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Cadernos de pesquisa ipipea n°1 uso de recursos naturais em áreas de manguezais no nordeste do brasil

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Artigo tratando sobre o uso de recursos naturais em áreas de manguezais no Nordeste do Brasil, partindo do princípio socioambiental.

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Presidente

Georgia Maria de Oliveira Aragão

Diretor Executivo

Rafael Costa da Cruz

Secretário Executivo

Hênio de Oliveira Aragão

Editores

Georgia Maria de Oliveira Aragão

Hênio de Oliveira Aragão

Rafael Costa da Cruz

Designer Gráfico

Laraíne França Apratto

Contato

[email protected]

facebook/IPIPEA

Ficha para referência

ARAGÃO,G.M.O. O uso de recursos

naturais em áreas de manguezais no

nordeste do Brasil. Cadernos de Pesquisa

IPIPEA, n1, 2014.

Os Cadernos de Pesquisa IPIPEA

Os cadernos de pesquisa têm como

objetivo trazer para a comunidade

assuntos referentes às pesquisas

desenvolvidas junto ao IPIPEA, de modo

que possa gerar uma reflexão sobre os

temas abordados, bem como uma

discussão que contribua no andamento

destas. Os cadernos não são uma

publicação final, definitiva, pois os

assuntos são de pesquisas maiores que

estão sendo realizadas. De modo geral, em

sequência serão publicados artigos

científicos e demais publicações

pertinentes de cada área.

Pretende-se realizar publicações

bimestrais, com temas das três áreas de

atuação do IPIPEA: ambiental, social e

econômica; cada publicação um tema será

abordado. As publicações serão elaboradas

pela diretoria e por técnicos voluntários do

IPIPEA. É permitida a reprodução deste

texto e dos dados nele contidos, desde que

citada a fonte. Reproduções para fins

comerciais são proibidas.

Perfil do Colaborador

Georgia Aragão é Presidente do IPIPEA,

bióloga formada pela Universidade

Estadual do Piauí- UESPI, mestranda em

Agroecossistemas pela Universidade

Federal de Santa Catarina- UFSC. Tem

experiência em trabalhos nacionais com

espécies ameaçadas de extinção.

Atualmente suas pesquisas são voltadas

para a conservação ambiental, com foco

nas relações do homem com a natureza.

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O USO DE RECURSOS NATURAIS EM ÁREAS DE MANGUEZAIS NO

NORDESTE DO BRASIL.

Introdução

Esse artigo trata de uma reflexão sobre as principais formas de uso dos recursos

naturais provenientes de áreas de manguezais na região nordeste do Brasil, de forma a

esclarecer como esse ecossistema vem sendo utilizando pelos diversos atores.

De acordo com Alongi (2002) os manguezais são ecossistemas costeiros situados

na interface entre os ecossistemas terrestres e marinhos. No Brasil apresentam uma

extensão aproximada de 25.000 km², que vão desde o extremo Norte no Amapá (latitude

4º30’N) até o extremo Sul em Santa Catarina (latitude 28º 53’S) (DIEGUES 2001,

SOUTO 2004). O terceiro em extensão do mundo (GIRI et al, 2011). De maneira geral

estão situados em áreas costeiras abrigadas (como estuários, baías e lagunas) de regiões

tropicais e subtropicais e constituem uma verdadeira fonte de recursos para

comunidades costeiras.

Apesar de as áreas dos manguezais serem utilizadas para diversos fins, estudos

demonstram que os usos tradicionais prevalecem em muitas comunidades litorâneas no

Brasil (SOUTO 2004, DIAS 2006, ROCHA et al. 2008). Esse uso vem também com a

noção de conservação ambiental, de forma que o uso não seja um potencial

estrangulador dos recursos naturais. No entanto, práticas de agronegócio vêm sendo

inseridas de maneira desordenada, como o processo de implantação de fazendas de

camarão, trazendo consigo devastação ambiental e uma série de conflitos

socioambientais.

As principais causas da diminuição deste ecossistema decorrem de atividades

predatórias como: indústrias, carcinicultura, agricultura, salinas e conversão em áreas

urbanizadas (SCHAEFFER-NOVELLI 1995, VANUCCI 1999). Essa devastação varia

de acordo com cada região, no nordeste já podemos ver áreas de intenso processo de

erradicação do ecossistema, sendo o que é mais observado é a improdutividade cada vez

mais frequente.

Nesse sentido, entender o processo de ocupação e uso desse ecossistema é

fundamental para que programas de conservação e políticas públicas sejam

introduzidos. Tanto quanto para o ambiente, para as comunidades é de fundamental

importância tendo em vista a sobrevivência de ambos.

