31
GLADSON PEREIRA DA CUNHA SILVINO DA CUNHA DIAS Exegese em I João 2.1-6 Exegese apresentada ao Seminário Teológico Presbiteriano Rev. Denoel Nicodemos Eller atendendo as exigências da disciplina de Exegese em Epístolas Gerais. Professor: Rev. Ms. José João de Paula

Exegese Em I João - Parte I

Embed Size (px)

DESCRIPTION

1ª Parte da exegese de 1Jo.2.1-6

Citation preview

Page 1: Exegese Em I João - Parte I

GLADSON PEREIRA DA CUNHASILVINO DA CUNHA DIAS

Exegese em I João 2.1-6

Exegese apresentada ao Seminário Teológico

Presbiteriano Rev. Denoel Nicodemos Eller

atendendo as exigências da disciplina de Exegese

em Epístolas Gerais.

Professor: Rev. Ms. José João de Paula

BELO HORIZONTE

2004

Page 2: Exegese Em I João - Parte I
Page 3: Exegese Em I João - Parte I

ÍNDICE

1 TEXTO – I JOÃO 2.1-6..................................................................................................................4

1.1 Texto Original....................................................................................................4

2 ANÁLISE MORFOLÓGICA...........................................................................................................4

3 TRADUÇÃO.................................................................................................................................. 7

3.1 Tradução Literal................................................................................................7

3.2 Tradução Pessoal.............................................................................................7

4 GÊNERO LITERÁRIO...................................................................................................................8

5 ESTRUTURA DO CONTEXTO....................................................................................................10

5.1 Contexto Anterior [].........................................................................................10

5.2 Contexto Posterior [].......................................................................................10

6 CONTEXTO HISTÓRICO............................................................................................................10

6.1 Autor...............................................................................................................11

Evidências Externas...........................................................................................11

Evidências Internas............................................................................................13

6.2 Data e Local....................................................................................................15

6.3 Conteúdo........................................................................................................15

6.4 Propósito.........................................................................................................17

6.5 Destinatário.....................................................................................................20

BIBLIOGRAFIA.................................................................................................................................... 21

Page 4: Exegese Em I João - Parte I

4

1 TEXTO – I JOÃO 2.1-6

1.1 Texto Original1

v.1 Tekni/a mou, tau=ta gra/fw u(mi=n i(/na mh\ a(ma/rthte. kai\ e)a/n tij

a(ma/rtv, para/klhton e)/xomen pro\j to\n pate/ra )Ihsou=n Xristo\n

di/kaion:

v.2 kai\ au)to\j i(lasmo/j e)stin peri\ tw=n a(martiw=n h(mw=n, ou) peri\

tw=n h(mete/rwn de\ mo/non a)lla\ kai\ peri\ o(/lou tou= ko/smou.

v.3 Kai\ e)n tou/t% ginw/skomen o(/ti e)gnw/kamen au)to/n, e)a\n ta\j

e)ntola\j au)tou= thrw=men.

v.4 o( le/gwn o(/ti )/Egnwka au)to/n kai\ ta\j e)ntola\j au)tou= mh\ thrw=n,

yeu/sthj e)sti/n kai\ e)n tou/t% h( a)lh/qeia ou)k e)/stin:

v.5 o(\j d' a)\n thrv= au)tou= to\n lo/gon, a)lhqw=j e)n tou/t% h( a)ga/ph

tou= qeou= tetelei/wtai, e)n tou/t% ginw/skomen o(/ti e)n au)t%= e)smen.

v.6 o( le/gwn e)n au)t%= me/nein o)fei/lei kaqw\j e)kei=noj periepa/thsen

kai\ au)to\j [ou(/twj] peripatei=n.

2 ANÁLISE MORFOLÓGICA2

Palavra Análise Morfológica Raiz Tradução

v.1Tekni/a Substantivo Vocativo Neutro Plural tekni/on Filhinhos

mou, Pronome Possessivo Genitivo Singular e)gw/ meu

tau=ta Pronome Demonstrativo Acusativo Neutro Plural ou(=toj isto

gra/fw Verbo Presente Indicativo Ativo - 1ª Pessoa Singular gra/fw estou escrevendo

u(mi=n Pronome Demonstrativo Dativo Plural su/ à vós

i(/na Conjunção Subordinativa Final i(/na a fim de que

mh\ Advérbio de Negação mh/ não

a(ma/rthte. Verbo Aoristo Subjuntivo Ativo - 2ª Pessoa Plural a(marta/nw pequeis

kai\ Conjunção Coordenativa Aditiva kai/ e

e)a/n Conjunção Subordinativa Condicional e)a/n se

tij Pronome Indefinido Nominativo Masculino Singular ti\j alguém

a(ma/rtv, Verbo Aoristo Subjuntivo Ativo - 3ª Pessoa Singular a(marta/nw peque

para/klhton Substantivo Acusativo Masculino Singular para/klhtoj advogado

e)/xomen Verbo Presente Indicativo Ativo - 1ª Pessoa Plural e)/xw temos

1 SILVER MOUTAIN SOFTWARE. Bible for Windows, v.2.1, 1993. O texto utilizado neste programa está de acordo com a United Bible Society 4th Edition.

2 Cf. FRIBERG, Barbara, FRIBERG, Timothy, O Novo Testamento Grego Analítico, São Paulo: Edições Vida Nova,1987; SILVER MOUTAIN SOFTWARE. Bible for Windows, v.2.1, 1993; ALAND, Kurt [ed.]. The Greek New Testament 3rd Edition. Germany: United Bible Society, 1975. GINGRICH, F. Wilbur, DANKER, Frederick, Léxico do Novo Testamento Grego/Português. São Paulo: Edições Vida Nova, 2001; The Analytical Greek Lexicon. London: Samuel Bagster and Sons, Limited, 1972.

