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Fórum & Cidadania AIC

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JAN2012REVISTA MENSAL/Nº173 EUROS

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Um Povo Resignado e Dois Partidos sem

Ideias. Um povo imbecilizado e resigna-

do, humilde e macambúzio, fatalista e so-

nâmbulo, burro de carga, besta de nora,

aguentando pauladas, sacos de vergonhas,

feixes de misérias, sem uma rebelião, um

mostrar de dentes, a energia dum coice,

pois que nem já com as orelhas é capaz de

sacudir as moscas; um povo em catalepsia

ambulante, não se lembrando nem donde

vem, nem onde está, nem para onde vai;

um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre

e é bom, e guarda ainda na noite da sua

inconsciência como que um lampejo mis-

terioso da alma nacional, reflexo de astro

em silêncio escuro de lagoa morta. [.]

Uma burguesia, cívica e politicamente

corrupta até à medula, não descriminan-

do já o bem do mal, sem palavras, sem

vergonha, sem carácter, havendo homens

que, honrados na vida íntima, descambam

na vida pública em pantomineiros e sevan-

dijas, capazes de toda a veniaga e toda

a infâmia, da mentira a falsificação, da

violência ao roubo, donde provem que na

política portuguesa sucedam, entre a in-

diferença geral, escândalos monstruosos,

absolutamente inverosímeis no Limoeiro.

Um poder legislativo, esfregão de cozinha

do executivo; este criado de quarto do mo-

derador; e este, finalmente, tornado abso-

luto pela abdicação unânime do País.

A justiça ao arbítrio da Política, torcen-

do-lhe a vara ao ponto de fazer dela sa-ca-rolhas. Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos ac-tos, iguais um ao outro como duas meta-des do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que al-guém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.

in ‘Pátria (1896)’ Abílio de Guerra Junqueiro1850 // 1923 Escritor/Poeta/Jornalista/Político

Há 116 anos era assim… E hoje?

Descubra as diferenças!

Ficha TécnicaPropriedade, Redacção e Direcção:

NewsCoop - Informação e Comunicação CRL Rua António Ramalho 600E • Apartado 60244461-801 Senhora da Hora • MatosinhosPublicação periódica mensal registada na

E.R.C. com o número 125 565Tiragem: 12 000 exemplares

Contactos: Tel./Fax: 22 9537144www.newscoop.pt

Director: Sérgio OliveiraEditor: António Sérgio

Coordenador Editorial: Pedro LopesJornalistas: Elda Lopes Ferreira

Administrativo: António AlexandreProdução Gráfica: Ana Oliveira

Impressão: Multitema

ÍndiceEditorial ..................................................... 3

AIC – Ano Internacional das Cooperativas 2012 ...................................... 4

Conferência “Os Nós da Economia Social” ... 6

Santa Casa da Misericórdia de Vila do Conde 8

Cooperativa de Olivicultores de Borba, CRL 10

Cooperativa Agrícola de Moura e Barrancos, CRL ........................... 12

Liga das Associações de Socorro Mútuo de Vila Nova de Gaia ...................... 14

CIG ........................................................... 17

XXI Feira do Fumeiro Montalegre ............. 17

XIII Congresso Nacional da Anafre ............ 18

CM Matosinhos ......................................... 24

JF Custóias ............................................... 28

JF Matosinhos .......................................... 29

Vitifrades .................................................. 30

CM Vidigueira ........................................... 31

JF Vila de Frades ...................................... 32

JF Selmes ................................................. 33

JF Pedrógão do Alentejo ........................... 33

JF São Matias .......................................... 34

JF Fridão .................................................. 35

Praça Gago Coutinho, 1 • 7860-010 MouraTel. 351 285 251 090 • Fax 351 285 254 610

[email protected] de moura.com

Editorial

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Ano 2012: Palco da Intercooperação

A iniciar o ano 2012 foi apresentado pe-

la CASES o programa oficial do Ano In-

ternacional das Cooperativas 2012 (AIC-

2012) proclamado pela ONU. “Contribuir

para o prestígio e fomento do cooperati-

vismo em Portugal” é um dos objectivos

destas comemorações, pois o movimento

cooperativo não se esgota: “o cooperati-

vismo, no seio da economia social, promo-

ve a renovação da nossa economia e so-

ciedade, contribuindo para a criação de

novas esperanças e oportunidades para as

comunidades e os cidadãos”, como certi-

fica Eduardo Graça, presidente da Cases.

Todo o mundo pode estar de olhos postos

nesta sessão solene de abertura em Por-

tugal, uma vez que foi transmitida via in-

ternet, em tempo real.

Há que fazer uma “pedagogia das vantagens da

cooperação”, as palavras pertencem a Eduardo

Graça e pretendem atender a um 2012, que se

afigura delicado. “A cooperação é uma parte da

solução dos problemas da crise. É uma tarefa

difícil, pois temos uma tradição individualista,

mas temos que incutir a pedagogia da coopera-

ção e da solidariedade e sobretudo praticá-la, se

bem que não seja fácil a prática no dia-a-dia”,

observa. Ao longo de 2012 os grandes alvos são

reforçar e avançar firmemente na real coopera-

ção entre cidadãos para obter melhores resulta-

dos na economia e na sociedade.

Para dar as boas-vindas ao AIC-2012, o Au-

ditório da Caixa Central de Crédito Agrícola

Mútuo, em Lisboa, encheu-se com a família do

sector cooperativo, a 12 de Janeiro de 2012.

Esta sessão solene foi presidida pelos elementos

da direcção da CASES, Confecoop, Confagri,

Fenacam e pelo Ministro da Solidariedade e da

Segurança Social.

Dar a conhecer a rede global das cooperativas

e seus esforços na construção de comunidades,

da democracia e da paz; promover a criação de

cooperativas para responder às necessidades

económicas dos seus membros, criando empre-

go, estimulando a inovação e contribuindo para

a inserção social e, encorajar os Governos e or-

ganismos reguladores a promover políticas, leis

e regulamentos capazes de gerar a formação e

o crescimento das cooperativas são as grandes

linhas orientadoras para este AIC 2012, ao

qual o Governo português não ficou indiferente

e é parceiro directo, tendo ficado a Cases en-

carregue da elaboração de uma proposta de ac-

tividades, coordenação e acompanhamento do

programa nacional do AIC-2012.

Nesta óptica, o Governo terá a árdua tarefa de

cumprir um programa de iniciativas com a fi-

nalidade de aumentar a visibilidade do sector

cooperativo em Portugal, assim como promover

um desenvolvimento sustentado e equilibrado

na década seguinte às comemorações que agora

se iniciam.

“Sempre que me perguntarem qual a solução

para esta conjectura económico-social, agora já

sei a resposta: Uma cooperativa”, salientou o

Ministro da Solidariedade e Segurança Social,

Pedro Mota Soares na sua intervenção, enal-

tecendo a capacidade que as cooperativas têm

de adaptação. Para o ministro, esta proclama-

ção deste AIC 2012 pela Assembleia-Geral das

Nações Unidas não é de todo ingénua. “Acre-

dito que fazer coincidir o AIC com o momen-

to de crise mundial que atravessamos não é

algo de inocente. A ONU com esta declaração

pretendeu aumentar a visibilidade de um sec-

tor (cooperativo e social) que têm um enorme

contributo a dar para o desenvolvimento sócio-

-económico das nações, das regiões, dos conti-

nentes e dos povos.” Na sua intervenção, Pedro

Mota Soares aludiu à capacidade deste sector

em “superar a adversidade” no contexto actual

de dificuldade, um sector de “esperança”, uma

vez que a crise pouco o afectou, e um sector que

perante as adversidades consegue “crescer, pois

é um sector muito menos exposto às influências

externas, uma vez que assenta num movimento

de pessoas e não de capitais, com um DNA mui-

to próprio”.

Para o Ministro, Portugal precisa de um coo-

perativismo e de uma economia social coesa,

articulada, e interligada, uma vez que as suas

potencialidades “estão longe de estar esgo-

tadas”. Acredita que o próprio futuro do país

passará sem margem para dúvidas também pela

acção das cooperativas. No final deste ano, Pe-

dro Mota Soares espera que em Portugal não

haja um português que não saiba a resposta do

que é o movimento cooperativo e, por isso apela

à celebração deste AIC-2012, felicitando todos

os que actualmente pertencem ao sector.

AIC – Ano Internacional das Cooperativas 2012

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Procedeu-se à assinatura de um protocolo

entre a Imprensa Nacional Casa da Moeda

e a CASES ficando prevista a edição ao

longo do ano 2012 de sete obras:

«Legislação Cooperativa em Portugal da Lei Basilar de 1877 à Actualidade» Co-

ordenação de João Salazar Leite e João

Teixeira e Prefácio de Rui Namorado

«Jurisprudência Cooperativa Comentada»

Coordenação de Deolinda Aparício Meira

«António Sérgio, Momentos de uma Vida Exemplar», João Maria de Freitas Branco

«Dispersos», Colectânea de textos vários de

António Sérgio. Coordenação e Direcção de

João Maria de Freitas Branco

«O que é uma Cooperativa?» Um livro em

formato de bolso para divulgação do coope-

rativismo, Rui Namorado

«Princípios Cooperativos Comentados»,

João Salazar Leite

«Economia Social e Cooperativismo»,

Compilação dos principais relatórios eu-

ropeus referentes ao cooperativismo e à

economia social com Coordenação de Filipa

Farelo e Prefácio de João Salazar Leite

Tivemos nesta sessão de abertura AIC-2012 a representação do Governo que dei-xou uma promessa de envolvimento, num ano que promete ser difícil do ponto de vis-ta sócio-económico, sente-se preparado pa-ra envolver todo este sector?Eduardo Graça (EG) – O governo português aderiu ao AIC-2012 através de uma Resolu-ção, isso já significa uma valorização política do movimento cooperativo institucional e co-meteu à CASES, a missão de organizar o AIC em Portugal. Podíamos optar por realizar uma sessão solene meramente simbólica, e estaria cumprido o papel dessa celebração mas acha-mos que face à situação económica, financei-ra, social global, achamos que atendendo ao potencial do movimento cooperativo e da eco-nomia social no seu conjunto para contribuir, minimizar e ultrapassar essa situação que se-ria de nos envolvermos de uma forma mais in-tensa na organização de um conjunto de ini-ciativas ao longo deste AIC-2012. No fundo, levar à prática os princípios do cooperativismo, da intercooperação, no sentido de serem pen-sadas iniciativas que possam suscitar o movi-mento, que envolva várias cooperativas de di-versos sectores.

Essas iniciativas serão desenvolvidas local-mente?EG – Terão vários formatos, vamos ter que en-contrar soluções para desenvolver essas inicia-tivas que tenham expressão em termos locais, regionais, sectoriais… Terão que se desenvol-ver dois movimentos, um destinado ao progra-ma oficial onde tomamos a iniciativa e decidi-mos que há determinado tipo de matérias, que têm que obrigatoriamente ser trazidas à praça pública, como a questão da legislação, da es-tatística, do emprego jovem, entre outros. De-pois, há todo um conjunto de iniciativas que terão de ser as próprias cooperativas aos seus diversos níveis, a suscitar, a formatar, desenhar e a propor para que possam avançar. Não te-mos a ilusão de que se possa desenvolver um programa essencialmente centralizado, mas também sabemos que senão houver incentivos para que ele se desenvolva em termos locais, terá uma expressão pouco significativa. Serão esses casos que estimularemos.

A rede de cooperativas e a rede de institui-ções de economia social serão fundamen-tais para ultrapassar esta crise?EG – A rede de instituições de economia so-cial que estão no terreno é muito densa e de-sempenha um conjunto de papéis quer na área da produção de bens e serviços transaccioná-veis do sector cooperativo e das mutualidades, quer da área não mercantil das misericórdias, das IPSS’ s, das fundações. Toda essa rede tem um papel insubstituível para garantir a coesão social. Em períodos de crise ainda mais impor-tantes são, porque são portas, onde os cida-dãos podem encontrar apoio e soluções para muitos dos seus problemas. O Governo tem a

noção da importância desta rede e está a tra-balhar, no sentido de encontrar modelos para que possam existir apoios para o desenvolvi-mento dessas organizações, para que elas pos-sam manter a rede, a rede não pode romper porque se romper teremos problemas de con-flitualidade social graves. Portanto, isto é uma questão da maior pertinência do ponto de vista político e social. O que vamos fazer é dar visi-bilidade ao sector, quer no plano institucional quer no plano da opinião pública para que ele saia um pouco da sombra, para que ele ganhe mais visibilidade porque é um sector com mui-ta importância em diversos níveis mas tem um reconhecimento que não corresponde à sua re-al importância. Mas para que tal aconteça é extremamente importante que a sociedade se envolva neste movimento, porque as organiza-ções dependem do envolvimento e vontade dos cidadãos.

Eduardo Graça

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Conferência “Os Nós da Economia Social”

Quais os nós da economia social? Quem serão os “nós” da economia social? Vá-rias questões se colocam no sentido de procurar definir os entraves e as oportu-nidades, assim como a respectiva repre-sentatividade em Portugal. Desta feita, os alunos do 3º ano da Licenciatura de Recursos Humanos do ESEIG - Politéc-nico do Porto, em Vila do Conde, acom-panhados da Coordenadora de Curso, Prof. Dra. Ester Vaz, convidaram um pai-nel de oradores de excelência para refle-xão e debate do papel da economia so-cial em Portugal.Entre os painéis “A Economia Social e as Tendências da Gestão Social” praticadas nas organizações da economia social e seu impacto em Portugal e, “O Terceiro Sector: uma Evidência do Futuro”, procurando afe-rir a importância das pessoas que dinamizam uma organização sem fins lucrativos no nosso país e que futuro lhes está reservado, várias foram as intervenções apresentadas perante uma plateia atenta e maioritariamente jovem.Solidariedade, cidadania e autonomia são os

valores que alicerçam a economia social, que surge intimamente ligada ao terceiro sector. Este, procura dar as respostas que o Estado não consegue dar e que o sector lucrativo não procura responder. Conjugados estes factores acaba por emergir um ‘novo’ sector «privado social» que devido ao menor custo e maior versatilidade, se torna uma resposta eficiente aos problemas, assumindo desta forma rele-vância nos segmentos políticos, económicos, sociais e culturais cada vez mais reconheci-dos no contexto da UE.Eduardo Graça da Cases, durante a sua in-tervenção abordou “As três partilhas” essen-

ciais para a reforma do estado social, concre-tamente, a partilha de poderes, de saberes e de recursos. Ao nível da “partilha dos sabe-res” manifestou a sua preocupação com o de-semprego jovem, um fenómeno que considera “um autêntico barril de pólvora verdadeira-mente aterrador” para o futuro, e não menos, uma realidade significativa e muito poderosa. No respeitante à “partilha de recursos”, Edu-ardo Graça falou em solidariedade, que não deve assumir o sentido de financismo, risco no novo contrato social. “Todos devemos as-sumir plenamente a partilha de recursos. A solidariedade tem que ser fiel aos seus prin-cípios básicos, à sua génese”, concluiu. Actu-almente a economia social é elementar e as-sume um papel muito relevante nas políticas sociais e económicas e, que se reflecte nas po-líticas públicas.A moderar o primeiro painel esteve Arlindo Maia, provedor da Santa Casa da Misericór-dia de Vila do Conde, que atento aos jovens e ao futuro da economia social, estava visivel-mente satisfeito pela pertinência do tema, pe-lo debate, mas também pelo facto de estar a ser discutido pela iniciativa de estudantes uni-

Conferência “Os Nós da Economia Social”

Eduardo Graça, José Peixoto Silva, Arlindo Maia e Ester Vaz

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Paula Guimarães – Fundação Montepio

Numa Conferência intitulada os “Nós da Eco-nomia Social”, quais os principais nós que é necessário combater? Passa por uma maior profissionalização dos responsáveis destas or-ganizações?Paula Guimarães (PG) - Os nós da economia so-

cial somos nós! E somos nós porque não é só uma

questão de profissionalização, é uma questão de

organização e uma questão de actualização da

missão. Hoje as instituições têm que perceber que

a responsabilidade que têm é crescente, que os re-

cursos que lhe são atribuídos são recursos prove-

nientes do Estado, e que não são ilimitados, por-

tanto eles têm que ter uma gestão transparente,

têm que ser sustentáveis, têm que garantir um fi-

nanciamento para a sua actividade. Depois tem

que haver uma grande cumplicidade e um gran-

de compromisso entre os profissionais e os volun-

tários. Defendo a manutenção dos dirigentes vo-

luntários, defendo que haja ausência de interesse

na gestão das organizações, mas não defendo que

não haja uma delegação de competências firme

em matérias que são matérias técnicas. E essas

têm que estar a cargo dos profissionais.

Quais são então os grandes desafios da eco-nomia social actualmente?PG – Os grandes desafios da economia social são

procurar efectivar os seus princípios de democra-

cia de participação, sustentabilidade e de coope-

ração. Cooperação é tudo. E as instituições com-

petem, quando deveriam cooperar.

A Fundação Montepio é um bom exemplo a seguir no que diz à economia social diz

respeito?PG – O Montepio é um bom exemplo, mas é um

exemplo difícil de seguir porque tem uma dimen-

são e tem uma estrutura, e uma história que não

acho que seja um modelo replicável. Contudo, o

que as outras organizações podem se quiserem

aprender é a possibilidade de fazer pontes. O

Montepio é uma escola de fazer pontes com ou-

tras entidades. Gosta de trabalhar em parceria,

quer com empresas, quer com a família da eco-

nomia social. E acho que isso é um bom método.

Acima de tudo a Fundação Montepio está preo-

cupada em capacitar os dirigentes e os técnicos

das organizações para enfrentarem os novos de-

safios. Está disponível para ajudar no desenvolvi-

mento de projectos e está convencida que a eco-

nomia social não é uma solução, mas uma das

estratégias para ultrapassar a crise.

A crise será também vencida através da coo-peração, da solidariedade e também através da criação de mais estruturas ao nível coope-rativo?PG – Acho que a crise vai ser vencida e a econo-

mia social tem as armas para isso, simplesmente

vai passar-se à distinção do “trigo do joio”. Vai

permitir distinguir as instituições que são essen-

ciais, que se sabem adaptar, que conseguem ter a

resiliência e a criatividade suficiente para enfren-

tar os desafios e aquelas que não têm e, nessas a

tendência é terminarem.

Até porque vamos assistindo à fraca susten-tabilidade de várias instituições que acabarão por não vingar PG – As instituições poderão fundir-se, mas a

fusão não tem necessariamente que acontecer.

No entanto, vão ter que se fazer parcerias, vão

ter que cooperar, vão ter que rentabilizar recur-

sos. Atente-se que cooperar não é a mesma coisa

que rentabilizar recursos. Uma coisa é assinar

protocolos de cooperação, outra bem diferente é

partilhar aquilo que “eu” tenho com os outros.

E isso é fundamental, porque há muitas insti-

tuições que se não o fizerem não vão conseguir

sobreviver. Assim, este pode ser um momento

fundamental para alterar as mentalidades e os

comportamentos.

