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X EIV-SC EXPERIÊNCIA INTERDISCIPLINAR DE VIVÊNCIA CARTILHA 2017

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X EIV-SC

EXPERIÊNCIAINTERDISCIPLINAR

DEVIVÊNCIA

CARTILHA

2017

O QUE É A EIV? A Experiência Interdisciplinar de Vivência (EIV) é uma atividade que existe desde 1989, em vários estados do Brasil, tendo com o intui-to fortalecer a unidade das lutas do campo e da cidade, auxiliando na construção de outro modelo de desenvolvimento para o espaço agrário brasileiro. Em Santa Catarina existe desde 2006, e terá sua 9º edição em Abelardo Luz no início de 2016.

A estagiária e o estagiário buscam, então, apresentar a realidade camponesa a partir da experiência de famílias organizadas politicamente, estruturando-se em 20 dias, da seguinte forma:

- Formação: na qual as estagiárias e os estagiários, todos reunidos num mesmo local (geralmente um assentamento da reforma agrária), estudam as condições que levam não só o campo a organizar-se desta forma, mas as diversas formas de opressão vigentes na sociedade atual, além das alternativas existentes para superá-las – principalmente as pre-sentes na história e no presente dos movimentos camponeses;

- Vivência: as estagiárias e os estagiários são enviados separadamen-te para diversas regiões do estado de Santa Catarina, passando 10 dias na casa de uma família camponesa, conhecendo seu cotidiano a partir do trabalho nas lavouras e da convivência nos mais diversos espaços.

- Terceira etapa: as estagiárias e os estagiários retornam ao mesmo local da preparação, para compartilhar as experiências do momento an-terior e discutir formas de fortalecer na cidade as ligações com as lutas do campo.

BREVE HISTÓRICO DA EIV-SC O debate sobre a construção da 1ª EIV-SC tomou corpo no Congres-so Brasileiro de Agroecologia realizado no ano de 2005 em Florianópo-lis, alimentado por iniciativas anteriores de vivências (como os estágios nos cursos de agronomia e zootecnia que aconteciam na UFSC).

Em uma reunião das e dos militantes da FEAB (Federação de Estu-dantes de Agronomia do Brasil) que estavam no congresso constatou-se a necessidade da realização de uma EIV no estado e o papel importante que esta vivência representa no fortalecimento do movimento estudantil e na relação com os movimentos camponeses. As e os estudantes da FEAB e ABEEF de Lages (Associação Brasileira de Estudantes de Engenharia Florestal) passaram a discutir sobre a construção da EIV e a articularem--se com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra).

A 1ª EIV-SC foi realizado em janeiro de 2006, com 22 estagiárias(os). As etapas de formação e socialização aconteceram no Assentamento José Maria, no município de Abelardo Luz (SC). As vivências ocorreram em assentamentos do MST em Abelardo Luz e Campos Novos.

MÉTODO ÉTICO POLÍTICO PEDAGÓGI-CO DA EIV-SC

O espaço do Método serve para coletivamente entendermos qual a dinâmica de organização de nossas vidas construída na sociedade atual e visualizarmos a que queremos no EIV, a qual aborda uma outra manei-ra de educação, em que se tenta incorporar o aprendizado no dia a dia, legitimando os espaços formais e os outros momentos. O método que utilizamos no EIV é uma metodologia de convivência coletiva, onde é responsabilidade de todos a disciplina consciente para uma boa vivência. É o momento de firmar acordos coletivos.

Considerações

O presente texto foi resultado da elaboração conjunta da Comissão Político Pedagógica (CPP) do EIV 2017, que constantemente rediscute e aprimora o método para as EIVs subsequentes. Este método é uma adaptação da cartilha do método de aprendizagem criado pelo Instituto Educacional Josué de Castro, pois ainda que com objetivos muito próxi-mos, eles lidam com ambientes e sujeitos diferentes. O IEJC é entidade de direitos humanos sem fins lucrativos, fundada em 1979 por teóricos pernambucanos identificados com a trajetória intelectual e humanista de Josué de Castro: pernambucano que dedicou-se a compreender a origem da fome no mundo. Esperamos que o texto sirva como subsídio teórico--prático para as/os estagiárias/os durante seu percurso nas várias eta-pas do Estágio. Boa leitura!

A Experiência Interdisciplinar de Vivência sempre teve uma con-cepção de formação ampla e orientada para a constituição de militantes.

A EIV portanto, parte da premissa de reunir pessoas da cidade para conhecer empiricamente a vida de famílias de movimentos sociais do campo e, por e a partir dessa experiência, estudar diversos aspectos da sociedade e trabalhar com nossa sociabilidade na perspectiva de fortale-cer as lutas populares.

Ano após ano, trabalhou-se reflexivamente sobre os objetivos da EIV, refinando cada vez mais qual deveria ser a contribuição do estágio junto a classe trabalhadora em sua constante luta de classes.

Atualmente, pensamos que a EIV tem os seguintes objetivos:

- Conhecer, compreender os movimentos sociais do campo e quebrar preconceitos sobre eles.

- Vivenciar a prática política, econômica, cultural cotidiana dos trabalhadores rurais, rompendo com a ideia de distinção de campo e cidade.

- Compartilhar os saberes populares e acadêmicos.

- Ser um processo contínuo de formação política.

- Estimular a solidariedade e consciência coletiva, buscando des-construir o individualismo.

- Fortalecer a luta histórica da classe trabalhadora, em espe-cial sua articulação com os movimentos sociais populares, visando a emancipação humana.

- Estimular a participação de pessoas de diversas instituições de ensino, movimentos populares, sindicatos, coletivos, associações co-munitárias e independentes.

- Formar politicamente as(os) estudantes para disputar, dentro da universidade a construção de conhecimento científico, artístico, tecnológico emancipatório junto à classe trabalhadora, bem como toda a gama de recursos econômicos, estruturais da Universidade Pública, para esse fim.

Em primeiro lugar, a EIV, enquanto atividade organizada em torno da experiência empírica, não pode abrir mão da própria realidade. É funda-

mental trazer a compreensão básica de assuntos como economia política, questão agrária, conjuntura, formação socioeconômica do país, histórico dos movimentos sociais, questões de gênero e etnicorraciais, dentre ou-tros. Todos dizem respeito à realidade na qual as vivências do estágio se desenvolvem, e sem uma percepção do funcionamento de cada uma dessas esferas e suas mútuas relações, as experiências vividas podem não proporcionar o acúmulo político visado.

Em segundo lugar, é fundamental compreender que os movimen-tos sociais do campo são compostos por uma ampla heterogeneidade de pessoas, com objetivos e princípios em comum. Na base social dos mo-vimentos podemos encontrar os mais variados tipos, desde os mais dedi-cados ao coletivo e convictos da necessidade de organização, até aqueles que não conseguiram superar a ideologia burguesa e veem o movimento como forma de se beneficiar individualmente.

Sem essa compreensão é fácil cairmos em um romantismo acerca dos movimentos e seus processos e consequentemente estaremos desprepa-rados pra lidar com tais contradições. Essa consideração em particular é importante não apenas para a adequada assimilação política da(o) estagi-ária(o), mas principalmente para orientar sua própria conduta quando em contato com as famílias. A(o) estagiária(o) na casa da família não repre-senta apenas sua pessoa, mas o coletivo da experiência interdisciplinar de vivência, com sua história e seu destino.

Para que as atividades se desenvolvam de maneira adequada, deve-mos conhecer quem são as(os) estagiárias(os) da EIV, quais suas con-cepções e anseios. Apesar de ser um estagio aberto a qualquer indivíduo interessado, devido a especificidade social e até geográfica da comissão organizadora da EIV, o estágio acaba sendo mais divulgado em ambien-tes universitários, nas principais cidades do estado, trazendo como candi-datos ao estágio, jovens, em sua maioria estudantes.

