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Ano XXXII | ed. 362 | Mai | 2015 Jornal Folha de S. Paulo abre espaço para debater o setor Páginas 4 e 5 SBPC/ML fala sobre Lei 13.003 e seus impactos Página 10 Especialistas debatem quanto custa a ineficiência no setor de saúde Páginas centrais FALTA DE QUALIDADE CUSTA CARO

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Ano XXXII | ed. 362 | Mai | 2015

Jornal Folha de S. Paulo abre espaço para debater o setorPáginas 4 e 5

SBPC/ML fala sobre Lei 13.003 e seus impactosPágina 10

Especialistas debatem quanto custa a ineficiência no setor de saúdePáginas centrais

FALTA DE QUALIDADE

CUSTA CARO

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Editorial

| Jornal do SINDHOSP | Mai 20152

SINDHOSP - Sindicato dos Hospitais, Clínicas, Casas de Saúde, Laboratórios de Pesquisas e Análises Clínicas e demais Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado de São Paulo • Diretoria

| Efetivos • Yussif Ali Mere Jr (presidente) • Luiz Fernando Ferrari Neto (1o vice-presidente) • George Schahin (2o vice-presidente) • José Carlos Barbério (1o tesoureiro) • Antonio Carlos de Carvalho (2o tesoureiro)

• Luiza Watanabe Dal Ben (1a secretária) • Ricardo Nascimento Teixeira Mendes (2o secretário) / Suplentes • Sergio Paes de Melo • Carlos Henrique Assef • Danilo Ther Vieira das Neves • Simão Raskin

• Irineu Francisco Debastiani • Conselho Fiscal | Efetivos • Roberto Nascimento Teixeira Mendes • Gilberto Ulson Pizarro • Marina do Nascimento Teixeira Mendes / Suplentes

• Maria Jandira Loconto • Paulo Roberto Rogich • Lucinda do Rosário Trigo • Delegados representantes | Efetivos • Yussif Ali Mere Jr • Luiz Fernando Ferrari Neto | Suplentes • José Carlos Barbério

• Antonio Carlos de Carvalho • Escritórios regionais • BAURU (14) 3223-4747, [email protected] | CAMPINAS (19) 3233-2655, [email protected]

RIBEIRÃO PRETO (16) 3610-6529, [email protected] | SANTO ANDRÉ (11) 4427-7047, [email protected] | SANTOS (13) 3233-3218, [email protected]

SÃO JOSÉ DO RIO PRETO (17) 3232-3030, [email protected] | SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (12) 3922-5777, [email protected] | SOROCABA (15) 3211-6660, [email protected]

JORNAL DO SINDHOSP | Editora – Ana Paula Barbulho (MTB 22170) | Reportagens – Ana Paula Barbulho • Aline Moura • Fabiane de Sá • Rebeca Salgado • Elcio Cabral | Produção gráfica – Ergon Art (11) 2676-3211

| Periodicidade Mensal | Tiragem 15.000 exemplares | Circulação entre diretores e administradores hospitalares, estabelecimentos de saúde, órgãos de imprensa e autoridades. Os artigos assinados não re-

fletem necessariamente a opinião do jornal | Correspondência para Assessoria de Imprensa SINDHOSP R. 24 de Maio, 208, 14o andar, São Paulo, SP, CEP 01041-000 • Fone (11) 3224-7171, ramais 390 e 391

• www.sindhosp.com.br • e-mail: [email protected]

Em nosso país, padecemos de muitas coisas. Faltam melhorias na saúde, na educação, no transporte, nas políticas públicas de maneira geral. O que não nos falta, no entanto, é criativi-dade. E ideias marqueteiras para os programas sociais, especialmente os anunciados pelo Go-verno Federal. Temos Mais Médicos, Minha Casa Minha Vida, Bolsa Família, Pátria Educadora, Mais Especialidades, Luz para Todos, Ciência Sem Fronteiras, PAC, ProUni, Pronatec, Brasil Sem Miséria. Todos amplamente divulgados na TV, e trabalhados minuciosamente do ponto de vista da autopropaganda.

A execução dessas políticas, no entanto, está muito longe do Brasil real. E agora, em tem-pos de crise e de anúncio de cortes de gastos, fica-nos a impressão de que pagamos um preço muito alto e além do que podíamos pagar para manter intacto um castelo de vidro.

Nossas contas de luz podem falar por nós. A pane do Programa de Financiamento Estu-dantil também. Assim como as obras paradas dos PAC I e II. E as dívidas sem fim que se acu-mulam com as faculdades que entraram na onda do ProUni, e que agora estão a ver navios, aguardando pagamentos atrasados do governo federal.

É fato que o Brasil de hoje tem menos miseráveis que há 20 anos. Também é verdade que as pessoas aumentaram seu poder de consumo, devido à estabilização da economia e a um ambiente mundial favorável vivido pelos primeiros anos do governo Lula. Mas, para mudar uma socieda-de, de fato, é preciso muito mais do que maquiagem. É preciso mais do que celulares de última geração e de te-levisores em HD. Um país de verdade se faz com arroz, feijão, investimento em educação e saúde de qualidade, e apoio à indústria nacional. Se faz com moeda forte, confiança, austeridade, bons exemplos e honestidade.

Por um Brasil real, com mais “Sérgios Moros” e me-nos “João Santanas”.

presidente

Yussif Ali Mere Jr

O BRASIL REAL

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ALCKMIN, UIP E EMPRESÁRIOS DEBATEM PANORAMA ATUAL DA SAÚDE NO BRASIL

Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, e David Uip, secretário da Saúde do Estado de São Paulo, abordaram a atual situação da saúde no 4O Fórum da Saúde e Bem-Estar, promovido em 8 de maio pelo Grupo de Líderes Empresariais (LIDE Saúde). O evento reuniu gestores, profissionais, políticos e empresários dos setores público e privado. O vice-presidente do SINDHOSP e diretor da FEHOESP, Luiz Fernando Ferrari Neto, participou do encontro.

Durante a abertura, o governador comemorou o aumento da expectativa de vida no Brasil, especialmente em São Paulo. Em 1980, a média era de 62 anos para homens e 69,4 anos para mulheres. Já em 2013, a expectativa subiu consi-deravelmente: 74 anos para homens e 80,4 anos para mulheres. Ele comentou que essa elevação é fruto de avanços da ciência e da qualidade dos cuidados médicos. Alckmin aproveitou para ressaltar as parcerias com organizações sociais, o que em sua opinião contribuíram para a melhoria da prestação de serviços de assistência à saúde no Estado de São Paulo. “Esse é um modelo que mantém os princípios do SUS, de gratuidade e universalidade, porém com mais recursos para melhorar o atendimento. O Estado de São Paulo conta hoje com 40 parcerias nos moldes das organizações sociais”, pontuou.

O governador abordou ainda o desenvolvimento da vacina contra a den-gue. “Os experimentos são conduzidos pelo Instituto Butantã, já na terceira etapa clínica. Por ser uma doença que não tem tratamento, a vacina é essencial. Podemos ser o primeiro país do mundo a ter a imunização contra os quatro tipos de dengue.”

A despeito dos avanços, David Uip traçou o cenário da saúde pública em meio à crise eco-nômica. “Uma pessoa que perde o emprego perde também o direito ao plano de saúde, o que a leva junto com sua família para o atendimento público. Além disso, a inflação na saúde é muito maior do que a registrada no restante das atividades. É praticamente impossível fazer um plano de contingenciamento para os gastos de saúde.”

A saúde mental também teve destaque no evento. O médico psiquiatra Flávio Gikovate debateu a maturidade emocional da população. Segundo ele, uma questão que independe da idade. “Isso precisa começar logo na infância. É preciso que a criança seja exposta à frustração, que saiba lidar com a adversi-dade. O amadurecimento é um processo contínuo.” A imaturidade, de acordo com o psiquiatra, é a falta de capacidade de lidar com sofrimento e frustração, pois, consequentemente, a pessoa não desenvolve empatia, uma vez que esta é a capacidade de identificar-se e solidarizar-se com a dor alheia. “A vida con-tém uma vertente de incerteza, que não vai desaparecer só porque a pessoa é imatura”, explicou.

