possibilidade de realizar a
política pleiteada por falta de DINHEIRO.
Este argumento caí por terra ante o disposto no artigo 4º,
parágrafo único, alínea “d” do Estatuto da Criança e do Adolescente, bem como pela
utilização clara de recursos públicos em temas não prioritários como informado
acima.
A PREFEITURA MUNICIPAL recebeu do MINISTÉRIO
PÚBLICO minuta de TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA visando a solução
do problema, qual seja, a construção no prazo de até trinta e seis (36) meses, seis
(06) UNIDADES DE CAPS AD III, nesta capital, um em cada distrito sanitário,
conforme documento de fls. 697 a 707, e respondeu, como apresentado no relatório,
que não dispunha de recursos públicos, disse:
“.... De outro lado, a construção de CAPS AD III, na forma proposta pelo
presente TAC, está além das capacidades operativas desta Secretaria
(previsão orçamentária prazo para licitação, etc). Ademais não comungamos
da ideia de que a construção de tantas Unidades desta natureza no Município
de Goiânia, neste momento, irá consolidar a melhora da eficiência e
qualidade deste atendimento.” pág. 715.
Os argumentos poderiam até ser aceitos, acaso a PREFEITURA
MUNICIPAL apresentasse uma alternativa de qualidade e em quantidade para o
caso, e mais, não tivesse logo após apresentado projeto de CONSTRUÇÃO DO
PARQUE MUTIRAMA, com gastos MUNICIPAIS na soma de R$ 25.000.000,00
(vinte e cinco milhões de reais), conforme faz prova reportagem constante do SITIO
da PREFEITURA DE GOIÂNIA, anexa aos autos, onde consta declaração do
SENHOR PREFEITO MUNICIPAL.
E mais, a PORTARIA n.º 2841/2010 do Ministério da Saúde, ao
34
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
tratar do assunto estabelece que, através de convênio firmado entre o MUNICÍPIO e
a UNIÃO – via MINISTÉRIO DA SAÚDE, este último disporá de recursos visando
auxiliar na implantação das unidades.
“Art. 2º Estabelecer Incentivo Financeiro para Implantação de
CAPS AD III nas modalidades e valores a seguir descritos: I -
implantação de novo CAPS AD III - R$ 150.000,00 (cento e
cinquenta mil reais); e II - implantação de CAPS AD III mediante
adaptação de CAPS AD II pré-existente para a realização das
novas atividades - R$ 100.000,00 (cem mil reais). § 1º Os
incentivos serão transferidos em parcela única, aos respectivos
fundos de saúde dos Estados, dos Municípios e do Distrito
Federal, sem onerar os respectivos tetos da assistência de média e
alta complexidade, observadas as diretrizes constantes desta
Portaria. § 2º Os incentivos repassados deverão ser aplicados na
implantação dos CAPS AD III, podendo ser utilizados para
reforma predial, compra de equipamentos, aquisição de material
de consumo e/ou capacitação da equipe técnica e outros itens de
custeio. § 3º O incentivo de que trata esta Portaria destina-se a
apoiar financeiramente apenas a implantação de serviços de
natureza jurídica pública.”
Sendo assim, não cabe a rejeição apresentada pela SECRETARIA
MUNICIPAL DE SAÚDE quando a construção, implantação e funcionamento de
sistema de saúde essencial a população abrigada pela PRIORIDADE ABSOLUTA
CONSTITUCIONAL. Tem recursos próprios ou pode captar recursos junto ao
GOVERNO FEDERAL para a implantação dos CAPS AD III.
Sobre o tema assim decidiu o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
“AI 845741 / SP - SÃO PAULO/AGRAVO DE INSTRUMENTO
35
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Julgamento: 30/06/2011,
Publicação - DJe-153 DIVULG 09/08/2011 PUBLIC 10/08/2011.
Partes:
AGTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO
PAULO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DE SÃO PAULO
AGDO.(A/S) : MUNICÍPIO DE MOCOCA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO MUNICÍPIO DE
MOCOCA
Decisão
1. Trata-se de agravo de instrumento de decisão que negou
seguimento a recurso extraordinário interposto contra acórdão
que julgou improcedente ação civil pública na qual se pretende o
pronto atendimento de menor em programa destinado a crianças
e adolescentes em situação irregular (fls. 328-336). No RE, alega-
se ofensa ao art. 227 da Constituição Federal (fls. 377-391).
2. Assiste razão ao agravante. Em casos análogos ao dos autos, o
Supremo Tribunal Federal tem se posicionado no sentido de ser
permitido ao Poder Judiciário, mesmo que excepcionalmente,
determinar, especialmente nas hipóteses de políticas públicas
definidas pela própria Constituição, sejam estas implementadas,
sempre que os órgãos estatais competentes, vierem a
comprometer, com a sua omissão, a eficácia e a integridade de
direitos sociais e culturais impregnados de estatura
constitucional. Nesse sentido: AI 583.476/SC, rel. Min. Celso de
Mello, DJe 24.5.2010; e RE 556.600/SC, de minha relatoria, DJe
11.02.2011.
3. O Pleno do Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADPF
45-MC/DF, rel. Min. Celso de Mello, DJ 29.4.2004, fixou o
36
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
seguinte entendimento:
“EMENTA: ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO
FUNDAMENTAL. A QUESTÃO DA LEGITIMIDADE
CONSTITUCIONAL DO CONTROLE E DA INTERVENÇÃO DO
PODER JUDICIÁRIO EM TEMA DE IMPLEMENTAÇÃO DE
POLÍTICAS PÚBLICAS, QUANDO CONFIGURADA HIPÓTESE DE
ABUSIVIDADE GOVERNAMENTAL. DIMENSÃO POLÍTICA DA
JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL ATRIBUÍDA AO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. INOPONIBILIDADE DO ARBÍTRIO
ESTATAL À EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS SOCIAIS,
ECONÔMICOS E CULTURAIS. CARÁTER RELATIVO DA
LIBERDADE DE CONFORMAÇÃO DO LEGISLADOR.
CONSIDERAÇÕES EM TORNO DA CLÁUSULA DA "RESERVA DO
POSSÍVEL". NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO, EM FAVOR DOS
INDIVÍDUOS, DA INTEGRIDADE E DA INTANGIBILIDADE DO
NÚCLEO CONSUBSTANCIADOR DO "MÍNIMO EXISTENCIAL".
VIABILIDADE INSTRUMENTAL DA ARGÜIÇÃO DE
DESCUMPRIMENTO NO PROCESSO DE CONCRETIZAÇÃO DAS
LIBERDADES POSITIVAS (DIREITOS CONSTITUCIONAIS DE
SEGUNDA GERAÇÃO).”.
Assim, não há falar em ingerência do Poder Judiciário em questão
que envolve o poder discricionário do Poder Executivo, porquanto
se revela possível ao Judiciário determinar a implementação pelo
Estado, quando inadimplente, de políticas públicas
constitucionalmente previstas. Nesse sentido: RE 463.210-
AgR/SP, rel. Min. Carlos Velloso, 2ª Turma, DJ 03.02.2006; RE
384.201-AgR/SP, rel. Min. Marco Aurélio, 1ª Turma, DJe
03.8.2007; e, mais recentemente, RE 600.419/SP, rel. Min. Celso
de Mello, DJe 28.9.2009; RE 482.741/SC, rel Min. Eros Grau, DJe
08.02.2010; e RE 541.730/SC, de minha relatoria, DJe 26.5.2010.
4. Ante o exposto, com fundamento no art. 544, § 4º, do Código de
37
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
Processo Civil (redação anterior à Lei 12.322/2010), conheço do
agravo e, desde logo, dou provimento ao recurso extraordinário
para restabelecer a sentença proferida na primeira instância.
Publique-se. Brasília, 30 de junho de 2011.”
Em outra decisão, assim disse o mesmo TRIBUNAL.
Tomamos a liberdade de transcrever parte da mencionada decisão, até porque
representa marco importante e definitivo na garantia dos direitos de crianças e
adolescentes, frente as políticas públicas e a relutância do poder público em cumprir
sua missão constitucional. Apesar de tratar do tema EDUCAÇÃO, tem aplicação na
íntegra ao assunto discutido e apresentado nesta ação, posto que ambos são politicas
públicas essenciais e obrigatórias.
“ARE 639337 / SP - SÃO PAULO/RECURSO EXTRAORDINÁRIO
COM AGRAVO Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Julgamento:
21/06/2011, Publicação - DJe-123 DIVULG 28/06/2011 PUBLIC
29/06/2011.
Partes:
RECTE.(S) : MUNICÍPIO DE SÃO PAULO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO MUNICÍPIO DE
SÃO PAULO
RECDO.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE
SÃO PAULO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DE SÃO PAULO
INTDO.(A/S) : PROMOTOR DE JUSTIÇA DA VARA DA
INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DO FORO REGIONAL DE SANTO
AMARO
INTDO.(A/S) : A C C E OUTRO(A/S)
Decisão
38
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
EMENTA: CRIANÇA DE ATÉ CINCO ANOS DE IDADE.
