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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO KARINA SILVA CALDEIRA FATORES DETERMINANTES DA ESTRUTURA DE CAPITAL DE EMPRESAS DE MÉDIO PORTE DA REGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR Salvador 2008

FATORES DETERMINANTES DA ESTRUTURA DE CAPITAL DE … · karina silva caldeira fatores determinantes da estrutura de capital de empresas de mÉdio porte da regiÃo metropolitana de

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

KARINA SILVA CALDEIRA FATORES DETERMINANTES DA ESTRUTURA DE CAPITAL

DE EMPRESAS DE MÉDIO PORTE DA REGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR

Salvador 2008

KARINA SILVA CALDEIRA FATORES DETERMINANTES DA ESTRUTURA DE CAPITAL

DE EMPRESAS DE MÉDIO PORTE DA REGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Administração como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Administração. Orientador: Prof. Dr. Luiz Ricardo Mattos Teixeira Cavalcante

Salvador 2008

Escola de Administração - UFBA

C146 Caldeira, Karina Silva

Fatores determinantes da estrutura de capital de empresas de médio porte da Região Metropolitana de Salvador / Karina Silva Caldeira. – 2008.

96 f. Orientador: Prof. Dr. Luiz Ricardo Mattos Teixeira Cavalcante Dissertação (mestrado profissional) – Universidade Federal da Bahia. Escola de

Administração, 2008. 1. Pequenas e médias empresas – Salvador (BA) - Administração.

2. Administração financeira. 3. Capital (Economia). I. Universidade Federal da Bahia. Escola de Administração. II. Cavalcante, Luiz Ricardo Mattos Teixeira. III. Título.

CDD 658.022

KARINA SILVA CALDEIRA

FATORES DETERMINANTES DA ESTRUTURA DE CAPITAL DE EMPRESAS DE MÉDIO PORTE DA REGIÃO

METROPOLITANA DE SALVADOR

Dissertação aprovada para obtenção do grau de Mestrado Profissional em

Administração da Universidade Federal da Bahia

Salvador, ____ de_________________ de 2008.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________ Prof. Dr. Luiz Ricardo Mattos Teixeira Cavalcante

Universidade de Brasília - UNB (Orientador)

____________________________________ Prof. Dr. José Célio S. Andrade

Universidade Federal da Bahia - UFBA (Examinador)

___________________________________ Prof. Dr. Adriano Leal Bruni

Universidade de São Paulo – USP Universidade Salvador – UNIFACS

(Examinador)

Aos grandes amores da minha vida: Esmeraldo, Enalde, Isabela, Abdon e Eduardo, pelo apoio na realização desse projeto de vida. Faltam-me palavras para expressar a gratidão merecida.

AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, Prof. Dr. Luiz Ricardo Mattos Teixeira Cavalcante, pela orientação e paciência na condução da pesquisa, e pelo exemplo como educador. Aos Professores Dr. José Célio Silveira Andrade e Dr. Sandro Cabral, pela eficiência na condução do curso. Aos amigos Adriano, José Mário e Utilan, pela amizade e apoio nos momentos mais difíceis. Ao Prof. e amigo José Antônio Gomes de Pinho, pelo incentivo durante essa longa caminhada. Ao amigo José Carlos Sales que muito me ajudou na realização da pesquisa. A André e Artur pelo constante apoio durante o curso.

“Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino” Paulo Freire.

RESUMO As teorias sobre estrutura de capital sugerem diversas variáveis como determinantes das decisões de financiamento das empresas. Este estudo preocupou-se em analisar alguns fatores que supostamente determinariam o nível de endividamento de empresas de médio porte da Região Metropolitana de Salvador (RMS). Verificou-se, inicialmente, que a maior parte dos trabalhos empíricos sobre as empresas que atuam nos países em desenvolvimento aponta as mesmas variáveis e os mesmos métodos econométricos utilizados nas pesquisas sobre a estrutura de capital das empresas dos países desenvolvidos. Para verificar a existência de relação entre o endividamento e as variáveis composições dos ativos, índice de liquidez corrente, porte, crescimento e rentabilidade foram aplicadas regressões múltiplas em dados cross-section e dados em painel provindos das demonstrações financeiras de empresas de médio porte da RMS durante o período entre 2004 e 2005. Os resultados apontam as variáveis índices de liquidez corrente, composição dos ativos e porte como determinantes da estrutura de capital das firmas analisadas. Conclui-se, com base nesses resultados, que as características dessas empresas e os aspectos institucionais que permeiam a realidade brasileira exercem influência sobre o nível de endividamento das empresas analisadas.

Palavras-chave: Estrutura de Capital. Empresas de médio porte. Análise de dados cross-section. Análise de dados em painel.

ABSTRACT

Theories about capital structure suggest diverse variables as determinants for decisions of financing companies. This study focused on analyzing some factors that would supposedly determine the level of debt of mid size companies in the Metropolitan Region of Salvador (MRS). It was initially verified that the majority of research on companies in developing countries indicates the same variables and the same econometric methods utilized in research on capital structure of companies in developed countries. To verify the existence of a relation between indebtedness and the variable composition of assets, index of current liquidity, size, growth and profit, multiple regressions were applied on cross section data and panel data provided by the balance sheets of middle size companies of the MRS during the period of 2004 and 2005. The results indicate the index of current liquidity, composition of assets and size as determinants of capital structure of the firms analyzed. Based on these results, it was concluded that the characteristics of theses companies and the institutional aspects that permeate the Brazilian reality exert influence on the level of indebtedness of the companies analyzed.

Key words: Capital structure. Mid size companies. Analysis of cross-section data. Analysis of panel data.

LISTA DAS FIGURAS

Figura 1 – Modelo de Pizza 15

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Estatística descritiva das variáveis..........................................................................79

Tabela 2 – Correlação entre variáveis ......................................................................................81

Tabela 3 – Resultados do modelo de regressão 1.....................................................................82

Tabela 4 – Resultados do modelo de regressão 2.....................................................................84

Tabela 5 – Resultado do modelo de regressão 3 ......................................................................85

Tabela 6 – Resultado do modelo de regressão 4 ......................................................................87

Tabela 7 – Resultado do modelo de regressão 5 ......................................................................87

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Custo Total x Dívida/Capital.................................................................................................................25 Gráfico 2: Modelo da Pizza………………………………………………………………………………….…...28 Gráfico 3: Custo de capital próprio e Custo de capital...........................................................................................30 Gráfico 4: Diferenças entre Modigliani e Miller (1958) e Modigliani e Miller (1963)......................................... 33 Gráfico 5: Estrutura ótima de capital e valor máximo da empresa.........................................................................42

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Variável e resultados dos trabalhos empíricos sobre estrutura de capital 58

Quadro 2 - Resumo das variáveis a serem estudadas 68

Quadro 3 - Frequência do setor de atividade 78

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................ 15

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA................................................................................................................... 20

2.1 ESTRUTURA DE CAPITAL: CONCEITOS E DEFINIÇÕES .................................................................................. 21

2.2 TEORIAS SOBRE ESTRUTURA DE CAPITAL..................................................................................................... 23

2.2.1 A visão intuitiva 23

2.2.2 Os trabalhos de Modigliani e Miller 26

2.2.2.1 Proposição I de Modigliani e Miller (MM I) sem impostos-1958...........................................................27 2.2.2.2 Proposição II de Modigliani e Miller (MM I) sem impostos-1958..........................................................28 2.2.2.3 Proposição I de Modigliani e Miller (MM I) - com imposto corporativo – 1963....................................31 2.2.2.4 Proposição II de Modigliani e Miller (MM II) com imposto corporativo -1963....................................32

2.2.3 Os Custos de Falência 34

2.2.4 Teoria de Agency 36

2.2.5 Teoria Estática da Estrutura de Capital 39

2.2.6 Teoria Pecking Order 41

2.3 TRABALHOS EMPÍRICOS SOBRE ESTRUTURA DE CAPITAL ......................................................... 43

2.4 FATORES DETERMINANTES DA ESTRUTURA DE CAPITAL DAS EMPRESAS ............................ 52

2.4.1 Crescimento 53

2.4.2 Composição dos Ativos 54

2.4.3 Rentabilidade 55

2.4.4 Liquidez Corrente 56

2.4.5 Porte 57

2.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS TRABALHOS EMPÍRICOS ................................................................. 58

3 METODOLOGIA ............................................................................................................................................ 63

3.1 DESENHO DA PESQUISA ....................................................................................................................... 63

3.2 ESCOLHA DA METODOLOGIA ............................................................................................................. 64

3.3 AMOSTRAGEM........................................................................................................................................ 65

3.4 VARIAÁVEIS............................................................................................................................................ 66

3.5 TRATAMENTO DE DADOS.............................................................................................................................. 69

3.6 REGRESSÕES MULTIVARIADAS.................................................................................................................... 69

3.7 ANÁLISE DE CORRELAÇÃO ENTRE AS VARIÁVEIS ......................................................................................... 73

3.8 HIPÓTESE ..................................................................................................................................................... 75

3.9 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO........................................................................................................... 76

3.8 LIMITAÇÕES METODOLÓGICAS .................................................................................................................... 77

4 RESULTADOS................................................................................................................................................. 78

4.1 ANÁLISE DESCRITIVA DOS DADOS ................................................................................................................ 78

4.2 ANÁLISE DE MULTICOLINEARIDADE ............................................................................................................ 81

4.3 REGRESSÕES ................................................................................................................................................ 81

4.4 AVALIAÇÃO DAS HIPÓTESES ........................................................................................................................ 88

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................................................... 92

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................................. 95

1 INTRODUÇÃO

A estrutura de capital representa a forma de financiamento das empresas. As decisões

sobre a estrutura de capital das firmas tornam-se um assunto de debate tanto no meio

acadêmico, como no mundo corporativo. Os gestores financeiros, ao se depararem com

oportunidades de investimento que possam maximizar o valor da sua empresa precisam

escolher entre a utilização de capital próprio e capital de terceiros. A dívida, ao mesmo tempo

que permite alavancagem dos negócios, pode se tornar asfixiante a ponto de comprometer a

sobrevivência das empresas.

O tema estrutura de capital ainda é bastante controverso no meio acadêmico. Embora

o assunto seja debatido há mais de 50 anos entre os teóricos de finanças, os trabalhos

empíricos não apresentaram respostas conclusivas sobre o tema. Segundo Famá e Kayo

(1997), independentemente do enfoque do estudo sobre estrutura de capital, nenhuma das

abordagens chega a ser conclusiva. Entretanto, diversas pesquisas sobre o tema apontam a

trajetória a seguir e proporcionam idéias importantes sobre os determinantes da estrutura de

capital das empresas.

As controvérsias sobre o tema emergiram desde os trabalhos de Modigliani e Miller

(1958), os quais levantaram indagações sobre a relevância ou não da estrutura de capital na

definição do valor das empresas. Os estudiosos, ao concluírem, inicialmente, pela irrelevância

da estrutura de capital, contrapunham-se aos argumentos dos tradicionalistas que

preconizavam existir uma estrutura ótima que deveria ser almejadas pelas firmas. Desde

então, aos trabalhos desenvolvidos foram incorporados novas abordagens não consideradas

pelos trabalhos de Modigliani e Miller (1958) e novas idéias de que o valor da empresa seria

maximizado com o estabelecimento de uma estrutura de capital ótima.

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A estrutura de capital é um dos temas de finanças mais abordados no meio

acadêmico. Entretanto, a maior parte dos estudos foi realizada nos países desenvolvidos,

como os EUA, e os publicados no Brasil levam em consideração as grandes empresas,

principalmente as de capital aberto. No entanto, esta pesquisa tem como foco as empresas de

médio porte da Região Metropolitana de Salvador (RMS). Tal escolha deve-se ao fato de

haver poucos trabalhos sobre a estrutura de capital dessas firmas e por estas estarem sujeitas a

uma dinâmica diferente daquela a que pertencem as empresas de capital aberto e que atuam

em mercados mais dinâmicos do que o de Salvador.

Segundo dados do SEBRAE (2005), existiam, em 2002, cerca de 23.652 empresas de

médio porte no Brasil. Dessas empresas 6.548 eram indústrias, 1.694 do setor de construção,

4.862 do setor de comércio e 10.548 do setor e de serviços. Constata-se que 65% das firmas

pertencem aos setores comercial e serviços. O segmento respondia por 2.700.103 empregos

em 2002 e participação de 9,8% no total de ocupação.

Ainda segundo a mesma pesquisa, na região nordeste, em 2002, existiam 3.413

médias empresas. Dentre elas, 610 do setor industrial, 375 do setor de construção, 779 do

setor comercial e 1.649 do setor de serviços. O segmento respondia por 362.413 empregos em

2002 e 9,7% no total de ocupação.

Enquanto no nordeste as empresas de médio porte perfaziam, em 2002, um total de

3.413, no sudeste, elas totalizam 13.542 empresas. Constata-se tendo em vista concentração

regional e empresarial, que as regiões centrais possuem um ambiente mais favorável ao

empreendedorismo do que as regiões menos centrais, como o nordeste. A Região

Metropolitana de Salvador possui um percentual extremamente elevado dos investimentos da

indústria baiana, em virtude da representatividade do setor petroquímico e do centro

automotivo da Ford. Entretanto, ao se considerar a realidade dos demais setores, percebe-se

um espaço de limitado dinamismo. As médias empresas que atuam nos setores comercial e de

serviços enfrentam diversos problemas que emperram a sua expansão, como a dificuldade de

acesso as linhas de crédito de longo prazo e a falta de garantias que possam ser concedidas

durante a concessão de empréstimos. Naturalmente, o acesso limitado as fontes de

financiamento pode ter repercussão nas decisões de estrutura de capital.

Diante desse quadro de controvérsias sobre a estrutura de capital das empresas e

sobre os seus fatores determinantes e das especificidades das empresas de médio porte em

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regiões menos centrais, surge uma pergunta que norteia a presente pesquisa: quais os fatores

determinantes da estrutura de capital de empresas de médio porte da Região

Metropolitana de Salvador?

Para responder a essa pergunta, será estudada a estrutura de capital desse tipo

peculiar de empresa, observando as suas deficiências e buscando identificar os fatores que as

levam a escolher as suas fontes de financiamento.

Alguns autores têm se dedicado a analisar se os trabalhos formulados sobre estrutura

de capital se aplicam às empresas de um país em desenvolvimento, uma vez que, em sua

maioria, tais estudos analisaram empresas em países desenvolvidos. Ou seja, procura-se

entender se o arcabouço teórico e metodológico utilizados para estudar empresas de países

desenvolvidos podem ser aplicados aos dados das firmas que atuam nos países em

desenvolvimento. Os autores Nakamura (1992), Famá e Kayo (1997), Booth, et al. (2001),

Gomes e Leal (2001), Moreira e Puga (2001), Famá e Perobelli (2001) e Machado, Temoche

e Machado (2004) explicam a estrutura de capital das empresas de países em desenvolvimento

utilizando a revisão teórica, a metodologia e as variáveis similares às utilizadas nos trabalhos

sobre a estrutura de capital das empresas dos países desenvolvidos. Entretanto, autores como

Singh e Hamid (1992) apresentam resultados divergentes dos trabalhos acima, pois afirmam

que mesmo que se aplique o arcabouço teórico e a metodologia convergente aos aplicados em

trabalhos anteriores, as variáveis apontadas como determinantes das estruturas de capital das

empresas pertencentes aos países em desenvolvimento e as dos países desenvolvidos são

diferentes em função dos aspectos institucionais que diferenciam esses países.

Um ambiente macroeconômico dominado por altas taxas de juros e as características

peculiares do sistema de crédito nacional são fatores que diferenciam a realidade das

empresas brasileiras. As altas taxas de juros e as dificuldades de acesso às linhas de crédito de

longo prazo são fatores que dificultam o crescimento das empresas nacionais. Percebe-se que

o acesso a essas fontes de financiamento gera condições privilegiadas de captação, em função

do custo do capital ser menor e, por isso, produz impacto nas decisões de financiamento das

empresas. “Não se pode perder de vista, ainda, que a concessão de crédito no Brasil

permanece associada a riscos elevados devido a um conjunto de aspectos jurídicos e

institucionais que revelam maior tolerância à inadimplência”. (CAVALCANTE, 2002, p.

208).

18

Percebe-se que as instituições financeiras adotam estratégias que dificultam a

disponibilidade de crédito para as micros, pequenas e médias empresas, tornando-se meros

repassadores de capital às empresas de melhor situação econômica e que conseqüentemente,

oferecer melhores garantias durante o processo de concessão de crédito.

Batistella, Brito e Corrar (2004, p. 6) confirmam que as características peculiares do

mercado brasileiro impactam, diretamente, nas decisões de financiamento das empresas. Os

autores citam como imperfeições de mercado: “[...] mercado de capitais restritos, elevada

concentração do controle acionário das empresas e a forte restrição de fontes de capital de

terceiros de longo prazo”. Uma outra ineficiência do mercado brasileiro, apontada pelos

autores, são as elevadas taxas de juros que “[...] tornam os custos de financiamento bastante

significativos, fazendo com que as empresas no Brasil apresentem baixos níveis de

endividamento”.

A dificuldade de acesso às linhas de crédito de longo prazo é um dos obstáculos

vivenciados pelas empresas brasileiras. Entretanto, em função de suas características

peculiares, as empresas de médio porte enfrentam mais empecilhos ao acesso a essas fontes de

financiamento do que as de grande porte.

A estratégia metodológica adotada nessa pesquisa é do tipo descritivo-analítica e

quantitativa. Inicialmente, as teorias sobre estrutura de capital e os dados coletados serão

descritos. Após a revisão da literatura, os dados serão testados através de um método

quantitativo e os resultados analisados e apresentados, com intuito de apontar a relação entre o

nível de endividamento e as variáveis apontadas como supostas determinantes da estrutura de

capital das empresas estudadas.

A análise do presente estudo está baseada fundamentalmente em dados secundários

extraídos das demonstrações financeiras de 57 empresas de médio porte da Região

Metropolitana de Salvador (RMS) provindos do banco de dados de uma instituição financeira.

Convém destacar que a literatura sobre estrutura de capital indica, ainda, outros

possíveis determinantes do endividamento das empresas, tais como tributação, custo de

capital e estrutura de propriedade. Tais aspectos não foram abordados nesta pesquisa, uma vez

que a análise dessas variáveis demandaria informações que dificilmente poderiam ser

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adquiridas de dados das demonstrações financeiras referente a 2004 e 2005 das empresas da

amostra, composta exclusivamente por empresas de médio porte e de capital fechado.

Desse modo, o objetivo deste estudo é detectar os fatores determinantes da estrutura

de capital de empresas de médio porte da RMS. Para alcançar esse objetivo, a pesquisa está

estruturada em cinco seções.

Na segunda seção é abordada a revisão da literatura que procura resgatar os

principais conceitos e definições sobre estrutura de capital; na mesma seção são apresentadas

as teorias e os principais trabalhos empíricos sobre o tema e, para finalizar, com base na

revisão teórica e na discussão dos trabalhos empíricos, é apontado um conjunto de variáveis

que afetam a estrutura de capital das empresas.

A terceira seção procura apresentar a metodologia de pesquisa aplicada ao estudo.

Nessa seção descrevem-se a coleta e o tratamento dos dados utilizados, as limitações da

pesquisa e o método econométrico empregado para analisar os dados de 57 empresas de

médio porte da RMS. A revisão teórica em conjunto com os trabalhos empíricos permite

formular as hipóteses e delimitar o tratamento dos dados, os quais serão testados através dos

métodos quantitativos possibilitando alcançar os resultados.

Na quarta seção, são apresentados os resultados da análise de dados relativos aos

fatores determinantes da estrutura de capital de empresas de médio porte da Região

Metropolitana de Salvador.

Finalmente, são apresentadas, na quinta seção, as considerações finais e

possibilidade para trabalhos futuros.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A análise da estrutura de capital das empresas requer resgate da produção teórica e

dos trabalhos empíricos. Dessa forma, esta seção tem como finalidade subsidiar a formulação

das hipóteses e dos resultados. Com o objetivo de facilitar o entendimento e estabelecer uma

seqüência lógica ao conteúdo, o marco teórico desta pesquisa foi dividido em seções

secundárias e seções terciárias.

A revisão da literatura apresenta inicialmente, nas seções secundárias, em item 2.1,

os principais conceitos e definições sobre estrutura de capital. Em seguida, na seção 2.2,

expõem-se as teorias fundamentais sobre o tema, bem como suas divergências. Em 2.3,

abordam-se os principais trabalhos empíricos que tratam da estrutura de capital das empresas

brasileiras e de demais países. Finalmente, a seção 2.4 foi elaborada com intuito de apresentar

os principais fatores determinantes das firmas apontados nos resultados dos trabalhos

empíricos tratados na seção anterior.