A EIV pretende trabalhar a partir de uma predisposição de cada indi-víduo e potencializá-la apontando caminhos práticos e teóricos para que as pessoas possam encaminhar-se em atividades militantes.

A sociedade de classes tem como pilares a propriedade privada, a alie-nação e a exploração do humano pelo humano. Esse caráter alienante da sociedade burguesa tende a refletir nos indivíduos um sentimento indivi-dualista e competitivo. Neste sentido, utilizamos um método pedagógico que propõe a superação do capitalismo e de seus valores. Assim, usamos a educação popular como influência pedagógica, que tem como funda-mento a construção do conhecimento através de um diálogo horizontal, onde o conhecimento da(o) educador(a) e da(o) educanda(o) devem ser levados em conta. Assim, o conhecimento é construído dialogando com a realidade e as especificidades locais. Este saber nos dá uma capacidade de intervenção na realidade e na emancipação humana.

Podemos apontar alguns fundamentos dos objetivos estratégicos do trabalho educativo na EIV:

- Transformação social; - Trabalho e a cooperação; - Diferentes dimensões do ser humano; - Valores humanistas e socialistas; - Emancipação da classe trabalhadora.

Destacam-se os elementos centrais do método que se fazem presen-tes em todo decorrer da EIV:

TRABALHO: Compreendemos o trabalho enquanto atividade orien-tada para a transformação da realidade e emancipação humana. Pelo tra-balho nos produzimos como seres sociais e culturais. As formas como produzimos nos produzem – como trabalhamos nos forma ou deforma.

AUTOGESTÃO: Forma de se organizar que visa a superação das hierarquias (buscando horizontalidade), através do exercício da proa-tividade e colaboração coletiva, rompendo com as diversas formas de autoritarismo. A(o)s estagiária(o)s são convocada(o)s a assumir coleti-vamente a condição de sujeitos do seu processo formativo. É importante ressaltar as diferentes funções dentro do processo autogestionado, onde

viventes e CPPs desempenham tarefas distintas na manutenção e formu-lação dos espaços. Não são ela(e)s que definem a grade, mas na gestão dos espaços e avaliação do processo refletem sobre a própria prática, constroem conhecimento e contribuem nas transformações do processo pedagógico da EIV.

Para cumprir tais elementos, utilizamos o princípio da organicida-de. Olhar para a organicidade é pensar nas relações entre os espaços e instâncias, em vista do bom funcionamento do conjunto. Cuidar da or-ganicidade é manter a estrutura em movimento, uma vez que a falta de compromisso de uma pessoa afetará o coletivo. Para isso, nos organi-zamos em brigadas, que reúnem as(os) estagiárias(os) em pequenos gru-pos, havendo um período de tempo-trabalho diário, que destina períodos para a realização de atividades laborais, necessárias para a manutenção do ambiente, além da avaliação dos espaços através de debates reflexivos e socialização do cotidiano. Por fim, no seio dos movimentos sociais está o elemento da mística. A mística é a alma do sujeito coletivo – seja do movimento social, seja da juventude identificada com a luta do povo – que se revela como uma paixão contagiante que nos ajuda a nos sensibilizar, aprender e estabele-cer objetivos a serem alcançados, aprender métodos para transformar a realidade e empenhar-se na tarefa de realizar os rumos traçados. A mís-tica se expressa através da poesia, do teatro, da música, de palavras de ordem, de símbolos e do resgate da memória de lutadores e lutadoras da humanidade. Neste sentido, as brigadas são responsáveis por atividades diárias que envolvem a manutenção do espaço e o fomento de memória e valores das lutas sociais, através de atividades como a mística, ornamentação, alvora-da, formatura. E também por tarefas como café da manhã, almoço, janta, limpeza da plenária e banheiros que revelam a importância do trabalho na questão de autogestão e organicidade. É formulada uma grade, onde cada brigada é responsável por uma ou mais determinada(s) tarefa(s).

Na EIV, essas atividades se dão da seguinte maneira:

- Formatura: atividade cultural, realizada todos os dias, que mistura elementos teatrais e musicais que apresentam algum aspecto cultural de cada brigada, enquanto uma identidade que se dará para o grande grupo;

- Alvorada: é o despertador do senso revolucionário, possuindo o objetivo de acordar as pessoas para que se preparem para mais um dia de atividades, de forma afetuosa;

- Ornamentação: uma forma de tirar da plenária a padronização dos espaços de aprendizado, tornando-os mais atrativos visualmente e es-pacialmente, atribuindo a plenária elementos de memória e significados relacionados a nossas lutas e realidades;

- Mística: é uma atividade de cunho mais lúdico e reflexivo, uma apresentação da brigada preparada para fomentar o que já foi descrito em tópicos anteriores, é realizada para todo o grande grupo.

O trabalho desenvolvido num formato de divisão de tarefas preten-de substituir a lógica vigente (capitalista) que se utiliza do trabalho de maneira exploratória. Neste sentido, é importante que ao utilizar um de-terminado espaço ou na prática de certas atividades, haja compreensão no esforço necessário para manter a limpeza e organização do ambiente coletivo. Por exemplo, ao utilizar o banheiro deixá-lo adequado para a/o próxima/o usuária/o.

VIVÊNCIA Durante a vivência a(o) estagiária(o) entra em contato com a reali-dade do movimento e de pessoas que dele fazem parte. Essa imersão tem o intuito de materializar problemáticas e um cenário visto em teoria na prática, servindo para desmistificar conceitos e desfazer imagens pré-fa-bricadas sobre o cotidiano dos movimentos.

O intuito da inserção é que a;o estagiária(o) observe, interaja, conhe-ça um pouco de como se dá a interação entre as pessoas e os movimentos.Entendendo a articulação do movimento,se há engajamento político das pessoas envolvidas, como o movimento influencia a vida dessas pessoas e essas pessoas influenciam a vida do movimento, como é a dinâmica do trabalho cotidiano dessas pessoas e qual a relação desses indivíduos com a terra. Dessa forma se torna mais difícil que caiamos em processos de romantização, sendo capazes de identificar as problemáticas presentes dentro também dos espaços de luta.

Além disso cabe ressaltar o papel das(os) estagiárias(os) na vivência, e sua influência no contexto onde serão inseridos. É necessário ,aqui, praticar o exercício do auto-olhar e de se colocar no lugar da(o) outra(o), uma vez que a realidade dos movimentos é distinta da nossa. Entender que carregamos concepções e visões próprias devido a nossa trajetória de vida, que portanto sujeitos com trajetórias diferentes terão entendimentos diferentes

Com isso, entendendo que a neutralidade não existe,nossas ações e não ações implicam em um posicionamento.Existe assim uma enorme responsabilidade na qual a realização de uma intervenção implica. Além disso o período da vivência é curto para trazer alterações profundas nas dinâmicas relacionais de quaisquer que sejam os grupos que estejamos inseridas(o)s, mas que transmitimos e dizemos muito através de nossas práticas.

MOVIMENTOS SOCIAIS DO CAMPO Via Campesina*

¿Que es La Vía Campesina?

La Vía Campesina es un movimiento internacional de campesinos y campesinas, pequeños y medianos productores, mujeres rurales, indíge-nas, gente sin tierra, jóvenes rurales y trabajadores agrícolas.

Defendemos los valores y los intereses básicos de nuestros miembros. Somos un movimiento autónomo, plural, multicultural, independiente, sin ninguna afiliación política, económica o de otro tipo. Las 148 orga-nizaciones que forman la Vía Campesina vienen de 69 países de Asia, África, Europa y el continente Americano.

¿Cómo fue creada La Vía Campesina?

En mayo de 1993 se llevó a cabo la primera conferencia de La Vía Campesina en Mons, Bélgica, donde fue constituida como una organi-zación mundial, siendo definidas sus primeras pautas estratégicas y su estructura. La Segunda Conferencia Internacional tuvo lugar en Tlaxcala, México, en abril de 1996; la tercera en 2000 en Bangalore, India y la cuarta en 2004 en Sao Paolo, Brasil. La quinta Conferencia daLa Vía Campesina tuvo lugar en Maputo, Mozambique, en 2008.

¿Cuál es su objetivo?

Desarrollar la solidaridad, la unidad en la diversidad entre las orga-nizaciones miembros para promover las relaciones económicas de igual-dad, de paridad de género, de justicia social, la preservación y conquista de la tierra, del agua, de las semillas y otros recursos naturales; la sobera-nía alimentaria; la producción agrícola sostenible y una igualdad basada en la producción a pequeña y mediana escala.

*Retirado do sitio <http://viacampesina.org>

Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)*

A história das atingidas e dos atingidos por barragens no Brasil tem sido marcada pela resistência na terra, luta pela natureza preservada e pela construção de um Projeto Popular para o Brasil, que contemple uma nova Política Energética justa, participativa, democrática e que atenda aos anseios das populações atingidas, de forma que estas tenham parti-cipação nas decisões sobre o processo de construção de barragens, seu destino e o do meio ambiente.

Na década de 70, foi intensificado no Brasil o modelo de geração de energia a partir de grandes barragens. As Usinas Hidrelétricas são cons-truídas em todo o país. Projetos “faraônicos” são levados adiante com o objetivo principal de gerar eletricidade para as indústrias que consomem muita energia chamadas de eletro-intensivas e para a crescente economia nacional, que passava pelo chamado “milagre econômico”, durante a di-tadura militar.

Estas grandes obras desalojaram milhares de pessoas de suas terras. Uma enorme massa de trabalhadoras e trabalhadores que perderam suas casas, terras e o seu trabalho. Muitas e muitos acabaram sem-terra, outras tantas e outros tantos foram morar nas periferias das grandes cidades. Desta realidade surge a necessidade da organização e da luta das atin-gidas e dos atingidos por barragens no Brasil, como forma de resistir ao modelo imposto.

Três focos principais de resistência, organização e luta podem ser considerados como o berço do que viria a ser o MAB anos mais tarde: Na região Nordeste, no final dos anos 70, a construção da UHE de Sobradi-nho no Rio São Francisco, deslocou mais de 70.000 pessoas, e mais tarde a UHE de Itaparica foi palco de muita luta e de mobilização popular. Na região Sul, quase que simultaneamente, em 1978, ocorre o início da cons-trução UHE de Itapúna bacia do Rio Paraná, e é anunciada a construção das Usinas de Machadinho e Ita, na bacia do Rio Uruguai, que criou um grande processo de mobilizações e organização nesta região. Na região Norte, no mesmo período, o povo se organizou para garantir seus direitos frente à construção da UHE de Tucuruí.

Todas as obras acima citadas apresentam dois fatos marcantes: a exis-tência ainda hoje, de organização popular, e, como aspecto negativo, a existência de problemas sociais e ambientais sem solução.

Nestas obras e nas demais regiões do Brasil, a luta das populações atingidas por barragens, que no início era pela garantia de indenizações justas e reassentamentos, logo evolui para o próprio questionamento da construção da barragem. Assim, as atingidas e os atingidos passam a per-ceber que além da luta por direitos, deveriam lutar por um modelo ener-gético mais justo. Para isso, seria necessária uma organização maior que articulasse a luta em todo o Brasil.

Assim, em abril de 1989 é realizado o Primeiro Encontro Nacional de Trabalhadores Atingidos por Barragens, com a participação de repre-sentantes de várias regiões do País. Foi um momento onde se realizou um levantamento global das lutas e experiências dos atingidos em todo o país. Foi então decidido constituir uma organização mais forte a nível nacional para fazer frente aos planos de construção de grandes barragens.Dois anos depois, é realizado o I Congresso dos atingidos de todo o Bra-sil - em março de 1991-, onde se decide que o MAB - Movimento dos Atingidos por Barragens, deve ser um movimento nacional, popular e autônomo, que deve se organizar e articular as ações contra as barra-gens a partir das realidades locais, à luz dos princípios deliberados pelo Congresso. O dia 14 de Março é instituído como o Dia Nacional de Luta Contra as Barragens, sendo celebrado desde então em todo o país.

Os Congressos Nacionais do MAB passaram a ser realizados de três em três anos, sempre reunindo representantes de todas as regiões organi-zadas e as decisões tomadas serviam como base para o trabalho e linhas gerais de ação.

Com o apoio de diversas entidades realizamos o 1º Encontro In-ternacional dos Povos Atingidos por Barragens, em março de 1997, na cidade de Curitiba- PR/Brasil. O Encontro Internacional contou com a participação de 20 países, dentre eles, atingidos por barragens e organi-zações de apoio. Durante o encontro, atingidos por barragens da Ásia,

América, África e Europa puderam compartilhar as suas experiências de lutas e conquistas, fazer denúncias e discutir as Políticas Energéticas, a luta contra as barragens em escala internacional, bem como, formas de defender os direitos das famílias atingidas e o fortalecimento internacio-nal do Movimento.

Do encontro, resultou a Declaração de Curitiba, que unifica as lutas internacionais e institui o Dia 14 de Março, como o Dia Internacional de Luta Contra as Barragens.

Fruto desta articulação e por pressão dos movimentos de atingidos por barragens de todo o mundo, ainda no ano de 1997, é criada na Suíça a Comissão Mundial de Barragens (CMB), ligada ao Banco Mundial e com a participação de representantes de ONGs, Movimentos de Atin-gidos, empresas construtoras de barragens, entidades de financiamento e governos. A CMB teve o objetivo de levantar e propor soluções para os problemas causados pelas construtoras de Barragens a nível mundial, bem como propor alternativas. Deste debate que durou aproximadamente três anos, resultou no relatório final da CMB, que mostra os problemas causados pelas barragens e aponta um novo modelo para tomada de de-cisões.

Em novembro de 1999 o MAB realiza seu IV Congresso Nacional, em Minas Gerais, onde é reafirmado o compromisso de lutar contra o modelo capitalista neoliberal, e por um Projeto Popular para o Brasil, onde inclua um novo modelo Energético. Foi reafirmado o método de organização de base do MAB, através dos grupos de base, instância de organização, multiplicação das informações e resistência ao modelo.

Em Junho de 2003, acontece o 1° Encontro Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens, em Brasília/DF. Em novembro do mesmo ano, a Tailândia é a sede do 2º Encontro Internacional dos Povos atingi-dos por Barragens.

*Retirado de <www.mabnacional.org.br>

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST)*

O Brasil vivia uma conjuntura de duras lutas pela abertura política, pelo fim da ditadura e de mobilizações operárias nas cidades. Como par-te desse contexto, entre 20 e 22 de janeiro de 1984, foi realizado o 1º Encontro Nacional dos Sem Terra, em Cascavel, no Paraná. Ou seja, o Movimento não tem um dia de fundação, mas essa reunião marca o ponto de partida da sua construção.

A atividade reuniu 80 trabalhadores rurais que ajudavam a organizar ocupações de terra em 12 estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Pa-raná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Bahia, Pará, Goiás, Rondônia, Acre e Roraima, além de representantes da Abra (Associação Brasileira de Reforma Agrária), da CUT (Central Única dos Trabalhado-res), do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) e da Pastoral Operária de São Paulo.

Os participantes concluíram que a ocupação de terra era uma ferra-menta fundamental e legítima das trabalhadoras e trabalhadores rurais em luta pela democratização da terra. A partir desse encontro, os traba-lhadores rurais saíram com a tarefa de construir um movimento orgânico, a nível nacional. Os objetivos foram definidos: a luta pela terra, a luta pela Reforma Agrária e um novo modelo agrícola, e a luta por transfor-mações na estrutura da sociedade brasileira e um projeto de desenvolvi-mento nacional com justiça social.

Em 1985, em meio ao clima da campanha “Diretas Já”, o MST rea-lizou seu 1º Congresso Nacional, em Curitiba, no Paraná, cuja palavra de ordem era: “Ocupação é a única solução”. Neste mesmo ano, o governo de José Sarney aprovou o Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA), que tinha por objetivo dar aplicação rápida ao Estatuto da Terra e viabi-lizar a Reforma Agrária até o fim do mandato do presidente, assentando 1,4 milhão de famílias.

A proposta de Reforma Agrária ficou apenas no papel. O governo Sarney, pressionado pelos interesses do latifúndio, ao final de um manda-

to de cinco anos, assentou menos de 90 mil famílias sem-terra. Ou seja, apenas 6% das metas estabelecidas no PNRA foi cumprida por aquele governo. Com a articulação para a Assembléia Constituinte, os ruralistas se organizam na criação da União Democrática Ruralista (UDR) e atuam em três frentes: o braço armado - incentivando a violência no campo -, a bancada ruralista no parlamento e a mídia como aliada.

Embora os ruralistas tenham imposto emendas na Constituição de 1988, que significaram um retrocesso em relação ao Estatuto da Terra, os movimentos sociais tiveram uma importante conquista. Os artigos 184 e 186 fazem referência à função social da terra e determinam que, quando ela for violada, a terra seja desapropriada para fins de Reforma Agrária. Esse foi também um período em que o MST reafirmou sua autonomia, definiu seus símbolos, bandeira e hino. Assim, foram se estruturando os diversos setores dentro do Movimento.

Anos 90

A eleição de Fernando Collor de Mello para a presidência da Re-pública, em 1989, representou um retrocesso na luta pela terra. Ele era declaradamente contra a Reforma Agrária e tinha ruralistas como seus aliados de governo.

Foram tempos de repressão contra os Sem Terra, despejos violentos, assassinatos e prisões arbitrárias. Em 1990, ocorreu o II Congresso do MST, em Brasília, que continuou debatendo a organização interna, as ocupações e, principalmente, a expansão do Movimento em nível nacio-nal. A palavra de ordem era: “Ocupar, resistir, produzir”.

Em 1994, Fernando Henrique Cardoso vence as eleições com um projeto de governo neoliberal, principalmente para o campo. É o momen-to em que se prioriza novamente a agroexportação. Ou seja, em vez de incentivar a produção de alimentos, a política agrícola está voltada para atender aos interesses do mercado internacional e gerar os dólares neces-sários para pagar os juros da dívida pública.

O MST realizou seu 3º Congresso Nacional, em Brasília, em 1995, quando reafirmou que a luta no campo pela Reforma Agrária é fundamen-tal, mas nunca terá uma vitória efetiva se não for disputada na cidade. Por isso, a palavra de ordem foi “Reforma Agrária, uma luta de todos”.

Já em 1997, o Movimento organizou a histórica “Marcha Nacional Por Emprego, Justiça e Reforma Agrária” com destino a Brasília, com data de chegada em 17 abril, um ano após o massacre de Eldorado dos Cara-jás, quando 19 Sem Terra foram brutamente assassinados pela polícia no Pará. Em agosto de 2000, o MST realiza seu 4º Congresso Nacional, em Brasília, cuja palavra de ordem foi “Por um Brasil sem latifúndio”.

Durante os oito anos de governo FHC, o Brasil sofreu com o aprofun-damento do modelo econômico neoliberal, que provocou graves danos para quem vive no meio rural, fazendo crescer a pobreza, a desigualdade, o êxodo, a falta de trabalho e de terra.

A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, representou um mo-mento de expectativa, com o avanço do povo brasileiro e uma derrota da classe dominante. No entanto, essa vitória eleitoral não foi suficiente para gerar mudanças significativas na estrutura fundiária, no modelo agrícola e no modelo econômico.

Os integrantes do MST acreditam que as mudanças sociais e econômi-cas dependem, antes de qualquer coisa, das lutas sociais e da organização dos trabalhadores. Com isso, será possível a construção de um modelo de agricultura que priorize a produção de alimentos, a distribuição de renda e a construção de um projeto popular de desenvolvimento nacional.

Atualmente, o MST está organizado em 24 estados, onde há 130 mil famílias acampadas e 370 mil famílias assentadas. Hoje, completando 25 anos de existência, o Movimento continua a luta pela Reforma Agrária, organizando os pobres do campo. Também segue a luta pela construção de um projeto popular para o Brasil, baseado na justiça social e na digni-dade humana, princípios definidos lá em 1984.

Antecedentes

O MST é fruto da história da concentração fundiária que marca o Brasil desde 1500. Por conta disso, aconteceram diversas formas de re-sistência como os Quilombos, Canudos, as Ligas Camponesas, as lutas de Trombas e Formoso, entre muitas outras. Em 1961, com a renúncia do então presidente Jânio Quadros, João Goulart - o Jango - assumiu o cargo com a proposta de mobilizar as massas trabalhadoras em torno das reformas de base, que alterariam as relações econômicas e sociais no país. Vivia-se um clima de efervescência, principalmente sobre a Refor-ma Agrária.

Com o golpe militar de 1964, as lutas populares sofrem violenta repressão. Nesse mesmo ano, o presidente marechal Castelo Branco de-cretou a primeira Lei de Reforma Agrária no Brasil: o Estatuto da Ter-ra. Elaborado com uma visão progressista com a proposta de mexer na estrutura fundiária, ele jamais foi implantado e se configurou como um instrumento estratégico para controlar as lutas sociais e desarticular os conflitos por terra.

As poucas desapropriações serviram apenas para diminuir os conflitos ou realizar projetos de colonização, principalmente na região amazônica. De 1965 a 1981, foram realizadas oito desapropriações em média, por ano, apesar de terem ocorrido pelo menos 70 conflitos por terra anualmente.Nos anos da ditadura, apesar das organizações que representavam as trabalhadoras e trabalhadores rurais serem perseguidas, a luta pela terra continuou crescendo. Foi quando começaram a ser organizadas as pri-meiras ocupações de terra, não como um movimento organizado, mas sob influência principal da ala progressista da Igreja Católica, que resistia à ditadura.

Foi esse o contexto que levou ao surgimento da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 1975, que contribuiu na reorganização das lutas campo-nesas, deixando de lado o viés messiânico, propondo para o camponês se organizar para resolver seus problemas. Além disso, a CPT teve vocação ecumênica, aglutinando várias igrejas. Por isso, o MST surgiu do traba-lho pastoral das igrejas católica e luterana.

Reforma agrária e desenvolvimento

Todos os países considerados desenvolvidos atualmente fizeram refor-ma agrária. Em geral, por iniciativa das classes dominantes industriais, que perceberam que a distribuição de terras garantia renda aos campone-ses pobres, que poderiam se transformar em consumidores de seus pro-dutos. As primeiras reformas agrárias aconteceram nos Estados Unidos, a partir de 1862, e depois em toda a Europa ocidental, até a 1ª Guerra Mundial.

No período entre guerras, foram realizadas reformas agrárias em to-dos os países da Europa oriental. Depois da 2ª Guerra Mundial, Coréia, Japão e as Filipinas também passaram por processos de democratização do acesso à terra.

A reforma agrária distribuiu terra, renda e trabalho, o que formou um mercado nacional nesses países, criando condições para o salto do desenvolvimento. No final do século 19, a economia dos Estados Unidos era do mesmo tamanho que a do Brasil. Em 50 anos, depois da reforma agrária, houve um salto na indústria, qualidade de vida e poder de compra do povo.

Depois de 500 anos de lutas do povo brasileiro e 25 anos de existên-cia do MST, a Reforma Agrária não foi realizada no Brasil. Os latifundiá-rios, agora em parceria com as empresas transnacionais e com o mercado financeiro – formando a classe dominante no campo - usam o controle do Estado para impedir o cumprimento da lei e manter a concentração da terra.

O MST defende um programa de desenvolvimento para o Brasil, que priorize a solução dos problemas do povo, por meio da distribuição da terra, criação de empregos, geração de renda, acesso a educação e saúde e produção e fornecimento de alimentos.

*Retirado de <http://www.mst.org.br/especiais/23/destaq>

Movimento de Mulheres Camponesas (MMC)*

A história de luta e organização das mulheres trabalhadoras vem se construindo e fortalecendo junto com a história da humanidade. Basta olharmos o que foram as guerras, a constituição dos povos, a participação das trabalhadoras e trabalhadores na sociedade, a conquista de direitos básicos das pessoas.

Muitas iniciativas, envolvendo algumas mulheres aconteceram para quebrar preconceitos e violências na casa (espaço privado), nas lutas so-ciais (espaço público), entre outras. Algumas destas lutas deram origem a movimentos e entidades feministas, de grande contribuição para o avan-ço da emancipação das mulheres.

Nos anos da década de 1980 se consolidaram diferentes movimentos de mulheres nos estados, em sintonia com o surgimento de vários movi-mentos do campo. Nós trabalhadoras rurais construímos a nossa própria organização. Motivadas pela bandeira do Reconhecimento e Valorização das Trabalhadoras Rurais, desencadeamos lutas como: a libertação da mulher, sindicalização, documentação, direitos previdenciários (salário maternidade, aposentadoria,...), participação política entre outras.

Com este processo, sentimos a necessidade de articulação com as mu-lheres organizadas nos demais movimentos mistos do campo. Em 1995, criamos a Articulação Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais, reu-nindo as mulheres dos seguintes movimentos: Movimentos Autônomos, Comissão Pastoral da Terra – CPT, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST, Pastoral da Juventude Rural - PJR, Movimento dos Atingidos pelas Barragens – MAB, alguns Sindicatos de Trabalhadores Rurais, Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA.

Este processo de articulação dos movimentos de mulheres e das mu-lheres dos movimentos mistos foi marcado por:

• Mobilizações: acampamentos estaduais e nacional.

• Celebração de datas históricas e significativas como o dia 08 de

março, Dia Internacional da Mulher; 28de maio, Dia Internacionl de luta pela saúde da mulher; 12 de agosto, dia nacional de luta das mulheres trablhadoras rurais contra a violência no campo e por Reforma Agrária; 7 de setembro, Grito dos Excluídos,...

• Lutas: a continuidade e ampliação dos direitos previdenciários, a saúde pública, novo projeto popular de agricultura, reforma agrária, cam-panha de documentação...

• Formação: política – ideológica, direcionada aos diferentes níveis da militância e da base.

• Materiais: elaboração e produção de cartilhas, vídeos, panfletos, folhetos e cartazes como instrumentos de trabalho para a base e para as lutas.

Toda esta bagagem trazida pelos movimentos autônomos de mulhe-res, associada aos demais movimentos, reafirmou a luta das mulheres em dois eixos: Gênero e Classe. Somos mulheres que lutamos pela igual-dade nas relações e pertencemos à classe das trabalhadoras e trabalha-dores. Nessa trajetória de luta e organização das mulheres camponesas foi sendo construída uma mística feminina, feminista e libertadora, cujo conteúdo se expressa no Projeto Popular que o Movimento está compro-metido que articula a transformação das relações sociais de classe com a mudança nas relações com a natureza e a construção de novas relações sociais de gênero.

Essa mística se expressa em símbolos do movimento e, ao mesmo tempo na práxis coletiva do movimento, quanto das mulheres campone-sas inseridas nele.

Aos poucos, os movimentos de mulheres foram se fortalecendo nos estados, avançando nas lutas específicas e gerais, na organização da base, na formação de lideranças e na compreensão do momento histórico em que vivemos. A partir desta leitura e movidas pelo sentimento de forta-lecer a luta em defesa da vida, começamos a potencializar e unificar o movimento autônomo para ter expressão e caráter nacional.

Depois de várias atividades nos grupos de base, municípios e estados e com a realização do Curso Nacional (de 21 à 24 de setembro/2003), que contou com a presença de 50 mulheres, vindas de 14 estados, repre-sentando os Movimentos Autônomos, apontamos os rumos concretos do movimento como também decidimos que terá o nome de: Movimento de Mulheres Camponesas.

Fizemos debates sobre a categoria camponês que compreende a uni-dade produtiva camponesa centrada no núcleo familiar a qual, por um lado se dedica a uma produção agrícola e artesanal autônoma com o ob-jetivo de satisfazer as necessidades familiares de subsistência e por outro, comercializa parte de sua produção para garantir recursos necessários à compra de produtos e serviços que não produz.

Neste sentido, mulher camponesa, é aquela que, de uma ou de ou-tra maneira, produz o alimento e garante a subsistência da família. É a pequena agricultora, a pescadora artesanal, a quebradeira de coco, as extrativistas, arrendatárias, meeiras, ribeirinhas, posseiras, bóias-frias, diaristas, parceiras, sem terra, acampadas e assentadas, assalariadas ru-rais e indígenas. A soma e a unificação destas experiências camponesas e a participação política da mulher, legitima e confirma no Brasil, o nome de Movimento de Mulheres Camponesas.

Consolidar o MMC, a partir da ótica feminista e camponesa é for-talecer a luta dos trabalhadores e trabalhadoras. Além disso, constituir um movimento nacional das mulheres camponesas se justifica a partir da certeza de que “a libertação da mulher é obra da própria mulher, fruto da organização e da luta”, e também:

• porque nossa militância se constitui como uma sementeira no pro-cesso de recuperação e construção de novas relações, valores e princípios apontando, para a vivência de novas práticas cotidianas;

• pela nossa capacidade de fortalecer e ampliar o trabalho de base nos diferentes Estados do Brasil;

• porque exercitamos a prática do estudo, da formação, da organiza-ção, e do trabalho de base, reforçando a luta, para além de nossos estados

e municípios e com maior intensidade do que vínhamos fazendo até aqui;

• temos o acúmulo necessário, obtido pela experiência do enfrenta-mento com o modelo neoliberal que produz, ao mesmo tempo, a opressão de gênero e a exploração de classe que fere a dignidade de mulheres e de homens, jovens e idosos, negros, brancos e indígenas;

• porque nós, mulheres camponesas, temos a capacidade de decidir e dirigir nossas ações;

• porque temos capacidade de articulação com amplo campo de en-tidades e movimentos que lutam, acreditam e possuem identidade com o Projeto Popular. Entendemos que entre os movimentos aliados há uma unidade de valores, princípios e lutas que foram sendo construídas histo-ricamente por mulheres e homens;

• porque queremos continuar no campo, produzindo alimentos, pre-servando a vida, as espécies e a natureza, desenvolvendo experiências de um Projeto popular para a agricultura, através: da agroecologia, da pre-servação da biodiversidade, do uso das plantas medicinais, da recupera-ção das sementes como patrimônio dos povos a serviço da humanidade, da alimentação saudável como soberania das nações, da

diversificação da produção, da valorização do trabalho das mulheres camponesas.

• Através da unidade nacional daremos visibilidade às ações e lutas das mulheres que está em permanente construção.

• Porque entendemos que é necessário avançar na continuidade das lutas específicas e gerais, enfrentando o sistema neoliberal e ao machis-mo que explora as mulheres e a classe trabalhadora;

• Queremos avançar no processo de formação e construção de nossa identidade enquanto mulher, enquanto camponesa e enquanto Movimen-to Social. Fortalecer e ampliar a história de luta das mulheres trabalhado-ras do Brasil, América Latina e mundial.

* Retirado de <http://www.mmcbrasil.com.br/menu/historia.html>

Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)*

O MPA é um movimento camponês, de caráter nacional, popular, massivo, autônomo, de luta permanente, integrado a Via Campesina. É um movimento sócio territorial, pois tem a vida na terra como motivo de sua existência, a essa razão estão associadas outras condições, como o trabalho, a organização, a produção e a resistência.

Nasce na década de 90 as políticas neoliberais começam a ser imple-mentadas e seus resultados não tardam a atingir o campesinato. Como as organizações sindicais neste momento já não respondiam as necessida-des das e dos camponeses, no ano de 1996 nasce o MPA, como forma de enfrentamento as políticas capitalistas implementadas no campo.