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O mangue como fonte de recurso natural para as comunidades tradicionais

A utilização dos recursos dos manguezais brasileiros ocorre desde os tempos mais

remotos, há registros de utilização da fauna associada ao manguezal (ostras, mexilhões,

siris, caranguejos, peixes) por tribos nômades pré-históricas, como pode ser

comprovado pela existência dos sambaquis espalhados em várias regiões (ALVES E

NISHIDA 2003).

O mangue é usado de diversas formas, no entanto estudos demonstram que os

usos tradicionais prevalecem em muitas comunidades litorâneas no Brasil (SOUTO

2004, DIAS 2006, ROCHA et al. 2008). Muitas comunidades fazem o uso dos recursos

do mangue sem causar impactos negativos, usam de forma ordenada, sem colocá-los em

risco de esgotamento. Essa prática conhecida por etnoconservação (DIEGUES, 2000),

ou seja, a prática da conservação a partir do apoio e conhecimento das comunidades

locais e/ou tradicionais.

As áreas dos manguezais são de extrema importância para as populações

ribeirinhas, uma vez que delas provém boa parte das proteínas de origem animal, da

madeira para construção de suas moradias e embarcações, da fonte primária do

artesanato, além de ser uma área propícia para práticas de turismo de base comunitária.

Fundamental para a subsistência das comunidades.

Dentre as principais atividades econômicas provenientes desse ecossistema

podemos citar a cata do caranguejo. Segundo o IBAMA, no litoral do Piauí a cata do

caranguejo-uçá é uma das principais atividades econômicas para as comunidades

ribeirinhas, representa cerca de 50% da produção pesqueira do estado. Estudo realizado

pela EMBRAPA MEIO-NORTE (2008) mostra que a prática extrativista representa a

fonte principal de rende de 41% da comunidade de catadores.

A exploração do mangue do rio Mamanguape (PB) é feita de forma extrativista

sobre os seguintes produtos: árvores para lenha, carvão e madeira para a construção de

casas, cavernames de embarcações e estacas para plantações de inhame; e extração da

casca das árvores para retirada do tanino (PALUDO e KLONOWSKI, 1999), as peças

de madeira são retiradas de acordo com a necessidade da comunidade, leva em

consideração a espessura e comprimento da madeira, madeira em fase inicial de

crescimento são preservadas. A prática evidencia o manejo voltado para a conservação

do ecossistema.

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No Rio Grande do Norte apesar de ter uma intensa devastação das áreas de

mangue comunidades ainda sobrevivem de recursos provenientes deste ecossistema. Na

Reserva Ponta do Tubarão, segundo Dias et al:

A catação manual de mariscos é uma atividade comum,

frequente e que ocorre ao longo de todo o ano. Entretanto,

algumas mulheres sobrevivem exclusivamente da exploração de

mariscos e/ou outros moluscos. É dessa forma que essas

pescadoras sustentam famílias, criam filhos e adquirem alguns

bens materiais como uma moradia própria (p. 26, 2007).

De acordo com Nishida (2000), para as comunidades ribeirinhas que vivem

próximas aos manguezais, os moluscos representam um dos grupos de maior relevância

econômica.O que pode ser observado é que as comunidades que vivem em áreas de

manguezais ainda dependem economicamente, culturalmente e socialmente desse

ecossistema, qual vem a passos largos sendo devastado pelo uso desordenado e pela

ausência de políticas publicas específicas nessas áreas.

Além das comunidades fazerem uso dos recursos, existe também um processo de

conservação desses por meio do conhecimento adquirido ao longo das gerações e que

não pode ser negligenciado, como aqui já foi mencionado. Deixar de lado essas

comunidades é esperar o aumento de usuários de drogas, prostituição, criminalidade e a

saída de famílias para os centros urbanos, o que já vem acontecendo de modo crescente

em diversas regiões do nordeste.

A carcinicultura

A conversão de áreas de mangue em viveiros de cultivo de peixe é uma prática

antiga em países asiáticos, sendo relatada há mais de 500 anos (DIEGUES, 1990). No

Brasil, dentre as atividades agroindustriais que mais se desenvolveram nos últimos anos,

merece destaque a carcinicultura marinha que, no período entre 1997 e 2003, passou de

3.548 ha para 14.824 ha de viveiros construídos (ROCHA et al., 2004). Esta rápida

expansão da atividade, principalmente no nordeste brasileiro, associada ao histórico de

conversão de áreas de manguezal em viveiros de cultivo, tem levado esse tipo de prática

a ser considerada a maior responsável pela diminuição da cobertura de mangue no

litoral brasileiro.