2.1 ESTRUTURA DE CAPITAL: CONCEITOS E DEFINIÇÕES

Segundo Ross, Westerfield e Jordan (2000), à administração financeira é comum

atribuirem-se três grandes áreas de decisão: a primeira está relacionada aos investimentos a

longo prazo que a empresa precisa realizar; a segunda estabelece as decisões sobre quais as

fontes de capital às quais a empresa deve recorrer para sustentar os seus investimentos a longo

prazo; e a terceira área refere-se à administração do capital de giro, isto é, à administração dos

ativos de curto prazo da empresa.

A segunda área citada acima diz respeito às decisões de financiamento que são

fundamentadas por um arcabouço teórico denominado “teoria de estrutura de capital”, objeto

21

principal da presente pesquisa. Ross, Westerfield e Jordan (2000) definem estrutura de capital

ou estrutura financeira como a combinação entre capital de terceiros a longo prazo e capital

próprio utilizado para financiar as operações da empresa. Já segundo Rodrigues Júnior e Melo

(1999), a estrutura de capital das empresas pode ser definida como o conjunto dos títulos

utilizados para financiar as atividades empresariais, ou como a relação entre as dívidas de

curto, médio e longo prazo e o capital próprio.

As empresas podem financiar seus ativos com duas fontes de recursos: a primeira são

recursos provindos de bancos e instituições financeiras, os quais são classificados como

dívida; a segunda são os recursos do proprietário ou proprietários dos negócios, denominados

patrimônio líquido. (DAMODARAN, 2004).

O balanço financeiro é definido por Ross, Westerfield e Jordan (2000) como uma

maneira de organizar e resumir o que a empresa possui (seus ativos) e o que a empresa deve

(seus passivos) e a diferença entre os dois (patrimônio líquido), num dado momento. Segundo

esses autores, os ativos são classificados como circulantes ou permanentes. A distinção entre

os dois está no tempo de realização; os circulantes são realizados em um período menor que

um ano e os permanentes em um período maior que um ano. Os passivos são classificados em

passivo circulante e exigível a longo prazo. Assim como os ativos, o passivo circulante são as

dívidas que vencem em um prazo menor do que um ano e o exigível a longo prazo as que

vencem em um prazo maior do que um ano. Ainda segundo a definição de Ross, Westerfield e

Jordan (2000), o patrimônio líquido é a diferença entre o valor total dos ativos (circulante e

permanente) e o valor total do exigível (circulante e a longo prazo). O patrimônio líquido é,

também, designado de capital próprio ou capital dos acionistas. Os autores ressaltam que se a

empresa utilizasse todos os seus ativos para liquidar suas dívidas, o valor residual pertenceria

aos acionistas. Isso significa que o valor dos ativos da empresa sempre será igual à soma dos

exigíveis com o patrimônio líquido.

Damodaran (2004) estabelece que a distinção entre dívida e patrimônio líquido está

na divergência de natureza dos direitos sobre os fluxos de caixa das instituições. Enquanto a

dívida é conceituada como qualquer instrumento de financiamento que possui um direito

contratual sobre o fluxo de caixa, o patrimônio líquido é definido como um instrumento de

financiamento que possui um direito residual sobre a empresa. O autor aponta outras

distinções, tão fundamentais como a apresentada acima, entre dívida e patrimônio líquido. A

primeira está relacionada às vantagens fiscais providas da utilização das dívidas e que não são

22

geradas pelos dividendos ou outros fluxos de caixa resultantes do patrimônio líquido. Ou seja,

as empresas deduzem as despesas com juros dos impostos, enquanto que o pagamento para os

acionistas, como os dividendos, deve ser feito a partir dos fluxos de caixa pós-impostos. Uma

outra diferença apresentada estabelece que dívida tem uma data de vencimento fixa, e as

ações, geralmente, têm uma vida infinita. A última distinção apontada no seu trabalho

determina que, enquanto os acionistas detêm o controle administrativo da empresa, o credor

tem um papel apenas passivo na administração.

Segundo Damodaran (2004), existem diversas formas de a empresa levantar capital

com patrimônio líquido e com dívida. Com o patrimônio líquido, as instituições podem captar

recursos com os proprietários ou com os capitalistas de risco e, com a dívida, por meio de

empréstimos bancários. Além dessas duas modalidades, as empresas podem captar recursos

nos mercados financeiros emitindo ações ordinárias para o patrimônio líquido e títulos

corporativos para a dívida. O autor faz uma ressalva em relação às empresas de capital

fechado, que possuem menos opções de aumento de capital do que as empresas de capital

aberto, em virtude da impossibilidade de emitir ações públicas. Assim, essas instituições

dependem, exclusivamente, de seus proprietários ou de entidades privadas para captar

recursos financeiros. Uma outra fonte de capital utilizada tanto por empresas de capital

fechado como de capital aberto é o financiamento interno. Damodaran (2004) aborda a

diferença entre financiamento interno e financiamento externo. O primeiro pode ser definido

como os fluxos internos gerados pelos ativos de uma empresa. Os fluxos pertencentes aos

proprietários de ações da empresa são chamados de capital próprio. Já o financiamento

externo é definido como os fluxos de caixa levantados fora da empresa e pode tomar a forma

de dívida nova, patrimônio líquido novo ou híbrido.

Uma outra definição importante relacionado ao tema é sobre o custo de capital.

Segundo Brigham, Gapenski e Ehrhardt (2001, p. 391), “[...] o custo de capital usado em

orçamento de capital é uma média ponderada dos tipos de capital que a empresa usa,

tipicamente, dívidas, ações preferenciais e patrimônio líquido dos acionistas ordinários

(capital próprio).”

Segundo Ross, Westerfield e Jordan (2000, p. 309), o custo de capital é definido

como a “[...] taxa de retorno mínima exigida para um novo investimento [...]”. Os autores

explicam que para que um investimento em um projeto torne-se atrativo é necessário que o

seu retorno seja superior ao oferecido no mercado financeiro para investimento em projetos de

mesmo risco.

23

2.2 TEORIAS SOBRE ESTRUTURA DE CAPITAL

Desde as publicações de Modigliani e Miller (1958), que o tema estrutura de capital

vem sendo amplamente debatido no meio acadêmico. As discussões são relativas tanto à

existência ou não de uma estrutura de capital ótima, quanto aos fatores determinantes da

composição de financiamento das empresas. Depois de Modigliani e Miller (1958) terem

afirmado, em sua primeira proposição, que a estrutura de capital é irrelevante para a

determinação do valor da empresa, diversas teorias têm sido desenvolvidas acerca do tema,

mas pouco tem sido concluído.

O objetivo desta seção é apresentar a evolução histórica dos trabalhos sobre estrutura

de capital. Nesta parte da pesquisa, serão apresentadas as teorias que foram inicialmente

desenvolvidas pelos tradicionalistas, passando pelo trabalho de Modigliani e Miller (1958),

até chegar às pesquisas contemporâneas que vêm contribuindo, amplamente, para a

elaboração dos trabalhos empíricos, que serão apresentados na seção 2.3.

2.2.1 A visão intuitiva

O pioneiro a propagar a visão intuitiva foi Durand (1952). De acordo com o ponto de

vista dos defensores dessa visão, a maximização do valor das empresas é alcançada a partir de

uma combinação ótima entre capital de terceiros e capital próprio. Via de regra, em um

primeiro momento, o custo do capital de terceiros é menor do que o custo do capital próprio,

uma vez que “[...] o primeiro implica uma obrigação contratual de pagamentos por parte da

empresa, enquanto o último constitui um direito residual sobre o seu fluxo de caixa”. (FAMÁ;

BARROS; SILVEIRA, 2001, p. 72).

A visão intuitiva dos tradicionalistas afirma que o risco, mesmo que não exista um

instrumento analítico para medi-lo, só deveria ser assumido em grande escala perante um

maior nível de retorno. O mesmo vale para o capital acionário. Os investidores resistiam,

inicialmente, a investir em projetos arriscados, entretanto, ficavam seduzidos diante de

elevados níveis de retornos. (FAMÁ; GRAVA, 2000). Ross, Westerfield e Jordan (2000, p.

358), ao apresentarem a lista de prioridades na distribuição dos recursos provenientes da

24

liquidação da empresa, esclarecem o motivo que leva o custo do capital de terceiros ser menor

que o custo do capital próprio. Em caso de falência da empresa, os direitos das entidades

devem ser realizados na seguinte ordem:

a) Despesas administrativas associadas à falência.

b) Outras despesas que surgem após a entrada do pedido de falência involuntária, mas

antes da indicação do agente fiduciário.

c) Salários e comissões.

d) Contribuições ou planos de aposentadoria de funcionário.

e) Dívidas com consumidores.

f) Dívidas com a Receita Federal.

g) Pagamento a credores sem garantias reais.

h) Pagamento a acionistas preferenciais.

i) Pagamento a acionistas ordinários.

Dessa forma, percebe-se que, em situação de liquidação da empresa, os credores

devem receber os recursos antes dos acionistas. Em virtude dessa regra, o custo do capital

próprio é maior do que o custo do capital de terceiros. A proposição II de Modigliani e Miller

(1958), abordada na subseção seguinte, a qual apresenta de forma detalhada a composição do

custo do capital próprio, justifica o seu valor ser mais elevado do que o custo do capital de

terceiros. Vale ressaltar que a lista apresentada acima é seguida a risca em alguns países cujos

direitos dos credores são respeitados, diferentemente do Brasil, em que primeiro ocorre, em

algumas situações, o pagamento dos acionistas e, depois, dos credores. Essa inversão de

privilégios ocorre “[...] devido a um conjunto de aspectos jurídicos e institucionais que

revelam maior tolerância à inadimplência”. (CAVALCANTE, 2002, p. 208).

Analisando por essa ótica, as instituições deveriam ser totalmente endividadas.

Entretanto, os tradicionalistas perceberam que o aumento de recursos de terceiros na estrutura

de capital das empresas nem sempre trará uma redução do custo médio ponderado de capital.

O aumento do endividamento da empresa pode elevar o seu risco de inadimplência com os

credores. Estes, por sua vez, visando se proteger de futuros prejuízos, aumentam as taxas de

juros de novos empréstimos. Nessa situação de insolvência, o risco associado à possibilidade

de falência contribui para a elevação do custo do capital próprio. Assim, os tradicionalistas

defendem o endividamento das empresas até o ponto que não comprometa a sua capacidade

de honrar os compromissos. (FAMÁ; BARROS; SILVEIRA, 2001).

25

Confirmando o que foi apresentado anteriormente, Famá e Grava (2000) evidenciam

que, para os tradicionalistas, as empresas em situação financeira fragilizada, ao buscar

empréstimos junto a entidades fornecedoras de crédito, pagam taxas de juros mais altas, em

função da sua propensão a se tornar inadimplente. Dessa forma, o aumento do risco resulta em

aumento do custo do capital e afeta, portanto, o valor da empresa. Vale ressaltar que a teoria

dos tradicionalistas de que o aumento do risco gera o aumento do custo de capital pode,

também, ser aplicado ao capital das empresas de capital aberto. Assim, segundo Famá e Grava

(2000), os investidores resistem em aplicar em projetos percebidos como arriscados e passam

a exigir retornos maiores.

Um outro aspecto que eleva o custo do capital total é a existência de assimetria de

informações, ou seja, quando os administradores possuem mais informações sobre a empresa

do que os acionistas e credores. Em contraposição à teoria de Modigliani e Miller (1958), a

teoria tradicionalista reconhece a existência de imperfeições de mercado, ao aceitar que

existem informações assimétricas entre os stakeholders da empresa (credores, acionistas etc.).

O Gráfico 1, a seguir, adaptado de Famá e Grava (2000, p. 28), ilustra a visão intuitiva

dos tradicionalistas: .

Gráfico 1: Custo Total x Dívida/Capital Fonte: Adaptado de Famá e Gravá (2000) Nota: cK = Custo do capital dos acionistas

dK = Custo da dívida K = Custo Total.

Inicialmente, o custo do capital total é reduzido em função da substituição do capital

próprio pelo capital de terceiros. Entretanto, a partir de um certo ponto, tanto o custo do

Dívida/Capital (%)

cK

K

dK

dK

Custo Total

26

capital de terceiros como o custo do capital próprio aumentam com a elevação do risco de

inadimplência ou, até mesmo, de falência. Essa acentuada alteração no custo de ambas as

fonte de financiamento aumenta, portanto, o custo do capital total. Segundo Famá e Grava

(2000), quando ocorre a alteração nos custos, ou seja, o custo total se torna mínimo, é

estabelecida uma proporção ótima entre dívida e recursos dos acionistas. Tal proporção

deveria, portanto, ser a estrutura de capital ótima almejada por todas as empresas.

Os estudiosos afirmam que não se pode negar que existe um senso comum nessa

maneira de raciocinar. Pode-se concluir, tendo-se como parâmetro o Gráfico 1, que os riscos

maiores provocam custo de capital total maior, ao mesmo tempo em que a substituição de

recursos mais caros por um mais baratos resulta em uma diminuição nesse mesmo custo.

Modigliani e Miller (1958) foram os primeiros defender que, em determinadas

condições, entre elas, a ausência de imposto, a estrutura de capital não influência no valor da

empresa. Devido à importância dos estudos de Modigliani e Miller (1958), para os debates

sobre estrutura de capital, o mesmo será apresentado na seção terciária 2.2.2, a seguir.

2.2.2 Os trabalhos de Modigliani e Miller

Modigliani e Miller (1958), contrapondo-se à visão dos tradicionalistas que defendiam

a busca por uma estrutura de capital ótima que reduzisse o custo do capital total da empresa e,

portanto, maximizasse o seu valor, publicaram, em 1958, o artigo The Cost of Capital,

Corporation Finance and the Theory of Investment. Esse trabalho se baseia na formulação de

proposições acerca da irrelevância da estrutura de capital na maximização do valor da

empresa.

O artigo de Modigliani e Miller teve uma importante influência nos debates sobre

estrutura de capital. Segundo Famá e Grava (2000, p. 28), “a formulação explícita da estrutura

de capital, por meio de uma política de endividamento, desenvolve-se, realmente, a partir de

estudo de Modigliani e Miller (1958)”.

27

2.2.2.1 Proposição I de Modigliani e Miller (1958) sem impostos

Na sua primeira proposição, Modigliani e Miller (1958), por meio do mecanismo de

arbitragem , aplicável em um mercado “perfeito”, divulgaram a irrelevância da estrutura de

capital na definição do valor da empresa. Essa abordagem pode ser considerada o ponto de

partida das modernas finanças de empresas. Os autores defendem em seu trabalho que “[...] o

valor de mercado de qualquer empresa é independente da sua estrutura de capital e é dado

pelo retorno esperado das taxas próprias da classe que a empresa está inserida”.

(MODIGLIANI; MILLER, 1958, p. 268). Ou seja, as empresas pertencentes a uma mesma

classe estão submetidas ao mesmo nível de risco.

Os autores estabelecem alguns pressupostos que situam as empresas em um mercado

“perfeito”. (COPELAND; WESTON, 1988, apud FAMÀ; BARROS; SILVEIRA, 2001):

• Ausência de impostos;

• Inexistência de custo de transação;

• Dívidas livres de risco;

• Os indivíduos podem emprestar e tomar emprestado à mesma taxa livre de risco;

• Ausência de custos associados à falência;

• As empresas emitem apenas dois tipos de títulos: dívida livre de risco e ações;

• Pertencimento de todas as instituições à mesma classe;

• Ausência de assimetria de informações;

• Inexistência de custo de agência.

Dessa forma, ao estabelecerem tais pressupostos, Modigliani e Miller (1958, p.268)

formulam a primeira proposição, segundo a qual, em um mercado “perfeito”, o valor de todos

os instrumentos de dívidas emitidos por uma empresa é direcionado pelo poder de ganhos e

pelos riscos de seus ativos, independente da estrutura de capital da empresa.

28

Ross, Westerfield e Jordan (2000) ilustram a proposição exemplificando com duas

empresas que possuem suas operações e ativos idênticos. Apenas o que diferencia tais firmas

são as formas como elas financiam suas operações. Os autores equipararam as estruturas de

capital dessas instituições a uma pizza. Fica visível no Gráfico 2 que existem duas formas de

se dividir a pizza entre a fatia dos acionistas e a fatia dos credores: 40% (acionistas) - 60%

(credores) e 40% (credores) - 60% (acionistas). Tal exemplo confirma a proposição I de

Modigliani e Miller (1958), ou seja, que independente da divisão, os tamanhos das pizzas (os

valores das empresas) são idênticos, pois os valores dos ativos das empresas são os mesmos.

Gráfico 2: Modelo da Pizza Fonte: Adaptação a partir de Ross, Westerfield, Jordan (2000, p. 346).

Conclui-se, através da análise da proposição I de Modigliani e Miller (1958) sem

impostos, que o valor da empresa sem capital de terceiros é igual ao valor da empresa com

capital de terceiros.

2.2.2.2 Proposição II de Modigliani e Miller (1958) sem impostos

De acordo com a proposição II de Modigliani e Miller (1958), a taxa exigida de

retorno da ação é representada da seguinte forma:

jjkkj S/D).r(i −ρ+ρ= (1)

ji = Taxa exigida de retorno da ação

Capital Próprio

40%

Dívidas60%

Capital Próprio

60%

Dívidas40%

29

kρ = Custo médio de capital

r = Custo do capital de terceiros

jD = Valor de mercado do capital de terceiros

=jS Valor de mercado do capital próprio

Em outros termos, a taxa exigida de retorno da ação ou custo de capital próprio da

empresa depende do custo médio de capital e do prêmio relacionado ao risco financeiro. O

custo médio de capital ( kρ ) representa o retorno exigido dos ativos e o risco financeiro

( jjk S/D).r( −ρ ) é designado pelos autores pela estrutura financeira da empresa.

Ross, Westerfield e Jordan (2000), ao representarem a proposição II de Modigliani e

Miller (1958), definem a taxa exigida de retorno da ação com outras terminologias:

E/D).RR(RR DAAE −+= (2)

ER = Taxa exigida de retorno da ação

AR = Taxa exigida de retorno sobre os ativos ou WACC

DR = Custo de capital de terceiros

D = Dívida

E = Capital próprio

A partir da fórmula descrita anteriormente, os autores esclarecem que o custo do

capital próprio é dividido em dois componentes. O primeiro é o risco operacional designado

como “[...] o risco do capital próprio que decorre da natureza das atividades operacionais da

empresa [...]”. (ROSS; WESTERFIELD; JORDAN, 2000, p, 345). Esse risco é representado

pela taxa exigida de retorno para os ativos ( AR ). O segundo componente é o risco financeiro

definido pelos autores como: “[...] o risco do capital próprio que decorre da política de

financiamento (isto é, da estrutura de capital da empresa).” (ROSS, WESTERFIELD,

JORDAN, 2000, p, 345). O risco financeiro é representado na fórmula pelos seguintes

elementos: E/D).RR( DA − .

30

Ross, Westerfield e Jordan (2000) resumem essa discussão por meio de um gráfico

(Gráfico 3) do custo de capital próprio ( ER ) em função do quociente entre dívidas e capital

próprio (D/E).

Custo de Capital (%)

ER

AR

DR

Quociente entre dívidas e capital próprio

Gráfico 3: Custo de capital próprio e Custo de capital Fonte: Adaptação de Ross, Westerfield, Jordan (2000, p. 346).

Ao se analisar o gráfico acima, é possível perceber que o custo do capital próprio

( ER ) é concedido por uma linha reta com inclinação igual a )R R( DA − , o que confirma a

proposição II de Modigliani e Miller (1958). Vê-se, ainda, que, à medida que aumenta a

alavancagem da empresa (D/E), aumenta o risco do capital próprio e, conseqüentemente, o

custo do capital próprio. Esse risco é ampliado em virtude do aumento do custo de falência da

empresa gerado pelo endividamento desta.

A partir do Gráfico 3 é possível confirmar, também, a proposição I de Modigliani e

Miller (1958). Ao se analisar o WACC ou AR , percebe-se que o custo total da empresa não é

afetado pela relação ente dívidas e capital próprio. Esse fato ocorre em virtude de duas forças

que atuarão, simultaneamente, sempre que ocorrer um incremento da alavancagem da

empresa: por um lado, o WACC diminuirá, pois o custo do capital de terceiro é menor do que

o custo do capital próprio; por outro, o WACC será majorado, porque o custo do capital

próprio será acrescido em função do aumento do risco. Ou seja, a interação destes dois

movimentos opostos resulta num efeito nulo sobre o WACC.

31

Apresentando de forma resumida, a proposição II de Modigliani e Miller (1958)

estabelece que a variação do quociente entre capital de terceiros e capital próprio não altera o

custo total de capital da empresa, apesar do custo de capital próprio ser linearmente

dependente de sua estrutura de capital.

