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Londrina 2015 FERRAMENTAS WEB NO ENSINO DE BIOLOGIA: Tecnologia Educacional no Paraná e o Portal Dia a Dia Educação PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO ACADÊMICO EM METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE ELÉUZI PINHEIRO DA SILVA

FERRAMENTAS WEB NO ENSINO DE BIOLOGIA: … · FERRAMENTAS WEB NO ENSINO DE BIOLOGIA: ... elaboradas, pautadas pela interatividade e pelo trabalho colaborativo. Esta pesquisa, por

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ELÉUZI PINHEIRO DA SILVA

ELÉUZI PINHEIRO DA SILVA

ELÉUZI PINHEIRO DA SILVA

Londrina 2015

FERRAMENTAS WEB NO ENSINO DE BIOLOGIA: Tecnologia Educacional no Paraná e o Portal Dia a Dia

Educação

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO ACADÊMICO EM METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS

ELÉUZI PINHEIRO DA SILVA

Londrina 2015

ELÉUZI PINHEIRO DA SILVA

FERRAMENTAS WEB NO ENSINO DE BIOLOGIA: Tecnologia Educacional no Paraná e o Portal Dia a Dia

Educação

Dissertação apresentada à UNOPAR, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Metodologias para o Ensino em Linguagens e suas Tecnologias. Orientador: Prof. Dr. Anderson Teixeira Rolim

ELÉUZI PINHEIRO DA SILVA

AUTORIZO A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Dados Internacionais de catalogação-na-publicação Universidade Norte do Paraná

Biblioteca Central Setor de Tratamento da Informação

Silva, Eléuzi Pinheiro da. S579f Ferramentas web no ensino de Biologia:Tecnologia Educacional no

Paraná e o Portal Dia a Dia Educação/ Eléuzi Pinheiro da Silva. Londrina: [s.n], 2015 109f. Dissertação ( Mestrado Acadêmico em Metodologias para o

Ensino de Linguagens e suas Tecnologias). Univer- sidade Norte do Paraná.

Orientador: Prof. Dr. Anderson Teixeira Rolim

1 - Ensino - dissertação de mestrado - UNOPAR 2- Internet 3-

Educação 4- Tecnologia educacional 5- Portal Educacional 6- Biologia I- Rolim, Anderson Teixeira; orient. II- Universidade Norte do Paraná.

CDU 371.3

ELÉUZI PINHEIRO DA SILVA

FERRAMENTAS WEB NO ENSINO DE BIOLOGIA: TECNOLOGIA EDUCACIONAL NO PARANÁ E O PORTAL DIA A DIA EDUCAÇÃO

Dissertação apresentada à UNOPAR, no Mestrado em Metodologias para o

Ensino de Linguagens e suas Tecnologias, área de concentração Ensino de

Linguagens e suas Tecnologias, como requisito parcial para a obtenção do título

de Mestre conferida pela Banca Examinadora formada pelos professores:

_________________________________________ Prof. Dr. Anderson Teixeira Rolim

UNOPAR

_________________________________________ Profa. Dra. Andréia de Freitas Zompero

UNOPAR

_________________________________________ Prof. Dr. Marcelo Estevam

Instituto Federal do Paraná (IFPR)

Londrina, _______de ________________ de 2015.

AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus por ser meu suporte e dar forças para enfrentar cada dificuldade.

Às minhas filhas amadas Kessy e Camila, pelo amor e incentivo

constante. Aos meus pais, por sempre estarem por perto quando necessitei

de carinho e atenção. Ao André Luís pelo amor, palavras de apoio, conforto e incentivo

a todo momento. À orientação do Prof. Dr. Anderson Teixeira Rolim por acreditar

neste trabalho e dedicar seu tempo, conhecimento e paciência constantes. A todos os professores que contribuíram de forma significativa

para que essa pesquisa pudesse ser concluída. Agradeço a todos que, de uma forma ou outra, contribuíram para

que este trabalho fosse realizado. Agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior (CAPES) pelo apoio financeiro no decorrer dessa pesquisa.

DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho aos professores que lutam por uma escola pública e de qualidade, àqueles que acreditam nas possibilidades de um futuro melhor e, por isso, exercem a prática pedagógica como ação transformadora.

“Nunca poderemos dar esta tarefa por concluída, porque em grande parte ela continuará a ser uma tarefa de adaptação constante; não pode caber a um só homem, por muito genial que ele seja. Deve resultar da colaboração de todos os educadores diretamente interessados na tarefa que encetaram” (Célestin Freinet)

SILVA, Eléuzi Pinheiro da. Ferramentas web no Ensino de Biologia: Tecnologia Educacional no Paraná e o Portal Dia a Dia Educação. 2015. 109 f. Dissertação (Mestrado em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias) - Universidade Norte do Paraná – UNOPAR, Londrina, 2015.

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo geral identificar a utilização das tecnologias digitais como prática pedagógica no ensino paranaense, dando ênfase para o ensino de Biologia. Especificamente, objetiva elencar as estratégias de implementação da informática na Rede Estadual de Educação do Paraná e, nesse sentido, busca considerar a oferta de materiais para o ensino de Biologia no Portal Dia-a-dia Educação, criado e mantido pela Secretaria de Educação do Estado do Paraná (SEED-PR). Para tanto, metodologicamente, constitui-se como uma pesquisa bibliográfica, caracterizada pelo processo de triagem, leitura, interpretação de textos e documentos que servirão ao estudo acerca do tema. Nesse sentido, observa historicamente a constituição da Biologia como área do conhecimento, seu lugar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996, e nas Diretrizes Curriculares para a Educação no Paraná. Através dos Materiais didáticos de Biologia observa a evolução do ensino da disciplina. Do mesmo modo, verifica algumas relações entre Tecnologia e Educação, os diferentes modelos de rede e as questões metodológicas que envolvem o ensino de Biologia. Trata dos programas de financiamento para a promoção da tecnologia educacional no Estado do Paraná, do Portal Dia a Dia Educação, da interatividade da plataforma e da área dedicada à Biologia na plataforma. Por fim, conclui que a utilização das tecnologias digitais como prática pedagógica no ensino paranaense, especialmente no que diz respeito ao ensino de Biologia, tem se demonstrado como um exercício necessário. Palavras-chave: Internet; Educação; Tecnologia Educacional; Portal Educacional; Biologia. SILVA, Eléuzi Pinheiro da. Web tools in Biology Education: Educational

Technology in Paraná and the Portal Dia a Dia Educação. 2015. 109 f. Dissertação (Mestrado em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias) - Universidade Norte do Paraná – UNOPAR, Londrina, 2015.

ABSTRACT

This work aims to identify the use of digital technologies as a pedagogical practice in Parana education, with emphasis on the teaching of biology. Specifically, it aims to list the implementation of information technology strategies in the State Education Network of Paraná and in that sense, seeks to consider the provision of materials for teaching biology in Portal Dia a dia Educação, created and maintained by the Department of Education State of Paraná (SEED-PR). Therefore, methodologically, it is constituted bibliographical research, characterized by the process of reading and interpretation of texts and documents that serve the study of the subject. In this sense, observes the historical constitution of biology as a field of knowledge, its place in the Brazilian Law of Guidelines and Bases of Education, and the Curriculum Guidelines for Education in Paraná. Through Biology Teaching materials observes the evolution of teaching the discipline. Similarly, verifies the relationship between technology and education, different network models and methodological issues surrounding the teaching of biology. Deals with financing programs to promote educational technology in the State of Paraná, the Portal Dia a dia Educação, the interactivity of the platform and the area dedicated to biology on the platform. Finally, it concludes that the use of digital technologies as a pedagogical practice in Parana education, especially regarding to the teaching of Biology, has been shown as a necessary exercise.

Keywords: Internet; Education; Educational Technology; Educational Website; Biology.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – CRTEs no Paraná

Figura 2 – Página inicial do AOL

Figura 3 – Tablet Educacional

Figura 4 – Lousa digital, projetor multimídia e computador integrado

Figura 5 – Primeira Versão do Portal Dia a Dia

Figura 6 – Home do Portal Dia a Dia

Figura 7 – O que você procura

Figura 8 – Página de Biologia

Figura 9 – Enquetes

Figura 10 – Jogos e práticas

Figura 11 – Recursos de formação

Figura 12 – Sala de aula

Figura 13 – Envio de colaborações

Figura 14 – Folhas

Figura 15 – Objeto de Aprendizagem Colaborativa

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................ 12

2. BIOLOGIA COMO ÁREA DO CONHECIMENTO ..... ..................... 15

3 ENSINO DE BIOLOGIA .................................................................. 22

3.1 Biologia na LDB 9394/96 .................................................................25

3.2 Biologias nas DCE-PR ................................................................... 28

3.3 Materiais didáticos de Biologia ........................................................ 33

4 TECNOLOGIAS E EDUCAÇÃO .................................................... 37

4.1 Web 1.0 versus Web 2.0 ................................................................ 39

4.2 Web 2.0 questões metodológicas.................................................... 45

4.3 Web 2.0 e a escola ........................................................................ 49

4.4 Web 2.0 e o Ensino de Biologia ...................................................... 53

5 PARANÁ DIGITAL E SALA DE AULA CONECTADA ................... 56

6 FERRAMENTA WEB: PORTAL DIA A DIA EDUCAÇÃO .............. 64

6.1 A Biologia no Portal Dia a Dia Educação ....................................... 75

6.2 Interatividade no Portal Dia a Dia Educação .................................. 83

7 CONCLUSÃO ................................................................................. 97

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 101

ANEXOS ... .................................................................................................... 105

12

1 INTRODUÇÃO

A Biologia como área do conhecimento é bastante ampla, com termos

complexos e não habituais ao vocabulário do aluno. Muitas vezes, o professor opta

por ministrar uma aula somente expositiva por ser habitual e considerar, comumente,

mais propícia ao contexto da sala de aula. Nesse sentido, é importante lembrar que,

seguindo o padrão estabelecido por Johann Friedrich Herbart, em 1841, no Brasil, as

aulas já seguiam esse modelo, com aulas expositivas e exercícios de repetição

(ANDERSSON, 2000).

Parte-se do pressuposto, então, de que o trabalho docente, na

atualidade, consiste na mediação ensino-aprendizagem entre o aluno e o

conhecimento, instrumentalizando as novas gerações para uma posição crítica em

face da realidade que se observa em situações de aprendizagem. Dessa perspectiva,

advém a ideia de que aulas teóricas, meramente expositivas, tornam o aluno um ser

passivo frente ao processo de ensino. Isso deixa evidente a necessidade do aluno em

participar ativamente dos exercícios propostos, de modo a garantir melhores

resultados e aprendizado efetivo.

Os estudos biológicos tornam-se cada vez mais relevantes.

Influenciam nosso cotidiano através das tomadas de decisões sobre saúde,

alimentação, ambiente, doenças e seus tratamentos, entre outros. Desse modo,

evidenciam a necessidade do conhecimento na busca por soluções à realidade diária

naquilo que se refere à Vida e à manutenção dela.

Do mesmo modo, fica manifesta a imperativa busca pela capacidade

de o aluno questionar, transformar e mudar o conhecimento, de acordo com a sua

perspectiva acerca do mundo e de seu lugar no mundo. Essa perspectiva alinha-se

às determinações legais da LDB, segundo a qual, ao final do Ensino Médio, o aluno

deverá demonstrar o domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a

produção moderna. É nesse sentido que as mídias interativas, por meio da Internet,

desempenham papel fundamental na construção do conhecimento, através do acesso

livre e descentralizado à informação.

O uso da Web está presente no dia a dia do aluno, seja nas redes

13

sociais, blogs, jogos online entre outros. Ao usar, planejadamente, este recurso, o

professor estará contribuindo para que o estudante aprenda de forma integrada à sua

realidade tecnológica, oportunizando novas formas de pesquisar e de aprender,

levando a descobertas expressivas, capazes de atribuir significado ao conteúdo

específico de cada disciplina da grade curricular.

Na Internet, o aluno tem acesso a um número infindo de informações

e mídias. É nesse sentido que se ratifica a necessidade do professor auxiliar na

filtragem, sistematização e análise desses conteúdos, de modo a direcionar os alunos

para o desenvolvimento das competências essenciais e necessárias à formação

humana, profissional e crítica.

Diante deste cenário, o professor de Biologia necessita ser estimulado

a repensar e a (re)planejar sua ação pedagógica, em face da complexidade dos

conteúdos e da facilidade dos alunos em lidar com as tecnologias da informação e

comunicação. Assim, espera-se que o uso desses recursos e ferramentas possa

auxiliar o docente na busca pela aprendizagem significativa, conectada à realidade

dos alunos.

De acordo com José Armando Valente (2001), a sociedade atual,

motivada pelo avanço da tecnologia comunicacional, exige criticidade e criatividade

no desenvolvimento das atividades profissionais e sociais. Hoje, o ensino dos

conteúdos escolares necessita de processos mediados que ajudem a pensar, a

aprender, a trabalhar em grupo etc. Todavia, para que isso ocorra, é indispensável um

professor crítico e capacitado para instituir as condições mais adequadas ao

aprendizado do aluno, por meio de um conjunto de atividades estruturadas e

elaboradas, pautadas pela interatividade e pelo trabalho colaborativo.

Esta pesquisa, por conseguinte, se apresenta como uma contribuição

à docência num mundo influenciado pelas tecnologias. Ainda que trate,

especificamente, dos conteúdos relacionados à disciplina de Biologia, espera-se,

também, que atue em favor de professores de outras disciplinas, através da discussão

acerca da introdução da tecnologia em sala de aula e nas atividades relacionadas à

docência. Nesse sentido, destaca o papel do computador e da Internet como

ferramentas de grande valor no esclarecimento de termos e conteúdos abstratos, por

meio de atividades interativas e dinâmicas. Por isso, considera que as possibilidades

de utilização das tecnologias da informação e comunicação podem ser ampliadas no

contexto escolar, indicando que, se utilizadas de maneira planejada, tornam-se

14

instrumento importante no processo de construção do conhecimento.

Em associação à essa perspectiva, o estudo histórico das abordagens

metodológicas auxilia na compreensão desses processos, pelos quais o ensino, no

Brasil, se configura. O desenvolvimento deste trabalho dá-se a partir de sucessivas

leituras, de aprofundamentos teóricos realizados no decorrer dessa pesquisa e de

experiências em sala de aula. De modo geral, observa-se que as Diretrizes

Curriculares para o ensino de Biologia e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB

9394/96) propõem, timidamente, o uso das tecnologias em sala de aula.

Reside aí o problema dessa pesquisa: como os professores de

Biologia do Estado do Paraná utilizam a plataforma digital disponibilizada e mantida

pela Secretaria da Educação? Como Portal Dia a Dia Educação permite a troca de

conhecimentos e materiais entre docentes, alunos e comunidade escolar?

Destarte, o presente trabalho tem por objetivo geral identificar a

utilização das tecnologias digitais como prática pedagógica no ensino paranaense,

dando ênfase para o ensino de Biologia. Especificamente, objetiva elencar as

estratégias de implementação da informática na Rede Estadual de Educação do

Paraná e, nesse sentido, busca considerar a oferta de materiais para o ensino de

Biologia no Portal Dia-a-dia Educação, criado e mantido pela Secretaria de Educação

do Estado do Paraná (SEED-PR).

Metodologicamente, constitui-se como uma pesquisa bibliográfica,

caracterizada pelo processo de triagem, leitura, interpretação de textos e documentos

que servirão ao estudo acerca do tema. De acordo com Marly Carvalho (2005), a

"pesquisa bibliográfica é a atividade de localização e consulta de fontes diversas de

informação escrita, para coletar dados gerais ou específicos a respeito de

determinado tema" (CARVALHO, 2005, p.100).

Espera-se que a sistematização das informações que compõem o

processo histórico da implantação da informática na rede estadual, associada às

perspectivas teóricas que balizam as tecnologias educacionais, na observação de um

portal educacional público, contribua para compreensão das especificidades da

relação entre a tecnologia e o ensino. Nesse sentido, para a observação de materiais

didáticos, decidiu-se pela seleção de apenas uma disciplina, Biologia, como amostra

dos recursos disponibilizados.

15

2. BIOLOGIA COMO ÁREA DO CONHECIMENTO

A Biologia sempre despertou nosso interesse. Desde a Antiguidade,

há registro de estudos que observam a vida, os fenômenos da natureza e tentam

explicá-los. Segundo José Armando Fernandes (2005):

Desde os estudiosos de química e física do iluminismo, herdeiros dos filósofos que tentaram explicar os fenômenos naturais na antiguidade, aos naturalistas que se ocupavam da descrição das maravilhas naturais do novo mundo, passando pelos pioneiros do campo da medicina, todos contribuíram no desenvolvimento de campos de saber que acabaram reunidos, na escola, sob o nome de ciências, ciências físicas e biológicas, ciências da vida, ou ciências naturais (FERNANDES, 2005, p.4).

Na antiga Mesopotâmia, já havia a exposição de animais como nos

zoológicos atuais e utilizava-se o pólen para fertilizar plantas. No Egito,

embalsamavam cadáveres e, para isso, existia o conhecimento empírico sobre óleos

e plantas. Também no Egito, há registro da anatomia do corpo humano e animal em

papiros. Contudo, no passado distante, havia um grande misticismo em torno destes

conhecimentos. Há casos, por exemplo, em que os ossos de animais eram utilizados

para prever o futuro (astragalomância). Esse misticismo servia como forma de poder

e controle social dos líderes político-religiosos. (HONWANA, 2002)

Por volta do século IV a.C., o filósofo Aristóteles (384 a.C-322 a.C.)

realizava a observação e a catalogação minuciosa de plantas e animais. Suas ideias

acerca da natureza perduraram por séculos, sendo relevantes ainda hoje. Ele

acreditava e defendia que o órgão humano no qual se originava a inteligência era o

coração. Informação que aprendera com seu pai, Nicômaco, médico exclusivo do rei

da Macedônia, Amintas III. O célebre pensador também sustentou e defendeu a

Teoria da Geração Espontânea1, que perdurou até meados do século XIX, quando foi

combatida por Francesco Redi (1626-1697), com a teoria da biogênese.

(DAMASCENO et al, 2014)

Aristóteles, possivelmente, escreveu mais de quatrocentos trabalhos,

1 Essa Teoria defende que a vida surgia espontaneamente e de forma constante através da matéria bruta.

16

dos quais, perto de cento e cinquenta são conhecidos hoje, como Sobre a Natureza,

Sobre os Animais e Sobre as Plantas, que tratam de conhecimentos hoje relacionados

à Biologia. Teofrasto (378 a.C.-287 a.C.), discípulo e sucessor de Aristóteles, registra

em dois livros - Historia Plantarum e De causis plantarum - tudo que observou e ouviu

sobre as plantas. Ele as classifica a partir de sua estrutura e crescimento vegetal, dos

hábitos e do uso que se fazia delas. Os livros têm por base as anotações de Aristóteles

nas suas viagens à Índia, à Pérsia e ao Oriente Médio (THÉODORIDÉS, 1984).

O fim do Império Romano no Ocidente culminou na descentralização

do poder na Europa. Os antigos impérios acabaram divididos em territórios

independentes, administrados localmente, sob a forte influência da igreja católica.

Esse período se estende do século V ao século XV, dividido entre Alta Idade Média

(século V a século XI) e Baixa Idade Média (século XI a século XV). (THÉODORIDÉS,

1984).

De modo geral, a Idade Média foi um período em que a Igreja exerceu

forte controle sobre o conhecimento. As ciências ficaram restritas ao pensamento

místico religioso: “para tudo que não podia ser explicado, visto ou reproduzido, havia

uma razão divina; Deus era o responsável” (RAW, SANT’ANNA, 2002 p.13). Mais

amplamente, foi o período em que a Igreja exercia o controle e a influência nas

questões relacionadas à vida e à sociedade, como na economia, na política e nas

relações pessoais.

Ainda que as investigações científicas, propriamente ditas, não

fossem permitidas, pois questionavam perspectivas historicamente consolidadas, é

possível evidenciar alguns avanços em relação à Ciência, principalmente no Oriente,

onde não existia a influência da Igreja Romana e a religião predominante era o

Islamismo, mais afeito à valorização e aceitação do conhecimento e da Ciência como

elementos fundamentais na construção da sociedade. O árabe Ibn Na Nafis (1213-

1288), por exemplo, já afirmava que os ventrículos do coração ficavam isolados um

do outro. Kitab al Hayawan (776-869), por sua vez, escreveu o Livro dos Animais, hoje

arquivado na Biblioteca de Milão, no qual discorre sobre a organização social dos

insetos e a comunicação animal. (THÉODORIDÉS, 1984).

Nos séculos IX e X, surgem as primeiras universidades medievais

europeias: Bologna, Oxford e Paris. Mesmo com a influência da igreja, houve

mudanças significativas na análise dos fenômenos naturais, superando a perspectiva

do passado e impulsionando o surgimento de novos modelos para o estudo da Vida.

17

A Igreja guardava este conhecimento com muito cuidado e poucos possuíam acesso

a estas informações. Nas Universidades que surgiram, quase todos os professores

universitários eram membros do clero. Segundo Peter Burke, “admitia-se como

indiscutível que as universidades deviam concentrar-se na transmissão do

conhecimento, e não em sua descoberta” (BURKE, 2003, p 38).

Durante o período do Renascimento, as ciências voltam a surgir sem

o poder de influência da igreja. Ocorrem grandes avanços na disseminação do

conhecimento, além de estudos e discussões acerca dos textos de filósofos da

Antiguidade, sobretudo, Platão (428 a.C. - 347 a.C.) e Aristóteles. Neles, os cientistas

buscavam soluções para questionamentos antigos e os novos. Os estudiosos eram

impulsionados a realizar experimentos e práticas ao invés de estagnarem somente na

questão filosófica. (THÉODORIDÉS, 1984).

Um dos mais importantes avanços do Renascimento foi a invenção

da imprensa por Gutenberg, em torno de 1439, que contribuiu muito com o próprio

ideário de pesquisa. Com esse equipamento, o acesso às informações foi promovido

pelo barateamento da mão de obra. Os livros puderam ser publicados com gravuras,

intercaladas com o texto escrito, capazes de divulgar as observações e ideias para

um público muito maior.

Nas discussões sobre a classificação dos seres vivos, destacam-se

as pesquisas de Carl Von Linné (1707-1778), no século XVIII. Professor de botânica

na Universidade de Uppsala, ele publicou Systema Naturae em 1735. Lineé foi o

primeiro a incluir os seres humanos entre a classe dos animais e também é

considerado o principal organizador da classificação dos seres vivos. O sistema de

Lineu foi aperfeiçoado com novas categorias e ramificações, todavia, manteve-se a

nomenclatura dupla, conhecimento basilar no estudo da Biologia. Hoje, as

classificações são baseadas também em estudos como: comportamento, anatomia,

DNA (composição química), entre outros. E não como fez Lineu citando somente as

características anatômicas, comportamentais e estruturais.

A zoologia e a anatomia também avançaram durante a Renascença.

O francês Pierre Belon (1517-1564), em seu livro mais conhecido A História e a

Natureza dos pássaros, onde fez comparações do esqueleto humano e das aves.

Devido a esse trabalho, é considerado o pai da anatomia comparada. William Harvey

(1578-1657) e Marcello Malpighi (1628-1694) mostraram uma nova forma de se ver a

circulação sanguínea. Além desses, é forçoso citar os estudos de Guillaume Rondelet

18

(1507-1566), do suíço Konrad Gesner (1516-1565).

No século XIX, as ideias ligadas à geração espontânea são

contestadas pelos estudos do italiano Francesco Redi (1626-1697), que marcam o

início da biogênese. Em dezembro de 1831, o médico inglês e naturalista Charles

Darwin (1809-1882) partiu para uma viagem de cinco anos a bordo do HMS Beagle,

na qual despertou seu interesse pela evolução dos seres vivos através de leituras das

obras de Robert Chambers (1802-1871) e de seu avô Erasmus Darwin (1731-1802).

Erasmus Darwin acreditava na herança de características adquiridas e, com essa crença, produziu o que decerto era uma emergente teoria da evolução, embora, de fato, ainda deixasse muitas questões sem respostas (RONAN, 1997, p. 09).

Outro estudioso desse período, Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829)

entendia a classificação como algo importante, "porém artificial, por acreditar na

existência de uma 'sequência natural' para origem de todas as criaturas vivas e que

elas mudavam guiadas pelo ambiente" (RONAN, 1987, p. 09).

Nesta viagem, Darwin fez anotações, desenhos e vários registros nos

quais organizava sua ideia sobre a transformação das espécies e ela, definitivamente,

começava a tomar forma. Com a ajuda das ideias de Thomas Malthus (1766-1834)

sobre teoria da população, em duas décadas de estudos, escreveu o livro A origem

das espécies, finalmente publicado em 1859. A obra se tornou base fundamental para

os estudos da Biologia, é utilizada e respeitada até hoje pela comunidade científica,

“quando lemos A origem das espécies não surge dúvida nenhuma de que Darwin

incluía o Homem entre os produtos da seleção natural” (REALE; ANTISERI, 2005,

p.344).

As ideias de Charles Darwin foram enriquecidas por novas

perspectivas. As questões convencionadas nesse sentido são denominadas

neodarwinismo e não alteram o trabalho basilar do naturalista britânico. Nesse

sentido, destaca-se o trabalho do monge agostiniano, Gregor Mendel (1822-1884).

Estudando ervilhas, Mendel avançou no conhecimento da hereditariedade, ou fatores

hereditários, hoje conhecidos com genes. Eles são responsáveis pela transferência

de características, atuando em pares na construção dos cromossomos, um de cada

genitor. As duas leis criadas por Mendel constituem a base da genética moderna e

contribuem para a explicação da seleção natural. Ainda há maiores avanços com a

19

teoria celular dos alemães Theodor Schwann (1810-1882) e Matthias

Schleiden (1804-1881), que afirma que todos os seres vivos (animais e vegetais) são

compostos por células.

No que diz respeito à tecnologia para a pesquisa em Biologia, o

instrumento que auxiliou na descoberta de vida invisível a olho nu foi o microscópio.

O termo provém de dois vocábulos gregos: micros - pequeno e skopein - ver,

examinar. O microscópio foi inventado por volta de 1595, por Hans Janssen (1580-

1638), nos Países Baixos. Na época, era considerado um brinquedo pela realeza

europeia e servia para observar pequenos objetos, possuindo somente duas lentes

que, na verdade, eram lentes de aumento. Esse mecanismo tornou-se fundamental

no desenvolvimento do pensamento moderno acerca da Vida. (JACOB, 1983)

A partir do século XVI, vê-se aparecer, em quatro momentos, uma nova organização, uma estrutura de ordem cada vez mais elevada: primeiro, com o começo do século XVII, a articulação das superfícies visíveis, o que pode chamar estrutura de ordem um; depois, no final do século XVIII, a “organização”, estrutura de ordem dois que engloba órgãos e funções que acaba transformando-se em células; em seguida, no começo do século XX, os cromossomos e genes, estrutura de ordem três oculta no interior da célula; enfim, no meio do século [XX], a molécula de ácido nucleico, estrutura de ordem quatro em que se baseiam hoje a conformação de todo organismo, suas propriedades e sua permanência através das gerações. A análise dos seres vivos é realizada sucessivamente a partir de cada uma destas organizações (JACOB, 1983, p. 23).

O microscópio, como se vê, foi fundamental para os avanços

genéticos. O conhecimento da célula associada ao processo evolutivo tornou-se

importante para a compreensão do processo genético, como observamos atualmente.

Para Bertoni e Luz (2011),

No início do século XX, conhecimentos genéticos, associados aos conhecimentos e avanços a partir da teoria celular, possibilitaram o reconhecimento dos trabalhos de Mendel e de outros pesquisadores, contribuindo para a apresentação da síntese evolutiva moderna, modelo explicativo que vincula os mecanismos evolutivos ao programa genético (BERTONI; LUZ, 2011, p. 41).

A partir deste momento, vislumbram-se ainda mais campos de

20

conhecimento dentro das áreas biológicas, associados a uma maior necessidade de

diversificação das perspectivas acerca da Vida.

Como vimos até aqui, a construção da história da Biologia não é

linear, mas uma busca constante de explicações e entendimento para a Vida, com

mudanças de paradigmas e posicionamento em relação às pesquisas e

conhecimentos científicos. Enfim, cada um dos períodos e estudiosos elencados

contribuiu para a atual condição da Biologia como área do conhecimento. De acordo

com o Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2011), hoje, a biologia é

considerada a

ciência que estuda a vida e os organismos vivos, sua estrutura, crescimento, funcionamento, reprodução, origem, evolução, distribuição, bem como suas relações com o ambiente e entre si; biociência, ciências biológicas [Compreende várias outras ciências especializadas, como, p.ex., a ecologia, a bioquímica, a genética, a zoologia e a botânica.] (HOUAISS, 2013)

Assim, em conformidade com o avanço da tecnologia e do

conhecimento humano, a sistematização da Biologia se fez necessária. A separação

entre sistemas biológicos e fisiológicos facilitou a análise desses objetos, mas exige

diferentes abordagens para o entendimento do todo, por isso o surgimento de áreas

específicas como a bioquímica, a genética e a zoologia. Nesta perspectiva, as

Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica do Estado do Paraná,

afirmam que

Tais avanços, sobretudo os relativos à bioquímica, à biofísica e à própria Biologia molecular, permitiram o desenvolvimento de inovações tecnológicas e interferiram no pensamento biológico evolutivo [...] Esses conhecimentos geram conflitos filosóficos, científicos e sociais e põem em discussão a manipulação genética e suas implicações sobre a vida (PARANÁ, 2008, p. 44).

Como se vê, em relação ao estudo dos seres vivos, a reprodução, a

função de órgãos entre outros, o avanço na compreensão desses elementos é

evidente, possibilitando, inclusive, a manipulação em nível genético. A perspectiva

que permeia o documento da Secretaria da Educação do Estado do Paraná

(SEED/PR) deixa manifesta a complexidade que caracteriza a Biologia, seus estudos

21

e suas implicações. Hoje, ela faz parte do cotidiano das pessoas, influenciando

tomadas de decisões sobre alimentação, ambiente, saúde, doenças e tratamentos

entre outros. Para Germano Sacarrão (1989), as áreas da ciência variam de acordo

com a época, podendo atrofiar ou expandir de acordo com as condições que lhe são

oferecidas. No caso da Biologia atual, pode exercer significativa importância, social,

econômica ou financeira, como, por exemplo, a Engenharia Genética. Ainda de acordo

com o biólogo português,

De modo que uma área científica dominante tem tendência a definir os modelos, as hipóteses e os conceitos de outras áreas ou disciplinas. Atualmente, na Biologia prepondera a Biologia molecular, ou seja, a "Biologia do invisível"; e a Biologia evolutiva, que é sobretudo a Biologia da mudança, da adaptação e da diversidade das estruturas e fenômenos acessíveis à atividade normal dos sentidos, é dominada pelos conceitos, factos e pressupostos que respeitam à primeira, e valem para ela (SACARRÃO, 1989, p.17).

Assim, a Biologia, hoje, é o resultado de descobertas contínuas e de

dúvidas constantes na busca de soluções para problemas referentes à vida. Ela

influencia diretamente nosso cotidiano em sociedade. Seu entendimento e

conhecimento se tornam cada vez mais importantes, seja para preservarmos o meio

ambiente, a nossa saúde, em particular, ou a existência Vida de forma geral. E nesse

mar de informações, não é fácil ao docente da disciplina de Biologia o preparar de

aulas menos teóricas. Devido a isso nosso estudo em como o Portal Dia a Dia

Educação, com materiais já analisados por uma equipe técnico pedagógica, pode

auxiliar aos professores em suas práticas pedagógicas.

3. ENSINO DE BIOLOGIA

22

O Ensino de Biologia é de fundamental importância para

conhecimento acerca da Vida. Levar a compreensão da natureza viva e dos limites

dos diferentes sistemas explicativos, a compreensão de que a Ciência não tem

respostas definitivas para tudo, são algumas de suas características.

No Brasil, há registros de aulas de Ciências em 1838, no Colégio

Pedro II, Rio de Janeiro. Segundo Ariclê Vechia e Karl Lorenz, “no programa de ensino

para o ano de 1841, o currículo do Colégio Pedro II já apresentava elementos de

zoologia, botânica e física” (VECHIA & LORENZ, 1998, p. 29). Eram aulas dedicadas

às ciências naturais, sem o enfoque biológico específico. Os livros eram importados

da França e seus conteúdos trabalhados através de aulas expositivas e descritivas.

Em 1930, a abordagem dos conhecimentos biológicos além da Vida,

também possuía enfoques econômicos e sociais. O enfoque metodológico era

descritivo, teórico, de memorização e pautado nos livros. Apesar da distância, pouco

diferia dos aspectos metodológicos de quase um século antes.

De acordo com Myriam Krasilchik (2008), em 1950, os conteúdos

eram trabalhados com os organismos separadamente e as relações filogenéticas

eram observadas sem relação entre os seres vivos e a sua funcionalidade, pois de

acordo com a pesquisadora, os objetivos da Biologia

incluíam, entre outros, os de: valor informativo, referindo-se aos conhecimentos proporcionados; valor educativo ou formativo, relacionado com o desenvolvimento do educando; valor cultural, consistindo na contribuição para os grupos sociais (de que o aluno fazia parte); valor prático, referindo-se à aplicação de conhecimentos e objetivos utilitários (KRASILCHIK, 2008, p.13).

Nesse momento, as aulas de Biologia ganhavam destaque no

contexto da educação europeia. Fugindo ao reducionismo expositivo, já eram

ministradas aulas práticas “para ilustrar as aulas teóricas” (KRASILCHIK, 2008, p.14).

Os conteúdos mais trabalhados eram os de biologia geral, botânica e zoologia. A

ciência natural, no ensino, se desvencilhava da tradição das aulas expositivas para

aproximar-se do experimental.

Na década de 1960, foi produzido, nos Estados Unidos, o Biological

Sciences Curriculum Study (BSCS), que buscava consolidar as ciências biológicas de

acordo com moldes acadêmicos. A preocupação essencial e seu objetivo eram a

23

formação de futuros cientistas, daí a maior ênfase no ensino por método científico e

na resolução de problemas. Para Krasilchik (2008), só houve mudanças no ensino da

Biologia por causa do próprio progresso da Biologia como área do conhecimento. No

caso brasileiro, é importante mencionar o papel desempenhado pela Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional nº 4.024/12, de 2 de dezembro de 1961. De acordo

com Miguel Arroyo,

No final da década de sessenta e início da década de setenta, fez-se uma crítica rígida ao saber transmitido no sistema escolar brasileiro. Tratava-se com desprezo o chamado saber tradicional, visto como livresco, humanista, metafísico, apropriado a uma república de bacharéis diletantes e improdutivos. Propunha-se um saber moderno, técnico-científico, útil, prático, capaz de formar profissionais e trabalhadores eficientes para uma sociedade produtiva (ARROYO, 1988, p. 5).

Na esteira dessa perspectiva, na década de 1980, com a Lei nº

5692/71, houve uma reformulação do ensino básico. Neste período, era importante o

ensino de ciências para a formação profissional, com tentativa de acompanhar os

avanços científicos e tecnológicos. Myriam Krasilchik (1987) considera que neste

período a escola secundária era direcionada principalmente para o trabalhador, devido

à necessidade do desenvolvimento social e econômico do país e não mais direcionada

à formação do futuro cientista. De acordo com a pesquisadora

Nessa época, na maioria das vezes, as propostas para o ensino de Ciências eram agrupadas em títulos, como Educação em Ciências para a Cidadania, ou Ciências, Tecnologia e Sociedade, devendo facilitar a mobilidade social do indivíduo e contribuir para o desenvolvimento do país. No entanto, em pesquisas realizadas verificou-se que não há congruência entre as propostas apresentadas em cursos de atualização para professores, e o seu resultado em classe em consequência de dificuldades e poderosos mecanismos de resistência para provocar mudanças profundas (KRASILCHIK, 1987, p. 9).

A partir da década de 1980, já há uma tendência para uma abordagem

construtivista2, partindo das concepções prévias dos alunos sobre os conteúdos

2 Método inspirado nas ideias de Piaget (1896-1980). Entende que a inteligência é determinada pelas relações que se estabelecem entre o indivíduo e o meio. Por isso, propõe que o aluno tenha uma

24

abordados. Os conteúdos eram motivados pelos avanços da Biologia e relacionados

à estrutura celular, metabolismo celular, diversidade dos seres vivos nos aspectos

morfofisiológicos. Essa perspectiva metodológica contrasta com a organização de

conteúdos de forma linear e pouco questionadora, que não motivava para as questões

que permeiam o cotidiano dos alunos, nem para o desenvolvimento de competências

básicas relacionadas à Biologia. Em entrevista à Revista Nova Escola, Perrenoud

aponta que,

Para desenvolver competências é preciso, antes de tudo, trabalhar por problemas e projetos, propor tarefas complexas e desafios que incitem os alunos a mobilizar seus conhecimentos e, em certa medida, completá-los. Isso pressupõe uma pedagogia ativa, cooperativa, aberta para a cidade ou para o bairro, seja na zona urbana ou rural. Os professores devem parar de pensar que dar aulas é o cerne da profissão. Ensinar, hoje, deveria consistir em conceber, encaixar e regular situações de aprendizagem seguindo os princípios pedagógicos ativos e construtivistas. Para os professores adeptos de uma visão construtivista e interacionista de aprendizagem trabalhar no desenvolvimento de competências não é uma ruptura. (PERRENOUD, 2000)

Evidencia-se, então, a percepção de que a metodologia aplicada até

ali não era capaz de oferecer uma formação adequada à realidade do aluno, pois está

apoiada sobre uma concentração de conteúdos vazios que não desperta seu

interesse, sem ter em consideração que ele vive numa sociedade muito mais dinâmica

e interativa. Essa perspectiva ainda permeia boa parte do trabalho docente nas salas

de aulas brasileiras e caracteriza as reclamações dos jovens ainda em 2014, resumida

numa questão: "para o quê vou usar isso em minha vida"?

Aqui é preciso considerar que o questionamento, quando direcionado

positivamente, funciona como impulso para o conhecimento. É a curiosidade,

explicitada no questionamento, que motiva a descoberta e abre um mundo de

possibilidades ao estudante e, portanto, essa pergunta não deve ser respondida pelo

professor, mas pelo próprio aluno.

O Ministério da Educação lançou, em 1999, os Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCN). Os PCN têm “o duplo papel de difundir os princípios da

reforma curricular e orientar o professor na busca de novas abordagens e

participação ativa em seu aprendizado através de ações variadas de aprendizagem.

25

metodologias” (BRASIL, 1999). A Biologia foi incluída na Área das Ciências da

Natureza, Matemática e suas tecnologias.

Os PCN entendem os conteúdos de Biologia como articulados e

inseparáveis das demais ciências.

A própria compreensão do surgimento e da evolução da vida nas suas diversas formas de manifestação demanda uma compreensão das condições geológicas e ambientais reinantes no planeta primitivo. O entendimento dos ecossistemas atuais implica um conhecimento da intervenção humana, de caráter social e econômico, assim como dos ciclos de materiais e fluxos de energia. A percepção da profunda unidade da vida, diante da sua vasta diversidade, é de uma complexidade sem paralelo em toda a ciência e também demanda uma compreensão dos mecanismos de codificação genética, que são a um só tempo uma estereoquímica e uma física da organização molecular da vida. Ter uma noção de como operam esses níveis submicroscópicos da Biologia não é um luxo acadêmico, mas sim um pressuposto para uma compreensão mínima dos mecanismos de hereditariedade e mesmo da biotecnologia contemporânea, sem os quais não se pode entender e emitir julgamento sobre testes de paternidade pela análise do DNA, a clonagem de animais ou a forma como certos vírus produzem imunodeficiências (BRASIL, 2001, p. 09 e 10).

De modo geral, os PCN (1999) apoiam-se no desenvolvimento

de competências e habilidades, o que prejudicava o aprofundamento dos conteúdos,

por ser bastante limitado pelo tema. Os temas eram trabalhados com projetos, de

acordo com a necessidade de vida dos alunos. Houve um esvaziamento nos

conteúdos, com enfoque somente no resultado da ciência, não em seu processo de

construção.

3.1 Biologia na LDB 9394/96

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB 9394/96)

regulamenta nosso sistema educacional. A partir de 2013, pela Lei nº 12.796, o Ensino

Médio faz parte da educação básica, que atende crianças entre quatro e dezessete

anos. O Ensino Médio é a última etapa da educação básica, com duração mínima de

26

três anos, onde há o estudo da Biologia. De acordo com o documento, no seu artigo

35, as finalidades do Ensino Médio são:

I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos; II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina (BRASIL, 1996).

Nos últimos anos, a escola tem recebido adolescentes, filhos da

classe trabalhadora e não mais aquele filho que a carreira já havia sido determinada

pelos pais. Esse estudante tem necessidades diferenciadas como trabalhar e estudar,

pois, muitas vezes, ajuda economicamente a família. Alguns alunos têm nível escolar

maior que seus pais, e não podem contar com a sua colaboração nesse processo.

Devido a esses e outros fatores, evidencia-se a necessidade dessa nova grade

curricular dar atenção a essas diferenças. De acordo com o artigo 36 da LDB 9394/96,

o currículo do Ensino Médio

I - destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência, das letras e das artes; o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura; a língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania; II - adotará metodologias de ensino e de avaliação que estimulem a iniciativa dos estudantes; § 1º Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação serão organizados de tal forma que ao final do Ensino Médio o educando demonstre: I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção moderna; II - conhecimento das formas contemporâneas de linguagem (BRASIL, 1996, p. 155).

A Lei prevê domínios que o aluno deverá ter ao finalizar o Ensino

Médio como o entendimento dos princípios científicos e tecnológicos e as formas de

27

linguagem. Para que essas ideias tenham concretude, as Diretrizes Curriculares

Nacionais do Ensino Médio (DCNEM) esclarecem que,

a educação no Ensino Médio deve possibilitar aos adolescentes, jovens e adultos trabalhadores, acesso a conhecimentos que permitam a compreensão das diferentes formas de explicar o mundo, seus fenômenos naturais, sua organização social e seus processos produtivos (BRASIL, 2013, p. 147).

E a compreensão desses domínios deve contribuir para que o

discente possa ter uma formação integral, tanto para os exames vestibulares quanto

para a prática da cidadania participativa e esclarecida. As DCNEM, em relação à

qualidade e melhoria do Ensino Médio, orientam

no sentido do oferecimento de uma formação humana integral, evitando a orientação limitada da preparação para o vestibular e patrocinando um sonho de futuro para todos os estudantes do Ensino Médio. Esta orientação visa à construção de um Ensino Médio que apresente uma unidade e que possa atender a diversidade mediante o oferecimento de diferentes formas de organização curricular, o fortalecimento do projeto político pedagógico e a criação das condições para a necessária discussão sobre a organização do trabalho pedagógico (BRASIL, 2013, p. 155).

E para que essa melhoria na qualidade do Ensino Médio ocorra

também é necessária uma organização curricular, que ficou assim distribuída: "O

currículo é organizado em áreas de conhecimento, a saber: I – Linguagens; II –

Matemática; III – Ciências da Natureza; IV – Ciências Humanas" (BRASIL, 2013, p.

196). O texto das DCNEM especifica que há a necessidade de o currículo contemplar

estas quatro áreas com metodologia interdisciplinar e contextualizada com os saberes

de cada uma. Deve promover um fortalecimento entre estes conhecimentos para que

o aluno aprenda e possa intervir na sua realidade.

Em termos operacionais, Biologia fica integrada a Ciências da

Natureza, juntamente com Física e Química. Essa integração facilita o diálogo entre

seus conteúdos, facilitando o entendimento dos problemas da realidade e a proposta

de soluções por parte dos alunos.

Em relação aos conteúdos, metodologia e avaliação, espera-se que o

28

aluno, ao final do Ensino Médio, “demonstre domínio dos princípios científicos e

tecnológicos que presidem a produção moderna, e conhecimento das formas

contemporâneas de linguagem” (BRASIL, 2013, p. 188).

O estudante do Ensino Médio poderá participar do ENEM (Exame

Nacional do Ensino Médio), que vem se aprimorando desde sua primeira aplicação

em 1998, tendo como referência principal a articulação entre o conceito de educação

básica e o de cidadania. De acordo com o documento, o ENEM possui as seguintes

funções:

Art. 21. O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) deve, progressivamente, compor o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), assumindo as funções de: I – avaliação sistêmica, que tem como objetivo subsidiar as políticas públicas para a Educação Básica; II – avaliação certificadora, que proporciona àqueles que estão fora da escola aferir seus conhecimentos construídos em processo de escolarização, assim como os conhecimentos tácitos adquiridos ao longo da vida; III – avaliação classificatória, que contribui para o acesso democrático à Educação Superior (BRASIL, 2013, p. 201).

O ENEM é a maior avaliação do Brasil, com questões baseadas nas

quatro grandes áreas: Ciências da Natureza e suas Tecnologias (Biologia, química e

física), Matemática e suas Tecnologias (matemática), Ciências Humanas e suas

Tecnologias (História, Geografia, Filosofia e Sociologia), Linguagens, Códigos e suas

Tecnologias (Língua portuguesa, Literatura, Língua estrangeira (Espanhol ou Inglês),

Artes, Educação Física e Tecnologias da informação e Comunicação). Quando iniciou,

em 1998, tinha como objetivo somente avaliar a qualidade do Ensino Médio nacional,

mas sofreu alterações no decorrer dos anos, em conformidade com as necessidades

estatísticas evidenciadas.

3.2 A Biologia nas DCE-PR

29

Antes mesmo da instituição da LDB, no início da década de 1990, a

Secretaria de Educação do Paraná efetivou a reestruturação do ensino no segundo

grau, baseando-se na pedagogia histórico-crítica. Essa reestruturação tinha o objetivo

de:

propiciar aos alunos o domínio dos fundamentos das técnicas diversificadas, utilizadas no processo de produção e não o mero adestramento de técnicas produtivas. Esta concepção está a exigir medidas a curto, médio e longo prazo, voltadas ao suprimento e apoio à Rede Estadual de Ensino, visando propiciar meios para que ela cumpra suas funções e atinja plenamente seus objetivos, incluindo medidas de avaliação da atual política educacional, como também, das estratégias utilizadas para viabilização das práticas pedagógicas (PARANÁ, 1993, p. iv).

Nesse sentido, foram propostos seis temas para o ensino da Biologia:

1. Relações dos seres vivos e seu meio ambiente; 2. Organização dos seres vivos; 3.

Classificação dos seres vivos; 4. Hereditariedade e ambiente; 5. Desenvolvimento

científico e tecnológico no campo da Biologia; 6. Saúde humana. Segundo as DCEs

(2008),

Apesar da tentativa de superar o ensino tradicional e tecnicista com a pedagogia histórico-crítica, o documento de reestruturação do segundo grau ainda apresentava os conteúdos de Biologia divididos por blocos tradicionais, reunidos em temas geradores, reproduzindo o padrão dos livros didáticos disponíveis no mercado. A pretensão de abordar a totalidade do conhecimento biológico caracterizava conteudismo (PARANÁ, 2008, p. 49).

Em 1998, os PCN para o ensino de Biologia tinham como foco a oferta

de um aprendizado útil à vida e ao trabalho, sem, no entanto, retomar o viés tecnicista

das décadas anteriores. A partir deste pressuposto, passou a ser estudada, no

Paraná, a construção das diretrizes curriculares para o ensino de Biologia,

concretizadas apenas na década seguinte.

Desenvolvidas de forma coletiva entre professores da rede estadual

de ensino, de especialistas de diversas áreas e de profissionais da Secretaria

Estadual da Educação, entre 2003 e 2008, foram estabelecidas as diretrizes

curriculares que norteiam o ensino fundamental e médio no Estado do Paraná. Os

direcionamentos para a disciplina de Biologia partem dos pressupostos históricos de

30

sua área de conhecimento como alicerces para a sistematização dos conteúdos

estruturantes e proposição metodológica.

Estas Diretrizes Curriculares, portanto, fundamentam-se na concepção histórica da ciência articulada aos princípios da filosofia da ciência. Ao partir da dimensão histórica da disciplina de Biologia, foram identificados os marcos conceituais da construção do pensamento biológico. Estes marcos foram adotados como critérios para escolha dos conteúdos estruturantes e dos encaminhamentos metodológicos (PARANÁ, 2008, p. 49).

Para a construção dos conteúdos estruturantes, então, foi necessário

um estudo na história e filosofia da ciência, dos modelos e paradigmas históricos, e

da contribuição dos mesmos para Biologia como ciência e disciplina escolar. Os

conteúdos estruturantes segundo as DCES,

são os saberes, conhecimentos de grande amplitude, que identificam e organizam os campos de estudo de uma disciplina escolar, considerados fundamentais para as abordagens pedagógicas dos conteúdos específicos e consequente compreensão de seu objeto de estudo e ensino (PARANÁ, 2008, p. 55).

As escolas possuem autonomia para adequar esses conteúdos

estruturantes de acordo com o cotidiano e a realidade regional em que estão situadas.

Como se vê, sua elaboração foi baseada em quatro momentos da história da ciência:

Pensamento biológico descritivo, Pensamento biológico mecanicista, Pensamento

biológico evolutivo e Pensamento biológico da manipulação genética (PARANÁ,

2008). São quatro modelos interpretativos do Fenômeno Vida que, segundo as DCEs,

“permite conceituar VIDA em distintos momentos da história e, desta forma, auxiliar

para que as grandes problemáticas da contemporaneidade sejam entendidas como

construção humana” (PARANÁ, 2008, p. 55). Cada um desses marcos históricos do

estudo da Biologia deu origem a um conteúdo estruturante. Ficaram assim definidos:

Organização dos Seres Vivos; Mecanismos Biológicos; Biodiversidade; Manipulação

Genética (PARANÁ, 2008, p. 55).

Esses conteúdos devem ser trabalhados de forma integrada e não

hierarquizados ou seriados, de modo que o aluno obtenha um conhecimento

31

conceitual, reflexivo e significativo para sua realidade, evidenciando as questões

emergentes que lhe cabem.

Os conteúdos ligados à Organização dos Seres Vivos (Pensamento

biológico descritivo) têm como propósito entender e analisar a diversidade biológica

existente, incluindo o estudo das características e fatores que determinaram o

aparecimento ou extinção de espécies no decorrer da história.

No que diz respeito aos Mecanismos biológicos, pretende-se uma

abordagem inicial da visão mecanicista, com base numa perspectiva macroscópica,

descritiva e fragmentada da natureza, ampliando a discussão sobre a organização dos

seres vivos, analisando o funcionamento dos sistemas orgânicos nos diferentes níveis

- do celular ao sistêmico. Considerando também uma visão evolutiva e as influências

dos demais conteúdos estruturantes.

O conteúdo estruturante Biodiversidade trata do pensamento

biológico evolutivo, discute como os seres vivos mantêm a diversidade através das

modificações que sofreram, a perpetuação da variabilidade genética e as relações

ecológicas. Nele, são expandidas as explicações sobre o funcionamento dos sistemas

orgânicos que compõem os seres vivos.

Os conteúdos relacionados à manipulação genética abordam os

avanços da biologia molecular, a biotecnologia aplicada e as questões éticas que

envolvem esses avanços biotecnológicos como a manipulação genética. Nesse caso,

é ressaltada a necessidade de expandir a compreensão da mutabilidade, como

algumas características podem ser implantadas, alteradas ou eliminadas do

patrimônio genético de um ser vivo e conduzidas aos seus descendentes através de

mecanismos biológicos que garantem a continuidade da espécie.

De modo geral, as diretrizes curriculares para o ensino de Biologia

permitem que os estudantes percebam que o conhecimento biológico modifica e

interfere no contexto de vida da humanidade e isso requer uma participação crítica e

consciente dos cidadãos responsáveis pela Vida (PARANÁ, 2008, p. 56).

Em relação às estratégias pedagógicas específicas para a disciplina,

o documento se apoia na prática social como ponto de partida. Nesse sentido, dá

destaque ao que o aluno conhece e traz sobre aquele conteúdo a ser trabalhado, na

problematização, instrumentalização, catarse e retorno desse conhecimento à prática

social. Parte de conceitos advindos da realidade imediata do aluno, passando de um

estágio de menor compreensão do conhecimento científico para uma fase de clareza,

32

compreensão e utilização desse conhecimento.

As DCEs de Biologia trazem sugestões para utilização de recursos

pedagógicos como imagens em vídeo, transparências, fotos e textos de apoio com

problematizações acerca dos conteúdos. Privilegia estratégias de ensino como a aula

dialogada e a atividade experimental, manipulação ou simplesmente demonstrativa,

desde que o aluno não seja somente um observador passivo. Além desses, propõe o

estudo do meio e a utilização dos jogos didáticos que, muitas vezes, permitem traçar

planos de ação para alcançar determinados objetivos em face de objetivos

relacionados aos conteúdos da disciplina.

Apoiadas nas afirmações de Anna Maria Pessoa de Carvalho e Daniel

Gil-Pérez (2001), as diretrizes apontam que a avaliação “é um dos aspectos do

processo pedagógico que mais carece de mudança didática para favorecer uma

reflexão crítica de ideias e modificar comportamentos docentes de 'senso comum'

muito persistente" (PARANÁ, 2008, p. 67). Para a superação desse senso comum, há

necessidade de

estudos, pesquisas e análises de resultados que permitam a elaboração de programas de formação continuada para os professores envolvidos no processo ensino-aprendizagem, a fim de possibilitar a elaboração de uma concepção de avaliação adequada à realidade escolar da qual participa (PARANÁ, 2008, p. 68).

Nesse sentido, destaca-se o importante papel da formação contínua

docente, capaz de preparar os professores para a elaboração de processos

avaliativos que contemplem a integração dos alunos na observação das dificuldades

e dos avanços no processo de ensino. Segundo essa perspectiva, a avaliação deve

ser

um instrumento de análise do processo de ensino aprendizagem que se configura em um conjunto de ações pedagógicas pensadas e realizadas ao longo do ano letivo, de modo que professores e alunos tornam-se observadores dos avanços e dificuldades a fim de superarem os obstáculos existentes (PARANÁ, 2008, p. 69).

Em 2011, iniciou-se a discussão e elaboração do Caderno de

Expectativas de Aprendizagem, pelos professores da rede e pela Secretaria de

33

Educação. Ele expressa o que o aluno deve saber ao final do ensino fundamental e

médio, de acordo com os conteúdos estabelecidos nas diretrizes curriculares

estaduais. É mais um subsídio ao trabalho do professor e do pedagogo, não podendo

ser confundido com os critérios de avaliação. O documento específico para a disciplina

de Biologia indica 22 expectativas de aprendizagem dentro dos conteúdos básicos

para o aluno ao final do Ensino Médio. As expectativas não devem ser pensadas como

encaminhamentos metodológicos, conteúdos específicos, bem como relações

interdisciplinares e/ou de contexto, uma vez que essas situações devem estar

explicitadas no Plano de Trabalho Docente. Essas expectativas devem ser vistas

como balizadoras e indicadoras dos objetivos a serem alcançados, contribuindo para

melhor qualificação do ensino e como instrumentos pedagógicos de democratização

deste ensino.

De acordo com Silva & Santos (2006), na análise de cenários diversos

de educação mediada pela tecnologia, é fundamental a ênfase no caráter formativo e

não somativo. É nesse sentido que jogos e simuladores podem contribuir

positivamente para o processo avaliativo, uma vez que permitem a conferência das

competências necessárias à elevação de nível como parte essencial da própria

jogabilidade. Nesse sentido, a integração das TIC no processo de ensino implica

também no alargamento de estratégias que viabilizam a autoavaliação colaboram

para o desenvolvimento autônomo do aluno.

3.3 Materiais didáticos de Biologia

Não é fácil ao professor fazer escolha dos materiais ou recursos

didáticos a serem utilizados nas aulas de Biologia. Apesar de todo o avanço

tecnológico, os professores ainda se pautam por aulas expositivas com uma

participação muito pequena, ou nenhuma, do aluno. Devido a isso, o recurso didático

mais usado é o livro. De acordo com Myriam Krasilchik, “o livro didático,

tradicionalmente tem tido, no ensino de Biologia um papel de importância [...] no

sentido de valorizar um ensino informativo e teórico" (KRASILCHIK, 2008, p.65).

Em 2006, o Instituto Ciência Hoje, responsável pela publicação da

34

revista Ciência Hoje, selecionou textos sobre Biologia, organizados por blocos

temáticos que atendessem aos interesses em sala de aula e servissem como apoio

na formação escolar para o mundo contemporâneo. A publicação foi realizada pelo

Ministério da Educação, como sexto volume da Coleção Explorando o Ensino.

Em 2007, foi lançada uma proposta diferente para o material didático

público de Biologia. Folhas, como era chamado o projeto, é o resultado da ação do

Governo Estadual para formação continuada dos professores da rede estadual. Nesse

projeto, os docentes produziram o próprio material didático, com a orientação do

Departamento de Educação Básica da Secretaria Estadual de Educação.

O material que resultou desse processo está organizado de acordo

com os conteúdos estruturantes da disciplina, em conformidade com as Diretrizes

Curriculares Orientadoras da Educação Básica do Paraná. Neste livro didático público,

há uma preocupação em escrever textos que valorizem o conhecimento cientifico, filosófico e artístico, bem como a dimensão histórica das disciplinas de maneira contextualizada, ou seja, numa linguagem que aproxime esses saberes da sua realidade. É um livro diferente porque não tem a pretensão de esgotar conteúdos, mas discutir a realidade em diferentes perspectivas de analise; não quer apresentar dogmas, mas questionar para compreender. Além disso, os conteúdos abordados são alguns recortes possíveis dos conteúdos mais amplos que estruturam e identificam as disciplinas escolares. O conjunto desses elementos que constituem o processo de escrita deste livro denomina cada um dos textos que o compõem de “Folhas” (PARANÁ, 2007, p. 7).

Há outros aspectos que o diferenciam do modelo padrão em materiais

didáticos, como a flexibilidade de construção e reconstrução do conhecimento através

do diálogo e da pesquisa; e a relação entre os conteúdos específicos com concepções

e, muitas vezes, recortes diferenciados do livro didático que o docente está

acostumado a usar. Por causa dessas características, o projeto acabou por se tornar

um dos primeiros programas de Recursos Educacionais Abertos (REA) do País.

A partir de 2007, o livro de Biologia passou a fazer parte do Programa

Nacional do Livro Didático (PNLD) aprovado pelo MEC e ofertada a todas as escolas

públicas do Brasil. Nesse caso, os livros de diversos autores são analisados por um

grupo de professores de universidades e das escolas públicas, onde produzem uma

35

resenha sobre os livros selecionados. Os livros precisam estar de acordo com a

legislação vigente e com os preceitos metodológicos que regulamentam a educação

nacional.

Os professores de todas as escolas do País recebem uma lista de

possibilidades ofertada pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNL), analisam e

escolhem o livro didático mais adequado à sua realidade regional. A oferta é trienal e,

na maioria dos casos, há a opção de selecionar o material em volume único ou em

três volumes. O professor muitas vezes não concorda com as subdivisões clássicas

do livro didático, mas por ser mais familiar acaba utilizando assim mesmo

(KRASILCHIK, 2008).

O professor de Biologia também utiliza outras metodologias de

trabalho como as práticas laboratoriais ou em sala de aula: recursos audiovisuais,

aulas de campo, problematizações, ferramentas computacionais, entre outras. Mas a

maioria das aulas se encontra dissociada do cotidiano do aluno e, muitas vezes, é

insuficiente para promover a educação científica.

Outro recurso bastante utilizado pelo professor de Biologia é o

modelo. Serve para visualização do aluno do objeto em três dimensões, como, por

exemplo, uma célula feita com materiais recicláveis. Nesse caso, o docente deve ter

bastante cuidado para que o aluno não faça associações erradas entre o modelo e a

realidade. (KRASILCHIK, 2008).

Como se vê, quando pensamos sobre a possibilidade de usar a

tecnologia na aula de Biologia, o professor deve decidir o que conta, de fato, como

tecnologia. Existem vários usos da tecnologia. Alguns são simples e não exigem muita

consideração em termos de uso. Outros requerem uma consideração mais profunda

de como usá-los de forma mais eficaz. Em geral, desde que a tecnologia é equilibrada

com o ensino de habilidades acadêmicas e sociais tradicionais, ela tem o potencial

para revitalizar a sala de aula, apelando a diferentes competências de modo que a

aprendizagem torne-se mais eficaz.

Com a introdução das TIC no Ensino de Biologia, espera-se que os

alunos aprendam que a tecnologia é um meio de resolver problemas e, como

consequência, que eles percebam que as tecnologias afetam todas as facetas de

nossas vidas. Neste sentido, os alunos acabam por investigar, especificamente, como

a tecnologia é usada para aprofundar e ampliar nosso conhecimento da Biologia.

36

4. TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO

As tecnologias sempre estiveram presentes no processo ensino

37

aprendizagem, desde o giz e a lousa até os equipamentos eletrônicos. De modo geral,

espera-se que a evolução contínua que caracteriza a tecnologia dê efetiva e

significativa contribuição às práticas pedagógicas.

As tecnologias da informação e comunicação tornaram-se

indispensáveis no nosso cotidiano e também envolveram as escolas. O professor não

é mais o detentor único do saber. As informações estão disponíveis na Internet,

através de revistas, jornais, blogs, sites científicos, todos de fácil acesso.

Desse modo, acredita-se que o professor e a escola possam ajudar o

aluno nas tarefas de sistematizar, selecionar e editar estas informações.

Pesquisas como a TIC Educação, conduzida pelo Comitê Gestor da

Internet no Brasil (CGI.br, 2014), mostram que os professores procuram utilizar as

novas tecnologias em sua prática pedagógica. Entretanto, as tecnologias da

informação e comunicação entraram timidamente no âmbito escolar, enquanto que os

alunos, por sua vez, são fortemente influenciados pelo seu uso no cotidiano. Nesse

mesmo cenário, a sociedade, como um todo, exige cada vez mais o domínio dessas

competências tecnológicas. De acordo com José Armando Valente (1996),

A sociedade do conhecimento exige um homem crítico, criativo, com capacidade de pensar, de aprender a aprender, trabalhar em grupo e de conhecer o seu potencial intelectual. Esse homem deverá ter uma visão geral sobre os diferentes problemas que afligem a humanidade, como os sociais e ecológicos, além de profundo conhecimento sobre domínios específicos. Em outras palavras, um homem atento e sensível às mudanças da sociedade, com uma visão transdisciplinar e com capacidade de constante aprimoramento e depuração de ideias e ações (VALENTE, 1996, p. 5-6).

Assim, fica evidente a necessidade da competência docente

associada ao domínio das Tecnologias da Informação e Comunicação, que faça a

mediação das informações disponíveis com o processo ensino-aprendizagem. O

pesquisador tunisiano Pierre Lévy nos provoca a pensar a necessidade dessa nova

exigência social. De acordo com Lévy,

Novas maneiras de pensar e de conviver estão sendo elaboradas no mundo das telecomunicações e da informática. As relações entre os homens, o trabalho, a própria inteligência dependem, na verdade, da metamorfose incessante de dispositivos informacionais de todos os

38

tipos. Escrita, leitura, visão, audição, criação e aprendizagem são capturados por uma informática cada vez mais avançada. Não se pode mais conceber a pesquisa científica sem uma aparelhagem complexa que redistribui as antigas divisões entre experiência e teoria (LÉVY, 1993, p. 7).

Na esteira da modernização tecnológica, na década de 1980, o Brasil

iniciou a implantação da informática na educação. De modo geral, esse processo foi

iniciado por meio de projetos públicos como EDUCOM, FORMAR, PRONINFE,

PLANINFE e PROINFO. Todos tinham por objetivo o uso pedagógico e a formação

continuada do professor para o uso destas novas tecnologias no ensino básico e

médio.

No Paraná, as iniciativas públicas de implantação da Informática

começam em 1985, com o Plano Estadual de Educação. A partir daí, foram enviadas

os laboratórios de informática PROINFO para as escolas e houve a formação dos

Núcleos de Tecnologia Educacional (NTE). Nesses NTE, havia os multiplicadores que

ministravam cursos de caráter operacional-técnico. Em 2004, criaram-se as CRTE

(Coordenação Regional de Tecnologia na Educação) nos trinta e dois Núcleos

Regionais de Educação.

Figura 1- CRTES no Paraná

FONTE: Adaptado de Diretrizes para o uso de Tecnologias Educacionais (2010)

As CRTE são constituídas por assessores pedagógicos e técnicos de

suporte. Os assessores pedagógicos são responsáveis pelas pesquisas, capacitações

e publicações de informações referentes ao uso de recursos tecnológicos no contexto

escolar público do Estado do Paraná. Os técnicos de suporte instalam os

39

equipamentos tecnológicos, fazem assistência técnica, manutenção dos

equipamentos e cursos para os administradores locais, entre outras atividades.

4.1 Web 1.0 versus Web 2.0

É truísmo dizer que a informática é uma das áreas que mais

influenciaram a comunicação entre os séculos XX e XXI. Isso se deu em face da

redução nos custos dos dispositivos tecnológicos e no acesso à Internet. Mas nem

sempre foi assim.

A base descentralizada da rede surgiu como um projeto militar do

governo americano chamado Advanced Research Projects Agency (ARPA), no início

dos anos 1960, com objetivos ligados à defesa militar. O projeto do Departamento de

Defesa dos Estados Unidos da América tinha o intuito de preservar os canais de

comunicação em caso de conflito nuclear. Por isso, desenvolveu uma rede

descentralizada de informações relacionadas à defesa dos interesses do país norte-

americano.

Na esfera civil, antes da internet como conhecemos, é preciso

considerar ainda o Minitel. Segundo Castells (2000) o Minitel tinha como objetivo

conduzir a França à sociedade da informação. No mesmo ano em que a Arpanet

deixou de ser considerada como um projeto militar, a França lançou o Minitel, um

projeto idealizado pela Companhia Telefônica francesa, considerado o primeiro e o

maior sistema de videotexto utilizado em larga escala pela sociedade contemporânea.

Na década de 1980, uma em cada quatro casas na França possuía terminal de acesso

ao Minitel, que era subsidiado com recursos do Governo da França, por meio de sua

empresa de telecomunicações. O equipamento funcionava como uma base de dados

telefônicos e comerciais de acesso geral descentralizado.

Entretanto, somente na década de 1990, o mundo conheceu a

Internet (World Wide Web), o principal sistema de documentos hipermidiáticos,

conectados e executados por demanda. Tim Berners-Lee, um cientista britânico

associado ao CERN, inventou a World Wide Web (WWW) e o navegador de mesmo

nome em 1989. A web foi, originalmente, concebida e desenvolvida para atender à

demanda por compartilhamento de informações automática entre cientistas do CERN

40

e expandiu-se para universidades e institutos ao redor do Globo.

O primeiro site no CERN foi dedicado ao projeto World Wide Web em

si e foi hospedado no próprio computador de Berners-Lee. O site descrevia as

características básicas da web, como acessar documentos de outras pessoas e como

configurar seu próprio servidor.

Em 30 de abril de 1993, o CERN colocou o software World Wide Web

no domínio público. Do mesmo modo, registrou a versão seguintes com uma licença

aberta, como uma forma mais segura de maximizar sua divulgação. Através dessas

ações, tornando o software necessário para executar um servidor web livremente

disponível, juntamente com um navegador de base e uma biblioteca de códigos, a

web pode florescer como a conhecemos.

Foi Tim Berners-Lee que deu a possibilidade para a Internet tornar-se

global. Seu projeto mostrou como as informações poderiam ser facilmente transferidas

através da internet, utilizando hipertexto. A ideia dos engenheiros ligados ao projeto

era ligar hipertexto com a internet e os computadores pessoais. Assim, formando única

rede que ajudasse os pesquisadores do Cern a dividir todas as informações

armazenadas em computador nos laboratórios da instituição.

Estima-se que hoje exista mais de 80 milhões de websites (dado do

Cern) e milhões de usuários de internet. Tanto que atualmente a compra de

computadores, laptops, notebooks ou outro é na maioria das vezes para acessar a

internet. Na pesquisa realizada pela ComScore (E-Commerce News,2014) o Brasil

hoje é o quinto no ranking de internautas. Ultrapassando a Rússia em 2014, com 68

milhões de visitantes únicos na Internet. A pesquisa ainda aponta que o Brasil

representa 40% dos 169 milhões de internautas da América Latina. Um número

bastante considerável de uso e acessos.

De acordo com o dicionário Aurélio, Internet significa “Rede telemática

internacional que une computadores de particulares, organizações de pesquisa,

institutos de cultura, institutos militares, bibliotecas, corporações de todos os

tamanhos” (FERREIRA, 1988, p.214). Para Tim Berners-Lee, a web foi criada com a

função de "ser um repositório do conhecimento humano, permitindo a partilha de

ideias e de todos os aspectos de um projeto comum aos colaboradores em sítios

remotos" (BERNERS-LEE et al., 1999, p. 76).

41

De modo geral, divide-se a história da Internet pública e comercial em

duas fases, chamadas Web 1.0 e Web 2.0. A primeira versão se constituía como um

diretório que armazenava informações de forma unilateral. Os usuários acessavam as

informações e aplicativos disponibilizados, mas não interagiam com o conteúdo

disponibilizado. Naturalmente, havia hiperlinks que faziam ligações de um objeto

midiático ao outro. No entanto, a navegação tornava-se redundante na mesma medida

em que não era possível, como usuário, levantar materiais na rede. Nesta época,

predominavam os grandes portais como AOL, UOL e Yahoo.

Essa primeira fase da Internet perdurou até 2004, configurando um

ciclo decano no qual as grandes corporações dominavam a rede mundial de

computadores. Nesse contexto, o usuário interagia exclusivamente através de chats

ou e-mails.

Figura 2- Página inicial do AOL

Fonte: http://www.topdesignmag.com/wp-content/uploads/2011/06/104.jpg

A partir de 2004, novos padrões de interatividade ganham presença

na Internet. Esse é o ano de inauguração do Orkut, primeira rede social digital global,

na qual os usuários eram responsáveis pelo conteúdo publicado e compartilhado. O

Orkut é um dos exemplos de como a Web 2.0 tornou os ambientes virtuais mais

interativos e, socialmente, mais atrativos. De acordo com Cristóbal Cobo e Hugo

42

Pardo, a web deixou de ser “una simple vidriera de contenidos multimedia para

convertirse en una plataforma abierta, construida sobre una arquitectura basada en la

participación de los usuarios”3 (COBO; PARDO, 2007, p. 15).

