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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE
ALINE FERREIRA DE LIMA
FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO EM EXPERIÊNCIAS
EMOCIONAIS DE ADOLESCENTES EM REDES SOCIAIS DA
INTERNET
SÃO BERNARDO DO CAMPO
2012
UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE
ALINE FERREIRA DE LIMA
FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO EM EXPERIÊNCIAS
EMOCIONAIS DE ADOLESCENTES EM REDES SOCIAIS DA
INTERNET
Dissertação apresentada ao Programa de Pós graduação em Psicologia da Universidade Metodista de São Paulo – UMESP, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Psicologia da Saúde. Orientador: Prof Dr. Manuel Morgado Rezende. Área de Concentração: Psicologia da Saúde Linha de Pesquisa: Processos Psicossociais
SÃO BERNARDO DO CAMPO
2012
A dissertação de mestrado sob o título “FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO EM
EXPERIÊNCIAS EMOCIONAIS DE ADOLESCENTES EM REDES SOCIAIS DA
INTERNET”, elaborada por Aline Ferreira de Lima foi apresentada e aprovada em 07
de março de 2012, perante banca examinadora composta por Manuel Morgado
Rezende (Presidente/UMESP), Hilda Rosa Capelão Avoglia (Titular/UMESP) e José
Tolentino Rosa (Titular/USP).
_____________________________________________
Prof. Dr. Manuel Morgado Rezende
Orientador e Presidente da Banca Examinadora
_____________________________________________
Profa. Dra. Maria Geralda Viana Heleno
Coordenadora do Programa de Pós Graduação
Programa: Pós graduação em Psicologia da Universidade Metodista de São Paulo –
UMESP
Área de Concentração: Psicologia da Saúde
Linha de Pesquisa: Processos Psicossociais
RESUMO
Trata-se de uma pesquisa qualitativa que buscou investigar a percepção de fatores
de risco e de proteção à saúde em adolescentes usuários de redes sociais na
internet, caracterizar as experiências emocionais dos adolescentes, usuários das
redes sociais da internet e discutir a contribuição das experiências das amizades
virtuais para o vínculo afetivo no âmbito presencial. Esse trabalho foi realizado com
13 adolescentes, entre 16 e 18 anos, estudantes do Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial de São Paulo (SENAC São Paulo), no período de fevereiro
a Julho de 2011, foi utilizado como instrumento para obtenção dos dados o Grupo
Focal e o conteúdo foi registrado por meio de um gravador de voz e transcrito
posteriormente. A análise dos dados foi realizada através da Grounded Theory.
Durante esse estudo foi possível investigar os fatores de risco e de proteção à saúde
em adolescentes usuários das redes sociais na internet, destacamos alguns
mecanismos importantes de proteção, como o bloqueio de suas informações
pessoais a desconhecidos para se protegerem de riscos decorrentes de uso
indevido do material postado na rede.
Palavras-chave: adolescentes, experiências emocionais, fatores de risco e de
proteção, internet.
ABSTRACT
This is a qualitative survey that investigated the perception of risk factors and health
protection in adolescent users of social networking sites, to characterize the
emotional experiences from the adolescents, social network users at the Internet and
discuss the contribution of the experiences of virtual friendships for the emotional
links in the live context. This work was conducted with 13 adolescents between 16
and 18 ages, students of the National Service of Commercial Learning (Senac São
Paulo), from February to July 2011, was used as an instrument for data collection the
Focus Group and the content was recorded by means of a voice recorder, and
subsequently transcribed. Data analysis was performed using Grounded Theory.
During this study it was possible to investigate the risk factors and health protection
in adolescent users of social networks at the Internet, we highlight some important
mechanisms of protection, such as blocking of your personal information to strangers
in order to protect of risks arising from improper use of the material posted on the
web.
Key-words: Adolescents; emotional experiences, risk factors and protective factors;
Internet.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 5
1.1 A INTERNET NO BRASIL .................................................................................. 6
1.2 ADOLESCENTES E AS EMOÇÕES .................................................................. 7
1.3 FATORES DE RISCO E PROTEÇÃO ............................................................. 18
2 OBJETIVOS ....................................................................................................... 20
3 MÉTODO ............................................................................................................ 21
3.1 PARTICIPANTES DO ESTUDO ...................................................................... 22
3.2 PROCEDIMENTOS E COLETA DE DADOS ................................................... 23
3.3 ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................... 25
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 27
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 54
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 68
ANEXOS ................................................................................................................... 70
5
1 INTRODUÇÃO
A sociedade contemporânea apresenta uma profusão de novas tecnologias
que mediam as relações sociais. Um dos recursos mais difundidos, a internet,
enquanto ferramenta de comunicação apresenta novas possibilidades de raciocínio
lógico e que permitem a comunicação imediata, a extensão das fronteiras físicas, e
mesmo, uma economia globalizada. Esta nova realidade vem exigir do sujeito
humano, novas acomodações e é, ainda, desconhecida a repercussão plena dessa
mudança tecnológica. A internet é marcada, por exemplo, pela possibilidade do
anonimato e por uma certa indefinição no que se refere às regras de funcionamento.
Vivemos uma realidade em que a economia é global, a educação é à
distância, o namoro é virtual, a amizade parece sobreviver sem a interação face-a-
face, diferentes culturas se intercomunicam. Este trabalho visa contribuir para a
compreensão dos processos pelos quais o indivíduo vivencia a afetividade,
buscando uma colaboração a compreensão das experiências emocionais vividas por
adolescentes nas amizades em redes sociais na internet. A internet é um meio de
comunicação que está transformando o cenário social da vida humana, podendo
afetar as nossas interações sociais, seja quantitativa ou qualitativamente. Se esta
jovem modalidade de comunicação colocar em questão ou modificar a maneira
como nos comunicamos, como interagimos, pode ser que afete também os nossos
processos de internalizações, produzindo influências na constituição dos
sentimentos e personalidade, formas de mediação e modulando por esta via novas
expressões culturais.
Cada indivíduo pode assumir diferentes papéis sem se comprometer com
nenhum, por outro lado, a ausência de identificação pessoal possibilita a fantasia e
imaginação. Não há algo que assegure que o que está sendo dito seja verdadeiro (e
muitas vezes não se deseja que essas interações ultrapassem as fronteiras da
fantasia). Na verdade, essa é uma das razões apontadas para a procura por este
tipo de “encontro” – o compartilhamento de idéias e sentimentos com o mínimo de
compromisso (Schnarch, 1997; Wysocki, 1998).
6
1.1 A INTERNET NO BRASIL
No Brasil a utilização da internet é cada vez mais significativa. Segundo o
instituto Ibope Nielsen Online, de outubro de 2009 a outubro de 2010, o número de
usuários ativos (que acessam a Internet regularmente) cresceu 13,2%, atingindo
41,7 milhões de pessoas. Somado às pessoas que possuem acesso no trabalho, o
número sobe para 51,8 milhões. 38% das pessoas acessam a web diariamente;
10% de quatro a seis vezes por semana; 21% de duas a três vezes por semana;
18% uma vez por semana. Unida através de uma linguagem comum, a Internet
permite aos usuários individuais que interajam, a seu modo, com qualquer outra
rede ou usuário individual que seja também parte do sistema. Inicialmente a rede foi
vista como anárquica por não apresentar estrutura hierárquica de uma pirâmide e
seu crescimento ocorrer horizontalmente, sem comando central. A Internet e sua
aplicação mais proeminente, a World Wide Web (ou WWW), são por sua natureza,
desprovidos de limites territoriais tradicionais, os usuários acessam suas contas de
Internet virtualmente de qualquer lugar no mundo através de satélites, dispositivos
sem fio. Estes dados atestam a crescente importância que a comunicação por
computador vem assumindo na vida das pessoas, e evidenciam a necessidade de
melhor compreendermos as características deste meio a fim de podermos avaliar as
suas possíveis repercussões sobre os indivíduos. A internet parece estar
promovendo modificações importantes na forma das pessoas se relacionarem,
especialmente no que tange à revelação de aspectos íntimos do si mesmo. Ela
parece estar propiciando um novo ambiente, mais seguro, para a exposição de si,
isenta de constrangimentos e sanções sociais devido às características do contexto.
Segundo a definição da Unesco (2001), o ciberespaço é um novo ambiente humano
e tecnológico de expressão, informação e transações econômicas. Consiste em
pessoas de todos os países, de todas as culturas e linguagens, de todas as idades e
profissões fornecendo e requisitando informações; uma rede mundial de
computadores interconectada pela infraestrutura de telecomunicações que permite à
informação em trânsito ser processada e transmitida digitalmente.
7
1.2 ADOLESCENTES E AS EMOÇÕES
A adolescência é uma fase do desenvolvimento oportuna para o estudo deste
fenômeno, pois essa etapa de vida, tal como é concebida hoje, é produto de
transformações ocorridas em nossa sociedade decorrentes da modernidade
(Ruffino, 1993). As amizades arcaicas da criança mudam de caráter durante a
adolescência a presença de impulsos e sentimentos muito fortes, comum nesse
estágio da vida, cria amizades muito intensas entre os jovens, principalmente entre
os membros do mesmo sexo. A idealização de certas pessoas é acompanhada pelo
ódio a outras, que passam a serem vistas da pior maneira possível, principalmente
com pessoas imaginárias tais como: vilões de filmes e da literatura, pessoas reais
bem distantes do indivíduo (líderes políticos do partido opositor, por exemplo) essa
divisão entre amor e ódio parece servir para manter as pessoas amadas em maior
segurança, tanto na realidade quanto na mente do indivíduo, pois cria a impressão
de que é possível manter o amor intacto.
As amizades na adolescência são geralmente muito instáveis. Uma razão
para isso é a força dos sentimentos sexuais (conscientes ou inconscientes) que
participam delas e as perturbam. O sentimento de posse e o ressentimento, que
levam as exigências excessivas, são elementos que dificultam a amizade; na
verdade, todo tipo de emoção exagerada pode arruiná-la. Quando isso acontece,
descobrimos pela investigação psicanalítica que situações arcaicas de desejos
insatisfeitos, de ressentimento, de voracidade e ciúme vieram à tona. As redes
sociais de relacionamento da internet oferecem oportunidade frutífera para a
exploração de diferentes papéis e experimentação de diversas opções. Não se sabe
ainda quais serão os efeitos dessa forma de mediação na formação da identidade
pessoal dos sujeitos. As redes sociais de relacionamento da internet podem se
configurar como elemento catalisador dos processos de desenvolvimento,
considerando que pode otimizar a exploração de papéis e identidades ou como
influência desorganizadora do sistema, ocasionando a persistência da crise de
identidade. A internet é espaço de estimulação e de situações de fragmentação da
experiência, o que guarda em si possibilidades de modificação do sujeito em níveis
de desenvolvimento. A internet, em especial nas redes sociais de relacionamento
8
guarda como característica uma explosão de possibilidades, de papéis, de
personalidades, por vezes incompatíveis ou contraditórias, exigindo do sujeito
constantes sínteses. A internet, como uma forma de comunicação, media a relação
dos sujeitos com seu mundo. Na adolescência, os comportamentos de apego de
uma criança a seus pais, sofre uma grande mudança, tornando-se ainda menos
visíveis. Ao mesmo tempo, o vínculo com outros adultos e pessoas da mesma idade
adquire maior importância. Bowlby (1990, p.23), dizia “alguns adolescentes
desligam-se inteiramente de seus pais, outros permanecem intensamente apegados
e, entre os dois extremos situam-se aqueles que mantém o apego a seus pais sendo
capazes também de estabelecer fortes vínculos afetivos com outras pessoas.”
De acordo com Bee, Erickson (1973, p.127) escreve: “durante a vida adulta
quando, as tarefas centrais do indivíduo são a criatividade profissional, o
treinamento da próxima geração e finalmente, a adoção de um estilo de vida que lhe
permita uma maior proximidade de sua identidade básica, muitas pessoas dirigem
seus comportamentos de apego às instituições, grupos de trabalho, grupos
religiosos e políticos entre outros, fazendo muitas vezes dessas instituições a figura
de apego principal em suas vidas.”
Embora Bowlby, (1990, p.41) afirme ser natural, em algumas situações
particularmente estressantes, haver um recrudescimento dos comportamentos de
apego, mesmo em indivíduos adultos, não representando uma patologia, é
importante que o clínico possa diferenciar essas situações de um modelo patológico
de funcionamento.
Podemos pensar em algumas questões que fazem parte de nosso cotidiano e
que talvez possam ser reflexos de padrões de apego desenvolvidos na primeira
infância:
Indivíduos que chegam à vida adulta demonstrando por seus parceiros,
ciúmes excessivos, ou uma necessidade incomum de proximidade física. Ou, por
outro lado pessoas que evitam vínculos afetivos mais íntimos, teriam sido crianças
com padrões de apego inseguros na infância?
Ou ainda, a própria vinculação aos grupos de trabalho ou religiosos de que
fala Erickson, pode assumir um tom de compensação patológica? Existe influência
das redes sociais no desenvolvimento de padrões de apego?
9
Estas questões nos parecem pertinentes, já que o apego tem sido
considerado como um importante fator constituinte da personalidade, tendo sido
incluída no DSM-IV uma classificação diagnóstica para estas disfunções sob o título
de “Transtorno de Apego Reativo na Infância”, descrito como:
“...ligação acentuadamente perturbada e inadequada ao nível de desenvolvimento
na maioria dos contextos, com início antes dos 5 anos de idade e associada ao
recebimento de cuidados amplamente patológicos” (DSM-IV pg. 113 ).
O apego aparece como um dos aspectos constituintes da personalidade do
indivíduo que tem implicações através de fatores como as características da mãe, o
temperamento da criança e o meio social em que vive a dupla.
Por outro lado, o padrão de apego desenvolvido no primeiro ano de vida
influencia a formação da auto-imagem e auto-conceito, fazendo das crianças que
tiveram um modelo de apego seguro, indivíduos mais competentes e aceitos
socialmente. Bowlby (1990, p.56) enfatiza que “variável alguma tem mais profundos
efeitos sobre o desenvolvimento da personalidade do que as experiências infantis no
seio da família: a começar dos primeiros meses e da relação com a mãe”.
Portanto não nos parece errado afirmar que a relação entre apego seguro -
autoimagem realista - autoconceito positivo, contribua substancialmente para a
formação de adultos realizadores e auto realizados, tendendo sempre para o
crescimento e positividade pessoal e social.
Há uma diferença entre inveja, ciúme e voracidade. A inveja é o sentimento
raivoso de uma pessoa contra alguém que possui algo desejável, tendendo a um
impulso invejoso de estragar este algo. O invejoso sofre ao ver outro possuir o que
ele quer para si. Também pressupõe a relação do indivíduo com uma só pessoa e
refere-se à mais arcaica e exclusiva relação com a mãe. O ciúme é baseado na
inveja, mas difere-se devido serem envolvidas na relação no mínimo três pessoas.
Diz respeito principalmente no amor, que a pessoa sente que lhe é devido e lhe foi
tirado ou será tirado por um rival. O ciumento teme perder o que possui. A
voracidade é uma ânsia impetuosa e insaciável, que excede aquilo que o indivíduo
necessita e que o objeto é capaz e está disposto a dar. É um aspecto destrutivo da
identificação projetiva, começando desde o início da vida.
10
Considerando o inconsciente, a voracidade visa, primeiramente, escavar
completamente, sugar até deixar seco e devorar o seio, ou seja, seu objetivo é a
introjeção destrutiva, ao passo que a inveja procura não apenas despojar dessa
maneira, mas também depositar maldade, primordialmente excrementos maus e
partes más do self, dentro da mãe, acima de tudo dentro do seu seio, a fim de
estragá-la e destruí-la.
