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FESTIVAL MANGUEZAIS DO BRASIL: intercâmbio de saberes e fazeres
São Luís, MA, 23 a 26 de novembro (Hotel Luzeiros e Centro Histórico)
RELATORIA
DIA 23/11/10
Manhã
Por volta das 09h00min da manhã concentração dos participantes do evento no
Hotel Luzeiros para se deslocarem de ônibus até a Praia Grande, para a mesa de
abertura do evento no Teatro João do Vale.
Alguns participantes do evento começaram a se concentrar em frente ao Teatro
João do Vale às 08h. Os demais participantes que utilizaram o transporte alugado pelo
evento chegaram por volta das 09:30 h na Praia Grande. Antes da entrada no teatro,
houve uma caminhada (Andada dos Povos da Maré - desfile na Praia Grande), com “ batuque”.
Houve apresentações durante a caminhada de forma descontraída do “Nagô da Bahia”
(delegação de Canavieiras) e de Carimbó (da delegação do Pará). A concentração deu-
se em frente à Câmara de Vereadores de São Luís e o Teatro João do Vale. A entrada no
Teatro João do Vale, local da abertura oficial do evento, deu-se aos som de carimbó, às
10:10h.
A mesa de abertura do evento foi mediada por Beto do Taim, onde faz a
apresentação dos estados presentes no Festival Manguezais do Brasil, tais como:
Maranhão, Bahia, Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro, São Paulo, Pará, Amapá,
Piauí, Ceará, Paraíba, Sergipe, Santa Catarina.
Beto apresentou a mesa composta por: Paulo Maia, presidente do ICMBio;
Ana Paula Prates, representando o Ministério do Meio Ambiente; Daniel Penteado,
representante do Projeto GEF Mangue ; Kátia Barros – CNPT; Carlinhos representante
da Rede Manguá Internacional no Brasil; Washington Rio Branco, representante da
secretaria de Estado do Meio Ambiente do Maranhão; Mário Enéas, representante da
Secretaria de Cultura do Maranhão; Venina de Ogum, representante dos Povos de
Terreiros.
Beto do Taim citou a presença de outras instituições e pessoas ilustres na
cerimônia de abertura do evento. Fez menção à participação do GEDMMA, na pessoa
da profa. Madian Frazão.
No início Roquelina, pescadora da Bahia, foi convidada a declamar uma
poesia (Comando a Natureza).
Em seguida a fala é passada para Paulo Maia, presidente do ICMBio –
Começa sua fala saudando a todos e sobre a importância do evento para fortalecer a
criação das RESEX, comenta sobre a recente criação de uma RESEX no dia anterior,
em São Paulo (Resex de Mandira) e relata os órgãos que são responsáveis pela
fiscalização dos projetos de unidade de conservação como: IBAMA, ICMBio, CNPT,
INCRA, Secretaria do Patrimônio da União, Ministério de Pesca e Agricultura.
Coloca a questão da competência Federal, Estadual e Municipal pautado pelo
Art. 5º da constituição para a preservação do meio ambiente, e da importância grupos
locais que protegem o meio ambiente. Citou a importância do Governo do Estado do
Maranhão no fortalecimento do Sistema Nacional do Meio Ambiente. E mencionou que
em todos os espaços do Brasil tem a presença de populações tradicionais, mas não se
têm dados concretos. “Onde estão; quantos são? ...é tudo chute. Mas até o final do ano
pretende-se ter esses dados”. Ainda comentou que essas populações nem sempre
conseguem ter o devido cuidado. E citou a possibilidade de reservar um território para o
Taim, no Maranhão (Resex de Tauá-Mirim). Lamentou não poder participar mais do
evento (só poderia ficar no dia da abertura), principalmente da atividade na comunidade.
Encerrou a sua fala dizendo que “apesar de se falar de temas duros, é interessante trocar
com alegria, cultura...”
Ana Paula, representante do Ministério do Meio Ambiente, falou da
importância que o evento tem para a vivência de experiências das populações
tradicionais e dos diversos impactos sociais e ambientais que essas áreas vem sofrendo,
colocou também a importância que o Maranhão representa com relação aos manguezais
e de todo os recursos hídricos e de pesca do país. Enfatizou que o Estado do Maranhão
possui três sítios/áreas Ramsar, a saber: Reentrâncias maranhenses, Baixada
Maranhense e Parcel de Manoel Luís. Parabenizou os maranhenses pela riqueza natural
e diz levar com ela para Brasília a “força” (energia) para continuar trabalhando.
Daniel Penteado falou da emoção de estar participando do evento e ressaltou
que lamentavelmente por uma série de questões não conseguiram realizar o Festival na
primeira data prevista (26 de julho de 2010). Fez uma análise geral da importância da
participação de todos nos projetos de mangue, e das perspectivas de troca de
conhecimentos entre as comunidades tradicionais e da criação das RESEXs.
Beto do Taim chamou a atenção para o fato de que até aquele momento não
havia nenhum representante da prefeitura de São Luís, e que estavam aguardando um
apoio para a atividade do 2° dia do evento, que se tratava da liberação do espaço físico
da escola (da cozinha, particularmente) localizada no Taim.
Washington Rio Branco, Secretário do Meio Ambiente do Estado do
Maranhão, falou da diversidade cultural do Maranhão e das habilidades que esses povos
tem através de seus conhecimentos de base, e o quanto é importante a preservação dos
recursos hídricos, dos manguezais. Segundo ele, tem que haver um sentimento de
justiça com as populações tradicionais, quilombolas, pescadores, catadores, agricultura
familiar. Comentou que os técnicos da Secretaria que ele está coordenando estão sendo
estimulados a se qualificarem, a fazer doutorado. Criticou a área metropolitana de São
Luís, a degradação dos mangues. E se questiona “por que tanto preconceito com essa
fitogeografia? (o mangue)”. Ressaltou diversas vezes a importância das sociedades
tradicionais, segmentadas, de linhagens. Falou que em cada unidade de conservação há
01 representante da Secretaria, e que vão cooperar.
Beto do Taim, falou que a responsabilidade do estado quanto à preservação do
meio ambiente com a criação das RESEXs é de extrema importância, pois sem isso a
área destinada para criação da RESEX do Tauá-Mirim corre sério risco de perdas
incalculáveis, e que a demande de projetos para criação de reservas ambiental cresce
enquanto a viabilização desses projetos decresce em todo o país.
Venina Carneiro apresentou-se como integrante do Terreiro de Deus, oriunda
da Fanti-Ashanti. Comentou que o Maranhão é terra de vodum e que os tambores do
Maranhão estão no nosso umbigo. E da força do litoral, do mangue, da lama
(manjutarê). Comenta sobre as comunidades tradicionais e que a terra é todo um
conjunto da natureza que integra a todos nós, é por isso que temos utilizá-la de forma
sustentável. E que toda a natureza viva, que é o próprio Deus, abençoe a todos nesse
encontro. Faz parte da Rede “Coide” (?), que trata de formulação de ervas ,
benzimentos, como forma de trabalho e renda dentro das comunidades de terreiros
Carlinhos - representante da Rede Manglar Internacional no Brasil, argumentou
sobre a importância da reflexão para ver como está à situação dos mangues e dos povos
que vivem nessas áreas e como anda os processos dos projetos encaminhados, pois os
anos de 2009 e 2010 foram um período para colocar e encaminhar propostas e que o
ICMBIO e os outros órgãos competentes tenham realmente uma cara mais social – de
agora em diante temos que colocar as propostas, os projetos em práticas. Ele faz um
questionamento: “temos o que comemorar ou precisamos nos preparar para a guerra?”.
E continua: “No ano de 2011 temos que ter um objetivo claro (...) Se esse encontro ta
acontecendo hoje é porque é furto de luta. (...) Precisamos exercer nosso poder de
movimento social. Este é um momento de festa, mas precisamos rever nossas
estratégias de luta. Queremos compromisso com as reservas costeiras e marinhas”.
Ele comenta sobre a RESEX do Tauá-Mirim e diz que não existe justificativa
que desmereça a criação da reserva, queremos na verdade é compromisso do governo
em honrar os acordos firmados para criação das RESEX.
Kátia Barros – CNPT, fala do esforço que tiveram para promover o evento
agradece todos os colaboradores, todos os representantes das diferentes regiões do
Brasil.
Comenta que : “esse momento a gente tá celebrando a vida, e que a gente possa
se fortalecer na luta”. Argumenta que a vida, a cultura, a religiosidade tem a ver com o
meio ambiente e que a ideia do festival é celebrar a vida com amor trocando
experiências com as comunidades.
Encerramento da Mesa de Abertura às 11:40h
Tarde
Hotel Luzeiros
Horário previsto: 14:30
Horário de início: 14:45
Beto do Taim, da comunidade de Taim, integrante da Resex de Tauá Mirim
começou chamando integrantes da mesa, primeiro Célia que saudou o encontro dizendo
que ele representava o esforço conjunto em defesa da nossa territorialidade. Pediu
desculpas por que segundo ela não tem habilidade de coordenar mesa, diferentemente
de Beto. Para iniciar os trabalhos ela convida então a prof. Dra. Flávia Mochel, em
seguida, Bruno Gueiros e Vergara Filho.
PALESTRA SOBRE ECOSSISTEMA MANGUEZAL NO BRASIL E NO
MUNDO
(Profa. Dra. Flávia Mochel – UFMA)
A Profa. saúda todos e agradece a coordenação do evento, fala da
importância da união de todos os indivíduos e órgãos. Ela inicia pedindo as energias das
águas das marés pra nos carregarmos de energia. Pede para que todos dêem as mãos
para fazer a maré encher, num momento de descontração, olha a onda de maré
chegando... (Musica: Vamos Panzeirar).
Para iniciar a sua palestra intitulada “A importância global dos manguezais”
ela convida Vergara Filho para lhe ajudar. Diz que fará um passeio pelo manguezal
mundo a fora para perceber as diversidades e semelhanças desse ambiente nos diversos
pontos do planeta. Para dizer o que é o manguezal ela usa um poema. Falou que o
Maranhão, Pará e Amapá constituem a maior área contínua do mundo de manguezais.
Em forma de repentes ela e Vergara passam a falar das características dos
manguezais: do Mangue vermelho que tem na Guiana e tem no Maranhão; do Siriba
que tem na Costa do Marfim; do Tinteira também chamado mangue branco encontrado
no Brasil e outras partes da América. Além deles tem outras espécies, alguns só existem
na costa brasileira. Falaram também do Apicum e dos produtos do manguezal: que tem
muita cultura, nas receitas culinárias, remédios, etc.
Falaram da gente do manguezal: comunidades pesqueiras, comunidades
rurais e urbanas, negras e indígenas e das diferentes visões que estas têm dos
manguezais. E que uma boa forma de fazer essas pessoas se comunicarem é através do
repente, do cordel. Dos conflitos de uso, pois no manguezal não tem só beleza, tem
conflito porque uns o querem para plantar e outros para morar. O mangue é disputado
pela pesca, agricultura, pecuária, extrativismo, indústria, urbanização e pelo turismo.
