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EXPEDIENTE - Governo do Estado de Pernambuco

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EXPEDIENTE

Comandante Geral

Cel PM José Carlos Pereira

Subcomandante Geral

Cel PM Paulo Roberto Cabral da Silva

CONSELHO EDITORIAL

Chefe do Estado-Maior Geral

Cel PM Hermes José de Melo

Chefe da 1ª Seção do Estado-Maior Geral

Cel PM José Franklin Barbosa Mendes Leite

Diretor de Ensino, Instrução e Pesquisa

Cel PM Sósthenes Maia Lemos Júnior

ORGANIZAÇÃO

Chefe da Subseção de Doutrina da 1ª Seção do Estado-Maior Geral

Cap PM Marcelo Martins Ianino

Revisão Ortográfica

Cap PM Fred Jorge Silva de Souza

Apoio Técnico

2º Ten PM José Carlos dos Santos

Nota ao Leitor: Os artigos publicados na Revista DOUTRINAL da PMPE são

de responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião da

revista nem da Polícia Militar de Pernambuco.

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SUMÁRIO

PARTE I

Artigos:

1. DIREITO FUNDAMENTAL SOCIAL À SEGURANÇA PÚBLICA: O “Pacto pela Vida” pernambucano e a proibição de retrocesso social............................06-35

Ten Cel PM - Ney Rodrigo Lima Ribeiro

2. O CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE PERNAMBUCO E O PLANEJAMENTO DE GRANDES EVENTOS: analisado o desfile do Galo da Madrugada como um estudo de caso.....................................................................................36-50 Ten Cel BM - Lamartine Gomes Barbosa e Maj BM - Cristiano Corrêa

3. O USO LEGAL DA FORÇA POLICIAL COMO ELEMENTO GARANTIDOR DOS DIREITOS HUMANOS NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO ..............51-65

Maj PM - Werner WALTER Heuer Guimarães

4. A DETERMINAÇÃO LEGAL DO INQUÉRITO POLICIAL MILITAR NA INVESTIGAÇÃO DO CRIME CONTRA VIDA DE CIVIL PRATICADO POR POLICIAL MILITAR EM SERVIÇO....................................................................66-73 Cap PM - Saulo Sitônio

5. A DOUTRINA COMO FATOR DE FORTALECIMENTO INSTITUCIONAL E

DIRECIONAMENTO DA ATIVIDADE POLICIAL MILITAR...............................74-84 Cap PM - Marcelo Martins Ianino

6. A TRANSVERSALIDADE DO PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA NO

ARCABOUÇO NORMATIVO INTERNO DA POLÍCIA MILITAR DE PERNAMBUCO A PARTIR DO ANO 2000.......................................................85-93

Cap PM - Petrus Gomes Genuino

7. DESIGUALDADES DE DIREITOS POLÍTICOS E CONSTITUCIONAIS ENTRE MILITARES E CIVIS.......................................................................................94-111

Cap PM - Ednilson José de Barros

8. A CONDUÇÃO COERCITIVA EM SINDICÂNCIAS MILITARES E OUTROS PROCESSOS ADMINISTRATIVOS DISCIPLINARES..................................112-118 Cap PM - Demétrios Wagner Cavalcanti da Silva

9. A INFLUÊNCIA DO SERVIÇO DE INTELIGÊNCIA POLICIAL NO PROGRAMA

DE SEGURANÇA PÚBLICA ESTABELECIDO PELO PACTO PELA VIDA COM A REDUÇÃO DOS ÍNDICES DE CRIMINALIDADE NO ESTADO...................119-135 1º Ten PM - Flávio Rodrigues Bastos

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10. IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA ESTADUAL DE INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA: análise das mudanças organizacionais na 2ª Seção do Estado-Maior Geral da Polícia Militar de Pernambuco..........................................136-158

1º Sgt PM - Flávio da Silva Mendonça

11. REALIDADE DAS PRISÕES E A PRIVATIZAÇÃO DO SISTEMA PRISIONAL COMO POSSÍVEL SOLUÇÃO À RESSOCIALIZAÇÃO DO APENADO EM PERNAMBUCO.............................................................................................159-176

Sd PM - Marcos José Dourado Cabral

PARTE II

Repertório jurisprudencial......................................................178-190

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PARTE I

Artigos

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Revista doutrinária da Polícia Militar de Pernambuco

Artigo publicado no Vol.03 Nº02 - Edição de JUL a DEZ 2014 - ISSN 2318-3152 - Versão on-line disponível em: http://www.portais.pe.gov.br/web/pmpe/revista-doutrinal

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DIREITO FUNDAMENTAL SOCIAL À SEGURANÇA PÚBLICA: o “Pacto pela

Vida” pernambucano e a proibição de retrocesso social.

Ney Rodrigo Lima Ribeiro1

Resumo

O presente artigo tem por objetivo expor pensamentos, por meio de linguagem clara e didática, a respeito do direito fundamental à segurança pública, erigido expressamente à categoria de direito social com o art. 6º da Constituição Federal de 1988, cujo objetivo específico é defender que política pública “pacto pela vida” está sob o manto do princípio da proibição de retrocesso social, para além de protegido e irradiado pelo princípio da dignidade da pessoa humana. Palavras-chave: Direito fundamental social à segurança pública. Política pública “Pacto pela Vida”. Princípio da proibição de retrocesso social. Princípio da dignidade da pessoa humana.

1 INTRODUÇÃO “Os governos passam, as sociedades

morrem, a polícia é eterna”. Honoré de Balzac - Escritor francês.

Inicialmente, analisando sistematicamente a Carta Magna brasileira de 1988, infere-

se que segurança pública não é só repressão e tampouco é problema apenas de polícia,

notadamente que o poder constituinte originário foi sábio ao estabelecer na parte

introdutória do caput do art. 144 que “a segurança pública é dever do Estado, direito e

responsabilidade de todos”, porquanto a temática exige que a questão seja discutida e

assumida como tarefa precípua e responsabilidade de todos, ressalte-se, Estado e

população.

A locução segurança pública, frise-se, descrita no capitulo III (Da segurança

pública) do Título V (Da defesa do Estado e das Instituições Democráticas) da Lex

Fundamentalis, trata-se de um dos temas fundamentais do direito, mormente que para o

1 Tenente-Coronel da Polícia Militar de Pernambuco. Mestre e Especialista em Direito Público e Fundamentais

pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL). Especialista em Direito Público (ESMAPE/FMN).

Especialista em Formação de Educadores (UFRPE).

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Estado, segurança que dizer paz, estabilidade da estrutura das instituições e, sobretudo,

respeito à dignidade da pessoa humana dos cidadãos, enquanto ao indivíduo, segurança

que dizer tranquilidade física e psíquica, bem como o livre desenvolvimento da

personalidade humana, razão pela qual a polícia, por meio dos seus órgãos (art. 144, I

usque V), tem por finalidade “a preservação da ordem pública e da incolumidade das

pessoas e do patrimônio”2.

Nesse particular, considerando que ordem pública tem a noção de ser a ausência

ou a situação de fato oposta à desordem, de atos de violência contra a pessoa, os bens ou

próprio Estado, sendo de natureza essencialmente material e exterior, é indubitável que

cabe à polícia assegurar a boa ordem, diga-se, “a tranquilidade pública, a segurança pública

e a salubridade pública”3.

Ademais, defende-se que o direito à segurança pública trata-se de um direito

fundamental social, insculpido no art. 6º, combinado com o art. 144, incisos I a V, §§ 1º ao

10, todos da Carta Cidadã de 1988, irradiados pelo princípio da dignidade da pessoa

humana, pelo que para sua concretização exigem-se políticas públicas ousadas,

perspicazes e comprometidas com as funções do Estado, bem assim transversal e

integrada, construída de forma pactuada com a sociedade, em articulação permanente com

o Poder Judiciário, o Ministério Público, a Assembleia Legislativa, os Municípios e a União,

cujo objetivo é a consecução das metas de efetivação dos direitos fundamentais de todos os

cidadãos, indistintamente.

Por esse ângulo, temos a política pública “Pacto pela Vida”, efetivada no Estado de

Pernambuco no idos de maio de 2007, pelo então Governador do Estado, Eduardo Henrique

Accioly Campos, sendo o primeiro plano estadual de segurança pública, contendo projetos

que incorporam ações de curto, médio e longo prazos, possuindo como escopos prevenir a

violência e reduzir a criminalidade, por intermédio da combinação de ações de repressão

qualificada e prevenção social específica, cuja meta estruturante é a redução dos crimes

violentos letais intencionais (CVLI) ou mortes intencionais violentas (homicídio, lesão

corporal seguida de morte, latrocínio, inclusive auto de resistência), e, por conseguinte,

2 Recorde-se o célebre artigo 12 da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789: “Art. 12 - A

garantia dos direitos do Homem e do Cidadão carece de uma força pública; esta força é, pois, instituída para

vantagem de todos, e não para utilidade particular daqueles a quem é confiada”.

3 LAZZARINI, Álvaro. Defesa do Estado. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva; MENDES, Gilmar Ferreira;

NASCIMENTO, Carlos Valder do. Tratado de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1, p. 1034.

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alcançando nesse interregno, até os dias hodiernos, resultados significativos, destaque-se,

redução dos altos índices de criminalidade que assolavam o Pernambuco, para além de ser

um modelo de programa, ações e atividades públicas reproduzidas por outros Entes

federativos, aliado ao fato dos merecidos e justos reconhecimentos nacional e internacional

(Prêmios ONU4 e BID5).

Cumpre-se registrar que a política pública “Pacto pela Vida” de Pernambuco, por

exemplo, em sete anos, consoante pesquisa junto a Secretaria de Defesa Social (SDS), já

atingiu índices deveras significativos. Confiram-se: a) Investimento, no período de 2007 a

2013, de mais de R$ 606 milhões em segurança pública no Estado, ressalte-se, uma média

de mais de R$ 86,6 milhões por ano, enquanto que no lapso entre 2003 a 2006, apenas

uma média de R$ 24 milhões; b) Já foram instaladas mais de 573 (quinhentas e setenta e

três) câmeras de segurança em todo o Estado; c) Recompletamento do contingente da SDS,

vez que de 2007 a 2013 tomaram posse na SDS mais de 12.781 profissionais de segurança,

sendo 8.030 na Polícia Militar, 2.911 na Polícia Civil, 1.571 no Corpo de Bombeiros e 269 na

Polícia Científica; d) Redução na taxa de crimes violentos letais intencionais (CVLI), sendo o

único Estado da Federação a atingir essa marca em mais de 7 anos consecutivos, e, no

período de 2000 a 2011, uma redução de 30,4%, apesar do cenário adverso, notadamente

quando todos os Estados do Nordeste tiveram um aumento expressivo em números de

CVLI; e) De abril de 2007 a fevereiro de 2014, mais de 8.347 vidas foram salvas no Estado,

corolário do número estimado de CVLI’s que deixaram de ocorrer desde a implantação do

“Pacto pela Vida”; f) Redução no Estado, de 2007 a 2013, de 30,3% na taxa de crimes

violentos contra o patrimônio (CVP) por 100 mil habitantes, enquanto especificamente em

Recife, a redução foi de 46,1%; g) De janeiro de 2009 a 2014 foram apreendidas 37.223

armas de fogo no Estado; h) De agosto de 2009 até janeiro de 2014, a Operação Malhas da

Lei cumpriu 29.546 mandados; i) De janeiro de 2010 a 2014 foram apreendidos mais de 4,9

toneladas de drogas; j) Exatamente no dia 29 de abril de 2013, o alcance histórico do “dia de

zero”, onde Pernambuco celebrou um dia sem que fosse registrado um único óbito violento.

4 Prêmio ONU - o “Pacto pela Vida” em junho de 2013, foi selecionado na categoria “Melhoria na Entrega de

Serviços Públicos” do United Nations Public Services Forum Day and Awards, que premia boas práticas

administrativas desenvolvidas em todo o Mundo.

5 Prêmio BID - o Modelo de Gestão por Resultados do “Pacto pela Vida” em novembro de 2013, foi escolhido na

categoria "Governo Seguro - Boas Práticas em Prevenção do Crime e da Violência”, ganhando o prêmio

"Governarte: a Arte do Bom Governo”.

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Evidentemente, que essa política pública poderá e deve ser dia a dia implementada até o

alcance almejado por todos pernambucanos.

Confiram-se: a) Investimento, no período de 2007 a 2013, de mais de R$ 606

milhões em segurança pública no Estado, ressalte-se, uma média de mais de R$ 86,6

milhões por ano, enquanto que no lapso entre 2003 a 2006, apenas uma média de R$ 24

milhões; b) Já foram instaladas mais de 573 (quinhentas e setenta e três) câmeras de

segurança em todo o Estado; c) Recompletamento do contingente da SDS, vez que de 2007

a 2013 tomaram posse na SDS mais de 12.781 profissionais de segurança, sendo 8.030 na

Polícia Militar, 2.911 na Polícia Civil, 1.571 no Corpo de Bombeiros e 269 na Polícia

Científica; d) Redução na taxa de crimes violentos letais intencionais (CVLI), sendo o único

Estado da Federação a atingir essa marca em mais de 7 anos consecutivos, e, no período

de 2000 a 2011, uma redução de 30,4%, apesar do cenário adverso, notadamente quando

todos os Estados do Nordeste tiveram um aumento expressivo em números de CVLI; e) De

abril de 2007 a fevereiro de 2014, mais de 8.347 vidas foram salvas no Estado, corolário do

número estimado de CVLI’s que deixaram de ocorrer desde a implantação do “Pacto pela

Vida”; f) Redução no Estado, de 2007 a 2013, de 30,3% na taxa de crimes violentos contra o

patrimônio (CVP) por 100 mil habitantes, enquanto especificamente em Recife, a redução foi

de 46,1%; g) De janeiro de 2009 a 2014 foram apreendidas 37.223 armas de fogo no

Estado; h) De agosto de 2009 até janeiro de 2014, a Operação Malhas da Lei cumpriu

29.546 mandados; i) De janeiro de 2010 a 2014 foram apreendidos mais de 4,9 toneladas

de drogas; j) Exatamente no dia 29 de abril de 2013, o alcance histórico do “dia de zero”,

onde Pernambuco celebrou um dia sem que fosse registrado um único óbito violento.

Evidentemente, que essa política pública poderá e deve ser dia a dia implementada até o

alcance almejado por todos pernambucanos. Confiram-se: a) Investimento, no período de

2007 a 2013, de mais de R$ 606 milhões em segurança pública no Estado, ressalte-se, uma

média de mais de R$ 86,6 milhões por ano, enquanto que no lapso entre 2003 a 2006,

apenas uma média de R$ 24 milhões; b) Já foram instaladas mais de 573 (quinhentas e

setenta e três) câmeras de segurança em todo o Estado; c) Recompletamento do

contingente da SDS, vez que de 2007 a 2013 tomaram posse na SDS mais de 12.781

profissionais de segurança, sendo 8.030 na Polícia Militar, 2.911 na Polícia Civil, 1.571 no

Corpo de Bombeiros e 269 na Polícia Científica; d) Redução na taxa de crimes violentos

letais intencionais (CVLI), sendo o único Estado da Federação a atingir essa marca em mais

de 7 anos consecutivos, e, no período de 2000 a 2011, uma redução de 30,4%, apesar do

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cenário adverso, notadamente quando todos os Estados do Nordeste tiveram um aumento

expressivo em números de CVLI; e) De abril de 2007 a fevereiro de 2014, mais de 8.347

vidas foram salvas no Estado, corolário do número estimado de CVLI’s que deixaram de

ocorrer desde a implantação do “Pacto pela Vida”; f) Redução no Estado, de 2007 a 2013,

de 30,3% na taxa de crimes violentos contra o patrimônio (CVP) por 100 mil habitantes,

enquanto especificamente em Recife, a redução foi de 46,1%; g) De janeiro de 2009 a 2014

foram apreendidas 37.223 armas de fogo no Estado; h) De agosto de 2009 até janeiro de

2014, a Operação Malhas da Lei cumpriu 29.546 mandados; i) De janeiro de 2010 a 2014

foram apreendidos mais de 4,9 toneladas de drogas; j) Exatamente no dia 29 de abril de

2013, o alcance histórico do “dia de zero”, onde Pernambuco celebrou um dia sem que

fosse registrado um único óbito violento. Evidentemente, que essa política pública poderá e

deve ser dia a dia implementada até o alcance almejado por todos pernambucanos.

Postas essas breves digressões, o artigo tem como delimitação do objeto o estudo

da problemática jurídica do direito fundamental social à segurança pública, não tendo a

investigação à pretensão de esgotar o complexo estudo, mas será realçada uma breve

contextualização do direito à segurança pública no ordenamento jurídico brasileiro,

pontuando a previsão legal na Lex Fundamentalis, realçando os antecedentes históricos e a

hodierna previsão na Constituição Federal de 1988, assim como considerações preliminares

e o conceito jurídico de políticas públicas, tendo por o objetivo específico fundamentar e

responder: é possível a proibição de retrocesso social do “Pacto pela Vida” pernambucano?

Em sucessivo, apresentar-se-ão as conclusões sumárias que se defende e

bibliografias consultadas.

Outrossim, utilizou-se na construção deste artigo científico o método hipotético-

dedutivo, haja vista que se optou por formular conclusões por intermédio de algumas

conceituações trabalhadas pela doutrina nacional e comparada, buscando aplicá-las aos fins

deste trabalho acadêmico.

2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO DIREITO À SEGURANÇA PÚBLICA NO ORDENAMENTO

JURÍDICO BRASILEIRO

2.1 Previsão legal na Lex Fundamentalis

2.1.1 Antecedentes históricos

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O Brasil, rememore-se, ao longo de sua vida constitucional, participou de um

processo histórico diferenciado, compreendendo quatro constituições democráticas,

livremente votadas e promulgadas pelas devidas Assembleias Constituintes,

designadamente as Cartas de 1891, 1934, 1946 e a vigente de 1988, porém, em

contrapartida, surgiram quatro por intermédio de atos de outorga, precisamente as

Constituições de 1824, 1937, 1967 e a conhecida Emenda Constitucional n.º 1/69 à Lex

Mater de 1967, consoante sinótico a seguir:

a) A Constituição Política do Império do Brazil de 1824, outorgada por D. Pedro

I, em 25 de março, não tratou expressamente de um capítulo dedicado à segurança pública,

apenas fez tímida menção nos seus arts. 21, 34 e 896;

b) A Constituição da República dos Estados Unidos do Brazil de 1891, a

primeira Carta da República, promulgada em 24 de fevereiro, no governo provisório

instituído por intermédio do Decreto n.º 1, de 15 de novembro de 1889, chefiado pelo

Marechal de Campo Manoel Deodoro da Fonseca, tendo como relator o então senador Rui

Barbosa, também não tratou expressamente de um capítulo exclusivo da segurança pública,

mencionou a respeito da polícia noutro viés, no seu art. 34/30;

c) A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1934,

promulgada em 16 de julho pelo Presidente Getúlio Vargas, sendo a primeira Carta

brasileira a dispor dos direitos econômicos, sociais e culturais (arts. 115 usque 158), mesmo

assim não versou sobre o direito à segurança pública (arts. 5º, V e XI, e 1677);

d) A Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 10 de novembro 1937,

elaborada por Francisco Campos, conhecida por “Polaca”, vez que foi inspirada na Carta

ditatorial da Polônia, de 1935, portanto, outorgada no período do Estado Novo pelo

Presidente Getúlio Vargas, não previu sobre o direito à segurança pública (arts. 15, IV, VIII,

e 16, V);

e) A Constituição dos Estados Unidos do Brasil, promulgada em 18 de setembro

de 1946, no governo do Marechal Eurico Gaspar Dutra, cujo texto buscou inspiração em

6 CPIB/1824: “Art. 34. Se por algum caso imprevisto, de que dependa a segurança publica, ou o bem do

Estado, for indispensável, que algum Senador, ou Deputado saia para outra Comissão, a respectiva Câmara o

poderá determinar”. Cf. CANOTILHO, José Joaquim Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo

Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz. (Coords.). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo:

Saraiva/Almedina, 2013, p. 1584.

7 CREUB/1934: “Art. 167. As polícias militares são consideradas reservas do Exército, e gozarão das mesmas

vantagens a este atribuídas, quando mobilizadas ou a serviço da União”.

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algumas ideias liberais da Carta de 1891 e sociais da de 1934, contudo, proveio da

redemocratização do país, haja vista a queda da era Getúlio Vargas e o fim da Segunda

Guerra Mundial, porém, lamentavelmente, não cuidou do tema segurança pública (arts. 5º,

VII, e 1838);

f) A Constituição da República Federativa do Brasil, de 24 de janeiro de 1967,

outorgada pelo então Presidente da República Marechal Castelo Branco, no qual editou

previamente o Ato Institucional n.º 4, de 7 de dezembro de 1966, convocando,

extraordinariamente, o Congresso Nacional, no interregno de 12 de dezembro de 1966 a 24

de janeiro de 1967, resultando, assim, na outorga da Carta em evidência, sequer

preocupou-se com o direito à segurança pública (art. 13, VIII, § 4º9);

g) A Emenda Constitucional n.º 1/69 à Constituição de 1967, em apertado

resumo, diante do afastamento por motivo de doença do então Presidente da República

Marechal Arthur da Costa e Silva e com espeque no Ato Institucional n.º 12, de 31 de agosto

de 1969, foi imposta por uma Junta Militar. E mais: esclareça-se que a EC n.º 1/69 foi

baixada pelos militares, vez que na ocasião o Congresso Nacional se encontrava fechado.

Muito bem, no ordenamento brasileiro prevalece que a EC n.º 1/69 trata-se de uma autêntica

Carta Magna, na qual, claramente, funcionou como mais um mecanismo de outorga, repise-

se, pela Junta Militar, porém, mesmo abarcando quase por completo o teor da Constituição

de 1967, mesmo assim não se referiu ao capítulo segurança pública (arts. 8º, VIII, e 13, §

4º).

Postas essas premissas, em sucessivo, mister uma abordagem à atual previsão do

direito à segurança pública na Constituição Federal de 1988.

2.1.2 Hodierna previsão na Constituição Federal de 1988

A vigente Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de

outubro de 1988, que sofreu forte influência da Carta portuguesa de 1976, demarcou a

8 Confira-se: “Art 183. As polícias militares instituídas para a segurança interna e a manutenção da ordem nos

Estados, nos Territórios e no Distrito Federal, são consideradas, como forças auxiliares, reservas do Exército”. 9 CRFB/1967: “Art 13. Os Estados se organizam e se regem pelas Constituições e pelas leis que adotarem,

respeitados, dentre outros princípios estabelecidos nesta Constituição, os seguintes: (...) § 4º - As polícias

militares, instituídas para a manutenção da ordem e segurança interna nos Estados, nos Territórios e no Distrito

Federal, e os corpos de bombeiros militares são considerados forças auxiliares reserva do Exército, não podendo

os respectivos integrantes perceber retribuição superior à fixada para o correspondente posto ou graduação do

Exército, absorvidas por ocasião dos futuros aumentos, as diferenças a mais, acaso existentes”.

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ruptura com o regime autoritário militar de 1964, refletindo o necessário consenso

democrático pós-ditadura, porém buscou, de forma inexorável, por exemplo, resguardar o

Estado de Direito e os direitos fundamentais individuais e sociais à luz do princípio da

dignidade da pessoa humana e, portanto, a universalidade de direitos.

É inegável, todavia, que a vigente Carta de Outubro trata-se, comparativamente, da

Constituição mais abrangente e pormenorizada no que tange aos direitos e garantias

fundamentais do país, para além de consagrá-los de forma inédita e elevá-los à categoria de

cláusulas pétreas10.

O Poder Constituinte originário categoricamente se preocupou, pela primeira vez,

em reger-se nas suas relações internacionais, por vários princípios, dentre eles, a

prevalência dos direitos humanos (art. 4º, II), bem como aduziu que constitui objetivo

fundamental da República erradicar pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades

sociais e regionais (art. 3º, III).

Adentrando na temática segurança pública, impende-se registrar que a Carta

Política de 1988 foi a primeira a dedicar e reservar capítulo especifico a respeito,

designadamente o capitulo III do Título V (Da defesa do Estado e das Instituições

Democráticas), art. 144, incisos I a V, §§ 1º ao 10, pelo que se pede licença para transportar

a seguir os vigentes dispositivos em apreço:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a: I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência; III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

10

CRFB/88: Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: “[....]” § 4º - Não será objeto de

deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: “[....]” IV - os direitos e garantias individuais.

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§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais. § 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais. § 4º - às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. § 5º - às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil. § 6º - As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. § 7º - A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades. § 8º - Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei. § 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos órgãos relacionados neste artigo será fixada na forma do § 4º do art. 39. § 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do seu patrimônio nas vias públicas: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 82, de 2014) I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras atividades previstas em lei, que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e (Incluído pela Emenda Constitucional nº 82, de 2014) II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, aos respectivos órgãos ou entidades executivos e seus agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na forma da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 82, de 2014)

De logo, examinando os dispositivos suso, verifica-se que a segurança pública

caracteriza-se como “dever do Estado” e como “direito e responsabilidade de todos”,

devendo ser exercida para a “preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas

e do patrimônio”, estabelecendo os respectivos órgãos responsáveis, que atuam ora no

plano estadual, ora no plano federal, pontifique-se, além dos corpos de bombeiros militares,

fez referência a seis modelos de atividade policial, a saber: a) a polícia ostensiva; b) a

polícia de investigação; c) a distinção de polícia judiciária e de investigação criminal; d) a

polícia de fronteira; e) a polícia marítima; e f) a polícia aeroportuária.

Contudo, extrai-se que a segurança pública é um serviço que deve ser

universalizado de maneira igual, contudo a Constituição não veda que sejam constituídas

empresas especializadas na prestação de segurança privada, inclusive o Supremo Tribunal

Federal, em algumas manifestações, vem compreendendo, por motivo lógico, ser

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responsabilidade de o particular prover a segurança, por exemplo, é o que ocorre com os

estabelecimentos bancários, com a finalidade de garantir e preservar a segurança dos

correntistas.

Nesse conduto, a Carta de Outubro, curiosamente, também assegura o direito à

segurança em duas formas distintas, senão vejam-se:

a) No Título II (Dos Direitos e Garantias Fundamentais), Capítulo I (Dos Direitos

e Deveres Individuais e Coletivos), exatamente no caput do Art. 5º, trata o direito à

segurança como norma aplicação imediata (Art. 5º, § 1º) e, portanto, um jus erigido à

categoria de cláusulas pétreas (Art. 60, § 4º, IV), in verbis:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a

inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade, nos termos seguintes: (...) (destaque-se)

b) No Título II (Dos Direitos e Garantias Fundamentais), Capítulo II (Dos Direitos

Sociais), no Art. 6º, o direito à segurança é reevocado, porém definido como direito social,

ipsis litteris:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (destaque-se)

Apresentadas essas duas premissas, questiona-se: analisando sistematicamente o

caput do Art. 5º e o Art. 6º, combinado com o art. 144, incisos I a V, §§ 1º ao 10, todos da

Constituição Federal de 1988, o direito à segurança pública é um direito individual ou

coletivo e, portanto, uma cláusula pétrea, ou cuida-se de um direito social?

Muito bem, apesar da excelente intenção do Poder Constituinte originário,

respeitando opiniões em contrário, salta aos olhos e compreende-se que o direito à

segurança pública, trata-se de um direito fundamental social expresso na Carta Magna,

mantendo-se em consonância com a concepção contemporânea de direitos humanos, assim

como se cuida de um jus de segunda geração (dimensão)11, repise-se, espécie do gênero

11 Nesse prisma, urge registrar que os direitos de segunda geração (dimensão) ou direitos econômicos, sociais e

culturais, são corolários das desigualdades e desequilíbrios econômicos, cujos primeiros instrumentos que os

realçaram foi a Lex Fundamentalis mexicana de 1917 e, sucessivamemte, as Cartas Magnas soviética de 1918,

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direito social, impondo ao Estado um atuar permanente, diga-se, uma ação oriunda de uma

prestação positiva12, correspondendo à exteriorização material da busca da igualdade e da

dignidade humana, vez que um dos seus condões é promover a justiça social, através da

disponibilização de meios materiais e a implementação de conjunturas fáticas que

possibilitem a efetiva fruição das garantias fundamentais.

O direito social à segurança pública, entretanto, está intrinsecamente vinculados à

igualdade e à dignidade da pessoa humana, cujo escopo é assegurar aos indivíduos

condições materiais necessárias para sobrevivência digna, para além de ser um

pressuposto para o exercício da cidadania.

Nesse diapasão, embora o direto fundamental social em comento seja claramente

de índole positiva, e, tendo em vista que a vigente Constituição brasileira foi alçada ao

patamar de pacto vivencial da solidariedade13, é de bom alvitre destacar algumas

peculiaridades do direito fundamental à segurança pública que se defende, as quais devem

ser trazidas à baila:

a) Trata-se o direito à segurança pública de inconteste jus fundamental social,

repise-se, positivado pelo Poder Constituinte originário, sendo positivado em norma

constitucional vinculativa e detentora de uma multidimensional relevância jurídica;

b) Cuida-se, inegavelmente, de um direito de segunda dimensão (ou geração),

vez que está contido em uma das normas programáticas da Lex Fundamentalis;

c) Emerge-se que o direito fundamental à segurança pública tem uma estrutura

híbrida, pois pode ser um direito social na sua dimensão positiva e de direito análogo de

liberdade na sua dimensão negativa e, como norma, pode ser principio ou regra1415;

alemã (Weimar) de 1919 e irlandesa de 1937. Para Paulo Bonavides (Do Estado liberal ao Estado social. 10.

ed. São Paulo: Malheiros, 2011, p. 200-211), vistas em quadro, a revolução francesa foi o Estado liberal, ao

passo que a revolução russa de 1917 é o Estado social. Observa, também, que o Estado social, fundado pela

Constituição de Bonn, por sua própria natureza, é um Estado intervencionista, que requer sempre a presença

militante do poder político nas esferas sociais, onde cresceu a dependência do individuo, pela impossibilidade

em que este se acha, perante fatores alheios à sua vontade, de prover certas necessidades existenciais

mínimas.

12 Para Robert Alexy (Teoria dos direitos fundamentais. Tradução Virgílio Afonso da Silva. São Paulo:

Malheiros, 2008. p. 442): ”Todo direito a uma ação positiva, ou seja, a uma ação do Estado, é um direito a uma

prestação”.

13 AGRA, Walber de Moura. Direitos sociais. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva; MENDES, Gilmar Ferreira;

NASCIMENTO, Carlos Valder do. Tratado de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1, p. 535.

14 Para Robert Alexy (Teoria dos direitos fundamentais. Tradução Virgílio Afonso da Silva. São Paulo:

Malheiros, 2008, p. 90-91.), princípios são mandamentos de otimização, ou seja, normas que ordenam que algo

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d) Está protegido pela função de defesa, não apenas para se defender das

arbitrariedades estatais, mas para garantir prestações mínimas para que a coletividade

possa atingir um nível satisfatório de bem estar social;

e) Resguarda-se pela função de prestação16, na qual o Estado deve atuar para

satisfazer o direito fundamental à segurança pública, cuja realização depende da

gradualidade ou gradatividade de sua realização;

f) Em homenagem ao princípio da isonomia ou igualdade17, como um dos

elementos estruturantes do constitucionalismo, o Estado tem a função de não discriminação

de seus concidadãos, mas na perspectiva de bem estar no que tange ao jus à segurança

pública;

g) Detém a característica da limitabilidade, ou seja, o direito fundamental social

à segurança pública não é um jus absoluto, podendo sofrer intervenção estatal, bem como

está sujeito à ponderação;

seja realizado na maior medida possível dentro das possibilidades jurídicas e fáticas existentes, ao passo que as

regras são normas que são sempre cumpridas ou não. Se uma regra vale, então se há de fazer exatamente o

que ela exige ou determina, isto é, nem mais, nem menos, pois elas contêm determinações no âmbito daquilo

que é fática e juridicamente possível. Para o autor, a distinção entre princípios e regras é uma distinção

qualitativa, e não uma distinção de grau. E arremata Alexy: toda norma é ou uma regra ou um princípio.

15 DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Tradução Nelson Boeira. 3. ed. São Paulo: Wmf Martins

Fontes, 2010, p. 42-50. Assim sendo, cumpre-se trazer à colação, abreviadamente, o contributivo pensamento

do saudoso jurista e mestre de Harvard, Ronald Dworkin. Lance-se os olhos: a) As regras são aplicáveis à

maneira de tudo ou nada, portanto, o conceito de validade dela é incompatível com a dimensão de peso ou valor

que pertence à natureza dos princípios; b) É peculiar dos princípios a dimensão de peso ou valor, que as regras

não as possuem, sendo o mais seguro critério diferenciador de tais espécies de normas; c) No sistema de

regras, não se pode dizer que uma é mais importante que a outra, vez que elas em conflito não há falar que uma

possa prevalecer sobre a outra em decorrência de seu maior peso; d) O princípio, dessarte, se não prevalecer

em determinado momento concreto, nada obsta que em outra circunstância seja utilizado e, quiçá, de maneira

determinante ou decisiva; e) Só as regras ditam resultados, não importa o que aconteça, ou melhor, se um

resultado contrário se alcança, a regra é alterada ou abandonada, em contrapartida com os princípios esta

hipótese não é empregada, mas se eles se inclinam para uma decisão e ela não prevalece, sobreviverão

intactos, simplesmente pelo fato de não incidir neles a tese de tudo ou nada, especifica das regras.

16 ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Tradução Virgílio Afonso da Silva. São Paulo: Malheiros,

2008, p. 442. Afirma Robert Alexy, entretanto, que o conceito de direito a prestações é exatamente o oposto do

conceito de direito de defesa, no qual se incluem todos os direitos a uma ação negativa ou abstenção estatal.

17 DWORKIN, Ronald. A virtude soberana: a teoria e a prática da igualdade. Tradução Jussara Simões. 2 ed.

São Paulo: Wmf Martins Fontes, 2011, p. 4-5. Para Dworkin, a igualdade de bem estar afirma que o esquema

distributivo trata as pessoas como iguais quando distribui ou transfere recursos entre elas até que nenhuma

transferência adicional possa deixá-las mais iguais em bem estar. Logo, a igualdade de recursos declara que se

trata como iguais quando distribui ou transfere de modo que nenhuma transferência adicional possa deixar mais

iguais suas parcelas do total de recursos.

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h) É essencialmente um direito positivo, sujeito às prestações, mas se não

forem materializadas, colocarão os cidadãos à margem da sociedade, podendo eles se

tornar uma ameaça social;

i) O direito fundamental à segurança pública, mesmo sendo um direito

fundamental social, cuida-se de um jus que para sua efetivação e concretização, está na

dependência financeira do Estado ou do orçamento público, haja vista seu considerável

custo;

j) Regra, o direito fundamental à segurança pública está insuscetível de

controle jurisdicional dos programas político-legislativos, salvo, evidentemente, quando

estes se mostrarem em contradição com as normas constitucionais ou manifestamente

desarrazoadas;

k) O direito fundamental à segurança pública depende da liberdade de definição

ou conformação em relação às políticas públicas a serem assumidas para sua realização18;

l) Os mandamentos relativos ao direito fundamental à segurança pública não

detém caráter meramente declaratório, constituindo-se em mandamentos coercitivos;

m) Cogita-se ser uma norma de eficácia imediata, nos termos do § 1º, do art. 5º,

da Carta Política, e, por decorrência, detentora de coercibilidade, não contendo apenas valor

político ou moral, pois é um argumento superado;

n) Na hipótese de omissão estatal ou a inexecução de prestações materiais ou

políticas públicas por parte do Poder Executivo, por intermédio do ativismo judiciário, é

possível e razoável que se decida pela implementação da prestação não executada, desde

que se atenda à densidade suficiente do direito pleiteado19;

o) Inexiste razoabilidade para se defender que o direito fundamental social à

segurança pública não é justiciável;

p) O direito fundamental social à segurança pública, na qualidade de jus

conectado à promoção da dignidade da pessoa humana, à socialidade e à igualdade

18

Para Ronald Dworkin (Levando os direitos a sério. Tradução Nelson Boeira. 3. ed. São Paulo: Wmf Martins

Fontes, 2010, p. 297), deve-se reconhecer que o governo tem uma razão para restringir direitos se, com

plausibilidade, acreditar que um dos direitos concorrentes é o mais importante.

19 AGRA, Walber de Moura. Direitos sociais. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva; MENDES, Gilmar Ferreira;

NASCIMENTO, Carlos Valder do. Tratado de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1, p. 535.

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material, constitui limite material à revisão constitucional, tampouco pode ser suprimido na

sua integralidade nem no seu núcleo essencial20;

q) Não se questiona seriamente que o direito fundamental social à segurança

pública faz parte do conteúdo garantia do mínimo existencial, particularmente, integrando o

núcleo intangível da dignidade da pessoa humana21.

Nessa trajetória, o direito fundamental social à segurança pública, na sua dimensão

positiva, tem uma natureza jurídica controvertida, podendo, contudo: ser um direito subjetivo

público22, haja vista ser atribuído por norma de direito público; ter a natureza jurídica de uma

mera diretriz programática ou dever político do Estado; e, é possível, também, ter a natureza

jurídica de simples pretensão jurídica.

Lobriga-se que o direito fundamental social à segurança pública cuida-se de uma

pretensão jurídica23, assegurada à generalidade das pessoas, a qual conduz o indivíduo e o

Estado a uma relação jurídica obrigacional, cuja interpretação da norma programática não

pode transformá-la em promessa constitucional inconsequente, impondo aos entes

federados um dever de prestação positiva24, porquanto o direito suso, descrito na

Constituição brasileira, não pode, por regra, ser um direito subjetivo público,

especificamente pelo fato de os direitos sociais não conferirem ao indivíduo posição jurídica

de vantagem inequivocamente concretizável, aliado ao aspecto de que sua realização

progressiva está condicionada à reserva financeira do possível, salvo, reafirme-se, na

hipótese de resguardar o conteúdo ou núcleo essencial do direito à segurança pública,

20

NETTO, Luísa Cristina Pinto e. Os direitos sociais como limites materiais à revisão constitucional.

Salvador: Juspodivm, 2009, p. 174.

21 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito constitucional.

São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012, p. 586.

22 ALEXY, Robert. Direito, razão, discurso: estudos para a filosofia do direito. Tradução Luís Afonso Heck.

Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010, p. 203.

23 ANDRADE, José Carlos Vieira de. Op. cit., p. 366. Cf. FERREIRA, Pinto. Op. cit., p. 129-130. Cf. NOVAIS,

Jorge Reis. Direitos sociais: teoria jurídica dos direitos sociais enquanto direitos fundamentais. Coimbra:

Wolters Kluwer Portugal/Coimbra Editora, 2010, p. 63-64.

24 Cf. BRASIL. Supremo Tribunal Federa (STF). AgR-RE 271.286-8/RS. Disponível em: <

http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=335538>. Acesso em: 30 abr. 2014.

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hipótese, contudo, que está imune ao contingenciamento financeiro ou escassez de

recursos, devendo o Estado, efetivamente, concretizar essa obrigação mínima social25.

De tal sorte, a essencialidade do direito à segurança pública fez com que o

legislador constituinte originário o qualificasse como prestações de relevância pública,

assegurado por intermédio de políticas sociais econômicas, legitimando a atuação do Poder

Judiciário, na hipótese de descumprimento26.

Assentadas algumas peculiaridades do direito fundamental social à segurança

pública que se defende, debruçar-se-á a respeito do objetivo específico deste artigo.

3 O “PACTO PELA VIDA” PERNAMBUCANO E A PROIBIÇÃO DE RETROCESSO

SOCIAL

3.1 Considerações preliminares sobre políticas públicas

Como se pontuou linhas atrás, a Carta Magna escolheu a dignidade da pessoa

humana como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, bem como exprime

que construir uma sociedade livre, justa e solidária, promover o bem de todos sem qualquer

discriminação, garantir o desenvolvimento nacional, erradicar a pobreza e reduzir as

desigualdades sociais e regionais, constituem seus objetivos fundamentais2728.

Nessa dimensão, é bem visível que não se pode contestar que as políticas públicas

devem ter sempre como apanágio a viga mestra da solidariedade.

Como bem pontifica Paulo Otero, a solidariedade é uma manifestação da cultura da

vida própria de um Estado de direitos humanos, fixando sem cessar uma exigência de

justiça social, capaz de tornar digno o ser humano, pois sem solidariedade a vida humana é

menos digna e sem dignidade a solidariedade é desumana. Pode falar-se, contudo, que a

solidariedade revela uma direção vinculativa da atuação dos poderes públicos, cobrando-

lhes a adoção e a execução de políticas públicas implementadoras de um modelo de

sociedade, baseado na justiça social, alicerçada no bem estar, enquanto garantia de uma

25

NOVAIS, Jorge Reis. Direitos sociais: teoria jurídica dos direitos sociais enquanto direitos fundamentais.

Coimbra: Wolters Kluwer Portugal/Coimbra Editora, 2010, p. 203-204.

26 Cf. BRASIL. Supremo Tribunal Federal (STF). AgR-RE 271.286-8/RS. Disponível em:

<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=335538>. Acesso em: 30 abr. 2014.

27 Cf. CRFB/88, art. 1º, I a IV.

28 BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 506-507.

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existência digna, para além da repartição das receitas do Estado, em favor de prestações

que atendam aos anseios da coletividade, especialmente os menos favorecidos29.

A garantia mediante políticas sociais e econômicas ressalva, justamente, a

necessidade de formulação de políticas públicas que concretizem o direito fundamental à

segurança pública por meio de escolhas alocativas30.

Vê-se que o poder público não pode jamais banir ou desprezar a função social do

Estado, mas, sim, deve atuar de maneira responsável e preocupar-se com o aspecto

solidário, através da prestação e efetividade de políticas públicas que alcancem promoção

social, garantindo-lhes condições mínimas de existência digna, segurança pública com

qualidade, e não como uma caixa de promessas vazias.

Nessa trilha de ideias, o direito fundamental social à segurança pública adequada

se realiza por meio de políticas públicas eficientes e eficazes, no qual supõe o acesso

econômico e físico, de forma continuada, assim como com qualidade e quantidade, ou

melhor, realizado em atividades e programas devidamente dotadas de recursos

orçamentários, que possam ser efetivamente implementados pelo poder público. Porém,

para sua efetividade, as políticas públicas de segurança pública devem prever instrumentos

de fiscalização, avaliação e controle social, sob pena de ineficiência, ineficácia e, sobretudo,

malversação do erário, para além da possibilidade de sua utilização para promoção pessoal

e eleitoral.

O direito fundamental à segurança pública traduz um bem jurídico

constitucionalmente tutelado, por cuja integridade deve velar, de maneira responsável, o

poder público, nas esferas federal, estadual e municipal, a quem incumbe formular e

implementar políticas públicas que visem garantir a plena consecução dos objetivos da Lex

Mater, tampouco pode se mostrar indiferente, sob pena de incidir, diante da omissão, em

censurável comportamento inconstitucional31.

Adite-se, no que pese o mínimo existencial está associado ao estabelecimento de

prioridades orçamentárias, e é capaz de conviver harmoniosamente e produtivamente com a

reserva do possível, bastando, destarte, vontade e comprometimento dos governantes na

29

OTERO, Paulo. Direito constitucional português: identidade constitucional. Coimbra: Almedina, 2010. v. I, p.

43-44.

30 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 6. ed. São

Paulo: Saraiva, 2011, p. 686-687.

31 BULOS, Uadi Lammêgo. Op. cit., p. 1526.

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formulação e concretização de políticas públicas que assegurem condições mínimas a uma

existência digna e essenciais à sobrevivência dos indivíduos.

Parafraseando o entendimento do Supremo Tribunal Federal no AgR-RE n.º

271286-8/RS, pertinente ao direito à saúde, é possível, destarte, defender que a dimensão

individual do direito fundamental à segurança pública deve ser reconhecida como uma

pretensão jurídica ou direito subjetivo público não absoluto, assegurado mediante políticas

públicas que o concretize, cabendo, a depender do caso concreto, a devida judicialização,

ou melhor, há uma pretensão ou direito público subjetivo a políticas públicas que promovam

o direito fundamental social à segurança pública32.

Vale recordar, todavia, que na hipótese de atuação de modo insuficiente ou

incompleto do comando constitucional na efetivação do direito fundamental social à

segurança pública, id est, caracterizada a omissão total ou parcial, é possível o controle de

constitucionalidade das políticas públicas33.

Espera-se, entretanto, que o Estado promova e efetive suas políticas publicas de

forma progressiva até o máximo dos seus recursos disponíveis.

Entrementes, considerando que se partilha do raciocínio que tanto os direitos de

liberdade como os direitos sociais são jus positivos, têm custos e é quase impossível o

Estado concretizar com eficiência todos, é razoável que este tenha a prerrogativa de

escolher e sopesar, de forma transparente e responsável, dentre os direitos fundamentais

que devem ser protegidos, concretizados e efetivados prioritariamente, e quais,

lastimavelmente, serão sacrificados34.

Nessa toada, para uma melhor compreensão desse item é necessário trazer à

colação conceitos de políticas públicas.

3.2 Conceito jurídico de políticas públicas

Doutrinariamente, encontram-se diversos conceitos de políticas públicas, porém

dar-se-á realce ao jurídico, evidentemente em razão do caráter desta artigo.

32

MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Op. cit., p. 686-707.

33 FERRARI, Regina Maria Macedo Nery. Direito constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p.

788.

34 Cf. MARCILIO, Carlos Flávio Venâncio. Op. cit., p. 163-165.

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Política pública pode ser definida como uma conduta comissiva ou omissiva da

administração pública, em sentido largo, voltada à consecução de programa ou meta

prevista em norma constitucional, ou legal, sujeitando-se ao controle judicial amplo e

exaustivo, especialmente no tocante à eficiência dos meios empregados e à avaliação dos

resultados alcançados. A expressão políticas é uma locução polissêmica, que designa todas

as atuações do Estado, cobrindo todas as formas de intervenção do poder na vida social.

Políticas públicas são ações governamentais tendentes a satisfazer interesses relevantes

para a sociedade, em seu todo ou em parte dela; entende-se por políticas públicas ou

política estatal o conjunto de atividades do Estado tendentes a seus fins, de acordo com

metas a serem atingidas; são instrumentos de ação do governo35.

Postas essas definições, vale salientar a lição de Maria Paula Dallari Bucci:

“políticas públicas são programas de ação governamental que resulta de um processo ou

conjunto de processos juridicamente regulados, cite-se, processo de governo, processo

judicial, processo legislativo, processo eleitoral, processo orçamentário, processo

administrativo, processo de planejamento, visando a coordenar os meios à disposição do

Estado e as atividades privadas para a realização de objetivos socialmente relevantes e

politicamente determinados”36.

