7
Universidade Federal de Goiás Faculdade de História PLANO DE CURSO CURSO: Programa de Pós-Graduação em História DISCIPLINA: Interculturalidades e História Ambiental PROFESSOR: Alexandre Martins de Araújo e Elias Nazareno ANO/SEMESTRE 2013-1 Carga horária: 60 “Nem a ciência nem a racionalidade são medidas universais de excelência. São tradições particulares, não tendo consciência de sua base histórica”. Contra o método. Paul Feyerabend EMENTA Entender a interculturalidade crítica como um processo e projeto social, político, ético e epistêmico que, além do reconhecimento e respeito às diferenças, revela a tensão entre centro e periferia gerando a possibilidade de um diálogo verdadeiramente intercultural, entendido como uma forma extremamente complexa de tradução, com a perspectiva epistemológica ocidental vinculada à “Hybris do ponto zero”1, revelando espaços pluriepistemológicos e trazendo à superfície saberes outros que historicamente foram negligenciados e subalternizados. Perceber o Giro De-Colonial como possibilidade de 1 Denomina Santiago Castro-Gómez la «hybris del punto cero», la pretensión desmesurada del pensar cartesiano de situarse más allá de toda perspectiva particular. Como el artista renacentista que al trazar la línea del horizonte y el punto de fuga en la perspectiva de todos los objetos que pintará, el artista mismo no aparece en el cuadro, pero siempre es subjetivamente «el que mira y constituye al cuadro» (es el «punto de fuga» a la inversa), y que pasa como el «punto cero» de la perspectiva. Sin embargo, lejos de ser un [punto de mira «sin compromiso», es el punto que constituye todos los compromisos. M. Weber, con su pretensión de una visión objetiva «sin valores» presupuestos es el mejor ejemplo de esa pretensión imposible del «punto cero». El ego cogito inaugura en la Modernidad esta pretensión (DUSSEL, 2008, p. 165).

Faculdade de História Universidade Federal de Goiás · Interculturalidade Crítica e Pedagogia Decolonial: in-surgir, re-surgi r ... WALSH, Catherine. Interculturalidade Crítica

  • Upload
    buithuy

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Universidade Federal de GoiásFaculdade de História

PLANO DE CURSO

CURSO: Programa de Pós-Graduação em HistóriaDISCIPLINA: Interculturalidades e História Ambiental

PROFESSOR: Alexandre Martins de Araújo e Elias Nazareno

ANO/SEMESTRE 2013-1 Carga horária: 60

“Nem a ciência nem a racionalidade são medidas universais de excelência. São tradições particulares, não tendo consciência de sua base histórica”.

Contra o método. Paul Feyerabend

EMENTA

Entender a interculturalidade crítica como um processo e projeto social, político, ético

e epistêmico que, além do reconhecimento e respeito às diferenças, revela a tensão entre

centro e periferia gerando a possibilidade de um diálogo verdadeiramente intercultural,

entendido como uma forma extremamente complexa de tradução, com a perspectiva

epistemológica ocidental vinculada à “Hybris do ponto zero”1, revelando espaços

pluriepistemológicos e trazendo à superfície saberes outros que historicamente foram

negligenciados e subalternizados. Perceber o Giro De-Colonial como possibilidade de

1 Denomina Santiago Castro-Gómez la «hybris del punto cero», la pretensión desmesurada del pensar cartesiano de situarse más allá de toda perspectiva particular. Como el artista renacentista que al trazar la línea del horizonte y el punto de fuga en la perspectiva de todos los objetos que pintará, el artista mismo no aparece en el cuadro, pero siempre es subjetivamente «el que mira y constituye al cuadro» (es el «punto de fuga» a la inversa), y que pasa como el «punto cero» de la perspectiva. Sin embargo, lejos de ser un [punto de mira «sin compromiso», es el punto que constituye todos los compromisos. M. Weber, con su pretensión de una visión objetiva «sin valores» presupuestos es el mejor ejemplo de esa pretensión imposible del «punto cero». El ego cogito inaugura en la Modernidad esta pretensión (DUSSEL, 2008, p. 165).

desprendimento e de abertura às possibilidades encobertas pela racionalidade moderna,

montada e fechada nas categorias do grego e do latim e das seis línguas imperiais europeias

modernas (italiano, castelhano, português, inglês, francês e o alemão). Revelar como o

pensamento de-colonial emerge e é constitutivo do projeto modernidade/colonialidade.