Silvano Raia, professor emérito, ex-diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e membro da Academia Nacional de Medicina, falou sobre qualidade de vida, sobretudo as transformações pelas quais o cérebro passa ao longo da vida e a forma pela qual as informações são captadas e transmitidas pelos neurônios. Um dos pontos foi o chamado fenômeno espelho: toda vez que uma pessoa presencia uma ação, alguns neurônios são acionados. Se ela tenta repetir essa mesma ação, os mesmos neurônios são acionados.

“Isso explica que tudo o que nós sabemos resulta da cópia do que outros fizeram antes. A experiência da presença e do exemplo é a melhor forma de educação”, afirmou. O grande com-ponente da qualidade de vida, então, seria a repetição de atividades consideradas prazerosas, que

causam estímulos positivos no cérebro, que, por sua vez, estimulam a realização das mesmas atividades - um círculo virtuoso da qualidade de vida.

Tecnologia foi outro tema abordado. Hoje, nos Estados Unidos, 3/4 dos pacientes adultos procuram informação

médica na internet, o que inclui levantar dados sobre doenças, medicamentos e dietas. Além disso, eles interagem e tro-cam opiniões sobre os remédios que consomem, ou seja, existe uma demanda crescente por serviços de saúde pela via eletrônica, incluindo consultas a distância. O assunto foi abordado pelo presidente do Conselho Diretor do Instituto de Ra-diologia do Hospital das Clínicas da Facul-dade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), Giovanni Guido Cerri.

“Em um mundo com informações globalizadas, como podemos utilizar isso em benefício da saúde?”, questionou. “Essas mudanças levam o paciente a coordenar sua própria saúde. Diferente de quando só o médico dizia o que podia e não podia fazer. E essa consciência vai ser cada vez maior à me-dida que os jovens de hoje se tornarem adultos – jovens esses que terão uma expectativa de vida muito maior que a nossa.”

ACORDO

O 4O Fórum de Saúde e Bem-Estar teve também a assinatura de um acor-do bilateral para o desenvolvimento de programas de tecnologia em conjunto. O acordo foi formalizado por Claudio Lottenberg, presidente do Hospital Is-raelita Albert Einstein, e Martha Oliveira, diretora de desenvolvimento setorial e diretora-presidente substituta da Agência Nacional da Saúde (ANS). A ideia é criar

ações para mudar a lógica do financiamento na prestação de serviços. A iniciativa visa, sobretudo, a mudança na forma como são feitos partos atualmente, como parte do Projeto Parto Adequado. O Brasil é campeão na realização de ce-sarianas (que correspondem a 84% dos partos, contra 30% em outros países). O procedimento levanta questionamen-tos no meio médico por conta de riscos e custos desneces-sários, como maior uso de UTI.

FÓRUM DA SAÚDE E BEM-ESTAR ACONTECE PELO 4O ANO CONSECUTIVO EM SP

Geraldo Alckmin, governador de São Paulo

David Uip, secretário estadual de Saúde

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SUBFINANCIAMENTO, BUROCRACIAS E FALTA DE INOVAÇÃO LIDERAM RECLAMAÇÕES

Durante a manhã dos dias 11 e 12 de maio, o jornal Folha de S. Paulo debateu com gestores, especialistas e políticos os principais problemas da saúde. No fórum denominado “A Saúde do Brasil” foram abordados temas como o subfi-nanciamento do setor, a carência de pro-fissionais e da formação médica, a falta de investimentos e os desafios da saúde pública e privada no Brasil.

O secretário de Estado da Saúde, David Uip, foi um dos destaques do evento. Falou sobre o subfinanciamento, e atribuiu seu agravo ao aumento da ju-dicialização do setor. “Somente no ano passado São Paulo gastou R$ 542 milhões na compra de medicamentos em razão de decisões judiciais, sendo que investimos cerca de R$ 1 bilhão na política de compra de medicamentos no mesmo ano”, explica. “Estamos sendo obrigados a com-prar até papinha de criança em supermercado com a judi-cialização”, completou. O secretário falou também sobre a diminuição do valor dos repasses do Governo Federal ao Estado. “A situação da saúde vai piorar se não houver mudanças, isso é fato. A queda de repasses do Governo Federal e o atual cenário econômico fazem com que o sistema todo entre em crise.”

Tema polêmico retratado por Uip foi a máfia das pró-teses. Em janeiro, o jornalístico dominical Fantástico apre-sentou uma reportagem que denunciava uma indústria de liminares para autorizar a realização de cirurgias des-necessárias. “Vão me dizer que ninguém sabia dessa his-tória? É claro que sabiam, só não queriam é tocar o dedo na ferida”, disse. De mesma opinião, Pedro Ramos, diretor da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abram-ge), falou sobre o combate ao desperdício de recursos e

polemizou: “essa máfia das próteses movimentou cerca de R$ 5 bilhões ao ano, vocês sabem o que é isso? Só para item de comparação, foi mais dinhei-ro ganho do que o tráfico de drogas no país”.

Crítico, Antônio Britto, presidente da Interfarma, afirmou que os profis-sionais precisam encerrar a discussão sobre a funcionalidade do SUS e seus programas sociais. “Não dá mais para perdemos tempo discutindo se o SUS é bom ou se não é. O fato é que sem ele não teríamos o que temos hoje e nem estaríamos aonde estamos hoje, portanto, a nossa discussão deve ser sobre integralidade.”

Francisco Balestrin, presidente do conselho de administração da Asso-ciação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp), frisou que o desperdício da verba para a saúde não é causado só pela corrupção, mas também pela ges-tão ineficiente. “A saúde é algo que não depende só de um ser individual. Não adianta nada a minha vontade de querer mudar ou a vontade de um gestor

ou de um político. Essas vontades precisam estar em uníssono e o setor precisa pensar ações estruturantes na saúde, melhorando também a qualidade das gestões.”

As parcerias público-privadas e um novo modelo assistencial foram temas retratados por Eudes Aquino, presidente da Unimed Brasil, que acredita que “as PPP’s são um caminho para melhorar o atendimento à saúde, uma vez que elas conseguem alcançar patamares que o go-verno não alcança. A medicina privada não pode ser o muro das lamentações do insucesso do plano de saúde nacio-nal”, completou. “Nós do setor privado, sob a liderança ou com a colaboração da ANS, precisamos buscar ações estruturais para criar um novo modelo de gestão”, finalizou Balestrin.

Participando do painel “Aumento dos custos e o futuro da saúde privada”, Mar-tha Regina de Oliveira,

diretora-presi-dente substituta da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), concordou com Balestrin, mas também pontuou a necessidade da revisão de custos e procedimentos realizados no setor. “É preciso repensar o que significa resultado em saúde. Não é só a quantidade de procedimentos realizados”, explicou. “No mundo inteiro o custo da saúde vem aumentando consideravelmente. Discutimos a incorporação de novas tecnologias, a judicialização, mas esquecemos de pensar no modo como financiamos este modelo de saúde e como prestamos o serviço à população. Vamos precisar das operadoras e dos prestadores acreditando numa mudança junto conosco.”

FORMAÇÃO MÉDICAA qualidade do ensino, as novas regras para abertura de escolas médicas e o pa-

norama atual dos recém-formados no país também foram temas de debate. Arthur Chioro, ministro da Saúde, mencionou em seu discurso a criação pelo governo federal de 4.680 novas vagas em cursos de medicina em instituições públicas e privadas. Além

Cláudia Colucci, jornalista da Folha de S. Paulo

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SEMINÁRIO “A SAÚDE DO BRASIL” RETRATOU PRINCIPAIS PROBLEMAS DO SETOR

Luiz Fernando, Antonio Britto e Yussif

A Saúde do Brasil é debatida em seminário

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disso, 39 cidades receberam autorização para criar novos cursos, segundo ele, em pesquisa conjunta com o Ministério da Educação para preencher demandas nas regiões mais carentes do Brasil. Em 2015, Norte, Nordeste e Centro-oeste foram priorizados.

