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Faculdade de Ciência da Informação Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação A TRANSFERENCIA DA INFORMAÇÃO EM ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS DE GEMAS E JOIAS Orientador Prof. Dr. Emir José Suaiden Gabriela Alves Duarte Brasília 2011

Faculdade de Ciência da Informação Programa de Pós ... · GTP/APL Grupo de Trabalho Permanente para Arranjos Produtivos Locais IBGM Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos

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Faculdade de Ciência da Informação Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação

A TRANSFERENCIA DA INFORMAÇÃO EM ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS DE GEMAS E JOIAS

Orientador Prof. Dr. Emir José Suaiden

Gabriela Alves Duarte

Brasília 2011

GABRIELA ALVES DUARTE

A TRANSFERENCIA DA INFORMAÇÃO EM ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS DE GEMAS E JOIAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade de Brasília, área de concentração Transferência da Informação, linha de Pesquisa Organização da Informação, como requisito final para obtenção do grau de Mestre em Ciência da Informação.

Orientador: Prof. Dr. Emir José Suaiden

i

Dedico este trabalho aos gestores do Sebrae,

sem a disposição de vocês esse estudo não

seria possível, e ainda ao Sr. Hécliton Santini

Henriques, presidente do IBGM, com seu apoio

gentil e silencioso, tornou menos árduo meu

caminho.

ii

Conhecimento é a nossa mais potente máquina de produção. Alfred Marshall, 1985

iii

AGRADECIMENTOS

Ao gestores do Sebrae que foram sempre gentis e atenciosos, e mesmo nos

dias mais atribulados me atenderam, ouviram e compartilharam comigo suas

experiências sobre a formação dos arranjos produtivos locais.

Ao querido professor Emir Suaiden, meu professor de tantos anos, que na sua

inabalável paciência e confiança nem por um momento deixou de acreditar em

mim.

À Jucilene, secretária da Pós-Graduação do Departamento de Ciência da

Informação, que cansou de me atender, sempre sorrindo e com uma palavra de

incentivo.

A todos que estavam comigo nesse caminho, me ouviram e contribuíram com

mais esse passo em direção a minha formação.

iv

SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS III

LISTA DE SIGLAS VI

LISTA DE FIGURAS VII

RESUMO VIII

ABSTRACT IX

1. INTRODUÇÃO 1

1.1. Cenário 1

1.2. Problema 3

1.3. Justificativa 4

1.4. Objetivo Geral 5

1.5. Objetivos Específicos 5

2. REVISÃO DE LITERATURA 6

2.1. Desenvolvimento Local 7

2.2. Micro, Pequenas e Médias Empresas no Brasil 15 2.2.1. Definição 15 2.2.2. Cenário 16 2.2.3. Especificidades das MPEs 19 2.2.4. Conclusão 21

2.3. Arranjos produtivos locais 22 2.3.1. A cooperação entre empresas 22 2.3.2. Conceito 26 2.3.2.1. Itália 27 2.3.2.2. Estados Unidos 29 2.3.2.3. Japão 30 2.3.3. Conclusão 36

2.4. O SETOR DE GEMAS E JOIAS NO BRASIL 37 2.4.1. Um pouco de história 39 2.4.2. A cadeia produtiva 45 2.4.2.1. Principais Gargalos da Cadeia Produtiva de Gemas, Joias e Afins 48

v

2.4.2.1.1. SEGMENTO MINERAL 49 2.4.2.1.2. SEGMENTO DE GEMAS E ARTEFATOS DE PEDRAS 50 2.4.2.1.3. SEGMENTO DA INDÚSTRIA JOALHEIRA DE OURO, FOLHEADOS E BIJUTERIAS 51 2.4.2.1.4. SEGMENTO DO VAREJO 53

2.5. APL DE GEMAS, JOIAS E AFINS 54 2.5.1. O apoio ao setor e aos APLs 55

2.6. A INFORMAÇÃO E O CONHECIMENTO 59

2.7. TRANSFERÊNCIA DA INFORMAÇÃO 63 2.7.1. Canais de informação 68 2.7.2. Modelos de transferência de informação 69

3. METODOLOGIA 74

3.1. TIPO DE PESQUISA 76

3.2. REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA METODOLOGIA 80

3.3. A AMOSTRA 81 3.3.1. Os sete arranjos 83

3.4. ENTREVISTAS 85 3.4.1. Estruturação da entrevista 87 3.4.2. Roteiro da entrevista 88

4. RESULTADOS DA PESQUISA 95

4.1. ANALISE 95 4.1.1. APL de Goiás 95 4.1.2. APL de Pedro II - Piaui 98 4.1.3. APL do Rio de Janeiro 100 4.1.4. APL de Gemas e Joias do Rio Grande do Sul 102 4.1.5. APL de Gemas e Joias de São Jose do Rio Preto 105 4.1.6. APL de Gemas e Joias de Belém do Para 107

4.2. CONCLUSÃO 110

5. REFERENCIAS 113

6. ANEXOS 122

6.1. ANEXO I – ROTEIRO DA ENTREVISTA 122

6.2. ANEXO II – RELATOS 125

vi

LISTA DE SIGLAS

APL Arranjo Produtivo Local

APEX Agencia Brasileira de Promoção e Exportações de Investimento

BB Banco do Brasil

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CEF Caixa Econômica Federal

CGEE Centro de Gestão e Estudos Estratégicos do Ministério de Ciência e Tecnologia

DEE Documento Especial de Exportação

FINEP Financiadora de Estudos e Pesquisas

GFMS Gold Fields Mineral Services

GTP/APL Grupo de Trabalho Permanente para Arranjos Produtivos Locais

IBGM Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IPI Imposto sobre Produtos Industrializados

MDIC Ministério da Indústria e Comércio

MPE Micro e da Pequena Empresa

PITCE Política Industrial Tecnológica e de Comércio Exterior

PME Pequena e Media Empresa

PROGEX Programa de Apoio Tecnológico à Exportação

PSI Programa Setorial Integrado de Apoio às Exportações de Gemas e Joias

PTE Paradigma Tecno-Economico

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e as Pequenas Empresas

SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SIGEOR Sistema de Informação da Gestão Estratégica Orientada para Resultados

SISCOMEX Sistema integrado de comércio exterior

UNICAMP Universidade de Campinas

vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Empregos gerados no setor de gemas e joias 47

Figura 2 - Modelos de transferência da informação 70

Figura 3 - Tríplice pêndulo da inovação/conhecimento 72

Figura 4 - Tríplice pêndulo da inovação/conhecimento 74

Figura 5 - Estrutura metodológica 81

viii

RESUMO

A busca pelo desenvolvimento local passou a ser entendida como

solução para os problemas econômicos e sociais de uma região. Assim como a

informação e o conhecimento passou a ser matéria prima para esse

desenvolvimento. Seguindo experiências internacionais, instituições de apoio a

pequenas empresas, instituições de pesquisa e governo federal e estadual

brasileiros uniram-se para implantar no Brasil os arranjos produtivos locais -

APL.

Estes arranjos - já existentes nos EUA, na Itália e no Japão em formatos

diferentes – são aglomerados de empresas de uma mesma região e

participantes da mesma cadeia produtiva que se unem em prol do

desenvolvimento coletivo. A ideia do APL esta construída sobre as bases da

cooperação, associação e compartilhamento de recursos e informação. O APL

assemelha-se a formação de rede tão comum atualmente. Busca, por meio do

compartilhamento, fortalecer um setor produtivo, tornando-o mais competitivo,

e consequentemente melhorar a qualidade de vida da comunidade.

O fenômeno de compartilhamento é transferência de informação no

âmbito dos arranjos é o foco principal dessa pesquisa. Sendo o interesse maior

a busca por conhecer como ocorre e quais são as ações destinadas e essa

transferência.

Havendo no Brasil mais de seiscentos arranjos produtivos, distribuídos

em diversos setores econômicos e por todos os estados, foi necessário definir

uma amostra na qual o estudo pudesse ser conduzido. Dessa forma, optou-se

por reduzir o universo aos arranjos produtivos locais de gemas, joias e

bijuterias apoiados por projetos do Sebrae. A definição da amostra possibilitou

entender como ocorre à transferência da informação em arranjos situados em

cinco estados brasileiros, contribuindo para a construção do conhecimento a

respeito do fenômeno.

ix

ABSTRACT

The search for local development came to be understood as a solution to

social and economic problems of a region. As information and knowledge has

become the feedstock for this development. Grounding in international

experience the federal and state brazilian government teamed up to deploy in

Brazil the clusters.

Can be find this clusters in EUA, Italy and Japan on different set. They

are group of enterprises located in the same region that compose a same

productive chain and joined forces in order to develop their enterprises and

region. The concept of cluster are constructed under the cooperation,

association and sharind resouces and informations idea. The clusters are like

as networks. Intend, by sharing, strengthen a productive sector, making it more

competitive, and consequently improve the quality of community life.

The phenomenon of sharing and transfer of information within the

clusters is the main focus of this research. The best interests of the search for

knowledge as it occurs and what are the actions adopted for this transfer.

In Brazil there are more than six hundred clusters, distributed for several

economics sectors. For this research was necessary define one sample.

Thereby, the universe of research was reduced to gem, jewel and bijou clusters

that have support of Sebrae projects. The sample allowed to understand how

information transfer in clusters in five Brazilian states, contributing to the

construction of knowledge about the phenomenon.

1

1. Introdução

1.1. Cenário

A informação sempre teve grande importância para a sociedade. A

aplicação e transmissão, oral ou escrita, permitiram a concretização do

aprendizado, a evolução do conhecimento e o desenvolvimento humano. O

aumento da facilidade em distribuí-la, acessá-la e compartilhá-la transformou a

sociedade, que evoluiu de sociedade agrícola à industrial, e posteriormente

para a sociedade da informação ou do conhecimento, como também é

chamada.

Suaiden (2006) afirma que para uma sociedade ser enquadrada como

“sociedade do conhecimento” é preciso que se organize, por meio de

implantação de processos de geração e uso do conhecimento, de uma maneira

que possa contribuir para a aprendizagem social. Nesta aprendizagem o

conhecimento deixa de ser visto apenas como “instrumento para se explicar e

compreender a realidade”, mas passa a ser também “um motor de

desenvolvimento e fator dinamizador das mudanças sociais”.

O autor ainda argumenta que para pensar em informação é necessário

considerar: “a dimensão humana, diretamente ligada à educação; a dimensão

tecnológica, fundamentalmente vinculada ao fator econômico e a dimensão

social estabelecida sobre bases culturais”. Observar estas dimensões é

essencial para o estabelecimento da Sociedade da Informação, a qual agrega

aos indicadores das sociedades anteriores: poder aquisitivo, nível educacional

e linguagem, a necessidade de acesso à informação.

Esse acesso interfere em todos os aspectos da vida. A qualidade de

vida esta intimamente ligada a ele. A economia, o comércio, a produção

industrial estão constantemente influenciadas pela informação. Em uma

sociedade onde o acesso à informação esta ao alcance de um “click” não tê-la

passou a ser fator de exclusão.

2

A sociedade da informação também trouxe uma visão diferente sobre o

compartilhamento e o trabalho em rede. Em ambientes competitivos estas

práticas eram entendidas como incompatíveis. Hoje se pode identificar, em

todo o mundo, a formação de redes e o compartilhamento da informação como

modelo fortalecedor da competitividade. Os Arranjos produtivos locais (APL)

são um exemplo dessa aplicação. Este é o contexto em qual se debruçou esta

pesquisa.

Em meio ao aumento da competitividade gerado pela globalização

pequenas empresas de uma mesma região obtêm a compreensão de que

juntas se tornam mais fortes. Este movimento de união em alguns casos tem

início nas próprias empresas, em outros é inserido por instituições de apoio ou

investimento privadas e governamentais.

A pesar de o movimento ser semelhante em diversos países, seu

objetivo difere. Enquanto nos EUA e Japão o interesse pela formação dos

chamados clusters carrega caráter puramente econômico, em países como o

Brasil o modelo foi adotado com interesse mais social. Aqui, a formação dos

aglomerados de empresas de forma organizada objetiva, principalmente,

melhorar a qualidade de vida de determinada região por meio do trabalho e

renda. Nesse cenário as informações tomam aspecto crucial. Aprender,

ensinar, compartilhar representa crescer juntos e se tornar mais competitivo.

Esta é a premissa para a formação dos arranjos no Brasil. Baseado em

estudos e experiências internacionais o País adotou a formação de APL como

política pública para solucionar questões sociais.

Entre os inúmeros setores produtivos apoiados por projetos para

formação de APL está o de Gemas e Joias, que englobam também: bijuterias,

folheados e artefatos de pedra. Existem poucas publicações sobre este setor. A

fonte que oferece mais informações é o Instituto Brasileiro de Gemas e Metais

Preciosos (IBGM). Apoiado por órgãos governamentais e de apoio à indústria e

comércio o Instituto procura deixar disponível o maior número de informações

atualizada possível. Para tanto, mantém um site e esta investindo, junto com o

Sebrae, no desenvolvimento de um sistema de inteligência competitiva setorial.

3

O setor de gemas e joias, apesar de ostentar o glamour do produto final,

é composto basicamente por micro e pequenas empresas, que representam

95% do universo. Estima-se que a informalidade se aproxime a 50% do

mercado, sendo que as sacoleiras1 representam a maior parte desse

percentual.

Em muitas regiões brasileiras a produção de gemas, joias, bijuterias,

folheados ou artefatos de pedra representam a vocação local. É nessas

localidades que os arranjos são desenvolvidos. Uma vez que, por conceito,

para ser entendido como arranjo produtivo local (APL) é necessário que toda a

cadeia produtiva faça parte de uma mesma região.

O fenômeno que despertou interesse pela pesquisa esta menos ligado a

questão econômica que envolve o APL e mais a questão social. Também

aguçou a curiosidade o movimento para formação de rede e compartilhamento

de informação, característica comum a Sociedade da Informação.

1.2. Problema

A organização da cadeia produtiva a partir da vocação local configura-se

como uma solução a diversos problemas sociais encontrados nas regiões

brasileiras. A aposta do governo federal na formação de APL confirma a

afirmação. Os arranjos brasileiros são espelhados em fenômenos ocorridos no

exterior o que produz a necessidade de estudo e adaptação dos modelos á

realidade brasileira. Nesse ponto a pesquisa científica vem auxiliando as ações

governamentais à medida que produz conhecimento para tomada de decisão e

orientação das políticas públicas.

No Brasil os Arranjos produtivos giram em torno da ideia: unir para

fortalecer. Isto é, prega a união das pequenas empresas de um setor produtivo

para que compartilhem recursos, máquinas, ideias, experiências, informações;

enfim, tudo que possa fazê-las mais competitivas.

1 Profissional autônomo sem registro ou ponto comercial. Atua comercializando o produto por meio de

indicação dos clientes.

4

Muitas pesquisas observam as vantagens e desvantagens dessa

formação, ou, simplesmente seu funcionamento. Mas, poucas as observam

pela ótica do uso e gestão da informação e do conhecimento. Ciente da

importância da informação para as empresas e da pouco cultura em priorizá-la

surgem questões a respeito dessa interação (informação-APL): Como ocorre

o compartilhamento da informação em arranjos produtivos locais? Existe

uma modelo de transferência da informação aplicado nos arranjos?

1.3. Justificativa

A partir do início da era do conhecimento, a informação vem se

tornando, cada vez mais, imprescindível para gestores e empresas,

independente se são pequenas, médias ou grandes. Ter acesso à informação,

seja sobre o ambiente empresarial ou externo a ele, é fator essencial para que

se possa entender o contexto no qual as empresas estão inseridas (OSTANEL,

2005)

Laudon e Laudon (2005) deixam claro que a importância da informação

vai além do simples acesso a ela. É necessário entender o que é uma

informação e o como ela pode agregar valor à empresa. As informações, ao

serem acessadas, precisam ser interpretadas, possibilitando o entendimento de

um fato, e assim desencadear um processo de aprendizado individual ou

coletivo.

Muitas ações são realizadas nas empresas baseadas nesse

conhecimento. Organizações buscam aprender como aumentar a

competitividade por meio de uma gestão eficiente da informação. Instituições

de apoio à indústria e comércio também procuram meios para auxiliar as

pequenas e médias empresas nesse campo. Tomando como premissa a

importância do compartilhamento e aprendizado, o Governo Brasileiro vem

elaborando políticas públicas para organizar pequenas empresas em Arranjos

produtivos locais.

Como há sempre um caminho de descoberta quando adotamos modelos

criados em outro ambiente, ainda discute-se no Brasil o conceito de Arranjo

5

Produtivo Local. Contudo, em paralelo a este debate, já foram implantados, sob

o apoio governamental, mais de 600 arranjos produtivos.

É possível encontrar diversos estudos sobre o tema em diferentes áreas

do conhecimento. A maioria concentra-se nas áreas de administração e

economia. Entretanto, poucos são debatidos sob a visão da Ciência da

Informação. Fato curioso, já que a formação de rede e o compartilhamento,

transferência e gestão da informação são elementos essenciais para o sucesso

de um arranjo produtivo, tanto quanto são de interesse da Ciência da

Informação. Outro fato que chama a atenção é que, por ser um modelo

adaptado de experiências internacionais, torna-se evidente a necessidade de

estudos que busquem gerar conhecimentos para apoiar essa adaptação.

1.4. Objetivo Geral

Identificar e analisar o processo de transmissão de informação em arranjos

produtivos locais de gemas, joias e afins apoiados pelo Sebrae.

1.5. Objetivos Específicos

Caracterizar os arranjos produtivos locais de gemas e joias;

Identificar os meios utilizados para gestão da informação nos arranjos

produtivos locais de gemas e joias apoiados pelo Sebrae;

Identificar na literatura a metodologia apropriada para transferência da

informação em arranjos produtivos locais de gemais e joias;

Diagnosticar as ações realizadas nos arranjos produtivos locais de gemas e

joias;

6

2. Revisão de Literatura

O processamento de dados por meio da microeletrônica modificou o

paradigma construído no período industrial. A aplicação desse processamento

às atividades econômicas promoveu soluções para alguns desafios impostos

pelo citado período. Entre eles estão o aproveitamento otimizado do tempo, o

controle e gerenciamento da informação e o aumento da variedade de insumos

e produtos. A tecnologia da informação passou a ser fator chave para o

processo produtivo, mesmo que com impacto desigual em relação aos setores

econômicos. Lastres (1999) afirma que esta transformação estrutural da

sociedade enquadra-se no conceito de Paradigma Tecno-Econômico (PTE)

cunhado por Dosi e Freeman em 1982. Segundo a autora o PTE indica o

processo de seleção de uma série de combinações viáveis de inovações que

provocam transformações em toda a economia e exercem importante influência

no comportamento econômico. O conjunto de inovações que compõe cada

paradigma é definido por três características: ampla possibilidade de aplicação,

demanda crescente e queda persistente do custo unitário. Cada novo

Paradigma Tecno-Econômico traz mudanças no comportamento político,

social, econômico e técnico, tronando-se o estilo dominante durante um longo

período. O desenvolvimento de novo PTE é resultado dos avanços da ciência e

da persistência de pressões sociais e competitivas que buscam superar os

limites de crescimento e sustentar a lucratividade e a competitividade.

O último Paradigma Tecno-Economico é o da Tecnologia da Informação.

Iniciado em 1970 com o surgimento da tecnologia digital e do micro

processamento. Este novo paradigma está baseado no conjunto de inovações

em computação, circuitos integrados e telecomunicações que impactaram

fortemente na armazenagem, processamento e compartilhamento da

informação. Este impacto trouxe inúmeras consequências no âmbito

econômico, entre elas pode-se destacar: a necessidade de desenvolvimento de

novos formatos e estratégias empresariais; o acirramento da competitividade; o

aumento da importância da inovação; o desenvolvimento de modelos e

7

sistemas visando aumentar a interação entre os diversos agentes econômicos,

políticos, técnicos-científicos. (Lastres, 1999)

Acrescenta-se a estas consequências o aumento da relevância da

informação e do conhecimento para o desenvolvimento. Assim como afirma

Lastres (1999) ao discutir os novos enfoques dos estudos sobre

desenvolvimento econômico contemporâneo, ressalta que a informação, o

conhecimento e o aprendizado são conceitos fundamentais para entender as

transformações econômicas atuais, causadas pelo novo Paradigma Tecno-

Econômico. Afirma, ainda, que a inteligência e a competência humana sempre

tiveram no cerne do desenvolvimento econômico em qualquer sociedade.

Dessa forma, a informação e o conhecimento sempre constituíram importantes

pilares dos diferentes modos de produção. A autora adota o conceito de

conhecimento definido por Nonaka e Takeuchi. Baseado nele faz a seguinte

afirmação sobre o sentido econômico dos conceitos “informação” e

“conhecimento”:

“Ao contrário dos economistas ortodoxos, a escola neo-schumpeteriana aponta a importância de esforços explícitos para a geração de novos conhecimentos como também para a sua introdução e difusão no sistema produtivo. Este é o processo que conduz ao surgimento de inovações, considerado fator-chave para o processo de desenvolvimento.” (Lastres, 1999, pg.30)

As mudanças ocorridas na economia global acarretam consequente impacto no

desenvolvimento local. Ambiente ao qual o objeto deste estudo esta

relacionado. Sendo assim não se pode deixar de compreender este termo e

conhecer os impactos gerados em nível local pelo surgimento do novo

paradigma.

2.1. Desenvolvimento Local

O tema desenvolvimento local ainda é controverso. Existem conceitos

baseados em perspectivas distintas. Entre eles estão: o que observa o

8

desenvolvimento local como expressão espacial de um novo arranjo industrial

(Benko e Lipietz apud Caldas e Martins, 2007) e o que acredita “no local como

espaço privilegiado para experimentações contra hegemônicas” (Santos e

Rodriguez apud Caldas e Martins, 2007). As perspectivas parecem não serem

antagônicas, mas revelam um debate aquecido sobre o conceito de

desenvolvimento local.

Caldas e Martins (2007) apoiado nas afirmações de Benko e Lipietz

(1994) afirmam que para inverter a tendência do estabelecimento, de forma

desorganizada, de uma nova organização espacial da produção industrial, seria

preciso duas revoluções na organização dos processos. Uma modificaria as

relações profissionais entre capital-trabalho. Uma vez que, segundo os autores,

a crise do taylorismo pós-guerra resultou na mobilização dos recursos

humanos que se formam não somente nas empresas, mas, sobretudo, na

cultura local e na tradição familiar. A outra trata da organização industrial, a

relação entre as empresas. “Redes de empresas ligadas por relações de

parceria e sub-contratação substituíram as grandes empresas integradas.” As

duas dinâmicas retratam um retorno ao passado, onde era comum na geografia

econômica a existência de distritos industriais em que se concentravam

empresas do mesmo ramo, dividindo trabalho e compartilhando um saber-

fazer.

Em uma análise sócio-econômica dos distritos industriais Becattini

(1994) destaca o sistema de valores e pensamento coletivo como expressão da

ética do trabalho, da família e da mudança. Esse sistema condicionaria os

principais aspectos da vida local. Em paralelo a este sistema desenvolve-se um

conjunto de instituições, normas e regras que se destinam a propagar e manter

tais valores em todo o distrito. Estas instituições são compostas não só do

mercado, da escola e da igreja; mas também das autoridades políticas locais,

além das outras entidades tanto públicas como privadas. Segundo Becattini

(2004), para que as dinâmicas sociais possam funcionar com menores

obstáculos, estas instituições devem respeitar, na medida do possível, o

sistema de regras e valores locais.

9

Nesse mesmo contexto está o conceito proposto por Santos e Rodriguez

(2002), um desenvolvimento local coligado a ações “de baixo para cima”. Nesta

visão a capacidade de decidir sobre o desenvolvimento local não é exclusiva

do Estado ou das elites econômicas. A sociedade civil passa a ser o ator

principal do processo de construção coletiva. Esse processo criaria um

potencial para que o efeito econômico dessas experiências chegasse à esfera

política, produzindo, assim, um ciclo de crescimento que contrariasse as

lógicas de exclusão.

Caldas e Martins (2007) relatam que nos anos 70 iniciou-se o movimento

de valorização do local como instância privilegiada para planejar e executar

políticas públicas governamentais. Até então não se tratava de uma prática

recorrente, uma vez que o contexto nacional era altamente centralizador e

autoritário. Tratava-se, sim, de experiências pontuais ocorridas em alguns

municípios. Estas experiências serviram como orientadoras de novas práticas

na gestão pública local. Hoje podem ser usadas como exemplo da

possibilidade de se fazer resistência a partir do local.

De acordo com Caldas e Martins (2007), nos anos 70, as Câmaras

Municipais possuíam um papel limitado. Os municípios não eram entes da

Federação, dessa forma não possuíam Leis Orgânicas, tinham pouca

autonomia tributária e escassez de recursos transferidos dos governos Federal

e Estadual. No plano nacional, predominavam os grandes projetos

desenvolvimentistas.

Em um contexto de pouca autonomia, não se distinguiam “local” de

“municipal”. Lutava-se, no plano nacional pela municipalização das políticas

públicas. No âmbito local, as experiências inovadoras concentravam-se na

descentralização da gestão e da democratização das relações do Estado com

a sociedade. O foco não estava em encontrar alternativas locais de

desenvolvimento econômico. Mesmo assim, observou-se, no âmbito da

economia, a preocupação com a geração, distribuição e acumulação de renda

e riqueza.

10

Nos exemplos desta época é possível perceber que as ações não se

referiam diretamente à economia ou a um projeto de desenvolvimento

econômico local, mas à segurança alimentar, reforma salarial e administrativa e

obras públicas. Entretanto resultaram em forte impacto sobre a economia local.

Caldas e Martins (2007) ainda nos lembra que com a democratização do

país, as Câmaras Municipais ampliaram suas competências, os governos

municipais aumentaram seus recursos, suas capacidades de tributar, sua

participação nas transferências governamentais e suas atribuições em termos

de planejamento e execução de políticas públicas. Este aumento da autonomia

dos municípios é comprovado pela intensidade de experiências municipais

inovadoras.

Entretanto o país mergulhou em um cenário adverso, do ponto de vista

macroeconômico, tanto na década de 70 como na de 80. Crises decorrentes do

mercado de petróleo, da dívida externa e da inflação galopante marcaram um

período de instabilidade econômica, com consequente recessão e

desemprego. É neste cenário que se impuseram as tentativas locais de

desenvolvimento. A saída imediata adotada pelas administrações públicas

locais foi a isenção fiscal o que intensificou uma guerra fiscal entre municípios.

Tal solução ocasionou consequências nefastas sobre a própria administração

pública. Com poucos recursos para executar políticas públicas não conseguia

gerar empregos suficientes para a população local. A crise nacional recai,

assim, sobre os municípios.

Os municípios mais criativos passam a buscar alternativas mais

eficazes. Entre elas Caldas e Martins (2007) destacam: a criação dos Bancos

do Povo, como meio de financiar pequenos empreendimentos a taxas de juros

menos extorsivas que as praticadas no mercado bancário; o fomento a

cooperativas; a instituição de cursos de formação e qualificação profissionais; o

estabelecimento de parcerias com outros países em torno de projetos técnicos

e mesmo de conquista de mercados por meio do comércio justo e solidário.

Algumas dessas experiências foram induzidas pelo governo, outras

encabeçadas por setores da sociedade civil.

11

Neste ponto as ações adotadas pelos municípios parecem corroborar

com as ideias de Santos e Rodrigues (2002). O desenvolvimento econômico, a

partir das soluções municipais para a crise estabelecida, reflete-se em uma

forma de melhorar as condições de vida das pessoas da comunidade. Dessa

forma é possível afirmar que as experiências de desenvolvimento local também

adotam imperativos não econômicos, além de propor um desenvolvimento

capaz de produzir transformação social a partir da base, isto é, “de baixo para

cima”.

Milani (2006) parece concordar com a conceituação de Santos e

Rodrigues, uma vez que afirma:

sabe-se desde há muito que o desenvolvimento local envolve fatores sociais, culturais e políticos que não se regulam exclusivamente pelo sistema de mercado. O crescimento econômico é uma variável essencial, porém não suficiente para ensejar o desenvolvimento local. Considerado como projeto (François Perroux, 1961), caminho histórico (Ignacy Sachs, 1993), pluridimensional (Henri Bartoli, 1999), o desenvolvimento local é sabidamente marcado pela cultura do contexto em que se situa.

Entende-se que este autor reuniu em um só conceito, os debates a

respeito do que pode ser compreendido como desenvolvimento local. Este

conceito auxilia no entendimento sobre o contexto em que esta pesquisa se

dedica a estudar.

Sendo assim adota-se, para a mesma, o conceito proposto por Milani

(2006). O qual formula que o desenvolvimento local pode ser considerado

como o conjunto de atividades culturais, econômicas, políticas e sociais que

participam de um projeto de transformação consciente da realidade local. Neste

caso há significativo grau de interdependência entre os diversos segmentos

que compõem a sociedade (âmbitos político, legal, educacional, econômico,

ambiental, tecnológico e cultural) e os agentes presentes em diferentes escalas

econômicas e políticas, tanto local como global. O autor ainda ressalta que o

desenvolvimento local deve ser pensado não somente enquanto projeto

integrado no mercado. Deve ser considerado, também, fruto de relações de

12

conflito, competição, cooperação e reciprocidade entre atores, interesses e

projetos de natureza social, política e cultural.

Suaiden (2008) ensina que as mudanças paradigmáticas propiciadas

pela revolução tecnológica esta relacionada diretamente com a possibilidade

de maior acesso às informações e consequente transformação em

conhecimento, gerando, assim, produtos, serviços e riquezas. O autor lembra

que no final dos anos 80 alguns especialistas apontavam como tendência uma

Sociedade da Informação inclusiva. Isto é, o compartilhamento de recursos

estaria dedicado ao bem-estar e a erradicação da desigualdade social.

Entretanto, o mesmo autor afirma que atualmente muitos especialistas

consideram a Sociedade da Informação como uma sociedade na qual a

desigualdade vem se acentuando. As considerações estão relacionadas a

constatação de que na sociedade atual somente aquelas pessoas com acesso

à informação e ao conhecimento poderão alcançar uma melhor qualidade de

vida e obter qualquer grau de poder. Contudo apenas uma parcela reduzida da

população possui acesso democrático a informação e capacidade para

transformá-la em conhecimento. Para Suaiden (2008), as regiões onde

prevalece a desinformação (informação incorreta ou manipulada) ou a falta de

informação são automaticamente excluídas do processo de desenvolvimento

global, uma vez que os desinformados não podem produzir os resultados

necessários ao desenvolvimento, mantendo em prejuízo a formação do capital

intelectual e social. Para entender melhor a conclusão de Suaiden (2008) e a

relação entre capital intelectual e social e o desenvolvimento é preciso

compreender o que esses dois capitais englobam.

Álvares (2010) reuni alguns dos conceitos para Capital intelectual

definidos por diversos autores. Enquanto Sveiby (1998), Edvinsson e Malone

(1998) o definem como um meio de evidenciar e potencializar a força dos

recursos não materiais ou intangíveis. Brooking (1996) o considera uma

combinação de ativos intangíveis, oriundos das mudanças nas áreas da

tecnologia da informação, mídia e comunicação, que trazem benefícios

intangíveis para as empresas e que capacitam seu funcionamento. Estes

autores conferem ao conceito a idéia de intangibilidade que lhe é inerente,

13

entretanto os primeiros o vêem como um meio de expressão e

pontencialização dos recursos intangíveis, já o segundo o entende como o

conjunto do próprio recurso.

Nesse ponto Marçula (1999) entra em acordo com Brooking, uma vez

que entende o capital intelectual como conjunto dos conhecimentos e

informações possuídos por uma pessoa ou instituição, colocados ativamente a

serviço da realização de objetivos econômicos;

Duffy (2000) apesar de concordar com a idéia de conjunto extrai a

característica humana do conceito, argumentando que o Capital intelectual é

um aspecto mais amplo do capital humano e abrange os conhecimentos

acumulados de uma empresa relativos a pessoas, metodologias, patentes,

projetos e relacionamentos, sendo capital humano um subgrupo desse

conceito.

Quanto ao capital social, também são encontrados na literatura diversos

conceito para o termo. Anése (2009) cita alguns desses conceitos:

Para Portes (1998) apud Anése (2009), assim como o capital econômico

está em contas bancárias e o capital humano está dentro da cabeça das

pessoas, o capital social é inerente a estrutura dos relacionamentos.

Coleman (1998, 1990) apud Anése (2009), o descreve como recursos

socio-estruturais que constituem um ativo para o individuo e facilitam certas

ações de indivíduos que estão dentro dessa estrutura. Para este autor o capital

social dividi-se em três formas: a primeira consiste no nível de confiança

existente no ambiente social. A segunda trata dos canais de trocas de

informações e idéias. A terceira diz respeito as normas e sanções existentes

que encorajam os indivíduos a trabalharem por um bem comum, deixando em

segundo plano os interesses próprios imediatos.

Bourdieu (1985) apud Anése (2009), definiu o Capital social como um

“agregado de recursos ou potenciais que estão ligados à participação em uma

rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas de mútua

familiaridade e reconhecimento que promove para cada um de seus membros

o suporte do capital de propriedade coletiva.”

14

Para Albagli e Maciel (2003) o capital social é desenvolvido a partir das

parcerias que as empresas de um determinado local formam com clientes,

fornecedores, outras empresas do setor, instituições de pesquisa entre outras

organizações. A formação do capital social acarreta inúmeros benefícios

econômicos às empresas, entre eles estão: maior facilidade de

compartilhamento de informações e conhecimento; a formação de ambientes

propícios ao empreendedorismo; a melhor coordenação e coerência de

processos de tomada de decisões coletivos; e a melhoria da previsibilidade do

comportamento dos agentes devido ao maior conhecimento mútuo, o que

desestimula comportamentos oportunistas.

É evidente que o desenvolvimento dos dois capitais, independente do

conceito escolhido, contribuem para o alcance do desenvolvimento social.

Suaiden (2008) ao argumentar sobre impacto social na biblioteca pública

conclui que este tipo de biblioteca é um importante instrumento para o

desenvolvimento do capital social e intelectual, uma vez que pode se

transformar em um ponto eficiente de acesso a informação e de integração da

comunidade.

A conclusão do autor é ratificada ao considerarmos que as mudanças

geradas pelo novo paradigma trouxeram para a economia e para a sociedade o

aumento da importância da aplicação da informação e do conhecimento no

processo produtivo e na inclusão social. Dessa forma os instrumentos públicos

de acesso a informação passam a ter sua importância aumentada, uma vez

que configuram parte necessária ao desenvolvimento do individuo e do

processo produtivo do qual participa.

As consequências das mudanças sociais de forma global foram

reproduzidas para os níveis locais impactando no desenvolvimento local. A

adequação do processo produtivo ao novo paradigma passou a ser primordial

para a sobrevivência das pequenas e médias empresas. Assim como o acesso

a informação e o conhecimento passaram a ser essencial para a inclusão

social. O grau de desenvolvimento reflete cada vez mais a abrangência e a

eficiência no uso dos sistemas de informação, na capacidade de trabalhar em

15

redes e de forma cooperativa. O advento da tecnologia de informação gerou as

necessidades de colaboração e interligação para a promoção do

desenvolvimento tecnológico e econômico. Neste contexto se inserem as

pequenas e médias empresas, participantes essenciais no desenvolvimento

local, por seu potencial de geração de renda e emprego.