Ao descrever o desenvolvimento emocional das crianças pequenas Melanie
Klein (1996) observou que os impulsos agressivos delas originam fortes sentimentos
de culpa e medo de que a pessoa amada morra. Isso faz parte dos sentimentos de
amor reforçando-os e intensificando-os. O medo da morte da pessoa amada faz com
que a criança se afaste até certo ponto dela, e simultaneamente, cria o impulso de
recriá-la e de reencontrá-la em cada novo projeto. Há uma manifestação da tentativa
de fugir da mãe e manter o apego original a ela.
Quando surgem conflitos entre amor e ódio na mente do bebê, e o medo de
perder o objeto amado entra em ação, ocorre um avanço muito importante no
desenvolvimento. A inveja excessiva pode gerar um aparecimento prematuro da
culpa – que se for experimentada por um ego ainda incapaz de tolerá-lo,será sentida
como perseguição; transformando o objeto em um perseguidor. Então o bebê não
pode elaborar nem a ansiedade depressiva e nem a persecutória, pois elas se
confundem uma com a outra. Alguns meses mais tarde, na posição depressiva, o
ego mais integrado e fortalecido tem mais capacidade de tolerar a dor da culpa e
desenvolver defesas correspondentes, principalmente a tendência a fazer
reparação. É provável que uma das mais profundas fontes de culpa esteja ligada a
inveja do seio nutridor e ao sentimento de ter estragado sua “bondade”através de
ataques invejoso. Para Melanie Klein (1996), o primeiro objeto a ser invejado é o
seio nutridor, pois o bebê sente que o seio possui tudo o que ele deseja e que tem
um fluxo ilimitado de leite e amor que guarda para sua própria gratificação. Esse
sentimento soma-se a seu ressentimento e ódio, e o resultado é uma relação
perturbada com a mãe.
A própria disponibilidade do leite original também inveja, pois, embora o bebê
se sinta gratificado, essa facilidade fica parecendo um dom inatingível. O invejoso
pode compreender algo como crítica ou não sentir-se digno daquilo, devido à culpa
por ter desvalorizado tal auxílio, indivíduos menos invejosos demonstram gratidão
11
como se recebessem uma dádiva. “O bebê só pode sentir satisfação completa se a
capacidade de amar é suficientemente desenvolvida; e é a satisfação que forma a
base da gratidão.” (Klein, 1996, p.219). Segundo Klein (1996) uma personalidade
bem integrada é a base da saúde mental. Maturidade emocional, força de caráter,
capacidade de lidar com emoções conflitantes, equilíbrio entre a vida interna e a
adaptação a realidade e uma bem sucedida fusão de diferentes partes da
personalidade bem integrada. Mesmo numa pessoa emocionalmente madura,
fantasias e desejos infantis persistem em alguma medida. Se forem vivenciados e
elaborados com êxito, principalmente no brincar da criança, formam uma fonte de
interesses e de atividade, enriquecendo a personalidade. Porém se o ressentimento
em relação aos desejos irrealizados se tiver mantido muito potente e então sua
elaboração tiver sido impedida, as relações pessoais e o prazer proveniente de
diversas origens ficam perturbados, e tornar-se difícil aceitar os substitutos que
seriam apropriados em estágios posteriores do desenvolvimento e o sentido da
realidade fica prejudicado.
A maturidade emocional consiste em sentimento de perda que possam ser
contrabalançadas até certo ponto pela capacidade de aceitar substitutos, e então as
fantasias infantis não perturbam a vida emocional adulta.
A força de caráter se baseia em processos muitos antigos. A primeira relação
onde a criança vivencia sentimentos de amor e ódio é na relação com a mãe. Se os
aspectos bons da mãe introjetada são sentidos como predominando sobre os
aspectos frustradores, essa mãe internalizada se torna um alicerce para a força do
caráter, pois o ego pode desenvolver suas potencialidades sobre tal base. O êxito
dessa primeira relação se estende as relações com os outros membros da família e
as pessoas em geral.
A lealdade com relação ao que é amado ou tido como certo implica que os
impulsos hostis ligados a ansiedade, que nunca são inteiramente eliminados,
passam a serem dirigidos aqueles objetos que colocam em perigo o que é sentido
como bom.
Klein (1996, p.307) enfatiza que: “O equilíbrio depende de certo ‘insight’ sobre
a variedade de nossos impulsos e sentimentos contraditórios e da capacidade de
fazer face a esses conflitos internos”
12
A vida interna sempre influência as atitudes em relação à realidade externa e,
por sua vez, é influenciada pelo ajustamento ao mundo da realidade. Equilíbrio não
significa evitar conflitos, mas sim força para atravessar emoções penosas e poder
lidar com elas. Os pais amados e odiados são originalmente objeto tanto de
admiração, quanto de ódio e depreciação. Na adolescência, há uma forte tendência
de afastar-se dos pais devido esses conflitos e desejos sexuais relacionados a eles
voltarem a ganhar força.
“Tanto na mente inconsciente da criança quanto na do adulto, ao lado dos
impulsos destrutivos há uma profunda ânsia de fazer sacrifícios, a fim de ajudar e
restaurar as pessoas amadas que foram feridas ou destruídas na fantasia.”
(Klein,1996, p.352)
Esses sentimentos conflitantes e opressivos para a mente da criança
pequena por vezes são bloqueados ou submersos sendo expressos parcialmente na
relação com outras pessoas (babás, tias, tios...). O bebê apresenta uma forte
curiosidade pelas coisas que acontecem a sua volta, assim como pelas pessoas.
Mas tais fatos não bastam para explicar sua habilidade de desprender-se da mãe,
pois na sua mente inconsciente ainda está muito ligado a ela. Isso faz com o bebê
tema a perda da mãe- uma vez que a voracidade frustrada e o ódio são inevitáveis e
a dependência dela, portanto, ele se afasta. Então encontra novos objetos de
interesse e prazer, obtendo a capacidade de transferir o amor para outras coisas e
pessoas, interesse e prazer, obtendo a capacidade de transferir o amor para outras
coisas e pessoas.
Esse relacionamento é em parte uma tentativa de fugir da pulsão que
empurra o indivíduo para o sexo oposto, por motivos internos e externos. Como por
exemplo: o menino que tem seus desejos e fantasias ainda muito ligados a mãe e as
irmãs.
Tanto meninos quanto meninas nesse estágio percebem os impulsos
direcionados ao sexo oposto como um grande perigo, fazendo com que a pulsão
impedida às pessoas do mesmo sexo fique mais forte.
Já na amizade na vida adulta, apesar de tendências homossexuais
inconscientes fazerem parte da amizade entre pessoas do mesmo sexo, os
sentimentos afetivos são parcialmente dissociados daqueles de caráter sexual.
13
Compartilhamos interesses e prazeres com uma amiga, mas também
podemos gozar sua felicidade e sucesso, mesmo quando estes nos escapam.
Sentimentos de inveja e ciúme podem cair para o segundo plano se a nossa
capacidade de nos identificarmos com ela for forte o suficiente, permitindo-nos
lidarmos com ódio, o ciúme, a insatisfação e o ressentimento que temos pela mãe;
quando podemos ficar felizes ao vê-la feliz, quando percebermos que nunca a
ferimos ou que podemos reparar os danos que lhe foram feitos em fantasia. Quando
isso acontece, descobrimos pela investigação psicanalítica que situações arcaicas
de desejos insatisfeitos, de ressentimento, de voracidade e ciúme vieram a tona.
“A agressividade arcaica da criança estimula a pulsão de compensação e
restauração, de colocar de volta dentro da mãe as coisas boas que roubou em
fantasia”. (Klein,1996, p.375)
Tudo de bom e mau que passamos nos primeiros dias de vida, tudo que
recebemos do mundo externo e sentimos em nosso mundo interno, as experiências
felizes e tristes, as relações com as pessoas, atividades; ou seja, tudo o que
vivemos faz parte de nós mesmos e ajuda a construir nossa personalidade. Klein
apontou para a importante influência que os nossos relacionamentos mais remotos
exercem sobre os posteriores e também como influenciam fundamentalmente o
nosso relacionamento com nós mesmos.
Se, ao explorar a mente inconsciente conseguimos compreender a força e a profundidade dessa primeira ligação com a mãe e com o alimento que ela fornece- assim como a intensidade com que ela permanece na mente inconsciente do adulto- podemos nos perguntar como é possível que a criança se desprenda cada vez mais da mãe, obtendo gradualmente sua independência (Kein, 1996, p.366).
Colocamos as pessoas que amamos num altar na nossa mente; em situações
difíceis, às vezes sentimos que somos guiados por elas ou nos perguntarmos como
elas se comportam, e se aprovariam ou não as nossas atitudes. Essas pessoas
representam os pais amados e venerados. Entretanto não é fácil para a criança
estabelecer uma relação harmoniosa com eles. Impulsos arcaicos são seriamente
inibidos e perturbados por impulsos de ódio e pelo sentimento de culpa inconsciente
que estes despertam.
14
Se por um lado, há crianças que ao serem tratadas de forma desfavorável desenvolvem, na mente inconscientemente, figuras severas e cruéis dos pais, o que afeta de forma desastrosa toda a sua atitude mental, por outro há aquelas que são afetadas de forma bem menos adversa pelos erros e falta de compreensão dos pais (Kelin, 1996, p.381).
Há crianças que são capazes de tolerar com mais facilidade as diferenças
sociais e também apresentam maior flexibilidade em lidar com elas. Por motivos
internos, desde o início são capazes de suportar frustrações, sejam elas inevitáveis
ou não, fazem isso, sem serem tomadas pelos seus próprios impulsos de ódio e
desconfiança. Mas nenhuma criança tem a mente livre do medo e da desconfiança.
Se a relação com os pais estiver estabelecida principalmente na confiança e no
amor, firmá-los na mente como figuras prestativas que nos guiam e são uma finte de
conforto e harmonia, passando a ser o protótipo de todas as nossas relações de
amizade pelo resto da vida. Nos relacionamentos adultos, nos comportamos com
certas pessoas da mesma forma como nossos pais se comportavam conosco (nos
dando amor) ou como gostaríamos que tivessem comportando-se, revertendo,
portanto, situações arcaicas. Múltiplos fatores, na interação permanente entre as
influências originárias do mundo externo e as forças internas do indivíduo, trabalham
juntos para criar uma relação adulta.
Os vínculos afetivos são importantes para um crescimento e maturação
saudável, sem distúrbios emocionais. Sem esses vínculos, a criança pode
apresentar comportamentos desfavoráveis que resultam em ansiedade e medo, que
podem causar desde problemas emocionais até outros mais sérios como
depressões e prejuízo na formação da personalidade.
O que faz com que pessoas estabeleçam vínculos entre si? De acordo com
Bowlby, (1997, p.148), o sentimento de amar o outro não surge com qualquer
pessoa, mas sim com algumas pessoas em particular. A atração que a pessoa sente
por outra é chamada de vínculo afetivo. O vínculo entre as pessoas são coisas
esperadas de acontecer entre os seres humanos.
Segundo o mesmo autor, um dos vínculos mais comuns existentes, é entre
mãe e filho pequeno, que vai até sua idade adulta.
15
A vinculação afetiva é resultado do comportamento social de cada pessoa.
Uma das principais características é que as pessoas tentam se manterem próximas
uma das outra, e quando alguém tenta separá-las encontra grande resistência.
Os vínculos afetivos e suas emoções caminham juntos. Sendo assim, muitas
das emoções humanas aparecem durante a formação, a manutenção, a renovação
e o rompimento de vínculos afetivos. A formação de vínculo afetivo seria como se
apaixonar por alguém, a manutenção como amar, e a perda acaba gerando
ansiedade, causando tristeza. A capacidade das pessoas estabelecerem um vínculo
afetivo já faz parte de suas vidas, é tão normal quanto a capacidade de ver, comer,
ouvir, etc.
Mas então o que a privação de vínculos afetivos pode causar a uma pessoa?
Para Bowlby (1997, p.264), surgem muitos distúrbios psiconeuróticos e da
personalidade nas pessoas que não conseguem desenvolver seu vínculo afetivo, por
causa de uma falha ocorrida no desenvolvimento infantil ou por outro transtorno
ocorrido.
A dificuldade de manter um vínculo afetivo pode estar relacionada a falhas no
desenvolvimento infantil em um ambiente familiar desfavorável.
Uma das causas possíveis de distúrbios psiquiátricos na infância é causada
pala falta de oportunidade de estabelecer um vínculo afetivo ou então rupturas de
vínculos que já foram estabelecidos.
A depressão está associada à perda, ao divórcio, e a separação que a pessoa
vivencia durante a infância.
Na maioria dos grupos psiquiátricos, aparecem muitos casos de rompimento
de vínculos afetivos na infância, que inclui tanto os vínculos com os pais como com
as mães.
De acordo com Bowlby (1997, p.114),
Embora esteja estatisticamente e clinicamente comprovada a existência de uma relação causal entre distúrbios psicológicos e uma separação ou perda ocorrida em alguma fase da infância, adolescência, ou até mesmo mais tarde, subsistem numerosos problemas na compreensão dos processos em atividade e também das condições exatas que determinam se o resultado é bom ou ruim.
16
Para ele, o rompimento do vínculo afetivo durante a infância pode dificultar a
capacidade de mantê-lo e causar perturbações da personalidade durante a
adolescência
Parte daquilo que amamos em nós mesmos forma-se por tudo o que
acumulamos através de nossas relações com pessoas externas, pois essas relações
e as emoções ligadas a ela tornam-se uma posse interna. Odiamos em nós mesmos
figuras severas que também fazem parte do nosso mundo interior e que é em
grande parte o resultado de nossa própria agressividade contra os pais. Porém, no
fundo, o nosso maior ódio está voltado contra o ódio dentro de nós mesmos. Somos
levados a empregar uma das nossas defesas mais fortes, transferindo-o para outras
pessoas; projetando-o. No entanto, também deslocamos o amor para o mundo
externo, mas só fazemos de forma verdadeira se estabelecemos boas relações com
as figuras amistosas dentro da nossa mente. Cria-se então um círculo benigno, pois
primeiro ganhamos amor e confiança pelos nossos pais, depois colocamos, por
assim dizer, com todo esse amor e confiança dentro de nós mesmos; a partir daí,
também podemos devolver parte dessa fartura de sentimentos amorosos para o
mundo externo. Há um círculo semelhante- o ódio; ele faz com que estabeleçamos
figuras assustadoras na nossa mente, o que leva a atribuir a outras pessoas
características desagradáveis em relação a nós, enquanto uma atitude amistosa e
confiante de nossa parte pode despertar a boa fé e benevolência dos outros.
Essas variações também se devem a uma diferença de atitude e de caráter,
então a amargura de sentimento, que ela se volte contra as pessoas, o destino ou
ambos; como na maioria dos casos, cria suas raízes principalmente durante a
infância, podendo ser intensificada em estágios posteriores da vida.
A capacidade de inverter as situações da fantasia e de se identificar com os
outros, capacidade que é uma das grandes características da mente humana,
possibilita ao indivíduo distribuir entre os outros a ajuda e o amor de que ele próprio
necessita, obtendo desse modo conforto e satisfação para si mesmo. Se o amor não
foi sufocado pelo ressentimento e o ódio, mas sim firmou-se com segurança na
mente, a confiança nas outras pessoas e a crença do indivíduo na sua própria
bondade suportará os golpes das circunstâncias- alguma infelicidade por exemplo.
17
A capacidade de “dar e receber” terá se desenvolvido em nós de uma
maneira que assegura nosso contentamento, ao mesmo tempo em que contribuí
para o prazer, o conforto e a felicidade dos outros.
