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Conteúdo

Escolhidos Desde a Eternidade . . . . . . . . . . . . . 1

A Realidade da Ira de Deus . . . . . . . . . . . . . . . 14

Jonathan Edwards . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

Submissão à Disciplina de Deus . . . . . . . . . . . . 29

O Que é a Perseverança dos Santos? . . . . . . . . . 35

Escolhidos Desde aEternidadeJohn MacArthur

Introdução

Efésios 1.3-14 é um hino de adoração proveniente do coração do apóstolo Paulo. Não é um argumento teológico monótono, e sim o transbordar de sentimentos ardentes do coração agradecido do apóstolo. No grego, esta passagem constitui uma grande sentença. O Espírito de Deus inspirou o apóstolo Paulo a proferir esta profusa adoração ao Deus que o havia salvado.

a. A passagem

“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepre-ensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça, que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência, desvendando-noso mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito quepropusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação

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Escolhidos Desde a Eternidade 2

da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra; nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade, a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo; em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória.”

b. As pessoas

1. O Pai

Governando estes versículos, encontra-se a idéia de que Deus realizou a salvação por sua própria vontade, propósito e desígnio. A salvação não resulta da vontade ou do mérito de uma pessoa. A salvação não é obtida por meio de sacrifícios religiosos ou de boas intenções. O crédito da salvação pertence apenas a Deus, e somente Ele pode ser louvado e glorificado.

2. O Filho

A salvação é a obra de Deus mediada por Cristo. A salvação tanto se realiza em Cristo como por meio dEle . A salvação se encontra no Amado, que é Cristo. Foi proposta nEle. Enquanto a salvação é uma obra exclusiva do Pai, ela se realiza por intermédio de Cristo.

3. O Espírito

A salvação é selada pelo Espírito Santo (v. 13). Ele é o Espírito Santo da promessa, que nos foi dado como penhor de nossa herança — a garantia de nossa completa e futura redenção como propriedade de Deus mesmo. Deus, o Pai, Deus, o Filho, e Deus, o Espírito Santo, recebem todo o crédito da salvação.

Escolhidos Desde a Eternidade 3

Ensinos

I. Deus nos escolheu

“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, quenos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nasregiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu, nele,antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreen-síveis perante ele.”

a. A afirmação do apóstolo

Paulo inicia esta passagem afirmando que Deus recebe todo olouvor na salvação. O verbo traduzido “escolheu” (no grego,eklegomai) foi empregado na forma reflexiva, significando“selecionar para si mesmo”. Isso significa que a ação do verboretorna à pessoa que a pratica. Paulo estava dizendo que Deusnos escolheu tendo em vista o seu próprio interesse — paraSi mesmo, pessoalmente. A escolha divina foi realizada antesque o mundo existisse.

b. A confirmação das Escrituras

ABíblia afirma a verdade da escolha redentora feita por Deus.

1) Mateus 25.34 - Jesus disse: “Vinde, benditos de meu Pai!Entrai na posse do reino que vos está preparado desde afundação do mundo”. O Senhor planejou tanto o reino quantoos habitantes do reino, antes que o mundo começasse a existir.Você e eu somos salvos e conhecemos o Senhor Jesus por queDeus nos escolheu.

2) Lucas 12.32 - Jesus disse a seus discípulos: “Não temais, ópequenino rebanho, porque vosso Pai se agradou em dar-voso seu reino”.

3) João 6.44 - Jesus proclamou para uma grande multidão:“Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o

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trouxer [compelir]”.

4) João 15.16 - Jesus disse a seus discípulos: “Não fostes vósque me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi avós outros e vos designei para que vades e deis fruto”. Nósnão escolhemos a Jesus; Ele nos escolheu. Não decidimos porCristo no mais verdadeiro sentido — Ele decidiu por nós.

5) Atos 9.15 - O Senhor disse a respeito do apóstolo Paulo:“Este é para mim um instrumento escolhido”.

A conversão de Paulo aconteceu abruptamente — ele estavaa caminho de Damasco para perseguir os crentes. Mas ele foiconvertido, transformado e chamado para ser um apóstolo,porque Deus o escolhera antes da fundação do mundo.

6) Atos 13.48 - afirma sobre aquelas pessoas que ouviram apregação de Paulo e Barnabé: “Creram todos os que haviamsido destinados para a vida eterna”. Deus outorga o dom dafé somente para aqueles que estão predestinados por meio daescolha dEle mesmo.

7) 2 Tessalonicenses 2.13 - “Devemos sempre dar graças aDeus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vosescolheu desde o princípio para a salvação”. Paulo não deugraças porque os crentes de Tessalônica haviam decidido setornar pessoas salvas. Eles não eram muitíssimo inteligentes,espertos, espirituais, perspicazes e, por isso, escolheram aDeus; pelo contrário, Deus os escolheu desde o princípio. Asalvação exige que tenhamos fé, mas a fé é o resultado daescolha de Deus.

8) 2 Timóteo 1.8,9 - “Deus… nos salvou e nos chamou comsanta vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme asua própria determinação e graça que nos foi dada em CristoJesus, antes dos tempos eternos”.

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9) 1 Pedro 1.2 - afirma que os crentes são “eleitos, segundo apresciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para aobediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo”.

10) Apocalipse 13.8; 20.15 - infere que os nomes dos crentes fo-ram escritos no Livro da Vida do Cordeiro antes da fundaçãodo mundo.

c. A confirmação da teologia

Somente Deus pode receber o crédito por nossa salvação. Adoutrina da eleição é a mais humilhante de todas as doutrinasensinadas nas Escrituras. Deus escolheu um povo para torná-lo santo, a fim de que estejam com Ele para sempre. A nossafé vem de Deus. Um poeta anônimo apresentou esta verdadenas seguintes palavras do hino Vida Interior: “Eu procurava oSenhor e descobri que Ele, buscando-me, inclinouminha almaa procurá-Lo. Não fui eu quem Te encontrou, ó verdadeiroSalvador; não, eu fui encontrado por Ti”.

II. Deus nos predestinou (v. 5)

“Em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos,por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de suavontade.”

a. A afirmação do apóstolo

Por meio da escolha divina previamente determinada, fomospredestinados para a adoção como filhos de Deus. Realmentesomos filhos de Deus.

b. A confirmação das Escrituras

1) João 1.12 - “A todos quantos o receberam, deu-lhes o poderde serem feitos filhos de Deus”.

2) Romanos 8.15 - “Recebestes o espírito de adoção, baseadosno qual clamamos: Aba, Pai”.

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3) Gálatas 3.26 - “Todos vós sois filhos de Deus mediante a féem Cristo Jesus”.

4) Gálatas 4.6-7 - “Porque vós sois filhos, enviouDeus ao nossocoração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai! De sorteque já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, tambémherdeiro por Deus”.