OBJETIVOS GERAIS

Estabelecer, desde a perspectiva da Interculturalidade, um campo dialógico de

articulação pluriepistemológica que leva em conta a hermenêutica dos múltiplos saberes nas

relações homem natureza.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Compreender a presença dos processos de Interculturalidade constitutivas de diferentes

dimensões da existência humana;

Entender a De-Colonialdade como processo de desprendimento e abertura à saberes outros

que foram apropriados e hierarquizados no interior do discurso Ocidental;

Perceber as diferentes formas de relação homem-natureza desde a perspectiva da

interculturalidade.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

Unidade I:

a) Cultura e Natureza: Razões epistêmicas da distinção e as razões epistêmicas da negação da distinção;

b) Interculturalidade crítica;c) Da Colonialidade do Poder às Pluriepistemologias;

Unidade II:a) Genealogia da De-Colonialidade – Modernidade/Colonialidade - Matriz colonial de

poder – Séc. XVI a economia é parte da sociedade; séc. XXI a sociedade é parte da economia;

b) Epistemologias em trânsito;c) Relação entre as perspectivas do curso e os Projetos de Pesquisa dos alunos.

PROGRAMAÇÃO

Dinâmica geral das aulas:

1º- Apresentação da temática por parte dos professores;

2º - Alunos apresentam aspectos dos textos lidos que contribuam para a problematização e

criticidade dos saberes acadêmicos e práticas sociais análogas ao texto;

3º - Mostra áudio-visual de temas correlatos;

4º - Debate inetercultural entre alunos e professores.

1º e 2 º encontro: 08/03 (pág. 27) e 15/03 – Apresentação do programa e discussão do texto

de Enrique Dussel: Meditaciones anti-cartesianas: sobre el origen del anti-discurso

filosófico de la Modernidad. Tabula Rasa. Bogotá - Colombia, No.9: 153-197, julio-

diciembre 2008. Tema, texto e vídeo.

3º encontro: 22/03 - Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina, 107. Aníbal

Quijano. In: A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas

latinoamericanas. Edgardo Lander (org). Colección Sur Sur, CLACSO, Ciudad

Autónoma de Buenos Aires, Argentina. Setembro 2005. Vídeo: Colonialidade do

Saber.

3º encontro: 22/03 - La poscolonilidad explicada a los ninos. CASTRO-GÓMEZ,

Santiago. Editorial Universidad del Cauca Instituto Pensar, Universidad Javeriana,

Colombia, 2005.

4º encontro: 29/03 -. Interculturalidade Crítica e Pedagogia Decolonial: in-surgir, re-surgir

e re-viver. WALSH, Catherine. In: Educação intercultural na América Latina: entre

concepções, tensões e propostas. Tema, texto, vídeo.

5º, 6º e 7º encontro: 05 e 12/04- Giro decolonial, teoría crítica y pensamiento heterárquico.

CASTRO-GÓMEZ. In. El giro decolonial: reflexiones para una diversidad epistémica

más allá del capitalismo global / compiladores Santiago Castro-Gómez y Ramón

Grosfoguel. Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Universidad Central, Instituto de

Estudios Sociales Contemporáneos y Pontificia Universidad Javeriana, Instituto

Pensar, 2007.

MIGNOLO, W. La opción de-colonial: desprendimiento y apertura. Un manifiesto y

un caso. Tabula Rasa. Bogotá - Colombia, No.8: 243-281, enero-junio 2008.

8 º encontro: 19/04 - CAJIGAS-ROTUNDO, Juan Camilo La biocolonialidad del poder.

Amazonía, biodiversidad y ecocapitalismo. In: El giro decolonial: reflexiones para

una diversidad epistémica más allá del capitalismo global / compiladores Santiago

Castro-Gómez y Ramón Grosfoguel. Bogotá: Siglo del Hombre Editores;

Universidad Central, Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos y Pontificia

Universidad Javeriana, Instituto Pensar, 2007.

9 º encontro – 26/04 – Epistemologias em trânsito. Saberes outros.

A partir do 10 º encontro (03/05 até o dia 21/06) caberá aos alunos estabelecer a

relação entre as perspectivas epistemológicas e metodológicas apresentadas no curso e

os seus respectivos projetos de Pesquisa dos alunos. Os alunos apresentarão uma

releitura de seus projetos.

METODOLOGIA

Em relação à definição do que seria a de-clonialidade, Mignolo adverte que a definição é uma

das formas normativas de controle do conhecimento científico. A definição pressupõe a

determinação de algo, de um objeto, e o controle da definição pelo enunciante. A ciência, em

suas variedades naturais e sociais, é uma forma de fazer orientada ao objeto e não ao sujeito,

ao enunciado e não à enunciação. A opção de-colonial se volta até o sujeito enunciante; se

desprende da fé em que o conhecimento válido é aquele que se sujeita às normas

disciplinarias, isto é, ao conhecimento por gestão empresarial mediante as regras impostas

pelo grupo de seres humanos que aceitam jogar este jogo. (MIGNOLO, 2008, p. 247,

tradução minha)

Fieis à perspectiva de-colonial de desprendimento e abertura, durante o curso, para que flua o

diálogo verdadeiramente intercultural, serão valorizadas, além do conhecimento (projetos de

pesquisa e outros) de cada um dos enunciantes (alunos e professores), as experiências de vida

de cada um.

O curso contará com aulas expositivas dialogadas, oferecimento de uma seleção de textos

para leitura, recursos audiovisuais, realização de pesquisa bibliográfica, produção de textos e

elaboração de seminários temáticos.

O conteúdo programático é constituído de textos nucleares, propositalmente desobrigados de

linearidades e privilégios quanto à seleção dos recortes temporais e espaciais. Os

entrecruzamentos dar-se-ão a partir de olhares plurais que mantêm em comum a historicidade

dos fenômenos estudados.

AVALIAÇÃO

O processo de avaliação será contínuo, levando-se em consideração os seguintes quesitos:

desenvolvimento intelectual, senso crítico, organização, responsabilidade, frequência,

participação e desempenho nas atividades propostas ao longo do curso. Será solicitado do

aluno a produção de um artigo que contemple criticamente a relação entre as perspectivas

do curso e os Projetos de Pesquisa dos alunos.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

CAJIGAS-ROTUNDO, Juan Camilo La biocolonialidad del poder. Amazonía, biodiversidad y ecocapitalismo. In: El giro decolonial: reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global / compiladores Santiago Castro-Gómez y Ramón Grosfoguel. Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Universidad Central, Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos y Pontificia Universidad Javeriana, Instituto Pensar, 2007.

CASTRO-GÓMEZ, Santiago. La poscolonilidad explicada a los niños Editorial Universidad del Cauca. Instituto Pensar, Universidad Javeriana, Colombia, 2005.

CASTRO-GÓMEZ, Santiago. Giro decolonial, teoría crítica y pensamiento heterárquico. In. CASTRO-GÓMEZ , Santiago y GROSFOGUEL, Ramón El giro decolonial: reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global / compiladores. Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Universidad Central,

Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos y Pontificia Universidad Javeriana, Instituto Pensar, 2007.

DUSSEL, Enrique. Meditaciones anti-cartesianas: sobre el origen del anti-discurso filosófico de la Modernidad. Tabula Rasa. Bogotá - Colombia, No.9: 153-197, julio-diciembre 2008.

FLEURI, Reinaldo M. Intercultura e educação. Revista Brasileira de Educação. Maio/Jun/Jul/Ago 2003 Nº 23.

LEFF, H. Construindo a História Ambiental da América Latina. ESBOÇOS – Revista do

Programa de Pós-Graduação em História da UFSC, Florianópolis, Nº 13, p. 11-26, 2005.