Isso posto, infere-se que o conceito de políticas públicas pressupõe modelos de

programas, ações e atividades públicas, envolvendo, todavia, o comprometimento das

funções do Estado com a consecução das metas de efetivação dos direitos fundamentais

assegurados na Lex Mater.

Enfim, convém esclarecer que é possível todos os Poderes da República,

Executivo, Legislativo e Judiciário, realizarem a promoção e efetivação das políticas

públicas, porquanto, frise-se, que o controle jurisdicional destas atividades públicas

relacionadas aos direitos sociais, em particular o direito à segurança pública,

constitucionalmente assegurado, para sua implementação ou correção, encontra

pressupostos ou limites na observância do mínimo existencial, da reserva do possível e dos

princípios da razoabilidade e proporcionalidade, senão vejam-se:

35

ANTONIO, Nilva M. Leonardi. O controle jurisdicional de políticas públicas como controle de

constitucionalidade e seus limites. In: GRINOVER, Ada Pellegrini; WATANABE, Kazuo (Coords.). O controle

jurisdicional de políticas públicas. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 184-187.

36 BUCCI, Maria Paula Dallari. O conceito de política pública em direito. In: Políticas públicas: reflexões sobre o

conceito jurídico. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 39.

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a) O mínimo existencial, vez que corresponde ao núcleo duro dos direitos

sociais garantidos pela Carta Magna, para além de consistir no mínimo indispensável para

uma vida digna, autorizando, portanto, a imediata judicialização do direito à segurança

pública;

b) A reserva do possível, como se discorrerá à frente, indica a necessidade de

planejamento da execução de políticas públicas com vistas a assegurar o direito à

segurança pública, concomitantemente com a existência de disponibilidade orçamentária

para sua implementação;

c) Os vetores da razoabilidade e proporcionalidade indicam a pretensão

moderada, o justo equilíbrio entre os meios empregados e os fins a serem alcançados e, em

contrapartida, a desarrazoabilidade da lei e de sua interpretação.

Passar-se-á doravante ao objetivo específico deste artigo.

3.3 O busílis da questão: é possível a proibição de retrocesso social do “Pacto pela

Vida” pernambucano?

O princípio da proibição ou vedação de retrocesso, também conhecido como efeito

cliquet, proibição de contrarrevolução social, proibição de evolução relacionaria ou princípio

da não reversibilidade dos direitos fundamentais sociais37, cuida-se de um postulado que

comumente a doutrina brasileira vem utilizando, bem orientada pelos ensinamentos

europeus, com realce na Alemanha, Portugal, Espanha e França, além de se tratar de um

postulado diretamente relacionado à viga mestra da segurança jurídica.

À guisa de ilustração, fornecem-se, a seguir, indicações do surgimento de

construções doutrinárias e jurisprudenciais a respeito do princípio da proibição de retrocesso

social:

a) A teoria da irreversibilidade ou nichtumkehrbar-keitstheorie, desenvolvida por

Konrad Hesse, em obra de 1978, segundo a qual haveria vinculações para o Estado

decorrentes da cláusula do Estado social plasmada na Constituição alemã, relativas à

interpretação da legislação existente, à determinação de tratamento diferenciado de certas

situações em prol da igualdade e à limitação do Poder Legislativo. Segundo Konrad Hesse,

a teoria da irreversibilidade partiria da afirmação de que não se pode induzir o conteúdo

37

QUEIROZ, Cristina. Direitos fundamentais: teoria geral. 2. ed. Coimbra: Coimbra Editora, 2010. O princípio

da não reversibilidade dos direitos fundamentais sociais: princípios dogmáticos e prática jurisprudencial.

Coimbra: Coimbra Editora, 2006, p. 61-81.

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substantivo da vinculação social do Estado diretamente da Constituição, mas, uma vez

produzidas as regulações, uma vez realizada a conformação legal ou regulamentar deste

princípio, as medidas regressivas afetadoras destas regulações seriam inconstitucionais, ou

melhor, haveria uma irreversibilidade das conquistas sociais alcançadas38;

b) Na Alemanha, o Tribunal Constitucional Federal teria afirmado que o

legislador não pode simplesmente desmantelar o sistema de seguridade social, não pode

eliminar o que seja vital para as pessoas que dele dependem e sobre ele programam sua

existência, pelo que a expectativa de direito, o jus a uma pensão e os status similares

encontram proteção constitucional no art. 14 da Lei Fundamental alemã. Acrescenta-se, a

lição de Ingo Wolfgang Sarlet, que a partir do conceito funcionalista de propriedade

desenvolvido por Martin Wolff, o Tribunal em destaque tem fundamentado a proibição de

retrocesso e, sob certos pressupostos, salvaguardado posições jurídicas subjetivas do

sistema de prestações sociais39;

c) Em Portugal, pontifica-se que a proibição de retrocesso social foi exposta,

pela primeira vez, no Tribunal Constitucional português, com muita propriedade pelo

Conselheiro Vital Moreira, exatamente no acórdão n.º 39/84, asseverando inequivocamente

que o Estado “não pode descumprir o que cumpriu, não pode voltar a colocar-se na posição

de devedor”, estando, contudo, obrigado a abster-se de atentar contra a realização dada ao

direito social. Logo, o Tribunal Constitucional Português declarou inconstitucional o art. 17,

do Decreto-Lei n.º 254, de 29 de junho de 1982, que revogava os arts. 18 a 61, 64 e 65,

todos da Lei do Serviço Nacional de Saúde40.

A viga mestra da proibição do retrocesso social, repita-se, também é denominada

como princípio da não reversibilidade dos direitos fundamentais sociais41 ou efeito cliquet

(effet cliquet)42. Justifica-se.

38

NETTO, Luísa Cristina Pinto e. O princípio da proibição de retrocesso social. Porto Alegre: Livraria do

Advogado, 2010, p. 101-102.

39 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos fundamentais

na perspectiva constitucional. 10. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009, p. 441-443.

40 NETTO, Luísa Cristina Pinto e. O princípio da proibição de retrocesso social. Porto Alegre: Livraria do

Advogado, 2010, p. 101-102, p. 103. Cf. SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais: uma

teoria geral dos direitos fundamentais na perspectiva constitucional. 10. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado,

2009, p. 440.

41 QUEIROZ, Cristina. Direitos fundamentais: teoria geral. 2. ed. Coimbra: Coimbra Editora, 2010. O princípio

da não reversibilidade dos direitos fundamentais sociais: princípios dogmáticos e prática jurisprudencial.

Coimbra: Coimbra Editora, 2006, p. 61-81.

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Assinala José Joaquim Gomes Canotilho que os direitos sociais, uma vez obtido um

determinado grau de realização, passam a constituir, ao mesmo tempo, uma garantia

institucional e um direito subjetivo. Para o autor, a proibição de retrocesso social nada pode

fazer contra as recessões e crises econômicas (reversibilidade fática), porém o postulado

em destaque limita a reversibilidade dos direitos adquiridos (ex: prestações de saúde), clara

violação do princípio da proteção da confiança e da segurança dos cidadãos no âmbito

econômico, social e cultural, bem como do núcleo essencial da existência mínima inerente

ao respeito pela dignidade da pessoa humana43.

Sucede o autor luso aduzindo que o reconhecimento dessa proteção de direitos

prestacionais de propriedade, subjetivamente adquiridos, constitui um limite jurídico do

legislador e, ao mesmo tempo, uma obrigação de uma prossecução de uma política

congruente com os direitos concretos e as expectativas subjetivamente alicerçadas, ou seja,

pelo princípio da proibição de retrocesso o núcleo essencial dos direitos sociais já realizados

e efetivados por meio de lei, constitucional ou infraconstitucional, deve considerar-se

constitucionalmente garantido, sob pena de inconstitucionalidade, salvo na hipótese de

criação de prestação alternativa para de forma supletiva resguardar os direitos sociais

consolidados44.

George Marmelstein discorre que na França, a jurisprudência do Conselho

Constitucional reconhece que o princípio da vedação de retrocesso se aplica inclusive em

relação aos direitos de liberdade, no sentido de que não é possível a revogação total de

uma lei que protege as liberdades fundamentais sem a substituir por outra que ofereça

garantias com eficácia equivalente, pelo que os franceses chamam esse fenômeno de

“efeito cliquet” (effet cliquet), em alusão a uma técnica de engenharia mecânica que impede

a reversão de um processo, uma vez ultrapassado determinado estágio, simbolizado por um

som de “clic”, semelhante a uma chave fechando uma porta, que impede o retorno por

intermédio dela45.

Digna de menção é a lição de Walber de Moura Agra, que proibição de retrocesso

ou entrincheiramento ou entrenchment, consiste no princípio do não retorno da

42

MARMELSTEIN, George. Curso de direitos fundamentais. São Paulo: Atlas, 2008, p. 267.

43 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 7. ed. Coimbra:

Almedina, 2003, p. 338-339. 44

Idem, ibidem, p. 339-340.

45 MARMELSTEIN, George. Op. cit., p. 267.

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concretização ou viga mestra da desnaturação do conteúdo da Constituição, id est, é a

tutela jurídica da densidade suficiente dos direitos humanos, respaldada em uma

legitimação social, evitando que possa haver um retrocesso, seja por intermédio de sua

supressão normativa ou através da diminuição de suas prestações à coletividade46.

É nessa linha que, muito significativamente, assevera-se que uma vez dimanada

pelo Estado a legislação concretizadora do direito fundamental social, que se apresenta face

a esse direito como uma lei de proteção, a ação do Estado, que se consubstanciava num

dever de legislar, transforma-se num dever mais abrangente, qual seja, o de não eliminar ou

revogar essa lei. Logo, a proibição de retrocesso social traduz um sentimento comum e

generalizado de gestão de expectativas no cenário do Estado social47.

O ordenamento jurídico brasileiro, como já esboçado, elevou, por meio do Poder

Constituinte originário, o direito à segurança pública à categoria de direito fundamental

social, estampado no rol do art. 6º, c/c o art. 144, incisos I a V e §§ 1º ao 9º, todos da Carta

Magna, sendo este um jus autônomo e, concomitantemente, irradiado pelo princípio da

dignidade da pessoa humana48.

Nessa magnitude transformadora que pretende alcançar a República Federativa do

Brasil no quadro social e político retratado pelo Poder Constituinte originário, e,

considerando ainda a proteção constitucional dada aos direitos fundamentais, parece

inobjetável que o princípio da vedação ou proibição de retrocesso se aplica

necessariamente no direito brasileiro, aliado ao fato de ser deveras relevante a orientar a

hermenêutica dos direitos sociais, designadamente no que tange à segurança pública,

especialmente no caso concreto do “Pacto pela Vida” pernambucano, vez que este direito

constitucionalmente consagrado não pode ser restringido aquém do seu núcleo essencial já

realizado e efetivado, mas sim, deve ser perspectivado sempre de forma progressiva e

adicional ao mínimo vital garantido, sob pena de retrogradação social, inconstitucionalidade

e contundente atentado aos direitos à vida, à integridade física, o patrimônio, dentre outros

bens juridicamente tutelados, para além da dignidade humana, pois a segurança pública, em

sentido amplo, é simplesmente imprescindível para uma existência digna.

46

AGRA, Walber de Moura. Direitos sociais. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva; MENDES, Gilmar Ferreira;

NASCIMENTO, Carlos Valder do. Tratado de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1, p. 540.

47 QUEIROZ, Cristina. Direitos fundamentais sociais: funções, âmbito, conteúdo, questões interpretativas e

problemas de justiciabilidade. Coimbra: Coimbra Editora, 2006, p. 103-105.

48 ANDRADE, José Carlos Vieira de. Op. cit., p. 380.

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Observa-se que o princípio da proibição de retrocesso social é um postulado

constitucional com caráter retrospectivo, haja vista que se propõe a preservar um estado de

coisas já conquistado contra a sua restrição ou supressão arbitrária, como também significa

a obrigação de avanço social ou concretização progressiva, não se traduzindo em mera

manutenção do status quo. Esclarece-se, porém, que o princípio da proibição de retrocesso

social é a obrigatoriedade da observância, pelo legislador, do grau de concretização

infraconstitucional dos direitos fundamentais sociais, de modo a que não se retorne, pela via

omissa, bem assim veda-se ao legislador a possibilidade de, injustificadamente, aniquilar ou

reduzir o nível de concretização legislativa já alcançado por um determinado direito

fundamental social49.

Concebe-se que o dever de progressividade e a proibição de retrocesso constituem

dimensões interligadas e que reclamam uma produtiva e dinâmica compreensão e

aplicação, não se podendo outorgar aos direitos sociais, com base na viga mestra de

vedação da retrogradação, uma proteção maior que a assegurada aos demais direitos

fundamentais, no âmbito do sistema constitucional de limitação das restrições de direitos,

bem assim não se poderá admitir, ainda mais quando se cuida de ordem constitucional que

reconhece aos direitos sociais a sua condição de direitos fundamentais, uma tutela em

princípio menor de tais direitos. Com efeito, negar reconhecimento ao princípio da proibição

de retrocesso significaria admitir que os órgãos legislativos e o Poder Público em geral, a

despeito de estarem inquestionavelmente vinculados aos direitos fundamentais e às normas

constitucionais, dispõem do poder de tomar livremente suas decisões, mesmo em flagrante

desrespeito à vontade expressa do constituinte50.

Para Luísa Cristina Pinto e Netto, a aceitação do princípio da proibição de

retrocesso social está fundada na ideia de um progresso constante no caminho da

emancipação humana e da concretização da dignidade da pessoa humana, não se

admitindo “marchas atrás” na consagração e efetivação dos direitos fundamentais. E, sem

configurar um quadro fechado, resume esta autora que se busca fundamentar a existência

de um princípio implícito de proibição de retrocesso social nas ordens jurídico

49

DERBLI, Felipe. O princípio da proibição de retrocesso social na Constituição de 1988. Rio de Janeiro:

Renovar, 2007, p. 202, 219-223 e 243.

50 SARLET, Ingo Wolfgang. Segurança social, dignidade da pessoa humana e proibição de retrocesso:

revisitando o problema da proteção dos direitos fundamentais sociais. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes;

CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha (Coords.). Direitos fundamentais sociais.

São Paulo: Saraiva, 2010, p. 81-92.

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constitucionais brasileira e portuguesa partindo: a) da supremacia da constituição; b) do

postulado de máxima eficácia das normas de direitos fundamentais; c) dos princípios

estruturantes do Estado Constitucional; d) da internacionalização dos direitos

fundamentais51.

Afigura-se, que o princípio da proibição de retrocesso cogita-se de um vetor

relativo, e não absoluto, passível de ponderação motivada, com feições de verdadeiro

postulado constitucional fundamental implícito, no qual pode ser reconduzido tanto ao

princípio do Estado de Direito, dada a sua vinculação com a proporcionalidade e a proteção

da confiança e da estabilidade das relações jurídicas inerentes à segurança jurídica, quanto

ao alicerce do Estado Social, na condição de garantia da manutenção dos graus mínimos de

segurança social alcançados, fruto da máxima eficácia e efetividade das normas de direitos

fundamentais sociais e da prioridade do papel da dignidade da pessoa humana, para além

que o postulado em apreço cuida-se de uma importantíssima conquista da dogmática

jurídico constitucional para resguardar, no plano de uma eficácia negativa, a proteção dos

direitos sociais contra sua supressão e erosão pelos poderes constituídos52.

Em razão disso, estando o direito à segurança pública no rol dos jus sociais

previstos na Constituição brasileira, o princípio da proibição de retrocesso atua também

como um escudo contra os arbítrios do Estado, devendo este, em homenagem ao conteúdo

negativo, respeitar a não supressão ou a não redução do grau de densidade do direito à

segurança pública, salvo, evidentemente, se forem desencadeadas prestações alternativas

para de forma supletiva resguardar o já consolidado e, no que tange ao conteúdo positivo,

deve o Estado implementar mais e mais o direito à segurança pública, especialmente o

“Pacto pela Vida” dos pernambucanos, por meio de sua efetiva concretização53,

51

NETTO, Luísa Cristina Pinto e. O princípio da proibição de retrocesso social. Porto Alegre: Livraria do

Advogado, 2010, p. 111-135. Nesse sentido, o princípio da proibição de evolução reacionária ou

contrarrevolução social, funda-se, à luz da Carta de Outubro de 1988, nos postulados da dignidade da pessoa

humana (art. 1º, III), no estado democrático de direito (art. 1º, caput) e na máxima efetividade (art. 5º, §1º).

52 SARLET, Ingo Wolfgang. Segurança social, dignidade da pessoa humana e proibição de retrocesso:

revisitando o problema da proteção dos direitos fundamentais sociais. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes;

CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha (Coords.). Direitos fundamentais sociais.

São Paulo: Saraiva, 2010, p. 95.

53 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 7. ed. Coimbra:

Almedina, 2003, p. 476-478. Cf. COSTA, Eliane Romeiro; CARVALHO Osvaldo Ferreira de. O princípio da

proibição de retrocesso social no atual marco jurídico-constitucional brasileiro. In: Revista de Direito

Constitucional e Internacional, ano 18, n. 73, p. 156, out-dez. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.

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designadamente com a imposição da obrigação de avanço e progresso social do importante

direito fundamental em apreço, para além de servir para aumentar a segurança jurídica do

conteúdo da Lex Mater e efetivar a jurisdição constitucional54.

De mais a mais, não há que falar em retrocesso do direito fundamental social à

segurança pública protegido na Carta Magna brasileira e na Constituição do Estado de

Pernambuco de 05 de outubro de 1989 (Título IV - Da Administração Pública, Capítulo IV -

Do Sistema de Segurança Pública, Arts. 101 a 105)55, particularmente o brilhante “Pacto

pela Vida”, mas o que se permite é sua evolução e expansão, propiciando maiores

prerrogativas à população, particularmente assegurando o direito à segurança pública

devida e, quiçá, a tão almejada erradicação da violência no Estado de Pernambuco,

augurando-se que essa notável, reconhecida, ousada, perspicaz, eficiente e eficaz política

pública seja também implantada pelos demais Entes federativos, sobretudo em respeito e

homenagem à vida, à integridade física, à liberdade, o patrimônio e a dignidade de todos os

cidadãos, indistintamente.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo procurou ser preciso e objetivo, analisando-se, todavia, o Direito

Fundamental Social à Segurança Pública: o “Pacto pela Vida” pernambucano e a proibição

de retrocesso social, pelo que, repise-se, não se pretendeu exaurir o assunto, porém,

desenvolver os aspectos legais, doutrinários e jurisprudenciais a respeito deste

importantíssimo tema, instigando a reflexão e o diálogo crítico, razão pela qual se pontuará,

a seguir, as conclusões sumárias que se defende:

1. A Carta Política de 1988, apesar de sua longa vida constitucional,

inegavelmente, foi a primeira a dedicar e reservar capítulo específico a respeito da

segurança pública, designadamente o capitulo III (Da segurança pública) do Título V (Da

54

AGRA, Walber de Moura. Direitos sociais. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva; MENDES, Gilmar Ferreira;

NASCIMENTO, Carlos Valder do. Tratado de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1, p. 540.

55 Constituição do Estado de Pernambuco/1989: “Art. 101. A Segurança Pública, dever do Estado, direito e

responsabilidade de todos, é exercida para preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas e do

patrimônio e asseguramento da liberdade e das garantias individuais através dos seguintes órgãos permanentes:

I – Polícia Civil; II – Polícia Militar; III – Corpo de Bombeiros Militar. §1º As atividades de Segurança Pública

serão organizadas em sistema, na forma da lei. §2º Cabe ao Governador do Estado, assessorado por um

Conselho de Defesa Social, o estabelecimento da Política de defesa social e a coordenação das ações de

Segurança Pública”.

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defesa do Estado e das Instituições Democráticas), no seu art. 144, incisos I a V e §§ 1º ao

10;

2. Adotando uma exegese sistemática do caput do Art. 5º e o Art. 6º, estes no

que se refere o direito à segurança, combinado com o art. 144, incisos I a V e §§ 1º ao 10,

todos da Constituição Federal de 1988, extrai-se que o jus à segurança pública é um direito

fundamental social;

3. Mantendo-se íntima relação de consonância com a concepção

contemporânea de direitos humanos, o direito fundamental social à segurança pública

represente um jus de segunda dimensão ou geração, contido em uma das normas

programáticas da vigente Constituição brasileira;

4. Nos termos do Art. 6º, combinado com o art. 144, incisos I a V e §§ 1º ao 10,

todos da Constituição Federal de 1988, infere-se que o direito à segurança pública é um jus

fundamental social e autônomo, concomitantemente irradiado pelo princípio da dignidade da

pessoa humana; haja vista a ideia nuclear que este postulado constitui o cerne material

aglutinador da normatividade de direitos humanos e fundamentais, id est, inegável

parametrizador que se projeta num princípio normativo de igualdade, liberdade e

solidariedade, além dele assumir a função de uma norma geral inclusiva;

5. O Estado social brasileiro, com sua própria natureza democrático

intervencionista, para além da patronagem e paternalismo peculiares, tem o dever de

garantir o direito fundamental social à segurança pública com qualidade;

6. O direito fundamental à segurança pública na qualidade de jus social, trata-se

de uma norma programática prevista expressamente no caput do art. 6º, da dirigente

CRFB/88, estabelecendo, contudo, diretrizes e programas para o governo seguir, conforme

disponibilidade de recursos ou capacidade financeira, cuja realização dar-se-á a curto,

médio e longo prazo, razão pela qual também denomina-se de norma de eficácia diferida;

7. O direito fundamental social à segurança pública, mesmo este jus sendo

dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, exige-se que a questão seja discutida

e assumida como tarefa precípua e responsabilidade de todos, Estado e população,

mormente que representa consequência constitucional indissociável dos direitos à vida e da

incolumidade das pessoas e do patrimônio;

8. O Estado tem que tratar aqueles que governa com preocupação, respeito,

solidariedade e, sobretudo, como seres humanos, pois assegurar a tranquilidade pública,

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segurança pública e salubridade pública é o mínimo que se deve proporcionar para que os

cidadãos vivam com um pouco de dignidade;

9. Postula-se que a efetivação do direito fundamental social à segurança pública

dar-se-á por meio da graduabilidade, hipótese, entretanto, que não significa reversibilidade

social;

10. A concretização do direito fundamental social à segurança pública, não basta

uma norma regulamentadora, e sim, ações administrativas, por exemplo, políticas públicas

eficientes, refletindo a busca de uma sociedade mais solidária, justa, sem discriminação,

que prioriza a vida, a integridade física, a liberdade, o patrimônio e a dignidade humana;

11. As políticas públicas são imprescindíveis à efetivação do direito fundamental

social à segurança pública e, apesar das limitações do instituto da reserva do possível, em

homenagem ao mínimo existencial, à proibição de retrocesso, sobretudo considerando que

a dignidade da pessoa humana foi guindada à condição de princípio constitucional

estruturante e fundamento do Estado Democrático de Direito, passando o Estado a servir

como instrumento para respeitar, garantir e promover o jus em relevo, defende-se que é

possível, na hipótese de real necessidade, violação ou ameaça de violação, a judicialização

para resguardar o conteúdo mínimo deste direito;

12. O princípio da dignidade da pessoa humana na sua dupla dimensão,

defensiva e prestacional, resguarda o direito fundamental social à segurança pública,

funcionando no ordenamento jurídico brasileiro, sem dúvida, como verdadeiro limite dos

limites do direito fundamental social à segurança pública;

13. O “Pacto pela Vida” do Estado de Pernambuco, pode ser sintetizado, diante

dos seus significativos reconhecimentos, nacional e internacional, bem assim pelos

incomensuráveis resultados desde sua implantação nos idos de 2007, repita-se, redução

dos altos índices de criminalidade que assolavam o nosso conceituado ente federativo,

como uma política pública ousada, perspicaz, eficiente e eficaz, comprometida com as

funções do Estado, transversal e integrada, construída de forma pactuada com a sociedade,

em articulação permanente com o Poder Judiciário, o Ministério Público, a Assembleia

Legislativa, os Municípios e a União, sendo um modelo a ser seguido pelos demais Estados;

14. Diante da magnitude transformadora da política pública “Pacto pela Vida” do

Estado de Pernambuco, no cenário social e político retratado, e, considerando a proteção

constitucional dada ao direito fundamental social à segurança pública, parece-se inobjetável

que o princípio da vedação ou proibição de retrocesso se aplica necessariamente ao

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programa suso, porquanto este jus constitucionalmente consagrado nas Constituições do

Brasil e de Pernambuco, não pode ser restringido aquém do seu núcleo essencial já

realizado e efetivado, mas sim, deve ser perspectivado sempre de forma progressiva e

adicional ao mínimo vital garantido, sob pena de retrogradação social, inconstitucionalidade

e contundente atentado aos direitos à vida, à integridade física, à liberdade, ao patrimônio e

à dignidade humana;

15. Perfilha-se que o princípio da proibição de retrocesso da política pública

“Pacto pela Vida” do Estado de Pernambuco, cogita-se de um vetor relativo, e não absoluto,

passível de ponderação motivada, com feições de verdadeiro postulado constitucional

fundamental implícito;

16. Apesar de não ser pacífico na doutrina e na jurisprudência brasileira que o

direito fundamental social à segurança pública não é uma cláusula pétrea, como são os

direitos e garantias individuais, em contrapartida, aquele está, inegavelmente, albergado

pelo manto da garantia da proibição do retrocesso social, corolário, destarte, dos princípios

fundamentais do Estado Democrático de Direito e da dignidade da pessoa humana;

17. O direito fundamental social à segurança pública está sob o manto da

cláusula de vedação de retrocesso, pois uma vez concretizado, passa a integrar a esfera

jurídica do cidadão, não podendo sumariamente ser excluído, porém não se pode falar em

diminuir ou modelar algo que o Estado nunca forneceu antes;

18. Estando o direito à segurança pública no rol dos jus sociais previstos na

Constituição brasileira, o princípio da proibição de retrocesso atua também como um escudo

contra os arbítrios do Estado, devendo este, em homenagem ao conteúdo negativo,

respeitar a não supressão ou a não redução do grau de densidade do direito à segurança

pública, salvo, evidentemente, se forem desencadeadas prestações alternativas para de

forma supletiva resguardar o já consolidado e, no que tange ao conteúdo positivo, deve o

Estado implementar mais e mais a política pública “Pacto pela Vida” do Estado de

Pernambuco, por meio de sua efetiva concretização, designadamente com a imposição da

obrigação de avanço e progresso social do importante direito fundamental em apreço;

19. Não há que falar em retrocesso da política pública “Pacto pela Vida” do

Estado de Pernambuco, mas o que se permite é sua evolução e expansão, propiciando

maiores prerrogativas à população, particularmente assegurando o direito fundamental

social à segurança pública e, quiçá, a tão almejada erradicação da criminalidade neste

Estado;

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20. Entrevê-se, em síntese apertada, que o direito fundamental social à

segurança pública no ordenamento jurídico brasileiro, cuida-se de um jus autônomo,

concomitantemente protegido e irradiado pelo princípio da dignidade da pessoa humana,

que mantém relação de interdependência com os direitos à vida, à integridade física, à

liberdade e ao patrimônio, sendo possível sua justiciabilidade, aliado ao fato de estar sujeito

à reserva do possível, para além de escudado pelo manto da cláusula de vedação de

retrocesso social, cuja interpretação dessa norma programática não pode transformá-la em

promessa constitucional inconsequente.

Parabéns Estado de Pernambuco pela exemplar, essencial e determinante política

pública “Pacto pela Vida” em prol do direito fundamental social à segurança pública,

augurando-se ao Governo do Estado e os Parlamentares que volvam os olhos com carinho

e respeito aos integrantes das briosas Policias Militar e Civil, bem assim aos membros do

Corpo de Bombeiros militar, proporcionando-lhes qualificações e melhorias salariais dignas,

pois são estes, por intermédio de dedicação e abnegação diuturna, seja na atuação

preventiva ou repressiva, e, sobretudo, arriscando suas vidas diariamente em prol da

sociedade pernambucana, que a redução dos altos índices de criminalidade tornou o “Pacto

pela Vida” um referência nacional e internacional.

REFERÊNCIAS

a) Livros

AGRA, Walber de Moura. Direitos sociais. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva; MENDES, Gilmar Ferreira; NASCIMENTO, Carlos Valder do. Tratado de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1, p. 510-554. BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

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_____. Do Estado liberal ao Estado social. 10. ed. São Paulo: Malheiros, 2011. BUCCI, Maria Paula Dallari. O conceito de política pública em direito. In: Políticas públicas: reflexões sobre o conceito jurídico. São Paulo: Saraiva, 2006

BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. CANOTILHO, José Joaquim Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz. (Coords.). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013,

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Martins Fontes, 2010.

FERRARI, Regina Maria Macedo Nery. Direito constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais,

2011. FERREIRA, Pinto. Curso de direito constitucional. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2001.

LAZZARINI, Alvaro. Defesa do Estado. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva; MENDES, Gilmar Ferreira; NASCIMENTO, Carlos Valder do. (Coords.). Tratado de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1, p. 1017-1054.

MARMELSTEIN, George. Curso de direitos fundamentais. São Paulo: Atlas, 2008.

NETTO, Luísa Cristina Pinto e. Os direitos sociais como limites materiais à revisão constitucional. Salvador: Juspodivm, 2009. _____. O princípio da proibição de retrocesso social. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010.

NOVAIS, Jorge Reis. Direitos sociais: teoria jurídica dos direitos sociais enquanto direitos

fundamentais. Coimbra: Wolters Kluwer Portugal/Coimbra Editora, 2010. OTERO, Paulo. Direito constitucional português: identidade constitucional. Coimbra: Almedina, 2010. v. I. QUEIROZ, Cristina. Direitos fundamentais sociais: funções, âmbito, conteúdo, questões

interpretativas e problemas de justiciabilidade. Coimbra: Coimbra Editora, 2006. SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos

fundamentais na perspectiva constitucional. 10. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009.

b) Sítio Eletrônico

BRASIL. Supremo Tribunal Federa (STF). AgR-RE 271.286-8/RS. Disponível em: <

http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=335538>. Acesso em: 30 abr. 2014.

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O CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE PERNAMBUCO E O

PLANEJAMENTO DE GRANDES EVENTOS: analisando o desfile do

Galo da Madrugada como um estudo de caso

Lamartine Gomes Barbosa1

Cristiano Corrêa2

Resumo

Discutir o planejamento do Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco, como uma das agências envolvidas na promoção da segurança do desfile do bloco carnavalesco 'O Galo da Madrugada', este é o desafio deste artigo. Tal desfile tem como público uma multidão com mais de um milhão e meio de pessoas, em comportamento totalmente voltado a descontração e à folia, em franco uso de bebida alcoólica, exposta ao calor do verão pernambucano, embalada por músicas carnavalescas em um cenário repleto de riscos de incêndio e de acidentes, efetivos e potenciais. Utilizando a método hipotético dedutivo, que pressupõe que a gestão operacional é formada por subsistemas integrativos, a pesquisa decodifica suas abrangências e significados, os quais admitidos sob a ótica da analise sistêmica, corporificam as ações que antecedem, são processadas (durante) e sucedem a gestão de segurança implementada pela instituição. Concluindo-se que planejar e executar ações efetivas, sobretudo preventivas, é a principal ferramenta institucional para a minimização de riscos de acidentes massivos e desastres. Palavras-chave: O Galo da Madrugada. Sistema operacional. Gerenciamento de

riscos.

1 Tenente-Coronel do Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco. Especialista em Gestão de Riscos.

2 Major do Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco. Doutorando em Engenharia Civil (Segurança

Contra Incêndio) – UFPE.

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1 INTRODUÇÃO

Os fenômenos de massa, geralmente ligados a festividades religiosas e

pagãs ou eventos esportivos, reúnem multidões desde a antiguidade, tanto no

ocidente como no oriente.

Tais reuniões fazem parte da história de quase todos os povos, sendo uma

manifestação legítima da cultura desses mesmos povos, contudo, quando as

medidas profiláticas inexistem ou ainda os planejamentos são incoerentes com as

demandas, tais manifestações podem gerar tragédias.

Neste contexto destacam-se, apenas como exemplos: a invasão do Estádio

Nacional no Peru no ano de 1964, quando jogavam as seleções de Peru e

Argentina, tendo como resultado fatalístico a morte de 318 pessoas (STOTT, 2008,

p.115-141). Na Arábia Saudita, durante a famosa peregrinação a Meca, após um

falso informe que havia um incêndio, a multidão desesperada promoveu um tumulto

que levou a morte de mais de 340 e centenas de feridos, no ano de 2006, repetindo

em escala amplificada a tragédia corriqueira em tal peregrinação, que durante os

anos de 1990 a 2006, contabiliza 2.632 óbitos diretos de tumultos advindos da

peregrinação (INTERNATIONAL RELATIONS, 2012, p.784-816).

Outra festividade religiosa que gerou quase uma centena e meia de vidas

ceifadas tomou corpo em 03 de Agosto de 2008, durante cerimônia na cidade

montanhosa de Himachal Pradesh, na Índia (MORAN, 2013, p.1-25). No Brasil o

Círio de Nazaré, ocorrido anualmente em Belém do Pará, registrou um incêndio em

um prédio histórico, que encontrava-se no roteiro da maior das procissões do dito

ciclo religioso, sendo evitada a tragédia pela proatividade dos agentes públicos

envolvidos na segurança pública, que desviaram, em tempo o percurso da

procissão. (PARÁ, 2008)

Portanto, é bastante relevante estudar o planejamento e a execução da

Operação montada pelo Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco que promove a

prevenção-reação para o Desfile do Galo da Madrugada, que reúne uma multidão

estimada em 1,5 milhões de pessoas (GUINNES, 2014), em um perímetro de

apenas 7,19 km2, imprimindo a impressionante demografia de 277.046,68 pessoas

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por km2. Esse é o desafio do presente artigo, principalmente quando avizinha-se

eventos esportivos com a dimensão da Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas de 2016.

2 O GALO DA MADRUGADA E O PODER PÚBLICO

O Clube de Máscaras Galo da Madrugada é uma agremiação carnavalesca

fundada em 1978, em Recife, e tem atualmente como sede à Rua da Concórdia, nº

984, bairro de São José. Em sua história, o Galo da Madrugada conta com o inédito

feito, à época, de uma agremiação carnavalesca do Brasil, o de ser registrado pelo

Livro dos Recordes como o maior bloco de carnaval da terra, com cerca de 1,5

milhões de foliões. (GALO DA MADRUGADA, 2011)

Em breve histórico Ianino (2012) relata a sua gêneses:

foi fundado oficialmente em 23 de janeiro 1978, em uma reunião de

familiares e amigos, que ocorreu em uma residência localizada na Rua

Padre Floriano, nº 43, no bairro de São José, no centro do Recife. Esse local

serviu como a primeira sede do bloco, durante os cinco primeiros anos de

sua existência. Os principais fundadores do Galo da Madrugada foram:

Enéas Alves Freire, José Mauro Freire (filho de Enéas), Costa.Antônio

Carlos Freire (filho de Enéas), Rômulo Guerra de Meneses (genro de

Enéas), Cláudio Guerra de Meneses, Mauro Scanoni e Rogério. (IANINO,

2012, p.1)

A preocupação das autoridades públicas com a segurança desse evento

levou a Secretaria de Defesa Social do Estado a designar, em 31 de janeiro de

2010, um Grupo de Trabalho com o objetivo de coordenar as ações de planejamento

e de execução da segurança do cidadão durante o período chamado momesco no

ano de 2011 (PERNAMBUCO, 2011)

Como combinar uma multidão de mais de um milhão de pessoas, com o

comportamento totalmente voltado à descontração e à folia, em franco consumo de

bebida alcoólica, com grande exposição ao sol e ao calor da manhã e da tarde do

verão na Capital Pernambucana, em um corredor urbano de 5 Km (cinco

quilômetros) de extensão, seguindo trios elétricos tocando músicas carnavalescas,

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em um cenário repleto de riscos de incêndio e de acidentes, efetivos e potenciais,

sem que isso gere acidentes massivos e desastres?

A concentração de pessoas no desfile do Galo da Madrugada é tamanha, de

forma que em apenas dois bairros do Recife (São José e Santo Antônio), concentra-

se uma quantidade de foliões quase igual a quantidade total de moradores de toda a

cidade, pouco mais de 1.500.000 habitantes, segundo o IBGE (BRASIL, 2011).

O objetivo geral do presente trabalho é analisar a metodologia e os recursos

adotados pelo Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco (CBMPE) para a

mitigação dos riscos e vulnerabilidades contra acidentes, incêndios e pânico durante

a realização do desfile do Bloco de Máscaras Galo da Madrugada, em Recife, no

ano de 2012.

3 REFERENCIAL TEÓRICO

A partir de 1870, o carnaval, no Brasil, passou a preferir os espaços públicos

aos privados (ARAÚJO, 2011). Vidal e Araújo (2011) concordam que as relações

entre as políticas públicas de governo e os carnavais e outros grandes festejos

populares, no Brasil e particularmente em Pernambuco, assumiram desde

tendências ao embate e à censura, até momentos de concordância de propósitos e

franca colaboração (VIDAL, 2011). Já no início dos anos 1900 o aparato policial

passou de órgão responsável pela repressão ao carnaval popular de rua a órgão

que defendia o direito ao uso do espaço público por todos (ARAÚJO, 2011 e VIDAL,

2011). Nos anos mais recentes, a partir do final da década de 1970, e

particularmente no caso do Galo da Madrugada em Recife, observa-se uma nítida

tendência do poder público à colaboração e ao estímulo (SANTOS, 2011).

Nesse contexto, insere-se o CBMPE como órgão integrante do aparelho de

segurança estatal. A Corporação participou ativamente das atividades do grupo de

trabalho da SDS para o Carnaval 2011 (PERNAMBUCO, 2011).

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Sendo o CBMPE responsável por planejar o aparato de segurança e

realizou os levantamentos estratégicos de ameaças na área do desfile e ainda a

aplicação das normas de segurança (PERNAMBUCO, 1997).

No Galo da Madrugada, o Corpo de Bombeiros de Bombeiros Militar de

Pernambuco atua em três tipos de prevenção: A prevenção técnica (através da

fiscalização e da gestão de riscos), a prevenção educativa (através da distribuição

de panfletos com dicas de segurança) e a prevenção operacional (através dos

equipamentos e equipes de resposta, distribuídos ao longo do trecho de desfile),

tudo no sentido de gerenciar os riscos. Segundo Hargreaves (2010), risco é

resultado da relação que existe entre ameaça e vulnerabilidade, avaliável quanto à

sua intensidade. Para ele, “o risco medirá o quanto é provável que a ameaça se

traduza em danos.” (HARGREAVES, 2010)

4 ABORDAGEM SISTÊMICA DA OPERAÇÃO GALO DA MADRUGADA

Diante de todas as variáveis de segurança no contexto da Operação Galo

da Madrugada, pode-se concluir que a melhor forma de analisar o trabalho do Corpo

de Bombeiros de Militar de Pernambuco durante a Operação é encarar esse

trabalho a partir dos princípios e pressupostos da abordagem sistêmica. Segundo

Ludwig von Bertalanffy, autor da teoria geral dos sistemas, um sistema é um

conjunto de elementos inter-relacionados e integrados de forma a se chegar a um

certo resultado (VON BERTALANFFY, apud, MAXIMINIANO, 2011).

Esse tipo de abordagem defende também o princípio da hierarquização de

sistemas, de forma que cada sistema pode ser, sucessivamente, subdividido em

subsistemas, com base em alguns critérios metodológicos (KOONTZ, et al, 2009).

Conforme Maximiniano (2011), todo sistema, por definição, é composto por

entradas ou inputs, processamento, saída ou outputs e feedback ou

retroalimentação do sistema.

A abordagem sistêmica garante um método seguro a partir do qual se pode

estudar qualquer organização, parte de uma organização, seja uma diretoria, um

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departamento ou setor, ou mesmo qualquer processo organizacional nela

desempenhado (MAXIMINIANO, 2011). No caso em questão, a Operação Galo da

Madrugada é um dos sistemas do Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco.

Abaixo, propõe-se uma aplicação do enfoque sistêmico à Operação Galo da

Madrugada:

O primeiro fruto desejável da operação é segurança. Este termo, segurança,

é definido por Barbosa Filho como a “característica a ser buscada nas pessoas e

nos meios ou elementos de um processo produtivo do qual resultará uma produção

por meio do trabalho” (BARBOSA FILHO, 2001). No caso em estudo, a segurança

confunde-se com o resultado a ser buscado pelo sistema operacional, ou seja,

identifica-se com a própria natureza da produção.

Outro resultado esperado do sistema operacional é a redução de riscos. O

conceito de risco está relacionado à idéia de perigo, inconveniente, infortúnio, cuja

possibilidade de previsão seja incerta (HARGREAVES, 2010).

Finalmente, para o alcance dos resultados esperados, o Corpo de

Bombeiros Militar de Pernambuco desenvolve atividades típicas, conhecidas em

Administração como “processo empresarial” ou “processo administrativo”, que são:

PLANEJAMENTO, ORGANIZAÇÃO, DIREÇÃO e CONTROLE.

Entradas:

Recursos;

Ambiente;

Energia;

Informação.

PLANEJAMENTO

Plano

DIREÇÃO

Impulso e Orientação

ORGANIZAÇÃO

Estrutura

CONTROLE

Avaliação e

Correção

Saídas:

Segurança;

Redução de

riscos.

FEEDBACK

Fig. 01. Enfoque Sistêmico para a Operação Galo da Madrugada

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5 O SISTEMA OPERACIONAL E A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO CBMPE

Conforme já foi tratado neste artigo, os sistemas podem ser analisados a

partir dos seus subsistemas componentes (KOONTZ, et al, 2009).

O sistema aqui estudado pode ser analisado a partir do esquema

apresentado na figura abaixo, que revela os subsistemas que são gerenciados pela

corporação como o propósito de realizar a Operação Galo da Madrugada:

Fig. 02. Subsistemas do Sistema Operacional

para o Galo da Madrugada

Fonte: Modelo organizado pelo autor

O subsistema de comando e controle pode ser entendido como a gestão

central do sistema, cujo objetivo é dirigir a operação como um todo, desde a sua

fase de planejamento até a sua execução. Esse subsistema se preocupa em

responder por todas as ações desenvolvidas pelo CBMPE para a Operação Galo da

Madrugada, integrando todos os planejamento e ações setoriais.

O subsistema logístico consiste no planejamento e na execução do aporte

logístico que é necessário para que a operação de fato aconteça. Uma operação da

envergadura da que ora se estuda exige uma quantidade muito grande de materiais

e serviços, cuja gestão é centralizada neste subsistema.

O subsistema de informações e comunicações é responsável por captar,

sistematizar e oferecer informações, para dentro e para fora do sistema operacional.

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Estão inclusos neste subsistema tanto a arquitetura quanto a infraestrutura

necessária para o tratamento e a disponibilização das informações do sistema.

O subsistema de gestão de riscos é a parte do sistema operacional

responsável pelo estudo das vulnerabilidades e ameaças do sistema, propondo

intervenções viáveis para redução dos riscos e minimização dos impactos nos casos

de possíveis desastres.

Por fim, o subsistema pessoal e financeiro, que engloba toda a assessoria

em termos de alocação de recursos humanos e financeiros para a operação.

Todos esses subsistemas são operados pelo Corpo de Bombeiros Militar de

Pernambuco a partir da integração dos diversos órgãos que integram a sua estrutura

organizacional.

Dentre as atribuições da corporação, destaque-se: a fiscalização das

instalações de segurança contra incêndio e pânico, a execução do atendimento pré-

hospitalar às vítimas de acidente ou sob risco de morte, a execução das atividades

de defesa civil e a intervenção preventiva em instalações que não ofereçam

segurança, atribuições tais cujo desempenho converge diretamente para as ações

adotadas pelo CBMPE no desenvolvimento da operação ora em estudo.

O Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco, lançando mão de sua

estrutura organizacional, articula seus diversos órgãos para dar efetividade aos

subsistemas da Operação Galo da Madrugada, conforme figura abaixo:

Fig. 03. Integração dos Órgãos do CBMPE aos Subsistemas da

Operação

Fonte: Modelo organizado pelo autor

Comando

e

Controle

DG

O

CTED

C

Logístico

DLOG

DGO

AJG

Pessoal e

Finanças

DG

P

DOF

Gestão de

Riscos

CRD

CAT

Informações

e

Comunicaçõe

s

CCO

CCS

CTIC

Unidade

s

Unidade

s

CTEDC

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6 O DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA OPERACIONAL

O presente estudo analisou cada ação adotada pelo Corpo de Bombeiros

Militar de Pernambuco para executar a operação. Foram apontados os subsistemas

a que cada ação se relacionava e foram indicados os órgãos internos da Corporação

responsável por cada uma delas. No estudo também foram indicadas cada atividade

do processo administrativo mais típica para cada ação desenvolvida (planejamento,

organização, direção e controle). Evidentemente, algumas ações foram classificadas

em mais de uma atividade do processo administrativo, mas neste trabalho foi

pontuada apenas a atividade mais enfática de cada uma das ações.

As ações do CBMPE são multidisciplinares e multissetoriais, pois

prescindem de informações, recursos e esforços que estão distribuídos nos diversos

setores administrativos, nas outras instituições envolvidas, como, por exemplo,

SAMU, prefeitura, Secretaria de Defesa Social, bem como no próprio cenário da

operação.

Quanto ao cenário físico da operação é importante registrar a preocupação

específica do Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco com dados pertinentes às

ameaças existentes. Para Hargreaves, ameaças são fatores extrínsecos a um

sistema com potencial de causar danos, sendo classificadas em naturais, humanas,

mistas ou siderais (HARGREAVES, 2010).

Assim, no sistema operacional em estudo, as ameaças são os fatores

relacionados ao ambiente que podem provocar danos às pessoas, ao patrimônio ou

ao meio ambiente. Tais ameaças, neste caso, são analisadas pelo Corpo de

Bombeiros Militar de Pernambuco a partir do subsistema de gestão de risco,

composto pelo Centro de Resposta a Desastres (CRD) e pelo Centro de Atividades

Técnicas (CAT).

O CRD, como já visto, encarrega-se da macro avaliação do ambiente, como

prédios e suas condições, vias públicas, tábuas de mares, comportamento de grupo,

dados meteorológicos etc., sempre no sentido de produzir uma leitura do cenário

sob o ponto de vista da possibilidade da ocorrência de acidentes massivos ou

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desastres, criando cenários e propondo metodologias de intervenção nas

emergências.

Já o CAT, também citado anteriormente, ocupa-se dos requisitos de

segurança contra incêndio e pânico das edificações, estruturas montadas, trios

elétricos, da rede de hidrantes públicos e dos hidrantes prediais privados. Portanto,

micro avaliação do cenário.

Reunidas as informações produzidas pela macro análise e pela micro

análise das condições do ambiente do sistema operacional, a corporação faz a sua

leitura do cenário para sua atuação.

Por outro lado, a fim de avaliar e propor redução dos riscos, o CBMPE

também faz avaliação de suas vulnerabilidades. Ainda Hargreaves (2010), conceitua

vulnerabilidade com sendo as deficiências intrínsecas de um sistema que o tornam

vulneráveis às ameaças.

Dessa forma, o Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco analisa sua

força para fazer frente às ameaças identificadas no ambiente. Essa leitura permite à

corporação identificar e tratar previamente seus pontos fracos. Combinando-se a

avaliação dos riscos e ameaças e as iniciativas do CBMPE em minimizar cada um

desses fatores, produz então um sistema que atua para reduzir os riscos a que

estão expostas as pessoas que participarão do evento. Conclui-se que a corporação

desenvolve suas atividades direcionando o seu foco para análise e redução de

riscos, produzindo segurança aos foliões.

7 OS RESULTADOS DO SISTEMA OPERACIONAL

Dados obtidos a partir do relatório de execução da Operação Galo da

Madrugada do CBMPE apontam a seguinte evolução do dispositivo do Corpo de

Bombeiros Militar de Pernambuco no corredor de desfile do Galo da Madrugada:

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Tabela 01. Evolução do Dispositivo do CBMPE para a Operação Galo da Madrugada

DISPOSITIVO 2012 2011 2010 2009 2008 2007

Efetivo total 1300 1216 832 892 274 266

Total de viaturas 29 22 26 24 26 24

Total de plataformas 34 33 30 26 26 13

Total de atendimentos 653 479 525 220 309 161

Fonte: Divisão de Planejamento Operacional do CBMPE, 2012

Com o aumento dos meios ativados para a operação, observa-se

crescimento dos atendimentos realizados. Pode-se intuir que tal advém de uma

diminuição de demanda reprimida ao longo dos anos no evento. O Corpo de

Bombeiros Militar de Pernambuco não estando presente nesse tipo de evento as

vítimas não deixam de ser socorridas, o sendo por policiais, funcionários municipais,

populares etc. Aumentando-se a presença e a distribuição dos Bombeiros ao longo

do trecho de desfile aumentam os registros de atendimentos e a qualidade destes.

Tal presença da corporação no evento, gradualmente maior, aliada a uma

boa avaliação das ameaças, vulnerabilidade e riscos, resulta em melhor segurança

para os foliões.

Portanto, é coerente afirmar que uma ampliação da quantidade de

Bombeiros e de recursos operacionais distribuídos ao longo do trecho de desfile,

seguindo critérios de avaliação e mitigação de ameaças, vulnerabilidades e risco,

agrega segurança ao público que prestigia o grandioso evento ora focado.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como combinar em um mesmo cenário uma grande multidão, em um clima

de folia, festejo, ingestão de bebida alcoólica, descontração, com os objetivos de um

evento seguro? A esta pertinente interrogação a corporação busca resposta na

construção de um modelo integrado de segurança, que leva em consideração o

ambiente no qual a instituição está inserida, buscando dar alternativas viáveis de

resposta ao tema.

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Essa busca do Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco levou a

intervenções a partir de uma abordagem sistêmica das atividades do órgão.

Desenvolveu-se então um sistema operacional específico para fazer face às

demandas de segurança no evento, cujos componentes são: Comando e controle,

Logístico, Pessoal e finanças, Informações e comunicações e Gestão de riscos.

Para fazer funcionar esse sistema operacional a Corporação realiza as atividades

típicas do processo administrativo, que são planejar, organizar, dirigir e controlar.

Essas atividades integradas aos subsistemas do sistema operacional para o evento

consistem na análise objetiva das diversas iniciativas adotadas pela corporação para

garantir uma maior segurança aos foliões no cenário em debate.

Para gerenciar riscos o Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco realiza,

através do CRD, a macro análise do cenário, focando ameaças presentes e também

as vulnerabilidades intrínsecas ao próprio sistema.

O Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco também realiza, agora

através do CAT, a micro análise do cenário, zelando pela segurança contra incêndio

e pânico das edificações e das estruturas montadas no circuito de desfile. Unidas a

micro com a macro análise o CBMPE tem uma leitura mais apropriada do cenário,

suas ameaças, as vulnerabilidades inerentes ao sistema, e por consequência dos

riscos existentes para a realização do evento.

Toda a atuação do CBMPE, a partir dessa constatação, é voltada para

minimizar ameaças e vulnerabilidade, o que induz à mitigação de riscos para a

população. Assim se resume a metodologia adotada pela corporação para avaliar

cenários críticos e riscos existentes no evento.

Por fim e a partir da verificação dos registros históricos dos meios postos à

disposição dos objetivos de segurança e também a partir da verificação dos

resultados apresentados pela corporação nos últimos anos, constata-se a busca por

ampliar a presença e a atuação dos Bombeiros Militares para o evento em estudo.

Realizando ações de prevenção e combate a incêndio, salvamentos e

atendimento pré-hospitalar, o CBMPE procura minimizar a demanda reprimida desse

tipo específico de atuação, conforme ficou demonstrado no item “Os Resultados do

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Sistema Operacional”, constante neste artigo. Essa redução de demanda reprimida

significa aumento objetivo da segurança oferecida pelo CBMPE aos foliões.

Ainda na intenção de melhorar a segurança que a corporação oferece à

população que participa do evento em foco, é possível vislumbrar novas linhas de

pesquisa em aspectos que extrapolam aos pressupostos e objetivos estabelecidos

para este trabalho.

Investigar de que maneira a própria população pode contribuir para com o

aumento da segurança no evento é, sem dúvida, uma possibilidade de abordar a

segurança em eventos massivos a partir do ponto de vista do usuário dos serviços

de segurança, neste caso o folião.

Esse novo olhar possibilitará colher a opinião mais amiúde do público alvo e

poderá demonstrar para as instituições de segurança que atividades preventivas, no

campo da educação ou da formação de opinião, poderão ser alvos de novos

investimentos, sempre na busca de eventos mais seguros para grandes

aglomerações de pessoas.

REFERÊNCIAS

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O USO LEGAL DA FORÇA POLICIAL COMO ELEMENTO GARANTIDOR DOS

DIREITOS HUMANOS NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

Werner Walter Heuer Guimarães 1

Resumo

A sociedade, através do Estado e de seus poderes constituídos, investe na seleção e treinamento de um de seus cidadãos, atribuindo a ele autoridade para que, em nome da coletividade que representa, possa se encarregar da aplicação da lei. Desta forma, o policial, cidadão que tem essa investidura legal e social é indubitavelmente um aplicador da lei. Os policiais vivem constantemente em uma via de mão dupla. A polícia pertence à mesma sociedade que legalmente se dispôs a protegê-la, mesmo com o risco da própria vida – como bradam os novos policiais durante seu juramento. A seu turno, os policiais devem respeitar determinados aspectos antes do cumprimento de sua missão constitucional, a exemplo do uso moderado da força e limite legal de sua autoridade, haja vista que direitos e garantias constitucionais devidos aos cidadãos devem ser respeitados, sobretudo em ações onde a vida do policial esteja em risco. Palavras-chave: Uso da Força. Proporcionalidade. Direitos Humanos.

1 INTRODUÇÃO

O processo de democratização da sociedade brasileira consagrado pela atual

Carta Constitucional passou a exigir das instituições policiais a obrigação de se

ajustarem ao regime do Estado Democrático de Direito, estatuído naquele

1 Major da Polícia Militar de Pernambuco. Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Olinda.

Especialista em Direito Penal e Direito Processual Penal pela ESMAPE. Especialista em Formação

de Educadores pela UFRPE. MBA em Planejamento e Gestão Organizacional FCAP/UPE. MBA em

Gestão Governamental pela FACINTER.

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documento legal, através do qual o “império da lei” é uma realidade, ou seja, não se

encontra mais no campo das ideias. Tal situação trouxe a necessidade da

construção de políticas públicas de segurança em total consonância com os

princípios e fundamentos insculpidos na Constituição Federal, bem como com as

reais necessidades da mesma comunidade que atribui poderes ao cidadão-policial

para agir como “braço armado” do Estado.

Com a redemocratização, iniciada em 1985, nos governos democráticos, os

Direitos Humanos e a participação do cidadão passaram a ter relevo em todos os

assuntos relativos à segurança pública. Uma prova prática disso, já nos nossos

tempos atuais, é o próprio Plano Estadual de Segurança Pública do Governo de

Pernambuco - o festejado Pacto pela Vida2 - que consiste em um conjunto de ações

em várias frentes implementadas desde 2007 que são frutos da participação efetiva

da sociedade civil organizada conjuntamente com o poder público como foco

precípuo no combate à violência no Estado de Pernambuco e redução da

criminalidade. A história nos mostra que a experiência tem dado certo.

O Estado, pela sua própria razão de ser, tomou para si o dever de zelar pelo

bem-estar comum, obrigando-se não só pela realização do propósito coletivo, como

também pela salvaguarda deste intuito. Para isso, atua através de seus agentes

dentro dos parâmetros legais, muitas vezes até indo de encontro a interesses

individuais importantíssimos como a liberdade e, nos casos extremos, o bem

supremo, a vida humana.

Nesse diapasão, sabe-se que o plano legal-social estabelece punições para o

cidadão que causa distúrbios à paz social, que, como se sabe, é o grande fim a que

o Estado se propõe através de seus vários órgãos e agentes públicos. Para tanto, o

próprio Estado criou regras de conduta e convívio social, dando a cada ser o direito

de fazer aquilo que a lei não proíba.

Nesse sentido, é forçoso reforçar que tais regras são a materialização da

própria vontade democrática e soberana do povo representada através dos

2 Plano Estadual de Segurança Pública do Governo do Estado de Pernambuco, lançado em 08 de

maio de 2007.

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regramentos legalmente estabelecidos pelo Estado (mediante a ação daqueles que

conduzem a máquina estatal). Logo, uma norma imposta pelo Estado é, via de

regra, uma norma imposta também pela sociedade (ou pelo menos deveria ser).

Nesse raciocínio, o descumprimento de uma norma legal de convívio entre seres

humanos provoca o Estado como ente guardião da sociedade, o qual deverá punir o

descumpridor, inibindo as eventuais ações de outrem.

Assim, o fato praticado em dissonância com o regulamento será alvo de uma

investigação, onde serão observadas suas causas, circunstâncias e efeitos, do

ponto de vista objetivo e subjetivo. Por fim, concluídos os caminhos da investigação,

o homem, poderá ser penalizado. (IBIAPINA, 1999)

No nosso caso, a crise, no contexto policial, é também conhecida como

evento crítico ou decisivo. Existem muitas definições para crise, porém, em nossa

atividade podemos defini-la como uma “situação grave em que os fatos da vida em

sociedade, rompendo modelos tradicionais, perturbam a organização de alguns ou

de todos os grupos integrados na coletividade” (DORIA JUNIOR; FAHNING, 2007, p.

5).

Como vivemos em um Estado Democrático de Direito, assim entendido como

aquele onde prevalece o Império das Leis, fica ainda mais evidenciada a situação de

que o uso (legal) da força como recurso para o cumprimento de mandamentos legais

está a cada dia mais subordinado ao interesse da coletividade e não ao de pessoas

ou grupos de pessoas.

Na atualidade, não obstante as inúmeras conquistas obtidas em torno da

formação dos direitos humanos, tanto no campo jurídico-legal como no plano

cultural-ideal, continuam a se fazer presentes críticas que parecem ignorar o fato de

que o único instrumento capaz de medir o nível de civilidade alcançado por uma

sociedade – e seu progressivo distanciamento da barbárie – localiza-se exatamente

na capacidade que esta tem de fazer com que seus concidadãos sejam protegidos

pelo generoso guarda-chuva dos direitos humanos. (MONDAINI, 2006, p. 12)

Destarte, as operações policiais devem estar limitadas por alguns parâmetros

baseados na Declaração Universal dos Direitos Humanos: 1) o respeito aos direitos

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das pessoas; 2) a observação dos procedimentos legais; 3) o exclusivo cumprimento

dos deveres (LOCHE, CUBAS & IZUMINO, 1999).

No entanto, cabe-nos salientar que a despeito da imperiosa necessidade de

cumprimento de ditames legais e até mesmo de normas de convívio social por parte

dos policiais, o uso da força, dentro dos limites estabelecidos no nosso ordenamento

jurídico, constitui-se em instrumento fundamental de preservação da ordem pública,

em circunstâncias extremas, e indubitavelmente preservação e defesa dos direitos

humanos.

Neste ponto, a coercibilidade – aqui entendida como a possibilidade de

aplicação da lei punitiva – e a coerção legal – a efetiva punição aplicada pelo Estado

– são elementos que devem complementar o arcabouço da atividade policial.

Infelizmente, entendemos que sem um sistema político-jurídico forte e alinhado com

as mais modernas premissas dos Direitos Humanos, além de uma efetiva

fiscalização e controle por parte do Estado, a sociedade se abraça ao caos.

2 O USO DA FORÇA POLICIAL NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

Os altos índices de violência vivenciados por todos nós nos tempos atuais

têm levado diversos setores da sociedade civil organizada a exigirem das

autoridades o efetivo e severo combate à criminalidade. Com isso, surge a

necessidade de criação de mecanismos de controle, prevenção e repressão dessa

criminalidade que a cada dia mais se organiza ante as ações estatais.

Por isso mesmo, a violência e a criminalidade devem ter especial atenção do

Estado, que tem por responsabilidade legal estabelecer tais mecanismos e prever

rigorosas punições aos cidadãos infratores da lei. Nesse mesmo raciocínio, o próprio

Estado impõe inúmeras restrições àqueles encarregados pela aplicação da lei para

que não cometam abusos e desmandos, sob o argumento de que se encontram no

cumprimento de seu dever funcional.

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No entanto, a existência de mecanismos de controle rígidos e a atuação de

um corpo policial fortalecido não justifica a ocorrência de desmandos por parte

daqueles que têm por missão fazer cumprir a lei. De fato, o cumprimento da lei não

deve se dar a “todo e qualquer custo”. Para se fazer cumprir a lei deve-se, sem

dúvida, observar as premissas estabelecidas pelo próprio ordenamento jurídico.

Neste sentido, Tratados Internacionais orientam que a força deve ser empregada

tecnicamente, orientando os países signatários a disponibilizar aos agentes públicos

acesso a treinamento e instrução. Pesquisadores da área de segurança pública e

direitos humanos de diversos países produziram modelos de emprego da força pelo

agente público conforme a reação do infrator (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006).

É exatamente neste ponto que vale aplicar a máxima de que na atuação

policial é preferível usar a “força da lei” do que a “lei da força”.

Quando a violência é cometida por integrantes das organizações policiais no

exercício de suas funções, ela é considerada violência policial. Nesse sentido, a

violência policial seria, por via de regra, a prática de abuso de autoridade contra o

cidadão.

Uma observação importante deve ser trazida à baila. A concepção da

violência policial é relativamente rígida e restrita, pois abrange apenas o uso ilegal

da força física por policiais (civis, militares ou federais) contra outras pessoas,

excluindo um grande número de casos de uso de força física, considerados

ilegítimos ou injustos, mas não ilegais.

Nesse sentido, não se pode conceber que dentro de um Estado Democrático

de Direito - o qual tem como fundamento a Dignidade da Pessoa Humana3 - o uso

da força “bruta” seja a regra, mesmos nos casos onde a atuação das forças policiais

se dê em razão de atos ilícitos cometidos por pessoas. De fato, a técnica aliada ao

“vigor da ação policial” deve necessariamente ser usada para proteger o próprio

cidadão (oponente do policial).

3 Constituição Federal, art. 1º: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel de

seus Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem

como fundamentos: III – a dignidade da pessoa humana”.

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3 O USO LEGAL DA FORÇA PELAS INSTITUIÇÕES POLICIAIS COMO

INSTRUMENTO GARANTIDOR DA ORDEM PÚBLICA, DO ESTADO

DEMOCRÁTICO DE DIREITO E DOS DIREITOS HUMANOS.

Um dos principais instrumentos que consolidam as restrições ao poder do

próprio Estado perante seus cidadãos é a Constituição Federal de 1988, que por

suas características peculiares de proteção aos direitos e garantias individuais e

coletivas é conhecida como “Constituição Cidadã”.

No Brasil e em seus Estados, de acordo com a mesma Carta Magna, as

Corporações Policiais Militares são as responsáveis legais pela execução do

policiamento ostensivo e, consequentemente, pela preservação da ordem pública.

Para que estes objetivos sejam atingidos, os agentes públicos utilizam-se do poder

de polícia, conferido pelo Estado. Dentre um dos atributos deste poder de polícia

encontra-se a coercitividade, que permite o uso da força pelo policial militar quando

no objetivo de garantir a preservação da ordem pública.

Diante desta variabilidade de situações, o policial militar, agindo em nome da

sociedade, necessita utilizar da força em prol do interesse coletivo. Agindo assim

afronta direitos fundamentais do cidadão, como o direito de ir e vir, de manter sua

integridade física, ou mesmo o direito a vida, que pode ser tolhido diante de

situações graves. (PERSSON, 2011)

A missão da polícia como braço armado do Estado na sociedade é

sabidamente difícil e delicada, e é reconhecido como inteiramente legítimo o uso da

força pela polícia sob circunstâncias claramente definidas e controladas. Entretanto,

o abuso do poder de usar a força legal choca-se com os próprios princípios nos

quais se baseiam os direitos humanos protegidos por nossa Constituição.

Quando pesquisamos nos dicionários, observamos que o conceito de força sempre

remete a palavras como “poder”, “violência”, “energia” e “vigor”. No entanto, no

nosso caso, tratando de polícia, o uso da força deve sempre obedecer aos princípios

da legalidade, da necessidade e da proporcionalidade das ações desencadeadas,

posto que ela (a força legal) deve sempre ser usada com o fito específico de fazer

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cumprir a lei e manter a ordem pública. Entretanto, cumpre também ressaltar que

poder, energia e vigor não necessariamente se referem à abuso de poder ou à

violência policial.

Para Focault apud Danner e Oliveira (2010, p.02), o Estado tem como

principal característica o caráter disciplinador e normativo, com a finalidade de

manter o convívio social harmônico, onde o indivíduo é capturado por uma rede de

poder que o torna "útil e dócil". Neste sentido a força pública, mostra-se

fundamental.

Desde a transição para a democracia, o apoio governamental ao uso da

violência policial como instrumento de controle político diminuiu no país e

praticamente desapareceu nos estados das regiões Sul e Sudeste. Embora essa

modalidade de uso da violência policial tenha diminuído, a violência policial

enquanto tal não desapareceu, passando a ser usada, sobretudo como instrumento

de controle social e mais especificamente como instrumento de controle da

criminalidade. Além disso, com o declínio do uso político da violência policial, o

problema da violência policial se tornou mais visível, ou melhor, emergiu como um

problema diferente e independente do problema da violência política, afetando não

apenas os oponentes do governo ou do regime político, mas também, e

principalmente, a população pobre e marginalizada. (MESQUITA NETO, 1999, p.

130)

Ora, um fato fundamental deve ser necessariamente trazido à tona: a

atividade policial, por sua própria natureza é violenta e acima de tudo imprevisível, o

que obriga (e é exatamente esta a palavra que realmente queremos empregar) o

policial a fazer o uso necessário da força para que os objetivos da aplicação da lei

sejam atingidos, desde que seja o último recurso que disponha.

Deixamos bem claro, no entanto, que não fazemos aqui nenhuma apologia à

violência policial, arbitrariedade ou mesmo abuso de autoridade. Em absoluto! Na

realidade, o que defendemos é a necessidade de emprego de força, dentro dos

limites estabelecidos em lei. Mas o fato é que há uma linha muito tênue entra força e

a violência. Os policiais, que têm como umas de suas funções a de serem

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promotores dos Direitos Humanos devem ter a real noção das suas

responsabilidades enquanto cidadãos que receberam a nobre missão de “proteger”

cidadãos.

Outro fator deve ser levado em consideração: a segurança e a integridade

física dos policiais são tão importantes quanto a segurança e a integridade física dos

particulares. Afinal, como pode dar segurança aquele que não a tem? Como se pode

oferecer algo que não se possui? Dessa forma, é cediço que este fator – a

segurança do próprio policial – deve vir antes de qualquer outro parâmetro para uma

melhor prestação de serviço por parte das forças policiais. O fato é que a lei não nos

obriga a oferecermos irresponsavelmente nossa vida e sim, pô-la em risco em razão

do cumprimento da missão.

O profissional de segurança pública, isto é, o policial, deve ter a sua

segurança pessoal como pedra de toque para as condições de sua atuação nas

ruas, pois se sabe que as situações as quais é submetido são, indubitavelmente, por

sua própria natureza, violentas e imprevisíveis e, nesses casos, violenta e

imprevisível não pode ser a sua atuação.

4 OS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE

APLICADOS À ATIVIDADE POLICIAL COMO SEUS DELIMITADORES. A

IMPORTÂNCIA DA “FORÇA DA LEI” E NÃO DA “LEI DA FORÇA”.

Assim como o Princípio da Legalidade - que norteia todas as atividades

estatais - poucos princípios são tão levados a sério durante a execução das

atividades policiais como a proporcionalidade e razoabilidade. Ambos estão dessa

forma intimamente ligados ao uso da “força legal” 4 pelo policial.

A atuação policial, principalmente aquela que demanda o uso da força (o que

não é uma raridade), para que não caia na vala da ilegitimidade deve ser precedida

4 Entendemos que “força legal” nos remete a ideia da atuação policial legal e legítima, ou seja, aquela

ação que se coaduna perfeitamente com os ditames legais e encaixasse dentro dos parâmetros que

a própria legislação estabelece e que diferenciam “violência policial” de “uso legal da força”.

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das seguintes determinantes: legalidade, necessidade, racionalidade e

proporcionalidade.

O princípio da razoabilidade não se encontra expressamente previsto sob

esta epígrafe na Carta Magna de 1988. Isto, contudo, não permite se infira estar este

princípio afastado do sistema constitucional pátrio, posto que se pode auferi-lo

tacitamente de alguns dispositivos.

A origem e desenvolvimento do Princípio da Proporcionalidade, a seu turno,

encontra-se intrinsecamente ligado à evolução dos direitos e garantias individuais da

pessoa humana, verificada a partir do surgimento do Estado de Direito burguês na

Europa. (SOUZA; SAMPAIO, s/d, p.11)

É forçoso salientar que o Princípio da Proporcionalidade nasceu no âmbito do

Direito Administrativo, como princípio geral do direito de polícia, e desenvolveu-se

como evolução do princípio da legalidade e requereu, para tanto, a criação de

mecanismos capazes de controlar o próprio Poder Executivo no exercício das suas

funções, de modo a evitar o arbítrio e o abuso de poder. (CANOTILHO, 1998, p.259)

O juízo de proporcionalidade permite um perfeito equilíbrio entre o fim

almejado e o meio empregado, ou seja, o resultado obtido com a intervenção na

esfera de direitos do particular deve ser proporcional à carga coativa da mesma.

(CANOTILHO, 1998, p.263).

Dessa forma, infere-se que o princípio da proporcionalidade é utilizado com

crescente assiduidade para aferição da constitucionalidade dos atos do Estado,

como instrumento de proteção dos direitos fundamentais (BONAVIDES, 1997,

p.359) e tal fundamento é plenamente aplicável às ações de natureza policial,

sobretudo no concernente à proteção dos direitos humanos.

A proporcionalidade é, por conseguinte, ideia ínsita à concepção de Estado

Democrático de Direito, e a sua inobservância ou lesão é a mais grave das

inconstitucionalidades, uma vez que sem princípio não há ordem constitucional e

sem ordem constitucional não há democracia nem Estado de Direito. (SILVA, 1998,

p.682)

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Todavia, não podemos negar que há um sem número de ilegalidades

praticadas por agentes do Estado (em seus mais diversos setores). Em posição

distante de qualquer referência ética, agindo de forma até imoral, o Estado que

busca punir quem violou a lei, por muitas vezes age na mais absoluta ilegalidade,

em praticamente todas as fases da persecução; da investigação criminal à execução

da pena, e é claro que assim permanece impunemente. (MARCÃO, 2004)

No entanto, ao policial a quem cabe a tutela do cidadão, sobretudo seus

direitos e garantias fundamentais, a consciência da importância do seu papel e

trabalho na sociedade faz toda a diferença no momento da escolha entre as duas

“opções”: o uso da força da lei (como instrumento garantidor do policial e do próprio

cidadão) ou o uso da lei da força, que nos remete novamente aos períodos mais

sombrios da nossa história enquanto país democrático.

Neste diapasão, convém ressaltar que o próprio Princípio da Reserva Legal

tem uma função política, haja vista ser uma garantia fundamental da liberdade do

ser humano, limitando-o em relação à lei, que disciplina a possibilidade de agir e o

protege dos transgressores de seus limites, bem como limita o Estado-Juiz a decidir

sobre as condutas ditas ilícitas e as penas a elas impostas. Assim, o Princípio da

Reserva Legal nasceu para impedir o absolutismo, protegendo o homem e dando-

lhe um valor prioritário. Afinal o Estado existe pelo homem e para o homem,

encontrando nele seu objetivo. Daí porque ele deve estar organizado para preservar

e garantir os direitos do ser humano. (IBIAPINA, 1999)

5 A PORTARIA INTERMINISTERIAL 4226 COMO INSTRUMENTO DE

PADRONIZAÇÃO DE PROCEDIMENTOS SOBRE O USO DA FORÇA POR

PARTE DE AGENTES DE SEGURANÇA

Com o objetivo de garantir uma maior redução das ilegalidades praticadas por

agentes do Estado, em especial agentes de Segurança Pública, durante o exercício

da profissão e, sobretudo, com o fim de fomentar a padronização de procedimentos

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no que concerne ao uso legal e escalonado da força, encontramos no âmbito

nacional a Portaria Interministerial nº 4.226, de 31 de dezembro de 2010, do Ministro

da Justiça e do Ministro de Estado Chefe da Secretaria de Direitos Humanos da

Presidência da República do Brasil.

Não obstante ter a obrigatoriedade de sua observância determinada no artigo

2º ao Departamento de Polícia Federal, ao Departamento de Polícia Rodoviária

Federal, ao Departamento Penitenciário Nacional e à Força Nacional de Segurança

Pública, tal documento pode ser atualmente considerado como um baluarte dos

procedimentos operacionais afetos ao uso da força pelos agentes de segurança

pública, passando a ser incluído nos currículos dos cursos de formação e programas

de educação continuada das forças policiais brasileiras, quer federais, quer

estaduais, não excluídas neste ponto, as Guardas Municipais naquilo que lhes

couber.

A Portaria tem sua importância, pois orienta de forma clara e objetiva, além do

que padroniza os procedimentos da atuação dos agentes de segurança pública com

base nos princípios internacionais sobre o uso da força com o objetivo de reduzir

paulatinamente os índices de letalidade resultantes de ações envolvendo agentes de

segurança pública.

É bem verdade que a Portaria segue uma tendência internacional, na medida

em que acompanha os fundamentos e princípios de respeito aos direitos humanos,

além da concepção do direito à segurança pública com cidadania, todos bem claros,

por exemplo, no Código de Conduta para os Encarregados da Aplicação da Lei –

CCEAL e nos Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo

pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei (PBUFAF).

O CCEAL é um documento da Organização das Nações Unidas (ONU)

adotado pela Assembleia Geral daquela instituição na sua Resolução 34/169, de 17

de dezembro de 1979 e que trata especificamente sobre políticas de direitos

humanos e ética profissional, sendo considerado uma norma orientadora das

práticas policiais no mundo todo.5 O CCEAL se resume a oito artigos. Não há dúvida

5 Os Princípios orientadores para a aplicação efetiva do Código de Conduta para os Funcionários

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de que não é um Tratado, mas pertence à categoria dos instrumentos que

estabelecem normas orientadoras aos governos mundiais nos quesitos afetos aos

direitos humanos e política criminal.

A seu turno, os Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de

Fogo pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei (PBUFAF), em especial

os policiais, trata-se de outro documento bastante importante é o que traz o qual foi

adotado durante o Oitavo Congresso das Nações Unidas para a Prevenção do

Crime e o Tratamento dos Delinquentes realizado em Havana, Cuba, de 27 de

Agosto a 7 de Setembro de 1990.

Os PBUFAF vão a fundo nas rotinas e procedimentos dos organismos

policiais na medida em que estabelecem as condutas nos casos de manutenção da

ordem em caso de reuniões ilegais, manutenção da ordem entre pessoas detidas ou

presas, passando pela habilitações, formação e aconselhamento dos agentes de

segurança (a saber, os responsáveis pela aplicação da lei) e, por fim, do

estabelecimento de procedimentos básicos de comunicação hierárquica e de

inquérito nos casos em que da utilização da força ou de armas de fogo pelos

funcionários responsáveis pela aplicação da lei resultem lesões ou a morte.

Assim, notamos que ao mesmo tempo em que os poderes e autoridades

legalmente constituídas são essenciais para a garantia da estabilidade social e do

Estado Democrático de Direito são necessários mecanismos de controle e

procedimentos bem delineados que também garantam o eficaz desempenho destes

poderes-deveres da aplicação da lei – que também são estabelecidos pela

legislação nacional. Neste sentido, é dizer, que todos fazem parte de uma grande

engrenagem que visa tão somente o equilíbrio social através da fiscalização dos

particulares e controle dos encarregados da aplicação da lei.

Responsáveis pela Aplicação da Lei foram adotados pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas na sua Resolução 1989/61, de 24 de maio de 1989 e na Convenção Contra a Tortura e outros Tratamentos ou penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em sua XL Sessão, realizada em Nova York em 10 de dezembro de 1984, promulgada pelo Decreto nº 40, de 15 de fevereiro de 1991;

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O grande desafio é termos uma polícia democrática e que seja defensora dos

direitos e do Estado Democrático de Direito e muito já tem sido feito neste sentido

em todo o Brasil. Todavia, tão importante quanto isso é o fato de que cada cidadão

também tem papel fundamental para a manutenção do equilíbrio da coletividade. A

atitude de cada um é preponderante na construção de uma sociedade onde impere

os sentimentos de justiça, igualdade e bem comum.

A premissa da monopolização da jurisdição e a finalidade de promoção do

bem comum, com a indispensável necessidade da garantia da ordem pública,

exigem do Estado – em suas mais variadas vertentes – um comportamento positivo

e monitoramento constante das ações dos seus agentes, posto que ele, o Estado,

existe exatamente para manter a harmonia social.

Não há dúvida de que devem ser observadas as garantias constitucionais

fundamentais do cidadão, como o princípio da legalidade, o qual deve

obrigatoriamente instruir todos os atos da autoridade policial.

É mister ressaltar ainda que não são mais aceitos no mundo de hoje a

repressão aos direitos fundamentais, traduzidos na liberdade de ir e vir, de

expressão, de pensar, de opinar, etc. Do mesmo modo, o respeito ao ser humano,

ao cidadão, ao preso, às minorias, bem como o respeito destes para com o próprio

Estado devem ser objetivos a ser fomentados por todos para que o nosso Estado

Democrático de Direito não se torne um Estado de anarquia, tampouco um Estado

arbitrário, relembrando os Estados absolutistas do passado, não mais aceitos nos

dias atuais.

Quando tratamos de abuso de poder e uso da força não podemos esquecer

de que vários são os fatores, princípios e circunstâncias que interferem no “caminho

da legalidade e da moralidade”, assim chamado por nós como aquele que deve ser

perseguido tanto pelo Estado como pelo particular.

Não existe mais lugar para a “truculência policial” e outras arbitrariedades

congêneres. Não mais se aceita o policial que antes se serve do que serve (no

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sentido de servir à sociedade). Da mesma forma, não se concebe mais o uso da

força - que é um instrumento importantíssimo para a manutenção da ordem pública

e defesa dos direitos humanos, quando usado dentro dos limites estabelecidos nos

diplomas legais - quando usado de maneira exacerbada e excessiva, pois, desta

forma, se compromete a legitimidade das demais ações desencadeadas pelas

instituições policiais.

Da mesma forma que deve ser repudiada a atitude do Estado de se praticar

crimes para coibir crimes, deve-se manter também a consciência de que este, ao

Estado, como guardião da lei, alicerçado em princípios éticos e morais, cumpre dar o

melhor exemplo de como cumprir essa mesma lei.

Nesse diapasão, o que se deve ter em mente é a manutenção de um equilíbrio para

que o Estado não se torne abusivo quando aplicar as viabilidades que a legislação

ou jurisprudência o permitam, bem como não deixar impunes crimes cometidos

pelos particulares.

Todavia, também temos a consciência de que o estabelecimento de conceitos

modernos, coerentes com Estado Democrático de Direito, por si só não provocará as

mudanças desejadas. A tarefa implica em mudanças institucionais e culturais (estas

muito difíceis), além do envolvimento de outros organismos públicos e privados,

além da sociedade civil na construção das políticas de segurança pública adequadas

ao momento contemporâneo.

REFERÊNCIAS

BARROS, Suzana de Toledo. O princípio da proporcionalidade e o controle de constitucionalidade das leis restritivas de direitos fundamentais. Brasília, Editora e Livraria Brasília Jurídica, 1996. BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo, Malheiros, 1997. CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Coimbra,

Almedina, 1998.

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Código de Conduta para os Encarregados da Aplicação da Lei, Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas; Resolução 34/169, de 17 de dezembro de 1979. DANNER, Fernando; OLIVEIRA, Nythamar Fernandes. Michel Foucault e a Modernidade:

a Emergência do Estado Liberal e a Instauração da Biopolítica. Porto Alegre, PUCRS. Tese de Doutorado em Filosofia. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010. IBIAPINA, Humberto. Dos Princípios que garantem a integridade do agente na investigação criminal. Revista da Escola da Magistratura do Estado de Rondônia. Porto Velho, Rondônia, nº 06, 1999. IHERING, Rudolf Von. A Luta pelo Direito (s/d). Tradução de João Vasconcelos, 23ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 2006. MARCÃO, Renato. Escuta telefônica. Estado deve combater a criminalidade sem violar a

lei. São Paulo: Revista Consultor Jurídico, 30 de outubro de 2004. Disponível em: <http://conjur.estadao.com.br/static/text/30909,1>. Acesso em: 23 Set 2006. MESQUITA NETO, Paulo. Violência Policial no Brasil: abordagens teóricas e práticas de controle. In: CIDADANIA, justiça e violência/Organizadores Dulce Pandolfi ... [et al]. Rio de Janeiro: Ed. Fundação Getúlio Vargas, 1999, p. 130-148. MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Uso Legal da Força. Secretaria Nacional de Segurança

Pública. Florianópolis, 2006. MONDAINI, Marco. Direitos Humanos. São Paulo: Contexto, 2006. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo, Malheiros, 1998. Pacto pela Vida, Plano Estadual de Segurança Pública do Governo do Estado de Pernambuco, Fórum Estadual de Segurança Pública, 08 de maio de 2007. PERSSON, Eduardo Moreno. Embasamento legal do uso da força pelo policial militar. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 3021, 9 out. 2011. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/20084>. Acesso em: 25 jul. 2014. Portaria Interministerial nº 4.226, de 31 de dezembro de 2010, do Ministro da Justiça e do Ministro de Estado Chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

SOUZA, Carlos Affonso Pereira de; SAMPAIO, Patrícia Regina Pinheiro. O Princípio da Razoabilidade e o Princípio da Proporcionalidade: uma abordagem constitucional.

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A DETERMINAÇÃO LEGAL DO INQUÉRITO POLICIAL MILITAR

NA INVESTIGAÇÃO DO CRIME CONTRA VIDA DE CIVIL PRATICADO POR POLICIAL

MILITAR EM SERVIÇO

Saulo Sitônio1

RESUMO

O objetivo desse estudo, dentro da esfera do Direito Militar, é abrir um canal de discussão e buscar estudar as novas regras apresentadas. A figura jurídica, dentro do contexto em estudo, ainda é um assunto polêmico ante a real necessidade de sua aplicação para os jurisdicionados, posto que os resultados práticos não são os almejados. Devendo ressaltar que o Direito Militar é pouco estudado e difundido, é possível enxergar que a resolução dos conflitos castrenses são resolvidos por uma Casta, diante da restrita ordem atual. O presente trabalho busca demonstrar como esse embate é presente e atual no ordenamento jurídico, contudo pouco estudado e de decisões conflitantes. Para chegar ao ponto chave do tema, foi preciso, inicialmente, buscando maiores bases para uma razoável análise da questão, fazer um estudo teórico sobre os conceitos relevantes ao tema em estudo. A metodologia utilizada no presente trabalho foi à pesquisa doutrinária, jurisprudencial e legislativa, levando em conta ainda a atual Política Criminal. Palavras–chave: Crime Doloso. Corregedoria de Polícia. Direito Penal Militar. Policial Militar. Inquérito Policial Militar.

1 Capitão da Polícia Militar de Pernambuco. Graduado em Bacharelado em Direito pela Faculdade de

Direito de Olinda (FADO/AESO). Pós-Graduado em Planejamento e Gestão Organizacional pela

UPE/FCAP. Pós-Graduado em Gestão Governamental pela UPE/FCAP. Pós-Graduado em Ciências

Criminais Militares pela Faculdade Integrada Barros Melo.

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1 INTRODUÇÃO

Em face de observação do contexto e dinâmica atual de trabalho dos Órgãos

Operativos, subordinados a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE),

que deixa transparente a obrigação legal e a dedicação e competências dos Policiais

que compõem seu corpo de colaboradores, executando a árdua missão, tantas

vezes incompreendida, de apaziguar a sociedade Pernambucana, envolvidos e

empenhados para melhor cumprir suas atribuições, buscando incansavelmente o

cumprimento de metas/resultados positivos, o que satisfatoriamente vem sendo

alcançado, nos deparamos com a interposição de atribuições quanto à realização da

investigação dos crimes militares praticados contra a vida de civis, por policiais

militares em serviço.

Os Oficiais da Polícia Militar de Pernambuco que servem no fronte da Defesa

Social são conscientes dos obstáculos, sabedores das derradeiras modificações da

legislação processual penal militar, inclusive da política criminal que alcança os

tribunais superiores do País, contudo o empenho em acatar a ordem legal os

direciona a abordar o tema em questão, sendo um dos enfrentamentos da atual

prática.

É importante ressaltar a fronteira entre as atribuições dos Órgãos Operativos

da SDS-PE, e dentro de tal supedâneo, apresentar a determinação de ordem legal

que respalda a investigação de um crime militar.

Devemos, no entanto alertar que o trabalho da Autoridade de Polícia

Judiciária Militar, a legislação e a Política Criminal, devem se entrelaçar e encontrar

solo fértil, visto que, é motivo de reflexão, a necessidade de obediência às normas

legais, o que obriga o Estado como todo.

Batista (2011) chama a atenção para a condução da investigação através de

Inquérito Policial Militar de crimes contra vida de civis perpetradas por policiais

militares em serviço, frente às determinações legais ora em estudo, ressaltamos que

o tema discorrido apresenta campo fértil, sendo uma obrigação básica, que irá

refletir no binômio: garantia e eficiência legal.

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Parafraseando o texto de Batista (2011), podemos transcrever sua afirmativa:

“É dizer, a Lei nº 9.299, de 1996, estabeleceu que à Justiça Militar competirá exercer o exame primeiro da questão. Noutras palavras, a Justiça Militar dirá, por primeiro, se o crime é doloso ou não; se doloso, encaminhará os autos do Inquérito Policial Militar à Justiça Comum. Registre-se, encaminhará os autos do Inquérito Policial Militar” (BATISTA, 2011, p.37)

No caso em estudo, especificamente ao Direito Processual Penal Militar, “É a

lei, que deseja que as investigações sejam conduzidas, por primeiro, pela Polícia

Judiciária Militar”. Há bastante material intelectual produzido quando se fala na

urgente necessidade da preservação das atribuições da Polícia Judiciária Militar

frente a tais crimes, mas resguardar a operacionalização e obediência irrestrita a

aspectos de ordem legal, ainda é uma necessidade, inclusive no Estado de

Pernambuco.

A questão nos apresenta como não pacífica a discussão em torno do binômio

garantia/eficiência da Polícia Judiciária Militar nos assuntos relativos à segurança do

ordenamento processual penal militar, apresenta a fragilidade da questão quando

confrontada com a prática ou os assuntos de política criminal.

É verdade que a integração entre as polícias caminha para um maior

acolhimento dos direitos e contribui para a paz social, exemplo maior é o nosso

Pacto Pela Vida2, contudo a limitação de atribuições é de cunho legal, sendo

necessária a sua obediência.

A discussão visa abrir um canal, sugerindo ainda o embasamento científico,

buscando mapear com a ajuda dos setores de controle, um comparativo com a

expectativa dos gestores e necessidades do serviço executado, ressaltando que não

se pretende polemizar qualquer tema em estudo, propondo tão só a melhoria e o

engrandecimento dos órgãos responsáveis.

Não pretendemos exaurir tal ponto precocemente, e sim despertar os

operadores do direito para tal, apenas buscando traduzir tal assunto através do

2 Programa de política criminal do Estado de Pernambuco do Governo Eduardo Campos, do período

de 2.007 a 2.014.

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sentimento legalista, seja de Oficiais, graduados ou praças, integrantes das

primeiras fileiras da polícia militar, isto é, dos Batalhões de Polícia Militar, sendo

estes os servidores que trabalham na atividade fim., ou seja, policiamento

propriamente dito, e consequentemente, o primeiro embate com a criminalidade.

2 DESENVOLVIMENTO

O ser humano, seja ele pol icial ou não, apresenta a possibil idade

de promiscuidade e f lerte com desvios de condutas diversas, contudo

há uma aversão em pensá-la por parte dos responsáveis por nos

defender, merecendo desde então, busca incessante ao seu devido

controle.

Para tal, contamos com as polít icas criminais, com as leis e

códigos de conduta, e desde já f ique claro as amarras legais para se

por em prática tais expedientes. O Estado Democrático de Direito,

principalmente em confronto com os índices alarmantes de

criminalidade registradas na atualidade, caminha a passos largos para

fortalecer suas instituições de polít ica criminal.

A linha diminuta que separa o combate ao crime e o própr io crime

confunde-se, e nem todos, mesmo sendo submetidos à tr iagem,

treinamento, hierarquia, discipl ina e supervisão, conseguem caminhar

na linha e não se “sujar”.

O tema discorrido pelos autores do livro “Quem Vigia os Vigias”

apresenta relatos de polic iais militares de cinco Estados da Federação,

onde há a recorrente crít ica da sociedade ao julgamento de polic iais

por pol iciais, atrelando a “tendência ao corporativ ismo” como

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responsável pelos altos níveis de impunidade daqueles, seja em nível

de controle interno ou criminal.

Quanto à crít ica do julgamento de policiais por policiais, cabe

verif icar o seguinte posicionamento exarado pelo Excelentíssimo Juiz

Auditor da Justiça Militar do Estado de São Paulo, Dr. Ronaldo João

Roth:

"O exame das peculiaridades da caserna e dos misteres

enfrentados pelos mi l i tares encontram mais faci l idade de compreensão quando real izados pelo próprio mi l i tar que, uma vez guindado ao exercício da judicatura mi l i tar , deverá – apl icando a lei penal mi l i tar , sob os cânones processuais penais mi l i tares - , decidi r no caso concreto, si tuação essa que, de modo contrário, pode trazer ao ju iz togado cer ta di f i culdade de apreciação fática, levando-o a apl icar a lei sem a mesma acuidade própria dos mi l i tares". Gri fo nosso. (ROTH, 2003, p.58 -59)

Devemos alertar que a investigação aqui defendida nada se

confunde com julgamento, defendemos a peça inquisitorial, por ser de

ordem legal, e por se processar as vistas de quem compreende as

“pecul iaridades da caserna”.

O afastamento da competência da justiça mil itar para julgar os

crimes dolosos contra a v ida de civ is praticados por militares de

serviço, não afastou a competência da Polícia Judiciár ia Mil i tar para

sua investigação, o que f ica respaldado pelo § 2º do Art. 82 do Código

de Processo Penal Militar, redação dada pela Lei 9.299/1996, vejamos:

“Art . 82 – O Foro mi l i tar é especial e, exceto nos crimes dolosos contra a vida praticados contra de civi l , a e le estão suje i tos, em tempo de paz: I – . . . § 1º – . . . § 2º – Nos cr imes dolosos contra a v ida, praticados contra de civi l , a Just iça Mi l i tar encaminhará os autos do inquéri to pol icial mi l i tar à just iça comum.”

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Constata-se que o instrumento legal para investigação é o

Inquérito Policial Militar, conduzido por Autoridade de Polícia Judiciár ia

Militar.

Em decisão à Ação Direta de Inconstit ucional idade nº 1494,

promovida pela Associação dos Delegados de Polícia da Brasil –

ADEPOL, que invocou a inconst itucionalidade do citado § 2º de Art. 82

do CPPM, teve a seguinte Ementa:

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA, PRATICADOS CONTRA CIVIL, POR MILITARES E POLICIAIS MILITARES – CPPM, ART. 82, § 2º, COM REDAÇÃO DADA PELA LEI 9.299/96 – INVESTIGAÇÃO PENAL EM SEDE DE I .P.M – APARENTE VALIDADE CONSTITUCIONAL DA NORMA LEGAL – VOTOS VENCIDOS – MEDIDA LIMINAR INDEFERIDA. O Pleno do Supremo Tribunal Federal – vencidos os Ministros CELSO DE MELO (Relator). MAURÍCIO CORREA, ILMAR GALVÃO e SEPÚLVEDA PERTENCE – entendeu que a norma inscri ta no ar t . 82, § 2º, do CPPM, na redação dada pela Lei 9.299/96, reveste -se de aparente val idade consti tucional . ”

É certo que nosso Pretório Excelso já firmou entendimento quanto ao

instrumento hábil para investigar crimes dolosos contra a vida de civis praticados por

militares em serviço, não restando dúvidas que tal instrumento seja o Inquérito

Policial Militar. O arcabouço legal nos obriga a cumprir as normas legais e o STF

confirmou, porém na prática o que se observa em Pernambuco é a dupla

investigação ou apenas apuração por parte da Delegacia de Homicídios e Proteção

à Pessoa.

Devemos ainda ressaltar que a investigação já parte do pressuposto de que o

crime se trata do capitulado no Art. 121 do Código Penal Comum, descartando a

possibilidade da conduta do policial militar em serviço ter ferido o Art. 206 do Código

Penal Militar.

