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EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DO IX JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DA CAPITAL – R.J. Qualificação completa do Autor (a), vem, por suas advogadas infra-assinado, propor a presente AÇÃO INDENIZATÓRIA em face do Grupo Empresarial CHURRASCARIA PORCÃO , sita na av. Armando Lombardi nº 591, Barra da Tijuca, nesta cidade, Cep. 22640-020, CNPJ desconhecido, na pessoa de seu representante legal consoante seu contrato social, pelos fatos e fundamentos a seguir alinhavados. I – DAS INTIMAÇÕES E/OU PUBLICAÇÕES NA IMPRENSA OFICIAL: Inicialmente requer que todas as intimações/publicações na Imprensa Oficial, sejam feitas EXCLUSIVAMENTE , em nome de , evitando-se futuras nulidades.

EXMO - O conhecimento não divulgado sufoca, por isso ... · Web viewem face do Grupo Empresarial CHURRASCARIA PORCÃO, sita na av. Armando Lombardi nº 591, Barra da Tijuca, nesta

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EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DO IX JUIZADO ESPECIAL CVEL DA COMARCA DA CAPITAL R.J.

Qualificao completa do Autor (a), vem, por suas advogadas infra-assinado, propor a presente

AO INDENIZATRIA

em face do Grupo Empresarial CHURRASCARIA PORCO, sita na av. Armando Lombardi n 591, Barra da Tijuca, nesta cidade, Cep. 22640-020, CNPJ desconhecido, na pessoa de seu representante legal consoante seu contrato social, pelos fatos e fundamentos a seguir alinhavados.

I DAS INTIMAES E/OU PUBLICAES NA IMPRENSA OFICIAL:

Inicialmente requer que todas as intimaes/publicaes na Imprensa Oficial, sejam feitas EXCLUSIVAMENTE, em nome de , evitando-se futuras nulidades.

II SNTESE DA LIDE:

O Autor juntamente com a sua companheira e mais um casal de amigos, no dia 12 de junho de 2007, por volta de 21:00 h, chegaram na Churrascaria Porco, ora R, sito na Barra da Tijuca, para jantar e comemorar a data, qual seja, DIA DOS NAMORADOS.

Impende informar que a R visando o conforto e tranqilidade dos seus clientes, oferece aos mesmos estacionamento com servio de manobrista, o qual fica ao lado do estabelecimento.

Na data mencionada a Churrascaria estava bastante cheia. O Autor chegou e deixou o seu carro no estacionamento, entregando as chaves para o manobrista, preposto da R, devidamente identificando, estando, inclusive de uniforme.

O Autor, sua companheira e amigos foram para a fila de espera, at que conseguiram entrar no estabelecimento da R, por volta de 21:40 h.

Por volta de meia-noite o Autor pediu a conta e efetuou o pagamento, consoante documento anexo, exatamente s 00:18 h, no valor de R$ 150,00 (cento e cinqenta reais) atravs de carto de crdito (documento anexo).

Insta salientar que o Autor havia adquirido o referido veculo (Gol, VW/ MI, 1997/1998, Cor preta, Chassi n 9BWZZZ377VT203211, Renavam n 688661823) no dia 04 de junho de 2007, consoante contrato e certificado de garantia anexo.

Outrossim, pode-se observar que a loja vendedora do veculo ao Autor, no documento de entrega, fez constar que, a partir do dia 04 de junho de 2007, independentemente da alterao de registro para o nome do demandante junto ao Detran, por fora da tradio pertinente ao bem mvel, assumiria este as seguintes responsabilidades, in verbis:

(...)

E que a partir desta data assumo inteira responsabilidade pelos danos que o veculo venha causar, tais como:

Multas de trnsito, acidentes a terceiros e demais responsabilidades, prevista pela legislao cvil e penal.

Recebendo o referido no Estado em que se encontra por mim examinado e aprovado declaro que nada tenho a reclamar. (doc. anexo grifo e destaque nossos).

A transferncia do veculo j foi efetuada, embora ainda no esteja em nome do Autor, pois a aquisio foi feita atravs de financiamento junto ao HSBC BANK BRASIL S/A, o que se comprova pelo CRLV emitido em 08 de agosto de 2007, o qual segue anexo.