De acordo com Sigisfredo Brenelli, presidente da Associação Brasileira de Educação Mé-dica (ABEM), a sociedade precisa participar da discussão sobre a abertura dos novos cursos. “As novas diretrizes para a formação médica aconteceram sem que as escolas e a sociedade pudessem opinar. Porque nós, que somos os clientes da saúde, não fomos ouvidos? O agravan-te é que, com esse boom de novos cursos, não se investe na formação do professor”, pontuou. “É impressionante o que vou dizer, sou professor de medicina e atual-mente eu tenho medo de ir ao médico pois te-nho certeza de que ele não teve uma formação adequada.”

“O governo acha que para descentralizar a medicina é preciso formar mais médicos. Mas não necessariamente esses novos médicos vão querer atuar nas regiões isoladas ou nas periferias das grandes cidades”, acrescentou Bráulio Luna Filho, presidente do Conselho Regio-nal de Medicina de São Paulo, que participava do mesmo painel.

O também professor de cardiologia da Unifesp afirmou estar realizando, “para próprio conhecimento”, uma pesquisa sobre as universidades de medicina no Estado. Segundo ele,

ainda é possível notar a grande diferença social no Bra-sil: somente no Estado de São Paulo, por exemplo, 70% dos estudantes de medicina vem de famílias com renda mensal acima de 15 salários mínimos e 85% são brancos. Os negros compõem menos de 1% das vagas. “Exercer a medicina em áreas remotas e com salários pouco atrati-vos não será a primeira opção profissional desses médicos recém-formados.”

Luna mencionou também a coordenação cursos de medicina por profissionais de outras especialidades, como fisioterapeutas, e escolas que cobram caro pelas mensali-dades sem oferecer uma formação de qualidade. “Antes, era preciso ser um bom médico para ser um bom profes-sor de medicina. Hoje, já não precisa ser nada”, concordou Brenelli. Ambos destacaram a elaboração de um ranking dos melhores cursos como uma das saídas para obrigar as faculdades a investirem na formação de qualidade.

Florisval Meinão, presidente da Associação Paulista de Medicina (APM), crítico do programa Mais Médicos, relatou que, segundo relatório do Tribunal de Contas da União, 40% dos municípios em que o programa foi imple-mentado registraram uma queda no número de consul-tas. “Médicos brasileiros perderam postos em favor dos médicos estrangeiros. Concordo que uma equipe bem formada é necessária para melhorar o atendimento, mas elas precisam de estabilidade. Esse é, ao lado da criação de infraestrutura, um dos meios de fixar médicos em regiões em que há déficit de profissionais.”

Os painéis “Brasil: Pátria inovadora?”, “Sistema de co-pagamento: o desembolso do cidadão” e “O sistema regulatório no Brasil” discutiram dois assuntos que sempre estão em pauta na saúde: a demora da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em regular medicamentos e novas drogas e o número ínfimo de pesquisas e ensaios clínicos no país.

Participaram dos debates Jarbas Barbosa, secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde; Paulo Hoff, diretor-geral do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp); Carlos Goulart, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria Médica (Abimed); Carlos Hen-rique de Britto Cruz, diretor científico da Fapesp; Ana Paula Ruenis, diretora-presidente da Abracro, associação que representa as organizações representativas de pesquisas clínicas, conhecidas como ORPCs; Ivo Bucaresky, diretor-presidente substituto da Anvisa, Walter Ihoshi, deputado federal (PSD) e José Miguel do Nascimento Jr., diretor do Programa Farmácia Popular.

“O Brasil criou nos últimos anos uma série de incentivos à inovação, mas não diminuiu os enor-mes obstáculos para as empresas fazerem pesquisa”, disse Britto Cruz .”

Hoff acredita que o avanço da inovação na área médica no Brasil conta ainda com problemas culturais, onde “há o estímulo nas universidades para a publicação de artigos científicos, mas não há o mesmo empenho para incentivar os pesquisadores a gerar novas patentes. Muito do que es-tudamos hoje poderia gerar novas patentes de medicamentos, mas estes processos não avançam por causa da burocracia para gerar ensaios clínicos”, disse. O secretário Jarbas Barbosa rebateu a afirmação dizendo que os institutos de pesquisa devem se aproximar cada vez mais da indústria. “Há um bom conjunto de colaboração entre universidades e empresas privadas. Além disso, a Anvisa tem tomado medidas regulatórias para aperfeiçoar o ambiente de testes para novos me-dicamentos”, explicou.

Ana Paula destacou a burocracia também para aprovação de novas drogas. “Nos últimos anos, tem havido uma queda no número de novos ensaios clínicos para a criação de novas drogas, e uma das razões para isso é a burocracia. As empresas levam mais de dois anos para verem o retorno de seus in-vestimentos. O prazo médio para o primeiro parecer da agência reguladora tem sido de 267 dias, mas já houve casos de um medicamento esperar mais de 480 dias para ser aprovado. Vejamos a diferença:

PESQUISA CLÍNICA, REGULAÇÃO E IMPOSTOS SOBRE MEDICAMENTOSnos Estados Unidos, Canadá e Coreia do Sul, líderes mundiais em pesquisas clínicas, o tempo médio para a aprovação oscila entre 30 e 90 dias”. Bucaresky justificou a demora dizendo que “o número alto de processos esbarra na limitação do nú-mero de servidores da agência que, além de medicamentos, é responsável por processos envolvendo muitas outras cate-gorias de produtos, desde cosméticos a defensivos agrícolas.”

Ihoshi sugeriu que a tributação dos remédios no país fosse equivalente à de produtos da cesta básica, para que mais pessoas possam comprar e para viabilizar um sistema de reembolso na compra de medicamentos. “Todos os go-vernos têm medo de perder arrecadação, mas, sem os tribu-tos, o consumo aumenta e, em consequência, a arrecadação também”, disse. “O acesso aos medicamentos garantem avanços, mas é uma pena que esse acesso ainda não esteja disponível para todos.”

José Miguel afirmou que solicitou ao Ministério da Fa-zenda a desoneração dos remédios que entram no progra-ma Farmácia Popular, mas os pedidos não foram aceitos. “A prioridade do programa é chegar a todos os municípios que estão no mapa do ‘Brasil sem Miséria’, mas muitos deles não têm nem uma farmácia privada para se associar ao progra-ma.” Goulart fechou a discussão comentando que nos últi-mos quatro anos, a economia brasileira cresceu em torno de 10%, mas a produção local de medicamentos caiu de 37% para 31%. “A verdade é que continuamos patinando quando o assunto é inovação,” disse.

Ministro da Saúde, Arthur Chioro, participa do evento

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Manchete

O tema central do Qualihosp – Congresso Internacional em Serviços e Sistemas de Saúde edição 2015 foi “O custo da não qualidade”. Realizado de dois em dois anos – com apoio institu-cional do SINDHOSP – o evento sempre traz à tona enfoques cruciais para a sustentabilidade do setor de saúde, que padece com orçamentos reduzidos em tempos de crise, em contraposição a gastos crescentes com doenças crônicas, envelhecimento e desenvolvimento da tecnologia mé-dica. O evento foi realizado este ano no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, nos dias 27, 28 e 29 de abril.