Outra perspectiva a ser abordada é a que nos traz Batista (2011), que

defende o arquivamento na Justiça Militar dos crimes previstos nos artigos 205 e

207 do CPM quando as causas de exclusão de ilicitude atingir a vontade do policial

militar ao matar dolosamente um civil movido por exemplo pela legítima defesa.

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A compreensão de seu artigo nos remete a realização do Inquérito Policial

Militar por Oficial da Polícia Militar com atribuição de Polícia Judiciária Militar e não

pelo delegado de polícia, nos crimes dolosos contra a vida de civis, perpetrados por

militares dos Estados, ao encontrarem a plena tipicidade no Código Penal Militar,

mesmo nos artigos 205 e 207 do CPM, cabendo ao Encarregado do IPM às medidas

previstas no Art. 12 do Código de Processo Penal Militar.

3 CONSIDERAÇÔES FINAIS

O entendimento do Doutrinador Castrense Célio Lobão defende a tipificação

dos artigos 205 e 207 CPM a serem processados e julgados pelo Tribunal do Júri,

sendo defendido pelo Douto Edson Correa Batista, o que não atinge nossa

discussão, que se limita ao campo inquisitorial.

Segundo Batista (2011, p.37) “é a lei, que deseja que as investigações sejam

conduzidas, por primeiro, pela Polícia Judiciária Militar.”

Devemos, no entanto ressaltar, e concordar com o Batista (2011) a respeito

do debate travado sobre a existência e legitimidade do Direito Processual Penal

Militar, e aqui especificando para os Oficiais Policiais Militares, que devemos buscar

o reconhecimento dos governos, mas também da sociedade, ciente de que

ordenamento jurídico existe, porém a pergunta a se fazer deve ser se está no plano

de sua execução.

Não observamos a faculdade, e sim a obrigatoriedade em agir do Oficial

Policial Militar, Autoridade Judiciária Militar, responsável pela investigação de crimes

militares, sendo importante ressaltar que não estamos diante de um discurso

contrário às políticas criminais, mas tão só analisando a obrigação legal, e

apresentar uma opinião acerca da correta aplicação dos mecanismos atuais, não

esquecendo o combate ao crime, seja no seio da tropa, ou seja, cortando a própria

carne.

Como já esposado, o presente artigo busca abrir o canal de discussão e

reunir as mais diversas e relevantes possibilidades para aperfeiçoamento da

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legislação processual penal militar e seu entendimento, enquanto atividade

investigativa, apresentando tal trabalho aos Oficiais da Polícia Militar de

Pernambuco, em especial, os do serviço ativo, servindo ou não no fronte, e desta

forma, contribuir significativamente para a conscientização dos Agentes Públicos e

também da sociedade.

Em última análise, faz-se necessário ir além do discurso da efetividade do

processo, alcançando mudanças de ordem prática.

REFERÊNCIAS

LEMGRUBER, Julita. Musumeci, Leonardo. Cano, Ignacio. Quem Vigia os Vigias? Um Estudo Sobre Controle Externo da Polícia no Brasil. Ed. Record, Rio de Janeiro, São Paulo. 2003 BATISTA, Edson Correa. O Arquivamento do Inquérito Policial Militar nos Casos de Crimes Dolosos Contra a Vida Praticados Contra Civil em face do Reconhecimento de uma Causa de Exclusão da Ilicitude. Revista Direito Militar, nº 91, setembro/outubro – 2011. LOBÃO, Célio, Direito Processual Penal Militar, Método, São Paulo, 2009.

ROTH, Ronaldo João. Justiça Militar- Peculiaridades do Juiz Militar na atuação jurisdicional. O juiz militar e as peculiaridades de sua atuação na Justiça Militar. Ed. Juarez de Oliveira. Código Penal Militar, Decreto-lei nº 1.001, de 21/10/1969. Acesso em 24/07/2014. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del1001.htm

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A DOUTRINA COMO FATOR DE FORTALECIMENTO INSTITUCIONAL E

DIRECIONAMENTO DA ATIVIDADE POLICIAL MILITAR

Marcelo Martins Ianino1

Resumo

O presente estudo tem por finalidade fomentar o debate sobre a importância da doutrina para o fortalecimento institucional e o direcionamento das atividades meio e fim das corporações Policiais Militares. Ao longo do texto, faremos a exposição teórica sobre a necessidade da contínua busca pelas pesquisas e produções doutrinárias, utilizando exemplos de corporações militares que fazem dessas estratégias metodológicas suas práticas para o alcance dos objetivos institucionais. Colocaremos também, em linhas gerais, nossas assertivas sobre o atual cenário da produção doutrinária no âmbito das Polícias Militares brasileiras. Palavras-chave: Polícias Militares. Doutrina. Fortalecimento Institucional. Direcionamento Profissional.

1 INTRODUÇÃO

A etimologia da palavra doutrina contém a mesma raiz de docere que

significa “ensinar”. (SOUZA, 1982 apud MELO, 2000, p. 05)

Sobre a origem do termo, Frota (2002, p.21) dispõe que “doutrina seria o que

se transmite pelo ensino: um corpo de conhecimentos estruturados de maneira

coerente e uniforme com a finalidade de compreender a realidade e possibilitar sua

transformação”.

1 Capitão da Polícia Militar de Pernambuco. Mestre em História pela Universidade Federal Rural de

Pernambuco - UFRPE. Graduado em Licenciatura Plena em História – UFRPE. Pós-Graduado no

Curso de Especialização em Formação de Educadores pela UFRPE. Pós-Graduado (Especialização)

no Curso de Gestão da Segurança na Sociedade Democrática pela Universidade Luterana do Brasil –

ULBRA. Pós-Graduado (MBA) em Gestão Governamental pela UNINTER. Bacharelando em Direito

pela Universidade Cidade de São Paulo – UNICID.

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Em sua forma conceitual doutrina significa:

Conjunto de princípios, conceitos, normas e procedimentos. Fundamentada principalmente na experiência, destinada a estabelecer linhas de pensamento e a orientar ações, exposta de forma integrada e harmônica. Em uma visão mais abrangente, os princípios e conceitos compõem o espectro filosófico da doutrina, enquanto as normas e procedimentos determinam, de modo pragmático, a práxis, ou seja, o processo de execução ou a prática de uma ou várias ações pré-estabelecidas. (SIDOMT- EB10-IG-01.005, 2012, p.03)

O termo doutrina se coloca em diversos contextos: jurídico, político, religioso,

filosófico ou genérico. (VIEIRA, 1995 apud MELO, 2000, p. 05)

Nesse sentido, incluímos mais dois contextos para o termo doutrina,

importantes para o desenvolvimento do nosso trabalho, sendo o primeiro

relacionado ao conceito de “Doutrina Militar”:

Conjunto harmônico de ideias e de entendimentos que define, ordena, distingue e qualifica as atividades de organização, preparo e emprego das Forças Armadas. Englobam, ainda, a administração, a organização e o funcionamento das instituições militares. (GLOSSÁRIO DAS FORÇAS ARMADAS - MD35-G-01, 2007, p.86)

E o segundo contexto, relacionado ao conceito de “Doutrina Policial Militar”:

Do conceito de doutrina militar pode-se depreender o conceito de doutrina policial militar como sendo o conjunto de ideias e entendimentos que define, ordena, distingue e qualifica as atividades policiais de exercício do poder de polícia, de preparo e emprego das instituições policiais. Pode ainda englobar a administração, organização e funcionamento das instituições policiais. (FARIA, 2014, p.03)

No caso específico deste estudo, pretendemos demonstrar que a doutrina em

seu sentido pedagógico, no qual teoria e prática devem estar intimamente

conectadas, aliada a doutrina em seus conceitos “Militar” e “Policial Militar”, pode e

deve ser entendida como um dos principais fatores de fortalecimento das instituições

Policiais Militares, bem como de direcionamento, das atividades meio e fim das

corporações.

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2 DOUTRINA E FORTALECIMENTO INSTITUCIONAL

Face à era do conhecimento em que vivemos atualmente, as instituições

públicas, sejam elas civis ou militares, precisam estar em condições de se

adaptarem às constantes mudanças que ocorrem no processo de evolução da

sociedade.

A alta velocidade de transmissão de dados e o fácil acesso às informações,

principalmente após o advento da internet, exigem um constante processo de

atualização dos procedimentos corporativos internos, sob pena de tornar obsoletos

os mecanismos de trabalho existentes em cada órgão ou departamento.

Em nosso caso especificamente, apontaremos exemplos de instituições

militares, que permanecem em contínua busca pela produção e atualização da

gestão do conhecimento, utilizando-se de dispositivos doutrinários para o alcance de

seus objetivos, os quais podem servir de exemplo para o fortalecimento das

corporações Policiais Militares como um todo.

Iniciamos fazendo referência a organizações militares estrangeiras, que

através de seus respectivos modelos de gestão do conhecimento doutrinário

buscam os seus constantes processos de aprimoramento profissional. Por meio do

artigo publicado pelo Coronel Alexandre Eduardo Jansen, do Exército Brasileiro, na

revista Doutrina Militar Terrestre, apresentamos a seguir três exemplos de

instituições militares de outros países, que encontraram no fomento à produção

doutrinária o caminho para a contínua atualização dos procedimentos técnicos de

seus integrantes, e que segundo o autor, podem ser adaptados às instituições

militares brasileiras.

O primeiro é o exemplo do Exército dos Estados Unidos da América (EUA):

Com uma imensa estrutura voltada para a gestão do conhecimento, implementou nas últimas duas décadas, importantes mudanças na gestão do conhecimento. Um setor específico do Exército dos EUA, o Battle Command Knowledge System (BCKS), sediado no Centro de Armas Combinadas (CAC), no forte Leavenwort, Kansas, foi o agente principal dessas mudanças de gestão do conhecimento, tendo como missão apoiar a geração, aplicação e exploração de conhecimentos do Exército,

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promovendo a colaboração entre soldados e unidades, para compartilhar as expertises e as experiências, contribuindo com o desenvolvimento de líderes intuitivos na tomada de decisão e apoiando o desenvolvimento das organizações e equipes. (JANSEN, 2013, p.08)

O segundo exemplo é o canadense, no qual existe o subsequente sistema de

doutrina e instrução:

O Centro de Lições Aprendidas do Exército (CLRA) é o responsável pelo processo de aprendizagem do Exército do Canadá. Esse processo está apoiado sobre uma cultura de aprendizado orientado pelo Estado-Maior, no programa de revisão das lições aprendidas, o que facilita e agiliza a análise e absorção das experiências operacionais que possam influenciar na melhoria da instituição. (JANSEN, 2013, p.08)

O terceiro exemplo vem do exército francês, de onde podemos extrair dois

modelos de como aproveitar o conhecimento para produzir doutrina:

Diretamente subordinado ao Chefe do Estado-Maior do Exército, o Centro de Doutrina e Emprego das Forças (CDEF) é o órgão central da Doutrina da Força, enquanto que no Estado-Maior das Forças Armadas, o Centro Interforças de Concepção de Doutrinas e Experimentação (CICDE) faz esse papel. O CDEF possui uma organização que permite gerir todo o ciclo da produção doutrinária que compreende a concepção, a elaboração, a pesquisa, a simulação e a pesquisa operacional, as lições aprendidas e a difusão. Na vertente da difusão, impressiona a expressiva participação de integrantes do exército e mesmo civis na produção de textos sobre assuntos doutrinários e lições aprendidas. Os militares são estimulados a escrever não só para as publicações da FTer, mas também para revistas e jornais civis. A organização do CICDE é totalmente matricial, sendo composto pelo seu Diretor, um Diretor adjunto e três Subdiretores – um de concepção, outro de doutrinas e o outro de sinergia doutrinária. Abaixo dos dois primeiros só existem sete oficiais de projeto para cada um. Quando da execução de novos projetos, são designadas equipes temporárias, com pessoas a serem escolhidas pelo gerente do projeto, dentro do universo de todo o Ministério da Defesa, considerando as especialidades necessárias. (JANSEN, 2013, p.09)

Essas experiências de organismos militares internacionais, adaptadas

proporcionalmente à envergadura das Polícias Militares brasileiras, podem apontar

um bom direcionamento para o modelo de construção de obras doutrinárias Policiais

Militares, visto que, em nosso entendimento, e perante a missão constitucional

estabelecida, no que diz respeito ao policiamento ostensivo e a preservação da

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ordem pública (Constituição Federal de 1988, Artigo 144, parágrafo 5º), os Policiais

Militares necessitam para o exercício de seu mister, de normas e procedimentos de

conduta profissional, muito bem embasados, englobando aspectos técnicos e

jurídicos que deem respaldo as suas ações perante a sociedade, fortalecendo dessa

maneira, a imagem profissional e institucional das corporações Policiais Militares

como um todo.

No âmbito nacional, ressaltamos neste estudo a estrutura doutrinária montada

pelo Exército Brasileiro, através principalmente, do Centro de Doutrina do Exército

(C Dout Ex), organismo subordinado diretamente ao Estado-Maior da corporação, e

da Assessoria de Doutrina (Asse Dout), subordinada ao Departamento de Educação

e Cultura do Exército (DECEx).

O Centro de Doutrina do Exército (C Dout Ex) tem por missão planejar,

coordenar e conduzir as atividades do Sistema de Doutrina Militar Terrestre

(SIDOMT)2.

A Assessoria de Doutrina (Asse Dout) do DECEx, tem as seguintes

finalidades:

1. Captar, junto às escolas subordinadas ao DECEx, dados e/ou conhecimentos que contribuam para a formulação e atualização da Doutrina Militar Terrestre; 2. Orientar a produção científica nos Estabelecimentos de Ensino subordinados de forma a atender às demandas doutrinárias da Força terrestre; 3. Contribuir para o processo de formulação e atualização do SIDOMT

3.

As atividades realizadas pelo Centro de Doutrina do Exército e pela

Assessoria de Doutrina materializam, no âmbito da corporação, o conceito de

doutrina militar que citamos anteriormente. Podemos verificar com a ação desses

dois órgãos, uma constante busca pela pesquisa e produção de documentos, que

direcionem as atividades do Exército Brasileiro. Uma quantidade expressiva de

manuais tem sido elaborada nos últimos anos, além da realização de seminários e

2 Disponível em <http://www.cdoutex.eb.mil.br/index.php/institucional/missao>. Acesso em: 28 nov.

2014.

3 Disponível em <https://doutrina.ensino.eb.br/apresentacao.xhtml>. Acesso em: 28 nov. 2014.

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edições de revistas de discussão sobre doutrina. Ao procurar também adaptar-se à

inclusão na era digital, a corporação não deixa as informações sobre doutrina,

apenas impressa no intramuros dos quartéis, mas mantém dois sites

(<http://www.cdoutex.eb.mil.br> / <https://doutrina.ensino.eb.br>) que permitem aos

militares acessarem de qualquer localidade, as informações doutrinárias necessárias

para os exercícios de suas missões.

Como consequência pela busca incessante da difusão da doutrina militar,

tanto pelos exércitos estrangeiros apontados nesta pesquisa, como pelo exército

nacional, é possível verificar o fortalecimento da imagem institucional dessas

corporações. Organizações militares que se preocupam com suas identidades,

iniciando com a padronização intransigente de seus uniformes, até a forma de como

seus integrantes devem se portar e agir perante a sociedade, têm muito mais

chances de se perpetuar e afastar ameaças externas de propostas de mudanças

organizacionais, vindas da própria sociedade com o surgimento de questionamentos

quanto à falta de procedimentos e normas de conduta claramente estabelecidas.

3 DOUTRINA NA ATIVIDADE POLICIAL MILITAR

Segurança jurídica para o agir. Este é o primeiro contexto que nos vem à

mente quando pensamos na atuação do Policial Militar em qualquer tipo de

ocorrência. Perante o conceito de doutrina Policial Militar apontado anteriormente,

acreditamos que apenas através da pesquisa, produção doutrinária, difusão da

doutrina com o efetivo, fiscalização do emprego da doutrina e revisão periódica dos

procedimentos estabelecidos, poderemos alcançar um nível de excelência que

permita ao Policial Militar atuar de forma segura frente à sociedade, sem o

cometimento de erros técnicos que comprometam a sua própria integridade e a

imagem da instituição da qual faz parte.

Segundo Faria (2014, p.03) “estes conhecimentos organizacionais que são

disseminados para os integrantes da corporação são imprescindíveis ao exercício da

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atividade policial-militar em virtude do desempenho da “função policial-militar” e pelo

princípio da “universalidade” aplicado ao policiamento ostensivo”.

Sobre a previsão da função-policial conjugada ao princípio da universalidade,

podemos verificar a seguinte afirmativa:

Assim, pela previsão da função-policial conjugada ao princípio da universalidade, todo policial deve possuir, internalizado como conhecimento tácito, conhecimentos que lhe possibilite responder a qualquer demanda da segurança pública imediatamente, mesmo que para adotar medidas preliminares, até que outro policial especialista, caso a situação enseje um tratamento especializado, assuma as providências policiais em qualquer hora ou local em que esteja, mesmo que esteja de folga, descanso ou férias durante o tempo em que estiver no serviço ativo. (FARIA, 2014, p.04)

Aliado a esse binômio, que soma função-policial e princípio da universalidade,

não podemos nos esquecer de que temos a nossa volta, como local de atuação

Policial Militar, a sociedade, permeada de leis, normas e comportamentos, mutáveis

a todo instante, seguindo o fluxo do progresso científico e tecnológico, o que exige

das instituições Policiais Militares um rápido poder de resposta a essas

transformações, só podendo ser alcançada com o permanente estado de produção e

revisão da doutrina.

Sobre essa discussão entre a forma de atuação Policial Militar e as mudanças

que correm constantemente na sociedade, podemos lançar o seguinte

questionamento:

Como lidar com um fenômeno que constantemente se modifica e dispor de meios para atualização de conhecimento sobre as transformações havidas nele, aplicando corretamente as determinações contidas no ordenamento jurídico, que também muda para acompanhar a evolução da sociedade? (SOUZA, 2003 apud FARIA, 2014, p.04)

A resposta à questão acima, para o caso das Polícias Militares, é a doutrina

(SOUZA, 2003 apud FARIA, 2014, p.04), que nessa situação específica deverá ser

difundida aos Policiais Militares através de obras doutrinárias (regulamentos,

manuais, instruções gerais, instruções provisórias, instruções reguladoras,

instruções normativas, normas gerais de ação, regimentos internos, notas de

instruções, procedimentos operacionais padrão, guias de procedimentos

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administrativos, entre outros documentos normativos), bem como pelo incentivo à

produção técnico-científica dos próprios Policiais Militares, com a edição de revistas

doutrinárias no âmbito interno das corporações.

Entendemos que a produção e a atualização da doutrina Policial Militar é uma

busca constante entre todas as corporações Policiais Militares do Brasil, momento

em que sem desmerecer de forma nenhuma o esforço das demais, apontamos como

vanguarda nesse sentido a Polícia Militar do Estado de São Paulo e a Polícia Militar

do Estado de Minas Gerais, pela farta elaboração doutrinária ao longo dos últimos

anos, que vem servindo de guia para a produção técnico-científica de outras

corporações coirmãs.

No caso específico da corporação da qual fazemos parte, a Polícia Militar de

Pernambuco, podemos identificar um grande avanço no ano de 2014, no sentido de

solidificar a pesquisa e a escrita doutrinária. O Comando da corporação, através do

Estado-Maior Geral, estruturou fisicamente a Subseção de Doutrina da 1ª Seção do

Estado-Maior Geral, de onde uma série de ações foram desencadeadas, no sentido

de fomentar a doutrina Policial Militar da instituição, tais como: Relançamento da

Revista DOUTRINAL (a revista havia sido publicada anteriormente nos anos de

2000 e 2001 na versão impressa) nas versões on-line e cd-rom; revisão e

publicação através de Suplemento Normativo (SUNOR Nº 036/2014), do Guia

Doutrinário-GD, atualizando a versão publicada no SUNOR Nº 018/1999;

publicação no SUNOR Nº 036/2014, do Manual de Elaboração de Procedimento

Operacional Padrão (POP) da Polícia Militar de Pernambuco (EMG/80.1-T01);

publicação no SUNOR Nº 039/2014, do Manual de Elaboração de Guia de

Procedimento Administrativo (GPA) da Polícia Militar de Pernambuco

(EMG/80.1-T02); início da construção do estúdio de videoaulas, com a finalidade de

dar maior amplitude à divulgação das obras doutrinárias produzidas na corporação,

através da gravação de vídeos com os Policiais Militares autores dos trabalhos

técnicos, visando o alcance de todo efetivo, por meio de aulas gravadas e

disponibilizadas no site institucional.

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Utilizando-se principalmente do Manual de Elaboração de Procedimento

Operacional Padrão (POP), e do Manual de Elaboração de Guia de Procedimento

Administrativo (GPA), a Polícia Militar de Pernambuco tem o objetivo de iniciar um

novo ciclo de produção doutrinária na corporação. Por meio desses dois manuais,

pretende-se que cada setor específico, seja operacional ou administrativo, produza

sob a supervisão do Estado-Maior Geral, o seu respectivo POP ou GPA,

padronizando desta forma o modo de procedimento dos Policiais Militares, seja

atuando na atividade meio ou fim.

Relatamos e discutimos ao longo do terceiro tópico deste estudo, algumas

das principais questões que envolvem a temática da doutrina na atividade Policial

Militar, bem como a preocupação das Polícias Militares do Brasil em manter um

constante processo de atualização e pesquisa sobre a forma de agir do Policial

Militar. No entanto, sentimos uma enorme carência de unidade destes estudos.

Esclarecendo nossa colocação, citamos o exemplo do Exército Brasileiro, no qual a

corporação consegue difundir a doutrina militar para todos os Estados da

Federação, padronizando a forma de atuação do militar em qualquer local do

território nacional em que se encontre. Mas certamente apareceria frente a este

nosso exemplo, a seguinte colocação: Para o Exército Brasileiro é mais fácil difundir

a doutrina entre seus integrantes, pois se trata de uma corporação única em todo

território nacional. A essa colocação responderíamos o seguinte: Entendemos que o

Exército Brasileiro é uma só corporação para todo o território nacional, mas no caso

das Polícias Militares, respeitadas as peculiaridades regionais, a missão

constitucional é a mesma, e, portanto, não enxergamos óbice para que haja uma

doutrina Policial Militar, discutida, construída e padronizada para todas as Polícias

Militares do Brasil.

Colocamos a título de sugestão, que o Conselho Nacional de Comandantes-

Gerais das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares (CNCG-PM/CBM),

poderia ser um grande veículo de fomento à produção unificada e difusão da

doutrina entre as corporações militares estaduais brasileiras. Reforçando nossa

proposta, sugerimos neste trabalho, ao CNCG-PM/CBM, a criação de uma

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Assessoria de Doutrina dentro da estrutura do órgão, que pudesse reunir

periodicamente representantes de todas as Polícias Militares e Corpos de

Bombeiros Militares, no sentido de elaborar documentos, ajustando, ao máximo

possível, condutas operacionais únicas para todas as corporações militares

estaduais e do Distrito Federal, ressaltando o respeito às particularidades regionais,

e, com isso, fortalecendo sobremaneira a imagem a imagem institucional das

corporações.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Procuramos com este estudo, trazer ao debate a importância da doutrina para

o fortalecimento institucional e para o direcionamento das atividades meio e fim das

corporações Policiais Militares brasileiras. Para endossar nossas assertivas a esse

respeito, citamos o texto a seguir:

As organizações militares bem–sucedidas mudam para atender aos requisitos futuros, sensatamente, durante as fases de normalidade (sem sinistros) e, rapidamente, durante as fases de anormalidade (Sinistros). Certamente, parte dessa “mudança” inclui a doutrina. (FROTA, 2002, p.61)

A doutrina Policial Militar deve ser vista principalmente como “um processo

intelectual que fortalece a instituição e identifica a essência da corporação,

estimulando o diálogo entre profissionais e codificando fundamentos”. (FROTA,

2002, p.61)

Acreditamos, face à dinâmica social em que vivemos atualmente, que uma

doutrina consolidada nas organizações Policiais Militares é o alicerce necessário aos

Comandos das corporações. Os arranjos institucionais do presente têm exigido um

entrelaçamento maior do nível estratégico com os outros níveis organizacionais,

ligando-o principalmente com a parte operacional:

Os líderes de alto nível e seus estados–maiores irão exercer a arte operacional em um ambiente no qual a velocidade, a complexidade e a ambigüidade das operações serão tão intensificadas que será impossível defini–las. Assim os níveis estratégico, operacional e tático se encontrarão

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tão comprimidos que parecerão representar apenas uma função. O comandante do teatro do futuro será capaz de visualizar operações simultâneas em todas as formas contra sinistros. Terá que criar protocolos de comando, controle e monitorização para fazê–lo com êxito. (FROTA, 2002, p.94)

Desse modo, finalizando este trabalho, e longe der ter pretendido esgotar a

discussão sobre a temática em questão, esperamos ter contribuído para a reflexão

necessária sobre a produção doutrinária e sua influência no ambiente organizacional

das Polícias Militares brasileiras.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. FARIA, Antônio Hot Pereira de. Doutrina policial: estudo de orientações institucionais para exercício do poder de polícia. Jus Navigandi, Teresina, ano 19, n. 3876, 10 fev. 2014. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/26669>. Acesso em: 21 nov. 2014. FROTA, José Ananias Duarte. Doutrina e Comando. Fortaleza: Premius Editora, 2002. JANSEN, Alexandre Eduardo. Uma Nova Estrutura para a Produção Doutrinária no Exército Brasileiro. DOUTRINA MILITAR TERRESTRE em revista, Exército Brasileiro, ano 01, edição 001, Janeiro a Março/ 2013. Disponível em < http://www.cdoutex.eb.mil.br/images/revista/01_Revistas/Revista_Doutrina_Militar_Terrestre_1.pdf>. Acesso em: 05 nov. 2014. MANUAL - EMG/80.1-T01. Manual de Elaboração de Procedimento Operacional Padrão (POP) da Polícia Militar de Pernambuco. 2014. MANUAL - EMG/80.1-T02. Manual de Elaboração de Guia de Procedimento Administrativo (GPA) da Polícia Militar de Pernambuco. 2014. GLOSSÁRIO DAS FORÇAS ARMADAS - MD35-G-01. 4ª Edição. Brasil. Ministério da Defesa. 2007. MELO, Hermes José de. DOUTRINA: O que é isso?. DOUTRINAL, Revista Doutrinária. Polícia Militar de Pernambuco. Edição Impressa, Vol. 01, Nº 01, 2000. SIDOMT - EB10-IG-01.005. Instruções Gerais para a Organização e o Funcionamento do Sistema de Doutrina Militar Terrestre (SIDOMT). Exército Brasileiro. 2012.

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A TRANSVERSALIDADE DO PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA NO

ARCABOUÇO NORMATIVO INTERNO DA POLÍCIA MILITAR DE PERNAMBUCO

A PARTIR DO ANO 2000

Petrus Gomes Genuino1

Resumo

A transversalidade do Pacto de San José da Costa Rica no arcabouço normativo interno da Polícia Militar de Pernambuco a partir do ano 2000, diz respeito ao estudo das normas internas da Polícia Militar de Pernambuco a partir do ano 2000, por conta do fim do regime ditatorial que imperava na América latina e por consequência no Brasil e da influência da promulgação da Constituição Federal e a introdução do Pacto de San José da Costa Rica que trouxe um olhar humanizado ao devido processo administrativo disciplinar militar, através de uma análise simplificada, comparativa de sua estrutura. Palavras-chave: PMPE. Normas internas. Pacto de San José da Costa Rica.

1 INTRODUÇÃO

O presente tema versa sobre evolução do sistema normativo interno da

Polícia Militar de Pernambuco.

A intenção é trazer para o debate a comunidade militar estadual para refletir

acerca dos reflexos da promulgação da Constituição Federal de 88 e do Pacto de

1 Capitão da Polícia Militar de Pernambuco. Especialização em Ciências Criminais Militares,

Associação de Ensino Superior de Olinda (AESO). Especialização em Direito Público, Universidade

Potiguar, UNP, Brasil. Especialização em Direito Penal e Processo Penal, Escola Superior de

Magistratura de Pernambuco. Bacharel em Direito, Universidade Salgado de Oliveira, UNIVERSO.

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San José da Costa Rica e a sua consequente influência no sistema normativo da

Corporação.

Podemos concluir como importante essa temática, visto que a partir da

metade da década de 80, com o fim da ditadura militar no país passamos a enfrentar

um período de transição em que a Corporação não sabia exatamente onde se

enquadrar, se seguia as regras de seu ultrapassado e rancoroso Regulamento

Disciplinar ou se dava início aos novos tempos da Carta cidadã.

Com a chegada do novo milênio a Corporação abandona, ao menos

legalmente o seu Regulamento arcaico e passa a ser regida pelo Código Disciplinar

dos Militares Estaduais, a partir da edição da Lei 11.817/2000, juntamente com as

normas que dela se brotaram.

Buscamos analisar os reflexos desse novo momento através dos novos

ditames positivados nas normas internas que se seguiram: o Regulamento de ética

(Decreto nº 22.114/2000), o Processo de Licenciamento, a Sindicância e a Lei da

Corregedoria Geral (Lei 11.929/2001).

2 DESENVOLVIMENTO

Terminada a Segunda Guerra Mundial, meados de 1945, nascia a nova

ordem mundial antagônica. Somadas a prosperidade da revolução cubana

acabaram por inspirar diversos movimentos de transformação política no continente

americano.

Os Estados Unidos, país que liderava o bloco capitalista preocupava-se com

a deflagração de novas agitações políticas que viessem a abalar a sua hegemonia

histórica na política, na economia e na ideologia nos enfraquecidos Estados do cone

sul.

No decorrer das décadas de 1950, 1960 e 1970, os vários movimentos

eclodiam em países americanos, contudo foram atacados e abafados pelo interesse

das elites nacionais com o apoio inconteste norte americano para que pudessem dar

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fim aos movimentos revolucionários que ameaçavam os interesses da burguesia

industrial responsável por liderar essas ações golpistas.

Para tanto, tiveram como apoio a política expansionista dos EUA que se

tornou agente fundamental no macabro capítulo da história latino-americana, que

gerou no continente perseguição política, tortura e a censura às liberdades

individuais que passaram a ser dirigidas por esses governos autoritários que se

estabeleceram pelo uso da força. Dessa forma, os clamores por justiça social que

ganhavam espaço no continente foram brutalmente abafados nessa nova

conjuntura.

Nasciam então às ditaduras da na América Latina: Argentina (1976-1983),

Brasil (1964-1985), Bolívia (1971-1985), Chile (1973-1989), Colômbia (1953-1957),

Cuba (1959 - presente) República Dominicana (1889-1899, 1930-1961), El Salvador

(1931-1979), Equador (1972-1979), Guatemala (1970 - 1985), Haiti (1957-1990),

Honduras (1963-1974), México (1853-1855, 1876-1910), Nicarágua (1967-1979)

Panamá (1968-1989), Paraguai (1954-1989), Peru (1968-1980), Venezuela (1908-

1935, 1952-1958), Uruguai (1973-1984), Suriname (1980-1988).

A partir da metade da década de 1980 essas ditaduras começaram ruir e

começa o processo de redemocratização. Claro que esse processo não se deu por

acaso. Houve uma reconfiguração do jogo de poderes políticos e econômicos em

níveis globais, e principalmente a sua relação com a trajetória das democracias

latino americanas.

Em 1992, através do Decreto nº 678 o Governo brasileiro depositou a Carta

de Adesão à Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da

Costa Rica) que entrou em vigor, para o Brasil, em 25 de setembro de 1992.

Neste novo contexto de abertura política, de nova Constituição Federal

fundado, ao menos nos textos, no respeito aos Direitos Humanos essenciais,

vigorava em Pernambuco o Regulamento Disciplinar da Polícia Militar (RDPM),

através do Decreto nº 6.752/80, forjado sob as bases do Exército brasileiro e

cunhado em plena ditadura militar, que vigorou até a metade do ano 2000.

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A título de exemplo podemos citar que no RDPM quando da apresentação de

recursos disciplinares não dispunha de efeito suspensivo que suspendesse o

recolhimento do militar, ou seja, o militar apenado, por exemplo, com uma pena de

prisão poderia começar a cumprir a punição e terminar sem que seu recurso fosse

analisado num flagrante desrespeito a norma Constitucional já em vigor.

O referido diploma disciplinar não contemplava nenhum capítulo que tratasse

acerca da ampla defesa e do contraditório e trazia na relação das transgressões no

item 1 – Faltar com a verdade, no item 15 - Recorrer ao Judiciário sobre

procedimento, solução ou decisão de autoridade policial militar, sem antes esgotar

todos os recursos administrativos2, o que inviabilizava a plenitude de defesa

consagrada na CF/88.

O detalhe é que a Constituição Federal data de outubro de 1988 e até o ano

2000, data da edição da Lei nº 11.817/00, que dispôs sobre o Código Disciplinar dos

Militares do Estado de Pernambuco (CDME), já haviam se passado 12 anos sem

que a Polícia Militar de Pernambuco voltasse os olhos para si mesma e parasse de

tratar seus integrantes ao arrepio da Lei e da Proteção Judicial insculpida no Pacto

de San José da Costa Rica.

A partir do ano 2000, com a entrada em vigor do CDME3, ao que parece foi o

pontapé para a que Corporação passasse a se preocupar com direitos humanos em

suas normas internas. Não estamos aqui dizendo que este diploma seja a pedra de

toque dos Direitos Humanos, mas como já foi dito foi o início.

O CDME traz em algumas disposições a determinação clara para que se

aplique o devido processo administrativo disciplinar militar (Art. 30) norma que se

enquadra no sentido do Pacto de San José da Costa Rica, mormente no Artigo 25

que trata da Proteção Judicial independente e imparcial.

Após acordar para existência da CF/88 o poder público acabou por editar o

Decreto nº 22.114/004 tratando do Regulamento de Ética Profissional dos Militares.

2 DECRETO N.º 6.752, de 1º de outubro de 1980. Regulamento Disciplinar da PMPE.

3 LEI Nº 11.817, DE 24 DE JULHO DE 2000. Dispõe sobre o Código Disciplinar dos Militares do Estado de Pernambuco.

4 DECRETO Nº 22.114, de 13 de MARÇO de 2000. Aprova o Regulamento de Ética Profissional dos Militares do Estado de

Pernambuco e dá outras providências.

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Nessa norma podemos encontrar logo no Art. 1º encontramos a determinação

para o cumprimento dos Princípios dos Direitos Humanos.

Art. 1º O Regulamento de Ética Profissional dos Militares do Estado de Pernambuco norteia-se por princípios que formam a consciência profissional do militar estadual e representa imperativos de sua conduta, traduzindo-se pelo fiel cumprimento à lei, às ordens das autoridades constituídas, ao cumprimento dos princípios norteadores dos direitos humanos e dos demais princípios que norteiam a vida em sociedade. (grifo nosso)

A norma ética da Corporação trouxe um capítulo específico, tratado no Art. 9º

determinando que o militar estadual a observe as prescrições contidas no Código de

Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, criado pela

ONU5.

De certo que há um avanço com a normatização punitiva dos servidores que

insistirem em descumprir os mandamentos legais dispostos no nosso arcabouço

jurídico, contudo ao nosso ver a principal ação disposta no Regulamento de Ética

são as dispostas nos arts. 18 e 19. Esses dispositivos determinam a aplicação nos

cursos de formação e qualificação a propositura, em todos os níveis hierárquicos, de

matérias dedicadas aos Direitos Humanos.

Art. 18. As disciplinas de Deontologia Militar, Direitos Humanos e Cidadania, serão ministradas como matérias curriculares obrigatórias nos cursos de formação, adaptação e aperfeiçoamento do militar estadual, em todos os níveis e quadros. (grifo nosso) Art. 19. Os Comandantes Gerais das Corporações Militares Estaduais, ouvido o Secretário de Defesa Social, poderão instituir, através de Portaria, manuais de Conduta e de Posturas Éticas, detalhando as normas constantes deste regulamento.

Pois, só através do melhoramento da formação curricular dos servidores

militares e o debate aberto sobre o tema dos Direitos Humanos alcançaremos na

prática a exigência desse dispositivo.

5 ONU Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, Art. 9º Cabe a todo militar estadual a observância

das prescrições contidas no Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, instituído pela Organização das Nações Unidas, e ratificado pelo Governo brasileiro.

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Dentro do gênero Processos Administrativos Disciplinares Militares (PADM)

encontramos alguns processos que julgam nas questões administrativas relativas

aos integrantes da Corporação.

Dentro da evolução normativa que trata este trabalho podemos destacar o

Processo de Licenciamento a Bem da Disciplina (PL), de 24 de janeiro de 2007 e a

Instruções Gerais para a Elaboração de Sindicância, de 13 de fevereiro de 2012.

Nas duas normas citadas encontramos capítulos dedicados a plenitude de

defesa em conformidade com o disciplinamento Constitucional disposto no Art. 5º,

Inc. LV:

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; (grifo nosso)

No Processo de Licenciamento a Bem da Disciplina que norma importante

dentro do arcabouço normativo interno, visto que tem por finalidade normatizar,

padronizar e orientar procedimentos para apuração de ato ilícito, imputado à praça

sem estabilidade da PMPE, processo este que poderá vir a licenciar o militar das

fileiras da Corporação.

Art. 31 - O Processo de Licenciamento a Bem da Disciplina obedecerá aos princípios do contraditório e da ampla defesa, com a utilização dos meios e recursos a ele inerentes. (grifo nosso)

Não menos importante, mas com finalidade diferente as Instruções Gerais

para a Elaboração de Sindicância também se adaptaram as regras Constitucionais

promulgadas em 88.

Art. 15. A sindicância obedecerá aos princípios do contraditório e da ampla defesa, com a utilização dos meios e recursos a ela inerentes. (grifo nosso) Parágrafo único. Para o exercício do direito de defesa será aceita qualquer espécie de prova admitida em direito, desde que não atente contra a moral, a saúde ou a segurança individual ou coletiva, ou contra a hierarquia, ou contra a disciplina.

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Por fim, para que se pudessem tornar factíveis as inovações trazidas ao

ordenamento foi incorporado ao mundo jurídico Estadual a Lei 11.929/2001, com

finalidade precípua de criar a Corregedoria Geral como órgão superior de controle

disciplinar interno (Art. 3º) responsável para fiscalizar os seus órgãos operativos, no

âmbito da Secretaria de Defesa Social. Tal Lei veio em momento oportuno visto que

não existia na Corporação norma de regulação interna tão abrangente com a

cobrança de prazos e implicações diretas para todos escalões hierárquicos.

LEI Nº 11.929, DE 02 DE JANEIRO DE 2001. Dispõe sobre a competência e as atribuições da Corregedoria Geral da Secretaria de Defesa Social, órgão superior de controle disciplinar interno. Art. 3º Compete ainda à Corregedoria Geral receber sugestões, reclamações, representações e denúncias, dando a elas o devido encaminhamento, inclusive instaurando os procedimentos administrativos disciplinares com vistas ao esclarecimento dos fatos e a responsabilização de seus autores, sem prejuízo da competência institucional da Ouvidoria de Polícia da Secretaria de Defesa Social, de tudo dando ciência aos membros do Ministério Público.

Por fim, ainda no sentido da evolução legislativa tivemos a edição do Decreto

nº 40.413, de 25 de fevereiro de 2014, no qual regulamentou a Lei nº 15.186, de 12

de dezembro de 2013.

Art. 5º Fica criada a Diretoria de Articulação Social e Direitos Humanos - DASDH, na Polícia Militar de Pernambuco, como órgão de Direção Executiva subordinada diretamente ao Subcomandante Geral. Parágrafo único. Compete à DASDH promover a aproximação comunitária e a promoção dos direitos humanos. Art. 4º Fica ativada a Diretoria de Articulação Social e Direitos Humanos - DASDH, criada pelo art. 5º da Lei nº 15.186, de 2013, subordinada diretamente ao Subcomandante Geral.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelo que podemos diagnosticar através deste trabalho a Polícia Militar de

Pernambuco, no período de pós-ditadura militar, década de 80 e nos anos que se

seguiram demorou a se adequar aos novos tempos de uma legislação voltada aos

Direitos Humanos e ao Devido Processo Legal, contudo na marcha do tempo

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observamos a mudança e o aperfeiçoamento das legislações peculiares a atuação

da PMPE.

O marco da mudança, ao que parece, se deu pela edição da Lei 11.817/00

(Código Disciplinar dos Militares de Pernambuco) e as normas decorrentes da nova

ordem. Nestas podemos observar a inclinação através de capítulos específicos

sobre Ampla Defesa e Contraditório decorrentes da Constituição Federal e do Pacto

de San José da Costa Rica.

Por último, culmina com a implantação da Diretoria de Articulação Social e

Direitos Humanos – DASDH, que já nasce com status de Diretoria o que demonstra

que a Corporação aponta para um futuro voltado na legislação positivada na

Constituição Federal.

REFERÊNCIAS

Atuação policial na proteção dos direitos humanos de pessoas em situação de vulnerabilidade: cartilha. Secretaria Nacional de Segurança Pública. Brasília: SENASP/MJ, 2010. BRASIL. Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos. Brasília: SEDH-MEC-MJ-UNESCO, 2006. Constituição da República Federativa do Brasil 1988.

Decreto no 678, de 6 de novembro de 1992. Promulga a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969. DECRETO Nº 6.752, de 1º de outubro de 1980 - Dispõe sobre o Regulamento Disciplinar da Polícia Militar Pernambuco. DECRETO Nº 22.114, de 13 de MARÇO de 2000. Aprova o Regulamento de Ética Profissional dos Militares do Estado de Pernambuco e dá outras providências. LEI Nº 11.817, DE 24 DE JULHO DE 2000. Dispõe sobre o Código Disciplinar dos Militares do Estado de Pernambuco, e de outras providências.

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LEI Nº 11.929, DE 02 DE JANEIRO DE 2001. Dispõe sobre a competência e as atribuições da Corregedoria Geral da Secretaria de Defesa Social, órgão superior de controle disciplinar interno, cria o Conselho Estadual de Defesa Social e dá outras. Suplemento Normativo Nº 002 nº 088, de 24 JAN 2007. EMENTA: Aprova as Instruções Gerais para a elaboração de Processo de Licenciamento a Bem da Disciplina para Praças sem Estabilidade da Polícia Militar de Pernambuco.

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DESIGUALDADES DE DIREITOS POLÍTICOS E CONSTITUCIONAIS ENTRE

MILITARES E CIVIS

Ednilson José de Barros1

Resumo

Este artigo aborda as desigualdades de direitos políticos e constitucionais entre militares e civis, utilizando como norteadores as questões do direito de votar e ser votado, além do direito de greve. Estes direitos são garantidos na Constituição Federal do Brasil, promulgada em 1988, e considerada uma Constituição Cidadã. Por isso, o artigo busca refletir se as desigualdades existentes entre os civis e militares não contradizem a cidadania expressa na nossa Carta Magna. O artigo busca entender o porquê dos militares não poderem voltar ao cargo após cumprir mandato em cargo eletivo e o porquê da ausência de discussão sobre a temática. Percebeu-se que as Leis brasileiras permitem um duplo sentido quanto ao termo “exclusão” do serviço militar. Conclui-se que essa discriminação referente ao direito político de votar e ser votado em relação aos militares é um retrocesso político e jurídico-constitucional. Palavras-chave: Direitos Políticos. Direitos Constitucionais. Militares. Constituição

Federal de 1988.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo tem a finalidade de despertar o interesse de estudantes,

doutrinadores, professores e amantes do Direito para um assunto ainda pouco

trabalhado na área acadêmica, e que não condiz com a categoria de Constituição

1 Capitão da Polícia Militar de Pernambuco. Bacharel em Direito, FACISA- Faculdade de Ciências

Humanas e Sociais de Araripina-PE. Pós-Graduado em Direito Penal e Criminologia, URCA-CE –

Universidade Regional do Cariri-CE.

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Cidadã, em sentido lato da palavra. Serão abordados temas relevantes no que

concerne a uma verdadeira discriminação, quando comparados os direitos dos

cidadãos do mundo militar, com os cidadãos do mundo civil.

Nesta obra serão abordadas as desigualdades de direitos políticos e

constitucionais existentes entre militares e civis, no que diz respeito ao pleno

exercício da cidadania, no seu aspecto político de votar e ser votado; de representar

ou não uma classe de profissionais que, por necessidade, por vocação, por tradição

de família, ou até mesmo, por não terem opção, estão na situação de militares. No

entanto, os militares têm suas vidas regradas a uma verdadeira falta de

representação política, já que o ordenamento jurídico atual não proporciona

igualdades de condições. Se o militar, na condição de servidor público restrito a um

exercício de cargo eletivo limitado, se “atrever” a concorrer ao cargo político, poderá

ser compulsoriamente excluído de sua corporação, ou ainda, uma vez estabilizado

na função pública, quando eleito para o exercício de representação política de sua

classe, a partir da data de sua diplomação, estará “condenado” a fazer parte da

Reserva Remunerada proporcional de suas corporações.

O assunto abordado neste artigo tem caráter inovador, visto que não há até o

momento muitos artigos abordando a temática, e é baixa a frequência de trabalhos

tratando assuntos, que apesar de ter caráter militar, também tem caráter

constitucional. Afinal, se queremos uma Constituição transparente e igualitária para

todos, não encontramos justificativas para o tratamento desigual entre militares e

civis, e tais pendências serão debatidas no decorrer deste artigo.

2 DESIGUALDADES DE DIRIEITOS POLÍTICOS E CONSTITUCIONAIS ENTRE

MILITARES E CIVÍS FRENTE À CONSTITUIÇÃO DE 1988

Dentro do arcabouço montado na constituinte de 1986, após a manifestação

política voltada para a concretização da tão sonhada redemocratização do Estado

Brasileiro, que antecedeu a Constituição de 1988, pode-se perceber que a

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sociedade brasileira passou a ter o direito de expor os seus pensamentos, até então

reprimidos pela Ditadura Militar que governou o país após o golpe de 1964.

Com a promulgação da nova Constituição Brasileira de 1988, observou-se

que, apesar de já estarmos na redemocratização do Estado Brasileiro, nossos

parlamentares procuraram deixar os militares amarrados, presos a um regime

próprio, ou seja, fora das tomadas de decisões políticas do país, ao ponto de

praticamente não terem espaços, ou no mínimo dificultarem o acesso dos militares a

representações políticas da sua classe, na luta de seus ideais e direitos de classe

trabalhadora.

Sabe-se que no regime ditatorial muitas pessoas da sociedade civil foram

reprimidas, humilhadas, exiladas e perseguidas, ao ponto de não poderem expor

suas ideias, que muitas vezes eram censuradas, fazendo com que preservassem

um sentimento “antimilitar”, no que fora reservado à representação política do País.