Sendo assim, a posse direta do bem referido do Autor que est no pleno uso e gozo deste, sendo conseqentemente do mesmo toda a responsabilidade decorrente.

Ocorre que, para a surpresa do Autor, no dia 12 de junho de 2007, seu veculo foi multado durante o perodo em que o mesmo encontrava-se nas mos dos manobristas da R, consoante notificao n 03539941 anexa.

Vale lembrar que Autor tinha deixado o seu carro no estacionamento da R na referida noite do dia 12/06/07, e entrou no estabelecimento da mesma tranqilo acreditando que o seu veculo estava seguro.

No entanto, para seu total descontentamento e transtorno, os prepostos da R estacionaram seu veculo no passeio sobre a faixa destinada a pedestres, sobre a Av. Armando Lombardi, n 451, Barra da Tijuca Rio de Janeiro/RJ, tendo sido lavrada uma autuao s 22:00 horas, com fulcro no artigo 181, inciso VIII, alnea E, do Cdigo de Trnsito Brasileiro.

A R ofereceu estacionamento ao consumidor, prometeu um servio confortvel e seguro, cobrou por isso, vez que uma das Churrascarias mais caras do Rio de Janeiro, estando embutido em seu preo o servio prestado; para ao final presentear o Autor com uma NOTIFICAO DE AUTUAO por infrao de trnsito, qual seja, estacionamento em local proibido.

Ao enganar o Autor, a R agiu de m-f, violando o princpio da boa-f objetiva na relao contratual durante e aps a execuo do contrato, quando se negou peremptoriamente a providenciar junto ao Detran a regularizao do real infrator. Fato este que constitui violao aos direitos fundamentais do consumidor, causando flagrante leso sua dignidade, na tentativa de persuadi-lo a assumir pontuao em sua carteira de motorista a qual no se deu por sua responsabilidade.

No caso em epgrafe a situao do Autor se torna ainda mais grave, pois na data da AUTUAO o veculo ainda estava no nome do antigo proprietrio, o Sr. Ednei Medeiros Rangel.

Ocorre que o Autor estava sendo constantemente cobrado pelo Sr. para que providenciasse imediatamente o pagamento da multa e ainda procedesse ao requerimento junto ao Detran da troca do real infrator, de modo que no fosse efetuada nenhuma pontuao decorrente da infrao praticada pela R em nome do alienante do carro.

Em suma, o Autor procurou a R, que apenas e to somente aceitou pagar a multa, sem proceder troca do real infrator junto ao Detran. Em suma, reconheceu que prestou servio com deficincia, mas no prontificou-se a resolver integralmente os transtornos causados ao Autor, o que lhe causou danos materiais e morais, pois recusou-se a liber-lo, ou a quaisquer terceiros da anotao na carteira de habilitao quanto infrao praticada, sob o argumento de no ser possvel identificar qual foi o manobrista que estacionou o veculo irregularmente, tendo em conta que possui apenas quatro funcionrios no estacionamento.

No dia 21 de agosto de 2007, o Autor recebeu em sua residncia a NOTIFICAO DE PENALIDADE N 00951564, que versa sobre a mesma notificao encaminhada ao alienante do veculo. Em consulta feita no Detran, at o presente momento consta a referida multa em nome do Autor e ainda no C.N.P.J. do HSBC BANK BRASIL S/A., em funo do financiamento do veculo por aquela entidade financeira.

O que se verifica so aborrecimentos reiterados em razo da conduta e da m-f da R, que se negou a assumir sua integral responsabilidade pelo ilcito praticado contra o Autor, extrapolando assim a normalidade dos fatos.

Ao Autor no resta, portanto, nenhuma outra alternativa a no ser requerer ao Judicirio que solucione a presente lide de modo efetivo, eficiente e garantindo ao consumidor, ora demandante, seus direitos constitucionais.

III DO DIREITO:

Inicialmente necessrio destacar que o Autor arrendatrio e legtimo possuidor do bem mvel objeto da lide desde o dia 04 de junho de 2007.

Alm de ser o legtimo possuidor do bem mvel, quando da realizao do negcio jurdico de compra e venda financiada do veculo, o Autor assumiu a responsabilidade por eventuais multas de trnsito, dentre outras.