2.2. Micro, Pequenas e Médias Empresas no Brasil

2.2.1. Definição

No Brasil existem diversos parâmetros para a definição de empresa de

pequeno porte. Destacam-se as definições contidas na Lei Geral e no Estatuto

da MPE (Micro e da Pequena Empresa), que visam definir as empresas que

podem ser beneficiadas pela Lei; as adotadas pelo BNDES para fins de apoio

financeiro pelo banco; além das utilizadas pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de

Apoio as Micro e as Pequenas Empresas) para definição do público-alvo.

A Lei Geral da MPE adota a classificação em função do faturamento

anual. Esta classificação defini a microempresa e a empresa de pequeno porte

quanto aos limites de receita bruta anual e segue as mesmas diretrizes

adotadas pela Lei do Simples Federal (Lei nº 9.317/96). Os parâmetros da Lei

Geral entraram em vigência desde 1º de julho de 2007 (Ribeiro Neto, 2008).

Esta lei considera como microempresa aquelas com faturamento bruto anual

de até R$ 433.755,14 e pequenas empresas as com faturamento bruto anual

de até R$ 2.133.222,00.

Para efeito de enquadramento no regime tributário especial (Lei nº

9.317, de 5 de dezembro de 1996 – Simples Nacional), a microempresa tem

faturamento até R$ 120 mil e a pequena até R$ 1,2 milhão. Esses valores

foram revistos pela Lei n° 11.196/2005 para, respectivamente, R$ 240 mil e R$

2,4 milhões. Contudo, ainda para efeitos tributários, existem diferentes

definições empregadas por cada um dos Estados em seus programas de apoio

à micro e pequena empresa, isto é, Simples Estaduais. Dessa forma, uma

16

pequena empresa pode não se enquadrar no conceito usado pelo governo

federal, mas encaixar-se na definição adotada pelo governo estadual e vice-

versa. (SEBRAE, 2005)

Para oferecer linhas de financiamento especiais para as MPEs o BNDES

adotou definições baseadas em resolução do Mercosul. Nesta resolução

microempresa são aquelas com faturamento bruto anual de até R$ 1,2 milhão e

pequena, de até R$ 10,5 milhões. A Secretaria de Comércio Exterior do

Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio considera microempresa

aquela com exportações de até US$ 440 mil e a pequena com exportações de

até US$ 3,5 milhões.

Para delimitar o objetivo e o público-alvo a ser atendido pela instituição,

o SEBRAE definiu dois critérios para o enquadramento de empresas de micro e

pequeno porte: número de funcionários e faturamento anual, conforme

apresentado abaixo:

Pequena empresa: na indústria, de 20 a 99 pessoas ocupadas; no

comércio e serviços, de 10 a 49 pessoas ocupadas;

Média empresa: na indústria, de 100 a 499 pessoas ocupadas; no

comércio e serviços, de 50 a 99 pessoas ocupadas;

Grande empresa: na indústria, acima de 500 pessoas ocupadas;

no comércio e serviços, acima de 100 pessoas ocupadas.

Para esta pesquisa adotaremos a definição utilizada pelo SEBRAE. A

escolha justifica-se pelo fato do estudo estar voltado a Arranjos Produtivos

Locais – APL e de o SEBRAE atuar de forma consistente no desenvolvimento

desses arranjos.

2.2.2. Cenário

Até os anos 70 acreditava-se que o mundo empresarial era composto

por grandes organizações. As pequenas empresas eram, até então, vistas

como empresas em estagio inicial de desenvolvimento, mas com tendência a

17

crescerem. Eram analisadas sob a mesma ótica utilizada para as grandes

organizações e administradas pelos mesmos princípios utilizados administrar

as grandes empresas. Contudo a crise econômica, que iniciou-se nesta década

e perdurou até os anos 80, atingiu vários países que adotavam o modelo

industrial na produção em massa, mudando o paradigma econômico. Esta

mudança trouxe a maior representatividade e fortalecimento das organizações

de menor porte. Reconhecidas agora como forma empresarial dominante e

propulsoras do crescimento econômico. (DAY, 2000; LONGENECKER;

MOORE; PETTY, 1997 apud TERENCE, 2008)

Os números divulgados pelos estudos do IBGE e Sebrae ratificam a

afirmação. Segundo o IBGE, em 2002, existiam no setor formal urbano 4,88

milhões de micro e pequenas empresas. O que representava 99,2% do total de

4,918 milhões de empresas. Estas empresas empregavam 56,1% da força de

trabalho atuante no setor citado. De acordo com a pesquisa realizada em 1997,

pelo mesmo órgão, na economia informal, as micros e pequenas empresas

representam 9,5 milhões de empreendimentos, envolvendo trabalhadores por

conta própria e pequenos empregadores com um a cinco empregados. No

meio rural, as micro e pequenas empresas representavam 4,1 milhões de

proprietários familiares, com até quatro módulos rurais, conforme dados do

INCRA (PERUSSI FILHO, 2006).

Em seus estudos La Rovere (2001) afirma que as limitações no

desempenho competitivo das MPEs são comuns tanto em empresas de países

desenvolvidos como em desenvolvimento. Em geral essas limitações estão

vinculadas ao uso de tecnologias obsoletas, administração inadequada e

dificuldades de comercialização de seus produtos em novos mercados.

A dificuldade em obter crédito é uma das causas das limitações, mesmo

existindo mecanismos de crédito específicos para estas empresas, no Brasil, a

simples exigência de estarem em dia com as obrigações fiscais impede que a

maioria das MPEs obtenham crédito para o investimento em inovação.

La Rovere (2001), apoiada nas afirmações de Gagnon e Toulouse

(1996) observa que as MPEs parecem não ter consciência dos possíveis

18

ganhos de competitividade trazidos pelas inovações. Em sua maioria geram ou

adotam inovações apenas quando identificam oportunidades de negócio

ligadas à inovação ou por estarem sob pressão de clientes e fornecedores.

Segundo os estudos divulgados no Electronic Information as a Strategic Tool to

Increase the Competitiveness of European Small and Medium-Sized

Enterprises European Commission Workshop (1996), isto ocorre devido às

peculiaridades do processo de aprendizado tecnológico das MPEs, onde a

busca e seleção de informações é afetada por limitações de tempo e de

recursos humanos.

Vos, Keizer e Halman (1998) afirmam que a baixa capacitação gerencial

esta ligada ao fato de que estas empresas são em sua maioria familiares. O

tamanho reduzido dessas empresas faz com que seus proprietários, que em

geral também são seus administradores, tenham um horizonte de planejamento

de curto prazo. Isto os mantém em um círculo vicioso onde a resolução de

problemas diários impede a definição de estratégias de longo prazo e de

inovação.

A dificuldade em conquistar mercados é também uma consequência da

baixa capacitação das MPEs. Na literatura existe a concordância de que

quando estas empresas pertencem a uma rede de empresas as limitações

tornam-se menos graves. Quanto a esta questão, La Rovere (2001) ensina,

apoiada nas afirmações de Levistky (1996), que pesquisas realizadas em

países em desenvolvimento apontam que as MPEs integrantes de clusters

possuem mais chances de se desenvolver e sobreviver do que empresas

similares que atuam isoladamente. Isto porque, de acordo com Lemos (1999)

apud La Rovere (2001), no novo paradigma tecno-econômico aumenta a

necessidade de investimento em conhecimento, que mantêm dependência dos

processos de aprendizado interativos. Os clusters2 e as alianças estratégicas3

permitem o estabelecimento de laços de cooperação que possibilitam às

2 Aglomerações setoriais e espaciais de empresas.

3 Relacionamento estabelecido por empresas de uma cadeia produtiva dispersas geograficamente.

19

empresas, principalmente as MPEs um maior acesso a informações e

conhecimento.

2.2.3. Especificidades das MPEs

Leone (1999) entende que as pequenas empresas possuem

especificidades que devem ser levadas em consideração ao estudá-las. São

características inerentes e que as distinguem das empresas de grande porte. A

autora argumenta que as teorias organizacionais nascem, em geral, dos

problemas surgidos no âmbito das organizações e dos estudos e soluções

propostas pelos estudiosos. Como a dimensão das pequenas e médias

empresas cria condição que as distingue das empresas de maior porte, faz-se

necessário o desenvolvimento de estudos com enfoque distinto do adotado

para as grandes empresas. Para a autora essas especificidades podem ser

apresentadas em três vias:

Especificidades organizacionais

Apresentam uma estrutura organizacional simples com poucas unidades

funcionais. Esse tipo de estrutura facilita o fluxo de informação com os

empregados e entre os mesmos. A inexistência de níveis hierárquicos

intermediários permite o contato direto o que possibilita a informalidade a

aproximação das pessoas, característica importante para as MPE, uma vez

que auxilia na formação de uma cultura organizacional;

possuem pouco conhecimento sobre seu ambiente externo;

controle centralizado no dirigente ou proprietário que tende a agir mais de

acordo com sua sensibilidade do que baseado em técnicas administrativas;

nível de maturidade organizacional muito baixo, isto é, processos de

planejamento, controle e definição de estratégias pouco formalizados e

quantificados;

20

operam com uma lógica de reação e adaptação, em vez de uma lógica de

antecipação e de controle, mais característico nas grandes empresas;

comunicação direta do proprietário ou dirigente com o cliente.

Especificidades na tomada e decisão

Tomada de decisão baseada na experiência, julgamento e intuição do

proprietário-dirigente;

O poder de direção é localizado e centralizado. A tomada de decisão e a

política de sobrevivência do negócio são marcadas pelos valores do

proprietário-dirigente, dessa forma os objetivos da empresa são determinados

pelos objetivos pessoais do seu proprietário;

As informações necessárias para a tomada de decisão nem sempre estão

disponíveis;

O conjunto de decisões, tomadas pelo proprietário dirigente, são produto da

sua racionalidade econômica, política e familiar. Isto porque além do interesse

em obter resultados e manter seu poder, este dirigente carrega, dentro da

empresa, uma conotação de Pater Familias (Bauer, 1993 apud Leone, 1999)

Especificidades Individuais

Pouca diferenciação entre a pessoa física do proprietário-dirigente e a pessoa

jurídica (empresa) ou ainda entre família e empresa;

Perspectiva e funcionamento da empresa são afetados pelo percurso pessoal

do dirigente;

O papel do dirigente é baseado na propriedade. Existe uma simbiose entre o

patrimônio social e o patrimônio do dirigente e sua família, de maneira que o

dirigente arrisca seu próprio capital no empreendimento;

A posição que o dirigente ocupa na empresa é a origem principal de seu

poder e status;

21

Para compreender o funcionamento da empresa é imprescindível analisar as

competências, atitudes, motivações e comportamento organizacional do

proprietário-dirigente;

A presença de um dirigente comprometido pessoal e financeiramente na

empresa ocasiona a adesão de toda equipe. A prioridade dada a função

integração esta associada ao sucesso da empresa;

O dirigente trabalha em estreita colaboração com seus empregados

facilitando o conhecimento de problemas pessoais dos funcionários e causando

um comportamento paternalista dos dirigentes.

Ao lançar o olhar sobre as regiões brasileiras tentando entender como

estas se desenvolvem depara-se micro, pequenas e médias empresas no

cenário e com as especificidades apresentadas. As pessoas envolvidas neste

cenário não são só as responsáveis pela manutenção de um setor produtivo,

mas acima de tudo são responsáveis pelo desenvolvimento local. Isto é, estas

pessoas, como proprietários ou colaboradores nas empresas, promovem a

melhoria de qualidade de vida em uma determinada região.

2.2.4. Conclusão

A configuração econômica mudou, acompanhando as mudanças sociais.

No período industrial o valor da figura humana estava bem aquém do valor

atribuído a produção industrial. A produção em massa dominava o cenário e os

governos mantinham uma visão geral de desenvolvimento. Pouco se

preocupava com o desenvolvimento local, pois entendia-se o desenvolvimento

de forma geral. Hoje parece óbvio que o desenvolvimento das partes gera, de

forma mais justa, o desenvolvimento do todo. É compreensível que a mudança

de visão tenha sido apoiada pelas crises econômicas. Assim como é

interessante pensar que a mesma mudança também foi promovida pela

evolução tecnológica e consequente evolução socio-economica.

22

A crise econômica dos anos 70 e 80 obrigou a busca de novas soluções

tanto em âmbito global como no local. Foi a partir da crise que os municípios

iniciaram o movimento para promover um desenvolvimento próprio. Com a

evolução do processamento de dados os processos produtivos foram

alterados. A disponibilidade de informação e a facilidade de conexão entre

pessoas, empresas e países modificaram de forma relevante a sociedade e a

economia. A informação e o conhecimento, que antes já eram importantes para

o desenvolvimento, agora tornou-se fator de competitividade.

Para o desenvolvimento local acontecer foi imprescindível o

desenvolvimento da produção a partir do local. As micro e pequenas empresas

começam a se desenvolver nos municípios, aproveitando as vocações

regionais. Diante da necessidade de serem competitivas e alcançarem novos

mercados a cooperação entre elas tornou-se evidentemente necessária.

Buscando promover o desenvolvimento local, entendendo que as

micros, pequenas e médias empresas como atores essenciais e assumindo as

mudanças trazidas pelo novo PTE foi que se iniciou a proliferação dos arranjos

produtivos locais.

2.3. Arranjos produtivos locais

2.3.1. A cooperação entre empresas

Benko (2000) afirma que as pesquisas sobre a questão do

desenvolvimento local, remontam os anos 80. Desde estão estudiosos se

debruçaram sobre o tema, dando origem a diversas abordagens. Em todas elas

a cooperação desempenha um papel importante.

É consenso entre os autores contemporâneos, que dedicaram seus

estudos às pequenas empresas e ao desenvolvimento local, que a

aglomeração espacial de empresas proporciona benefícios e impulsiona o

23

desenvolvimento. Estes benefícios estão associados tanto à localização quanto

a interação entre as empresas.

Por um lado a proximidade local pode promover vantagens como o uso

de infraestrutura, o acesso a serviços de empresas e instituições locais e as

economias de proximidade. Por outro lado a aglomeração pode facilitar o

desenvolvimento de projetos conjuntos de inovação e a implantação de

mecanismos de comercialização que buscam alcançar mercados além da

fronteira local. Entretanto para que esses benefícios se concretizem é preciso

que as empresas estabeleçam uma relação de cooperação. Esta relação é

considerada fundamental para superação dos limites ao desempenho

competitivo que está diretamente vinculado ao tamanho destas empresas. A

cooperação também é entendida como alicerce do capital social, uma vez que

este se desenvolve a medida que as empresas locais formam parcerias com

clientes, fornecedores, governo local, instituições de pesquisa entre outras.

La Rovele (2001) aponta quatro abordagens identificadas nos estudos

sobre cooperação entre empresas. A primeira refere-se ao trabalho dos

economistas Giacomo Beccatini, Alfredo Bagnasco e Sebastiano Brusco. Estes

pesquisadores ao desenvolverem estudos sobre os distritos industriais italianos

basearam-se no conceito de externalidades4 (ou economias externas)

elaborado por Marshall, associando-o ao território. Esta visão também é

utilizada por Michael Piore e Charles Sabel nos trabalhos sobre a

especialização flexível5. Os trabalhos desenvolvidos concluem que a

cooperação desempenha um papel fundamental para a competitividade das

empresas (Cocco, Galvão & Silva, 1999). Sendo que no caso de pequenas

empresas, o desenvolvimento de laços de cooperação adquire maior

4 O conceito marshalliano de externalidade referia-se aos efeitos causados pelas atividades produtivas

dos agentes econômicos que afetam outros agentes sem que estes possam tenham custos ou influencias

sobre elas. As externalidades negativas geram ônus e as positivas geram bônus. 5 Tese desenvolvida por Piore e Sabel, economistas do MIT, em 1984, onde defendiam uma nova forma

produtiva, onde há um significativo desenvolvimento tecnológico e uma descentralização produtiva para médias e pequenas empresas. Para eles os excessos do fordismo e a produção em massa, são as causas da

crise capitalista, uma vez que suprimem a dimensão criativa do trabalhador.

24

importância, devido ao enfrentamento de problemas de escala no acesso a

mercados, informação, serviços e tecnologia.

A segunda abordagem tem como autores Allen Scott e Michael Storper,

(baseando-se no estudo “Regional Development Reconsidered” realizado em

1990). Estes pesquisadores basearam-se na teoria dos custos de transação6,

desenvolvida por Ronald Coase e Oliver Williamson, para analisar o caso

Americano de aglomerações empresariais. Seus estudos destacam o papel do

território enquanto local de economias de aglomeração. Para eles, a existência

em uma localidade ou região de uma aglomeração de empresas especializadas

num mesmo ramo, atividade ou produto pode alavancar o desenvolvimento de

relações de parceria e cooperação entre estas empresas. Isto porque a

proximidade possibilita que os agentes se conheçam e estabeleçam relações

de confiança.

A terceira abordagem, desenvolvida por Albagli (2003), considera o

território como um ambiente inovador. Para a autora as empresas situadas num

território tecem diferentes formas de interdependência e laços de cooperação

que levam ao desenvolvimento de inovações. Sob esta ótica a cooperação

resulta na capacidade de transformar o conhecimento tácito, desenvolvido

internamente nas empresas de um local, em vantagem competitiva para as

empresas deste local.

A quarta abordagem foi desenvolvida pelos autores franceses Leborgne

e Lipietz (1988) e chama a atenção para o fato de que as relações entre as

empresas situadas num mesmo local variam muito. Assim, argumentam que os

distritos industriais italianos e os distritos do tipo “Coase-Williamson-Scott” são

casos extremos. Na visão destes autores deve-se privilegiar dois aspectos no

estudo das relações entre as empresas: a formação de redes (na qual o

território pode desempenhar um papel importante) e as relações de

governança. A última é definida como o modo de regulação das relações no

interior de uma rede. Nesta abordagem, a cooperação e a governança

6 A Teoria do custo de transação destaca que o custo de coletar informações e negociar as condições de

troca, surge pela presença simultânea de racionalidade limitada, oportunismo e incerteza.

25

baseiam-se em uma combinação de diferentes relações, que são influenciadas

pelas formas de hierarquia, de subcontratação, de parcerias, do ambiente e de

relações com agências públicas ou outras instituições desenvolvidas pelas

empresas.

La Rovele (2001) afirma que a base para se estabelecer um processo de

cooperação é constituída pela existência de troca sistemática de informações

entre os agentes envolvidos, pelo grau de confiança entre os agentes e pela

sua capacidade de planejamento em médio prazo. Pesquisadores do tema

concordam que estas características não são facilmente encontradas entre

micro e pequenas empresas. As pesquisas apontam que a forma e o grau de

cooperação entre as empresas dependem fortemente da cultura local onde

estão situadas.

Vieira (2006), em argumentação sobre a importância de se organizar a

cadeia produtiva de combustíveis renováveis em arranjos produtivos, destaca

duas restrições ao seu estabelecimento: (a) a baixa formação educacional dos

agricultores, parte integrante da cadeia; (b) a questão cultural, uma vez que

muitos, principalmente nas regiões norte e nordeste, são avessos ao

cooperativismo e associativismo.

Os laços de cooperação entre empresas não ocorrem automaticamente.

A formação dessas relações de parceria sofre influência de diversos aspectos.

Uma forte motivação está na globalização, uma vez que esta tornou o mercado

mais complexo e competitivo, criando dificuldades para uma empresa construir

estratégias eficazes baseadas exclusivamente em seus próprios recursos. Por

esse motivo as empresas passaram a recorrer a diversas formas de parceria

(LA ROVELE, 2001; SILVA, 2007).

É possível identificar que alguns fatores regionais facilitam o

desenvolvimento de ações cooperativas, entre eles pode-se destacar: As

características de coesão social construídas na história da região, a densidade

institucional, a experiência de construção de projetos comuns e as formas de

organização da produção. Entretanto, é comum encontrar aglomerações

produtivas que se caracterizam por uma limitada divisão do trabalho entre

26

empresas e por relações exclusivamente concorrenciais e até mesmo

predatórias.

As redes constituídas por empresas podem apresentar níveis de

hierarquia de acordo com as relações que estabelecem. Grandes empresas

costumam formar redes mais verticais e hierárquicas constituídas pela relação

com seus fornecedores e pela terceirização de parte de suas atividades. As

redes formadas por empresas de pequeno porte tendem a ser mais horizontais.

Geralmente, estas últimas são estruturadas com auxilio de entidades de apoio

a coordenação empresarial, órgãos de pesquisa e instituições de apoio ao

desenvolvimento econômico e social.

2.3.2. Conceito

O conceito de clusters retoma as teorias do economista Alfred Marshall,

divulgadas em 1890 por meio de sua obra “Princípios de economia”. Marshall

expõe que as empresas movimentam-se para a formação de “distritos

industriais” em diferentes regiões. Cada cidade tende se especializar em um

conjunto de bens estritamente relacionados. Suas idéias abordavam um

conjunto de empresas trabalhando em um mesmo segmento industrial e

estabelecendo uma divisão do trabalho industrial entre si.

O “distrito industrial” é compreendido como um sistema produtivo local

caracterizado, principalmente, por um grande número de empresas, em sua

maioria de pequeno porte. Estas empresas estão envolvidas em vários

estágios do processo produtivo de uma indústria específica. (Pyke, Becattini e

Sengenberger, 1990 apud Silva, 2007)

Silva (2007), baseando-se no trabalho de Piore e Sabel, explica que o

modelo de “distritos industriais” supõe um aglomerado de pequenas e medias

empresas. Estas funcionam de maneira flexível e estreitamente integradas com

o ambiente social e cultural, fortalecendo-se a partir das externalidades.

Os primeiros conceitos sobre os arranjos produtivos locais e suas

vantagens surgiram a partir das teorias de Marshall e dos estudos de Piore e

Sabel sobre as vantagens econômicas obtidas com a formação de clusters nos

27

distritos industriais de pequenas e médias empresas do norte da Itália.

Posteriormente pesquisadores observaram o mesmo fenômeno em diversos

países: em Baden-Wurttenberg na Alemanhã, em Jutland na Dinamarca, em

Cambridge na Inglaterra, em Barcelona na Espanha, assim como no Japão,

Brasil, India e Pasquitão. (Schmitz e Navdi, 1999 apud Silva, 2007)

Entre as experiências estudadas, três iniciativas de cooperação

interorganizacional merecem destaque: A do norte-italiano, região de Emilia-

Romana, Umbria, Trentino-Alto Adige, Toscana, Veneto, Marche e Friule-

Venezia-Giulia que reúne o maior número de distritos industriais da Europa; a

do oeste norte-americano, onde estão concentradas as empresas do Vale do

Sílicio, e a das cooperativas japonesas. (Balestrin e Verschoore, 2008)

2.3.2.1. Itália

A região da Terceira Itália, termo utilizado para representar o espaço do

nordeste italiano, formado pelos Estados citados acima, possui uma

configuração distinta das adotadas no norte e sul daquele país. A partir da

década de 70, essa região começou a apresentar uma modernização e

crescimento econômico acelerados, como consequência da formação de

grupos de pequenas empresas localizadas na mesma região. Estas empresas

atuavam em setores tecnologicamente menos avançados (vestuário, calçados,

móveleiro e têxtil) e conseguiram se adaptar as mudanças do mercado global.

A configuração adotada na Terceira Itália é muito semelhante aos

distritos industriais ingleses do final do século XIX, estudados por Alfred

Marshall. Entretanto os benefícios encontrados nas duas configurações

apresentam alguma diferença.

Para Marshall um dos maiores benefícios do agrupamento de empresas

esta na geração de externalidades positivas. Balestrin e Verschoore (2008)

fazem a seguinte citação parafraseando Marshall:

Nos agrupamentos, os segredos

profissionais deixam de ser segredos. As

informações sobre os processos produtivos

28

são compartilhadas, e os inventos e as

melhorias nos métodos e na organização

das empresas são discutidos. Uma idéia

nova é imediatamente adotada pelos

demais, que, combinando-a com idéias

próprias, geram outras idéias e inovações.

Em se tratando dos distritos italianos, agregam-se aos benefícios

adquiridos com as externalidades a habilidade de produzir bens não-

padronizados. Isto permite o atendimento às demandas de mercados mais

segmentados e sujeitos às flutuações sazonais. Na Itália, as empresas são

também beneficiadas pelas instituições internas ao distrito que oferecem

serviços essenciais, como de Pesquisa e Desenvolvimento, de Design e de

apoio a exportação.

Amim (1989) e Brusco (1996) apud Balestrin e Verschoore (2008)

também explica como funciona a coordenação dos distritos:

A coordenação nos distritos da Terceira

Itália mescla instrumentos contratuais com

mecanismos sociais e institucionais. A

concentração de empresas de diferentes

partes da cadeia produtiva possibilita

conectar as atividades em todas as fases

de fabricação. A coordenação é realizada,

sobretudo, pelos comerciantes dos bens

finais, que, por meio da contratação e da

subcontratação das pequenas unidades,

coordenam o fluxo das atividades

produtivas. Esse complexo sistema de

contratação permite que os custos e os

riscos sejam distribuídos entre os

envolvidos, garantindo a flexibilidade

indispensável à competitividade do distrito.

Dessa forma a compra e venda de bens

não ocorre no livre mercado, mas por meio

de uma série contratos diretos entre

produtores e compradores, reforçando o

inter-relacionamento.

29

Putnam (1996) condiciona o sucesso da utilização de mecanismos

informais de coordenação a fatores políticos, culturais e institucionais. Da

mesma forma Best (1990) afirma que as tradições sociais é que sustentam as

práticas colaborativas – dispensando a formalização das ações - daquela

região.

2.3.2.2. Estados Unidos

O Vale do Silício, localizado ao norte o Estado da Califórnia tem

apresentado, nas últimas décadas, um crescimento econômico acima da

média. Esta região concentra uma grande quantidade de pequenas empresas

especializadas e inovadoras que atual no setor de alta tecnologia. Assim como

no norte da Itália, a causa do desenvolvimento percebido no o Vale do Silício

esta vinculada à aglomeração de empresas e instituições que, por meio de

relações de competição e cooperação, criam um ambiente propício ao

empreendedorismo.

A vocação para a especialização em alta tecnologia desta região esta

pautada pelos intensos investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento

realizados pelo Exército norte-americano após a Segunda Guerra Mundial.

Com os investimentos as Universidades alavancaram as pesquisas no setor de

semicondutores. Os avanços tecnológicos, que surgiam nas inúmeras

empresas inovadoras, fomentaram o surgimento de uma estrutura de apoio

baseada em um sistema de capacitação técnica universitária (Best, 2000 apud

Balestrin e Verschoore, 2008).

A consolidação de uma cultura competitiva, alicerçada no conceito de

cooperação interorganizacional e na integração universidade-empresa, deveu-

se a política de relacionamento promovida pela Universidade, principalmente a

Stanford. Esta cooperação se estabeleceu por duas vias: informalmente, nos

encontros de equipes das empresas, onde ocorria intercambio de informações

e apoio mútuo; Formalmente, a partir de decisão de negócios. (Balestrin e

Verschoore, 2008)

30

Pode-se considerar, ainda, outros três fatores que fortaleceram o

crescimento da região:

(a) Os estudos de Hirschman (1981) revelam que as relações sociais e

informacionais do norte californiano favoreceram o trabalho

cooperativo entre empresas e a inovação empresarial;

(b) A ação dos start-ups e Angel investors. Os primeiros promoviam o

desenvolvimento tecnológico, uma vez que eram empreendedores

visionários, responsáveis por novas ideias e identificação de

oportunidades (Best, 2000). Este desenvolvimento era fomentado

pelos segundos, que representam empresas e fundos investidores de

capital de risco. Os proprietários dessas empresas e os

administradores dos fundos desempenharam importante papel na

coordenação econômica do Vale do Silício. Entre esses papeis

estava o de facilitar a cooperação e aproximar fornecedores e

compradores.

(c) Grandes empresas, como a Hewlett & Packard e Intel, impulsionaram

as inovações na região ao mesclarem uma atuação de amplo

investimento em P&D em uma estrutura descentralizada e flexível

que criava um ambiente propício à socialização de conhecimento.

2.3.2.3. Japão

Antes da Segunda Guerra as principais atividades produtivas Japonesa

funcionavam na forma de conglomerados industriais chamados de Zaibatsus.

Os conglomerados eram administrados por famílias que possuíam participação

acionária em todas as empresas do grupo. Para evitar a competição direta

entre conglomerados cada um se dedicava a um setor diferente.

Após a Segunda Guerra Mundial o Japão encontrava-se

economicamente arrasado. O modelo adotado para reconstrução do país

voltou a basear-se em estruturas colaborativas. Desta vez entre pequenas

empresas, entre grandes conglomerados e entre estes e aqueles grupos. Um

31

fator que diferencia esta experiência das encontrada na Itália e nos EUA é a

forte atuação do Estado no estimulo a cooperação, no apoio as iniciativas a aos

relacionamentos.

A influência norte-americana orientava para o estabelecimento de um

mercado livre e competitivo, o que ia de encontro à tradição japonesa dos

Zaibatsus. Assim, criou-se uma estrutura de conglomerados modificada

chamada Keiretsus. As relações profissionais e pessoais desenvolvidas no

antigo formato foram mantidas nos novos conglomerados preservando a

cultura de cooperação.

Os Keiretsus possuíam três características que os diferencia das

experiências anteriores: A manutenção de um banco comercial em cada um

dos conglomerados; Conselhos de presidentes de cada firma afiliada,

funcionando como um fórum mensal de integração; projetos em comum nos

quais participavam equipes de cada empresa.

O governo japonês buscou envolver na idéia de cooperação também as

grandes empresas. A estas sinalizava com os benefícios que poderiam adquirir

ao trabalharem de forma cooperativa. Para adequa-se às orientações norte

americanas o governo nipônico adotou ações para criar um ambiente de

competição interna e externa. Para que a competição não se desse entre

empresas impôs que a mesma só ocorresse entre Keiretsus.

Como consequência do fortalecimento das empresas participantes dos

Keiretsus surgiu um abismo entre as estas e as pequenas empresas que

atuavam isoladas. Para amenizar o problema o Governo Japonês adotou uma

política de incentivo a pequenas empresas. Contudo, para usufruir dos

benefícios oferecidos ás empresas, estas precisavam apresentar projetos em

cooperação com outras empresas (Best, 1990).

O modelo de organização em cooperativa trouxe inúmeras melhorias

para as pequenas e médias empresas japonesas. Entre eles estão a melhoria

da produtividade e qualidade dos produtos, diminuição dos custos, acesso à

informação e maior intercambio de conhecimento.

32

A difusão da ideia e as experiências de sucesso em todo mundo

colocaram em foco os arranjos produtivos locais (APLs) ou clusters

(aglomerações) de micro, pequenas e médias empresas como solução para o

desenvolvimento econômico regional. Esta idéia vem sendo apoiada pelos

governos e pesquisadores por possibilitar a geração de riqueza e a fixação de

bases industriais permanentes. Percebeu-se que se tratava de uma boa

solução para regiões que apresentavam pouca possibilidade de renda e baixo

desenvolvimento regional causando migração da população para os grandes

centros.

O aquecimento sobre o tema abrange não só a academia, como também

as políticas publicas. No Brasil é possível identificar inúmeras ações dos

Governos Estaduais e Federal pautadas no desenvolvimento de clusters. Tal

aquecimento fez proliferar os conceitos sobre o termo.

Percebe-se primeiramente que o termo cluster foi substituído por Arranjo

Produtivo Local (APL), com algumas variações como Sistema Produtivo Local,

contudo o termo cluster ainda é encontrado em alguns trabalhos. Para efeito de

apoio governamental percebe-se que as instituições adotam conceitos

semelhantes para o termo APL, por vezes diferenciando-os por nível de

maturidade.

Entre os apoiadores em âmbito governamental e não governamental

estão, respectivamente, o SEBRAE e o Ministério da Indústria e Comércio

(MDIC). As ações estão apoiadas na política de apoio para APLs criada pelo

Governo Federal Brasileiro no âmbito da Política Industrial Tecnológica e de

Comércio Exterior (PITCE). Nesta política estão diretrizes vinculadas à

promoção e ao desenvolvimento de ações integradas de fomento às atividades

de micro, pequenos e médios empreendimentos em Arranjos Produtivos Locais

(APLs).

Em agosto de 2004, foi instituído o Grupo de Trabalho Permanente para

Arranjos Produtivos Locais (GTP/APL), composto por mais de 20 instituições

governamentais e para-estatais de abrangência nacional. O GTP/APL possui o

objetivo principal de integrar as diversas ações voltadas às empresas

33

localizadas em APLs e, desta forma, articular e coordenar os esforços para o

desenvolvimento competitivo dos produtores.

Em torno desse esforço surgiram algumas iniciativas para a criação de

metodologia de identificação e caracterização de APLs. Entre elas estão a do

Centro de Gestão e Estudos Estratégicos do Ministério de Ciência e

Tecnologia (CGEE) - Identificação e caracterização de Arranjos Produtivos de

Base Mineral e de demanda mineral significativa no Brasil – disponibilizado em

2002. A outra foi elabora do sob coordenação do professor doutor da

UNICAMP Wilson Suzigan, com o apoio do Instituto de Pesquisa Econômica

Aplicada (IPEA) - Identificação, mapeamento e caracterização estrutural de

Arranjos Produtivos Locais no Brasil – publicada em 2006.

Ambas as metodologias se basearam principalmente na base de dados

RAIS, do Ministério do Trabalho, que disponibiliza informações sobre os

empregos formais e empresas formalmente constituídas.

Mesmo assim, ainda se discute, entre profissionais envolvidos com os

arranjos, metodologias para a identificação e caracterização de Arranjos

Produtivos Locais. Contudo existe concordância quanto à utilização do termo

APL como tradução do termo cluster, assim como, quanto ao conceito de

arranjo produtivo local.

Pode-se perceber a concordância entre os conceitos adotados pelo

MDIC e pelo SEBRAE ao compará-los. Para o SEBRAE:

Um Arranjo Produtivo Local é caracterizado pela existência da aglomeração de um número significativo de empresas que atuam em torno de uma atividade produtiva principal. Para isso, é preciso considerar a dinâmica do território em que essas empresas estão inseridas, tendo em vista o número de postos de trabalho, faturamento, mercado, potencial de crescimento, diversificação, entre outros aspectos (SEBRAE, 2003).

O GTP/APL do MDIC, consciente da diversidade de conceitos para

caracterizar o que está sendo chamado de APL, optou por uma menor

34

acuidade no uso do termo, privilegiando o consenso por parte das várias

instituições envolvidas na elaboração de políticas públicas. Assim para o

Grupo:

Um APL se caracteriza por um número significativo de empreendimentos e de indivíduos que atuam em torno de uma atividade produtiva predominante, e que compartilhem formas percebidas de cooperação e algum mecanismo de governança, e pode incluir pequenas, médias e grandes empresas. (MDIC,2004)

Observa-se na literatura a respeito de clusters duas abordagens básicas.