ATENDIMENTO EM CRECHE E EM PRÉ-ESCOLA. SENTENÇA
QUE OBRIGA O MUNICÍPIO DE SÃO PAULO A MATRICULAR
CRIANÇAS EM UNIDADES DE ENSINO INFANTIL PRÓXIMAS DE
SUA RESIDÊNCIA OU DO ENDEREÇO DE TRABALHO DE SEUS
RESPONSÁVEIS LEGAIS, SOB PENA DE MULTA DIÁRIA POR
CRIANÇA NÃO ATENDIDA. PLENA LEGITIMIDADE DESSA
DETERMINAÇÃO JUDICIAL. INOCORRÊNCIA DE
TRANSGRESSÃO AO POSTULADO DA SEPARAÇÃO DE
PODERES. OBRIGAÇÃO ESTATAL DE RESPEITAR OS DIREITOS
DAS CRIANÇAS. EDUCAÇÃO INFANTIL. DIREITO ASSEGURADO
PELO PRÓPRIO TEXTO CONSTITUCIONAL (CF, ART. 208, IV, NA
REDAÇÃO DADA PELA EC Nº 53/2006). COMPREENSÃO
GLOBAL DO DIREITO CONSTITUCIONAL À EDUCAÇÃO. DEVER
JURÍDICO CUJA EXECUÇÃO SE IMPÕE AO PODER PÚBLICO,
NOTADAMENTE AO MUNICÍPIO (CF, ART. 211, § 2º). AGRAVO
IMPROVIDO.
….................................................................
Ao julgar a ADPF 45/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, proferi
decisão assim ementada (Informativo/STF nº 345/2004):
“ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO
FUNDAMENTAL. A QUESTÃO DA LEGITIMIDADE
CONSTITUCIONAL DO CONTROLE E DA INTERVENÇÃO DO
PODER JUDICIÁRIO EM TEMA DE IMPLEMENTAÇÃO DE
POLÍTICAS PÚBLICAS, QUANDO CONFIGURADA HIPÓTESE DE
ABUSIVIDADE GOVERNAMENTAL. DIMENSÃO POLÍTICA DA
JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL ATRIBUÍDA AO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. INOPONIBILIDADE DO ARBÍTRIO
ESTATAL À EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS SOCIAIS,
ECONÔMICOS E CULTURAIS. CARÁTER RELATIVO DA
LIBERDADE DE CONFORMAÇÃO DO LEGISLADOR.
39
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
CONSIDERAÇÕES EM TORNO DA CLÁUSULA DA ‘RESERVA DO
POSSÍVEL’. NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO, EM FAVOR DOS
INDIVÍDUOS, DA INTEGRIDADE E DA INTANGIBILIDADE DO
NÚCLEO CONSUBSTANCIADOR DO ‘MÍNIMO EXISTENCIAL’.
VIABILIDADE INSTRUMENTAL DA ARGÜIÇÃO DE
DESCUMPRIMENTO NO PROCESSO DE CONCRETIZAÇÃO DAS
LIBERDADES POSITIVAS (DIREITOS CONSTITUCIONAIS DE
SEGUNDA GERAÇÃO).” Salientei, então, em tal decisão, que o
Supremo Tribunal Federal, considerada a dimensão política da
jurisdição constitucional outorgada a esta Corte, não pode
demitir-se do gravíssimo encargo de tornar efetivos os direitos
econômicos, sociais e culturais, que se identificam – enquanto
direitos de segunda geração (como o direito à educação, p. ex.) –
com as liberdades positivas, reais ou concretas (RTJ 164/158-161,
Rel. Min. CELSO DE MELLO). É que, se assim não for, restarão
comprometidas a integridade e a eficácia da própria Constituição,
por efeito de violação negativa do estatuto constitucional
motivada por inaceitável inércia governamental no adimplemento
de prestações positivas impostas ao Poder Público, consoante já
advertiu, em tema de inconstitucionalidade por omissão, por mais
de uma vez (RTJ 75/1212-1213, Rel. Min. CELSO DE MELLO), o
Supremo Tribunal Federal:
.......................................................
- A omissão do Estado - que deixa de cumprir, em maior ou em
menor extensão, a imposição ditada pelo texto constitucional -
qualifica-se como comportamento revestido da maior gravidade
político-jurídica, eis que, mediante inércia, o Poder Público
também desrespeita a Constituição, também ofende direitos que
nela se fundam e também impede, por ausência de medidas
concretizadoras, a própria aplicabilidade dos postulados e
princípios da Lei Fundamental.” (RTJ 185/794-796, Rel. Min.
40
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
CELSO DE MELLO, Pleno) É certo – tal como observei no exame
da ADPF 45/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO (Informativo/STF nº
345/2004) – que não se inclui, ordinariamente, no âmbito das
funções institucionais do Poder Judiciário – e nas desta Suprema
Corte, em especial – a atribuição de formular e de implementar
políticas públicas (JOSÉ CARLOS VIEIRA DE ANDRADE, “Os
Direitos Fundamentais na Constituição Portuguesa de 1976”, p.
207, item n. 05, 1987, Almedina, Coimbra), pois, nesse domínio, o
encargo reside, primariamente, nos Poderes Legislativo e
Executivo. Impende assinalar, contudo, que tal incumbência
poderá atribuir-se, embora excepcionalmente, ao Poder
Judiciário, se e quando os órgãos estatais competentes, por
descumprirem os encargos político-jurídicos que sobre eles
incidem em caráter mandatório, vierem a comprometer, com tal
comportamento, a eficácia e a integridade de direitos individuais
e/ou coletivos impregnados de estatura constitucional, como
sucede na espécie ora em exame. Não deixo de conferir, no
entanto, assentadas tais premissas, significativo relevo ao tema
pertinente à “reserva do possível” (STEPHEN HOLMES/CASS R.
SUNSTEIN, “The Cost of Rights”, 1999, Norton, New York; ANA
PAULA DE BARCELLOS, “A Eficácia Jurídica dos Princípios
Constitucionais”, p. 245/246, 2002, Renovar), notadamente em
sede de efetivação e implementação (sempre onerosas) dos
direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais e
culturais), cujo adimplemento, pelo Poder Público, impõe e exige,
deste, prestações estatais positivas concretizadoras de tais
prerrogativas individuais e/ou coletivas. Não se ignora que a
realização dos direitos econômicos, sociais e culturais – além de
caracterizar-se pela gradualidade de seu processo de
concretização – depende, em grande medida, de um inescapável
vínculo financeiro subordinado às possibilidades orçamentárias
41
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
do Estado, de tal modo que, comprovada, objetivamente, a
alegação de incapacidade econômico-financeira da pessoa estatal,
desta não se poderá razoavelmente exigir, então, considerada a
limitação material referida, a imediata efetivação do comando
fundado no texto da Carta Política. Não se mostrará lícito,
contudo, ao Poder Público, em tal hipótese, criar obstáculo
artificial que revele – a partir de indevida manipulação de sua
atividade financeira e/ou político- -administrativa – o ilegítimo,
arbitrário e censurável propósito de fraudar, de frustrar e de
inviabilizar o estabelecimento e a preservação, em favor da pessoa
e dos cidadãos, de condições materiais mínimas de existência
(ADPF 45/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Informativo/STF nº
345/2004). Cumpre advertir, desse modo, que a cláusula da
“reserva do possível” – ressalvada a ocorrência de justo motivo
objetivamente aferível – não pode ser invocada, pelo Estado, com
a finalidade de exonerar-se, dolosamente, do cumprimento de
suas obrigações constitucionais, notadamente quando, dessa
conduta governamental negativa, puder resultar nulificação ou,
até mesmo, aniquilação de direitos constitucionais impregnados
de um sentido de essencial fundamentalidade. Daí a correta
observação de REGINA MARIA FONSECA MUNIZ (“O Direito à
Educação”, p. 92, item n. 3, 2002, Renovar), cuja abordagem do
tema – após qualificar a educação como um dos direitos
fundamentais da pessoa humana – põe em destaque a
imprescindibilidade de sua implementação, em ordem a
promover o bem-estar social e a melhoria da qualidade de vida de
todos, notadamente das classes menos favorecidas, assinalando,
com particular ênfase, a propósito de obstáculos governamentais
que possam ser eventualmente opostos ao adimplemento dessa
obrigação constitucional, que “o Estado não pode se furtar de tal
dever sob alegação de inviabilidade econômica ou de falta de
42
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
normas de regulamentação” (grifei). Tratando-se de típico direito
de prestação positiva, que se subsume ao conceito de liberdade
real ou concreta, a educação infantil – que compreende todas as
prerrogativas, individuais ou coletivas, referidas na Constituição
da República (notadamente em seu art. 208, IV) – tem por
fundamento regra constitucional cuja densidade normativa não
permite que, em torno da efetiva realização de tal comando, o
Poder Público, especialmente o Município (CF, art. 211, § 2º),
disponha de um amplo espaço de discricionariedade que lhe
enseje maior grau de liberdade de conformação, e de cujo
exercício possa resultar, paradoxalmente, com base em simples
alegação de mera conveniência e/ou oportunidade, a nulificação
mesma dessa prerrogativa essencial, como adverte, em
ponderadas reflexões, a ilustre magistrada MARIA CRISTINA DE
BRITO LIMA, em obra monográfica dedicada ao tema ora em
exame (“A Educação como Direito Fundamental”, 2003, Lumen
Juris). Cabe referir, ainda, neste ponto, ante a extrema
pertinência de suas observações, a advertência de LUIZA
CRISTINA FONSECA FRISCHEISEN, ilustre Procuradora
Regional da República (“Políticas Públicas – A Responsabilidade
do Administrador e o Ministério Público”, p. 59, 95 e 97, 2000,
Max Limonad), cujo magistério, a propósito da limitada
discricionariedade governamental em tema de concretização das
políticas públicas constitucionais, assinala: “Nesse contexto
constitucional, que implica também na renovação das práticas
políticas, o administrador está vinculado às políticas públicas
estabelecidas na Constituição Federal; a sua omissão é passível de
responsabilização e a sua margem de discricionariedade é
mínima, não contemplando o não fazer.
