Expansão Agronegócio Sergipe

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  • 7/25/2019 Expanso Agronegcio Sergipe

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    GEONORDESTE, Ano XXII, n.2

    A EXPANSO DO AGRONEGCIO NO CAMPO DE SERGIPE1

    THE EXPANSION OF AGRIBUSINESS IN THE FIELD OF SERGIPE

    LA EXPANSIN DEL AGRONEGOCIO EN EL CAMPO DE SERGIPE

    Alexandrina Luz ConceioProfessora Doutora do Ncleo de Ps-Graduao em Geografia

    Universidade Federal de SergipeAv. Marechal Rondon, s/n Cidade Universitria

    Didtica 2 Primeiro AndarE-mail: [email protected]

    RESUMONos ltimos anos o Governo Federal tem direcionado Polticas Pblicas de desenvolvimentoterritorial visando atrair investimentos privados para o agronegcio, na consolidao do trip:Estado-capital-mercado, no processo da mundializao do capital e da financeirizao da economia,no que se convencionou denominar o Novo Mundo Rural. A proposta do Novo Mundo Rural temimplementado o modelo dominante do agronegcio, sustentado no discurso de garantia daagricultura familiar. Na interconectividade escalar o campo sergipano se inscreve no circuito do

    processo da reproduo ampliada do capital no crivo das novas geopolticas de governo, com aexpanso do agronegcio. O agronegcio na sua lgica concentradora de terras, de tecnologia e deriquezas tem expropriado milhares de famlias camponesas intensificando o desemprego e a

    precarizao do trabalho.Palavras-chave: Estado, Agronegcio, produo camponesa, poltica de desenvolvimentoterritorial.

    ABSTRACTIn recent years the Federal Government has directed Public Politics for territorial developmentaimed to attract private investment in agribusiness, the consolidation of the tripod: State-capital-market, in the process of globalization of the capital and financialization of the economy, in what isconventionally called the New Rural World. The proposal of the New Rural World has

    implemented the dominant model of agribusiness, supported in the discourse of guarantee of familyfarming. In interconnectivity scalar, the Sergipe field is part of the circuit of process of expandedreproduction of capital. In order to identify these contradictions we develop qualitativeresearch/quantitative information about the productive restructuring process and the new spatialconfigurations, territorialized in the field of Sergipe, scaled in the sieve of the new geopoliticalgovernment with the expansion of agribusiness. The agribusiness in its concentrated logic of land,technology and wealth has expropriated thousands of peasant families, increasing unemploymentand underemployment.

    1 Este texto resultado de parte da pesquisa desenvolvida para o Edital Universal/CNPq/2009-2011: As mudanas

    estruturais na relao capital versus trabalho e a lgica da poltica de reordenamento territorial no campo sergipano coma expanso do agronegcio.

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    Keywords: State, Agribusiness, farming production, territorial development policy.

    RESUMENEn los ltimos aos el Gobierno Federal ha guiado las polticas pblicas de desarrollo territorial

    mirando a atraer la inversin privada para el agronegocio, en la consolidacin del trpode: Estado-capital-mercado, en el proceso de mundializacin del capital y de la financiarizacin de laeconoma, en lo que se acord llamarse el Nuevo Mundo Rural. La propuesta de Nuevo MundoRural ha implementado el modelo dominante de agronegocio, apoyado en el discurso de garantizarla granja familiar. En la interconectividad escalar el campo Sergipano, se inscribe en el circuito del

    proceso de reproduccin ampliada del capital en el escrutinio de las nuevas geopolticas degobierno, con la expansin del agronegocio. El agronegocio en su lgica concentradora de la tierra,de tecnologa y de riquezas han expropiado a miles de familias campesinas intensificando eldesempleo y la precariedad laboral.Palabras clave:Estado, Agronegocio, produccin campesina, politicas de desarrollo territorial

    1 INTRODUO

    Nos ltimos anos o Governo local em consonncia com o Governo Federal tem direcionado

    polticas pblicas para o desenvolvimento territorial visando atrair investimentos privados para o

    agronegcio com a consolidao do trip: Estado-capital-mercado no processo da mundializao do

    capital e da financeirizao da economia, no que se convencionou denominar o Novo Mundo Rural.

    Advinda como uma nova categoria, capitaneada pelos impactos da abertura comercial edeterminada pelo modelo hegemnico do capital, a agricultura familiar surge no contexto do Novo

    Mundo Rural.

    O agronegcio na sua lgica concentradora de terras, de tecnologia e de riquezas tem

    expropriado milhares de famlias e intensificado o desemprego no campo. Intensificando a

    precarizao do trabalho atravs da superexplorao das horas de trabalho. O modelo do

    agronegcio tem contribudo para a baixa qualidade da alimentao, principalmente pela expanso

    da monocultura com uso cada vez maior de agrotxicos e recentemente na produo de alimentostransgnicos.

