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61 Bahia Agríc., v.7, n.1, set. 2005 *Engenheiro Agrônomo, M.Sc., Economia Agrícola ESALQ-USP e Superintendente de Política do Agronegócio da SEAGRI-BA; e-mail: [email protected]. O autor agradece às técnicas Ana Paula Alcântara, Cláudia Caldas e Rosângela Barbosa pela sistematização dos dados, pelas críticas e pela atenção na revisão dos textos. Os erros e eventuais omissões são, no entanto, de inteira responsabilidade do autor. João Aurélio Soares Viana* Exportações do agronegócio baiano: um sinal de competitividade ão são raros na literatura especializada os estudos que destacam a importância que o agronegócio vem desempenhando na economia baiana (COUTO FILHO,2005; VIANA, 2005). Embora este seja o principal sinal de vitalidade de um segmento econômico, é prudente que se investigue, também, o seu grau de competitividade, como forma positiva de contribuir com a discussão do seu futuro. Sobre a importância do agro- negócio para a formação do PIB baiano, cabe tão apenas recolher uma das conclusões de Guilhoto (2004), patrocinado pela Secretaria de Agricultura da Bahia, no qual ele estima que essa contribuição saltou de 22,92 %, em 1996, para 31,68 %, em 2004 (Tabela 1). Os números encontrados em Guilhoto (2004) destacam que a contribuição do agronegócio no PIB total do Estado, além de demonstrar peso importante, tem apresentado um crescimento contínuo, ao longo dos últimos nove anos (exceção para o ano 2004, que apresentou uma discreta redução de 0,50 pontos percentuais, em relação a 2003), tendência que parece não ter o caráter sazonal. Demonstrada, portanto, a importância do agro- negócio para a economia baiana, interessa averiguar o perfil de sua competitividade. Para tanto, entendeu-se o grau de inserção internacional como um dos indi- cadores de competitividade do agronegócio baiano. Assim, o foco deste artigo estará voltado para avaliar o desempenho recente das exportações do agronegócio baiano, buscando-se, a partir daí, elementos analíticos que possibilitem relacionar inserção no mercado externo e competitividade. N Foto: Silvio Ávila - Arquivos Gazeta Anuários Exportações do agronegócio baiano: um sinal de competitividade

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Bahia Agríc., v.7, n.1, set. 2005

*Engenheiro Agrônomo, M.Sc., Economia Agrícola ESALQ-USP e Superintendente de Política do Agronegócio da SEAGRI-BA; e-mail: [email protected] autor agradece às técnicas Ana Paula Alcântara, Cláudia Caldas e Rosângela Barbosa pela sistematização dos dados, pelas críticas e pela atenção narevisão dos textos. Os erros e eventuais omissões são, no entanto, de inteira responsabilidade do autor.

João Aurélio Soares Viana*

Exportações doagronegócio baiano: umsinal de competitividade

ão são raros na literaturaespecializada os estudos quedestacam a importância que

o agronegócio vem desempenhandona economia baiana (COUTOFILHO,2005; VIANA, 2005). Emboraeste seja o principal sinal devitalidade de um segmentoeconômico, é prudente que seinvestigue, também, o seu grau decompetitividade, como forma positivade contribuir com a discussão do seufuturo.

Sobre a importância do agro-negócio para a formação do PIBbaiano, cabe tão apenas recolheruma das conclusões de Guilhoto(2004), patrocinado pela Secretariade Agricultura da Bahia, no qual eleestima que essa contribuição saltoude 22,92 %, em 1996, para 31,68 %,em 2004 (Tabela 1). Os númerosencontrados em Guilhoto (2004)destacam que a contribuição doagronegócio no PIB total do Estado,além de demonstrar peso importante,tem apresentado um crescimentocontínuo, ao longo dos últimos noveanos (exceção para o ano 2004, queapresentou uma discreta redução de0,50 pontos percentuais, em relaçãoa 2003), tendência que parece nãoter o caráter sazonal. Demonstrada,portanto, a importância do agro-negócio para a economia baiana,interessa averiguar o perfil de

sua competitividade. Para tanto,entendeu-se o grau de inserçãointernacional como um dos indi-cadores de competitividade doagronegócio baiano.

Assim, o foco deste artigo estará

voltado para avaliar o desempenhorecente das exportações doagronegócio baiano, buscando-se, apartir daí, elementos analíticos quepossibilitem relacionar inserção nomercado externo e competitividade.