.......................................................
As dúvidas sobre essa margem de discricionariedade devem ser
43
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
dirimidas pelo Judiciário, cabendo ao Juiz dar sentido concreto à
norma e controlar a legitimidade do ato administrativo (omissivo
ou comissivo), verificando se o mesmo não contraria sua
finalidade constitucional, no caso, a concretização da ordem
social constitucional.” (grifei) Tenho para mim, desse modo,
presente tal contexto, que os Municípios – que atuarão
prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil
(CF, art. 211, § 2º) – não poderão demitir-se do mandato
constitucional, juridicamente vinculante, que lhes foi outorgado
pelo art. 208, IV, da Constituição, e que representa fator de
limitação da discricionariedade político-administrativa dos entes
municipais, cujas opções, tratando-se de atendimento das
crianças em creche e na pré-escola (CF, art. 208, IV), não podem
ser exercidas de modo a comprometer, com apoio em juízo de
simples conveniência ou de mera oportunidade, a eficácia desse
direito básico de índole social. Entendo, por isso mesmo, que se
revela inacolhível a pretensão recursal deduzida pelo Município
de São Paulo, notadamente em face da jurisprudência que se
formou, no Supremo Tribunal Federal, sobre a questão ora em
exame (AI 455.802/SP, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – AI
475.571/SP, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – RE 401.673/SP, Rel.
Min. MARCO AURÉLIO – RE 410.715-AgR/SP, Rel. Min. CELSO DE
MELLO – RE 411.518-AgR/SP, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – RE
436.996/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO). Cumpre destacar,
neste ponto, por oportuno, ante a inquestionável procedência de
suas observações, a decisão proferida pelo eminente Ministro
MARCO AURÉLIO (RE 431.773/SP), no sentido de que, “Conforme
preceitua o artigo 208, inciso IV, da Carta Federal, consubstancia
dever do Estado a educação, garantindo o atendimento em creche
e pré-escola às crianças (...). O Estado – União, Estados
propriamente ditos, ou seja, unidades federadas, e Municípios –
44
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
deve aparelhar-se para a observância irrestrita dos ditames
constitucionais, não cabendo tergiversar mediante escusas
relacionadas com a deficiência de caixa” (grifei). Isso significa,
portanto, considerada a indiscutível primazia reconhecida aos
direitos da criança e do adolescente (ANA MARIA MOREIRA
MARCHESAN, “O princípio da prioridade absoluta aos direitos da
criança e do adolescente e a discricionariedade administrativa”,
“in” RT 749/82-103), que a ineficiência administrativa, o descaso
governamental com direitos básicos do cidadão, a incapacidade de
gerir os recursos públicos, a incompetência na adequada
implementação da programação orçamentária em tema de
educação pública, a falta de visão política na justa percepção, pelo
administrador, do enorme significado social de que se reveste a
educação infantil, a inoperância funcional dos gestores públicos
na concretização das imposições constitucionais estabelecidas em
favor das pessoas carentes não podem nem devem representar
obstáculos à execução, pelo Poder Público, notadamente pelo
Município (CF, art. 211, § 2º), da norma inscrita no art. 208, IV, da
Constituição da República, que traduz e impõe, ao Estado, um
dever inafastável, sob pena de a ilegitimidade dessa inaceitável
omissão governamental importar em grave vulneração a um
direito fundamental da cidadania e que é, no contexto que ora se
examina, o direito à educação, cuja amplitude conceitual abrange,
na globalidade de seu alcance, o fornecimento de creches públicas
e de ensino pré-primário “às crianças até 5 (cinco) anos de idade”
(CF, art. 208, IV, na redação dada pela EC nº 53/2006). Sendo
assim, tendo em consideração as razões expostas e reafirmando a
correta determinação emanada do Poder Judiciário paulista, que
impôs, ao Município de São Paulo, em face da obrigação estatal de
respeitar os direitos das crianças, o dever de viabilizar, em favor
destas, a matrícula em unidades de educação infantil próximas de
45
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
sua residência ou do endereço de trabalho de seus responsáveis
legais, sob pena de multa diária por criança não atendida, conheço
do presente agravo, para negar seguimento ao recurso
extraordinário, por manifestamente inadmissível (CPC, art. 544, §
4º, II, “b”, na redação dada pela Lei nº 12.322/2010), mantendo,
por seus próprios fundamentos, o acórdão proferido pelo E.
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Publique-se. Brasília,
21 de junho de 2011. Ministro CELSO DE MELLO, Relator”
IV – DA SEPARAÇÃO DOS PODERES e DISCRICIONARIEDADE
O Brasil é um estado democrático de direito, que, adotando a
teoria de MONTESQUIEU, definiu a existência de três poderes: Executivo,
Legislativo e Judiciário, que devem ser independentes e harmônicos entre si.
“Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre
si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.”
Na análise do item – INDEPENDÊNCIA, alguns tem levado ao
extremo, especialmente o PODER EXECUTIVO, maior destinatário das ações
judicias em razão do desrespeito aos direitos do cidadãos. Assim, a “independência”
tem sido tratada como absoluta, de tal forma que não pode um PODER em hipótese
alguma interferir na esfera de atuação do outro. E mais, chegam ao absurdo de
afirmar que a intromissão na esfera de atuação do outro, constitui violação da
HARMONIA também proclamada, e mesmo, um desrespeito, como se esta
intervenção se fizesse por caprichos, e não atendendo aos interesses dos cidadãos
desprotegidos.
Esta versão de separação de poderes, importante quando de sua
criação, já que tratava-se de uma contraposição ao Estado Absolutista, em que todos
poderes (LEGISLATIVO, JUDICIÁRIO e EXECUTIVO) residiam nas mãos do REI,
46
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
não bastando portanto apenas a divisão dos poderes, mas também garantias de não
interferência de um na esfera de atuação do outro.
Isto levou entretanto a ditadura de alguns poderes, ou seja, o
executivo não fazia e, nada, nem ninguém podia interferir em suas ações. Sendo
assim foram criados sistemas de freios e contra pesos, onde, inicialmente era
tolerado a ação de um PODER limitando a ação de outro. Ocorre que, mesmo
evoluindo o DIREITO, alguns, especialmente o PODER EXECUTIVO, continuam a
defesa do sistema de separação de poderes puro.
“A discussão acerca da separação dos poderes é sempre cercada
de uma espécie de dogmatismo, ou seja, a partir de verdades
absolutas, que não comportam contrariedade, contestação ou
limitação. O tratamento do tema, usando o raciocínio de Dallari, é
feito com uma espécie de fundamentalismo religioso, mais
retórico do que objetivo e, mais do que isso, apenas sob alguns
aspectos, sem forma sistemática. E o objetivo fundamental da
teoria da separação de poderes criada por Monstesquieu, que
poderia ser entendida como da especificação das funções de cada
poder, é justamente evitar o absolutismo, ou o exercício do poder
público sem limitações, o que resultaria em tirania.”17
O Estado e a sociedade evoluíram, e com ele o Direito. Os
direitos, que inicialmente eram os fundamentais individuais e liberdades públicas,
passaram a ser sociais e econômicos, contemporâneos(de solidariedade), recebendo
então denominação de direitos fundamentais de primeira, segunda, terceira e quarta
geração. Com a adesão destes direitos aos indivíduos, viu-se necessário criar modelos
de garantias, assim como o MANDADO DE SEGURANÇA, HABEAS CORPUS e
DIREITO DE PETIÇÃO são modalidades de garantia dos direitos fundamentais
individuais (garantias de liberdades públicas), a AÇÃO CIVIL PÚBLICA, AÇÃO
17 - Discricionariedade em Políticas Públicas, Maria Goretti Dal Bosco, Ed. Juruá, pág. 397.
47
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
POPULAR, MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO, etc., passaram a ser garantia
dos demais direitos.
A grande questão passou a ser, até onde poderá o individuo ou
seu representante (partidos políticos, Ministério Público, Defensoria Pública,
Sindicatos), agir contra o PODER EXECUTIVO para garantir o cumprimento e
respeito aos direitos econômicos, sociais e contemporâneos. E mais, para o respeito
por parte do EXECUTIVO a estes direitos fundamentais é necessário, como dito
linhas atrás, a execução de políticas públicas (normas programáticas), assim sendo,
como obrigar o executivo a cumprir o seu mister e ao mesmo tempo respeitar os
limites impostos pela INDEPENDÊNCIA e HARMONIA dos PODERES.
A doutrina passou a estabelecer que, os direitos sociais são
normas programáticas, sendo assim, estas devem se executar e realizar no tempo. O
PODER EXECUTIVO, destinatário destas normas, tem que incansavelmente agir no
sentido de garantir o exercício deste direito. Sendo assim, o direito fundamental
social é determinação ao ADMINISTRADOR, que poderá escolher a forma de prestar
este serviço, mas nunca se abster de prestar este serviço. Sendo portanto um direito
fundamental e obrigação do ADMINISTRADOR, cumpre aos demais poderes,
LEGISLATIVO e JUDICIÁRIO, no sistema de freios e contrapesos, exigir o
cumprimento da lei, e mais, da CONSTITUIÇÃO.
“Hoje já se vai formando um consenso no sentido de que, dada a
indisponibilidade do interesse público, torna-se pequena a marge
de efetiva discrição nos atos e condutas da Administração
Pública, quase se podendo falar que os atos discricionários hoje já
estão sujeitos a uma sorte de …. liberdade vigiada! No dizer de
Celso Antônio Bandeira de Mello, “resulta certo que a liberdade
administrativa, acaso conferida por uma norma de direito, não
significa sempre liberdade de eleição entre indiferentes jurídicos.