Gladson Perira da Cunha, 03/01/-1,
Este advérbio é usado em respostas negativas – ver BWP.
Page 5: Exegese Em I João - Parte I

5

pro\j Preposição pro/j diante de

to\n Artigo Acusativo Masculino Singular o( o

pate/ra Substantivo Acusativo Masculino Singular path/r Pai

)Ihsou=n Substantivo Acusativo Masculino Singular )Ihsou=j Jesus

Xristo\n Substantivo Acusativo Masculino Singular Xristo/j Cristo

di/kaion: Adjetivo Acusativo Masculino Singular di/kaioj Justo

v.2kai\ Conjunção Coordenativa Aditiva kai/ e

au)to\j Pronome Pessoal Nominativo Masculino Singular au)to/j ele

i(lasmo/j Substantivo Nominativo Masculino Singular i(lasmo/j oferta pelo pecado

e)stin Verbo Presente Indicativo Ativo - 3ª Pessoa Singular ei)mi/ é

peri\ Preposição peri/ por causa

tw=n Artigo Genitivo Feminino Plural o( dos

a(martiw=n Substantivo Genitivo Feminino Plural a(marti/a pecado

h(mw=n, Pronome Possessivo Genitivo Plural e)gw/ nossos

ou) Advérbio de Negação ou) não

peri\ Preposição peri/ por causa

tw=n Artigo Genitivo Feminino Plural o( dos

h(mete/rwn Adjetivo Genitivo Feminino Plural h(me/teroj nossos

de\ Conjunção Adversativa de/ mas

mo/non Adjetivo Acusativo Neutro Singular mo/noj apenas

a)lla\ Conjunção a)lla/ mas

kai\ Advérbio kai/ também

peri\ Preposição peri/ por causa

o(/lou Adjetivo Genitivo Masculino Singular o(/loj todo

tou= Artigo Genitivo Masculino Singular o( do

ko/smou. Substantivo Genitivo Masculino Singular ko/smoj mundo

v.3Kai\ Conjunção Coordenativa Aditiva kai/ e

e)n Preposição e)n em

tou/t% Pronome Demonstrativo Dativo Neutro Singular ou(=toj isto

ginw/skomen Verbo Presente Indicativo Ativo - 1ª Pessoa Plural ginw/skw conhecemos

o(/ti Conjunção Causal o(/ti porque

e)gnw/kamen Verbo Perfeito Indicativo Ativo - 1ª Pessoa Plural ginw/skw conhecemos

au)to/n Pronome Pessoal Acusativo Masculino Singular au)to/j ele

e)a\n Conjunção e)a/n se

ta\j Artigo Acusativo Feminino Plural o( os

e)ntola\j Substantivo Acusativo Feminino Plural e)ntolh/ mandamentos

au)tou= Pronome Possessivo Genitivo Singular au)to/j dele

thrw=men. Verbo Presente Subjuntivo Ativo - 1ª Pessoa Plural thre/w obedecemos

v.4o( Artigo Nominativo Masculino Singular o( o

le/gwn Verbo Nominativo Masculino Singular Particípio le/gw que diz 3

3 Esta forma de tradução é recomendada por Schalkwijk como uma possibiliade para a tradução dos particípios adjetivais. Cf. SCHALKWIJK, Francisco Leonardo. Coinê - Pequena Gramatica do Grego Neotestamentário. Patrocínio: CEIBEL, 1998. 82, § 340

Gladson Perira da Cunha, 03/01/-1,
Ver Gingrich
Page 6: Exegese Em I João - Parte I

6

Presente Ativoo(/ti Conjunção Subordinativa Causal o(/ti porque

)/Egnwka Verbo Perfeito Indicativo Ativo - 1ª Pessoa Substantivo ginw/skw conheço

au)to/n Pronome Pessoal Acusativo Masculino Singular au)to/j a ele

kai\ Conjunção kai/ e

ta\j Artigo Acusativo Feminino Plural o( os

e)ntola\j Substantivo Acusativo Feminino Plural e)ntolh/ mandamentos

au)tou= Pronome Possessivo Genitivo Singular au)to/j dele

mh\ Advérbio mh/ não

thrw=n, Verbo Nominativo Masculino Singular Particípio Presente Ativo thre/w obedecendo

yeu/sthj Substantivo Nominativo Masculino Singular yeu/sthj mentiroso

e)sti/n Verbo Presente Indicativo Ativo - 3ª Pessoa Singular ei)mi/ é

kai\ Conjunção Coordenativa Aditiva kai/ e

e)n Preposição e)n em

tou/t% Pronome Demonstrativo Dativo Masculino Singular ou(=toj este

h( Artigo Nominativo Feminino Singular o( a

a)lh/qeia Substantivo Nominativo Feminino Singular a)lh/qeia verdade

ou)k Advérbio ou) não

e)/stin: Verbo Presente Indicativo Ativo - 3ª Pessoa Singular ei)mi/ está

v.5o(\j Pronome Relativo Nominativo Masculino Singular o(/j quem

de/ Conjunção Coordenativa Adversativa de/ pois

a)\n Conjunção Subordinativa Condicional a)/nthrv= Verbo Presente Subjuntivo Ativo - 3ª Pessoa Singular thre/w obedece

au)tou= Pronome Possessivo Genitivo Singular au)to/j a ele

to\n Artigo Acusativo Masculino Singular o( a

lo/gon, Substantivo Acusativo Masculino Singular lo/goj palavra,

a)lhqw=j Advérbio a)lhqw=j verdadeiramente

e)n Preposição e)n em

tou/t% Pronome Demonstrativo Dativo Masculino Singular ou(=toj este

h( Artigo Nominativo Feminino Singular o( o

a)ga/ph Substantivo Nominativo Feminino Singular a)ga/ph amor

tou= Artigo Genitivo Masculino Singular o( do

qeou= Substantivo Genitivo Masculino Singular qeo/j Deus

tetelei/wtai Verbo Perfeito Indicativo Passivo - 3ª Pessoa Singular teleio/w é aperfeiçoado

e)n Preposição e)n em

tou/t% Pronome Demonstrativo Dativo Neutro Singular ou(=toj isto

ginw/skomen Verbo Presente Indicativo Ativo - 1ª Pessoa Plural ginw/skw conhecemos

o(/ti Conjunção o(/ti que

e)n Preposição e)n em

au)t%= Pronome Pessoal Dativo Singular Masculino au)to/j ele

e)smen. Verbo Presente Indicativo Ativo - 1ª Pessoa Plural ei)mi/ estamos

v.6o( Artigo Nominativo Masculino Singular o( o

le/gwn Verbo Nominativo Masculino Singular Particípio Presente Ativo le/gw que diz