Uma origina-se das analises de Piore e Sabel, realizadas em 1984, sobre os

distritos industriais da região de Emilia-Romagna, no nordeste da Itália. Estas

com foco em pequenas e médias empresas. A outra abordagem, baseia-se nas

idéias de Porter (1998) e enfatiza as grandes empresas. Este autor conceitua

os clusters como:

Concentrações geográficas de empresas e organizações interconectadas, atuando na mesma área ou segmento industrial, que englobam uma série de indústrias vinculadas e outras entidades importantes para a competição, gerando capacidade de inovação e conhecimento especializado. (Porter,1998)

Nesta pesquisa consideram-se os dois conceitos, percebendo as

semelhanças entre eles. Entretanto enfatiza a visão do SEBRAE, uma vez que

esta refere-se a aglomerados compostos de micro, pequenas e médias

empresas, interesse maior desse estudo. Também não se distinguem para

efeito da pesquisa os termos “Arranjos produtivos locais”, “Sistemas produtivos

locais” e “Clusters”. Sendo aqui tratados como sinônimos.

Em geral, o cluster é um instrumento importante para o desenvolvimento

regional. Baseia-se prioritariamente na cooperação entre as empresas

envolvidas, os órgãos públicos, as instituições de pesquisa e de apoio a

indústria e bem estar social.

35

Outra questão que fundamenta o conceito de cluster é a concentração

setorial e geográfica das empresas. A partir dessa concentração, compõe-se a

idéia da existência de vantagens de aglomeração e de proximidade espacial.

Em um cluster um conjunto de empresas constrói e compartilham vantagens.

Oliveira (2009) afirma que essas vantagens são criadas graças à infraestrutura

local especializada; às instituições de apoio a educação e ao desenvolvimento

tecnológico; à estrutura produtiva; e às políticas regionais e setoriais. Segundo

este autor, entende-se que um cluster é formado quando as empresas operam

juntas como uma organização formal e compartilham mercados comuns,

produtos, fornecedores, associações comerciais, instituições educacionais.

No cluster o aumento da produtividade da empresa está intimamente

ligado ao fato dela estar próxima a outras empresas do mesmo setor. Este fato

acarreta na aproximação de fornecedores, fortalecimento da mão-de-obra

especializada e facilidade na circulação de informações.

Esta configuração permite que um grande número de empresas, em

geral pequenas e médias, trabalhe em intenso regime de cooperação. Cada

uma delas executa uma etapa do ciclo de produção, alimentando o processo

industrial. Mesmo quando produzem o mesmo artefato, podem atuar em

cooperação, como comprando insumos para suas indústrias.

A integração com outras empresas e instituições, facilitada pela

proximidade geográfica, favorece o desenvolvimento do processo de

aprendizagem. Porém deve-se considerar que apesar das interações em um

sistema de valor serem fontes de inovação e vantagens competitivas, estas são

de difícil mensuração. Contudo as pesquisas sobre cluster mostram que o

conhecimento e informação disponíveis podem ser compartilhados dentro do

sistema produtivo, quando isso acontece o resultado é produtivo e as

vantagens mútuas. Em geral, percebem-se retornos crescentes de escala à

medida que se compartilha conhecimento. (Oliveira, 2009)

36

2.3.3. Conclusão

A ideia de cooperação pode remeter á noção de colaboração altruísta,

entretanto o termo não carrega necessariamente esta conotação. Em tempos

de crise ou ameaça a atitude colaborativa entre grupos originalmente rivais é

compreensível. Unir-se para combater uma ameaça considerada maior torna-

se uma questão de sobrevivência. Nesses casos a colaboração ocorre

motivada por razões egoístas e individuais. Entretanto, na relação estabelecida

ambas as partes ganham.

Talvez esta seja a explicação mais simples para as mudanças ocorridas

nas relações entre empresas após a metade da década de 70. A crise

econômica, o aumento da competitividade, a necessidade de sobrevivência

leva à união de forças entre empresas. Para Castells (1999) seja qual for a

explicação o fato representa um relevante elemento no novo paradigma

organizacional, juntamente com a evolução da Tecnologia da Informação, a

concorrência global e a atuação do Estado para a reestruturação econômica.

O movimento de cooperação entre empresas gerou experiências de

sucesso em diversos países. Desse movimento originou-se o conceito de

cluster que passou a ser estudado e difundido como alternativa para o

desenvolvimento regional. As pequenas empresas passam a exercer papel

fundamental nesse desenvolvimento. Unidas otimizam o funcionamento do

setor produtivo, aproveitam melhor suas potencialidades, conquistam maior

mercado. Seu crescimento representa mais emprego, renda e qualidade de

vida para os moradores da região.

A cooperação ocorrida no cluster vai além do compartilhamento de

recursos, tecnologia e máquinas. Passa, também, pelo compartilhamento de

informações, experiências e conhecimento. Essa nova forma de ser competitiva

esta alinhada com o novo paradigma sócio-economico. O comportamento

cooperativo e a organização em cluster enquadram-se na tendência social de

formar redes de relacionamento, onde atores de diferentes perfis colaboram

uns com os outros em função de um crescimento mútuo.

37

Apesar da formação dos clusters ocorrer de forma natural a partir das

necessidades das empresas, de um setor específico, em uma determinada

região. Alguns órgãos governamentais e instituições de apoio a pequenas

empresas brasileiras, como SEBRAE, adotaram a formação de clusters como

política pública. Esses órgãos se apóiam nos resultados dos estudos que

afirmam que a cooperação entre empresas ocorre a partir de influências de

todas as formas. Acreditando nisso a política pública para formação de cluster

atua como um catalizador. Os órgão e instituições atuam incentivando os

atores locais a se organizarem de forma cooperativa. Dessa forma plantam

uma idéia que aos poucos é adotada pela comunidade e a transforma. Nesse

ambiente a informação, o conhecimento e a aprendizagem tomam nova

proporção.

2.4. O Setor de gemas e joias no Brasil

Realizar uma pesquisa que englobe todos os arranjos produtivos locais

brasileiros exigiria de um pesquisador tempo e recursos indefinidos. Como

quase tudo no Brasil possui proporções enormes, assim também acontece com

a quantidade de APLs. O Grupo de Trabalho Permanente – GTP/APL, criado

pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - MDIC, com

o objetivo de reunir esforços em torno do apoio aos APLs, em seu último

levantamento, realizado em 2005, para identificar os arranjos existentes

contabilizou 957 arranjos produtivos. Nesse total, podem-se encontrar arranjos

com vários níveis de maturidade e organização.

Um número tão grande fez com que o próprio MDIC selecionasse APLs

prioritários para que se pudesse realizar um apoio efetivo. As ações planejadas

para 2008-2010 foram direcionadas para 142 APLs. Esses arranjos atuam em

setores econômicos distintos, localizam-se em regiões variadas e possuem

nível de maturidade diferenciado. Sendo assim, mesmo um estudo direcionado

aos APLs priorizados pelo GTP/APL acarretaria em um trabalho vultoso, o que

iria além das possibilidades dessa pesquisa.

38

Mais uma questão direcionou a delimitação do objeto da pesquisa.

Poucos são os estudos, na área da Ciência da Informação, que observam o

fenômeno dos arranjos produtivos locais. A maioria das pesquisas realizadas,

que busca fenômenos relativos à informação, conhecimento e APLs, adotou as

lentes da Administração. Outros estudos observaram o fenômeno a partir das

teorias econômicas, poucos foram desenvolvidos sob a ótica de outras

disciplinas. Por tanto, como o terreno, para a Ciência da Informação, ainda é

pouco conhecido, parece aconselhável delimitar para esta pesquisa a

observação de apenas um segmento.

São inúmeros os setores e segmentos nos quais foram identificados

APLs. Cada um deles apresenta características distintas, torna-se uma tarefa

difícil escolher um setor e justificar esta escolha. Sendo assim, lançou-se mão

da experiência e da curiosidade da pesquisadora sobre o um setor específico,

na qual resultou a iniciativa para este estudo.

A experiência que originou a pesquisa tem início com a iniciativa do

Ministério de Ciência e Tecnologia – MCT e o Ministério de Minas e Energia –

MME que juntos com outros órgãos e instituições deram origem a Rede de

informação para Arranjos Produtivos de Base Mineral - RedeAPLmineral. A

motivação para este feito baseou-se na identificação da escassez de

informação em todos os níveis da base mineral. Isto é, nem governo federal,

estadual ou municipal; nem instituições de apoio; nem empresas ou

garimpeiros conseguiam obter informações a respeito do setor. O fato causava

impacto negativo no desenvolvimento setorial, na qualidade de vida dos

cidadãos que dependiam desse setor e na elaboração de políticas públicas.

A inclusão do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

– Ibict no projeto para formação da RedeAPLmineral gerou a oportunidade de

participação no projeto por meio de consultoria. Daí semeou-se a curiosidade

sobre os Arranjos produtivos de base mineral. Entretanto, como foi dito, ainda

era preciso delimitar o objeto de pesquisa. Pois, são vários os segmentos do

setor mineral. Todos com alguma característica intrigante.

39

O segmento de rochas ornamentais apresenta grande organização,

aplica tecnologia e alcança mercados externos. São pequenas e médias

empresas com boa visão e grandes negócios. O segmento de cerâmica

mostra-se apaixonante, com pequenas empresas organizadas e preocupadas

com o meio ambiente, como no caso de Mara Rosa/Goiás. O segmento de

gesso se destaca unindo tecnologia e melhoria da qualidade de vida ao

construir casas pré-moldadas com gesso. Contudo, um segmento chamou mais

atenção, talvez por ter menor destaque entre os outros, mas ser composto em

grande parte por pequenas empresas. Trata-se do setor de gemas, joias e

bijuterias. Seu produto final ligado ao luxo e considerado não essencial, assim

torna-se não prioritário aos olhos do Governo. Entretanto, o setor envolve

pequenos mineradores e lapidadores com um trabalho artesanal, designers e

pequenos empresários que buscam crescer e conquistar mercado. Para tanto

são incentivado a organizarem-se em arranjos produtivos, e assim se

fortalecem e modificam a região onde estão estabelecidos.

A fonte primeira da curiosidade que originou esta pesquisa foi a

percepção do fenômeno onde pessoas reunidas em torno de uma atividade

produtiva, cada uma com seu conhecimento e habilidade, compartilham

recursos e informação para crescerem juntas, melhorando, dessa forma, a

qualidade de vida de uma região. Os arranjos produtivos de gemas, joias e

bijuterias oferecem não apenas uma forma de desenvolver o setor econômico,

antes de tudo representa um esforço conjunto para desenvolver regiões e

diminuir a desigualdade social. Neste contexto o compartilhamento da

informação e do conhecimento passa a ser um elemento de fundamental

importância.

2.4.1. Um pouco de história

Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM, 2005) relata

que no final do século XVII quando foram descobertas minas de ouro no interior

do Brasil iniciou-se a interiorização do desenvolvimento brasileiro e expansão

de nossas fronteiras. Posteriormente, foram descobertos diamantes e outras

40

pedras preciosas, oque também teve papel importante para as regiões

mineiras. Segundo o Instituto, “a ocupação e as riquezas geradas contribuíram

para a criação dos embriões dos Arranjos Produtivos Locais de Gemas e Joias,

atualmente em desenvolvimento.”

Os depósitos diamantíferos de Diamantina, na época conhecida como

Tijuco, iniciou uma busca por diamantes que resultou em sua localização em

praticamente todo o território nacional. Entre os anos de 1725 e 1866, o Brasil

ocupava a principal posição de produtor de diamantes do mundo, superando a

Índia, tradicional produtora.

No século seguinte outros minerais foram encontrados, entretanto só

passaram a ser valorizados a partir de 1940. Durante a Segunda Guerra,

alguns minerais, como cristal de rocha, mica, tantalita, colombita e tugstênio,

passaram a ser usados pela nascente indústria eletrônica, adquirindo caráter

estratégico o que aumentando o interesse na pesquisa mineral. Como

consequência foram identificadas importantes jazidas, a maior parte em

províncias de Minas Gerais.

Estas jazidas eram exploradas, precariamente, desde o século anterior,

a sua localização no Norte de Minas Gerais, fez com que o município de Teófilo

Otoni se tornasse um centro comercial. Aos poucos imigrantes alemães e

libaneses, comerciantes naquele município, iniciaram a exportação de

turmalinas, águas-marinhas, ametistas, crisoberilos, entre outras.

Nesta época a indústria de joias mundial utilizava principalmente o

diamante, a esmeralda, a safira e o rubi. Tradicionalmente estas pedras eram

comercializadas pela Índia, exceto o diamante. Aquele pais possui tradição

centenária na lapidação dessas gemas. Após a descoberta das gemas

brasileiras, inicialmente denominadas “pedras semipreciosas”, estas passaram

a ocupar progressivamente espaço nos mercados nacional e internacional.

Contudo as pedras eram exportadas em estado bruto, devido ao número

insuficiente de mão-de-obra especializada e oficinas de lapidação existentes no

Brasil no início da guerra.

41

Durante a guerra muitos imigrantes europeus se estabeleceram no

Brasil. Alguns se dedicaram a exploração comercial e a manufatura das pedras

brasileiras. Foi por meio dessa iniciativa que os primeiros polos lapidários, em

Petrópolis e em Mar de Espanha - Minas Gerais se organizaram. O Brasil

chegou a ter mais de 5.000 lapidários de diamantes, os quais impulsionaram a

indústria joalheira nacional.

Após o fim da guerra o mercado joalheiro entrou em recessão. No Brasil

não houve politica de estimulo para a manutenção da produção joalheira. Os

dois fatos impulsionaram o retorno dos imigrantes para a Europa. Muitos deles,

de origem judaica, mudaram-se para o recém-criado Estado de Israel. O qual

veio a abrigar uma das maiores indústrias de lapidação de pedras preciosas do

mundo. Nas palavras do IBGM (2005): “Muitas dessas pedras importadas em

estado bruto do Brasil por aqueles ex-imigrantes que dominavam o português e

mantinham contatos nas regiões produtoras”. Poucos empresários

permaneceram no Brasil, o que impediu que a indústrias de lapidação e de

joalheria brasileira se extinguisse.

Após o fim da recessão a indústria joalheira mundial entrou em

recuperação. Contudo a remanescente indústria brasileira não encontrou o

apoio governamental necessários para se beneficiar das oportunidades

encontradas no mercado mundial. O ciclo de prosperidade ocorrido entre as

décadas de 50 e 60 possibilitou o rápido crescimento do mercado mundial de

joias, entretanto as exportações brasileiras desse setor, no mesmo período,

foram medíocres. Toda via, a variedade e a grande quantidade de gemas

coradas existentes em território brasileiro, possibilitou que o pais obtivesse

destaque como produtor de gemas no mercado internacional.

Brasil produz cerca de 1/3 de todas as gemas comercializadas no

mundo, com exceção do diamante, do rubi e da safira. Infelizmente são poucos

os benefícios obtidos para o país em comparação a esta privilegiada posição.

As inúmeras politicas fiscais e cambiais implantada pelo governo federal ao

logo do tempo, somado a outros fatores tiveram como consequência impacto

42

negativo na indústria de lapidação, impedindo que a mesma de desenvolvesse

e acompanhasse o movimento internacional do setor.

Até 1971 a indústria dedicou-se a atender a demanda do mercado

interno, quando neste mesmo ano ocorreram as primeiras exportações.

Finalmente em 1975 o governo implementou uma política específica para o

Setor o que contribuiu para o desenvolvimento da indústria joalheira, assim

surgiram diversas empresas, as existentes conseguiram se fortalecer. Na

década seguinte e no inicio dos anos 90 a indústria voltou a decrescer.

Entretanto, nesse mesmo período, dois fator relevantes aconteceram: foi

registrados o primeiro um expressivo crescimento das exportações,

concentrado em duas grandes empresas. Estas foram responsáveis por 67%

das vendas externas brasileiras em 1990. retomando o crescimento a partir do

Plano Real. Neste momento a indústria se revigorou, passou a obter

importantes ganhos de produtividade e qualidade, tornando-se apta a concorrer

tanto com o produto importado quanto com outros países no mercado

internacional.

Entre as décadas de 80 e 90, ocorreram inúmeros fatores relevantes

para indústria joalheira:

O incentivo do SEBRAE para a criação de consórcios de exportação,

visando que pequenas empresas diversificassem a oferta de produtos e

alcançassem participação no mercado internacional. Esse para que as

indústrias se unissem a fim de conquistar o mercado externo despertou

interesse do setor pela exportação. Mesmo após a descontinuidade do apoio

oferecido pela Instituição, algumas indústrias joalheiras mantiveram suas

atividades exportadoras. Todavia, o mercado interno, mesmo com altos e

baixos, permaneceu como maior prioridade. Um dos motivos era que a maioria

das indústrias não possuía capacidade para concorrer no mercado

internacional, que se tornava cada vez mais competitivo.

Para tornar as indústrias brasileiras mais competitivas alguns órgãos e

instituições organizavam treinamentos e ofereciam apoio tecnológico.

Infelizmente esses programas para modernização industrial eram esporádicos

43

e pouco específicos, frequentemente não atendendo as especificidades das

indústrias do setor joalheiro.

Na década de 90, a abertura econômica expôs a indústria nacional à

concorrência externa. No início da década, o mercado interno, para a indústria

joalheira, havia decrescido enormemente. Para combater o fato os joalheiros se

reposicionaram na tentativa de aumentar sua competitividade.

Após o Plano Real a renda e o consumo da população se elevou

notadamente, houve uma verdadeira invasão de joias importadas ou

contrabandeadas, principalmente da Itália e da Ásia. Mais uma vez reagindo

aos acontecimentos a indústria nacional se preparou para competir com as

joias importadas e, assim, passou a ter mais condições para participar do

mercado internacional.

O expressivo crescimento das exportações brasileiras, que atingiram o

valor de US$ 29 milhões em 1990, e foi fortemente concentrado em duas

grandes empresas. Elas foram responsáveis por 67% da exportação brasileiras

em 1990. Neste ano as dez primeiras empresas no ranking de exportação

somaram 91% do total exportado.

Nessa mesma época começaram a se formar os principais pólos

joalheiros em: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

Estes são até hoje os principais estados produtores e exportadores.

Em 24 de agosto de 1990 o Decreto 99.472 estabelecia o Documento

Especial de Exportação (DEE), que regularizava um processo mais simples de

exportação objetivando facilitar o procedimento, evitar o contrabando e a

informalidade na comercialização com o mercado externo. Posteriormente, o

DEE foi incorporado nas normas gerais do Sistema integrado de comércio

exterior - SISCOMEX (sistema informatizado responsável por integrar as

atividades de registro, acompanhamento e controle das operações de comércio

exterior do Brasil)

Em 1990, ocorreu um fato negativo. O aumento da alíquota do IPI de 5

para 20% ampliou o mercado informal e inibiu os investimentos no setor. Com

a criação do SIMPLES FEDERAL, em dezembro de 1997, as empresas

44

passam a adotar modelo de arrecadação tributária. Por um lado ele simplificava

o processo de tributação, mas pelo outro as empresas ficavam estagnadas em

relação ao tamanho, já que o aumento do faturamento significava também a

perda do benefício oferecido pela lei. Como consequência as vendas de

produtos para o mercado externo mantiveram uma constante por toda a

década.

Para estimular a inserção das indústrias brasileiras de joias no mercado

externo a partir de 1995, as entidades de classes e instituições de apoio

começaram a desenvolver diversas ações para a melhoria de padrões de

qualidade e de competitividade dos produtos. Os esforços se concentraram na

construção de uma infra-estrutura tecnológica: criação de laboratórios, escolas,

prestação de serviços de extensão tecnológica; Formação: cursos técnicos de

design e tendências de joias; orientação mercadológica às empresas, formação

de consórcios, divulgação além de orientação para participação em feiras e

missões voltadas para promoção das exportações.

Durante toda a década de 90 houve ações para o reaparelhamento da

indústria joalheira. O objetivo era fazer com que esta indústria pudesse

concorrer com as joias do exterior e, ainda, atender à grande demanda gerada

pelo Plano Real. As ações eram voltadas para a importação de máquinas e

equipamentos modernos, a introdução de gestão pela qualidade total em

diversas empresas, o uso intensivo do design como fator de diferenciação, o

melhoramento da imagem da empresa e do marketing do produto.

O Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos – IBGM uniu-se as

associações estaduais e articularam com diversos órgãos de fomento e ensino

dos governos federal e estadual, bem como com o SENAI, a criação de uma

estrutura de apoio tecnológica pautada em informação, treinamento e

capacitação, laboratórios, apoio gerencial e mercadológico, design e criação e

fortalecimento de diversas feiras regionais, nacionais e internacionais.

Todas essas ações e fatos tiveram como consequência o fortalecimento

da indústria nacional. O produto brasileiro passou a concorrer, em muitos

casos, em igualdade de condições com os produtos internacionais. Para alguns

45

empresários passou a ser possível competir no mercado externo. Em 1998, o

IBGM firmou com a Agencia Brasileira de Promoção e Exportações de

Investimento – APEX um parceria que até hoje esta em funcionamento. Por

meio dela criou-se o Programa Setorial Integrado de Apoio às Exportações de

Gemas e Joias – PSI que visa estabelecer um processo estruturado de

fomento às exportações do Setor.

Apesar das dificuldades a história nos mostra que a indústria de joias

tem crescido. Entretanto os benefícios gerados parecem ainda não se refletir

por toda a cadeia. As pequenas e médias empresas representam 95% do total

do setor de gemas e joias, aqui por “joias” pode-se entender também joias

folheadas. Estima-se que tanto na produção como na comercialização a

informalidade corresponda a mais de 50%. (Global 21, 2009)

2.4.2. A cadeia produtiva

Cadeia produtiva pode ser entendida como o conjunto de atividades que

se articulam progressivamente desde os insumos e matérias-primas até o

produto final, incluindo a extração e o processamento da matéria-prima e sua

transformação, a distribuição e comercialização do produto, nos mercados

nacional e internacional, constituindo os elos de uma corrente. A Cadeia

Produtiva de Gemas, Joias e Afins pode ser compreendida em 4 elos:

i. O primeiro elo é representado pelo segmento de

extração/mineração, englobando também todo e qualquer

material e serviços utilizados na extração da matéria-prima.

ii. O segundo elo compreende a indústria de lapidação e de

artefatos de pedras, englobando a produção de pedras lapidadas,

artesanato e artefatos de pedras.

iii. O terceiro elo consiste na Indústria de joalheria e bijuteria,

responsável pela fabricação de joias de ouro, prata, folheados e

bijuterias de metais comuns.

46

iv. O quarto e último elo da cadeia produtiva é composto pelos

aspectos relativos à comercialização desses produtos, tanto no

mercado interno quanto no externo.

Sendo assim, a cadeia produtiva contempla as atividades desde a

extração mineral, a indústria de lapidação, artefatos de pedras, a indústria

joalheira e de folheados, bijuterias, os insumos, matérias-primas e as máquinas

e equipamentos usados no processo de produção, além das estratégias de

marketing e a incorporação do design aos produtos.

O Brasil mantém o reconhecimento internacionalmente pela diversidade

e pela grande ocorrência de pedras preciosas em seu solo. É o segundo maior

produtor de esmeraldas e o único de topázio imperial e turmalina Paraíba.

Também produz, em larga escala, citrino, ágata, ametista turmalina, água-

marinha, topázio e cristal de quartzo.

Atualmente, estima-se que o país seja responsável pela produção de

cerca de 1/3 do volume das gemas do mundo, excetuados o diamante, o rubi e

a safira. É considerado, também, um importante produtor de ouro. Em 2008 o

Brasil alcançou 52,7 toneladas, o que lhe assegurou o 13º lugar no ranking

mundial, segundo o Gold Survey (GFMS, 2009).

A atividade de garimpo para extração de ouro apresenta declínio

progressivo. Atualmente é responsável por apenas um terço da produção. A

maior parte (67%) da produção nacional de ouro esta concentrada em um

pequeno número de empresas. Quase todo esse ouro é exportado em forma

de barras. A sua extração está espalhada por praticamente todo o território

nacional, embora com maior ocorrência em Minas Gerais, Pará, Mato Grosso,

Bahia e Tocantins.

Quando se trata de gemas o cenário é diferente. A produção de pedras

preciosas é realizada, em sua grande maioria, por garimpeiros e pequenas

empresas de mineração com ocorrências, também, em quase todo o Brasil. A

forte produção se localiza nos Estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul,

Bahia, Goiás, Pará e Tocantins. Apesar de não existirem estatísticas de

produção confiáveis, o Brasil é reconhecido como um dos principais

47

produtores, tanto pela variedade quanto pela quantidade de gemas

encontradas em seu subsolo. Estima-se que, aproximadamente, 80% das

pedras brasileiras, em volume, tenham como destino final as exportações,

incluindo pedras em bruto, espécimes de coleção e pedras lapidadas.

Embora os dados sobre o setor sejam conflitantes, estima-se que

existam, atualmente, cerca de 4.000 empresas entre lapidação, joalheria,

artefatos de pedras e folheados de metais preciosos. Elas estão localizadas,

principalmente, em São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de

Janeiro e Bahia. Porém, novos pólos industriais, como Paraná, Pará,

Amazonas e Goiás estão se organizando.

Este é um numero estimado para indústrias legalizadas. O Setor possui

um grande número de empresas informais e artesãos. Estes vivem à margem

do mercado, tanto na produção quanto na comercialização de seus produtos. A

lapidação, assim como a fabricação de obras e artefatos de pedras, é feita por

pequenas indústrias, muitas de estrutura familiar. Ainda existem poucas

indústrias integradas, principalmente, para garantir qualidade, prazos e tipos

diferenciados de lapidação.( IBGM, 2010)

Figura 1 - Empregos gerados no setor de gemas e joias (IBGM, 2010)

48

O Brasil possui capacidade e competitividade para lapidar pedras de

média e boa qualidade, embora não tenha ainda escala e preços competitivos,

salvo poucas exceções. O segmento de empresas fabricantes de joias é

integrado, basicamente, por empresas de menor porte. O último dado do IBGM

informa:

O segmento de empresas fabricantes de joias, bem como do varejo, são integrados, basicamente, por micro e pequenas empresas, responsáveis por mais de 95% do universo. (IBGM, 2010)

Atribui-se a informalidade e o descaminho à alta carga tributária

incidente sobre o Setor e às suas características. Entre elas, pode-se destacar:

produtos de pequenos volumes e altos valores; produção de matérias-primas,

industrialização e distribuição feitas por pequenos estabelecimentos e pessoas

físicas nas mais diversas regiões do país, com fiscalização difícil e onerosa.

Historicamente, os segmentos da Cadeia não possuem suporte ao

crédito, salvo raras exceções. O Setor, por suas características, necessita

substancialmente de mais capital de giro do que capital fixo. Sua alta

informalidade, com balanços contábeis que não retratam a realidade das

empresas, dificulta o acesso às linhas de crédito existentes. Por esse motivo o

setor, normalmente, se auto-financia. (IBGM, 2005)

Para que possa se desenvolver o as entidades de classes do setor lutam

por mecanismos de crédito inovadores, particularmente no que se refere a

procedimentos de acesso, tanto para atender as necessidades de capital fixo

quanto para giro. Com os quais possam realizar investimentos para ampliação

de sua capacidade instalada, principalmente para atender ao mercado externo.

2.4.2.1. Principais Gargalos da Cadeia Produtiva de Gemas, Joias e Afins

Em 2005 o IBGM publicou um estudo onde apontava os principais

problemas da Cadeia produtiva. A intensão era subsidiar o governo, em todos

os níveis, na elaboração de programas e políticas públicas que auxiliassem no

desenvolvimento do Setor. Abaixo estão transcritas os principais problemas

levantados pelo instituto.

49

INADEQUAÇÃO TRIBUTÁRIA

Este é um problema apontado com frequência na pouca literatura

encontrada sobre o Setor. É considerado como o principal gargalo e afeta a

cadeia produtiva como um todo. A alta taxa tributária impõe dificuldades ao seu

fortalecimento e expansão, particularmente no que diz respeito à capacitação

técnica e tecnológica das empresas, ao aumento dos padrões de

produtividade, à melhoria da competitividade e à expansão das exportações.

Além de estimular a informalidade.

2.4.2.1.1. SEGMENTO MINERAL

Reservas não Dimensionadas - reduzida atividade em sondagens e

em pesquisas leva ao desconhecimento do potencial e porte das reservas

brasileiras, dificultando o planejamento estratégico e os investimentos privados.

Tecnologia de Lavra Defasada - as áreas de reserva garimpeira, como

no caso das esmeraldas e ametistas, os processos de escavações

subterrâneas e o sistema de desmonte por detonação ampliam os custos de

produção, geram riscos operacionais e provocam fraturas nas gemas,

destruindo parte da produção. Por outro lado, o não acompanhamento técnico

durante a extração de gemas resulta em um aproveitamento inadequado das

jazidas, acarretando sua baixa produtividade.

Reduzido Nível de Investimentos - a expansão do segmento mineral,

onde o setor de gemas e metais preciosos se inclui, tem sido comprometida

pela falta de investimentos governamentais e de formulação de planejamento

estratégico. Há necessidade de ampliar os investimentos públicos e privados

no setor, tanto na fase de prospecção quanto na de exploração.

Insuficiente Atração de Investimentos – a posição competitiva do

Brasil no cenário global para atração de investimentos, analisada do ponto de

vista do conhecimento técnico-científico, nas áreas relacionadas à exploração

mineral como um todo, é secundária quando comparada aos maiores

competidores (Canadá, Austrália e África do Sul);

50

Insegurança para as Empresas de Mineração – após realizarem os

investimentos em pesquisa e montagem da infra-estrutura, diversas

mineradoras de menor porte têm sido invadidas por garimpeiros, gerando

insegurança quanto à garantia dos títulos minerários que possuem.

Código de Mineração Desatualizado - A legislação mineral apresenta-

se extremamente burocrática e cartorial, sendo este um dos principais entraves

à outorga, ou seja, o direito de realizar pesquisa e lavra;

Excessiva Demora na Concessão das Licenças Ambientais para

Aprovar Novos Projetos – trata-se de uma das reclamações mais recorrentes

do setor mineral, inibindo investimentos e a atração de capitais, gerando perda

de oportunidade de mercado;

Falta de Estudos Geológicos Básicos - A falta de mapeamento

geológico básico tem impossibilitado a manutenção de informações atualizadas

do solo e sua disponibilização para os investidores;

Redução do Impacto Ambiental - a imagem negativa projetada pelo

segmento perante a sociedade é a de que a mineração, freqüentemente,

esgota o solo e destrói o meio-ambiente.

2.4.2.1.2. SEGMENTO DE GEMAS E ARTEFATOS DE PEDRAS

As regiões produtoras de gemas são, normalmente, pobres e carentes.

Por esse motivo, políticas públicas representam importantes iniciativas de

desenvolvimento sustentável local ou regional. A partir delas são gerados

empregos, melhoria da renda, formação profissional e inclusão social.

Dificuldades de Importação de Pedras em Bruto - o fechamento de

diversas lavras garimpeiras, por questões ambientais, associado ao fato de que

inúmeras minas caminham para exaustão, somado ao aumento da produção

em diversos países, principalmente na África, tem levado à necessidade de

importação de algumas gemas brutas. O custo de importação e os

procedimentos necessitam ser reduzidos e simplificados.

51

Problemas no Processo Produtivo - Dizem respeito principalmente ao

corte, à lapidação diferenciada, ao tratamento das gemas e a lapidação

calibrada. Diversos tipos de tratamento das gemas precisam ser aprimorados e

disponibilizados no Brasil, com redução de custos.

Falta de Escala para Lapidação - embora existam tecnologias

avançadas para lapidação em grande volume, o custo da mão-de-obra,

principalmente pelos encargos sociais, não tem permitido concorrer com países

do Oriente. No Brasil, ainda predominam as lapidações artesanais, para pedras

de mais alto valor. A padronização é essencial para o atendimento da demanda

da indústria joalheira por pedras calibradas que terá forte impacto nas

exportações;

Máquinas e Equipamentos Inadequados – O parque de lapidação e

de artefatos de pedras encontra-se desatualizado, precisando incorporar

máquinas modernas que garantam ganhos significativos de produtividade com

qualidade assegurada.

Reduzida Rede de Laboratórios Credenciados para Certificação -

necessidade de se criar e fortalecer laboratórios gemológicos nos principais

pólos de produção/comercialização de gemas, de maneira a facilitar o acesso

ao importador ou consumidor brasileiro à verificação da autenticidade do

produto adquirido. A venda de pedras sintéticas, a grande quantidade de

laudos irreais de autenticidade e as avaliações realizadas por peritos

independentes acabam por criar uma imagem desvirtuada, prejudicando o

mercado.

2.4.2.1.3. SEGMENTO DA INDÚSTRIA JOALHEIRA DE OURO, FOLHEADOS E BIJUTERIAS

Insuficiente Capacidade de Gestão - os métodos de gestão praticados

estão naturalmente de acordo com as características das empresas de menor

porte, com as funções administrativas centralizadas na pessoa do proprietário e

de membros de sua família. No entanto, através da utilização mais racional e

eficiente dos recursos poderão ser alcançados níveis mais elevados de

52

produtividade. A boa gestão da produção garantirá não só a qualidade como

também os prazos de entrega, os lead-times de produção e, em última análise,

a redução dos custos com estoques, com reflexo direto no fluxo de caixa da

empresa.

Reduzida Capacitação de Mão de Obra - a par do esforço realizado

pelas entidades de classe e do governo, que têm incentivado a criação de

cursos e o fortalecimento de escolas de joalheria, principalmente do SENAI e

Escolas Técnicas, dada a constante evolução nessa área, tais iniciativas ainda

se apresentam muito aquém das necessidades da indústria joalheira e de

folheados. A baixa qualificação da mão-de-obra tem sido considerada um grave

problema nas áreas de modelagem, desenho de joias por computador,

cravação e técnicas de vendas, tanto no varejo quanto no exterior.

Inadequação Tecnológica - embora as joias brasileiras apresentem

design moderno e qualidade crescente, os diversos processos de produção

têm sido utilizados com distintos graus de eficiência, causados pela boa ou má

utilização da tecnologia disponível, das máquinas e equipamentos e das

ferramentas empregadas. A boa manutenção desses equipamentos e sua

utilização industrial são dificuldades enfrentadas por quase todas as empresas.

Da mesma forma, matérias primas e insumos de melhor qualidade, como pré-

ligas, revestimento (refratários), ceras, borrachas e silicones, precisam ser

amplamente utilizados pela indústria joalheira nacional; garantido-lhe níveis

internacionais de competitividade.

Processo Produtivo Deficiente - Os principais gargalos enfrentados

pela indústria joalheira em seu processo produtivo dizem respeito à

concepção/design, fundição, modelagem, cravação e acabamento. Por sua vez

o segmento da indústria de folheados registrou os aspectos referentes à

estamparia, eletroformação e galvonoplastia como os mais relevantes,

conforme indicado nas pesquisas realizadas anteriormente.

Baixa Escolaridade - tem-se que a média de escolaridade da indústria

joalheira brasileira, em 2000, era de 8,44 anos. Por se tratar de um setor que

requer qualidade, com constante inovação e design, os atributos conhecimento

53

e habilidade, fundamentados na escolaridade/capacitação/reciclagem

constituem-se em peças-chave na busca da melhoria dos processos produtivos

e da competitividade.

