Ficção e História Retomada de Antigo Diálogo - Marilene Weinhardt

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Ficção e História Retomada de Antigo Diálogo - Marilene Weinhardt

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  • FICO E HISTRIA: RETOMADA DE ANTIGO DILOGO

    Marilene Weinhardt*

    A leitura, portanto, ficcionaliza a Histria. Em contrapartida, a leitura historiciza a Fico, na medida em que a voz narrativa situa no passado o mundo da obra.

    BENEDITO NUNES, Narrativa histrica e narrativa ficcional.

    O passado uma empresa do imaginrio, seja no plano da histria, seja no da criao literria. Mas cada discurso preserva sua identidade. Para reconhec-la, indispensvel refletir sobre as similitudes da nar-rativa histrica e da narrativa ficcional, bem como sobre as suas singularidades.

    A referncia no to recente aproximao da teoria da histria com a teoria da literatura j um truismo, ainda que, com certa freqncia, seja percep-tvel que nesse movimento que se presume dilogo, cada participante enuncie o que prprio da sua rea de conhecimento e no oua de fato a voz atual do outro, limitando-se a reconstituir conceitos estereotipados que julga continua-rem produtivos. Este trabalho no pretende apresentar argumentao inusitada, que possa imprimir novos rumos e oferecer caminhos ainda insuspeitados para o dilogo da narrativa histrica com a ficcional, mas visa a oferecer uma reviso

    * Universidade Federal do Paran.

    Revista Letras, Curitiba, n. 58, p. 105-120. jul./dez. 2002. Editora UFPR 105

  • WEINHARDT, M. Fico e histria: retomada de antigo dilogo

    bibliogrfica e conceituai que permita ao leitor retomar a discusso, de forma sucinta, tal como ela se desenvolveu nas trs ltimas dcadas do sculo XX.

    J houve tempo em que o Accionista pode ter invejado o historiador ou, pelo menos eventualmente, tenha se sentido inferiorizado por no dispor dos mesmos recursos, isto , da intimidade com os documentos, para alcanar o que se supunha ser o acesso Verdade, uma entidade com existncia prpria. A crena na transparncia da referencialidade histrica e na neutralidade do dis-curso dito cientfico era incontestvel, desprezando-se ou fingindo-se ignorar as sombras que turvavam essa translucidez. O trabalho do Accionista tambm pode ter sido objeto do desejo da parte do historiador, por seu aparente descompromisso, sua liberdade com o mundo que cria. J os estudiosos da literatura tentaram erigir um instrumental que lhes permitisse operar com a obje-tividade que viam no estudo da histria, da antropologia, das cincias sociais.

    No incio dos anos 90, um historiador da cultura confessa sem rebuos: "Um dos objetivos do presente livro mostrar de que modo uma nova gerao de historiadores da cultura usa tcnicas e abordagens literrias para desenvol-ver novos materiais e mtodos de anlise.'" Duas dcadas antes, Hayden White, um dos nomes mais citados quando se comenta o papel do historiador e do ficcionista, figurando entre os principais desencadeadores desse debate, posiciona-se radicalmente, restringindo as diferenas ao contedo e anulando a distino formal ente a narrativa histrica e a ficcional. Ensina que a primeira se constri sobre fatos reais, a segunda sobre fatos imaginrios, mas as duas so construes verbais.2 Quanto ao carter de ambas enquanto construes ver-bais, no h o que questionar. Mas, no caso da fico de carter histrico, ou seja, do chamado romance histrico, conceito j discutido em outro momento,3

    tambm a distino de contedo desaparece, a ponto de muitas vezes o leitor menos compromissado com catalogaes hesitar, se lhe exigem uma resposta imediata, pergunta sobre o que est lendo: fico ou histria?

    * * *

    1 HUNT, L. A nova histria cultural. So Paulo: Martins Fontes, 1992. p. 19. 2 Hayden White vem elaborando sua teoria desde Metahistory: the historical

    imagination in Nineenth-Century Europe (Baltimore/London: The Johns Hopkins University Press, 1973. Trad, brasileira: Meta-histria: a imaginao histrica do sculo XIX. So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo, 1992). Uma smula sobre aspecto de sua teoria relevante para esta abordagem encontra-se no artigo "History and theory", publicado origi-nalmente em 1984 e traduzido na Revista de Histria (Campinas, n. 2/3, p. 47-89, primavera 1991).

