Exegese 1 - Mateus 5.8

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  • 8/16/2019 Exegese 1 - Mateus 5.8

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    SAULO VILELA

    JEFFERSON ANDRADE

    EXEGESE DE MATEUS 5.8

    Recife

    2016

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    Sumário

    Contexto Histórico ................................................................................................................... 3

    Esboço Geral do Evangelho .................................................................................................. 5

    Delimitação de Perícope ......................................................................................................... 7

    Tradução Literal ........................................................................................................................ 8

     Análise Gramatical ................................................................................................................... 8

     Análise Léxica ........................................................................................................................... 9

     Análise Sinótica ...................................................................................................................... 21

    Contexto Teológico ............................................................................................................... 21

    Comparação de Versões ...................................................................................................... 24

    Paráfrase................................................................................................................................... 25

    Esboço Homilético ................................................................................................................. 25

    Tradução Final ........................................................................................................................ 26

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    Contexto Histórico

    Pano de Fundo Histórico

    Quando Jesus nasceu, Herodes o Grande era o monarca da Judéia eSamaria. Herodes morreu no ano 4 d.C., e seu reino passou para o seu filho

    Arquelau (Mt 2.19-22). Arquelau foi acusado de mau governo e por isso foi

    banido no ano 6 d.C. Como resultado, Judéia e Samaria ficam diretamente sob

    a administração romana através de uma série de governadores e prefeitos, que

    mais tarde foram conhecidos como procuradores. Pôncio Pilatos foi o procurador

    da Judéia durante o ministério de Jesus.

    A província da Galiléia, onde Jesus vivia, havia sido dada por Herodes oGrande para um outro de seus filhos, Herodes Antipas (Mt 14.1-12; Lc 23.6-15).

    No ano 39 d.C., a Galiléia passou para as mãos de Herodes Agripa, um neto de

    Herodes o Grande. Um amigo de infância de Agripa era agora o imperador

    romano Cláudio. Este declarou Agripa como rei da Judéia e de Samaria também.

    A popularidade de Agripa era grande entre os judeus; mas o seu reinado foi

    curto. Ele perseguiu os apóstolos e, quando não recusou ser adorado como se

    fosse um deus, foi castigado com uma doença e morreu (44 d.C.; At 12.1-4, 19-23).

    O território de Agripa voltou a ser dos governantes romanos, embora uma

    pequena porção de terra tenha sido dada a Agripa II (At 25.13-26.32). A tensão

    entre judeus e romanos aumentou durante este período que levou a uma revolta

    no ano 66 d.C. O resultado da guerra foi desastroso para a nação judaica. No

    ano 70 d.C. Jerusalém foi destruída depois de terrível sofrimento.

     Autor ia

    Apesar deste Evangelho não indicar o seu autor, alguns manuscritos

    primitivos incluem a inscrição: “Segundo Mateus”. Eusébio (c. 260-340 d.C.) nos

    conta que Papias (c. 60-130 d.C.), um dos Pais da Igreja primitiva, falava de

    Mateus como tendo disposto os “oráculos” acerca de Jesus. A tradição posterior

    é unânime em que o discípulo Mateus, também chamado Levi (9.9-13; Mc 2.13-

    17), foi o autor deste Evangelho, e até o século XVIII não havia dúvidas acerca

    dessa tradição.

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    O fato do autor não ter se identificado demonstra que ele provavelmente

    achava que conhecer o seu nome não era essencial para os seus leitores.

    Trabalhando através do autor humano, havia o Autor primário, o Espírito Santo.

    Data e Ocasião

    A referência mais antiga ao Evangelho de Mateus é provavelmente

    encontrada na Epístola aos Esmirnneanos, de Inácio de Antioquia (c. 110 d.C.).

    Dificilmente se poderia datar esse livro como sendo posterior a 100 d.C. Alguns

    estudiosos o têm datado até 50 d.C. Mas muitos críticos o datam depois da

    destruição de Jerusalém, geralmente entre os anos 80 e 100.

    O escritor deste Evangelho provavelmente utilizou o Evangelho de

    Marcos. Supondo-se que Marcos tenha sido escrito com a ajuda do apóstolo

    Pedro em Roma, uma data apropriada para Mateus seria entre 64 e 70 d.C.

    O local mais provável para escrita do Evangelho é a Antioquia na Síria,

    que também é o provável destinatário dela. Inácio, o mais antigo escritor a citar

    Mateus, era bispo de Antioquia. A congregação em Antioquia era de origem

    mista judaica e gentia (At 15), e isto explicaria os problemas de legalismo e

    antinomismo dos quais Mateus trata de maneira especial.

    Mensagem

    O propósito de Mateus é o de transmitir os ensinos autoritativos de Jesus

    e de sua pessoa, cuja vinda marca o cumprimento das promessas de Deus e a

    presença do reino de Deus.

    Mateus faz uso intenso das referências de “cumprimento” do Antigo

    Testamento. Suas citações não são apresentadas como predições e

    cumprimentos isolados, mas como prova do cumprimento de todas a promessas

    do Antigo Testamento.

    É importante destacar que encontramos em Mateus sua apresentação

    dos ensinos de Jesus, divididos em cinco discursos principais: ética, discipuladoe missão, o reino dos céus, a Igreja, e o fim dos tempos. A maioria dos estudiosos

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    hoje reconhece as cinco divisões de ensino como sendo a chave do modelo

    básico de Mateus, especialmente devido ao fato de cada discurso terminar com

    uma expressão como: “Quando Jesus acabou de proferir estas palavras” (7.28). 

    Esboço Geral do Evangelho

    I. Prólogo (caps. 1; 2)

    A. A Genealogia do Rei (1.1-17)

    B. O Nascimento do Rei (1.18—2.23)

    1. Anúncio a José e Nascimento de Jesus (1.18-25)

    2. Adoração dos Magos (2.1-12)

    3. "Do Egito Chamei o Meu Filho" (2.13-23)

    II. A Vinda do Reino (caps. 3—7)

    A. A Iniciação do Reino em Jesus (3.1—4.11)

    1. Jesus é Batizado por João (cap. 3)

    2. A Tentação no Deserto (4.1-11)

    B. O Anúncio do Reino (4.12-25)

    C. O Primeiro Discurso: O Sermão do Monte (caps. 5-7)

    1. As bem-aventuranças (5.1-12)

    2. Interpretando a Lei para o Reino (5.13-48)

    3. A Piedade no Reino: Caridade, Oração, Jejum (6.1-18)

    4. Um Coração para o Reino (6.19-34)

    5. Os Padrões de Julgamento no Reino (cap. 7)

    III. As Obras do Reino (caps. 8-10)

    A. Cura de Enfermos e o Chamado dos Discípulos (8;9)

    B. O Segundo Discurso: A Missão do Reino (cap. 10)

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    IV. A Natureza do Reino (caps. 11—13)