Consoante documento anexo, o alienante do veculo encaminhou para o Autor a documentao necessria para proceder a regularizao do real infrator junto ao Detran, e exigiu que o Requerente procedesse a transferncia da multa para o seu nome.

Ao alienante do veculo assiste razo, de fato o Autor o responsvel pelo carro e sua utilizao.

Ocorre que no foi o demandante quem praticou a infrao de trnsito, sendo assim, seria injusto assumir a responsabilidade pela referida multa.

No entanto, mesmo no sendo justo, o alienante conseguiu junto ao Detran demonstrar que o Autor o atual proprietrio do veculo e que o mesmo j tinha a posse do bem na data da infrao, de modo que a multa foi transferida para o Autor, conforme NOTIFICAO RECEBIDA NO DIA 21/08/2007.

Nos termos do artigo 2, caput, do CDC, pode-se verificar que o Autor enquadra-se no conceito de consumidor, in verbis:

Art. 2 - Consumidor toda pessoa fsica ou jurdica que adquire ou utiliza produto ou servio como destinatrio final.

A R por sua vez consoante o disposto no artigo 3 da Lei 8.078/90, fornecedora de produtos e servios, in verbis:

Art. 3 - Fornecedor toda pessoa fsica ou jurdica, pblica ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produo, montagem, criao, construo, transformao, importao, exportao, distribuio ou comercializao de produtos ou prestao de servios.

No caso em tela pode-se verificar que a R praticou conduta ilcita, que est gerando danos materiais e morais ao Autor, tendo violado o dever de segurana na execuo da prestao do servio ofertado ao Demandante, no existindo em seu benefcio nenhuma excludente de responsabilidade.

Assim, presente conduta lesiva da R que gerou danos materiais e morais, e o nexo de causalidade com os danos que esto sendo vivenciados pelo Consumidor, no h dvida que esto presentes os requisitos da responsabilidade objetiva.

Cumpre ainda destacar que a R violou expressamente o disposto nos artigos 6, 18 e 20 do Cdigo de Defesa do Consumidor.

No que tange ao princpio da transparncia, restou o mesmo desrespeitado quando a R enganou o consumidor, prometendo-lhe a guarda de seu veculo em estacionamento prprio.

Dessa forma, quando a R descumpre o seu dever de fornecer ao consumidor a segurana esperada e contratada, como na presente situao, estacionando o carro do Autor em local proibido, que gerou ao mesmo uma autuao por infrao de normas do CTB, restou violado o dever de segurana na prestao do servio.

Diante da pssima execuo na prestao do servio, cumpre R providenciar o pagamento referente multa aplicada pelo Detran, na data de 12/06/07, por estacionamento do veculo em local proibido. Assim como, dever providenciar junto quele rgo, a comunicao do real infrator, informando quem estava conduzindo o veculo naquele dia e hora, fazendo excluir qualquer anotao de pontuao por infrao de trnsito em nome do Autor.

O Cdigo Civil no artigo 932 preceitua que a responsabilidade do empregador em relao aos atos de seus prepostos objetiva, in verbis:

Art. 932. So tambm responsveis pela reparao civil:

(...)

III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviais e prepostos, no exerccio do trabalho que lhes competir, ou em razo dele;

O direito do Autor tambm se consubstancia nas normas insertas nos artigos 186 e 927 desse mesmo Diploma Legal, in verbis:

Art. 186. Aquele que, por ao ou omisso voluntria, negligncia ou imprudncia, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilcito.

(...)

Art. 927. Aquele que, por ato ilcito (art. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repar-lo.

O Autor est se sentido profundamente transtornado e constrangido diante dos fatos ocorridos, pois esteve na eminncia de no conseguir efetuar a transferncia do veculo junto ao Detran, e ainda tem lanado em sua CNH uma infrao que no cometeu!

O demandante foi contatado e pressionado pelo antigo proprietrio para solucionar a pendncia quanto notificao que recebeu em sua residncia e ainda, para comunicar junto ao Detran o real infrator, ocorre que como j dito, no foi o Autor o real infrator.

Sendo evidente que o ato lesivo foi praticado por empregados da R, no resta a menor dvida de que a mesma ter de responder pelos danos causados ao Autor, especialmente os morais.

Mormente destacar que a partir do dia 21/08/07 a multa j constava em nome do Autor e do Banco HSBC, este ltimo agente financeiro do bem em referncia.

