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Família Pereira Barreto de Cacheu

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Page 1: Família Pereira Barreto de Cacheu

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Neste livro, Jaime Walter refere

que Honório Pereira Barreto nasceu em Cacheu no dia 24 de Abril

de 1813, «filho de João Pereira Barreto, sargento-mor de Cacheu, e de Rosa de

Carvalho Alvarenga, havia muitos anos residente em Ziguinchor (…). Os seus

membros de longa data exerciam funções oficiais, pois já em 1766, Carlos de

Carvalho Alvarenga desempenhava o cargo de capitão-mor de Ziguinchofr, lugar

que por assim dizer foi sendo legado de pais a filhos. A preponderância dos

Alvarengas transmitia-se de tal modo, que Rosa de Carvalho era conhecida pela

designação de Rosa de Cacheu, e cegamente acatada a sua autoridade pelos

indígenas».

Claro que Jaime Walter dedica algumas páginas apenas à

biografia de Honório Barreto essecialmente como figura de

governante da Guiné e não sobre a sua árvore genealógica, com

muitas páginas de transcrição de documentos da época, referentes

à sua governação, e várias sobre a Senegâmbia.

Mas uma outra obra me despertou particular interesse, esta:

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por escalpelizar todos os laços

das famílias Barreto e Alverenga da Guiné nesta parte: Notas

Genealógicas de Proeminentes Famílias Luso-africanas no Século

XIX na Guiné, Origem e evolução das famílias mais influentes.

E fui ver algumas coisas que ele diz, particularmente as

relacionados mais directamente com Honório Pereira Barreto.

Família PEREIRA-BARRETO de Cacheu

João Pereira Barreto

Luso-africano nascido na ilha de Santiago, Cabo Verde, era

padre. Foi mandado para a Guiné em 1770, devido a uma relação

que tinha com uma escrava, de que lhe nasceram dois filhos (os

conhecidos…): João Pereira Barreto e António Teixeira Barreto. O

Padre Barreto foi capitão-mor de Cacheu em 1785-1786.

António Teixeira Barreto

Foi capitão de milícias no Cacheu em 1802-1803, sob o comando

do capitão-mor José Joaquim de Sousa Trovão, que foi deposto em

Novembro de 1803. Deve ter ido também, pois não há mais notícias

dele.

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João Pereira Barreto

Filho do Padre João Pereira Barreto, consta em documento da

época que era capitão-mor de Cacheu em Julho de 1804,

provavelmente como interino depois do afastamento de Sousa

Trovão até à nomeação do novo capitão-mor José António Pinto.

Tinha 29 anos nessa altura e era casado com Rosa de Carvalho

Alvarenga, de quem teve dois filhos: Maria Pereira Barreto e

Honório Pereira Barreto. Em 1814, então sargento-mor, foi um dos

cabecilhas (juntamente com António Miranda de Carvalho, tenente

de ordenanças, e com o padre Manuel Gomes de Oilveira) da revolta

contra o comandante de Cacheu, em Agosto de 1814

António Pereira Barreto

Foi alferes em Farim em 1828, solteiro e nascido em África.

Joaquim Sousa Barreto

Assinou em 1837 em Ziguinchor um protesto contra a ocupação

francesa de Casamansa.

Francisco Salles Barreto

Tenente, era o comandante militar de Cacheu em Outubro de

1855.

Rosa de Carvalho Alvarenga

O fundador da família Carvalho Alvarenga, a mais influente na

área de Ziguinchor-Casamansa na primeira metade do século XIX,

foi fundada por Carlos de Carvalho Alvarenga, capitão-cabo de

Ziguinchor em 1766. Era uma família de grandes comerciantes que

controlava a administração e o exército, ligada por laços

matrimoniais e económicos aos Carvalhos, Costas e outras famílias

euro-africanas da região do Cacheu-Casamansa. Rosa de Carvalho

Alvarenga, “Dona Rosa de Cacheu”, como era conhecida, casada

com João Pereira Barreto, foi mãe de Honório Pereira Barreto.

Parece ter sido filha de Manuel de Carvalho Alvarenga, que foi

capitão-mor de Ziguinchor e que, em 1803, chefiou os habitantes e

a guarnição de Cacheu numa petição para o afastamento do

capitão-mor Sousa Trovão, sendo depoissargento-mor de Cacheu

em 1806 por indicação do, a seguir, capitão-mor José António

Pinto.

