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Exemplo de artigo acadêmico Entre [ ]: instruções metodológicas 1 . EVANGELHO SEGUNDO JOÃO: CRISTOLOGIA “DE CIMA” OU “DE BAIXO”? Johan Konings [+ nota de rodapé com credenciais acadêmicas] [introdução: apresentação/exposição do tema, máx. 2 p., sem título próprio:] Na exegese e teologia dos últimos anos foi levantada a questão se a cristologia do Quarto Evangelho é uma cristologia “de cima”, isto é, partindo da divindade de Jesus, ou “de baixo”, partindo de sua humanidade. [continuar...]. Na literatura recente costuma-se chamar de “cristologia de cima” aquele que compreende Jesus a partir de sua divindade, e “cristologia de baixo”, aquele que o compreende a partir de sua humanidade e inserção na história humana. Onde situa-se a cristologia joanina nesta alternativa? O tema é complexo, porque não apenas implica a leitura atenta dos textos joaninos, sincronicamente, mas exige também o exame, diacrônico, de possíveis influências e fontes, relacionadas com seu contexto cultural e histórico. [etc.] Faremos o levantamento das compreensões cristológicas nos estudos sobre o Quarto Evangelho dos últimos setenta anos, desde o comentário epocal de R. Bultmann. [etc.] Num segundo momento faremos o confronto dessas cristologias e procuraremos mostrar outras maneiras de abordar o problema. [etc.] No fim, faremos uma avaliação crítica da maneira atual de opor uma cristologia “de cima” a uma “de baixo”, mostrando seus limites e sugerindo sua superação, para o bem da exegese joanina em geral e, especialmente, na América Latina. [revista da literatura, abrangendo umas 5 páginas e apresentada com título específico:] A cristologia joanina na literatura exegética desde Bultmann até hoje. Desde meados metade do século XX, a exegese do Quarto Evangelho foi dominada por alguns grandes estudos e comentários, que conservam seu valor e atualidade até hoje. Pensamos nas contribuições de R. Bultmann, R. Kaesemann, C. H. Dodd, R. Schnackenburg, J. M. Robinson, R. E. Brown, entre outros. R. Bultmann, no seu comentário de 1941, vê no Jesus joanino traços do Revelador gnóstico. Ele relaciona o material discursivo do Evangelho segundo João (doravante: Jo) com os discursos de revelação da gnose mandeica adotados nos círculos de João Batista e aplicados a Jesus por discípulos do Batista que se tornaram cristãos (BULTMANN, 1941, p. 4-5). Na base da cristologia joanina haveria, pois, uma raiz gnóstica, de onde o perfil não-mundano do Jesus Revelador que toma a palavra no Quarto Evangelho. Por outro lado, a obra joanina integraria uma fonte narrativa, chamada Semeiaquelle (“Fonte dos Sinais”), influenciada pelas histórias de milagres à moda helenista - por exemplo, em torno de Apolônio de Tiana [nota dedicada a este personagem]. Nesta fonte, Jesus apareceria como um theios anthropos segundo o imaginário helenístico, meio homem, meio deus. Estas duas fontes teriam sido integradas na forma de um “evangelho” que propõe uma cristologia da encarnação, enunciada no Prólogo (Jo 1,14) (BULTMANN, 1941, p. 38-43), aceitável ao cristianismo dominante. Um aluno de Bultmann, R. Kaesemann, julga a cristologia joanina tão diferente da sinóptica que chamou o quarto evangelista de “herege e mártir” (KAESEMANN, 1951). Precisamente o Prólogo, na sua forma original, e o capítulo 17 revelariam uma cristologia “ingenuamente docetista”, em que Jesus é apresentado como um enviado celestial de Deus, que não se “encarna” verdadeiramente. O versículo 14 do Prólogo, que 1 Neste Guia usamos entrelinha 1 por economia, mas nos trabalhos sigam-se as normas gerais {1.1.1}.

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Entre [ ]: instrues metodolgicas.EVANGELHO SEGUNDO JOO: CRISTOLOGIA DE CIMA OU DE BAIXO?