5) 1 João 3.1 - “Vede que grande amor nos tem concedido oPai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus”.

c. A confirmação da teologia

A escolha predeterminada de Deus não dependeu do que Eleviu em nós. Ele a fez “segundo o beneplácito de sua vontade”(v.5). Deus não nos escolheu porque Ele tinha de fazer isso,e sim porque Ele quis — trouxe-Lhe prazer. Deus mesmodisse: “Omeu conselho permanecerá de pé, farei toda a minhavontade” (Is 46.10).

III. Deus nos concedeu sua graça (v. 6)

“Para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeugratuitamente no Amado.”

a. A afirmação do apóstolo

A escolha de Deus e a nossa predestinação se tornaram umarealidade em nossas vidas por intermédio da graça de Deus.Graça significa favor imerecido, bênção pela qual não traba-lhamos, bondade não resultante de méritos. Somos salvos pelagraça de Deus.

a. A confirmação das Escrituras

1) Efésios 2.8-9 - “Pela graça sois salvos, mediante a fé; eisto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que

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ninguém se glorie”. A graça de Deus não admite qualquermérito da parte do homem.

2) Atos 15.11 - “Cremos que fomos salvos pela graça do SenhorJesus”.

3) Atos 18.27 - “Tendo [Apolo] chegado, auxiliou muito aque-les que, mediante a graça, haviam crido”.

4) Romanos 3.24 - Somos “justificados gratuitamente, por suagraça”.

c. A confirmação da teologia

A expressão, no versículo 6, pode ser traduzida literalmentepor “mediante a graça temos sido agraciados”. Deus nosconcedeu graça em Cristo, o Amado, trazendo à realidade asua escolha e predestinação por nos tornar seus filhos.

IV. Deus nos redimiu (v. 7a)

“No qual temos a redenção, pelo seu sangue.”

a. A afirmação do apóstolo Paulo

1) Do que Deus nos redimiu?

Deus nos resgatou da escravidão ao pecado, à morte, aoinferno, a Satanás, aos demônios, à carne pecaminosa e aomundo. Não tendo qualquer dignidade e esperança, comnossa mente em trevas e coração inclinado para o mal, éramosescravos miseráveis; apesar disso, Deus veio ao nosso encon-tro e nos comprou da escravidão. Fomos comprados porquefomos predestinados; predestinados, porque fomos escolhi-dos; escolhidos, porque fomos amados; e amados, porque obeneplácito de Deus assim o quis.

2) Por meio do quê?

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Romanos 6.23 declara: “O salário do pecado é a morte”. Cristonos redimiu por meio do derramamento de seu sangue. Essenão foi um preço fácil de ser pago. Ele teve de assumir a formahumana, vir ao mundo e morrer na cruz, vertendo seu sangueem sacrifício por nós. O sangue de Cristo é realmente precioso.

b. A confirmação das Escrituras

1) 1 Pedro 1.18-19 - “Não foi mediante coisas corruptíveis,como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútilprocedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo preciososangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sanguede Cristo”.

2) Apocalipse 5.9 - diz a respeito de Cristo: “Digno és de tomaro livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teusangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo,língua, povo e nação”.

V. Deus nos perdoou (v. 7b, 8a)

“A remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça, queDeus derramou abundantemente sobre nós.”

a. A afirmação do apóstolo

Deus não somente nos resgatou, mas também perdoou osnossos pecados — passados, presentes e futuros.

b. A confirmação das Escrituras

1) Mateus 26.28 - Jesus disse: “Isto é omeu sangue, o sangue da[nova] aliança, derramado em favor de muitos, para remissãode pecados”. Quando Deus perdoa (no grego, aphiemi, “man-dar embora para nunca mais retornar”), Ele remove os nossospecados para tão distante quanto o Oriente está do Ocidente(Sl 103.12), lança-os nas profundezas domar (Mq 7.19) e nuncamais se lembra deles (Is 43.25).

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2) Miquéias 7.18 - “Quem, ó Deus, é semelhante a ti, queperdoas a iniqüidade e te esqueces da transgressão do restanteda tua herança?”

3) Romanos 8.1 - “Agora, pois, já nenhuma condenação hápara os que estão em Cristo Jesus”.

4) Efésios 4.32 - “Sede uns para com os outros benignos,compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como tambémDeus, em Cristo, vos perdoou”.

5) Colossenses 2.13 - “E a vós outros, que estáveis mortospelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne,vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossosdelitos”.

6) 1 João 2.12 - O apóstolo João disse: “Filhinhos, eu vosescrevo, porque os vossos pecados são perdoados, por causado seu nome”.

c. A confirmação da teologia

O perdão de Deus foi derramado abundantemente sobre nóspor meio das riquezas de sua graça. O perdão exigiu abun-dância de graça porque tínhamos muitos pecados. A parábolado credor incompassivo (Mt 18.21-35) afirma que temos umadívida impagável e indescritível. Devemos nossa salvação aoDeus que desejou nos ter como sua propriedade peculiar.Somos perdoados independentemente de nossa indignidade.

VI. Deus nos iluminou (vv. 8b-10)

“Em toda a sabedoria e prudência, desvendando-nos o misté-rio da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propuseraem Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da pleni-tude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as daterra.”

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a. A afirmação do apóstolo

Quando somos salvos, somos também iluminados. Deus nosapresenta um retrato de como todas as coisas, do céu e daterra, serão colocadas em sujeição a Cristo, para o seu louvor.Ele nos iluminou com sabedoria nas coisas eternas e comprudência nas coisas terrenas.

b. A confirmação das Escrituras

1) 1 Coríntios 2. 12 - “Não temos recebido o espírito domundo,e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o quepor Deus nos foi dado gratuitamente”.

2) 1 Coríntios 2.16 - “Quem conheceu a mente do Senhor, queo possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo”.

3) 2 Coríntios 4.3-4 - “Se o nosso evangelho ainda está enco-berto, é para os que se perdem que está encoberto, nos quais odeus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, paraque lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória deCristo, o qual é a imagem de Deus”.

4) 1 João 2.27 - “A unção que dele recebestes permanece emvós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine”.

c. A confirmação da teologia

Deus nos iluminou porque Ele mesmo o quis. Se não fossepor causa de seu beneplácito, permanece-ríamos nas trevas,incapazes de participar do seu plano.

VII. Deus nos prometeu (vv. 11-12)

“Nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predesti-nados segundo o propósito daquele que faz todas as coisasconforme o conselho da sua vontade, a fim de sermos paralouvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos emCristo.”

Escolhidos Desde a Eternidade 11

a. A afirmação do apóstolo

Deus nos predestinou para sermos seus filhos, e seus filhosreceberão a herança dEle.

**b. A confirmação das Escrituras **

1) Romanos 8.18 - “Os sofrimentos do tempo presente nãopodem ser comparados com a glória a ser revelada em nós”.

2) 1 João 3.2 - “Ainda não se manifestou o que haveremosde ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremossemelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é”.

3) 1 Pedro 1.4 - O apóstolo Pedro afirmou que temos “umaherança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservadanos céus”.

4) 2 Coríntios 1.20 - “Porque quantas são as promessas deDeus, tantas têm nele o sim”.

