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FICHA DE CATALOGAÇÃO DAS PRÁTICAS – PATRIMÔNIO IMATERIAL Código: [008] 121 1. Título da ação: USOS DA BANANEIRA (X) Modo de construir (X) Modo de alimentar ( ) Outra: 2. Observado na(s) localidade(s) de: (X) Poxim ( ) Pontal de Coruripe ( ) Outra: 3. Descrição da espécie: Nome científico: Musa sapientum L. Nome vulgar: Banana Família: Musaceae 4. Descrição da prática: A bananeira é muito comum nas áreas dos territórios que se sucedem no globo, no interior dos quais predominam determinados recursos e hábitos alimentares. Nos povoados de Poxim e Pontal do Coruripe seu fruto é consumido apenas como alimento adicional. Entretanto, é usado no preparo de pratos variados e ocupa lugar de destaque nas mesas dos respectivos povoados. Das folhas da bananeira, descritas nos registros seiscentistas como "de um verde elegante, lisas e sólidas, como um pergaminho" (Marcgrave, p.138) os moradores fazem usos que remetem a diferentes atividades. Em Poxim e no Pontal de Coruripe, no dia-a-dia , os moradores usam a folha da bananeira como cobertura de tanques (armadilhas de pesca) feitos com palha de piaçava e depositados pelos moradores ao longo do curso dos rios; como coberta da mandioca quando dentro das águas de rios e lagoas para o preparo da massa puba e,conforme o peso dos costumes locais , para envolver o "bolo da quinta-feira maior" - alimento cuja produção local está associada ao calendário religioso. Conforme a tradição local o bolo deve ser assado na folha da bananeira para salvaguardar o sabor. Muita mudanças afetam o cotidiano dos povoados,no entanto,na intimidade do cotidiano, certas singularidades nos modos de usar a bananeira nos povoados de Poxim e Pontal do Coruripe, sinalizam para a permanência da tradição que também se expressa no não-rompimenoto entre lugar e alimento. 5. Formas de registro in loco: (X) Fotografia ( ) Filmagem (X) Gravação de voz

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FICHA DE CATALOGAÇÃO DAS PRÁTICAS – PATRIMÔNIO IMAT ERIAL

Código: [008]

121

1. Título da ação: USOS DA BANANEIRA

(X) Modo de construir (X) Modo de alimentar ( ) Outra:

2. Observado na(s) localidade(s) de:

(X) Poxim ( ) Pontal de Coruripe ( ) Outra:

3. Descrição da espécie:

Nome científico: Musa sapientum L.

Nome vulgar: Banana

Família: Musaceae

4. Descrição da prática:

A bananeira é muito comum nas áreas dos territórios que se sucedem no globo, no

interior dos quais predominam determinados recursos e hábitos alimentares.

Nos povoados de Poxim e Pontal do Coruripe seu fruto é consumido apenas como alimento

adicional. Entretanto, é usado no preparo de pratos variados e ocupa lugar de destaque nas

mesas dos respectivos povoados.

Das folhas da bananeira, descritas nos registros seiscentistas como "de um verde

elegante, lisas e sólidas, como um pergaminho" (Marcgrave, p.138) os moradores fazem

usos que remetem a diferentes atividades.

Em Poxim e no Pontal de Coruripe, no dia-a-dia , os moradores usam a folha da

bananeira como cobertura de tanques (armadilhas de pesca) feitos com palha de piaçava e

depositados pelos moradores ao longo do curso dos rios; como coberta da mandioca quando

dentro das águas de rios e lagoas para o preparo da massa puba e,conforme o peso dos

costumes locais , para envolver o "bolo da quinta-feira maior" - alimento cuja produção local

está associada ao calendário religioso. Conforme a tradição local o bolo deve ser assado na

folha da bananeira para salvaguardar o sabor. Muita mudanças afetam o cotidiano dos

povoados,no entanto,na intimidade do cotidiano, certas singularidades nos modos de usar a

bananeira nos povoados de Poxim e Pontal do Coruripe, sinalizam para a permanência da

tradição que também se expressa no não-rompimenoto entre lugar e alimento.