Passados 26 anos de promulgação da Constituição Federal de 1988, nossa Carta

Magna é considerada uma “Constituição Cidadã”. Todavia, Será que, quando

legisladores, doutrinadores e estudiosos do Direito, quando citam que a nossa Carta

Magna de 1988m, como sendo “CIDADÔ, pensam nos cidadãos militares?

Não sabendo da resposta, surge às perguntas: Ao ser chamada de

“Constituição Cidadã”, nossa Constituição se refere apenas ao cidadão civil? Ou

será que também englobam os direitos e deveres igualitários comparados aos

cidadãos militares? Será que os militares desse país são cidadãos ao ponto de

conseguirem exercitar a sua cidadania?

Nessa ótica de pensamento, é notório e inquestionável que nossa Carta

Magna passou a enaltecer e a valorizar assuntos relacionados à igualdade de

direitos entre as pessoas, bem como, aos Direitos Humanos, à ampla defesa e o

contraditório, à proteção contra o racismo, à valorização da dignidade humana, o

respeito ao processo legal, entre outros. Em contrapartida, observa-se que muitos

direitos políticos foram negados aos militares, já que, de certa forma, a própria

Constituição se contradiz ao abarcar os princípios igualitários previsto em seu artigo

5º (caput), pois numa análise simples, muitos direitos explícitos ao cidadão fazem

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referências ao mundo civil; mas a esses cidadãos, quando aceitam a condição de

militar, vários desses direitos são tolhidos, e dentre esses, alguns merecem

destaque.

A própria Constituição Federal diz que todo trabalhador tem o direito de greve,

a adicional noturno, a uma jornada de 40 horas semanais, além de um dos direitos

que mais atinge os militares, que é o direito de ser elegível, pois todo civil sendo

capaz, poderá concorrer a um cargo eletivo, podendo em alguns casos, se

funcionário público, acumular sua função com a de representação política, desde

que tenha horários compatíveis para o exercício cumulativo. Contrariando esses

direitos merecedores do cidadão do mundo civil, os militares não têm o direito de

greve, ou seja, têm que se “contentarem” com os valores salariais dados pelo

governo, sem que possam contestar de forma mais incisiva, ao ponto de

pressionarem, como todo trabalhador civil faz, para se buscar um direito que

melhore o desenvolvimento de sua atividade profissional, paralisando suas

atividades laborais, com uma greve.

Por ser uma atividade de extrema necessidade para a proteção e manutenção

da soberania brasileira, no caso de membros de forças policiais militares,

indispensáveis para a preservação da ordem pública, o direito a greve não é

reconhecido. Imaginemos uma greve de militares: Como seria a vida dos brasileiros

se o direito de greve fosse exercido pelos militares? A Que caos poderíamos

chegar? Já pensou uma Polícia Militar realizando greves, acontecendo crimes e

contravenções que atentassem contra a ordem pública na frente de Policiais

Militares e esses nada fizessem diante dessa situação?. Já pensaram, também, em

um país onde seu exército estivesse parado, comprometendo a sua soberania, e

colaborando para a instauração de um Estado Anárquico? Isso, com certeza,

provocaria um caos social, ondas de vandalismo e destruições de patrimônios

públicos e privados de forma generaliza. A tais proposições hipotéticas, some-se,

ainda, que os membros das Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica) e de

Forças Auxiliares ( Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militares) desenvolve

atividades laborais noturnas e ininterruptas, mas não têm direito a adicionais

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noturnos, insalubridades, horas extras, entre outros direitos e nos mesmos

patamares que os trabalhadores civis.

Entrando na questão política, vislumbra-se uma verdadeira desigualdade de

tratamento dado aos militares em comparação aos trabalhadores do mundo civil. A

esse exercício, há uma grande disparidade na manifestação do militar em se

voluntariar para representar a classe de trabalhadores militares, quer seja membro

das Forças Armadas, quer seja membro dos Corpos de Bombeiros e das Polícias

Militares do Brasil, observados o disposto no artigo 38 da Constituição Federal de

1988:

Art. 38. Ao servidor público em exercício de mandato eletivo aplicam-se as seguintes disposições: I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital, ficará afastado de seu cargo, emprego ou função;

II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela sua remuneração;

III - investido no mandato de Vereador, havendo compatibilidade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo, e, não havendo compatibilidade, será aplicada a norma do inciso anterior;

IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o exercício de mandato eletivo, seu tempo de serviço será contado para todos os efeitos legais, exceto para promoção por merecimento;

V - para efeito de benefício previdenciário, no caso de afastamento, os valores serão determinados como se no exercício estivesse.

Dessa forma, o cidadão civil pode ser elegível, desde que tenha a idade

mínima e esteja devidamente filiado a um partido político, e, na hipótese de ser um

servidor público, tem a garantia de, caso eleito para assunção de um cargo eletivo,

conforme dispositivo contido no artigo citado acima, retornar a sua função, após o

exercício do cargo eletivo. No entanto, aos militares das Forças Armadas e das

Forças Auxiliares, esse direito é restringido, limitado, ou seja, dificultado o seu

exercício. Os militares de carreira, exceto na vigência da Constituição de 1937, onde

não possuíam quaisquer direitos políticos, sempre tiveram uma elegibilidade

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regrada. Ou seja, poderá ser exercido, com base no artigo 14, § 8º, da Carta Magna

de 1988, onde diz:

Art. 14. A Soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: (...) § 8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições:

I – se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade.

II – se contar com mais de dez anos de serviço será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.

O artigo 52 do Estatuto dos Militares, que regulamentava o artigo 145 da

Constituição de 1967 e parcialmente disciplina o dispositivo retromencionado, fixa o

limite de estabilidade na caserna (Instituições Militares) em cinco anos, o que foi

alterado pelo constituinte, provavelmente para adequação ao prazo decenal de

estabilidade das praças, embora os equiparando aos oficiais para efeito de

elegibilidade.

Temos, portanto, duas situações. Na primeira, tem-se que as praças

(soldados, cabos, sargentos e subtenentes) sem estabilidade e os oficiais com

menos de dez anos, para candidatura, deverão se afastar da atividade militar. O

afastamento da atividade militar é efetivado pela exclusão do serviço ativo mediante

demissão ou licenciamento ex-officio, conforme regulamenta o artigo 52, parágrafo

único, alínea a, do Estatuto dos Militares.

Para melhor entendimento, tem-se que demissão é o ato de exclusão de

oficiais das forças armadas, com a conseqüente transferência para reserva não

remunerada no mesmo posto que tinha no serviço ativo (art. 94, § 1º, 116 § 3º e

analogia ao artigo 117, Estatuto dos Militares). Já o licenciamento ex-officio é o ato

de exclusão das praças sem estabilidade e aos oficiais da reserva convocados e que

importa na inclusão ou reinclusão na reserva não remunerada (artigo 121, § 4º,

Estatuto dos Militares).

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Na segunda situação figuram os oficiais com mais de dez anos de carreira e

as praças estáveis que deverão ser agregados pela autoridade superior para

candidatura. A agregação consiste na situação temporária na qual o militar da ativa

deixa de ocupar a escala hierárquica, nela permanecendo, sem número, no lugar

que ocupava e ficando adido para efeito de remuneração e sujeito às obrigações

disciplinares (artigo 80; 82; XIV, § 4º; 83; 84 e 98, XVI, Estatuto dos Militares).

A esse assunto, em 1997, a 6º Turma do STJ, Supremo Tribunal de Justiça,

através do REsp nº 112.477/RS já se posicionou a respeito e pacificou que “o

militar que conta com mais de dez anos de efetivo serviço, candidato a cargo

eletivo, será agregado pela autoridade superior, pelo que tem direito à

remuneração pertinente até a sua diplomação”. (6ª Turma STJ, REsp º

112.477/RS, 1997 )

Dessa forma, o Tribunal Superior Eleitoral, editou uma Resolução nº

19978/97, com base no posicionamento do STJ, situação a qual, esse entendimento

adotado, garante apenas tratamento igualitário aos servidores militares e civis, mas

não é pacífico, pois o art. 98 do Código Eleitoral (parcialmente revogado pelo § 8.º

do art. 14 da CF) equipara a agregação às licenças não remuneradas daqueles que

se afastam do serviço para tratar de assuntos particulares.

Nesse assunto, não podemos esquecer que, com a mudança da Constituição

Federal de 1967 pela atualmente vigente de 1988, houve um acréscimo temporal

daquilo que reputava a questão da estabilidade do militar, onde surgem

questionamentos do porquê da estabilidade para os militares ser decenal, enquanto

que, para os servidores civis, em muitos casos, a estabilidade do serviço público é

apenas de dois ou três anos? Infelizmente, não se têm ainda a resposta. E, se

questionarmos o porquê de um servidor militar, por não possuir ainda a sua

estabilidade funcional, ficar impedido de exercer a sua cidadania por completo, ao

ponto de ser votado, sem que coloque, em risco, o futuro de sua carreira, após o

exercício do cargo eletivo, em suas corporação de origem, ser realmente uma

atitude justa e democrática, ao ponto de atingir os interesses coletivos da nação?

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Todavia, mais gritante, ainda, é não se ter respostas convincentes, no caso

do militar ser eleito e assumir um cargo eletivo. Assim, qual o porquê ou a finalidade

de não poder mais retornar e realizar suas atividades funcionais nas Instituições

Militares, sendo esses que se “atreveram” a representar sua classe social,

“condenados” à Reserva Remunerada Proporcional de suas corporações, a contar

da data do ato de Diplomação do Cargo Eletivo? Seria uma sanção pela audácia,

de no mundo Pós-Ditadura Militar, ter se atrevido a representar uma classe de

trabalhadores que defende a ordem pública e a soberania do País? Ou será que, no

país, estamos vivendo os preliminares de um novo Golpe Militar, sendo um perigo

qualquer representação política por parte dos militares nos cargos eletivos e que

possa desenvolver uma liderança política com poder de influenciar mais de 800 mil

militares? Será que a incompatibilidades do serviço militar, para com as atividades

profissionais do cargo eletivo, passam a serem eternas, mesmo que, após a vigência

do cargo eletivo, o Militar ou o Policial Militar queira voltar a trabalhar nas fileiras de

suas corporações? Será que os 04 (quatro) anos, no exercício do cargo eletivo,

foram o suficiente para que o militar esqueça a sua formação ou seja contaminado

pelo jogo de interesses políticos, ao ponto desse militar ser um risco para as

instituições militares ou para a sociedade?

Mais uma vez, não se obtém respostas convincentes para tais

questionamentos, a não ser, vislumbrar uma forma de retaliação vingativa ao

período da Ditadura Militar, que ainda hoje, tem seus efeitos no mundo

contemporâneo em nosso País, pois nas diversas indagações acerca do assunto,

não se sabe o porquê de passados 26 anos da promulgação da nossa

“Constituição Cidadã de 1988”, direitos e garantias individuais, coletivas e políticas

não são plenas e igualitárias a todos, sejam eles negros, índios ou brancos, ricos e

pobres, e ao caso estudado, se militares ou civis.

Sem resolver esses dilemas, e por se tratar de matéria de Direito

Constitucional, não se observa qualquer manifestação para alterar tal dispositivo

discriminador previsto na atual Constituição Federal, pois nossos representantes

políticos da Câmara dos Deputados e do Senado, em Brasília, não manifestam

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interesses em resolver tais pendências, já que são privilegiados ao ponto de uma

representação insignificante de pouquíssimos deputados federais e senadores

oriundos da vida militar, sejam eles das forças armadas (Marinha, Exército e

Aeronáutica), sejam eles das forças auxiliares (Polícia Militar e Corpo de Bombeiros

Militar), para o universo de 513 (quinhentos e treze) deputados, ficam quase

oprimidos para propor mudanças em nosso ordenamento jurídico.

Observa-se que, após a redemocratização do Estado Brasileiro, com os

movimentos de Diretas Já, logo após o fim da Ditadura Militar, acreditava-se que o

Brasil, naquela época, passava por um período de instabilidade política, financeira e

social. Outrossim, no período da Constituinte, em 1986, onde se iniciou os

preparativos para a conjuntura de nossa atual Carta Magna, a sociedade brasileira

vivia sob um clima tenso, de instabilidades, em que o medo de que existisse um

novo golpe militar. Dessa forma, como mecanismo de defesa, o cenário político

procurou retirar, ou até mesmo, aniquilar toda influência dos militares nas tomadas

de decisões políticas de nosso país, tanto que até os dias atuais, estão vigentes tais

normas restritivas de direitos políticos dos militares, previsto no Art. 14, § 8º da

Constituição Federal de 1988.

Não se pode querer justificar os absurdos que contam a história, no período

da Ditadura Militar, e dos vários acontecimentos que denegriram a dignidade

humana e que tanto fizeram vítimas da sociedade civil, porém, dizer que todos

aqueles que fazem parte das Instituições Militares desse país, sejam eles membros

das Forças Armadas (Marinha, Exercito e Aeronáutica), sejam eles Militares

Estaduais (Policia Militar e Corpo de Bombeiros Militares), que optaram sua

profissão por tradição familiar, por necessidade, ou por falta de opção, antes mesmo

de serem considerados Militares, e que são recrutados do mundo civil, e que,

atualmente, são considerados filhos da ditadura, também podem ser considerados

vítimas daquele regime ditatorial, pois algumas marcas deixadas no passado ainda

não foram curadas ou esquecidas pela sociedade civil, mas, nos dias atuais, temos

uma classe de militares que defende a ordem, a moral, o ordenamento público e a

soberania nacional, mas que, detém de pouquíssima representação política no

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Congresso Nacional para lutar por direitos específicos interessados aos Militares,

sejam da Esfera Federal ou Estadual.

A dificuldade de um militar chegar a ser um representante político é tamanha.

Os impedimentos e restrições constitucionais, fazem com que os militares, ao se

projetarem a serem candidatos a qualquer cargo eletivo, reflitam várias vezes,

pensando no que podem ganhar, e principalmente, no que vão perder, caso sejam

eleitos a qualquer cargo eletivo, principalmente, porque sabem que é um caminho

sem volta, e que não poderão voltar à condição de militar da ativa.

É caráter desmotivador a atuação de um militar como representante

parlamentar. Pois, ao contrário do servidor público civil, seja da esfera federal,

estadual ou municipal, da administração pública direta e indireta, o ordenamento

jurídico brasileiro assegura a esses servidores civis que, após o exercício do cargo

eletivo de caráter temporário, possam retornar a sua função anterior. Todavia, tal

segurança não é favorecida aos militares, mesmo que gozem de plena saúde física,

psíquica e moral para pleno exercício, e assim, são condenados à inatividade

proporcional.

A esses fatos, chega a ser revoltante e imoral a desigualdade de tratamento

dada à dicotomia existente na função do Policial Militar, pois, como policial membro

de uma Secretaria de Segurança Pública, no caso de Pernambuco, ligada a

Secretaria de Defesa Social, destinada à manutenção do Ordenamento Público, com

exercício retaliado comparado aos seus “primos”, os Policiais Civis, que pertencem à

mesma Secretaria, mas que ao contrário dos militares, podem exercer as atividades

eletivas, e retornarem sem que aconteça a perda da função pública, e, em alguns

casos, podem até exercerem tais funções cumulativamente.

Sendo assim, faz-se então uma indagação ainda maior relativo à estabilidade

dos servidores públicos militares. Ou seja, se um servidor militar estadual, que

pretende concorrer a um cargo eletivo, o atual entendimento que muitos tribunais de

Justiças dos Estados Federativos fazem é que, se o militar, que se candidatar a um

cargo eletivo, se não for estabilizado, ou seja, com mais de 10 anos de serviço

prestado, o mesmo será “afastado do serviço ativo” imediatamente. A essa

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condição, alguns Juízos e gestores públicos, entendem que, tal interpretação tem

caráter definitivo.

Todavia, há de se fazer uma diferenciação, em relação a estabilidade de

servidores militares das Forças Armadas e das Forças Auxiliares, pois,

diferentemente das Forças Armadas, os recursos humanos da base hierárquica

(soldados) ingressam nas suas respectivas corporações, através do concurso

públicos, de forma voluntária e não, através do alistamento obrigatório. Na atual

conjuntura constitucional, ser afastado, não quer dizer ser excluído, como era

previsto no artigo 145 da Constituição de 1967. Com o ordenamento constitucional

de 1988, fala-se em afastamento, não em exclusão.

A essa hipótese, observa-se que o constituinte não usou do termo

afastamento como situação definitiva, mas, sempre. como situação provisória, ora

como direito sem cominar qualquer sanção, ora como sanção na hipótese da

suspensão das funções. Desse modo, não há como atribuir ao termo afastar-se,

usado no texto maior, o sentido de exclusão usado no texto precedente. Desse

modo, é pertinente o seguinte questionamento: Qual seu significado então?

Podemos perceber que a situação do militar mais jovem (menos de dez anos de

carreira) ao se desincompatibilizar para concorrer ao cargo eletivo, enquadrar-se-á

na condição de militar agregado para tratamento de assuntos particulares, ou seja,

agregação não remunerada, e, passada as eleições, caso eleito, irá para a

inatividade de igual modo que os mais velhos; caso contrário, poderá retomar a

carreira, cessando sua condição de agregado, momentaneamente inativo.

Destarte, uma análise histórica da evolução constitucional brasileira tende a

demonstrar que o constituinte originário, em 1988, não acolheu sem razão o termo

"afastar-se do serviço", deixando de lado a expressão "excluído do serviço ativo".

Acresça-se a isso a interpretação sistemática da atual Cosntituição, que, em outras

passagens, não empresta, ao afastamento, o sentido de situação definitiva ou

imutável.

Contudo, não apenas essas formas de hermenêutica relativas à evolução do

direito e à análise de outras definições de afastamento de cargo público contidas na

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Constituição federal de 1988 conduzem à conclusão de que não se trata de

imposição do licenciamento definitivo das fileiras das Forças Armadas e das Forças

Auxiliares, do militar com menos de dez anos de serviço. É preciso recordar que a

Constituição Federal de 1988 define a República Federativa do Brasil como sendo

de Estado Democrático de Direito, o qual se sustenta, dentre outros, pelo princípio

democrático. Segundo o jurista José Afonso Silva, na sua obra Curso de Direito

Positivo, a Constituição Federal de 1988, prega um Estado constituidor de uma

democracia "representativa e participativa, pluralista e que seja a garantia geral da

vigência e eficácia dos direitos fundamentais".

Vale ressaltar que os direitos políticos, dentre os quais a elegibilidade, são

direitos universais, expressos nas declarações de direitos, ínsitos ao princípio

democrático e, portanto, pilares do Estado Democrático de Direito. Daí a gravidade

em se impor o licenciamento definitivo das Forças Armadas ou Auxiliares ao militar

sem estabilidade, com menos de dez anos de serviço. Ademais, a interpretação das

regras que venham a privar ou a restringir o exercício dos direitos políticos devem

obedecer aos limites mais estreitos de sua expressão verbal, defendida por

Doutrinadores clássicos, como José Afonso da Silva, em seu Curso de Direito

Positivo:

“ O princípio que prevalece é o da plenitude do gozo dos direitos políticos positivos, de votar e ser votado. A pertinência desses direitos ao indivíduo como vimos, é que o erige em cidadão. Sua privação ou a restrição do seu exercício configura exceção àquele princípio. Por conseguinte, a interpretação das normas constitucionais ou complementares relativas aos direitos políticos deve tender à maior compreensão do princípio, deve dirigir-se ao favorecimento do direito de votar e de ser votado, enquanto as regras de privação e restrição hão de entender-se nos limites mais estreitos de sua expressão verbal, segundo as boas

regras de hermenêutica”. ( SILVA, 2007. p122).

Vejamos que, ao se admitir que "afastar-se" queira dizer ser excluído,

demitido, licenciado definitivamente das fileiras das Forças Armadas, passamos a

inibir a participação política do militar, pois o militar com menos de dez anos, apenas

por pretender participar da vida política do país, candidatando-se, deverá abrir mão

de seu emprego, definitivamente? É extremamente desencorajador para qualquer

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pessoa abandonar uma carreira estável, planejada e arduamente alcançada para se

lançar candidato. Todavia, é essa a situação que se impõe ao militar com menos de

dez anos de serviço. Não parece razoável que uma Constituição, cognominada

Cidadã, tenha pretendido desencorajar a participação política de um segmento de

seus cidadãos, por intermédio da ameaça de perda do emprego público, talvez esse

texto tenha sido escrito, em razão de, em meados de 1986, com o fim da ditadura

militar, a instabilidade política era tamanha, que, algumas pessoas acreditavam que

surgiria um novo golpe militar, e isso fez com que, a participação política do Brasil,

com a presença de militares fosse, praticamente anulada. Dessa forma, na

conjuntura atual, não se tem espaço para uma interpretação limitada da norma

constitucional, e por tais, razões, tem-se levantado vozes na doutrina, no sentido de

que o afastamento do serviço ativo do militar com menos de dez anos de serviço,

previsto na Constituição, possui caráter temporário.

Outrossim, a esse questionamento quanto a estabilidade funcional do militar,

a discussão sobre a matéria já chegou na Suprema Corte de Justiça do país, por

intermédio do Recurso Extraordinário nº 279.469, no qual o Estado do Rio Grande

do Sul contesta decisão que mandou reintegrar à Brigada Militar um militar que,

contando menos de dez anos de serviço, foi demitido após se licenciar para

concorrer a uma vaga de vereador nas eleições municipais de 1996. Ao caso

concreto, o ministro Maurício Corrêa se manifestou contrariamente ao Recurso

Extraordinário daquele Estado Federativo:

“Da vigente redação do inciso I do § 8º do artigo 14 não se pode extrair, data venia, o rigor exegético que lhe emprestou o recorrente. Do contrário seria transformar a faculdade do afastamento em verdadeira pena de exclusão do serviço público. Não se pode tirar conclusões, sobretudo quando se trata de reduzir direitos inerentes à cidadania, dando interpretação extremada para criar sanção que a lei não previu. A expressão "afastar-se da atividade" só pode ter um sentido semântico e lógico traduzido na interrupção temporária da atividade funcional de que se está investido, para o exercício de cargo eletivo, situação provisória e precária que não pode converter-se em fundamento da perda do cargo. E tanto é assim que a redação correspondente na Carta Federal pretérita foi sensivelmente alterada. Não apenas o prazo foi modificado de cinco para dez anos, como o termo "excluído do serviço ativo" foi substituto por "afastar-se da atividade". Repito, permitir a demissão do servidor significa, primeiro, retirar-lhe a condição legal de militar, tornando despicienda a regra constitucional em exame e,

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segundo, impor restrição ao exercício pleno dos direitos políticos do cidadão”.(RExt nº 279.469/RS,2004).

Sob a questão do militar com menos de 10 anos, essa hermenêutica jurídica

da matéria permanece, em aberto e divide opiniões da Corte Suprema do STF, eis

que, contrariando a opinião do relator Maurício Corrêa, o Ministro Carlos Velloso foi

contrário à argumentação contida do RE nº 279.469, dando provimento ao recurso

do Estado Federativo, estando tal pauta nas mãos do Ministro Cezar Peluso, que

pediu vistas para estudar por inteiro a matéria.

Como forma de por fim a esta celeuma, acreditamos que o Congresso

Nacional poderia apresentar uma Emenda à Constituição, que provocaria mudanças

no Código Eleitoral e no Estatuto dos Militares, de modo a disciplinar que o

afastamento do militar com menos de dez anos de serviço que se candidate a cargo

eletivo não tenha caráter definitivo, bem como possam voltar as suas devidas

funções passados os anos de exercício eletivo, como acontece com os civis, dando

assim condições de igualdade a todos, pois não podemos esquecer que os militares,

em sentido lato, quando concorrem a cargos eletivos, têm seus eleitores deslocados

de suas zonas eleitorais, pois geralmente são retirados de suas cidades, para

trabalharem em outras mais distantes no dia da eleição.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse assunto, apesar de ter bastante relevância, raras vezes é comentado

em Instituições de Ensino Superior. Observa-se que não é comum a criação de

jurisprudências e doutrinas sobre a matéria. Não se estuda ou não dão importância

ou não se aborda, com ênfase, os assuntos relacionados aos direitos políticos dos

militares, não se promovendo debates específicos da matéria em Instituições de

Ensino Superior ao ponto de provocarem a curiosidade dos alunos para a questão

do porquê dos militares, após a assunção de um cargo eletivo, não poderem retornar

para as suas corporações. Do porquê da estabilidade dos militares ser de 10 (dez)

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anos, ao contrário do mundo civil, que que a estabilidade dos servidores públicos

civis são de 02 (dois) ou 03 (três) anos.

É importante debater o tema através da criação de fóruns de discussões

sobre o assunto, ao ponto de estimular nossos doutrinadores e representantes

políticos a falarem sobre essa matéria, já que esse assunto só é citado

superficialmente, ao contido no Art. 14, § 8º, I da Constituição federal de 1988,

apenas naquilo que está escrito, mas não adentram ao assunto.

Não se é observado, aprofundamento sobre essa matéria, nos Cursos

jurídicos das Instituições de Ensino Superior de todo o Brasil. É preciso opinar,

estimular, promover encontros de modo a conscientizar e discutir com os os

Operadores do Direitos, futuros gestores do ordenamento público, jurídicos, e

futuros representantes políticos, e demais membros da sociedade, a importância

sobre o tema abordado.

Sabemos que, em todas as profissões há bons e maus profissionais, e não

entendemos o porquê de ainda persistir, o fato do militar, federal ou estadual, ter que

ir pra reserva remunerada proporcional, caso seja eleito, mesmo gozando de toda

saúde para retornar às fileiras de sua corporação.

Dessa forma, não poderia me furtar, a não invocar a todos os leitores as

seguintes indagações: Será que, o porquê do militar, que exerceu cargo eletivo, não

poder voltar as fileiras de sua corporação, seria em razão de se perpetuar o medo

de que um militar possa voltar a influenciar e liderar uma tropa armada e encaminhá-

los a um novo golpe militar, ao ponto de deixar toda sociedade civil brasileira em

perigo? Se acreditarmos que sim, então, surge novo questionamento: Não estaria a

sociedade civil, em perigo, com um militar que construiu sua vida pública no

militarismo, regrada de normas, horários e disciplina, e que, após assumir um cargo

eletivo, e de estar impedido de retornar às fileiras de sua Corporação, e solto na

sociedade, também não estaria impedido de assumir qualquer outra função pública

na sociedade em que vive? Será que, esse militar, o mesmo que exerceu um cargo

eletivo, obrigado a ser aposentado proporcionalmente, ainda, poderia contribuir para

a sociedade economicamente ativa e para o Estado, mesmo não tendo os 30 (trinta)

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anos de serviço, como previsto para se aposentar? Será que, com tal impedimento

constitucional, de o militar que exerceu cargo eletivo não poder retornar a suas

fileiras da corporação e assim, continuar a contribuir para o Estado, será que o

governo e a sociedade não estariam perdendo com isso? Será que, com essa perda

ou impedimento constitucional, também não estaria afetando a dignidade pessoal e

normas de direitos humanos, fazendo com que, aquele servidor militar pudesse se

inútil? Será que os militares, após os plenos exercícios de cargos eletivos, ficariam

incompetentes, após assumirem esses cargos? Será que o Brasil vive hoje a

mesma instabilidade e política de 1986, quando ocorrera a constituinte preparatória

para a atual Carta Magna? Será que o fato de que, após o mandato do cargo

eletivo, os militares serem obrigados a serem deslocados do serviço ativo para a

reserva remunerada proporcional, mesmo com plena saúde, também seja um fator

que inibe o despertar de um líder que queira representar os militares no cenário

político? Pois é, assim como vós, também fico sem resposta para entender o porquê

de tantas injustiças.

Outrossim, se quisermos um país que suas leis sejam plenas, explícitas e

igualitárias a todos que compõem a nação, independente de serem civis ou militares,

independente de etnia, regionalismo, e que possam todos exercer o direito de votar

e ser votado, sem que para isso sofra qualquer retaliação. Nós Militares, também

somos cidadãos. A Carta Magna de 1988, deva atender, de forma igualitária,

militares e civis. Somos merecedores de respeito, consideração e, também,

devemos participar das tomadas de decisões da nação em que vivemos.

Por fim, temos que aumentar a representação política defensora dos direitos

dos militares federais e Estaduais. Todavia, ao tema proposto para reflexões e

estudos, despertam questionamentos iniciais propostos, quando os militares se

questionam, a cerca da perda profissional em que as instituições militares sofrem

quando alguns de seus membros “se atrevem” a assumir um cargo eletivo, com

sanções diretas, quando remanejado para a reserva remunerada, bem como

sanções indiretas, quando excluídos de suas corporações, nos casos dos praças

sem estabilidades e do impedimento de retornarem às fileiras da Corporação, após o

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exercício do cargo eletivo. Mudanças no cenário político regional, estadual e

Federal são extremamentes necessárias. Permanecer com esse dilema é um

verdadeiro retrocesso político e jurídico-constitucional, e preservação das

desigualdades de direitos políticos e constitucionais entre militares e civis.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980. Estatuto dos Militares. Brasília: Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos, 1980. ______. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos, 1988. CÂNDIDO, Joel J. Direito Eleitoral Brasileiro. 8. ed. Bauru: Edipro, 2000. DECOMAIN, Pedro Roberto. Elegibilidade e Inelegibilidades. 2. ed. São Paulo: Dialética, 2004. FILHO, Manoel Gonçalves Ferreira. Comentários à Constituição Brasileira. Vol I. São Paulo: Saraiva, 1999. ROTH, Ronaldo João. Elegibilidade do Militar e suas Restrições. Disponível em: ‹http://www.jusmilitaris.com.br›. Acesso: 07 jul. 2005. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Positivo. 29. ed. Rio de Janeiro: Malheiros, 2007. p122. Superior Tribunal de Justiça Recurso Especial nº 112.477/RS, 6ª. Turma, Relator

Ministro FERNANDO GONÇALVES, DJU: 23/061997.

http://jus.com.br/artigos/10512/o-afastamento-do-militar-com-menos-de-dez-anos-de-servico-para-candidatar-se-a-cargo-eletivo; http://www.advogado.adv.br/direitomilitar/ano2006/rogeriocarlosborn/direitoeleitoral.htm; http://www.direitopositivo.com.br/modules.php?name=Artigos&file=display&jid=413; http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=1843596;

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www.jus.com.br; http://www.stj.jus.br; http://www.stf.jus.br; www.jusmilitaris.com.br;

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112

A CONDUÇÃO COERCITIVA EM SINDICÂNCIAS MILITARES E OUTROS

PROCESSOS ADMINISTRATIVOS DISCIPLINARES

Demétrios Wagner Cavalcanti da Silva1

Resumo

O artigo trata acerca da (im)possibilidade da condução coercitiva de depoentes de maneira geral em sede de Processos Administrativos Disciplinares Militares, envolvendo aí desde uma simples Sindicância Administrativa Acusatória até o Conselho de Justificação. Pretende o artigo propor uma sistematização constitucional-retórica acerca do instituto e sua excepcionalidade. Palavras-chave: Condução coercitiva. Testemunha. Imputado. Sindicância. Processos Administrativos Disciplinares.

1 INTRODUÇÃO

A proximidade cada vez mais crescente entre o Direito Administrativo

Disciplinar e o Direito Processual Penal, tem obrigado aos operadores do Direito

Militar um constante debate acerca dos limites necessários para de um lado

proporcionar um processo que garanta os direitos constitucionais ao imputado e de

outro que não cristalize o Processo Administrativo Disciplinar, aqui em especial o

Militar, comprometendo a própria ritualística e fins do processo.

1 Capitão da Polícia Militar de Pernambuco. Bacharel em Direito. Especialista em Direito Processual.

Especialista em Direito Público. Especialista em Ciências Criminais Militares.

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Assim sendo, torna-se peculiar o debate a fim de identificar até que ponto

é possível no Processo Administrativo Disciplinar obrigar quem quer que seja a

depor e contribuir na fase probatória tal qual é possível no Processo Penal. Se o

debate por si só é instigante, cumpre alertar que em se tratando da seara castrense

os institutos da hierarquia e disciplina devem ser protegidos a todo custo sob risco

de ruir o que previu o art. 42 da Constituição Federal.

É nessa seara que se torna inadiável o debate acerca da possibilidade ou

não da condução coercitiva de imputado e testemunhas no Processo Administrativo

Disciplinar Militar sob pena de provocar uma verdadeira crise no Direito

Administrativo Disciplinar Militar.

2 DA CONDUÇÃO COERCITIVA DO SINDICADO/IMPUTADO

Em se tratando da condução coercitiva do sindicado/imputado,

inicialmente é importante entender os limites do Nemo tenetur se detegere, ou

comumente traduzido sob a expressão "ninguém será obrigado a produzir prova

contra si mesmo" mormente utilizado como razão de furtar-se a depor. Trata-se de

um princípio consignado no Pacto de San José da Costa Rica, que em seu art 8º,

§2º, alínea "g", assegura que "toda pessoa tem o direito de (...) não ser obrigada a

depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada". Vale ressaltar ao leitor que a

norma internacional foi recebida com força de norma constitucional, igualando-se a

essas, por força da Emenda Constitucional nº 45/2004. Ainda assim, os nossos

doutrinadores constitucionais já defendiam a existência dessa premissa em

decorrência do art. 5º, LXIII da Constituição Federal, que garante ao imputado o

direito de permanecer em silêncio e de inclusive não ter esse silêncio interpretado

em seu desfavor. Nesse último senão, destaque-se inclusive que o art. 305 do

Código de Processo Penal Militar foi por isso mesmo revogado tacitamente pela

previsão constitucional embora infelizmente negligenciado pela Lei 10.792, de

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01/12/2003, que deu nova redação ao art. 186 do Código de Processo Penal, essa

sim com a redação constitucionalmente correta.

Vale destacar no entanto, que o militar-imputado está submetido a rígida

hierarquia e disciplina castrense, e por isso mesmo a ele se impõe diversos deveres

e dentre eles a irrestrita obediência as ordens recebidas pelos superiores. Assim

sendo, uma vez apresentado por ofício pelo seu comandante deve o militar cumprir

a ordem de deslocamento o que não significa que está com isso abdicando de seu

direito ao silêncio. Cabe ao subordinado, se apresentado por ofício, comparecer

perante o sindicante/encarregado de Processo Administrativo Disciplinar Militar e

perante este simplesmente expressar que irá se valer do direito ao silêncio.

2.1 Condução coercitiva de testemunha

2.1.1 Condução coercitiva de testemunha militar

Semelhante interpretação se dá quando se trata de testemunha militar em

Sindicância e Processo Administrativo Disciplinar Militar, mas apenas no tocante a

obrigatoriedade de sua apresentação quando determinado pelo seu comandante

através de ofício. É que, uma vez apresentado por ofício que representa uma ordem

legal de seu comandante direto, deve o militar comparecer perante o encarregado

sob risco de cometer crime de desobediência previsto no art. 301 do Código Penal

Militar e com isso responder a pena de detenção de até 06 ( seis) meses.

Uma vez apresentado, a testemunha-militar está também compelida a

depor e se não o fizer, total ou parcialmente, será responsabilizado. Isso porque

para a testemunha não se aplica o direito ao silêncio e muito pelo contrário visto que

o silêncio poderá ser inclusive interpretado como crime de falso testemunho por

força do art. 346 do Código Penal Militar.

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2.1.2 Condução coercitiva de testemunha civil

Já ao tratar de condução coercitiva de testemunha civil em Processo

Administrativo é necessária uma análise sistemática para sua melhor compreensão.

É inquestionável que o princípio da legalidade para a Administração

Pública tem conotação distinta comparando-se ao particular. Por este, aplica-se para

a Administração Pública o princípio da Legalidade Estrita pela qual só é autorizado

atuar naquilo que LEI dispuser.

Eis que neste ponto surge o primeiro requisito da medida: a remissão

legal do Processo Administrativo Disciplinar Militar ao Processo Penal Militar. Assim,

se não há lei que taxativamente remeta a espécie de Processo Administrativo

Disciplinar Militar ao Código de Processo Penal Militar não há que se falar em

condução coercitiva de testemunha. É o caso de Pernambuco onde a legislação

estadual apenas previu tal hipótese no Conselho de Disciplina (art. 16, do Decreto

Estadual nº 3639/75) e Conselho de Justificação (Lei Estadual nº 6957, de

03/11/1975, c/c o art. 17 da Lei Federal nº 5836, de 05/12/72). Assim, não é possível

a aplicação da medida coercitiva em Sindicâncias, Processos Sumaríssimos ou

Processos de Licenciamento em Pernambuco, que são as demais espécies de

Processo Administrativo Disciplinar Militar hodiernamente existente em diversas

legislações militares.

Uma vez vencido o primeiro requisito, o da legalidade, cumpre atentar-se

à competência para determinar a condução coercitiva.

Para a testemunha civil compelida a comparecer, contra sua vontade,

para prestar depoimento em Processo Administrativo é inquestionável notar-se a

supressão temporária da liberdade de ir e vir do cidadão, praticamente uma mini

prisão, com isso ferindo como dissemos anteriormente o art. 5º, XV, da Constituição

Federal, pelo que se impõe atentar a excepcionalidade insculpida no inciso LXI do

mesmo art. 5º da Constituição que permite a supressão da liberdade em caso de

prisão em flagrante ou ordem judicial. Assim, como segundo requisito temos que

não é cabível, no atual cenário constitucional, admitir que um Presidente de

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Comissão Processante Disciplinar Militar determine de próprio punho a condução

coercitiva de particular ( civil). Tal competência é exclusiva do Juiz. Assim também

entende Nucci ( 2012)i que pontua ao tratar sobre o art. 260 do Código de Processo

Penal: "Atualmente, somente o juiz pode determinar a condução coercitiva, visto ser

esta uma modalidade de prisão processual, embora de curta duração".

Compreender o instrumento de outra forma seria assombroso visto interpretar-se a

norma renegando princípios constitucionais.

Ao tratar de sobre o tema, Jorge César de Assis assinala que conforme

decisão do Superior Tribunal de Justiça "a administração não tem poder de forçar o

comparecimento de terceiros para prestar depoimento. A condução coercitiva é um

instituto predominantemente processual, não sendo extensível ao processo

administrativo disciplinar” (NUCCI, 2012)

Poderíamos acrescentar, para melhor entendimento, o argumento de que

a testemunha civil está para o Presidente da Comissão Processante assim como a

testemunha está para o delegado de polícia em sua atividade administrativa e prévia

do processo crime. Nisso, ambas as autoridades não têm competência para de

próprio punho determinar a apresentação de testemunha civil cabendo tal premissa

apenas ao representante do Judiciário.

Vencido o segundo requisito, é importante perceber que há uma

mitigação da medida se aplicada no Processo Administrativo Disciplinar Militar tal

qual previsto no Processo Penal Militar. É que enquanto o Inquérito Policial destina-

se a afigurar um crime e sua autoria, portanto tratando de interesse pro societate, o

Processo Administrativo cuida do Poder-dever Disciplinar, portanto de interesse da

interno da própria Administração, e por isso mesmo não tem a princípio como

sobrepor-se sobre um direito individual.

Neste cenário podemos encetar esse capítulo apontando que o terceiro e

talvez mais importante requisito para uso remoto do instituto é que o objeto do

Processo Administrativo Disciplinar Militar corrobore inegavelmente com o direito pro

societate, ou seja, que seja do interesse da coletividade e não exclusivamente da

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Administração Militar sem o qual não há como justificar-se a supressão de direitos

individuais de terceiros.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A condução coercitiva deve ser entendida como meio excepcional de

produção de provas imprescindível para a elucidação da verdade em um Processo.

Se diz excepcional porque a nova ordem constitucional instituída a partir da Carta de

1988 impõe o respeito a LIBERDADE e DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA como

imperativos que só podem ser violados de forma motivada e sempre quando não

restar outros meios de produção.

Assim sendo, mesmo admitindo-se a possibilidade remota da condução

coercitiva excepcional de quem quer que seja em Processo Administrativo

Disciplinar, cabe exclusivamente ao Juiz devidamente provocado pelo Presidente de

Comissão Processante determinar tal medida a qual só se justifica quando

esgotados todos meios de coleta da prova considerada como imprescindível.

Por fim, em se tratando de testemunha civil, sem qualquer relação

obrigacional para com a Administração Pública, mesmo a ordem judicial de

condução coercitiva só se justificará se abrigada em Lei que remeta o instrumento

processual penal para a seara administrativa, se for lavrada por juiz competente e

quando se afigure causa de interesse coletivo e não somente interno da

Administração Pública.

REFERÊNCIAS

NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. RT. São Paulo.

2012. 11ª Ed.

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STJ, 6ª T, RMS 22.223-RR, relator Ministro Sebastião Reis Júnior, julgado em 16.05.2013, apud

Jorge César de Assis. Condução coercitiva de acusado e de testemunhas no direito militar:

Algumas considerações frente a apuração do ilícito penal e administrativo. Disponível em

http://atualidadesdodireito.com.br/jorgecesarassis/2014/05/13/conducao-coercitiva-de-acusado1-

e-de-testemunhas-no-direito-militar-algumas-consideracoes-frente-a-apuracao-do-ilicito-penal-e-

administrativo/. Acesso em 12/08/2014.

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A INFLUÊNCIA DO SERVIÇO DE INTELIGÊNCIA POLICIAL NO

PROGRAMA DE SEGURANÇA PÚBLICA ESTABELECIDO PELO PACTO PELA

VIDA COM A REDUÇÃO DOS ÍNDICES DE CRIMINALIDADE NO ESTADO

Flávio Rodrigues Bastos1

Resumo

O estudo ora apresentado em forma de artigo teve por base o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) referente ao Curso de Especialização em Gestão Pública ofertado pelo Departamento de Educação a Distância do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, o qual nos permitirá entender a influência do serviço de inteligência policial no Programa de Segurança Pública, dentro do Pacto Pela Vida que culminou na redução dos índices de criminalidade diante as demandas e necessidades reais da segurança publica. Utilizamos o método qualitativo, a fim de abordarmos o problema apresentado, por meio de uma pesquisa descritiva, valendo-nos de uma entrevista com os Gestores de Inteligência da Polícia Militar do Estado de Pernambuco com o fito de entender se a inteligência policial influenciou na redução dos índices na Política de Governo acima descrita. Tivemos como campo de estudo o Núcleo de Inteligência do 16º Batalhão da Polícia Militar, por representar um subsistema de inteligência dentro do Sistema que adota os mesmos princípios doutrinários para os demais batalhões. Com efeito, os resultados conduzem para uma afirmativa da influência da atividade de inteligência nas reduções dos índices criminais.

Palavras-chave: Inteligência Policial. Segurança Pública. Lançamento Operacional.

Teatro de Operações.

1 Primeiro Tenente da Polícia Militar de Pernambuco. Graduado em Matemática. Especialista em

Educação Matemática. Especialização em Gestão Pública. Mestrando em Educação.

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1 INTRODUÇÃO

Embora o conceito de inteligência pareça novo, no Brasil, a muito que se fala

em inteligência como atividade de coleta de informações. Na década de 1960 no

auge do regime militar foi criado o Serviço Nacional de Informações (SNI), o qual era

subordinado à Presidência da República, que tinha como objetivo principal a

salvaguarda de Assuntos Sigilosos de interesse do governo. Todavia, sendo aquele

regime de exceção, logo o controle estava nas mãos dos militares como nos mostra

a professora Priscila Carlos Brandão:

No Brasil, a atividade de informações confundiu-se com a própria segurança nacional. Dois dos três órgãos de informações das Forças Armadas foram criados no final da década de 1960 para combater a subversão: o Centro de Informações do Exército (CIE) e o Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica (Cisa). O único órgão de informações das Forças Armadas que já existia antes da tomada do poder pelos militares em 1964 era o Centro de Informações da Marinha (Cenimar), mas que, em função da entrada dos militares no combate à subversão, redimensionou sua atividade. Em 1967, o SNI se uniu a estes órgãos para, através do culto ao segredo, atuar em defesa do Estado de Segurança Nacional. (BRANDÃO, 2002)

Com o fim do Regime Militar, os órgãos de inteligência entraram no

ostracismo passando por algumas modificações sendo ao longo do tempo

reestruturados e transformados em secretarias que passaram desde a Secretaria

Geral do Conselho de Segurança Nacional (SGCSN) à Secretaria de

Assessoramento de Defesa Nacional (Saden), vindo o SNI ser extinto no ano de

1990 quando foi criada a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), como órgão

central da inteligência.

A atividade de Inteligência integrada por órgãos e sistemas, torna-se

indispensável na estratégia de qualquer governo na defesa da sociedade e em prol

dos direitos individuais e coletivos de seus cidadãos. E por ser essa uma condição

de institucionalização legítima da atividade, é que nos trouxe o interesse pelo tema

em análise, uma vez que surge a necessidade de esmiuçá-lo a partir das discussões

e reflexões quando estamos envolvidos numa vivência policial de segurança pública.

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O convívio coletivo exige de cada indivíduo a observação e, até mesmo, o

culto a valores e atributos em busca do conhecimento para se atingir metas ou

chegar a um objetivo que está diretamente ligado a informações privilegiadas de

determinadas áreas, ou situações. Neste contexto, a Secretaria Nacional de

Segurança Pública (SENASP), afirma no Programa de Segurança Pública para o

Brasil que “A cultura corrente nas Corporações policiais é a busca da informação

como uma fonte de poder no combate à criminalidade” (BRASIL, 2000).

O empenho da inteligência na área de Segurança Pública é condição sine qua

non para o efetivo combate a criminalidade. Aliado a isso, os diversos atores da área

de segurança precisam alinhar suas decisões em consonância com as informações

repassadas pela inteligência.

Assim, acreditamos que a oportunidade de abordar o tema em comento, não

se daria num outro momento, haja vista as políticas de governos tão em voga com o

Plano Estadual de Segurança, que tem como principal linha de ação o Pacto Pela

Vida (PPV). Criado em 08 de maio de 2007 pelo atual governo estadual, o PPV

consiste em um conjunto de ações com diretrizes focadas na redução de índices

criminais, coordenadas pelo próprio Governador, com o objetivo fundamental de

reduzir a violência, dando ênfase à redução dos crimes contra vida, no que prioriza a

inteligência como ferramenta no combate aos Crimes Violentos Letais Intencionais

(CVLI), cujo objetivo maior não é outro se não a segurança pública.

Para tanto, dispusemo-nos, ou melhor, pela própria vivencia na área da

inteligência fomos instigados a emprestar o nosso conhecimento e a nossa

dedicação, a fim de entendermos qual a influência da atividade de inteligência

policial, no programa de governo “Pacto Pela Vida” no combate e redução da

criminalidade.