**c. A confirmação da teologia **

Todas as promessas de Deus — paz, amor, sabedoria, vidaeterna, alegria e vitória — são nossas de acordo com a pro-messa de Deus. Elas nos foram asseguradas não por direito, esim pela graça de Deus. Ele recebe toda a glória.

VIII. Deus nos selou (vv. 13-14)

“Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra daverdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele tambémcrido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa; oqual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da suapropriedade, em louvor da sua glória.”

**a. A afirmação do apóstolo **

Ele declarou que nossa herança está assegurada porque Deusnos selou.

Escolhidos Desde a Eternidade 12

b. A confirmação da teologia

Selar, nos tempos antigos, era um sinal de possessão, segu-rança, autenticidade e término de uma transação. A habitação do Espírito Santo nos crentes significa que eles são possuídos, seguros, autenticados e completos por Deus. Esperamos pela redenção completa e somos habitados pelo Espírito como um selo e garantia da nossa herança (Rm 8.23-24).

Conclusão

Somente Deus merece o crédito por nossa salvação. Ele nos salva por sua própria e espontânea vontade; todavia, de nosso ponto de vista, precisamos fazer duas coisas: a) esperar em Cristo (v. 12); b) crer nEle (v. 13). Isso também acontece para o louvor e glória de Deus mesmo (v. 12). Ele nos dá o poder para esperarmos em Cristo. Nossa fé vem de Deus (Ef 2.8-9). Ele abre nossos ouvidos para atendermos à mensagem da verdade e nos capacita a crer. Todo o processo de salvação é realizado pelo Espírito Santo; sem Ele, ninguém poderia esperar ou crer em Cristo.

Jesus disse que todos os que não crêem no Filho de Deus estão condenados (Jo 3.18). Deus, em sua graça soberana, decidiu salvar aqueles que Ele mesmo amou (Rm 9.8-13). Tais pessoas são resgatadas da correnteza de homens e mulheres sem esperança que flui em direção ao inferno. Essa é uma verdade humilhante e deve resultar em imensa gratidão de nossa parte. Por que Deus nos escolheu e não outras pessoas?Ele não o fez porque merecíamos a salvação, e sim para demonstrar “as riquezas da sua glória” (Rm 9.14-23). Portanto, nossa única reação tem de ser: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” (Ef 1.3).

Ponderando os princípios

Escolhidos Desde a Eternidade 13

1) A nossa época proclama altissonantemente a auto-impor-tância do homem. Os comerciais nos dizem que merecemosuma folga, um carro melhor, comida melhor, roupas melhores— merecemos mais da “boa vida”. Os problemas da humani-dade freqüentemente são diagnosticados como falta de auto-estima. No entanto, a Bíblia diz que “todos se extraviaram, àuma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nemum sequer” (Rm 3.12). Ao invés de afirmar a boa estimativaque o homem faz de si mesmo, as Escrituras colocam asseguintes palavras na boca dos que têm discernimento: “Todosnós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, comotrapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, eas nossas iniqüidades, como um vento, nos arrebatam” (Is64.6). Para que Deus seja corretamente honrado e glorificado,todo crente tem de compreender que a salvação é uma obraexclusiva da graça divina.

2) A obra de Deus na salvação tanto reflete a natureza deDeus quanto a natureza do homem. Quando o apóstolo Joãoescreveu: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, aponto de sermos chamados filhos deDeus” (1 Jo 3.1), ele estavafazendo um comentário sobre o grande amor de Deus e sobrea corrupção do homem. Thomas Watson escreveu: “Para quevocê seja uma pessoa agradecida, Deus o chamou exatamentequando você O ofendia; Ele o chamou sem precisar de vocêe mesmo tendo milhares de santos glorificados e de anjosa adorá-Lo. Pense naquilo que você era antes de ter sidochamado por Deus” (A Body of Divinity). A doutrina daeleição soberana, entendida corretamente, produz gratidãoprofunda para com Deus nos corações dos crentes.

De que maneira isso tem afetado a sua vida?

A Realidade da Ira deDeus

Erroll Hulse

O que, exatamente, devemos entender como a ira de Deus? Éum atributo de Deus? E, se assim for, ela age fundamentadaem quê? Como respostas a estas perguntas não há declaraçãomais definitiva do que a do apóstolo Paulo na sua introduçãoao principal tema de sua epístola aos Romanos: “A ira deDeus se revela do céu contra toda impiedade e perversão doshomens que detêm a verdade pela injustiça” (Rm 1.18).

Resumidos nesta declaração estão os pontos salientes de nossoartigo. Esta ira é a ira de Deus. Revela-se do céu. Noteo tempo presente “revela-se”. Os julgamentos de Deus nahistória testemunham a respeito de sua ira. Além disso, estaira é dirigida contra os homens – especificamente, contra oshomens ímpios e perversos; e, ainda mais especificamente,contra os homens que de- têm a verdade pela injustiça.

Mais adiante no contexto, o apóstolo explica que é possívelescapar da ira de Deus, mediante a fé em Cristo, o único quetem propiciado essa ira (Rm 3.21-26). Com esta conclusão,exponho Romanos 1:18 da seguinte maneira.

1. A provocação da ira de Deus – “…co…a toda impiedadee perversão dos homens…&r…o;

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A Realidade da Ira de Deus 15

2. A natureza da ira de Deus – “A ira de Deus se revela docéu”. A ira procede do ser ou da pessoa de Deus; é suacontínua e imutável reação ao mal.

3. A ira de Deus manifestada – “A ira de Deus se revela”(continuamente).Apokaluptetai, “se revela”, é um verboque está no presente contínuo. As manifestações dodesagrado divino acontecem ao longo da História, e umestudo destas manifestações nos ajuda a compreendera realidade da ira de Deus.

4. A propiciação da ira de Deus – “A quem Deus propôs,no seu sangue, como propiciação, mediante a fé” (Rm3.25). Somente o sangue expiatório de Cristo propiciaa ira de Deus, e a justiça de Cristo, atribuída a nós,assegura-nos proteção permanentemente contra essaira.

1. A provocação da ira de Deus

“…co…a toda impiedade e perversão dos homens…&r…o;

A impiedade é, na verdade, a ação de ser “antiDeus” e refere-se à inimizade e à perversidade, as quais abrem caminhopara a injustiça (ilegalidade). A piedade age poderosamentecomo incentivo para a justiça de coração e de vida. Suaausência deixa um vácuo que é facilmente preenchido pelainjustiça. Onde não há temor a Deus, os desejos sensuaislogo conduzem os homens a entregarem-se livremente a todaforma de perversão. A impiedade manifesta-se geralmente naforma de idolatria. No mundo pagão esta idolatria é expressano serviço a ídolos e na escravidão a demônios associados aesses ídolos. Na sociedade ocidental, a idolatria manifesta-sena forma de mundanismo (servir ao mundo, ao invés de servira Deus), ou seja, no satisfazer “a concupiscência da carne, aconcupiscência dos olhos e a soberba da vida” (1 Jo 2.16).