Falaram do perigo da criação de camarão na beira do mar e que é importante criar
reservas para preservar, da importância da sustentabilidade não só ambiental, mas
social. Nesse sentido citaram os Everglades em manguezais dos Estados Unidos, usados
para fins de educação ambiental.
Imagens foram mostradas para rememorar alguns momentos e lembrar de
alguns companheiros de luta que já partiram.
Ao fim, disseram que poderiam ter usado uma linguagem acadêmica, mas
que preferiram fazer uma linguagem do coração. Para terminar, a Profa. Flávia
agradeceu e falou de fé, que apesar do histórico de conflitos nas questões de manguezal,
devemos ter fé. Encerrou sua palestra declamando um poema de autoria do poeta José
Chagas.
Célia agradeceu a Vergara Filho e Flávia Mochel pela apresentação e
convida Mentinha do Ceará a declamar uma poesia de sua autoria: Rastros na lama dos
manguezais.
Passa então a palavra para Bruno Gueiros:
PALESTRA SOBRE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E ECOSSISTEMA
MANGUEZAL
Horário de início: 15:30
(Bruno Gueiros - analista do ICMBio)
Bruno desejou uma boa vinda a todos, explicou que para conservar
precisamos conhecer. Nesse sentido, ele apresentou dados de 2010 sobre o mapeamento
dos manguezais feito no Brasil pelo Ministério do Meio Ambiente (in press).
Apresentou quadro dos dez países com maior área de manguezais no mundo. Destacou
que em primeiro lugar está a Indonésia e em segundo o Brasil, sendo que os maiores
cinturões de manguezal do mundo estão no norte do Brasil, entre Belém e São Luís.
Segundo ele, temos atualmente no Brasil uma área de 1.225.444 ha de
mangues.
Ao falar de Manguezais em áreas protegidas ele citou a Convenção de
Ramsar, que se trata de um acordo intergovernamental para conservação e uso racional das zonas úmidas e de seus recursos por meio de ação nacional e cooperação
internacional. Citou a existência dos chamados sítios Ramsar, explicando que estes são
áreas representativas selecionadas por sua significância em ecologia, botânica, zoologia,
limnologia e hidrologia. Falou que no maranhão temos 3 Sítios Ramsar: Reentrâncias
maranhenses, APA da Baixada maranhense e Parcel do Manoel Luis.
Afirmou que o compromisso do CMBio é com a sociedade independente de
quem sejam os governantes.
Citou todos os tipos de unidade de conservação, tanto de Proteção Integral,
que não podem ter pessoas morando (estação ecológica, reserva biológica, parque
nacional, monumento natural, refúgio da vida silvestre) quanto de Uso Sustentável (área
de proteção ambiental, área de relevante interesse ecológico, floresta nacional, reserva
extrativista, reserva de desenvolvimento sustentável e reserva particular do patrimônio
natural), citando em separado as APAS, as formas menos restritivas de unidades de
conservação, vistas de forma negativa pela maioria, mas que, segundo ele, podem ter
uma função benéfica quando bem conduzidas.
Mostrou um quadro que mostra o Maranhão como o estado com a maior
área de manguezais no Brasil e identifica as dimensões de áreas de mangues em
unidades de conservação, entre outros números relevantes. Segundo ele, as populações
tradicionais têm força no nordeste, encontrando-se muito presentes nas áreas de mangue
da região. Citou o estado do Rio Grande do Norte, observando que este tem a menor
área de manguezal em unidades de conservação.
Ao citar os números oficiais, Bruno fez notar que há uma grande
discrepância entre estes e a realidade das condições de proteção dos manguezais. Para
ele, os grandes investimentos são a maior ameaça aos manguezais.
O palestrante enumerou os desafios para a conservação, entre eles: a
implementação, estruturação e fortalecimento das Unidades de Conservação federais,
implementação das APAs estaduais, criação de novas Unidades de Conservação,
homologação pelo presidente da república dasRESEX em criação no ICMBio - aqui,
Bruno citou outras RESEX que devem ser criadas para a conservação dos manguezais
maranhenses: Baia de Tubarão, Bequimão, Carutapera, Guimarães, Cedral, Paulinho
Neves (sic.), a criação de Unidades de Conservação municipais, que possibilitam uma
maior proximidade entre as autoridades e comunidades, criação de um mosaico de
Unidades de Conservação – citando um exemplo no litoral do Rio de Janeiro, criação de
corredores de Unidades de Conservação, citando como exemplo a Costa Norte do
Brasil.
Bruno também falou dos instrumentos legais para conservação, citando-os:
Política nacional de gerenciamento costeiro (PNGC), Código Florestal, SNUC, CDB,
Convenção Ramsar, Plano nacional de áreas protegidas (PNAP) e leis estaduais.
Referindo-se a instrumentos econômicos de apoio à conservação, Gueiros
disse que “só o poder de polícia não funciona, a história tem mostrado que para
combater o capital, só via capital”. Segundo ele, as comunidades devem receber
incentivos financeiros para manter o ambiente preservado, dissuadindo-os assim de
destruir em busca de dinheiro. Para isso, as comunidades devem ser contempladas por:
ICMS ecológico, mecanismo de desenvolvimento limpo e Pagamento por serviços
ambientais (PSA), além dos Créditos de carbono.
O analista citou o REDD (Redução das Emissões por Degradação e
Desflorestamento), que deve substituir o Protocolo de Kyoto quando este expirar.
Gueiros enumerou os próximos passos a se tomar para a preservação dos
manguezais. São estes: Avançar nos estudos de valoração ambiental, avançar nos
estudos de identificação de serviços ecológicos / ambientais, identificar potenciais
pagadores pelos serviços prestados pelos manguezais em Unidades de Conservação,
avançar na implementação e criação das Unidades de Conservação.
Célia assume a palavra e registra a presença dos coordenadores regionais do
ICMBio, dos representantes das APAs federais e estudais, das reservas extrativistas, o
cartunista Luna, que fez o logo do festival.
Considerações finais:
A Profa. Flavia Mochel falou sobre seus esforços para a criação da APA das
reentrâncias do Maranhão e da importância da manutenção do corredor Maranhão >
Pará. Segundo ela, se essa área for recortada, perder-se-á a sustentabilidade.
A professora continuou, disponibilizando para os pesquisadores todo o
material do parcel do Manuel Luis, que se encontra na UFMA. Flávia disse sentir-se
bastante incomodada com o fato de que, na legislação, quando alguém requer supressão
de vegetação em APA, a única coisa existente em lei é que se for por finalidades sociais
pode fazer sem impedimentos. Para ele, qualquer parte que requerer isso, deve ser
obrigada a reparar outra área equivalente, não só pagando multa.
Vergara Filho chamou algumas pessoas que o ajudaram muito para fazer
uma homenagem a Chico do Arari (sic.): Luis Carlos, Bento, seu Zacarias, Lourdes,
Patrícia, Adrian, Patrícia, entre outros.
Bruno Gueiros agradeceu a todos pela oportunidade, falou da importância
do evento como mantenedor da luta pela preservação dos manguezais, pois, segundo
ele: “quem trabalha com mangue tem que trabalhar com gente. Você pode conhecer a
biologia muito bem, mas se não trabalha com gente, você não consegue conservar”.
Falou também sobre a perfeição do equilíbrio natural. Para tanto, exemplificou com a
relação dos guaxinins e caranguejos, onde os primeiros sofrem de conjuntivite quando
os segundos estão mais vulneráveis (na andada), evitando assim a sua ação predadora.
Célia, para encerrar essa mesa, convocou duas pessoas: Josenilde e
Marilene.
Josenilde foi à frente e leu uma carta de sua filha, que dizia que ela é uma
pequena moradora de Cururupu, e vinha por meio daquela carta pedir a conservação do
manguezal. Dizia-se encantada de ver sua beleza e que a preservação da natureza é
muito importante. Também solicitava um curso de agente mirim com esse objetivo, para
que ela pudesse participar. Josenilde leu também um poema de outra criança, amiga de
sua filha, que falava da conservação dos manguezais e da importância de evitar a
poluição. Pediu a todos que, em nome de sua filha, continuassem a lutar, pois ela é
pescadora e adora o que faz. Por fim, cantou a música “eu quero mangue verde, o
mangue inteiro pro guará pousar.”
A mesa foi desfeita às 16:40.
Intervalo: 16:40 às 17:00
Célia retomou as atividades às 17:00 horas convocando a analista Érika
Pinto para uma fala sobre o Projeto Gestão de Reservas Extrativistas da Amazônia
(Ações no litoral da Amazônia) e Daniel Penteado para falar do Projeto Manguezais do
Brasil (GEF Mangue)
Projeto manguezais do Brasil PNUD/ICMbio - Conservação e uso
sustentável da biodiversidade de manguezais em áreas protegidas do Brasil
Daniel começou pedindo atenção da platéia, que se encontrava dispersa após
o intervalo, convocando em especial os membros do ICMBio.
Fez um breve histórico do Projeto manguezais do Brasil, falando da longa
fase de elaboração (desde 2007), sendo o Documento de criação assinado em 2008 e
revisto em 2009.
O Projeto tem como meta a conservação e o uso sustentável dos
ecossistemas manguezais do Brasil e a proteção de seus serviços e funções ambientais.
Nesse sentido, apresentou quatro resultados pretendidos pelo mesmo.
De acordo com ele, o que se pretende com esse trabalho é que haja uma
mudança na relação dos governos, das empresas e da sociedade com o mangue. O
Projeto é muito arrojado, tendo em vista que tem duração prevista até 2013.
Quanto ao orçamento, informou que o mesmo é de US$ 5 milhões de
doação do GEF (Fundo para o Meio Ambiente Mundial) mais US$ 10 milhões de
contrapartida e co-financiamento brasileiro. Estes recurso são divididos para alcançar os
quatro resultados do projeto.
O Projeto está organizado em uma estrutura de gestão participativa, em
nível nacional possui o Comitê diretor nacional (formado por MMA, IBAMA, ICMBio,
MPA e atores sociais) e a Unidade de gestão do projeto
Nas áreas pilotos, buscar-se-á trabalhar nessa mesma perspectiva, contando
com um Comitê técnico e uma Coordenação próprios de cada área. Daniel mostrou no
mapa as áreas pilotos (Salgado Paraense, Reentrâncias Maranhenses, Delta do Parnaíba,
APA e Bacia Hidrográfica do Rio Mamanguape, Complexo Estuarino Lagunar Iguape-
Paranaguá) e informou que já receberam do Pará a primeira proposta de comitê local.
Informou também a coordenação local de cada área e encerrou sua fala às
17:30.