Loja Social T. 229 511 144F. 229 554 530

www.jf-custoias.pt

versitários, facto que demonstra a preocupa-ção dos jovens com o futuro do terceiro sector e cuja a base académica é fundamental.Já no segundo painel, moderado pelo prove-dor da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Varzim, Virgílio Ferreira, Américo Men-des, Coordenador da Área de Economia So-cial da Universidade Católica, Porto, abordou a questão da sustentabilidade das organiza-ções da economia social e o que as distingue. Segundo o professor as designações “organi-zações sem fins lucrativos” ou “organizações de economia social” são redutoras e limita-das, uma vez que a missão e a execução aca-bam por determinar o conceito de cada uma. Quanto à sustentabilidade económica da de-finição “organizações de economia social”, vários factores são plausíveis de a motivar, como por exemplo: “identidade, gratuitida-de e reciprocidade, afectividade, comunidade, qualidade, democraticidade, equidade, com-plementaridade, racionalidade, criatividade e proactividade”.A encerrar a conferência, a abordagem de Paula Guimarães, responsável do Gabinete de Responsabilidade Social da Fundação Monte-pio, em “Economia Social - um motor de de-senvolvimento sustentável” se os “nós” forem vencidos, sendo que os “nós” podem represen-tar cada um de “nós”! (Ver entrevista) “A economia social em Portugal apresenta po-tencialidades e especificidades que permitem a assunção crescente de um papel relevante enquanto motor de um desenvolvimento sus-tentável. Se souber enfrentar e ultrapassar as ameaças endógenas e exógenas que rodeiam a sua actividade e dotar-se de competências gestionárias adequadas, poderá alargar a sua intervenção e torná-la mais consolidada e au-tónoma, estruturando o seu papel de parcei-ro fundamental para os dois outros sectores.” De acordo com Paula Guimarães “sustenta-bilidade” é sobretudo sinónimo de “sobrevi-vência”.

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Economia Social: reconhecimento e representatividade precisa-se!

Aproveitando o tema em discussão “Os Nós da Economia Social”. Acredita que é possí-vel desapertar o nó da crise que estamos a viver?Arlindo Maia (AM) – De certo que é. E é fun-damental que seja, para que esse nó seja aber-to e desligado. É preciso valorizar e potenciar a economia social. A economia social tem esta-do um pouco ‘embrulhada’, um pouco escondida e é importantíssimo que as pessoas que estão à frente do país, vejam, apreciem, estudem em profundidade e nos dêem regulamentos, orien-tações para que as instituições da economia social possam vir ao de cima. Neste momento que o país atravessa é imperativo que assim se-ja. Sei que por exemplo dentro da minha ins-tituição estamos vocacionados e abertos para ajudar a resolver o problema social, quer com emprego, quer com actividades de vária ordem no campo social, bem como no campo da saú-de. Todos os campos contam para que a pró-pria instituição crie sustentabilidade e possa ti-rar alguns proveitos para serem distribuídos na parte social, principalmente junto das pessoas mais carenciadas.

Isso quer dizer que num país doente estas instituições de economia social estão suba-proveitadas AM – Sim, partilho a mesma opinião. Entendo que elas não estão efectivamente bem orienta-das e nem bem compreendidas pelo governo e pelo Estado. E é fundamental percebê-las, re-gulá-las, legislando de forma a permitir conhe-cer quais as reais competências das instituições, o que é que elas conseguem fazer sós, e em que é que precisam ser ajudadas em termos finan-ceiros, ou noutro qualquer aspecto. E é muito importante que isto aconteça nesta perspectiva. Nós vemos que há muitas instituições, umas na-turalmente mais compreendidas, outras menos, mas é importante que todas sejam bem com-preendidas mesmo aquelas que porventura pa-reçam ser menos activas. É necessário que se-jam entusiasmadas e incentivadas a serem mais activas para que a comunidade e o país possa desenvolver-se. É decisivo que isso aconteça, porque não podemos viver apenas da empresa lucrativa, cujo papel é inegável, simplesmente é determinante que as instituições e a economia social sejam consideradas e sejam reconhecidas devidamente, porque há ainda pessoas que no meu ponto de vista têm receio de falar de eco-nomia social, pois entendem que a economia so-cial é qualquer coisa relacionada com as igrejas, de um grupo de pessoas, de amadorismos e co-mo sabemos, hoje já existem instituições forte-mente profissionalizadas e certificadas com as quais a comunidade e o governo podem contar.

Somos um país desenvolvido, vivemos na era do global, mas o estigma da misericórdia continua o mesmo: ainda se olham as mise-

ricórdias como um recurso só para os po-brezinhos AM – Sim. Ainda hoje consideram isso, levam ainda para uma prática muito caridosa e rela-cionada com a igreja. Só que hoje vemos que a prática, as obras de misericórdia são cada vez mais actuais. Estão efectivamente na ordem do dia, como estavam há 500 anos, ou há 1000 anos atrás. E este é um código que a comuni-dade deveria seguir, porque a nossa finalidade é ajudar as pessoas e colaborar com elas naquilo que mais precisam. Não é só dar de comer ou dar acesso à saúde, é também dar acesso à edu-cação, à prática do desporto São estas as ne-cessidades da comunidade que as misericórdias podem dar resposta.

Em Vila do Conde, o senhor Provedor tem um vasto sistema integrado de respostas.

Não obstante, hoje atravessamos um perío-do muito crítico em termos de respostas na área da saúde. Será que a Misericórdia de Vila do Conde pode ser de facto a resposta para as pessoas que necessitam de cuidados de saúde?AM – A Misericórdia de Vila do Conde podia ser uma alavanca muito forte para se mexer na saúde em Vila do Conde. Recordo-me que

há mais de vinte anos, a Misericórdia propôs ao Ministério da Saúde do Governo de então, assumir a gestão da saúde em Vila do Conde, bem como ceder ao Ministério a relação de to-dos os medicamentos que eram receitados em Vila do Conde, para que o Ministério pudesse fazer um estudo e saber quanto é que a medi-cação custa ao nosso país, à escala de Vila do Conde. Aliás, esta acaba por ser uma questão do país. Ou seja, como é que a medicação desor-ganiza o nosso país? Portanto, era fundamental que no passado, o Ministério de então, olhas-se para um determinado número de resultados que lhes cederíamos, para naturalmente tirarem daí, as respectivas conclusões. Era interessante que se tivesse realizado este processo. Hoje, em Matosinhos, por exemplo, já existe uma unida-de de saúde em que se concentram o Centro de Saúde e o Hospital, mas gerir toda a saúde de

um concelho, é qualquer coisa de entusiasman-te, e qualquer coisa de bastante mais avança-do. Portanto, nada como uma instituição como uma misericórdia para o fazer, pois não tem fins lucrativos em termos de se apropriar dos seus rendimentos e/ou lucros. Assim, estas institui-ções seriam muito interessantes e muito provei-tosas para a comunidade e para os próprios go-vernos. Seriam parceiros muito bons, uma vez que depois dos governos lançarem as suas po-líticas, seríamos nós a executar essas políticas de uma forma mais económica, mais racional, mais assente na população, porque instituições como as misericórdias saem da população, os seus órgãos sociais são tirados da população, “os irmãos da misericórdia”, pessoas que estão inseridas no meio e que convivem diariamente com a miséria, com as necessidades, com tu-do isso. Era fundamental e era interessante que houvesse aqui uma parceria muito próxima, ob-viamente que são necessárias ajudas financei-ras, mas dentro de certos limites. Defendo que

Santa Casa da Misericórdia de Vila do Conde

Arlindo Maia, Provedor SC Misericórdia de Vila do Conde

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se permita que as próprias instituições criem a própria riqueza para distribuir depois, a Santa Casa da Misericórdia de Vila do Conde é disso exemplo, e isso é indispensável.Estamos a comemorar o Ano Internacional das Cooperativas 2012, onde se pretende dar voz às instituições que promovem a eco-nomia social realizando as mais variadas ini-ciativas, nas mais diversas áreas. E depois, o

dia de amanhã, como vai ser?AM – Rever o estado da economia social é uma questão essencial. E neste seminário “Os Nós da Economia Social”, organizados por alunos do ESEIG, é bom ver-se que a juven-tude está interessada. Há muita gente a di-zer mal da juventude, mas a juventude é um elo elementar para levar por diante todo es-te processo. E nós precisamos, o país precisa dos jovens. E quando vemos a juventude inte-ressada, a participar, a organizar um seminá-rio destes, efectivamente estamos no bom ca-minho. É essa juventude que quer saber, senão não organizava esta iniciativa e quer ir beber à experiência das pessoas mais velhas que es-tão já noutras instituições, que têm a prática e a vivência com instituições e com a econo-mia social. Penso que isto traz um resultado enorme, porque nota-se que esta juventude já está a pensar no dia de amanhã, no futuro, tal como pensa a Misericórdia de Vila do Conde. É determinante que as instituições trabalhem neste sentido, porque nós dentro das institui-ções damos a esperança de que tudo se vai re-solver pela melhor forma, transmitimos à ju-ventude esperança e uma expectativa de vida melhor.

Quer dizer com isso, que esta crise mun-dial que estamos a viver, a crise é a janela de oportunidades para mudarmos para um sistema melhor no futuro?AM – Sim. Acho que é esta a melhor forma. Isto é óptimo e estou muito convencido que depois desta crise, muitas coisas novas hão--de aparecer. E essas coisas novas ajudarão de certa forma primeiro a modificar e depois a dinamizar todo um processo social extre-mamente essencial. Não podemos permitir que haja gente a viver na miséria, como tam-bém não podemos permitir “que haja gente a esbanjar dinheiro”, que acho que são coi-sas que se deveriam controlar um pouco. E nenhum cidadão pode ser feliz, se ao lado há uma pessoa que vive mal, que não tem empre-go, que vive com um drama enorme de não ter trabalho e ter uma família em casa que quer alimentar e não pode. Portanto, só podemos ser felizes se ao nosso lado essas pessoas vi-verem normalmente, viverem com o mínimo de dignidade. E julgo que isto também parte dos governos, criando-se directrizes e orienta-ções para depois as instituições de solidarie-dade social como a nossa as aplicarem. Era importante que os nossos governantes tiras-sem partido, usassem as instituições, para que possam ser criadas melhores condições para a comunidade, para a sociedade.

Valências Santa Casa da Misericórdia de Vila do Conde:

Serviços Sociais:

Lar de Terceira Idade- Lar- Centro de Dia- Apoio Domiciliário

Lar de Grandes Dependentes

Centro de Apoio e Reabilitação para Pesso-as com Deficiência

- Lar- Centro de Actividades Ocupacionais- Apoio Domiciliário

Centro de Acolhimento e Lar para crianças em Risco

- Lar- Centro de Acolhimento- Creche- Jardim de Infância- ATL

Centro Social em Macieira- Creche* Jardim de Infância- ATL- Apoio Domiciliário para Idosos

Centro Rainha Dona Leonor- Residencial Assistida

Empresa de Inserção Agrícola

Serviços de Saúde:- Exames de Diagnóstico- Atendimento Permanente- Consultas de Especialidade- Cirurgia- Internamento- Medicina Dentária- Clínica de Fisiatria- Laboratório de Análises Clínicas- Cuidados Continuados Integrados

Janeiro12 Lançamento do AIC-2012Fevereiro 29 Seminário “As Cooperativas e a Econo- mia Social”10 “Experiências Cooperativas Vivas” (No âmbito da Pós Graduação “Economia Social - Cooperativismo, Mutualismo e Solidarie-

dade” Março da FEUC- Coimbra)

24 Encontro Cooperativo – Feira de BragaAbril 23 - 27 Semana Cooperativa nas Instituições Comunitárias (Encontro com deputados europeus)

Abril/Maio 27-01 Encontro Cooperativo – Feira de Beja (data a confirmar)

Seminário “Emprego Jovem e o Papel das Cooperativas” (Apresentação das principais conclusões do relatório sobre

emprego jovem da OIT)

11 Encontro Ibérico – “Empreendedoris mo, Empresa Social E Cooperativismo”Maio 18 Seminário Internacional – “Crédito Cooperativo”02 - 10 Encontro Cooperativo – Feira de SantarémJunho16 - 17 CooperAção – Mostra de Identidade Cooperativa07 Celebração do Dia Internacional das Cooperativas (Cerimónia na Assembleia da

República)*

Julho 27 Comemoração do 70º Aniversário da Mútua dos PescadoresAgosto 17 - 26 Encontro Cooperativo – Feira do Algarve17 Conferência “Os Números do Coop erativismo e da Economia Social em Portugal” (Resultados preliminares da

Conta Satélite da Economia Setembro Social)

29 Cerimónia de Entrega do Prémio “Cooperação e Solidariedade – António Sérgio”19 – 20 Congresso da CONFAGRIOutubro 25 – 26 10º Encontro da Organização Coopera tiva dos Povos de Língua Portuguesa (OCPLP)Outubro/Novembro 30 – 02 Congresso Cooperativo Mundial – ManchesterNovembro 23 – 24 Convenção Nacional das Cooperativas

PROGRAMA

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“Confiem nos produtos das cooperativas, porque são produtos genuínos”

“Este é cá da terra!” ilustra bem a proximi-dade e o sentir genuíno do povo Alentejano, em relação às suas terras e aos seus produ-tos. A Cooperativa de Olivicultores de Bor-ba nasceu em 1951 e tem mais de 60 anos. Com qualidade de excelência, nos últimos anos os seus azeites têm sido bastante pre-miados e, este ano tudo indica que não será excepção. Internacionalmente, a cooperati-va recebeu a Medalha de Ouro no “Concur-so Internacional de Aceite en el Mediterra-neo Terra Olivo 2010”, em Israel, distinção que muito encheu de orgulho todos os co-operantes.«Nascido de uma tradição antiga e de olivais ain-da mais antigos, o azeite Dom Borba é o reflexo do conhecimento na arte de extrair azeite.»Na Cooperativa de Olivicultores de Borba encon-tramos um presidente um pouco apreensivo pelo

actual estado das cooperativas agrícolas, com a excepção de alguns bons exemplos como é o caso da vizinha Adega Cooperativa de Borba.Esta apreensão deriva do enorme desinteresse dos associados da cooperativa. “Interessam-se apenas na medida em que podem entregar o seu produ-to quando lhes convém, porque quando há preços melhores no mercado eles entregam fora”, lamen-ta Diogo Sapatinha, presidente da direcção con-siderando que esta fase que atravessa é boa, mas que o futuro se afigura bastante difícil. “O meu objectivo para o futuro é que esta cooperativa possa trabalhar bem” e, exemplifica a viabilidade dessa afirmação: “por exemplo no caso da Ade-ga Cooperativa de Borba há uma alínea no códi-go cooperativo, que diz que o associado não pode fazer concorrência à própria cooperativa. Isto é, se não entregar o seu produto à cooperativa terá que apresentar uma justificação. Ou porque não tive produção, porque arranquei o olival, porque tive um azar e a produção estragou-se, sendo tudo devidamente verificado. Portanto, se não houver uma destas justificações é imediatamente expul-

so da cooperativa. Infelizmente só assim é que se consegue que as pessoas se interessem pela coo-perativa e não apenas pelo que poderão lucrar”, insiste.No activo, a Cooperativa conta com cerca de 600 associados, os restantes não são verdadeiramente associados pois apenas têm na cooperativa capital social. “Interessa-me mais ter 50 associados coo-perantes, que trabalhem do que ter 900 que não cooperam ou só o fazem de vez em quando”. A es-trutura funciona com cinco trabalhadores a tempo inteiro, sazonais, o número varia entre 2 e 4.

Pouca quantidade, superior qualidadeA qualidade do azeite e da azeitona 2011 foi mui-to boa nesta cooperativa, mas o panorama nacio-nal foi fraco. “Pelo menos no Alentejo, Trás-os--Montes e no Ribatejo, a qualidade em geral deixa muito a desejar. Há muito mais azeite, mas pior do

que nos últimos dois anos, porque houve grandes ataques de gafa/mosca, o que fez subir a acidez do azeite. Por outro lado, como a maior parte das co-operativas não separa a azeitona, a azeitona que não vem em condições, entra em contacto com a que está boa e acaba por estragar a outra. Ou se-ja, dadas as grandes quantidades de azeitona, a maior parte dos lagares deixava a azeitona de uns

dias para os outros para a trabalharem, e isso ori-ginou sabores menos bons (0,4 de acidez mas com sabor a tulha, que já não é virgem extra)”, explica. Para contrariar esta tendência, optaram por co-meçar muito mais cedo que o habitual, sacrifican-do o rendimento, “tivemos rendimentos piores do que poderíamos ter tido, porque prometemos pa-gar a azeitona por um preço bastante mais alto, mas como resultado disso obtivemos azeite com muito melhor qualidade. Depois, pelo facto de se-pararmos aqui toda a azeitona, não tivemos o pro-blema da ruim contaminar a má”, prosseguiu. “Este ano somos dos lagares das cooperativas do Alentejo que tem uma maior percentagem de azei-te virgem extra de grande qualidade, temos cerca de 60% de virgem extra com menos de 0,5 e te-mos mais cerca de 20% de azeite virgem extra até 0,8 quando a maior parte dos lagares anda nos 5% a 10%”.Com uma gama bastante dividida apresentam--se no mercado com o Dom Borba Tradicional, um azeite virgem até 1,2 de acidez, o Dom Borba Clássico que é um azeite virgem extra até 0,8 de acidez e o Dom Borba Selecção até 0,5 de acidez, que é onde este ano se concentra a maior par-te do azeite. “Temos ainda alguns lotes para al-turas muito especiais para apreciadores ou para ofertas, o DOP – Azeite do Norte Alentejano, que serve apenas como cartão-de-visita pois o preço é elevado”, revela. “Ser ou não ser DOP prende-se com as variedades que fazem parte do azeite e com o facto de ser ou não controlado. Ou seja, pagar ao agricultor a vis-toria aos olivais, ao lagar, pagar à entidade certifi-cadora e cumprir uma série de normas. Portanto, o azeite DOP pode não ser melhor que os outros que produzimos, simplesmente está exposto a um processo que o encarece”, explica.“Este ano certificaremos apenas cinco mil litros. Podíamos certificar 80 % ou mais, mas depen-dendo dos anos certificamos apenas uma peque-na parte, porque o mercado não pede e o preço da certificação é bastante elevado”. O presidente da direcção confessa que ainda não há uma cul-tura de consumo daquele azeite como existe na Cooperativa Agrícola de Moura Barrancos, com uma forte produção e distribuição no país para as grandes superfícies.Estão previstos dois azeites varietais, um de va-

Cooperativa de Olivicultores de Borba C.R.L.

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riedade Galega (82% da azeitona que entra aqui) e outro de variedade Cobrançosa (10%) “vamos separá-los para as pessoas perceberem a diferen-ça”. Vão apresentar também um Azeite Premium que é um azeite com características diferentes das que se produzem habitualmente. “O nosso azeite assenta na variedade Galega madura, que é um azeite frutado maduro”. É um azeite que se desti-na mais a apreciadores e que tem muita procura, apesar de não ser este o azeite que ganha prémios. Mesmo assim, Diogo Sapatinha prevê que este se-ja ano de somar mais prémios!