    A. A Identidade de João e de Jesus (caps. 11; 12)

    1. Correspondendo às Obras de Jesus e de João (cap. 11)

    2. Jesus, O Senhor do Sábado (12.1-13)

    3. O Começo da Oposição a Jesus (12.14-50)

    B. O Terceiro Discurso: As Parábolas do Reino (cap. 13)

    V. A Autoridade do Reino (caps. 14—18)

    A. O Caráter e a Autoridade de Jesus (caps. 14—17)

    1. A Morte de João Batista (14.1-12)

    2. Alimentando as Multidões e o Fermento dos Fariseus (14.13—

    16.12)

    3. Revelando o Filho de Deus e Sua Missão (16.13—17.27)

    B. O Quarto Discurso: O Caráter e a Autoridade da Igreja (cap. 18)

    VI. As Bênçãos e os Julgamentos do Reino (caps. 19—25)

    A. Da Galiléia a Jerusalém (caps. 19;20)

    1. A Vida familiar no Reino (19.1-15)

    2. A Entrada no Reino (19.16—20.16)

    3. Abrindo os olhos dos cegos espirituais e físicos (20.17-34)

    B. O Rei Entra em Jerusalém (caps. 21—23)

    1. Entrada Triunfal e a Purificação do Templo (21.1-22)

    2. Parábolas a Respeito da Resistência ao Rei (21.23—22.14)

    3. Conflito com os Fariseus e Saduceus (22.15—23.39)

    C. O Quinto Discurso: O Julgamento do Reino (caps.24; 25)

    1. Sinais do Fim dos Tempos (24.1-31)

    2. Parábolas Aconselhando Vigilância (24.32—25.46)

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    VII. Paixão e Ressurreição (caps. 26—28)

    A. Traição e aprisionamento (26.1-56)

    1. Preparação para a Morte de Jesus (26.1-16)

    2. A Última Ceia e Getsêmani (26.17-56)

    B. O Julgamento e Execução do Rei (26.57—27.56)

    1. Julgamento Religioso Diante do Sinédrio (26.57-75)

    2. Julgamento Civil Perante Pilatos (27.1-26)

    3. A Crucificação (27.27-56)

    C. Sepultamento e Ressurreição (27.57—28.20)

    1. Guardando o Túmulo (27.57-66)

    2. A Ressurreição (28.1-15)

    3. A Grande Comissão (28.16-20)

    Delimitação de Perícope

    Como sabemos que uma perícope é uma sentença de sentido completo

    que, independente do contexto anterior ou posterior tem um sentido em si

    mesma, quando olhamos o discurso de Jesus das “Bem- Aventuranças” ou “Os

    Ditos de Jesus”, percebemos que cada uma delas tem sentido em si mesma,

    sem depender das outras.

    O versículo 8 maka,rioi oi ̀ kaqaroi.  th/ |  kardi, a|( o[ti auvtoi.  to.n qeo.n

    o;yontai, portanto, tem sentido completo pois aborda um assunto próprio, sendo

    diferenciado do versículo, tanto anterior, quanto posterior.

    Nesta perícope, o autor trata de uma característica do verdadeiro

    discípulo de Jesus, daquele que, de fato, pertence ao Reino de Deus.

    Ela está inserida na estrutura de narrativa de Mateus, mas na linguagem

    discursiva, já que é feita durante o discurso de Jesus.

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    Tradução Literal

    Mateus 5:8

    Μακάριοι  οἱ  καθαροὶ  τῇ  καρδίᾳ,

      Benditos

      Abençoados

      Bem-

    aventurados

      Parabéns a

      os   puros

      limpos

      no   coração

    Benditos os limpos de coração,

    ὅτι  αὐτοι  τὸν  θεὸν  ὄψονται. 

      porque   eles   a   Deus   verão

      contemplarão

    Porque eles verão a Deus.

    Mt 5:8- Benditos os limpos de coração, Porque eles verão a Deus.

     Análise Gramatical

    Morfologia

    maka,rioi oi ̀kaqaroi. th/ | kardi, a|( o[ti auvtoi. to.n qeo.n o;yontaiÅ 

    maka,rioiAdjetivo Nominativo masculino plural sem grau (Felizes; Abençoados; Bem-

     Aventurados) 

    oi`

    Artigo definido nominativo masculino plural (Os)

    kaqaroi

    Adjetivo Nominativo masculino plural sem grau (Puros)th/ | 

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    Artigo Definido Dativo feminino singular (no)

    kardi, a 

    Substantivo Dativo feminino singular comum (Coração)

    o[ti 

    Conjunção subordinada (Pois)

     auvtoi. 

    Pronome pessoal nominativo masculino plural (eles)

    to.n

    Artigo Definido Acusativo Masculino Singular (o)

    qeo.n

    Substantivo Acusativo masculino singular comum (Deus) o;yontaiÅ 

    Verbo no futuro médio do indicativo 3ª Pessoa plural (Verão)

    Sintaxe

    maka,rioi  – Predicativo do Sujeito 

    oi` kaqaroi  – Sujeito 

    th/ | kardi, a  – Adjunto Adnominal

    o[ti  – Conjunção subordinada (Ligando a primeira e a segunda oração)

     auvtoi.  – Sujeito

    to.n qeo.n  – Objeto Indireto 

    o;yontai  –  Verbo Transitivo Indireto

     Análise Léxica

    Em nossa pesquisa, tencionamos abordar na análise léxica três palavras

    encontradas no texto de Mt 5:8, a saber: Μακάριos, καθαροι e καρδίᾳ. Essas

    palavras por possuir uma riqueza de sentidos, podem nos ajudar a entender

    melhor o texto em apreço. Para tanto, veremos seu uso (quando possível) no

    grego clássico, na LXX (Septuaginta) e no NT.

    Iniciemos pela palavra Μακάριos. A princípio, verificamos que a palavra

    grega Μακάριos é a tradução da palavra hebraica  encontrada no início doאש י

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    Salmo 1º. Curiosamente, Franz Delitzsch em sua tradução do Novo Testamento

    Grego para o hebraico traduziu Μακάριos porאש י

    . A versão Peshita usa palavra

    (Tevaihon) para traduzir a palavraטוביהון Μακάριos.

    Seja como for, isso é importante, pois evidencia a continuidade no uso da

    palavra. Vejamos agora o que DITNT, Lown/Nida, Kittel, Gringish/Danker tem a

    dizer sobre o uso dessa palavra no transcurso do tempo. Iniciaremos com a

    palavra Μακάριos, em seguida καθαρος, e por fim καρδίᾳ.

    Sentidos Léxicos para Μακάριos e cognatos: Bem-Aventurado, afortunado,

    fe-aventurado, feliz, benção, abençoado, bendito. 

    Μακάριos no Grego Clássico

    Μακάριos era originalmente uma forma paralela de Μακαρ. Esse termo

    aprece pela primeira vez nos escritos do poeta Píndaro, e literalmente significa:

    “Livre dos cuidados e preocupações de todos os dias”. Na literatura poética

    também descrevia condição dos deuses e daqueles que compartilhavam uma

    existência feliz. Com passar do tempo, o sentido foi se perdendo aponto de

    Μακάριos passar a ser usado como sinônimo de feliz.

    Nesse período Μακάριos era utilizado bem mais na linguagem formal. O

    emprego da palavra tinha por objetivo parabenizar uma pessoa devido um

    evento feliz. Ex: os pais eram parabenizados por casa dos filhos, os ricos por

    causa das riquezas, os sãos pela saúde, etc.

    Μακάριos na LXX/Antigo testamento Massorético

    Na LXX (Septuaginta) o termo Μακάριos é a tradução dos termos

    hebraicos: “eser ” (felicidade/bem-estar), “asar ” (bem-aventurado), e “asrê” (bem-

    estar para). Em suma, o conceito prevalecente é “felicidade”.

    No tratamento que o AT dispensa a história antiga, bênçãos estilizadas

    (como as supra aludidas) não aparecem. Sua primeira ocorrência verifica-se na

    literatura sapiencial. Por exemplo: nos Salmos. Vários Salmos apontavam como

    Bem-aventurados aqueles que: “confiam no senhor ” (84:12); “os que se refugiamno Senhor ” (2:12; 34:8-9); “aqueles cuja iniquidade o Senhor apaga” (32:1-2).

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    Por toda a literatura sapiencial, a bem-aventurança está ligada ao favor de Deus,

    o que redunda na felicidade terrena.

    No período israelita posterior, tais pronunciamentos aprecem na literatura

    prot-apocalpítica (Dn 12:12; Tob 103:14-15). Nesse período, pronunciamentos

    como as Bem-aventuranças aparecem mescladas com uma série de “Ais”. Mas

    deve-se ressaltar que tal uso apontava para a esperança escatológica, antes de

    expressar a confiança em Deus.

    Já no período do helenismo, o emprego de Μακάριos exerceu uma

    influência grandiosa em Filo e a partir dele. Na concepção de Filo, apenas os

    Deuses gozavam da condição de Μακάριos. Os homens vivenciam tal condição

    por participação. A medida que os Deuses penetravam a criação, seu estado de

    Bem-aventurança era compartilhado com os mortais. Conquanto Filo fosse

    influente e o uso de Μακάριos usado por ele fosse amplamente disseminado, o

    Judaísmo rabínico seguiu o uso do AT, conforme se vê nos Salmos e na

    Literatura Sapiencial.

    Μακάριos no Novo Testamento

    O uso da palavra Μακάριos no Novo Testamento é frequente.

    Geralmente, seu emprego compota os sentido de declarar bendito alguém ou

    alguma coisa. No NT Μακάριos aparece cerca de 50 vezes. 13 e 15 se

    encontram nos evangelhos de Mateus e Lucas, 7 vezes nos escritos paulinos,

    apenas 2 nos vários escritos Joaninos, 1 em Pedro e Tiago, e 7 em Apocalipse.

    Já o verbo MAKARIZÔ aparece no NT apenas duas vezes (Lc 1:48; Tg 5:11). O

    substantivo MAKARISMOS aparece apenas 3 vezes (Rm 4:6, 9; Gl 4:15).

    Deve-se ser observado que nos evangelho, Jesus utiliza Μακάριos na 3ªpessoa. Tal uso sempre vem acompanhado com a descrição de uma condição

    indelével. Também deve ser observado que o uso de Μακάριos empregado por

    Jesus segue mais de perto o apocalipticismo. Tal uso aponta para uma

    consciência escatológica de tais pronunciamentos. Expressões tais como:

    “Verão a Deus”, “deles é o Reino dos Céus” confirmam tal perspectiva. Há quem

    defenda que “as Bem-aventuranças” e os “ Ais” encontrados nos evangelhos

    sejam o background para seu emprego no Apocalipse de João.

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    Ainda cabe mencionar que o emprego de Μακάριos no Sermão da

    Montanha domina todo o uso no Novo Testamento. Mas há apenas uma única

    discrepância entre a perspectiva escatológica de MT 5-7 e o Sermão da Planície

    (Lc 6:20-24): o uso da palavra agora (νῦν) em Lc 6:21. Embora tal discrepância

    apreça, seu uso aqui é intencional e sublinha a tensão escatológica pretendida

    por Jesus acerca do Reino de Deus. Alguns estudiosos tem sugerido que tal uso

    aponte para a tensão Já/Ainda não na pregação do Reino de Deus. O que faz

    sentido a luz dos contextos.

    Sentidos Léxicos para καθαρόs e cognatos: Limpo, puro, limpar, tornar limpo,

    despejar para limpar, purificar, limpeza, pureza, ato de limpar, purificação.

    καθαρόs no Grego Clássico

    O tronco de palavras que compõe a palavra καθαρόs abrange o sentido de

    pureza em vários níveis: físico, ritual e ético.

    O adjetivo καθαρόs cuja origem é obscura parece manter algum elo com a

    palavra latina “Castus”. Essa palavra é comum desde os tempos Homéricos e

    significa: Limpo em sentido físico; Limpo no sentido de estar livre (vazio). Ex:

    podemos dizer denotativamente que o quarto de uma casa está limpo ou vazio

    quando ele não comporta nada em seu interior; Limpo (puro) em contraste com

    impureza; Limpo em sentido religioso como sinônimo de moralmente puro.

    O verbo kathairo significava originalmente: Limpar, varrer, limpar. Este

    último sentido é compartilhado pelo Koinê. No período helenístico posterior

    prevaleceu o verbo Katharizô, cujo emprego ocorre de forma duplo: físico,

    ritual/religioso.O substantivo Katharotes remonta ao grego clássico e literalmente significa

    limpeza em sentido literal e figurado.

    καθαρόs na LXX/Antigo testamento Massorético

    Na LXX, καθαρόs operacional a tradução de 18 equivalentes hebraicos,

    sendo o mais comum o termo Tahor  no sentido de pureza ritual. Ocasionalmente,

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    a LXX também traduz o termo καθαρόs pelo hebraico “naqi” (puro, inocente), e

    “Zakak” (ser brilhante, puro inocente).