Não significa poder de opções livres, como as do Direito Privado.
48
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
Significa o dever jurídico funcional – questão de legitimidade e
não de mérito – de acertar, ante a configuração do caso concreto,
a providência, isto é, o ato, ideal, capaz de atingir a finalidade da
lei, dando assim satisfação ao interesse de terceiros – interesse
coletivo e não do agente – tal como firmado na lei.”18
Nestes termos passou o JUDICIÁRIO a controlar os atos
administrativos do administrador no sentido de que, em suas ações busque a
efetivação das políticas públicas, ficando o PODER DISCRICIONÁRIO limitado a
escolher a melhor forma de prestar o serviço. Portanto a discricionariedade do
administrador atualmente não é ilimitada como querem alguns e foi alhures. Esta é
limitada e deve ser bem dimensionada.
“A discricionariedade vinculada implica em que o agente público,
ao qual a lei determina a escolha de uma entre as várias
alternativas possíveis reguladas por lei – vale dizer, investimento
em educação, auxílio aos bancos, setor energético, saúde, entre
outras – por sua apreciação pessoal, deverá estar capacitado a
escolher a solução mais adequada; no caso presente, a que oferece
maiores possibilidades de atender ás prioridades que a
Administração apresenta no momento concreto. Logo, a
discricionariedade está na valoração pessoal do administrador,
mas isso não quer dizer que essa valoração seja arbitrária, dando
que deve atender ao escopo previsto na legislação, ou seja,
promover o bem-estar dos administrados, a igualdade de acesso
ás prestações públicas, enfim, o interesse público, o qual encerra
um conjunto de valores superiores do ordenamento jurídico que
orientam a atividade administrativa.”19
Assim, tanto não pode servir de argumento a SEPARAÇÃO DE
18 - Ação Civil Pública, Coordenador Édis Milará, Editora Revista dos Tribunais, 2ª edição, por RODOLFO CAMARGO MANCUSO, pág. 776.19 - Discricionariedade em Políticas Públicas, Maria Goretti Dal Bosco, Ed. Juruá, pág. 373.
49
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
PODERES, bem como a DISCRICIONARIEDADE para impedir a propositura desta
ação, bem assim o julgamento condenatório do ADMINISTRADOR. O Supremo
Tribunal Federal, em decisão do MINISTRO CELSO MELLO, acima citada, em outra
etapa, diz:
“ARE 639337 / SP - SÃO PAULO/RECURSO EXTRAORDINÁRIO
COM AGRAVO Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Julgamento:
21/06/2011, Publicação - DJe-123 DIVULG 28/06/2011 PUBLIC
29/06/2011.
Partes:
RECTE.(S) : MUNICÍPIO DE SÃO PAULO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO MUNICÍPIO DE
SÃO PAULO
RECDO.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE
SÃO PAULO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DE SÃO PAULO
INTDO.(A/S) : PROMOTOR DE JUSTIÇA DA VARA DA
INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DO FORO REGIONAL DE SANTO
AMARO
INTDO.(A/S) : A C C E OUTRO(A/S)
Decisão
EMENTA: CRIANÇA DE ATÉ CINCO ANOS DE IDADE.
ATENDIMENTO EM CRECHE E EM PRÉ-ESCOLA. SENTENÇA
QUE OBRIGA O MUNICÍPIO DE SÃO PAULO A MATRICULAR
CRIANÇAS EM UNIDADES DE ENSINO INFANTIL PRÓXIMAS DE
SUA RESIDÊNCIA OU DO ENDEREÇO DE TRABALHO DE SEUS
RESPONSÁVEIS LEGAIS, SOB PENA DE MULTA DIÁRIA POR
CRIANÇA NÃO ATENDIDA. PLENA LEGITIMIDADE DESSA
DETERMINAÇÃO JUDICIAL. INOCORRÊNCIA DE
50
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
TRANSGRESSÃO AO POSTULADO DA SEPARAÇÃO DE
PODERES. OBRIGAÇÃO ESTATAL DE RESPEITAR OS DIREITOS
DAS CRIANÇAS. EDUCAÇÃO INFANTIL. DIREITO ASSEGURADO
PELO PRÓPRIO TEXTO CONSTITUCIONAL (CF, ART. 208, IV, NA
REDAÇÃO DADA PELA EC Nº 53/2006). COMPREENSÃO
GLOBAL DO DIREITO CONSTITUCIONAL À EDUCAÇÃO. DEVER
JURÍDICO CUJA EXECUÇÃO SE IMPÕE AO PODER PÚBLICO,
NOTADAMENTE AO MUNICÍPIO (CF, ART. 211, § 2º). AGRAVO
IMPROVIDO.
…................................................
- Embora inquestionável que resida, primariamente, nos Poderes
Legislativo e Executivo, a prerrogativa de formular e executar
políticas públicas, revela-se possível, no entanto, ao Poder
Judiciário, ainda que em bases excepcionais, determinar,
especialmente nas hipóteses de políticas públicas definidas pela
própria Constituição, sejam estas implementadas, sempre que os
órgãos estatais competentes, por descumprirem os encargos
político-jurídicos que sobre eles incidem em caráter mandatório,
vierem a comprometer, com a sua omissão, a eficácia e a
integridade de direitos sociais e culturais impregnados de
estatura constitucional. A questão pertinente à “reserva do
possível”. Doutrina.
DECISÃO: O recurso extraordinário a que se refere o presente
agravo foi interposto contra acórdão, que, proferido pelo E.
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, está assim ementado
(fls. 1.697):
“APELAÇÃO – Reexame Necessário – Ação Civil Pública –
Sentença que obriga o Município de São Paulo a matricular
crianças em unidades de ensino infantil próximas de sua
residência – Cabimento – Direito Fundamental, líquido e certo –
Aplicação dos artigos 208 da Constituição da República e 54 do
51
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
Estatuto da Criança e do Adolescente – Inocorrência de violação
aos princípios constitucionais da Separação e Independência dos
Poderes da República – Necessidade de harmonia como o
princípio da legalidade e da inafastabilidade do controle judicial
(arts. 5º, XXXV, e 37 da Constituição Federal) – Princípio da
Isonomia que impõe o respeito ao direito de todas as crianças –
Normas constitucionais de eficácia plena – Direito universal a ser
assegurado a qualquer criança que dele necessite – Obrigação do
Município reconhecida no artigo 211 da Constituição Federal –
Prova suficiente a autorizar o acolhimento do pedido – Multa
cabível e proporcional – Não provimento do recurso e do reexame
necessário.” (grifei) A parte ora agravante sustenta que o acórdão
impugnado em sede recursal extraordinária teria transgredido
preceitos inscritos na Constituição da República. O exame desta
causa, no entanto, considerada a jurisprudência que o Supremo
Tribunal Federal firmou na matéria ora em análise (AI 474.444-
AgR/SP, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – RE 410.715- -AgR/SP, Rel.
Min. CELSO DE MELLO – RE 436.996-AgR/SP, Rel. Min. CELSO
DE MELLO, v.g.), convence-me da inteira correção dos
fundamentos que apóiam e dão consistência ao acórdão emanado
do E. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
….......................................................
Para CELSO LAFER (“A Reconstrução dos Direitos Humanos”, p.
127 e 130/131, 1988, Companhia de Letras), que também
exterioriza a sua preocupação acadêmica sobre o tema, o direito à
educação – que se mostra redutível à noção dos direitos de
segunda geração – exprime, de um lado, no plano do sistema
jurídico- -normativo, a exigência de solidariedade social, e
pressupõe, de outro, a asserção de que a dignidade humana,
enquanto valor impregnado de centralidade em nosso
ordenamento político, só se afirmará com a expansão das
52
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
liberdades públicas, quaisquer que sejam as dimensões em que
estas se projetem: “(...) É por essa razão que os assim chamados
direitos de segunda geração, previstos pelo ‘welfare state’, são
direitos de crédito do indivíduo em relação à coletividade. Tais
direitos – como o direito ao trabalho, à saúde, à educação – têm
como sujeito passivo o Estado porque, na interação entre
governantes e governados, foi a coletividade que assumiu a
responsabilidade de atendê-los. O titular desse direito, no
entanto, continua sendo, como nos direitos de primeira geração, o
homem na sua individualidade. Daí a complementaridade, na
perspectiva ‘ex parte populi’, entre os direitos de primeira e de
segunda geração, pois estes últimos buscam assegurar as
condições para o pleno exercício dos primeiros, eliminando ou
atenuando os impedimentos ao pleno uso das capacidades
humanas. Por isso, os direitos de crédito, denominados direitos
econômico-sociais e culturais, podem ser encarados como direitos
que tornam reais direitos formais: procuraram garantir a todos o
acesso aos meios de vida e de trabalho num sentido amplo (...).”
…..............................................................
Ao julgar a ADPF 45/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, proferi
decisão assim ementada (Informativo/STF nº 345/2004):
“ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO
FUNDAMENTAL. A QUESTÃO DA LEGITIMIDADE
CONSTITUCIONAL DO CONTROLE E DA INTERVENÇÃO DO
PODER JUDICIÁRIO EM TEMA DE IMPLEMENTAÇÃO DE
POLÍTICAS PÚBLICAS, QUANDO CONFIGURADA HIPÓTESE DE
ABUSIVIDADE GOVERNAMENTAL. DIMENSÃO POLÍTICA DA
JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL ATRIBUÍDA AO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. INOPONIBILIDADE DO ARBÍTRIO
ESTATAL À EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS SOCIAIS,
ECONÔMICOS E CULTURAIS. CARÁTER RELATIVO DA
53
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
LIBERDADE DE CONFORMAÇÃO DO LEGISLADOR.