Para Tim O’Reilly (2006), a web 2.0 representa uma mudança para a

Internet como plataforma social. Há um aproveitamento da inteligência coletiva, com

o surgimento de aplicativos no quais os usuários sugestionam mudanças e reportam

erros para melhoria das funcionalidades.

As questões relacionadas à interface ganham importância, indicando

que o cerne da rede deixava de ser os grandes portais provedores de conteúdo para

torna-se uma representação da coletividade dos usuários e seus interesses. De modo

geral, os programas são mais simples de usar, devido à interface gráfica apoiada por

ícones, sendo fácil acrescentar ou tirar funcionalidades. Essa mudança estrutural

levou a um aumento significativo de conteúdos publicados pelos próprios usuários na

Internet , por meio de aplicativos online como blogs, docs e wikis, entre outros. Como

se vê, a utilização dessa tecnologia social não depende de conhecimentos técnicos

avançados ou específicos. Por isso também, a intuitividade e a facilidade que marcam

esse contexto acabam por contribuir para o aumento e a difusão do uso dessas

tecnologias.

Atualmente, essa perspectiva de valorização da participação social no

desenvolvimento e no uso desses aplicativos tornou-se um princípio geral regulador

para o desenvolvimento e implementação de novas possibilidades comunicacionais

digitais.

Resumidamente, a principal característica dessa nova web é a

participação efetiva e constante dos usuários. A inversão dos polos de concentração

de conteúdo acabou por incumbir aos próprios usuários as funções de organizar,

avaliar, sistematizar e publicar informações de seu interesse. O melhor exemplo desse

caso é, sem dúvida, a Wikipédia, uma enciclopédia coletiva, construída pela

comunidade de usuários. De fato, nesses casos, não há nenhuma revolução

tecnológica significativa, se comparado à introdução do computador no cotidiano a

partir da década de 1980. Todavia, verifica-se uma valorização da participação social

na rede por meio da acentuação na produção de conteúdo digital mais dinâmico e

participativo.

3 “uma simples vitrine de conteúdos multimídia tornou-se uma plataforma aberta, construída sobre uma arquitetura e uma relação baseada na participação do usuário” (tradução livre).

43

Esse aumento na participação dos usuários levou, naturalmente, a

uma ampliação exponencial dos conteúdos disponíveis na rede. Cabe ao usuário a

função de filtrar as informações que lhe interessam, assim como verificar a

confiabilidade e veracidade delas. Para Mercado (2002), podem surgir alguns

problemas durante uma pesquisa na Internet como confusão entre informação e

conhecimento, facilidade de dispersão. Assim, é possível perder muito tempo

navegando na Internet em busca de algo, verdadeiramente, confiável. Essa

constatação revela a necessidade de uma perspectiva crítica na busca pelo

conhecimento, capaz de conciliar as diferentes realidades pessoais e tecnológicas.

Em relação às ferramentas da Web 2.0, Clara Pereira Coutinho e João

Batista Bottentuit Junior (2007) listam alguns aplicativos, divididos em cinco grupos:

Blogs, Messenger e outros: permitem a criação de redes sociais. Wikis, Google Docs

& Spreadsheets: ferramentas de escrita colaborativa. Skype, Google Talk:

ferramentas de comunicação online. Youtube, Google Videos, Yahoo Videos:

ferramentas de acesso a vídeos. Blogs, Podcast e Wikis: ferramenta de edição online.

De acordo com Coutinho e Bottentuit Junior (2007, p. 200), as

ferramentas da Web 2.0 podem ser classificadas em duas categorias: na primeira

categoria, incluem-se as aplicações que só podem existir na Internet (online)

aumentando a eficácia com o número de utilizadores registrados, por exemplo: Google

Docs, Wikipédia, Del.icio.us, YouTube, Skype etc. Na segunda categoria, constam as

aplicações que funcionam offline e online: Picasa Fotos, Google Map, iTunes etc.

São várias as ferramentas da web que podem auxiliar o professor em

sua prática pedagógica colaborando para despertar um maior interesse do aluno. No

entanto, e mais ainda, continua necessária a figura do professor mediador, capaz de

organizar e preparar sua disciplina em conformidade com as necessidades imediatas

dos alunos, dando significado ao processo de aprendizado e à interação com a

tecnologia.

Hoje, já se fala em web 3.0, ou web semântica, uma web mais

sensível, que compreende os significados de informação fornecidos pelo usuário,

oferecendo opções de compra e de sites. Assim, a rede se torna uma imensa base de

dados a respeito do usuário, promovendo uma rede de conexões que remetem ao

próprio uso da Internet, por um usuário específico ou por grupos de usuários.

Ainda há muito que crescer neste sentido. Amazon e Google, por

exemplo, sugestionam ofertas que poderiam interessar ao cliente tendo por base o

44

que foi adquirido no site por outros usuários que fizeram a mesma compra. Isso faz

com que o comportamento humano, por meio da interação tecnológica, transforme-se

em dados relevantes na oferta de aplicativos. Brasilina Passareli indica outro exemplo

no qual os dados relacionados ao uso da web valorizam os espaços e informações

disponibilizadas. De acordo com Passareli

Outro projeto nesta esteira de humanos agregando valor às informações online é o Google Image Labeler no qual pessoas são convidadas a indexar fotografias digitais de acordo com seus conteúdos como em um jogo no qual os competidores devem tanto colaborar como competir: este é o conceito de coopetition (competição e colaboração), muito comum em educação a distância. Entretanto, tanto o Mechanical Turk como o Image Labeler precisam passar dos demos como jogos para se avaliar seu real impacto na usabilidade da Web 3.0 (PASSARELI, 2008, p. 7).

Tim Berners-Lee, em seu livro Weaving the Web, já evidenciava a

possibilidade de uma web semântica: “sonho com uma Internet, na qual os

computadores sejam capazes de analisar toda a informação online, os conteúdos, os

links, as transações entre indivíduos e computadores” (TIM BERNERS-LEE, 1999, p.

157).

Os avanços em relação à web são muitos e podemos esperar muito

mais desta tecnologia. No evento Proxxima, promovido nos dias 6 e 7 de maio de

2014 pela revista "Meio & Mensagem", em São Paulo, foram apresentadas algumas

ferramentas que já estão disponíveis ao usuário da chamada Web 3.0. Uma das

ferramentas apresentadas foi o Vitacare, que agiliza a rotina de usuários de serviços

de saúde, adiantando ao paciente sua senha na espera antes mesmo de chegar ao

local de atendimento (IG, 2014).

De modo geral, espera-se que ferramentas educacionais mais

sofisticadas, alinhadas ao ideal de uma web responsiva, possam, num futuro próximo,

aprimorar as práticas metodológicas e o processo de ensino-aprendizagem como um

todo. Todavia, já é possível apontar que os sistemas de ensino têm se beneficiado

com a introdução da Internet. A aplicações são múltiplas e variadas.

Através da Internet os professores e os alunos podem acessar

informações rapidamente. Ela contém informações de um determinado tópico que

pode ajudar na obtenção de ideias e resolução de problemas. Os alunos podem fazer

45

pesquisas investigativas, enquanto os professores também podem encontrar e

ministrar informações atualizadas aos seus alunos. Nesse mesmo sentido, a

multimídia aplicada à rede mundial de computadores ajuda a entregar lições com

facilidade e de forma a captar a atenção dos alunos.

No mesmo sentido, os ambientes virtuais de aprendizagem permitem

a interação mediada pelo conteúdo escolar. Os alunos podem fazer perguntas através

de postagens de tópicos para discussão com os colegas e professores.

Além das possibilidades mais imediatas relacionadas à integração da

Internet no Ensino, é importante mencionar que a desterritorialização da rede permite

a internacionalização dos processos de Ensino. Muitas instituições fornecem essa

possibilidade. O aluno pode ter aulas em frente ao computador, abrindo o vídeo de

seu tema e estudar em casa, desde que esteja apto a compreender a língua em que

são ministradas as aulas.

4.2 WEB 2.0: questões metodológicas

As ferramentas web não devem ser usadas no processo de ensino

por modismo ou como prioridade. O uso de ferramentas web nas atividades

pedagógicas sem a devida preocupação metodológica é mera transposição da aula

expositiva tradicional. Noutro sentido, elas devem convir para uma aula mais lúdica,

interessante e criativa. Para José Manuel Moran, “as tecnologias sozinhas não mudam

a escola, mas trazem mil possibilidades de apoio ao professor e de interação com e

entre os alunos” (MORAN, 2004, p. 14). Assim, cabe ao professor mudar sua forma

de trabalho, tendo em perspectiva os aspectos que contribuam positivamente para o

processo de ensino.

As Diretrizes para o uso de tecnologias educacionais orientam que “os

recursos tecnológicos não são os sujeitos das relações dentro do currículo, mas

permitem que os sujeitos se façam ao facultar estas relações” (PARANÁ, 2010, p. 6).

Cabe ao professor realizar as capacitações necessárias para fazer uso destes

ambientes e aplicativos de aprendizagem na web, adaptando os seus conteúdos para

trabalhar o uso da Internet ou de ferramentas digitais. Para isso, como afirmam Cruz

e Carvalho (2006), a escola necessita começar a criar pontes com outros universos

46

de informação, levando a outras situações de ensino-aprendizagem, mais

significativas e ligadas à realidade concreta dos alunos.

Em regra, as ferramentas web têm uso facilitado, são intuitivas, e

muitas são gratuitas. A partir delas, professores e alunos podem ser os produtores e

compartilhadores do saber. Espera-se que essa conexão entre a sociedade

tecnológica e as instituições de ensino possa desenvolver, nos alunos, as

capacidades necessárias ao uso crítico da informação. Acredita-se que essa

confluência entre tecnologia e educação possa ser replicada noutras situações da vida

do aluno. De acordo com Castells,

A aquisição da capacidade intelectual necessária para aprender a aprender durante toda a vida, obtendo informação armazenada digitalmente, recombinando-a e utilizando-a para produzir conhecimento para o objetivo desejado em cada momento (CASTELLS, 2004, p. 320).

Esse ponto de vista deixa evidente a crença geral de que a aptidão

para o aprendizado pode ser levada para toda a vida e que esse acúmulo de

conhecimentos e competências colabora para as aptidões exigidas em sociedade.

Segundo Ana Amélia Carvalho, “o importante é criar situações que envolvem os

alunos na aprendizagem, que os preparem para a tomada de decisão, numa

sociedade globalizada e concorrencial” (CARVALHO, 2007, p. 36). Para que o

professor crie essas situações de aprendizagem, necessita se sentir confiante e capaz

de lidar com essas novas práticas pedagógicas. Nesse sentido, Vani Moreira Kenski

afirma que

é necessário, sobretudo, que os professores se sintam confortáveis para utilizar esses novos auxiliadores didáticos. Estar confortável significa conhecê-los, dominar os principais procedimentos técnicos para sua utilização, avaliá-los criticamente e criar novas possibilidades pedagógicas, partindo da integração desses meios com o processo de

ensino (KENSKI, 2003, p. 77).

Assim sendo, a escola e o professor podem criar este ambiente

criativo, físico ou virtual, onde o aluno aprenda a desenvolver sua criatividade e

desenvolver de forma crítica sua leitura e aprendizado dos conteúdos com o uso das

47

ferramentas digitais e tecnológicas, permitindo trabalhos cooperativos, com

desenvolvimento em equipe. Carvalho (2007) também salienta que com o uso destas

ferramentas contribui para o desenvolvimento e para a preparação de cidadãos aptos

a sociedade da informação e conhecimento. Na mesma esteira, José A. Valente

exemplifica que

a utilização do computador dentro de uma metodologia que privilegie a descoberta, a produção, a criação e a autoria torna o professor e o aluno autores e criadores do processo educacional, respeitando a singularidade de cada um, enriquecendo o ambiente com a presença das diversidades e multiplicidades (VALENTE; FREIRE, 2001, p. 27).

Desse modo, quando a tecnologia é vinculada a uma boa metodologia

tende a ser muito eficiente em seu uso educacional. Para que este trabalho seja

desenvolvido, há alguns princípios metodológicos que Moran aponta:

- Integrar tecnologias, metodologias, atividades. Integrar texto escrito, comunicação oral, escrita, hipertextual, multimídia. Aproximar as mídias, as atividades, possibilitando que transitem facilmente de um meio para o outro, de um formato para o outro. Experimentar as mesmas atividades em diversas mídias. Trazer o universo do audiovisual para dentro da escola. - Variar a forma de dar aula, as técnicas usadas em sala de aula e fora dela, as atividades solicitadas, as dinâmicas propostas, o processo de avaliação. A previsibilidade do que o docente vai fazer pode tornar-se um obstáculo intransponível. A repetição pode tomar-se insuportável, a não ser que a qualidade do professor compense o esquema padronizado de ensinar... - Planejar e improvisar, prever e ajustar-se às circunstâncias, ao novo. Diversificar, mudar, adaptar-se continuamente a cada grupo, a cada aluno, quando necessário (MORAN, 2000, p. 31-32).

Como é possível perceber, a introdução das tecnologias telemáticas

no ensino demanda tempo, organização, planejamento e pesquisa. Essa constatação

coloca em xeque a realidade da atividade docente, caracterizada pelo

descontentamento com a condição geral das escolas e a sobrecarga de trabalho.

Desse embate entre o desejável e o possível, nem sempre os resultados são positivos,

pois, frente às necessidades cotidianas, alguns professores não se dispõem a

experimentar diferentes metodologias.

Moran (2004) dá pistas de como tentar superar algumas dificuldades:

48

o equilíbrio entre o planejamento institucional e pessoal nas organizações

educacionais; planejamento flexível e criativo; equilíbrio entre liberdade, criatividade e

organização; criar conexões com o cotidiano e as necessidades dos alunos; incorporar

o novo, aceitando que sempre há imprevistos; criatividade com sinergia, valorizando

as contribuições individuais. Se o professor, em conjunto com a escola, conseguir

visualizar e prever a superação das dificuldades, o trabalho com o uso das

ferramentas web, certamente, terá êxito. De acordo com o filósofo e educador, neste

quesito metodológico, o professor necessita

aprender a equilibrar processos de organização e de “provocação” na sala de aula. Uma das dimensões fundamentais do educar é ajudar a encontrar uma lógica dentro do caos de informações que temos, organizar numa síntese coerente (mesmo que momentânea) das informações dentro de uma área de conhecimento. Compreender é organizar, sistematizar, comparar, avaliar, contextualizar (MORAN, 2004, p.4).

Nem sempre é fácil superar hábitos e métodos utilizados por muito

tempo. Ultrapassar a zona de conforto e permitir-se utilizar novos padrões de ensino

exige vontade e flexibilidade do docente. O autor cita uma segunda dimensão

pedagógica. Nesse caso, o professor necessita

questionar essa compreensão, criar uma tensão para superá-la, para modificá-la, para avançar para novas sínteses, novos momentos e formas de compreensão. Para isso o professor precisa questionar, tensionar, provocar o nível da compreensão existente (MORAN, 2004, p.4).

As oportunidades que o professor tem, para ampliar e trazer melhorias

ao ensino-aprendizagem, são amplas. Ele possui vários recursos, ferramentas que

possibilitam diferentes práticas pedagógicas. Se tem a atividade bem elaborada,

planejada e clara, contribuirá e muito para melhoria no ensino-aprendizagem,

podendo levar os alunos a um aprendizado autônomo e crítico. Para isso, será

necessário reexaminar suas práticas cotidianas e gerar questionamentos acerca dos

conteúdos ministrados, de modo que o aluno possa integrar-se no processo de

construção do conhecimento.

49

4.3 WEB 2.0 e a escola

De modo geral, acredita-se que o professor pode direcionar o aluno

para um uso mais produtivo da Internet. José Manuel Moran descreve alguns dos

benefícios e percalços do uso das ferramentas web 2.0 no ensino-aprendizagem dos

alunos. Segundo Moran,

As redes atraem os estudantes. Eles gostam de navegar, de descobrir endereços novos, de divulgar suas descobertas, de comunicar-se com outros colegas. Mas também podem perder-se entre tantas conexões possíveis, tendo dificuldade em escolher o que é significativo, em fazer relações, em questionar afirmações problemáticas (MORAN, 1997).

Desse modo, atração exercida pela tecnologia sobre o aluno

caracteriza a necessidade de orientação do aluno frente ao emaranhado de conexões

hipertextuais que fragmentam uma compreensão mais ampla dos conteúdos, sem

ligação entre si e incapazes de atribuir significado formalmente educativo.

É nesse sentido que se destacam algumas iniciativas bem sucedidas

no trabalho com a interatividade das redes digitais no processo de ensino. No início

de 2013, ganhou evidência na mídia um projeto realizado pelo núcleo de ensino da

UNESP (Universidade Estadual de São Paulo) e coordenado por Silvio Fiscarelli, na

escola estadual Bento de Abreu, em Araraquara, no interior de São Paulo. O projeto

atendia alunos do 2º e 3º anos do Ensino Médio, nas disciplinas de matemática e

física. Utilizaram-se vinte ferramentas digitais diversas, entre simulações, animações,

jogos e outros. O estudo mostrou que o uso de ferramentas tecnológicas educativas

melhora em 32% o rendimento dos alunos em comparação aos conteúdos trabalhados

de forma expositiva em sala de aula. (FAPESP, 2013).

No artigo "O Uso da Internet como Ferramenta Pedagógica para o

Ensino de Filosofia: uma aplicação com alunos do Ensino Médio de uma escola

estadual", de Andrio dos Santos Pinto, Camila Scherer da Silva e Juliana Guedes da

Silva, da Faculdade Cenecista de Osório (FACOS), Rio Grande do Sul, é narrada outra

experiência positiva de aproximação entre tecnologia e ensino. Utilizando como tema

50

a “História dos Pensadores Filósofos contada Através da Internet”, o projeto foi

realizado na Escola Estadual de Ensino Médio Marçal Ramos, em Caraá, Rio Grande

do Sul, com uma turma de 2º ano do Ensino Médio. O objetivo do projeto era utilizar

a rede mundial de computadores para identificar modos de tratar da Filosofia de uma

maneira simples. Nesse sentido, oportunizou-se a utilização das tecnologias da

informação e comunicação em duas frentes: compreensão e discussão acerca da

filosofia por meio de materiais hipermidiáticos e a prática de edição de conteúdos para

web, por meio da ferramenta Wix, utilizada para a confecção de websites. Os

pesquisadores afirmam que o uso da world wide web,

traz um enorme ganho para o aluno que pode visualizar através de imagens, hipertextos, vídeos e simulações o conteúdo que está sendo passado. A Internet é uma ferramenta muito poderosa se utilizada de forma adequada e isso tem que ser bem alinhado com os alunos (PINTO, SILVA e SILVA, 2012, p. 14).

No artigo, "A Tecnologia Revolucionando o processo de ensino

aprendizagem? A experiência de Paraguaçu no Estado de Minas Gerais" Ribeiro et al

(2014) apontam que, assim que tiveram conhecimento da iniciativa desenvolvida pelo

Centro de Educação Fazendo Acontecer “Ana Paula Silva Gomes” – CEFA,

realizaram visitas in loco para conseguir mais informações sobre o projeto. Realizaram

um questionário sobre a experiência e uma das questões era sobre os pontos positivos

e negativos do uso das tecnologias digitais. De acordo com os pesquisadores, os

resultados são mais positivos do que negativos. Destaca-se o apontamento de uma

realidade específica: a inaptidão dos alunos em lidar com a tecnologia.

Positivos: mais interesse dos alunos, aulas mais dinâmicas, mais informação, conteúdo mais atualizado, oportunidade de formação para uso correto e ético da Internet, oportunidade de material didático mais diversificado e atraente. Negativos: falta de conhecimento dos alunos o que faz com que a escola tenha dificuldade de implantação do processo (RIBEIRO et al, 2014, p. 420).

O projeto desenvolvido em Paraguaçu demonstra algumas das

oportunidades da integração da Internet no processo de ensino. E, assim como

descrito nesses exemplos, fora do Brasil também há planos bem sucedidos com o uso

51

da Web, como o de Braga-Portugal, descrito no artigo "Como rentabilizar a Web nas

aulas de Português: uma experiência", de Adelina Moura. De acordo com a

pesquisadora,

Trazer para a aula os avanços tecnológicos que se encontram disseminados na sociedade e pô-los ao serviço de uma melhoria do processo de ensino/aprendizagem curricular, foi o propósito do projecto “Português Online”. No sentido, de aproveitar o estado de graça que as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) detêm na população em geral e nos alunos em particular, entrámos na aventura de criar outro ambiente de ensino/aprendizagem, aproveitando os recursos informáticos existentes na escola, e nele desenvolvemos o programa da disciplina de Português do Ensino Profissional (MOURA, 2005, p.1).

Durante o desenvolvimento da pesquisa, a autora utilizou um fórum

online para que os alunos analisassem e registrassem sua opinião acerca da

integração da web no cotidiano escolar. Da análise feita das 45 respostas do tópico

“Avaliação da modalidade de ensino/aprendizagem”,

Verificou-se que 30 alunos disseram ter gostado muito da experiência e avaliaram-na positivamente, 13 consideraram-na uma experiência pedagógica nova, 10 acharam-na motivadora e capaz de aumentar a participação, 5 aludiram a ela como capaz de levar à melhoria dos resultados escolares (MOURA, 2005, p.5).

Assim, os resultados com o uso das tecnologias digitais são bastante

satisfatórios nas metodologias adotadas pelos professores citados. De acordo com

esses exemplos, há uma participação maior do aluno no processo de ensino

aprendizagem, além disso, a dinâmica da rede traz um contributo informacional que

serve aos propósitos educacionais, tanto para o professor quanto para o estudante.

No artigo "Aprendizagem Colaborativa e Web 2.0: proposta de modelo

de organização de conteúdos interativos", Tércia Zavaglia Torres e Sérgio Ferreira do

Amaral também afirmam que outras pesquisas já demonstraram a importância das

redes telemáticas interativas na educação. Os pesquisadores citam, inicialmente,

exemplos positivos observados na Finlândia, na Suécia, na Noruega e na Dinamarca.

Na sequência, examinam o caso inglês.

52

Na Inglaterra [...] estudos empregando métodos estatísticos têm sido realizados para avaliar até que ponto o uso das TIC promove resultados para o desempenho escolar. As conclusões sinalizam que o uso dessas tecnologias é um fator chave para a aprendizagem, sugerindo que pode levar a ganhos reais de aprendizagem, especialmente se for amparado por um modelo de aprendizagem focada no compartilhamento e na interação de ideias, informações, conhecimentos e experiências entre alunos e professores (TORRES e AMARAL, 2011, p. 59).

O relatório do NMC (New Media Consortium) mostra seis tendências

e seis tecnologias que devem se difundir na educação básica até 2019. De acordo

com o quadro (em anexo 1), num prazo máximo de dois anos o novo papel do

professor que será de guia para o aprendizado, criando conexões dos conteúdos

curriculares com o mundo real, preparando para a vida após a escola, e deixando de

ser a fonte singular de informação.

Segundo o relatório, espera-se que num prazo de três a cinco anos,

seja observado uso frequente dos recursos educacionais abertos e aumento do uso

de projetos híbridos. Depois desse período, o relatório preconiza uma evolução no

uso das tecnologias intuitivas, permitindo que o aluno interaja com os conteúdos de

forma mais próxima. Além disso, há a previsão do surgimento de um novo modelo de

ambiente escolar, que terá renovado seu formato e a divisão de tempo pra que o aluno

consiga interagir e realizar as atividades.

Com base no que foi dito até aqui, é evidente que as TIC não são a

solução única para os problemas educacionais existentes em nosso País. Noutro

sentido, é uma ferramenta que pode ajudar a melhorar a qualidade de ensino,

principalmente, com a geração de nativos digitais que chega às escolas.

Segundo Mercado (2002), quando as novas tecnologias são bem

exploradas, há um imenso potencial no ensino-aprendizagem, trazendo contribuições

como maior interesse do aluno em aprender e em se concentrar no que é ensinado,

estimulam o desenvolvimento das habilidades intelectuais do estudante, a busca por

informações e um maior número de relações entre elas e ainda promove a cooperação

entre estudantes. Ainda segundo o pesquisador, a tecnologia em conjunto com a

educação traz contribuições ao professor como a maior interação com os alunos do

que nas aulas tradicionais. Pode rever os caminhos da aprendizagem percorridos pelo

aluno e obter informações sobre recursos instrucionais rapidamente.

53

4.4 WEB 2.0 E O ENSINO DE BIOLOGIA

Assim como nos casos observados, as ferramentas web também

podem auxiliar nas práticas pedagógicas de biologia. Elas podem contribuir para que

as aulas sejam menos passivas e conteudistas, e passar a serem mais dinâmicas e

ativas, com o uso de simuladores, animações, blogs, webquests, entre outros.

Todavia, não se pode esperar que o computador executasse o trabalho do professor.

Nesse processo, cabe ao professor planejar a aplicação das atividades em face dos

domínios tecnológicos e das possibilidades interacionais que a Internet proporciona.

Na concepção de muitos alunos do Ensino Médio, Biologia soa,

paradoxalmente, como uma disciplina muito abstrata, cheia de nomes difíceis e

processos complexos. Nesse sentido, inicialmente, já é possível dizer que o uso da

web 2.0 nas aulas de Biologia oportuniza a concretização de conceitos biológicos por

meio de materiais midiáticos mais adequados à realidade digital dos alunos. A web

2.0 oferece ferramentas que ajudam na clareza destes conteúdos. De acordo com

Costa et al.,

a utilização das tecnologias associada a metodologias que respondam as exigências e particularidades do ensino das Ciências promove um conjunto de competências científicas que se revelam em todos os domínios da aprendizagem (conhecimentos, capacidades e atitudes) (COSTA et al, 2012, p.69)

Nesse sentido, Costa et al (2012) sugestiona o uso de applets,

software para modelagem e programas de simulação para observação e descrição de

sistemas e fenômenos físicos reais, para apoiar a formulação de hipóteses e a

apreensão de traços importantes do comportamento ou da evolução dos sistemas

observados. Quanto à interação entre os personagens do processo de ensino, aponta

para o uso de tecnologias de apoio à comunicação para o planejamento e a realização

de investigações, a fim de promover o debate sobre descobertas científicas ou para

confrontar diferentes perspectivas de interpretação científica (exemplos: correio

eletrônico, fóruns, chats ou videoconferência).

54

Além dessas, ainda elenca outras ferramentas úteis para o ensino de

ciências mediado pelas tecnologias, como aplicações genéricas para apoiar os

processos de produção cientifica, incluindo a organização de registros e notas

decorrentes de trabalho experimental ou de microscópio, a elaboração de bases de

dados ou mesmo a produção de cartazes de divulgação cientifica (ex.: editores de

texto, folhas de cálculo, bases de dados).

No sentido de registrar essa integração, Costa et al recomendam

utilizar câmaras digitais, adaptadores para o microscópio, videocâmaras, webcams e

scanners para a recolha de dados que podem inclusivamente a ser usados como base

para a concretização de produtos específicos, como relatórios escritos, infográficos e

videoclipes. Associados a essa perspectiva, indica o uso de vídeos, informações

disponibilizadas em sites de divulgação cientifica ou de informação estruturada

(webquests), imagens 3D e software educativo especificamente desenvolvido para o

ensino, como algumas das alternativas aos meios tradicionais de transmissão da

informação, para que os estudantes possam documentar a abordagem de um campo

conceitual específico.

Desse modo, fica a perspectiva de que o uso destes recursos nas

aulas de Biologia pode “contribuir para uma aprendizagem integradora, que junta

teoria e prática, que aproxima o pensar do viver” (MORAN, 2007, p.21), revelando-se

um mecanismo para o desenvolvimento social integrador do aluno. Moran (2007)

ainda ressalta que: “Aprender a ensinar e a aprender, integrando ambientes

presenciais e virtuais, e um dos grandes desafios que estamos enfrentando

atualmente na educação no mundo inteiro” (MORAN, 2007, p.21).

Nesse mesmo sentido Jonathon Osborne e Sara Hennessy (2003)

ressaltam que o uso das TIC nas aulas de ciências traz várias contribuições aos

alunos, como o desenvolvimento da habilidade de pensamento crítico, da

manipulação e da coleta de dados, além de contribuir para o acesso ao conhecimento

apresentado em formato visual, facilitando a motivação e o engajamento dos alunos.

Osborne e Hennessy (2003) trazem algumas sugestões de

ferramentas web nas aulas de ciências, como ferramentas para captura de dados,

processamento e interpretação - sistemas de registro de dados, bancos de dados e

planilhas, ferramentas gráficas, ambientes de modelagem; software de multimídia

para a simulação de processos e realização de “experiências virtuais"; ferramentas de

publicação e apresentação; equipamento de gravação digital; tecnologia de projeção

55

de computador; e microscópio controlado por computador.

De modo geral, o trabalho pedagógico-tecnológico pode aperfeiçoar

os aspectos teóricos e práticos da Biologia em sala de aula, dando concretude e

significado aos conteúdos ministrados. Para Osborne e Hennessy (2003), a

contribuição potencial das tecnologias web é a oferta de maior tempo para pensar,

discutir e interpretar as produções. Destacam-se, também, o feedback visual, o

aumento da compreensão dos conceitos abstratos e a aprendizagem colaborativa.

Ressaltam ainda que a introdução das tecnologias no processo de ensino não é

suficiente para a transformação da educação científica. Há a necessidade do papel

crítico do professor, que cria condições para a aprendizagem com um conjunto de

atividades elaboradas e estruturadas no processo ensino-aprendizagem.

5. PARANÁ DIGITAL E SALA DE AULA CONECTADA

Nas "Orientações para a organização da semana pedagógica", de

fevereiro de 2009, o governo estadual do Paraná assume uma política de

compromisso para o avanço da integração das tecnologias no ensino por meio da

inclusão digital. Nominalmente, parte em defesa dos seguintes princípios:

Defesa da educação como direito de todos os cidadãos; valorização dos profissionais da educação; garantia de escola pública, gratuita e de qualidade; atendimento à diversidade cultural e gestão democrática e colegiada. [...] e avanço no uso de tecnologias educacionais na defesa da inclusão digital (PARANÁ, 2009, p. 8).

56

O documento de 2009 é resultado da política de inclusão digital e

tecnologia educacional adotada pelo Governo do Estado do Paraná. As origens das

diretrizes remontam ao Programa Paraná Digital (PRD), criado em 2003, em parceria

com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Oficialmente chamado “Projeto BRA/03/036 – Educação Básica e

Inclusão Digital no Estado do Paraná", o PRD foi financiado com recursos do Banco

Interamericano de Desenvolvimento (BID), e com a contrapartida financeira do

Governo do Estado do Paraná. O projeto sinaliza investimentos na ordem de cem

milhões de reais. A disponibilização do capital se deu em duas fases. Em 2003, quase

34 milhões de reais. Em 2004 e 2005, mais de 66 milhões.

PNUD foi responsável pelo gerenciamento dos recursos, participando,

inclusive, dos processos de licitação e aquisição de equipamentos para as escolas e

unidades de ensino. Pela participação ativa no desenvolvimento do projeto, o PNUD

recebeu 3% do valor total financiado, como contrapartida do Governo do Estado do

Paraná.

Para o desenvolvimento da rede de computadores a ser instalada nas

unidades de ensino da rede estadual de educação, a Secretaria de Estado da

Educação do Paraná instituiu um convênio com o Departamento de Informática da

Universidade Federal do Paraná, que ficaria responsável pela organização e

gerenciamento da rede de 44.000 computadores nas escolas do Paraná. O convênio

previa também o acesso universal ao Portal da Educação, o uso de software livre,

hardware e software padronizados, baixo custo de administração e manutenção e um

sistema seguro.

De acordo com o projeto, cada unidade de ensino receberia um

laboratório de informática. Em cada laboratório, havia um número médio de vinte

computadores. Esse total variava em conformidade com o número de alunos

atendidos pela unidade escolar e as características de suas instalações. As máquinas

possuem sistema operacional Linux, numa distribuição específica para esse fim,

atendendo à política de software livre adotada pelo governo estadual, barateando

custos e promovendo o debate acerca do uso, cópia, modificação e redistribuição de

conteúdo digital. Os computadores contavam com um pacote de softwares e

aplicativos educativos como Geogebra, Cmaptools e Jclik, entre outros.

Como parte das ações desse projeto, as escolas ainda receberam

televisores multimídia e kits de sintonia para a TV Paulo Freire. Os professores

57

receberam dispositivos de armazenamento (pendrive) de dois gigabytes, para

armazenarem, utilizarem e redistribuírem arquivos baixados da Internet, em geral, ou

do, especificamente promovido, Portal Dia a Dia Educação, para utilizarem na TV

multimídia.

Em 2007, foi criada a Coordenação de Multimeios, que produz

conteúdos digitais como fotografias, ilustrações e animações; aponta soluções em

software livre para integração das diversas mídias e promove a formação dos

assessores das CRTE, para que multipliquem conteúdo e métodos junto aos

profissionais da rede estadual de educação. Como parte integrante das iniciativas

para a formação contínua dos docentes, a Coordenação de Multimeios produz

tutoriais, dicas e manuais que facilitem e apoiem o trabalho dos professores para a

utilização das ferramentas digitais.

Não se trata de tomar “as tecnologias” como os sujeitos das práticas, senão como impulsionadoras e potencializadoras dessas práticas. Os artefatos tecnológicos, ao aproximarem os agentes do currículo numa relação dialógica, quer em torno do conhecimento, quer em torno da reflexão acerca de uma obra de arte, por exemplo, cria as condições para a própria prática dialógica em que se constitui o sujeito. Vale dizer, recursos tecnológicos não são os sujeitos das relações dentro do currículo, mas permitem que os sujeitos se façam ao facultar estas relações (PARANÁ, 2010, p.7).

A continuidade dos investimentos, das mais diversas fontes, desde

recursos próprios do Governo do Estado do Paraná até financiamento internacional,

na tecnologia educacional da rede estadual de ensino, permitiu o desenvolvimento e

readequação da rede criada em 2003, em conformidade com as demandas que a

própria tecnologia impõe. Em 2013, iniciou-se o projeto Sala de Aula Conectada, com

previsão de investimentos similares ao Projeto Paraná Digital.

Esse novo projeto centraliza a aquisição, instalação e manutenção

dos recursos tecnológicos nos espaços escolares, além dos laboratórios de

informática, como previa o Paraná Digital. A apresentação do Projeto, no Portal Dia a

Dia Educação, enumera as ações previstas no projeto.

As ações previstas abordam a infraestrutura de conexão de

internet nas escolas; distribuição de tablets e computadores

interativos; a implantação do sistema de registro de classe on-

58

line; formação continuada e suporte técnico ao uso de

tecnologias educacionais na rede estadual de ensino. (PARANÁ,

2015)

O projeto piloto de registro de classe online conta com 16 escolas

selecionadas. O professor registra a frequência dos alunos, as atividades realizadas

e as notas, podendo utilizar, para registro, o tablet, computador da escola ou

residencial. A previsão de implantação do sistema de registro online em toda rede

estadual de ensino era, inicialmente, 2014. A meta ainda não foi cumprida.

É preciso salientar que, apesar de algumas escolas da rede estadual

contarem com catracas eletrônicas que monitoram a entrada e a saída dos alunos,

esses dados não são considerados para o registro de presença. A instalação desses

equipamentos está ligada a uma percepção de segurança e monitoramento das

instalações escolares e dos alunos. Todavia, a duplicação do processo, boletim online

e registro de catraca, revela a redundância que caracteriza o trabalho do professor. E

não é difícil imaginar cenários em que, além do registro online, o professor deva

preencher o livro tradicional, para fins de arquivo da unidade escolar.

Também em 2013, aconteceu a entrega de tablets aos professores do

Ensino Médio das escolas estaduais. O projeto acontece em parceria com o MEC e

faz parte do Programa Sala de aula Conectada. Foram entregues aproximadamente

32 mil aparelhos com telas entre 7 e 10 polegadas, da marca Positivo. Acredita-se que

o aparelho irá permitir o registro das práticas pedagógicas, realizar pesquisas, entre

outras atividades relacionadas à atividade docente.

A configuração básica dos dispositivos entregues aos professores tem

resolução de tela de 1024 x 600 pixels, em formato 16:9,

Sistema operacional Android 4.0, já configurado para a Língua Portuguesa. O

processador de 1GHz fica aquém do padrão de mercado, mesmo para a época em

que foi realizado o pregão para aquisição dos equipamentos. O tablet tem 16GB de

armazenamento interno e possibilidade de expansão até 32GB com cartão Micro SD

Card. A conexão conta com Rede sem fio, Bluetooth 2.1 e micro USB. Assim como o

processador, a câmera deixa a desejar, pois seus dois megapixels estão

ultrapassados há alguns anos.

59

Figura 3 – Tablet Educacional

Fonte: Da autora

Ainda em 2013, as escolas estaduais do Paraná receberam as lousas

digitais, também resultado da parceria entre a SEED e o MEC, no Programa Sala de

Aula Conectada. Os professores, através dos assessores pedagógicos e de tutorial

disponibilizado no Portal Dia a Dia Educação, recebem instruções técnicas para o uso

do equipamento, em conjunto com o projetor multimídia ou o computador interativo

que a escola possui.

Figura 4 – Lousa digital, projetores multimídia com computador integrado.

60

Fonte: MEC

As políticas públicas paranaenses para a inclusão digital na educação

são constantes. A partir da presença dos equipamentos tecnológicos na escola,

visualiza-se a implementação de estudos que busquem desenvolver projetos sólidos

e, sobretudo, viáveis para a utilização das tecnologias digitais na educação pública.

Desta forma,

Não se trata de tomar “as tecnologias” como os sujeitos das práticas, senão como impulsionadoras e potencializadoras dessas práticas. Os artefatos tecnológicos, ao aproximarem os agentes do currículo numa relação dialógica, quer em torno do conhecimento, quer em torno da reflexão acerca de uma obra de arte, por exemplo, cria as condições para a própria prática dialógica em que se constitui o sujeito. Vale dizer, recursos tecnológicos não são os sujeitos das relações dentro do currículo, mas permitem que os sujeitos se façam ao facultar estas relações (PARANÁ, 2010, p.7)

61

Segundo Lévy, “é preciso deslocar a ênfase do objeto (o computador,

o programa, este ou aquele modelo técnico) para o projeto (o ambiente cognitivo), a

rede de relações humanas que se quer instituir” (LÉVY, 1993, p.54). Desse modo, fica

nítida a concepção da necessidade de se oferecer aos docentes a possibilidade de

efetivo desenvolvimento de suas habilidades por meio do acesso a um fazer

pedagógico que tenha as tecnologias digitais não como mero fim, mas como

elementos que propiciem interatividade entre os sujeitos do processo de construção

de conhecimento.

É nesse sentido que, é mister dizer, as políticas públicas para a

implantação da informática nas escolas ainda não suficientes para dar resposta às

necessidades sociais ligadas a essa demanda. De acordo com Maria Helena Silveira

Bonilla,

muito precisa ser investido para que escola se transforme num espaço de formação, dos professores, dos alunos e da comunidade escolar, para a vivência plena da cultura digital, como parte integrante de sua proposta pedagógica. Observamos que esta perspectiva parece estar ainda distante das atuais formulações políticas (BONILLA, 2009, p. 44).

Assim, como parte dessa perspectiva, pode-se dizer que há, também,

a necessidade de propostas pedagógicas consistentes que sejam mediadas pelo

professor no uso destas tecnologias digitais de forma criativa, reflexiva e que aprimore

o aluno como usuário e aprendiz digital. Recursos como os repositórios, os blogs e os

portais, inclusive o Portal Dia a Dia que possui uma quantidade de material de

qualidade, podem ser utilizados coerentemente dentro da proposta pedagógica do

professor e da escola. De acordo com José Manuel Moran, as tecnologias

trazem muitas possibilidades, mas, sem ações de formação sólidas, constantes e significativas, boa parte dos professores tende, após a empolgação inicial, a um uso mais básico, conservador - repositório de informações, publicação de materiais - enquanto os alunos podem seguir utilizando-as para inúmeras formas e redes de entretenimento, como jogos, vídeos e conversa online. (MORAN, 2013, p. 31)

62

Assim, as tecnologias digitais também não são uma panaceia para os

problemas na educação, porém, elas são um recurso importante para o processo

ensino-aprendizagem. Por mais insegurança que o professor tenha na utilização

destes recursos, ele ainda tem um papel essencial na formação de usuários

competentes e críticos. Moran afirma que, “na sociedade da informação, todos

estamos reaprendendo a conhecer, a comunicar-nos, a ensinar; reaprendendo a

integrar o humano e o tecnológico; a integrar o individual, o grupal e o social” (MORAN;

MASETTO; BEHRENS, 2000, p.7).

Resumidamente, pode-se dizer que uma educação de qualidade não

será alcançada somente com a escola equipada tecnologicamente, mas com

professores que se sintam seguros e preparados para o uso destas ferramentas. Há

o imperativo premente de um professor que investiga, que cria propostas pedagógicas

que contemplem as tecnologias da informação e comunicação, sem, no entanto,

torná-las uma reprodução digital de uma sala de aula tradicional.

Tendo em consideração que ainda vivemos um período de transição

da introdução das tecnologias na comunicação cotidiana, é preciso lembrar que a

maioria dos professores em ação docente não foi preparada para o uso desses

recursos no processo de ensino. Os imperativos da mediação tecnológica nas

atividades escolares geram questionamentos. Como trazer as TIC para o cotidiano da

sala de aula? Como aprimorar o processo de ensino-aprendizagem com estes

recursos, primando para um ensino de qualidade? Como lidar com os “nativos

digitais4”?

Da observação das ações promovidas pelo governo estadual para a

implantação da informática nas escolas, fica nítida a concepção da necessidade de

se oferecer aos professores a possibilidade de efetivo desenvolvimento de suas

habilidades técnicas e metodológicas, por meio do desenvolvimento de um fazer

pedagógico que tenha as mídias digitais não como mero fim, mas como elementos

que ofereçam a devida interatividade entre os sujeitos do processo de construção de

conhecimento que se dá nas escolas públicas estaduais do Paraná. Como aponta

Pierre Lévy, “é preciso deslocar a ênfase do objeto (o computador, o programa, este

4 O termo 'nativo digital' (Prensky, 2001) refere-se àquele que nasceu cercado pelas novas tecnologias da informação e comunicação (Internet, computadores, celulares, tablets, vídeo games etc.), também já conhecida como Geração N (Net).

63

ou aquele modelo técnico) para o projeto (o ambiente cognitivo), a rede de relações

humanas que se quer instituir” (LÉVY, 1993, p.54).

É nesse sentido que um dos recursos interessantes que o Estado

mantém, dentro das políticas públicas para a inclusão digital no processo de ensino é

o Portal Dia a Dia Educação. Ele serve como repositório de objetos educacionais

digitais, mas também não deixa de ser um ambiente dinâmico, interativo e de

colaboração entre a comunidade docente da rede estadual de ensino. Por ser um

concentrador das pessoas envolvidas nos processos descritos até aqui, partimos para

uma observação mais apurada dessa ferramenta.

64

6. FERRAMENTA WEB: PORTAL DIA A DIA EDUCAÇÃO

O Portal Dia a Dia Educação foi lançado em 2004, como uma das

ações do Projeto Paraná Digital. Desde sua implantação, o ambiente agrega

informações das escolas públicas estaduais, conteúdos elaborados pelos professores

da rede e assistidos pelos técnicos pedagógicos atuantes na SEED/PR. Nele,

centralizam-se a criação e a disponibilização de materiais elaborados pela

Coordenação de Multimeios, como animações, ilustrações, fotografias, entre outros.

A primeira versão da plataforma já contava com boa parte dos

recursos que ainda hoje dispõe. Além das questões mais avançadas relacionadas à

estrutura do sistema que suporta a página do Portal, a diferença mais evidente para a

versão atual é o layout caracterizado pelas formas retas bastante simples.

Figura 5 - Primeira Versão do Portal Dia a Dia

Fonte: http://professorcarlinhos.pbworks.com/f/portal_diaadia_imagem.jpg

Ele é um site institucional que faz parte do Projeto PRD e ligado a

SEED-PR. O Portal é uma ferramenta online que possui conteúdos específicos

direcionados a alunos, educadores, gestão escolar e comunidade. Tem por objetivo

levar, até a comunidade escolar, informações e serviços, recursos didáticos entre

65

outros. O Portal Dia a Dia, especificamente criado com a finalidade de estimular os

professores a “produzirem conteúdos” e socializarem em uma comunidade virtual, os

resultados de seu trabalho. Constitui-se o Portal como um “veículo de disseminação

das políticas públicas educacionais do Estado do Paraná, possibilitando o atingimento

universal e simultâneo dos atores do sistema de ensino (...)” (MENEZES, 2008, p. 69).

Segundo informações do próprio site, ele é um ambiente de

aprendizagem colaborativa, interativo e dinâmico reconhecendo e valorizando os

saberes escolares. Usuários podem enviar diversos tipos de materiais para que sejam

compartilhados, como simuladores e animações, produções próprias como imagens,

artigos, fotografias, relatos de experiências bem sucedidas em sala de aula etc.

Dentro do escopo original do Paraná Digital, o Portal Dia a Dia

Educação cumpria as funções de sistematização, publicação e socialização de

materiais produzidos pela comunidade escolar. Nos comentários ao projeto

BRA/03/036, Menezes (2008) constata que

os documentos da Secretaria de Estado da Educação do Paraná evidenciam um maior interesse em estimular o uso das TIC em ações que promovam a sistematização e publicação dos conhecimentos elaborados por professores de educação básica, bem como a busca de sua socialização por meio da Internet. (MENEZES, 2008, p. 168).

Em 2011, a SEED reformulou o Portal Dia a Dia Educação. Para além

do novo layout, essa reformulação reiterou o conceito basilar do projeto iniciado em

2004: a colaboração. Segundo Betty Collis (1993), a colaboração é um processo de

criação compartilhada: dois ou mais indivíduos, com habilidades complementares,

interagem para criar um conhecimento compartilhado que nenhum deles tinha

previamente ou poderia obter por conta própria.

Assim, o Portal Dia a Dia Educação é feito com a participação de

todos os envolvidos no processo educativo, como alunos, professores, gestores e

comunidade, podendo ser considerado exemplo de web 2.0. Logo ao acessar o Portal,

há uma página bastante simples e funcional onde aparecem as quatro categorias alvo

com cores diferenciadas, como segue na imagem abaixo:

66

Figura 6 - Home do Portal Dia a Dia Educação

Fonte: http://www.diaadia.pr.gov.br/

Além da divisão dos conteúdos em quatro grupos de fácil acesso, logo

abaixo se encontra uma lista de assuntos por ordem alfabética com o título “O que

você procura”, especificando as possibilidades de segmentação de conteúdo.

Figura 7- O que você procura

Fonte: http://www.diaadia.pr.gov.br/

67

Como padrão, em todo o site, ao navegar entre as páginas, é mantida

o banner, com links gerais de navegação e acessibilidade, além do canal de contato,

o “Fale conosco”, pelo qual é possível enviar pautas, sugestões ou recursos

audiovisuais colaborativos, entre outros. O mapa do site indica que, em todas as

categorias, há um menu lateral com os links para os conteúdos específicos de cada

uma das categorias.