2.2.2.3 Proposição I de Modigliani e Miller (1963) - com imposto corporativo

Em 1958, Modigliani e Miller desenvolveram seus trabalhos desconsiderando,

inicialmente, a existência de tributos. Posteriormente, eles começaram a acreditar que alguns

pressupostos deveriam se adequar à realidade das empresas e passaram a considerar a

existência de impostos corporativos. Mesmo adaptando as suas proposições originais a um

novo contexto, os autores continuam defendendo a irrelevância da estrutura de capital na

determinação do valor da empresa.

Famá, Barros e Silveira (2001) esclarecem que apesar de alguns pressupostos

assumidos por Modigliani e Miller (1958) serem pouco realistas, podem ser relaxados sem

gerar efeitos consideráveis nos resultados. Entretanto, os autores afirmam que existem

pressupostos que não condizem com a realidade do mercado e, ao serem considerados,

interferem nos resultados das pesquisas. Como exemplo, pode-se citar a presunção da

inexistência de impostos incidindo sobre o lucro corporativo.

Em 1963, Modigliani e Miller corrigem suas formulações e passam a considerar o

impacto do imposto de renda corporativo na definição do valor da empresa. A nova

formulação indica que o valor de uma empresa alavancada é igual ao valor de uma empresa

não alavancada, adicionado ao valor do benefício fiscal provindo do endividamento ( cτ D).

Sendo uV a representação do valor de uma empresa não alavancada, LV o valor da empresa

alavancada, cτ a alíquota do imposto de renda e D o valor da dívida da empresa, representa-se

a nova formulação da seguinte forma (FAMÁ; BARROS; SILVEIRA, 2001):

LV = uV + cτ D (3)

Percebe-se que a inclusão da alíquota do imposto de renda na análise produziu um

ganho provindo da alavancagem, pelo fato da remuneração da dívida (juros) ser descontada

32

do lucro tributável. Ou seja, o benefício fiscal resultante do endividamento interferiu na

definição da estrutura de capital da empresa. Pode-se concluir que com o relaxamento de uma

das proposições do trabalho original de Modigliani e Miller (1958), a estrutura de capital

passou a ser apontada pelos estudiosos como relevante na definição do valor da empresa.

2.2.2.4 Proposição II de Modigliani e Miller (1963) - com imposto corporativo

De acordo com as terminologias utilizadas por Ross, Westerfield e Jordan (2000), a

taxa de retorno do capital próprio, em um ambiente com impostos, é definida da seguinte

forma:

E/D).T1).(RR(RR cDAAE −−+= (4)

)T1( c− = alíquota do imposto corporativo.

Conclui-se, a partir da proposição de Modigliani e Miller (1963), que o aumento do

capital próprio provindo de um maior nível de endividamento é reduzido, em função do

benefício fiscal proporcionado pelas dívidas. Dessa forma, pode-se afirma que o

endividamento da empresa interfere no seu valor.

Ao defenderem que os benefícios fiscais reduzem o custo do capital próprio,

Modigliani e Miller (1963, p. 442) deixam implícitos, inicialmente, em sua proposição, que as

empresas deveriam ser financiadas quase que totalmente com capital de terceiros. Entretanto,

os autores, ao perceberem a inconsistência de seus pensamentos, comentam que as empresas

não devem compor a sua estrutura de capital exclusivamente com capital de terceiros. Eles

deixam claro que o endividamento, ao mesmo tempo em que gera benefícios fiscais, incorre

em custos provindos do risco de falência.

Percebe-se que a abordagem inicial de Modigliani e Miller não condiz com a

realidade da maior parte das empresas. Nakamura (1992) afirma que o fato de uma

organização optar por uma estrutura de capital composta exclusivamente por capital de

terceiros, representa uma realidade pouco realista, pois uma empresa dificilmente sobreviveria

apenas com dívidas.

33

Sirihal e Melo (1999) representam, conforme gráfico abaixo, a diferença entre as

proposições originais e revisadas de Modigliani e Miller (1958; 1963):

Gráfico 4: Diferenças entre Modigliani e Miller (1958) e Modigliani e Miller (1963) Fonte: Adaptação de Sirihal e Melo (1999, p. 4). Nota: ek = Taxa de desconto aplicada ao fluxo de caixa dos acionistas

ik = Taxa de desconto aplicada ao fluxo de caixa dos credores wacc = Custo médio ponderado de capital E = Dívida PL = Capital dos acionistas

O Gráfico acima representa as idéias antagônicas das proposições de Modigliani e

Miller. Considerando o fluxo do pagamento dos juros como uma perpetuidade, a taxa de

desconto dos fluxos como o próprio custo da dívida e pressupondo-se que as alíquotas

marginais de impostos não se alteram ao longo do tempo, conclui-se que o benefício fiscal é o

valor presente das economias fiscais proporcionadas pelo pagamento dos juros futuros. A

diferença entre os dois gráficos está na presença do imposto corporativo no gráfico que

representa a proposição II de Modigiliani e Miller (1963), ou seja, o custo do capital próprio

representado pela taxa de desconto aplicada ao fluxo de caixa dos acionistas é reduzido com a

presença do benefício fiscal gerado pelo pagamento dos juros. (SIRIHAL; MELO, 1999).

Conclui-se que a proposição I de Modigliani e Miller (1958) era realmente válida em

um mundo sem impostos onde o custo de capital não é alterado com o nível de endividamento

da empresa. Em um mundo real, onde existe a incidência de impostos sobre o lucro das

empresas, o endividamento traz um benefício fiscal ao se considerar que as despesas

financeiras são abatidas da base tributável. Entretanto mesmo, após a revisão da proposição I

de Modigliani e Miller (1958) as discussões sobre a maximização do valor da empresa

persistiam. Uma vez que, os tradicionalistas defendiam que o endividamento poderia ser

utilizado para aumentar as riquezas dos acionistas desde quando a alavancagem fosse

realizada em termos moderados.

34

Em contraposição com a teoria de Modigliani e Miller (1963), Miller (1977)

desenvolveu um modelo designado Modelo de Miller. Nesse modelo, o autor levou em

consideração além do imposto de renda corporativo, abordado na obra de Modigliani e Miller

(1963), o imposto sobre os dividendos e juros que as pessoas físicas recebem das empresas.

Ao explorar o imposto de renda da pessoa física, Miller (1977) verificou que se, por um lado,

os juros resultantes do endividamento são dedutíveis do lucro tributável da pessoa jurídica,

portanto, gerando benefício fiscal, por outro lado, os juros auferidos aos credores são taxados,

o que resulta na anulação do efeito da proteção fiscal sobre os juros. Dessa forma, o modelo

de Miller (1977) aponta que os ganhos provindos da alavancagem financeira não são tão

relevantes na maximização do valor da empresa, como definido por Modigliani e Miller

(1963) e Nakamura (1992).

Como o trabalho de Miller (1977), diversos autores discorrem sobre as

contraposições aos estudos de Modigliani e Miller. Além das abordagens que apresentam as

divergências de opiniões sobre a irrelevância da estrutura de capital das empresas, outros

trabalhos foram desenvolvidos tendo como foco a discussão sobre custo de falência e suas

implicações na determinação da estrutura de capital das instituições.

2.2.3 Os custos de falência

Como apresentado na proposição de Modigilini e Miller (1963), a alavancagem

financeira é um instrumento que gera benefícios fiscais provindo da dedutibilidade dos juros.

Entretanto, percebe-se a partir de trabalhos subseqüentes que a dívida pode expor a empresa à

inadimplência, caso suas operações não gerem recursos suficientes para pagar as obrigações

com terceiros. Dessa forma se, por um lado, o aumento do endividamento pode trazer o

benefício fiscal, por outro, pode ser responsável pelo aumento da probabilidade de falência da

empresa.

Segundo Jensen e Meckling (1976), a empresa está em situação de falência quando

não consegue pagar as suas dívidas com terceiros. Nessa situação os acionistas perdem os

seus direitos na empresa, os ativos da empresa devem ser liquidados e os recursos pagos aos

credores. Portanto, a falta de pagamento da dívida pode resultar na falência da empresa e

existem custos associados a esse processo falimentar.

35

Em outras palavras, uma empresa torna-se falida quando o valor dos ativos se

equipara ao valor de suas dívidas. Nessa situação, os acionistas entregam o controle da

empresa aos credores. Vale ressaltar que a transferência dos ativos para os credores gera

custos legais e administrativos associados ao processo de falência. Esses custos são

designados custos diretos de falência. (ROSS; WESTERFILF; JORDAN, 2002).

Com base nos resultados da pesquisa de Warner (1977, apud DAMODARAN, 2004)

sobre os custos de falência de ferrovias, Damodaran (2004) conclui que algumas empresas,

como as ferrovias, têm custo de falência mais alto do que outras, devido à natureza dos seus

ativos (imóveis e equipamentos fixos). Ou seja, o tipo de ativos que as empresas possuem

interfere nos seus custos, portanto, na sua estrutura de capital.

Os autores apresentam os custos incorridos, ao se evitar um processo de falência,

como “custos indiretos de falência”. Algumas empresas, ao passar por dificuldades de

cumprir as suas obrigações com terceiros, incorrem em custos na tentativa de se restabelecer

no mercado. Damodaran (2004), de forma detalhada, descreve os custos indiretos de falência.

O primeiro custo é gerado pela queda das vendas em função da percepção dos clientes de que

a empresa está em processo falimentar. O segundo, das exigências mais rígidas dos credores

como forma de se proteger da inadimplência das empresas. E o último custo provém da

dificuldade que as instituições passam a ter em levantar capital novo para investir em seus

projetos.

Jensen e Meckling (1976) esclarecem que diversas teorias abordam o tema estrutura

de capital, entretanto, poucas delas são convincentes na determinação da quantidade de capital

de terceiros que deve existir na estrutura de capital das empresas.

Ross, Westerfield e Jordan identificam os custos incorridos pela possibilidade de

falência como um limitador da utilização de capital de terceiros. “A empresa falindo ou não, o

efeito líquido é uma perda de valor, porque ela decidiu utilizar recursos de terceiros em sua

estrutura de capital [...]”. (ROSS; WESTERFIELD; JORDAN, 2002, p. 352) Os autores

esclarecem que não é a propensão a falência que reduz o valor da empresa e sim os custos

incorridos com o processo falimentar.

Damodaran (2004, p. 447) define a probabilidade de falência como a “[...]

possibilidade de que os fluxos de caixa de uma empresa sejam insuficientes para atender aos

36

seus compromissos de dívidas (juros ou o principal)”. O autor, a partir dessa definição,

estabelece que a probabilidade de falência aumenta quando as empresas tomam recursos

emprestados, sem levar em conta o tamanho e a estabilidade dos seus fluxos de caixa

operacionais. Esse é um dos fatores que afeta, principalmente, as empresas que sofrem de

problemas de sazonalidade. Elas recorrem ao capital de terceiro sem levar em consideração

que existem períodos no ano que suas receitas são reduzidas, diminuindo, consideravelmente,

o seu fluxo de caixa.

2.2.4 Teoria de Agency

Milton Harris e Raviv (1991, apud RODRIGUES JÚNIOR; MELO, 1999)

apresentaram em seus trabalhos o resumo de mais de 150 pesquisas sobre a teoria de estrutura

de capital. Apesar de ser um tema que ainda gera muitas controvérsias, os autores

conseguiram identificar quatro fatores determinantes da estrutura de capital. Entre eles, está o

item conflito de interesse entre acionistas, administradores e credores, o qual é abordado na

Teoria de Agency.

A Teoria de Agency foi desenvolvida pelos estudiosos Jensen e Meckling (1976),

construída a partir de um trabalho anterior de Famá e Miller (1972). Essa teoria, além de

abordar as incertezas enfrentadas pelas empresas, questiona o comportamento do gerente e a

avaliação do seu desempenho pelos investidores.

A introdução do benefício fiscal provindo da dedutibilidade dos juros das dívidas

pelo modelo de Modigliani e Miller (1963) já havia invalidado a conclusão da irrelevância da

estrutura de capital. Entretanto, segundo Jensen e Meckling (1976), a Teoria de Agency

fornece um argumento ainda mais forte a favor da abordagem de que o valor da empresa

depende da sua estrutura de capital.

Os precursores da teoria definem relação de agência como um contrato entre duas

partes (principal e agente) no qual o principal delega ao agente o poder de decisão dentro da

empresa.

De um modo geral, as empresas estão sujeitas a pressão das exigências de diversos

stakeholdres (credores, acionistas, empregados etc.). Essas exigências são formalizadas por

37

meio de contrato. Nesse instrumento jurídico, deve constar os direitos e obrigações das partes

de forma que permita o atingimento do interesse comum. Entretanto, essas partes possuem

interesses individuais que divergem do interesse comum da empresa.

Jensen e Meckling (1976) identificaram dois tipos de conflitos de interesses;

conflitos entre gerentes e acionistas e conflitos entre credores e acionistas/administradores da

empresa. Com o objetivo de analisar tais conflitos, os teóricos introduziram uma variável ao

estudo da estrutura de capital, conhecida como custo de agência (agency costs).

Segundo Jensen e Meckling (1976, p.51), a variável custo de agência associada à

dívida é composta por três elementos:

a) O custo de oportunidade advindo da redução da riqueza, quando a divergência entre

os acionistas e administradores não podem ser evitados;

b) gastos com monitoramento, realizado pelos acionistas, das atividades

desempenhadas pelos gerentes;

c) custos de falência e de reorganização da empresa.

De forma resumida, Jensen e Meckling (1976) definem custo de agência como a

soma de todos os custos incorridos para estruturar, administrar e monitorar o cumprimento

dos contratos, bem como os custo provindos da redução das riquezas da empresa em função

dos conflitos de interesse entre os gerentes e acionistas.

A Teoria da Agency estabelece que, quanto maior a segregação entre propriedade e

gestão, mais acentuado é o conflito de interesses. Os gerentes, ao acreditarem que os

resultados da sua gestão geram apenas benefícios para os acionistas, não trabalham em prol da

maximização do valor da empresa e, sim, dos seus próprios interesses.

Os acionistas, visando reduzir os custos de agência, implementam mecanismos tais

como: auditoria, aumento dos salários dos agentes e gratificações. Eles acreditam que essas

estratégias são capazes de protegê-los contra qualquer decisão dos agentes que possa lhes

prejudicar. Como apresentado acima por Jensen e Meckling (1976), o monitoramento das

atividades dos gerentes e a concessão de benefícios aos mesmos incorrem em custos.

38

Um outro elemento que faz parte do custo de agência é o custo incorrido com

reorganização. Segundo Ross, Westerfield e Jordan (2002), reorganização é o processo de

“reestruturação financeira de uma empresa falida que tenta manter a empresa como uma

organização ativa”. Nesse processo, a empresa, geralmente, emite novos títulos para substituir

os antigos.

Jensen e Meckling (1976), ao concluírem que a estrutura ótima de capital é alcançada

com a redução do custo de agência apontam o endividamento como um dos instrumentos que

diminui os conflitos entre as duas partes e, portanto, reduzem o custo de agência.

Segundo Harris e Raviv (1991 apud RODRIGUES JÚNIOR; MELO, 1999), esse

fato ocorre em virtude da dívida reduzir as vantagens dos gerentes por dois motivos:

a) Com o pagamento de juros advindos de dívidas, os recursos livres são reduzidos

diminuindo essas vantagens;

b) a alavancagem financeira ao elevar o valor da empresa aumenta a participação

acionária dos gerentes e este fato o estimula a tomar atitudes condizentes com a maximização

da riqueza da empresa.

Percebe-se que a dívida, ao mesmo tempo em que concede benefícios para os

acionistas, limita a atuação e as vantagens do agente. Dessa forma, a estrutura de capital das

empresas pode não ser resultado apenas dos interesses dos acionistas, mas, também, pode

estar sujeita aos desejos dos agentes.

Os conflitos entre acionistas e credores surgem de uma operação denominada “efeito

de substituição de ativos”, ou seja, nas empresas endividadas, os seus acionistas são

incentivados a trocar o investimento em projetos de baixo risco para projetos mais arriscados,

devido à sua probabilidade de maiores retornos. Entretanto, os credores, visando evitar

grandes perdas, procuram desestimular as empresas a investirem nesses tipos de projetos.

Se os retornos provindos dos projetos arriscados forem altos, os acionistas ganham

mais que os credores. No entanto, se o VPL do projeto for negativo, ou seja, se os retornos

forem insatisfatórios, ambos perdem. Em virtude dessa situação, enquanto os acionistas são

estimulados a substituir os projetos de baixo risco pelos de alto risco, os credores procuram

impedir essa troca (por meio do monitoramento das ações dos acionistas). Tal conflito de

39

interesse e o monitoramento do comportamento dos acionistas geram um custo para os

credores, isto é, um custo de agenciamento do financiamento por dívida. Vale ressaltar que

esse custo eleva a taxa de juros praticada pelos credores. (HARRIS; RAVIV, 1991 apud

RODRIGUES JÚNIOR; MELO, 1999). Ou seja, o conflito de interesse entre os credores e os

acionistas interfere no custo do capital total das empresas e, portanto, no seu mix de

financiamento.

Harris e Raviv apresentam uma outra abordagem sobre a substituição de ativos. A

reputação é um fator que desestimula os gerentes na escolha de projetos arriscados.

Como o mercado de trabalho dos gerentes valoriza a boa reputação, isto é, o número de êxitos obtidos, e é dada pouca importância ao ganho obtido em cada operação exitosa, o gerente escolhe o projeto mais seguro. (HARRIS; RAVIV, 1991 apud RODRIGO JÚNIOR; MELO, 1999, p.12)

Segundo Harris e Raviv (1991 apud RODRIGO JÚNIOR; MELO, 1999) não basta

escolher o projeto mais seguro, é necessário convencer os credores que ele realmente é o

menos arriscado. Se a empresa tiver sucesso nessa negociação, ela será beneficiada com a

redução da taxa de juros.

Os credores, visando ter sucesso na escolha dos projetos que vão financiar, procuram

analisar se a empresa possui um histórico de bons projetos e de pagamentos de dívidas.

Portanto, instituições com uma boa reputação são beneficiadas com menores custos de

empréstimos.

Outro aspecto, que dificulta a concessão de linhas de créditos às empresas por parte

das instituições financeiras, é a inexistência de demonstrativos financeiros devidamente

estruturados e que retratem a realidade das empresas, de forma a gerar informações

necessárias à captação de recursos financeiros.

2.2.5 Teoria Estática da Estrutura de Capital

Na seção anterior, foram apresentados os fundamentos da estrutura ótima de capital.

Como abordado por Modigliani e Miller (1963), o benefício fiscal provindo do endividamento

gera a redução do custo do capital próprio que, por sua vez, eleva o valor da empresa.

40

Entretanto, a possibilidade de falência devido à utilização de capital de terceiros reduz o valor

da empresa. Os dois fatores se compensam, ocasionando uma estrutura de capital ótima.

Essa relação de compensação entre benefício fiscal e custo de falência é abordada na

Teoria Estática da Estrutura de Capital. Ross, Westerfield e Jordan definem a teoria da

seguinte forma:

Teoria que diz que a empresa toma dinheiro emprestado até determinado ponto, no qual os benefícios fiscais de um dólar adicional de dívida são iguais ao custo adicional, decorrente do aumento da probabilidade de dificuldades financeiras. (ROSS; WESTERFIELD; JORDAN, 2000, p.353).

A teoria leva a designação de “estática da estrutura de capital”, em virtude da

suposição de que os ativos e as operações da empresa são fixos, e o único elemento que pode

ser alterado é a relação entre dívida e capital próprio.

Brigham, Gapenski e Ehrhardt (2001) identificam a compensação do custo de falência

com o benefício fiscal provindo da dívida como modelo designado trade-off. Eles afirmam

que “esses modelos de compensação têm um apelo intuitivo, pois conduzem à conclusão de

que tanto o financiamento sem dívida como aquele com dívida são ruins, enquanto um nível

“moderado” de dívida é bom” (BRIGHAM; GAPENSKI; EHRHARDT, 2001, p. 619, grifo

do autor).

Ross, Westerfield, Jordan (2000) ilustram a Teoria Estática com o Gráfico 5 no qual é

representado a relação entre o valor da empresa ( LV ) e o capital de terceiros )D( . As linhas

do gráfico correspondem a três abordagens sobre estrutura de capital. A primeira diz respeito

à proposição I de Modigliani e Miller (1958), sem impostos, a qual estabelece que, sem

impostos e custo de falência, o valor da empresa não é afetado pela sua estrutura de capital;

sendo representada pela linha parte do eixo vertical no ponto uV , sem nenhuma inclinação. A

segunda é a proposição I de Modigliani e Miller com impostos corporativos; ou seja, a reta

com inclinação positiva ilustra a situação da presença do imposto reduzindo o custo do capital

próprio e, conseqüentemente, aumentando do valor da empresa.

