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FAVELAS - Texto de 1988 - Arlete Moysés Rodrigues (Do livro "Moradia nas cidades Brasileiras" , Editora Contexto, São Paulo, 1988, !g" #$%&1' Considera%se ue as ri)eiras *avelas surgira) no Rio de +aneiro logo a s a - São Paulo or volta da Segunda -uerra Mundial" Co)e.a), no entanto, a ser )ais exande o ro esso de industriali2a.ão%ur3ani2a.ão" A artir da dé ada de 45 o)o /ro3le)a/" Pro3le)a este ue, ao longo do te)o, te) sido visto de v!ri a" o)o lo al de )arginais nessa visão é ne ess!rio se a a3ar o) as * )arginais 3" o)o lo al onde se onsegue) votos nessa visão é ne ess!rio visitar ro)essas, trat!%los o)o iguais (or ue seus votos vale) o )es)o ue o "o)o resultado do ro esso de )igra.ão e os *avelados vive) desta *or)a /integrando/ no )eio ur3ano, / ria)/ u) lugar ue l6es le)3rar o a)o" re iso treinar, edu ar os *avelados a *i) de ue se integre) no )eio gradativa)ente ara u)a asa de alvenaria, *a)iliari2e)%se o) os servi no *uturo in ororados ao )er ado de tra3al6o e : idade" ;avelado não te) onde )orar7 /eu não ten6o onde )orar, é or isso ue eu )oro re iso onstruir asas ar di)inuir a rise de )oradia e onse uente)ente ue leva ta)3é) a u)a a eita.ão e re)o.<es, o)o na )=si a de Adonira) >ar3o ?iera) os 6o)ens o) as *erra)entas, o dono )and@ derru3!" s 6o)ens estão outro lugar" Ao )es)o te)o ue 6! resist n ia ara re)o.<es, 6! ta)3é) a a e terra e de outro dono ue não o *avelado" "Ilegalidade" Ao longo do te)o o on eito de *avela ue se )anté), é o ue se re*ere aos s roriet!rios da terra ileg0ti)o, ou seBa, suBeitos de u)a o ua.ão Buridi a ue se re*eria) :s ara ter0sti as do 3arra o estão aulatina)ente )udando, )adeira, onstru0dos o) su ata, t ) sido gradativa)ente su3stitu0dos elos or 3lo os" )a outra ara ter0sti a ue se te) alterado é a ue se re*ere tra.ado irregular estão se trans*or)ando e) vielas ue )uitas ve2es er)ite) a Esta )udan.a est! vin ulada : ur3ani2a.ão e )el6orias das *avelas, o) a int 3!si os o)o lu2 e !gua" ue ontinua o)o ara ter0sti a essen ial é a irregularidade da rori o uada ilegal)ente" s )oradores não são os roriet!rios legais, oré) a o )ais legiti)ada elo r rio oder =3li o" Se) ondi.<es de /resolver/ a *a ressionado elos )oradores, o oder =3li o )anté) rogra)as de ur3ani2a.ão )oradores luta) elo direito de on essão real de uso ou usu aião ur3ano" A de uso di2 reseito ao direito de usar o i) vel or u) ra2o ue não ex eda 9 on eder o uso de terras =3li as ara lu3es de *ute3ol utili2ando%se este )oradores das *avelas reivindi a) este )es)o direito" usu aião ur3ano ta) ue se olo a ara os )ovi)entos, rin ial)ente ara a ueles ue o ua) !re arti ular , onde o instru)ento de on essão de direito real de uso não se

FAVELAS Arlete Moyses

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FAvelas

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FAVELAS- Texto de 1988 - Arlete Moyss Rodrigues(Do livro "Moradia nas cidades Brasileiras", Editora Contexto, So Paulo, 1988, pg. 37-41)Considera-se que as primeiras favelas surgiram no Rio de Janeiro logo aps a Guerra de Canudos e em So Paulo por volta da Segunda Guerra Mundial. Comeam, no entanto, a ser mais "visveis", quando se expande o processo de industrializao-urbanizao. A partir da dcada de 50 passam a ser reconhecidas como "problema". Problema este que, ao longo do tempo, tem sido visto de vrias formas:a. como local de marginais nessa viso necessrio se acabar com as favelas para acabar com os marginais;b. como local onde se conseguem votos nessa viso necessrio visitar os favelas, fazer promessas, trat-los como iguais (porque seus votos valem o mesmo que