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NELSON FRANCISCO CORRÊA NETTO ATUALIZAÇÃO DA MEMÓRIA CONTEXTUAL ASSOCIADA AO EFEITO DA MORFINA NA RETIRADA CRÔNICA DA DROGA: INFLUÊNCIA DO SISTEMA ENDOCANABINÓIDE. Tese apresentada ao curso de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Ciências da Saúde. São Paulo 2018

Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo - … · Figura 3: Desenho experimental do Protocolo de Sensibilização Locomotora..... 29 Figura 4 ... experimentos 1,

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NELSON FRANCISCO CORRÊA NETTO

ATUALIZAÇÃO DA MEMÓRIA CONTEXTUAL ASSOCIADA AO EFEITO DA

MORFINA NA RETIRADA CRÔNICA DA DROGA: INFLUÊNCIA DO SISTEMA

ENDOCANABINÓIDE.

Tese apresentada ao curso de Pós-Graduação

da Faculdade de Ciências Médicas da Santa

Casa de São Paulo para obtenção do título de

Doutor em Ciências da Saúde.

São Paulo

2018

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NELSON FRANCISCO CORRÊA NETTO

ATUALIZAÇÃO DA MEMÓRIA CONTEXTUAL ASSOCIADA AO EFEITO DA

MORFINA NA RETIRADA CRÔNICA DA DROGA: INFLUÊNCIA DO SISTEMA

ENDOCANABINÓIDE.

Tese apresentada ao curso de Pós-Graduação

da Faculdade de Ciências Médicas da Santa

Casa de São Paulo para obtenção do título de

Doutor em Ciências da Saúde.

Orientador: Prof. Dr. Jair Guilherme dos Santos Júnior

Co- Orientadora: Profa. Dra. Alessandra Linardi

São Paulo

2018

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FICHA CATALOGRÁFICA

Preparada pela Biblioteca Central da

Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

Correa Netto, Nelson Francisco

Atualização da memória contextual associada ao efeito da morfina na

retirada crônica da droga: influência do sistema endocanabinóide./ Nelson

Francisco Correa Netto. São Paulo, 2018.

Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa

de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Ciências da Saúde.

Área de Concentração: Ciências da Saúde

Orientador: Jair Guilherme dos Santos Júnior

Coorientadora: Alessandra Linardi

1. Ansiedade 2. Transtornos relacionados ao uso de drogas 3. Estresse fisiológico 4. Reforço (Psicologia) 5. Sistema límbico

BC-FCMSCSP/29-18

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Soar inteligente é fácil [...], difícil é ter algo objetivo e relevante socialmente a

dizer.

(Rosana Pinheiro Machado)

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Dedicatória

Aos pais, Luciana e João, pelo esforço e dedicação na minha educação e

principalmente pelo exemplo que sempre foram.

À minha tia, Adriana Belarmino (in memoriam), por incentivado e apoiado muitos

dos passos que me trouxeram até aqui.

Dedico em especial à minha noiva, Ana Beatriz, cujo otimismo irreparável me

ajudou a continuar nos momentos difíceis e o seu incentivo contribui para que eu fosse

sempre além. Agradeço pelo apoio incondicional, pelo carinho e pelo amor, sem os

quais esta jornada teria sido imensamente mais árdua.

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Agradecimentos

De acordo com o poeta inglês Jonh Donne nenhum homem é uma ilha isolada.

Não me recordo de uma situação em que esta frase possa melhor aplicada do que

durante a execução deste trabalho. É impossível tentar demonstrar minha gratidão a

todos os que me apoiaram nesta jornada, de maneira justa, em algumas palavras.

Porém, injustiça maior seria não tentar.

Ao meu orientador, o Prof. Guilherme, acima de tudo pela amizade, mas

também pela dedicação na minha formação acadêmica e pessoal. Agradeço pelos

conselhos e pela confiança que sempre me foi depositada.

À Profa. Alessandra o apoio e amizade. Agradeço ainda pelos conselhos e pelas

oportunidades de colaboração em outras áreas e atividades de ensino que contribuíram

para minha formação.

Agradeço também a minha família, em particular meus irmãos Guilherme, Luana

e Ulisses, pelo apoio e confiança que sempre me depositaram. E também aos meus

sogros, Eveli e Tato, a aos meus cunhados Ana Carolina e Rafael, que me acolheram

em sua família e sempre me apoiaram. A caminhada sem estas pessoas teria sido

muito mais árdua.

Agradeço especialmente a Márcia, pela amizade de muitos anos. Obrigado pelo

apoio fundamental não só neste trabalho, mas também em todos os momentos difíceis

e alegres que passamos juntos desde a graduação. O mérito deste trabalho é tão seu

quanto é meu.

A Fabiana e Laura, pela amizade, pela ajuda e pelos momentos de

descontração.

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Aos funcionários do biotério (Martinho, Thiago, Milena e Bruna) pela amizade,

dedicação e pela imensa ajuda, sem qual não seria possível realizar este trabalho.

A todos os colegas e professores do departamento o meu muito obrigado pelos

conselhos, pelo suporte, pelas discussões proveitosas e pelos momentos de

descontração.

Aos colaboradores da secretaria, a Priscile, Mirtes, Daniel e Sonia, sempre muito

atenciosos e prestativos. O apoio destas pessoas foi fundamental.

À Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo agradeço

carinhosamente, por ter me recebido e permitido meu desenvolvimento profissional,

acadêmico e pessoal. Agradeço ainda a Comissão de Pós-Graduação e ao Colegiado

Superior da faculdade por me permitirem participar de discussões e momentos

importante não só para a instituição, mas também para o meu crescimento pessoal.

Agradeço também ao Departamento de Ciências Fisiológicas pelo espaço

cedido e pelo apoio na realização deste trabalho.

À CAPES pelo apoio financeiro durante o período.

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Lista de Siglas

2-AG: 2-aracdonoilglicerol

ABA: Atividade de Braço Aberto

ABF: Atividade de Braço Fechado

ABL: Amígdala Baso-Lateral

ACP: Análise de Componentes Principais

AF: Análise Fatorial

ANA: Anandamida

ANOVA: Análise de Variância

ATV: Área Tegumentar Ventral

CBD: Canabidiol

CCA: Córtex Cingulado Anterior

CHX: Ciclohexamina

COF: Córtex Órbito-Frontal

CPF: Córtex Pré-Frontal

CRF: Fator Liberador de Corticotrofina

DA: Dopamina

DPM: Desvio Padrão da Média

DZP: Diazepam

EPM: Erro Padrão da Média

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FAAH: Hidrolase da amida de ácidos graxos

HPA: Eixo Hipotálamo- Hipófise- Adrenal

HPC: Hipocampo

LCE: Labirinto em Cruz Elevado

MAGL: Monoacil-glicerol lípase

NAc: Núcleo Accumbens

NF: Nado forçado

Nimo: Nimodipino

SCP: Substância Cinzenta Periaquedutal

SeCB: Sistema Endocanabinóide

SL: Sistema Límbico

SNC: Sistema Nervoso Central

THC: Δ9-tetra-hidrocanabinol

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Sumário:

1. Introdução ........................................................................................................... 1

1.1. Neurobiologia da dependência ....................................................................... 2

1.2. Memórias e sua relação com a dependência ................................................. 8

1.2.1. Reconsolidação de memórias e dependência .............................................. 11

1.3. Sistema endocanabinóide ............................................................................ 15

1.3.1. O sistema endocanabinóide e memória ....................................................... 18

1.3.2. O sistema endocanabinóide e a reconsolidação de memórias .................... 19

1.4. Justificativa ................................................................................................... 21

2. Objetivos ........................................................................................................... 24

2.1. Objetivos Gerais ........................................................................................... 24

2.2. Objetivos Parciais ........................................................................................ 24

3. Materiais e Métodos .......................................................................................... 25

3.1. Animais ........................................................................................................ 25

3.2. Drogas.......................................................................................................... 25

3.3. Procedimentos Comportamentais ................................................................ 26

3.3.1. Modelo da Sensibilização Locomotora ......................................................... 26

3.3.2. Labirinto em Cruz Elevado ........................................................................... 27

3.3.3. Reexposição Contextual .............................................................................. 28

3.3.4. Reativação da memória contextual .............................................................. 28

3.3.5. Protocolo de Nado Forçado ......................................................................... 29

3.4. Análise Estatística ........................................................................................ 30

4. Resultados......................................................................................................... 31

4.1. Análise Fatorial ............................................................................................ 31

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4.2. Experimento 1: Reativação da memória contextual reduz a expressão do

comportamento tipo ansioso... ..................................................................... 33

4.3. Experimento 2: A exposição ao estresse agudo reverte os efeitos da

reativação da memória sobre o comportamento tipo ansioso.... .................. 36

4.4. Experimento 3: A utilização de controles farmacológicos não reverteu o efeito

da reativação da memória sobre o comportamento tipo ansioso... .............. 40

4.5. Experimento 4: A utilização de controles farmacológicos reverte o efeito do

estresse agudo sobre a reativação da memória... ....................................... 43

4.6. Experimento 5: O tratamento com Am404 inibe a atualização da memória

para um estado emocional mais aversivo. ................................................... 46

4.7. Experimento 6: O tratamento com URB597 inibe a atualização da memória

para um estado emocional mais aversivo.. .................................................. 49

4.8. Experimento 7: O tratamento com CBD inibe a atualização da memória para

um estado emocional mais aversivo... ......................................................... 52

5. Discussão .......................................................................................................... 57

5.1. Aplicabilidade do modelo animal e aspectos translacionais ......................... 73

6. Conclusão ......................................................................................................... 77

7. Referências Bibliográficas ................................................................................. 78

Resumo ............................................................................................................ 110

Abstract ............................................................................................................ 112

Listas e Apêndices ........................................................................................... 114

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Lista de Figuras e Tabelas

Figura 1: Mecanismos de plasticidade envolvidos na dependência. .............................. 8

Figura 2: Influência da reconsolidação de memórias no desenvolvimento da

dependência. ................................................................................................................. 15

Figura 3: Desenho experimental do Protocolo de Sensibilização Locomotora ............. 29

Figura 4: Aparato do LCE ............................................................................................. 30

Figura 5: Aparato do NF ............................................................................................... 31

Tabela 1: Análise de Componentes Principais com rotação varimax ........................... 34

Figura 6: Experimento 1. Desenho experimental e Sensibilização Locomotora. .......... 36

Figura 7: Experimento 1. Escore de ABA e Escore de ABF. ....................................... 37

Figura 8: Experimento 2. Desenho experimental e Sensibilização Locomotora ........... 40

Figura 9: Experimento 2. Escore de ABA e Escore de ABF ......................................... 41

Figura 10: Experimento 3. Desenho experimental e Sensibilização Locomotora ........ 43

Figura 11: Experimento 3. Escore de ABA e Escore de ABF ....................................... 44

Figura 12: Experimento 4. Desenho experimental e Sensibilização Locomotora ......... 46

Figura 13: Experimento 4. Escore de ABA e Escore de ABF ....................................... 47

Figura 14: Experimento 5. Desenho experimental e Sensibilização Locomotora ........ 49

Figura 15: Experimento 5. Escore de ABA e Escore de ABF ....................................... 50

Figura 16: Experimento 6. Desenho experimental e Sensibilização Locomotora ......... 52

Figura 17: Experimento 6. Escore de ABA e Escore de ABF ....................................... 53

Figura 18: Experimento 7. Desenho experimental e Sensibilização Locomotora ........ 55

Figura 19: Experimento 7. Escore de ABA e Escore de ABF ....................................... 56

Tabela 2: Características do desenho experimental e principais resultados dos

experimentos 1, 2, 3 e 4.................................................................................................55

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Tabela 3: Características do desenho experimental e principais resultados dos

experimentos 5, 6 e 7.....................................................................................................5

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1

1. Introdução

Os primeiros relatos do uso de substâncias psicoativas para fins medicinais ou

ritualísticos remontam às primeiras civilizações. Evidências comprovam o uso de

álcool, maconha e ópio pelos chineses, indianos, egípcios e gregos há milhares de

anos antes do início da Era Comum (Inaba e Cohen, 1993; Toscano Jr, 2001). Além de

sua finalidade terapêutica e religiosa, o uso destas substâncias representou uns dos

meios da humanidade em interagir com o ambiente ao redor, bem como uma forma de

construção da realidade e consequentemente da sociedade (Velho, 1997).

Uma característica importante destas substâncias é causar alterações no

funcionamento do sistema nervoso central (SNC), promovendo modificações

sensoriais, cognitivas e comportamentais, que podem persistir mesmo nos períodos de

desintoxicação, especialmente em indivíduos com histórico de transtornos mentais

(DSM- V, 2013). Tais alterações acarretam em compulsão por obter e consumir a

substância, surgimento de um estado emocional negativo (síndrome de abstinência)

quando o consumo é interrompido e dificuldade em controlar o consumo da substância,

caracterizando desta forma o processo de dependência (Koob e Volkow, 2010; DSM-

V, 2013).

O uso abusivo de substâncias apresenta um caráter multifatorial, marcado pela

interação entre a substância, o indivíduo e o ambiente, e envolvendo fatores genéticos,

sociais, culturais e econômicos. Sendo assim, a questão das drogas, não representa

somente um problema de saúde pública, mas também social (Pratta e Santos, 2009;

Garland et al, 2011). No Brasil, o II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas

Psicotrópicas (2005) evidenciou que 75% dos entrevistados relataram ter feito uso de

álcool na vida, enquanto que 12,3% eram dependentes. Além disso, este levantamento

mostrou que 22,8% da população já fez uso de alguma droga ilícita alguma vez na

vida. Em comparação ao I Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas

Psicotrópicas realizado em 2001, o II Levantamento evidencia um aumento do uso de

drogas ilícitas, demonstrando desta forma a relevância desta temática.

Todas as drogas de abuso possuem potencial reforçador através do aumento da

liberação de dopamina (DA) no núcleo accumbens (NAc), por ativação direta ou

indireta da via mesolímbica (Berridge e Robinson, 1998; Horvitz, 2000). No entanto,

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este mecanismo reforçador é responsável pelo uso apenas nas fases iniciais da

dependência. Com a cronicidade do uso os estados emocionais negativos,

particularmente nos períodos de retirada da substância, assumem um papel

determinante na manutenção do comportamento compulsivo de consumo da droga

(Koob e Le Moal, 2005; Koob e Volkow, 2010).

Todavia, nem todos os indivíduos que fazem uso de substâncias psicoativas

tornam-se dependentes. Portanto, o entendimento dos mecanismos neurobiológicos

envolvidos no processo de dependência é essencial para o desenvolvimento de

estratégias de enfrentamento, sejam elas de caráter terapêutico e individual ou coletivo

e de saúde pública.

1.1. Neurobiologia da dependência

Ao longo das últimas décadas muitas teorias foram propostas para elucidar os

mecanismos neurobiológicos envolvidos na transição do uso recreativo para a

dependência. Dentre elas, podemos citar: a teoria do processo inverso (Solomon e

Corbit, 1974), a teoria da saliência do incentivo (Robinson e Berridge, 1993), a teoria do

aprendizado aberrante (Di Chiara et al., 1998, Robbins e Everitt, 1999; Everitt e

Robbins, 2005; Hyman, 2005), a teoria da perda do controle inibitório (Goldstein e

Volkow, 2002; Volkow et al, 2011) e finalmente a teoria do ciclo da dependência (Koob

e Volkow, 2010), que apresenta uma visão integrada das teorias anteriores.

Todas estas teorias apresentam um ponto em comum que destaca a importância

das neuroadaptações induzidas pelo uso repetitivo da substância. Por outro lado, as

mesmas diferem-se quanto ao componente comportamental que confere as

características compulsivas e recorrentes do processo de dependência. Ainda que

possa ser abordada a partir de diferentes perspectivas, o elemento central do

desenvolvimento da dependência é a plasticidade no sistema límbico (SL), mais

especificamente em circuitos neurais envolvidos no processamento de estados

emocionais e motivacionais (Koob e Le Moal, 2005; Koob, 2015).

As emoções podem ser definidas como estados mentais através dos quais os

animais classificam as experiências ambientais como potencialmente danosas ou

importantes para manutenção da homeostase do organismo. A motivação, por sua vez,

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3

pode ser classificada como o processo impulsionador dos comportamentos necessários

a fim de se evitar riscos potenciais ou buscar recursos necessários à homeostase,

previamente definidos pelas emoções (Berridge, 2001; Cardinal et al, 2002; Koob,

2015; Miendlarzewska e Schwartz, 2015).

O SL é uma complexa rede de estruturas cerebrais que modulam as emoções,

estados motivacionais e respostas comportamentais associadas. É composto por

estruturas subcorticais e corticais. As estruturas subcorticais incluem tálamo,

hipotálamo, ATV, NAc, estriado dorsal, amígdala, substância cinzenta periaquedutal

(SCP) e hipocampo (HPC). Já as estruturas corticais compreendem o córtex sensorial,

o córtex pré-frontal (CPF) e suas subdivisões: córtex cingulado anterior (CCA) e córtex

orbito-frontal (COF) (Cardinal et al, 2002; Dalgleish, 2004; Pessoa, 2008).

Um estímulo capaz de induzir alteração no estado emocional, através da

modulação da via mesolímbica e o aumento da liberação de DA no NAc, é considerado

um estímulo reforçador (Berridge, 2001; Cardinal et al., 2002). De acordo com o seu

impacto sobre o estado motivacional, os estímulos reforçadores podem ser

classificados como reforçador positivo ou reforçador negativo (Koob e Volkow, 2010,

Wise e Koob, 2014). Quando a presença do estímulo reforçador leva a um aumento do

estado emocional, gerando assim uma sensação de bem-estar, euforia ou prazer, este

é considerado como reforçador positivo. Por outro lado, quando a presença do estímulo

reforçador promove alívio ou evitação de uma situação desconfortável ou danosa, o

mesmo é considerado como reforçador negativo (Berridge, 2001; Cardinal et al., 2002;

Koob, 2015; Miendlarzewska e Schwartz, 2015).

Desta forma, o SL tem como função primordial a atribuição de valência

emocional aos estímulos ambientais que tenham relevância para o estado emocional

do indivíduo, facilitando a repetição de comportamentos que levem à busca ou evitação

destes estímulos (Berridge, 2001; Cardinal et al, 2002; Dalgleish, 2004; LaBar e

Cabeza, 2006). A este processo denomina-se saliência do incentivo (Robinson e

Berridge, 1993; Robinson e Berridge, 2008).

A ativação da via mesolímbica recruta estruturas relacionadas com processos de

aprendizagem e memória, tais como CPF, HPC e estriado dorsal. A formação de

memórias relacionadas ao estímulo reforçador configura o aprendizado do incentivo. A

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4

interação entre a saliência e o aprendizado ao incentivo permite ao SL desempenhar

um papel de predição ao reforço, com base na expectativa da alteração emocional

associada a este estímulo (Cardinal et al, 2002; Everitt e Robbins, 2005, Robinson e

Berridge, 2008).