5. Formas de registro in loco:

(X) Fotografia

( ) Filmagem

(X) Gravação de voz

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( ) Croquis

(X) Outra: Anotações em diário de campo

6. Levantamento fotográfico

Bananeira 01- Folha de bananeira é utilizada para envolver os bolos de massa de mandioca produzidos pelos moradores do Pontal de Coruripe e vendidos nas feiras.

7. Tipo de registro da prática elaborado nos século s XVI e XVII (indicar fonte)

(X) Texto

* PISO, Guilherme. História natural do Brasil ilustrada. São Paulo: Companhia Editora Nacional,

1948.

DA BACOBA E DA BANANA E DAS SUAS FACULDADES

“Tanto a Bacoba como a Banana se consideram frutos de pouca dura e (conforme

querem alguns) como figos. Uma e outra provoca flatos, refrigera moderadamente e excita o

venéreo adormecido. Pouco alimentam e agradam antes ao peito que ao estômago e pretende

Avicena que lhes extingue os calores.” (p. 85)

“(...) Dessecada ao fogo e preparada do mesmo modo que a banana, oferece a mesma

utilidade. Tanto verde como madura, seca ao fogo ou ao sol, conserva-se por muito tempo; e

importada na Europa, divulga-se por toda a parte. Cortada em fatias e com açúcar e ovos, e

amassada em bolos, a modo de torta, tem sabor mui agradável e constitui óptimo alimento.” (p.

85)

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“A água extraída do tronco da Bacoera, sempre túrgido dela, sendo frigidíssima e

adstringente, os habitantes a têem em grande conta contra as afecções quentes do corpo,

internas e externas, internas e externas.” (p. 86)

* MARCGRAVE, Jorge. História Natural do Brasil. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado,

1942.

“PACOEIRA (em português), não é originária do Brasil. É chamada, no Congo,

Quibuaaquitiba, é seu fruto Quitiba; os indígenas denominam Pacobete. Os portugueses

Pacoba. Da raiz, a árvore se propaga deste modo: primeiramente brotam duas ou três folhas

enroladas como tubos, pouco depois se abrem, em cada um dos lados, achando-se no meio

uma fístula foliácea; assim insensivelmente, no espaço de três ou quatro meses, cresce até à

altura de cinco, seis ou sete pés com um caule da grossura da perna humana ou um pouco

mais, esponjoso, com folhas enroladas, mas que facilmente podem ser separadas. Na parte de

cima, se abrem oito, nove ao até doze folhas elegantes e medindo cada uma quatro, cinco e

algumas vezes oito pés de comprido, quatorze ou quinze dedos de largo. Em uma e outra

extremidade, brota da folha um pedículo (faz as vezes de folha), mais estreito, que se prolonga

até seis ou sete dedos, com um nervo no sentido longitudinal, da grossura de um dedo

humano. Este nervo, na superfície superior, é escavado como um canal, sendo cortado por

linhas estreitas, que vão do nervo para os lados. Essas folhas são de um verde elegante, lisas

e sólidas, como um pergaminho, crepitando como este. Não permanecem íntegros, mas se

rasgam agitados pelo vento, em sentido transversal, seguindo a direção das estrias,

produzindo um estrépito. Do alto do caule esponjoso, ou do meio das folhas procede um ramo

ou braço, este primeiramente, medindo meio pé de comprido, tenro e grosso como o polegar

humano, contém na ponta um corpo de figura cônica, do tamanho do estróbilo maior, do

comprimento de cerca de cinco dedos. Este ramo consta de folhas largas, de figura elíptica, de

cor escura carregada, estriadas, salpicadas de um pó cinzento, estas folhas dobradas

constituem um corpo cônico. Cada dia, duas ou três folhas se abrem, voltando-se para cima e

para baixo, porque o corpo está pendurado como um cone, sob essas folhas abertas,

aparecem seis, sete ou oito flores, colocadas em ordem, são de cor amarela-clara, medindo

cada uma cerca de dois dedos de comprimento, a haste é semelhante a uma pequena canoa,

cuja parte, aderente ao ponto de origem, serve de proa, a outra extremidade de popa. Desta