A última abordagem representada no Gráfico 5 ilustra a discussão estabelecida pela

Teoria Estática da Estrutura de Capital. Segundo Ross, Westerfield e Jordan (2000, p. 353) “O

valor máximo da empresa, ∗LV , é alcançado num nível de endividamento ∗D , e, portanto,

esse é o montante ótimo de capital de terceiros”.

41

Gráfico 5: Estrutura ótima de capital e valor máximo da empresa Fonte: Adaptação de Ross, Westerfield e Jordan (2000, p. 353).

Percebe-se, a partir do Gráfico 5, que a diferença entre o valor da empresa, de acordo

com a Teoria Estática, e o valor da empresa de acordo com a proposição de Modigliani e

Miller (1963) com imposto, é a perda do valor decorrente do valor presente dos custos

potenciais de falência. Como visto acima, a estrutura de capital ótima ocorre em ∗D , o ponto

no qual se equipara o ganho adicional com o endividamento ao custo adicional de falência.

2.2.6 Teoria Pecking Order

A Teoria Pecking Order, originada dos estudos de Myers (1984), tem como base

teórica a assimetria de informações.

Um pressuposto bastante forte provindo das preposições de Modigliani e Miller

(1958, 1963) e mantido nas abordagens subseqüentes é o da simetria informacional no

mercado, em que os administradores, acionistas, credores, fornecedores e demais stakeholders

têm acesso às mesmas informações sobre a empresa.

Entretanto, a partir da década de 70, foram surgindo proposições mais realistas que

afirmavam que o acesso às informações sobre as instituições é diferenciado para os vários

tipos de participantes do mercado. Surgiam, assim, as primeiras abordagens sobre assimetria

VL = VU + TC X D = valor da empresa com capital de terceiros

VU = Valor da Empresa sem Capital de Terceiros

Valor da Empresa (VL)

TC x D = valor presente do benefício fiscal do uso de capital de terceiros.

Custo de dificuldades financeiras

∗D ,

Quantidade ótima de capital de terceiros

Valor máximo da empresa - VL*

42

de informações Essa teoria assume que os administradores (insiders) possuem melhores

informações sobre a situação financeira da empresa do que os investidores (outsiders). Em

função dessa desigualdade de informações, as empresas seguem uma hierarquia

predeterminada na captação de novos recursos. Inicialmente, elas utilizam os seus lucros

retidos, por conseguinte, o capital oriundo de empréstimos, e, por último, os recursos obtidos

por meio de emissão de ações.

Os trabalhos de Myers (1984) apontam que caso os administradores tenham

informações privilegiadas sobre as características da empresa as ações serão subavaliadas pelo

mercado, resultando em uma perda líquida para os atuais acionistas. Vale ressaltar que o

subinvestimento pode ser evitado pelo do financiamento por meio de lucros retidos ou de

dívidas; ou seja, visando evitar perdas através de emissões ações precificadas incorretamente

pelo mercado, os administradores decidem pelo financiamento através de retenção de lucro ou

de dívida. Dessa forma, as empresas recorrerão ao capital de terceiros e a emissão de ações

somente se as suas necessidades de investimentos forem superiores aos lucros retidos do

exercício anterior.

Caso os administradores achem que o mercado está supervalorizando as ações, eles

emitirão novas ações com o objetivo de incrementar o retorno dos acionistas atuais. Ciente

desse problema, os novos investidores tendem a subvalorizar o preço das novas ações,

desestimulando novas emissões. Em virtude dessa situação os administradores escolherão o

financiamento através de dívidas ou de lucros retidos. Essa dinâmica é utilizada pelos teóricos

para sustentar a teoria Pecking Order.

Gitman (2004), confirmando a abordagem de Myers (1984), afirma com exemplo

seguinte que as decisões relativas ao financiamento da empresas são reveladoras de

informações que os administradores têm e que os acionistas não. A administração ao

identificar uma oportunidade de investimento que requer financiamento adicional passa a

sinalizar ao mercado e aos acionistas a situação financeira da empresa. O agente acredita que

as perspectivas futuras da empresas são muito boas, entretanto, que o mercado não fará uma

avaliação correta do valor da empresa, ou seja, que as ações serão subavaliadas. Em função da

assimetria de informações entre administradores e acionistas, emitir novas ações não seria tão

vantajoso quanto recorrer a capital de terceiros. O financiamento com dívidas é um sinal

positivo o qual sugere que a administração acredita que a ação está “subavaliada” e, por

43

conseguinte, representa um bom negócio. Quando o resultado do projeto se concretiza e passa

a ser conhecido pelo mercado, o retorno é direcionado apenas para os acionistas antigos.

Entretanto, se as perspectivas futuras não são boas, a administração prefere emitir

novas ações por considerar que o mercado está “superavaliando” a empresa. A emissão de

novas ações é percebida pelo mercado como um sinal negativo e, conseqüentemente, o valor

da ação cai. Em função da queda do valor e dos altos custos de se lançar novas ações, o custo

do financiamento através do lançamento de ações fica muito alto. Quando as perspectivas

futuras se concretizam, o valor mais baixo é compartilhado pelos novos e velhos acionistas.

A partir da abordagem de Gitman (2004), conclui-se que a estratégias dos

administradores podem ser percebidas pelo mercado como uma sinalização da situação

financeira das empresas.

Segundo Brigham, Gapenski e Ehrhardt (2001), a abordagem relacionada à

informação assimétrica conduz à conclusão que as instituições devem manter uma reserva da

sua capacidade para tomar empréstimos, de modo que elas possam sempre emitir dívidas em

termos razoáveis, para que não percam as oportunidades de investimento, nem precisem

emitir ações a preço baixo.

2.3 TRABALHOS EMPÍRICOS SOBRE ESTRUTURA DE CAPITAL

Com base nas correntes teóricas já mencionadas, há uma revisão da literatura de

estudos empíricos sobre a estrutura de capital das empresas, no Brasil e no mundo. Os

principais trabalhos empíricos sobre o tema são apresentados nesta seção.

Modigliani e Miller (1958), com o objetivo de testar suas proposições, utilizam

dados norte-americanos dos anos de 1947 e 1948 de 43 empresas de energia elétrica, e dados

do ano de 1953 de 42 empresas petrolíferas. Em um primeiro momento, foi testado um

modelo de regressão linear simples (OLS), estabelecendo como variável dependente o custo

médio de capital das empresas, e como variável independente, o seu nível de alavancagem. Os

coeficientes lineares não foram significantes, ou seja, os dados não apresentaram qualquer

relação importante entre o nível de alavancagem e o custo médio de alavancagem das

empresas.

44

Em um segundo momento, Modigliani e Miller estimaram, também, uma regressão

linear simples na qual a variável dependente era o custo do capital próprio da empresa e a

variável independente era o nível de alavancagem.Como resultado, os coeficientes

apresentados foram altamente significativos. Conforme previsto na proposição, Modigliani e

Miller concluíram que um aumento da alavancagem das empresas resulta em um aumento do

seu custo do capital próprio.

Mayer (1990, apud RODRIGO JÚNIOR; MELO, 1999), ao procurar identificar o

padrão de financiamento das empresas dos países desenvolvidos, no período de 1970/1985,

concluiu que as empresas desses países utilizam, principalmente, o lucro retido como fonte de

financiamento, recorrendo apenas como segunda opção à dívida bancária ou dívida de longo

prazo e, por último, utilizam o mercado de ações. Os resultados de Mayer (1990, apud

SINGH; HAMID, 1992) constataram que apenas 52.6% das empresas industriais e comerciais

de médio e pequeno porte do Reino Unido utilizam lucros retidos para financiar suas

atividade e 70,9% das grandes corporações utilizam essa fonte de financiamento.

Nakamura (1992) estudou a estrutura de capital das empresas brasileiras usando a

metodologia de regressão linear múltipla. Os resultados dos testes estatísticos confirmaram a

existência de uma relação significativa entre endividamento, ativos tangíveis e tamanho da

empresa. Confirmando a abordagem da Teoria Pecking Order, a qual assume que as empresas

mais rentáveis utilizam menos capital de terceiros, os resultados indicaram uma relação

negativa entre endividamento e rentabilidade. Outra conclusão importante foi a constatação

que o setor de atividade constitui-se um fator de diferenciação de endividamento entre as

empresas; ou seja, firmas que pertencem ao mesmo ramo, normalmente, possuem

características semelhantes e, por conseguinte, o mesmo nível de endividamento.

Nakamura (1992) confirma os resultados de Eid Junior (1996), ao concluir que as

decisões de financiamento no Brasil estão fortemente condicionadas às oportunidades de

captação de recursos. As empresas brasileiras, ao escolher as suas estruturas de capital, são

oportunísticas, ou seja, elas captam recursos que no momento for economicamente mais

proveitoso.

Singh e Hamid (1992) analisam a estrutura de capital de empresas que atuam em

nove países: Índia, Coréia do Sul, Paquistão, Jordânia, Tailândia, México, Malásia, Turquia e

Zimbábue. Os resultados da pesquisa constatam que o padrão de financiamento das empresas

45

que atuam nos países em desenvolvimento diverge do padrão da empresas dos países

desenvolvidos. Os estudiosos concluem que essa divergência provém de outros fatores, até

então não abordados pela literatura sobre estrutura de capital, como: os ambientes

institucionais, regimes tributários e grau de desenvolvimento econômicos dos países.

Singh (1995) testa a análise realizada no trabalho de Singh e Hamid (1992) os quais

afirmam que as empresas dos países em desenvolvimento, diferentemente das instituições dos

países desenvolvidos, não seguem o padrão de financiamento estabelecido pela teoria pecking

order. O objetivo geral do trabalho de Singh (1995) é detectar a existência de padrões de

finanças corporativas mais funcionais em relação ao desenvolvimento econômico. O autor, ao

estudar amostras de 100 grandes empresas de dez países em desenvolvimento, concluiu que a

maior parte delas, inicialmente, recorre ao financiamento por meio de emissão de ações e,

como segunda opção, optam pelos recursos retidos. Esse resultado inusitado pode ser

explicado pela utilização de uma metodologia diferenciada das demais pesquisas sobre o

assunto, pelo ambiente favorável à emissão de ações e pelo estímulo ao desenvolvimento do

mercado de capitais concedido por governos de países em desenvolvimento.

O trabalho de Eid Junior (1996) teve como objetivo pesquisar qual das teorias melhor

explica o comportamento das empresas brasileiras em relação ao custo e estrutura de capital.

As teorias testadas foram: Modelos de Relação Estática, Hipótese da Ordem de Captação e

Oportunismo. Os resultados dos questionários enviados aos dirigentes das empresas

apontaram as hipóteses do aproveitamento de oportunidades de mercado e a manutenção de

uma hierarquia das fontes de financiamento como destaque entre os respondentes, com 47% e

40%, respectivamente. Entretanto a hierarquia apontada difere da pecking order: as empresas

estudadas, inicialmente, recorrem ao capital de terceiros (54%), seguido pelo capital próprio

(35%) e, por último, os lucros retidos (11%).

Famá e Kayo (1997) procuraram em suas pesquisas apresentar evidências de que,

dependendo das oportunidades de crescimento da empresa, os efeitos positivos e negativos do

endividamento possam influenciar as decisões sobre a estrutura de capital das instituições

brasileiras. Na pesquisa, os autores submetem os dados de 132 empresas, referentes ao

período entre 1992 e 1996, provindos do banco de dados da Economática às análises

estatísticas. Os resultados evidenciam que as empresas com boa oportunidade de crescimento

têm uma tendência a se financiar com capital próprio, enquanto as empresas de menor

crescimento se financiam através de dívidas.

46

Em relação a outros fatores comumente testados, os autores concluem que as

empresas mais rentáveis tendem a se financiar com capital próprio e que a variável tamanho

da empresa apresentou uma relação negativa e sem significância estatística com a variável

endividamento.

Zonenschain (1998), baseando-se em estudos propostos por Singh (1995), procurou

identificar o padrão de financiamento das empresas no Brasil, em uma amostra de 216

empresas de capital aberto da indústria de transformação mais negociadas em bolsa de

valores, entre os anos de 1989 e 1996. Os resultados dos testes quantitativos aplicados nos

dados dos balanços dessas instituições apontam para uma inversão completa da hierarquia de

fontes preconizada pela Teoria pecking Order. Ou seja, a emissão de ações foi apontada como

a principal fonte de financiamento (48%), seguida pelo endividamento (27%) e, por último, o

autofinanciamento mediante a retenção de lucros (25%).

Vale ressaltar que a autora enfatiza que os resultados da pesquisa mostraram-se

problemáticos em razão do cenário inflacionário, das mudanças de legislação e da sonegação

fiscal, que refletiram nos indicadores provindos dos balanços das empresas analisadas.

Rodrigues Júnior e Melo (1999) procuram elucidar o modo como são determinadas

as fontes de financiamento das empresas brasileiras. Os autores confirmam os resultados

apresentados por Zonenschain (1998) ao avaliarem se essas instituições seguem uma

hierarquização nas fontes de financiamento usadas (Teoria pecking order) ou se buscam um

nível ótimo de endividamento (Teoria static trade-off). No trabalho dos autores, foram

testadas variáveis provindas das demonstrações financeiras de 20 empresas. Os resultados

desses testes apontaram para uma conclusão diferente de alguns trabalhos anteriores: as

empresas brasileiras, também, seguem uma hierarquização das fontes de financiamento. As

empresas de capital aberto pesquisadas financiavam 64% das suas necessidades por meio de

lucros retidos, 30% com endividamento e somente 6% com emissão de ações. Dessa forma,

como as instituições dos países desenvolvidos, as empresas no Brasil seguem a Teoria

pecking order ao escolher a sua estrutura de capital.

Em 1999, Sirihal e Melo escrevem um artigo sobre os benefícios e contra-benefícios

fiscais do endividamento. Os autores testam, a partir dos dados de 69 papéis de empresas

brasileiras S/A de capital aberto, se a Lei nº 9.249/95, que ao mesmo tempo extinguiu a

47

correção dos balanços e instituiu a dedutibilidade dos juros sobre capital próprio, interferiu na

estrutura de capital das empresas brasileiras.

Com o objetivo de testar tal hipótese, os autores aplicaram o Teste de “T” para a

média das diferenças do benefício fiscal do endividamento, calculado pelas alíquotas efetivas

de impostos das empresas estudadas. Após os testes, os autores concluíram que o benefício

fiscal gerado pelo endividamento das empresas pesquisadas foi pouco afetado pela

implementação da Lei Fiscal de nº. 9.249/95. Adicionalmente, os autores afirmam que: “[...]

as empresas possuem alíquotas efetivas de impostos mais vinculadas às especificidades de sua

demonstração de resultados e histórico fiscal que as alíquotas nominais definidas por lei”.

(SIRIHAL; MELO, 1999, p. 5).

Pereira (2000) desenvolveu uma pesquisa com o objetivo de avaliar se as empresas

brasileiras ao se endividarem aumentam o seu valor de mercado e se o “preconceito” contra o

endividamento se aplica no mercado de capitais brasileiro. Foi também, analisado se fatores

como taxa de crescimento, dispersão do controle acionário e tipo de controle da firma são

determinantes da estrutura de capital dessas empresas.

Na pesquisa, foram aplicadas regressões simples entre os dados de 319 empresas

provindos da Economática, referente aos anos de 1992, 1995 e 1998. Os resultados

permitiram concluir que, apesar do “preconceito” contra o endividamento por parte da mídia e

da comunidade empresarial, as empresas que se endividam conseguem valorizar as suas ações

no mercado de capital. Em função da concentração do controle da empresa nas mãos do

próprio acionista, o percentual do grupo de controle não foi apresentado como determinante

do endividamento das empresas pesquisadas. E, por fim, foi possível comprovar que a

estrutura de capital varia de acordo com a perspectiva de crescimento da empresa.

Booth et al. (2001) avaliam as decisões sobre estrutura de capital de empresas de dez

países em desenvolvimento. Os resultados afirmam que as decisões sobre a estrutura de

capital das empresas que atuam nesses países são afetadas pelos mesmos fatores que

determinam o processo decisório sobre a composição de financiamento das companhias dos

países desenvolvidos. Eles divergem do posicionamento de Singh e Hamid (1992), ao

concluírem que, apesar dos aspectos institucionais serem diferentes entre esses países, os

fatores que explicam a estrutura de capital das empresas são os mesmos.

48

Moreira e Puga (2001) examinam as decisões de financiamento de uma amostra com

4312 empresas industriais brasileiras. Como nos estudos de Zonenschain (1998) e de

Rodrigues Júnior e Melo (1999), os autores concluem que as empresas brasileiras dependem

mais do financiamento por meio dos lucros retidos do que a média das outras nações em

desenvolvimento. A média para todas as empresas de capital aberto foi de 54%, com as

empresas de pequeno porte utilizando 63% do seu financiamento com recursos próprios e as

grandes instituições, 44%. As maiores empresas apresentaram maior utilização de emissões de

ações (26%) do que as menores (17%). Assim, o resultado apresentado nos trabalhos de

Moreira e Puga (2001) mostra que as empresas menores, mais lucrativas e que apresentam

maior crescimento usam mais financiamento via recursos próprios do que junto ao mercado

de capitais. Já as empresas maiores, menos lucrativas e com crescimento mais lento, recorrem

de forma mais intensa à emissão de ações e dívidas.

Famá, Barros e Silveira (2001) aplicaram o teste de Modigliani e Miller (1958) em

dados atuais de firmas latino-americanas e norte-americanas com duas diferenças

fundamentais em relação ao trabalho original de Modigliani e Miller (1958): utilização da

ferramenta CAPM (Capital Asset Princing Model) na determinação do custo de capital

próprio da empresa, e especificações mais ricas para o modelo econométricos. Os resultados

do teste não corroboraram o modelo de Modigliani e Miller de 1958, mas se aproximaram das

proposições dos autores de 1963, as quais concluíram que a vantagem fiscal gerada pelo

endividamento permite a redução do custo médio de capital da empresa.

Gomes e Leal (2001) investigaram os fatores determinantes da estrutura de capital de

144 empresas brasileiras cujas ações negociaram em bolsas de valores no período entre 1995

e 1997. A regressão, aplicada entre as variáveis alavancagens financeiras, rentabilidade, risco,

composição dos ativos, tamanho, oportunidades de crescimento e setor industrial em que a

empresa atua, apresentou um R ajustado de 28%. O teste estatístico possibilitou concluir que

as empresas menos endividadas são as mais rentáveis com a proporção de ativos fixos

menores e com mais oportunidades de crescimento. Foi possível, também, constatar que as

empresas de menor porte e as propensas ao um maior nível de risco são as mais endividadas.

E, por fim, comprovou que a variável setor industrial não apresentou significância estatística

no modelo aplicado.

Famá e Perobelli (2001), com base nos estudos de Titman e Wessels (1988, apud

MACHADO; TEMOCHE; MACHADO, 2004), procuraram identificar os fatores indutores

49

do endividamento das empresas brasileiras. Visando alcançar o objetivo da pesquisa foram

selecionadas, por meio do banco de dados disponibilizado pela Economática, 172 empresas

brasileiras de capital aberto. Do total do banco de dados, sete instituições foram extraídas da

amostra por apresentar patrimônio líquido médio negativo, ficando 165 empresas de capital

aberto. Coma utilização da análise fatorial, os autores concluíram que o endividamento de

curto prazo apresentou uma relação negativa com as variáveis tamanho e crescimento dos

ativos. Já em relação ao endividamento geral, concluíram que as empresas mais rentáveis são

as menos alavancadas.

A pesquisa realizada pelos autores Machado, Temoche e Machado (2004) procurou

identificar os atributos mais relevantes sugeridos pela teoria como determinantes da estrutura

de capital e testar o poder explicativo do modelo estatístico escolhido. Com o intuito de

alcançar o objetivo da pesquisa foi aplicada uma regressão linear múltipla entre as variáveis

provindas dos dados de 20 pequenas e médias empresas industriais da cidade de João Pessoa.

A escolha do tema foi motivada pela carência de trabalhos sobre a estrutura de capital de

deste tipo de empresas e por elas desempenharem importante papel na economia brasileira,

principalmente no nordeste.

A pesquisa utilizou uma regressão linear múltipla com a finalidade de explicar o

endividamento em função do porte, crescimento, rentabilidade, risco, composição dos ativos e

liquidez. Os autores utilizaram a estatística F para constatar a significância estatística da

predição conjunta das variáveis explicativas, também foi realizado o teste (t) de student com o

objetivo de analisar a significância de cada variável do modelo. E por fim, calcularam os

coeficientes betas com a finalidade de detectar as variáveis determinantes do endividamento

das empresas estudadas.