Johan Konings [+ nota de rodap com credenciais acadmicas][introduo: apresentao/exposio do tema, mx. 2 p., sem ttulo prprio:]

Na exegese e teologia dos ltimos anos foi levantada a questo se a cristologia do Quarto Evangelho uma cristologia de cima, isto , partindo da divindade de Jesus, ou de baixo, partindo de sua humanidade. [continuar...].

Na literatura recente costuma-se chamar de cristologia de cima aquele que compreende Jesus a partir de sua divindade, e cristologia de baixo, aquele que o compreende a partir de sua humanidade e insero na histria humana. Onde situa-se a cristologia joanina nesta alternativa? O tema complexo, porque no apenas implica a leitura atenta dos textos joaninos, sincronicamente, mas exige tambm o exame, diacrnico, de possveis influncias e fontes, relacionadas com seu contexto cultural e histrico. [etc.]

Faremos o levantamento das compreenses cristolgicas nos estudos sobre o Quarto Evangelho dos ltimos setenta anos, desde o comentrio epocal de R. Bultmann. [etc.]Num segundo momento faremos o confronto dessas cristologias e procuraremos mostrar outras maneiras de abordar o problema. [etc.]No fim, faremos uma avaliao crtica da maneira atual de opor uma cristologia de cima a uma de baixo, mostrando seus limites e sugerindo sua superao, para o bem da exegese joanina em geral e, especialmente, na Amrica Latina.

[revista da literatura, abrangendo umas 5 pginas e apresentada com ttulo especfico:]

A cristologia joanina na literatura exegtica desde Bultmann at hoje.

Desde meados metade do sculo XX, a exegese do Quarto Evangelho foi dominada por alguns grandes estudos e comentrios, que conservam seu valor e atualidade at hoje. Pensamos nas contribuies de R. Bultmann, R. Kaesemann, C. H. Dodd, R. Schnackenburg, J. M. Robinson, R. E. Brown, entre outros.

R. Bultmann, no seu comentrio de 1941, v no Jesus joanino traos do Revelador gnstico. Ele relaciona o material discursivo do Evangelho segundo Joo (doravante: Jo) com os discursos de revelao da gnose mandeica adotados nos crculos de Joo Batista e aplicados a Jesus por discpulos do Batista que se tornaram cristos (BULTMANN, 1941, p. 4-5). Na base da cristologia joanina haveria, pois, uma raiz gnstica, de onde o perfil no-mundano do Jesus Revelador que toma a palavra no Quarto Evangelho. Por outro lado, a obra joanina integraria uma fonte narrativa, chamada Semeiaquelle (Fonte dos Sinais), influenciada pelas histrias de milagres moda helenista - por exemplo, em torno de Apolnio de Tiana [nota dedicada a este personagem]. Nesta fonte, Jesus apareceria como um theios anthropos segundo o imaginrio helenstico, meio homem, meio deus. Estas duas fontes teriam sido integradas na forma de um evangelho que prope uma cristologia da encarnao, enunciada no Prlogo (Jo 1,14) (BULTMANN, 1941, p. 38-43), aceitvel ao cristianismo dominante.

Um aluno de Bultmann, R. Kaesemann, julga a cristologia joanina to diferente da sinptica que chamou o quarto evangelista de herege e mrtir (KAESEMANN, 1951). Precisamente o Prlogo, na sua forma original, e o captulo 17 revelariam uma cristologia ingenuamente docetista, em que Jesus apresentado como um enviado celestial de Deus, que no se encarna verdadeiramente. O versculo 14 do Prlogo, que acentua a encarnao, no faria parte do texto original, que teria culminado na afirmao da filiao divina dos que acreditam em Jesus (Jo 1,12-13).As teorias nesta linha [nota mencionando outros autores], porm, esbarram numa dificuldade, a saber, que os modelos gnsticos aos quais se referem so confirmados na literatura s a partir do II sculo d.C. [elaborar o argumento]Por isso merece ateno a obra clssica de C. H. Dodd, The Interpretation of the Fourth Gospel, que confronta o pensamento joanino com o judeu-helenismo que se manifesta no I sculo, como, por exemplo, em Flon de Alexandria (DODD, 1970, p. 54). Quanto s fontes, Dodd, em outra obra, situa o Quarto Evangelho numa tradio crist de solidas razes histricas e independente dos sinpticos (DODD, 1963).