Organizando-se pra resgatar a identidade e a cultura camponesa, respei-tando as diversidades locais, regionais e também o protagonismo dos su-jeitos que o compõe.

Sua tarefa é despertar e organizar a classe camponesa para que tome consciência de sua situação, do seu potencial se tiver organizado e assu-ma a sua tarefa histórica que é produzir comida respeitando a natureza e cultivando principalmente as tradições culturais camponesas.Seu inimigo principal é a burguesia nacional e internacional já que estas estão interligadas, o agronegócio, o latifúndio e a propriedade privada, o capital financeiro e especulativo, que tem por função explorar os recur-sos ambientais/minerais, mão-de-obra, tecnologia e o território visando apenas o lucro.

Luta por soberania alimentar, com objetivo de produzir comida sau-dável e vida de qualidade no campo e cidade. O cuidado e preservação da natureza e biodiversidades da fauna e da flora. O direito das e dos cam-poneses de produzir, consumir, industrializar e comercializar os produtos oriundos da terra. Por crédito subsidiado para produção de comida. Terra para camponeses sem terra e com pouca terra, como forma de resistência. Acesso as políticas públicas de educação, saúde, seguro agrícola, crédito, moradia, preços garantidos, assistência técnica, previdência, estruturação das comunidades camponesas.

O MPA está organizado em 17 estados brasileiros em grupos de fa-mílias nas comunidades sendo a principal instância da organização e de tomada de decisões. Destes tira-se as coordenações regionais, estaduais e nacionais, sua tarefa é dar a linha política e apontar os caminhos para onde deve seguir a organização. As direções têm a tarefa de garantir a aplicação das decisões tomadas pela coordenação, tendo como rumo a direção coletiva. Já os coletivos não são instâncias de decisões e estão subordinadas as decisões dos encontros.

*Retirado de <http://mpabrasil.org.br/>

Comunidades quilombolas*O atual processo de reconhecimento e titulação das comunidades

remanescente de quilombos no Brasil tem gerado grande número de con-flitos agrários, o que exige dessas populações uma articulação cada vez maior. Evidentemente que tais conflitos sempre existiram no país, em maior ou menor medida, mas atualmente têm adquirido outras formas, principalmente a partir dos direitos conquistados por esses grupos desde a Constituição de 1988.

Durante o período pré-abolição, acontecida em 1888, os grupos de proprietários fundiários brasileiros tentaram dificultar ainda mais o aces-so a terra no País. A lei de terras no Brasil, que data de 1850, foi um marco deste processo, garantindo o acesso à propriedade apenas para os integrantes dos grupos hegemônicos. A forma da propriedade fundiária no Brasil foi construída historicamente como latifúndio e nunca no país foi realmente empreendida uma ampla reforma agrária. Por isso, já em 1850, a Lei de Terras teve como tarefa primordial conceituar a nova de-nominação da terra, terras devolutas, a qual significava as legalmente não adquiridas, terras sem direito de propriedade definido.

Mais uma vez a “mera” ocupação de fato não gerava domínio que exigia o título do Estado ou o reconhecimento de um título anterior, ou ainda o uso público. [...] A segunda providência seria estabelecer como se dariam as concessões de terras. Passou o artigo primeiro a estabelecer que seria por meio de compra. Não raro na história agrária brasileira, as duas providências afastaram o pobre da terra, premiando o latifúndio e estabelecendo uma cruz histórica: a condenação do povo brasileiro à mi-séria e à fome (CROCETTI; GUTERRES, 2008). Depois de séculos de escravidão a abolição foi feita no País sem nenhum tipo de indenização à população que mais sofreu com a antiga forma de relações sociais no Brasil.

A forma com que governos e elites empreenderam o processo abo-licionista no País desenvolveu uma série de problemas sociais, dos quais vivemos atualmente suas conseqüências. Para compreendermos o que re-

presentam as comunidades remanescentes de quilombos hoje no Brasil, assim como sua mobilização e o contexto de disputas no qual estão inse-ridas, temos que retomar o histórico de expropriação e espoliação vivido pela população negra no país.

Depois da abolição foram negados ao negro o acesso a terra e a grande parte dos empregos nas grandes cidades. Das novas relações ca-pitalistas que se desenvolveram no Brasil, no início do século XX, a(o) negra(o) foi incluído de forma subalterna e subsumida (FERNANDES, 1964).

Dos quilombos anteriores à abolição aos formados depois de seu advento não se viram muitas diferenças. Em sua maioria eram comuni-dades rurais que se denominaram ou foram denominadas como “terras de pretos” e/ou “terras de quilombos”. Essas comunidades viviam, em grande parte, da plantação de subsistência ou da extração de recursos naturais para seu sustento.

Uma das possíveis definições para as “terras de pretos” foi elabo-rada por Almeida por ocasião de 1988: As denominadas terras de preto compreendem aqueles domínios doados, entregues ou adquiridos, com ou sem formalização jurídica, a famílias de ex- escravos a partir da de-sagregação de grandes propriedades monocultoras. Os descendentes de tais famílias permanecem nessas terras sem proceder ao processo formal de partilha e sem delas se apoderarem individualmente. […] São também alcançadas pela expressão terras de preto aqueles domínios ou extensões correspondentes aos quilombos que permaneceram em isolamento rela-tivo, mantendo regras de direito consuetudinário que orientavam uma apropriação comum dos recursos.

Localizáveis em regiões do Norte de Goiás São Paulo, Maranhão e Minas Gerais, caracterizam-se pela mobilização em confronto (ALMEI-DA. 1988 apud RATTS, 2000, grifo nosso). Dos cem anos que distan-ciam a abolição da atual Constituição Federal (1988), foram muitas as mudanças – e algumas permanências, no entanto – empreendidas nos projetos de desenvolvimento nacional. Dessas continuidades o Brasil as-

sumiu uma forma específica de desenvolver o capitalismo internamente, o que o fez, em contrapartida, assumir uma posição subalterna frente ao capitalismo mundial (OLIVEIRA, 1988).

* Retirado de <http:// www.uel.br/grupo-pesquisa/gepal/terceirosimpo-sio/angeladomingos.pdf>

Comunidades Indígenas* Talvez muita gente ainda não tenha percebido, mas há uma mudança gi-

gantesca no processo de luta dos povos originários do Brasil. A primeira delas é a vertiginosa desvinculação da igreja, que, de certa forma, sempre foi a mais importante presença no processo. Num primeiro momento, como opressora número um, ajudando os portugueses no massacre aos povos novos. Depois, com a ação dos jesuítas nas famosas missões, houve uma mudança no trato e o objetivo era evangelizar, respeitando alguns aspectos culturais e a vida. Mais tarde, já no século XX, atuando como parceira no trabalho de manutenção da cultura e divulgação das denúncias necessária através do Conselho Indigenista Missionário.

Também houve um momento na história do século XX em que uma série de Organizações Não Governamentais, brasileiras e estrangeiras, se uniram ao trabalho que já vinha sendo feito pelo CIMI e passaram a atuar no processo de organização das comunidades para que a cultura fosse preservada e as terras demarcadas. Coisas boas e coisas ruins assomaram nesse período e foi um lento aprendizado para os povos originários.

Mas, desde há algum tempo houve uma viragem. A caminhada em comu-nhão com as igrejas e as ONGs proporcionaram muitos saberes sobre como lidar e viver no mundo dos não-índios. E nesse caminhar, os indígenas foram descobrindo que já tinham todas as condições de atuarem por eles mesmos. Não precisavam de mediações. Parceiros na luta sim, mas não mais de mediações. E, assim, do seio dos povos ainda existentes, foi brotando outra vez a velha forma de organização da vida, que estivera sempre na memória. Era o tempo de cria-rem entidades organizadas e dirigidas por eles mesmos. E assim, nos anos 80 do século XX começou – devagar – essa mudança de rumo. Associações, Coor-denações, Confederação. Coisa já conhecida desde antes da chegada de Cabral.