A Realidade da Ira de Deus 16

Visto que a impiedade afeta o próprio ser e caráter de Deus,ela provoca sua ira. Paulo declara que a ira de Deus serevela continuamente contra toda impiedade e perversão doshomens “que detêm a verdade pela injustiça”. Isso implica queos homens conhecem a verdade. Eles são convencidos pelaverdade mas a abafam, restringindo-a ou empurrando-a paratrás. Isto é verdade em relação a todos aqueles que praticama impiedade, mas é verdade especialmente em relação aosjudeus a quem Paulo se refere em Romanos 2 e 3. Os judeustinham orgulho do seu conhecimento da verdade (Rm 2.20)mas desprezaram-na de tal maneira que provocaram nossoSenhor a proferir palavras de feroz indignação: “Ai de vós,escribas e fariseus, hipócritas, porque fechais o reino dos céusdiante dos homens; pois vós não entrais, nem deixais entraros que estão entrando!” (Mt 23.13)

Todo pecado tem sua origem na apostasia do homem paracom Deus. O pecado, então, aumenta e se multiplica à medidaque as restrições de Deus sobre os pecadores diminuem.Finalmente, todo pecado tem sua consumação no fogo da irade Deus. Todos os atos de ira e indignação neste mundo sãoapenas um prelúdio do estado final de ira que será reveladono “dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus” (Rm 2.5).

O que ocorre não é que a ira cai sobre o pecado abstrato. Amaioria das referências na Bíblia mostram explicitamente quea ira de Deus cai sobre os pecadores. “Aborreces a todos osque praticam a iniqüidade” (Sl 5.5). Há aproximadamente 26passagens bíblicas declarando que Deus odeia pecados comodivórcio, roubo, idolatria, etc. Destas, pelo menos 12 referem-se ao fato de que Deus odeia os próprios pecadores. Devemosobservar também que toda expressão de ira na história destemundo tem uma realidade escatológica (move-se em direçãoao julga- mento final). Tudo está se movendo para aquele

A Realidade da Ira de Deus 17

grande dia sobre o qual a Bíblia fala constantemente (Mt25.31; Rm 2.5, 5.9; Ef 5.6; Hb 9.27; Ap 20.11). Naquele dia,tudo será revelado, e o lago de fogo se tornará ummonumentopermanente à justiça de Deus.

Uma tremenda expressão de ódio para com Deus – ódio quetem como resultado a ira de Deus – é revelado em Apocalipse20.8,9. Todos os exércitos e poderes doAnticristo se organizamcontra o acampamento do povo de Deus. Os poderes daimpiedade unidos avançam para atacar a noiva de Cristo.Ao examinarmos a batalha, vemos que, enquanto gloriosasantidade caracteriza a Divindade, ódio e feiúra são as marcasdo inimigo. A ira de Deus se manifesta contra a impiedade –aquilo que guerreia contra Ele.

2. A natureza da ira de Deus

“A ira de Deus se revela do céu.”

O castigo humano difere do castigo divino por sua naturezavariável e inexata. Ao lidarmos com crime e castigo, pensamosgeralmente em termos de reforma dos culpados e de proteçãodos inocentes. A idéia de retribuição não é popular. No jul-gamento final, a ira divina será expressa somente em termosde retribuição. O inferno não será uma penitenciária, isto é,um lugar para correção. Dureza incorrigível caracterizará osímpios. O castigo naquele dia será retribuição justa.

Os magistrados são autorizados por Deus a punir (Rm 13.1-4), mas, em última instância, a retribuição, de acordo com aBíblia, é função somente da Divindade. “A mim pertence avingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor” (Rm 12.19; Hb10.30). O papel da consciência é importante. Não há arrepen-dimento no inferno (Ap 16.11); e a ira de Deus, na forma decastigo sem fim, será apoiada pela consciência humana queprestará testemunho e a aprovará na sentença condenadora.

A Realidade da Ira de Deus 18

A realidade da ira de Deus levanta a questão de impassibili-dade: encontramos em nossas declarações de fé a afirmaçãode que “Deus não tem partes ou paixões corporais”. Isto esta-belece uma verdade importante designada a evitar qualqueridéia de que Deus seja instável ou sujeito às disposições oudistúrbios que nós mortais conhecemos. No entanto, seriadesastroso concluir, por isso, que Deus é uma máquina semsentimentos. Ele é eternamente santo e é perfeito no seu amortriúno. Vemos seus sentimentos expressos em Cristo, mas nãoé possível sabermos, de maneira prática, como Deus sente.Se a declaração “Deus é amor” tem algum significado, então,concluímos que Deus sente emoções à sua própria maneirainfinita e imutável. Em nossa própria experiência, sentimoso amor de Deus de forma tangível, à medida que esse amoré derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, quenos foi outorgado (Rm 5.5). A língua bíblica principal é ohebraico. A palavra aphdenota raiva, estremecimento, (210vezes); e chemah significa calor, ira, fúria (115 vezes). Vistasnos seus contextos, estas palavras demonstram claramentea mensagem de que Deus tem sentimentos fortíssimos emrelação à maldade. O assunto obviamente precisa de expo-sição separada, na qual o maior cuidado é necessário pararesguardar nosso ponto de vista da imutabilidade de Deus,e o nosso entendimento dEle como um Deus (sempre santoem Si mesmo) que é amor e ira.

Sobre o assunto de ira e amor, Shedd comenta: “Estas duasemoções são reais e essenciais emDeus: uma é despertada pelajustiça e a outra pelo pecado. A existência de uma necessitada existência da outra; as- sim, se não houver amor pelajustiça, não haverá ódio pelo pecado; e, reciprocamente, se nãohouver ódio pelo pecado, não haverá justiça. A coexistêncianecessária destes senti- mentos é continuamente ensinada na

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Bíblia: ‘Vós que amais o Senhor, detestai o mal’ (Sl 97.10)”.

A perfeita compatibilidade entre a ira e o amor é vista naprova substitutiva de Cristo. Somente Ele poderia cumprir osrequisitos da justiça. As ofertas queimadas de Levítico 1.1-9 eram completamente consumidas pelo fogo. Produziam um“aroma agradável ao Senhor”. O “agradável” é uma referênciaà total satisfação de justiça e não significa, nem por ummomento, que Deus teve prazer nos sofrimentos de Cristo.Ele repugnava isto (lembremos a prova de Abraão, ao serchamado para sacrificar Isaque) com perfeita repugnância,mas teve prazer na vindicação da justiça e no cumprimentoda justiça representada na vitória de seu Filho. “A dor doCordeiro em corpo e alma era tão imensa, que somente ospoderes de uma pessoa divina poderiam suportá-la.”2 “Comosua alma fervia debaixo do fogo da ira, e seu sangue vazavaatravés de todos os poros, por causa do extremo calor dachama.”

Por causa destes interesses essenciais pela justiça, a ira deDeus veio sobre o Cordeiro, e podemos apenas concluir queessa ira é uma terrível realidade.

