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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENFERMAGEM FLÁVIA DE OLIVEIRA MOTTA MAIA FATORES DE RISCO PARA ÓBITO EM IDOSOS SÃO PAULO 2005

FATORES DE RISCO PARA ÓBITO EM IDOSOS - USP · 2014. 5. 17. · Catalogação na publicação (CIP) Biblioteca “Wanda de Aguiar Horta” da EEUSP Maia, Flávia de Oliveira Motta

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENFERMAGEM

FLÁVIA DE OLIVEIRA MOTTA MAIA

FATORES DE RISCO PARA ÓBITO EM IDOSOS

SÃO PAULO 2005

Page 2: FATORES DE RISCO PARA ÓBITO EM IDOSOS - USP · 2014. 5. 17. · Catalogação na publicação (CIP) Biblioteca “Wanda de Aguiar Horta” da EEUSP Maia, Flávia de Oliveira Motta

FLÁVIA DE OLIVEIRA MOTTA MAIA

FATORES DE RISCO PARA ÓBITO EM IDOSOS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação de Enfermagem na Saúde do Adulto e do Idoso da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, para a obtenção do Título de Mestre.

Orientadora: Profª Drª Yeda Aparecida de Oliveira Duarte

São Paulo 2005

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Catalogação na publicação (CIP)

Biblioteca “Wanda de Aguiar Horta” da EEUSP

Maia, Flávia de Oliveira Motta

Fatores de risco para óbito em idosos / Flávia de Oliveira Motta Maia.

- São Paulo: F. O. M. Maia; 2005.

p.177

Dissertação (Mestrado) - Escola de Enfermagem da Universidade de

São Paulo.

Orientadora: Profa. Dr

a. Yeda Aparecida de Oliveira Duarte

1. Idosos 2. Morbidade 3. Mortalidade 4. Fatores de risco 5. Enferma-

gem geriátrica. I. Título.

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Folha de Aprovação Flávia de Oliveira Motta Maia Fatores de risco para óbito em idosos.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação de Enfermagem na Saúde do Adulto e do Idoso da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, para a obtenção do Título de Mestre.

Data da Defesa: 27/01/2005.

Banca Examinadora

Profa. Dra. Maria Lúcia Lebrão Instituição: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo Assinatura:________________________________________________ Profa. Dra. Kazuko Ushikawa Graziano

Instituição: Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo Assinatura:_________________________________________________

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Dedicatórias

Aos meus pais, Vivaldo (in memorian) e Geni, minha eterna gratidão pela vida, investimentos e amor. À minha mãe, em especial, por cuidar do meu filho na minha ausência.

Aos meus avós, Sidney e Maria Horaide, que tanto me ensinaram e ajudaram.

Aos meus irmãos, Sidnei e Fábio, pela confiança e carinho.

Ao meu marido, Raul, pela paciência, compreensão, incentivo e por tanto amor sempre.

Ao meu filho, Raul, pelo tempo que estive ausente... À vocês todo o meu amor.

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Agradecimento Especial

À Profª Drª Yeda Aparecida de Oliveira Duarte:

Por ter acreditado e confiado em mim, desde a graduação. Por ter me conduzido e ensinado a importância da enfermagem.

Por ter sido amiga. Foi um privilégio ter sido orientada por você.

Obrigada por tudo.

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Agradecimentos À Profª Drª Maria Lúcia Lebrão, pela generosidade de me incluir no SABE e pelas contribuições essenciais para o desenvolvimento deste estudo. À Profª Drª Kazuko Ushikawa Graziano, pela importante contribuição durante a minha formação e pelas valiosas sugestões no aprimoramento desta pesquisa. Ao Profº Drº Jair Lício Ferreira Santos, pela primorosa contribuição na análise dos dados. Ao Sr. Fernão Dias de Lima, pela atenção e contribuição na análise dos dados. À Profª Drª Raquel Rapone Gaidzinski, pelo estímulo para a realização da pós-graduação. À Profª Drª Beatriz Ozello Gutierrez, por ter incentivado e colaborado para o meu desenvolvimento profissional. À enfermeira Sandra Cristina Ribeiro Telles, pelo incentivo para que eu realizasse esta pesquisa. Aos amigos da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário que me ajudaram sempre com incentivo e muito carinho. À enfermeira Maria Cecília Toffletto pela ajuda nos preparativos finais da pesquisa. À enfermeira Felícia Hiromi Nomura pela disponibilidade na elaboração final desta pesquisa. Aos colegas da pós-graduação, pelos trabalhos realizados e experiências compartilhadas. Aos idosos que participaram da pesquisa e a tornaram viável.

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Resumo Maia FOM. Fatores de risco para óbito em idosos. [dissertação] São Paulo(SP): Escola de

Enfermagem da USP; 2005.

O envelhecimento é um desafio do mundo atual e afeta tanto países ricos quanto pobres. Esse

fenômeno vem alterando o perfil de morbi-mortalidade da população, aumentando a

incidência de doenças crônicas. Nesse contexto, os fatores de risco são considerados

importantes para a elaboração de condutas preventivas que alterem eventos mórbidos,

responsáveis por incapacidades e dependência, ou eventos fatais antecipados pelo não

tratamento ou controle inadequado das condições crônicas. Com o intuito de clarificar as

demandas de saúde que poderão emergir de uma população que se tornou rapidamente idosa,

foi desenvolvido pela Organização Pan-Americana de Saúde, um estudo multicêntrico

denominado SABE, envolvendo sete países da América Latina e Caribe. No Brasil, ele foi

desenvolvido na região urbana do Município de São Paulo, em 2000. A amostra de 2.143

idosos foi composta por duas partes, uma probabilística e outra intencional. Foi aplicado um

instrumento único, padronizado para todos os países envolvidos, composto por onze seções.

Foram coletadas informações sobre as nove primeiras seções e, depois, num período de um a

seis meses após a primeira coleta, os dados referentes às duas últimas seções. Entre as duas

fases, ocorreram 38 óbitos. O presente estudo teve por objetivos: caracterizar e analisar as

causas de óbito dos idosos durante o período da coleta dos dados do SABE e correlacioná-los

com os fatores de risco para óbito mais comuns, referidos pela literatura. Do total de óbitos

ocorridos, 55,3% pertenciam ao sexo masculino e à idades avançadas (80 e mais anos). A

maioria dos idosos viviam acompanhados e não precisaram de ajuda para responder o

questionário. Em relação ao grupo de causas de óbito, as doenças que apresentaram maior

incidência foram: aparelho circulatório, neoplasias e aparelho respiratório. Em relação aos

fatores de risco para óbito, os dados foram submetidos à Análise Multivariada através da

Regressão Logística, utilizando-se um nível de significância de 5% (α=0,05). As variáveis

foram agrupadas em blocos temáticos de interesse, sendo submetidas à análise univariada,

mostrando-se significantes idade avançada e sexo masculino; doença cardíaca; tosse

persistente, catarro ou chiado no peito; saúde auto-referida como “má”; dificuldade para

atravessar um quarto caminhando, para ir ao banheiro, para deitar ou levantar da cama e para

comer. Essas variáveis foram agrupadas e submetidas à análise múltipla de forma a constituir

o modelo do estudo. Os fatores de risco de óbito entre os idosos, no modelo de regressão

aplicado neste estudo, foram: dificuldade de locomoção, idade avançada, sexo masculino,

auto-avaliação de saúde como “má” e dificuldade para ir ao banheiro. Apesar do tamanho da

amostra, os resultados mostraram-se coincidentes com a literatura sobre óbitos e fatores de

risco para óbito. Espera-se que os resultados desse estudo possam contribuir para a adoção de

medidas preventivas que visem a diminuição dos riscos relacionados aos óbitos entre idosos. Palavras-chave: Envelhecimento populacional. Morbidade e mortalidade. Fatores de risco

para óbito em idosos. SABE

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Abstract Maia FOM. Risk factors for death in elderly people. [dissertation] São Paulo(SP): Nursing

School - USP; 2005.

Aging is a challenge in the world we live in and it affects as rich countries as the poor ones.

This phenomenon has changed the morbidity and mortality profile of the population,

increasing the incidence of chronic diseases. In this context, risk factors are considered

important for the elaboration of preventive acts that alter morbidity events, responsible for

disability and dependence, or fatal events anticipated by non-treatment or sub optimal control

of chronic conditions. Aiming to clarify the health load that may come up from a population

that has grown old too fast, the Pan-American Health Organization developed a multi central

study called SABE, involving seven countries of Latin America and the Caribbean. In Brazil,

it was developed at an urban area of Sao Paulo city in 2000. The sample of 2,143 elderly

people was made of two parts, one probabilistic and the other one intentional. A unique

instrument was used, standardized for all the countries involved, made up of eleven sections.

Information was collected from the nine first sections and, after, in a period from one to six

months after the first collection, data referring to the two last sections. Between the two

phases, 38 deaths occurred. The present study aims to: characterize and analyze the death

cause of the elderly people during the period of SABE data collection and correlate them to

risk factors for the most common deaths referred by literature. From the total deaths

occurred, 55.3% belonged to male gender and advanced age (80 and older). Most elderly

people didn’t live alone and they didn’t need help to answer the questionnaire. Regarding to

the group of death causes, the diseases that presented most incidences were: circulatory

system, neoplasias and respiratory system. Regarding to the risk factors for death, data was

submitted to multivaried analysis through Logistic Regression, using a significance level of

5% (α=0.05). The variables were grouped in theme blocks of interest, being submitted to

univaried analysis, showing significance in advanced age and male gender; heart disease,

persistent cough, catarrh or chest wheezing; self-referred health as “bad”; difficulty of

crossing the room walking to the bathroom, lay down or get out of bed and eat.These

variables were grouped and submitted to multiple analysis in order to constitute the model of

the study. Death risk factors among the elderly people in the regression model applied to this

study were: locomotion difficulty, advanced age, male gender, self-evaluation of health as

“bad” and difficulty to go to the bathroom. Despite of the size of the sample, results presented

coincidences with the literature on death and risk factors for death. We hope the results of this

study may contribute for the adoption of preventive measures which focus on reducing risks

related to death among elderly people.

Key words: Population aging. Morbidity and mortality. Risk factors for death in elderly

people. SABE

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Lista de Tabelas

Tabela 1 – Motivos para a não realização da antropometria. ---------------------------- 41

Tabela 2 – Número e percentagem de óbitos entre os idosos que participaram do Projeto SABE, segundo sexo, idade, presença de acompanhante e ajuda para responder o questionário. -------------------------------------------------------------------------- 49

Tabela 3 – Número e percentagem de óbitos entre os idosos que participaram do Projeto SABE, segundo causas básicas, conforme a Classificação Internacional das Doenças (CID – 10). --------------------------------------------------------------------------------- 55

Tabela 4 - Número e percentagem de concordância entre a doença auto-referida e a Causa Básica e as Linhas A, B, C e Parte II da declaração de óbito, segundo a CID-10. -------------------------------------------------------------------------------------------------------- 64

Tabela 5: Risco significativo para óbito entre as variáveis dos blocos temáticos de interesse. -------------------------------------------------------------------------------------- 66

Tabela 6: Fatores de risco de óbito entre idosos do Estudo SABE. -------------------- 71

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Lista de Quadros Quadro 1: Classificação das doenças auto-referidas, segundo a CID-10. ----------- 44

Quadro 2: Definição dos blocos temáticos, de acordo com as variáveis do questionário SABE. ---------------------------------------------------------------------------------- 46

Quadro 3: Apresentação dos blocos temáticos considerando a referência e o contraste. ---------------------------------------------------------------------------------------------- 47

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Sumário

1. Introdução -------------------------------------------------------------------------------- 11

1.1 Envelhecimento populacional -------------------------------------------- 11 1.2 Morbidade e mortalidade no idoso -------------------------------------- 15 1.3 Fatores de risco para óbitos ---------------------------------------------- 19 1.4 O estudo SABE -------------------------------------------------------------- 31

1.4.1 Instrumento ------------------------------------------------------- 32 1.4.2 Amostra ----------------------------------------------------------- 35 1.4.3 Procedimento de coleta de dados ------------------------- 38

2. Objetivos ---------------------------------------------------------------------- 39

3. Casuística e método ------------------------------------------------------------- 40

3.1 Tipo de pesquisa ----------------------------------- ----------------- 40 3.2 População e amostra ----------------------------------------------------- 40 3.3 Procedimento de coleta de dados ----------------------------------- 41 3.4 Análise dos dados ---------------------------------------------------------- 44

− 3.4.1 Caracterização e análise dos óbitos------------------------ 44 − 3.4.2 Caracterização e análise dos fatores de risco para

óbito --------------------------------------------------------------- 45

4. Resultados ------------------------------------------------------------------------------ 49

4.1 Caracterização e análise dos óbitos ----------------------------------- 49 4.2 Caracterização e análise dos fatores de risco para óbitos ------- 66

5. Conclusões ------------------------------------------------------------------------------ 72

6. Considerações finais ------------------------------------------------------------------ 74

Referências bibliográficas ----------------------------------------------------- --------- 75

Anexos ------------------------------------------------------------------------------- 84

Anexo A – Instrumento SABE. Anexo B – Aprovação do Comitê de Ética da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo para desenvolvimento da pesquisa.

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Introdução

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1. Introdução

1.1 Envelhecimento populacional

No mundo atual, o envelhecimento é, em grande parte, um desafio que afeta

tanto países ricos quanto países pobres. Estima-se que, a cada mês, em todo o

mundo, cerca de um milhão de pessoas cruzem a barreira dos 60 anos de idade, e

que, em 2050, deverão existir no mundo dois bilhões de idosos, dos quais dois

terços estarão nos países em desenvolvimento, onde o Brasil se inclui (1,2).

O envelhecimento populacional, representado pela proporção de idosos de

uma população, nos países desenvolvidos ocorreu de forma gradativa, ao longo dos

séculos, como consequência das melhorias nas condições de vida e trabalho, do

nível educacional e do atendimento às necessidades de saúde, que proporcionaram

uma queda gradual da mortalidade e da fecundidade (2-9).

Nos países em desenvolvimento, essas mesmas alterações demográficas

passaram a ser observadas a partir da década de cinquenta, no período pós

Segunda Guerra Mundial, em decorrência, principalmente, da maior utilização da

tecnologia de saúde, que reduziu a exposição a doenças infecciosas e proporcionou

melhores tratamentos e recuperação mais rápida dos doentes, diminuindo

significativamente a mortalidade. Além disso, posteriormente, houve uma queda nas

taxas de fecundidade e, mais recentemente, na mortalidade acima de 60 anos.

