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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ESCOLA DE NUTRIÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE E NUTRIÇÃO FENÓTIPOS PARA A SÍNDROME METABÓLICA EM TRABALHADORES DE TURNOS ALTERNANTES DE UMA MINERADORA NA REGIÃO DOS INCONFIDENTES-MG TICIANA VAZZOLER AMBROSIM Ouro Preto MG 2014

FENÓTIPOS PARA A SÍNDROME METABÓLICA EM …‡ÃO... · 1 universidade federal de ouro preto escola de nutriÇÃo programa de pÓs-graduaÇÃo em saÚde e nutriÇÃo fenÓtipos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

ESCOLA DE NUTRIO

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM SADE E NUTRIO

FENTIPOS PARA A SNDROME METABLICA EM

TRABALHADORES DE TURNOS ALTERNANTES DE UMA

MINERADORA NA REGIO DOS INCONFIDENTES-MG

TICIANA VAZZOLER AMBROSIM

Ouro Preto MG

2014

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TICIANA VAZZOLER AMBROSIM

FENTIPOS PARA A SNDROME METABLICA EM

TRABALHADORES DE TURNOS ALTERNANTES DE UMA

MINERADORA NA REGIO DOS INCONFIDENTES-MG

Dissertao apresentada Escola de Nutrio

da Universidade Federal de Ouro Preto, como

parte das exigncias do Programa de Ps-

Graduao em Sade e Nutrio, para

obteno do ttulo de Mestre em Sade e

Nutrio.

Orientadora: Profa. Dra. Slvia Nascimento de

Freitas

Coorientador: Prof. Dr. Raimundo Marques

Nascimento Neto

Colaborador: Prof. Fernando Luiz Pereira de

Oliveira

Ouro Preto MG

2014

3

Catalogao: [email protected]

A496f Ambrosim, Ticiana Vazzoler.

Fentipos para a sndrome metablica em trabalhadores de turnos alternantes de uma

mineradora na regio dos Inconfidentes MG [manuscrito] / Ticiana Vazzoler Ambrosim

2014.

111f. : il. color.; graf.; tabs.

Orientadores: Prof. Dr. Silvia Nascimento de Freitas.

Prof. Dr. Raimundo Marques Nascimento.

Dissertao (Mestrado) Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de Nutrio.

Programa de Ps Graduao em Sade e Nutrio.

rea de concentrao: Sade Coletiva.

1. Trabalho - Teses. 2. Sndrome metablica Teses. 3. Inflamao Teses. 4. Indicadores Teses. 5. Fentipo Teses. I. Universidade Federal de Ouro Preto. II.

Ttulo.

CDU: 616.859.1

CDU: 669.162.16

mailto:[email protected]

4

5

AGRADECIMENTOS

Meus agradecimentos sinceros a Deus pelo dom da vida e por iluminar meus

passos, dando-me paz e serenidade para prosseguir nesta caminhada;

minha orientadora, Slvia Nascimento de Freitas, ao meu coorientador, Raimundo

Marques Nascimento Neto, e ao colaborador, Fernando Luiz Pereira de Oliveira, pelas

orientaes, ensinamentos e excelentes contribuies incorporadas aos meus conhecimentos,

os quais, levarei pelo resto da vida;

Universidade Federal de Ouro Preto e ao Programa de Ps-Graduao em Sade e

Nutrio, pela oportunidade de crescimento em minha vida profissional;

Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES), pela

concesso da bolsa de estudo;

A todos os alunos e professores participantes do Projeto Preveno da Fadiga e Risco

Cardiometablico, pelo empenho, trabalho e esprito de equipe;

Aos funcionrios da Escola de Medicina, especialmente Cristina, pela pacincia e

competncia;

Aos trabalhadores participantes deste estudo pela predisposio em colaborar;

Aos meus pais, Gervsio e Eliete, pelo amor, apoio, confiana e por facilitar para mim

esta conquista;

minha irm, Daniela, e sobrinhas, Lara e Lvia, pelo carinho que sempre me

dedicaram;

Ao Geraldo, pelo amor, apoio, companheirismo, tornando essa caminhada mais leve;

s queridas amigas de mestrado, pela convivncia, amizade, troca de experincias e

grandes momentos de celebrao. Vocs estaro sempre, com muito carinho, em minha

memria;

s minhas queridas, Bem Boladas, por me acolherem de forma to carinhosa e por

estarem comigo at o fim, presenteando-me com boas risadas;

Ao meu querido amigo e mestre, Camilo, por me apontar o caminho quando as coisas

pareciam confusas e incertas;

Ao amigo, Gustavo, pela imensa ajuda no incio desta caminhada e a todos os amigos

e familiares que, mesmo de longe, no hesitaram em me apoiar nesta conquista.

A todos, o meu muito obrigada!

6

" preciso que eu suporte duas ou trs larvas se

quiser conhecer as borboletas."

(Antoine de Saint-Exupry)

7

RESUMO

Introduo: A sndrome metablica (SM) tem aumentado sua prevalncia no s no

Brasil como em todo o mundo. Ela caracterizada por um conjunto de alteraes como,

hipertenso arterial, obesidade central, hiperglicemia e dislipidemia. A obesidade,

especialmente a obesidade central, est associada a um estado inflamatrio relacionado

maior produo de adipocinas e citocinas inflamatrias. Um possvel fator de risco para o

desenvolvimento da SM o trabalho de turno alternante, pois trabalhadores de turno

alternante possuem dessincronizao do ciclo circadiano, que resulta em impactos no

comportamento alimentar, no metabolismo e na composio corporal. Objetivo: Investigar o

agrupamento dos fentipos antropomtricos, de composio corporal, clnicos e bioqumicos

relacionados SM em trabalhadores de turno alternante de uma mineradora na Regio dos

Inconfidentes MG. Mtodos: Estudo de caso-controle aninhado a um transversal foi

realizado a partir de 174 trabalhadores de turnos alternantes diagnosticados com SM (casos) e

de 174 trabalhadores de turno alternantes sem SM (controles) selecionados por meio de um

sorteio aleatrio simples. Os critrios de diagnstico da sndrome foram adaptados dos

propostos pelo IDF 2005. Foram coletados dados sociodemogrficos e comportamentais, e

realizadas medidas antropomtricas e de composio corporal. Alm disso, medies da

presso arterial e exames bioqumicos foram realizados para a investigao de lipdeos

sricos, glicemia e marcadores inflamatrios. Os dados foram organizados em um banco de

dados e analisados no programa estatstico PASW, verso 17.0. Foram efetuadas anlises

descritivas, teste KS, Teste T de Student e Man-Whitney U, teste do qui-quadrado de Pearson,

e anlise fatorial. Adotou-se nvel de significncia de 5% para verificar a diferena entre os

grupos. Resultados: Foi observada nos dois grupos uma maior prevalncia de indivduos no

brancos, com mais de oito anos de estudo e que vivem com cnjuje. Entre as variveis

comportamentais, foi encontradas alta porcentagem de atividade fsica e etilismo e baixa de

tabagismo, sem diferenas estatsticas entre os grupos. As mdias/medianas das variveis

antropomtricas, de composio corporal, clnicas e bioqumicas foram diferentes entre o

grupo caso e controle em quase todas as variveis analisadas, exceto para o colesterol total,

HDL colesterol, LDL colesterol, glicemia, tempo de trabalho por turnos, adiponectina e

resistina. O grupo dos casos foi o que mostrou maior prevalncia de fatores de risco da SM

(p

8

3 - hipercolesterolemia; fator 4 - resistncia insulina; fator 5 - adiponectina/HOMA-AD e

fator 6 - inflamao/obesidade central; os quais foram capazes de explicar 67,51 % da

varincia total dos dados. Concluso: Foi observada alta prevalncia de fatores de risco para

a SM em trabalhares de turnos alternantes. Estes trabalhadores com SM apresentaram maiores

valores de mdia/mediana em todas as variveis analisadas. A anlise fatorial permitiu

estabelecer a obesidade, juntamente com a leptina, como o principal fentipo que caracteriza a

SM nesses trabalhadores. Palavraschave: Trabalho, Trabalho de turno, Trabalho de turno

alternante, sndrome metablica, indicadores de adiposidade corporal, inflamao.

9

ABSTRACT

Introduction: Metabolic syndrome (MS) has increased its prevalence not only in Brazil but

also around the world. It is characterized by a set of alterations as hypertension, central

obesity, hyperglycemia and dyslipidemia. Obesity, especially central obesity, is associated

with an inflammatory state related to an increased production of adipokines and inflammatory

cytokines. A possible risk factor for the development of MS is the alternating shift work

because of alternating shift workers have desynchronization of the circadian cycle, resulting

in impacts on feeding behavior, metabolism and body composition. Objective: Investigate the

clustering of anthropometric, body compositon, clinical and biochemical phenotypes related

with MS in alternating shift workers of a mining company in Regio dos Inconfidentes - MG.

Methods: A nested case-control study was realized from 174 alternating shift workers

diagnosed with MS (cases) and 174 alternating shift workers without MS (controls) were

selected by random sampling. The syndrome diagnostic criteria were adapted from the

proposed by IDF 2005. Sociodemographic and behavioral data were collected, and performed

anthropometric and body composition measures. Furthermore, blood pressure measurements

and biochemical tests were performed for the investigation of serum lipids, blood glucose and

inflammatory markers. The data were organized into a database and analyzed by PASW

statistical software, version 17.0. Statistical analyzes were performed using descriptive

analysis, KS test, T Student test, Man-Whitney U test, chi-square test, and factor analysis. All

tests were performed with a significance level of 5 % to evaluate differences between the

groups. Results: It was observed in both groups a higher prevalence of non-white individuals,

with more than eight years of study and living with partner. Among the behavioral variables,

were found low smoking, and high percentage of physical activity and alcohol consumption,

without statistical differences between groups. The mean/median of anthropometric variables,

body compisition, clinical and biochemical were different between the case and control

groups in almost all variables, except for total cholesterol, HDL cholesterol, LDL cholesterol,

blood glucose, shift work time, adiponectin and resistin. The cases group showed higher

prevalence of MS risk factors in relation to control group (p

10

observed in alternate shift workers. These workers with MS had higher values mean / median

of all variables. Factor analysis allowed establishing obesity, along with leptin, as the main

phenotype that characterizes the MS in these workers. Keywords: Work, shift work,

alternating shift work, metabolic syndrome, indicators of adiposity, inflammation.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Fisiopatologia da SM em trabalhadores de turnos alternantes.................................34

Figura 2 - Fluxograma da amostra e procedimento amostral...................................................39