    3 WEINHARDT, M. Consideraes sobre o romance histrico. Letras, Curitiba, n. 43, p. 49-59, 1994.

    106 Revista Letras, Curitiba, n. 58, p. 105-120. jul./dez. 2002. Editora UFPR

  • WEINHARDT, M. Fico e histria: retomada de antigo dilogo

    Uma vasta produo terica, sobretudo anglo-americana e francesa, bus-cou estabelecer limites e paralelos entre as atividades do historiador e a do literato, este compreendendo o ficcionista, o terico e o crtico. Lus Costa Lima entende que, se para os representantes da Nova Histria "o avano da reflexo e das tcnicas operacionais da escrita da histria ainda se podia cumprir pela oposio a um positivismo j genericamente desacreditado, no caso ingls e norte-americano era o prprio postulado da cientifcidade que precisava ser enfrentado."4

    Com diferenas mais ou menos sensveis de concepo e de mtodo para quem v de fora, isto , para quem no historiador, certos pontos das teorias histricas mais recentes so perceptveis como recorrentes: os textos dos teri-cos da histrica, que contam com algumas contribuies de outros campos, sobretudo da filosofia, demonstram o carter dplice da histria, arte e cincia. No se refuta a evidncia de que a troca de experincias entre as humanidades enriquecedora, em vista da interao entre seus objetos. O construto verbal reconhecido como simulacro que no se confunde com o fato. Discorda-se sobre o modo como se d a relao do discurso lingstico com o mundo repre-sentado.

    Os estudiosos da literatura, sobretudo nos momentos iniciais dessa nova postura da teoria histrica, ainda que abundantemente citados, no participa-ram do dilogo de forma atuante. Talvez tenham experimentando certo espanto, ao verem seu trabalho guindado posio de paradigma, quando freqentemente buscavam arcabouo terico fora de suas fronteiras. De outro lado, mas possi-velmente pela mesma causa, h o risco de atitudes de deslumbramento, buscan-do na histria solues para questes que so essencialmente estticas.

    No se pode esquecer os paralelos pioneiros entre o discurso histrico e ficcional de dois estudiosos cujos nomes esto ligados a muitos dos direcionamentos tomados pela teoria da literatura a partir do meados do sculo XX: Northrop Frye e Roland Barthes. O primeiro publicou um ensaio, j no incio da dcada de 60, em que define o escritor de criao como meta-historiador, cujo trabalho dedutivo, impondo uma forma a seu objeto, em funo da qual o escolhe, enquanto o mtodo do historiador indutivo, a forma sucedendo a pesquisa. Frye aprofunda o paralelo nessa linha de argumentao, insistindo nas limitaes da criao verbal do historiador, por oposio liberdade do processo de criao do poeta, aquele que cria com a palavra. Sua anlise no se detm na distino de orientao dos diversos mtodos e abordagens histri-cas, seu interesse est centrado na diferenciao entre a imitao realizada pelos

    4 LIMA, L. C. A aguarrs do tempo. Rio de Janeiro: Rocco, 1989. p. 42.

    106 Revista Letras, Curitiba, n. 58, p. 105-120. jul./dez. 2002. Editora UFPR

  • WEINHARDT, M. Fico e histria: retomada de antigo dilogo

    dois discursos, visando particularmente o modo como o mtico se atualiza na literatura.5

    Roland Barthes, em texto datado de 1967- portanto anterior difuso do ressurgimento da histria narrativa - objetivando justamente comentar o desa-parecimento da histria narrativa herdada do sculo XIX, para caracterizar o discurso histrico mobiliza seu repertrio de lingista e de terico da literatura. Aos que resistiam aproximao do histrico com o imaginrio, argumentava:

    ... por sua prpria estrutura e sem que haja necessidade de fazer apelo substncia do contedo, o discurso histrico essencial-mente elaborao ideolgica, ou, para ser mais preciso, imagin-rio, se verdade que o imaginrio a linguagem pela qual o enunciante do discurso (entidade puramente lingstica) 'preen-che' o sujeito da enunciao (entidade puramente psicolgica).

    Alguns perodos depois, ainda no mesmo pargrafo, sintetiza sua viso sobre o discurso histrico:

    Chega-se assim ao paradoxo que pauta toda a pertinncia do discurso histrico (com relao a outros tipos de discurso): o fato nunca tem mais do que existncia lingstica (como termo de um discurso), e, no entanto, tudo se passa como se sua existncia no fosse seno a cpia pura e simples de outra existncia, situada num campo extra-estrutural, o 'real'. Esse discurso , sem dvi-da, o nico em que o referente visado como exterior ao discurso, sem que nunca seja, entretanto, possvel atingi-lo de fora do discurso.6

    5 FRYE, N. New directions form old. In: . Fables of identity. New York: A. Harbinger Book, 1963. p. 52-66.

    6 BARTHES, R. O discurso da histria. In: . O rumor da lngua. So Paulo: Brasiliense, 1988. p. 155.

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    Uma leitura mais acurada desses dois autores, da parte dos historiadores e dos estudiosos da literatura, teria feito com que o dilogo se adiantasse mais rpida e proveitosamente.

