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MAIO 2013 INFORMATIVO OFICINA DE JORNALISMO COMUNITÁRIO PROJETO ADUBANDO RAÍZES LOCAIS PÁGINA 2 PÁGINA 3 PÁGINA 4 Um movimento orga- nizado por morado- res e instituições locais dedicados totalmente ao desenvolvimento do Complexo do Alemão. Uma realidade tida como ficção representada nas “te- linhas”, que ultrapassa o senso do respeito humano e valores sociais. CAIC: reforma já! Alunos do CAIC Theóphi- lo de Souza Pinto, Nova Brasília - Complexo do Alemão, não estão feli- zes com a infraestrutu- ra desgastada da escola. Agentes Comunitários de Saúde do Alemão relatam aumento considerável de doenças a partir do aban- dono das obras do PAC. O Projeto Adubando Raízes Locais, patrocinado pela Petrobras, tem dirigido suas atividades, a partir da construção coletiva, para o fortalecimento de atores locais e para o desenvolvi- mento social, econômico e humano. Temos o prazer de compartilhar o segundo número do jornal Fala Fave- la no qual os protagonistas do processo são jovens es- tudantes de escolas públi- cas da localidade. É imen- samente gratificante poder construir coletivamente propostas de intervenção que possibilitem mostrar a potência e a criatividade dos moradores do Conjun- to de Favelas do Alemão. Os impactos do PAC na saúde do morador do Alemão O legado das obras do Programa de Aceleração do Crescimento Salvaram só o “Jorge” Coletivo PENSA ALEMÃO Foto Coletivo PENSA ALEMÃO

Fala Favela 02

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Projeto idealizado por estudantes da Escola Jornalista Tim Lopes, participantes do projeto Adubando Raízes Locais, patrocinado pela Petrobras em 2012 e 2013.

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Maio 2013 • inforMativo • oficina de JornalisMo coMunitário • ProJeto adubando raízes locais

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Um movimento orga-nizado por morado-res e instituições locais dedicados totalmente ao desenvolvimento do Complexo do Alemão.

Uma realidade tida como ficção representada nas “te-linhas”, que ultrapassa o senso do respeito humano e valores sociais.

CAIC: reforma já!

Alunos do CAIC Theóphi-lo de Souza Pinto, Nova Brasília - Complexo do Alemão, não estão feli-zes com a infraestrutu-ra desgastada da escola.

Agentes Comunitários de Saúde do Alemão relatam aumento considerável de doenças a partir do aban-dono das obras do PAC.

O Projeto Adubando Raízes Locais, patrocinado pela Petrobras, tem dirigido suas atividades, a partir da construção coletiva, para o fortalecimento de atores locais e para o desenvolvi-mento social, econômico e humano. Temos o prazer de compartilhar o segundo número do jornal Fala Fave-

la no qual os protagonistas do processo são jovens es-tudantes de escolas públi-cas da localidade. É imen-samente gratificante poder construir coletivamente propostas de intervenção que possibilitem mostrar a potência e a criatividade dos moradores do Conjun-to de Favelas do Alemão.

Os impactos do PAC na saúde do morador do AlemãoO legado das obras do Programa de Aceleração do Crescimento

Salvaram só o “Jorge”

Coletivo PENSA ALEMÃO

Foto Coletivo PENSA ALEMÃO

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2 • MAIO 2013

EXPEDIENTE

equiPe técnica ProJeto adubando raízes locais: Alan Brum, David Amen, Ricardo Moura, Helcimar Lopes, Sidney Otoni // ProJeto gráfico: Carolina Noury // colaboradores: Erick Mouros, Karen Melo e Igor Fonseca // editor:Ricardo Moura // diagraMação e textos: Bruno Queiroga, Dannilo Noia, Diogo Monteiro, Lucas Alvarenga, Stephany Oliveira // revisão geral: Ricardo Moura e David Amen // Tiragem 2.500 exemplares // Impressão DGD Artes Gráficas // raízes eM MoviMento: Avenida Central, 68 - Morro do Alemão - Rio de Janeiro/RJ // Tel: 2260-3998

Ao longo dos úl-timos cinco anos, o Complexo do Alemão ganhou uma grande visibilidade tornando-se um pólo turístico de grande potencial - explorado largamente pelos meios de comu-nicação de massa, até mesmo como cenário de novela.

Mas, ao contrário do que se vê na mídia de massa, a realidade nas ruas, becos e vie-las, evidencia um qua-dro de descaso do po-der público para com os moradores locais.

Isto motivou a reali-zação de um encontro entre o Instituto Raí-zes em Movimento, a partir do projeto Adu-bando Raízes Locais, juntamente com mo-radores, atores sociais que atuam na área de saúde, associação de moradores e outros parceiros para pensar e construir possibilida-des de modificar este quadro, chamando as-sim, a atenção para os reais problemas que os moradores vivem em relação, especialmen-te, às obras inacabadas do PAC.

É senso comum que o Programa de Aceleração do Crescimento deveria gerar melhorias substanciais para a comunidade, mas, após cinco anos – já que o projeto iniciou no ano de 2008 – não obteve resultado neste sentido. Diante disso, nos perguntamos onde e como foi investido os mais de R$ 1 bi desti-nado às intervenções urbanísticas? O legado do PAC para o Conjun-to de Favelas do Ale-mão é de esgoto a céu aberto, lixo, escombros, doenças etc. provoca-dos, sobretudo, pela má construção e con-dução das políticas pú-blicas desenhadas para a região.

Na tentativa de mobilizar os morado-res da região surgiu o PENSA ALEMÃO, com a proposta de in-

tervir em pontos es-tratégicos da favela, abandonados pelo PAC. Afixar faixas e cartazes elaborados para chamar a aten-ção da população bem como do poder públi-co em relação às obras deixadas pelo caminho foi um dos meios en-contrados pelo coleti-vo para tencionar esta questão, além de fazer propostas, incentivar a reeducação ambiental junto aos moradores, exigir das secretarias competentes limpeza e saneamento de locais que estão cheios de esgotos, lixos e entu-lhos, despertar na po-pulação a consciência de zelar, cuidar, exigir e garantir participação efetiva na construção de um Alemão, ao mais digno, já que isso não é direito de alguns, mas de todos. Por isso, PEN-SA ALEMÃO!

Erick Mouros e Karen Melo

Encontro para questão do ordenamento do l ixo

Coletivo cria ações que focam no desenvolvimento social e humano

Foto Coletivo PENSA ALEMÃO

PENSA ALEMÃO: nasce um contraponto à realidade

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O Complexo do Alemão foi identifica-do como a favela de pior IDH (dados IBGE 2000) e muitos fatores ligados à área da saú-de contribuíram para isso, como a falta de sa-neamento básico, lixo e esgoto a céu aberto.

O Centro Munici-pal de Saúde (CMS) do Morro do Alemão, atende aos morado-res da localidade. Seu principal objetivo, de acordo com o coorde-nador do CMS, Wag-ner José, (conhecido como Wagão), é a pro-moção da saúde. Evi-tar que pessoas que não tenham doenças adoeçam.“A gente não faz só consulta, faze-mos também trabalho de educação e saúde, compartilhamos com pessoas o aprendizado a partir de grupos de hipertensão e diabetes, para as pessoas não agravarem suas situa-ções”, afirma.

Mas o CMS tem muitos problemas, muitos deles herda-dos, inclusive, após as

obras do Programa de Aceleração do Cresci-mento - PAC. Segundo alguns agentes comu-nitários de saúde, que atuam na favela, obras mal feitas e inacaba-das trouxeram muitas doenças causadas pela água que se mistura com o esgoto: hepatite, diarréia e doenças de pele, como escabiose são as mais freqüentes.

- Hoje tem muitos canos quebrados e es-goto a céu aberto, isso causa muito proble-ma, não só aqui. Veja nos Mineiros: não tem nenhum saneamento básico, a parte dos Mi-neiros, lá em cima, é to-talmente abandonada, são as piores áreas, em questão de doenças, hipertensão, doenças de pele e outros tipos de doenças. Daqui do início do morro para trás as coisas pioram, critica Wagão.

Após as obras do PAC, não houve mu-dança significativa no quadro. Pelo contrário, com as obras inacaba-das a situação piorou

devido à diversidade de terrenos abandonados e casas compradas pelo PAC e não derrubadas, que ficaram vazias após serem esvaziados pelo PAC. Sem que nada tenha sido construído nesses locais até agora, acabaram sendo utiliza-dos como depósito de lixo e entulhos. - Não tenho porcentagem, mas aumentou sim as doenças relacionadas a falta de saneamento bá-sico, salienta.

