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FAIXA 4 DO CD “ENCANTARIAS DO SUL”

FAIXA 4 DO CD “ENCANTARIAS DO SUL” Perdida no tempo, campina gaúcha, velada por chuva e noite sem fim. Inundação, rios de carniça, desentoca Boiguaçu,

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FAIXA 4 DO CD“ENCANTARIAS DO SUL”

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Perdida no tempo, campina gaúcha,velada por chuva e noite sem fim.Inundação, rios de carniça,desentoca Boiguaçu, cobra grande e ruim.

Iluminada pelo brilho da luz do último olhar,pois tantos foram olhos de carniça a devorar,que seu corpo virou contas de luz em colar.Boiguaçu virou Serpente de Fogo! Virou Boitatá!

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Boitatá, cobra temida morreu de fraqueza,pois, miséria alheia é sempre mau manjar.Seu corpo virou luz de aflição e tristeza,enrolada, como bola de fogo, num eterno vagar.Boiguaçu virou Luz errante! Virou Boitatá!Boiguaçu virou Luz errante! Virou Boitatá!

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Boiguaçu virou Serpente de Fogo! Virou Boitatá!Boiguaçu virou Luz errante! Virou Boitatá!Boiguaçu virou gênio zelador! Virou Boitatá!Boiguaçu virou Boitatá! ! Virou Boitatá!

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A seguir o texto “A Lenda do Boitatá” traz algumas considerações sobre a mesma.Caso interesse, é só utilizar o “ratinho”

IMAGENS:SITES:

arroioaraca.blogspot.com;behance.net;

brasilemalta.net;dicionariotupiguarani.blogspot.com;

fotos.noticias.bol.uol.com.br;freepik.com;

rotacamposdecimadaserra.com.br;techtudot.com.br; e

vivaterra.org.br.

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ORIGEM DA PALAVRA E DA LENDA

O nome Boitatá é uma palavra de origem indígena, seu significado é cobra de fogo: mboi ou boia = cobra,e tatá ou atatá = fogo.

A lenda do Boitatá, assim como a palavra, tem origem indígena.

Em nossas pesquisas, encontramos o excelente registro da lenda, no livro Lendas do Sul de J. Simões Lopes Neto. Entretanto, Boitatá é mito em várias regiões do Brasil. Por isso sofre grandes modificações conforme a região. Esse nosso registro foi influenciado pela versão do Sul.

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Em são Paulo é conhecido também por Bitatá; no Nordeste como Batatão; e na Bahia como Biatatá.

Em 1560, o Padre Anchieta já relatava a presença desse mito. Dizia que entre os índios era a mais temível assombração. Os negros africanos, também trouxeram o mito de um ser que habitava as águas profundas, e que saía a noite para caçar, seu nome era Biatatá. A Lenda do Boitatá está associada a fenômenos luminosos resultantes da decomposição de matéria orgânica, chamados pela ciência de “Fogo-fátuo”, que são os gases inflamáveis que emanam dos pântanos, sepulturas e carcaças de grandes animais mortos. De longe, esses gases parecem grandes tochas em movimento.

DESCRIÇÃO DO MITO Aparece sob a forma de uma cobra muito grande com dois olhos de fogo enormes, que parecem faróis. De dia, é quase cega, enquanto à noite, vê tudo.  

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Seu corpo é transparente, que incandesce como se estivesse queimando por dentro. É um fogo de cor azul-amarelado, frio, estéril, pois não queima nem esquenta. O fogo simplesmente rola, gira, corre, arrebentando-se e finalmente apagando-se.

A LENDA O CENÁRIO Há muito tempo, nas terras gauchescas, houve uma noite tão longa, parecendo que nunca mais haveria luz do dia. Na tarde anterior, quando o sol se escondia atrás das pequenas, arredondadas e contínuas elevações dos campos típicos da planície sul-rio-grandense, desabou uma chuvarada, que parecia não ter fim, quase um dilúvio. Noite escura e velada pela cortina da forte chuva. Noite sem brilho no céu, sem cheiro de pastos maduros e das flores da mataria. Noite só com o ruído da forte chuva.

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Após cessar a chuva, então, escuridão e silêncio. Naquela escuridão fechada nenhum mateiro, por mais experiente que fosse, seria capaz de cruzar os campos.

Tão grande era a escuridão, que as pessoas tinham medo de se afastar e não encontrar mais o caminho. Ficavam reunidas em volta das pequenas fogueiras.

No meio do escuro e do silêncio morto, no meio daquela noite sem fim, só o téu-téu cantava o seu quero-quero e mantinha as esperanças dos homens amontoados ao redor do braseiro.

Não muito longe, numa gruta escura, vivia a Boiguaçu - a Cobra Grande - quase sempre a dormir. De tanto viver no escuro, seus olhos tinham crescido e ficado como dois faróis.