    Nesse trnsito, a literatura teve mais a oferecer teoria da histria do que a buscar nela. Entretanto, os estudos literrios tambm receberam impulsos e avanaram. Convocados a dar seu testemunho sobre o estatuto e os modos de representao do real, tema que ocupa a teoria da literatura desde antes de seu reconhecimento como um corpo terico definido e estabelecido, os estudiosos da literatura viram a oportunidade de examin-lo e debat-lo sob novas luzes, com interlocutores que no estavam submetidos aos mesmos condicionamen-tos. No mais limitada a seus pares tradicionais, como a filologia, a filosofia e a sociologia, enquanto criao, tendo deixado para trs o estgio em que era ousadia borrar os limites entre manifestaes artsticas diferentes e, enquanto crtica, tendo superado a busca de modelos, os estudo literrios passaram a participar de um dilogo plural, com o cruzamento de vozes que vm sobretudo, mas no exclusivamente, da histria.

    Esta, por sua vez, afastou-se dos ideais de cincia dura e reorientou-se para veio to aberto que se permitiu denominaes sugestivas como Histria do Cotidiano, Histria das Mentalidades, Histria das Sensibilidades, ficando em segundo plano as tradicionais histria poltica, econmica e demogrfica. Fir-mou-se a expresso "crtica cultural" para definir a atividade do estudioso que busca seu instrumental em campo amplo e variado, superando o enrijecimento de conceitos, de formas e de manifestaes que caracterizou os estudos humansticos de meados do sculo XX. No se trata de novo rtulo para o antigo humanista, que h algumas dcadas se quis cientista, mas de nova postura diante do saber, atitude de recusa ao fragmentrio, sem desprezar a especializao, que no estanque, fechada sobre si mesma, e sim interessada em apreender a essencialidade humana e o sentido da contemporaneidade.7 Nessa busca no h interdies.

    * * *

    Os estudos literrios no Brasil, quando se ocupam das relaes entre litera-tura e histria, parecem obedecer, com poucas excees, a uma orientao pragm-tica, com relevncia para a anlise textual. Pode-se concluir que continuamos acei-

    7 Ao ltimo capitulo de Uma teoria da histria (Rio de Janeiro: Civilizao Brasilei-ra, 1993), Agnes Heller intitula "Algumas notas sobre o sentido da existncia humana", p. 389.

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    tando nossa condio de colonizados, consumidores das ofertas culturais dos centros produtores do saber. Mas a questo pode ser vista sob outro prisma. Pode residir nessa vereda uma das sadas para a nossa busca identitria. Da as frias questes tericas, to a gosto das culturas estabilizadas, encontrarem aqui o calor da prtica. Talvez enquanto os outros busquem construes epistemolgicas, ns nos empenhemos em descobrir um fugidio passado que nos explique e justifique. Na busca da impossvel descoberta, do resgate inter-dito, o passado moldado, ainda que tambm, e sempre, provisoriamente. Tzvetan Todorov diz que o europeu encontrou o eu na descoberta e no reconhecimento do outro, ou seja, do habitante da Amrica.8 O nosso outro talvez seja o antepassado. E preciso encontr-lo, ainda que ficcionalmente. Enquanto, no caso europeu do tempo das descobertas, a busca apresentava um carter espa-cial, a nossa pode agora ser temporal.

    E possvel que a fragilidade da cultura brasileira na variante erudita, decorrente da carncia de reflexo terica mais constante, refinada, faa com que aqui o dilogo encontre menor resistncia. Da a possibilidade da interao entre historiadores e estudiosos da literatura se dar mais vontade, trao que pode se estender produo hispano-americana. Nas ltimas dcadas do scu-lo realizaram-se simpsios sobre essa relao, dando origem a publicaes que ampliaram o debate, alm de se dedicarem ao tema nmeros monogrficos de peridicos regulares, e de conferncias e comunicaes em congressos institucionalizados apresentarem expressiva presena de sesses sobre a ques-to.