3. A ira de Deus manifestada

“A ira de Deus se revela (continuamente)…”

Enquanto escrevo sobre essa ira, a mídia está trabalhandopara expor ao mundo atrocidades que ocorrem em váriaspartes do mundo. A opinião mundial tem sido despertadarapidamente, exigindo que tome-se uma posição contra ogrande número de mortes. A Bíblia fala clara- mente sobreacontecimentos desse tipo e sobre calamidades como guerras,fomes, enchentes, furacões e vulcões. A Bíblia avisa clara-mente sobre os fatos do julgamento de Deus na História.

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A queda de Adão e Eva. A primeira manifestação da ira deDeus é aquilo que veio como inexorável cumprimento de suaspalavras: “No dia em que dela comeres, certamente morrerás”(Gn 2.17). Os primeiros pecadores receberam sobre si mesmosuma maldição; a mulher foi amaldiçoada na principal órbitade sua vida e, de maneira semelhante, o homem. A terratambém foi amaldiçoada. Todos os descendentes de Adãoe Eva, por causa da Queda, são nascidos “na iniqüidade”(Sl 51.5). Toda pessoa que nasce neste mundo é culpada dopecado de Adão, ou seja, falta-lhe aquela justiça na qualAdão foi criado, e a pessoa é corrupta por natureza (Rm 5.12-21). Isto significa que toda pessoa nasce neste mundo comopecador e, conseqüentemente, a culpa clama por ira, devidoaos pecados que ela comete cada vez mais. A demora naaplicação do castigo, expresso em Gênesis 2.17, é vista devárias maneiras. Adão não morreu fisicamente de imediato.O castigo de Caim pelo assassinato de Abel foi adiado, apesarde ser evidente que ele era um homem perverso. “A civilizaçãocaimita, descrita em Gênesis 4.16-24, foi ricamente abençoadacom os benefícios da graça comum e se excedeu nos avançostecnológicos e culturais. Ao mesmo tempo, essa civilizaçãoera protótipo de humanismo e impiedade.”

O dilúvio nos dias de Noé. A decadência da humanidade,como conseqüência da Queda tem seu próprio comentário naobservação feita por Jeová, ao reclamar que a inclinação dopensamento do coração do homem era somente maldade emtodo o tempo! O pecado sempre traz consigo a reação da ira. OSenhor declarou: “Farei desaparecer da face da terra o homemque criei” (Gn 6.7). Os males da indiferença e do pecadocaracterizaram a geração de Noé. A busca de atividadeslegais – comer, beber, construir, casar – se for seguida semmotivos teocêntricos provoca a ira de Deus. O aumento da

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criminalidade também foi um precursor do dilúvio. A terraestava cor- rompida à vista de Deus e cheia de violência;então, Deus disse a Noé: “Resolvi dar cabo de toda carne”(Gn 6.11-13). Referindo-se ao pecado de mundocentrismo nosdias de Noé, nosso Senhor declarou claramente que um estadosemelhante de mundanismo precederá sua segunda vinda (Lc17.26).

Sodoma e Gomorra. De acordo com Calvino, o caso de So-doma foi trazido à atenção de Abraão, a fim de ensiná-loque os sodomitas mereciam, com justiça, a sua destruição.“Ao dizer que ‘o clamor tem se multiplicado’, Deus indicaquão doloroso são os pecados dos ímpios porque, apesar deprometerem impunidade para si mesmos, escondendo suasmaldades, os seus pecados soarão nos ouvidos de Deus”.

O horroroso mal que veio a ser chamado de “sodomia” foirevelado inteiramente na noite anterior ao dia em que Lófoi removido da cidade, quando “os homens daquela cidadecercaram a casa… assim os moços como os velhos” e exigiramabusar dos dois anjos (Gn 19.4). Romanos 1 mostra que estepecado em particular é um sinal de perversão, um sinal de queDeus tem entregado os homens à destruição. Paulo diz que éimpossível para um homossexual herdar o reino de Deus, masalgumas pessoas em Corinto se arrependeram deste pecado eencontraram a salvação (1 Co 6.9-11).

O caso de Sodoma nos ensina que os pecados que destroema instituição da família e que tornam intolerável a vida decrianças exigem a ira de Deus. O alarmante abuso sexual decrianças, em nossos dias, certamente provoca a ira de Deus. Opecado dos amorreus se tornou insuportável, quando chegouao seu auge, na época quando essa nação foi destruída porIsrael. A invasão foi um ato de guerra mas também de justiça

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(Gn 15.16; 1 Rs 21.26; 2 Rs 21.11).

A maneira pela qual as cidades da planície foram destruídasnão é insignificante. Seus crimes exigiam um ato de indig-nação que foi manifestado por fogo do céu, não um fogo deaniquilação, e sim um fogo de tormento sem fim; este fato éapoiado por Judas 7: “Sodoma, e Gomorra, e as cidades cir-cunvizinhas, que, havendo-se entregado à prostituição comoaqueles, seguindo após outra carne, são postas para exemplodo fogo eterno, sofrendo punição”.

A ira caindo sobre os indivíduos. A ira de Deus é contínuana sua manifestação e universal na sua aplicação. Deus é umjuiz justo, que manifesta sua ira todo o dia. Esta ira pode serpercebida na vida de pessoas como Acabe e Jezabel, no AntigoTestamento; e de Ananias e Safira, no Novo Testamento; e,mais tarde, na vida do Rei Herodes, que foi morto quandorecebeu adoração que deveria ser prestada somente a Deus;e, na era moderna, na morte de ditadores como Hitler e osCeaucescus.

Nações e impérios. As nações e os impérios mundiais tambémsão pesados na balança divina. Grandes trechos das mensa-gens proféticas são dedicados a este tema (Is 13-15; Jr 46-50;Ez 25-32 e Am 1-2). A obrigação de Naum era mostrar que ahora da ira de Deus havia chegado para Nínive, porque ela“vendia os povos com a sua prostituição e as gentes, com assuas feitiçarias” (Na 3.4). Por essas razões, “a sua cólera sederrama como fogo” (Na 1.6). Daniel 2 descreve o julgamentode Deus sobre quatro impérios orgulhosos que se sucederam,e todos foram totalmente destruídos.

As setes taças da cólera de Deus. As taças de ouro de Apoca-lipse 16 são taças de ira. Alguns dos horrores dos julgamentosdescritos de maneira simbólica no Apocalipse já estão, até

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certo ponto, presentes conosco. Seca, fome e poluição sãoterríveis realidades. Sempre pergunta-se porque Deus permiteos terríveis desastres de guerras civis (no Sudão, durante 25anos; em Moçambique, durante 16 anos; o conflito recenteentre o Iraque e o Irã, etc.); fomes (como na Etiópia, no Sudãoe na Somália); holocaustos (na Alemanha Nazista, na Rússiae, mais recentemente, no Camboja). Isaías 24.5-6a nos diz:“Na verdade, a terra está contaminada por causa dos seusmora- dores, porquanto transgridem as leis, violam estatutos,e quebram a aliança eterna. Por isso, a maldição consome aterra, e os que habitam nela se tornam culpados”.

A ira de Deus revelada contra seu povo eleito. O privilégiotraz consigo a responsabilidade. A aliança de Deus resumidaem Deuteronômio coloca bastante ênfase na importância dafidelidade. A fidelidade seria recompensada com abundanteprosperidade. Para o povo de Deus, a regra seria “emprestarása muitas gentes, porém tu não tomarás emprestado” (Dt28.12). Por outro lado, a desobediência, especialmente se fosseno caso de servir a ídolos imprestáveis, provocaria o ciúme doSenhor e acenderia o fogo da sua ira (Dt 32.21-24).

Talvez a alegoria da infiel Jerusalém, registrada em Ezequiel16, forneça a mais marcante lição de ira. Esta foi provocadapela promiscuidade e prostituição de Israel. Tendo sido re-movida do campo onde havia sido lançada na sua infância,e onde revolvia-se no sangue sem ter sido cortado o seucordão umbilical, Jerusalém foi embelecida pelo seu Salvadore amante. Mas ela tinha dormido com seus vizinhos lascivosde todos os lados. Por isso, Ele diz: “Te farei vítima de furor ede ciúme” (Ez 16.38).

O paralelo no Novo Testamento encontra-se em Hebreus 6e 10. A justiça de Deus é proporcional à responsabilidade hu-

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mana. Aqueles que fazem profissão de fé, tornam-se membrosda igreja, recebem a luz, o ensino e os benefícios do evangelhoe depois rejeitam esses privilégios serão devidamente punidos:“De quanto mais severo castigo julgais vós será consideradodigno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanouo sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajouo Espírito da graça? Ora nós conhecemos aquele que disse:A mim pertence a vingança; eu retribuirei’. E outra vez: OSenhor julgará o seu povo. Horrível coisa é cair nas mãos doDeus vivo” (Hb 10.29-31).

4. A propiciação da ira de Deus

“A quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação,mediante a fé” (Rm 3.25).

Nada é tão inescrutável ou tão maravilhosamente eficaz comoo sacrifício vicário de Cristo, realizado de uma vez por todas,para propiciar a ira de Deus. Tão terrível foi essa ira queaté mesmo Cristo, que conhecia todas as coisas, quandoestava para tomar o cálice da ira, disse: “A minha alma estáprofundamente triste até à morte” (Mc 14.34).

Na sua exposição de Isaías 53. 10: “Todavia, ao Senhor agradoumoê-lo, fazendo-o enfermar”, Manton disse: “Então, aprenda:(a) a total impiedade do pecado, custou a Cristo uma vidade sofrimento, – uma dolorosa, vergonhosa, amaldiçoadamorte e uma incrível com- preensão da ira de Deus, a fimde reconciliar pecadores; (b) O temor da ira de Deus fez comque Cristo morresse; (c) a extensão das nossas obrigações paracom Cristo fez com que Ele condescendesse em suportar a irade Deus; (d) devemos estar prontos a sofrer qualquer coisapor Cristo. Visto que Ele suportou a raiva e a ira de Deus pornossa causa, não suportaremos a raiva e a ira dos homens porcausa de Cristo?”

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Propiciar (do latim propitiare) significa apaziguar, tornar fa-vorável ou conciliar. Envolve o elemento pessoal. Uma pessoaofendida é conciliada. Deus é propiciado no sentido em quesua ira é removida.

A dádiva de Cristo como nossa propiciação é a mais completaexpressão do amor de Deus. “Nisto consiste o amor: não emque nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amoue enviou o seu filho como propiciação pelos nossos pecados“(1Jo 4.10). Aqui está o amor eficaz, um amor determinado asalvar, um amor que foi tão longe, a ponto de transferir a irados que a mereciam para Aquele que nos amou de tal maneiraque somente Ele estava preparado a suportá-la. Com basena mesma propiciação, toda a graça comum e benevolente émanifestada; a ira, contida e o julgamento, adiado. “Todos osfavores que até os ímpios recebem neste mundo”, diz JohnMurray, “estão relacionados de alguma forma à expiação, epode-se dizer que têm sua origem nela”.7

Conclusão

A realidade da ira de Deus como um atributo, uma parteessencial e intrínseca do seu Ser, deve agir como defesa contrao ensino falso e idéias sem fundamento no sentido de quenão há inferno. A ira de Deus vista nos atos históricos dejulgamento deve servir também para nos fortalecer contra asinfluências do liberalismo ético. A verdade de que a ira deDeus permanece sobre os homens deve induzir-nos a com-partilhar o evangelho com eles. É notável que uma recessãono fervormissionário pode ser atribuída àmudança de atitudenos pregadores em afastarem-se da ênfase sobre esse tema quecaracterizava nossos antepassados evangélicos. A propiciaçãorealizada pela cruz de Cristo é, em si mesma, um testemunhosobre a realidade da ira divina. Essa ira, e a propiciação que a

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silencia, deve impelir-nos, com todos os recursos disponíveis,à evangelização do mundo.

Jonathan EdwardsGilson Santos

Considerado o maior teólogo e filósofo americano, Jonathan Edwards nasceu no Estado de Connecticut, no mesmo ano em que nasceu o inglês John Wesley. Seu pai, Timothy Edwards, foi pastor, e sua mãe, Esther, era filha do Rev. Solomon Stoddart. Jonathan foi o único filho com dez irmãs. Desde criança demonstrou impressionante inteligência, e ingressou no Yale College pouco antes dos treze anos. Depois de sua educação, ingressou no ministério congregacional em 1726 na Igreja em Northampton, Massachusetts. Poucos anos mais tarde, em 1734, um despertamento aconteceu em sua congre-gação. Em 1740, o Grande Despertamento irradiou-se pelas treze colônias norte- americanas, e estima-se que no mínimo 50.000 pessoas foram despertadas para Cristo e uniram-se às igrejas. Foi ele, por- tanto, o teólogo do chamado Primeiro Grande Despertamento. Mais tarde, Edwards serviu como missionário aos índios em Stockbridge, Massachusetts, entre 1751 e 1757. Edwards e sua esposa, Sarah, tiveram onze filhos. Sua vida familiar feliz foi um modelo para todos os que o visitaram. Edwards morreu durante uma epidemia de varíola, logo depois de haver mudado para Nova Jersey, no mesmo ano em que tornou-se presidente do College of New Jersey, mais tarde chamado Universidade de Princeton. Morreu vítima de uma vacina contra a varíola, por ter se oferecido como voluntá- rio para o teste da mesma. Ele escreveu cerca de mil sermões, bem como várias obras importantes sobre a Bíblia e

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Jonathan Edwards 28

teologia. Foi também um grande metafísico, com importantes obras de filosofia. Aos treze anos escreveu um tratado sobre aranhas, e sempre mostrou interesse por questões científicas, não vendo qualquer conflito entre religião e ciência. Ele lia e apreciava as obras de Sir Isaac Newton, convicto de que a boa teologia e a boa ciência poderiam se apoiar e complementar mutuamente. Foi um dos mais profundos escritores calvinis-tas que se tem conhecimento.