O Autor sofreu anotao em sua carteira, sendo de suma importncia informar que a referida infrao capitulada como grave, equivalendo a cinco pontos.

Os danos materiais sofridos pelo Autor esto inequivocamente demonstrados nos autos, conforme documentos acostados, no montante de R$ 127,69 (cento e vinte e sete reais e sessenta e nove centavos), que tero de ser pagos at o dia 09/10/2007.

Os danos causados ao Autor, no so somente econmicos, e incumbe ao douto juzo oficiar ao Detran para determinar a transferncia da infrao para a empresa R, bem como para retirar do pronturio do Autor a anotao dos pontos inerentes infrao praticada pela R.

A Demandada, portanto, deve responder pelos danos decorrentes da prtica de sua conduta ilcita no mbito cvel, patrimonial, extra-patrimonial e administrativo.

O Cdigo de Trnsito Brasileiro, disciplina toda a matria da lide, in verbis:

Art. 134. No caso de transferncia de propriedade, o proprietrio antigo dever encaminhar ao rgo executivo de trnsito do Estado dentro de um prazo de trinta dias, cpia autenticada do comprovante de transferncia de propriedade, devidamente assinado e datado, sob pena de ter que se responsabilizar solidariamente pelas penalidades impostas e suas reincidncias at a data da comunicao.

(...)

Art. 181. Estacionar o veculo:

(...)

VIII - no passeio ou sobre faixa destinada a pedestre, sobre ciclovia ou ciclofaixa, bem como nas ilhas, refgios, ao lado ou sobre canteiros centrais, divisores de pista de rolamento, marcas de canalizao, gramados ou jardim pblico:

Infrao - grave;

Penalidade - multa;

Medida administrativa - remoo do veculo

(...)

Art. 257. As penalidades sero impostas ao condutor, ao proprietrio do veculo, ao embarcador e ao transportador, salvo os casos de descumprimento de obrigaes e deveres impostos a pessoas fsicas ou jurdicas expressamente mencionados neste Cdigo.

(...)

3 Ao condutor caber a responsabilidade pelas infraes decorrentes de atos praticados na direo do veculo.

(...)

7 No sendo imediata a identificao do infrator, o proprietrio do veculo ter quinze dias de prazo, aps a notificao da autuao, para apresent-lo, na forma em que dispuser o CONTRAN, ao fim do qual, no o fazendo, ser considerado responsvel pela infrao.

8 Aps o prazo previsto no pargrafo anterior, no havendo identificao do infrator e sendo o veculo de propriedade de pessoa jurdica, ser lavrada nova multa ao proprietrio do veculo, mantida a originada pela infrao, cujo valor o da multa multiplicada pelo nmero de infraes iguais cometidas no perodo de doze meses.

9 O fato de o infrator ser pessoa jurdica no o exime do disposto no 3 do art. 258 e no art. 259.

Art. 258. As infraes punidas com multa classificam-se, de acordo com sua gravidade, em quatro categorias:

I - infrao de natureza gravssima, punida com multa de valor correspondente a 180 (cento e oitenta) UFIR;

II - infrao de natureza grave, punida com multa de valor correspondente a 120 (cento e vinte) UFIR;

III - infrao de natureza mdia, punida com multa de valor correspondente a 80 (oitenta) UFIR;

IV - infrao de natureza leve, punida com multa de valor correspondente a 50 (cinqenta) UFIR.

1 Os valores das multas sero corrigidos no primeiro dia til de cada ms pela variao da UFIR ou outro ndice legal de correo dos dbitos fiscais.

2 Quando se tratar de multa agravada, o fator multiplicador ou ndice adicional especfico o previsto neste Cdigo.

Art. 259. A cada infrao cometida so computados os seguintes nmeros de pontos:

I - gravssima - sete pontos;

II - grave - cinco pontos;

III - mdia - quatro pontos;

IV - leve - trs pontos.

Em especial o artigo 257, 9, do CTB, deixa absolutamente claro que o fato de o infrator ser pessoa jurdica no o exime do disposto no 3 do art. 258 e no art. 259, ou seja, incumbe no caso em tela R proceder a alterao junto ao Detran do nome do condutor do veculo, para que o real infrator seja responsabilizado e ainda arque com o pagamento da multa acima mencionada.

cedio que surge a obrigao de indenizar ou reparar quando ocorre leso a um bem jurdico protegido, nesta esteira, temos que a personalidade e seus atributos so bens que se encontram expressamente tutelados por nossa Constituio na medida em que esta estabelece como um de seus fundamentos o princpio da dignidade da pessoa humana.

