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FICCIONALIDADE.pptx
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Teses sobre o surgimento da consciência da ficcionalidade
1. Desenvolvimento da ficcionalidade no processo da modernidade a partir do renascimento
2. Descobrimento da ficcionalidade na antiguidade (Aristóteles) e uma segunda vez na modernidade >> Rösler (1980)
Distinção de ficção (parábolas, fábulas) da ficcionalidade
O processo histórico segundo Rösler (1980)desenvolvimento de um conceito de ficção entre
Homero e Aristóteles (800 – 400)1. acontece paralelamente ao estabelecimento da
cultura da escrita e suas consequências: 2. crescimento dos registros de material da tradição3. deslocamento da recepção da audição coletiva
para a leitura individual4. evidência de versões antagônicas nas diferentes
tradições provoca a crítica5. contra o antigo princípio da autoridade da tradição
estabelece-se o princípio da verdade
Homero
„Musa narra-me as aventuras do herói engenhoso que …“ (Od. I,1)
„Canta, oh deusa, a cólera do Pelida Aquiles …“ (Il. I, 1)
„Dizei-me agora, Musas, que tendes as moradas olímpias, pois vós sois deusas, presenciais, vistes tudo,mas nós a fama só ouvimos e não vimos nada: quem eram os comandantes e os soberanos dos dânaos;“
(Il. II, 484-487; Trad. Francisco Murari Pires)
Hesíodo
Esta palavra primeiro disseram-me as DeusasMusas olimpíades, virgens de Zeus porta-égide:"Pastores agrestes, vis infâmias e ventres só,sabemos muitas mentiras dizer símeis aos fatose sabemos, se queremos, dar a ouvir revelações".Assim falaram as virgens do grande Zeus verídicas,por cetro deram-me um ramo, a um loureiro viçosocolhendo-o admirável, e inspiraram-me um cantodivino para que eu glorie o futuro e o passado,
Teogonia (24-33)
Hecateu de Mileto (560 – 480 a.C.)
„Escrevo isto como me parece verdadeiro. Porque são muitos os discursos dos gregos e ridículos, como me parece.“
• Na época homérica (?750-650 a.C.?) não existe distinção entre ficção e realidade: a epopeia é considerada verdade
• Xenófanes (570-500 a.C.): crítica da representação dos deuses pelos poetas: eles praticam tudo que seria vergonha entre os homens: roubo, traição, adultério.
• Heráclito (520-460): base da compreensão é a racionalidade do autor (e do seu texto) não a abrangência do seu conhecimento
• Heráclito cita versos isolados de Homero (sem contexto) e contesta a verdade: A exclamação de Aquiles que lamenta a briga entre os homens e entre os deuses é criticada porque a briga a condição da harmonia dos antagonismos (Rösler 1980: 287 s.)
• historiografia e a lírica pós-homérica não colocam em questão a verdade da poesia ou que a poesia deve ser julgada pelo princípio da verdade
• Teágenes (séc. VI a.C.): interpretação alegórica de Homero: um filósofo natural
Rösler (1980: 306): 4 fases na avaliação da verdade da poesia:
1. poesia é verdadeira a princípio2. poetas podem cometer erros por não serem
abençoados pelas musas (Hesíodo)3. poetas mentem por falta de responsabilidade
(Píndaro)4. poetas preferem, às vezes, um efeito maior à
verdade (função do prazer domina o “docere”)
Platão (438-348 a.C.): Politeia (A república)
• (II, 17, 377d) os poetas (Homero e Hesíodo) são vistos como instrutores que formam as ideias dos jovens (particularmente os futuros guerreiros); na medida em que apresentam deuses imorais, não devem ser admitidos: os maus exemplos da poesia corrompem o caráter dos homens.
• (III, 3) Os vícios de heróis e deuses não podem corresponder à verdade porque heróis e deuses são prudentes, valentes e justos. As descrições dos poetas não são confiáveis, são mentiras
(III, 6) Distinção de três tipos de representação poética:
• dihégesis: o poeta fala com sua própria voz, narrando os acontecimentos (narração simples; sem discurso direto)
• mímesis: o poeta não fala com a própria voz mas deixa falar exclusivamente as personagens; o poeta „imita“ as vozes de pessoas >>> tragédia
• o tipo misto: o poeta fala às vezes com a própria voz, às vezes imita a voz de outros (narração com discurso direto) >>> epopeia homérica
Poeta como o artesão: cria coisas (poiésis / poiein) que servem a um certo objetivo
• (X, 4) o poeta não tem conhecimento verdadeiro das coisas, porque ele somente imita (como o pintor não compreende o fazer do sapateiro quando pinta o sapateiro); a poesia, portanto não é um acesso à verdade das coisas
• (X, 2) as coisas da realidade (os produtos do artesanato) são por sua vez imitações das ideias e por isso a a poesia é imitação da imitação
• (onde Platão aprecia o discurso do poeta, trata-se da fala entusiástica, da inspiração divina e portanto da sua participação do império das ideias, não de mímesis; Ion 532e-535a)
• (X, 5-7) a mímesis / a imitação de ações indecentes e pouco virtuosas habitua a pessoa a vícios e corrompe o caráter
• (X, 8) o que se admite no estado ideal é somente a poesia do tipo misto (com narração dominante) que apresenta homens virtuosos
Platão não coloca em questão que a diferenciação entre verdade / falso seja adequada para a poesia; para ele a poesia é, a princípio, mais falsa do que verdadeira porque os poetas não têm o mesmo acesso a verdade como os homens que se utilizam da sua racionalidade
Aristóteles (384-322 a.C)
Aristóteles atribui uma outra forma de conhecimento à poesia, distinguindo o poeta e o historiador (Poética 9, 1452)
• inversão: a verdade da poesia é maior do que a da historiografia
• inversão do conceito mímesis: é positiva por • apelar ao prazer do ser humano • não necessariamente refere ao mundo real (?)• permite prazer em assuntos negativos / horrosos
(função purgativa, cátarsis)
A posição de Aristóteles foi preparada por Gorgias
„Mas a tragédia floresceu e ficou famosa, porque virou uma emocionante experiência auditiva e visual dos homens daquela época e criou através de histórias e afetos um engano do tipo que Gorgias comenta dessa maneira: quem engana é mais justo do que aquele que não engana e o enganado é mais sábio do que aquele que não se deixou enganar. Pois quem engana é mais justo porque ele o fez após anunciá-lo antes; o enganado é mais sabio porque a capacidade sensitiva pode ser enganada facilmente pelo prazer nos discursos.“ (Gorgias citado por Plutarco, De gloria Atheniensium 5, 348)
Encaminhamento pela ascensão da tragédia
• rapsodo, por presença física pode convencer seu público da verdade do seu discurso
• um ator (masculino) que incorpora uma outra pessoa (feminina) provoca a consciência do engano / da ilusão.