    No Nordeste, nos estados de Pernambuco, Alagoas, Paraba e Sergipe, o avano da

    monocultura da cana-de-acar tem ocupado vastas reas do espao rural, principalmente na rea da

    zona da mata, em destruio crescente da mata permanente. A paisagem nesses estados de um

    contnuo de explorao para a produo do setor sucroalcoleiro. No espao rural sergipano a

    intensificao do plantio da cana-de-acar, sob a lgica do modelo do agronegcio da produo

    monocultora de agrocombustvel tem significado, a destruio da agricultura campesina e a

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    ocupao gradativa das reas de cultivo alimentar campons. O que indica a perda de abastecimento

    de alimentos nas feiras locais, sendo tambm agravante o aumento dos preos dos produtos

    alimentares, e consequentemente a perspectiva do aumento da fome.

    Nesse cenrio, necessrio analisar as contradies advindas desse modelo econmico e

    observar os limites de resistncia da agricultura familiar de subsistncia individualizada, nas reas

    de fronteiras vinculadas ao processo da reproduo ampliada do capital, sob o controle da

    monopolizao e da territorializao do capital, com a monocultura da citricultura e da cana.

    Objetivando identificar essas contradies buscou-se analisar a partir de pesquisa qualitativa

    e quantitativa, o processo da reestruturao produtiva do desenvolvimento geogrfico desigual e

    combinado que determina novas configuraes espaciais no campo sergipano, dimensionadas no

    crivo das novas geopolticas de governo, nas duas ltimas dcadas, com a expanso do agronegcio.

    2 INTRODUZINDO A PROBLEMTICA

    A partir da dcada de 1990 com o avano da financeirizao da economia, via o

    compromisso da dvida externa, o Estado assumiu o papel de gestor e promotor de polticas

    agrcolas inscrevendo novas formas de expanso capitalista. O modelo implantado de modernizao

    da agricultura no Brasil foi um dos principais fatores da reproduo da desigualdade econmica e

    social no campo. A espetacularizao se pautava no signo da sociedade industrial como condio

    nica necessria para o progresso e desenvolvimento.

    Nos ltimos anos a crise acumulativa do modelo fordista/taylorista atravs: da queda na taxa

    de lucro e da taxa decrescente de consumo direciona a expanso do toyotismo, com as formas de

    horizontalizao do capital produtivo e da flexibilizao, que passam a constituir novas alternativas

    de obteno do lucro, via a flexibilizao e a desconcentrao do processo produtivo. A

    flexibilizao e a desconcentrao do processo produtivo favorecem a intensiva competitividade

    garantida pela mobilidade setorial ou geogrfica, tanto na sua capacidade de investir ou desinvestir

    no mercado financeiro acentuando a tendncia globalizante do capital (ANTUNES, 1999).

    O objetivo se configura em transcender seus prprios limites a todo custo, atravs da

    concentrao de lucro e a desconcentrao de mercados, o que acarreta o aumento da concorrncia

    nos mercados nacionais. Nesse movimento, o desenvolvimento do sistema do capital se realiza

    atravs de uma rede contraditria reafirmando a sua tendncia de crise cclica, constatada em nveis

    contnuos e crescentes nesses ltimos anos.

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    Toda trajetria da acumulao capitalista se justifica no direito incomensurvel dos usos e

    abusos da condio humana. A qualquer custo busca-se o lucro sob o pretexto da utilidade

    destruindo os recursos humanos e materiais. Nesse processo o sistema do capital se articula numa

    rede de contradies, para a sua realizao, via formas de acumulao intensiva e de formas de

    gesto e fluxo, o sistema sociometablico do capital funciona induzindo sempre em maior

    intensidade ampliao da produo de valores de troca. A tendncia expansionista intrnseca do

    sistema produtivo a garantia de maiores lucros.

    Nas ltimas dcadas o capital na busca incontrolvel do lucro se expande em todos os

    setores, impondo nova estrutura produtiva com extrema rigidez e inflexibilidade para quem e o que

    lhe oferece resistncia. Contraditoriamente por impor rigidez que se torna dinmico, com o intuito

    do lucro, do acmulo de riqueza. Utilizando-se de todas as formas de controle, expande-semundialmente apropriando-se de todos os lugares. Na tentativa de se opor ao movimento cclico, o

    sistema do capital procura fazer funcionar o metabolismo societal: Capital Trabalho - Estado.

    Funcional ao interesse do capital o Estado viabiliza a ordem reprodutiva sociometablica do

    capital, gerenciando o controle dos antagonismos, a partir da lgica fetichista do mercado que se

    cristaliza na ideia da individualizao. A estrutura institucional anuncia o espao da possibilidade,

    como inerente ao mundo das ideias e das vontades humanas, independentes do sistema econmico,

    mas que dizem respeito capacidade e ou incapacidade empreendedora do poder da vontade doindivduo. Sob esta lgica anuncia polticas de gesto que devem ser regidas no mbito local, na

    perspectiva do desenvolvimento sustentvel. Neste vis, o processo de realizao do capital via

    formas de acumulao intensiva e de formas de gesto e fluxo, consumo e destruio so

    equivalentes funcionais.

