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Textos e fotos: alunos do 6º Semestre/Prof. Cláudio Toldo | Edição: alunos do 7º Semestre/Prof. Ildo Silva | Opinião: alunos do 7ºSemestre/Profª. Darlete Cardoso | Diagramação: Laura Peruchi Mezari, 7ª fase/Jornalismo | Capa (sentido horário a partir do

barbeiro): fotos de Cristiano Medeiros, Treissi Amorin, Magali Colonetti, Filipi Ghedin, Arquivo O Globo e Márcio Jorge |Contracapa: Pedro Ernesto Theobald Prá e Maíra Sartor, 4º Semestre de Publicidade e Propaganda/Profª. Valéria Braga

Coordenadora do Curso de Comunicação Social: Profª. Darlete CardosoCoordenador do Jornal-laboratório: Prof. Cláudio Toldo | Impressão: Gráfica Soller

Reitor: Gerson Luiz Joner da Silveira | Vice-Reitor e Pró-Reitor Acadêmico: Sebastião SalésioHerdt | Chefe de Gabinete e Secretário-Geral da Reitoria: Fabian Martins de CastroPró-Reitor de Administração: Marcus Vinícius Anátocles da Silva Ferreira

Curso de ComunicaçãoSocial

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ESPAÇO DO LEITOR

O Extra precisa da sua opinião

[email protected]

(48)3621-3303

Extra é o jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social – Jornalismo – da Unisul, Campus Tubarão

Agosto 2008 Jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social Unisul - Tubarão2

Jornalista decarne e osso

Muitos jornalistas, jovens ounão, e estudantes de Jornalismoacham a aventura encantadora.Começam a salivar diante dequalquer coisa que se assemelhaà possibilidade de fazer umagrande reportagem. Grande nosentido de interessante, marcante,importante.

O veículo não importa. Podeser jornal impresso, TV, rádio,Internet ou revista. É a magia dofuro, do novo, do exclusivo. Nãohá quem não fique abismado comlivros como Abusado – O donodo Morro Dona Marta, de CacoBarcellos, e Viúvas da Terra, deKlester Cavalcanti. Os repórteresmergulharam nas histórias.

Porém, um alerta se faznecessário: nem tudo são rosas.É extremamente perigoso entrarem favelas onde o tráficopredomina, ficar no meio decombates durante guerrassangrentas e se disfarçar paradescobrir algo, entre outrosexemplos possíveis.

É preciso que haja umplanejamento forte, tanto dojornalista quanto do veículo parao qual trabalha. O profissionaldeve ter o respaldo e todo o apoioda empresa. Mas não pode,penso eu, colocar a informaçãoantes da própria vida.

Jornalista tem família. É decarne e osso. Essa idéia românticaque existe da profissão é linda nopapel. A prática pode ser cruel,às vezes. Por ser da TV Globo, ocaso mais conhecido é o de TimLopes, morto por traficantes doRio de Janeiro. Porém, comcerteza, muitos outros se foramda mesma maneira. Deixaramfilhos e cônjuges.

Ver o trabalho pronto ereconhecido é gratificante.Porém, o caminho é recheado depedras. Portanto, caros colegas,juízo! E boa sorte para todos nós.

Khaled SalamaInvisíveisAriela Martins

Opinião

O conceito de invisibilidadesocial não pode ser explicadosimplesmente como um ato dediscriminação. Para exemplificar,há um título chamado “Homensinvisíveis: relatos de umahumilhação social”, do psicólogoFernando Braga da Costa. Naobra, tese de mestrado que viroulivro, Costa relata os oito anos quepassou como gari na Universidadede São Paulo e comprova ainvisibilidade pública. Tudo porque,ao varrer as ruas, as pessoas nãoo reconheciam: professores,colegas de classe, amigos. Ouniverso social do autorsimplesmente desapareceu sobaquele uniforme.

O jornalista, assim como opsicólogo, pode estudar, retratar esentir o que é ser um invisívelsocial. O jornalismo é uma daspoucas profissões que permite talapelo. Ou seria empenho? Mostrarà sociedade as mazelas deixadaspor este tipo de preconceito, queataca tanto um andarilho como umvigilante, gari ou carteiro, é umadas funções sociais da profissão.

Por que contar histórias depessoas simples e queaparentemente não seriam pautapara a grande mídia? Qual anovidade, qual o valor-notícia?Aparentemente nenhum. Mas,bem construído e munido dedetalhes, o texto emociona,provoca no leitor sentimentos eoferece a compreensão do que éestar do outro lado. Desmistificaestereótipos e “fotografa” umarealidade nem sempre conhecida.

A invisibilidade social,impregnada no cotidiano, só podeser combatida e revelada se háalguém interessado em contarhistórias corriqueiras, singelas,interessantes e nenhum poucoinvisíveis.

Por muitos criticado e porpoucos reverenciado, este é ojornalismo gonzo. Cabe a nósjornalistas saber trabalharvivenciando, experimentandona pele o que se vai escrever.

Muitos da classe jorna-lística criaram uma grave“doença” difícil de sercombatida – a preguiça aguda.Assim, o jornalista tem aspernas paralisadas, depoissente uma séria dormência nasnádegas, usando só os doismembros superiores do corpo– os braços, mais especifica-mente, os dedos que sãoutilizados para realizar ligações

e assim suas matérias sãoredigidas. Por fim, o cérebrovai paralisando lentamente.Isso acontece devido ao vícioda acomodação.

O profissional que se permitevivenciar, conviver de perto ouaté mesmo ser um protagonistada sociedade, como, porexemplo, pesquisar e escreversobre o ‘ganha pão’ de umambulante, onde muitos àsvezes sustentam suas famílias,foge e previne-se contra ocâncer atual do jornalismo.

Acredito que há curasalternativas que possamamenizar este problema – ter

como objetivo principalentusiasmar o leitor, criar umahabilidade descritiva que o façasentir prazer de ir além de umtelefone ou o prático e-mail,este que na maioria das vezesé utilizado para a realização deentrevistas.

Penso que muitos leitoressão de opinião contrária,acreditando que o jornalismogonzo é a forma mais parcialda profissão. Também afirmoque esta prática traz umenvolvimento totalmentepessoal, irreverente, eprincipalmente um bomjornalismo diferenciado.

O câncer da profissãoCíntia Abreu

Relatar vivências e não apenascontar o que se ouve

Sentir na pele. Literal-mente. Encarnar um perso-nagem e, em vez de contar oque escuta de um terceiro,relatar uma vivência, umaexperiência. Tremer com ofrio das ruas, entristecer-secom a frieza das pessoas.Conhecer o verdadeiro serhumano, entrar em contatocom suas várias faces ehumores.

Ouvir um palavrão ou umbom dia. Comer comida fria.Ou até passar fome. Tornar-se vulnerável. Ser outrapessoa. Ser uma pessoa.Passar trabalho. Sentir asdificuldades. Correr risco demorte. Ou fazer disso umaexperiência diferente.Feeling. Curiosidade. Ins-tinto.

Essas pequenas frasespodem traduzir o que pre-tende o Jornalismo Gonzo:transmitir todos os sentimen-tos, os detalhes, as dificulda-

Laura Peruchi Mezari

des e as alegrias que envol-vem um determinado fato,uma situação, uma pessoa. E,dependendo da aventuraescolhida, o dia pode passarrápido demais ou arrastar-sepor uma eternidade emminutos, segundos e cen-tésimos. Adrenalina.

