32
JUN/JUL2012/Nº19 5 EUROS Assembleia da República comemora Ano Internacional das Cooperativas Galiza palco da Intercooperação Despertar os jovens para o cooperativismo Economia Social: uma “Constelação de Esperanças”

F&C19

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Fórum & Cidadania

Citation preview

JUN/JUL2012/Nº19 5 EUROS

Assembleia da República comemora Ano Internacional das Cooperativas

Galiza palco da Intercooperação

Despertar os jovens para o cooperativismo

Economia Social: uma “Constelação de Esperanças”

Rua Mira Fernandes,2 • 7800-500 BejaTelefone 284322051 • Fax 284322897 • www.coopbejabrinches.pt

Azeite Extra Virgem

3

Encontro Nacional da Anafre

A EuropA não Está à vEndA!

Editorial

Ficha TécnicaPropriedade, Redacção e Direcção:

NewsCoop - Informação e Comunicação CRL Rua António Ramalho 600E

4461-801 Senhora da Hora • MatosinhosPublicação periódica mensal registada

na E.R.C. com o número 125 565Tiragem: 12 000 exemplares

Contactos: Tel./Fax: 22 9537144www.newscoop.pt

Director: Sérgio OliveiraEditor: António Sérgio

Coordenador Editorial: Pedro LopesJornalistas: Elda Lopes Ferreira

Administrativo: António AlexandreProdução Gráfica: Ana Oliveira

Impressão: Multitema

ÍndicE

Editorial ................................................... 03

CASES ..................................................... 04

Ano Internacional das Cooperativas 2012 – Assembleia da República ........................... 08

Ano Internacional das Cooperativas 2012 - Espanha .................................................... 10

Ano Internacional das Cooperativas 2012 ... 12

Cooperativa Agrícola de Beja e Brinches, CRL ............................ 14

COHAEMATO, Cooperativa de Habitação Económica de Matosinhos, CRL ................ 16

Social Lab 2012 ....................................... 18

FRIGOMATO S.A. ..................................... 22

JF Espírito Santo - Nisa ............................ 24

JF Santana - Nisa ..................................... 25

JF Montalvão - Nisa .................................. 25

JF Santa Marinha - Vila Nova de Gaia ....... 26

Debate - “Extinguir Freguesias – Uma Verdadeira Reforma do Território?” ............ 28

JF Leça da Palmeira - Matosinhos ............. 30

Já estou cansado e farto de ouvir dizer mal dos gregos, dos espanhóis e dos portugueses… e revoltado porque até fica a sensação de que somos um conjunto de gente malandra, mal comportada e um bando de idiotas que originou uma crise financeira que contaminou toda a Europa. Não posso nem quero que alguém faça destes povos os maus da fita ou pedintes de mão estendida. Não! Somos povos com his-tória e cultura, fazemos parte de uma civilização que deu mais mundo ao mundo e, se a Grécia antiga foi o berço da democracia, a Península Ibérica abriu a Europa ao mundo. Juntos, fomos os construtores do desenvolvimento económi-co, da liberdade e da democracia, construímos uma Europa que se deveria unir e edificar pelo bem-estar e qualidade de vida, garantindo a todos os europeus o direito ao ensino e à universalidade dos cuidados de saúde, o direito à paz e à felicidade.Por isso, entendo o sentimento de revolta dos povos afec-tados por uma crise provocada pelas agências de rating que, apoiadas pela ditadura do mercado e as oligarquias financeiras, estão a atirar para o desemprego, para a fome e para a miséria milhões de pessoas, sem que os governantes encontrem respostas para combater esta crise.Já não se trata apenas da Grécia, Portugal e Espanha mas de toda a Europa. O que estamos a assistir é ao nosso fim como povos e nações. Os programas de resgate ou de apoio financeiro não são nenhuma solução para os países envolvidos e servem apenas para encher o baú dos oportunistas financeiros que nos conduziram a esta crise. A cada dia que passa o panorama geral é desanimador, as dificuldades são cada vez mais intensas, a cada tentativa de solução surge uma previsão mais negativa, as economias da zona euro teimam em não subir e os nossos governantes não são capazes de se juntar e encontrar uma solução para resolver os problemas que afectam e aterrorizam milhões de pessoas.Infelizmente, vivemos hoje numa sociedade sem valores. Os homens são hoje movidos pela ganância do capitalismo financeiro e pela sede do poder, promovendo e financiando guerras, a destruição da natureza, patrocinando o crime e a violência, num jogo de interesses mesquinhos, num mundo onde, todos os dias, milhares de crianças morrem à fome…Esta Europa de moeda única, que se uniu para viver dividida, não tem um pingo de vergonha ao vergar--se perante uma Alemanha que, em 1953, entrou em falência e os credores, entre os quais se incluem a Grécia, Irlanda e Espanha perdoaram-lhe 50% das dívidas e ainda alargaram o prazo de pagamento para 30 anos. Uma Europa que, apesar de saber que a Alemanha foi o maior país devedor do século XX e o responsável pela maior bancarrota de que há memória, se vê obrigada a cumprir o PEC criado por imposição da “ditosa pátria germânica”, que fez parte do chamado “grupo negro” dos países que, entre 2002 e 2005, não cumpriram o equilíbrio orçamental. Uma Europa vergada à Alemanha, que fez disparar a dívida em 2010 de 68% para 83,2%, em flagrante violação das regras que ela própria impôs aos outros países, que estão hoje a viver um dos piores momentos da sua história.A Europa tem de mudar, os europeus não querem uma Europa totalitária, querem uma Europa demo-crática e pacífica, digna da sua história. Não queremos uma Europa austera, recessiva e deprimente. Queremos uma Europa revoltada contra as injustiças, uma Europa capaz de se unir em torno dos mais elementares princípios de solidariedade entre os povos. E, sobretudo, não queremos uma Europa capitulada e subserviente a interesses ocultos e mesquinhos, que retire direitos a quem trabalha para aumentar os orçamentos de indústrias como a de armamento, da compra e venda de armas…Em suma, do que menos precisamos é de uma Europa a várias velocidades e com diferentes sistemas de travagem. Não podemos esquecer que o princípio que sustentou a construção de uma união entre os países europeus visava, em última instância, o incremento da qualidade de vida dos seus cidadãos perante a ascensão e domínio de economias como a dos EUA, que ameaçava a balança comercial europeia ou a da China, cuja expansão constituía então, uma grave barreira ao equilíbrio financeiro europeu. Como poderemos falar em união política e económica quando os mais abastados subjugam os mais carenciados? Como poderemos acreditar numa Comunidade Europeia de Ajuda Humanitária, a ECHO, que prevê a concessão de apoios a países em desenvolvimento, quando a mesma se revela profundamente ligada a interesses económicos? Advogava-se, em tempos não muito distantes, que os Fundos Estruturais e Fundos de Coesão deveriam a apoiar o desenvolvimento das regiões menos desenvolvidas da UE, essencialmente as localizadas nos novos Estados-membros do Centro-Leste da Europa… Era suposto que vários fundos fornecessem ajuda de emergência, apoio aos candidatos a membros para que estes transformassem os seus países ao ponto de se adequarem à norma da UE e apoio às ex-repúblicas soviéticas da Comunidade de Estados Independentes… E eu pergunto: qual é a norma da UE? Alguém, que tenha o contacto da senhora Merkel, saberá hoje responder?

Sérgio Oliveira, director

Siga-nos no Facebookhttps://www.facebook.com/

forume.cidadania

4

CASES – Cooperativa António Sérgio para a Economia Social

Economia Social: uma “conStElação dE ESpErançaS”Fortalecer o sector da Economia Social é o amplo desafio confinado a todas as orga-nizações que o constituem, tendo sempre em vista a respectiva sustentabilidade, e versando que as mesmas melhor resistam, quando próximas da adversidade. Em Ano Internacional das Cooperativas, proclama-do pelas Nações Unidas, a Fórum & Cidada-nia esteve à conversa com Eduardo Graça, presidente da Direcção da CASES – Coo-perativa António Sérgio para a Economia Social, que além de nos traçar um balanço positivo das actividades realizadas nes-te primeiro semestre de 2012, apelou aos contributos significativos desta economia solidária.

A Economia Social tem sido encarada como a “alternativa” de futuro à economia empresa-rial convencional de essência capitalista. O conceito de “Aldeia Global” poderá ter neste momento de crise financeira mundial, uma abrangência e uma transversalidade cada vez maior, uma vez que o sector promove o empre-go, o empreendedorismo, a inovação social e a concentração de esforços na criação de valor, com um espírito que pode ser apelidado de “genuíno”?Eduardo Graça (EG) – A economia social não se situa à margem da economia real, nem é um mero amortecedor dos efeitos das crises quando elas emergem, ameaçando os paradigmas de de-senvolvimento económico-social vigentes na nossa sociedade, nem é uma nova economia, como al-guns preconizam, ou seja, uma radical alternativa ao modelo da chamada economia de mercado.A economia social é uma realidade que encerra um conjunto diversificado de respostas às neces-sidades sentidas pelos cidadãos e comunidades, através de organizações, com autonomia face aos poderes públicos, buscando respostas para a satis-fação das suas necessidades. É uma faceta da eco-nomia e da sociedade, fundada na livre associação dos cidadãos, na sua auto associação, que poden-do rivalizar, não se separa nem se antagoniza com a economia de mercado, nem com o Estado. Pode e deve ser, por ela própria, pela diversida-de e flexibilidade das respostas que permite gerar, uma realidade autónoma, potenciadora na busca incessante de novas formas de resposta a novos desafios, associando, na maioria das vezes, tradi-ção e inovação.Representa um contributo significativo, e verda-deiramente genuíno, para a riqueza nacional, para a criação e manutenção de emprego, constituindo uma autêntica “constelação de esperanças”, na feliz formulação de Rui Namorado, podendo con-gregar um enorme potencial de recursos na luta contra a crise económica, a pobreza e pela igual-dade de oportunidades.

Eduardo Graça

5

CASES – Cooperativa António Sérgio para a Economia Social

Poderá dizer-se que a proximidade seja no interior das comunidades, seja na busca de parcerias e sinergias, nacionais e interna-cionais será o que permitirá a estabilidade da economia a curto, médio prazo ou ainda existirá um longo caminho a percorrer, so-bretudo no enraizamento (apesar da longe-vidade) e na mudança de paradigma ao ní-vel de estimular e promover a Economia Social em todas as suas vertentes?EG – Sim, também as estruturas da Economia Social precisam de evoluir constantemente sob pena de ficarem anacrónicas face à sociedade e aos tempos. Os modelos de gestão deverão ser cada vez mais rigorosos e focados na sua sustentabili-dade; a aposta na profissionalização de cada área da estrutura organizacional, a definição clara de objectivos, a análise de resultados, todas estas dinâmicas poderão contribuir largamente para o fortalecimento do sector, permitindo-lhe ser mais coeso e resistir mais eficazmente às adversidades.

Proclamado pelas Nações Unidas, o ano 2012 está a ser dedicado à celebração do Ano Internacional das Cooperativas e, Por-tugal através da CASES, sob a égide do go-verno português tem promovido um con-junto de iniciativas, criando um programa

diversificado e descentralizado por todo o país. Que balanço pode ser feito deste pri-meiro semestre? Tem correspondido às ex-pectativas?EG – Na verdade o governo português ade-riu ao Ano Internacional das Cooperativas – 2012, declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU), tendo cometido formalmente à CASES a sua organização em Portugal. Foi elaborado um programa e o mesmo está a ser levado à prática. O que podemos afirmar, neste momento, é que todas as iniciativas previstas, até ao presente, foram concretizadas com su-cesso. Assinalo com satisfação a adesão dos CTT que realizaram uma emissão filatélica, em circulação, evocativa do AIC-2012, a celebra-ção de um protocolo entre a Imprensa Nacio-nal - Casa da Moeda IN-CM e a CASES, que permitirá a edição de um conjunto de publica-ções, a abordagem de temas da maior relevân-cia, não só para o setor cooperativo como para a economia e sociedade portuguesa no seu conjunto, como, por exemplo, os do emprego/desemprego jovem, do crédito cooperativo, das estatísticas da economia social (elaboração da conta satélite com o INE), da reforma legal do setor, no contexto da próxima aprovação da Lei da Bases da Economia Social.

A mensagem da Aliança Cooperativa Inter-nacional (ACI) este ano apela ao modelo de empresa cooperativa como chave para o século XXI, alerta para os regimes legais em vigor sujeitos a revisão e lança o desa-fio de encorajar a intercooperação sobre o compromisso dos valores da sustentabili-dade, equidade e participação. Em Portu-gal, particularmente o projecto de Lei de Bases da Economia Social reúne consenso?EG – O projecto de Lei de Bases da Economia Social assume como sendo seus objetivos o re-conhecimento institucional e jurídico explícito do setor da economia social, o que passa fun-damentalmente: pela delimitação do âmbito subjetivo dos seus atores e dos princípios em que os mesmos assentam; pela identificação das formas de organização e representação da economia social; pela definição das linhas gerais das políticas de fomento da economia social e, pela identificação das vias de rela-cionamento das entidades da economia social com os poderes públicos. Atendendo à tradição e à natureza transver-sal do setor da economia social seria desejável que a aprovação final da Lei pela Assembleia da República recolhesse o maior consenso pos-sível, senão mesmo a unanimidade.

O microcrédito é um dos principais cami-nhos do cooperativismo?EG – A modernização e a inovação social nor-teadas pelos princípios cooperativos assumem--se com especial relevância. Contudo, a CASES tem responsabilidades no desenvolvimento do microcrédito sendo a entidade gestora do Pro-grama Nacional de Microcrédito para nos cen-trarmos num só tema relevante. O desafio, e a urgência do presente, é contribuirmos para o combate ao desemprego, reconhecidamente um flagelo social, ao qual ninguém pode ficar indi-ferente. Esse combate exige um esforço de insti-tuições públicas entre si, destas com parceiros e organizações da sociedade civil, exige a reafec-tação de recursos financeiros e sua adequada aplicação no fomento da iniciativa autónoma e livre dos cidadãos que se sintam estimulados a criar a sua própria atividade, negócio e con-sequentemente, emprego. O PNMC vai crescer nos próximos meses, tornar-se um instrumento não negligenciável de promoção do acesso ao crédito para desempregados, micro entidades e cooperativas.

Este primeiro semestre de 2012 foi positivo para a Economia Social? EG – No decurso destes tempos de crise tem crescido o interesse das sociedades e organi-zações pelo tema da economia social. Todos se interrogam, e nos interrogam, acerca das suas virtualidades e potencial como resposta à cri-se. Por todos os continentes, regiões e países a economia social, ou economia social e solidária, ou simplesmente economia solidária, ou ainda terceiro setor, ganha notoriedade pública, para além do círculo dos seus indefetíveis defensores, por fidelidade a princípios e valores ou por sinu-osas estratégias ao serviço de interesses que a

“no seu conjunto a econo-mia social, em portugal, é composta por mais de 42 000 organizações, consti-tuindo uma rede, densa e diversificada, ao longo de todo o território nacio-nal, constituindo-se como um poderoso movimento que gera emprego e coesão social, criando riqueza e exercendo um papel prepon-derante, real e potencial, no fomento da integração social e da regeneração de territórios que têm vindo a ser esvaziados de população e de equipamentos.”

“a Economia Social pode e deve ser, por ela própria, pela diversidade e flexibili-dade das respostas que per-mite gerar, uma realidade autónoma, potenciadora na busca incessante de novas formas de resposta a novos desafios, associando, na maioria das vezes, tradição e inovação.”

6

crise do capitalismo colocou no limbo.Portugal não foge ao movimento geral que faz mover a economia social, e as suas organizações, para o centro das preocupações de autoridades e cidadãos pondo em questão a sua persistente e to-lerada subalternidade face aos setores público e privado da economia fazendo lembrar que a Cons-tituição da República Portuguesa, porventura sur-preendentemente adiantada, consagra o sector “cooperativo e social” de propriedade dos meios de produção, em pé de igualdade com aqueles ou-tros. Neste contexto geral estão a criar-se condi-ções para a afirmação progressiva da economia social e o seu desenvolvimento.