CONSIDERAÇÕES EM TORNO DA CLÁUSULA DA ‘RESERVA DO
POSSÍVEL’. NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO, EM FAVOR DOS
INDIVÍDUOS, DA INTEGRIDADE E DA INTANGIBILIDADE DO
NÚCLEO CONSUBSTANCIADOR DO ‘MÍNIMO EXISTENCIAL’.
VIABILIDADE INSTRUMENTAL DA ARGÜIÇÃO DE
DESCUMPRIMENTO NO PROCESSO DE CONCRETIZAÇÃO DAS
LIBERDADES POSITIVAS (DIREITOS CONSTITUCIONAIS DE
SEGUNDA GERAÇÃO).” Salientei, então, em tal decisão, que o
Supremo Tribunal Federal, considerada a dimensão política da
jurisdição constitucional outorgada a esta Corte, não pode
demitir-se do gravíssimo encargo de tornar efetivos os direitos
econômicos, sociais e culturais, que se identificam – enquanto
direitos de segunda geração (como o direito à educação, p. ex.) –
com as liberdades positivas, reais ou concretas (RTJ 164/158-161,
Rel. Min. CELSO DE MELLO). É que, se assim não for, restarão
comprometidas a integridade e a eficácia da própria Constituição,
por efeito de violação negativa do estatuto constitucional
motivada por inaceitável inércia governamental no adimplemento
de prestações positivas impostas ao Poder Público, consoante já
advertiu, em tema de inconstitucionalidade por omissão, por mais
de uma vez (RTJ 75/1212-1213, Rel. Min. CELSO DE MELLO), o
Supremo Tribunal Federal:
“DESRESPEITO À CONSTITUIÇÃO - MODALIDADES DE
COMPORTAMENTOS INCONSTITUCIONAIS DO PODER
PÚBLICO. - O desrespeito à Constituição tanto pode ocorrer
mediante ação estatal quanto mediante inércia governamental. A
situação de inconstitucionalidade pode derivar de um
comportamento ativo do Poder Público, que age ou edita normas
em desacordo com o que dispõe a Constituição, ofendendo-lhe,
assim, os preceitos e os princípios que nela se acham consignados.
54
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
Essa conduta estatal, que importa em um 'facere' (atuação
positiva), gera a inconstitucionalidade por ação. - Se o Estado
deixar de adotar as medidas necessárias à realização concreta dos
preceitos da Constituição, em ordem a torná-los efetivos,
operantes e exeqüíveis, abstendo-se, em conseqüência, de cumprir
o dever de prestação que a Constituição lhe impôs, incidirá em
violação negativa do texto constitucional. Desse 'non facere' ou
'non praestare', resultará a inconstitucionalidade por omissão,
que pode ser total, quando é nenhuma a providência adotada, ou
parcial, quando é insuficiente a medida efetivada pelo Poder
Público.
.......................................................
….............................................................
Daí a correta observação de REGINA MARIA FONSECA MUNIZ
(“O Direito à Educação”, p. 92, item n. 3, 2002, Renovar), cuja
abordagem do tema – após qualificar a educação como um dos
direitos fundamentais da pessoa humana – põe em destaque a
imprescindibilidade de sua implementação, em ordem a
promover o bem-estar social e a melhoria da qualidade de vida de
todos, notadamente das classes menos favorecidas, assinalando,
com particular ênfase, a propósito de obstáculos governamentais
que possam ser eventualmente opostos ao adimplemento dessa
obrigação constitucional, que “o Estado não pode se furtar de tal
dever sob alegação de inviabilidade econômica ou de falta de
normas de regulamentação” (grifei). Tratando-se de típico direito
de prestação positiva, que se subsume ao conceito de liberdade
real ou concreta, a educação infantil – que compreende todas as
prerrogativas, individuais ou coletivas, referidas na Constituição
da República (notadamente em seu art. 208, IV) – tem por
fundamento regra constitucional cuja densidade normativa não
permite que, em torno da efetiva realização de tal comando, o
55
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
Poder Público, especialmente o Município (CF, art. 211, § 2º),
disponha de um amplo espaço de discricionariedade que lhe
enseje maior grau de liberdade de conformação, e de cujo
exercício possa resultar, paradoxalmente, com base em simples
alegação de mera conveniência e/ou oportunidade, a nulificação
mesma dessa prerrogativa essencial, como adverte, em
ponderadas reflexões, a ilustre magistrada MARIA CRISTINA DE
BRITO LIMA, em obra monográfica dedicada ao tema ora em
exame (“A Educação como Direito Fundamental”, 2003, Lumen
Juris). Cabe referir, ainda, neste ponto, ante a extrema
pertinência de suas observações, a advertência de LUIZA
CRISTINA FONSECA FRISCHEISEN, ilustre Procuradora
Regional da República (“Políticas Públicas – A Responsabilidade
do Administrador e o Ministério Público”, p. 59, 95 e 97, 2000,
Max Limonad), cujo magistério, a propósito da limitada
discricionariedade governamental em tema de concretização das
políticas públicas constitucionais, assinala: “Nesse contexto
constitucional, que implica também na renovação das práticas
políticas, o administrador está vinculado às políticas públicas
estabelecidas na Constituição Federal; a sua omissão é passível de
responsabilização e a sua margem de discricionariedade é
mínima, não contemplando o não fazer.
.......................................................
Como demonstrado no item anterior, o administrador público
está vinculado à Constituição e às normas infraconstitucionais
para a implementação das políticas públicas relativas à ordem
social constitucional, ou seja, própria à finalidade da mesma: o
bem-estar e a justiça social.
.......................................................
Conclui-se, portanto, que o administrador não tem
discricionariedade para deliberar sobre a oportunidade e
56
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
conveniência de implementação de políticas públicas
discriminadas na ordem social constitucional, pois tal restou
deliberado pelo Constituinte e pelo legislador que elaborou as
normas de integração.
.......................................................
As dúvidas sobre essa margem de discricionariedade devem ser
dirimidas pelo Judiciário, cabendo ao Juiz dar sentido concreto à
norma e controlar a legitimidade do ato administrativo (omissivo
ou comissivo), verificando se o mesmo não contraria sua
finalidade constitucional, no caso, a concretização da ordem
social constitucional.” (grifei) Tenho para mim, desse modo,
presente tal contexto, que os Municípios – que atuarão
prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil
(CF, art. 211, § 2º) – não poderão demitir-se do mandato
constitucional, juridicamente vinculante, que lhes foi outorgado
pelo art. 208, IV, da Constituição, e que representa fator de
limitação da discricionariedade político-administrativa dos entes
municipais, cujas opções, tratando-se de atendimento das
crianças em creche e na pré-escola (CF, art. 208, IV), não podem
ser exercidas de modo a comprometer, com apoio em juízo de
simples conveniência ou de mera oportunidade, a eficácia desse
direito básico de índole social. Entendo, por isso mesmo, que se
revela inacolhível a pretensão recursal deduzida pelo Município
de São Paulo, notadamente em face da jurisprudência que se
formou, no Supremo Tribunal Federal, sobre a questão ora em
exame (AI 455.802/SP, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – AI
475.571/SP, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – RE 401.673/SP, Rel.
Min. MARCO AURÉLIO – RE 410.715-AgR/SP, Rel. Min. CELSO DE
MELLO – RE 411.518-AgR/SP, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – RE
436.996/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO). Cumpre destacar,
neste ponto, por oportuno, ante a inquestionável procedência de
57
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
suas observações, a decisão proferida pelo eminente Ministro
MARCO AURÉLIO (RE 431.773/SP), no sentido de que, “Conforme
preceitua o artigo 208, inciso IV, da Carta Federal, consubstancia
dever do Estado a educação, garantindo o atendimento em creche
e pré-escola às crianças (...). O Estado – União, Estados
propriamente ditos, ou seja, unidades federadas, e Municípios –
deve aparelhar-se para a observância irrestrita dos ditames
constitucionais, não cabendo tergiversar mediante escusas
relacionadas com a deficiência de caixa” (grifei). Isso significa,
portanto, considerada a indiscutível primazia reconhecida aos
direitos da criança e do adolescente (ANA MARIA MOREIRA
MARCHESAN, “O princípio da prioridade absoluta aos direitos da
criança e do adolescente e a discricionariedade administrativa”,
“in” RT 749/82-103), que a ineficiência administrativa, o descaso
governamental com direitos básicos do cidadão, a incapacidade de
gerir os recursos públicos, a incompetência na adequada
implementação da programação orçamentária em tema de
educação pública, a falta de visão política na justa percepção, pelo
administrador, do enorme significado social de que se reveste a
educação infantil, a inoperância funcional dos gestores públicos
na concretização das imposições constitucionais estabelecidas em
favor das pessoas carentes não podem nem devem representar
obstáculos à execução, pelo Poder Público, notadamente pelo
Município (CF, art. 211, § 2º), da norma inscrita no art. 208, IV, da
Constituição da República, que traduz e impõe, ao Estado, um
dever inafastável, sob pena de a ilegitimidade dessa inaceitável
omissão governamental importar em grave vulneração a um
direito fundamental da cidadania e que é, no contexto que ora se
examina, o direito à educação, cuja amplitude conceitual abrange,
na globalidade de seu alcance, o fornecimento de creches públicas
e de ensino pré-primário “às crianças até 5 (cinco) anos de idade”
58
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
(CF, art. 208, IV, na redação dada pela EC nº 53/2006). Sendo
assim, tendo em consideração as razões expostas e reafirmando a
correta determinação emanada do Poder Judiciário paulista, que
impôs, ao Município de São Paulo, em face da obrigação estatal de
respeitar os direitos das crianças, o dever de viabilizar, em favor
destas, a matrícula em unidades de educação infantil próximas de
sua residência ou do endereço de trabalho de seus responsáveis
legais, sob pena de multa diária por criança não atendida, conheço
do presente agravo, para negar seguimento ao recurso
extraordinário, por manifestamente inadmissível (CPC, art. 544, §
4º, II, “b”, na redação dada pela Lei nº 12.322/2010), mantendo,
por seus próprios fundamentos, o acórdão proferido pelo E.