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procedem cinco folhas estreitas, tendo a figura do instrumento de que se servem os nautas

para molhar as velas. Estas folhas ficam eminentes à popa da flor, medindo um dedo de

comprido, são amarelas claras, fimbriadas de uma cor de tijolo, no meio delas se assenta um

estame lúteo, um tanto grosso, da figura de um cajado com um nó, na extremidade com a qual

costumam andar os negros. Na sua metade, a canoa se acha debaixo de um invólucro,

começando da proa, como em nossos barcos de divertimento, sob este tegumento, dentro da

barca, se encontra um líquido ralo ou maná, frio do gosto do mel, com a consistência e a cor da

clara do ovo fresco, neste líquido, brotam cinco folíolos com estame, as formigas gostam muito

deste néctar. A estas folhas seguem os frutos, unidos e dispostos em ordem, achando-se cada

qual fixo a um pedículo e apresentando, no seu umbigo, uma flor, que depois cai, o fruto vai

crescendo cada dia. Num só ramo se acham às vezes dez, doze e até quatorze ou dezesseis,

de maneira que um só pé chega a produzir setenta ou oitenta frutos, que são deixados até que

comecem a se tornar amarelos. O fruto, tendo seu completo tamanho, rivaliza com o nosso

pepino, é oblongo e quase trilátero, coberto com uma casca um tanto grossa, que facilmente

pode ser tirada e dividida com os próprios dedos. A polpa é mole como a manteiga, tendo, no

sentido longitudinal, uma medula como o pepino, é de bom sabor e se come só ou com mistura

de farinha de mandioca, cozida ou frita com óleo ou manteiga. Aquele ramo carregado de

frutos cresce, quando amadurecem, e chega a ter o comprimento de dois ou mais pés.

Salientam-se flores, que brotam do corpo foliáceo, mas caem sem produzir frutos, pois um pé

não produz senão os frutos que podem nutrir e levar ao desenvolvimento. Estando os frutos

maduros, corta-se o galho e todo o pé, porque um pé vive um ano apenas e só uma vez produz

frutos, muitas vezes acontece que, antes do amadurecimento dos frutos tomba o pé e perece,

se não for escorado, quer, porém, caia, quer seja cortado, o resultado é o mesmo, porque,

antes que a planta envelheça, nasce-lhe da raiz um outro filho e fica anexo ao progenitor,

sucede ao que morre e assim indefinidamente se realiza a propagação desta planta, eis porque

se encontram plantações cheias destas árvores, feita, na verdade, uma plantação, não se

exige mais trabalho. Este fruto é vendido o ano inteiro.” (p. 137 e 138)

“ BANANA (Os indígenas dizem, Pacobucu, os congoleses, Quibuca quiancacala e ao

fruto dão o nome, Ticondo quiancacala. Esta planta é como a Pacoeira, mas o corpo cônico

florescente é um pouco menor, havendo também diferença, nas flores, são elas do

comprimento de cerca de dois dedos, de uma cor branca lútea, de sabor doce. A concavidade

da flor não é como um bote, mas reta, representando todavia a canoa dos indígenas, seis

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folhas estreitas salientam-se da popa tendo a figura e cor da precedente, mas falta o estame

médio, também a metade anterior da canoa é coberta por um tegumento côncavo amarelado-

claro. São os frutos como as da pacoeira (isto é, medem de comprido oito, nove ou dez dedos)

às vezes não são tão grossos, são ainda curvos ou semilunares, tem uma substância mais

seca, porisso são melhores para cozinhar ou frigir.” (p. 138)

* COLEÇÃO BRASIL-HOLANDÊS, WAGENER, Thierbuch. Documentos da biblioteca

universitária de Leiden, o Thierbuch e a Autrobiografia de Zacharias Wagener e os quadros do

Weinbergschlösschen de Hoflössnitz. 3 v. Rio de Janeiro: Índex Ed., 1997.

“Pacoba: Em plantas tenras e delgadas, das quais cada galho é uma folha, crescem

estas pacobas entre as folhas, sob a forma de tufos, onde mais de uma centena encontram-se

bem juntas umas das outras. São tiradas verdes das plantas e depois de poucos dias ficam

completamente amarelas e boas para comer. A árvore, porém, não frutifica mais do que uma

vez e antes que ela murche, porém, já se vê nascer outra nova junto ao tronco primitivo;

quando a segunda também cresce e produz frutos, aparece a terceira e assim por diante o ano

todo, até serem arrancadas.” (p. 96)

* COLEÇÃO BRASIL-HOLANDÊS, SCHMALKALDEN. Caspar o Diário de Viagem de Caspar

Schmalkalden de Amsterdã para Pernambuco no Brasil. 2 v. Rio de Janeiro: Índex Ed., 1998.