Dificuldade de Acesso aos Financiamentos – falta de capital para

aquisição de máquinas e equipamentos e para giro, indispensáveis à

ampliação de sua capacidade produtiva, objetivando um rápido atendimento às

exportações. A indústria joalheira apresenta maior necessidade de capital de

giro, uma vez que a maior parte do custo de produção é constituída de ouro e

gemas, de alto valor unitário. As linhas de crédito disponíveis no Brasil, com

custos mais reduzidos, são as do BNDES, que têm normas rígidas em relação

à equação capital de giro/investimentos, exceto para exportações.

2.4.2.1.4. SEGMENTO DO VAREJO

Concorrência Desleal - os autônomos (sacoleiras) já representam o

segundo canal de distribuição - superando em vendas as lojas de ruas e se

aproximando das lojas de shopping, sinalizando claramente que os

mecanismos governamentais nas áreas fiscal, tributária, trabalhista e

previdenciária não têm sido eficazes e estimulantes à formalização e à

legalização de seus negócios.

Reduzida Capacidade Gerencial - de um modo geral, as experiências

são transferidas de pai para filho com as funções administrativas centralizadas

na pessoa do proprietário, requerendo a incorporação de novos métodos e

técnicas de gestão. A informatização atinge a quase totalidade do varejo,

embora em níveis diferenciados.

Técnicas de Vendas - a principal restrição que ocorre nas vendas ao

consumidor é o atendimento prestado aos clientes, verificando-se deficiências

na etapa de negociação e no atendimento ao consumidor, cada vez mais

exigente e informado. Os funcionários geralmente não possuem formação

adequada, desconhecendo as características dos produtos comercializados e

as técnicas mais atualizadas de vendas e pós-vendas;

54

Falta de Segurança - o crescente número de roubos de joalherias,

inclusive em shopping centers, em praticamente todo o Brasil, é um forte

desestímulo à atividade, além de aumentar os seus custos operacionais com o

pagamento de prêmios elevados de seguros e esquemas de segurança.

2.5. APL de Gemas, joias e afins

Os arranjos produtivos são considerados de suma importância para o

processo de inclusão social, geração de emprego e renda, desenvolvimento

regional e local. Por este motivo o Governo Federal juntamente com entidades

de classe e de apoio a indústria e comércio estão realizando inúmeras

iniciativas para estimular o desenvolvimento de APLs em diversas regiões do

País.

Como exposto em capítulo anterior o conceito de Arranjos Produtivos

Locais (APLs) prevê a existência de uma concentração geográfica de

empresas, fornecedores, prestadores de serviços, entidades associadas,

competitivas e cooperadas entre si. Este tipo de arranjo caracteriza-se por ser

uma cadeia de produção compartilhada e especializada. O que diferencia o

APL das aglomerações empresariais é o grau de colaboração, de cooperação e

de complementaridade entre os empreendimentos e com outros agentes,

instituições de ensino, pesquisa e fomente, entre outros.

Os termos e modelos utilizados – APLs, Pólos, clusters - adotam

concepções e seguem trajetórias distintas. Uma diferença relevante é que para

alguns autores o conceito de cluster não tem ligação direta com o interesse em

desenvolvimento regional. Portando, é importante frisar que para esta pesquisa

adota-se o conceito para o qual os APL´s representam importantes eixos de

desenvolvimento regional.

Para se constituírem como forma de desenvolvimento local os Arranjos

necessitam de apoio institucional para assegurar a promoção da

competitividade e sua sustentabilidade, a partir da conexão dos APLs com os

mercados. Nesse contexto, as relações de governança do APL devem exercer

55

importante papel no processo de sensibilização, coordenação e cooperação

entre unidades participantes do mesmo processo produtivo ou de uma cadeia

produtiva, além da infra-estrutura de apoio constituída pelas instituições de

ensino, pesquisa e fomento.

O Governo Federal vem concedendo devido valor aos APLs. A

constatação deve-se a realização de vários eventos nacionais para debater a

questão além de inúmeras ações envolvendo Arranjos Produtivos Locais. A

realização das Conferencias Brasileiras sobre APLs, a criação da Rede APL

mineral e do GTP/APL são demonstrações da importância desses aglomerados

como instrumentos de política industrial.

Com frequências órgãos e instituições unem-se para realizar

levantamentos a respeito dos diversos APLs da Cadeia Produtiva de Gemas e

Joias. Dessa forma já foram registradas as potencialidades, oportunidades,

ações desenvolvidas, os ganhos comuns de escopo e escala, os empecilhos

existentes, além da eventual insuficiência de infra-estrutura desses Arranjos.

Pode-se também identificar novos marcos teóricos de planejamento voltados

para o fortalecimento e a configuração de APLs de Gemas e Joias, bem como

as políticas públicas, que estão sendo implementadas em diferentes regiões do

país.

A partir da organização e fortalecimento dos Arranjos e das Politicas

públicas são gerados empregos, melhoria da renda, formação profissional e

inclusão social. Ciente disso, instituições públicas e privadas direcionam seus

esforços nesse sentido.

2.5.1. O apoio ao setor e aos APLs

O Sistema SEBRAE, aposta nos APLs como meio de disseminar a

cultura de empreendedorismo, de incremento da competitividade e de

sustentabilidade nos pequenos negócios. Por isso, tem atuado fortemente junto

as pequenas empresas estimulando a cooperação e plantando a ideia da

formação de APLs. Nesse sentido elaborou duas publicações que trazem

conceitos e metodologias aplicáveis a pequenas empresas: o “Termo de

56

Referência Para Atuação do Sistema SEBRAE em APLs” (Edição SEBRAE,

julho 2003) e o estudo “Inteligência Comercial em Arranjos Produtivos Locais”

(2004).

Quanto ao setor de Gemas, Joias e afins, o SEBRAE, atualmente, apoia

sete projetos de APLs, em diferentes Estados brasileiros. Participam destes

projetos: os municípios de Guaporé, Lajeado, Quarai, Soledade e Ametista do

Sul, do Rio Grande do Sul. Em São Paulo, pode-se citar São José do Rio

Preto. Os municípios de Belém, Itaituba, Marabá, Ananindeua, Parauapebas,

Marituba e Floresta do Araguaia, do Estado do Pará, também se beneficiam da

atuação do Sebrae, assim como o município do Rio de Janeiro (RJ), e os de

Belo Horizonte, Ouro Preto e Teófilo Otoni, pertencentes ao Estado de Minas

Gerais.

O Banco do Brasil (BB) criou uma série de produtos e serviços focados

nas características dos arranjos produtivos locais. Para esta instituição,

trabalhar com foco em APLs é mais vantajoso por propiciar escala e minimizar

riscos. A atuação do Banco abrange:

Engajamento no apoio ao desenvolvimento

produtivo das MPE em APL, com abordagem

diferenciada junto a esse público desde 2003;

Participação no GTP/APL (MDIC), além de

parcerias com o SEBRAE e com o BNDES;

Participação na Governança dos APL apoiados,

permitindo conhecer necessidades e aprimorar

soluções para esse nicho de mercado;

Incentivo ao empreendedorismo coletivo, ao

associativismo empresarial e ao desenvolvimento

local. (Banco do Brasil, 2008)

O BB atua, juntamente com o SEBRAE, nos APLs de Gemas e Joias

em Lajeado, Soledade, Ametista do Sul e Guaporé, municípios do Rio Grande

do Sul. (Ministério do Desenvolvimento da Indústria e do Comércio, 2010)

57

A atuação da Caixa Econômica Federal (CEF), junto aos APLs, tornou-

se mais visível a partir de 2000, quando 17 pólos têxteis foram selecionados

como prioritários. A partir de então, houve um aperfeiçoamento operacional da

instituição, que tem atuado, em parceria com o SEBRAE. No momento, a CEF

desenvolve produtos específicos para o atendimento das empresas de Gemas

e Joias, para capital de giro, aquisição de máquinas e equipamentos e

promoção das exportações. (Ministério do Desenvolvimento da Indústria e do

Comércio, 2010)

O BNDES afirma encontrar grandes dificuldades para definir critérios

que possam orientar sua atuação para apoio aos APLs. Mesmo assim, investe

em um conjunto de ações que possibilitam construir bases para sua atuação

junto aos arranjos. Entre estas iniciativas está a elaboração do documento:

Critérios para Atuação do BNDES em Arranjos Produtivos Locais - AP/DEPRO,

junho de 2004 - que visa fornecer elementos sobre o posicionamento do banco

em relação à questão.

Outra instituição que vem exercendo papel importante para o

desenvolvimento dos arranjos é a Financiadora de Estudos e Pesquisas

(FINEP). Por meio de créditos não reembolsáveis para investimento em

pesquisa tecnológica e inovação, a FINEP tem auxiliado no aumento da

competitividade dos arranjos. Um aspecto importante da atuação foi a criação

dos Fundos Setoriais e das captações de recursos de diversos fundos, como: o

Fundo Nacional de Desenvolvimento, do Fundo de Amparo aos Trabalhadores

e do Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações.

Para a Cadeia Produtiva de Gemas e Joias, o apoio não-reembolsável é

proveniente do Fundo Mineral. Esse apoio foi de suma importância para a

estruturação do APL em Rede do Rio Grande do Sul, em 2004, e do Pólo de

Pedro II (opala), no Estado do Piauí e do Pará, em 2005. “A FINEP tem

apoiado, também, iniciativas voltadas para adequação tecnológica de produtos

para exportação, por intermédio do PROGEX.” (Ministério do Desenvolvimento

da Indústria e do Comércio, 2010)

58

O Ministério da Ciência e Tecnologia, em 2010, deu continuidade as

politicas de apoio aos APLs. Neste ano lançou, mais uma vez, a Matriz de

Ações do Governo Federal para o Programa Territórios da Cidadania. Uma das

características do programa é o estimulo a debates em territoriais nacionais

prioritários, a fim de que Governos Federal, Estaduais, Municipais e sociedade

civil possam sugerir ações para que sejam atingidos os objetivos do Programa.

Entre as ações definidas no programa estão as focadas em Arranjos que tem

como objetivo central: “o fortalecimento da competitividade dos APLs, através

do apoio à pesquisa, desenvolvimento e inovação visando a promoção de

desenvolvimento econômico e social sustentável, focado principalmente na

vertente de inclusão social.” (MINISTERIO CIENCIA E TECNOLOGIA, 2010)

Algumas ações destinadas a formação de recursos humanos e

capacitação tecnológica contam com a contribuição do SENAI para serem

realizadas. O Serviço atua em APLs de vários estados oferecendo cursos

regulares de formação e aperfeiçoamento para os segmentos de lapidação e

joalheria, ou ainda oficinas de fundição, esmaltação, joalheria/ourivesaria,

cravação, gravação, modelagem em cera e design de joias.

As associações de classe do setor e o Instituto Brasileiro de Gemas,

Joias e Metais Preciosos (IBGM) vêm apoiando os APL, respeitando seu grau

de evolução e suas características. O Instituto, com apoio das associações,

realiza várias ações visando o melhor desempenho das empresas, entre elas

estão: produção e disseminação de informações setoriais e publicações,

particularmente sobre mercado e tecnologia; apoio a realização de estudos e

pesquisas sobre a Cadeia Produtiva e seus segmentos – incluindo o

consumidor; fomento a atividades de design, como estimulo ao

desenvolvimento de peças criativas; elaboração do Caderno de Tendência de

Joias e promoção de workshops para divulgá-lo.

O IBGM também se uniu à APEX/Brasil para promover um programa

voltado para o apoio às exportações do setor. Nesta parceria são realizadas

atividades de capacitação como: elaboração e disseminação do Manual dos

Exportadores de Gemas e Joias, suporte a promoção de cursos, intercâmbio

59

internacional, seminários e palestras. Assim como atividades de promoção

comercial: realização de eventos locais e regionais – feiras, mostras e

exposições; coordenação da participação brasileira nas principais feiras no

exterior.

Todas essas entidades, públicas ou privadas, são parte integrante dos

Arranjos. Desempenham nelas papel de suma importância, pois possuem uma

visão mais ampla sobre o mercado e mesmo sobre as necessidades das

empresas envolvidas na cadeia produtiva. Assim como no Vale do Silício

grandes empresas apoiam os pequenos empreendedores. Aqui as instituições

públicas e privadas unem-se para apoiar o fortalecimento dos APLs.

2.6. A Informação e o Conhecimento

Muitos dos estudos sobre arranjos produtivos locais ou clusters estão

sendo realizados sob a ótica da Ciência Econômica ou da Administração.

Algumas poucas pesquisas foram realizadas sob a lente da Ciência da

Informação. Mesmo aqueles que se debruçam sobre aspectos da transferência

de informação e conhecimento em clusters, pouco permeiam tal Ciência.

O fato é compreensível, sendo os arranjos produtivos locais fenômenos

tão afetos a economia e a teoria das organizações. Contudo, este fenômeno,

principalmente no Brasil, também envolve a inclusão social por meio do

desenvolvimento local. Outra questão inerente ao fenômeno é o aumento da

competitividade das empresas por meio da cooperação e trabalho em rede,

onde o compartilhamento da informação e uso do conhecimento pelos

integrantes dos APLs torna-se imprescindível. Esta perspectiva do fenômeno é

matéria de interesse da Ciência da Informação. Dessa forma, para este estudo

baseou-se em uma lente construída pelas teorias e conceitos da Ciência da

Informação para observar o fenômeno da transferência da informação em

arranjos produtivos locais.

O termo “informação” e “conhecimento” assumem diferentes significados

dependendo da área do conhecimento na qual estão sendo aplicados. Na

Ciência da Informação os conceitos tendem a se relacionarem com a

60

comunicação e cognição humana. Valentim (2002) reuniu vários conceitos

relativos a dado, informação e conhecimento utilizados neste campo:

Miranda (1999, p.285) definiu informação como um conjunto de

registros, qualitativos ou quantitativos, conhecido e adequadamente

organizado, agrupado, categorizado e padronizado. Para Wurman (1995, p.43)

o termo informação só se aplica à "aquilo que leva à compreensão”. Respalda-

se no entendimento de que o que “constitui informação para uma pessoa pode

não passar de dados para outra”. Páez Urdaneta (apud Ponjuán Dante, 1998,

p.3) formula que informação são dados ou “matéria informacional” estruturada

de maneira potencialmente significativa.

McGarry (1999, p.4) considera o termo 'informação’ quase sinônimo do

termo fato, sendo um reforço do que já se conhece. Esta relacionada à

liberdade de escolha ao selecionar uma mensagem e é matéria-prima para a

construção do conhecimento. Para o autor a informação é permutada com o

mundo exterior e não apenas recebida passivamente. Pode ser definida em

termos de seus efeitos no receptor e é responsável por reduz a incerteza em

determinadas situações.

Lastres e Albagli (1999, p.30) lembram que “informação e conhecimento

estão correlacionados, mas não são sinônimos.” Diferenciam o conhecimento

em dois tipos, sendo: os conhecimentos codificáveis - aqueles que podem ser

transformados em informações, isto é, reproduzidos, estocados, transferidos,

adquiridos, comercializados - e os conhecimentos tácitos, estes são de difícil

explicitação, sua natureza está associada ao processo de aprendizado.

Para Miranda (1999, p.287) o conhecimento pode ser dividido em três

tipos:

Conhecimento explícito: conjunto de informações registradas em

algum suporte (livros, documento etc.) e que caracteriza o saber

disponível sobre tema específico;

Conhecimento tácito: acúmulo de saber prático sobre um

determinado assunto, relacionado a este conhecimento estão

61

convicções, crenças, sentimentos, emoções e outros fatores

ligados à experiência e à personalidade de quem o detém;

Conhecimento estratégico: combinação de conhecimento explícito

e tácito formado a partir das informações de acompanhamento,

agregando-se o conhecimento de especialistas

Outra conceituação apresentada por Valentim (2002) é a proposta por

Davenport e Prusak (1998, p.18) onde a "informação” é o elemento conector

entre os dados brutos e o conhecimento que pode ser, eventualmente, obtido

dessa relação. Estes autores definem da seguinte forma cada elemento:

Dados: Observações sobre o estado do mundo. Facilmente estruturado,

transferível, manipuláveis por máquinas e frequentemente quantificados.

Informação: Dados dotados de relevância e propósito. Requer unidade

de análise, exige consenso em relação ao significado e necessita de

mediação humana.

Conhecimento: Informação processada pela mente humana. Inclui

reflexão, síntese e contexto. É de difícil estruturação, captura por

máquinas e transferência. Frequentemente caracterizado como tácito.

Para Le Coadic (2004) a informação é um conhecimento registrado em

forma escrita, oral ou audiovisual. Seu objetivo é “a preensão de sentidos ou

seres em sua significação”, isto é, a informação tem como objetivo apreensão

do conhecimento. Nas palavras do autor:

A informação comporta um elemento de sentido. É um significado transmitido a um ser consciente por meio de uma mensagem inscrita em um suporte espacial-temporal: impresso, sinal-elétrico, onda sonora, etc. Inscrição feita graças a um sistema de signos (a linguagem), signo este que é um elemento da linguagem que associa um significante a um significado: signo alfabético, palavra, sinal de pontuação. (Le Coadic, 2004, p.4)

62

Alinhado com a visão de Le Coadic, Barreto (1996) define o conceito de

a assimilação da informação como agente mediador da produção de

conhecimento, sendo um processo de interação entre o indivíduo e uma

determinada estrutura de informação. Essa interação gera modificação em seu

estado cognitivo estabelecendo assim a produção do conhecimento. Para esse

autor este estágio é qualitativamente superior ao simples uso da informação.

Barreto defende a seguinte argumentação quanto a relação informação-

conhecimento:

“conhecimento é toda a alteração provocada no estado cognitivo do indivíduo, isto é, no seu estoque mental de saber acumulado, proveniente de uma interação positiva com uma estrutura de informação. Esta modificação altera o seu estoque de saber: ou porque acrescenta novo saber, ou porque sedimenta saber já estocado, ou porque modifica saber anteriormente estocado. Se nenhuma alteração ocorrer não aconteceu a assimilação da informação e, portanto, não se efetivou a relação informação/conhecimento.” (Barreto, 1996, p.2)

Para este autor a informação, quando adequadamente assimilada,

produz conhecimento, modifica a estrutura de saber do indivíduo, beneficiando

assim seu desenvolvimento e o desenvolvimento da sociedade onde vive.

Esta pesquisa adota um conceito para ‘informação’ pautada pela

literatura onde ela é definida como expressão de parte do conhecimento

humano e elemento essencial para aprendizagem. Também assume que parte

do conhecimento humano, chamado por alguns autores de “tácito” é composto

por aspectos intrínsecos no ser humano, como a habilidade para algo, dessa

forma de difícil expressão.

63

2.7. Transferência da informação

Barreto (2005) nos lembra que após 1949, quando Claude Shannon e

Warren Weaver elaboraram o modelo de comunicação para emissão e

recepção de sinais telefônicos, muitos pesquisadores o adotaram também

como modelo de comunicação humana. Segundo o autor Shannon e Weaver

postularam que no processo de transferência de informação estavam contidos

seis elementos: Uma fonte geradora, um codificador, uma mensagem, um

canal, um decodificador e um receptor.

Entretanto, no modelo Shannon-Weaver não foi considerado o

significado semântico da informação. A transferência era determinada pelas

leis da probabilidade, isto é, um caminho para sinais telefônicos. O modelo

admitia que o sinal gerado na fonte chegaria ao seu destino, com maior ou

menor qualidade, dependendo da quantidade de ruído existente no caminho.

A comunicação e a ciência da informação adotaram o modelo como

base para estudar o comportamento. Contudo, foi necessária uma adaptação

do modelo aos aspectos humanos e sociais condizentes com ambos os

campos de estudo. Esta adaptação incluiu a análise da interação humana entre

gerador e receptor. O processo de transferência de informação inicia quando

um emissor envia uma informação ao receptor. Toda via, para que se

estabeleça de forma eficaz, é necessário que exista um contexto de referência

que seja compreensível ao receptor. De acordo com Barreto (2005) “este

contexto deve ser verbal ou passível de ser verbalizado”. Para isso, é preciso

que exista um código comum ao emissor e ao receptor, um canal físico e uma

conexão psicológica entre eles que “os capacitem a entrar e a permanecer em

contato”.

Barreto (2005), afirma que a transferência da informação é observada de

forma distinta na Ciência da Informação e na comunicação. Ambas mantem o

interesse no indivíduo, toda via, é preciso destacar suas diferenças.

A primeira preocupa-se em caracterizar o gerador da informação,

nomear seus autores, estudar as necessidades dos envolvidos, inclusive o

64

perfil do receptor. Sendo eles individuais ou em grupo. Aqui, a transferência da

informação adquire a ideia de deslocamento. Ela é entendida como:

“uma mudança de dados de uma área ou meio de armazenamento para outra área ou meio de armazenamento. Quer-se uma transmudação com melhor distribuição e conseqüente apropriação da informação considerando a natureza de seu conteúdo.” (Barreto, 2005, p.6)

A segunda, campo da comunicação, a transferência da informação é

observada pela ótica do conteúdo. Este domina todo o processo que é

determinado pela união entre gerador e receptor. Nas palavras de Barreto:

“A transferência labuta com a informação para criar conhecimento no indivíduo e em sua realidade. Todas as intenções se orientam para o destino final: não basta atingir o receptor há que criar conhecimento modificador em pessoas únicas. A transferência da informação distribui informação para formar um melhor conhecimento para o desenvolvimento da realidade.” (Barreto, 2005, p.7)

Barreto (1995) afirma que a transferência de informação se solidariza

com a transferência de tecnologia. Sendo que a primeira está condicionada por

parâmetros contextuais. Para o autor a assimilação da informação, geradora

potencial de conhecimento, torna-se variável através de espaços sociais

diferenciados. Estes estão caracterizados “pela existência de uma

solidariedade orgânica e forte coesão efetiva de seus membros, em relação a

seus objetivos coletivos”.

Um ponto importante a ser lembrado é que os espaços sociais são

heterogêneos, diferentemente do processamento técnico dos estoques de

informação. No contexto social, ambiente no qual se espera que a informação

atue e transforme, existem micronúcleos sociais que muitas vezes apresentam

divergências profundas. Os integrantes destas comunidades podem ser

diferenciados por seu grau de instrução, renda, religião, raça, acesso a

informação, conduta moral e ética, confiança no canal de transferência,

codificação e decodificação do código linguístico comum, entre outros. Estes

espaços sociais detêm um forte sentimento de coletividade, alimentado por

65

costumes, tradições, sentimentos e atitudes organizadas. Maffesoli (1984) apud

Barreto (1994) afirma que nestas comunidades concentra “um conjunto de

saberes, regras, normas, proibições e permissões que são conservadas e

transferidas através de canais próprios de comunicação”. Parta Barreto (1994)

um ambiente onde pessoas tão distintas convivem com tal aproximação,

certamente, impõem condições à distribuição da informação, o seu uso e

assimilação.

Barreto (1995) reuniu conclusões interessantes a respeito da

transferência da informação. Estes argumentos servem de orientação para os

estudos direcionados ao tema. São quatro as afirmações feitas pelo autor:

i. “os canais de informação quando objetivam uma transferência

ampla e geral atingem a realidade de uma forma seccional, somente

tangenciam uma parte dos diferentes núcleos em que se divide esta

realidade”;

ii. “as comunidades urbanas privilegiam as informações sobre o

cotidiano em que vivem. Para que a informação provoque um efeito

inovador, deve ser respeitada esta relação da comunidade com o seu

cotidiano”;

iii. “a disponibilidade da informação não representa possibilidade de

acesso ou condição única de uso. O canal de transferência desta

informação deve ser confiável e a estrutura, onde a informação está

disponível, não deve ser limitada por barreiras de caráter econômico,

social ou psicológico”;

iv. “unidades, redes e sistemas de informação e comunicação não

devem ser estruturadas operacionalmente segundo um critério geral.

Devem adaptar-se aos espaços sociais diferenciados onde pretendem

atuar.”

Dayer e Hatch (2006), considerando a transferência de conhecimento

no contexto de redes de empresas como fator relevante para a busca de

competitividade, desenvolveram um estudo sobre a questão em empresas

66

Japonesas. A pesquisa teve como objetivo verificar a influencia dos recursos

de conhecimento existentes na rede no desempenho da empresa. Os autores

procuravam entender se empresas que obtinham produtos similares da mesma

rede de fornecedores que seus concorrentes podiam obter vantagens

competitivas por meio da rede. Os pesquisadores se debruçaram sobre os

fornecedores de autopeças dos EUA que abasteciam montadoras americanas

e a Toyota.

Dayer e Hatch (2006) revelaram um resultado interessante: Devido à

cultura existente na Toyota favorecer o compartilhamento de conhecimento a

empresa obtinha maior aprendizado oriundas das operações com

fornecedores. Como comprovação desse fenômeno foi identificada que entre

1990 e 1996 os fornecedores de autopeças conseguiram reduzir 50% dos

defeitos apontados pela Toyota, enquanto a porcentagem para as empresas

americanas girava entorno de 26%. Segundo a pesquisa a diferença estava

nas rotinas adotadas pelas empresas americanas, as quais produziam

barreiras para a transferência de conhecimento. Os autores concluíram que a

atuação em rede contribui para o melhor desempenho da empresa, mas

também descobriram que algumas habilidades e capacidades não são

facilmente transferíveis para outros compradores ou redes.

É preciso esclarecer que apesar de Dayer e Hatch utilizarem o termo

“knowledge transfers” para o qual a tradução literal é “transferência do

conhecimento”, nesta pesquisa se assumiu que o que é passível de

transferência é a informação e não o conhecimento propriamente dito. Em

oportuno, deve-se assumir que o termo “transferência da informação” também

encerra inadequação, uma vez que o sentido da palavra “transferir” consiste

em “levar de um lugar para outro” e apenas em termos jurídicos carrega o

sentido de “transmitir (a outrem)”7. Assim, assume-se que ao empregar o termo

“transferência da Informação” está se lançando mão do significado jurídico do

verbo “transferir”, já que, no contexto humano, a informação não muda de uma

pessoa para outra, mas, sim, é transmitida.

7 Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.

67

Barreto (2005) em sua analise a respeito da relação entre o texto e a

transferência da informação faz afirmações que permite entender melhor o

processo de transferência. Para esta pesquisa considerou-se que, sendo o

texto apenas um dos meios de transmissão da informação, é possível abstrair

as colocações de Barreto para uma generalização em relação aos demais

meios. Dessa forma foram analisadas tais colocações de forma a ampliar a

visão do “texto” para qualquer meio ou canal de transmissão da informação.

Ao se relacionar com a informação, em determinada estrutura, um

receptor realiza reflexões e interações. A partir de então são evocados

conceitos também relacionados com a informação recebida. Na interação com

a informação o receptor produz uma combinação de pensamentos. Este

“meditar próprio” é conduzido no contexto da estrutura de informação e no

contexto particular do sujeito em termo de tempos e espaços. Outros

elementos influem nesta interação como: os estoques de informação do sujeito,

sua qualidade de memória, sua competência simbólica em relação ao sub-

código lingüístico existente no contexto e as questões físicas e culturais do

sujeito.

Barreto (2005) argumenta que com base na existência desse conjunto

de elementos integrantes da elaboração do pensamento é possível chegar a

seguinte conclusão:

“o conhecimento é uma função de um fluxo de processos explícitos do pensamento e de um conjunto de manifestações tácitas, que se relacionam a uma solidão fundamental existente em cada indivíduo pensante. Esta proposição, que acredito seja válida para todas as estruturas de informação, texto e hipertexto, poderá influir na compreensão da transformação da informação em conhecimento.” (Barreto, 2006, p.5)

Em concordância com as argumentações apresentadas até aqui Araujo

(1978) traça uma definição clara de transferência da informação. Nesta, afirma

que “a transferência de informação ocorre quando as informações transmitidas

68

promovem a efetiva tradução do conhecimento em ação, incorporando-as ao

mundo do usuário.”

2.7.1. Canais de informação

O aumento da quantidade de informação produzida e a facilidade de

divulgação e acesso sobrecarregam o indivíduo. Para manter-se atualizado

precisaria de grande dedicação de tempo e acesso a diversos canais de

informação. Figueiredo (1979), já afirmava que diversos estudos, sobre

comunicação cientifica, demonstraram a dificuldade dos cientistas para se

atualizarem. Naquela época os estudos identificaram que este grupo mantinha

uma conduta de se manterem apenas superficialmente atualizados. A

justificativa pelo comportamento teve base em diversos fatores humanos,

configurados como “o princípio do menos esforço”. Um dos exemplos é o fato

de que o canal de informação só é utilizado se não for “trabalhoso” demais,

caso contrario identificou-se a tendência em desistir de obter a informação.

Este comportamento pode ser estendido para a sociedade como um todo

levando em consideração o volume de informação disponível atualmente.

Araújo (1978), em seu estudo sobre os canais formais e informais de

comunicação da informação identificou a importância atribuída a alguns desses

canais. Os resultados apontaram que a discussão informal com colegas

técnicos da firma (informal) teve indicação de maior importância por 48% dos

entrevistados, enquanto as estabelecidas com colegas técnicos de outras

firmas obtiveram 14%. As conversas informais com colegas não técnicos da

firma obtiveram apenas 3% das indicações. Os eventos e cursos (canal formal)

tiveram 7,5% das indicações como de maior valor, já os documentos – técnicos

ou não – representaram apenas 10,5% das indicações.

Segundo o autor (1978, p. 10), os canais informais são eficientes por

permitirem a interação direta entre a fonte de informação e o receptor,

minimizando o ruído. Este tipo de canal envolve principalmente a comunicação

oral – conversas discussões técnicas, discursos, conferências, telefonemas, a

69

comunicação escrita também é considera, em alguns casos, como informal.

Gonçalves e Freire (2007) ressaltam que atualmente as mensagens eletrônicas

ou e-mails podem ser considerados como canal informal, sendo possível

também classificá-los como formal, ao passo que oficializam e ratificam a troca

de mensagens entre pares.

Torna-se evidente que os canais de informação representam um

importante fator no processo de transferência da informação. Baseando-se em

pesquisas anteriores pode-se afirmar que o canal informal carrega grande

relevância nessa transferência.

2.7.2. Modelos de transferência de informação

Vários modelos de transferência da informação foram criados a partir

dos estudos que buscavam compreender este processo. Araújo (1978), após

estudar os principais modelos concluiu que não existe um modelo único para

explicar o processo. Em 1948, Claude Elwood Shanon apoiando-se nos

estudos de Weaver divulgou artigo apresentando seu modelo de comunicação.

Este modelo está pautado na relação entre emissor e receptor através da

transmissão da informação, sob influencia de outros três elementos: o código

linguístico, o ruído e feedback. Araujo (1978) avalia que os acréscimos

tornaram o modelo mais adequado aos aspectos sociais, “entretanto o mesmo

continua ainda a sofrer de outros males". A autora oferece como exemplo a

comunicação unidirecional (emissor/receptor) e impossibilidade de representar

o processo de comunicação de massa (um para vários).

70

Outro modelo, apresentado por Le Coadic (1987) e citado por Araujo

(1997), foi o proposto por Goffman em 1966. Neste foram aplicadas as leis

epidemiológicas em analogia a difusão oral da informação em uma população

de cientistas. Para Goffman, devido suas propriedades epidemiológicas era

possível representar o fluxo da transferência da informação como um processo

de contágio. A argumentação toma por base um modelo matemático de

contágio. Nas paralvras de Le Coadic:

“A difusão escrita de informação é representável como um processo de propagação, ou seja, comunicação pela mídia, a partir de uma fonte constante. (...) A comunicação é então analisada como combinação de processos de contágio e processos sociais de propagação.” (Le Coadic, 1994, p.71)

Em 1967, Murdock & Liston propuseram o modelo do "continuun

comunicacional". Neste a transferência de informação ocorria por meio de

canais distintos. As conversas presenciais de davam através do canal direto;

As publicações textuais e de áudio se estabeleciam através do canal da mídia

primária; Os arquivos e bibliotecas representavam o canal de arquivo, os quais

eram utilizados para a recuperação de informações históricas. Um quarto canal

era alimentado pela mídia primária e pelo canal de arquivo, foi classificado

Transmissor Receptor Mensagem

Informaçã

o

Sinal Sinal

Ruído Ruído

Feedback

Conhecimento

Figura 2 - Modelos de transferência da informação baseado em Shanon e Weaver

71

como canal da mídia secundária. Este canal tinha a função de facilitar a busca

bibliográfica. Era formado por periódicos de resumos, índices, bibliografias

listas de novos materiais. O modelo apresentava ainda um último canal

formado pelos centros de informação que, possuíam o objetivo de fornecer

serviços de informação.

Avramescu, em 1973, divulgou outro modelo. O pesquisador analisou a

difusão da informação científica e tecnológica e concluiu que a transferência da

informação seria análoga à difusão do calor nos sólidos. Este modelo foi

considero por outros pesquisadores como fisicalista, pois desconsidera os

aspectos sociais da difusão. Adota uma visão na qual o processo de

transferência da informação como simples troca de informação, passível de

medição. Para Le Coadic (1987) este modelo só pode ser aplicado a

comunicação escrita. Araujo expõe um exemplo:

“Se eu tenho uma moeda e você tem outra moeda e trocamos nossas moedas, cada um de nós continuará a ter uma mesma moeda. Entretanto se eu tenho uma informação e você tem outra informação (informações diferentes) e trocamos essas informações, teremos duas informações diferentes cada um. A troca de idéias/informações diferentes modificou o processo de formação de idéias e consequentemente o produto de tal processo. (Araujo, 1997, p.69)

Os modelos discutidos na literatura oferecem terreno fértil para os

estudos de transferência da informação. Percebe a evolução da visão

determinista pautada por modelos matemáticos para uma observação mais

social e humana a respeito da transferência da informação. Contudo é plausível

afirmar que os modelos são mais orientadores do que passível de aplicação

sem adaptações. Deve-se levar em consideração os aspectos tanto lógicos

quanto sociais para que se possa alcançar uma forma equilibrada para a

análise da em questão.

72

Barreto (2005) procurando delinear a inovação como um processo de

produção de conhecimento nos oferece um caminho para analisar a

transferência de informação.

Figura 3 - Tríplice pêndulo da inovação/conhecimento. Barreto, 2005

Em seu esquema a área sombreada representa a zona favorável para

que exista a transferência de tecnologia estimulando assim inovação. O autor

explica que a transferência de tecnologia pode ser entendida como uma

transferência de informação tecnológica, capaz de gerar conhecimento em

determinado ambiente. Para que a transferência possa ser considerada

completa a “movimentação tecnológica” deve resultar na realização de um

processo de produção de conhecimento. Barreto, ainda, acrescenta que:

“todo o processo que resulta em uma inovação, está associado um sistema de informação e a inovação só é aceita

73

como tal se a informação sobre a tecnologia que promove a inovação também for aceita como tal. Todo o processo se efetiva, na medida em que se efetive uma produção de conhecimento no indivíduo, no grupo ou na sociedade” (Barreto, 2005, p.2)

Quanto aos sistemas de informação, o autor sugere observá-lo como

composto pela integração de dois sub-sistemas básicos. Um é responsável

peça produção de informação, engloba o processamento para organizar,

controlar, estocar e recuperar a informação. Este sub-sistema é representado

pelos acervos de informação e podem ser considerados estoques estáticos de

informação. São classificados assim por não criarem conhecimento por si só.