o dos outros);c. como resultado do processo de migrao e os favelados vivem desta forma, porque, esto se "integrando" no meio urbano, "criam" um lugar que lhes lembrar o campo. Segundo essa viso preciso treinar, educar os favelados a fim de que se integrem no meio urbano, passem gradativamente para uma casa de alvenaria, familiarizem-se com os servios urbanos para serem no futuro incorporados ao mercado de trabalho e cidade.Favelado no tem onde morar: "eu no tenho onde morar, por isso que eu moro na areia", e assim preciso construir casas par diminuir a crise de moradia e consequentemente as favelas. A favela ilegal, o que leva tambm a uma aceitao e remoes, como na msica de Adoniram Barbosa "Saudosa maloca.. Vieram os homens com as ferramentas, o dono mand derrub. Os homens esto com a razo, ns arranja outro lugar. Ao mesmo tempo que h resistncia para remoes, h tambm a aceitao de sair porque a terra e de outro dono que no o favelado."Ilegalidade"Ao longo do tempo o conceito de favela que se mantm, o que se refere aos seus ocupantes como proprietrios da terra ilegtimo, ou seja, sujeitos de uma ocupao juridicamente irregular. As definies que se referiam s caractersticas do barraco esto paulatinamente mudando, j que os barracos de madeira, construdos com sucata, tm sido gradativamente substitudos pelos barracos de "madeirit" ou por blocos. Uma outra caracterstica que se tem alterado a que se refere forma de ocupao: vielas de traado irregular esto se transformando em vielas que muitas vezes permitem a passagem de veculos. Esta mudana est vinculada urbanizao e melhorias das favelas, com a introduo de alguns servios bsicos como luz e gua.O que continua como caracterstica essencial a irregularidade da propriedade das terras. A terra foi ocupada ilegalmente. Os moradores no so os proprietrios legais, porm a ocupao torna-se cada vez mais legitimada pelo prprio poder pblico. Sem condies de "resolver" a falta de moradias e pressionado pelos moradores, o poder pblico mantm programas de urbanizao de favelas. Os moradores lutam pelo direito de concesso real de uso ou usucapio urbano. A concesso de direito real de uso diz respeito ao direito de usar o imvel por um prazo que no exceda 99 anos. muito comum se conceder o uso de terras pblicas para clubes de futebol utilizando-se este instrumento jurdico e os moradores das favelas reivindicam este mesmo direito. O usucapio urbano tambm uma reivindicao que se coloca para os movimentos, principalmente para aqueles que ocupam reas de propriedade particular , onde o instrumento de concesso de direito real de uso no se faz valer.A maior parte das favelas ocupa terras pblicas, da Unio, Estado ou Municpio. Em geral as ocupaes ocorrem nas reas "verdes" dos loteamentos. Pela legislao em vigor os loteadores so obrigados a deixar 15% da gleba total para serem utilizadas como reas verdes. Em geral estas reas que so ocupadas pelos favelas. Na maior parte das vezes so os locais de maior declividade, as mais insalubres, etc., o que tambm explica porque as favelas ocupam as "piores" terras, as que apresentam maiores problemas de enchentes de desabamentos, e que deixam seus moradores expostos ao risco de perder seu barraco, quando no sua vida. Os favelados no so proprietrios jurdicos das terras que ocupam . Contestam as formas institucionais que regem o direito ao uso do solo urbano, na medida que pela necessidade de morar, de sobreviver, ocupam cotidianamente um pedao de cho.A casa/barraco , em geral, propriedade do morador, mas esta propriedade refere-se somente edificao, que tanto pode ter sido comprada, como ter sido construda pelo prprio morador, atravs do processo de autoconstruo. Como a terra/casa no circula o ttulo de propriedade o que circula o que se vende no a prpria coisa mas o seu smbolo. Para os ocupantes, no o papel o que tem valor nesta propriedade do barraco, mas a ocupao. Portanto, quando se fala na compra e venda do barraco necessrio atentar para mais esta caracterstica da terra/casa e do barraco.H sempre uma questo no ar: como vivem to mal, se alguns tm geladeira, televiso e at aparelho de som? Se os favelados podem comprar estes eletrodomsticos por que no podem alugar uma casa? A explicao simples. O preo destes eletrodomsticos, o mesmo de um terreno/casa? E o aluguel, ser o mesmo da prestao destes eletrodomsticos? E eles no so tambm necessrios para a vida na cidade, ou os "pobres" no tm o direito de comprar uma televiso, uma geladeira, etc.? Alm disso, muitos deste aparelhos so usados, pagos em longas e "suaves" prestaes mensais, ou mesmo ganhos. A favela surge da necessidade do onde e do como morar. Se no possvel comprar casa pronta, nem terreno e autoconstruir, tem-se que buscar uma soluo. Para alguns essa soluo a favela. A favela produto da conjugao de vrios processos: da expropriao dos pequenos proprietrios rurais e da superexplorao da fora de trabalho no campo, que conduz a sucessivas migraes rural-urbana e tambm urbana-urbana, principalmente de pequenas e mdias para as grandes cidades. tambm produto do processo de empobrecimento da classe trabalhadora em sue conjunto, bastando lembrar que o valor real do salrio mnio tem sido extremamente depreciado ..... Resultado tambm do preo da terra urbana e das edificaes mercadoria inacessvel para a maior parte dos trabalhadores a favela exprime a luta pela sobre vivncia e pelo direito ao uso do solo urbano de uma parcela da classe trabalhadora.Face aos baixos salrios, ao subemprego ou mesmos ao desemprego, enfrentados por um gigantesco e crescente setor da populao, torna-se necessrio reduzir os gastos bsicos sobrevivncia fsica. E entre estes gastos a moradia um item importante, seja pela habitao em si, seja, muitas vezes, pelo preo dos transportes para o emprego, isto quando possvel morar mais prximo ao emprego.As favelas so, para a populao, uma estratgia de sobrevivncia. Uma sada, uma iniciativa, que levanta barracos de um dia para outro, contra uma ordem desumana, segregadora. Uma iniciativa que desmistifica o mito da apatia do povo: aptico o indivduo que luta para sua sobrevivncia, que busca resgatar sua cidadania usurpada?Remoo e erradicaoA preocupao e atuao do Estado nas favelas tem sido, ao longo dos anos, marcada por duas propostas bsicas: erradicao da favela, atravs da remoo dos moradores e a liberao da rea antes ocupada, para outros usos, com o objetivo de extirpar estes aglomerados, que sem dvida interferem no preo da terra das imediaes. A existncia das favelas desvaloriza a terra das proximidades. Ao remover a favela, remove-se um dos obstculos para aumentar a renda da terra, ao mesmo tempo que se leva "para mais longe" os seus moradores e sua pobreza. A outra possibilidade a permanncia da favela, com erradicao e suas caractersticas urbanizao e melhorais com introduo de infra-estrutura (gua, luz, esgoto sanitrio) e a abertura de vias mais amplas de circulao. A urbanizao prev a permanncia da populao na rea ocupada, porm com modificaes substanciais na aparncia e na legalidade, pois supe a diviso da favela em lotes ou fraes ideais de um terreno. Esta atuao tambm altera a dinmica do preo da terra, propiciando - pela retirada das caractersticas de favela um aumento de renda aos proprietrios das reas Fonte: http://www.cefetsp.br/edu/eso/geografia/fav1geo.html