Alexandre Carvalho Alvarenga foi nomeado por Sousa Trovão

capitão-mor do Baluarte de Nossa Senhora da Luz de Ziguinchor em

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1802. Era também filho de Manuel Carvalho de Alvarenga.Josefa de

Carvalho Alvarenga, irmã da “Dona Rosa”, conseguiu que o marido

desta, João Pereira Barreto, lhe conseguisse uma herança avaliada

em 1.70$00 réis por morte de seu marido, em 1818, o coronel

Manuel Dias de Moura. Quatro membros desta família lideraram o

protesto de 17 de Março de 1837 contra a vinda do navio francês

“Aigle d’Or”, que subiu o Casamansa para cima de Ziguinchor e fez

tratados com os régulos da zona;Francisco de Carvalho

Alvarenga(foi capitão-mor de Ziguinchor em 1844, 45 e 49; foi

Delegado Administrativo em 1961 a seguir a umas desordens em

Ziguinchor; foi novamente capitão-mor dessa feitoria em 1965

(quando concluiu um tratado com os régulo de Jame e Nhamol);era

tio de Honório Pereira Barreto, tinha irmãos:António, Estêvão de

Carvalho Alvarenga e Alexandre de Carvalho Alvarenga.

Era uma família com muito poder, como se vê, em todo o

comércio, incluindo o de escravos. Consta mesmo que a poderosa

“Dona Rosa” dirigiu as negociações com os régulos para o negócio

de escravos com o apoio do seu filho Honório, mesmo quando este

já era governador.É também de supor que a luta deste para evitar o

ocupação pelos franceses da Casamansa não seria só por razão de

patriotismo mas também para defender os interesses da família.

Honório Pereira Barreto

Filho de João Pereira Barreto e deRosa de Carvalho Alvarenga,

Nasceu em Cacheu em 1813, segundo Walter, ou em 1810, segundo

Brooks. Foi mandado estudar em Lisboa, mas regressou em 1829,

por morte do pai, para dirigir a casa comercial deste. Em 30 de

Março de 1934, com 21 ou 24 anos, portanto, foi nomeado Provedor

de Cacheu. Meses depois, em Julho de 1834, o então governador da

Província, Manuel António Martins, nomeou-o presidente de uma

comissão para dirigir o Hospital Militar da Guiné e encarregou-o da

reparação das fortificações de Cacheu e de Bolor. Como Provedor

empenhou-se contra as surtidas estrangeiras e em dominar os

grumetes e gentios rebeldes. Contra estes subsidiou campanhas do

seu próprio bolso, e conseguiu-o comandando ele próprio as forças

militares, contra o estrangeiro muito pouco.

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Em Janeiro de 1837 foi chamado a Bissau. Quando lá chegou o

governador, José Eleutério Rocha Vieira, tinha morridoe o seu

substituto estava gravemente doente pelo que o encarregou do

governo, até 23 de Março desse ano, data em que foi oficialmente

nomeado Governador da Província o coronel Joaquim Pereira

Marinho. Por proposta deste, Honório Barreto foi nomeado

governador de Bissau e Cacheu em 23 de Maio, sendo ao mesmo

tempo nomeado tenente-coronel comandante do Batalhão de

Voluntários Caçadores Africanos de Cacheu e Ziguinchor. O

Governador Marinho foi mandado para Moçambique em Abril de

1839, e Honório Barreto pediu a demissão das funções de

governador. O Governo de Portugal agraciou-o coma Ordem de

Nossa Senhora de Vila Viçosa, que já tinha sido proposta por

Marinho, e demitiu-o das suas funções.

Voltou à actividade de negócios em Cacheu. Em fins de 1843, o

ministro José Falcão encarregou-o de dirigir e organizar o corte e

remessa de madeiras da Guiné para o Arsenal da Marinha. Nos anos

de 1844 e 1845 fez doze convenções com régulos para cedência de

terrenos e reserva de navegação e comércio: oito na margem

direita do Casamansa e quatro na margem esquerda. Em Maio de

1845 ofereceu os contratos à Coroa, pelo que foi agraciado com a

comenda da Ordem de Cristo, em 16 de Julho.

Em 1846 é novamente encarregado do governo de Cacheu.

Reconstruiu à sua custa a paliçada do seu forte. Em 18 de

Setembro desse ano foi agraciado pelo Duque de Palmela com o

grau de cavaleiro da Antiga e Mui Nobre Ordem da Torre e Espada,

de valor, lealdade e mérito. Agradeceu ao ministro e ofereceu ao

Estado as convenções que fizera com os régulos de Mata,

Corobitue e Picau Concarane. Deu-se, também nesse ano, uma

revolta de grumetes em Farim (onde a sua mãe, Dona Rosa, tinha

também posses), tendo ele pedido autorização ao governo da

província para organizar uma força para os dominar. E dominou-os

no dia 1 de Dezembro de 1846, após um combate de duas horas e

quarenta minutos. No entanto, foi João Pereira, soldado em Farim,

que foi acusado de ter incendiado as casas dos grumetes para pôr

fim à revolta. Em 2 de Maio de 1853 rebenta uma rebelião no

presídio de Geba, tendo Honório partido para lá no dia 10 para a

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dominar. Conseguiu-o dez dias depois. Após a pacificação de Geba

foisolicitada a sua intervenção para obter uma paz com os papéis

que parecia não mais se realizar. Tentou negociar mas os

comandos não aceitaram as suas propostas.