    Segundo Pereira (2005) entre 1990 e 2004 o Banco Mundial e o FMI assumem uma poltica

    de controle para o campo na Amrica Latina e consequentemente para o Brasil, implementando

    polticas, em acordos com o Estado-nao, a fim de garantir a liberalizao das economias nacionaisque aprofundam a mercantilizao da vida social e de outro lado, a contrarreforma do Estado,

    substituindo o seu papel redistributivo por polticas focalizadas de alvio da pobreza, que no

    alteram as bases da reproduo da desigualdade e da explorao. Conforme o autor o BM e o FMI

    retornam o olhar para o campo visando:

    a) liberalizar os mercados fundirios, eliminando as barreiras legais livre compra e

    venda e ao arrendamento de terras, como parte dos programas de ajuste estrutural;

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    b) dar resposta aos conflitos agrrios e, em alguns casos, a aes de movimentos sociais

    pr-reforma agrria, com o objetivo de garantir a segurana do capital;

    c) criar programas sociais compensatrios no campo em resposta aos efeitos

    socialmente regressivos das polticas de ajuste estrutural;

    d) hegemonizar a mercantilizao de modo a consolidar o capitalismo financeiro,

    permitindo, via mercado, a sada de produtores ineficientes e a entrada de produtores eficientes,

    sob a tica do capital agroindustrial. O objetivo de aumentar o grau de mercantilizao da terra,

    via titulao privada. Implica na concesso de ttulos de propriedade a posseiros, com o objetivo

    prioritrio de diminuir a informalidade no mercado de terras.

    Nos escritos do Capital, Karl Marx afirma que o limite da produo capitalista o prprio

    capital. A sua valorizao sua partida e meta, motivo e fim da produo. Para conseguir seus finstudo lhe permissvel: a expropriao e a depauperao dos trabalhadores. No h limite de

    expropriao, pois esta a garantidora da extrao da mais valia seu meio e fim. A qualquer custo

    busca-se o lucro, sob o pretexto da utilidade/consumo destruindo os recursos humanos e materiais.

    Nesse processo o sistema do capital se articula em uma rede de contradies, para a sua realizao,

    via formas de acumulao intensiva e de formas de gesto e fluxo.

    O sistema sociometablico do capital funciona induzindo sempre em maior intensidade

    ampliao da produo de valores de troca. A tendncia expansionista intrnseca do sistemaprodutivo a garantia de maior lucro.

    Las perspectivas de mayores ganancias atraen a los capitalistas a buscar y explorar

    en todas direcciones. La acumulacin extiende sus redes en crculos cada vez ms

    amplios a travs del mundo, abarcando finalmente a todo y a todos dentro del

    proceso de circulacin del capital. (HARVEY, 1990, p.421).

    Na interconectividade escalar, o campo sergipano se inscreve na rede do circuito do

    processo de acumulao e reproduo ampliada do capital, na dimenso local e mundial.

    3 O CAMPO SERGIPANO

    Ao longo do perodo de 1970-1995 foram verificadas mudanas significativas no uso da

    terra com a expanso da atividade agropecuria em Sergipe, e na ocupao da fronteira agrcola.

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    Assim, enquanto as reas de pastagens e de lavoura se expandiram, as matas e as reas produtivas

    no utilizadas recuaram.

    O Censo Agropecurio sergipano registrou a ocupao de 1.702,6 mil hectares de terras nas

    atividades agropecurias no estado. Segundo o Relatrio da CEPLAN (2005) a expanso da

    agropecuria pode ser observada desde 1970-1995, e tem sua explicativa principalmente por causa

    do avano do processo da pecuarizao, com maior intensidade nos anos de 1970, com o avano

    acelerado das reas de pastagens plantadas e da expanso das reas de lavouras permanentes.

    Conforme Censo Agropecurio de 1995-1996, as culturas temporrias ocupavam 10% das

    reas agricultveis do estado, e as culturas permanentes 7,0%, com o domnio das pastagens

    concentrando 68%. De forma geral os cultivos estavam concentrados na atividade de subsistncia

    familiar, com o plantio de: milho, feijo e mandioca. Nas culturas comerciais permaneciam emdestaque a cana-de-acar e o arroz.

    Entre 2002 e 2003 a rea total colhida de lavouras temporrias em Sergipe foi de 178,2 mil

    hectares, apenas 3% superior a da mdia trienal de 1990-1992. Em destaque a reduo nos anos de

    1990, da rea colhida da cana-de-acar, que passou de 35,0 mil hectares para 20,1 mil, assim como

    a do fumo, notando-se, entretanto, a expanso do cultivo do milho, da batata-doce e do arroz

    (CEPLAN, 2005).

    Sustentadas na justificativa da necessidade da superao da crise, as polticas agrcolaslocais fazem coro s polticas nacionais e internacionais sob o comando das instituies financeiras

    internacionais que determinam a ampliao das monoculturas para a produo de agrocombustveis.

    3.1 A citricultura e o agronegcio no campo sergipano.

    O modelo da modernizao capitalista no campo sergipano se estabeleceu atravs da

    subordinao da unidade de produo familiar lgica do capital, especialmente no centro sul do

    estado, especialmente nos municpios de Lagarto, Boquim e Salgado com a produo de laranja.O centro-sul do Estado concentra a cadeia produtora de laranja estando toda a produo

    concentrada nas reas de pequenas propriedades. 80% esto sob a responsabilidade de propriedades

    com rea inferior a 10 hectares. O que significa a subordinao da unidade de produo familiar

    voltada para a monocultura da laranja, que constitui a segunda maior produo agrcola do estado

    de Sergipe.