12

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Caractersticas sociodemogrficas e comportamentais dos trabalhadores de turnos

alternantes de uma mineradora na Regio dos Inconfidentes-MG,

2013....................................................................................................................................................51

Tabela 2 - Mdias (DP) e medianas (P25-P75) das variveis antropomtricas, de composio

corporal, clnicas, social e bioqumicas dos grupos caso e controle de trabalhadores de turnos

alternantes de uma mineradora da Regio dos Inconfidentes-MG,

2013....................................................................................................................................................52

Tabela 3 - Prevalncias dos componentes da SM no grupo total e nos grupos caso e controle, dos

trabalhadores em turnos alternantes da Regio dos Inconfidentes-MG, 2013...................................53

Tabela 4 - Fentipos da SM formados pelas variveis antropomtricas, de composio corporal,

clnicas e bioqumicas em trabalhadores de turnos alternantes de uma mineradora da Regio dos

InconfidentesMG, 2013....................................................................................................................55

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AACE American Association of Clinical Endocrinologists

ACC Coenzima A carboxilase

AGV rea de gordura visceral

AMPK - 5' AMP-protena quinase ativada

Apo B Apolipoprotena B

AUDIT Alcohol Use Disorders Identification Test

AVC Acidente vascular cerebral

BIA Bioimpedncia eltrica

CC Circunferncia da cintura

CP Circunferncia do pescoo

CQ Circunferncia do quadril

DCV Doenas cardiovasculares

DM-2 Diabetes mellitus tipo 2

ET 1 Endotelina 1

GC Gordura corporal

HAS Hipertenso arterial sistmica

HDL High density lipoprotein

HOMA Homeostasis Model Assessment

HOMA AD Homeostasis Model Assessment - Adiponectin

HOMA IR Homeostasis Model Assessment Insulin Resistance

IAC ndice de adiposidade corporal

ICAM 1 Intercellular adhesion molecule 1

IDF International Diabetes Federation

IMC ndice de massa corporal

ndice C ndice de conicidade

IPAQ Internacional Physical Activity Questionnaire

LDL Low density lipoprotein

MCP 1 Monocyte chemoattractant protein 1

MGC Massa de gordura corporal

MGT Massa Gordurosa do Tronco

NCEP/ATP III National Cholesterol Education Program/Adult Treatment Panel III

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NK Natural Killer

NO xido ntrico

NSQ Ncleo Supraquiasmtico

OMS Organizao Mundial de Sade

PA Presso arterial

PAD Presso arterial diastlica

PAS Presso arterial sistlica

PCR Protena C Reativa

RCEst Razo cintura estatura

RCQ Razo cintura quadril

RI Resistncia Insulina

RNAm RNA mensageiro

SM Sndrome metablica

SNA Sistema nervoso autnomo

SNC Sistema nervoso central

TAG Triacilgliceris

TTT Tempo de trabalho de turno

VCAM -1 Vascular cell adhesion protein 1

WHO World Health Organization

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SUMRIO

APRESENTAO ................................................................................................................... 14 1 INTRODUO ..................................................................................................................... 15

1.1 Aspectos conceituais da sndrome metablica ......................................................... 15 1.2 Epidemiologia da sndrome metablica ................................................................... 16

1.3 Aspectos fisiopatolgicos da sndrome metablica .................................................. 17 1.3.1 Obesidade central ............................................................................................... 17 1.3.2 Resistncia insulina (RI) e hiperglicemia ........................................................ 18 1.3.3 Hipertenso arterial sistmica (HAS) ...................................................................... 19 1.3.4 Dislipidemia ....................................................................................................... 20

1.4 Fatores de risco para a ocorrncia de sndrome metablica ..................................... 21 1.5 O trabalho de turno e as alteraes metablicas ....................................................... 22

1.5.1 Trabalho de turno e as adipocinas e citocinas inflamatrias .............................. 25

1.6 Indicadores de adiposidade corporal ........................................................................ 30 2 JUSTIFICATIVA .................................................................................................................. 35 3 OBJETIVOS .......................................................................................................................... 36

3.1 Objetivo geral ................................................................................................................. 36

3.2 Objetivos especficos ................................................................................................ 36 4 MTODOS ............................................................................................................................ 37

4.1 rea do estudo ............................................................................................................... 37 4.2 Desenho e populao do estudo..................................................................................... 37 4.3 Amostra e procedimento amostral .................................................................................. 37

4.3.1 Estudo transversal .................................................................................................... 37 4.3.2 Caso controle ........................................................................................................ 38

4.4 Critrios de incluso e excluso ..................................................................................... 39 4.5 Coleta de dados ............................................................................................................... 40

4.5.1 Sociais e demogrficos ............................................................................................ 40

4.5.2 Comportamentais ..................................................................................................... 40 4.5.3 Antropomtricos ...................................................................................................... 41

4.5.3.1 Peso ................................................................................................................... 41

4.5.3.2 Estatura ............................................................................................................. 41 4.5.3.3 ndice de massa corporal .................................................................................. 41 4.5.3.4 Circunferncia da cintura ................................................................................. 42 4.5.3.5 Circunferncia do quadril ................................................................................. 42 4.5.3.6 Circunferncia do pescoo................................................................................ 42

4.5.3.7 Relao cintura quadril ..................................................................................... 42 4.5.3.8 Relao cintura estatura .................................................................................... 43 4.5.3.9 ndice de adiposidade corporal ......................................................................... 43 4.5.3.10 ndice de conicidade ....................................................................................... 43

4.5.4 Composio corporal ............................................................................................... 44

4.5.5 Bioqumicos ............................................................................................................ 44 4.5.5.1 Glicemia de jejum ............................................................................................. 45

4.5.5.2 Lipdeos sricos ................................................................................................ 45 4.5.5.3 Citocinas e adipocinas inflamatrias ............................................................... 46

4.5.5.3.1 Insulina e leptina ........................................................................................ 46 4.5.5.3.2 Adiponectina e resistina............................................................................. 47 4.5.5.3.3 Protena C reativa ...................................................................................... 47

4.5.5.4 ndice HOMA- IR ............................................................................................. 47 4.5.5.5 ndice HOMA AD ......................................................................................... 47

16

4.5.6 Clnicos .................................................................................................................... 48

4.5.6.1 Presso arterial sistmica .................................................................................. 48 4.6 Anlise estatstica ........................................................................................................... 48 4.7 Questes ticas ............................................................................................................... 49

5 RESULTADOS ..................................................................................................................... 50 5.1 Caracterizao dos trabalhadores de turnos alternantes - MG. ...................................... 50

5.2 Comparao das mdias ou medianas das variveis antropomtricas, composio

corporal, clnicas e bioqumicas entre os grupos de trabalhadores de turnos alternantes -

MG. ....................................................................................................................................... 51 5.3 Prevalncia dos componentes da sndrome metablica em trabalhadores de turnos

alternantes - MG. .................................................................................................................. 53

5.4 Fentipos antropomtricos, de composio corporal, clinicos e bioqumicos

relacionados a sndrome metablica em trabalhadores de turnos alternantes MG. ........... 53 6 DISCUSSO ......................................................................................................................... 56

6.1 Caracterizao dos trabalhadores de turnos alternantes - MG. ...................................... 56 6.2 Comparao das mdias ou medianas das variveis antropomtricas, composio

corporal, clnicas e bioqumicas entre os grupos de trabalhadores de turnos alternantes -

MG ........................................................................................................................................ 57

6.3 Prevalncia dos componentes da sndrome metablica em trabalhadores de turnos

alternantes -MG. ................................................................................................................... 63

6.4 Fentipos antropomtricos, de composio corporal, clinicos e bioqumicos

relacionados a sndrome metablica em trabalhadores de turnos alternantes MG. ........... 65 7 CONCLUSO ....................................................................................................................... 68

8 LIMITAES DO ESTUDO ............................................................................................... 69 9 PERSPECTIVAS FUTURAS ............................................................................................... 70

10 REFERNCIAS .................................................................................................................. 71 11 APNDICES ....................................................................................................................... 93

11.1 Apndice 1 - Termo de consentimento livre e esclarecido ........................................... 93

12.2 Apndice 2 - Questionrios Projeto Manejo da Fadiga e Risco Cardiometablico . 97 12 ANEXO ............................................................................................................................. 111

12.1 Anexo 1 - Aprovao pelo comit de tica em pesquisa ........................................... 111

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APRESENTAO

O presente estudo faz parte de um projeto intitulado Manejo da Fadiga e risco

Cardiometablico em trabalhadores de uma empresa de minerao do estado de Minas

Gerais. O projeto foi dividido em duas fases, sendo que a fase inicial teve como objetivo o

conhecimento da sade geral da populao e visava a investigao dos fatores de risco

metablicos, dietticos, estilo de vida e ambientais relacionados com doenas

cardiovasculares e fadiga em trabalhadores em turno alternante. Nosso estudo est inserido na

segunda fase do projeto e verificou fatores relacionados a sndrome metablica nesta

populao.

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1 INTRODUO

1.1 Aspectos conceituais da sndrome metablica

Nas ltimas duas dcadas, a obesidade tem assumido propores alarmantes no

mundo inteiro, paralelamente ao aumento do sedentarismo e ao fcil acesso a alimentos

altamente hipercalricos (GRUNDY, 2004; STEIN & COLDITZ, 2004). Por essa razo,

talvez, a obesidade esteja associada a fatores de risco cardiovasculares cada vez mais

frequente em populaes jovens adultas (FISBERG & RODRIGUES, 2000).

Em adultos, o acmulo de fatores de risco cardiovascular j vem sendo observado

desde meados do sculo XX, e alguns nomes como: Quarteto da morte, Sndrome da

Resistncia insulina, Sndrome X e Sndrome Plurimetablica foram utilizados para

descrever o conjunto de fatores de risco cardiovascular, sendo eles: obesidade, resistncia

insulina (RI), hipertenso arterial sistmica (HAS), dislipidemia e diabetes mellitus tipo 2,

(DM-2) (KAPLAN, 1989; BJORNTORP, 1991, DEFRONZO & FERRANNINI, 1991;

STEINBERGER et al., 2009).

Hoje, sabe-se que, a esse conjunto de fatores, d-se o nome de Sndrome metablica

(SM), ou seja, A SM se caracteriza pela presena de hiperinsulinemia, RI, obesidade,

dislipidemia, HAS, DM-2 ou tolerncia glicose diminuda (MANNA et al 2006;

NEGRATO,2007; BEZERRA, 2013).