Encarnar os trapos de umpedinte nas ruas, tremer nabase na pele de um policial,sentir o sol escaldante fazerseu corpo todo queimar comoum bóia-fria no meio de umcanavial cheio de pó. E passarisso para o papel. Traduzirisso em palavras. Ter o domde passar ao leitor o cheirode uma prisão, o gosto docee fraco do café do boteco daesquina, as visões de umhospital para tratamento docâncer.

Isso tudo sem falar nassituações agradáveis. A magiae o encanto de ser o palhaçodo circo por um dia, a

satisfação ao ver os olhos deuma criança brilharemrefletindo o sorriso do bomvelhinho e a infinidade dehistórias que se encontram emum balcão de padaria. OJornalismo Gonzo pode sertraduzido em pormenores,bons ou ruins.

Entretanto, são essespormenores que vãodiferenciá-lo do Jornalismocomum, do Jornalismo doscinco “quês”, do Jornalismoque mostra a visão dos outros.É uma proposta única: vivera situação e contar depois.

E tal proposta cabe nestaedição do Extra. É o que seespera das matérias daspróximas páginas. Que elaspossam transmitir cadadetalhe, cada olhar, cadasentimento que as vivênciasrelatadas trouxeram para orepórter. Encarne, você, apartir de agora, o leitor críticoe aproveite as histórias.

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Jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social Unisul - Tubarão Agosto 2008 3

Seja um barbeiro você também!Texto e foto: Cristiano Medeiros - Edição: Arthur Lessa

É manhã de sábado, um dos diasmais movimentados na pequenabarbearia onde trabalham os irmãosFabrício e Alexandre Machado, emIçara. Entro e me sento em uma dasvárias poltronas azuis, enfileiradasjunto à parede, a meio metro umasdas outras. Apesar de não se tratarde um dos mais modernos ambien-tes, sinto-me em um local confor-tável. São 8h30min e já têm clientesesperando.

Todos entram na barbearia,passando pela porta de vidro. Duaspessoas são atendidas imediata-mente.

Da minha poltrona observo queo cliente de Alexandre, um senhorde certa idade e cabelos brancos, dáalgumas orientações. “Pode fazer ocorte de sempre, corta baixo e osrecortes”. O barbeiro inicia seutrabalho e, com muita técnica, vaimodelando o corte. Fico atento àprecisão do jovem barbeiro que, comseus 20 anos de idade e cinco deprofissão, é rápido e muitohabilidoso com a tesoura.

Fabrício é novo na profissão,mesmo sendo o mais velho dosirmãos. Tem cerca de 11 meses naárea. “Primeiro eu decidi fazer umcurso que durou seis meses. De-pois eu entrei no ramo junto commeu irmão”, explica o barbeiro.

Seu primeiro trabalho no inícioda manhã é a barba de um senhor.Seu cliente, já freqüentador dabarbearia, apenas solicita o corte.Fabrício já sabe o que fazer. Faz osrecortes e apara a barba. Leva cercade 30 minutos. Encerrando o corte,limpa o rosto do cliente. “É isso”,expressa o barbeiro após dar porterminado seu trabalho. O cliente,com um ar de satisfeito, retira o di-nheiro de sua carteira, para pagar oserviço, e despede-se das pessoas.

Fabrício conta que no início não

foi muito fácil. “Para quem não sabenada, tudo é difícil. No começo nãotinha habilidade, dava vontade dedesistir. Eu levava 45 minutos parafazer um corte. Hoje, com mais jeitoe experiência, levo de 20 a 30minutos”, comenta o profissional.

O irmão mais novo de Fabrícioexplica como entrou na profissão.“Eu comecei como engraxate nabarbearia do meu tio. Então eleperguntou se eu queria aprender aprofissão. Eu disse quequeria e fiquei um ano, sóaprendendo. Depoistrabalhei com ele umtempo, até fazer cortes emminha casa e agora aqui”.

Alexandre está em seusegundo corte, já épróximo das 9 horas. Otrabalho, para o barbeiro,tem certa diferença. Alémda idade do clienteanterior para o que estáem sua cadeira, aquantidade de cabelos éalgo evidente. Nestecorte, o profissionalutiliza, além da con-vencional tesoura, umamáquina de cortar cabelo.“Pode ajeitar meu cabelo,quero baixar em cima emáquina nos lados”, pedeo jovem atendido pelobarbeiro. Nesse meiotempo, chega à barbeariauma figura destacada nalocalidade, Antônio Alves, maisconhecido pelos populares comoToninho Mecânico. Toninhocomenta com os irmãos sobre otempo. “Tem feito frio nesses diaschuvosos. E esse vento sul chatoque não pára...” A conversa flui,entre outros assuntos, comentamsobre carros e seus valores, assuntotípico para um mecânico. Em meio

às conversas, identifico-me earrisco-me a fazer uma pergunta.“Toninho, por que corta seu cabeloe barba com os rapazes?”

Após uma rápida reflexão, ele mecontrapõe. “Eles que devemresponder. Pergunta pra eles”. Emseguida, após risos dos barbeiros,o mecânico responde. “São vizinhosde porta. O Alexandre, conheçodesde pequeno. Se não cortar comeles vou cortar com quem? Além

disso, eles são bons no que fazem”.Após um tempo, Toninho também éatendido por Alexandre, que cortasomente sua barba desta vez.

Alexandre comenta que existempessoas que sentam na cadeira dabarbearia para serem atendidos echegam a dormir. “Não é normal deacontecer, mas tem alguns clientesque dormem na cadeira e só acor-

dam quando termino o serviço”,relata o profissional.

Chega mais um cliente. É ocomerciante Jorge Fermínio, umsenhor de meia idade e que não é demuita conversa, apenas cumpri-menta quem está no local e senta-seno sofá, enquanto aguarda seratendido por Fabrício. Conversocom Fermínio, e ele me conta quecorta o cabelo na barbearia pelaproximidade de sua casa.

Fabrício chama Fermí-nio para ser atendido,enquanto chega mais umcliente à barbearia. Quemchega é o engenheiroeletricista Aldenir Floria-no, um caso a parte dabarbearia.

Logo após seratendido Aldenir vaiembora. Então vejo algoengraçado, o irmão deAlexandre faz umcomentário. “Olha aíAlexandre, daqui a poucoele volta pra reclamar”. Emseguida pergunto do quese trata, e Fabrício meesclarece o fato. Trata-sede um cliente que sempreretorna após o corte comalguma queixa. “Como emtodo lugar sempre háreclamações. Nós sempreprocuramos a melhor formade agradar o cliente, masnem sempre gostam, ques-

tão de gosto”, comenta o barbeiro.“Mas a profissão é boa, tranqüila, onegócio é agradar o cliente”,acrescenta Fabrício.

Há outros casos que aconte-ceram na barbearia. “Pessoas quepassam no vestibular e sofremtrote já passaram pela barbearia.Existem casos de pessoas quetentam cortar em casa e acabam

errando o corte”, comenta obarbeiro.

Outros clientes entram e saemda barbearia. Até que chega omomento em que os dois irmãosnão têm mais ninguém paraatender. Então chega o funcionáriode uma indústria de plásticos,Marcos Beretta, mais conhecidocomo Marquinhos.

O Marquinhos também ébarbeiro e, além de jogar conversafora com os nossos amigos, pedeseu corte. Alexandre é quem realizao trabalho. Começa a cortar com amáquina, quando vejo umaoportunidade de experimentar essaprofissão. Pedi ao Alexandre e aoMarquinhos para cortar com a“maquininha”.