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ConceituandocompetitividadeO termo competitividade tem sido

empregado com muita freqüência noBrasil, gerando, às vezes, interpreta-ções ambíguas e equivocadas. Oobjetivo da inserção dessa seção éestabelecer uma referência concei-tual para o seu emprego, ao longo doartigo.

A análise do comportamento dasexportações do agronegócio baiano,no período 2000 a 2004, coloca-secomo um dos alvos importantes dessetrabalho, contudo, um outro objetivoigualmente importante será o decorrelacionar o desempenho dessasexportações a um determinadopadrão de competitividade do setor.Pretende-se, então, investigar indíciosou sinais de competitividade daeconomia agrícola do Estado à luzda performance das exportaçõesdo agronegócio baiano. Paratanto, como passo primeiro,torna-se essencial estabelecer asbases conceituais sobre as quaisse fundamenta um ambientecompetitivo.

Nesse sentido, a visão sistêmicaque integra todo o moderno setoragrícola, no qual se inter-relacionamo “antes”, o “dentro” e o “depois” daporteira, conduzirá o conteúdo dessaabordagem, explicando, assim, aopção sempre presente pela acepção“agronegócio”, ao invés de“agropecuária”, por exemplo.

Para Cardoso (2003), apesar de aliteratura sobre o tema apresentardiferentes visões sobre o conceito decompetitividade, todas elas sãounânimes em assegurar o seu carátersistêmico. Para um razoável númerode estudiosos, a competitividade éinfluenciada por um conjunto defatores atuantes sobre toda a cadeiaprodutiva ou sobre o “negócio”agroindustrial. Desse modo,considera-se perfeitamente pertinentea análise aqui estabelecida, na qualassociam-se os conceitos deagronegócio, de cadeias produtivase, portanto, de competitividade.

Sharples (1990) citado porCardoso (2003, p.32), afirmanão existir na teoria econômica

neoclássica uma definição paracompetitividade. E, salienta, quecompetitividade é um conceitopolítico, que pode ser traduzido comoo “resultado combinado do efeito dasdistorções de mercado, usualmentede natureza política, e das vantagenscomparativas”. Para outros autores,também citados por Cardoso (2003,p.33), a exemplo de Van Duren et al.(1991) e Batalha e Silva (2000), a“competitividade pode ser medidapela participação de mercadoocupada pela cadeia e pela suarentabilidade”.

Ainda no mesmo estudo,Cardoso (2003) esclarece que acompetitividade de uma cadeia édiretamente influenciada pela açãocombinada de quatro conjuntos defatores: Fatores Controláveis peloGoverno, Fatores Controláveis pelaFirma, Fatores Quase Controláveis epor Fatores não Controláveis.

A princípio, os Fatores QuaseControláveis, compreendidos como:as condições de demanda, os preçosdos insumos, a competição entreagentes, a ameaça de novosconcorrentes e a política de comérciointernacional, parecem influenciarmais fortemente os produtos doagronegócio baiano aqui analisados,todavia, o caráter sistêmico dasrelações que se estabelecem nascadeias indica que nenhum fator, ouconjunto de fatores, deve seranalisado isoladamente.

Essa abordagem pretendedemonstrar que a inserção deprodutos do agronegócio baiano nosmercados externos guarda umarelação direta com o conjunto detodos fatores que explicam o grau decompetitividade de uma cadeia ou deum produto.

A balançacomercial doagronegóciobrasileiroApesar de o interesse desta

discussão centrar-se no Estado daBahia, não seria justo desconhecer-

se e, muito menos, deixar de seregistrar a notável performancedesempenhada pelo agronegócio doBrasil no plano do comércio exterior,fato que insere o “agro baiano” nessemovimento maior. A Tabela 2 revelaa contribuição que o agronegóciobrasileiro tem prestado ao com-portamento das contas externase, mais que isso, à redução dasnossas vulnerabilidades econômicas,lembradas pelo Presidente daRepública em recente discurso, emCanoas-RS.

Como se pode perceber,efetivamente, são os saldos obtidospelo agronegócio que têm permitidosuperávits na balança comercialdo país.