As drogas de abuso promovem uma liberação de DA no NAc mais intensa e

duradoura, se comparada à liberação mediada pelos estímulos reforçadores naturais,

acarretando assim, no erro da predição do reforço associado ao uso da droga. Neste

caso, o reforço positivo gerado pelo uso da substância é maior do que o previsto pela

via mesolímbica. Este erro na predição faz com que a importância do estímulo

reforçador para o estado emocional seja ainda maior (Hyman, 2005; Robinson e

Berridge, 2008; Anselme et al, 2013).

Este aperfeiçoamento da valência emocional facilita a repetição do

comportamento de uso da droga, reforçando o ciclo de expectativa e erro na predição

do reforço. Isso promove um aumento ainda mais significativo da valência emocional,

caracterizando assim a sensibilização dos mecanismos de saliência ao incentivo

(Robinson e Berridge, 1993; Robinson e Berridge, 2008).

Nas fases iniciais da dependência a sensibilização da saliência ao incentivo,

mediada pelo reforço positivo, é responsável pela repetição do uso da substância

(Robinson e Berridge; 2008, Koob e Volkow, 2010; Wise e Koob, 2014). Todavia,

através de mecanismos de transcrição e tradução, a recorrência do uso da droga

promove alterações em longo prazo no funcionamento da via mesolímbica (Nestler,

2005). Como consequência, a via mesolímbica torna-se sensibilizada ao efeito das

drogas ou de pistas associada, e, paradoxalmente, hipoativa durante o período de

abstinência (O’Brien et al, 1998; Berke e Hyman, 2000; Koob e Le Moal, 2008).

Tais alterações induzem o aparecimento de dois estados emocionais distintos e

opostos. O primeiro relacionado à saliência do incentivo e reforço positivo e o segundo

relacionado com a hipoatividade da via mesolímbica e reforço negativo (Solomon e

Corbit, 1974, Koob et al, 2013).

O estado emocional negativo também é modulado por mecanismos de

plasticidade que ocorre paralelamente em estruturas responsáveis pelo controle das

repostas de estresse (Koob e LeMoal, 2008, Koob e Volkow, 2010). A exposição

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crônica as drogas de abuso alteram o funcionamento do eixo hipotálamo-hipófise-

adrenal (HPA) e estruturas extra-hipotalâmicas de controle do estresse, como a

amígdala. É constatada maior ativação da amígdala em períodos de ausência da droga

o que desencadeia estado de ansiedade generalizada, disforia e irritabilidade,

caracterizando assim a síndrome de abstinência (Koob e Volkow, 2010; Koob, 2015;

Chavkin e Koob, 2016).

A hipofunção da via mesolímbica e a hiperativação dos sistemas de estresse

induzem a formação de um estado motivacional negativo que só é amenizado com o

consumo da droga, conferindo assim o componente de reforço negativo ao uso (Koob e

LeMoal, 2008; Koob e Volkow, 2010; Koob, 2015). Estas alterações são consequência

da hipofunção da neurotransmissão dopaminérgica, serotoninérgica e gabaérgica e da

hiperatividade noradrenérgica, glutamatérgica, opioidérgica e do fator liberador de

corticotrofina (CRF) (Koob e Volkow, 2010; Chavkin e Koob, 2016; Volkow et al, 2016).

O surgimento do estado emocional negativo é importante para o

desenvolvimento da dependência. A valência emocional atribuída ao uso da droga

como reforço negativo é muito superior à atribuída ao reforço positivo. Portanto ocorre

uma alteração do componente motivacional da busca pela droga, do reforço positivo

para o reforço negativo. A partir de então, o comportamento de busca e obtenção da

droga decorre da necessidade de restabelecer o estado basal de emocionalidade, e

não mais para a obtenção dos efeitos reforçadores positivos (Solomon e Corbit, 1974;

Koob e Volkow, 2010, Koob, 2013; Koob, 2015). Esta transição do componente

motivacional de reforço positivo para o reforço negativo garante o caráter crônico e

compulsivo dos comportamentos característicos da dependência (Koob e Volkow,

2010).

Ainda que alterações na circuitaria emocional e motivacional sejam essenciais

para desenvolvimento da dependência, paralelamente a elas ocorrem alterações dos

mecanismos de controle executivo sobre as estruturas do SL (Koob e Volkow, 2010;

Volkow e Koob, 2016). Evidências da literatura demonstram que a disfunção do

controle exercido pelo CPF sobre as demais estruturas do SL é essencial para o

desenvolvimento da dependência (Goldstein e Volkow, 2002; Volkow et al, 2005).

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6

Assim como nas demais estruturas subcorticais, com a exposição repetida ao

uso da substância ocorre a redução da neurotransmissão dopaminérgica e aumento da

neurotransmissão glutamatérgica no CPF. O CCA e do COF tornam-se hipoativos nos

períodos de retirada da droga, mas hiperativos quando o indivíduo é apresentado a

pistas associadas (Jentsch e Taylor, 1999; Chudasama e Robbins, 2006; Geisler e

Wise, 2008). A ativação destas estruturas acarreta no surgimento do estado

motivacional negativo, do desejo intenso de consumo da substância (fissura) e do

planejamento de ações relacionadas à busca da droga (antecipação). Vale ressaltar

que estes comportamentos podem ser desencadeados mesmo após longos períodos

de abstinência, o que garante a característica recorrente da dependência (Volkow et al,

1999; Volkow et al, 2011; Milella et al, 2016).

Mediante o exposto pode-se constatar que a dependência é consequência de

uma série de neuroadaptações decorrentes da exposição repetida às drogas de abuso

(Koob e LeMoal, 2005). Alterações do funcionamento da via mesolímbica e

recrutamento de mecanismos de aprendizado ao incentivo, acarretando na

sensibilização da saliência do incentivo (Robinson e Berridge, 2008). A plasticidade na

amígdala e HPA promove o surgimento de um estado emocional negativo,

caracterizado pela síndrome de abstinência, levando assim uma alteração do

componente motivacional do reforço positivo para o reforço negativo (Koob e LeMoal,

2008). Além disso, alterações no funcionamento do CPF favorecem tanto os

mecanismos de sensibilização da saliência ao incentivo, quanto o surgimento do

estado emocional negativo nos períodos de abstinência, por meio da fissura e da

antecipação do uso. Finalmente, alterações nos mecanismos emocionais e

motivacionais, associadas à redução do controle executivo exercido pelo CPF, geram

como consequências: comportamento compulsivo de obtenção e consumo da droga;

surgimento de um estado emocional negativo (síndrome de abstinência) quando o

consumo é interrompido e dificuldade em controlar o consumo da substância (Koob e

Volkow, 2010; Wise e Koob, 2014) (Figura 1).

Os mecanismos cognitivos de aprendizagem e memória abordados de maneira

superficial até aqui, são extremamente importantes em todas as etapas do processo de

desenvolvimento da dependência, mediando muitas das neuroadaptações já

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discutidas. Portanto, a seguir será discutido mais detalhadamente a relação entre

memória e dependência.

Figura 1: Mecanismos de plasticidade envolvidos na dependência.

Representação ilustrativa das estruturas do SL envolvidas no processo de dependência. Inicialmente

ocorre a sensibilização da saliência ao incentivo aumentado a valência emocional associada à droga e

facilitando a repetição do uso (estruturas em azul). A plasticidade decorrente do uso induz o surgimento

de um estado emocional negativo na retirada da droga, mediado pela ativação de estruturas

relacionadas com respostas ao estresse e ansiedade (estruturas em vermelho). Além disso, a redução

do controle inibitório sobre os comportamentos relacionados ao uso favorece o desenvolvimento do

desejo intenso de uso quando o indivíduo é apresentado a pistas associadas. Estas neuroadaptações

induzidas por um padrão inadequado de consumo de drogas acarretam na transição de um uso

associado ao reforço positivo para reforço negativo. (AMG= amígdala; NES= núcleo da estria terminal;

ED= estriado dorsal; GP= Globo pálido; HPC= Hipocampo; INS= Insula, NAc= Núcleo accumbens, COF=

córtex orbito-frontal; CPF= córtex pré-frontal; TAL= Tálamo). FONTE: Adaptado de Wise e Koob, 2014.

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1.2. Memórias e sua relação com a dependência

A memória é um fenômeno neurobiológico pelo qual informações do ambiente

são armazenadas de modo a permitir o planejamento de comportamentos adaptados a

estes estímulos. Classicamente, a memória pode ser definida como a capacidade de

adquirir (aquisição), armazenar (consolidação) e recuperar (evocação) informações

disponíveis no SNC (McGaugh, 2000).

As estruturas e vias cerebrais envolvidas na aprendizagem e memória também

fazem parte do substrato neuroanatômico afetado pelo processo do desenvolvimento

da dependência. De fato, a neuroplasticidade associada à dependência produz

alterações cognitivas que contribuem para o desenvolvimento das características

crônicas e recorrentes do uso da substância, bem como para a aquisição de

comportamentos adaptativos relacionados ao desenvolvimento do estado emocional

negativo (Hyman, 2005; Gould, 2010; Koob e Volkow, 2010, Goodman e Pakard, 2016).

A aprendizagem e memória e a dependência também compartilham

mecanismos moleculares de plasticidade sináptica, modulando cascatas de sinalização

intracelular que acarretam na ativação de fatores de transcrição gênica, com destaque

para as proteínas CREB e ΔfosB. O aumento da expressão destas proteínas é

acompanhado de alterações na morfologia celular principalmente de sinapses

glutamatérgicas, gabaérgicas e dopaminérgicas (Carlezon et al, 1998; Nestler 2000,

Carlezon et al, 2005; Nestler; 2005).

O aumento da liberação de DA no NAc além de promover o efeito reforçador

positivo das drogas também é responsável pelo aprendizado do incentivo. O

aprendizado do incentivo compõe duas formas distintas de aprendizado; o aprendizado

associativo e o aprendizado instrumental (Di Chiara, 1999; Robinson e Berridige, 2008).

O aprendizado associativo ocorre na forma de condicionamento clássico. Nesta forma

de condicionamento, quando um estímulo emocionalmente relevante (estímulo

incondicionado) e capaz de gerar uma resposta comportamental (resposta

incondicionada) ocorre na presença de um estímulo ambiental, inicialmente neutro, o

estímulo incondicionado é associado ao estímulo ambiental neutro. Uma vez que

estímulo ambiental neutro e o estímulo incondicionado são associados, o estímulo

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ambiental torna-se um estímulo condicionado, pois adquire a capacidade de gerar a

resposta comportamental, até então relacionada somente ao estímulo incondicionado,

que por sua vez passa a ser uma resposta condicionada (Berridge, 2001; Cardinal et al,

2002, Berridge, 2012).

O aprendizado associativo desempenha um importante papel sobre o estado

motivacional do indivíduo, visto que a apresentação de pistas associadas ao uso da

droga promove a ativação da via mesolímbica para a predição do estímulo reforçador

(Berridge, 2001; Cardinal et al, 2002). No entanto, a intensa liberação de DA induzida

pelas drogas de abuso fazem com a valência emocional atribuída a esta memória seja

excessiva, e consequentemente, esta memória torna-se mais robusta e

emocionalmente relevante do que outras memórias emocionais, como as relacionadas

aos estímulos reforçadores naturais (Hyman, 2005; Robinson e Berridge, 2008, Gould,

2010).

O aprendizado instrumental ocorre na forma do condicionamento operante.

Neste tipo de condicionamento, a presença de pistas associadas acarreta na realização

de um comportamento que aumenta a probabilidade de obtenção do reforço. Este

comportamento de busca pelo reforço desencadeado pela exposição às pistas

relacionadas constituem um hábito (Cardinal et al, 2002). Estudos sugerem ainda que a

platicidade mediada pelas drogas de abuso no estriado dorsal fortalece o aprendizado

instrumental, promovendo assim, hábitos relacionados ao uso da substância (Berridge,

2001; Hyman, 2005).

Portanto, diante da apresentação de pistas associadas ocorre uma transição da

reposta direcionada a droga (mediada pelo aprendizado associativo) para resposta

direcionada ao hábito (mediada pelo aprendizado instrumental). Esta alteração da

resposta comportamental está relacionada com a transição do uso recreativo para o

compulsivo na dependência (Koob e Volkow, 2010; Goodman Packard, 2016).

Os mecanismos de aprendizado e memória nas fases iniciais da dependência

estão relacionados com o reforço positivo na forma do aprendizado do incentivo

(Robinson e Berridge, 2008; Koob e Volkow, 2010). Contudo, com o desenvolvimento

do estado emocional negativo e principalmente pela ativação da amígdala, ocorre

também a modificação do componente motivacional atribuídos a estas memórias.

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Desta forma, a apresentação de pistas acarreta no desenvolvimento do estado

motivacional negativo característico da dependência, contribuindo assim para

compulsividade na dependência (Robinson e Berridge, 2008; Robbins et al, 2008; Koob

e Volkow, 2010).

O HPC também desempenha um papel importante na modulação dos

mecanismos de memória associados à dependência. Classicamente o HPC é

responsável por modular componentes contextuais de memórias associativas. Sendo

assim, o HPC está envolvido no papel que as pistas exercem sobre o comportamento

de busca pela droga, seja este comportamento mediado pelo reforço positivo ou reforço

negativo (Robbins et al, 2008; Koob e Volkow, 2010). Outro aspecto importante do HPC

é sua capacidade de regular os comportamentos relacionados às memórias

emocionais, através da modulação da atividade da amígdala e também da atribuição

da valência emocional aos aspectos contextuais das memórias associadas ao uso

(Canales, 2012).

No entanto, estudos mostram que o uso crônico de droga de abuso afeta o

funcionamento do HPC, principalmente por inibir a neurogênese hipocampal (Phelps,

2004; Canales, 2007; Robbins et al, 2008; Volkow e Koob, 2010). A redução da

neurogênese compromete a capacidade do HPC de atualizar aspectos contextuais,

espaciais e emocionais das memórias contextuais associadas ao uso da substância.

Por consequência, ocorre a generalização destas memórias e redução do controle do

HPC sobre a manifestação dos estados motivacionais associados a elas, favorecendo

assim os comportamentos de busca e consumo da droga em qualquer situação

contextual (Koob e Volkow, 2010; Canales, 2012).

As alterações no controle executivo do CPF também têm grande relevância para

os mecanismos de aprendizado e memória associados à dependência. Estudos

sugerem que o CCA está envolvido com mecanismos de memória associativa. As

projeções glutamatérgicas provenientes desta área que partem para demais estruturas

dos SL são capazes de modular o componente motivacional da memória associado ao

uso da substância, seja de reforço positivo ou negativo (Robbins et al, 2008; Koob e

Volkow, 2010). A ativação do CCA pelas pistas associativas está relacionada com a

supervalorização da resposta reforçadora associada à droga através da sua influência

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no processo de predição de reforço. Além disso, promove o desenvolvimento do estado

emocional negativo, bem como a fissura e o desejo de consumo, sendo estes efeitos

mediados principalmente pelas projeções excitatórias para a amígdala, NAc e estriado

dorsal (Carter et al, 1998; Parkinson et al, 2000; Bush et al, 2002; Goldstein et al,

2008).

Alterações do funcionamento de outra porção do CPF, o COF, também trazem

implicações importantes para os mecanismos cognitivos na dependência. Esta região

está implicada na seleção ou inibição de comportamentos relacionados ao uso, que

podem ser relevantes para o estado emocional do indivíduo. Logo, a redução do

controle do COF faz com que os estados motivacionais gerados por pistas associadas

tenham maior relevância na gênese dos comportamentos que acarretam no uso da

substância. Consequentemente, acaba-se promovendo um reforço destas memórias,

tornado-as mais robustas e importantes para o estado emocional do dependente

(Robbins et al, 2008; Koob e Volkow, 2010; Goodman e Packard, 2016).

Ainda que a formação de memórias associadas ao uso da substância seja

fundamental para o desenvolvimento da dependência, e apesar de serem

extremamente robustas e relevantes para o estado emocional, tais memórias não são

completamentes estáveis. Estas memórias podem ser moduladas através do processo

de reconsolidação, que por sua vez também desempenha um papel relevante na

dependência (Lee et al, 2006).

1.2.1. Reconsolidação de memórias e dependência

A reconsolidação é o processo pelo qual memórias consolidadas são

desestabilizadas por um determinado período, tornando-se lábeis e sujeitas a

manipulação, para posteriormente serem reestabilizadas. Este processo de labilização

é comumente induzido por meio de uma sessão de reativação da memória, que por sua

vez, consiste na apresentação de pistas contextuais associadas à memória original

(Lee, 2008; Gisquet-Verrier e Riccio, 2012; Rodriguez- Ortiz e Bermúdez-Rattoni,

2017).

A reativação da memória é parte do processo de evocação. Enquanto que na

reativação ocorre o acesso de parte das informações da memória original, o processo

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de evocação inclui a capacidade de gerar um determinado comportamento mediante o

acesso de todos os componentes compartimentalizados da memória original (Gisquet-

Verrier e Riccio, 2012).

A reativação retira a memória de um estado inativo para um estado ativo,

tornando-a maleável e, por consequência, passível de ser reconsolidada. É importante

destacar que embora a reativação possa preceder a reconsolidação, ambos são

processos que podem ocorrer independentemente e demandam diferentes

mecanismos moleculares e estruturas cerebrais. Ainda assim, evidências da literatura

demonstram que memórias reconsolidadas a partir de uma sessão de reativação são

mais susceptíveis a manipulação farmacológica (Sara, 2000; Gisquetet-Verrier e Riccio,

2012; Rodriguez-Ortiz e Bermúdez-Rattoni, 2017).

De maneira muito semelhante à consolidação, a reconsolidação de memórias

depende de uma série de eventos celulares, entre eles influxo de cálcio e nova cascata

de síntese de proteínas (Nader et al, 2000; Tronson e Taylor, 2007; Lee, 2009; Nader e

Hardt, 2009; Da Silva et al, 2013). Ainda que a consolidação e a reconsolidação

compartilhem os mesmos eventos moleculares, elas são processos dissociáveis, sendo

a principal evidência dessa dissociação a janela temporal da ocorrência destes eventos

(Lee et al, 2004; Milekic e Alberrine, 2002; Alberrine, 2005). Enquanto que durante a

consolidação da memória estes eventos iniciam-se cerca de 4 horas após a

apresentação do estímulo, na reconsolidação estes eventos iniciam-se imediatamente

após (Bourtchouladze et al, 1998; Nader et al, 2000; Sara, 2000; Igaz et al, 2002;

Milekic e Alberrine, 2002).

O processo de reconsolidação depende da ativação de uma complexa rede de

sinalização sináptica entre HCP, CPF e amígdala (Alberrini, 2005; Nader e Hardt, 2009;

Wang e Morris, 2010; Schwabe et al, 2014), envolvendo diversos neurotransmissores,

como o glutamato, GABA, noradrenalina e acetilcolina (Makkar et al, 2010; Debiec et al,

2011; Garcia-Delatorre et al, 2014).