Na categoria “Alunos” há várias informações, materiais e recursos que

servem para auxiliar no ensino aprendizagem. No centro, em destaque, ficam as

notícias recentes do interesse dos alunos como provões, atividades realizadas nas

escolas estaduais, informações sobre o vestibular, Enem, olimpíadas estudantis, entre

outros. Assim como nas outras categorias, a página dinâmica se altera na medida em

que são alterados seus conteúdos mais recentes. As notícias anteriores ficam

armazenadas e podem ser acessadas a qualquer momento, através do link "Mais

notícias".

Na aba do lado esquerdo encontra-se “Apoio à Aprendizagem” com a

sugestão de duas plataformas para estudo, o Geekie Games e a Khan Academy.

Abaixo, no “Boletim Online”, o acesso é permitido por meio do código de matrícula

(CGM) e do Registro Geral (RG) do aluno. Ali, é possível que o aluno ou responsáveis

acessem o boletim com o rendimento escolar do aluno.

No link “Eu Indico”, é possível encontrar arquivos de áudio e vídeo,

filmes, livros, blogs, fotografias, recursos de pesquisa que já estiveram em destaque

na página e que são enviadas pelos alunos como colaboração. No link “Formação”,

há dicas para ampliar a formação profissional, com cursos, testes vocacionais,

instituições para estágios e sugestões de livros didáticos gratuitos. Em “Gabaritando

Enem”, encontram-se várias sugestões de aulas e simulados para aperfeiçoamento

das capacidades dos alunos frente ao Exame Nacional do Ensino Médio. O link

“Grêmio Estudantil” apresenta informações, legislação, modelos de documentos para

criação do Grêmio na escola e contato para tirar dúvidas. No link “Inter@tividades”,

há sugestões de infográficos, sites, jogos e simuladores sobre temas curiosos como

"Aquecimento Global", "Como funciona o Canal do Panamá" etc. Logo abaixo, há o

link “O assunto é...”. Nele, os alunos encontram temáticas atuais trabalhadas a partir

de diferentes arquivos multimídia. Temas como Bullying, Games e Redes Sociais,

evidenciam uma curadoria de conteúdo específico voltado para os jovens.

68

“Recursos de Pesquisa” dá acesso a uma infinidade de materiais de

apoio pedagógico, como tarefas e trabalhos escolares, possui áudios, imagens e

trechos de filmes por disciplinas; vídeos, animações e simuladores, dicionários e

tradutores online; geradores online de referências (ABNT); áudio dos hinos nacionais,

estadual e dos municípios paranaenses; consulta a bibliotecas do resto do País e do

mundo.

No espaço “Vestibular”, há recursos, materiais, informações e dicas

de estudo que poderão colaborar com a preparação do aluno para o vestibular, como

lista de livros cobrados nos principais vestibulares (Clássicos do vestibular), links para

faculdades e instituições de ensino superior, ProUni, Ciência sem Fronteiras, Guia de

Profissões, dicas de redação, temas e modelos de provas. Destaque para a

disponibilização, em servidor próprio, dos materiais do programa Eureka, da TV Paulo

Freire, incluindo aulas em vídeo e apostilas completas, divididas por disciplina.

No link “Veja Mais”, encontra-se o Calendário Escolar onde o aluno

fica sabendo do início e término dos semestres e bimestres, recessos e férias; “O

Canal é seu!”, Programa da TV Paulo Freire voltado para a valorização das produções

dos alunos; legislações específicas para a educação; Rede escola com acesso ao site

das escolas paranaenses; Portal Território da Juventude; TV Paulo Freire com

programas com a participação dos alunos paranaenses; Datas especiais; prêmios e

concursos dos quais eles podem participar; lista das embaixadas no Brasil e uma lista

de programas e projetos que podem beneficiá-los.

Por fim, a categoria "Alunos" ainda possui um espaço reservado à

“Colaboração”, onde o aluno pode contribuir com materiais multimídia de interesse

pedagógico; o Consulta Escola; o Calendário de Eventos e uma lista de links

especificamente direcionados aos estudantes, “O que você procura?”, que facilita o

acesso do aluno às informações da categoria.

Pelas características descritas, este ambiente pode ser considerado

como Web 2.0, pois possui interação e participação do aluno com sugestões de temas

para pesquisas. Sugestões de recursos como áudio, vídeos, livros, blogs entre outros.

Se não é possível comentar em todas as seções, há um espaço reservado para esse

fim, “O Assunto é...”, no qual o aluno pode tecer comentários, participando dos

assuntos destacados. Há pouca participação dos alunos da rede, provavelmente, por

falta de conhecimento deste recurso, falta de motivação para tanto e pela competição

com outras redes sociais mais populares. Ainda assim, é evidente que esse tipo de

69

colaboração leva o aluno a refletir sobre determinados assuntos, gerando uma

aprendizagem significativa, que parte da sua perspectiva acerca do mundo. Além

disso, ele integra a cadeia de interesses humanos que movem a curadoria desses

materiais online, por meio de sugestões de pauta.

Na categoria "Educadores", encontram-se as notícias nacionais e

internacionais acerca da educação. Há um quadro informativo onde ficam notícias

recentes diversas. Alguns dos links do menu específico da categoria são idênticos ao

da categoria "Alunos", como se vê em “Apoio a Aprendizagem”, com destaque para o

Geekie Games e a Khan Academy.

O link “Consultas” dá entrada a informações genéricas, por meio de

acesso público, e informações específicas da carreira docente, por meio de acesso

com senha. No cômputo geral, existem dados estatísticos da educação, verificação

de participação em eventos de Formação Continuada da SEED, sistemas utilizados

para a gestão das escolas do Paraná, informações sobre Recursos Humanos e outras

consultas como o contracheque e o Diário Oficial, entre outros. As Diretrizes

Curriculares Orientadoras do Paraná e o Caderno de Expectativas para todas as

disciplinas estão disponibilizados nessa mesma seção. Segundo informações do

próprio Portal,

A SEED passa a disponibilizar - assim como outras Secretarias do Estado - as Resoluções e Portarias no sistema Legislação da Casa Civil. O usuário será direcionado a uma nova página, com opção de busca por ano. Também é possível utilizar a ferramenta de "Pesquisa Rápida" e buscar por número ou texto. Informamos que, conforme determinação, serão inseridas todas as Resoluções e Portarias retroativo a cinco anos a partir de 2011. Para Resoluções e Portarias anteriores ao ano de 2006, os usuários podem continuar solicitando via formulário "Procurei, não encontrei". Para acessar os atos oficiais que não são de responsabilidade da SEED, o usuário será direcionado aos sistemas das demais instituições (PARANÁ, 2008).

A distribuição online das resoluções e portarias nessa seção é uma

resolução essencial no trato com as questões legais que balizam a carreira docente

no Paraná. Ela permite que os interessados nos assuntos da educação paranaense

possam ter acesso às determinações específicas da pasta.

No link “Educação Básica”, encontram-se as modalidades e as etapas

que constituem o ensino básico no Brasil. De acordo com a LDB 9394/96, ficam assim

70

divididas: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio; modalidades:

Educação Escolar Indígena, Educação Especial, Educação de Jovens e Adultos,

Educação Profissional e Educação do Campo.

Na mesma seção, ainda há os Desafios Educacionais

Contemporâneos, organizados em Cadernos Temáticos de: Enfrentamento à

Violência na Escola, Educação Ambiental, Prevenção ao uso indevido de drogas,

Educação Escolar Indígena, Demandas Socioeducacionais, Educação Fiscal, Escola

Aberta, entre tantos outros. É importante ressaltar que, dentre esses cadernos, existe

o caderno exclusivo com as Diretrizes para o uso de tecnologias educacionais. Nele,

os docentes podem encontrar as determinações específicas para a integração das

tecnologias telemáticas na rede estadual de ensino. Além disso, há a discussão das

questões metodológicas em consonância com a estrutura tecnológica das unidades

escolares do Estado do Paraná, descrita anteriormente.

O documento trata da mediação no contexto educacional, do lugar da

mídia impressa na escola, dos ambientes virtuais na web, da pesquisa escolar na

Internet e apresenta a TV Paulo Freire e suas concepções teóricas e pedagógicas. A

TV Paulo Freire é um canal público de distribuição televisiva que produz programas

direcionados à comunidade escolar paranaense, e tem o intuito de apoiar a formação

contínua docente, promovendo o acesso amplo aos recursos pedagógicos.

No link “Formação”, há informações sobre as possibilidades de

aprimoramento profissional dos docentes, especificamente, direcionando para as

iniciativas desenvolvidas pela SEED. Nominalmente, cita o Centro de Línguas

Estrangeiras Modernas (CELEM), o Grupo de Estudos de Educação a Distância

(EaD), a Moodle/e-escola (ambiente virtual de aprendizagem), o Grupo de Estudo em

Rede (GER), Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), entre outras ações.

Somam-se a esse amplo quadro as notificações sobre eventos de formação e

materiais disponíveis para acesso do professor.

O item "Gabaritando Enem" ocorre novamente na categoria

"Educadores". Diferentemente daquele observado na categoria "Alunos", não tem um

chat para discussão entre os docentes.

Na seção "Sala de Aula", é distribuído conteúdo metodológico e

materiais relacionados à prática educacional segmentado por disciplinas. Há grande

variedade de recursos didáticos. Além daqueles já citados na categoria "Alunos", dá-

71

se acesso a programas com direcionamento específico, como o software educacional

para o Ensino de Jovens e Adultos, Luz das Letras.

No link “Veja mais”, há acesso ao site do Sindicato dos trabalhadores

em educação pública do Paraná (APP), do Conselho Estadual de Educação, do

Movimento Paraná sem Corrupção, dos Núcleos Regionais de Educação (NRE), entre

outros.

Ainda que mediado pelos profissionais do PRD, a interação possível

na categoria "Educadores" tem características de Web 2.0, pois possui interação por

meio da participação ativa e das contribuições dos professores da rede estadual, com

relatos de experiência, discussões acerca da carreira docente e dos assuntos ligados

à comunidade escolar. Assim como no restante do site, é possível enviar comentários,

sugestões de pautas e materiais para serem compartilhados. Especificamente no link

para o projeto "Folhas", os professores podem sugestionar alterações, inclusões e

revisões nos trabalhos postados, desde que estejam logados no Portal.

A Web 2.0 tem como característica principal a interatividade. É

simples perceber, então, que a utilização de ferramentas web interacionais colabora

para que os portais educacionais e os ambientes virtuais de aprendizagem (AVA)

sejam mais dinâmicos e atraentes. Segundo Moran (2009, p. 63) ensinar com as

novas mídias será uma revolução, se mudarmos simultaneamente os paradigmas

convencionais do ensino, que mantêm distantes professores e alunos. E poderíamos

continuar dizendo, que mantêm distantes, professores e professores, escolas e

escolas.

Quanto à interação e à construção colaborativa do conhecimento e de

seus reflexos no processo de ensino, é preciso dar destaque para Objeto de

Aprendizagem Colaborativa (OAC), item da seção "Recursos didáticos". Nele, é

possível armazenar, discutir, editar e redistribuir materiais didáticos e metodológicos.

No curso dessa pesquisa, foi enviada uma sugestão de leitura para postagem no OAC.

Desde o envio, avaliação e a postagem da sugestão na seção, não demorou mais do

que 24 horas. Os responsáveis pela curadoria material ainda enviaram uma

mensagem agradecendo a colaboração.

Na categoria “Gestão Escolar”, encontram-se notícias recentes de

interesse principalmente dos diretores, pedagogos, funcionários da escola para que

se mantenham atualizados sobre os projetos e programas desenvolvidos pela SEED.

Em “Consultas”, encontram-se dados estatísticos da educação, pode ser verificada a

72

participação em eventos de formação contínua da SEED, buscar informações sobre

sistemas utilizados na gestão das escolas do Paraná.

Nos links “Educação Básica” e “Documentos oficiais” encontram-se as

mesmas informações já descritas acima na Categoria Professores. Em “Informativo”,

há conexões para projetos e programas desenvolvidos por órgãos estaduais e

federais. Há dados e materiais direcionados à Organização do Trabalho Pedagógico

nas escolas e ambiente virtual onde o pedagogo e o diretor podem tirar dúvidas

diretamente com os técnicos na SEED.

No item “Recursos Descentralizados”, há acesso a informações

referentes à gestão administrativa, como o Fundo Rotativo e os Programas do

Governo Federal (Mais Educação, Escola Aberta, PDDE e PDE-Escola). Em “Sistema

de Registro”, é possível o acesso aos processos de diplomas e certificados dos cursos

técnicos, além de conexões para sistemas diversos, como o Sistema de controle de

remanejamento e reserva técnica (Siscort) e Sistema de mapeamento de escolas e

residências (Georreferenciamento).

Na seção “Veja Mais” há informações referentes à gestão

administrativa e técnico-pedagógica da escola, manuais, tutoriais, cadernos

pedagógicos e temáticos, documentos oficiais sobre as legislações estadual e federal.

Na categoria "Comunidade" há notícias de utilidade pública e

interesse da comunidade escolar. As informações são atualizadas constantemente,

fator decisivo para o tratamento das questões emergenciais da educação no Paraná.

No item “Comunidade Escolar”, estão os conteúdos sobre a organização e

funcionamento do ensino da Educação Básica no Estado do Paraná.

No link “Formação”, há uma variedade de informações sobre projetos

e programas dos governos estadual e federal, como ProUni, Paraná Alfabetizado,

entre outros. O menu “Marcador de Página” é diferente pois segundo o Portal,

Marcador de página lembra livro. E livro lembra leitura. E quando a leitura é (ou não) interessante queremos sempre comentar, indicar, compartilhar (ou, reclamar, abandonar). A ideia deste espaço não é contar exatamente as histórias narradas nos livros, tampouco fazer uma exposição cheia de formalidades sobre as obras e seus autores com várias palavras difíceis de entender. A intenção é: vamos conversar e ler (e o inverso também é válido) sobre os livros e as reflexões que fazemos, e não percebemos, durante o folhear das páginas... Podemos até citar uma frase que evitamos sublinhar, mas onde deixamos nosso Marcador de Página (PARANÁ, 2014).

73

Neste espaço, deveriam constar sugestões de livros, comentários e

destaque de leitura, como é feito com filmes no item “Sessão Sofá”. Todavia, há

apenas três contribuições além da imagem de um marcador de página, disponibilizada

pelo próprio portal.

No item “Serviços de Utilidade Pública”, dá-se acesso a vários

serviços públicos como consulta a achados e perdidos, Detran, Sanepar, Agência do

trabalhador, farmácias populares, sobre auxílio doença, simulação da aposentadoria,

Procon-PR, boletim de ocorrência e denúncia online, entre várias outras

possibilidades.

Por fim, em "Veja mais" há a indicação projetos culturais gerais desde

links para jogos educacionais até calendário de sessões de cinema para gestantes.

Assim como as categorias relacionadas aos protagonistas do

processo de ensino, as categorias "Gestão Escolar" e "Comunidade" contam com a

participação dos gestores e da comunidade escolar. A interatividade pode ser

observada, por exemplo, nas interações para agendamento de materiais do Siscort, e

nas sugestões de leituras e filmes feitas pela comunidade escolar.

Como parte dos serviços de atendimento à rede estadual de ensino,

o portal conta com um canal de comunicação “Fale conosco” onde o usuário pode

entrar em contato direto com a SEED.

Segundo informações que constam no Portal ele foi criado e é

gerenciado de acordo com preceitos básicos para a elaboração de páginas na web,

considerando as suas características de acesso, uso e navegação. Por isso, está

constante estudo e adequação pela equipe técnica responsável pelo portal. A

acessibilidade torna fácil o uso e acesso de ambientes, produtos e serviços a qualquer

pessoa. Nesse sentido, é importante mencionar as ferramentas de acessibilidade para

pessoas com limitações visuais através da inserção de texto alternativo nas imagens

e cabeçalho com opções de contraste e tamanho de fonte.

No quesito usabilidade, os links na cor do tema, por exemplo, atuam

em favor da facilidade de aprendizagem de utilização e satisfação no uso do sistema,

por meio de sistemas cognitivos simples e compreensivos. Já quanto à

navegabilidade, o uso de padrões redundantes nas diferentes categorias, ainda que

ligeiramente estilizados, implica numa navegação facilitada pela padronização.

74

O Portal também possui uma “Web Rádio Escola”, criada pela SEED

e direcionada aos alunos, professores, gestores e comunidade escolar. Na sua

programação, a rádio conta com notícias, curiosidades, receitas, campanhas,

destaques, programas musicais entre outros. “Web rádio” é um serviço de transmissão

de via web, utilizando streaming de áudio. Nesse caso, ter a internet como base amplia

as possibilidades de acesso e, consequentemente, o número de ouvintes. Os

programas produzidos pela Web Rádio ficam disponíveis para downloads em várias

categorias ligadas à vida escolar.

Os profissionais da educação ainda contam com serviço de e-mail

institucional, conectado à senha de acesso ao portal. Por questão de segurança, os

demais usuários necessitam realizar um cadastro para obter acesso e uso de algumas

áreas do portal.

Analisando os documentos disponibilizados pelo próprio Portal,

Menezes (2008) aponta uma contradição na maneira como é percebida a participação

dos professores na plataforma. De acordo com o pesquisador,

ao mesmo tempo em que indicam a valorização da autonomia dos professores, enfatizam seu papel de “disseminadores”, trazendo à tona a forma imprecisa pela qual os planejadores entendem o significado de “dados e informações” e de “conhecimentos”, bem como de “participação” e “colaboração” (MENEZES, 2008, p.170).

A afirmação de Menezes (2008) evidencia que não há distinção entre

o acesso básico e o acesso participativo. A contradição reside, essencialmente, na

ideia de que aquele que participa não é, necessariamente, aquele que colabora. Esses

são papeis distintos, mas não definidos pelo Portal.

Ainda assim, de modo geral, o portal possui informações úteis aos

usuários das quatro categorias em que é dividida a comunidade escolar paranaense.

Por isso, pode ser considerado um grande apoio aos professores na atualização e do

processo de ensino-aprendizagem, especialmente, no que diz respeito às políticas

públicas para a introdução da informática na educação.

6.1 A Biologia no Portal Dia a Dia

75

Na categoria "Educadores", no menu de disciplinas, o ícone

Biologia disponibiliza notícias recentes de interesse educacional, sugestões de

leituras e filmes, as DCE, o “Caderno de Laboratório” e o "Caderno de Expectativas",

específicos da disciplina. Há também o “Pronto Atendimento Disciplinar” onde é

possível buscar auxílio nos assuntos relacionados aos conteúdos e recursos

disponíveis na página de Biologia. O atendimento é realizado pela pessoa responsável

pela página, de segunda a sexta-feira, em horário comercial.

Figura 8 - Página de Biologia

Fonte: http://www.biologia.seed.pr.gov.br/

No menu à esquerda, no link “Biodiversidade,” estão disponíveis os

conteúdos sobre diversidade biológica. Há também os recursos didáticos e de

informações sobre o tema em áudio, vídeo, trechos de filmes, artigos, notícias e

simuladores.

Em “Biotecnologia”, há várias informações sobre o uso dos seres

como elementos dos processos produtivos e ligados ao capital. Apresenta os mesmos

recursos já indicados no item "Biodiversidade", relacionados, nesse caso, às

afinidades entre a tecnologia e a Biologia. Assim como noutros itens, os vídeos já se

encontram em formato adequado (MPEG ou AVI) para uso na TV multimídia instalada

nas salas de aula.

76

O item “Calendário Escolar” é direcionado à categoria “Gestão

Escolar” com informações sobre a resolução, instrução e disposição dos calendários

desde 2011.

No item “Enquetes”, além da participação direta em pesquisas de

interesse específico da área de Biologia, é possível acessar links para as enquetes já

veiculadas na página. Caso a enquete esteja aberta, pode-se votar ou ver os

resultados. No momento dessa pesquisa, há dois resultados de pesquisa sobre qual

conteúdo o professor gostaria de ter uma sequência de aulas; O resultado, com um

total de 114 votantes, teve o assunto "Genética", com 21% dos votos, como o

conteúdo escolhido.

Figura 9: Enquetes

Fonte: http://www.biologia.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=362

77

É interessante esta forma de escolha de conteúdo para uma

sequência didática a ser disponibilizada como sugestão de prática pedagógica.

Entretanto, se considerarmos o universo total de professores de Biologia no Paraná,

é evidente que o índice de participação dos professores está aquém do que

esperamos.

No item “Gabaritando Enem”, há as mesmas conexões já

mencionadas em categorias anteriores. No menu “Hora Atividade Interativa” (HAI),

existem dois links para páginas temáticas de Educação Ambiental no Ensino de

Biologia e Música no Ensino da Biologia que são realizadas para que professor de

Biologia, tenha a possibilidade de debater sobre questões relacionadas a sua

disciplina. Organizado com temas de interesse a esta área de conhecimento, o evento

ocorre por meio de chat e tem o objetivo de propiciar a reflexão, possibilitando a troca

de experiências e fomentando o debate sobre questões que sejam relevantes dentro

das sociedades contemporâneas. Há também vários recursos didáticos e informações

sobre o tema para que o professor acesse e utilize em sua prática pedagógica.

Em “Jogos e Práticas”, há uma lista de atividades lúdicas desde o

Baralho celular até o bingo das ervilhas. Há também atividades experimentais que

abordam, por exemplo, o Reino Animal, Reino Monera, Reino Plantae e Reino

Protista. A disponibilização desses objetos educacionais serve como sugestão para

auxiliar o professor em suas atividades pedagógicas.

Figura 10 – Jogos e práticas

78

Fonte: http://www.biologia.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=135

O ambiente “Recursos de Formação” dá acesso a várias dissertações,

monografias e teses com assuntos variados da Biologia, livros de acesso gratuito,

sugestões de leituras, o Livro Didático Público de Biologia, as produções do PDE

2007/2008, entre outros. Conforme observado na figura 11.

Figura 11 - Recursos de formação

Fonte: http://www.biologia.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=226

Em “Recursos Didáticos”, o professor de Biologia tem acesso há

79

um sem número de recursos didáticos: geradores online de referências de acordo com

as normas da ABNT; materiais do projeto "Folhas", “Objetos de Aprendizagem

Colaborativa” (OAC), “Animações” produção do Multimeios; “imagens” segmentadas

de acordo com o conteúdo estruturante para facilitar a busca; “infográficos” com temas

em ordem alfabética; “áudios” diversos, trechos de músicas e entrevistas pertinentes

à Biologia; “trechos de filmes” capazes de despertar questionamentos acerca dos

conteúdos trabalhados na disciplina como Óleo de Lorenzo, Planeta dos Macacos e

A Era de gelo; Metodologias auxiliares para a compreensão de conceitos em “Jogos

para sala de aula”. Em “Artigos”, há textos científicos diversos para consulta. O item

“Produções PDE” coliga as produções dos professores da rede estadual, como

resultado da participação no PDE, de 2007 a 2012.

Em “Eureka”, encontra-se o material específico de Biologia destinado

ao estudante interessado em ingressar no curso superior. A apostila está organizada

com o conteúdo do planejamento escolar, associada a atividades e questões de

vestibulares. Os vídeos associados ao material reforçam alguns conteúdos do Ensino

Médio comuns em vestibulares e trazem questões comentadas de provas do ENEM.

Em “Simuladores e Animações”, o conteúdo está organizado em

ordem alfabética. São apresentações web, criadas com tecnologia Shockwave, de

fácil acesso, registradas em domínio público. No item “O Tema É”, há uma relação de

temas que são ou já foram destaques nas manchetes de jornais, bem como outros

temas para trabalhos interdisciplinares como consumismo, dengue etc. No “Portal do

Professor”, dá acesso à página do MEC com recursos para o professor interessado

na tecnologia educacional.

