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1 FÉ, FESTAS E NEGÓCIOS DE LIBERDADE: UMA ANÁLISE SOBRE O LIVRO DE ELEIÇÕES E DELIBERAÇÕES DA IRMANDADE DO GLORIOSO SÃO BENEDITO DE ITU (1860 1890) Rafael José Barbi (UNIFESP) Resumo: As irmandades religiosas são associações com origem na distante Idade Média, a partir das Corporações de Ofício. Foram inseridas na América ainda no período colonial, cumprindo, muitas vezes, as atribuições do Estado e da Igreja, que não conseguiam penetrar em todo o território, utilizando então essas associações como estruturas de normatização, evangelização e controle social. A presente comunicação traz uma análise sobre o Livro de Eleições e Deliberações da Irmandade do Glorioso São Benedito de Itu, irmandade estabelecida desde o início do século XIX e voltada para a congregação de negros, cativos e forros. A análise será feita a partir de três temas norteadores: Fé, Festas e Negócios de Liberdade, sendo esses temas fundamentais para analisarmos a importância e levantarmos questionamentos importantes sobre o estudo das irmandades no século XIX. Palavras-Chave: Irmandades; Escravidão; Itu. Abstract: Religious brotherhoods are associations originating in distant Middle Ages, from the Office of Corporations. Were inserted in America even in the colonial period, serving often the duties of the State and the Church, they could not penetrate the entire territory, the nusing these associations as structures of standardization, evangelism and social control. This communication presents ananalysis of the Book of Elections and Resolutions of the Brotherhood of the Glorious St. Benedict of Itu, fellow ship established since the earlyn ineteenth and facing the congregation of blacks, slaves and freed century. The analysis will be base don’t hreeguidingt hemes: Faith, Business and Freedom Party, with the sekeyissuesto analyze the importance and weraise important questions regarding the study of the brotherhoods in the nineteenth century. Keywords: Brotherhoods; slavery; Itu.

FÉ, FESTAS E NEGÓCIOS DE LIBERDADE: UMA ANÁLISE … · santos e até mesmo rezar pelas almas, ... criação de associações como o Apostolado da Oração, ... ouvindo-se as vozes

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FÉ, FESTAS E NEGÓCIOS DE LIBERDADE: UMA ANÁLISE

SOBRE O LIVRO DE ELEIÇÕES E DELIBERAÇÕES DA

IRMANDADE DO GLORIOSO SÃO BENEDITO DE ITU (1860 –

1890)

Rafael José Barbi (UNIFESP)

Resumo:

As irmandades religiosas são associações com origem na distante Idade Média, a

partir das Corporações de Ofício. Foram inseridas na América ainda no período

colonial, cumprindo, muitas vezes, as atribuições do Estado e da Igreja, que não

conseguiam penetrar em todo o território, utilizando então essas associações como

estruturas de normatização, evangelização e controle social. A presente

comunicação traz uma análise sobre o Livro de Eleições e Deliberações da

Irmandade do Glorioso São Benedito de Itu, irmandade estabelecida desde o início

do século XIX e voltada para a congregação de negros, cativos e forros. A análise

será feita a partir de três temas norteadores: Fé, Festas e Negócios de Liberdade,

sendo esses temas fundamentais para analisarmos a importância e levantarmos

questionamentos importantes sobre o estudo das irmandades no século XIX.

Palavras-Chave: Irmandades; Escravidão; Itu.

Abstract:

Religious brotherhoods are associations originating in distant Middle Ages, from

the Office of Corporations. Were inserted in America even in the colonial period,

serving often the duties of the State and the Church, they could not penetrate the

entire territory, the nusing these associations as structures of standardization,

evangelism and social control. This communication presents ananalysis of the

Book of Elections and Resolutions of the Brotherhood of the Glorious St. Benedict

of Itu, fellow ship established since the earlyn ineteenth and facing the

congregation of blacks, slaves and freed century. The analysis will be base don’t

hreeguidingt hemes: Faith, Business and Freedom Party, with the sekeyissuesto

analyze the importance and weraise important questions regarding the study of the

brotherhoods in the nineteenth century.

