Exped i Cao Liberdade

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    AHOY!

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    Ele comeou quando o Larusso recebeu de umamigo o convite para fazer um curso na Schu-macher College, na Inglaterra. Ele no iria aovelho continente em um bate-e-volta de umasemana: ele aproveitaria a viagem para visitarescolas e espaos de aprendizado que buscamalgo novo. Na mesma poca, o Cuducos e a

    Mabel estavam de mudana para Londres. Comisso, resolvemos nos juntar. A Expedio aconte-ceria de qualquer forma: ns trs j estaramos naEuropa e faramos as visitas. Mas queramosmais: queramos poder compartilhar a experin-cia com mais gente. E assim comeou nossacampanha no Catarse.

    O foco no era nanciar a Expedio em si, masnos dar condies para fazer o registro dela,contar e compartilhar nossa experincia aps aviagem. Anunciamos tambm que, quanto maisconsegussemos arrecadar, mais e melhorpoderamos contar sobre a Expedio. Se atings-semos a cota mnina, teramos posts no blog doEstaleiro Liberdade. Conforme fssemos arreca-dando mais, as entregas seriam melhores: in-fogrcos, mini-documentrios e encontrospresenciais. Foi um sucesso. Foram 110 apoi-

    adores que nos zeram superar nossa cotamnima em 9265% surpreendendo qualquerexpectativa que ns tivssemos.

    Assim fomos visitar e interagir com a BrockwoodPark School, a General Assembly, a Hyper Island,a Kaospilot, a The School of Life, a SchumacherCollege, a Studio Schools, a Team Academy e aTrade School.

    O que nos chamou a ateno desde o incio desseprocesso foi algo que, imersos na lngua inglesa,chamamos de skills for autonomy. Em portugus,

    seria algo como habilidades, ou competncias,para que a pessoa que se envolve naaprendizagem possa ser livre, possa ser autno-ma. Cada uma das escolas pareceu interpretarisso de um jeito diferente, mas de certa formaessa ideia era recorrente em todas elas a edu-cao tem que proporcionar ao indivduo conhe-

    cimentos, experincias, reexes e ferramentaspara que ele possa exercer sua autonomia, sejapara no se abalar em crises de mercado, sejapara lidar com problemas humanos, mundanos esubjetivos, seja para sentir-se livre e forte paratraar seus prprios caminhos no mundo.

    Para oferecer esse tipo de aprendizagem, vimosque um dos diferenciais entender o indivduoantes de se propor a educ-lo. Isso faz com queos sistemas de educao no puxe o estudantepara um lado que, talvez, ele ache frustrantemais tarde. Se voc j sabe onde quer levar quemest aprendendo, pode ser que esteja projetandonele algum que ele no necessariamente queiraser cria-se uma tenso nesse processo. Ento, essencial que um espao de aprendizado como osque visitamos oua e acolha tanto o que quemest aprendendo enquanto indivduo, quanto

    os rumos que ele quer seguir.

    Esses pontos no so simples: exigem reexo eautoconhecimento; exigem perguntas e decisesnada fceis. Por isso, processos de aprendizagemcomo esses tm que oferecer subsdios para quequem aprende consiga reetir sobre essas per-guntas, para que quem aprende consiga experi-mentar, errar e acertar, achando um caminho no

    processo. Tm que oferecer, tambm, as ferra-mentas, tcnicas, e bases tericas para que esseindivduo consiga estruturar suas ideias, projetose iniciativas. Por m, esse processo ainda tem

    A Expedio Liberdade um projeto com o objetivo de conhecer e

    compartilhar experincias sobre espaos de aprendizado que

    buscam alternativas ao ensino tradicional.

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    que proporcionar um porto seguro a quemaprende, seja na parte nanceira (porexemplo, compartilhando conhecimentosque tm aplicao fcil e imediata nomercado) seja social (por exemplo, ajudan-do-o a dialogar e propondo iniciativas que

    sejam relevantes no s para ele, mastambm para a comunidade na qual eleest inserido).

    Os processos de aprendizado que vimos(cada um deles mais ou menos el a esseconjunto de caractersticas) parecemempoderar as pessoas, fazendo com queelas se sintam menos dependentes depadres, de ideais de emprego, de carreira,de estilos de vida. Em processos comoesses, vimos que elas se sentem maiscapacitadas para tomar decises prossio-nais e pessoais, para trazer os sonhos epaixes para o seu dia a dia, e para vermais sentido no que fazem, no que tra-

    balham, no que resolvem estudar e nostemas nos quais resolvem se aprofundar.Esse movimento, importante destacar,

    acontece no sentido contrrio ao da espe-cializao em carreiras j dadas e valoriza-das, com ttulos e cargos aspiracionais.

    O que vimos foram alternativas que olhampara o que indivduo quer fazer no mun-do, e no para o que o mundo quer que oindivduo faa. Com isso, cou clara umacrtica que essas propostas alternativas

    trazem sobre a educao tradicional: huma vontade de se afastar de um modeloindustrial de educao, de um modelo queparte da certeza sobre o que deve seraprendido, de um modelo que nos levoupara um cenrio onde a educao ex-tremamente competitiva, escassa e baseadana linearidade, de um modelo, por m,centrado na aquisio e mensuramentode um conhecimento pr-estabelecido.Essa educao cartesiana, funcionandocomo uma linha de produo na qual ascaixinhas (reas, especializaes, carreiras)

    abel, Cuducos e Larusso

    Trade School - Workshop

    rockwood Park - cozinha

    nergizer Kaospilot

    Oficina - The Studio School

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    j so dadas previamente, no consegueescutar o estudante, no consegue ofere-cer a ele um espao para reexes sobrequem ele , sobre quais rumos querseguir, e sobre como ele quer se relacionarcom o mundo. Alis, ao contrrio, essas

    reexes so evitadas na medida em queas respostas j esto dadas no modelo.Esse processo no d espao para a huma-nidade de quem aprende, para a luz queexiste no estudante, para o desejo verda-deiro das trocas signicativas que podemacontecer no processo de aprendizagem.

    Vimos que o que d base para os espaosque visitamos o conceito deaprendizagem livre o que , de certaforma, uma negao da ideia de edu-cao industrial. Sintomtico dessacrtica o quanto as possibilidades deeducao a distncia, online, perdemespao nas escolas que visitamos: emmuitas delas a tecnologia no cumprepapel especial algum e mesmo no casodas que oferecem alguns contedos via

    internet, essa possibilidade passa longede ser um diferencial relevante para aproposta da escola.

    Por outro lado, esses espaos apostammuito no contato humano, na conversa, norelacionamento com as pessoas envolvidasna aprendizagem, e na reexo coletivasobre o processo atividades que dicil-

    mente acontecem a distncia com a mesmaintensidade e profundidade que na conver-sa presencial.

    Este livro digital um convite paraconhecer os detalhes desta experincia,onde contamos o que mais nos chamoua ateno em cada escola quevisitamos no final de 2013. Foram noveencontros, nove oportunidades nicasde conhecer e dialogar sobre espaos epessoas que buscam novos horizontes educao tradicional.

    Workshop Rio de Janeiro - GOMA

    Trade School - Zombie Girl e Lifestyle Hacker

    Workshop So Paulo- Laboriosa 89

    General Assembly

    Schumacher College

    Campos de cultivo da Schumacher College

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    TRIPULAO

    Estudei design, onde conheci a Mabel e o Cuducos. Mas foi criandoencontros e espaos alternativos de aprendizagem que eu maisaprendi. Fui publicitrio e sa dessa vida. De uns anos pra c, mededico a empreender por mais autonomia pra todo mundo.Principalmente nos campos do design e tecnologia, livreaprendizagem, economia colaborativa e empreendedorismo.

    por isso que desenvolvi projetos como o Ns.vc, Estaleiro Liber-dade, LAUNCH!, Unlock e Hell Yeah. Voc pode conhecer todoseles e acompanhar meus textos dirios em: www.larusso.com.br

    DANIEL LARUSSO

    Sou basicamente um curioso, mais socilogo e programador do que

    designer. No fundo so apenas trs formas diferentes que encontreipara explorar nossa cultura e estilo de vida, para testar e proporcoisas novas. Estudo economia colaborativa e nanciamentocoletivo em meu doutorado em sociologia na University of Essex,Inglaterra, contribuo com alguns projetos de cdigo livre eparticipo de coletivos aprendendo e ensinando programao. Meformei em design na UFSC h um bom tempo atrs, e foi no designque conheci o Larusso e a Mabel. Se voc quiser me stalkear podecomear por aqui: cuducos.me

    EDUARDO CUDUCOS

    Vinda de cidade pequena, mas com alma nmade. Acredito que importante existir uma variedade de modelos e momentos deaprendizado. Durante a universidade, aprendi a me colocar nopapel de protagonista e criar com meus amigos nossos prpriosespaos informais de troca de conhecimento. Embarquei na Expe-dio aps uma grande mudana de vida, o que me fez mergulhar

    ainda mais nos questionamentos de cada escola. Como resultado,z o curso de imerso em UX Design na General Assembly e acabeide comear um mestrado na Hyper Island em Manchester.Voc pode ver um pouco mais do que j z em: www.mabel.ml

    MABEL LAZZARIN

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    GENERAL ASSEMBLY

    HYPER ISLAND

    THE SCHOOL OF LIFE

    TRADE SCHOOL

    TEAM ACADEMY

    STUDIO SCHOOL

    KAOSPILOT

    BROCKWOOD SCHOOL

    SCHUMACHER COLLEGE

    AGRADECIMENTOS

    08

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    16

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    24

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    GENERAL ASSEMBLY

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    A General Assembly foi onde comeamos nossaexpedio. Visitamos a unidade de Londres, umespao super enxuto, que ca no alto de umedifcio estreito. A primeira escola foi criada emNova Iorque, no incio de 2011, basicamentecomo um espao de inovao para empreende-

    dores e startups. A origem dela est ligada aosespaos de co-working: observando que aspessoas que trabalham nesses espaos acaba-vam aprendendo umas com as outras, e obser-vando que o que elas trocavam ali justamenteum tipo de conhecimento que raramente ensinado durante a formao dos prossionais,os fundadores da General Assembly viram umaoportunidade: oferecer exatamente esse tipo deconhecimento, as competncias necessrias parao sculo XXI, como descreveu Gordon Macrae,que nos recebeu em Londres.

    Hoje, a escola possui unidades espalhadas em 9cidades, em 5 pases diferentes (Berlin, Boston,Hong Kong, Londres, Los Angeles, NovaIorque, So Francisco, Sydney e WashingtonD.C.), alm de uma plataforma de cursos on-line, oferecendo vdeos com muito contedo e

    linguagem simples.

    O foco da General Assembly o triptecnologia, design e negcios. Eles veem essascompetncias como as mais relevantes para umaeducao que transforma pensadores emcriadores (como eles dizem no site), queprepara as pessoas para as oportunidadesprossionais que esto a. Como nos contou

    Graud Mathe, se existem apenas 2 mil vagasde emprego disponveis, a General Assembly visso como uma oportunidade, e no como umproblema e prepara seus alunos para abraaressas 2 mil oportunidades. Graud, por sinal,comeou a carreira como auto-didata e depoisde fazer alguns cursos na General Assembly.Hoje alm de desenvolvedor web, ele professor na escola.