“Pacobas nas Índias Ocidentais. Pisang nas Índias Orientais. Esta é uma fruta

saborosa e agradável. Tem comumente de três a seis polegadas de largura. As cascas

separam-se em três partes. A de dentro, que se come, é bem amarela e mole como uma gema

de ovo fervida. Quando está completamente madura, derrete na língua e tem gosto quase igual

ao melhor e mais doce mel de abelha. Crescem 30 ou 40 em um cacho, ao redor dele.

Comumente não se encontra numa árvore mais que um cacho e, quando está maduro, é

cortado e pendurado por alguns dias, até ficarem bem amarelas. Quando a fruta é cortada da

árvore, esta também é cortada, porque não frutifica mais do que uma vez. Mas Índias

Ocidentais, a árvore cortada não é utilizada para coisa alguma, já que não é madeira, mas é

formada de folhas, como uma cabeça de hortaliça. Entretanto, nas Índias Orientais é uma boa

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refeição para os elefantes. Nas mencionadas Índias Orientais essas árvores têm doze ou treze

pés de altura e são mais grossas do que uma árvore com tronco. Nas [Índias] Ocidentais,

contudo, são bem uma terça parte menores. Nas Índias Orientais cresce ainda uma outra

espécie de pisang, com sementes dentro, que se assemelham a sementes de trigo turco,

porém não são duras, mas muito boas para comer. Produzem bastante prisão de ventre e são

tomadas antes da diarréia. Também existe uma espécie, chamada bananas, que são um pouco

mais compridas e pontudas do que as anteriores, porém devem ser comidas bem secas.” (p.

38 a 40)

(X) Imagem

Bananeira 02 - Bananeira 03 - Mulher tupi., por Albert Ehckout, 1644. In: ECKHOUT VOLTA AO BRASIL 1644-2002: catálogo da mostra. São Paulo: Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2002. p.177.

Escravos dançando. Reprodução de Joan Nieuhof, Gedenkwaerdige Zee – em Lantreize, 1682. Biblioteca niversitária de Leiden. In: COLEÇÃO BRASIL-HOLANDÊS, Bahia 1624-1625. Rio de Janeiro: Editora Índex, 1999: 59.

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Bananeira 04 - Bananeira 05 - Bananas, frutas cítricas, etc., por Albert Ehckout, 1644. In: ECKHOUT VOLTA AO BRASIL 1644-2002: catálogo da mostra. São Paulo: Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2002. p.195.

Banana. In: COLEÇÃO BRASIL-HOLANDÊS, Libri Principis Vol. II. Rio de Janeiro: Editora Índex, 1995: 29.

Bananeira 06 - Bananeira 07 - Engenho de açúcar no Brasil. Frans Post. In.: HERKENHOFF, Paulo (Org.). O Brasil e os Holandeses, Rio de Janeiro: Sextante Artes, 1999: 138-139.

Bananeira 08 - Bananeira 09 - Paisagem com Tamanduá-i , 1649 - óleo sobre madeira - 53 x 69 cm - Alte Pinakothek (Munique, Alemanha)

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Bananeira 10 - Bananeira 11 - Ostium Fluminis Paraybae. Frans Post. (1637-1666) Coleção Aloysio de Andrade Faria, SP. In.: Catálogo da Exposição realizada no MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - em 1973.

Bananeira 12 - Bananeira 13 - Bacoba. In: COLEÇÃO BRASIL-HOLANDÊS, Libri Principis Vol. II. Rio de Janeiro: Editora Índex, 1995: 35

Pacoba. In: COLEÇÃO BRASIL-HOLANDÊS, Thierbuch Vol. II. Rio de Janeiro: Editora Índex, 1997: 97.

Bananeira 14 -

Pacobas nas Índias Ocidentais. Pisang nas Índias Orientais. In: COLEÇÃO BRASIL-HOLANDÊS, Schmalkalden. Rio de Janeiro: Editora Índex, 1998: 39.

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8. Outras Observações: