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EXPEDIENTE - minasfazciencia.com.br · editoração: Fazenda Comunicação & Marketing Montagem e impressão: Rona Editora tiragem: 20.000 exemplares Capa: Hely Costa Jr. Redação

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MINAS FAZ CIÊNCIAdiretora de redação: Vanessa Fagundes editor-chefe: Maurício Guilherme Silva Jr.Redação: Ana Flávia de Oliveira, Ana Luiza Gonçalves, Diogo Brito, Marcus Vinícius dos Santos, Maurício Guilherme Silva Jr., Vanessa Fagundes, Virgínia Fonseca e William Ferrazdiagramação: Fazenda Comunicaçãodesigner gráfico: Breno MaiaRevisão: Sílvia BrinaProjeto gráfico: Hely Costa Jr.editoração: Fazenda Comunicação & MarketingMontagem e impressão: Rona Editoratiragem: 20.000 exemplaresCapa: Hely Costa Jr.

Redação - Rua Raul Pompéia, 101 - 12.º andar, São Pedro - CEP 30330-080Belo Horizonte - MG - BrasilTelefone: +55 (31) 3280-2105Fax: +55 (31) 3227-3864E-mail: [email protected]: http://revista.fapemig.br

Blog: http://fapemig.wordpress.com/Facebook: http://www.facebook.com/FAPEMIGTwitter: @fapemig

GOVERNO DO ESTADODE MINAS GERAISGovernador: Antonio Augusto Junho Anastasia

SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIORSecretário: Narcio Rodrigues

Fundação de Amparo à Pesquisado Estado de Minas Gerais

Presidente: Mario Neto Borgesdiretor de Ciência, tecnologia e Inovação:Evaldo Ferreira Vileladiretor de Planejamento, Gestão e Finanças:Paulo Kleber Duarte Pereira

Conselho CuradorPresidente: João Francisco de Abreu Membros: Alexandre Christófaro Silva, Antônio Carlos de Barros Martins, Dijon Moraes Júnior, Flávio Antônio dos Santos, Júnia Guimarães Mourão, Marcelo Henrique dos Santos, Marilena Chaves, Ricardo Vinhas Corrêa da Silva, Sérgio Costa Oliveira, Valentino Rizzioli, Virmondes Rodrigues Júnior.

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O envelhecimento é um processo natural, parte de nosso ciclo de vida como se-res humanos. Isso não significa, porém, que seja um processo fácil. Alterações nas funções motoras e cognitivas, uma maior suscetibilidade a doenças e mesmo as mudanças físicas fazem do envelhecer uma etapa que exige preparação. Nesse sentido, a ciência e a tecnologia oferecem contribuições valiosas, tanto na preven-ção e tratamento de doenças, prolongando a expectativa de vida, como em maior qualidade e vitalidade. São vários os trabalhos desenvolvidos com esse foco, que investigam desde terminologias mais adequadas até formas de estimular a memó-ria e auxiliar o processamento de informações. Esse panorama é apresentado na reportagem especial desta edição, que mostra que a vida tem, sim, muito a oferecer depois dos sessenta.

Neste número, apresentamos também projetos que se destacaram em recentes premiações nacionais e internacionais. Um deles se diferencia pelo caráter inclusi-vo. Desenvolvido por grupo de alunos da pós-graduação da Universidade Federal de Ouro Preto, o Sound Cage é uma plataforma eletrônica de jogos e entretenimento destinada a deficientes visuais. Uma estrutura formada por caixas de som envolve o usuário, simula ambientes e permite que eles joguem partidas de videogame em condições de igualdade com pessoas sem a deficiência. O trabalho, que não tem similar no mercado, venceu a edição 2013 do Programa Mineiro de Empreendedo-rismo e rendeu à equipe uma viagem à University of Science and Technology (UST), na Coreia do Sul.

Outro projeto premiado vem da Universidade Federal de Viçosa. O professor Ricardo Capúcio de Resende desenvolveu uma máquina semeadora que se diferen-cia por ser mais leve e fácil de manusear que as existentes no mercado. O equipa-mento foi concebido para ser utilizado por mulheres que trabalham com agricultura familiar. Pelo caráter inovador e facilidade de replicação, o projeto foi selecionado pelo programa Grand Challenges Explorations, da Fundação Bill e Melinda Gates. A Fundação irá investir US$100 mil na ideia, recursos que serão utilizados para desenvolver e testar o protótipo. A expectativa é que a máquina também beneficie mulheres trabalhadoras do continente africano.

Confira, ainda, a entrevista com o professor Tomaz Aroldo da Mota Santos, diretor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais. O ICB foi o vencedor do prêmio de pesquisa básica Marco Luiz dos Mares Guia, uma iniciativa que busca reconhecer o trabalho de instituições e pesquisado-res que contribuem para o avanço do conhecimento, realizando projetos com po-tencial para subsidiar o desenvolvimento tecnológico. Nesta conversa, Santos, que já foi reitor daquela Universidade, analisa a trajetória do ICB e discute a importância do ensino, pesquisa e divulgação da ciência.

São muitos os projetos de pesquisa que, como esses, contribuem para o avanço do conhecimento e para mudar a vida de muitas pessoas. Para divulgar as informações para toda sociedade, contamos com uma equipe de jornalistas que – boa notícia – acabou de crescer. Os novos integrantes do Programa de Comuni-cação Científica e Tecnológica já estão produzindo reportagens para rádio, televisão e web, além das matérias da MINAS FAZ CIÊNCIA. A produção está disponível no blog http://www.wordpress.fapemig.com. Boa leitura!

Vanessa Fagundes diretora de redação

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METROLOGIAReportagem descreve as atividades da Rede Metrológica de Minas Gerais, responsável por medições técnicas

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ENGENhARIA FLOREsTALEstudo da Ufla realiza testes com plantas capazes de purificar águas com elementos tóxicos

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LEMBRA DEssA?Pesquisa da Escola de Engenharia da UFMG investiga níveis de radiação eletromagnética em BH e Região Metropolitana

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5 PERGUNTAs PARA...Fernando Dolabela comenta nuances, obstáculos e perspectivas do empreendedorismo

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hIPERLINkPesquisadores desenvolvem tecnologia capaz de traduzir à linguagem humana o pensamento dos animais

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ENTREVIsTAEx-reitor da UFMG, Tomaz Aroldo da Mota Santos discute investimento em pesquisa básica e divulgação da CT&I

12 FOMENTOFAPEMIG prepara-se para se transferir à nova sede, fruto de projeto arquitetônico arrojado e sustentável

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CIÊNCIA POLÍTICAConfira o perfil dos indivíduos eleitos como representantes do povo nas assembleias legislativas do País

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AGRONOMIAEscolhida em programa internacional, invenção de professor da UFV auxiliará plantio de sementes na África

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MICROBIOLOGIAInvestigação busca compreender nível de conhecimento da população sobre a dengue

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6 EsPECIALConheça iniciativas da ciência para auxiliar os idosos a melhorar sua qualidade de vida

21 RELIGIãORecepção às religiões de matriz africana no Brasil é tema de análise na Universidade Federal de Ouro Preto

ACEssIBILIDADEBatizado de Sound Cage, protótipo criado por estudantes da Ufop promove inclusão de deficientes visuais

17 zOOTECNIAMastite bovina é combatida por aparatos de nanotecnologia desenvolvidos por especialistas da Embrapa

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Para receber gratuitamente a revista MINAS FAZ CIÊNCIA, envie seus dados (nome, profissão, instituição/empresa, endereço completo, telefone, fax e e-mail) para o e-mail: [email protected] ou para o seguinte endereço: FAPEMIG / Revista MINAS FAZ CIÊNCIA - Rua Raul Pompéia, 101 - 12.º andar - Bairro São Pedro - Belo Horizonte/MG - Brasil - CEP 30330-080

“Obrigada, FAPEMIG! Recebi na sexta duas revistas MINAS FAZ CIÊNCIA: a última edi-ção do ano e, também, a Edição Especial de 2013. Parabéns a todos os pesquisadores pela divulgação da pesquisa científica, pela popu-larização da ciência para beneficiar ‘o povo’, pela utilidade prática e por fazer aquilo que Dr. Arthur Ramos sonhava que acontecesse: ‘Não adianta escrever só para as elites, através da divulgação dos estudos sobre o homem. Suas implicações e vantagens deveriam ser difundidas e usufruídas também pelo homem da rua – o povo’. Acompanho daqui de #ala-goas os avanços de #minasgerais e espero que outras fundações, em outros estados, si-gam o #exemplo e também possam divulgar os investimentos no avanço da ciência como #minasfazciencia.Aline GusmãoPelo Facebook

“Fui apresentado à revista por uma professora de Química. Gostei do conteúdo e acredito que será de grande valia para o meu curso.” Vanderson ReisEstudante da Faculdade PitágorasGovernador Valadares (MG)

“Caros editores, excelente a edição nº 55 da revista MINAS FAZ CIÊNCIA. Pauta atualiza-da, temas diversificados, abordagens claras. Diagramação e edição de fácil leitura. Para-béns!”Paulo Marcos PiresUberlândia (MG)

“Adorei a edição 55 de MINAS FAZ CIÊN-CIA. Desde as grandes reportagens, como a do novo panorama dos Museus no Brasil e a da importância do Cinema de ‘Hicth’ na educação, até as pequenas pílulas, a exemplo de ‘Versos que curam’. Meus parabéns para os autores e editores. Espero que, em breve, tenhamos muito mais pessoas apreciando a arte e os museus no Brasil.”Fabrício MartinsBelo Horizonte (MG)

“Recebi hoje meu primeiro exemplar da re-vista MINAS FAZ CIÊNCIA! Muito obrigada a todos. Estou curtindo demais as publicações! Deus os abençoe e dê um ano de infinitas vitórias, na saúde, no amor, na família e no trabalho!” Heveline Cristina de Figueiredo SilvaJoão Monlevade (MG)

MINAS FAZ CIÊNCIA tem por finalidade divulgar a produção científica e tecnológica do Estado para a sociedade. A reprodução do seu conteúdo é

permitida, desde que citada a fonte.

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O pintor Pablo Picasso (1881-1973) dizia que é preciso muito tempo para que uma pessoa se torne jovem. No ver do gran-de artista espanhol, a sabedoria acumulada ao longo dos anos funcionaria como maté-ria-prima imprescindível à transfiguração das pedras e maravilhas da existência em experiências individuais repletas de frescor. Ao rico paradoxo proposto pelo gênio de Andaluzia, some-se, na atualidade, a eficiên-cia de iniciativas, conceitos e produtos cien-tíficos capazes não apenas de ampliar a ex-pectativa de vida da população mundial,

mas, também, de levar ainda mais vitalidade ao corpo e à mente dos já viçosos senhores e senhoras deste milênio.

Interessante ressaltar, aliás, que as preocupações da ciência quanto aos efei-tos da idade nos seres humanos iniciam-se com o estudo do(s) modo(s) como os mais velhos são verbalmente tratados no dia a dia. Trata-se, afinal, do exame de parâmetros de observação e acolhimento da sociedade em relação a seus mais vi-vidos representantes. “Em nossa experi-ência com os idosos, é quase unívoco o

discurso em torno da necessidade de cui-dado com as termologias para referência a eles”, sublinha Cristiano Mauro Assis Gomes, professor do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia e Ci-ências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisador do Laboratório de Investigação da Arquitetura Cognitiva (Laico). Neste cenário, revela-se vital, por exemplo, delimitar diferenças conceituais entre termos como “velhice”, “envelhecimento” ou “idoso”.

A vidafervilhaaos 70Pesquisas em diversas áreas do conhecimento auxiliam homens e mulheres a vivenciar as (muitas) belezas da maturidade com o corpo e a mente cada vez mais ativos

Maurício Guilherme Silva Jr.

6 MINAS FAZ CIÊNCIA • DEZ/JAN/FEV 20146 MINAS FAZ CIÊNCIA • DEZ/JAN/FEV 2014

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Na maioria dos países, os índices de expectativa de vida aparecem, hoje, acima das sete décadas. No Brasil, se-gundo o Instituto Brasileiro de Geogra-fia e Estatística (IBGE), tal marca é de 74,6 anos. O maior valor identificado por pesquisadores diz respeito ao Ja-pão, à Suíça e a San Marino – nações onde as pessoas vivem, em média, 83 anos –, enquanto o menor (47 anos) foi verificado em Serra Leoa.

Segundo Cristiano Gomes, mui-tos senhores e senhoras preferem a ex-pressão “melhor idade” como designa-tiva de sua fase de vida. “Percebemos que os termos ‘idoso’ e ‘velho’ caíram em desuso, em função das próprias formas de valorização da juventude em nossa sociedade. Falo da concepção de que o que envelhece precisa ser descartado, por não apresentar mais funcionalidade”, comenta, ao sublinhar que a relevância social das investiga-ções científicas está, justamente, em auxiliar a quebra de preconceitos co-letivos: “As pesquisas podem eliminar estereótipos e proporcionar maior qua-lidade de vida às pessoas”.

MINAS FAZ CIÊNCIA • DEZ/JAN/FEV 2014 7MINAS FAZ CIÊNCIA • DEZ/JAN/FEV 2014 7

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Marcada por eventos de natureza múltipla – das perdas psicomotoras ao afastamento social, da restrição de fun-ções às alterações cognitivas –, a velhice pode ser considerada uma fase do desen-volvimento humano. “Já o envelhecimen-to é um processo com características de cunho universal, pautado geneticamente para espécies e indivíduos, que se traduz em diminuição da plasticidade comporta-mental, em aumento da vulnerabilidade e da probabilidade de morte”, explica o pesquisador. Por último, o termo “ido-so”, no Brasil, representa, conforme a Lei 8.842, de 4 de janeiro de 1994, o cidadão com 60 anos ou mais.

Professor da Faculdade de Medici-na da UFMG e presidente da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia, Leandro Fernandes Malloy-Diniz esclarece que o envelhecimento é um processo natural, biologicamente determinado e influen-ciado por fatores ambientais de natureza multifatorial. Além disso, envolve mo-dificações biológicas que irão impactar, gradualmente, a estrutura e a função de múltiplos sistemas do organismo. “Uma série de fatores biológicos e ambientais, em interação dinâmica, pode influenciar a qualidade e a velocidade do processo de envelhecimento”, completa.

O pesquisador destaca, ainda, que certas características do envelhecer são típicas da espécie. Por isso, ocorrem de forma relativamente uniforme, apesar de haver grande variabilidade entre os in-divíduos. “Certas pessoas mantêm-se ativas durante várias décadas, de modo a praticar atividades físicas, desempenhar funções profissionais complexas e man-ter excelente qualidade de vida. Outras apresentam perda funcional importante já nos primeiros anos da velhice, o que lhes impede o desempenho independente de várias dimensões da vida social”, re-sume, ao mostrar que a compreensão dos determinantes de diferentes padrões do envelhecimento e das doenças típicas do idoso são os atuais desafios de geriatras, gerontólogos e outros especialistas.

No que tange às formas de definição da velhice, Leandro Malloy-Diniz frisa a existência, no mundo, de critérios cien-tíficos diversos – dos parâmetros etários (nos países desenvolvidos, idosos são indivíduos acima de 65 anos; em nações em desenvolvimento, a partir dos 60) às classificações mais complexas. “Uma delas, muito usada na década de 1990, nos ajuda a distinguir o envelhecimento ‘primário’, processo biológico natural, programado, progressivo e cumulativo, do ‘secundário’, resultante de fatores não inerentes à senescência (processo de envelhicimento dos seres vivos), como doenças surgidas ao longo da vida, ativi-dades culturais, exposição a estressores etc.”, explica.

Dentre os fatores aptos a determinar o envelhecimento secundário, destaque para a dimensão comportamental, refe-rente, por exemplo, a práticas de “abuso” – alimentação pouco saudável e uso de substâncias psicoativas – ou de “desu-so” (sedentarismo e falta de estimulação intelectual). “Tais atitudes podem poten-cializar e patologizar o processo de se-nescência”, garante Leandro, ao lembrar a existência de outro “tipo” de envelheci-mento, chamado de terciário. Trata-se de tipologia destinada aos indivíduos muito velhos e que busca caracterizar o rápido declínio das funções do indivíduo – entre as quais, o desempenho cognitivo –, em decorrência de efeitos cumulativos.

No pique!Para além da compreensão de ter-

minologias adequadas à descrição do processo de envelhecimento, as pesqui-sas científicas da atualidade privilegiam a prevenção como forma de melhorar a sensação de bem-estar dos indivíduos. “O fundamental está, realmente, na mu-dança de foco. Ao invés de intervir junto à doença, buscam-se, hoje, atitudes pre-ventivas e ampliadoras da qualidade de vida”, diz Thiago Henrique Ferreira Vas-concellos, professor dos cursos de Fisio-terapia, Nutrição e Psicologia do Centro Universitário de Patos de Minas, onde também é pesquisador do Laboratório de Anatomia Humana.

Fruto da Política Nacional do Idoso, a referida Lei deu amparo jurídico, dentre outras iniciativas e providências, à criação do Conselho Nacional do Idoso. O objetivo da le-gislação é assegurar os direitos so-ciais dos mais velhos, ao promover a autonomia, a integração e a parti-cipação efetiva de tais indivíduos na sociedade.

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“Prevenir”, é bom que se ressalte, representa, neste contexto, ingerir ali-mentos saudáveis, praticar exercícios físicos, desafiar diariamente as potencia-lidades da mente e da memória, além de cultivar amizades e relacionamentos afe-tivos. Aos 84 anos, Zuleika Avelino Batis-ta exerce essas e outras tantas atividades com fôlego ímpar. Na mineira Caratinga, município onde vive há mais de cinco décadas, mantém ativa a rotina de ativi-dades e compromissos sociais, familiares e religiosos.

Afora os encontros regulares com os cinco filhos, 15 netos e quatro bis-netos, ela segue semanalmente ao Lyons Clube do município, onde troca experiên-cias sobre tricô e crochê com dezenas de amigas. Em outros dois dias da semana, realiza trabalho voluntário no Núcleo do Câncer de Caratinga e participa das reu-niões da Congregação do Sagrado Cora-ção de Jesus. “Sinto-me ótima por fazer parte de dois grupos. Trocamos experiên-cias sobre trabalhos manuais, bordado, crochê, pintura. Tenho prazer de parti-cipar porque fico em contato com ami-gas, conversas, brincadeiras, músicas e lanches. Tudo isso me faz bem demais”, destaca a inquieta Zuleika, ao contar, ain-da, que, nos encontros de oração, todas costumam rezar o terço e fazer reflexão. “Afora essas atividades, gosto muito de viajar e de conhecer coisas novas. Atual-mente, estou na fase de ir aos casamen-tos dos netos e de curtir os nascimentos dos bisnetos, momentos que me renovam sempre”, completa.

Outras searas de estudo do enve-lhecimento dizem respeito à compreen-são dos processos degenerativos e infla-matórios e da relação entre depressão e bem-estar. “Tema também importante, e que ganha maior relevância a cada dia, é o impacto de doenças crônicas – como a hipertensão arterial, o diabetes, os quadros dolorosos e os transtornos cog-nitivos – sobre a qualidade de vida dos idosos. Por fim, mais recentemente, os pesquisadores têm se preocupado com as relações entre espiritualidade e qua-lidade de vida”, enfatiza Leandro Malloy--Diniz.

No que tange às investigações li-gadas à área das Neurociências – “ter-

ritório” de atuação do pesquisador da UFMG –, verifica-se grande avanço, nos últimos 20 anos, em relação à produção de conhecimento sobre as causas das alterações cognitivas e inúmeros proces-sos patológicos, a exemplo da doença de Alzheimer e outros quadros demenciais. “Além disso, o uso de novas técnicas de neuroimagem, como a Ressonância Mag-nética Funcional e o PET, possibilitou a visualização de regiões cerebrais envol-vidas em tarefas cognitivas específicas, revelando-nos como elas são afetadas por mecanismos patológicos”, completa.

A tais boas-novas, some-se a atual combinação entre avanços da Neuropsi-cologia – responsável pela avaliação do desempenho cognitivo dos idosos – e das Neurociências, o que tem culminado com melhorias no tratamento e na reabi-litação de pacientes com quadros de pre-juízo do desempenho cognitivo.

Memória episódicaAção imprescindível ao acompa-

nhamento da saúde dos idosos, a ava-liação das habilidades cognitivas tem se sofisticado por meio do emprego de diversos instrumentos de rastreio. Trata--se de aparelhos capazes de diagnosticar o funcionamento mental dos pacientes de maneira mais rápida – assim como de apontar indicativos sobre o que, exa-tamente, há de ser especificamente ava-liado. “Apesar de tais avanços, quando a avaliação diz respeito a habilidades como atenção, concentração e raciocínio, ainda faltam instrumentos e estudos de padro-nização”, explica Cristiano Gomes.

Dentre as habilidades cognitivas do ser humano, a memória é uma das funções mais comprometidas em pes-soas acima de 60 anos. “A capacidade de memorização pode estar associada a quadros depressivos e/ou a comprometi-mentos maiores”, ressalta o pesquisador. O que se percebe é que os especialistas concentram esforços para verificar a re-lação da memória com outras competên-cias cognitivas – e sua funcionalidade no processo de envelhecimento. “É sabido que há declínio em certos sistemas de memória como a episódica, que repre-senta nossa aptidão para lembrar luga-res, compromissos, nomes e rostos de pessoas”, ilustra.

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Segundo o IBGE, cerca de 14,9 milhões de brasileiros – 7,4% da população – têm idade acima de 65 anos. Estimativas revelam que, em 2060, tal volume deve atingir a marca de, aproximadamente, 58,4 milhões de cidadãos, ou 26,7% do total de habitantes do País.

Com o passar dos anos, também decaem de forma importante, nos indi-víduos, a velocidade de processamento de informações e a capacidade de manter e relacionar dados para a resolução de problemas. “No entanto, o conhecimento adquirido com o tempo tende a se manter estável. Ao que parece, apesar de perdas, o envelhecimento também gera ganhos, como sabedoria, discernimento e paciên-cia”, conclui o professor.

Em estudo realizado pelo Labo-ratório de Investigação da Arquitetura Cognitiva, os pesquisadores buscaram compreender quais seriam as habilida-des cognitivas relacionadas ao declínio da memória episódica – que está asso-ciada à manutenção da autonomia e à in-dependência dos idosos. “Os resultados mostram que o envelhecimento favorece quedas no desempenho de tal memó-ria. Além disso, é provável que a piora em recursos básicos de processamento iniciem-se muito antes dos 50 anos de idade”, elucida. Outro importante aspec-to dos estudos desenvolvidos no Labo-ratório refere-se à constatação de que o “fator idade” não se revela tão impactante quanto se imaginara. “A história pessoal do indivíduo parece ser um dos fatores cruciais”, conclui.

Pesquisa multifacetadaA proporção de brasileiros com

idade superior a 60 anos não tem precedentes na história do Brasil. “E a tendência é que tal volume aumente con-sideravelmente nas próximas décadas. Por isso, deparamo-nos com uma série de fenômenos relativamente novos, cuja abordagem será fundamental para a com-preensão dos processos determinantes das formas de envelhecimento”, explica o médico Breno Satler Diniz, integrante da Diretoria da Associação Brasileira de Neurociências Clínicas e da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia.

Segundo o pesquisador, um reflexo interessante do aumento da faixa etária populacional pode ser notado nas últi-mas décadas. “As teorias clássicas sobre

desenvolvimento humano enfatizavam os processos de mudança ocorridos até a adolescência, etapa final da formação de nossa constituição mental e comporta-mental. A idade adulta era vista como fase de estabilidade, enquanto a velhice, como período de declínio global”, explica, ao ressaltar que eventos típicos dessas fai-xas etárias eram raramente abordados em profundidade.

Na primeira metade do século XX, outras teorias já buscavam perceber o desenvolvimento humano a partir da to-talidade do ciclo vital, conforme revelam os estudos de Erik Erikson. Apesar disso, é a partir da década de 1980, com Karl W. Schaie e Paul Baltes, que ganha força a necessidade de investigação “do todo” – o que inclui, de modo efetivo, a idade adulta e o período da velhice. “Perdas e ganhos, afinal, ocorreriam ao longo de toda a existência, cabendo às ciências do desenvolvimento compreender as pecu-liaridades de cada fase, além de destrin-char os modos como elas se relacionam entre si”, comenta Breno.

Neste cenário, fenômenos típicos da vida de adultos e idosos tornam-se objeto de estudos os mais diversos. Dentre os temas de tais pesquisas, destaque para investigações sobre as diferenças entre envelhecimento normal e patológico – ou entre reserva cerebral e cognitiva – e para assuntos ligados ao efeito protetor de es-timulação ambiental, ao estresse cumu-lativo, às patologias do envelhecer e aos métodos de promoção do chamado “en-velhecimento bem sucedido”. “Há, ainda, indagações sobre temas como relações sociais, impacto da viuvez, divórcio e al-terações de padrões familiares”, completa o médico.

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Os benefícios da convivência 2.0 Uma série de dispositivos ele-

trônicos de informação e comunica-ção tem ampliado, significativamente, a capacidade de atuação social dos indivíduos com mais de 60 anos. Tais tecnologias, afinal, são conhecidas por multiplicar as possibilidades de desenvolvimento cognitivo, social e afetivo de seus usuários. “Apesar de ainda não conhecermos os detalhes de tais repercussões na vida dos idosos, as evidências iniciais são promissoras. Estudos mostram, por exemplo, que os recursos digitais au-mentam os níveis de processamento cognitivo básico de quem os utiliza”,

explica o professor Cristiano Mauro Assis Gomes.

Na concepção de Leandro Malloy-Diniz, as ferramentas tecno-lógicas permitem, aos idosos, maior acesso ao amplo volume de infor-mações hoje disponíveis, além de estimulá-los a buscar novos conhe-cimentos – atitude fundamental à ma-nutenção de padrões cognitivos sau-dáveis e à proteção contra quadros de demência. “As tecnologias aumentam, ainda, a possibilidade de interação so-cial e diminuem o sentimento de iso-lamento, responsável pelo surgimento de quadros depressivos”, comenta.

Confira novas e boas conclusões da ciência em prol da qualidade de vida de homens e mulheres que já tanto fizeram pelo bem-estar do planeta

Eles merecem!

Apesar de ainda pouco efetivo, o uso de videogames em atividades de reabilitação corporal, treinamento da memória e desenvolvimento de novas habilidades cognitivas revela-se importante vertente de pesquisa em diversos países.

Novos tratamentos contra problemas demenciais – com ênfase no Mal de Alzheimer – são hoje possíveis devido ao entendimento das alterações biológicas relacionadas ao surgimento de tais enfermidades.

Ainda sobre tais “quadros demenciais”, pesquisas mostram que fatores como baixa atividade física, má alimentação, atividades com baixa demanda de esforço cognitivo – além da presença de uma série de doenças (hipertensão arterial, diabetes melito e depressão) – aumentam o risco de desenvolvimento de Alzheimer. Tal conclusão possibilita o desen-volvimento de intervenções preventivas e com baixo custo de implementação ao longo da vida das pessoas.

Estudos sobre a plasticidade cerebral têm ajudado a mudar a crença de que o envelhecimento seja, necessariamente, um processo unilateral e exclusivo de degeneração e perda.

A educação e as oportunidades de desenvolvimento (pessoal e profissional) são tão ou mais importantes do que a idade, no que se refere ao status cognitivo do idoso. Além disso, pessoas equilibradas, otimistas, que possuem metas e têm senso de responsabilidade e engajamento, tendem a manter melhores condições de saúde física, qualidade de vida e funcionamento cognitivo.

MINAS FAZ CIÊNCIA • DEZ/JAN/FEV 2014 11

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O saber quetransforma acultura

A clareza e a serenidade com que aborda algumas das mais complexas questões – práticas e teóricas – da ciên-cia são reveladoras dos porquês de sua bem-sucedida trajetória de professor, pesquisador e gestor acadêmico. Ex-reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – cargo que ocupou de 1994 a 1998 – e, atualmente, diretor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da institui-ção, Tomaz Aroldo da Mota Santos revela e contextualiza, nesta entrevista, as nuan-ces que levaram o ICB a vencer a edição 2013 do Prêmio de Pesquisa Básica Marcos Luiz dos Mares Guia. Além dis-so, discute temas como divulgação cien-tífica e financiamento de CT&I no Brasil.

Para o ICB, o que significou receber o Prêmio de Pesquisa Básica Marcos Luiz dos Mares Guia?

O Prêmio serve de prestação de contas das atividades do ICB para com a

comunidade mineira. O dossiê enviado à premiação relata as ações desenvolvidas pelo Instituto ao longo de sua história. A participação, portanto, já nos era relevante por relatarmos, aos mineiros e à FAPEMIG – uma das principais financiadoras de nossas atividades de pesquisa –, o que temos feito diariamente. Após divulgada a decisão do comitê organizador, a premia-ção tornou-se, para nós, o reconhecimen-to de Minas Gerais – por meio da FAPE-MIG e da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior – quanto à importância das atividades acadêmicas do Instituto, e, em especial, de seu trabalho de pesquisa, dado que o Prêmio busca re-conhecer as instituições pelas iniciativas de pesquisa básica. Nossa comunidade se vê reconhecida na ideia de que auxilia a ciência, a tecnologia, a inovação, e, de maneira especial, a formação de cientistas que atuarão em instituições brasileiras e estrangeiras.

Diretor do premiado Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, Tomaz Aroldo da Mota Santos comenta a importância das atividades de ensino e pesquisa

Maurício Guilherme Silva Jr.

Criado pelo Governo do Estado, o Prêmio é concedido, em anos pares, a pesquisadores mineiros, e, em anos ímpares, a unidades de pesquisa de universidades, institutos e empresas sediados em Minas Gerais. De 7 de abril a 18 de junho, estarão abertas as inscrições para a categoria “Pesquisa-dor”. Mais informações pelo endereço www.fapemig.br/premio.

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MINAS FAZ CIÊNCIA • SET/OUT/NOV 2013 13

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Qual o diferencial do ICB, no que diz respeito à pesquisa básica?

Para entender o ICB, temos de mergulhar em sua história e na trajetória da UFMG. Nos anos 1960, a Universida-de se modernizou por meio da reforma universitária, ação proposta, inicialmen-te, pela própria instituição. Depois, em 1968, a ideia se generalizou, por ação do Governo Federal. Em ambas as reformas, previa-se a criação de institutos bási-cos – os quais, aqui, foram chamados de “institutos centrais”. Esses espaços reuniam disciplinas, professores, recur-sos e meios anteriormente dispersos, na Universidade, em unidades correlatas à área biológica. Por isso é que chega-ram, ao ICB, professores e servidores técnicos e administrativos das faculda-des de Filosofia, Medicina, Farmácia e Odontologia, assim como das escolas de Veterinária e Enfermagem. Tais unidades foram, em certo sentido, fundadoras do Instituto. Some-se a isso o fato de que o princípio geral da reforma universitária era não duplicar recursos – materiais e humanos – destinados ao mesmo fim. Outro aspecto fundador do ICB diz res-peito à ampliação das vagas no ensino superior após 1968. Daí nasceu a ne-cessidade de reunir estudantes de áreas profissionais correlatas num ciclo básico comum: toda a formação da área biomé-dica migrou para o ICB, que se tornou sede dos dois primeiros anos dos cursos de Farmácia, Odontologia, Medicina etc. Nossa última vertente fundadora refere-se não apenas à Biomedicina, mas às Ciên-cias Naturais – hoje “Ciências Ambien-tais” –, cujo núcleo era o curso de Ciên-cias Naturais da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), que resulta-ria nos cursos de Geografia, Geologia e, aqui, no de Ciências Biológicas.

o que funda o ICB, portanto, é o ensino de graduação...

Sim. Além disso, passamos a reu-nir professores com tradição de pesquisa, o que aumentou a possibilidade de o ICB iniciar, ou consolidar, a incipiente atividade científica existente nas outras unidades. Tais

atividades, também antes dispersas, foram potencializadas no Instituto. Nosso segun-do momento de consolidação, portanto, diz respeito ao desenvolvimento da pesquisa. Por último, está o crescimento da pós--graduação. O professor Eduardo Osório Cisalpino, primeiro diretor eleito no ICB, em 1971, realizou o 1º Encontro de Pesqui-sa do Instituto, cujo coordenador foi o pro-fessor Marcos Luiz dos Mares Guia – que organizaria o 2º Encontro, um ano depois. Também em 1972, o professor Marcos res-saltaria que, a partir dali, poderíamos dizer que o ICB se revelava uma unidade de ensi-no e pesquisa. Importante ressaltar que não era comum, às unidades, realizar encontros de pesquisa. Vale o registro, pois, de que fomos pioneiros nesta área, ao organizar encontros de pesquisa com resultados par-ciais de professores e estudantes de Inicia-ção Científica e pós-graduação. Nesse perí-odo, já havia os cursos de pós-graduação em Bioquímica e Parasitologia, de modo que o ICB tem dupla vocação: de um lado, a vertente educacional, responsável pela for-mação de estudantes do ensino básico e de biólogos; de outro, a extensa atividade de pós-graduação.

o ICB atende a todos os cursos da área de saúde da UFMG e possui mais de 90% de professores doutores ou pós-douto-res. São 10 departamentos, 12 progra-mas de pós-graduação e perto de uma centena de laboratórios. Ainda há muito por fazer?

Temos colhido bons frutos. Digo de nosso elo com a sociedade, que se fortale-ce, principalmente, por meio do ensino de graduação. O ICB conta, hoje, com cerca de 7 mil graduandos, entre estudantes de ciclo básico, Ciências Biológicas e outros cursos. Se imaginarmos os laços de convívio de cada estudante, poderíamos multiplicar nos-sas relações sociais por 20. Ou seja: cerca de 140 mil pessoas têm direta ligação com o ICB. Só isso justificaria nossa existência como espaço de ensino. Entretanto, também é preciso destacar o que o Instituto propicia em termos de formação de cientistas e pro-fessores. No início de nossa história, não

A ciência é a busca de compreensão para fenômenos sociais, naturais etc. Compre-ender, por si, já é importante. Afinal, o conhecimento apa-rentemente inútil, que não gera dinheiro, resulta em cultura. Trata-se do conhecimento que podemos ter sobre nossa vida, sobre o ‘estar no mundo’.