    Com workshops (temas variados) e cursos(tpicos especcos) eles abrangem diferentesreas, como desenvolvimento para web, design,

    ONDE?

    Nova IorqueBostonWashington D.CLos AngelesSan Francisco

    LondresBerlinHong KongSydney

    QUANDO COMEOU?Em 2011, em Nova Iorque.

    DESIGN

    TECNOLOGIA

    NEGCIOS

    PALAVRAS-CHAVE

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    comunicao, experincia do usurio emarketing digital. Esse repertrio aplicado snecessidades de projetos reais, ao melhor estiloaprender fazendo.

    O perl dos alunos que procuram a escolanormalmente inclui jovens recm-formados,pessoas que j trabalham na rea e querem seatualizar ou abrir seu prprio negcio. Ou, ainda,pessoas que vm de reas totalmente diferentes equerem mudar suas carreiras. Falamos comalguns alunos de l e foi marcante ouvir genteformada pelas melhores universidades daInglaterra e que estava buscando a GeneralAssembly porque a formao acadmica no lhesdeu um conhecimento que eles podiam aplicarno mundo real, no lhes deu base para passar

    da teoria para a prtica. A General Assemblyaposta no outro extremo, na pegada mo namassa: qualquer um pode chegar l sem sabernada de programao e em trs meses vaiconseguir, se essa for a sua escolha, programarum aplicativo web.

    Por exemplo, ouvimos do Sharif Zubi que hoje,qualquer um pode ter um diploma, mas que ele

    sentia falta de saber mais sobre a parte tecnolgicapara poder criar seu prprio negcio. Ele temmestrado em empreendedorismo tecnolgico, pelaUCL (University College of London), e era aluno

    da General Assembly na poca da nossa visita.E se grande parte da General Assembly volta-da para web e para o digital, conhecemostambm outro estudante, o Adebamigbe Fasan-made, formado em cincia da computao, commestrado em engenharia de software. Ele foi

    buscar na General Assembly justamente umaexperincia mais prtica legal ver que l elefoi ter aula com algum que aprendeu a progra-mar sozinho, que mesmo sem uma formaoacadmica tradicional construiu sua prpriacarreira e, depois de alguns meses de curso naGeneral Assembly, hoje professor l justa-mente o Graud, de quem j falamos.Adebamigbe ainda nos deu o melhor exemplodo quo mo na massa a General Assembly: a

    A porta nmero 9 a entrada da GA Londres

    Nossa conversa com o Gordon Macrae

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    COMO FUNC IONA?

    Cursos, workshops, programasimersivos e educao distncia,prticos e de curta durao, nasreas de tecnologia, negcios edesign, com profissionais experts.

    IMERSO E PRTICA

    Os alunos desenvolvem habilidadespara a economia do sculo XXI,para avanarem em seus projetosindependentes, serem promovidosou mudarem de carreira.

    HABILIDADESMAIS RELEVANTES

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    PENSADORESVIRAM CRIADORES

    A General Assembly tem umaabordagem mo na massa, vaidireto ao ponto e proporciona aosseus estudantes o saber fazer.

    Forma uma comunidade deindivduos empoderados parabuscar o trabalho que amam epara gerar oportunidades emempresas ou em novos negcios.

    COMUNIDADE

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    2355cursos, workshops e eventosrealizados no ano de 2013.

    5300alunos formados nos cursose programas imersivos.

    96%

    175pessoas fazem partedo time permanenteda escola.

    dos estudantes que fizeram os programasimersivos, conseguiram emprego emmenos de 3 meses aps formados.

    12semanas o tempomdio de durao dosprogramas intensivos.

    ideia sair do zero e depois de uns 2 ou 3 mesesse sentir capaz de programar aplicaes tocomplexas quanto um Facebook ou Twitter.

    Nessa comparao com universidades, a Gener-al Assembly surge como uma opo mais

    dinmica (cursos imersivos de 8 a 14 semanas;para efeito de comparao, a graduao tradi-cional na Inglaterra dura, em mdia, 3 anos).Ainda, com essa estrutura enxuta, eles podemse valer de mais uma estratgia para melhorpreparar os alunos para o mercado: nada deprofessores de carreira, por l. Quem d aulavem direto do mercado de trabalho, cumpre umcontrato curto, de alguns meses, e depois retor-na ao mercado de trabalho.

    Outro ponto importante a fora da comuni-dade que surge em torno da General Assembly e muitos fatores contribuem para que essarede continue forte e em expanso: alunos quepossuem interesses em comum, professores quepossuem ligaes com empresas da rea, parcei-

    ros de peso (como Google, Microsoft e McK-insey), e a prpria estrutura da escola, espalha-da em grandes centros e oferecendo cursos decurta durao. Tudo isso faz com que o nmerode oportunidades para quem passa por l sejaenorme, todos encontram portas abertas quandoterminam seus cursos.

    A unidade que visitamos localizada em umaregio central e descolada da cidade. O fato dasede ser em Londres atrai muitos estudantes deoutros pases que procuram oportunidades deemprego, principalmente como programadores.Como o Gordon nos contou, nos cursos emperodo integral, quase metade dos alunos (elechutou 40%) de fora da Inglaterra; j noscursos noturnos, o mais comum encontrarpessoas que tm seus trabalhos em Londres(normalmente ingleses), mas esto buscando

    algum tipo de mudana ou atualizao.

    No h professores

    permanentes com cadeira

    cativa. Assim, o contedo

    discutido est em

    constante renovao e

    dilogo com o mercado.

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    HYPER ISLAND

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    Conhecemos a Hyper Island atravs de umalonga conversa com o Jim Ralley, uma das pes-soas envolvidas fortemente com o projeto daescola. Ele havia sado de Manchester, onde ca aHyper Island da Inglaterra, e estava a caminhode Singapura, onde eles estavam inaugurando

    mais uma Hyper Island e um novo curso. Oencontro aconteceu no reduto ciclista Look MomNo Hands!, em Londres, e tomamos alguns cafse cervejas artesanais enquanto conversvamos.

    Para entender o que a Hyper Island, o Jimcontou um pouco da histria dela: tudocomeou, como toda boa histria comea, comtrs caras em um bar. Isso foi na Sucia, emmeados dos anos 90. Eles tinham um projeto deCD-ROM para fazer. Um dos caras era da rea detecnologia, outro, da rea criativa, e o terceiro, darea de negcios. E viram que tinha algo errado:o mercado (no caso, o projeto de CD-ROM)exigia que essas trs reas interagissem intensa-mente, mas na prtica era muito difcil fazeressas trs reas conversarem. com essa pegada,ento, que comea a Hyper Island, com a ideia deser um espao de formao para pessoas que

    querem transitar por vrias reas que a educaomais tradicional estava insistindo em separar.Uma escola dinmica, que se atualiza com avelocidade do mercado e do mundo.

    Assim, ao invs de ter como base o ambienteacadmico, a Hyper Island tem o foco nas neces-sidades reais e imediatas do mercado de trabalhoe dos prprios alunos, criando um ambiente que

    tambm traz mais liberdade: eles ajustam aestrutura do programa de acordo com essasnecessidades, no obedecendo um esquema torgido como nas universidades.

    Essa losoa, na prtica, ca ntida com vriosdetalhes e exemplos que Jim nos contou. Primei-ro, a experincia dos alunos dividida entremomentos na Hyper Island e momentos dedentro de empresas. Como alguns alunos semostravam mais interessados em criar o prprionegcio (ao invs de carreiras dentro de outrasempresas), a escola passou a ter um foco em-

    ONDE?

    KarlskronaEstocolmoNova Iorque

    ManchesterSingapura

    QUANDO COMEOU?

    Em 1994, em Karlskrona na Sucia.

    TECNOLOGIA

    CRIATIVIDADE

    NEGCIOS

    PALAVRAS-CHAVE

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    preendedor tambm. Ao invs de professores decarreira, a escola abriga experts do prpriomercado, que auxiliam os alunos de acordo como tema trabalhado. Os temas trocam mais oumenos a cada ms, e a cada novo tema, um novocorpo de experts participa das discusses. Se o

    time da Hyper Island no tem a expertise de queprecisam, eles buscam novas parcerias comempresas e prossionais. Nos meses nais, noque seria o trabalho de graduao, os alunos sosupervisionados ou por orientadores de dentroda escola, ou por prossionais de empresas; masisso no um estgio, um projeto baseado domercado de trabalho, no qual os alunos tm quetrabalhar com prossionais do mercado pararesolver um problema que a empresa tenha, ouainda propor um desao, uma coisa nova dentrode alguma empresa.

    Resumindo: A Hyper Island parte do pressupos-to de que a educao tradicional no representa omundo real, o mundo do trabalho l fora.Ento eles se guiam pelo prprio mercado paraestruturar seus cursos, trazendo essas necessi-dades do mercado para as aulas.

    O aprendizado, para a Hyper Island, acontece aotestar o ambiente de trabalho na escola, os alunostm a oportunidade de reetir sobre o que foitestado e esse o lado acadmico que elesdefendem. Uma academia que, apesar de olhar e

    botar as mos em problemas do mundo real,ainda preserva um espao para pensar em comofoi essa experincia. Eles criam, assim, um ciclode aprendizagem. O foco no ciclo, no experi-mentar e reetir. Acertar ou falhar no toimportante quanto experimentar e reetir.

    Essa abordagem d ainda um lado muitohumano para a escola. A forma como elesencaram o desenvolvimento humano, odesenvolvimento individual atravs desse ciclo o que est na raiz da Hyper Island. Por umlado, essa abordagem cria um senso decomunidade, uma conana grande entre ogrupo, e acaba incentivando a liderana emgrupos orgnicos a cada momento. Por outrolado, a Hyper Island nunca vai dizer ao aluno oque ele deve fazer, ela no dar as respostas; ela mais um ano sabtico do que uma

    A ideia simular o ambiente

    de trabalho dentro da

    prpria escola, com experts

    e projetos reais. Onde osalunos alm de escreverem

    artigos, fazem briengs e

    desenvolvem projetos.

    Com Jim Ralley no Look Mum no Hands

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    98%dos estudantes encontramum emprego em menos de6 meses de formados

    20%dos estudantes iniciamseus prprios negcios

    400estudantes emtempo integral

    25%dos estudantes trabalham emoutros pases aps formados

    CICLO QUE MUDA O MUNDOATRAVS DA MUDANA

    DE SI MESMO

    1

    EXPERIMENTARBASEADOS NAS NECESSIDADES

    REAIS DO MERCADOPara Hyper Island a educaotradicional no representa o mundoreal, ento ela recria o ambienteprofissional dentro da escola. Inclusiveos professores so experts ativos nomercado.

    2

    REFLET IR

    SOBRE O QUEEXPERIMENTARAMAps por a mo na massa, os alunos soestimulados a refletirem em conjuntosobre os acertos e, principalmente, oserros do projeto o lado humano muitovalorizado nesse momento.

    A reflexo acaba gerando novas posturas e novos comporta-mentos, que so testados com novas parceiras com empresas,com novos projetos voltados para o mundo real das empresas.