Keywords: Brotherhoods; slavery; Itu.

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Introdução

O Monsenhor Luiz Castanho de Almeida, através do pseudônimo Aluísio

de Almeida, realizou uma produção consistente e diversificada sobre a história de

Sorocaba, as tradições populares e folclore de toda essa região e do Estado de

São Paulo. Dentro dessa produção, referente às tradições populares, uma boa

parcela dedica-se às tradições católicas.

Em uma de suas obras, encontramos o seguinte fragmento

“Uma irmandade é um grupo fechado para honrar o Nosso Senhor e aos

santos e até mesmo rezar pelas almas, cada uma com os seus estatutos próprios,

chamados compromissos, quase sempre aprovados pelo Rei por causa dos efeitos

civis (direitos de propriedade, por exemplo). Tinham as suas opas, os seus tocheiros

e outras alfaias, altares ou capelas próprias, a imagem, as tumbas separadas dentro

das igrejas ou jazigos externos, os direitos a sufrágios, certas obrigações. ”

(ALMEIDA, 1974, p. 22)

Este trecho traz uma visão tradicional sobre o que é a irmandade e suas funções dentro

da Igreja. Em outras palavras, podemos observar as irmandades apontadas como uma

associação que tem como objetivo principal a devoção a um santo ou às diversas invocações

atribuídas à Cristo e Maria, sendo as outras informações colocadas de formas secundárias,

como a questão das obrigações da irmandade para com seus irmãos.

Nos últimos anos temos uma vasta produção historiográfica que traz uma visão

abrangente, demonstrando que estes grupos podem ser associações de uma importância

fundamental pelo viés social. Exemplos que podem apontar essa importância são as ações

praticadas pelas irmandades por seus irmãos, que iam desde auxílio pecuniário em tempos

difíceis até o auxílio em os procedimentos na hora da morte. E, mais importante, podemos

analisar as irmandades pelo viés social, pois

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“[...] sabemos que cada irmandade englobava, em sua organização,

determinado agrupamento social, camada ou estamento. Desde que uma

irmandade tinha esse poder, tornava-se naturalmente uma força social,

tornava-se naturalmente uma força social ponderável e, portanto, merecia as

atenções da Igreja. Não importava que ela fosse de brancos, pretos ou

mulatos; importava seu poder como expressão desses grupos. E essa

característica é de fundamental significação. ” (SALLES, 2007, p. 52)

Portanto, essas associações funcionavam como um espaço de representatividade social

e essa visão ganha ainda mais importância quando analisamos o contexto das irmandades

negras, que dentro de uma sociedade escravista como que encontramos no Brasil durante o

período imperial, esses grupos funcionavam como mecanismos de representatividade, como já

apontado, mas além disso, como espaços de esperanças e lutas contra a sua condição, seja ela

de pobreza e problemas de saúde e, no caso de cativos, a compra e a conquista da liberdade,

seja a de direito e a de fato, tornando-se um espaço de resistência.

Esta comunicação traz uma breve análise sobre a documentação encontrada nos

arquivos da Irmandade de São Benedito de Itu, especificamente o Livro de Eleições e

Deliberações da Irmandade do Glorioso São Benedito de Itu. A escolha desse livro não é

gratuita, pois através dele podemos apreender diversas questões que trazem luz à dinâmica

interna da Irmandade e a sua visão, enquanto instituição e em relação aos seus irmãos.

Levantamos três situações importantes e que nos ajudam a entender o funcionamento

da irmandade, e também nos apresentam de que forma essas associações extrapolam a função

religiosa, além de levantar questões importantes ao cruzarmos a documentação com a

historiografia sobre o tema.

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Fé, Festas e Negócios de Liberdade.