A dificuldade para equacionar os custos não é exclusiva do Brasil, como ficou constatado durante o Congresso. Convidados internacionais, de países como Es-tados Unidos e Índia, traçaram um panorama sobre as situações de seus sistemas de saúde. O indiano Narottam Puri, do Fortis Healthcare Limited, falou sobre os de-safios de ter um sistema de saúde que atende a 1,2 bilhão de habitantes. Para ele, os problemas da saúde são os mesmos em todo o mundo: custos crescentes da assistência, mudança nos padrões de morbidade, pandemias, mais expectativas dos consumidores – visto que estes têm mais acesso a informação – , carência de profissionais e, principalmente, envelhecimento populacional. “Em média, 25% do total dos gastos de saúde de uma pessoa são realizados em seu último ano de vida”, afirmou.

Assim como no Brasil, a população indiana sofre com enorme desigualdade. Lá, a iniciativa privada também é forte e lidera o movimento pela qualidade. “A assistência privada é responsável por cerca de 70% das internações e das consultas. Mas vivemos um paradoxo, porque temos apenas 45% das crianças imunizadas e mais de 75% das crianças entre 6 meses e 5 anos com anemia. Temos um dado que demonstra bem a ausência do Estado: 24 milhões de indianos entraram na pobreza por conta dos altos gastos que tiveram com a saúde. Na Índia a saúde não é universal, mas estamos trabalhando para que se torne”, explicou Puri.

Nos Estados Unidos, o ObamaCare tem revolucionado aos poucos a maneira como os norte--americanos ofertam saúde a sua população. A palestrante Jean D. Moody-Williams, representante do Quality Improvement Group (QIG) do departamento de Saúde e Serviços Humanos do governo federal dos Estados Unidos, apresentou as principais mudanças. Segundo ela, são três as metas a se-rem alcançadas: melhor atendimento, pessoas mais saudáveis e menos custos. “O sistema de saúde americano era fragmentado, percebemos que o sistema deveria ser centrado no paciente, e não no serviço”, explicou a americana. Ela afirmou que em 2060 os EUA vão gastar 20% do PIB em as-

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sistência médica. E que os hospitais são lugares para pessoas muito doentes e que precisam de cuidado intensivo. “Hos-pitais são lugares inseguros. Precisamos de menos pessoas hospitalizadas e mais em ambulatórios externos. O pulo do gato é focar em prevenção. A importância dos hospitais não diminuirá, mas o tratamento fora do hospital é tendência. É mais barato e melhor para o paciente”, disse.

Para Maureen Lewis, da Georgetown University (EUA), a palavra-chave é mu-dança. “Há uma forte pressão para mu-darmos o modelo dos serviços de assis-tência. Antes, a ênfase do serviço era no cuidado a episódios agudos de doença. Hoje, a ênfase deve ser no cuidado contí-nuo”, afirmou a pesquisadora.

Ary Ribeiro, superintendente de Serviços Ambulatoriais do Hospital do Coração (HCor), corroborou a afirmação dos palestrantes internacionais. “O hospi-

tal deve deixar de ser o centro do sistema de saúde, o local onde todo o cuidado ao paciente é prestado, e passar a ser o coração do sistema, responsável por prover a assistência em situações que demandam tecnologia e cuidados inten-sivos”, disse.

A experiência de Curitiba foi compartilhada com o público por Adriano Massuda, secretário de saúde da ca-pital paranaense. Lá, o modelo de atenção à saúde foi or-ganizado com foco no acesso, humanização, integralidade e resolutividade, tendo a atenção primária à saúde como principal porta de entrada e ordenadora do sistema. “Pre-cisamos diminuir o tamanho da urgência, ela está inchada”, reforçou Massuda.

O indiano Narottam Puri, do Fortis Healthcare Limited

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EXPERIÊNCIAS MOSTRAM QUE O CAMINHO É EQUALIZAR CUSTOS E MUDAR O MODELO ASSISTENCIAL

Jean D. Moody-Williams falou sobre o Obamacare

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Público confere congresso, uma tradição no setor

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Michelle Mello, diretora-adjunta de Desenvolvimen-to Setorial da Ag~encia Nacional de Saúde Suplementar (ANS), também apontou a natureza “hospitalocêntrica” do sistema de saúde brasileiro. “Cerca de 30% dos pacientes internados poderiam ser atendidos em outro perfil de servi-ço”, afirmou. “Precisamos mudar a cultura dos profissionais e usuários do sistema de saúde.”

O CEO da Prevent Senior, Fernando Fagundes Parrillo, revelou a experiência da empresa em aprimorar um mode-lo que foca em prevenção. “Nossa sinistralidade está abaixo dos 70%, o que é um número expressivo, principalmente considerando o público-alvo, de pessoas com idade a partir de 49 anos. Cinco passos que a Prevent tomou desde a fun-dação: processos feitos com Six Sigma (tudo é medido); pro-tocolo clínico; disciplina; controle e fiscalização; e coragem para mudar”, enfatizou.

GESTÃO DE CUSTOS

Além de promover a mudança do modelo “hospitalo-cêntrico”, é preciso evoluir em gestão de custos. “É um im-perativo”, segundo Afonso José de Matos, diretor-presiden-te da Planisa. ”Ainda há um percentual muito pequeno de instituições de saúde que conhece os seus custos. Estamos muito aquém, primeiro no alcance da informação, segun-do no exercício da gestão por todos aqueles que exercem a gerência, de fato”, afirmou. Segundo ele, a informação de custo tem que ser disseminada, porque o melhor gestor de custo é quem exerce a atividade. Por exemplo: o gerente de um centro cirúrgico ou de uma UTI que não conhece seus custos não está exercendo seu papel de forma clara.

Para Maria Dolabella de Magalhães, médica e gerente da Qualidade da Associação Paulista para o Desenvolvimen-to da Medicina (SPDM), os limites não são nítidos do que vale a pena investir ou não. Sem contar a complexidade da atividade assistencial. “Um bebê prematuro, por exemplo, pode passar pela avaliação de até nove especialistas. E esses especialistas trabalham no ambulatório, no centro cirúrgico, na UTI. A dificuldade de colocar limites esbarra na delimita-

QUANTO CUSTA A NÃO QUALIDADE?Segundo a norte-americana Jean D. Moody-Williams, o custo da não qualidade tem um

número: 30% dos recursos da saúde nos Estados Unidos podem estar sendo desperdiçados por conta da falta de controle. Aqui no Brasil, para os especialistas, não há como quantificar esta perda de maneira a cravar uma porcentagem, mas sabe-se que o desperdício também é grande. “Não tenho elementos que possam dizer se é 20, 30 ou 40%. Mas, por exemplo, sabemos que a falta de prevenção em tratamentos de asma aumenta em 79% as internações. É um dado relevante e impactante”, afirmou Afonso, da Planisa. Segundo ele, utilizações ina-dequadas também geram enorme perda de recursos financeiros, como um centro cirúrgico com apenas 30% de ocupação. “É um recurso que está custando, sem promover efetividade de utilização, e não está levando qualidade.”

Para Maria Dolabella, é muito difícil ter noção do custo da não qualidade no Brasil. “Mas sabemos que quando se atrasa o tratamento de um Acidente Vascular Cerebral ou de uma trombose, por exemplo, por falta de evidências científicas ou por ineficiência do sistema, além de aumentar os custos da UTI, elevam-se os custos sociais desse dano para o paciente, que carregará sequelas.”

O presidente do SINDHOSP e da FEHOESP, Yussif Ali Mere Jr, participou do evento, e es-teve na abertura oficial. Para ele, os debates são importantes e, mais ainda, a mudança de pos-tura dos governantes, porque não se pode discutir qualidade somente na saúde privada. “É importante que a gente discuta o que podemos melhorar na saúde. O tempo está passando e nossos governantes não se imbuem da consciência de que nós precisamos investir”, disse.

Segundo a coordenadora do Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP), Ana Maria Malik, não há lei que obrigue a instituição de saúde a buscar certificação, feita por empresas externas encarregadas de avaliar centenas de processos em um hospital como prontuários, taxa de infecção e capacitação de funcioná-rios. “Não há nenhuma vantagem em ser acreditado no Brasil, nem penalidade por não sê-lo. Isso fica a critério dos gestores de hospitais e da disponibilidade de recursos”, disse.