Essas três características proporcionaram o aumento expressivo da proporção de

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Introdução

12

idosos nesses países, sem terem sido, no entanto, acompanhadas efetivamente

pelo progresso social e econômico (2-11)

Observa-se que o envelhecimento populacional tradicionalmente visto como

característico dos países desenvolvidos, hoje é realidade nos países em

desenvolvimento, onde esse fato vem ocorrendo de forma mais rápida e,

comparativamente, mais expressiva. Tais mudanças, possivelmente, farão com que,

no ano 2025, entre os onze países com as maiores populações de idosos no mundo,

oito estarão situados nessas regiões (2-10). Assim, haverá uma mudança, ou seja, a

presença de grandes populações idosas, típica dos países desenvolvidos, em

países com população caracteristicamente jovem, tais como Nigéria, Brasil e

Paquistão. A razão de crescimento da população idosa em alguns desses países,

como o Brasil, o México e a Nigéria, é quatro a cinco vezes maior que, por exemplo,

a dos Estados Unidos e do Japão (2,3,9).

Na América Latina e no Caribe, a maioria dos países encontra-se numa fase

intermediária da transição demográfica. Segundo Palloni e Peláez (11), tal fenômeno

apresenta características únicas, que, combinadas com um contexto institucional

instável e um ambiente econômico desfavorável, fazem com que tal processo seja

muito mais complicado do que em outras áreas do mundo. Ainda segundo esses

autores,

Na América Latina e Caribe, particularmente entre as coortes que alcançarão os 60 anos no período de 2000-2020, é provável que haja piores distribuições do estado de saúde do que aquelas observadas entre pessoas idosas de outros lugares, mesmo quando as desigualdades relevantes nas condições socioeconômicas são controladas (11).

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Introdução

13

Nesses países, os investimentos na atenção à criança e ao adolescente

constituem, ainda hoje, uma prioridade na área de saúde pública. Por isso, tanto as

necessidades de saúde dos idosos quanto o desenvolvimento de infra-estruturas

para uma sociedade em processo de envelhecimento nem sempre recebem a

atenção necessária (12).

No Brasil, em 1980, os idosos perfaziam oito milhões de pessoas, em 1991,

passaram para 10,6 milhões, no ano 2000, atingiram 14,5 milhões (13) e há

estimativas de que, em 2025, seja alcançada a cifra de 32 milhões, colocando-o na

sexta posição dos países com as maiores populações de idosos do mundo (2,3).

Essas mudanças demográficas podem ser observadas na configuração das

pirâmides etárias* através dos anos. A pirâmide etária no Brasil, em 1920,

apresentava base alargada, decorrente das altas taxas de fecundidade, com poucas

pessoas atingindo o seu ápice, consequência das altas taxas de mortalidade nos

grupos etários mais jovens, caracterizando um país com população jovem e com

idades medianas baixas(14). Essa configuração, se confirmadas as mudanças

demográficas estimadas, tende a transformar-se na figura de um “barril”, à

semelhança dos países que já sofreram o processo de envelhecimento populacional,

ou seja, a base da pirâmide torna-se estreita, retratando a diminuição na taxa de

natalidade, e o ápice largo, evidenciando o aumento no número de idosos (2,14,15).

O envelhecimento é um processo multidimensional, podendo ser definido

segundo perspectivas biológica, social, intelectual, econômica, funcional e

cronológica, sendo esta última a mais utilizada (16). Com base nesse critério, a

Organização das Nações Unidas (ONU) (17) considera idoso a pessoa com 65 anos e

* As pirâmides etárias representam uma disposição gráfica que permite analisar a distribuição da população

segundo o sexo e os segmentos etários.

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Introdução

14

mais, nos países desenvolvidos, e com 60 anos de idade, nos países em

desenvolvimento.

Assim compreendido, o segmento idoso envolve hoje um intervalo etário

amplo, uma vez que o span-vital pode atingir os 120 anos. Atualmente, ao se atingir

os 60 anos, espera-se ainda viver por, aproximadamente, vinte ou mais anos, uma

vez que a esperança de vida ao nascer, em alguns países desenvolvidos, supera os

80 anos (3). Nesse segmento, no entanto, a proporção de idosos em velhice

avançada, ou seja, com 80 anos e mais, tem aumentado de forma muito expressiva,

modificando a composição etária dentro do próprio grupo (18). No Brasil, segundo o

Censo de 2000 (13), esses idosos contabilizam mais de 1,8 milhões, divididos em 1,1

milhões de mulheres e 700 mil homens. Projeções na população mundial apontam

um crescimento significativo desse segmento etário, que representava, em 1980,

aproximadamente 35 milhões de pessoas, esperando-se, para 2020, algo em torno

de 100 milhões (3).

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Introdução

15

1.2 Morbi-mortalidade no idoso

Envelhecer é um processo natural e fisiológico. Integrante das várias etapas

do desenvolvimento humano, o envelhecer tem peculiaridades próprias, que são

fundamentais para que se possa distinguir o que é, ou não, natural nesse processo.

Caracteriza-se pela diminuição progressiva da reserva funcional orgânica, o que

ocasiona uma maior dificuldade na manutenção do equilíbrio homeostático, quando

o idoso é exposto a situações de sobrecarga, tornando-o mais susceptível a agravos

e doenças, principalmente as de natureza crônico-degenerativas, que podem

culminar com a morte (19, 20).

Dessa forma, o perfil de morbi-mortalidade de uma população é diretamente

alterado pelo envelhecimento populacional, estabelecendo-se, assim, uma

correlação entre os processos de transição demográfica e epidemiológica.

A transição epidemiológica, segundo Omran (21), está centralizada nas

complexas mudanças nos padrões de saúde e doença e nas interações desses

padrões com seus determinantes demográfico, econômico e social. Portanto, ela

pode assumir características diferentes em cada sociedade. Essa mudança no perfil

de morbi-mortalidade faz com que o cenário caracterizado por uma população

jovem, com maior incidência de doenças infecciosas, transforme-se em um outro,

típico de uma população mais envelhecida, onde predominam agravos crônicos e o

consequente aumento nos custos assistenciais, gerados pelas alterações na

utilização dos serviços de saúde, tais como: aumento das hospitalizações e

necessidade de incrementação de serviços de reabilitação (1,22,23) .

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Introdução

16

Segundo Ramos (24, 25), “do ponto de vista prático, controlar as doenças

infecciosas na infância é, hoje, muito mais simples do que controlar as doenças

crônicas do idoso”. Tal afirmação baseia-se no fato de não haver medidas

preventivas de alta eficácia como, por exemplo, as vacinas. Além disso, as medidas

existentes são mais educativas, envolvendo a necessidade de mudanças de

comportamento e hábitos de vida, processos muito mais complexos. Em relação ao

tratamento, as perspectivas são ainda mais sombrias, já que, praticamente,

nenhuma das doenças crônicas que afetam idosos, hoje, é passível de cura (24, 25).

Um levantamento realizado por Lima-Costa (26) mostra que cerca de 70% dos

idosos brasileiros relataram ter pelo menos uma condição crônica. Segundo um

inquérito domiciliar feito por Ramos (27), 86% dos idosos referiram ter pelo menos

uma doença crônica. Araújo (8) afirma que foram os idosos que mais procuraram os

serviços de saúde, e o principal motivo para isso relacionava-se à doença crônica.

Quanto à saúde, mais da metade dos idosos relatou ter algum problema, sendo que

as doenças crônicas mais frequentemente mencionadas foram a hipertensão e a

artrite (26).

Para o Estudo SABE (28) , a prevalência de doenças crônicas entre a

população idosa, no Município de São Paulo, mostrou-se elevada, ou seja, houve o

relato de mais de três doenças concomitantes em 48% das mulheres e em 33% dos

homens. Ainda segundo esse estudo, as principais doenças crônicas referidas pelos

idosos foram hipertensão (53,3%), doenças ósteo-articulares (31,7%), problemas

cardíacos (19,5%), diabetes (17,9%), osteoporose (14,2%), doenças crônicas

pulmonares (12,2%), doenças circulatórias (7,2%) e neoplasias (3,3%) (28).

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Introdução

17

Mesmo apresentando uma ou mais doenças, o idoso pode ser considerado

saudável. Segundo Veras (1), “o idoso que mantém sua autodeterminação e

prescinde de qualquer ajuda ou supervisão para realizar suas atividades diárias

deve ser considerado um idoso saudável, ainda que seja portador de uma ou mais

doenças crônicas”.

Segundo Ramos (24, 25) considera que, para o idoso, a saúde seria a resultante

da interação multidimensional entre saúde física e mental, independência nas

atividades de vida diária, integração social, suporte familiar e independência

econômica. Qualquer uma dessas dimensões, juntas ou isoladamente, se

comprometida, pode afetar a capacidade funcional do idoso de viver de forma

autônoma e independente, conseqüentemente, repercutindo em sua qualidade de

vida (6,7). Para Rosa (29) , planejar programas específicos de intervenção e eliminação

de certos fatores de risco relacionados com a incapacidade funcional é bastante

relevante. Veras (1) afirma que uma política de saúde voltada para o idoso deve ter

como objetivo maior a manutenção da máxima capacidade funcional do indivíduo

que envelhece, pelo maior tempo possível, o que significa a valorização de sua

autonomia e de sua independência física e mental.

Frente ao panorama observado, verifica-se a necessidade urgente de

desenvolvimento de políticas públicas adequadas, com ênfase em estruturas sociais

e assistência à saúde que atendam às demandas específicas para essa faixa etária,

a fim de minimizar as dependências e complicações causadas por doenças que

interferem diretamente no desempenho das atividades cotidianas dos idosos,

principalmente as condições crônicas que não são adequadamente controladas. Se

essas doenças forem precocemente identificadas e adequadamente tratadas e

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Introdução

18

monitoradas, poderá haver uma redução na mortalidade e nos gastos com a saúde,

além de uma melhoria na qualidade de vida dos idosos.

A análise das principais causas de óbito entre os idosos brasileiros, no ano

2001 (30), identifica as doenças do aparelho circulatório (43,5%), as neoplasias

(17,6%) e as doenças do aparelho respiratório (14,6%) como as mais importantes,

correspondendo a mais de 70% do total de óbitos (30). As doenças cerebrovasculares

e isquêmicas do coração têm predomínio entre as doenças do aparelho circulatório.

As neoplasias malignas da traquéia, dos brônquios e dos pulmões têm maior

frequência para ambos os sexos. Para homens, a neoplasia de próstata, e para

mulheres, a neoplasia da mama, constituem a segunda causa de óbito entre os

idosos. As doenças do aparelho respiratório predominantes são a doença pulmonar

obstrutiva crônica (DPOC), a pneumonia e a influenza para ambos os sexos (31).

No Estado de São Paulo, as principais causas de óbito confirmam os dados

sobre as nacionais, porém com diferentes proporções. Assim, as doenças do

aparelho circulatório corresponderam a 42,9% dos óbitos, seguidas pelas neoplasias

18,9% e pelas doenças do aparelho respiratório 14,8% (30).

No entanto, o segundo maior grupo de causa de morte entre os idosos

brasileiros está relacionado aos “óbitos sem assistência médica” e à “causa da morte

mal definida”, correspondendo a 17% dos óbitos. Isso que retrata a importante

dificuldade, na área de saúde, de se identificar o diagnóstico no idoso, bem como

um sistema de saúde inacessível para alguns. (31).

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Introdução

19

1.3 Fatores de risco para óbitos

A transição epidemiológica determinou novos rumos nos estudos e pesquisas

epidemiológicas, que passaram a tentar compreender o que determina o

aparecimento e a distribuição das doenças crônicas não transmissíveis na

população. O marco dessa nova fase é o período do pós-guerra, no início nos anos

50, quando surgiram grandes estudos epidemiológicos, que gradativamente foram

modificando o enfoque dado às doenças, falando-se mais em fatores de risco do que

em agente etiológico. Assim, os fatores de risco ganharam importância crescente, e

sua identificação para problemas específicos, bem como a identificação dos grupos

populacionais de maior risco passaram a ser enfatizadas (32).

Fatores de risco podem ser definidos como características individuais inatas

ou adquiridas através do ambiente social, que permitem que as pessoas tenham

uma alta probabilidade de desenvolver certo evento relacionado à saúde, após um

determinado tempo (33,34). Os grupos populacionais têm diferentes probabilidades de

apresentarem danos à saúde, ou seja, têm diferentes riscos de adoecerem, sofrerem

acidentes ou morrerem. A presença do fator de risco indica uma probabilidade maior

de aparecimento do dano à saúde. Esses fatores, quando identificados antes do

evento a que estão associados, podem, muitas vezes, ser tratados ou modificados

por ações de saúde, que, assim, constitui uma forma preventiva de manter a saúde,

alterando eventos mórbidos ou fatais (32). Os fatores de risco passíveis de mudança

e/ou tratamento são, portanto, de grande interesse, e a promoção de medidas

preventivas pode ser considerada um aspecto central para a manutenção e a

recuperação da saúde do idoso (31, 34).

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Introdução

20

Com o envelhecimento da população, tem crescido também o interesse em

estabelecer quais desses fatores, isolada ou conjuntamente, melhor explicam o risco

que um idoso tem de morrer em curto prazo (24, 25). Assim, pode-se adiar um evento

fatal precoce, possibilitando que os idosos vivam mais, aproximando-se do span-

vital.

Os fatores de risco para óbito entre idosos freqüentemente descritos pela

literatura como imutáveis são: a idade e o sexo. Dentre os fatores de risco para óbito

passíveis de serem alterados estão a hospitalização, a dependência para realizar as

atividades de vida diária, o déficit cognitivo, os hábitos de vida (como tabagismo e

sedentarismo), algumas doenças (como demência, depressão e câncer), o

isolamento social e a falta de suporte familiar, o nível sócio-econômico e a auto-

avaliação da saúde como um preditor de mortalidade (33-59).

Em estudo desenvolvido por Ramos et al (24, 25), em área urbana do Município

de São Paulo, os fatores de risco de morte identificados foram: sexo, idade, auto-

avaliação de saúde, história pregressa de sedentarismo, edentulismo, quedas,

acidente vascular encefálico e incontinência urinária, hospitalização e visita ao

médico nos últimos seis meses, depressão, déficit cognitivo e dependência nas

atividades diárias. Verificou-se que as variáveis sexo, idade, hospitalização prévia e

positividade nos rastreamentos para déficit cognitivo e dependência no dia-a-dia

mantiveram um efeito independente e significante no risco de morte (24, 25) .

A idade avançada é considerada o melhor indicador de risco que um indivíduo

tem de morrer, pois a probabilidade de adquirir alguma doença crônica, uma

incapacidade e de morrer aumenta quanto maior for a sua idade (16, 34). Existe um

limite biológico da vida, para todas as espécies, que, para a humana, gira em torno

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Introdução

21

de 120 anos. Com o aumento da idade, diminui progressivamente a capacidade

física e funcional, crescem os problemas de saúde e, conseqüentemente, a

possibilidade de morte (38, 41, 34).