    A pequena produo familiar est subordinada ao monoplio da produo de laranja pelo

    capital, sob o controle dos grandes proprietrios desde a dcada de 1970. A monopolizao da

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    produo da laranja tem transformado os pequenos produtores funcionais ao interesse da produo

    extensiva, transformando o campo sergipano em reas de produo para o capital, a unidade de

    produo de alimentos cede lugar produo de exportao, para o favorecimento da monocultura.

    A monopolizao desse cultivo tem servido apenas para ampliar a esfera de domnio das grandes

    empresas do agronegcio, donos de indstrias de suco concentrado que tambm so produtores de

    laranja, eucalipto e gado.

    Como exemplo pode-se verificar o domnio da FRUTENE (no territrio sul). Segundo

    pesquisa desenvolvida por Jordana Santana,2 no municpio de Cristinpolis o proprietrio desta

    indstria de suco tambm grande proprietrio de terras e tem o controle do plantio e da produo,

    concentrando 70% das terras e do cultivo da laranja, que vem se expandido para outros municpios

    sergipanos, como tambm para municpios do estado da Bahia. O capital industrial, juntamente como capital comercial monopolizam os preos ficando o pequeno produtor impossibilitado de competir

    com os preos do mercado, tornando-se subordinado aos interesses dos atravessadores que

    contraditoriamente so a garantia da venda da laranja.

    Por falta de condies, os pequenos produtores sentem dificuldades para comercializar a

    laranja. Apesar de toda imposio do capital, a pequena unidade de produo familiar permanece

    produzindo a laranja como cultivo comercial, mas, sempre diversificando a produo com cultivos

    de subsistncia, o que demonstra estratgia de resistncia contra o monoplio do capital. Embora aproduo da laranja seja dominante em quase todo o territrio, aproximadamente 79,59% das

    pequenas unidades de produo familiar diversificam a produo com plantios de subsistncia

    como: mandioca, macaxeira, feijo, milho, amendoim, coco e banana que so produzidos

    geralmente entre os vos dos laranjais.

    A dificuldade de acesso a crditos bancrios, como tambm aos programas de incentivo ao

    pequeno produtor, no caso especfico da laranja, tem dificultado o pequeno produtor em manter-se

    na terra. Para a sua permanncia na terra preciso diversificar a produo, junto com a laranja e oscultivos voltados para subsistncia, ou atividades alternativas, como forma de complemento da

    renda familiar. Os pequenos produtores que possuem reas maiores cultivam produtos como:

    amendoim, batata, banana e maracuj, para a comercializao direta em feiras locais. Quando os

    pomares esto crescidos s d para produzir a laranja, muitos necessitam aumentar a rea plantada,

    nesse caso recorrem ao aluguel de terrenos e ou arrendam a terra.

    2Relatrio de Pesquisa desenvolvida pela bolsista Jordana Aquino de Santana no PIBIC/FAPITEC/UFS/ 2011 sob a

    minha orientao. Projeto: As alteraes da unidade de produo familiar diante da expanso do novo modelo dedesenvolvimento do agronegcio em Sergipe, no territrio Sul Sergipano: municpios de Cristinpolis e Itabaianinha.

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    Nos ltimos anos a citricultura em Sergipe est sob o domnio do oligoplio formado por

    quatro grupos que so: Cutrale (maior percentagem); Citrosuco; Louis Dreifus Commodities LDC

    (francesa); e Citrovita, da Votorantim. Essas empresas controlam o mercado impondo preos e

    condies de venda. Os pequenos produtores esto totalmente subordinados a este oligoplio.

    Os estados de Sergipe (em segundo) e a Bahia (primeiro) so os principais estados

    produtores da Regio Nordeste, e juntos representam 90% de toda rea plantada de laranja.

    Entretanto seguindo a mesma tendncia nacional (caso de So Paulo) e ou mesmo mundial (Estados

    Unidos) a produtividade do citro considerada baixa.

    Em pesquisa realizada, observamos que tem ocorrido nos ltimos dez anos um aumento da

    rea plantada no estado de Sergipe, principalmente no territrio sul sergipano, todavia a

    produtividade dos citros em Sergipe tem alcanado baixos nveis. Para os grandes produtores abaixa produtividade est associada incidncia de pragas e doenas, como tambm pela falta de

    tecnologia. Entretanto para os pequenos proprietrios essa situao explicada devido dificuldade

    de crditos e ao preo de mercado.

    As medidas para solucionarem os problemas crticos no que se refere perda da

    produtividade se esbarram em contradies. A alternativa da expanso de um mercado interno para

    a venda direta domstica, por exemplo, est associada a uma poltica que fortalece os mdios e

    grandes produtores na medida em que a exigncia da qualidade do produto para o mercado internoexige uma qualidade de cultivo que o pequeno produtor no tem tecnologia para atender as

    exigncias de qualidade.