A criação do conhecimento só ocorre com a interação com o sub-

sistema de transferência de informação. A partir de então os estoques

formados no primeiro sub-sistema são assimilados em um contexto social

específico. Barreto esclarece que o objetivo principal dos sistemas de

informação fornecer matéria para a produção do conhecimento. Dessa forma, é

possível promover o desenvolvimento da comunidade, alcançando, assim,

melhoria na qualidade de vida dos seus membros.

Para atingir o objetivo desta pesquisa percebeu-se a necessidade de

adaptar a visão de Barreto, tomando como base os pontos relevantes

apontados pelos modelos apresentados. Nessa adaptação fez-se uma

abstração das questões tecnológicas para as quais o esquema foi criando, sem

esquecer que, também na presente pesquisa, estão envolvidas informações

tecnológicas. Sendo assim, espelha-se no seguinte diagrama para as análises

necessárias à pesquisa:

74

Nesta adaptação entende-se como “estoques de informação” toda a

informação registrada e a passível de comunicação. O “contexto social” é

representado pelo ambiente físico e cultural onde os integrantes de uma

comunidade estão inseridos. Os “meios de transferência da informação”

consistem nas estratégias e ações adotadas pela comunidade para que se

promova tal transferência. O “conhecimento” refere-se ao saber intrínseco a

cada individuo da comunidade. Essa estrutura será levada em consideração

quando da analise dos aspectos referentes a transferência da informação nos

arranjos produtivos locais, objeto desse estudo.

3. Metodologia

No decurso da pesquisa foram encontrados alguns estudos direcionados

a Gestão do Conhecimento e da Informação em arranjos produtivos locais.

Figura 4 - Tríplice pêndulo da inovação/conhecimento adaptado de Barreto (2005)

Conhecimento

Contexto Social

Estoques de informação

Meios de transferência

da informação

75

Estes estudos serviram de base orientadora para o desenvolvimento desta

pesquisa. Entre os poucos estudos afeitos ao tema dois chamaram a atenção

pela similaridade do interesse científico. O primeiro foi a tese de Doutorado

defendida, em 2007, por Antonio Braz de Oliveira e Silva, na Universidade

Federal de Minas Gerais – UFMG, Escola de Ciência da Informação, sob o

título - O Cluster da Construção em Minas Gerais e as Práticas de Colaboração

e de Gestão do Conhecimento: Um Estudo das Empresas da Região

Metropolitana de Belo Horizonte (MG). O segundo estudo foi a dissertação de

mestrado desenvolvida, em 2006, por Júlio Araújo Carneiro da Cunha, na

Universidade de São Paulo, Faculdade de Economia, Administração e

Contabilidade de Ribeirão Preto, sob o título - O processo de transmissão de

conhecimento em redes inter-organizacionais: a experiência do arranjo

produtivo local de Birigüi (SP).

Os dois estudos possuem pontos semelhantes que possibilitaram a

adoção de um caminho mais seguro, por se estar andando sobre passos já

trilhados, em um campo ainda pouco conhecido. Ambas as pesquisas

caracterizam-se como exploratórias e adotaram, entre outros métodos, o

estudo de campo por meio de entrevista semiestruturada. Também

selecionaram apenas um arranjo ou cluster como objeto de pesquisa e

adotaram uma amostra sobre o qual se debruçaram. Os dois pesquisadores

optaram por aplicar as entrevistas diretamente aos empresários, buscando

identificar o comportamento das empresas em relação à Gestão do

conhecimento, no caso de Silva (2007), e à transferência do conhecimento, no

caso de Cunha (2006), sem se aterem as polêmicas geradas pelo termo,

principalmente entre pesquisadores da área da Ciência da Informação.

Também aqui, neste estudo, não houve a intenção de debater a

polêmica a respeito do conceito. Para se afastar dessa questão preferiu-se

lançar mão do conceito “transferência da informação”. Entretanto entende-se

que os interesses de pesquisa são semelhantes, qual seja conhecer e analisar

o comportamento das empresas, que atuam como integrantes dos clusters ou

arranjos produtivos locais, em relação à transmissão e uso da informação.

76

Buscando seguir o padrão de pesquisa, adotou-se para este estudo uma

metodologia semelhante às empregadas por Cunha (2006) e Silva (2007).

Entretanto, optou-se por uma amostra diferenciada. Aqui, não serão

entrevistados os empresários, mas sim os gestores dos APLs. Estes gestores

compõem um comitê de governança dos Arranjos e possuem visão geral dos

seus integrantes. Esta amostra possibilita uma visão de vários APL´s,

localizados em diferentes regiões, o que viabiliza a comparação entre eles.

3.1. Tipo de pesquisa

Foram realizados levantamentos teóricos por meio de pesquisa

bibliográfica sobre os temas considerados relevantes para o estudo -

transmissão da informação em arranjos produtivos locais. Buscou-se, dessa

forma, reunir e entender as teorias existentes sobre os assuntos relevantes

para a formulação de um quadro conceitual que pudesse embasar a pesquisa

de campo posterior.

A pesquisa bibliográfica exploratória foi direcionada para construção de

um arcabouço teórico sobre: o âmbito da pesquisa - desenvolvimento local,

arranjos produtivos locais e micro e pequenas empresas -, o foco a que se

destinou – Setor de Gemas e Joias e os APL’s apoiados pelo SEBRAE -, os

conceitos e teorias da Ciência da Informação – transferência da informação,

gestão da Informação, gestão do conhecimento, aprendizagem organizacional

e inteligência competitiva. Acredita-se que esses elementos são os necessários

e suficientes para a teorização e compreensão do problema de pesquisa.

Primeiramente buscou-se compreender o contexto no qual os arranjos

produtivos locais estão surgindo no Brasil, isto é, o foco no desenvolvimento

local por meio do trabalho cooperativo entre micro e pequenas empresas.

Conhecer este contexto possibilita entender as necessidades, demandas e

aplicações da informação no âmbito dos arranjos produtivos. Dessa forma,

espera-se estabelecer parâmetros conceituais com a transmissão de

informação entre as empresas que compões os arranjos. Esta compreensão

77

tornará possível atribuir os elementos necessários para o desenvolvimento da

aprendizagem.

A delimitação do foco da pesquisa para APL’s de um setor específico

exigiu o levantamento de informações a respeito desse setor. Este

conhecimento trona-se imprescindível para a compreensão do fenômeno. A

afirmação pauta-se em Halinen e Törnroos (2005). Estes autores ensinam que

para analisar uma rede de relações entre empresas é necessário considerar o

contexto no qual a rede está inserida, assim como a realidade de cada um dos

seus membros. É preciso, ainda, compreender e respeitar os aspectos

históricos da rede, assim como considerar seu presente e suas tendências para

o futuro. Todo esse conhecimento foi analisado a partir das teorias e conceitos

da Ciência da Informação considerada importantes para o estudo.

Assim sendo, a primeira etapa da pesquisa qualifica-se como descritiva

e possui caráter qualitativo. Segundo Vergara (2005) e Braga (2007), a

pesquisa pode ser classifica como exploratória. Braga nos explica que esse

tipo de pesquisa tem como objetivo:

Reunir dados, informações, padrões, idéias ou hipóteses sobre um problema ou questão de pesquisa com pouco ou nenhum estudo anterior. Não possui a intenção de testar uma hipótese, mas de procurar padrões. Não costuma produzir resultados muito conclusivos ou respostas para determinados problemas, mas indica pesquisas futuras. Braga (2007, p.25)

Richardson (1999, p.17) apud Cunha (2006) afirma que os estudos

exploratórios “tentam descobrir relações entre fenômenos” que possam

contribuir para construção do conhecimento científico. Cooper e Schindler

(2003, p.223) apud Cunha (2006), lembram que “o primeiro passo em um

estudo exploratório é uma busca de literatura secundária”. Esta busca

bibliográfica não ocorre exatamente em um momento da pesquisa, mas

durante toda ela. Um conceito ou teoria encontrada, muitas vezes, aponta para

outro aspecto do fenômeno que precisa ser estudado. Nesses casos é preciso

que o pesquisador use seu discernimento para não se perder no vasto universo

do conhecimento.

78

No momento em que o pesquisador supõe oportuno, o esforço

direcionado à pesquisa bibliográfica é diminuído em favor de outra etapa da

pesquisa. Assim, também neste estudo os esforços foram direcionados. Para

cumprir o objetivo - intenção de verificar, identificar e analisar o processo de

transmissão da informação em arranjos produtivos locais de gemas, joias e

afins apoiados pelo SEBRAE -, foi realizado um estudo de campo junto aos

gerentes dos APLs.

Este estudo de campo visa coletar informações que permitam analisar a

existência, ou não, de processos, ações e comportamentos adotados por

participantes de um APL a fim de conhecer como se dá a transmissão da

informação no Arranjo. Para possibilitar uma análise comparativa optou-se por

selecionar uma amostra por APLs, em detrimento da quantidade de

entrevistados. Para tanto utilizou-se uma amostra composta pelos

coordenadores dos sete APLs apoiados pelo SEBRAE.

A metodologia adotada esta respaldada por pesquisa de mestrado e

doutorado anterior (Cunha, 2006 e Silva, 2007). Esta base metodológica

permitiu alcançar a compreensão, observando a prática, dos processos de

transmissão de informação entre participantes de um APL. Segundo Andrade

(2004, p.18) apud Cunha (2006), este tipo de pesquisa classifica-se como

empírica e “se dedica a codificar a face mensurável da realidade social”.

Sobre a observação do comportamento em rede, Halinen e Törnroos

(2005) apud Cunha (2006) afirmam que para alcançar a eficiência na análise

de uma rede de relações entre organizações é necessário considerar o

contexto no qual a rede está inserida, a realidade individual de seus membros e

o aspecto temporal da rede (passado, presente e tendências para o futuro).

Partindo dessas orientações, a pesquisa foi direcionada para a

observação empírica do compartilhamento de informações, experiências e

conhecimentos entre atores de um APL. Entende-se aqui como atores as

pessoas participantes de uma aliança inter-organizacional horizontal que se

enquadre no conceito de Arranjo produtivo.

79

Por meio dessa observação pretendeu-se determinar quais elementos

do processo de transmissão da informação estão presentes nas relações do

fenômeno em análise. Adotou-se como premissa a análise das organizações

participantes, sob a ótica do coordenador do arranjo, baseando-se no

levantamento das ações adotadas para a transferência da informação. Levou-

se em consideração as ações prévias e atuais, para que se pudesse validar os

aspectos temporais.

Valendo-se do método de indução pretendeu-se identificar, ainda, as

dificuldades e vantagens relacionadas às pequenas e médias empresas

integrantes dos APLs no processo de transmissão da informação.

Considerando inclusive se a configuração em arranjos produtivos favorece ou

não a transmissão de informações e experiências para as empresas

integrantes. Entende-se que essa transmissão deve se refletir na capacidade

de inovação, na melhoria de qualidade do produto e no aumento da

competitividade. Ainda, por conseqüência, refletirá também no

desenvolvimento local, identificado pela melhoria na qualidade de vida dos

habitantes, pelo aumento das oportunidades de emprego e renda.

Para delimita o universo da pesquisa, adotou-se como objeto de estudo

os arranjos produtivos locais de gemas, joias e afins, apoiados pelo SEBRAE,

cujo acesso de dados e informações será realizado através do contato direto

com os coordenadores desses APLs através de visitas pessoais e contato

telefônico.

Para alcançar o objetivo pretendido realizou-se uma análise dos

aspectos relativos a transmissão de informação existentes entre os membros

do APL, verificando:

1. As ações que são adotadas pelo APL que favorecem a transmissão

de informação;

2. O perfil comportamental e cultural existente no APL que beneficiam o

compartilhamento da informação;

3. Técnicas gerenciais adotadas que facilitem os processos de

transmissão de informação;

80

4. Algumas considerações sobre aprendizagem e o processo de

transmissão da informação em arranjos cooperativos;

5. As ferramentas, canais e sistemas utilizados como apoio para a

transmissão da informação;

6. A natureza das relações no APL, observando se a existem elementos

de verificação da aplicação da informação transmitida ou se há

somente coordenação e disseminação de dados e informações.

3.2. Representação gráfica da metodologia

Para facilitar a compreensão do processo metodológico adotado apresenta-

se abaixo um diagrama que pretende ilustrar o caminho percorrido para o

alcance dos objetivos da pesquisa.

81

Figura 5 - Estrutura metodológica

3.3. A amostra

O SEBRAE, ao elaborar o termo de referencia para apoiar a formação

de arranjos produtivos locais, considerou fundamental a criação de uma

Desenvolvimento Local

Capital intelectual

e social

Micro e pequenas empresas

Arranjos Produtivos

Locais

Setor de gemas,

joias e afins

APL de gemas, joias

e afins

CONTEXTO

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Informação, aprendizagem e desenvolvimento

Gestão do conhecimento e da

informação

Transferência e compartilhamento da informação

VISÃO

Estudos anteriores Metodo Roteiro Amostra METODOLOGIA

ESTUDO DE

CAMPO

Entrevist

a

Analise das

respostas

Resultados

CONCLUSÃO Verificação das respostas quanto ao

objetivo da pesquisa

Verificação das respostas quanto à

bibliografia pesquisada

82

instância de governança e o estabelecimento de um modelo de gestão para

conduzir as atividades no APL. Essa instância nasceu com o objetivo de

exercer uma função executiva no sentido de coordenar e alinhar as iniciativas,

observar prazos, cumprimento de atividades, orientação de atribuições e

responsabilidades, além de trabalhar para estimular a motivação e o

comprometimento dos integrantes do APL.

Para esse fim o SEBRAE estimula a formação de um grupo composto

por empresários e representantes de instituições presentes no arranjo. O grupo

pode ser composto por: empresários, representantes de sindicatos locais,

parceiros tecnológicos, instituições de ensino e pesquisa, órgãos

governamentais (municipais e estaduais) e SEBRAE. (Sebrae, 2003)

O termo de referencia do SEBRAE determina que o grupo gestor tenha

um coordenador. O mesmo é escolhido entre os participantes do arranjo e por

eles. Este coordenador responderá pela qualidade e oportunidade dos

investimentos a serem feitos, contudo não há responsabilidade financeira, mas

sim, política e de representação. Ele contribui com seu prestígio pessoal na

rede de relações sociais. Sua principal função é estabelecer uma interlocução

política com o governo ou com outras instituições públicas de financiamento e

apoio. Assim, o coordenador assume a posição de representante temporário.

São de responsabilidade do coordenador do APL: apoiar a mobilização

dos meios necessários à implantação do programa no arranjo; representar o

arranjo junto a lideranças, órgãos e entidades públicas, privadas e do Terceiro

Setor; articular-se, localmente, com lideranças, órgãos e entidades públicas,

privadas e do Terceiro Setor, com vistas à execução e ao êxito do arranjo;

animar os integrantes do arranjo; e apoiar na identificação de demandas e

novas oportunidades. Para atender as demandas provenientes de suas

responsabilidades é fundamental possuir tempo e dedicação para

desempenhar as funções executivas exigidas.

Esta pesquisa adotará como amostra os APL´s do setor de gemas e

joias apoiados pelo SEBRAE. A delimitação torna a amostra mais homogenia

83

uma vez que estes Arranjos seguem um padrão de formação definido pelo

SEBRAE, adotando os mesmos conceitos e métodos de trabalho semelhantes.

São sete os Arranjos pertencentes à amostra, cada um deles possui um

Coordenador. Levando em consideração os vários perfis de profissionais que a

cadeia possui - variando de empresários com nível superior completo à

garimpeiros com baixo nível de instrução – e o grande número de pessoas

envolvidas em todos os Arranjos, decidiu-se por aplicar a pesquisa apenas

entre os Coordenadores dos APL´s. A decisão diminuiu a quantidade de

pessoas participantes da amostra permitindo o aumento do número de APL´s.

Caso contrário, para aplicar a coleta aos empresários ou a todos os integrantes

do APL, seria necessário um instrumento de pesquisa com formato e

linguagem adaptados para cada perfil. Isto tornaria esta pesquisa inviável

devido as delimitações de prazo e custo.

3.3.1. Os sete arranjos

Descreve-se abaixo as características dos projetos pelos quais os APL´s

são apoiados pelo SEBRAE. As informações foram retiradas do Sistema de

Informação da Gestão Estratégica Orientada para Resultados – SIGEOR,

criado e mantido pela Instituição de apoio.

1) APL Jóia Carioca

Público Alvo: Micro e pequenas empresas produtoras e

comercializadoras de joias, bijuterias e afins.

Região: Cidade do Rio de Janeiro, município de Rio Claro e Região Sul

Fluminense.

Objetivo Geral: Aumentar o volume de vendas e a participação no

mercado das micro e pequenas empresas e empreendedores do setor

de calçados e acessórios, de forma progressiva e sustentável, tornando-

as inovadoras e competitivas para atuar nos mercados interno e externo.

84

2) Setor de Gemas e Joias de Soledade e Guaporé

Público Alvo: Micro e pequenas empresas da Cadeia de Gemas e Joias

de Soledade e fabricantes de joias da cidade de Guaporé.

Região: Rio Grande do Sul, municípios de Soledade e Guaporé.

Objetivo Geral: Ampliar o acesso ao mercado nacional das empresas do

setor de gemas e joias.

3) ES/EDF - Terra do Cristal

Público Alvo: Lojistas, lapidários, joalheiros, garimpeiros e jovens do

APL Minerais e Cristais.

Região: Estado de Goiás, município de Cristalina.

Objetivo Geral: Promover o desenvolvimento do APL de Gemas, Joias e

Artesanato Mineral do município de Cristalina, visando a

sustentabilidade sócio-ambiental e sua consolidação no mercado

nacional do segmento, de forma que os produtos alcancem melhor

qualidade e apresentem diferencial competitivo, proporcionando

incremento de renda aos garimpeiros, lapidários, artesãos, joalheiros e

lojistas.

4) Gemas e Joias de Pedro II

Público Alvo: Micro e pequenas empresas formais e informais do setor

de gemas e joias do APL de Opalas da região de Pedro II, com foco nos

segmentos de joalheiros, lapidários, produtores e garimpeiros.

Região: Estado do Piauí, município de Pedro II.

Objetivo Geral: Aumentar a produção e o faturamento das empresas

gemas e joias, melhorando a qualidade dos produtos e processos, com

vistas à ampliar o acesso a mercado.

5) Gemas e Joias na Região de Belém

85

Público Alvo: Micros empresários e empreendedores do segmento de

joias, embalagens e lapidação vinculados ao Polo Joalheiro.

Região: Estado do Pará, Região de Belém.

Objetivo Geral: Promover a sustentabilidade das empresas e

empreendedores atendidos pelo projeto, com ênfase na melhoria da

gestão empresarial, qualificação profissional e no acesso ao mercado.

6) Gemas e Joias na região de Carajás

Público Alvo: Produtores de Joias, lapidários e artesãos envolvidos no

arranjo produtivo de gemas e joias.

Região: Estado do Pará, região do município de Carajás.

Objetivo Geral: Desenvolver o setor de gemas e joias, promovendo a

competitividade e ampliando a sua participação no mercado através da

melhoria da qualidade dos produtos e processos com vista a alcançar a

sustentabilidade econômica, financeira e ambiental.

7) Gemas e Joias na região metropolitana de Belém

Público Alvo: Produtores de joias e fabricantes de embalagens

envolvidos no arranjo produtivo de gemas e joias da Região

Metropolitana de Belém.

Região: Estado do Pará, região metropolitana de Belém.

Objetivo Geral: Aumentar a produção e o volume das vendas,

melhorando a qualidade dos produtos e processos, com vistas à ampliar

o acesso ao mercado.

3.4. Entrevistas

Para esta pesquisa decidiu-se adotar o caminho trilhado por estudo

anterior realizado por Cunha em 2006. Observou-se que o estudo: “O processo

de transmissão de conhecimento em redes interorganizacionais: a experiência

do arranjo produtivo local de Birigüi (SP)” apesar de ter sido desenvolvido na

86

área de Administração de empresas, pareceu adequado ao objetivo da

presente pesquisa. Considerou-se ainda que a adoção de uma metodologia já

aplicada fortalece os objetivos científicos.

Diante das especificidades e da diferença entre a interpretação de

conceitos existentes nas áreas de Administração e Ciência da Informação

tornou-se necessário a adaptação das questões propostas. Entretanto,

preservou-se a base teórica adotada como respaldo para a entrevista. Aqui

também optou-se pela aplicação da entrevista a público distinto. Enquanto

Cunha (2006) aplicou o instrumento de pesquisa à empresários de um único

APL, esta pesquisa direcionou a aplicação aos coordenadores de vários APL´s

de um mesmo segmento econômico.

A adoção das entrevistas como instrumento de pesquisa esta

respaldado por Zickmund, 2003 e Cooper e Schindler, 2003 apud Cunha (

2006). O primeiro autor argumenta que a entrevista é um eficiente meio de

coleta de dados baseado na comunicação entre o pesquisador (entrevistador) e

a amostra da população a ser pesquisada (entrevistados). Cooper e Schindler

(2003) consideram que a entrevista eu uma excelente técnica de coleta de

dado, quando bem sucedida, é uma excelente técnica de coleta de dados.

Zickmund (2003) apud Cunha (2006) ensina que se pode utilizar

diversos canais para aplicar uma entrevista. Contudo, afirma que as entrevistas

aplicadas pessoalmente apresentam maior benefício em relação à utilização de

outros canais. Tais benefícios estão ligados a possibilidade de maior interação,

possibilitando agregar a entrevista maiores detalhes e perceber minúcias do

comportamento do entrevistado. A entrevista pessoal facilita a orientação das

questões ao passo que permite ao entrevistador identificar sinais de

impaciência, incompreensão, insegurança, satisfação, entre outras, não

relatadas verbalmente pelo entrevistado. Em entrevistas realizadas por canais

apenas de voz esta identificação torna-se muito mais difícil, enquanto canais de

comunicação textuais, que não envolvem voz e imagem, torna-se praticamente

impossível esta identificação.

87

É consenso entre os pesquisadores que questionários enviados por

meio eletrônico ou em papel possuem um baixo percentual de respostas. Roth

e Bevier (1998) apud Cunha (2006) lembram que com relação presencial os

entrevistados tendem atribuir maior importância a pesquisa, aumentando a

predisposição em responder as questões com maior veracidade, atenção e

acuidade.

Deste modo, optou-se por empregar o esforço possível para realizar um

maior número de entrevistas presencialmente. Sendo que, nos casos de

inviabilidade da aplicação da entrevista pessoalmente, por motivos de tempo,

custo ou alheios a decisão do pesquisador, optou-se por usar canais que

envolvam voz e imagem ou ao menos voz. Como estratégia para aumentar a

probabilidade de participação dos coordenadores dos APLs decidiu-se por

iniciar o contato por meio do Coordenador Nacional de APLs do Setor do

SEBRAE. Este coordenador também é peça importante para avaliar a

quantidade de questões e o formato do questionário, uma vez que possui

conhecimento sobre o perfil de cada Coordenador de APL.

Para o registro das informações obtidas por meio das entrevistas optou-

se por utilizar dois métodos de acordo com o canal adotado:

Para entrevistas realizadas pessoalmente: gravação sonora das

respostas,

Para entrevistas por canais de voz e imagem ou apenas voz:

anotações manuais dos pontos relevantes levantados pelo

entrevistado.

É fato que as anotações manuais deixam a desejar quanto a riqueza de

detalhes nas respostas do entrevistado. Para minimizar este impacto levou-se

em consideração a necessidade de registro manual das respostas durante a

estruturação da entrevista e elaboração do roteiro.

3.4.1. Estruturação da entrevista

Ao aplicar entrevistas como método de coleta de dados deve-se elaborar

um instrumento norteador contendo questões previamente elaboradas. Isto é,

existe a necessidade em se estabelecer um roteiro de entrevista. Para a

88

presente pesquisa optou-se por elaborar um roteiro adaptado de pesquisa

anteriormente desenvolvida por Cunha (2006). Às questões propostas por este

autor foram adicionadas outras consideradas relevantes e suprimidas algumas

não adequadas à visão adotada. O roteiro (anexo I) é composto por perguntas

abertas.

3.4.2. Roteiro da entrevista

A pesquisa desenvolvida por Cunha (2006) propõe a analisar o processo

de transmissão de conhecimento. Na área de Administração de empresas o

conceito de conhecimento é tratado com pouca literalidade. Dessa forma, os

conceitos de Gestão do Conhecimento e Transferência do Conhecimento são

adotados sem muita polêmica. O mesmo não acontece na área de Ciência da

Informação. Nesta área a preocupação com a epistemologia e a etimologia do

termo conhecimento cria, ainda hoje, muita polêmica quanto aos estudos que

envolvem gestão e transferência do conhecimento. Para grande parte dos

pesquisadores da Ciência da Informação os estudos relacionados a esses

temas desconsideram a impossibilidade de verificar a um fenômeno que ocorre

apenas na mente das pessoas. Para os cientistas da informação os objetivos

dos estudos relacionados à gestão e transferência do conhecimento tratam-se,

em verdade, dos fenômenos de aprendizagem, gestão e transferência da

informação.

Sendo assim, ao adaptar a metodologia utilizada por Cunha (2006),

estudo pautado pela transferência do conhecimento no âmbito da

Administração, foi necessário utilizar uma visão diferente da empregada. Os

conceitos adotados pelo autor foram avaliados quanto a aplicabilidade e

coerência com a visão definida para a presente pesquisa. Dessa forma as

questões utilizadas apoiaram em teorias e conceitos alinhados com os

interesses apresentados a seguir:

I. Relação entre os participantes do arranjo produtivo:

89

Entre outras características La Rovele (2001) destaca que a base para

se estabelecer um processo de cooperação é constituída pela existência de

troca sistemática de informações entre os agentes envolvidos e pelo grau de

confiança entre os agentes.

Já NONAKA (1997) afirma que a boa convivência incentiva o

compartilhamento cooperativo. Para este autor, o fato favorece a transmissão

de conhecimento.

Cunha (2006) apoiou-se ainda nas afirmações encontradas em outros estudos:

Existe a necessidade em se ter uma relação estabelecida há um período de tempo considerável para que se possibilite a transmissão efetiva de know-how entre as empresas (VON HIPPEL, 1988; KOGUT e ZANDER, 1992 apud Cunha, 2006).

II. Iniciativa e interesse na formação do arranjo produtivo

É importante entender se a formação do APL se deu por legitimação de vontade própria dos membros do grupo, se há um intermediador capaz de catalisar as relações já existentes entre as empresas ou se é possível que a formação de um APL seja induzida por organizações de suporte (HASTENREITER, 2005 apud Cunha, 2006).

III. Construção e manutenção da relação de confiança

Pode haver a possibilidade de ocorrer assimetria de informações entre os membros do grupo, tais como más interpretações e controle das divergências provenientes do discurso do líder (BORYS e JEMISON, 1989 apud Cunha, 2006), por isso deve existir

confiança no líder do grupo (KIM e MAUBORGNE, 2003 apud Cunha, 2006).

A confiança é fundamental para que se realizem ações cooperadas de âmbito

90

comum (FUKUYAMA, 1988). Compreender o que leva a geração de confiança pode dar pistas se essa criação de elos entre os envolvidos está relacionada à questões emocionais, de identidade e semelhança entre os indivíduos ou se a própria maturidade da formação institucional das leis do ambiente (SCOTT, 1995) garante a confiança e certeza do comportamento do aliado. (Cunha, 2006)

IV. Canais de comunicação e registros formais das informações

Para análise das respostas a essa questão deve-se considerar os

seguintes conceitos apresentados por Cunha (2006):

“Quanto maior for o fluxo de comunicação, maiores são as

possibilidades de se trocar informações e, posteriormente, de conhecimento

(ALTER, 1999).”

Quando as relações entre as organizações se dão pessoalmente, a

construção de um campo propício à transmissão de conhecimentos é facilitada,

principalmente em relação ao conhecimento tácito (VON KROGH et alli, 2000

apud Cunha, 2006).

O conceito de conhecimento tácito difundido por Nonaka e Takeuchi em

1997 foi baseado nas idéias de Michael Polany divulgadas em 1966. A palavra

“tácito”, usada para adjetivar, o substantivo “conhecimento” tem sua origem no

latim (tacitus) e significa "não expresso por palavras". O autor definiu este tipo

de conhecimento como aquele existente apenas na cabeça das pessoas,

estando relacionado às habilidades e “know-how”, portanto de difícil

explicitação. Contudo, muitos autores entendem o conhecimento tácito como

passível de explicitação, compreendem que este conhecimento pode ser

transferido pela oralidade ou pela observação. Para esta pesquisa adotou-se o

entendimento que o que é passível de transferência é a informação e não o

conhecimento. A afirmação respalda-se no fato de que as palavras e ações são

a expressão do conhecimento (completo ou não) por meio da linguagem, não

sendo o conhecimento em si. Ainda é preciso lembrar que a comunicação do

91

conhecimento, por meio da oralidade ou demonstração, não garante a uma

transferência. Mesmo assim a questão proposta por Cunha (2006) possui

aderência à pesquisa uma vez que os canais de comunicação usados para a

transferência da informação são relevantes para o estudo.

Ainda considera-se importante a identificação da existência de

processos de formalização utilizados pelo APL possibilita avaliar se há

preocupação com o registro da informação, fator importante para sua

transferência.

V. Uso de tecnologia da informação (computador, internet)

Identificar o nível de interação com ferramentas relativas a tecnologia da

informação e possível eficácia deste tipo de intermediário para a transferência

da informação.

É importante observar se os participantes do APL utilizam ferramentas

de telecomunicações para realizar seus contatos, considerando que o excesso

do uso pode ser um fator limitante. (REZENDE, 2002 apud Cunha, 2006).

VI. Comportamento cooperativo entre as empresas da região

Identificar se a cooperação entre empresas foi estimulada por um

intermediador ou se a mesma pré-existia, sendo característica do

comportamento empresarial.

Pretende-se verificar se a estruturação do APL intensificou ou criou um

ambiente propício à transmissão de informação. Para Boisier (2001) as redes

de empresas compõem o capital social regional e são compostas por ativos

relacionais dos indivíduos, tais como os seus contatos, liderança, e a confiança

que neles depositam.

Se existem processos de desenvolvimento conjunto, principalmente se tratando de tecnologias (GULATI, 1998), é evidente que deve haver coordenação de esforços cognitivos entre as organizações, tanto porque o conhecimento necessário para este desenvolvimento muitas vezes está

92

localizado conjuntamente dentro das potencialidades da rede (POWELL et alli, 1996). (Cunha, 2006)

VII. Existência de identidade e cultura semelhantes entre os membros

Em acordo com Cunha (2006) considera-se importante verificar se a

formação de capital social entre os membros do APL ocorre em decorrência da

construção natural de um ambiente institucional entre elas ou se este pode ser

construído ou fortalecido por indução dos órgãos externos.

“Se existir uma semelhança cultura e de identidade proveniente da formação do capital social local das organizações estudadas, potencializam-se as relações sociais e os ganhos, mesmo que implícitos, provenientes delas” (BOURDIEU, 1985; COLEMAN, 1988). (Cunha, 2006)

VIII. Verificação da cultura de aprendizado

Verificar se há cultura de aprendizado na organização, fator esse fundamental para que se possa receber o conhecimento (ADAMS e LAMONT, 2003). Para o aprendizado externo for internalizado, o funcionário precisa realizar experimentos sobre o observado (LEONARDBARTON, 1998) e assim serem capazes de testar seus conceitos abstraídos pela observação em uma nova situação (KOLB, 1984). (Cunha, 2006)

Diante da impossibilidade em se realizar determinada atividade empresarial com o estoque de conhecimento disponível internamente na empresa, ou mesmo na necessidade em se implementar o conhecimento que a organização detém, é importante que a empresa saiba procurar o conhecimento necessário para suas atividades entre seus aliados (HANSEN, 2002;

93

BORGATTI e CROSS, 2003). (Cunha, 2006)

IX. Comportamento em ralação a busca, compartilhamento e aplicação da informação

Espera-se identificar se a atuação em cooperação com outras empresas

traz consigo um aumento pelo interesse e aplicação da informação. Ainda

pretende-se identificar a percepção do coordenador do APL em relação a estas

mudanças.

Pretende-se, ainda, verificar a aplicação da informação obtida por meio

das relações estabelecidas no APL para melhorar os produtos e tornar a

empresa mais competitiva.

Cunha (2006) destaca dois fatores importantes:

(1) Verificar se a cultura do grupo é de aprendizagem mútua. Pretende-se observar também se existe o receio dos membros do grupo em compartilhar o que sabem. (VON HIPPEL, 2005).

(2) Importante observar se existe a abertura entre as organizações associadas para o ensino e aprendizagem organizacionais (ADAMS e LAMONT, 2003) ou se a busca por conhecimentos específicos é tida exteriormente ao grupo consorciado (PROBST et alli, 2002).

X. Disponibilidade no fornecimento da informação

Observar se existe o clima de solicitude entre as organizações consorciadas para ensinar seus processos, especialidades e conhecimentos (VON KROGH et alli, 2000) e se há um

ambiente cooperativo em que as organizações compartilham seus conhecimentos (NONAKA, 1991). (Cunha, 2006)

XI. Existência de locais para compartilhamento da informação

94

A presença de laboratórios conjuntos é uma forma de se demonstrar a existência de um local de socialização de conhecimentos (NONAKA e TAKEUSHI, 1997) para o desenvolvimento de produtos. Trata-se também de uma evidência da existência de processos conjuntos de desenvolvimento de novos produtos que inevitavelmente trazem conhecimentos à organização participante. (Cunha, 2006)

XII. Identificação de melhorias

Pretende-se identificar se houve melhorias nos processos da empresa,

considerando que as mesmas estão relacionadas à inovação de processo,

proveniente da transferência e aplicação da informação ocorrida entre os

participantes.

XIII. Comportamento em relação a transferência da informação

Pretende-se identificar se existem ações para a aplicação em conjunto

da informação, estimulando assim sua transferência. Vale lembrar que a

identificação da transmissão de informações não necessariamente implica na

transmissão de conhecimento (BARRETO, 1996).

Barreto (1996) completa que o valor da informação está associado com

a demanda que ela tem, num contexto em que cada indivíduo realiza sua

própria mensuração de valor para as informações através de sua escala de

preferências e prioridades racionais.

Dyer e Hatch (2006) em estudo sobre a transferência de informação e a

competitividade das empresas utilizaram esse tipo de questão para tentar

medir a influencia da informação na diferença de atuação das empresas que

compartilhavam os mesmos fornecedores.

95

4. Resultados da pesquisa

4.1. Analise

A análise realizada baseia-se nos conceitos e teorias utilizados na pesquisa e

na elaboração do questionário proposto por Cunha (2006).

4.1.1. APL de Goiás

O APL de Goiás compreende as regiões de Cristalina e Pirenópolis,

sendo que a primeira atua no segmento de Gemas e Joias e a segunda no

segmento de artefatos de pedra. A ênfase dessa análise se volta para

Cristalina, uma vez que nesta cidade é desenvolvido o segmento de que se

trata a pesquisa.

As ações do Sebrae para o desenvolvimento do comportamento

cooperativo e posterior formação de um arranjo produtivo local iniciou há quatro

anos. Nesse período foi construída uma relação entre as instituições

participantes do APL e as empresas. A relação entre os empresários já existia,

construída através das relações familiares e de vizinhança. O tamanho da

cidade e o modo como se originou favoreceu essa aproximação. Neste caso,

identifica-se positivamente a existência de uma relação que possa facilitar a

transmissão da informação.