    No Antigo Testamento, os conceitos de pureza e impureza estão

    diretamente ligados ao âmbito do culto e a participação no mesmo. Isso em

    relação aos sacerdotes que oficiavam o culto, bem como aqueles que

    participavam dele. De sorte que tal pureza era requerida de forma prescritiva e

    não optativa. E se por ventura, alguma impureza fosse detectada, conforme Lv

    7:19-20 tal impureza deveria ser purgada por ser abominação aos olhos do

    Senhor.

    Outra questão relacionada ao uso de καθαρόs no Antigo Testamento é sua

    relação com as doenças, especialmente a lepra. Tal enfermidade tornava as

    pessoas impuras. Um dos deveres dos sacerdotes é pronunciar “pura” ou

    “impura” a pessoa que contraiu a lepra, mediante as fórmulas declarativas (e.g.

    Lv 13:17, 44) conforme eram chamadas.

    No livro de Levítico cap. 11 verificamos outro exemplo de utilização desse

    termo. Ali é apresentado um catálogo de animais puros e impuros que são

    proibidos de serem consumidos. Tal prescrição tinha como objetivo resguardar

    o povo contra a adoração de animais (prática ocasional no Reino do Norte, 1 Rs

    12:28). Isso demonstraria que Israel não comungava das práticas presentes nas

    religiões pagãs. Religiões que tinham animais como seus símbolos (ex: o porco

    no culto a Adônis-Tumuz), e afim de preservar a saúde.

    Se atentarmos para os profetas, com as ocasionais polêmicas contra o

    ritual, perceberemos que eles não abandonam a distinção entre esses dois polos

    (“puro” e “impuro”). Eles ampliam e espiritualizam os conceitos presentes no

    ritual, pois, ao criticarem os abusos do ritual, introduzem um conceito de pureza

    que está diretamente ligado às pessoas e seus comportamentos (Jr 2:23; Is 6:5).Nesse sentido, o conceito da pureza aproxima-se daquele, da culpa e do pecado

    (Jr 33:8; Ez 39:24; c f SI 51).

    Tais prescrições alcançaram ao longo do tempo um grau de legalismo que

    não era o pretendido pelo Senhor. Merecem destaque aqui os Fariseus e os

    Essênios. Ambos eram terrivelmente legalistas com relação ao conceito de

    pureza. Em relação aos fariseus, eles cercaram as leis de purificação de tantos

    outros mandamentos eu tornou-se um fardo pesado. Os Essênios eram aindamais radicais. Por se considerarem a comunidade redentora e sacerdotal do

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    tempo do fim, impunham as prescrições de assepsia prescritas para os

    sacerdotes para todo o povo.

    καθαρόs no Novo Testamento 

    Ao consultarmos o Novo Testamento perceberemos que καθαρόs e os

    seus cognatos, percebemos o largo uso empregado. Quase todos os escritos os

    utilizam. As principais ocorrências se dão nos Evangelhos Sinóticos, na carta

    aos Hebreus e nas Epístolas Pastorais. Mais o termo ocorre em outros escritos.

    O apóstolo Paulo emprega raras vezes a palavra.

    Não é possível, sem preconceito, falar de um conceito unificador da

    pureza no NT. Neste, também achamos o adjetivo καθαρόs nos mesmo sentidos

    abordados no AT: físico (e.g. Ap 15:6). ritual (e.g. Mt 8:2-4; Lc 17:14) e espiritual

    (e.g. Mt 5:8). Porém, deve-se notar que o conceito da pureza realmente adquiriu

    um novo caráter mediante a pregação e a Pessoa de Jesus. Como ocorre com

    vários conceitos e palavras.

    A doutrina da pureza desenvolvida por Jesus tinha como característica sua

    luta contra o farisaísmo. Em Mt 23:25-26, rejeita a observância dos regulamentos

    rituais por ser meramente externo este tipo de pureza. Por detrás das prática dos

    fariseus estava a noção mal orientada de que a impureza, vindo de fora em forma

    concreta, pode contaminar uma pessoa (Mt 15:11, 16-17 par. Mc 7:15,18). É o

    contrário que é a verdade: “O que sai do homem é o que o contamina” (Mc 7:15, 

    20 par.). Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus

    desígnios, a prostituição, os homicídios, as malícias, a lascívia, a loucura , etc.

    (Mc 7:21-23).

    Jesus enfrentou a ênfase farisaica dada à purificação das mãos com umaexigência quanto à pureza do coração, conforme se expressa na sexta Bem-

    aventurança: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus” (Mt

    5 :8). No Sl 24:3-4, o acesso à presença de Deus durante o culto no Templo é

    para aquele que ‘é limpo de mãos e puro de   coração. São estes os

    espiritualmente ‘puros, e não aqueles que são ritual ou cerimonialmente limpos.

    Ver a Deus é uma expressão figurativa que indica a grande felicidade da

    comunhão com Deus no Reino (cf. Sl 17:15; 42:3; 4 Esdras 7:98 —  ‘poisapressam-se para contemplar a face daquele a quem serviam durante a vida, e

  • 8/16/2019 Exegese 1 - Mateus 5.8

    15/27

    de quem devem receber o seu galardão ao serem glorificados). Jesus sentava-

    Se à mesa com publicanos e pecadores (Mc 2:13-17). Não repelia os leprosos;

    pelo contrário, curava-os (Lc 17:1149). Falava com samaritanos (Lc 17:19c) e

    até mesmo com gentios (Mt 8:5-13; 15:21-28; Grego= λαὸς ).

    Não se quer dizer com isto que Jesus anulou os regulamentos da Torá a

    respeito da pureza (cf. e.g. Lc 17:14-17). Mesmo assim, ao remover as barreiras

    divisórias da lei cerimonial, e ao fazer uma reviravolta no conceito farisaico da

    pureza, ao exigir a pureza do coração e do caráter, irrompeu pela essência íntima

    do judaísmo, deixando-a para trás dele.

    Nos escritos apostólicos podemos perceber que apóstolo Paulo foi o

    primeiro a reconhecer claramente que Cristo levou a efeito o fim da Lei, e, que

    em decorrência disto, tornaram-se obsoletas todas as distinções rituais e

    cerimoniais.na ocasião da controvérsia entre os irmãos “fortes e fracos” que

    eram distinguidos pela atitude para o comer de carne que haveria sido usada em

    ocasiões de sacrifícios pagãos, Paulo fica de modo resoluto do lado dos fortes:

    “Todas as coisas são limpas” (Rm 4l: 20. Também Tt 1:15 se pode ler: “Todas

    as coisas são puras para os puros (mediante a fé). Para o apóstolo Paulo, a

    única razão para observar qualquer tipo de regra legalística é a consideração

    pelo irmão mais fraco. Já não há questão de elas terem validez absoluta.

    Nos escritos joaninos, a pureza se coloca em relacionamento estreitocom

    a morte salvífica de Jesus. Em outras palavras, tal enfoque recebe um

    fundamento cristológico explícito: “O sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de

    todo o pecado” (1 Jo 1:7; 1:9). A narrativa da lavagem dos pés dos discípulos

    demonstra que aqueles que permitem que sejam servidos por Jesus (como no

    batismo) são limpos (Jo 13:10; Ef 5:26). A pureza é intermediada pela palavra

    de Jesus (Jo 15:3) no pensamento de João. Portanto, a pureza não é umaqualidade ética em prol da qual o homem deve labutar, mas sim, a operação e

    concretização do fato de a igreja pertencer a Cristo

    A Epístola aos Hebreus interpreta a morte de Jesus com a ajuda de

    conceitos rituais do AT, a fim de demonstrar a qualidade superior da nova aliança

    sobre a antiga (Hb 9:13-14). Em contraste com a purificação do templo vétero-

    testamentário mediante o sacrifício, repetido ano após ano, que o escritor

    interpreta como lembrança anual do pecado (10:1-4), a purificação feita pelosangue de Cristo é válida de uma vez por todas. Além disto, serve não somente

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    para trazer a purificação externa, como também, e muito mais, a purificação de

    todo o pecado (1:3; 10:22). Hebreus, como 1 João, liga o conceito da pureza com

    o do perdão (Hb 9:22).

    Apenas nas Epístolas Pastorais e Universais em especial a de Tiago e 1

    Pedro que o conceito da pureza ganhou caráter parcialmente ético. As Epístolas

    a Timóteo, em linguagem formalmente semelhante à pregação de Jesus,

    exortam à pureza do coração e da consciência (1 Tm 1:5; 3:9; 2 Tm 2:22). Quanto

    ao conteúdo, no entanto, o enfoque muda da Pessoa de Jesus para a instrução

    didática: “Ora, o intuito da presente admoestação visa o amor que procede de

    coração puro e de consciência boa e de fé sem hipocrisia” (1 Tm 1:5; cf. 1 Pe

    1:22).

    A Epístola de Tiago demonstra uma certa tendência para voltar a um

    conceito de pureza que Paulo e João já descartaram, por descrever a renúncia

    diante de um mundo pecaminoso como “religião pura e sem mácula” (Tg 1:27).

    O ponto mais próximo que os escritos do Novo Testamento chega ao p e n s am

    e n to judaico tradicional está no Apocalipse, que se alude à pureza em termos

    de vestes de linho fisicamente limpas (15:6; 19:8,14) e da nova Jerusalém de

    ouro puro (21:18,21). Ao nos depararmos com a história destes termos

    demonstra quão variado foi o modo de entender, até mesmo no NT, a pureza

    que Jesus exigia e que Ele mesmo outorgava. Paulo e João se aproximam mais

    a uma demonstração do seu escopo universal e caráter libertador; nos escritos

    posteriores, revela-se uma tendência mais estreita e moralidade.

    Sentidos Léxicos para καρδίᾳ e cognatos: Coração, conhecedor de corações,

    mente, personalidade, caráter, paixões, desejos, apetites, afetos, propósitos,

    esforços, estado emotivo, intelecto, vontade, intenção, ser interior.

    καρδίᾳ no grego clássico

    No grego clássico a palavra καρδίᾳ era utilizado num duplo sentido: Literal

    e metafórico. De modo denotativo, significava o coração (como órgão corporal e

    centro da vida física). Esses sentidos ocorrem no célebre Aristóteles. Outros

    sentidos encontrados no uso do termo καρδίᾳ são: sede das emoções, fonte da

  • 8/16/2019 Exegese 1 - Mateus 5.8

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    vida espiritual, âmago da madeira, semente das plantas. Num sentido mais geral

    falava: do centro (a parte interior do homem).

    Em Homero, o termo καρδίᾳ também recebeu alguns sentidos: sede das

    emoções, centro intelectual, sede dos instintos/paixões, centro da vontade. Ou

    seja, ao todo, Homero atribuiu pelo menos 4 sentidos ao termo καρδίᾳ.

    καρδίᾳ na LXX/Antigo Testamento Massorético

    No Antigo Testamento encontramos as seguintes expressões leb e lebab

    para “coração”. leb ocorre nas partes mais antigas, e lebab aparece até Isaías.

     Assim como no grego antigo, o Antigo Testamento emprega o “coração” nos dois

    sentidos também: literal e o metafórico. A LXX traduz leb predominantemente

    por kardia. Raramente ela traduz por dianoia (“mente”) ou psyche Malma”). As

    nuanças do conceito são tão claramente reconhecíveis aqui como no Texto

    Massorético. Nesse contexto kardia ocorre predominantemente num sentido

    geral, referindo-se a pessoa como um todo.

    No Antigo Testamento a expressão para coração denota os dois sentidos

    (físico e metafórico). No sentido físico ele se refere ao cuidado pessoal do

    homem desse órgão que é a sede da vida física (SI 38: 10-11; Is 1:5). De modo

    que quando o coração é alimentado o homem é fortalecido (Gn 18:5; Jz 19:5; 1

    Rs 21:7). Ao olharmos para o sentido metafórico, leb é a sede da vida espiritual

    e intelectual do homem, a natureza intima da pessoa. Aqui se vê com clareza

    especial a conexão estreita entre os processos espirituais e intelectuais, e as

    reações funcionais da atividade do coração. Isso pode apontar para a estreita

    relação entre leb e de nepel (Alma) como termos intercambiáveis (Js 22:5; 1 Sm

    2:35; Dt 6:5).No Antigo Testamento, leb também e a sede do sentir, pensar e desejar

    do homem:

    a) O coração é a sede das mais variadas emoções: alegria (Dt 28:47), dor (Jr

    4:19), tranquilidade (Pv 14:30), e excitação (Dt 19:6).

    b) O coração é a sede do entendimento/conhecimento, das forças e poderes

    racionais (1 Rs 3:12; 4:29),de fantasias e visões (Jr 14:14), da estultice (Pv

    10:20-21) e os maus pensamentos.

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    c) A vontade tem sua origem no coração, como também a intenção bem

    ponderada (1 Rs 8:17), e a decisão que está pronta a ser colocada em vigor (Ex

    36:2).

     A expressão utilizada no Antigo Testamento “leb” no entanto, significa

    menos uma função isolada do que o homem com todos os seus impulsos - em

    resumo, a pessoa na sua totalidade (SI 22:26-27; 73:26; 84:2-3). W. Eichrodt,

    em sua Teologia do Antigo Testamento Vol.II, 1967,143 afirma que “Leb” “é “um

    termo compreensivo para a personalidade como um todo, sua vida interior, seu

    caráter.

    É a atividade consciente e deliberada do ego humano, contido em si

    mesmo”. Aqui, o uso vetero-testamentário se contrasta com aquele do Grego

    secular, uma vez que ali o coração, por mais diferenciações de significado que

    ele tenha, tem uma só função dentro do sistema de processos espirituais e

    intelectuais. Sendo que a ideia da responsabilidade se relaciona especialmente

    com o coração, aquilo que procede do coração e bem distintivamente a

    propriedade da totalidade do homem interior, e, portanto, faz com que ele, como

    ego que opera conscientemente, seja responsável por ele” (W. Eichrodt, op. cit.,

    144).

    No AT, o único corretivo para esta responsabilidade do homem se acha em

    Yahweh, o coração também e o órgão do qual o homem, ou como ímpio ou como

    desobediente, tem um encontro com a palavra e os atos de Deus. E a sede da

    reverencia e da adoração (1 Sm 12:24; Jr 32:40); o coração dos fiéis se inclina

    em fidelidade a lei de Deus (Is 51:7), o dos ímpios e endurecido e longe de Deus

    (Is 29:13). E no coração que se realiza a conversão a Deus (SI 51:10,17 12, 19;

    J1 2:12).

    καρδίᾳ no Novo Testamento

    No Novo Testamento percebermos que o emprego de καρδίᾳ coincide com

    o modo vetero-testamentário de entender o termo, tanto quanto difere do

    significado de “coração” como sendo a vida interior, o centro da personalidade e

    o lugar onde Deus se revela aos homens se expressa ainda mais claramente no

    Novo Testamento do que no Antigo Testamento, Em passagens onde o AntigoTestamento teria empregado “coração” no sentido de “pessoa”, o Novo

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    Testamento frequentemente emprega o pronome pessoal (Mt 9:3; 16:7; 21:25,

    38; 2 Co 2:1).

    καρδίᾳ não obstante, ocorre em 148 passagens no NT: em Paulo 52 vezes:

    nos Sinóticos 47; em Atos 17; nas Epistolas Gerais 13; em Hebreus 10; em João

    6; e no Apocalipse 3 vezes.

    καρδίᾳ como centro da vida física e da constituição psicológica do homem.

    καρδίᾳ ocorre com relativa raridade no sentido do órgão físico, a sede da vida

    natural (Lc 21:34; At 14:17; Tg 5:5). Por contraste, denota mais frequentemente

    a sede da vida intelectual e espiritual, a vida interior, em contraste com as

    aparências externas (2 Co 5:12; 1 Ts 2:17; cf. 1 Sm 16:7). Os poderes do espirito,

    da razão e da vontade se centralizam no coração bem como as moções da alma,

    os sentimentos, as paixões e os instintos. O coração representa o ego do

    homem. E, simplesmente, a pessoa (“a pessoa interior do coração”. (1 Pe 3:4). 

    καρδίᾳ como o centro da vida espiritual. As instancias mais significantes de

    καρδίᾳ  no NT ocorrem naquelas passagens que falam do estado do homem

    diante de Deus. O coração é aquilo no homem ao qual Deus Se dirige. E a sede

    da dúvida e da dureza, além de ser a da fé e da obediência; Nesse sentido um

    dos aspectos marcantes do NT e a aproximação essencial de καρδίᾳ ao conceito

    de nous, “mente”, nous pode também ter os significados de “pessoa”, o “ego” do

    homem, O coração e a mente (noemata, lit. “pensamentos”) podem se empregar

    em paralelo (2 Co 3:14-15), ou como sinônimos (Fp 4:7).

    O ato de pecar é devastador não somente no que se refere ao aspecto

    físico do homem natural, não somente seu pensar, desejar, sentir e esforço como

    elementos físicos, mas também a fonte dos mesmos, a parte mais intima da

    existência humana, seu coração. Se, porém, o coração ficou escravizado pelo

    pecado, a totalidade está em escravidão. Os pensamentos maus vem do coração(Mc 7:21 par. Mt 15:19). Desejos vergonhosos habitam no coração (Rm 1:24). O

    coração e desobediente e impenitente (Rm 2:5; 2 Co 3:14-15), duro e infiel (Hb

    3:12), embotado e escurecido (Rm 1:21; Ef 4:18). Jesus, referindo-Se aos Seus

    oponentes, citou o profeta Isaias: “vosso coração está longe de mim” (Mc 7:6;

    par. Mt 15:8). De igual modo, repreendeu Seus discípulos pela sua falta de fé e

    sua dureza de coração (Mc 16:14; cf. 24:25, 32). Os gentios não se podem

    desculpar diante de Deus, tampouco, porque levam no coração o conhecimentodaquilo que e justo e reto aos Seus olhos (Rm 2:15).

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    Em Jeremias a queixa de Jeremias 17:9 “Enganoso e o coração, mais do

    que todas as coisas, e desesperadamente corrupto, o conhecera?”. Da

    expressão aquilo que também e o ponto de vista do NT. Ninguém pode entender

    seu próprio coração, muito menos muda-lo. homem sem Deus vive sob o poder

    do pecado, que fez sua habitação no seu coração, posição favorável, escraviza

    o homem inteiro.

    Somente Deus pode revelar as coisas escondidas no coracao do homem

    (1 Co 4:5), examina-las (Rm 8:27) e testa-las (1 Ts 2:4). E porque a corrupção

    brota do coração que começa ali Sua obra de renovação, kardia e “o lugar onde

    Deus trata com o homem ... parte do homem ... onde, em primeira instancia, se

    decide a questão pro ou contra Deus". Assim como o coração e a sede da

    fidelidade, também e a sede da fé 10:6-10). A conversão ocorre no coraçãoe é,

    portanto, questão do homem inteiro. A palavra de Deus não prende

    simplesmente o entendimento ou as emoções, como também penetra no

    coração (At 2:37; 5:33; 7:54).

    Diante dessas observações, podemos ponderar que o coração do homem,

    no entanto, não somente e o lugar onde Deus desperta e cria a fé. Aqui, a fé

    comprova a sua realidade mediante a obediência e a paciência (Rm 6:17;2 Ts

    3:5). Aqui, guarda-se a palavra de Deus (Lc 8:15). É aqui que a paz de Cristo

    começa seu império (Cl 3:15). A graça de Deus fortalece e estabelece o coração

    (Hb 13:9). 0 NT descreve um coração que se dirige sem reservas a Deus como

    “coração puro” (Mt 5:8;1 Tm 1:5). Esta pureza de coração se baseia

    exclusivamente no fato de que o sangue de o purifica (Hb 10:22; cf. 1 Jo 1:7), e

    Cristo nele habita mediante a fé (Ef 3:17).

    Devem-se mencionar aqui duas palavras correlatas que ocorrem no Novo

    Testamento. Podemos observar kardiognostes e desconhecido no Gr. secular ena LXX, e ocorre no Novo Testamento somente At 1:24 e 15:8, e, mais tarde,

    nos escritos patrísticos. Descreve Deus como “Conhecedor corações”. O fato de

    que Deus testa e sonda as profundidades escondidas do coração humano se

    declara comumente tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento

    (1Sm 16:7; Jr 11:20; 17:9-10; 16:15; Rm 8:27; 1 Ts 2:4; Ap 2:23).

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     Análise Sinót ica

    Os estudiosos do Novo Testamento têm sugerido que toda leitura dos

    evangelhos seja feita de forma horizontal para fins de maiores esclarecimentos

    no que diz respeito a nuances do texto bíblico. Em se tratando das bem-

    aventuranças, o leitor deve observar que conquanto dois dos evangelhos

    sinóticos (Mateus 5:3-11 e Lucas6:20-23) as incluam em suas narrativas, apenas

    Mateus registra a bem-aventurança referente aos puros de coração.

    Além do mais, a narrativa de Mateus inclui 9 bem-aventuranças, enquanto

    que Lucas registra apenas 4. Isso demonstra que em termos quantitativos, a

    narrativa de Mateus é mais abrangente em conteúdo. No evangelho de Mateus,

    a bem-aventurança dos puros de coração é a 6ª bem-aventurança. Ela vem logo

    após a bem-aventurança dos misericordiosos, e antes da bem-aventurança dos

    pacificadores.

    Contexto Teológico

    Do ponto de vista teológico estamos em pleno acordo com a conhecida

    afirmação de Rudolf Bultmnan: “Não é possível uma exegese destituída de

    premissas”. Com isso queremos expressar nossa anuência com os pressupostos

    (Método Histórico/Gramatical) da tradição reformada, e a luz deles iremos buscar

    o sentido teológico do texto em apreço (Mt 5:8).

    A fim de empreender tal tarefa, teremos que situar a perícope em apreço

    (Mt 5:8) no seu contexto maior. Uma rápida olhada nos 7 primeiros capítulo de

    Mateus nos dão o seguinte vislumbre:

    Cap.1: A genealogia e o nascimento de Jesus.

    Cap.2: Temos a visita dos magos, a fuga para o Egito, e o retorno para Nazaré.

    Cap.3: A pregação de João Batista, seu testemunho acerca de Jesus, e o

    batismo de Jesus.

    Cap.4: A tentação no deserto, a ida a Galiléia, e a vocação dos discípulos.

    Cap.5-7: Sermão da Montanha.

    Feito isso, podemos prosseguir na nossa tarefa. Em Mt 4:22 lemos que

    após Jesus vocacionar alguns discípulos, estes o seguiram. O versículo 23 dizque Jesus percorria a região da Galiléia. No versículo 25 fica claro que, a partir

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    de então não somente os discípulos o seguiam, mas toda uma multidão. Por

    sinal, o versículo encerra com a seguinte expressão: “numerosas multidões o

    seguiam”. 

    O 5º capítulo de Mateus inicia dizendo que tanto as multidões quanto os

    discípulos cercavam Jesus e ele passou a ensiná-los. Esse corpo de ensinos

    tem sido chamado pelos estudiosos de o “Sermão do Monte”.

    Em ordem sequencial, a bem-aventurança que trata dos puros de coração

    é a 8ª. A pergunta que surge diante desta bem-aventurança é a seguinte: quem

    são os limpos de coração? Certamente muitos ao se depararem com este texto

    se fazem esse questionamento. E tal postura não ocorre apenas com leigos.

    Teólogos também se veem nesse embate.

    De início, devemos reconhecer que “pureza de coração” está associada

    com a santidade. Pois a promessa para os puros de coração é que “eles verão

    a Deus”. Em Hb 12:14 lemos: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a

    qual ninguém verá o Senhor ”. Como se depr eende, a pureza é algo requerido

    daqueles que haverão de comparecer perante Deus e o verão pessoalmente. Tal

    prescrição fundamenta-se no fato de que Deus é puro e santo, e que, portanto,

    aquele que o verão devem desfrutar da mesma condição.

    Tal imagem ecoa sem dúvida do Antigo testamento. Textos como o Sl 15:1-

    2; 24:3-4. Vejamos o quadro abaixo a fim de que as semelhanças apareçam:

    Salmo 15:1-2 Salmo 24:3-4 Mateus 5:8

    Quem, Senhor, habitará

    no teu tabernáculo?

    Quem há de morar no

    teu Santo monte? O quevive com integridade, e

    pratica a justiça, e, de

    coração, fala a verdade;

    Quem subirá ao monte

    do Senhor? Quem há de

    permanecer no teu

    santo lugar? O que élimpo de mão e puro de

    coração, que não

    entrega a sua alma à

    falsidade, nem jura

    dolosamente.

    Bem-aventurados os

    puros de coração,

    porque verão a Deus.

    Como se depreende do quadro, as expressões: “habitará”, “morar”, “subirá”e “permanecer”, todas são sinônimos de ver ou contemplar a Deus

  • 8/16/2019 Exegese 1 - Mateus 5.8

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    pessoalmente. E em todos os textos supracitados, a condição requerida para

    que tal benécia seja experimentada é a pureza de coração.

    Aqui surge uma pergunta: Como ter um coração puro? Tal pergunta nos é

    respondida no Sl 51:2, 10 quando Davi após ter pecado suplicou ao Senhor

    dizendo: “Lava-me completamente da minha iniquidade e purifica-me do meu

    pecado... Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um

    espírito inabalável”. O Salmo é claro: É Deus quem opera essa purificação. É

    aquilo que a teologia reformada tem chamado de “regeneração monegística”.

    Em outras palavras, é o agir soberano da graça de Deus incidindo sobre a vida

    do pecador e o purificando dos seus pecados.

    Curiosamente, o Senhor Jesus Cristo vai tratar dessa questão em Jo 15.

    Pouco tempo antes da sua paixão, Jesus expôs aos seus discípulos a metáfora

    da videira, na qual ele é a própria videira e seus discípulos os ramos. No final do

    Verso 4º, Jesus diz que o ramo que frutifica, esse é podado para que frutifique

    mais. E no Verso 5º ele diz: “Vós  já estais   limpos pela Palavra que eu vos

    tenho falado”. Ou seja, a limpeza/pureza desfrutada pelos discípulos não

    emanava deles, mas do próprio Cristo. Isso nos induz a responder a pergunta

    anteriormente levantada: quem são os limpos de coração? Os regenerados.