Funcionalmente, o processo de reconsolidação pode repercutir de várias formas

sobre a memória original. Uma memória constantemente reconsolidada torna-se cada

vez mais robusta e este fortalecimento dificulta a sua extinção, além de manter a sua

relevância (Lee, 2008; Lee, 2009; de Oliveira-Alvares et al, 2013). Durante a

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reconsolidação pode ocorrer ainda a incorporação de novos elementos contextuais e

emocionais à memória original, acarretando assim na sua atualização (de Oliveira-

Alvares et al, 2013). A atualização também é importante para manutenção da

relevância da memória, principalmente no aperfeiçoamento do mecanismo de predição

de reforço, aprimorando assim a interação com o ambiente (Lee, 2009; Haubrich et al,

2015). Por fim, a reconsolidação também mantém a precisão da memória, uma vez que

a cada nova reconsolidação a memória torna-se mais detalhada e contexto-específica

(Wiltgen e Silva, 2007; Lee, 2009). É importante frisar que estes desfechos não são

necessariamente exclusivos, já que a reconsolidação pode mediar ambos os processos

mutuamente, a depender das condições durante o momento da reativação e labilização

da memória original (Bonin e Koninck, 2015).

Devido sua importância para o fortalecimento e atualização de memórias, o

processo de reconsolidação acaba por mediar diversos transtornos psiquiátricos que

apresentam um componente cognitivo importante, dentre eles a dependência

(Schwabe et al, 2014). Deste ponto de vista, a dependência pode ser considerada uma

memória que está sendo constantemente evocada e reconsolidada. Em modelos

animais de dependência o processo de reconsolidação está relacionado com o

fortalecimento da memória contextual associada ao uso e ao aumento da expressão do

comportamento de busca pela droga (Milton e Everitt, 2010; Tronson e Taylor, 2013).

Portanto, a possibilidade de enfraquecer a memória original torna a reconsolidação um

alvo interessantíssimo para intervenções terapêuticas (von der Goltz et al, 2009, Taylor

et al, 2009; Milton e Everitt, 2010) (Figura 2).

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Figura 2: Influência da reconsolidação de memórias no desenvolvimento da

dependência.

Representação esquemática do processo de reconsolidação de memórias associadas ao uso de drogas.

A apresentação de pistas leva ao impacto do erro de previsão e consequente desestabilização da

memória. No entanto, a realização de comportamentos de hábitos ou de uso direcionados a droga

tornam a memória estável novamente. A utilização de agentes amnésicos durante o período de

desestabilização pode afetar a expressão de comportamentos relacionados ao uso. FONTE: Adaptado

de Torregrossa e Taylor, 2016.

Por ser um processo dependente de síntese proteica, a administração de

inibidores de síntese de proteínas, como a ciclohexamina (CHX) ou anisomicina,

imediatamente após a reativação da memória, é capaz de prejudicar a reconsolidação

da memória original (Nader et al, 2000; Gruest et al, 2004; Chuang et al, 2012).

Estudos na literatura demonstraram que inibidores de síntese proteica inibem a

reconsolidação da memória contextual associada ao efeito da morfina no modelo da

preferência condicionada ao local (Valjent et al, 2006; Escosteguy-Neto et al, 2016) e

ao efeito da cocaína na sensibilização locomotora (Bernardi et al, 2007).

A potencialização da transmissão gabaérgica através da administração de

benzodiazepínicos também é capaz de prejudicar a reconsolidação de memórias, em

decorrência de seus efeitos amnésicos mediados pelas subunidades α1 e α5 do

receptor GABAA (Bustos et al, 2006; Carbó et al, 2009, Tan et al, 2011). Em modelos

animais de dependência de drogas o tratamento com midazolam inibe a reconsolidação

da memória contextual associada ao efeito da morfina no modelo da preferência

condicionada ao local (Robinson e Franklin, 2010; Robinson et al, 2011).

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Outra ferramenta farmacológica capaz de modular o processo de reconsolidação

é a inibição dos canais de cálcio voltagem dependente, uma vez que o influxo de cálcio

é necessário para ocorrência da plasticidade sináptica relacionada à reconsolidação da

memória (De Oliveira Alvares et al, 2013; Da Silva et al, 2013). O bloqueio dos canais

de cálcio não afeta a reativação, mas impede que a memória seja labilizada, e

consequentemente que a memória seja reconsolidada. Evidências da literatura

mostram que a administração de Nimodipino, um bloqueador de canais de cálcio

voltagem dependente do tipo L, previamente a reativação da memória original, é capaz

de inibir a manifestação dos efeitos comportamentais mediados pelo processo de

reconsolidação (de Oliveira Alvares et al, 2013, Da Silva et al, 2013, Crestani et al,

2015; Haubrich et al, 2015).

O fenômeno da reconsolidação já foi descrito em modelos animais de

dependência no que se refere à memória associativa relacionada ao reforço positivo

(Lee et al, 2006; Miller e Marshall, 2005; Bernardi et al, 2007; Milekic et al, 2006;

Valjent et al, 2006). No entanto, pouco se sabe sobre o papel da reconsolidação na

manutenção das memórias relacionadas ao componente motivacional negativo. Tal

estudo seria de suma importância, visto que o reforço negativo confere à dependência

as características de cronicidade, compulsão e recorrência (Koob e Le Moal, 2008;

Koob e Volkow, 2010). Ainda dentro desta abordagem motivacional do processo de

reconsolidação, uma abordagem farmacológica que tem se destacado por inibir o

processo de reconsolidação, modificando inclusive a valência emocional das memórias,

consiste na modulação do sistema endocanabinóide (Stern et al 2012; de Carvalho e

Takahashi, 2017).

1.3. Sistema endocanabinóide

O sistema endocanabinóide (SeCB) é composto de seus ligantes endógenos, os

endocanabinóides, suas vias de síntese e de degradação, e de receptores

canabinóides (Piomelli, 2003; Di Marzo et al, 2004; Pertwee, 2005). Os principais e

mais estudados endocanabinóides são a anandamida (AEA) e 2-aracdonoilglicerol (2-

AG), ambos derivados do ácido araquidônico (Freund et al, 2003; Piomelli, 2003). Os

endocanabinóides são produzidos por demanda após a despolarização dos neurônios

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do terminal pós-sináptico, a partir de precursores lipídicos da membrana plasmática, e

prontamente liberados no espaço extracelular. A partir de então, são capazes de

modular a liberação de outros neurotransmissores, entre eles o glutamato, o GABA e a

dopamina, através de um mecanismo de sinapse retrógrada (Piomelli, 2003, Laviollette

e Grace, 2006; Kano et al, 2009).

Após interagirem com seus receptores, os endocanabinóides são recapturados

por proteínas transportadoras e degradados por enzimas específicas. O 2-AG é

rapidamente degradado no espaço extracelular pela monoacil-glicerol lípase (MAGL),

enquanto que a ANA é degradada mais lentamente pela hidrolase da amida de ácidos

graxos (FAAH), que se encontra ancorada na membrana intracelular (Freund et al,

2003; Piomelli, 2003; Di Marzo et al, 2004).

Até o momento, foram descritos cinco tipos de receptores nos quais os

endocanabinóides interagem: CB1, CB2, TRPV1, PPARα e GPR55 (Howlett et al,

2002; Ross, 2003; Ryberg et al, 2007; Sun et al, 2007). Dentre estes receptores, o CB1

e o CB2 são exclusivamente canabinóides. Ambos são receptores metabotrópicos com

sete domínios transmembrana acoplados à proteína G inibitória (Howlett et al, 2002;

Kano et al, 2009). O CB1 encontra-se predominantemente expresso no SNC, embora

também esteja distribuído em tecidos periféricos. O CB2 predomina nos tecidos

periféricos, especialmente no sistema imune, porém também pode ser expresso no

SNC, principalmente em condições patológicas (Howlett et al, 2002; Kano et al, 2009;

Pertwee, 2012).

Está bem estabelecido que a característica moduladora do SeCB sobre outros

sistemas de neurotransmissão está diretamente relacionada à ativação do receptor

CB1 (Piomelli, 2003, Di Marzo et al, 2004; Ohno-Shosaku e Kano, 2014). A ativação

deste receptor acarreta no fechamento dos canais de cálcio e abertura de canais de

potássio, promovendo hiperpolarização da membrana do neurônio pré-sináptico e

inibição da exocitose do neurotransmissor (Piomelli, 2003, Laviolette e Grace, 2006;

Ohno-Shosaku e Kano, 2014).

O receptor GPR55 é apontado como um novo receptor canabinóide, porém

pouco se sabe sobre o seu papel funcional (Ryberg et al, 2007). Outros receptores são

modulados por ligantes derivados do ácido araquidônico e podem ser ativados por

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canabinóides, dentre estes estão o TRPV1 (receptor transmembrana com sítio de

ligação interno) e o PPARα (receptor nuclear) (Ross, 2003; De Petrocellis e Di Marzo,

2009; Pertwee, 2012).

Devido sua característica modulatória o SeCB tornou-se um importante alvo de

manipulações para o tratamento de diversas patologias neuropsiquiátricas, dentre elas

a dependência (Maccarrone et al, 2017, Sloan et al, 2017). O SeCB pode ser

manipulado de diversas formas, a principal e mais antiga delas se dá por

fitocanabinóides extraídos da Cannabis sativa, sendo os principais o Δ9-tetra-

hidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD) (Mikes e Waser, 1971; Aizpurua-Olaizola et

al, 2014).

O THC, principal componente psicoativo da Cannabis, é um agonista parcial,

mas com forte afinidade, aos receptores CB1 e CB2. O CBD por sua vez possui

mecanismo de ação mais complexo, sendo capaz de inibir a recaptura de ANA (através

da interação com o transportador de ANA), inibir a degradação de ANA (através da

interação com a FAAH), estimular receptores TRPV1 e também atuar como agonista de

receptores serotoninérgicos 5-HT1A (Di Marzo e Piscitelli, 2015; Ligresti et al, 2016;

Stern et al, 2017). Além do CBD, outras drogas são capazes de aumentar as

concentrações de ANA. Dentre elas destacam-se o Am404 (inibidor da recaptura de

ANA) e o URB597 (inibidor da degradação de ANA) (Mackie, 2006; Di Marzo, 2009).

A potencialidade terapêutica do SeCB está associada à estimulação harmoniosa

dos diferentes receptores canabinóides e não à ativação seletiva de um destes

receptores (Pertwee, 2005; Mackie, 2006; Ligresti et al, 2015). Neste sentido, o

aumento extracelular de ANA favorece a ativação dos receptores CB1 e CB2 (sítio de

ligação no domínio externo), enquanto que o aumento intracelular de ANA potencializa

a ativação dos receptores TRPV1 e PPARα, promovendo assim uma ativação mais

complexa do SeCB (Di Marzo, 2009; De Petrocelis e Di Marzo, 2009). Este efeito

sinérgico sobre o SeCB é muito interessante se considerarmos o padrão alostático não

só da via mesolímbica, mas de todo SL na dependência.

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1.3.1. O sistema endocanabinóides e a dependência

Conforme descrito anteriormente, os receptores CB1 estão amplamente

distribuídos no SNC, inibindo a liberação de neurotransmissores em várias estruturas

que compõe o SL (Kano et al, 2009; Panagis et al, 2014; Parsons e Hurd, 2015). O

SeCB exerce importante modulação sobre o processamento emocional, com destaque

para os mecanismos de aprendizado e memória, saliência do incentivo e motivação

para estímulos reforçadores (Tan et al, 2014; Loureiro et al, 2014; Loureiro et al, 2016).

A utilização de diferentes modelos animais, comportamentais ou genéticos,

demonstraram que a plasticidade da sinalização mediada pelos receptores CB1 é

fundamental para o desenvolvimento da dependência (Thanos et al, 2005; De Vries e

Schoffelmer, 2005; Maldonado et al, 2006; Gerdeman et al, 2008, Maldonado et al,

2013). Tanto as alterações relacionadas ao mecanismo reforçador positivo das drogas

(Adermark et al, 2010; Clark e Adermark, 2010; Loureiro et al, 2016) quanto às

relacionadas aos mecanismos de reforço negativo (Bura et al, 2010; Cippitelli et al,

2011) dependem em algum nível da ativação dos receptores CB1. Sendo assim, a

inibição dos receptores CB1 poderia ser relevante terapeuticamente na dependência.

Porém o uso de antagonistas do receptor CB1 está associado ao desenvolvimento de

transtornos do humor e ansiedade (Moreira et al, 2009; Moreira e Crippa, 2009; Horder

et al, 2010), limitando a utilização desta classe de fármacos.

A potencialização do sistema endocanabinóide, através do aumento das

concentrações de ANA, também é capaz de minimizar ou bloquear os efeitos das

drogas de abuso. Estudos em roedores demonstraram que o tratamento com Am404

reduz os comportamentos de autoadministração de etanol, o efeito estimulante

locomotor agudo e a sensibilização locomotora induzida pela cocaína em modelos

animais (Cippitelli et al, 2007; Vlachou et al, 2008). Adicionalmente o URB597 reduz o

comportamento de ansiedade de ratos durante a fase de abstinência ao etanol

(Cippitelli et al, 2008). Não obstante, estudos com eletrofisiologia mostraram que o

tratamento com URB597 foi capaz de minimizar a estimulação da via mesolímbica

induzida pela nicotina, morfina e cocaína (Melis et al, 2008; Luchicchi et al, 2010).

Quanto ao CBD, foi constatada uma inibição da autoadministração de heroína

induzida por pistas associadas ao uso da droga em roedores. Este efeito foi observado

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19

24 horas e 2 semanas após o tratamento (Ren et al., 2009). Além disso, o CBD inibiu a

preferência condicionada ao local induzida pela morfina em roedores (Markos et al,

2017). Em humanos, um estudo clínico randomizado, duplo-cego, controlado por

placebo, evidenciou que o tratamento com CBD reduziu o número de cigarros fumados

diariamente por tabagistas (Morgan et al, 2013).

Comparando o tratamento com inibidores da recaptura ou da degradação e o

tratamento com os agonistas do receptor CB1, os agonistas, mas não os inibidores de

recaptura e/ou degradação da ANA, aumentam o efeito recompensador da heroína em

ratos (Solinas et al, 2005). Logo, é possível que os efeitos comportamentais

observados com o Am404, URB597 e CBD sejam decorrentes da estimulação

concomitante dos diferentes receptores canabinóides. Corroborando esta afirmação, a

redução do comportamento de autoadministração de etanol não foi revertida pelo uso

isolado de antagonistas dos receptores CB1, CB2 ou TRPV1 (Cippitelli et al, 2007).

Adicionalmente, o efeito do URB597 sobre a ativação da via mesolímbica induzida pela

nicotina, morfina e cocaína, depende tanto da estimulação dos receptores CB1 quanto

dos receptores PPARα (Melis et al, 2008, Luchicchi et al, 2010). Finalmente, o

tratamento com inibidores da receptação e degradação da ANA atenuou a

hiperlocomoção característica de camundongos Knockout para o transportador de

dopamina. Estes efeitos foram decorrentes da sinalização mediada pelos receptores

TRPV1 e não CB1(Tzavara et al, 2006).

1.3.2. O sistema endocanabinóides e a reconsolidação de memórias

Conforme já mencionado, o processo de reconsolidação de memórias está

envolvido no desenvolvimento e na manutenção da dependência. Além disso, o SeCB

participa de diversos processos de aprendizado e memórias, estados emocionais e

plasticidade sináptica presentes na dependência (Sorg, 2012; Loureiro et al, 2016).

Sendo assim, a manipulação do sistema endocanabinóide durante o processo de

reconsolidação é uma estratégica terapêutica muito promissora no tratamento da

dependência.

Embora existam vários estudos abordando o papel do SeCB na extinção de

memórias, poucos se dedicam à investigação de sua influência nos mecanismos de

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reconsolidação. Em modelos de memórias aversivas, a administração local de AM251

(antagonista CB1) no núcleo basolateral da amígdala prejudicou a reconsolidação da

memória (Ratano et al, 2004), enquanto que a administração local no HPC dorsal

facilitou a reconsolidação (de Oliveira Alvares et al, 2008). Porém, a administração

sistêmica de CBD inibiu a reconsolidação da memória de medo condicionado ao local

em ratos (Stern et al, 2012), sugerindo que o aumento das concentrações de ANA é

capaz de inibir o processo de reconsolidação.

Com relação aos efeitos da manipulação do SeCB sobre a reconsolidação de

memórias associadas a dependência, o tratamento com rimonabanto (antagonista dos

receptores CB1) inibiu a reconsolidação da memória contextual associada ao efeito da

metanfetamina, nicotina e morfina no modelo da memória de preferência condicionada

ao local (Yu et al, 2009; Fang et al, 2011; de Carvalho et al, 2014). Recentemente foi

demonstrado que a administração sistêmica de CBD, também em modelos de memória

de preferência condicionada ao local, inibiu a reconsolidação da memória associada ao

efeito da morfina e cocaína. O efeito deletério do CBD sobre a reconsolidação da

memória associada ao efeito da morfina foi acompanhado pela redução da aversão

condicionada ao local induzida pela administração de naltrexona (antagonista opióide).

Por outro lado, o CBD não afetou a reconsolidação da memória de reconhecimento de

objetos. Segundo os autores, o efeito encontrado sobre a memória contextual

relacionada à morfina se deu através da modificação da valência emocional atribuída a

esta memória (de Carvalho e Takahashi, 2017).

A maior parte dos estudos sobre o efeito do SeCB sobre a reconsolidação de

memórias utilizou o modelo da preferência condicionada ao local, ou seja, foi avaliado o

componente motivacional relacionado aos mecanismos de reforço positivo

(Escosteguy-Neto et al, 2016, de Carvalho e Takahashi; 2017). Sendo assim, o efeito

do SeCB sobre a reconsolidação de memórias associadas ao mecanismo de reforço

negativo representa uma lacuna importante no conhecimento da patogênese da

dependência de drogas, demandando com isso a sua investigação.

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21

1.4. Justificativa

Diante da relevância dos mecanismos cognitivos de aprendizagem e memória

no desenvolvimento da dependência, em particular no surgimento de estados

emocionais negativos que motivam comportamentos de busca pela droga (Koob e

Volkow, 2010), o nosso grupo de pesquisa vêm se debruçando sobre o efeito da

memória contextual sobre a emocionalidade de camundongos em diferentes períodos

de retirada de morfina.

Em uma dissertação de mestrado recente do nosso grupo foi investigado o

comportamento de ansiedade, após diferentes períodos de retirada da droga, em

camundongos submetidos ao protocolo de sensibilização locomotora induzida pela

morfina. Além disso, foi estudada a influência contextual sobre este comportamento.

Neste estudo constatamos que o modelo da sensibilização locomotora, ainda que

intimamente relacionado aos mecanismos da saliência do incentivo, foi capaz de

causar um estado motivacional nos animais compatível com o processo de reforço

negativo.