A análise das taxas de mortalidade entre os idosos brasileiros mostra um

progressivo aumento, em ambos os sexos, com o avançar da idade (60). Outros

estudos mostram essa mesma correlação com a dependência para realização das

atividades básicas de vida diária e o relato de presença de condição crônica (31).

Essa característica não é exclusiva dos idosos brasileiros, aparecendo também nos

países desenvolvidos. Nos Estados Unidos da América, por exemplo, para cada

cinco anos acrescidos à idade, o risco de morte aumenta em 50% (34).

O gênero também é apontado como um fator de risco a para morte entre

idosos, sendo os homens mais suscetíveis que as mulheres. Essa diferença na

mortalidade entre homens e mulheres ocorre por vários fatores que, isolados ou

associados, fazem com que as mulheres tenham uma maior sobrevida. Dentre esses

fatores, destacam-se (1, 2, 22, 43):

a)a diminuição da mortalidade por causas que afetam especificamente ou

primariamente as mulheres, como a mortalidade materna, devido aos avanços

tecnológicos de saúde e ao investimento na prevenção das doenças;

b)a maior procura feminina por serviços de saúde, o que facilita o diagnóstico

e o tratamento precoce das doenças;

c) as diferenças biológicas que são consideradas protetoras para a mulher,

como por exemplo, o hormônio feminino, durante a idade fértil, que diminui a

possibilidade de eventos cardiocirculatórios, responsáveis por altos índices de

morbidade e mortalidade entre adultos e idosos;

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Introdução

22

d) o ambiente doméstico, onde tradicionalmente as mulheres permaneciam, é

considerado seguro quando confrontado com aqueles em que os homens eram

expostos aos riscos ambientais e ocupacionais (acidentes de trabalho, de trânsito e

homicídios) e, também, ao estresse associado às mudanças sócio-econômicas.

Esses fatores contribuem para uma maior mortalidade entre adultos do sexo

masculino, mas poderão ter sua relação invertida futuramente, com a inserção da

mulher no mercado de trabalho e com as mudanças em seu estilo de vida;

e) o hábito de fumar e o consumo de álcool, que aumentam o risco para

inúmeras doenças, tais como as cardiovasculares, estão mais associados ao

comportamento masculino, porém esses fatores também poderão ter sua relação

invertida no futuro pela mudança no estilo de vida feminino.

A maior incidência de mortalidade entre os homens, ao longo da vida, é o

fator responsável pela feminização da velhice, fenômeno observado aqui e em

outros países, que faz com que existam mais mulheres idosas que homens idosos

(31). No Brasil, segundo o Censo Demográfico de 2000 (13), as mulheres idosas

contabilizavam cerca de oito milhões, enquanto os homens idosos giravam em torno

de 6,5 milhões. As idosas levam vantagem, também, em relação à expectativa

média de vida; em 2003, as mulheres que alcançaram os 60 anos de idade podiam

ter um adicional de 22,1 anos, enquanto, para os homens, esse adicional era de

19,1 anos (61). Porém, a longevidade feminina nem sempre é vista como vantagem,

pois muitas dessas mulheres tornam-se viúvas, vivem sós, não têm experiência no

mercado formal de trabalho, o que dificulta seu acesso a uma melhor condição

financeira, têm menor escolaridade e sobrevivem mais tempo com doenças crônicas,

incapacidades e dependência (18).

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Introdução

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Devido às mudanças na sociedade, com a progressiva inserção da mulher na

população economicamente ativa e a exposição a riscos ocupacionais e ambientais,

é possível que o gênero tenha sua relação de risco sobre a mortalidade em idosos

alterada em um futuro não muito distante (2,43), tornando imprescindível o

desenvolvimento de estudos longitudinais envolvendo essa e outras questões.

Outro fator de risco para óbito entre idosos é a dependência. Ela pode ser

definida como uma ajuda indispensável para a realização de atos elementares da

vida, de forma parcial ou total (62), ou como a incapacidade da pessoa de funcionar

satisfatoriamente sem a ajuda de outra ou de dispositivos (materiais ou

equipamentos) que lhe permitam adaptar-se a uma nova condição de desempenho

funcional (63). A avaliação funcional busca identificar a capacidade funcional do

indivíduo no desempenho de suas atividades cotidianas ou de vida diária, como são

habitualmente identificadas. Lawton (64) definiu a avaliação funcional como:

... uma tentativa sistemática de mensurar objetivamente os níveis nos quais uma pessoa está funcionando numa variedade de áreas tais como: integridade física, qualidade de auto-manutenção, qualidade no desempenho de papéis, estado intelectual, atividades sociais, atitude em relação a si mesmo e ao estado emocional.

A avaliação funcional dos idosos torna-se essencial para se estabelecer um

diagnóstico, um prognóstico e um julgamento clínico adequado, que servirão de

base para as decisões sobre os tratamentos e cuidados necessários (65).

As atividades de vida diária (AVDs) são subdivididas em atividades básicas

de vida diária (ABVDs) e atividades instrumentais de vida diária (AIVDs). As

atividades básicas estão relacionadas ao auto-cuidado e ao desempenho funcional

independente do idoso no espaço limitado de seu lar. Problemas que limitem ou

impeçam o desempenho dessas atividades, geralmente, estão relacionados ao

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Introdução

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declínio físico, à pouca persistência na tarefa, a alterações musculares (força,

flexibilidade e coordenação) e a seqüelas de doenças crônicas. Nessas

circunstâncias, faz-se necessária a presença de outra pessoa, conhecida como

cuidadora, para auxiliar o idoso no desempenho de tais atividades, tornando-as

assim mais onerosas e mais complexas. Já o comprometimento do desempenho das

atividades instrumentais dificultam ou impossibilitam o idoso de ter uma vida social

independente. Tais atividades estão relacionadas a uma participação social ativa, e

seu comprometimento normalmente gera a necessidade de uma reorganização do

entorno social do idoso para atendê-lo. Seu comprometimento pode, muitas vezes,

ser indicativo de deterioração cognitiva (63).

A situação de dependência está presente em todos os estágios da vida, da

infância à velhice. Sofre influência social e cultural, podendo, portanto, adquirir

significados diferentes, conforme o contexto analisado (66). No idoso assume

características particulares, tendendo a ser progressiva e permanente e interferindo

diretamente na sua qualidade de vida (16,65). Os tipos de dependência mais

comumente observados entre os idosos estão relacionados às limitações físico-

funcionais e cognitivas (63).

A dependência aumenta a demanda por serviços de saúde e assistir ao idoso

dependente pode ser uma tarefa fisicamente extenuante, pois em geral implica em

sobrecarga da família, normalmente a principal provedora de atenção aos idosos

portadores de incapacidades nos países da América Latina e no Caribe. Na maioria

dos casos, há necessidade de conciliar essa atividade com as tarefas laborais e

outras responsabilidades familiares. O papel do Estado relacionado à adequação

dos serviços necessários a atender aos idosos com dependência, seus cuidadores e

familiares ainda está aquém do necessário. Outro fator preocupante é que muitos

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Introdução

25

provedores de cuidados dos idosos com dependência atualmente também são

idosos e, por essa razão, podem ter seu potencial de auxílio reduzido (67, 68).

O desempenho cognitivo é um determinante maior da capacidade funcional

em todos os outros domínios. Dele dependem o desempenho físico e o social. A sua

deterioração leva à perda da autonomia e da independência, sendo que os

distúrbios psiquiátricos mais prevalentes nos idosos são a demência e a depressão

(16).

O déficit cognitivo moderado a severo está associado a um maior risco para

óbito entre idosos, mesmo quando controladas as condições demográficas e as

comorbidades crônicas, pois ele pode estar relacionado à presença de demência, o

que nem sempre acontece com aqueles idosos que apresentam prejuízo cognitivo

leve. Outro motivo que pode estar relacionado a esse resultado é o tempo de

acompanhamento da população do estudo, que deve ser longo para que seja

demonstrada a diferença na mortalidade entre os grupos com prejuízo cognitivo leve

e moderado a severo (40).

A hospitalização também é considerada um fator de risco para óbito entre

idosos por provocar condições de agravo à saúde, como infecções, isolamento

social, iatrogenias, entre outros, que podem repercutir de forma negativa nas suas

condições física e mental, proporcionando a perda da independência, da autonomia

e, muitas vezes, levando à morte (69,70). Idosos, quando hospitalizados, apresentam

um declínio físico progressivo e, após a alta hospitalar, demoram muito e nem

sempre conseguem recuperar o seu desempenho funcional anterior ao agravo à

saúde, o que resulta em altas taxas de mortalidade após a hospitalização (33, 41, 44).

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Introdução

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Walter et al. (41) desenvolveram um índice prognóstico para mortalidade em

idosos, após a sua hospitalização, considerando como fatores de risco algumas

características, como: o sexo masculino, a dependência nas atividades de vida

diária, a presença de doenças crônicas, o tempo de hospitalização e a alteração em

alguns exames laboratoriais (creatinina e albumina séricas). Para cada um desses

itens, foi feita uma pontuação que permite a estratificação de baixo a alto risco de

mortalidade. O resultado demonstrou ser um bom índice prognóstico, por conseguir

rastrear, de maneira simplificada, os idosos com risco de morte após a

hospitalização.

Em pesquisa realizada por Inouye et al. (45), a avaliação funcional realizada

através de três fatores de risco independentes (dificuldade na realização das

atividades instrumentais de vida diária, avaliação cognitiva através do Mini-Mental

State Examination e da Escala de Depressão Geriátrica) demonstrou ser um

importante preditor para a mortalidade de idosos, a partir de 90 dias e de dois anos,

após a hospitalização. Para Ponzetto et al. (44), o prejuízo na capacidade funcional é

um prognóstico mais confiável para a mortalidade em idosos do que o tipo e a

quantidade de diagnósticos realizados durante a hospitalização.

O coeficiente de hospitalizaçãoa, o índice de hospitalizaçãob e o índice de

custo de hospitalizaçãoc do Sistema Único de Saúde (SUS) são mais altos para os

idosos do que para qualquer outra faixa etária da população brasileira (60). O tempo

médio de ocupação do leito hospitalar e a ocorrência de re-internações também são

maiores entre idosos (1,60). Mediante as mudanças no perfil epidemiológico,

decorrentes do processo de envelhecimento populacional, que tendem a ser ainda

a Número de hospitalização dividido pelo número de habitantes b Número de dias de hospitalização por habitante e ano c Custo de hospitalização por habitante

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Introdução

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mais acentuadas, há necessidade de serem criados novos padrões de atenção à

saúde do idoso, visando à manutenção da sua capacidade funcional e a

consequente redução dos gastos com internações hospitalares. Para isso, faz-se

necessária a identificação, o mais precocemente possível, dos idosos com risco para

óbito, durante a sua internação, de forma a permitir a realização de um planejamento

assistencial adequado na alta hospitalar, com controle e acompanhamento médico e

de enfermagem periódicos (44).

A falta de suporte familiar e social é outro fator de risco de óbito entre idosos,

pois se observa um declínio progressivo na disponibilidade de provedores de

cuidados dentro da própria família, gerando um problema que já está exigindo uma

reorganização das políticas assistenciais. Isso é decorrente das mudanças na

composição da família, onde as mulheres têm menos filhos, e das transformações

socioeconômicas, que, entre outras, fez com que as mulheres passassem a ter

participação mais ativa no mercado de trabalho, (12, 65, 71). Segundo Palloni (11),

A América Latina e Caribe estão envelhecendo prematuramente, a composição por estado de saúde e incapacidade pode piorar e tornar-se desfavorável mais cedo do que tarde e as redes familiares e domésticas estão perdendo terreno antes que mecanismos sociais para efetuar as transferências institucionais sejam colocados no lugar, com segurança.

Para Camarano (18), no Brasil, as famílias com a presença de idosos têm uma

estrutura bastante diferente das demais, são menores e em etapas do ciclo vital

mais avançado. O número médio de filhos residindo com idosos é menor, explica a

autora, as estruturas são mais envelhecidas, tendo chefes com idade média de 66

anos contra os 39 anos nas famílias sem idosos. Além disso, o fato de mais

mulheres ocuparem, hoje, a condição de chefes de seus núcleos familiares e como,

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Introdução

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tradicionalmente, era delegado a elas o papel de cuidadoras dos idosos, esses

acabam não sendo assistidos e podem ter sua condição agravada se não forem

criados mecanismos sociais que garantam esse cuidado (18, 68). Os idosos que

moram sozinhos, que representam 13% dos idosos, por exemplo, no Município de

São Paulo (72), merecem maior reflexão. Muitos apresentam dificuldades no

desempenho das atividades básicas (19,2%) e instrumentais (26,5%) de vida

diária(73) e, na maioria das vezes, não contam com a ajuda da família, necessitando,

portanto, de uma rede de suporte social e assistencial que possa garantir a atenção

adequada as suas necessidades (12).

Nas modificações sociais relacionadas às estruturas familiares dos idosos,

tem-se observado, muitas vezes, o retorno de um (ou mais) filho à casa dos pais,

geralmente por problemas financeiros, acompanhado ou não por sua nova família.

Nesses casos, muitas vezes, o idoso passa a ser a única fonte de renda da família e

a ter de repartir com várias pessoas seus poucos recursos (em média três salários

mínimos no Município de São Paulo (74)), o que, pode ter repercussões expressivas

na assistência às suas demandas, normalmente maiores com o avançar da idade e

que podem ser preteridas em função dos mais jovens. Por outro lado, o

relacionamento dos idosos com as gerações mais jovens pode ser estreitado pelo

auxílio fornecido no cuidado, por exemplo, dos netos, já que, como anteriormente foi

descrito, as mulheres estão mais inseridas no mercado de trabalho, necessitando de

auxílio para cuidar de seus filhos (18).

As pesquisas que abordam o tema mortalidade e têm como objetivo avaliar o

risco que o indivíduo tem de adoecer e morrer, tradicionalmente, realizam avaliações

sobre as condições socioeconômicas, a rede de suporte social, além dos fatores de

risco como tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas, obesidade, presença de

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Introdução

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doenças crônicas e avaliação da saúde atual. Nas últimas duas décadas, vários

estudos têm sido desenvolvidos no cenário internacional, utilizando uma avaliação

subjetiva global, simples e direta, com categorias que classificam a saúde entre

excelente, boa, regular e ruim, e têm obtido resultados tão significativos sobre os

riscos de óbito quanto os achados nas avaliações objetivas (52).