A primeira hipótese levantada pelos autores defende uma relação positiva entre

endividamento e porte das empresas. Os estudiosos declaram que quanto maior a empresa,

menor o seu custo de falência e consequentemente maior a facilidade que a elas tem em obter

crédito com taxa de juros menor.

A segunda hipótese apresentada na pesquisa defende a existência de uma relação

negativa entre crescimento e endividamento. Segundo os autores a relação entre essas duas

variáveis encontra-se fundamentada na teoria de Falência e na teoria Pecking Order. A

primeira estabelece que as empresas preferem não emitir dívidas para financiar oportunidades

50

de crescimento intangíveis, uma vez que “[...] o custo de falência de empresas que possuem

um crescimento acelerado é mais elevado porque seu valor é determinado por ativos

intangíveis e pelas expectativas de retornos futuros, que não têm valor no caso de liquidação”.

(GOMES; LEAL, 2000, p. 47 apud MACHADO; TEMOCHE; MACHADO, 2004, p. 6).

Por outro lado, a teoria Pecking Order defende a existência de uma relação positiva

entre as oportunidades de crescimento e endividamento, uma vez que a preferência pelo

autofinanciamento levaria as empresas com baixo crescimento a não optar por dívidas.

A terceira hipótese abordada na pesquisa de Machado, Temoche e Machado (2004)

afirma que existe uma relação negativa entre rentabilidade e endividamento. Segundo os

autores essa relação é confirmada pela teoria Pecking Order a qual defende que:

[...] quanto mais elevada for a rentabilidade da empresa, menor deverá ser o seu nível de endividamento, pois empresas mais rentáveis adquirem uma maior capacidade de se financiar com fundos gerados internamente. (MACHADO, TEMOCHE; MACHADO, 2004, p. 6).

Uma outra defesa da relação negativa entre essas duas variáveis baseia-se na

associação entre risco e rentabilidade. Quanto mais arriscada for a atividade da empresa,

maior o risco de falência e menor a sua rentabilidade.

Os autores esclarecem que tratando-se especificamente de empresas de pequeno e

médio porte, essa relação ainda é mais acentuada devido a dificuldade que essas firmas

possuem em acessar as linhas de crédito. Portanto, as empresas mais rentáveis recorrem

inicialmente ao capital próprio como fonte de financiamento.

A quarta hipótese defende a existência de uma relação negativa entre risco e

endividamento, em se tratando de empresas de pequeno e médio pote, devido a instabilidade e

o risco de falência inerente as esse tipo de empresa, a relação inversa entre essas duas

variáveis é reforçada.

A quinta hipótese levantada pelos autores testa a existência de uma relação positiva

entre composição dos ativos e endividamento. Os autores se baseiam na teoria de agency para

formular essa hipótese. A teoria afirma que as empresas mais endividadas são estimuladas a

investir em projetos mais arriscados para expropriar valor dos credores e os mesmo com

intuito de se proteger exigem garantias durante a negociação.

51

Ao considerar a variável liquidez como uma das mais importantes no universo das

pequenas e médias empresas, os autores apresentam a sua última hipótese testando a

existência de uma relação negativa entre endividamento e liquidez. Uma vez que, essas

empresas são as que mais apresentam problemas de liquidez e consequentemente são as mais

propensas à utilização de capital de terceiros.

De acordo com a pesquisa citada, a variável liquidez apresentou o maior poder de

predição da estrutura de capital das empresas analisadas. Foi, também, constatado que os

fatores porte, risco, composição dos ativos e liquidez, conjuntamente, apresentaram um alto

poder explicativo da estrutura de capital das pequenas e médias empresas da amostra.

Entretanto, as variáveis crescimento e rentabilidade não foram apontadas como determinantes

da estrutura de capital das firmas.

Ao se analisar o efeito isolado de cada variável independente foi, também,

constatado que as variáveis porte e composição dos ativos apresentaram sinais contrários aos

previsto nas hipóteses um e cinco da pesquisa. As variáveis crescimento e rentabilidade não

apresentaram significância estatística, entretanto confirmaram os sinais previstos nas

hipóteses 2 e 3. As variáveis risco e liquidez apresentaram significância estatística e os

mesmos sinais propostos na hipóteses quatro e seis. Essa hipóteses foram as únicas aceitas.

Os autores Machado, Temoche e Machado (2004) acreditam que a relação entre

composição dos ativos e endividamento foi apontada como negativa nos resultados das

regressões em função das dificuldades de acesso as linhas de crédito enfrentadas pelas

empresas de pequeno e médio porte. Essas firmas são impulsionadas a financiar seus ativos

permanentes com recursos próprios.

Os autores justificam a relação negativa entre porte e endividamento que contraria a

hipótese levantada, em função da dimensão em que estão inseridas e da falta de liquidez

desses tipos de empresas. Diante dessas dificuldades, essas firmas são impulsionadas a

recorrer a capital de terceiros.

52

2.4 FATORES DETERMINANTES DA ESTRUTURA DE CAPITAL DAS EMPRESAS

Com base na revisão teórica apresentada na seção 2.2 e na discussão dos resultados

empíricos obtidos em trabalhos precedentes, é possível identificar um conjunto de variáveis

que afetam a estrutura de capital das empresas. A listagem apresentada a seguir não se

pretende exaustiva, mas tem o objetivo de subsidiar a proposição da metodologia de pesquisa

usada neste trabalho. Contudo, convém destacar as limitações desta pesquisa apresentadas na

seção 3.8, como: horizontes de análise, disponibilidade de dados e amostra composta por

empresas bancarizadas.

A maior parte dos trabalhos empíricos apresentados na seção 2.3 considera que as

empresas escolhem as suas estruturas de capital de acordo com atributos próprios que

determinam os custos e benefícios das suas decisões de financiamento. Portanto, nesta

pesquisa serão testadas, por meio de métodos quantitativos, as relações entre a variável

dependente endividamento e as variáveis independentes apontadas pela teoria sobre estrutura

de capital e pelos trabalhos empíricos citados.

Singh e Hamid (1992) e Singh (1995), ao apresentarem estudos comparativos entre o

padrão de financiamento das empresas que atuam nos países desenvolvidos com o padrão das

firmas que atuam nos países em desenvolvimento, concluem que outros fatores que não

provêm das características das empresas, como aspectos institucionais, regimes tributários e

grau de desenvolvimento econômico dos países, interferem nas suas estruturas de capital.

Vale ressaltar que Booth et al. (2001), apesar de apontarem como resultados dos seus

trabalhos empíricos os fatores provindos das características das empresas como determinantes

da estrutura de capital, percebem, assim como os trabalhos de Singh e Hamid (1992) e Singh

(1995), a importância dos aspectos institucionais na escolha da composição dos

financiamentos das empresas.

A leitura dos trabalhos empíricos indica as variáveis crescimento, composição dos

ativos, rentabilidade e porte como significantes do endividamento das empresas estudadas.

Em virtude desse consenso sobre os fatores determinantes da estrutura de capital das firmas,

dentre as abordagens apresentadas na seção 2.3, esta pesquisa utilizou as mesmas variáveis ao

aplicar as regressões com os dados das empresas de médio porte da RMS. Em contraposição

à maior parte dos trabalhos, a pesquisa de Machado, Temoche e Machado (2004) aponta a

variável índice de liquidez corrente como determinante da estrutura de capital das empresas.

Como se trata de uma pesquisa voltada, também, para a análise da composição de

53

financiamento das empresas de pequeno e médio porte, foi utilizada essa variável nos

modelos de regressões aplicados no presente trabalho.

Nesta seção, serão apontados os fatores determinantes da estrutura de capital das

empresas apresentados pela revisão teórica, pelos trabalhos empíricos e testados nesta

presente pesquisa. Posteriormente, será apresentada a metodologia que subsidia este trabalho.

2.4.1 Crescimento

O crescimento de uma empresa é mensurado, nesta pesquisa, como a variação entre

os ativos totais dos referentes anos estudados. Como se sabe, qualquer majoração no ativo

total de uma empresa requer investimento, quer seja provindo de capital próprio, quer seja

advindo de capital de terceiros. Dessa forma, ao se tentar apontar as variáveis determinantes

da composição de financiamento das empresas, torna-se necessário testar a significância da

variável crescimento.

As abordagens sobre a variável crescimento estão fundamentadas em três teorias: a

teoria de falência, a pecking order e a de agência Conforme apresentado na seção 2.2.3, as

empresas com maiores custos de falência são desestimuladas a se endividarem. As firmas com

crescimento acelerado têm maiores custos de falência decorrentes dos seus ativos intangíveis

e elevados custo de agência, como discutido na seção 2.2.4, uma vez que os credores não

incentivam a realização de projetos arriscados.

Entretanto, de acordo com o que foi a apresentado na seção 2.2.6, as empresas que

possuem alto potencial de crescimento, mas sem recursos próprios para financiá-lo, recorrem

ao capital de terceiros. Vale ressaltar que, na fase inicial de suas atividades, as organizações

apresentam elevada necessidade de investimento e reduzido lucro, o que as impulsionam a

captar recursos de terceiros. Uma outra abordagem referenciada na seção 2.2.6 afirma que as

empresas com maior potencial de crescimento são as menos endividadas, por conta do custo

de agência associado à hipótese de expropriação de riquezas dos credores.

Essa variável foi testada nos trabalhos empíricos de Famá e Kayo (1997), Moreira e

Puga (2001), Gomes e Leal (2001), Famá e Perobeli (2001) e Machado, Temoche e Machado

(2004), apresentados anteriormente.

54

2.4.2 Composição dos Ativos

A dificuldade de acesso ao crédito de longo prazo é um dos grandes problemas

enfrentados pelas empresas brasileiras de pequeno e médio porte. Em virtude dessas linhas de

crédito serem mais arriscadas do que as de curto prazo, em função do prazo de pagamento, os

credores com o objetivo de se protegerem de futuras inadimplências passaram a exigir

garantias em operações de empréstimos. Dessa forma, a relação entre endividamento e a

variável composição dos ativos deve ser testada nesta pesquisa.

Conforme a abordagem apresentada na seção 2.2.3, as empresas que dispõem de

ativos fixos, para oferecer aos credores como garantia das dívidas, têm maior capacidade de

endividamento, uma vez que os ativos fixos podem ser convertidos em recursos para

pagamento dos credores em caso de falência da empresa. Em virtude dessa situação, as firmas

que detêm uma maior quantidade de ativos fixos, os quais possam ser liquidados durante um

possível processo falimentar, possuem menor custo de falência.

De acordo com Myers (1984), evidências empíricas sinalizam que a estrutura de

capital das empresas não é apenas determinada pelo valor e risco dos ativos, mas, também,

pelo tipo de ativo que as empresas possuem. Segundo os autores, as organizações que

possuem ativos intangíveis e crescimento acelerado são menos propensas ao endividamento,

principalmente, do que aquelas que possuem ativos intangíveis.

Constata-se na seção 2.2.4 que a contratação de dívidas com a garantia de ativos

fixos diminui a assimetria informacional entre administradores e credores, e

consequentemente, reduz os custos de agência. Os credores passam a ter conhecimento das

garantias que são concedidas nas operações e concedem linhas de crédito com taxas de juros

reduzidas.

Um outro aspecto considerado naquela seção está relacionado à necessidade que os

acionistas de empresas alavancadas possuem de investir em projetos arriscados, com objetivo

de expropriar riquezas dos credores. Eles, por sua vez, na tentativa de se protegerem de

eventuais estratégias arriscadas que possam lhes prejudicar, procuram negociar com empresas

que concedam ativos fixos como garantia. (MYERS; MAJLUF, 1984).

55

Segundo Moraes (1993, apud MACHADO; TEMOCHE; MACHADO, 2004), as

pequenas e médias empresas brasileiras enfrentam algumas dificuldades que devem ser

consideradas ao se estudar as suas estruturas de capital. A primeira diz respeito às

dificuldades de acesso às fontes de financiamentos formais, como mercado de capitais, e a

segunda está relacionada à carência de ativos que possam ser concedidos como garantia na

negociação de linhas de crédito com baixo custo.

Essa variável foi testada nos trabalhos empíricos de Nakamura (1992), Gomes e Leal

(2001) e Machado, Temoche e Machado (2004), apresentados na seção 2.3.

Em função da variável composição dos ativos ter sido apontada como determinante

da estrutura de capital das empresas pelas teorias e trabalhos empíricos apresentados nas

seções 2.2 e 2.3 desta pesquisa, torna-se necessários a análise da relação entre a variável

composição dos ativos e variável endividamento.

2.4.3 Rentabilidade

A rentabilidade da empresa (ROE) é a designação do retorno sobre o capital próprio

dos acionistas/proprietários das empresas. O crescimento da rentabilidade de uma empresa

depende de investimentos em suas operações, os quais podem ser oriundos de lucros retidos,

de recursos de terceiros ou capital dos acionistas. Dessa forma, torna-se importante analisar a

relação entre as variáveis endividamento e rentabilidade.

Conforme abordagem na seção 2.2.6, há uma hierarquia nas fontes de financiamento

das empresas, as quais preferem financiar seus investimentos com lucros retidos de exercícios

anteriores, em detrimento de recursos de terceiros e de capital dos acionistas. Assim, a

rentabilidade das empresas influencia a sua estrutura de capital, na medida em que aquelas

com o maior retorno sobre o capital próprio devem recorrer menos ao uso de dívidas e mais

ao financiamento com lucros retidos. (MYERS, 1984).

Entretanto, pode-se constatar, a partir do que foi abordado na seção 2.2.5, que as

empresas mais rentáveis devem se endividar mais com intuito de se beneficiarem da

dedutibilidade tributária dos juros. Ou seja, como apresentado pelas proposições de

Modigliani e Miller (1958, 1963) com imposto corporativo, os juros pagos pela utilização de

56

capital de terceiros são dedutíveis do lucro tributável. Portanto, as empresas que apresentam

maiores rentabilidades, conseqüentemente, maiores lucros devem, utilizar maiores níveis de

alavancagem com intuito de reduzir sua base tributável.

Dessa forma, percebe-se que existe um conflito entre as abordagens da teoria pecking

order e a teoria estática da estrutura de capital. Entretanto, os estudos empíricos apresentados

anteriormente, como os de Nakamura (1992), Famá e Kayo (1997), Gomes e Leal (2001),

Famá e Perobeli (2001), Moreira e Puga (2001), Machado, Temoche e Machado (2004),

apresentaram uma relação negativa entre endividamento e rentabilidade, confirmando a

abordagem da Teoria pecking order.

Em função da variável rentabilidade ser apontada pela revisão teórica e pelos

trabalhos empíricos apresentados neste trabalho, torna-se necessários analisar, por meio de

testes quantitativos, se a variável rentabilidade, em conjunto com as demais variáveis

explicam a variável endividamento.

2.4.4 Liquidez corrente

As medidas de liquidez corrente de uma empresa indicam a capacidade de pagar as

suas contas de curto prazo, sem demasiada dificuldade. Portanto, essas medidas representam a

situação dos ativos e passivos circulantes das firmas. (ROSS; WESTERFIELD; JORDAN,

2000).

Segundo Machado, Temoche e Machado (2004), a variável liquidez, apesar de ser

pouco abordada nos trabalhos empíricos sobre fatores determinantes da estrutura de capital

das empresas, a sua análise é de fundamental importância no universo das pequenas e médias

empresas. Uma vez que essas instituições são as que mais apresentam problemas de liquidez,

portanto, necessitam recorrer a capital de terceiros. Dessa forma, os autores afirmam que as

empresas menos líquidas são as mais endividadas.

Em função de a liquidez ser um dos principais problemas enfrentados pelas empresas

de médio porte, torna-se importante a análise da relação entre as variáveis liquidez corrente e

endividamento, na presente pesquisa.

57

2.4.5 Porte

Em um país como o Brasil, onde as linhas de créditos são de difícil obtenção devido às

exigências impostas pelos credores e pelas altas taxas de juros, o porte da empresa é um dos

limitadores do acesso aos empréstimos e financiamentos, em função da capacidade de

pagamento das empresas.

De acordo com os levantamentos realizados nas seções 2.2.3 e 2.2.4, as grandes

empresas são mais endividadas do que as pequenas e médias empresas, uma vez que as firmas

de maior porte apresentam menor assimetria de informações e menor custo de falência do que

as de menor porte. Essas empresas, por possuírem maior proporção de dívida, são obrigadas a

fornecer informações detalhadas de suas situações financeiras aos seus credores. (MYERS,

1984). Como exemplo, pode-se citar as empresas de capital aberto, as quais são obrigadas,

periodicamente, a divulgar seus balanços à sociedade com o objetivo de informar,

principalmente, aos seus acionistas, sobre suas situações financeiras. Além disso, devido às

firmas de grande porte serem mais diversificadas do que as de menor porte, são menos

sujeitas às dificuldades financeiras e, portanto, possuem menor custo de falência e maior

facilidade de acesso às linhas de crédito com taxas de juros mais baixas.

Entretanto, segundo Titman e Wessels (1988, apud MACHADO; TEMOCHE;

MACHADO, 2004), as empresas pequenas são mais endividadas do que as grandes, uma vez

que as demais fontes de financiamento são mais caras para as primeiras do que para as

segundas. As empresas pequenas possuem um custo mais elevado para emitir novas ações e

adquirir recursos de longo prazo do que as grandes instituições. Assim, as primeiras preferem

recorrer ao endividamento de curto prazo do que a outras fontes de financiamento.

Essa variável foi testada nos trabalhos empíricos apresentados na seção 2.3 de Famá e

Kayo (1997), Moreira e Puga (2001), Gomes e Leal (2001), Famá e Perobelli (2001) e

Machado, Temoche e Machado (2004).

Em função da variável porte ser apontada pelas teorias e pelos trabalhos empíricos

apresentados nas seções anteriores, como uma variável que interfere na composição dos

financiamentos das empresas, torna-se necessário, a sua inclusão no modelo estatístico da

presente pesquisa.

58

2.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS TRABALHOS EMPÍRICOS

Conforme apresentado na seção 2.5, os trabalhos empíricos identificaram alguns

fatores que, de acordo com a metodologia aplicada em cada pesquisa, comprovaram-se ser

determinantes da estrutura de capital da estrutura de capital das empresas analisadas. No

Quadro 1 será apresentado o referencial teórico utilizado na elaboração das hipóteses da

pesquisa.

Autores/Ano Variáveis Testadas Principais Resultados

Nakamura (1992)

Ativos Tangíveis

Porte

Rentabilidade

Setor de Atividade

- A variável ativos tangíveis apresentou uma

relação positiva e com significância estatística

com a variável endividamento. Os resultados

confirmaram a teoria de agency e as

abordagens sobre os custos de falência.

- A variável porte apresentou uma relação

positiva e com significância estatística com a

variável endividamento. Os resultados

confirmaram a Teoria de Agency e as

abordagens sobre os Custos de Falência.

- A variável rentabilidade apresentou uma

relação negativa e com significância estatística

com a variável endividamento. Os resultados

confirmaram a teoria Pecking Order.

- O setor de atividade da empresa foi apontado

como fator de diferenciação de endividamento

entre as empresas.

Famá e Kayo (1997)

Crescimento

Rentabilidade

Porte

- A variável crescimento apresentou uma

relação negativa e com significância estatística

com a variável endividamento. Os resultados

confirmaram as Teorias de Agency, Pecking

Order e as abordagens sobre os Custos de

Falência

59

Cont.

- A variável rentabilidade apresentou uma

relação negativa e com significância estatística

com a variável endividamento. Os resultados

confirmaram a Teoria Pecking Order.

- A variável porte apresentou uma relação

negativa e com significância com a variável

endividamento. Os resultados negaram a

Teoria de Agency e as abordagens sobre os

Custos de Falência.

Pereira (2000)

Crescimento

Tipo de controle da empresa

- A variável crescimento apresentou uma

relação positiva e com significância estatística

com a variável endividamento. Os resultados

negaram as Teorias de Agency, Pecking Order

e as abordagens sobre os Custos de Falência

- A variável tipo de controle da empresa não

foi apontada como determinante da estrutura de

capital das empresas.

Moreira e Puga (2001)

Lucratividade

Porte

Crescimento

- A variável lucratividade apresentou uma

relação negativa e com significância estatística

com a variável endividamento. Os resultados

confirmaram a Teoria Pecking Order.

- A variável porte apresentou uma relação

negativa e com significância estatística com a

variável endividamento. Os resultados negaram

a Teoria de Agency e as abordagens sobre os

Custos de Falência.