Os campos foram inundados, as lagoas não mais suportavam a capacidade de água e transbordaram inundando tudo. Todo aquele volume d’água só não conseguiu fazer desaparecer o topo das pequenas colinas. E, nessas coroas, nessas ilhotas é que a animalada se protegeu.

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A inundação quebrou o silêncio. Pios e ganidos de animais apavorados.

As cobras navegavam enroscadas nos ramos de plantas flutuantes. Nas copas dos butiás, pequenas palmeiras, abrigaram-se grande quantidade de formigas. No encontro de marolas desgovernadas boiavam ratões e outros pequeninos animais.

O BANQUETE DA BOIGUAÇU Era muita chuva e encheram todas as tocas, inclusive a da cobra-grande, a Boiguaçu que, encolhida, dormia quieta e quase morreu afogada. Então, acordou e saiu rabeando. Era muita chuva. Muitos bichos não resistiram e morreram. Faminta, Boiguaçu desandou a comer as carniças, mas só comia os olhos e nada mais. A água foi baixando, a carniça foi cada vez mias aumentando, e mais olhos a Boiguaçu comia.

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Entretanto, é bom lembrar que cada bicho guarda no corpo os vestígios do que comeu. A vaca nova, que come trevo maduro, tem seu leite com cheiro de milho verde; pássaro que come peixes, como o socó, o biguá e a garça, conserva o cheiro do pescado até no sangue.

A METAMORFOSE DA BOIGUAÇU Os olhos nas carniças guardavam, ainda, um pouco da luz assistida pelos animais no derradeiro e luminoso dia, que antecedeu a noite sem fim. Ao mesmo tempo em que a Boiguaçu comia os olhos, guardava em seu corpo um pouco do brilho dessa luz. Assim, o corpo da Boiguaçu foi ficando transparente, invadido pelos tantos olhos com pingos de luz que devorou. A Boiguaçu transformou-se num clarão de luz amarela com tons da tristeza e desespero, que antecedem a morte violenta de animais. Tão transformada por seu clareamento e transparência, que os homens não a reconheceram e julgando ser outra cobra, uma cobra de fogo, chamaram-na de boitatá.

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Muitas vezes, faminta, a boitatá rondou os povoados. A escuridão acentuava o clarão embaçado de seu corpo. Como vigia, o téu-téu cantava seu quero-quero para avisar. Curiosos, os homens olhavam admirados para aquela enorme serpente transparente, que contrastava com a escuridão por onde passava.

Depois choravam desatinados. Suas lágrimas guardavam a luz cobiçada pela boitatá, já enfastiada dos olhos das carniças.

DESTINO DA BOITATÁ Com o passar de algum tempo, a grande cobra temida morreu de fraqueza, porque os olhos comidos encheram-lhe o corpo, mas não lhe deram vigor. Então, o corpo da boitatá desmanchou-se e a luz, que estava presa, se desprendeu. Aquilo que morre se junta à semente de origem, para nascer de novo.

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A luz da boitatá fugiu à regra e não se juntou com a luz de sua origem. É fogo que rola, gira, corre, corcoveia e apaga-se. Quando menos se espera, reaparece do mesmo jeito. Tal como alma de gente ruim, seu destino de desatino e solidão promete ser muito longo. Todos os dias, arisca, a boitatá, toda enrolada como uma bola, tatá, de fogo, começa a correr sem rumo até à madrugada. Alguns afirmam: a boitatá para resgatar seus desatinos, por castigo, ficou encarregada de zelar pelas campinas.e matas. A serpente de fogo, boitatá é o gênio que protege e promove a preservação do verde. Sempre castiga os que põem fogo no mato.

CUIDADOS COM A BOITATÁ Quem encontra a boitatá pode até ficar cego. Quando alguém topar com ela só tem dois meios de se livrar: - se a pé: ficar parado, bem quieto, de olhos fechados, apertados e sem respirar até ela desaparecer; e

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- se a cavalo: fazer um grande laço como se fosse prender um boi e atirar-lhe em cima, e tocar a galope trazendo o laço de arrasto, todo solto, até a ilhapa (parte mais grossa do laço). A boitatá acompanha o ferro da argola, mas ao bater numa vegetação rasteira, se desmancha, e esfarinha sua luz. Não pense que se desfez de vez, vagarosamente recompõe-se. Vaqueiro cauteloso, mesmo que o pasto seja abundante, conduz seu gado para longe da morada da boitatá.

FONTES:Livro - Lendas do Sul – J. Simões Lopes Neto “Sites”:arteducacao.pro.br; brasilfolclore.hpg.ig.com.br;educaterra.terra.com.br;portalsaofrancisco.com.br; pt.wikipedia.org; sitededicas.uol.com.br; e terrabrasileira.net.