Os números significativos e asconstantes iniciativas protecionistascontra os produtos agrícolasbrasileiros, são outras evidências doincômodo que o agronegócio vemcausando às economias agrícolas dosnossos “parceiros” comerciais, comgrandes perdas para os envolvidos: oBrasil, pelas divisas não obtidas e osempregos não gerados, e osconsumidores estrangeiros quepoderiam estar pagando menorespreços por produtos de, melhor ouigual, qualidade.

A balançacomercial doagronegóciobaianoA tradição exportadora do

agronegócio baiano é relativamenterecente. Mesmo assim, suaimportância no cenário nacionalé crescente e, cada vez mais,diversif icada. Os dados maisrecentes apontam que, no primeirosemestre de 2005, as exportaçõestotais baianas representaram4,35 % das exportações brasileiras,participação que coloca o Estadono oitavo lugar dos principaisexportadores do país.

No plano do comércio exteriordo agronegócio, a Bahia temapresentado um desempenho

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invejável, sobretudo quando seexamina o comportamento dossaldos da sua balança comercial, aolongo dos últimos oito anos. Nãofora a crise cambial de 1999, ossaldos da balança comercial doagronegócio baiano teriamapresentado um crescimentoconsistente e ininterrupto. De 1997a 2004, o saldo cresceu em mais de117 %. Em 2004, o saldo apresentou

sua marca recorde, ultrapassando ahistórica barreira de US$ 1,0 bilhão(Tabela 3).

Tudo indica que essa atuaçãodeverá continuar firme em 2005,considerando que o pr imeirosemestre já apresenta um saldo deUS$ 448 milhões, valor próximoàquele obtido em todo ano de1997.

Um outro dado importante que

atesta a tendência de solidez docomércio externo dos produtosbaianos de origem agrícola é o quediz respei to à corrente docomércio apresentada pelo setorao longo dos últimos quatro anos,onde se constata um incrementosuperior a 73 %, durante o período(Tabela 4). Convém destacar quecresceram as exportações em maisde 80 %, mas cresceram, também,as importações, significando umaeconomia aberta às trocas comer-ciais, sinal positivo de vitalidadeeconômica. É saudável verificarque as expor tações do agro -negócio ganham, a cada dia, umespaço ainda mais relevante noconjunto das exportações totais doEstado, chegando, em 2004, arepresentar quase que um terço detodas as expor tações baianas(Gráfico 1).

De certo modo, no passado, ocacau, isoladamente, detinha essaimportância na balança comercialdo Estado. No presente, a di -versificação crescente da nossapauta de exportações agrícolas,além de demonstrar uma sólidadinâmica de internacionalizaçãoda economia agrícola, minimizoua ext rema vulnerabi l idade docomércio externo baiano, causadapelo elevado risco de se canalizarmuitas energias em um únicoproduto. Aliás, a crise pela qualatravessou a lavoura cacaueiracomprovou, dramaticamente, nãoser aquela a melhor estratégia paraavanços no comércio externo.

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Principaisprodutos ousegmentosagrícolasbaianosexportados,2000 a 2004

• Papel e Celulose

O segmento “Papel e Celulose”contribuiu, no período 2000/2004,

com quase 30 % das exportações doagronegócio baiano, sendo, portanto,o líder no âmbito do comércioexterno do Estado (Tabela 5).

Os investimentos desse setor têmse concentrado no extremo sul doEstado, onde, apenas duas empresas,já totalizam inversões superiores aUS$ 2 bilhões, o que fará da Bahiaum dos complexos industriais maismodernos e competitivos em todo omundo. A área plantada com florestasno Estado ultrapassa os 400 mil.

O valor das exportações, duranteo período, variou no intervalo de US$216 a 291 milhões, sendo que omaior valor verificou-se no primeiro

ano da série, 2000. Inversamente, osvolumes exportados não param decrescer desde o ano 2000, o queindica uma redução dos preçosmédios, quando a referência são ospreços praticados no primeiro ano dasérie analisada. Noutras palavras, ospreços médios por toneladaexportada, em 2004, foram quaseUS$ 100,00 inferiores àquelesverificados em 2000.

• Complexo Soja

O “Complexo Soja”, responsávelem 2004 por quase 20 % dasexportações baianas, constituído porsoja em grãos, farelo de soja, óleo desoja bruto, óleo de soja refinado edemais óleos de soja, encontrou noscerrados da Bahia o espaço adequadopara diversificar a sua exploração naregião Nordeste do país. Há 20 anos,eram tão somente 99 mil ha. Em2005, a lavoura de soja ocupouuma área de 870 mil ha, um avançode 779 %.