Como corolrio deste princpio, na Constituio Federal de 1.988, no artigo 5, incisos V e X, consta a proteo ao patrimnio moral, in verbis:

"V assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, alm da indenizao por dano material, moral ou imagem";

(...)

X so inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenizao pelo dano material ou moral decorrente de sua violao.

Consoante a assertiva propalada por Jos de Aguiar Dias: "O conceito de dano nico, e corresponde a leso de um direito" (Da Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1995, p. 737).

Por MORAL, na dico de Luiz Antnio Rizzatto Nunes, entende-se "(...) tudo aquilo que est fora da esfera material, patrimonial do indivduo" (O Dano Moral e sua interpretao jurisprudencial. So Paulo: Saraiva, 1999, p. 1).

Destarte, o DANO MORAL existe in re ipsa, bastando para a sua indenizao a perturbao ocorrida pelo ato ilcito nas relaes psquicas do Autor, notadamente, no que tange tranqilidade e segurana, veja a ementa do Superior Tribunal de Justia, a respeito do tema:

Ementa - RESPONSABILIDADE CIVIL. MULTA DE TRNSITO INDEVIDAMENTE COBRADA. REPETIO DE INDBITO. INDENIZAO. DANO MORAL. DANO PRESUMIDO.VALOR REPARATRIO. CRITRIOS PARA FIXAO 1. Como se trata de algo imaterial ou ideal, a prova do dano moral no pode ser feita atravs dos mesmos meios utilizados para a comprovao do dano material. Por outras palavras, o dano moral est nsito na ilicitude do ato praticado, decorre da gravidade do ilcito em si, sendo desnecessria sua efetiva demonstrao, ou seja, como j sublinhado: o dano moral existe in re ipsa. Afirma Ruggiero: Para o dano ser indenizvel, 'basta a perturbao feita pelo ato ilcito nas relaes psquicas, na tranqilidade, nos sentimentos, nos afetos de uma pessoa, para produzir uma diminuio no gozo do respectivo direito. 2. dever da Administrao Pblica primar pelo atendimento gil e eficiente de modo a no deixar prejudicados os interesses da sociedade. Deve ser banida da cultura nacional a idia de que ser mal atendido faz parte dos aborrecimentos triviais do cidado comum, principalmente quando tal comportamento provm das entidades administrativas. O cidado no pode ser compelido a suportar as conseqncias da m organizao, abuso e falta de eficincia daqueles que devem, com toda boa vontade, solicitude e cortesia, atender ao pblico. 3. Os simples aborrecimentos triviais aos quais o cidado encontra-se sujeito devem ser considerados como os que no ultrapassem o limite do razovel, tais como: a longa espera em filas para atendimento, a falta de estacionamentos pblicos suficientes, engarrafamentos etc. No caso dos autos, o autor foi obrigado, sob pena de no-licenciamento de seu veculo, a pagar multa que j tinha sido reconhecida, h mais de dois anos, como indevida pela prpria administrao do DAER, tendo sido, inclusive, tratado com grosseria pelos agentes da entidade. Destarte, cabe a indenizao por dano moral.4. Atendendo s peculiaridades do caso concreto, e tendo em vista a impossibilidade de quantificao do dano moral, recomendvel que a indenizao seja fixada de tal forma que, no ultrapassando o princpio da razoabilidade, compense condignamente, os desgastes emocionais advindos ao ofendido. Portanto, fixo o valor da indenizao a ser pago por dano moral ao autor, em 10 (dez) vezes o valor da multa. 5. Recurso especial provido. Acrdo - Vistos, relatados e discutidos os autos em que so partes as acima indicadas, acordam os Ministros da PRIMEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justia, por unanimidade, dar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Francisco Falco, Luiz Fux, Teori Albino Zavascki e Denise Arruda votaram com o Sr. Ministro Relator. (Processo - REsp 608918 / RS ; RECURSO ESPECIAL2003/0207129-1 - Relator(a) - Ministro JOS DELGADO (1105) - rgo Julgador - T1 - PRIMEIRA TURMA - Data do Julgamento - 20/05/2004 - Data da Publicao/Fonte DJ21.06.2004 p.176RDDP vol. 18 p. 124 - grifos e destaques nossos)

No caso em epgrafe, trata-se de veculo deixado no estacionamento da R aos cuidados de seus funcionrios, tendo havido violao do dever de segurana e m prestao do servio, uma vez que o carro do Autor foi estacionado em local proibido, estando o Requerente respondendo pelo fato junto a terceiros e ao Detran.