Tambm os grandes comentrios de R. Schnackenburg (1965) e R. E. Brown (1966) reconhecem a independncia da tradio joanina, embora admitam contatos com a tradio sinptica. [continua-se a apresentao das publicaes relevantes sobre o assunto]

[passa-se discusso, umas 8 pginas, com ttulo especifico:]Revelador celestial ou homem da terra?

A discusso tem seu centro na questo se Jesus um ser celeste que traz terra uma revelao de um mundo divino oposto ao humano, ou um verdadeiro ser humano em cuja histria se manifesta e se realiza, incoativamente, o projeto salvfico de Deus. As teorias que recorrem a uma base gnstica, evidentemente, se inclinam a ver o Jesus joanino como um enviado extraterrestre. J as teorias que situam o Quarto Evangelho na linha do querigma, maneira dos escritos paulinos e sinpticos, partem do homem da terra, Jesus de Nazar, em cuja prxis se manifesta o projeto divino para com seu povo e para com a humanidade.

A favor de uma aproximao cristologia sinptica e paulina fala o fato de o quarto evangelista ter dado a sua obra a forma de um relato, que segue em grandes linhas o mesmo esquema que os evangelhos sinpticos, apesar das notveis diferenas, que, por um lado, podem ser explicadas pela presena de uma tradio narrativa peculiar e, por outra, pelo projeto redacional do evangelista.

O tom elevado do discurso de Jesus no Quarto Evangelho no necessariamente indcio de que o evangelista considere Jesus como um ser celestial que se insinua na humanidade mediante uma encarnao que mais parece uma espcie de metamorfose. Isso seria uma maneira muito grega de entender a encarnao [continuar...] [a concluso seja breve, sem introduzir elementos novos, ca. de 4 p.:]Concluso: por uma interpretao srquica do envio do Filho de Deus

A partir da discusso destas ltimas dcadas chegamos concluso de que o Jesus joanino no necessariamente um produto de uma cristologia de cima, mas o verus homo afirmado pela teologia patrstica e em cuja prxis e palavra se revela sua glria divina, que consiste, precisamente, em viver em carne o compromisso com os seus at o fim, at o dom da prpria vida. A aurola divina que, quase de modo ofuscante, paira sobre o Jesus do Quarto Evangelho no deve ser vista como marca de estranheza humanidade, mas como o mistrio de Deus-Amor que se revela numa existncia genuinamente humana. [etc.]

Por outro lado, a reflexo sobre a cristologia joanina, entendida como um aprofundamento daquela que subjaz ao evangelho de Marcos, pe em xeque a oposio entre cristologia de cima e de baixo [etc.][bibliografia como de regra s das obras efetivamente citadas, em ordem alfabtica:]REFERNCIA BIBLIOGRFICABROWN, Raymond E. The Gospel according to John. Garden City, NY: Doubleday, [1966].

BULTMANN, Rudolf. Das Evangelium des Johannes. 10. Aufl. Gttingen: Vandenhoeck und Ruprecht, 1941.

DODD, Charles H. Historical tradition in the Fourth Gospel. Cambridge: University Press, 1963.

______. The interpretation of the Fourth Gospel. 1. Paperb. ed. repr. Cambridge: University Press, 1970.

KAESEMANN, Ernst. Ketzer und Zeuge: zum johanneischen Verfasserproblem. Zeitschrift fr Theologie und Kirche, v. 28, p. 292-311, 1950.

SCHNACKENBURG, Rudolf. Das Johannesevangelium. I. Teil: Einleitung und Kommentar zu Kap. 14. Freiburg: Herder, 1965. Neste Guia usamos entrelinha 1 por economia, mas nos trabalhos sigam-se as normas gerais {1.1.1}.