Apenas 4,61% dos 6.140 hospitais brasileiros possuem algum tipo de acreditação, espé-cie de chancela de que a instituição opera dentro de padrões estabelecidos de qualidade e segurança. Nos EUA e no Canadá, governos e seguradoras de saúde exigem certificação dos hospitais com os quais firmarão contratos ou parcerias. Dos 283 hospitais acreditados no país, quase 40% estavam concentrados em território paulista. As regiões Norte, Acre, Rondônia, Roraima e Tocantins não têm instituições certificadas.

ção desses custos”, definiu. Daí a importância da tecnologia da informação para operacionalizar, dimensionar e estratificar os gastos dentro de um sistema complexo como o da saúde. Na Europa e na América do Norte, segundo Maureen, da Georgetown, os maiores custos dos hospitais atual-mente estão na área de tecnologia, e não nas doenças crônicas e decorrentes do envelhecimento.

Envolver o corpo clínico nesta questão é outro ponto fraco do sistema. “Envolver a equipe assistencial na parte de custos é uma dificuldade. O aspecto cultural aqui no Brasil é muito forte de não se discutir”, afirmou Maria Dolabella. Para Afonso José de Matos, da Planisa, este é o tema capital dos debates que giram em torno dos custos na saúde. “Quem define a permanência do paciente, o uso do exame, quais materiais e medicamentos serão escolhidos é o médico, e isso não pode ser diferente. Então como o médico não tem nada a ver com os custos da gestão? É preciso ficar claro que o custo de um hospital não acontece na sala do diretor financeiro, acontece em cada metro quadrado do hospital, principalmente com aqueles profissionais que influenciam na qualidade”, reforçou.

Embora seja premente conhecer os custos, e gerenciá-los, José de Matos lembra que é muito nocivo gerenciarmos nossas organizações pelo custo. “Diria que é quase trágico”, sentenciou. “O custo não tem que comandar nada, porque o melhor custo é decorrente da melhor qualidade. É na qualidade que tem de estar o fundamenta da assistência.”

Ana Maria Malik, da FGV Saúde

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8 | Jornal do SINDHOSP | Mai 2015

Em dia

CADEIA PRODUTIVA ENCONTRA-SE COM ARTHUR CHIORO

O Comitê da Cadeia Produtiva da Bioindústria (BioBrasil) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) recebeu o ministro da Saúde, Arthur Chioro, na sede da instituição na capital paulista, no dia 4 de maio, para debater sobre os investimentos no complexo industrial da saúde e as perspectivas para a área em 2015. Em meio à crise, e aos anúncios de corte de gastos, o crescimento do setor da saúde preocupa empresários, gestores, investidores e usuários dos sistemas público e privado da saúde.

Chioro traçou um panorama dos investimentos no setor e comentou que nos últimos dois trimestres o segmento apresentou retração econômica, embo-ra ainda continue muito importante para a economia do país e responsável por 9% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Também defendeu o reconheci-mento dos erros de gestão e a necessidade de melhorias ao invés de tentar achar culpados pela situação da saúde no Brasil. Ele ressaltou a importância em apoiar os Estados e municípios na mudança da produção da saúde e disse que o minis-tério está comprometido em fazer a sua parte nesta questão. “Os sistemas têm de funcionar sob a lógica do interesse dos usuários e da regulação, tanto do acesso como da qualidade do cuidado.”

Para alcançar este objetivo, o ministro disse que a previsão de investimentos para o Programa de Pesquisa para o Sistema Único de Saúde (PSUS) é de R$ 75 milhões, sendo R$ 50 milhões inje-tados por meio do ministério e os outros R$ 25 milhões via Estados. “Nós não avançaremos, não teremos uma nova história no nosso complexo industrial da saúde se não tivermos capacidade de investir fortemente em ciência e tecnologia, pesquisa e desenvolvimento.” Segundo Chioro, o obje-tivo do PSUS é financiar pesquisas por temas prioritários de cada Estado, aproximando sistemas de saúde, de ciências e tecnologia dos Estados.

A inovação tecnológica e projetos de pesquisa e desenvolvimento também são importantes para o setor. O ministro informou que esses temas serão tratados como prioridade e que há a necessidade de realizar projetos para transferência de tecnologias e produção de inovação. “O governo brasileiro vem desenvolvendo um conjunto de programas e ações, como Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs), Plano de Radioterapia no SUS, o Plano Brasil Maior e o Pro-grama para o Desenvolvimento do Complexo Industrial da Saúde (Procis)”. Este último recebeu R$ 700 milhões em investimentos públicos, sendo que 88% desse total já foram aplicados em in-fraestrutura, pesquisa e desenvolvimento, qualidade e gestão.

RUMOS DA SAÚDE PÚBLICAChioro também falou sobre os rumos da gestão da saúde pública, o reajuste da tabela SUS e

o modelo de remuneração vigente. Para ele, o modelo de financiamento público para a saúde está em transição desde a década de 1990, quando o então ministro Adib Jatene deixou de pagar os procedimentos de atenção básica com base na tabela e passou a ter um piso de atenção básica fixo e um variável, de acordo com a quantidade de equipes do programa Saúde da Família. “Hoje, dos recursos que são transferidos regularmente pelo Ministério da Saúde para Estados e municípios, mais de 50% já não são mais baseados na tabela SUS, mas em modalidades de incentivo.”

Para mudar a lógica de produção dos serviços de urgência, segundo o ministro, algumas medi-das estão sendo feitas de maneira gradual, como a contratualização da assistência, a implementação de metas de qualidade e de produção e a precificação dos serviços. “O programa ‘Mais Especiali-dades’ será lançado com outra modalidade, mais moderna, que é praticada na Inglaterra, Espanha, Portugal, Canadá e outros países. E progressivamente vamos transformar a tabela em uma referên-cia de informação de produção, um valor quantitativo. Mas é claro que um sistema de referência quantitativa sempre vai precisar existir para se saber quantos procedimentos foram produzidos.”

Atualmente, de acordo com Chioro, 11,5 milhões de internações são realizas por ano no Brasil e mais de 2 bilhões de consultas médicas, quantias que somadas a todos os procedimentos chegam a despender mais de R$ 6 bilhões de recursos. “Precisamos ter um sistema de informação que

consiga quantificar e qualificar e, assim, romper com a herança do Instituo Nacio-nal de Assistência Médica Social (Inamps), que priorizava a oferta do procedimento e não o cuidado integral. O que as pes-soas precisam não é de um exame ou de um procedimento, é de um conjunto de cuidados que passa pela consulta, exame, procedimento, assistência farmacêutica, reabilitação, ou seja, o cuidado integral de suas necessidades. É deste jeito que vamos mudar o pagamento do SUS”, explicou.

Apesar do reajuste da tabela SUS ser defendido há anos por profissionais e ins-

tituições do setor, o ministro foi contundente ao afirmar que “só colocar mais recurso na tabela não vai resolver o pro-blema”. Chioro defendeu que “é preciso mudança na lógica da gestão e que o foco tem de ser a qualidade dos serviços ofertados à população”.

Outras medidas também foram destacadas pelo mi-nistro, como agentes de mudança: ampliação da oferta na atenção básica, reorganização da atenção especializada, reorganização da atenção de urgência, ampliação do núme-ro de leitos de UTI e melhora da regulação.

CADEIA PRODUTIVANo encontro, o coordenador titular do BioBrasil, Ruy

Baumer, pediu que os investimentos na cadeia produtiva da saúde sejam fortalecidos apesar da crise econômica viven-ciada pelo país. “Não podemos ter perdas acentuadas em épocas de redução do desenvolvimento econômico. Que-remos ouvir que a verba será aumentada, os investimentos acelerados e os valores de repasse (a cada Estado) atualiza-dos apesar da crise”, defendeu Baumer.