Comecei por cima, não era umcabelo muito grande e também nãofiquei por muito tempo cortando,mas o suficiente para perceber quenão é algo muito fácil. Cortar ocabelo de alguém é algo que exigeresponsabilidade. Não é fácilmexer na aparência de alguém semter a certeza que este irá gostar.Quando comecei a cortar, senti umaespécie de medo, não queria fazernada errado. Com certeza, praquem olha de fora, cortar cabeloparece uma tarefa fácil. Mas nemtanto para quem tem essa missão.

A barbearia atende somente aopúblico masculino de todas as ida-des. Para as pessoas com mais desessenta anos é feito um descontono preço do serviço prestado. Elesme contam que realizam cerca de200 trabalhos por mês, o que incluicorte de barba e cabelo. “O nossogrande problema é o custo dabarbearia, que inclui energia,impostos, aluguel, custando 500reais. Tudo que conseguimos apartir deste valor é o nosso lucro”,fala Fabrício.

Para um vendedor ambulantenão importa horário, distância, oudia da semana, ele está na estradabuscando sua sobrevivência. Almirde Souza, 44 anos, mora em Trezede Maio. Há 23 anos faz daatividade de vendedor ambulanteo meio de sustento de toda suafamília. “Só quem vive disso podesaber o quanto é difícil, o quantosofremos. Nossa vida é ir de casaem casa oferecendo nossamercadoria. Temos muitos clientesbons, mas também encontramosaqueles que nem nos recebem, quenão abrem sequer a casa, parecemque nos tratam como bandidos”,declara Souza.

Todos os dias quando chegaem casa a família o espera ansiosapor bons resultados. “Meus três

filhos e minha esposa são minhamaior riqueza. É por eles que meesforço ao máximo para obter umbom resultado. É claro que nemsempre é assim, aliás, na maioria dasvezes não é assim. Tem os dias quevendemos mais, já em outros ahistória e bem diferente”.

O melhor momento para venderestá nos primeiros 10 dias do mês,que é quando a maioria daspessoas recebe o salário, ou ainda,nos sábados, dias em quegeralmente toda a família está emcasa.

Às 5 horas da manhã toca odespertador que acorda Almir. Elerapidamente troca de roupa, tomaseu café, dá um beijo na esposa esai para pegar sua Mercedinhaazul.

Cada dia um destino diferente.Cidades e pessoas que o vendedorjá se acostumou a ver. Ele chega nacidade desejada por volta das 8horas da manhã e já começa aoferecer suas mercadorias:verduras, frutas e legumes.

Na maioria das vezes, ovendedor precisa descer e entrar nacasa das pessoas. Conversa comquem vem atender na porta. Commuita educação tenta convencer oconsumidor a levar algum produtopara a casa.

Quando o cliente acha o preçocaro, o vendedor precisa ter jogode cintura e reverter a situação. Aospoucos, ele convence a pessoa emostra que o seu produto temqualidade e que o comprador estálevando algo que vale a pena.

No decorrer de anos de trabalhoos vendedores acabam conhe-cendo muitas pessoas e até fazendoamizades. A costureira Idene dosSantos, de Urussanga, comprafrutas e verduras de Almir há seteanos. “Tanto eu como meus filhosnos acostumamos a esperar ocaminhão chegar na nossa casatodos os sábados de manhã. Eunem compro no mercado, porquesei que ele vai passar e trazer asmercadorias fresquinhas”,comenta.

Apesar das dificuldades dessaprofissão, muitas pessoas estãocomeçando a trabalhar com vendasambulantes. Alguns entram noramo pela dificuldade em arrumaroutro emprego, sobretudo paraquem não conseguiu concluir um

curso superior, como é o caso deWagner Serafim.

O morador de Treze de Maiocomeçou a trabalhar comovendedor aos 16 anos, com o seuvizinho. No início ele via o serviçocomo um bico, algo para fazerenquanto estudava. Depois,passou a ser profissão.

Aos 20 anos, Wagner vende emdiversas cidades e muitas vezeschega a ficar três dias fora de casa.“Ao longo desses quatro anos,temos muitas histórias para contar.É um emprego que não nos oferecemuito retorno financeiro, masdevido a grande falta de emprego,especialmente em uma cidadepequena como essa, é umaoportunidade que temos quesegurar”, afirma.

De porta em porta: o dia-a-dia de um vendedor ambulanteTexto: Grasiela Gislon - Edição: Taís Pacheco

Máquina e tesoura: Fabrício é novo na profissão

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A prostituição mexe com oinstinto e curiosidade de muitagente. Então me coloquei àdisposição de vivenciar estemundo em três etapas: um chat dainternet onde entrei com o nome de“Garoto de Programa” e láanunciava a prestação de serviçossexuais; uma noite na companhiade garotas de programa queatendem no pátio de um posto decombustíveis às margens da BR101; e por último uma noite deobservação na avenida centenárioem Criciúma, onde travestis,prostitutas e garotos de programafazem ponto.

Entrar no meio da prostituiçãode início causa medo. O medosocial e o medo da violência foramos maiores vilões dessa incursão.O mercado do sexo causa espanto,pessoas dos mais variados valorese estirpes freqüentam este meio dehistórias engraçadas, dramasfamiliares e prazeres carnais.

Minha aventura tem início naterça-feira, dia 28 de abril de 2008.Uma noite gelada, com vento forte,mas o frio maior está na minhabarriga. É a primeira vez que voume submeter à exposição e,conseqüentemente, a um pré-julgamento de algum conhecidoque por ali me ver. É uma maneiradiferente de encarar a realidade.Cheguei para “trabalhar” às23h30min, circulei pelo pátio doposto de combustíveis e numarápida avaliação vi que muitos eramos clientes potenciais. Várias rodasde motoristas se formavam pelopátio, conversavam sobre assuntosdiversos, circulei por ali durante 20minutos. Fui até o posto ondesentei e conversei com alguns

Luxúria: um pecado em três atos4 Jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social Unisul - Tubarão - Agosto 2008

caminhoneiros sobre amenidadesaté conseguir entrar no assuntodos programas.

Questionei se era fácilconseguir uma garota de programapara passar a noite. Neste momentoé como se eu tivesse sido aceito noclube, pois o tratamento frio atéentão dispensado a mim foi semodificando e me deixaram avontade na conversa, como sefossemos velhos amigos. Contaramsuas aventuras com as prostitutasda estrada, relataram seremcasados, mas que a vida na estradaé muito solitária. Um delesdesabafou: “Procurar as garotas deprograma é só pra passar o tempo.É diferente do amor que temos pelaesposa, é só sexo. A esposa cuidados filhos, da casa e é ela querepresenta a família na minhaausência”.

Já era quase uma hora da manhãquando três moças se aproximamdo grupo. Uma morena de peleclara, aparentando 25 anos,estatura mediana de mulher (1,65m),usava uma calça jeans super justa,uma blusinha bem fina quedesenhava seu corpo e, nos pés,uma bota estilo surfwear. Umamulher de beleza natural.

A segunda era menor. Usavaum sapato de um salto mediano,mesmo assim não era muito alta.Tinha uma pele morena de sol. Eraa mais bonita delas. Comentei comum dos motoristas sobre essa moçae fui informado de sua idade: 16anos. Cabelos curtos e cacheados,ela vestia uma mini-saia e umablusinha curta que deixava suabarriga à mostra.