- A variável crescimento apresentou uma

relação negativa e com significância estatística

com a variável endividamento. Os resultados

confirmaram as Teorias de Agency, Pecking

Order e as abordagens sobre os Custos de

Falência

Gomes e Leal (2001) Rentabilidade - A variável rentabilidade apresentou uma

relação negativa e com significância estatística

com a variável endividamento. Os resultados

60

Cont.

Risco

Composição dos Ativos

Porte

Crescimento

Setor

confirmaram a teoria Pecking Order.

- A variável risco apresentou uma relação

positiva e com significância estatística com a

variável endividamento. Os resultados negaram

as Teorias de agency e as abordagens dos

Custos de Falências.

- A variável composição dos ativos apresentou

uma relação positiva e com significância

estatística com a variável endividamento. Os

resultados confirmaram a Teoria de Agency e

as abordagens dos Custos de Falência.

- A variável porte apresentou uma relação

negativa e com significância estatística com a

variável endividamento. Os resultados negaram

a Teoria de Agency e as abordagens sobre os

Custos de Falência.

- A variável crescimento apresentou uma

relação negativa e com significância estatística

com a variável endividamento. Os resultados

confirmaram as Teorias de Agency, Pecking

Order e as abordagens sobre os Custos de

Falência

- A variável setor não apresentou significância

estatística com a variável endividamento.

Famá e Perobelli (2001)

Porte

Crescimento

Rentabilidade

- A variável porte apresentou uma relação

negativa e com significância estatística com a

variável endividamento de curto prazo. Os

resultados negaram as Teorias de Agency,

Pecking Order e as abordagens sobre os Custos

de Falência

- A variável crescimento apresentou uma

relação negativa e com significância estatística

com a variável endividamento de curto prazo.

Os resultados confirmaram as Teorias de

Agency, Pecking Order e as abordagens sobre

61

Cont.

os Custos de Falência.

- A variável rentabilidade apresentou uma

relação negativa e com significância estatística

com a variável endividamento geral.

Machado, Temoche e

Machado (2004)

Porte

Crescimento

Rentabilidade

Risco

Composição dos Ativos

Liquidez

- A variável porte apresentou uma relação

negativa e com significância estatística com a

variável endividamento.

- A variável crescimento apresentou uma

relação negativa e sem significância estatística

com a variável endividamento. Os resultados

confirmaram as Teorias de Agency, Pecking

Order e as abordagens sobre os Custos de

Falência

- A variável rentabilidade apresentou uma

relação negativa e sem significância estatística

com a variável endividamento. Os resultados

confirmaram a teoria Pecking Order.

- A variável risco apresentou uma relação

negativa e com significância estatística com a

variável endividamento. Os resultados

confirmaram as Teorias de Agency e as

abordagens dos Custos de Falência.

- A variável composição dos ativos apresentou

uma relação negativa e com significância

estatística com a variável endividamento. Os

resultados negaram a Teoria de Agency e as

abordagens dos Custos de Falência.

- A variável liquidez apresentou uma relação

negativa e com significância estatística com a

variável endividamento. Os resultados

confirmaram a teoria Pecking Order.

Quadro 1: Variável e resultados dos trabalhos empíricos sobre estrutura de capital Fonte: Elaboração própria.

62

Conclui-se através do Quadro 1 que as variáveis crescimento, composição dos ativos,

rentabilidade e porte foram testadas na maior parte dos trabalhos empíricos sobre estrutura de

capital das empresas brasileiras.

3 METODOLOGIA

3.1 DESENHO DA PESQUISA

Esta pesquisa assume o caráter de uma pesquisa descritivo-analítica e quantitativa. A

característica descritiva é representada na exposição das teorias sobre estrutura de capital,

bem como dos dados secundários que foram coletados. Por sua vez, a face analítica se

manifesta na apresentação detalhada da relação entre o nível de endividamento e os fatores

apontados pela teoria como seus determinantes, a partir do tratamento estatístico dos dados.

Segundo Gil (2002), as pesquisas descritivas têm como objetivo estudar e descrever

as características de determinada população ou fenômeno, ou estabelecer as relações entre

variáveis. Vale ressaltar que algumas pesquisas descritivas, além de procurarem identificar a

relação entre as variáveis pesquisadas, pleiteiam determinar a natureza dessa relação. Nesse

caso, a pesquisa descritiva se aproxima da explicativa.

Gil (2002) discorre que, além de se estabelecer a classificação das pesquisas, torna-se

necessário traçar um planejamento do trabalho científico em sua dimensão mais ampla, que

envolve tanto o desenho da pesquisa, quanto a previsão de análise e interpretação de dados.

Como o planejamento estabelece o desenvolvimento do trabalho, incluindo os procedimentos

de coleta e análise de dados, torna-se necessário classificar a pesquisa de acordo com os

procedimentos técnicos adotados.

Dessa forma, as pesquisas são classificadas em dois grandes grupos: aqueles cujas

fontes são livros, artigos ou documentos; e aqueles cujos dados são oferecidos por pessoas.

No primeiro grupo, estão a pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental. No segundo, estão

a pesquisa experimental, a pesquisa ex-post facto, o levantamento e o estudo de caso. (GIL,

2002).

64

Este trabalho adotou a pesquisa bibliográfica e documental. A pesquisa documental é

realizada com base em livros e artigos científicos. A sua principal vantagem está no fato de

permitir ao pesquisador o acesso a uma série de fenômenos muito mais ampla do que aquela

que conseguiria pesquisar diretamente. Já a pesquisa documental possui certa semelhança à

pesquisa bibliográfica; a diferença está na natureza das fontes. Enquanto a primeira utiliza os

trabalhos dos diversos autores sobre determinado assunto, a segunda utiliza materiais que não

foram analisados em outros trabalhos ou que podem ser reutilizados de acordo com o objetivo

da pesquisa. Esta última apresenta uma série de vantagens. A primeira está no fato de se

considerar que os documentos são uma fonte rica e estável de dados. Uma segunda vantagem

diz respeito ao seu custo, quando comparado com as demais pesquisas. Um outro benefício

está na falta de exigência do contato com os sujeitos da pesquisa, uma vez que esse contato

pode ser difícil ou até mesmo impossível. (GIL, 2002).

Ainda em relação à característica da pesquisa, vale ressaltar que foi utilizado o

método hipotético-dedutivo. Segundo Marconi e Lakatos (2006), método é um conjunto de

procedimentos necessários ao atingimento do objetivo da pesquisa, que permite estabelecer o

caminho a ser seguido durante a atividade científica.

Como apresentado acima, o método aplicado nesta pesquisa é o hipotético-dedutivo.

Segundo Marconi e Lakatos (2006, p. 91), esse método pode ser apresentado como o “que se

inicia pela percepção de uma lacuna nos conhecimentos, acerca da qual formula hipóteses e,

pelo processo de inferência dedutiva, testa a predição da ocorrência de fenômenos abrangidos

pelas hipóteses.” Dessa forma, as hipóteses são levantadas e testadas por meio de métodos

quantitativos, com o objetivo de comprovar as relações dos fenômenos entre si. Os resultados

dos testes são apresentados de forma detalhada e analítica.

3.2 ESCOLHA DA METODOLOGIA

O objetivo dessa pesquisa é analisar através das demonstrações financeiras de

empresas de médio porte da Região Metropolitana de Salvador a relação entre a variável

dependente endividamento e as variáveis independentes: composição dos ativos, índice de

liquidez corrente, rentabilidade, porte e crescimento. Em função do objetivo proposto,

inicialmente, foram aplicadas regressões multivariadas entre as variáveis obtidas dos dados

65

cross-section de 2004 e 2005 das empresas analisadas. Com intuito, também, de analisar a

relação entre as variáveis propostas na pesquisa no decorrer do tempo, os dados foram

analisados em painel. Entretanto, essa análise ficou prejudicada em função da utilização de

dados providos de demonstrações financeiras de um curto período de tempo. Devido a

indisponibilidade de dados no sistema da instituição financeira, só possível obter os

demonstrativos financeiros das empresas de 2004 e 2005. Em suma, o sucesso da utilização

dos dados em painel estaria na utilização de dados provindos de um período mais longo.

3.3 AMOSTRAGEM

Para realização do presente trabalho, foi necessário selecionar uma amostra de

empresas de médio porte da Região Metropolitana de Salvador. Todos os dados analisados

foram extraídos das demonstrações financeiras, que fazem parte do banco de dados de uma

empresa financeira, disponíveis em maio de 2008.

Na seleção do número de empresas, inicialmente, foram consideradas todas as

empresas que têm informações no banco de dados da instituição financeira. Em uma

contagem inicial, existiam 667 empresas. Em virtude dos dados serem rodados em analise de

painel, foram excluídas as instituições que não apresentavam as demonstrações financeiras

referente aos anos de 2004 e 2005. Com esse filtro, a amostra passou a ser constituída de 88

empresas.

Dessa forma, da base de dados referente aos anos de 2004 e 2005, disponibilizada no

sistema da instituição financeira, filtram-se as informações de acordo com os seguintes

critérios:

a) Somente empresas de médio porte.

b) Somente empresas com Patrimônio Líquido positivo. Empresas com

patrimônio líquido negativo distorcem a análise, já que a variável

rentabilidade foi expressa em função desse valor.

Assim, procedendo à composição da amostra de 88 empresas, reduziu-se para 57

empresas, de acordo com o critério supracitado.

66

3.4 VARIÁVEIS

As variáveis presentes na pesquisa foram escolhidas em virtude de terem sido

utilizadas nas pesquisas abordadas na seção 2.3 deste trabalho, da disponibilidade de dados e,

por fim, por serem apresentadas nas teorias sobre estrutura de capital. Essas variáveis foram

calculadas a partir dos balanços patrimoniais e demonstrações do resultado das empresas

pesquisadas. Com essas informações, foi possível calcular os índices financeiros, os quais

passaram a ser as variáveis das regressões realizadas nesta pesquisa.

As informações retiradas dos Balanços Patrimoniais e dos Demonstrativos dos

Resultados dos Exercícios são referentes aos seguintes itens:

1. PC - Passivo Circulante

2. ELP - Exigível a Longo Prazo

3. AC - Ativo Circulante

4. RLP - Realizável a Longo Prazo

5. AP - Ativo Permanente

6. Ativo Total

7. RB - Receita Bruta

8. PL - Patrimônio Líquido

9. LL - Lucro Líquido

A seguir, definem-se os dados supracitados com o objetivo de identificar os itens

que formarão os índices financeiros utilizados nesta pesquisa.

Inicialmente, vale definir Balanço Patrimonial e Demonstrativo de Resultado do

Exercício. O primeiro é uma demonstração financeira que apresenta os bens, obrigações e a

diferença entre os dois de uma firma, em um determinado momento. O Balanço é formado

pelas seguintes contas principais:

a) PC – Passivo Circulante

Os Passivos Circulantes são as obrigações da empresa que devem ser pagos

em até um ano, e são apresentados acima do exigível a longo prazo.

b) ELP - Exigível a Longo Prazo

67

O Exigível a Longo Prazo é representado pelas dívidas que não vencem em

menos de 12 meses.

c) PT – Passivo Total

Somatório de todas as obrigações da empresa. É obtido a partir da soma das

contas: Passivo Circulante e Exigível a Longo Prazo

d) AC - Ativo Circulante

Os Ativos Circulantes são os bens e direitos da empresa convertidos em

caixa em, no máximo, 12 meses.

e) RLP - Realizável a Longo Prazo

O Realizável a Longo Prazo é representado pelos bens e direitos da empresa

convertidos em caixa a partir de 12 meses.

f) AP - Ativo Permanente

O Ativo Permanente é representado pelas contas de investimentos e

imobilizados do Balanço Patrimonial.

g) AT – Ativo Total

Somatório de todos os bens e direitos da empresa, ou seja, representa a soma

das contas: Ativo Circulante, Realizável a Longo Prazo e Ativo Permanente.

h) PL - Patrimônio Líquido

O Patrimônio Líquido corresponde ao capital próprio da empresa. É a

diferença entre o Ativo Total e o Passivo Total.

Pode-se definir Demonstrativo de Resultado do Exercício como a representação das

receitas e despesas da empresa. (ROSS; WESTERFIEL; JORDAN, 2000). Suas principais

contas são:

a) RB - Receita Bruta

68

A Receita Bruta é provinda dos recursos financeiros gerados pela atividade da

empresa. É a receita apresentada no Demonstrativo de Resultado do Exercício

antes dos impostos e despesas operacionais e financeiras.

b) LL - Lucro Líquido

O Lucro Líquido é o resultado depois de deduzidos os custos e despesas de

todas as naturezas e os impostos

Esses itens formam as variáveis independentes e dependentes: endividamento total,

composição dos ativos, índice de liquidez corrente, ROE, porte e crescimento

Com base nos resultados das pesquisas apresentadas no Quadro 1 e nas

peculiaridades das empresas brasileiras de médio porte foram escolhidas as variáveis que

serão testadas no presente trabalho indicadas, no Quadro 2. Vale ressaltar que os indicadores

financeiros são os índices financeiros que farão parte das regressões utilizadas na pesquisa.

VARIÁVEIS

INDICADORES

COMENTÁRIOS

Endividamento Total

PT/AT

Passivo Circulante + Passivo Exigível a Longo Prazo/ Ativo Total

Composição dos Ativos

AP/AT

Ativo Permanente/Ativo Total

Índice de Liquidez Corrente

AC/PC

Ativo Circulante/Passivo Circulante

ROE

LL/PL

Lucro Líquido/Patrimônio Líquido

Porte

Log Receita Bruta

Log Receita Bruta

Crescimento

1t

1tt

ATATAT

AT−

−−=Δ

Variação do Ativo Total

Quadro 2: Resumo das variáveis a serem estudadas Fonte: Elaborada pelo autor.

Conforme o observado no Quadro 2, todas as variáveis independentes foram

apontadas como determinantes da estrutura de capital das empresas por uma grande parte dos

69

trabalhos empíricos sobre as instituições brasileiras, com exceção da variável liquidez. Essa

variável foi utilizada no modelo estatístico por ter sido apresentada pelo trabalho de Machado,

Temoche e Machado (2004) como um dos grandes problemas enfrentados pelas empresas de

pequeno e médio porte. Os autores levantam a hipótese de que essas instituições por não

serem tão liquidas, normalmente, precisam recorrer a capital de terceiros.

3.5 TRATAMENTO DE DADOS

Os dados desta pesquisa foram tratados por meio de métodos quantitativos, com o

objetivo de subsidiarem as análises e conclusões correspondentes aos dados pesquisados.

Foram realizados os seguintes passos:

1º Passo: A amostra inicial constava de 88 empresas.

2 º Passo: Os dados foram testados quanto à existência de outliers, com o objetivo de

excluir da amostra os valores extremos. O critério para exclusão dos valores extremos foi o de

retirar as empresas que apresentaram Patrimônio Líquido negativo.

3º Passo: Os dados foram submetidos a testes de correlação, para verificar a

existência de multicolinearidade entre eles.

4º Passo: Foram utilizados alguns modelos de Regressões Multivariadas com o

auxílio de Software Stata. Foi aplicado o método Análise de Dados em Painel, com o objetivo

de detectar se o conjunto das variáveis independentes escolhidas explicava o comportamento

da variável dependente.

5º Passo: Análise dos resultados obtidos.

3.6 REGRESSÕES MULTIVARIADAS

Neste trabalho, será aplicada uma metodologia econométrica de regressão

multivariada. Segundo Gujarati (2000), a econometria é dividida em duas categorias: a teórica

e a aplicada. A teórica aborda os métodos aplicados na medição das relações econômicas

existentes nos modelos econométricos, e a aplicada estuda, com profundidade, algumas partes

específicas de economia e negócios. Este trabalho se ocupará da aplicação de métodos

econométricos, suas hipóteses, suas aplicações e limitações.

70

Uma das ferramentas da econometria mais utilizada no meio acadêmico é a regressão

dos dados. Segundo Gujarati (2000), o termo regressão o qual foi introduzido por Francis

Galton em 1886, pode ser definido, em linhas gerais, da seguinte forma:

A análise de regressão ocupa-se do estudo da dependência de uma variável, a variável dependente, em relação a uma ou mais variáveis, as variáveis explicativas, com o objetivo de estimar e/ ou prever a média (da população) ou o valor médio da dependente em termos dos valores conhecidos ou fixos (em amostragem repetida) das explicativas. (GALTON, 1886 apud GUJARATI, 2000, p.4).

Percebe-se pelo que foi citado por Galton (1886 apud GUJARATI, 2000), que na

análise de regressão o que interessa é a dependência estatística entre as variáveis. Nas relações

estatísticas entre as variáveis, trabalha-se, basicamente, com variáveis aleatórias ou

estocásticas.

Vale ressaltar que existe diferença entre análise de regressão e de correlação.

Enquanto na primeira o objetivo é estimar o valor médio da variável dependente com base nos

valores fixados das variáveis independentes, na segunda, o objetivo é medir a intensidade

linear entre duas variáveis.

Antes de apresentar, com profundidade, a ferramenta estatística regressão, torna-se

importante esclarecer algumas terminologias e notações.

Nos modelos de regressão linear de equação única, a variável dependente é expressa

como uma função linear de uma ou mais variáveis independentes, também designadas

explicativas. As relações causais entre essas variáveis, se houver alguma, fluem na direção

das variáveis explicativas para a variável dependente. Ao se estudar a dependência de uma

variável em relação a uma única variável explicativa, utiliza-se uma análise de regressão de

duas variáveis. Entretanto, ao se estudar a dependência de uma variável em relação a mais de

uma variável explicativa, aplica-se uma análise de regressão múltipla. Uma das interpretações

de Gujarati para a equação da Regressão Múltipla é a seguinte:

Portanto, como no caso de duas variáveis, a análise de regressão múltipla é uma análise de regressão condicional a valores fixos das variáveis explicativas, e o que obtemos é a média ou valor médio de Y, ou a resposta média de Y aos valores fixos das variáveis X. (GUJARATI, 2000, p.185).

O modelo mais simples de regressão é o modelo de regressão linear. Neste tipo de

modelo, a regressão é linear nos parâmetros, ou seja, eles são elevados somente à primeira

potência, como apresentado abaixo. (GUJARATI, 2000).

71

ii21i uXY +β+β= (5.1)

Onde,

1β e 2β são parâmetros

iY e iX são variáveis

e iu é o termo de perturbação estocástica

Generalizando a função de regressão múltipla, ou seja, regressão com mais de duas

variáveis, nota-se a seguinte função:

ii33i221i uXXY +β+β+β= (5.2)

Os termos das equações 5.1 e 5.2, apresentados como parâmetros ( 2β , 3β ), são

conhecidos, também, como Coeficiente de Regressão Parcial. Esses coeficientes medem a

mudança no valor médio de Y por variação unitária na variável X, mantendo constantes as

demais variáveis explicativas. Por exemplo, o coeficiente 2β mede a alteração no valor médio

em Y por variação em 3X , mantendo constante 2X . O termo de perturbação estocástica ( iu )

representa todas as variáveis independentes omitidas do modelo, mas que interferem

coletivamente no comportamento da variável dependente.

Esta pesquisa utilizará, largamente, o método estatístico denominado mínimos

quadrados ordinários. Tal método é um dos mais populares nas pesquisas que utilizam

regressão. A sua popularidade ocorre em virtude de ser um método que estima 1

β e 2

β de

uma amostra ou conjunto de dados, de forma que ∑∧

2iu é a menor possível. Ou seja, o

método dos mínimos quadrados ordinários escolhe os estimadores da amostra,de forma que

reduza o valor da soma dos resíduos.

Uma outra terminologia importante para entendimento da regressão é o Coeficiente

de Determinação 2r (caso de duas variáveis) ou o Coeficiente Múltiplo de Determinação 2R

(caso de mais de duas variáveis). O Coeficiente de Determinação é uma medida que

representa quão bem a reta de regressão da amostra se ajusta aos dados da pesquisa. Vale

ressaltar que uma outra terminologia relacionada com 2r , mas conceitualmente diferente, é o

coeficiente de correlação r , que pode ser definido como uma medida do grau de associação

entre duas variáveis. Por meio desse coeficiente, é possível detectar a existência de

72

multicolinearidade entre as variáveis estudadas (vide o próximo item). O R , assim como o r ,

mensuram o grau da associação entre Y e todas as variáveis explicativas conjuntamente.

Vale ressaltar que tanto o 2r como o 2R se situam entre 0 e 1.Sendo 1, a reta de

regressão explica 100% da variação de y. Dessa forma, o modelo estatístico possui um alto

poder explicativo quanto mais próximos os Coeficientes de Determinação estiverem de (1).

(GUJARATI, 2000). Por outro lado, se for (0), o modelo estatístico não explica a variação de

y.

