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Fetichismo e alienação em música Ensaio de metacrítica e análise ideológica sobre fragmentos de Adorno e Althusser Antonio Herci – SP, novembro de 2013 Nomeia-se imputação do fetichismo ao discurso que tem por fim imputar e censurar o outro sob a acusação de ser fetichista. Modelo recorrente na modernidade para demarcar o que pode ser dito ‘dentro’ e ‘fora’ do escopo de validade do logos. O imputado fetichista é identificado como portador de uma falha ou estacionamento evolutivo nas formas de compreensão e publicamente passível de ser alienado da validade de sua expressão ou representação, sendo segregado no tempo (infantil, primitivo) e espaço (selvagem, estranho). O termo fetiche foi introduzido por De Brosses; destaca-se em Marx e torna-se central na teoria e crítica musicais após Adorno. Ao deparar-se com poderes (sobre)naturais, o fetichista “não sabe o que vê”; ao produzir a mercadoria, “não sabe o que faz” e ao render-se à indústria cultural da música, “não sabe o que ouve”. Ensaia-se uma crítica à esse discurso cujo fim é a discriminação da música imputada como ‘fetichista’ . Retoma-se a tese central de Louis Althusser sobre o caráter ideológico das relações de valoração: a impossibilidade de apontar o que está ‘dentro’ ou ‘fora’ da ideologia, pois “tudo é dentro”. Sendo o espaço do logos e da ideologia equivalentes — o espaço do ser, do movimento e da vida” — vale dizer que não existe lugar fora do logos como algo identificável, mas a produção de um discurso ideológico cujo fim é a alienação do valor

Fetichismo e melancolia

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Fetichismo e melancolia

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Fetichismo e alienao em msica

Ensaio de metacrtica e anlise ideolgica sobre fragmentos de Adorno e AlthusserAntonio Herci SP, novembro de 2013

Nomeia-se imputao do fetichismo ao discurso que tem por fim imputar e censurar o outro sob a acusao de ser fetichista.Modelo recorrente na modernidade para demarcar o que pode ser dito dentro e fora do escopo de validade do logos. O imputado fetichista identificado como portador de uma falha ou estacionamento evolutivo nas formas de compreenso e publicamente passvel de ser alienado da validade de sua expresso ou representao, sendo segregado no tempo (infantil, primitivo) e espao (selvagem, estranho).O termo fetiche foi introduzido por De Brosses; destaca-se em Marx e torna-se central na teoria e crtica musicais aps Adorno.

Ao deparar-se com poderes (sobre)naturais, o fetichista no sabe o que v; ao produzir a mercadoria, no sabe o que faz e ao render-se indstria cultural da msica, no sabe o que ouve.

Ensaia-se uma crtica esse discurso cujo fim a discriminao da msica imputada como fetichista. Retoma-se a tese central de Louis Althusser sobre o carter ideolgico das relaes de valorao: a impossibilidade de apontar o que est dentro ou fora da ideologia, pois tudo dentro. Sendo o espao do logos e da ideologia equivalentes o espao do ser, do movimento e da vida vale dizer que no existe lugar fora do logos como algo identificvel, mas a produo de um discurso ideolgico cujo fim a alienao do valor expressivo do outro o fetichista central na construo da racionalidade e crtica musicais contemporneas.

Portanto as classificaes e valoraes erudito, popular ou folclrico, ou desqualificadas como no cultura e aberrao fetichista so imputaes que no nos levam a concluir sobre algum tipo de valor ou desvalor intrnseco nas manifestaes musicais, mas sim sobre qual tipo de expresso deve ser segregada, revelando o carter retrico e ideolgico reprimido por detrs da dialtica e da crtica.Palavras-chave: Ideologia, Negao, Juzo, Valor, Axiologia