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Narração – Tema Livre Lara estava irada. Sua cólera emanava por todo o ambiente, tornando-o nocivo. O medo de perguntar a causa de tanta ira me impedia até de ter um simples contato visual com ela. Que curioso sentir medo da irmã mais nova. Respirei fundo e engoli seco. - O que houve? – Minha voz trêmula parecia inaudível. - Eu odeio, ODEIO, quando eu ligo para o celular de uma pessoa inúmeras vezes, ela não atende a ligação e me manda uma mensagem: “Oi, você me ligou?” – Lara explicava a situação com fúria nos olhos – Ora, se há uma ligação perdida minha, óbvio que eu liguei! Fiquei encarando Lara, incrédula. Como um motivo tão banal poderia despertar tanta raiva em uma pessoa? O fato era inacreditável de tão extraordinário. Mas guerras já começaram por menos. Decidi deixar Lara, e toda sua fúria, isolada no quarto e saí de casa para um passeio no parque. O fim de tarde úmido era convidativo para um passeio descontraído e sem preocupações. Peguei-me pensando em Lara e suas raivas, e, oh, como ela se chateava por coisas tão simples! Sua energia para odiar pessoas que não atendem ligações e mandam mensagens poderia ser convertida em energia para terminar aqueles inúmeros trabalhos de fim de semestre que ela tanto reclamava. Trabalhos de fim de semestre. A frase ecoava na minha cabeça. Não havia terminado o protótipo do relógio para a aula de Tridimensional. Era o trabalho que custava minhas férias.

Exemplo de Texto Narrativo

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Exemplo de texto narrativo, com características de diálogos diretos e presença de história linear.

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Page 1: Exemplo de Texto Narrativo

Narração – Tema Livre

Lara estava irada. Sua cólera emanava por todo o ambiente, tornando-o nocivo.

O medo de perguntar a causa de tanta ira me impedia até de ter um simples contato

visual com ela. Que curioso sentir medo da irmã mais nova. Respirei fundo e engoli

seco.

- O que houve? – Minha voz trêmula parecia inaudível.

- Eu odeio, ODEIO, quando eu ligo para o celular de uma pessoa inúmeras

vezes, ela não atende a ligação e me manda uma mensagem: “Oi, você me ligou?” –

Lara explicava a situação com fúria nos olhos – Ora, se há uma ligação perdida minha,

óbvio que eu liguei!

Fiquei encarando Lara, incrédula. Como um motivo tão banal poderia despertar

tanta raiva em uma pessoa? O fato era inacreditável de tão extraordinário. Mas guerras

já começaram por menos. Decidi deixar Lara, e toda sua fúria, isolada no quarto e saí de

casa para um passeio no parque.

O fim de tarde úmido era convidativo para um passeio descontraído e sem

preocupações. Peguei-me pensando em Lara e suas raivas, e, oh, como ela se chateava

por coisas tão simples! Sua energia para odiar pessoas que não atendem ligações e

mandam mensagens poderia ser convertida em energia para terminar aqueles inúmeros

trabalhos de fim de semestre que ela tanto reclamava. Trabalhos de fim de semestre. A

frase ecoava na minha cabeça. Não havia terminado o protótipo do relógio para a aula

de Tridimensional. Era o trabalho que custava minhas férias.

O medo e ansiedade tomaram conta de mim. Havia esquecido completamente

minhas responsabilidades. Negligenciei minhas prioridades. Ficaria sem viajar por um

erro meu? Decidi que não. O prazo final do trabalho era o dia seguinte. Como pude ser

irresponsável a esse ponto? Faltavam alguns materiais para terminar o trabalho. Liguei

para minha mãe para implorar que ela comprasse tudo o que eu precisaria e trouxesse

assim que voltasse do trabalho. Ela não atendeu. Liguei de novo, na vã esperança de que

se ela não atendeu na primeira, com certeza iria atender na segunda. De novo, não

atendeu. Liguei três, quatro, cinco vezes. De repente, me vi com um registro de 23

chamadas realizadas e nenhuma com êxito. O que raios aquele mulher poderia estar

fazendo? Uma ligação de sua filha não era suficiente para parar todos os afazeres e

dedicar atenção à sua primogênita? A raiva substituía a ansiedade e me consumia. Pelos

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deuses, por que essa mulher tem celular se não atende as ligações? Meu celular faz um

som de notificação. Nova mensagem.

- Oi querida, você me ligou? – Minha mãe perguntou na mensagem.

- Tem ligação minha perdida no seu celular? – Respondi, de forma ríspida.

- Tem... – Mamãe respondeu.

- Então eu liguei.

A frustração por não ter sido prioridade na lista de ligações de minha mãe me

deixou desanimada e furiosa. Lembrei-me da Lara e seu surto por não ter sido atendida

por sabe lá Deus quem ela estava ligando. Lembrei-me também do fato de ter achado

bobagem minha irmã mais nova ter se chateado por tão pouco. De repente, não era tão

pouco assim. Talvez guerras não tenham começado exatamente por tão menos.