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A divulgação é instrumento fundamental para que a ciência se faça cultura. Afinal, se a pro-dução do conhecimento estiver circunscrita à sociedade dos cientistas, seus efeitos sociais inexistem.

havia aqui muitos mestres e doutores. O primeiro desafio foi o de formá-los. No Brasil, porém, existiam poucos cursos de pós-gradu-ação com o atual padrão. Por isso, resolvemos criar – e usar – nossa própria pós para forma-ção de professores, trabalho que ficou a cargo de docentes vindos de outras unidades, mui-tos dos quais eram doutores formados fora do País. De certo modo, o ICB deu prioridade, em seus cursos, aos professores de seu próprio corpo docente. Depois, começamos a formar professores que seguiram a outras insti-tuições, tanto em Minas Gerais quanto em outros estados brasileiros. Esse é um papel muito importante para nós, pois, para além da importância dos recursos, o que garante continuidade às pesquisas é o pesquisador. Além disso, não há como formar cientistas senão fazendo ciência. As duas coisas ca-minham juntas. Hoje, temos vasta produção científica, em campos diversos. Também são crescentes, no ICB, projetos de educação para a ciência. Trata-se, na maior parte das vezes, de Educação Biológica como ativida-de de extensão. Trabalhamos com vários ins-trumentos de divulgação científica, para além das mídias tradicionais. Ressalto, por exem-plo, o Museu de Ciências Morfológicas, um dos estabelecimentos mais visitados de Belo Horizonte, principalmente, por estudantes de escolas públicas. Investimos, ainda, em atividades de pesquisa aplicada, iniciativas com viés tecnológico e que se tornam obje-tos de patenteamento.

Que distinções o senhor faz, hoje, entre “ciência básica” e “ciência aplicada”?

Essas diferenças são sempre suscita-das, em várias circunstâncias. Lembro-me de comentários do professor Evando Mirra, da Escola de Engenharia, para quem a ati-vidade científica busca explicação sobre de-terminado fenômeno, enquanto a tecnologia procura desenvolver produtos e processos. As duas coisas não estão dissociadas, pois a tecnologia facilita a pesquisa científica, e vice-versa. Suponha que alguém tenha des-coberto certa liga resistente e leve entre dois metais, capaz de gerar produtos com vasta aplicação nas indústrias automobilística ou aeronáutica. O cientista explicará o modo como os metais agem, para formar a liga, no nível atômico. Já alguém da tecnologia

procurará otimizar a produção da liga, para que ela se torne mais forte, eficaz, leve ou econômica. Tal distinção revela que uma coisa facilita a outra. Certos equipamentos mudam a visão dos cientistas sobre os fe-nômenos. Ciência e tecnologia, portanto, são atividades que implicam processos de racionalidade, criatividade e conhecimento, mas não possuem os mesmos objetivos e consequências. Leva tempo para que uma pesquisa básica se transforme em processo ou serviço.

e, para certos leigos, os cientistas aca-bam por investir em pesquisas inúteis.

É verdade. A história, contudo, reve-la que muitas dessas pesquisas transfor-maram-se em produtos importantes para a vida cotidiana, sendo que muitas delas começaram com perguntas aparentemente sem sentido. A ciência é a busca de compre-ensão para fenômenos sociais, naturais etc. Compreender, por si, já é importante. Afinal, o conhecimento aparentemente inútil, que não gera dinheiro, resulta em cultura. Trata--se do conhecimento que podemos ter sobre nossa vida, sobre o “estar no mundo”. A ci-ência, além do mais, auxilia a compreensão do que somos: quais nossas origens? Como funcionamos? Como nascemos, crescemos e envelhecemos? Muitas dessas questões, é verdade, não são respondidas pela ciên-cia. Por outro lado, certas respostas, dadas em contextos de perguntas não aplicáveis, nos permitem compreensões importantes. A cada momento, a ciência dá explicações que suscitam debates, com novas explicações e novos fenômenos. Mudam-se, assim, os padrões culturais, pois a ciência suscita diá-logos e não se estrutura em certezas definiti-vas, já que suas explicações são sempre pro-visórias. Por isso, a atitude do cientista deve ser de modéstia. Além de não haver certeza absoluta sobre o que é dito, a explicação e o caminho escolhidos podem não ser os me-lhores. Ciência é fruto de trabalho coletivo, de discussões que atravessam os séculos. Neste sentido, pode-se, na ciência, falar em progresso, ao contrário do que ocorre, por exemplo, com a arte. Apreciamos hoje, com a mesma emoção e o mesmo senso estético, uma peça musical da Idade Média. De outro modo, em Física ou Biologia, muitos concei-tos foram superados.

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Como o senhor analisa as atuais fon-tes de financiamento à pesquisa no Brasil?

Na atividade científica, são impor-tantes os que fazem ciência, os que for-mam cientistas, os que divulgam e os que pensam políticas públicas e garantem as condições para tais políticas. Vai aqui, aliás, minha homenagem aos dirigentes da FAPEMIG, pois, sem eles, não haveria pesquisa. Num laboratório, todos têm um pouco de cientista e gerente. A pesquisa básica, em nossa tradição, tem de ser ga-rantida pelo estado. Afinal, as fontes de financiamento são o próprio estado, ou, eventualmente, as empresas e o chamado mercado. Os professores Carlos Ribeiro Diniz e Marcos Luiz dos Mares Guia di-ziam que, para que a pesquisa básica fos-se garantida, parte substantiva do finan-ciamento deveria vir do estado. Trata-se da pesquisa nascida com a curiosidade do pesquisador, e que não possui apli-cação previsível. As políticas de ciência, pois, não precisam nem devem esperar por “relevância social”. Na pesquisa bá-sica, a relevância é a contribuição para a própria ciência, pois o pesquisador não precisa provar a importância dos proces-sos biológicos para a cura de doenças. Além disso, o financiamento não pode ser determinado, apenas, pelo capital produ-tivo do pesquisador, mas pela natureza da pesquisa proposta. Se for relevante, o estudo deve ser apoiado, mesmo que apresentado por pesquisadores inician-tes. Por fim, a pesquisa científica deve ser compartilhada pelo sistema produtivo. As empresas – em especial, as brasileiras – precisam investir em pesquisa, por meio de parcerias com pesquisadores, que, por sua vez, devem deixar seus preconceitos de lado quanto à relevância da pesquisa aplicada. A relação mais profícua entre universidade e empresa exige, evidente-mente, custos elevados. Há que convo-carmos os empresários para este esfor-ço. Em Minas Gerais, seria interessante, ainda, saber quantos doutores a indústria emprega ou quantos laboratórios estão nelas montadas.

o que o senhor acha da divulgação científica realizada nas universida-des?

Em primeiro lugar, se pensamos que a ciência tem valor em si e é fonte de geração da cultura, essa função só ocorre se todos tiverem acesso a tal elaboração. Para mencionar algo no campo da Biolo-gia, lembro-me que, segundo recente en-quete da Folha de S.Paulo, mais de 50% dos brasileiros acreditam que o mundo foi criado em seis dias. A visão religiosa para explicação da natureza, do universo e de uma série de fenômenos – aos quais também a ciência se dedica – segue mui-to importante. Não tenho nada contra as religiões. No entanto, há outra visão da qual grande parte da sociedade não tem conhecimento. Por isso, quando os po-deres do estado precisam tomar decisões importantes para a vida das pessoas, tais escolhas acabam obstaculizadas por ma-nifestações de desconhecimento sobre avanços da ciência. Isso mostra como a divulgação da ciência é importante para alargar a visão das pessoas – que não são especialistas sobre a vida, o mundo ou a sociedade. A divulgação é instru-mento fundamental para que a ciência se faça cultura. Afinal, se a produção do conhecimento estiver circunscrita à sociedade dos cientistas, seus efeitos sociais inexistem. Participei de simpósio em Portugal sobre formas de divulgação científica no mundo. Um professor inglês falava, por exemplo, da importância de se discutir, num pub, o modo de desenvolvi-mento das cervejas. A mais fundamental das ações, porém, é um bom curso de ciências na educação básica – do ensino fundamental ao médio –, o que implica bons profissionais. Eis outra meta da uni-versidade: formar bons professores, que, bem pagos, possam divulgar a ciência no momento de formação de crianças e jo-vens. Esse é o modo mais amplo e eficaz de divulgação científica, sem prejuízo, obviamente, das outras formas de disse-minação da ciência.

Num laboratório, todos têm um pouco de cientista e geren-te. A pesquisa básica, em nossa tradição, tem de ser garantida pelo estado. Afinal, as fontes de financiamento são o próprio es-tado, ou, eventualmente, as em-presas e o chamado mercado.

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Virgínia Fonseca

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Aplicação de nanotecnologia aumenta efi cácia do tratamento da mastite bovina

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Por entre serras e riachos, nas bucó-licas fazendas de Minas, a cena ainda se repete. Cada vez com menos frequência, alguns hão de notar, saudosamente. O dia amanhece, em meio ao cacarejar das aves e ao mugido do rebanho. Canecos em punho, as crianças – primos, sobrinhos, netos, afi-lhados e filhos – acorrem ao curral, onde os adultos, madrugadores, ordenham o gado. O objetivo é um só: degustar o leite recém--saído do úbere da vaca. Aquele líquido denso, quente, espumoso, com gostinho de infância mineira e levemente salgado... Opa! “Levemente salgado”? Parem as canecas! A presença de sódio, que confere sabor salobro, é uma das características do leite proveniente de animais contaminados pela mastite bovina. Trata-se da doença mais relevante para os produtores leiteiros em todo o mundo, devido à alta incidência e aos prejuízos econômicos que acarreta. Trata-se, também, de um dos motivos pelos quais médicos e defensores de medidas sa-nitárias não recomendam a ingestão do leite in natura, ainda que pese a magia desperta-da, no imaginário, pela cena acima.

A mastite é uma infecção na glân-dula mamária que pode ser provocada por diferentes tipos de microrganismos, como leveduras, fungos, algas e bactérias. Estas últimas respondem pela maior parte dos ca-sos. Com vistas a reduzir as perdas decor-rentes da enfermidade, em todo o mundo, especialistas dedicam-se a novas formas de combatê-la. Na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) – unida-de Gado de Leite, em Juiz de Fora, Zona da Mata mineira –, pesquisadores têm obtido êxito com auxílio da nanotecnologia.

Tais estudos tiveram início há cerca de cinco anos, quando o médico-veteriná-rio Humberto de Mello Brandão ingressou na Embrapa Gado de Leite com a função de aprofundar investigações na área de nanotecnologia. O pesquisador trabalhou, em parceria com a professora Vanessa Mosqueira, da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), no desenvolvimento de nanopartículas capa-zes de aumentar a eficiência dos antibió-ticos no combate às bactérias causadoras da mastite.

O leite de animais acometidos pela doença apresenta alteração em sua compo-sição quanto a proteínas, gorduras e outros elementos, além de potencial contribuição

para a elevação da contagem bacteriana total (CBT) e, principalmente, das células somáticas (CCS), uma vez que a tentativa de destruir os microrganismos invasores resulta em concentração de células de de-fesa (polimorfonucleares) na região afetada.

Por sua vez, o manejo nutricional ade-quado auxilia a redução de gorduras e sóli-dos totais. Já a mitigação das taxas de CCS – diretamente relacionadas à ocorrência clínica ou subclínica da mastite – mostra-se mais delicada e depende do bom estado sa-nitário do rebanho, resultado a que se pode chegar por meio de programas eficazes de controle da enfermidade.

Por meio da Instrução Normativa 62, válida a partir de 2012, em substituição à anterior (IN 51), o Ministério da Agricul-tura, Pecuária e Abastecimento estabelece normas de produção e qualidade do leite. Humberto Brandão explica que os parâme-tros composicionais definidos pela IN 62 são, em geral, alcançados com o adequado ajuste do manejo nutricional da vaca. Já os índices de CTB, embora ainda sejam eleva-dos no Brasil, podem diminuir significati-vamente pela simples adoção de práticas de higiene na ordenha, nos equipamentos, e pela refrigeração imediata. No caso dos índices de CCS – diretamente relacionados à ocorrência clínica ou subclínica da mastite –, o alcance da meta mostra-se mais delica-do e é altamente dependente do bom estado sanitário do rebanho, resultado a que se pode chegar por meio de programas efica-zes de controle da mastite.

O combate à infecção baseia-se em três fatores: identificação da doença, pre-venção e tratamento correto dos animais contaminados. Esta última etapa é tida como ponto sensível, devido ao grande número de patógenos capazes de causar a mastite. Atualmente, o uso de antibióticos convencionais constitui a via mais usual de ação. A pesquisa conduzida pela Embrapa Gado de Leite e pela Ufop apresenta, como novidade, a associação desta técnica à na-notecnologia, o que garante eficácia aos fármacos ministrados.

Os prejuízos advêm de conse-quências como queda na produção, descarte de leite, gastos com medica-mentos e serviços veterinários, além de morte do animal.

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Desafio no campoOs agentes causadores da mastite

podem ser de origem ambiental ou con-tagiosa. No primeiro caso, o reservatório das bactérias é o ambiente em que a vaca vive. O acúmulo de esterco, urina, barro e outros detritos favorece o crescimento das bactérias. Assim, a maioria das proprieda-des apresenta esse tipo de mastite, pois é difícil a eliminação dos patógenos presentes nesses locais. Já os microrganismos con-tagiosos, principalmente o Staphylococcus aureus e o Streptococcus agalactiae, pro-movem a contaminação de um animal a ou-tro, ou, ainda, de um quarto mamário a outro – principalmente, no momento da ordenha.

Como animais infectados tornam-se o principal reservatório da bactéria, em ambas as situações, o tratamento rápido é fundamental para evitar o contágio de outras reses do rebanho. Hoje, a terapia baseia-se em formulações farmacêuticas para aplicação parenteral ou intramamária, sendo esta última considerada mais efetiva. “Normalmente, utiliza-se um antibiótico convencional veiculado numa formulação aquosa ou oleosa. Há, também, tratamentos alternativos, com produtos naturais ou homeopáticos, mas sua eficácia ainda precisa ser comprovada cientificamente”, detalha o pesquisador.

Embora os produtos alopáticos apre-sentem eficácia satisfatória, elementos como o tipo de patógeno, a via de admi-nistração do medicamento, a escolha da base farmacêutica e seu uso adequado podem ocasionar variações. Algumas bactérias desenvolvem mecanismos para sobressair-se à droga, como a produção de enzimas que degradam o antibiótico, a resistência à fagocitose do sistema de defesa do animal ou a indução à formação de abscessos. “Nessas situações, o remé-dio, muitas vezes, não chega à bactéria ou se caracteriza por baixa concentração, in-suficiente para matá-la. As consequências são a recorrência da manifestação clínica de mastite e a seleção de bactérias resistentes”, adverte Humberto Brandão.

Menos é maisÉ aí que entra a nanotecnologia, área

capaz de aumentar a eficácia dos antibió-ticos já existentes no mercado e reduzir o

risco de surgimento de organismos resis-tentes. “Deixemos claro que não se trata de uma nova base farmacêutica ou algo seme-lhante, mas da atividade que permite a cons-trução de um novo ‘veículo’ para as drogas convencionais no combate às bactérias”, ressalta o pesquisador.

Por meio das técnicas adotadas no estudo, os cientistas inserem o antibiótico numa nanopartícula, espécie de cápsu-la extremamente pequena que protege o medicamento, possibilitando que ele seja direcionado às células da glândula mamária em contato com as bactérias. O mecanismo permite, até mesmo, veicular um fármaco hidrofóbico (insolúvel em água) num meio aquoso. “Nestes casos, a base para aplica-ção seria o óleo, mas, com a nanotecnolo-gia, podemos reverter para água, o que faz com que o medicamento se espalhe melhor e mais rapidamente pela glândula mamária”, conclui.

O processo também se mostra eficaz na absorção do medicamento. Numa formu-lação convencional, à base de óleo, o líquido, após aplicação do medicamento, tende a se dividir em gotículas, que se dirigem para a parte superior do úbere, por meio dos ductos lactíferos. Estes canais estreitam-se progres-sivamente, o que dificulta a movimentação da substância – as gotículas de óleo acabam funcionando como pequenos êmbolos. Isso

São infinitas, segundo o pesquisador Humberto Brandão, as oportunidades oferecidas pela nanotecnologia. E o Brasil, avalia, tem se destacado, na referida área, como um dos países que mais progressos obtém nos estudos sobre aplicação das técnicas nanotecnológicas no agronegócio. Em Minas, duas redes consolidadas reúnem cientistas da área e interagem entre si, contribuindo para o avanço das pesquisas: Agronano, coordenada pela Embrapa, e Nanobio-MG, mantida pela FAPEMIG.

Os profissionais envolvidos na pesquisa sobre mastite trabalham com a aplicação da nanotecnologia a outros medicamentos. O potencial antibiótico natural da própolis inspira estudos para uso de nanopartículas da substância pelo segmento de produção de leite orgânico. Outra novidade diz respeito ao tratamento da ceratoconjuntivite, doença que acomete os bovinos e é causada pela bactéria Moraxella bovis. A técnica permitiu o desenvolvimento de partículas minúsculas, que aderem à mucosa ocular e liberam o medicamento gradativamente, evitando que o composto seja “lavado” pela lágrima do animal. Em breve, estudo clínico deve ser conduzido pelo pesquisador Alessandro Guimarães, para comprovar a eficácia dessas nanopartículas.