Érika Pinto fala sobre o Projeto Gestão de Reservas Extrativistas da
Amazônia (Ações no litoral da Amazônia)
Gestão das reservas extrativistas federais na Amazônia brasileira
Érika iniciou sua fala dizendo que sua missão era apresentar outro projeto
do ICMBio focado em reservas extrativistas nos manguezais. Projeto este que se iniciou
em 2008 e tem data de término prevista para 2012.
O Projeto tem como objetivo principal: contribuir para a consolidação
territorial das Reservas Extrativistas da Amazônia, promover a gestão participativa, o
fortalecimento institucional das organizações locais, o manejo e produção das unidades
de conservação de uso sustentável. Está divido em três ações principais: consolidação
territorial, gestão participativa, fortalecimento e capacitação de comunidades locais.
Segundo ela, são vinte e duas unidades vinculadas. Primeiramente, o projeto
foi pensado para Amazônia enquanto bioma, buscando-se estender sua área de
abrangência o máximo possível. Érika disse que as reservas contempladas são bem
diferenciadas. Têm-se reservas recém-criadas e aquelas que foram criadas no ínicio da
criação dessa categoria de Unidade de Conservação. Além disso, os ecossistemas são
bastante diferenciados de uma para outra.
Érika apresentou como eixos temáticos do projeto: Consolidação territorial
– mapeamento, demarcação e sinalização; Gestão participativa, capacitação e
fortalecimento das organizações locais; Fortalecimento e capacitação de comunidades
locais para produção e desenvolvimento sustentável. Em seguida, elencou os Produtos e
Metas dos três eixos supra-citados.
Érika relembrou o I Encontro Nacional das Reservas Extrativistas Costeiro
–Marinhas, ocorrido entre 26 e 30 de outubro de 2009, em Centro Guadalupe (sic.) –
Bragança – Pará, que foi financiado por esse projeto. Teve como fruto um pequeno
vídeo previsto para ser apresentado neste evento. Foi produzido também um CD e
pensa-se também na publicação de um livro.
Ao final de sua fala, Érika enfatizou o fato de existirem alguns projetos
financiados por instituições internacionais que podem gerar muitas oportunidades de
ações. O desafio, segundo ela, é fazer com que os projetos que já existem dialoguem
com outros projetos e ações, de forma que os mesmos possam ser integrados.
Encerra sua fala às 17h50min
A coordenadora da mesa então abre as inscrições para questões;
Representante de Resex de Santa Catarina (nome não identificado): uma
coisa que me deixa triste é que Santa Catarina não é lembrado, nós fomos esquecidos,
sou um fundador de uma Resex, sou pescador, quero saber por que.
Jorge Macedo: percebi uma integração na fala do bruno e Erika. Como
deixar um ferramenta tão importante quanto a lei do gerenciamento costeiro.
Carlos Antonio, da Bahia: nossa reserva foi criada e não foi respeitada.
Minha pergunta é com um plano de manejo nós poderíamos impedir que os
empreendimento se instalem em nosso reserva.
Mauro: “Como se faz pra acessar as Resex da Amazônia?”
(nome não identificado): “Qual seria a autonomia dos conselhos
deliberativos pra propor projetos?”
Carlinhos: “Queria pontuar algumas coisas, o projeto Gefmangue não foi
construído com a gente. (sic) Como pode ser feito o pedido por outras comunidades
para criação do conselho que ocorreu no Pará? Uma outra coisa é como se aplicar a
compensação ambiental? É necessário discutir a inclusão de representantes de
extrativistas nessa comissão.”
(nome não identificado): “Em relação ao resultado 2, nos estamos
trabalhando em duas lagoas, queria saber como foi balizado essa questão do caranguejo.
É muito trabalho, não podemos ficar esperando. Outra coisa é a consideração da APA, a
maioria delas estão abandonadas, aonde tem gente é um problema sério, mas precisamos
unir o pouco que temos pra melhorar. Temos que fiscalizar os recursos pesqueiros
precisamos garantir a sustentabilidade em nossas reservas, isso se faz com fiscalização.”
Chico pescador: “Fica a proposta de a gente poder como comissão. A gente
queria um momento pra conhecer os gestores e a comissão.”
Mentinha: “Mas não temos que falar só de conservação, mas Também
combater o mal que nos ataca, mas tem outro mal que é falar só de conservação. Mas
além do que já vão fazendo como você podem contribuir pra proteger a zona
pesqueira?”
Adeilton: “Se falou em muitos projetos e não se falou ainda no
fortalecimento da fiscalização, pois são poucos, e tá precisando. Pela internet já
descobrimos várias explorações da Resex. Será que isso vai virá moda? Se a gente tiver
conhecimento, o governo faz as coisas e agente fica sabendo pela internet. Nós temos
que preservar, estou com 62 anos e quero que meus filho desfrutem também. Quero ter
cadeia produtiva pra sustentar as novas gerações. Não queremos nossos filhos nas
periferias das cidades e as meninas se prostituindo. Precisamos de mais segurança.
(nome não identificado, analista do ICMBio) Sou do ICMBio do Rio, a
gente sabe que as APAs são desconsideradas, mas existem exemplos que contrariam
essa idéia. Pois onde trabalhamos a APA de (...) ela aumentou sua cobertura. Segundo
ponto é uma reflexão sobre as criticas dirigidas aos órgãos governamentais. Olha quanta
gente tem aqui, esse é um sinal de que estamos melhorando. A segunda, que a gente
consiga perceber quem são os verdadeiros inimigos dos povos tradicionais do Brasil,
espero que depois dessa mobilização consigamos mudar e ver que tem gente que
trabalha pra proteger a natureza. Dentro dos órgãos temos disputas com outros órgãos
governamentais. Precisamos ver quem está trabalhando.
Carlinhos: Nós olhamos o Chico Mendes como um irmão mais novo, temos
a visão de que somos parceiros, a mesa deve ter clareza, aqui não pessoal?
Respostas:
Daniel: “Sobre Piragibaé (sic.), tivemos a oportunidade de conversar com
companheiros de 10 anos de experiência, nisso procuramos perceber as necessidades e
temos ação pra essa reserva. Os moradores delas serão contatados e poderão contribuir.
Gutenberg, recebemos resposta que os estudos estão sendo contratados, nossa previsão é
que teremos condição de fazer pesquisa publica daqui a seis meses. Vamos ter um
pouco mais de calma, se trabalha com as força que existem. Quanto ao gerenciamento
costeiro, a proposta do Manguezais do Brasil não fica cega frente à legislação, mas
quanto ao mangue talvez existam documentos que podem contribuir. Com relação às
APAs, acredito que com a pressão da sociedade podemos mudar. O comentário do
Fernando, temos projetos no Manguezais Brasil é que temos projetos que não foram
pensados por pessoas das áreas, o conselho deliberativo é o melhor espaço para se
discutir. Não recusamos as propostas do moradores, pelo contrário.”
Carlinhos- “Discordo a mudança não foi por isso, estamos incomodados com o nome do
projeto, esse tem uma proposta social, percebemos que ele não é adequado. O projeto já
veio construído, mas veio apontando diretrizes. O projeto dispõe de arranjo que
possibilita a participação de varias pessoas. Não há nada que impeça a participação no
conselho, agora ele precisa ser manifestado. Sobre o comitê regional porque não foi
respondido, hoje ele ainda está no Instituto Chico Mendes, precisamos conversar com
outros órgãos. Precisamos receber a indicação da pessoa para representar no comitê
diretor. Sobre capacitação de lideranças e compensação ambiental, a Érika está
encarregada desse assunto, sobre compensação, devemos utilizar a comissão de povos
tradicionais, pois ai ela chega com mais peso. Chico, quanto aos valores, a questão do
ordenamento, temos muitos planos. Uma das propostas é conseguir que eles se
conversem, outra questão é a do manejo ambiental estamos tentando garantir que as
licitações sejam as mais transparentes possíveis. Quanto à capacitação, estamos
tentando ampliar. Sobre infra-estrutura, temos o interesse na pesca artesanal, estamos
vendo possibilidade no Ministério da Pesca pra vermos possibilidade de infra-estrutura.
Erika: estamos aqui pra isso mesmo, debater, responder. O que
apresentamos aqui são dois projetos, não é só esse o trabalho do Instituto Chico
Mendes. Os projetos são muitos pequenos em relação às ações do Instituto. Começando
com a criação, primeiro ele foi divido por categoria de unidade de conservação, ele
agora está organizado por processos. Existem 202 processos em diferentes estágios, eles
estavam espalhados. Hoje existe um rito, portanto todo mundo pode saber em que
estágio o projeto está, ele tem um tempo de maturação, tempo técnico, e tempo político.
É importante ter clareza. Por que não anda? Por que parou? primeiro precisamos ver o
que ocorre. É importante sabermos como os projetos são construídos. Quanto a Iguape o
que aconteceu foi sem precedentes, um absurdo, a unidade está mais organizada seria
certamente um grande dificultador para que empreendimentos se instalassem. Quanto à
formação em gestão participativa, houve demanda pelos analistas em formação
participativa, e o foco desse curso foi para servidores. Por que Santa Catarina não foi
lembrada? Eu discordo, a própria história da comissão nasce da identificação de que
isso acontecia, de que o projeto é para a Amazônia, o que estava em voga era sempre a
Amazônia. Vocês identificaram isso e se articularam para mudar. Eles não seriam
esquecidos, isso porque estaremos brigando uns pelos outros. Uma rede está montada,
esse evento mostra que isso está acontecendo. Quem são os inimigos? Quem são os
companheiros? Isso a gente debate, porque é assim que agente vai crescer.
Após esse momento Bruno Gueiros fala do lançamento de livros: diz
orgulhoso que foi ele quem apresentou o
Beto do Taim ao Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente.
E pede que os participantes aguardem mais um pouco para se retirar.
Lançamento de Livros:
Livro Ecos dos Conflitos Socioambientais: a Resex de Tauá-Mirim do
Grupo de Estudos da Universidade Federal do Maranhão GEDMMA:
O Livro é apresentado pela Profa. Dra. da UFMA Madian Frazão e pelo
Pror. Ms. Bartolomeu Mendonça, professor do Colégio Universitário. Madian inicia sua
fala informando que este lançamento é o terceiro e o livro está quase esgotado. Falou
que estão esperando que o livro seja reeditado já com a Resex de Tauá-Mirin criada.
Falou também que o GEDMMA é ligado à UFMA via Departamento de Sociologia e
Antropologias e Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Informou que
atualmente o Grupo desenvolve o Projeto Conflitos Socioambientais no Maranhão.
O Prof. Bartolomeu cedeu a palavra a Máxima (liderança da comunidade de
Rio dos Cachorros, uma das comunidades da área pretendida para a Resex de Tauá-
Mirim), pois ela é também autora e é a pessoa mais indicada para informar de que forma
o livro serviu para a comunidade.