Segundo o Chioro, a retração econômica, em meio ao

Paulo Skaf, presidente da FiespFo

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AÇÃO

MINISTRO DA SAÚDE DEFENDE MENOS ERROS NA GESTÃO PARA A MELHORIA DA SAÚDE

Público formado por líderes do setor assiste atento às apresentações

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Em dia

Mai 2015 | Jornal do SINDHOSP |

ajuste fiscal organizado pelo governo, não deve impactar o orçamento da Saúde este ano. Mas, o reflexo negativo pode ser sentido em 2016 porque o orçamento para o ano que vem será calculado com base na receita corrente líquida. “Em agosto próximo devemos ter as primeiras expectativas.”

Para o presidente da Fiesp e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Paulo Skaf, a retração eco-nômica afeta todos os setores da indústria. “Não só o setor da saúde, mas a indústria em geral este ano tem previsão de crescimento negativo. Então temos que buscar alternativa para retomar o crescimento do Brasil, é isso que importa.”

Skaf ainda disse que a solução para o financiamento da saúde não está em se criar novos impostos. “Se sempre se-rão criadas novas tributações e taxas, então para que servem os impostos arrecadados?”, indagou, lembrando que a arre-cadação total de impostos este ano deve ser de quase R$ 2 trilhões. “Se aumentar imposto ou criar contribuições resol-vesse, nós seríamos um país perfeito, porque todos os anos ao longo dos últimos 25 anos sempre se inventou impostos e promoveu aumento dos já existentes. Eu acredito em me-lhoria de gestão, eficiência, seriedade e em prioridades para trazer efetividade e qualidade à saúde.”

DENGUEO ministro da Saúde também confirmou que há epide-

mia de dengue em pelo menos nove Estados, entre eles São Paulo. Segundo Chioro, ao menos 24 Estados brasileiros regis-traram aumento de casos em relação a 2014. “O Brasil vive uma situação de epidemia concentrada em nove Estados, que têm mais de 300 casos por 100 mil habitantes.” De acordo o minis-tro, dos 745 mil casos registrados no Brasil este ano, até o dia 18 de abril, 401 mil estão concentrados no Estado de São Paulo.

Chioro afirmou que é preciso manter a mobilização no combate à dengue. “Não podemos, porque tivemos um ano com resultados excepcionalmente bons [2014], desarmar as ações de prevenção.” O aumento no número de casos em rela-ção ao ano passado é de 234,2%, comparado ao mesmo perío-do de 2014, quando foram registrados 223,2 mil casos da doença.

O ministro disse ainda que pediu prioridade à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (An-visa) nos encaminhamentos relacionados à vacina contra a dengue. “Seria um grande ganho para o Brasil e para o mundo se chegássemos a uma vacina eficaz e segura. Esta é a intenção do ministério, tanto que estamos aplicando investimentos no Instituto Butantan, na Fiocruz [Funda-ção Oswaldo Cruz], no sentido de estabelecer parcerias para a produção dessa vacina, mas não podemos queimar etapas”, ponderou. Apesar de apostar na vacina como medida de prevenção, ele disse que considera um equívoco alimentar esperanças de que as doses estarão disponíveis já nos próximos meses. “Qualquer laboratório tem de cumprir uma série de exigências compro-vando que a vacina tem eficácia e que é segura. Nenhum produto chega ao mercado passando por cima dessa fase, seria uma irresponsabilidade. Acredito que teremos a vacina somente entre 2017 e 2018.”

O presidente da FEHOESP e do SINDHOSP, Yussif Ali Mere Jr, foi um dos convidados a compor a mesa de autoridades da plenária no encontro com Chioro, juntamente com repre-sentantes de entidades do setor. O vice-presidente do Sindicato e diretor da Federação, Luiz Fer-nando Ferrari Neto, e a diretora do SINDHOSP, Luiza Dal Ben, também participaram do evento, que ainda contou com a participação do membro do Comitê da Cadeia Produtiva da Saúde (ComSaúde) da Fiesp, Raul Cutait; do presidente da Associação Brasileira da Indústria de Arti-gos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (Abimo), Franco Pallamolla; do secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa; da secretária municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida de São Paulo, Marianne Pinotti; do presidente do Conselho Administrativo da Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp), Francisco Balestrin; e do vice-presidente da Fiesp, Juan Quirós.

PRESIDENTE DA FEHOESP E DO SINDHOSP ENTREGA DOCUMENTO AO MINISTRO

O presidente da FEHOESP e do SINDHOSP, Yussif Ali Mere Jr, no encontro realizado na Fiesp, entregou ao ministro da Saúde um documento do Comitê Paulista de Serviços de Nefrologia da Federação com reivindicações para a política de terapia renal.

O documento, que tem o apoio da Sociedade de Nefrologia do Estado de São Paulo (Sonesp), manifesta a preocupação das entidades em relação aos pacientes renais crônicos que sobrevivem por meio de terapia renal substitutiva pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e esclarece que no Estado de São Paulo são 34 mil pacientes em tratamento ininterrupto em clínicas especializadas, que estão passando por grave crise de sustentação econômica.

Os motivos para esta situação são a falta de correção, há mais de dois anos, pelo Ministério da Saúde, da tabela dos procedimentos dialíticos, cujo valor se mantém inalterado em R$ 179,03 por sessão, encontrando-se atualmente em grande defasagem em relação ao custo real dos procedimentos; a portaria MS/GM nO 1.535, de 23 de julho de 2014, que reordenou o tratamento hemodialítico; embora tenha promovido avanços concretos, elevou gastos sem prever seu ressarcimento. Some-se a isto os recentes aumentos dos custos de eletricidade, água, reajuste salarial dos trabalhadores, a alta carga tributária incidente sobre o setor, além do aumento do preço dos insumos importados em função da elevação das taxas de câmbio.

“Tais fatos têm produzido grave desequilíbrio financeiro dos serviços de nefrologia. Prova incontestável desta situação é o fechamento dos convênios SUS de duas clínicas de diálise em Santo André e Mauá, trazendo inúmeras dificuldades na realocação de cerca de 150 pacientes”, argumentou Yussif.

O ofício solicitou ao ministro da Saúde o reajuste imediato dos procedimentos dialíticos, salvando as clínicas de sua atual situação pré-falimentar; e o pagamen-to do tratamento conservador dos pacientes renais crônicos já previsto na portaria MS/GM nO 389, de 13 de março de 2014, mas não efetivado até o momento.

Cadeia produtiva da saúde reúne-se na Fiesp

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Entrevista

LEI 13.003 É POSITIVA, MAS PRECISA SER APRIMORADA

A regulamentação da Lei 13.003, publicada em dezembro pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), definiu regras para os contratos entre operadoras de planos de saúde e pres-tadores de serviços e estão em vigor desde o dia 22 de dezembro. Essas regras estão descritas nas Resoluções Normativas RN 363, RN 364 e RN 365 e na Instrução Normativa 56.

O Jornal do SINDHOSP conversou com a presidente e o diretor de Defesa Profissional da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), Paula Távora e Vitor Pariz – respectivamente – para saber como andam as negociações entre laboratórios e planos de saúde. Confira:

Jornal do SINDHOSP: Em nosso Congresso Brasileiro de Gestão em Laboratórios Clínicos, realizado em 20 de maio durante a Hospitalar, abordamos a Lei 13.003/14. Quan-do anunciada, ela gerou grande expectativa para o mercado, renovando as esperanças de prestadores de serviços de saúde, especialmente os laboratórios clínicos, que passaram a contar com a certeza da reposição financeira de seus custos, além de mais reconhecimento pela qualidade dos serviços que prestam. Qual a sua avaliação, passados alguns meses da regulamentação da lei, em relação ao seu resultado prático para o mercado? Ela já pode ser considerada um marco?