    A Embrapa, a Monsanto do Brasil e a Empresa de Desenvolvimento Agropecurio do

    Estado de Sergipe (EMDAGRO), firmaram uma parceria com o objetivo de testar e validar um

    manejo de superfcie do solo para a reduo de custos, melhoria da estrutura do solo, incorporao

    de resduos orgnicos em profundidade (razes) e na superfcie do solo (parte area). Em parceria

    com o Governo do Estado a Monsanto promete investir no uso do Round-Up para diminuir aspragas e aumentar a produtividade do citro no campo sergipano. Em 2010, a empresa faturou mais

    de dois bilhes de reais s no Brasil com a produo e comercializao da linha Round-up,

    sementes convencionais e geneticamente modificadas. importante lembrar que, em junho desse

    ano de 2011 a Monsanto foi condenada pela utilizao do Round-Up veneno de altssimo grau de

    contagio malfico3.

    3A patente para venda desse produto est vencida nos Estados Unidos desde setembro de 2000 e a confirmao dos

    malefcios causados pelo mesmo poderia lev-lo ao banimento. Disponvel em: Acesso em: 15 fev. 2011.

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    De forma geral a produo da laranja nas ltimas dcadas tem passado por diversas

    dificuldades, seja com o aumento dos preos, com a crise mundial, seja pela impossibilidade da

    garantia de autonomia de preo de mercado diante do monoplio especulativo do agronegcio. Para

    enfrentar essa situao, os pequenos produtores procuram outras atividades para a complementao

    de renda, a fim de garantir o sustento familiar.

    Para a comercializao da laranja, verificou-se que, mais de 70% dos pequenos produtores

    preferem vender diretamente ao atravessador, sendo que 33% vendem diretamente aos comerciantes

    ou vendem nas feiras locais. A preferncia pelo atravessador de acordo com os pequenos produtores

    relaciona-se primeiramente a dificuldade de distribuio, seguido da falta de opo, pois como a

    produo da laranja pequena fica mais vivel via atravessador que no apenas contrata pessoas

    para tirar laranja, mas tambm tm os fornecedores certos; outros alegam que na falta detransporte para o transporte da laranja eles so obrigados a pagarem fretes altos. Quanto ao destino

    da produo, esta geralmente direcionada para a venda no prprio estado, porm boa parte da

    produo tem sido transportada diretamente para os estados de Alagoas, Pernambuco, Piau e Cear.

    Sendo submetidos aos interesses dos atravessadores, da indstria e do prprio comrcio, que

    monopolizam os preos da laranja e na impossibilidade de competir com os preos do mercado

    tornam-se subordinados aos interesses dos atravessadores.

    Ultimamente o Governo do Estado atravs da Embrapa do setor de Tabuleiros Costeirosvem incentivando o consorciamento com outros cultivos como a mandioca e o girassol, para

    projetos para o desenvolvimento de culturas voltadas produo de biocombustveis, com a

    utilizao da produo familiar campesina.

    A proposta seguindo o modelo do Novo Rural a diversificao do plantio em pequenas

    propriedades familiares camponesas anunciando a garantia da obteno de renda, no perodo de

    entressafra at o estgio comercial. Em pesquisa de campo foi observado presena em expanso

    de culturas de ciclo curto e de grande aproveitamento para o agronegcio como o girassol.

    3.2 O agronegcio da cana de acar.

    Segundo estimativa da Conab/SE a expanso da produo da cana de acar em Sergipe

    para a safra 2010/2010 de 2,3 milhes de toneladas, fato que vem sinalizando positividade.

    Todavia a safra 2010/2011 aponta para a retrao da produo e da rea cultivada, sendo justificada

    por essa instituio devido s condies climticas e ao processo de renovao de reas para o

    cultivo da cana. A perspectiva de uma pequena alta na produtividade de apenas 0,20%. Entretanto

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    para a Asplana-SE (Associao dos Plantadores de Cana de Sergipe) a estimativa para a safra

    2010/2011 positiva, considerando a tendncia da alta dos preos o aumento da produo, as

    prprias condies climticas e a expanso do cultivo4.

    interessante avaliar a controvrsia das informaes o que pode justificar os incentivos

    fiscais e creditcios que os produtores tm recebido do governo estadual e do setor financeiro

    principalmente o BNB, o que pode ser comprovado com o crescimento do setor sucroalcoleiro em

    Sergipe.

    A expanso do agronegcio da cana de acar no estado tem tido uma alta projeo. Nesse

    ano de 2011, o Governo do Estado objetiva aumentar o plantio de cana para a produo de etanol

    garantindo aos usineiros um maior acesso ao crdito, beneficiando os grandes produtores atravs de

    emprstimos em longo prazo, e de iseno das dvidas.Segundo o Censo Agropecurio/IBGE, em 1996 a atividade canavieira ocupava 22,7% das

    terras sergipanas, em 2006 ocupava 38,8 mil hectares e em 2008 a rea plantada de cana em Sergipe

    passou para 48,09 mil hectares. Esse aumento ocorreu principalmente por causa do crescimento do

    setor sucroenergtico. A produo da cana de acar dos estados de Sergipe, Bahia e Alagoas tem

    como direcionamento a produo de acar e lcool (anidro e hidratado).

    No Nordeste os estados de Alagoas e Pernambuco apresentam maior percentual de rea

    plantada. Conforme dados do IBGE (2008) esses dois estados omam mais de 66% do total daregio, concentrando mais de 78,3% em 2008 da produo de cana-de-acar. O estado de Sergipe

    obteve nesse mesmo perodo um crescimento de 20,7% na safra 2007/2008 em relao safra

    anterior. Entretanto, segundo os prprios dados do IBGE, embora tenha ocorrido crescimento em

    rea plantada e em produo, a produtividade em Sergipe tem obtido baixo crescimento e tem sido

    oscilatria. Em 2006 houve uma significativa queda de produtividade, recuperando-se em 2007 e

    voltando a cair em 2008. Segundo pesquisa realizada essa situao se deve porque o perodo de

    expanso em rea plantada recente.Dos 75 municpios do Estado de Sergipe, 21 so produtores de cana-de-acar concentrando

    a rea plantada em antigos territrios produtores de cana-de-acar na regio denominada

    Cotinguiba e Baixo Cotinguiba, que atualmente compreende os Territrios da Grande Aracaju, do

    Leste Sergipano e alguns municpios do Territrio do Baixo So Francisco. A expanso da rea

    plantada de cana-de-acar em Sergipe, em proporo ao perodo de 2004 a 2007 foi pequena. Em

    destaque o municpio de Capela (Territrio do Leste Sergipano) e em seguida o municpio de

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    Disponvel em: Acesso em: 15 fev. 2011.

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    Laranjeiras (tradicional rea de cultivo da cana no Territrio da Grande Aracaju). Juntos os dois

    municpios alcanaram 52,3% do total produzido no estado.

    Os municpios de Capela e de Nossa Senhora das Dores aumentaram a rea plantada e a

    produo devido instalao de novas unidades industriais. Capela recuperou a posio de 1 lugar

    (17,5%) e Laranjeiras (rea tradicional no plantio) em 2 lugar com 16,6%. Em seguida, o

    municpio de Japaratuba (15,2%), Pacatuba (12,4%) e Japoat (6,6%). Quanto produtividade

    conforme o IBGE somente o municpio de Capela teve acrscimo significativo na produo e na

    produtividade, devido implantao de uma nova Usina e da introduo de tecnificao.

    A projeo do crescimento de rea plantada e de produo explicada pela condio de

    tradio no cultivo da cana de acar e da pecuria, somado ao baixo preo de terras produtivas

    (para arrendamento). O territrio da cana expande o seu domnio avanando nas reas das pequenaspropriedades de unidade de produo camponesa que so pressionadas a cederem suas terras

    monocultura da cana de acar.

    A paisagem que acompanha o litoral sergipano do domnio do capim verde - a cana.

    Adentrando no campo o que se observou em toda pesquisa de campo a ausncia das unidades de

    produo camponesas que so pressionadas pelo domnio do agronegcio da cana, da laranja e

    atualmente pela intensiva expanso do agronegcio do milho.

    A poltica governamental local em sintonia com a poltica do governo federal prioriza oagronegcio como a grande soluo para o desenvolvimento do estado/pas, preocupados na

    garantia do aumento de commodity. O crescimento sucroalcooleiro com o progresso tecnolgico

    estabelece o aumento da produo canavieira devido utilizao do lcool combustvel

    transformando o campo brasileiro num cenrio de domnio do capital, na formao de commodity

    para o mercado internacional.

    Objetiva-se o crescimento da produo e produtividade sem se questionar as contradies

    geradas no campo. Nas palavras da presidenta do pas Dilma Rousseft no lanamento do PlanoAgrcola e Pecurio 2011/2012:

    Somos um pas que soube construir uma articulao entre agricultura e indstria[...] Nela, convivem pequenos, mdios e grandes produtores de forma harmnica,no de forma a criar conflitos. Aqueles que criam conflitos e no respeitam alegalidade tentam instituir situaes que ns repelimos que no sejam legais, dentroda lei e das normas do Pas so minoria.5

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    Disponvel em: Acesso em: 17jun. 2011.

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    As Polticas Pblicas no campo brasileiro e sergipano conduzem a questo camponesa da

    autonomia alimentar como inexistente prioriza como importante o entendimento do modelo do

    Novo Rural na perspectiva no campo, para o aumento de emprego e renda, o que significa a

    garantia da sujeio dos trabalhadores ao capital. Fato que pode ser constatado com a Medida

    Provisria 499/2008. Esta Medida estabelece a subveno para os produtores de cana. Na segunda

    metade de 2009 o Governo de Sergipe lanou o Programa de Renda na entressafra para

    trabalhadores dos cultivos da laranja e cana de acar atravs da criao de um Projeto de Lei que

    institui o programa Mo Amiga, articulado ao programa da renda mnima. Dessa forma

    estabelece uma mudana para os trabalhadores de cultivos temporrios da cana de acar e da

    laranja, em que o governo deve conceder um benefcio financeiro de R$190,00 durante os quatro

    meses de entressafra destes cultivos, perodo em que os trabalhadores ficam desempregados comocondio de estmulo.