Máxima falou que é moradora de Rio dos Cachorros, que estava ali para
dizer que o livro é muito importante para a comunidade porque foi uma oportunidade
que tiveram de falar das angustias vividas, do amor da comunidade pelo mangue. Disse
que ambientalista defende a natureza porque sabe que é importante, mas que quem
nasceu na beira do mar sabe que ele representa a vida da comunidade.
Em seguida foi apresentado o livro Projeto Oca que informa a experiência
de gerenciamento e capacitação em reservas de Uso Sustentável de 11 unidades.
Dia 24 – Hotel Luzeiros
Dia 24 – Hotel Luzeiros
Manhã
Horário previsto para saída do hotel: 08:00 h
Horário de saída: 09:10 h
Às 09h10min os participantes do evento saíram do Hotel Luzeiros rumo à
comunidade do Taim, uma das comunidades integrantes da pretensa Reserva
Extrativista de Tauá-Mirim que aguarda o decreto de criação. A chegada ocorreu às
10h06min na comunidade do Taim.
Depois de um pequeno tempo de reconhecimento da área e degustação dos
frutos ali presentes. Os participantes se acomodaram nas cadeiras e bancos dispostos na
sombra de algumas mangueiras. Em seguida, o grupo de Carimbó de Bragança-PA se
apresentou. Adriana Ávila Tavernard Silveira informou que os exemplares do livro
“Projeto OCA” estariam disponíveis para aqueles que não os possuía ainda. O Sr.
Vergara e Karina anunciaram a chegada do grupo da comunidade da Resex Quilombo
de Frechal de Mirinzal-MA.
O anfitrião Beto deu boas vindas a todos e informou que o prédio do colégio não
foi cedido pela prefeitura de São Luis para evento, apesar do mesmo pertencer a
comunidade e está apenas alugada para a Prefeitura. Ele também anunciou o
representante da Secretaria de Patrimônio da União e a Sra. Máxima da comunidade do
Rio dos Cachorros
A mesma deu boas vindas a todos, disse que é da comunidade de Rio dos
Cachorros e que queria saudar a todos de uma forma carinhosa. Para isso, recitou o
canto “Damas da roça” em homenagem as mulheres. O canto é de autoria de um
seminarista que ajudou a comunidade na luta contra a implantação de um Pólo
Siderúrgico que pretendia ocupar o território onde vive um número considerável de
populações extrativistas. Máxima afirmou que a comunidade tem uma identidade
cultural com a natureza.
Máxima fez um apelo em público ao Daniel, coordenador geral de populações
tradicionais do ICMBio de Brasília-DF para que saia o decreto de criação da Resex de
Tauá-Mirim, pois, segundo ela: “a ilha se São Luis não é nada sem a zona rural. Essa é
nossa vida e é em nome de todos que pedimos. Quero ouvir do Sr. O que você poderia
fazer para que a Resex saia”. Daniel falou que “dentro do governo temos nossas
limitações. Muitas vezes eu me sinto contra a parede. Com esforço conseguimos
sensibilizar alguns setores do governo, mas às vezes sinto que tem uma parede na minha
frente e me sinto desanimado. Existem interesses outros que impedem.” Daniel falou
que trabalha com uma lista de vinte Resex. Duas já foram criadas. Daniel se
comprometeu de repassar informações atualizadas sobre os pedidos de criação da Resex
de Tauá-Mirim aos órgãos competentes. Ressaltou que existem também outros
caminhos além do Instituto Choco Mendes. “Eu quero saber o que a comunidade está
fazendo por essa luta.”
A Sra. Máxima informou que estão unidos, organizados, mobilizados, fazendo
seminários, levando para a Câmara e que se for preciso irão até Brasília para fazerem
uma pressão social. “Queremos ter o direito de morrer na nossa terra. Não vamos
desistir. Nós sabemos lutar. Não estamos contra o desenvolviemnto, precisamos
discutir. É isso que queremos.
A Exma. Sra. Vereadora Rose Sales fez uma fala e parabenizou a organização
do evento e disse quanto a Resex de Tauá-Mirim, que ela está empenhada nessa luta
junto com o parlamento municipal não só por essa Resex, mas também por toda luta
social, pois foi para isso que foi eleita. A vereadora propôs fazer uma moção junto com
Máxima e Beto do Taim, para que o parlamento se posicione junto à bancada
maranhense no Congresso Federal a favor da criação da Resex de Tauá-Mirim.
A Sra. Eliane coordenadora geral de regulamentação fundiária do ICMBio
falou que estão trabalhando nas UC’s e que pode solicitar o CCDRU à Resex de Tauá-
Mirim independente de ser Resex ou não, e isso já seria uma garantia . Na mesma
oportunidade falou o representante da SSPU que também está trazendo sua contribuição
de regulamentação fundiária à comunidade do Taim.
Os grupos de caixeiras das comunidades do Rio dos Cachorros e Vila
Conceição fizeram uma apresentação de seus toques. Daniele do Conselho Tutelar da
Área Itaqui-Bacanga falou dos conflitos enfatizando que a comunidade tem um
histórico de luta e organização, buscando nesse sentido ocupar todos os espaços de luta.
Falou que o conselho tutelar está trabalhando nas conseqüências da exclusão,
principalmente dos jovens das comunidades, pois as empresas se instalam prometendo
empregos para estes, mas é sabido que isso não é cumprido. Disse também que está
atuando contra a evasão escolar, um dos problemas enfrentados pelas comunidades da
área.
O Tambor de Crioula do Taim se apresentou e em sequência houve o inicio da
competição da cata do caranguejo e todos os competidores foram informados pelo Beto
que não poderiam catar as fêmeas e os com menos de 6 cm.
O cacique da tribo Potiguar da Paraíba pediu a fala e agradeceu ao seu Deus
Tupã e comentou a importância do mangue nas nossas vidas e que na Paraiba tem uma
criação de búfalos onde também já foram devastados 40 hectares de mangue para
criação de camarão, ele já fez várias denuncias e levou vários tiros.
Inicio da competição do caranguejo: 12h45min
Regras: Proibido catar caranguejos fêmeas;
Proibido catar caranguejos menores que seis centímetros (tolerância
máxima: três exemplares com tamanho inferior ao especificado);
Duração: Uma hora e meia.
Premiação: Maior quantidade masculino, Maior quantidade feminino e
Maior tamanho.
Classificação final:
1º lugar masculino em maior quantidade: Denilson
1º lugar feminino em maior quantidade: Amedina e janeiro (sic.)
1º lugar em maior tamanho: Valdemiro
-Inicio do almoço: 14h40min
Às 15h53min apresentou-se o grupo do Quilombo do Frexal no encerramento.
-Retorno às 16h21min e chegada ao hotel às 17h15min
Dia 25 de novembro de 2010
Hotel Luzeiros
Manhã
Horário previsto: 08h20min
Horário de Início: 09h20min
Chico convidou então Carlinhos de Tote e Vergara Filho para a
apresentação “Manguezando”. Houve música e declamação de poesia.
Vergara fala que os pescadores, os coletores são realmente os metres, doutores,
PHDs em se tratar de conhecimentos locais de extrativismo. Segundo ele temos que
preservar toda a costa litorânea, pois ela é como se fosse um supermercado a céu aberto
onde pegamos tudo gratuitamente.
09h55min
Kátia Barros avisou que Diegues não poderá comparecer porque a passagem
apesar de reservado acabou não sendo emitida por um problema interno ao Instituto
Chico Mendes, mas que ele se colocou a disposição para está dialogando com as
comunidades tradicionais. Kátia então chamou Chico para coordenar as atividades da
manhã.
10h
Kátia apresenta Jefferson pesquisador da Embrapa Meio Norte.
Jefferson começa apresentando sua pesquisa. Ele pesquisa aqüicultura e
pesca. Fala da importância de ouvir os pescadores, pois eles estão o tempo todo em
contato com a natureza. Suas experiências são fundamentais para a tomada de decisão.
Encontra-se caranguejo do Amapá até Santa Catarina, mas para ele chegar a
sete centímetros de tamanho pode durar de sete a treze anos (segundo pesquisas). Mas
há um grande problema, pois se percebe que no Maranhão e Piauí, cada vez mais o
caranguejo está menor e o catador está levando mais tempo para catar a mesma
quantidade de caranguejo.
Outro problema também é a forma de transporte do caranguejo que é feita
sem cuidado causando uma grande mortandade, ele apresentou uma técnica de utilizar
caixa com espuma a qual o caranguejo pode ser transportado com percentual de perda
quase 0% onde antes era de até 50%. A Embrapa criou um selo para qualificar o
caranguejo (caranguejo verde). Segundo ele, foi criada uma cartilha em forma de
história em quadrinhos para explicar o que é o Selo Caranguejo Verde. Para receber o
selo verde, entre outros critérios, não pode haver uso de mão de mão-de-obra infantil.
Com ele, o catador agrega mais valor ao caranguejo. Falou dos estudos que estão sendo
realizados como: o de distribuição e abundância de espécies relacionados à salinidade,
de caracterização de estágios reprodutivos através da avaliação do desenvolvimento
regional e da avaliação do rendimento.
No que se refere ao trabalho com ostras ele esclareceu que no Brasil se tem
um problema sério: o cultivo de ostras está desorganizado, não se conhece quais as
espécies devem ser cultivadas, pois algumas espécies não crescem. Nesse sentido será
feita uma pesquisa para saber afinal qual a espécie de ostra serve para o cultivo, isto
através das taxas de crescimento.
A EMBRAPA também tem a proposta para se fazer o defeso do caranguejo
no período que este está “de leite” (na troca da carapaça). Isto é uma coisa que foi
identificada pelos catadores e precisa ser incorporado.
Intervenções:
Cléber - representante dos catadores de caranguejo de Canavieiras - BA: Ele
falou que há um tempo houve uma mortandade de caranguejos e que entretanto na
comunidade dele, Canavieiras, os caranguejos voltaram praticamente em 50%. Portanto
é exagero dizer que o caranguejo leva de sete a doze anos para chegar à idade adulta.
Considera interessante a idéia da espuma que diminui a morte dos caranguejos durante o
transporte. Na comunidade dele, amarrava-se também, mas agora os caranguejos são
transportados soltos em um saco.
(Nome não identificado) – São Caetano-PA: Disse que a comunidade de que
faz parte luta para conseguir seguro defeso de agosto a novembro.
O pesquisador, respondendo ao Cléber, disse que a taxa de crescimento que
ele citou foi retirada de pesquisas realizadas por profissionais com mais de trinta anos
de experiência.
Flávio – APA de (...) Mirim: Disse que se sente privilegiado, pois onde vive
os catadores têm dois meses de defeso municipal. Foram feitos estudos para se incluir
também o mês de setembro, o que inicialmente foi negado, já que era época de
reprodução, mas o prefeito acatou novamente o pedido dos catadores.