A primeira definio da SM foi proposta, em 1998, pela Organizao Mundial de

Sade (OMS), quando uma lista de critrios era definida, enfatizando a presena de DM-2,

intolerncia glicose ou resistncia insulina, microalbuminria, obesidade, HAS e

dislipidemia (WHO, 1999).

No ano de 2001, a National Cholesterol Education Program/Adult Treatment Panel

III (NCEP/ATP III) modificou os critrios para a SM, diferindo-os da OMS basicamente pelo

fato de no ser necessria a evidncia da RI, nem da medida da microalbuminria,

ressaltando, porm, a importncia da presena da obesidade central (NCEP, 2001).

Em 2002, no entanto, a American Association of Clinical Endocrinologists (AACE)

props novamente a intolerncia glicose, como um dos critrios de diagnsticos, assim

como a importncia em diferenciar o risco para grupos tnicos especficos (EINHORN et al.,

2003). Por fim, Em 2005, a International Diabetes Federation (IDF) colocou a obesidade

16

central como a principal caracterstica da SM, ressaltando a necessidade de diferenciao do

risco de acordo com a etnia da populao (ALBERT et al 2005; IDF, 2005).

Existem, portanto, vrios critrios para a definio e o diagnstico da SM, propostos

por diferentes sociedades mdicas que reconhecem os mesmos fatores de risco, estabelecendo

apenas prioridades para o diagnstico (NEGRATO, 2007).

1.2 Epidemiologia da sndrome metablica

A existncia de diferentes critrios de diagnstico da SM dificulta o estabelecimento

da sua prevalncia (GAGLIARDI, 2002). Em estudos populacionais, estima-se que ela estaria

entre 20,5% e 26,7% dos adultos nos Estados Unidos (FORD et al., 2002; PARK et al., 2003;

FORD et al., 2004; TULL & LAPORTE, 2005), entre 19,8% e 24% na Europa (SANTOS et

al., 2004; MOEBUS et al., 2006;) e entre 18% e 30% em regies do Brasil (SOUZA et al.,

2003; BARBOSA et al., 2006; OLIVEIRA et al., 2006; MARQUEZINE et al., 2007;

SALAROLI et al 2007;) sendo mais evidente a sua ocorrncia com a elevao da faixa etria

(LEO et al., 2010). Quando comparada entre os sexos, sua taxa de prevalncia varia de 12,4

a 28,5% em homens e de 10,7 a 40,5% em mulheres (GANG et al., 2004).

Infelizmente, no Brasil, existe ainda uma escassez de dados sobre a prevalncia e

incidncia de SM na populao geral. Estudo feito na cidade de Novo Hamburgo RS,

constatou que a prevalncia de SM entre idosos, de acordo com os critrios do IDF (2005), foi

de 56,9% (RIGO et al., 2009). No Rio de Janeiro, estudo com indivduos adultos,

referenciados em um ambulatrio de nutrio, mostrou uma prevalncia de 61,1% de SM

(LEO et al., 2010). Em outro estudo, com uma populao com idade entre 25 e 64 anos de

Vitria ES, foi encontrada uma prevalncia geral de 29,8%, sem diferenciao de sexo,

entre a faixa etria de 25-34 anos; e de 15,8% e 48,3% entre indivduos com idade de 55 a 64

anos ( SALAROLI et al.,2007), destacando a importncia da idade na prevalncia de SM.

Estudo feito tambm no semirido baiano mostrou uma prevalncia de 38,4% nas

mulheres e 18,6% nos homens (OLIVEIRA et al., 2006). Outro estudo feito por Barbieri et

al., (2006), apresentou uma prevalncia de 4,8% entre homens e 10,7% em mulheres, todos

jovens de 23 a 25 anos. Apesar de poucos estudos epidemiolgicos sobre a SM no Brasil,

17

pode-se observar que a epidemiologia da obesidade, HAS e DM-2 so elevadas nessa

populao, o que j constitui uma preocupao para a sade pblica (FERRARI, 2007).

No mundo, a SM vem se tornando cada vez mais prevalente, no s em indivduos

adultos, como tambm em crianas, adolescentes e adultos jovens (NEGRATO et al., 2007).

Os critrios de risco para a SM, quando analisados isoladamente, tambm so encontrados em

alta prevalncia, sendo a obesidade central a mais prevalente entre os fatores de risco em

diversos estudos, seguida pela dislipidemia e HAS (PICON et al., 2005; OLIVEIRA et al.,

2006; SALAROLI et al., 2007; CAVAGIONI et al., 2008 e PONTES & SOUSA, 2009).

1.3 Aspectos fisiopatolgicos da sndrome metablica

1.3.1 Obesidade central

Indivduos portadores da SM apresentam a chamada obesidade central, tambm

conhecida como obesidade abdominal ou androide. Neste caso, ocorrem depsitos de gordura

predominantemente no abdmen e nas vsceras, estando esta mais associada com a

ocorrncia da RI e a um aumento na incidncia do DM-2 (LOPES, 2007; BARBOSA et al.,

2010; ANJOS et al., 2012).

Atualmente, as clulas adiposas no so tidas apenas como estruturas de proteo e

sustentao, mas como um verdadeiro rgo dotado de intensa atividade endcrina e

metablica (RUMANTIR et al 1999; HOTAMISLIGIL et al 1993; NEGRATO,2007). O

aumento da gordura na regio abdominal est intimamente ligado s doenas crnicas como a

HAS, DM2, dislipidemias e doenas coronarianas. Esses fatores esto estreitamente ligados

tambm funo endcrina do tecido adiposo que produz diversas molculas inflamatrias,

alm de hormnios que esto relacionados ao controle e manuteno de sistemas corporais,

tais como: o apetite, regulao e manuteno do peso corporal, metabolismo de

macronutrientes, presso arterial, entre outros (BARTNESS et al 1998).

O tecido adiposo visceral tambm tem uma atividade lipoltica intensa. Estudos que

utilizaram triacilgliceris (TAG) marcados demonstraram um metabolismo 50% a 100%

maior desse lipdio no tecido adiposo visceral que no tecido adiposo subcutneo

(BJONTORP, 1995; MANNA et al., 2006). Sendo a liplise muito ativa, h uma liberao

18

acentuada de cidos graxos livres, que chegam ao fgado, aumentando o depsito de TAG

naquele rgo e no pncreas (SUPLICY 2000).

No pncreas, o aumento dos TAG provoca um efeito lipotxico, em que nveis

elevados de oxidao lipdica alteram a oxidao da glicose e efeito glicotxico, ou seja,

alteraes na produo de glicognio e oxidao da glicose comprometem progressivamente a

ao da insulina (ROSSETTI et al., 1990;DE FRONZO et al., 1992).

1.3.2 Resistncia insulina (RI) e hiperglicemia

Na SM, ocorre uma hipersensibilidade do tecido adiposo aos glicocorticoides, como o

cortisol e a cortisona. O aumento desses hormnios estimula a enzima glicose-6-fosfatase,

promovendo maior liberao de glicose das clulas pancreticas, hepticas e musculares,

causando um estado de hiperglicemia. A constante exposio a essa glicemia leva maior

produo de insulina, provocando a RI, observada na SM (FERRARI, 2007). A RI ocorre

quando uma concentrao normal desse hormnio produz menor resposta biolgica nos

tecidos perifricos, como: msculos, fgado e tecido adiposo. Geralmente, acompanhada por

aumento compensatrio da secreo de insulina pelo pncreas para compensar a dificuldade

de ao da insulina nos tecidos perifricos, com a finalidade de manter os nveis glicmicos

dentro da faixa normal. (PESSIN & SALTIEL, 2000; CORREIA et al., 2002; SANTOS et al.,

2006; LOPES, 2007).

De acordo com Bertolami (2004), a RI normalmente diagnosticada em indivduos

que apresentam tolerncia anormal glicose, embora indivduos que se apresentem com

tolerncia normal tambm possam ser insulinorresistentes. Guimares & Guimares (2006),

afirmam que a hiperinsulinemia responsvel pela elevao da presso arterial, intolerncia

glicose e pela dislipidemia que caracterizam a SM.

O mtodo considerado como padro ouro para estimar a RI o clamp

hiperinsulinmico euglicmico (DE FRONZO et al., 1979), cuja alta complexidade

metodolgica dificulta a sua utilizao em estudos epidemiolgicos ou mesmo na prtica

clnica diria (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 1998).

Um dos mtodos existentes e mais difundidos para avaliar a sensibilidade insulina,

devido a sua simplicidade e fcil aplicabilidade, o HOMA (Homeostasis Model

Assessment), descrito na dcada de 80 por Matthews et al., (1985). O HOMA-IR

19

(Homeostasis Model Assessment Insulin Resistance) utilizado para avaliar a resistncia ao

hormnio, atravs de uma frmula de dosagens sanguneas basais de insulina e glicose de

jejum. Vrios estudos epidemiolgicos validaram o HOMA-IR, porm, na prtica clnica

ainda no recomendado (WALLACE & MATTHEWS, 2002; MONZILLO &HANDY,

2003; WALLACE & MATTHEWS, 2004; OLIVEIRA et al., 2005).

O aumento dos valores de HOMA-IR apontam menor resistncia ao hormnio. Os

autores, que descreveram a frmula do HOMA-IR, validaram sua medida em relao ao

clamp, padro ouro, e obtiveram tima correlao entre o ndice e os valores de glicose

captados no clamp (r=0,88) (MATTHEWS et al.,1985). Yeni-Komshian et al., (2000) e

Ferrara & Goldberg (2001) ao avaliarem o ndice HOMA-IR, constataram que esse falhou em

indivduos com tolerncia normal glicose. Alm disso, pode ser que seja inadequado para

indivduos diabticos com hiperglicemia moderada, pelo fato de a secreo de insulina no

compensar a homeostase da glicose (INOUE et al., 2005).

Alm do HOMA IR, outro ndice foi proposto para avaliar a RI. A adiponectina,

protena produzida pelo tecido adiposo, tem a propriedade de modular na ao da insulina

AMP - protena quinase nos msculos e fgado (YAMAUCHI et al., 2002). Os nveis de

adiponectina se relacionam com a sensibilidade insulina em pacientes obesos e diabticos.

Em vista disso Matsuhisa et al., 2007, props o ndice Homeostasis model assessment -

adiponectin (HOMA- AD), como mtodo de medio da RI. Esse ndice seria calculado

atravs de uma frmula que levaria em considerao os nveis sanguneos de adiponectina e

seria melhor para estimar a RI (WEYER et al., 2001; MATSUHISA et al., 2007).