Mercado e Consumidor finalNeste momento, o principal mercado da coopera-tiva são os próprios sócios que consomem 15%, 20% do azeite engarrafado da cooperativa. “Tí-nhamos um bom cliente que era a CoopLisboa, que entrou em processo de insolvência que ficava também com 15%, 20% do azeite engarrafado, perdemos esse cliente e ainda não o substituímos enquanto cliente. 30% a 40% do nosso azeite não sabemos para onde vai porque é vendido a granel. A nível nacional não temos conseguido en-

trar de forma significativa em lado nenhum. Te-mos umas quantas lojas em Lisboa, que nos con-somem pequenas quantidades de azeite, temos um ou outro cliente regional, os Intermarchês, e es-tamos a virar-nos para a exportação como saída para a falta de clientes nacionais”. Em 2011, 7% da produção foi exportada para a Alemanha e pa-ra o Brasil. Já, este ano, esperam aumentar espe-cialmente a exportação para o Brasil, onde estão a surgir mais clientes. Para os associados, as vantagens são significati-vas, “têm os preços mais justos do mercado, por-que nos vendem a matéria-prima; procuramos sempre valorizar o melhor possível o produto do associado; compram o azeite a preços muito abai-xo dos preços praticados no mercado, depois têm também a vantagem de esta ser a casa deles, por-

que tudo o que aqui está foi feito com o dinheiro dos associados. Tudo o que aqui está é capital e, quanto melhor for a cooperativa, quanto melhores máquinas e instalações tivermos, mais o seu capi-tal está a ser valorizado”, realça. Se houver algum ano em que o produto não seja tão bem valoriza-do é porque se fez algum investimento, o que quer dizer que o associado não está a receber o dinhei-ro no produto mas está a aumentar o seu capital dentro da cooperativa.De acordo com o dirigente, o papel das cooperati-vas agrícolas passa sobretudo por estabilizar um pouco os preços do mercado e ser um travão pa-ra a voracidade da maior parte das empresas pri-vadas. Neste aspecto a gestão das cooperativas é muito pouco flexível, o que as coloca em grande desvantagem em relação a uma empresa privada.

«No Ano Internacional das Cooperativas…

…a mensagem que deixo a todos os asso-ciados de qualquer tipo de cooperativa des-te país especialmente aos do ramo agrícola é que participem na vida da cooperativa, entre-guem-se de corpo e alma à cooperativa. Te-nha noção que a cooperativa é uma empresa e que eles são empresários. Que olhem para o produto final, em vez de olharem apenas para a sua produção. Ou seja, se o azeite que a mi-nha azeitona deu for de qualidade, o produto final será valorizado no mercado. Para isso tenho que produzir um bom produto para ter o devido retorno. Em suma, sejam mais em-presários. Vejam-se como empresários. Que até agora não tem acontecido muito.No caso do mercado, sobre o nosso produ-to, não sacrifiquem a qualidade em função do preço. Para que o consumir não tenha quais-quer implicações ao nível de saúde, e para que a economia nacional possa crescer, porque os azeites muito baratos também podem ser si-nónimo que não estão a vir de Portugal, nem da UE, o que faz com que a actividade econó-mica do próprio país se agrave e isso pagar--se-á mais com impostos, por exemplo.»

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1300 Olivicultores activos compõem a Cooperativa Agrícola Moura e Barrancos, que à sua escala, nesta área, é a maior co-operativa do país. Tem uma estrutura com pouco mais de trinta funcionários, e dá trabalho, sazonalmente, a mais cerca de vinte. Com activos que totalizam cerca de 14 milhões de euros e facturação perto dos 16 milhões de euros, o futuro diz que o investimento terá que continuar, pois na Cooperativa acreditam que é aí que resi-de o seu sucesso garante Manuel Fialho, o gerente: “aqueles que querem parar, mor-rem e os que continuarem a investir pla-neadamente, esses, vão para a frente”.O gestor afirmou, também, que a última colheita foi mais uma vez recorde, atingin-do 37,5 mil toneladas de azeitona, trans-formadas em mais de 7 milhões de litros de azeites de grande qualidade. “A única contrariedade nesta campanha é que se verificou uma grande antecipação na co-lheita. Foi muita rápida, porque o tempo seco e a maior mecanização no apanho da azeitona também o propiciaram. O lagar trabalhou quase sempre na sua máxima capacidade. O fruto amadureceu mais de-pressa, devido a factores climáticos.” As vendas dos azeites embalados pela Co-operativa destinam-se, quase em exclusi-vo, ao mercado nacional - “o mercado de exportação não representa para nós mais do que 5% do total das vendas. Dos 95% com que servimos o mercado nacional, quase 90% destinam-se às grandes su-perfícies de distribuição”, expõe o gestor. Junto de Manuel Fialho, a Fórum & Cida-dania, foi conhecer de perto este exemplo a seguir e que se encontra em “franca ex-pansão”, uma vez que as produções mé-dias por hectare já duplicaram nos 18 a 19 mil hectares de olival da região. “Todos os anos têm sido anos recorde na produ-ção de azeitona. Este ano já superámos as 37 mil toneladas”. A cooperativa nasceu em 1954. Como é que conseguem manter-se em termos de susten-tabilidade e gestão no mundo cooperativo e com a competitividade que há por aí?Manuel Fialho (MF) – Vim para esta coope-rativa há 20 anos. Vinha de experiências muito diferentes, em empresas no Brasil e nos EUA. Regressei às minhas raízes porque esta Coope-rativa é a principal unidade agro-industrial lo-cal, por onde ‘passa’ toda a economia agrícola da região. De maneira que, em vez de ‘vender’ o meu trabalho aos meus anteriores empregado-res, optei por trabalhar na minha terra. Na al-tura, em que me convidaram para vir gerir esta Cooperativa, ela atravessava uma situação mui-to complicada, beirando a insolvência. Mas isso

acontecia por todo o lado. Só no Baixo Alente-jo, 8 ou 9 cooperativas agrícolas e agro-indus-triais faliram por essa altura. Era urgente mu-dar as práticas de gestão e foi o que fizemos.

Encarar a gestão duma cooperativa co-mo uma gestão empresarial é essencial?MF – Absolutamente! Porque é que todas estas cooperativas faliram? Em boa verda-de, porque nenhuma delas tinha um gestor profissional. Em geral, os cooperadores são agricultores experimentados e alguns são mesmo excelentes gestores de custos e de investimentos, mas é preciso mais do que isso. A gestão de uma empresa agro-indus-trial e comercial é diferente da gestão de uma empresa agrícola. Há que respeitar muito do que se aprende estudando e prati-cando gestão de empresas. O segredo do su-cesso da nossa Cooperativa advém do fac-

to de termos uma equipa a trabalhar com sistemas e práticas de gestão bem susten-tados, num rigoroso planeamento operacio-nal e financeiro. Para além de reportarmos regularmente à Direcção da Cooperativa, todos os anos produzimos um Relatório e Plano circunstanciado, operacional e finan-ceiro, uma peça informativa indispensável para manter os cooperadores unidos na sua Cooperativa. Quanto ao problema das insolvências é um problema nacional! Há ainda muito amado-rismo na gestão das nossas PME, gerando desequilíbrios financeiros graves. E, mui-tas delas, infelizmente, ao primeiro embate acabam por falir. Na minha óptica, trata-se de um verdadeiro problema de ‘alfabetiges-tão’, se é que me é permitido inventar este

termo, que julgo bastante sugestivo para ca-racterizar o que na verdade está por detrás dos nossos insucessos. O problema decorre também do enorme défice de empreendedo-rismo e inadequado capital de risco. É toda uma máquina que devia ser montada, mas que demorará anos a fazer. Aliás, algumas cooperativas já estão a fundir-se para ga-nhar escala. Não se pode esquecer que as cooperativas são um dos maiores respon-sáveis pelos valores acrescentados por esse mundo fora. É preciso geri-las bem.

Ao nível da gama de produtos, o que é que podemos encontrar no mercado desta co-operativa? De que variedades de azeite dispõe?MF – Produzimos basicamente azeites vir-gem com Denominação de Origem Protegida (DOP), que é o ‘Azeite de Moura’. O que ca-

Na Vanguarda do FuturoCooperativa Agrícola de Moura e Barrancos, CRL

Vantagens dos Cooperadores

«Garantia de recebimento das suas produ-

ções, garantia de que vão ter um preço com-

petitivo e garantia de que a Cooperativa

ainda vai durar muitos anos, são os três fac-

tores absolutamente decisivos do ponto de

vista das expectativas dos cooperadores. De-

pois, damos-lhes ainda orientação e resposta

à burocracia em que se transformou a agri-

cultura europeia. As cooperativas asseguram

o bem de todos! O Sector Cooperativo está

e estará para durar, criando escala para ge-

rir com sucesso o que não pode ser feito iso-

ladamente.»

Manuel Fialho

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racteriza a sua diferenciação não é apenas uma variedade, ou um azeite monovarietal, mas um blend das três variedades predomi-nantes na nossa região: a Cordovil, a Gale-ga e a Verdeal. Depois, fornecemos também azeites DOP e de outras variedades em mar-cas da grande distribuição (MDD). Estamos já em praticamente todas as cadeias de dis-tribuição alimentar do país.

Em relação aos produtos DOP e não-DOP, diferem muito um do outro? MF – Não. Têm a mesma garantia de quali-dade, mas diferem ligeiramente nos preços fornecidos com as marcas da distribuição. Se for a qualquer Pingo Doce, Continente, Intermarché, Jumbo, ou Makro e outros, vai encontrar lá os nossos azeites nas duas mar-cas. Para ganharmos volume compatível com as nossas produções, antecipámos a penetra-ção neste mercado da distribuição também com as MDD. No nosso país, no sector ali-mentar, estas marcas da distribuição devem representar hoje cerca de 40% do volume total de vendas. Em Espanha já vão em mais de 60%, e nós acreditamos que este ano, a crise irá forçar ainda mais as vendas com

as marcas dos distribuidores, atingindo ra-pidamente mais de 50% no nosso mercado. As pessoas não têm dinheiro e sabem que as marcas de distribuição são mais baratas. Se essas marcas apresentarem uma certificação DOP, com é o nosso caso, então o consumidor terá absoluta garantia de adquirir um azei-

te com qualidade certificada. Hoje, pratica-mente o mesmo volume de azeite que se pro-duz em Portugal é importado de Espanha, enchendo os lineares da nossa distribuição e descaracterizando os azeites genuinamente nacionais. É que ainda não somos auto-sufi-cientes e é essa uma das razões porque inves-timos no mercado nacional. De igual modo, sem termos ainda exportações expressivas, contribuímos para o equilíbrio da nossa defi-citária balança comercial do azeite.Por outro lado, nunca poderíamos competir com preços de azeite tão baixos e quase no limiar dos custos da produção dos olivais tra-dicionais, ou seja, se vendêssemos os nossos azeites exclusivamente a granel estaríamos a remunerar muito mal a azeitona dos coopera-

dores. Procuramos maximizar as nossas ven-das de azeites embalados para assim poder-mos remunerar melhor as suas produções de azeitona. Legitimamente, qualquer empresa quer comprar as matérias-primas o mais ba-rato possível e vender o mais caro possível os seus produtos. Ora, aqui passa-se exactamen-

te o contrário! Nós existimos, de facto, pa-ra comprar as nossas matérias-primas - nes-te caso a azeitona e as outras produções dos nossos cooperadores - o mais caro possível. E, depois, para lhes vender, o mais barato pos-sível. São esses os factores de produção que adquirimos em mercados muito competitivos. Ou seja, nisto reside o principal problema da gestão das cooperativas agrícolas e agro-in-dustriais: é que estas duas circunstâncias são sempre factores redutores das margens de contribuição, o que exige redobrada atenção na gestão deste tipo de operações, que não visam o lucro, mas que, como qualquer outra empresa, têm que obter resultados para con-tinuarem a investir.

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A Liga das Associações de Socorro Mútuo de Vila Nova de Gaia – Federação das As-sociações de Socorro Mútuo de Vila Nova de Gaia, após mais de um século de exis-tência tem-se mantido fiel ao conceito da sua génese – o mutualismo – que mais do que um conceito é a sua missão. E, várias gerações, ao longo dos tempos se têm ins-pirado neste espírito fraterno e solidário. No entanto, urge chegar mais perto dos mais jovens e mobilizá-los para este mo-vimento social.Em 2005, a Liga integrou o núcleo funda-dor da “ Mutuália”, uma Federação Mu-tualista de âmbito nacional, por impulso da União das Mutualidades Portuguesas. O objectivo é o fornecimento de serviços complementares de segurança social, de-signadamente os complementos de sub-sídio de desemprego, poupanças reforma e complemento de reforma. Necessidades complexas, que se aplicam aos sócios das suas associações federadas: a Associação Vilanovense, a Associação Oliveirense de Socorros Mútuos e, o Montepio Vilano-vense de Socorro Mútuo “Costa Goodol-phim”.Com as novas instalações, o cartão-de-vi-sita é receber bem os seus associados. No futuro, perspectivam-se novos serviços,

para que os associados recebam em suas casas, todo o cuidado e conforto que a Li-ga tem para lhes proporcionar.Mais antiga que a própria Liga, a Associa-ção Vilanovense comemora este ano o seu 130º aniversário, uma longevidade que nos sugere que se mudam os tempos, que se podem mudar as vontades e manter os traços tão genuínos que movem o mutua-lismo: a solidariedade e a cooperação.É uma instituição centenária assente no mutu-

alismo que suporta várias respostas. A saúde é uma área de referência, quer na Farmácia da Liga, quer na Clínica da Liga, quer mais recen-temente no Clinica de Estética. Apostam forte-mente na qualidade, proporcionando aos cida-dãos uma verdadeira alternativa aos serviços públicos e privados de saúde, em termos de qua-lidade, disponibilidade e economia. Luís Amo-rim, presidente da direcção fala de toda esta or-gânica e suporte desta tão vasta estrutura, “a renovação da Liga implicou um grande inves-timento, ao nível dos edifícios de base e equi-pamentos, na ordem dos 4.250.000 euros, en-volvendo a Farmácia da Liga, a Clinica e um Auditório com 84 lugares, aberto à comunida-de. Apostamos no profissionalismo dos nossos farmacêuticos, na qualidade e conhecimento do nosso corpo clínico, e de enfermagem, qualifica-mos todos os nossos colaboradores, tendo em vista, uma resposta de qualidade nos serviços que disponibilizamos, sempre orientados pela satisfação de todos os nossos utentes”, afirma. Na área da saúde disponibilizam os melhores médicos, numa panóplia de especialidades, pois assim melhores garantias podem proporcionar a todos os sócios das associações que a com-põem, designadamente da Vilanovense – Asso-ciação Mutualista, da Associação Oliveirense de Socorros Mútuos e do Montepio Vilanovense de Socorro Mútuo” Costa Goodolphim”.“Hoje as pessoas estão a mudar de paradigma,

deixaram de se preocupar com a morte, para se preocuparam com a qualidade de vida”. “ Por isso estamos a investir e apostar na qualidade de vida e do bem-estar”. E é assim que surge em 2012, a Clinica de Estética, um espaço vo-cacionado para desmistificar a imagem elitis-ta que existe acerca deste tipo de terapia, que no momento actual, pode mesmo ser uma ajuda para contrariar a psicose que se instalou sobre a crise e a austeridade.E nesse sentido, também a Liga de Gaia é um

“É preciso um mutualismo de acção, não de reacção”

Liga das Associações de Socorro Mútuo de Vila Nova de Gaia

Luís Amorim

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exemplo a seguir e um caso de sucesso, uma vez que, para além da sua vocação social, é gerado-ra de emprego.

«Uma Missão sem prazo»

Depois do pico de crescimento na viragem do século, neste momento ocorre um crescimento inferior mais moderado e estável. “Uma Missão sem Prazo” confere a grandeza e dinâmica do movimento mutualista, assente nos 52 mil associados efectivos das associações que constituem a Liga. Contudo, Luís Amorim la-menta o facto de este movimento não ser bem apreendido e, justamente não mobilizar mais os jovens. “A verdadeira função social que as mu-tualidades têm, a verdadeira função do mutua-lismo não é apreendida, nem sentida, nem co-nhecida e muito menos divulgada. É preciso um mutualismo de acção e, não de reacção”, con-testa.“Na Liga de Gaia trabalhamos muito este mu-tualismo de integração, de interacção, de aces-sibilidade. Uma missão sem prazo de validade e automática. E é na dimensão da nossa nature-za que distamos do que se faz ao nível da saúde pública. E, num momento em que as pessoas co-meçam a ter dificuldade no acesso público aos cuidados de saúde e existindo pouca capacida-

de de resposta aos seus problemas, nós associa-ções estamos preparados para lhes dar respos-tas atempadas e de qualidade. O próprio preço das taxas moderadoras está cada vez mais pró-ximo do preço que as mutualidades cobram nas suas consultas” alerta.“Credibilidade” e “confiança” são dois dos con-ceitos fundamentais da Liga de Gaia, através dos créditos firmados ao longo de 106 anos de existência, prestando serviços de qualidade aos utentes, melhorando práticas e estabelecendo

relações duradoiras com os seus utentes, sem-pre numa base de confiança recíproca. “Porque o nosso objectivo é satisfazer as necessidades dos mais desfavorecidos e ajudar a resolver o problema da coesão social e da saúde pública. Somos vanguardistas no campo da saúde e no campo social. Criámos laços solidários e frater-nos”, refere.

Vilanovense de Parabéns!

A comemorar 130 anos, a Associação Vilano-vense tem como função social dar resposta às necessidades dos mais carenciados e gerir situ-ações que permitam a qualidade de vida. Exis-te desde 8 de Dezembro de 1882, e dá o apoio aos seus 40.000 associados efectivos. É a me-lhor montra da acção social, dentro do espírito mutualista. “A Vilanovense tem autogoverno e sustentabilidade própria”, garante o dirigente.Já em 2009, a Liga recebeu o Prémio Mutualis-mo, galardão que para Luís Amorim trouxe “vi-sibilidade, reputação, motivação e deu-nos um estímulo para fazer mais e melhor. Trouxe a for-ça interior e o orgulho sobre o trabalho que re-alizamos, e que premeia também todos os que nos antecederam e trabalharam em prol do mu-tualismo. Faremos o melhor que sabemos e po-demos, para deixar a casa devidamente estru-turada para as gerações vindouras” e assegura que “a verdadeira dimensão do mutualismo tem também uma estrutura “preocupamo-nos com as pessoas e com as suas dificuldades e ne-cessidades”. Procuramos fazer mais e melhor, sentindo o trabalho que estamos a desenvol-ver, firmando os laços de fraternidade”. Afinal, o projecto social da Liga adquiriu uma missão “imparável”, homenageando e engrandecendo o Mutualismo, quer na sua área de intervenção, quer por todo o país. “Um movimento cujo futu-ro se desenha conforme as novas necessidades e que se vê retribuído em cada associado a cada nova solicitação”.

«No futuro, a Liga pretende reforçar a sua postura de referência no movimento mutualista nacional. O plano em questão contempla a construção de mais um novo edifício nos terrenos adjacentes ao actu-almente existente. Esta nova obra – cujo projecto está aprovado – irá representar a materialização das novas ambições sociais da Liga, ao criar espaço para a abertura duma Creche, Lar de Terceira Idade e Apoio Domiciliário»

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A Liga das Associações de Socorro Mútuo de Vila Nova de Gaia é constituída pelas seguintes instituições mutualistas:

Formada por um grupo de portuenses e gaien-ses a 8 de Dezembro de 1882, com a designa-ção inicial de Associação de Beneficência Fú-nebre, com sede na Rua das Flores, no Porto. Dado o crescente número de associados gaien-ses, foi criada uma filial em Vila Nova de Gaia, na Rua Cândido dos Reis. Mais tarde, esta fi-lial passou a sede, transferindo-se para o edifí-cio próprio, o qual acabou por ser integrado no património da Liga. Actualmente, a Associação Vilanovense conta com cerca de 40.000 associados que são bene-ficiários do subsídio de funeral, bem como de to-dos os serviços que a Liga proporciona.