Gujarati (2000) apresenta um outro coeficiente designado 2R ajustado. Segundo o

autor, em virtude do 2R quase, invariavelmente, aumentar com o acréscimo de variáveis no

modelo, torna-se necessário, ao se compararem dois termos 2R provindos de modelos de

regressão com a mesma variável dependente e diferente número de variáveis independentes,

levar em consideração a quantidade dessas variáveis quando se escolhe o modelo. Tal escolha

torna-se mais precisa ao se considerar um coeficiente alternativo de determinação conhecido

como 2R ajustado ou 2

R . A vantagem desse coeficiente está em não aumentar tanto quanto o 2R , ao se aumentar o número de variáveis independentes do modelo.

Gujarati (2000) faz um alerta em relação à escolha do modelo estatístico, quando se

considera o 2

R . Segundo o autor, existe um perigo em escolher um modelo que dê o maior 2

R , pois o mesmo pode não ser o que resulte em uma relevância lógica e teórica das variáveis

explicativas para variável dependente.

Na análise empírica realizada neste trabalho, foram utilizados dados do tipo cross-

section e de painel. Segundo Gujarati (2000, p.13), dados do tipo cross-section são “[...]

dados de uma ou mais variáveis coletados no mesmo ponto do tempo [...]”. Já os dados de

painel são os dados tanto de séries temporais como do tipo cross - section. Uma série

temporal envolve um conjunto de observações dos valores que uma variável assume em

pontos do tempo diferentes. Em resumo, nos dados de painel uma mesma unidade de estudo

cross-sectional é pesquisada durante um período de tempo.

73

3.7 ANÁLISE DE CORRELAÇÃO ENTRE AS VARIÁVEIS

Ao se realizar uma pesquisa que utiliza o modelo de regressão múltipla, torna-se

necessária a análise da multicolinearidade entre as variáveis independentes.

Segundo Ragnar Frisch (1970 apud GUJARATI, 2000), o termo multicolinearidade

“significa originalmente a existência de uma “perfeita” (ou exata) relação linear entre algumas

ou todas as variáveis explicativas de um modelo de regressão”. Segundo Gujarati (2000), a

multicolinearidade é um fenômeno da amostra e não existe um método único para detectá-la

ou para medir sua intensidade. Dessa forma, são apresentadas, abaixo, algumas regras práticas

para análise da existência da multicolinearidade entre as variáveis independentes:

1- Alto 2R e poucas razões t significativas.

Nesse caso, se o 2R é alto, ou seja, maior que 0,8, e os testes t individuais, indicam

que nenhum ou poucos coeficientes de inclinação parcial são diferentes de zero. Deve,

assim, existir multicolinearidade entre as variáveis.

2- Coeficiente de correlação alto entre cada dois regressores.

A segunda regra apresentada pelo autor é que, se os coeficientes de correlação dois a

dois forem altos, ou seja, maiores que 0,8, então, deve haver multicolinearidade entre

as variáveis.

3- Exame das correlações parciais

Nesse método, deve-se analisar se o 2R e os coeficientes de correlação parcial são

altos.

4- Regressões auxiliares

Regressão auxiliar é a regressão entre pares de variáveis explicativas. Por meio desse

método, é possível analisar o 2R e o F das regressões auxiliares e detectar a existência

da multicolinearidade. Se o 2R for alto e o F calculado for maior que o F crítico, a

variável escolhida é colinear com outras variáveis explicativas. O autor esclarece uma

outra prática, também utilizada para detectar a colinearidade entre as variáveis. A

74

regra prática de Klein estabelece que existe colinearidade se o 2R obtido de uma

regressão auxiliar for maior que o 2R obtido por meio da regressão da variável

dependente sobre todas as variáveis independentes.

5- Autovalores e índice de condição

Alguns autores acreditam que o índice de condição é a melhor prática para se detectar

a multicolinearidade. O índice de condição é definido da seguinte forma:

k mínimoautovalor

máximo autovalorIC ==

Se k estiver entre 100 e 1000, existe multicolinearidade de moderada a forte e, se

exceder 1000, há multicolinearidade grave.

6- Tolerância e fator inflação da variância

Segundo Gujarati (2000), o FIV (fator de inflação da variância) é utilizado como

indicador da multicolinearidade. Se o FIV de uma variável for maior que 10, diz-se

que ela é altamente colinear. Outra prática utilizada para diagnosticar a

multicolinearidade é a medida de tolerância. Definida como:

)FIV/1()R1(TOL j2

j =−= (6)

Se TOL for igual a 1, a variável não tem correlação com as demais variáveis; e se,

TOL for zero, a variável tem alta correlação com as demais variáveis.

Vale ressaltar que antes de se realizar uma análise de regressão múltipla, é preciso

calcular os coeficientes de correlação de todas as variáveis tomadas aos pares. Gujarati (2000)

esclarece, na prática 2, que se houver duas ou mais variáveis com coeficientes de correlação

muito altos ( r igual ou superior a 0,8), elas interferirão nos cálculos de regressão múltipla. Se

forem encontradas 2 ou mais variáveis nessa condição, deve-se escolher apenas uma delas

para o processamento da análise de regressão múltipla . Ou seja, nenhuma das variáveis

explicativas do modelo deve ser escrita como combinações lineares das demais variáveis

explicativas. A utilização dessa técnica impossibilita a escolha do modelo estatístico errado e

a realização de análises equivocadas.

75

A tabela de correlação é uma ferramenta extremamente importante na verificação das

correlações entre as variáveis independentes (colinearidade). Pela análise da tabela, verifica-

se a existência de multicolinearidade entre as variáveis.

3.8 HIPÓTESE

Segundo Marconi e Lakatos (2006), hipótese é uma suposta, provável e provisória

resposta a um problema, cuja comprovação será realizada por meio de pesquisa. A hipótese é

considerada uma sentença afirmativa com consistência lógica e compatível com o

conhecimento científico, apresentando um caráter explicativo ou preditivo.

Com base na seção 2 e análises precedentes, formularam-se as hipóteses

apresentadas abaixo:

0H : A variável crescimento está associada negativamente ao nível de endividamento

total das empresas

1H : A variável composição dos ativos está associada positivamente ao nível de

endividamento total das empresas.

:H2 A variável rentabilidade está associada negativamente ao nível de

endividamento total das empresas.

3H : A variável índice de liquidez corrente está associada negativamente ao nível de

endividamento total das empresas

4H : A variável porte da empresa está associada positivamente ao nível de

endividamento total das empresas.

76

3.9 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os testes de regressão foram aplicados em dados de 57 empresas do banco de dados

de uma instituição financeira que resultaram em 114 observações para todo o período

pesquisado (2004 e 2005). Vale ressaltar que todas as instituições são constituídas como

sociedades por quota de responsabilidade limitada. Utilizando a análise cross-section e Panel

Data para um modelo estatístico foram testadas as seguintes equações:

1. +β+β+β+β+β+β= i66i55i44i33i221i XXXXXY iu (7)

2. +β+β+β+β+β+β+β= i77i66i55i44i33i221i XXXXXXY iu (8)

iβ = Parâmetros

iY = Endividamento (variável dependente)

i2X = Índice de liquidez corrente (variável independente)

i3X = ROE (variável independente)

i4X = Porte (variável independente)

i5X = Composição dos Ativos (variável independente)

i6X = Crescimento (variável independente)

i7X = Tempo (variável dummy)

iu = Termo de perturbação estocástica

Os testes de mulcolinearidade foram aplicados aos dados, com o objetivo de detectar a

existência de colinearidade entre as variáveis independentes. A ausência de problemas de

multicolinearidade permitiu a aplicação dos testes econométricos com todas as variáveis

independentes propostas inicialmente na pesquisa.

77

3.9 LIMITAÇÕES METODOLÓGICAS

Algumas limitações fizeram parte desta pesquisa:

A) Horizonte de análise - Em virtude da dificuldade de obtenção de demonstrativos

financeiros de empresas de médio porte da RMS, a pesquisa utilizou uma série temporal curta,

o que dificultou a estimação dos dados. Inicialmente, a pesquisa foi planejada com a

utilização dos dados cross-section e em painel, em virtude da dificuldade de obtenção de

demonstrativos financeiros de um período mais longo, não foi possível analisar o impacto da

evolução dos dados nos resultados. Vale ressaltar que, em função da ausência de dados de

algumas empresas do ano de 2006, não foi possível mensurar o impacto da variável

crescimento entre o período de 2005 e 2006.

B) Disponibilidade de dados - A existência de uma quantidade elevada de empresas,

pertencentes ao banco de dados pesquisado, que apresentaram lucro presumido,

impossibilitou a utilização de uma amostra mais robusta.

C) Amostra composta por empresas bancarizadas - As regressões podem apresentar

viés nos resultados, em função da base de dados pesquisada ser composta por empresas que

possuem conta corrente em um banco múltiplo.

D) Ausência de variável importante na análise da estrutura de capital das empresas

brasileiras - Em um contexto marcado por alta taxa de juro, o custo de capital é uma variável

importante ao se analisar a composição das fontes de financiamento das empresas brasileiras.

Entretanto, não foi possível mensurar o impacto da taxa Selic na escolha da estrutura de

capital das firmas estudadas em função dessa taxa não ter apresentado alteração significativa

durante o período analisado.

4 RESULTADOS

Nesta seção foram analisados os resultados das regressões entre as variáveis:

endividamento, liquidez corrente, ROE, porte, composição dos ativos e crescimento.

Inicialmente foi utilizada análise cross-section para os dados das empresas do ano de 2004,

posteriormente foi aplicado o mesmo método para os dados de 2005 e para finalizar foi

realizado a análise de painel com os dados das empresas dos dois anos.

4.1 ANÁLISE DESCRITIVA DOS DADOS

Os dados utilizados na pesquisa foram retirados dos balanços e das demonstrações de

resultados de empresas de médio porte (faturamento acima de R$ 2.400,000) da Região

Metropolitana de Salvador. Os demonstrativos foram adquiridos através do BAL (Sistema de

Balanços e Análises Financeiras) de uma instituição financeira.

O quadro abaixo apresenta a distribuição das 57 empresas da amostra, classificadas

pelo setor de atividade de acordo com os critérios do IBGE. São apresentadas as freqüências

absolutas (N) e as freqüências relativas (%): SETOR N %

Ind. de Transformação 3 5,3

Construção 5 8,8

Comércio 35 61,4

Transporte 2 3,5

Serviços prestados as empresas 10 17,5

Saúde 1 1,8

Outros serviços coletivos 1 1,8

Total 57 100

79

Cont. Total 57 100

Quadro 3: Freqüência do setor de atividades Fonte: Elaborada pelo autor

Verifica-se, assim, que, em relação ao setor de atividade, a amostra é composta

preponderantemente por empresas do setor de comércio (61,4%). No total, 81% das empresas

pesquisadas pertencem aos setores comerciais e de serviços.

Com o objetivo de proporcionar uma melhor compreensão a respeito dos dados

analisados foram calculadas as principais estatísticas descritivas das variáveis pesquisadas. Na

tabela a seguir são apresentadas às medidas resumo para apontar a média, o desvio-padrão, a

mediana, o mínimo e o máximo das variáveis independentes e a variável dependente.

Tabela 1 – Estatística descritiva das variáveis

2004 2005

N 57 57

Média 0,48796 0,501816

Desvio Padrão 0,322881 0,310124

Endividamento Mediana 0,463871 0,492683

Mínimo 0,023566 0,024025

Máximo 1,752677 1,66357

ILC Média 4,1144 3,63484

Desvio Padrão 7,03018 6,777542

Mediana 1,801653 1,786071

Mínimo 0,373866 0,256291

Máximo 42,0087 41,31206

Média 0,051425 0,265246

Desvio Padrão 2,317302 0,382883

ROE Mediana 0,317419 0,259099

Mínimo -17 -1,92464

Máximo 1,181564 0,953079

Média 3,781352 3,887489

Desvio Padrão 0,407029 0,317695

Porte Mediana 3,770705 3,923348

Mínimo 2,820201 3,231215

Máximo 4,633468 4,720606

Média 0,24733 0,232048

80

Cont.

Fonte: Elaboração própria

Verifica-se através da análise do quadro acima, que as empresas estudadas utilizaram

em média em 2004 e 2005, respectivamente, 49% e 50% de capital de terceiros para financiar

as suas atividades. Ao se observar, também, o nível médio da composição dos ativos das

empresas pesquisadas percebe-se que elas apresentaram um baixo nível de comprometimento

dos seus ativos com imobilizados em 2004 e 2005, respectivamente, 25% e 23%. Além disso,

o endividamento médio de longo prazo no período analisado corresponde a apenas 7% em

cada ano. Percebe-se que a ausência de ativos que possam ser concedidos como garantias nas

operações de financiamento, dificulta o acesso das empresas as linhas de crédito de longo

prazo. Esse resultado comprova a abordagem da teoria da agência a qual afirma que as

empresas que detêm pouco ativos fixos para conceder como garantia nas negociações com os

credores apresentam um baixo índice de endividamento.

Ao se analisar a estatística descritiva do ILC percebe-se que as médias foram altas,

nos dois anos estudados, comprovando, o que foi apresentado anteriormente, que a maior

parte do ativo total dessas empresas é comprometida com ativo circulante. Em 2004 e 2005,

as instituições apresentaram em média 73% e 75%, respectivamente, de proporção entre ativo

circulante e ativo total. Conclui-se, com base na análise da estatística descritiva da variável

índice de liquidez corrente, que as empresas analisadas se endividam preponderantemente

com recursos de curto prazo.

As empresas analisadas apresentaram uma média de rentabilidade de 5% em 2004 e

26% em 2005. A dificuldade de acesso as linhas de crédito pode ser considerada um dos

fatores que afeta a rentabilidade das empresas de médio porte. A falta de recursos que possam

Desvio Padrão 0,229627 0,224449

Composição dos Ativos Mediana 0,194512 0,187215

Mínimo 0 0

Máximo 0,918641 0,941296

Média 0,803484

Desvio Padrão 1,794862

Crescimento Mediana 0,249032

Mínimo -0,32259

Máximo 11,80088

81

alavancar os seus negócios pode interferir no nível de retorno dos seus proprietários. Já em

relação ao crescimento das empresas entre 2004 e 2005 constata-se um crescimento de 80%.

4.2 ANÁLISE DE MULTICOLINEARIDADE

Com o objetivo de analisar a multicolinearidade entre as variáveis independentes

obtidas através dos demonstrativos financeiros das empresas pertencentes ao banco de dados

de uma instituição financeira, foi utilizada a prática 2 apresentada na seção 3.6. Essa prática

aponta problemas de multicolinearidade no modelo estatístico quando os coeficientes de

correlação dois a dois forem maiores que 0,8. Percebe-se, através da Tabela 2, que as

variáveis independentes não apresentaram um alto nível de correlação (acima de 0,8) entre

elas. Ou seja, todos os fatores propostos no início da pesquisa foram utilizados como

variáveis independentes no modelo estatístico.

Tabela 2 – Correlação entre as variáveis Variáveis Nº

obs. Endividamento Tempo ILC ROE Porte Composição.

dos ativos Endividamento 114 1,0000 0,0221 -0,4524 -0,1572 0,2963 -0,1001 Tempo 114 0,0221 1,0000 -0,0350 0,0648 0,1451 -0,0339 ILC 114 -0,4524 -0,0350 1,0000 0,0552 -0,1838 -0,2375 ROE 114 -0,1572 0,0648 0,0552 1,0000 -0,0614 0,0106 Porte 114 0,2963 0,1451 -0,1838 -0,0614 1,0000 -0,0197 Composição dos ativos 114 -0,1001 -0,0339 -0,2375 0,0106 -0,0197 1,0000

4.3 REGRESSÕES

Com o objetivo de determinar os fatores determinantes da estrutura de capital das

empresas de médio porte da RMS foram rodadas regressões com os dados retirados dos

balanços e das demonstrações de resultados de empresas de médio porte da RMS.

Na análise empírica realizada neste trabalho foram utilizados dados de corte (cross-

section) e combinados (painel). Segundo Gujarati (2000, p.13), dados do tipo cross-section

são “[...] dados de uma ou mais variáveis coletados no mesmo ponto do tempo [...]”. Já os

dados combinados são os dados tanto de séries temporais como de dados de corte. Sendo que

82

uma série temporal envolve um conjunto de observações dos valores que uma variável assume

em pontos do tempo diferentes.

Com o intuito de atingir o objetivo da pesquisa, procurou-se por meio do uso da

análise de dados de corte e em painel, desenvolver regressões multivariadas que permitissem

um entendimento maior sobre o comportamento de determinadas variáveis presente na

literatura em relação à estrutura de capital das empresas de médio porte.

Tomou-se como ponto de partida para interpretação e análise dos dados a regressão

múltipla com dados do tipo cross-section. Inicialmente, realizou-se a regressão com os dados

dos balanços e das demonstrações de resultados de 2004 das empresas estudadas. Os

coeficientes dos modelos foram calculados através do método direto, uma vez que as

variáveis são providas das diversas teorias e dos trabalhos empíricos sobre estrutura de

capital. Os resultados das regressões estão apresentados abaixo:

Tabela 3 – Resultados do Modelo de Regressão 1

Coeficientes Erro padrão

Stat t Valor-P 95% inferiores

95% superiores

Inferior 95,0%

Superior 95,0%

Interseção 0,221 0,416 0,531 0,598 -0,614 1,056 -0,614 1,056 Variável X 1 ILC

-0,023 0,006 -4,079 0,000 -0,034 -0,012 -0,034 -0,012

Variável X 2 ROE

-0,021 0,016 -1,317 0,194 -0,053 0,011 -0,053 0,011

Variável X 3 Porte

0,116 0,104 1,124 0,266 -0,091 0,324 -0,091 0,324

Variável X 4 Composição dos Ativos

-0,290 0,168 -1,729 0,090 -0,627 0,047 -0,627 0,047

Variável X 5 Crescimento

-0,008 0,023 -0,326 0,746 -0,054 0,039 -0,054 0,039

Estatística de regressão R múltiplo 0,583R-Quadrado 0,340R-quadrado ajustado 0,275Erro padrão 0,275Observações 57,000

Fonte: balanços das empresas

Ao se regredir a variável endividamento, composição dos ativos, índice de liquidez

corrente, crescimento e porte constataram-se que o poder explicativo do conjunto dos dados é

baixo (coeficiente de determinação=0,34). Entretanto, percebe-se, na Tabela 3, que o único

coeficientes estatisticamente significante a 95% de confiança foi o da variável índice de

liquidez corrente. Ou seja, esta variável tem uma forte associação com a estrutura de capital

das empresas em virtude de ser proxy do endividamento das instituições estudadas. Pode-se

83

constatar que este resultado foi induzido por duas características peculiares das empresas

brasileiras de médio porte pertencentes ao setor de comércio e serviços: dificuldade de acesso

às dívidas de longo prazo e baixo índice de imobilizado do ativo total.

Ao se analisar o resultado da regressão 1, pode-se comprovar que por se tratar de

empresas brasileiras de médio porte, a variável índice de liquidez corrente foi apresentada

como significante no modelo escolhido pelo simples fato de representar indiretamente a

dificuldade que estas empresas possuem em acessar as linhas de crédito de longo prazo.Além

disso, o fato dessas empresas apresentarem um reduzido volume de ativos permanentes,

característica das instituições pertencentes ao setor de comércio e serviços, comprova o

resultado apresentado acima.

Os resultados da regressão 1, também, confirmam a teoria Pecking Order ao apontar

uma relação negativa e com significância estatística entre as variáveis índice de liquidez

corrente e endividamento. Uma vez que, as empresas mais líquidas são as menos propensas ao

endividamento, e, portanto, seguem a ordem de captação estabelecida pela teoria Pecking

Order.

De acordo com as definições apresentadas na seção 3.3 pode-se afirmar que:

ATPTET =

Ou seja,

RLPAPACELPPCET++

+=

E

PCACILC =

Entretanto em função das características peculiares das empresas pesquisadas,

constata-se que:

2004200520042004 PT do 75% PC ,PTdo %73 PC ==

2005200520042004 AT do %23AP ,AT do %25AP ==

2005200520042004 AT do %1RLP ,AT do %1RLP ==

84

De acordo com o que foi apresentado pode-se afirmar que o índice de endividamento

total é o inverso do índice de liquidez corrente das empresas pesquisadas. De forma resumida

constata-se que:

ACPC ET =

Ou seja,

ILC

1 ET =

Considerando a variável ILC = i2X o modelo estatístico testado na Regressão 1 foi o

seguinte:

i66i55i44i33i2

21i XXXXX1Y β+β+β+β+β+β= (9)

Ou seja, como as empresas analisadas apresentaram em média um baixo índice de

comprometimento do ativo total com ativo permanente em 2004 e 2005, respectivamente,

25% e 23% , um elevado índice de comprometimento do seu endividamento total com as suas

contas de curto prazo em 2004 e 2005, respectivamente 73% e 75% e um baixo índice de

comprometimento do ativo total com o realizável a longo prazo, 1% nos dois anos analisados.

o resultado da regressão identificou o ILC como proxy do endividamento total.