A Irmandade do Glorioso São Benedito é uma confraria voltada para negros, cativos e

forros, originalmente ereta em um altar lateral dentro da Igreja de São Luís de Tolosa1, que

pertencia ao Convento de São Francisco e à Ordem Terceira de São Francisco de Itu.

Infelizmente não foi encontrada a documentação que comprove a fundação da irmandade e a

aprovação de seu compromisso, porém através da bibliografia utilizada para este trabalho foi

constatado que a Irmandade de São Benedito já existia em 18362, além das irmandades do

Santíssimo Sacramento, Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora da Boa Morte.

É importante realizar uma pequena reflexão sobre os motivos desse recorte temporal

ter sido escolhido. A cidade de Itu, neste período a partir da década de 1860, é uma cidade3

baseada prioritariamente em uma economia monocultura e que está em um processo de

transição para a industrializaçãode pequena monta.

Na área religiosa, a cidade também possui grande importância, principalmente nas

mudanças impostas pela Igreja na segunda metade do século XIX, no processo de

romanização desta instituição no Brasil. A cidade apresenta uma forte presença de ordens

religiosas, como jesuítas, carmelitas, concepcionistas e ordens voltadas exclusivamente para a

educação, como as Irmãs de São José de Chambéry. No caso das ordens que criaram espaços

para a educação, os jesuítas com o Colégio São Luís e as Irmãs de São José com o Colégio

Nossa Senhora do Patrocínio, elas tinham um papel importantíssimo na construção de uma

educação voltada para o culto mais reservado, tentando desconstruir os excessos do

catolicismo popular no Brasil

1 Atualmente, a Irmandade de São Benedito possui uma igreja própria, inaugurada em 1901. 2MULLER, Daniel Pedro, 1775-1842. Ensaio d'um quadro estatístico da Província de São Paulo: ordenado

pelas leis municipais de 11 de Abril de 1836 e 10 de Março de 1837 3. ed., facsimilada / introdução de Honório

de Sylos. – São Paulo : Governo do Estado , 1978. 3Itu é elevada à categoria de cidade pela Lei Provincial de 5 de fevereiro de 1842.

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“A vinda das congregações masculinas e femininas da Europa,

especialmente da Itália, da França e da Alemanha, foi decisiva no processo

de europeização e revitalização do catolicismo brasileiro. Como vimos, foi

dom Antônio Joaquim de Mello que deu início ao estabelecimento dessas

congregações, chamando os padres capuchinhos de Sabóia para a direção do

seminário episcopal e as irmãs de São José para o primeiro colégio voltado à

educação da juventude feminina, inicialmente localizada em Itu. ”

(WERNET, 2005, p. 134)

Essa revitalização e europeização do catolicismo brasileiro, não foi realizado apenas

na educação, mas também em mudanças no próprio movimento leigo. Essas mudanças são

caracterizadas com a criação de associações como o Apostolado da Oração, difundida

principalmente a partir da cidade de Itu, controlada mais diretamente pela alta hierarquia da

Igreja. Ao contrário das irmandades, o Apostolado não possuía poderes de administração de

um templo, não realizava a compra de paramentos de uso exclusivo de tal associação e, ainda,

tinha como função principal a visita aos fiéis para levar o evangelho segundo os dogmas da

Igreja4.

Mesmo com essa ação reformadora na cidade, a Irmandade de São Benedito possuía

uma grande vitalidade de suas ações, principalmente em relação à festa. Na documentação é

dada uma grande importância da festa, sendo esse um momento de apogeu da administração

das mesas diretoras

“Ao 1º do mez de Novembro de 1862 em consistório da Irmandade

de São Benedito reunido em mesa para a deliberação da festa do dºSto

deliberou-se qe seja solenisado no dia Domingo primeiro de Janrº de 1863

não havendo incoveniente deliberando encarregar da mma ao Irmão

4WERNET, Augustin. A Igreja Paulistana no século XIX. In: VILHENA, Maria Angela; PASSOS, João Décio.