Page 7: Exegese Em I João - Parte I

7

e)n Preposição e)n em

au)t%= Pronome Pessoal Dativo Singular Masculino au)to/j a ele

me/nein Verbo Presente Infinitivo Ativo me/nw permanece

o)fei/lei Verbo Presente Indicativo Ativo - 3ª Pessoa Singular o)fei/lw deve

kaqw\j Conjunção kaqw/j assim como

e)kei=noj Pronome Demonstrativo Nominativo Masculino Singular e)kei=noj ele

periepa/thsen Verbo Aoristo Indicativo Ativo - 3ª Pessoa Singular peripate/w andou

kai\ advérbio kai/ também

au)to\j Pronome Pessoal Nominativo Masculino Singular au)to/j ele

[ou(/twj] Advérbio ou(/tw igualmente

peripatei=n. Verbo Presente Infinitivo Ativo peripate/w andar

3 TRADUÇÃO

Após o trabalho anterior podemos apresentar as seguintes traduções para o

presente trecho:

3.1 Tradução Literal1Filhinhos meu, isto estou escrevendo à vós a fim de que não pequeis e se alguém

peque advogado temos diante de o Pai Jesus Cristo Justo. 2E ele oferta pelo

pecado é por causa dos pecados nossos não por causa dos nossos mas apenas

mas também por causa todo do mundo. 3E em isto conhecemos porque

conhecemos ele se os mandamentos dele obedecemos 4o que diz porque conheço a

ele e os mandamentos dele não obedecendo mentiroso é e em este a verdade não

está. 5Quem pois obedece a ele a palavra, verdadeiramente em este o amor do

Deus é aperfeiçoado em isto conhecemos que em ele estamos: 6o que diz em a ele

permanece deve assim como ele andou também ele igualmente andar.

3.2 Tradução Pessoal1 Meus filhinhos, isto [que] estou escrevendo é para que vocês não pequem e se

[mesmo assim] alguém pecar, [quero que saibam] temos um advogado diante do

Pai, Jesus Cristo, [o]Justo. 2 Ele é [a] oferta pelo pecado pelos nossos pecados, não

apenas por causa dos nossos [pecados], mas também por causa [dos pecados] de

todo o mundo. 3 E [nós o] conhecemos, porque se obedecemos os seus

mandamentos [passamos] a conhecê-lo. 4 Porque aquele que diz: “Conheço a

Deus!” Torna-se um mentiroso quando não obedecer os seus mandamentos. e neste

não está a verdade. 5 Porque quem obedece à sua palavra, nele verdadeiramente o

amor do Deus é aperfeiçoado. E sabemos que estamos nele por causa disto: 6aquele que afirma que permanece nele, deve andar da mesma forma como ele

andou.

Page 8: Exegese Em I João - Parte I

8

4 GÊNERO LITERÁRIO

A definição de um gênero literário é de fundamental importância para o auxílio

de uma correta interpretação bíblica, o qual é o objetivo maior de uma exegese. Isto

porque, de certo modo, ele determinará o modo como o autor deverá escrever e

dispor o seu trabalho. Isto é verdade para qualquer gênero literário, inclusive em

relação as epistolas, grupo como o qual temos trabalhado desde o último semestre.

Quando referimos as epístolas, estamos falando de aproximadamente oitenta

por cento de todo o conteúdo do Novo Testamento. Três destes documentos são

atribuídos à apóstolo João, sendo este o segundo maior autor em termos de número

de epístolas escritas, entre as quais esta a Primeira Epistola de João,4 a qual será o

nosso objeto de estudo durante este semestre.

Como já vimos no último trabalho acerca da epistolas paulinas, alguns

eruditos tentaram criar uma metodologia para definir as diferenças entre cartas e

epístolas, como fez Adolf Deissmann,5 algo que julgamos irrelevante para o atual

estudo. Contudo, a grande maioria hoje entende que é impossível estabelecer

qualquer distinção entre cartas particulares ou públicas,6 mesmo que seja a distinção

entre cartas mais ou menos privada como faz W. G. Doty.7 É uma tentativa ingrata

fazer alguma distinção entre os “modelos”, portanto, falar em carta ou epístola é se

apropriar de sinônimos.

No entanto, devemos ter em mente que existem elementos básicos que

compõem a forma literária de um documento epistolar, e que estes traços como em

qualquer outro gênero literário são importantes para garantir ao texto o caráter

próprio de um determinado gênero. Neste caso, segundo Kümmel, uma epístola é

formada basicamente por uma fórmula de saudação composta do nome do

remetente e do destinatário, seguido de uma oração em ação de graças e uma

pequena introdução ao assunto que se pretende. Desenvolvido o conteúdo, temos a

4 A fim de facilitar a redação deste texto fica convencionado o uso da expressão Primeira Epístola para nos referirmos à Primeira Epistola de João. Havendo necessidade de referências as demais epistolas joaninas, faremos uso da grafia corrente.

5 CARSON, D. A., MOO, Douglas J. e MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Edições Vida Nova, 2001. 262

6 Ibid.,2627 DOTY, W.G. The Classification of Epistolary Literature, Em: The Catholic Biblical

Quarterly, nº31. 1969. 183-184

Page 9: Exegese Em I João - Parte I

9

conclusão que é composta de uma mensagem de saudação e votos de felicidade

para o destinatário e pessoas próximas dele conhecidas do remetente.8

Por causa desse padrão que o gênero epistolar um grande problema é criado

na definição do gênero literário da primeira epístola , isto é, ela não exibe nenhuma

característica formal que normalmente acompanham as cartas gregas do séc.I.9

Como tais características estão ausentes no corpo do documento muitos eruditos do

Novo Testamento procuram formas alternativa para estabelecer o gênero desse

documento. Assim, Kümmel considera a primeira epístola como uma espécie de

tratado dirigido a toda a cristandade, uma manifesto que não deve ser encarado

como uma epístola circunscrita a uma comunidade cristã específica.10

De opinião diferente, Barclay, mesmo percebendo a existência de um caráter

intensamente pessoal, prefere definir a primeira epístola como um “sermão amoroso

e ansioso” de um velho pastor, que numa demonstração de amor e cuidado pelo

rebanho, envia-lhe uma exortação, a qual também poderia ser enviada a outras

comunidades.11

Um terceiro e viável caminho é oferecido pela síntese dos argumentos de

Guthrie e Carson, a qual julgamos mais interessante. Para Guthrie a resposta mais

satisfatória é que a primeira epístola foi escrita para um grupo de pessoas, por certo

várias comunidade da Ásia Menor, com as quais o autor tinha mais familiaridade.12

Isso justificaria o fato de podermos perceber ao mesmo tempo uma atitude

abrangente do autor, como vê Kümmel, e um caráter intensamente pessoal, como

percebe Barclay. Mas quanto a forma incomum desta epístola? Nesse ponto, Carson

argumenta que esta forma é o resultado da intenção do autor em enviar uma cópia à

várias comunidades junto com um “bilhete” anexo que personalizava cada entrega.13

A Primeira Epístola de João é, portanto, uma carta escrita para ser lida como uma

8 KÜMMEL, Werner Georg. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Edições Paulinas, 1982. 317

9 CARSON et tal. Introdução ao Novo Testamento.493. Esta conclusão é mesma que outros autores chegaram: KÜMMEL. Introdução ao NT, 574; BARCLAY, William. El Nuevo Testamento Comentado – Vol.15. Buenos Aires: Editora La Aurora, 1974. 9; GUTHRIE, Donald. New Testament Introduction. London: Inter-Varsity Press, 1970. 873;

10 KÜMMEL. Introdução ao NT, 574-575. Martin Dibelius e Adolf Deissmann consideram a epístola de João como um anexo ao quarto evangelho, funcionando como uma espécie de explicação do mesmo, cf. GUTHRIE. New Testament Introduction. 874

11 BARCLAY. El Nuevo Testamento Comentado. 912 GUTHRIE. New Testament Introduction. 87413 CARSON et tal. Introdução ao Novo Testamento. 493

Page 10: Exegese Em I João - Parte I

10

carta pastoral, evidenciando o desejo pela correta conduta da igreja diante das

várias situações de perigo que se levantada naqueles dias.

5 ESTRUTURA DO CONTEXTO

A partir da leitura e análise do contexto anterior e posterior da passagem em

estudo, chegamos à seguinte estrutura contextual:

5.1 Contexto Anterior [1Jo.1.5-10]

I. Deus é Luz – [v.5]

II. Andar na Luz é viver em comunhão com Deus e o próximo – [v.6-7]

III. Andar na Luz é confessar os pecados – [v.8-10]

5.2 Contexto Posterior [1Jo.2.7-11]

IV. O Amor ensinado por Jesus – [v.7]

V. O Amor visto em Jesus – [v.8]

VI. O Amor refletido na vida do cristão – [v.9-11]

6 CONTEXTO HISTÓRICO

Como já temos trabalhado a algum tempo, para uma boa compreensão de

uma passagem das Escrituras e para a sua correta interpretação, temos que

considerar o fato de que o texto bíblico está condicionado dentro de um contexto

histórico que proveu um ambiente no qual ele seria desenvolvido, de sorte que ele

traz consigo alguns deste elementos, os quais não foram desprezados por Deus no

ato da revelação e, portanto, não devem ser desprezados por nós no ato da

interpretação. Vejamos o que o contexto histórico desta epistola tem a nos dizer:

6.1 Autor

A autoria de um documento tem muito a dizer a respeito do próprio

documento. As características do autor, sua realidade, seu pensamento, sua

teologia tudo isso foi usado pelo Espírito Santo e encontram-se em cada sentença

por ele escrita. Deus respeitou a personalidade de cada um dos seus “amanuenses”

ao revelar-se de forma escrita. Portanto, esta personalidade preservada, de algum

modo pode nos auxiliar neste tipo de trabalho.

Novamente nos deparamos com a dificuldade mais comum ao definir a

autoria de um documento neotestamentário, isto é, o anonimato de seus autores.

Page 11: Exegese Em I João - Parte I

11

Por motivos que desconhecemos, muitos dos autores do NT deixaram de identificar-

se na redação de seus documentos, o que é um prato cheio para que os críticos

possam minar elementos como a inspiração e autenticidade de tal documento,

embora mesmo os autores que se identificaram são duramente atacados pelo

criticismo. O caso da presente epistola não é diferente.

Mesmo que seu autor não se prestou ao trabalho de identificar-se

formalmente, entretanto, é possível uma definição de sua autoria através do que foi

escrito sobre e do que está escrito na epistola. Vejamos, então, as evidências que

nos auxiliarão neste processo.

Evidências Externas

Ao estudarmos as evidências externas existentes relativas à epistola de João,

podemos dividi-las em dois grupos: (a) alusões de escritores patrísticos, i.e., o uso

de expressões idênticas e com o mesmo sentido que encontrado no texto joanino, o

que dá a entender que tais autores conheciam o material desta epistola; (b)

afirmações sobre a autoria, i.e., indicações diretas que determinada porção citada

faz parte de uma documento apostólico cujo autor era João, o apóstolo.14

Neste primeiro grupo, encontramos alusões de diversos pais como Clemente

de Roma () que se refere ao povo de Deus como “aperfeiçoados no amor” (1Clem.

49.5; Cf. 1Jo.2.), ou ainda Policarpo de Esmirna (), discípulo do próprio João, que

em sua epistola aos filipenses faz uma afirmação muito próxima a de seu mestre

(Phil.7.1; cf. 1Jo.4.3).15 Essas alusões apontam para um conhecimento prévio do

conteúdo e mensagem da Epistola de João. Nestes casos os autores omitem que

tais expressões sejam de autoria joanina, entretanto, afirma Plummer, expressões

como a)nti/xristoj [lit. anticristo], no Novo Testamento, é peculiar à Epistolas de

João, ao passo que raramente são encontrados em escritos não-apostólicos, que se

tornam uma característica do apóstolo João.16

No segundo grupo, encontramos autores que afirmam expressamente que

estão utilizando material joanino em seus escritos. O primeiro autor a fazer isto foi

Papias de Hierápolis (c.140 A.D.), também discípulo de João e companheiro de

14 Este modo de estruturar este material está baseado no modo como Carson e demais autores apresentam estas evidências. Preferimos dividir em dois grupos apenas para efeitos didáticos, considerando que tais evidências são partes de um todo.