O interesse para um trabalho cooperativo foi identificado nos

empresários, a atuação do Sebrae proporcionou a articulação e o

desenvolvimento do grupo. Entretanto, o Gestor do Sebrae atribui o

desenvolvimento do APL e o trabalho em conjunto a interferência necessário

de um órgão externo.

O trabalho em conjunto, esporádico ou estimulado por uma necessidade

pontual, não pode ser considerado como comportamento cooperativo. Em

Cristalina identificou-se a primeira situação, mas não a segunda. Ainda

percebeu-se que a maturidade empresarial influencia no comportamento mais

96

em termos de iniciativa e menos em termos de compreensão do

cooperativismo.

Os empresários dividem-se em grupos com maior e menor nível de

amizade. Contudo não só a amizade determina a relação entre eles. Há

também um reconhecimento da dependência existente entre eles, criada pelo

próprio processo produtivo, uma vez que cada ator detém o conhecimento e a

produção de um componente do produto final.

A troca de informação sobre o processo aumentou com a formação do

APL. Atribui-se esse aumento ao crescimento da quantidade de informação

dentro do APL, inserida por meio de cursos. Aqui, percebe-se um aspecto

interessante onde o aumento de informação no ambiente e diretamente

proporcional ao aumento da interação e aproximação dos empresários.

A conquista da confiança entre os empresários e entre estes e os órgãos

e entidades participantes do APL, determina-se pelo planejamento e gestão

participativos. Em Cristalina, ainda considera-se, como fator gerador de

confiança entre os empresários: a relação histórica e o pertencimento às

mesmas origens. As empresas, construídas e transferidas de pais para filhos é

característica da região e praticamente deu origem a cidade. Também a este

aspecto estão relacionados os laços de cultura e identidade pré-existentes a

construção do Arranjo Produtivo.

Quanto à busca da informação

O acesso á informação acontece por revistas setoriais e por interação

pessoal com instituições de apoio ao setor ou entre os empresários. Contudo,

algumas informações são obtidas apenas pelo gestor. Estas são levadas por

ele pelo para subsidiar as decisões do grupo. Muitas dessas decisões são

coordenadas e tomas em conjunto. O gestor atua de forma a desenvolver a

independência dos empresários nesta busca.

Quanto à obtenção e aplicação da informação

Identificou-se que o principal canal de comunicação ainda é o telefone. A

associação local funciona como fonte de informação e atua como

97

disseminadora, por meio de reuniões presenciais. Os principais registros

formais - atas e fotografias – ficam sob sua guarda e a disposição dos

interessados.

Poucos usam sistemas de informação ou possuem intimidade com a TI.

Percebe-se uma menor resistência por parte dos mais jovens. Entretanto, as

iniciativas de inclusão digital não apresentaram, ainda, resultados relevantes.

Para a aplicação da informação não se impõe um padrão definido,

apenas orienta-se a adotar o padrão estabelecido. Existe a preocupação

constante de não determinar ações unilateralmente, evitando-se imposições

que possam estar fora da realidade dos empresários.

Um meio utilizado para fomentar a melhoria da produção e tomada de

decisão é a freqüente oferta de cursos, escolhidos e planejados pelo grupo. O

estimula ao aprendizado dentro de sala de aula auxilia não só no aumento da

maturidade do empresário, mas também na formação do sentimento de

cooperação. Ainda estimula-se a realização de “missões técnicas” no âmbito do

APL e fora dele.

Quanto ao compartilhamento da informação

Em Cristalina, as visitas para conhecimento do processo produtivo entre

os empresários são realizadas sem resistência. Pequenos grupos, por ação

voluntária (sem interferência de órgãos externos) unem-se para discutir e criar

produtos em conjunto. O ambiente de compartilhamento ocorre nas próprias

oficinas das empresas. Os encontros presenciais, realizados mensalmente,

também oferecem momentos de compartilhamento. Nessa região não existe

locais de uso compartilhado como laboratórios ou bibliotecas. Entretanto, o

grupo considera necessária a criação de tais ambientes. Para tanto, esta em

andamento uma ação conjunta entre todas as entidades e órgãos envolvidos

com este APL.

Os resultados

São perceptíveis as mudanças de comportamento em relação a busca,

compartilhamento e aplicação da informação. O aumento do fluxo de

98

informação criou mais segurança entre os empresários em relação ao processo

cooperativo. Uma questão importante foi a “abertura” da visão em relação ao

mercado e o despertar do interesse pela aquisição de novas informações.

Percebe-se também uma quebra da atitude “desconfiada” e imediatista e uma

compreensão mais saudável do que é concorrência. As melhorias no processo

foram identificadas principalmente em relação a gestão das empresas. Ainda

identifica-se uma carência no que tange aos processos produtivos.

4.1.2. APL de Pedro II - Piaui

O projeto de implantação do APL de Pedro II iniciou há seis anos, mas

desde 2000 havia atividades de apoio aos empresários. Entre eles atuação

para o desenvolvimento de uma cultura cooperativa. A relação entre os

empresários já existia, contudo o sentimento de concorrência imprimia um

distanciamento entre eles. Após os primeiros anos de atuação do Sebrae, o

projeto de formação do arranjo foi reivindicado pelos empresários. Pode-se

afirmar que a rivalidade existente antes do inicio da atuação do Sebrae, em

2000, diminuiu após o trabalho focado no desenvolvimento da cultura

cooperativista.

Os laços de amizade eram mantidos entre alguns, devido ao

relacionamento familiar e de vizinhança. Aqui, como em Cristalina, verificam-se

semelhanças culturais e de identidade, pré-existentes a formação da rede,

vinculadas a região.

O trabalho em conjunto fortaleceu o sentimento de grupo, aproximando

os empresários. Atribui-se a construção da confiança à percepção de que a

união os fortaleceria e a necessidade de se tornar mais competitivo. O trabalho

em conjunto dos órgãos governamentais e instituições de apoio desenvolveu, a

partir de cursos e palestras, a consciência sobre a importância de se adquirir

conhecimento. O dialogo e planejamento participativo é tido como ponto crucial

para a manutenção da confiança.

99

Quanto à busca da informação

Todos utilizam e-mail para comunicação, alem do telefone e as reuniões.

O e-mail é utilizado para compartilhar os resultados das reuniões que

geralmente são registradas em ata. A TI também é usada para busca de

informação. Aqui identifica-se um interessante fenômeno de disseminação da

informação pelo empresário quando, em uma pesquisa eventual encontra-se

uma informação de interesse do grupo. Percebe-se, entretanto, que o contato

pessoal ainda é a forma mais comum de atuação da rede.

O gestor do Sebrae atua como fonte secundária de informação. É

comum o empresário solicitar mais informações sobre algo que teve contato

por outras canais. Contudo, ele é apenas uma das fontes, também existindo o

contato com outras pessoas nas feiras e eventos.

Quanto à obtenção e aplicação da informação

O modelo adotado pelo projeto para o desenvolvimento do APL esta

baseado no planejamento colaborativo onde os próprios empresários definem

as ações. Entre elas estão os cursos, capacitações e consultorias, sendo que

os primeiros são realizados em conjunto e a última individualmente.

O projeto do Sebrae é orientado para avaliação da aplicação da

informação por meio de uma metodologia orientada ao resultado. Nessa

avaliação consultores visitam as empresas para verificar o que foi aprendido e

utilizado. Também nesse processo distorções são corrigidas. Também é

verificada a evolução dos indicadores medidos no inicio do projeto. Esta

medição é feita periodicamente e dá subsídio para novas ações.

Quanto ao compartilhamento da informação

São estimulados encontros para debate e troca de informação. Neste

mesmo momento decisões podem ser tomadas pelo grupo. Neste arranjo os

empresários, em sua maioria, se mostram disponíveis para as visitas técnicas.

Nestas visitas mostram seus processos de gestão e produção. Foi identificado

que não existe, hoje, desenvolvimento de produtos em conjunto. A divulgação

100

de especialidades entre os empresários se mostra restrita, costuma ocorrer

mais entre pessoas mais próximas ou entre os consultores e empresários.

A existência de laboratório ainda não é realidade, mas é tido pela

gestora como fator importante. Existe o planejamento da montagem de um

laboratório. Para isso, o governo local, as entidades de apoio e os próprios

empresários estão contribuindo para a sua montagem. As publicações,

registros e atas são arquivadas na associação e ficam disponíveis aos

empresários.

Os resultados

Um importante resultado refere-se ao fortalecimento do sentimento de se

pertencer a um grupo. Também foi identificada melhorias em termos de busca,

compartilhamento e aplicação da informação depois da formação do APL. A

troca de informação e a atenção em disseminá-la tronaram-se mais comum.

Quanto ao processo produtivo percebeu-se o desenvolvimento de uma

compreensão mais realista do mercado, e da necessidade de dinamismo e

atualização.

4.1.3. APL do Rio de Janeiro

O projeto para a formação do arranjo produtivo local do Rio de Janeiro

foi iniciado há cinco anos. Este APL possui uma característica distinta uma vez

que inclui em sua cadeia produtiva o segmento de moda. Isto é, aqui são

considerados não só ciclo produtivo da jóia ou bijuteria, mas também o elo da

confecção entre outros. O projeto foi iniciativa das instituições de apoio, que

após estudo da viabilidade do projeto, convidaram os empresários e

compuseram, junto com empresários representantes, a governança do APL.

Ao iniciar o projeto de formação do APL não existia um relacionamento

entre as empresas. Alguns se conheciam devido às relações entre famílias

atuantes no setor. Uma característica interessante desse APL é a forte

participação da comunidade judia no setor. Esta comunidade tem por cultura

101

manter a aproximação com seus membros. Além desse vinculo cultural, entre

alguns membros, também se identificam através do pertencimento a região.

Unem-se em torno desse pertencimento e imprimem em seus produtos como

uma marca. Essa construção de identidade a partir do regionalismo foi

incentivada pela formação do APL, não existindo anteriormente.

Entretanto, comportamento cooperativo se estabeleceu a partir do

desenvolvimento do arranjo, assim como a construção da confiança entre eles.

Atribui-se a esse fato o alcance de resultados nas ações e o planejamento

participativo. Além disso, percebe-se que as capacitações auxiliam na

modificação da visão sobre o compartilhamento da informação e o trabalho em

conjunto.

Neste arranjo identifica-se um maior numero de canais de comunicação.

Além do e-mail, telefone e reuniões presenciais já identificados em outros

APLs, aqui se encontra o uso de Jornal bimestral e Newspaper. Apesar de

serem informatizados, não utilizam sistemas de informação para comunicação

em rede.

Quanto à busca da informação

Não apresentam dificuldades em buscar informação. São considerados

proativos tanto na busca como na troca de informação entre eles e com a

governança do APL.

Quanto à obtenção e aplicação da informação

A avaliação da aplicação da informação obtida é realizada por

consultores que visitam as empresas para verificar o que foi aprendido. Desse

forma, este consultor pode tanto corrigir as distorções como especificar as

informações, direcionando-as da melhor forma. As informações provenientes

de reuniões, assim como nos outros APLs estudados, são registradas em atas

e distribuídas a todos do grupo.

Uma ação que se destaca no APL do Rio de Janeiro é a criação de um

centro de serviço destinado a consulta sobre fornecedores de produtos e

serviços necessários ao processo produtivo. Este centro foi uma solução dada

102

a resistência dos empresários em fornecer este tipo de informações a outros

empresários.

Quanto ao compartilhamento da informação

O APL dispõe não só de laboratório de gemologia como a escola de

ourivesaria. Nestes ambientes a informação é compartilhada e as novas

técnicas são demonstradas para o grupo.

Também se identificou que algumas empresas disponibilizam os

profissionais mais antigos e que dominam alguma técnica para transferir seu

“Know-how” ao grupo. É comum também que professores da universidade e do

Senai atuem dessa forma. As empresas maiores e consolidadas contribuem

com o desenvolvimento das demais empresas ministrando palestras sobre

suas experiências de gestão e produção. Contudo, não é costume do grupo

permitir a observação no ambiente de produção de suas empresas.

Os resultados

Percebe-se um aumento da atitude proativa, levando os empresários a

procurarem o Sebrae e a Ajorio mais frequentemente. A pesar de não haver

uma rede conectada de forma permanente, compartilham informações entre os

mais próximos e nas reuniões.

Após a formação do APL chegaram criar coleções e montarem lojas em

conjunto. Por iniciativa própria se uniram para criar uma marca. Entretanto,

percebe-se que essas ações são mais afetas as empresas mais recentes ou

menores. Também foram identificadas melhorias de tecnologia, gestão e

principalmente designer durante a formação do arranjo.

4.1.4. APL de Gemas e Joias do Rio Grande do Sul

A formação do APL iniciou há oito anos, sendo que existiram trabalhos

anteriores. Existia relacionamento entre as empresas antigas, já as empresas

recentes eram marginalizadas. É importante destacar que as empresas

recentes são originadas, na maior parte das vezes por empregados que saem

103

das empresas antigas. O Sebrae tomou a iniciativa para formação do arranjo,

convidando primeiramente as instituições e órgãos locais e depois os

empresários.

Antes da formação do APL era percebido um comportamento mais

associativo que cooperativo. Existiam alguns grupos de amizade e não era

identificado comportamento de rivalidade. A identificação com a região e as

características culturais é um aspecto comum entre o grupo. Observando-se

diferenças mais relacionadas a ao nível empresarial do que a cultura. A

construção da confiança é atribuída a atuação profissional, participativa e

transparente. Os resultados obtidos também conferem segurança aos

membros.

Os canais mais utilizados são o e-mail, o telefone e as reuniões. Não

apresentam dificuldade do uso da TI para troca de e-mail e realização de

pesquisas. Contudo, não utilizam sistemas de informação como suporte ao

relacionamento em rede. O sindicato e a Associação mantêm canais de

comunicação e disponibilizam espaço para que os empresários divulguem

informações, primeiro por meio de um site e o segundo através de informativo.

Os demais registros de informação, relacionados às reuniões, são registradas

em atas de reunião. No inicio do projeto, essas reuniões traziam informações

importantes provenientes dos grupos de trabalhos, criados para estudar e

apresentar informações aos demais.

Quanto à busca da informação

Percebe-se que a iniciativa para a busca de informação aumentou com o

tempo. A dependência deu espaço para proatividade nesta questão. Contudo,

não e homogenia. O entendimento que as instituições de apoio são

responsáveis pelo crescimento da empresa pode ser um fator que influencia

esse comportamento. Como observado em outros arranjos, o amadurecimento

do empresário parece estar vinculado a seu comportamento em relação a

busca da informação.

Quanto à obtenção e aplicação da informação

104

As informações provenientes das reuniões e encontros formais do grupo

são registradas em atas e servem como forma de disseminação da informação.

Os cursos e capacitações ministrados para os grupos, são separados por nível

de maturidade dos empresários. É estimulado que a aplicação dessas

informações seja realizada de forma criativa e adaptada as empresas, sendo

que continuamente é realizada uma avaliação dos resultados junto a cada

empresário. Existe a iniciativa de criar cursos direcionados a todos os

empresários independente do nível de maturidade. Acredita-se que esta

estratégia pode auxiliar no nivelamento de conhecimento no grupo. As

orientações para aplicação ou a especificação das informações para a

realidade da empresa é realizada por meio de consultores.

Quanto ao compartilhamento da informação

A aceitação quanto ao compartilhamento da informação esta relacionada

ao assunto tratado. Quando essas informações abrangem temas mais

abrangentes relativos à gestão e produção, o compartilhamento e mais fácil.

Quando se trata de detalhes da empresa percebe-se resistência.

Como nos outros APLs estudados as visitas técnicas ou missões a

empresas do setor é uma tentativa de transferência da informação por

observação. Sendo que as visitas a empresas do próprio APL acontecem entre

aqueles que possuem maior afinidade. Foi observado que a disponibilidade

dessa troca sofre a influencia das relações pessoais, dos laços de confiança e

afinidade. Assim também ocorre no desenvolvimento de produtos em conjunto

ou mesmo aquisição de equipamentos.

Em Guaporé, região integrante do APL, o SENAI atua como local de

compartilhamento. Ali estão disponíveis aos empresários laboratórios e

biblioteca. Periodicamente realiza-se uma semana de tecnologia.

Uma ação interessante neste Arranjo foi a criação de grupos temáticos

de trabalho. Cada grupo de empresário desenvolvia estudo sobre um tema e

em reunião com os demais apresentavam as informações e resultados

encontrados. As decisões que envolviam a aplicação dessa informação eram

tomadas em conjuntos, quando relativas ao setor.

105

Os resultados

Percebeu-se com o passar do tempo uma mudança de comportamento

na busca de informação. Passaram dessa forma a compreender melhor o

funcionamento do mercado, assim como reconhecer suas deficiências.

As pesquisas aplicadas para avaliação dos resultados do projeto

mostram melhorias no processo produtivo e na gestão das empresas. Todavia,

as melhorias estão relacionadas ao perfil pessoal do empreendedor e sua

percepção do que é mais importante.

4.1.5. APL de Gemas e Joias de São Jose do Rio Preto

O arranjo produtivo iniciou há 10 anos por iniciativa das instituições de

apoio à indústria e ao setor. Os empresários se conheciam, por atuarem no

mesmo setor e na mesma região, mas não existia uma relação próxima.

Apesar de não ter sido identificado um comportamento cooperativo, não se

percebeu a existência de rivalidade entre os empresários. As relações se

resumiam em encontros culturais ou esportivos entre alguns, nos quais não se

debatiam assuntos de trabalho. A confiança entre eles foi construída por meio

do aumenta da convivência entre os empresários. A partir do momento em que

foram paulatinamente realizando ações (reuniões, feiras, cursos, viagens) em

conjunto. A relação de confiança com o Sebrae se estabeleceu a partir o

relacionamento pré-existente das empresas com a instituições e o

conhecimento se suas ações em outros setores.

Percebe-se uma identificação em comum relacionada à religiosidade.

Esta relação esta expressa na produção de praticamente todas as empresas

do arranjo, por meio da utilização de símbolos religiosos. Essa característica é

pré-existem ao estabelecimento do APL. Contudo houve um fortalecimento a

medida que os empresários foram se aproximando. A história da formação da

vocação regional aparece como aspecto interessante. Antes havia uma

106

empresa do setor, os funcionários saídos do chão de fabrica abriram suas

próprias indústrias.

Quanto a comunicação pode-se afirmar que o canal mais utilizado é o

telefone e as reuniões presenciais. Estão habituados a transferir informações

sobre as reuniões verbalmente para os outros empresários. A utilização de e-

mail é ineficiente, apesar de terem acesso e utilizarem o computador e

sistemas administrativos. As informações provenientes de reuniões formais são

registradas, mas não há registro nos encontros informais.

Quanto à busca da informação

O gestor do Sebrae incentiva a independência na busca por informação.

As empresas costumam recorrer não só ao Sebrae, mas também as outras

instituições.

Quanto à obtenção e aplicação da informação

A aplicação da informação é verificada através da visita de um consultor

a empresa e também pelo alcance dos indicadores estabelecidos pelos

próprios empresários.

Quanto ao compartilhamento da informação

As ações para divulgação das especialidades não foram verificada

nesse caso. Percebeu-se o compartilhamento verbal de informações

relacionadas ao comercio e no uso de equipamentos. Em geral, as empresas

que fazem parte do arranjo são solícitas ao contato as visitas técnicas.

Apresentam comportamento mais individualista quando se trata de

desenvolvimento de produtos ou processos em conjunto. Como ação nesse

sentido planeja-se a implantação de um condomínio industrial, onde os

espaços, laboratórios e biblioteca serão compartilhados.

Como estratégias de transferência da informação são usados os

mesmos métodos dos outros APLs: Cursos em conjunto, participação do grupo

em feiras do setor, visitas técnicas. Verifica-se neste APL o desenvolvimento

de uma maior independência em relação às ações. Os empresários passaram,

sem interferência do Sebrae, a planejar as visitas nacionais e internacionais a

107

empresas. Algumas vezes elaboram relatórios das viagens e compartilham

com o setor por meio da Associação.

Também são criados comitês temáticos compostos não só do por um

representante dos empresários, mas também com integrantes de empresas

apoio participantes do APL. Estes comitês discutem e tomam decisões, exceto

nos casos onde é necessário a participação de todos.

Os resultados

A construção em conjunto e a freqüência em que precisavam se

encontrar permitiu que identificassem interesses em comum. Dessa

identificação resultou a aproximação entre eles e despertou-se a compreensão

de que poderiam se beneficiar ao conhecer experiência do outro. A visão sobre

concorrência entre eles também se modificou. Foram identificadas melhorias

quanto à aplicação de designer, a linha de produção e layout de fábrica.

4.1.6. APL de Gemas e Joias de Belém do Para

Em Belém foi criado um Pólo Joalheiro para reunir e um só lugar os

artesãos / empresários do Estado. A mobilização iniciou há 14 anos, desde de

então foram realizadas várias capacitação. Isto porque foi identificada que os

empresários precisavam conhecer mais sobre gestão e organização social. Em

2002 enfatizou-se o trabalho de articulação entre os artesãos, governo e as

instituições de apoio à industria e comércio. Quando as ações iniciaram apenas

2 empresários eram formais, dificultando a criação de associação para o setor.

Eles se conheciam, chegaram a tentar se organizar como associação, mas não

tiveram sucesso.

Houve um encontro de interesses para a formação do arranjo, os

empresários vieram em busca de auxilio para se organizarem. Entretanto o

comportamento cooperativo inexistia. É possível identificar, não uma relação de

amizade, mas de cumplicidade entre os empresários. A proveniência de

108

relação pode estar ligada ao reconhecimento de que a união os deixa mais

fortes.

O modelo utilizado no Pará difere dos demais em sua formatação

espacial. Neste caso os empresários estão todos instalados no mesmo local,

gerenciam o espaço conjuntamente, planejam as ações e convivem

diariamente. Possuem acesso total as informações em relação ao espaço,

custo, gestão.

A confiança se estabelece por meio da construção participativa e na

criação de um ambiente de transparência no qual papeis e deveres estão bem

definidos. Esta confiança entre os empresários é complementada pelo próprio

interesse comercial. A percepção de que participam de uma cadeia produtiva

da qual cada empresário está contido em um elo. A identificação entre eles gira

em torno da cultura local que esta também expressa na produção. Esta

semelhança cultural já existia antes do arranjo, mas foi acentuada por meio de

cursos e com participação da faculdade local, que trouxe para o setor novas

informações.

Observou-se que nesse arranjo existe uma maior atuação para o uso de

múltiplos canais de comunicação. A pesar de ter sido identificado o uso mais

freqüente do telefone e e-mail, a Gestora do Sebrae criou Blog e Twitter e

planeja desenvolver um plano de comunicação. Os empresários costumam

utilizar tecnologia da informação, mas considera-se que as reuniões

presenciais são mais eficientes. As informações provenientes dessas reuniões

são registradas em atas e fotografias.

Quanto à busca da informação

Ainda percebe-se uma dependência em relação à busca da informação por

parte dos empresários com o nível menor de maturidade.

Quanto à obtenção e aplicação da informação

A pesar de orientar os empresários quanto a atuação e observações de

pontos relevantes para a gestão e produção, a liberdade na realização de

tarefas se mantêm, mantendo dessa forma a independência dos empresários.

109

Para verificar a aplicação da informação obtida realizam-se reuniões

após eventos e visita às empresas após os cursos. Geralmente fazem registros

fotográficos. Também é realizada avaliação por meio de questionários

respondidos pelos empresários.

Quanto ao compartilhamento da informação

O compartilhamento das especialidades é estimulado por meio da

participação de pessoas nos eventos do setor. Também são realizados

workshop tecnológico onde empresários e instituições compartilham

informações e buscam soluções para os problemas identificados, de forma a

possibilitar a elaboração de projetos para alcançar uma solução.

Neste arranjo também foi identificado o uso de visitas técnicas como

forma de transferência da informação. Destaca-se a resistência encontrada

inicialmente à este tipo de ação. Mesmo assim algumas visitas foram

realizadas com sucesso.

O desenvolvimento compartilhado de produtos se apresenta como uma

realidade. Os empresários já desenvolveram coleções e abriram loja em

conjunto. Contudo, percebe-se resistência na socialização dos processos e

técnicas de produção. A fim de facilitar esse compartilhamento as instituições

participantes do APL estão incentivando o desenvolvimento de pesquisas em

conjunto com a universidade estadual, para depois socializar os resultados.

Ainda verificou-se a existência de biblioteca e laboratório para analise de

gemas e outro de ourivesaria em implantação. O compartilhamento de

informações por meio de cursos é realizado de forma seletiva, respeitando o

nível de desenvolvimento de cada empresário.

Os resultados

Com o desenvolvimento do arranjo adquiriram habilidade e

conhecimento para comprar e negociar, além de se organizarem para

articulação junto às instituições.

Após o desenvolvimento do arranjo percebe-se que as conversas

informais entre os empresários aumentaram, assim como a independência em

110

relação às instituições para se reunirem, trocarem informações e tomarem

decisões.

4.2. Conclusão

Barreto (1994) afirma que: “conhecimento, só se realiza se a informação

é percebida e aceita como tal e coloca o indivíduo em um estágio melhor

dentro do mundo em que sua história individual se desenrola.” É nessas bases

que a informação parece fluir nos Arranjos Produtivos Locais estudados. A

medida que adquirem informações sobre seu próprio grupo, sobre seu trabalho

passam a se interessar pelo mundo além de suas conhecidas fronteiras. A

partir de então modificam seu comportamento em relação não só a sua

atividade comercial, mas também ao outro.

O desenvolvimento local se estabelece pelas mãos desses pequenos

empresários, que empregam e oferecem uma alternativa de profissão não só

aos seus filhos, mas aos filhos da região onde vivem. Cresce a economia local

e cresce o homem em um ambiente mais próspero. Crescem não só

individualmente, mas como grupo e como sociedade.

O arranjo é a cultura em rede imprensa na vocação de uma região para

produzir e suprir a comunidade local. Percebe-se aqui a economia brasileira

que se desenvolve a partir da soma de pequenas partes: as regiões

produtoras. Percebe-se também comunidades que por meio do

compartilhamento da informação aprendem juntas e compreendem a força do

conhecimento.

A proximidade da relação entre as pessoas e a construção de confiança

mostrou-se necessária para que os empresários trabalhassem em conjunto.

Assim como se confirmou que com tempo, método e apoio pode-se induzir a

formação de uma cultura cooperativa. A relação de confiança com o Sebrae

possibilita uma zona de conforto para os primeiros passos em relação a essa

cultura, e ainda promove o ambiente necessário para que as informações

emitidas não se tornem assimétricas. O fato confirma as afirmações expostas

111

por Cunha (2006), ao relacionar a confiança do líder do grupo ao controle de

assimetria da informação.

Em todos os arranjos estudados, independente da região, identificou-se

que a transferência da informação se dá, na maioria das vezes, por via oral e

presencialmente. A observação é usada por meio das visitas técnicas, contudo

estas são mais facilmente realizadas quando a empresa visitada não faz parte

do arranjo. Apresentam resistência à permissão da observação pelos próprios

empresários do arranjo. Fato compreensível se for considerado que na

produção de gemas e joias, o desenvolvimento de coleções exclusivas

apresenta diferencial produtivo.

É possível reconhecer que a metodologia do Sebrae baseada na

participação constante dos empresários confere facilidade para construção de

um ambiente de transferência da informação. Ao se sentir parte do grupo e

debater sobre problemas em comum, os empresário passam a falar também

sobre suas experiências e conhecimentos. Cria-se a partir daí uma sistemática

onde a traça da informação torna-se natural.

As características regionais parecem ceder aos poucos ao modelo

proposto, poucas limitações regionais foram identificadas. Destaca-se o caso

do Rio de Janeiro, onde foi relatado maior dificuldade para permitir a

observação dos seus processos, sendo que em outros arranjos essa

disponibilidade esta sempre vinculada a proximidade da relação entre os

empresários.

Também chama a atenção a pouca aplicação da Tecnologia da

Informação e o pouco uso dos sistemas de informação no relacionamento entre

os membros dos arranjos. A configuração em rede e a tendência ao contato

virtual, característica da sociedade atual, não é identificada no comportamento

do empresário. Abre-se uma exceção a iniciativa tomada pelo arranjo produtivo

de Belém no uso de blog e twitter como canais de comunicação. Este é um

aspecto interessante a ser abordados em pesquisas futuras que visem verificar

a evolução dos processos de transferência da informação.

Analisando pelo modelo de transferência proposto por Barreto (1999),

percebe-se que o ambiente criando para a formação do APL é aderente.

112

Os estoques de informação, considerados toda a informação registrada

e a passível de comunicação, estão contidos na experiência dos empresários,

no conhecimento dos consultores, nos laboratórios, bibliotecas e associações

do setor. O “contexto social” - representado pelo ambiente físico e cultural onde

os integrantes de uma comunidade estão inseridos – consiste na região de

implantação do APL, com suas indústrias, escolas, universidades, prefeituras e

instituições de apoio regionais. Os “meios de transferência da informação” se

estabelecem nas estratégias existentes na metodologia do Sebrae, as quais se

concretizam em cursos, capacitações, eventos, workshops, visitas técnicas,

reuniões com a participação de todos os empresários do arranjo.

113

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122

6. Anexos

6.1. Anexo I – Roteiro da entrevista

1. Quando iniciou a formação do APL?

2. Quando o apoio do SEBRAE se iniciou já existia um relacionamento entre as empresas que hoje participam do APL?

3. A rede de empresas se juntou por vontade própria ou através de um agente que intermediou as relações entre as empresas?

4. Antes da estruturação do APL existia um comportamento cooperativo entre as empresas da região

5. Existe uma relação informal e de amizade entre os membros do APL?

6. As relações sociais e as conversas informais entre os membros do

APL são mais frequentes desde que se começou o trabalho em conjunto?

7. Qual estratégia é adotada para construir e manter a relação de confiança entre os participantes dos APLs e entre estes participantes e a Coordenação do APL?

8. Quais são os canais de comunicação utilizados entre os participantes do APL? (marque quantas alternativas julgar relevantes)

9. Existem registros formais das informações provenientes das

interações entre os participantes do APL? Quais documentos e registros formais existem?

10. Os participantes do APL costumam utilizar tecnologia da informação (computador, internet) em seu dia-a-dia?

123

11. Os participantes do APL possuem e utilizam algum sistema de informação para se relacionar com os demais membros da rede? Quais?

12. Você acha que existem laços de identidade e cultura semelhantes entre os membros da rede? Dê um exemplo se possível.

13. Estas semelhanças de cultura e identidade são oriundas desde que se formou a rede ou elas já existiam antes das ações conjuntas e/ou cooperadas da rede?

14. O que leva os participantes do APL a confiarem uns nos outro?

15. Os participantes do APL são encorajados a realizar tarefas dentro de padrões definidos ou é estimulada a liberdade de tentar realizar essas tarefas de formas diferente, mesmo que isso resulte em erro?

16. As especialidades dos participantes do APL são divulgadas entre eles? Por qual meio?

17. É possível perceber alguma mudança do comportamento em ralação a busca, compartilhamento e aplicação da informação nas empresas após a formação do APL? Quais são os indícios?

18. Existe um procedimento para verificar se as informações compartilhadas entre os participantes do APL são aplicadas nas empresas? Qual?

19. Para inovar na produção ou na gestão da empresa é estimulado o aprendizado com a participação dos membros do APL? Caso a resposta seja negativa pular para a questão 21.

20. Em caso afirmativo na pergunta anterior, quais os procedimentos para transferência da informação, visando à aprendizagem, são utilizados?

124

21. As empresas do APL, no geral, são acessíveis e solícitas para o contato? Elas dão abertura para que os participantes do APL possam observar seus processos produtivos e administrativos?

22. Existe o desenvolvimento de produtos ou processos em conjunto com outras empresas do APL?

23. Existem locais específicos de uso compartilhado, como laboratórios, bibliotecas, telecentros para desenvolvimento de produtos e soluções em conjuntos? Quais?

24. São ministrados cursos de capacitação conjunta? Com que frequência?

25. Foram identificadas melhorias na forma de realizar os processos produtivos e de gestão depois da formação do APL? Quais as principais?

26. Existe a coordenação de informações para tomada de decisões entre os participantes do APL? Que tipos de informações são essas?

27. Em geral os participantes do APL buscam por informação ou é mais comum que o coordenador no APL identifique o que é relevante e ofereça aos participantes?

28. Quantas vezes, em média, os integrantes do APL se encontram pessoalmente para trocar informações técnicas ou gerenciais?

125

6.2. Anexo II – Relatos

Foram entrevistados os gerentes dos projetos de arranjo produtivo locais

de cinco estados brasileiros, nos quais o Sebrae possui esse tipo de projeto. As

entrevistas foram orientadas por meio de um roteiro pré-definido. Cada gerente

relatou sua experiência e percepção a respeito do arranjo. Aqui estão

transcritas, não literalmente, as respostas as questões levantadas. Todas as

entrevistas foram filmadas e são parte integrante dessa pesquisa.

6.2.1. Relato 1 – APL de Goiás

Divino de Faria Albernaz

Gestor de projeto do Sebrae – Arranjo Produtivo Local de Goiás

Escritório regional do entorno do DF, atende 19 municípios e atua em Cristalina

(Gemas e Joias) e Perinópolis (Pedras decorativas).

Dados do projeto:

Pessoas atingidas: 250

Pessoa Física: 125 / Empreendedores informais: 48 / Empreendedores

Formais: 16

1. Quando iniciou a formação do APL?

O projeto para formação do APL de Pirenópolis iniciou há 15 anos, contudo é

gestor nesse projeto há cerca de um ano. Já em Cristalina a atuação do

Sebrae iniciou em 2008, contudo já existiam ações de apoio aos empresários

antes disso, com atividades desenvolvidas pelo IBGM e SENAI.

2. Quando o apoio do SEBRAE se iniciou já existia um relacionamento

entre as empresas que hoje participam do APL?

A atividade voltada para o cristal existe desde a formação da cidade. Assim já

existia uma relação entre os garimpeiros e outros elos da cadeia produtiva.

Estes garimpeiros atuam informalmente. Os cristais são retirados manualmente

após o processo de extração de areia, que é formal. As empresas se

relacionam através do garimpeiro, do lapidário, do joalheiro, do lojista e

126

também através do artesão. Hoje, existe uma associação e uma cooperativa. A

cooperativa tem a participação dos garimpeiros, dos artesãos e mineradoras, já

a associação é composta apenas pelos artesãos. Já existiu uma associação de

lojistas.

3. A rede de empresas se juntou por vontade própria ou através de um agente que intermediou as relações entre as empresas?

Já havia um movimento próprio que foi acelerado pela presença de um agente

intermediador.

A relação que existe entre as empresas não é formal. Ela também depende de

alguma ação entre eles: uma peça, um produto, uma compra. Pode se dizer

que eles estão juntos a partir da interferência de um órgão externo.

4. Antes da estruturação do APL existia um comportamento cooperativo

entre as empresas da região

De alguma forma eles acabam se ajudando, mas a cultura cooperativa não

existe. Ainda é forte a cultura de que o cliente e o mercado não podem ser

compartilhados. Existe a dificuldade de entender que participando juntos eles

são mais fortes. Os que cresceram mais buscam por conta própria contatos e

parceiros em outros estados, mas os pequenos artesãos não conseguiram

ainda criar a cultura de se abrir. O comportamento dos empresários maiores é

pessoal, adquirido pelo próprio desenvolvimento. Ao crescerem perceberam

que se não fossem atrás de parcerias não cresceriam mais. Existe ainda entre

alguns um comportamento antiético, que vem mudando, mais ainda é forte. O

que é mais grave é o medo de falar abertamente o que pensam.