• para Aristóteles – a tragédia é a forma superior da poesia – a tragédia pode ser lida para exercer sua função
a Poética é a primeira teoria da recepção
Posições divergentesKüpper:• conexão da mímesis com a dança e a música
instrumental exclui um entendimento como „ilusão“
• conexão com as artes plásticas (e seus produtos) exclui um entendimento como „performance“
• conexão com a aprendizagem exclui a referência a um modelo
• nem ficção, nem representação podem ser sinônimos adequados para a mímesis
• definição negativa: uma praxe que não está no mesmo nível como a praxe geral; algo que difere da „coisa em si“
• fenômenos secundários cuja secundariedade fica consciente espontaneamente e instantaneamente para cada um que os percebe (41)
• mímesis não corresponde a imitatio naturae como na interpretação do renascimento
• os afetos trágicos resultam da consequência do caráter e das ações do herói que entram em conflito com a irrupção da contingência (um acontecimento inesperado)
• phobos e eleos (terror e piedade) são afetos não desejados nos jovens guerreiros da sociedade grega, por isso é necessário „purgar-se“ deles
Kablitz• imitação de pessoas que atuam (prattontas) e
de mythos (ações) – não de objetos Schmitt• conceitos centrais de Aristóteles são pouco
explicados no texto – é necessário apoiar-se nos outros escritos
• a mímesis – o homem que atua – o universal – a necessidade – a verossimilhança – o possível – a catársis
• Aristóteles não postulou a imitatio naturae (diferença dos historiadores)
• o verossímil e o possível não se refere ao verossímil em geral
• mito não se refere ao mito como histórias tradicionais de deuses e heróis mas a histórias com uma lógica interna (cap. 6)
• ênfase na unidade, necessidade do desenvolvimento, composição rigorosa
• imitação de ações / de homens que atuam
• ação / mito não seria qualquer sequência de acontecimentos biográficos
• ação e atuação dos homens na tragédia não é qualquer movimento
• atuar somente pode um ser adulto e livre com caráter desenvolvido e inclinações “fixas”
• ação é somente que surge como decisão livre de um caráter determinado
• o poeta compõe a trama a partir de um caráter determinado e de ações motivadas pelo caráter
• essas ações estão expostas à contingência e resultam em felicidade / infelicidade
• mímesis seria a capacidade do poeta de selecionar / imaginar / imitar as ações coerentes com um determinado caráter
• essa imaginação não coincide necessariamente com acontecimentos reais ou míticos
• o “universal” encontrado pelo poeta é a lógica de um certo comportamente humano em interação com a realidade contingente
• esse universal difere do pensamente abstrato do filósofo e constitui uma fonte cognitiva sui generis entre percepção imediata do real e conceito abstrato
• mímesis permanece vinculada à realidade, não é criação livre do poeta, tampouco a imitação da natureza
Bibliografia
• ARISTOTELES. Poetik. Griechisch / Deutsch. Tr. FUHRMANN, MANFRED. Stuttgart: Reclam, 1994.
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• BLUMENBERG, HANS. "Imitação da natureza": contribuição à pré-história da ideia do homem criador." In Mímesis e a reflexão contemporânea, ed. COSTA LIMA, LUIZ, 87-136. Rio de Janeiro: Eduerj, 2010.
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• KÜPPER, JOACHIM. "Dichtung als Mimesis " In Aristoteles. Poetik, ed. HÖFFE, OTFRIED, 29-45. Berlin: Akademie-Verlag, 2009.
• PLATON. Sämtliche Werke 3. Phaidon, Politeia. Tr. SCHLEIERMACHER, FRIEDRICH. Reinbek bei Hamburg: Rowohlt, 1974.
• RÖSLER, WOLFGANG. "Die Entdeckung der Fiktionalität in der Antike." Poetica 12 (1980): 283-319.
• SCHMITT, ARBOGAST. Mímesis em Aristóteles e nos comentários da Poética no Renascimento: da mudança do pensamento sobre a imitação da natureza no começo dos tempos modernos. Ed. COSTA LIMA, LUIZ, Mímesis e a reflexão contemporânea. Rio de Janeiro: Eduerj, 2010.