15 PLUMMER, Alfred [ed.] Cambridge Bible for Schools and Colleges – The Epistles of St. John. Cambridge: Cambridge University Press, 1954. 29

16 Ibid.,29

Page 12: Exegese Em I João - Parte I

12

Policarpo,17 que segundo o historiador Eusébio fez uso dos testemunhos da Primeira

Epistola de João.18

Aqui cabe uma observação. Podemos perceber a existência de dois escritores

cristãos e contemporâneos entre si, que pertenciam ao círculo mais íntimo do

relacionamento de João e que de alguma forma fazem uso do material deste em

suas respectivas obras, assim, é possível afirmar que tanto Policarpo como Papias

são as mais antigas e próximas testemunhas desta autoria joanina desta epistola,

sendo, portanto, as principais evidências externas a favor de João. O outros pais

que fizeram citações e afirmaram a autoria de João fazem somente repetir os que

seus mestres disseram, por exemplo, Irineu de Lion (c.180 A.D.), discípulo de

Policarpo, que usou em seu Contra os Hereges várias citações da epistola de João,

atribuindo explicitamente a sua autoria ao Apóstolo (Adv. Haer.3.16.18).19

Podemos encontrar, ainda, referência à duas epístolas de João no Cânon de

Muratori, que é o documento mais antigo que se tem a respeito do cânon bíblico do

Novo Testamento, por ter sido escrito por volta do ano 150 A.D., uma vez que cita o

nome de Pio, bispo de Roma de 143 à 155 A.D.20 O texto do cânon diz que “entre os

escritos católicos, se contam uma epístola de Judas e duas do referido João”.21 É

interessante notar que o cânon indica apenas duas epístolas de João, que aliás é

considerado como o autor do Quarto evangelho, por isso o uso do particípio referido,

i.e., ele já havia sido citado anteriormente nesse fragmento. mas disso surge uma

questão: quais seriam estas duas epístolas? Plummer afirma que é incerto o

significado de “duas epístolas” e, portanto, é impossível dizer quais são. Porém,

esse mesmo autor dá uma resposta que entendemos como satisfatória. Ele afirma

que é desconhecido pessoas ou seitas que aceitam a Segunda e a Terceira

Epistolas e ao mesmo tempo rejeitam a Primeira.22

Evidências Internas

Quando voltamos para o texto em si podemos encontrar informações que

corroboram para a elucidação da autoria joanina deste documento. Muito diferente

17 Ibid.,2918 EUSÉBIO DE CESARÉIA. História Eclesiástica. Rio de Janeiro: CPAD, 2000. III : xxxix : 1619 CARSON, et al. Introdução ao Novo Testamento. 49520 Cânon de Muratori. Dinponível em: <http://www.geocities.com/Athens/Aegean. htm> Acesso

em: 11 de junho de 200221 Ibid.22 PLUMMER. Cambridge Bible. 31

Page 13: Exegese Em I João - Parte I

13

de algumas das epistolas paulinas cuja autoria não é questionada nos meios

acadêmicos as epístolas atribuídas à João são alvos constantes ataque das escolas

do criticismo, assim como o é o Quarto evangelho. Talvez por causa dessa relação

existente entre as Epístolas e o Quarto evangelho, que John Stott afirma que se for

possível estabelecer relações mútuas entre esses documentos, então, todos os

argumentos utilizados para a autenticação da autoria joanina serão igualmente

válidos para as Epístolas, sendo esta a tese que ele defende em sua introdução à

primeira epístola.23

A primeira evidência é encontrada já na sua introdução. Por causa disso

Donald Guthrie vai dizer que a introdução “foi claramente planejada para nos dizer

algo acerca do seu autor”.24 Isso por que o próprio autor se coloca numa posição de

testemunha ocular da mensagem que ele estará transmitindo no desenvolvimento do

seu documento. Quando ele diz que “a vida se manifestou, e nós a temos visto”

(1Jo.1.2), ele está afirmando que ele estava presente e acompanhava o próprio

Cristo.25 Deste modo, temos a nossa primeira informação a respeito da autoria desta

epístola, i.e., seu autor foi alguém que presenciou o ministério de Jesus, sendo este

um dos pontos do método de B.F. Westcott para a determinação da autoria joanina

do Quarto evangelho.26 Do ponto-de-vista vocabular, seria muita coincidência que a

duas únicas vezes que o verbo tea/omai [lit. ver] é encontrado na 1ª pessoa do

plural do aoristo indicativo médio, ocorram em textos atribuídos a João (Jo.1.14;

1Jo.1.2) e num uso muito semelhante. Não podemos considerar coincidência esses

dois fatos que aproximam tais documentos, mas como evidência de que ambos tem

algo em comum, i.e., o autor.

Sobre a questão de semelhança, John Stott avalia que ambos documentos

têm uma grande proximidade quanto ao conteúdo, considerando que os assuntos

gerais são quase os mesmo, e também a própria sintaxe é muito parecida.27

Contudo, C.H. Dodd entende que a estilística dos dois documentos são diferentes e,

23 STOTT, John R.W. As Epistolas de João – Introdução e Comentário. Em: Série Cultura Bíblica. São Paulo: Edições Vida Nova e Editora Mundo Cristão, 1985. 16

24 GUTHRIE, Donald. New Testament Introduction. London: Inter-Varsity Press, 1970. 86525 Ibid., 86526 WESTCOTT, B.F. The Gospel According to St. Jonh. Grand Rapids: Eerdman Publisher

House, 1950. Cf. usado por: HALE, Broadus. Introdução ao Estudo do Novo Testamento. São Paulo: Editora Hagnos, 2001. 139), CARSON et tal. Introdução ao NT.155; BRUCE, Frederich. João – Introdução e Comentário. Em: Série Cultura Bíblica. São Paulo: Edições Vida Nova e Editora Mundo Cristão, 1987. 11; Todos defendem a utilização deste método.