Wagão também aponta para dificul-dades no desenvolvi-mento do trabalho re-lacionado a promoção de saúde: - A maior dificuldade é fazer a população entender que não é apenas o médico responsável

pela saúde da pessoa, mas também os enfer-meiros, os técnicos, os agentes. Não é apenas o remédio que vai fa-zer a pessoa se curar, mas a mudança de hábitos, saber que ele também é responsável pela sua saúde, isso é dificultador, reclama.

O CMS hoje já não trabalha mais com ne-nhum grupo de terceira idade, uma vez que o úl-timo grupo teve de fazer suas atividades fora da unidade por falta de es-paço físico, ainda assim atende cerca de 12 mil pessoas e funciona em meio à contraditória situ-ação de tentar melhorar a saúde da população em um local que se en-contra em um estado de insalubridade gritante.

Saúde no Alemão é prejudicada pelo PACObras inacabadas do PAC pioraram a situação da saúde no Alemão.

Carlos Bruno e Igor Fonseca

Escombros decorrentes do abandono das obras do PAC

Foto Helcimar Lopes

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O CIEP da Nova Brasília precisa de reforma

cia”, é como se o tema não estivesse em toda a cidade. por outro lado, praticamente ignoram as necessidades da co-munidade e a precarie-dade na prestação dos serviços públicos. Os holofotes são para ar-tistas da “ficção”.

É, salvaram o Jorge. Mas esquece-ram da dona Maria, do seu Zé, dos seus filhos, netos e bisnetos.

Stéphany Oliveira

Única escola que está localizada dentro do Complexo do Ale-mão, o CAIC Theóphi-lo Souza Pinto, mais conhecido pelos mora-dores como o CIEP da Nova Brasília, é consi-derado uma relíquia por parte da comunidade. A grande maioria dos estudantes do colégio afirma que a qualidade do ensino é boa, assim como os professores, porém a infraestrutura se encontra em péssi-mas condições e, dian-te da precariedade das instalações, não é difí-cil imaginar o quanto a

Educação fica prejudi-cada.

Um projeto do Go-verno do Estado do Rio de Janeiro indicava que uma reforma no prédio que abriga o CAIC deve-ria ter começado no ano de 2009, porém quatro anos depois o colégio

permanece nas mesmas condições, como afirma a estudante do 3° ano Ingrid Munique:

“As cadeiras e mesas são horríveis e na minha sala o ven-tilador, além de ser pequeno, não funcio-na e as portas foram arrancadas. A quadra está sem luz e, como estudo à noite, fica difícil de jogar.”

Segundo um es-tudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), uma infraes-

trutura de boa quali-dade nas escolas pode ser um dos diferen-ciais para o bom ren-dimento dos alunos e a redução da defa-sagem idade/série. Além disso, o atual estado de conserva-ção do prédio atrapa-lha a concentração e consequentemente o aprendizado dos estu-dantes, que precisam urgentemente de uma mudança neste cená-rio de precariedade, que atendatanto aos atuais quanto aos futuros estudantes da escola.

Salvaram só o “Jorge”

O sistema de comu-nicação de massa que po-deria ser um parceiro em busca de melhorias para a comunidade, não é. Pouco se importa quan-do o assunto é o descaso do governo. Exemplos não faltam para ilustrar negligência da mídia de massa em relação ao as-sunto. Um dos principais exemplos é a novela da Rede Globo, Salve Jorge.

A autora perdeu, ou quis perder, uma

grande chance de re-almente tocar no que importa para os mora-dores, ao invés de mos-trar repetitivamente imagens do Teleférico - como uma das “7 ma-ravilhas do mundo”, ela poderia evidenciar os problemas existen-tes em que lá estão de longa data. Não que seja obrigação da autora mostrar o que o governo deixou para trás, mas, já que tocou no assunto e

se responsabilizou em mostrar a cultura da favela, poderia, ao me-nos, mostrar algo mais autêntico. Talvez, faltou um pouquinho de esfor-ço para entender que o Alemão está para além das periguetes toman-do sol na laje. Quantos estereótipos heim me-ninas e meninos.

Os telejornais ex-ploram a imagem da favela quando a inten-ção é falar de “violên-

Dannilo Noia

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“As cadeiras e

mesas são horrí-veis (...) A quadra está sem luz...