Trata-se de um período no qual o indivíduo deve integrar suas experiências
passadas às novas capacidades e habilidades emergentes, assim como as
mudanças biológicas, cognitivas, emocionais e sociais na conquista de um senso de
identidade (ERIKSON, 1971). As características psicológicas, as manifestações
comportamentais e a adaptação social do adolescente dependem da cultura e da
sociedade em que o processo do adolescer acontece, porém alguns aspectos são
universais. Ao mesmo tempo, estas características variam dentro de uma mesma
sociedade quando são considerados aspectos socioeconômicos (LEVISKY, 1998).
Segundo Levisky, (1998) a adolescência é uma fase de desorganização
psíquica. O adolescente não possui ainda a capacidade de organizar os conflitos e
aspectos primitivos que vêm à tona e ao lidar com seus impulsos agressivos e
sexuais, ao invés de elaborá-los internamente, ele, muitas vezes os descarrega em
uma ação para satisfazer os desejos imediatos.
Levisky (1998) declara não haver como compreender a adolescência
estudando-se separadamente os aspectos biológicos, psicológicos e sociais, é
necessário considerarmos, portanto, o modo de vida dessas adolescentes, a sua
classe social, a sua cultura e os seus costumes.
O adolescente passa por uma ruptura com o passado que modifica sua vida
psíquica e também lhe oferece novas perspectivas, esperanças e medos, muitos
conflitos são vivenciados nessa fase. Ressalta-se que esta é uma fase do
desenvolvimento em que comumente mostram-se aspectos que parecem
patológicos. Levisky (1998) constatou que o adolescente atravessa esse período da
vida com muito sofrimento em conseqüência das perdas sucessivas e abrangentes
que ocorrem em seu corpo infantil, no seu mundo interno e na qualidade de suas
relações consigo mesmo, com as pessoas, com o tempo e com o espaço (BAUMAN,
2004).
18
1.3 FATORES DE RISCO E PROTEÇÃO
Segundo Heidegger, o risco é inerente à vida (1980), ao movimento, e à
possibilidade de escolha. Viver é correr risco e por isso a incerteza é um
componente essencial da existência e igualmente do conceito de risco.
São muitos os fatores de risco, crônicos ou agudos, que estariam afetando a
capacidade de resiliência de crianças e adolescentes. Condições de pobreza,
rupturas na família, vivência de algum tipo de violência, experiências de doença no
próprio indivíduo ou na família e perdas importantes são alguns exemplos.
Eventos considerados como risco são obstáculos individuais ou ambientais que
aumentariam a vulnerabilidade da criança para resultados negativos no seu
desenvolvimento.
Seja como for que se constitui o risco, é possível aprender formas de
enfrentamento a partir da convivência com indivíduos que o vivenciaram e
ultrapassaram com sucesso. A resposta do indivíduo ao risco tem sido descrita em
termos de vulnerabilidade e resiliência. Por vulnerabilidade entende-se a
predisposição individual para desenvolver variadas formas de psicopatologias ou
comportamentos não eficazes, ou susceptibilidade para um resultado negativo no
desenvolvimento. No outro lado, está a resiliência, como a predisposição individual
para resistir às conseqüências negativas do risco e desenvolver-se adequadamente.
Diante dos fatores potencialmente geradores de desequilíbrio para cada indivíduo,
os mecanismos de proteção são essenciais para o restabelecimento do equilíbrio
perdido e demonstração de competência apesar da adversidade.
As interações sociais assumem grande importância na medida em que se
constituem em um espaço de experimentação e reflexão para a construção de uma
nova representação de si, esse novo modelo de comunicação mediado por
tecnologias e redes. Com a globalização acelerada a sociedade atual favorece um
ambiente onde o real e o virtual se confunde e os valores transmitidos podem
assumir o papel de modelos idealizados de identificação. Atualmente, o adolescente
é visto tanto como particularmente sensível a mudanças sociais como gerador
dessas transformações, assim os adolescentes protagonizam a experiência da nova
modalidade de comunicação,
19
A relevância deste estudo reside na percepção dos adolescentes quanto à
compreensão das experiências emocionais que se estabelecem por meio das redes
sociais na internet.
20
2 OBJETIVOS
Investigar a percepção de fatores de risco e de proteção à saúde em
adolescentes usuários de redes sociais na internet.
Caracterizar as experiências emocionais dos adolescentes estudantes do
Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, usuários das redes sociais da
internet.
Identificar e discutir os critérios utilizados pelos adolescentes para a definição
das informações a serem publicadas em seu perfil na rede social.
21
3 MÉTODO
Estudo exploratório com delineamento qualitativo foi realizado inicialmente
um levantamento do perfil do adolescente usuário das redes sociais na internet,
buscando identificar as correlações encontradas na literatura. O grupo focal foi
utilizado como instrumento de coleta de dados nessa pesquisa. Para Osório (2000),
as modalidades de grupos focais são: exploratórios, clínicos e vivenciais. Esta
pesquisa utilizou o modelo exploratório. Um roteiro para padronizar os temas a
serem abordados nos grupos foi aplicado, a fim de identificar o posicionamento
emocional dos sujeitos em situações de interação virtual.
Pretendeu-se analisar, a partir da perspectiva sócio-histórico cultural, a
influência das redes sociais de relacionamento na internet no desenvolvimento das
experiências emocionais de adolescentes. Para investigação foi utilizado o método
da Grounded Theory (PIRES, 1990) que é baseada na análise sistemática dos
dados, reuniu-se um volume de informações sobre o fenômeno observado,
comparando-as, codificando-as, extraindo as regularidades, enfim, seguindo
detalhados métodos de extração de sentido destas informações. O roteiro utilizado
para investigar a percepção de fatores de risco e de proteção à saúde em
adolescentes usuários de redes sociais na internet, caracterizar as experiências
emocionais dos adolescentes estudantes do Serviço Nacional de Aprendizagem
Comercial, usuários das redes sociais da internet e discutir os critérios de escolha
para a definição de informações verdadeiras e falsas utilizadas pelos adolescentes
em seus perfis na rede social, áreas que compõe os objetivos da pesquisa foi:
“Quais são as redes sociais que vocês participam e quais são as diferenças
entre elas?” Nesta questão pretende-se caracterizar as experiências dos
adolescentes nas redes sociais. Também será estimulada a discussão dos
objetivos das redes sociais e o que caracterizam as experiências emocionais.
22
“Quais são as estratégias utilizadas para definir as informações que serão
publicadas?” Aqui procura-se entender se os adolescentes percebem os
fatores de risco e de proteção que a utilização das redes sociais possibilitam.
“O que você acha que é falso nas redes sociais?” Com esse questionamento
pretende-se discutir os conceitos de verdade e mentira explícitos nos perfis
das redes sociais.
Para iniciarmos as atividades, definimos as regras de participação: a) todos
devem se comprometer com o sigilo e respeito sobre as opiniões expressas na
atividade; b) é importante que cada um fale por vez; c) todos podem falar o que
pensam; d) evitem discussões que não estão no contexto da pesquisa.
3.1 PARTICIPANTES DO ESTUDO
O estudo foi desenvolvido na unidade do Serviço Nacional de Aprendizagem
Comercial, na cidade de São Paulo, em sala utilizada para a realização de aulas,
contendo carteiras escolares, equipamentos de informática com aceso à internet.
Participaram do estudo 13 adolescentes, entre 16 e 18 anos, provenientes do
Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial de São Paulo (SENAC São Paulo),
alunos do programa Aprendizagem, que objetiva a formação do sujeito com
competências comportamentais básicas necessárias para atuação no mercado de
trabalho, que e caracterizado por possibilitar o ingresso do jovem no mercado de
trabalho e que propõe o acompanhamento metódico das atividades de
aprendizagem realizadas pelo aluno na empresa, mediante reuniões de trabalho,
contextualização das experiências desenvolvidas em sala de aula que contempla
sistematização das novas experiências, descobertas, problemas e soluções.
Foi formado um grupo totalizando 13 participantes com faixa etária entre 16 e
18 anos, os grupos pertencem à classe social D, a distribuição dos participantes foi
feita segundo a Tabela1 para Grupo 1.
Tabela 1. Número de sujeitos por idade e gênero do G1
23
16 anos 17 anos 18 anos
Gênero feminino 2 1 1
Gênero masculino 4 2 3
3.2 PROCEDIMENTOS E COLETA DE DADOS
Foi estabelecido o contato com a escola e considerando sua autorização e
concordância, enviou-se ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Metodista
de São Paulo (UMESP) o protocolo para autorização da pesquisa.
A partir de uma listagem de todas as turmas da Aprendizagem da escola dos
turnos matutino e vespertino foi selecionada aleatoriamente 1 turma de ensino
médio.
O contato com os alunos foi feito por meio da interação do docente
responsável pela turma, este cedeu parte de suas aulas e apresentou a
pesquisadora à sala. Nessa mesma data a pesquisadora explicou os objetivos da
pesquisa, os adolescentes que concordaram em participar da pesquisa foram
informados sobre o os procedimentos que seriam realizados, de sua metodologia e
objetivos, bem como de que poderiam, a qualquer momento, desistir de sua
participação sem sofrer qualquer tipo de prejuízo, bem como seus responsáveis se o
participante na data da pesquisa possuir idade inferior a 18 anos.
Foram informados de que seus nomes serão preservados e elas não serão
identificadas por ocasião da divulgação dos dados da pesquisa, e que os materiais e
os dados obtidos ao final da pesquisa serão arquivados na Universidade Metodista
de São Paulo, respeitando sempre a privacidade e os direitos individuais dos
sujeitos da pesquisa. Os participantes foram esclarecidos quanto à voluntariedade,
gratuidade e sigilo dos dados conforme termo de consentimento livre e esclarecido,
os termos foram entregues aos adolescentes, os que possuem idade igual ou
superior a 18 anos, se responsabilizaram, e os que possuem idade inferior a 18 anos
levaram o termo de consentimento livre e esclarecido para o seu responsável legal
assinar.
24
A pesquisa foi realizada na sala em que os adolescentes freqüentam as
aulas, sendo assim, em todas as sessões quando a pesquisadora chegou o grupo já
estava em sala de aula, ao entrar a pesquisadora respeitando sempre as
necessidades de silêncio e conforto, realizava a disposição das carteiras em círculo
e uma filmadora foi utilizada para que os relatos do grupo fossem registrados, para
transcrição e análise posterior. A primeira questão explorada no grupo foi: “Quais
são as redes sociais que vocês participam e quais são as diferenças entre elas?” e a
partir do início da discussão, buscou-se explorar cada tema pretendido: fatores de
risco e de proteção, conceito de verdade e mentira e experiências emocionais nas
redes sociais.
A coleta de dados foi realizada por meio do instrumento Grupo Focal, o grupo
focal pode ser considerado uma espécie de entrevista de grupo, embora não no
sentido de ser um processo onde se alternam perguntas do pesquisador e resposta
dos participantes, a essência do grupo focal consiste justamente em se apoiar na
interação entre seus participantes para coletar dados, a partir de tópicos que são
fornecidos pelo pesquisador (que vai ser no caso o moderador do grupo). Uma vez
conduzido, o material obtido foi a transcrição de uma discussão em grupo, focada
em um tópico específico. A pesquisa não envolverá custos para a Universidade
Metodista de São Paulo, para o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial e
para os participantes. Todos os custos serão de responsabilidade da pesquisadora.
Compreende-se que a pesquisa não oferece riscos ou danos aos participantes, bem
como à instituição na qual a mesma será realizada. Quanto aos benefícios espera-
se que este estudo contribua para uma reflexão aprofundada a respeito da das
experiências emocionais vivenciadas por adolescentes na internet, e que possa
resultar em melhores práticas do uso das redes sociais.
Foram oportunizadas devolutivas aos participantes da pesquisa e
informações quanto aos resultados apresentados.
25
3.3 ANÁLISE DOS DADOS
Foram apresentados os conteúdos obtidos nos grupos focais, o método da
Grounded Theory preconiza que a transcrição na íntegra das gravações seja
realizada. Após esta transcrição, a próxima etapa consistiu na descoberta de
categorias, realizando o que denominamos de codificação aberta. Dessa forma, o
passo inicial, uma vez redigido o texto da observação ou entrevista, consistiu em
quebrar os dados em pequenos pedaços, em que cada um deles representa um
incidente específico ou fato. Para isso, os dados foram analisados linha por linha e
parágrafo por parágrafo, buscando incidentes e fatos. Cada incidente foi codificado
como um conceito ou abstração do dado.
O método da Grounded Theory propõe o desenvolvimento de um modelo
teórico representativo que ilustre a categoria central. Uma vez seguido os passos do
referencial metodológico e descoberto o processo que esteja sendo estudado, é
necessário validar o modelo teórico. Esta validação foi realizada de acordo com as
recomendações de Strauss & Corbin (1998). Segundo os autores, a teoria emerge
dos dados e representa uma abstração; portanto, é importante determinar se o
modelo teórico esquematizado não foi omisso ou está representado além dos
significados dos dados. Um dos caminhos utilizados para validar o modelo teórico é
o de retornar aos dados e comparar o modelo com os dados brutos, realizando um
tipo de análise comparativa. Strauss & Corbin afirmam que o significado do termo
pesquisa qualitativa consiste na pesquisa que produz resultados não provenientes
de procedimentos estatísticos, referindo aos estudos sobre a vida do indivíduo,
experiências de vida, comportamentos e emoções. Para desenvolver a investigação
qualitativa, o pesquisador passa por três fases denominadas por Lüdke de:
exploração, decisão e descoberta. A fase de exploração, ou primeira fase, envolve a
seleção e definição do problema, a escolha do local onde será feito o estudo e o
estabelecimento de contatos para a entrada no campo. Nessa etapa inicial, também
se encontram as primeiras observações com a finalidade de conhecer melhor o
fenômeno e selecionar os aspectos a serem investigados. Esses primeiros
questionamentos orientaram na coleta dos dados e na formulação de hipóteses que
poderão ser modificadas, à medida que os dados foram coletados. O método da
26
Grounded Theory preconiza o desenvolvimento de um modelo teórico
representativo que ilustre a categoria central. Uma vez seguido os passos do
referencial metodológico e descoberto o processo que esteja sendo estudado, é
necessário validar o modelo teórico. Segundo os autores, a teoria emerge dos dados
e representa uma abstração; portanto, é importante determinar se o modelo teórico
esquematizado não foi omisso ou está representado além dos significados dos
dados. Um dos caminhos utilizados para validar o modelo teórico é o de retornar aos
dados e comparar o modelo com os dados brutos, realizando um tipo de análise
comparativa a próxima etapa consiste na descoberta de categorias, realizando o que
denominamos de codificação aberta. Dessa forma, o passo inicial, uma vez redigido
o texto da observação ou entrevista, consistiu em quebrar os dados em pequenos
pedaços, em que cada um deles representa um incidente específico ou fato. Para
isso, os dados foram analisados linha por linha e parágrafo por parágrafo, buscando
incidentes e fatos.
A utilização da Grounded Theory na área da saúde poderá contribuir para
acrescentar conhecimento aos assuntos que ainda não foram explorados
qualitativamente ou que necessitam adquirir contribuições originais.
27
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
a) Primeira sessão
No início os participantes estavam inquietos pois acabavam de voltar do
intervalo, a mediadora solicitou ajuda para adequação da sala, as cadeiras
foram dispostas em círculo e os adolescentes sentaram-se. O clima era
agradável e muitos demonstraram curiosidade em saber como seria realizada
a pesquisa, pois se tratava de primeira vez que participariam. A mediadora
retomou os acordos iniciais: sigilo, respeito à opinião dos outros e uma
possível ordem na discussão para que a filmagem não fosse comprometida,
os participantes aceitaram o acordo, então demos início à discussão. Nesta
sessão, foram apresentadas como foco de discussão as redes sociais
existentes, e os atrativos de cada uma.