A Igreja de São Paulo – Presença católica na história da cidade. São Paulo: Paulinas, 2005. p. 129 – 144.

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secretário atual Joaqm Januário do Monte Carmello, podendo gastar-lhe a

qta de 200$000 rs e obrigados os irmãos Rei, Juiz, Juiza e Rainha afim a

haverem offerecido a darem a irmão Juiza 30$rs e Rainha 8$rs. Deliberou

mais qe mande-se vir por intermédio do Irmão Secretario uma cruz de metal

branco e uma da pa guião e duas [ilegível] para a cruz e bandeira pª o guião,

recebendo o dto Irmão a importância de tudo. Nada mais havendo pª

deliberar-se, encerro a seção eu secretário interino. Francisco de Paula Lima.

(Livro de eleições e deliberações da Irmandade de São Benedito de Itu de

1861 a 1899, p.2)

Neste trecho do Livro de Eleições e Deliberações é possível identificar a importância

da festa para a associação. Primeiro sinal desta importância é a quantia despendida para a

festa, que neste ano totalizou duzentos mil réis, valor alto se compararmos com a média do

orçamento anual da irmandade, que ficou em torno de setecentos e sessenta mil réis5.

Este valor foi utilizado, como sugere o registro citado, para a compra de novos objetos

para a festa, mais especificamente, para a compra de artefatos para a procissão, o ponto alto

das festividades. Essa preocupação com a procissão é demonstrada através da necessidade de

adquirir um novo guião, uma nova cruz processional e uma nova bandeira.

Outro trecho do documento que nos mostra a importância das festividades do santo

traz a seguinte determinação,

“Foi declarado pelos irmãos Juiz e Rei, Juiza e Rainha que darão a

jóia de cem mil reis cada um para que se faça boa festa.” (Livro de eleições e

deliberações da Irmandade de São Benedito de Itu de 1861 a 1899, p. 17)

Neste caso vemos que, nem sempre, o dinheiro arrecadado durante o ano é o suficiente

para a realização da festa, sendo responsabilidade do Juiz, Juíza, Rei e Rainha, o auxílio para

5 Essa média foi alcançada a partir das informações retiradas das prestações de contas dos anos de 1866 e 1867.

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a realização da festa. Um termo interessante utilizado nesse fragmento é “boa festa”, o que

sugere que ainda encontramos elementos da forte exteriorização do culto, pois a “festa boa”

era caracterizada pela diversidade de materiais e decoração, sendo construída desde a

contratação dos religiosos para a realização das ações formais, tais como missas, e,

principalmente, a realização da procissão, que recebia uma variedade importante de

elementos, mesclando tradições do catolicismo com as tradições negras, como aponta Nardy

“As festas dos brancos terminavam aos alvores do segundo dia do

ano; as dos pretos continuavam, iam até o dia dos Santos Reis, quando

realizavam a festa em honra de São Benedito. Durante as noites desses dias,

o samba rufava, a igrejinha permanecia aberta e iluminada dia e noite, de

quando em quando ouvindo-se as vozes das pretas, que cantavam hinos em

louvor a São Benedito:

“Meu São Benedito

Já foi Cozinheiro,

Agora ele é

Nosso pai verdadeiro”

[...] No dia 1º, a tarde, ao estrugir dos rojões e aos sons da charanga,

era erguido em frente à igrejinha o mastro de São Benedito.