Das iniciativas promovidas no âmbito do AIC 2012, em Portugal, qual(is) destacaria?EG – Do ponto de vista institucional, destacaria a sessão comemorativa do Dia Internacional das Cooperativas, realizada no dia 19 de Julho na Assembleia da República, que funcionou como um momento simbólico em que se reconheceu institucionalmente a importância do modelo co-operativo na sociedade actual, tendo o privilégio de contar com a participação do dr. Guilherme d´ Oliveira Martins, do sr. Ministro da Solidarieda-de e da Segurança Social e com as intervenções dos grupos parlamentares e das principais confe-derações cooperativas. Portanto, foi um momen-to simbólico importante para o sector.Do ponto de vista mais prático o trabalho que se está a desenvolver junto dos jovens, através da preparação dos programas COOP JOVEM e GE-RAÇÃO COOP, nomeadamente através de uma campanha de comunicação jovem e moderna difundindo os valores cooperativos e workshops práticos no sentido de os aproximar à realidade cooperativa, incentivando o trabalho em rede e a constituição de novas cooperativas, que será muito importante para o rejuvenescimento e re-lançamento do movimento cooperativo.

O que nos pode adiantar sobre a I Conven-ção Nacional de Economia Social? Será um baluarte que iniciará o ano 2013?EG – Quer os que se encontram mais próximos e atentos ao fenómeno da economia social, os pro-tagonistas, sejam dirigentes ou ativistas, quer os que, simplesmente, beneficiam dela, quer os me-ros espectadores das vicissitudes do processo do seu crescimento e afirmação pública, e o próprio estado, são potenciais interessados em conhecer melhor esta realidade cuja representação públi-

ca é, em regra, difusamente apercebida pelo seu lado associativo mesmo quando produz bens e serviços através da empresa cooperativa ou mu-tualista, ou assume um lugar preponderante, na rede de prestação de serviços sociais de proximi-dade, apropriados por toda a comunidade, pres-tados por Misericórdias, IPSS s e associações No seu conjunto a economia social, em Portu-gal, é composta por mais de 42 000 organiza-ções, constituindo uma rede, densa e diversi-ficada, ao longo de todo o território nacional, constituindo-se como um poderoso movimento que gera emprego e coesão social, criando ri-queza e exercendo um papel preponderante, real e potencial, no fomento da integração social e da regeneração de territórios que têm vindo a ser esvaziados de população e de equipamentos. Por uma miríade de razões que esta breve nota apenas aflora, torna-se necessário e urgente es-truturar um debate alargado acerca do papel e futuro da economia social no qual participem os protagonistas das organizações que a integram, audível em toda a sociedade portuguesa, tendo em vista promover o seu reconhecimento a todos os níveis e, a sua projeção externa com especial incidência no mundo lusófono. Daí o projeto de realização de uma Convenção da Economia So-cial a realizar no início do ano de 2013.

GEraçãocoop - dESpErtar para o coopErativiSmo

No âmbito das comemorações do AIC-2012, a CASES, em conjunto com a ANI-MAR, a CONFAGRI e a CONFECOOP, está a promover o Projecto GeraçãoCoop.O projecto tem como objectivo principal divulgar o cooperativismo enquanto for-ma activa de construção de um mundo melhor, fazendo parte da solução para um futuro estável, sustentável e justo. Nessa perspectiva, procura sensibilizar o público em geral, designadamente todos os jovens, para o papel das cooperativas na criação de auto-emprego e enquanto factor disseminador e potenciador da ci-dadania e do empreendedorismo.Considerando estes objectivos, o projec-to engloba as seguintes iniciativas: um folheto Despertar para o Cooperativismo,

uma brochura Despertar para o Coopera-tivismo, um Conto Infantil Ilustrado, Ví-deo, o Prémio de Fotografia & Exposição “Consegue capturar os valores cooperati-vos através da lente de uma máquina foto-gráfica?” e os Workshops Cooperação & Cooperativismo.Este conjunto de actividades visa dar res-posta aos seguintes objectivos definidos pela ONU no âmbito do AIC-2012, isto é, o aumento do conhecimento público so-bre as cooperativas e os seus contributos para o desenvolvimento socioeconómico e para a concretização dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, bem como, a promoção da formação e o crescimen-to das cooperativas entre os indivíduos e as instituições, de forma a promover res-postas a necessidades socioeconómicas, através da participação activa de todos os cidadãos.

“dESpErtar oS jovEnS para o coopErativiSmo é um impErativo”

É um imperativo despertar os jovens para o cooperativismo. Quer pela questão dos va-lores que lhes estão associados, como seja, a democracia participativa, a cooperação, a equidade, a igualdade, a solidariedade, a auto-responsabilidade, a auto-ajuda, funda-mentais no mundo actual e nesta constru-ção do novo paradigma que se pretende para a sociedade, quer porque o mundo do trabalho como o vivíamos há alguns anos atrás acabou e o modelo de organização co-operativa pode tornar-se uma resposta efi-caz e eficiente na construção de empregos para os mais jovens. Apelar à cooperação e à dinamização do empreendedorismo pelos recém-licenciados pode tornar-se um ins-trumento importantíssimo nas políticas de emprego.

8

Ano Internacional das Cooperativas 2012 – Assembleia da República

Dia internacional Das cooperativas celebraDo na “casa Mãe” Da DeMocracia

A Família Cooperativa foi recebida na “Casa Mãe” da Democracia, a Assembleia da Re-pública (AR), para comemorar o 90º Dia Internacional das Cooperativas da Alian-ça Internacional das Cooperativas (ACI). Incluindo-se no programa nacional do Ano Internacional das Cooperativas 2012 (AIC - 2012) proclamado pela ONU, esta sessão co-memorativa foi organizada conjuntamente com a Comissão Parlamentar de Segurança Social e Trabalho, pela CASES, CONFAGRI e CONFECOOP. Muitos foram os que enche-ram o Salão Nobre para celebrar este dia, que contou com uma abordagem carismáti-ca e de excelência de Guilherme d’Oliveira Martins sobre a tradição cooperativa no pensamento democrático. “O Cooperativis-mo está na génese da construção da demo-cracia”, afirmou.Todos os intervenientes na sessão foram ainda agraciados com a entrega simbólica, por Eduardo Graça, presidente da CASES, da medalha comemorativa do Ano Inter-nacional das Cooperativas 2012, produzida pela Imprensa Nacional - Casa da Moeda (IN-CM).O jovem Ruben Bettencourt, considerado como um dos melhores guitarristas clássi-cos portugueses da sua geração, abrilhantou o encerramento desta celebração, com a en-trega apaixonante dedilhada num concerto de guitarra clássica.

“Sendo o Parlamento português a assembleia representativa de todos os cidadãos portugueses, peço uma vigilância atenta no cumprimento da constituição das leis. Apesar da Constituição da República Portuguesa consagrar a autonomia do sector cooperativo, bem como o princípio de pro-tecção que é cedido a este sector, as cooperativas portuguesas têm estado demasiado ausentes do debate político nesta assembleia”, adverte o co-mendador Manuel dos Santos Gomes, presidente da CONFAGRI, Confederação Nacional das Coo-

perativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Por-tugal, referindo que também ao nível da definição das políticas, as cooperativas portuguesas têm tido demasiados reveses, não sendo devidamente con-siderada a sua “natureza específica e a sua rele-vância sócio-económica, resultado de em Portugal, ainda não lhe ser reconhecido um efectivo estatuto de parceiro social. Neste tempo de crise é tempo de um novo olhar e de uma nova atitude perante o sector”, considerou, frisando que muitos produ-

tos cooperativos portugueses constituem marcas comerciais de referência, pela excelência da sua qualidade. O dirigente da CONFAGRI apresentou três medidas tendo em vista o reforço e a revita-lização do sector no país. “Numa conjectura tão difícil e tão complexa como a que atravessamos, a CONFAGRI tem vindo a defender três medidas políticas de carácter prioritário, designadamente, uma lei de economia social que promova de modo efectivo a afirmação e o fortalecimento do sector cooperativo e social; a revisão do enquadramento legal das cooperativas portuguesas, nomeadamen-te, do Código Cooperativo e da legislação comple-mentar e, a disponibilização de apoios específicos e adequados às cooperativas que, normalmente, se confrontam com muitas dificuldades no acesso aos programas e aos mecanismos de financiamento que são criados. Em particular, no sector agrícola, reiteramos a necessidade de um programa específi-co de apoio ao redimensionamento e à melhoria da competitividade destas cooperativas.” Reafirmar a

identidade do terceiro sector e potenciar as suas capacidades são a oportunidade que constitui o AIC 2012 e acautela “perante uma crise econó-mica tão profunda como aquela que atravessamos constituiria um erro estratégico não proteger, não aperfeiçoar, não potenciar o modelo cooperativo em Portugal, porque os valores cooperativos fazem cada vez mais sentido nos tempos conturbados que atravessamos. A acção das cooperativas tem que ser potenciada, pois elas contribuem para um de-senvolvimento mais sustentável e mais inclusivo que todos ambicionamos para o nosso país.”

Cooperativismo sinónimo de competitividade

Já Eduardo Ferro Rodrigues, vice-presidente da AR, questiona o papel da economia social num universo de recriações de modelos novos de eco-nomia social em geral e, do movimento coopera-tivo em particular. “O movimento cooperativo é uma ideia antiga, mas pode e deve ser uma prática nova, um fulgor diferente para a saída desta crise” evidenciando ainda a ligação entre o cooperativis-mo e a democracia. “Estando na AR temos que ter consciência, que vivemos uma crise e vivemos num momento de desconfiança por muitos dos cidadãos indisfarçável. E temos que conseguir uma conci-liação económica e social em defesa também da

democracia”, frisou. “Penso que as experiências concretas que estão no terreno, promoverão a com-petitividade. E as ideias de coesão, de viabilidade económica e de solidariedade que se prendem ao movimento cooperativo e boa parte da economia social, podem dar-nos uma resposta para os pro-blemas de crise, nesta “Casa Mãe” da Democracia que quer que todos ganhem a sua independência”, espera.Realçando a associação das cooperativas à pro-dução e à transformação, José Manuel Canavarro, presidente da Comissão Parlamentar de Seguran-ça Social e Trabalho diz que “há muita alma nacio-nal, em tudo o que o sector faz e produz. Todas as organizações do sector têm uma versão europeia e nacional que se traduz em escala, quer na pro-dução de riqueza, quer na criação e manutenção de emprego.” E acredita firmemente na produção nacional, na prestação de serviços de proximidade e na congregação de esforços para se empreender e tornar possível, aquilo que individualmente não

9

Ano Internacional das Cooperativas 2012 – Assembleia da República

se conseguiria. Ao contributo insubstituível do mo-vimento, no funcionamento e na economia do país, deixou uma mensagem de confiança no futuro do sector, pois inclui-se nos que acreditam nas suas inúmeras potencialidades.Demonstrando uma enorme satisfação pela “hon-ra” no acolhimento na casa da democracia, Edu-ardo Graça, presidente da CASES relembrou a importância demonstrada pela ONU ao assinalar o ano 2012 como AIC. “As cooperativas são os elementos que relembram à comunidade interna-cional que é possível perseguir simultaneamente a viabilidade económica e a responsabilidade so-cial.” E recordou a história que tanto cruza de-mocracia e cooperativismo. “O movimento coo-perativo é uma referência central da democracia política, desde logo, por razões históricas, pois foi juntamente com o mutualismo e o movimento sin-dical, convergindo e divergindo, ao longo do tempo e, das circunstâncias na acção prática e na afirma-ção ideológica, que está a raiz da criação dos mo-dernos partidos políticos, todos com assento nesta casa da democracia”, explica. “A importância do movimento cooperativo emerge também da actualidade dos seus princípios e valo-res, o primado do homem sobre o capital, a prática da liberdade de associação e do exercício da de-mocracia, a solução da cooperação solidária e da intercooperação, incorporando no seu ADN, como bem referiu o secretário-geral da ONU, a responsa-bilidade social. O cooperativismo é um sector não negligenciável pela dimensão e importância do seu papel social e económico. A nível mundial, repre-senta mais de mil milhões de pessoas detentores de capital em cooperativas, três vezes mais, do que as que detêm capital em empresas privadas. Na Eu-ropa, os membros cooperativos ascendem a 123 milhões, o emprego cooperativo chega aos 100 milhões de postos de trabalho em todo o mundo, mais de 20% do que é criado por multinacionais. A mais representativa associação com estatuto consultivo nas Nações unidas é a ACI, agrupando organizações de 96 países. Em Portugal, existem mais de 2300 empresas cooperativas, números ac-tuais, em actividade, nos seus 12 ramos, com um

volume de negócios que representa cerca de 5% do PIB, vinculando mais de um milhão e meio de portugueses em todo o território nacional. As co-operativas têm contribuído significativamente para a criação líquida de emprego”, sublinha.“Todos os dados apontam para que o sector coo-perativo apresente mais estabilidade no emprego e mais coesão social e menos precariedade. Con-tribuindo na verdade, para a criação de riqueza e emprego sendo importante factor de esperança e oportunidade em benefício do desenvolvimento das comunidades locais e do bem-estar dos cidadãos portugueses. Quero crer que os ventos da história correm a favor de uma mudança que tornará mais fortes, no futuro, os que dão hoje a aparência de ser mais fracos, o que quer dizer que o trabalho de todos em prole do movimento do cooperativo frutificará, contribuindo para a cultura de uma so-ciedade mais justa e mais fraterna.”

Apelo à participação na negociação e consulta do acordo socialDe acordo com Jerónimo Teixeira, presidente da CONFECOOP, Confederação Cooperativa Por-tuguesa, as dificuldades, a crise e a luta pela so-brevivência criam algumas condições para o caos cultural e para a prática de menor condição dos valores democráticos, da liberdade e do respeito, que “importa combater, daí o maior valor que atribuímos a esta sessão.” E deixa o desafio ao ministro para que quebre a má prática da não par-ticipação no processo de consulta e negociação do acordo social.“O código contributivo em vigor penalizou todas as cooperativas, e demais associações da economia social, ao induzir progressivamente a diferencia-ção positiva, que existia nas taxas a aplicar, o que não é tecnicamente fundamental e muito menos é socialmente justo”, assegura, afirmando que a re-vogação do estatuto Fiscal Cooperativo em 2012 deu “a última machadada” no processo recessivo e continuado de redução da diferenciação positiva que a Constituição consagra. O argumento foi o memorando celebrado com a Troika, daí, Jerónimo Teixeira questionar se não se estavam a preparar

taxas diferenciadoras, nomeadamente, para o sec-tor exportador. “Ainda aguardamos que alguém nos explique”, observou.Na medida em que o governo português tem sido parceiro na celebração deste AIC 2012, o presi-dente da CONFECOOP espera que o governo es-tabeleça “políticas, leis e regulamentos favoráveis à formação, crescimento e estabilidade das coope-rativas e que actue, tendo em vista a promoção da formação e do crescimento das mesmas. Sabemos das limitações financeiras do estado português, mas também sabemos que a aposta nas coopera-tivas é uma aposta em organizações de economia real, com responsabilidade social, quer promoven-do relações de trabalho digno, quer nas relações com as comunidades, em que estão inseridas, quer pelo respeito pela união. E que por tudo isto obtém um efeito desmultiplicador do rendimento social, ou seja, é uma aposta ganha.” Por fim, conclui di-zendo que a tradição dum grande consenso políti-co nas iniciativas legislativas fruto de um trabalho sério e competente, de todos os actores é revelador da importância e das características deste sector.”A encerrar a sessão, o Ministro da Solidarieda-de e da Segurança Social, Pedro Mota Soares, apresentou a disponibilidade não apenas para as comemorações do AIC 2012, mas para a continui-dade e afirmação do sector no futuro. “O Governo Português associou-se às comemorações do AIC 2012 e espera em parceria com as organizações representativas do movimento cooperativo poder desenvolver e clarificar um conjunto de acções que não se esgotem em 2012, mas que, antes, permi-tam um saudável desenvolvimento do sector, no horizonte da mudança desta nova década. Neste sentido, firmo, em nome do governo, um compro-misso para o futuro, com a consciência das dificul-dades que estamos a viver e com a convicção de que o cooperativismo é uma ideia cujos princípios e valores, herdados do passado, serão certamente muito importantes e farão parte do nosso futuro.” No respeitante à revisão da legislação, considerou--a um desafio que tem que ser feito em conjunto, respondendo às necessidades e ideias que o sector cooperativo permanentemente coloca. O ministro garantiu ainda que esses mesmos desafios terão que ser alvo duma “resposta positiva”, que já vai sendo assegurada ao nível da AR. “Certamente que o governo também fará a sua parte e compete--nos a nós, em parceria, ouvir os representantes da economia social, podendo também alterar um conjunto de regras legislativas que hoje apenas criam entraves, há que abolir as barreiras tendo em vista a sustentabilidade e o desenvolvimen-to do movimento cooperativo, que é um desígnio partilhado por todos nós,” atestou, esclarecendo que o sector cooperativo continuará a receber por parte do governo, todo o reconhecimento que lhe é devido pelo seu papel no desenvolvimento sócio--económico do país.

10

Ano Internacional das Cooperativas 2012 - Espanha

Galiza palco da intercooperação na celebração do aic 2012

Criar uma maior consciência sobre o con-tributo das cooperativas para o desenvol-vimento económico e social, fomentando a sua constituição e crescimento espelham o lema que a Assembleia Geral das Nações Unidas assumiu, ao proclamar 2012, como o Ano Internacional das Cooperativas, invo-cando que “as empresas cooperativas aju-dam a construir um mundo melhor”.

Comemorado um pouco por todo o mundo, dada a forte representatividade do terceiro sector, a Ga-liza, entre outras acções e campanhas, assinalou este AIC 2012, com a organização do Encontro Internacional Cooperativo, nos dias 5, 6 e 7 de Julho, no Pazo de Congresos e Exposicións de Galicia, Santiago de Compostela, data que coin-cide com a celebração do Dia do Cooperativismo (primeiro sábado do mês de Julho) e, em que se realiza o habitual convívio entre a família coo-perativa. O último dia foi marcado pela entrega dos prémios de cooperação relativos ao ano 2012, assim como os prémios do certame “Cooperati-vismo no Ensino”, dirigido a alunos e professores dos centros educativos galegos. Em simultâneo, durante os três dias, decorre uma mostra aberta ao público, orientada para a intercooperação. Ali, todas as entidades têm a possibilidade de expor os seus produtos e serviços, promovendo a criação de sinergias, no sentido de organizar projectos e

concertar oportunidades de cooperação.Paralelamente, pode encontrar-se um concurso de fotografia, onde é possível partilhar criatividade e experiências cooperativas, junto dos visitantes deste evento.Enquadrado nas iniciativas que celebram o AIC 2012, este Encontro Internacional Cooperativo visa enriquecer a formação e as análises dos co-operativistas, agentes cooperativos, técnicos e in-vestigadores, com a apresentação de experiências que relatam na prática os valores cooperativos, bem como as linhas de actuação públicas e priva-das para o fomento do cooperativismo, como é o caso da criação das régies cooperativas.Durante as jornadas, várias intervenções de diver-sas partes do globo em sectores distintos de actu-ação, expõem a sua visão sobre o cooperativismo e a crise mundial, as experiências cooperativas nos âmbitos agrário, dos serviços sociais e do trabalho associado, as novas fórmulas de cooperação, as redes cooperativas internacionais, a panorâmica das políticas de fomento cooperativo no mundo e as estratégias de desenvolvimento cooperativo na Galiza.Especialistas de países como a França, a Bélgi-ca, de diferentes lugares da Iberoamérica, assim como várias comunidades espanholas, ao longo destes dias, debatem os caminhos do futuro, no âmbito do cooperativismo. A inauguração oficial do encontro coube ao presi-dente da Xunta de Galicia, Alberto Núñez Feijóo,

que sublinhou a importância do movimento coo-perativo no sector empresarial e social em tempos de crise, como sendo o que melhor lhe resiste. “A Galiza não está alheia a esta fórmula de gestão. As cooperativas além da sua actividade econó-mica, empresarial e social, têm princípios que as inspiram e que partilhamos, a ajuda mútua e a solidariedade, princípios que se baseiam essencial-mente na responsabilidade mútua.” O presidente admite que neste momento estes princípios são fundamentais para fazer frente à mudança da estratégia económica de Espanha, mas não só: “para fazer frente a um novo modelo produtivo, para alhearmo-nos da especulação e da riqueza a curto prazo, para esquecermos a economia cres-cente dos empregos temporários”. Para o dirigen-te devem promover-se os princípios da equidade, da igualdade, e da autorresponsabilidade de cada associado, bem como do colectivo de sócios que formam a cooperativa. Inovação e internacionalização foram as duas fer-ramentas apontadas para enfrentar a crise. Assim, o carácter internacional deste encontro verifica a tendência de exploração doutros mercados, além fronteiras e o estabelecimento de alianças rumo à exportação, como uma inevitável saída para a crise que afecta Espanha.“As cooperativas resistem melhor à crise eco-nómica, do que outras fórmulas empresariais”, afirmou, agradecendo todo o trabalho coopera-tivo e incentivando o sector: “continuem a gerar

11

Ano Internacional das Cooperativas 2012 - Espanha

emprego e riqueza, dois pilares que sustentam o bem-estar. O bem-estar é sem dúvida a chave de uma sociedade moderna, duma sociedade ociden-tal”, concluiu.Alberto Núñez Feijóo fez-se acompanhar pela conselheira de Trabalho e Bem-estar, Beatriz Mato que proferiu que: “este encontro é uma oportunidade única para o intercâmbio de experi-ências, para partilha de experiências e sobretudo, para fazer desta cidade, Santiago de Compostela, um grande fórum de debate sobre o presente e o futuro do movimento cooperativo. Acreditamos que as cooperativas contribuem para que a nossa sociedade seja mais justa, mais solidária, mais de-mocrática e também mais integradora.” Beatriz Mato assume ainda o compromisso con-tínuo e progressivo no desenvolvimento das fór-mulas cooperativas, “é um modelo empresarial que goza de uma crescente aceitação na nossa comunidade. O governo galego quis desde logo associar-se à celebração deste AIC 2012, através da colaboração e coordenação das instituições co-operativas do nosso território”.Mas, este encontro representa muito mais do que uma aposta na promoção, difusão do cooperati-vismo e da economia social “é uma reunião de

ideias para que se possa evoluir e avançar”, as-severa. Serve ainda para o reforço, consolidação e melhoramento dos projectos cooperativos que já estão em curso, abrindo portas a todos aqueles que desejam empreender e pôr em funcionamento novas iniciativas de economia social. Este é um encontro organizado pela Consellería de Traballo e Benestar da Xunta de Galicia, através do Consello Galego de Cooperativas. Insere-se nas actividades de divulgação e formação relativas ao projecto europeu COOPERA+, cofinanciado pelo Programa de Cooperación Territorial Espanha--Portugal 2007-2013, que tem como objectivo

o fomento e a consolidação das cooperativas na Euroregião Galiza-Norte de Portugal.A Galiza assume assim, o movimento cooperativo como a receita de criação de emprego, riqueza e bem-estar social, uma realidade que se reflecte nos 800 milhões de cooperantes e, em mais de 100 milhões de empregos a nível mundial. Núme-ros que falam por si só sobre a importância do movimento cooperativo do ponto de vista econó-mico, mas também do ponto de vista social e do ponto de vista do emprego, numa fórmula que é transversal a muitas nações do mundo, e que visa criar riqueza, apoio e responsabilidade mútua.

Inscreva-se como associado

www.avilanovense.pttel. 22 375 47 11

Vantagens do associado:

clínica stéticadaLiga

clínica stéticadaLiga

SAÚDEQUE SE VÊ

3º pisoclínica da liga

spamaquilhagemmanicure / pedicuremassagem terapêuticalimpeza de peledepilaçãoplanos emagrecimento

12

Ano Internacional das Cooperativas 2012

MensageM da aliança Cooperativa internaCional (aCi)90º dia internaCional das Cooperativas18º dia internaCional das Cooperativas da onU7 de JUlho de 2012*

O Dia Internacional das Cooperativas de 2012 assume um significado especial, já que 2012 é o Ano Internacional das Cooperativas das Nações Unidas. Em função dessa ocasião especial, o tema do Ano Internacional é também o tema deste Dia Internacio-nal: “As cooperativas constroem um Mundo melhor”.O Ano Internacional das Cooperativas é o tempo para levar a história cooperativa a uma mais vasta audiência. Não é apenas uma história de sucessos passados, de indiví-duos que se juntam em situações económicas difíceis para alavancar os seus recursos, aceder aos mercados, e restabelecer o equilíbrio nas negociações de preços. A resiliên-cia e estabilidade do modelo de empresa cooperativa é também uma mensagem para os dias de hoje. As cooperativas são peça chave na economia do século XXI. Em anos recentes, o mun-do demonstrou a urgente necessidade de uma economia global mais diversificada.As cooperativas são capazes de contribuir mais ainda para essa diversificação. Hoje, o Relatório Global 300 produzido pela ACI mostra que as 300 maiores cooperativas mundiais têm um volume de negócios somado de 1,6 biliões de dólares americanos, o equivalente ao PIB de muitos países.São responsáveis por 100 milhões de postos de trabalho a nível mundial. No Brasil, Rússia, Índia e África, 15% da população é membro/proprietária de uma cooperativa, comparado com menos de 4% que são accionistas. No Quénia, as cooperativas contri-buem em 45% para o PIB, e na Nova Zelândia em 22%. Nos Estados Unidos, 30.000 cooperativas empregam dois milhões de pessoas, com as maiores surgindo regularmen-te nas 100 maiores da revista Fortune.As cooperativas são empresas fundadas em valores. A cooperativa tem o maior grau de participação social de todos os modelos empresariais principais. Por causa deste empenhamento dos membros, as cooperativas reflectem os valores da comunidade. Des-de os primórdios que se preocupam com a forma como são produzidos os seus bens e fornecidos os seus serviços. O compromisso com a sustentabilidade é um dos sete Prin-cípios que membros da ACI em 100 países acordaram dever definir uma cooperativa.Estes Princípios – equidade, participação, sustentabilidade – agrupam-se para fazer as cooperativas vibrantes e bem-sucedidos lugares de trabalho decente. Em cada sector, da agricultura, pesca e floresta à banca cooperativa e caixas de poupança e crédito, da habitação e saúde aos seguros mútuos e cooperativos, e especialmente em cooperativas formadas por trabalhadores, as cooperativas criam trabalho decente, gozam de con-fiança entre os consumidores e duram mais que outras formas de empresa. Constroem um Mundo melhor.A ACI foi criada em 1895 para promover o modelo cooperativo. Trabalha com orga-nizações intergovernamentais e não-governamentais no desenvolvimento cooperativo; com países na defesa de um enquadramento legal e regulamentar que reconheça as necessidades de implantação únicas e específicas das cooperativas; e com os seus mem-bros para encorajar a intercooperação.A ACI apela aos cooperadores a nível mundial para que neste ano especial aproveitem a oportunidade do Dia Internacional das Cooperativas para contar a sua história. As histórias vêm publicadas em www.stories.coop.Para celebrar o Dia Internacional das Cooperativas, a ACI lançou uma série de eBooks em colaboração com a Global News Hub para mostrar como ‘as empresas coopera-tivas constroem um Mundo melhor’. Os eBooks serão distribuídos à medida que se aproximar o evento virtual da Cooperatives United, fecho global do Ano Internacional das Cooperativas a ter lugar em Manchester em Outubro de 2012. Para receber mais informação sobre o evento virtual ou para marcar lugar em Manchester visite www.manchester2012.coop. No entretanto, descarregue os eBooks do AIC em www.the-news.coop/virtual para descobrir a diferença trazida pelas cooperativas.

*Obs.: Em Portugal, a data foi celebrada no dia 19 de Julho, numa sessão comemorativa com o alto patrocínio da Assembleia da República, através do presidente da Comissão Parlamentar de Segurança Social e Trabalho, conjuntamente com a CASES, CONFAGRI e CONFECOOP.

as régies CooperativasO Código Cooperativo prevê, no seu artigo 6º, a existência de Régies Cooperativas, também, designadas por Cooperativas de Interesse Público. E, neste contexto, com a publicação do Decreto-Lei nº 31/84, de 21 de Janeiro de 1984, o Governo Português criou legislação que veio permitir, no sector cooperativo, a organização de parcerias entre entidades do sector público com entidades do sector privado, o que veio abrir novos e mais amplos campos de actuação.

O que são as Régies Cooperativas?As Régies Cooperativas, ou cooperativas de interesse público, são pessoas colectivas em que, para a prossecução dos seus fins, se associam o Estado ou outras pessoas colectivas de direito público e cooperativas ou utentes dos bens e serviços produzidos.

Constituição e Registo de uma Régie CooperativaAs cooperativas de interesse público constituem-se por escritura pública, dependendo de prévia decisão administrativa de que conste, nomeadamente: A definição do seu objecto e a sua duração, se for constituída por tempo determinado; Capital mínimo; O Capital a subscrever pela Parte Pública, bem como outros meios financeiros e patrimoniais que esta afecte à cooperativa e o título desta afectação; As condições de aumento ou alienação do capital da parte pública; As condições de exoneração da parte pública; A criação de outras reservas, para além das previstas nos artigos 67º e 68º do Código Cooperativo, que devam ser consideradas obrigatórias.

Decisão Administrativa para a constituição de uma Régie CooperativaA decisão administrativa para a criação de uma Régie Cooperativa revestirá a forma de: Resolução do Conselho de Ministros ou dos Governos Regionais, respectivamente, quando a participação pública deva ser subscrita pelo Estado ou pelas Regiões Autónomas; Portaria do Ministro ou Ministros da respectiva Tutela, quando a participação pública deva ser subs-crita por pessoas colectivas de direito público que não sejam autarquias locais; Deliberação da Assembleia Municipal ou da Assembleia de Freguesia, respectivamente, quando a parti-cipação pública deva ser subscrita por Municípios ou por Freguesias.

Forma de constituiçãoAs cooperativas de interesse público podem constituir-se sob qualquer das seguintes formas: Responsabilidade limitada de todos os cooperadores; Responsabilidade mista: responsabi-lidade limitada ao capital subscrito, se se tratar do Estado ou de outras pessoas colectivas de direito público, e responsabilidade solidária e ilimitada por parte dos restantes coope-radores.

Capital subscritoO Capital subscrito pela Parte Pública será integralmente realizado no acto da subscrição.

Órgãos EstatutáriosSão Órgãos das cooperativas de interesse público: A Assembleia-Geral, a Direcção e o Conselho Fiscal

Participação da Parte Pública nos Órgãos EstatutáriosO Estado ou outras Pessoas Colectivas de Direito Público participam nos órgãos das coo-perativas de interesse público na proporção do respectivo capital

Regime específico sobre incompatibilidadesA Parte Pública e as Cooperativas membros de Cooperativas de Interesse Público podem ser representadas por mais de um titular nos órgãos desta, assim como em mais de um órgão, desde que a sua representação seja feita por pessoas singulares distintas.

Duração do Mandato dos Titulares dos Órgãos EstatutáriosO mandato dos titulares dos órgãos é de 3 anos, sem prejuízo da possibilidade da sua re-vogação pela Assembleia-Geral ou da livre substituição pela Parte Pública dos seus repre-sentantes, aplicando-se, neste último caso, com as devidas alterações, o que estiver regulado para os gestores públicos.

Votação nas Assembleias-GeraisO número de votos dos Membros das cooperativas de interesse público, nas assembleias--gerais, é proporcional ao capital que tiverem realizado.

Benefícios fiscaisAs cooperativas de interesse público usufruem dos benefícios fiscais aplicáveis às coopera-tivas do mesmo sector de actividade, para além de outros que especificamente lhes venham a ser atribuídas.

Número de Membros de uma CooperativaO número de membros de uma cooperativa é variável e ilimitado, mas não poderá ser infe-rior a cinco nas cooperativas de primeiro grau e a dois nas cooperativas de grau superior.

Por Manuel Ferreira, Presidente da Cooperativa NAVE – Serviços de Apoio à Gestão Empresarial

VISITESPINHOJunta de Freguesia de Espinho • Rua 23, nº 271

Tel. 22 734 44 18 • Tlm. 93 267 75 04 • E-mail: [email protected]

14

Cooperativa Agrícola de Beja e Brinches, CRL

O COOperativismO aliadO à COmpetitividade enraíza a “FlOr dO alentejO”

É com o cruzamento de histórias que se constroem pontes e se cria competitivida-de e sustentabilidade no seio das organi-zações. É nesse sentido, que indubitavel-mente, ao falar da Cooperativa Agrícola de Beja e Brinches, se fala também da UCA-SUL – União de Cooperativas Agrícolas do Sul, da empresa Mariano Lopes & Filhos, LDA e da Fenazeites, que numa conjuga-ção de esforços fazem do azeite “Flor do Alentejo” e dos óleos de bagaço de azei-tona, referências no sector, promovendo a região alentejana.

A Cooperativa Agrícola de Beja e Brinches é o resultado de uma fusão das cooperativas agrí-colas de Beja e de Brinches respectivamente, que é detentora de cerca de 75% do capital da UCASUL, sendo, portanto, a empresa mãe da UCASUL. Esta, por sua vez, é possuidora de quase 100% do capital de uma outra empresa privada, a Mariano Lopes & Filhos, Lda., sedea-da em Alvito, uma empresa antiga que tinha uma produção regional privilegiada quer na parte dos óleos de bagaço de azeitona, quer na parte da exploração do azeite. Inclusive, é uma empresa que introduziu a cultura do girassol em Portugal.A UCASUL foi fundada em 1992 com a inten-ção de tomar conta desta empresa, devido a esta não se encontrar bem no aspecto financeiro, mas ter um trabalho ímpar na extracção de óleo de bagaço de azeitona. Aliás, é a UCASUL, nas ins-talações de Alvito, que recebe todo o bagaço de azeitona produzido no Alentejo, o que representa cerca de 70% do bagaço nacional.“A empresa mãe é Cooperativa Agrícola Beja e Brinches e, portanto, a partir de 10 de Abril, nós consolidamos as contas em termos de grupo com a UCASUL. Criámos recentemente duas outras empresas privadas com capital maioritário da UCASUL.” O responsável sente as limitações das empresas cooperativas quer no processo negocial, quer no processo produtivo para o seu desempenho. “Era imperativo agilizar algumas decisões. Pela experiência que temos, notamos algumas limitações no sector cooperativo. Esta cooperativa, enquanto empresa de economia so-cial, estatutariamente, ao mudar de três em três anos, não cria uma grande estabilidade em ter-mos governativos, se não houver uma gestão pro-fissional, como é o caso da Cooperativa de Beja e Brinches”, desenvolve Aníbal Martins, gerente da mesma Cooperativa. Mesmo após a fusão, os directores estão há mais de 20 anos no cargo, indício da estabilidade proporcionada no âmbito desta gestão profissional, e mesmo em termos operacionais da própria cooperativa e, às quais a

gestão da cooperativa tem que responder.“Criámos estas duas empresas não só por en-tendermos que devíamos agilizar a actividade da UCASUL, enquanto União de Cooperativas, mas também porque quisemos distinguir a sua activi-dade”, aponta. “A nossa actividade começou por abranger todos os lagares, só que houve um pro-blema ambiental gravíssimo com as águas conta-minadas, em 2001, que acabou por ser resolvido pela UCASUL. Nessa altura, foi construída uma central de secagem que foi instalada em Alvito, surgindo até um programa de adaptação sobre os lagares de azeite à nova legislação ambien-tal.” Contudo, um outro problema se colocava, a extracção do óleo de bagaço. Para rentabili-zar os bagaços e criar algum valor, a opção foi fazer a extracção do óleo e a UCASUL fazer a secagem do bagaço. Assim, actualmente, através deste processo é possível remunerar bem os agri-cultores da cooperativa.Entretanto, a UCASUL entendeu que devia cres-cer e criou duas empresas: a UCA ES (União de Cooperativas Agrícolas – Engenharia e Serviços) com a intenção de dar o apoio técnico e logístico e a UCA IND (União de Cooperativas Agrícolas – Industrial) que vai dedicar-se, exclusivamente, a toda a parte industrial que a UCASUL tem. O objectivo é unificar toda actividade numa única empresa. No sector da agricultura e em relação ao baga-ço, a Cooperativa controla todo o bagaço que é produzido em todo o Alentejo e no Algarve. Com a evolução da produção dos olivais foram planta-

dos novos olivais, cerca de 40.000hectares desde 2002/2003 no Alentejo. “O potencial produti-vo deste valor é imenso. Portugal começa a ser quase que auto-suficiente em termos de mercado interno e isso deve-se a essa plantação que foi feita”, salienta. “A Fenazeites surgiu devido aos produtores de azeite não terem nenhuma estrutura reivindica-tiva, onde conseguissem congregar todos os pro-blemas e preocupações que afectam o sector da olivicultura, para serem apresentados em Bru-xelas, à própria U.E. e ao governo português de uma forma condigna.”

Cooperativa de Beja e Brinches entre o olival e os cereaisA Beja e Brinches é uma cooperativa polivalente em termos de grupo e, em 2011 teve um lucro de 30 milhões de euros. Além da olivicultura tem também uma outra actividade, a cerealicultura. “Os cereais que são produzidos no Alentejo são recebidos pela Cooperativas Beja e Brinches. Há um ano fez-se um protocolo com o Ministério da Agricultura estabelecendo-se um contrato de 30 anos entre todos os silos verticais que existem em Beja e Serpa, que têm uma capacidade de 80 milhões de kg de produto”, refere.Neste momento, decorre uma parceria com um grande grupo da Estremadura, com o qual está a ser estabelecido um protocolo de colaboração para ser implementado nos próximos anos, des-tinado à diversificação de culturas, permitindo alterar a actividade normal dos agricultores. “O

Aníbal Martins

15

Cooperativa Agrícola de Beja e Brinches, CRL

Alentejo daqui a 15 anos 20 vai ter uma outra imagem e vai ser muito diferente, vai ser um outro Alentejo”, exalta Aníbal Martins, expon-do que se critica muito a entrada dos espanhóis nos olivais, não obstante, defende que “em 2003, Portugal tinha sido autorizado pela E.U. a cul-tivar 30.000 hectares de olival, 65% a fundo perdido e, nos primeiros dois anos verificou-se que não se tinha possibilidade de se chegar nem a metade. A Cooperativa de Brinches, em conjunto com o Ministério da Agricultura, o IFADAP (Instituto de Financiamento e Apoio ao Desenvolvimento da  Agricultura  e das Pescas) juntamente com mais duas Instituições Financeiras fizeram um protocolo para dinamizar um projecto-piloto com algumas empresas espanholas. Os espanhóis compraram terrenos em Portugal que eram mais baratos do que em Espanha e houve um grande desenvolvimento”, proferiu. Os espanhóis trouxe-ram novas variedades de azeitona, entre elas a arbequina “dá um bom azeite, mas é pouco está-vel pois ao fim de um ano começa a oxidar. Mas fazem-se bons lotes tornando-o num bom azeite. Com a crise, os espanhóis começaram a abando-nar os olivais, mas como o azeite é tratado nos nossos lagares fica um azeite agradável e de qua-lidade”, acrescenta.“Portugal tem que ser competitivo, quer nos pre-ços, quer na qualidade dos produtos para que as cooperativas possam desempenhar um papel a nível das exportações determinante. Além disso, é importante realçar que produzimos o azeite que consumimos”, sublinha.Na grande distribuição, o sector do azeite é do-minado pelas marcas brancas. Em Espanha re-presentam mais dos 60% das vendas e em Por-tugal representam cerca de 20 ou 30%. “Mas não há dúvida que nós fizemos esta temporada em grande quantidade. Felizmente, a partir deste momento, estamos a colocar nas grandes super-fícies e a exportar com algum significado para a

China. Cada vez menos estamos a vender o azeite a granel pois não tem qualidade e não é suscep-tível de embalar”, declara. O objectivo é embalar o máximo e vender a granel o mínimo possível.Um problema que não é fácil de resolver e que é grave no sector da olivicultura são os olivais tra-dicionais e os seus custos acrescidos. “Estamos a ver a viabilidade do olival tradicional. Um olival que tem mais custos de manutenção e produz um décimo da azeitona terá que eventualmente passar pela reconversão desses mesmos olivais”, explica. De acordo com Aníbal Martins, nos próximos anos há um vasto mundo de situações passíveis de serem geridas. A atenção tem que ser redo-brada e passará pelo sector cooperativo. “O maior problema do sector cooperativo está na gestão profissional, já não se compagina com o amadorismo. As cooperativas, enquanto empre-sas, quando atingem uma certa dimensão, têm que ser geridas como empresas para que se obte-nha o máximo de proveito para poder remunerar bem os produtos que os associados lhes entre-gam”, manifesta.Além da gestão, para a região, o êxito caberá à renovação de gerações, logo, o futuro está nos jovens agricultores. “A idade média dos agricul-tores é elevada e, por vezes, é impeditiva da ino-

vação e de novas experiências, porque as pessoas acomodam-se. Isso permite aos jovens agriculto-res acompanhar todo este processo em termos de empresários agrícolas devido a uma outra mentalidade. Terá que existir uma fusão entre a experiência dos mais idosos e uma nova mentali-dade virada para o futuro e para o progresso do sector agrícola, no qual a CONFAGRI tem de-sempenhado um papel fundamental e preponde-rante no país, uma vez que recebe candidaturas, dá formação, contacta diariamente com todas as confederações e todas as cooperativas dos vários sectores agrícolas do País, o que demonstra uma mais-valia quer para o sector cooperativo, quer para a agricultura nacional”, afirma.Em Ano Internacional das Cooperativas, Aníbal Martins confessa que “todos os anos são bons para relançar o sector cooperativo, no entanto, já é um tema que não tem o peso que tinha no passado. Hoje, para mim, o mundo é o meu país! Actualmente, temos que fazer um esforço grande para sermos competitivos, quer nos preços, quer na qualidade dos produtos que apresentamos e isso é fundamental para que as cooperativas possam desempenhar um papel determinante ao nível das exportações”, ressalva apresentando a marca de azeite da Cooperativa Beja e Brinches – o “Flor do Alentejo”, azeite virgem extra.

16

COHAEMATO, Cooperativa de Habitação Económica de Matosinhos,CRL

IdentIdade PróPrIa e VIsIbIlIdade do MoVIMento CooPeratIVo, PreCIsa-se!

Fundada em 1977, a COHAEMATO, Coope-rativa de Habitação Económica de Matosi-nhos, CRL está sedeada em Leça da Palmei-ra e sempre foi, pelas suas características, um dos principais motores de desenvolvi-mento da cidade, no plano urbanístico. A construção de habitações concluiu-se em 2004, as casas foram todas adquiridas, mas o desafio é constante e há que criar diaria-mente novas respostas, como revela Pedro Tavares, presidente da direcção. Exem-plo disso, a criação de uma sala de estudo acompanhado, um projecto educacional, a funcionar durante o mês de Julho, com variadíssimas actividades destinadas aos mais pequenos. Decorrem também algumas obras de conservação e manutenção de edi-fícios e, a habitual administração das áreas comuns.

Os ideais cooperativistas não estão esquecidos na COHAEMATO, fundada com o fulgor do pós 25 de Abril, continua a triunfar pelas palavras de ordem inerentes à sua formação, a solidariedade e a entreajuda, no plano social em que sempre actuaram.Actualmente, a cooperativa tem cerca de 300 as-sociados e as principais frentes de trabalho con-jugam-se “na administração e gestão das áreas e equipamentos colectivos da urbanização, com destaque para a gestão de condomínios, a con-servação e manutenção das áreas ajardinadas e áreas comuns do parque habitacional”, descreve Pedro Tavares, apontando que o futuro passa pela “promoção da participação e mobilização rumo à satisfação das necessidades habitacionais e do

bem-estar de toda a comunidade, mesmo em tem-pos difíceis como os que atravessamos. Estaremos sempre atentos e tentaremos sempre apoiar as fa-mílias.”Para o presidente da direcção, o movimento co-operativo habitacional tem actualmente vários problemas face à situação política, social, eco-nómica que se vive. No entanto, refere a falta de “identidade própria”, resultante da falta de auto-nomia a que está afecto, isto é, “a dependência, na maioria das vezes, de subsídios, de colaborações de instituições. As instituições têm que alimentar--se a si próprias, só que a própria ligação com o movimento associativo não é feito na maioria das situações de forma desinteressada. Portanto, há uma criação de dependência, uma atrofia da iden-tidade do próprio movimento associativo, porque, de facto, não se consegue por vezes dizer aquilo que provavelmente se sente, pelas consequências a outros níveis, essa é a primeira grande questão.”“O próprio movimento associativo tem que ter voz”, diz, pela própria autonomia que o próprio movimento tem que ter, numa postura reivindi-cativa, dada a sua base “na força voluntária de cidadãos e no querer dos cidadãos. É evidente que o poder não vai partilhar o que tem de uma forma igual. Por outro lado, dever-se-ia saber aproveitar aquilo que estas instituições fazem. É uma ques-tão de sobrevivência do movimento associativo. Tem que haver um intercâmbio, pois o movimento associativo promove e realiza funções que se sub-situem muitas vezes ao próprio aparelho do Es-tado, às próprias instituições, nomeadamente às autarquias”, afirma.

A Revogação do Regime Fiscal CooperativoEm Ano Internacional das Cooperativas 2012, a grande crítica que faz é à revogação do Re-gime Fiscal Cooperativo (RFC), quando o apelo das Nações Unidas aos países membros previa a promoção de políticas activas de apoio e de incentivo ao cooperativismo. “Esta medida apro-vada pelo Governo português tocará no campo tributário, nos próprios incentivos ao sector co-operativo, como a redução de taxas contribu-tivas, entre outras mexidas! Logo estamos no caminho certo! Salienta ironicamente. “O RFC era uma peça importante que nos diferenciava de uma forma positiva. Em concreto, no capítu-lo das taxas contributivas, apoiava o movimento cooperativo e mesmo o próprio RFC foi também fruto do trabalho árduo de muitos anos que os dirigentes associativos conseguiram impor, con-quistando essa diferenciação positiva. Portugal, com a coincidência do AIC 2012 mexe nele e vai colocá-lo no meio do Regime Geral de Isenções e de Benefícios Fiscais, que é para tudo ficar ali muito submerso e, porque é a melhor forma de acabar com ele, de modo a que não tenha uma visibilidade e uma identidade própria.”É inegável o contributo para a economia do movi-

mento cooperativo, nos seus 12 ramos de activida-de, pois além de mover imensas actividades, criou postos de trabalho muito significativos, sendo um agente fundamental de mudança nos últimos anos, sobretudo nos anos que se seguiram ao 25 de Abril de 74, em que houve uma explosão do movimento cooperativo, em particular, do habita-cional. “Construiu-se parte de cidades, a nossa co-operativa construiu uma parte importante da fre-guesia ao longo dos anos, e portanto não é só uma mera associação, é uma associação com vontades num sentido extremamente abrangente, porque cria um património que não é apenas individual, mas colectivo, porque faz com que as cidades se afirmem, com que existam cidades. E essa é uma filosofia de desenvolvimento que está impregnada no próprio movimento cooperativo, faz parte da sua essência. Coube sempre às cooperativas habi-tacionais criarem vida nas suas comunidades, elas não se cingem apenas à construção, mas à vida que constroem e aos trabalhos que desenvolvem posteriormente para criar vida”, assegura.As cooperativas de habitação têm passado por dificuldades, mas é a vontade de querer fazer que faz com que a COHAEMATO resista. “Termina-mos a construção em 2004. Até aí, e desde 1985 que nunca deixamos de construir, nunca paramos houve sempre processos a decorrer.” Houve algu-mas contrariedades, “o subsídio familiar à aqui-sição de habitação ao terminar, fez com saíssem imensos sócios da cooperativa e isso foi um pro-blema não só para nós, mas para a maior parte das cooperativas. As condições do mercado altera-ram-se profundamente, designadamente, o recur-so ao crédito, que nos últimos anos sofreu altera-ções brutais e, neste momento, simplesmente não existe, sequer. O próprio litígio com o empreiteiro que construía connosco já há bastantes anos fez com que de facto não conseguíssemos continuar. E apesar de sermos uma empresa cooperativa do terceiro sector, isso não quer dizer que os proble-mas não nos afectem também, diria que nos afec-tam de forma mais agressiva, porque não temos recursos financeiros que nos permitam aguentar ou prevenir situações. Somos um reflexo de tudo o que se passa. Se houver qualquer tipo de proble-ma, ou criamos soluções, internamente, ou então continua a existir. Assim, todas estas questões con-correm para uma outra situação, as cooperativas de habitação têm que se recriar constantemente porque têm que criar uma justificação clara nas pessoas de que vale a pena continuarem ligadas a elas, sob pena delas morrerem e as únicas coisas que passam a existir é uma sede social e uma si-gla”, vaticina, garantindo que o seu grande desafio é criar vida na cooperativa.“A essência deste ramo cooperativo é construir habitação para os seus sócios, mas construir com apenas esse fim é um objectivo altamente deficitá-rio. Depois disso há que criar valências e equipa-mentos a pensar nessas pessoas. Criar uma comu-

Pedro Tavares

1974 – Gestão democrática 1994 – Integração da Mútua da Sardinha

27 de julho de 1942

27 de julho de 2012

2004 – Cooperativa de utentes de seguros 2000– Alargamento ao cluster do mar

1942 – Constituição

1942 – Constituição

com os pés em terra com os olhos no mar

17

COHAEMATO, Cooperativa de Habitação Económica de Matosinhos,CRL

nidade residencial é um conceito amplo, tem que haver vida. O objectivo que perseguimos ao longo destes últimos 20 anos foi criar uma urbanização que tivesse espaços interiores, espaços verdes em quantidade, pracetas interiores, onde as pessoas pudessem conviver e circular, porque podíamos ter muitas mais habitações se não tivéssemos criado esses espaços. Depois criámos também equipa-mentos colectivos que permitem às pessoas ter bens de primeira necessidade que permitam rea-lizar, ou resolver pequenas compras do dia-a-dia; criámos um pavilhão gimnodesportivo, onde os jo-vens possam desenvolver actividades de uma for-ma saudável e segura; um jardim-de-infância com creche e ensino pré-escolar, e mais recentemente criámos outras respostas como o estudo acompa-nhado que está a decorrer.”