A terceira, uma loirinhavisivelmente de farmácia, tom de

pele morena jambo, era a maisbaixinha, usava uma micro vestidopreto e uma meia fina vermelha emal se equilibrava sobre um saltomuito alto, cerca de uns 15cm.Aparentava uns 30 anos ou mais.Tinha no olhar algo de sacana,esperta. Atenta a tudo e todos.Quando percebeu as muitasperguntas que lhe fazia elaperguntou se eu queria trepar oubater papo. Para testar suapaciência, resolvi desafiá-la e disseque tava mesmo a fim de papo.

Ela ficou um pouco sem jeito edisse que ninguém quer papo. Onegócio é só transar e ir embora.Nesse momento senti um grito declamor vindo dos olhos dessamoça. Ela começou a falar um poucode sua vida, disse que tem doisnomes, mas só revela o seu nomefantasia: Sheila. Perguntei o porquêdo nome e ela disse ser umahomenagem à ex-dançarina dogrupo “É o Tcham”, do qual ela erafã. “Desde que comecei a usar essenome, eu pinto meu cabelo de loirapra poder ficar parecida com ela, eos clientes gostam quando eudanço pra eles”, declara Sheila.Quando pergunto sobre família, eladesvia o olhar e diz que eles moramlonge. Cheguei mais perto dela eem tom de segredo pedi se poderiaconfiar nela. Ela perguntou se euera ladrão e na mesma hora neguei,mas queria lhe confessar algo. Eladisse: “vai, manda!”. Então lheexpliquei a situação, que souestudante de jornalismo e estavaali para fazer uma matéria sobreprostituição. Sua expressão facialpouco mudou e ela esboçou um:“que legal!”

Sheila disse que poderia meajudar e contar histórias do arco davelha, pessoas importantes dasociedade que ela já atendeu e dasmais variadas maneiras. Mas o queainda me incomodava era o fato dequerer saber mais sobre sua família.Então ela olhou distantenovamente e falou sob os olhosembargados que a família dela sãoseus clientes. “A minha história étriste e não merece que você percaseu tempo escutando, posso tecontar histórias muito maisinteressantes”. Então insisti e disseque a história que eu realmenteestava a fim de ouvir era a dela.

Ela convidou para andarmos.Deixamos a cobertura do posto apassos largos e olhares atentosdos que ali ainda estavam. Poucospassos depois ela começa a falar.“Você parece ser um garoto muitonovo. Qual sua idade?”, perguntouela. De pronto respondi ter 21 anos.Ela perguntou se eu tinha pai, mãee tudo mais, respondi que sim e

todos morávamos juntos. Ospassos ficam mais lentos e eladesabafa. “Esse era meu sonho,poder estudar, viver bem com meuspais, irmãos, ter uma vida e tudoque teria direito. Mas eu comeceitudo errado. Meu pai é vagabundo,não trabalha, nem lembro da últimavez que ele teve um emprego fixo.Minha mãe era faxineira, masmorreu de desgosto quando caí navida. Meu pai batia na gente, vinhado bar bêbado, fazia minha mãe daro dinheiro pra ele e quando faltavaele alugava a gente pros amigosalcoólatras dele. Na época eumorava na cidade de BoaEsperança, interior do EspíritoSanto, fica a 280 km de Vitória. Tinha14 anos, e uma irmã de 16 anos. Meupai vendia a gente e aturei issodurante um ano, sem minha mãesaber. Quando ela descobriu, eutambém já fazia porque gostava, eo dinheiro era fácil. Na época eutinha um corpinho novinho, todomundo me queria. Hoje eles só mechingam e ainda pagam pouco peloserviço. Saí de casa porque minhamãe me expulsou. Vim morar no sul,e aqui construí minha vida fazendoprograma nos postos de gasolinacom caminhoneiros. Até tenteiparar e trabalhar como doméstica,mas não é fácil. Sempre tem alguémque ainda tem teu telefone e aí atentação do dinheiro bate e não temjeito”.

Com os olhos lacrimejantes, eladeu um sorriso e se recompôs. “Eujá aceitei que o meu destino é viverde garota de programa e é isso queeu vou ser enquanto puder”. Apósquarenta minutos de conversa,voltamos ao posto e ela disse queprecisava ganhar a noite e já eratarde.

Um dos fatores mais chocantese que funciona quase como umaregra para essas profissionais é otarifário de baixo valor utilizado. Aforma que se cobra os serviços énegociada, dependendo do pacoteque o cliente pede. Esta informaçãoeu escutei de um dos grupos demotoristas, mas queria ouvir daspróprias profissionais.

Aproximei-me de uma delas eperguntei: “quanto custa oprograma?” Ela era baixinha,aparentava ter uns 40 anos, meolhou de cima a baixo e merespondeu: “você não é muitonovinho pra querer uma coroacomo eu?”

Enquanto falava, ela mexia emseu corpo e levantava os peitoscomo se estivesse me encarando.Um pouco vermelho peloenfrentamento, retruquei e disseestar disposto a encarar. Ela seaproximou e perguntou quanto eu

oferecia, de resposta lhe disse quepagaria o preço justo. Desta vez oolhar foi mais sério e ela despejou:“ou você realmente é muitoinocente ou está querendo meirritar. Vem cá garoto, vou te dar umtrato dos bons. Onde a gente podeir?”

Disse-lhe que estava a pé, eladeu uma risada e falou: “Garoto, onegócio é o seguinte. A transacompleta é R$ 30,00, só o boqueteR$ 10,00. Tudo com camisinha evocê tem que ter um local. Se forsem camisinha a gente tem denegociar o preço. Mas o local écontigo. Então vai querer ou não?”

Falei que buscaria um local e emseguida voltava a lhe procurar,confesso que fiquei um poucochocado com o preço do aluguelde um corpo. Estava encerrada aprimeira experiência.

No dia seguinte, 29 de abril de2008, quando já passavam da meia-noite, foi a vez de conhecer um barna avenida Centenário, emCriciúma. Nesta rua, travestis,garotos e garotas de programapassam horas oferecendo-se aoscarros e pedestres que por alipassam.

As cenas chocam os maispuritanos. Nas quatro horas em queestive ali, vi homens de diversascamadas sociais que, mesmocasados, vêem buscar na ruaaventuras extraconjugais.

A concentração dos trabalha-dores noturnos é nos arredores dosupermercado Giassi. Ali, por váriosmomentos, fiquei confuso. Vi lindasmulheres, que na realidade eramtravestis. Homens muito bemvestidos e que só depois eu percebique eram garotos de programa.Diversas mulheres desfilaram pormim nesta noite: loiras, morenas,ruivas, castanhas... Todas com omesmo objetivo. O sustento próprio.

Texto: Marcos Dalmoro - Edição: Ednilson Perdoná / Filipe Casagrande

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Luxúria: um pecado em três atosJornal-laboratório do Curso de Comunicação Social Unisul - Tubarão - Agosto 2008 5

Com duas horas de observação,não me contive e precisei circularentre elas para sentir o clima. Mireium grupo que me encarava e apassos firmes e largos. Percebi queeram duas travestis, uma garota eum rapaz. Abordei o grupo e elesvieram todos se insinuando: “tá afim de uma festinha?” Um poucosem jeito perguntei os valores decada um. A faixa de preço era muitoparecida, girava entre R$ 30,00 (astravestis) e R$ 50,00 (a garota e ogaroto). Agradeci a informação esob muitas provocações segui emfrente. Achei curioso como fiqueienvergonhado diante de umasituação que julgo ser tão normal.

A última etapa de compreendero funcionamento da prostituição,incluía uma nova ferramenta: ainternet. Criou-se em torno destemeio uma indústria sexual, umterritório livre, e sem leis, onde cadaum coloca-se da maneira quemelhor lhe convém. Entrar numasala de bate-papo é se tornar iscafácil de pessoas em busca deaventuras sexuais. O segredo daidentidade ajuda a tornar tudo maiscômodo.

Para começar, entro no batepapo oferecendo meus serviços deprostituto. Entro na sala meidentificando como “Garoto deprograma” e logo anunciei:“homem, alto, olhos verdes,acompanhante, níveluniversitário”. Com esse anúnciorecebi propostas das mais variadasformas. Todos queriam desfrutar deum corpo com atributos tidos comoideais de beleza e desejo sexual pelasociedade.

A primeira cliente em potencialque se mostra interessada era umapessoa que se descrevia como umamulher de 22 anos, empresária esolteira. Em seu relato reclamava ofato de sentir-se muito sozinha ebuscava uma relação sexual parasaciar a solidão da vida moderna.Um típico caso de estresse pós-moderno. Ela falava com um bomvocabulário, parecia ser uma mulherde fibra, dessas que não é qualquermarmanjo que dobra fácil. Esseestilo “poderosa” de ser da mulherde negócios assusta alguns exem-plares de homens, que pelomachismo de sua criação nãoconseguem aceitar o sucessoprofissional de sua parceira.

Meu segundo cliente era umhomem. Disse apenas que erajovem e solteiro, se diziahomossexual, buscava umacompanhia discreta e agradável edizia pagar bem. Perguntado sobresua vida, ele desviava o assunto.Relatava que preferia manter sigilosobre sua vida particular, mesmo

assim consegui a informação deque trabalhava em uma loja demateriais de construção bemconceituada na cidade de Criciúma.Esse me deu trabalho para desviare cair fora. Ele insistia que poderiame pagar o dobro do valor que eucobrava pelo programa. Ele jáestava oferecendo R$ 300,00 poruma hora de prazeres carnais. Oúnico meio de fugir foi abandonara sala de bate-papo.

Não quis parar por aqui e nooutro dia voltei ao mesmo chat, embusca de novas histórias eprováveis clientes. A sensação deestar oferecendo meu própriocorpo a uma pessoa que nem aomenos sei como é gera extremainsegurança, impotência diante dasituação que vai se formando. Acaçada precisava recomeçar e lá fuieu anunciando mais uma vez meusserviços de prostituto com omesmo nickname.

Muitas pessoas vêm eperguntam o valor e quando obtêma resposta param de teclar. Creio quea curiosidade de chegar em alguéme perguntar o quanto ela custa é umavaidade do ser humano. Eles não têmessa coragem para perguntar aalguém na rua e numa oportunidadeanônima realizam seus desejosocultos. Para estabelecer o valor queiria anunciar não tive embasamentoalgum. Apenas estipulei um valorque me parecesse interessante paraas duas partes, levando emconsideração que a forma como meofereci era para uma clientela de luxo.

Uma experiência ímpar. Assimposso definir o que significou aexecução desta matéria para mim.O cheiro do sexo é algo que estáem nós. Somos provocados otempo todo. Saber que alguém estáte julgando, que alguém quer terseu corpo porque está pagando éalgo que realmente assusta.

Volnei dos Santos é mais umtrabalhador brasileiro. Acordacedo, deixa as filhas no colégio evai direto para o ponto de táxi.Chega 7h40min e só sai de lá porvolta das 22h30min. De segundaa segunda, ele leva sua marmitacom a comida do almoço porqueprefere evitar restaurantes commedo de comer algo com alho oucebola, temperos que não gosta.Também prepara uma garrafa decafé, uns pães de acompanha-mento ou faz lanches parasubstituir o café da manhã e o datarde. A última refeição deixa parafazer em casa.

“Sua mulher não reclama queo senhor não pára em casa?”,pergunto. “Ela já se acostumou, eacho que até gosta. Assim nãoincomodo”, falou, dando umarisada engraçada.

A esposa é dona NadirTerezinha dos Santos, que antesficava mais sozinha. Seu Volnei,taxista de 44 anos, trabalhava emdois lugares: durante o dia erataxista e à noite vigilante noturno.Ele também já foi cobrador deônibus, mineiro e motorista deambulância. Hoje, o carro é suamoradia. Ali, dorme, escutamúsica, vê televisão. Encostadono veículo, conversa com osamigos, repara nas pessoas da ruae faz amizades.

Hoje, ser taxista é únicaatividade. Sua principal função éesperar o cliente chegar até seucarro quando ele está no primeirolugar da fila, ou então aproveitarque está voltando de algumacorrida e encontrar alguém queprecise dos seus serviços. Assim,“molha a tica”, expressão usadapara dizer que foram feitas duascorridas numa só saída. Existemas corridas longas, quando apessoa utiliza um táxi para ir a outracidade. Por exemplo: daqui atéFlorianópolis, o custo é R$ 300,00.Mas tem taxista que faz pormenos, depende da negociação.Todas as cidades têm um valormédio na tabela, os bairrostambém, só que, nessa situação,o taxímetro é mais usado.Empresas são quem maiscontratam esse tipo de serviço.Também as pessoas que vão fazertratamento médico ou alguém queprocura mais comodidade. Volneitambém tem outra forma deencontrar clientes.

“Quando estou voltando dealguma corrida, passo pelasparadas de ônibus perguntandose alguém quer pegar o táxi epagar o valor de uma passagemnormal. Imagina andar de táxi porR$ 2,00? Esse dinheiro serve paraum lanche ou um cafezinho”,conta.

“Tá, mas isso pode?”,questiono. “Claro que pode”. Masnem tudo pode. Eles têm ummanual de conduta. Só sai o carroque estiver primeiro na fila. Equando alguns clientes suspeitosaparecem, avisam para que oscelulares dos colegas fiquemligados. Pois se algo der errado,ele pode ser a salvação. Volneicontou que, em algumassituações, o taxista vai com ocelular ligado e descrevendo asruas que está passando. Seriaesse perigo o lado ruim daprofissão? Ele disse que não, masa falta de união.

Pontos de R$ 60 mil - O pontoonde Volnei trabalha hoje não é oprimeiro dele. É o terceiro. Há oitoanos, ele comprou um, no bairroOperária Nova. Como era um localfraco, fazia trabalhos noturnosnas boates, na gíria dos taxistas,chamadas de pescaria. Na procurade um ponto melhor, negociou umdos carros que tinha na época, umGolf ano 96, por um Palio ano 98,já batido, e trocou o outro carropor uma moto e um ponto quevalia R$ 4 mil no centro da cidade,na Avenida Centenário. Essa viacorta boa parte da cidade deCriciúma (SC). Alguns taxistas têmfama de traficantes, ou mulas, enesse ponto Volnei se deparoucom a situação. Inclusive algunscolegas foram presos por isso.Mas com o surgimento de umgrande supermercado no outrolado da avenida, conseguiutransferir seu ponto para lá. Valiaquatro mil, hoje vale R$ 8 mil.Pontos novos não surgem assimfacilmente. Quem quer ser taxistatem que comprar um. Tem pontoque chega a valer R$ 60 mil. Os darodoviária da cidade valem isso.E são tantos taxistas nesse pontoque eles chegaram a um acordode rodízio. Cada grupo fica 15 dias,assim todos conseguem trabalhar.Na frente das boates não existempontos, trabalha quem quiser. “Sevocê teve um dia ruim, podetrabalhar na pescaria à noite econseguir um dinheiro a mais”,comentou Volnei. Mas também,segundo ele, são nesses lugaresonde há mais chance de assalto.Ele nunca passou por um, mascontou que alguns colegas játiveram o carro assaltado, odinheiro do dia ou até mesmo sóo cilindro do gás. Alguns tiveramisso tudo. “Eles iniciam a carona,pedem para parar em algum lugare avisam que é assalto. O que tunão pode fazer é reagir”.

Caderninho de fiados - De umahistória, Volnei tem orgulho.Alguns taxistas comentaram quehaviam sido logrados por umgolpista que dizia ser oficial de

justiça e trabalhar para a juíza dacidade. Um dia o cidadão chegouno seu táxi e pediu uma corridapara Tubarão. Ele acertou o valorde R$ 70,00 para ir e voltar. E o queele andasse na cidade o clientepagaria separado. Ao chegar, ocliente foi em vários lugares,inclusive para Laguna. Quando otaxímetro marcava mais de R$200,00, ele pediu para que algofosse pago. E o cliente assim fez.Andando mais um pouco, esomando mais um valor alto, ocliente sumiu. Volnei procurou adelegacia e ouviu: “não possoprender, tem que ter flagrante,mesmo ele tendo dado calote emvários colegas seus”.

Assim, o taxista foi procurar ajuíza e ela deu mando de prisão.Essa história é algo que ele temorgulho, e mostra feliz areportagem que saiu em um dosjornais da cidade.

No dia-a-dia, existem outrospequenos golpes - corridas quenão são pagas. São os famososfiados. Sim, taxista também fazfiado. Existem clientes que devempequenas quantias. Já outroschegam a dever várias corridas, oque soma quase R$ 200,00. Todosanotados no caderninho defiados. É um caderninho parapequenas anotações, onde hánomes que devem desde 2006. Eletambém tem outro caderno, ummaior, onde anota as corridas quefaz por dia; quanto ganha em cadauma e para que bairro foi. No finaldo mês, o taxista faz um balançodo que ganhou e os gastos queteve. Em média, as corridas somamR$ 120,00 por dia, o que resultano final do mês em quase R$ 4 mil.

“Há algum tempo, quemdissesse que ganhava menos deR$ 5 mil mentia. Agora, muitagente tem carro, tá fácil decomprar, diminuiu os clientes”,lamenta. Depois da conversa, elevoltou ao ponto para ficar até ofinal do expediente. Antes de irembora, o taxista subiu até osupermercado. Queria perguntarse alguém precisava de umacorrida.

De carona com um taxista

“Saí de casaporque minha

mãe meexpulsou. Vimmorar no sul eaqui construíminha vida

fazendoprograma nos

postos degasolina”

Texto e foto: Magali Colonetti - Edição: Khaled Salama

Page 6: Extra - Visitando a Cena

Agosto 2008 Jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social Unisul - Tubarão6

O dia amanhece, o sol mostraseu brilho e traz energia para oscarteiros. Muitos deixam suasfamílias, logo pela manhã, paragarantir o pão nosso de cada dia e ofuturo de seus filhos. São muitos,os Jesus, Marcos, Marias que saemtodos os dias atrás do sustento.

O dia-a-dia dos carteiros écorrido. Às 7h15 todos começam aseparar as correspondências, aindacom cara de sono, regularmenteuniformizados, calça azul, camisetaamarela. Não interessa se é homemou mulher, estão todos ali,trabalhando.

Muitos deles separam as cartas,caixas, malas, bicicletas e outrosobjetos. Chegam os carros de outroscorreios para coletar as cartasseparadas. Assim é feita uma novaseparação nas agênciasfranqueadas, ou seja, terceirizadas,que prestam serviços para o correionacional. A primeira triagem dascorrespondências é feita por distrito(ou bairro). Depois da separação,cada carteiro recolhe sua parte esepara por rua, assim as cartas serãoordenadas pela numeração dascasas, na seqüência crescente oudecrescente.

Mesmo começando o turnomuito cedo nesta quinta-feira dejunho, alguns profissionais estãomuito entusiasmados. Cantam,assobiam, demonstrando ânimo emmais um dia de trabalho. Já outros

chegam mal humorados, que naexpressão do rosto pode-se notar afrase de desânimo: “mais um dia, quesaco”.

O tempo que o carteiro irá levarpara separar as correspondênciasdepende do número de cartas quechega ao correio. Se esse númeroestiver em torno de 30.000, otrabalho deverá ser realizado das7h15 às 8h30. Se o númeroultrapassar os 30.000, a função devedurar até às 9h15. A partir dessafunção acabada, o carteiro é liberadopara a fase da distribuição dascorrespondências.

Valdecir Eyng, de 36 anos, maisconhecido como Alemão, trabalhahá oito anos como carteiro nosCorreios de Criciúma. O dia delecomeça às 6 horas. Ele deve chegarno correio às 7h15, onde separa ascartas registradas e sedex em umacaixa para poder começar a sua longajornada. Às dez horas, a manhã destaquinta-feira está quente, ele pegasua bolsa, que deve pesar 7 kg, e saiàs ruas para as entregas.

Assim que pega a condução, fazo sinal da cruz, pedindo a bençãopara que Deus dê a ele um diaagradável e cheio de saúde. Ocarteiro faz as entregas em 10 bairrosda cidade. Sua rotina de entregas sóacaba às 18 horas com o retorno atéo correio. Alemão diz que todas aspessoas o recebem muito bem e quevive muitas situações engraçadas.

“Fiz papel de um homem bêbado,que estava entregando as cartas etodos caíram na gargalhada”.

Durante seu trajeto, Alemãocruza todo tipo de pessoas,brancos, pretos, altos e baixo. Eleobserva o contraste social,principalmente dos bairros. Alemãoestá agora no bairro Operária Nova.Há muitas casas, construçõesinacabadas, ele entrega cartas emum posto coletor, uma caixa postalcomunitária, onde as pessoascolocam o endereço e um númerode identificação e todos dacomunidade buscam suas cartas lá.A manhã está tranqüila, mas,segundo Alemão, nem sempre éassim. “Já presenciei muitosacidentes de trânsito e já sofrialguns também”. Quando chove,passa trabalho para garantir que ascorrespondências não molhem.

No final da manhã, às 11h30, elevai fazer uma coleta de sedex naACF Centenário, uma agênciafranqueada de correios. Doisatendentes o recebem bemhumorados e, na parte de trás, háduas pessoas responsáveis pelaexpedição. A mala de sedex já estápronta para Alemão levar ao CDD(Centro de Distribuição), o mesmolocal onde começamos a separar ascartas.

Começa então uma novaseparação, as malas são deixadascom os chefes de expedição, que

Na corrida da vida, o dia de um carteiroTexto: Saimon Coelho - Edição: Ana Luiza Vargas

fazem a nova triagem. Alemão já seprepara para a refeição trazida decasa. Ele tem uma hora para almoçara refeição preparada pela esposa.

Como o tempo é corrido, ocarteiro tem que almoçar rápido. Atelevisão ligada serve para distrair ostrabalhadores que tiram o tempo paradescansar. Assim que o horário dealmoço acaba, todos voltam para oCDD e pegam seus novos itinerários.