Às tardes desses dias, as congadas dos pretos percorriam as ruas, e

como eles sabiam bem as regras dessa dança; vinha depois o “Boizinho”,

acompanhado pelo pai Domingos no seu cavalinho, o Doutor, Mãe Maria e

mais pretos fantasiados de vaqueiros. O Boizinho pulava, dançava, investia,

adoecia, deitava-se; vinha o doutor, curava-se e punha-se ele de novo a

pular, dançar e a investir; e tudo isso acompanhado de cantigas ao som das

violas, pandeiros e caixas e zabumbas. ” (NARDY FILHO, 2000, p. 207)

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Esse relato traz luz sobre as tradições praticadas pela irmandade em suas festas, algo

comum dentro do catolicismo no Brasil6, característica que permaneceu desde o período

colonial e, em certa medida, permanece nas tradições e manifestações culturais religiosas

atuais. Como aponta Lucilene Reginaldo, em relação às festas, às práticas devocionais destes

eventos e sua importância

“Eram necessárias para o controle social do contingente escravo,

uma vez que representavam uma espécie de “válvula de escape” para o

regime. Tendo em vista o projeto evangelizador, as festas dos santos

patronos eram parte fundamental da vida religiosa devocional, ainda que

seus “excessos” fossem duramente perseguidos pelas autoridades. ”

(REGINALDO, 2011, p.207)

Outra ação fundamental da irmandade e que associava-se ao período das festas, é a

atuação da irmandade na busca pela liberdade de irmãos ou parentes de irmãos

“[...] Rezolveu mais encarregar ao irmão Secretário poder dispender

ateagª de $ 250.000 que haverá do irmão Thezoureiro afim de mandar vir do

Rio de Janeiro para esta Irmandade 1 Cálice de prata,patena e calhibinha, 1

Cazula preta, 1 fita branca e fazendo para duas capas de asperges branca e

preta e 1 missal romano e 1 [ilegível] para agua benta e se esta quantia não

for suficiente haverá o restante do Irmão Thezoureiro. Foi mandado parecer

que tiradas as dispesas da festa, e paramentos o restante seja aplicado a

liberdade de duas a trez crianças do sexoho feminino menor de dois anos

filhas de irmãos, pelas quais fica o Irmão Procurador autorizado a poder

dispender [ilegível] até 200$000 para cada um e quando hajão muito para tal

fim apresentará nomes de todos a Meza que sobre elles correrá a sorte, e as

assim designados o dito procurador mandara passar contas a qual será

registrada no livro da Irmandade, devendo esta se realizar no dia da Festa de

Nosso Orago. Rezolveu dar uma esmola de 4$000 mençaes ao Irmão

Domingos [ilegível] atendendo seu estado de pobreza e a doaçãoque o

6Sobre a questão do catolicismo no Brasil ver HOORNAERT, Eduardo. Formação do catolicismo brasileiro;

(1550 – 1800). 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1978.

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mesmo fizera de uma casa a esta irmandade autorizando assim o Irmão

Procurador a fazer de hoje em diante effectivaauta deliberação. Nada mais

havendo a tratar deo-se por incerrada. De que para quem constar lavrei a

presente. Eu como Secretário que subscrevi e assigno. Francisco Celestino

de Miranda Russo.” (Livro de Eleições e Deliberações da Irmandade de São

Benedito de Itu, de 1861 a 1899. P. 12 e verso)

É possível identificar dois elementos importantes dentro da função social da

irmandade, sendo um relacionado ao auxílio no processo de liberdade e outro no auxílio

pecuniário a um irmão em dificuldades.

Em relação a obtenção da liberdade, há uma produção importante sobre a questão e

que trouxe novos olhares, principalmente ao discutir sobre a liberdade por direito e de fato.

Nos processos judiciais relacionados à busca pela liberdade, os autos de liberdade, sempre

encontramos um representante que realiza empreitada junto com o escravo7. Nesse contexto

podemos levantar a hipótese de que a irmandade pode ter um papel importante nesse

processo, pois a documentação traz a prática da irmandade de despender um valor específico

de seu orçamento, para a realização da compra de alforria.