Fundada por um conjunto de residentes locais em 21 de Maio de 1893, a Associação Oliveiren-se de Socorros Mútuos teve a designação inicial de Associação Oliveirense de Socorros Mútuos e Fúnebre para Ambos os Sexos de Santa Eulália. Conta hoje com 12.500 associados, aos quais proporciona subsídio de funeral e serviços clíni-cos em instalações próprias.

Constituída em 8 de Junho 1921, em homenagem ao associativista Costa Goodolphim com o objec-tivo de conceder subsídio de funeral aos então 130 associados. Hoje, enquanto societária da Liga fornece apenas, e através desta, os serviços de assistência médica e medicamentosa.

Daniel Baptista, antigo presidente da direcção, recorda a Associação Vilanovense…

«…O mutualismo é algo muito antigo. Em meados do séc. XIX, com o liberalismo, insti-

tuíram-se as associações designadas mutualistas, porque, no país, havia muita pobreza e

as pessoas uniram-se essencialmente para proporcionar um funeral digno às pessoas que,

muitas vezes, andavam com os cadáveres dos seus familiares às costas a bater às portas a

pedir esmola para arranjarem maneira de sepultar com “decência”, como se dizia. A As-

sociação Vilanovense, inicialmente foi fundada com essa finalidade. Reza a história que

“meia-dúzia” de tanoeiros estavam num vão de escada - na cidade do Porto - a jogar às

cartas, quando passou uma senhora com o cadáver de uma criança a pedir uma esmola

para o enterro. Eles, condoídos e conscienciosos desta problemática, logo se cotizaram e

daí nasceu a Associação Mutualista, hoje denominada “ Vilanovense”.

Ao longo dos tempos o mutualismo sofreu várias mutações, altos e baixos e pela altura do

Estado Novo entrou numa certa letargia. Em 1967 pensou-se em federar todas as asso-

ciações mutualistas que existiam no país e formou-se o SNASM – Secretariado Nacional

das Associações de Socorros Mútuos – em Coimbra, que depois passou a FNASM – Fede-

ração Nacional das Associações de Socorros Mútuos.

A Associação Vilanovense, em 1982 celebrou o seu CENTENÁRIO e é nesse âmbito que se

começa a expandir-se o mutualismo em Portugal, pois as Comemorações tiveram progra-

mação de nível, não só local, como nacional, tendo havido, entre outras manifestações de

cariz mutualista as 1ªS JORNADAS MUTUALISTAS de Vila Nova de Gaia, para as quais

foram convidadas todas as Associações do País e, as principais, estiveram presentes com

trabalhos e intervieram nos debates e os JOGOS FLORAIS MUTUALISTAS. Vem a seguir

Montepio Geral - fundado como Associação Mutualista em 1840 - como motor do mutu-

alismo e, com mais visibilidade, a UNIãO DAS MUTUALIDADE PORTUGUESAS, nova

denominação da já mencionada FNASM. O mutualismo hoje é uma força viva e importan-

te na sociedade portuguesa, porque é sempre um complemento daquilo que o Estado não

pode dar, porque a Segurança Social, tal como existe, surge em finais dos anos cinquenta

do século passado e, até aí, a única previdência possível que muitas famílias tinham eram

as associações mutualistas, sendo que a primeira finalidade do mutualismo era preferen-

cialmente a assistência dos funerais.

Actualmente, os funerais na Vilanovense já não têm o mesmo significado, a partir do Cen-

tenário voltou-se mais para os problemas da vida, não dando preferência ao funeral e, as-

sim, a associação está mais vocacionada para a assistência médica, a assistência farma-

cêutica e outras, usufruindo os seus associados de todos os serviços da sua afiliada LIGA

DAS ASSOCIAçõES DE SOCORRO MúTUO DE VILA NOVA DE GAIA, dos disponibili-

zados pela MUTUÁLIA e muitos outros, havendo clínica muito bem equipada e com ópti-

mos profissionais, sempre a pensar nos associados.»

Farmácia da Liga«Na área das Farmácias somos umas das farmácias nacionais, com maior nível de em-prego de farmacêuticos» Somos uma farmá-cia com uma área de atendimento com todo o tipo de automatismos e fomos dos primei-ros a ser robotizados. Os benefícios para os associados são enormes e os nossos profis-sionais de farmácia acabam por ter uma tri-pla função, porque não só aviam o medica-mento, como ouvem o doente, e cumprem a função de ‘psicólogos’, uma função social que não tem preço. Com esta característica essencial, não é difícil adivinhar como alcan-çamos os melhores resultados.»

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As expectativas são as maiores para a XXI edição da Feira do Fumeiro.

A experiência dá conta de verdadeiros “cabos das tormentas”simbolizado

na agressividade do clima local e outros agentes, “na neve que muitas ve-

zes apareceu, na chuva torrencial em alguns casos, na crise económica e

financeira que já vimos vivendo há algum tempo e que teima em persistir.

Portanto, todos estes anos de experiência faz com que eu sinta e tenha a

certeza de que esta edição de 2012 vá ser plena de sucesso e terá, certa-

mente retorno financeiro, que é também o esperado para aquelas pessoas

que durante o ano trabalharam as terras e os seus animais”, augura Or-

lando Alves, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Montalegre. Todos

os animais são alvo de um controlo muito rigoroso na alimentação que

lhes é dada, “tem um controlo feito por nós, não há rações de espécie ne-

nhuma, este controlo tem sido a base do muito sucesso que efectivamente

temos tido e iremos continuar a empenhar-nos com todas as nossas forças

para podermos garantir que estamos a oferecer produto genuíno, produto

verdadeiro”, assegura.

Num momento em que o mundo rural está a acabar, a Feira do Fumeiro

acaba por ser um alento para os ainda agricultores, “temos que começar

a ver como é que vamos fazer para fixar as pessoas no mundo rural nos

dois terços do país onde daqui por dez anos a continuar como está, já mui-

to pouca gente viverá”, recorda.

Orlando Alves não acredita que as pessoas regressem ao mundo rural.

Contudo, indica algumas alternativas ao sector agrícola que ainda estão

pouco exploradas e que, se impulsionadas poderiam ser a chave para ul-

trapassar a crise. “É preciso criar mecanismos, circuitos de comercializa-

ção, não basta pôr as pessoas a produzir. E é aí que nós autarcas, os minis-

térios da economia, os sociólogos, empresários da distribuição deveriam

intervir. As pessoas que hoje estão a ser os grandes mercados do mundo

urbano, vendem o produto a baixo preço, subfacturado e, essas pessoas

têm que se convencer que têm um dever também para com o país e têm

que fazer algo para que o mundo rural possa gozar a sua montra para fa-

zer a promoção dos seus produtos”.

Em Montalegre, na edição 2012, os números são surpreendentes: 148

produtores e 964 animais transformados em quilos e quilos de elementa-

res iguarias que só a carne Barrosã providencia. Impossível resistir aos

sabores e à genialidade com que a região recebe todos os seus convidados.

XXI Feira do Fumeiro MontalegreCIG

“Feira do Fumeiro: fundamental e vital para

o mundo rural”

CIG e DGRS apostam na reconversão

Apostar na reconversão do com-portamento criminal foi o gran-de objectivo do Programa para Agressores de Violência Domés-tica (PAVD), expresso em Semi-nário no Auditório da Universi-dade Fernando Pessoa, Porto. Sendo o fenómeno de Violência Do-méstica considerado crime e conside-rando as repercussões que advêm de um ambiente familiar violento, mu-dar este comportamento urge. As-sim, a CIG em parceria com a DGRS desenvolveu um programa que teve a sua fase experimental na Delega-ção Regional do Norte e que passa-

rá a cobrir todo o território nacional, numa acção estruturada por parte da DGRS. O PAVD consiste em “promover nos agressores a consciência e as-sumpção da responsabilidade pelo seu comportamento, bem como a apren-dizagem de estratégias alternativas ao comportamento violento”. No seu último acto público, enquanto vice-presidente da CIG, Manuel Al-bano (que continuará como Coordenador da Delegação Norte do Porto da CIG) transmitiu a preocupação que o governo e a secretária-de-estado dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade têm no desenvolvimento do IV Pla-no Nacional Contra a Violência Doméstica (IV PNCVD) designadamente, no apoio ao PAVD e demais projectos que se têm vindo a desenvolver duma forma integrada no combate ao flagelo da violência doméstica. “O IV PNCVD pela primeira vez autonomizou uma área específica para os agressores isto porque recorrendo aos resultados preliminares do PAVD, houve a necessidade que este trabalho fosse consertado entre os agentes que intervêm no processo de vitimização, mas também entre todos os que coordenam esta intervenção. E, este projecto é o resultado do desenvolvi-mento integrado de parcerias de trabalho em rede, consolidando práticas e políticas nesta matéria, em que todos estão convocados para o exercício da sua cidadania e para o trabalho conjunto, aliás, todos temos uma responsa-bilidade acrescida neste combate”, observou.Quanto à decisão da campanha con-tra a violência doméstica, chocante e incisiva, partiu de uma decisão as-sente na consequência última e mais gravosa do acto da violência domés-tica: a morte, como se pode confe-rir na imagem da campanha. “Não foi por acaso, os crimes de violên-cia doméstica têm aumentado em termos da sociedade civil, os homi-cídios provocados por este acto têm aumentado também, pelo menos os reportados. Portanto, este programa assume-se de especial importância para que também se trabalhe reinte-gração dos agressores”, afirma. Su-cesso nas intervenções é o que CIG e DGRS e toda a equipa envolvida neste PAVD esperam, no momento em que é alargado a todo o territó-rio nacional.

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“Com esta reforma retira-se a âncora às populações”

Portimão recebeu nos dias 2 e 3 de Dezem-bro, o XIII Congresso Nacional da Associa-ção Nacional de Freguesias (ANAFRE). Foi o Congresso mais participado de sempre e, vários foram os momentos que marcaram a força e a defesa do poder local.O número 1700 congressistas realça bem a vonta-de dos autarcas de freguesia em manter e assegu-rar a proximidade, bem como os serviços que dia-riamente disponibilizam às suas populações.Em torno do documento «As Freguesias na Refor-ma do Estado», o Congresso debateu os impactos do Documento Verde da Reforma da Administra-ção Local, no futuro das freguesias e suas comu-nidades.A sessão de abertura foi marcada pela presença de Teresa Caeiro, Vice-presidente da Assembleia

da República, que demonstrou a sua solidariedade para com os autarcas neste processo. Já, Arman-do Vieira, presidente da Anafre era visivelmente um presidente comovido, nas palavras que proferiu frente a um público atento. O primeiro dia de Congresso foi longo. Foram apre-sentadas até de madrugada mais de 40 moções, sendo admitidas e votadas apenas 17. No último dia, Armando Vieira enalteceu todos os autarcas. “Aqui reunidos estiveram os obreiros da democracia de base, os agentes de proximida-de, aqueles que um dia escreveram no seu progra-

ma de vida o exercício público em cada freguesia, se não a maior organização dos cidadãos, a mais importante depois da família” e prosseguiu, “uni-dos vieram defender-se. Trouxeram com eles a von-tade de conhecer o que está reservado às suas fre-guesias nesta hora de mudança anunciada, atentos e vigilantes contribuindo com intervenções e ideias reveladoras de grande perspicácia e sensibilidade”. Reconhecendo a actualidade do controverso tema, o presidente esteve atento à prossecução dos traba-lhos: “transmitiram-se experiências locais de enor-me significado pessoal e local. Expuseram-se ideias de grande acutilância para a construção do consen-so. Discutiram-se desafios e oportunidades, aponta-ram-se atitudes controversas nas relações de poder. Concluiu-se que quanto mais se compartilham opi-niões, mais se multiplica e se propicia a criação de uma inteligência colectiva, rejeição e descontenta-

mento, diante de qualquer reforma apressada e in-fundada com que ninguém poupa e a que ninguém satisfaz.” Porque “a extinção de freguesias nada abona para o pagamento dos juros e o alívio da dí-vida. As freguesias não têm dívidas. Não vai ser fá-cil segurar o elo mais fraco. Querem modelos de efi-cácia e de eficiência, agarrem as freguesias. Não as extingam”, conclui. Armando Vieira destacou por fim, a aprovação das medidas de actuação segundo as conclusões do congresso, que acabaram por me-recer a aprovação da esmagadora maioria dos con-gressistas, com apenas duas abstenções. Estas con-

clusões formarão a estratégia política futura e de referência para o enquadramento das actividades que o conselho directivo da Anafre irá prosseguir, deixando sempre em aberto “a habitual e inteira disponibilidade para o diálogo com os representan-tes do governo”, argumentou. A sessão de encerramento foi palco ainda de um forte clima de contestação. No Portimão Arena er-gueram-se várias faixas negras em protesto e indig-nação com as mensagens: «DEFENDER AS FRE-GUESIAS. DEFENDER AS POPULAÇÕES», «AS FREGUESIAS SÃO DO POVO | EXTINGA--SE A TROIKA», «NÃO À EXTINÇÃO DAS NOS-SAS FREGUESIAS», manifestações que surgiram aquando da intervenção do Ministro-Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas. As emo-ções estiveram ao rubro e foi neste momento que muitos congressistas abandonaram o recinto em si-

nal de protesto. Interrompido e vaiado por diversas vezes no decurso da sua intervenção, o Ministro de-marcou uma posição inflexível e rigorosa no cum-primento dos critérios e prazos de implementação Documento Verde, ignorando as manifestações dos autarcas.Um desfecho pouco apreciado por Armando Viei-ra, que afirmou não se rever nestes comportamen-tos adoptado pelos autarcas, uma vez que sempre foi peculiaridade da ANAFRE “receber bem todos os seus convidados.” Quanto ao futuro deste docu-mento? Como diz o ditado “A Deus Pertence”.

XIII Congresso Nacional da Anafre

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Momento de avaliações e reflexões

Este foi um congresso especial e com vários momentos Armando Vieira (AV) – Teve vários momentos, desde logo do ponto de vista da participação foi um grande congresso, também do ponto de vista das intervenções, concorde-se ou não com elas foi um grande congresso. Do ponto de vista da sessão de encerramento não me revejo neste ti-po de atitudes. Obviamente que estamos numa democracia, temos que aceitar, mas acho que com este tipo de atitudes a Anafre sai daqui um pouco mais fragilizada e debilitada.

Alguns autarcas falaram em destituir esta direcção da Anafre, sentiu-se de certa for-ma ameaçado?AV – Não. Tranquilo. Temos dois anos de mandato, mas nunca se sabe que tipo de ati-tude poderei tomar em relação a essa pro-blemática.

A fechar o congresso tivemos a inter-venção do Ministro Miguel Relvas que se apresentou com uma postura inflexível fa-ce ao adiamento do prazo de implementa-ção ao documento verde. Como comenta?AV – Sobretudo penso que foi feita aqui uma evolução do ponto de vista das condições de base, dos critérios da flexibilidade e o projec-to diploma que for apresentado para que as pessoas se pronunciem, há-de trazer de certe-za ideias um pouco mais abertas, um modelo mais suave, dando flexibilidade ao poder deci-sório das freguesias e dos concelhos em cada uma das localidades do nosso país.

Terminado este congresso, quais são os próximos passos?AV – Temos uma agenda intensíssima, mas fa-ce a isto temos que rever e avaliar todo o con-junto de conclusões que saíram do congresso, para lhes dar o melhor seguimento.

Qual o momento alto e qual o momento baixo deste congresso, visto que no dis-curso de abertura o Armando Vieira emo-cionou-se bastante…AV – O momento alto foi o próprio congres-so no seu todo, acho que a sessão de abertura foi um excelente momento. O momento baixo foi aquele em que os nossos convidados foram apupados, situação na qual não me revejo.

Tivemos freguesias de todos os pontos de país representadas neste congresso, numa mobilização extraordinária. Dos autarcas que ouvimos e das preciosas intervenções, constatamos essencialmente duas proble-máticas transversais a uma grande maioria das freguesias, ou seja, o desacordo com os critérios utilizados no documento ver-de e os efeitos sociais decorrentes da crise que atravessamos, que podem ser também potenciados com esta indefinição para as populações das freguesias. Estas preocu-pações também são as suas?AV – Este é um reflexo de um abandono ao longo de várias décadas das freguesias. Não há aqui um tratamento, nomeadamente do poder legislativo e, atrás deste, obviamente que o poder executivo não tem tratado bem as freguesias nestes anos todos de poder lo-cal democrático e era preciso que isso acon-tecesse.

Onde vai ser o próximo Congresso?AV – O próximo será um congresso electivo e de-correrá depois das eleições autárquicas, serve es-sencialmente para mudar os dirigentes, pelo me-nos será esse o momento em que vou sair, na eventualidade de não sair antes.

É uma despedida?AV – Não propriamente. Primeiro termino a mi-nha vida autárquica, podendo continuá-la noutros moldes, mas não desejo continuar. É uma missão muito difícil e muito exigente no plano físico, em-bora do ponto de vista pessoal seja bastante enri-quecedor, mas é muito exigente e não tenho condi-ções para continuar.

Este Congresso deixou-o magoado?AV – Este Congresso deixou-me magoado, por es-ta sessão de encerramento e pela falta de saber bem receber, situação que sempre foi apanágio da Anafre. Receber bem os nossos convidados.

É verdade que o Ministro Miguel Relvas es-teve para não comparecer e o presidente Ar-mando Vieira tudo fez para que ele estivesse presente?AV – Não. O sr. Ministro desde a primeira hora que confirmou que vinha, mesmo sabendo da for-te contestação. Foi um homem de coragem. A dú-vida que houve era se vinha o Primeiro-Ministro.

Rosa do Egipto, presidente da Mesa do Congresso Nacional da Anafre

«O balanço é tremendamente positivo. Penso que este foi o congresso onde houve mais de-bate, onde houve intervenções com muita con-sistência, e onde mostramos, independentemen-te de algumas divergências pontuais, que temos um sentido de unidade crescente. Independentemente das nossas discordâncias políticas é visível que estamos discordantes com o Documento Verde da Reforma da Admi-nistração Local. Aliás, com as conclusões des-te congresso, observamos de forma inequívoca que esta não é a reforma que as freguesias an-seiam, porque esta reforma é omissa, naquilo que temos vindo a defender e a reclamar há muito tempo: uma nova lei de finanças locais. Este congresso demonstrou que os autarcas de freguesia querem fazer parte da solução, não querem ser parte do problema. Por isso, es-tamos disponíveis para junto do governo pro-porcionarmos uma reforma da administração local, na qual os autarcas de freguesia sejam parte integrante dessa mesma reforma. Este congresso demonstrou também a grande preo-cupação das populações que nos elegeram, bem como a continuidade do trabalho que temos vindo a desenvolver, isto é, prestar um serviço público, um serviço social, para que as nossas freguesias sejam a voz dos mais desfavoreci-dos. E se esse for o caminho, não tenho dúvidas nenhumas de que os autarcas de freguesia esta-rão unidos para demonstrar que é possível uma reforma de todos.»