(Nome não identificado) – Catadora de caranguejo: Defendeu a participação
dos órgãos de pesquisa no meio dos catadores. “Tem uma questão em se tratando de
produção familiar: uma é o cansaço e outra o trabalho infantil. Mas como fica se nosso
modo de produção é familiar? Nossas políticas devem ser diferenciadas. A educação das
crianças é pelo trabalho. Meu neto vai aprender a catar caranguejo aos dezoito anos:”
Jefferson respondeu que uma coisa é levar as crianças para o mangue para
aprender, e desafiou todos os catadores presentes a afirmar que o trabalho no mangue
não é insalubre. Ele disse que não pode trabalhar fora da lei, então não poderia dar o
Selo Caranguejo Verde para quem se utilizasse de trabalho infantil.
Luis Carlos – catador e pescador - PA: Disse que cata com gancho. As
famílias que vivem disso tiram a “massa” do caranguejo. Cada família cata cem
caranguejos por dia, o equivalente a oito quilos de “massa”. O defeso não abrangeu a
todos, mas eles estão defendendo essa causa para os quatro meses (agosto a novembro).
Ninguém captura no período de andada (janeiro a abril), então ele pede que o seguro
chegue para todo, pois seu objetivo hoje é a preservação disto que é o sustento deles.
Lúcia – Secretaria de Meio Ambiente do Maranhão: Disse que algo na fala
do Jefferson os preocupou. Questionou para onde ia a espuma utilizada nas caixas de
transporte dos caranguejos.
Jefferson: Disse que a espuma é utilizada até se degradar. Quando
degradada está na cidade e fica a cargo do serviço de limpeza municipal. No
experimento da EMPRABA, a espuma chegou a durar os doze meses de estudos.
Beto: Questionou as pesquisas com caranguejo, pois de acordo com o
ambiente em que ele se alimenta, o crescimento pode ser mais rápido ou lento, havendo
diferenças de coloração e até de sabor. Outra questão que ele colocou é que em muitas
famílias as mulheres não têm marido, então são os filhos que sustentam a família.
Apoiou o que uma companheira disse: “Um adulto não se torna pescador”. Questionou
sobre os outros produtos do mangue.
Jefferson respondeu que a EMPRABA está começando a trabalhar com
outros produtos. Ressaltou que está é um órgão de pesquisa, então não tem como
interferir em certas coisas. Quanto ao trabalho infantil, disse que se trata de uma questão
cultural, mas não pode ser dada a uma criança a responsabilidade de sustentar a família.
A EMPRABA é vinculada ao Governo Federal, por isso não pode dar selo diferenciado
para quem se utiliza de trabalho infantil.
Quanto à questão do período de crescimento dos caranguejos, ele disse que
não foi o responsável pela pesquisa que constatou tal período, por isso sabe dizer
exatamente qual metodologia foi utilizada.
Chico: Relatou sua história. Disse que começou com oito anos e criou
anticorpos por isso. Disse que tinham que brigar para mudar a lei, pois isso acaba
afastando-as dos pais, rompendo os vínculos familiares, permitindo que estas entrem na
marginalidade.
(Nome não identificado) – Presidente da Associação da Zona ribeirinha de
Caçurumbá (sic.): Disse que acredita que a mortandade de caranguejos que aconteceu
na costa norte foi causada por veneno. Para ele, o governo sabe, mas oculta as
informações do povo. Questiona como as pessoas que dependem da cata do caranguejo
viverão no período de defeso.
Jeferson disse que a proposta é fazer esse defeso pagando seguro, mantendo
também o defeso já existente. Falou que a mortandade começou no Rio Grande do
Norte e chegou até o Rio de Janeiro. É causada por um fungo negro que ninguém sabe
de onde veio.
Danielle (coordenadora do conselho tutelar da Comunidade dos Rios do
Cachorro) faz uma intervenção para diferenciar as diferentes lógicas e concepção da
categoria “trabalho” em relação à discussão que acontecia no momento em torno do
trabalho infantil ser proibido, mas há uma diferença entre trabalho forçado e aquele
trabalho feito por uma criança como forma de aprendizagem cultural.
Daniele questionou que, os ricos, por exemplo, podem explorar crianças
trabalhando em novelas, então por que os pobres não podiam levar os filhos para o
mangue? “Por que para o pobre isso é exploração?”. Segundo ela, levar o filho consigo
para o trabalho, muitas vezes é uma forma de evitar que este fique vulnerável.
O pesquisador sugeriu que se faça um fórum sobre o trabalho infantil.
Máxima – Rio dos Cachorros: Disse que é consumidora de caranguejo e que
em áreas como a dela, sabe-se que há degradação por causa dos grandes
empreendimentos. Questionou se a EMBRAPA faz pesquisa nessa área (com
comunidades tradicionais)?
Jefferson respondeu que o órgão trabalha mais com pesquisa agropecuária.
Esse tipo de pesquisa fica mais a cargo das universidades, mas aos poucos a
EMBRAPA se volta para essa área.
Marcelo – PA: Questionou como foi marcado o caranguejo para a pesquisa.
Perguntou o que poderia fazer se seus filhos o pedem para levá-los para pescar.
O representante da EMBRAPA ressaltou mais uma vez que não foi o
responsável pelas pesquisas, mas que os responsáveis cercaram uma área para o estudo.
Quanto ao trabalho infantil, disse que não é contra as crianças aprenderem, mas sim
contra elas serem obrigadas a trabalhar.
Isabel – Engenheira florestal da Secretaria de Meio Ambiente do Estado do
Maranhão: Disse que às vezes temos resistências quanto a mudanças. A questão,
segundo ela, é a criança não ser obrigada a trabalhar. Não se deve colocar a dicotomia
“estudar ou aprender os saberes tradicionais”.
Painel de oportunidades
Horário previsto: 10h20min
Horário de início: 12h
A mesa começa com Luis Gomes Neto (APA do Rio Mananguá - Paraíba).
Este faz um pequeno histórico da perseguição por parte dos grandes empreendimentos
na área com usinas de açúcar. “Há um interesse muito grande agora no mangue para o
cultivo do camarão e pesca. Estou aqui para pedir apoio, pois já sofremos atentados de
morte, e nós é que somos chamados de terroristas porque defendemos nossa área para
trabalhar e segurar as futuras gerações porque somos famílias tradicionais. Somos vinte
e oito famílias que vivemos em situação difícil.”
Dando seguimento, a palavra é passada a José Carlos Tavares (Reserva de
Gurupi Piá), ele cumprimenta a todos, fala que estarmos aqui é fruto de muito trabalho e
organização, agradece a Kátia pelo apoio aos extrativistas. “Faço parte da Comissão
Nacional dos Extrativistas, estamos aqui trabalhando olhando a todos, não apenas uma
região ou estado, mas todos os companheiros e companheiras extrativistas que vivem no
mangue ou na floresta do nosso país. Hoje é um dia histórico, porque nós estamos
discutindo nossa estratégia política para nós mesmos. Sempre apostei nas pessoas que
vem da base, tudo que é feito de cima para baixo nunca deram certo. Na política que nós
criamos as coisas começaram a dar certo. E faço parte da Reserva Gurupi Piá, nós
trabalhamos com quatro mil famílias, somos uma das maiores reservas do estado do
Pará. São 70.004 hectares de terra e mangue. Nós estamos no caminho certo e esse
evento não pode parar por aqui, temos que dar seguimento a esse trabalho.”
Aristide - Resex de Santa Catarina: “Somos três reservas, somos uma só, falo
de uma só porque somos uma comunidade, temos os mesmos problemas, nossas
dificuldades são as mesmas. Nossa comunidade hoje é muito unida, porque sabemos o
que queremos. Quando se fala de um se fala de todos, pois vivemos a mesma realidade.
Temos que nos unir, pois com essa união a gente vai muito mais fortalecido, pois as leis
não são dos poderosos, as leis são nossas, porque quem vive o dia-a-dia dentro das
reservas não é o deputado, não é o senador, quem vive lá somos nós.
Antonio Cardoso Silva - morador da Resex do Delta do Parnaíba –
Comunidade Passarinho no município de Araioses – MA: Afirma que por está mais
próximo com Parnaíba quase não existe relação com Araioses, fala do bom cuidado que
eles vêm desenvolvendo preservando a reserva, mas há um grande problema dentro da
reserva: dentro da área existem cinco comunidades e alguns moradores mais ricos
querem cercar suas áreas, isso está gerando conflito interno, a Resex é coletiva. Nesse
sentido, faz um apelo ao ICMBio para averiguar essas questões.
Josenilsa Ferreira (Mocinha) - Resex de Cururupu – MA: Começa seus
argumentos em nome de uma pessoa que, para ela, foi importante para a luta de criação
da Resex de Cururupu: “Em nome de Merijane eu saúdo a todos”. Faz um breve
histórico da reserva com sua exuberante biodiversidade, a Resex de Cururupu foi criada
em 2004, sua extensão é de 180.046 hectares de área e 107 hectares de manguezal, hoje
os moradores detêm a concessão de uso, mas para isso acontecer houve uma grande
luta. Disse ter muito orgulho de ser moradora de uma Resex. Ela conta que um dia sua
filha lhe perguntou que nome poderia dar ao manguezal e ela pensou e respondeu:
“maternidade ecológica”, porque é lá que os peixes, camarões, os crustáceos, os guarás,
vários animais nascem e vivem. Tem orgulho de ser pescadora, de morar naquela
região. “Nós que moramos lá temos uma missão muito grande nesse país, que é lutar
pela preservação dos manguezais, conclui sua fala recitando uma poesia.”
Malafaia - Cooperativa Manguezal Fluminense - APA do Apemirim – RJ:
Saúda a todos e diz que a realidade mudou muito, depois que pescadores, coletores
organizaram uma cooperativa e agora desenvolvem trabalhos de artesanato e de
recuperação de mangue, com isso têm conseguido força no ecoturismo e na preservação.
Maria do Livramento (Mentinha) – CE: Deu seguimento ao debate. Ela
começou saudando a todos, em nome de várias entidades, agradeceu a Carlinhos e Kátia
Barros. Ela disse que quando se fala de manguezais fala da própria vida e de muitos
pescadores. Disse que estão já há doze anos lutando para que não seja tomado o que é
deles, tem-se travado uma luta para dar nome aos seus manguezais. Ganharam o Prêmio
Marina Silva pela luta contra a carcinicultura, mas só por valorizar a própria cultura.
Mas estão passando por conflitos. Em sete de setembro de 2004, trinta companheiros
pescadores foram recebidos a tiros quando foram questionar a expansão de empresa
pesqueira em sua área, seis adultos e dois adolescentes foram baleados. “Desde maio de
2010 somos ameaçados de morte, já foram tentar me matar na minha casa, a minha vida
corre perigo porque eu defendo o manguezal. Enquanto tiver fôlego de vida vou
continuar. Eu estou sendo perseguida, mas não vou me calar vou sempre defender o
mangue. Temos que fazer valer a luta pelo nosso território e combater esses
licenciamentos que são legitimados pelos órgãos do governo”. Finalizando seu discurso,
canta uma música referenciando o litoral que está sendo explorado.