O próximo destino de Alemão é obairro Vila Zuleima, desta vez de carro.Agora é horário de pico, muitoscarros transitam pelas ruas. Otrânsito está parado, um sufoco. Elepassa pela Avenida Centenário, porazar pega todos os sinais de trânsitofechados.

O sinal abre e o carteiroprossegue. Ele chega na casa deIsabel para entregar umacorrespondência vinda dos EstadosUnidos. Alemão bate palmas, uma,duas e três vezes, os cachorros dovizinho ao lado começam a latir, sóna quarta chamada que Isabel oatendeu, pediu desculpa, pois estavano banho. Isabel comenta: “devemser fotos de meu filho”. Ela conta queas coisas lá no exterior não estãocomo sempre foram, não dá paraganhar muito dinheiro. “Meu filhoestá louco para voltar para o Brasil”.

Às 14 horas, a próxima mala decorrespondências, como sempre, estápronta. Começa a viagem de volta aoCDD. Lá a mala é deixada com o

expedidor e eles fazem o mesmoprocedimento, separam eencaminham os sedex, as cartasregistradas e simples para outrosetor.

Assim, Alemão pega maiscorrespondências e vai para obairro Pio Corrêa. Muito luxo, casasdeslumbrantes, construções comdesigns arrojados, ruas limpas. Opróximo lugar a ser visitado é oSesc. Lá as funcionárias são muitosimpáticas e cordiais.

A penúltima parada, já era16h15, na agência ACF Próspera,os expedidores estavam fechandoas malas de sedex e cartas simples.Alemão assina a nota de despacho,pois é obrigatória a assinatura docarteiro. São feitos os mesmosprocedimentos, fecha as malas,assina, coloca no carro e entrega.

O dia de trabalho de Alemãoestá se encerrando, já são 18 horas.Tudo o que foi coletado nasagências é retirado dos carros ecolocado em um caminhão, que levapara a agência central dos Correiosem Florianópolis ascorrespondências para outrosestados.

Finalmente ele bate o cartão eprepara-se para ir embora. Quandosai da empresa agradece a Deus pormais um dia de trabalho, pega suabolsa e segue em direção ao pontode ônibus para voltar para casa.

Bola no ar: a cobertura da Eldorado de olho no TigreTexto e foto: Filipe Ghedin - Edição: Marco Antônio Mendes

Criciúma, 23 de abril de 2008.Dia de jogo decisivo na Copa doBrasil: Criciúma e Vasco. Chego naRádio Eldorado às 9h15min eaguardo o coordenador deesportes Dênis Luciano. Ele meconduz até a sua sala para que euacompanhe um pouco da suarotina diária em dia de jogo doCriciúma. Enquanto está no ar oprograma de João Paulo Messer,Dênis visita o site do jornalistaesportivo João Nassif, para teracesso às informações dohistórico de jogos entre Criciúmae Vasco da Gama. Ele prepara umamatéria sobre uma entrevista queEdmundo concedeu no primeirojogo contra o Tigre e um raio-x detoda a história dos jogos realizadosentre Criciúma e Vasco, que seráveiculado no decorrer datransmissão.

“Nós temos a missão delevantar os dados para o ouvinte.São informações que vão ter umuso no decorrer da transmissão”,conta o coordenador. Já era 10 damanhã quando Dênis me sugeriuque eu precisava ir ao EstádioHeriberto Hülse. “Melhor você ir

até o estádio, porque a progra-mação está sendo feita nestemomento lá”, aconselha.

Enquanto caminho em direçãoao estádio, percebo a movimen-tação de torcedores que vão atéas dependências garantir oingresso para o jogo decisivo danoite. Ao chegar, encontro umatenda colorida formada por cincosuportes na cor azul e cúpula

branca com traços em vermelho. Éa base da Eldorado, montada noestacionamento do Majestoso. Osfuncionários chamam de “aranha”.Naquele momento, Dante BragattoNeto apresenta o Eldorado Cidade,na tenda. O programa segue comas intervenções dos repórteresGilberto Custódio e GiseleTiscoski.

Dante informa ao ouvinte que

a Unidade Móvelestá no Majestoso echama a repórter.“Vamos agora com aUnidade Móvel quehoje está no HeribertoHülse com a repórterGisele Tiscoski. Écom você Gisele”. Elaentra no ar e relata amovimentação detorcedores que nomomento fazem filanas bilheterias para acompra dos ingres-sos. Também conver-sa com as pessoasque passam pelo seucaminho sobre o jogodo Criciúma. Após a

intervenção da repórter, asatenções se voltam a Dante, quecomanda o programa. “É muitoimproviso, principalmente quandoo assunto é futebol. Em dia dejogo, não temos os recursostecnológicos disponíveis quandofazemos o programa no estúdio”,explica o radialista.

Meio-dia. Termina o EldoradoCidade. As atenções continuam

no Heriberto Hülse. PauloCoutinho assume a programaçãoa partir daquele momento comcomentários sobre o jogo de logomais. Às 12h45min começa oEldorado Debate. O foco doprograma é a partida decisiva parao Criciúma. Coutinho, Luciano,Custódio e companhia discutemem cima do jogo a ser realizado, edo histórico de partidas entre asduas equipes.

Termina o Eldorado Debate às14 horas e entra no ar o EldoradoTotal. Denis Luciano começa aapresentar o programa no estúdio.Ele conduz o programa até às 16horas. Depois disso, ele ruma parao estádio e se junta à equipe deprofissionais da rádio que jáestão no Heriberto Hülse econtinua a apresentação doprograma.

Nos dias que há jogo doCriciúma, a rádio é o principalveículo de comunicação. Osprofissionais do rádio ganham,nestes dias, a notoriedade decelebridades. Uma equipe que levaao ouvinte entretenimento,informação e emoção.

Radialista Dante Bragato Neto, com o microfone, comanda a jornada esportiva

Page 7: Extra - Visitando a Cena

Jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social Unisul - Tubarão Agosto 2008 7

Por trás das fantasias, umahistória real e emocionante

Texto: Layse Cardoso - Edição: Cíntia Abreu e Daniéli Antonello

É difícil passar pelo Centro deImbituba sem perceber uma figuraum tanto quanto extravagante, comfantasias, perucas e acessórioscoloridos, fazendo anúncios comum megafone e uma prancheta nasmãos. Se alguém perguntar porJosé Francisco da Silva, todosaqueles que conhecem o ZéFrancisco vão estranhar. Não há umcomerciante, funcionário de loja,farmácia, padaria, que não sedepare todos os dias com o“marqueteiro”.

Aos 49 anos, Zé Franciscobusca ânimo para trabalhar. Muitasvezes de segunda a segunda, comseus anúncios, embaixo do solescaldante. A popularidade permiteaté que ele seja convidado especialde alguns eventos importantes dacidade. E mesmo de terno pareceincorporar um personagem.

Se você é conhecido pode sepreparar para virar anúncio também.Não há quem passe despercebidopor ele.

Se estiver transitando lá dooutro lado da rua, não adianta tentarse esconder que ele põe a boca notrombone – quer dizer, no megafone– e avisa para todos, quem estápassando naquele momento. “Meuquerido amigo! Olha gente, estápassando aqui o competente...” epor aí vai, elogiando até que vocêsuma no meio das pessoas que nãoparam de te olhar.