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DE NORTE A SUL - AS VOZES DOS AUTARCAS

«Este é um documento que está no princípio de uma discussão e a minha percepção enquanto autarca obvia-mente que é um documento em que os critérios propostos deixam muito a de-sejar em termos daquilo que é a opi-

nião dos autarcas de um modo geral. E essa é também a opinião da Associa-ção Nacional de Municípios e da ANA-FRE. As especificidades das freguesias particularmente, as diferenças entre elas leva a que as coisas não possam ser feitas duma forma linear, pois há realidades completamente diferentes no nosso país, realidades que não têm a ver com números, mas que tem que ver com as suas origens, história. Por-tanto arriscaria dizer que este docu-mento irá ser alvo de muita discussão. E até chegar-se a uma conclusão julgo que irá haver grandes alterações.»

«Não se pode aceitar a proposta do governo sem uma discussão séria e

profunda e sobretudo que envolva a so-ciedade civil. As populações têm uma identidade relativamente aos seus es-paços geográficos, não vai facilmente ceder a fusões, extinções. E num mo-mento de crise não sei se é oportuno lançar esta discussão para a socieda-de civil. Este Congresso é o momen-to oportuno para discutir tudo isto e acho que há vontade das pessoas em discutir.»

Manuel A. Da Luz, presidente CM Portimão

Desidério Jorge Silva, presidente CM Albufeira

«Esta reforma é um debate que está a promover uma discussão de ideias pelo país, em torno duma proposta do Go-verno que ainda não está fechada. Ali-ás, o Documento Verde não é um docu-mento fechado. Há gente aqui já com intuitos políti-cos marcantes sobretudo com algum cinismo e hipocrisia política por parte

do PS, porque foi o Partido Socialista que pôs isto na agenda. O PSD nunca teve isto na agenda, aliás nós estamos a seguir o Memorando de Entendi-mento da Troika. E se não fosse o do-cumento da troika, provavelmente, não seria alvo de discussão. Acho que esta reforma deve corresponder às expecta-tivas das pessoas, no sentido de melho-rar a eficiência e melhorar os serviços prestados ao cidadão. Acredito que é muito mais importante congregar ou agregar freguesias em meios urbanos do que estar a extinguir por pequenas que sejam, freguesias nos meios rurais porque nos meios urbanos há sempre maneira de contornar a situação, nos meios rurais não, a freguesia é o único elo de ligação ao Estado.»

Manuel Joaquim Frexes, presidente CM Fundão

«Depois do 25 de Abril em que nós conseguimos resolver muitos proble-mas das nossas populações, espero que o congresso rejeite o documento verde que foi apresentado aos portu-gueses, principalmente aos autarcas, sob a questão da extinção de fregue-sias, pela sua agregação. Porque com este documento, as freguesias perdem a sua identidade e as populações per-dem o poder reivindicativo. Este do-

cumento nunca deveria ter sido apre-sentado. Estou aqui a representar 11 das 21 freguesias de Paredes de Cou-ra que serão agregadas e que perdem o poder reivindicativo. A quem é que eles batem à porta? Eles só conhecem o presidente da junta, mais nenhum autarca. Estamos 24h ao serviço da população. Convoque-se uma manifes-tação a nível nacional e nós cá estare-mos para mostrar ao Governo, o que as populações necessitam, as autarquias. As eleições mais participadas são as nossas! Nós conhecemos as pessoas, lançamos a semente da democracia, e somos aqueles que menos gastamos. Trabalhamos por amor à camisola, por amor à nossa terra, por amor à nossa população e principalmente pela clas-se mais desfavorecida, que é essa a pri-meira a ser prejudicada.»

Joaquim Lopes, presidente JF Paredes de Coura

«Espero que os eleitos de freguesia

manifestem aqui a sua livre vontade

acerca do livro verde acerca da refor-

ma do estado, que é a proposta que es-

tá em cima da mesa. E que demons-

trem à sociedade, ou que tragam a este congresso aquilo que é o pulsar e o sentir das populações no vasto territó-rio do país. As maiores preocupações é o desajustado livro verde, desmesura-do e excessivo, porque não vem resol-ver problema nenhum das freguesias. Não teve em conta a realidade social e económica do país, do território inte-rior, o inestimável contributo e traba-lho que estes autarcas fazem para com as suas populações, o livro verde não ouviu os autarcas, não ouviu a Anafre, nem ninguém e no meu ponto de vista está votado ao insucesso.»

Cândido Moreira, presidente da Assembleia de Freguesia da JF Padronelo – Amarante

«É com agrado que Portimão rece-be este Congresso, a região do Algar-ve nunca tinha recebido nenhum em tantos anos de democracia. Receber-mos cerca de 1700 congressistas é muito positivo para a economia local. Este foi o congresso mais participado dos últimos anos. E percebemos que o tema que está em discussão, também convoca mais autarcas para a discus-são pública e é isso que nós vimos neste congresso. É um documento muito cin-zento, Portimão não está reflectido no

documento verde, mas apesar disso não podemos dissociar-nos dessa discussão que é de todos, porque não faz sentido que as freguesias sejam o elo mais fra-co nesta reestruturação da administra-ção do território, uma vez que não es-tá provado, que a agregação ou a fusão seja sinónimo de poupança. Essa eco-nomia de escala não é bem explicada no documento nem é desejada sequer. É uma medida política meramente econo-micista que não pensa nas pessoas, não está provada como solução. A contradi-ção deste governo, por um lado somos as autarquias mais próximas das pesso-as, somos aquelas que fazemos mais e melhor com menos meios, no entanto, somos o primeiro patamar da democra-cia a ser penalizado com essa reforma. Não faz sentido é incoerente e contém alguma hipocrisia por parte deste go-verno.»

Ana Figueiredo, presidente JF Portimão

Aplicação dos Critérios por Distrito

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«Acho que o Governo não escolheu bem o tema nem a oportunidade em relação a esta questão da reforma do poder local, porque há muitas gordu-ras no Estado, que aparentemente ainda não foram tocadas, ainda não se sabe quantas empresas do Esta-do vão ser reduzidas, nem como é que essa agregação vai ser feita, e

aí é que está de facto a grande des-pesa do Estado que pode ser poupa-da. Agora nas freguesias, há muitos presidentes de junta de freguesia que exercem a função gratuitamente, ou-tros que ganham uma compensação, e portanto a despesa das freguesias é uma coisa ínfima no contexto ge-ral da despesa do Estado. De acor-do com a matriz que foi distribuída Faro é afectado, gerando situações ilógicas dados os critérios utilizados. Faro tem 6 freguesias muito neces-sárias para prestar um bom serviço à população. Espero que as conclusões que saiam deste congresso sejam escutadas pe-lo governo e que sejam respeitadas.»

Macário Correia, presidente CM Faro

«Este Congresso deverá servir pa-ra Armando Vieira, Presidente do Conselho Directivo da ANAFRE,

reconhecer se reúne (ou não) as condições políticas para levar a lu-ta contra este Governo até às últi-mas consequências. Urge adoptar uma postura mais acutilante e inci-siva no combate pela defesa do Po-der Local, pelas Freguesias. Este é um momento de grandes decisões, nem sempre fáceis e que carecem de alguém com coragem política e que não esteja agrilhoado a quais-quer interesses ou reservas político--partidárias.»

Pedro Sousa, presidente JF Leça da Palmeira – Matosinhos

«O Documento Verde já por si é cin-zento, primeiro estão a cortar com aquilo que é mais puro e que ganha-mos após o 25 de Abril, que é a pro-ximidade do eleito com o seu eleitor. Depois virem propostas de pessoas que não conhecem a realidade de ca-da freguesia acho que isso é imatu-ro, duma irresponsabilidade enorme. Não estamos abrangidos pelo Docu-mento Verde, felizmente. Mas no do-

cumento produzido pela concelhia do PSD, eles querem acabar com Aldo-ar, com a única freguesia de esquerda que existe na área ocidental da cida-de do Porto, independentemente dis-so sou contra qualquer fusão ou ex-tinção sem primeiro ouvir as pessoas no terreno, as populações, as insti-tuições locais, a partir daí, se hou-ver duas freguesias que achem que se devem fundir, aí já será legítimo. Quem quer acabar com as freguesias não tem noção do trabalho que nós fazemos no terreno, principalmente no momento que atravessamos de di-ficuldades sociais. Espero que o do-cumento apresentado pela Anafre apresentado e discutido neste con-gresso seja aprovado por unanimida-de, e que a Anafre consiga que o Go-verno recue nesta proposta.»

Victor Arcos, presidente JF Aldoar – Porto

«É um congresso numa altura ‘quen-

te e perturbada’ do poder local em

que está em causa a reorganização

das juntas de freguesia e dos muni-

cípios. É um congresso que à parti-da cria muitas expectativas a todos. Espero que os trabalhos sejam bons para as freguesias, porque também acredito que as freguesias têm uma necessidade de se reorganizarem pa-ra que o nosso desempenho seja mais profícuo para a população, e que saia daqui claramente uma mensagem de união e de força, com uma estraté-gia bem definida, para que as fregue-sias saiam dignificadas e preparadas para os tempos que se antevêem de cortes e de grandes alterações.»

Rui Torres, presidente JF Espinho

«Segundo os critérios do documento, a freguesia poderá ser agregada, mas estou tranquilo porque o documento é um documento de partida, não é

um documento de chegada, tem sufi-ciente flexibilidade para permitir que venha a prevalecer uma freguesia com cerca de cinco mil habitantes. Acho que não há nenhum problema à volta disso. Vamos iniciar um proces-so de explicação e de consultas mas estamos absolutamente tranquilos. Estou muito mais preocupado com o que se passa no país desse ponto de vista, do que aquilo que se vai passar na minha freguesia.»

Armando Vieira, presidente JF da Oliveirinha – Aveiro

«A minha freguesia é a 5ª fregue-sia do concelho de Leiria e é afec-tada porque não cumpre os critérios está a cerca de 7Km da sede conce-lho em linha recta, embora por via de estrada, tenhamos que fazer mais de 10km, além disso, faltam cerca de 200 eleitores para atingir os 5000.

É um documento pouco inteligente, é um documento inoportuno, não é es-clarecedor e julgo que vai contra a vontade da população. É um docu-mento que foi elaborado em cima do joelho. Considero que devia ser um documento com muito mais abran-gência, que ouvisse os presidentes de junta, as populações porque as rea-lidades são diferentes. O congresso é a prova evidente que estamos to-dos na mesma sintonia, em que todas as moções, todas as intervenções vão ao encontro de que esta é uma refor-ma inoportuna, e de que as fregue-sias não foram e não contribuíram nada para esta situação que o país está a viver.»

Daniel Almeida, tesoureiro da JF Amor – Leiria

«As nossas expectativas para es-te congresso é que este documento seja suspenso e que pelo menos ha-ja uma discussão por mais tempo,

com maior amplitude e que sejam mesmo consideradas aquilo que este congresso maioritariamente reafir-mou, as características qualitativas que existem nas freguesias que de-vem ser também analisadas, ou seja, um trabalho que seria melhor apro-fundado numa ou duas legislaturas, não no imediato. Estamos a uma dis-tância de 8km da sede do município e segundo estamos a cerca de 2000 habitantes para continuarmos a ser freguesia.»

Manuel Cruz, presidente JF Cortes – Leiria

«É um congresso muito pertinente, por-que neste momento há a necessidade de sabermos qual a posição a tomar face a toda esta problemática, porque o que dá a entender é que aparentemente es-taremos todos do mesmo lado, mas ao mesmo tempo ficamos sem perceber muito bem, relativamente às freguesias que estão associadas ao governo, qual é a opinião deles. E aquilo que penso é

que se por ventura esse intuito da união fosse mesmo aquele que deveria existir, os autarcas do PSD e do CDS presen-tes já se deveriam ter pronunciado e di-zer claramente que estão contra isto, o que daria naturalmente muito mais for-ça à Anafre e às restantes freguesias do país. Esta reforma não tem pés nem cabeça. No concelho de Nisa temos 10 freguesias e consideramos que passar de 10 freguesias para 4 é algo que não tem palavras! Acho que as populações estão junto dos eleitos locais. Tenho a certeza absoluta disso. Até ao momen-to, acho que as pessoas compreenderam que não há nada definido, nem definiti-vo, mas se entretanto surgir alguma coi-sa definitiva, não acredito que alguém fique de fora.»

Marco Oliveira, presidente da Assembleia de Freguesia da JF Espírito Santo – Nisa

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“Partimos atrasados para esta reforma”

“É tempo de valorizar as 4259 freguesias por-tuguesas” diz o Ministro Miguel Relvas à mar-gem do XIII Congresso da ANAFRE, alegando que em vez de todos os portugueses estarem a pagar pelos sacrifícios com o aumento de im-postos, é necessário reformar “o estado central, o estado regional e o estado local”. “Quando o governo anterior assinou o acordo com o FMI, com o Banco Central e com a Comissão Euro-peia estava prevista a extinção de autarquias até Junho de 2012, assim como estavam previs-tas outras medidas difíceis e delicadas que es-tão a ser cumpridas. Esta reforma está também a ser trabalhada por vários autarcas”, atesta.Num congresso marcado com “carácter de ur-gência”, na sessão de encerramento, o Minis-tro encontrou um clima tenso, onde foi vaiado e interrompido por diversas vezes. Durante a sua intervenção, manteve uma posição inflexí-vel, sem margem para negociações, mesmo de-pois dos muitos apupos e de vários autarcas lhe terem virado as costas. “Estas reformas são di-fíceis. Alguma vez, ao longo da nossa história de séculos se viu Portugal ultrapassar os pro-blemas mais graves com que é confrontado só com discursos e ilusões? Eu nunca vi. A nossa história demonstra que só nos momentos difí-ceis com medidas difíceis, ousadas e corajosas, é que somos capazes de ultrapassar os proble-mas. Portugal há seis meses atrás estava na bancarrota, teve que pedir ajuda e hoje esta-mos a reconstruir um caminho para trazer uma nova esperança a Portugal, para que os jovens portugueses não tenham que emigrar, para que ultrapassemos os nossos problemas sociais. Sa-bemos que é difícil, mas temos que nos prepa-rar para isso”, assegura, afirmando que as fre-guesias sairão valorizadas. “Vamos valorizar as freguesias, vamos dar escala, vamos dar dimen-são, vamos dar meios. Agora, temos de ter cora-gem para reformar, se não tivermos, não vamos ter a certeza que resolvemos os problemas dos portugueses”, refere.Apesar de saber, o clima que iria encontrar, Mi-

guel Relvas disse não estar arrependido de ter vindo, considerando que “estes climas são gera-dos e estimulados”, as conclusões do congresso são peremptórias: chumbam o documento ver-de. Nesta matéria, o ministro reforçou que se encontram em diálogo com a Anafre, a ANMP, mas que também é uma competência da Assem-bleia da República, o objectivo é que “as fre-guesias portuguesas saiam reforçadas. Nunca vi fazerem-se reformas a favor de palmas e de aplausos. As boas reformas são feitas com de-terminação, com realismo e contra a adversida-de”, frisou. Segundo o Ministro, Portugal tem que ter a coragem de implementar medidas pa-ra não se continuar a pedir mais sacrifícios aos portugueses “o Estado tem que emagrecer. Não há alternativa. A alternativa a esta política é vi-vermos pior”, por isso garante que o prazo de discussão desta reforma não será alargado e que já partimos “atrasados” para esta reforma: “o processo terá que estar concluído até Junho

de 2012, e lembro que para além do compro-

misso assumido com a Troika, que 2013 é ano

de eleições e esta é uma reforma muito vasta,

comporta o parque empresarial da administra-

ção local, a nova lei das finanças locais, a orga-

nização do território, a nova lei eleitoral, esta

reforma é tão vasta que terá no parlamento 11

diplomas. É uma reforma que já deveríamos ter

feito já há umas décadas atrás”, conclui.

João Avelino, Vice-Presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local (STAL)

«Os trabalhadores da Administração Local e

em particular das freguesias vão sofrer dupla-

mente, se isto for por diante, enquanto cidadãos

e trabalhadores. É certo que no congresso hou-

ve poucas intervenções referindo-se ao perigo

do despedimento de um conjunto significativo

de trabalhadores tendo em conta que ao serem

agregadas ou fundidas juntas de freguesia, na-

turalmente trabalhadores ficarão a sobrar, o

que criará uma situação difícil para os traba-

lhadores.»

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O Congresso mais participado de sempre: 1700 Congressistas

O XIII CONGRESSO NACIONAL da ANAFRE, realizado nos dias 2 e 3 de Dezembro de 2011, em Portimão, foi participado por 1300 Delega-dos e cerca de 500 Observadores Eleitos, em re-presentação de Juntas e Assembleias das Fre-guesias associadas da ANAFRE. Constituiu um momento político nacional de grande relevância para o Poder Local Democrá-tico que, no decurso da sua já longa história, não tem sido devidamente prestigiado. Os Delegados ao Congresso, representantes das Freguesias, analisaram a actividade desenvolvida pela Associação Nacional de Freguesias nos dois primeiros anos do mandato em curso. Sob o lema: «AS FREGUESIAS NA REFOR-MA DO ESTADO», o Congresso debateu, critica-mente e de forma muito participada, os impactos do «DOCUMENTO VERDE DA REFORMA DA ADMINISTRAÇÃO LOCAL» no futuro das Fre-guesias e na vida das populações. O XIII CONGRESSO NACIONAL DA ANA-FRE admitiu e debateu dezassete Documentos versando matérias diversas da vida política das Freguesias, cujo teor vai merecer acolhimento no seio da ANAFRE. O XIII Congresso legitimou os Órgãos Sociais da ANAFRE a prosseguir o seu trabalho no sentido da dignificação das Fregue-sias e dos seus Eleitos. Aprovando a Moção de

Estratégia – AS FREGUESIAS NA REFORMA DO ESTADO – o Congresso fixou as linhas de orientação do trabalho da ANAFRE para o bi-énio 2012/2013, proclamando as seguintes con-clusões:

• A ANAFRE e as Freguesias rejeitam, clara-mente, a Reforma da Administração Local pro-posta no Documento Verde.

• A ANAFRE e as Freguesias entendem que o “Documento Verde” não preconiza um modelo adequado à realidade social portuguesa nem ga-rante ganhos de eficácia e eficiência para o Po-der Local, nem respeita a vontade das popula-ções.

• A ANAFRE e as Freguesias entendem que o modelo de Reforma do Poder Local deve obede-cer ao princípio democrático da consulta popular e auscultar as populações.

• A ANAFRE e as Freguesias querem ver cla-rificada a partilha das competências próprias e reforçado o seu elenco, através da conversão das competências delegadas em próprias das Fregue-sias.

• OsProtocolos de Delegação e Contratualiza-ção de Competências, quando existam, deverão ter carácter universal e vincular as partes para todo o mandato.

• Entendem a ANAFRE e as Freguesias que o

modelo eleitoral actual, quanto à constituição dos Órgãos das Freguesias, é adequado, necessi-tando, apenas, de alguns ajustes na constituição do Órgão Executivo.