Justificam-se por Cristalina ser uma cidade pequena, onde uma afirmação

pode causar exposição em relação aos outros. Essa atitude também esta

relacionado a não compreensão de que deve existir separação da

atividade/relacionamento comercial do pessoal.

5. Existe uma relação informal e de amizade entre os membros do APL?

Considero que sim, em maior ou menor nível dependendo da pessoa. Também

se identifica grupos de amizade. Existe uma relação de dependência entre

127

eles, uma vez que cada um conhece e atua em apenas um elo da cadeia

produtiva. Isto é, o lapidário depende do joalheiro para fazer a jóia e vice-versa.

Esta dependência desencadeia uma relação no mínimo comercial.

6. As relações sociais e as conversas informais entre os membros do

APL são mais frequentes desde que se começou o trabalho em conjunto?

Sim. As discussões sobre a atividade econômica aumentou muito com a

criação do APL. Isso se deve ao investimento em qualificação formal em

gestão. Anteriormente eles não tinham qualificação formal e fundamentada,

apresentavam apenas um conhecimento prático, adquirido pela vivência. O

aumento do conhecimento fundamentado favoreceu a aproximação entre eles.

7. Qual estratégia é adotada para construir e manter a relação de

confiança entre os participantes dos APLs e entre estes participantes e a Coordenação do APL?

A estratégia são reuniões periódicas, encontros formais onde são discutidas as

ações do projeto e eventos onde irão participar. Ainda há a tentativa, por meio

de consultoria, de criar o envolvimento entre os participantes. Hoje esta relação

não esta consolidada.

8. Quais são os canais de comunicação utilizados entre os participantes

do APL? (marque quantas alternativas julgar relevantes)

Comunicação principal acontece por meio da associação e por telefone.

Poucos têm e-mail. A forma mais usada é a reunião presencial, que ocorre por

meio da associação. Ainda utiliza-se o meio escrito não eletrônico, para

comunicação de pauta e atas de reunião.

9. Existem registros formais das informações provenientes das interações entre os participantes do APL? Quais documentos e registros formais existem?

Geralmente são usadas listas de presença, atas de reunião, fotografias.

Estas atas, quando a reunião é oriunda da associação, fica arquivada na

mesma, assim como nos documentos do projeto no Sebrae regional. Muitos

128

convidados não comparecem as reuniões, mas ficam sabendo por meio de

conversa informal com os outros integrantes do APL. Esta ausência é atribuída

à falta de compromisso de alguns integrantes.

10. Os participantes do APL costumam utilizar tecnologia da informação (computador, internet) em seu dia-a-dia?

Poucas pessoas têm computador, de todos os participantes só um tem site.

Já houve iniciativas para implantação de sistemas web. Em uma parceria com

o Instituto Camargo Correia, foi realizada a criação e treinamento do comitê

gestor para o uso do portal, contudo não obtiveram êxito. Hoje, o sistema é

alimentado basicamente por mim. Grande parte dos integrantes do comitê não

acessa o endereço. A ausência de utilização é menos por a falta de vontade e

mais por não terem intimidade e a cultura de utilização da TI.

Os jovens da região possuem uma relação melhor com a TI. As pessoas de

maior idade apresentam resistência a TI. Chama atenção a observação que

mesmo pessoas com menos de 40 anos não possuem interesse por essas

tecnologias

11. Os participantes do APL possuem e utilizam algum sistema de

informação para se relacionar com os demais membros da rede? Quais?

Por meio de sistemas de informação não, mas sim por telefone.

12. Você acha que existem laços de identidade e cultura semelhantes entre os membros da rede? Dê um exemplo se possível.

Sim. Por serem pessoas da mesma região, nascidos e criados no local,

atuarem na mesma atividade. Percebe-se poucas pessoas novas atuando na

cadeia produtiva, geralmente a atividade é passada de pai para filho, irmão

para irmão. Isso ajuda na manutenção da identidade e da cultura. Em geral, a

criação/inovação não é característica forte, normalmente copiam as criações

dos outros e matem um padrão da produção. O Sebrae atua levando

informações sobre design esperando modificar esse comportamento.

129

13. Estas semelhanças de cultura e identidade são oriundas desde que se formou a rede ou elas já existiam antes das ações conjuntas e/ou cooperadas da rede?

Essa cultura e identidade são históricas e importantes, sendo uma

característica da região. Existia antes da formação do APL, contudo a atuação

na formação do APL se preocupa em criar e fortalecer uma identidade do local

de forma que possa ser expressa na produção.

14. O que leva os participantes do APL a confiarem uns nos outro?

Esta confiança é proveniente da relação histórica entre eles, por serem nativos

da região, estarem convivendo à muitos anos e por pertencerem ao mesmo

local e atividade econômica.

15. Os participantes do APL são encorajados a realizar tarefas dentro de padrões definidos ou é estimulada a liberdade de tentar realizar essas tarefas de formas diferente, mesmo que isso resulte em erro?

São estimulados a realizarem as tarefas sem padrão definido. Isso é importante

para não incorrer no risco de determinar uma ação fora da realidade dos

integrantes. Existe apenas o incentivo para que tenham iniciativa. São

orientados apenas ao padrão de qualidade desejado.

16. As especialidades dos participantes do APL são divulgadas entre eles? Por qual meio?

Eles se visitam nas oficinas. Não costumam esconder o processo. Permitem

que os outros observem o processo produtivo. Fazem de forma espontânea.

Não existe uma ação coordenada para esse compartilhamento. Isso acontece

por que os integrantes já se conhecem, conhecem suas famílias e sua história.

130

17. É possível perceber alguma mudança do comportamento em ralação a busca, compartilhamento e aplicação da informação nas empresas após a formação do APL? Quais são os indícios?

Como eles vivem muito próximos uns dos outros e isolados na região, não

tinham costume de buscar informação. Trocavam entre eles a experiência que

tinham, apenas. Com a vinda do APL, que trouxe consultores, esse interesse

foi despertado. O fato deles se perceberem enquanto grupo e enquanto

empreendedores despertou um comportamento diferente em relação a

informação. Ocorre uma ampliação da visão e a quebra da atitude imediatista.

18. Existe um procedimento para verificar se as informações compartilhadas entre os participantes do APL são aplicadas nas empresas? Qual?

Não existe uma avaliação formal, mas existe a percepção de mudança no

comportamento e na empresa.

19. Para inovar na produção ou na gestão da empresa é estimulado o aprendizado com a participação dos membros do APL?

São realizadas reuniões onde os próprios membros (com a participação de

consultores e representantes do Sebrae) definem quais cursos, capacitações,

feiras e eventos querem participar.

20. Em caso afirmativo na pergunta anterior, quais os procedimentos para transferência da informação, visando à aprendizagem, são utilizados?

Missão técnica em outras regiões para ver como as outras pessoas trabalham,

como são os cliente, os produtos e as feiras. Nessas missões os integrantes do

APL conversam com outros microempresários, observam os equipamentos, a

matéria-prima e o processo produtivo. O contato com outra realidade e a troca

de informações com empresários de outra região amplia a capacidade criativa

para a solução de problemas e desenvolvimento de produtos.

131

21. As empresas do APL, no geral, são acessíveis e solícitas para o contato? Elas dão abertura para que os participantes do APL possam observar seus processos produtivos e administrativos?

100% abertos em termo de solução, inovação e idéias. Na maioria das vezes

fazem questão de mostrar.

22. Existe o desenvolvimento de produtos ou processos em conjunto

com outras empresas do APL?

Geralmente em pequenos grupos. Eles se juntam para desenvolver algum

produto. Discutem para melhorar algo. Não é uma ação formal. Por enquanto, é

voluntario. Não é uma ação estimulada pelo Sebrae, pois muitos ainda não

possuem a compreensão do quanto é importante o trabalho cooperativo.

23. Existem locais específicos de uso compartilhado, como laboratórios, bibliotecas, telecentros para desenvolvimento de produtos e soluções em conjuntos? Quais?

Não. Trabalham nas próprias oficinas.

24. São ministrados cursos de capacitação conjunta?Com que

frequência? Sim, capacitação em gestão, cursos de empreendedorismo. Esta sendo

adquirido junto com o SENAI equipamentos para produção de joias e máquina

de lapidação, com a finalidade de criar um local compartilhado para produção.

Em parceria com a prefeitura, planeja-se criar um espaço para a

comercialização. Neste mesmo ambiente funcionarão escolas voltadas para o

setor. O publico principal são os jovens da cidade, esta ação originou-se da

percepção de que o setor é conduzido sempre pelas mesmas pessoas, e

quando elas precisam de mão de obra é difícil encontrar. Assim, pretende-se,

com a escola, capacitar os jovens para trabalhar no setor gerando emprego e

melhoria para as empresas.

25. Foram identificadas melhorias na forma de realizar os processos produtivos e de gestão depois da formação do APL? Quais as principais?

132

Sim em termos de gestão, principalmente na forma como lidar com o cliente.

Contudo em relação a produção não houve muita alteração. Eles se

preocupam muito com produtividade, veem o investimento em inovação, design

como um diminuidor da produtividade, apresentando por isso resistência.

Espera-se que com a criação das oficinas e consequente disponibilidade de

mão de obra isso melhore e que, também, haja uma alteração de

características do setor, devido a diferente visão inerente aos jovens.

26. Existe a coordenação de informações para tomada de decisões

entre os participantes do APL? Que tipos de informações são essas?

Quando a decisão envolve o grupo, normalmente ela é tomada de forma

compartilhada. A informação é levada pelo gestor do APL e debatida com o

grupo. Entretanto, visando o desenvolvimento da independência é estimulado

que não se concentre no gestor a inciativa do debate e a busca das

informações.

27. Em geral os participantes do APL buscam por informação ou é mais

comum que o coordenador no APL identifique o que é relevante e ofereça aos participantes?

Eles possuem outras formas de acesso a informação sobre a atividade, por

meio de revistas do setor e por meio de contato com pessoas integrantes dos

órgãos de apoio e mídia do setor. As informações sobre feiras, por exemplo, é

comumente disseminada entre eles por meio de conversas informais.

Buscam informações entre eles. O gestor leva informações, algumas vezes,

quando só ele teve acesso a ela.

28. Quantas vezes, em média, os integrantes do APL se encontram pessoalmente para trocar informações técnicas ou gerenciais?

Possuem atividades todos os meses. Como hábito realizam reuniões

quinzenais. Atualmente o gestor tem feito contato pessoal semanalmente em

busca de um fortalecimento mais rápido do grupo e para identificar lideranças,

133

uma vez que as características de associação e cooperação são escassas na

região. Algumas vezes eles mesmos têm iniciativa.

6.2.2. Relato 2 – APL de Pedro II - Piaui

Maria de Fatima Cruz Teixeira Aaen

Gestora do projeto de Gemas e Joias de Pedro II pelo Sebrae Piaui.

Pessoas atingidas: 700

Empreendedores informais: 150 / Empreendedores formais: 33

1. Quando iniciou a formação do APL?

Em 2005, por reivindicação do público e com participação de instituições que

atuavam naquela região.

2. Quando o apoio do SEBRAE se iniciou já existia um relacionamento

entre as empresas que hoje participam do APL?

O Sebrae iniciou as atividade na região em 2000. Antes da formação do APL.

Nessa época atuou para formação de uma cultura cooperativista e associativa.

Para que só então fosse possível desenvolver o APL.

No princípio houve uma paralização dos processos de mineração, lapidação e

outros, até que as empresas se reorganizassem entorno de uma atuação

conjunta. Houve muita controvérsia, devido ao fato das empresas precisarem

parar sua produção para receberem treinamento e orientação. Todo o processo

era muito artesanal.

Com o começo da atuação do Sebrae e outras instituições, foram levados

técnicos e realizados treinamentos para aprimorar as técnicas e o uso de

tecnologias. A partir de então se percebeu o início do que representaria um

grande crescimento do setor na região. A relação entre eles melhorou muito,

apesar de já existir, antes da formação do APL não era tão consolidada. Eles

se viam como concorrentes. Após a formação do APL outros aspectos

134

relacionados à produção também melhoraram. Eles começaram a compartilhar

informações.

3. A rede de empresas se juntou por vontade própria ou através de um agente que intermediou as relações entre as empresas?

É importante frisar que os empresários, garimpeiros, lapidadores já tinham

vontade de se unir, foi dessa vontade que partiu a atuação do Sebrae.

4. Antes da estruturação do APL existia um comportamento cooperativo

entre as empresas da região

Essa rivalidade existia antes de se desenvolver a cultura da cooperação, que

ainda esta em desenvolvimento.

5. Existe uma relação informal e de amizade entre os membros do APL?

Existia em alguns casos. Por morarem na mesma região, serem vizinhos e

conheceram as famílias uns dos outros, alguns integrantes mantinham laços de

amizade.

6. As relações sociais e as conversas informais entre os membros do

APL são mais frequentes desde que se começou o trabalho em conjunto?

Fortaleceram-se bastante como grupo. Hoje normalmente procuram resolver

problemas em conjunto. Expõem questões que acham relevantes nas reuniões

do APL.

7. Qual estratégia é adotada para construir e manter a relação de

confiança entre os participantes dos APLs e entre estes participantes e a Coordenação do APL?

A própria vontade e necessidade que eles sentiram em atuarem em conjunto.

Também ajudou as consultorias e cursos para a formação do APL. Com o

trabalho conjunto com outros órgãos governamentais e instituições de apoio

eles se conscientizaram, cada vez mais, da importância de participar das

capacitações e adquirir conhecimento.

A relação de confiança com o Gestor do Sebrae é mantida através da

realização de reuniões frequentes onde se estabelece um dialogo e atuação

135

participativa, discute-se os problemas apresentados e estimula-se o alcance de

uma solução em conjunto.

8. Quais são os canais de comunicação utilizados entre os participantes do APL? (marque quantas alternativas julgar relevantes)

Todos são informatizados, utilizam o e-mail para se comunicar, além é claro do

telefone e reuniões.

9. Existem registros formais das informações provenientes dasinterações entre os participantes do APL? Quais documentos e registros formais existem?

Sim toda reunião tem uma ata formal assinada. Além dos relatórios do projeto

que são enviados por e-mail.

10. Os participantes do APL costumam utilizar tecnologia da informação (computador, internet) em seu dia-a-dia?

Usam não só para troca de e-mail, mas também para busca de informações.

Algumas vezes quando encontram uma informação que é de interesse de um

outro participante encaminham por e-mail a informação.

11. Os participantes do APL possuem e utilizam algum sistema de

informação para se relacionar com os demais membros da rede? Quais?

Alguns dos participantes usam outros sistemas, mas a grande parte utiliza

apenas os e-mails. O Sebrae realiza muitas feiras onde torna possível a

aproximação com participantes de APLs de outras regiões, em geral eles

mantem estas relações por troca de e-mail e telefone.

12. Você acha que existem laços de identidade e cultura semelhantes entre os membros da rede? Dê um exemplo se possível.

Sim, todos eles se identificam com a cultura local. Isto está inclusive expresso

em sua produção.

136

13. Estas semelhanças de cultura e identidade são oriundas desde que se formou a rede ou elas já existiam antes das ações conjuntas e/ou cooperadas da rede?

Esta semelhança já existia. Mas com a participação nos eventos que possibilita

o contato com a produção de outras regiões eles vão tendo novas ideias e

tendem a buscar um fortalecimento da identidade. Solicitam ao Sebrae o

envolvimento de técnicos que possam auxiliar no desenvolvimento e

fortalecimento dessa identidade local.

14. O que leva os participantes do APL a confiarem uns nos outro?

O desenvolvimento do sentimento de pertencer a um grupo.

São realizadas frequentemente palestras sobre a importância da confiança

dentro do grupo, da cultura da associação e do cooperativismo.

15. Os participantes do APL são encorajados a realizar tarefas dentro de

padrões definidos ou é estimulada a liberdade de tentar realizar essas tarefas de formas diferente, mesmo que isso resulte em erro? As duas coisas. Geralmente as decisões são discutidas conjuntamente,

mas não é podada a atuação individual.

16. As especialidades dos participantes do APL são divulgadas entre eles? Por qual meio?

Sim, principalmente nos eventos e contatos com APL de outras regiões.

Também ocorre dentro do APL, em conversas com um consultor do APL que

traz informações do ambiente externo (novas tecnologias e técnicas). Alguns

compartilham o que sabem e como atuam, mas não todos, devido a uma

característica mais individualista.

17. É possível perceber alguma mudança do comportamento em ralação a busca, compartilhamento e aplicação da informação nas empresas após a formação do APL? Quais são os indícios?

137

Totalmente. Melhorou muito. A busca e pesquisa por informações na internet

cresceram muito depois da formação do APL. Quando um adquire uma nova

tecnologia mostram para que os outros possam conhecer.

18. Existe um procedimento para verificar se as informações

compartilhadas entre os participantes do APL são aplicadas nas empresas? Qual?

Sim. O próprio projeto do Sebrae é orientado para essa avaliação, utilizando

uma metodologia baseada em gestão orientada ao resultado. Estes projetos

em geral são de 3 anos podendo ser renovados.

Para isso é necessário fazer avaliações, sendo assim o gestor do Sebrae,

juntamente com um consultor, vai as empresas constantemente verificar se

ações estão sendo tomadas no novo conhecimento adquirido. Também são

feitas avaliações baseadas no processo de mensuração de resultados, onde se

pode verificar pela análise de indicadores que apontam melhorias no APL. Esta

última é realizada por meio de questionários.

19. Para inovar na produção ou na gestão da empresa é estimulado o aprendizado com a participação dos membros do APL? Caso a resposta seja negativa pular para a questão 21.

Em geral é estimulado o aprendizado em grupo, onde eles discutem e trocam

informações. Também é muito comum o envio de alguns empresários a

eventos e feiras, acredita-se que é um momento de troca de informação e

aprendizado muito importante. O aprendizado via consultoria é em geral

individual, enquanto as capacitações são ministradas para o grupo.

20. Em caso afirmativo na pergunta anterior, quais os procedimentos

para transferência da informação, visando à aprendizagem, são utilizados?

Contratação de especialista que conheça as especialidades técnicas que

necessárias. Consultorias, capacitação em grupo, visitas a outros arranjos

produtivos. Eles visitam desde mina até indústrias.

Alguns empresários tendem a manter a forma tradicional de trabalho

138

21. As empresas do APL, no geral, são acessíveis e solícitas para o contato? Elas dão abertura para que os participantes do APL possam observar seus processos produtivos e administrativos?

Estão abertos para mostrar o processo produtivo em sua maioria, eram muito

mais resistentes a mostrá-lo. É comum alguns empresários solicitarem para

realizar as visitas técnicas.

22. Existe o desenvolvimento de produtos ou processos em conjunto

com outras empresas do APL?

Durantes as reuniões eles discutem necessidades e dificuldades debatendo

juntos para aprontar uma solução. Nessas reuniões são decididas em conjunto

a vinda de consultores e montagem de capacitações para que possam diminuir

suas deficiências e melhorar seus produtos e processos produtivos.

23. Existem locais específicos de uso compartilhado, como

laboratórios, bibliotecas, telecentros para desenvolvimento de produtos e soluções em conjuntos? Quais?

Essa questão é importantíssima. Atualmente o APL de Pedro II esta

aguardando a chegada de maquinas que foram doadas para o grupo, outras

foram adquiridas. Elas farão parte de um laboratório que poderá ser usado

pelos empresários. A montagem do laboratório depende do fornecimento de

espaço físico pelo Governo local.

As publicações e atas ficam guardadas na Associação disponível aos

empresários.

24. São ministrados cursos de capacitação conjunta?Com que

frequência?

Mensalmente são ministrados os cursos decididos em reunião ou a partir de

demandas identificadas junto aos empresários.

25. Foram identificadas melhorias na forma de realizar os processos produtivos e de gestão depois da formação do APL? Quais as principais?

139

Primeira a consciência da necessidade de se trabalhar e discutir em grupo para

solucionar as deficiências do segmento. Eles despertaram para a realidade

atual do mercado da necessidade de dinamismo no mundo empresarial, hoje

eles sabem disso e percebem que precisam aprender sempre.

26. Existe a coordenação de informações para tomada de decisões

entre os participantes do APL? Que tipos de informações são essas?

Existe um trabalho em conjunto onde não só o empresário atua, mas também

representante de outros órgãos. Nesse trabalho o consultor atua como um

representante do APL. Esse trabalho se destina a articular para alcançar as

soluções decididas pelos empresários.

27. Em geral os participantes do APL buscam por informação ou é mais

comum que o coordenador no APL identifique o que é relevante e ofereça aos participantes?

O gestor esta constantemente levando informações para o APL,mas também

ocorre do empresário apresentar informações ou solicitar mais informações

sobre um assunto que ficou sabendo por outros canais. Eles pesquisam muito

na internet, observam e tem acesso a novidades através das feiras.

28. Quantas vezes, em média, os integrantes do APL se encontram pessoalmente para trocar informações técnicas ou gerenciais?

Uma reunião mensal com o SEBRAE. Mas ocorrem reuniões esporádicas com

outros órgãos quando necessário.

6.2.3. Relato 3 – APL do Rio de Janeiro

Andreia Lopes.

Coordenadora do APL de Joias do Rio de Janeiro.

Projeto:

Pessoas atendidas: 450 Pessoa Física: 250

140

Empreendedores formais: 200

1. Quando iniciou a formação do APL?

Iniciou em 2006. Neste APL tem uma característica um pouco diferente, pois

tem um foco direcionado para a indústria de moda. Dessa forma, considera-se

para fim de cadeia produtiva não só a produção da joia, mas também a

bijuteria, a confecção, além de um forte trabalho em design.

2. Quando o apoio do SEBRAE se iniciou já existia um relacionamento entre as empresas que hoje participam do APL?

Não existia um relacionamento entre as empresas. Mas existia a Ajorio –

Associação dos Joalheiros. Desde o inicio houve uma participação muito forte

dos órgãos de apoio como MDIC, Sebrae, Senai, universidades e escolas.

Como consequência se tem hoje uma governança muito atuante.

O relacionamento entre os empresários se dava em pequenos grupos muito

fechados. Depois da formação do APL coma participação conjunta em feiras,

essa relação melhorou muito.

Percebe-se que os pequenos empresários e os iniciantes no setor possuem

mais interesse em trabalhar junto que os mais antigos e maiores. A dificuldade

de aproximação pode estar relacionada a características locais, uma vez que o

Rio de Janeiro, devido ao histórico de violência urbana, dificulta a aproximação

das pessoas, principalmente entre os joalheiros, que sentem a necessidade de

evitar falar sobre a empresa e profissão por medo da exposição.

Também existe o sentimento de ser necessária a exclusividade para se

diferenciar. Dessa forma, evitam mostrar sua coleção nova ou suas gemas com

receio de perder competitividade por não mostrar inovação.

3. A rede de empresas se juntou por vontade própria ou através de um agente que intermediou as relações entre as empresas?

141

No início, as instituições, por meio de um representante, se uniram e realizaram

pesquisa para entender porque haveria necessidade de construir um APL.

Após o estudo os empresários foram convidados a elaborar um planejamento.

4. Antes da estruturação do APL existia um comportamento cooperativo

entre as empresas da região

O comportamento cooperativo se iniciou a partir da formação do APL. Um fator

de motivação foi que por meio do APL se conquistou vários benefícios para o

setor, por exemplo: os benefícios tributários.

5. Existe uma relação informal e de amizade entre os membros do APL?

São aproximadamente mil empresas no Rio de Janeiro, muitas se conhecem,

principalmente porque a empresa de joias tem uma característica de ser

passada de pai para filho, isso contribui para o fortalecimento da relação entre

alguns.

Outra característica é que a participação de judeus é muito grande e eles

sempre se conhecem. Mesmo assim, eles não trocavam muitas informações

gerencias das empresas, mas se conheciam socialmente. Eram duas relações

diferentes, a informal de amizade e a negocial.

6. As relações sociais e as conversas informais entre os membros do

APL são mais frequentes desde que se começou o trabalho em conjunto?

Após a implantação do APL isso mudou, agora eles sentam para discutir o

negócio. Não só mudou a relação entre os empresários mais antigos, como

também entre os pequenos empresários os maiores. Hoje, as maiores

empresas de joias estão no Rio de Janeiro, a Hestern, a AmsterdanSauer. Eles

são favoráveis ao APL, concordam frequentemente em ministrar palestras para

os empresários do APL.

7. Qual estratégia é adotada para construir e manter a relação de

confiança entre os participantes dos APLs e entre estes participantes e a Coordenação do APL?

142

Os empresários começam a confiar e acreditar quando as coisas começam a

acontecer. Toda ação é decidida em conjunto e quando o resultado acontece a

credibilidade aumenta. Também é importante respeitar a diferença entre eles,

assim como seu nível de amadurecimento e diferença de necessidades.

8. Quais são os canais de comunicação utilizados entre os participantes

do APL? (marque quantas alternativas julgar relevantes)

Jornal bimestral, e-mail, Newspaper e reuniões duas por semestre com os

empresários e semanalmente com a governança.

9. Existem registros formais das informações provenientes dasinterações entre os participantes do APL? Quais documentos e registros formais existem?

Pauta e ata que são passadas para todas as participantes.

10. Os participantes do APL costumam utilizar tecnologia da informação (computador, internet) em seu dia-a-dia?

Todos os empresários são informatizados. Em geral o nível do empresário do

Rio é alto, todos possuem alguma graduação e muitos pós-graduação na área.

11. Os participantes do APL possuem e utilizam algum sistema de

informação para se relacionar com os demais membros da rede? Quais?

Não utilizam sistema de informação para troca de informação em rede.

12. Você acha que existem laços de identidade e cultura semelhantes entre os membros da rede? Dê um exemplo se possível.

Eles se identificam e se unem entorno da marca local baseada na identificação

com o Rio de Janeiro. Também existe a comunidade judaica que compartilham

da mesma cultura.

13. Estas semelhanças de cultura e identidade são oriundas desde que

se formou a rede ou elas já existiam antes das ações conjuntas e/ou cooperadas da rede?

Não. Essa formação foi incentivada pelo APL.

143

14. O que leva os participantes do APL a confiarem uns nos outro?

Credibilidade conquistada por meio dos resultados e as capacitações que

mostram uma nova visão gerencial. Hoje em dia, a maioria das propostas

passa de forma fácil por causa da confiança na gestão do APL e no grupo.

15. Os participantes do APL são encorajados a realizar tarefas dentro de

padrões definidos ou é estimulada a liberdade de tentar realizar essas tarefas de formas diferente, mesmo que isso resulte em erro?

O que sempre prega é a não cópia. Deixa trabalhar livremente, mas dá

orientações sobre o trabalho. Incentiva a criatividade de cada empresário

dentro de cada ação formatada.

16. As especialidades dos participantes do APL são divulgadas entre

eles? Por qual meio?

Já aconteceu. Algumas empresas grandes contribuem e dão palestras

divulgando sua forma de agir e gerir. Elas são chamadas de empresas

ancoras, elas apoiam o APL e alavancam o setor. Essa alavancagem eleva

também as pequenas empresas.

17. É possível perceber alguma mudança do comportamento em ralação a busca, compartilhamento e aplicação da informação nas empresas após a formação do APL? Quais são os indícios?

Sim. Compartilham entre os mais próximos e nas reuniões, mas não existe

uma rede conectada permanentemente compartilhando informações a todo

tempo. Já enquanto a busca de informação percebe-se um comportamento

mais proativo, que leva o empresário a buscar mais frequentemente a Ajorio e

o Sebrae.

18. Existe um procedimento para verificar se as informações

compartilhadas entre os participantes do APL são aplicadas nas empresas? Qual?

144

Após o curso ministrado sempre é enviado um consultor na empresa para

auxiliar na aplicação do que foi aprendido. Assim, como cada empresa tem

suas características específicas, na sala de aula o conteúdo é ministrado de

forma geral e posteriormente o consultor ajuda nas especificidades de cada

um.

19. Para inovar na produção ou na gestão da empresa é estimulado o aprendizado com a participação dos membros do APL? Caso a

resposta seja negativa pular para a questão 21.

Os cursos são ministrados sempre para todos.

20. Em caso afirmativo na pergunta anterior, quais os procedimentos para transferência da informação, visando à aprendizagem, são utilizados?

Empresas com profissionais mais antigos passam a “expertise” para o grupo,

mas é mais comum professores de universidades e do Senai ensinarem os

empresários. Utiliza-se também realização de visitas técnicas à empresa

maiores, mas não é comum abrir a linha de produção.

21. As empresas do APL, no geral, são acessíveis e solícitas para o contato? Elas dão abertura para que os participantes do APL possam observar seus processos produtivos e administrativos?

Não costumam possibilitar a observação. Podem algumas vezes compartilhar

informações gerenciais, mas dificilmente inovações na linha de produção.

22. Existe o desenvolvimento de produtos ou processos em conjunto

com outras empresas do APL?

Eles já criaram coleções e montaram lojas em conjunto. Existe, mas

geralmente com um mediador que é a Ajorio. Existe a experiência de

empresários que se uniram para criar uma marca, isso foi iniciativa deles após

a formação do APL. É uma característica dos pequenos, dos novos

empresários.

145

23. Existem locais específicos de uso compartilhado, como laboratórios, bibliotecas, telecentros para desenvolvimento de produtos e soluções em conjuntos? Quais?

Existe um laboratório de gemologia e a escola de ourivesaria. Lá as

informações são compartilhadas. Por exemplo, para disseminar uma nova

forma de cravação todos são convidados para ir ao laboratório onde será

transferida essa informação.

As informações sobre ações realizadas são armazenadas no sistema SIGEOR

do Sebrae.

24. São ministrados cursos de capacitação conjunta?Com que frequência?

Esses cursos são planejados no fim do ano. Durante o ano são ministrados o

que foi planeja e realizadas em geral 3 palestras por mês. Também acontece

de formatação de palestras sobre assuntos de destaque durante o ano, como

exemplo: devido o aumento de assalto a joalherias em São Paulo o APL do Rio

se antecipou e convidou a policia federal para dar uma palestra sobre

segurança.

25. Foram identificadas melhorias na forma de realizar os processos produtivos e de gestão depois da formação do APL? Quais as principais?

Melhorias de tecnologia, inovação e principalmente design. A Diminuição de

tributos foi uma conquista importante também de responsabilidade do APL.

26. Existe a coordenação de informações para tomada de decisões

entre os participantes do APL? Que tipos de informações são essas?

Nos temos um centro de serviços. Foi mapeado todo os serviços uteis ao setor

no Rio de Janeiro e criada uma base de dados. Quando um empresário precisa

de algum serviço ou produto ele entra em contato com a Ajorio e acessa o

centro de serviço para obter a informação necessária.

146

A empresa que faz parte do APL tem o que precisar para realizar suas ações.

Se ela precisa de informação pode acessar as entidades da Governança para

conseguir o conhecimento necessário.

27. Em geral os participantes do APL buscam por informação ou é mais comum que o coordenador no APL identifique o que é relevante e ofereça aos participantes?

Sim. São muito proativos, em geral buscam informações. Existe sobretudo uma

troca entre os empresários e a governança do APL.

28. Quantas vezes, em média, os integrantes do APL se encontram

pessoalmente para trocar informações técnicas ou gerenciais? Sempre que tem as reuniões do APL, duas vezes por semestre são formais. E

durante os encontros para realizar as ações programadas.

6.2.4. Relato 4 - APL de Gemas e Joias do Rio Grande do Sul (Guapore e Soledade)

Liane Klein

Gestora do projeto Sebrae de apoio a implantação do APL.

Projeto: Empreendedores formais: 80

1. Quando iniciou a formação do APL?

O APL trabalha com artefatos de pedra, gemas, joias e joias folheadas.

O Sebrae começou a trabalhar a formação do APL em 2004. Antes disso foi

realizado outro trabalho voltado a exportação.

2. Quando o apoio do SEBRAE se iniciou já existia um relacionamento

entre as empresas que hoje participam do APL?

Entre as empresas maiores e mais antigas já existiam um relacionamento. As

empresas mais recentes eram bastante marginalizadas. Não tinham nenhum

espaço de comunicação e nem havia comunicação delas com as maiores.

147

O trabalho iniciou com convite do Sebrae à prefeitura, universidades, Senai,

Associação e empresários estabelecidos para elaboração de um plano de

ação.

3. A rede de empresas se juntou por vontade própria ou através de um agente que intermediou as relações entre as empresas?

O Sebrae que iniciou a ação convidando as entidades e empresários para

formatação de um projeto de desenvolvimento do setor.

Vale observar que este setor é muito difícil para desenvolver um projeto assim,

pois os empresários têm característica individualista e possuem muita

desconfiança. O sentimento de necessidade de guardar segredos empresariais

dificulta a ação associativa. Após o estabelecimento do APL pode ser

identificadas melhorias quanto a esse comportamento, entretanto ainda se

percebe dificuldades de relacionamento.

4. Antes da estruturação do APL existia um comportamento cooperativo

entre as empresas da região Era percebido mais um comportamento associativo do que cooperativo, o

primeiro se estabelecia por meio da relação com o sindicato. Nessa época o

sindicato tinha um papel mais voltado para a negociação salarial, hoje atua de

forma mais abrangente articulando o setor. A Ajosul (Associação dos

Joalheiros do Rio Grande do Sul) não tinha atuação expressiva, principalmente

com as empresas menores, ao contrário de hoje.

5. Existe uma relação informal e de amizade entre os membros do APL?

Não entre todos, mas existem grupos de amizade. Em sua maioria se

relacionam bem uns com os outros em laços distintos de profundidade. Não se

percebe uma rixa ou rivalidade entre eles.

6. As relações sociais e as conversas informais entre os membros do

APL são mais frequentes desde que se começou o trabalho em conjunto?

148

Sim, evoluiu muito. As empresas menores, que não tinham espaço, hoje se

posicionam e participam das representações setoriais.

7. Qual estratégia é adotada para construir e manter a relação de

confiança entre os participantes dos APLs e entre estes participantes e a Coordenação do APL?

É conquistada durante o trabalho do Sebrae. A demonstração de um trabalho

profissional e da franqueza no relacionamento fortalece a relação de confiança.

A partir dos resultados alcançados as relações também se fortalecem.

O Sebrae teve uma relação muito boa com os empresários desde o inicio, não

se percebeu dificuldade no compartilhamento das informações empresariais

com o Sebrae, o mesmo não acontecia com o compartilhamento da informação

entre eles.

8. Quais são os canais de comunicação utilizados entre os participantes do APL? (marque quantas alternativas julgar relevantes)

Utilizam o E-mail. Diferente de outros setores, o setor de joia costuma utilizar e-

mail. Utiliza-se também o telefone, como reforço ao e-mail, além de reuniões

periódicas. No inicio do trabalho eram realizadas reuniões quinzenais. Foi

dividido o grupo em subgrupos que passaram a trabalhar por temas (marketing,

gestão e tecnologia) e depois era realizada uma reunião mensal com todo o

grupo. Nessa reunião o subgrupo compartilhava as informações estudadas

sobre o tema com todo o grupo, eles discutiam e tomavam decisões por tema.