A retirada aguda da morfina aumentou a expressão do comportamento tipo

ansioso dos animais. No entanto este efeito se dissipou ao longo do tempo. Porém, a

exposição ao contexto foi capaz de aumentar a expressão do comportamento tipo

ansioso nos animais em retirada crônica, mas não nos animais em retirada aguda da

droga. Sendo assim, sugerimos que o estado de ansiedade dos animais em retirada

aguda foi independente do contexto, enquanto que nos animais em retirada crônica

houve um estado de ansiedade condicionada ao contexto. Outro resultado importante

daquela dissertação diz respeito às estratégias comportamentais de enfrentamento no

LCE adotadas pelos animais nos diferentes períodos de retirada. Os animais em

retirada aguda apresentaram uma estratégia comportamental passiva, caracterizada

pela redução da atividade nos braços abertos, ao passo que os animais em retirada

crônica apresentaram uma estratégia comportamental ativa caracterizada pelo

aumento da atividade nos braços fechados.

Sendo caracterizada a importância do contexto na manutenção de um estado

emocional negativo nos animais em retirada crônica também fez parte daquela

dissertação abordar a influência do processo de reconsolidação neste fenômeno, uma

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vez que a manipulação do processo de reconsolidação de memórias relacionadas ao

uso de drogas possui grande potencial terapêutico (Torregrossa e Taylor, 2015).

Para tanto, os animais foram submetidos a uma sessão de reativação da

memória em diferentes períodos de retirada da droga, com a finalidade de evocar e

labilizar a memória contextual original, e então induzir a reconsolidação. Diferente do

esperado, constatamos que a sessão de reativação da memória, 27 dias (mas não 14

dias) após a sensibilização locomotora reduziu a expressão do comportamento tipo

ansioso, através da diminuição da atividade em braços fechados apresentada pelos

animais. E este efeito comportamental da reativação da memória encontrou-se dentro

da janela temporal da reconsolidação.

Uma hipótese para explicar os resultados obtidos naquela dissertação seria que

o processo de reconsolidação está induzindo a atualização da memória para um estado

emocional menos aversivo, acarretando, portanto, numa redução da expressão do

comportamento tipo ansioso dos animais. Mediante o exposto, no presente estudo a

proposta inicial foi nos aprofundar na investigação do efeito do estado emocional dos

animais durante a sessão de reativação e suas consequências sobre a atualização da

memória original. Para tanto, utilizamos o Nimo, o DZP e o CHX, pois estes são drogas

que, por diferentes mecanismos de ação, inibem o processo de reconsolidação (Bustos

et al, 2006; Bernardi et al, 2007; da Silva et al, 2013).

A partir de então, nos concentramos no foco principal deste estudo, o qual foi

avaliar a influência da manipulação do SeCB sobre este processo. O nosso interesse

pelo SeCB neste modelo experimental, se deve ao seu potencial para inibir a

reconsolidação de memórias associadas à dependência (Stern et al, 2012, de Carvalho

Takahashi, 2017). Mas também pela sua capacidade de modular os estados

emocionais, bem como a atribuição da valência emocional à estímulos reforçadores,

através da regulação da atividade das estruturas do SL (Saghaeddu et al, 2015,

Loureiro et al, 2016).

Para manipulação do SeCB, optamos por induzir o aumento das concentrações

de ANA, visto que evidências da literatura demonstram que esta é uma estratégia

farmacológica mais consistente para inibir o processo de reconsolidação se comparada

ao uso de agonistas ou antagonistas seletivos dos receptores canabinóides (Pertwee,

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2005; Mackie, 2006; Ligresti et al, 2015). Portanto, no presente estudo, utilizou- se o

Am404, o URB597 e o CBD, pois o mecanismo de ação destas drogas promove o

aumento das concentrações intra e extracelulares de ANA (Mackie, 2006; Di Marzo,

2009, Stern et al, 2017)

Tais estratégias comportamentais e farmacológicas nos permitiram avaliar a

participação do processo de reconsolidação de memórias sobre o desenvolvimento de

estados emocionais negativos durante a retirada crônica de morfina, bem como avaliar

o efeito da manipulação do SeCB neste fenômeno, o qual foi o foco principal deste

estudo.

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2. Objetivos

2.1. Objetivos gerais

Avaliar o efeito da atualização da memória contextual associada ao uso da morfina

sobre o comportamento tipo ansioso dos animais em período de retirada crônica da

droga.

Avaliar o efeito da potencialização do sistema endocanabinóide sobre a atualização da

memória contextual associada ao uso da morfina dos animais em período de retirada

crônica da droga.

2.2. Objetivos específicos

Avaliar o efeito do estresse agudo sobre a atualização da memória contextual

associada ao uso da morfina (experimentos 1 e 2).

Avaliar o efeito do tratamento com controles farmacológicos sobre a atualização da

memória contextual associada ao uso da morfina (experimentos 3 e 4).

Avaliar o efeito do tratamento com Am404 sobre a atualização da memória contextual

associada ao uso da morfina (experimento 5).

Avaliar o efeito do tratamento com URB 597 sobre a atualização da memória contextual

associada ao uso da morfina (experimento 6).

Avaliar o efeito do tratamento com Canabidiol sobre a atualização da memória

contextual associada ao uso da morfina (experimento 7).

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3. Materiais Métodos

3.1. Animais

Neste estudo foram utilizados 240 camundongos da linhagem C57Bl/6, machos,

com três meses de idade e peso aproximado de 30 gramas, provenientes do biotério do

Departamento de Ciências Fisiológicas da Faculdade de Ciências Médicas da Santa

Casa de São Paulo.

Os animais foram acondicionados em caixas moradias de acrílico (32x20x21

cm). As caixas foram forradas com maravalha, a qual foi trocada periodicamente. Os

animais tiveram livre acesso à agua e ração para roedores (Nutrilab ®) e foram

mantidos no biotério sob condições controladas de temperatura (20 ± 2ºC), umidade

(50%) e ciclo claro/escuro (12 h claro/ 12 h escuro). Todos os procedimentos

comportamentais foram realizados entre as 9h e 16h e os aparelhos foram limpos com

solução de álcool 5% a fim de evitar possíveis influências do cheiro do camundongo

sobre o comportamento do próximo animal.

Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética no Uso de Animais da

Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo sob o número de

protocolo 007/15 (Apêndice I).

3.2. Drogas

A solução salina (NaCl 0,9%) foi administrada pela via subcutânea (s.c.) ou

intraperitoneal (i.p.) no volume de 10 ml/kg. A morfina (Dimorf ®, Cristália, Brasil) foi

diluída em solução salina e administrada s.c. na dose de 10 mg/kg. O diazepam

(Valium ®, Roche, Brasil) foi diluído em solução salina e administrado i.p. na dose de 1

mg/kg. A CHX (Sigma, USA) foi diluída em solução salina e administrada i.p. na dose

de 15 mg/kg. O Nimo (Vasodipina ®, Cristália, Brasil) foi diluído em solução veículo

(solução salina e DMSO na concentração de 8%), e administrado i.p. na dose de 15

mg/kg. O veículo do Nimo foi administrado i.p. no volume de 10 ml/kg. O Am404

(Sigma, EUA), URB597 (Sigma, EUA) e o CBD (National Institute of Health, EUA)

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foram diluídos em veículo (solução salina, DMSO, Tween 20, na proporção de 7:2:1

respectivamente). O Am404 e o CBD foram administrados i.p. nas doses de 1, 5 e 10

mg/kg e o URB597 foi administrado i.p. nas doses de 0,1, 0,5 e 1 mg/k. O veículo foi

injetado i.p. no volume de 10 ml/kg.

3.3. Procedimentos comportamentais

3.3.1. Modelo da sensibilização locomotora

O modelo da sensibilização locomotora utilizado no presente estudo foi

adaptado de estudos prévios da literatura (Kaplan et al, 2011). O protocolo teve

duração total de nove dias consecutivos, em todos os dias logo após o tratamento os

animais foram submetidos ao contexto A (23x42x30 cm) durante 60 minutos. Nos três

primeiros dias os animais eram tratados com solução salina e submetidos ao contexto

A para habituação, no quarto dia os animais foram tratados com solução salina e o total

da distância percorrida pelo animal no contexto A foi mensurado, constituindo assim a

atividade basal. A partir do quinto dia os animais foram tratados com solução salina ou

morfina e o total da distância percorrida no contexto A foi mensurado, constituindo a

fase de aquisição da sensibilização locomotora (Aquisição 1 a Aquisição 5) (Figura 3).

Em todos os momentos, a distância percorrida foi mensurada através do software de

análise comportamental SMART 3.0 (PanLab, Barcelona, Espanha).

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Figura 3: Desenho experimental do Protocolo de Sensibilização Locomotora

Representação esquemática. Durante a habituação (Dia 1 ao Dia 3) e na atividade basal (Dia 4) os

animais foram tratados com solução salina (10 ml/kg s.c.). Nas aquisições de um a cinco os animais

foram tratados com solução salina (10 ml/kg s.c.) ou morfina (10 mg/kg s.c.). Durante todos os dias os

animais foram submetidos durante 60 minutos no contexto A e a distância percorrida na atividade basal e

nas aquisições 1 e 5 foi mensurada.

3.3.2. Labirinto em Cruz Elevado (LCE)

Para avaliação do comportamento tipo ansioso dos animais no período de

retirada crônica, todos os animais foram submetidos ao teste do LCE 28 dias após o

último dia do protocolo de sensibilização locomotora (Aquisição 5).

O aparato do LCE foi composto por uma plataforma elevada a 30 cm do chão

em forma de cruz, com dois braços abertos (30x5 cm) e dois braços (30x5 cm)

fechados com paredes de 25 cm de altura. Todos os braços do aparelho eram

conectados por uma plataforma central (5x5 cm) (Figura 4).

Os animais foram posicionados no centro da plataforma com a cabeça voltada

para o braço fechado, com livre acesso a todo o aparelho, e seu comportamento foi

mensurado durante cinco minutos. Os parâmetros clássicos analisados foram:

porcentagem de tempo de permanência nos braços abertos, porcentagem do número

de entradas nos braços abertos e número de entradas nos braços fechados (Pellow et

al, 1985). Adicionalmente foi realizada a análise etológica (Cruz et al,1994; Rodgers et

al, 1997; Carobrez e Bertoglio, 2005) mensurando o comportamento de avaliação de

risco (comportamento em que o animal realiza estiramento do corpo para explorar o

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aparelho) e ainda o comportamento de head dipping (exploração vertical quando o

animal se encontra no braço aberto e explora em direção ao chão). Toda a análise foi

efetuada a partir do sistema informatizado de análise comportamental SMART 3.0

(PanLab, Barcelona, Espanha).

Figura 4: Aparato do LCE

Representação esquemática. Aparato de LCE.

3.3.3. Reexposição contextual

Estudos anteriores do grupo demonstraram que o estado de ansiedade dos

animais em retirada crônica foi dependente da evocação da memória associada ao

contexto do uso da morfina (Masukawa et al, não publicado). Portanto para ocorrer a

evocação desta memória, os animais foram submetidos ao contexto original da

sensibilização (contexto A) por 3 minutos imediatamente antes da realização do LCE.

3.3.4. Reativação da memória contextual

Para avaliar o efeito da reconsolidação sobre a memória associada ao contexto

do uso da morfina nos animais em retirada crônica, foi realizado o protocolo de

reativação da memória. Neste protocolo 27 dias após o último dia do protocolo de

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sensibilização locomotora (aquisição 5) os animais foram submetidos ao contexto A

durante 3 minutos. O período de 27 dias foi definido com base em resultados anteriores

do nosso grupo demonstrando que a tal reativação alterou a expressão do

comportamento tipo ansioso dos animais em retirada crônica da morfina. A duração de

3 minutos da sessão de reativação foi definida com base em estudos de memória

contextual aversiva (Suzuki et al, 2004).

3.3.5. Protocolo de nado forçado (NF)

Para avaliar o efeito do estresse sobre a reconsolidação de memória original,

imediatamente antes da realização do protocolo de reativação os animais foram

submetidos ao protocolo de NF (De Francesco et al, 2015; Kinden e Zhang, 2015). Os

animais submetidos a este protocolo foram colocados durante 10 minutos em um

cilindro (25x10 cm) (Figura 5) preenchido com água até 15 cm de água (22±1 °C).

Imediatamente após o teste os animais foram secos com compressas de algodão e a

água foi trocada a cada novo animal.

Figura 5: Aparato do NF.

Representação esquemática. Aparato de NF

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3.4. Análise estatística

Os dados de distância percorrida dos animais obtidos no protocolo de

sensibilização locomotora foram analisados através da análise de variância (ANOVA)

de uma via de medidas repetidas, tendo como variável independente os grupos e fator

de repetição a atividade basal e as aquisições de 1 a 5.

As variáveis obtidas no LCE (porcentagem do tempo de permanência nos

braços abertos, porcentagem do número de entradas nos braços abertos, número de

entradas nos braços fechados, tempo em comportamento de avaliação de risco e o

tempo em comportamento de head dipping) foram reduzidas em fatores através de

análise fatorial (AF), utilizando como método de extração a análise dos componentes

principais (ACP) seguido do método de rotação ortogonal “varimax”. Os fatores gerados

pela ACP foram analisados pela ANOVA de uma ou duas vias, de acordo com o

desenho experimental. Em todos os casos as comparações múltiplas de Tukey foram

utilizadas quando necessário e o nível de significância adotado foi de 5% (p<0,05).

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4. Resultados

4.1. Análise fatorial

Após a verificação da adequabilidade dos dados, através do teste de

esfericidade de Bartlett (X2 = 344,856; p<0,001) e do critério Kaiser Meyer Olkin (KMO

= 0,601), as variáveis do LCE foram reduzidas através da AF. Os valores de média e

desvio padrão da média (DPM) estão disponíveis nos apêndices II e III.

A ACP agrupou as variáveis do LCE em dois fatores: o Fator 1 agrupou as

variáveis porcentagem do tempo de permanência nos braços abertos, tempo de head

dipping e porcentagem do número de entradas nos braços abertos; e o Fator 2 agrupou

as variáveis tempo de comportamento de avaliação de risco e número de entradas nos

braços fechados (Tabela 1).

Conforme estudos anteriores do nosso grupo (Masukawa et al; não publicado), o

fator 1 foi nomeado “atividade em braços abertos” (ABA), e o fator 2 nomeado

“atividade em braços fechados” (ABF).

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Tabela 1. Análise de Componentes Principais com rotação varimax

Variáveis do LCE Componentes

Fator 1 (ABA) Fator 2 (ABF)

Porcentagem de tempo de

permanência nos braços abertos 0,898

Tempo em comportamento head

dipping 0,820

Porcentagem de entrada nos braços

abertos 0,778

Tempo em comportamento de

avaliação de risco

0,896

Número de entradas nos braços

fechados

0,882

Cargas fatoriais inferiores a 0,4 não foram incluídas. Dois fatores explicam 74,36% da variância dos

dados. As variáveis foram agrupadas nos fatores com maior carga fatorial. A porcentagem de tempo de

permanência nos braços abertos, tempo em comportamento de head dipping e porcentagem de entrada

nos braços abertos foram agrupados no fator 1 (ABA) e o tempo em comportamento de avaliação de

risco e número de entradas nos braços fechados foram agrupados no fator 2 (ABF).

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4.2. Experimento 1: Reativação da memória contextual reduz a expressão do

comportamento tipo ansioso.

No experimento 1, para validar o efeito do protocolo de reativação sobre o

comportamento tipo ansioso, os animais foram tratados com morfina durante o

protocolo de sensibilização locomotora. Após a sensibilização, os animais do grupo

controle não foram submetidos a nenhum protocolo de reativação da memória ou

reexposição contextual. O grupo CTX foi submetido ao protocolo de reexposição,

enquanto que o grupo Reat-CTX foi submetido a ambos os protocolos de reativação da

memória e reexposição contextual (Figura 6A).

Na avaliação da distância percorrida durante o protocolo de sensibilização

locomotora não houve efeito do grupo [F (2,27) =0,452, p=0,641]. Com relação ao

efeito do tempo [F (5,135) =86,615, p<0,001], a média da distância percorrida na

aquisição 1 foi superior à da atividade basal (p<0,001), que por sua vez foi inferior à da

média de distância percorrida da aquisição 5 (p<0,001). Foi evidenciado ainda

interação entre os fatores [F (10,135) =2,104, p<0,05]. No grupo controle, a média de

distância percorrida na aquisição 5 foi superior à das atividade basal e aquisição 1

(p<0,05), enquanto que nos grupos CTX e React-CTX a média de distância percorrida

na aquisição 5 foi superior à da atividade basal, aquisição 1 e aquisição 2 (p<0,001)

(Figura 6B).

No escore de ABA não houve diferença entre os grupos [F (2,27) =0,338,

p=0,716] (Figura 7A). Com relação ao escore de ABF, foi evidenciado efeito do grupo

[F (2,27) =7,984, p<0,01]. A média de escore de ABF do grupo CTX foi superior à do

grupo controle (p<0,01), enquanto que a média do escore de ABF do grupo React-CTX

foi inferior à do grupo CTX (p<0,01) (Figura 7B).

Os resultados deste experimento demonstram que a reexposição contextual

induz o aumento do escore de ABF, enquanto que a reativação da memória diminuiu o

escore de ABF dos animais em retirada crônica reexpostos ao contexto.

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Figura 6: Experimento 1. Desenho experimental e Sensibilização Locomotora.

A: Desenho experimental (n=10 animais por grupo). B: Sensibilização locomotora. Dados estão

expressos na forma de média ± E.P.M. e representam a distância percorrida em 60 minutos de teste. ***

p<0,001 em relação à respectiva atividade basal. ### p<0,001 em relação à respectiva aquisição 1.

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Figura 7: Experimento 1. Escore de ABA e Escore de ABF.

A: Escore de ABA. Dados estão expressos na forma de média ± E.P.M. e representam o escore de ABA

em 5 minutos de LCE. B: Escore de ABF. Dados estão expressos na forma de média ± E.P.M. e

representam o escore de ABF em 5 minutos de LCE. **p<0,01 em relação ao grupo controle. # ##

p<0,01 em relação ao grupo CTX.

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4.3. Experimento 2: A exposição ao estresse agudo reverte os efeitos da

reativação da memória sobre o comportamento tipo ansioso.

No experimento 2, durante o protocolo de sensibilização locomotora os animais

foram tratados com morfina ou salina. Além disso, estes animais foram submetidos ao

protocolo de NF (grupos SAL-NF e MFN-NF) ou não (grupos SAL e MFN). Finalmente,

todos os grupos foram submetidos aos protocolos de reativação de memória e

reexposição contextual (Figura 8A).

Na avaliação da distância percorrida durante o protocolo de sensibilização

locomotora foi evidenciado efeito do fator grupo [F (3,36) =78,500, p<0,001]. A média

de distância percorrida pelos animais tratados com morfina durante a sensibilização

locomotora foi superior à dos grupos tratados com salina (p<0,001). Foi evidenciado

efeito do fator tempo [F (5,180) =40,899, p<0,001]. A média de distância percorrida na

Aquisição 1 foi superior à da atividade basal (p<0,001), que por sua vez foi inferior à

média de distância percorrida na aquisição 5 (p<0,001). Foi evidenciado ainda

interação entre os fatores [F (15, 180) =9,979, p<0,001]. A média de distância

percorrida na aquisição 5 foi superior a suas respectivas distâncias percorridas nas

aquisições 1 e 2 (p<0,01) e superior a distância percorrida em todos os dias de

aquisição dos grupos tratados com salina (p<0,001) (Figura 8B).