Além de todas estas respostas à comunidade, foram criadas outras organizações associati-vas, para que o próprio movimento associativo se reproduza. “Ao nível desportivo e recreativo, as actividades funcionam sob a égide do Grupo Desportivo e Cultural da Cooperativa, que é uma sociedade autónoma, com os seus órgãos sociais, mas que tem uma ligação estreita com a coopera-tiva. Para as creches, jardim-de-infância e para as próprias salas de estudo acompanhado foi criada uma outra organização que é também uma outra cooperativa de solidariedade social, a “Mosaico”, que faz um trabalho mais no campo educacional, e é isso que permite ir buscar recursos humanos, mesmo não sendo sócios da cooperativa mãe, são cooperantes por outra via”, sublinha. Criar respostas integradas que sirvam a comuni-

dade é a grande missão desta cooperativa. “O que justifica a nossa continuidade é fazermos sempre mais, para além da construção. Estamos sempre receptivos a dar respostas, para que as pessoas continuem connosco e, apelo para que não se ex-cluam, mesmo quando atravessam dificuldades.”No campo da federação que representa o sector da habitação, a FENACHE, Pedro Tavares criti-ca o trabalho realizado pela instituição, da qual já há muitos anos deixaram de ser associados, “não estamos nesse movimento porque não tínha-mos condições para estar. A federação na minha perspectiva é um reflexo da institucionalização crescente, ou seja, as federações de qualquer mo-vimento, nomeadamente deste, do habitacional não se podem afastar dos filiados, situação que é recorrente”, afirma.

1974 – Gestão democrática 1994 – Integração da Mútua da Sardinha

27 de julho de 1942

27 de julho de 2012

2004 – Cooperativa de utentes de seguros 2000– Alargamento ao cluster do mar

1942 – Constituição

1942 – Constituição

com os pés em terra com os olhos no mar

18

Social Lab 2012

A EficiênciA dA PArtilhA dE SAbErES E rEcurSoS AliAdoS à inovAção SociAlFoi com um “espírito desinteressado” na procura do Bem Comum que se realizou o Social Lab 2012, na Universidade Católica Portuguesa, no Porto. Durante os três dias do encontro, a partilha, o empreendedoris-mo e a inovação social foram as temáticas abordadas através das vozes dos cerca de 140 testemunhos de pessoas e  organiza-ções que relataram experiências nas mais diversas áreas da economia social. A partir destas, houve ainda a formação de grupos de trabalho que deram corpo aos Laboratórios Sociais, cuja amplitude visa essencialmente o desenvolvimento de projectos de interven-ção, investigação, formação e intercoopera-ção na área social. Os participantes soube-ram captar e viver este espírito, sinal muito positivo e revelador do sucesso conquistado pela organização, que promete voltar com a edição 2013. Américo Mendes, professor e promotor do evento é o nosso interlocutor, nesta que foi uma viagem percorrida por um vasto universo social.

Os temas âncora deste Social Lab 2012 foram: a partilha, o empreendedorismo e  a inovação social. O que é que sai deste Laboratório Social, essencialmente, a partilha de saberes poten-ciando a partilha de recursos e boas práticas rumo à inclusão social?Américo Mendes (AM) – O lema deste Social Lab 2012 “Encontro de Partilha e Inovação So-cial” foi plenamente conseguido. Tivemos mais de 140 apresentações cobrindo mais de vinte temas muito variados, com relevância social: aplicações móveis ao serviço da economia social, apoio a ido-sos, a imigrantes, à infância e à família e a pessoas sem-abrigo, associativismo juvenil, criação de bol-sas de recursos e acção social a nível local, projetos e organizações de desenvolvimento local, projetos educativos, educação e cooperação para o desen-volvimento, formação-ação, sistemas de gestão da qualidade e  sustentabilidade de organizações de economia social, marketing social, microcrédito, novas respostas ao desemprego e novas formas de organização do trabalho, responsabilidade social das organizações, saúde, sustentabilidade urbana e voluntariado.Esta diversidade de temas e o facto de serem apre-sentados por pessoas e organizações que, no terre-no, estão a trabalhar no sentido de encontrar novas e melhores respostas para os problemas sociais das suas comunidades, são prova de que a inovação social atravessou todos os dias do Social Lab, até ao seu momento final em que foram anunciadas as candidaturas premiadas no Concurso Social Spin destinado a equipas com ideias para a criação de empresas sociais.As mais de 140 apresentações foram todas feitas numa atitude de partilha (dar-se a conhecer para

partilhar saberes e outros recursos com os demais participantes). Daí resultaram contactos úteis para o desenvolvimento de vários dos projectos que fo-ram apresentados.Do espaço de encontro dos participantes em grupos de trabalho, que foi outro momento importante do programa, resultaram dez grupos que se vão conti-nuar a reunir nos próximos tempos, até ao Social Lab 2013, sobre questões com relevância prática para áreas diversas da economia social, de maneira a chegarem à identificação de boas práticas e ou-tros produtos que possam ser úteis para a resolução dessas questões.

A área social está num momento particular-mente recessivo. Há que cortar sempre mais e mais recursos, mas em contrapartida, há que gerar eficiência criando valor. Que diagnóstico pode ser feito e que respostas, planos de acção podem ser acionados?AM – Boa parte da resposta a estes problemas deverá passar precisamente pela partilha de sa-beres e doutros recursos no seio das organizações de economia social e entre estas e outras organi-zações com as quais haja complementaridades a aproveitar.Sem prejuízo das necessidades que ainda possa ha-ver de construir novos equipamentos, o momento agora é o de aproveitar melhor o que existe dentro e fora de portas. Dar este passo é muito difícil. Por isso, são importantes iniciativas como este Social Lab com o propósito muito claro de incentivar essa partilha de saberes e doutros recursos. Durante o Social Lab foi apresentado um bom número de casos concretos que mostram como se pode conse-guir mais eficiência e melhor qualidade dos serviços

prestados se se caminhar nesse sentido da partilha.

Quais os caminhos para a sustentabilidade das instituições da economia social?AM – A sustentabilidade das organizações de eco-nomia social não deverá passar por caminhos que desvirtuem o que deve ser a sua missão essencial: contribuir para relações sociais mais solidárias dos seres humanos e com o meio ambiente em que vi-vem.A forma como o Social Lab decorreu, com muita simplicidade, sem aparato, dando essencialmente a vez e a voz a quem anda no terreno fazendo o me-lhor que pode e sabe para construir o Bem Comum. Pretendeu-se desta forma promover essa pedago-gia de que é com espírito de serviço aos outros e de partilha, e não através da busca do protagonismo e doutros interesses individuais, que devem passar os caminhos de futuro da economia social.

Que balanço faz aos três dias que marcaram este Encontro e quais os pontos altos que des-tacaria?AM – Ressalvava o facto de muitos participantes se terem despedido de nós dizendo-nos com muita naturalidade “No próximo ano …”. É sinal de que gostaram muito e que querem que esta iniciativa continue.Assim será, ou melhor, assim já está a ser uma vez que os grupos de trabalho que emergiram do Social Lab estão a reunir depois do encontro para con-tinuarem o lab(or) estimulado pelos três dias do evento.O incentivo e a organização destas formas de tra-balho colaborativo que não se resumem aos dias do evento e que prosseguem para lá desses dias, com

Américo Mendes

19

Social Lab 2012

vista à obtenção de resultados úteis para resolver problemas concretos, é o ponto mais alto do Social Lab e uma das suas marcas mais distintivas.

Conseguiram mobilizar mais de uma centena de instituições da família da Economia Social. Distribuídos por várias salas, houve a partilha dos seus testemunhos e das suas experiências no terreno, algumas bem recentes. Da experiên-cia prática à teoria, o que motiva o empreende-dorismo e a inovação social? Tratar-se de um processo contínuo e em constante evolução?AM – Nas motivações para o empreendedorismo e  a inovação social estão presentes duas coisas: a existência de problemas sociais a que é preciso responder de formas que, não enjeitando neces-sariamente o que está a ser feito, pois pretendem contribuir para que se responda melhor a esses pro-blemas e, um espírito de serviço aos outros. Quando não estão presentes estas duas coisas, estes proces-sos degeneram.Procurar caminhos novos para melhorar o que está a ser feito na resposta aos problemas sociais e fazê-lo com espírito de serviço aos outros é coi-sa difícil. Cada uma destas duas coisas, por si só, é difícil. Conjugar as duas ainda mais. Por isso, estes processos não são lineares, e nunca estão acabados.

Os grupos de trabalho dos Laboratórios Sociais continuarão a funcionar. Aliás foi o compromis-so deixado até à próxima edição em 2013. Que expectativas tem para todos quantos estão en-volvidos nos mais variados projectos?AM – Estes grupos de trabalho são uma compo-nente essencial do Projeto Social Lab. É um evento que não se consigna aos três dias e depois acaba, mas que se organiza em formas de trabalho co-laborativo contínuo ao longo do ano. Como cada

um dos grupos que estão constituídos tem por base

problemas concretos e, na sua constituição tem

pessoas motivadas para chegar a soluções para

esses problemas, ajudadas por quem tem estuda-

do esses assuntos, as expectativas são as melhores

quanto ao bom andamento destes grupos e à sua

capacidade para produzirem resultados úteis aos

membros dos grupos, às organizações a que estão

ligados e a outros interessados nesses resultados.

À margem do projecto “Spinlogic” da Univer-sidade Católica recentemente surgiu o “Movi-mento COOLaborACTION”, na Universidade Fernando Pessoa, cujo enfoque é o empreende-dorismo jovem. As instituições de ensino come-çam a perceber que precisam de dar outro tipo de respostas aos seus alunos, para que surjam mais oportunidades na entrada para o mercado de trabalho?AM – O trabalho de apoio à incubação de empre-

sas atualmente organizado no âmbito do Projeto

Spinlogic é uma atividade que, na Católica Porto,

tem mais de 10 anos. É, também, uma atividade

que concretiza um conceito de universidade onde

esta está ao serviço de quem a procura não apenas

para proporcionar formação e só durante o tempo

dessa formação, mas ao longo de toda a vida e em

todas as idades, nomeadamente quando os alunos

terminam os seus cursos e têm ideias de negócio

que querem desenvolver. Se a nossa universidade

achar que pode contribuir para o desenvolvimento

dessas ideias ajuda no que puder. Senão, também

ajuda encaminhando essas pessoas para outras

organizações que lhes possam ser mais úteis. De

referir ainda, que, na Católica Porto, o trabalho de

incubação de empresas não se restringe a alunos

e ex-alunos da própria instituição.

Fale-nos um pouco do site Directório da Eco-nomia Social, um projecto em fase de imple-mentação que reunirá todas as organizações da economia social.AM – Trata-se de um projecto que consiste em disponibilizar num único site na internet, dados do domínio público sobre o maior número possível de organizações de economia social. Esses dados são os seguintes: identificação da organização, forma jurídica, tipo de actividades, endereço, contactos telefónicos, endereço de e-mail e site Web.

Recuando a 2011 e antevendo a edição de 2013 que será mais vocacionada para a tecnologia, como tem sido a evolução de todo este projec-to tão amplo e com enormes potencialidades? Quais os próximos passos?AM – A Área de Economia Social da Católica Por-to foi instituída como área de trabalho colabora-tivo transversal desta universidade em Novembro de 2011 pelo Presidente do Centro Regional do Porto da Universidade Católica Porto. Neste mo-mento esta área integra mais de trinta projectos: ensino superior, pós-graduações, formação avança-da e formação-acção; investigação; projectos de in-tervenção social; promoção do empreendedorismo social e incubação de empresas sociais; promoção e organização do trabalho em rede; educação e co-operação para o desenvolvimento; produção de in-formação de acesso livre sobre a economia social. No ano de 2013, para além de darmos continui-dade aos projetos que temos em curso, contamos iniciar a execução dos que temos em preparação e desenvolver a preparação doutros. Referindo só dois nestas condições, teremos a Cátedra Yunus em Microfinança e Empresas Sociais cujo projeto es-tamos a preparar e o Observatório Social, que nos foi pedido pela Conferência Episcopal Portuguesa.

COHAEMATO

COOPERATIVA e HABITAÇÃOECONÓMICA DE MATOSINHOS, C.R.L.

SEDE: Pct. Eng. Fernando Pinto Oliveira, 69 4450-667 LEÇA DA PALMEIRA - MATOSINHOS

Tel.: 22 995 40 66 - Fax 22 995 60 73 - E-mail: [email protected]

20

Social Lab 2012

“Estamos Em constantE aprEndizagEm”

Numa intervenção que constituiu um dos 140 testemunhos do Social Lab 2012 di-reccionada à área da saúde, encontramos Luís Amorim, presidente da direcção da Liga das Associações de Socorro Mútuo de Vila Nova de Gaia e que, paralelamen-te, se encontra neste momento a tirar a Pós-Graduação na Universidade Católica, acompanhando os novos rumos do dirigis-mo social, que na sua perspectiva é uma ferramenta essencial para a sustentabili-dade das instituições.

“Este Social Lab 2012 é um movimento que

é extremamente necessário. Quero dar os pa-

rabéns à Universidade Católica e ao professor

Américo Mendes por ter desenvolvido e apoia-

do muito este projecto. Estas iniciativas são

cada vez mais necessárias, exactamente, para

que as instituições de solidariedade social ad-

quiram maior visibilidade, mas também para

dar resposta a esta área e à situação difícil que

estamos a atravessar. Aliás, dos projectos apre-

sentados, alguns deles são já vocacionados para

apoiar uma franja de pessoas que passam, neste

momento, por dificuldades muito grandes, que

precisam ter novos horizontes e, sobretudo, que

precisam garantir o futuro. Fundamentalmen-

te, esse futuro é fundamental para todos nós. É

necessário a construção de pontes, porque há

gente com muita capacidade e muito válida nas

mais diversas áreas, e que precisa justamente

de uma oportunidade, porque estão numa fase

da sua vida e da sua idade em que são “novos

para umas coisas e velhos para outras”, admi-

tiu.

Estando num pólo universitário com uma ini-

ciativa de grande envergadura, a promoção do

ensino superior adaptado à realidade é uma

vertente cada vez mais indispensável. “O ensino

superior vem demonstrar interesse em desenvol-

ver esta área o que é por si só extremamen-

te importante. É motivador, alerta e desperta

também alguma motivação principalmente nos

mais jovens para projectos de empreendedoris-

mo. Muitos deles não têm noção da realidade

e da profundidade destas situações e, sendo a

Católica a instituição a alertar e a levar junto

do grande público, quer do público especializa-

do, quer do público estudantil ou até mesmo do

grande público, através dos meios de comunica-

ção social, é uma medida muito interessante e

de salutar.”

Quanto ao caminho da inovação social, o diri-

gente aponta que é actualmente “um caminho

estreito”, mas com futuro. “Vamos andar, va-

mos caminhar, porque o caminho faz-se cami-

nhado. É preciso dar o primeiro passo, e esse

primeiro passo começa a ser dado e é um facto

de enaltecer, pois acabam por ficar criadas to-

das as condições para que esta gente jovem, que

começa a demonstrar querer trabalhar nesta

matéria, possa ir muito longe.” Observando esta

disponibilidade para ajudar a resolver algumas

das questões que são postas à sociedade, à eco-

nomia, concretamente à economia social.

A formação na área da economia social é uma

outra grande faceta, à qual cada vez mais é ne-

cessário recorrer para garantir a sustentabili-

dade das instituições que formam o sector. Daí

ter-se demarcado um público diversificado não

apenas o jovem, mas também os dirigentes das

instituições sociais. “Para quem está ligado ao

dirigismo social e, isso foi bastante referenciado

ao longo destas jornadas de trabalho deste So-

cial Lab, é extremamente necessário virmos às

instituições e também participar neste tipo de

actividades, isto é, adquirir ferramentas e com-

petências que muitas das vezes não as adquiri-

mos na ‘escola da vida’, nem nas relações com

as nossas instituições. De facto, mais do que um

apelo à formação é um reforço das nossas com-

petências. Portanto, espero que mais dirigentes

das associações venham frequentar este tipo de

formações. Estamos em contante aprendiza-

gem. Todos os dias ouvimos coisas interessantes

e há pessoas que estudam tudo isto, muito apro-

fundadamente e que depois faz naturalmente

essa transmissão de valores, de conhecimen-

tos e nós vimos cá absorvê-los, para depois os

adaptarmos às nossas realidades, porque cada

uma delas é completamente diferente. Além do

enriquecimento pessoal, é também depois uma

mais-valia que levamos para transmitir aos de-

mais das nossas instituições”, refere.

E como a formação vai mais além do que a pró-

pria transmissão de conhecimentos, Luís Amo-

rim confessa que ter um professor de referência,

como o é Américo Mendes é um grande estímu-

lo, para todos quantos privilegiam dos seus en-

sinamentos. “O professor é um líder nesta área.

É com toda a certeza o porta-bandeira na área

da economia social. É uma referência a nível

nacional. Para mim é um grande orgulho tê-lo

como professor e conhecê-lo pessoalmente. Ele

próprio enriquece o curso de economia social e

é o motor de todo este evento. Para nós mutua-

listas, especificamente para os que estão ligados

ao dirigismo social é com muito gosto que tra-

balhamos com personalidades desta craveira.”

Luís Amorim

“Movimento Freguesias Sempre” liderado por Pedro Sousa

22

FRIGOMATO S.A.

“O presente é um pOucO dO passadO prOjectadO nO futurO”Criada em 1951, a Frigomato esteve sempre vocacionada para o apoio à ac-tividade piscatória. Enquanto esteve sedeada em Matosinhos dedicava-se ex-clusivamente à fabricação de gelo para a congelação e conservação dos produtos da pesca. Esta actividade manteve-se du-rante muitos anos, até que em finais da década de 1980 começou a decair com o encerramento das conserveiras que eram os principais alvos do produto da pesca. Também a própria redução significativa de barcos de pesca, que saíam para o mar teve uma influência directa na actividade da empresa, que para criar sustentabili-dade teria que redefinir a sua estratégia de mercado para criar uma economia de escala, o que aconteceu em 1999, quan-do um empresário matosinhense ligado ao sector adquiriu a Frigomato, pondo cobro à instabilidade vivida nos anos 90. Actualmente, a Frigomato assume-se como uma referência no norte do país e está amplamente vocacionada para solu-ções integradas na actividade logística de temperatura controlada, armazena-gem e distribuição de produtos alimen-tares, para isso muito contribuíram as novas e modernas instalações dotadas da melhor tecnologia, nas quais se en-contram desde 2007, em Vila do Conde e, onde dispõem de um posicionamento geográfico privilegiado, ao situarem-se junto ao Porto de Leixões, ao Aeroporto e aos principais eixos rodoviários.

Como caracteriza a empresa e qual o papel do mercado internacional nesta actividade e que potencial de negócio tem para a Fri-gomato?Eduardo Lopes (EL) – O mercado internacio-nal é sempre um potencial mercado por uma razão muito simples, todo o sector alimentar hoje é sustentado essencialmente por empre-sas externas. Infelizmente, a actividade indus-trial não só nos nossos sectores, mas também no sector alimentar tem vindo a padecer bas-tante e, cada vez mais, o que entra nas cadeias de distribuição alimentar são produtos estran-geiros. Portanto, existe uma necessidade de recorrer à prestação de serviços, quer de ar-mazenagem, quer à actividade logística. Cada vez mais, há esta necessidade e nós estamos cá para lhes dar resposta. Funcionamos como uma plataforma giratória e servimos de pon-te de passagem de produtos que passam por aqui e depois são distribuídos para a grande distribuição. O mercado externo é deveras in-teressante.

Na área de distribuição é mais complexo, por-que exige recursos que nós não temos pois são bastante dispendiosos, por isso optamos por estabelecer parcerias com algumas empresas no sentido de potenciarmos o nosso negócio.Há um caminho muito longo para percorrer nesta actividade logística e de temperatura controlada em Portugal. Confesso, que esta-mos muito atrasados relativamente ao que vem sendo feito na Europa em relação às infra-estruturas e meios tecnológicos. Mes-mo assim, a Frigomato cresceu imenso nesta matéria com as novas instalações. A própria tecnologia que dispomos está ao nível das me-lhores empresas europeias. Falta-nos agora acompanhar essas infra-estruturas e tecnolo-gia, apostando na formação contínua dos nos-sos recursos humanos. O nosso crescimento tem sido algo cauteloso, mas com qualidade e isso deve-se também a todos os que cola-boram connosco. Há uma interacção enorme entre colaboradores internos e externos e, é esse factor humano que nos tem permitido um crescimento coeso.

O sector cooperativo tem feito algumas fu-sões tendo em vista resistir e até crescer. Esta não seria uma boa alternativa para as empresas nacionais que se vêem obrigadas a fechar?EL – Não especificamente. Quando Portugal aderiu à União Europeia achei sempre que a nossa reduzida dimensão só nos poderia permi-tir competir com o mercado se nos associásse-mos. Essa é uma questão indiscutível porque o tecido empresarial português é dominado por micros e pequenas empresas. Só que a partir do momento em que Portugal aderiu à U.E. nós passamos a ter a concorrência a entrar no nosso mercado numa exigência que não tí-nhamos até aí. Por isso, considero que o tecido empresarial deve ser cada vez ser mais forte associando-se. Na Frigomato, os accionistas são associados que pertencem ao sector dos produtos con-gelados, ainda que pertencentes a um sector específico, o sector do pescado. Associando-se é mais fácil competir, pois concorremos dia-riamente com empresas de grande dimensão

Eduardo Lopes

23

FRIGOMATO S.A.

mesmo no sector da actividade logística, os grandes operadores em Portugal são os que têm capital estrangeiro e estes, trazem uma experiência que as empresas portuguesas não têm. Não tenho dúvida nenhuma de que se con-seguirmos associarmo-nos, não só no sector da actividade logística, mas em toda a actividade económica de uma forma geral, que consegui-remos criar empresas mais sólidas e de maior dimensão, tornamo-nos mais competitivos e podemos reagir de uma forma mais competen-te perante o mercado.

Os Frigoríficos de Matosinhos – a Frigoma-to – e Matosinhos formam duas histórias que se cruzam, mas que acabam separadas?EL – Matosinhos para a Frigomato não mor-reu, porque foi aí que teve a sua origem e este-ve durante muitos anos. O primeiro esforço que fizemos no momento em que procuramos uma solução alternativa, fizemo-lo junto da Câmara de Matosinhos, no sentido de saber se projec-tavam a criação de um parque industrial. Este parque industrial, onde nos localizamos neste momento, foi feito com muito esforço pela Fri-gomato. Ao longo dos anos, Matosinhos foi perdendo a sua força industrial. A própria cidade em si, onde estava concentrada a actividade de conservas foi morrendo, os pequenos parques industriais que iam existindo no concelho em Leça do Balio, S. Mamede de Infesta, onde es-tavam sedeadas empresas com uma certa im-portância e de referência como a UNICER e a EFACEC foram-se perdendo. A resposta da Câmara, na altura presidida por Narciso Miranda, foi completamente sur-

preendente, não havia qualquer planeamento

que projectasse um parque industrial. E, nem

sequer nos ofereceram qualquer tipo de apoio

ou alternativa que nos permitisse continuar em

Matosinhos. Tivemos que procurar uma solu-

ção que passasse por uma localização privile-

giada junto do Porto de Leixões, pois sabía-

mos que iria ter a projecção e importância que

tem hoje. Sabíamos a importância da proxi-

midade ao aeroporto, porque a nossa activida-

de logística é diversificada e envolve todos os

meios, quer por via terrestre com os veículos,

quer por caminhos-de-ferro, quer por via ma-

rítima, quer por via área, utilizando todos os

meios de transportes para actividade logística

e portanto precisávamos de uma localização

privilegiada.

Considero que Matosinhos podia ter oferecido

isso. Como não o fez estamos numa localiza-

ção limítrofe entre Matosinhos e Vila do Con-

de, logo a nossa actual localização forma um

enquadramento geograficamente privilegiado.

Obviamente que não somos alheios ao nosso

percurso histórico e, Matosinhos está e estará no coração da Frigomato para o resto da vida, pois passou mais de 50 anos num concelho onde teve uma certa importância. Não pode haver um corte com a história, como costumo dizer “o presente é um pouco do passado pro-jectado no futuro” e nós não seríamos nada hoje se não tivéssemos aquilo que se passou na nossa história. Faz parte da nossa essência trouxe-nos mais de 50 anos de experiência, que não podem ser esquecidos. Ainda hoje se ape-lida Frigoríficos de Matosinhos, embora este-jamos sedeados em Vila do Conde. Porém, não escondemos também a satisfação no acolhi-mento extraordinário que tivemos por parte da Câmara Municipal de Vila do Conde, que pres-tou à Frigomato sempre a maior colaboração, digna de registo, permitindo-nos o desenvolvi-mento da nossa actividade com a maior fle-xibilidade, com a maior abertura, aliás, o que deveria acontecer de uma forma generalizada quando alguém quer fazer um investimento, in-dependentemente de ser directo ou não.

Nestas sofisticadas instalações, têm a pos-sibilidade de acolher outras empresas, fun-cionando como uma espécie de incubadora de empresas, mas na mesma área de negó-cio?EL – Nós temos um pequeno espaço empre-sarial nas nossas próprias instalações para arrendar a empresas. Temos uma zona de es-critório, ao qual chamamos “escritório de alu-guer” para empresas que queiram optar por ter aqui os seus escritórios. Isto é, dá-nos a nós a prestação de serviço na área de armaze-nagem, logística e distribuição e permite-nos uma maior proximidade no respeitante à acti-vidade dos serviços administrativos. Funciona, no fundo, como um pequeno centro empresa-rial.

24

Junta de Freguesia Espírito Santo

“Para Pagar somos contribuintes, Para usufruir não o somos”

“Só peço que olhem mais pelo interior, não façam das pesso-as números, façam delas o que elas são: pessoas. Pessoas que pagam os seus impostos, que têm os seus direitos e os seus de-veres. Queremos igualdade nos direitos como qualquer cidadão dos grandes centros urbanos, desde saúde, transportes públicos, ensino, lá têm tudo e nós aqui não temos nada”, apela Fernando Marquês, presidente da freguesia do Espírito Santo, Nisa.

Dividindo a sede concelho com a freguesia de Nossa Sra. da Graça, quais as suas preocupações?Fernando Marquês (FM) – Em termos de densidade popu-lacional a freguesia do Espírito Santo é a maior da sede de concelho. O nosso maior problema prende-se com os caminhos vacinais, que correspondem a cerca de 256 km e, para fazer a manutenção disso é muito complicado, a freguesia de Nossa Sra. Graça também tem mais de cem km de caminhos vacinais,

só que o município não nos ajuda, há três anos. Temos que tentar arranjar soluções sem ajuda nenhuma. Ao nível do concelho, quem está mais próximo da população são os presidentes de junta. Depois com o sucessivo encerramento das nossas valências em várias áreas e em virtude de sermos uma freguesia de interior, se as freguesias acabarem, as pessoas vão ficar muito desprotegidas e marginalizadas. O Alentejo acaba por ficar cada vez mais isolado e os grandes centros, cada vez com mais população e qualquer dia nós queremos uma pessoa numa freguesia e não a temos cá. Dentro do concelho a população é muito envelhecida, a população mais jovem maioritariamente trabalham fora e vêm pernoitar a Nisa, acabamos por ser uma vila dormitório.Tínhamos um hospital que foi já de referência, dentro da freguesia do Espírito Santo, e hoje dispo-mos de um centro de saúde que quando chega a meio da tarde, ou ao fim de semana está fechado. E num concelho com gente muito idosa, quando é preciso recorrer à saúde é muito complicado transferi-los daqui para Portalegre. E nunca sabemos quando chegará o fim do Hospital de Porta-legre, que é o que mais tememos. Com a chegada da Troika ainda pior. A Troika não disse que era para extinguir freguesias, mas municípios. Também há-de chegar o tempo dos municípios e aí, vão querer o apoio das freguesias.

Há alternativas para a fixação de população em Nisa?FM – Sim, se o governo não centralizasse tudo nos grandes centros urbanos, e mesmo nesses já encerram alguns serviços. A regionalização seria uma hipótese viável para desenvolvermos a região do Alentejo. Talvez a intenção seja fechar o interior do país e fazer dele um deserto.

Neste tipo de territórios, sente-se a falta dos Governos Civis, sentem-se a lutar sozinhos contra esta reforma?FM – Ao contrário do que muitas pessoas dizem, eu penso que sim, porque ao introduzirem a Pro-tecção Civil, os custos provavelmente serão mais elevados. E, os Governos Civis desempenhavam uma função meramente civil, não tinham qualquer conotação política e, quando havia algum proble-ma ao nível das freguesias faziam reuniões connosco e ouviam os nossos problemas. Contudo, por outro lado, a Anafre tem-nos dado uma ajuda muito grande ao nível logístico. Pertenço ao Conselho Geral e à Delegação de Portalegre há muitos anos. Temos feito tudo para que não haja nem extin-ção nem junção de freguesias, mas a partir do momento que existe a Lei, nós mostramos o nosso descontentamento, mas a lei está feita. E devo dizer que pela maneira como estão a fazer as coisas, qualquer dia querem pessoas para serem eleitas no interior e, com a desertificação não vai haver gente para concorrer nem às câmaras, nem às Assembleias de Freguesia. Em termos camarários não saiu ainda qualquer documento com uma posição. Temos apenas a posição da assembleia muni-cipal, a posição da nossa assembleia de freguesia e do nosso executivo que somos contra a extinção e fusão de qualquer freguesia do nosso concelho.