A soja continua sendo o líder daprodução agrícola, ocupando em2005, quase 60 % da área cultivadano Oeste baiano. As indústrias deprocessamento presentes na região jáalcançam uma capacidade deesmagamento da ordem de 6,2 mil t/dia e absorvem a grande parte daprodução regional.

O comportamento das expor-tações desse complexo, apresentauma certa regularidade no decorrerdos últimos cinco anos, à exceção

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apenas para o ano de 2004, quandoos preços médios internacionaissofreram altas atípicas, levando aBahia a exportar mais do que o dobro,119 %, dos valores obtidos no anoanterior. Quanto ao volumeexportado, o ano de 2004 tambémpode ser considerado recorde,crescendo em mais de 63 %, emrelação a 2003 (Tabela 6).

• Cacau e suas preparações

O cacau foi por muito tempo ocarro-chefe das exportações, não sóagrícolas, mas das exportações totaisda Bahia. Concomitante à crise na

lavoura cacaueira, a pauta dasexportações baianas ganhoudiversidade e densidade, a partir doinício da década de 90. A crise docacau obrigou importações cres-centes dos concorrentes, chegando-se a importar mais de 72 miltoneladas, em 2000 (Tabela 7).

É visível, por outro lado, que apartir do ano de 2002, o volume dasimportações começa a apresentarnúmeros decrescentes até 2004. Fatosimultâneo ocorre com o avanço darecuperação da lavoura cacaueira.Hoje, a área clonada já se aproximados 150 mil hectares. Paralelamente,os volumes exportados começam a

crescer já a partir de 2001, emboraque, nessa mesma ocasião, 2002,os preços médios das exportaçõessofram uma alta de quase 50 %, emrelação aos preços médios de 2001(Tabela 7). Ou seja, não bastariamos preços internacionais maisatraentes se não houvesse ofertainterna de produto para aproveitaro momento dos preços elevados.

• Couro, Peles e Calçados

Em 2004, o segmento “Couro,Peles e Calçados” atingiu umacontribuição de quase 7 % nasexportações do agronegócio da

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Bahia. A rigor, este avanço já eraesperado, a partir da erradicação dafebre aftosa e da obtenção dacertificação de “zona livre de febreaftosa, com vacinação”, vitóriasalcançadas há mais de sete anos. Éjusto registrar que outras iniciativasgovernamentais e privadas, como osdiversos programas de apoio àpecuária, um intenso programa decapacitação e de informaçãotécnica, aliados à uma melhororganização dos produtores, são,também, indicadores importantes na

explicação dos avanços na pro-dução animal baiana e do ótimodesempenho das exportações dosegmento: de US$ 27,4 milhõesexportados em 2000, para US$ 95,8milhões, em 2004, um aumentode quase 250 %. Os volumesexportados foram incrementados emmais de 155 %, no mesmo período(Tabela 8).

Nesse segmento, o couro seconstitui no principal produto dasexportações baianas, todavia, “oscalçados de couro” vêm, desde o

ano 2000, ganhando espaço, saindode US$ 3,9 milhões exportadosem 2000 para US$ 23,4 milhões,em 2004, um incremento de seisvezes. O volume exportado, nomesmo período, também cresceucontinuamente em quase cincovezes (Tabela 9). Esta últimaconstatação traz um outroimportante significado: o Estadocomeça a agregar valor às suasexportações de couro, diversi -ficando, assim, a sua matrizprodutiva e, como conseqüência,

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gerando mais riqueza e mais postosde trabalho internamente. Oexpressivo resultado das exportaçõesdos “calçados de couro” revela, poroutro lado, o acerto da política decriação de um dinâmico pólocalçadista no Estado, do qual jáparticipam mais de 61 empresas dacadeia, distribuídas em mais de 40municípios baianos.

No plano da produção animal,vale consignar que todo esse esforçoconvergiu para habilitar frigoríficosbaianos à exportação de carnebovina, esperando-se os primeirosembarques ainda para 2005.