Em “Museus” e “Bibliotecas”, há links para estabelecimentos

segmentados geograficamente. No menu “Sala de Aula”, conforme figura 12, há

acesso a vários materiais disponíveis para auxiliar o educador em sua prática

pedagógica. Como se vê, os links reproduzem as conexões já citadas noutras

categorias.

Figura 12 – Sala de Aula

80

Fonte: http://www.biologia.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=240

É importante destacar, nesta aba, o link para as “Oficinas das CRTEs”,

onde há relatos e propostas de atividades desenvolvidas nas oficinas promovidas

pelas Coordenações Regionais de Tecnologia na Educação (CRTEs), atividades que

podem ser impressas e/ou compartilhadas. São 4 atividades disponibilizadas, sobre

Citologia, Reciclagem, Classificação das Plantas e Jogos sobre o Reino Plantae,

utilizando o programa Jclic. Nesse caso, aproxima-se mais do modelo inicial da web,

pois serve mais como repositório de materiais desenvolvidos pelos mantenedores do

site.

No item “Sequência de Aulas”, há sugestões de aulas que poderão

auxiliar na prática docente, sobre Genética, Relações Ecológicas e Filogenética. Os

materiais funcionam como um passo a passo, em formato similar aos tutoriais da web.

Além de imprimir e compartilhar, o professor pode também dar sua opinião sobre o

material disponibilizado e enviar outros materiais similares. Todavia, uma mensagem

deixa claro que a sequência de aulas publicada não serve como pontuação para fins

de progressão na carreira. Ela se constitui como forma de troca e compartilhamento

de experiências educativas que foram e podem ser desenvolvidas em sala de aula.

Assim, o Portal Dia a Dia Educação se reserva o direito de analisar a pertinência da

colaboração enviada, determinando, assim, sua publicação (PARANÁ, 2014).

No link “Práticas da TV Multimídia” estão disponíveis, em ordem

alfabética, práticas pedagógicas da TV Multimídia desenvolvidas sobre a orientação

do Departamento de Educação Básica (DEB). Do mesmo modo que outros materiais,

é possível imprimir e compartilhar. Estão disponibilizadas quatro aulas enviadas por

81

professores da rede estadual também podem ser baixadas em arquivos de diferentes

formatos, todos compatíveis para uso no equipamento padrão das salas de aula.

Como se espera, esse espaço se constitui como um repositório colaborativo de

sequências didáticas de Biologia, as aulas são sugestões de trabalho elaboradas por

professores para outros professores com interesse no desenvolvimento metodológico

das aulas de Biologia.

No espaço “Sala de Aula”, ainda encontramos sugestões de

atividades temáticas retiradas do Portal do Professor do Ministério de Educação. Elas

complementam as sequências didáticas e podem apoiar os alunos na compreensão

do conteúdo.

No item “Práticas Realizadas”, estão disponíveis relatos de aulas de

Biologia elaborados por professores do Paraná. Há, no total, oito relatos sobre aulas

de diferentes conteúdos: Biotecnologia, Ecossistema experimenta, Horta na escola,

Ciclos Biogeoquímicos, Exposição de Corpos, Os modelos, Detecção de Proteínas e

Ervas Medicinais. O ambiente fornece sugestões de aulas e não permite a interação

entre os professores, somente impressão e compartilhamento posterior. Não há

necessidade de acesso com senha para o envio de colaborações. No curso dessa

pesquisa, foi enviada à noite uma sugestão de leitura para a seção e, no outro dia de

manhã, já haviam retornado o contato agradecendo a colaboração e indicando a

publicação no item “Sugestões de leitura”.

Figura 13 - Envio de colaborações

Fonte: http://www.biologia.seed.pr.gov.br/modules/liaise/

82

Nas “Sugestões de Aulas”, estão disponíveis sequências de aulas que

foram publicadas no Portal do professor do Ministério de Educação, com temas

diversos dentro dos conteúdos estruturantes e básicos da disciplina. O professor pode

visualizar a aula, realizar o download ou imprimi-la. Também é possível enviar

comentários, opiniões sobre a aula ou mesmo reportar algum erro. Este espaço é

bastante dinâmico e colaborativo, especialmente se considerarmos que há a

participação de professores do Brasil todo ou mesmo fora do País.

No item “Folhas”, há acesso aos materiais produzidos pelos

professores da rede como formação continuada e colaborativa já descritos noutros

itens. Especificamente para Biologia, há 21 arquivos disponibilizados, separados de

acordo com os conteúdos estruturantes, conforme a figura 14.

Figura 14 - Folhas

Fonte: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/folhas/frm_buscaFolhas.php

Em “Objeto de Aprendizagem Colaborativa” (OAC) há um total de 47

disponíveis, também organizados de acordo com os conteúdos estruturantes da

83

disciplina de Biologia.

Figura 15 – Objeto de Aprendizagem Colaborativa

Fonte: Portal Dia a Dia

O item OAC dá acesso aos objetos já descritos noutras categorias.

No que diz respeito aos temas específicos da Biologia, abordam temas como Gravidez

e Aborto, Poluição da água, Nutrição dos animais, Drogas e a sexualidade, DNA e

alimentos transgênicos, entre muitos outros.

Qualquer pessoa acessar os OAC, visualizar e imprimir o material. Se

realizado o acesso por meio de senha, o educador pode colaborar com sons e vídeos,

atividades, sugestões de leitura etc. Ele pode mesmo criar um novo OAC através de

um formulário online, preenchido e enviado para validação, além do “Termo de Aceite”

com a “Autorização de Publicação e Cessão de Direitos Autorais”. Segundo o Portal,

“este modelo de Objeto de Aprendizagem Colaborativa - OAC possibilita a interação

e a sociabilização de informações e conhecimentos" (PARANÁ, 2014).

De acordo com as descrições comentadas acima, os materiais de

Biologia disponibilizados no Portal vão ao encontro das diferentes demandas

pedagógicas do cotidiano escolar. Eles acrescem conhecimentos que ultrapassam a

linearidade do livro didático por impulsionar a construção do saber coletivo,

colaborativo e diverso.

84

6.2 Interatividade no Portal Dia a Dia Educação.

Enfim, naquilo que diz respeito à interatividade, o Portal Dia a Dia

Educação é um ambiente bastante dinâmico e colaborativo. Nele, o professor pode

encontrar grande variedade de materiais, com fácil acesso e, pelas suas

características, com grande perspectiva de aprimorar os resultados da prática

pedagógica. Como um todo, o repositório de objetos educacionais dá opções de

atividades diferenciadas daquelas do livro didático, por isso podem despertar muito

mais o interesse do aluno.

De modo geral, o Portal Dia a Dia Educação tem características de

Web 2.0. Se não é constituído completamente por processos interacionais, como nas

redes sociais mais conhecidas, isso se dá pela mediação dos técnicos responsáveis

pelo espaço virtual. Essa curadoria, ao contrário, sugere que os materiais ali

disponibilizados podem ser mais confiáveis do que outros encontrados aleatoriamente

na web, pois, já foram analisados pela equipe de técnicos pedagógicos e aprovados

como materiais didáticos significativos para o ensino-aprendizagem. Essa

característica é bastante positiva se pensarmos que a mediação tecnológica no

processo educacional já se desenvolve, nas iniciativas públicas do Estado do Paraná,

por meio de ações que contemplam a seleção, avaliação e compartilhamento do

conhecimento.

Os materiais disponíveis deixam o professor com opções suficientes

para variar, alterar as práticas pedagógicas de uma turma para outra, de um ano para

outro, sem se prender ao livro didático, mas com acesso a aulas diferenciadas que

possam despertar um maior interesse do aluno acerca dos conteúdos da disciplina.

Para que o uso da Web seja implementado de forma sistematizada na

educação, deve haver uma integração com o cotidiano escolar, suas necessidades e

realidades institucionais imediatas. O maior desafio evidenciado, nesse caso, é dar,

aos educadores, as condições necessárias para apoiar seus alunos na descoberta do

conhecimento com problematizações desafiadoras, instigantes e significativas. Sendo

assim, o apoio de ações públicas, como o Portal Dia a Dia Educação, dá subsídio para

uma prática docente mais eficiente.

Como pode ser percebido até aqui, as novas tecnologias e o uso das

ferramentas Web em sala de aula tem o apoio e orientação dos documentos oficiais

85

da Educação. Nesse sentido, é mister dizer, alguns desses documentos não indicam

métodos ou padrões para a tal, possuem uma indicação tímida da necessidade da

inclusão digital, afirmando somente o seu uso nas práticas escolares. Na LDB

9394/96, no artigo 35, parágrafo IV, o documento legal instrui “a compreensão dos

fenômenos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando teoria com

a prática, no ensino de cada disciplina” (Brasil, 1996). Além disso, naquilo que tange

ao ensino básico, no artigo 36, preconiza o "domínio dos princípios científicos e

tecnológicos que presidem a produção moderna" (Brasil, 1996).

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica (DCN)

afirmam, a respeito das tecnologias da informação e comunicação, que elas

constituem uma parte de um contínuo desenvolvimento de tecnologias, a começar pelo giz e os livros, todos podendo apoiar e enriquecer as aprendizagens. Como qualquer ferramenta, devem ser usadas e adaptadas para servir a fins educacionais e como tecnologia assistiva; desenvolvidas de forma a possibilitar que a interatividade virtual se desenvolva de modo mais intenso, inclusive na produção de linguagens. Assim, a infraestrutura tecnológica, como apoio pedagógico às atividades escolares, deve também garantir acesso dos estudantes à biblioteca, ao rádio, à televisão, à Internet aberta às possibilidades da convergência digital (DCN, 2013, p. 25).

De modo geral, o documento orienta para que as TIC perpassem

transversalmente a proposta curricular da Educação Infantil ao Ensino Médio. Fica

patente a necessidade de convergência entre as tecnologias, de modo que o indivíduo

seja preparado para o mundo científico e tecnológico, podendo opinar e saber

construir seu conhecimento acerca dos mais variados assuntos.

Na orientação da elaboração do Projeto Político Pedagógico das

escolas, as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio (DCNEM) preveem a

formação dos professores e gestores que estejam atualizados para melhorar a adoção

e aplicabilidade de metodologias pedagógicas, incluindo o uso das TIC nas práticas

pedagógicas. Em relação às atividades realizadas, deve-se prever que o aluno utilize

das novas mídias e tecnologias educacionais, como processo de dinamização e que

haja oferta de atividades de estudo com utilização de novas tecnologias de

comunicação (DCN, 2013, p. 52).

As DCN esclarecem que, para que ocorra uma efetiva integração das

tecnologias nos processos educacionais, há a necessidade de se ofertar formação

86

adequada aos professores e recursos em número suficiente para uso dos alunos. No

entanto, existe um grande distanciamento daquilo que preconizam as DCN e a

realidade constatada no ambiente escolar.

As formações mais adequadas e atualizadas aparecem de forma

tímida, assim como alguns cursos de formação continuada mais voltados para a

relação da tecnologia com o ensino, que também não deixam de ser mais teóricos do

que práticos. Desse cenário, pressupõe-se a necessidade de que as competências

tecnológicas sejam parte da formação acadêmica das licenciaturas no Brasil. E, como

se vê, não existem ações significativas nesse sentido. Ao contrário, as licenciaturas

tornam-se, cada dia mais, pouco atrativas aos jovens e, por isso, perdem

investimentos que deveriam ser refletidos numa formação mais adequada à realidade

tecnológica em que vivemos.

No contexto brasileiro a valorização das licenciaturas perpassa,

certamente, os crivos da remuneração e do reconhecimento. Todavia, não há estudos

sobre a introdução das TIC nos currículos de Licenciatura, nem pesquisas mais

recentes que avancem no tema.

O PROINFO é o programa mais significativo para a inclusão das

tecnologias telemáticas no processo de ensino. Ainda hoje, faz parte das iniciativas

do governo federal e organiza a distribuição de recursos e equipamentos tecnológicos

para as escolas do País. É importante mencionar, então, que, por inadaptação

estrutural das unidades escolares, os equipamentos nem sempre são utilizados de

modo adequado. Além disso, o distanciamento da prática tecnológica, realidade de

muitos professores brasileiros, não auxilia nesse processo. Apesar de os recursos

serem em número suficiente, nem sempre atingem seu objetivo por causa dessa a

realidade encontrada nos estabelecimentos de ensino.

Ainda quanto ao reflexo dessas ações no contexto escolar, as DCN

afirmam que

O impacto das novas tecnologias sobre as escolas afeta tanto os meios a serem utilizados nas instituições educativas, quanto os elementos do processo educativo, tais como a valorização da ideia da instituição escolar como centro do conhecimento; a transformação das infraestruturas; a modificação dos papeis do professor e do aluno; a influência sobre os modelos de organização e gestão; o surgimento de novas figuras e instituições no contexto educativo; e a influência sobre metodologias, estratégias e instrumentos de avaliação (BRASIL, 2013, p. 165).

87

É justamente esse impacto positivo e relevante na comunidade

escolar que se espera da introdução das tecnologias no processo de ensino. A escola

deixaria de ser um centro polarizador de informações, entretanto continuaria sendo

sistematizadora e disseminadora do conhecimento. De modo que o aluno aprenda a

aprender, a fim de, após o fim do ciclo básico da educação, possa continuar

aprendendo. É nesse sentido que as orientações para o uso da tecnologia tornam-se

relevantes para a inclusão digital. E a inclusão digital seja relevante para a formação

continuada do cidadão.

Desta maneira, é importante salientar que, nas Diretrizes Curriculares

Estaduais para o Ensino de Biologia, as referências diretas ao uso da tecnologia no

processo de ensino são bastante tímidas. A mais significativa delas indica que

a ciência e a tecnologia são conhecimentos produzidos pelos seres humanos e interferem no contexto de vida da humanidade, razão pela qual todo cidadão tem o direito de receber esclarecimentos sobre como as novas tecnologias vão afetar a sua vida (PARANA, 2008, p. 60).

No parágrafo anterior, as diretrizes se referem mais aos aspectos da

tecnologia em relação a biotecnologia, aos avanços, a manipulação genética e a

influência em nossas vidas, do que propriamente ao que vem sendo observado nesse

trabalho.

Em 2009, o MEC iniciou a elaboração e distribuição do “Guia de

Tecnologias”, que tem, por objetivo, a disseminação no uso das tecnologias digitais

no ensino para melhoria do quadro educacional de municípios brasileiros (MEC, 2013,

p. 10); estimular a criação das tecnologias educacionais seja por pesquisadores,

professores ou outros e o fortalecimento da produção teórica voltada a qualidade da

educação integral e integrada, para que se concretize na criação de novas tecnologias

educacionais.

Com esse guia, o MEC pretende promover uma educação de

qualidade integrada à realidade tecnológica, todavia, adverte que, somente o uso das

tecnologias no ambiente educacional, sem a integração devida com o planejamento

metodológico, perde seu valor. É preciso acrescentar que, sem a estrutura necessária

à realização da mediação tecnológica, esses materiais tornam-se mídias soltas e

88

objetos de aprendizagem sem função prática.

O "Guia de Tecnologias" do MEC é dividido em dez áreas:

Acompanhamento Pedagógico (ABC Digital, Conecta Mundo etc.); Cultura Digital

(ABC Digital, Conecta Mundo etc.); Comunicação e Uso de Mídias (Conecta Mundo,

Portal Dia a Dia Educação etc.); Cultura e Artes (Caravana da Leitura nas Escolas do

Campo, Rádio História, entre outros); Educação Econômica (Enter Jovem Plus:

Empregabilidade, Tecnologia e Inglês); Direitos Humanos em Educação (Radio

História, entre outros); Educação Ambiental (Caravana da Leitura nas Escolas do

Campo, entre outros); Esporte e Lazer; Investigação no Campo das Ciências da

Natureza (Mata Atlântica: O Bioma onde eu Moro); Promoção da Saúde (Educação

Emocional através do Programa Amigos do Zippy). Neste Guia, há um detalhamento

de cada tecnologia, como utilizá-la, a disponibilidade, os recursos e a infraestrutura

necessários.

De modo geral, conforme as condições históricas que formaram a

rede de ensino público no País, a escola, na maioria das vezes, não possui a estrutura

necessária à instalação adequada de todos esses equipamentos. Nesse sentido, os

estabelecimentos de ensino tentam se adaptar da melhor forma possível para que

algumas dessas ações possam ocorrer sem maiores empecilhos.

No caso paranaense, as Diretrizes para o Uso de Tecnologias

Educacionais consideram que

A inserção de novos recursos tecnológicos encurta as distâncias, promove novos agenciamentos, aproxima dentro do mesmo currículo as esferas político-administrativas das salas de aula; aproxima as salas de aula entre si, dentro da escola e entre as escolas, numa atividade de interação solidária com vistas tanto à apropriação do conhecimento quanto à criação de novos saberes (PARANÁ, 2010, p.5).

Destarte, a introdução das tecnologias no ambiente escolar leva a

novas leituras do mundo, aproxima o currículo de outras linguagens, levando o aluno

ao conhecimento e às novas formas de aprender. As Diretrizes consideram o

professor como mediador didático-pedagógico entre o aluno e o conhecimento e, para

tanto, deve utilizar-se dos mais variados recursos didáticos e entre eles as TIC e a

Web. De acordo com José Carlos Libâneo, também citado nas diretrizes federais para

o uso de tecnologias educacionais,

89

O ensino exclusivamente verbalista, a mera transmissão de informações, a aprendizagem entendida somente como acumulação de conhecimentos, não subsistem mais. Isso não quer dizer abandono dos conhecimentos sistematizados da disciplina nem da exposição de um assunto a que se afirma é que o professor medeia a relação ativa do aluno com a matéria, inclusive com os conteúdos próprios de sua disciplina, mas considerando os conhecimentos, a experiência e os significados que os alunos trazem à sala de aula, seu potencial cognitivo, suas capacidades e interesses, seus procedimentos de pensar, seu modo de trabalhar. Ao mesmo tempo, o professor ajuda no questionamento dessas experiências e significados, provê condi-ções e meios cognitivos para sua modificação por parte dos alunos e orienta-os, intencionalmente, para objetivos educativos (LIBÂNEO, 2008, p. 21).

De tal modo, o professor é muito mais do que um transmissor de

informações. Ele faz a intermediação entre o saber acumulado nas redes telemáticas

e o alunado, de modo que, utilizando-se de múltiplos recursos educacionais, capacite

seu aluno para a reconstrução significativa dos conhecimentos ministrados.

Este documento do MEC aborda assuntos diretamente relacionados

às questões da tecnologia educacional, como o papel da mídia impressa na escola,

os ambientes virtuais de aprendizagem e a pesquisa escolar na rede mundial de

computadores. De modo geral, o documento esclarece as concepções teórico-

metodológicas que balizam as iniciativas federais para o uso da tecnologia na escola.

Há indicativos de utilização e orientações para pesquisas nas bases de dados

disponibilizadas. Desse modo, revela-se um material importante para consulta,

conhecimento e uso destes recursos em sala de aula.

Naquilo que diz respeito à formação docente continuada, é importante

ressaltar a oferta os cursos rápidos aos educadores, por intermédio das CRTEs, para

o uso de equipamentos, dispositivos e programas. Nesse caso, os cursos estão,

necessariamente, ligados à realidade dos equipamentos disponíveis nos

estabelecimentos de ensino, aos softwares de código livre e à oferta de banda larga

nas escolas, quase sempre aquém do necessário para a realização de atividades

síncronas nos laboratórios de informática. Assim, fica evidente que, frequentemente,

o professor acaba por replicar o conhecimento adquirido, adequando ao seu conteúdo,

às suas necessidades e à realidade estrutural das unidades de ensino em que

desenvolve sua prática docente.

Nesse mesmo sentido, o Portal Dia a Dia também é utilizado na

90

formação continuada ofertada pelos CRTEs. Nos cursos disponibilizados através do

portal, os docentes aprendem, por exemplo, a baixar vídeos para utilizar na TV

multimídia e a utilizar os materiais disponibilizados pela SEED nas suas aulas. O

tempo de duração desses cursos rápidos gira em torno de vinte horas, de acordo com

o tema abordado. A organização dos cursos não leva, necessariamente, em

consideração, o conhecimento que o professor possui dos processos tecnológicos.

Disso, implica que o aproveitamento dos conteúdos se dará de modo desigual para

cada professor em face da sua competência técnica frente aos dispositivos digitais.

No curso dessa pesquisa, foi enviado um pedido de informações

acerca do portal. Prontamente atendido, a resposta revela um alto índice de acessos

ao portal, numa média de mais de 600 acessos diários. Segundo a técnica-pedagógica

do Portal, na resposta ao pedido de informações, a página da disciplina

de Biologia teve “um total de 219.423 acessos no ano de 2014” (ANEXO 3). Tendo

em consideração que o número de docentes da rede estadual de ensino circunda os

100.000, fica a suposição estatística de que cada professor acessou o portal uma vez

em cada semestre. Se a perspectiva inicial frente a um número tão expressivo é

bastante positiva, a relação média de acessos em comparação com o número de

docentes deixa entrever que os docentes não aderiram massivamente ao portal.

Noutro sentido, revela uma aderência pequena que é comprovada pelo baixo número

de contribuições em algumas das categorias descritas anteriormente. Em uma

pesquisa realizada por Jussany Maria de Barros Moreira, Dulcinéia Ester Pagani

Gianotto, alunas do mestrado da Universidade Estadual de Maringá em relação ao

uso das TICs e do Portal Dia a Dia Educação (2013) concluíram que a maioria dos

professores questionados fazem um bom trabalho com seus alunos frente as TIC, mas

somente três deles acessam o Portal dia-a-dia Educação ao menos uma vez por

semana. O que vai de encontro as respostas da técnica –pedagógica responsável

pelas respostas encaminhadas (anexo 3). O acesso não é grande mesmo sendo um

ambiente rico em materiais, sugestões de vídeos, aulas entre outros.

Confirma e amplia essa perspectiva o fato de que o portal não é

acessado apenas por educadores.

Ainda assim, pode-se dizer que o portal funciona como uma extensão

da rede escolar e expande a presença da escola na vida da comunidade escolar em

suas quatro categorias. Ele possui uma ampla base de recursos e informações

variadas para os diferentes públicos que formam a comunidade escolar. Na

91

informação repassada pela Técnica-Pedagógica do portal, referente ao “número de

acessos por categoria de material didático”,

Os materiais/recursos disponibilizados no Portal estão organizados em diversas categorias e alocados em diferentes módulos (gerenciadores de conteúdo). Cada módulo possui um sistema próprio de gerenciamento de dados e seus relatórios são emitidos conforme necessidade e com periodicidade específica. Sendo assim, temos informações sistematizadas, neste momento, das seguintes categorias: Imagens - 3553 acessos; Simuladores e animações - 6367 acessos; Vídeos - 9909 acessos (ANEXO 3).

Assim, a comparação entre os três tipos de materiais citados

demonstra a prevalência dos vídeos como o recurso didático mais pesquisado. Disso,

advém a perspectiva de que os professores, tanto quanto os alunos, são mais afeitos

aos materiais disponibilizados em vídeo, pela agilidade e facilidade com que

transmitem a informação necessária. Além disso, é preciso colocar em perspectiva a

TV Multimídia, instalada em todas as salas de aula da rede estadual. A disponibilidade

do equipamento promove o uso dos vídeos e esse cenário se amplia quando

considerado que os arquivos de vídeo ali disponibilizados já foram convertidos para

os formatos mais adequados para a utilização na TV Multimídia. Resumidamente, os

recursos disponibilizados pelo Portal têm sido usados em sala de aula, mas

deslocados do seu contexto de origem. Na sala de aula, não se configuram como

recursos online se não são utilizados em rede, como é o caso dos vídeos.