Patrícia (Mangabinha) - Barra dos Coqueiros – SE: Diz que é uma área de
mangue que fica próximo da cidade e que tem uma beleza exuberante. “Em nossa área
temos a possibilidade de trocarmos experiências com pescadores, com marisqueiros,
com catadores de mangaba”. Em seguida faz um breve histórico de sua vida, ressaltando
a discussão anterior a respeito do trabalho infantil, ela disse que sua infância foi
trabalhando na roça, catando mangaba, pescando e em outra parte do tempo “meu pai
me colocava para estudar. Eu tenho muito orgulho de minha avó minha avó, pois ela foi
a primeira catadora de mangaba da região, ela era quem me levava para a escola e
argumentava com a diretora quando esta não queria permitir minha entrada por eu ter
chegado atrasada. Eu terminei recentemente uma graduação. Muitos me perguntavam na
universidade se eu não tinha vergonha de falar que eu catava mangaba etc. e eu dizia
sempre que não. Eu aprendi com a minha família, com minhas várias famílias e vocês
são uma delas, que é tão bom agente saber repartir, aprender todos os valores a partir da
família. Eu comecei no movimento das catadeiras em 2007, eu nunca tinha me
envolvido em movimento social, eu não sabia a dimensão que o movimento das
catadoras tem. Estamos sofrendo vários problemas com a especulação imobiliária na
minha região, o turismo, nossas áreas estão aos poucos sendo degradadas.”
Celia - diretora do CNS: começa sua fala situando historicamente todo o
processo de luta de criação da Resex que ela mora. As ações da CNS são voltadas para a
área que compreende a Amazônia Legal, que cobre 60% do território brasileiro, ainda
não chegou à Resex de Cururupu no Maranhão, o qual, também faz parte dessa área.
Fala da importância do ordenamento, da reforma agrária, da criação de Reservas
Extrativistas, para que realmente possamos criar políticas públicas diferenciadas
condizentes a nosso modo de vida, de produção familiar que só tem validade e garantia
se a floresta estiver em pé verde. Outra situação positiva é o fato da organização desses
povos tradicionais que moram em Reserva Extrativista, porque o debate politico
nacional, o Decreto Lei Nº 10.040 vem fortalecendo esse modelo de construção das
Resex, isso para nós do estado do Pará foi muito positivo. Finalizando sua fala faz uma
reclamação sobre os alimentos, pois o PA (Programa de Aquisição) das compras
públicas tem que apoderar, os 30% da alimentação escolar do PRONAE tem que ter
legislação, e os nossos produtos das florestas não tem regulamentação apropriada para
se inserir no programa.
Carlinhos - Comunidade do Angolá da Resex do Iguapi - Município de
Maracujepi – Bahia: Saúda a todos e diz que o mangue é a nossa vida, pois é de lá que
tiramos nosso sustento. Conta um fato sobre sua filha, ela queria ingressar na faculdade
pelo ENEM, mas “caso não der certo, queria pagar uma faculdade, pois trabalhando
catando marisco eu terei condições com mais sua ajuda de cem reais”, “fizemos a conta
e realmente dá de pagar a faculdade. Quando ela falou isso foi um momento muito feliz
na minha vida. Eu vejo que essa luta em defesa do manguezal vale à pena”. Finalizando
sua fala, propôs uma moção de repúdio a ser encaminhado ao Ministério Público contra
os empreendimentos em nossa área.
Érica - coordenadora da Rede Mangue Mar: Agradeceu a todos que estavam
juntos colaborando para a construção do festival. “A idéia de está aqui e falar um pouco
do trabalho da Rede Mangue Mar. Então a Rede Mangue Mar é um processo de
articulação em rede, ela foi nascendo desde 2001, quando o Brasil começa participar da
Rede Manguá Internacional, a partir das lutas e das necessidades de buscar apoio para
fortalecer os enfrentamentos das comunidades tradicionais no litoral brasileiro”. Ela faz
uma contextualização histórica de vários acontecimentos que foram amadurecendo a
criação da rede. Propôs ver como poderão ser trabalhadas as questões de comunicação
nas Resex, como informativos, sites etc., para informar as pessoas, já que muitos dessas
Resex o acesso a esses meios são limitados. “E em 2007 reunimos um grupo que estava
nessa articulação fortalecendo esse processo e criamos a rede Mangue Mar para defesa
das populações tradicionais, a rede é composta não só por ONGs, é composta por
representes de comunidades tradicionais, entidade de assessoria que tem
comprometimento com as lutas, pesquisadores que contribui para nossas causas, não
queremos qualquer instituição em nossa rede.”
Carlinhos: “Quando começamos a luta em Canavieiras, nos espelhamos na luta
do pessoal de Corumbal (sic.) e no companheiro Avelito, que vivenciou o primeiro
grande conflito agrário do Brasil.”
Em seguida, leu uma carta da rede Mangla Internacional
Após a leitura da carta, falou: “Em nome da Rede posso falar que é um prazer
estar aqui.”
Segundo ele, estão acontecendo debates sobre a certificação da carcinicultura.
A Rede tem se posicionado contra esta prática, por sua natureza agressiva.
Falou também que deve-se trazer as pessoas da base para a frente e promover
um revezamento na liderança, pois a luta deve ter um nome, não uma cara.
Sugeriu que em um próximo encontro, haja um momento aberto em que cada
extrativista possa falar e expressar sua luta.
Cida – Resex Farol – SC: diz que está ali aqui para falar da Comissão Resex
Marinha Nacional. Faz histórico do surgimento da comissão nesse sentido ressaltou
uma reunião que ocorreu em Brasília quando da mudança de ministro. Minc queria
conhecer as lideranças dos estados. Depois de alguns atropelos durante a reunião (o Pará
acabou burlando uma metodologia de apresentação que já havia sido estabelecida e o
Sul tinha urgência de que fosse escutado pelo ministro que não poderia ficar até o fim
da reunião) saiu o encaminhamento para que se criasse a Comissão Resex Marinha
Nacional, saindo daí uma comissão provisória. A partir de então eles se organizaram e
se conseguiu uma agenda em Brasília. Embora eles ainda não sejam autônomos, pois
dependem do ICMBio, eles conseguiram ampliar a comissão. Ao fim os membros
foram chamados a frente para que todos conhecessem os representantes de cada estado.
Tarde - Praia Grande
Feira, mostra de filmes e apresentações culturais.
DIA 26 – GTs – Hotel Luzeiros
Grupos de Trabalhos
1. Abertura: 09h20min
Beto do Taim iniciou falando da tarefa importante que é refletir sobre tudo o
que foi discutido nos dias anteriores. Sugeriu que fosse um trabalho mais ágil, porém
com uma formatação para encaminhamento, com lista das prioridades, no final dos
trabalhos: uma síntese para as ações de todos os presentes e também do Instituto, da
Comissão que deve trabalhar para que se direcionem os programas que estão no
ICMBio e em outras áreas do governo. Fez as divisões e os direcionamentos dos grupos
de trabalho. As moções ficam para leitura no final.
GT 1 – Organização da produção em áreas de manguezais: Salão Garité I
Coordenadores: Bruno Gueiros e Mocinha
Relatores: Rose e Kátia Cuba
GT 2 – Uso sustentável dos recursos: Salão Garité II
Coordenador: Carlinhos de Canavieira
Relatores: Daniele Sales e Marcos Campos
GT 3 – Organização dos extrativistas: Salão Gambarra I
Coordenadores: Vergara e Patrícia Mangabinha
Relatores: Fernando e Ligia
GT 4 – Gestão de Territórios em Unidades de Conservação: Salão Gambarra II
Coordenação: Márcio - Analista Ambiental e Beto do Taim (Sindicato dos
pescadores) – Resex Tauá – Mirim
Relatores: Paula e Erinaldo
Feita a divisão, foi decidido que a duração de cada GT seria de uma hora e
que, após esse tempo, todos se reuniriam na plenária novamente para mostrar e discutir
os resultados de cada Grupo.
2. Grupos de trabalho
GT 1 - Organização da Produção em Área de Manguezal
2.1. Contextualização:
Bruno iniciou falando de um modo geral sobre as estratégias gerais de
organização, de cooperativas, para conseguir um preço melhor dos pescados e,
conseqüentemente, diminuir a pressão sobre o pescado, melhorando sua qualidade e a
sustentabilidade da atividade; também falou das parcerias, de estar atento e buscar as
oportunidades, de que se precisa procurar identificar o que se quer para fazer as
propostas e saber a que órgãos e parceiros encaminhar.
Mocinha falou da importância desse tema, focando no problema geral de
praticamente todas as comunidades, que é o atravessador. Reforçou que se deveria sair
do grupo com um documento dizendo o que se quer, como se quer, por onde se vai fazer
e quem vai fazer; que isso já é meio caminho andado.
Várias pessoas, então, falaram do problema geral do atravessador versus o
preço baixo de pescados e mariscos que chegam a altos preços no mercado, à custa da
saúde do extrativista, por exemplo. Então foi sugerido que primeiro se levante o
problema, hierarquizando, veja as soluções e a que órgão encaminhar.
Assim, como forma de agilizar e tornar o trabalho mais objetivo, construiu-
se o quadro a seguir, dividido a partir do problema com o encaminhamento das soluções
e agentes a serem mobilizados para resolver a questão.
2.2. Quadro Geral
Problema Soluções Agente
Organização Capacitação e formação
de toda a comunidade
(produtores, Gestores,
lideranças comunitárias,
colônias, mulheres,
jovens),
Própria comunidade Conselho
deliberativo gestores
ICMbio
Universidades
SEBRAE
Colônias
Sindicatos
ONGs
FUNASA
Instituições religiosas
CNS
CN
INCRA
Agências de turismo*
Atravessador - Cooperativa
- Associação
MPA, ICMBIO, EMATER,
Colônia/sindicatos, SEBRAE
- Escoamento da produção
pelos pescadores
- Beneficiamento local da
produção
Universidade
CN
ONGs
Prefeituras e secretárias
estaduais e municipais
CNS
Infra-estrutura
(barcos, caminhão,
frigorífico, máq. de gelo,
pontes, estradas etc.)