Esta Lei 22, também pode ser denominada por “Lei Relvas”?FM – O senhor ministro vive numa cidade em que tem tudo à mão. Dispõe dum vencimento que lhe permite ir a uma clínica particular se precisar ser atendido, nós no interior não temos capacidade para isso, nem meios financeiros, nem sequer uma instituição local ao alcance para recorrer. Para fazermos alguns exames temos que ir para o Hospital Distrital, muitas vezes para hospitais centrais para Lisboa ou Évora. Portanto, o senhor ministro, quando quiser fechar os serviços devia vir viver para o interior durante um tempo averiguar as dificuldades por que os municípios e freguesias passam. Nós no interior o que temos? Nada. Para pagar somos contribuintes, para usufruir não o somos. Somos considerados números e não pessoas. Qualquer político da Assembleia da República, devia ser obrigado a passar numa junta de freguesia, para saber o quanto custa o nosso trabalho, mas a escola da vida vale muito, mas só para alguns.

Fernando Marquês

os Valores e as tradições são dos nisenses

O Partido Socialista em Nisa tem vindo ao longo dos úl-timos anos a denunciar os caminhos que estão errados, apontando o que poderia ser feito de diferente e apresen-tando soluções perante o que lhe é possível. Nos órgãos próprios, através dos seus eleitos, bem como nos meios de comunicação ao dispor, o PS tem incansavelmente mostrado a sua intransigên-cia quanto à inércia a que o concelho está votado pelos eleitos municipais da CDU e

ao ataque do poder central em relação a concelhos do interior como o nosso, encerrando instituições e promovendo o Povo à mais pura insignificância. Os Nisenses estão assim dependentes da vontade de quem tem o poder, restando-lhes defender com unhas e dentes aquilo que é seu, nomeadamente os seus valo-res e as suas tradições com séculos de existência. Nesse sentido, e muito recentemente, em defesa do mais nobre do nosso Alto Alentejo, a Câmara Municipal de Monforte, entre outras Câma-ras e Assembleias Municipais, tomaram a iniciativa de colocar à consideração dos seus eleitos a possibilidade de classificar a Tau-romaquia como “Património Cultural e Imaterial de Interesse Municipal”. Saliente-se aqui que, tanto em Monforte, como por exemplo na capital de distrito, as propostas foram apresentadas pelos representantes do PS nos respectivos órgãos. Sem grande estranheza, os motivos invocados foram não só defender a nossa cultura e identidade, mas também salientar a importância de tudo o que a actividade tauromáquica envolve, em termos socio-económicos, nomeadamente num distrito que se apresenta como o mais empobrecido do país. Mais recentemente ainda, no último Conselho Executivo da CIMAA – Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo, a mesma proposta foi aprovada por unanimida-de, atingindo assim a dimensão supramunicipal ou até mesmo regional. Numa primeira análise, e aproveitando a existência de socialistas em Nisa esclarecidamente aficionados, foram encon-tradas mais de 40 pessoas e/ou entidades associadas com liga-ções directas à tauromaquia, sem contar aqui com o grau de em-pregabilidade que ainda proporcionam. E é aqui que está o cerne da questão. Não só o investimento na reabilitação de praças de touros, como a de Nisa ou de Alpalhão, transmite a continuidade de tão nobre arte, como tudo o que gira à sua volta poderá ser factor de dinamização socioeconómica do próprio concelho de Nisa, mais um motor para o tão necessário desenvolvimento sus-tentável. Ainda numa outra visão mais “verde”, e como exemplo, a manutenção do habitat do cavalo ou do touro de lide, faz com que se preserve todo o meio ambiental e ecológico que o envolve. Colocando de lado a fundamental liberdade dos cidadãos num Estado democrático, há por aí alguns “pseudo-defensores” das boas práticas humanas, que se esquecem que quando o cavaleiro João Moura ou o Grupo dos Forcados Amadores de Portalegre se deslocam a Nisa, não precisam de fazer mais de 400 kms para se dirigirem a um local desconhecido, até porque estão a pouco mais de 30. E desses “pseudo-defensores”, com a devida cortesia e sem uso de estoque, há ainda aqueles que consideram que a violência doméstica é muito mais natural do que ir com toda a família ver uma boa corrida de touros.

Marco António OliveiraPresidente da Assembleia

de Freguesia do Espírito Santo [Nisa]

Marco Oliveira

25

“Se a terra já é pobre, maiS pobre fica!”

montalvão: de município a fregueSia

Junta de Freguesia Santana Junta de Freguesia Montalvão

“Inicialmente não estava prevista a nossa extinção, mas depois…” A incógnita permanece para Francisco Boleto que cumpre o último e tercei-ro mandato “sempre com maioria” à frente da freguesia de Santana. É um presidente feliz e realizado por ter estado tantos anos ao serviço da população, um reconhecimento que é sentido. “Sempre que passo pelas pessoas, todas elas me tratam bem. É um sinal muito positivo.” “Não vou poder candidatar-me mais se-gundo a Lei de Limitação de Man-datos. É uma lei que deveria ter ou-tros contornos, não devia ser uma lei

imposta. O povo devia ter uma palavra”, considera. Em reacção à Lei da Re-forma Administrativa explica “também esta lei que vem extinguir freguesias, julgo ser uma lei que vem estragar o bom serviço que prestamos e do qual as pessoas usufruem, além de que vamos regressar ao passado ficando cada vez mais sem meios e completamente isolados à semelhança de todo o interior. As pessoas vão ficar muito prejudicadas, não falo apenas da minha freguesia, por-que todas elas vão ficar limitadas, cada vez mais pobres, pois as acessibilidades são também ainda muito fracas. As pessoas, obviamente que ficam muito des-contentes, não aceitam. E a própria câmara é contra a extinção, só que deveria formalizar melhor a sua posição, discutindo e lutando mais pelas freguesias do concelho”, remata. Quando a freguesia nasceu existiam 1200 habitantes, hoje restam cerca de 400, Francisco Boleto está muito preocupado com o futuro. “Como isto está, Santana vai ter um futuro difícil, porque a população está com bastante idade, restam-nos alguns jovens que vão permanecendo, por-que abriu uma empresa muito próxima da freguesia, o que acabou também por fixar alguma população.” A crise e o desemprego são graves problemas que sentem. “Há alguns casos delicados, mas como cada um vai tendo a sua própria horta, fome é garantido que não passam.” Traçando um breve enqua-dramento do trabalho na freguesia e dos projectos já desenvolvidos, o autarca refere que estão a tentar terminar a construção duns sanitários, mas têm sido impedidos. “Há algum tempo que estão para ser implementados. A própria presidente da câmara defende o senhor que não quer os sanitários ao pé de casa dele. A junta já gastou imenso dinheiro para a legalização do terreno, que nos foi cedido pela igreja, só que o senhor continua irredutível na sua posição de não querer os sanitários junto à sua habitação. Tem-me dado muitas dores de cabeça. O projecto está parado e é uma vergonha, as pessoas questionam-se para quando o final da obra, só que não avança”, lamenta, adiantando que “a licença camarária já foi solicitada há mais de um ano, para se avançar com a obra, só que até hoje não obtive resposta”, realça. “O multibanco que está na sede da junta foi algo que introduzimos e que muito veio beneficiar a popu-lação. Construímos também o Largo do Pelome, antes era apenas um abrigo pequeno. Entretanto coloquei lá uma mesa e alguns bancos. Hoje, é um espaço de convívio, onde as pessoas passam o seu tempo. À tarde juntam-se lá, cerca de 20 a 30 pessoas.” Durante o ano vão sendo realizadas várias actividades, como a reparação de caminhos, limpezas viárias, inclusive, adquiriram uma máquina para fazer essa limpeza. “Prestamos os serviços que nos solicitam e as situações que vão surgindo vão sendo alvo de reparação ou de uma outra resposta.” Com 53 anos, o cinquentenário da freguesia foi comemorado com uma grandiosa festa que coincide com as festas de Santana, a padroeira que baptizou a própria freguesia. Este ano, comemora-se de 17 a 20 de Agosto.

Montalvão já foi concelho, mas com o liberalismo, os municípios de Nisa e Montalvão fundiram-se, dando lugar ao concelho de Nisa, onde Montalvão se integra enquanto fre-guesia. Reza a história que o Floral de Montalvão foi entregue há preci-samente 500 anos, tendo sido a 12 de Maio de 2012 descerrada uma placa comemorativa, por D. Duarte Pio, Duque de Bragança.Com a Praça de Touros mais antiga do país, que data de 1933, diz-se que demorou dois anos a ser erguida. Na celebração das festas da padroeira da nossa Sra. dos Remédios, manda

a tradição que, em Setembro, haja uma corrida de touros.Em área é a maior e a freguesia mais a norte do concelho de Nisa, fazendo fronteira com Espanha. Dos censos em 1950 contavam-se 4000 habitantes, hoje restam aproximadamente 300.A cumprir o primeiro mandato, António Belo, o seu trabalho tem-se destinado à recuperação do edificado, trabalhos de calcetamento, alcatroagem dos cami-nhos vacinais e à limpeza das ruas da freguesia, que tanto o orgulha.Com uma população extremamente envelhecida, os serviços dedicam-se-lhes em exclusivo procurando dar respostas às suas preocupações, ajudando-os no pagamento das facturas do mês, “assim não precisam deslocar-se a Nisa, nós tratamos-lhes de tudo, levando o dinheiro e fazendo os pagamentos. Os trans-portes são deficitários. Vem um médico duas vezes por semana. E, a outra po-voação de Montalvão, Salavessa, como está mais isolada é muito prejudicada “, critica António Belo.O futuro é encarado com alguma apreensão. “Não há trabalho para o pessoal jovem, abalam todos e a população mais idosa vai, inevitavelmente, partindo”, comenta.Ao nível da reforma administrativa, não está prevista a extinção da freguesia, no entanto, o autarca concorda com a fusão das freguesias da sede de con-celho, “não faz sentido existirem as duas”, diz. Não obstante, acautela que há muitos casos de povoações que não deviam ser extintas ou fundidas, pelas características de cada território, que na sua perspectiva não estão a ser devi-damente contempladas na Lei 22.Turistas estrangeiros e nacionais são atraídos à freguesia para fazerem os Per-cursos Pedestres, “Trilhos do Moinho Branco” e “Entre Azenhas”, verdadei-ros encontros com a natureza que demoram horas a percorrer e, que António Belo acompanha, servindo, muitas vezes, de guia.Durante o verão decorre um ATL para 15 jovens dos 2 aos 18 anos, com algu-mas visitas a locais paradigmáticos da região, bem como algumas actividades. Já com os seniores promovem durante todo o ano aulas de ginástica, natação e o ensino de informática.

Francisco Boleto

“Na freguesia existem seis fornos comunitários onde se coze bem o pão e bolos; uma barca manual que faz a travessia das pessoas para os comboios, com paragem na Estação de Caminhos Ferro do Fratel; a Associação de Caça e Pesca de Santana, o Centro Social e Centro de Dia de Santana, o Grupo Desportivo de Santana e, dois restaurantes onde se come uma boa sopa de peixe e lampreia.”

Duma varanda ao pé da sede da junta de freguesia avistam--se alguns retratos de persona-lidades. Da literatura, à música, religião ou à política nacional e internacional, João dos Remé-dios, como é conhecido, tem na sua oficina um vasto espó-lio de retratos feitos à mão em ferro. Um septuagenário e um artista com um vasto tesouro, que um dia espera que venha a ser desvendado numa unidade museológica, em Montalvão.

António Belo

26

JF Santa Marinha - Vila Nova de Gaia

Um Dia De excelência e De confraternização Social

No ano em que se comemora o Ano Euro-peu do Envelhecimento Activo e da Soli-dariedade entre Gerações 2012, a fregue-sia de Santa Marinha cumpriu a tradição e, pelo 11º ano consecutivo proporcionou um dia diferente aos cerca de 700 idosos que participaram num passeio a Porrinho (Espanha) e Vila Praia de Âncora.

No dia do município de Vila Nova de Gaia, 28 de Junho, os mais idosos foram presenteados pela sua freguesia com um passeio destinado essen-cialmente ao convívio. De vários pontos da fre-guesia saíram 13 autocarros, para oferecer um dia diferente àqueles que muitas vezes apenas têm por companhia a solidão.Pelas 10 horas foi celebrada a missa na Igreja de Santa Maria, em Porrinho, cuja padroeira é Ima-culada Conceição, pelo padre António Baptista, que relembrou os doentes que não puderam estar presentes “neste dia diferente de celebração pro-porcionado pela freguesia de Santa Marinha.” A eucaristia contou com a presença do vice--presidente do Concelho de Porrinho, Jose Váz-

quez que recebeu como presente, uma garrafa de Vinho do Porto, vinho que já conhecia e disse apreciar muito. Quanto à visita referiu a “ópti-ma relação entre os dois países” e a importância deste tipo de iniciativas “é muito importante que estas pessoas nos venham visitar, mesmo sendo um número tão elevado de pessoas. Habitual-mente, já recebemos muitas pessoas por causa dos Caminhos de Santiago. São na sua maioria portugueses, contudo, todos os nossos visitantes serão sempre bem recebidos por serem tão im-portantes para nós”, realçou.De volta aos autocarros, o destino era a Quinta do Cruzeiro, em Vila Praia de âncora, onde seria servido o almoço, mas antes um percurso a pas-seio pela orla marítima, via Baiona, Oia, Rosal e, já em território luso, Vila Nova de Cerveira, Caminha e Vila Praia de Âncora.Já na Quinta do Cruzeiro, o destaque para as pre-senças do Secretário de Estado da Solidariedade e da Segurança Social, Marco António Costa que fez questão de marcar presença pela amizade que nutre pela freguesia e seu presidente, tam-bém da vereadora de Acção Social do município de Gaia, Amélia Traça e do presidente da Assem-

bleia Municipal de Gaia, César Oliveira.Este é o último mandato de Joaquim Leite, pre-sidente da freguesia de Santa Marinha, no en-tanto, o autarca espera poder estar presente no próximo ano, para mais um convívio da terceira idade “vou partir consciente do dever cumprido, ciente de ter correspondido aos votos que me de-ram. É esta a nossa forma de governar, cumprir um plano de actividades que levaremos até ao fim”, assegura. Para Joaquim Leite, apesar dos constrangimentos orçamentais, as instituições de acção social serão sempre alvo de atenção re-dobrada “subsidiamos tudo quanto é necessário, apesar das dificuldades que existem.”“Esta confraternização é a melhor coisa que po-demos ter na área social, dos nossos idosos. É um dia de reencontro, de convívio, é um dia que queremos que não desapareça desta freguesia”, afirmou.César Oliveira alertou para a importância da promoção do apoio domiciliário em V. N. Gaia, para que haja uma “retaguarda” que dê seguran-ça a todas as famílias gaienses. Defendeu ainda, que este tipo de iniciativas com os idosos, não são despesistas. “Estas são actividades de um patamar muitíssimo elevado. Faz com que ami-gos se encontrem todos os anos. É uma iniciativa de solidariedade. É um investimento nas pessoas. Não cortemos com este serviço. Não há nada melhor do que as pessoas e do que as famílias portuguesas”, concluiu.Durante a tarde, vários artistas locais de Santa Marinha animaram com a sua música os presen-tes, entre eles Teresa Regodeiro, a fadista Flor-bela Moreira, Aida Arménia e Nelo Silva, que é também elemento deste executivo. As forças vivas da comunidade de Santa Mari-nha, também foram convidados de honra, vários dirigentes e elementos de direcção representa-ram o associativismo local.Foi com o tema “Vou levar-te comigo”, interpre-tado por Nelo Silva, que se encerrou um dia dife-rente para todos aqueles idosos que responderam ao convite solidário e fraterno da sua freguesia.

28

Debate - “Extinguir Freguesias – Uma verdadeira Reforma do Território?”

“Ensaio” sobrE a cEguEira?

Antecipando a Manifestação contra a ex-tinção de freguesias em Barcelos, agen-dada para o dia de Portugal, no âmbito da programação da III edição Feira do Livro de Leça da Palmeira, realizou-se o debate “Extinguir Freguesias – Uma verdadeira Reforma do Território?”, o primeiro deba-te público após a promulgação da Lei da Reforma Administrativa.