• Algodão e Fibras Têxteis Vegetais

Nesse segmento, o algodão seconstitui no mais recente caso desucesso do agronegócio baiano. Hádois anos, o Estado ocupa a posiçãode segundo maior produtor do Brasil,posição anteriormente ocupada peloEstado de Goiás.

A região do Oeste baiano é, semdúvida, a grande responsável poresta ascensão da cotonicultura,participando com mais de 85 % daprodução estadual, que, em 2004,chegou a 704,1 mil toneladas, um

crescimento de quase 155 % emrelação ao ano anterior. A áreacolhida, que foi de 86 mil hectaresem 2003, beirou os 203,9 milhectares em 2004.

As elevadas produtividades quevêm sendo obtidas, 3.724 kg/ha,2004, uma das maiores do país,aliadas à qualidade da fibra e aosestímulos governamentais, têmatraído novos investimentos eproporcionado um outro resultadorelevante que pode ser mensuradopelo desempenho das exportações,ao longo dos últimos três anos(Tabela 10).

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• Sisal

Trata-se de um dos maistradicionais produtos da pauta deexportações agrícolas da Bahia, aolado do cacau. Não poderia serdiferente. A Bahia é o maior produtornacional de sisal, detendo mais de90 % da produção, em 2004.

Na cadeia do sisal, as exportaçõesbaianas têm tido um desempenhoexemplar. Ao longo do períodoanalisado, os valores exportados têmapresentado um crescimentocontínuo, assim como, os volumes(Tabela 11). As exportações de fios,cordéis e, ultimamente, de tapetese outros artefatos, produzidospor organizações de pequenosprodutores, caso da APAEB, comsede no município de Valente,demonstram que a opção poradicionar mais e mais valorà produção primária, tem serevelado não só como uma opçãoracional, mas, principalmente, umaextraordinária oportunidade denegócio.

• Frutas e Suco de Frutas

Nesse grupamento de produtos,encontram-se, por ordem de valorexportado, em 2004: as uvas frescas,com 42,4 %; as goiabas, mangas emangostões, com 40 %; os limões elimas participaram, em 2004, com um

pouco mais de 3 %, caso, também,dos mamões frescos 2,7 %; e do sucode laranja, que participou com 3 %. Emsíntese, as mangas e uvas, juntas,responsabilizaram-se por mais de80 % das exportações baianas de frutase suas preparações, naquele ano.

No decorrer da série temporalanalisada, o ano de 2004 foi oprimeiro ano no qual os valoresobtidos com as exportações de uvasfrescas superaram os valores relativosàs exportações de mangas, goiabas emangostões, sendo a manga, atéentão, o líder absoluto nessesegmento.

Contrariamente ao que foiverificado para outros produtosexportáveis do agronegócio baiano,o ano de 2004 interrompeu uma sérieque vinha, consistentemente, emfranco crescimento. De 2000 para2003, os valores exportados saltamem mais do dobro, já os volumesexportados quase que dobraram(Tabela 12). A grande maioria dasfrutas baianas exportadas ainda viajano seu estado “in natura”, existindo,portanto, neste segmento, um enormeespaço para o processamento defrutas tipicamente nordestinas, àexceção apenas para as exportaçõesde “sucos de laranja” que, apesar deimportantes, sob o ângulo daagregação e da diversificação, têmpouca relevância, quanto aos valoresexportados.

• Café em Grãos

O Estado da Bahia pode serconsiderado privilegiado quanto aocultivo do café. Nas suas dimensõescontinentais, a Bahia concentra suaprodução cafeeira em três grandespólos de produção. O primeiro, o pólodos Cerrados, onde é cultivada aespécie Arábica, sempre sob regime deirrigação, destacando-se, no cultivo, asmédias e grandes propriedades eonde são verificadas as maioresprodutividades do país. O segundopólo, o Planalto, cultivando, também,o Arábica, caracteriza-se pela produçãode pequenos e médios produtores,esmerando-se na produção de cafésespeciais. O terceiro pólo, o Atlântico,tem como perfil principal o cultivo daespécie Robusta e localiza-se noextremo sul do Estado, inserindo-se essaregião num pólo cafeeiro maior, do qualparticipa o norte do Estado do EspíritoSanto, tradicional pólo produtor.