Por conseguinte, em virtude de conduta exclusiva da R, consta uma anotao indevida na carteira de habilitao do Autor - infrao de natureza grave (5 pontos) - em casos anlogos o Tribunal de Justia do Rio de Janeiro reconheceu a responsabilidade objetiva dos estabelecimentos comerciais e o dever de ressarcimento pelos danos morais e patrimoniais, consoante o que se depreende das ementas a seguir transcritas:

RESPONSABILIDADE CIVIL DE HOTELEIRO - ESTACIONAMENTO DE VEICULOS - PRESTACAO DE SERVICOS - USO INDEVIDO - CULPA IN ELIGENDO - DANO MORAL - Responsabilidade civil. Estabelecimento hoteleiro. Servio de estacionamento de veculos. Manobrista que se apodera de automvel de cliente para utilizao em proveito prprio. Culpa "in eligendo" e "in vigilando" do empregador. Dano moral caracterizado. Recurso improvido. Em ao de indenizao, no cabe ao ofendido comprovar a culpa concorrente do patro, mas to-somente demonstrar a existncia do ato lesivo e que este se deve culpa do preposto. Evidenciada esta, emergir "ipso facto" a culpa do patro, que s se isentar de responsabilidade, se tiver a seu favor alguma das escusas legais (Sumula 341 do STF). extreme de duvida que a conduta do empregado da apelante causou abalo moral na apelada, principalmente quando se tem notcia, na realidade de nossos dias, do grande nmero de furtos de automveis, os quais, muitas das vezes, ou so desmontados visando o comercio ilegal de pecas, ou utilizados para a prtica de infraes penais as mais variadas. evidente que a recorrida, nestas circunstncias, se viu tomada de sentimentos de aflio, angstia, amargura e intranqilidade, que fogem da esfera das meras preocupaes cotidianas, ainda mais diante da possibilidade de o veculo vir a ser utilizado na prtica de alguma atividade ilcita, ensejando, inclusive, o envolvimento indireto do proprietrio no delito. (SESSO DE JULGAMENTO: 02/12/2003 - Sesso de Julgamento: 02/12/2003.) (grifos e destaque nossos)

Outra:

DIREITO DO CONSUMIDOR E PROCESSUAL. Ao proposta por consumidor em busca de indenizao de danos materiais e morais, em razo de abuso de confiana do estabelecimento, atravs de manobrista que, valendo-se do fato de que o demandante acabara de hospedar-se, fez uso do veculo que lhe fora confiado e nisso envolveu-se em acidente que causou estragos ao bem, o qual era usado para transporte remunerado de antiguidades e objetos de arte, por fora de contrato cuja resciso de deu em razo do dano. Apelos de ambas as partes. 1- Indiscutvel responsabilidade que no se arreda pelo fato de o lesado ter-se demorado doze anos para propor ao. 2- Como o lapso temporal no atingiu a pretenso, a demora do autor no ajuizamento da ao no indica inexistncia de dano moral, que em casos como o dos autos in re ipsa. 3- No se tendo impugnado o que pagou o lesado pelos reparos do veculo, vazia a discusso acerca da produo unilateral dos oramentos mandados elaborar pelo autor e por ele trazidos aos autos. 4- Indenizao de dano moral arbitrada em valor razovel e no infirmado pelas partes, nada recomendando diminuio ou majorao. 5- Sendo o lucro cessante o que o lesado deixou razoavelmente de ganhar, o que se verifica pela resciso de contrato de transporte por prazo indeterminado, nada justifica se presuma tivesse ele vigncia de cinco anos; a soluo que melhor atende ao princpio da restitutio in intregum o que leva em conta o que no foi auferido at o reparo do bem danificado, momento em que a coisa tornou-se apta a destinao econmica. 6- O no acolhimento do valor de indenizao postulado pelo consumidor no implica necessariamente sucumbncia recproca. Smula 105 deste Tribunal. 7- Em se tratando de reparao de dano moral, e de acordo com a jurisprudncia predominante, os juros fluem do fato danoso e a correo monetria da sentena; na hiptese de dano material, termo a quo de ambos a data em que se efetivou o prejuzo. 8- Decaindo o autor de parte mnima, descabe compensao de verbas sucumbenciais. 9- Apelos conhecidos; desprovimento do primeiro; provimento parcial do segundo. Unnime. (2006.001.39712 - APELACAO CVEL. - DES. FERNANDO FOCH LEMOS - Julgamento: 15/05/2007 - TERCEIRA CMARA CIVEL - SESSO DE JULGAMENTO: 15/05/2007 ). (grifos e destaque nossos)