Buscaremos realizar nossa pesquisa de forma qualitativa, tendo como campo

de estudo o 16º Batalhão Da Polícia Militar, através de observações que vão desde

o planejamento ao lançamento Operacional1, em consonância com as informações

repassadas pela gestão de inteligência.

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Outrossim, utilizamos como fonte primária a técnica da entrevista com os

gestores de inteligência envolvidos no processo, tanto o Gestor Geral de Inteligência

da Polícia Militar, quanto o Gestor do Núcleo de Inteligência da área do 16º BPM, a

fim de coletarmos as informações relevantes para o objeto do nosso estudo.

Como fonte secundária, os relatórios do PPV e como referencial teórico, nos

baseamos essencialmente nas definições patrocinadas pelos órgãos e sistemas que

compõem a inteligência brasileira, além da contribuição de outros teóricos

evidenciados neste trabalho.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Partindo para o aspecto de campo, o universo de nossa pesquisa será

composto pelos diversos atores envolvidos com a tarefa de fazer segurança pública,

notadamente, no que diz respeito ao Serviço de Inteligência Policial da Polícia Militar

no Estado de Pernambuco, porém, de forma peculiar, através do método indutivo,

cujo foco será o lançamento operacional do efetivo policial do 16º Batalhão de

Polícia Militar, ou seja, o 16º BPM sendo o campo do nosso objeto de investigação

de uma forma amostral, considerando a igualdade de doutrina desprendida pela

inteligência no lançamento do efetivo policial dos demais batalhões da Polícia Militar.

Nosso estudo será capitaneado pelas informações colhidas dos gestores de

inteligência da Polícia Militar.

Para tanto, vamos analisar qual a influência da atividade de inteligência

policial dentro do programa de governo “Pacto Pela Vida”, sendo esta uma política

pública no contexto da segurança do nosso Estado, com isso, inevitavelmente por

estar o 16º BPM localizado na Capital da Metrópole, teremos que, embora

superficialmente, lançar um olhar ao público-alvo a quem se destina a atividade fim

do batalhão, com ênfase nos aspectos sociais no que concede promover a sensação

de segurança, cujo objetivo maior da Corporação não é outro, se não o de fazer

valer o que confere a nossa Carta Magna, quando afirma em seu art. 144 que a

segurança pública, é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é

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exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas

através de seus órgãos operativos. Dentre eles, a Polícia Militar.

Utilizamos o método qualitativo, a fim de abordarmos o problema

apresentado, por meio de uma pesquisa descritiva, valendo-nos de uma entrevista

com o Gestor Geral de Inteligência da Polícia Militar do Estado de Pernambuco, bem

como, com o Gestor do Núcleo de Inteligência da área do 16º BPM, com o fito de

entender qual a influência da inteligência policial na Política de Governo ora

estabelecida no Pacto Pela Vida.

Devido a diversidades de Batalhões da Polícia Militar que cobrem toda Região

Metropolitana da Cidade do Recife, e pela própria idiossincrasia doutrinária do

sistema de inteligência adotado pela Corporação, dentro do que preconiza o Pacto

Pela Vida, a nossa escolha do Núcleo de Inteligência do 16º BPM como campo de

estudo, se deu por representar um subsistema de inteligência dentro do Sistema que

adota os mesmos princípios para os demais Núcleos, no qual todos são geridos por

um único Gestor que é o Chefe da 2ª EMG2, motivos pelo qual também ser esse

último um dos sujeitos de nossa pesquisa.

Dentro de uma perspectiva, cujas informações irão subsidiar nossa

investigação, a fim de compreender o objeto deste estudo, em que pese ser um

tema ainda restrito entre os componentes do sistema, devido a uma época em que

esteve vinculado ao aparelho repressor de um regime de exceção, e, por

conseguinte, pouco explorado.

Entendemos haver elementos suficientes para dar cabo à nossa pesquisa,

portanto, usaremos o acervo existente nas agências de inteligências da Policia

Militar, centros acadêmicos, bibliotecas, instituições públicas e/ou privadas que

possam nos auxiliar na pesquisa, bem como, a própria prática policial que colabora

como experiência viva ao longo dos dezesseis anos dentro do sistema de

inteligência.

2 Seção do Estado-Maior Geral, responsável por todas as demais seções de inteligência da Polícia

Militar de Pernambuco.

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Analisaremos também, em linhas gerais, o contexto da inteligência policial no

planejamento e lançamento do efetivo policial quando da necessidade efetiva do

combate a criminalidade.

Em relação aos procedimentos quanto à análise dos dados, sabemos que a

descodificação de um documento pode utilizar-se de diferentes procedimentos para

alcançar o significado das comunicações nele cifradas. A escolha do procedimento

mais adequado depende do material a ser analisado, dos objetivos da pesquisa e da

posição ideológica e social do analisador (CHIZZOTTI, 2006).

Nesse sentido, após as coletas dos dados provenientes das entrevistas com

os sujeitos da pesquisa, procuramos interpretar as respostas segundo a ótica da

análise de conteúdo de Bardin (2006), a qual nos ensina que: “...análise de dados é

um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos

sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens...” Assim a

intenção da análise de conteúdo da nossa pesquisa, não é outra, se não a inferência

de conhecimentos relativos às falas quando na realização das entrevistas com os

gestores da atividade de inteligência da polícia militar, sobre a influência desta na

redução dos índices criminais.

Para a análise das falas foi considerada a unidade de análise temática, cujos

temas são: percepção sobre o serviço de inteligência, importância do mesmo,

influência no lançamento operacional, visão do serviço de inteligência, e a influência

no Pacto pela Vida. Estes temas foram estruturados numa grade de análise em que

cada tema foi confrontado com as respostas dos sujeitos de pesquisa o que

propiciou uma possibilidade mais ampla dos gestores pesquisados.

As unidades temáticas, recorrentes das entrevistas realizadas, deixam clara a

associação da inteligência policial com temas ligados à atividade de

assessoramento, tomadas de decisão, planejamento estratégico e análise criminal

entre outras, como sendo atividades exclusivamente desenvolvidas pela Inteligência

Policial no âmbito da Corporação Policial Militar no combate a criminalidade. Desta

maneira, e, viabilizando esse entendimento discutiremos a seguir esta atividade.

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3 Núcleo de Inteligência do 16ºBPM.

Tendo como objetivo central a produção de conhecimento na área de

inteligência com informações pertinentes ao índice de criminalidade apresentado

pelo número de assalto, tráfico e consumo de drogas, além de formação de

quadrilhas que por ventura venham a existir em determinada localidade (bairros), e

com intuito de subsidiar no processo de tomadas de decisões no ato de

planejamento operacional, o Núcleo de Inteligência do 16ºBPM empenha seus

agentes no terreno (bairros dentro da área de atuação) com a missão de buscar os

dados negados, que aqui se entenda por informações coletadas em pesquisa de

campo junto com a comunidade local, informantes (pessoas que se dispõem em

ajudar a policia com informações privilegiadas), e algumas vezes até mesmo com

marginais da própria localidade.

Faz-se necessário esclarecer que buscar informações junto à própria

criminalidade, não implica de maneira alguma em envolvesse com ela. Uma vez que

a criminalidade vem se organizando e se aperfeiçoando constantemente nos seus

métodos, práticas e áreas de atuação, aqueles que combatem o crime tem

imperiosamente que acompanhar essa evolução, e não poderia ser de outra forma

com serviço de inteligência policial, que pela peculiaridade do serviço arrisca a

própria vida quando infiltrados dentro da marginalidade na busca da informação.

Não se pode desprender-se do objetivo acima, a ajuda na coleta de dados

com o tratamento das informações geradas pela estatística, a qual é constantemente

alimentada pela quantidade de Boletins de Ocorrências gerados no decorrer dos

períodos (semanas, mês, ano), que envolvem incidência de determinados tipos e

ocorrência, em certa localidade, no que demanda da inteligência uma maior atenção

e agilidade na obtenção das informações que delas dependam uma tomada de

decisão rápida e cirúrgica, em prol da defesa social face o perigo iminente.

O 16º BPM está localizado no centro da cidade do Recife, a qual tem por

circunvizinhança três grandes bairros, Santo Amaro, Coelhos e Coque, onde o

índice de criminalidade, conforme estatística gerada pelos números de ocorrências

atendidas mensalmente são respectivamente 40%, 25% e 15%, sendo esse

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percentual de um montante de 840 ocorrências atendidas durante o período de um

mês3.

Se considerarmos que a área de circunscrição do núcleo de inteligência do

16º BPM corresponde a 12 bairros4 veremos facilmente, sem desprezar os demais

bairros, que a preocupação maior encontra-se nos bairros acima mencionados. Em

relação à segurança, é obvio que devemos contemplar todos aqueles que dela

precisam sem exceção, a fim de garantir o direito de todos independentes do local

onde reside, cor, raça ou credo.

Contudo, pelo valor operacional, ou seja, áreas que apresentam quantidade

significante de ocorrências, demonstrada pela estatística, demandam uma maior

concentração do serviço de inteligência, com vistas a uma ação preventiva por parte

do planejamento operacional.

Na verdade, a influência da inteligência institucionalizada nos órgãos

operativos de segurança do Estado, no que pese as reduções nos índices de

criminalidade conforme se constata nos relatórios divulgados na mídia pelo governo,

se dá, acreditamos, antes de tudo, pelo reconhecimento e investimento na atividade

de inteligência dentro de uma estrutura ramificada de informações, porque é racional

entender que a previsão é um fundamento da prudência na arte de governar.

Corroborando com essa afirmação, citamos o pensador Florentino Maquiavel

quando diz que “a sustentação do poder do Príncipe está no segredo e na razão de

Estado” (MAQUIAVEL, 2002). Podemos ver que o ato de prever e antecipar-se,

construído a partir do conhecimento de segredos, fundamenta a prudência por

aqueles que governam quando nas tomadas de decisões.

3 Fonte: Seção de Estatística do 16ºBPM.

4 São José, Stº Antônio, Cabanga, Coelhos, Stº Amaro, Coque, Joana Bezerra, Boa Vista I,Boa Vista

II, Soledade, Paissandú e Ilha do Leite.

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4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

A atividade de inteligência desde o seu nascimento se caracteriza pela ideia

de obtenção da informação privilegiada quando na tomadas de decisões. Talvez um

dos melhores exemplos de utilização de uma eficaz estratégia de Inteligência no

mundo antigo foi do jovem imperador, Alexandre, o Grande. O historiador Kristan J.

Wheaton (2012) afirma que:

Em 13 anos, Alexandre construiu o mais extenso império conhecido pela humanidade, ultrapassando os Persas, e conquistando partes da India, do atual Afeganistão, e partes da atual Rússia. Alexandre sabia que para fazer isso, e para controlar o seu vasto império, ele precisaria de uma maneira de enviar informação de Inteligência na mesma velocidade com que conquistava territórios. Para isto ele precisou de um sistema de informações tão poderoso quanto seu exército. (KRISTAN, 2012).

Fica claro nesse contexto histórico a preocupação em obter informações

privilegiadas que possibilitassem a certeza de uma vitória na conquista de um

império.

Tentar-se-á demonstrar neste artigo como a inteligência influencia no

planejamento das ações operacionais de uma Unidade de Segurança Policial, dentro

do Programa Governamental Pacto Pela Vida (PPV), partindo primeiramente das

definições de inteligência com intuito de entender como se vivencia essa atividade.

A Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), órgão central do Sistema Brasileiro

de Inteligência (SISBIN), define como inteligência “a produção de conhecimentos

que habilitem as autoridades governamentais, nos respectivos níveis e áreas de

atribuições, à oportuna tomada de decisões ou elaborações de planos” (BRASIL,

2009).

Vemos aqui uma definição ampla do que venha ser inteligência, contudo, a

citada definição ainda não nos esclarece a influência dessa atividade no sistema de

segurança, para tanto, e com intuito de obtermos a resposta examinaremos a

definição transcrita da Doutrina de Inteligência da Polícia Federal (DPF-1999), a qual

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nos diz que “Inteligência é a atividade exercida pelo órgão policial, fundamentada em

preceitos legais e padrões éticos, que consiste na produção e proteção de

conhecimento, por meio do uso de metodologia própria e de técnicas de

assessoramentos...” Embora a ideologia aqui transcrita se aproxime da resposta

procurada, todavia não nos fornece uma clareza da importância dessa atividade

para as ações policiais.

Com o avanço crescente do crime nas suas mais diversas modalidades

desafiando por vezes, o aparato policial, os órgãos operativos de segurança

passaram a ter uma nova concepção de inteligência policial, que corrobora

sobremaneira na pesquisa em comento. Segundo Lacerda (2002) “Inteligência é a

coleta de informações sem o consentimento, a cooperação ou mesmo o

conhecimento por parte dos alvos da ação.” Nessa acepção restrita, inteligência é o

mesmo que segredo ou informação secreta que permite a policia atuar de forma

cirúrgica e preventiva no combate a criminalidade.

O mundo passa por constantes mudanças, e a produção do conhecimento

tem sido uma moeda de grande valia, principalmente para as organizações de

segurança pública quando no desenvolvimento de ações que visam à antecipação e

prevenção da criminalidade.

A inteligência é um elemento básico do planejamento estratégico de qualquer

organização. Gestores de segurança em suas demandas organizacionais não

tomam decisões sem um assessoramento das informações advindas da inteligência.

Vivemos em uma sociedade ávida pelo conhecimento. Quando analisamos a

visão de Borges (2008) ao dizer que “A sociedade do conhecimento é reconhecida

pelo uso intenso da informação e do conhecimento e das tecnologias de informação

e da comunicação e da vida do indivíduo e da sociedade, em suas diversas

atividades.” Fica claro porquanto nas últimas décadas surgiram tantas ramificações

de inteligência, tais como: Inteligência Organizacional, Inteligência de Estado,

Inteligência Militar, Inteligência de Segurança Pública, Tecnologia da Informação,

Inteligência de Compras, Inteligência Competitiva, Inteligência Empresarial, etc.

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Porém, ao lançarmos um olhar crítico, veremos que tudo se caracteriza pela

idéia de obter informações privilegiadas quando no planejamento e nas tomadas de

decisões. Ou, poderíamos dizer que tudo é uma adaptação da atividade de

Inteligência “clássica” à atividade de Inteligência policial.

O Planejamento Estratégico Governamental (PEG), transcrito no PPV busca a

todo esforço atender as demandas sociais, dentro das atividades inerentes ao dever

do Estado conforme nos ensina o professor Renato Peixoto Dagnino:

O Planejamento Estratégico Governamental deverá inclusive buscar sua transformação no sentido do “Estado Necessário”, entendido como um Estado capaz não apenas de atender àquelas demandas, mas de fazer emergir e satisfazer as demandas da maioria da população hoje marginalizada. Um Estado que possa alavancar o atendimento das demandas da maioria da população e proteja o país numa rota que leve a estágios civilizatórios superiores (DAGNINO, 2009).

Daí a importância da inteligência na atividade policial, antecipando-se aos

acontecimentos, planejando e executando ações que permitam a segurança da

sociedade e do Estado.

Logo, a influência da atividade de inteligência nas metas alcançadas pelo

Pacto Pela Vida, no que se refere à redução do índice de criminalidade, e

principalmente nos Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLI), reside nos

levantamentos e coletas de dados por parte de um sistema integrado de inteligência

policial, com ações transversais executadas por todas as Secretarias do Estado de

forma não fragmentada, incorporada em todos os níveis de execução das políticas

públicas de segurança, como outrora não se via.

Somam-se ainda os mecanismos de monitoramento e de avaliação, desde a

formulação de estratégia, até a execução propriamente dita das ações de segurança

pública, permitindo corrigir as falhas e muitas vezes mudar até a direção visando um

objetivo maior no combate a violência.

Conforme redação contida no Plano Estadual de Segurança Pública

podemos ver claramente a preocupação dos atores políticos em atingir as metas:

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Finalmente, pode ser dito que a meta estruturante do Plano Estadual de Segurança Pública é construir um conjunto de ações sistêmica de curto, médio e longo prazo, que, definindo e monitorando responsabilidades, busque interromper o crescimento da violência criminosa em Pernambuco e iniciar um processo de redução contínua e progressiva de tal violência, e em especial dos crimes contra a vida. (PERNAMBUCO, 2007)

Com vista a fortalecer as atividades de inteligência e dar suporte as metas do

Pacto Pela Vida o Governo do Estado sancionou no mesmo mês de sua criação a

Lei Nº 13.241(2007), estabelecendo o Sistema Estadual de Inteligência de

Segurança Pública do Estado de Pernambuco – SEINSP, ficando sob a chefia do

Secretário de Defesa Social, tendo como órgão de coordenação, planejamento e

execução o Centro Integrado de Inteligência de Defesa Social – CIIDS.

Os elementos caracterizadores desse “novo modo de fazer segurança

pública” não apresentam nenhuma fórmula miraculosa, mas apenas uma política

fomentada a partir da valorização e investimento na atividade de inteligência policial,

que não só influenciou a queda nos índices de criminalidade imposta pelo PPV, mas

aparece como sendo a base na produção de resultados, dando início assim, a

chamada política da engenharia social pautada nos princípios básicos da inteligência

policial, sem jamais deixar de levar em conta naquilo que preconiza a Constituição

Federal de 05 de outubro de 1988, ipsis litteris no seu Art. 5º quando afirma que

“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se

aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à

vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e a propriedade” (BRASIL, 1988).

Logo, a segurança é dever do Estado. Com efeito, a inteligência policial pode

ser uma ação que propicie a redução da criminalidade em nosso Estado e

contribuído sobremaneira na defesa do maior direito que o homem tem, inviolável, o

direito a vida.

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5 A INFLUÊNCIA DO SERVIÇO DE INTELIGÊNCIA POLICIAL NO PPV, E A

REDUÇÃO DOS ÍNDICES DE CRIMINALIDADE NA VISÃO DOS GESTORES DE

INTELIGÊNCIA

A análise de conteúdo constitui-se num método de tratamento de

comunicações, que pode ser bastante amplo conforme os objetivos delineados, bem

como, da visão dos entrevistados, emerge a necessidade de esclarecer que ambos

os entrevistados pertencem ao sistema de inteligência da polícia militar, contudo, em

cargos e hierarquias diferentes.

Na visão dos gestores, a atividade de inteligência constitui a base do

assessoramento nas tomadas de decisões, e que disso implica todo planejamento

operacional quando do lançamento do efetivo policial na área de atuação e, que dela

também, depende a eficácia e a eficiência do aparato defensor do Estado. Ambos os

sujeitos, acreditam que por ser a atividade de inteligência, uma atividade que permite

visualizar e entender a situação criminal dentro de uma estimativa em obter

informações privilegiadas, e que por essa razão permite à antecipação dos fatos,

dando condições de planejar ações transversais no combate à marginalidade, é que

influenciou na redução dos índices propostos pelo PPV.

Do ponto de vista das explicações sobre o desenvolvimento e

aperfeiçoamento da inteligência dentro da Instituição, pode ser interpretado em parte,

ainda na visão dos gestores, como resultado direto da criação do Sistema Estadual

de Inteligência de Segurança Pública do Estado de Pernambuco (SEINSP), o que

permitiu uma integração dos demais órgãos operativos da Secretaria de Defesa

Social – SDS -, e pelos investimentos propostos nas diretrizes do PPV, sobretudo na

capacitação e qualificação técnica do efetivo.

Com base no que foi dito, e em relação às metas de redução dos índices de

criminalidade impostas pelo governo de 12% dos Crimes Violentos Letais

Intencionais (CVLI), e, tomando como exemplo a área de circunscrição do 16º

Batalhão da Polícia Militar, objeto desse estudo, no período de dois anos (2011 e

2012), em decorrência das ações integradas de inteligência dentre as atribuições

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conferidas do PPV, o Batalhão reduziu as metas referentes ao quantitativo do CVLI,

saindo respectivamente do patamar de 73 homicídios para 52, representando uma

redução de 38%5 em relação ao ano anterior.

Tudo isso, acreditamos, ser fruto de uma análise precisa de informações,

resultante de ações transversais da inteligência pela integração dos órgãos, o que

nos indica que as ações do serviço de Inteligência já apresentam uma influência na

redução da criminalidade no período em tela.

A atividade de inteligência policial é uma ferramenta que possibilita aos

gestores de Segurança Pública entender o fenômeno da criminalidade e seus efeitos,

consequentemente, permite aos gestores diagnosticar com precisão os fatores que

levam ao cometimento do crime, produzindo o conhecimento necessário na

formatação de ações integradas, homogêneas, contínuas e ininterruptas.

Finalmente, pode ser dito que as metas estruturantes do Plano Estadual de

Segurança Pública, na ótica dos entrevistados, permitiram a integração do sistema,

consequentemente uma transversalidades das ações, com investimentos na

qualificação técnica dos agentes, no que fortaleceu a doutrina, e que, o somatório

desses fatores levou a redução dos índices de criminalidade dentro do Estado,

principalmente dos crimes contra a vida, que teve influência direta das ações

sistêmicas da atividade de inteligência de todos os órgãos operativos da Secretaria

de Defesa Social, no combate à criminalidade.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa teve por finalidade analisar a influência do serviço de inteligência

na redução dos índices de criminalidade propostos no Plano Estadual de Segurança

Pública, nos fazendo-nos entender as peculiaridades que envolvem a inteligência

policial em face de sua utilização no planejamento e lançamento operacional, tendo

5 Fonte:Núcleo de Inteligência do 16ºBPM.

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como sujeitos da pesquisa respectivamente, o Gestor Geral de Inteligência da

Polícia Militar e o Gestor do Núcleo de Inteligência Setorial, sendo o campo de

pesquisa “in loco” o 16º Batalhão da Polícia Militar do Estado de Pernambuco

(16º BPM).

É possível perceber, com base nesse estudo, que as ações de inteligência

constituem uma ferramenta no enfrentamento à criminalidade e que, o poder

dissuasório dos órgãos de segurança pública ganha maior efetividade quando

empregam o serviço de Inteligência nas ações que antecipem os cometimentos

delituosos ou qualquer ação que venha atentar contra a ordem pública.

Demonstrou-se também, que a inteligência está diretamente ligada ao

Planejamento do Lançamento Operacional do efetivo ostensivo na área de atuação,

no que, a nível tático, a produção de conhecimentos tem sido imprescindível para

manter uma sensação de segurança com o emprego eficaz e racional do

policiamento ostensivo da Polícia Militar, decorrendo na redução dos índices

criminais anunciados nas metas do PPV.

Frente ao problema investigado, em que pese à influência da atividade de

inteligência na redução dos índices de criminalidade estabelecido no Programa de

Segurança Pública Pacto Pela Vida, é consenso dos sujeitos desta pesquisa que a

atividade de inteligência ao assumir uma postura prospectiva e proativa, no nível

estratégico, analisando as tendências da criminalidade, apoiada em uma nova gestão

de segurança pública, com programas e planos focados mais nas causas estruturais

do que conjunturais, teve influência sim, na redução dos índices.

Com efeito, a atividade de inteligência com vistas a combater a criminalidade,

adquire um grau de importância não só para a repressão, mas, principalmente, no

que concerne à prevenção. As ações de inteligência se pautam por reunir todos os

órgãos do Governo resultando em processos específicos na construção de soluções

para o grande desafio que hoje enfrenta os órgãos de Segurança, que seja erradicar

o crime em todas suas modalidades, principalmente dos crimes contra a vida.

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REFERÊNCIAS

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PERNAMBUCO. Governo Estadual. Pacto Pela Vida (PPV). Plano Estadual de Segurança Pública. Maio, 2007. PERNAMBUCO. Poder Executivo. Lei Nº 13.241, Cria o Sistema Estadual de Inteligência de Segurança Pública do Estado de Pernambuco – SEINSP, e dá outras providências. Maio, 2007. KRISTAN, J. Wheaton. O Ciclo da Inteligência e sua História, 2012, 4ª Ed.

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IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA ESTADUAL DE INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA: análise das mudanças organizacionais na 2ª Seção do Estado-Maior Geral da Polícia Militar de Pernambuco

Flávio da Silva Mendonça1

Resumo O presente artigo tem como objetivo geral analisar as mudanças organizacionais na 2ª Seção do Estado-Maior Geral da Polícia Militar de Pernambuco, implantadas pela Lei nº 13.241, de 29 de maio de 2007, através de pesquisa descritiva, procedimentos estatísticos e comparativos, com a utilização de instrumentos de coleta de dados como o questionário construído com a ferramenta “Google docs”. Os resultados obtidos através do estudo de campo permitiram apontar situações divergentes ao previsto na legislação ora citada, demonstrando ainda uma readaptação à nova realidade. Servindo como indicador de avaliação do ambiente organizacional, contribuindo como sugestão para a tomada de decisão preventiva e/ou corretiva, por parte do Governo Estadual e da organização. Palavras-chave: Mudanças organizacionais. Legislação. 2ª Seção do Estado-Maior

Geral da PMPE.

1 INTRODUÇÃO

O Governo de Pernambuco em 2007 deu início a uma nova gestão, e

com isso implantou mudanças em diversas áreas do governo, principalmente na

Segurança Pública com o Programa Pacto pela Vida.

A nova gestão buscou integrar os órgãos operativos da Secretaria de

Defesa social de Pernambuco (Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros

1 Primeiro Sargento da Polícia Militar de Pernambuco. Formado em Licenciatura em Física – UFRPE.

Tecnólogo em Processos Gerenciais – FATEC/UNINTER. Especialização em Gestão Pública – IFPE.

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Militar), bem como a Secretaria Executiva de Ressocialização e Corregedoria Geral

da SDS-PE, visando combater a violência e a criminalidade com mais eficácia,

através da troca de informações. Para realizar tal integração, o governo implantou o

Sistema Estadual de Inteligência de Segurança Pública – SEINSP, através da Lei nº

13.241, de 29 de maio de 2007, regulamentada pelo Decreto nº 30.847, de 01 de

outubro de 2007, a qual, além de integrar os órgãos operativos da Secretária de

Defesa Social de Pernambuco e outros órgãos, ocasionou uma mudança

organizacional na 2ª Seção do Estado-Maior Geral da Polícia Militar de

Pernambuco.

O estudo sobre mudança organizacional possibilita uma compreensão

ampla do ambiente, tanto no âmbito das relações humanas, como também, analisa a

atual realidade, tendo como respaldo os principais conceitos sobre mudança

organizacional, principalmente porque se faz necessário compreender as

implicações dessa teoria nas organizações públicas. Traz como pergunta problema

a seguinte questão: quais as implicações ocorridas na gestão organizacional, com a

implantação do Sistema Estadual de Inteligência de Segurança Pública - SEINSP,

na 2ª Seção do Estado-Maior Geral?

A presente pesquisa acadêmica visa analisar o ambiente organizacional,

observando até que ponto as mudanças quando incorporadas a gestão, contribuíram

efetivamente para a melhoria do cotidiano da organização. O tema permite uma

compreensão de como se desenvolve as relações entre indivíduos quando estão

vivenciando um ambiente de mudanças e quais os reflexos desta percepção do

ponto de vista estrutural. Outro aspecto de suma importância, estudado durante o

período da pesquisa, foram às mudanças organizacionais impactadas no âmbito

estrutural.

Na prática, identificou-se que as implicações ocasionadas no processo de

mudança da organização, sofreram o impacto que alterou as relações interpessoais,

gerando uma nova realidade, pela dinâmica do Sistema Estadual de Inteligência de

Segurança Pública - SEINSP, na 2ª Seção do Estado-Maior Geral da Polícia Militar

do Estado de Pernambuco.

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Chegou-se aos resultados, através da coleta de dados, aplicando

questionário com perguntas fechadas e com método quantitativo, pesquisa

exploratória descritiva e bibliográfica, analisando e mensurando as informações

obtidas no instrumento de pesquisa, avaliando as principais mudanças

organizacionais na 2ª Seção do Estado-Maior Geral.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Optou-se por utilizar o método quantitativo, tendo como objetivo a

pesquisa exploratória descritiva, através de procedimentos adotados na coleta de

dados como: a pesquisa bibliográfica e o estudo de campo, utilizando um

questionário constituído por uma série ordenada de perguntas fechadas

preferenciais, junto a uma amostra aleatória simples dos integrantes da Segunda

Seção do Estado-Maior Geral da Polícia Militar de Pernambuco.

De acordo com Zanella (2009, p. 77)

A pesquisa quantitativa é aquela que se caracteriza pelo emprego de instrumentos estatísticos, tanto na coleta como no tratamento dos dados, e que tem como finalidade medir relações entre as variáveis. Preocupa-se, portanto, com representatividade numérica, isto é, com a medição objetiva e a quantificação dos resultados.

3 AMOSTRA

Segundo a Subseção de Apoio Administrativo - SS-1 da 2ª Seção do

Estado-Maior Geral da Polícia Militar de Pernambuco, a qual é equivalente ao Setor

de Pessoal, e conforme especificado na Lei 13.241, de 29 de maio de 2007, o

contingente existente da 2ª Seção do Estado-Maior Geral é de 49 (Quarenta e nove)

Oficiais e 309 (Trezentos e nove) Praças, totalizando 358 (trezentos e cinquenta e

oito) integrantes, embora o efetivo fixado pela Lei Estadual nº 14.025, de 26 de

março de 2010, seja de 58 (cinquenta e oito) Oficiais e 325 (trezentos e vinte e

cinco) Praças, totalizando 383 integrantes.

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De acordo com Oliveira e Grácio (2005, p. 1):

Num levantamento por amostragem aleatória, a seleção dos elementos que deverão compor a amostra deve, então, ser feita com uma metodologia adequada, de tal forma que os resultados da amostra possam ser generalizados para a população toda. É necessário garantir que a amostra seja representativa da população: isto significa dizer que a amostra deve apresentar as mesmas características gerais da população no que diz respeito às variáveis em estudo.

Fonseca e Martins (2010, p. 178), apontam que para determinar o

tamanho da amostra aleatória simples em populações finitas, utiliza-se a seguinte

Equação:

Sendo,

n = Tamanho da amostra;

z = Nível de confiança;

σ = Desvio padrão;

N = Tamanho da população;

d = Erro amostral tolerável;

Definida a equação, iremos realizar o cálculo da amostra a ser

pesquisada, sabendo que N=358, considerando d=0,05 (5%), z=2 (95,5%) e σ=0,30

(30%). Substituindo os valores na equação supracitada, temos:

Portanto, de acordo com os cálculos da equação da amostra aleatória

simples, o tamanho da nossa amostra será de 102 (cento e dois) integrantes.

Definido o tamanho da amostra, listamos em ordem numérica crescente

de 1 a 358, todos os integrantes da 2ª Seção do Estado-Maior Geral, numa tabela de

Excel 2007 da Microsoft, realizando um sorteio aleatório simples através da função

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“=ALEATÓRIOENTRE(1;358)”, a qual gerou uma distribuição numérica aleatória na

Tabela 1:

331 92 24 299 65 16 22 60 305 347

94 244 100 230 346 115 337 51 331 130

105 125 323 111 246 59 131 317 106 346

150 254 28 56 306 265 86 151 158 322

239 275 347 49 30 31 25 10 152 205

133 306 281 251 354 6 19 1 134 50

174 219 307 186 225 91 225 81 149 132

71 184 220 328 180 249 47 351 303 34

135 22 355 248 19 160 214 260 254 18

94 44 21 77 128 353 338 287 175 350

316 288 135 125 189 165 201 151 77 226

161 72 313 216 230 293 95 25 101 68

119 341 109 194 173 311 199 103 152 336

194 171 214 114 245 2 111 319 26 14

340 52 255 338 99 21 257 42 100 47

127 60 36 348 58 322 20 273 165 262

215 123 278 202 275 276 145 82 10 78

299 220 91 43 309 254 262 231 22 31

223 311 177 319 245 2 80 182 253 224

121 2 126 8 61 92 33 324 50 323

118 253 69 88 173 133 74 237 260 135

170 245 196 94 142 221 198 344 280 343

184 4 164 34 47 266 88 298 200 90

19 36 124 175 286 2 270 22 323 297

118 71 46 262 56 322 304 8 71 259

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141

24 37 36 27 290 167 74 292 340 102

257 153 215 88 143 31 106 162 188 59

275 15 289 35 326 232 171 339 25 193

352 267 150 115 50 31 127 309 37 16

112 329 282 9 27 255 137 257 242 190

309 60 296 106 321 169 128 286 239 253

6 44 27 342 155 146 71 12 42 2

109 301 138 319 306 143 88 211 191 166

135 237 19 281 296 26 256 176 39 352

208 11 5 339 146 252 123 32 97 106

119 164 214 343 327 210 112 339

Tabela 1. Distribuição numérica aleatória.

Após o sorteio aleatório dos integrantes da 2ª Seção do Estado-Maior

Geral através do Excel Microsoft 2007, foram escolhidos os números aleatórios

postados nas primeiras 12 linhas da tabela 1, sendo excluídos os números repetidos,

e os excedentes finais, permanecendo apenas os primeiros 102 números sorteados,

conforme Tabela 2:

331 92 24 299 65 16 22 60 305 347

94 244 100 230 346 115 337 51 130

105 125 323 111 246 59 131 317 106

150 254 28 56 306 265 86 151 158 322

239 275 49 30 31 25 10 152 205

133 281 251 354 6 19 1 134 50

174 219 307 186 225 91 81 149 132

71 184 220 328 180 249 47 351 303 34

135 355 248 160 214 260 18

44 21 77 128 353 338 287 175 350

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142

316 288 189 165 201 226

161 72 313 216 293

Tabela 2. 102 números sorteados aleatoriamente e escolhidos, os quais representam os integrantes

da 2ª Seção do Estado-Maior Geral a serem pesquisados.

Com a definição da amostra aleatória simples de 102 integrantes e a

realização de um sorteio aleatório através do Excel 2007 Microsoft, tendo todos os

358 integrantes da 2ª Seção do Estado-Maior Geral a mesma oportunidade de

participar da presente pesquisa. Foram elaboradas 22 perguntas fechadas, as quais

fazem parte de um questionário construído a partir da ferramenta “Google docs”,

onde os pesquisados sorteados, sendo 17 (dezessete) Oficiais e 85 (Oitenta e cinco)

Praças, conforme numeração aleatória, receberam um link

(https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?usp=drive_web&formkey=dF9WbmF6ejZyM

TZidl9WM2lxb0Z6MFE6MQ#gid=0) via e-mail pessoal, visando ter acesso às referidas

perguntas, e consequentemente respondê-las online.

“O questionário é um instrumento que possibilita atingir um número

grande de pessoas, em uma ampla área geográfica, já que pode ser enviado pelo

correio, por meio digital (e-mail) ou aplicado por telefone” (ZANELLA, 2009, p. 113).

Zanella (2009, p. 113) afirma que nas perguntas com respostas fechadas,

o entrevistado diante de um questionário, escolhe respostas dentre as opções

oferecidas, seja verbalmente ou assinalando graficamente.

Ainda segundo Zanella (2009, p. 113), a escolha múltipla é um tipo de

pergunta fechada, onde o respondente escolhe uma alternativa ou um número

limitado de opções de respostas.

Respondidas as perguntas, as quais ficaram abertas por tempo pré-

determinado, foi realizada uma análise dos dados, visando descobrir as reais

mudanças organizacionais da Segunda Seção do Estado-Maior Geral da Polícia

Militar de Pernambuco, depois da implantação do Sistema Estadual de Inteligência

de Segurança Pública – SEINSP, instituídas pela Lei nº 13.241, de 29 de maio de

2007.

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143

4 PROCESSO DE MUDANÇA ORGANIZACIONAL

Falar de mudança organizacional remete a uma análise do ontem e do

hoje. As mudanças sempre existiram em todos os lugares, com as organizações

públicas não é diferente. O que se observa nas organizações é que estas estão

situadas em ambientes que se encontram em constante mudança, sendo fato que

as mudanças estão presentes no universo organizacional.

Os diferentes fenômenos relacionados à mudança organizacional,

observados durante estudos realizados por especialistas, diagnosticaram que o

ambiente organizacional busca estabilizar-se, e que esta é uma reação natural de

qualquer sistema. No entanto, existem outros mecanismos a serem adotados pela

organização na busca de se estabilizar. Outro aspecto relevante existente a ser

observado na análise sobre mudança organizacional é o reflexo que essas causam

e em que grau elas afetam as variáveis internas e externas. É importante observar

quais as variáveis que são afetadas em maior intensidade para que se possa intervir

rapidamente, e assim, diminuir o impacto dos seus efeitos. A gestão deve

intensificar suas ações objetivando se beneficiar das mudanças, como também,

exterminar os efeitos maléficos e duradouros percebíveis por toda a organização. As

organizações devem desta forma, fortalecerem-se estruturalmente e

hierarquicamente, utilizando-se de práticas que elimine e/ou minimize a um nível

aceitável, direta e indiretamente o impacto das mudanças na administração

estratégica, tática e operacional da empresa pública e privada.

Reforçando o entendimento, é preciso buscar mecanismo que possibilite

a estabilização dos impactos ocasionados por tantas e constantes mudanças

advindas de um mundo tecnologicamente interligado, competitivo e globalizado.

Talvez seja por isto, que diversos autores se sentem atraídos por estudar esse

tema. Um deles é Schein (1982, p.188), considerado por muitos um tradicionalista, o

qual comenta em seus estudos que:

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144

Para se planejar intervenções eficientes, precisa-se de alguma espécie de teoria abrangente da mudança [...] que modo se deve iniciar a mudança e como estabilizar os resultados [...] desejados. O problema de dar início a uma mudança é especialmente crítico por causa de frequente observação de que as pessoas resistem a ela, mesmo quando os objetivos aparentes são muitos desejáveis.

É possível identificar na citação de Schein (1982), a existente

preocupação em planejar as mudanças controláveis. O autor vai além quando

menciona que se faz necessário o auxilio de uma teoria focada nos estudos sobre

mudança organizacional. Para que se solidifique cientificamente o conhecimento e a

compreensão dos fatos relacionados. Esse conhecimento estrutura os pilares das

competências organizacionais, tornando-se o eixo direcionador dos esforços para

atingir os objetivos da organização.

O autor em seu diálogo expõe que o fator humano, ou seja, o individual é

visto como elemento crítico dentro desse processo de mudança. Avaliando, pode-se

concluir que as pessoas tanto no aspecto individual quanto grupal, rejeitam

mudanças, e esta rejeição se dá por diversos fatores. Alguns como a insegurança, o

medo, a necessidade de se manter numa zona estável e/ou conforto, passam a

apresentar um comportamento de rejeição a qualquer intervenção que implique em

mudanças. Além dos aspectos humanos a serem observados, o autor em sua

narrativa propõe questionamentos relevantes sobre como, e de que modo devem-se

iniciar as mudanças. Deixando claro a preocupação e a necessidade de se gerar

ações que reduza de forma expressiva o impacto causado pelas mudanças.

A clareza dos processos é necessária para evitar comentários sem

fundamentos, que só aumentam a insegurança entre os colaboradores. Esses

fatores contribuem para o retardo do crescimento organizacional, contribuindo por

estimular a queda da alta estima da equipe. Para interromper os efeitos negativos

das mudanças, faz-se necessário conhecer os diferentes tipos de mudanças que

podem ocorrer em diferentes níveis organizacionais. Os níveis aqui comentados

referem-se ao fluxo de captação de insumos, mão de obra entre outros recursos

necessários para a subsistência da organização, que envolve, sem dúvida,

diferentes tipos de gestão a serem adotados ao longo de sua existência como

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145

organização. O ambiente tem que ser coerente entre o que dito e o que é realizado.

Essa conduta evita o aparecimento de conflitos organizacionais e leva a produção

de bens e serviços com alto nível de qualidade, independente de ser pública ou

privada.

A preocupação em realizar estudos que viabilize uma maior compreensão

sobre o assunto, com o objetivo de solucionar a problemática vivida pelos sistemas

organizacionais do passado, o que não difere muito em pleno século XXI, pode ser

destacada por Robbins (2005, p. 379):

Quando o ambiente passa por rápidas mudanças, uma cultura arraigada pode não ser mais adequada. Assim, a consistência do comportamento é um ativo quando a empresa lida com um ambiente estável, entretanto, isso pode se tornar um fardo e dificultar a resposta às mudanças no ambiente. Isso ajuda a explicar os desafios que os executivos de empresas como Mitsubishi, Eastman Kodak, Xerox e Boeing, e até órgãos governamentais como o FBI, enfrentaram há pouco tempo para se adaptar às novidades em seus ambientes. Essas organizações possuem culturas fortes que funcionaram bem no passado, mas a cultura forte se transformou em uma barreira a mudança quando “trabalhar da mesma forma de sempre” deixou de ser eficaz.

Busca-se, através das discussões aqui referenciadas, comprovar a

existência de grande similaridade entre as questões debatidas no passado, com a

realidade do ambiente de pesquisa estudado. Outro aspecto apresentado pelos

estudos teóricos, é que as mudanças organizacionais são bem vistas por uma

parcela de teóricos, que afirmam que as mudanças são necessárias para romper

com a estagnação do sistema.

Esse argumento remete ao Schein (2004, p. 30) que comenta: “Ao

analisarmos crenças, temos que discriminar cuidadosamente entre aqueles que são

congruentes com os pressupostos existentes na organização daqueles que são

apenas racionalização ou aspirações para o futuro.”.

A importância do estudo desse autor para a comunidade científica se

encontra na possibilidade de refletir sobre a importância da liderança no trato das

mudanças organizacionais. O líder deve ser a figura de proa. Esse deve realizar

uma leitura da organização e do perfil dos colaboradores, para só então estabelecer

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as ações que devem buscar a melhoria contínua, estando esta baseada no

conhecimento e no desenvolvimento das competências individuais e coletivas, e que

tenha como objetivo fortalecer as bases organizacionais. Ter uma gestão

comprometida com as diretrizes da organização, adotando métodos de

gerenciamento proativo e com o compromisso em promover o controle permanente

das estratégias, a fim de proteger a organização de problemas que possam emergir,

tanto das mudanças planejadas, como das mudanças não controláveis, de maneira

a não permitir a desestabilização do sistema. Caso contrário, os efeitos se

intensificam afetando a estrutura organizacional, o que pode levar a entropia

positiva. Como se pode ler a seguir, a integração é fundamental para a estabilidade:

A essência e desafio primordial do líder é perceber as limitações da cultura de seu grupo e desenvolvê-la de forma a adaptar-se a um novo contexto. Neste sentido ele enfrenta dois grupos principais de problemas: o primeiro diz respeito à sobrevivência, crescimento e adaptação (grifo nosso) em seu ambiente de negócios e o segundo é o da integração interna que permite o funcionamento diário e a habilidade para adaptar-se e aprender. (SCHEIN, 2004, p. 18)

Pode-se concluir e definir sobre o contexto que envolve o conteúdo

mudança organizacional, é que existe um ciclo que representa este fenômeno, ou

seja, o processo, causas e efeitos, modelos (causas//processuais) e consequências

no aspecto individual e estrutural, conforme Figura 1 – Ciclo do fenômeno de

mudança organizacional:

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Figura 1. Ciclo do fenômeno de Mudança Organizacional.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Araújo (1982, p. 24) compartilha de uma visão que se assemelha com o

ponto de vista de Schein. As análises de diferentes autores possibilitam

compreender que existe uma frequência representativa de pontos que se

assemelham no estudo. Isto fica notório ao se observar o pensamento de Araújo

relatado a seguir:

“Qualquer alteração significativa articulada, planejada e operacionalizada por pessoal interno ou externo à organização, que tenha o apoio ou a supervisão da administração superior, e atinja integradamente os componentes de cunho comportamental, estrutural, tecnológico e estratégico” (ARAÚJO, 1982, p. 24).

O debate formulado por Araújo, no entendimento do pesquisador reforça

a ideia que existe uma congruência em alguns pontos debatidos sobre o assunto:

mudança organizacional. A avaliação do conteúdo teórico do ponto de vista dos

autores citados apresenta semelhança.

5 COMPREENSÃO DA MUDANÇA ORGANIZACIONAL

A globalização traz em si o advento de mudanças constantes, como se

adaptar e desenvolver mecanismos que possibilitem crescer diante de um mundo

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148

tão instável. Diante dessa realidade, se faz necessário fortalecer as pessoas que

são a riqueza maior de uma organização. Conforme comentário a seguir:

Mudança no comportamento dos membros da organização é a essência da mudança organizacional e, além disso, qualquer mudança de sucesso irá persistir sobre longo tempo somente se, em resposta às mudanças nas características organizacionais, os membros alteram seu comportamento no trabalho de maneira apropriada. (PORRAS; ROBERTSON, 1992, p. 724).

Quando o ambiente organizacional é sábio, com clareza de propósito,

com diretrizes definidas, missão, crenças e valores focados na valorização do ser

humano, uma gestão para pessoas e com pessoas, as respostas dessa comunidade

é sempre positivista, pois um ou outro é que se apresentará insatisfeito quando

convocados a tratar com os novos desafios. O que não significa dizer que todos os

problemas estão resolvidos, pois é primordial tratar de outros aspectos que trazem

em si características completamente diferenciadas, mas quando associadas podem

fatalmente desconstruir todo um trabalho interno da organização. Podem influenciar

negativamente para ações de implantações de novos modelos, programas de

capacitação etc.

Motta (1999) relata em estudos que é preciso manter a ótica focada nas

seguintes variáveis: estratégia, estrutura, tecnologia, pessoas, cultura e política. No

entanto, o autor não chega a definir um conceito específico sobre mudança

organizacional, mas ao citar as variáveis acima, citadas direciona seus estudos para

um debate ampliado, cujo argumento remete a uma avaliação sobre a influência e a

importância das mudanças no processo de desenvolvimento micro e macro do

ambiente.

Motta amplia as discussões sobre o tema e reforça a importância das

mudanças nos diferentes sistemas organizacionais, pois só assim, um país pode se

desenvolver. Os diferentes mercados (municipal, estadual, regional, nacional e

internacional) só se desenvolvem com ações integradas e com estas, crescem os

diferentes seguimentos da sociedade. Esse crescimento estimula os ajustes que vão

alavancar a gestão pública e privada em seus diferentes segmentos.

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149

Toda contribuição teórica é bem vinda quando se trata de mudança

organizacional, até porque a todo o momento ocorrem mudanças, sendo necessário

o acompanhamento contínuo para que se possam ter informações sólidas advindas

de pesquisas que apresentem uma série histórica como meio de análise.