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Publique-se. Brasília,
21 de junho de 2011. Ministro CELSO DE MELLO, Relator”
Sendo assim, cai por terra qualquer argumento contrário a
possibilidade de alegação de separação de poderes e discricionariedade para impedir
a ação do PODER JUDICIÁRIO, aliás esperada.
V – DA LEGISLAÇÃO E O CAPS
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 24, inciso
XII e XV, estabelece:
“Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal
legislar concorrentemente sobre: XII - previdência social,
proteção e defesa da saúde; XV - proteção à infância e à
juventude;”
Sendo assim, compete a UNIÃO legislar sobre proteção e
defesa da saúde, estabelecendo assim as normas gerais e até normas específicas,
59
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
como o caso dos CAPS. Como já dito acima, alterada a forma de tratamento dos
dependentes químicos pela lei 10.216/2001, que diz em seu artigo 3º.
“Art. 3o É responsabilidade do Estado o desenvolvimento da
política de saúde mental, a assistência e a promoção de ações de
saúde aos portadores de transtornos mentais, com a devida
participação da sociedade e da família, a qual será prestada em
estabelecimento de saúde mental, assim entendidas as
instituições ou unidades que ofereçam assistência em saúde aos
portadores de transtornos mentais.”
Quando o legislador disse, “É RESPONSABILIDADE DO
ESTADO...” quis dizer PODER PÚBLICO, sendo certo que o atendimento a
CRIANÇAS e ADOLESCENTES usuários ou dependentes de drogas é do
MUNICÍPIO, conforme determina o ESTATUTO DA CRIANÇA e do ADOLESCENTE
em seu artigo 88, I, e a LEGISLAÇÃO DE SAÚDE, posto que GOIÂNIA, está na
classificada como município de ATENÇÃO PLENA DE SAÚDE20.
“Art. 88. São diretrizes da política de atendimento: I -
municipalização do atendimento.”
“Art. 1º Homologar os Termos de Compromisso de Gestão de dois
Municípios do Estado do Ceará, oito Municípios do Estado de
Goiás, quarenta Municípios do Estado do Rio Grande do Norte,
onze Municípios do Estado de Rondônia e vinte e nove Municípios
do Estado de Santa Catarina.” grifo nosso – Portaria 1.708/08.
A PORTARIA 2.203/96, estabeleceu a NORMA
OPERACIONAL BÁSICA, definindo o MODELO DE GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO
DE SAÚDE. Sendo assim definiu que compete a UNIÃO:
20 - Portaria 1.708, de 19 de agosto de 2008, anexo II, alínea 520870 (coluna IBGE).
60
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
“7. PAPEL DO GESTOR FEDERAL No que respeita ao gestor
federal, são identificados quatro papéis básicos, quais sejam: a)
exercer a gestão do SUS, no âmbito nacional; d) exercer as
funções de normalização e de coordenação no que se refere à
gestão nacional do SUS.”
Por sua vez a LEI 8.080/90, que denominada LEI DO
SUS, assim define a atribuição do MUNICÍPIO:
“Art. 18. À direção municipal do Sistema de Saúde (SUS) compete:
I - planejar, organizar, controlar e avaliar as ações e os serviços de
saúde e gerir e executar os serviços públicos de saúde;”
Portanto, não cabe dúvida que compete ao MUNICÍPIO
DE GOIÂNIA o atendimento de CRIANÇA e ADOLESCENTES USUÁRIOS ou
DEPENDENTES DE ÁLCOOL E DROGAS.
Estando na PLENA DE ATENÇÃO A SAÚDE, o município
de É RESPONSÁVEL por todo atendimento destinado as pessoas, quer URGÊNCIA e
EMERGÊNCIA, AGENTES DE SAÚDE, PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA,
UTIS NEO NATAL e ATENDIMENTOS PSIQUIÁTRICOS.
A lei mudou o perfil de tratamento, do regime ASILAR
para o COMUNITÁRIO e COOPERATIVO, com preferência para o atendimento em
UNIDADES DE ATENDIMENTO chamadas PORTA ABERTA, os CAPS – CENTRO
DE ATENÇÃO PSICO-SOCIAL. Visando dar cumprimento ao que determinou a lei, o
MINISTÉRIO DA SAÚDE regulamentou o tema por PORTARIA, sendo que em 2010,
por meio da PORTARIA 2.841, estabeleceu a última regulamentação sobre o tema.
Portanto competente o MINISTÉRIO DA SAÚDE para regulamentar o
ATENDIMENTO aos USUÁRIOS e DEPENDENTES de ÁLCOOL e DROGAS.
61
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
Sobre o tema o ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE, em diversos artigos trata com preocupação o envolvimento de
crianças e adolescentes com DROGAS.
“Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e
educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família
substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em
ambiente livre da presença de pessoas dependentes de
substâncias entorpecentes”
“Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adolescente de: II -
bebidas alcoólicas; III - produtos cujos componentes possam
causar dependência física ou psíquica ainda que por utilização
indevida;”
“Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a
autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as
seguintes medidas: VI - inclusão em programa oficial ou
comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e
toxicômanos;”
“Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável: II -
inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio,
orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;”
“Art. 243. Vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar ou
entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente, sem justa
causa, produtos cujos componentes possam causar dependência
física ou psíquica, ainda que por utilização indevida: Pena -
detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não
62
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
constitui crime mais grave.”
Esta preocupação do legislador, também é do
MINISTÉRIO DA SAÚDE, que quando publicou a portaria supra mencionada, uma
das razões apresentadas foi a alto número de pessoas que consomem substância
entorpecente, o que resolveu denominar “EPIDEMIA”.
“Considerando o cenário epidemiológico recente, que mostra a
expansão no Brasil do consumo de algumas substâncias,
especialmente álcool, cocaína (na forma de cloridrato e de pasta-
base, crack, merla) e inalantes, que se associa ao contexto de
vulnerabilidade de crianças, adolescentes e jovens;”
Em razão disto, ou seja, este cenário de catástrofe que é
posto perante a sociedade, da necessidade21 de intervenção precisa, efetiva e
resolutiva pelo poder público, fato reconhecido inclusive pelo MINISTÉRIO DA
SAÚDE, ocorreu alteração na legislação que tratou da REGULAMENTAÇÃO do
CAPS AD, sendo assim a já mencionada portaria 2.841/2010, estabeleceu diversas
alterações na forma de tratar o tema.
Primeiramente, consciente das dificuldades por que
passam os municípios, e ciente de que o problema precisa ser enfrentado em
conjunto, ou seja, UNIÃO, ESTADOS e MUNICÍPIOS, estabeleceu a possibilidade de
financiamento na implantação do CAPS AD III.
“Art. 2º Estabelecer Incentivo Financeiro para Implantação de
CAPS AD III nas modalidades e valores a seguir descritos: I -
implantação de novo CAPS AD III - R$ 150.000,00 (cento e
cinquenta mil reais); e II - implantação de CAPS AD III mediante
adaptação de CAPS AD II pré-existente para a realização das
21 - Considerando a necessidade de intensificar, ampliar e diversificar as ações orientadas para prevenção, promoção da saúde, tratamento e redução dos riscos e danos associados ao consumo prejudicial de substâncias psicoativas;
63
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
novas atividades - R$ 100.000,00 (cem mil reais).”
“Art. 4º Estabelecer recursos financeiros mensais no valor de R$
60.000,00 (sessenta mil reais) a serem incorporados ao Limite
Financeiro de Média e Alta Complexidade Ambulatorial e
Hospitalar dos respectivos Estados, Municípios e do Distrito
Federal para o custeio dos procedimentos a serem realizados pelo
CAPS AD III. § 1º A incorporação de que trata o caput deste artigo
será realizada a contar da habilitação do serviço junto ao gestor
federal, que se dará mediante o envio dos seguintes documentos:”
Sendo assim, a questão de estrutura física se resolve com a
apresentação de projeto ao MINISTÉRIO DA SAÚDE, onde se requer o co-
financiamento, conforme definido na PORTARIA.
“Art. 2º § 1º Os incentivos serão transferidos em parcela única,
aos respectivos fundos de saúde dos Estados, dos Municípios e do
Distrito Federal, sem onerar os respectivos tetos da assistência de
média e alta complexidade, observadas as diretrizes constantes
desta Portaria. § 2º Os incentivos repassados deverão ser
aplicados na implantação dos CAPS AD III, podendo ser utilizados
para reforma predial, compra de equipamentos, aquisição de
material de consumo e/ou capacitação da equipe técnica e outros
itens de custeio. § 3º O incentivo de que trata esta Portaria
destina-se a apoiar financeiramente apenas a implantação de
serviços de natureza jurídica pública. Art. 3º Determinar que as
solicitações de Incentivo Financeiro para Implantação dos CAPS
AD III de que trata o art. 2º desta Portaria, sejam apresentadas ao
Ministério da Saúde, com cópia para a respectiva Secretaria de
Estado da Saúde, devendo ser instruídas com os seguintes
documentos.”