É preciso mencionar também que o portal serve como uma base de

acesso a um grande número de documentos e repositórios externos, na sua maioria,

resultados das iniciativas públicas federais para a formação continuada dos docentes

e para a integração das tecnologias nos processos de ensino no Brasil. Essas

hiperligações enriquecem e ampliam as possibilidades de contato com outros

conteúdos e recursos digitais, levando a bibliotecas nacionais e internacionais,

museus, jogos e infográficos, entre outros.

Outro aspecto interessante do portal é a colaboração que todas as

categorias de usuários. É possível enviar materiais diversos para que sejam utilizados

por outros professores em sala de aula, nas diversas disciplinas que compõem os

quadros de conteúdos em cada série. A curadoria de materiais, realizada pelos

técnicos-pedagógicos da Secretaria Estadual da Educação, é essencial para a

92

confiabilidade dos recursos e informações disponibilizados. Nesse mesmo sentido, a

curadoria pode garantir que os arquivos ali disponibilizados estejam em conformidade

com os preceitos legais, resoluções e metas estabelecidas para o ensino público no

Estado do Paraná.

Diante do que foi exposto até aqui, fica notório que o portal Dia a Dia

educação é uma ferramenta de comunicação e informação muito útil para a

comunidade escolar paranaense. Ele não se constitui como mero repositório de

objetos educacionais, ainda que cumpra também essa função.

Noutro sentido, a colaboração dos usuários, associada à curadoria

dos materiais, torna-o um espaço dinâmico, participativo e confiável. De modo que o

baixo índice de acessos torna-se incompreensível. Os recursos didáticos também são

numerosos e úteis na preparação de aulas, promovendo novas experiências de

aprendizagem.

Em relação aos “principais critérios para postagem das sugestões no

ambiente”, a Técnica-Pedagógica afirma que,

Desde a criação do Portal, no ano de 2003, diferentes têm sido os processos que envolvem a construção, o aperfeiçoamento e a manutenção desse ambiente. Seu acervo agrega elementos de diferentes contextos históricos, refletindo a dinâmica do ambiente web. Atualmente, a equipe que integra a Coordenação do Portal Dia a Dia Educação, responsável por manter esse espaço virtual, tem alguns princípios que orientam a seleção do material disponibilizado nele. Dentre esses cuidados de seleção, destacam-se os gerais, que se aplicam aos diversos objetos de aprendizagem e a outros materiais que integram o acervo de recursos do Portal; e os específicos a cada recurso disponibilizado (ANEXO 3)

De forma geral, o processo de curadoria de materiais observa se as

fontes de pesquisa são confiáveis. Além disso, há o cuidado em não disponibilizar

materiais que apresentem cenas de violência, preconceito de condição econômico-

social, étnico-racial, gênero, linguagem ou qualquer outra forma de discriminação. No

mesmo sentido, é vedada a disseminação de materiais que fazem apologia ao uso de

drogas, entre outros critérios legais, como a doutrinação de qualquer tipo,

desrespeitando o caráter laico e democrático do ensino público.

93

Essa ação é realizada em observância aos preceitos legais e jurídicos (Constituição Federal, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n. 10.639/2003, Diretrizes Nacionais do Ensino Fundamental, Resoluções e Pareceres do Conselho Nacional de Educação, em especial, o Parecer CEB n. 15/2000, de 04/07/2000, o Parecer CNE/CP n. 003/2004, de 10/03/2004 e a Resolução n. 1, de 17 de junho de 2004) (ANEXO 3).

Ainda de forma geral, é avaliado se os materiais não possuem direitos

autorais protegidos, a fim de evitar disputas judiciais sobre os materiais

disponibilizados pelo portal. Essa é uma barreira que evita pirataria, mas que outras

plataformas sociais, como o Youtube, não têm. Essa ideia coloca em desvantagem a

plataforma disponibilizada pela SEED se comparada com as possibilidades de outros

repositórios.

E, por fim, na análise dos materiais, é verificado se “estão

relacionados à disciplina ou à área do conhecimento, que tragam, preferencialmente,

situações problematizadoras e desafiadoras” (ANEXO 3).

Em relação à análise específica do conteúdo por disciplina, como

descrito pela Técnica-Pedagógica do portal, cada um dos recursos tem uma pasta

responsável pela verificação da adequação do conteúdo às diretrizes para o ensino

básico. De acordo com a resposta em anexo, os critérios para a seleção dos

conteúdos, de acordo com sua natureza digital, são os seguintes:

- Vídeos e Trechos de filmes: Os vídeos e trechos de filme devem estar nos formatos AVI (download) e FLV (visualização), ou permitir a conversão para esses formatos. - Simuladores: Os simuladores devem ter qualidade nas informações visuais. - Sites: São descartados sites que apresentem cenas de violência, veiculam preconceitos de condição econômico-social, étnico-racial, gênero, linguagem ou qualquer outra forma de discriminação; que façam apologia ao uso de drogas, entre outros critérios legais; e que façam doutrinação de qualquer tipo, desrespeitando o caráter laico e democrático do ensino público. - Sugestão de Leitura: As sugestões de leitura devem ser referentes à área do conhecimento e contemplar obras que contribuam para o aperfeiçoamento docente. Priorizam-se autores com produções consolidadas em sua área. - Artigos, teses e dissertações: Disponibilizam-se artigos, teses e dissertações que já tenham sido publicados/defendidos em alguma Instituição de Ensino Superior reconhecida pelo MEC ou em publicações seriadas, como periódicos, jornais, publicações anuais

94

(relatórios, anuários, etc.), revistas, memórias e monografias seriadas, que tenham o registro no International Standard Serial Number (ISSN). Esses recursos devem estar em consonância com as disciplinas da Educação Básica, abordando temas que possam contribuir tanto para formação continuada dos professores quanto para sua prática pedagógica. - Imagens: As imagens devem ter qualidade gráfica e pertinência pedagógica. - Áudios: Os áudios devem estar no formato MP3, ou permitir a conversão para esse formato. - Trechos de Filmes: Os trechos de filme devem ser editados em pontos estratégicos que não comprometam a narrativa fílmica e ter relevância pedagógica (ANEXO 3)

Como se percebe, os responsáveis pelo portal são bastante

criteriosos nas análises dos materiais sugestionados. Isso se faz necessário por ser

um portal educativo público e, consequentemente, da necessidade evidente de boa

qualidade nos materiais disponibilizados. Nesse processo, ainda é confirmado se os

arquivos enviados são compatíveis com os equipamentos disponíveis nos

estabelecimentos de ensino.

O portal também possui o ambiente e-moodle destinado à formação

continuada dos docentes e funcionários administrativos da rede estadual de ensino.

Para a realização desses cursos, tanto para professores como agentes educacionais,

é necessária uma inscrição prévia. Nalguns casos, há uma pré-seleção com base em

determinados requisitos, a serem cumpridos a fim de se efetivar a matrícula.

É forçoso mencionar que a limitação de vagas, em conformidade com

as possibilidades estruturais das CRTEs, faz com que muitos professores

interessados não consigam efetuar a formação continuada nas áreas em que têm mais

interesse. Essa lacuna nas ofertas pode criar um distanciamento dos profissionais

menos insistentes. É justamente esse público-alvo que deve ser atingido, de modo a

dar resposta às necessidades formativas docentes, às demandas tecnológicas do

processo de ensino e à qualidade que se espera do ensino público. Não há dados que

revelem a quantidade de professores que cursaram ou que desejam cursar módulos

de formação profissional relacionados à tecnologia, mas, nas conversas informais com

professores da rede estadual, fica a constatação de que a demanda por formação

específica para o uso de tecnologia na sala de aula é maior do que o número de vagas

ofertadas até então.

No que concerne os relatos de docência, há várias experiências

95

postadas, descrições de aulas ou sugestões, mas quando analisadas

pormenorizadamente, poucas pressupõem o uso interativo da Web, de forma

colaborativa e participativa. Muitas são aulas tradicionais ou com o uso da Internet

como mera ferramenta pesquisa. Essa perspectiva não é diferenciada se observamos,

nessas propostas enviadas pelos professores, quantas e como implicam o uso das

tecnologias digitais.

Segundo Ismael Furtado (2004, p. 51-55) os portais educacionais são

importantes, pois levam a integração da Internet com a sistematização da educação

formal para as experiências realizadas na aprendizagem aberta ou a distância. O uso

das tecnologias digitais disponibilizadas na Web se torna um grande desafio em nosso

tempo. Para que ocorra efetivamente torna-se necessária uma ressignificação do

espaço escolar em relação à inovação tecnológica e pedagógica.

Depois do que foi exposto, fica uma máxima a ser considerada no

processo de integração das TIC nos processos de ensino: a simples aquisição e

distribuição de equipamentos tecnológicos não é eficiente, nem suficiente, para dar as

respostas que a sociedade espera em relação à melhoria da qualidade de ensino.

Noutro sentido, são necessárias ações concretas que vão além da instrumentalização

tecnológica e disponibilização de recursos digitais.

Assim, ainda que se considere expressivo investimento na tecnologia

educacional, a promessa, como indica Lévy (1993), de que as tecnologias mais

recentes iriam criar uma educação mais eficiente e barata, além de economizar tempo

que poderia ser dedicado ao contato individualizado com o estudante ainda está para

ser cumprida.

Apesar de não existir a segmentação dos recursos investidos,

especificamente, no Portal Dia a Dia Educação, é possível imaginar que a manutenção

do Portal, sua estrutura tecnológica e seus funcionários, consumam uma parcela

significativa dos mais de duzentos milhões investidos na tecnologia educacional no

Estado do Paraná desde 2003. A falta de transparência nos valores investidos na

plataforma digital deixa margem para questões mais amplas, como: quantas pessoas

compõem a equipe do Portal? Esses servidores públicos estão ligados diretamente à

plataforma ou são realocados noutros setores da SEED quando necessário? Qual o

total gasto com a folha de pagamento, especificamente, do Portal? Quanto foi

investido em equipamentos para a manutenção da plataforma na Internet?

Resumidamente, é possível ainda perguntar: o investimento no Portal

96

Dia a Dia Educação e na inclusão digital das escolas paranaenses é justificado pelos

resultados obtidos até agora? Naquilo que observamos até aqui, é possível responder

que sim, especialmente no que diz respeito à integração das diferentes classes que

compõem a comunidade escolar. O papel desempenhado pelos professores nesse

ambiente é fundamental. De acordo com Menezes (2008),

a participação do professor-autor no Ambiente Pedagógico Colaborativo pode contribuir para desenvolver diferentes tipos de aprendizagens, entre as quais se destacam: desenvolvimento técnico capaz de conduzi-lo na busca e seleção de diferentes fontes e meios de pesquisa, bem como estabelecer categorias de análise que lhe permitam relacionar o conteúdo de ensino de sua disciplina, adequando-o ao seu Objeto de Aprendizagem Colaborativa; desenvolvimento de compreensão de textos e fluência na linguagem escrita; articular os conhecimentos relativos ao conteúdo de ensino selecionado no OAC, com sua prática cotidiana; desenvolvimento da capacidade de síntese; valorização do registro das obras utilizadas em sua pesquisa dentro dos parâmetros utilizados na escrita de trabalhos científicos. (MENEZES, 2008, 172)

Como se vê, as aplicabilidades da plataforma são várias e permitem

a melhoria da prática profissional, por meio do acesso colaborativo ao Portal, da

criação, edição, distribuição e redistribuição de documentos, materiais de pesquisa e

objetos de aprendizagem.

Mais do que um juízo definitivo acerca da aplicabilidade do Portal,

seus materiais e sua interação, é necessário dar ênfase à importância do

monitoramento dos processos de formação continuada que visam à integração das

TIC na prática pedagógica. Do modo como está organizado, o Portal Dia a Dia

Educação exige a participação e a colaboração docente, em associação à progressão

profissional e à formação continuada, na criação de redes de interesse comum dentro

da comunidade escolar do Estado.

97

7 CONCLUSÃO

A integração das Tecnologias da Informação e Comunicação nos

processos educacionais é uma realidade. O estudo histórico das iniciativas públicas

para a implementação da tecnologia educacional auxilia no entendimento de como

esses processos se configuram no Brasil. Nesse sentido foi possível verificar que,

desde meados dos anos 1980, as ações para a integração das tecnologias telemáticas

no ensino brasileiro se intensificaram. No Estado do Paraná, a partir da implantação

do Programa Paraná Digital, em 2003, esse processo tem ganhado importância dentro

das políticas públicas voltadas para a Rede Estadual de Ensino.

Observou-se que as Diretrizes Curriculares para o ensino de Biologia

e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) propõem, timidamente, a partir de

1996, o uso das tecnologias em sala de aula. Em consonância com governo federal,

a Secretaria da Educação do Estado do Paraná centraliza os trabalhos de integração

tecnológica para a educação pública paranaense.

Na observação das estratégias de implementação da informática na

Rede Estadual de Educação do Paraná foi possível verificar uma continuidade do

trabalho iniciado em conformidade com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional, desde a organização dos primeiros laboratórios de informática nas escolas

estaduais, ainda em meados da década de 1990.

Além da distribuição de equipamentos eletrônicos, a SEED, por meio

das Coordenações Regionais de Tecnologia na Educação, desenvolve a formação

continuada no intuito de desenvolver as competências docentes em relação à

tecnologia educacional. No mesmo sentido, observou-se que uma parte relevante dos

assuntos relacionados à vida docente e à educação paranaense, de modo geral,

perpassa a relação com a tecnologia, por meio do acesso ao portal educacional criado

e mantido pela SEED, o Dia a Dia Educação.

A centralização dos processos educacionais, das informações

relevantes à carreira docente, dos temas relacionados à formação continuada docente

e dos recursos educacionais abertos, no portal Dia a Dia Educação, torna-se um

facilitador para a integração das diferentes categorias de interessados na educação

do Estado do Paraná.

98

Do mesmo modo, observou-se que o portal Dia a Dia Educação é,

atualmente, constituído como um ambiente interacional, capaz de fornecer

ferramentas de criação, edição e armazenamento de objetos educacionais abertos.

Além disso, concentra o acesso às informações relativas à carreira docente. Nesse

espaço virtual dedicado à educação paranaense, a interação entre os professores se

estabelece por meio da contribuição aberta com materiais e sequências didáticas

elaboradas de maneira colaborativa. Um aspecto bastante positivo, observado naquilo

que tange ao intercâmbio de materiais, é a curadoria exercida pelos funcionários

técnico-pedagógicos responsáveis pelos repositórios do portal. Eles são responsáveis

pela verificação do alinhamento das contribuições enviadas às diretrizes legais e

metodológicas que regem o ensino no Brasil e no Estado do Paraná, e com a realidade

dos equipamentos tecnológicos disponíveis nas escolas estaduais. Isso faz com que

todo material enviado como colaboração dos docentes seja disponibilizado em

conformidade com as possibilidades que a estrutura das unidades de ensino permite.

Diferentemente do que acontece em outras redes sociais, a

interatividade no portal Dia a Dia Educação se dá indiretamente, já que a curadoria de

materiais verifica todas as contribuições antes de torná-las públicas. Desse modo, o

portal tem características de web 2.0, pois é construído através de contribuições

docentes e iniciativas diversas que visam à melhoria do ensino, todavia, conserva um

sistema de verificação das postagens que se assemelha àquele observado nos

modelos de distribuição de conteúdo que caracterizaram as primeiras experiências da

Internet no Brasil e no mundo.

No que diz respeito, especificamente, à oferta de materiais para o

ensino de Biologia no Portal Dia-a-dia Educação, é possível dizer que ela se

desenvolve pela junção das ações docente e governamental, uma vez que há

materiais criados pelos técnicos da SEED e materiais enviados pela comunidade

escolar, mormente, educadores.

Os arquivos são bastante diversos e usam tecnologias distintas na

criação de simuladores, vídeos, imagens etc. No entanto, não há atividades que

prezem pela integração tecnológica, especialmente, naquilo que diz respeito à

interatividade entre alunos e outros interessados nos conteúdos de Biologia. De modo

geral, a oferta de materiais para o ensino de Biologia no Portal Dia-a-dia Educação dá

outras possibilidades para o fazer pedagógico, agregando perspectivas distintas, por

meio de materiais alternativos às apostilas e livros, sem, necessariamente, utilizar as

99

tecnologias nesse processo.

Quanto ao papel do professor no processo de implementação das

tecnologias educacionais, é possível dizer que, apesar das iniciativas listadas, há uma

tendência à utilização apenas do livro didático, reflexo de uma perspectiva facilitadora

frente à excessiva carga de trabalho e à falta de estrutura básica para implantação

dos equipamentos tecnológicos e da formação específica necessária para tanto.

Assim, destaca-se que optar por uma nova prática pedagógica, especialmente, no

ensino de Ciências, aqui representado pela Biologia, nem sempre é uma alternativa,

tendo em consideração outros aspectos que permeiam o trabalho docente, como a

ausência de incentivos e tempo hábil para a revisão de métodos e conteúdos.

Assim sendo, fica exposto que, apesar de não entender o uso da

tecnologia como uma panaceia, capaz de solução para todos os percalços do

processo de ensino, as ferramentas web devem convir para uma aula mais lúdica,

interessante e criativa, adequada à realidade tecnológica que permeia a vida dos

estudantes, pois trazem múltiplas possibilidades para a interação entre os docentes,

os alunos e o conhecimento, tornando as aulas mais interessantes, dinâmicas e

significativas.

De acordo com o que foi elencado até aqui, foi possível evidenciar

que as políticas públicas para a integração das tecnologias na educação são

necessárias para o aprimoramento profissional e educacional, de modo que há a

necessidade constante de investimentos na formação docente para o uso pedagógico

dos equipamentos disponíveis nos estabelecimentos de ensino da rede estadual

paranaense.

Se não é possível indicar diretamente que os investimentos realizados

no Portal são revertidos na melhoria das condições de ensino, é possível mencionar

que a participação do professor nessa iniciativa contribui para a valorização da

aprendizagem colaborativa que caracteriza a troca de materiais no Portal.

De modo geral, nas resoluções dos objetivos desse trabalho, é

possível considerar que, no contexto paranaense, o uso de tecnologias digitais faz

parte da prática pedagógica de muitos professores com integração ao cotidiano

escolar. Especificamente tratando das aulas de Biologia, é possível apontar que os

materiais disponibilizados são coerentes com as diretrizes curriculares e esse

alinhamento é resultado da curadoria de materiais realizada pelos servidores

responsáveis pelo Portal Dia a Dia Educação.

100

Enfim, conclui-se que a utilização das tecnologias digitais como

prática pedagógica no ensino paranaense, especialmente no que diz respeito ao

ensino de Biologia, tem se demonstrado como um exercício necessário. Noutro

sentido, é possível dizer que as iniciativas paranaenses observadas nesse trabalho

são bastante positivas, especialmente o Portal Dia a Dia Educação, mas necessitam

de maior interesse por parte da comunidade escolar.

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105

ANEXOS

Anexo 1 – Perspectivas para a educação básica nos próximos 5 anos

106

(crédito da imagem: Regiany Silva)

ANEXO 2 – Solicitação de informações do Portal Dia a Dia

107

ANEXO 3 – Resposta encaminhada em 04/02/2015 por e-mail pela Técnica-Pedagógica do Portal Dia a Dia.

108

Olá, Eléuzi Pinheiro!

Em atendimento à sua solicitação, seguem algumas informações:

1) Número total de acessos

A página da disciplina de Biologia teve um total de 219.423 acessos no ano de 2014.

2) Número de acessos por categoria:

Os materiais/recursos disponibilizados no Portal estão organizados em diversas

categorias e alocados em diferentes módulos (gerenciadores de conteúdo). Cada

módulo possui um sistema próprio de gerenciamento de dados e seus relatórios são

emitidos conforme necessidade e com periodicidade específica. Sendo assim, temos

informações sistematizadas, neste momento, das seguintes categorias:

Imagens – 3553 acessos

Simuladores e animações – 6367 acessos

Vídeos – 9909 acessos

3) Número aproximado de sugestões de materiais por categoria:

O número de sugestões pode ser observado em cada módulo e qualquer usuário pode

ter acesso a estas informações. Citamos como exemplo o módulo que armazena as

imagens, em que o número total de recursos pode ser observado ao lado de cada

Conteúdo Estruturante.

www.biologia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/listaEventos.php

4) Recursos que mais recebem sugestões: Imagens.

5) Principais critérios para postagem das sugestões no ambiente:

Desde a criação do Portal, no ano de 2003, diferentes têm sido os processos que

envolvem a construção, o aperfeiçoamento e a manutenção desse ambiente. Seu

acervo agrega elementos de diferentes contextos históricos, refletindo a dinâmica da

ambiente web. .

Atualmente, a equipe que integra a Coordenação do Portal Dia a Dia Educação,

responsável por manter esse espaço virtual, tem alguns princípios que orientam a

seleção do material disponibilizado nele. Dentre esses cuidados de seleção,

destacam-se os gerais, que se aplicam aos diversos objetos de aprendizagem e a

outros materiais que integram o acervo de recursos do Portal; e os específicos a cada

recurso disponibilizado.

Gerais:

- São pesquisados, preferencialmente, em fontes confiáveis.

- São descartados materiais/indicações que apresentem cenas de violência, veiculam

preconceitos de condição econômico-social, étnico-racial, gênero, linguagem ou

qualquer outra forma de discriminação; que façam apologia ao uso de drogas, entre

outros critérios legais; e que façam doutrinação de qualquer tipo, desrespeitando o

caráter laico e democrático do ensino público.

109

Essa ação é realizada em observância aos preceitos legais e jurídicos(Constituição

Federal, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional, Lei n. 10.639/2003, Diretrizes Nacionais do Ensino Fundamental,

Resoluções e Pareceres do Conselho Nacional de Educação, em especial, o Parecer

CEB n. 15/2000, de 04/07/2000, o Parecer CNE/CP n. 003/2004, de 10/03/2004 e a

Resolução n. 1, de 17 de junho de 2004).

- São selecionados materiais que não possuam Direitos Autorais protegidos

(Copyright).

- Os conteúdos devem estar relacionados à disciplina ou à área do conhecimento, que

tragam, preferencialmente, situações problematizadoras e desafiadoras.

Específicos:

- Vídeos e Trechos de filmes: Os vídeos e trechos de filme devem estar nos formatos

AVI (download) e FLV (visualização), ou permitir a conversão para esses formatos.

- Simuladores: Os simuladores devem ter qualidade nas informações visuais.

- Sites: São descartados sites que apresentem cenas de violência, veiculam

preconceitos de condição econômico-social, étnico-racial, gênero, linguagem ou

qualquer outra forma de discriminação; que façam apologia ao uso de drogas, entre

outros critérios legais; e que façam doutrinação de qualquer tipo, desrespeitando o

caráter laico e democrático do ensino público.

- Sugestão de Leitura: As sugestões de leitura devem ser referentes à área do

conhecimento e contemplar obras que contribuam para o aperfeiçoamento docente.

Priorizam-se autores com produções consolidadas em sua área.

- Artigos, teses e dissertações: Disponibilizam-se artigos, teses e dissertações que já

tenham sido publicados/defendidos em alguma Instituição de Ensino Superior

reconhecida pelo MEC ou em publicações seriadas, como periódicos, jornais,

publicações anuais (relatórios, anuários, etc.), revistas, memórias e monografias

seriadas, que tenham o registro no International Standard Serial Number (ISSN).

Esses recursos devem estar em consonância com as disciplinas da Educação Básica,

abordando temas que possam contribuir tanto para formação continuada dos

professores quanto para sua prática pedagógica.

- Imagens: As imagens devem ter qualidade gráfica e pertinência pedagógica.

- Áudios: Os áudios devem estar no formato MP3, ou permitir a conversão para esse

formato.

- Trechos de Filmes: Os trechos de filme devem ser editados em pontos estratégicos

que não comprometam a narrativa fílmica e ter relevância pedagógica.

Atenciosamente.