Wood JR (2000, p. 212), expõe as diretrizes que utilizou como método

para estudar cientificamente a compreensão do tema mudança organizacional, e

reforça a importância de estar atento e respeitar o universo explorado por vários

pesquisadores sobre o tema, pois se faz necessário compreender de qual ótica foi

explorado o assunto. Até porque é um aspecto individual muito ligado a natureza do

pesquisador, ou seja, que parte do interesse de quem analisa e do meio a ser

analisado levando em condição o objetivo da pesquisa. O autor vai além quando

argumenta sobre o seu entendimento a partir de um ponto de vista teórico

compondo como definição para mudança organizacional que é: “qualquer

transformação de natureza estrutural, estratégica, cultural, tecnológica, humana ou

de qualquer outro componente, capaz de gerar impacto em partes ou no conjunto da

organização”.

Para Bressan (2003) argumenta que mudança é:

Qualquer modificação (planejada ou não) nos componentes organizacionais, formais, e informais, mais relevantes (pessoas, estrutura, produtos, processos e cultura), que seja significativa, atinja a maioria dos membros da organização e tenha por objetivo a melhoria do desempenho organizacional em resposta às demandas internas e externas.

Ao avaliar o argumento de Bressan (2003) verifica-se que na citação,

encontram-se as palavras “demandas internas e externas” que traz uma proposta

focada no planejamento estratégico, cujas ações têm o foco no cliente, ou seja, a

administração não tem como base a administração científica de Taylor. Apresenta

um direcionamento para novos conceitos, o que é fundamental para o

desenvolvimento da organização. Embora o pesquisador tenha proposto uma breve

exposição sobre mudança organizacional, foi inevitável citar outros modelos até

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porque o momento atual impõe uma gestão multifacetada que envolve novos rumos

para administração estratégica, sistêmica e holística.

Diante de tudo que foi colocado, pode-se afirmar que para conduzir

mudanças planejadas é preciso gerir as ações que estimulem a organização a

aprender a conviver e tirar proveito positivo para o sucesso das mudanças.

Numa visão conclusiva, apresenta-se uma relação de itens a ser tratados

constantemente para manter o equilíbrio organizacional em qualquer processo de

mudança organizacional. Os itens são: Motivar para a mudança, Alinhar a dinâmica

política do sistema à necessidade de mudança, Administrar a transição entre o

estado atual e o desejado, Controlar a insatisfação, Estimular o comprometimento,

Envolver toda a organização a participar no processo de mudança, Planejar e

executar as ações que provoquem as mudanças esperadas, Benefícios

comunicados através de uma linguagem clara, Exposição dos pontos esperados

com as mudanças, ponto de equilíbrio, Conhecimento holístico da organização e

projeção de mudanças para o futuro (passado e futuro), Gerenciamento das

mudanças e com responsabilidade, Definições de prazos (início, meio e fim) das

mudanças, Definições dos recursos necessários para o êxito das mudanças

programadas, Suporte e monitoramento das diretrizes pré-estabelecidas, Feedback,

Ajustes corretivos para o processo em execução e Avaliação dos resultados.

Conclui-se que mudanças sempre vão existir e cabe a cada organização

aproveitar as oportunidades que surgem com as mudanças. Para alcançar esta

meta é preciso eliminar as ameaças, corrigir os pontos passíveis de melhoria,

fortalecer constantemente os pontos fortes da organização a fim de estimular a

criatividade que leva à inovação inteligente.

6 RESULTADOS

Analisando as respostas dos participantes sorteados, 102 (Cento e dois)

no total, no gráfico 1, representamos graficamente os resultados referentes ao perfil

dos integrantes da 2ª Seção do Estado-Maior Geral. Os resultados obtidos

confirmam que a 2ª Seção do Estado-Maior Geral é composta em sua maioria por

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151

pessoas do sexo masculino (88%), Praças (Soldado, Cabo, Sargento, Subtenente)

(83%), possuem de 37 a 42 anos de idade (38%), mais de 20 anos de serviço na

Polícia Militar de Pernambuco (34%), de 1 a 6 anos de serviço na 2ª Seção do

Estado-Maior Geral (62%), ensino médio completo (41%), e estão lotados em Recife

(43%).

Gráfico 1. Perfil dos integrantes da 2ª Seção do Estado-Maior Geral Nota: Valores em Porcentagem

Observa-se a necessidade de abrir mais oportunidades para as mulheres

ingressarem na 2ª Seção do Estado-Maior Geral, bem como incentivar a

especialização acadêmica, além de expandir suas atividades para as outras regiões

do Estado e, principalmente, realizar planejamento estratégico na área de recursos

humanos e capacitação, pois os Policiais Militares se aposentam com 30 de anos de

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152

serviço, considerando que 34% do efetivo da 2ª Seção do Estado-Maior Geral já

possuem mais de 20 anos de serviço.

No gráfico 2, constatamos que os integrantes da 2ª Seção do Estado-

Maior Geral consideram “Muito Importante” a criação do Subsistema de Inteligência

da Polícia Militar de Pernambuco – SIPOM (81%), a criação da Gratificação por

Exercício na Atividade de Inteligência – GEAI (83%), a transformação das 2ª Seções

dos Batalhões em Núcleos de Inteligência (61%), a centralização da estrutura

organizacional na 2ª Seção do Estado-Maior Geral (55%) e o conselho de

inteligência (80%).

Gráfico 2. Segurança X Resistência dos integrantes da 2ª Seção do Estado-Maior Geral. Nota: Valores em Porcentagem.

No entanto, verificamos que 51% consideram “Importante” as condutas

vedadas, resultado que combinados aos citados no parágrafo anterior, remetendo-

nos a Robbins (2005, p. 379) e Wood JR (2000, p. 212), onde o primeiro descreve

que “culturas fortes que funcionaram bem no passado, mas a cultura forte se

transformou em uma barreira à mudança quando “trabalhar da mesma forma de

sempre” deixou de ser eficaz””, ou seja, tal mudança busca fortalecer a organização

para enfrentar novos desafios, visando responder as demandas internas e externas.

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153

Enquanto, o segundo se preocupa com o impacto gerado na organização, pois

setores perderam e outros ganharam recursos humanos, como o caso dos

Batalhões e da 2ª Seção do Estado-Maior Geral, respectivamente

Ainda em relação às condutas vedadas, SCHEIN (2004, p. 18),

sabiamente, diz que é preciso se adaptar e aprender com o novo ambiente, visando

à sobrevivência da própria organização e o funcionamento da máquina pública,

visando atender as necessidades da sociedade.

Schein (1982, p.188), ainda explora a valorização do ser humano durante

o processo de mudança, considerando a porcentagem de 83% que consideram

“Muito Importante” a criação da Gratificação por Exercício na Atividade de

Inteligência - GEAI.

Analisando o gráfico 3, os integrantes da 2ª Seção do Estado-Maior Geral

consideram “Regular” a Gratificação por Exercício na Atividade de Inteligência –

GEAI quando comparada as suas atribuições funcionais (55%), a estrutura física

(33%), recursos humanos (54%), estrutura funcional (44%) e a motivação (41%).

Gráfico 3. Satisfação X Motivação dos integrantes da 2ª Seção do Estado-Maior Geral. Nota: Valores em Porcentagem.

Avaliando os resultados percentuais do parágrafo anterior, verificamos

que as mudanças trazidas pela implantação do Sistema Estadual de Inteligência de

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Artigo publicado no Vol.03 Nº02 - Edição de JUL a DEZ 2014 - ISSN 2318-3152 - Versão on-line disponível em: http://www.portais.pe.gov.br/web/pmpe/revista-doutrinal

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Segurança Pública – SEINSP, não atenderam as necessidades organizacionais da

2ª Seção do Estado-Maior Geral da Polícia Militar de Pernambuco, nos remetendo

ao que afirma ARAÚJO (1982, p. 24), “Qualquer alteração significativa articulada,

planejada e operacionalizada por pessoal interno ou externo à organização, que

tenha o apoio ou a supervisão da administração superior, e atinja integradamente os

componentes de cunho comportamental, estrutural, tecnológico e estratégico”, ou

seja, as mudanças impostas pela Lei que implantou o SEINSP atingiram

diretamente o comportamento de seus integrantes, bem como estrutural e

estratégico.

Bressan (2003), afirma ainda, que os reflexos da mudança organizacional

atingem diretamente o desempenho organizacional, e essencialmente, nas

respostas das demandas.

Já no gráfico 4, os resultados obtidos chamam a atenção, pois 100% dos

entrevistados afirmam que o Banco de Dados de Inteligência – BDI, criado pelo

SEINSP, ainda não foi implantado, bem como 77% dos Núcleos de Inteligência

estão funcionando dentro dos Batalhões, e 39% não realizaram o Curso de

Inteligência de Segurança Pública – CISP. Verifica-se que os percentuais

referenciados, evidenciam uma correlação intensa com a definição de Motta (1999),

o qual relata em estudos que “é preciso manter a ótica focada nas seguintes

variáveis: estratégia, estrutura, tecnologia, pessoas, cultura e política”. Como

podemos constatar, a tecnologia é uma das variáveis que influenciam diretamente

no processo de mudança, visando integrar conhecimentos para melhor tomada de

decisões e, consequentemente, atender às demandas internas e externas da

organização.

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Gráfico 4. Recursos Tecnológicos e Capacitação dos Integrantes da 2ª Seção do Estado-Maior

Geral. Nota: Valores em Porcentagem.

As respostas dos participantes da presente pesquisa, aqui analisadas,

poderão ser visualizadas através do link:

https://docs.google.com/spreadsheet/ccc?key=0AlX2PGdWHV5tdF9WbmF6ejZyMTZidl9W

M2lxb0Z6MFEHYPERLINK

"https://docs.google.com/spreadsheet/ccc?key=0AlX2PGdWHV5tdF9WbmF6ejZyMTZidl9W

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M2lxb0Z6MFE&usp=sharing"usp=sharing.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A primeira mudança organizacional detectada trazida pelo Sistema

Estadual de Inteligência de Segurança Pública - SEINSP, foi a Criação do

Subsistema de Inteligência da Polícia Militar, colocando a 2ª Seção do Estado-Maior

Geral, como Agência Central, e subordinada hierarquicamente ao Comandante

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Geral da Polícia Militar de Pernambuco e tecnicamente ao Centro Integrado de

Inteligência de Defesa Social – CIIDS.

O Centro Integrado de Inteligência de Defesa Social – CIIDS, foi criado

para receber, concentrar e analisar todas as informações relativas à segurança

pública através do Banco de Dados de Inteligência – BDI, visando tomada de

decisão em nível estratégico. No entanto, segundo a presente pesquisa, o Banco de

Dados de Inteligência – BDI ainda não foi implantado na 2ª Seção do Estado-Maior

Geral.

Os integrantes da 2ª Seção do Estado-Maior Geral da Polícia Militar de

Pernambuco aprovaram as mudanças organizacionais trazidas pelo Sistema

Estadual de Inteligência – SEINSP, no que diz respeito: criação do Subsistema de

Inteligência da Polícia Militar – SIPOM, criação da Gratificação por Exercício na

Atividade de Inteligência – GEAI, criação do Conselho de Inteligência,

transformação das 2ª Seções dos Batalhões em Núcleos de Inteligência e a

centralização da estrutura organizacional na 2ª Seção do Estado-Maior Geral.

Entretanto, nas condutas vedadas em relação às operações policiais

ostensivas, os integrantes da 2ª Seção do Estado-Maior Geral, demonstram que

ainda existem resistências na forma de atuar na inteligência. Quanto à estrutura

física e funcional, recursos humanos, motivação e gratificação por exercício na

atividade de inteligência comparado as suas atribuições, ficou demonstrado que os

recursos estruturais e/ou organizacionais e as formas de motivação, ainda são

insuficientes para o desempenho das atividades de inteligência com eficiência.

Nas relações funcionais entre os Comandantes de Batalhões e os

Núcleos de Inteligência, mais uma vez à resistência a mudança aparece, tanto dos

comandantes quanto dos integrantes dos núcleos de inteligência, considerando que

os comandantes perderam recursos humanos e os núcleos que, embora devessem

funcionar fora dos batalhões, à grande maioria ainda funciona dentro dos batalhões.

A capacitação é primordial para atuar na atividade de inteligência com

eficiência, no entanto 39% dos integrantes da 2ª Seção do Estado-Maior Geral da

Polícia Militar de Pernambuco ainda não fizeram o Curso de Inteligência de

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Segurança Pública – CISP, vindo, sem dúvida, interferir nos resultados dos níveis

estratégicos, táticos e operacionais.

Portanto, de acordo com a pesquisa aqui analisada e concluída, é preciso

investir mais em estrutura física, recursos humanos e tecnológicos, bem como

implementar outras formas de motivação organizacional, visando maior eficiência e

eficácia dos serviços prestados pela 2ª Seção do Estado-Maior Geral da Polícia

Militar de Pernambuco.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, L.C.G. Mudança organizacional da administração pública federal brasileira. 1982. 307f. Tese (Doutorado em Administração) – Escola d administração de São Paulo, São Paulo, 1982. FONSECA, J.S.; MARTINS, G.A. Curso de Estatística. 6. Ed. São Paulo: Atlas, 2010. LIMA, S.M.V., BRESSAN, C.L. Mudança organizacional: uma introdução. In Lima, S.M.V (org). Mudança organizacional: teoria e gestão. Rio de janeiro: FGV, 2003. Cap.1, p. 17-63. MOTTA, P.R. (1999). Transformação Organizacional: a teoria e a prática de inovar. Rio de janeiro: Qualitymark. PORRAS, J.I.; ROBERTSON, (1992). Organizational development: theory, practice, and research. In: Dunnette, M. D.; Hough, L. M. (Orgs.). Handbook of Industrial and organizational Psychology (p.719-822), Consulting Psychologists Press: Palo Alto, Califórnia, 2003. ROBBINS, S.P.. Comportamento Organizacional. Stephen P. Robbins; Tradução Técnica Reynaldo Marcondes. 11. Ed.. São Paulo: Pearson Hall, 2005. SCHEIN, E.H. Organizational Culture and Leadership. 3 rd ed. P. Cm. – ( Theo Jossey_Boss Business & Management Series). Library of Congress Cataloging-in. Publication Data. Califonia. Publishers, 2004.

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_________. Psicologia organizacional. 3ª ed. Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil, 1982. WOOD JR., T (Coord.) (2000). Mudança Organizacional. São Paulo: Atlas. ZANELLA, L.C..H. Metodologia de Estudo e de Pesquisa em Administração. Especialização em Gestão Pública. Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração/UFSC; Brasília: CAPES: UAB, 2009. Sites OLIVEIRA, E.F.T.; GRÁCIO, M.C.C.. Análise a respeito do tamanho de amostras aleatórias simples: uma aplicação na área de ciência da informação. São Paulo, V.6, n.3, jun. 2005. Disponível em:<http://www.brapci.ufpr.br/documento.php?dd0=0000007551&dd1=1ae76>. Acesso em: 13 jan. 2013. PERNAMBUCO. Lei nº 13.241, de 29 de maio de 2007. Cria o Sistema Estadual de Inteligência de Segurança Pública do Estado de Pernambuco – SEINSP. Disponível em:< http://legis.alepe.pe.gov.br/legis_inferior_norma.aspx?nl=LE13241>. Acesso em: 25 out. 2012. _________. Lei nº 14.025, de 26 de março de 2010. Altera o Anexo Único da Lei nº 13.241, de 29 de maio de 2007, que cria o Sistema Estadual de Inteligência de Segurança Pública do Estado de Pernambuco – SEINSP, e dá outras providências. Disponível em: <http://legis.alepe.pe.gov.br/arquivoTexto.aspx?tiponorma=1&numero=14025&complemento

=0&ano=2010&tipo=>. Acesso em: 31 jan. 2013. _________. Decreto nº 30.847, de 1º de outubro de 2007. Regulamenta a Lei nº 13.241, de 29 de maio de 2007, que Cria o Sistema Estadual de Inteligência de Segurança Pública do Estado de Pernambuco – SEINSP. Diário Oficial do Poder Executivo, Recife, PE, 2 out. 2007. Disponível em: < http://legis.alepe.pe.gov.br/legis_inferior_norma.aspx?nl=DE30847>. Aceso em: 25 out. 2012.

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REALIDADE DAS PRISÕES E A PRIVATIZAÇÃO DO SISTEMA PRISIONAL COMO

POSSÍVEL SOLUÇÃO À RESSOCIALIZAÇÃO DO APENADO EM PERNAMBUCO

Marcos José Dourado Cabral1

Resumo

Objetivou-se com o trabalho explorar a realidade do sistema penitenciário brasileiro e, em especial, o pernambucano, discorrendo sobre a possibilidade de privatização enquanto medida para a ressocialização do apenado nos estabelecimentos do Estado. Para tanto, realizou-se uma pesquisa do tipo bibliográfica em fontes de papel, cumulada com a técnica de revisão bibliográfica, em doutrinas, legislação, jurisprudências e artigos disponíveis em meio eletrônico, as quais foram analisadas por meio da abordagem qualitativa. As considerações finais apontaram que, a não privatização dos presídios em razão da impossibilidade de delegar poder de punição a iniciativa privada, não subsiste como argumento, pois não se pode falar em falta de ética quando se está tratando de um sistema penitenciário indigno, que não dá a menor oportunidade de ressocialização. Enfim, uma coisa é certa: o que não se pode é desprezar uma real alternativa de solução ou, pelo menos, moderação da atual crise, pois o sistema prisional brasileiro atingiu o seu limite. No entanto, esperar que a administração pública encontre sozinha a solução e invista no setor, não é a melhor alternativa. O Estado não poderá resolver esse problema que é de toda a sociedade, sem a efetiva participação de todos, sem a necessária privatização do seu sistema penitenciário.

Palavras-chave: Sistema Prisional. Privatização. Prisões. Ressocialização.

1 INTRODUÇÃO

A crise do sistema penitenciário não é uma discussão da atualidade e sim

uma continuidade fruto da história escravagista do período colonial brasileiro, o qual

1 Soldado da Polícia Militar de Pernambuco. Graduado em Direito pela FACIPE. Pós-graduado em

Direito Penal e Processo Penal pela Escola Superior de Advocacia – ESA PE.

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vem se agravando nos dias atuais com a falência gerencial e pela falta de estrutura

das penitenciárias no país.

No Brasil atual, o sistema penitenciário passa por diversos problemas. Às

vezes originados em razão dos poucos recursos financeiros, já que as verbas

destinadas, nunca estiveram conforme as necessidades e, principalmente, pela falta

de possibilidade de ressocialização que vem com a pena, mas que a situação atual

dos presídios não vem oportunizando tal finalidade. Esta dimensão vem tomando o

debate da necessidade de privatização das unidades prisionais como medida

possível à ressocialização do preso.

Pelos números gigantescos revelados pelo Censo Penitenciário (2010),

446.000 presos, facilmente compreende-se que o Estado não poderá sozinho

resolver esse problema, que na verdade é de toda a sociedade.

De acordo com opinião do Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, as

prisões brasileiras atualmente se apresentam em péssimas condições, a ponto de

segundo ele, “cumprir pena em muitos deles, às vezes, é mais pesado do que a

morte”.

A realidade é que os apenados são amontoados sem qualquer dignidade,

vivendo em meio a fezes, sendo agredidos e sem direitos humanos respeitados

(NUNES, 2009, p. 125).

O sistema prisional brasileiro é um problema, sim. A situação é desumana. Na terça-feira (13), falando num evento em São Paulo, Cardozo definiu o sistema prisional brasileiro como medieval e disse que preferia morrer a ter que cumprir pena por longo tempo no País. Ele deu a declaração depois de o STF definir o tempo de prisão do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e de outros petistas integrantes do núcleo político do mensalão. As pessoas ficaram perplexas por causa do contexto em que foi feita a declaração, mas não tem nada a ver com o julgamento, ressalvou o ministro. SITUAÇÃO - Ele disse que sempre se preocupou com a situação deplorável dos presídios, tanto que definiu essa como uma prioridade desde que assumiu o Ministério. Disse que na ocasião falava sobre segurança pública e a violência que explode em São Paulo e outras regiões do País, e que a seu ver tudo isso tem ligação com o quadro degradante dos presídios. Falei em tese, pois acho mesmo que, nessas condições deploráveis, a pena de morte é mais branda. Há uma situação calamitosa em que detentos são massacrados.

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O fato é que segundo a afirmativa acima, e conforme observações e estudos

do contexto do sistema penitenciário brasileiro, o que prevalece nesse modelo de

prisão é certamente a ideia de que os abusos dos direitos humanos das vítimas, que

estão presas e por isso, criminosas, não merecem a atenção do poder público e da

sociedade.

Este artigo surge da necessidade de se analisar acerca da realidade das

prisões e a possibilidade de privatização dos presídios pernambucanos como um

fator à ressocialização do apenado. No meio jurídico as discussões em torno do

tema tem gerado celeumas acerca da privatização.

Diante dessas colocações, este trabalho enfoca os problemas do sistema

penitenciário brasileiro, ao passo que aponta a possibilidade de privatização do

mesmo como medida à ressocialização do apenado. Do ponto de vista pragmático,

são muitos os aspectos que contribuem para a falência da pena de prisão, e

consequentemente para a ressocialização do apenado.

Assim, este artigo objetiva analisar como a privatização dos presídios no

Brasil pode ser uma solução aos problemas do sistema carcerário de Pernambuco e

contribuir para a ressocialização do apenado.

O método de pesquisa aplicado foi o dedutivo, pois serão explanadas as

premissas extraídas da revisão da literatura. Quanto ao tipo de pesquisa, esta será

explicativa, porque é o modelo que possibilita encontrar respostas ao problema de

pesquisa. Ou seja, a pesquisa classificada como explicativa tem como objetivo

explicar de forma aprofundada o conhecimento da realidade, o porquê e a razão do

fenômeno.

Os instrumentos utilizados na revisão bibliográfica foram doutrinas

especializadas, legislação, jurisprudências e artigos de internet. Este tipo é

importante porque não carece de outro tipo de instrumento de coleta de dados, que

não sejam as fontes de papel.

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2 A PRIVATIZAÇÃO COMO POSSÍVEL SOLUÇÃO À RESSOCIALIZAÇÃO DO APENADO EM PERNAMBUCO

Reconhece-se que o sistema prisional como um todo está falido. Celas

superlotadas e sem higiene, insalubres, presos ociosos, má alimentação, maus

tratos, proliferação de doenças, entrada livre de drogas, corrupção e falta de preparo

dos agentes penitenciários e de outros funcionários dos presídios. Sem contar os

casos de promiscuidade e prostituição. Isso tudo e mais um pouco, aliado à falta de

estrutura e de vontade governamental para investir, compõem o retrato de qualquer

presídio no Brasil.

Novas alternativas estão sendo estudadas para que o Estado cumpra seu

papel de reabilitar indivíduos antes de devolvê-los à sociedade. Uma dessas

alternativas é a privatização dos presídios.

Privatizar nada mais é do que terceirizar serviços, reproduzindo o papel do

governo, dando importância ao setor privado, que ocorre “em regime de contrato ou

a venda a particulares de funções e empresas anteriormente controladas pelos

governos ou de sua propriedade” (HANKE, 1987, p. 124). É entregar um serviço

público para ser executado por um terceiro, mediante compensação remuneratória

que pode se dá por diferentes formas, contratando empresas privadas para construir,

financiar ou operar determinados serviços públicos.

A palavra privatizar, hoje em dia, ganhou um significado mais amplo,

segundo Savas (2000, p. 124)

Passou a simbolizar uma nova forma de ver as necessidades de uma sociedade e de repensar o papel do governo em supri-las. Significa confiar mais nas instituições privadas da sociedade do que no governo para satisfazer as necessidades públicas. Privatização é o ato de reproduzir o papel do governo, ou de dar maior importância ao setor privado, numa atividade ou na propriedade de bens.

O aumento no interesse pela privatização, que vem acontecendo no mundo

todo, se dá principalmente pela evidência de aumento da eficácia dos serviços

públicos, produzindo níveis de qualidade mais altos a custos mais baixos. Por isso, a

privatização vem sendo sugerida como elemento de política econômica para

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funcionar como instrumento de aumento da eficiência das atividades econômicas,

sejam elas típicas de governo ou não (SAVAS, 2000, p. 125).

Os problemas referidos e enfrentados pelo sistema carcerário podem ser

vistos na prática nos estabelecimentos prisionais pernambucanos. De acordo com

Nunes (2006, p. 26) o Centro de Observação e Triagem Professor Everardo Luna –

COTEL, por exemplo, é destinado a recolher os presos do Recife e da região

metropolitana. O COTEL tem capacidade para 310 reclusos, porém, hoje em dia,

acolhe cerca de 1200 (conforme Artigo do Professor Adeildo Nunes, 2006 – Juiz de

Execução Penal em Pernambuco), mais do que o triplo da sua capacidade. Essa

superlotação traz consigo todos os demais problemas do qual ela é propulsora.

Inaugurado no ano de 2001, tinha como finalidade, prevista pela Lei de

Execução Penal - LEP, a realização de estudos criminológicos sobre os acusados,

determinando suas características pessoais no período de 81 dias, para que

pudessem, posteriormente, serem encaminhados para os estabelecimentos

compatíveis com suas situações.

Porém, hoje, como afirma Nunes (2006, p. 28) o COTEL “há muito perdeu

sua finalidade, uma vez que hoje fora transformado num presídio comum, inclusive

custodiando reclusos já condenados, numa verdadeira afronta a Lei de Execução

Penal”.

Ao invés de realizar os estudos sobre os acusados, o COTEL vem

abrigando os reclusos condenados, os provisórios, os primários, os reincidentes e

tudo isso sem nenhuma distinção entre eles.

Outro exemplo em Pernambuco, o Presídio Professor Juiz Antônio Luiz Lins

de Barros, que é considerado o segundo maior presídio em população carcerária do

Brasil, acolhendo hoje, cerca de 3.600 presos (conforme Artigo do Professor Adeildo

Nunes, 2009 – Juiz de Execução Penal em Pernambuco). É considerado também

um verdadeiro palco de maus-tratos e da falta de dignidade humana dentro dos

presídios.

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Nunes (2009, p. 115), Juiz de Execuções Penais em Pernambuco, e

profundo entendedor dos estabelecimentos prisionais pernambucanos, o Aníbal

Bruno:

Sempre foi um centro de atrocidades humanas, palco de torturas e maus-tratos a presos, ambiente promíscuo e que não atende aos mínimos requisitos de higiene e salubridade, detentor dos mais altos índices de doenças venéreas e gravemente contagiosas, é praticamente uma cidade que precisava ser administrado como tal, necessitando urgentemente de um planejamento estratégico voltado para o trabalho do preso, sem prejuízo da sua latente humanização, pelo visto impossível de acontecer. (NUNES, 2009, p. 116)

Para o regime semiaberto em Pernambuco, existe a penitenciária Agrícola

Industrial São João, em Itamaracá, que ao contrário do que determina a Lei de

Execução Penal - LEP não disponibiliza aos presos nenhuma atividade profissional.

Os que conseguem trabalhar são poucos, e geralmente só o fazem fora da prisão já

que o estabelecimento prisional em que se encontram não oferece trabalho.

A falta de fiscalização nas saídas dos presos para atividades laborais, que

são legais, de acordo com a LEP, causou em um ano o planejamento de fuga de

800 detentos.

Destinada às mulheres, a Colônia Penal Feminina do Recife abriga cerca

de 650 presas (conforme Artigo do Professor Adeildo Nunes, 2009 – Juiz de

Execução Penal em Pernambuco), apesar de ter capacidade para apenas 150. Na

colônia, as presas provisórias e as presas condenadas ocupam o mesmo espaço, o

que não deveria acontecer, sendo necessária a construção de novos

estabelecimentos para poder acolhê-las, respeitando a distinção da situação de

cada uma delas.

Sobre os estabelecimentos prisionais pernambucanos Nunes (2009, p.

116), ressalta em obra que:

Ao citar alguns exemplos, apenas, de 4 das 17 unidades prisionais existentes em Pernambuco, é fácil perceber que a superlotação carcerária e a forma desumana de tratar os detentos, sem dúvida, são as causas mais vulneráveis do nosso sistema prisional, que agoniza e pede socorro aos poucos ouvidos que teimam em ouvir.

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Todos esses problemas são o que tornam os presídios, hoje em dia, uma

verdadeira escola de criminalidade como aduz Souza (2004, p. 112):

Muitas vezes se fala que os presídios não passam de escolas de preparo de delinquentes. E, realmente, muitos dos que veem parar aqui nada sabem de crimes, de estelionato, de entorpecentes ou de pederastia. Mas na escola que frequentam tudo aprendem. E dela saem sabendo de tudo.

Do mesmo modo que existem juristas contra a privatização dos presídios no

Brasil, existem uma enormidade de partidários que enumeram vários pontos

favoráveis à privatização carcerária, enaltecendo que a iniciativa privada aprenderia

com o poder público e vice-versa.

Segundo Minhoto (2000, p. 91)

Os defensores da privatização têm advogado a ideia de uma fertilização cruzada entre os setores público e privado, no âmbito da qual um suposto intercâmbio daria lugar a que uma esfera aprendesse e se beneficiasse com a incorporação de práticas e técnicas de gestão da outra.

Adiante, serão apresentados argumentos favoráveis à implantação dos

presídios privados no Brasil, bem como serão rebatidos alguns dos argumentos

levantados pelos que lutam contra a iniciativa privada (OLIVEIRA, 2001).

2.1 Redução de custos e menor ociosidade do preso

Dados demonstram que o custo médio de manutenção de um preso no

Brasil é estimado em torno de U$ 360,00 (trezentos e sessenta dólares) por mês

(OLIVEIRA, 2001, p. 87). Se tomar como exemplo o que ocorre nos Estados Unidos,

vê-se que a iniciativa privada consegue baixar esse custo pela metade, e o seu lucro

viria de um pequeno percentual pago a mais pelo Poder Público, basta trazer a

experiência americana, na qual o preso enquanto está nas mãos do Estado custa,

por dia 50 dólares, e quando esse mesmo preso é transferido para as mãos da

iniciativa privada custa 25 dólares/dia, em iguais ou melhores condições.

O Estado paga ao empreendedor privado 30 dólares/dia, repondo o custo

de 25 dólares e pagando mais 5 dólares/dia por preso ao administrador particular.

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Essa diferença de gastos entre o Poder Público e o Privado ocorre em razão do

empresário saber cuidar e aplicar melhor o dinheiro, e também em razão da menor

burocracia que envolve o setor privado.

Conforme Oliveira (2001, p. 87), empresas particulares dispõem de maior

agilidade, uma vez que estão liberadas da morosa e difícil burocracia, que dia a dia

prejudica a lenta rotina das Instituições Estatais.

A par dessas peculiaridades, sustentam que os grupos particulares

procuram sempre oferecer estímulos funcionais e melhores condições aos seus

empregados na competição de mercado.

As empresas privadas têm agudo interesse em aperfeiçoar os serviços,

reduzindo as despesas para poder manter posição estável, preocupação essa que

não é relevante no serviço público, que gasta demasiadamente, está sempre envolto

em escândalos de corrupção e vem fracassando, através dos tempos, como

detentor do monopólio da execução penal (COTIN, 2012).

Outra vantagem das prisões privadas em relação ao custo percebe-se

analisando o valor necessário para construir um presídio. Segundo Oliveira (2001, p.

88), para se construir um presídio moderno, com capacidade para 500 presos, é

necessário aproximadamente oito milhões de dólares.

No caso da iniciativa privada, a própria empresa se responsabilizaria pelos

custos da construção da penitenciária e o Estado poderia destinar o dinheiro para

outros setores da sociedade, como educação, saúde e outras áreas que melhorem a

qualidade de vida da população.

A ociosidade é outro problema do sistema penitenciário nacional. Não se

sabe com certeza o número total de presos que trabalham, mas sabe-se que esse

percentual é mínimo em relação a população carcerária total (COTIN, 2012). Nas

prisões privadas as condições de trabalho são melhores em razão da infraestrutura

que oferece cursos profissionalizantes e em razão de contratos que podem ser

realizados com outras empresas que necessitam da mão-de-obra dos detentos.

Os defensores das prisões privadas, quando o tema é o trabalho dentro dos

presídios, apontam as seguintes vantagens:

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1) Alívio nas despesas do Estado, pois quem paga os salários é a parte

privada;

2) Um apoio melhor às famílias em forma de renda mensal;

3) Contribuição ao fundo das vítimas e reparação do dano causado;

4) O aprendizado de uma nova profissão que vai ser de grande valor

quando do retorno à vida em sociedade;

5) Remição da pena (COTIN, 2012).

Sobre a facilidade de emprego nas prisões privadas (COTIN, 2012),

consigna que a Instituição Privada tem mais opções para garantir trabalho

remunerado com habilidade profissional ao preso, em ambiente educativo, isolando

a contaminação da ociosidade. A empresa privada abre a possibilidade concreta

para a absorção do condenado no mercado de trabalho, após o cumprimento de sua

pena.

Segundo Cotin (2012) na atual situação, a superpopulação carcerária não

permite que haja uma seleção dos internos pelos diversos crimes, obrigando o

condenado por um simples desvio a conviver diretamente com assaltantes

profissionais, fazendo com que ele ingresse numa escola de vida, que não regenera,

mas lhe aprimora em técnica criminal. Isto dificulta qualquer trabalho, por maior boa

vontade que exista por parte da direção e funcionários de um estabelecimento penal.

A confusão existente nos determinados papéis dentro de uma instituição

prisional leva o indivíduo a criar um mundo próprio, dentro do sistema, ao qual

podemos chamar de prisionização.

2.2 Perspectiva de ressocialização do apenado

A crise do sistema penitenciário brasileiro não é uma contingência da

atualidade e sim, uma continuidade fruto de um longo processo histórico

impermeado pelo escravismo do período colonial, mas que se agrava com a falência

gerencial.

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Como se sabe, a reintegração tem como objetivo a humanização da

passagem do detento na instituição carcerária, implicando sua essência teórica,

numa orientação humanista, passando a focalizar a pessoa que delinquiu como o

centro da reflexão científica.

A pena de prisão determina nova finalidade, com um modelo que aponta

que não basta castigar o indivíduo, mas orientá-lo dentro da prisão para que ele

possa ser reintegrado à sociedade de maneira efetiva, evitando com isso a

reincidência.

O modelo ressocializador assume a natureza social do problema criminal,

constituído nos princípios de corresponsabilidade e de solidariedade social, entre o

infrator e as normas do Estado (social) contemporâneo (MIRABETE, 2000, p. 89).

O modelo reintegrador propugna, portanto, pela neutralização, na medida do

possível, dos efeitos nocivos inerentes ao castigo, por meio de uma melhora

substancial ao seu regime de cumprimento e de execução e, sobretudo, sugere uma

intervenção positiva no condenado que, longe de estigmatizá-lo com uma marca o

habilite para integrar-se e participar da sociedade, de forma digna e ativa, sem

traumas, limitações ou condicionamentos especiais (MIRABETE, 2000, p. 89).

A reintegração não pode ser viabilizada numa instituição carcerária, pois

essas se convertem num microcosmo no qual se reproduzem e agravam as

contradições que existem no sistema social. O descrédito em relação a

ressocialização dá-se por que esta aparece apenas nas normatizações (Lei de

Execução Penal), deixando a desejar no que tange à prática aplicada nas

Instituições carcerárias.

Segundo Mirabete (2000, p. 383): “A ideia de ressocialização como a de

tratamento, é radicalmente alheia aos postulados e dogmas do direito penal clássico,

que professa um retribucionismo incompatível com aquela”. Portanto, sem a

transformação da sociedade capitalista, não se pode vislumbrar algum tipo de

reabilitação da pessoa que cometeu um delito punido pelo Código Penal.

Para a Criminologia Crítica, qualquer mudança que se faça no âmbito das

penitenciárias não surtirá grandes efeitos, visto que se mantendo a mesma estrutura

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do sistema, a prisão manterá sua função repressiva e estigmatizadora (OLIVEIRA,

2012). Embora não se deva pensar o processo de ressocialização apenas a partir do

trabalho penitenciário, esse sem dúvida pode cumprir algumas das funções que o

Estado deixou de fazer, contribuindo para o ato do detido, onde o trabalho poderia se

constituir num instrumento de reinserção social (OLIVEIRA, 2012).

Ao falar em reintegração social, se tem em vista a possibilidade de

facultamento dos meios necessários e adequados para que, assim, o preso tenha

condições de reinserir-se na sociedade.

Os meios necessários não diferem dos da sociedade externa à prisão. Assim, enfoca-se o trabalho como um fator determinante de segurança, de estabilidade, de estruturação individual e social; fator determinante de inclusão / exclusão (inserção e de reinserção); fator que clarifica, o constituir-se classe subalterna, tendo a vivência da pobreza, da subalternidade e da exclusão (SÁ, 2006, p. 142).

Os presos se configuram como trabalhadores que se encontram, em sua

grande maioria, ociosos. Trabalhadores necessitados de políticas que supram suas

necessidades básicas, bem como, de suas famílias, e que precisam nesse período

de vida, - de extrema fragilidade existencial - ter, na penitenciária, um espaço de

redescoberta de seu potencial enquanto ser humano, um espaço de educação pelo

trabalho (MIRABETE, 2000, p. 25).

Assim, ao se falar de reinserção social admite-se, inequivocamente, uma

atuação sobre o indivíduo-delinquente que, nem por isso, se deixa encarar como um

problema que polariza em si, precisamente, as tensões entre a reforma do indivíduo

e da sociedade.

2.3 Mais humanização no sistema penitenciário

O Direto Penal assume a função de proteção da sociedade sem, entretanto,

modificá-la ou alterá-la. Clarificando, dessa forma, a concepção de ressocialização

que pressupõe repassar ao preso o mínimo ético indispensável à convivência em

sociedade (OLIVEIRA, 2012). Por outro lado, a maioria dos criminosos sofre de

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transtorno de personalidade. São pessoas com personalidades imaturas ou

dissociais que não receberam noções a respeito do próximo.

O crime, nessa perspectiva, é tido como um déficit de socialização. Então, a

prisão deve ser o espaço onde haja um programa de ressocialização.

Que visa integrar o indivíduo no mundo dos seus concidadãos, sobretudo nas coletividades sociais básicas como, por exemplo, a família, a escola ou o trabalho, proporcionando o auxílio necessário que o faça ultrapassar a situação de defasamento social em que se encontra. (RODRIGUES, 2002, p. 124)

A prisão moderna é, segundo Foucault (2002, p. 123) "uma empresa de

modificar indivíduos tendo, portanto, duas obviedades fundamentais na forma

simples da privação de liberdade, sendo exigido, um aparelho transformador de

indivíduos”.

Nesse sentido, a prisão representa um aparelho disciplinar exaustivo: um

reformatório integral que prescreve princípios de isolamento em relação ao mundo

exterior à unidade penal, aos motivos que o levaram à infração, conduzindo-o,

através desse a isolamento, à reflexão, ao remorso e à submissão total, ao

reconhecimento do preso sobre o poder que a ele se impõe; de um tipo de trabalho

que tem por objetivo regular, acabar com a agitação, impor hierarquia, vigiar,

constituindo, assim, uma relação de poder (RODRIGUES, 2002). É uma espécie de

prisão que extrapola a simples privação de liberdade ao tornar-se um instrumento de

modulação da pena.

No Brasil, um em cada três detentos encontra-se em situação

absolutamente irregular, pois a maioria deles deveria estar cumprindo suas penas

em presídios, ou se condenados, em penitenciárias, mas se encontram ainda,

confinados em delegacias de polícia, como também em cadeias públicas, isso tudo

desprovidos das mínimas condições, tanto de segurança, como também de

assistência médica, que a lei garante ao preso. Essas condições são extremamente

perigosas à saúde do preso, pois segundo estatísticas, cerca de 12% à 13% dos

presidiários em todo o país estão contaminados com o vírus do HIV e outros tantos

estão contaminados com a tuberculose. Isso sem falar em outras doenças

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decorrentes dos maus tratos e as péssimas condições que o sentenciado enfrenta

nos alojamentos prisionais (OLIVEIRA, 2012).

Para o Brasil, os gastos com o sistema prisional são bastante significantes,

pois o dinheiro poderia ser aplicado em hospitais e escolas, considerando que a

saúde e educação são, talvez, os maiores problemas sociais no país.

Os custos crescentes do encarceramento e a falta de investimentos no setor

por parte da administração pública que geram a consequente superlotação das

prisões, estão na base das dificuldades do sistema penitenciário, onde decorrem

problemas como a falta de condições necessárias à sobrevivência (falta de higiene,

regime alimentar deficiente, falta de leitos); deficiências no serviço médico; elevado

índice de consumo de drogas; corrupção; reiterados abusos sexuais; ambiente

propício à violência; quase ausência de perspectivas de reintegração social; e

inexistência de uma política ampla e inteligente para o setor (THOMPSON, 2003, p.

87).

Como afirmava Foucault (2002, p. 123),

Aquilo que, no início do século XIX, e com outras palavras criticava-se em relação à prisão (constituir uma população 'marginal' de 'delinquentes') é tomado hoje como fatalidade. Não somente é aceito como um fato, como também é constituído como dado primordial.

A finalidade da prisão de ressocializar a pessoa presa, nas situações atuais,

é tarefa impossível. Como já evidenciou Roure (1998, p. 14), “falar em reabilitação é

quase o mesmo que falar em fantasia, pois hoje é fato comprovado que as

penitenciárias em vez de recuperar os presos os tornam piores e menos propensos

a se reintegrarem ao meio social”.

Embora o Legislador Ordinário ao editar a Lei 7.210/84, - Lei de Execução

Penal - (L.E.P.) o tenha feito com bastante sapiência, no entanto, o Poder Executivo

não se aparelhou para executar com maestria os comandos esculpidos nos seus

204 artigos, os quais se fossem bem executados certamente poderiam ter impedido

que o sistema penitenciário apresentasse o caos atual.

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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo da exposição se permitiu considerar que, de fato o sistema

carcerário brasileiro e o de Pernambuco apresentam a prisão como uma monstruosa

opção. As cadeias se perpetuam como uma forma de castigo, não como ambiente

para ressocializar.

A falta de uma política de ressocialização também tem contribuído para a

situação atual do sistema, uma vez que diante da falta de perspectiva de voltar ao

convívio da sociedade, diante da tratativa de rejeição e indiferença que a própria

sociedade e o estado lhe prestam após ser libertados, resta ao detento continuar na

vida regressa.

Uma vez sem conseguir se ressocializar, o detento tende a voltar à

criminalidade e à reincidência. Embora não hajam números oficiais, calcula-se que

90% dos ex-detentos voltam a delinquir e consequentemente retornam à prisão.

Presídios como o Professor Juiz Antônio Luiz Lins de Barros, em Recife e o

Central de Porto Alegre, já passam dos três mil detentos, decretando estado de

superlotação por pura falta de vagas em outras unidades prisionais do Estado, indo

totalmente contra ao que garante o princípio da individualização da pena.

A superlotação além de ser um dos principais problemas enfrentados pelas

prisões brasileiras, acaba sendo a propulsora de novos problemas como a violência

interna, a revolta dos detentos, a prática de homossexualismo e as rebeliões.

Essas situações que acontecem na esperança pela busca do cumprimento

da Lei de Execução Penal, que vem sendo tão desrespeitada, levam ao ponto de

presidiários reivindicarem com faixas e cartazes contendo os dizeres: “Cumpram a

Lei de Execução Penal”.

O que muito vem acontecendo, também ocasionado pelo problema da

superlotação, é a utilização das delegacias como unidade carcerária. Abrigando

presos, em sua maioria, já condenados, sendo São Paulo e Minas Gerais os

principais Estados que mais mantêm presos em delegacias de polícia. Uma

atrocidade sem tamanho a Lei de Execução Penal e aos direitos e garantias

individuais dos detentos.

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Outro problema muito comum que assola o sistema penitenciário hoje em

dia é a tortura e os maus-tratos aos presos. Tanto pelos agentes carcerários quanto

pelos próprios presos (Revista Veja, 21 JAN 2014, p. 22). Uma realidade diária em

quase todos os estabelecimentos penais. A violência existente é tanta, que os

primários chegam às prisões querendo impor uma postura agressiva, procurando

demonstrar aos outros que são bandidos perigosos, dignos de todo respeito e

consideração e essa falsa aparência pode resultar em mortes e agressões.

Há distinção de tratamento nos presídios, sendo os mais importantes

àqueles que têm mais a oferecer, que recebem visitas, que têm mais influência no

presídio. Quando não se tem nada disso, ai sim, que se aplica a lei do mais forte,

implicando uma violação abusiva do princípio da isonomia, que proíbe toda e

qualquer discriminação entre os sentenciados e a diferenciação no tratamento dado

aos presos pois, perante a lei, todos são iguais, sem nenhuma distinção de qualquer

natureza. (Rede Globo, reportagem do Fantástico, 15 JUN 2014)

Diante disso tudo: o caos no sistema carcerário, o problema da

superlotação, os maus-tratos, a distinção de tratamento, a falta de assistência ao

preso e etc., a Lei de Execução Penal tratou de diferenciar expressamente os

estabelecimentos penais, dando a cada um deles uma finalidade distinta, que

mesmo depois de quase 30 anos da LEP, os Estados ainda não conseguiram se

adequar a Lei de Execução Penal, proporcionando uma melhoria na situação dos

estabelecimentos penais.

Analisando a Lei de Execução Penal, observa-se que, excetuando-se as

atividades jurisdicionais e as atividades jurídico-administrativas, não existe nenhum

impedimento para atuar. Quanto à alegação de ser impossível a privatização em

razão do Estado não poder delegar o seu poder punitivo à iniciativa privada.

Não subsiste tal ideia, pois, com a privatização, à iniciativa privada cabe à

administração das prisões, apenas, não lhe sendo delegada, a função de punir

qualquer apenado. Considerando ainda que, caso ocorra qualquer tipo de abuso por

parte da iniciativa privada que administra o presídio, o Estado pode rescindir o

contrato a qualquer tempo.

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Enfim, uma coisa é certa, o que não se pode desvalorizar uma efetiva

mudança de solução, ou pelo menos moderação da atual crise, pois o sistema

prisional brasileiro atingiu o seu limite. Entretanto, não se pode esperar que a

administração pública busque sozinha a solução e invista no setor. O Estado não

poderá resolver esse problema que é de toda a sociedade, sem a participação de

todos, e a necessária privatização do seu sistema penitenciário.

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PARTE II

Repertório jurisprudencial

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178

JURISPRUDÊNCIA

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

SÚMULAS VINCULANTES

Nº 35- A homologação da transação penal prevista no artigo 76 da Lei 9.099/1995 não faz coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao Ministério Público a continuidade da persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou requisição de inquérito policial. Data da aprovação: Sessão Plenária de 16/10/2014. Nº 36- Compete à Justiça Federal comum processar e julgar civil denunciado pelos crimes de falsificação e de uso de documento falso quando se tratar de falsificação da Caderneta de Inscrição e Registro (CIR) ou de Carteira de Habilitação de Amador (CHA), ainda que expedidas pela Marinha do Brasil. Data da aprovação: Sessão Plenária de 16/10/2014. Nº 37- Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob o fundamento de isonomia. Data da aprovação: Sessão Plenária de 16/10/2014.