No caso documentado pelo fragmento acima, deveria ser utilizado todo o valor do

orçamento anual que sobrasse das despesas da festa, para a compra da alforria de duas a três

meninas, sendo permitida o uso de até duzentos mil réis para cada criança. Essa ação suscita

algumas perguntas interessantes, tais como, porque a necessidade de ser crianças, porquê

precisavam ser do sexo feminino e se a irmandade também auxiliava de alguma forma os

irmãos adultos, seja através da compra de alforria ou através de ceder apoio pelas vias

7Sobre a busca pela liberdade ver CHALLOUB, Sidney. Visões da Liberdade – Uma história das últimas

décadas da escravidão na corte. São Paulo: Companhia do Bolso, 2011; MACHADO, Maria Helena P. T.,

“Corpo, Gênero e Identidade no Limiar da Abolição: Benedicta Maria da Ilha, mulher livre/Ovídia, escrava narra

sua vida (sudeste, 1880). AfroÁsia, 42, 2010, pp. 157-193.eMAMIGONIAN, Beatriz. “José Majojo e Francisco

Moçambique, marinheiros das rotas atlânticas: notas sobre a reconstituição de trajetórias da era da

abolição”, Topói v. 11, n. 20 (2010), p. 75-91.

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judiciais para a conquista da liberdade. E sobre a associação da ação da irmandade na busca

pela alforria com o período de festas, é interessante notar que todo o processo de compra e

obtenção da carta de alforria, deveria ser finalizado no dia da festa, o que sugere uma espécie

de prestação de contas da Irmandade para com seus irmãos.

A outra ação citada no trecho, é uma das ações primeiras e característica de todas as

irmandades, sejam elas de brancos, pardos, negros, religiosos ou ordens terceiras, que é o

auxílio à um irmão em dificuldade, evidenciando a característica de mútua assistência da

irmandade.

Nos expostos apresentados é recorrente a menção aos cargos mais importantes da

irmandade, o juiz, o rei, o secretário e procurador. Mas a Irmandade de São Benedito de Itu,

traz uma prática que difere da maior parte de associações, que é a eleição de uma mesa

estritamente feminina.

Analisemos a composição completa da mesa da Irmandade de São Benedito de Itu

“Aos 3 dias de janeiro de 1863 no consistório da Irmandade de São

Benedito desta cidade de Itu. Reunida a mesa diretora da mmaIrmandde com

presença do mtoRvo Capelão mais irmãos empregados do presente ano afim

de proceder-se a eleição dos novos empregados corrido o __________ foram

eleitos os seguintes.

Rei O Ir. João do Monte do Carmo

Juis O Ir. Antônio Joaquim da SªDulhã – 50$

Procor O Ir. Joze Vicente de Campos

Thezº O Ir. João Januario do Monte Carmelo

Secrº O Ir. Francisco de Paula Lima

Cap. do Mastro O Ir. Feliciano LeittePaxº Junior

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Sacristão O Ir. JoaqmEscº do MtoRdo João Paulo Cos

Sacristão O Ir. JoaqmEscº da D. Escolástica de Bos

Sacristão O Ir. Joaqm [ilegível] de Camargo

Couveiro O Ir. Luis Pinto

Andadores O Ir. LuisEscº do Sr. Almeida Garret

Andadores O Ir. José Escº do Teme Luciano

Mesários 1º O Ir. [ilegível] da Silva

2º O Ir. Theodoro Escrº de D. Francº Pinto

3º O Ir. Roque Escº de D. Anna Joaqna

4º O Ir. José Escº do Sr. Tene Luciano

5º O Ir. [ilegível] Escº do SrCapm [ilegível]

6º O Ir. Bonifácio Escº de D. MaTheodora Jesuíno

7º O Ir. Antonio de [ilegível]

8º O Ir. João Escº de D. Mª Joaqna do Lagx

9º O Ir. AntºEscrº do MtoRmo João Paulo Cos

10º O Ir, Jacinto Escrº do MtoRmo João Paulo Cos

11º O Ir. José Escrº de D. Anna Eufrosina de Bos

12º O Ir. [ilegível] Escº de D. AntºPeixoº

Rainha – A Irª. Candida Almeida da Fonseca 50$

Rainha da Procissão – Irª Thereza Escª de D. Antonia

Juíza – A Irª Emilia Franca dos Anjos 50$

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Irmãs de Mesa – A Irª Catharina Maria Vianna