    COMPORTAMENTOCRIAR UM NOVO

    QUE GERA UMA NOVA

    EXPERINCIA

    3

    COMO FUNC IONA?

    universidade, um espao que acolhe a pessoa,que acolhe os erros e os acertos para, assim,fazer com que o aluno aprenda. E isso, nofundo, o que faz a diferena: ao invs demudar o mundo, mudar a si mesmo atravsdesse ciclo. Como Jim nos contou: Tanto quanto

    aprender sobre o digital, negcios e tecnologia, importante aprender sobre pessoas, comopessoas se comunicam; fundamentalmenteentender quem voc , como voc trabalha ecomo voc reage s outras pessoas. Por que esse a nica coisa que eu posso controlar, como eureajo a uma certa situao.

    Por m, mudana o que as pessoas queprocuram a Hyper Island esto buscando. Sejauma mudana do analgico para o digital, ouat mesmo uma mudana de uma vida agitadapara uma mais calma. E, uma vez l, ningumencontrar respostas prontas. Ao invs disso, oque o ambiente que eles criaram oferece umespao em branco para experimentar, errar (ouacertar, tanto faz) e aprender com isso.

    A Hyper Island est em vrias cidades.Comeou em Karlskrona na Sucia e hoje existetambm em Estocolmo, Manchester, NovaIorque e Singapura. J os alunos so de diversasnacionalidades (inclusive foi um brasileiro,formado pela Hyper Island de Manchester, que

    nos colocou em contato com o Jim Ralley muito obrigado, Paulo!). As turmas sopequenas, normalmente entre 20 e 40 alunos.

    Com essa rede de alunos e escolas em diversospases, a reputao da Hyper Island grande (e,claro, positiva), ajudando muito na hora deconseguir as parcerias com o mercado detrabalho o que s refora ainda mais o modeloque eles criaram.

    Essa a Hyper Island, uma escola que traz asnecessidades do mercado de trabalho para omomento de aprendizagem, criando umambiente de reexo, criando experincias quevisam mudar o mundo comeando pelamudana de si mesmo.

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    THE SCHOOL OF LIFE

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    Quem passa desavisado pela fachada da TheSchool of Life acha que s mais uma pequenaloja situada numa rea central de Londres. Naverdade, aquele o ponto de encontro de diver-sos pensadores buscando inspiraes para umavida melhor, a escola da vida.

    A The School of Life foi fundada em 2008 e temcomo um dos seus idealizadores o lsofo eescritor Alain de Botton. Seu foco so questesfundamentais da vida humana, comuns a in-divduos de todas as idades e classes. Temascomo relacionamento, como lidar com a morte,empatia e sexo so convites para atrair interessa-dos a desenvolver sua inteligncia emocional ereetir sobre suas escolhas atravs de novasexperincias.

    Durante a visita escola falamos com Feiyi Wen,que estava na The School of Life para uma ativi-dade chamada Compreendendo a depresso.Feiyi buscava formas de entender e lidar comsuas prprias emoes e sentimentos, principal-mente aqueles que parecem ser ignorados no seudia a dia: Eu acho que uma situao muito

    comum para as pessoas que vivem nas cidades,pois todos ns temos presses, todos ns temosque trabalhar e estudar, e s vezes acabamoscando deprimidos. Ento eu queria entenderum pouco mais sobre isso: depresso.

    Os formatos que a The School of Life oferece aopblico so diversicados: sermes seculares,tours pela cidade, cursos intensivos, aulas,

    workshops, terapia individual, biblioterapia,consultoria e treinamento para empresas, alm

    ONDE?

    Londres(mas tem eventos no Rio de Janeiro,

    So Paulo, Porto Alegre)

    QUANDO COMEOU?

    Em 2008, em Londres.

    EMOESCOTIDIANO

    RELACIONAMENTOS

    PALAVRAS-CHAVE

    Feiyi Wen, conversando conosco antes de seu workshop sobre Depresso

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    A escola aborda asdisciplinas relacionadas a

    dilemas do cotidiano de uma

    forma objetiva e energtica,

    de acordo com uma

    metodologia desenvolvida

    nos ltimos cinco anos.

    da venda de livros e objetos. Todas as atividadesencontram-se em um calendrio de acessoon-line, explicando seus objetivos e apresentan-do a pessoa que vai conduzi-la.

    Alm da sede em Londres, a escola tambm estpresente no Brasil, promovendo eventos nascidades de So Paulo, Rio de Janeiro e Porto

    Alegre. s acompanhar o que rola no Brasilpelo Twitter e pelo canal de Facebook.Conversamos com Jackie de Botton, uma dasresponsveis pela implementao da The Schoolof Life no Brasil.

    Segundo ela, os professores vm de diferentes reas(lsofos, artistas, executivos, engenheiros, paradar alguns exemplos), porm compartilham a ideia

    de que a vida, por si s, j um aprendizado. Elestm o papel de atuar como facilitadores,promovendo conversas, alimentando a discussocom pesquisas e experincias que trazem na

    bagagem. A ideia promover a interao e fazercom que as pessoas j coloquem em prtica o queaprenderam durante as atividades.

    Outro fator importante que a Jackie atribui aessas atividades a sensao de comunidade, o

    encontro de pessoas com as mesmas angstias e,a partir disso, o entendimento de que existemoutras pessoas que se sentem como voc. Essa

    proximidade e abertura que os encontros ofere-cem, como a Jackie nos contou, esto alinhadoscom os principais objetivos da escola. Segundoela, a The School of Life te provoca, te estimula,te nutre e, muitas vezes, te consola em relao aessas questes da vida.

    Interior da The School of Life

    Um refgio na The School of Life que visitamos

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    PERTENCIMENTO A

    UMA COMUNIDADE

    Os eventos da escola promovemencontros de pessoas que dividem os

    mesmos dilemas, o que faz com que aselas reconheam no outro seusprprios sentimentos, tornando esteambiente um local aberto aceitao.

    PROMOVER O AUTO

    CONHECIMENTO

    31

    DISCIPLINAS QUE TRATAM DE DILEMAS COTIDIANOS

    Os professores tm o papel defacilitadores, conduzindo conversas,dividindo vivncias e inspirarando osalunos a pensarem diferente. Estamudana se reflete diretamente emnovas decises e aes.

    A escola no se foca no ensino voltadoao mercado de trabalho ou carreira,mas em questes pessoais, comuns aqualquer ser humano. Temas comorelacionamento, como lidar com amorte, empatia e sexo.

    A vida em si comoobjeto de aprendizado.

    COMO FUNC IONA?

    86pessoas fazemparte da equipe

    48cursos oferecidosnos prximos 3 meses

    50 milparticipantes em5 anos de atividades

    20livros publicadospela escola

    Os Sermes Seculares, por exemplo, so encon-tros que sempre acontecem aos domingos. Elesso comandados por personalidades j reconhe-cidas em suas reas, mas que nessa oportunidadeesto presentes para compartilhar um ponto devista sobre temas intimamente relacionados

    complexidade da vida contempornea. Essaspersonalidades partem de suas prprias ex-perincias, para contar o que eles enxergam comoprincpios importantes da vida, dando ideiasprticas de como pensar e agir de maneiradiferente. Cada evento possui uma msicapopular que escolhida como hino por estarrelacionada ao tema a ser tratado, ajudando adescontrair e envolver o pblico.

    Um exemplo que vocs podem acompanhar emvdeo no YouTube o sermo inaugural em SoPaulo, cujo tema foi Arrependimento. Nele, a DrAna Claudia Arantes, mdica geriatra do Hospi-tal Albert Einstein, parte do seu estudo sobre osprincipais arrependimentos dos seres humanosantes de morrer para oferecer a reexo sobre a

    vida que a The School of Life busca. Para quemse interessar mais sobre os temas, foram lana-dos ano passado seis livros em portugus sobredebates promovidos pelos professores da escola,alm de sermes na ntegra (em ingls) no canalda escola no Vimeo.

    Em resumo, e nas palavras da Jackie:A The School of Life uma escola de boasideias. E ela lida com questes como como vocencontrar uma vocao, como voc lidar melhorcom relacionamentos, como voc lidar melhorcom a morte, como voc se preocupar menoscom o dinheiro, questes do dia a dia.

    Jackie de Botton, uma das responsveis pela The School of Life no Brasil

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    TRADE SCHOOL

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    Para conhecermos a Trade School, fizemosnossa aproximao da forma mais simplespossvel: entramos no site da escola, vimosque nos dias em que estaramos em Londreseles teriam algumas aulas por l, pensamos noque poderamos oferecer em troca da nossa

    participao nas aulas e pronto, viramosalunos da Trade School por dois dias. E, emresumo, essa a ideia da escola: na TradeSchool algum prope uma atividade e osinteressados em participar contribuem nocom dinheiro, mas com coisas de que aatividade (ou seu proponente) precise. Aeducao acontece pela troca, sem envolvervalores monetrios.

    No nosso caso, oferecemos fotos que aspessoas que estavam organizando a ativi-dade pudessem utilizar em seus sites, redessociais e material de divulgao. Outrosalunos levaram lanches e bebidas, cada umajudando de alguma forma. Assim, partici-pamos de duas aulas: Facilitando o consen-soe Remapeando a cidade. Alm disso,ainda marcamos de conversar com a Laura

    Billings, que foi quem levou a Trade Schoolpara Londres.

    O papo com a Laura foi fundamental, pois elanos contou que as atividades das quais agente tinha participado no eram to carac-tersticas da Trade School. Nada contra asatividades em si ou as pessoas que estavamorganizando-as. Mas a questo que sentimos

    falta de algo e esse algo, descobrimos, oque a Laura normalmente faz questo de fazernos eventos mais caractersticos da escola.Segundo ela, importante que, ao se or-ganizar um evento da Trade School, algumesteja l para falar como a escola funciona,apresentar quem vai tocar a atividade e tercerteza de que tudo est em ordem. Isso noocorreu conosco, pois nossas aulas tambmfaziam parte de um festival maior, e j tinhagente do festival e do local fazendo o papel deanfitrio. Ento, perdemos essa introduoque daria cara de Trade School s atividades.

    PALAVRAS-CHAVE

    ONDE?

    Eventos realizados em 50 cidades.

    QUANDO COMEOU?

    Em 2009, em Nova Iorque.

    COOPERAOTROCAS

    APRENDIZADO

    PALAVRAS-CHAVE

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    E, no fundo, isso diz muito sobre a Trade

    School. mais uma plataforma do que umaescola: no tem um prdio, salas de aula,professores, ou cursos. Essa abertura faz comque qualquer pessoa possa usar o site para criare promover espaos de aprendizado na suacidade. O lado incrvel disso que encontrospela Trade School j aconteceram em 50 cidadesdiferentes ao redor do mundo. J a parte ruim que em algumas cidades a iniciativa acaba aps

    o primeiro evento. Laura nos conta que ela (equem mais resolve se juntar na organizao daTrade School em Londres) acabou se viciando:ao fazer esses espaos acontecerem, ela adoraaprender sobre os mais variados temas econhecer novas pessoas. E, nela, tocar a TradeSchool s alimenta essas paixes.

    Isso tudo comeou em Nova Iorque, quando umgrupo de pessoas buscava formas maisecientes de compartilhar os recursos que elesmesmos tinham em mos. Surgiu da a ideia daTrade School, um espao de aprendizado auto-organizado onde qualquer um pode ensinarqualquer coisa. E, em troca, recebe o queescolher pedir para as pessoas interessadas emparticipar da atividade.