Assim, os povos indígenas passaram a atuar no campo da luta por direitos

e território, em instituições constituídas à maneira não-índia, capaz de dialogar e compreender o intrincado mundo dos brancos, com suas leis e o falso estado de direito. Se era necessário o combate no campo da lei, para ele deveriam marchar com armas capazes de serem eficazes também nesse mundo. Hoje, são muitas as associações que organizam as lutas, formação e debates sobre a reali-dade indígena em todo o país.

Essas entidades organizativas dos povos indígenas caminham em articu-lação com a organização original, histórica e tradicional dos que ainda vivem nas aldeias. É um bem elaborado bailado de ligações entre o secreto que sobre-vive na aldeia, e as batalhas que precisam ser travadas no mundo não-índio. Ou seja, as populações originárias estão avançando no seu processo organizativo de maneira autônoma e soberana, com uma forma de organizar que é bastante singular, única, totalmente articulada entre a tradição, a cosmologia e realidade de viver num mundo dominado pelo não-índio.

Toda essa mudança no modo de ser dos povos indígenas na relação com o Estado aparece em situações bastante específicas e cada vez mais. Uma delas se explicitou bem aqui, na grande Florianópolis, quando a comissão de notáveis brancos da CPI da Funai veio entrevistar as lideranças da Aldeia Itaty, do Morro dos Cavalos. Segundo os deputados que solicitaram a CPI, os indígenas que ali vivem, não estavam naquele lugar em outubro de 1988, logo, não teriam direito de ter aquelas terras demarcadas.

Na audiência, o cacique Guarani respondeu a todas as perguntas na sua língua original. Já basta de desrespeito com as gentes indígenas. Já basta do tempo em que se torturava um homem ou uma mulher originária para falar uma língua que não era conhecida. É tempo de os não-índios que quiserem realmente estabelecer um diálogo com os povos indígenas saberem que eles falam uma língua específica e que ela precisa ser conhecida e respeitada. Essas línguas estão vivas e são o sustentáculo da cultura de cada povo. O pessoal da CPI saiu incomodado, o que mostra que não há mesmo nenhuma boa vontade em ouvir e compreender a realidade indígena. As pessoas já vêm com ideias pré-con-cebidas. No caso do Morro dos Cavalos, os Guarani estavam ali sim, antes de outubro de 1988. Mas, se não estivessem , isso só teria acontecido por conta da expulsão promovida pela invasão de colonos. Isso é história comprovada. Logo, aquela terra é deles por direito.

Outro caso, bem pior, aconteceu no Mato Grosso do Sul, onde numa tam-bém sessão da CPI da Funai - que é nacional – a liderança Terena, Paulinho

Silva, também optou por fazer o depoimento na sua língua original, já que não tinha um bom domínio do português, e isso poderia fazer com que ele não con-seguisse expressar o que precisava ser dito. Foi um alvoroço. Os deputados e outros integrantes da mesa se colocaram contrários a esse direito que é asse-gurado ao indígena. E tanto que colocaram um vídeo no qual Paulinho fala em português e ainda abriram uma queixa crime contra ele. Ora, ainda que ele saiba falar português, essa não é sua língua mátria, e é nela que ele consegue tornar mais claro o que tem a dizer. Ele tem o direito de falar na sua língua. Mas, não. Agora, há um boletim de ocorrência contra o Terena, ele vai ter de prestar esclarecimentos à Justiça e pode ser condenado por crime. O mundo de ponta cabeça. A vítima passando a criminoso em um toque de mágica. E tudo isso num estado onde sistematicamente os fazendeiros matam índios, estupram mulheres, e usam jagunços para aterrorizar as aldeias, sem que nada lhes aconteça.

Mas, para os povos originários, essa é uma batalha antiga. Muitas fases já passaram, desde a tutela até a autonomia que vão construindo aos trancos e barrancos. Saíram de uma linha de quase extermínio, quando chegaram a pouco menos de 150 mil pessoas, para quase um milhão de almas que hoje se expres-sam, se organizam e crescem. O movimento indígena não é mais o mesmo. Ele se fortalece e se revigora. Isso não significa que as coisas vão mudar de uma hora para outra. Isso tudo é um processo. Significa que há mudanças substan-ciais, que há autonomia, que há organização soberana, que há orgulho da língua, que há conhecimento de direitos.

É chegada a hora de as escolas começarem a ensinar também o Guarani, Tupi, Terena, Apinajé, Xokleng, Kaigang e tantas outras línguas que confor-mam as mais de 300 comunidades indígenas que vivem no Brasil. Porque os povos estão orgulhosamente falando suas línguas e lutando pelo seu território, que, na cosmovisão originária, é o espaço pleno da cultura – não apenas terra, mas universo totalizante do seu modo de ser.

Os indígenas brasileiros estão em plena caminhada de transformação. E, como já anunciaram os parentes de Chiapas, no distante 1994: “Já basta! Nunca mais o mundo sem a gente”. Assim é. A luta pelo território continua e cresce.

* Retirado de <http://iela.ufsc.br/povos-originarios/noticia/o-novo-movimento--indigena-brasileiro>

ESPAÇOS DE FORMAÇÃO Como Funciona a Sociedade

O Curso Como Funciona a Sociedade é um dos eixos centrais e um espaço norteador do EIV, filosoficamente e ideologicamente, por se in-terrelacionar com os objetivos do EIV e dar um primeiro subsídio para compreensão dos outros espaços.

Esse espaço visa trazer uma compreensão da estrutura econômica da sociedade na leitura de autores socialistas e como ela permeia em nossas relações sociais, buscando mostrar a essência do capitalismo e trazendo palavras chave e conceitos norteadores, como por exemplo, a mais valia, exploração, Estado, classe trabalhadora, etc.

Questão agrária

O EIV existe justamente por conta do interesse dos estudantes da cidade em compreender a questão agrária, portanto o espaço tem como objetivo a compreensão de como se dá a organização do campo hoje, a partir do histórico dos movimentos da luta camponesa.

Para melhor entendimento do desenvolvimento político histórico da questão agrária, alguns elementos chave devem ser abordados, como a divisão fundiária, lei de terras, agronegócio, como o espaço geográfico brasileiro se distribuiu historicamente e como isso reflete até hoje.

Agroecologia

A agroecologia é uma das bandeiras mais pautadas pelos movimen-tos sociais do campo por ser um modelo de agricultura que contrapõe ao agronegócio. O objetivo do espaço é introduzir melhor o conceito de Agroecologia, expondo a ligação dos conceitos ambientais com a rela-ção social dos próprios agricultores, explicitando paralelamente os dois modelos de agricultura existentes e esclarecendo conceitos importantes como monocultivo, transgênicos, agrotóxicos. É necessário desmistificar

a agroecologia, que hoje é vista de forma romantizada, mas que na rea-lidade tem diversos fundamentos científicos e muitas dificuldades de se colocar em prática na sociedade capitalista.

Análise de conjuntura

A análise de conjuntura engloba a necessidade da compreensão do contexto histórico que ela passou e como ela se encontra hoje, para então orientar decisões e permitir decisões lúcidas de acordo com a realidade.

O espaço de análise de conjuntura serve para entender sua impor-tância e aprender como fazer uma com elementos coerentes e canais de comunicação seguros, instrumentalizando as(os) estagiárias(os) a traba-lharem com tudo isso, podendo fazer análises de conjuntura tanto nacio-nais como internacionais.

América Latina

Espaço com objetivo de ampliar a perspectiva histórica e a atual conjuntura dos povos latino americanos, resgatando e elencando as di-versas experiências de enfrentamento ao modo de produção capitalista.