- Contatar órgãos
(municipal, estadual e
federal) responsáveis para
construir a infra-estrutura
- Própria comunidade
- plano de manejo
- conselho deliberativo
- associação-mãe
Própria Comunidade
INCRA
Bahia Pesca
MPA
Prefeituras
Secretarias estaduais e
municipais
MMA
Governo Federal
Marinha
MDA
DNIT
Patrimônio da União
MPF
(CEAP*/PRONAF/EMATER)
Desvalorização do
pescado
- Agregação de valores ao
produto;
-capacitação para
beneficiamento e
comercialização dos
produtos;
- Certificação dos
produtos extrativistas
(criação de selo verde
para produtos das
Reservas Extrativistas);
Marketing e Controle de
Qualidade ;
- utilização adequada dos
instrumentos de pesca
(EA)
MPA
Secretária de pesca
Sindicatos
Colônias
SEBRAE
Universidades
Redes de distribuição
Mídia
Segurança no trabalho e
Saúde do pescador
- Garantia de segurança
(todas as polícias)
- org. própria comunidade
- Capacitação para
manipulação dos
alimentos,
- garantias de benefícios
sociais
- auxílio-doença
-Ministério público Federal
-Ministério do trabalho
-Previdência Social
-Universidades
-Sindicatos
-Ministério da Justiça
-ANVISA
- Capacitação em saúde -Ag. Direitos Humanos
-Comunidades Unidas
-Programa de Saúde Familiar
2.3. Encaminhamentos
1 Passo inicial: Organizar as comunidades produtoras de camarão, peixe e
caranguejo, trabalhando a união, mesmo em pequenos grupos, para evitar o
individualismo e o desinteresse, e depois trabalhar as cooperativas e o papel das
associações;
2 Analisar, com a comunidade, a importância da organização e procurar os
agentes, como a Comissão Nacional entre outros;
3 Buscar a pesquisa para esclarecer os pescadores sobre os problemas
existentes;
4 Buscar / criar Programas de Capacitação e Formação da comunidade em
geral (produtores, gestores, lideranças, colônias, mulheres, jovens e crianças) junto às
organizações parceiras;
5 Cobrar das Universidades Federais o papel da extensão, com o retorno
das pesquisas já feitas para a comunidade (como os trabalhos sobre organização e
gestão), bem como demandar as verbas do INCRA para capacitação em organização e
gestão;
6 Procurar as Universidades para levar cursos de extensão;
7 Pensar na criação de novas fontes de rendas como o artesanato;
8 Pensar novas tecnologias de captação de pescado e mariscos para
minimizar os impactos ambientais;
9 Buscar suporte técnico para a capacitação em captação de recursos e
elaboração de projetos como forma de resolver o maior problema: a má gestão que leva
a inadimplência de centenas de cooperativas e associações;
10 Buscar recursos para organizar a infra-estrutura de caminhões,
frigoríficos, máquinas de gelo, em parcerias como EMATER, PRONAF;
11 Contatar os órgãos públicos nas três esferas administrativas responsáveis
pela infra-estrutura;
12 Buscar assessoria técnica para a elaboração de projetos com captação
recursos para geração de rendas;
13 Agregar valor por meio do beneficiamento dos produtos (peixe,
caranguejo, camarão, etc.) para melhor vender;
14 Providenciar para que o escoamento da produção seja feito pelos
próprios pescadores;
15 Providenciar para que a produção seja feita em pequena escala (sala de
beneficiamento) para agregar valor ao produto;
16 . Mobilizar órgãos competentes que garantam a segurança no trabalho
dos produtores dos manguezais;
17 . Buscar nos órgãos competentes as garantias de benefícios sociais como
auxílio-saúde.
GT 2 – Uso sustentável dos recursos: Salão Garité II
O GT foi presidido por Carlinhos, da RESEX de Canavieiras, que convidou
todos a se apresentar antes do início das atividades:
Carlinhos – RESEX de Canavieira, Alexandre – RESEX Cassurubá,
Lourdes, Ilaildes, Luis - de uma Cooperativa de beneficiamento de mariscos de
Cururupu, Gerônimo – Conservação Internacional (sic.), Daniele – GEDMMA- UFMA,
Marcos – GEDMMA-UFMA, Itamires, Cléber – Presidente da Associação de Tiradores
de Caranguejo de (...), Malafaya – APA de (...), João Carlos – Presidente da RESEX
Marinha de Tracuateua, Milena – UFMA, Ione – RESEX Canavieira, Fabrício –
Associação Caminhos (...), Marilene Pereira – Geógafa de Sirinhaém, Márcio do
Ministério da Pesca - PA, Gefferson – MMA, Sidney – Conselho deliberativo (...),
Deolino Moura, Mauro – ICMBio-PA.
Os presentes escolheram um nome – Filhos do Mangue – para os membros
do GT e, após isso, começaram as inscrições para interessados em direito de fala.
A discussão foi dividida em três itens: Produção versus conservação,
Identificação de instrumentos de monitoramento de qualidade e Identificação de
pressões e ameaças à conservação, no entanto, não seguiu essa ordem, com questões de
qualquer um dos itens podendo ser lançadas a qualquer momento. No decorrer das
atividades, foi produzido um documento com encaminhamentos e sugestões de
discussões para a plenária.
A maioria dos participantes era de catadores de caranguejo, o que limitou
quase toda a discussão a questões ligadas a essa prática. Quase todas as falas diziam
respeito a encaminhamentos para a plenária ou retomada de discussões de questões
levantadas nos dias anteriores. Houve também muita discussão sobre as formas de cata
do caranguejo e os impactos decorrentes destas, pois catadores de diferentes áreas
defendiam e condenavam diferentes técnicas.
Gefferson, do MMA, falou que deve haver uma adequação do transporte de
mariscos, fazendo um paralelo entre o transporte desses com o do pescado.
Uma questão recorrente nas falas foi sobre os meses de defeso por troca de
carapaça e andada dos caranguejos. Segundo os catadores, esta questão deve ser
definida com base nas fases da lua e nas especificidades de cada região, com os
catadores locais sendo consultados pelos órgãos de proteção, pois há muita variação no
período em que esses fenômenos acontecem.
Guttemberg falou sobre a destruição que a pesca com zangaria faz ao
mangue e pediu que se redigisse um encaminhamento para a proibição da prática.
Alguns ficaram contra, então foi decidido que a questão seria posta em votação na
plenária.
O Grupo se atrasou muito devido ao grande número de encaminhamentos e
as discussões sobre estes, tendo uma duração de mais de duas horas, o que atrasou a
plenária e atividades subseqüentes.
Encaminhamentos - GT2 - Uso Sustentável dos Recursos
Produção X Conservação – Dinâmica dos Estoques
Propostas:
Aproveitamento dos resíduos da cata do caranguejo e marisco;
Realização de estudos e intervenção na cadeia produtiva do Caranguejo e
Mariscos;
Implementar unidades de beneficiamento (Unidade de Produção familiar
- UPL) de produtos da pesca e mariscagem familiar. (Lei – Anvisa ou
MAPA);
Que os órgãos criem SIF específico marisco da pesca artesanal em geral;
Inserir nos Planos de Manejo Estudos para Criação de Cotas de catação
de caranguejo nas RESEX, RDS´s (IN01) e APAs (IN29) e onde já
houver os estudos, avançar no manejo da espécie;
Acordos de pesca em Áreas onde não são Resex e RDs e no caso de
outras Áreas Protegidas e territórios tradicionais;
Realizar pesquisas para densidade de mariscos e ostras;
Promover a separação de espécies no desembarque em monitoramentos
de desembarques pesqueiros;
Inserir o manejo de madeiras utilizadas na confecção de instrumentos
musicais e demais usos culturais nos planos de manejo;
Garantir que as populações dos manguezais e matas nativas tenham
direito aos recursos de créditos de carbono;
Garantir que as concessionárias que recebem a CCDRU possam cobrar
uma taxa de uso dos recursos da Resex por não-extrativistas visando a
melhoria da estrutura nas organizações e comunidades;
Identificação de Instrumentos de Monitoramento da Qualidade
Propostas:
Criação de selo Socioambiental para a produção do caranguejo,
respeitando o repasse dos saberes tradicionais, inserindo as discussões
nas escolas e em outras instituições governamentais (ICMBIO, IBAMA,
MPA, MDA, SEMAs);
Realizar Contato com Grupo de Pesquisa “SABERES TRADICIONAIS
E SABERES ESCOLARES: OS MODOS DE APRENDER DAS
CRIANAÇAS EM COMUNIDADES PESQUEIRAS”, da Universidade
Federal de Sergipe, para apoiar cientificamente a criação de um selo
adequado aos saberes tradicionais (trabalho infantil). Contatos: Maria
Cristina Martins- UFS-DED/NPGECIMA/GEPECEI E-mail:
Criação de uma portaria interministerial (MMA/MPA) para adequação
do transporte interestadual do caranguejo;
Incluir zonas do extrativismo do Caranguejo, a partir do Zoneamento das
RESEX, RDS e APAs, utilizando métodos de manejo e Exclusão
Rotativos;
Considerando demanda de catadores de Caranguejos e pesquisas
realizadas de todo litoral, criação do seguro defeso de 04 meses no
período de troca de carapaça (atentando aos períodos regionais);
Nos meses de dezembro, janeiro, fevereiro, março e abril, estabelecer
suspensão da captura apenas nos dias de andada, sem remuneração
(conforme legislação) com consulta a pescadores e pesquisadores locais.
ICMBIO articular com outros entes de meio ambiente (municipal e
Estadual) a flexibilização do Defeso respeitando as técnicas regionais de
captura.
Identificação de pressões ameaças à Conservação
Proposta:
Aumentar fiscalização por parte dos órgãos responsáveis, por meio de ação
conjunta de capacitação de AAVs e polícias locais onde não exista batalhão
ambiental;
Resgatar pelo ICMBio o Programa de Agentes Ambientais Voluntários
(capacitação, insumos para trabalho, equipamentos);
Implementar programas e projetos de coleta seletiva e tratamento do esgoto,
visando diminuir a poluição por resíduos sólidos e líquidos nos Manguezais;
Garantir que os licenciamentos de grandes projetos respeitem os usos e
conhecimentos tradicionais dos manguezais;
Proibir licenciamento de mineração, carcinicultura e monoculturas no entorno
das Resex;
Garantir que os Conselhos Deliberativos das Resex sejam ouvidos nos
licenciamentos e autorizações de pesquisa dentro e no entorno das unidades;
Nas Resex Marinhas onde não contemplam áreas terrestres, realizar estudos para
ampliar os limites para inserir dentro do perímetro as comunidades e suas áreas
de uso;
Agilizar o ordenamento ambiental nas áreas de pesca com uso de apetrechos
predatórios.
GT 3 – Organização dos extrativistas: Salão Gambarra I
Dado início aos trabalhos, todos se apresentaram e, em seguida, foram
abertas as inscrições para cinco falas de dois minutos sobre as seguintes temáticas:
O papel da representação;
Representatividade;
Grau de representação de cada um.
Jorge Macedo, vice- prefeito de Curuçá – PA, informou que há uma
dificuldade de comunicação dentro da reserva e a facilidade é fora. Falou também de
algumas pessoas do judiciário que atrapalham e como poderá se articular, assegurar e
buscar os seus ganhos.