27 STOTT. As Epistolas de João. 16

Page 14: Exegese Em I João - Parte I

14

portanto, não podem ser do mesmo autor. Ele considera que a existência de

diferenças vocabulares é tão grande e ao mesmo tempo tão próxima, que a

explicação mais plausível é que o autor da epístola seria um discípulo de João que

refletiu e contudo modificou o pensamento do seu mestre.28

Entretanto, Westcott percebe que, quanto ao estilo, em ambos os

documentos existe uma certa simplicidade na construção dos períodos e um grande

uso de paralelos a fim de enfatizar suas teses antitéticas, além do grande apego a

sentenças que com fórmulas enfáticas.29 Stott também refuta a afirma de C.H. Dodd,

quando este afirma que não existe nenhum vestígio da elevada escatologia joanina

que se acha no Quarto evangelho.30 Esta afirmação de Dodd se baseia na idéia que

o evangelho apresenta uma escatologia realizada, na qual tanto a vida quanto o

juízo são atividades atuais de Deus por meios de Cristo, que promete voltar

espiritualmente e não em glória nas nuvens do céu,31 conceito este que é parte de

uma escatologia numa perspectiva mais popular presente na epístola (1Jo.2.28; 3.2;

4.17).

Para Stott, no entanto, o argumento de Dodd não apresenta toda a verdade,

uma vez que existe no quarto evangelho referências a vinda do Cristo para levar

para si o seu povo, além de afirmações quanto ao último dia, ressurreição e juízo

(Jo.14.3; 5.28-29; 6.39-40,44-54; 11.24-26; 12.48),32 o que Dodd considera ser, na

primeira epístola , uma teologia desenvolvida pelo populacho da comunidade cristã e

não sendo a teologia de João. Avaliando o mesmo argumento de C.H. Dodd,

Kümmel vai afirmar que por ele não se pode concluir que tal diferença impossibilita

que ambos os documentos tenham saído da mesma pena.33 Mesmo A. Plummer,

que parece ser um tanto quanto adepto de um ponto-de-vista mais crítico, afirma

que as evidências em favor da autoria apostólica são muito forte.34 Portanto,

baseados nestes argumentos de Stott e Kümmel, podemos firmar o conceito que

existe sim uma relação na estilística da epístola e do quarto evangelho, bem como

de conteúdo e sintaxe.28 DODD, Charles Harold. Commentary on the Johannine Epistles. Em: Moffatt New

Testament Commentary. London: Hodder and Stoughton, 1946.29 STOTT. As Epistolas de João. 1630 Ibid.,1831 Ibid.,2132 Ibid.,2133 KÜMMEL. Introdução ao Novo Testamento. 582 34 PLUMMER. Cambridge Bible. 32

Page 15: Exegese Em I João - Parte I

15

Logo, se então consideramos a existência da relação entre o quarto

evangelho e a primeira epístola e, pelos argumentos, não existe nenhuma razão

justificável para asseverarmos que este documento cristão tenha sido escrito por

outro autor, aceitamos a posição conservadora que João, o discípulo amado tenha

escrito esta epístola universal.

6.2 Data e Local

Chegar a uma data segura para a redação de livros do Novo Testamento não

é algo fácil, como bem sugeriu Carson.35 E ao contrário de certos documento

neotestamentários, como as epístolas paulinas, a primeira epístola dá poucos sinais

para nos orientar nesta tarefa de datação e definir a localização da redação deste

documento.

Inicialmente o que podemos tomar como ponto-de-partida, como sugere

Donald Guthrie, é um período próximo ao desenvolvimento do gnosticismo,

considerando que a epístola pertence à um período em que esse movimento não

estava plenamente desenvolvido.36 Esta data, deve ser definida como próxima ao

final do século I.

Um segundo critério a ser observado é justamente a relação existente entre o

quarto evangelho e a primeira epístola de João, porque se consideramos que ambas

são produtos do mesmo autor, esta última deverá ter sido publicada em data

próxima da publicação do evangelho, a qual pode ser fixada seguindo os critérios

observados por Carson, entre 80 e 85 A.D.37 Daí temos uma questão: a primeira

epístola foi publicado antes ou depois do evangelho?

Se considerarmos o primeiro critério acima, que a primeira epístola foi escrita

quando o gnosticismo dava seus primeiros passos, podemos reproduzir o argumento

de Carson quando ele sugere que alguns gnósticos estava fazendo ouso indevido do

quarto evangelho, e que a epístola seria uma forma de corrigir as distorções

gnósticas.38 Então, consideramos mais provável que a publicação da epístola tenha

sido posterior e, fixada por Carson, no início da década de 90 A.D.39

35 CARSON et tal. Introdução ao Novo Testamento. 21736 GUTHRIE. New Testament Introduction. 88337 CARSON et tal. Introdução ao Novo Testamento. 21738 Ibid.,50039 Ibid.,500. Outros autores corroboram com Carson afirmando datas muito próximas da

apresentada por ele: A. Plummer, entre 85-95 A.D.; W.G. Kümmel, entre 90-110 A.D.; C.H. Dodd, mesmo não reconhecendo a autoria joanina da epístola, 96-110 A.D.

Page 16: Exegese Em I João - Parte I

16

Quanto a localidade em que esse documento foi produzido, o critério de

proximidade da publicação nos faz considerar que o local da publicação da primeira

epístola também é o mesmo do quarto evangelho. Neste caso, a cidade de Éfeso é

considerado pelo irresistível da Igreja Primitiva e os escritos da Patrística.40 Portanto,

ficamos com o que parece estar mais alicerçado entre os eruditos e confirmamos

que o local de redação da primeira epístola de João foi em Éfeso, capital da Ásia

Menor, região da qual João, o apóstolo, também foi seu metropolita.41

6.3 Conteúdo42

Podemos sintetizar e esboçar todo o conteúdo da epistola de João de acordo

com o esquema que se segue:

I. INTRODUÇÃO [I JO.1.1-4]

(a) O Tema Principal do Evangelho empregado na Epistola [I Jo.1.1-3]

(b) O Propósito da Epistola [I Jo.1.4]

II. DEUS É LUZ [I Jo.1.5-10; 2.1-28]

(a) O que o Andar na Luz envolve: a Condição e o Comportamento do Crente

[I Jo.1.5-2.11]

1. Relacionamento com Deus e com os Irmãos [I Jo.1.5-7]

2. Consciência e a Confissão dos Pecados [I Jo.1.8-10]

3. Obediência à Deus pela Imitação de Cristo [I Jo.2.1-6]

4. Amor Fraternal [I Jo.2.7-11]

(b) O que o Andar na Luz exclui: as Coisas e as Pessoas que devem ser

evitadas [I Jo.2.12-28]

1. Tripla Afirmação das Razões para a Redação da Epistola [I Jo.2.12-14]

2. Coisas que devem ser evitadas: o Mundo e seus Caminhos [I Jo.2.15-17]

3. Pessoas que devem ser evitadas: os Anticristos [I Jo.2.18-26]

4. O Lugar de Segurança: Cristo [I Jo.2.27-28]

III. DEUS É AMOR [I Jo.2.29 – 5.12]

(a) Evidências da Filiação: Obras e Retidão diante de Deus [I Jo.2.29 – 3.24]

40 CARSON et tal. Introdução ao NT.179; HALE, Broadus David. Introdução ao Estudo do Novo Testamento. São Paulo: Editora Hagnos, 2001.145. Plummer apresenta uma séria de evidências acerca da presença e ministério de João naquela cidade, Cf. PLUMMER. Cambridge Bible.10-14

41 PLUMMER. Cambridge Bible.1042 Cf. PLUMMER. Cambridge Bible.44-45

Page 17: Exegese Em I João - Parte I

17

(b) Os Filhos de Deus e os Filhos do Diabo [I Jo.2.29 – 3.12]

(c) Amor e Ódio [I Jo.3.13-24]

(d) A Fonte da Filiação: A presença do Espírito Santo como mostrado pela

Confissão da Encarnação [I Jo.4.1 – 5.12]

1. O Espírito da Verdade e o Espírito do Erro [I Jo.4.1-6]

2. O Amor é a Marca do Filhos de Deus [I Jo.4.7-21]

3. A Fé é a Fonte do Amor, a Vitória sobre o Mundo e a Posse da Vida

[I Jo.5.1-12]

IV. CONCLUSÃO [I Jo.5.13-21]

(a) Amor Intercessor – o Fruto da Fé [I Jo.5.13-17]

(b) A Suma do Conhecimento Cristão [I Jo.5.18-20]

(c) A Advertência Final [I Jo.5.21]

6.4 Propósito

Ao definirmos os elementos anteriores, algumas perguntas nos vêm à mente:

qual era a intenção do apóstolo João ao escrever a sua primeira epístola? O que

estava acontecendo em seus dias que o motivaram a escrever este documento? O

que no texto pode evidenciar tal interesse?

Podemos começar respondendo estas perguntas reafirmando o caráter

pastoral da primeira epístola, porém, acrescentando a ela um certa característica

polêmica ou mesmo apologética, sendo que o primeiro aspecto tem preeminência

sobre o segundo.43 Esse duplo aspecto proposicional da primeira epístola se encaixa

perfeitamente ao conteúdo anteriormente trabalhado, porque ele tanto responde as

necessidades dos fiéis como denuncia os erros dos infiéis, dando os primeiros

condição de reposta àqueles que lhes atacava a fé.

Caminhando por esse primeiro aspecto, John Stott vai argumentar, baseando-

se me evidências textuais, que o Apóstolo agindo pastoralmente pretendia que a

alegria dos seus leitores fosse completa (1Jo1.4), que eles também não pecassem

(1Jo.2.1) e também que eles tivessem plena certeza da vida eterna que lhes havia

sido dada (1Jo.5.13).44 O velho pastor desejava que a sua comunidade

experimentasse a alegria, a santidade e a certeza de sua fé, portanto, a primeira

43 STOTT. As Epistolas de João. 36. Este argumento de Stott é contrário ao de Carson, para o qual a primeira epístola é mais um documento polêmico que pastoral. Cf. CARSON et tal. Introdução ao Novo Testamento. 501

44 Ibid.,37. O propósito apresentado por Guthrie é muito próximo do que sugere Stott. cf. GUTHRIE. New Testament Introduction.872

Page 18: Exegese Em I João - Parte I

18

epístola se apresenta como a obra-prima na arte da edificação de uma comunidade

cristã.45 Mas por que havia essa necessidade de exortação às esses três

características da vida cristã? Justamente porque a fé cristã estava sendo

ameaçada, por isso fez-se necessário o tom apologético da primeira epístola.

A presença e a atividade de falsos mestre dentro daquela comunidade parece

ter sido notória, e a mesma é descrita pelo apóstolo, bem como alguns detalhes de

acerca da natureza do seu sistema pervertido.46 Este falsos mestres apresentavam

uma nova forma de interpretar o cristianismo, diferente daquele sustentado por João

e seus colegas apóstolos.47 Mas o que esses falsos mestres ensinavam?

Praticamente os erros desses anticristos podem ser divididos em dois grupos

como faz Stott. O erro deles era por um lado teológico e por outro ético (1Jo.2.26;

3.7).48 Num primeiro momento, esses homens estavam ensinando que o homem

Jesus não era realmente o Cristo, negando qualquer possibilidade de que o Filho

Eterno pudesse assumir para si “a carne humana” (1Jo.2.22-23; 4.2,15).49 Ao que

indicam as evidências textuais, os falsos mestres que João estava enfrentando eram

os precursores da heresia que seria responsável pelo desenvolvimento da seita

Gnóstica,50 porque até esse período não podemos falar em gnosticismo ainda, tendo

em vista que o mesmo só terá o seu desenvolvimento a partir do séc.V.51 Esse

movimento que se desenvolveu quase que paralelamente à igreja cristã tinha o seu

pensamento baseado na premissa que o espírito era bom e a matéria era má, e que

as duas coisas não podem ter uma relação duradoura mútua.52 E por isso, a

salvação era conquistada por meio da libertação do espírito do domínio da matéria

ao ponto da alma não mais sofrer com as ações do corpo.

Por conseguinte, era necessário que o apóstolo delineasse de forma clara as

diferenças entre os dois grupos, a fim de renovar-lhes os ânimos, renovando-lhes

45 FINDLAY, George G. Fellowship in the Life Eternal. London: Hodder & Stoughton, 190946 STOTT. As Epistolas de João. 3747 MARSHALL. I. Howard. The Epistles of John. Em: FEE, Gordon [ed.] The New Internacional

Commentary on the New Testament. Grand Rapids: Wm. Eerdmans Publishing Co., 1987. 1448 STOTT. As Epistolas de João.37 49 Ibid.,38; Concordam com a afirmação de Stott, CARSON et tal. Introdução ao Novo

Testamento.502; BARCLAY, El Nuevo Testamento. 20-21; MARSHALL. The Epistles of John. 15

50 MARSHALL. The Epistles of John.1551 Ibid., 1552 TENNEY, Merrill C. O Novo Testamento - Sua Origem e Análise. São Paulo: Edições Vida

Nova, 1998. 399

Page 19: Exegese Em I João - Parte I

19

também a certeza da vida (1Jo.5.13), porque, embora esse tenha deixado a igreja, a

sua presença era constante entre os membros dela, de modo que este grupo de

hereges acusava os “filhos da Luz” de serem espiritualmente inferiores.53 Ao

apresentar tais diferenças, o apóstolo João desafia os cristãos a conhecer as

características distintivas de sua fé, especialmente a necessidade para exercitar o

amor entre eles (1Jo.3.16-17; 4.7-8).54

Num segundo momento, podemos trabalhar aquilo que Stott chamou de erro

ético. Pelo que é possível inferir do texto da primeira epístola o problema ético que

fazia parte dos conceitos desse grupo protognótico girava em torno da

“impecabilidade” que eles julgavam ter, ou que o pecado do corpo não trazia reflexos

negativos sobre o seu relacionamento com Deus (1Jo.1.6-10). Num certo sentido,

afirma Marshall, eles diziam que conheciam a Deus (1Jo.2.4) e muito possivelmente

eles criam que Deus era luz e diziam que eles mesmos participavam dessa luz

(1Jo.210),55 porém esse entendimento era desprovido de qualquer atitude que o

confirmasse, porque se mantinham indiferentes a necessidade da retidão nos

comportamentos; não havendo, portanto, a necessidade de obediência aos

mandamentos de Deus.56

Segundo evidências externas apresentadas por Stott, esse possível grupo de

hereges eram desenfreados em seus costumes dissolutos, dados também a

sensualidade, sendo, portanto, uma forma prática de hedonismo.57 Neste sentido, o

apóstolo procurou demonstrar que a vida cristã é mais que um mero sistema

filosófico dirigidos por normas de fé, mas que era um sistema ético que espelharia

no campo da prática a fé proclamada, de modo que a reposta de João é simples:

“todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática do pecado” (1Jo.3.9). E um

dos modos mais dinâmicos para apresentar esta fé era através do amor.

João, portanto, intensinou muito mais que apenas combater uma “terrível

praga”; seu interesse principal era a segurança espiritual daqueles que estavam sob

os seus pastorais cuidados, demonstrando a necessidade da verdadeira fé em

53 CARSON et tal. Introdução ao Novo Testamento.501 54 GUTHRIE. New Testament Introduction.872-87355 MARSHALL. The Epistles of John.1556 STOTT. As Epistolas de João.4357 Stott apresenta uma série de escritos de Pais da Igreja que eidenciam o apsecto prático deste

grupo. Cf. STOTT. As Epistolas de João.42-43

Page 20: Exegese Em I João - Parte I

20

Jesus Cristo, demonstrando essa fé na prática através do amor. O que deveria ser

motivo para a manutenção da alegria, da santidade e da certeza da vida.

6.5 Destinatário

Como não é possível determinar isso através do texto sagrado, qualquer

resposta será mera inferência exegética, embora possamos nos apegar às

evidências externas. Neste caso, como já afirmamos anteriormente, a primeira

epístola foi escrita para um grupo de pessoas, por certo várias comunidade da Ásia

Menor, 58 região que alguns estudiosos do Novo Testamento consideram como uma

diocese governada pelo apóstolo, um dos motivos pelos quais o mesmo autor

enviaria as sete carta descritas em Apocalipse59. Não existindo muita especulação a

esse respeito.

58 CARSON et tal. Introdução ao Novo Testamento.50159 PLUMMER. Cambridge Bible.10

Page 21: Exegese Em I João - Parte I

21

BIBLIOGRAFIA

1. _____________, Bíblia de Estudo de Genebra, São Paulo: Editora Cultura Cristã

e Sociedade Bíblica do Brasil, 2000.

2. _____________, Bíblia Vida Nova, São Paulo: Edições Vida Nova e Sociedade

Bíblica do Brasil, 1997.

3. _____________, The Holy Bible – New Internacional Version, Grand Rapids:

Zondervan Publishing House, 2000.

4. _____________, O Novo Testamento – Nova Versão Internacional. São Paulo:

Sociedade Bíblica Internacional, 1994.

5. _____________, The Analytical Greek Lexicon,London: Samuel Bagster and

Sons, Limited, 1972.

6. BARCLAY, William. El Nuevo Testamento Comentado – Vol.15. Buenos Aires:

Editora La Aurora, 1974

7. CARSON, D. A., MOO, Douglas J. e MORRIS, Leon. Introdução ao Novo

Testamento. São Paulo: Edições Vida Nova, 2001

8. FEE, Gordon, STUART, Douglas, Entendes o que Lês? São Paulo: Edições Vida

Nova, 2002.

9. FRIBERG, Barbara, FRIBERG, Timothy, O Novo Testamento Grego Analítico. São

Paulo: Edições Vida Nova,1987.

10.GINGRICH, F. Wilbur, DANKER, Frederick. Léxico do Novo Testamento

Grego/Português. São Paulo: Edições Vida Nova, 2001.

11.GUTHRIE, Donald. New Testament Introduction. London: Inter-Varsity Press,

1970.

12.HALE, Broadus David, Introdução ao Estudo do Novo Testamento, São Paulo:

Editora Hagnos, 2001.

13.HÖRSTER, Gerhard, Introdução e Síntese do Novo Testamento, Curitiba: Editora

Evangélica Esperança, 1996.

14.KÜMMEL, Werner George. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Edições

Paulinas, 1982.

15.MARSHALL. I. Howard. The Epistles of John. Em: FEE, Gordon [ed.] The New

Internacional Commentary on the New Testament. Grand Rapids: Wm. Eerdmans

Publishing Co., 1987.

Page 22: Exegese Em I João - Parte I

22

16.PLUMMER, Alfred [ed.] Cambridge Bible for Schools and Colleges – The Epistles

of St. John. Cambridge: Cambridge University Press, 1954

17.STOTT, John R.W. As Epistolas de João – Introdução e Comentário. Em: Série

Cultura Bíblica. São Paulo: Edições Vida Nova e Editora Mundo Cristão, 1985