    A Trade School acredita que todo mundo tem

    algo a ensinar: as pessoas podem no saber quetm, mas a Laura nos disse que s perguntarpara algum e a, o que voc poderia

    compartilhar com a gente? e a pessoa comea a

    considerar a possibilidade. Alm disso, ela falaque no difcil achar professores. Sempreaparece gente querendo compartilhar algo. Naverdade, essa ideia mais profunda. A base delaest em um amor muito sincero pelo que cadaum sabe, pelo o que cada um escolhe se dedicar.E, a partir desse amor por um certo tema, poruma rea, por uma tcnica, a vontade decompartilhar essa paixo com outras pessoas

    mais espontnea. Assim, a Trade School tentatornar essa experincia real para o maiornmero de pessoas possvel.

    Uma das coisas mais interessante que a Lauranos contou que quem participa como alunonormalmente retorna querendo ensinar algumacoisa: uma vez l, as pessoas percebem que aexperincia no intimidadora e acabam seempolgando para ensinar ou compartilharalguma coisa na prxima oportunidade. Ao vercomo diferentes aulas funcionam, as pessoasganham um repertrio que ajuda a montar suaprpria aula. Quem ainda est inseguro semotiva, se tranquiliza e isso mantm o modelosimples da Trade School.

    Alm disso, a participao em aulas da TradeSchool tem um impacto mais amplo. O movi-

    mento ainda tem como objetivo mudar a visoque as pessoas tm sobre educao. Para isso, aideia justamente explorar formas diferentes de

    Workshop Remapeando a cidade

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    COMO FUNC IONA?

    1

    Quem quer aprender se compromete aoferecer algo de uma lista pr-determinadapelo anfitrio. Pode ser um levar ummaterial, tirar fotos ou contar uma histria.Mas dinheiro no entra na Trade School.

    2

    TODOS TEM ALGO A ENSINAR

    Todo mundo tem amor pelas coisas queescolhe se aprofundar. Com base nele,qualquer um pode compartilhar o que sabesobre um tema ou prtica.

    1982trocas efetuadas em eventosda Trade School em 2013

    950atividades realizadas

    380pessoas foram professores

    da Trade School em 2013

    12500participantes em

    3 anos de atividades

    TROCAS NO MONETRIAS

    VARIEDADE

    Os temas explorados so semprediversos, pois no h umprograma fixo, h a paixo daspessoas motivando as aulas.

    SIMPLIC IDADE

    Ao ver o quo simples ensinar ecompartilhar o que gosta, osalunos se motivam a tornarem-senovos professores da Trade School.

    RESIGNIFICAR

    O processo de trazer novossignificados para o tema educaoelimina formalidades e mostra oquo espontneo pode ser aprender.

    CULTURA DE COMPARTILHAR

    3

    aprender, no s em salas de aula, mas em cafs,festivais etc. Aprender compartilhando o queelas sabem, o que elas gostam, o que elas tm amo, sem envolver dinheiro. Aprender em ummodelo horizontal, sem hierarquia, onde acondio de professor ou aluno temporria,

    uda, quase uma casualidade (e no umaposio hierrquica).

    Esses valores, segundo a Laura, ajudam a construiruma viso mais aberta sobre educao. Para ela, agenerosidade e o princpio de cooperatividade daTrade School so fundamentais. E, colocados emprtica, resultam na troca de habilidades erecursos, na sensao de que qualquer um podecomear uma Trade School.

    Por sinal, ela nos contou que s existem duasrestries caso voc queira iniciar uma Trade Schoolna sua cidade, ou propor alguma atividade naplataforma: voc no pode usar a Trade School para

    fazer campanha (no aos movimentos polticos oupartidrios), e voc no pode us-la para vender(no ao marketing). Essa abertura, ainda, d aomodelo uma outra vantagem: uma innidade detemas e assuntos sendo ensinados, de discussescvicas, at como fazer compostagem. Tudo s

    depende da imaginao das pessoas que topamcompartilhar suas paixes em forma de aulas naplataforma. Laura resume a provocao que aescola faz ao partir da ideia de colaborao parapropr uma nova forma de educao:

    A Trade School te ajuda a

    reencontrar o amor por aprender,

    de uma forma diferente. Voc vem Trade School, voc aproveita,

    voc percebe que voc tem algo a

    ensinar, e isso te d conana.

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    TEAM ACADEMY

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    A Team Academy estava dando seus primeirospassos em Londres quando conversamos com aAlison. A Team Academy uma iniciativa nlande-sa, e foi a nlandesa Henna que, ao saber da Expe-dio Liberdade, se empolgou com nossos planos esugeriu que inclussemos a Team Academy no nosso

    roteiro. Enquanto Hennah implementava a TeamAcademy no Brasil, a Alison fazia o mesmo naInglaterra, onde o programa tinha comeado hapenas 6 semanas (em Bristol e em Newcastle).

    A Alison estava trabalhando para iniciar a TeamAcademy na terra da rainha fazia trs anos. Isso seexplica, pois, ao contrrio de outras instituiesque conhecemos, a Team Academy no operasozinha. Eles trabalham em parcerias com univer-sidades j estabelecidas, oferecendo seu formatodeles ligado a cursos de graduao em universi-dades. O desao inicial era enfrentar uma barreiraque ela via na forma das universidades do ReinoUnido se posicionarem: As universidades aquino esto acostumadas a colaborar. Elas so muitoisoladas na forma como planejam o prpriofuturo; s pensam nelas mesmas e consideram asoutras universidades como concorrentes.

    Para piorar, Alison ainda disse que a culturainglesa , em si, fechada. Foi difcil convencer asuniversidades de que algo que deu certo naFinlndia daria certo no Reino Unido. Mesmoassim, as parcerias comearam e o plano con-seguir 10 universidades em 10 anos para oferecero modelo Team Academy pelo Reino Unido.

    Mas anal, o que a Team Academy? Resumindo,ao invs de os alunos aprenderem algo paradepois terem que descobrir o que podem fazercom esse conhecimento, a proposta que aspessoas aprendam a partir da necessidade defazer algo. A ideia que a experincia aliada prtica vivenciada em grupo faa a pessoaamadurecer tanto individualmente quanto comoser humano. Assim, os empreendedores comoeles se referem aos alunos formam equipes de 15a 18 pessoas logo no incio da graduao,mesclando diferentes competncias individuais.Cada equipe tem a tarefa de criar uma organizao

    PALAVRAS-CHAVE

    ONDE?

    QUANDO COMEOU?

    Em 1993, em Jyvskyl na Finlndia.

    EMPREENDEDOR

    EQUIPE

    REDE

    PALAVRAS-CHAVE

    FranaEspanhaHungria

    FinlndiaBrasilInglaterra

    HolandaAustrlia

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    comercial, normalmente uma cooperativa, e tocaressa instituio durante os trs anos de universidade(tempo mdio da graduao no Reino Unido). A

    ideia criar alternativas ao modelo universitriotradicional: empreendedores em equipes, ao invsde estudantes; escritrios, ao invs de salas de aula;projetos reais, ao invs de aulas; facilitadores aoinvs de professores. Seguindo essa estrutura, a cadasemana as equipes conversam por duas horas.Falam sobre o que est acontecendo como time(como est a relao entre eles, quem est indo bem,quem est atrapalhando ou irritando os outros),

    sobre o que est acontecendo com a cooperativa esobre o que esto aprendendo no processo todo.

    Segundo Alison, esse modelo tem base em trspilares. Um mais tcnico e prossional, comocontabilidade, marketing, legislao envolvendoa criao de empreendimentos etc. A segundarea focada no comportamento da prpria equi-pe: comunicao, colaborao e trabalho emequipe. Por m, o mais importante segundo aAlison, a parte de habilidades pessoais comoempatia, otimismo, criatividade e resilincia rea praticamente ignorada no ensino superiortradicional, ela comenta. De acordo com asconversas frequentes dentro do grupo, e dessetrip, os empreendedores da Team Academyleem, conversam e reetem sobre os elementoschave do aprendizado que eles precisam paratocar a cooperativa que eles criaram.

    Alm disso, a Team Academy descarta a ideia doempreendedor como heri, agressivo, que jsabe o que fazer e onde ir. Como a Alison nos

    explicou: Ao invs de dizer, por exemplo, eu souum designer grco, vou criar um escritrio dedesign e car imaginando quem poderia sermeu cliente a equipe vai conversar com acomunidade, com as pessoas da vizinhana, com ocomrcio local e mesmo com as grandes

    corporaes envolvidas nessa rede. E perguntamdo que vocs precisam?, o que est faltandoaqui?, o que eu posso fazer aqui?. com basenisso que criam suas organizaes, suascooperativas. Ento, menos sobre o que eufao e mais sobre o que necessrio.

    A formao da Team Academy,

    portanto, no exatamente

    focada em empreendedores,

    mas sim em promover e

    enriquecer o processo de

    aprendizagem atravs da

    atividade de empreender.

    Dessa forma, a Team Academy prope que aatividade de empreender est na rede de pessoasconectadas, na colaborao livre entre pessoasque se alternam entre papis de cooperao ecompetio ao longo dos empreendimentos e davida. Como nos contou a Alison, a viso de futurodeles se afasta da idea de que a maioria daspessoas trabalhar para grandes organizaes ecorporaes: na verdade, a ideia de que amaioria das pessoas vai tocar suas prprias vidas,

    tendo rendas de uma grande variedade deatividades diferentes. Nesse cenrio, a rede derelacionamentos, bem como saber lidar com ela, super importante: o conhecimento construdosocialmente. Para a Alison, mesmo se pessoassouberem de um mesmo assunto, elas sabemcoisas diferentes sobre esse assunto. Ento importante construir o conhecimento em grupo eestabelecer relaes e empreendimentos dentro

    dessa rede. Na essncia, a Team Academy umacomunidade de aprendizado construda com baseno princpio de que se a teoria for aliada aatividades no mundo real, de que se voc adquirir

    Alison Fletcher, uma das responsveis pela Team Academy na Inglaterra

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    COMO FUNC IONA?

    15 a 18pessoas de diferentes

    competncias compem asequipes no incio da graduao

    91%dos estudantes

    conseguem um empregoat 6 meses aps formados

    47%dos alunos se tornamempreendedores aps

    2 anos de formados

    2 milhesde euros movimentados

    em um ano pelo conjuntode escolas Team Academy

    facilitadores j foramtreinados pelo mtodo

    da Team Academy

    21 4

    Ao invs de professores transmitindocontedo, facilitadores para orientaros empreendedores e estimular areflexo de acordo com o projeto e odia a dia da equipe.

    Formao que prepara parapensar e executar projetos ligadosa realidade socio econmica local,melhor conectando o profissionala sociedade.

    THINK GLOBALACT LOCAL

    EMPREENDEDORDA PRPRIA VIDA

    FACILITADORESPROJETOS REAIS

    O aprendizado se d na prticano mundo real. Equipes criamuma instituio real que tem quesem manter durante os 3 anosde graduao.

    Profissional preparado para encarardesafios reais, agir colaborativamentee se envolver em diversas iniciativas,no ficando dependente de uma reaou emprego especfico.