No escore ABA não foi evidenciado efeito da sensibilização locomotora [F (1,36)

=0,624, p=0,435], da exposição ao nado forçado [F (1,36) =0,890, p=0,352] e ainda da

interação dos fatores [F (1,36) =0,011, p=0,916] (Figura 9A). Com relação ao escore de

ABF, foi evidenciado efeito da sensibilização locomotora [F (1,36) =4,272, p<0,05]. A

média de escore de ABF dos grupos tratados com morfina foi superior à dos grupos

tratados com solução salina. Foi evidenciado efeito da exposição ao nado forçado [F

(1,36) =8,045, p<0,01]. A média de escore de ABF dos grupos expostos ao nado

forçado foi superior as dos grupos não expostos. Foi evidenciado ainda interação entre

os fatores [F (1,36) =9,577, p<0,01]. A média de escore de ABF do grupo MFN-NF foi

superior à dos grupos MFN e SAL-NF (p<0,01) (Figura 9B).

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37

Estes resultados sugerem que quando a reativação é realizada logo após um

estresse agudo, existe a incorporação de um estado emocional negativo na memória

original, alterando com isso a valência emocional desta memória.

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38

Figura 8: Experimento 2. Desenho experimental e Sensibilização Locomotora.

A: Desenho experimental (n=10 animais por grupo). B: Sensibilização locomotora. Dados estão

expressos na forma de média ± E.P.M. e representam a distância percorrida em 60 minutos de teste. ***

p<0,001 em relação à respectiva atividade basal. ### p<0,001 em relação à respectiva aquisição 1. ¢¢¢

p<0,001 em relação a aquisição 5 do respectivo grupo salina.

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39

Figura 9: Experimento 2. Escore de ABA e Escore de ABF.

A: Escore de ABA. Dados estão expressos na forma de média ± E.P.M. e representam o escore de ABA

em 5 minutos de LCE. B: Escore de ABF. Dados estão expressos na forma de média ± E.P.M. e

representam o escore de ABF em 5 minutos de LCE. **p<0,01 em relação ao respectivo grupo não

submetido ao protocolo de NF. ## p<0,01 em relação ao respectivo grupo controle.

Page 55: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo - … · Figura 3: Desenho experimental do Protocolo de Sensibilização Locomotora..... 29 Figura 4 ... experimentos 1,

40

4.4. Experimento 3: A utilização de controles farmacológicos não reverteu o

efeito da reativação da memória sobre o comportamento tipo ansioso.

Para validar farmacologicamente o efeito da reativação sobre o comportamento

tipo ansioso, os animais foram tratados com morfina durante a sensibilização

locomotora e submetidos aos protocolos de reativação da memória e reexposição

contextual. Os tratamentos com Nimo, DZP e Veículo foram realizados 30 minutos

antes do protocolo de reativação, enquanto que o tratamento com CHX foi realizado

imediatamente após a reativação. O grupo controle não foi submetido a nenhum

tratamento (Figura 10A).

Na avaliação da distância percorrida durante o protocolo de sensibilização

locomotora não houve efeito do grupo [F (4,45) =2,076, p=0,100]. Com relação ao

efeito do tempo [F (5,225) =192,13, p<0,001], a média de distância percorrida na

aquisição 1 foi superior à da atividade basal (p<0,001), que por sua vez foi inferior à da

média de distância percorrida na aquisição 5 (p<0,001). Não foi evidenciada interação

entre os fatores [F (20,225) =0,803, p=0,709] (Figura 10B).

Com relação ao comportamento tipo ansioso, não foi evidenciado efeito do

tratamento sobre a média de escore ABA [F (4,45) =2,7467, p=0,059] (Figura 11A),

bem como sobre a média de escore de ABF [F (4,45) =1,485, p=0,223] (Figura 11B).

Os experimentos anteriores mostraram que a reativação da memória diminuiu a

expressão do comportamento tipo ansioso nos animais em retirada crônico, sugerindo

assim o envolvimento do processo de reconsolidação da memória contextual original.

No entanto, os controles farmacológicos utilizados em experimentos de reconsolidação

não foram capazes de reverter os efeitos comportamentais da reativação.

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41

Figura 10: Experimento 3. Desenho experimental e Sensibilização Locomotora.

A: Desenho experimental (n=10 animais por grupo). B: Sensibilização locomotora. Dados estão

expressos na forma de média ± E.P.M. e representam a distância percorrida em 60 minutos de teste. ***

p<0,001 em relação à respectiva atividade basal. ### p<0,001 em relação à respectiva aquisição 1.

Page 57: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo - … · Figura 3: Desenho experimental do Protocolo de Sensibilização Locomotora..... 29 Figura 4 ... experimentos 1,

42

Figura 11: Experimento 3. Escore de ABA e Escore de ABF.

A: Escore de ABA. Dados estão expressos na forma de média ± E.P.M. e representam o escore de ABA

em 5 minutos de LCE. B: Escore de ABF. Dados estão expressos na forma de média ± E.P.M. e

representam o escore de ABF em 5 minutos de LCE.

Page 58: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo - … · Figura 3: Desenho experimental do Protocolo de Sensibilização Locomotora..... 29 Figura 4 ... experimentos 1,

43

4.5. Experimento 4: A utilização de controles farmacológicos reverte o efeito do

estresse agudo sobre a reativação da memória.

Em razão de constatarmos no experimento 2 que o estresse agudo altera a

valência emocional da memória contextual original, buscamos realizar a mesma

validação farmacológica do experimento 3, mas neste caso, em animais submetidos ao

estresse agudo previamente a reativação da memória contextual. Para tanto, os

animais foram tratados com morfina durante a sensibilização locomotora e submetidos

aos protocolos de nado forçado, reativação da memória e reexposição contextual. Os

tratamentos com Nimo, DZP e Veículo foram realizados 30 minutos antes do protocolo

de NF, enquanto que o tratamento com CHX foi realizado imediatamente após o

protocolo de reativação de memória. O grupo controle não foi submetido a nenhum

tratamento (Figura 12A).

Na avaliação da distância percorrida durante o protocolo de sensibilização

locomotora não houve efeito do grupo [F (4,45) =0,207, p=0,933]. Em relação ao efeito

do tempo [F (5,225) =104,50, p<0,001], a média de distância percorrida na aquisição 1

foi superior à da atividade basal (p<0,001), que por sua vez foi inferior à da média de

distância percorrida na aquisição 5 (p<0,001). Não houve interação entre os fatores [F

(20,225) =0,824, p=0,684] (Figura 12B).

No escore de ABA não foi evidenciado efeito do tratamento [F (4,45) =1,497,

p=0,220] (Figura 13A). Com relação ao escore de ABF houve efeito do tratamento [F

(4,45) =14,177, p<0,001], onde a média de escore de ABF dos grupos Nimo, DZP e

CHX foram inferiores à dos grupos Controle e Veículo (p<0,01). (Figura 13B).

Os resultados deste experimento sugerem que o tratamento com drogas que

afetam o processo de reconsolidação impede a incorporação do estado emocional

aversivo induzido pelo estresse agudo à memória original. Portanto é possível que o

tratamento farmacológico neste protocolo foi capaz de inibir a atualização da valência

emocional da memória contextual original.

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44

Figura 12: Experimento 4. Desenho experimental e Sensibilização Locomotora.

A: Desenho experimental (n=10 animais por grupo). B: Sensibilização locomotora. Dados estão

expressos na forma de média ± E.P.M. e representam a distância percorrida em 60 minutos de teste. ***

p<0,001 em relação à respectiva atividade basal. ### p<0,001 em relação à respectiva aquisição 1.

Page 60: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo - … · Figura 3: Desenho experimental do Protocolo de Sensibilização Locomotora..... 29 Figura 4 ... experimentos 1,

45

Figura 13: Experimento 4. Escore de ABA e Escore de ABF.

A: Escore de ABA. Dados estão expressos na forma de média ± E.P.M. e representam o escore de ABA

em 5 minutos de LCE. B: Escore de ABF. Dados estão expressos na forma de média ± E.P.M. e

representam o escore de ABF em 5 minutos de LCE. **p<0,01 em relação ao grupo controle. ## p<0,01

em relação ao grupo veículo.

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46

4.6. Experimento 5: O tratamento com Am404 inibe a atualização da memória para

um estado emocional mais aversivo.

Para avaliar o efeito do tratamento com o Am404 sobre a atualização da

memória os animais foram tratados com morfina durante a sensibilização locomotora,

submetidos aos protocolos de NF, reativação da memória e reexposição contextual. O

tratamento com Am404 e seu veículo foi realizado imediatamente após o protocolo de

reativação da memória (grupos Am404 1 mg/kg, Am404 5 mg/kg e Am404 10 mg/kg).

O grupo controle não foi submetido a nenhum tratamento (figura 14A).

Na avaliação da distância percorrida durante o protocolo de sensibilização

locomotora não houve efeito do grupo [F (4,45) =2,136, p=0,091]. Com relação ao

efeito do tempo [F (5,225) =252,39, p<0,001], a média de distância percorrida na

aquisição 1 foi superior à da atividade basal (p<0,001), que por sua vez foi inferior à da

média de distância percorrida na aquisição 5 (p<0,001). Não houve interação entre os

fatores [F (20,225) =1,325, p=0,165] (Figura 14B).

No escore de ABA não foi evidenciado efeito do tratamento [F (4,45) =1,187,

p=0,330] (Figura 15A). Com relação ao escore de ABF houve efeito do tratamento com

Am404 [F (4,45) =4,4565, p<0,01]. A média de escore de ABF do grupo Am404

10mg/kg foi inferior à dos grupos Controle e Veículo (p<0,05) (Figura 15B).

Estes resultados demostram que o Am404 na dose de 10 mg/kg, mas não nas

doses de 1 e 5 mg/kg, logo após a sessão de reativação, foi capaz de inibir a

incorporação do estado emocional mais aversivo na valência emocional da memória

contextual original. Portanto, é possível que o Am404, de forma dose dependente, pode

inibir a atualização da memória contexto associada ao efeito da morfina.

Page 62: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo - … · Figura 3: Desenho experimental do Protocolo de Sensibilização Locomotora..... 29 Figura 4 ... experimentos 1,

47

Figura 14: Experimento 5. Desenho experimental e Sensibilização Locomotora.

A: Desenho experimental (n=10 animais por grupo). B: Sensibilização locomotora. Dados estão

expressos na forma de média ± E.P.M. e representam a distância percorrida em 60 minutos de teste. ***

p<0,001 em relação à respectiva atividade basal. ### p<0,001 em relação à respectiva aquisição 1.

Page 63: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo - … · Figura 3: Desenho experimental do Protocolo de Sensibilização Locomotora..... 29 Figura 4 ... experimentos 1,

48

Figura 15: Experimento 5. Escore de ABA e Escore de ABF.

A: Escore de ABA. Dados estão expressos na forma de média ± E.P.M. e representam o escore de ABA

em 5 minutos de LCE. B: Escore de ABF. Dados estão expressos na forma de média ± E.P.M. e

representam o escore de ABF em 5 minutos de LCE. *p<0,05 em relação ao grupo controle. # p<0,05 em

relação ao grupo veículo.

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49

4.7. Experimento 6: O tratamento com URB597 inibe a atualização da memória

para um estado emocional mais aversivo.

Para avaliar o efeito do tratamento com o URB597 sobre a atualização da

memória os animais foram tratados com morfina durante a sensibilização locomotora,

submetidos aos protocolos de NF, reativação da memória e reexposição contextual. O

tratamento com URB597 e seu veículo foi realizado imediatamente após o protocolo de

reativação da memória (grupos URB597 0,1 mg/kg, URB597 0,5 mg/kg e URB597 1

mg/kg). O grupo controle não foi submetido a nenhum tratamento (Figura 16A).

Na avaliação da distância percorrida durante o protocolo de sensibilização

locomotora não houve efeito do grupo [F (4,45) =1,996, p=0,111]. Com relação ao

efeito do tempo [F (5,225) =283,95, p<0,001], a média de distância percorrida na

aquisição 1 foi superior à da atividade basal (p<0,001), que por sua vez foi inferior à da

média de distância percorrida na aquisição 5 (p<0,001). Não houve interação entre os

fatores [F (20,225) =1,5507, p=0,067] (Figura 16B).

No escore de ABA não foi evidenciado efeito do tratamento [F (4,45) =1,532,

p=0,209] (Figura 17A). Com relação ao escore de ABF houve efeito do tratamento com

URB 597 [F (4,45) =3,926, p<0,01]. A média de escore de ABF do grupo URB597

1mg/kg foi inferior à dos grupos Controle e Veículo (p<0,05) (Figura 17B).

Estes resultados demonstram que o tratamento com URB597 na dose de 1

mg/kg, mas não nas doses de 0,1 e 0,5 mg/kg, logo após a sessão de reativação, foi

capaz de inibir a incorporação do estado emocional mais aversivo na valência

emocional da memória contextual original. Portanto, é possível que o URB597, de

forma dose dependente, pode inibir a atualização da memória contexto associada ao

efeito da morfina.

Page 65: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo - … · Figura 3: Desenho experimental do Protocolo de Sensibilização Locomotora..... 29 Figura 4 ... experimentos 1,

50

Figura 16: Experimento 6. Desenho experimental e Sensibilização Locomotora.

A: Desenho experimental (n=10 animais por grupo). B: Sensibilização locomotora. Dados estão

expressos na forma de média ± E.P.M. e representam a distância percorrida em 60 minutos de teste. ***

p<0,001 em relação à respectiva atividade basal. ### p<0,001 em relação à respectiva aquisição 1.

Page 66: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo - … · Figura 3: Desenho experimental do Protocolo de Sensibilização Locomotora..... 29 Figura 4 ... experimentos 1,

51

Figura 17: Experimento 6. Escore de ABA e Escore de ABF.

A: Escore de ABA. Dados estão expressos na forma de média ± E.P.M. e representam o escore de ABA

em 5 minutos de LCE. B: Escore de ABF. Dados estão expressos na forma de média ± E.P.M. e

representam o escore de ABF em 5 minutos de LCE. *p<0,05 em relação ao grupo controle. # p<0,05 em

relação ao grupo veículo.

Page 67: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo - … · Figura 3: Desenho experimental do Protocolo de Sensibilização Locomotora..... 29 Figura 4 ... experimentos 1,

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4.8. Experimento 7: O tratamento com CBD inibe a atualização da memória para

um estado emocional mais aversivo

Para avaliar o efeito do tratamento com o CBD sobre a atualização da memória

os animais foram tratados com morfina durante a sensibilização locomotora,

submetidos aos protocolos de NF, reativação da memória e reexposição contextual. O

tratamento com CBD e seu veículo foi realizado imediatamente após o protocolo de

reativação da memória (grupos CBD 1 mg/kg, CBD 5 mg/kg e CBD 10 mg/kg). O grupo

controle não foi submetido a nenhum tratamento (figura 18A).

Na avaliação da distância percorrida durante o protocolo de sensibilização

locomotora não houve efeito do grupo [F (4,45) =2,008, p=0,109]. Com relação ao

efeito do tempo [F (5,225) =280,63, p=0,001]. A média de distância percorrida na

aquisição 1 foi superior à da atividade basal (p<0,001), que por sua vez foi inferior à da

média de distância percorrida na aquisição 5 (p<0,001). Não houve interação entre os

fatores [F (20,225) =1,3008, p=0,180] (Figura 18B).

No escore de ABA não foi evidenciado efeito do tratamento [F (4,45) =1,370,

p=0,259] (Figura 19A). Com relação ao escore de ABF houve efeito do tratamento com

CBD [F (4,45) =6,585, p=0,001]. As médias de escore de ABF do grupo CBD 5 mg/kg e

CBD 10mg/kg foram inferiores à dos grupos Controle e Veículo (p<0,05) (Figura 19B).

Estes resultados demonstram que o tratamento com CBD nas doses de 5 e 10

mg/kg, mas não na dose de 1 mg/kg, logo após a sessão de reativação, foi capaz de

inibir a incorporação do estado emocional mais aversivo na valência emocional da

memória contextual original. Portanto, é possível que o CBD, de forma dose

dependente, pode inibir a atualização da memória contexto associada ao efeito da

morfina.

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Figura 18: Experimento 7. Desenho experimental e Sensibilização Locomotora.

A: Desenho experimental (n=10 animais por grupo). B: Sensibilização locomotora. Dados estão

expressos na forma de média ± E.P.M. e representam a distância percorrida em 60 minutos de teste. ***

p<0,001 em relação à respectiva atividade basal. ### p<0,001 em relação à respectiva aquisição 1.

Page 69: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo - … · Figura 3: Desenho experimental do Protocolo de Sensibilização Locomotora..... 29 Figura 4 ... experimentos 1,

54

Figura 19: Experimento 7. Escore de ABA e Escore de ABF.

A: Escore de ABA. Dados estão expressos na forma de média ± E.P.M. e representam o escore de ABA

em 5 minutos de LCE. B: Escore de ABF. Dados estão expressos na forma de média ± E.P.M. e

representam o escore de ABF em 5 minutos de LCE. * p<0,05 e **p<0,01 em relação ao grupo controle.

# p<0,05 e ## p<0,01 em relação ao grupo veículo.

Page 70: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo - … · Figura 3: Desenho experimental do Protocolo de Sensibilização Locomotora..... 29 Figura 4 ... experimentos 1,

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Tabela 2: Características do desenho experimental e principais resultados dos experimentos 1, 2, 3 e 4.

Experimento Grupo N° Animais Sensibilização Locomotora

Nado Forçado

Reativação da Memória

Reexposição Contextual

Nível de Ansiedade

1

Controle 10 Morfina Não Não Não Normal

CTX 10 Morfina Não Não Sim Elevado

React- CTX 10 Morfina Não Sim Sim Normal

2

SAL 10 Salina Não Sim Sim Normal

MFN 10 Morfina Não Sim Sim Normal

SAL- NF 10 Salina Sim Sim Sim Normal

MNF- NF 10 Morfina Sim Sim Sim Elevado

3

Controle 10 Morfina Não Sim Sim Normal

Veículo 10 Morfina Não Sim Sim Normal

Nimo 10 Morfina Não Sim Sim Normal

DZP 10 Morfina Não Sim Sim Normal

CHX 10 Morfina Não Sim Sim Normal

4

Controle 10 Morfina Sim Sim Sim Elevado

Veículo 10 Morfina Sim Sim Sim Elevado

Nimo 10 Morfina Sim Sim Sim Normal

DZP 10 Morfina Sim Sim Sim Normal

CHX 10 Morfina Sim Sim Sim Normal

Page 71: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo - … · Figura 3: Desenho experimental do Protocolo de Sensibilização Locomotora..... 29 Figura 4 ... experimentos 1,

56

Tabela 3: Características do desenho experimental e principais resultados dos experimentos 5, 6 e 7.

Experimento Grupo N°

Animais Sensibilização Locomotora

Nado Forçado

Reativação da Memória

Reexposição Contextual

Nível de Ansiedade

5

Controle 10 Morfina Sim Sim Sim Elevado

Veículo 10 Morfina Sim Sim Sim Elevado

Am404 1mg/kg 10 Morfina Sim Sim Sim Elevado

Am404 5mg/kg 10 Morfina Sim Sim Sim Elevado

Am404 10mg/kg 10 Morfina Sim Sim Sim Normal

6

Controle 10 Morfina Sim Sim Sim Elevado

Veículo 10 Morfina Sim Sim Sim Elevado

URB597 0,1 mg/kg 10 Morfina Sim Sim Sim Elevado

URB597 0,5 mg/kg 10 Morfina Sim Sim Sim Elevado

URB 1 mg/kg 10 Morfina Sim Sim Sim Normal

7

Controle 10 Morfina Sim Sim Sim Elevado

Veículo 10 Morfina Sim Sim Sim Elevado

CBD 1mg/kg 10 Morfina Sim Sim Sim Elevado

CBD 5 mg/kg 10 Morfina Sim Sim Sim Normal

CBD 10 mg/kg 10 Morfina Sim Sim Sim Normal

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57

5. Discussão

Neste estudo foi avaliada, no período de retirada crônica da droga, a influência

do estado emocional no momento da reativação, sobre a atualização da memória

contextual associada ao efeito da morfina. Além disso, investigou-se o efeito de drogas

que potencializam o SeCB sobre este processo.

Conforme demonstrado em estudos anteriores do nosso grupo de pesquisa, os

animais em retirada crônica da droga não expressam comportamento tipo ansioso no

LCE (Masukawa et al, não publicado). No entanto, a reexposição ao contexto

associado ao efeito da morfina foi capaz de induzir comportamento tipo ansioso nestes

animais, ou seja, um comportamento ansioso condicionado.

O efeito da reativação sobre esta ansiedade condicionada foi interessante. O

protocolo de reativação por si só foi capaz de reverter a ansiedade condicionada. Por

outro lado, a exposição a um estresse agudo induzido pelo NF imediatamente antes da

reativação fez com que os animais expressassem o comportamento ansioso

condicionado. Se tomarmos como premissa que os efeitos da reativação aqui

encontrados sejam decorrentes do processo de reconsolidação, podemos sugerir que a

reconsolidação esteja atualizando a valência emocional aos componentes contextuais

da memória original.

A fim de validar nossa hipótese experimental, incluímos controles

farmacológicos utilizados em experimentos de reconsolidação. Curiosamente, nenhum

dos controles farmacológicos (Nimo, DZP e CHX) foram capazes de reverter o efeito da

reexposição por si só. Ou seja, o tratamento não foi capaz de bloquear o efeito inibitório

da reexposição sobre a ansiedade condicionada. Por outro lado, ao se adicionar o

estresse agudo imediatamente antes da reativação, todos os controles farmacológicos

foram capazes de inibir a ansiedade condicionada. Estes achados sugerem que, no

nosso protocolo experimental, os controles farmacológicos são eficazes somente nos

casos onde a reativação ocorreu na vigência de um estado emocional negativo.

O sistema endocanabinóide está relacionado tanto com ansiedade quanto com

reconsolidação de memória (Parsons e Hurd, 2015; Stern et al, 2017). Sendo assim, os

resultados encontrados nos experimentos utilizando Am404, URB 597 e CBD vão de

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58

acordo com os achados prévios da literatura. Houve um efeito dose dependente destes

compostos no protocolo de estresse agudo e reativação sobre a ansiedade

condicionada.

Em todos os experimentos os animais tratados com morfina apresentaram efeito

estimulante locomotor agudo e um aumento ainda mais expressivo da atividade

locomotora ao longo do tratamento, confirmando com isso o desenvolvimento da

sensibilização locomotora. O modelo da sensibilização locomotora parte da premissa

que a sensibilização ao efeito reforçador das drogas de abuso é diretamente

proporcional à sensibilização do efeito locomotor gerado pela sua administração (Wise

e Bozarth, 1987; Vanderschuren e Kalivas, 2000). Desta maneira, o modelo da

sensibilização locomotora está intimamente relacionado com a sensibilização da

saliência do incentivo e, por consequência, com o reforço positivo (Robinson e

Berridge, 2008).

A exposição repetida a drogas de abuso durante o período de aquisição da

sensibilização induz plasticidade no SL, promovendo além da sensibilização da

saliência ao incentivo, às demais alterações nos padrões emocionais e motivacionais

relacionados à dependência (Koob e Volkow, 2010; Berridge e Robinson, 2016; Wise e

Koob, 2014). Estas características tornam este modelo um método eficiente de avaliar

a neuroplasticidade induzida por drogas de abuso (Babbini e Davis, 1972; Wise e

Bozarth, 1987; Kalivas et al, 1998, Berridge e Robinson, 2016). Por conta disso,

acreditamos que tal modelo pudesse gerar um estado emocional negativo ao término

do desenvolvimento da sensibilização. De fato, conforme discutido a seguir, foi possível

constatar comportamento do tipo ansioso no período de abstinência após a aquisição

da sensibilização locomotora.

Os fatores contextuais associados ao efeito da substância exercem uma

importante modulação sobre o fenômeno da sensibilização locomotora, já que a

exposição ao contexto logo após a administração da substância aperfeiçoa a

sensibilização aos efeitos locomotores. Esta locomoção condicionada está mais

relacionada a um estado motivacional de reforço positivo (Anagnostaras e Robinson,

1996; Marin et al, 2009). No presente estudo buscamos investigar o componente

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contextual focando no estado motivacional associado ao reforço negativo, bem como a

influência da reconsolidação/atualização nesta memória contextual.

O estado motivacional negativo induzido pela retirada da droga manifesta- se

através de quadros de irritabilidade, disforia e principalmente ansiedade (koob e

Volkow, 2010). O paradigma clássico para avaliação de comportamentos tipo-ansioso

em roedores é o LCE. Os parâmetros clássicos avaliados neste modelo incluem:

porcentagem de entrada e do tempo de permanência nos braços abertos, número de

entradas nos braços fechados, tempo em avaliação de risco e em head dipping. Estas

variáveis foram reduzidas através da AF, gerando dois fatores denominados ABA e

ABF. Os fatores extraídos reúnem pontos comuns destas variáveis comportamentais,

permitindo assim uma melhor representação do estado de ansiedade dos animais, se

comparado à análise das variáveis isoladas. Diante destas vantagens, a análise fatorial

é comumente utilizada em estudos de etologia (Manly et al, 1998; Ramos e Mormède,

1998).

Em um estudo prévio do nosso grupo foi possível identificar diferentes

estratégias comportamentais de enfrentamento no LCE adotadas pelos animais de

acordo com o período de retirada da droga. Os animais em retirada aguda

expressaram comportamento ansioso através da redução do escore de ABA. No

entanto, tal comportamento se dissipou ao longo do período de abstinência. Por outro

lado, os animais em retirada crônica, ao serem submetidos ao contexto original da

sensibilização, apresentaram um estado de ansiedade (ansiedade condicionada)

caracterizado pelo aumento do escore de ABF (Masukawa et al., não publicado).

Em modelos animais de dependência, o período de retirada da droga é

acompanhado pela ativação da amígdala (Koob e Volkow, 2010), enquanto que a

participação de estruturas adicionais vai depender da duração do período de retirada.

Períodos de retirada aguda são acompanhados pela ativação da SCP e do eixo HPA,

que são estruturas relacionadas com respostas incondicionadas de medo. Por outro

lado, em longos períodos de retirada ocorre uma importante ativação de CPF, HPC e

estriado dorsal, estruturas que estão associadas com respostas condicionadas de

medo (Cabral et al, 2006; de Rossi et al, 2009; Madsen et al, 2012). Sendo assim, é

possível que ao longo da abstinência exista uma progressão do componente

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60

incondicionado para o componente condicionado sobre a expressão de

comportamentos emocionais negativos. Isto explica justamente o que foi constatado no

estudo prévio do nosso grupo, no qual o comportamento ansioso tipo ABA se dissipou

ao longo da abstinência e o comportamento ansioso condicionado tipo ABF emergiu

nos animais em retirada crônica da droga (Masukawa et al., não publicado). O

decaimento do comportamento ansioso mensurado por parâmetros de braços abertos

no LCE também foi constatado com o decorrer da abstinência ao álcool (Junquiera-

Ayres, 2017). Portanto, é totalmente esperada a falta de diferença entre os grupos

experimentais do presente estudo no que se refere ao ABA, já que todos os

experimentos forma realizados com animais em retirada crônica da droga.

Considerando a importância do condicionamento contextual sobre a expressão

da ansiedade nos animais em retirada crônica, o experimento 1 investigou a influência

da reativação da memória sobre a ansiedade condicionada. Constatamos que o

protocolo de reativação inibiu o aumento do escore ABF induzido pela reexposição ao

contexto imediatamente antes do LCE. Evidências da literatura sugerem que é possível

alterar a valência emocional da memória quando a reativação ocorre sob a presença de

estímulos com valência emocional diferente daquela inicialmente atribuída à memória

original. Este novo estado emocional pode ser incorporado, tornado a memória mais ou

menos aversiva (Olshavisk et al, 2013a; Olshavisk et al, 2013b; Sierra et al, 2013;

Haubrich et al, 2015). Sendo assim, acreditamos que o estado emocional menos

ansioso dos animais no momento da reativação foi incorporado a memória contextual

original, e, por conta disso, os animais não apresentaram comportamento ansioso

condicionado. Ou seja, a reativação pode atuar na atualização da valência emocional

da memória contextual original, atualizando-a para um estado emocional neutro.

A fim de confirmar nossa hipótese experimental de atualização da valência

emocional, no experimento 2 os animais foram submetidos ao estresse agudo do NF

imediatamente antes da reativação. Neste caso vimos que os animais foram capazes

de expressar o comportamento ansioso condicionado tipo ABF. Tal efeito não se deu

ao efeito estressor por si só do NF, já que animais que receberam cronicamente

solução salina (e, portanto, não tiveram a aquisição da memória contextual associada

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ao efeito da morfina) não demonstraram nenhum tipo de comportamento ansioso

condicionado.

Embora o NF seja comumente utilizado para avaliar a eficácia de estratégias

antidepressivas, é constatada ativação do eixo HPA e liberação de corticosterona em

roedores submetidos ao procedimento. Portanto o NF é considerado um modelo de

estresse agudo capaz de gerar estados emocionais negativos em roedores

(Bogdanova et al, 2013; De Francesco et al, 2015; Kinden e Zhang, 2015; de Kloet e

Molendijk, 2016).

O estresse é um importante fator de risco para o desenvolvimento de transtornos

psiquiátricos, dentre eles a dependência. Os estressores externos podem facilitar a

experimentação inicial, o uso crônico e as recaídas. Este processo de facilitação do

desenvolvimento de comportamentos relacionados à dependência está relacionado

com a modulação mútua do SL sobre o estresse e o uso de drogas (Sinha, 2008; Koob,

2015; Lemieux e al'Absi, 2016).

Evidências da literatura demonstram que o estresse é um fator determinante na

vulnerabilidade individual e motivação para o uso de drogas. Diferentes modelos

animais de estresse aumentam a expressão de comportamentos relacionados ao uso

de drogas, tais como sensibilização locomotora, memória de preferência condicionada

ao local e autoadministração (Kawakami et al, 2007; de Macedo et al, 2016; García-

Gutiérrez, 2016; Stelly, 2016).

Existem várias explicações neurobiológicas demonstrando a relação entre

estresse e dependência. O estresse, assim como as drogas de abuso, aumenta a

liberação de DA no NAc e CPF através da ativação de receptores glicocorticoides na

ATV (Sinha, 2008; Lemieux e al'Absi, 2016). A exposição aguda ao estresse ativa

projeções glutamatérgicas que partem do CPF para a ATV, contribuindo assim para a

supervalorização de pistas associadas e o desenvolvimento da sensibilização da

saliência do incentivo (Niehaus et al, 2010; Graziane et al, 2013; Stelly et al, 2016).

Além disso, a exposição crônica ao estresse aumenta a sinalização mediada pelo CRF,

reduzindo a liberação de DA no NAc e CPF e ativando o eixo HPA e amígdala durante

os períodos de retirada da droga (Sinha, 2008; Miczek et al, 2011; Shimamoto et al,

2011). Não obstante, o estresse induz supra regulação de receptores para CRF na

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ATV, fortalecendo a valência emocional atribuída ao estado motivacional de reforço

negativo (Miczek et al, 2011). Portanto, a transição do reforço positivo para o reforço

negativo ocorre de maneira mais rápida e intensa mediante condições de estresse.

A influência do estresse sobre o SL torna-o um importante modulador do estado

motivacional associado ao uso da droga. A vivência de situações estressantes, mesmo

sem estímulos relacionados ao uso da substância, é capaz de gerar comportamentos

de busca e consumo da droga, induzindo assim as recaídas (Sinha, 2001; Goeders,

2003, Koob, 2015). Neste caso, as recaídas decorrem do estado emocional negativo

mediado pela ativação do eixo HPA e consequente liberação de CRF, bem como a

ativação da amígdala (Koob e LeMoal, 2008; Koob e Volkow, 2010).

O estresse é capaz de modular ativamente as memórias emocionais, tanto por

mecanismos de extinção quanto reconsolidação. Estudos demonstram que o NF

reestabelece a memória de preferência condicionada a cocaína e a morfina que foram

submetidas ao processo de extinção (Carey et al, 2007; Li et al, 2013). Por se tratar da

temática deste estudo, o efeito do estresse sobre a reconsolidação será descrito com

mais detalhes nos parágrafos a seguir.

Embora o processo de reconsolidação envolva a ativação do CPF e do HPC, é a

amígdala (mais precisamente seu núcleo basolateral - ABL) a estrutura chave na

regulação dos efeitos do estresse sobre a reconsolidação (Akirav e Maroun, 2013).

Tanto em modelos de memórias aversivas (Cai et al, 2006) quanto em modelos de

memórias não aversivas (Schwabe e Wolf, 2010) a ativação de receptores

glicocorticoides logo após a sessão de reativação prejudica a reconsolidação da

memória contextual. Em modelos de dependência de drogas o estresse após a

reativação prejudicou a reconsolidação da memória de preferência condicionada ao

local induzida pela morfina e metanfetamina (Wang et al, 2008, Zhao et al, 2010). Por

outro lado, em estudos clínicos, o estresse logo após a reativação melhorou a memória

declarativa na tarefa de reconhecimento de palavras (Bos et al, 2014) e a memória de

medo condicionado (Drexler et al, 2015).

Os resultados discrepantes em relação ao efeito do estresse sobre a

reconsolidação de memórias podem ser explicados, ao menos em partes, pelas

diferenças metodológicas dos estudos. Aparentemente o efeito do estresse depende do

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tipo, da força e da idade da memória, bem como das condições da reativação e tipo de

intervenção (estresse físico, farmacológico ou comportamental), além de fatores

individuais (Sandi e Pielo- Nova, 2007; Wang et al, 2008; Akirav e Maroun, 2013;

Drexler e Wolf, 2016). Vale ressaltar que tal discrepância também pode ser observada

em estudos de consolidação, nos quais os agonistas glicocorticóides apresentam um

papel de modulação dual (Akirav e Maroun, 2013; Drexler e Wolf, 2016).

A maior parte dos estudos que avaliam o efeito do estresse sobre a

reconsolidação de memórias induz o estresse imediatamente após a sessão de

reativação. Como em nosso estudo objetivamos avaliar o efeito do estado emocional

negativo sobre a atualização da memória contextual, o estresse foi induzido

imediatamente antes da reativação. Esta estratégia tem sido pouco explorada na

literatura. Contudo, um estudo demonstrou que a reativação da memória em condições

de estresse por restrição hídrica aumenta o comportamento de freezing dos ratos na

sessão teste do medo condicionado ao contexto (Sierra et al, 2013).

Este resultado evidencia que o estado emocional durante a reativação de fato

pode ser incorporado à memória original, acarretando assim em alterações da resposta

comportamental durante o teste.

Com o intuito de investigar a influência do estado emocional durante a

reativação sobre a atualização da memória, nos experimentos 3 e 4 os animais foram

tratados com Nimo, DZP, CHX e Veículo. No experimento 3 o objetivo foi de avaliar o

efeito do tratamento quando a reativação se deu em um estado emocional neutro,

enquanto que no experimento 4, a reativação se deu em um estado emocional

negativo.

No experimento 3, não houve diferença entre os grupos experimental no escore

de ABF. Sendo assim, nenhum dos tratamentos utilizados inibiu a atualização da

memória contextual para um estado motivacional menos aversivo. Existem várias

situações que podem explicar a resistência ao tratamento farmacológico constatada no

experimento 3. Está bem definida na literatura a existência de condições limitantes para

a ativação do processo de reconsolidação, entre elas a idade e a força da memória,

bem como o tempo de reativação (Nader, 2015; Haubrich e Nader, 2016).

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64

Em relação à idade da memória, grandes intervalos entre a aquisição e a

reativação conferem uma maior estabilidade à memória. Portanto, memórias recentes

são mais susceptíveis à manipulação farmacológica do que memórias remotas (Milekic

e Alberini 2002; Eisenberg e Dudai 2004; Suzuki et al, 2004). Em nosso modelo a

sessão de reativação foi realizada 27 dias após o término da sensibilização locomotora.

Sendo assim, no momento da reativação a memória contextual se enquadraria como

memória remota, o que dificultaria a sua labilização.

Quanto à força da memória, as memórias bem consolidadas e emocionalmente

relevantes são menos susceptíveis a modulação farmacológica, mesmo sendo

labilizadas (Eisenberg et al, 2003; Morris et al, 2006; Lee, 2010). Como a reexposição

ao contexto induziu estado emocional negativo nos experimentos anteriores (mesmo

após 28 dias de retirada da morfina), a memória contextual pode ser considerada

relevante e forte o suficiente para não ser desestabilizada pelos controles

farmacológicos.

No que se refere ao tempo da sessão de reativação, um período muito breve

pode não ser suficiente para labilizar à memória, afetando com isso a reconsolidação.

Por outro lado, um período muito longo de reativação induz ao aprendizado de extinção

(Eisenberg et al, 2003; Pedreira e Maldonado, 2003; Suzuki et al, 2004; Bustos et al,

2009). Sendo assim, a redução dos escores de ABF mediada pela reativação poderia

ter sido causada pelo aprendizado de extinção. No entanto o intervalo de tempo

utilizado (3 minutos) é curto se comparado ao tempo da aquisição da sensibilização

locomotora (1 hora). Logo, é pouco provável que o efeito encontrado tenha sido por

conta de extinção da memória. Além disso, caso fosse, teríamos verificado o efeito do

Nimo, uma vez que o influxo de cálcio também é necessário para consolidação de uma

nova memória (Redondo et al, 2010).

No experimento 4, todos os grupos tratados apresentaram uma redução do

escore de ABF. Este resultado nos mostra que a atualização da valência emocional

para um estado motivacional negativo é suscetível à manipulação farmacológica. É

importante destacar que os animais não submetidos à sessão de reativação

apresentam ansiedade condicionada (experimento 1). Portanto, no experimento 4, se

de fato os tratamentos farmacológicos inibem o efeito da reativação, seria esperado a

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expressão da ansiedade condicionada, o que de fato não aconteceu. No caso do DZP

e CHX, a inibição da reconsolidação poderia prejudicar a evocação da memória no

momento da reexposição (Nader et al, 2000; Robinson et al, 2011), reduzindo assim a

expressão do comportamento tipo ansioso, o que justifica a ausência de ansiedade

condicionada.

Com relação ao DZP, devemos destacar ainda, que o seu efeito sobre a

reconsolidação da memória, pode ter decorrido de sua ação ansiolítica, via

potencialização da neurotransmissão gabaérgica, em estruturas do SL responsáveis

por modular as respostas ao estresse, em especial a amígdala (Tan et al, 2011;

Jennings et al, 2013). Desta forma, o DZP inibiu o efeito do estresse agudo sobre a

atualização da valência emocional, uma vez que os animais deste grupo, no momento

da reativação, não apresentaram alterações no seu estado motivacional, permitindo

desta forma a atualização da memória para um estado emocional menos aversivo.

Em relação ao tratamento com Nimo, a inibição da labilização da memória

prejudicaria a incorporação de novos elementos à memória original. Logo, o Nimo

deveria inibir a atualização da valência emocional tanto para o estado mais aversivo

quanto para o menos aversivo, promovendo com isso o aumento da ansiedade

condicionada. Contudo o Nimo inibiu a atualização da memória para um estado

emocional mais aversivo, mas não inibiu a atualização para um estado emocional

menos aversivo.

Sendo assim, os resultados dos experimentos 3 e 4 sugerem uma sobreposição

de processos de atualização que utilizam diferentes mecanismos moleculares e

substratos neuroanatômicos. A depender do estado emocional que o animal se

encontra durante a reativação da memória, ocorre o favorecimento de um destes

processos, podendo levar a diferentes desfechos comportamentais no LCE após a

reexposição. Portanto, acreditamos que a atualização da valência emocional da

memória na retirada crônica da morfina pode ser explicada, ao menos em partes, pela

dinâmica da consolidação de sistemas.

A premissa da teoria da consolidação de sistemas é a reorganização estrutural

das memórias em decorrência da sua idade. O processo de consolidação de memórias

acontece inicialmente a nível celular, com alterações da morfologia sináptica por meio

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da potenciação de longo prazo (McGaugh, 2000). Uma vez que a memória é

consolidada, o HPC é responsável pela integração de todas as informações

armazenadas em diferentes áreas corticais, que representam cada um dos

componentes da memória. Portanto, a evocação da memória de longa duração é quase

que inteiramente dependente do HPC. Todavia, ao longo do tempo, onde a memória se

torna remota, as conexões cortico-corticais que também realizam a integração dos

diferentes componentes da memória são fortalecidas. Consequentemente a memória

remota é integrada ao CPF, que no momento da reativação inibe o HPC. Logo na

consolidação de sistemas a reativação da memória passa de um estado HPC

dependente para um estado CPF dependente (Frankland e Bontempi, 2006, van

Kesteren et al, 2012; Squire et al, 2015).

A reativação da memória mediada pelo HPC é contexto específica, enquanto

que a mediada pelo PFC não é, podendo inclusive acarretar na generalização da

memória. Apesar das diferenças qualitativas entre a reativação mediada pelo PFC e

pelo HPC, a reativação de uma memória remota é dinâmica, ocorrendo uma

“competição” entre o HPC e CPF pela integração dos diferentes componentes da

memória (Wiltgen e Tanaka, 2013). Quando as conexões corticais são fortes o

suficiente para integrar os componentes da memória, o CPF inibe a ativação do HPC,

impedindo assim que a memória seja reativada por esta estrutura (Frankland e

Bontempi, 2006, van Kesteren et al., 2012; Squire et al, 2015). Contudo, algumas

evidências sugerem que o HPC, em determinadas condições comportamentais e

dependendo do tipo de memória, pode desempenhar a função de reativação e

consequentemente reconsolidação das memórias remotas (Teixeira et al, 2006;

Goshen et al., 2011; Einarsson et al, 2015). Este seria o caso de reativação na

influência do estresse.

O estresse pode atuar como um fator ativador do HPC, fazendo com que a

reativação desta memória seja HPC dependente. Interessantemente, em situações de

estresse, a ativação da amígdala modula os mecanismos cognitivos através de suas

projeções glutamatérgicas e noradrenérgicas para o HPC (Roozendal et al,2009; Popoli

et al, 2012). Dois estudos recentes mostraram que o aumento da ativação

noradrenérgica na ABL e no HPC, logo após a aquisição de memórias aversivas e não

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aversivas mantem a memória no estado HPC dependente por mais tempo (Mello-

Carpes et al., 2016; Atucha et al, 2017). No nosso estudo, é possível que a inclusão do

NF tenha recrutado a conexão ABL-HPC, retornando à memória para um estado HPC

dependente, aumentando assim a ansiedade condicionada, conforme observado no

experimento 2.

Considerando o modelo da consolidação de sistemas, acreditamos que no

experimento 3 a reativação da memória contextual se deu sob um estado emocional

neutro, favorecendo influência do CPF. Neste caso, devido sua característica

inespecífica, a reativação facilitaria a atualização da memória contextual para um

estado motivacional menos aversivo e redução da ansiedade condicionada. Além

disso, as condições limitantes para o recrutamento da reconsolidação (idade e força da

memória) impediram que o efeito da reativação CPF dependente fosse susceptível à

manipulação farmacológica.

Por outro lado, no experimento 4, é possível que o estresse induzido pelo NF

tenha favorecido a reativação mediada pelo HPC, que por sua vez atualizou a memória

para um estado motivacional mais aversivo. Além disso, a reativação mediada pelo

HPC se mostrou susceptível aos efeitos dos controles farmacológicos, justificando

assim a redução da ansiedade condicionada observada. Considerando a natureza

competitiva entre HPC e CPF na reativação, ao inibir os mecanismos dependentes de

HPC, houve o predomínio da atualização mediada pelo CPF, ocasionando com isso a

atualização da memória para um estado motivacional menos aversivo. Esta hipótese

explica os resultados do experimento 4, nos quais os controles farmacológicos inibiram

apenas a atualização da valência emocional da memória contextual para um estado

emocional mais aversivo, mas não inibiram a atualização para um estado emocional

menos aversivo, mesmo em condições de estresse.

Uma vez caracterizada a importância do estado motivacional negativo induzido

pelo NF na atualização da memória contextual associada aos efeitos da morfina,

decidimos avaliar o efeito da manipulação do SeCB sobre este fenômeno. Nos

experimentos 5, 6 e 7 os animais foram tratados imediatamente após a reativação da

memória com Am404, URB597 e CBD, respectivamente. Em todos estes experimentos

o aumento das contrações de ANA inibiu a atualização da valência emocional da

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memória contextual associada ao efeito da morfina para um estado motivacional mais

aversivo.

O efeito da potencialização do SeCB sobre a atualização da memória ocorreu

tanto pelo aumento extracelular quanto intracelular de ANA. Neste sentido, os

tratamentos com Am404 (aumento extracelular) e URB597 (aumento intracelular) foram

efetivos somente com a dose mais alta utilizada. Por aumentar tanto os níveis

extracelulares como intracelulares de ANA o efeito do CBD foi constatado tanto na

dose intermediaria quanto na dose mais elevada. De fato, o CDB inibe tanto a

recaptura quanto a degradação de ANA, enquanto que o Am404 somente inibe a

recaptura de ANA e o URB597 somente inibe a degradação de ANA. Estes resultados

vão de encontro com vários estudos da literatura que demonstram que a potencialidade

terapêutica do SeCB se deve a ativação harmoniosa de seus receptores (Pertwee,

2005; de Mackie, 2006; Ligresti et al, 2015).

Quanto ao efeito potencialização do SeCB sobre a atualização da valência

emocional da memória contextual associada ao efeito da morfina, acreditamos que seu

efeito inibitório possa ter sido mediado por quatro mecanismos principais: inibição da

ativação de estruturas do SL que geram as respostas ao estresse (Riebe e Wotjack,

2011; Akirav, 2013), modulação dos componentes emocionais e motivacionais do

estresse associados à memória (Loureiro et al, 2014; Loureiro et al, 2016; de Carvalho

e Takahashi, 2017); atuação do sistema endocanabinóide na atualização de memórias

(de Oliveira Alvares et al, 2008; de Carvalho et al, 2013; de Carvalho e Takahashi,

2017) e finalmente a interação específica entre o SeCB e o sistema opióide (Parolaro et

al, 2010; Befort, 2015) .

O SeCB é o principal modulador da liberação de neurotransmissores no SNC,

através de seu mecanismo de sinapse retrógrada (Piomelli, 2003). Portanto, o SeCB

desempenha um papel fundamental no controle das respostas neuroendócrinas

induzidas por estímulos estressores (Riebe e Wotjak, 2011). Ao atuar nos receptores

CB1, a ANA é capaz de reduzir a liberação de CRF e vasopressina, e por

consequência a liberação do hormônio adrenocorticotrófico e do cortisol (Ginsberg et

al, 2010). Além disso, quando a presença do estímulo estressor é prolongada, o SeCB

é importante para o desenvolvimento da habituação do organismo ao estresse, a fim de

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se evitar os efeitos deletérios deste estresse sobre o SNC. Este processo não depende

somente do controle do SeCB sobre o eixo HPA, mas também da sua influência

inibitória sobre a amígdala (Hill et al, 2009; Hill et al, 2010).

Além do controle neuroendócrino, o SeCB é recrutado pelo estresse para

modulação dos comportamentos emocionais. Esta ação é muito relevante para a

dependência, pois parte da plasticidade responsável pela transição do reforço positivo

para o reforço negativo inclui a redução da atividade do SeCB (Koob e Volkow, 2010;

Parsons e Hurd, 2015). A redução da sinalização endocanabinóide está relacionada

com o surgimento do estado emocional negativo e ativação das estruturas do SL que

geram os comportamentos relacionados ao estresse. Por consequência, o impacto do

estresse em indivíduos dependentes é muito maior do que em indivíduos não

dependentes, o que contribui para a característica crônica e recorrente da dependência

(Koob e Volkow, 2010; Parsons e Hurd, 2015).

A manipulação do SeCB em estruturas envolvidas com processamento cognitivo

e emocional relacionados não somente ao estresse como também à dependência

altera a manifestação de comportamentos tipos ansiosos em animais submetidos a

diferentes tipos de estresse (Akirav, 2013). A administração local no HPC ventral de

Am404 diminuiu a ansiedade em animais previamente estressados e submetidos ao

LCE, mas paradoxalmente aumentou a ansiedade nos animais que não foram

submetidos previamente ao estresse (Campos et al, 2010). Resultados semelhantes

foram observados através da ativação de receptores canabinóides CB1 na amígdala

(Ramot e Akirav, 2012; Segev et al, 2012).

Desta forma, no nosso modelo experimental, é possível que a ação inibitória do

SeCB sobre a amígdala e o HPC em situações de estresse também tenha prejudicado

a reativação da memória pelo HPC. Desta forma, na competição entre HPC e CPF pela

reativação da memória, ocorreu o favorecimento da reativação pelo CPF.

Consequentemente, a valência emocional da memória contextual foi atualizada para

um estado emocional menos aversivo, mesmo em condições de estresse. Embora esta

hipótese possa explicar os nossos resultados, a influência do SeCB sobre as respostas

emocionais e motivacionais geradas pelo estresse também são relevantes.

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O SeCB modula a valência emocional dos estímulos reforçadores. Este efeito se

dá principalmente sobre a atividade da via mesolímbica, mas também envolve a

modulação de outras estruturas do SL (Saghaeddu et al, 2015). Com isso, o SeCB

pode atuar na saliência ao incentivo de estímulos, facilitando a realização de

comportamento relacionados ao reforço. Fisiologicamente o SeCB modula a saliência

do incentivo de reforçadores naturais, como sexo, comida e interação social. Todavia,

distúrbios na sinalização do SeCB, como ocorre na dependência, acarreta em

alterações que podem mediar os comportamentos relacionados ao uso da droga

(Parsons e Hurd, 2015; Loureiro et al, 2016).

A atribuição da saliência ao incentivo mediada pelo SeCB influencia tanto

estímulos reforçadores positivos quanto negativos (Laricchiuta e Petrosini, 2014;

Loureiro et al, 2016). De fato, a manipulação farmacológica do SeCB, particularmente

no HPC e na amígdala altera o estado motivacional associado a memórias aversiva e

apetitivas. A administração local no HPC ventral de WIN (agonista dos receptores CB1

e CB2) ativa vias glutamatérgicas entre HPC e NAc, fortalecendo assim a formação da

memória de preferência condicionada ao local induzida pela morfina e também a

memória do medo condicionado (Loureiro et al, 2016). O uso deste mesmo agonista

localmente na ABL antes da administração de glicocorticoides previne o fortalecimento

da consolidação de memórias aversivas induzida pelo estresse farmacológico (Ramot e

Akirav, 2012). Além disso, o uso tanto de agonista de receptores CB1 quanto de

antagonista dos receptores de glicocorticoide inibiram a ativação do HPC e do NAc,

bem como a expressão de CREB e Erk induzidas por estresse agudo (Segev e Akirav,

2016). Sendo assim, é possível que a redução da valência emocional atribuída ao

estresse pode favorecer o efeito comportamental da reativação dependente de CPF.

Embora existam muitos estudos abordando a influência do sobre os

mecanismos de reconsolidação de memórias emocionais (Drumond et al, 2017; Stern

et al, 2017), poucos investigam a participação do SeCB sobre a atualização da valência

emocional da memória e nenhum até o presente momento abordou o efeito de drogas

canabinóides sobre a atualização da valência emocional associa ao reforço negativo

em modelos de dependência de drogas. Estudos clínicos utilizando agonistas sintéticos

dos receptores canabinóides e fitocanabinóides tem demonstrado que a ativação do

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71

SeCB inibe a reconsolidação de ambos os componentes contextuais e emocionais da

memória do transtorno do estresse pós-traumático (Fraser, 2009; Passie et al, 2012).

Em modelos animais, um estudo evidenciou que o tratamento com URB597 aumentou

a expressão da memória de preferência condicionada ao local induzida pela morfina, o

que pode sugerir uma possível atualização da valência emocional para um estado mais

apetitivo do que o inicialmente atribuído (de Carvalho et al, 2014). Ainda no modelo de

preferência condicionada ao local induzida pela morfina, foi constatado que a

administração sistêmica de CDB inibiu a reconsolidação da memória. Tal efeito foi

acompanhado pela redução da aversão condicionada ao local induzida pela

administração de naltrexona. Por outro lado, o CBD não afetou a reconsolidação da

memória de reconhecimento de objetos (de Carvalho e Takahashi, 2017). Segundo os

autores a manipulação do SeCB inibiu a reconsolidação do componente motivacional

da memória.

Desta forma, é possível que o aumento das concentrações de ANA iniba a

atualização da memória independentemente do seu efeito sobre as respostas

emocionais e motivacionais induzidas pelo estresse. Esta inibição da atualização

causaria uma dissociação dos componentes motivacionais associados à memória

contextual, reduzindo assim a manifestação da ansiedade condicionada após a

reexposição.

Por fim, não podemos desconsiderar, em razão do modelo comportamental

adotado, a interação entre o SeCB e o sistema opióide. Os receptores canabinóides e

opióides atuam em mecanismos de sinalização intracelular semelhantes, através da

inibição da via de adenilato- ciclase, mediante ativação da proteína Gi, além de inibição

de canais de potássio e canais de cálcio dependentes de voltagem (Childers et al,

1992; Howlett, 1995). Além do mecanismo de ação semelhantes, os receptores

canabinóides, principalmente o receptor CB1, são co- localizados com receptores

opióides em diversas estruturas do SL, destacando-se o estriado dorsal, NAc e

amígdala (Manzares et al, 1999; Mascia et al, 1999). Portanto, a interação entre o

SeCB e o sistema opióide possui grande relevância para o desenvolvimento da

dependência.

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Esta interação entre o SeCB e o sistema opióide pode ser observado em

modelos animais de dependência. No modelo da sensibilização locomotora agonistas

canabinóides e opióides apresentam sensibilização comportamental cruzada (Pontieri

et al, 2001; Cadoni et al, 2001). No modelo de autoadministração agonistas CB1

reestabelece o comportamento de busca pela heroína, mesmo após longos períodos

de retirada da droga, e a administração de heroína reestabeleceu o comportamento de

busca pelo agonista do receptor CB1 (Fattore et al, 2003; Spano et al, 2004). Além

disso, estudos com animais nocaute para receptores canabinóides e opióides

demonstram que existe um mecanismo compensador entre estes sistemas (Befort,

2015).

Conforme discutido anteriormente, o SeCB desempenha um papel importante na

atribuição da saliência do incentivo aos estímulos reforçadores (Saghaeddu et al,

2015). Esta função é particularmente importante para dependência em opióides, devido

à grande interação entre estes dois sistemas de neurotransmissão (Viganò, et al, 2004;

Befort, 2015). A administração de agonistas CB1 na ATV durante a aquisição da

memória de preferência condicionada ao local induzida pela morfina, potencializa o

efeito recompensador da morfina, indo de encontro com os estudos que mostram a

sensibilização locomotora cruzada entre estas drogas. No entanto a administração do

mesmo agonista não potencializou o efeito reforçador durante a expressão da memória

de preferência condicionada (Rashidy-Pour et al, 2013).

O tratamento com CBD inibe a expressão do comportamento de busca pela

droga induzido por pistas contextuais em ratos submetidos ao modelo de

autoadministração de heroína, através da modulação dos receptores de glutamato na

via mesolímbica (Ren et al, 2008). Este achado vai de encontro com outros achados da

literatura que demonstram que o glutamato é fundamental para o reestabelecimento do

comportamento de busca pela heroína no modelo de autoadministração (LaLumiere e

Kalivas, 2008). Curiosamente em outro estudo, o tratamento com CBD reduziu o

comportamento de autoadministração de morfina, mas não o de cocaína, evidenciando

a importância na interação específica entre o SeCB e o sistema opióide (Katsidoni et al,

2013).

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Esta modulação do potencial reforçador dos opióides mediado pelo SeCB, vai de

acordo ainda com evidencias da literatura mostrando o efeito inibidor do CBD na

diminuição do componente motivacional da reconsolidação da memória de preferência

condicionada a morfina (de Carvalho e Takahashi, 2017). Desta forma ao efeito das

drogas que manipulam o SeCB utilizadas neste estudo, pode ser em decorrência da

interação específica entre os SeCB e o sistema opióide.