Paula Távora: A Lei 13.003/14 foi recebida com muita satisfação pela SBPC/ML, foi sem dúvida o resultado de um grande esforço coletivo entre entidades e associações do setor laboratorial. Temos algumas ressalvas sobre a forma como alguns itens de correção financeira foram atrelados a um teto, como exemplo o Fator de Qualidade. O seu resultado prático pode ser desestimulador para as instituições que já cumprem o seu papel responsável em distinguir seu serviços pela excelência e qualidade e esta distinção ser limitada pela definição de um teto. Sem dúvida consideramos um marco, por ter sido publicada após 7 anos de extensivo trabalho entre os envolvidos no assunto e ter sua publicação em um ano de austeridade, crise e recessão econômica.

Vitor Pariz: Na prática, o que temos visto é justamente aquilo que temíamos, ou seja, a cláu-sula obrigatória de livre negociação estabelecida pela ANS manteve a balança pendendo para o lado mais fraco e as operadoras, em geral, têm insistido em reajustes irrisórios como 1,5% ao ano. Os laboratórios acuados, como sempre, acabam aceitando por receio de des-credenciamento. Segundo informações da ANS, no mês de maio haveria uma convocação feita pela agência, na tentativa de levantar o impacto da nova lei. Estaremos em cima para ver o que acontece.

Jornal do SINDHOSP: Além da remuneração, o que mais consideram prioritário para o setor de laboratórios?

Paula Távora: Uma atenção especial da ANS ao desequilíbrio comercial en-tre prestadores de serviços e operadoras e planos de saúde. Esta intermediação dos serviços laboratoriais pelos planos de saúde onera o sistema, por priorizar interesses econômicos e não necessidades da população e clientes usuários da cadeia de diagnóstico complementar.

Vitor Pariz: A ANS precisaria entender que o foco principal deveria ser na qualidade da assistência ao segurado e que qualquer elo da cadeia de saúde que não se sus-tente, ou que se rompa, afetará diretamente o usuário do plano. Hoje os laboratórios são o “elo fraco” pois não sofrem reajuste há vários anos, as fontes pagadoras têm enorme poder frente as negociações de reajuste, e a regulação da ANS não tem se mostrado efetiva. As consequências disso são a falta de capacidade de investimento em qualidade e melhoria contínua por parte dos laboratórios, principalmente pequenos e médios, que são a maioria no país. A prioridade hoje

é conseguir uma remuneração justa, que permita todas as ações acima descritas.

Jornal do SINDHOSP: No que diz respeito à tecnologia – outro espectro abordado durante nosso Congresso - , os laboratórios certa-mente investem muito, a fim de obter melhores resultados diagnósti-cos. Qual o impacto da crise econômica para a incorporação desta

tecnologia, tão necessária ao segmento?Paula Távora: Grande impacto ne-

gativo, limitando investimento e incor-poração, além das barreiras burocráticas que se impõem em momentos de crise, atrapalhando o desenvolvimento do setor laboratorial.

Vitor Pariz: A combinação de infla-ção alta, aumento de impostos, dólar ele-vado e preços sem reajuste se traduz em um péssimo prognóstico para o setor já combalido.

Jornal do SINDHOSP: Acreditam que a medicina diagnóstica recebe a atenção merecida das políticas públicas desenvolvidas pelo país? Por quê?

Paula Távora: A medicina diagnóstica tem uma gran-de velocidade e enorme capacidade de desenvolvimento e avanços que melhoram significativamente a saúde da popu-lação, pela sua acessibilidade, agilidade e qualidade assegu-rada e eficiência no diagnóstico complementar. Fatos estes que infelizmente incomodam as políticas publicas que são

morosas, ineficientes e nem sempre públi-cas no sentido holístico da promoção da saúde da população brasileira.

Vitor Pariz: Já é sabido e vem sendo insistentemente criticado por todas as en-tidades médicas que nos representam, que as políticas públicas voltadas a saúde estão em completa dissonância com os anseios e necessidades de toda população. Com o setor de medicina diagnóstica não poderia ser diferente. Apesar de fundamentais à complementação da prática clínica, vimos sendo frequentemente apontados como

responsáveis por onerar o sistema. Como pode onerar o sis-tema o segmento que há anos não recebe reajuste? Como podemos ser responsabilizados por executar procedimen-tos desnecessários, se quem os solicita é o médico clínico? O Brasil ainda não acordou para enfrentar os problemas que en-volvem o setor de saúde e isso inclui a medicina diagnóstica.

Paula Távora, presidente da SBPC-ML

Vitor Pariz, diretor de Defesa Profissional

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DEFASAGEM NA TABELA SUS AFETA MAIORIA DOS PROCEDIMENTOS HOSPITALARES

Mais de 1.500 procedimentos hospitalares incluídos na Tabela SUS, padrão de referência para pagamento dos servi-ços prestados por estabelecimentos conveniados e filantró-picos que atendem a rede pública de saúde, estão defasados. A lista poderia ser ainda maior se considerados os atendi-mentos ambulatoriais, não apontados pelo levantamento realizado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) sobre a perda acumulada no período de 2008 a 2014, com base em dados do Ministério da Saúde.

Por procedimentos mais frequentes, como a realização de um parto normal, por exemplo, as unidades hospitalares receberam, em 2008, cerca de R$ 472 a cada Autorização de Internação Hospitalar (AIH) aprovada. Sete anos depois, o valor passou para R$ 550 – quase 60% inferior ao que po-deria ser pago se corrigido por índices inflacionários como o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e o Índice Nacional de Preços ao Consu-midor (INPC). Se o fator de correção fosse o salário mínimo, o montante chegaria a R$ 823.

Situação semelhante acontece no pagamento pelo tratamento de pneu-monias. Em 2008, cerca de R$ 707 eram pagos a cada internação. No ano passado o valor médio passou para R$ 960, cifra defasada em 90% quando comparada com os principais índices de inflação acumulados no período. Aplicados estes índices, estima-se que o pagamento por despesas com este tipo de internação alcançasse até R$ 1.234.

Os dados foram coletados junto à base de dados Siste-ma de Informações Hospitalares do SUS - SIH/SUS, gerido pelo Ministério da Saúde. Além da quantidade de procedi-mentos autorizados a cada ano, foram confrontados os va-lores totais e médios pagos em cada um dos procedimentos.

O conselheiro Claudio Franzen, representante do Rio Grande do Sul no CFM e que acompanhou de perto o processo de criação da Tabela SUS, em meados dos anos de 1990, também criticou a falta de atualização dos valores referenciais, que definem quanto a União destinará aos esta-dos e municípios como contribuição ao pagamento dos pro-cedimentos realizados na rede conveniada. “Além dos gastos com os profissionais, as contas com luz, água, remédio, trans-porte, limpeza e tantas outras despesas sobem, enquanto o governo mantém sua participação congelada. A sobrevivên-

cia do SUS depende diretamente do descongelamento da Tabela SUS, pois a permanecer a atual situação, médicos, serviços e hospitais terão que abandonar o atendimento ao SUS”, criticou.

De acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômi-cos (Dieese), os custos de alguns produtos e serviços essenciais ao funcionamento de hospitais, por exemplo, chegaram a dobrar entre 2008 a 2014. O gasto com a compra de produtos alimentícios, usados no preparo das refeições dos pacientes, sofreu variação positiva de 58,4%.

O custo dos serviços de manutenção aumentou 44%, percentual idêntico ao dos reajustes de artigos de limpeza (necessários à higienização dos ambientes). No caso de serviços, a alta também foi importante: água e esgoto tiveram alta de 35,5%; eletricidade (14,2%) e combustível (38,45%). A estes índices, que são referências para o ajustamento de planilhas de custo dos estabelecimentos, devem ser acrescidos gastos de profissionais de áreas de suporte, como agentes administrativos, equipes de cozinha e de limpeza.

FILANTRÓPICAS COM AS CONTAS NO VERMELHO

O cruzamento entre os valores pagos pela Tabela SUS e os custos reais de uma unidade hos-pitalar pode gerar um estrago sem precedentes. A variação negativa pode chegar a 13.000% em

determinados procedimentos ambu-latoriais e pequenas cirurgias. Esse foi o percentual apontado por levantamen-to da Confederação das Misericórdias do Brasil (CMB), feito com base nas contas de três das maiores Santas Ca-sas do país (Belo Horizonte, Maceió e Porto Alegre).