    3

    800

    essa teoria medida em que voc precise executartarefas no mundo real, o aprendizado que voctem dessa teoria ser muito mais fcil de seassimilar, de ser internalizado, de ser aplicado ede ser questionado criticamente.

    A escola acredita na ideia think global, act local, eaposta nas formas efetivas de gerar atividadeeconmica localmente, que acabam impactando,de certa forma, tambm a congurao global. Eisso, junto com o aprendizado em grupo, atravsda atividade de empreender, o que d o tom doprocesso que eles propem.

    Por m, o perl de quem atua como facilitadorinclui pessoas que j tiveram seus prpriosnegcios ou projetos, pessoas que tiveram algumaformao acadmica (mas no necessariamenteps-graduao), e pessoas que se envolvem ou soentusiastas de startups e novos negcios. A ideia que eles atuem para otimizar as trocas entre aspessoas nas equipes, e no expondo contedo deuma forma didtica. Ter aptido para coaching,para gerar empatia, para ouvir, para dar suporteaos empreendedores em seus desaos mais

    importante do que a didtica em si.

    Por falar em coaching, a Alison, alm de estarenvolvida na Team Academy, ainda trabalha comocoach prossional. Sobre essas duas atividades, ela

    brinca: se as pessoas que eu oriento no meunegcio de coaching tivessem tido esse tipo deeducao [da Team Academy], eu no teria clientes,

    porque muitos dos desaos que eles enfrentam,esses jovens de 18, 19, 20 anos j aprenderam a lidarcom isso no ambiente universitrio.

    No nosso papo ainda surgiu um ponto interes-sante, que deixamos aqui para reexo: ela co-mentou que foi procurada para ir Argentina,para apresentar o modelo da Team Academy. Nsperguntamos se havia alguma relao de crisessociais e econmicas com essa busca por alternati-vas educao, aos modelos de carreira e merca-do. A resposta dela parece sustentar essa hiptese:quando a Team Academy surgiu, h mais oumenos 20 anos, a Finlndia, que tinha timasrelaes com a URSS, havia perdido a maioria deseus clientes da noite para o dia, com o m do

    bloco sovitico e estava lidando com essa crise,buscando se reestruturar. Ento, ca a hiptese e ocaso da Team Academy apontando para uma

    resposta aparentemente armativa.

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    STUDIO SCHOOL

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    Na nossa Expedio conhecemos uma StudioSchool, foi a TESS (Tendring Enterprise StudioSchool), na pequena cidade de Clacton-on-Sea.A regio, alm de rural, uma das mais pobresda Inglaterra. Muitas casas no tm coisas queso consideradas bsicas para o padro de vida

    ingls, como calefao, banda larga e sistema degs encanado. Muitas famlias vivem h ger-aes apenas de benefcios do governo. E nesse contexto socioeconmico pouco favorvelque a escola tenta criar oportunidades: Essa uma regio muito pobre. Um dos distritos maispobres da Inglaterra.Voc tem muitas pessoasaqui que so da segunda ou terceira geraodesempregada. E esse o foco do nosso em-preendimento: ensinar habilidades para quenossos estudantes consigam realmente criarseus prprios negcios. Em uma regio dedesemprego, eles no vo sair e encontrarempregos. Ento importante ter algum queao invs de falar v tentar um emprego comfulano fale crie sua empresa, v l e crie o seuemprego. Ian Pearson, diretor da TESS

    A aprendizagem baseada em projeto (pro-

    ject-based learning, em ingls) o que norteia aatuao da escola que funciona em Clacton h 2anos. A faixa etria dos estudantes de 11 a 16anos, o que equivale ao ensino secundrio noReino Unido. Ao todo, so trinta e oito StudioSchools na Inglaterra, todas elas pequenas,comportando no mximo 300 estudantes. Asturmas tambm so pequenas, nunca passandode 15 estudantes. Essas dimenses reduzidas

    fazem parte da proposta da escola: com turmasmenores, mais fcil conhecer a fundo as com-petncias a habilidades, acompanhar as experin-cias e o desempenho de cada aluno. Finalmente,se conhecendo melhor, surgem oportunidadesmais coerentes e mais consistentes para criarprojetos reais, que atendam aos interesses dacomunidade local, que sejam interessantes para osestudantes e, por m, projetos que deem suporteao currculo escolar. Esses projetos conguram a

    base conceitual da escola e podem ser propostospor professores, por outros funcionrios e, claro,diretamente por estudantes mas, como destaca

    PALAVRAS-CHAVE

    PROJETOS

    TECNOLOGIA

    HABILIDADES

    PALAVRAS-CHAVE

    ONDE?

    QUANDO COMEOU?

    Em 2010.

    38 escolas na Inglaterra.

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    Ian Pearson, diretor da TESS que atenciosamentenos apresentou toda a escola, no s propor: osestudantes precisam botar a mo na massa, casocontrrio, os projetos no acontecem.

    Infra-estruturaA escola funciona em um prdio construdorecentemente, mas que j foi reformado paraabrigar a iniciativa. Com essa reforma o localganhou um visual e uma infraestrutura deempresas modernas, tecnolgicas: Como esta-mos fazendo aprendizagem baseada em projeto,queramos salas que acomodassemaprendizagem baseada em projetos. Ento elasno podiam parecer salas de aula. Logo no

    contratamos um arquiteto especializado emescolas, contratamos um arquiteto especializadoem boates. Queramos algo diferente o que foipedido foram espaos criativos, espaos inspira-dores, coisas como os escritrios do Google, daApple, da Pixar, espaos realmente criativos Ian Pearson, diretor da TESS.

    A parte tecnolgica no deixa a desejar: computa-

    dores, roteadores e servidores da Apple, alm demuitos iPads, esto por todos os lados, dis-posio de estudantes e professores. Toda sala deaula equipada com uma TV gigante e umaApple TV, assim estudantes e professores podemespelhar as telas de seus computadores e gadgetspara compartilhar com a turma o que estiverfazendo. Alm disso, a escola ainda conta comocina mecnica, marcenaria, impressora 3D,mquina de corte a laser e at uma cozinha

    industrial. Tudo para equipar estudantes eprojetos. A aparncia mesmo de uma pequenaempresa: salas pequenas e bem equipadas, semaquela galera e aquele buxixo caractersticos deescolas de ensino fundamental e mdio.

    Sempre abertos a novos projetosMas na prtica como surgem esses projetos?

    O Ian nos contou que uma aluna havia perdidoseu irmo menor, vtima da sndrome de mortesbita infantil. Ela havia expressado atravs deum tute, sua vontade de fazer um evento de

    caridade com relao a essa sndrome e, claro,pensando em homenagear o irmo. No entanto,dizia ela no tute, ela no sabia muito bem por

    onde comear. Prontamente Ian respondeu, peloTwitter mesmo: claro que voc pode fazer esseevento, pois esse o tipo de coisa que fazemosaqui na TESS. No dia seguinte eles conversaram,formaram um grupo e comearam a se mobilizarpara que a aluna tivesse o suporte e adquirisse ashabilidades necessrias para fazer esse eventoacontecer. Isso tudo aconteceu na semana queantecedeu nossa visita.

    Antes de voltarmos aos projetos, vale destacar quetanto estudantes quanto professores tm contas noTwitter e as usam para se manter em contato nodia a dia. No obrigatrio, mas muitos usam.Isso est alinhado com a losoa da escola: todosso prximos e acessveis, qualquer aluno podefalar (ou tuitar) direto com o diretor, com osprofessores, bem como com os colegas. O contatoconstante ajuda a serem prximos, a saber como

    vo os colegas, os professores etc.

    Mas enm, esse evento de caridade que viriaacontecer um tempo depois s mais umexemplo de como os projetos surgem na TESS eacabem envolvendo a comunidade ao seu redor.A Nadine McFadden, vice diretora, nos contouque o primeiro projeto que realmente empoderouestudantes na comunidade comeou quase que

    por acaso. Uma professora de matemticaresolveu que ao invs de ensinar conceitos

    bsicos de geometria (retas, ngulos, rea,volume etc.) na sala de aula tradicional, iriam

    Fresh and Fruity: um dos projetos de economia local

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    todos para a marcenaria construir caixas demadeira para plantar ervas. Perguntas simplescomo quantas caixas conseguimos construir apartir dessa tbua? estimulavam os estudantes apensar na geometria, a resolver problemas queeram tangveis em suas bancadas de marcenaria.

    Esses vasos viraram, de fato, produtos bemacabados, bonitos. Eles passaram a produzir evender esses vasos internamente e nas feiraslocais. Com a experincia das feiras locais, osclientes comearam a pediam vasos de diferentestamanhos, casinhas de passarinhos e outrosprodutos. Hoje a produo desse projeto vendida em 5 feiras diferentes, e elesaumentaram a gama de produtos E tudocomeou como um simples projeto que visavadar base ao currculo de matemtica.

    O dinheiro arrecadado em projetos como esse vaipara a formatura das turmas, o que gera aindaoutro impacto na comunidade: como muitos sode famlias que sofrem com as condiessocioeconmicas da regio, muitos no teriamcondies nanceira de realizar o sonho de umaformatura pomposa (tradio na Inglaterra).

    Na rea de matemtica, vimos ainda uma aula dematemtica funcional, matemtica para a vidareal, como explicou a professora: alguns garotostrabalhavam matemtica aplicando-a a esportesolmpicos, e algumas garotas trabalhavam comcronogramas e gerenciamento nanceiro que dariasuporte a orientao vocacional que recebiam daescola. Elas se preparavam para ser cabeleireiras e

    tocar negcios na rea de beleza, ento amatemtica teria que ajud-las nessa empreitada.

    Projetos e a comunidadeExistem outros projetos grandes como o dascaixas de ervas. Um deles acontece com apoioda BT, maior empresa de telecomunicao doReino Unido. Ele consiste em encontros onde osestudantes da escola ensinam o b-a-b de

    tecnologia para pessoas idosas da comunidade,coisas simples, como uso bsico da internet,como utilizar um iPad, etc. O evento de inclusodigital acompanhado de chs, biscoitos e bolosfeitos pelos prprios estudantes.

    A rea de alimentao tem ainda mais algunsprojetos: o Fresh and Fruity, por exemplo, temcomo foco promover uma alimentao mais

    saudveis nos lares da regio. Os estudantes,sem nanciamento algum, zeram um estudode campo para entender como eram os hbitosalimentares e as necessidades das famlias daregio. A partir de ento organizam caixas defrutas e legumes, tudo produzidos localmente, eas entregam nas residncias que aderiram aoprograma. O foco da escola criar situaes decontato com a comunidade local, com o mundo

    real. Para esse projeto eles no contavam comum veculo para fazer as entregas, mas umprofessor disponibilizou o seu prprio carro, deuso pessoal, para que o projeto fosse implemen-tado. Por enquanto o foco do projeto no terlucro, mas apenas se manter. Eles consideramessa iniciativa importante pelo potencial de edu-cao (ela acompanha certos elementos docurrculo escolar e d uma experincia pros-sional real), sade (ela potencializa hbitos maissaudveis na regio) e oportunidades (empregamo de obra local). A mdio prazo a escolaespera atrair algum investidor para que oprojeto possa crescer.