Saúde

A partir da realidade das lutas pelo direito à saúde, o espaço tem o intuito de mostrar que a saúde é um direito do ser humano e que nem sempre foi garantido. A garantia do acesso à saúde historicamente sem-pre foi através de diversas resistências e lutas, como por exemplo a Re-forma Sanitária, o SUS na constituição e contra a EBSERH, que entra-vam o processo com que a saúde pública vem sofrendo através de sua mercantilização.

Para compreender porque o acesso à saúde é um direito, deve-se fazer um apanhado histórico, trazendo a percepção de conceitos como por exemplo, a abordagem de “o que é saúde”, a qual não é só a cura da doença e que também lida com a realidade de cada pessoa.

Em relação a saúde no campo, diversos problemas são encontrados, principalmente em relação ao uso do agrotóxicos, modo de vida de agri-cultores e o próprio acesso à saúde, que muitas vezes é escasso.

Opressões

É necessário que se entenda como a nossa sociedade é opressora, além de buscar de onde surge a opressão, pra que(m) serve e como po-demos combate-la. Para isso, deve-se fazer um apanhado histórico sobre a complexidade das opressões e suas especificidades e, como hoje, elas contribuem como fator estruturante de nossa sociedade.

Gênero - vivemos em uma sociedade patriarcal que há mais de 5.000 anos explora o corpo e trabalho de mulheres. A desigualdade de gênero é mantida no sistema capitalista, trazendo assim a jornada tripla para grande parte das mulheres que fazem funções domésticas, maternais e estão no mercado de trabalho. Além disso os abusos as mulheres são di-ários e normalizados nesta sociedade em que vivemos. Entendemos que mulheres são também aquelas que se reconhecem como e podem ser tão abusadas quanto as do sexo biológico, de outras formas pela sociedade machista em que estamos inseridas.

Raça e etnia- As condições históricas da inserção do negro na socie-dade brasileira são elementos facilitadores do controle e exclusão políti-ca. Escravos na colônia e no império, sustentáculos do desenvolvimento econômico brasileiro durante décadas, foram jogados no seio de uma sociedade fundada em bases secularmente racistas. Libertos foram prete-ridos do mercado formal de trabalho em nome de um projeto elitista de branqueamento do país. Tiveram que disputar com o imigrante europeu até mesmo as mais modestas oportunidades de trabalho livre, como a de engraxate, jornaleiro ou vendedor de frutas e verduras, transportadores de peixe e carregadores de sacas de café, etc. as mulheres negras garan-tiram a sobrevivência da família trabalhando, ontem como hoje, como domésticas, faxineiras, babás, doceiras, cozinheiras, lavadeiras e outras atividades similares. Essa desigualdade que vivenciamos hoje deve ser muito debatida para entendendo combatermos o racismo estrutural.

Movimentos sociais (MST, MAB, MPA, MMC)

A apresentação dos movimentos sociais do campo tem como objeti-vo passar aos estagiárias(os) os aspectos principais de cada movimento, como seu resgate histórico, como se dá sua organização, lutas e pautas, análises da conjuntura atual, concepção política e etc.

Apresentação dos indígenas e quilombolas da vivência

Esse espaço é apresentação das comunidades em que as(os) estagi-árias(os) vão para vivência e entender as especificidades das comuni-dades, sua história,cultura e sua luta pela terra. Além disso entender sua articulação frente aos ataques pela perda do direito a terra.

Criminalização dos Movimentos Sociais

O Estado burguês, como exercício de manutenção da ordem, lança mão de inúmeras formas de repressão. O espaço tem como objetivo de apresentar como e porquê os movimentos reivindicatórios são reprimidos pelos aparelhos do Estado e qual é o arsenal jurídico que existe contra a classe trabalhadora e que está sempre sendo aumentado, criminalizando todo e qualquer tipo de movimento, pois, para o capital, crime é incitar a luta de classes e voltar-se contra o Estado capitalista. Assim, podemos compreender o que é a criminalização e a falsa ideia de que o Estado é neutro e que portanto, a legislação também seria, o que, na prática, se mostra bem ao contrário.

Teatro do oprimido

Desenvolver através de movimentos corporais e dinâmicas teatrais, novas formas de expressão que adentram todas as dimensões e sentidos, despertando a sensibilidade a determinados temas relacionados a opres-sões. Assim, criando uma outra forma de ensino e aprendizado, onde se aprende no movimento e na criação de possibilidades para romper com a opressão.

Envio

O envio é o momento de fechamento da primeira etapa. A CPP tem o papel fundamental de amparar os estagiárias(os) para a vivência, pre-parando e motivando-os para a próxima etapa, a partir de conversas sobre os próprios objetivos do EIV, em que entram a não-intervenção, como se comportar na vivência, o que fazer na vivência em diversas situações, etc.

Chegada

Momento de acolhimento dos estagiárias(os) que vem da vivência, reorganização e preparação para próxima etapa.

Relato das vivências

Esse é o momento que possibilita todos os estagiárias(os) compar-tilharem os relatos e experiências da vivência, de forma sistematizada, apresentando principalmente as percepções que tiveram dos movimentos a partir das vivências. Assim, todos podem conhecer minimamente as experiências de todos, já que as vivências são em um movimento apenas.

Troca de experiências

Espaço para conhecer iniciativas de estudantes e trabalhadores em movimentos, projetos, entre outros, que tenham coerência com a propos-ta política do EIV, como exemplo para atuar após o EIV.

Campo e cidade

Após a vivência e dos elementos que são trazidos dela sobre o cam-po, é necessário um entendimento da relação direta do campo e a cidade. Abordando como a cidade historicamente surgiu, como se diferenciou do campo, como ela se apresenta hoje e como ela é alimentada.

Para além da diferenciação de campo e cidade, entender a interde-

pendência deste e o porquê de existir essa dicotomia, visando descons-truí-la a partir do “pra quem serve” essa dicotomia.

Obviamente que o campo e a cidade tem características distintas, porém há um processo histórico por trás, como por exemplo, hoje a co-locação do Brasil como país agroexportador na divisão internacional do trabalho afeta na condição da divisão entre campo e cidade.

Juventude da Via Campesina

Apresentação de como a Via Campesina se organiza enquanto ju-ventude e o que é a juventude nos movimentos sociais.

Processo de consciência

O objetivo do espaço é oportunizar que os estagiárias(os) se ques-tionem como se deu o processo de consciência de cada um, como chegou até esse ponto e então entender o processo de consciência como indi-vidual e, principalmente, coletivo. Tudo é um processo. Um processo dialético e não linear.

A caminhada individual se dá conjuntamente com a coletiva, no processo de construção da consciência revolucionária, partindo da teoria de que todos têm consciência, porém estas têm formas distintas a partir das relações sociais que aquela pessoa vivencia, resultando em processos completamente diferentes.processo de construção da consciência revolu-cionária todos têm consciência, mas todas têm forma. a partir das rela-ções sociais é um processo dialético não linear e que na prática pode se dar de várias maneiras.

Mídia

O aparato midiático, assim como a superestrutura da sociedade capi-talista, cumpre um papel de reprodução da ideologia dominante, visando a manutenção da ordem vigente. Para entender melhor a mídia e o que ela é hoje no Brasil, o espaço tem como objetivo de explicitar como a mídia

brasileira se constitui em monopólios e como essa relação se dá na reali-dade. Está, em que a propaganda de mercado é passada como um modo de vida, fazendo com que a opinião pública seja política e manipulada e a forma como a mídia é instigadora de violência.

Tecendo a resistência

Espaço de apresentar as organizações políticas que compõem e constroem a EIV com o intuito de os estagiárias(os) conhecerem e enten-derem seus programas, métodos e práticas, trazendo um debate do que é uma organização política e para que serve.

Avaliação

Esse é o momento de refletir sobre o que se passaram nos 20 dias de EIV e o que e realmente a EIV, pensando sobre sua importância e qual o papel que cumpre essa ferramenta do movimento estudantil. E o espaço de visualizar seus prós e contras, buscando entender como podemos me-lhorá-lo, a partir de críticas construtivas dos próprios sujeitos que parti-cipam da experiência.