“Eu acho que a mais legal é o facebook! Porque o Orkut tá meio velho...sei
lá..”
“O que eu acho é que o orkut já perdeu a graça, tem muita gente ficou pra
trás”
tem twiter, tem o facebook, tem o Orkut, badoo tem um monte...” mas eu acho
que a que a gente mais usa agora é o facebook!”
“No Orkut tem mais gente e isso é legal, porque como é mais velho é mais
conhecido...”
“Agora o face tem uma coisa de legal que é o bate papo, a gente consegue
falar com qualquer pessoa que está no nosso face, sem ser por mensagem,
no bate papo é muito mais real”
Seguiram a sessão discorrendo sobre as propriedades da rede social:
“Eu acho também que orkut já era, eu prefiro o twiter, porque é rápido e dá
pra gente ver o que as pessoas estão fazendo”
28
“Ah! twiter é pra artista...é pra quem tem a vida interessante....é pra quem
viaja, pra quem vai pra fora...o que que eu vou colocar lá...que eu
almocei...que fui tomar banho?!”
“(risos)...tem gente que coloca de tudo...até que tava no banheiro...quem é
que quer saber?”
“Eu acho que o legal de qualquer rede social é poder falar o que você
pensa....um monte de gente tá se juntando por causa de rede social...”
“É mesmo...viu só aquele negócio que falou no jornal...do movimento lá do
país...qual que era mesmo?”
“Sei lá...eu sei que todo mundo se juntou e foi bater panela...(risos) pintaram
a cara...e isso é muito bom!”
“E a menina, que colocou a festa dela no face?...e tinha tanta gente se
convidando que ela teve que cancelar!”
“Eu não gosto, e acho uma palhaçada...é perder tempo...eu gosto mesmo é
de ver os vídeos do youtube...porque para mim, ficar só olhando a vida dos
outros não tem nada a ver!”
Nesse momento foi iniciado o assunto amizades nas redes sociais para
justificar o uso das redes:
“Fazer novas amizades, meio de comunicação, conversar com parentes
distantes, postar notícias, fotos e etc, aplicativos, eh...começar um novo
relacionamento amoroso (pode ser), baixar músicas, dependendo do perfil,
igual a professora comentou ou foi o professor que em algumas empresas
entram e podem até selecionar a pessoa para trabalhar na empresa
dependendo do seu perfil e comunicação, várias pessoas ao mesmo tempo,
chats e vídeos, tudo positivo”
“Eu acho que o positivo é atrair novas amizades, conversar com pessoas
distantes usando o e-mail e a divulgação no twitter, divulgar algo que você
quer expor...”
“Tem pessoas que abrem empresas e usam o twitter para divulgar a empresa
dele ou então algum produto, vendendo as coisas no twitter, não só o twitter,
ou às vezes cria o orkut daquela empresa ou de alguma coisa que ele tá
29
vendendo, do comércio dele acho legal divulgar os pontos positivos das redes
sociais”
Comentários da mediadora sobre o a sessão:
O grupo não exigiu muitas intervenções da mediadora para que houvesse a
discussão, os participantes demonstraram grande interesse em discutir sobre
o tema redes sociais, o posicionamento diante da escolha de uma rede social
possibilitou a expressão de pensamentos com clareza acerca dos objetivos da
comunicação por meio de ferramentas disponíveis na internet. Demonstraram
necessidade de espaço para expressão de opiniões e de interação grupal.
b) Segunda sessão
Na segunda sessão, os participantes estavam ansiosos em relação ao tema
que seria tratado, a mediadora solicitou auxílio para a organização da sala,
todos foram solícitos e demonstraram interesse em participar no grupo. O
grupo foi iniciado com o questionamento focado na percepção dos riscos de
se começar uma amizade pela internet.
“A maioria pode ser ...fake”
“ Isso “fake” é...perfil falso, que nem ele ta falando as vezes você vê a foto lá
a menina é linda e é uma feiosa.”
“ (risos generalizados) Um homem...(risos) Um travesti...(risos)
Trabucão...(risos)”
A mediadora inicia um questionamento de quem já havia vivenciado a
experiência de iniciar um relacionamento pela internet.
“Professora, eu acho que virtualmente é muito mais fácil você mentir sobre
quem você é, as pessoas mentem quando é pessoalmente, mas virtualmente
é bem mais fácil”
“...pode alterar a frase que você quiser, seu nome..sei lá... eu acho
pessoalmente é muito mais difícil.”
30
“ E eu acho que criar amizade virtualmente é bem mais fácil, do que
pessoalmente, porque você não fica de olhar, no rosto da pessoa, você
conversa sobre tudo.”
“ Você pode até xingar até ela!...(risos)”
Os pontos negativos são apresentados pelo grupo em conseqüência do
questionamento sobre o perfil falso.
“Eu fiz só para teste...”
Mediador: “Porque a gente faz um perfil falso?
“Por medo de não ser aceito.”
“Medo de não ser aceito, eu acredito que sim”
“Eu já fiz um perfil falso, cara. É que tipo era pra gente sair e só um que tava
com frescura atrás da namorada dele, aí a gente tinha feito, não só eu
sozinho, não só eu sozinhos, mas os moleques com o perfil de uma menina
lá, nada a ver, aí foi mais ou menos uma semana, uns cinco dias,
conversando por orkut, e daí marcamos dos dois se encontrar , foi lá no
shopping, tipo a gente queria ir no cinema, maior galera, quinze moleques
mais ou menos, aí a hora que ele chegou lá tinha uns quinze moleques lá da
vila lá, aí a gente zoou vacilão...eh, aí a gente tinha imprimido a foto da
menina e colocado no rosto do outro moleque lá...(risos) ele foi na intenção de
encontrar a menina e encontrou a gente zoando lá no shopping lá.”
“Eu nunca fiz, não dá pra saber...”
“Ah! Professora! Tem uma comunidade no orkut, uma não diversas! Pérolas
do orkut, com várias fotos engraçadas são postadas lá, edição de fotos suas,
aí uma vez eu tava com vontade de postar nessa comunidade, mas daí eu
falei, não porque eles vão entrar no meu perfil, pegar uma foto minha e
mostrar pra todo mundo, daí eu fiz um perfil fake, pra eu poder entrar na
comunidade conversar com todo mundo sem ninguém saber que sou eu.”
“Eu nunca fiz, eu tive vontade, mas nunca fiz! Lá na minha escola, tem um
Orkut de fofocas de todo mundo que estuda lá, aí se você adicionar eles
pegam uma foto sua coloca e fofocam sobre sua vida, então u tenho vontade
31
de ver, mas se eu adicionar eu sei que eles vão pegar uma foto minha. Aí eu
não! Nem adiciono.”
“Uma rede social também pode ser raqueada, alguém vai lá descobre sua
senha, entra lá e ferra tudo o seu orkut, isso é um ponto negativo.”
“Eu fiz pra espiar o orkut da minha mãe e do meu pai!”
“Já fizeram um perfil fake com as minhas fotos! Por exemplo você vai lá e faz
um perfil falso com as minhas fotos daí eu vou lá e raqueio e exclui. “
“Eu fiz um fake de mim mesmo, pra espiar, porque por exemplo ficavam
falando: Tão falando mal de você nesse perfil aqui, daí eu fiz um e fui saber
de mim mesmo o que estavam falando nesse, aí eu ficava falando o que você
acha dele (eu) o que você falou dele (eu) aí eu ficando espionando eu
mesmo.”
“Professora, quando alguém fala mal da senhora, se a senhora pudesse ser
uma mosquinha pra saber, não seria? Foi isso que ele fez! Uma mosquinha
perfil!”
Comentários da mediadora sobre a sessão:
Os participantes demonstraram interesse e disponibilidade em discutir o
assunto, durante todo o período em que estiveram no grupo interagiram de
maneira espontânea, não foram necessárias muitas intervenções para que o
grupo discorresse sobre o assunto. Durante os momentos em que opiniões
diferentes foram expostas alguns integrantes manifestaram
descontentamento com a postura do outro, demonstrando em alguns
momentos indícios de intolerância a diversidade.
c) Terceira sessão
Ao iniciarmos a sessão os participantes estavam conversando muito,
ansiosos com um trabalho que precisavam entregar no dia seguinte, alguns
participantes discutiam sobre as responsabilidades assumidas e organizavam
as cadeiras para o grupo.
32
Nessa sessão seguimos com o assunto relacionado a perfil falso, com o
objetivo de explorarmos a percepção dos critérios que eles utilizam para
considerarem uma informação falsa em suas descrições nas redes sociais.
“As meninas da minha sala tinham um perfil falso, daí elas criavam família.”
“O (participante) tem um perfil fake, porque ele coloca tanto photoshop na foto
dele, que fica tão carregada que nem parece que é ele. (gargalhadas)”
Mediador: Eu posso fazer um perfil com o meu nome...
“Mas com o seu nome não vai ser fake!”
“Só se a senhora mentir!”
“Pode? Porque assim é ela!”
“Então se você faz um perfil e coloca lá que tem 30 anos e tem 17, você está
sendo falso.”
“Mas pensando desse lado, todo mundo é fake.”
“Eu estou dando um exemplo, não estou falando que tem que ser
especificamente a idade, por exemplo no seu perfil tem várias coisas pra
preencher lá, se você preencher com outras coisas que você não gosta você
está sendo fake, estou certo ou estou errado?”
“Eu acho que você está lá você não fala só a verdade, é muito difícil.”
“Por exemplo, pra mim fake é ter outra vida, as meninas que tinham fake, elas
mentiam várias coisas, mentiam idade que moravam em tal lugar em várias
outras coisas pra mim fake é isso! Não você colocar lá, tipo assim tenho 21
anos e gosto de cachorro e você não gosta de cachorro e se está mentindo
você é fake só por causa disso eu acho que não, não! Tem que ter uma foto
que não seja sua, uma vida que não é sua, que mente lugar que trabalha,
escola que estuda, as vezes cria família, você é fake eu sou fake e vamos ser
irmãs! Eu acredito que é assim!”
“É palhaçada! O que um perfil fake faz? Meu! É uma bosta isso!”
“Pra que isso? Oh! Eu não sou o fulano, mas daí eu coloco que sou o
beltrano...eu sou um nada então...”
33
“Eu acho que muita gente que criam porque não tem vida fora do
computador, aí cria ali no computador que é pra ter vida ali e vira alguém.”
“Acho que é inveja também, as pessoas não conseguem tirar foto daquele
jeito daí ela pega a foto daquela pessoa pra fingir que é ela.”
“Ah! Aquelas pessoas que tiram a foto maior bonita, perfeita, então é inveja
mesmo.”
“Eu, acho que pra pessoa ser fake ela não deve se achar tão bonita, pra
pegar uma pessoa bem elegante e colocar lá, então isso é inveja.”
“A pessoa tem uma autoestima muito baixa, o fake é um ponto negativo das
redes sociais, tem pessoas que usam o fake pra fazer...igual os pedófilos por
aí, a maioria dos perfis dos pedófilos é fake, aí chega lá e chama a menina lá
pra sair e tal e chega lá é um seqüestro, as vezes até mata, tem pessoas que
entram no carro de outra pessoa, é negativo, é sério meu!”
“Ah professora! Mas depende tem gente que sabe que é fake! Porque tem até
uma comunidade, não sei o que lá fake, e eu acho muito difícil a pessoa olhar
lá e não saber que é fake, porque quando você adiciona o fake está na cara
que é fake!”
“Às vezes tem uma foto que não é a mesma pessoa é parecia, mas quando
você olha a foto, uma foto está de um jeito e a outra de outro aí você vê que
não é aquela pessoa, ah! Professora não tem como falar só você vendo
mesmo.”
“Às vezes você olha a pessoa é muito linda, perfeita! Não tem como, você
olha meu é fake, não dá.”
Mediador: E transformar uma foto não é fake?
“Não!”
“Ah! É sim, mas todo mundo faz...photoshop, você fala? Mas você é horrível,
coloca seis quilos de photoshop lá..”
“Continua horrível!” (risos generalizados)
“Continua horrível, mas tá diferente! Acho que sei lá é considerável, mas
ainda é fake!”
“Eu acredito que não!”
34
Comentários da mediadora sobre a sessão:
Durante essa sessão os participantes estavam atentos e concentrados no
grupo, demonstraram muito interesse no assunto, demonstraram necessidade
de falar sobre o assunto, trouxeram espontaneamente os fatores e critérios
utilizados para a escolha das informações que são expostas nos perfis das
redes sociais. Incluíram a ferramenta photoshop, segundo o relato do grupo,
muito utilizada para realização de alterações nas fotos que são expostas nos
perfis.
d) Quarta sessão
Nessa sessão o grupo de maneira espontânea, realizou a adequação da sala,
os participantes estavam inquietos e alguns questionaram sobre a quantidade
de sessões do grupo, se essa realmente seria a última. Diante da inquietação
apresentada pela sala à mediadora retomou o contrato inicial que foi realizado
no início do grupo e todos concordaram com as regras que estavam
estabelecidas, questões como o sigilo e respeito a opinião dos outros foram
retomadas, o assunto perfil falso foi abordado e a partir dessa discussão,
questionamentos sobre as propriedades comerciais das redes sociais foram
iniciados.
“Eles querem comprar todas as redes sociais! Pra colocar só no google,
comprar todas as redes e juntar, tudo interligado ao google, aí eles querem
fazer outra rede social, pra que o google seja a maior, tão comprando tudo,
igual o Carrefour ta comprando tudo, querem ser a rede maior...”
“Eu não tenho certeza, mas eu acho que o facebook e o orkut não
competem...porque eles não são do google?”
“O google tem não sei quantos por cento das ações do facebook, ele comprou
por milhões.”
“Metade das ações o google comprou do facebook”
“Mas o orkut já era do google, o msn que é o windows live também já era do
google”
35
“Nós precisamos do google!”
“É igual televisão, eles só ficam de pé por causa dos comerciais...”
“É igual os comerciais da TV, o horário da novela é mais caro, porque muita
gente assiste, no orkut e no facebook é assim...você abre algum link e o
comercial tá lá, no youtube fica nos vídeos antes, durante e depois da
exibição.”
“Igual o comercial dos pôneis malditos que ficaram famosos na internet
primeiro, depois na TV...”
“Por exemplo: vou acessar um vídeo, daí antes de começar o vídeo que eu
quero ver, começa os pôneis malditos, e é uma propaganda que você não
consegue tirar, eles te obrigam a assistir, aí depois começa o vídeo que você
quer, é uma propaganda que você assiste obrigatoriamente.”
“Não são em todos, mas geralmente antes do vídeo aparece a propaganda.”
Os conflitos emocionais surgem a partir das discussões sobre os aspectos
negativos das redes sociais.
“Os pontos negativos professora, a colega dele manda um oi pra ele e daí a
namorada já pergunta o que é que você tem com ela, já vai logo assim pra
ele, esse é o ponto negativo.”
“Se você posta uma coisa, você quer que todo mundo promova, que olhe que
conte, que comente, que promova...”
“Uma frase que você posta no face...você quer que os outros comentem!”
“Você não vai postar uma coisa lá e não querer que ninguém saiba. Quer é
que todo mundo fique sabendo”
“Você não vai postar lá uma foto ou uma frase pra deixar lá e pronto...li e
acabou, você quer postar pra todo mundo ler e sair comentando...”
Os critérios utilizados para que uma informação seja postada para todos são
discutidos considerando fatores de risco e de proteção.
“Igual tem gente que põe foto e coloca lá não quero que ninguém fique
comentando...”
36
“Eu acho então que é melhor nem colocar!”
“Eu acho que coloca não olhe que é pra chamar atenção, pra ter acesso e
como é que fala... pra comentar a foto, com certeza vai colocar lá não olhe... e
daí a pessoa vai ficar curiosa pra saber e vai comentar as fotos, por isso...”
Mediador: Quem se lembra daquela transição de quando a gente podia olhar
tudo no Orkut e de repente foi tudo bloqueado?
“Era bacana hein!”
“Professora eu acho que é assim... tem uma frase no filme que a gente
assistiu que eu não sei se é do Dusty ou é do Mark, criadores que diz assim,
as pessoas entram em redes sociais, não pra ver coisas de pessoas, porque
existem milhões de pessoas, eles entram pra ver coisas de pessoas que eles
conhecem, que é mais próximo é mais comprometedor, que podem espalhar
e tal, eu acho que por isso que as redes sociais estão bloqueando.”
“Ou seja todo mundo que fica na internet é fofoqueiro!”
“Se for pensar assim é!”
“Eu não acho que tem que bloquear o foto não...”
“Porque você vai lá, minha amiga bacana, você vai lá e me adiciona aí eu
olho assim e não consigo identificar você pela foto do perfil, aí eu vou entrar
no seu orkut e vou ver as fotos do seu álbum, pra eu poder te identificar, só
eu clico lá e não consigo ver você então você vai ser recusada, porque eu não
conheço.”
“Mas é porque é assim professora, por causa dos pedófilos também, vai que
você não bloqueia, daí a pessoa vai lá olha todas as suas fotos e pode fazer
uma maldade também, por isso que a gente bloqueia.”
“Ou então é assim, você tem um amigo e você não gosta dos amigos dele,
não simpatiza e tal, aí esse amigo vai e fica olhando suas fotos você não quer
que ele fique olhando, bloqueia assim, você ainda não é meu amigo, mas
depois que você me adicionou vai poder ver as fotos.”
“Ou então você está namorando e coloca as fotos sua e da sua namorada,
não mais eu não quero que ninguém veja minha namorada, é só eu tirar a foto
dela de lá...”
37
“Igual eu deixo a minha namorada lá, se eu gosto, eu deixo ela lá.”
“Tem também bloqueia você mandar recado pra ela, assim chega gente que
eu não conheço, surge debaixo da terra e me adiciona, aí eu vou perguntar
quem é esse infeliz, eu quero perguntar, mas não dá pra mandar recado pra
essa pessoa, como eu vou me comunicar com ela pra saber quem é ela? Aí
eu digo não! Não aceito. Eu não sei quem é!”
Mediador: Até que momento esse bloqueio protege ou não protege?
“Não, proteger não protege! É mais seguro né! Se você tem uma conta e
bloqueia e não consegue ver a foto, não consegue mandar recado. Massss...
você não consegue identificar a pessoa, não consegue nada também.”
“Se ele é um amigo seu, mesmo você não consegue saber...”
“Às vezes tem muita pessoa que nem coloca foto no perfil, coloca um
deseinho lá, coloca árvore, carro.”
“Nas fotos eu acho que é um pouco falta de conhecimento, porque se você
quer um álbum lá e não no computador, deixa em casa então..”
“Se for pra colocar no orkut, deixa aberto então!”
“Antes o orkut era legal, eu quero saber de alguém que eu não gosto..”
“Exemplo eu não gosto de você, eu te odeio eu quero ver lá as fotos lá.”
“Eu acho que não, por exemplo eu coloco lá algumas fotos e não quero que
uma só pessoa veja, ao invés de eu bloquear pra todo mundo, eu posso
bloquear só pra ela.”
“É pra criar um fake!”
“Exemplo ele me adicionou eu tenho ele no meu orkut aí eu vou no perfil dele
e falo: Oh! Vou ver as fotos do (participante), e aé? E aé? Tudo bloqueado, aí
já dá vontade de pegar o monitor e jogar no chão! Eu fico bravo com isso aí!”
“Criar um fake só pra fuçar o outro?”
“Eu tenho vontade de criar um fake só pra entrar no orkut da minha escola,
porque tem alguém lá na escola que cria um orkut e fica fofocando de todo
mundo lá da escola, todo mundo, não quer nem saber se você conhece ou
não! Elas pegam uma foto sua colocam lá no álbum e ficam falando mal da
38
sua vida, ou fofocam alguma coisa, aí se você adicionar eles pegam foto sua,
aí eu tenho vontade de criar um fake só pra ver o que eles ficam fofocando..”
“Vai lavar uma roupa, vai ficar nessa aí!”
“Claro que não, vão falar de você, um exemplo já colocaram coisa minha, daí
como eu não tinha o perfil eu nem entrei... tão falando de você, você não vai
saber o que é que tão falando de você?! Daí se você entrar eles pegam suas
fotos e vão fazer mais coisas!”
“Falem bem ou mal, mas falem de mim!”
“E que eu acho uma perca de tempo isso! Você ir atrás do que estão falando
de você.”
Nessa sessão o grupo demonstrou aprofundamento no assunto tratado, em
muitos momentos exemplificaram com comportamentos realizados em seu
próprio perfil nas redes sociais da internet, porém evitaram realizar
comentários que expusessem sua intimidade. Os temas mídia e função
mercadológica das redes sociais, não foram sugeridos pela mediadora do
grupo, o assunto surgiu de maneira espontânea.
Categoria 1: Uso das redes sociais da internet
I - Condições causais:
a) curiosidade
“Eu acho que a mais legal é o facebook! Porque o orkut tá meio velho...sei
lá..”
“O que eu acho é que o orkut já perdeu a graça, tem muita gente ficou pra
trás”
b) necessidade de comunicação
“Agora o face tem uma coisa de legal que é o bate papo, a gente consegue
falar com qualquer pessoa que está no nosso face, sem ser por mensagem,
no bate papo é muito mais real”
39
c) interação
“fazer novas amizades, meio de comunicação, conversar com parentes
distantes, postar notícias, fotos e etc, aplicativos, eh...começar um novo
relacionamento amoroso (pode ser)”
d) disponibilidade da ferramenta
“Tem pessoas que abrem empresas e usam o twiter para divulgar a
empresa dele ou então algum produto, vendendo as coisas no twiter, não
só o twiter, ou às vezes cria o orkut daquela empresa ou de alguma coisa
que ele ta vendendo, do comércio dele acho legal divulgar os pontos
positivos das redes sociais”
e) divulgação de perfil profissional
“...a professora comentou ou foi o professor que tem empresas que entram
e podem até selecionar a pessoa para trabalhar na empresa dependendo
do seu perfil e comunicação...”
II - Consequências
a) Popularidade e aceitação de grupo de iguais
“Isso fake é...perfil falso, que nem ele ta falando as vezes você vê a foto lá a
menina é linda e é uma feiosa.”
b) Distanciamento da realidade
“Professora, eu acho que virtualmente é muito mais fácil você mentir sobre
quem você é, as pessoas mentem quando é pessoalmente, mas
virtualmente é bem mais fácil”
c) Pessoas (exceto pais) abertas ao diálogo.
“E eu acho que criar amizade virtualmente é bem mais fácil, do que
pessoalmente, porque você não fica de olhar, no rosto da pessoa, você
conversa sobre tudo.”
40
d) Medo da não aceitação pelo outro
“Por medo de não ser aceito”
“Medo de não ser aceito, eu acredito que sim”
e) Problemas com a imagem
“...porque ele coloca tanto photoshop na foto dele, que fica tão carregada
que nem parece que é ele.”
“Então se você faz um perfil e coloca lá que tem 30 anos e tem 17, você tá
sendo falso.”
Resumo das Propriedades da Categoria 1
Quadro 01: referente às propriedades da Categoria 01: condições causais,
conseqüências e fatores de proteção.
Condições Causais Fenômeno Conseqüência
__________________________________________________________________________
- curiosidade;
- necessidade de interação; Uso das redes
- comunicação sociais
- disponibilidade da ferramenta da internet
- informação
Popularidade e
aceitação de
grupo de iguais
Distanciamento
da realidade
Pessoas (exceto
pais) abertas ao
diálogo.
Medo da não
aceitação pelo
outro
Problemas com a
imagem
41
O quadro 01 apresenta as propriedades (condições causais, conseqüências e
estratégias de proteção) referentes à categoria 01: “Uso de redes sociais da internet”
comuns a todos participantes do grupo investigado.
Como condição causal para o uso de redes sociais da internet, os
participantes relataram “disponibilidade da ferramenta” e a “necessidade de
comunicação” como fatores que facilitam o uso das redes sociais da internet. Como
fatores de proteção, foram apontadas características da personalidade como
“preocupação com a imagem”, esse fator foi muito evidenciado durante as
discussões do grupo.
III- Discussão:
Foram identificadas singularidades na categoria “uso de redes sociais na
internet”, como condição causal, os participantes relataram “medo da não aceitação
pelo outro” e “problemas com a auto-imagem. O receio em expor a própria imagem
corporal sem sofrer a rejeição pelo outro, faz com que os adolescentes criem uma
nova imagem ou externalizem o que eles gostariam de ser, escolhendo assim o que
eles publicar em seu perfil, buscando a também condição causal “popularidade e
aceitação de grupos de iguais”
A construção da identidade pessoal inclui necessariamente a relação com o
próprio corpo, essa relação se faz através da representação mental que o jovem tem
do seu corpo. Sobre as transformações que envolvem a auto-imagem e sobre a
configuração subjetiva que o adolescente passa, Oliveira (2006) ressalta que num
primeiro nível, ocorre da relação entre fatores biológicos e fatores de ordem
psicossocial e cultural, assim como as questões de ordem da identidade pessoal e
social são construídas com o pano de fundo das relações sociais e institucionais. O
self adolescente, assim, é o arranjo que se produz na internalização/externalização
ativa de experiências em diferentes esferas da vida cultural e se expressa nas
práticas narrativas. A adolescência traz significativas mudanças no campo da
percepção e da auto-imagem, a adesão a novos grupos e a identificação a seus
pares favorecem a busca pela aceitação, esse movimento é explícito a partir dos
meios de comunicação utilizados pelos adolescentes, as redes sociais representam
a ferramenta atual de interação, as redes sociais apresentam a possibilidade de
42
ampliar as formas de comunicação e ainda produzir e compartilhar informações
online, o processo de interação social mediado pelo computador, permite o
imediatismo e uma ruptura de barreiras na comunicação. Segundo O’Reilly (2005),
como ocorre com outros conceitos, a Web 2.0 não tem uma fronteira que a demarca
claramente. As redes sociais mantêm sua existência através de interações de
sujeitos conectados por meio de recursos da informática, ainda que a cooperação
online dependa dos recursos, destaca O’Reilly (2005), nenhum serviço para o
trabalho coletivo online, por melhor que seja sua infraestrutrura, traz incorporada a
garantia de que será utilizada de fato para a cooperação entre sujeitos. A
adolescência é caracterizada por um período repleto de interesses, as novas
tecnologias representam novas possibilidades de interação social, onde um
adolescente cita “E eu acho que criar amizade virtualmente é bem mais fácil, do que
pessoalmente, porque você não fica de olhar, no rosto da pessoa, você conversa
sobre tudo.” retrata que a abertura para o diálogo que as redes sociais na internet
favorece a expressão de sentimentos que muitas vezes são reprimidos. Nesse
sentido as redes sociais podem ser consideradas um espaço de vivência, de
convivência e de relações sociais, um espaço que se constitui pela diversidade de
idéias, mas que muitas vezes se esbarra na necessidade de se apropriar das
características do outro, para assim se aproximar, é como se a diferença acarretasse
num distanciamento. Esse caminho envolve processos psicológicos difíceis de
serem percebidos, a subjetividade das relações é significativa nesse processo, o
dinamismo da vida individual e coletiva com toda a riqueza de significados dela
transbordante (MINAYO,1999, p.15). O adolescente organiza seu comportamento de
modo que se permita a construção de um sujeito consciente de suas possibilidades,
a busca por popularidade é um fenômeno presente no uso das redes sociais, as
amizades são contabilizadas e é importante ter um número mínimo de amigos, para
não ser considerado antisocial, por medo de não ser aceito, os adolescentes
mudam, transformam suas características em seu perfil, nas redes sociais, pois é
este perfil a ferramenta que lhe apresentará o outro, e assim é difícil definir o que é
falso ou não, o que o sujeito considera permitido alterar, porque a maioria das
pessoas altera. Ex: “Isso “fake” é... perfil falso, que nem ele ta falando as vezes você
vê a foto lá a menina é linda e é uma feiosa.”, assim softwares como photoshop são
cada vez mais utilizados para que a foto se enquadre em quesitos determinados de
43
beleza, quando questionados obre o motivo de se alterar uma foto em seu perfil, os
adolescentes afirmam que temem a não aceitação do outro o período da
adolescência exige sucessivas reconstruções e reformulações da imagem do próprio
corpo.
Deste modo, a necessidade de adequação física, sexual e social é dinâmica e
pressiona o jovem a buscar a aceitação por seus grupos de iguais. Se não forem
aceitos, podem surgir tensões e conflitos que eliciarão sentimentos de ansiedade,
inferioridade, baixa autoestima e retraimento súbito ou gradual (KAPLAN et al.,
1997). Esse movimento também é influenciado pela normatização dos padrões de
beleza estabelecido pela mídia. O sociólogo, Bauman (2004) trata da dificuldade de
amar o próximo seguindo a idéia de Freud, de que o mandamento de amar ao
próximo como a si mesmo é um dos preceitos da vida civilizada, o autor aponta a
contradição dessa máxima com o tipo de razão que a civilização promove: a razão
do interesse próprio e da busca da felicidade (p.97). Desta forma há uma troca da
qualidade pela quantidade, a longa duração é trocada pela rapidez, a realidade pela
virtualidade. Essa forma de convivência leva a desestabilização e dessa forma
temos a contradição de vivermos como estranhos na companhia uns dos outros, e
este é um dos grandes problemas/desafios das cidades e do mundo globalizado.
Categoria 02 – Fatores de risco e de proteção
I - Condições causais:
a) Solidão
“Eu acho que muita gente que cria porque não tem vida fora do
computador, aí cria ali no computador que é pra ter vida ali e vira alguém.”
“Eu fiz um fake de mim mesmo, pra espiar, porque por exemplo ficavam
falando: Tão falando mal de você nesse perfil aqui, daí eu fiz um e fui
saber de mim mesmo o que estavam falando nesse, aí eu ficava falando o
que você acha dele (eu) o que você falou dele (eu) aí eu ficando
espionando eu mesmo.”
44
b) Privacidade
Tem também gente que bloqueia você mandar recado pra ela, assim
chega gente que eu não conheço, surge debaixo da terra e me adiciona, aí
eu vou perguntar quem é esse infeliz, eu quero perguntar, mas não dá pra
mandar recado pra essa pessoa, como eu vou me comunicar com ela pra
saber quem é ela? Aí eu digo não! Não aceito. Eu não sei quem é!
c) Dúvidas
“Eu acho que você ta lá você não fala só a verdade, é muito difícil.”
“Eu fiz um fake de mim mesmo, pra espiar, porque por exemplo ficavam
falando: Tão falando mal de você nesse perfil aqui, daí eu fiz um e fui
saber de mim mesmo o que estavam falando nesse, aí eu ficava falando o
que você acha dele (eu) o que você falou dele (eu) aí eu ficando
espionando eu mesmo.”
II - Consequências:
a) Busca por definir um perfil dentro dos padrões sociais
“E transformar uma foto não é fake?”
“É sim, mas todo mundo faz...photoshop”
“Acho que é inveja também, as pessoas não conseguem tirar foto daquele
jeito daí ela pega a foto daquela pessoa pra fingir que é ela.”
“Eu to dando um exemplo, não to falando que tem que ser
especificamente a idade, por exemplo no seu perfil tem várias coisas pra
preencher lá, se você preencher com outras coisas que você não gosta
você está sendo fake, to certo ou to errado?”
b) Conflitos relacionados às funções familiares
“As meninas da minha sala tinham, daí elas criavam família.
c) Categorização de níveis de amizades
“Porque você vai lá, minha amiga bacana, você vai lá e me adiciona aí eu
olho assim e não consigo identificar você pela foto do perfil, aí eu vou
45
entrar no seu Orkut e vou ver as fotos do seu álbum, pra eu poder te
identificar, só eu clico lá e não consigo ver você então você vai ser
recusada, porque eu não conheço.”
“Ou então é assim, você tem um amigo e você não gosta dos amigos dele,
não simpatiza e tal, aí esse amigo vai e fica olhando suas fotos você não
quer que ele fique olhando, bloqueia assim, você ainda não é meu amigo,
mas depois que você me adicionou, vai poder ver as fotos.”
d) Fragilidade nos relacionamentos afetivos
“Os pontos negativos professora, a colega dele manda um oi pra ele e daí
a namorada já pergunta o que é que você tem com ela, já vai logo assim
pra ele, esse é o ponto negativo.”
e) Relações afetivas ambivalentes
“Mas você é horrível, coloca seis quilos de photoshop lá..”
“Grupo: Continua horrível!”
“Continua horrível, mas ta diferente! Acho que sei lá é considerável, mas
ainda é fake!”
“Exemplo eu não gosto de você, eu te odeio eu quero ver lá as fotos lá.”
f) Auto proteção
“Mas é porque é assim professora, por causa dos pedófilos também, vai
que você não bloqueia daí a pessoa vai lá olha todas as suas fotos e pode
fazer uma maldade também, por isso que a gente bloqueia.”
“Não, proteger protege! É mais seguro, né! Se você tem uma conta e
bloqueia e não consegue ver a foto, não consegue mandar recado.
Massss....você não consegue identificar a pessoa, não consegue, nada
também.”
46
Resumo das Propriedades da Categoria 2.
Quadro 02: referente às propriedades da Categoria 02: condições causais,
fenômeno e conseqüência.
Condições Causais Fenômeno Conseqüência
__________________________________________________________________________
_
- solidão;
- privacidade;
- dúvidas
III- Discussão Categoria 02
Os fatores de risco e de proteção se relacionam na prática da comunicação
mediada pela internet, é um movimento que acompanha as relações sociais, é
importante entendermos como esses fatores se configuram num determinado
contexto. A caracterização dialética de risco e proteção não expressa à experiência
dos adolescentes nas redes sociais da internet. Quando o adolescente utiliza
recursos de proteção disponíveis nas ferramentas, por exemplo, a realização de um
perfil falso, para não expor o seu perfil, ele também não permite a relação de
aproximação para atender a necessidade de saber o que o outro diz sobre ele, como
declara o participante do grupo: “Eu fiz um fake de mim mesmo, pra espiar, porque
por exemplo ficavam falando: Tão falando mal de você nesse perfil aqui, daí eu fiz
um e fui saber de mim mesmo o que estavam falando nesse, aí eu ficava falando o
a) Busca por definir
um perfil dentro
dos padrões
sociais
b) Conflitos
relacionados às
funções familiares
c) Categorização de
níveis de
amizades
d) Fragilidade nos
relacionamentos
afetivos
e) Relações afetivas
ambivalentes
f) Auto proteção
Estratégias de
bloqueio de
informações do
perfil pra se
proteger
47
que você acha dele (eu) o que você falou dele (eu) aí eu ficando espionando eu
mesmo.” Risco é uma conseqüência da livre e consciente decisão de se expor a
uma situação na qual se busca a realização de um bem ou de um desejo, em cujo
percurso se inclui a possibilidade de perda, assim o adolescente em suas
experiências emocionais na internet percorre um caminho de escolhas entre o que
expor em seu perfil e para quem expor. Segundo Heidegger (1980), o risco é
inerente à vida (1980), ao movimento, e à possibilidade de escolha. Viver é correr
risco e por isso a incerteza é um componente essencial da existência e igualmente
do conceito de risco.
Risco é um conceito que envolve conhecimento e experiência acumulada
assim a medida que os adolescentes partilham suas experiências com outros, as
formas de proteção são aperfeiçoadas, e isso é sempre um tema que surgiu com
freqüência nas discussões em grupo, diz respeito a situações reais ou potenciais
que produzem efeitos adversos e configuram algum tipo de exposição.
A privacidade tem a função de proteger, nos perfis das redes sociais a
quantidade de amigos que o participante possui fica exposta, o contador age como
um indicador de popularidade, porém segundo relato do grupo a necessidade de
proteção sobressai à vaidade da popularidade, e nem todas as pessoas que
solicitam fazer parte da rede social o adolescente aceita, como declaram alguns
participantes: “Tem também gente que bloqueia você mandar recado pra ela, assim
chega gente que eu não conheço, surge debaixo da terra e me adiciona, aí eu vou
perguntar quem é esse infeliz, eu quero perguntar, mas não dá pra mandar recado
pra essa pessoa, como eu vou me comunicar com ela pra saber quem é ela? Aí eu
digo não! Não aceito. Eu não sei quem é!” A condição do risco de ter a privacidade
invadida por uma pessoa que o adolescente não conheça e que possa causar
alguma perda em sua vida, faz com que ele reflita sobre suas ações nas redes
sociais, o bloqueio das informações foi discutido de forma ampla e é possível
perceber por meio de relato do grupo que se trata de uma prática comum entre os
participantes das redes sociais, a auto proteção pode ser percebida na declaração
da participante: “Mas é porque é assim professora, por causa dos pedófilos também,
vai que você não bloqueia, daí a pessoa vai lá olha todas as suas fotos e pode fazer
uma maldade também, por isso que a gente bloqueia.”
48
Em geral as experiências dos relacionamentos nas redes sociais geram
compartilhamento grupal, diferenciação, autonomia e independência em relação à
família e nessa procura o adolescente faz um cálculo do perigo a que se expõe. A
necessidade de se olhar os dois lados, do risco e da proteção, seguido do desejo de
compartilhar nos levam a considerarmos que o adolescente reflete sobre suas
práticas nas redes sociais, como foi possível observar por meio dos relatos dos
grupos.
Categoria 03 – Experiências emocionais nas redes sociais da internet
I - Condições causais:
a) Exibicionismo
“Se você posta uma coisa, você quer que todo mundo promova, que olhe que
conte que comente, que promova...”
“Uma frase que você posta no face...você quer que os outros comente!”
“Você não vai postar uma coisa lá e não querer que ninguém saiba. Quer é
que todo mundo fique sabendo”
b) Necessidade de atenção
“Eu acho que coloca não olhe que é pra chamar atenção, pra ter acesso e
como é que fala...pra comentar a foto, com certeza vai colocar lá não olhe...e
daí a pessoa vai ficar curiosa pra saber e vai comentar as fotos, por isso”
c) Competição
“Professora eu acho que é assim...tem uma frase no filme que a gente
assistiu que eu não sei se é do Dusty ou é do Mark, criadores que diz assim,
as pessoas entram em redes sociais, não pra ver coisas de pessoas, porque
existem milhões de pessoas, eles entram pra ver coisas de pessoas que eles
conhecem, que é mais próximo é mais comprometedor, que podem espalhar
e tal, eu acho que por isso que as redes sociais estão bloqueando.”
49
II - Consequências:
a) Exposição da figura amada, como prova de amor.
“Igual eu deixo a minha namorada lá, se eu gosto eu deixo ela lá.”
b) Proteção da figura amada
“Ou então você está namorando e coloca as fotos sua e da sua namorada,
não mais eu não quero que ninguém veja minha namorada, é só eu tirar a
foto dela de lá.”
c) Busca por popularidade:
“Falem bem ou mal, mas falem de mim!”
d) Desejo de se apresentar como o outro
“Mas pensando desse lado, todo mundo é fake.”
“Eu estou dando um exemplo, não estou falando que tem que ser
especificamente a idade, por exemplo no seu perfil tem várias coisas pra
preencher lá, se você preencher com outras coisas que você não gosta você
está sendo fake, estou certo ou estou errado?”
“ Está certo!”
“Eu acho que você está lá você não fala só a verdade, é muito difícil.”
“Por exemplo, pra mim fake é ter outra vida, as meninas que tinham fake, elas
mentiam várias coisas, mentiam idade que moravam em tal lugar em várias
outras coisas pra mim fake é isso!
e) Não aceitação do que representa na sociedade, negação da identidade,
rejeição.
“Não você colocar lá, tipo assim tenho 21 anos e gosto de cachorro e você
não gosta de cachorro aí se está mentindo você é fake só por causa disso eu
acho que não, não! Tem que ter uma foto que não seja sua, uma vida que não
é sua, que mente lugar que trabalha, escola que estuda, às vezes cria família,
você é fake eu sou fake e vamos ser irmãs! Eu acredito que é assim!”
50
“Pra que isso? Oh! Eu não sou o João, mas daí eu coloco que sou o João...eu
sou um nada então...”
“Eu acho que muita gente que cria porque não tem vida fora do computador,
aí cria ali no computador que é pra ter vida ali e vira alguém.”
“Acho que é inveja também, as pessoas não conseguem tirar foto daquele
jeito daí ela pega a foto daquela pessoa pra fingir que é ela.”
f) Não se achar belo
“E transformar uma foto não é fake?”
“Grupo: Não!”
“Ah! É sim, mas todo mundo faz...photoshop, você fala? Mas você é horrível,
coloca seis quilos de photoshop lá...”
“Grupo: Continua horrível!”
“Continua horrível, mas está diferente! Acho que sei lá é considerável, mas
ainda é fake!”
“Eu acredito que não!”
51
Resumo das Propriedades da Categoria 3
Quadro 03: referente às propriedades da Categoria 03: condições causais,
fenômeno e conseqüência.
Condições Causais Fenômeno Conseqüência
__________________________________________________________________________
_
- exibicionismo;
- necessidade de atenção;
- competição;
III- Discussão categoria 3 – Experiências emocionais nas redes sociais da
internet
No discurso apresentado pelo grupo, podemos destacar a finalidade das
redes sociais, ao relatar que as interações mais freqüentes são com as pessoas que
eles mais convivem os adolescentes contradizem o que haviam dito no início do
primeiro encontro, onde afirmaram que as redes sociais favoreciam a interação com
pessoas que eles não encontravam há muito tempo, ou que estava em uma
localização geográfica distante, o infinito da Internet, dos relacionamentos virtuais,
proporcionam encontros e desencontros, refletindo o imediatismo.
a) Exposição da figura
amada, como prova
de amor.
b) Proteção da figura
amada
c) Busca por
popularidade:
d) Desejo de se
apresentar como o
outro
e) Não aceitação do
que representa na
sociedade, negação
da identidade,
rejeição.
f) Não se achar belo
Experiências
emocionais
vivenciadas na
internet.
52
Bauman (2004), identifica essas características e as define genialmente com um
conceito que o acompanha em diversas obras: a liquidez. É o amor líquido, a vida
líquida, a modernidade líquida. Tudo o que corre, passa, desmaterializa, “derrete”.
No lado afetivo há o desprendimento, as relações se modificam constantemente, a
instantaneidade das formas de comunicação proporcionam a rapidez, só que para o
autor, essa fluidez excessiva traz um não-auto questionamento, uma liberdade falsa
porque não é baseada numa liberdade comum, A liquidez chega a ser opressiva, e
as expressões de sentimentos como amor e ódio ficam cada vez mais comuns, nos
ambientes virtuais, ao criar seu perfil em redes sociais como no facebook,
(atualmente a rede com maior número de acessos e participantes), o adolescente
consegue definir o grau de amizade ou parentesco, ou mesmo seus sentimentos em
sobre o participante conectado, ao declararem ao grupo que participa de sua rede
de amigos que está namorando, a exposição e a ligação com o perfil da pessoa
amada é afirmado, a partir da exposição que é feita, como segue a declaração:
“Igual eu deixo a minha namorada lá, se eu gosto eu deixo ela lá.”, em diferentes
situações as experiência emocionais são experenciadas quando o participante
declara “Ou então você ta namorando e coloca as fotos sua e da sua namorada, não
mais eu não quero que ninguém veja minha namorada, é só eu tirar a foto dela de
lá.”, nesse momento a escolha por não expor as fotos da figura amada, tem a função
de proteger.
Adolescentes temem ser socialmente rejeitados, pois suas relações são
essenciais para aprender lições que lhes permitirão participar da sociedade adulta. A
fim de fazer isso de forma adequada e eficiente, os adolescentes vêm equipados
com a capacidade de aprender rápida e furiosamente com seus colegas, embora
esse sistema seja muito bem desenvolvido, pois ajuda a transição da adolescência
para a idade adulta, tem-se revelado também um excelente princípio sobre como
basear suas escolhas, a partir do relato apresentado no grupo: “Não você colocar lá,
tipo assim tenho 21 anos e gosto de cachorro e você não gosta de cachorro aí se ta
mentindo você é fake só por causa disso eu acho que não, não! Tem que ter uma
foto que não seja sua, uma vida que não é sua, que mente lugar que trabalha,
escola que estuda, às vezes cria família, você é fake eu sou fake e vamos ser irmãs!
Eu acredito que é assim!”, é possível observar a aproximação das características
53
pessoais expostas nos perfis, a fim de se tornar aceito num grupo onde a maioria
exibe determinada característica em seu perfil publicado nas redes sociais.
54
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante esse estudo foi possível investigar os fatores de risco e de proteção à
saúde em adolescentes usuários das redes sociais na internet, destacamos alguns
mecanismos importantes de proteção, como o bloqueio de suas informações
pessoais a desconhecidos se protegerem de pessoas mal intencionadas que
possam obter informações que denigram sua imagem diante da rede, a criação do
perfil denominado fake, onde o adolescente se projeta como outra pessoa na rede
social e assim acessa páginas de grupos onde as informações ficam expostas para
serem distorcidas, assim ele protege seu perfil, para isso são permitidas alterações
em informações como nome, status de relacionamento, idade, grupos sociais
inseridos, informações que o desconfigura, em algumas situações pequenas
alterações em seu perfil são realizadas a fim de tornar-se aceito em seu grupo, é
importante ressaltar que essa ação possibilita o alívio de sentimentos, não é,
portanto, de estranhar que uma pessoa que se sinta só tenha tendência para passar
mais tempo on-line do que quem não se sente só: encontra, na Internet, um mundo
que a ajuda a fugir às emoções negativas associadas à solidão
Os pais precisam auxiliar seus filhos na compreensão das novas formas de
comunicação disponíveis, estabelecendo limites e oferecendo um campo de diálogo,
dando oportunidade de discussão para ampliar a autonomia dos indivíduos da
família, pudemos observar pelo comportamento apresentado pelo grupo nas
sessões realizadas que há a necessidade de espaço para que as emoções
vivenciadas pelos adolescentes sejam discutidas.
Pode-se esperar que sejam encontradas soluções adequadas que permitam a
esse adolescente ajustar-se às mudanças tecnológicas e adaptarem-se as novas
formas de comunicação, para seu desenvolvimento.
Observamos que as trocas mútuas evidenciam que os sujeitos apresentam
limites mutáveis, não existindo integridade ou unidade absoluta, para se protegerem
os adolescentes utilizam de recursos disponíveis nas ferramentas tecnológicas, e
alteram seu perfil de acordo com a necessidade apresentada, bloqueiam
informações, fotos e não aceitam o convite de pessoas desconhecidas para
participarem de sua rede social virtual, essa rede virtual, muitas vezes é transferida
55
ou já faz parte de suas amizades presenciais, os adolescentes relatam que a maioria
de seus amigos virtuais, são pessoas próximas e participam de seu cotidiano.
Partindo destas considerações, acerca da parcialidade e fluidez da
integridade e identidade do sujeito dentro das amizades virtuais, configura-se a
noção de um sujeito que se desembaraça lentamente da forma de mobilização
psíquica individual para o contexto grupal. Assim os participantes das redes sociais
criam uma nova ética do relacionamento, os sentimentos pertencem a diversos
conjuntos de experiências vividas, por impulso deletam-se contatos, excluem-se
amigos na rapidez de um clique, e também criam-se amizades na mesma
velocidade.
Os avanços tecnológicos que influenciam muito o ser humano em suas
relações e o amor líquido representam esta fragilidade dos laços estabelecidos, a
flexibilidade com que são substituídos. Os adolescentes consideram que é fácil usar
a Internet e são atraídos pelas redes sociais, onde podem experimentar e
desempenhar diferentes papéis, assim como estabelecer relações com pessoas que
partilham dos mesmos interesses.
Sobre identificar e discutir os critérios utilizados pelos adolescentes para a definição
de informações que são publicadas em seu perfil pessoal existe a possibilidade de
assumir identidades diferentes e buscar assim a aproximação com grupos e
indivíduos de seu convívio presencial. Também é considerável que a condição de
anonimato influencia o comportamento e diminui o grau de inibição, isto é, diminui os
constrangimentos sociais e este pode ser um dos grandes atrativos das redes
sociais, a fuga da realidade, que possibilita um conforto para o enfretamento de
conflitos, como fator de proteção, porém pode determinar um risco se considerarmos
o perigo da alienação.
As redes de relacionamentos virtuais visam impulsionar as relações humanas
Por meio da tecnologia, essa ferramenta pode exercer um papel de laboratório de
autoconhecimento facilitando a experimentação de outras formas de atuação no
mundo.
As transformações das fotos utilizando o recurso da ferramenta photoshop
recriam um novo aspecto da realidade, nestes espaços também é possível a criação
de novas identidades. Afinal, quantos outros podem surgir de nós mesmos? Assim
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a rejeição é menos dolorida e o feio pode ser transformado e aceitado, quando
existe a possibilidade de transformar-se virtualmente. O sujeito é criador de si
mesmo, enfrenta o paradigma da identidade única e se permite mudar.
A idéia de pertencimento a um todo maior pode ser explorada para o
desenvolvimento de novas práticas relacionais, é importante refletir sobre o
comportamento resistente e muitas vezes nostálgico dos pais e educadores em
relação ao comportamento dos adolescentes nas redes sociais da internet,
considerando aspectos desse estudo que ressaltam que o adolescente analisa
criticamente as possibilidades de interação oferecidas pela tecnologia, bem como
utiliza critérios para a divulgação de suas informações pessoais com o objetivo de
proteger-se. Diante dos avanços tecnológicos, das mudanças freqüentes das redes
sociais e das ferramentas disponíveis para experiências emocionais na internet,
percebe-se que é necessária a continuidade de estudos nessa área, é necessário
estudarmos outras populações e variáveis a fim de explorarmos com maior
abrangência o tema.
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TRANSCRIÇÃO GRUPO 01
“Pontos positivos: fazer novas amizades, meio de comunicação, conversar com
parentes distantes, postar notícias, fotos e etc, aplicativos, eh...começar um novo
relacionamento amoroso (pode ser), baixar músicas, dependendo do perfil, quinem a
professora comentou ou foi o professor que tem empresas que entram e podem até
selecionar a pessoa para trabalhar na empresa dependendo do seu perfil e
comunicação, várias pessoas ao mesmo tempo, chats e vídeos, tudo positivo”
“Eu acho que o positivo é atrair novas amizades, conversar com pessoas distantes
perante o e-mail e a divulgação no twiter, divulgar algo que você quer expor”
“Tem pessoas que abrem empresas e usam o twiter para divulgar a empresa dele ou
então algum produto, vendendo as coisas no twiter, não só o twiter, ou às vezes cria
o Orkut daquela empresa ou de alguma coisa que ele ta vendendo, do comércio dele
acho legal divulgar os pontos positivos das redes sociais”
Mediador: “Que mais gente? Em relação a começar uma nova amizade, qual que é a
diferença entre começar uma nova amizade de forma presencial ou de começar uma
nova amizade pela internet, como se dá o início dessa nova amizade pela internet?
Quais são as diferenças?”
“A maioria pode ser ...”
“fake”
“Isso “fake” é...perfil falso, que nem ele tá falando as vezes você vê a foto lá a
menina é linda e é uma feiosa.”
“(risos) Um homem...(risos) um travesti...(risos) trabucão...(risos)”
“ Olha lá professora....olha ali ó ele na rede social.”
“Eu não postei nada não...”
Mediador: O que você ta fazendo (participante)...
“Tá twitando...(risos)”
“Tá comprando moeda verde!!!! (risos)”
Mediador: “Quem já começou amizade pela internet? Eu lembro que da outra vez a
gente tinha um depoimento.”
“Foi a (participante)!”
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“Pô Valeu!”
“Arrasa!!! Oh! (risos)”
“Professora, eu acho que virtualmente é muito mais fácil você mentir sobre quem
você é, as pessoas mentem quando é pessoalmente, mas virtualmente é bem mais
fácil.”
Mediador: “Por que que é bem mais fácil? Porque você pode alterar a sua foto...”
(euforia na sala) ehhh
“Gente, vamos respeitar!”
“Pode alterar a frase que você quiser, seu nome..sei lá... eu acho pessoalmente é
muito mais difícil.”
Mediador: “Pra mentir né, pessoalmente é muito mais difícil..”
“Isso é!”
“E eu acho que criar amizade virtualmente é bem mais fácil, do que pessoalmente,
porque você não fica de olhar, no rosto da pessoa, você conversa sobre tudo.”
“Você pode xingar ela!”
“É verdade!”
“E os pontos negativos?”
Mediador: “Quem já teve perfil falso?”
(Levanta a mão!) “Eu fiz só para teste...”
“Hã? Pra teste?”
Mediador: “Porque a gente faz um perfil falso?”
“Por medo de não ser aceito”
Mediador: “Oi?”
“Medo de não ser aceito, eu acredito que sim.”
“Eu já fiz um perfil falso, cara. É que tipo era pra gente sair e só um que tava com
frescura atrás da namorada dele, aí a gente tinha feito, não só eu sozinho, não só eu
sozinhos, mas os moleques com o perfil de uma menina lá, nada a ver, aí foi mais
ou menos uma semana, uns cinco dias, conversando por Orkut, e daí marcamos dos
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dois se encontrar , foi lá no shopping, tipo a gente queria ir no cinema, maior galera,
quinze moleques mais ou menos, aí a hora que ele chegou lá tinha uns quinze
moleques lá da vila lá, aí a gente zoou vacilão...eh, aí a gente tinha imprimido a foto
da menina e colocado no rosto do outro moleque lá...(risos) ele foi na intenção de
encontrara a menina e encontrou a gente zoando lá no shopping lá.”
Mediador: “E sobre essa questão, que a gente faz um perfil fake com medo de não
ser aceito?
Como que é isso, falem um pouco mais sobre isso, achei interessante.”
“Eu nunca fiz, não dá pra saber...”
“Porque oh! Quem sabe é quem faz!”
“Agora o (participante) vai estar se expressando! (risos)”
Mediador: “Como que foi (participante) fazer um perfil falso?”
“Ah! Professora! Tem uma comunidade no orkut, uma não diversas! Pérolas do
orkut, com várias fotos engraçadas são postadas lá, edição de fotos suas, aí uma
vez eu tava com vontade de postar nessa comunidade, mas daí eu falei, não porque
senão eles vão entrar no meu perfil, pegar uma foto minha e mostrar pra todo
mundo, daí eu fiz um perfil fake, pra mim poder entrar na comunidade conversar
com todo mundo sem ninguém saber que sou eu.”
Mediador: “Quem nunca fez um perfil fake pra espiar, o perfil do outro?”
“Eu nunca fiz, eu tive vontade mas nunca fiz! Lá na minha escola, tem um orkut de
fofocas de todo mundo que estuda lá, aí se você adicionar eles pegam uma foto sua
coloca e fofocam sobre sua vida, então u tenho vontade de ver, mas se eu adicionar
eu sei que eles vão pegar uma foto minha. Aí eu não! Nem adiciono.”
“Uma rede social também pode ser raqueada, alguém vai lá descobre sua senha,
entra lá e ferra tudo o seu orkut, isso é um ponto negativo.”
Mediador: “Quem já passou por uma experiência dessa?”
“Eu fiz pra espiar o Orkut da minha mãe e do meu pai!”
“E depois eu raqueei eles dois! Eu sei a senha deles.”
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Mediador: “Quem já raqueou o perfil de alguém?”
“Isso é crime gente! Ela ta filmando.”
“Já fizeram um perfil fake com as minhas fotos! Por exemplo você vai lá e faze um
perfil falso com as minhas fotos daí eu vou lá e raqueio e exclui.”
“ Eu fiz um fake de mim mesmo, pra espiar, porque por exemplo ficavam falando:
Tão falando mal de você nesse perfil aqui, daí eu fiz um e fui saber de mim mesmo o
que estavam falando nesse, aí eu ficava falando o que você acha dele (eu) o que
você falou dele (eu) aí eu ficando espionando eu mesmo.”
“ (participante), você deveria ter colocado uma foto e perguntado você ficaria com
esse menino? (risos)”
“Aí não!”
Mediador: “Ainda não consegui entender...”
“Professora, quando alguém fala mal da senhora, se a senhora pudesse ser uma
mosquinha pra saber, não seria? Foi isso que ele fez! Uma mosquinha perfil!”
Mediador: “Vamos falar mais sobre perfil fake.”
“As meninas da minha sala tinham, daí elas criavam família.”
“O (participante) tem um perfil fake, porque ele coloca tanto photoshop na foto dele,
que fica tão carregada que nem parece que é ele.”
Mediador: “Eu posso fazer um perfil com o meu nome...”
“Mas com o seu nome não vai ser fake!”
Mediador: “Calma...enfim...sem a necessidade de criar outro perfil, mas transformar
tanto as minhas informações que eu posso acabar tornando ele fake, não é?”
“Só se a senhora mentir!”
Mediador: “Então, não posso, existe isso?”
“Pode? Porque assim é ela!”
Mediador: “A palavra fake...quer dizer falso”
“Então se você faz um perfil e coloca lá que tem 30 anos e tem 17, você está sendo
falso.”
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“Mas pensando desse lado, todo mundo é fake.”
“Eu to dando um exemplo, não to falando que tem que ser especificamente a idade,
por exemplo no seu perfil tem várias coisas pra preencher lá, se você preencher com
outras coisas que você não gosta você ta sendo fake, to certo ou to errado?”
“ta certo!”
“Eu acho que você está lá você não fala só a verdade, é muito difícil.”
“Por exemplo, pra mim fake é ter outra vida, as meninas que tinham fake, elas
mentiam várias coisas, mentiam idade que moravam em tal lugar em várias outras
coisas pra mim fake é isso! Não você colocar lá, tipo assim tenho 21 anos e gosto de
cachorro e você não gosta de cachorro você está mentindo você é fake só por causa
disso eu acho que não, não! Tem que ter uma foto que não seja sua, uma vida que
não é sua, que mente lugar que trabalha, escola que estuda, as vezes cria família,
você é fake eu sou fake e vamos ser irmãs! Eu acredito que é assim!”
“É palhaçada! O que um perfil fake faz? Meu! É uma bosta isso!”
“Porque?”
“Vai se expresse!”
“Pra que isso? Oh! Eu não sou o fulano, mas daí eu coloco que sou o beltrano...eu
sou um nada então...”
“Eu acho que muita gente que criam porque não tem vida fora do computador, aí cria
ali no computador que é pra ter vida ali e vira alguém.”
“Acho que é inveja também, as pessoas não conseguem tirar foto daquele jeito daí
ela pega a foto daquela pessoa pra fingir que é ela.”
Mediador: “Como assim não entendi.”
“Ah! Aquelas pessoas que tiram a foto maior bonita, perfeita, então é inveja mesmo.”
“É inveja! Joga sal grosso!”
Mediador: “Quem mais falou que é inveja?”
“Eu, acho que pra pessoa ser fake ela não deve se achar tão bonita, pra pegar uma
pessoa bem elegante e colocar lá, então isso é inveja.”
“A pessoa tem uma autoestima muito baixa, o fake é um ponto negativo das redes
sociais, tem pessoas que usam o fake pra fazer...igual os pedófilos por aí, a maioria
dos perfis dos pedófilos é fake, aí chega lá e chama a menina lá pra sair e tal e
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chega lá é um seqüestro, as vezes até mata, tem pessoas que entram no carro de
outra pessoa, é negativo, é sério meu!”
“Ah professora! Mas depende tem gente que sabe que é fake! Porque tem até uma
comunidade, não sei o que lá fake, e eu acho muito difícil a pessoa olhar olhar e não
saber que é fake, porque quando você adiciona o fake está na cara que é fake!”
Mediador: “Quais são os indícios, que é fake?”
“Às vezes tem uma foto que não é a mesma pessoa é parecia, mas quando você
olha a foto, uma foto ta de um jeito e a outra de outro aí você vê que não é aquela
pessoa, ah! Professora não tem como falar só você vendo mesmo.”
“Às vezes você olha a pessoa é muito linda, perfeita! Não tem como, você olha meu
é fake, não dá.”
Mediador: “E transformar uma foto não é fake?”
“Não!”
“Ah! É sim, mas todo mundo faz...photoshop, você fala? Mas você é horrível, coloca
seis quilos de photoshop lá..”
“Continua horrível!”
“Continua horrível, mas ta diferente! Acho que sei lá é considerável, mas ainda é
fake!”
“Eu acredito que não!”
“O professor pediu pra gente pesquisar os lados positivos e negativos e de onde
surgiu, como criar uma conta no orkut, facebook, twiter, blog.”
Mediador: “E aí? Como foi? O que vocês levantaram como pontos positivos e
negativos?”
“Positivos, fazer amizades, falar com parentes que estão distantes.”
“Tem também o google mais!”
Mediador: “O que é o google mais?”
“Explica agora, vai! Oh!”
“É a rede social nova do google, que eles querem que seja a maior de todas, que vai
juntar um pouco de cada.”
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Mediador: “Como assim? Tem todas as funções das outras?”
“Sim eles planejam que sim...Tem a vídeo conferência, que facilita o acesso pelo
celular e tem acesso as notícias e vídeos mais vistos e tem as continhas”
“Eles querem comprar todas as redes sociais! Pra colocar só no google, comprar
todas as redes e juntar, tudo interligado ao google, aí eles querem fazer outra rede
social, pra que o google seja a maior, tão comprando tudo, igual o Carrefour ta
comprando tudo, querem ser a rede maior...”
Mediador: “Gente e como vocês vêem isso? Que vocês acham desse mercado das
redes sociais? Alguém já pensou sobre isso?”
“Eu não tenho certeza, mas eu acho que o facebook e o orkut não
competem...porque eles não são do google?”
Mediador: “Não sei, vocês pesquisaram isso?”
“O google tem não sei quantos por cento das ações do facebook, ele comprou por
milhões.”
“Metade das ações o google comprou do facebook”
“Mas o orkut já era do google, o MSN que é o Windows live também já era do
google”
“Nós precisamos do google”
Mediador: “Como que a gente pode imaginar que as redes sociais tem lucro?”