Conexão de possibilidades

retarda a chegada do antibiótico à porção superior da glândula mamária, onde costu-ma haver a maior concentração de bactérias. Ao encapsular o antibiótico na nanopartícula e usar água em vez de óleo como meio, os cientistas conseguem que a medicação che-gue mais rapidamente a todos os pontos da glândula mamária. Estudos realizados pela equipe constataram que, em seis horas, as nanopartículas já haviam atingido todas as regiões da glândula mamária.

Como a liberação do antibiótico se pro-cessa gradativamente ao longo da glândula, existe mais eficácia neste tipo de medica-mento, distribuído de forma homogênea até o ápice do úbere. Ao longo do trajeto, ainda há o direcionamento do antibiótico para o interior das células de defesa da vaca, passo importante no combate à mastite. Isso porque, durante a infecção, tais células fagocitam o microrganismo para destruí-lo. Entretanto, certas bactérias podem resistir ao ataque, mantendo-se em estado de “hibernação”, o que lhes possibilita sobreviver a um trata-mento convencional. Mais tarde, com a morte das células fagocitárias, a bactéria é liberada, provocando novamente a doença. Ocorrem, então, as mastites reincidentes, ou as chama-das vacas “mamiteiras”, que, além de causar prejuízos, contribuem para a seleção de bac-térias mais resistentes, capazes de contaminar outros animais do rebanho.

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A nanotecnologia pode ser entendida, de forma simplista, como uma nova característica gerada para dado material pelo controle do seu tamanho. Para se ter ideia da escala de trabalho, se uma bola de futebol tivesse um nanômetro de diâmetro, o planeta Terra teria um metro.

trocando em miúdos

Humberto Brandão conduz pesquisas

que exploram possibilidades da

nanotecnologia para o agronegócio

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Pioneirismo latinoTodo o processo foi concebido para

funcionar de forma totalmente segura: os componentes da nanopartícula são libe-rados para uso humano e a formulação foi projetada para não deixar resíduos no leite ou provocar qualquer toxidade para o animal. Por meio de um acordo binacional entre a Embrapa e o Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (Inta), da Argen-tina, testes estão em andamento nos dois países. Os estudiosos pretendem fazer com que a eficácia da técnica seja comprovada por vários grupos de pesquisa. Brandão considera os resultados, até o momento, positivos. “Tratamos bovinos e ovinos, em colaboração com a Embrapa Pecuária Su-deste, e obtivemos bons índices de cura, sem nenhum efeito adverso”.

No mercado – ou melhor, no cam-po –, a expectativa é grande, pois se trata da primeira formulação intramamária do mundo a usar nanopartículas. “Já fui in-dagado por vários técnicos sobre quando o produto estará disponível para uso nas fazendas leiteiras”, conta o pesquisador. O grupo estima iniciar a fase de transferência de tecnologia ainda no primeiro semestre de 2014. Dentre todos os trâmites neces-sários, a exemplo do registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Brandão prevê um prazo de cerca de três anos até a comercialização.

O preço, por sua vez, não deve ser muito diferente dos produtos hoje existen-tes, assim como não haverá alteração na maneira de administrar o medicamento. A

forma de aplicação intramamária foi esco-lhida, justamente, por ser mais eficaz e já usual entre os produtores rurais. “Levare-mos a terapêutica de precisão ao dia a dia do pecuarista, de modo a otimizar o uso dos antibióticos, sem mudar sua rotina”, sintetiza Brandão.

Os estudos laboratoriais contaram com auxílio de uma equipe de colabora-dores, como a engenheira de Bioprocessos e Biotecnologista Juliana Gern, e outros pesquisadores da Embrapa. Na Ufop, os trabalhos são conduzidos pela professo-ra Vanessa Mosqueira e pelas estudantes Raquel Araújo e Raquel Castanheira, da Escola de Farmácia. Existem, ainda, pes-quisadores da Rede Mineira de Nanobio-tecnologia colaborando com os projetos em andamento.

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Pesquisa investiga modo como as religiões de matriz africana são interpretadas pela população no País

William Ferraz

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Candomblé, umbanda, quimbanda, omolocô, xambá... Vários são os nomes dados aos caminhos percorridos pelos an-cestrais afro-brasileiros em busca de as-censão espiritual e de diálogo com Deus. Em cada vertente, elementos históricos e socioculturais dão aspectos próprios à maneira como seus seguidores olham para os céus. Com o passar dos tempos, surgiram ramificações associadas à fé dos nativos pré-colombianos, enquanto outras fundiram-se a elementos da crença cató-lica, e, mais recentemente, características do espiritismo de Allan Kardec passaram a integrar alguns rituais, consolidando um complexo universo de crenças ainda in-cógnito para a grande população.

“As religiões brasileiras de matriz africana são aquelas nascidas em solo brasileiro, praticadas inicialmente pelos negros africanos trazidos ao Brasil na con-dição de escravos, que praticavam suas crenças com base em tradições tribais, mas adotaram conceitos e rituais de outras expressões de fé que encontraram no Novo Mundo”, explica Erisvaldo Pereira dos Santos, professor do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) da Universida-de Federal de Ouro Preto (Ufop). Santos desenvolve longo estudo social sobre a maneira como as religiões afro-brasileiras são compreendidas pela sociedade. O con-tato do professor com a temática, a partir de perspectiva que problematiza o histórico das crenças afro-brasileiras no contexto social, teve início em 1983, por meio do curso da Semana de Religião Afro-Brasi-leira, no então Instituto Superior de Pas-toral Catequética (Ispac) de Salvador (BA), ministrado, à época, pelo padre francês François de l’Espinay.

O pesquisador conta que, apesar da expressiva participação na construção da identidade histórico-cultural do Brasil, seus estudos demonstram que, ainda nos dias de hoje, as heranças de raiz africana são estigmatizadas e postas à margem da sociedade, comportamento que se estende

ao campo religioso. Em um país cuja cren-ça é predominantemente baseada em prin-cípios judaico-cristãos – cerca de 86,8%, de acordo com o último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Es-tatística (IBGE) –, as expressões das dou-trinas de matriz africana ainda se revelam um tabu, geralmente atribuídas a seitas e paganismos.

Entre os seguidores, há consenso de que conotações dessa natureza são des-favoráveis e formadas sem conhecimento abalizado, fato que contribui para o cenário de exclusão social que precisa ser vencido. “O próprio uso do termo ‘macumba’, que generaliza e trata de forma pejorativa os cultos afro-brasileiros, demonstra isso”, explica Erisvaldo Santos. O vocábulo se refere ao instrumento de percussão de uso comum durante os cultos.

O cenário observado motivou o de-senvolvimento do projeto “A intolerância religiosa com relação às religiões de matriz africana no contexto de escolas municipais de Belo Horizonte”. O objetivo, à época da iniciativa – que teve início em 2008 –, se-ria investigar a forma como a diversidade religiosa é abordada no âmbito educacio-nal. “Parte do tratamento excludente dado às crenças de matriz africana remonta aos primeiros anos de socialização básica do indivíduo, como resultado dos vestígios culturais arraigados à educação brasileira, que carregam visão desfavorável em rela-ção a tais práticas religiosas”, explica.

Tríade de premissasO estudo tomou por base três pres-

supostos básicos, para os quais se busca-va constatação e reflexão. O primeiro deles foi o de que, no contexto escolar, a criança depara-se com ambiente de formação de identidades socioculturais, de reprodução e enfrentamento de preconceitos e formas correlatas de intolerância. O segundo con-sidera que, em vários segmentos da socie-dade brasileira, há atitudes de preconceito e de intolerância com relação aos adeptos de religiões de matriz africana.

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Já o terceiro pressuposto remonta à ideia de que a hegemonia das religiões de matriz judaico-cristã, a discriminação racial e a visão bestializada do culto a en-tidades espirituais contribuem para a falta de elaboração de políticas educacionais favoráveis à extinção – ou, pelo menos, à redução – do preconceito.

Para conduzir os estudos, Santos en-caminhou ofício a 15 escolas da capital mi-neira, com o objetivo de captar professores disponíveis a participar do desenvolvimento do projeto. Doze escolas responderam po-sitivamente. A pesquisa visava verificar se a regra prevista pela lei 10.639/03 – alterada pela lei 11.645/08 –, que torna obrigató-rio o ensino da cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas públicas e particulares, do ensino fundamental ao médio, estava sendo aplicada. “A propos-ta apresentada pela lei é de conceituação abrangente, no sentido de compreender a herança afro-brasileira como parte insepa-rável da história nacional, valorizando-se a cultura, o pensamento, e, não obstante, as religiões de matrizes africanas”, explica Erisvaldo.

De acordo com o pesquisador, ao longo da pesquisa, identificou-se grande dificuldade de promover a integração so-cial de uma minoria religiosa numa so-ciedade cuja orientação é essencialmente fundamentada em doutrina religiosa pre-dominante, como é o caso do cristianismo no Brasil. “A manifestação de uma crença que se expressa por meio de elementos tão distintos dos costumes cristãos é recebida com resistência, já que a pouca similarida-de na linguagem conduz à interpretação de que outra entidade divina está sendo cultu-ada nesses espaços. Trata-se de algo que os cristãos, por doutrina, não estão aber-tos a aceitar com naturalidade”, explica.

Santos ressalta, ainda, que existe intrínseca relação entre o preconceito ra-cial e a rejeição a religiões descendentes da cultura negra. “Os estudos partiram da constatação de que há tratamento diferen-

ciado contra devotos ou descendentes de praticantes de religiões de matriz africa-na. A errônea interpretação que associa a crença à feitiçaria faz com que o preconcei-to seja disseminado para novas gerações, como forma de resguardar os jovens ante uma suposta ameaça”.

De acordo com Santos, essa visão habitual é transportada aos ambientes di-dáticos. “Os próprios docentes abordam o assunto de forma apreensiva e resistente, o que fomenta a exclusão cultural entre os jovens”, diz. A pesquisa buscou identificar elementos que subsidiassem um projeto de elaboração de programas de informa-ção e conscientização, com o objetivo de contribuir para a superação da atitude de indiferença de educadores frente ao pre-conceito e à intolerância religiosa de que são vítimas crianças e adolescentes em escolas de diversas partes do País.

Neste sentido, Belo Horizonte apre-senta um cenário ainda mais complexo. O município adota postura em que o ensino religioso não é aplicado em escolas públi-cas. O professor argumenta que essa ma-neira de tratar a religiosidade pode agravar o tratamento preconceituoso com as mi-norias. “A religiosidade deve ser estuda-da, mas de forma ampla e conciliadora, distante dos moldes judaico-cristãos que vigoram nos dias de hoje. É necessário di-fundir o conhecimento religioso a partir de uma visibilidade histórico-cultural e des-provida de julgamentos pré-estabelecidos, com base na preocupação com o próximo e no respeito às raízes de cada um”, com-pleta.

Os estudos desenvolvidos visam problematizar a questão e promover a re-flexão da sociedade quanto ao pensamen-to pré-conceituado, no âmbito religioso ou racial, adotando cautela com a religião ins-titucionalizada e compreendendo que, do ponto de vista cultural, há diversos conte-údos cognitivos aptos a serem ensinados.

O Brasil é uma nação tão vasta e de tão ampla variedade cultural que tal-

vez ainda leve um bom tempo para que se conscientize de sua distinta – e rica – identidade. O pesquisador aponta que o projeto revelou a necessidade de despren-dimento do preconceito, provocado, por vezes, pelo medo do novo. Além disso, é evidente que estudos sociais e projetos de conscientização e valorização da cultura do País devem ser contínuos.

Santos destaca o modo como a ci-ência – muitas vezes compreendida como antagonista à religiosidade – tem sido fer-ramenta útil para a solução do problema. “Em seu sentido mais amplo, a ciência é o instrumento pelo qual estudamos e bus-camos soluções para problemas. O fato de este ser um debate religioso não anula sua aplicabilidade numa interpretação abran-gente”, conclui o pesquisador.

PRoJeto: A intolerância religiosa com relação às religiões de matriz africana no contexto de escolas municipais de Belo HorizonteCooRdenAdoR: Erisvaldo Pereira dos Santos ModALIdAde: Edital UniversalVALoR: R$ 20.777,75

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Pesquisadores da Universidade Federal de Lavras testam plantas aquáticas capazes de construir biofi ltro para eliminação de metais tóxicos

Virgínia Fonseca

Macrófitas aquáticas são plantas que, ao longo de sua evolução, retornaram do meio terrestre para o aquático. Tais espé-cies podem se enraizar no solo sob a água ou flutuar na superfície. Suas características variam de acordo com as diferentes classi-ficações e famílias botânicas a que perten-cem. Presentes em áreas de várzeas, açu-des, reservatórios de hidrelétricas, lagoas naturais e artificiais, esses vegetais, muito comuns em Minas Gerais, estão na mira de um estudo da Universidade Federal de Lavras (Ufla) que trata do desenvolvimento de um filtro biológico para recuperação de ambientes poluídos por metais tóxicos.

As espécies em questão são con-sideradas adequadas ao uso na reme-diação de metais pesados, graças a seu crescimento intenso e a sua resistência a diferentes condições ambientais. Esse primeiro fator beneficia, especialmente, uma característica fundamental ao uso de organismos vegetais na remediação de locais contaminados: a necessidade de grande quantidade de biomassa para alocar os elementos removidos. As macrófitas podem, ainda, ser utilizadas para “detectar” a presença dos elemen-tos tóxicos, ao exibir sinais facilmente perceptíveis em sua morfologia.

Taboa (Typha domingensis), cha-Typha domingensis), cha-Typha domingensispéu-de-couro (Echinodorus grandiflo-rus), aguapé (rus), aguapé (rus Eichhornia crassipes), Eichhornia crassipes), Eichhornia crassipesalface d’água (Pistia stratiotes) e bra-Pistia stratiotes) e bra-Pistia stratiotesquiária do brejo (Brachiaria arrecta) são Brachiaria arrecta) são Brachiaria arrectaalgumas das espécies mais conhecidas pela população e que têm sido estuda-das pela equipe do professor Evaristo Mauro de Castro, do Departamento de Biologia da Ufla. As duas primeiras – taboa e chapéu de couro – foram alvo de trabalhos mais aprofundados e mostra-ram, de forma geral, capacidade de acu-mular os elementos tóxicos a que foram expostas (chumbo, cádmio, arsênio e

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cromo) e de manter o crescimento. Ou-tras, por sua vez, apresentaram respostas particulares de sensibilidade a alguns dos elementos, o que resulta em sua classifi-cação como bioindicadoras. “Verificamos que se pode, de fato, vislumbrar um po-tencial muito grande na aplicação dessas espécies em sistemas de fitorremediação e na construção de filtros biológicos”, avalia o pesquisador.

Filtro naturalOs metais tóxicos ocorrem de forma

natural em formações rochosas, mas são lentamente liberados do solo, durante sua formação, e lixiviados para depósitos e cur-sos d’água ao longo das chuvas. Atividades humanas como a indústria, a mineração e a agricultura, porém, têm intensificado o acúmulo desses metais em certos ambien-tes. Por isso, a comunidade científica am-pliou esforços em pesquisas relacionadas à descontaminação do solo e de ambientes aquáticos, visto que os métodos físicos e químicos de extração atualmente existentes são onerosos. Além disso, essas técnicas envolvem procedimentos que necessitam de manejo do solo ou da água, o que pode gerar novos refugos. “Tratar os resíduos de processos industriais é nossa responsa-bilidade, pois constitui problema social e ambiental. As pessoas sofrem com a baixa qualidade de vida decorrente de contato com esses efluentes contaminados, que po-dem levar ao desenvolvimento de doenças e a problemas ambientais sérios”, declara o professor.

Evaristo Castro explica que a diver-sidade e a complexidade das interações dos elementos tóxicos com o meio é um dificultador no processo de extração e descontaminação. Segundo o pesquisador, a aplicação de filtros biológicos já é usual e satisfatória em alguns países. “Na Enge-nharia Ambiental, a expressão ‘constructed wetlands’ é bastante comum e se refere a locais construídos que simulam ambientes naturais alagados para o tratamento de resí-duos”, detalha. A proposta desenvolvida em Lavras, porém, é diferente, já que, ao invés de áreas abertas do ambiente para culti-vo das macrófitas, seriam usados tanques isolados, que permitiriam maior controle da proliferação dessas plantas. A preocupação é fundamentada: agressivas, tais espécies podem colonizar grandes territórios.

Coordenado pelo professor Evaristo, o projeto inclui, assim, a composição de um tanque isolado, com sistema de filtra-gem de resíduos sólidos e com volume controlável. O recipiente seria preenchido com a água contaminada e receberia as plantas por tempo suficiente para a remo-ção dos elementos, até valores conside-rados seguros. Posteriormente, as águas seriam liberadas, já com teores bem me-nores dos elementos tóxicos. Pode-se usar vários tanques em sequência e o líquido precisa ser examinado antes de retornar ao ambiente, para que se tenha certeza dos níveis de elementos na solução. O pesquisador conta que, após o uso, existe a possibilidade de incinerar as plantas de forma a resgatar parte dos metais para reu-tilização na indústria.

O baixo custo de aplicação e o fato de não ocasionar poluição secundária se-riam as principais vantagens do filtro de macrófitas proposto pela equipe da Ufla. “A fitorremediação seria bem mais limpa e com menos resíduos do que as técnicas químicas e físicas comumente usadas”, defende o pesquisador.

Boas perspectivasO grupo realizou testes entre macró-

fitas e diferentes elementos tóxicos, como arsênio, cádmio, chumbo, cromo e zinco. Os resultados mostraram-se variados para cada espécie. Algumas, como o aguapé, demonstraram tolerância para arsênio, cádmio e chumbo sem prejuízos para o crescimento, a anatomia ou a fisiologia. O mesmo se confirma em relação à taboa e à canarana. No que tange a outras plantas, como a braquiária do brejo, registrou-se sensibilidade a certos elementos. “Neste caso, elas são classificadas como bioin-dicadoras. A braquiária, por exemplo, tem potencial para bioindicadora do cádmio”, conta Evaristo Castro.

Os resultados, portanto, são muito particulares, mas sempre se relacionam à tolerância ou à capacidade de bioindi-cação com as características anatômicas e fisiológicas. Caso interessante se deu, segundo o professor, com o aguapé. A espécie demonstrou tamanha tolerância ao arsênio, que ampliou sua taxa fotossinté-tica em função da presença do elemento. “Esse aumento relaciona-se à anatomia da planta, que revelou adaptações foliares

A fitorremediação é o processo que utiliza as plantas para a remoção de ele-mentos tóxicos de solos e ecossistemas aquáticos contaminados, valendo-se da capacidade que os vegetais possuem de crescer em diferentes ambientes, su-jeitos a variados tipos de estresse e de pressões ambientais.

Plantas aquáticas têm apresentado gran-de potencial para descontaminação

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para, por exemplo, capturar mais CO2 por meio de maior quantidade de estômatos nas folhas”, explica. De forma geral, conclui o coordenador, observou-se grande potencial das plantas testadas nas pesquisas. “Usa-mos concentrações elevadas, que alcançam de 800 a mil vezes o valor de referência permitido, pela legislação, para a água. As-sim, constatamos que as plantas, realmente, possuem grande potencial de descontami-nação”, revela.

Encontrar espécies potencialmente utilizáveis e reconhecer quais elementos se pode remediar são os objetivos dos atu-ais trabalhos. Oito espécies já foram ana-lisadas pela equipe de pesquisa, para, ao menos, três elementos tóxicos. “Espera-mos, com o projeto, trabalhar dez espécies e três elementos para que tenhamos ampla gama de possibilidades de aplicação. Esta-mos quase concluindo a fase de teste das espécies”, adianta Evaristo Castro.

Paralelamente, realizam-se experi-mentos em microescala, para já aplicar

essas plantas no sistema do filtro biológi-co. O pesquisador ressalva, porém, que a aplicação em grandes sistemas, com volu-mes maiores de solução contaminada por resíduos, ainda deve ser avaliada. Em longo prazo, espera-se aplicar as plantas analisa-das em locais onde se gera resíduos des-cartados sem tratamento. Sistemas serão montados nesses locais, em parceria com empresas que precisam tratar esses efluen-tes gerados, e testados em grande escala. Após esses testes, os detalhes do manejo dos filtros serão definidos, bem como os protocolos para que funcionem adequada-mente.

A equipe envolvida nos estudos con-ta, também, com outros docentes da Ufla, como o professor Fabrício Pereira, que orienta os alunos no desenvolvimento das pesquisas com macrófitas aquáticas, além de alunos de mestrado e doutorado do Pro-grama de Pós-Graduação em Botânica Apli-cada da universidade.

PRoJeto: Avaliação de macrófitas aquá-ticas ocorrentes em Minas Gerais com potencial para serem utilizadas como bioindicadoras e fitorremediadoras e com potencial para o desenvolvimento de um filtro biológico para metais tóxicos.CooRdenAdoR: Evaristo Mauro de CastroModALIdAde: Programa Pesquisador MineiroVALoR: R$ 48.000,00

Minas Gerais é um estado extenso, com diferentes tipos de ambientes e atividades humanas que podem favorecer a presença de metais pesados. O alumínio, por exemplo, pode ser encontrado em grandes quantidades em solos dos ambientes de cerrado. Teores de chumbo, cobre, arsênio e cádmio também ocorrem de forma natural em terras mineiras. Muitos existem em níveis inofensivos para os or-ganismos, mas atividades humanas como a mineração, muito importan-te no Estado, aumentam considera-velmente o teor dessas substâncias no solo. O desenvolvimento de filtros biológicos para aplicações nesses locais de alta concentração dos elementos tóxicos pode evitar problemas para a população e para o ambiente, já que a exposição a al-tas taxas, em longo prazo, pode pro-vocar diversos problemas de saúde, como insuficiência renal e hepática.

Pesados e perigosos

Plantasaliadas

taboa (Typha domingensis)

Aguapé (Eichhornia crassipes)

Chapéu-de-couro (Echinodorus grandiflorus)

Vetiver (Vetiveria zizanioides)

Canarana (Panicum aquaticum)

Braquiária do brejo (Brachiaria arrecta)

Salvínia (Salvinia auriculata)

Alface d’água (Pistia stratiotes)

A exata medidado progresso

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Rede Metrológica de Minas Gerais investe na formação dos profi ssionais responsáveis pela ciência das medições.

diogo Brito

Você já ouviu falar em Metrologia? Pois saiba que muitos produtos usados no dia a dia beneficia-ram-se de tal ramo do conhecimento. Trata-se, em suma, da ciência das medições. Ou, em outros ter-mos, da atividade capaz de garantir, por exemplo, que a carne comprada no supermercado tenha o peso anunciado na embalagem. Os profissionais da área, portanto, estudam, na teoria e na prática, os pesos, as medidas e os sistemas de valor de todo o mundo, de modo a afiançar que os pro-cessos industriais sejam realizados de maneira padronizada e que produtos e serviços respeitem bons padrões de qualidade.

Equipamentos que não passam por manu-tenção podem ficar fora das normas, não aten-dendo às exigências dos órgãos fiscalizadores. A Metrologia atua, neste sentido, em diversos processos a envolver a saúde humana. Por meio dela, uma série de aparelhos passa por verificação e é devidamente calibrada. Que o diga o etilômetro – mais conhecido por “bafômetro” –, que precisa estar impecável, do ponto de vista das verificações metrológicas, para melhor veracidade das infor-mações colhidas.

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No Brasil, o Instituto Nacional de Me-trologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) é o órgão responsável por manter as unidades fundamentais de medida, de modo a garantir padrões internacionais, disseminando-os às empresas. Em solo mineiro, no que tange à padronização dos equipamentos usados no comércio e na indústria, uma série de labo-ratórios busca adequar-se às exigências dos órgãos internacionais e nacionais por meio da união de esforços.

Há 14 anos, foi aqui criada a Rede Metrológica de Minas Gerais (RMMG) – entidade diretamente vinculada à Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) –, que atua no fomento à cultura metrológica e no desenvolvimento de pro-jetos de capacitação de profissionais da área para atuação no mercado local. Para garantir a qualidade dos resultados proporcionados por seus instrumentos de medida, a Rede conta, atualmente, com o reconhecimento e a competência de oito laboratórios de calibra-ção e 21 de ensaio. No total, são 74 estabe-lecimentos, com capacidade reconhecida em todo o Estado, para desenvolver trabalhos de Metrologia.

Além de certificar laboratórios, a RMMG desenvolveu, recentemente, um projeto estru-turador para o mercado metrológico. Coorde-nada pelo diretor executivo da Rede, Kléber Vasconcelos, e orçada em mais de R$ 300

mil – financiados pela FAPEMIG –, a inciativa buscou ampliar a oferta de serviços em Metro-logia no Estado, de modo a qualificar cerca de 90 profissionais.

Segundo o diretor da Rede, o resultado tem se revelado bastante positivo. “Recente-mente, em Minas Gerais, o cenário da mão de obra qualificada na área era reduzido. Além disso, a busca por profissionais qualificados, para atuar no mercado da Metrologia, deveria ser feita em outras regiões do País”, esclarece Kléber, ao destacar que, mesmo com a inclu-são de cadeiras metrológicas nas universida-des – principalmente, nos cursos de exatas –, eram raros os profissionais qualificados para executar tais trabalhos. “Hoje, já é possível dizer que a situação é favorável ao mercado da Metrologia. Além de disseminarmos com mais facilidade as competências metrológi-cas nos diversos fóruns empresariais, temos menos necessidade de buscarmos fora, por exemplo, profissionais para execução de au-ditorias e treinamentos”, completa.

Também o Inmetro possui, em Minas Gerais, 76 estabelecimentos para ca-libração de equipamentos e laborató-rios de ensaio.

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Vantagem competitivaSeguir as normas e padrões nacionais

e internacionais assegura a qualidade dos produtos e, consequentemente, gera confia-bilidade diante do mercado consumidor, de modo a proporcionar vantagens competitivas para a empresa que faz uso da Metrologia. De acordo com Kléber Vasconcelos, a ciência das medições é aplicada como diferencial para muitas corporações. “Em alguns casos, é até mesmo condição fundamental para que elas exerçam suas atividades. Além disso, os órgãos de fiscalização têm exigido cada vez mais certificações”, afirma, ao lembrar, por fim, que equipamentos certificados conso-lidam-se como produtos de bom funciona-mento e de uso satisfatório para a população.

De modo direto, enfim: equipamentos que não passam pelo crivo dos laboratórios de Metrologia ficam fora dos padrões e não

atendem às exigências dos órgãos fiscaliza-dores. “A questão mais importante dessa his-tória é, na verdade, a saúde humana”, explica, ao destacar, por exemplo, que os limites acei-táveis para presença de metais pesados ou agrotóxicos em alimentos são extremamente baixos. No caso de haver medições em tais produtos com equipamentos não verificados e calibrados, as pessoas poderão consumir algo impróprio. “Temos visto casos de pro-dutos, no mercado nacional, que tiveram de ser recolhidos. Tais indústrias sofreram pena-lidades expressivas”, conclui.

Os estudos da Metrologia se dividem em três categorias. A “fundamental” – tam-bém conhecida por “científica” ou “primá-ria” – busca investigar o desenvolvimento e a demonstração de unidades de medida e a materialização de grandezas, com o in-tuito de atingir certos padrões. Na maioria dos casos, os estudos dessa tipologia são aplicados em instrumentos laboratoriais a serem rigorosamente calibrados.

Já a Metrologia aplicada – também conhecida por “industrial” – está focada em todas as etapas e processos de produção. Por último, e com maior abrangência, há a categoria “legal”, ligada aos estudos do consumo e cujas áreas de atuação dizem

respeito ao comércio, à segurança, ao am-biente e ao fornecimento de energia. Essa categoria atua junto aos agentes que fazem com que os mais diversos tipos de instru-mentos estejam de acordo com as normas técnicas e padrões nacionais e internacio-nais.

Como exemplos de aplicação da Me-trologia Legal, importante citar a fiscalização da padronização dos taxímetros instalados nos carros, das balanças usadas na pesa-gem de produtos alimentícios em super-mercados e de equipamentos com fins co-merciais e que devem estar de acordo com normas e técnicas.

A tríade metrológica

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Quem tem algum tipo de deficiên-cia, provavelmente, sonha em desfrutar de oportunidades acessíveis às outras pessoas. Com o intuito de ampliar a in-clusão de tais indivíduos na sociedade e levar mais diversão à vida daqueles que não podem enxergar, um grupo de estudantes da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) criou o Sound Cage, plataforma eletrônica de entretenimento destinada ao uso dos deficientes visuais. O equipamento utiliza equipamento detecnologia assistiva, que funciona por meio de movimentos do usuário e de sua interação com sons emitidos em diversas direções.

“É uma alternativa e, possivelmente, também um complemento aos videoga-mes atuais. Propomos uma forma de jogar sem a necessidade do elemento visual. Há quem o chame de “audiogame”, devido ao uso do áudio como ferramenta de entrete-

nimento interativo”, comenta Victor Soares, mestrando em Sustentabilidade Socioeco-nômica Ambiental e um dos integrantes do grupo. Com o Sound Cage, o usuário pode interagir com os sons de modo diferente do simples “ouvir”. “Na verdade, o usuário interage de forma ativa, e, por meio dessa possibilidade de interação, surgem oportu-nidades de criar “jogos” que usem tal ca-racterística”, explica o estudante.

No início, a ideia era apenas criar uma ferramenta a ser usada como auxílio à educação de deficientes visuais. Aos poucos, contudo, a equipe percebeu a possibilidade de também criar opções para os amantes dos jogos eletrônicos. Um dos idealizadores do projeto, Bruno Nazário, doutorando em Engenharia de Materiais, explica que o projeto foi elaborado em três distintas fases, cada uma delas composta por um protótipo específico.

Plataforma eletrônica criada por alunos da Ufop permite que defi cientes visuais divirtam-se em atividades antes restritas àqueles que enxergam

O termo é usado para se re-ferir aos recursos e serviços que pretendem proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência, de modo a facilitar seu cotidiano, permitindo a inclu-são social.

Ana Flávia de oliveira

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O primeiro é formado por uma placa, O primeiro é formado por uma placa, O primeiro é formado por uma placa, de aproximadamente um metro quadrado, de aproximadamente um metro quadrado, de aproximadamente um metro quadrado, dividida em nove quadrantes (três dividida em nove quadrantes (três dividida em nove quadrantes (três linhas e três colunas), nos quais estão linhas e três colunas), nos quais estão linhas e três colunas), nos quais estão posicionados nove alto-falantes. Além posicionados nove alto-falantes. Além posicionados nove alto-falantes. Além disso, um LED infravermelho, junto a cada disso, um LED infravermelho, junto a cada disso, um LED infravermelho, junto a cada caixa de som, serve de guia ao sistema caixa de som, serve de guia ao sistema caixa de som, serve de guia ao sistema de controle, para que se identifique o de controle, para que se identifique o de controle, para que se identifique o posicionamento de tudo. “Esse protótipo posicionamento de tudo. “Esse protótipo posicionamento de tudo. “Esse protótipo possibilita diversas aplicações, como jogos educativos e da memória. Pode-se emitir sons de diferentes animais em cada caixa de som. A criança deverá decorar a sequência e identificar o lugar de cada animal. Outra possível aplicação diz respeito a um tiro ao alvo para deficientes visuais. Nesta modalidade, sorteia-se um alto-falante para emitir o som. O usuário deve identificar a direção da sonoridade, para, então, mirar e atirar”, explica o estudante.

O protótipo conta com joystick, joystick, joystickadaptado de um videogame, e uma placa Arduíno para gerenciar todo o sistema de controle e comunicação com um computador. O grupo da Ufop já montou este primeiro protótipo, que hoje está em funcionamento, após testes com deficientes visuais, que aprovaram o produto.

Múltiplas sonoridadesA segunda fase do projeto busca a

montagem de estrutura com vários alto-falantes em volta do usuário. “Daí surgiu o nome Sound Cage, já que o usuário ficaria envolvido numa ‘gaiola de sons’”, sintetiza Bruno. O protótipo usa 25 alto-falantes, divididos em quatro camadas ao redor do usuário – sendo 8 embaixo, 8 no meio, 8 acima da cabeça e um no alto. Esse ambiente proporciona inúmeras aplicações, a exemplo de jogos de corrida: uma curva remete a determinado som, que se aproxima de um lado. O usuário, portanto, deve virar para o outro.

Já uma ultrapassagem diz respeito à sonoridade de um carro vindo por trás, passando ao lado e sumindo pela frente do usuário, enquanto aceleração, freio e troca de marchas sugerem outros tipos de barulho. A mesma estrutura serve, ainda, a jogos da memória e de tiro ao alvo, as-sim como no primeiro protótipo. A equipe destaca, por fim, que os deficientes visuais podem interagir em diferentes aplicações, além de competir, em condição de igualda-de, com pessoas sem deficiência.

De acordo com os integrantes do grupo, o protótipo final é o responsável por realmente revolucionar o projeto. Para simular ambientes sonoros, a máquina usa tecnologia já existente, calcada em sons 3D e sensores de movimento, como os já utilizados em smartphones. “Esse protótipo é ligado a tablets ou celulares tablets ou celulares tabletsequipados com o aplicativo do Sound Cage. Isso torna o produto muito mais prático, simples e adequado às novas tecnologias”, ressalta Bruno Nazário. A partir dessa experiência, poderão ser desenvolvidos inúmeros aplicativos, desde jogos educativos até programas de simples entretenimento.

“Este protótipo já conta com hardware projetado, desenvolvido e em hardware projetado, desenvolvido e em hardwarefuncionamento. Trata-se de um fone de ouvido acoplado a sensores acelerômetros, a giroscópios e a um magnetômetro digital, peças que possibilitam a correção da direção sonora de acordo com o movimento do usuário”, esclarece Bruno, ao lembrar, contudo, que ainda há ajustes a fazer nos aplicativos.

Trata-se de ferramenta que facilita muito a montagem de pro-jetos eletrônicos. É uma plataforma open-source baseada numa placa microcontroladora, com o objetivo de permitir o desenvolvimento e o controle de sistemas interativos, com baixo custo e acessível a to-dos. Atualmente, está sendo muito utilizada em projetos independen-tes e, dentro das universidades, nas áreas de automação, elétrica e computação.v

Protótipo 1: educação e memória

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Simulação e modelagem 3D do protótipo 2 revelam complexidade tecnológica

MINAS FAZ CIÊNCIA • DEZ/JAN/FEV 2014 31MINAS FAZ CIÊNCIA • DEZ/JAN/FEV 2014 31

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Novas tecnologias estimulam inclusão

Por meio do Sound Cage, usuários integram-se ao ambiente

Para todosSegundo os estudantes, além da

aplicação em jogos e outros aparatos de entretenimento, os protótipos poderão ser usados, por exemplo, em treinamentos militares de tiro, nos quais simulam-se ambientes escuros onde o usuário deve se localizar, mirar e atirar segundo a direção dos sons, sem depender da visão. Outra possível aplicação diz respeito à simulação de trânsito, em autoescolas. “Uma forma de ver as potencialidades do uso do jogo é reparar o quão somos dependentes, hoje, do elemento ‘visual’ em nossas tecnologias de interação. Boa parte destas tecnologias podem ser complementadas com o Sound Cage”, complementa Victor Soares.

A equipe enfatiza que não há tecno-logia similar no mercado. O que mais se aproxima de suas ideias, segundo Bruno Nazário, são jogos específicos, que ten-tam criar ambientes sonoros para o usu-ário. Trata-se, contudo, de experiências incompletas, se comparadas ao Sound Cage. “Esses aplicativos não possibilitam a integração do usuário com o ambiente, diferentemente do que oferece nosso har-dware”, comenta.

Mesmo com os protótipos já em funcionamento, para que a tecnologia dos estudantes da Ufop chegue às lojas, faltam investimentos. “A chegada de nossa inven-ção representa uma quebra de paradigma, por acabar com a excessiva dependência visual das tecnologias de interação. Além disso, trata-se de nova linha de trabalho para a criação de jogos, treinamentos, exercícios educativos, aplicativos de jogos e de interação em geral”, acredita Victor Soares, ao ressaltar que o Sound Cage será barato, já que o objetivo do grupo não está na geração de lucro, mas na melhoria da qualidade de vida de deficientes visuais. O equipamento poderia chegar ao mercado por, aproximadamente, R$ 200.

Ideia empreendedoraComposta por estudantes das áreas de

Saúde, Engenharia, Ciência da Computação e Meio Ambiente, a turma responsável pelos protótipos participou do Programa Mineiro de Empreendedorismo na Pós-graduação, promovido pela Secretaria de Estado de de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sec-tes), por meio do Sistema Mineiro de Ino-vação (Simi), em parceria com a FAPEMIG. A busca por conhecimento no assunto e a vontade de empreender foram os elementos

motivadores dos jovens. “O Programa foi sensacional. Não esperávamos chegar tão longe, e, muito menos, vencer. Aprendemos muito em cada fase do programa, e, hoje, temos bagagem muito maior para incentivar e ajudar a desenvolver o empreendedoris-mo em nossa universidade”, elogia Bruno Nazário.

Para Victor Soares, a oportunidade gerou uma rede de contatos em Minas Ge-rais e no Brasil. Agora, será a vez de fazer parceiros internacionais. “Conseguimos vivenciar um ambiente de competição e ino-vação absolutamente novo. Aprendemos di-versas formas de encorpar, preparar, vender, e, até mesmo, criar novas ideias”, observa.

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Estudo investiga conhecimento da população sobre ações de prevenção e tratamento da dengue

Ana Luiza Gonçalves

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“Foi-se, finalmente, o verão, não sem antes fazer algumas grosserias e malcriações: trovejou, relampejou, choveu, inundou. Não queria ir embo-ra”. Desse modo, o calor excessivo e as tormentas que ele traz se despedem. Inclusive, de Rubem Alves, autor da crônica “O outono”, na qual confessa compreender a persistência do verão em querer reinar sobre a terra. A verda-de é que uma fatídica rotina persegue a estação do calor e deixa claro o fato de que certas coisas nunca mudam: o sol estonteante estimula doenças típicas da temporada.

Exemplo disso é a dengue, que, mesmo estando presente durante todo o ano, se dissemina com ênfase especial no verão. Nos períodos chuvosos, afi-nal, o Aedes aegypti, principal mosquito transmissor da doença, ataca com maior naturalidade. Por isso é que os cuida-dos devem ser redobrados. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais (SES), a maior concentração de casos ocorre entre novembro e maio, de-vido às condições climáticas. De acordo com o Informe Epidemiológico Dengue, divulgado em 20 de setembro de 2013, pela SES, o número de casos de dengue clássica no Estado (veja gráfico à pági-na 35) era de 293.325, com 105 óbitos confirmados. No total, o aumento foi de mais de 1.300% em relação a 2012, o que acabou por tornar-se um problema para a saúde pública.

Até 2011, circulavam em Minas Gerais os sorotipos DENV-1, DENV-2 e DENV-3. Atualmente, também foi iden-tificado o DENV-4. Com a presença de quatro sorotipos do vírus na mesma área, cresce o risco de complicação da doença, que pode acarretar febre hemor-rágica da dengue (FHD) ou síndrome do choque da dengue (SCD) – ambas pro-vocadas pela exacerbação de mecanis-mos imunológicos do indivíduo.

Apesar dos impactos anuais do vírus na saúde dos brasileiros, a cons-cientização da população sobre a enfer-midade tem aumentado, de acordo com a pesquisa “Ações intersetoriais e o es-tudo e controle da dengue”, coordenada

por Alzira Batista Cecílio, professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e pesqui-sadora da Fundação Ezequiel Dias. Se-gundo ela, o maior desafio é informar e solidificar as informações do combate ao vetor da dengue para a mudança de comportamento das pessoas dentro das comunidades. “A principal medida a ser tomada é eliminar os criadouros do mosquito. A população possui conheci-mento, apesar de dúvidas sobre o vetor. Todos estão dispostos a cooperar, des-de que haja motivação e mobilização”, comenta.

Hábito e prevençãoA pesquisadora Alzira Cecílio e

sua equipe descobriram que aquisição de informação não significa mudança de hábito e de comportamento. Daí a im-portância de verificar o alcance das me-didas preventivas que envolvem a parti-cipação de setores do poder público e de instituições privadas. O estudo visou avaliar a situação do controle da doen-ça, por meio da implementação de ações intersetoriais na cidade mineira de Sete Lagoas (MG), onde doenças emergen-tes, como a dengue, têm aparecido nas últimas décadas.

Segundo a pesquisa, a importân-cia da promoção da saúde está na di-versidade de ações para preservação e aumento do potencial individual e social de formas de vida mais saudáveis. Para tal, indicam-se dois caminhos: inte-gralidade do cuidado e construção de políticas públicas. Desde 2009, os es-tudiosos realizam intervenções, em Sete Lagoas, para verificar o modo como a população e os profissionais se envol-vem no controle da doença.

A falta de participação da popu-lação é um dos grandes problemas en-frentados para o combate ao mosquito, tendo em vista que cerca de 80% dos focos encontram-se em domicílios. Na visão de Alzira Cecílio, a implementa-ção de ações intersetoriais, para efetiva inclusão da população no combate ao vetor, foi extremamente importante, pois ficou comprovado, com a pesquisa, que

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estratégias como essa diminuíram o nú-mero de casos nas áreas incluídas no estudo.

A pesquisa também buscou verifi-car o alcance dos trabalhos educativos, além de determinar a relação entre as medidas de caráter intersetoriais prati-cadas e a diminuição dos indicadores de presença de vetores, reservatórios e condições ambientais. Por fim, preten-deu-se isolar e identificar as amostras de vírus da dengue circulantes nas larvas coletadas, e, então, propor mudanças ao modelo de intervenção adotado, se ne-cessário. Alzira Cecílio diz que os resul-tados obtidos com a implementação da pesquisa mostraram-se positivos. Foram evidentes a aquisição das informações, a participação no combate e a diminuição de número de casos nas áreas estuda-das, tanto pelos moradores quanto pelas crianças das escolas envolvidas.

Etapas de açãoO estudo coordenado por Alzira

Cecílio dividiu-se em duas etapas. A primeira ocorreu antes da implementa-ção das ações intersetoriais. Nesta fase, foram aplicados questionários, com per-guntas sobre a dengue e seus vetores e acerca das medidas de controle domés-tico de criadouros, dos mecanismos de transmissão. Colheram-se, ainda, infor-mações socioeconômicas, demográfi-cas, clínicas e epidemiológicas.

A segunda etapa da pesquisa ocorreu após a realização de tais ações. Trata-se da análise do levantamento de infestação, realizada com recursos do laboratório de entomologia da Secretaria Municipal de Saúde de Sete Lagoas. Du-rante os processos de trabalho, também foi desenvolvido um estudo para levantar dados a respeito da contagem de criadou-ros, dos potenciais vetores da dengue, da coleta de larvas e da detecção do vírus.

A coordenadora comentou que a detecção de quatro sorotipos em formas imaturas do vetor aponta para maiores riscos de quadros graves da dengue nos próximos períodos epidêmicos em Sete Lagoas. Entretanto, notou-se diminuição no número de casos, se comparados a anos anteriores, evidenciando que as ações intersetoriais têm trazido resulta-dos positivos. “Além do conhecimento adquirido por membros da comunida-de e por participantes do projeto, des-de 2009, houve grandes mudanças no sistema de saúde. Os funcionários, por exemplo, estão com maior treinamento acerca da doença”, disse. As atividades relatadas pelo trabalho, desenvolvidas na comunidade, possibilitaram maior in-tegração e assimilação de conhecimento a respeito da dengue. Além disso, foram envolventes, indicando que a ferramenta de ensino é eficiente para as medidas interventivas.

Alzira Cecílio reforça os resulta-dos de envolvimento da comunidade no combate ao vetor, pois a própria popu-lação é a força motriz para a execução da eliminação dos criadouros. “As ações intersetoriais contribuíram, de forma po-sitiva, para aquisição de conhecimento pela comunidade acerca da dengue e seu mosquito vetor, podendo ser replicadas e aplicadas no sistema público das pre-feituras e das secretarias de saúde do Estado”.

PRoJeto: Ações intersetoriais e o estudo e controle da dengueCooRdenAdoRA: Alzira Batista CecílioModALIdAde: Programa de Pesquisa para o SUSVALoR: R$ 135.924,04

Fonte: Informe Epidemiológico Dengue

Casos de dengueclássica no Estado

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Alicercesdo futuroNova sede da FAPEMIG é modelo de arquitetura inteligente e sustentável

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Quem passa pela avenida José Cândi-do da Silveira, no bairro Horto, zona leste da capital mineira, já nota mudanças na paisa-gem. Ali está sendo construída a nova sede da Fundação de Amparo à Pesquisa do Es-tado de Minas Gerais (FAPEMIG). O edifício irá ocupar uma área de 10 mil metros quadra-dos na região que, hoje, reúne várias outras instituições ligadas à produção da ciência e da tecnologia. A chegada da FAPEMIG é em-blemática para a consolidação de um projeto ousado: a construção da Cidade da Ciência e do Conhecimento de Minas Gerais.

Além do espaço destinado a abrigar os funcionários, a construção completa-se com um centro de convenções com capacidade para 1.200 visitantes, atualmente uma carên-cia em Belo Horizonte. Concebida para ofere-cer máximo conforto com mínimo dispêndio de energia, a nova sede tem como diferencial uma arquitetura inteligente, que combina pra-ticidade e sustentabilidade.

Como explica o presidente da FAPE-MIG, Mario Neto Borges, a nova estrutura tornou-se uma necessidade diante da atual configuração da agência. “As atividades de-senvolvidas pela FAPEMIG cresceram muito, devido, principalmente, ao repasse regular de seu orçamento. Isso permitiu ampliar a atua-ção da agência, que, hoje, é reconhecida não só pelo trabalho desenvolvido junto aos cen-tros de pesquisa, mas também junto ao setor empresarial, estimulando a inovação, e às entidades internacionais, facilitando o inter-câmbio e a realização de projetos em conjun-to com grupos estrangeiros. Obviamente, isso

requer uma equipe maior e mais qualificada, e um espaço adequado para acomodá-la”.

Borges destaca que os recursos inves-tidos na obra são originários de imóveis que a FAPEMIG herdou de governos passados e cuja venda foi autorizada pelo Conselho Cura-dor da Fundação e pela Assembleia Legislati-va de Minas, por meio da Lei nº 19.243/10. Dessa forma, as atividades-fim da agência não foram prejudicadas. Para o presidente, a construção da nova sede é um marco na his-tória da Fundação, que, em 2016, completará 30 anos. “A nova sede, assim como a recente aprovação de seu estatuto, fortalece a FAPE-MIG e garante a continuidade de um trabalho que, no fim, beneficia toda a sociedade”, des-taca.

Mario Neto Borges, presidente da FAPEMIG: é preciso ampliar ainda mais as ações da Fundação

Nova sede: máximo conforto e baixo gasto de energia

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Praticidade e eficiênciaJá nos primeiros passos dentro do

complexo, é possível identificar os re-cursos inteligentes. O edifício conta com luzes autoajustáveis, o que significa que, por meio de sensores desenvolvidos para detectar a luminosidade natural, a intensi-dade da iluminação artificial é controlada. “Uma vez captado o nível de luminosida-de no ambiente, as lâmpadas serão regu-ladas para prover uma escala de ilumina-ção adaptada às necessidades do recinto, a partir de um padrão pré-definido. Isso irá gerar economia de energia”, explica Flávio Caliman, engenheiro civil respon-sável pelo gerenciamento e pela fiscali-zação da obra. Ele conta, ainda, que os ambientes serão equipados com sensores de presença. “Não havendo ninguém em determinado espaço, as lâmpadas se apa-gam automaticamente”. A tecnologia con-tribui, também, para o aumento da vida útil das instalações elétricas.

Além disso, os vidros que revestem a fachada são preparados para amenizar a sensação térmica de calor, diminuindo o uso do ar condicionado. A questão da utilização e do consumo consciente de água foi considerada durante o plane-jamento das estruturas e encontra, na arquitetura do complexo, uma solução ecológica. Por meio de sistema de ca-lhas e reservatórios independentes, as águas pluviais serão coletadas, armaze-nadas e, posteriormente, destinadas ao uso em vasos sanitários e lavabos nas dependências da sede. “A finalidade sa-nitária representa de 40 a 60 por cento da utilização de água nos edifícios. Essa medida proporcionará sensível redução do consumo das águas fornecidas pela Copasa”, explica o engenheiro.

A preocupação ambiental se fez presente desde o momento de constru-ção das fundações da obra. De acordo com Caliman, a construção foi realiza-da com estruturas pré-fabricadas, fator que, além de oferecer qualidade estrutu-ral superior, também representa uma al-ternativa sustentável ao campo da Enge-nharia. “Os resíduos de construção são, atualmente, os de maior volume e im-pacto ambiental. A utilização de estru-

turas pré-moldadas atribuem qualidade e dinamismo às obras, reduzindo o tempo de execução e a produção de resíduos”.

Destaca-se, ainda, a planta de gera-ção solar fotovoltaica que será construída na área da nova sede da Fundação, resul-tado de um convênio entre a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e a FAPEMIG, executada pela Efficientia SA, subsidiária integral da Cemig. O des-taque se dá tanto pelo pioneirismo da instalação, que atuará como piloto e in-dutor da inserção da tecnologia – ainda pouco popular – no mercado nacional, quanto pelos benefícios diretos à socie-dade. “Além de atender grande parte da demanda energética do complexo, a ener-gia produzida no local poderá ser rever-tida para a Cemig, por exemplo, em dias nos quais não houver atividade no pré-dio. Essa energia será redistribuída para a população, resultando em economia para o Estado”, explica o superintendente de Tecnologia e Alternativas Energéticas da Cemig, Alexandre Francisco Maia Bueno.

O campo ainda é novo. A própria lei que regulamenta a implantação des-sas plantas de geração solar foi aprova-da em 2012. Entretanto, Bueno destaca como a difusão da tecnologia pode trazer

os benefícios para a sociedade. “Com o aumento do uso dessas tecnologias alter-nativas de captação de energia, teremos, em um primeiro momento, o benefício da utilização de energia limpa, ou seja, que não libera gases ou resíduos em sua produção ou consumo. Em um se-gundo aspecto, havendo mais fontes de suprimento energético, as companhias terão suas linhas de transmissão menos carregadas, podendo, em consequência, estender o intervalo entre manutenções ou novas instalações, o que terá como reflexo uma diminuição na frequência do reajuste de taxas. A sociedade só tem a ganhar”, afirma.

O projeto tem como proposta a instalação de 630 módulos fotovoltaicos com potência total estimada em 157 qui-lowatts. Esses valores representam uma produção energética de 219 megawatts ao ano, energia que pode suprir o consumo de até 150 residências. “A instalação re-cebe o aporte de R$ 840 mil, com recur-sos do Programa de Eficiência Energética da Cemig. Os valores serão reembolsados pela FAPEMIG a partir da energia gerada, em um período previsto de sete anos”, explica Bueno.

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Vanguarda do conhecimentoA Cidade da Ciência e do Conheci-

mento é um complexo urbano moderno que reunirá diversas instituições ligadas à CT&I. Sua proposta é convergir as atividades do setor em um mesmo espaço urbano, loca-lizado na área que abrange os bairros Ci-dade Nova e Horto, na região leste de Belo Horizonte. Além da interatividade entre as instituições presentes no local, o complexo irá assegurar visibilidade para as ações de desenvolvimento de ciência e tecnologia e aplicação de conhecimento.

Na região, já estão erguidas as sedes do Senai/Cetec, do Centro de Formação e Experimentação Digital (Plug Minas), do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), e da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig); o Museu e Jardim Botânico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); a incubadora de empresas Habitat, da Fundação Biominas; e a Escola Estadual Técnico-Industrial Professor Fontes. A FAPEMIG está sendo transferida para o local e, futuramente, a região também abrigará a nova sede da Universidade Estadual de Minas Gerais (Uemg), onde

serão instaladas, entre outros, a Escola Guignard e a Escola de Música.

No final de 2013, o arquiteto e urba-nista Jaime Lerner entregou ao governo de Minas o projeto executivo de arquitetura do Instituto de Desenvolvimento de Ideias Aplicadas (Ideia), obra que irá conectar as instituições de pesquisa e tecnologia do local. Na ocasião, ele comentou que o con-ceito surgiu da proposta de unir os diver-sos órgãos em um espaço de convivência e convergência de conhecimento, em que a ciência será a principal protagonista. “A Ci-dade da Ciência vai colocar Minas Gerais na vanguarda do desenvolvimento científico e tecnológico no País e no mundo”, declarou. Para o presidente da FAPEMIG, Mario Neto Borges, a Cidade da Ciência e do Conhe-cimento representa o marco físico de uma grande conquista para a comunidade cientí-fica mineira. “Por um lado, é a concretização da importância que o governo e a sociedade dão à ciência como pilar essencial para o desenvolvimento. Por outro, estabelece o locus que ‘concretamente’ assegura uma conquista que não pode e não deve ser aba-lada, e, sim, fortalecida”.

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A Diga-mequem eleges...Estudo da Fundação João Pinheiro analisa perfi l dos deputados eleitos para assembleias legislativas nas cinco regiões brasileirasVirgínia Fonseca

concorrentes”, infere. Adveio daí, pois, constatação que reforçou, para os estu-diosos, a necessidade de se conhecer os representantes eleitos – no que tange ao perfil de cada um.

A extensão e a heterogeneidade na história do desenvolvimento do País, que resultam em profundas diferenças entres as regiões, deram tom ao desafio, calcado na observação da existência de padrões diferenciados no perfil dos deputados estaduais e distritais eleitos em cada ma-crorregião brasileira. Composta por nove profissionais, entre pesquisadores da FJP e bolsistas, a equipe examinou aspectos como o perfil de idade e o grau de instru-ção, sexo e ocupação dos eleitos nas as-sembleias legislativas. Foram analisados apenas os dados dos candidatos direta e efetivamente eleitos pelo voto popular, excetuando-se, portanto, aqueles que ocuparam cargos legislativos por meio de voto recebido pelas legendas partidárias às quais são filiados.

Dom Pedro I outorgou, em 1824, a primeira Constituição nacional, que de-finia as incipientes normas do sistema eleitoral no País. Embora a Assembleia Geral, órgão máximo do Poder Legislativo – por ele criado –, já fosse composta por Senado e Câmara dos Deputados, o voto era censitário e excluía a maior parte dos brasileiros. Ao longo do século XX é que ocorre a ampliação do sufrágio universal – a exemplo do voto feminino, exercido, pela primeira vez, em 1935 –, estendendo o direito à população em geral. Hoje, são cerca de 140 milhões de eleitores brasi-leiros que, a cada dois anos, seguem às urnas. Entender o perfil dos representan-tes escolhidos por essas pessoas é o foco de pesquisa realizada pela Fundação João Pinheiro (FJP).

Conduzida pela pesquisadora Simone Cristina Dufloth, especialista em Ciência e Tecnologia da FJP, a investigação avalia ca-racterísticas dos eleitos para os cargos de deputado estadual e distrital entre 1998 e 2010, de forma a estabelecer compa-

ração do perfil escolhido pelos cidadãos ao longo deste período e entre as unida-des da Federação. Intitulada “Análise do perfil dos representantes eleitos nas As-sembleias Legislativas: estudo aplicado às unidades da Federação”, a pesquisa baseou-se em dados brutos das eleições estaduais de 1998, 2002, 2006 e 2010, disponibilizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Foram pesquisados, ain-da, publicações e documentos relaciona-dos à temática.

De acordo com Simone Dufloth, existem poucas pesquisas acerca da no-ção dos cidadãos sobre os mecanismos de apuração de votos. Contudo, há indí-cios da percepção, por parte dos eleitores, de que são empossados os candidatos que obtêm maior número absoluto de votos, à maneira de um sistema majoritá-rio que elege mais de um representante. “Poucos têm informação sobre quão com-plexo é o sistema de agregação de votos e distribuição de cadeiras entre os partidos

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Diga-mequem eleges...

Panorama nacionalOs resultados da análise realizada

revelam que mulheres continuam sub--representadas nas assembleias legislati-vas. Segundo Simone Dufloth, os dados conduzem a constatações relevantes para a ampliação do debate sobre democracia representativa no Brasil. “A despeito de a composição do eleitorado brasileiro ter se revertido no hiato de gênero, passando as mulheres a representar a maioria em todas as faixas etárias, no perfil do elei-to, constatou-se que elas aparecem em menor número”, explica. Para a pesquisa-dora, tal desigualdade no campo político é reflexo de processo similar no campo socioeconômico.

A pesquisa constatou que, em ne-nhum dos períodos analisados, a elei-ção de candidatas do sexo feminino foi superior a 13,35%, considerando-se a média de todos os estados brasileiros. Tal indicador demonstra que, mesmo com a diretriz legal segundo a qual cada partido ou coligação deve preencher o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidatu-ras de cada sexo, conforme o art.10, §3º, da Lei 9.504/97, as mulheres permane-cem sub-representadas no total dos elei-tos em todos os anos considerados.

Em outro item da pesquisa, iden-tificou-se que houve aumento na parti-cipação dos deputados com idade entre 55 e 59 anos. Enquanto, nas eleições de 1998, 8,2% dos eleitos estavam nessa faixa etária, em 2012, o percentual passou para 13,12%. Houve, ainda, aumento da idade média dos deputados eleitos, pas-sando de 45 anos, em 1998, para 48 anos em 2010. Na visão dos pesquisadores, o incremento na idade dos eleitos, apurado tanto para os deputados como para as de-putadas no período, poderia demonstrar reflexo do envelhecimento populacional da população brasileira – embora outras correlações estejam em levantamento.

Já quanto ao grau de instrução, o estudo mostrou que, em 1998, 64% dos eleitos declararam possuir ensino supe-rior completo. Já no último período elei-toral, tal percentual elevou-se a 70%. “Tal fato poderia demonstrar a preferência dos eleitores por candidatos que possuem en-sino superior, tendo em vista que, no últi-

mo pleito, do total de deputados, somente 5,2% não possuíam segundo grau com-pleto”, constata Simone. Outro aspecto a se considerar é a demanda dos parti-dos, que, eventualmente, podem preferir candidatos com nível educacional mais elevado, posto que escolaridade denota habilidade técnica, capacidade intelectual e prestígio social”. A professora destaca, porém, que, em todos os períodos anali-sados, as mulheres possuíam maior per-centual de escolaridade. Dentre as eleitas, no mínimo 70% possuíam ensino supe-rior completo, em comparação com uma média de 60% no caso dos homens.

No que diz respeito à profissão, a pesquisa – que se baseou nas categorias do Código Brasileiro de Ocupações (CBO) – evidenciou o predomínio do grupo que compreende os profissionais de ciências físicas, biológicas, sociais e humanas até 2006. Em 1998, por exemplo, eles repre-sentavam 41,5% dos eleitos, mas, nos pleitos posteriores, houve redução deste percentual, dando lugar ao grupo formado por membros superiores do poder públi-co, dirigentes de organizações de interes-se político e de empresas e gerentes. “A representação desse último perfil ocupa-cional nas Assembleias Legislativas, entre 1998 e 2010, praticamente dobrou, de for-ma que, na última eleição, determinaram mais da metade dos eleitos (56,51%)”, detalha a pesquisadora. Destes, o percen-tual dos que declararam ocupações rela-cionadas ao Poder Legislativo aumentou de 17%, em 1998, para 47,6% no ano de 2010.

A pesquisa apontou, ainda, que há tendência à profissionalização na carreira da representação legislativa, o que, de acordo com os estudiosos, confirma o maior ativismo, ou, até mesmo, o amadu-recimento político da sociedade brasileira. O relatório final, com dados desagregados por estados da Federação, está em fase de conclusão. Três textos para discus-são, produzidos a partir dos resultados, encontram-se disponíveis na página da Fundação João Pinheiro. Além disso, o trabalho foi tema de seminário na Esco-la de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho.

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PECULIARIDADEs REGIONAIs

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Na última eleição, as regiões Nordeste e Norte destacavam-se das demais em ter-mos de representação feminina, com índi-ces de 16,61% e 16,23%, respectivamen-te. Em seguida, aparecem as regiões Sul e Sudeste, com percentuais menos signifi-cativos (11,94% e 10,00%). Chama aten-ção, por outro lado, a baixa participação das mulheres nas assembleias legislativas na região Centro-Oeste: 5,38%. Vale notar que a participação das mulheres nas as-sembleias legislativas não possui relação com a composição segundo sexo da popu-lação brasileira nas regiões consideradas.

O fato de o Nordeste ter maior represen-tação feminina pode estar relacionado, segundo os pesquisadores, ao próprio pa-pel desempenhado pelas mulheres nessa região, onde, segundo dados históricos, elas formam parte da engrenagem de ma-nutenção do poder patriarcal e oligárquico.

Apesar de representar a maior participa-ção, a faixa etária de 40 a 49 anos tem decrescido, ao longo das últimas quatro eleições, em todas as regiões, passando de 42% para 33%, no Brasil, entre 1998 e 2010. Ressalta-se a região Sudeste com a maior queda na participação (13%). Por outro lado, a participação de deputados

eleitos com faixa etária entre 50 e 59 apre-senta crescimento em todas as regiões. Destacam-se, neste sentido, o Norte e o Sudeste, com aumentos de 23% e 19%.

Os dois últimos censos demográficos apontam que a idade média dos brasilei-ros, e, consequentemente, da população acima de 16 anos, aumentou cerca de qua-tro anos. Portanto, os candidatos às elei-ções estão, também, envelhecendo. Outra suposição seria a de que a população mais madura tenderia a votar em candidatos também mais velhos. Os diferenciais se-gundo média de idade, para as grandes regiões brasileiras, guardam relação direta com as idades médias dos deputados elei-tos.

De forma geral, pode-se observar elevação no nível de escolaridade dos deputados estaduais e distritais eleitos nas quatro últimas eleições. Em 1998, 63,39% de-claram possuir nível superior completo, passando para 70,07% no ano de 2010. A preferência dos eleitores brasileiros por candidatos com curso superior indicaria, portanto, que as pessoas com baixa esco-laridade têm mínimas chances de chegar a deputado estadual ou distrital, embora haja exceções.

PRoJeto: Análise do perfil dos representantes eleitos nas Assembleias Legislativas: estudo aplicado às unidades da FederaçãoCooRdenAdoRA: Simone Cristina DuflothModALIdAde: Edital UniversalVALoR: R$ 32.655,00

Brasil e grandes regiões: percentual de deputados estaduais e distritais eleitos segundo sexo (1998, 2002, 2006 e 2010)

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Um projeto criado pela Fundação Bill e Melinda Gates, do milionário criador da Microsoft, premia as mentes criativas de todo o planeta com ideias inovadoras para problemas a atingir o mundo. Anualmente, são milhares de propostas enviadas à ini-ciativa, elaboradas em diversas partes do globo. Na edição de 2013, três brasileiros foram selecionados. Dentre eles, estava um mineiro que, desde a infância, de-monstrava fascínio pelas máquinas, e, na adolescência, passava boas horas do dia a construir seus próprios aviões. Foi com naturalidade, pois, que acabou por trilhar os caminhos da Engenharia Mecânica, no Sul do País.

Engenheiro mecânico formado pela Universidade Federal de Santa Catarina, o professor Ricardo Capú-cio de Resende, do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Viçosa (UFV), foi um dos selecionados – dentre 2.700 propostas de todo o mundo – para o programa Grand Challenges Explorations. O foco principal do programa está na busca por pessoas com pensamentos criati-vos capazes de solucionar os proble-mas de países em desenvolvimento. A ação começou distribuindo mais de US$ 450 milhões a 45 projetos de 33 países.

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De Minas Gerais às camponesas

africanasCriada por professor da UFV, tecnologia para plantio de sementes

é selecionada para o programa Grand Challenges Explorations.

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O projeto enviado por Ricardo Capú-cio propunha a criação de uma máquina leve, desenvolvida, especificamente, para ser manuseada por mulheres que traba-lham com agricultura familiar no continen-te africano. De acordo com o engenheiro, há duas maneiras de realizar plantios. Na primeira delas, realiza-se o preparo do solo com uma máquina específica, que corta o terreno e faz com que as plantas fiquem embaixo da terra. Esse é o método tradicional, conhecido por aragem. “Ele é utilizado para controlar as plantas inva-soras, também chamadas de daninhas. O solo, então, é gradeado, para que seja ni-velado”, explica.

Quanto à segunda técnica de plantio, o solo não sofre interferência de qualquer máquina. As sementes são distribuídas diretamente no solo. “Em um terreno com plantação de milho, por exemplo, a palha é cortada ainda na plantação e jogada no chão. Logo, quando houver outro plantio, será realizado por cima das palhas decompostas”, esclarece. A máquina criada por Ricardo Capúcio, para facilitar o plantio de sementes, é bastante apropriada a terrenos onde não

há necessidade de preparo. Segundo o pesquisador, o plantio em solo não arado é vantajoso. “A cobertura de palha que usei de exemplo é a maior aliada do solo, por protegê-lo das chuvas, funcionando como isolante térmico e mantendo a temperatura sempre estável e com alta qualidade”, afirma.

Das vantagens da máquina, é impor-tante destacar a inovação no modo como é feito o plantio da semente. Hoje, tal ativida-de é realizada por semeadoras movidas a combustíveis fósseis, como gasolina e óleo diesel, ou por tração animal. O tratamento recebido pelo solo é realizado com máqui-nas apropriadas para fazer sulcos em toda a extensão do terreno a ser plantada. A seme-adora desenvolvida por Ricardo inova todo o processo, por trabalhar com furos feitos pela máquina, que, devido a seu peso leve, pode ser empurrada manualmente.

Além disso, a máquina é capaz de plantar até dois tipos de sementes ao mesmo tempo. A maioria das semeadoras – de tração motora ou animal – corta o solo continua-mente, deposita a semente e fecha esse sulco. O equipamento desenvolvido pelo pesquisa-dor brasileiro trabalha partes do solo que não receberão sementes. Quando há semeadoras movidas a motor, ou a tração animal, isso não é um problema, já que a força e a energia não vêm do trabalhador. “Já com a máquina que desenvolvi, é possível fazer o mesmo trabalho empurrando-a. Desse modo, não há prejuízo para o solo. Sem desgaste do tra-balhador, o equipamento pode trabalhar das duas formas, tanto no plantio direto quanto no convencional”, completa. O equipamento foi desenvolvido para trabalhadoras do conti-nente africano, atendendo a uma especifica-ção do edital. Nada impede, porém, que, no futuro, a tecnologia seja também aproveitada no Brasil. Até que a novidade chegue aos agricultores, o mecanismo passará por eta-pas importantes, da criação do protótipo ao teste de campo.

Criado em 2007, o Grand Challenges Explorations financia propostas inovadoras e inéditas, focadas em combater problemas globais de desenvolvimento. A cada seis meses, são lançados cinco desafios. O programa dispõe de financiamento no valor de US$ 100 mil por projeto. Uma parceria com as fundações estaduais de amparo à pesquisa faz com que os cientistas brasileiros selecionados para o programa recebam, da FAP de seu estado, um financiamento adicional de US$ 50 a US$ 100 mil.

As inscrições são realizadas duas vezes ao ano, e, a cada edição, propõem-se novos desafios em diferentes temas. Caso o projeto seja aprovado, as pesquisas selecionadas podem concorrer a um financiamento adicional de até US$ 1 milhão. Até 2013, o programa já investiu em 800 projetos, de mais de 50 países.

De Bill Gates para o mundo

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Era 1998 quando pesquisadores da Escola de Engenharia Elétrica da Univer-sidade Federal de Minas Gerais (UFMG) decidiram embarcar na missão de aferir as emissões eletromagnéticas de Belo Hori-zonte e sua Região Metropolitana. Os índi-ces de radioatividade sempre estiveram no centro de acalorados e controversos deba-tes, já que qualquer aparelho eletrônico – de computadores a relógios de pulso – emitem sinais eletromagnéticos. O assunto reacen-deu discussões na comunidade científica na década de 90, com o boom da indústria de telefonia móvel, que invadia os espaços urbanos com antenas de transmissão que se avizinharam de residências e escritórios, proliferando-se em velocidade espantosa.