Apesar da carcinicultura só está consolidada no Brasil há pouco mais de 10 anos,

no estado do Ceará já ocorre há mais de 20 anos. De acordo com a Fundação Cearense

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de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), em 1989 existiam nos estuários

cearenses cerca de 560 hectares de fazendas de camarão. Já segundo dados da

Superintendência Estadual do meio Ambiente (SEMACE), o ano de 2010 indica cerca

de 180 fazendas de camarão em cativeiro funcionando. É um dos estados de maior

produtividade de camarão em cativeiro e consequentemente de áreas de mangue

degradadas e improdutivas.

O Rio Grande do Norte é responsável por cerca de 30% da produção total de

camarão em cativeiro no Brasil, com uma produção média de 7 mil toneladas, o que

proporciona ao estado o título de maior produtor e maior área cultivada. O

desenvolvimento da carcinicultura no RN é grandemente favorecido pela sua

localização, próxima dos grandes mercados consumidores dos Estados Unidos e

Europa, bem como apresentar um ambiente estuarino propício para a prática. Segundo

dados do IDEMA, atualmente mais de 10 mil hectares do território do Rio Grande do

Norte estão ocupados com projetos de carcinicultura. Estima-se que existam hoje

aproximadamente 2500 hectares de terras ocupadas por viveiros.

No Rio Grande do Norte, na cidade de Senador Georgino Avelino, a

carcinicultura, trouxe a salinização da Lagoa Capeba, o que causou a diminuição de

peixes e de crustáceos e também a contaminação do aquífero que abastece a cidade. Na

cidade de Arês a situação não é muito diferente. Resíduos da carcinicultura predatória

estão poluindo as águas do Rio Jacú e da Lagoa do Guarai.

Em Caravelas (BA), um projeto para a implementação desse tipo de

empreendimento previa o desmatamento de cerca de 1.500 hectares de restinga

arbustivo-herbácea e manguezais, conforme dados do Estudo de Impacto

Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), elaborado pela cooperativa de

carcinicultores - COOPEX (PLAMA, 2005). Além disso, a sua implantação afetaria

diretamente as pessoas (cerca de 2.450) que vivem na área de implantação do

empreendimento (RANAURO, 2004). Dentre as principais justificativas para o

desenvolvimento da ideia está a geração de emprego e renda para a população do

entorno. No entanto, sabe-se que a geração de emprego é muito pequena vista ao

impacto e a supressão de recursos usados pelas comunidades. Além de que adotam

técnicas intensivas, com baixa utilização de mão de obra local, visando incremento de

lucros (CMADS, 2005).

O estado do Piauí, com o litoral de 66 km de extensão, faz parte de uma área de

preservação ambiental, a APA do Delta do Parnaíba. O pequeno litoral tem a

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carcinicultura inserida desde o início dos anos 80, com um alto índice de empresas

funcionando. Entre os anos de 2001 e 2004, 22 estudos de impacto ambiental foram

avaliados na APA.

No entanto, Araripe et al., (2006) constataram que os empreendimentos já

instalados nas planícies flúvio-marinhas da área de estudo estão operando normalmente,

embora sem a licença ambiental e sem atender às prerrogativas da Resolução

CONAMA n° 312/02, no tocante ao monitoramento e à mitigação dos impactos

ambientais. O autor ainda diz que se vê na atividade da carcinicultura, a falta de

entendimento entre os órgãos oficiais de meio ambiente, fomento, pesquisa, controle de

qualidade voltada à exportação de produtos pesqueiros e sanidade animal.

Um exemplo atual sobre o funcionamento fora da lei de empresas no estado do

Piauí esta em uma empresa situada no município de Cajueiro da Praia, localizado a 383

km da capital Teresina, qual foi multada por sonegação fiscal em junho de 2013 e por

não apresentarem inscrição estadual de funcionamento, a multa foi de R$ 3 mil. Já em

dezembro do mesmo ano o Ministério Público através de uma ação proibiu que todas as

empresas de carcinicultura do litoral que estivessem atuando de forma irregular

realizassem suas atividades, obrigando-as a realizar todos os estudos de impacto que

ainda não haviam sido concretizados.

A carcinicultura de grande escala, ou seja, aquela que visa principalmente à

exportação atende às metas traçadas pelo Programa Nacional de Apoio ao

Desenvolvimento do Camarão Marinho, Pecuária e Abastecimento, sob a justificativa

de que gera emprego em áreas de carência. Entretanto, o custo ecológico e social desta

atividade deve ser algo quantificado para que essa avaliação de fato seja validada. Nesse

sentido, Martinez-Alier diz que:

A pressão da dívida externa sobre os países exportadores de

camarão, as doutrinas neoliberais e a cegueira ecológica dos

consumidores dos países importadores do Norte, com uma

flagrante falta de ação governamental local para proteger o meio

ambiente na maioria dos países produtores de camarão, são as

principais forças que conspiram em favor da destruição do

manguezal. Trata-se de igual modo de um comércio desigual em

função da transferência dos custos ambientais e sociais para as

áreas das quais procede a produção exportada (p. 121-122,

2007).