9. Existem registros formais das informações provenientes dasinterações entre os participantes do APL? Quais documentos e registros formais existem?

Atas e listas de presença que são compartilhadas posteriormente. São

utilizadas como forma de disseminar a informação para quem não estava

presente. Em geral são enviadas por e-mail.

Não existe dificuldade de utilização do e-mail, mas percebe-se uma deficiência

no uso comercial da TI. Muitos empresários tem dificuldade de manter sites,

por exemplo.

149

10. Os participantes do APL costumam utilizar tecnologia da informação

(computador, internet) em seu dia-a-dia?

Sim, para uso de pesquisa e e-mail.

11. Os participantes do APL possuem e utilizam algum sistema de informação para se relacionar com os demais membros da rede? Quais?

Não. O sindicato mantem um site e disponibiliza espaço para que os

empresários divulguem informações, assim como a Ajosul elabora um

informativo onde eles podem divulgar essas informações.

12. Você acha que existem laços de identidade e cultura semelhantes entre os membros da rede? Dê um exemplo se possível.

As diferenças estão relacionadas mais ao nível empresarial. Muitas empresas

novas foram abertas por técnicos que trabalhavam nas empresas antigas.

Esses técnicos possuem muito conhecimento da produção, mas pouco sabem

sobre gestão.

Não há uma identificação entre todos certamente, mas o fato de pertencerem a

mesma comunidade, mesma região com influência da cultura italiana acabam

por ter coisas em comum. É diferente quando se tem um polo mais aberto.

Guapore é uma cidade pequena e as pessoas acabam ficando um pouco

fechadas.

A região é de colonização italiana que se estabeleceram na região e trouxeram

na sua cultura o trabalho de ourivesaria. Tem empresas com mais de 100 anos,

as mais novas foram criadas em geral por ex-funcionários dessas empresas.

13. Estas semelhanças de cultura e identidade são oriundas desde que se formou a rede ou elas já existiam antes das ações conjuntas e/ou cooperadas da rede?

Sim. Mas houve um amadurecimento e crescimento das pessoas e empresas.

Pode ser percebida uma evolução de relacionamento entre instituições, assim

também com os processos e tecnologia.

150

14. O que leva os participantes do APL a confiarem uns nos outro?

A confiança entre os empresários e as outras entidades que faziam parte do

APL também não era tão fácil. A relação de confiança foi construída.

A metodologia adotada pelo Sebrae favorece a construção dessa relação,

uma vez que realiza reuniões periódicas onde é dado espaço para todos

contribuírem. Além de ministrar palestrar e capacitações.

15. Os participantes do APL são encorajados a realizar tarefas dentro de padrões definidos ou é estimulada a liberdade de tentar realizar essas tarefas de formas diferente, mesmo que isso resulte em erro?

São sempre estimulados a criar e melhorarem seus processos. Mesmo

correndo um risco. Um exemplo é o inicio do trabalho com folheado como novo

mercado.

Não é um padrão definido, pois nem todas as empresas estão no mesmo

estágio. Elas são orientadas e motivadas a fazer da melhor forma possível

adequando os conhecimentos a sua empresa.

16. As especialidades dos participantes do APL são divulgadas entre eles? Por qual meio?

Sim, são estimulados, mas nem sempre eles aceitam compartilhar. Por

exemplo, no processo de produção mais limpa eles conseguiram compartilhar

apresentando seus resultados e forma de melhorar. Mas, ainda tem o costume

de evitar falar detalhes da empresa.

17. É possível perceber alguma mudança do comportamento em ralação a busca, compartilhamento e aplicação da informação nas empresas após a formação do APL? Quais são os indícios?

151

Sim, eles começaram a buscar informações de mercado. Essa era que

chamava mais atenção. Desde o começo da formação do APL os empresários

acreditavam que não tinham problemas de gestão ou processo produtivo, mas

apenas de mercado, isto é, de vendas.

Assim foram trabalhadas as questões de mercado, respeitando a percepção de

emergência deles. Mas, também foram introduzidos os debates sobre outras

questões nas quais o Sebrae percebia deficiência.

Por fim, passaram a buscar maior contato com o mercado por meio da busca

de informação, participação em feiras e outros eventos.

Percebe-se como esse contato faz diferença ao comparar as empresas que

participaram do primeiro projeto do Sebrae para incentivo a exportação, antes

de se formar o APL. No inicio da formação podia-se reconhecer as empresas

que participaram do projeto e aproveitaram as informações e aquelas que não

conseguiram aplica-las.

Para a gestora do Sebrae o aproveitamento da informação depende da

capacidade de cada um. Percebe-se que alguns aproveitam melhor as

informações de mercado, outros as ambientais.

18. Existe um procedimento para verificar se as informações compartilhadas entre os participantes do APL são aplicadas nas empresas? Qual?

Cada ação realizada é feito uma avaliação dos resultados junto aos

empresários. Também é feito de acordo com a metodologia do Sebrae

pesquisas para acompanhar a efetividade do projeto.

19. Para inovar na produção ou na gestão da empresa é estimulado o aprendizado com a participação dos membros do APL? Caso a

resposta seja negativa pular para a questão 21.

Existem os dois trabalhos, os cursos que são feitos em conjunto e aqueles que

são direcionados à empresa. Nós formatamos o curso e as empresas se

152

inscrevem de acordo com seu interesse. Contudo, agora estamos tentando

fazer diferente, convidando todos a participarem. O objetivo é nivelar o

conhecimento.

Quando o curso desperta um interesse específico ou o empresário percebia a

necessidade de aprofundamento são utilizadas consultorias individuais

enviadas à empresa.

20. Em caso afirmativo na pergunta anterior, quais os procedimentos para transferência da informação, visando à aprendizagem, são utilizados?

Visitas orientadas não só a empresas do setor, mas também em empresas de

outro setor. Nessas visitas é possível observar processos produtivos e de

gestão. Entre as empresas do APL acontece algumas visitas entre aqueles que

se identificam mais.

21. As empresas do APL, no geral, são acessíveis e solícitas para o contato? Elas dão abertura para que os participantes do APL possam observar seus processos produtivos e administrativos?

Não todos por todos, isto acontece entre os que têm mais afinidade. Questões

pessoais podem impedir esse comportamento.

22. Existe o desenvolvimento de produtos ou processos em conjunto com outras empresas do APL?

Isto é sempre estimulado, mas acontece apenas em casos específicos,

dependendo sempre das relações sociais estabelecidas, dos laços de afinidade

e confiança. Acontece por exemplo na compra de máquinas em conjunto.

23. Existem locais específicos de uso compartilhado, como laboratórios, bibliotecas, telecentros para desenvolvimento de produtos e soluções em conjuntos? Quais?

153

Em Guaporé eles têm o SENAI, onde estão disponíveis biblioteca, maquinas e

laboratórios. O SENAI funciona como uma escola, já aconteceu do fornecedor

deixar uma máquina para que todos pudessem aprender a usá-la e verificar o

interesse de compra-la. Também é realizado uma semana de tecnologia onde

eles podem observar e conhecer novos processos e equipamentos.

24. São ministrados cursos de capacitação conjunta?Com que

frequência?

Praticamente uma por mês.

25. Foram identificadas melhorias na forma de realizar os processos produtivos e de gestão depois da formação do APL? Quais as principais?

Sim, pode-se acompanhar pelas pesquisas aplicadas. As melhorias aparecem

nos indicadores definidos junto com os empresários. São melhorias de

processos de gestão e produtivo. Percebe-se que empresas com maior

habilidade para gerenciar pessoas melhoraram mais nesse aspecto, outras em

outros que lhes pareciam mais importante ou que tinham mais facilidade de

entender.

26. Existe a coordenação de informações para tomada de decisões entre os participantes do APL? Que tipos de informações são essas?

Foram criados vários grupos de trabalho. O grupo de crédito, por exemplo,

Desenvolveu todo um trabalho para adquirir capital de giro.Estas informações

foram compartilhadas com todos.

27. Em geral os participantes do APL buscam por informação ou é mais comum que o coordenador no APL identifique o que é relevante e ofereça aos participantes?

154

No inicio eles eram bem mais dependentes, demandavam muito. Mas com o

tempo foram incentivados a se responsabilizarem alcançando um

amadurecimento, passaram a ser mais independentes para agir e buscar

informação.

Obviamente, esse amadurecimento não é homogêneo. Em Soledade o nível de

maturidade ainda é menor. A cultura deles também é diferente, pois vem de um

histórico de submissão em relação ao mercado. Apresentam um nível bem

maior de dependência e uma responsabilização das instituições pelo seu

crescimento. Por isso, não se costuma reunir os dois grupos (Soledade e

Guapore)

28. Quantas vezes, em média, os integrantes do APL se encontram pessoalmente para trocar informações técnicas ou gerenciais?

As capacitações são dadas em geral em conjunto, mas algumas reuniões

mensais são realizadas em grupos separados de acordo com a maturidade da

empresa. Isto porque as realidades são bem diferentes para cada grupo.

6.2.5. Relato 5 – APL de Joias de São Jose do Rio Preto

Valeria Prado Scott

Gerente do Programa de joias de São do Rio Preto.

Projeto:

Empreendedores informais: 20

Empreendedores formais: 30

1. Quando iniciou a formação do APL?

Em 2002, quando varias instituições se reuniram (Fiesp, Sebrae Nacional,

Sebare SP, Sebrae São Jose do Rio Preto, Prefeitura da região, Senai, Senac,

155

IBGM.) com o propósito de trabalhar na criação de um projeto piloto de arranjo

produtivo local. Esse projeto inicial foi muito curto e teve como foco

capacitações. Dele se desencadearam várias ações em função dos resultados

alcançados.

2. Quando o apoio do SEBRAE se iniciou já existia um relacionamento

entre as empresas que hoje participam do APL?

Existia um relacionamento delas com o Sebrae, na maioria das vezes

individual. Acredita-se que essa relação inicia muitas vezes com o

EMPRETEC, curso do Sebrae destinado a empreendedores e que esse curso

auxiliou no trabalho inicial de formação do APL. Mas entre eles ainda não

existia um relacionamento. Eles se conheciam, mas não tinha aproximação

para atividades coletivas.

3. A rede de empresas se juntou por vontade própria ou através de um agente que intermediou as relações entre as empresas?

Iniciativa do Sebrae, parceiros e a associação de joalheiros da região (Ajoresp),

grande parceira do Sebrae. Representa o universo das cerca de 150 industria

entre formal e informal que geram cerca de 4 mil empregos entre diretos e

indiretos.

4. Antes da estruturação do APL existia um comportamento cooperativo

entre as empresas da região

Não tem registro de comportamento cooperativo, mas não foi percebido

nenhuma rivalidade. Elas apenas desconheciam o que era trabalhar

cooperativamente. O que se poderia fazer em termos de uma ação horizontal,

destinada ao polo e oque fazer como ação individual.

5. Existe uma relação informal e de amizade entre os membros do APL?

Existia uma relação social, principalmente porque a região não é muito grande,

cerca de 400 mil habitantes, e eles pertencerem a um mesmo setor. Mas,

esses encontros não eram aproveitados para discutir assuntos referentes ao

trabalho. Eram encontros culturais ou esportivos.

156

6. As relações sociais e as conversas informais entre os membros do APL são mais frequentes desde que se começou o trabalho em conjunto?

Na primeira etapa para promover um plano de ação em conjunto com as

empresas do APL, as necessidades vieram dos empresários, não das

instituições de apoio. O Sebrae atuou apenas como articulador e o condutor, no

sentido de alinhar as ações e auxiliando na decisão e escolha dos caminhos. O

fato deles construírem iniciou uma aproximação a medida que identificaram

coisas em comum entre eles. Inclusive descobrindo que poderiam se beneficiar

de algo já realizado pelo outro.

No começo, quando foi colocado em uma mesma sala, eles eram estranhos

uns para os outros. Apesar de se conhecerem, pois eram de um mesmo setor,

o olhar era um olhar individual. Nesse momento o Sebrae aproveitou para

deixar claro que ninguém perderia a individualidade da sua empresa, mas que

a atenção seria dada para as ações coletivas.

Como eles foram fazendo muitos cursos, eles foram se aproximando. Durante

os oito primeiros meses do projeto, mesmo os empresários considerando a

carga horária de cursos muito pesada, foram assíduos.

7. Qual estratégia é adotada para construir e manter a relação de

confiança entre os participantes dos APLs e entre estes participantes e a Coordenação do APL?

Eles têm uma necessidade muito grande de encontrar mercado. A maioria

vende muito através das feiras. A própria associação realiza uma feira do setor.

O Sebrae esta sempre apoiando esses eventos e ensinado assuntos

relacionados a como participar de feiras, como melhorar o contato, como fazer

uma vitrine. Essa atuação do Sebrae busca mostrar que o empresário esta

envolvido não só com o seu estande, mas também com todo o contexto da

feira. Houve também um evento em que eles foram para o exterior em missão

internacional. Esta ação foi uma das propostas depois de 8 meses de trabalho.

Fazia parte do plano de negócios deles as visitas internacionais, iniciadas de

acordo com as necessidades. Esta ação fazia parte de a meta de criar uma

157

área em comum onde eles compartilhariam tecnologia. Seria criado um

laboratório e um espaço para as empresas (condomínio industrial). Sendo

assim eles precisavam conhecer onde isto estava acontecendo, como ocorria e

se estava dando certo.

Quando o Sebrae começou reuni-los em uma sala de aula havia muita

desconfiança, com o tempo se foi desarmando isso. Antes eles não aceitavam

estarem em uma mesma sala ou ter consultorias em conjunto, tinha que ser

tudo individual. Eles perceberam que não perderiam a individualidade, mesmo

que fizessem ações coletivas. Dessa convivência mais participativa criou-se a

confiança. Já com o Sebrae as empresas puderam observar que a instituição já

havia realizado bons trabalhos com outros setores. Considera-se também que

a instituição é conhecida pelo seu trabalho com micro e pequenas empresas.

Tendo sido demandada individualmente por estes empresários. A decisão de

participação no projeto do APL, proposto pelo Sebrae e outras instituições foi

espontânea. A relação de confiança não foi construída de uma momento para o

outro, ela já existia em relação ao Sebrae.

8. Quais são os canais de comunicação utilizados entre os participantes

do APL? (marque quantas alternativas julgar relevantes)

Eles utilizam pouco a internet. Por mais que tenha sido incentivado o uso de

internet o canal que mais se usa continua sendo o telefone ou pessoalmente.

Os empresários assumiam a responsabilidade de avisar os outros de reuniões.

A média de idade desses empresários esta entre 40 e 55 anos, mas a

comunicação por e-mail não é eficaz.

9. Existem registros formais das informações provenientes dasinterações entre os participantes do APL? Quais documentos e registros formais existem?

Eles começaram a ter esse hábito mais frequente, mesmo sem a

participação do Sebrae. Começaram também a ter reuniões mais formais em

eventos sociais, como futebol e tênis. As reuniões formais com o Sebrae são

registradas em atas e disponibilizadas no SIGEOR.

158

10. Os participantes do APL costumam utilizar tecnologia da informação

(computador, internet) em seu dia-a-dia?

Eles utilizam pouco a internet, mas tem acesso ao computador. Utilizam

sistemas administrativos.

11. Os participantes do APL possuem e utilizam algum sistema de

informação para se relacionar com os demais membros da rede? Quais?

Apenas através das reuniões da Ajoresp, mas não utilizam redes virtuais.

12. Você acha que existem laços de identidade e cultura semelhantes entre os membros da rede? Dê um exemplo se possível.

Pode perceber de uma forma geral uma identificação relacionada a

religiosidade. Existe na produção da indústria espontaneamente a utilização de

símbolos religiosos. A maioria dos empresários vieram do chão de fabrica.

Existia antes uma empresa e estes funcionários foram saindo e abrindo outras

indústrias.

13. Estas semelhanças de cultura e identidade são oriundas desde que se formou a rede ou elas já existiam antes das ações conjuntas e/ou cooperadas da rede?

Não é uma característica que já vinha deles e que se fortaleceu a medida que

eles foram se aproximando. Não houve ação pelo Sebrae para implantação

dessa cultura.

14. O que leva os participantes do APL a confiarem uns nos outro?

Nas missões internacionais foi quando eles começaram a se aproximar cada

vez mais. Começaram a compartilhar equipamentos e a trocar informações

sobre o setor.

159

Quando não existia essa presença do Sebrae havia muita concorrência entre eles, eles não se falavam.

15. Os participantes do APL são encorajados a realizar tarefas dentro de padrões definidos ou é estimulada a liberdade de tentar realizar essas tarefas de formas diferente, mesmo que isso resulte em erro?

Em geral as consultorias adotam uma metodologia, mas leva em consideração

a capacidade, tamanho e características das empresas.

16. As especialidades dos participantes do APL são divulgadas entre eles? Por qual meio?

Trocas de maquinas e equipamentos eles começaram a fazer. Também

começaram a divulgar informações sobre fatos relacionados ao comercio.

Como o caso de uma sacoleira que passava por todas as empresas e não

adotava fidelidade a nenhuma delas. O fato de estarem juntos possibilitou que

eles compartilhassem essa informação.

Durante o trabalho acompanhado pelo Sebrae isso era estimulado e havia essa

troca, mas sem o acompanhamento não é possível afirmar se eles fazem essa

divulgação.

17. É possível perceber alguma mudança do comportamento em ralação a busca, compartilhamento e aplicação da informação nas empresas após a formação do APL? Quais são os indícios?

A aproximação deles mudando a visão sobre a concorrência entre eles.

18. Existe um procedimento para verificar se as informações compartilhadas entre os participantes do APL são aplicadas nas empresas? Qual?

É feito por meio do sistema de avaliação e do consultor. Aquilo que foi

ensinado em sala de aula era verificado “in loco” pelo consultor. Ele visitava a

empresa dentro de 15 dias para verificar o que foi implantado. Também é

160

utilizado a medição de indicadores estabelecidos pelos próprios empresários

no momento de planejamento das ações.

19. Para inovar na produção ou na gestão da empresa é estimulado o aprendizado com a participação dos membros do APL? Caso a resposta seja negativa pular para a questão 21.

Em alguns casos são dados cursos envolvendo não só os empresários como

também seus funcionários. Estes cursos podem ser ministrados por outras

instituições membro do APL.

20. Em caso afirmativo na pergunta anterior, quais os procedimentos para transferência da informação, visando à aprendizagem, são utilizados?

Cursos e consultorias adequadas a empresa. Visitas técnicas a Itália para

conhecer o modelo de gestão das empresas. Através de feiras nacionais e

internacionais. O próprio Sebrae tem programas voltados para melhoria da

competitividade, tendo ciência de que as visitas precisam ter um objetivo e

estarem estruturadas para apresentarem resultado.

Isso foi provocado, eles passaram a visitar e trocar informações independente

do Sebrae. Considera-se isso um amadurecimento das empresas em relação

ao trabalho cooperativo. Passaram a se unirem e realizarem, sem interferência

do Sebrae, visitas internacionais e nacionais a feiras de tecnologia, para

conhecer o que esta acontece no setor de gemas e joias de outros países. Já

aconteceu de elaborarem relatório de viajem e apresentarem-na Ajoresp para

todo o setor.

21. As empresas do APL, no geral, são acessíveis e solícitas para o contato? Elas dão abertura para que os participantes do APL possam observar seus processos produtivos e administrativos?

Os que fazem parte do grupo sim, mas fora do grupo não é possível dizer.

Mas entraram novas empresas e elas foram bem recebidas.

161

22. Existe o desenvolvimento de produtos ou processos em conjunto com outras empresas do APL?

Elas são individuais, caminham para ações mais coletivas, principalmente

quando for estabelecido o condomínio industrial. Contudo, hoje, trabalham

individualmente.

23. Existem locais específicos de uso compartilhado, como laboratórios, bibliotecas, telecentros para desenvolvimento de produtos e soluções em conjuntos? Quais?

Não, ainda não se tem, mas esta sendo construído com apoio das instituições.

24. São ministrados cursos de capacitação conjunta?Com que frequência?

Os cursos em geral são ministrados para os empresários do grupo.

Também pode envolver funcionários.

25. Foram identificadas melhorias na forma de realizar os processos produtivos e de gestão depois da formação do APL? Quais as principais?

Principalmente a respeito da cultura de aplicação do design melhorando a linha

de produção a adequação do layout de fabrica.

A implantação do mostruário de prata: Antes para ir para as feiras eles levavam

um mostruário com peças em ouros, agora eles fazem a joia do mostruário em

prata banhado a ouro o que confere mais segurança e economia com o mesmo

resultado anterior.

162

26. Existe a coordenação de informações para tomada de decisões entre os participantes do APL? Que tipos de informações são essas?

Através dos comitês onde são definidas as áreas que serão trabalhadas. Por

exemplo, para tratar de tecnologia, eram reunidas um representante das

empresas, um representante de uma instituição tecnológica, uma instituição

local o Sebrae. Ali, as decisões eram tomadas. A não ser nos casos em que

era necessário a participação do grupo todo.

27. Em geral os participantes do APL buscam por informação ou é mais comum que o coordenador no APL identifique o que é relevante e ofereça aos participantes?

Recorrem não só ao Sebrae, pois incentiva-se a independência. Muitas

empresas se tornaram mais independentes, mas depende do

comprometimento e participação de cada um.

28. Quantas vezes, em média, os integrantes do APL se encontram pessoalmente para trocar informações técnicas ou gerenciais?

Na primeira fase reuniam-se semanalmente, depois mensalmente. No ano tem

uma média de 4 a 5 feiras que eles participam.

6.2.6. Relato 6 - APL de Belém do Para

Rosa Helena Nascimento Neves

Diretora Executiva do Instituto de Gemas e Joias do Amazonas - IGAMA

Organização social que coordena o pólo joalheiro e é parceiro do Sebrae no

projeto de Gemas e Joias da Região Metropolitana de Belém.

Ana Lucia Alves Ferreira dos Santos

Gestora do Projeto de Gemas e Joias da Região de Belém – Sebrae/Para

Projeto:

163

Pessoas atingidas: 1.550

Pessoa Física: 40 / Empreendedores informais: 135

Empreendedores formais: 34

1. Quando iniciou a formação do APL?

Neste caso preferiu-se utilizar o termo aglomerado. Esta organização se iniciou

com o inicio do polo joalheiro. Os empresários trabalhavam em suas unidades

produtivas ou em suas casas. O trabalho em conjunto começou quando foi

implantado o Polo Joalheiro. Esse Polo foi criado em um espaço que antes era

uma penitenciária que o Governo do Estado na época reformou e destinou ao

Polo. Esse polo é o único lugar em todo o estado que aglomera os joalheiros. A

mobilização inicial do programa Polo Joalheiros se deu em 1997. A partir dele

houve uma fusão entre o setor produtivo, que naquele momento estava

desorganizado. Existiam os ourives, os lapidários, os designers (não enquanto

designers, mas como criadores de joias), os cravadores. Em 2002 foi criado o

espaço para o funcionamento do Polo Joalheiros. Já se tinha caminhado

bastante em relação a capacitação. Mas a articulação entre eles, o estado e a

sociedade iniciou a partir desse momento. Este processo desde de 2002 ate o

momento contou com a participação de instituições fundamentais como o

Sebrae, o IBGM e a Ajorio.

2. Quando o apoio do SEBRAE se iniciou já existia um relacionamento

entre as empresas que hoje participam do APL?

O apoio do Sebrae começou em 1997 e era pontual. No momento em que

começou a reunir as pessoas foram chamadas várias instituições, cada uma

contribuindo com sua especialidade. O Sebrae começou com ações pontuais.

Em geral voltada para capacitações, pois se percebeu que eles precisavam

melhorar a gestão do negócio e o conhecimento sobre organização social.

Essas ações só passaram a ser projeto em 2004. Esse projeto tem duração de

3 anos, continuando por mais 6 anos. Em 2004 e 2007 o publico era o mesmo,

hoje o projeto foca nos novos empresários do setor.

164

É importante destacar que quando as ações iniciaram havia apenas dois

empresários, ou produtores como eram vistos na época, formais. Isso dificultou

a criação de uma associação do setor, pois para se filiar a qualquer

representação formal é necessário ser uma empresa formal.

Durante o desenvolvimento do projeto foram criadas várias parcerias com

instituições publicas e privadas e desenvolvida a importância de se trabalhar

em rede.

Eles se relacionavam e se conheciam, mas não de forma organizada.

Chegaram a criar uma associação que destinava-se também a outros setores,

mas não obtiveram sucesso, pois, por ser uma associação geral, faltava-lhes

identidade. Em 2007 eles criaram uma nova associação, dessa vez voltada

para o setor jolheiro.

3. A rede de empresas se juntou por vontade própria ou através de um agente que intermediou as relações entre as empresas?

Eles vieram em busca desse aglomerado, mas também houve uma iniciativa

dos órgãos. Houve um encontro de interesses do estado e os empresários.

4. Antes da estruturação do APL existia um comportamento cooperativo entre as empresas da região

Não antecede. Isso foi o resultado do trabalho realizado pelas instituições. E

não pode ser abandonado, pois periodicamente percebe-se um tendencia ao

individualismo, dessa forma precisa-se reforçar a importância da cooperação e

trabalho em rede.

5. Existe uma relação informal e de amizade entre os membros do APL?

Existe uma relação de cumplicidade. Um dos exemplos foi o movimentos deles

em se unir a associação comercial do Para e fazer ações para estimular a

adesão de associados. Esse é um exemplo de que eles consideram a

associação importantes para eles e que reconhecem que se estiverem juntos

165

ficarão mais fortes. Tambem retrata essa ampliação de horizonte e na visão de

que o “coletivo” é importante.

6. As relações sociais e as conversas informais entre os membros do

APL são mais frequentes desde que se começou o trabalho em conjunto?

Bem mais frequente. Eles perceberam a necessidade dessa aproximação e de

estarem juntos para buscar algo fora do ambiente deles. Antes eles ficavam

muito na dependência das instituições. Parece que não se sentiam maduros o

suficiente para buscar algo sem que as instituições estivessem por perto. Hoje,

eles já se sentem a vontade e agem sem a necessidade que a as instituições

estejam com eles.

Esse modelo no Para, onde eles tem um espaço onde esta estalada a área

comercial (lojas) e no qual eles participam da gestão, ode eles planejam suas

ações é uma forma de construir juntos. Eles tem acesso total as informações o

que gera uma transparência total.

7. Qual estratégia é adotada para construir e manter a relação de

confiança entre os participantes dos APLs e entre estes participantes e a Coordenação do APL?

Em primeiro lugar é essa construção participativa. Essa postura também é

adotada pelo Sebrae. Outra coisa importante é definir os papeis de cada um

dos atores e seus deveres. Se estabelece assim uma responsabilidade e

compromisso. È fundamental, ter dialogo, clareza e transparecia e, sobretudo,

manter a credibilidade perante os integrantes do aglomerado.

8. Quais são os canais de comunicação utilizados entre os participantes

do APL? (marque quantas alternativas julgar relevantes)

O projeto Sebrae utiliza-se e-mail, telefone, recentemente foi criado um Blog do

projeto que tem link com o Twiter que também foi criado. Uma da propostas do

projeto é aumentar os canais de comunicação, sendo assim além desses

166

canais mencionados, será montado um plano de comunicação para os

empresários e para as instituições.

9. Existem registros formais das informações provenientes das interações entre os participantes do APL? Quais documentos e registros formais existem?

Geralmente são usadas listas de presença, atas de reunião, fotografias.

10. Os participantes do APL costumam utilizar tecnologia da informação (computador, internet) em seu dia-a-dia?

Sim. Mas existe ainda uma má utilização desses instrumentos. Muitas vezes os

e-mails enviados não são abertos ou respondidos. Entre os formais isso é

menos evidente, mas os informais ainda é recorrente. Nem todos tem site.

Em geral as reuniões funcionam melhor, inclusive as que são realizadas por

segmento.

11. Os participantes do APL possuem e utilizam algum sistema de

informação para se relacionar com os demais membros da rede? Quais?

Foi criado é esta sendo incentivado o uso de blog para compartilhar

informações. Inclusive fotos das reuniões. Entende-se isso como uma forma de

valorizar os que participaram e despertar interesse nos que não estiveram

presentes. Também utiliza-se para divulgar matérias publicadas na mídia

especializada ou geral.

12. Você acha que existem laços de identidade e cultura semelhantes entre os membros da rede? Dê um exemplo se possível.

Estabeleceu-se que 70% da produção deveria ter cunho regional. Dessa

decisão é possível perceber que sim. Eles têm que estar vinculados com a

167

cultura local, funciona como uma forma de aproximação. A produção também

esta vinculada a materiais alternativos da região.

Eles se identificam por meio da produção e das características da região,

mantendo a cultura da joia artesanal. Existe também uma diversidade de

mundos. Os designers têm traços culturais mais artísticos, enquanto o

empresário que veio do garimpo é mais rústico, mas todos se unem pela

identificação com o produto artesanal.

13. Estas semelhanças de cultura e identidade são oriundas desde que se formou a rede ou elas já existiam antes das ações conjuntas e/ou cooperadas da rede?

Já existia. É uma característica regional, mas foi ressaltada pelo projeto.

A cultura de aplicação de design às joias foi construída a partir do projeto.

Antes eles não existiam. Foram criados cursos e faculdades, eles aprenderam

e trouxeram para dentro do polo a ideia, convenceram alguns sobre a

importância disso, trouxeram da universidade novos conhecimentos.

14. O que leva os participantes do APL a confiarem uns nos outro?

Os próprios interesses comerciais e a percepção de complementaridade dentro

do segmento. Eles perceberam que precisavam uns dos outros. Eles

começaram a trabalhar em conjunto.

15. Os participantes do APL são encorajados a realizar tarefas dentro de padrões definidos ou é estimulada a liberdade de tentar realizar essas tarefas de formas diferente, mesmo que isso resulte em erro?

As regras são discutidas com eles e determinadas. È muito importante essa

organização regulada para evitar o descredito das instituições apoiadoras. Isso

não significa uma invasão da criatividade deles. Muitas vezes para uma ação é

definido um edital, ele estabelece as regras, todos podem participar e a

liberdade da criação é dada dentro daqueles limites.

168

16. As especialidades dos participantes do APL são divulgadas entre eles? Por qual meio?

É estimulado trazendo essas pessoas para os eventos. Também se tem a

preocupação de mostrar para os outros que se obtêm benefícios quando se é

proativo. Todo esforço tem sido pela busca da profissionalização.

17. É possível perceber alguma mudança do comportamento em ralação a busca, compartilhamento e aplicação da informação nas empresas após a formação do APL? Quais são os indícios?

Sim, eles conseguem adquirir coisas, ter um poder de barganha, se organizar

para acessar as instituições que antes eles, individualmente, não tinham.

18. Existe um procedimento para verificar se as informações compartilhadas entre os participantes do APL são aplicadas nas empresas? Qual?

Depois de um evento tem uma reunião onde se avaliam os resultados. Assim

como quando se tem um curso se visita as empresa para verificar se ele esta

aplicando algum conhecimento adquirido nas capacitações. Isso é feito por

meio de fotografias e de três em três meses são aplicados os questionários de

avaliação do Sebrae. Este ano estamos buscando novos processos para

melhor descrever esses resultados.

19. Para inovar na produção ou na gestão da empresa é estimulado o aprendizado com a participação dos membros do APL? Caso a resposta seja negativa pular para a questão 21.

Nós realizamos o workshop tecnológico, este workshop é um evento onde

colocamos dentro de uma sala os empresários e as instituições que podem

auxiliar na resolução dos problemas identificados. Discutimos durante 3 dias os

169

problemas do setor, depois formatamos projetos que possam ser apoiados por

agencias financiadoras. Outra coisa que fazemos para isso são as reuniões

que são realizadas.

20. Em caso afirmativo na pergunta anterior, quais os procedimentos para transferência da informação, visando à aprendizagem, são utilizados?

Contratando consultor para visitar as empresas. Também começamos a

trabalhar com empresas mais experientes se abrindo para mostrar a outras

como funciona um processo, mas o começo foi muito complicado porque eles

não querem abrir a sua empresa. Eles têm medo de mostrar “o pulo do gato”.

Mas estamos insistindo com essa ação, já pegamos alguns casos de sucesso e

levamos o empresário para visitar um outro que esta começando e esta tento a

dificuldade que o outro já passou. Assim ele pode falar como ele resolveu o

problema na sua empresa.

21. As empresas do APL, no geral, são acessíveis e solícitas para o contato? Elas dão abertura para que os participantes do APL possam observar seus processos produtivos e administrativos?

Existe certa resistência que esta sendo quebrada aos poucos.

22. Existe o desenvolvimento de produtos ou processos em conjunto com outras empresas do APL?

Nove empresas se juntaram para abrir uma loja em conjunto. Um assina a

carteira e os outros se juntam para pagar os funcionários.

Também já se uniram para desenvolver coleções em conjunto.

Já a socialização dos processos e técnicas não é muito fácil. Estamos

incentivando a universidade estadual a desenvolver pesquisas em conjunto

com eles e então socializar os resultados.

170

23. Existem locais específicos de uso compartilhado, como laboratórios, bibliotecas, telecentros para desenvolvimento de produtos e soluções em conjuntos? Quais?

Hoje estamos trabalhando para a potencialização dos laboratórios para que

estes processos possam surgir sendo mais testados e acompanhados com

menos interferências da manipulação humana para que esta confiança se

amplie se quebre a resistência.

Temos um encontro do setor, realizado pela universidade, onde se estimula a

socialização das técnicas de produção. Estamos produzindo um livro com

essas técnicas. Temos a biblioteca e estamos, ainda, criando os laboratórios.

Já temos o laboratório de gemologia para analise de gemas e estamos criando

o de ourivesaria.

24. São ministrados cursos de capacitação conjunta? Com que frequência?

Os cursos são para todos, mas é observado o nível de desenvolvimento deles.

Nem todo o curso pode ser ministrado para todos eles. Alem deles estarem em

níveis diferentes as suas unidades são diferentes.

25. Foram identificadas melhorias na forma de realizar os processos produtivos e de gestão depois da formação do APL? Quais as principais?

É Realizado um trabalho didático por meio da loja encubadora. Assim são

examinadas as peças que serão comercializadas. Esse grupo de avaliadores

analisa a qualidade das peças que serão oferecidas na loja.

26. Existe a coordenação de informações para tomada de decisões entre os participantes do APL? Que tipos de informações são essas?

Não, isto é feito pelas instituições. Sendo que elas não interferem em preço.

Nós fornecemos as informações, não interferimos nas decisões. Por exemplo:

171

colocamos os empresários em uma sala para fazer uma rodada de negócios.

Damos a ideia, ajudamos na realização, mas eles que vão se organizar. Eles

levam a tabela de preço e amostra dos produtos, negociam. Sem interferência

das instituições.

27. Em geral os participantes do APL buscam por informação ou é mais comum que o coordenador no APL identifique o que é relevante e ofereça aos participantes?

Os empresários que estão em um nível mais elevado buscam informação. Mas

para a maioria deles a informação e levada por nós.

28. Quantas vezes, em média, os integrantes do APL se encontram pessoalmente para trocar informações técnicas ou gerenciais?

A associação se reuni toda semana. Já as instituições se reúnem com eles

toda vez que tem uma ação a ser definida. Isso acontece mais ou menos de

dois em dois meses.