• As Freguesias e a ANAFRE exigem que na-da impeça os Presidentes de Junta, Membros das Assembleias Municipais por inerência, de parti-cipar em todas as votações naquele Órgão, como Membros de pleno direito.

• A ANAFRE pugnará pelo cumprimento rigoro-so da Lei das Finanças Locais, garantindo, em si-multâneo, que seja integralmente cumprida a Lei nº 11/96, de 18 de Abril.

• A ANAFRE empenhar-se-á na proposta de al-teração legislativa que ordene a restituição do IVA suportado pelas Freguesias nos serviços so-ciais que presta às populações, à semelhança do regime para IPSS e Comunidades Religiosas.

• A ANAFRE promoverá a clarificação e abo-lição das normas do Orçamento do Estado que determinam a retenção das verbas do FFF de algumas Freguesias para o Serviço Nacional de Saúde.

• A ANAFRE garantirá a dignificação do Man-dato dos titulares dos Órgãos da Freguesia, pro-movendo a revisão dos cargos, face às novas competências a atribuir às Freguesias.

Junta de Freguesia

S. Matias

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“Seis anos a trabalhar com os cidadãos mobilizados em torno do seu concelho. Agora é preciso mobilizar os cidadãos, para resistir a uma crise, que se apre-senta contra as pessoas, e mobilizá-los para a solidariedade, para a inovação e criatividade. É sempre possível fazer a diferença. E é nos momentos difíceis que encontramos a nossa inspiração”. Mais do que palavras são o sentimen-to do presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, na entrevista que conce-deu à Revista Fórum & Cidadania e que retrata um pouco do que foram os seis anos de mandato deste executivo.Guilherme Pinto é um homem frontal e de acção, não escolhe as palavras nem os sentimentos e fala de Matosinhos com carinho. É um homem solidário e preocupado com a vida dos outros. Pre-fere olhar a vida de frente e caminhar em busca da resolução dos problemas. É um inconformado que ousa mobilizar as pessoas. Enfim, é um homem de de-safios que sabe que é tempo de renovar as mentalidades e a ambição dos portu-gueses.Guilherme Pinto vem afirmando há mui-

to tempo que são precisas respostas inovadoras para enfrentar a crise, que é necessário criar empregos e “empresas sociais” e, que nesse sentido, a Câmara tudo fará para atrair mais empresas pa-ra o concelho. A sua estratégia está li-gada à solidariedade, a uma intervenção em rede, envolvendo toda a sociedade civil. Para isso, revela que “temos que alterar o paradigma que temos vivido nos últimos anos” e “criar um clima de confiança entre todos”. Para mobilizar os cidadãos, o autarca defende uma par-ticipação activa na vida cívica. “Descen-tralizei na minha equipa, multiplicando, dessa forma, a nossa capacidade de in-tervenção”, certificou.

Matosinhos antigamente era a cidade dos pescadores, das fábricas de conserva... Ho-je é a cidade da cultura e do mar. Gostaria que nos falasse um pouco desta evolução.Guilherme Pinto (GP) – Matosinhos hoje é o resultado de uma decisão tomada, há cerca de dois séculos, de construir um porto. E es-se é o elo de Matosinhos dos tempos moder-nos que não se alterou porque a presença do porto será sempre a marca distintiva. Infe-

lizmente, houve uma altura em que as mar-cas industriais, particularmente as indústrias das conservas e das indústrias ligadas à me-talurgia, deixaram cicatrizes que ainda se no-tam no território. Houve uma altura em que a aposta no urbanismo e na habitação foi, por-ventura, excessiva, mas, neste momento, nós conseguimos uma cidade múltipla. Graças à ocupação do Porto de Leixões, até em ter-mos daquilo que é a sua eficiência, Matosi-nhos volta a ser procurado para a instalação de unidades industriais. Por isso, estamos em evolução contínua de movimento e de cultu-ra, mas também de design e com uma exce-lente gastronomia, sem esquecer a sua lon-ga e bonita história de terra e de mar e dos seus obreiros que são os pescadores. Este é um concelho com história que orgulha os ma-tosinhenses.

O Porto de Leixões cuja autonomia está em perigo neste momento…GP – Não estará em perigo. Penso que va-mos conseguir defendê-lo na sua autonomia e acho que essa é uma batalha para a qual eu conto com toda a zona norte. Porque, de fac-to, o Porto de Leixões conseguiu uma eficácia tal, que algumas indústrias voltam a querer encontrar em Matosinhos um local onde se

“Vai ser muito difícil mobilizar os portugueses para a construção de um futuro coletivo…”

CM Matosinhos

Guilherme Pinto, presidente da CM Matosinhos

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possam instalar e ter compatibilidade com o tecido urbano que, entretanto, se qualificou. Hoje somos um concelho que se especializou na restauração, na cultura e na produção de actividades ligadas ao design e à arquitectu-ra. Temos aqui indústrias criativas que são de topo no panorama mundial. Esta é a imagem de Matosinhos e onde vale a pena investir. Guilherme Pinto tem vindo a defender que a Junta Metropolitana do Porto deve ser eleita. Isto não vai dificultar a Regionali-zação?GP – Acho que a regionalização é impossível, pelas razões de todos conhecidas e pelos fan-tasmas criados. Um dos fantasmas mais inte-ressantes é este que “de fora de Lisboa não há ninguém com capacidade de decisão, não há ninguém sério”. E é nisso que o governo actual tem insistido para tomar algumas de-cisões. Mas se a Regionalização é muito difí-cil, então deveríamos avançar com uma junta metropolitana eleita que se afirme na defesa da região, na defesa dos interesses do Porto e do norte. Sinceramente, sou daqueles que acham que “quem não tem cão, caça com ga-to”. Portanto, se não temos regionalização, temos de ter uma junta metropolitana eleita, porque permitiria que se falasse a uma só voz em nome da região. Pessoalmente, estou mui-to empenhado neste processo de defender os interesses regionais, e, desta forma, trocar as voltas ao governo, porque nem ele sabe onde se está a meter

Ou seja, está a pensar que as Juntas Me-tropolitanas poderão alavancar as respos-tas?GP – Na área metropolitana do Porto alar-gada são cerca de dois milhões de habitantes, e na área de Lisboa são cerca de três milhões de habitantes, portanto, teríamos quase meta-de do país já regionalizado.

Em seis anos à frente da C.M. Matosinhos, nem tudo foram rosas. Mais do que falar da obra feita, qual é o “amargo de boca” do que não conseguiu fazer?GP – Aquilo que mais me deixa um “amargo de boca” é ter a percepção de que, em muitas áreas, se a câmara parar de efectuar investi-mentos, não há iniciativas autónomas na ci-dade que dêem continuidade ao trabalho que é preciso. Se a câmara deixar de ser a mo-la impulsionadora, a cidade está centrifugada para o Porto. Vamos ter que continuar a insis-tir muito, porque Matosinhos não pode deixar de ter aqui um centro alternativo à cidade do Porto e à cidade de Gaia para podermos ter uma região competitiva.

Para além da construção e requalificação, coloca as pessoas em primeiro lugar, por-quê?GP – Quando me candidatei, o lema da minha primeira candidatura foi simplificar a vida às pessoas, estar perto delas, valorizar as pessoas e creio que temos cumprido, isto é, temos uma atenção permanente voltada para aquilo que é a qualidade de vida do cidadão. É isso que eu con-sidero importante num presidente da autarquia e é isso que procuro fazer.

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Por isso, é um autarca feliz e realizado?GP – Sou um autarca feliz, não sou um au-tarca realizado, porque normalmente preo-cupa-me o que ainda não fiz e as obras que tenho para fazer. Não aquelas que estão fei-tas, ou em curso e em velocidade cruzeiro. Admito que só estarei realizado quando tu-do estiver feito, porque nessa altura se o ba-lanço for bom e aparentemente é bom, então poderei dizer que estou bem... Se estivesse realizado significaria que estava conforma-do, podia parar. E um autarca parado não é um autarca.Muitos projectos que tem em mente es-tão pendentes de um país paralisado para o investimento. Como pensa resolver esses projectos?GP – Neste momento, a questão principal nem tem tanto a ver com os investimentos. Embora Matosinhos tenha algumas coisas que dependem, de facto, da administração central, é dramático ver um país que aban-donou uma ligação de mercadorias à Fran-ça, uma ligação de mercadorias que permite ter um papel decisivo naquilo que é o futu-ro do trânsito das mercadorias entre Ásia, América e Europa. Parámos porque resol-vemos todos fazer uma discussão partidá-ria, acerca desta matéria, e considerar que a aposta que estava feita, ou que devia ser feita, numa linha para grande velocidade, para mercadorias, era um despesismo des-necessário, não percebendo que era uma condição essencial ao nosso desenvolvimen-to. Por exemplo, o Porto de Leixões não existe sozinho. Se não tivermos uma boa rede de ferrovia que ligue o Porto de Lei-xões ao Interland da Galiza, ao Interland de Leão e Castela, ao Interland da Europa, o Porto de Leixões pode continuar, mas a prazo sabe perfeitamente que vai estagnar, porque não tem capacidade para chegar a outros mercados. Ora, é decisivo que o país pense, de uma vez por todas, que esta his-teria que se apodera de alguns de nós, em determinados momentos, sobretudo os pré--eleitorais, termine. Esta coisa de pormos de lado a alta velocidade apenas porque al-guém achou que para ganhar eleições devia eliminar um projecto despesista, é uma coi-sa que deveria ser sancionada pela negati-va, mas não foi. Não faz sentido nenhum um

país que quer ter um papel no futuro, se não tivermos uma alta-velocidade nas mercado-rias, isto é, uma linha que permita em bitola europeia, ligar as principais infra-estrutu-ras de transporte do país a essa linha euro-peia e, particularmente, neste caso Leixões que é o que nos interessa.

E esta reforma administrativa parece-lhe consensual, pensada?GP – Como já referi várias vezes acho que é um disparate. E porquê? Por uma razão mui-to simples, o que eu gostaria de ver a discu-tir, neste momento, não é quantas freguesias vamos reduzir, porque isso não tem interes-se financeiro, porque não vamos poupar nada, mas qual é o papel das freguesias. Neste mo-mento, temos necessidade de fazer uma coi-sa diferente, temos necessidade de criar entes com responsabilidade política, que respon-dam perante os cidadãos, para resolver pro-blemas que são problemas que não podem ser resolvidos ao nível das câmaras. Estou a pen-sar no tratamento de resíduos, na distribui-ção e captação de água, num ordenamento do território numa outra escala, na cultura, no turismo, e que simultaneamente possam cap-tar áreas da administração central que deve-riam estar entregues mais localmente, mas que não fazem sentido ser entregues aos mu-nicípios, mas sim a uma entidade de tipo re-gional. Refiro-me a algumas áreas da educa-ção, em algumas questões ligadas à saúde, enfim, aos portos, à mobilidade. Devemos pensar quais são as competências dos entes autárquicos que existem. Porque não faz nenhum sentido, sobretudo num país que passa a vida a falar de poupanças, que-rer multiplicar as equipas camarárias. Por-tanto, se eu tiver uma grande freguesia ou várias freguesias grandes, quais são as com-petências que elas irão ter? Nenhumas. Se ti-vessemos discutido isto anteriormente, o que iríamos verificar é que o papel das juntas de freguesia devia ser sobretudo, um papel de di-namização social, de estar perto das pesso-as que têm necessidades particulares, como os idosos que estão sozinhos em casa, con-seguir mobilizar os bairros e a comunidade dos bairros, a casa onde cada pessoa mora, a escola que o filho frequenta e, para isso, che-garíamos à conclusão que o movimento era o

inverso. Era constituir unidades ainda mais pequenas. Para que um autarca de freguesia tenha uma boa ligação aos cidadãos, a fregue-sia tem que ter uma determinada dimensão. Se tiver uma grande dimensão, perde-se essa relação de proximidade e vai-se substituir por quê? Por nada. O que faz uma freguesia de 50 mil cidadãos? Nada. A menos que se quei-ra acabar com as câmaras municipais. E não me oporia. Só que o problema reside no con-trário, porque, em vez de 308 câmaras, nessa altura teríamos que passar a ter duas mil e tal entidades autárquicas. A questão é: qual o poder das juntas de freguesias? Para que servem? Esta reforma é um disparate porque não cuida o essencial e comporta este drama. Vamos fazer um disparate que nos vai con-duzir durante anos até que possamos alterar e passamos a vida a inventar coisas E esta-mos a enveredar por um caminho, só porque alguém quer deixar a sua marca na história. É o pior crime que se pode cometer. O país tem tanto por fazer, tanto para nos preocupar, tantos assuntos importantes, porque estamos a mexer nisso?

Esta é mais uma medida para aumentar o divórcio entre a classe política e os cida-dãos?GP – O divórcio é ao contrário, porque esta classe política só lá está porque os cidadãos querem, ou porque os cidadãos não se dão ao trabalho de os substituir. Nessa matéria, com o devido respeito, não desculpo os cidadãos. A classe política que está é aquela que o cidadão quer que esteja. Portanto, quem quiser ter tra-balho para contribuir para uma alteração das circunstâncias, venha que é bem-vindo! Agora, o que não vale é não fazer nada e ficar à mesa do café a criticar quem tenta fazer alguma coi-sa. Isso aí é que já não serve. Portanto, quem quiser que venha. O divórcio entre os cidadãos e os partidos é muito simples. A comunidade é dos cidadãos e os partidos existem apenas para servir os cidadãos. E quando os serviços não são bons, só há uma coisa a fazer, substituir as pes-soas que estão a prestar maus serviços. Os par-tidos servem para representar a vontade políti-ca dos cidadãos. Para mim é muito simples, os cidadãos têm que vir para dentro dos partidos e se não gostarem destes, constituirem novos, se bem que dá trabalho! E recordo que a ausência de trabalho é a ditadura e na ditadura, nunca sabemos o que nos calha na rifa e normalmente nunca é coisa boa.

Entendo. Mas, nós não elegemos a Troika e é ela quem nos está a governar GP – Nós não elegemos a Troika, mas houve um conjunto de partidos que ao votarem contra o PEC IV, obrigaram a que Portugal seguisse es-se caminho. Também não estou de acordo com muito do que está lá escrito. Também acho que aquele documento prova, claramente, que não há ninguém que possa vir ditar leis e resolver os nossos problemas. Boa parte do que lá está es-crito são coisas que não fazem sentido e é a de-monstração de que quem redigiu o documento, ou quem quis impor determinadas regras, não conhece verdadeiramente o país. A ausência de outras estratégias permitiram a entrada da Troika, em Portugal.

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Diz o povo que «o futuro a Deus pertence», qual é o futuro de Matosinhos?GP – Acho que Matosinhos está bem e reco-menda-se. Devo dizer que temos tido um con-junto de investimentos muito importantes na área económica, um conjunto muito importan-te de investimentos por parte da câmara, temos uma boa qualidade de vida e uma boa perspec-tiva financeira para autarquia. O meu receio são as “joelhadas” em que este governo é fértil. Li a informação que o governo se prepara para fa-zer a apresentação de uma reforma que vai por em causa todo este tipo de gestão autárquica e fico com receio, porque não percebo o que é que estes senhores querem. Tenho muito receio, por-que o que verifico é que há propostas que são atiradas para cima do joelho, que não são re-flectidas, que não são pensadas, nem correspon-dem às necessidades do país.

E o futuro para a Junta Metropolitana do Porto?GP – Tal como está, a junta metropolitana nun-ca funcionou bem. Aliás, a maior curiosidade re-lativamente à junta metropolitana é esta: du-rante anos a fio, toda a gente dizia que a junta metropolitana não existia, que não tinha capa-cidade nem competência. No momento em que, no governo anterior, se tentou reformar a junta metropolitana, toda a gente saiu em defesa do modelo que diziam que não funcionava. Perple-xidades da vida! Continuo a ter rigorosamente a mesma opinião. Os presidentes de câmara não têm tempo para se dedicarem a uma política in-termunicipal como deveriam e, para isso, é pre-ciso que alguém seja eleito ou escolhido dentro do colégio dos presidentes de câmara, mas que tenha um programa próprio do qual sejam res-

ponsável. Preferia que as votações fossem feitas por voto secreto, por voto universal das popula-ções, mas existirão vários modelos. Acho que o actual modelo não funciona de todo. E precisa-mos de um modelo que dê origem a que a junta seja dirigida por uma personalidade acima das câmaras municipais. Defendo, há muitos anos, que a junta metropolitana deveria ser uma jun-ta metropolitana eletiva. Quem é que não de-fendeu? A CDU em Lisboa e o PSD no Porto, porque, conjunturalmente, tinham a maioria e como estavam a fazer da junta metropolitana caixa de ressonância contra o anterior governo, fizeram a defesa do actual modelo que pura e simplesmente não funciona.

Que futuro para o país?GP – Acho que o futuro do país tem que ser, sobretudo, estreitado no que fomos conseguin-do. Neste momento, temos um conjunto de indi-cadores que apontam o caminho. Fomos o país que mais investiu em inovação nos últimos anos, que liderou a introdução das novas tecnologias e a produção de energias alternativas nos úl-timos anos, exportamos mais inteligência pela primeira vez na história do país, durante os úl-timos anos do que aquela que compramos. Nós estávamos a recuperar fortemente na educação, um atraso ancestral que vinha desde o tempo de Salazar. Tínhamos um excelente serviço na-cional de saúde que era o 12º melhor do mun-do e, apesar de tudo, um sistema de segurança social equilibrado. Agora, com um governo que se especializou em dizer mal de tudo aquilo que se fez, que não valoriza nada do que se obteve e que só fala da crise e do problema da conta-bilidade, vai ser muito difícil mobilizar os por-tugueses para a construção do futuro. Estamos

perante um governo que está a tentar desfazer uma por uma, todas as sementes de esperança para o futuro dos nossos jovens, a criatividade, a inovação, o acreditarmos em nós próprios. E o problema não é da Assembleia da Repúbli-ca, é do país em geral. Considero que nós não podemos dizer ao cidadão que alguém vai fa-zer o trabalho deles. Há muito cidadão que nun-ca contribuiu para alterar o que quer que fos-se, nem sequer vêm votar às vezes. O que temos que dizer às pessoas é que o futuro é um futu-ro colectivo.Houve algum tempo em que toda a gente da-va a imagem de um país incapaz, que só podia sobreviver a fazer produtos baratos para ven-der às pessoas ricas e acabamos por demons-trar que isso não era verdade.

Está a criticar aqueles que no dia da deci-são decidem ficar em casa?GP – Não. Estou a criticar aqueles que se sentam numa mesa do café e criticam tudo e todos, mas nunca ajudaram a resolver ne-nhum dos problemas, porque até mesmo pa-ra ser treinador de bancada é preciso ser--se competente. Critico aquelas pessoas que acham que não vale a pena, que só elas é que têm razão e atribuem aos outros os males de tudo o que acontece na vida só que isto é um colectivo, não é só daqueles que estão no po-der. É de todos.

E, para finalizar, qual o futuro para Gui-lherme Pinto?GP – O meu futuro passará obviamente por chegar ao final deste mandato e ponderar o que é que vou fazer a seguir.

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É com a tónica na solidariedade que a fre-guesia de Custóias dá as boas-vindas ao novo ano. A Loja Social de Custóias já abriu as suas portas. Com a abertura des-ta loja, as pessoas mais desfavorecidas e que se encontram sinalizadas pela fregue-sia passam a ter acesso a artigos alimentí-cios e de vestuário de forma gratuita.