A auto-avaliação de saúde, feita geralmente através da questão: “Como você

avalia a sua saúde?”, tem sido amplamente utilizada em pesquisas com populações

idosas (36,46-59). A auto-avaliação da saúde ou a saúde auto-referida também foi

considerada um importante preditor para a ocorrência de óbito e para o uso de

serviços de saúde entre idosos, independentemente de outras covariáveis

relevantes ao estado de saúde (31, 36, 46-53). Em levantamento bibliográfico realizado

por Idler (52) e Benyamini (39), verificou-se que, na maioria das pesquisas realizadas

desde a década de oitenta, os idosos que consideraram a sua saúde ruim

apresentaram maior incidência de óbito do que os que a consideraram como

excelente. Idler (52) acrescenta, que através da auto-avaliação da saúde, é possível

captar a percepção que o indivíduo tem sobre a sua saúde e que ele a faz por

critérios amplos, que incluem desde fatores psicosociais até as crenças pessoais

sobre saúde.

A auto-avaliação da saúde apresenta, no entanto, diferenças de gênero entre

os idosos. Como as mulheres idosas vivem mais do que os homens dessa mesma

faixa etária e experimentam mais anos com doenças e incapacidades, elas tendem a

avaliar a sua saúde mais negativamente, mas não necessariamente morrerão em

função disso, em um curto período de tempo. Assim, a auto-avaliação negativa da

saúde feita pelas mulheres pode estar mais associada com a qualidade do que com

a quantidade de vida. Os homens, no entanto, quando avaliam a sua saúde de

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forma negativa, apresentam um risco maior de serem acometidos por um evento

fatal. A situação inversa também pode acontecer, pois, quando a idosa que avalia a

sua saúde como excelente, provavelmente, viverá mais que um idoso, com a mesma

idade, que auto-avalia positivamente a sua saúde (39,52,54-59).

Esse tipo de avaliação pode apresentar uma maior sensibilidade para

homens do que para mulheres no prognóstico para óbito. Várias são as hipóteses

para explicar os motivos que geram essa diferença entre gênero entre os idosos na

auto-avaliação da saúde. As mais citadas são a diferença na trajetória de vida e a

influência cultural, além de todas as variáveis de risco anteriormente discutidas, que

tornam a percepção da saúde de homens e mulheres diferente (39,52,54-59) .

Estudos mais detalhados sobre os fatores de risco de óbito na população

latino-americana e, em especial na brasileira, tornam-se cada vez mais necessários,

considerando-se as diferentes características culturais que envolvem essas

populações. Esse, entre muitos outros fatores, motivou a Organização Pan-

Americana de Saúde a desenvolver, na América Latina e no Caribe, um estudo

multicêntrico sobre envelhecimento populacional denominado SABE – Saúde, Bem-

estar e Envelhecimento na América Latina e Caribe.

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Introdução

31

1.4 O Estudo SABE

Em 1998, a Organização Pan Americana de Saúde – OPAS coordenou um

estudo multicêntrico denominado Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento, para traçar o

perfil dos idosos na América Latina e no Caribe. Esse estudo foi planejado para

colocar luz nas demandas de saúde que poderão emergir de uma população que se

tornou rapidamente idosa e pela necessidade de antecipar o que se encontrará

adiante, de modo que os países pudessem se planejar adequadamente para

prevenir as consequências mais negativas do processo de envelhecimento na

região(11).

No Estudo SABE foram incluídos: Argentina, Barbados, Brasil, Chile, Cuba,

México e Uruguai. Esses países representavam uma combinação daqueles que

trazem uma boa representação dos vários estágios do envelhecimento na região.

Argentina, Barbados, Cuba e Uruguai estão em estágios muito avançados do

processo de envelhecimento, enquanto Chile, México e Brasil estão ligeiramente

atrás, mas a velocidade com que esse processo ocorre em tais países pode fazê-los,

muito em breve, superar os primeiros (11).

Esse estudo, caracterizado por ser transversal, simultâneo e construído de

forma a ser rigorosamente comparável, foi o primeiro desse tipo na região. Teve por

finalidade recolher um amplo número de informações cujos resultados pudessem

subsidiar tanto o desenvolvimento de outros estudos complementares, quanto a

organização das políticas públicas destinadas a esse grupo etário na região.

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Introdução

32

1.4.1 Instrumento

Os dados para o Estudo SABE foram obtidos em entrevista domiciliar, por

meio de um questionário, elaborado por um comitê regional, composto pelos

principais pesquisadores de cada país e por especialistas em temas específicos da

pesquisa. O instrumento inicial foi submetido a dois pré-testes até a obtenção de sua

forma final (ANEXO A)*, composta por onze seções, a saber:

Seção A – Dados pessoais

Ano e país de nascimento; local de residência durante os primeiros quinze

anos de vida; local de residência durante os últimos cinco anos de vida e, onde

fosse aplicável, razões para a mudança de residência; história e estado marital;

número de filhos; sobrevivência dos pais e, se não, a idade em que faleceram;

escolaridade.

Seção B – Avaliação cognitiva

Auto-avaliação da memória; avaliação da memória pelo teste mini-mental

modificado e validado no Chile para realização do estudo. Para os que obtivessem

escore igual ou inferior a 12 pontos, uma escala de desempenho funcional era

administrada a um proxi-respondente (informante substituto) a partir da questão “é

capaz de...”.

* Disponível em http://www.fsp.usp.br/sabe

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Introdução

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Seção C – Estado de saúde

Auto-avaliação de saúde atual e comparativa ao ano anterior, bem como da

saúde na infância; doenças referidas, considerando nove das condições crônicas

mais prevalentes na população idosa e incluindo seu tratamento; hábitos, condições

sensoriais; saúde reprodutiva; saúde bucal; ocorrência de quedas; escala de

avaliação de depressão geriátrica e mini screening nutricional.

Seção D – Estado funcional

Avaliação do desempenho funcional e da ajuda recebida, quando necessário,

nas atividades básicas e instrumentais da vida diária e identificação e caracterização

do(s) cuidadores principais

Seção E – Medicamentos

Terapêutica medicamentosa utilizada, incluindo indicação, tempo de uso,

forma de utilização, obtenção e pagamento; gastos mensais com medicamentos e

motivos referidos para a não utilização dos medicamentos prescritos.

Seção F – Uso e acesso a serviços

Serviços de saúde utilizados, públicos ou privados, nos últimos 12 meses e

ocorrência de hospitalização, atendimento ambulatorial, exames nos últimos quatro

meses, bem como tempo de espera para atendimento, terapêutica prescrita e gastos

relacionados.

Seção G – Rede de apoio familiar e social

Número e características de pessoas que vivem com o idoso no mesmo

domicílio (sexo, parentesco, estado marital, idade, escolaridade e condição de

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Introdução

34

trabalho); assistência prestada ao idoso e fornecida por ele referente a cada membro

citado; tempo gasto na ajuda ao idoso. As mesmas perguntas foram feitas em

relação aos irmãos e filhos que não vivem no mesmo domicílio, bem como a outros

familiares e que, de alguma forma, fornecem ou recebem ajuda do/ao idoso;

assistência recebida ou fornecida nos últimos 12 meses de alguma instituição ou

organização; participação do idoso em algum serviço voluntário ou organização

comunitária.

Seção H – História laboral e fontes de renda

Trabalho atual (tipo, renda, razões para continuar trabalhando); caso não

trabalhasse mais, por quê não o fazia, ocupação que teve durante o maior período

de sua vida, horas trabalhadas, razões para mudar de atividade, aposentadoria,

pensões, benefícios, outras fontes de renda, renda total pessoal e número de

dependentes dessa renda; gastos pessoais (moradia, transporte, alimentação,

vestimenta, saúde) e auto-avaliação de seu bem estar econômico.

Seção J – Características da moradia

Tipo e propriedade da moradia, condições de habitação (saneamento básico,

luz, número de cômodos, bens presentes).

Seção K – Antropometria

Altura do joelho, circunferência do braço, cintura, quadril, prega triciptal, peso,

circunferência da panturrilha, largura do punho e força da mão.

Seção L – Flexibilidade e Mobilidade

Provas de equilíbrio, mobilidade e flexibilidade.

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Introdução

35

1.4.2. Amostra

Em todos os países, fizeram parte da amostra pessoas com 60 e mais anos,

com exceção do México, que ampliou sua amostra incluindo mulheres de 50 anos e

mais.

Exceto em Barbados, que utilizou o registro de eleitores, as amostras foram

calculadas a partir do censo de cada país. Essas amostras foram probabilísticas e

utilizaram o método de Amostragem por Conglomerados Polietápico, com

estratificação das unidades primárias da amostra, com exceção do Chile, que não

aplicou a estratificação. Em seis dos países, o processo de amostragem contou com

três etapas (Barbados contou com duas, aplicando os critérios probabilísticos em

cada uma delas). Cinco dos países consideraram os estratos socioeconômicos (com

exceção de Chile e Cuba que fizeram isso posteriormente). México e Argentina

também definiram estratos geográficos.

Em todos os países a distribuição da amostra foi realizada pelo método de

Fixação Proporcional ao Tamanho. Inicialmente estavam previstas 1.800 entrevistas

em cada país do estudo. No entanto, devido à disponibilidade ou a restrições no

orçamento de cada local, essas metas foram ajustadas para mais ou menos da

proposta original. A amostra final proposta foi de 13.023 idosos e, desses, obteve-se

10.906 entrevistas, correspondendo a uma taxa média de resposta de 80%, variando

de 62,8%, na Argentina, para 95,3%, em Cuba. Em São Paulo (Brasil), a taxa de

resposta foi de 84,6%. Esse total correspondeu a 92% da meta originalmente

prevista, que é considerada satisfatória para estudo desse tipo.

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Introdução

36

Em quatro dos sete países, foi aplicado algum tipo de procedimento para

sobredimensionar a seleção de idosos em velhice avançada (com 80 e mais anos).

Os métodos de estimação e ponderação aplicados correspondiam com a

utilização de estimadores simples, não viesados, e estimadores de Razão que

consideram, em todos os casos, o cálculo dos fatores de expansão do desenho

amostral empregado, ou seja, as probabilidades de seleção aplicadas em cada

etapa e as não-respostas. Foram também consideradas as variáveis sexo e grupos

etários, dadas as diferenças de mortalidade entre sexos e o sobredimensionamento

da população igual e superior a 80 anos. Ao final, obteve-se um fator para cada

indivíduo da amostra, que resumia todos os elementos mencionados no desenho

amostral e os estratos considerados.

No Brasil, a população do estudo foi composta pelos idosos residentes, no

ano de 2000, na área urbana do Município de São Paulo, cujo cálculo teve por base

a contagem populacional da Fundação IBGE, de 1996. A amostra final foi composta

pela somatória de uma amostra probabilística (sorteio) e de uma amostra intencional

(composição livre para os grupos ampliados para complementar a amostra de idosos

em velhice avançada). Para realização da amostra probabilística, foi utilizado o

cadastro permanente de 72 setores censitários da Faculdade de Saúde Pública da

Universidade de São Paulo, coordenadora do estudo no Município, selecionados sob

o critério de probabilidade proporcional ao número de domicílios do cadastro da

PNAD, de 1995. Em seguida, foram sorteados sistematicamente os domicílios a

serem visitados. A complementação da amostra de pessoas de 75 anos e mais foi

realizada pela da localização de moradias próximas aos setores selecionados ou, no

máximo, dentro dos limites dos distritos aos quais pertenciam os setores sorteados.

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Introdução

37

Para a análise dos resultados, foi atribuído a cada questionário um peso relativo a

sua representatividade na população.

A amostra final, por país, foi assim composta:

a) Argentina – 1.043 idosos

b) Barbados – 1.812 idosos

c) Brasil – 2.143 idosos (sendo 1.568 da amostra probabilística e 575 da

amostra intencional)

d) Chile – 1.306 idosos

e) Cuba – 1.905 idosos

f) México – 1.247 idosos

g) Uruguai – 1.450 idosos

Os desenhos amostrais descritos correspondem, em todos os países, a

desenhos probabilísticos do tipo de Amostra por Conglomerados Polietápicos.

Adicionalmente, em quase todos os países, as unidades primárias de amostragem

foram estratificadas e foram utilizados métodos não viesados de estimação. Foram

consideradas a estratificação da amostra, as probabilidades de seleção aplicadas

em cada etapa da amostra e as técnicas de pós-estratificação por sexo e grupos

etários, permitindo, assim, que os resultados obtidos em cada país pudessem ser

comparáveis entre si.

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Introdução

38

1.4.3 Procedimento de coleta de dados

Após a seleção da amostra, os idosos foram entrevistados em seus

domicílios. A maior parte das entrevistas (88%) foi feita de forma direta. Em algumas

ocasiões, utilizou-se um proxi-respondente quando havia impossibilidade do idoso

para responder às questões (problemas físicos ou cognitivos).

A coleta de dados ocorreu em duas etapas. Na primeira, foram preenchidas

as seções de A a J, e na segunda, que ocorreu de um a seis meses após a

primeira, as seções L e K. Isso ocorreu, em parte, pela extensão do questionário e,

por outro lado, as seções L e K exigiam maior disponibilidade do idoso para a

realização de alguns testes, além de material específico. Entre as duas etapas,

ocorreram alguns óbitos que estimularam o desenvolvimento do presente estudo.

Espera-se que os resultados obtidos neste estudo possam contribuir para a

adoção de medidas preventivas que visem à diminuição dos riscos relacionados aos

óbitos entre idosos. Trata-se de ações de saúde que permitirão a identificação

precoce desses riscos e as intervenções adequadas que possam compensá-los.

O estudo foi submetido aos respectivos comitês de ética dos países

envolvidos. No Brasil, o mesmo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da

Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, a qual pertencem os

principais investigadores do estudo (ANEXO B).

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Objetivos

39

2. Objetivos

� Caracterizar e analisar as causas de óbito dos idosos que faleceram entre a primeira e a segunda etapas de coleta de dados do Estudo SABE, residentes no Município de São Paulo.

� Correlacionar os óbitos ocorridos com os fatores de risco para óbito entre idosos mais comuns referidos na literatura, evidenciando os mais significativos.

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Casuística e método

40

3. Casuística e método

3.1 Tipo de pesquisa

Esse estudo é parte do Projeto SABE e caracterizou-se como uma pesquisa

exploratória, descritiva, aplicada, de campo, retrospectiva, com abordagem

quantitativa. Foram utilizados os dados referentes à população idosa do SABE-Brasil

obtidos junto aos idosos residentes na zona urbana do Município de São Paulo.

3.2 População e amostra

Fizeram parte dessa amostra um total de 38 idosos que morreram num

período máximo de seis meses entre a primeira e a segunda etapa de coleta de

dados.