Cida de Santa Catarina disse que a participação não se compra, se conquista
e que teremos um ganho quando se fala em Resex. Questionou o que fazer quando o
poder público impedir alguma luta? A mesma informou que é preciso continuar lutando
e, se for necessário, pedir nos quatro cantos do mundo. O caminho, segundo ela, é a
comunidade se organizar e o líder não poderá esquecer sua base e o seu povo. Quando
isso acontecer, o líder tem que deixar de ser líder e ver quem são os parceiros.
Alexandre, do ICMBio, considera que todos são líderes, sendo que alguns
são atuantes e outros não. O líder não é uma pessoa melhor que os outros. Todos têm
suas características. O desafio mesmo é o ético. O líder é mais atarefado do que outro.
Francisco falou que é indiscutível, pois cada cabeça pensa diferente. O
primeiro passo é não escolher líder por amizade e o segundo passo é a qualificação.
Adriana disse que a participação é muito importante, mas é fundamental
buscar conhecimento e saber se expressar.
Comentários:
Vergara diz que achou importante a opinião de todos.
Chico pescador diz que são muito importantes as reuniões periódicas e
interação de todas as entidades independentes de qualquer coisa é que todos são de uma
mesma classe. A comunicação é importante sendo que alguns ouvem de um jeito e
distorcem mais em frente.
Fabiana comentou que temos um grande contrato social que diz que o Brasil
tem um povo soberano e democrático, mas será que é assim mesmo? Também disse que
uma coisa é ser representação e outra coisa é ser delegação. Disse também que o
conselho das Reservas Extrativistas radicaliza com os conselhos deliberativos.
Vergara pediu uma reflexão.
Domingos falou que trabalha com a preservação dos rios e a preservação do
açaí. Alguns estavam poitando(sic.) redes e com o trabalho da Resex o povo se uniu e
são hoje 30 fiscais voluntários e conseguiram vencer.
Vergara perguntou o que é governança.
Claudio Farias comentou antes de responder à pergunta, que Vergara é o
leme do grupo e resume o poder da comunicação. “Como maranhense eu sei quem é e
como é Sarney com o poder da comunicação”, diz Claudio. “Hoje vivemos um mundo
da comunicação e existem essas pessoas como Sarney com o poder de impedir que a
comunicação chegue a muitas pessoas. Governança é comunicação, é dividir e
compartilhar.”
Sr. Francisco falou que considera Deus a nossa luz no céu e aqui na terra
são os políticos. Segundo ele, quem governa mesmo é Deus. O Brasil não sabe escolher
o governante.
Jorge disse que na prática a governança ambiental é feita pela Resex e a
governança tem que ter união.
Cida disse que todo mundo diz que é liderança como fala o Alexandre, mas
precisamos saber qual o perfil do líder, para que tipo de liderança o tem, não devemos
aceitar liderança que tem interferência.
Mendes falou que ajuda a provocar situações. Liderança todo mundo quer
ser. O líder tem que ser parceiro e a governança em sua opinião tem que ter as Reservas
Extrativistas unidas e dividindo conhecimentos, pois só assim estas se tornam mais
fortalecidas.
Chico disse: “Governança? Governar quem? Quem você lidera? Precisa
saber quem esta dentro de sua unidade, só assim pode formar uma governança.”
Alexandre respondeu: “A gente falou sobre o poder do líder. Governança é
comunicação. Não é necessário que um líder esteja sempre presente. Será que temos que
estar dentro da comunidade? Temos que ter o perfil de construção coletiva.
Fabiana falou que a hora de se trabalhar é agora é agora e fez um
questionamento: “Como podemos trabalhar nas comunidades que não têm Resex?”
ENCAMINHAMENTOS E SUGESTÕES
Organização dos Extrativistas e a Gestão Participativa
Temáticas discutidas:
Representação e nível de participação;
Governança;
Identificação de outros fatores que influenciam no uso:
Liderança hábil para o exercício local (saber quem são nossas lideranças,
perfil dos líderes, apoio para fortalecimento);
Articular os gestores públicos municipais, estaduais e federais;
Participação do poder judiciário nos encontros;
Reuniões periódicas entre conselhos e comunidade (âmbito local);
Capacitação para associativismo (formação continuada), capacitação para
o exercício de governança, formação continuada para os extrativistas;
Comunicação entre os líderes e conselheiros;
Vivenciar democracia (desenvolver cidadania);
Ocupação na presidência dos Conselhos das Reservas Extrativistas pelos
líderes extrativistas;
Garantir o espaço dos filhos dos extrativistas que moram fora das
Reservas Extrativistas;
Criação de uma rede nacional de comunicação entre as UCs;
Buscar parcerias para fortalecimento das Reservas Extrativistas;
Acelerar o cadastro dos extrativistas nas Reservas Extrativistas pelo
ICMBIO;
Articulação das Unidades de Conservação com os territórios;
Moção de apoio às comunidades Quilombolas de Alcântara - Maranhão;
Intercambio de Experiências entre as comunidades;
Identificação dos representantes dos conselheiros (documento de
identificação como: crachás, carteiras ou outros pelo ICMBio);
Organização dos extrativistas, fiscalização e multiplicação dos saberes
para as outras regiões;
Conhecimento e autonomia para criação das nossas leis e cumprimento
da legislação existente;
Acelerar o processo de criação e implementação dos planos de manejo
nas Reservas Extrativistas;
Estrutura de apoio aos fiscais nas Reservas Extrativistas com: transporte
(fluvial ou terrestre), ajuda de custo etc.;
Reativação e fortalecimento do programa agente ambiental voluntário;
Que se faça cumprir a legislação existente e elaborar outras;
Acelerar a implementação dos planos de manejos das Reservas
Extrativistas como instrumento de gestão.
GT. 4 - Gestão do território em Unidades de Conservação
Início: 10h 30 min Término: 12h
Em um primeiro momento, foi feita a apresentação dos participantes do GT:
o grupo contou com a participação de um número aproximado de quinze pessoas
representantes de Resex, movimentos sociais, sindicatos de pescadores, analistas
ambientais, SEMA, ICMBio; etc.
Após a apresentação, começou o momento de discussões. Nesse momento
foi feito um nivelamento da noção de gestão do território pelos participantes, onde
foram destacados pontos que envolvem a discussão da gestão das UCs, como:
fiscalização, zoneamento, licenciamento de empreendimentos, participação da
população no processo de licenciamento, utilização das ferramentas de gestão do
território (conselho, plano de manejo), fortalecimento da relação entre órgãos públicos
(IBMA, ICMBio, OEMAs, MPs, DPs, etc.) e comunidades para empoderá-las(sic.) na
gestão dos conflitos e auxiliá-las no encontro de recursos; efetivar o cumprimento da
legislação ambiental, pois a mesma tem legitimado a instalação de empreendimentos; a
facilidade da cooptação de lideranças comunitárias pelos empreendimentos, apontando
para a necessidade de capacitar essas lideranças; os impactos de empreendimentos e a
questão da mitigação social, apontando para o ressarcimento dos danos causados pelos
empreendimentos às comunidade e para a efetivação das câmaras de compensação na
administração das Resex. Foi exposto também o momento de fragilidades do SNUC,
em termos das decisões de mudanças nos limites da UCs para favorecer interesses
econômicos e políticos em detrimento das comunidades locais e das questões
ambientais.
Em outro momento, foram feitos os Encaminhamentos:
1. Explorar a mitigação de danos continuados a favor das comunidades;
2. Fortalecer a participação do ICMBio nas comunidades;
3. Fortalecer os Conselhos no sentido de instrumentalizar as comunidades
contribuindo na criação do Plano de Manejo.
4. Fortalecer a fiscalização por parte do ICMBio e das OEMAs e das
comunidades locais;
5. Adaptar os currículos escolares ao cotidiano das RESEX;
6. Criar um mapa situacional das UCs, com contribuição da Comissão
Nacional de Gestão para eleger prioridades de ação;
7. Capacitar as comunidades trabalhando o papel dos gestores;
8. Exigir a aplicação dos recursos da agenda social para efetivação dos
Planos de Manejo e cadastro dos beneficiários;
9. Efetivar a demarcação e sinalização das UCs;
10. Fazer moções:
10.1 Contra o cerceamento do ICMBio aos agentes de fiscalização;
10.2 Para a inclusão da DIUSP na Câmara de Compensação
Ambiental no MMA e que a Câmara volte às atividades;
10.3 Exigir o respeito e cumprimento da legislação ambiental pelo
IBAMA, ICMBio e OEMAs;
10.4 Favorável à criação de taxas de uso da água (território; Resex
marinhas) para as populações tradicionais. Esses recursos devem ser administrados pelo
Conselho Deliberativo, mediante a implantação de um fundo eco-social, onde os
recursos serão usados após cadastramento dos beneficiados.
11. Exigir a instalação de câmara de compensação ambiental em
todos os Estados.
Plenária dos GTs – 12 hs as 14 hs
Votação e aprovação das moções:
Moção a favor da criação das Resex de Tauá-Mirim em São Luís-MA;
moção de Alcântara, para tentar impedir que as famílias sejam remanejadas para outras
áreas; contra a posição do governo federal e da Bahia de redefinir a área da Resex
marinha Baía de Iguape para favorecer grupos empresariais; para que as múltiplas
expressões culturais sejam reconhecidas como bem material brasileiro; moção
pernambucana (Resex de Sirinhaém, criação das Resex de Santa Catarina; Contra o
cerceamento do ICMBio aos agentes de fiscalização; Para a inclusão da DIUSP na
Câmara de Compensação Ambiental no MMA e que a Câmara volte às atividades;
Exigir o respeito e cumprimento da legislação ambiental pelo IBAMA, ICMBio e
OEMAs; Exigir a instalação de câmara de compensação ambiental em todos os
Estados.
RELATORES DO I FESTIVAL DE MANGUEZAIS NO BRASIL
(FALTA VER NOME COMPLETO DE DUAS PESSOAS)
Daniele Sales de Melo (GEDMMA/UFMA)
Erinaldo N. da Silva (GEDMMA/UFMA)
Fernando Luís Souza Gonçalves (Resex Cururupu)
Kátia Cristina de Carvalho Cuba (GEDMMA/UFMA)
Lígia do Socorro Souza Gonçalves (Resex Cururupu)
Madian de Jesus Frazão Pereira (GEDMMA/DESOC/UFMA)
Mauro José Oliveira Aguiar Pereira (programador Banco de Dados/ GEDMMA)
Maiâna Roque da Silva Maia (GEDMMA/UFMA)
Marcos Aurélio Alves Cutrim Campos (GEDMMA/UFMA)
Paula Marize Nogueira Pereira (GEDMMA/UFMA)
Rose (graduanda de Jornalismo UFMA?)
Expositores do GEDMMA no Lançamento do livro Ecos dos conflitos socioambientais: a
Resex de Tauá-Mirim
Madian de Jesus Frazão Pereira (GEDMMA/DESOC/UFMA)
Bartolomeu Rodrigues Mendonça (GEDMMA/COLUN)