    Nas aulas que acontecem na cozinha industrialda TESS so preparados alimentos que so, maistarde, servidos nas feiras e em restaurantes daregio. A comida que eles fazem aqui, ressalta

    Ian, para ser servida para o pblico em umrestaurante de verdade, ento ela tem que ser dealta qualidade,. Com isso o diretor defende queas atividades da escola esto diretamenteMatemtica funcional

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    voltadas a um mundo real, tangvel. Assim osestudantes conseguem adquirir habilidadesque normalmente no so se aprende em

    escolas tradicionais: eles tm algumaexperincia profissional, mas com a seguranado ambiente escolar; eles no s saemcapacitados a procura de emprego, mas aptosa criar as prprias oportunidades. Elesaprendem sobre como empreender, como sequalificar para tocar a vida quando sarem del e essas qualidades os tornam maisautnomos, mesmo nas condies socio-

    econmicas da regio. Ainda, Ian explica,habilidades que no ficam to em evidnciapodem ser desenvolvidas em um ambientecom a da TESS: auto-estima, confiana para sedirigir a um adulto, pr-atividade, saber o quequer fazer no por sonho, mas porexperincia prpria. Essa grande vantagemde uma Studio School:

    Normalmente as crianas fazem [na escola]coisas que no so reais. Ento, em uma aulade computao voc vai fazer um cartaz paraum parque de diverses imaginrio. Aqui elesesto produzindo um poster para cada umdos eventos que eles mesmo estoorganizando, eventos que precisam dar algumdinheiro. Ento ns tentamos fazer projetosque tenham conexes reais com o mundo dotrabalho, que envolva adultos, e, idealmente,

    que sejam financiados por outras pessoas. Osestudantes tm que fazer algo de verdade,com prazo, algo que realmente importe IanPearson, diretor da TESS.

    Empreender: uma habilidadepara o mundo realO por a mo na massa importante nosomente para ilustrar tpicos do currculos,mas para ajudar no desenvolvimento dos seres

    humanos que ali esto se preparando para umavida toda. O aprender fazendo no se refereapenas matemtica, s cincias. Se refere aaprender sobre si mesmo, sobre os prpriosinteresses e habilidades. E testar, acertar e errarfaz parte do processo. Nadine diz que em geralns esperamos que os jovens tomem umadeciso sobre o que fazer [prossionalmente],mas eles no tem conhecimento, no tem

    experincia sobre essas coisas. Portanto o focoda escola proporcionar, alm dos contedoscurriculares, essa experincia, esse (auto)conhecimento. Testar algo em um projeto e nodar certo, ou no gostar da experincia, partedo processo de se encontrar como ser humano.

    Para dar suporte a essa estrutura, a Nadinenos contou que importante que a escola

    conte com pessoas de diversasespecialidades, todas trabalhando juntas nosprojetos. Por exemplo, professoresespecializados em ensino primrio pois elestm mais conhecimento e mais ferramentaspara tratar com pequenos grupos, para criara sensao de uma grande famlia dentro daescola. Outro exemplo so especialistas daindstria e do comrcio: na escola elestrabalham na capacitao dos estudantes aolongo dos projetos (mantendo seus cargosna regio). Por fim, Nadine diz que umdesafio ser professor na TESS: j que osprojetos podem mudar, e j que novosprojetos podem surgir, voc nunca sabecomo vai ser a aula de amanh. Ainda,estudantes que aprendem desde cedo a

    botar a mo na massa tornam a vida dosprofessores mais desafiadora e imprevisvel:

    os esses estudantes se tornam mais pr-ativos, questionam mais e se sentem maisseguros para discordar, para debater e darseus prprios pontos de vista.

    Cozinha-escola da Tendring Enterprise Studio School

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    COMO FUNC IONA?

    APRENDIZADOATRAVS DE PROJETOS

    EXPERINCIAPERSONALIZADA

    EMPRESAESCOLA

    A escola lembra uma empresa com salas superequipadas, inspiradas em escritrios criativos.Eles contam com oficina mecnica, marcenaria,recursos como impressora 3D, igadgets e atuma cozinha industrial.

    Aliar projetos que atendam a comunidade local, osinteresses para os alunos e que deem suporte parao currculo escolar configuram a base conceitualda escola. Alm do aprendizado, se desenvolvemoutros valores inestimaveis como: auto-estima,confiana e iniciativa.

    Atravs do acompanhamento decompetncias e aspiraes profissionaisde cada aluno, surgem oportunidades paraa criao de projetos reais, que preparamos alunos a sairem da escola aptos acriarem seus prprios empregos.

    9 14 a 19anos a faixa etria que

    a escola se dedica o nmero mximo deestudantes por escola

    300novas escolas esto

    sendo criadas

    15 o nmero mximode alunos por classe

    Autonmia e autoridadeChegamos cedo, conhecemos a escola,conversamos muito com o Ian e com a Nadine, etivemos conversas mais pontuais com outrosprofessores e com alguns estudantes. No nalainda nos serviram um almoo preparado pelosprprios jovens que conhecemos ao visitarmos acozinha industrial. A infra-estrutura impressiona(mais ainda quando consideramos as condiessocioeconmicas da regio). Tudo foi construdocom verba pblica e o acesso a escola se d damesma forma que outras escolas pblicas daregio ela no mais cara, mesmo com tudo o

    que oferece como diferencial.

    A aptido para por a mo na massa tambmimpressiona. O quo prximo estudantes,professores e at mesmo os diretores tambmimpressionou. Mas no pudemos deixar dereparar que essa proximidade por vezestrouxe tona uma tenso entre empoderamen-

    to e autoridade: como todos se conhecemmuito bem, no foi raro ouvir o Ian per-guntando Fulano, no era para voc estar nasala X?. Vimos algumas dicusses entreestudantes e professores, at alguns casos derebeldia adolescente, com xingamentos apa-rentemente gratuitos ao diretor. No tivemoscomo apurar cada caso, mas parece que aliberdade para criar, concedida e estimuladadentro da escola, junto com o empoderamentodo empreendedorismo tem algum efeitocolateral. Cria-se uma tenso, um espao a sernegociado, entre a autonomia dos alunos e aautoridade dos professores.

    De qualquer forma, a toda pergunta, os es-tudantes respondiam, sem fugir ao tema, semdeixar de expor seus prprios argumentos esem fugir ao debate. Conversavam, estudantes

    e professores, como gente grande.

    Ns, os alunos brilhantes que fizeram nosso almoo, e o Ian

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    KAOSPILOT

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    Em nossa nica parada fora da Inglaterra conhece-mos Aarhus. Uma pacata cidade europia, asegunda maior da Dinamarca. l onde vivemmenos de 300 mil pessoas que comem pes mara-vilhosos. Entre esses felizardos esto os Pilotosdo Caos, como so conhecidos os vibrantes

    estudantes da Kaospilot. Quase metade deles soda Dinamarca e regio, Sucia, Finlndia e Norue-ga. Os outros so de todos os cantos do mundo.

    O incioA Kaospilot nasceu em 1991. Seu fundador, UeElbk, bebeu nas fontes do ativismo cultural, daBauhaus, do movimento cooperativo, da culturaBeatnik e das escolas superiores populares.

    Como dizem, criou um hbrido entre escola dedesign e de negcios. So quatro disciplinasprincipais: design de liderana criativa, design deprojeto criativo, design de negcios criativos edesign de processos criativos.

    Esse caldo d, at hoje, o tom do ambiente. AKaospilot viva, ativista, criativa e, pelo quesentimos, est sempre buscando se adaptar snecessidades de um mundo em constante trans-formao. A busca no por habilidades e conhe-cimentos para controlar ou gerenciar, mas paraliderar e navegar no caos em que vivemos. Nosnegcios, nas questes sociais e culturais. umambiente de aprendizado para lderes e em-preendedores dispostos a construir soluescriativas em tempos e turbulncia.

    PALAVRAS-CHAVE

    ONDE?

    QUANDO COMEOU?

    Em 1991, em Aarhus na Dinamarca.

    LIDERANA

    DESIGN

    CRIATIVIDADE

    PALAVRAS-CHAVE

    Aarhus, Dinamarca.Bern, Sua.

    Local da primeira Kaospilot

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    Os estudantesCada turma funciona como um grande time de36 jovens, na casa dos vinte e poucos anos. Em2015, as inscries foram para o Team 22, a 22turma de Pilotos do Caos. E quem facilitou partedo processo seletivo foi a turma anterior, no caso,

    o Team 21. H uma peneira inicial, atravs deperguntas online provocativas e loscas.Depois dinmicas e desaos em grupo. O objeti-vo formar um Team extremamente diverso,para que os estudantes possam aprender unscom os outros e se complementarem.

    Ao iniciar o programa, cada estudante recebecartes de visita com seu nome, um endereo de

    email personalizado e o nmero do seu time.Essa ser sua identicao por trs anos. Nessemeio tempo, se envolver com problemascomplexos, criar projetos, conhecer pessoasdas mais diversas origens e se apresentar comoum Piloto do Caos.

    Alm do programa que equivale a uma gradu-ao, existem cursos curtos sobre liderana,criatividade e educao, e servios de consulto-

    ria para grandes empresas, como a escandinvaLego, que ajuda a manter a escola. Alm da sedeem Aarhus, h uma unidade em Bern, na Sua.

    O dia a diaTivemos a oportunidade de acompanhar um diatpico na escola. O que mais marca a Kaospilot a energia vibrante que paira no ar. O clima dediverso, criatividade e arte. As paredes solivremente desenhadas, o mobilirio colorido,

    os estudantes descolados e muito vontade.Aplausos, gritos e comemoraes fazem partedo dia a dia. Todos esto comprometidos emmanter o clima positivo, a energia pra cima.

    claro que h tambm concentrao, trabalhoduro e desaos que os colocam em situaesdifceis. Quando o clima ca pesado demais,algum puxa um Energizer, uma dinmica,

    um jogo, algo que os faa mexer os corpos,talvez passar por ridculo e quebrar o gelo.Energizar ajuda a manter o ambiente criativo emotivado. Ajuda a manter o grupo em sintoniae pra cima. Essa uma prtica que incorpo-ramos no Estaleiro Liberdade.

    O aprendizadoA aprendizagem se d, principalmente, atravs

    de projetos. comum os estudantes procuraremclientes reais para servios de consultoria edesenvolvimento de novos negcios. atravs de

    Atividade durante aula da Team 20

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    casos reais que praticam as ferramentas estuda-das e reetem o quo ecazes foram.

    O Team Leader, que seria o equivalente a umfacilitador, interfere muito pouco no processo dosalunos. muito mais um questionador do queum transmissor de contedo. o responsvel por

    criar e conduzir uma cultura de aprendizadoautnomo e colaborativo. Ele at pode convidarprofessores e especialistas externos. H teoria,mas o foco aprender fazendo.

    Autonomia para aprenderNa aula que acompanhamos, o Team Leaderdeixou uma pergunta para os estudantesComo vocs vo compartilhar entre vocs o

    que esto aprendendo atravs dos projetosque esto desenvolvendo?. E saiu da sala.Rapidamente, o pessoal do Team 20 entrounuma discusso tcnica sobre ferramentasonline para registrar as etapas dos projetos.Alguns defenderam fruns e listas de dis-cusses. Veio mais argumentao, sugeriramuma votao, o clima pesou.