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Estudos relatam pelo menos 06 impactos causados pela carcinicultura em áreas de

mangue. Sendo eles: impactos socioculturais (DIEGUES, 1991; MARTINEZ-ALIER,

2007); degradação e supressão da flora e restinga (PRIMAVERA, 1993, 1994);

impactos sobre a fauna com redução da biodiversidade associada ao mangue

(LACERDA e KJERFVE, 1995); impactos sobre o solo, ocorrendo principalmente à

salinização (BHATTA e BHAT, 1998) e impedimento das entradas de marés; impactos

sobre a água pode ocorrer eutrofização, hipernutrificação, aumento de sólidos totais

(CHAMBERLAINS, 1988; GRASLUND et al., 2003); e impactos em áreas vizinhas e

associadas ao mangue, como por exemplo a morte de corais por aporte de matérias em

suspensão (BEVERIDGE et al.; 1991). Esses impactos estão amplamente ligados à crise

ambiental mundial atual.

Mesmo negligenciada pelos meios de comunicação nacionais, por órgãos

fiscalizadores e por parte da população, a degradação ambiental, a destruição dos

manguezais, a invasão de rios, lagoas, barragens, o desrespeito às comunidades de

pescadores e a salinização de aquíferos que abastecem cidades inteiras acontece.

Conflitos Socioambientais

O resultado da inserção de empresas, como as de carcinicultura, em áreas de uso

comum por comunidades gera uma combinação de degradação ambiental e conflitos

sociais. Tendo em vista que esses empreendimentos limitam o acesso à área e

consequentemente ao recurso e que com o escoamento dos dejetos provenientes dos

tanques geram uma reação natural do mangue, que é a salinização. A salinização faz

com que a produtividade diminua, as espécies que utilizam o ecossistema como berçário

natural entre em colapso. Afirmações que vêm de encontro com Carvalho & Scotto

(1995), quais dizem que o conflito socioambiental se apresenta como um conflito social

que expressa uma luta entre interesses opostos, que disputam o controle dos recursos

naturais e o uso do meio ambiente comum.

Esses empreendimentos e os órgãos públicos que investem e incentivam esse

processo de desenvolvimento a todo custo não levam em conta o custo social e

ecológico quando fazem seus estudos de impacto. E isso se dá muitas vezes por

negligenciarem a capacidade o potencial ambiental e social que a área oferece.

Sant’ana Junior et al. (2009) diz que a demarcação espacial, que deveria ter intuito

de disciplinar o uso e ocupação do espaço, vem também, ou principalmente, demarcar

interesses sociais dos grandes empresários capitalistas e não da população de hábitos

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rurais existentes na área. Quando o autor aborda essa perspectiva o que ele quer dizer é

que a arbitrariedade e a legislação ambiental são completamente deixadas a mercê dos

grandes investidores. O que gera uma cadeia crescente de conflitos entre as

comunidades, o poder público e as empresas.

Considerações Finais

As relações entre as comunidades tradicionais do nordeste que vivem no entorno

de áreas de manguezais podem ser consideradas de exploração direta. Relação essa que

tem como resultado a subsistência, a etnoconservação e a propagação de suas culturas

que operam de geração a geração. No entanto, o crescimento populacional e a demanda

cada vez maior por áreas e alimentos fazem com que essas áreas e as comunidades que

delas dependem sofram pressão cada vez mais intensa e o uso dos recursos naturais

sejam cada vez mais disputados.

O desenvolvimento a todo custo fica evidente quando as empresas ocupam áreas

de uso comum e que são protegidas por lei, como é o caso do ecossistema manguezal.

Os conflitos assim ocorrem como um meio de reivindicação, de ambas as partes. Uma

para continuar estabelecendo e constituindo suas atividades diárias, como forma de

sobrevivência, interação entre os mesmos e sociedade. Já as empresas, visam como

forma de lucro, crescimento e divulgação de “áreas ambientais de grande

enriquecimento”, como forma de renda para a comunidade e pessoas ao redor, sendo

estes representantes grandes causadores de variados acontecimentos não previstos por

eles mesmos, como a saída das populações para os grandes centros urbanos em busca de

sustento, aumento do índice de criminalidade nas populações, prostituição e o

estrangulamento do berçário natural de muitas espécies, como já foram mencionados.

Nesse sentido, se faz necessário que o custo social e ecológico faça parte das

metodologias de análise de impacto que essas empresas apresentam para implantarem

os empreendimentos.

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