Em suma, no presente estudo ficou evidente que o estado emocional durante a

sessão de reativação é importante para atualização da valência emocional da memória

contextual associada ao efeito da morfina. É possível que este estado emocional

influencie a dinâmica da consolidação de sistemas durante a reativação. Seguindo esta

hipótese, a reativação da memória em um estado emocional neutro seria mediada pelo

CPF, levando a atualização da valência emocional para um estado menos aversivo e

consequente ausência da ansiedade condicionada. Devido às características inerentes

da reativação mediada pelo CPF, este processo não foi suscetível ao efeito dos

controles farmacológicos. Já em condições de estresse, a memória retornaria a um

estado HPC dependente e seria atualizada para um estado motivacional mais aversivo,

mantendo assim a manifestação da ansiedade condicionada. Este estado HPC

dependente explicaria a suscetível da atualização da memória aos efeitos dos controles

farmacológicos. Finalmente, a potencialização do SeCB pelo uso do Am404, URB597 e

CBD também bloqueou a atualização da valência emocional para um estado mais

aversivo, inibindo a expressão da ansiedade condicionada. Este efeito pode ter

ocorrido por quatro mecanismos principais: inibição de estruturas do SL que controlam

as respostas ao estresse; modificação dos componentes emocionais e motivacionais

do estresse associados à memória; inibição do processo de atualização ou ainda a

interação específica entre o SeCB e o sistema opióide.

5.1. Aplicabilidade do modelo animal e aspectos translacionais

Do ponto de vista neurobiológico, o desenho experimental utilizado neste estudo

foi relevante por se tratar de uma adaptação de um modelo comumente utilizado para

análise de comportamentos mediados por reforço positivo. Pudemos constatar que a

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fase de abstinência que segue a aquisição da sensibilização locomotora é capaz de

induzir comportamento tipo ansioso. Embora a ansiedade se dissipe ao longo da

abstinência, a reexposição ao contexto 28 dias após a sensibilização foi capaz de

induzir ansiedade condicionada. Sendo assim, a neuroplasticidade induzida pelo

modelo da sensibilização locomotora é capaz de induzir comportamentos relacionados

a reforço negativo.

Os estudos que se propõem a avaliar o processo de reconsolidação de

memórias relacionadas ao uso de drogas, geralmente utilizam comportamentos que

são mediados por reforço positivo. Ainda que estes estudos tenham grande relevância,

sabe-se que o uso inadequado de substância gera uma transição de comportamentos

mediados por reforço positivo para reforço negativo. Este reforço negativo garante as

características crônicas e recorrentes da dependência (Koob e LeMoal, 2008; Koob e

Volkow, 2010). Além disso, estudos que avaliam comportamentos de reforço negativo

não abordam os mecanismos cognitivos de aprendizagem e memória. A partir do nosso

desenho experimental foi possível estudar esta lacuna, permitindo com isso avaliar o

impacto da memória contextual sobre comportamentos de reforço negativo.

A abordagem dos resultados obtidos no LCE através de AF nos permitiu

identificar a presença de um estado de ansiedade condicionada nos animais em

retirada crônica. De fato, os animais em retirada aguda apresentam comportamento

ansioso caracterizado pela diminuição da ABA. Este comportamento se dissipou ao

longo da abstinência e não foi alterado pela reexposição ao contexto. Por outro lado, o

comportamento ansioso caracterizado pelo aumento da ABF não foi verificado na

abstinência aguda e crônica, mas surgiu quando os animais em retirada crônica foram

reexpostos ao contexto. Por conta disso, a AF é mais fidedigna que a análise

convencional para o estudo da relação entre memória, emocionalidade e dependência.

O presente estudo também apresenta relevância do ponto de vista translacional.

O estresse e pistas associadas ao uso da droga são os fatores principais no

desencadeamento de recaídas, mesmo em períodos longos de abstinência (Koob e

Volkow, 2010). Em nosso experimento demonstramos que a reativação em um estado

emocional menos aversivo, em decorrência do período prolongado de retirada da

droga, diminui a valência emocional negativa da memória contextual. No entanto,

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estudos demonstram que a taxa de recaídas em humanos são muito elevadas e,

portanto, longos períodos de abstinência são raros (Adinoff et al, 2010; Moeeni et al,

2016). Logo, neste aspecto o nosso modelo não se aproxima da realidade clínica.

Por outro lado, nosso estudo também mostrou que o estresse durante a

reativação é necessário para a manutenção do estado motivacional negativo associado

a memória contextual, e este, por sua vez, é um importante preditor para a incidência

de recaídas (Erb, 2010; Nakajima e al'Absi, 2011). Tendo em vista que em humanos,

pistas associadas ao uso da droga são capazes de induzir um estado emocional

negativo, cria-se um círculo no qual a cada reativação da memória ocorre o reforço do

caráter emocional negativo da mesma. Neste sentido, a inibição da reconsolidação

permitiria a quebra deste círculo.

De fato, terapias cognitivas que manipulam as memórias relacionadas ao uso de

drogas, através de sessões de reativação da memória em um ambiente controlado,

vêm se mostrando promissoras na redução de recaídas e no aumento do tempo de

abstinência (Hon et al, 2016; Marsden et al, 2018), bem como em reduzir a

manifestação de comportamentos gerados a partir de alterações no estado emocional

do indivíduo (Staniloiu e Zaretsky, 2015). Neste sentido, nosso estudo sugere um

potencial terapêutico da reativação de memórias, sobre o efeito fármacos com

potencial de modular o estado emocional do dependente, associada às terapias

cognitivas no tratamento da dependência.

Diante do potencial terapêutico da associação entre terapias cognitivas e

tratamento farmacológico, a manipulação do SeCB possui grande relevância. Dados

observacionais mostraram que o consumo de maconha diminui a fissura e ansiedade

em dependentes de crack, colaborando para remissão da dependência (Labigalini et al,

1999). Um estudo intervencional, mostrou que preparados comerciais de CBD e THC

na proporção 1:1 ameniza a fissura e ansiedade decorrente da abstinência a maconha

(Trigo et al, 2016). Finalmente, um estudo randomizado, duplo-cego, controlado por

placebo, evidenciou que o tratamento com CBD reduziu o número de cigarros fumados

diariamente por tabagistas (Morgan et al, 2013). Portanto, os resultados obtidos no

nosso estudo, embora de característica experimental, suportam a realização de

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estudos clínicos adicionais a fim de comprovar a potencialidade terapêutica da ativação

do SeCB no tratamento da dependência.

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6. Conclusão

Todos os animais que foram tratados com morfina no modelo de sensibilização

locomotora sofreram processos neuroadaptativos, manifestados através do aumento da

atividade locomotora durante o período de aquisição.

No período de retirada crônica da droga os animais tratados com morfina

encontram-se num estado motivacional neutro e não expressam alterações no seu

estado de ansiedade. A reexposição ao contexto induz o surgimento de um estado

motivacional negativo, caracterizado pela expressão de ansiedade condicionada.

A realização da sessão de reativação da memória contextual em um estado

emocional neutro leva a atualização da memória para um estado motivacional menos

aversivo, acarretando na ausência da ansiedade condicionada. No entanto, este

processo de atualização não foi susceptível a validação com controles farmacológicos

comumente utilizados em experimentos de reconsolidação.

A realização da sessão de reativação da memória contextual em um estado

emocional negativo leva a atualização da memória para um estado motivacional mais

aversivo, acarretando na manutenção da ansiedade condicionada. Este processo de

atualização foi suscetível a validação com controles farmacológicos comumente

utilizados em experimentos de reconsolidação.

O tratamento com substâncias que aumentam a concentração de ANA inibiu a

atualização da memória para um estado motivacional mais aversivo, acarretando na

ausência da expressão da ansiedade condicionada. Este efeito foi dose dependente e

mais significante com o CBD.

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110

Resumo

A dependência é consequência de neuroadaptações induzidas por um padrão

inadequado de consumo de drogas acarretando na transição de um uso associado ao

reforço positivo para reforço negativo. Estas neuroadaptações também incorporam

componentes cognitivos na patogênese da dependência. Uma vez consolidada a

memória se torna resistente a alterações. No entanto, ao ser reativada, esta memória

entra em um período de labilidade, podendo então ser atualizada por um processo

denominado reconsolidação. Portanto, do ponto de vista cognitivo, a dependência pode

ser caracterizada como uma memória patológica que é constantemente reativada e

atualizada. O estresse é um importante fator desencadeante de recaídas em

dependentes. Além disso, sabe-se que o estresse é capaz de favorecer o processo de

reconsolidação de memórias emocionais. Vários sistemas de neurotransmissão que

são afetados pelo estresse estão envolvidos na reconsolidação de memórias e na

patogênese da dependência. O SeCB tem um papel de destaque neste contexto. Neste

sentido, a potencialização farmacológica do SeCB se apresenta como uma estratégia

terapêutica promissora para a dependência. Estudo prévio do nosso grupo mostrou que

camundongos submetidos a sensibilização locomotora induzida pela morfina

apresentam comportamento ansioso quando em abstinência aguda. No entanto a

ansiedade se dissipou ao longo do período de abstinência. O objetivo do presente foi

então avaliar a influência contextual associada ao efeito da morfina no comportamento

ansioso de animais sobre retirada crônica da droga. Além disso, avaliamos o efeito de

substâncias que potencializam o SeCB (Am404, URB597 e CBD) sobre esta possível

ansiedade condicionada. Para tanto, foram realizados 7 experimentos com

camundongos C57BL/6 adultos machos, submetidos a sensibilização locomotora

induzida pela morfina e expostos ao contexto associado ao efeito da droga 28 dias

após a sensibilização. No experimento 1 verificamos que a exposição ao contexto foi

capaz de induzir ansiedade condicionada e que a reativação da memória reverteu este

comportamento ansioso. No experimento 2 constatamos que quando expostos a um

estresse agudo antes da reativação, os animais voltaram a apresentar a ansiedade

condicionada. A fim de determinar a influência da reconsolidação nos experimentos 1 e

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111

2, os animais foram tratados com Nimo, DZP e CHX, substâncias comumente utilizadas

como controles farmacológicos em experimentos de reconsolidação. Curiosamente, o

tratamento foi capaz de inibir o efeito da reativação no experimento 4 (presença do

estressor agudo) mas não no experimento 3 (ausência do estressor agudo). A partir de

então, os experimentos 5, 6 e 7 avaliaram o efeito do tratamento com Am404, URB597

e CBD, respectivamente, seguindo o desenho do experimento 4. As três substâncias

foram capazes de inibir o aparecimento da ansiedade condicionada induzida pela

reativação da memória. Tal efeito foi dose dependente e mais significativo com o CBD.

Os resultados do presente estudo mostraram que o estado emocional durante a

reativação pode ser incorporado a memória original, promovendo com isso a

atualização da valência emocional da memória contextual. A reativação em um estado

emocional neutro reduziu a ansiedade condicionada ao contexto associado ao efeito da

droga. Já a reativação em um estado emocional negativo manteve a ansiedade

condicionada ao contexto associado ao efeito da droga. Este efeito foi bloqueado pela

potencialização do sistema endocanabinóide. Considerando que a reativação de

memórias contextuais em dependentes abstinentes se dá em um estado emocional

negativo, o presente estudo demonstra a potencialidade de substâncias que ativam o

sistema endocanabinóide sobre os mecanismos de recaídas induzidos pelo estresse e

por pistas associadas ao uso da droga.

Palavras Chave: ansiedade, transtornos relacionados ao uso de drogas, estresse

fisiológico, reforço (psicologia), sistema límbico.

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112

Abstract

Addiction develops from neuroplasticity induced by problematic use of drugs, leading to

transition between positive reinforce to negative reinforce. This neuroplasticity also

incorporates cognitive aspects in the pathogenesis of addiction. Once consolidate,

memories became resistant to change. However, when retrieved, it’s become

temporarily labile, and could be updated by reconsolidation mechanisms. Therefore, in

cognitive point of view, addiction could be characterized by a pathological memory that

is constantly retrieved and updated. Stress plays an important role in the relapse and

also facilitates reconsolidation of emotional memories. A number of neurotransmitters

related to stress are involved in the memory reconsolidation and addiction, including the

SeCB. Consequently, the pharmacological potentiation of SeCB is a promissory

therapeutic strategy for addiction. Previous study from our Lab revealed that mice

submitted to locomotor sensitization induced by morphine showed anxiety-like

behaviors during acute withdrawal. However, this anxiety dissipates throughout

withdrawal period. So, the aim of the present study was to investigate the influence of

context linked to morphine experience in the emergence of anxiety in animals during

protracted withdrawal. Furthermore, we investigate the effects of drugs that potentiate

the SeCB (Am404, URB597 and CBD) in this conditioned anxiety. For this purposed we

performed 7 experiments with C57BL/6 adult male mice. These animals were submitted

to locomotor sensitization induced by morphine, and then, to the context linked of

morphine experience 28 days after the locomotor sensitization. The experiment 1

showed that the contextual exposure induces conditioned anxiety and that reactivation

session damped this effect. In the experiment 2 we verified that exposure to acute

stress immediately before reactivation session maintain the conditioned anxiety. In

order to address the role of the reconsolidation in the experiment 1 and 2, the mice

were treated with Nimo, DZP and CHX, drugs commonly used as pharmacological

control in reconsolidation studies. Curiously, these substances inhibit the effects of

reactivation session in experiment 4 (presence of acute stressor) but not in experiment

3 (absence of acute stressor). After that, the experiment 5, 6 and 7 evaluate the

influence of Am404, URB597 and CBD, respectively, in the conditioned anxiety induced

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by reactivation under stress conditions. All of the drugs inhibit the emergence of

conditioned anxiety. This inhibitory effect was dose dependent and more significant for

CBD. In conclusion, our results showed that the emotional state during reactivation

session could be incorporate to the original memory, updating the emotional valence of

contextual memory. Reactivation session in a neutral emotional state damps

conditioned anxiety, while reactivation session in a negative emotional state maintains

the conditioned anxiety. This maintenance induced by memory update was blocked by

pharmacological potentiation of SeCB. Considering that retrieval of contextual memory

in abstinent addicts happens in a negative emotional state, the present study points to a

promissory therapeutic potential of drugs that potentiate SeCB in both stress- and cue-

induced relapse.

Key words: anxiety, disorders related to drug abuse, physiological stress,

reinforcement (psychology), limbic system.

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Listas e Apêndices:

Apêndice I: Parecer do CEUA sobre o projeto de pesquisa.

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Apêndice II: Média e DPM das variáveis analisadas no LCE

Experimento Grupos

% número de

entradas nos

braços abertos

% tempo de

permanência nos

braços abertos

Tempo em

comportamento

de avaliação de

risco

Número de

entradas nos

braços fechados

Tempo em

comportamento

de head dipping

Média D.P.M Média D.P.M Média D.P.M Média D.P.M Média D.P.M

1

Controle 46,2 8,9 26,3 14,9 32,9 11,3 7,0 2,1 7,6 4,7

CTX 33,7 8,8 21,7 13,3 93,2 22,6 6,6 1,6 9,6 5,8

React- CTX 35,98 11,9 22,4 13,6 42,2 8,7 6,7 1,5 7,8 4,5

2

SAL 36,0 11,9 22,4 13,6 42,2 8,7 6,2 1,5 8,7 4,5

MFN 32,3 14,1 20,5 11,5 54,7 19,6 6,7 1,8 6,5 5,5

SAL- NF 34,7 7,2 24,4 8,5 56,1 20,5 6,3 2,1 7,6 2,6

MFN- NF 34,6 7,3 25,1 7,0 87,6 17,4 8,0 1,1 3,7 3,7

3

Controle 34,0 14,4 20,4 15,1 42,2 8,7 6,7 1,5 7,8 4,5

Veículo 51,3 4,3 37,6 18,4 45,0 15,0 6,2 1,9 8,0 4,0

Nimo 44,0 6,4 32,4 11,4 45,0 26,7 6,2 2,6 10,9 3,9

DZP 40,2 6,0 28,9 12,7 49,6 23,6 6,9 2,0 10,2 3,3

CHX 31,1 6,5 26,9 9,4 32,8 8,8 6,6 1,8 8,9 2,3

4

Controle 34,7 7,7 25,4 7,3 88,7 17,9 8,0 1,2 8,5 3,9

Veículo 37,5 6,8 28,1 13,8 84,4 16,1 6,9 1,0 8,5 3,8

Nimo 35,3 9,8 26,5 12,4 46,6 13,3 5,7 1,5 7,5 2,9

DZP 32,2 17,1 15,3 8,5 40,6 16,3 6,0 1,6 7,7 4,2

CHX 28,2 12,0 17,3 15,4 38,7 11,9 6,3 1,6 7,9 3,4

.

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Apêndice III: Média e DPM das variáveis analisadas no LCE

Experimento Grupos

% número de

entradas nos

braços abertos

% tempo de

permanência nos

braços abertos

Tempo em

comportamento

de avaliação de

risco

Número de

entradas nos

braços fechados

Tempo em

comportamento

de head dipping

Média D.P.M Média D.P.M Média D.P.M Média D.P.M Média D.P.M

5

Controle 34,4 8,1 26,0 7,4 87,2 18,4 7,9 1,2 9,3 3,3

Veículo 38,4 7,9 38,0 21,6 92,5 18,8 7,8 2,2 11,6 5,8

Am404 1mg/kg 35,8 11,4 22,9 7,3 87,4 25,1 7,3 1,5 14,0 3,9

Am404 5mg/kg 37,6 9,8 29,6 15,4 59,5 13,5 6,6 1,3 13,4 5,5

Am404 10mg/kg 43,4 7,7 31,4 11,2 44,4 24,7 7,7 2,0 12,9 5,0

6

Controle 34,7 7,7 25,4 7,3 88,7 17,9 8,0 1,2 8,5 3,9

Veículo 36,8 9,5 37,1 22,6 93,7 19,8 7,8 2,2 12,4 4,8

URB597 0,1mg/kg 40,4 15,5 36,6 13,4 91,4 24,9 8,7 3,3 9,2 4,4

URB597 0,5mg/kg 43,9 11,6 39,9 22,7 62,8 35,8 7,2 3,7 12,2 5,9

URB 1mg/kg 34,7 17,7 26,4 12,7 29,1 11,4 7,3 1,9 9,8 4,6

7

Controle 34,7 7,7 25,4 7,3 88,7 17,9 8,0 1,2 8,5 3,9

Veículo 36,8 9,5 37,1 22,6 93,7 19,8 7,8 2,2 12,4 4,8

CBD 1mg/kg 42,6 11,7 38,2 15,4 63,4 26,6 6,9 2,3 12,5 3,3

CBD 5mg/kg 33,0 18,2 31,1 16,4 31,9 13,8 7,6 2,2 10,2 2,7

CBD 10mg/kg 41,3 17,3 39,2 12,8 27,8 16,9 6,9 2,4 10,2 5,4