Para chegar a esses resultados, os hospitais reuniram os chamados sub-grupos de alta e média complexidade e o atendimento ambulatorial de um mês, apontando os custos e as receitas provenientes do contrato com o SUS.

Os percentuais correspondem à diferença entre o valor que falta (quando déficit) ou sobra (quan-do superávit) da receita produzida, após deduzir todos os custos e despesas. Mesmo lançando os incentivos federais e estaduais, a conta média fecha o período no vermelho, com déficit de 41% na média complexidade, mais de 42% no ambulatorial e de 10% na alta complexidade

Na Santa Casa de Porto Alegre (RS), a avaliação apontou essa perda acumulada no caso de cirurgias do aparelho circulatório. O custo de uma cirurgia bucomaxilofacial, por exemplo, teve perda de 2.700%. Os déficits foram apurados entre os meses de maio e junho do ano passado. Para o presidente da CMB das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas, Edson Rogatti, a defasagem da Tabela SUS é um dos principais motivos para uma dívida de quase R$ 17 bilhões que afeta a rede filantrópica atualmente.

“Os débitos foram geradoss pelo subfinanciamento que as unidades recebem para atender o SUS. Porém, quanto mais se atende pelo SUS, mais prejuízo se tem, pois essa tabela está sem aumento há mais de uma década”, disse. Nas três filantrópicas – referências em gestão e volume assistencial – a dimensão do déficit do setor chega a 233% nos resultados econômicos de interna-ção da média complexidade e a 40% negativos na alta complexidade. Nos custos ambulatoriais, o déficit médio foi de 111% nestas unidades. Na capital mineira, o prejuízo chegou a 277% negativos.

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| Jornal do SINDHOSP | Mai 201512

FEHOESP E SINDHOSP MANIFESTAM-SE A FAVOR DO PL 4330

Após a aprovação pela Câmara dos Deputados do projeto de lei que regulamenta contratos de terceirização, a FEHOESP e o SINDHOSP se manifestam a favor da PL 4330, que agora segue para votação no Senado Federal. Atual-mente, uma súmula do Tribunal Superior do Trabalho (TST) prevê que as empresas só podem subcontratar serviços para o cumprimento das chamadas atividades-meio, mas não ati-vidades-fim. Ou seja, uma universidade particular pode ter-ceirizar serviços de limpeza e segurança, mas não contratar professores terceirizados. Pelo projeto aprovado na Câmara, qualquer profissão poderá ser terceirizada.

Na área da saúde, a discussão ganha amplitude ainda maior, pois envolve a contratação de profissionais de inúme-ras áreas, como saúde, administrativa, limpeza, engenharia, tecnologia da informação, atendimento, entre outras. “Não podemos interpretar esta possibilidade de contratação por outros meios que não seja a CLT de forma tão rígida. O país evoluiu, é natural e plausível que a legislação evolua, principal-mente na questão da celetização, que ainda apresenta atrasos históricos”, avalia o presidente das entidades, Yussif Ali Mere Jr.

De acordo com a superintendente Jurídica do SINDHOSP e da FEHOESP, Eriete Teixeira, o regime celetista se adequa bem à contratação de enfermeiros, por exemplo. “Não dá para argumentar que a enfermagem possa ser ter-ceirizada dentro de um hospital. Aquele profissional precisa

estar ali dentro de determinado horário, tem uma conduta direcionada, tem uma chefia e uma subordinação. Isto é, existem as características legais para o reconhecimento do vinculo de em-prego.” Mas quando o assunto são os médicos, a situação muda. “A grande maioria dos médicos integra o corpo clínico do hospital. Quem define quem entra e sai do próprio corpo clínico são os médicos que o compõem, são eles que elegem o diretor clínico, e eles podem se formar em equipes de especialidades que se ajustem entre si para decidir como o serviço será prestado. O empregado não pode fazer isso”, explica. “No caso dos médicos, existem muitas decisões judiciais que reconhecem que não há vinculo empregatício, mas levando em consideração cada contrato, individualmente”, completa.

Diversos projetos de lei tramitam no Legislativo em busca de balizar o tema. O que se aproxima mais de um consenso é o PL 4330/2004. Em seu texto, o projeto busca desvincular a terceirização da questão da atividade meio ou fim. O PL coloca os dois lados como reais parceiros: segundo, o texto, a empresa contratante será corresponsável pelo pagamento de todas as verbas trabalhistas e previdenciárias dos empregados da contratada referentes ao contrato firmado.

Os contratos de prestação de serviços contarão com um fundo de garantia (4% a 6% do valor do contrato) para fazer frente ao pagamento das verbas trabalhistas e previdenciárias aos empre-gados da contratada no caso de eventual dificuldade. Os recursos desse fundo só serão liberados à contratada após a comprovação de que todas as obrigações com seus empregados foram devida-mente cumpridas, conforme sugere o texto da lei em tramitação.

VOTAÇÃOO portal e-Cidadania, do Senado Federal, disponibilizou uma pesquisa online sobre o tema. É

possível opinar contra ou a favor do texto aprovado pela Câmara dos Deputados, bastando apenas colocar um email e acessar o link enviado a ele para validação do voto. Acesse e opine:

http://www12.senado.gov.br/ecidadania/visualizacaotexto?id=164641

O presidente do Instituto de Ensino e Pesquisa na Área de Saúde (IEPAS) e diretor do SINDHOSP e da FEHOESP, José Carlos Barbério, tornou-se Comendador do Mérito Industrial Farmacêutico na noite de 27 de abril. A VI Soleni-dade de Outorga do Colar Cândido Fontoura, homenagem concedida pelo Sindicato das Indústrias Farmacêuticas no Estado de São Paulo (Sindusfarma), foi o sexto prêmio de reconhecimento profissional de sua vida.

“Às vezes me questiono da onde vêm as homenagens. Graças a Deus o que fiz foi em prol de uma saúde melhor, desenvolvendo metodologias que facilitassem algumas eta-pas do nosso setor. Sou muito grato por cada uma delas, em especial por mais este prêmio do Sindusfarma”, comenta. Em 2013, o farmacêutico já havia sido homenageado pela entidade, com indicação do então vice-presidente, Lauro Moretto, seu ex-aluno.

Além de Barbério, 38 pessoas, sendo elas autoridades, parceiros da indústria farmacêutica, empresário e executi-vos, profissionais e pesquisadores da área da saúde também receberam o colar. Entre as autoridades homenageadas es-tavam o senador e ex-ministro da Saúde, José Serra; o de-

PRESIDENTE DO IEPAS TORNA-SE COMENDADOR DO MÉRITO INDUSTRIAL FARMACÊUTICO

putado federal Darcísio Perondi e o secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Carlos Augusto Grabois Gadelha.

O objetivo da solenidade é reconhecer os profissionais que contribuíram para o desenvolvi-mento da indústria farmacêutica nacional, como afirmou em discurso o presidente da entidade, Cleiton de Castro Marques. “Hoje o Sindusfarma completa 82 anos de trabalho com 195 associa-dos. Buscamos assumir compromissos cada vez maiores com o Brasil, trabalhando com autoridades e nossos representados em prol de um futuro ainda mais justo e brilhante do setor. É claro que have-rá críticas, mas sempre iremos apresentar propostas com embasamento técnico e social para solucionar os problemas”.

Participaram do evento os familiares de Barbério, o presidente do SINDHOSP e da FEHOESP, Yussif Ali Mere Jr, o vice-presidente do Sindicato e diretor da Federação, Luiz Fer-nando Ferrari Neto, e o diretor e coordenador do Núcleo de Saúde Mental da FEHOESP, Ricardo Mendes.

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Barbério e família, na entrega da Comenda