64
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
Inicialmente definiu a população que deverá ter
implantado CAPS AD III, ou seja, o quantitativo de habitantes que deve existir no
município para que ele tenha este ou aquele serviço de saúde.
“I - CRITÉRIOS POPULACIONAIS PARA IMPLANTAÇÃO DE CAPS
AD III: Os CAPS AD III deverão ser implantados levando em conta
uma população mínima de cobertura de 200 mil habitantes. Sua
implantação poderá ocorrer, portanto: 1 - em Município que,
tendo ou não CAPS AD III, conte com uma população de 200 mil
habitantes; e 2 - em Município polo regional que reúna outros
Municípios de referência na região, cujo somatório populacional
(da região) seja igual ou maior que 200 mil habitantes - CAPS AD
III Regional.”
Fazendo uso da prerrogativa de regulamentar o SISTEMA
ÚNICO DE SAÚDE, e portanto os CAPS AD III, o MINISTÉRIO DA SAÚDE também
definiu que a entidade deverá funcionar em horário de 24 horas, ininterruptos,
inclusive feriados e finais de semana.
“II - CARACTERÍSTICAS GERAIS: O CAPS AD III deve: a)
constituir-se em serviço aberto, de base comunitária que funcione
segundo a lógica do território, e que forneça atenção contínua,
durante 24 horas diariamente, incluindo feriados e finais de
semana;”
Estabelecido o horário de funcionamento, a mesma
PORTARIA regulamentou as atividades que devem ser desempenhadas na
UNIDADE CAPS AD III, ou seja, que tipo de atendimento deverá ser dispensado ao
usuários ou dependentes químicos.
“III – ATIVIDADES: A atenção integral ao paciente no CAPS AD
65
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
III inclui as seguintes atividades: a) atendimento individual
(medicamentoso, psicoterápico, orientação, entre outros); b)
atendimento em grupos (psicoterapia, grupo operativo,
atividades de suporte social, entre outras); c) oficinas
terapêuticas executadas por profissional de nível superior ou
nível médio; d) visitas e atendimentos domiciliares; e)
atendimento à família; f) atividades de integração na
comunidade, na família, no trabalho, na escola, na cultura e na
sociedade em geral; g) acolhimento noturno, nos feriados e finais
de semana, com, no mínimo, 8 (oito) e, no máximo, 12 (doze)
leitos, para realizar intervenções a situações de crise (abstinência
e/ou desintoxicação sem intercorrência clínica grave e
comorbidades) e, também, repouso e/ou observação; h) os
pacientes assistidos em um turno (4 horas) receberão uma
refeição diária dos quais assistidos em dois turnos (8 horas)
receberão duas refeições diárias, e os que permanecerem no
serviço durante 24 horas contínuas receberão 4 (quatro)
refeições diárias; i) a permanência de um mesmo paciente no
acolhimento noturno, caso seja necessário prolongar-se para
além do período médio de 2 a 5 dias, fica limitada a 10 (dez) dias
corridos ou 14 (quatorze) dias intercalados em um período de 30
(trinta) dias; e j) estratégias de redução de danos dentro e fora do
CAPS AD III, em articulação com profissionais da atenção
básica.”
Percebe-se a importância do CAPS AD III, posto que será
responsável pelo tratamento individual do usuário e dependente de drogas, atuando
desde o atendimento inicial com fornecimento de informações, até o atendimento
medicamentoso e psicoterápico. E mais, deverá também atender a família, razão
ainda maior para que seja TERRITORIAL, ou seja, formado em REGIÕES dentro do
MUNICÍPIO DE GOIÂNIA, preferencialmente nos DISTRITOS SANITÁRIOS,
66
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
podendo assim aproximar a UNIDADE DE SAÚDE, da população, dos necessitados
de tratamento e atendimento, tornando não só problema, mas principalmente a
solução, bem mais visível a população que poderá ali se socorrer, já que atualmente a
população está jogada a própria sorte ante a inação do PODER PÚBLICO.
Para se ter ideia da grandiosidade do problema
enfrentado, GOIÂNIA possuí atualmente um CAPS AD III, voltado para o PÚBLICO
CRIANÇA E ADOLESCENTE, chamado CAPS GIRASSOL, situado na rua R-5, Qd. R-
7, Lt. 03, Setor Oeste, Goiânia – GO. Além de muito mal localizado, visto não
haverem linhas de ônibus próximas, e mais, estar escondido atrás de arvores onde
pouco se vê a publicidade da placa do local, o limite de atendimento do mesmo é
insuficiente. O número de adolescentes do sexo masculino atendidos na unidade é
de 409 e feminino 54, o que totaliza 463 adolescentes, em GOIÂNIA, que possuí um
universo infinitamente maior de usuários e dependentes.
O grande problema da localização é que, a dificuldade de
acesso atrapalha o atendimento. E mais, este pequeno número de atendimentos se
deve especialmente ao fato que de a demanda do CAPS GIRASSOL é tão somente a
espontânea, ou seja, aquele em que a população procura a UNIDADE DE
ATENDIMENTO, sendo assim, o PODER PÚBLICO – PREFEITURA DE GOIÂNIA,
que tem o dever de tratar os USUÁRIO DE DROGAS CRIANÇAS E
ADOLESCENTES, pessoas em processo de desenvolvimento, não os procura, não os
estimula, não se posta a frente do problema, o contrário, se esconde, e assim sendo,
afirma que toda demanda é atendida, sendo que é falso, já que a demanda é bem
maior que a atendida. Sequer publicidade das ações do CAPS GIRASSOL são feitas,
aliás como deixa claro declarações de servidora:
“ Que o investimento em divulgação do trabalho do CAPS é
insuficiente.” pág. 246.
Não havendo divulgação da prestação do serviço a
67
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
população não procura o mesmo, e assim, não toma as providências necessárias ao
tratamento. Para atender esta população de 200.000 habitantes, diante de um
problema tão sério, é necessário uma equipe técnica eficiente e com habilidades.
Sendo assim, a mesma PORTARIA estabeleceu a EQUIPE de PROFISSIONAIS que
devem compor o CAPS III AD.
“IV - RECURSOS HUMANOS: A equipe técnica mínima para
atuação no CAPS AD III, para o atendimento de 40 (quarenta)
pacientes por turno, tendo como limite máximo 60 (sessenta)
pacientes/dia, em regime intensivo, será composta por: a) 1 (um)
médico clínico; b) 1 (um) médico psiquiatra; c) 1 (um) enfermeiro
com formação em saúde mental; d) 5 (cinco) profissionais de
nível superior entre as seguintes categorias: psicólogo, assistente
social, enfermeiro, terapeuta ocupacional, pedagogo ou outro
profissional necessário ao projeto terapêutico; e) 4 (quatro)
técnicos de enfermagem; e f) 4 (quatro) profissionais de nível
médio: redutor de danos, técnico administrativo, técnico
educacional, artesão e/ou outros. Para cada período de
acolhimento noturno, em plantões corridos de 12 horas, a equipe
deve ser composta, por: a) 1 (um) profissional de nível superior;
b) 3 (três) técnicos de enfermagem, sob supervisão do enfermeiro
do serviço; e c) 1 (um) profissional de nível médio da área de
apoio. Para cada período de 12 horas diurnas, nos sábados,
domingos e feriados, a equipe deve ser composta de modo a
cobrir todos os turnos por: a) 1 (um) profissional de nível
superior entre as seguintes categorias: médico, enfermeiro,
psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, ou outro
profissional de nível superior justificado pelo projeto terapêutico;
b) 3 (três) técnicos de enfermagem, sob supervisão do enfermeiro
do serviço; e c) 1 (um) profissional de nível médio da área de
apoio. Observação: O gestor local deverá garantir a composição
68
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
da equipe técnica mínima em situações de férias, licenças e outros
eventos.”
Pela complexidade do serviço e necessidades de cada
atendimento, inicialmente a equipe tem número máximo de atendimentos a serem
feitos (60 atendimentos dia), sendo dentro de um limite de 40 atendimentos por
turno. Sendo três turnos, ou seja, a cada 8 horas de trabalho é necessário a troca do
pessoal. E mais, o atendimento é em regime intensivo, ou seja, atendimento a pessoa
em tempo integral. Durante todo o tempo em que a pessoa esteja no CAPS AD III, ela
deverá estar sendo atendida por um profissional e realizando alguma atividade, de
forma que não sobre “espaço de tempo” ao paciente (criança ou adolescente). A
preocupação do MINISTÉRIO DA SAÚDE é tamanha, que mesmo nas férias, o
GESTOR MUNICIPAL deverá garantir EQUIPE TÉCNICA MINIMA.
O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL discutindo a
obrigação do MUNICÍPIO de TRATAR USUÁRIO DE DROGAS, assim disse:
“RE 562180 / RJ - RIO DE JANEIRO, RECURSO
EXTRAORDINÁRIO, Relator(a): Min. AYRES BRITTO,
Julgamento: 22/03/2011, Publicação - DJe-071 DIVULG
13/04/2011 PUBLIC 14/04/2011:
Partes
RECTE.(S) : MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO MUNICÍPIO DO
RIO DE JANEIRO
RECDO.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO
DE JANEIRO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Decisão
69
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
DECISÃO: vistos, etc.