A coleta de dados do estudo SABE ocorreu em duas etapas. Na primeira,

composta pela entrevista e o preenchimento das seções de A a J, foram

entrevistados 2.143 idosos. Entre a primeira e a segunda etapa, na qual eram

realizadas as avaliações antropométrica e de flexibilidade e mobilidade, houve um

intervalo variável de um a seis meses. Nessa segunda abordagem, foram avaliados

1.893 idosos, ocorrendo, portanto 11,7% de perdas do total de entrevistas. Os

motivos dessas perdas foram: institucionalização, internação, mudança, óbito e

recusa, conforme é apresentado na Tabela 1.

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Casuística e método

41

Tabela 1 – Motivos para a não realização da antropometria. São Paulo, 2000.

Fonte: SABE, 2003.

O óbito de um familiar é, muitas vezes, a causa de mudança de domicílio.

Segundo os dados do Projeto SABE, as principais razões apresentadas para os

idosos não morarem mais com alguém e, possivelmente, mudarem de domicílio,

foram o falecimento do cônjuge ou o casamento do filho ou filha (72).

Assim, para o desenvolvimento desse estudo, além dos óbitos identificados

na segunda fase de coleta de dados, foram verificadas as causas de mudança de

domicílio. Foram, assim identificados, entre os idosos que mudaram, mais dois

casos de óbito, compondo dessa forma, os 38 casos de óbitos que foram analisados

nesse estudo.

3.3 Procedimento de coleta de dados

Os dados referentes aos óbitos foram extraídos dos Bancos de Dados de

Registro de Óbito do Estado e do Município de São Paulo, dos anos 2000 e 2001,

fornecidos pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE) e pelo

Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade no Município de São

Paulo (PRO-AIM).

MOTIVO N %

Institucionalização 2 0,1

Internação 3 0,1

Mudança 43 2,0

Óbito 36 1,7

Recusa 161 7,5

TOTAL 245 11,4

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Casuística e método

42

Nesses bancos de dados, foram procurados, pelos nomes, os 38 casos de

óbitos dos idosos que participaram do Projeto SABE. Quando identificados, os

dados do registro de óbito eram comparados aos dados constantes na Seção A,

Informações Pessoais, do questionário do Projeto SABE, de forma a evitar a

ocorrência de homônimos. Após a identificação e a comparação, foram extraídos do

Registro de Óbito as informações referentes à causa básica e às secundárias.

As variáveis referentes aos fatores de risco de óbito foram extraídas do

questionário do Projeto SABE (ANEXO1), sendo selecionadas as questões dos

blocos temáticos consideradas pertinentes, com base na literaratura, e estão

apresentadas a seguir:

• Seção A – Informações pessoais

Idade em anos(A.1b). Vive só ou acompanhado (A.7). Estado civil (A.13a). Última

série freqüentada (A.6).

• Seção B – Avaliação cognitiva

Resultado do Mini Exame do Estado Mental (MEEM) ( B.9).

• Seção C – Estado de saúde

Auto-avaliação da saúde (C.1). Hipertensão arterial referida (C.4). Diabetes

referida (C.5). Neoplasia referida (C.6). Doença crônica do pulmão referida (C.7).

Doenças cardíacas referidas (C.8). Doença cerebrovascular referida (C.9).

Doença ósteo-articular referida (C.10). Quedas no último ano (C.11). Sexo

(C.18). Sinais e sintomas nos últimos 12 meses: dor no peito (C.13 a), inchaço

persistente nos pés e tornozelos (C.13 b), falta de ar quando acordado (C.13 c),

vertigem ou tontura persistentes (C.13 d), dor ou problemas nas costas (C.13 e),

dor de cabeça persistente (C.13 f), fadiga ou cansaço grave (C.13 g), tosse

persistente, catarro ou chiado no peito (C.13 h), problemas nas articulações

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Casuística e método

43

(C.13 i), náusea persistente e vômito (C.13 j), transpiração excessiva ou sede

persistente (C.13k). Problema nervoso ou psiquiátrico (C.20). Nível de Depressão

(C.21 a à C.21o). Ingestão de bebidas alcoólicas nos últimos três meses (C.23).

Hábito de fumar (C.24). Atividade física regular no último ano (C.25).

• Seção D – Estado funcional (AVD/AIVD)

Dificuldade em atravessar um quarto caminhando (D.11). Uso de aparelho ou

instrumento de apoio para atravessar um quarto caminhando (D.12 a). Ajuda de

alguém para atravessar um cômodo caminhando (D. 12 c). Dificuldade para se

vestir (D.13 a). Recebe ajuda para se vestir (D. 13 b). Dificuldade para tomar

banho (D.14 a). Uso de equipamento para tomar banho (D. 14 b). Ajuda de

alguém para tomar banho (D.14 c). Dificuldade para comer (D.15 a). Ajuda de

alguém para comer (D.15 b). Dificuldade para deitar ou levantar da cama (D.16

a). Uso de aparelho para ou instrumento para deitar ou levantar da cama (D.16

b). Ajuda de alguém para deitar ou levantar da cama (D.16 c). Dificuldade para ir

ao banheiro (D.17 a). Uso de equipamento ou instrumento de apoio para uso do

sanitário (D.17 b). Ajuda de alguém para uso do sanitário (D.17 c). Dificuldade

para tomar remédios (D.25 a). Recebe ajuda nas atividades diárias (D.26).

• Seção F – Uso e acesso a serviços

Onde foi quando se sentiu doente no último ano (F.3). Quem pagou pela

internação (F.9). Procurou assistência nos últimos quatro meses (F.11). Local da

última consulta (F. 14). Quem pagou a última consulta (F.18).

• Seção H – História de trabalho e fontes de receita

Trabalha atualmente (H.21). Quantia que recebe de receita (H.27a).

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Casuística e método

44

3.4 Análise dos dados

As análises foram realizadas em dois momentos distintos, considerando os

óbitos e os fatores de risco para óbitos.

3.4.1 Caracterização e Análise dos óbitos

Para a análise dos óbitos, traçou-se inicialmente o perfil dos idosos que

morreram no período, utilizando-se dados sócio-demográficos (como sexo, idade,

com quem reside - só ou acompanhado) e a presença ou não de um proxi-

respondente. Em seguida, foi feita uma análise comparativa entre as doenças

referidas pelos idosos e a causa básica constante na declaração de óbito. Para essa

comparação ter maior fidedignidade, as questões referentes às doenças auto-

referidas do questionário SABE (C4, C5, C6, C7, C8, C9 e C10) foram classificadas

segundo a Classificação Internacional das Doenças - 10ª Revisão (CID-10) (75),

conforme é apresentada no Quadro1:

QUADRO1: Classificação das doenças auto-referidas, segundo a CID-10 DOENÇA SEGUNDO QUESTIONÁRIO SABE DOENÇA SEGUNDO CID-10

Pressão sanguínea alta/hipertensão I10 – Hipertensão essencial primária

Diabetes/níveis altos de açúcar no sangue E14 – Diabetes mellitus não especificado

Câncer ou tumor maligno C80 – Neoplasia maligna, sem especificação de localização

Doença crônica do pulmão (asma, bronquite ou enfisema) J44.9 – Doença pulmonar obstrutiva crônica não especificada

Ataque do coração/doença coronária/angina/doença

congestiva/ou outros problemas cardíacos

I51.9 – Doença não especificada do coração

Embolia/derrame/ataque/isquemia/trombose cerebral I67.9 – Doença cerebrovascular não especificada

Artrite/reumatismo/artrose M00-25

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Casuística e método

45

Uma classificação de doenças pode ser definida como um sistema de

categorias atribuídas a entidades mórbidas segundo algum critério estabelecido.

Uma classificação estatística de doenças precisa incluir todas as entidades mórbidas

dentro de um número manuseável de categorias. A Décima Revisão da

Classificação Internacional das Doenças e de Problemas Relacionados à Saúde é a

última de uma série que se iniciou em 1893 com a Classificação de Bertellon ou

Lista Internacional de Causas de Morte (75).

A CID-10 está dividida em 21 Capítulos, que estão subdivididos em

Agrupamentos de Categorias de três caracteres, em número suficiente para cobrir

seu conteúdo (75).

Como as questões do SABE eram amplas, para a análise dos dados, foram

considerados os Capítulos, os Agrupamentos e as Categorias da CID-10, para

facilitar a concordância entre a doença referida e a causa básica do óbito.

O agrupamento “artrite/reumatismo/artrose”, foi considerado como “dor

articular” nesta classificação, por se tratar de doenças que estão em diferentes

agrupamentos da CID-10, mas têm em comum a dor articular como característica.

3.4.2. Caracterização e análise dos fatores de risco para óbito

Para a análise dos fatores de risco para óbito, as variáveis extraídas do

questionário SABE foram inicialmente reagrupadas, segundo blocos temáticos de

interesse, relacionados ao risco de morte, conforme é apresentado no Quadro 2.

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Casuística e método

46

Quadro 2: Definição dos blocos temáticos, de acordo com as variáveis do questionário SABE, São Paulo, 2000.

BLOCO

VARIÁVEIS – DEFINIÇÃO

Idade em anos (A1b)

Sexo (C18)

Última série da escola freqüentada (A6)

Trabalha atualmente (H21)

Estado marital (A13a)

Quantia que recebe de receita (H27)

INFORMAÇÕES

PESSOAIS

Vive só ou acompanhado (A7)

Hipertensão arterial (C4)

Diabetes (C5)

Neoplasias (C6)

Doença pulmonar crônica (C7)

Doença cardíaca (C8)

Doença cerebrovascular (C9)

Doença ósteo-articular (C10)

Queda no último ano (C11)

DOENÇAS

REFERIDAS

Problema nervoso ou psiquiátrico (C20)

Doente no último ano (F3)

Procurou assistência nos últimos quatro meses (F11)

Local da última consulta (F14)

ASSISTÊNCIA À

SAÚDE

Quem pagou a última consulta (F18)

ESTADO DE SAÚDE Sinais e sintomas nos últimos 12 meses (C13 a à k)

Auto-avaliação da saúde (C1)

Resultado do MEEM (B9)

Ingestão de bebidas alcoólicas nos últimos três meses (C23)

Hábito de fumar (C24)

Atividade física regular no último ano (C25)

CONDIÇÕES DE

SAÚDE

Nível de depressão (C21 a à o)

Dificuldades nas atividades da vida diária (D11 à D17)

Dificuldade para tomar remédios (D25a) ATIVIDADES DE

VIDA DIÁRIA Recebe ajuda (D26)

Foi aplicada a Análise Multivariada através da Regressão Logística (76). Cada

variável foi agrupada em duas classes: zero (0), como classe de referência, e um (1),

para o contraste. Para tanto, as informações correspondentes a “não sabe” e “não

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Casuística e método

47

responde” foram desconsideradas, assim como as informações não preenchidas

(“missing values”), conforme pode ser observado no Quadro 3.

Quadro 3: Apresentação dos blocos temáticos considerando a referência e o contraste. São Paulo, 2000.

BLOCO

VARIÁVEIS – DEFINIÇÃO

REFERÊNCIA

CONTRASTE

Idade em anos (A1b) 60 a 74 75 e mais Sexo (C18) Feminino Masculino

Última série da escola freqüentada (A6) Alta = além da terceira série

Baixa = até a terceira série

Trabalha atualmente (H21) Sim Não Estado marital (A13a) Sim Não

Quantia que recebe de receita (H27) Baixa = renda nula ou abaixo

do 2º quintil

Alta = acima do 2º quintil

INFORMAÇÕES

PESSOAIS

Vive só ou acompanhado (A7) Sim Não Hipertensão arterial (C4) Normal Alta

Diabetes (C5) Não Sim Neoplasias (C6) Não Sim

Doença pulmonar crônica (C7) Não Sim Doença cardíaca (C8) Não Sim

Doença cerebrovascular (C9) Não Sim Doença ósteo-articular (C10) Não Sim Queda no último ano (C11) Não Sim

DOENÇAS

REFERIDAS

Problema nervoso ou psiquiátrico (C20) Não Sim Doente no último ano (F3)* Não Sim

Procurou assistência nos últimos quatro meses (F11)

Não Sim

Local da última consulta (F14) Público Privado

ASSISTÊNCIA À

SAÚDE

Quem pagou a última consulta (F18) Público Privado ESTADO DE

SAÚDE

Sinais e sintomas nos últimos 12 meses (C13 a à k)

Não Sim

Auto-avaliação da saúde (C1) Boa = boa + muito boa + excelente

Má = regular + má

Resultado do MEEM (B9) Maior que 12 Menor e igual a 12

Ingestão de bebidas alcoólicas nos últimos três meses (C23)

Nenhuma Alguma

Hábito de fumar (C24) Não Sim Atividade física regular no último ano (C25) Sim Não

CONDIÇÕES DE

SAÚDE

Nível de depressão (C21a à C21o)** Não = normal Sim = algum nível de

depressão Dificuldades nas atividades da vida diária

(D11 à D17) Não Sim

Dificuldade para tomar remédios (D25a) Não Sim ATIVIDADES DE

VIDA DIÁRIA Recebe ajuda (D26) Não Sim

(*) A variável F3 foi eliminada da análise por colinearidade com a variável F11. (**) A variável foi eliminada da análise pela alta proporção de óbitos entre as respostas “não informadas”.

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Casuística e método

48

O tipo de regressão utilizada foi a regressão por passos (stepwise) (76), já que

se desejava hierarquizar a relevância de cada variável para a explicação do modelo

na presença das demais. O nível de significância foi fixado em 5%, tanto para a

inclusão de cada variável no modelo, como para o cálculo dos intervalos de

confiança das Razões de Risco (Odds Ratio).

Para cada bloco, foi aplicada uma regressão logística, tendo como variável

resposta óbito. Desta forma, tornou-se possível a análise da importância das

variáveis de cada bloco. Com as variáveis significativas de cada bloco, foi

constituído o modelo geral e verificada a importância relativa à variável resposta.

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Resultados

49

4. Resultados

Os resultados serão apresentados em duas partes. A primeira refere-se à

caracterização e análise dos óbitos, e a segunda à análise dos fatores de risco

relacionados aos óbitos encontrados neste estudo.