O principal fator a motivar o projeto foram as especulações em torno dos pos-síveis danos à saúde provocados pela pro-ximidade das moradias em relação às torres de transmissão e pela exposição dos indiví-duos, em longo prazo, aos raios eletromag-néticos. “O Departamento de Engenharia Elétrica passou a ser muito procurado pela sociedade e pela imprensa, em busca de respostas. Como os órgãos oficiais do mu-nicípio não possuíam o aparato tecnológico para executar medições, o departamento se viu no compromisso de dar início às pes-quisas”, conta José Osvaldo Saldanha Pau-lino, coordenador da iniciativa.

Por meio de aporte financeiro conce-dido pela FAPEMIG, o grupo adquiriu apa-relhagem especializada para estudos desta natureza. “O apoio recebido foi fundamental para o aprofundamento de pesquisas neste campo. No Brasil, o estado de Minas Gerais foi pioneiro nesse tipo de medição”, lembra Saldanha. Os estudos ganharam as páginas da revista MINAS FAZ CIÊNCIA em 2005, diante da grande expectativa da população por estudos dessa natureza.

Boas-novas O primeiro passo do estudo foi a exe-

cução de medições estratégicas em pontos chaves da capital, onde, com base em es-tatísticas, deveriam concentrar os maiores índices de radiações. Saldanha conta que existe uma lei federal a regulamentar as

taxas de emissões seguras para o contato humano. A pesquisa norteou-se por tais ín-dices. De acordo com José Paulino, os es-tudos demonstraram que, dentro das áreas urbanas de BH e em cidades adjacentes, não há região onde as emissões ultrapassem os padrões toleráveis. “A população se espanta com as dimensões das torres de telefonia, mas, na verdade, trata-se apenas de longas estruturas suportando pequena antena no topo, com o objetivo de posicioná-la em boa altitude para que os sinais apresentem maior qualidade. O sinal emitido equivale, em intensidade, ao de aparelhos celulares”, explica.

Hoje consolidado, o projeto ganhou diversas ramificações. Além de se tornar tema de diversas dissertações de mestrado e de duas teses de doutorado, deu origem à disciplina “Compatibilidade Eletromagné-tica”, ministrada junto ao Departamento de Engenharia Elétrica da UFMG, nas áreas de graduação e especialização. Os laboratórios foram ampliados e ganharam novos equi-pamentos. Saldanha destaca, ainda, que os monitoramentos têm sido realizados, ininterruptamente, desde o início do pro-jeto. “Aferições periódicas possibilitam o controle sobre qualquer possível alteração. Qualquer medida corretiva que possa vir a ser necessária é mais fácil de ser aplicada quando se tem conhecimento dos dados e suas variáveis”. O Departamento também possui convênio com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), por meio do qual presta consultoria e suporte técnico a aferições de níveis de radioatividade no município.

O mais recente – e inovador – projeto em desenvolvimento pelos pesquisadores conta com um autômato (robô), cuja finalidade é realizar medições dos valores das radiações eletromagnéticas em uma réplica de crânio humano durante o uso de aparelhos celulares. “Estas aferições têm como objetivo identificar se há emissão de frequências nocivas à saúde humana no caso de se usar o celular por longos períodos”, explica o coordenador. Tal aparato também foi conseguido por meio de apoio da FAPEMIG.

As chamadas radiações “ioni-zantes” são aquelas capazes de causar sérios danos ao organismo humano. O contato direto com tal tipo de raios eletromagnéticos – que possuem energia suficiente para ionizar átomos e moléculas – pode provocar danos às células e afetar o material genético (DNA), de modo a provocar graves doenças, ou, até mesmo, a morte do indivíduo. “Para produzir esse tipo de radiação, é necessária a presença de material que a emita, como urânio enriquecido, rádio ou radônio. Esses elementos, obviamente, não são usa-dos em eletrônicos domésticos”.

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À cata de sinais ocultosPesquisadores da

Escola de Engenharia da UFMG buscam

identificar e controlar campos

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Qual a melhor definição de empreendedo-rismo?

O empreendedorismo pode ser visto ou explicado de diferentes formas, mas existem dois conceitos mais abrangentes que se complemen-tam: um pela ótica do resultado com valor po-sitivo para a coletividade, por meio da inovação; o outro, pelo aspecto de como fazer acontecer esse ato empreendedor, a partir da concepção de caminhos e estratégias que permitam essa transformação. Empreendedor, contudo, é aquele que inova, ou seja, que “cria o novo”, a partir de uma visão, de um sonho, de uma concepção do futuro.

existem outros conceitos fundamentais?O empreendedorismo trata de pessoas. Já

a administração, por exemplo, trata de empresas, ensina a usar ferramentas. Tratar de pessoas sig-nifica entender o modo como o indivíduo gera, cria, transforma. Descobrir formas de identificar um desejo, uma concepção de futuro, significa agir em busca da autorrealização, que, por sua vez, deve levar à transformação da própria rea-lidade. A busca é de dentro para fora e envolve autoconhecimento, paixão, talento, criatividade. Não é um conhecimento como a física e a quími-ca, que existem “apesar da pessoa”. O empreen-dedorismo move-se, inicialmente, pela emoção, por coisas essencialmente humanas. Todos nas-cemos com potencial empreendedor, que pode ser estimulado ou obstruído. Os estímulos ou obstáculos ao desenvolvimento desse potencial diferem de outros aprendizados escolares, como Matemática, Física, Geografia. Muita gente se engana ao considerar que o empreendedorismo seja uma especialização acadêmica. Não é.

Podemos dizer que empreender e inovar sejam sinônimos?

Digamos que elas sejam palavras “gême-as”. O economista Joseph Schumpeter, em sua teoria do ciclo econômico, propôs que a inova-ção é o dínamo do empreendedorismo. Para ele, o ato inovador faz com que o mercado se ajuste em novo patamar. As empresas que sobrevivem são aquelas que conseguem acompanhar essa

inovação. O novo destrói o velho e altera o equi-líbrio da economia. Na visão de Schumpeter, a inovação só acontece na empresa, através da em-presa, e pressupõe a assunção de riscos. Mesmo que todo o desenvolvimento de um novo produto tenha ocorrido numa universidade, a inovação só se completa com a geração do resultado de valor positivo. É preciso que haja impacto na econo-mia. A universidade produz conhecimento, dá suporte estratégico.

Vários pesquisadores e profissionais da área afirmam não ser possível “ensinar” a empreender. o senhor acredita que a universidade poderia adaptar-se para formar empreendedores?

Para isso, seria preciso muita reinvenção. A universidade é uma estrutura hierarquizada, meritocrática, voltada ao ensino. Está preparada para dizer qual conhecimento, quando e como se deve absorvê-lo, mas tem muita dificuldade para lidar com o que não é ciência nem arte. Já o empreendedorismo é um processo de aprendi-zagem. E há diferença fundamental entre ensino e aprendizagem. Por isso é que se acredita que ninguém possa ensinar empreendedorismo. Fa-lamos, porém, de uma das instituições mais for-tes e sábias do mundo, que pode aprender a lidar com isso, apesar de nunca tornar-se o centro de geração desse conhecimento, sobre o qual não dá para estabelecer relações de causa e efeito ou criar algoritmos. Nos Estados Unidos, em Israel e, em escala minúscula, também no Brasil, há instituições com capacidade de empreender. E é bom que a escola participe. Contudo, esse não é um conhecimento privativo da universidade, e é bom que ela saiba disso. As universidades americanas já perceberam a necessidade de se conectar, em rede, com outros segmentos da so-ciedade. Harvard está reinventando seus cursos de MBA e lhes dando um caráter empreende-dor, buscando experiências em várias partes do mundo. No Brasil, as universidades – ou grande parte de seus professores e estudantes – não querem nem ouvir falar em empresa. E, por defi-nição, a inovação só ocorre na empresa. Um dos principais motivos é o ethos universitário, que,

além de considerar o empreendedorismo como acessório, tem dificuldade de aceitar a dinâmi-ca do mercado e o fato de que seus membros ganhem dinheiro. Por outro lado, a geração de conhecimento e a pesquisa ágil e sintonizada com o mercado são fundamentais para todo o processo. Precisamos, ainda, descobrir formas de equacionar esse desequilíbrio. Estudo de-senvolvido pelos americanos Bell-Masterson e Motoyama, da Fundação Kauffman, concluiu que fenômenos de startups como o Vale do Silício e a Rota 128, de Boston, são exceções. E citam que a Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, por exemplo, não gerou impacto no desenvolvimento da região.

o que o senhor julga ainda ser importante destacar?

Nossa história empresarial estimulou a for-mação de operadores, e não de criadores de sis-temas, produtos, processos ou tecnologias. De forma geral, ainda não sabemos formar pessoas que, por meio da rebeldia, do talento, da criativi-dade e da paixão, sejam capazes de criar. Empre-endedorismo não tem mistério. Do contrário, não funciona. Contudo, é preciso ser traduzido em atos. Complexidade tecnológica não é atividade empreendedora, mas um momento do processo. O essencial é conhecer o cliente, saber o que ele quer, em qual quantidade e quanto está disposto a pagar. Empreender é identificar problemas e propor soluções atraentes. Afinal, só existe em-presa porque existem problemas. Economistas e administradores tentam “prever” o futuro, en-quanto o empreendedor “faz” o futuro. Jamais podemos nos esquecer de que são empreende-dores os filósofos, os escritores e os artistas que inovam, pois transformam sonhos, conhecimen-tos, energia e inconformismo em riqueza, seja ela material ou imaterial. Um administrador não é necessariamente um empreendedor. Não bas-ta comprar um tênis para se tornar um corredor do nível do Usain Bolt, da equipe de atletismo jamaicana. O tênis é importante, mas tem gente que corre descalço. O que vale, mesmo, como essência, é o sentimento, a paixão, o talento, a capacidade de buscar e de realizar.

Mestre em administração pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pós-graduado pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, Fernando Dolabela é reconhecido como criador das duas metodologias de ensino de empreendedorismo mais usadas no Brasil. A primeira delas destina-se às crianças e adolescentes; a segunda, aos universitários. Dedicado ao assunto

desde os anos 1990, Dolabela é empresário e autor – dentre outros – dos livros Oficina do empreendedor, O segredo de Luísa, que já vendeu mais de 300 mil exemplares, e do plano de negócios MakeMoney.

Fernando Dolabela

Marcus Vinicius dos Santos

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Se as imagens da arte liberam pela eter-nidade afora a potência de sua expressividade imanente, caberia a cada leitura a tarefa ética de atualizar e canalizar de forma diferencial sua intensidade ao presente e ao mundo por vir. O mesmo movimento encarna a tentativa de resti-tuir ao conhecimento sua dimensão poética, em face da qual os filmes nos ofereceriam também o que o poeta Herberto Helder havia situado como propriedade das palavras: ‘uma expansão da Terra’.

Ciência na telona

LIVRO: Ciência em foco (volume II) - Pensar com o cinemaAUTORES: Gabriel Cid de Garcia (Org.)EDITORA: Casa da Ciência da UFRJ/GaramondPÁGINAS: 300ANO: 2013

LIVRO: Uma breve história da ciênciaAUTORES: William BynumEDITORA: L&PMPÁGINAS: 312ANO: 2013

Resultado de discussões estimu-ladas por meio do cineclube e ciclo de conferências “Ciência em foco” – experi-ência nascida em 2004, por iniciativa do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), com sede no Rio de Janeiro –, os textos reunidos nesta obra promovem rico entrelaçamento entre a produção do co-nhecimento e a polissemia da sétima arte.

Com organização do professor e filósofo Gabriel Cid de Garcia, produtor cultural da Casa da Ciência da Universi-dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o livro conta com artigos de professores ligados a diversas instituições brasileiras.

Trata-se do segundo volume de debates em torno do modo como o cine-ma aborda alguns dos mais importantes princípios, conceitos, produtos e avanços

Como tudo na trajetória da humani-dade, também as práticas científicas pos-suem seus mistérios, curiosidades e sur-presas. Ao buscar destrinchar os principais acontecimentos da produção do conheci-mento – dos “cientistas” lotados em vales fluviais na Índia, na China e no Oriente Médio às novas possibilidades da era di-gital –, William Bynum, professor emérito de História da University College London e autor de outros tantos livros sobre o as-sunto, apresenta ao público, com lingua-gem simples e saborosa, os bastidores de uma série de eventos ligada à construção dos saberes.

Em mais de 300 páginas, os leitores apreciarão dezenas de “fábulas” sobre a sofisticada prática humana que, segun-do os próprios editores da obra, “trata de

da ciência. Nesta edição, que conta com prefácio do professor Charles Feitosa, há ensaios sobre os filmes Solaris, Brilho eterno de uma mente sem lembranças, Os doze macacos, Pão e rosas, Veludo azul, O conto da aia, Os olhos sem rosto, Al-phaville, Blow up e Rabid, entre outros.

A aventura do conhecimento

praticamente tudo o que há entre o céu e a terra”. Ao abordar temas amplos – dos ideais filosóficos da Grécia Antiga aos mais singelos (e relevantes) fatos pre-senciados e/ou estimulados por cien-tistas anônimos e famosos –, a escrita de Bynum serve-nos, desse modo, de convite ao autoconhecimento. A história da ciên-cia, afinal, pode também ser compreendida como o relato do que somos, de onde vie-mos, e, principalmente, para onde vamos.

Ciência, magia, religião e tecnologia foram usadas pelas primeiras sociedades hu-manas que se assentaram em vales fluviais na Índia, na China e no Oriente Médio. Os vales fluviais eram férteis, o que permitia plantações a cada ano, o bastante para alimentar uma co-munidade grande. Por consequência, algumas pessoas dessa comunidades tiveram tempo su-ficiente para se concentrar em uma coisa, pra-ticar e praticar até se especializar em algo. Os primeiros ‘cientistas’ (apesar de não se chama-rem assim naquela época) eram provavelmente sacerdotes.

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48 MINAS FAZ CIÊNCIA • SET/OUT/NOV 201348 MINAS FAZ CIÊNCIA • SET/OUT/NOV 2013

Dialogar com os pets é o desejo de grande parcela da humanidade. Muitas pessoas relatam a sensação de serem compreendidas por seus animaizinhos. Para alguns, os olhares expressivos e a busca por proximidade física com os donos seriam demonstrações de enten-dimento e de afeto superiores a muitos relacionamentos humanos por aí. Nova (e revolucionária) tecnologia ainda em desenvolvimento pela Sociedade Nórdi-ca para Invenções e Descobertas (NSID)

promete elevar tal conexão entre espécies a níveis nunca dantes imaginados. “No More Woofs” – algo como “latidos nunca mais”, em livre tradução – é um disposi-tivo capaz de escanear padrões cerebrais caninos e traduzir seus pensamentos para nossa linguagem, por meio de frases cur-tas, emitidas em um alto-falante. Por ora, o mecanismo está sendo testado apenas em cães.

Para conseguir resultados satisfatórios, a equipe combina tecnologias de microin-

formática e de eletroencefalografia. Em ou-tros termos, por meio da varredura de sinais cerebrais dos cães e da detecção de padrões entre as necessidades dos animais e as formas como eles as expressam, o aparato consegue distinguir sentimentos e sensações. Em um primeiro momento, o equipamento não per-mitirá diálogos entre homens e pets, mas dará pistas de como o bichinho se sente, ou o que deseja. De acordo com o portal R7 Notí-cias, o site Indiegogo (www.indiegogo.com) já oferece protótipos para venda.

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MINAS FAZ CIÊNCIA • SET/OUT/NOV 2013 49MINAS FAZ CIÊNCIA • SET/OUT/NOV 2013 49

Projeto responsável pela produção de veículos de divulgação científica, o Programa de Comunicação Científica e Tecnológica (PCCT) da FAPEMIG come-ça o ano de 2014 com nova – e crescida – equipe. A chegada de outros profis-sionais à iniciativa busca intensificar as atividades de difusão da ciência mineira.

Criado em 2010, o PCCT é um pro-grama aprovado pelo Conselho Curador da Fundação, que busca promover a dis-seminação e a popularização da CT&I em

Minas Gerais, além de desenvolver voca-ções, ao despertar a atenção da comuni-dade e do público jovem para o universo da ciência. A partir de agora, o programa contará com a colaboração de sete bol-sistas, que serão responsáveis por ativi-dades nas áreas de jornalismo, rádio, TV, design e web.

Além de MINAS FAZ CIÊNCIA – publicação trimestral, que conta com tiragem de 20 mil exemplares e é dis-tribuída gratuitamente a leitores de todo

o Brasil –, os bolsistas do PCCT conti-nuarão a produzir a série Ciência no Ar (pílulas de TV transmitidas em formato web com temas relacionados à produção científica) e o programa de rádio Ondas da Ciência, veiculado em formato pod-cast. Há, ainda, o blog Minas faz Ciência, que, além de reunir versões digitalizadas da revista e links para os programas de rádio e TV, divulga textos que incentivam o debate acerca da ciência, da tecnologia e da inovação.

ANO NOVO, CARA NOVA

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