“É igual televisão, eles só ficam de pé por causa dos comerciais...”
“É igual os comerciais da TV, o horário da novela é mais caro, porque muita gente
assiste, no Orkut e no facebook é assim...você abre algum link e o comercial tá lá,
no youtube fica nos vídeos antes, durante e depois da exibição.”
“Igual o comercial dos pôneis malditos que ficaram famosos na internet primeiro,
depois na TV...”
“Por exemplo: vou acessar um vídeo, daí antes de começar o vídeo que eu quero
ver, começa os pôneis malditos, e é uma propaganda que você não consegue tirar,
eles te obrigam a assistir, aí depois começa o vídeo que você quer, é uma
propaganda que você assiste obrigatoriamente.”
“Não são em todos, mas geralmente antes do vídeo aparece a propaganda.”
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“Existem outras formas de comerciais nas redes sociais? Quem pode falar?”
“Os pontos negativos professora, a colega dele manda um oi pra ele e daí a
namorada já pergunta o que é que você tem com ela, já vai logo assim pra ele, esse
é o ponto negativo.”
“Se você posta uma coisa, você quer que todo mundo promova, que olhe que conte,
que comente, que promova...”
“Uma frase que você posta no face...você quer que os outros comente!”
“Você não vai postar uma coisa lá e não querer que ninguém saiba. Quer é que todo
mundo fique sabendo”
“Você não vai postar lá uma foto ou uma frase pra deixar lá e pronto...li e acabou,
você quer postar pra todo mundo ler e sair comentando.”
“Igual tem gente que põe foto e coloca lá não quero que ninguém fique
comentando.”
“Eu acho então que é melhor nem colocar.”
“Eu acho que coloca não olhe que é pra chamar atenção, pra ter acesso e como é
que fala...pra comentar a foto, com certeza vai colocar lá não olhe...e daí a pessoa
vai ficar curiosa pra saber e vai comentar as fotos, por isso.”
Mediador: “Entendi, como uma estratégia mesmo.”
Mediador: “Quem lembra daquela transição de quando a gente podia olhar tudo no
Orkut e de repente foi tudo bloqueado?”
“Era bacana hein!”
“Professora eu acho que é assim...tem uma frase no filme que a gente assistiu que
eu não sei se é do Dusty ou é do Mark, criadores que diz assim, as pessoas entram
em redes sociais, não pra ver coisas de pessoas, porque existem milhões de
pessoas, eles entram pra ver coisas de pessoas que eles conhecem, que é mais
próximo é mais comprometedor, que podem espalhar e tal, eu acho que por isso
que as redes sociais estão bloqueando.”
“Ou seja todo mundo que fica na internet é fofoqueiro.”
“Se for pensar assim é!”
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Mediador: “Se a gente pensar assim, mas existem outras formas de pensar? Sobre
essa questão do bisbilhotar?”
“Eu não acho que tem que bloquear o foto não...”
“Porque você vai lá, minha amiga bacana, você vai lá e me adiciona aí eu olho assim
e não consigo identificar você pela foto do perfil, aí eu vou entrar no seu orkut e vou
ver as fotos do seu álbum, pra mim poder te identificar, só eu clico lá e não consigo
ver você então você vai ser recusada, porque eu não conheço.”
“Mas é porque é assim professora, por causa dos pedófilos também, vai que você
não bloqueia, daí a pessoa vai lá olha todas as suas fotos e pode fazer uma
maldade também, por isso que a gente bloqueia.”
“Ou então é assim, você tem um amigo e você não gosta dos amigos dele, não
simpatiza e tal, aí esse amigo vai e fica olhando suas fotos você não quer que ele
fique olhando, bloqueia assim, você ainda não é meu amigo, mas depois que você
me adicionou, vai poder ver as fotos.”
“Ou então você ta namorando e coloca as fotos sua e da sua namorada, não mais
eu não quero que ninguém veja minha namorada, é só eu tirar a foto dela de lá.”
“Igual eu deixo a minha namorada lá, se eu gosto eu deixo ela lá.”
“Tem também bloqueia você mandar recado pra ela, assim chega gente que eu não
conheço, surge debaixo da terra e me adiciona, aí eu vou perguntar quem é esse
infeliz, eu quero perguntar, mas não dá pra mandar recado pra essa pessoa, como
eu vou me comunicar com ela pra saber quem é ela? Aí eu digo não! Não aceito. Eu
não sei quem é!”
Mediador: “Até que momento esse bloqueio protege ou não protege?”
“Não, proteger protege! É mais seguro né! Se você tem uma conta e bloqueia e não
consegue ver a foto, não consegue mandar recado. Massss....você não consegue
identificar a pessoa, não consegue, nada também.”
“Se ele é um amigo seu, mesmo você não consegue saber...”
“Às vezes tem muita pessoa que nem coloca foto no perfil, coloca um deseinho lá,
coloca árvore, carro..”
“Nas fotos eu acho que é um pouco falta de conhecimento, porque se você quer um
álbum lá e não no computador, deixa em casa então..”
“Se for pra colocar no orkut, deixa aberto então.”
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Mediador: “Então, nesse sentido...a gente percebe, que se ta no orkut a gente tem
que liberar geral?”
“Eu acho”
“Eu não acho.”
“Antes o Orkut era legal, eu quero saber de alguém que eu não gosto..”
“Exemplo eu não gosto de você, eu te odeio eu quero ver lá as fotos lá.”
“Eu acho que não, por exemplo eu coloco lá algumas fotos e não quero que uma só
pessoa veja, ao invés de eu bloquear pra todo mundo, eu posso bloquear só pra
ela.”
“É pra criar um fake.”
Mediador: “Esse é um motivo então pra eu crie um fake?”
“Eu acho que sim.”
“Exemplo ele me adicionou eu tenho ele no meu Orkut aí eu vou no perfil dele e falo:
Oh! Vou ver as fotos do Rodney, e aé? E aé? Tudo bloqueado, aí já dá vontade de
pegar o monitor e jogar no chão! Eu fico bravo com isso aí!”
Mediador: “E a gente cria um perfil fake, pra tentar espionar?”
“Ah! Eu tenho vontade!”
“Criar um fake só pra fuçar o outro?”
“Eu tenho vontade de criar um fake só pra entrar no Orkut da minha escola, porque
tem alguém lá na escola que cria um Orkut e fica fofocando de todo mundo lá da
escola, todo mundo, não quer nem saber se você conhece ou não! Elas pegam uma
foto sua colocam lá no álbum e ficam falando mal da sua vida, ou fofocam alguma
coisa, aí se você adicionar eles pegam foto sua, aí eu tenho vontade de criar um
fake só pra ver o que eles ficam fofocando..”
“Vai lavar uma roupa, vai ficar nessa aí!”
“Claro que não, vão falar de você, um exemplo já colocaram coisa minha, daí como
eu não tinha o perfil eu nem entrei...tão falando de você, você não vai saber o que é
que tão falando de você?! Daí se você entrar eles pegam sua foto e vão fazer mais
coisas!”
“Ah! O cara fica em casa sem fazer nada o dia todo e é isso aí!”
“Falem bem ou mal, mas falem de mim!”
67
‘É que eu acho uma perca de tempo isso! Você ir atrás do que estão falando de
você! É mesma coisa que twiter...Por que?’
“Porque é sem graça.”
68
REFERÊNCIAS
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KLEIN, M. A importância da formação de símbolos no desenvolvimento do ego. Obras Completas de Melanie Klein: Volume I Amor culpa e reparação e outros trabalhos (1930)". Rio de Janeiro: Imago, 1996.
LEVISKY, David Léo. Adolescência : reflexões psicanalíticas / David. 2. ed. rev. e atual. — São Paulo : Casa do Psicólogo, 1998 MINAYO. M. C. S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 1999. 80 p.
69
O'REILLY, T. What Is Web 2.0: design patterns and business models for the next generation of software. O'Reilly Network: What is Web 2.0. 30 Sept 2005. O'Reilly Publishing, 2006.
OSÓRIO, L.C. Grupos: Teoria e Prática. Porto Alegre: Artmed, 2000.
RUFFINO, R. Sobre o lugar da adolescência na teoria do sujeito. In: RAPPAPORT, C. L. (Org.). Adolescência: abordagem psicanalítica. São Paulo: E.P.U. 1993. p. 25-58. SILVEIRA, J. M.; SILVARES, E. F. M.; MARTON, S. A. Programas preventivos de comportamentos anti-sociais: dificuldades na pesquisa e na implementação. Estudo de Psicologia, Campinas, n. 3, v. 20, set./dez. 2003. STRAUSS, A.; CORBIN J. Basics of qualitative research: techniques and procedures for developing grounded theory. London: SAGE Publications. 1998.
70
ANEXOS
7.1 DECLARAÇÃO DE RESPONSABILIDADE DO PESQUISADOR
Eu, Aline Ferreira de Lima responsável pela pesquisa denominada " Fatores de risco e de
proteção em experiências emocionais de adolescentes em redes sociais da internet",
declaro que:
- assumo o compromisso de zelar pela privacidade e pelo sigilo das informações que serão
obtidas e utilizadas para o desenvolvimento da pesquisa;
- os materiais e as informações obtidas no desenvolvimento deste trabalho serão utilizados
para se atingir o(s) objetivo(s) previsto(s) na pesquisa;
- os materiais e os dados obtidos ao final da pesquisa serão arquivados sob a responsabilidade
do(a) Universidade Metodista de São Paulo- UMESP
- os resultados da pesquisa serão tornados públicos em periódicos científicos e/ou em
encontros, quer sejam favoráveis ou não, respeitando-se sempre a privacidade e os direitos
individuais dos sujeitos da pesquisa, não havendo qualquer acordo restritivo à divulgação;
- o CEP-UMESP será comunicado da suspensão ou do encerramento da pesquisa, por meio de
relatório apresentado anualmente ou na ocasião da interrupção da pesquisa; assumo o
compromisso de suspender a pesquisa imediatamente ao perceber algum risco ou dano,
conseqüente à mesma, a qualquer um dos sujeitos participantes, que não tenha sido previsto
no termo de consentimento.
São Bernardo do Campo, 10 / 11/ 2010
Aline Ferreira de Lima
CPF: 294574228-48
RG.: 32206971-3
Assinatura do responsável: ______________________________________
71
7.2 TERMO DE ASSENTIMENTO
Declaro que a pesquisadora me explicou todas as questões sobre o estudo, “Fatores de
riscos e de proteção em experiências emocionais de adolescentes em redes sociais da internet”
compreendi que não sou obrigado(a) a participar da pesquisa, eu decido se quero participar ou
não. A pesquisadora me explicou também que os encontros serão em grupo, e que a técnica
que será utilizada é chamada de grupos focais, que a partir de um roteiro padronizado
facilitará observações dos grupos, objetivando colher as impressões das experiências
emocionais de adolescentes vivenciadas em redes sociais na internet.
Entendi também que os encontros serão gravados e que esse material será arquivado ao
final da pesquisa na Universidade Metodista de São Paulo, respeitando sempre a privacidade e
os direitos individuais dos sujeitos da pesquisa. Esse estudo não envolverá riscos para mim,
nem quanto à integridade física ou psíquica, nem quanto à exposição ao público ou dano
moral, também não implicará em custos, sendo que os mesmos ficarão sob total
responsabilidade de seus pesquisadores.
Dessa forma, concordo livremente em participar dos encontros com o grupo sabendo
que posso desistir a qualquer momento, se assim desejar, sem qualquer pena ou prejuízo.
Assim, ciente dos termos citados acima, considera-se que você se dispõe a colaborar
com a pesquisa.
São Paulo, _____/_____/_______.
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE
__________________________________________
Assinatura do participante da pesquisa
__________________________________________
Documento de Identificação
Pesquisadora Mestranda:
Aline Ferreira de Lima
Qualquer dúvida ligue para (11) 6552-3244
72
7.3 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (Responsável Legal)
Estamos desenvolvendo um estudo sobre “Fatores de riscos e de proteção em
experiências emocionais de adolescentes em redes sociais da internet” e gostaríamos de contar
com a sua colaboração autorizando o adolescente
_________________________________________________ a participar, esse trabalho terá
como instrumento a técnica de grupos focais, que a partir de um roteiro padronizado facilitará
observações dos grupos, objetivando colher as impressões das experiências emocionais de
adolescentes vivenciadas em redes sociais na internet. Os materiais e os dados obtidos ao final
da pesquisa serão arquivados na Universidade Metodista de São Paulo, respeitando sempre a
privacidade e os direitos individuais dos sujeitos da pesquisa.
O estudo não envolverá riscos para o adolescente, nem quanto à sua integridade física
ou psíquica, nem quanto à exposição ao público ou dano moral, também não implicará em
custos para o adolescente, sendo que os mesmos ficarão sob total responsabilidade de seus
pesquisadores. Fica estabelecido que você poderá desistir dessa autorização em qualquer
momento da pesquisa, estando assim, assegurado o direito de colaborar ou não com a mesma,
sem qualquer pena ou prejuízo.
Ao colaborar com a pesquisa você autoriza o uso das informações provenientes do
grupo focal para pesquisa e eventuais publicações no campo da Psicologia, desde que
resguardados os cuidados éticos e preservados o sigilo sobre as informações que possam
identificá-lo ou quaisquer pessoas de seu relacionamento. Em decorrência disso, não deverá
aparecer o seu nome, nem do adolescente em nenhum tipo de documentação, nem outra
informação que permita identificá-los.
Assim, ciente dos termos citados acima, considera-se que você autoriza o adolescente
a colaborar com a pesquisa.
São Paulo, _____/_____/_______.
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE
__________________________________________
Representante legal do sujeito da pesquisa
__________________________________________
Documento de Identificação do representante legal sujeito
Pesquisadora Mestranda:
Aline Ferreira de Lima
Qualquer dúvida ligue para (11) 6552-3244
73
7.4 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Estamos desenvolvendo um estudo sobre “Fatores de riscos e de proteção em
experiências emocionais de adolescentes em redes sociais da internet” e gostaríamos de contar
com a sua colaboração, esse trabalho terá como instrumento a técnica de grupos focais, que a
partir de um roteiro padronizado facilitará observações dos grupos, objetivando colher as
impressões das experiências emocionais de adolescentes vivenciadas em redes sociais na
internet. Os materiais e os dados obtidos ao final da pesquisa serão arquivados na
Universidade Metodista de São Paulo, respeitando sempre a privacidade e os direitos
individuais dos sujeitos da pesquisa.
O estudo não envolverá riscos para você, nem quanto à sua integridade física ou
psíquica, nem quanto à exposição ao público ou dano moral, também não implicará em custos
para você, sendo que os mesmos ficarão sob total responsabilidade de seus pesquisadores.
Fica estabelecido que você poderá desistir em qualquer momento da pesquisa, estando assim,
assegurado o direito de colaborar ou não com a mesma, sem qualquer pena ou prejuízo.
Ao colaborar com a pesquisa você autoriza o uso das informações provenientes do
grupo focal para pesquisa e eventuais publicações no campo da Psicologia, desde que
resguardados os cuidados éticos e preservados o sigilo sobre as informações que possam
identificá-lo ou quaisquer pessoas de seu relacionamento. Em decorrência disso, não deverá
aparecer o seu nome em nenhum tipo de documentação, nem outra informação que
permita identificá-lo.
Assim, ciente dos termos citados acima, considera-se que você se dispõe a colaborar
com a pesquisa.
São Paulo, _____/_____/_______.
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE
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Assinatura do participante da pesquisa
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Documento de Identificação
Pesquisadora Mestranda:
Aline Ferreira de Lima
Qualquer dúvida ligue para (11) 6552-3244
74
7.5 Autorização da Instituição
75
7.6 Termo de Aprovação Comitê de Ética