    Um estudante mais empolgado chamou umEnergizer!, que foi fortemente aceito. Mas,antes do jogo comear, veio um comentrio ldo fundo que mudou os rumos do dia.

    Vocs j repararam que toda vez o que TeamLeader sai, ns ficamos perdidos?. O Pilotodo Caos foi ovacionado pelos seus colegas.Mas silenciosamente, com mos tremulandono ar, um cdigo para mostrar concordnciasem atrapalhar a fala preciosa.

    Foi isso que aprenderam naquele dia. Queprecisam aprender a se organizar. Queprecisam aprender a navegar no caos. Nochegaram a uma concluso sobre comocompartilhar os aprendizados entre si. Masaprenderam fazendo, discutindo, errando,refletindo e se tornaram, assim, maisconscientes do prprio processo.

    A celebrao dos errosA coragem valorizada na KaosPilot. Oserros so celebrados. Errar no ,necessariamente, ruim. sempre umaoportunidade para aprender. H um forteincentivo para o estudante prototipar, testar,lanar, descobrir aprendizados com osprojetos. Caso falhe, a questo no como se

    justificar ou cortar relaes com clientes, mas

    como melhorar e tornar a solues reais emelhores. Se voc no celebrar os erros,nunca aprender com isso. E, assim, nunca setornar melhor - Siri Nymannm.

    Estudantes da Kaospilot vendo nosso projeto no Catarse

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    Os projetosO clima de autonomia e colaborao. Osestudantes so estimulados a trocarem, serelacionarem entre si e resolverem problemas a

    partir de suas diferenas culturais. Cada grupode cinco ou seis estudantes escolhe um proble-ma, investiga, cocria, busca solues e desen-volve um projeto que, no comeo regional,mas pode alcanar nvel global. comum osestudantes viajarem e passarem meses tra-

    balhando em outros pases, resolvendo proble-mas locais e aprendendo ao se relacionaremcom outras culturas. Os Pilotos do Caos

    procuram a confuso, lugares especiais emqualquer parte do planeta onde estejam aconte-cendo mudanas profundas.

    Apesar de muito ser feito em grupo, as ex-perincias individuais fazem da escola umcaminho nico para cada participante. Oprocesso sobre autoconhecimento, sobrereexo pessoal e descobertas a respeito da

    prpria liderana. Faz parte do aprendizadolidar com habilidades e limites pessoais eaceit-los para fazer o melhor com parceiroscomplementares. Os projetos so dos mais

    diversos. Uma marca de roupas de hipohopsocialmente responsvel; um bebedouro emque voc pode doar para organizaes compro-metidas com o saneamento bsico em pases

    subdesenvolvidos ou uma partida de futebolque chama ateno do mundo inteiro. Em 2001,um estudante da KaosPilot organizou umadisputa entre a seleo do Tibet e a Groenln-dia e deu identidade de nao a um territrioque luta contra a ocupao chinesa.

    Aula com o Team Leader William Hewett

    Cartes de visita da escola para todos os alunos

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    C OMO F UNC IONA?

    novos projetos sofeitos por ano

    20021anos a idade mnima

    para ingressar na escola

    33%dos formados

    comeam novas empresas,ONGs e iniciativas similares

    600pessoas j se formaram

    pela Kaos Pilot

    50%dos formados assumem

    alguma posio de gerncia

    1ZONA DE CONFORTO

    2ZONA DE EXPANSO

    3 ZONA DE PERIGO

    que fazer e s reproduzem os mesmoscomportamentos.

    O desconforto to grande queno h aprendizado, no hesperana, s angstia.

    pessoas diferentes, fazem o novo eavanam. onde se aprende.

    A visitaCoincidentemente, enquanto estvamos emAarhus, o CEO da escola, Christer Win-delv-Lidzlius, estava em Porto Alegre parapalestrar no TEDxUnisinos. Aproveitou aestadia e foi conhecer o Estaleiro Liberdade.

    Comentou que uma das ideias para o nome daescola foi Kaos Pirates. Isso j nos aproximava.Ouviu interessadamente o que cada Marujoestava desenvolvendo e se admirou com aousadia da nossa escola pirata. Os europeusesto mais habituados com apoios nanceirospor parte de governos e empresas. Nas bandasde c, fazemos tudo de forma independente ecriamos nossos modelos de negcios.

    Zona de expansoConversamos com Siri Nymannm, que se formouna KaosPilot e agora trabalha na escola. Ela nosensinou sobre o quo importante , pra eles,sarem da Zona de Conforto, mas sem secolocarem em problemas que so grandes

    demais. Desenhou num papel trscircunferncias circunscritas. No miolo, a Zonade Conforto, to conhecida por todos ns. Secamos nela, no aprendemos nada. Anal, jsabemos o que fazer e s reproduzimos osmesmos comportamentos. Depois, a Zona deExpanso. Onde os desaos so um poucomaiores e as perspectivas so outras. ondetrabalhamos com pessoas diferentes e fazemos o

    que nunca zmos, mas avanamos. Por m, aZona de Perigo, onde o desconforto to grandeque no h aprendizado, onde no hesperana. Em geral, reconhecemos que sair daZona de Conforto importante. Mas tememosentrar numa Zona de Perigo. O que Siri nosmostrou essa rea intermediria, a Zona deExpanso. nela que mora o aprendizado. tocando, sem adentrar, a rea perigosa que

    descobrimos o novo, nos desenvolvemos eexpandimos nossa capacidade.Conversando com Siri Nymannm

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    BROCKWOOD PARK

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    A Brockwood Park School ca no meio de umaregio rural em Hempshire, entre Peterseld eWinchester, duas pequenas cidades a 100km deLondres. uma escola para adolescentes, algocomo o ensino mdio no Brasil. Seu fundador, J.Krishnamurti, tem uma histria curiosa: bem

    nascido na ndia foi criado com tudo de bom e domelhor, pois, de acordo com certas crenas religio-sas, acreditava-se que ele era um novo messias.Esse esforo da alta classe indiana envolveuenvi-lo para estudar na Inglaterra e mais oumenos nesse perodo Krishnamurti assume queno, ele no era nenhuma espcie de messias.Mesmo assim, depois de tanto estudo e reexo,ele era de fato um lsofo muito erudito para suapoca, meados do sculo XX. Conhecia tradiesloscas e religiosas, ocidentais e orientais. Comessa bagagem toda ele se torna um pensadorinspirador, apaixonado por viagens e por conver-sas nas quais investigava questes sobre a vida,sobre a busca da verdade, sobre bem-estar e sobreaprendizagem. Ele dizia que preferia a conversa palestra, e isso tem tudo a ver com a sua visosobre o que a verdade: a verdade no algoexterno, algo que temos que buscar acumulando

    conhecimentos trazidos por professores e livros. Averdade, segundo ele, est dentro de cada um dens, e o processo de aprendizagem tem que darsuporte para que cada um descubra seus camin-hos para desvend-la.

    O dia a dia na BrockwoodPoderamos falar que na Brockwood a livreinterao acontece com algumas denies de

    rotina, mas isso pode parecer muito abstrato.Ento vamos a exemplos prticos: todos os diasde manh eles limpam a escola. Eles todos: doestudante ao diretor. A escola no tem faxineira,ento eles cuidam de tudo. E pode ser que oestudante v lavar o banheiro com o diretorgeral da escola, ou que v descascar batatas comseu professor favorito. E descascar batatas, nocaso, no sentido literal: toda a comida prepa-

    rada na escola, tudo vegano e produzido local-mente (alguns ingredientes, inclusive, produzi-dos pela comunidade da escola, ali no stio onde a escola mesmo).

    AUTONOMIAIGUALDADE

    LIVRE INTERAO

    PALAVRAS-C HAVE

    ONDE?

    PALAVRAS-C HAVE

    QUANDO COMEOU?

    Em 1969 fundada por J. Krishnamurti.

    Hempshire, Inglaterra

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    Ento existe essa agenda com alguns horrios deatividades (limpeza, refeies, blocos de horriosreservados para aulas etc.), mas existe tambmuma outra agenda bem mais exvel para as aulas:a cada incio de semestre todos podem frequentaras aulas que quiserem e, de acordo com os interes-

    sados em cada aula, eles acham um horrio quetodos possam participar das atividades dessa auladurante o restante do semestre. Os estudantes noso obrigados a cursar nenhuma disciplina espe-cca, eles mesmo escolhem o que estudar, e, deacordo com o que os professores podem oferecer,podem criar novas reas de estudo, novas aulas,novos enfoques etc. Na verdade esses grupos deestudos formados a partir da vontade e dointeresse dos estudantes o que chamamos deaula na Brockwood. E tudo isso (horrios, aulas,rotina) abertamente discutido a partir dosestudantes (ou seja: no somente discutido comos estudantes, mas a partir deles, dos interessesdos estudantes).

    Na nossa visita eles mesmo (estudantes) noscontaram que mudaram um pouco a estrutura dasaulas para terem mais tempo para explorar por

    conta prpria os contedos que esto estudando, eusar o tempo com os professores mais como umporto seguro (do que como guias que revelariam ocaminho a ser percorrido).

    Alis, essa mudana recente nos foi contada deuma forma super inusitada depois de vriashoras com Ewan, um estudante, francs, de 13anos, que nos mostrou todas as dependncias

    da escola. Foram horas deliciosas nas quais obombardeamos com diversas perguntas. Mas oCuducos cou intrigado: em momento algumalgo negativo foi dito, mesmo que indireta ousutilmente. Ao nal do tour, ento, ele resolveuvericar com Ewan se era isso mesmo: E se

    voc pudesse mudar alguma coisa na escola, oque seria? A resposta veio mais no olhar, doque nas palavras. Os olhos de Ewan escancara-vam um desdm pela pergunta. A resposta, empalavras, veio mais ou menos da seguinte forma(depois de longos segundos pensativos, aindaincrdulo com a imbecilidade da pergunta):No sei aqui o que a gente no gosta, a genteconversa e muda

    Existem coisas xas e pr-denidas de acordocom as conversas e discusses dos prpriosestudantes. Eles escolhem como denir e xar aagenda e as aulas deles. Se algo est ruim, seno est agradando, conversam e mudam sim-ples assim. E, claro, esses momentos de conver-sa de todos com todos um dos itens maisimportantes da rotina menos exvel: umaatividade diria, que abre a manh, e que conta

    tambm com momentos mais introspectivos,como meditao, por exemplo.

    Por curiosidade, ainda nesse tpico: todos osfuncionrios da escola (do diretor geral aozelador, passando por todos os professores)ganham o mesmo salrio. E o salrio mnimodo Reino Unido. E isso faz parte do ideal deabertura e igualdade deles, alm de ajudar a

    viabilizar nanceiramente a escola.