2º A Irª Valeriana Escrª de D. Antonia Augusta

3º A Irª [ilegível] Maria Barbosa

4º A Irª Miguelina Mª da Conceição

5º A Irª Mª Clara de Barros

7º A Irª Escrª de D. Mª do Patrocínio

(livro de Eleições e Deliberações da Irmandade de São Benedito da

Cidade de Itu de 1861 a 1899, p. 2 verso)

Nesta ata da formação da mesa eleita para o ano de 1863 há elementos interessantes

sobre a administração da irmandade, e apresentam uma manutenção de tradições. Uma

tradição importante é a eleição de rei e rainha, que “embora não estivessem circunscritas

exclusivamente às irmandades, tiveram dentro destas associações seu melhor

desenvolvimento” (REGINALDO, 2011, p. 207).

A importância do Rei e Rainha é muito grande, não só na questão festiva e devocional,

mas também tinha uma boa influência social. Na sua obra, Os Rosários dos Angolas, Lucilene

Reginaldo nos traz uma análise sobre a relação da corte das irmandades com seus senhores,

realizando uma espécie de acordo, apontando que

“Em Minas Gerais, à semelhança do ocorrido na Bahia, as ordens de

proibição dos reinados, expedidas já no tempo do Conde de Assumar, não

obtiveram o efeito desejado. Para Marcos Aguiar, o fracasso das proibições

foi consequência do ‘comportamento das elites, não só coniventes com estas

manifestações, mas delas participando, através de ajuda material”.

(REGINALDO, 2011, 214).

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Esse cenário, mesmo os casos apontados pela autora ser referentes a outras localidades

e outro recorte temporal, faz sentido se aplicarmos ao contexto da Irmandade de São Benedito

de Itu, objeto de nossa reflexão. Outro fator que atesta essa possibilidade é o que aponta a

autora, citando o historiador Marcelo Mac Cord,

“Marcelo Mac Cord verificou que na irmandade do Rosário de

Recife, na segunda metade do século XIX, os reis não estavam no

compromisso, mas eram eleitos e continuavam a ser importantes. As

‘hierarquias do Rei do Congo’ acabaram por constituir-se numa instituição

separada da irmandade, ainda que mantivesse com aquela estreitos vínculos

corporativos. Esta independência subtraiu ‘as hierarquias do Rei do Congo’

do controle e perseguição da igreja em processo de Romanização”.

(REGINALDO, 2011, 211)

Nesse trecho já possuímos um cenário mais próximo no ponto de vista temporal e que

se encaixa nas condições encontradas pela irmandade em Itu, na segunda metade do século

XIX, em outras palavras, em uma cidade que se colocou como um dos centros irradiadores

das ordens impostas pelo processo de romanização, através dos canais já expostos nesta fala.

Para encerrar essa questão, ambos os trechos também nos apresentam características

possíveis de serem aplicadas na análise do objeto desta comunicação, pois se retomarmos o

trecho da documentação que aponta a decisão de que o Rei, a Rainha, o Juiz e a Juíza,

deveriam oferecer uma jóia de cem mil réis cada, pode ser uma prova importante do apoio e

da atuação de seus senhores ou, no caso de forros, brancos que apoiavam estes irmãos e a

irmandade.

Considerações Finais

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A partir do Livro de Eleições e Deliberações da Irmandade de São Benedito de Itu,

temos a oportunidade de analisar determinadas ações da associação que nos permitem traçar

um panorama importante sobre questões relacionadas não só à vida religiosa, como à vida

social daquele grupo representado nessa instituição.

Ao apontar três elementos centrais, a fé, as festas e negócios de liberdade, essa

pequena reflexão coloca a irmandade em um contexto muito mais amplo e que dialoga

constantemente com a realidade que a cerca, não tornando-se apenas uma instituição estática e

superada, mas sim, uma instituição em constante ressignificação e com novas ações,

adentrando até no século XX.