Submissão à Disciplinade DeusA. W. Pink

Por natureza, não somos inclinados à submissão. Nascemosneste mundo possuídos por um espírito de insubordinação.Somos descendentes de nossos primeiros pais rebeldes e, porisso, herdamos a natureza deles. O homem nasce com umanatureza rebelde, semelhante à de um jumento selvagem (cf.Jó 11.12). Isto é muito desagradável e humilhante, mas éverdadeiro. Isaías 53.6 nos diz: “Cada um se desviava pelocaminho”, que é um caminho de oposição à vontade reveladade Deus. Mesmo na conversão, a nossa natureza rebelde e vo-luntariosa não é erradicada. Recebemos uma nova natureza,mas a velha natureza continua lutando contra a nova; por isso,necessitamos de disciplina e correção. E o grande propósitoda disciplina e da correção é trazer-nos à sujeição ao Paidos Espíritos. Procuraremos atingir dois objetivos: explicaro significado da expressão “estar em… submissão ao Pai” eenfatizar este fato com as razões apresentadas no texto bíblicoonde a expressão se encontra (Hb 12.9).

1. A Submissão Idealizada

Estar em “submissão ao Pai” é uma expressão de significadoabrangente; portanto, convém que compreendamos suas vá-rias conotações.

1. Significa uma aquiescência ao soberano direito de Deus

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em fazer conosco aquilo que Lhe agrada.

(Veja Salmo 39.9: “Emudeço, não abro os meus lábios porquetu fizeste isso” .) O crente tem o dever de ficar calado quandoestiver sob a vara da disciplina e em silêncio quando estiverpassando pelas mais intensas aflições. Todavia, isto é possívelsomente se pudermos ver a mão de Deus em tais aflições. Se amão de Deus não for vista na aflição, o coração do crente nãofará nada além de queixar-se e irritar-se. Leia 2 Samuel 16.10-11: “Que tenho eu convosco, filhos de Zeruia? Ora, deixai-oamaldiçoar; pois, se o Senhor lhe disse: Amaldiçoa a Davi,quem diria: Por que assim fizeste? Disse mais Davi a Abisaie a todos os seus servos: Eis que meu próprio filho procuratirar-me a vida, quanto mais ainda este benjamita? Deixai-o; que amaldiçoe, pois o Senhor lhe ordenou”. Que belíssimoexemplo de completa submissão à soberana vontade do Altís-simo! Davi reconheceu que Simei não o podia amaldiçoar sema permissão de Deus.

“Isto fará o meu coração sossegar: o que meu Deus designar éo melhor!”

No entanto, com raras exceções, a disciplina é necessária, paratrazer-nos a este nível de espiritualidade e manter-nos ali.

2. Significa renúncia da vontade própria.

Estar em submissão ao Pai pressupõe uma entrega e umaresignação de nós mesmos a Ele. Uma excelente ilustraçãodeste fato se encontra em Levítico 10.1-3: “Nadabe e Abiú,filhos de Arão, tomaram cada um o seu incensário, e puseremneles fogo, e sobre este, incenso, e trouxeram fogo estranhoperante a face do Senhor, o que lhes não ordenara. Então,saiu fogo de diante do Senhor e os consumiu; e morreramperante o Senhor. E falou Moisés a Arão: Isto é o que oSenhor disse: Mostrarei a minha santidade naqueles que se

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cheguem a mim e serei glorificado diante de todo o povo.Porém Arão se calou”. Eles poderiam crescer ao andar emconstante comunhão comDeus e em obediência à sua Palavra.

Considere as circunstâncias. Os dois filhos de Arão, provavel-mente embriagados na ocasião, foram repentinamente mortospelo julga-mento divino. O pai deles não havia recebidoqualquer conselho que o preparasse para tal aflição. Apesardisso, “Arão se calou”. Oh! Não contenda com Jeová! Seja obarro nas mãos do Oleiro. Tome sobre si o jugo de Cristo,aprendendo dEle, que era “manso e humilde de co-ração” (Mt11.29).

3. Significa um reconhecimento da justiça e da sabedoriade Deus em todos os seus lidares conosco.

Temos de justificar a Deus. Foi isto que o salmista fez, aodizer: “Bem sei, ó Senhor, que todos os teus juízos são justos eque com fidelidade me afligiste” (Sl 119.75). Estejamos semprecertos de que a Sabedoria é justificada por seus filhos. Que anossa confissão a respeito da Sabedoria seja: “Justo és, Senhor,e retos, os teus juízos” (Sl 119.137). Em todas as circunstânciasque nos sobrevierem, temos de atribuir justiça Àquele que nosenvia todas as coisas. O Juiz de toda a terra não pode cometererros.

O cativeiro na Babilônia foi a aflição mais severa que Deustrouxe sobre seu povo terreno na época doAntigo Testamento.No entanto, mesmo naquela circunstância, um coração nas-cido de novo reconheceu a justiça de Deus no cativeiro:“Agora, pois, ó Deus nosso, ó Deus grande, poderoso e temí-vel, que guardas a aliança e a misericórdia, não menosprezestoda a aflição que nos sobreveio, a nós, aos nossos reis, aosnossos príncipes, aos nossos sacerdotes, aos nossos profetas,aos nossos pais e a todo o teu povo, desde os dias dos reis

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da Assíria até ao dia de hoje. Porque tu és justo em tudoquanto tem vindo sobre nós; pois tu fielmente procedeste,e nós, perversamente” (Ne 9. 32-33). Os inimigos de Deuspodem falar sobre a sua injustiça; mas os filhos deDeus devemproclamar a sua justiça. Visto que Deus é bom, Ele não podefazer nada que é errado e injusto.

4. Inclui um reconhecimento do cuidado de Deus e umsentimento do seu amor.

Existe uma submissão amuada e uma submissão estimulante.Existe uma submissão fatalista que toma a seguinte atitude:“Esta situação é inevitável; portanto, me renderei a ela”. Existeuma submissão grata, que recebe com gratidão tudo que Deustem o prazer de enviar-nos. “Foi-me bom ter eu passado pelaaflição, para que aprendesse os teus decretos” (Sl 119.71). Osalmista viu sua disciplina com os olhos da fé e, ao fazer isso,percebeu o amor que estava por trás da disciplina. Devemoslembrar que, quando Deus traz seu povo ao deserto, Ele ofaz para que seu povo aprenda mais sobre a suficiência dEle.Quando Deus os lança na fornalha, Ele o faz para que seusfilhos desfrutem da presença dEle.