Promulgada a 30 de Maio, a Lei da Reforma Administrativa Territorial Autárquica, eis que surge a primeira sessão pública de debate e dis-cussão desta lei. Presentes estiveram Cândido Moreira vice-presidente da Associação Nacio-nal de Freguesias (ANAFRE), João Avelino Vi-ce-Presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local (STAL), o Professor Rio Fernandes, Geógrafo do Centro de Estu-dos de Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT) e, enquanto anfitrião, o autarca Pedro Sousa, membro do Movimento Freguesias Sem-

pre e Presidente da Junta de Freguesia de Leça da Palmeira, a moderar o debate, a jornalista Cláudia Costa da RDP-Antena 1.Em campo assinalaram-se duas baixas, figura-das nas “ausências injustificadas” dos grupos parlamentares do PSD e CDS-PP, promotores desta polémica reforma em Setembro último e, a quem foi feito o convite para este debate. A bola esteve, portanto, do lado de quem sen-te esta Reforma Administrativa na pele e tenta defender a sua baliza e a sua bandeira, o “Movi-mento Freguesias Sempre” que se insurge pela “raiz de um povo”, como reconheceu Pedro Sousa. Das “ausências injustificadas” a grande ques-tão dissertada foi a imposição “injustificada e desconcertada” desta lei que coloca os municí-pios como os principais responsáveis pelo futu-ro das freguesias portuguesas.“Só ama quem conhece”, proferiu o dirigente da Anafre, Cândido Moreira, indignado e con-tra “esta reforma”, que na sua leitura deve-

ria emergir de “estudos concretos no terreno” e não como uma “extensão” da reforma que começa a dar os primeiros passos, em Lisboa. “Há que revisitar a história”, aludiu, referin-do: “houve um período de reformas onde só se mexeram nos municípios, as freguesias manti-veram-se”. Presente na reunião com a Troika assegurou que era possível protelar a reforma administrativa por mais tempo, “a Troika não se opôs, a imposição foi mesmo do governo”, afirmou, antevendo as providências cautelares que decorrerão da anticonstitucionalidade que a Lei 22 apresenta.João Avelino, do STAL, discorda desta lei en-quanto factor impositivo e observa, “como não têm ainda força para ir às câmaras municipais, vão às freguesias”. “Todo este processo pode trazer o despedimento de muitos trabalhadores do poder local. Eles são os rostos das fregue-sias, são os que se mantêm, mesmo quando mu-dam os executivos.” Quanto, à lei da mobilidade subjacente, defende que será outro prejuízo,

29

Debate - “Extinguir Freguesias – Uma verdadeira Reforma do Território?”

para os trabalhadores e respectivas famílias. O vice-presidente criticou também o “timing”, no qual decorre o processo, os meses de verão, pas-síveis de envolver algumas “distracções.”Do ponto de vista académico, a sensibilidade do professor Rio Fernandes, aponta a percepção que tem do valor do território, uma vez que é este que confere a identidade das pessoas. “É atrevimento a mais mexer com o nome das ter-ras. As pessoas ainda não se deram conta do que vai acontecer”, referiu. Para o geógrafo, a reforma foi feita “ao contrário” começando pelas freguesias, as “mais fracas”, sinal que revela uma “democracia enfraquecida” e uma “dependência político-partidária.” “Isto não é uma reforma, é uma birra!” reforçou, expres-sando que há um “apoio envergonhado” e que a ausência dos dois grupos parlamentares é ex-plícita “não vieram, porque não têm nada para dizer. Não está a ser feita reforma nenhuma e desaparecem freguesias para nada,” frisou.Neste sentido, Cândido Moreira diz que é neces-sário um real planeamento do território e não propriamente uma reforma administrativa. Re-fere ainda que “não é possível que a freguesia, nem o município ganhem escala com esta refor-ma. Aliás, se todas as freguesias concordassem com as fusões, onde se iria buscar o dinheiro que a majoração de 15 por cento prevê, quando as verbas transferidas do orçamento de estado para as freguesias têm vindo a ser sucessiva-mente reduzidas?”, questionou, lembrando que as eleições autárquicas são já no próximo ano.Várias providências cautelares podem ir adian-do sucessivamente esta reforma. “Está aqui um nó cego enorme. E a lei promulgada não é suficientemente clara, especificamente no res-peitante ao Artigo 5º, em que há várias inco-erências e omissões quanto ao que é a malha urbana, o título de cidade ou freguesia em sede município…” descreve o autarca Pedro Sou-sa. “Este é um governo que usa e abusa duma maioria parlamentar”, afirma, avançando que o concelho de Matosinhos não vai apresentar alternativa ao mapa existente. Nesta matéria, a “esperança” de Cândido Mo-reira vai mais longe: “será uma reforma exclu-siva do governo. A Anafre não vai integrar a Unidade Técnica para a Reorganização Admi-nistrativa do Território (UTRA). Por outro lado, a minha esperança é ainda estatística, temos o indicador que ronda os 70 por cento, em que os municípios rejeitarão a agregação, fusão das suas freguesias. Assim, a Assembleia da Repú-blica não terá matéria para trabalhar, um perigo que se assume e assiste para o próprio PSD”, indica.O recurso às instâncias judiciais europeias, a que não é alheia a Carta Europeia da Autonomia Local, não está posto de parte, enquanto último trunfo a jogar. Segundo o documento subscrito

“PSD foge ao debate com a população”

Foi esta a reacção do autarca Pedro Sou-sa, anfitrião do debate que promovia sobre a Reforma Administrativa. Lamentando a ausência injustificada dos Grupos Parla-mentares do CDS-PP e do PSD, o membro do Movimento Freguesias Sempre garantiu a confirmação da presença do deputado Michael Seufert (CDS-PP) no debate, que não apareceu nem apresentou qualquer jus-tificação. No respeitante ao convite efectu-ado ao PSD, este referiu que inicialmente foi demonstrada disponibilidade e interesse na participação no debate. Não obstante, a confirmação de presença ao convite enviado não se concretizou. “Acredito que não seja fácil defender a proposta do Sr. Ministro Miguel Relvas mas haja, pelo menos, sentido de Estado e coragem política para assumir as consequências dos actos que se tomam em nome dos Portugueses”, disse o autarca, considerando que “os Grupos Parlamentares do CDS-PP e PSD não estiveram à altura das suas responsabilidades. Enquanto de-putados da Nação, deveriam respeitar as instituições e os Portugueses. Até porque fazer leis a partir do Terreiro do Paço é fá-cil, mas encarar os milhares de cidadãos que não concordam com esta reforma já se torna missão impossível, pelo menos, para os par-tidos que suportam este Governo”, concluiu.

por Portugal, as populações devem ser referen-dadas sobre a possível agregação ou extinção das suas freguesias, o que não aconteceu. Com os su-cessivos adiamentos, pareceres e procedimentos legais será difícil que esta reforma avance antes das próximas eleições autárquicas. Num país que é profundamente desigual, o “grande inimigo” da democracia e da tolerân-cia é o centralismo, defendeu, por fim, o profes-sor Rio Fernandes. No final das intervenções foi possível a troca de ideias entre o público pre-sente e os oradores convidados. Fica “par(a)lamentar” a ausência do contraditório.

10 de Junho 2012ManifEstação EM barcElosRevogar a lei que viabiliza a agregação de fre-guesias levou milhares a Barcelos contra a fu-são de freguesias. O protesto pode chegar à jus-tiça europeia, mas a contestação veio para ficar até que haja alguma sensibilidade por parte do governo, aos apelos e protestos que não são ape-nas dos autarcas, mas das suas populações.Da manifestação saiu um abaixo-assinado que reúne cerca de 5 mil assinaturas e que foi en-viado à Assembleia da República, pedindo a revogação da lei que viabiliza a agregação de freguesias. De acordo com José Faria, presiden-te da junta de Vila Seca, Barcelos, esta é uma lei que constitui “uma certidão de óbito colec-tiva” ou como referiu Nuno Cavaco, autarca da Baixa da Banheira uma “lei cega.”

26 de Junho 20128 ParEcErEs contra Extinção dE frEguEsiasEm Matosinhos, tiveram lugar  8 Assembleias de Freguesia Extraordinárias (em 10), em si-multâneo, ficando apenas por realizar a sessão de Perafita. A única que não concordou com a estratégia definida foi a freguesia de Lavra.Assim, respeitando a Lei 22, os órgãos delibe-rativos locais emitiram um “parecer” sobre a sua aplicação ao respectivo território.  Todos os pareces contra a reforma foram aprovados, sem o aval do PSD, que segundo o autarca Pe-dro Sousa e membro do Movimento Freguesias Sempre, “os votos são contra o parecer, mas não apresentam uma única proposta concreta de agregação.” Quanto aos desenvolvimentos resultantes deste parecer, o autarca esclarece: “submetemos o parecer aos diferentes órgãos de soberania e depois na rentrée política, em Outubro, irão pronunciar-se. A nossa expecta-tiva e a nossa esperança é que haja sentido de responsabilidade e que lutem pela manuten-ção e pela permanência das dez freguesias que constituem o nosso concelho”, conclui.

24 Julho 2012rEforMa adMinistrativa dE lisboa vEtada Por cavaco silva“Foram expressas dúvidas quanto à fiabilidade do texto aprovado no que diz respeito à defini-ção dos limites de freguesias e do município de Lisboa” pode ler-se na mensagem dirigida à As-sembleia da República, no site da Presidência da República, que acompanhou a devolução do diploma da reforma administrativa da cidade de Lisboa, que reduziu de 54 para 23 as suas fre-guesias. A advertência sugere o veto do diploma pela necessidade de qualidade e rigor na pro-dução das leis. Em concreto, a aplicação deste veto deve-se à criação da freguesia Parque das Nações, cuja área abrange não apenas o conce-lho de Lisboa, mas também o território do mu-nicípio de Loures, erro que não reúne consenso. O presidente ressalvou ainda que a moderniza-ção dos municípios e freguesias deve ser enten-dida como “um elemento de proximidade e um capital de experiência para que se encontrem as melhores soluções para uma gestão eficiente e racional dos recursos do país.”

30

Junta de Freguesia Leça da Palmeira

Igualdade nos sorrIsos e na alegrIa das crIanças marca Verão em leça da PalmeIra

“As crianças são a alma e os monitores são a for-ça humana deste Campo de Férias”, confessou o autarca de freguesia de Leça da Palmeira, Pedro Sousa, que durante um mês juntou cerca de 250 crianças, dos 3 aos 12 anos, no projecto “Verão em Leça com a Juventude”.Depois do êxito da 1ª edição, a corrida à 2ª edição cresceu exponencialmente. A necessidade de um local, onde os pais pudessem deixar os seus filhos em segurança e com acompanhamento profissio-nal marcam o sucesso, a pertinência e a continui-dade do projecto.A Piscina das Marés, os cavalos, a vela e até o yoga reuniram a preferência das crianças, pela di-ferença e pela oportunidade da experiência, mas diariamente muitas eram as actividades lúdicas e desportivas proporcionadas. Momentos únicos, que ficarão registados para além da memória, num DVD e numa fotografia de grupo, que serão oferecidos na festa que marca a despedida deste período de férias, a 3 Agosto.

Este campo de férias muito mais do que um ser-viço público é também uma forma de inclusão, integração, igualdade, onde se estabelecem laços entre a própria comunidade, conhecendo melhor as potencialidades do território das suas origens. Como tem sido esta 2ª edição?Pedro Sousa (PS) – Este projecto intitulado “Verão em Leça com a Juventude” tem duas grandes verten-tes. Uma vertente de inclusão social, porque o custo efectivo do campo de férias para a junta de freguesia é muito superior, à taxa que cada participante paga e, por isso tem uma vertente muito social. Paralelamen-te, cada participante paga uma taxa social de inscri-ção que varia em função do rendimento do agregado em causa, promovendo a participação de todos de uma forma igual. Não recebemos apenas crianças de

Leça da Palmeira, muito embora a prioridade sejam as crianças recenseadas na freguesia.Por outro lado, neste período de férias lectivas ten-tamos criar condições para que os encarregados de educação tenham um local, onde sintam que o seu educando esteja em segurança, onde possa passar o Verão, com muita animação, dinâmica e alegria, aproveitando para conhecer um pouco mais do nosso património, como é o caso da Quinta da Conceição, um local muito aprazível, uma referência na região. Acho que muitos deles nem conheciam este pulmão verde. Depois, as actividades são diversificadas temos desde: vela, praia, equitação, ginástica, yoga, dança, futebol, artes plásticas, teatro… Enfim, passam o dia-a-dia com muita harmonia e alegria e, este pode-rá ser o único momento de férias diferente que terão até iniciarem o novo ano lectivo. Todos os dias eles estão a 100% nas diferentes actividades, que são muito exigentes, tanto do ponto de vista físico, como do pedagógico.

Proporcionar a estas crianças todos estes mo-mentos de alegria, transpõe o plano político e aproxima a comunidade? É pelo futuro delas que tanto tem lutado pela continuidade da freguesia?PS – Esta é uma forma de estar e fazer política muito próximo dos cidadãos. Se todos déssemos um pouco mais à comunidade e criássemos este tipo de iniciativas, obviamente que ficaríamos a ganhar e o país também ganharia. Nesta iniciativa quisemos proporcionar o bem-estar das nossas crianças. E, o que transponho nesta iniciativa é um pouco a minha experiência, porque quando tinha a idade deles nun-ca tive esta oportunidade. Aliás, não havia por parte das autarquias este tipo de organizações. Está a ser muito positivo e isso é-nos transmitido através da sua alegria e dos seus sorrisos. Tem sido um trabalho muito meritório. Este é mais um projecto que valo-

riza a continuidade das freguesias, pela relação de proximidade que existe entre as pessoas, pelo conhe-cimento do nosso território e, pela boa relação com as diferentes associações e instituições. Tudo isto só é possível graças aos protocolos de cooperação que firmamos no início do ano com as diferentes associa-ções e outros parceiros de Leça da Palmeira. Exis-tem aqui fortes sinergias e estas são aproveitadas ao máximo, não só entre as instituições, associações, o Agrupamento de Escolas, mas também com a autar-quia de Matosinhos que nos dá um forte apoio. Ou seja, só quem não está junto das pessoas e não perce-be a especificidade de cada terra é que pensou, algum dia, fazer uma lei tão absurda como esta. É mais uma lei instantânea!

Entre muito protesto, esta Lei 22 da Reforma Administrativa coloca o governo numa posição instável?PS – Acho que este governo já está a chegar ao fim! O ministro Miguel Relvas é apreciador das coisas instantâneas, mas bem sabemos que estas não pro-duzem bons resultados. E é um Ministro a prazo, quer nas suas receitas instantâneas do passado, quer mesmo no seu percurso académico. O Presidente da República tem que se pronunciar mais dia, menos dia. Inclusive, o Conselho de Estado aconselha o ministro Relvas a demitir-se. Ou seja, quando em Março deste ano em Matosinhos exigimos a demissão do senhor ministro, afinal, não estávamos assim tão desajusta-dos da realidade. Este ministro não coloca os interes-ses da nação à frente de tudo. Mas continuaremos a lutar, não paramos. A Plataforma Nacional Contra a Extinção das Freguesias está a trabalhar nesse sentido e iremos apelar à própria ANAFRE para a organização de um segundo Encontro a Norte, onde a percentagem de freguesias prevista na lista de ex-tinções é maior. Desde o início que estou convencido que esta reforma não se vai consumar. A lei está fei-ta, aprovada, promulgada, publicada, está em vigor, mas daí até ela ser exequível e daí até o governo a conseguir impor de forma unilateral às comunidades, vai um longo caminho que não se compagina com os prazos estabelecidos. Vai ser uma lei que não produ-zirá qualquer tipo de efeito, porque é uma lei autista que nada traz para o nosso país, a não ser para os que voluntariamente se queiram agregar, os quais respeitamos. No final, quando olharmos para trás, vamos compreender que vale sempre a pena lutar. A própria UTRA – Unidade Técnica para a Reorganiza-ção Administrativa do Território está completamente desfalcada, nos elementos que a deveriam integrar. A Anafre, a ANMP, os próprios partidos políticos, à ex-cepção da coligação que forma o governo, recusaram integrá-la e, isso é bastante expressivo da irrelevância desta Lei.

“Campo de Férias 2012” na Quinta da Conceição, Leça da Palmeira