MIGNOLO, W. La opción de-colonial: desprendimiento y apertura. Un manifiesto y un caso. Tabula Rasa. Bogotá - Colombia, No.8: 243-281, enero-junio 2008.

MIGNOLO, Walter. El lado más oscuro del Renacimiento. Universitas humanística no.67 enero-junio de 2009 pp: 165-203, Bogotá – Colombia, issn 0120-4807.

PÁDUA, Jose Augusto. As Bases Teóricas da História Ambiental. Estudos Avançados. São Paulo, v. 24, n. 68, p. 81-101, 2010.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas

latinoamericanas. Edgardo Lander (org). Colección Sur Sur, CLACSO, Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina. Setembro 2005. Vídeo: Colonialidade do Saber.

RAPPAPORT, Joanne, PACHO, Abelardo Ramos. Una historia colaborativa: retos para el dialogo indigena-academico. História Crítica, No. 29, Enero-Junio, 2005.

SANTOS, B. V de S. MENESES, M: P. (Orgs.) Epistemologias do sul. Editora: Almedina, Colecção CES: 2009.

VIAÑA, Jorge, TAPIA, Luis, WALSH, Catherine. Construyendo Interculturalidad Crítica. La Paz: Instituto Internacional de Integración, 2010.

WALSH, Catherine. Interculturalidade Crítica e Pedagogia Decolonial: in-surgir, re-surgir e re-viver. In: Educação intercultural na América Latina: entre concepções, tensões e propostas. In. CADAU, Vera Maria (org.) Educação Intercultural na América Latina: entre concepções, tensões e propostas. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2009, p.12-42.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

ALCOFF, Linda Martín. Mignolo’s Epistemology of Coloniality. CR: The New Centennial Review, Volume 7, Number 3, Winter 2007, pp. 79-10.

DAMÁSIO, António R. O Erro de Descartes: Emoção, Razão e o Cérebro Humano. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

DAMÁSIO, António R. E o Cérebro Criou o Homem. São Paulo, Companhia das Letras, 2011.

DUSSEL, Enrique. Europa, modernidad y eurocentrismo, en Lander, Edgardo (org.) La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales. Perspectivas latinoamericanas (Buenos Aires: CLACSO/UNESCO), 2000.

HERCEG, José Santos. De la Filosofía latinoamericana a la africana. Pistas para un diálogo filosófico intercultural. Estudios Avanzados, 13, 2010, 131-149.

FEYERABEND, Paul. Contra o método. São Paulo: Unesp, 2007.

PAGET, Henry. Caliban’s Reason. Introducing Afro-Caribbean Philosophi. New York: Routledge, 2000.

LIMA, Betina Stefanello. Teto de vidro ou labirinto de cristal? As margens femininas das ciências. Dissertação de Mestrado em História, UnB, 2008.

MIGNOLO, Walter. El lado más oscuro del Renacimiento. universitas humanística no.67 enero-junio de 2009 pp: 165-203, Bogotá - Colombia issn 0120-4807.

RESTREPO, Paula. Some Epistemic and Methodological Challenges within an Intercultural Experience. Journal of Historical Sociology Vol. 24 No. 1 March 2011

DOI: 10.1111/j.1467-6443.2011.01388.x

SEARLE, John R. Liberdade e Neurobiologia. Reflexões sobre o livre-arbítrio, a linguagem e o poder político. São Paulo, Unesp, 2007.

SHAKESPEARE, William. A Tempestade. Acesso em http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/tempestade.html

SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Estudios de la Subalternidad: Deconstruyendo la Historiografía. En: Debates Post Coloniales: Una introducción a los Estudios de la Subaltenidad. Compilación de Silvia Rivera Cusicanqui, Rossana Barragán. Traducciones de Raquel Gutierrez, Alison Speeding, Ana Rebeca Prada y Silvia Rivera Cusicanqui. SEPHIS; Ediciones Aruwiyiri; Editorial Historias. La Paz, Bolivia, 2002.

SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte. Editora UFMG, 2010.