Num momento tão importante da democra-cia e do poder local em que são atribuídos alguns desafios às freguesias, como é que vê estas mudanças e esta agregação de fregue-sias prevista pelo Documento Verde?José Tunes (JT) - Estou em desacordo, porque começam a reforma pela base e não pelo topo da pirâmide. Sou a favor de uma reforma admi-nistrativa que seja feita com pés e cabeça. Lem-bro-me que a última reforma administrativa le-vou cerca de 40 anos a aplicar e a desenvolver, e este governo quer fazê-la em poucos meses. Portanto, penso que a pressa nunca foi boa con-selheira, no caso da medida seguir. Confesso que ainda tenho algumas dúvidas que este governo tenha a coragem de fazer tão mal às populações e que leve por diante uma reforma deste tipo.

Que expectativas guardava para este XIII Congresso da Associação Nacional de Fre-guesias?JT – O Presidente da República foi uma baixa no programa, mas com ele ou sem ele o congres-so realizou-se. Esperava que saísse deste con-gresso uma posição firme contra esta reforma administrativa ou pseudo reforma administrati-va e isso aconteceu. Tenho pena que o Sr. Pre-

sidente da República não tenha estado presente gostaria que ele ouvisse o pulsar dos autarcas de freguesia, mas não deixámos de debater e de discutir o que nos trouxe ao Portimão Arena.

Foi um Congresso muito participado, mui-tos autarcas fizeram questão de deslocar-se ao Algarve. Este é de facto um momento--chave?JT – Sim. A presidente de junta de Portimão já há muito que queria que se realizasse o con-gresso em Portimão, lutou por isso e a Anafre e o seu Conselho Geral Executivo aprovou es-te local. Este Congresso merecia ser mais cen-

tral para que as deslocações não fossem tão do-lorosas e dispendiosas, mas pelo que vi, temos um número bastante considerável de autarcas, o que demonstra a preocupação com a chegada deste Documento Verde.

À escala da freguesia de Custóias, este Do-cumento Verde afecta a freguesia?JT – Este documento não abrange a freguesia de Custóias. Em Matosinhos há apenas duas freguesias em risco, Leça da Palmeira e Gui-fões. Não sei como será e espero que o meu par-tido - o Partido Socialista - tenha uma posição firme nisto, porque uma reforma destas não se faz contra a maioria ou quase totalidade dos autarcas de freguesia, contra o povo português, porque esta é uma reforma contra as popula-ções, contra aqueles que estão mais próximos das pessoas, os autarcas de freguesia. Continuo a ter fé que estas medidas não avancem e que a reforma não se irá concretizar.

Com esta crise mundial têm crescido os pe-didos de ajuda da população de Custóias?JT – Têm crescido os pedidos e têm crescido as respostas no apoio e um exemplo claro disso é a inauguração de uma Loja Social da Junta de Freguesia de Custóias nos primeiros dia do mês de Janeiro. Pelo país há uma diversidade enorme no que respeita a lojas sociais, onde se vendem os mais variados artigos, mas no nos-so caso, vamos ter uma Loja Social para dar os artigos às pessoas que estão devidamente si-nalizadas e que iremos sinalizar. Estas pessoas terão um ‘cartão de utente’ em que mensalmen-te receberão determinados artigos: alimentação, roupa, calçado, etc.. Estou convicto que não ire-mos resolver os problemas das pessoas, mas desta forma prevemos que possamos minorar os existentes.

Freguesia de Custóias inicia 2012 com Loja Social

JF Custóias

José Tunes

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Incentivar, divulgar e fomentar a economia lo-cal é a aposta da junta de freguesia de Mato-sinhos, que com o projecto “Low-Cost – Táxi à Porta” conhecido por TAXI.COME, mostra o que de melhor o concelho de Matosinhos possui ao nível gastronómico e, a um preço simbólico. Uma parceria consertada entre várias forças vi-

vas do concelho que tem recebido as melhores críticas.Da parceria da freguesia de Matosinhos, da Coopera-tiva de Rádio Táxis do Concelho de Matosinhos, CRL e da Associação Empresarial do Concelho de Matosi-nhos nasce o projecto TAXI.COME. Este projecto te-ve início em finais de Outubro e tem conquistado um enorme sucesso, junto dos clientes que usufruem do serviço e junto de quem os recebe, quer nos táxis, quer nos 21 restaurantes que aderiram ao projecto.Se pretende uma refeição a baixo custo, em restau-rantes de qualidade e com motorista à porta, já é pos-sível. O projecto “taxi.come” tem pacotes que incluem refeições e viagens de ida e volta, o raio de actuação abrange a restauração do concelho de Matosinhos, mas quem for do Porto, da Maia, ou de Vila Nova de Gaia e, naturalmente de Matosinhos pode solicitar es-te serviço.“O projecto visa fomentar a gastronomia de Matosi-nhos, e também retirar viaturas do centro da cidade”, explicou o autarca António Parada, referindo ainda, que esta é uma forma de quem habitualmente con-duz não ter preocupações com a taxa de alcoolemia.Segundo o presidente da Junta de Matosinhos, os pre-ços são simbólicos: 65 euros para quatro pessoas e 45 euros para duas. Se for só uma? Paga 35 euros. “O tá-xi custa sempre 25 euros. E cada refeição ficará por dez euros”, confirma, acrescentando que a ideia visa ajudar essencialmente três grupos que estão a sofrer com esta crise económico-financeira, nomeadamente, a classe média, a restauração e os taxistas.

TAXI.COME, um sucesso a ‘provar’ em Matosinhos

JF Matosinhos

PERGUNTAS FREQUENTES:

O preço do serviço de táxi é por pessoa?Não, o preço de 25,00€ corresponde ao va-lor do serviço por táxi e não por ocupante, sendo que se a lotação for de 4 pessoas o preço será o mesmo.

Tenho de pagar o serviço de táxi na to-talidade?Sim, o serviço de táxi é pago na totalidade aquando da chegada ao restaurante. Contu-do se o cliente não desejar regressar no tá-xi não haverá lugar a devolução do montan-te pago.

Posso solicitar este serviço de táxi sem restaurante?Não, este serviço é constituído por um paco-te de táxi e restaurante não podendo ser ad-quirido de forma separada, sendo que o mes-mo se processa para o restaurante.

Posso usufruir deste serviço se estiver noutro concelho que não estes descrimi-nados na lista?Não, o serviço taxi.come só efectua via-gens de/para dentro dos concelhos do Porto, Maia, V. N. Gaia e Matosinhos.

Posso consumir no restaurante para além do que está pré-definido no menu?Claro que sim, o cliente tem a total liberda-de de consumir o que desejar, apenas terá de pagar os 10,00€ / pessoa mais a diferença do que consumir para além do menu.

Posso viajar no final da refeição para ou-tro local que não o do ponto de recolha?Sim, se o cliente desejar viajar para outro local diferente do ponto de recolha, apenas terá que dar essa indicação ao motorista e pagar a diferença.

Os 21 RESTAURANTES ADERENTES:

A Tendinha • Casa de Pasto TeresaDegrau do Castelo • IATE

Majára • MariazinhaMarujo • Mauritânia

Mauritânia Grill • Mauritânia RealMilho Rei • O LEME

O Manel • O Rei da SardinhaPorto de Leitões • Queda D’ Água

S. Valentim • Senta-te e ComeTaberna da Boémia

Teresa • Trás D’ Orelha

COMO FUNCIONA:1 - O cliente solicita o serviço taxi.come através do contacto telefónico com a central de Rádio Táxis de Matosinhos.

2 - A central envia um táxi ao local onde o(s) cliente(s) se encontra, desde que esteja nos concelhos de Porto, Maia, V. N. Gaia e Matosinhos, com viagem de ida e volta por apenas 25,00€.

3 - À entrada no táxi, o cliente escolhe o res-taurante de um menu que lhe é apresentado pelo motorista, sendo o custo do almoço / jantar apenas 10,00€/pessoa.

4 - O motorista confirma a reserva através da central e o táxi segue para o restauran-te com marcação prévia e menu escolhido.

5 - Após finalizar a refeição, o restaurante contacta a central para enviar novamente o táxi ao restaurante. O cliente segue viagem até ao ponto de recolha original.

Projecto “Low-cost Táxi à Porta” promovido pela JF Matosinhos

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“VITIFRADES o evento temático mais antigo da Vidigueira”

Nas rotas alentejanas, o segundo fim--de-semana do mês de Dezembro ‘aque-ce’ com o certame VITIFRADES, uma mostra que conta com 14 edições e, onde se destaca como cartão de visi-ta – o Vinho de Talha – produzido exac-tamente como no tempo dos romanos. Uma tradição que nos faz recuar dois mil anos de um vinho com história, que este ano conta com edição em garra-fa em forma de “amphora” romana, o AMPHORA, até agora o único Vinho de Talha DOC Alentejo certificado pe-la CVRA.O concelho da Vidigueira é reconheci-do sobretudo pela produção de vinha e do olival. Na localidade de Vila de Fra-des, palco do evento Vitifrades reúne--se além do Vinho de Talha, um pouco do universo dos produtos regionais de todo o Alentejo, como o pão, o azeite ou os enchidos, mas não só, há ainda espaço para que se deixe ecoar o (en)canto alentejano nas vozes de quem se esquece da idade, veste a samarra e acaba por soltar a voz. A encerrar as 14ªs Festas Báquicas, um périplo pelas adegas locais com muita música à mis-tura: tunas académicas, concertinas e o tradicional canto alentejano. Muitos visitantes anotam já na agenda o regresso a Vila de Frades para mais uma edição Vitifrades. É um evento sempre muito participado quer por tu-ristas nacionais como estrangeiros. E, num momento sócio-económico con-turbado, a forte aposta nos produtos nacionais de excelência desta mostra traduz muito mais que um convite.

José Miguel d’ Almeida, Presidente Associação de Desenvolvimento Local Vitifrades

“Este é um ano especial para a Vitifrades. A feira é um pouco menor do que nas últi-mas edições. Foi preciso um grande esforço e um grande trabalho de todas as entidades parceiras à Vitifrades para que esta se rea-lizasse. Mais do que uma festa, a Vitifrades é uma ferramenta de desenvolvimento local e social. Uma das formas de sustentabilida-de da Associação Vitifrades passa pelo ne-gócio do vinho. O trabalho desenvolvido por esta Associação ao longo de 14 anos centra--se no empreendedorismo social. No campo dos Vinhos de Talha, a Associação Vitifrades tem criado condições legais, condições esta-

tutárias, condições de desburocratização pa-ra que o Vinho de Talha seja hoje um produ-to amplamente reconhecido a nível nacional e até internacional. Um produto único que é certificado.”

Joaquim Galante de Carvalho, Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito, CRL

“É com grande prazer que a nossa Adega Cooperativa vê passar mais um ano com a Vitifrades a subsistir e, a manter-se presen-te no calendário de actividades que atraem pessoas a esta região. Desde a primeira ho-ra que apoiamos esta festa que em tão boa hora um grupo de homens ‘pôs a mão’. O Vi-nho de Talha é um produto feito com uvas da região demarcada da região Vitivinícola da Vidigueira que vem lembrar que estes vi-nhos já existiam há centenas de anos. O va-

lor histórico dessa exposição é gratificante, porque são todas essas referências históri-cas que fazem com que seja um vinho muito apreciado.”

José Godinho, Vice-presidente do Turismo do Alentejo – ERT

“A grande profundidade desta iniciativa é sem dúvida promover o Alentejo do ponto de vista turístico. É pois nesse sentido que nos apercebemos da grande riqueza e grande po-tencial da Vidigueira do ponto de vista da Vitivinicultura. Este projecto ligado ao Vi-nho de Talha é de facto um elemento impor-tante também da nossa missão, porque con-sideramos além do desenvolvimento local, é também um produto turístico seguramente digno de atenção.”

Manuel Narra, presidente CM Vidigueira

“A Vitifrades durante estes anos todos foi um dos marcos económicos com tradição, à escala dos produtos locais da Vidigueira, mas não só, também de todo o Alentejo. Sim-plesmente, a nossa forma peculiar de produ-zir vinho como se produzia no tempo dos ro-manos, para nós foi sempre um cartão visita, isto porque as pessoas ficavam curiosas, que-rendo muito saber como era feito o vinho se-gundo este método artesanal. E, ao visitar--nos acabavam por conhecer a nossa Região Demarcada e os nossos vinhos engarrafados. As nossas tradições não podem ser descura-das por estarmos em crise, pois é também es-se o nosso potencial para o desenvolvimento económico, para gerar emprego, e só gerando emprego é que estaremos a criar condições para sair da crise.”

Vitifrades

José Miguel Almeida, Manuel Narra, Joaquim G. Carvalho, José Godinho e Luís Amado

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CM Vidigueira

“Avançar com o Aeroporto de Beja seria uma mais-valia para a região”

O protesto tem sido o elo de ligação entre autarcas e população do concelho da Vidi-gueira. “As populações estarão empenha-das, estarão juntas, estarão a manifestar--se, estarão em protesto contra a extinção daquilo que é um dos últimos elos que li-gam as populações ao poder eleito, prin-cipalmente no mundo rural”, palavras de Manuel Narra que preside o município da Vidigueira. O autarca sente que para estas populações etariamente envelhecidas, o encerramento da junta de freguesia é en-carado como o “encerramento do país”, depois de já terem fechado escolas, pos-tos da GNR ou dos CTT’ s. Manuel Narra adverte ainda para a desertificação massi-va de zonas passíveis de intervenção e de investimento, externas ao eixo potencial de desenvolvimento. E, como alternativa reclama o aeroporto de Beja, que viria a ser um motor da economia regional. 2012 para o autarca é catalogado como o “ano das tormentas”. Contudo, para ate-nuar a crise à escala do concelho, inaugu-rou um refeitório municipal, e peremptó-rio afirma: “jamais permitiremos que haja fome no nosso concelho”.

Como tem encarado o município da Vidi-gueira este Documento Verde, que prevê a extinção e fusão de freguesias, nomeada-mente, a freguesia de Vila de Frades?Manuel Narra (MN) – Este Documento Ver-de é a maior aberração que alguma vez seguiu para coordenar o que quer que seja em termos de poder local. Não é nada que nos surpreenda. Vem na linha de pensamento do ministro Miguel Relvas, que quando anteriormente esteve no po-der sugeria a retirada de grande parte dos po-deres ao poder local, centralizando-os no poder central. Os próprios critérios deste documento parecem-me elaborados por pessoas que têm pouco conhecimento do que é o verdadeiro país. Se falarmos na redução de algumas freguesias que possam existir dentro das áreas urbanas ou das duas grandes metrópoles, poderá ser maté-ria discutível. No entanto, tudo o que for extin-ção de freguesias rurais é a maior imbecilida-de que assistimos nos últimos anos! No caso de Vila de Frades, a única freguesia afectada no concelho temo-nos cingido ao protesto. É difícil em termos legais a oposição a este tipo de me-didas, visto que o governo está sustentado numa maioria na A.R.. Já fecharam escolas, postos da GNR, CTT’ s e com a extinção das freguesias estão a fechar o país e alguns, principalmente os mais próximos da fronteira espanhola, terão vontade é de passar para o lado espanhol. Se calhar era o que devíamos fazer todos!

Ou seja, o único elo de ligação está também

a querer extinguir-se…MN – Naturalmente, pois quando se fazem or-denamentos do território como o que fizeram no Alentejo, em que a perspectiva adoptada diz que a única área de desenvolvimento plausível no Alentejo é toda a área circundante à A6, tra-duz claramente a perfeita idiotice das pessoas que neste momento estão a pensar Portugal, não nos próximos dez anos, mas naquilo que de-ve ser encarado como Portugal nos próximos 50 anos, porque vamos assistir a uma desertifica-ção massiva de tudo aquilo que sair fora deste eixo de potencial desenvolvimento, uma vez que é com base nele que vêm os fundos comunitá-rios e todas as outras zonas deixam de ser zo-nas de intervenção e de investimento. Na nossa opinião, estamos numa zona privilegiada e esta-mos completamente contra estes planos de or-

denamento. Uma outra luta nossa é o caso do aeroporto de Beja, que terá que ser necessaria-mente alternativa ao aeroporto de Lisboa e ao aeroporto de Faro. Nesta altura, num momento de dificuldade em que não há dinheiro para in-vestimento na região, cá estamos nós novamen-te a reclamar o aeroporto de Beja.

Está sensivelmente a meio do mandato, até ao momento o que foi feito e o que falta fa-zer?MN – É feito aquilo que é possível. Tudo aqui-lo que está previsto no plano estratégico de de-senvolvimento do concelho é exactamente tu-do aquilo que tem que estar em suspenso, face ao agravamento das situações económicas das famílias e, por isso, aquilo que à partida seria um crescimento harmonioso em vários secto-res, dentro do nosso concelho está a ser adiado, principalmente nalgumas obras municipais que achávamos importantes, só que o mais impor-tante é juntarmos todos os esforços financeiros para que ninguém passe fome neste concelho.

E para quando mais unidades hoteleiras no concelho? Há potenciais investidores no sector?MN – Potenciais investidores existem, o que não existe é o capital suficiente para poderem materializar os seus projectos. Na Câmara te-mos os projectos de 3, 4 unidades hoteleiras, inclusive uma de grandes dimensões em Pedró-gão, sobre a Barragem de Pedrógão, de um gru-po belga. Só que neste momento está parado, porque os investimentos e os recursos que iriam buscar à banca não estão a ser concedidos. A banca não atravessa um bom período. Mas, pen-samos que com a injecção dos 12 mil milhões que vão fazer na banca, possa sobrar algum di-nheiro, para que estes grupos possam avançar com os seus projectos.