Por sua vez, ao realizar a análise dos dados de 2005, obtêm-se os resultados

apresentados na Tabela 4 a seguir:

Tabela 4 – Resultados do modelo de regressão 2

Coeficientes Erro padrão

Stat t valor-P 95% inferiores

95% superiores

Inferior 95,0%

Superior 95,0%

Interseção -0,281 0,464 -0,605 0,548 -1,211 0,650 -1,211 0,650 Variável X 1- ILC

-0,019 0,006 -3,467 0,001 -0,031 -0,008 -0,031 -0,008

Variável X 2- ROE

-0,054 0,097 -0,553 0,583 -0,248 0,141 -0,248 0,141

Variável X 3-Porte

0,241 0,116 2,071 0,043 0,008 0,474 0,008 0,474

Variável X 4-Composição dos Ativos

-0,298 0,170 -1,758 0,085 -0,638 0,042 -0,638 0,042

85

Cont.

Fonte: balanços de empresas

Em face aos resultados obtidos no Tabela 4, pode-se constatar que o poder

explicativo do conjunto dos dados é baixo, uma vez que o R-quadrado da regressão 2 foi 0,28.

Entretanto, a variável índice de liquidez corrente continua apresentando correlação com a

variável endividamento no ano de 2005 em um nível de significância de 0,05%. Outro fator

apresentado como determinante da estrutura de capital das empresas pesquisadas foi o porte,

comprovando as abordagens do custo de falência. Conforme apresentado na seção 2.3 essa

teoria afirma que as empresas de pequeno e médio porte são menos endividadas, pelo fato de

serem menos diversificadas, e, portanto, mais suscetíveis a elevados custo de falência. Além

disso, a variável índice de liquidez corrente ao apresentar relação negativa com o a variável

endividamento total comprova a abordagem da teoria Pecking Order. Como abordado

anteriormente, essa teoria afirma que as empresas mais líquidas recorrem ao capital próprio

como a sua primeira fonte de financiamento e, portanto, as menos líquidas recorrem ao capital

de terceiros. Vale ressaltar que em função das dificuldades que as empresas de médio porte

possuem em captar recursos de longo prazo, a maior parte de suas dívidas são de curto prazo.

Na regressão 2 não foi possível incluir a variável independente crescimento devido a

ausência dos valores da receita referente ao ano de 2005 de algumas empresas.

Ao se realizar a análise de dados em painel para as mesmas variáveis, obtêm-se os

resultados apresentados na Tabela 5 a seguir:

Estatística de regressão R múltiplo 0,530 R-Quadrado 0,281 R-quadrado ajustado 0,225 Erro padrão 0,273 Observações 57,000

86

Tabela 5 – Resultado do Modelo de Regressão 3

Coeficientes Erro padrão

Stat t valor-P 95% inferiores

95% superiores

Inferior 95,0%

Superior 95,0%

Interseção 28,963 102,278 0,283 0,778 -173,770 231,696 -173,770 231,696 Variável X 1 ILC

-0,021 0,004 -5,434 0,000 -0,029 -0,013 -0,029 -0,013

Variável X 2 ROE

-0,022 0,015 -1,435 0,154 -0,052 0,008 -0,052 0,008

Variável X 3 Porte

0,175 0,071 2,471 0,015 0,035 0,316 0,035 0,316

Variável X 4 Composição Dos Ativos

-0,285 0,115 -2,469 0,015 -0,514 -0,056 -0,514 -0,056

Variável X 5 Tempo

-0,014 0,051 -0,283 0,777 -0,116 0,087 -0,116 0,087

Estatística de regressão R múltiplo 0,553 R-Quadrado 0,306 R-quadrado ajustado 0,274 Erro padrão 0,269 Observações 114,000 Fonte: Balanços das empresas

Em face aos resultados obtidos na Tabela 5, pode-se constatar que o R-quadrado da

regressão 3 foi 0,31, ou seja, o poder explicativo do conjunto dos dados é baixo. Entretanto,

as variáveis índice de liquidez corrente, porte e composição dos ativos apresentaram

estatística significante com a variável endividamento em um nível de confiança de 0,05%.

Vale ressaltar que na regressão 3 não foi possível incluir a variável independente crescimento

devido à ausência dos valores da receita referente ao ano de 2005 de algumas empresas.

O resultado da Regressão 3 ao apresentar a variável composição dos ativos, em

conjunto com a variável índice de liquidez corrente como determinantes da estrutura de

capital das empresas estudadas, confirma a conclusões apresentadas acima na Regressão 1 e 2.

Ou seja, as características peculiares da base de dados pesquisada induziram ao resultado

encontrado nas regressões. Conforme abordado na seção 3, as empresas brasileiras de médio

porte, geralmente, se endividam no curto prazo devido a dificuldade de acesso as linhas de

longo prazo. Além da escassa oferta dessas linhas de crédito por bancos de fomento como o

Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), geralmente, os empréstimos de longo prazo

concedidos por banco múltiplos exigem garantias durante a sua contratação.

A variável porte apresentou estatística significante em um nível de confiança de 95%

e relação positiva com a variável endividamento corroborando as Teoria de Agency e as

abordagens de custos de falência. Ou seja, as empresas de menor porte por apresentarem

87

maior assimetria de informações entre credores e administradores e maior custo de falência do

que as firmas de maior porte são menos propensas ao endividamento.

Os resultados da regressão 3 confirmam a teoria Pecking Order ao apontar uma

relação negativa e com significância estatística entre endividamento e índice de liquidez

corrente. Ou seja, a teoria afirma que as empresas mais líquidas recorrem ao capital próprio

como sua primeira fonte de financiamento e, portanto, as menos líquidas, recorrem ao capital

de terceiros.

A variável composição dos ativos apresentou uma relação negativa com a variável

endividamento rejeitando a Teoria de Agency e as abordagens do custo de falência. Acredita-

se que esse resultado ocorreu em função da dificuldade que as empresas de pequeno e médio

porte possuem em obter recursos de terceiro, principalmente de longo prazo. Em virtude dessa

dificuldade, essas empresas são obrigadas a financiar os ativos permanentes com recursos

próprios.

Tabela 6 – Resultado do Modelo de Regressão 4

Coeficientes Erro padrão

Stat t Valor-P 95% inferiores

95% superiores

Inferior 95,0%

Superior 95,0%

Interseção 40,082 102,479 0,391 0,696 -163,028 243,191 -163,028 243,191 Variável X 2 - ILC

-0,021 0,004 -5,486 0,000 -0,029 -0,014 -0,029 -0,014

Variável X 3 - Porte

0,182 0,071 2,551 0,012 0,040 0,323 0,040 0,323

Variável X 4 - Composição dos Ativos

-0,289 0,116 -2,492 0,014 -0,519 -0,059 -0,519 -0,059

Variável X 1 - Tempo

-0,020 0,051 -0,391 0,696 -0,121 0,081 -0,121 0,081

Estatística de regressão R múltiplo 0,541 R-Quadrado 0,293 R-quadrado ajustado

0,267

Erro padrão 0,270 Observações 114,000 Fonte: balanços das empresas

Ao se regredir as variáveis endividamento, índice de liquidez corrente, porte,

composição dos ativos e tempo pode-se constatar que o R-quadrado da Regressão foi 0,29. Ao

se comparar o poder explicativo do conjunto dos dados da Regressão 3 e 4 percebe-se que não

houve mudança significativa. Enquanto, as variáveis independentes: índice de liquidez

88

corrente, porte, composição dos ativos e tempo explicam 29% da variação do endividamento,

as mesmas variáveis em conjunto com a variável ROE explicam 31%.

Tabela 7 – Resultado do Modelo de Regressão 5

Coeficientes Erro padrão

Stat t valor-P 95% inferiores

95% superiores

Inferior 95,0%

Superior 95,0%

Interseção 30,224 115,219 0,262 0,794 -198,114 258,562 -198,114 258,562 Variável X 1 – Tempo

-0,015 0,058 -0,266 0,791 -0,129 0,099 -0,129 0,099

Variável X 2 - Porte

0,256 0,079 3,254 0,002 0,100 0,411 0,100 0,411

Variável X3 Composição dos Ativos

-0,133 0,126 -1,049 0,296 -0,383 0,118 -0,383 0,118

Estatística de regressão R múltiplo 0,312 R-Quadrado 0,097 R-quadrado ajustado 0,073 Erro padrão 0,304 Observações 114,000 Fonte: balanços das empresas

A regressão 5.3 envolvendo as variáveis endividamento, tempo, porte e composição

dos ativos apresentou um R-Quadrado de 0,097. Esse resultado comparado com os resultados

das regressões anteriores aponta o poder de explicação da variável índice de liquidez. Ou seja,

essa variável ao ser retirada da regressão reduz consideravelmente o poder de explicação do

modelo estatístico. Entretanto como apresentado acima, essa variável interfere nos resultados

das regressões em função das características da base de dados utilizada na pesquisa.

4.4 AVALIAÇÃO DAS HIPÓTESES

A partir dos coeficientes estimados pelas regressões, pode-se avaliar a relação

existente entre o indicador de endividamento das empresas (variável dependente) e os seus

potenciais fatores explicativos (variáveis independentes). Essa relação pode ser positiva ou

negativa, o que indica se uma alteração nos valores dos fatores explicativos será acompanhada

por uma variação no valor da variável dependente no mesmo sentido ou em sentido contrário.

Vale ressaltar que o nível de significância adotado para todos os testes foi de 5%.

Seguem as hipóteses testadas, os resultados das regressões e os comentários:

89

0H : A variável índice de liquidez corrente está associada negativamente ao nível de

endividamento total das empresas.

A variável índice de liquidez corrente, representado por 1X , apresentou sinal negativo

e significância estatística (0,05%) nas Regressões 1,2 e 3. Esse resultado corrobora a Teoria

Pecking Order.

:H1 : A variável rentabilidade está associada negativamente ao nível de

endividamento total das empresas.

A variável rentabilidade, representado por 2X , apresentou sinal negativo e não

apresentou significância estatística (0,05%) nas Regressões 1, 2 e 3. Esse resultado corrobora a

Teoria Pecking Order.

2H : A variável porte da empresa está associada positivamente ao nível de

endividamento total das empresas.

A variável porte, representado por 3X , apresentou sinal positivo e significância

estatística (0,05%) nas Regressões 2 e 3. Esse resultado corrobora a Teoria de Agency e as

abordagens dos Custos de Falência.

3H : A variável composição dos ativos está associada positivamente ao nível de

endividamento total das empresas.

A variável composição dos ativos, representado por 4X , apresentou sinal negativo e

significância estatística (0,05%) na Regressão 3. Esse resultado nega a Teoria de Agency e as

abordagens dos Custos de Falência.

4H : A variável crescimento está associada negativamente ao nível de endividamento

total das empresas.

A variável crescimento, representada por 5X , apresentou sinal negativo e quase

nenhuma significância estatística (0,05%) na Regressão (1). Esse resultado nega as teorias de

Agency, Pecking Order e as abordagens dos Custos de Falência.

90

Em face dos valores obtidos, pôde-se constatar que, a variável porte apresentou

significância estatística com a variável endividamento, confirmando os resultados apontados

nos trabalhos empíricos de Nakamura (1992), Famá e Kayo (1997), Moreira e Puga (2001),

Gomes e Leal (2001), Famá e Perobelli (2001) e Machado, Temoche e Machado (2004).

Entretanto, a relação negativa entre essas variáveis, apresentadas na presente pesquisa, possui

consonância apenas com os resultados dos estudos de Nakamura (1992), e está de acordo com

a Teoria de Agency e as abordagens dos Custos de Falência. A primeira sugere que as

empresas de pequeno e médio porte são menos endividadas por apresentarem maior

assimetria de informação e a segunda aponta que, em função dessas empresas serem menos

diversificadas, o custo de falência é mais elevado do que as empresas de maior porte.

Analisando a proporção do ativo fixo em relação ao ativo total, verifica-se uma

relação com significância estatística e negativa com a variável endividamento. Os trabalhos

empíricos de Nakamura (1992) e Gomes e Leal (2001) e Machado, Temoche e Machado

(2004) apontam, também, a variável composição dos ativos como determinante da estrutura

de capital das empresas analisadas. Entretanto, a relação negativa entre essas duas variáveis,

apontadas nos resultados da presente pesquisa, é comprovada apenas pelos resultados dos

estudos de Machado, Temoche e Machado (2004), negando a Teoria de Agency e as

abordagens dos Custos de Falência. Segundo os autores, a relação negativa entre a variável

composição dos ativos e endividamento ocorreria em função da dificuldade que as empresas

de pequeno e médio porte possuem em obter recursos de longo prazo. Em virtude dessa

dificuldade, essas empresas financiam seus ativos permanentes com recursos próprios.

Conclui-se a partir da análise das hipóteses que as empresas que fizeram parte do

banco de dados pesquisado, por possuírem um reduzido volume de ativos permanentes (25%

e 23% em 2004 e 2005, respectivamente), característica das instituições que pertencem aos

setores comercial e de serviços, tiveram dificuldades de acesso as linhas de crédito de longo

prazo tanto nos bancos múltiplos, quanto nos bancos de fomento. Portanto, as variáveis índice

de liquidez e composição dos ativos foram apresentadas como determinantes da estrutura de

capital das empresas de médio porte devido às características peculiares das empresas

pertencentes ao banco de dados utilizado no presente trabalho. Vale ressaltar que, a variável

porte apresentou significância estatística de 0,05% nas Regressões 2 e 3 e sinal negativo,

comprovando a abordagem da teoria dos custos de falência e da teoria da assimetria de

informações.

91

Pesquisas como as desenvolvidas por Machado, Temoche e Machado (2004),

apontam o índice de liquidez corrente e a composição dos ativos como determinantes da

estrutura de capital das empresas de pequeno e médio porte. Como abordado acima, os

resultados da presente pesquisa corrobora essa conclusão. Contudo, a variável índice de

liquidez corrente, ao ser apontada como proxy da variável endividamento, apresenta uma

tautologia nos resultados, ou seja, a relação com significância estatística apresentada entre as

variáveis ocorre em função das empresas de médio porte possuírem o endividamento

concentrado nas linhas de curto prazo.

Com o intuito de evitar que as futuras pesquisas apresentem conclusões com base em

resultados que apresentaram problemas de viés, sugere-se que as variáveis índice de liquidez

corrente e composição dos ativos façam parte de modelos estatísticos testados com os dados

de empresas que pertençam a outros contextos, ou seja, que estejam inseridas em ambientes

com outros fatores institucionais.

Como abordado na seção 2 os diversos trabalhos sobre estrutura de capital são

apresentados, levando em consideração a realidade das empresas de grande porte. Em função

da carência de pesquisas sobre a composição das fontes de financiamento das empresas de

médio porte esse trabalho incluiu uma amostra composta apenas com esse tipo de firma.

Dessa forma, pesquisas futuras deveriam utilizar um banco de dados com micro empresas e

comparar os resultados obtidos com as instituições de médio porte.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo desta pesquisa foi detectar os fatores determinantes da estrutura de capital

de empresas de médio porte da Região Metropolitana de Salvador (RMS). Buscou-se verificar

se os fatores apontados como determinantes da composição de financiamento das empresas

estudadas nos trabalhos empíricos desenvolvidos ao longo do tempo são similares aos fatores

que determinam a estrutura de capital das empresas pesquisadas.

A maior parte das pesquisas sobre a estrutura de capital das empresas foi

desenvolvida considerando a realidade das firmas que atuam nos países desenvolvidos, como

os EUA, e os trabalhos publicados no Brasil levam em consideração as grandes empresas de

capital aberto. Diante das controvérsias sobre o tema, da reduzida quantidade de trabalhos

sobre a estrutura de capital das empresas de médio porte e das peculiaridades do mercado de

Salvador, torna-se necessários uma pesquisa sobre os fatores determinantes das fontes de

financiamento de empresas de médio porte da RMS.

Com o objetivo de facilitar o entendimento e estabelecer uma seqüência lógica ao

conteúdo, esta pesquisa foi dividida em capítulos, seções e subseções. A seção 2 resgatou as

principais teorias e trabalhos empíricos sobre o tema e foi finalizado apontando as variáveis

identificadas como determinantes da estrutura de capital das empresas analisadas nos

trabalhos empíricos. A seção 3 procurou apresentar a metodologia aplicada na pesquisa. A

revisão teórica e os trabalhos empíricos precedentes permitiram formular as hipóteses e

delimitou o tratamento dos dados, os quais foram testados através dos métodos tradicionais de

regressão linear múltipla possibilitando o alcance dos resultados. A seção 4 apresentou os

resultados das regressões. E a seção 5 apresentou uma análise crítica dos resultados provindos

dos testes estatísticos e sugeriu trabalhos futuros com base nas limitações detectadas durante o

desenvolvimento dessa pesquisa.

93

As análises foram feitas com dados obtidos das demonstrações financeiras de médias

empresas para o período de 2004 e 2005. Foram aplicados testes econométricos utilizando

dados em corte transversal (cross-section) e dados em painel. Inicialmente, os dados foram

analisados no mesmo ponto do tempo e depois com objetivo de analisar o ajuste da estrutura

de capital das empresas ao longo do tempo foi aplicado o Panel Data. O método de estimação

utilizado foi o modelo de regressão linear simples (OLS).

Os principais resultados desse trabalho apontam as variáveis índice de liquidez

corrente, composição dos ativos e porte como determinantes da estrutura de capital de

empresas de médio porte da RMS. A variável índice de liquidez corrente apresentou

significância estatística nas três regressões e relação negativa com a variável endividamento.

Os resultados demonstraram também que a variável composição dos ativos apresentou

significância estatística em uma das regressões e relação negativa com a variável

endividamento. E, por fim, a variável porte apresentou significância estatística em duas

regressões e relação positiva com a variável endividamento.

Os testes econométricos, ao apontar a variável porte como determinante da estrutura

de capital das empresas pesquisadas, comprovam que as empresas de médio porte são menos

endividadas por estarem mais expostas a elevados custos de assimetria de informações e

menos diversificadas do que as de grande porte e consequentemente sujeitas a elevados custo

de falência.

Percebe-se, também, a partir desses resultados, que as variáveis índice de liquidez e

composição dos ativos foram apresentadas como determinantes da estrutura de capital das

empresas de médio porte devido às características peculiares das empresas pertencentes ao

banco de dados utilizado no presente trabalho. Pôde-se perceber que as variáveis índice de

liquidez corrente e composição de ativos foram apontadas como determinantes da estrutura de

capital das empresas em virtude dos resultados terem sido induzidos por duas características

peculiares das empresas pesquisadas: dificuldade de acesso às linhas de crédito de longo

prazo e baixo índice de imobilizado do ativo total.

Pesquisas futuras podem ampliar o horizonte de análise, com o objetivo de verificar o

comportamento das mesmas variáveis em um horizonte mais amplo, utilizando uma amostra

com uma maior quantidade de empresas. Vale ressaltar que as pesquisas futuras que

utilizarem um período maior de análise têm uma maior possibilidade de avaliarem o impacto

94

de variações da taxa Selic na estrutura de capital das empresas. Outra possibilidade para

trabalhos futuros é a utilização de uma amostra composta por empresas não-bancarizadas e

que atuam em setores diversificados com o intuito de não apresentar resultados induzidos

pelas características das empresas que fazem parte do banco de dados pesquisado.

Conclui-se, com base nos resultados apontados pela presente pesquisa, que o

endividamento a curto prazo e a falta de garantias que possam ser concedidas durante a

negociação por taxas de juros mais baixas são fatores que dificultam a sobrevivência e o

crescimento das empresas de médio porte. Entre as empresas que tem acesso as linhas de

crédito, a grande maioria encontra-se em dificuldades financeiras devido à utilização de

empréstimos de curto prazo com taxas que comprometem a sua lucratividade e mesmo seu

capital. A falta de planejamento dos gestores dificulta a sobrevivência e o crescimento das

empresas de médio porte. Percebe-se que, normalmente, essas empresas recorrem,

inicialmente, ao capital próprio como fonte de financiamento dos seus ativos imobilizados,

enquanto deveriam utilizar linhas de longo prazo oferecidas pelos bancos de fomento para

aquisição de ativos permanentes. E, ao necessitar de recursos para capital de giro, elas

precisam recorrer às linhas de crédito de curto prazo. Em suma, a falta de planejamento dos

gestores restringe as opções de financiamento das empresas de médio porte às linhas de

crédito com custo do capital mais alto.

95

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