4.1. Caracterização e análise dos óbitos

Todos os óbitos, num total de 38, ocorridos entre a primeira e a segunda

etapas de coletas de dados do Projeto SABE, foram identificados nos Bancos de

Dados de Registro de Óbito do Estado e do Município de São Paulo, dos anos 2000

e 2001. A Tabela 2 mostra a caracterização dos idosos que morreram e são objeto

deste estudo:

TABELA 2 – Número e percentagem de óbitos entre os idosos que participaram do Projeto SABE, segundo sexo, idade, presença de acompanhante e ajuda para responder o questionário. São Paulo, 2000. SEXO N %

Feminino 17 44,7

Masculino 21 55,3

IDADE

60 |__ 65 1 2,6

65 |__ 70 3 7,9

70 |__ 75 6 15,8

75 |__ 80 7 18,4

80 e mais 21 55,3

PRESENÇA DE ACOMPANHANTE

Vive acompanhado 32 84,2

Vive só 6 15,8

AJUDA PARA RESPONDER

Sem ajuda 31 81,6

Com ajuda 7 18,4

TOTAL 38 100

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Resultados

50

Observa-se, na análise dos óbitos, a ocorrência de maior mortalidade entre os

homens, corroborando as estatísticas nacionais de óbito. Os homens, em todas as

faixas etárias, apresentam uma maior mortalidade em relação às mulheres, pela

maior exposição a riscos ambientais e sociais. Entre os idosos, essa diferença torna-

se ainda mais acentuada, ocasionando o fenômeno denominado feminilização da

velhice. Quanto mais envelhecida a população, maior será a proporção de mulheres

em relação aos homens da mesma faixa etária(18,72).

Os maiores índices médios de feminilização da velhice observados entre os

países do Estudo SABE foram no Chile, Uruguai e Argentina, respectivamente, com

192, 176 e 162 mulheres para cada homem idoso. Cuba, Barbados e Brasil

apresentaram índices similares, ou seja, 144, 142 e 142 respectivamente. Em São

Paulo, quando esse índice foi estratificado por faixas etárias, confirmou-se o

encontrado no Estudo SABE ou seja, o índice de feminilização entre os idosos de 60

a 75 anos é de 133 mulheres para cada homem e entre os idosos de 75 anos e mais

atinge os patamares de 179 mulheres idosas para cada homem (72).

A análise de Santos (77) da sobrevida dos idosos sem incapacidades mostrou

que as mulheres sobrevivem mais que os homens, porém com maiores índices de

incapacidades. Esses dados, associados aos encontrados por Duarte (73), mostram

uma proporção significativamente menor de auxílio no desempenho das atividades

de vida diária para as mulheres do que para os homens.

Desta forma, o envelhecimento feminino parece ocorrer com maior

sofrimento, exigindo atenção especial na elaboração de políticas públicas que

atendam as demandas específicas emanadas por essa população, quer no auxílio a

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Resultados

51

um envelhecimento feminino com melhor qualidade, quer na prevenção dos óbitos

dos homens idosos.

Em relação à estratificação etária, observa-se um aumento significativo dos

óbitos em idades mais avançadas. Essa relação é esperada, uma vez que, quanto

maior a idade, maior também é a probabilidade que o indivíduo tem de morrer, pois,

com o passar dos anos, há uma diminuição da reserva funcional, o que torna as

pessoas mais suscetíveis a doenças e eventos fatais (20). O que se espera, no

entanto, é que os eventos fatais entre os idosos em velhice avançada não sejam

precedidos de longos períodos de doenças, incapacidades e sofrimento.

Os grandes esforços na área de Gerontologia visam comprimir ao máximo a

morbidade, de forma a retangularizar a curva de envelhecimento relacionada a

morbi-mortalidade, ou seja, contribuir para que as pessoas vivam mais tempo, livres

de doenças, ou com as mesmas controladas a ponto de não gerarem incapacidades.

A vida, num determinado momento, culminará em um evento fatal, porém de forma

mais repentina, preferencialmente com menor ou sem sofrimento e em uma idade

bem avançada (1,6,7,24,25,).

Dentro desses pressupostos, a capacidade funcional passa a ser um novo

paradigma de saúde para o envelhecimento, pois, por meio da sua manutenção, o

idoso, mesmo apresentando doenças crônicas, pode ser considerado saudável e

com condições de manter sua independência e autonomia, fatores indispensáveis

para se obter boa qualidade de vida (1,6,7,24,25,).

Neste estudo, verificou-se que, dos idosos que morreram, a maioria vivia

acompanhado. Esse resultado pode ser uma reprodução dos dados globais, onde se

encontrou que a maioria dos idosos do Município de São Paulo (aproximadamente

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Resultados

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87%) moram com co-residentes*. Tal achado pode indicar uma condição de maior

proteção, uma vez que, conforme estudo de Saad (78), a co-residência representa

uma condição de maior proteção ao idoso, pois, nessas circunstâncias, haveria um

maior potencial de auxílio disponível para assistir às diferentes demandas

apresentadas por eles. Poderia também, por outro lado, indicar uma condição de

maior fragilidade, visto que alguns deles, possivelmente, não teriam condições de

morar sozinhos, quer pelas doenças apresentadas, quer pelas limitações funcionais

que poderiam existir em decorrência delas.

O caso apresentado a seguir, obtido dentre os óbitos ocorridos neste estudo,

pode ilustrar tal afirmação:

Apresentação de Caso 1 – Sra. C.M.C.

Mulher, 92 anos, morava acompanhada, auto-avaliou sua saúde como má,

porém tinha como única queixa de saúde incontinência urinária. Procurou

assistência médica, em nível ambulatorial, uma vez, nos quatro últimos meses que

antecederam a entrevista, negando ter sido hospitalizada no último ano. Apresentou,

como causa básica de óbito, desnutrição protéico-calórica e, como causa associada,

broncopneumonia.

Tal caso ilustra alguns pontos que podem ser inferidos, visto que não é

conhecida a trajetória real entre a doença e o óbito e não foi possível, nesse

momento, realizar a autópsia verbal de cada caso. É fato que os idosos têm uma

maior possibilidade de desenvolverem certas doenças e que essas podem, muitas

* Utilizaremos neste estudo o termo co-residentes, pois são pessoas, familiares ou não, que co-habitam com o idoso.

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Resultados

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vezes, não despertar a atenção nos responsáveis por seu cuidado devido ao

entendimento errôneo que a doença é “normal e esperada” dentro do processo de

envelhecimento (20).

Essa circunstância pode inibir ou postergar a procura por serviços de saúde,

propiciando o surgimento de situações de risco pelo agravamento da condição

clínica, culminando num evento fatal. Assim, o idoso, como qualquer outra pessoa,

pode desenvolver uma infecção, mas, em decorrência das alterações senescentes,

pode não apresentar febre. Sua apatia ou mesmo sua falta de apetite podem ser,

muitas vezes, consideradas “normais”, já que alguns idosos, em especial os em

velhice avançada, apresentam alterações no hábito alimentar e uma atividade física

reduzida, quando comparados com indivíduos de outras faixas etárias. Dessa forma,

mesmo morando com co-residentes, podem não ter uma avaliação adequada de

agravos à saúde, permitindo que a procura por assistência seja postergada, o que

pode vir a dificultar o seu tratamento e conseqüentemente, aumentar seu risco de

morte.

Nesses casos, a simples responsabilização do co-residente pela assistência

“inadequada”, conforme estabelece o Estatuto do Idoso (79), por si só, não resolveria

o problema, visto que, não reverteria a situação de óbito. Mas, é possível considerar

a fragilidade do sistema de atenção à saúde, que não conseguiu contemplar,

aparentemente, aquele atendimento básico com medidas preventivas e educativas,

em relação ao gerenciamento da saúde dessa idosa e da assistência prestada por

seus co-residentes.

Tal consideração pode ser reforçada pelo fato de que a própria idosa, quando

respondeu à primeira parte do questionário SABE, ter afirmado que procurou por

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serviço de saúde e que percebia sua saúde como ruim, não tendo sido tal queixa,

talvez por sua subjetividade, adequadamente valorizada, embora muitos estudos

comprovem que a saúde auto-referida é um excelente preditor para óbito em idosos

(31, 36, 46-53). Assim, torna-se essencial uma readequação da atenção prestada aos

idosos, em especial a básica, buscando uma assistência mais abrangente e efetiva

dos serviços de saúde.

Outra característica dos idosos que morreram é que a maioria (81,6%) foi

capaz de responder ao questionário SABE sem ajuda, o que indica uma boa

preservação da condição cognitiva e o não comprometimento da qualidade da

informação. De certa forma, esse fato reforça a afirmação anterior sobre a

necessidade de gerenciamento adequado e contínuo da condição de saúde dos

idosos, em especial os mais fragilizados, pois os agravos e os quadros de doenças

podem modificar-se repentinamente e evoluir para eventos fatais.

Buscando compreender as razões que levaram esses idosos a morrer, as

causas de óbito foram classificadas e distribuídas segundo a CID-10, conforme

estão apresentadas na Tabela 3:

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Resultados

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Tabela 3 – Número e percentagem de óbitos entre os idosos que participaram do Projeto SABE, segundo causas básicas, conforme a Classificação Internacional das Doenças (CID – 10). São Paulo, 2000. CAUSA BÁSICA DO ÓBITO SEGUNDO A CID-10 N % Doenças do aparelho circulatório 18 47,4 I21.9 – Infarto do miocárdio (agudo) 4 10,5 I11.9 – Doença do coração hipertensiva 2 5,3 I50.1 – Doença do coração com edema pulmonar agudo 1 2,6 I05.9 – Doença mitral (valva) 1 2,6 I25.1 – Doença arteriosclerótica do coração 1 2,6 I35.0 – Estenose aórtica 1 2,6 I50.0 – Insuficiência cardíaca congestiva 1 2,6 I64 – Acidente cerebrovascular 2 5,3 I67.8 – Acidente cerebrovascular isquêmico 2 5,3 I69.4 – Seqüela de acidente vascular cerebral n/e como hemorrágico ou isquêmico 2 5,3 I69.3 – Seqüela de infarto cerebral 1 2,6 Neoplasias 6 15,8 C23 – Neoplasia de vesícula biliar 1 2,6 C74.9 – Neoplasia (glândula) adrenal 1 2,6 C02.9 – Neoplasia de língua 1 2,6 C32.9 – Neoplasia de laringe 1 2,6 C67.9 – Neoplasia de bexiga 1 2,6 C92.0 - Leucemia mielóide aguda 1 2,6 Doenças do aparelho respiratório 5 13,1 J44.9 – Doença pulmonar obstrutiva (crônica) 3 7,9 J98.4 – Infecção pulmonar 1 2,6 J18.0 – Broncopneumonia 1 2,6 Doenças do aparelho digestivo 3 7,9 K56.6 – Outras formas de obstrução intestinal e as não especificadas 1 2,6 K46.9 – Hérnia abdominal 1 2,6 K25.4 - Úlcera de estômago com hemorragia 1 2,6 Doenças endócrinas, nutricionais ou metabólicas 3 7,9 E14.9 - Diabetes (complicações) 1 2,6 E46 – Desnutrição protéico-calórica 1 2,6 E86 – Depleção de volume 1 2,6 Outras causas 3 7,9 N39.0 - Infecção do trato urinário de localização não especificada 1 2,6 L97 – Úlcera de extremidade inferior 1 2,6 G90.9 - Transtorno do sistema simpático/vegetativo 1 2,6 TOTAL 38 100

Fonte: Fundação SEADE e PRO-AIM.

Verifica-se que os principais grupos de causas de óbito entre os idosos neste

estudo coincidem com as estatísticas nacionais. As doenças do aparelho circulatório

representaram quase metade do total dos óbitos (47%). As taxas de mortalidade por

doenças cardiovasculares aumentam conforme o avançar da idade. Na maioria dos

países do mundo, a principal causa de morte por doenças cardiovasculares é a

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Resultados

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cardiopatia coronariana, seguida pelo acidente vascular encefálico, tanto para

homens quanto para mulheres. Outras doenças cardiovasculares de prevalência

importante em idosos são a hipertensão, a insuficiência cardíaca e a demência

vascular (80).

Segundo Lebrão e Laurenti (28), vários estudos longitudinais e transversais

confirmam que a hipertensão é um importante fator preditivo de mortalidade e

morbidade cardiovascular entre os idosos. A pressão arterial elevada é comum nos

idosos, chegando a aproximadamente 50% de incidência, com variações nas

diversas regiões do mundo (80).

A insuficiência cardíaca atinge cerca de 1% das pessoas acima dos 65 anos,

ocorrendo na mesma freqüência para homens e mulheres. Dentre os que

apresentam essa doença, apenas 15% continuam vivos após 10 anos, sendo que os

homens sobrevivem menos que as mulheres (80).

A demência vascular, em muitos países, é a segunda causa de demência,

perdendo apenas para a Doença de Alzheimer. Quanto maior a idade, maior a

incidência da demência vascular, chegando a representar 1/3 a 1/4 do total de casos

de demência grave (80).

Os fatores de risco para as doenças cardiovasculares são os mesmos, tanto

para adultos quanto para idosos, porém a magnitude do risco relativo associado

tende a ser menor após os 65 anos. São considerados fatores de risco: a pressão

arterial, o colesterol, o tabagismo, o sedentarismo, o abuso do álcool, o nível social,

a nutrição, o diabetes, a obesidade e a associação com outras doenças (80).

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As estratégias preventivas para as doenças cardiovasculares nos idosos

incluem a diminuição da incidência dos fatores de risco, a prevenção primária de

episódios clínicos e a implementação de métodos destinados a reduzir os episódios

recorrentes, a incapacidade e a morte. Estudo desenvolvido pela Organização

Mundial de Saúde (80) conclui que “a prevenção de doenças cardiovasculares nos

idosos apresenta desafios diferentes de outras faixas etárias em decorrência da

maior variabilidade de condições físicas e mentais”. Assim, a idade por si só, não

deve constituir obstáculo para promover a saúde, prevenir e postergar as doenças, a

incapacidade e a morte (80).

Observa-se que, em vários países, as taxas de mortalidade por doenças

cardiovasculares vem diminuindo nas últimas décadas, tanto para adultos quanto

para idosos. Os fatores que contribuem para isso são a menor incidência de

doenças cardiovasculares e a queda das taxas de letalidade devido, à menor

gravidade ou ao melhor manejo da doença na sua fase aguda. Deve-se acrescentar

que essa diminuição na mortalidade por doenças cardiovasculares não é

homogênea para todos os grupos socioeconômicos e étnicos e que ainda são

necessários grandes esforços para que todos os subgrupos possam alcançar os

baixos níveis de mortalidade que atingem os mais privilegiados (80).

As neoplasias corresponderam a 15,8 % dos casos de óbito. Segundo

Gadelha e Martins (81), o desenvolvimento das neoplasias está diretamente ligado ao

processo de envelhecimento celular, pois, com o passar do tempo, diferentes

agressões externas vão gerando acúmulos de danos ao DNA das células,

possibilitando o desenvolvimento das primeiras células geradoras dos tumores

malignos. Dessa forma, a idade cada vez mais avançada constitui um fator de risco

para o desenvolvimento de neoplasias malignas, o que vem sendo comprovado pelo

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Resultados

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aumento das taxas de incidência e mortalidade por câncer nas estatísticas

nacionais. Os tumores mais freqüentes para os homens, segundo o Instituto

Nacional do Câncer, são, em ordem decrescente, os localizados na pele, próstata,

estômago, pulmão, boca, esôfago e medula óssea (leucemias) e, para as mulheres,

mama, pele, colo uterino, intestino, estômago, pulmão, medula óssea (leucemias),

boca e esôfago (81).