A importncia da RI em comorbidades cardiovasculares est alm de um fator de risco

isolado. Alm de a RI estar associada obesidade central, tambm est relacionada com a

alterao da presso arterial e dislipidemias. O mecanismo de causa e efeito, assim como o

metabolismo que as envolve ainda no bem compreendido. (BERTOLAMI, 2004). A

obesidade central bem correlacionada RI, por isso, acredita-se que o elevado risco

cardiovascular observado nessa condio esteja ligado ao surgimento da SM, alm das

alteraes da presso arterial e do perfil lipdico, observados nessa condio (FERREIRA E

ZANELLA, 2000).

1.3.3 Hipertenso arterial sistmica (HAS)

20

Na SM, a RI parece ser a responsvel pelo desenvolvimento da HAS. Os mecanismos,

porm, no esto totalmente elucidados (MANNA et al., 2006). Estudo feito por McLaughlin

& Reaven (2000), constatou que, cerca de 50% de todos os indivduos hipertensos, so

resistentes insulina e ainda, segundo esses autores, acredita-se que essa resistncia seja fator

anterior prpria HAS (MUSCELLI et al., 1991; OLIVEIRA et al., 2010). Uma das

explicaes para a ligao entre a HAS e RI que o aumento da insulina circulante aja no

sistema nervoso simptico, aumentando sua atividade. Dessa forma, ocorre o aumento da

reabsoro de sdio acarretando aumento da presso sangunea. Alm disso, foi observado

que em condies de resistncia insulina, perde-se o efeito vasodilatador da insulina, atravs

do xido ntrico. (OHRVALL et al., 2000; TURCATO et al., 2000; RISERUS et al., 2004).

Em adultos a HAS caracterizada pela elevao da presso arterial a nveis superiores

a 140 mmHg de presso sistlica e 90 mmHg de presso diastlica em, pelo menos, duas

aferies subsequentes, obtidas em dias diferentes ou em condies de repouso e ambiente

tranquilo (WHO, 1999). Juntamente com a HAS, so encontradas leses nos vasos

sanguneos e alteraes de rgos, como: crebro, corao, rins e retina, (POZZAN et al.,

2002). Geralmente, essa uma doena silenciosa, por no provocar sintomas imediatos, mas

quando esses ocorrem, sinal de que j h complicaes (SILVA et al., 2004).

1.3.4 Dislipidemia

A dislipidemia uma disfuno metablica tambm relacionada s outras alteraes

da SM. Ambos, porm, so fatores de risco independentes para doenas coronarianas

(ALBERTI; ZIMMET& SHAW, 2005). Ela caracterizada por perfil lipdico aterognico

caracterstico, denominado dislipidemia aterognica, que consiste em nveis elevados de TAG

e LDL colesterol (low density lipoprotein) e tambm por diminuio das lipoprotenas de alta

densidade, HDL (high density lipoprotein) colesterol (GIULIANO &CARAMELLI,2007)

Rigo (2007) cita que HDL colesterol baixo est associado doena cardiovascular

prematura, elevando o risco de infarto agudo do miocrdio entre indivduos sem doena

arterial coronariana conhecida. Este pode ocorrer como uma anormalidade isolada, ou mais

frequentemente, em associao com hipertrigliceridemia, que tambm pode ser considerada

21

como um fator de risco independente, para doenas cardiovasculares (DCV), mesmo quando

associada a nveis elevados de LDL e reduzidos de HDL.

Duas situaes foram propostas para explicar a ocorrncia da alterao no perfil

lipdico na SM. As duas partem de um mesmo ponto; a obesidade central como precursora da

RI. A partir da, dois eventos distintos ocorrem (BERTOLAMI, 2004). O primeiro evento a

maior atividade da lipase heptica, responsvel pela hidrlise de TAG e fosfolipdios na

superfcie das LDL e HDL, ocorrendo uma remodelao das lipoprotenas que resultaria em

partculas pequenas e mais densas de LDL e menos HDL (BERTOLAMI, 2004; SIQUEIRA

et al., 2006). As partculas de LDL formadas ento seriam mais aterosclerticas, uma vez que

sua penetrao no interior da artria seria mais facilitada, alm de ter maior facilidade de

reconhecimento pelos os receptores dos macrfagos (CULLETON et al., 1999; BARROSO et

al., 2002; DALTON et al., 2003; BERTOLAMI, 2004).

Outra via metablica que pode explicar a dislipidemia a maior produo apo B, que

leva ao aumento da sntese e secreo de TAG pelo fgado. As partculas de LDL e HDL ricas

em TAG so hidrolisadas pela lipase heptica, formando partculas menores e mais densas de

LDL e HDL. (SIQUEIRA et al., 2006). Provavelmente, o aumento de gordura na regio

abdominal leva a um aumento da atividade da lipase heptica, resultando no aumento tambm

da hidrlise do TAG na superfcie de partculas de LDL- colesterol e HDL-colesterol,

resultando na disfuno lipdica encontrada na SM (TASKINEN, 1992; CAMPOS et al.,

2001).

1.4 Fatores de risco para a ocorrncia de sndrome metablica

Sabe-se que a patognese da SM pode ter influncias de fatores relacionados ao

ambiente, hbitos e estilo de vida (STEEMBURGO et al., 2007). O estilo e hbitos de vida

tm papel fundamental para o surgimento dos componentes da SM. A atividade fsica

associada com uma dieta saudvel, se mostra como uma importante aliada no combate e

preveno das dislipidemias, manuteno de nveis timos de presso arterial e controle de

peso (DORO et al., 2006). Ao contrrio, alguns fatores se tornam riscos significativos, como

o tabagismo, alcoolismo, perda de sono, entre outros (FREIRE et al., 2005).

22

A perda de sono j vem sendo associada ao dficit de ateno e concentrao. Alm

disto, estudos epidemiolgicos tem associado tambm a perda de sono crnica a maior

morbidade e mortalidade (MULLINGTON, 2009). Uma das causas da perda de sono o

trabalho de turno noturno, ou seja, pessoas que trabalham durante a noite e dormem durante o

dia, ou ainda o trabalho de turno alternante, onde existe um revezamento de horrios

diariamente.

A literatura j tm demonstrado as consequncias do trabalho de turno alternante na

vida e sade dos indivduos. Neste ritmo de trabalho, acontecem uma srie de alteraes que

so acarretadas pela desregulao homeosttica e circadiana, levando a alteraes na

composio corporal at a gnese da SM, que aumenta o risco de DCV (BIGGI, 2005;

FUGINO, 2006).

1.5 O trabalho de turno e as alteraes metablicas

Existem milhares de trabalhadores de turno noturno e de turno alternante, muito

frequentes em empresas e indstrias, com a finalidade de atender flexibilidade da fora de

trabalho necessria para o aumento da produtividade em pases desenvolvidos (GORDON et

al., 1986). Entende-se por trabalho de turno todo trabalho que no realizado em horrio fixo,

habitualmente, durante o dia (SHARIFIAN, FARAHANI, PASALAR, et al. 2005).

A literatura cientfica associa bem as alteraes metablicas e fisiolgicas causadas

pelo trabalho de turno noturno fixo, porm poucos estudos abordam o trabalho de turno

alternante, tambm como causa dessas alteraes, que so responsveis, em longo prazo, por

acarretar graves problemas de sade, especialmente, doenas advindas no aparelho

circulatrio (LORENZO et al 2006).

Alm disso, a privao de sono est relacionada a presena de distrbios de peso, SM

e com nveis circulantes de citocinas inflamatrias, fazendo com que o trabalho de turno seja

responsvel por uma trade entre alteraes metablicas, obesidade e inflamaes (FESTA et

al 2001; PANNACIULLI et al 2001; SNODGRASS et al 2007). Todas essas modificaes

observadas no metabolismo desses trabalhadores so, possivelmente, oriundas de alteraes

cronobiolgicas que as estimulam diariamente em nosso corpo. (LORENZO et al 2006).

Segundo a cronobiologia, o corpo humano diretamente influenciado por estmulos

externos e ritmos biolgicos que se manifestam em diferentes perodos, apresentando ou no

23

relaes com os ciclos ambientais (LEMMER, 2009). Dessa forma, o sistema homeosttico

humano capaz de se adaptar s mudanas dirias como, por exemplo, a presena ou ausncia

de luz e as estaes do ano, fazendo com que o corpo responda de forma diferente a perodos

de esforo fsico e sono (FROY, 2010).

Esses ciclos ambientais, quando repetidos de forma regular, recebem o nome de ritmo

biolgico ou ritmo circadiano, caracterizado como ciclos que possuem durao de,

aproximadamente, 24 horas (LISBOA et al, 2006; LEMMER 2009). Um importante ciclo

circadiano o ciclo sono-viglia, que est sincronizado com estmulos exgenos, como as

mudanas ambientais, horrios de refeies, horrios de trabalho, convvio social, entre outros

(FROY 2010; CAMPOS et al 2009). Alm disso, o ciclo sono-viglia tambm se regula, de

maneira endgena, atravs da presena de componentes presentes em vrios tecidos, inclusive

tecido adiposo, alm de uma estrutura localizada no hipotlamo, chamada, Ncleo

Supraquiasmtico (NSQ), considerado o relgio biolgico de todos os mamferos

(ALMONDES, ARAUJO 2003; ASCHOFF,1979; ANTUNES 2010). Em trabalhadores de

turno, esse ritmo fica prejudicado.

O trabalho realizado em turnos, principalmente o trabalho noturno fixo ou alternante,

sob a ptica da cronobiologia, leva prejuzos decorrentes de uma desordem temporal do

organismo do trabalhador, interferindo na sincronia do ciclo claro-escuro, do sono e da

alimentao, podendo causar uma incompatibilidade de ritmos circadianos e desencadear uma

cascata de alteraes biolgicas (KIVIMAKI et al 2004; TAHERI et al 2011). Ele est

relacionado com fadiga crnica, alterao do padro de sono, desordens metablicas de

macronutrientes como: a glicose, as alteraes na composio corporal, a alterao do

funcionamento intestinal, alm de desordens psicolgicas (KNUTSSON, 2003).

Essas alteraes esto ligadas obesidade, fator de risco importante para morbi-

mortalidade por DCV (KARLSSON et al 2001; FONSECA-ALANIZ et al 2007;VIRTANEN

et al 2009). Muitos estudos tm demonstrado que o trabalho de turno alternante est

relacionado com maior prevalncia de sobrepeso e obesidade, alm de sugerir que esses

trabalhadores possuem maior ganho de peso, de acordo com o tempo de trabalho, quando

comparados com os trabalhadores diurnos (PARKES 2002; DI LORENZO et al 2003;

OSTRY et al 2006; MORIKAWA et al 2007). Alm disso, o aumento de gordura abdominal,

fator de risco cardiovascular mais importante que a obesidade isoladamente, est sendo

demonstrada em muitos estudos com trabalhadores de turno (NAKAMURA et al 1997).

24

Karlsson et al (2003) confirmaram ainda, em estudo, que trabalhadores de turno

noturno apresentam maior circunferncia abdominal que profissionais que trabalhavam

durante o dia. Em concordncia, os estudos de Antunes et al (2010) e Rodrigues et al (2008)

encontraram tambm relao significativa entre o trabalho de turno noturno e a circunferncia

da cintura (CC), sugerindo que essa alterao no abdmen seja causa do desenvolvimento

precoce de distrbios metablicos, fatores importantes de risco para a SM. Os mesmos

resultados foram encontrados em outros estudos envolvendo trabalhadores de turno noturno.

(BIGGI et al 2008; CONWAY et al 2008; SCHEER et al 2009;).

O aumento da gordura, principalmente, na regio abdominal, est intimamente ligado

s doenas crnicas como a HAS, DM-2, dislipidemias e doenas coronarianas. Esses fatores

esto estreitamente ligados funo endcrina do tecido adiposo que produz diversas

molculas inflamatrias e hormnios que esto relacionados ao controle e manuteno de

sistemas corporais, tais como: o apetite, a regulao e manuteno do peso corporal, o

metabolismo de macronutrientes, alm da presso arterial (BARTNESS et al 1998).

Sabe-se que presso arterial controlada por diversos mecanismos e hormnios, como

filtrao glomerular, sistema renina-angiotensina, alm do controle do sistema nervoso

autnomo (SNA) (IRIGOYEN et al 2001). Alguns estudos j tm demonstrado que o trabalho

de turno fator de risco para as alteraes da presso arterial, alm desta ser elevada em

trabalhadores hipertensos e pr-hipertensos (MULLINGTON et al 2009). Estudo feito

tambm por Lusardi et al (1999) mostrou que a metade de uma noite de sono perdida

significativa para aumentar os nveis da presso arterial.

Alm da presso arterial, outras alteraes so encontradas entre trabalhadores que no

possuem turno fixo de trabalho. Karlsson et al (2003) e Trief et al (1999), demonstraram que

o trabalho de turno alternante fator de risco para o incio do desenvolvimento de resistncia

insulina e DM-2. O aumento dos ndices de TAG, LDL colesterol e baixas taxas de HDL

colesterol, nessa populao, tambm foi demonstrado por Nagaya et al (2002), Knutsson et al

(1988), Lasfargues et al (1996), Nakamura et al (1997), Orth - Gome'r (1983) e Romon et al

(1992), sugerindo alteraes no metabolismo de glicose e lipdeos causadas por esse ritmo de

trabalho.

Biggi et al (2008) e Holmback et al (2009) ainda tm demonstrado que o trabalho

noturno e as desordens no ciclo sono-viglia podem estar associados maior incidncia de SM

na populao. Bacquer et al (2009), em um estudo prospectivo com trabalhadores de turnos

alternantes observou que a rotao do trabalho por turnos no s foi responsvel pelo

25

desenvolvimento de SM, como tambm, para o aparecimento de cada um dos seus

componentes separados, como: alterao da presso arterial, alteraes glicmicas,

hipertrigliceridemia, hipercolesterolemia e aumento da CC. Nesse mesmo estudo, observou-se

que vrias caractersticas de associao indicam que a incidncia de SM pode realmente ser

uma relao causada pelo trabalho realizado em turnos, independentemente do estilo de vida

e condies scioeconmicas (BACQUER et al 2009).

Assim, a presena da SM, em trabalhadores de turnos ou em qualquer outro

indivduo, est significativamente associada maior mortalidade cardiovascular (BEZERRA,

2013). A RI observada provoca disfuno endotelial, constituindo um elo entre a SM e a

inflamao. Diante desse processo inflamatrio, ocorre um aumento na circulao de citocinas

e adipocinas inflamatrias caracterizando um estado de inflamao crnico subclnico

(WAJCHENBERG, 2000; BAHIA et al 2006).

1.5.1 Trabalho de turno e as adipocinas e citocinas inflamatrias

Na literatura, trabalhos que investigam a produo de marcadores de inflamao

relacionada a SM em trabalhadores de turnos alternantes so pouco descritos. No entanto,

autores que relatam o papel dessas adipocinas e citocinas em outras situaes esclarecem a

relao que elas tem na SM. Nesse sentido, estudos mostram que um grande nmero de

molculas j identificadas que esto relacionadas com o processo inflamatrio na obesidade e

SM, como: a leptina, resistina, insulina, protena C Reativa (PCR), e adiponectina (RIBEIRO

FILHO, et al 2006).

A leptina uma protena de 167 aminocidos transcrita a partir do gene ob, produzida

principalmente pelo tecido adiposo. Sua principal funo atuar nas clulas do hipotlamo,

sistema nervoso central (SNC), estimulando a saciedade e o aumento do gasto energtico,

atravs da inibio de neuropeptdeos que estimulam o apetite (orexgenos), ou estimulando a

produo dos que inibem a fome (anorexgenos) (FRIEDMMAN; HALAAS 1998, WOODS

et al 1998).

A leptina produzida de acordo com as quantidades de estoque de gordura, uma vez

que a produo dela diretamente proporcional massa de tecido adiposo. Nas primeiras

horas da manh que se observa o pico de liberao desse hormnio no sangue, sugerindo

26

que alteraes no horrio do sono podem ser decisivas para a boa resposta do organismo a

esse hormnio (SINHA et al., 1996, SUYEON; MOUSTAID-MOUSSA 2000; MAURIGERI

et al., 2002).

Em indivduos obesos, a produo de leptina est muito aumentada quando comparada

com indivduos eutrficos, podendo ser cinco vezes maior em obesos (CONSIDINI et al

1996, SANDOVAL; DAVIS 2003, PARACCHINI; PEDOTTI 2005, ROMERO; ZANESCO

2006). Esse aumento na produo de leptina tambm pode ser observado em trabalhadores de

turnos alternantes, e, como no caso da obesidade, esse aumento gera uma situao de

hiperleptinemia, que quando o hormnio no exerce sua funo. Esse no exerccio da

funo pode ser causado por falha no receptor na leptina OB- Rb, ou por uma deficincia no

seu transporte na barreira hematoceflica, impedindo seu acesso s regies hipotalmicas que

regulam o apetite, fato denominado resistncia leptina (CONSIDINI et al 1996).

Embora a maior parte do esforo nas pesquisas cientficas tenha sido dedicada

saciedade, reduo de peso e as aes da leptina no hipotlamo, o crescente reconhecimento

da obesidade como uma doena inflamatria fez com que investigadores comeassem a

explorar os efeitos da leptina em sistemas imunes (LI et al 2006).

Estudos mostraram sua importncia na modulao da resposta imune, atravs da

ativao dos moncitos, modulao de clulas dendrticas e as chamadas Natural Killer (NK),

alm de influenciar a produo de citocinas pelas clulas T, atuando tambm como uma

adipocina pr-inflamatria que podem influenciar no balano energtico, na sensibilidade

insulina e em funes cardiovasculares. Alm disso, estudos comprovaram o aumento dos

nveis de leptina, aliado a outras molculas pr-inflamatrias, confirmando a participao da

leptina na inflamao (KIRCHGESSENER 1997, SARRAF et al 1997, MATARESE et al

2005, FONSECA-ALANIZ et al 2007). Outro estudo realizado por Huan et al, em 2013,

constatou ainda que o aumento da leptina est relacionado reduo da expresso da

adiponectina, adipocina considerada anti-inflamatria (HUAN et al 2003).

A adiponectina uma adipocina produzida exclusivamente pelo tecido adiposo. Ela

apresenta maior expresso em tecido adiposo visceral e est envolvida na proteo de doenas

do corao, aumentando a sensibilidade insulina (MOULIN et al, 2009). Sua ao anti-

inflamatria e antiaterogncia se d pela reduo da expresso de citocinas pr-inflamatria

envolvida com a RI e relacionada inflamao (OUCHI et al 2000). Alm disso, a

adiponectina atua na diminuio da atividade da resistina, inibio da sinalizao inflamatria

no tecido endotelial, aumento da sensibilidade insulina por meio da oxidao de cidos

27

graxos e captao e utilizao de glicose no msculo esqueltico e no tecido adiposo, alm da

reduo da liberao de glicose do fgado. Isso leva a um melhor controle dos nveis

sanguneos de glicose, cidos graxos livres e TAG (FRAN et al 2003, RAJALA et al 2003,

MATTISON; JESEN 2003, KAWANAMI et al 2004).

A forma como a adiponectina atua na sensibilidade insulina atravs da oxidao de

cidos graxos, mas ainda no est totalmente esclarecido como isso ocorre. Estudo feito por

Yamauchi et al., (2002), encontrou uma possvel explicao. Segundo os autores, a

adiponectina estaria envolvida na fosforilao da coenzima A carboxilase (ACC), principal

regulador da oxidao de cidos graxos no msculo esqueltico. Isso acontece devido

ativao da 5'- AMP-protena quinase ativada (AMPK), que tambm est envolvida no

estmulo captao da glicose independente dos cidos graxos livres, e reduz a expresso de

molculas envolvidas na gliconeognese. Observou-se, por sua vez, que a adiponectina

estimula a ativao da AMPK e com isso, induz a fosforilao da ACC, reduzindo os nveis

de glicose in vivo (YAMAUCHI et al., 2002).

Ouchi et al 2003 encontrou uma relao inversa entre PCR e os nveis de adiponectina

no plasma e no tecido adiposo. Outros estudos apontam que as concentraes sricas de

adiponectina esto fortemente relacionas com as PCR (ROTHENBACHER et al 2005, RYU

et al 2008).

Dentre os vrios marcadores inflamatrios investigados, a PCR tem maior

estabilidade, preciso no ensaio, acurcia e disponibilidade (GANGULI et al 2011). PCR

uma protena de fase aguda produzida pelo fgado em resposta a infeces e inflamaes.

Nveis elevados dessa protena so associados idade mais elevada, obesidade abdominal e

elevao de TAG. Assim como uma molcula inflamatria, a PCR uma das mais poderosas

preditoras independentes de infarto do miocrdio, acidente vascular cerebral (AVC) e morte

vascular em diferentes grupos tnicos, em ambos os sexos e em diferentes faixas etrias

(VERMA; EDWARD 2003, PRAMO et al 2008, RYU et al 2008, JUNQUEIRA et al

2009).