As exportações baianas de café, nosúltimos cinco anos, têm demonstradoum extraordinário vigor, crescendo, emvalores, quase 160 % e, em volume,mais que 205 %, ambos de formaininterrupta (Tabela 13). Essa perfor-mance ocorreu em contraposição a umambiente de médias de preçosdecrescentes em relação ao ano de2000, percebendo-se uma leverecuperação em 2004, porém, emnúmeros ainda inferiores às médiasobservadas no ano 2000.

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• Camarão Congelado

O cultivo do camarão pode serconsiderado como um outro grandeavanço do moderno agronegócio daBahia. De números modestos empassado recente, em 2005, o Estadojá explora 1.870 hectares, comexcelente padrão tecnológico, o quelhe tem conferido elevadas produ-tividades, médias superiores a 6.000kg por hectare, número que segue amédia nacional.

A Tabela 14 demonstra os volumesexportados sempre crescentes, aolongo da série histórica examinada,

avanço superior a 120 %. De formaexatamente inversa caminharam ospreços médios, caindo em mais de140 %, desestimulando uma maioragressividade do produtor baiano.

Um outro fator que freou avelocidade da carciniculturanordestina foi, sem dúvida, asdificuldades criadas para a obtençãodas respectivas licenças ambientais,junto ao IBAMA. No caso baiano, oimpasse foi superado no momento emque o IBAMA delegou ao Estado aresponsabilidade pelo licenciamento,tornando mais ágeis esses processos.

• Lagosta Congelada

Ainda no segmento “Pescados”,cabe um registro todo especial àsexportações baianas de lagostascongeladas. A rigor, o escoamento daprodução baiana sempre ficou à mercêde outros centros produtores eexportadores mais consolidados, casoespecífico dos Estados do Rio Grandedo Norte e Ceará. O crescimento dasexportações baianas pode serexplicado pelo fato de a lagosta do Sulda Bahia apresentar um padrão muitodemandado pelo mercado externo,pelo trabalho de atração de empresas

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especializadas na captura. Essesfatores aliados à sensível redução daprodução, principalmente, do Estadodo Ceará, podem ser responsáveis pelosurgimento de outros canais deexportação, dentre eles, a Bahia, quepassam a apresentar um maior grau deviabilidade, outrora mascarados pelaseconomias de escalas.

As exportações baianas de“Lagosta Congelada” têm apresentadono último qüinqüênio um com-portamento surpreendente. Os valoresexportados, que eram de US$ 677, em2000, saltaram para US$ 8,4 milhões,um avanço superior a doze vezes. Osvolumes exportados, por seu turno,

cresceram mais de onze vezes, nomesmo período. Os preços médiosde exportação têm se mantidorelativamente estáveis, exceto para oano de 2004, quando apresentaramuma elevação de 14,24 %, em relaçãoà média do ano anterior (Tabela 15).

• Fumo e Tabaco

A tradição baiana na produçãode fumos de qualidade não foisuficiente para promover exportaçõescrescentes, como percebido namaioria dos segmentos aqui ana-lisados. Os valores obtidos com asexportações de fumo e tabaco

permaneceram instáveis ao longo dasérie, assim como os volumesexportados. Por seu lado, os preçosmédios de exportação atingem umpico, em 2002, por volta dosUS$ 5.123,00, para, em seguida,retornar à uma escalada de baixa,fazendo movimento semelhante aoocorrido nos dois primeiros anos dasérie (Tabela 16). Embora o ponto forteda produção baiana esteja voltadopara os fumos de elevada qualidadedestinados à fabricação de charutos,o ambiente anti-tabagista, emcrescente efervescência no mundo,certamente, deve ter exercido algumefeito no perfil exportador baiano.

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Resultadosda BalançaComercial doAgronegóciobaiano em2005

Considera-se oportuno examinar osprimeiros resultados da BalançaComercial da Bahia, relativos aoprimeiro semestre de 2005, dedicandoespecial atenção às exportações doagronegócio.

Na Tabela 17, verifica-se que, noprimeiro semestre de 2005, asexportações baianas do agronegócioparticiparam com 23 % do total dasexportações do Estado; a Corrente deComércio foi de US$ 644 milhões, 6 %maior que no primeiro semestrede 2004. De modo sintético, asexportações do agronegócio baiano noprimeiro semestre de 2005 foramsuperiores em mais de 9 % àsexportações de igual período do anoanterior. Todavia, os efeitos da quedade preços internacionais e dasobrevalorização do real frente ao dólarjá podem ser percebidos pelodesempenho negativo da pasta de

cacau (-29 %), do cacau em pó(-21 %), do farelo de soja (-14 %), docouro (-5 %) e do camarão (-17 %),este último desempenho tambéminfluenciado fortemente pelo fecha-mento do mercado americano,flexibilizado posteriormente, queacusava o Brasil da prática de dumping,acusação julgada improcedente aindano primeiro semestre, mas não capazde reverter a queda sofrida.