    Aprendizagem para a vidaDessa forma, o ambiente na Brockwood sedesenvolve com base na livre interao, entreatividades e conversaes abertas, livres, es-pontneas. Existem apenas alguma estruturapara dar um ritmo rotina dos estudantes, masno geral os cerca de 80 adolescentes que moram

    e estudam no stio onde ca a escola so livrespara escolher o que querem estudar. E se al-gum pensar que um grupo de adolescentesmorando num stio tenderia baguna, aoEwan Benoit, nosso guia em Brockwood Park

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    futebol, ao videogame, nunca estaria to en-ganado. Prova disso que o pequeno labo-ratrio de informtica da escola, com umadezena de computadores, nunca ca lotado.Mas nas nossas 36h de estada vimos estudantesestudando, por opo, economia, moda, histriada arte, biologia, fsica

    ComunidadeCom essa diversidade toda, todo mundo naBrockwood Park School valoriza muito o sensode comunidade, de estar junto. A partir disso,eles no so muito high-tech, no interagemtanto com a tecnologia como intermediria,acabam no ligando muito para as experinciascom o mundo exterior. Para voc ter umaideia: l no pega 3G (nem 4G, nem EDGE, nem

    sinal de celular). Existe uma relao maior coma experincia presencial, com saber quem so aspessoas que esto a sua volta e aprender comisso. Parte disso vem do nmero limitado depessoas que compem a escola, e isso gera umaproximidade onde todos se conhecem (saber onome de cada um o bsico, todos sabem).Muitos dos que estavam ali vinham perguntarpara gente o qu estvamos fazendo ali, nos

    cumprimentavam, contavam suas histriasespontaneamente. A comunidade facilmente nosidenticava como estranhos (nada de negati-vo nisso, mas como eles se conhecem muito

    bem, era ntido que ramos gente nova nopedao). Mas isso tambm deixa transparente osentido de autonomia criado no ambiente daescola: eles se sentem vontade para nos inter-rogar, para questionar; no tm medo de seexpor, de expor dvidas ou interesses. O fato de

    ser um espao multinacional (adolescentesvindos de 22 pases diferentes) tambm enri-quece muito o senso de respeito e o despertar deinteresse pelo que o mundo tem de diferenas.

    Quando chegamos escola, uma das nossasprimeiras interaes foi com dois estudantesque tocavam violo em uma sala da casa queabriga a Brockwood Park School. Enquantoconversvamos, passou um adulto, batucoucom eles no violo, e seguiu seu caminho (nodia seguinte descobriramos que ele era o coor-denador da escola). Esses dois estudantes nosderam uma boa introduo sobre o que elessentem vivendo por l: eles eram apaixonadospor msica, e preferiam compor as prpriascanes do que tocar msicas populares dasrdios, msicas que devem fazer sucesso com amaioria dos adolescentes em escolas mais

    tradicionais. Mais do que isso: um deles erahomossexual e j havia passado por diversasescolas, tradicionais e alternativas, pela Inglater-ra. Em todas se sentia deslocado, enfrentavatabus, piadas e bullying tinha problemas deautoaceitao, autoconana, coisa que, parans, era difcil de acreditar vendo a alegria e adesenvoltura com que tocava o violo e cantavapelos corredores da Brockwood.

    Alojamento de parte dos alunos

    Oweb nos contando sua histria

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    Na cozinha da escola conhecemos a Soraia, uma

    portuguesa que aps um ano como maturestudent (como eles chamam os estudantes maisvelhos que esto em busca dos ensinamentos doKrishnamurti) foi contratada pela escola:

    Eu venho de uma sociedade em que o patroe o empregado, o pai e o lho, sempre umahierarquia entre a pessoa que teme e a pessoaque manda. E aqui mais igualitrio, valor-izamos mais a ns mesmos, mas sem desprezara opinio do outro. Mais do que viver emcomunidade sentir que no h muita divisoentre quem professor, diretor ou aluno, quem mais adulto ou quem mais novo. Quandotocamos a discutir assuntos que afetam a comu-nidade h uma valorizao igual. Isso vistoatravs da conana nas opinies de crianasentre 13 e 14 anos, inserindo-as em processosque muitas vezes so exclusivos dos adultos,

    como a construo do currculo, das aulasincluindo-as nas questes que envolvem toda acomunidade de Brockwood. E legal ver oquanto isso interfere na maturidade com queelas a encaram a vida como um todo.

    Esse ambiente, a escola reconhece, no paraqualquer um. Tanto que todo estudante, antesde ser aceito na Brockwood Park School, passa

    uma semana de experincia para ver se isso oque ele realmente quer, e para a escola ver se elerealmente est disposto a se integrar e enri-quecer essa comunidade.

    Apesar de o contato com a natureza que aescola oferece ser algo que eles valorizammuito, existe tambm a necessidade decompartilhar os ensinamentos e atrair pessoasque se engajem. Algumas aes para incentivartrocas mais online o blog: mantido pelos

    estudantes, o site mostra as atividadesrealizadas na escola. Recentemente a FundaoKrishnamurti fez uma campanha mostrandoalgumas citaes inspiradoras e provocativaspelos metrs de Londres. Existem tambmalgumas publicaes peridicas como boletinse newsletter.

    Por m, ao lado da escola, no mesmo stio, cao Centro Krishnamurti: uma espcie de retiropara adultos interessados em conhecer e seaprofundar na losoa do fundador da escola.Esse retiro conta com quartos individuais, uma

    biblioteca com todas as publicaes do lsofo,muitas traduzidas em diversos idiomas, e umacervo de vdeo e udio de atividadespromovidas por ele.

    E caso voc no esteja mais na idade de estudar

    no ensino mdio, existem outras formas devivenciar o que acontece na escola: interessa-dos na losoa de Krishnamurti podem colab-orar com o dia-dia da escola como maturestudent (como a Soraia fez) ou guest helper(algum que ajuda no manuteno da escola,cozinhando, cuidando da terra e do que plantado e colhido no stio etc.).

    Cozinha da escola

    Soraia e Francisca, duas portuguesas que contaram mais sobre a escola

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    Uma escola e a losoa doKrishnamurtiEm uma conversa com Gopal, o coordenadorque vimos batucar no violo com estudantes,aprendemos um pouco sobre o papel dos pro-fessores (e da coordenao) na Brockwood. Eledisse que a escola no faz perguntas cujasrespostas eles j se sabe; e, se fazem, porque oque interessa no a resposta, mas sim osporqus de cada uma das respostas, de cada umdos estudantes. Em um exemplo simples eleconta que caso ele venha a perguntar a umestudante, digamos, quantos lados tem umcubo, pouco importaria ouvir como resposta oseis (talvez a resposta mais tradicional), o dois

    (o de dentro e o de fora), trs (os lados visveiscaso o objeto esteja na mesa), ou qualquer outrapossibilidade. O interessante, ele rearma, entender como cada um chega a sua resposta.Apesar da simplicidade do exemplo, a mesmalgica ajuda a explicar como a escola se sustentadando tanta autonomia para os estudantes: casoum estudante decida que no quer estudar, isso colocado em segundo plano e o foco das

    conversas passa a ser entender o porqu dessa

    deciso e nesse processo normalmente seencontra algo do interesse do estudante, algopara ser reformulado no ambiente, algumacoisa que o engaje novamente no aprendizado.

    Um amigo, logo depois que visitamos aescola, nos perguntou se existe umacoordenao ou se tudo criado a partir dasinteraes de quem l est. Se essa suadvida, tire o ou da sua pergunta. Existeum coordenador e tudo criado de a partirdas interaes. O papel do coordenador reetir e aprender com as experincias deBrockwood, assim como esse tambm opapel dos estudantes. Para Krishnamurtieducao no tem comeo, meio e m, ento o

    coordenador aprende com o que acontece ali evai cuidando para que o espao (no sentidoliteral e gurativo) exista: para que asconversas continuem acontecendo e unscontinuem aprendendo com os outros. Adireo para onde vo, e o que vo fazerpouco tem a ver com o papel do coordenador.O que diferencia o coordenador apenas umdomnio maior da losoa do Krishnamurti

    e acreditando nisso, s conar no processo.

    COMO FUNC IONA?

    3

    COMUNIDADE

    O papel dos professores, coordenadores,e alunos mais velhos fazer os

    estudantes mais novos refletirem sobresuas prprias escolhas e construremcaminhos para suas aspiraes com o

    que a escola tem a oferecer.

    2

    ESTUDANTES

    Os estudantes interagem livremente,escolhendo o que, como e quandoestudar. Eles so ouvidos e seusinteresses guiam o contedo das

    discusses e atividades do dia a dia.

    1

    KRISHNAMURTI E BROCKWOOD

    A filosofia de J. Krishnamurti guia toda aestrutura da escola. No h verdade a ser

    ensinada, h o suporte para que se desvende averdade que est dentro de cada um.

    80estudantes o mximoque a escola abriga por ano

    95.000so investidos embolsas de estudo

    13 a 19anos a idade dos

    estudantes que conhecemosnacionalidades dentrode uma mesma escola

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    SCHUMACHER COLLEGE

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    Tivemos o privilgio de viver uma semana nainglesa Schumacher College. O Larusso du-rante as viagens da Expedio Liberdade, seinscreveu na Schumacher Experience. O Cudu-cos, meses mais tarde, no Complexity andCollaboration. E viver na escola no s

    uma expresso. viver mesmo, sentir a riquezade uma mistura de casa, ecovila e universi-dade. Grande parte do valor de estar na Schu-macher mergulhar nessa atmosfera. Ser parteda comunidade, conviver em um ambienteleve, acolhedor e consciente. Acordar, meditar,comer, trabalhar e dormir faz parte da vida naSchumacher.

    Aprendizado transformador para uma vidasustentvel, esse o norte terico e a prticadiria. A partir de um profundo entendimentoecolgico, holstico e complexo sobre o mundo,a Schumacher muito coerente em cada detalhe:do cozinhar alimentos plantados l festasemanal sem energia eltrica. E a transformaoque norteia a escola vem de dentro de nsmesmos, catalisado pela imerso no estilo devida que eles pe em prtica no dia a dia.

    A Schumacher ca na pequena cidade deTotnes, h umas 4 horas de trem de Londres. um pacato refgio em uma pequena cidadealternativa. Os 8 mil habitantes de Totnespodem se orgulhar por ela ser uma das cidadesmais funky do mundo. Uma Bzios, s quesem praia, nem badalao, e com todo o jeitodo interior ingls. No centro da cidade, que ca

    h uns 15 minutos de nibus da escola, vocpode encontrar artistas, msicos, sebos,

    brechs e lojas com alimentos naturais. Mas,durante o curso, se voc car nas acomodaesda escola, esse pequeno universo paralelopassa despercebido. D pra passar muitotempo se encantando com as dependncias daSchumacher, um mundo a parte, que vai de umcasaro do ano mil seiscentos e bolha (o OldPostern de 1328, Felipe Cunha), aos camposde cultivo, alojamento e livraria. E, claro, carhospedado l a melhor forma de imergir nateoria e na prtica proposta pela escola.

    PALAVRAS-CHAVE

    ONDE?

    QUANDO COMEOU?

    Em 1990.

    COMUNIDADE

    HOLSTICO

    SUSTENTABILIDADE

    PALAVRAS-CHAVE

    Totnes, Inglaterra.

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    Nossos cursosO curso que o Larusso fez uma chance de provarum pouquinho de tudo que rola por l, em seisdias. Foi um momento para relembrar do querealmente importa na vida, atravs de dinmicas,conversas signicativas e aulas. Alm de duasfacilitadoras, um professor convidado por diaguiava o grupo. Os participantes eram uns 20,vindos de vrios cantos do mundo: Mxico