Trata-se de recurso extraordinário, manejado com suporte na
alínea “a” do inciso III do art. 102 da Constituição Federal, contra
acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.
Acórdão assim ementado (fls. 452): “Duplo grau obrigatório de
jurisdição – Ação civil pública – Dever legal e constitucional da
municipalidade no que diz respeito a crianças e adolescentes
dependentes de substâncias entorpecentes e drogas afins – Auto-
aplicabilidade das normas que tratam da matéria – Procedência
do pedido – Manutenção da sentença.” 2. Pois bem, a parte
recorrente alega ofensa aos arts. 2º e 167 da Magna Carta de 1988.
3. A seu turno, a Procuradoria-Geral da República, em parecer da
lavra da Subprocuradora-Geral Sandra Cureau, opina pelo
“conhecimento e desprovimento do recurso”. 4. Tenho que o
apelo extremo não merece acolhida. É que o aresto impugnado
afina com a jurisprudência desta nossa Casa de Justiça, que me
parece juridicamente correta. Jurisprudência que entende ser
possível o Judiciário atuar na defesa dos direitos fundamentais de
crianças e adolescentes, especialmente para garantir atendimento
médico aos que se encontram em situação de risco. Para
sedimentar meu entendimento, reproduzo, na parte que interessa
ao deslinde da causa, o que decidido no AI 583.136, sob a relatoria
da ministra Cármen Lúcia: “Ao contrário do que decidido pelo
Tribunal a quo, no sentido de que a manutenção da sentença
provocaria ingerência de um em outro poder, a norma do art. 227
da Constituição da República impõe aos órgãos estatais
competentes - no caso integrantes da estrutura do Poder
Executivo - a implementação de medidas que lhe foram
legalmente atribuídas. Na espécie em pauta, compete ao Estado,
por meio daqueles órgãos, o atendimento social às crianças e aos
adolescentes vítimas de violência ou exploração sexual. Tanto
70
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
configura dever legal do Estado e direito das vítimas de receber
tal atendimento. Explicando o princípio da separação de poderes
anota José Afonso da Silva: ‘Hoje, [esse] princípio não configura
mais aquela rigidez de outrora. A ampliação das atividades do
Estado contemporâneo impôs nova visão da teoria da separação
de poderes e novas formas de relacionamento entre os órgãos
legislativo e executivo e destes com o judiciário, tanto que
atualmente se prefere falar em 'colaboração de poderes' [...]. A
'harmonia entre os poderes' verifica-se primeiramente pelas
normas de cortesia no trato recíproco e no respeito às
prerrogativas e faculdades a que mutuamente todos têm direito.
De outro lado, cabe assinalar que nem a divisão de funções entre
os órgãos do poder nem sua independência são absolutas. Há
interferências, que visam ao estabelecimento de um sistema de
freios e contrapesos, à busca do equilíbrio necessário à realização
do bem da coletividade e indispensável para evitar o arbítrio e o
desmando de um em detrimento do outro e especialmente dos
governados’ (Curso de Direito Constitucional Positivo. 27. ed.,
Malheiros, São Paulo, 2006, p. 109-110). É competência do Poder
Judiciário, vale dizer, dever que lhe cumpre honrar, julgar as
causas que lhe sejam submetidas, determinando as providências
necessárias à efetividade dos direitos inscritos na Constituição e
em normas legais. […] Qualquer lesão ou ameaça a direito trazida
ao Poder Judiciário impõe ao juiz o seu dever de julgar, dando
pleno cumprimento não apenas ao inc. XXXV da Constituição - o
que não apenas é perfeitamente compatível com o art. 2º, daquela
Lei Fundamental, como a outorga de seu dever em benefício do
indivíduo -, como dotando de instrumento judicial o princípio da
efetividade constitucional e legal. 7. Na espécie em pauta, ao
argumento de imiscuir-se na autonomia do ente público não pode
renunciar o magistrado ao seu dever constitucional de assegurar
71
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
a efetividade da lei, garantindo a proteção que a infância e
juventude requerem, sob pena de omitir-se sobre direito ao qual a
Constituição da República garantiu 'absoluta prioridade' (art.
227). Essa garantia de 'absoluta prioridade', a fim de colocar
crianças e adolescentes 'a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão' ‘(...) é
bem ampla e se impõe a todos os órgãos públicos competentes
para legislar sobre a matéria, exercer controle ou prestar serviços
de qualquer espécie para promoção dos interesses e direitos de
crianças e adolescentes. (...). Assim também, a tradicional
desculpa de 'falta de verba' para a criação e manutenção de
serviços não poderá mais ser invocada com muita facilidade
quando se tratar de atividade ligada, de alguma forma, a crianças
e adolescentes’ (DALLARI, Dalmo de Abreu. Estatuto da Criança e
do Adolescente - Comentários Jurídicos e Sociais. 2. ed. São
Paulo: Malheiros Editores, p. 28).” 5. De mais a mais, o acórdão
recorrido não destoa do entendimento deste nosso Tribunal,
segundo o qual “o direito à saúde – além de qualificar-se como
direito fundamental que assiste a todas as pessoas – representa
consequência constitucional indissociável do direito à vida” (RE
271.286-AgR, sob a relatoria do ministro Celso de Mello). 6. À
derradeira, a suposta ofensa ao art. 2º da Constituição Federal
não prospera. Isso porque é firme no Supremo Tribunal Federal o
entendimento de que “o regular exercício da função jurisdicional,
por isso mesmo, desde que pautado pelo respeito à Constituição,
não transgride o princípio da separação de poderes” (MS 23.452,
sob a relatoria do ministro Celso de Mello). Isso posto, e frente ao
art. 557 do CPC e ao § 1º do art. 21 do RI/STF, nego seguimento ao
recurso. Publique-se. Brasília, 22 de março de 2011. Ministro
AYRES BRITTO Relator.” grifo nosso.
72
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
VI – CONCLUSÃO
Por todo o exposto, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO:
1 – Seja a presente ação recebida e devidamente autuada;
2 – Seja o Município de Goiânia citado na pessoa do PREFEITO MUNICIPAL,
SECRETARIO MUNICIPAL DE SAÚDE e PROCURADOR GERAL DO MUNICÍPIO,
para querendo contestarem a presente ação;
3 – Seja a presenta AÇÃO CIVIL PÚBLICA julgada procedente para, CONDENAR O
MUNICÍPIO DE GOIÂNIA a obrigação de fazer, constituída em, nos prazos abaixo22,
implantar UNIDADES DE CAPS EM GOIÂNIA, sob pena do pagamento de multa
diária no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a ser imposta tanto ao PODER
PÚBLICO – MUNICÍPIO DE GOIÂNIA, como aos REPRESENTANTES DO
REQUERIDO, ou seja, PREFEITO MUNICIPAL, SECRETARIO MUNICIPAL DE
SAÚDE e PROCURADOR GERAL DO MUNICÍPIO.
3.1 – 06(seis) meses seja implantado no DISTRITO SANITÁRIO NOROESTE,
uma nova unidade do CAPS AD III, para CRIANÇAS e ADOLESCENTES, nos moldes
estabelecido pela PORTARIA 2841/2010;
3.2 – 12(doze) meses seja implantado no DISTRITO SANITÁRIO CAMPINAS,
uma nova unidade do CAPS AD III, para CRIANÇAS e ADOLESCENTES, nos moldes
estabelecido pela PORTARIA 2841/2010;
3.3 – 18(dezoito) meses, seja implantado no DISTRITO SANITÁRIO
SUDOESTE, uma nova unidade do CAPS AD III, para CRIANÇAS e
ADOLESCENTES, nos moldes estabelecido pela PORTARIA 2841/2010;
3.4 – 24(vinte e quatro) meses, seja implantado no DISTRITO SANITÁRIO
OESTE, uma nova unidade do CAPS AD III, para CRIANÇAS e ADOLESCENTES,
22 - A ordem de implantação dos CAPS AD III, nos DISTRITOS SANITÁRIOS, segue a relação do número de usuários de drogas encaminhados pelo CAPS GIRASSOL, CONSELHOS TUTELARES, DEPAAI e UNIDADES DE SAÚDE MUNICIPAL.
73
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
4ª Promotoria de Justiça de Goiânia/GO
nos moldes estabelecido pela PORTARIA 2841/2010;
3.5 – 30(trinta) meses, seja implantado no DISTRITO SANITÁRIO LESTE,
uma nova unidade do CAPS AD III, para CRIANÇAS e ADOLESCENTES, nos moldes
estabelecido pela PORTARIA 2841/2010;
3.6 – 36(trinta e seis) meses, seja implantado no DISTRITO SANITÁRIO
NORTE23, uma nova unidade do CAPS AD III, para CRIANÇAS e ADOLESCENTES,
nos moldes estabelecido pela PORTARIA 2841/2010.
3.7 – 06(seis) meses seja o CAPS GIRASSOL adequado ao que determina a
PORTARIA 2841/2010, quanto a horário de funcionamento, atividades, capacidade
de atendimento e recursos humanos.
4 – Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitido.
5 – Dá a presente causa o valor de R$ 1.000,00 (hum mil reais) para efeitos tão
somente fiscais.
Assim sendo,
Pede e espera deferimento.
Goiânia, 05 de setembro de 2011.
ALEXANDRE MENDES VIEIRA
Promotor de Justiça
23 - Não foi citado o DISTRITO SANITÁRIO SUL, pois o CAPS GIRASSOL, já está neste localizado.
74