Concluindo

À luz das análises e dadostrabalhados aqui, assim como deinferências de outros especialistas,tornam-se plausíveis algumasconclusões sobre o desempenho dasexportações do agronegócio baiano,referenciadas nos períodos 2000 a2004 e no primeiro semestre de2005:

• a presença significativa doagronegócio baiano nos mer-cados externos revela um sinalimportante de competitividadedo setor. É prudente aduzirque somente a inserção nãopode ser considerada comoúnico parâmetro indicador decompetitividade conforme acontextualização elaborada noinício desta abordagem;

• é crescente a participaçãodo Estado da Bahia nessegrande e forte movimento deinternacionalização do agro-negócio brasileiro, mostrando umaeconomia agrícola habilitada adisputar espaços maiores nosmercados internos e externos. Apropósito, a relação entre Correntede Comércio do Agronegócio e PIBda Bahia, que demonstra o grau deabertura da economia agrícola,revela que, embora em magni-tudes ainda pequenas, vemapresentando um crescimentocontínuo e sustentável, apontando,claramente, o rumo irreversível doincremento do intercâmbio e daintegração da economia agrícolabaiana com o resto do mundo(Tabela 4);

• considerando que o PIBdo agronegócio baiano temparticipado com quase 1/3 do PIBtotal do Estado e que asexportações do agronegócio têmrepresentado também quase 1/3das exportações totais da Bahia e,ainda, que o Estado possui amaior população rural do país,em números absolutos, pode-seinferir que o agronegócio seconstitui num dos segmentoseconômicos mais importantes paraa convergência e a dinamizaçãodas políticas de desenvolvimentosustentável para o Estado;

Page 12: Exportações do agronegócio baiano: um sinal de ... - Seagri · apresentou uma discreta redução de 0,50 pontos percentuais, em relação a 2003), tendência que parece não ter

Socioeconomia

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Bahia Agríc., v.7, n.1, set. 2005

• para que a inserção no mercadoexterno seja sustentável éimperioso o aprofundamento daadoção de políticas integradas deredução do “Custo Brasil”, comênfase especial no segmento deinfra-estrutura hídrica e detransporte e logística, políticasque devem estar aliadas àconsolidação de outros progra-mas governamentais, comoo PROALBA, AGRINVEST eDESENVOLVE, dentre outros;

• a elaboração dos zoneamentosecológicos-econômicos, práticaem curso no Estado, vai pos-sibilitar o aproveitamento plenoe sustentável de importantes

oportunidades de negócio, rela-cionadas ao comércio exterior, aexemplo dos mercados depapel e celulose, carcinicultura,expansão da fronteira degrãos e, certamente, de bio-combustíveis.

Por último, a Tabela 18 de-monstra o posicionamento dasexportações baianas no cenárionacional, tendo como referência oano de 2004. Dos treze produtos e/ou segmentos elencados, a Bahiaocupa os cinco primeiros lugares nasexportações nacionais, para dozedeles, o que significa um importantesinal de competitividade alcançadopelo agronegócio baiano.

REFERÊNCIAS

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VIANA, João Aurélio Soares. Agronegócio baiano:história recente de uma revolução silenciosa. BahiaAnálise e Dados, Salvador: SEI, v.13, n.4, p. 851-867,mar. 2004

GUILHOTO, Joaquim José Martins; FERREIRA FILHO,Joaquim Bento de S. PIB do agronegócio baiano, 1990a 2003. Salvador: SPA/SEAGRI, 2005. 48p. il. (SérieEstudos Agrícolas, 5). ISBN 85-86285-08-0.

CARDOSO, Carlos Estevão Leite. Competitividade einovação tecnológica na cadeia agroindustrial defécula de mandioca no Brasil. Piracicaba: ESALQ/USP, 2003. 188p. Tese (doutorado) - Escola Superiorde Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de SãoPaulo, Piracicaba, 2003.