    Aqui cabe levantar a seguinte observação: o sentido primordial de tal

    pureza de coração consiste em ela ser de natureza interior. Não se requer mais

    apenas a pureza ritualística. Agora, a pureza deve emanar do centro do ser, do

    mais íntimo do homem. Entretanto, isso não invalida a necessidade da

    santificação. Is 59:2 diz que o pecado separa Deus do homem. E tal separação

    só pode ser rompida pela remoção do pecado na vida do homem. A luz da

    teologia reformada entendemos que isso só pode ser desfrutado por aqueles que

    foram regenerados, passaram pelo chamado eficaz, foram justificados,redimidos e por fim adotados como filhos de Deus.

    Embora essa temática tenha recebido pouquíssima atenção, é bem

    verdade que as Escrituras a salientem com grande ênfase. O Sl 73:1 exalta a

    pureza de coração e diz que Deus trata com fidelidade os que assim procedem.

    Em 1Tm 1:5 Paulo diz que o amor (o supremo dom) procede de um coração

    puro. Em 2Tm 2:22 Paulo diz que aqueles que seguem o Senhor possuem um

    coração puro. E por fim, em 1Pd 1:22 Pedro fala que a pureza da alma (cognato

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    para coração) ocorre por meio da obediência. Em suma, as escrituras estimulam

    os servos de Deus a buscarem a pureza como virtude da alma.

    Um breve comentário sobre a palavra coração é que em Mt 5:8 Jesus não

    estava falando do órgão do corpo, cuja responsabilidade é bombear o sangue.

    Antes, ele se referia a sede emotiva, intelectual e volitiva do homem. Ou seja,

    ele falava do homem na sua totalidade. Falava do homem com todas as suas

    faculdades. Isso apontava para uma busca por Deus sem reservas.

    Mas o texto da Bem-Aventurança faça a prescrição de que o sevo de Deus

    deve ter pureza de coração, ela também faz uma promessa: “eles verão a Deus”.

    Ou seja, o Deus que requer uma conduta e uma vida interior carregada de pureza

    é om mesmo que promete a benção da sua presença contínua. Isso nos faz

    recordar Enoque. Embora o texto sagrado não faça nenhuma menção das

    motivações de Enoque, certamente seu coração (seu Ser) estava tão voltado

    para Deus que lemos em Gn 5:24 “Andou Enoque com Deus e já não era, porque

    Deus o tomou para si”.

    Paulo diz que em 1Co 15:58 que “nosso labor não é vão no Senhor ”. Hb

    11:6 diz que o Senhor é “galardoador daqueles que seriamente o buscam”. Não

    pensemos em buscar a pureza para gozar as bênçãos que Deus tem para nós.

    Tê-lo como disse o salmista no Sl 16:2 “... outro bem não possuo, senão a ti

    somente” é a nossa maior benção. Mas estejamos certos, apenas os puros o

    verão. Se a nossa vida não evidencia essa convicção, é hora de repensar nosso

    modo de vida até o presente.

    Comparação de Versões

    Almeida Corrigida e Fiel – Bem-aventurados os limpos de coração, porque elesverão a Deus;

    Almeida Revista e Atualizada – Bem-aventurados os limpos de coração, porqueverão a Deus.

    Almeida Revista e Corrigida – bem-aventurados os limpos de coração, porqueeles verão a Deus;

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    Nova Versão Internacional – Bem-aventurados os puros de coração, pois verãoa Deus.

    American Standard Version – Blessed are the pure in heart: for they shall seeGod.

    King James Version – Blessed are the pure in heart: for they shall see God.

    New American Standard – Blessed are the pure in heart, for they shall see God.

    Comentário da Comparação

    Não há nenhuma diferença significativa entre nenhuma das versões,

    tanto as em português, quanto as em inglês, concordam com a tradução de

    todos os termos da perícope.

    Paráfrase

    Adotamos como paráfrase a tradução suferida por William Barclay em seu

    comentário ao evangelho de Mateus. O texto de Mt 5:8 é assim parafraseado no

    referido comentário:

      Mt 5:8 “Bem-aventurado é o homem cujas motivações são sempre

    integras e sem mescla de mal algum, porque este é o homem que verá a

    Deus.”. 

    Esboço Homilético

    Texto: Mateus 5:8

    Introdução: O discipulado cristão é semelhante a uma escada. Cada degrau

    que subimos representa uma virtude requerida pela ética do Reino. E, uma das

    virtudes requeridas é a pureza de coração conforme prescrita por Jesus em seus

    ensinamentos.

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    Elucidação: O texto de Mt 5:8 pode nos ajudar a entender um pouco a questão.

    Esse texto está localizado no início do Sermão do Monte que inicia em Mt 5:1 e

    vai até Mt 7:29. Todo esse Sermão constitui-se na ética do Reino. Isso nos leva

    a concluir que a pureza de coração não pode está distanciada da nossa prática

    de vida.

    Tema: Elementos do Discipulado Cristão

    1º A dádiva: Ser bem-aventurado (abençoado).

    2º A prescr ição: A necessidade da pureza de coração.

    3º A promessa: A recompensa de ver a Deus.

    Conclusão: Ser puro de coração é um imperativo do Reino de Deus, e nós como

    seus súditos devemos busca-la com ímpeto e esmero.

    Tradução Final

    Sugerimos a seguinte tradução como tradução final para o texto de Mt 5:8:

      Mt 5:8 “Benditos os puros de coração, pois eles verão a Deus”. 

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    Bibliografia

    1. Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e

    Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.

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    Vida Nova, 1998.

    4. SCHALKWIJK, Francisco Leonardo. Coinê: Pequena Gramática do Grego

    Neotestamentário. 5 ed. Patrocínio, MG: CEIBEL, 1989.

    5. COENEN, Lothar; BROWN, Colin. Dicionário Internacional de Teologia do

    Novo Testamento. 2 ed. São Paulo, SP: Sociedade Religiosa Vida Nova,

    2000.6. GINGRICH, F. Wilbur. Léxico do Novo Testamento Grego / Português.

    São Paulo, SP: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova,1984.

    7. HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento – Mateus 1.

    São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001.

    8. Noções do Grego Bíblico. Lourenço Stélio Rega. 3ª edição. São Paulo:

    Vida nova. 2009.

    9. Johannes Lown e Eugene Nida. Léxico Grego-Português do NT. SBB.

    São Paulo: SBB.2013.

    10. W.C.Taylor. Dicionário do NT Grego. Rio de Janeiro: JUERP. 1991.