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Afreguesia de Vila de Frades, no concelho da Vidigueira, é a anfitriã da mostra Vitifrades, que se realiza na vila há 14 anos. Contudo, se-gundo os critérios do documento verde da refor-ma da administração local, esta é uma fregue-sia a extinguir por estar a menos de 3 km da sede de concelho. O próprio stand da freguesia, na feira, esteve decorado com faixas negras que demonstram o luto e o total descontentamento com estas medidas anti-democráticas. Na última década, Vila de Frades perdeu 1,8% de habitantes, o que não é de todo um valor ne-gativo, para uma freguesia rural e sem empre-go, uma vez que o emprego é determinante pa-ra que as pessoas se fixem numa localidade, um pouco à semelhança do que vai acontecendo no interior do país. “Geograficamente, estamos muito bem situa-dos, junto aos concelhos de Alvito, Viana, Por-tel, Cuba, Vidigueira e a 25 km de Beja. Por is-so, temos todas as condições para continuar a ter uma junta de freguesia que defenda as po-pulações e que defenda as pessoas acima de tu-do”. Já, quando questionado se promete dar lu-ta, determinado afirma que será «o último desta freguesia a jogar “a toalha ao chão”!» “Acho que este Documento Verde, não é um documento verde é um documento negro. E es-tando o Governo e a Troika a prever a extinção de cerca de 2500 freguesias, certamente que as freguesias vão ter que estar de luto”, protes-ta Luís Amado presidente da freguesia de Vi-la de Frades. Inconformados com o documento, no distrito de Beja içaram-se várias bandeiras negras, criaram-se também algumas faixas de protesto, e apresentou-se um abaixo-assina-do junto da população. “O distrito de Beja en-tregou na Assembleia da República dia 30 de Novembro, cerca de 7000 assinaturas contra a extinção das freguesias, porque sendo Vila de Frades uma das possíveis visadas, uma vez que está a menos de 3 km da sede concelho, tem reunidos todos os outros requisitos que cons-tam do documento verde. Não estamos contra por estarmos assinalados, estamos contra por-que entendo que é um poder local de proximida-de que está a ser retirado às pessoas e às pró-prias populações, porque agregando freguesias certamente que não haverá tanta proximidade”, defende. Para Luís Amado é essencial que as freguesias “partam para a luta”, para que se criem acções de rua, façam mover as popula-ções, e para que se faça ver ao governo que é “uma medida injusta, avulsa e sobretudo uma medida de teimosia”, descreve, porque “não fo-ram as juntas do país que criaram o endivida-mento. E, agregando freguesias vai tirar-se o poder local de proximidade, porque quer quei-ramos ou não somos o parente pobre da políti-ca nacional.” O autarca, depois do que assistiu no XIII Congresso da Anafre e, de acordo com a resposta que os autarcas deram ao ministro

Miguel Relvas, acredita que o prazo de discus-são se irá alargar. “Antes do Congresso em Por-timão, pensava que os eleitos de freguesia não estavam de mãos dadas, mas enganei-me, por-que apesar das cores políticas de cada um, to-dos defendem as suas freguesias e populações.” Luís Amado actualmente cumpre o seu 4º man-

dato na freguesia e se esta medida avançar, Vi-la de Frades vai perder sobretudo a sua identi-dade. “São as freguesias que estão no terreno e fazem mover todas as áreas desde a cultural, à social, ao desporto. É a freguesia, a parceira de iniciativas como a Vitifrades, em Vila de Frades, que já se realiza há 14 anos. E se a junta de fre-guesia for extinta, for agregada à sede de con-celho, certamente que Vila de Frades, irá perder a sua identidade, a sua cultura, o seu património e deixa de ser uma terra pujante como é carac-terizada”, explica.

Vila de Frades – a Capital do Vinho da Talha

A Vitifrades é um evento que divulga essencial-mente o vinho da Talha, que é um produto do qual Vila de Frades é a Capital, mas também não descura o mel, o pão, o azeite, as laranjas ou os enchidos. A feira reúne vários exposito-res de todo o Alentejo que divulgam os seus produtos. E, apesar de ser um evento pequeno, tem alguma projecção e já passou fronteiras. A mostra realiza-se sempre no segundo fim-de-se-mana de Dezembro, sendo que o vinho da Talha é aberto no último fim-de-semana de Dezembro, que é quando o vinho está “bom para beber”. “A Vitifrades tem uma vertente muito impor-tante, aproveita as nossas queijarias, as nossas adegas, os nossos restaurantes, as nossas dor-midas, e essa tem sido a chave do sucesso e da continuidade que temos dado à feira ao longo dos últimos 14 anos”. A Vitifrades já conquis-tou um público muito próprio, derivado também a ser o evento temático mais antigo da Vidiguei-ra. “A Vitifrades culmina sempre no domingo com uma rota das adegas, e percorre sempre dez ou doze adegas onde há vinho e comida à descrição, e onde junta muitos autocarros que vêm doutras freguesias e de muitos outros sí-tios, para provarem o nosso néctar”.

JF Vila de Frades

«Serei o último desta freguesia a jogar “a toalha ao chão”»

Luís Amado

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António D’Aguilar, presidente da freguesia de Selmes, concelho da Vidigueira traça um balanço po-sitivo ao trabalho desenvolvido ao longo do presente mandato, e lan-ça críticas aos cortes a que as fre-guesias têm vindo a ser sujeitas nos últimos anos. “Acabamos por não poder concretizar algumas das nos-sas propostas eleitorais, o que pre-judica todos, autarcas, população, e mesmo os próprios funcionários”, refere, salientando que “mesmo as-sim, irei continuar a trabalhar da melhor forma, mas com máxima contenção financeira”.A freguesia de Selmes cumpre os critérios e não é uma das visadas no documento verde. Contudo, o autarca desde o primeiro dia que se aliou a todos os que são preju-dicados neste documento. “Desde o primeiro dia que todos os autarcas do nosso concelho e toda a popu-lação deu as mãos e fomos à luta. Não desprezamos os autarcas vizi-nhos, nem os outros colegas autar-cas que possam vir a ser penaliza-dos. Por isso, iniciámos de imediato a recolha de assinaturas no nosso distrito e fizemos uma marcha até Lisboa para entregar essas mes-mas assinaturas na AR, que de-monstram o total descontentamen-to dos autarcas e da população.” Para António D’Aguilar o docu-mento é “um atentado à democra-cia que alcançámos há 35 anos. Is-to é uma maneira de aniquilar de

vez os mais desfavorecidos”, refere descontente, lamentando o sucessi-vo encerramento de estruturas pú-blicas. “Existe apenas a junta de freguesia aberta e, se fecharem es-ta porta é um verdadeiro atenta-do! É o último elo de ligação ao Estado que as pessoas têm que se extingue. Nós estamos sempre dis-poníveis para a nossa população”, garante. Marca que distingue estes autarcas um pouco por todo o país, sobretudo nas zonas mais distantes das grandes aglomerações. Esta franja alentejana sente já muito o factor interioridade e a desertificação que com estas me-didas só se potencia “nas fregue-sias, onde sem junta de freguesia, quem quererá ir morar para essas localidades? É mais uma razão pa-ra as pessoas não se quererem fixar no interior. Neste campo os nossos governantes têm uma visão errada. Não vêem quem trabalha quase em regime de voluntariado há mais de 35 anos. Estamos cá de boa vonta-de e por amor às pessoas da nossa terra. Tentamos fazer tudo por tu-do para as proteger. Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para a manutenção das freguesias. Es-taremos unidos com os que já lhes «apontaram a espingarda da extin-ção». Nós ainda não estamos nessa mira, mas iremos continuar a lutar de mãos dadas, para juntos sermos mais e termos mais força”, salva-guarda.

JF Selmes JF Pedrógão do Alentejo

“Fecharem esta porta (freguesia) é um

verdadeiro atentado”

“Rejeitamos na plenitude sermos cidadãos

de 2ª ou 3ª”Pedrógão do Alentejo é uma al-deia ribeirinha situada a 1 km do Rio Guadiana, no concelho da Vi-digueira. Guardada no interior de um Alentejo profundo, dista da se-de de concelho 18 km e tem uma população marcadamente enve-lhecida, mesmo assim é uma al-deia com cerca de mil habitantes. A economia local sustenta-se da agricultura (olivicultura, pastorí-cia e vinha), pequenas indústrias de pastelaria, doçaria e enchidos tradicionais.A obra realizada na freguesia de Pedrógão do Alentejo resume-se à manutenção e conservação do pa-trimónio, dinamização e promoção

do desporto, desenvolvendo even-tos culturais de forma a fomen-tar o turismo na freguesia e, pro-porcionando também o bem-estar da população residente. A grande aposta segundo a presidente da junta de freguesia, Maria Paixão que já está em curso é a aquisição de um mini-autocarro, “com a via-tura pretendemos fixar os jovens na freguesia, enquanto realizam o ensino secundário”. Na perspecti-va da autarca, o fragmento “fre-guesia rural” é muito importan-te para o desenvolvimento de um país, no entanto, para que se de-senvolva necessita de algumas condições que nem sempre são de-vidamente avaliadas. “Os gover-nantes do poder central têm de ter uma visão alargada e abrangente e não, uma visão restrita e conver-gente. Não podemos de forma al-

guma centralizar e relativizar, por-que quem vive no interior tem de ter os mesmos direitos, já que os deveres nós cumprimos. Rejeita-mos plenamente sermos cidadãos de 2ª ou 3ª”, defende. O executi-vo desta freguesia dedica muitas horas e dias de trabalho gratuito sempre por “amor à sua terra e à sua gente. Contamos todos os cên-timos, de maneira a que a sua apli-cabilidade satisfaça as necessida-des mais prementes”, garante. Em matéria de acção social, a priori-dade é que os fregueses vivam com alguma dignidade e por isso a fre-guesia tenta ajudar ou encaminhar os casos mais difíceis. “A nossa

ajuda é um pouco limitada, pois as verbas de que dispomos são pou-cas, mas dentro das nossas limita-ções, tentamos ao máximo salva-guardar a fome junto das famílias mais desprotegidas.” Na agenda política, o documento verde para Maria Paixão é considerado um verdadeiro atentado ao poder de-mocrático “mas numa visão mais abrangente, sempre podemos pen-sar que a democracia está a ca-da momento mais longínqua, pois quem decide não são os eleitos, mas sim as agências financeiras e os mercados”. A revolta nesta ma-téria por parte da autarca é colos-sal e assume-se essencialmente no desrespeito pela história, tradição e costumes dum povo, uma vez que na sua perspectiva, o documento é um “grande retrocesso. Nós luta-mos pelos direitos dum povo!”

António D’Aguilar

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Com vários anos de vida autárquica João Ferrer, presidente da junta de freguesia de S. Matias e pastor, demarca este perío-do como o mais difícil de todos. “É a pior fase de todas. Estou cansado e vou deixar a vida autárquica e dedicar-me somente ao campo, porque isto já não me anima”. O desânimo tem sido crescente, primei-ro com a lei de limitação dos mandatos e, mais recentemente com o documento verde, que para o presidente apresenta vá-rias lacunas e que em vez de “verde é ne-gro”, dado que também pode ditar a ex-tinção da freguesia.

Ao leme da freguesia há dois mandatos e meio, o autarca diz já ter contribuído muito para a qualidade de vida e o bem-estar de quem per-tence a São Matias. “Nestes dois mandatos e meio já fiz bem a minha parte!”, reconhece.Esta é a freguesia mais penalizada do concelho de Nisa, uma vez que tem seis povoações mui-to dispersas, apresenta uma fraca rede viária e inclusivamente, para aceder a algumas povoa-ções é necessário percorrer cerca de 20 km. Pa-ra além disso, tem quatro cemitérios distribuí-

dos pelas povoações. Mesmo assim, de acordo com os critérios definidos no documento verde, esta freguesia é uma das visadas para desapare-cer, situação com o qual o autarca está em total desacordo. “Acabar com uma freguesia destas é acabar com estes povos todos. Porque há-de haver duas freguesias na sede do concelho, se lá está a Câmara Municipal que resolve os proble-mas todos? Aí, sim, faria sentido que fossem ex-tintas, pois nem sequer cemitérios têm. Não sei como isto vai ser”, desabafa, revelando que já foi feita uma manifestação e enviado um docu-mento à Anafre e à Câmara Municipal de Nisa, demonstrando as dificuldades e preocupações que a proposta acarreta. “Nós estamos situados a 7 km de Nisa, mas algumas das nossas povo-ações distam cerca de 20 km da sede de conce-lho, portanto não é vantajoso que nos agreguem a uma freguesia de Nisa. Estes critérios de ex-tinção se fossem medidos por estrada, em vez de serem medidos em linha recta, talvez mudasse o rumo desta situação tão desagradável”, explica. “O povo tem que vir para a rua e fazer uma re-volução”, admite. Com uma população extremamente envelhecida, as preocupações aumentam em tempo de crise, pois a população idosa enfrenta muitas dificul-dades e “não temos condições nenhumas”. “Os novos, partiram. Se bem que este ano a gente nova tenha regressado um pouco à terra. Notou--se o medo à crise e na cidade não há “terra”! E, como têm cá casa e terreno já vieram semear e quem sabe se um dia não estarão de volta!?”A agricultura era a actividade de excelência da freguesia, mas a maior parte terminou. Chega-ram a existir tabernas e pequenas mercearias espalhadas pelas povoações de Monte Claro, Avelada, Chão-da-Velha e Falagueira, subsis-tem uma a duas neste momento, por falta de condições e de gente. A responsabilidade atri-bui-se às medidas que têm vindo a ser adopta-das, “com estas medidas é que acaba mesmo tu-do. Vai ficar tudo ao abandono”, justifica.“Este ano na nossa freguesia ficou por apanhar mais de 50 mil quilos de azeitona, pois nos ter-renos à volta das aldeias, as oliveiras são mui-to férteis. Só que não há quem a colha, por-

que também não há quem compre o azeite, ou seja, a nossa produção não tem consumo. An-tigamente, tínhamos dois lagares. Neste mo-mento, as cooperativas estão cheias de azeite e acabamos por desanimar no tratamento das oliveiras e deste produto. Antigamente comía-mos do que fazíamos durante o ano e agora há um sem número de normas que proíbem tudo o que é tradicional. Só podemos fazer para con-sumo de casa, pequenas quantidades. Mas lem-bro-me do queijo, do vinho, do azeite, da engor-da do porco, das cabrinhas… Têm acabado com tudo”, lamenta.Os pontos mais fortes que o autarca destaca do seu trabalho autárquico foram a construção do edifício sede da junta em 2009, o aumento do cemitério de Monte Claro, também a reabilita-ção dos cemitérios da Falagueira e do Cacheiro, dos arruamentos e passeios por toda a freguesia e, a recuperação da capela que ameaçava ruir.Até ao final do mandato, João Ferrer prevê con-tinuar a trabalhar com a mesma dedicação em prole da sua freguesia. “Já cumpri quase tudo o que prometi e já fiz também muito mais do que prometi. No verão espero poder pintar os cemi-térios todos, porque é algo que as pessoas gos-tam de ver e há vários anos que não são pinta-dos. De resto, vão sempre aparecendo pequenas coisas que acabamos por fazer.”

“Não nos tirem as poucas coisas que ainda nos restam!”

JF São Matias

«Mensagem: Não acabem com o interior, porque o que estão a fazer é destruir todo o interior. O outro governo começou e este es-tá a dar continuidade. Isto acabará por ser um deserto, porque as medidas que estão a ser tomadas só têm um fim – acabar com es-tas aldeias, acabar com tudo. Por exemplo, no Chão-na-Velha há dois ou três casais de meia-idade e a restante população pertence a uma faixa etária a partir dos 80 anos. Em Avelada, o casal mais novo tem 74 anos. Na freguesia temos uma senhora com 106 anos. No Cacheiro há pessoas com perto de 100 anos Esta é uma aldeia muito pequenina, muito bonita, todos os anos faço uma fes-tinha no dia de S. Matias para a freguesia toda, pois é a festa da freguesia! Portanto, aquilo que pretendemos é que não nos tirem as poucas coisas que ainda nos restam…»

João Ferrer

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Autarca há 20 anos. José Teixeira presi-de a Freguesia de Fridão, uma das pou-cas freguesias que aumentou a sua popu-lação, no concelho de Amarante. Com 864 habitantes, Fridão é uma freguesia predo-minantemente rural situada nas abas da Serra do Marão. “É um desafio aliciante e é um motivo de gran-de orgulho ser presidente da Freguesia de Fri-dão”, exclama o autarca sobre uma freguesia sossegada que começa a sentir o surgimento de alguns fenómenos preocupantes, habituais em momentos difíceis como que o país vive actual-mente. Mesmo assim, os pontos fortes são mui-tos, graças ao grande sentimento de pertença que esta comunidade possui. Para além de que é uma freguesia jovem e “com grande capacidade empreendedora”. “Os resultados dos Censos 2011 provam o nos-so dinamismo demográfico, fruto certamente das possibilidades de emprego criadas por algu-mas empresas que aqui estão sediadas, designa-damente a metalomecânica, a construção civil, o fabrico de urnas, a carpintaria mecânica e a serração das madeiras. Não podemos também esquecer um marco importante quer económi-co, quer cultural, que é a tecelagem. Os traba-

lhos de tecelagem foram durante muitos anos um complemento financeiro muito importante para as famílias de Fridão. E temos também uma considerável produção agrícola, há algu-mas quintas que exploram a vinha, os kiwis e os produtos hortícolas. No turismo temos uma ca-sa de turismo de habitação que tem tido resul-tados muito positivos, sobretudo devido ao em-penho e dinamismo do seu proprietário.” São muitas as razões para ser considerada uma fre-guesia com um forte potencial de crescimento socioeconómico.No entanto, um dos grandes problemas de Fri-dão passa pelo desemprego feminino, que é dis-farçado em algumas alturas do ano com traba-lho sazonal. Associado a este problema estão as

baixas qualificações e a falta e/ou desadequa-ção de formação profissional. “Apesar de nos últimos anos ter-se investido consideravelmente no concelho ao nível da Formação Profissional, penso que esta não atendeu nem às necessida-des dos locais, nem às potencialidades das regi-ões. Não obstante, penso que a nossa população aqui tem qualidade de vida e isso é fundamen-tal”, salienta.

Regionalização devia preceder Reforma Administrativa

Para o autarca impõe-se uma reforma adminis-trativa em Portugal, mas se o objectivo da agre-gação de freguesias ou fusão de municípios for “ganhar escala”, refere o autarca, acrescentan-do que se deve ponderar e atender aos crité-rios diferenciadores, sejam eles, por exemplo a densidade populacional, o dinamismo associa-tivo, os serviços de proximidade prestados, os equipamentos implantados, “são estes que con-ferem verdadeira escala e dimensão a uma Fre-guesia”, explica.José Teixeira defende que antes de se partir pa-ra uma reforma administrativa, o primeiro pas-so a tomar era a regionalização. “Este era o momento oportuno para tal. Esta reforma, tal como nos é apresentada pode ser desastrosa para os meios rurais. O documento verde trata por igual, aquilo que é desigual, obedecendo a uma visão centralista e profundamente desco-nhecedora do país real, esquecendo-se que nos territórios existem pessoas, que deixarão de ter qualquer retaguarda ou actor local capaz de as apoiar”, lastima. Na sua perspectiva, é necessá-rio ter em conta as características específicas dos territórios, a ocupação cultural e as carac-terísticas do tecido socioeconómico. “Esta re-forma devia prever uma descriminação positiva para os territórios mais frágeis, pelas desvanta-gens naturais específicas que os caracterizam, nomeadamente para as zonas de montanha, a fim de contribuir para o desenvolvimento sus-tentável destes territórios”, e adverte: “sou a favor da agregação de freguesias se esta assen-tar em critérios de proximidade entre fregue-sias, se assentar num conjunto de caracterís-ticas comuns, nomeadamente, aquelas onde as câmaras municipais têm uma elevada actuação no âmbito do seu plano autárquico. Neste senti-do, penso que faz algum sentido agrupá-las nu-ma unidade de âmbito territorial, respeitando a sua identidade, história, cultura e toponímia, mas não concordo com a sua extinção”. Este documento verde apresenta lacunas graves, “à luz do diploma, Fridão é considerada uma fre-guesia maioritariamente urbana quando é per-feitamente visível que esta é uma Freguesia pre-dominantemente rural. Esta leitura é para mim incompreensível”, revela indignado.

“Esta reforma pode ser desastrosa para os meios rurais”

JF Fridão

«Temos um espaço geográfico e paisa-gístico privilegiado, as serras do Marão e da Meia Via e, a convergência dos Rio Tâmega e Ôlo. No plano associativo te-mos três associações com grande dina-mismo e todas elas já com muitos anos de vida, que nos enchem de orgulho.»

José Teixeira

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