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS 122279 – RIO DE JANEIRO

DECISÃO

Trata-se de recurso ordinário em habeas corpus, interposto por Geraldo Kautzner Marques, em favor de Manoel Arley Santos Bueno, contra acórdão do Superior Tribunal Militar (STM), que denegou a ordem no HC 18-43.2014.7.00.0000. Consta dos autos que o paciente teria, em 8.9.2013, furtado um telefone celular de um colega de caserna. Instaurado o Inquérito Policial Militar, foram inquiridas testemunhas (fls. 14-18). O paciente também foi ouvido como testemunha. Durante a oitiva, após afirmar versão diversa para os fatos, solicitou ao encarregado do IPM que fossem desconsideradas as suas declarações e confessou o furto (fls. 19/20). O Ministério Público Militar apresentou a denúncia (fls. 8-10). Diante do recebimento da peça inaugural, a defesa manejou habeas corpus perante o Superior Tribunal Militar (fls. 2-7), que denegou a ordem. Daí a presente impetração, na qual a defesa sustenta a ofensa ao princípio do nemo tenetur se detegere. Afirma a manifesta violação à garantia da ampla defesa, haja vista ter sido o paciente inquirido na condição de testemunha. Assevera a nulidade de todo o procedimento administrativo, a macular a ação penal. Requer o deferimento de medida liminar para “o sobrestamento da audiência designada para o dia 15.5.2014, às 14:00 horas, na 1ª Auditoria da CJM” e a concessão definitiva da ordem para reformar o acórdão atacado, declarando-se a nulidade do processo desde a denúncia, trancando-se a ação penal. É o relatório. Decido. Colho do acórdão impugnado, no que interessa (fls. 76/77, 78/79 e 80/81): “Com efeito, a confissão operada na fase investigativa deu-se no curso da inquirição do Sd Ex Manoel Arley, quando ouvido na condição de testemunha. Portanto, ao início daquele ato foi prestado o compromisso legal de dizer a verdade. Todavia, no transcorrer daquele procedimento, o inquirido repentinamente pediu para que fosse desconsiderado o

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que havia sido declarado anteriormente, afirmando estar mentindo, mas que passaria a dizer a verdade, e, na sequência, assumiu a autoria do delito. (…) Ora, depreende-se que cuidou de confissão voluntária colhida na fase investigativa. Pela dinâmica com que se desenrolava aquela inquirição, estampa-se tratar-se de atitude espontânea do militar. Por evidente, faltou perspicácia ao Encarregado do IPM para encerrar o ato de inquirição de testemunha e , de imediato, proceder ao indiciamento e efetuar a respectiva perquirição com as precauções legais de praxe, dentre as quais se insere o alerta sobre a garantia de permanecer calado. (...) Nesse diapasão, a confissão do Sd Manoel Arley, colhida por ocasião do IPM, não se mostra como aquela que, isoladamente, serviu como embasamento para a propositura da ação penal. A oitiva dos Sds Maiqueson e Luiz Vinícius, acima transcritas, trazem elementos importantes a serem sopesados na questão. Além do mais, a forma pela qual o bem subtraído foi recuperado remonta à que a autoria do delito já era conhecida antes da instauração do IPM. Dessa forma, decai de importância a questionada confissão do Sd Manoel Arley, tendo em vista que diversos outros elementos de prova deram substrato para a formalização da Denúncia apresentada perante o Juízo Militar, a qual, induvidosamente, teve o seu recebimento operado por decisão da Juíza-Auditora Substituta da 1ª Auditoria da 1ª CJM (autoridade nominada como coatora). (...) Dessa forma, considerando a ausência de aviso quanto à garantia ao silêncio, por ocasião da inquirição do Sd Manoel Arley no IPM, os elementos de informação colhidos naquela ocasião revelam-se maculados de ilicitude. O propósito da apontada confissão não seria outro senão agregar-se aos demais elementos resultantes da investigação para dar suporte à análise do órgão ministerial e, alfim, subsidiar a propositura da ação penal com o oferecimento da exordial acusatória. Nesse compasso, o preclaro termo de Inquirição, não terá serventia para o processo criminal, poi, afora as circunstâncias em que fora coletado, sua natureza indiciária se traduz como de ínfima repercussão na ação penal. Notadamente, restou demonstrada a existência de outros elementos indiciários que embasaram a Denúncia e seu consequente recebimento no Juízo Militar. Mostra-se perfeitamente possível a desconsideração do teor daquela inquirição. Abduzida aquela confissão, permanece denso o conjunto formado pelos demais elementos colhidos na investigação. O intento acusatório persiste com amplo esteio”. Evidentemente, a todos os órgãos estatais dotados de poderes normativos, judiciais ou administrativos impõem-se a importante tarefa de realização dos direitos fundamentais. A Constituição Federal de 1988 atribuiu significado ímpar aos direitos individuais. Já a colocação do catálogo dos direitos fundamentais no início do texto constitucional denota a intenção do constituinte de emprestar-lhes significado especial. A amplitude conferida ao texto, que se desdobra em setenta e oito incisos e quatro parágrafos (CF, art. 5º), reforça a impressão sobre a posição de destaque que o constituinte quis outorgar a esses direitos. A ideia de que os direitos individuais devem ter eficácia imediata ressalta, portanto, a vinculação direta dos órgãos estatais a esses direitos e o seu dever de guardar-lhes estrita observância. O constituinte reconheceu ainda que os direitos fundamentais são elementos integrantes da identidade e da continuidade da Constituição, considerando, por isso, ilegítima qualquer reforma constitucional tendente a suprimi-los (art. 60, § 4º). A complexidade do sistema de direitos fundamentais recomenda, por conseguinte, que se envidem esforços no sentido de precisar os elementos essenciais dessa categoria de direitos, em especial no que concerne à identificação dos âmbitos de proteção e à imposição de restrições ou limitações legais. O direito ao silêncio, que assegura a não produção de prova contra si mesmo, constitui pedra angular do sistema de proteção dos direitos individuais e materializa uma das expressões do princípio da dignidade da pessoa humana.

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Como se sabe, na sua acepção originária conferida por nossa prática institucional, este princípio proíbe a utilização ou a transformação do homem em objeto dos processos e ações estatais. O Estado está vinculado ao dever de respeito e proteção do indivíduo contra exposição a ofensas ou humilhações. A propósito, em comentários ao art. 1º da Constituição alemã, Günther Dürig afirma que a submissão do homem a um processo judicial indefinido e sua degradação como objeto do processo estatal atenta contra o princípio da proteção judicial efetiva (rechtliches Gehör) e fere o princípio da dignidade humana [“Eine Auslieferung des Menschen an ein staatliches Verfahren und eine Degradierung zum Objekt dieses Verfahrens wäre die Verweigerung des rechtlichen Gehörs.”] (MAUNZ-DÜRIG, Grundgesetz Kommentar, Band I, München, Verlag C.H.Beck, 1990, 1/18). Isso não significa, sob hipótese alguma, afirmar-se que a situação de constrição de direitos ocorra em todas as situações. Não obstante a evidente inadequação do procedimento adotado a macular a utilização daquele elemento de informação, a não ser em favor do paciente, o quadro apresentado indica a existência de outros elementos diversos para o recebimento da peça acusatória. Diante disso, ausente o fumus bonis iuris, indefiro a medida liminar. Solicitem-se informações ao Juízo da 1ª Auditoria da 1ª Circunscrição Judiciária Militar. Após, encaminhem-se os autos à Procuradoria-Geral da República. Publique-se. Brasília, 9 de maio de 2014. Ministro Gilmar Mendes Relator

HABEAS CORPUS 122673 - PARÁ 122

DECISÃO HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL MILITAR. FURTO EM RECINTO

CASTRENSE. PRETENSÃO DE REALIZAÇÃO DO INTERROGATÓRIO AO FINAL DA INSTRUÇÃO. ART. 400 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL COM REDAÇÃO DADA PELA LEI N. 11.719/08. PLAUSIBILIDADE JURÍDICA CONFIGURADA. MEDIDA LIMINAR DEFERIDA. VISTA AO PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA.

Relatório

1. Habeas corpus, com requerimento de medida liminar, impetrado pela DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO, em favor de FELIPE LIMA DOS SANTOS, contra acórdão do Superior Tribunal Militar que, em 29.4.2014, denegou a ordem no habeas corpus n.53-03.2014.7.00.0000/PA. 2. Narra-se na inicial: “O aqui Paciente, o jovem soldado FELIPE LIMA DOS SANTOS foi denunciado pelo Ministério Público Militar, em 25/11/2013, junto à Auditoria da 8ª CJM, pela prática do delito previsto no art. 240, §4º, do Código Penal Militar, fls. 10-12.

Colhe-se dos autos a suposta prática do crime de furto, praticado à noite. A Denúncia foi recebida em 29/11/2013 pela Juíza-Auditora Substituta Dra. Vera

Lúcia da Silva Conceição. A Defensoria Pública da União/Belém/PA, na atuação da denoda Defensora Federal,

Dra. Rita Cristina Oliveira Thomaz, compareceu nos autos em 17/03/2013, solicitando a inversão do interrogatório (que já está marcado para o próximo dia 05/07/2014) à luz da Lei 11.719/2008, como garantia aos direitos fundamentais de Felipe Lima dos Santos de

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‘ampla defesa' e do 'contraditório' como medida eficiente na autodefesa. O Conselho Permanente de Justiça para o Exército da Auditoria da 8ª CJM, em

20/03/2013, por unanimidade, indeferiu o pedido de inversão do interrogatório” (Evento 1, fl. 2).

3. Contra a decisão da Auditoria da 8ª Circunscrição Judiciária Militar, a defesa do Paciente impetrou o habeas corpus n. 53-03.2014.7.00.0000/PA no Superior Tribunal Militar e, em 29.4.2014, a ação foi denegada:

“HABEAS CORPUS. PACIENTE QUE PRATICOU, EM TESE, FURTO QUALIFICADO, PREVISTO NO ART. 240, §4º, DO CPM. ALEGADA VIOLAÇÃO ÀS GARANTIAS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA POR NÃO APLICAÇÃO DA LEI N. 11.719/2008. NÃO CONFIGURAÇÃO.

Paciente denunciado pela prática, em tese, de furto de dinheiro da carteira do colega, enquanto este dormia, aproveitando-se do fato de que a chave do seu armário estava caída ao chão (art. 240, §4º do CPM).

Writ impetrado diante do indeferimento do pedido de aplicação da Lei nº 11.719/2008, com a inversão do interrogatório como ato derradeiro da instrução processual penal militar. Alegação de violação ao contraditório e à ampla defesa.

A referida lei não alterou a redação do Código Processual Castrense, prevalecendo a redação do art. 302 do CPPM, em virtude do princípio da especialidade. Precedentes deste Tribunal e da Suprema Corte.

Denegada a Ordem. Maioria” (Evento 3, fl. 1). 4. Daí a presente impetração, na qual a Impetrante sustenta a necessidade de

concessão da “ordem para que o interrogatório seja realizado ao final da instrução criminal” (Evento 1, fl. 3). Afirma que a “realização do interrogatório ao final da instrução criminal é garantia de que o Acusado, quando ouvido pelo Julgador, terá todo conhecimento de 'todas as provas' produzidas pela acusação e poderá se defender contraditando-as” (Evento 1, fl. 3). Pondera que a “lei n° 11.719, de 20/06/2008, introduziu verdadeira revolução no processo penal brasileiro, e inexiste qualquer vedação à sua aplicabilidade no seio do direito processual Castrense, na medida em que restam sem afronta os princípios da hierarquia e disciplina, e apesar da especialidade da norma castrense, esta deve coadunar com a lei maior no que tange às garantias constitucionais, ainda mais quando o faz em termo firmado com o Paciente no processo” (Evento 1, fl. 4). Conclui a Impetrante que “à luz de todo embasamento legal, fundamentos constitucionais e doutrinários e a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a Defensoria Pública da União considera necessária à atuação dessa Corte Suprema para que Felipe Lima dos Santos possa ter um julgamento justo” (Evento 1, fl. 8). 5. Este o teor dos pedidos: “Razões e fundamentações expostas, a DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO, assistindo juridicamente FELIPE LIMA DOS SANTOS, requer... 1. a concessão da ordem, desde logo, monocraticamente por Vossa Excelência, Ministro Relator, na forma do artigo 192, caput, do Regimento do STF, para anular o Acórdão do Superior Tribunal Militar e, consequentemente, suspender a realização do interrogatório no início da instrução criminal marcado para o dia 05/06/2014 no Conselho Permanente de Justiça para o Exército da Auditoria da 8ª CJM de Belém/PA, com determinação de que seja ouvido ao final; 2. na eventualidade de a ordem pleiteada não ser concedida de plano na forma do artigo 192, caput, do RISTF, a Defensoria Pública da União de Categoria Especial pleiteia: 2.1 - seja concedida medida liminar para determinar a imediata suspensão dos efeitos do Acórdão prolatado pelo Tribunal Militar, autos 53-03.2014.7.00.0000, determinando-se, via de consequência, a não realização do interrogatório já marcado para o dia 05/06/2013 no Conselho Permanente de Justiça para o Exército da Auditoria da 8ª CJM em Belém/PA, até o julgamento final deste writ; 2.2 - no mérito, a concessão definitiva da ordem de Habeas Corpus em decisão

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colegiada desta ínclita Corte Suprema confirmando a nulidade do Acórdão do STM e com determinação de realização de interrogatório de Felipe Lima dos Santos ao final da instrução criminal frente ao Conselho Permanente de Justiça para o Exército da Auditoria da 8ª CJM, nas conformidades com os ditames da Constituição Federal de 1988 e determinação legal expressa na Lei 11.719/2008 fazendo prevalecer o 'devido processo legal' em seus consectários da ‘ampla defesa’ e do ‘contraditório’; e 3 - que as intimações desta Corte Suprema sejam feitas ao Defensor Público-Geral Federal - DPGF - que tem atuação permanente neste egrégio Tribunal observando-se as prerrogativas previstas no art. 44, incisos I e VI, da Lei Complementar 80/1994, de receber intimação pessoal e de contagem em dobro de todos os seus prazos” (Evento 1, fls. 9-10, destaques do original). Examinada a matéria posta à apreciação, DECIDO. 6. Neste exame preambular, a exposição dos fatos e a verificação das circunstâncias presentes e comprovadas na ação conduzem ao deferimento da medida liminar requerida, porque presente a plausibilidade jurídica dos argumentos apresentados na inicial. 7. A pretensão da Impetrante está apenas em que o interrogatório do Paciente, acusado de prática de crime militar seja realizado ao final da instrução, nos termos do art. 400, do Código de Processo Penal, alterado pela Lei 11.719/2008. 8. No ponto, a decisão do Superior Tribunal Militar, pela qual foi indeferido pedido de realização de interrogatório do Paciente ao final da instrução, parece destoar do entendimento neste Supremo Tribunal, no sentido de que a aplicação do art. 400, do Código de Processo Penal, alterado pela Lei 11.719/2008, aos delitos disciplinados pela legislação especial. Nesse sentido: “PROCESSUAL PENAL MILITAR. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. ESTELIONATO – ART. 251 DO CÓDIGO PENAL MILITAR. INTERROGATÓRIO NO ÂMBITO DA JUSTIÇA MILITAR. ATO A SER REALIZADO AO FINAL DA INSTRUÇÃO CRIMINAL. NÃO INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE. APLICAÇÃO DA LEI Nº 11.719/2008, QUE DEU NOVA REDAÇÃO AO ART. 400 DO CPP. MÁXIMA EFETIVIDADE DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA (CF, ART. 5º, LV). PRECEDENTE DO PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (AÇÃO PENAL Nº 528, PLENÁRIO), QUE DETERMINOU A APLICAÇÃO DO NOVO RITO AOS PROCESSOS REGIDOS PELA LEI ESPECIAL Nº 8.038/90. UBI EADEM RATIO IBI IDEM JUS. ORDEM CONCEDIDA. 1. O art. 400 do Código de Processo Penal, com a redação dada pela Lei nº 11.719/2008, fixou o interrogatório do réu como ato derradeiro da instrução penal, prestigiando a máxima efetividade das garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa (CRFB, art. 5º, LV), dimensões elementares do devido processo legal (CRFB, art. 5º LIV) e cânones essenciais do Estado Democrático de Direito (CRFB, art. 1º, caput), por isso que a nova regra do Código de Processo Penal comum também deve ser observada no processo penal militar, em detrimento da norma específica prevista no art. 302 do Decreto-Lei nº 1.002/69, conforme precedente firmado pelo Pleno do Supremo Tribunal Federal nos autos da Ação Penal nº 528 AgR, rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. Em 24/03/2011, DJe-109 divulg. 07-06-2011, impondo a observância do novo preceito modificador em relação aos processos regidos pela Lei Especial nº 8.038/90, providência que se impõe seja estendida à Justiça Penal Militar, posto que ubi eadem ratio ibi idem jus. 2. Em situação idêntica à sub examine, a Primeira Turma desta Corte deferiu os HCs 115.530 e 115.698, rel. Min. Luiz Fux, DJe de 14/08/2012, para determinar ao Superior Tribunal Militar a realização do interrogatório após o término da instrução criminal. 3. In casu, o paciente foi processado pela prática do crime de estelionato, tipificado no art. 251, do Código Penal Militar, e teve indeferido pleito no sentido de ser interrogado ao final da instrução processual. 4. Recurso em habeas corpus provido para determinar a realização de novo interrogatório do recorrente, após o término da instrução criminal, à luz da Lei nº 11.719/2008, que deu nova redação ao art. 400 do Código de Processo Penal” (grifos nossos).

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9. Assim, neste exame preliminar, os elementos constantes dos autos são suficientes para demonstrar plausibilidade do direito alegado, porque, ao indeferir o requerimento de realização de interrogatório do Paciente ao final da instrução, a decisão do Superior Tribunal Militar diverge de precedente deste Supremo Tribunal sobre a matéria. 10. Presente, também, o perigo da demora, por constar do sítio do Superior Tribunal Militar que, na ação penal n. 0000106-69.2013.7.08.0008, houve designação de audiências para os dias 5.6.2014 e 9.6.2014. 11. Pelo exposto, defiro a medida liminar para suspender: a) os efeitos do acórdão do Superior Tribunal Militar, no julgamento do habeas corpus n. 53-03.2014.7.00.0000/PA; b) o andamento da ação penal n. 0000106-69.2013.7.08.0008, que tramita na Auditoria da 8ª Circunscrição Judiciária Militar, até o julgamento final do presente habeas corpus. Comunique-se os termos da presente decisão ao Ministro Marcus Vinicius Oliveira dos Santos, do Superior Tribunal Militar e Relator do habeas corpus n. 53-03.2014.7.00.0000/PA; ao juízo da Auditoria da 8ª Circunscrição Judiciária Militar, referente à ação penal n. 0000106-69.2013.7.08.0008. Com os ofícios, a serem enviados com urgência e por fax, encaminhe-se cópia da inicial e da presente decisão. 12. Suficiente a instrução, vista ao Procurador-Geral da República. Publique-se. Brasília, 3 de junho de 2014. Ministra CÁRMEN LÚCIA Relatora

HABEAS CORPUS 123.228 - AMAZÔNIA

DECISÃO

HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL MILITAR. CONCUSSÃO. PRETENSÃO DE SE TER O INTERROGATÓRIO AO FINAL DA INSTRUÇÃO. ART. 400 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL ALTERADO PELA LEI N. 11.719/08. PLAUSIBILIDADE JURÍDICA CONFIGURADA. MEDIDA LIMINAR DEFERIDA. VISTA AO PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA.

Relatório

1. Habeas corpus, com requerimento de medida liminar, impetrado pela

DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO, em favor de WANDERSON CUNHA DOS SANTOS e GILBERTO ALVES DE JESUS, contra acórdão do Superior Tribunal Militar que, em 2.4.2014, deu provimento ao recurso do Ministério Público Militar e negou provimento à apelação defensiva (Proc. n. 7-57.2005.7.12.0012).

2. Tem-se nos autos que, em 12.9.2012, o Juízo do Conselho Permanente de Justiça para a Marinha, da Auditoria da 12ª Circunscrição Judiciária Militar, condenou os Pacientes nas penas do art. 305 do Código Penal Militar.

3. O Ministério Público Militar e a Defesa interpuseram recurso de apelação (Proc. n. 7-57.2005.7.12.0012) no Superior Tribunal Militar que, em 2.4.2014, “por unanimidade, rejeitou a preliminar, arguida pela Defesa do Civil WANDERSON CUNHA DOS SANTOS, de nulidade do processo por falta de aplicação da Lei n° 11.719/2008; por unanimidade, rejeitou a segunda preliminar defensiva, de nulidade do feito por cerceamento de defesa. No mérito, o Tribunal, por unanimidade, negou provimento aos recursos defensivos e, por unanimidade, deu provimento ao Recurso ministerial para, mantendo a Sentença de primeira instância que condenou o 1° Sgt Mar GILBERTO ALVES DE JESUS à pena de 02 anos e 04 meses de reclusão, como incurso no art. 305 do CPM, c/c o art. 71 do CP, com o regime prisional inicialmente aberto, aplicar a pena acessória de exclusão das Forças

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Armadas, prevista no art. 102 do CPM; e, por unanimidade, reformar a Sentença de Primeira Instância, para condenar o Civil WANDERSON CUNHA DOS SANTOS à pena de 02 anos e 04 meses de reclusão , como incurso no art. 305 do CPM, c/c o art. 71 do CP, fixando o regime prisional inicialmente aberto para o cumprimento da pena” (grifos nossos).

4. Daí a presente impetração, na qual a Impetrante sustenta “o direito [dos Pacientes] ao interrogatório ao final da instrução criminal”.

Pondera que a “lei n° 11.719, de 20/06/2008, introduziu verdadeira revolução no processo penal brasileiro, e inexiste qualquer vedação à sua aplicabilidade no seio do direito processual castrense, na medida em que restam sem afronta os princípios da hierarquia e disciplina, e apesar da especialidade da norma castrense, esta deve coadunar com a lei maior no que tange às garantias constitucionais, ainda mais quando o faz em termo firmado com o Paciente no processo”.

5. Este o teor dos pedidos: “Razões e fundamentações expostas, a DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO,

assistindo juridicamente WANDERSON CUNHA DOS SANTOS e GILBERTO ALVES DE JESUS,

requer... 1. - a concessão da ordem, desde logo, monocraticamente por Vossa Excelência,

Ministro Relator, na forma do artigo 192, caput, do Regimento do STF, para anular o Acórdão do Superior Tribunal Militar – STM - e, via de conseqüência, a sentença ab initio, com determinação para ocorrência de um ‘novo interrogatório’ dos Assistidos para que exerçam os seus direitos de contraditar as provas produzidas (…), bem como de realização de nova audiência de oitiva de testemunhas, sendo-lhes oportunizado o direito de comparecimento e acompanhamento, nas conformidades do devido processo legal;

2. na eventualidade de a ordem pleiteada não ser concedida de plano na forma do artigo 192, caput, do RISTF, a Defensoria Pública da União de Categoria Especial pleiteia:

2.1 - seja concedida medida liminar para determinar a imediata suspensão dos efeitos do Acórdão prolatado pelo Tribunal Militar, autos 7-57.2005.7.12.0012, até o julgamento final deste writ;

2.2 - no mérito, a concessão definitiva da ordem de Habeas Corpus em decisão colegiada desta ínclita Corte Suprema determinando-se com fundamento na Lei 11.719/08, que alterou o Código de Processo Penal comum, a realização de novo interrogatório ao final da instrução criminal para possibilitar a contradição a todas provas produzidas, e, também, a realização de nova audiência para oitiva de testemunhas com a presença dos Assistidos; e,

3 - que as intimações desta Corte Suprema sejam feitas ao Defensor Público-Geral Federal - DPGF - que tem atuação permanente neste egrégio Tribunal observando-se as prerrogativas previstas no art. 44, incisos I e VI, da Lei Complementar 80/1994, de receber intimação pessoal e de contagem em dobro de todos os seus prazos”.

Examinada a matéria posta à apreciação, DECIDO. 6. Neste exame preambular, a exposição dos fatos e a verificação das circunstâncias

presentes e comprovadas na ação conduzem ao deferimento da medida liminar requerida, pela plausibilidade jurídica dos argumentos expostos na inicial.

7. A pretensão da Impetrante é de seja o interrogatório do Paciente, acusado de prática de crime militar realizado ao final da instrução, nos termos do art. 400, do Código de Processo Penal, alterado pela Lei 11.719/2008.

8. A decisão do Superior Tribunal Militar, indeferindo requerimento de interrogatório do Paciente ao final da instrução, parece destoar do entendimento neste Supremo Tribunal, no sentido da aplicação do art. 400, do Código de Processo Penal, alterado pela Lei 11.719/2008, aos delitos disciplinados pela legislação especial. Nesse sentido:

“PROCESSUAL PENAL MILITAR. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS.

ESTELIONATO – ART. 251 DO CÓDIGO PENAL MILITAR. INTERROGATÓRIO NO

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ÂMBITO DA JUSTIÇA MILITAR. ATO A SER REALIZADO AO FINAL DA INSTRUÇÃO CRIMINAL. NÃO INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE. APLICAÇÃO DA LEI Nº 11.719/2008, QUE DEU NOVA REDAÇÃO AO ART. 400 DO CPP. MÁXIMA EFETIVIDADE DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA (CF, ART. 5º, LV). PRECEDENTE DO PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (AÇÃO PENAL Nº 528, PLENÁRIO), QUE DETERMINOU A APLICAÇÃO DO NOVO RITO AOS PROCESSOS REGIDOS PELA LEI ESPECIAL Nº 8.038/90. UBI EADEM RATIO IBI IDEM JUS. ORDEM CONCEDIDA.

1. O art. 400 do Código de Processo Penal, com a redação dada pela Lei nº 11.719/2008, fixou o interrogatório do réu como ato derradeiro da instrução penal, prestigiando a máxima efetividade das garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa (CRFB, art. 5º, LV), dimensões elementares do devido processo legal (CRFB, art. 5º LIV) e cânones essenciais do Estado Democrático de Direito (CRFB, art. 1º, caput), por isso que a nova regra do Código de Processo Penal comum também deve ser observada no processo penal militar, em detrimento da norma específica prevista no art. 302 do Decreto-Lei nº 1.002/69, conforme precedente firmado pelo Pleno do Supremo Tribunal Federal nos autos da Ação Penal nº 528 AgR, rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. Em 24/03/2011, DJe-109 divulg. 07-06-2011, impondo a observância do novo preceito modificador em relação aos processos regidos pela Lei Especial nº 8.038/90, providência que se impõe seja estendida à Justiça Penal Militar, posto que ubi eadem ratio ibi idem jus.

2. Em situação idêntica à sub examine, a Primeira Turma desta Corte deferiu os HCs 115.530 e 115.698, rel. Min. Luiz Fux, DJe de 14/08/2012, para determinar ao Superior Tribunal Militar a realização do interrogatório após o término da instrução criminal.

3. In casu, o paciente foi processado pela prática do crime de estelionato, tipificado no art. 251, do Código Penal Militar, e teve indeferido pleito no sentido de ser interrogado ao final da instrução processual.

4. Recurso em habeas corpus provido para determinar a realização de novo interrogatório do recorrente, após o término da instrução criminal, à luz da Lei nº 11.719/2008, que deu nova redação ao art. 400 do Código de Processo Penal” (grifos nossos).

9. Assim, neste exame preliminar, os elementos dos autos demonstram plausibilidade do direito alegado, porque, ao indeferir o requerimento de realização de interrogatório dos Pacientes ao final da instrução, a decisão do Superior Tribunal Militar divergiu de precedente deste Supremo Tribunal sobre a matéria.

10. Presente, também, o perigo da demora consistente na iminente execução da pena definida na Apelação n. 7-57.2005.7.12.0012.

11. Pelo exposto, defiro a medida liminar para suspender: a) os efeitos do acórdão do Superior Tribunal Militar, no julgamento da Apelação n. 7-57.2005.7.12.0012; b) o andamento da ação penal n. 7-57.2005.7.12.0012, em trâmite na Auditoria da Juízo do Conselho Permanente de Justiça para a Marinha, da Auditoria da 12ª Circunscrição Judiciária Militar, até o julgamento final do presente habeas corpus.

Comuniquem-se os termos da presente decisão ao Ministro Artur Vidigal de Oliveira, do Superior Tribunal Militar e Relator da Apelação n. 7-57.2005.7.12.0012, e ao Juízo do Conselho Permanente de Justiça para a Marinha, da Auditoria da 12ª Circunscrição Judiciária Militar.

Com os ofícios, a serem enviados com urgência e por fax, encaminhe-se cópia da inicial e da presente decisão.

12. Suficiente a instrução, vista ao Procurador-Geral da República. Publique-se. Brasília, 12 de setembro de 2014. Ministra CÁRMEN LÚCIA

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ACÓRDÃO/INQUÉRITO 3672 – RIO DE JANEIRO

Relatora: Min. Rosa Weber Ementa:

EMENTA DENÚNCIA. CRIME CONTRA A HONRA. DECADÊNCIA DO DIREITO À REPRESENTAÇÃO. PRAZO. SEIS MESES A CONTAR DA DATA EM QUE A VÍTIMA TOMOU CIÊNCIA DOS FATOS OU DE QUEM É SEU AUTOR. ALEGAÇÃO DE INÉPCIA IMPROCEDENTE. PARLAMENTAR. OFENSAS IRROGADAS QUE NÃO GUARDAM NEXO COM O EXERCÍCIO DO MANDATO. CONSEQUENTE INAPLICABILIDADE DA REGRA DO ART. 53 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. DOLO. ANÁLISE QUE, EM PRINCÍPIO, DEMANDA INSTRUÇÃO PROBATÓRIA.

1. Nos crimes de ação penal pública condicionada, a decadência do direito à

representação conta-se da data em que a vítima tomou conhecimento dos fatos ou de quem é o autor do crime. Hipótese em que, à míngua de elementos probatórios que a infirme, deve ser tida por verídica a afirmação da vítima de que somente tomou conhecimento dos fatos decorridos alguns meses.

2. Não é inepta a denúncia que descreve fatos típicos ainda que de forma sucinta, cumprindo os requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal.

3. A inviolabilidade dos Deputados Federais e Senadores por opiniões palavras e votos, consagrada no art. 53 da Constituição da Republica, é inaplicável a crimes contra a honra cometidos em situação que não guarde liame com o exercício do mandato.

4. Não impede o recebimento da denúncia a alegação de ausência de dolo, a qual demanda instrução probatória para maior esclarecimento

5. Denúncia recebida.

Decisão Preliminarmente, por maioria de votos, a Turma afastou a decadência, vencido o Senhor Ministro Marco Aurélio, Presidente. Por unanimidade, rejeitou a arguição de inépcia da denúncia. Na sequência, por maioria de votos, afastou a alegação de imunidade parlamentar e recebeu a denúncia, nos termos do voto da relatora, vencido o Senhor Ministro Dias Toffoli. Falaram: a Dra. Cláudia Sampaio Marques, Subprocuradora-Geral da República, pelo Ministério Público Federal, e o Dr. Nélio Machado, pelo investigado. Impedidos os Senhores Ministros Luiz Fux e Roberto Barroso. Primeira Turma, 14.10.2014.

Brasília, 14 de outubro de 2014. Ministra Rosa Weber Relatora

MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

POR OMISSÃO 28 – SÃO PAULO

Relatora: Min. Cármen Lúcia

DECISÃO AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO.

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA DOS POLICIAIS CIVIS E MILITARES DO SEXO

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FEMININO. ART. 40, § 1º E § 4º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. ADOÇÃO DO RITO DO ART. 12 DA LEI N. 9.868/1999. PROVIDÊNCIAS PROCESSUAIS.

Relatório

1. Ação direta de inconstitucionalidade por omissão, com requerimento de medida cautelar, ajuizada em 25.8.2014, pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – CFOAB contra o Governador e a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, “autoridades/órgãos responsáveis pela elaboração de Lei Complementar Estadual sobre os critérios diferenciados para aposentadoria dos policiais civis e militares do sexo feminino, nos termos do art. 40, §§ 1º e 4º, da Constituição Federal”.

O caso

2. O Autor alega mora legislativa “(d)o Governador (art. 24, § 2º, itens 4 e 5, da Constituição do Estado de São Paulo) e da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo no tocante à edição de Lei Complementar Estadual sobre os critérios diferenciados para aposentadoria dos policiais civis e militares do sexo feminino, nos termos do art. 40, §§ 1º e 4º, da Constituição Federal”.

Alega determinar o art. 40, § 1º e § 4º, da Constituição Federal “a adoção, pelos Estados-Membros, do regime previdenciário próprio para seus servidores, dispondo, por lei complementar, sobre a utilização de critérios diferenciados para os servidores que exerçam atividades de risco ou sob condições especiais que prejudiquem sua saúde ou integridade física”.

Afirma que “a legislação de regência do Estado de São Paulo não institui condições diferenciadas para a concessão de aposentadoria voluntária aos policiais militares e civis do sexo feminino, inobstante a própria Carta Magna oriente pela sua distinção”.

Assevera ser “manifesta, in casu, a omissão legislativa do Estado de São Paulo, visto que desde a promulgação da Constituição Federal de 1988 (art. 404, III, em sua redação original) já se previa a distinção do lapso de tempo de serviço exigido para concessão de aposentadoria entre homens e mulheres. Referida previsão restou reforçada com a promulgação da EC nº 47/2005, sobretudo após a imposição do dever de edição de lei complementar para regulamentar o tempo de serviço diferenciado para os servidores investidos em atividades de risco”.

Adverte que, “atualmente a legislação estadual de regência impõe o cumprimento de igual tempo de contribuição tanto para os agentes policiais homens como mulheres, indistintamente, em contrariedade ao texto constitucional. Nesse particular, a aposentadoria dos policiais civis, bem como dos militares, é regida pelas Leis Complementares Estaduais nºs 1.062/2008 e 1.150/2011 e o Decreto-Lei n. 260/1970. (…) Ou seja, a despeito da norma constitucional, os agentes policiais de ambos os sexos apenas fazem jus à aposentadoria (ou transferência para reserva/reforma) após, invariavelmente, o transcurso de 30 (trinta) anos de efetivo serviço” (grifos no original).

Conclui ter sido superado “lapso de mais de 25 (vinte e cinco) anos sem que o Governador do Estado de São Paulo, diante de sua iniciativa exclusiva (art. 24, § 2º, itens 4 e 5 da Constituição do Estado de São Paulo) e a Assembleia Legislativa promovessem a regulamentação do tempo de serviço diferenciado para concessão de aposentadoria aos policiais militares e civis do sexo feminino (…). Assim, quer sob a ótica socioeconômica e histórica, quer sob o ponto de vista de justiça atuarial, é imperioso distinguir homens e mulheres no tocante ao tempo de contribuição necessário para a aposentadoria, nos exatos moldes do texto constitucional inserido no art. 40, § 1º, III”.

Requer se determine: a) “ao Governador do Estado de São Paulo, bem assim à Assembleia Legislativa, que supram a mora legislativa e adotem providências para edição de Lei Complementar Estadual sobre os critérios diferenciados para aposentadoria dos policiais civis e militares do sexo feminino, no prazo máximo de 120 (cento e vinte) dias” e b) “a aplicação analógica do disposto na legislação de regência de outras unidades Federativas, conforme ilustrado nas razões acima, de modo a assegurar às policiais civis e militares a aposentadoria ou transferência à reserva/reforma após 25 (vinte e cinco) anos de efetivo serviço prestado, até a edição e entrada em vigor do respectivo diploma

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estadual”. No mérito, pede “procedência do pedido de mérito para que seja declarada a mora

legislativa do Estado de São Paulo na elaboração de Lei Complementar Estadual sobre os critérios diferenciados para aposentadoria dos policiais civis e militares do sexo feminino, em evidente afronta aos termos do artigo 40, §§ 1º e 4º, da Constituição Federal” (grifos no original).

4. Adoto o rito do art. 12 da Lei n. 9.868/1999 e determino sejam requisitadas, com urgência e prioridade, informações ao Governador do Estado de São Paulo e à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo,a serem prestadas no prazo máximo e improrrogável de dez dias.

Na sequência, vista ao Advogado-Geral da União e ao Procurador Geral da República, sucessivamente, para manifestação, na forma da legislação vigente, no prazo máximo e prioritário de cinco dias cada qual (art. 12 da Lei n. 9.868/1999).

Publique-se. Brasília, 9 de setembro de 2014. Ministra CÁRMEN LÚCIA Relatora

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RECURSO ESPECIAL Nº 1.300.270 – SANTA CATARINA

Relatora: Min. Laurita Vaz

EMENTA PENAL MILITAR. ESTELIONATO. TESE DE INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA

CASTRENSE. IMPROCEDÊNCIA. DELITO ULTERIORPRATICADO A FIM DE BURLAR A EXECUÇÃO CRIMINAL MILITAR. INEQUÍVOCA AFRONTA E CONSPURCAÇÃO DA AUTORIDADE DA SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA. EVIDENTE INTERESSE DIRETO E IMEDIATO DA JUSTIÇA MILITAR PARA PROCESSAR E JULGAR O CRIME SUBSEQUENTE. RECURSO ESPECIAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.

1. Não obstante ter sido beneficiado pela substituição da pena corporal de 01 (um) ano

de reclusão por punição alternativa, consistente na doação decestas básicas a entidade assistencial – pelo cometimento dos delitos de falsidade ideológica e de uso de documento falso em detrimento da Administração Militar –, o Recorrente voltou a delinquir ao emitir cheques sem fundo, a fim de induzir o pároco diretor da instituição filantrópica, que se beneficiaria com as mencionadas cestas básicas, a declarar, por escrito, o cumprimento da obrigação assumida junto à Justiça Castrense.

2. É evidente que a conduta delituosa em questão, a despeito de também ter atingido interesse particular civil, visou, principalmente, a burlar a execução criminal militar, o que revela inequívoca afronta e conspurcação da autoridade da sentença penal condenatória proferida pela Justiça Penal Militar, que, por isso, possui interesse direto e imediato de processar e julgar o crime subsequente.

3. Recurso especial a que se nega provimento. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da QUINTA TURMA do

Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso, mas lhe negar provimento. Os Srs. Ministros Jorge Mussi, Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro e Regina Helena Costa votaram com a Sra. Ministra Relatora.

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Brasília (DF), 19 de agosto de 2014 (Data do Julgamento). Ministra Laurita Vaz Relatora

RECURSO ESPECIAL Nº 1.133.877 – PARANÁ

Relator: Min. Nefi Cordeiro

EMENTA RECURSO ESPECIAL. EXCUÇÃO. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE.

DILIGÊNCIAS PARA VERIFCAR O REGULAR CUMPRIMENTO DA PENA. DECISÃO DESPROVIDA DE FUNDAMENTAÇÃO.

1. Embora não sejam absolutas restrições de acesso à privacidade e aos dados

pessoais do cidadão, e mesmo considerado o interesse público no acompanhamento da execução penal, imprescindível é a qualquer decisão judicial explicitação de seus motivos (art. 93, IX, da Constituição Federal).

2. Diligências invasivas de acesso a dados (bancários, telefônicos e de empresa de transporte aéreo) deferida sem qualquer menção à necessidade e proporcionalidade dessas medidas investigatórias, não propriamente de crime, mas de regular cumprimento de pena imposta. Nulidade reconhecida.

3. Recurso especial parcialmente provido. ACÓRDÃO Visto, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam

os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, dar parcial provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Marilza Maynard (Desembargadora Convocado TJ/SE), Maria Thereza de Assis Moura, Sebastião Reis Júnior (Pesidente) e Rogerio Schietti Cruz votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 19 de agosto de 2014 (Data do julgamento). Ministro Nefi Cordeiro Relator

HABEAS CORPUS 190.264 PARAÍBA

Relatora: Min. Laurita Vaz

EMENTA HABEAS CORPUS. IMPETRADO ORIGINARIAMENTE, A DESPEITO DA POSSIBILIDADE DE IMPUGNAÇÃO AO ACÓRDÃO DO TRIBUNAL A QUO POR INTERMÉDIO DE RECURSO ESPECIAL. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA (RESSALVA DO ENTENDIMENTO DA RELATORA). TRIBUNAL DO JÚRI. ALTERAÇÕES CONFERIDAS PELA LEI N.° 11.689⁄08. QUESITAÇÃO SOBRE A ABSOLVIÇÃO DO RÉU. ART. 483, INCISO III, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. ABRANGÊNCIA DE TODAS AS TESES ABSOLUTÓRIAS EM QUESTIONAMENTO ÚNICO. VOTAÇÃO DO JÚRI QUE SE ENCERRA COM A RESPOSTA AFIRMATIVA DE MAIS DE TRÊS JURADOS AO

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QUESITO EX LEGE REFERENTE À ABSOLVIÇÃO.

1. A Quinta Turma deste Superior Tribunal de Justiça firmou orientação não unânime de que é inadequado o manejo de habeas corpus se há possibilidade de impugnação ao ato decisório do Tribunal a quo por intermédio de recurso especial – a despeito do posicionamento contrário da Relatora, em consonância com o do Supremo Tribunal Federal.

2. Hipótese em que a única tese ventilada pela defesa perante o Conselho de Sentença foi a de legítima defesa.

3. Na atual sistemática do Tribunal do Júri, não há mais quesitos específicos sobre a absolvição, pois o Legislador Pátrio, ao editar a Lei n.º 11.689⁄08, determinou que todas as teses defensivas, no ponto, fossem abrangidas por uma única quesitação obrigatória (art. 483, inciso III, do Código de Processo Penal).

4. Ao concentrar as teses absolutórias no terceiro quesito do Tribunal do Júri ("o jurado absolve o acusado?"), a lógica do Legislador foi a de impedir que os jurados fossem indagados sobre questões técnicas. Assim, declarada a absolvição pelo Conselho de Sentença, com resposta afirmativa de mais de três juízes leigos à referida quesitação, o prosseguimento do julgamento para verificação de excesso doloso constituiu constrangimento manifestamente ilegal ao direito ambulatorial do Paciente.

5. Ademais, o fato de ter sido considerada a quesitação sobre excesso doloso na legítima defesa significou ofensa à garantia da plenitude de defesa, pois o novo sistema permite justamente que o Jurado possa absolver o Réu baseado unicamente em sua livre convicção, e de forma independente da tese defensiva.

6. Writ não conhecido. Ordem de habeas corpus, contudo, concedida ex officio, para absolver o Paciente, devendo o Juiz do Tribunal do Júri garantir ao Ministério Público Estadual prazo para eventual interposição do pertinente recurso.

ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do pedido e conceder "Habeas Corpus" de ofício, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Jorge Mussi, Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro e Regina Helena Costa votaram com a Sra. Ministra Relatora.

Brasília (DF), 26 de agosto de 2014 (Data do Julgamento). Ministra Laurita Vaz Relatora

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Normas para publicação

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Normas para Publicação

Considerando o contido na Portaria do Comando Geral nº 1901, de 16 de novembro de 2007, publicada no SUNOR nº 043, de 22 de novembro de 2007, que aprova as Instruções Gerais para a confecção da Revista Doutrinária da PMPE, criada pela Portaria do Comando Geral nº 633, de 04 de agosto de 1999, publicada no SUNOR nº 020, de 10 de agosto de 1999, informamos as seguintes orientações e normas para publicação de artigos:

Linhas de Pesquisas: As linhas de pesquisas prescritas na Diretriz Geral de Educação Profissional da PMPE, e que servem como balizamento para os temas dos artigos destinados a Revista DOUTRINAL, são as seguintes: I – políticas públicas de defesa social / segurança pública; II – gestão da defesa social / segurança pública; III – controle do crime – homicídios; IV – educação e formação do policial; V – polícia e direitos humanos; VI – saúde do policial.

Normas Técnicas para envio de artigo:

1) O artigo deve conter no máximo 30 (trinta) laudas, possuir resumo e 03 (três) a 05 (cinco) palavras-chave. O texto deve ser digitado em fonte arial tamanho 12 justificado, espaço entre linhas 1,5. Margens: a folha deve apresentar margem de 3 cm à esquerda e na parte superior, e de 2 cm à direita e na parte inferior. O título do artigo deve estar centralizado no texto, em negrito Arial, tamanho 12 maiúscula e o subtítulo na mesma fonte, sendo apenas os nomes próprios maiúsculos. O nome do autor digitado em itálico, posicionado abaixo e à direita do título, contendo nota de rodapé com informações acadêmicas sobre o autor. 2) As citações devem preferencialmente seguir o sistema de chamada: Autor, data: página. 3) Notas devem se restringir a itens extremamente necessários e devem vir no rodapé. 4) As citações no corpo do texto devem vir em Itálico. As citações com mais de três linhas devem vir fora do corpo do texto, com fonte Arial, Tamanho 10, espaçamento simples e recuo de 4,0 cm à esquerda. 5) Imagens podem ser publicadas desde que citadas às fontes e com as devidas autorizações, de acordo com a legislação vigente. Fica condicionada a publicação das imagens às viabilidades técnicas das mesmas. 6) O artigo enviado para publicação na Revista DOUTRINAL da PMPE, além de se enquadrar nas normas técnicas da ABNT, deve conter ao final do texto, todas as referências utilizadas na pesquisa, e deve ser digitado em formato compatível com o sistema Microsoft Word ou BR Office.

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7) O trabalho apresentado deve se configurar como contribuição original e inédita, não devendo estar submetido ao mesmo tempo a avaliação para publicação em outra revista. 8) O artigo deve ser enviado para avaliação e possível publicação através do e-mail: [email protected] 9) Além do artigo, deve ser encaminhado por e-mail, devidamente preenchido, assinado e digitalizado, o termo de autorização para publicação na Revista DOUTRINAL da PMPE. O referido termo de autorização está disponível para download na parte de normas para publicação, através do site: http://www.pm.pe.gov.br/web/pmpe/revista-doutrinal. 10) O Autor do artigo ao enviar seu trabalho para a Revista DOUTRINAL da PMPE, fica ciente de que não receberá qualquer tipo de remuneração pela publicação e divulgação do referido artigo. 11) Serão aceitos trabalhos com co-autoria, desde que todos os autores sejam identificados individualmente, conforme especificado no item 9 supra. 12) Os artigos enviados para publicação são de responsabilidade exclusiva dos autores. O conteúdo dos artigos não correspondem necessariamente, à opinião da Revista DOUTRINAL da PMPE.

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