As neoplasias, enquanto morbidade referida, apresentam baixa frequência,

podendo tal fato ser interpretado como um estado desconhecido - por ser tratar de

uma doença com alta letalidade e de duração, em geral, relativamente curta - ou

como um estado não informado (28). Ainda é muito comum, em nossa cultura, que os

familiares evitem falar a seus parentes idosos o seu diagnóstico, quando esse se

refere a neoplasias e, muitas vezes, solicitam à equipe de saúde que também o faça.

Com isso, muitos idosos acabam desconhecendo o seu diagnóstico e, ao serem

indagados, não o citam (81).

De modo geral, segundo Gadelha e Martins (81), existe uma dificuldade dos

médicos em informar o diagnóstico de câncer aos doentes. Apesar de se ter um

maior nível de informação entre os doentes com menos de 65 anos de idade, não se

observa diferença na qualidade de vida entre os mais e os menos informados. No

entanto, continuam os autores, a qualidade de vida é pior entre os idosos quando

são considerados aspectos objetivos, como a doença tumoral em atividade e

tratamento (81).

Outro dado interessante a ressaltar é que, embora apresentem maiores taxas

de incidência de câncer, as mulheres morrem menos que os homens dessa doença,

pois, entre eles, ocorrem cânceres mais letais, como o de pulmão e o de estômago,

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Resultados

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fato que chama a atenção para o estabelecimento de programas de detecção

precoce de câncer (81).

Os tumores malignos que mais atingem os idosos brasileiros apresentam, do

ponto de vista diagnóstico, três características. Primeiro, muitos deles são lesões

detectáveis, mesmo em sua fase inicial, através de exame físico ou de exames

complementares de uso disseminado. Em segundo lugar, a maioria deles é

cirurgicamente curável e/ou curável ou controlável pela quimioterapia e/ou

radioterapia. Em terceiro lugar, curáveis ou não, podem, em sua maioria, ser

controlados por métodos terapêuticos isolados ou associados, em especial se o

tratamento for aplicado nos estágios iniciais da evolução tumoral. Assim, o

diagnóstico do câncer do idoso depende, principalmente, da ação do sistema de

saúde (81).

As doenças do aparelho respiratório apareceram como terceira causa de

óbito, correspondendo a 13,1%. Dentre essas, destacam-se as doenças pulmonares

obstrutivas crônicas (DPOCs). Essas constituem a quarta causa de morte entre

idosos com idades entre 70 e 90 anos, além de serem um importante fator de risco

para o desenvolvimento de infecções bacterianas e virais e a causa mais freqüente

de hospitalização dos idosos. Caracterizam-se por um estado de doença com

limitação do fluxo aéreo, não totalmente reversível, progressivo e associado a uma

resposta inflamatória crônica ao longo das vias aéreas, parênquima e vasculatura

dos pulmões a partículas e gases nocivos inalados. Classificam-se em quatro

estádios, segundo a gravidade: DPOC em risco, leve, moderada e grave (82).

Estudos epidemiológicos sobre essa doença são ainda limitados, mesmo em

países desenvolvidos, dado que sua prevalência é ainda difícil de ser estabelecida,

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Resultados

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pois não é diagnosticada até que esteja clinicamente aparente e relativamente

avançada. Segundo o Global Burden of Disease Study (82), conduzido pela

Organização Mundial de Saúde, a prevalência mundial de DPOC, em 1990, foi

estimada em 9,34/1000, em homens, e 7,33/1000, em mulheres. Tais estimativas, no

entanto, incluem todas as faixas etárias e subestimam a verdadeira prevalência da

doença nos idosos. Sua prevalência é maior nos países onde o consumo de cigarro

foi ou é muito comum, evidenciando a correlação da doença com o hábito de fumar

(82).

Embora limitados, os dados disponíveis sobre a morbidade por DPOC

indicam que ela aumenta com a idade e é maior entre os homens do que entre as

mulheres. É também uma das principais causas de procura por assistência médica,

em serviço ambulatorial, hospitalar ou de emergência. Constitui a quarta principal

causa de morte no mundo e projeções indicam aumento dessa prevalência nas

próximas décadas, em especial entre os idosos. Seu impacto social e econômico é

muito importante, pois o mesmo estudo da OMS estimou que a DPOC será a quinta

causa principal de perda de Anos de Vida Ajustados à Incapacidade (Disability-

Adjusted Life Year – DALY) no mundo, em 2020, atrás da doença cardíaca

isquêmica, da depressão grave, dos acidentes de trânsito e da doença

cerebrovascular (82).

Seguindo-se as DPOCs, apareceram as infecções pulmonares e as

broncopneumonias (5,2% dos óbitos). Sir Willian Osler, autor do clássico Principles

and Practice of Medicine de 1892, referia-se à pneumonia ora como a maior inimiga

dos idosos, por ser uma importante causa de morte entre eles, ora como sua

companheira, dada à freqüência com que os acometia. Ironia do destino ou não,

esse famoso médico faleceu, aos 70 anos, acometido desse mesmo mal. Mais de

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Resultados

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um século depois, essa doença, apesar dos avanços técnico-científicos, ainda figura

entre as mais importantes causas de morte, em especial entre os idosos (82).

Vários estudos epidemiológicos comprovam que a incidência de pneumonia

entre os idosos aumenta durante os surtos de gripe, e por essa razão, foi instituída,

no Brasil, a vacinação sistemática dos idosos, em 1999. Segundo o DATASUS (30), a

pneumonia constitui a segunda principal causa de internação hospitalar, superada

apenas pelos casos de gravidez e puerpério. Dentre as doenças respiratórias,

supera, inclusive, as DPOCs. As taxas de mortalidade entre os idosos variam de 15

a 20%, quando adquiridas na comunidade, e de 30 a 40%, quando adquiridas nas

instituições asilares. Representam, nos EUA, a sexta causa de morte, e a taxa de

mortalidade relacionada a essa doença aumentou 59% em 15 anos, aumento

atribuído ao envelhecimento da população. No Brasil, em 1998, representavam a

segunda causa de morte entre as doenças do aparelho respiratório e a oitava entre

todas as causas (82).

Assim, verifica-se que a pneumonia é uma importante causa de morbidade e

mortalidade entre os idosos. O uso de antibióticos profiláticos não a evita, podendo,

ao contrário, ocasionar maior resistência bacteriana e tornar o tratamento mais

oneroso, prolongado e, às vezes ineficaz. Assim, a melhor forma de combater essa

doença, no idoso, são as medidas preventivas, incluindo a vacinação, além da

manutenção de boas condições nutricionais e do tratamento das doenças crônicas

concomitantes no idoso (82).

As doenças do aparelho digestivo e as doenças endócrinas, nutricionais ou

metabólicas aparecem com a mesma proporção de casos (7,9%). Dentre essas

causas de óbito, chama a atenção algumas condições que poderiam ter sido

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Resultados

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prevenidas em vez de culminarem em um evento fatal: úlcera de estômago com

hemorragia, desnutrição protéico-calórica e depleção de volume.

O sangramento gastrointestinal agudo é muito comum entre os idosos e é

responsável por uma alta taxa de morbi-mortalidade, representando mais de 70%

das internações por doenças do aparelho digestivo. A incidência entre os idosos é

dez vezes maior do que entre os adultos jovens, e 50% desses estão relacionados

ao uso de antiinflamatórios não esteroidais (AINES). A apresentação clínica dos

idosos com sangramento pode variar desde a anemia sem sintomas gastrointestinais

específicos até as hemorragias maciças. Dentre as doenças do aparelho digestivo,

as úlceras gastrointestinais, em 40% das vezes, e a diverticulose colônica, em 50%,

são as maiores responsáveis pelos sangramentos (83,84).

A hemorragia digestiva alta manifesta-se por hematêmese, melena, fezes

fétidas, às vezes com sangue vivo e vômitos com aspecto de borra de café e

coágulos. A hemorragia digestiva baixa caracteriza-se por fezes sanguinolentas, não

fétidas, com exceção daqueles doentes que sangram devido a uma doença intestinal

inflamatória. As medidas de ressuscitação incluem expansão volêmica e

monitorização hemodinâmica, como em qualquer outra faixa etária. No entanto, é

necessário o conhecimento das mudanças nos volumes corporais dos idosos, de

forma a não ocasionar situações iatrogênicas que podem ser fatais (83,84).

O controle do sangramento alto e baixo é realizado, principalmente, por de

procedimento endoscópico hemostático. O procedimento cirúrgico, por constituir

maior risco, é a última opção na maioria dos casos e, geralmente, ocorre quando a

hemorragia digestiva, tanto a alta quanto a baixa, não é efetivamente controlada

com outras medidas(83,84) .

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Resultados

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O diabetes é uma alteração metabólica associada à deficiência parcial ou

absoluta da secreção de insulina. Vários estudos epidemiológicos desenvolvidos nos

últimos anos têm demonstrado um aumento consistente da incidência e prevalência

de diabetes entre os idosos, em especial a do tipo II. A prevalência dessa doença na

população brasileira gira em torno de 7,4% porém, entre os idosos de 60 a 69 anos,

esse índice aumenta para 17,4% (85).

Embora sejam amplamente divulgados a importância e o impacto do

diagnóstico precoce e do bom controle metabólico na evolução e prognóstico da

doença, o diabetes é ainda sub-diagnosticado e sub-tratado entre os idosos. As

complicações decorrentes dessa doença são responsáveis por incapacidades

físicas, como a cegueira, amputações não traumáticas e insuficiência renal, que

muitas vezes geram dependência e aumento dos custos com a saúde, tanto com

cuidados diretos, quanto com indiretos. Dentre as principais doenças referidas pelos

idosos no Estudo SABE, no Município de São Paulo, a única que apresentou

decréscimo na velhice avançada foi o diabetes, não por cura e sim, possivelmente,

por óbito em decorrência de suas complicações, o que exige maior atenção do

sistema de saúde no controle e acompanhamento dessa doença (28).

Ainda procurando entender as razões da morte desses idosos, num segundo

momento, buscou-se verificar se a causa básica citada na Declaração de Óbito

correspondia às doenças referidas pelos idosos quando participaram da primeira

fase da coleta de dados do Estudo SABE. Dessa forma, verificou-se a concordância

entre as doenças referidas e a classificação do CID-10(75) (por categoria,

agrupamento ou capítulo). Os resultados obtidos estão apresentados na Tabela 4.

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Resultados

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Tabela 4 - Número e percentagem de concordância entre a doença auto-referida e a Causa Básica e as Linhas A, B, C e Parte II da declaração de óbito, segundo a CID-10. São Paulo, 2000.

DOENÇAS AUTO-

REFERIDAS

CAUSA BÁSICA

LINHA A

LINHA B

LINHA C

PARTE II

N % N % n % n % n %

Categoria 2 5,3 - - - - 4 10,6 1 2,6

Agrupamento 6 15,8 2 5,3 1 2,6 1 2,6 1 2,6

Capítulo 10 26,3 8 21,1 12 31,6 5 13,1 2 5,3

Nenhuma 15 39,5 16 42,1 12 31,6 6 15,9 8 21,1

Não referiu

doença

5 13,1 5 13,1 5 13,1 5 13,1 5 13,1

Não

preenchida

- - 7 18,4 8 21,1 17 44,7 21 55,3

TOTAL 38 100 38 100 38 100 38 100 38 100

Observa-se que, na maioria das declarações de óbito, houve coincidência

entre a causa básica do óbito e a doença prévia informada pelo idoso durante a

entrevista (47,4%). Essa relação é maior quando se consideram os Capítulos

(26,3%), diminuindo ao se considerar os Agrupamentos (15,8%) e as Categorias

(5,3%) da CID-10 (75). Isso pode estar relacionado ao fato de as questões do

questionário SABE serem pouco específicas para se definir a morbidade, ou seja,

não era perguntado ao idoso qual doença ele tinha, mas se ele apresentava

determinadas doenças (por exemplo, uma doença crônica do pulmão), que eram

escolhidas entre as mais prevalentes nessa faixa etária. Quando foi realizada a

correlação entre a doença referida e a CID-10, essa relação foi mantida, sendo,

portanto, maior a possibilidade de coincidir a causa básica do óbito com a doença

referida, ao se considerar o capítulo, a categoria e o agrupamento da CID-10 (75).

No entanto, quando houve discordância entre a causa básica do óbito e a

doença auto-referida, ela também foi grande (39,5%). Muitos podem ser os fatores

envolvidos nessa questão, como o desconhecimento da doença pelo idoso, fato

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Resultados

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muito comum no caso das neoplasias, por exemplo. Isso é corroborado pelo fato de

13,1% dos entrevistados deste estudo não terem citado qualquer doença. Não é

muito comum que um indivíduo atinja a velhice sem o desenvolvimento de pelo

menos uma doença, geralmente crônica. Assim, é mais provável que ele a

desconheça ou a ignore e, portanto, não a informe quando indagado, o que, em

última análise, pode proporcionar o não-acompanhamento ou o controle adequado,

levando-o a uma condição de risco por agravamento ou à morte.

Os eventos súbitos também podem ser considerados, porém parecem menos

prováveis, pois nenhuma causa externa foi registrada e também porque a

comparação realizada entre a doença referida e a causa básica foi bastante

abrangente. Assim, por exemplo, quando o indivíduo citou como doença a

hipertensão arterial e teve como causa básica do óbito uma doença cardíaca ou

cerebral, o fato foi considerado coincidente, uma vez que as doenças envolviam o

Capítulo IX - Doenças do Aparelho Circulatório da CID-10.

A qualidade da informação constante na declaração de óbito também deve

ser considerada como um fator contribuinte para a discordância entre a doença-

referida e a causa básica do óbito. Estudos mostram que alguns médicos,

responsáveis diretos pelo preenchimento da declaração de óbito, ainda não o fazem

corretamente, seja porque isso não é ensinado em todas as escolas médicas, seja

porque a possibilidade de que o atestado de contribuir para as estatísticas de

mortalidade, sendo um importante subsídio para a grande maioria dos indicadores

de saúde, não é considerado. Desta forma, as causas reais de morte, às vezes, não

são colocadas nos atestados, estando mencionadas somente as complicações ou

causas terminais (85). Durante a análise realizada, foi observado, por exemplo, que

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Resultados

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apenas um caso de diabetes constou do atestado de óbito, embora essa doença

seja citada por vários idosos.