    Em julho de 2011 o que se pode constatar em pesquisa de campo na rea de plantio foi a

    permanncia da condio de misria dos cortadores de cana-de-acar6. Entregues a bebida em

    espera do perodo que sero novamente contratados permanecem desocupados para sua

    subordinao. Em entrevista informal eles afirmaram que tem orgulho de serem cortadores de

    cana. nica possibilidade de sobrevivncia, na condio de quase lumpen ser cortador em perodo

    temporrio e em localidade temporria a possibilidade de trabalho, sem questionar condio devida.

    Mveis para o capital, o que se constatou foi a grande migrao. Para os produtores de cana

    essa mobilidade importante favorecendo o descompromisso das garantias trabalhistas. O sistema

    acumulativo do modo de produo capitalista se estabelece numa estrutura destrutiva da crise

    estrutural do capital em que para manter lgica do lucro h a destruio da classe trabalhadora que

    afetada pelo desemprego estrutural, formando o trabalho precarizado e escravo. Na medida em

    que se localizam a margem do processo produtivo, permanecem andarilhos no curto tempo cclicodo capital. (CONCEIO, 2007, p. 110).

    Conforme resultados da dissertao de mestrado de Shiziele Shimada (2010) fica claro o

    domnio dos latifundirios no campo sergipano permanecendo a mesma performance dos antigos

    coronis do acar. Essa condio possibilitada pelo Estado. No territrio do agronegcio

    aucareiro esta situao est presente atravs da privatizao das propriedades agroindustriais, da

    6Registramos esta situao em vrias fotografias e filmagem.

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    ao reguladora do Estado de maneira indireta, da m-remunerao do trabalho, do desemprego e

    da crescente precarizao do trabalho.

    Em estudos que vem realizando Shimada7 vem comprovando, que a gerao de emprego

    direto e indireto no sistema do agronegcio da cana de acar em Sergipe constitui numa falcia

    para propagandear a importncia e o crescimento econmico realizado pelo agronegcio no Brasil.

    Na prtica o que se tem verificado so baixas remuneraes, alm da superexplorao dos

    trabalhadores do corte da cana. A carteira de trabalho propagandeada pelo governo como garantia

    de trabalho, na realidade apenas um fetiche. O que se constata que na atividade canavieira o

    sonho do trabalho com carteira assinada a legitimidade de horas no pagas, na extrao intensa de

    mais valia, em decorrncia da especificidade da remunerao por produo. O corte da cana-de-

    acar exige do trabalhador um alto esforo fsico para poder cortar o maior nmero de cana, egarantir ainda assim um baixo salrio. Sem nenhuma garantia de medio correta do corte e diante

    das condies pssimas em que est submetido, o cortador de cana8 expropriado e violentado pelo

    capital.

    Em pesquisa de campo realizada por essa autora para o produtor da cana mais lucrativo a

    produo a partir do corte de cana crua, entretanto em entrevista com os cortadores pode-se

    comprovar que a condio de cortador de cana crua ainda mais perversa, provocando no s

    problemas graves de mutao de rgos e at mortes, tendo o trabalhador que enfrentar animaispeonhentos.

    necessrio observar que o discurso dos grandes produtores e do Estado bastante

    controverso sobre essa questo. De forma simulada no discurso da necessidade de polticas pblicas

    sustentveis sob critrios ambientais e sociais h a proposta da substituio do trabalho humano

    pela mecanizao como alternativa para essa situao. importante observar que essa alternativa

    significa o desemprego de grande maioria dos cortadores. Alm de que como afirma Monas (2009)

    mecanizao da colheita para o corte de cana crua estimula a concentrao das propriedadesfundirias/industriais; expulso dos produtores (reas de 50 a 125 hectares); reduo dos postos de

    trabalho no qualificado; fortalece a tendncia de concentrao do setor por empresas de maior

    competio de mercado.

    7Dissertao de Mestrado (2010) e Tese de Doutorado em andamento sob minha orientao.8ALVES, Francisco. Por que morrem os cortadores de cana?. Disponvel em:

    . Acesso em: 22 fev. 2010.

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    Segundo documento do Ministrio da Agricultura Pecuria e Abastecimento - Assessoria de

    Gesto Estratgica datado de junho de 2011 as Projees do Agronegcio no Brasil para 2010/11 a

    2020/21 de crescimento. Os produtos que detm maior potencial de crescimento da produo e

    das exportaes nos prximos anos so o algodo, soja, carne bovina, carne de frango, acar, papel

    e celulose.

    4 CONSIDERAES FINAIS

    A posio dos dois ltimos governos do pas (PT) deixa claro o compromisso com o

    agronegcio. No discurso governamental do ex- presidente Lula da Silva o foco das aesgovernamentais esteve voltado (2003 2010) para a criao de uma poltica sustentvel sob

    critrios ambientais e sociais de expanso da produo de cana-de-acar, etanol e acar voltada

    para o setor sucroalcooleiro. Resultado festejado por Ktia Abreu ao afirmar que o agronegcio

    brasileiro vai registrar expanso acima da mdia em 2011. Estimativa prevista pela Confederao

    Nacional da Agricultura (CNA) 9, que atribui aos altos preos das commodities forte demanda

    interna e externa e reduo dos custos de produo e ao avano mais acelerado do agronegcio no

    campo.Sustentadas na justificativa da necessidade da superao da crise as polticas agrcolas

    locais fazem coro s polticas nacionais e internacionais sob o comando das instituies financeiras

    internacionais que determinam ampliao das monoculturas para a produo de agrocombustveis.

    Na leitura da Via Campesina o massivo investimento de energia baseada no cultivo e

    processamento industrial de matrias vegetais como o milho, a soja, a cana de acar, etc., no

    resolver nem a crise climtica, nem a energtica. Porm ir trazer imensas conseqncias sociais e

    ambientais. Sem condies de resistirem ao agronegcio, para subsistirem, as famlias camponesasso obrigadas a abandonarem a produo de alimentos e se submeterem ao cultivo dos

    agrocombustveis.

    Antes de constituir sada para a pequena propriedade camponesa, o agronegcio tem

    provocado a expropriao do campons da terra tornando-o mvel, enquanto fora de trabalho que

    ser absorvida no prprio agronegcio local, ou na procura de trabalho no setor industrial, sujeitos a

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    Disponvel em: Acesso em: 20jun.2011.

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    condio de trabalho precarizado ou escravo. Expulsos da terra se tornam errantes para ampliao e

    consolidao do controle sociometablico do capital.

    Em palestra na Universidade Federal da Bahia sob o ttulo Crise Estrutural necessita de

    Mudana Estrutural, IstvnMszros (2011) reafirma o carter universal, de ampla estrutura social

    global, gradual e permanente da crise estrutural do modo de reproduo sociometablica do capital,

    afetando a prpria estrutura em sua totalidade, com implicaes sistmicas globais. Deste modo no

    possvel soluo dentro dos parmetros do sistema. O deslocamento das contradies s possvel

    enquanto a crise parcial, local, uma crise parcial, relativa e internamente gerencivel pelo sistema.

    Para Mszros a crise financeira que vivenciamos h alguns anos apenas um aspecto da

    trifurcada destrutibilidade do sistema do capital, na esfera militar, ecolgica, na sua intrnseca

    condio de destruio criativa ou produtiva. Neste contexto a insero do modelo doagronegcio responde ao complexo das mediaes do sistema sociometablico do capital que tem

    no objetivo do super lucro a reduo da produo familiar camponesa, e a fome como forma

    especulativa de acumulao.

    5 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ALVES, Francisco. Por que morrem os cortadores de cana?Disponvel em:. Acesso em: 22 fev. 2010.

    ANTUNES, Ricardo. Os Sentidos do Trabalho: Ensaio sobre a afirmao e a negao doTrabalho. So Paulo: Boitempo, 1999.

    CEPLAN. (Consultoria Econmica de Planejamento). In: SOUZA, Aldemir do Vale (coord.).Sergipe: Desempenho, Perspectivas Econmicas e Evoluo dos Indicadores Sociais 1970-2004,Recife, novembro, 2005, p. 243.

    CONAB. Acompanhamento da safra brasileira de cana-de-acar. Safra 2007-2008, Braslia:Conab, 2007.

    CONCEIO, Alexandrina Luz. Jovens Andarilhos no Curto Ciclo do Capital, In: RevistaOKARA: Geografia em Debate, v.1, n.1, p. 77-100, Joo Pessoa, PB, 2007. Disponvel em:

    HARVEY, David. La Teora de la Renta, in Los Lmites del Capitalismo y la Teora Marxista.Mxico: Fondo de Cultura Econmica, 1990.

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    MARX, Karl. O Capital: Crtica da Economia Poltica. So Paulo: Nova Cultural, livro I volume II,1988, 3 ed, p. 199. Traduo de Regis Barbosa e Flvio R. Kothe.

    MSZROS, Istvn. Crise Estrutural necessita de Mudana Estrutural. In: Conferncia de

    Abertura, II Encontro de So Lzaro, 13 jun. 2011, p.12. Disponvel em: Acesso em: 20 mai. 2012

    MONOS, Maria Geovania Lima. Tecnologia e Inovao na Cadeia Produtiva Sucroenergticado Estado de Sergipe: caracterizao do setor e identificao dos padres de inovao. 2009.Dissertao (Mestrado em Economia) Universidade Federal de Sergipe, Ncleo de Ps-Graduaoe Pesquisa em Economia, Sergipe, So Cristvo.

    PEREIRA, Joo Mrcio Mendes. A poltica agrria do Banco Mundial no incio do sculo XXI:ofensiva neoliberal em marcha acelerada, 2005. Disponvel em: , Acesso em:20 mai. 2012.

    SHIMADA, Shiziele de Oliveira. Do Latifndio e do Agronegcio: as novas territorialidades docapital no campo sergipano e as formas em que se reveste o domnio do "Senhor" ao "Escravo".2010. Dissertao (Mestrado em Geografia) Universidade Federal de Sergipe, Ncleo de Ps-Graduao e Pesquisa em Geografia, Sergipe, So Cristvo.