    A leitura dos tericos da histria - seja dos que condenaram a histoire vnementielle, fundaram e, tempos depois, imprimiram outros rumos Histria Nova, na direo da antropologia, seja dos que propuseram ou dos que questiona-ram o ressurgimento da histria narrativa - til ao estudioso da literatura, particularmente ao interessado na fico histrica, sobretudo para dar forma a inquietaes que no encontraram abrigo nos conceitos cientficos de histria, como tambm no foram vistas com bons olhos pelas concepes rigidamente formalistas da literatura. No se trata de propor a fico como sucedneo ou como concorrente da histria, mas sim de observar de que forma e em que medida a convergncia dos estudos histricos e literrios pode contribuir para revelar e desvelar mecanismos da criao artstica.

    Lawrence Stone, em texto datado de 1979, rastreia os momentos e movi-mentos dos estudos histricos, destacando as diferentes metodologias da abor-

    8 TODOROV, T. A conquista da Amrica. A ques to do outro. 3. ed. So Paulo: Mar t ins Fontes , 1991.

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    dagem cientfica e centrando ateno nas causas do ressurgimento da narrativa na prtica do historiador. Identifica o auxlio da antropologia e situa a Mentalit entre os estudos histricos, entendendo esse movimento como uma busca do indivduo. Observa que um "nmero cada vez maior de 'novos historiadores' tentava ento descobrir o que se passava na cabea das pessoas do passado, e como era viver naqueles tempos, questes estas que reconduzem inevitavel-mente ao usos da narrativa."9 Tornar-se acessvel a um pblico inteligente, "mas no especialista" outra das razes que aponta para a volta da narrativa. O mesmo raciocnio talvez se pudesse aplicar fico. O pblico de best-sellers, no pior sentido da expresso - o de barateamento da criao literria - signifi-cativo, em termos de mercado brasileiro, a julgar pelas tiragens, sobretudo de tradues. Por que no conquist-lo? nesse rumo a proposta de Jos Paulo Paes, que atribui, em parte, aos rigores da critica, aparelhada exclusivamente para a avaliao da literatura erudita, a inexistncia de uma literatura de entrete-nimento no Brasil, que exigiria anlise "pelo prisma da sociologia do gosto e do consumo.'"0 Mais de uma dcada decorrida, a despeito de alguns fenmenos editoriais, da divulgao da esttica da recepo e da circulao de peridicos culturais que buscam seu pblico alm dos muros acadmicos, a literatura de entretenimento continua sem espao significativo na crtica sria. Resta discutir se tal produo teria a ganhar com esse espao, se justamente a marcao de territrio no funciona como marketing mais eficaz do que a voz do crtico. Mas esse tema para outro momento, voltemos a L. Stone, que formula pergunta pertinente aos interesses desta reflexo: como formar ento novos historiado-res? O encaminhamento da discusso, no empreendida no ensaio em foco, pode deslocar falsamente o centro da ateno e dar a entender que no h mais necessidade de historiadores com formao especfica porque os Accionistas cumpririam esse papel, concluso totalmente desvirtuada e que pode ser empre-gada maliciosamente por detratores da histria narrativa. Aqui no interessam as filigranas do debate entre os diversos modos de se conceber a histria como cincia e nem a variedade de reaes ocorridas, mas o fato de ocorrerem.

    Vale lembrar ainda que a expresso "ressurgimento da histria narrativa" e a anlise do discurso de historiadores do sculo XIX, buscando apreender seus mecanismos de seduo e de convencimento, recurso usado pelos

    9 STONE, L. O ressurgimento da narrativa. Reflexes sobre uma velha histria. Revista de Histria, Campinas, n. 2/3, p. 13-25, primavera 1991.

    10 PAES, J. P. Por uma literatura brasileira de entretenimento (ou: O mordomo no o nico culpado). In: . A aventura literria: ensaios sobre fico e fices. So Paulo: Cia. das Letras, 1990. p. 35.

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    formuladores e difusores dessa proposta, no podem ser ingenuamente enten-didas como um simples retorno a concepes passadas, anatematizando indiscriminadamente todos os esforos metodolgicos que intentaram dar apa-rato e estatuto cientficos aos estudos histricos. Muitos dos promotores desse movimento procuram solues para o afastamento do ser humano a que seus mtodos conduziram, encaminhando-se para o que se pode designar generica-mente como Nova Histria Cultural. Luiz Costa Lima conclui que o surgimento das teses narrativistas uma reao negativa:

    ...em sua ambincia original, as teses narrativistas no eram guia-das pelo propsito de recuperar uma prtica anterior da escrita da histria. E isso porque seu confronto se dava no com a diver-sidade de propostas historiogrficas seno que com o prprio padro comum a essas distintas propostas. (...) em um ambiente acadmico saturado de modelos de cientificidade, como era o dos departamentos norte-americanos de cincias sociais, nas dcadas de 60 e 70, o desafio lanado aos pensadores da histria era o da adequao de sua disciplina exigncia cientfica. (...) a tematizao contempornea da narratividade, em vez de repre-sentar um revival, uma resposta negativa, muitas vezes embaraada, demanda de uma histria de fato cientfica.11 (grifos do autor)