4.2 Análise dos fatores de risco para óbitos

A segunda parte dos resultados refere-se à análise dos fatores de risco

associados aos óbitos encontrados neste estudo. Conforme descrito, as variáveis

extraídas do questionário SABE foram reagrupadas segundo blocos temáticos de

interesse relacionados ao risco de morte. Os blocos temáticos foram: informações

pessoais, morbidade informada, assistência à saúde, estado de saúde, condições de

saúde e atividades de vida diária.

A Tabela 5 mostra as variáveis independentes, estatisticamente significativas,

para risco de morte, em cada bloco temático.

Tabela 5: Risco significativo para óbito entre as variáveis dos blocos temáticos de interesse, São Paulo, 2000.

BLOCOS TEMÁTICOS

VARIÁVEL

REFERÊNCIA

CONTRASTE

ODDS RATIO

p

IC

95% Idade 60 a 74 anos 75 anos e + 3,79 0,001 1,73 INFORMAÇÕES

PESSOAIS Sexo Feminino Masculino 2,69 0,015 1,21 DOENÇAS

REFERIDAS Doença cardíaca Não Sim 2,67 0,022 1,15

ESTADO DE SAÚDE

Tosse persistente, catarro ou chiado no peito

Não Sim 3,16 0,004 1,43

CONDIÇÕES DE SAÚDE

Saúde referida Boa (boa, muito

boa e excelente)

Má (regular e

má)

4,52 0,005 1,56

Dificuldade para atravessar um quarto caminhando

Não Sim 3,33 0,013 1,29

Dificuldade para ir ao banheiro

Não Sim 5,37 0,002 1,81

Dificuldade para deitar ou levantar da cama

Não Sim 0,24 0,025 0,07

ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA

Dificuldade para comer Não Sim 2,80 0,027 1,12

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Resultados

67

No bloco “informações pessoais”, as variáveis idade e sexo foram as mais

importantes. Ter idade igual ou superior a 75 anos representa um risco de óbito

aproximadamente quatro vezes maior em relação aos idosos com idades entre 60 e

74 anos, principalmente pela diminuição da reserva funcional, que aumenta a

suscetibilidade a doenças e, também, pela aproximação do limite máximo da vida

humana. Assim, a idade permanece sendo considerada um dos mais importantes

fatores de risco para óbito (16,34,38, 41).

A velhice avançada possui maior vulnerabilidade e representa a faixa etária

que mais cresce entre os idosos (31,34,60). Portanto, é cada vez mais necessária a

organização de programas e serviços de monitoramento e gerenciamento das

demandas priorizando esses idosos, para que se atue preventivamente,

minimizando os riscos e os sofrimentos que podem ser gerados.

O sexo masculino, entre os idosos, tem 2,7 vezes maior possibilidade de

morrer que o feminino. Essa informação corrobora o estudo desenvolvido por

Ramos, que mostrava que o risco de um idoso morrer em dois anos era 2,8 vezes

maior entre os homens do que entre as mulheres. Conforme anteriormente descrito

os riscos pessoais, ambientais, ocupacionais e sociais ao qual o homem está

exposto são os principais fatores para tal diferença. Essa relação pode, no futuro, se

igualar ou ser invertida, devido as mudanças nos hábitos e comportamentos

femininos (1,2,22,43).

No bloco sobre “doenças referidas” estão as principais doenças e agravos

que acometem os idosos. Dentre eles, a doença cardíaca mostrou-se a mais

importante, aumentando o risco de óbito em 2,7 vezes. As doenças do aparelho

circulatório correspondem à principal causa de óbito em idosos, segundo as

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Resultados

68

estatísticas nacionais (30). A cardiopatia coronariana é a principal causa de morte, em

vários países, entre as doenças cardiovasculares. A OMS traçou estratégias

preventivas e de estabilização das condições clínicas, com o intuito de evitar

agravos, incapacidades e morte derivadas dessas doenças (80).

O agrupamento “estado de saúde” contém os sintomas informados pelos

idosos e, apenas “tosse persistente, catarro ou chiado no peito” mostrou-se

estatisticamente significante na análise, aumentando o risco de óbito em 3,16 vezes

em relação aos que não apresentavam tais sintomas. Várias doenças relacionadas

ao aparelho respiratório apresentam os sinais e sintomas acima descritos. São elas

as responsáveis pela segunda maior causa de internações hospitalares e a terceira

causa de óbito no Brasil. O resultado encontrado reforça a necessidade de

acompanhamento dos idosos com quadros respiratórios crônicos, bem como a

importância do incremento de serviços de prevenção que atuem na vacinação contra

a gripe e a pneumonia desse grupo etário e de seus principais comunicantes, além

do monitoramento dos vírus circulantes, em especial os da gripe, para contribuir na

melhoria da composição da vacina oferecida à população (82).

No bloco “condição de saúde”, a variável “saúde referida como má” mostrou-

se 4,52 vezes mais significante que a variável “saúde referida como boa”. Essa é

uma informação teoricamente fácil de ser obtida, pois depende apenas da opinião do

idoso sobre sua própria saúde, mas nem sempre é utilizada na avaliação feita sobre

eles. Seu resultado, no entanto, mostrou-se muito importante, pois, quando

considerada má aumentou consideravelmente a possibilidade de o idoso morrer.

Pesquisas internacionais mostram que a auto-avaliação negativa da saúde é um

ótimo preditor de óbito, confirmando os resultados encontrados nesta pesquisa (36,46-

59).

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Resultados

69

É interessante notar que, certas variáveis, como fumar, beber e não realizar

atividade física, neste estudo, não apresentaram resultados estatisticamente

significantes para o risco de óbito. Estes comportamentos estão mais associados ao

risco de desenvolvimento das doenças, como por exemplo, as cardiovasculares, do

que diretamente com ao risco de morte (80).

As alterações cognitivas também não tiveram, neste estudo, resultado

significante. Porém, é importante lembrar que, nesta amostra, a maioria dos idosos

não apresentavam problemas cognitivos, o que talvez, possa ter influenciado esse

resultado.

No bloco temático “assistência à saúde”, nenhuma das variáveis analisadas

apresentou significância estatística. Assim, ter ou não sido atendido pelo sistema de

saúde nos últimos quatro meses, por exemplo, parece não ter influenciado na

ocorrência do evento fatal. Isso poderia, de alguma forma, estar relacionado à

qualidade de assistência prestada ao idoso, mas tal análise, merece um estudo

apropriado.

No bloco temático “atividades de vida diária”, é interessante observar que, em

primeiro lugar, as atividades que apresentaram significância estatística foram as

básicas, ou seja, as relacionadas ao desempenho de atividades de auto-cuidado e,

portanto, relacionadas aos idosos que apresentavam maior grau de dependência.

Dentre essas, as dificuldades para ir ao banheiro, para se alimentar e para

atravessar um quarto caminhando, nessa ordem, aumentaram em 5,37; 3,33 e 2,80

vezes, respectivamente, a possibilidade do idoso morrer.

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Resultados

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A presença de dificuldade para ir ao banheiro, muitas vezes negligenciada

nas avaliações dos idosos, mostrou-se uma informação muito importante, pois, foi a

que maior razão de risco apresentou em relação à ocorrência de um evento fatal.

Em estudo desenvolvido por Duarte e Lebrão (73), verificou-se que os idosos

com dificuldades para o desempenho das atividades básicas de vida diária, na

maioria das vezes, não têm as suas demandas adequadamente atendidas por seus

co-residentes, já que a ajuda fornecida gira em torno de apenas 50% das suas

necessidades. Essa informação, associada aos resultados encontrados, reforça a

importância de uma revisão das políticas voltadas aos idosos com dependência, pois

se incorre no risco de negligência assistencial.

Um resultado que chamou a atenção foi que os idosos acamados, ou seja, os

que apresentavam “dificuldade para deitar ou levantar de uma cama” tiveram 0,24

vezes mais chance de óbito do que os idosos que não apresentavam tal dificuldade,

uma correlação negativa. Pode-se inferir que, quanto maior a dependência, maior

deve ser a atenção prestada (pois é mais exigida) e, de alguma forma, isso parece

agir como fator de proteção contra a ocorrência de eventos fatais.

Até o presente momento, foi feita uma análise univariada das variáveis

independentes, de forma a verificar quais eram estatisticamente significantes nesse

estudo. A partir desses resultados, foi realizada uma análise múltipla, visando

verificar a significância do modelo geral, de cada uma das variáveis e do incremento

de cada uma delas. Essa análise foi feita a partir do modelo mais simples (somente

com uma variável), acrescentando-se as outras estatisticamente significantes na

análise univariada, uma a uma. O resultado final, apresentado na Tabela 6, busca

determinar quais, nesse estudo, foram as variáveis independentes que contribuíram

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Resultados

71

para explicar a ocorrência dos eventos fatais entre os idosos do Estudo SABE,

constituindo, assim, os principais fatores de risco de óbito encontrados.

Tabela 6: Fatores de risco de óbito entre idosos do Estudo SABE. São Paulo, 2000.

VARIÁVEL (TODAS*)

REFERÊNCIA

CONTRASTE

ODDS RATIO

p

IC 95%

Dificuldade para atravessar um

quarto caminhando

Não Sim 3.15 0.001 1.58

IDADE 60 a 74 anos 75 e mais anos 2.93 0.006 1.36

SEXO Feminino Masculino 2.90 0.007 1.33

SAÚDE** Boa Má 2.69 0.025 1.13

Dificuldade para ir ao banheiro

Não Sim 2.51 0.019 1.16

*Informações pessoais, morbidade informada, assistência, estado de saúde, condições de saúde e atividades de vida diária **Como está sua saúde?

Observa-se que, de todas as variáveis estudadas, apenas cinco constituíram

o modelo final. Assim, os idosos que apresentavam dificuldade para atravessar um

quarto caminhando, estavam em velhice avançada, eram do sexo masculino,

reconheciam sua saúde como má e tinham dificuldade para ir ao banheiro foram os

que apresentaram maior significância estatística para óbito, variando,

respectivamente, entre 3,15; 2,93; 2,9; 2,69, 2,51 o número de razão de risco para

óbito. Tal modelo, posteriormente, poderá auxiliar na construção de um instrumento

de screening de risco para óbito, contribuindo para a prevenção de eventos fatais.

Esse deve, no entanto, ser objeto de outro estudo.

Nesse momento, pode-se dizer apenas que os idosos que se enquadram

nessas características devem merecer atenção diferenciada dos órgãos

responsáveis pela organização de serviços destinados a essa população, dos

serviços que os acompanham e de seus familiares, pois apresentam maior risco de

óbito do que os idosos que não apresentam tais características.

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Conclusões

72

5. Conclusões

O presente estudo permitiu caracterizar os óbitos dos idosos que faleceram

entre a primeira e a segunda fase de coleta de dados do Estudo SABE (Saúde,

Bem-Estar e Envelhecimento na América Latina e Caribe).

Dos 38 óbitos ocorridos, a maioria foi do sexo masculino (55,3%) e em velhice

avançada, ou seja, com idade igual ou superior a 80 anos (55,3%). 81,6% desses

idosos viviam com co-residentes e não necessitaram de ajuda para responder à

primeira fase de coleta de dados do referido estudo, estando, assim, cognitivamente

bem.

As principais causas de óbito observadas, segundo a CID-10, foram as

doenças do aparelho circulatório (47,4%), as neoplasias (15,8%), as doenças do

aparelho respiratório (13,1%), as doenças do aparelho digestivo (7,9%), as doenças

endócrinas, nutricionais ou metabólicas (7,9%) e outras causas (7,9%).

Quanto à Declaração de Óbito, verificou-se que, em 47,4% dos óbitos houve

coincidência entre a causa básica declarada e as informações de doenças prévias,

obtidas na primeira fase de coleta de dados do presente estudo. Em 39,5% dessas,

no entanto, houve discordância entre as informações, ocasionadas possivelmente

por desconhecimento de doenças prévias por parte do idoso, ocorrência de eventos

súbitos ou má qualidade da informação obtida nas Declarações de Óbito.

Quanto aos fatores de risco para a ocorrência de óbitos, verificou-se, num

primeiro momento, pela análise de regressão univariada, que idade avançada (75

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Conclusões

73

anos e mais), sexo masculino, presença de doença cardíaca, auto-referência de

saúde como “má” e dificuldade para o desempenho de algumas atividades básicas

de vida diária (ir ao banheiro, atravessar um quarto caminhando, comer, deitar e

levantar da cama) mostraram-se as variáveis independentes com significância

estatística para a ocorrência de óbitos.

Na construção do modelo de regressão para risco de óbito entre os idosos por

meio da análise múltipla, que visava à significância do modelo geral, de cada uma

das variáveis e do incremento de cada uma delas, construído pela técnica stepwise

backward selection procedure, verificou-se que os principais fatores de risco de óbito

observados neste estudo foram, em ordem decrescente: dificuldade de locomoção,

idade avançada, sexo masculino, auto-referência de saúde como “má” e dificuldade

para ir ao banheiro.

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Considerações finais

74

6. Considerações finais

O presente estudo encontrou resultados coincidentes com a literatura, tanto

em relação aos óbitos, quanto sobre os fatores de risco para óbito, apesar da

amostra ser reduzida. O tempo utilizado para a coleta de dados, seis meses, foi o

principal fator limitador dessa amostra, já que ela deriva de um estudo onde a

amostra total corresponde a 2.143 idosos e é considerada representativa da

população do Município de São Paulo. Estudos sobre fatores de risco para óbito,

geralmente são longitudinais, pois consideram importantes o tempo de

acompanhamento dos idosos, cerca de 3 a 5 anos aproximadamente, para se obter

uma amostrar significativa.

Assim, percebeu-se que a análise dos fatores de risco para óbito deve ser

realizada em outros estudos nacionais, para que se tenha mais informações que

ajudem os serviços e os profissionais de saúde a diminuirem a mortalidade

prematura dos idosos. Não se pretende, com isso, que a vida seja prorrogada a

qualquer custo. Ao contrário, a idéia é evitar mortes associadas ao não-atendimento,

à falta de estrutura e recursos em uma sociedade que está envelhecendo

rapidamente, onde, muitas vezes, o idoso não tem suas necessidades atendidas

adequadamente, o que aumenta a possibilidade de agravos à saúde, incapacidades,

comprometimento da qualidade de vida e morte.

O envelhecimento populacional deve ser compreendido como uma vitória do

mundo atual, e medidas de promoção de saúde são essenciais para se garantir a

dignidade e o respeito ao idosos.

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Anexos

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ANEXOS

A - Carta de Aprovação da Pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa da

Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.

B - Questionário SABE.