Um estudo realizado no Brasil constatou que indivduos com nveis elevados de PCR,

apresentaram proporo do permetro da cintura maior do que aqueles com PCR mais baixa,

podendo ser associada, em longo prazo, RI, morbidade cardiovascular, alm da gnese da

arterosclerose (JUNQUEIRA et al 2009). Desse modo, essa molcula inflamatria est

fortemente relacionada ao nmero de componentes da SM.

28

Na gnese da leso aterosclertica PCR atua de maneira bem conhecida. Ela regula

positivamente molculas de adeso de clulas endoteliais, tais como Intercellular adhesion

molecule 1 (ICAM-1) , Vascular cell adhesion protein 1 (VCAM -1) e E-selectina

(PASCERI et al 2000, PASCERI et al 2001, YEH et al 2001,VERMA et al 2002, YEH;

PALUSINSKI 2003, YEH; WILLERSON 2003). Essas molculas de adeso desempenham

um papel fundamental na integrao dos leuccitos ao endotlio, fator inicial da arterognese.

A PCR tambm modula a liberao da quimiocina Monocyte chemoattractant protein 1 (MCP

-1), promovendo a transmigrao desses leuccitos, atravs do endotlio (PASCERI et al

2001, VERMA et al 2002).

Neste contexto, ocorre tambm a produo de molculas como endotelina-1 (ET-1),

potente vasoconstritor, ao mesmo tempo que a produo de xido ntrico (NO) diminui. O NO

fator principal do relaxamento do endotlio e desempenha papel fundamental na

manuteno do tnus vascular (VERMA et al 2002, VENUGOPAL et al 2002, VERNA;

WANG et al 2002). Quando a produo de NO cai, a PCR facilita a apoptose de clulas

endoteliais, evidenciando sua caractersticas inflamatria e arterosclertica (PALUSINSKI et

al 2002).

Estudo tem mostrado que a caracterstica arterosclertica da PCR maior e fica mais

evidenciada em meio hiperglicdico, evidenciando uma relao entre o metabolismo da

glicose, disfuno endotelial e doena cardiovascular, alm da reao com o metabolismo da

insulina (FICHTLSCHERER et al 2000).

A insulina uma protena produzida pelas Ilhotas de Langerhans do pncreas em

resposta ao aumento dos nveis circulantes de glicose ps-prandial. Ela regula a homeostase

de glicose em vrios nveis, reduzindo a produo heptica de glicose, atravs da diminuio

da gliconeognese e glicogenlise e aumentando a captao perifrica de glicose,

principalmente nos tecidos muscular e adiposo (CAVALHEIRA 2002).

Na SM, ocorre a falha dos tecidos: cardaco, adipososo, heptico e msculo

esqueltico a responderem, normalmente, insulina, chamada de RI, como j foi visto.

Quando associada obesidade, entretanto, caracterizada como um aumento da produo de

glicose no fgado e uma diminuda captao da insulina em outros tecidos. O msculo

esqueltico , quantativamente, importante na captao de glicose mediada pela insulina, o

tecido adiposo, porm, tanto visceral quanto subcutneo est relacionado fortemente

resistncia a esse hormnio (FERRANNINI et al., 1997, STEPPAN LAZAR, 2002, WANG,

GOALSTONE; DRAZNIN, 2004). Pode-se ressaltar, ainda, que a insulina apresenta ao

29

vasodilatadora, a qual se deve produo de NO pelo endotlio. Assim, a RI pode contribuir

para a disfuno endotelial (CAVALHEIRA, 2002).

A disfuno endotelial, observada na SM, tambm est relacionada a um outro

marcador inflamatrio, a resistina. (HAM, 2006). A resistina uma protena pertencente

famlia das protenas ricas em cistena (CAVALHEIRA, 2002). especialmente expressa e

secretada pelos adipcitos e a expresso dos seus genes induzida pela diferenciao desses

adipcitos (STEPPAN, 2001). A resistina uma das mais novas citocinas estudadas e recebeu

esse nome primeiramente por causa da capacidade de provocar a RI, sendo descrita como um

hormnio singular, cujos efeitos no metabolismo da glicose so contrrios aos observados na

insulina (McTERMAN et al 2002, BELTOWSKI 2003, WOLF 2004).

Estudos iniciais mostraram que a resistina aumentava a expresso de molculas de

aderncia VCAM-1 e ICAM-1, agindo de forma positiva na formao da permeabilidade do

endotlio e iniciao da leso arterosclertica, da mesma forma que a PCR (CAVALHEIRA,

2002). Em modelos experimentais tambm, ficou demostrado que os nveis circulantes de

resistina aumentavam quando a obesidade era induzida por dieta e sua imunoneutralizao,

melhorava a ao da insulina e os nveis de glicose, em ratos diabticos. Ao contrrio, em

ratos normais, a ao da insulina era prejudicada, quando a resistina era administrada

(STEPPAN, 2001). Estudos posteriores no conseguiram encontrar relao entre a expresso

de RNA mensageiro (RNAm) para resistina e a obesidade e RI em humanos (NAGAEV,

SMITH 2001; SAVAGE et al 2001; ENGELI et al 2002).

A resistina , portanto, uma forte candidata para explicar um mecanismo por meio do

qual o excesso de adiposidade conduz a RI. Assim, embora muitos aspectos de sua funo

ainda devam ser elucidados, parece que ela ir adicionar conhecimento sobre a fisiopatologia

da doena vascular e da SM (CAVALHEIRA, 2002).

A inflamao e a produo de molculas inflamatrias em trabalhadores de turnos

alternantes ainda so pouco estudadas. Estudo feito por Puttonem, (2011) verificou que o

trabalho de turno tinha relao com a produo de PCR e encontrou uma produo maior da

protena em trabalhadores que revezavam em 2 e 3 turnos. Contrariando esse estudo, Haack,

(2007) no encontrou diferenas significativas entre os grupos de trabalhadores de turnos

noturnos e diurnos. Em outros dois estudo, trabalhadores de turno tiveram uma dosagem de

insulina de jejum maior, quando comparados a trabalhadores diurnos (SOOKOIAN, 2007;

PAN et al., 2011). Karlsson, (2003), porm, encontrou resultados contrrios.

30

Burgueo et al., (2010), observou, tambm, elevadas taxas de resistina em

trabalhadores de turnos alternantes, sugerindo que a resistina pode ser um importante

marcador de risco cardiovascular nessa populao. Em estudo com homens japoneses

saudveis, Kazuhiko et al., (2007), relacionou a maior produo de adiponectina a horrios de

sono regulares; ressaltando a privao de sono, como um fator que desencadeia a baixa

produo de adiponectina pelos adipcitos e maior risco cardiovascular.

A maior produo de marcadores inflamatrios e, consequentemente, as disfunes

provocadas por eles est relacionada com o estado inflamatrio de baixa intensidade

observado na obesidade e em trabalhadores de turnos alternantes. Alm disso, outros estudos,

tambm, encontraram alteraes na presso arterial, TAG, dosagens de colesterol e

indicadores da composio corporal alterados nessa populao. Esses fatores juntos indicam a

importncia do acmulo de gordura, especialmente na regio central do corpo, para o estado

inflamatrio e a morbi-mortalidade por doenas cardiovasculares, mostrando a importncia do

conhecimento das medidas antropomtricas e de composiao corporal nos estudos envolvendo

a SM (KARLSSON, 2003; SOOKOIAN, 2007; PAN et al., 2011).

1.6 Indicadores de adiposidade corporal

Nos dias de hoje, vrios so os mtodos que podem ser utilizados para estimativa de

gordura corporal. Esses mtodos podem ser chamados de diretos ou indiretos (HEYWARD,

2001). Mtodos diretos so aqueles em que ocorre a dissecao de tecidos, sendo impossvel

serem feitos in vivo.Tcninas indiretas e duplamente indiretas so, portanto, as mais

utilizadas, sendo elas: Ultrassonografia, Raios X, Ressonncia Magntica e Tomografia

Computodarizada, Bioimpedncia Eltrica (BIA) e Antropometria (ALMEIDA, 2008).

Em estudos epidemiolgicos, tcnicas como a ressonncia magntica, ultrassonografia e

tomografia so muito difceis de serem usadas devido complexidade tecnolgica e alto custo

(REZENDE et al., 2007; HAUN, 2009). A tomografia computadorizada hoje considerado o

mtodo de referncia para a avaliao dos depsitos de gordura na regio das vsceras, mas, por ser

dispendioso e submeter os pacientes a radioatividade, no pode ser usado como rotina (LEITE et

al., 2000; RADOMINSKI et al., 2000). Em vista disso, a BIA e a antropometria se tornam as

tcnicas mais utilizadas nesse tipo de estudo.

31

Entre as principais medidas antropomtricas para estimativa de gordura corporal, tem-se

o ndice de Massa Corporal (IMC), alm do ndice de Adiposidade Corporal (IAC). Para a

medida de gordura localizada na regio central do corpo, tem-se a CC , ndice de Conicidade

(ndice C), Razo cintura quadril (RCQ) e Razo cintura estatura (RCEst).

O IMC, alm de fcil aplicao, o ndice mais utilizado para estimar excesso de peso

em estudos epidemiolgicos e na prtica clnica, sua preciso, porm, questionada, pois no

consegue diferenciar o peso de massa magra em indivduos de corpo atltico, no podendo ser

generalizado entre indivduos e grupos tnicos distintos (McCARTHY, 2006; GARRIDO-

CHAMORRO, 2009).

Um novo ndice, recentemente proposto por Bergman (2011), para se medir a massa

de gordura e que se apresentou mais confivel, quanto s diferenas entre o tipo de massa, foi

o IAC. Essa medida tambm de fcil aplicabilidade e pode ser utilizada para refletir a

porcentagem de gordura corporal para adultos de ambos os sexos, sem. Ela utiliza apenas a

altura e circunferncia do quadril (CQ) em sua frmula, e obteve excelentes resultados

quando comparada ao padro ouro, sendo ento, proposta para ser utlizada para determinar

a porcentagem de adiposidade direta (BERGMAN, 2011).

Para mensuraes de adiposidade central, existem algumas medidas como: a CC,

RCQ e RCEst. A CC medida atravs de uma fita antropomtrica flexvel do ponto mdio

entre a ltima costela e a crista ilaca e determina o permetro abdominal expresso em

centmetros (cm), estando fortemente relacionada gordura abdominal (MARTINS &

MARINHO, 2006). O ponto anatmico escolhido para a medida da CC o mais satisfatrio

para representar a quantidade de tecido adiposo visceral que est associado a maiores riscos

sade (HERMSDORFF, 2006).

A RCQ vem sendo empregada para caracterizar como a gordura corporal est

distribuda, ou seja, se est reunida predominantemente na regio central, ou nas extremidades

corporais. Ela determinada pela diviso da CC pela CQ (ALMEIDA, 2008). A classificao

da obesidade abdominal determinada, atravs da interpretao dos valores encontrados, e

depende das caractersticas da populao, alm de diferir entre os autores (LESSA, 2005). A

RCEst e o ndice C so outros indicadores que vm sendo muito utilizados em estudos

epidemiolgicos e que apresentam forte relao com os fatores de risco cardiovasculares

(HAUN, 2009).

32

A RCEst mais um indicador de obesidade abdominal que leva em considerao, em

sua frmula, a CC e a estatura. Muitos estudos no mundo todo tm correlacionado a RCEst ao

risco coronariano elevado. No Brasil, porm, Pitanga & Lessa, (2006), ao utilizar essa medida

para discriminar risco coronariano em adultos, sugeriram mais estudos. Em 2009, Haum

(2009), ao comparar a RCEst com outras medidas, para discriminar risco coronariano,

encontrou resultados satisfatrios, justificando a sua utilizao.

O ndice C, proposto por Valdez (1991), oferece informaes sobre a distribuio da

gordura corporal e o risco de doenas. Baseia-se na ideia de que o perfil morfolgico das pessoas

que apresentam maior concentrao de gordura na regio central do tronco se assemelha forma

de um duplo cone com uma base comum, ao passo que, aquelas com menor quantidade de gordura

na regio central do corpo apresentam aparncia similar a um cilindro. O IC determinado,

atravs de uma frmula que utiliza o peso, estatura e CC (ALMEIDA, 2008; HAUN, 2009;

DA CUNHA, 2010).

A circunferncia do pescoo (CP) no est dentre as medidas que, comumente,

avaliam gordura corporal, porm, estudos feitos por Yang et al., (2010), avaliaram a

capacidade da CP para verificar o excesso de peso e os fatores relacionados SM em

indivduos diabticos. Os resultados encontrados foram positivos e a medida se relacionou

com o IMC, CC e a SM (YANG et al., 2010).

Lessa (2005), ao comparar vrios indicadores antropomtricos de obesidade e

identificar dentre eles o que melhor discrimina o risco coronariano elevado, monstrou que o

ndice C e a RCQ foram os melhores indicadores de obesidade para discriminar o risco

coronariano. A CC teve intermedirio poder discriminatrio e o IMC foi o indicador

antropomtrico de obesidade menos adequado. Os dados sugeriram que os indicadores de

obesidade abdominal sejam melhores que os indicadores de obesidade generalizada para

discriminar risco coronariano elevado. Estudos feitos por Martins & Marinho (2006), tambm

encontraram melhor poder discriminatrio da RCQ, quando comparado com a CC para

alteraes vistas na SM.

A BIA tambm muito utilizada na prtica clnica e sua utilizao vem crescendo em

estudos epidemiolgicos para medir a adiposidade corporal (RODRIGUES, 2001, DE BRITO

& MESQUITA, 2008). tambm considerado um mtodo mais rpido e relativamente

confivel para estimar a gordura corporal (BRITTO et al., 20038). Ela utiliza uma corrente

eltrica de baixa intensidade e parte do princpio de que a corrente eltrica tem maior

33

condutibilidade entre tecidos com maior quantidade de gua e eletrlitos e menor em tecidos

com pouca concentrao de gua, tecido adiposo, por exemplo (MCARDLE et al., 2003).

O modelo mais utilizado o tetrapolar onde se usam quatro eletrodos, sendo estes

aplicados mo e ao pulso (eletrodos proximais) e outro ao p e tornozelo (eletrodos distais).

Posteriormente, uma corrente eltrica aplicada aos eletrodos distais, onde a queda da

voltagem, devido a impedncia, estimam a gua corporal total e massa corporal magra. Essa

corrente detectada pelos eletrodos proximais, onde os valores so estimados atravs de

equaes matemticas. Atravs de caractersticas como sexo, idade, etnia e gordura corporal,

equaes derivadas foram propostas para estimativa desses componentes em outras regies do

corpo, inclusive na rea de gordura visceral (AGV), massa gordurosa do tronco (MGT),

estimativa de porcentagem de gordura corporal, entre outras (HEYWARD, 2001). Todas

essas medidas, tanto antropomtricas quanto de composio cirporal, podem ser

eficientemente usadas para estimar acmulo de gordura corporal em trabalhadores de turnos

alternantes.

De acordo com o exposto, se pode observar a relao que existe entre o trabalho de

turno alternante, a desregulao do ciclo circadiano e como ele pode levar a alteraes que

culminam em mudanas na composio corporal, maior deposio de gordura na regio

abdominal, alteraes no metabolismo de macronutrientes, como a glicose e lipdeos e

aumento da presso arterial. Todas essas disfunes que o trabalho de turno pode levar, fazem

parte da SM, que leva o trabalhador ao maior risco de morbi-mortalidade por doenas

cardiovasculares. A Figura 1 exemplifica as inter-relaes entre esses fatores.

34

Figura 1- Fisiopatologia da SM em trabalhadores de turnos alternantes.

35

2 JUSTIFICATIVA

Os trabalhadores representam uma classe muito expressiva da populao, no s

brasileira, mas tambm mundial. Os estudos realizados e disponveis com essa populao so

ainda poucos na literatura, e em menor quantidade sobre trabalhadores de turno alternante.

Devido rotina de trabalho desses indivduos, viu-se, na reviso da literatura, que eles

esto sujeitos a uma mudana de ritmo de vida. Essa mudana pode desencadear alteraes

importantes na sade, do ponto de vista metablico e endcrino, sendo essa rotina de trabalho

responsvel pelo aumento de gordura corporal, especialmente a visceral; maior produo de

molculas inflamatrias; aumento do estresse oxidativo. Fatores que propiciam a

morbimortalidade por DCV, como tambm as relacionadas SM. Todos esses fatores so

considerados riscos para a sade desses trabalhadores.

Em estudo anterior, Alves, (2012), j havia apresentado dados importantes sobre essa

populao de trabalhadores. A amostra inicial do estudo foi composta por 678 indivduos,

com idade mdia de 34 anos. Nesses trabalhadores, foi encontrado uma prevalncia de 93,2%

de indivduos que apresentavam pelo menos 1 fator de risco cardiovascular e em 54,6 %, trs

ou mais fatores associados para doenas cardiovasculares (Figura 1). Nesta mesma amostra,

de trabalhadores, encontrou-se tambm um percentual de 34,5% de SM (ALVES, 2012).

Atravs da observao dos fatores de risco a que os trabalhadores de turno esto

expostos e s alteraes metablicas que a eles est associada, a investigao do agrupamento

e elementos do fentipos relacionados SM, torna-se de extrema importncia. Fica evidente a

necessidade de mais estudos sobre essa populao, inclusive os que analisem as alteraes de

variveis antropomtricas, de composio corporal, clnicas e bioqumicas em trabalhadores

com SM, visando melhorar a qualidade de vida e condies de sade para esses profissionais.

36

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo geral

Investigar os fentipos antropomtricos, de composio corporal, clnicos e

bioqumicos relacionados SM em trabalhadores de turno alternante de uma mineradora na

Regio dos Inconfidentes MG

3.2 Objetivos especficos

Caracterizar a populao, segundo variveis scio-demogrficas e comportamentais,

analisando as diferenas entre os grupos caso e controle;

Caracterizar e investigar se existem diferenas entre as variveis antropomtricas,

composio corporal, clnicas e bioqumicas, entre os grupos caso e controle;

Identificar as prevalncias dos componentes da SM entre o grupo caso e controle;

Propor um modelo de agrupamentos e fentipos da SM para trabalhadores de turnos

alternantes.

37

4 MTODOS

4.1 rea do estudo

A rea escolhida para o trabalho de pesquisa compreende parte do municpio de Ouro

Preto e Mariana, Minas Gerais. A rea desses municpios compreende intensa atividade de

minerao e conhecida como Regio dos Inconfidentes no Estado de Minas Gerais.

4.2 Desenho e populao do estudo

Estudo caso controle aninhado a um estudo transversal foi realizado em uma empresa

de extrao de minrio de ferro da Regio dos Inconfidentes MG. A populao do estudo foi

composta por operadores de mquinas pesadas, (caminho fora de estrada), todos, homens

que trabalham em regime de turnos alternantes.

Para manter o processo de produo contnuo de 24h da empresa, existem quatro

turnos com jornada de 6 horas de durao cada, sendo os horrios de trabalho de 01h00 s

07h00, 07h00 s 13h00, 13h00 s 19h00, 19h0 01h00. O rodzio dos turnos, era decrescente,

e a jornada comeava com o turno da noite (19h00-01h00) e terminava com o turno da

madrugada (01h00-07h00). Com jornada de trabalho 36 horas semanais, e ao completar o

ciclo dos quatro turnos, o trabalhador possua um dia de folga. Em relao ao revezamento

dirio, o indivduo trabalhava durante seis horas, em seguida possua um intervalo, entre

turnos, composto por 12 horas de descanso, caracterizamdo assim, o trabalho de turno

alternante.

4.3 Amostra e procedimento amostral

4.3.1 Estudo transversal

Primeira fase: Na primeira fase do estudo, foi feita uma triagem de todos os trabalhadores

de turnos alternantes da respectiva mineradora. A populao desses trabalhadores, do sexo

38

masculino, das minas avaliadas, era de 952 indivduos. Durante a primeira fase do estudo ocorreu

uma perda de 112 indivduos devido recusa, frias, afastamentos, folgas e outras razes no

detectveis (Alves, 2012).

Segunda fase: Na segunda fase do estudo, compreendeu-se de uma seleo dos

trabalhadores triados na primeira fase. Para participarem da segunda fase, foi feita uma

seleo dos trabalhadores de turno alternante que apresentavam, pelo menos, um critrio de

risco para doenas cardiovasculares. Entre eles: Obesidade, HDL colesterol alterado, alterao

de triacilgliceris, sedentarismo, tabagismo, consumo de bebida alcolica, hipertenso arterial

e hiperglicemia. Foram excludos trabalhadores sem fator de risco cardiovascular (n=46) e

houve uma perda de 116 trabalhadores devido recusa, frias, afastamentos e folgas. Ao

final, 678 trabalhadores foram selecionados e recrutados para a realizao da coleta de dados

antropomtricos, composio corporal, clnicos, bioqumicos e aplicao de questionrios.