Popular há muito tempo porcompor e cantar músicas quegeralmente falam de um temaespecífico, como a mulher, osbombeiros e os motoristas, ZéFrancisco fez amizade comlocutores de rádios locais. E paradivulgar seu trabalho não saía dasemissoras.

Certa vez, a dona de uma lojapediu a ele que fizesse umapropaganda. “Eu peguei umacartolina, escrevi as promoções daloja e comecei a mostrar para opovão. Todo mundo olhava e lia”,lembra. Com o passar dos anos, umempresário conhecido de Zé,vendo-o desocupado, lhe fez umapromessa, a qual lhe garante osustento até hoje. Como se fosseuma criança falando do presentepreferido do último Natal, recorda:“Ele falou que ia dar um megafonepra eu trabalhar. Comecei a insistiraté que ele me deu. Eu saí feliz davida, louco pelas ruas de Imbituba,fazendo anúncios. Trabalhei até ànoite.

Pré-julgamentos

No início todos começavam aolhar estranho, taxando-o de louco.Comentavam que só mesmo o Zé

Francisco, para fazer isso. Afinal,não é todo mundo que tem coragemde sair fazendo anúncios no centrode Imbituba com um megafone.

Ele já é uma figura muitoconhecida por seu jeito irreverentee descontraído de ser. “Tem genteque me chama de maluco, doido,por que eu uso fantasias”. Mas háquem aproveite para, através dele,divulgar um trabalho e anunciar atéos próprios sentimentos. “Eu façoanúncios para lojas, recados paranamorados, homenagens deaniversários, bailes e às vezesempresto o megafone para quemprecisa fazer algum trabalhocomunitário, comenta. Quando temalgum carro estacionado em umlugar indevido eu já alerto omotorista”, comenta.

A rotina de quem é autônomo

Hoje ele chega no centro porvolta das 9h da manhã com seufusquinha branco, ano 1976,precisando de uma boa reforma.Orgulhoso comenta: “O meu fuscaé meu companheiro”. Como todoautônomo, é ele quem determina opróprio expediente. “Acordogeralmente às 5h30min”, afirma Zé,que trabalha geralmente cerca deseis horas por dia.

“Antigamente eu pegava omegafone antes do comércio abriràs 8h30min. Porém comecei aobservar que, como sendo umacidade turística, algumas pessoassentiam-se incomodadas com obarulho. Atualmente começo às 9h,para que o meu trabalho nãoprejudique ninguém”, explica.

Da rádio à sua casa:a voz do comunicador

 Informar, divertir, interagir,descontrair, educar, formaropinião, persuadir e entreter.Estas são algumas das váriasfunções do profissional do rádio.Com elas, o radialista torna o dia-a-dia do ouvinte mais agradávele faz com que esteja sempreinformado dos acontecimentosdiários. Afinal, este veículo decomunicação é um meio ágil econsegue transmitir umacontecimento em tempo real.

Quando estive na 102.9 FM,em Sombrio, a comunicadoraCida Batista, que está há 13 anosna emissora, me fez perceber quea rádio pode ser comparada aoteatro, onde precisamos ser umpersonagem que transmite alegriaao público. É impressionante oprocesso de aproximação entreo ouvinte e o locutor. O programada Cida à tarde tem músicas,notícias, informações de artistase também muita participação dosouvintes. A interatividade é umponto interessante do programa.O público chega a participarinclusive através de msn. Escuteifrases deles como: “Você é showCidinha!”, “Ouço a rádio todosos dias só pra te ouvir” e “Vocêjá é minha amiga, não perco seuprograma!” No horário dela, aaudiência é de 23,8%, entre asregiões Sul de Santa Catarina e olitoral norte do Estado gaúcho.

O jornalista precisa estaratento às notícias queacontecem no mundo e na suaregião, além de sempre manter oauto-controle e simpatia notrabalho. As influências da vidapessoal não podem afetar otrabalho. Fato complicado já quese trata de um ser humanonormal.

A parte física também éfundamental para a qualidade darádio. Na 102.9, o estúdio tem aparede coberta por sonex de corbege, para não entrar nem sair osom na sala. A mesa de áudio éde mármore em tons marrons e

abriga os microfones do locutore dos convidados, mais doiscomputadores. Um trabalha aparte técnica, com o programaque envia tudo para o ar e o outroé utilizado pelo radialista parapesquisar na internet e tambémmanter contato com ouvintes.Bastante diversificado, o acervode cd´s fica na parede ao fundoda sala.

Mesmo possuindo todos osequipamentos certos é a voz dolocutor quem dita a qualidade doprograma e causa, ou não, aaproximação do público. Épreciso concentração para sabercomo impostar a voz e ler os maisvariados tipos de textos, falar dospatrocinadores, das músicas quetocarão, sortear ingressos eprêmios e até informar fatostristes como notas defalecimento.

O dia-a-dia de uma rádio e detodos que trabalham nela parecesimples para quem simplesmenteliga o aparelho em sua casa. Masmuitas adequações e improvisosacontecem a cada momentoneste meio. Esta é considerada amágica da profissão. Quando aluz vermelha da plaquinha “noar” acende, é preciso repassar aoouvinte credibilidade, atenção ebuscar estar cada vez mais pertodo público. “O frio na barriga ésempre igual, mesmo depois deanos de trabalho, em ocasiõesespeciais como em entrevistascom cantores ou atores famososna rádio, acabam dando aquelegelo, característico donervosismo. Ser locutor é umadádiva. É como no teatro, natelevisão, no cinema, precisa tertalento. Nascer com o dom daoratória. Precisa ser desinibido enão ter vergonha de expor suasidéias ao mundo. É preciso sabercomunicar, saber entreter egostar da função, afinal,qualquer trabalho que é feitocom amor, tende a dar certo, aser um sucesso”, comenta Cida.

O que pouca gente de Imbitubasabe é que Zé Francisco é casado,pai de quatro filhos e avô de ummenino de quatro anos. Todosmoram na mesma casa. E com seusalário a família consegue desfrutarde algumas regalias. A casa éhumilde, mas tem fartura, pois emtroca de propaganda, muitas vezes,a feira oferece frutas e verduras. Jápadaria fornece o pão, e o resultadodisso é uma mesa cheia de quitutes.“Esses dias comi camarão o dia todoporque fiz propaganda. Então temessas vantagens”, ressalta.

Zé Francisco não tem umfaturamento estável todo mês, masgarante que jamais deixou de fazerum balanço mensal. “Na temporadade verão tem dias que chego aarrecadar uns R$ 50,00”, revela.

Mas as despesas também sãomuitas. “As pilhas do megafonecustam R$ 16,00. Já tentei botarpilhas recarregáveis, mas estragamfácil”, conta.

Além disso, é necessário umcuidado com a voz. “Não é fácilcuidar da voz para trabalhar. Tenhodespesa com pastilhas para agarganta e tomo muita água. O queeu ganho dá pra sobreviver e aindasobra para botar uma ‘gasolininha’no fusca”, completa.

Zé Francisco teve um passadodifícil, enfrentou problemas comdroga, fez música sobre a própriahistória. Hoje é um exemplo desuperação.

Com uma família estruturada eum trabalho digno, ele considera-se uma pessoa feliz. “Tem dias queeu não estou muito legal, mas a vidada gente é assim mesmo”, afirma.

Zé Francisco sustenta a mulher e quatro filhos com o megafone

Texto e foto: Treissi Amorim

Edição: Patricia Laureano e Peterson Crippa

Radialista Cida Batista dedica as tardes aos ouvintes

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