5. Envolve um cumprimento ativo da vontade de Deus.

Submissão ao “Pai espiritual” é mais do que algo passivo. Osoutros significados da ex-pressão, que já consideramos, sãomais ou menos de caráter negativo. Todavia, existe tambémum lado positivo e ativo nesta expressão. Estar em “submis-são” também significa andar nos preceitos de Deus e pros-seguir no caminho de seus mandamentos. Significa estar emsubmissão à Palavra de Deus, tendo os nossos pensamentosmoldados e os nossos caminhos governados por ela. Existeum fazer e existe um sofrer a vontade de Deus. Ele exigeobediência de seus filhos, uma realização de deveres. Quando

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oramos: “Seja feita a tua vontade”, estamos querendo dizeralgo mais do que uma anuência piedosa à vontade do Todo-Poderoso; também estamos querendo dizer: “Seja realizadapor mim a tua vontade”. Por conseguinte, sujeição ao Paiespiritual é o re-conhecimento prático do senhorio de Deus.

II. Razões para a submissão

1. Deus é o nosso Pai. É correto e conveniente que os filhosestejam em sujeição ao seu pai. Quão mais correta econveniente é esta atitude, quando temos a Deus comonosso Pai! Não existe tirania nEle. Seus mandamentos“não são penosos” e têm emvista o nosso bem. Devemosser profundamente gratos por que Deus se revela agoracomo nosso Pai! Esta é uma das revelações distintivasdo Novo Testamento. Duvido muito que Arão, Elias,Jó ou Davi conheciam a Deus neste relaciona-mento;apesar disso, eles se submeteram a Deus! Quão maissubmissos deveríamos ser! Que a graça nos capacitesempre a dizer, assim como o disse o nosso Salvador:“Não beberei, porventura, o cálice que o Pai me deu?”(Jo 18.11.)

2. Este é o segredo da felicidade. Creio que a força dasduas últimas palavras (“então, viveremos”) de nossotexto bíblico é “ser feliz”. A palavra “viver” ou “vida”é empregada neste sentido em Deuteronômio 5.33; ob-serve que “prolongueis os dias” é um acréscimo. Este é oseu sentido em Salmo 119.116. Os queixosos, murmura-dores e rebeldes são miseráveis e infelizes. Fazer avontade de Deus, nosso porto, é o verdadeiro lugarde descanso para nossos corações. Ter nossas vidasconformadas com a vontade de Deus é o segredo docontentamento e do regozijo. “Tomai sobre vós o meu

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jugo… e achareis descanso para a vossa alma” — de-clarou o Salvador. Em guardar os mandamentos deDeus existe grande recompensa. “Grande paz têm osque amam a tua lei” — disse o salmista. Que o Espíritode Deus opere em nós a verdadeira submissão, aindaque, para produzi-la, disciplina severa seja necessária.

O Que é aPerseverança dos

Santos?Richard P. Belcher

1. A doutrina da perseverança é uma conclusão lógica dosquatro pontos anteriores do calvinismo.

Se o homem é totalmente depravado e não pode fazer nadapara ajudar a si mesmo no que diz respeito às coisas es-pirituais; se Deus é absolutamente soberano na questão daeleição, fundamentada tão-somente em sua própria vontade;se a morte de Cristo realizou-se em favor dos eleitos, assegu-rando-lhes a salvação; e se Deus chama os eleitos de maneirairresistível, conclui-se que Deus assegurará a salvação finaldestes eleitos, ou seja, eles perseverarão até o fim.

Se os eleitos não perseverassem, a eleição eterna de Deusfalharia, e isto o calvinista não pode admitir. Se Deus decretoua salvação dos eleitos, então, ela acontecerá, incluindo asalvação final dos eleitos.

Se os eleitos não perseverassem, a morte de Cristo seria umafalha, porque o seu desígnio era garantir a salvação dos eleitos.

Se os eleitos não perseverassem, a graça de Deus seria resis-tível pelos salvos (eles poderiam rejeitá-la de uma maneirafinal, depois de estarem salvos), embora a graça fosse irresis-tível antes de eles serem salvos.

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O Que é a Perseverança dos Santos? 36

2. A doutrina da perseverança é definida nos seguintestermos:

A perseverança dos santos é a doutrina que afirma que oseleitos continuarão no caminho da salvação (por serem eleso objeto do eterno decreto da eleição e por serem eles o objetoda expiação realizada por Cristo), visto que o mesmo poder deDeus que os salvou os preservará e os santificará até o final.

3. A doutrina da perseverança não descarta o afastar-se deDeus por parte do crente.

Esta doutrina rejeita a possibilidade de alguém professar sercrente e viver em um suposto estado de afastamento de Deuspor muitos anos, sem enfrentar a mão disciplinadora de Deus;mas esta doutrina não descarta o afastar-se de Deus.

O afastamento de Deus pode ocorrer entre os crentes; todavia,a doutrina da perseverança diz que o verdadeiro crente nãoficará permanentemente nesse estado. Se ele permanecer, talcrente deve colocar um grande ponto de interrogação ao ladode sua profissão de fé.

4. A doutrina da perseverança, de acordo com o calvi-nismo, não inclui a idéia do “crente carnal”.

Um “crente carnal”, conforme muitos o definem, é um crenteque foi verdadeiramente salvo, mas está vivendo como umperdido. O “crente carnal” fez uma confissão de fé e viveupor um tempo como verdadeiro crente; agora, porém, ele sevoltou para o mundo, e aqueles que o cercam no mundo e osmembros da igreja não sabem se ele é um verdadeiro crente ounão. Somente Deus conhece o coração do “crente carnal”. Elepode passar todo o resto de sua vida nesta condição; mas, porcausa de sua experiência de salvação, ele estará com Cristo naeternidade. Ele é carnal, mas é um crente: ou, ele é um crente,

O Que é a Perseverança dos Santos? 37

mas é carnal. O calvinismo diria: não há salvação onde não háperseverança; e, onde há salvação, ali haverá perseverança.

5. A doutrina da perseverança inclui a segurança do crente;mas a segurança é somente um aspecto desta doutrina;a segurança pode deixar em seu rastro uma maneira depensar e um viver falsos.

O ensino dos batistas de “uma vez salvo, salvo para sempre” éapenas um dos lados da moeda e, sendo apenas um dos ladosda moeda, tal doutrina pode ser perigosa.

A doutrina da perseverança dos crentes, de conformidade como calvinismo, tem dois lados — segurança e perseverança.Um não pode existir sem o outro. A doutrina batista daeterna segurança (uma vez salvo, salvo para sempre) tende adesprezar e negligenciar a necessidade de perseverança comoprova da verdadeira salvação. Deste modo, se ensinarmos asegurança de salvação para um crente e não lhe ensinarmosa realidade da perseverança como prova da salvação, pode-remos produzir o mesmo resultado da doutrina do “crentecarnal” — pessoas que pensam ser salvas, mas não o são. Adoutrina da segurança eterna sem a outra metade da moedatorna-se uma permissão de pecar para aqueles que apenasprofessam ter fé em Cristo, mas que nunca foram verdadei-ramente salvos. A doutrina calvinista da perseverança dossantos tanto oferece conforto ao crente (ele está eternamenteseguro) quanto proporciona realidade à sua confissão de féem Cristo (o crente compreende que a perseverança na vidacristã é uma prova da salvação).