Outra:

AO DE INDENIZAO POR DANOS MORAIS. FURTO DE VECULO COLOCADO PELO CONSUMIDOR AOS CUIDADOS DE MANOBRISTA DE RESTAURANTE. DANO MORAL CONFIGURADO. SENTENA CORRETA QUANTO PROCEDNCIA. VALOR ARBITRADO EXCESSIVO. REDUO PARA R$ 8.000,00. RECURSO PRINCIPAL CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. RECURSO ADESIVO PREJUDICADO. (2006.001.65094 - APELACAO CIVEL - JDS. DES. GABRIEL ZEFIRO - Julgamento: 30/01/2007 - DECIMA OITAVA CAMARA CIVEL). (grifos e destaque nossos)

Sendo assim, resta efetivamente caracterizada a conduta ilcita da R, dando ensejo tambm reparao por dano moral, ex vi legis.

Todavia, ressalte-se que a respectiva reparao moral deve ser arbitrada mediante estimativa prudente, que leve em conta a razoabilidade e proporcionalidade de modo a satisfazer a dor da vtima, alm de impor aos ofensores uma sano que lhes desestimulem a pratica de atos lesivos personalidade de outrem.

IV - DO PEDIDO:

Por todo o exposto, o Autor requer a V.Exa. que:

1 determine a citao da R, na pessoa de seu representante legal, para que, querendo, comparea a Audincia designada e responda a presente ao, sob pena de revelia;

2 condene a R ao pagamento da multa de trnsito lavrada no dia 12/06/07 (Auto n 03539941) que corresponde a atual NOTIFICAO N 00951564, no valor de R$ 127,69 (cento e vinte e sete reais e sessenta e nove centavos);

3 expea OFCIO AO DETRAN PARA RETIRAR DO PRONTURIO DO AUTOR A MULTA LAVRADA NO AUTO N 03539941 (ATUAL NOTIFICAO N 00951564) E A CONSEQUENTE PONTUAO, TRANSFERINDO-A PARA A R OU DE UM DOS SEUS PREPOSTOS, DEVENDO O DETRAN EXCLUIR QUALQUER LANAMENTO J REALIZADO NO NOME DO AUTOR E DE QUAISQUER TERCEIROS;

4 condene a R ao pagamento de R$ 15.200,00 (quinze mil e duzentos reais) ao Autor, a ttulo de ressarcimento pelos danos morais que o mesmo vem vivenciando, devendo ser observado para quantificao do dano no somente a situao econmica da R, mas tambm o carter punitivo pedaggico e, ainda, A CONTINUIDADE DOS ABORRECIMENTOS SOFRIDOS PELO AUTOR QUANTO AOS ATOS ILCITOS DECORRENTES CONDUTA DA R.

5 - requer ainda seja o pedido julgado de todo PROCEDENTE, e deferida a inverso do nus da prova, nos termos do disposto no artigo 6, VIII do Cdigo de Defesa do Consumidor.

Protesta por todos os meios de prova em direito admitidos, documental, testemunhal e depoimento pessoal do representante da r, sob pena de confesso, alm de outras provas que esse Juzo houver por bem determinar.

D-se presente demanda o valor de 15.200,00 (quinze mil e duzentos reais).

Nestes termos,

Pede deferimento.

Rio de Janeiro, 27 de agosto de 2007.

MNICA FILOMENA NUNES SOUZA

OAB/RJ 140.857