O primeiro elemento, a fé, um ponto que costura os diversos elementos, mas que nos

traz uma indagação: Como é a construção da fé? Como ela faz com que grupos étnicos e

sociais se identifiquem, se unam e se dividam, trazendo seus elementos característicos para o

culto? A historiografia e a documentação, nos mostram que a fé é um elemento em construção

constante e que sofre interferências de todos os lados, desde as influências populares, até as

influências que se colocam como dominadoras. Exemplos disso, são as imposições da Igreja

Católica, no contexto da romanização, criando novos movimentos leigos e na educação das

elites que “ditariam” os rumos dos costumes.

As irmandades entram nessa discussão também, afinal, o que faz um grupo escolher

determinado santo protetor. A historiografia aponta que, no caso dos negros, as escolhas

passavam muito pela questão da identificação com o negro, o que nos traz casos em que o

santo é considerado ancestral comum de toda uma comunidade, fazendo com que a

identificação extrapole apenas a fé8, abandonando o sentido simplesmente relacionado a

crença do sagrado.

8Ver mais em QUINTÃO, Antônia Aparecida. Lá vem parente. As irmandade de pretos e pardos no Rio de

Janeiro e em Pernambuco (século XVIII). São Paulo: Annablume/Fapesp, 2002.

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O segundo elemento, as festas, é a questão mais fascinante quando pensamos em

irmandades religiosas, um exemplo disso, é só lembrarmos do Triunfo Eucarístico, realizado

em Minas Gerais, na cidade de Ouro Preto em 1733, onde foram apresentados todo poder e a

opulência das irmandades9. Além disso, a historiografia também nos apresenta as festas como

períodos de libertação e esquecimento da condição de cativo do escravo, porém, através da

documentação analisada, podemos apreender outros elementos que trazem luz a outros

significados.

Um exemplo desses elementos, nos leva a nossa próxima questão, que é a questão dos

negócios de liberdade. Em um momento em que o processo de questionamento ao regime

escravista e, automaticamente, do constante aumento dos ideais abolicionistas, é possível

identificar na documentação da irmandade que um dos pontos altos da comemoração é a

liberdade de um irmão ou de algum parente.

Essa liberdade, o que podemos apreender através dos trechos expostos, era

conquistada através da compra das alforrias, realizada com o dinheiro arrecadado com as jóias

dos irmãos e doações feitas por terceiros, que fazia parte do orçamento anual da associação.

Portanto, a partir desse processo de compra da liberdade, é pertinente colocarmos esse

processo como negócios de liberdade, afinal, é uma clara negociação sobre um direito, que era

negado por um regime escravista.

Essa questão da liberdade, nos traz outros questionamentos, já levantados nessa

comunicação, como a ação da irmandade nesse processo da busca pela liberdade e, tão

importante quanto, a manutenção da liberdade, que ainda na segunda metade do século XIX, o

status de liberto ainda era precário.

9Uma análise importante sobre o Triunfo Eucarístico pode ser visto em BOSCHI, Caio César. Os Leigos e o

Poder: Irmandades Leigas e Política Colonizadora em Minas Gerais. São Paulo: Editora Ática, 1986.

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Portanto, a partir dessas três situações expostas a partir de elementos específicos, a fé,

as festas e os negócios de liberdade, nos apresentam a variedade de análises e

questionamentos que uma irmandade proporciona, extrapolando a questão religiosa,

possibilitando uma imersão dentro de todo um contexto de mudanças sociais características da

segunda metade do século XIX.

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(2010), p. 75-91.

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Paulo: 1870 – 1890). São Paulo: Annablume : FAPESP, 2002

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Paulo: Paulinas, 2005. p. 129 – 144.

Fontes primárias

Arquivo da Irmandade de São Benedito

Livro de Eleições e Deliberações da Irmandade de São Benedito da Cidade de Itu. (1861 a

1899)

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