4.3.2 Caso controle

Amostra final: Entre os 678 trabalhadores selecionados na segunda fase, foram

identificados os que possuam SM. Para classificao da SM, foram utilizados os dados do

IDF (2005) adaptado, ou seja: CC 90 cm, presso arterial sistlica (PAS) 130 mmHg,

presso arterial diastlica (PAD) 85mmHg ou diagnstico de hipertenso, Glicemia de

jejum 100 mg/dL ou diagnstico de diabetes, TAG 150 mg/dL e HDL colesterol < 40

mg/dL.

Foram diagnosticados 174 trabalhadores com SM (casos). Entre os trabalhadores sem

SM, foi feito um sorteio aleatrio simples de 174 indivduos (controles), somando ao final,

uma amostra de 348 trabalhadores (Figura 2). Para essa amostra, foram dosados lipdeos

sricos, glicemia de jejum, citocinas e adipocinas inflamatrias: PCR, Adiponectina, Leptina,

Insulina e Resistina.

39

Figura 2 - Fluxograma da amostra e procedimento amostral

Todos os indivduos selecionados foram devidamente informados sobre os objetivos

da pesquisa, as etapas a serem realizadas e os riscos e benefcios de sua participao. Aqueles

que concordaram em participar do estudo assinaram termo de consentimento livre e

esclarecido (Apndice 1).

4.4 Critrios de incluso e excluso

Para incluso no estudo transversal, foram levados em considerao homens,

trabalhadores de turno alternante de quatro minas da Regio dos Inconfidentes, Minas Gerais.

E para a segunda fase, foram excludos os participantes do sexo feminino e aqueles

trabalhadores que no atenderam aos critrios para a segunda fase do estudo.

No estudo de caso-controle, foram includos os trabalhadores diagnosticados com SM

e seus respectivos controles sorteados aleatoriamente.

importante observar que, tomando como base o exame de sade peridico realizado

pela empresa, no foram observadas diferenas significativas entre as perdas e a populao

40

que participou do estudo. Verificou-se que o grupo da amostra e das perdas, apresentaram

caractersticas similares em relao idade, ao ndice de massa corporal, aos valores de

glicemia, a presso arterial diastlica, ao colesterol total e fraes e triglicerdeos, exceto para

a presso sistlica, na qual os indivduos da amostra apresentaram uma mdia de 129,0

mmHg, contra 120,00 mmHg do grupo de perdas (ALVES, 2012)

4.5 Coleta de dados

A coleta de dados foi feita no Laboratrio de Cardiometabolismo da Escola de

Medicina da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), onde os participantes foram

esclarecidos quanto aos procedimentos realizados, objetivos do estudo e anonimato dos

dados.

Os dados foram coletados, atravs de questionrio, avaliao clnica, avaliao

nutricional e coleta de sangue por uma equipe capacitada e treinada, composta por alunos de

graduao em nutrio, medicina e ps-graduandos em nutrio sob a superviso de um

professor.

4.5.1 Sociais e demogrficos

As variveis sociais e demogrficas foram coletadas atravs de um questionrio

(Apndice 2) entregue aos candidatos ao estudo e preenchido por eles mesmos. As variveis

coletadas foram idade, estado civil, escolaridade, cor da pele e tempo de trabalho em turnos

alternantes.

4.5.2 Comportamentais

As variveis comportamentais: tabagismo, consumo de bebidas alcolicas e prtica de

atividade fsica foram abordadas no questionrio da avaliao clnica e atravs de questionrios

prprios. Todo os questionrios so apresentados no Apndice 2.

41

O consumo de bebidas alcoolicas foi avaliado atravs do Alcohol Use Disorders

Identification Test (AUDIT), instrumento desenvolvido pela OMS. Os trabalhadores foram

classificados segundo a frequncia de consumo de bebidas alcolicas no perodo da avaliao.

Da mesma maneira, o tabagismo foi avaliado atravs do Teste de dependncia de nicotina de

Fagerstrom, onde o indivduo foi classificados entre fumantes e no fumantes. O instrumento

utilizado para avaliar o nvel de atividade fsica foi o Internacional Physical Activity

Questionnaire (IPAQ) verso 8, composto de 31 perguntas, o qual avalia os hbitos de vida

relacionados a realizao de atividades fsicas distribudas nas situaes de trabalho,

transporte, atividades domsticas e lazer. Os indivduos foram classificados entre aqueles que

praticavam e no praticavam atividade fsica com frequncia no perodo do estudo.

4.5.3 Antropomtricos

4.5.3.1 Peso

O peso foi aferido na balana porttil marca TANITA, com capacidade mxima para

150 kg e preciso de 0,1kg. Os trabalhadores foram pesados com o mnimo de vesturio

possvel, em p, em posio centralizada na balana e descalos.

4.5.3.2 Estatura

A estatura foi aferida com estadimetro digital modelo HM-210 D, com escala em

centmetros (100 a 210 cm) e preciso de um milmetro. A aferio foi realizada com a pessoa

de costas para o marcador, com os ps unidos, calcanhares juntos, descalos, com os braos

estendidos ao longo do corpo, cabea ereta, olhos fixos para a frente e a cabea tocando a

haste vertical do estadimetro.

4.5.3.3 ndice de massa corporal

O IMC foi calculado a partir dos dados de peso e altura, atravs da frmula:

42

IMC (Kg/m) = Peso (Kg)

Altura2 (m)

4.5.3.4 Circunferncia da cintura

A CC (cm) foi aferida com fita mtrica simples e inelstica, no ponto mdio entre a

crista ilaca e o ltimo arco costal. O indivduo permaneceu em p com os braos afastados do

tronco e abdmen relaxado (WHO, 2000).

A medida foi feita em triplicata e repetida, caso a diferena entre elas fosse maior que

3 cm. O resultado final foi calculado atravs da mdia aritmtica das trs medidas.

Os indivduos foram considerados como portadores de obesidade central quando a CC

apresentou valores iguais ou superiores a 90 cm (IDF, 2005).

4.5.3.5 Circunferncia do quadril

A CQ (cm) foi aferida com fita mtrica simples e inelstica, no maior permetro do

quadril, levando em considerao a maior proporo da regio gltea. O indivduo

permaneceu em p com as coxas unidas e braos ao longo do corpo.

4.5.3.6 Circunferncia do pescoo

A CP (cm) foi mensurada com uma fita mtrica inelstica ao nvel da cartilagem

cricortireoida, logo acima da proeminncia larngea (Laakso, et al 2002). O indivduo foi

orientado a permanecer em p, com a coluna ereta e a cabea no plano horizontal.

4.5.3.7 Relao cintura quadril

A RCQ foi calculada atravs da diviso do valor da circunferncia da cintura (cm) pelo

valor da circunferncia do quadril (cm).

43

RCQ = Circunferncia da cintura (cm)

Circunferncia do quadril (cm)

4.5.3.8 Relao cintura estatura

A RCEst foi calculada atravs da diviso do valor da circunferncia da cintura (cm)

pelo valor da estatura (m).

RCEst = Circunferncia da cintura (cm)

Estatura (m)

4.5.3.9 ndice de adiposidade corporal

O IAC foi calculado utilizando as medidas: circunferncia do quadril (cm) e estatura

(m), de acordo com a seguinte frmula.

IAC (%) = [circunferncia do quadril (cm) / (estatura x estatura)] -18

4.5.3.10 ndice de conicidade

O ndice C foi calculado utilizando a circunferncia da cintura (m), peso (Kg) e

estatura (m), de acordo com a seguinte frmula.

IC = (circunferncia da cintura (m)) / (0,109 x peso (Kg) / estatura (m)

44

4.5.4 Composio corporal

As variveis de composio corporal coletadas foram a rea de gordura visceral (cm),

massa gordurosa do tronco (kg), massa de gordura corporal (kg) e porcentagem de gordura

corporal.

As variveis foram analisadas atravs de BIA, no monitor segmentado de composio

corporal Inbody 720.

Para a medio por BIA, os trabalhadores estavam de jejum, descalos, sobre o

monitor, com os ps situados sobre os dois eletrodos inferiores, segurando os dois eletrodos

superiores, com os braos estendidos e afastados do tronco e o olhar para o horizonte, sem se

movimentar ou falar durante a medio. Os indivduos no utilizavam quaisquer adornos

metlicos, como relgios e joias durante a realizao do exame.

As informaes foram coletadas no relatrio impresso pelo monitor segmentado, aps

a concluso do procedimento em cada indivduo.

4.5.5 Bioqumicos

A coleta de sangue foi realizada em laboratrio da Escola de Medicina da

Universidade Federal de Ouro Preto, por profissional devidamente treinado. Os trabalhadores

foram orientados, quanto ao jejum de 12h, que deveria ser feito antes da coleta de sangue,

sendo oferecido um lanche aps o procedimento.

O sangue foi retirado mediante puno endovenosa na veia anticubital mediana

utilizando um sistema de vcuo. De cada voluntrio foi extrada uma amostra de 10 mL de

sangue, que foram coletados em tubos prprios, de acordo com a dosagem de glicose, lipdeos

sricos e adipocinas e citocinas inflamatrias. importante salientar que todo o material

utilizado durante o procedimento foi autoclavado e descartado em local adequado.

Os tubos foram levados para centrifugao a 3.500 rpm, a 5 C, durante 15 minutos em

centrfuga grande (Modelo 5810R, Eppendorff). Aps a separao, o soro e o plasma foram

acondicionados em alquotas devidamente identificadas. As amostras foram levadas ao banco

de materiais biolgicos da pesquisa e armazenadas a - 80 C para posterior anlise. O banco

45

de materiais biolgicos de acesso somente para pessoas autorizadas, sendo rgida a

autorizao do acesso ao material.

Para a anlise da glicemia de jejum, as devidas amostras foram transportadas at o

Laboratrio Piloto de Anlises Clnicas LAPAC/UFOP, para dosagem. Para anlise das

citocinas e adipocinas, as amostras congeladas, a -80 C, foram transportadas at o

laboratrio contratado para as dosagens, em caixas trmicas, contendo gelo seco, seguindo

todas as recomendaes de proteo e identificao dadas pelo prprio laboratrio. As demais

anlises foram realizadas no Laboratrio de Epidemiologia das Doenas Parasitrias da

Universidade Federal de Ouro Preto.

4.5.5.1 Glicemia de jejum

Para a dosagem da glicemia de jejum, foi utilizada uma amostra de 1 ml de plasma,

obtida do sangue coletado aps centrifugao. O mtodo utilizado para anlise foi Enzimtico

Colorimt