    Em O Estilo na Histria, Peter Gay busca comprovar o carter dual da histria, igualmente arte e cincia. Para ele, "a histria uma arte durante boa parte do tempo, e uma arte por ser um ramo da literatura."12 Seu discurso, marca-do por oposies como papel da histria X papel da literatura, mentira X verda-de, trai noes de hierarquizao, o que se depreende de afirmaes como: "Vezes h, naturalmente, em que a fico tomou algumas das responsabilidades da histria."13 Ou ainda: "Por mais que possamos apreciar as histrias de fico pelas verdades que revelam, apreciamo-las ainda mais pelas mentiras que nos contam."14 O raciocnio usado para reafirmar o carter cientfico da histria de-nuncia sua fragilidade no conjunto das cincias e aponta sua proximidade com

    11 LIMA, 1989, op. cit., p. 43. 12 GAY, P. O estilo na historia. So Paulo: Cia. das Letras, 1990. p. 168. 13 Ibid., p. 173. 14 Ibid., p. 175.

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    a arte: "...ao contrrio do cientista natural, o cientista do passado humano feito da mesma matria de seus objetos.'"5 Tambm o fccionista " feito da mesma matria de seus objetos", isto , as personagens e sua instncia temporal, embo-ra nem por isso faa cincia.

    Para Paul Veyne essa dualidade no existe. Em Como se escreve a hist-ria ele nega a existncia da Histria, com maiscula, uma vez que s se tem acesso 'histria de'. Ou seja, impossvel apreender a totalidade, logo no se pode pretender descrev-la. O acontecimento no tem existncia em si, mas produzido pelo cruzamento de alguns dos muitos itinerrios possveis. O histo-riador escolhe livremente o ou os itinerrios, uma vez que so igualmente legti-mos. Eis uma teoria sobre a qual, h algumas dcadas, apressadamente poder-se-ia pensar que se digitou historiador por escritor de fico. Paul Veyne perce-be o parentesco, tanto que afirma ser a critica literria o termo de comparao para a teoria da histria. Por mais que se disponha de documentao, explica Veyne, o trabalho do historiador est sujeito causalidade e retrodio. Este ltimo termo, emprestado da teoria das probabilidades, designa uma operao de preenchimento, que se realiza por hipteses. Quanto causalidade, "os acon-tecimentos tm causas, as causas nem sempre tem conseqncias, por fim as oportunidades de acontecer que tm os diversos acontecimentos so desi-guais.'"6Da o historiador no ter acesso jamais ao concreto, mas apenas a uma mnima parte dele. Para Veyne, o interesse de um livro de histria no reside nas "teorias, idias e concepes da histria" que possam orient-lo, mas na capa-cidade de tornar o passado "nem mais nem menos misterioso do que o momento em que ns vivemos.'"7 Ento conclui que a escrita da histria obra de arte, embora objetiva, mas sem mtodo e sem carter cientfico, tanto que seu valor se revela pelos mesmos recursos da anlise literria. O estudioso acentua a impor-tncia da cultura e da inteligncia do historiador, apontando os perigos da im-provisao, observao que se pode estender ao fccionista. A compreenso do que seja literatura demonstrada por Veyne no ingnua. Talvez a resida o diferencial em relao viso histrica tradicional. Os historiadores passaram a ver a literatura, se no do mesmo modo, pelo menos mais prximo de como a vem seus estudiosos. A criao literria no uma forma de escapismo, no um ludismo inconseqente.

    A pedra angular da teoria da histria narrativa a busca de procedimen-tos metodolgicos no trabalho do terico e do crtico da literatura, no quando

    15 GAY, op. cit., p. 194. 16 VEYNE, P. Como se escreve a histria. Lisboa: Edies 70, [1987?]. p. 171. 17 Ibid., p. 256.

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    estes estabelecem relaes com outras artes e com outros campos do saber, mas quando desmontam seu objeto, isto , o discurso verbal. Aos historiadores interessa aprender a desconfiar do signo verbal enquanto representao da realidade, a perceber as construes lingsticas como simulacro e instrumento de cooptao. Eles descobriram o poder de insidia e sortilgio da linguagem. No se recusam a participar do jogo, mas querem decodificar suas regras.

    Sem a aproximao da teoria histrica da teoria e da crtica literrias, ocorrida nos ltimos decnios do sculo XX, o teor de uma reflexo sobre as relaes da literatura com a histria seria de tpicos como realismo, verismo, verossimilhana... O esforo dos historiadores para apreender os mecanismos das construes verbais liberou-nos da solido de discutir unilateralmente os problemas da representao, discusso que, ainda sem as contribuies da crise da noo de originalidade como valor primeiro, raramente fugia do crculo vicioso em torno de conjecturas sobre a abrangncia e limites das concepes aristotlicas de mimese. Um dos rumos mais frteis do deslocamento da questo a ateno ao papel do imaginrio.

    Entre ns, quem pensou mais detidamente sobre as relaes do relato com o real e sobre as funes do imaginrio foi Luiz Costa Lima, no conjunto de ensaios que define como "trilogia do imaginrio", publicada ao longo da dcada de 80.18 O ensasta acredita que a criao literria ocidental se processa sob o veto ao ficcional. No interessa aqui abordar as razes que aponta como causas, mas o encaminhamento da continuidade de suas reflexes. No ttulo seguinte que publica, o j citado A Aguarrs do Tempo (1989), traz longo captulo estabe-lecendo paralelo entre a narrativa histrica e a ficcional. Na seqncia, em uma coletnea de ensaios, inclui um texto que apresenta como adendo a este. Usan-do como mote uma passagem de Plato, o ensasta enfatiza a distncia entre a realidade e a palavra, mas no as apresenta como inconciliveis: "...a palavra justa a que se adequa ao que j antes dela a realidade. A realidade, por conseguinte, diz o que , enquanto a palavra declara e deste modo torna comu-nicvel.'"9 (grifos do autor). Mais adiante, mostra que na narrativa o eixo no se restringe ao simplismo do binmio realidade/expresso: "Sendo um dos meios de formulao da realidade, por conseguinte de constituio do objeto real, a narrativa se peculiariza por sua relao com o tempo."20 Quer dizer, a intervm

    18 Os ttulos so O controle do imaginrio (So Paulo: Brasiliense, 1984), Socieda-de e discurso ficcional (Rio de Janeiro: Guanabara, 1986) e O fingidor e o censor (Rio de Janeiro: Forense, 1987).

    19 LIMA, L. C. A questo da narrativa. In: . Pensando nos trpicos. Rio de Janeiro, Rocco, 1991. p. 140.

    20 Ibid., p. 143.

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    um terceiro elemento, que no acessrio ou casual, mas fundamental: a tematizao do tempo. Ainda que o texto de Costa Lima esteja centrado na questo do ficcional, no tramos sua proposta, alis j expressa no ensaio anterior, ao concluir que a tematizao do tempo tambm o trao essencial da narrativa histrica. O ltimo pargrafo aponta para o mesmo caminho, lembran-do a proximidade de origem e de configurao do romance e da histria:

    ... interessante notar que o desenvolvimento do romance se d pari passu com o desenvolvimento da escrita da histria. Hist-ria e romance so formas discursivas firmadas sobre o mesmo veculo: a prosa narrativa. Da mesmo a dificuldade de perceber-se e aceitar-se sua inscrio em campos discursivos diversos, sujeitos a exigncias distintas, em vez da tendncia mais freqen-te de subordinar uma outra. (Historicamente, essa tendncia sempre se fez no sentido de subordinar o romance verdade da histria.)21

    O que a teoria da histria fez, nas ltimas dcadas, foi no apenas rever-ter o vetor descrito no perodo parenttico, mas tambm reconhecer e sublinhar a inexistncia de qualquer limitao de ordem intrnseca entre esses dois cam-pos discursivos.

    Paul Ricoeur, um dos pensadores mais insistentemente citados pelos que, partindo de uma margem ou de outra, estudam os pontos de contato entre literatura e histria, enfatiza a reciprocidade entre narratividade e temporalidade.22

    Nas suas pegadas inscreve-se Benedito Nunes, que ainda no calor do lana-mento de Temps e rcit ( 1983-1985. A traduo s viria a ser publicada cerca de um decnio mais tarde), encareceu a importncia do tempo para o acontecimento e para o relato, bem como o significado de sua mediao, em conferncia profe-rida em um dos eventos pioneiros dedicados ao tema no Brasil. Refiro-me ao coloquio "Narrativa: fico e histria", realizado em 1987, no Rio de Janeiro. Posteriormente ocorreu a publicao em livro.23 O ensasta brasileiro afirma que o conceito de representao uma falcia para ambas as narrativas, pois

    21 LIMA, 1991, op. cit., p. 148. 22 Refiro-me especialmente a Tempo e narrativa (Campinas: Papirus, 1994-1997.

    3 v.) 23 NUNES, B. Narrativa histrica e narrativa ficcional. In: CORTES RIEDEL, D.

    Narrativa-, fico e histria. Rio de Janeiro: Imago, 1988. p. 9-35.

    106 Revista Letras, Curitiba, n. 58, p. 105-120. jul./dez. 2002. Editora UFPR

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    impossvel reconstruir o que j no existe. Por mais documentos de que dispo-nha, preciso recorrer imaginao para estabelecer nexos entre eles de modo a recriar os fatos, ou melhor, cri-los, visto que a recriao uma impossibilida-de. Da preferir denominar figurao o que se costumava entender como repre-sentao ou at mesmo como reconstruo. O ato da leitura a reconfigurao. Sem fundir nem confundir as duas espcies narrativas, Benedito Nunes, subs-crevendo Ricoeur, subordina-as temporalidade, dado essencial de todo empirismo, identificando-as como similares enquanto formas simblicas do pen-samento.

    O raciocnio de Costa Lima no est muito distante, quer quando se refere tematizao do tempo, citada alguns pargrafos atrs, quer quando afirma que a representao do historiador um trabalho de organizao e inter-pretao, enquanto o ficcionista cria "uma representao desestabilizadora do mundo (...), uma representao desestabilizante das representaes."24

    E tempo de retornar aos historiadores. Cario Guinsburg, autor de O Quei-jo e os vermes, obra que autoriza consider-lo nome insuspeito quanto permeabilidade dos dois discursos, manifesta-se a respeito da fuso: "A frontei-ra entre a fico e os discursos histricos torna-se cada vez mais turva. Mas no faltaram objees intelectuais bem como morais contra essa atitude neocptica. Quanto a mim, ela no inspira nenhuma simpatia..."25 Guinsburg realiza longa incurso em textos clssicos, demonstrando slida erudio, para provar que o dominante no conhecimento histrico a parcialidade, o lacunar, a fragmenta-o, caractersticas que "a ajuda da virtuosidade literria"26 no tem o poder de anular. Ou seja, o mapeamento da proximidade dessas duas formas de represen-tao - chamemo-las assim, obedecendo a antigo condicionamento, perdoe-nos Ricoeur - no ainda uma unanimidade.

    Questionamento lcido apresentado por Walter Mignolo, no texto intitulado "Lgica das Diferenas e Poltica das Semelhanas", publicado nos anais de um simpsio promovido pelo Centro ngel Rama.27 O estudioso parte da etimologia e do resgate da tradio clssica, enveredando depois para exame de culturas no portadoras da herana ocidental, no intuito de demonstrar que histria e literatura no so categorias universais, como parecem pressupor

    24 LIMA, 1989, op. cit., p. 102. 25 GUINSBURG, C. Apontar e citar. A verdade da histria. Revista de Histria,

    Campinas, n. 2/3, p. 91-106, primavera 1991. p. 92. 26 Ibid., p. 106. 27 MIGNOLO, W. Lgica das diferenas e poltica das semelhanas. In: CHIAPPINI,

    L.; AGUIAR, F. (Orgs.). Literatura e histria na Amrica Latina. So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo, 1993. p.l 15-135.

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    muitas abordagens. A partir de exemplos que relacionam de outro modo os contedos aos quais a nossa cultura empresta tais designaes, prova ser ne-cessrio estabelecer uma metodologia mais abrangente e concomitantemente mais cautelosa, que reconhea a distino como um modo localizado de resolver questes genricas das comunidades humanas.

    Mignolo realiza rigoroso exame de procedimentos habituais que a comu-nidade historiogrfica e a literria tm como assentes, caracterizando o que denomina "conveno de veracidade" e "conveno de ficcionalidade". Frisa que, embora freqentemente empregados como termos equivalentes, literatura e fico no so sinnimos. O discurso, conforme as normas literrias, pode en-quadrar-se na conveno de ficcionalidade, ainda que esta no seja sua condi-o indispensvel. J no discurso histrico a submisso conveno de veraci-dade indispensvel. As prticas lingsticas historiogrficas e as ficcionais so portadoras de marcos discursivos que as inscrevem nesta ou naquela con-veno. Os produtores de tais discursos podem proceder no sentido de eliminar ou de reforar esses marcos. Cabe ao analista detectar esses movimentos e levantar hipteses sobre as razes que os geram.

    Concludo o exame da "lgica das diferenas", passa-se "poltica das semelhanas". Para resumi-la, recorro diretamente s concluses apresentadas no texto.

    1- Nas teorias de H. White, a poltica da semelhana entre a literatura, a fico e a histria obedece a um projeto de oposio s normas historiogrficas que tratam de impor uma viso desta cincia como 'dura', semelhante s cincias naturais, tais como as apresenta a filosofia da cincia Hempel. 2- No caso dos discursos-testemunho (...), a semelhana entre a literatura e a histria provm de uma oposio s formas literri-as 'cultas' (quer dizer, a sobrevivncia de formas discursivas impostas atravs do processo de colonizao) e da necessidade de dar voz aos que a colonizao (por meio da educao e contro-le dos meios de difuso) reduziu a silncio. 3- No caso do romance contemporneo, a imitao do discurso historiogrfico e antropolgico provm de uma oposio aos dis-cursos antropolgicos e historiogrficos que criaram uma ima-gem da histria ou de comunidades marginalizadas que o roman-cista procura corrigir ou, pelo menos, enfrentar.28

    28 MIGNOLO, op.cit., p. 133.

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    As concluses de Costa Lima no divergem, na essncia, das de Walter Mignolo, ainda que no sigam o mesmo ordenamento de raciocnio, no se orientem pela mesma lgica e empreguem argumentao diversa. O discurso histrico e o ficcional so prximos, mas no se confundem. Quando um permeia o outro, perde sua identidade originria para assumir o estatuto do outro. A diferena de atuao do narrador entre um e outro permite ao narrador de fico uma liberdade que desnuda e denuncia a prpria ficcionalidade. A verossimi-lhana da fico no a mesma da histria. Para esta, verossmil o que se constri como verdade, enquanto para aquela basta que parea verdadeiro. O ponto axial da questo gira ento em torno da acepo de verdade. Vale mais uma transcrio de Costa Lima:

    ...a verdade (...) no deve ser considerada o eixo nico de todos os discursos. O discurso ficcional, ao mudar a forma de relao com o mundo, tambm muda sua relao com a verdade. Ele a fantasmagoriza, faz o verossmil perder seu carter subalterno e assumir o direito de constituir seu prprio eixo. (...) os vrios discursos no se orientam por um mesmo centro. O valor social do discurso ficcional no parece estar tanto no questionamento que oferea dos discursos de verdade mas em no ter condies internas, no prprio tipo de verossmil que atualiza, de se tornar verdade.29

    * * *

    A necessidade e a importncia de examinar os pontos de identidade e de distino entre as duas formas discursivas vm preocupando estudiosos da histria e da literatura, como se procurou mostrar neste rastreamento. J se superou o momento dos extremismos que caracterizam toda nova proposta, momento em que se ope condenao indiscriminada e um tom messinico de nica salvao possvel. As ousadias de Hayden White, para lembrar um dos mais conhecidos e radicais formuladores de propostas de indiferenciao, j no so alvo apenas de genricas crticas irritadas ou da condenao indiferen-

    29 LIMA, 1989, op. cit., p. 105-106.

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    te de quem as considera absurdas. Superou-se a fase em que conviveram a resistncia convencional ao novo e o deslumbramento acrtico.

    Superado o momento de relaes de hegemonia e vassalagem entre as reas do conhecimento humanstico, anulando-se espaos hierticos, os filtros culturais sendo identificados como tais, questionando-se as cristalizaes, qual-quer procedimento que frature o discurso poltico-ideolgico dominante, um vis que no endosse a viso institucionalizada, instrumento de transforma-o. Mas a realizao esttica independe de opes ideolgicas do autor, embo-ra o mesmo no se possa dizer da opinio unilateral, da crena na verdade absoluta, das generalizaes esquematizadoras, da iluso quanto transparn-cia do discurso. S pelo refinamento de estratgias discursivas chega-se a ar-ranjos perturbadores, com poder de seduo capaz de criar um sentido.

    A fico histrica, diante dessa abertura da histria e dos novos modos de realizao do romance, encontra-se frente a outros desafios para produzir a desestabilizao esperada da arte.

    RESUMO

    Neste trabalho reconstitui-se o percurso da discusso sobre semelhanas e dife-renas entre os discursos histrico e ficcional durante as trs ltimas dcadas do sculo XX, periodo decisivo da questo, com o objetivo de refinar estratgias de anlise das obras de fico histrica.

    Palavra-chave: fico e histria, fico histrica.

    RSUM

    Ce travail reconstitue le parcours de la discussion sur les analogies et les diffrences du rcit ficcionel et du rcit historique pendant les annes 70, 80 e 90 du 20ime. Sicle, l'poque decisive de cette question, en essayent de remarquer quelques instruments pour l'analyse des ouvres de ficcin historique.

    Mots-clef : fiction et histoire, fiction historique.

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