No final de 1853 assumiu o governo interino de Bissau, tendo-o

entregue ao seu proprietário, capitão-tenente Romão Ferreira, em

Fevereiro do ano seguinte. Em 3 de Março de 1854 é nomeado

tenente-coronel de 2ª linha e a 29 desse mês assume novamente a

interinidade de governador, por morte de Romão Ferreira. Um

decreto de 29 de Janeiro de 1855 transformou a nomeação em

definitiva, por um período de três anos. Nesse ano fez uma proposta

que lhe fosse aumentado o vencimento de 1.000$00 réis para

1.500$00. Imposeram-lhe condições para isso que ele não aceitou.

Em 13 de Junho de 1857 ofereceu ao Governo o território de

Varela, que era propriedade de seu pai. No ano seguinte, no fim do

triénio portanto, concederam-lhe a demissão que ele já pedira e

entregou o governo a Costa Falcão a 19 de Abril. No antanto voltou

ao governo interinamente a 7 d Agosto de 1858 e em definitivo por

decreto de 30 de Novembro.

Estava nesse posto quando faleceu, por caquexia palustre

(anemia profunda causada pelo paludismo), às 8 horas e meia do

dia 26 d Abril de 1859.

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Honório Pereira Barreto nunca casou, mas foi conhecido como

pai de vários filhos. Os de que há notícia:

Ernesto Augusto Pereira Barreto

Casado com Genoveva da Costa, filha de José Maria da Costa e

Inês da Costa, era meia irmã de Edwiges Pereira Barreto.

Edwiges Pereira Barreto

Casou com Richard Turpin, comerciante franco-fricano de Saint-

Louis, Senegal.Filha de Honório e de Inês da Costa, mulher do

comerciante José Maria da Costa, sapateiro de Lisboa deportado

para a Guiné. Este, apoiado pela mulher do Sr. Moniz, conseguiu o

máximo de liberdade consentida a um degredado e estabeleceu-se

como comerciante em Bolor, onde comprou uma jovem de Sonco,

casou com ela e deu-lhe o nome de Inês da Costa. Honório Barreto

acusou-o de chefiar a revolta dos grumetes e mandingas de Farim e

sequestrou-lhe os bens para pagamento das despesas da guerra.

Enamorou-se depois da Inês da Costa, mas ela recusou as suas

pretensões e Honório Barreto mandou o marido dela para Geba.

Para conseguir o regresso do marido para Cacheu Inês submeteu-

se, tendo então nascido a Edwiges. Ao saber do caso, José Maria

da Costa morreu de desgosto em Geba.

Rufino Pereira Barreto

Filho de Honório e de Cristina Gomes Baião, falecido e sepultado

em Bolama em 25 de Março de 1897.

Carlos Honório Barreto

Filho de Honório e de Cristina Gomes Baião, assinou o tratado de

cessão à coroa portuguesa da aldeia de Bianga, no rio Bassarel, em

Outubro de 1855.

Nuno Pompílio Barreto

Filho de Honório Barreto e de Isabel Gomes, assinou o tratado de

Varela em Março de 1857, é descrito como «pertencente à casa de

D. Rosa Carvalho Alvarenga, e filho de Cacheu”. Em 1860 tinha a

feitoria “Ponta Cacheu” na margem do Rio Grande.

Maria Rosa Pereira Barreto

Casou e teve cinco filhos do filho de Inês Costa e José Maria da

Costa,Cleto José da Costa. Este sabia do procedimento de Barreto

para com a sua mãe, causa da morte de seu pai, mas não se

preocupou em casar com a filha do ilustre Barreto, concedendo

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apelidos aos seus filhos, o que parece ter sido a causa da

promoção na sua carreira, que culminou em 1890 com a nomeação

de director da Alfândega de Cacheu. Tinha considerável influência

junto dos africanos locais, havendo quem se interrogasse se era

por qualidades pessoais ou pela reputação da família da sua

mulher.

Outros filhos de que se sabe só o nome, não constando mais

indicações

Rosa

Casada com Francisco José Benefício.

João Pereira Barreto

Pedro

Catarina

Ludgero

Heitor

António

Amadeo

Rosália

Clementina

Balbina